Redação (1)
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— 35 — 2 A redação nos vestibulares Lembretes importantes 1. TEXTO-BASE (OU TEXTO) — Quando o vestibular fornece o TextoBase, como texto de apoio ao candidato, pode simultaneamente fornecer o TEMA (título, assunto) ou não. Neste último caso, a redação será feita a partir da interpretação do texto, de onde se tirará a idéia central ou as idéias básicas para a feitura da redação. Esse tipo de redação pede normalmente ao vestibulando que dê um título à sua redação. 2. TEMA — Quando o vestibular fornece ao vestibulando apenas o Tema (título, assunto) da redação. 3. DAR UM TÍTULO — Somente quando a prova, nas instruções, solicitar. Caso contrário é proibido. 4. Colocar TÍTULO/TEMA dado na folha da versão definitiva quando este não estiver impresso. Coloque-o na primeira linha, deixe uma ou duas linhas em branco, e então inicie seu primeiro parágrafo. Lembre-se: a linha do título e a(s) linha(s) em branco não são contadas como redação. 5. Quando o vestibular (instruções) não especifica um tempo só para a Re- dação, significa que ela está inserida dentro do tempo total concedido. Aconselha-se iniciar a prova pela Redação (o rascunho, ao menos). 6. Toda a redação é normalmente em PROSA, o que significa não fazer versos, não fazer poesia, mesmo que sem rima ou sem métrica. 7. O estilo que mais se ajusta à discussão e desenvolvimento de um assunto é a DISSERTAÇÃO. Só a deixaremos de lado se for solicitada uma NARRAÇÃO. 8. Na DISSERTAÇÃO, o aluno deve discutir o assunto, expor seus pontos da vista, analisar os vários aspectos relacionados com o tema/assunto, estabelecendo causas, conseqüências, soluções ao «problema», finalizando com uma conclusão. Os erros mais freqüentes Estudantes e professores experimentam semelhante sensação de desespero diante da Redação. Os estudantes não escondem seu pavor diante da folha de papel em branco. Os professores sofrem um pouco depois, quando a mesma folha volta preenchida, pron- — 36 — ta para a correção. Tudo o que faltou ao ensino de 1º e 2º graus está ali: um texto tão caótico quanto o raciocínio de quem o escreveu, parágrafos quilométricos, chavões colhidos na linguagem das emissoras de FM e muitos erros de Português, da pontuação à regência verbal, da acentuação à concordância. Alguns erros muito freqüentes: • «A maioria estão descontentes» ou «mais de uma pessoa estavam à espera». O erro é de concordância. • «Para mim ir» e «entre eu e ela». Os pronomes «mim» e «eu» estão trocados. • «Há cinco anos atrás.» O há, neste caso, já indica passado e significa faz. • «Se eu ver», «se ela ver», «se nós vermos». A conjugação do verbo ver no futuro do subjuntivo está errada. É com i. • Conceção, excurção, excessão, pichassão. O erro é de ortografia e envolve letras que freqüentemente se confundem na cabeça do estudante: ss, s e ç. • «Esse problema implica em.» O erro é de regência: O verbo implicar não pede em. • «Ela teve menas sorte do que ele.» A tentativa de concordância é entre o substantivo feminino «sorte» e o adjetivo «menos». (Revista IstoÉ) Temas de redação de vestibulares Neste item você vai encontrar temas de redação de várias instituições de ensino dos últimos vestibulares. O objetivo é dar familiaridade à maneira como hoje são apresentadas as propostas de temas nos vestibulares e é importante que o candidato teste suas condições, seu grau de dificuldade e treine o máximo possível, pois esse é um caminho seguro para aprender ou melhorar redação. Ao selecionarmos os temas, pudemos perceber que eles são sobre assuntos atuais, alguns são referentes aos problemas sociais de nosso país. Portanto uma outra dica é ler constantemente, criar o hábito da leitura diária de jornais e revistas, pois essa leitura traz e aprofunda seus conhecimentos sobre os fatos, dando argumentos para sua explanação. FUVEST/92 — Faça uma dissertação discutindo as opiniões abaixo expostas. É importante que você assuma uma posição a favor ou contra as idéias apresentadas. Justifique-a com argumentos convincentes. Você poderá também assumir uma posição diferente, alinhando argumentos que a sustente. TEXTO I. Alega-se, com freqüência, que o vestibular, como forma de seleção dos — 37 — candidatos à escola superior, favorece os alunos de melhor situação econômica, que têm condições de cursar as melhores escolas, e prejudica os menos favorecidos, que são obrigados a estudar em escolas de padrão inferior de ensino. II. Por outro lado, há quem considere que o vestibular é apenas um processo de seleção que procura avaliar o conhecimento dos candidatos num determinado momento, escolhendo aqueles que se apresentam melhor preparados para ingressar na Universidade. Culpá-lo por possíveis injustiças é o mesmo que culpar o termômetro pela febre. FUVEST/94 — Relacione os textos abaixo e redija uma dissertação, em prosa, discutindo as idéias neles contidas e apresentando argumentos que comprovem e/ou refutem essas idéias. TEXTO “Antes mundo era pequeno / Porque Terra era grande / Hoje o mundo é muito grande / Porque Terra é pequena / Do tamanho da antena parabolicamará.” (Gilberto Gil) “Como democratizar a TV, o rádio, a imprensa, que são o oxigênio e a fumaça que a nossa imaginação respira? Como seria uma TV sem manipulação? São perguntas difíceis, mas a luta social efetiva e, sobretudo, um projeto de futuro são impossíveis sem entrar nesse terreno.” (Roberto Schwarz) “Tevê coloridas / fará azul-rósea / a cor da vida?” (Carlos Drummond de Andrade) PUC/95 — 3 textos para escolher o tema. TEXTO 1 DA VIOLÊNCIA “Do rio que tudo arraste se diz que é violento / Mas ninguém diz violentas / As margens que o comprimem.” (Bertold Brechet) TEXTO 2 “Na primeira noite / eles se aproximam / e colhem uma flor / de nosso jardim. / E não dizemos nada. / Na segunda noite, / Já não se escondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada. / Até que um dia / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a lua e, / conhecendo nosso medo, / arranca-nos a voz da garganta. / E porque não dissemos nada / Já não podemos dizer nada.” (Bertold Brechet) TEXTO 3 QUEM É TEU INIMIGO? “O que tem fome e te rouba / o último pedaço de pão, chamá-lo / teu inimigo / Mas não saltas ao pescoço / Do teu ladrão que nunca teve fome.” (Eduardo Alves da Costa) PUC/96 — 3 textos para relacionálos e tirar o tema. — 38 — TEXTO 1 “Para que olhar para trás, no momento em que é preciso arrombar as portas do impossível. O tempo e o espaço morreram ontem. Vivemos já no absoluto, pois criamos a eterna velocidade onipresente.” (Marinetti) TEXTO 2 “Há informação demais no ar, há mensagens armazenadas nos suportes eletrônicos e tudo isso se torna cada vez mais disponível a um leque cada vez maior de pessoas, a um custo progressivamente menor.” (Arlindo Machado) TEXTO 3 “De fato, a história não tem cessado de nos mostrar que qualquer novo meio de produção de linguagem e de processos comunicativos também produz novas formas e conteúdos de linguagem, produzindo simultaneamente novas estruturas de pensamento, outras modalidades de apreensão e intelecção do mundo, ao mesmo tempo que tende a provocar fundas modificações nos modos de ver e viver e nas interações sociais.” (Lúcia Santaella) (Veja, 1/3/95) (texto da figura