Padronização de informações sobre metodologias analíticas para a
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Padronização de informações sobre metodologias analíticas para a
Padronização de informações sobre metodologias analíticas para a determinação dos níveis de álcool (etanol) em diferentes amostras biológicas Alessandra Cristina Santos Akkari1, Elizabete Campos de Lima1 1 Centro de Ciências Naturais e Humanas, Universidade Federal do ABC, Santo André, R. Sta. Adélia, 166 Bl. B, LAb. 204, Bairro Bangú, CEP 09210-170, Santo André, SP, Brasil Inicialmente foi feita uma introdução abordando o uso abusivo de álcool como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Foi mostrada a farmacocinética do etanol e as principais conseqüências que o abuso etílico provoca sobre a saúde humana. São descritas as formas de detecção de etanol assim como as vantagens e desvantagens do uso da medida direta deste álcool em relação ao uso de marcadores biológicos do alcoolismo para verificação do uso abusivo. Há um tópico tratando dos aspectos analíticos para a detecção de etanol em diferentes espécimes biológicos. Diferentes fontes bibliográficas de dados foram consultadas e os resultados foram documentados em forma de tabela. Palavras-chave - Determinação de Etanol, Farmacocinética do etanol, Marcadores biológicos, Metodologias analíticas. I. INTRODUÇÃO O etanol é o constituinte essencial de bebidas alcoólicas e, certamente, é a droga de abuso mais antiga dentre as conhecidas hoje. Atualmente, o consumo abusivo de álcool se configura como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Em 2004, o álcool foi responsável por 4,6% da carga global de doenças e injúrias no mundo, sendo que a maioria ocorreu em indivíduos entre 15-29 anos [1]. No Brasil, de acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), o percentual de consumo abusivo de etanol foi de 19% em 2008, contra 17,5%, em 2007. A pesquisa mostrou também um aumento no número de mulheres dependentes de álcool. Segundo um estudo do Ministério Público, a taxa de mortalidade por doenças associadas ao etanol também cresceu entre 2000 e 2006, correspondendo a uma média de 57 mortes por dia [2]. O alcoolismo, que pode ser definido como uma síndrome multifatorial, com comprometimento físico, social e mental, também é um problema de saúde ocupacional, sendo responsável por 15 a 30% dos acidentes de trabalho, e uma das maiores causas de acidentes fatais de trânsito [3]. Em face ao exposto, a detecção e quantificação do etanol são de grande importância tanto para pesquisas como para a prática clínica, âmbito forense, monitorização do uso de álcool no ambiente ocupacional e em outras situações onde o consumo de álcool é inadequado (gravidez, crianças e adolescentes expostos, etc.). O presente trabalho teve como objetivo verificar na literatura, compreendida entre 1990 a 2009, quais os métodos de análise química mais utilizados para a determinação dos níveis de etanol em espécimes biológicos. II. ETANOL: FARMACOCINÉTICA E TOXICOLOGIA O etanol é absorvido, principalmente por difusão simples, pelas mucosas do estômago (20%) e do intestino delgado (80%) e seus picos de concentração sanguínea são atingidos entre 30 a 90 minutos após a ingestão da bebida alcoólica [4]. Entre 2 a 10% de todo álcool etílico consumido é eliminado de forma inalterada na urina, suor, saliva e ar exalado. Cerca de 90% é oxidado no fígado por três vias diferentes: Álcool Desidrogenase (ADH), Sistema Microssomal de Oxidação do Etanol (SMOE) e Catalase. O primeiro passo de seu metabolismo é comum para as três vias e leva à produção do acetaldeído. Quando a ingestão de bebida alcoólica é pequena, a ADH catalisa a conversão de etanol em acetaldeído. Nos casos em que o consumo de álcool se faz de forma abusiva ou crônica, o SMOE participa ativamente, aumentando o catabolismo do etanol de 4 a 10 vezes. Embora o SMOE seja mais eficiente se comparado à ADH e à catalase, ele gera superóxidos e radicais livres que podem causar danos como mutações, comprometimento de funções ou, até mesmo, morte celular. O álcool etílico também pode ser biotransformado de forma não oxidativa por outras vias [5]. O etanol tem efeitos sobre o sistema nervoso central (SNC), alterando a função de proteínas ligadas às membranas neurais, que participam da sinalização, e de neurotransmissores. Embora inicialmente ocorra euforia e excitação devido à liberação de endorfina, o álcool é considerado um depressor do SNC, devido sua ação sobre os neurotransmissores, e o consumo de altas doses e por um longo período causa déficits neurológicos, desorganização mental e descontrole da função motora. A lesão do fígado é uma das conseqüências mais sérias do consumo de etanol a longo prazo, podendo desencadear hepatite, cirrose e necrose e fibrose hepática. O estresse oxidativo advindo de seu metabolismo pode ainda atingir células acinares do pâncreas [6]. Efeitos sobre o sistema cardiovascular também são observados com o consumo prolongado de álcool, levando à miocardiopatia dilatada e diminuição do poder contrátil do miocárdio. A ingestão de álcool etílico durante os primeiros seis meses de gravidez aumenta a incidência de aborto espontâneo e pode causar a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), caracterizada por dimorfismos faciais, retardo do crescimento e anomalias do SNC. O uso crônico de álcool tem se mostrado, também, um fator de risco para o desenvolvimento de câncer da laringe, fígado, estômago e esôfago. O etanol pode ocasionar tumores, devido ao acetaldeído, e promover a carcinogênese ao estimular o citocromo P450 que está associado com o aumento da produção de elementos instáveis pelo SMOE [7]. III. MARCADORES BIOLÓGICOS DO ETANOL Marcadores biológicos são substâncias ou seus produtos de biotransformação, ou, ainda, alterações bioquímicas cuja determinação em fluídos biológicos e em tecidos permite avaliar a intensidade de exposição a determinado fármaco. Entre os biomarcadores do etanol pode-se citar : [9, 10] - Gama-glutamil transpeptidase (GGT): Apresenta alta sensibilidade para um consumo excessivo de álcool. Contudo, para bebedores “pesados” a sensibilidade cai para 70%. -Alanina aminotransferase (ALT), Aspartato aminotranferase (AST): A ALT e AST apresentam sensibilidade entre 65% a 85% para o alcoolismo e uma única exposição excessiva ao etanol não é suficiente para o aumento do nível destas transaminases. - Transferrina Deficiente em Carboidrato (CDT): Isoformas da CDT estão presentes em maior quantidade na vigência de alcoolismo. Apresenta sensibilidade entre 50% e 80% e especificidade entre 80% e 100% - Etilglicuronídeo (EtG): Metabólito direto do etanol, possui tempo de meia vida maior que a deste álcool e apresenta alta sensibilidade. - Ésteres de Ácidos Graxos (FAEEs): Trata-se de um biomarcador de consumo recente de álcool etílico. - Etilsulfato (EtS): Via metabólica menor na eliminação de etanol e pode ser identificado na urina após o consumo de álcool . IV. ASPECTOS ANALÍTICOS DA DETECÇÃO DE ETANOL EM ESPÉCIMES BIOLÓGICOS Os primeiros métodos para a detecção e quantificação do nível de etanol no sangue e em outros tecidos foram desenvolvidos em 1906 por Maurice Nicloux e em 1914 por Widmark. Dependendo da finalidade da análise, diversas matrizes biológicas podem ser empregadas. A medida direta de etanol é o meio mais comum utilizado para medir-se o consumo recente de álcool. Há diversas vantagens em medir-se o álcool diretamente. A primeira delas é que o etanol é o agente responsável pela intoxicação e, portanto, é cabível que se meça sua concentração diretamente. A segunda vantagem é que métodos analíticos para sua medida direta não são tão custosos. Finalmente, o etanol se distribui rapidamente pelo corpo e pode ser quantificado a partir de muitos fluidos biológicos. Entretanto, a medida direta deste álcool apresenta algumas desvantagens como, por exemplo, o fato do etanol ter um curto tempo de meia-vida no organismo torna sua medida direta útil apenas para determinar o consumo recente de álcool. Outra desvantagem é que a concentração de etanol determinada simultaneamente em diferentes áreas corporais varia e, portanto, a concentração de álcool encontrada no sangue ou na expiração pode ser diferente daquela encontrada nos tecidos. Finalmente, a estabilidade do etanol durante o armazenamento pode ser um problema de modo que o congelamento das amostras e o uso de conservantes são medidas adequadas para manter a concentração de álcool etílico inalterada nas amostras [9, 11]. A detecção de etanol em fluídos biológicos é comumente feita através de análises cromatográficas. A cromatografia em fase gasosa utilizando a técnica de separação por headspace (GC-HS) é muito utilizada na análise de compostos voláteis. A análise de álcool no sangue, realizada por esta técnica, é um exame comum no âmbito de toxicologia forense [5]. Quando a detecção de etanol não é mais possível, a quantificação de seus biomarcadores, como CDT, EtG, FAEEs e EtS, é uma grande alternativa. Atualmente, em relação à determinação de EtG na urina, a técnica mais empregada é a cromatografia líquida associada à espectrometria de massas (LC-MS). Trata-se de uma técnica rápida, sensível e que não precisa da fase de derivação. Contudo, a cromatografia gasosa acoplada á espectroscopia de massas (GC-MS) pode ser uma alternativa menos onerosa para a detecção apenas do EtG urinário. Vale observar que, além da urina e soro, o EtG tem sido detectado em amostras de cabelo e tecido post-mortem empregando GC-MS a fim de se verificar o uso abusivo de álcool [5]. A CDT é vista hoje como um potente biomarcador para a detecção da ingestão crônica de etanol. Uma vantagem desta glicoproteína está no fato de ela não ser tão influenciada por uma variedade de condições, resultando em uma maior especificidade entre os marcadores biológicos tradicionais como GGT, por exemplo. Diferentes métodos analíticos para a determinação de CDT em soro humano têm sido desenvolvidos como focalização isoelétrica, cromatografia de troca iônica, cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e eletroforese capilar de zona (CZE) [10]. Etil Ésteres de Ácidos Graxos é um metabólito resultante da degradação não-oxidativa do etanol e tem sido utilizado como biomarcador em diferentes espécimes biológicos. No sangue, os FAEEs são utilizados como marcadores de consumo recente de álcool por pelo menos 24 horas após a ingestão de etanol e são detectados através de técnicas cromatográficas [12]. No presente trabalho, foi feito um levantamento, a partir da literatura, e um estudo detalhado de 75 artigos compreendidos entre 1990 a 2009. A título de simplificação, alguns trabalhos foram documentados em forma de tabela, relacionando o espécime biológico, a técnica instrumental química e o analito detectado (Tabela 1). Tabela 1: Metodologias analíticas empregadas para detecção de etanol e de seus biomarcadores em espécimes biológicos Matriz Biológica Sangue Sangue post-mortem Urina Urina post-mortem Soro Analito Técnica Analítica Autor, ano de publicação, ref. CDT Etanol Etanol CDT CDT Tagliaro et al.,1990, [10] Bendetsen et al., 1999, [13] Corrêa et al, 2000, [14] Wuyts et al., 2001, [10] Helander et al., 2001, [16] Etanol Etanol CDT CZE GC-HS GC-HS CE Imunoensaio e HPLC GC-HS GC-HS CZE e HPLC Etanol Etanol EtG EtG e EtS EtG GC-HS GC-HS LC-MS LC-MS LC-PED Bendetsen et al., 1999, [13] Corrêa et al., 2000, [14] Marin, 2006, [5] Helander et al., 2009, [15] Kaushick et al., 2006, [22] EtG CDT Etanol LC-MS HPLC Teste enzimático QEDTM Nishikawa et al,1999, [23] Helander et al., 2003, [17] Bendetsen et al., 1999, [13] Etanol EtG GC-HS Gubala et al., 2003, [19] MAE e Alvarez et al., 2009, [20] GC-MS HS-SPME e Pragst et al., 2001, [21] GC-MS GC-HS Macchia et al., 1995, [9] HPLC Pellegrino et al., 1999, [4] HS-SPME e GC-MS Hutson et al., 2009, [12] Saliva Cabelo Cabelo FAEEs post-mortem Fluidos Etanol Biológicos Etanol Mecônio FAEEs Gubala et al., 2003, [19] Ventorin, 2004, [4] Rainio et al., 2008, [18] HS= Técnica de separação por headspace; CE = Eletroforese capilar; PED = Detecção eletroquímica pulsada; MAE = Extração assistida por microondas; SPME = Microextração em fase sólida V. CONCLUSÃO Não existe metodologia padrão na legislação brasileira para a verificação do nível de álcool em fluidos biológico. Dos 75 artigos pesquisados, apenas 32% utilizaram a detecção direta de etanol para verificação de uso abusivo de álcool e em todos a técnica utilizada foi GC-HS. Dos artigos cujo escopo era a detecção de EtG, 64% deles utilizaram LCMS, 27% GC-MS e apenas 9% usaram HPLC. Para a detecção da CDT, 80% dos artigos fizeram uso de técnicas eletroforéticas. Todos os artigos que se referiam à detecção de FAEEs empregaram GC-MS. A literatura revista será publicada na forma de artigo Review. REFERÊNCIAS [1] CISA – Centro de Informações sobre saúde e Álcool [2] Ministério da Saúde - Portal Saúde. “Cresce consumo abusivo de álcool entre brasileiros”. [3] A. D. Galassi, P. G. Alvarenga, A. G. Andrade, B. F. Couttolenc. “Custos dos problemas causados pelo abuso do álcool”. Rev. Psiq. Clín 35, supl 1; 25-30, 2008 [4] M. V. P. Ventorin, “Relação entre a dosagem de etanol no sangue e na saliva”. p. 20-45, 2004. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Piracicaba- Universidade Estadual de Campinas, 110 pp. [5] A. V. F. Marin, “Verificação da janela de detecção de etilglicuronídeo urinário entre usuários crônicos e bebedores sociais de etanol por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas”. p. 4-27, 2006. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP [6] C. I. G. Vogel, “Estudo citogenético e molecular de uma população de alcoolistas”. p. 1-3, 2007. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Departamento de Genética. [7] P. Navasumrit, H. Ward, J. F. Dodd, J. F. O’Connor, “Ethanol-induced free radicals and hepatic DNA stand breaks are prevented in vivo by antioxidants: effects of acute and chronic ethanol exposure” Carcinogenesis, v.21, p. 93-99, 2000 [8]A. C. 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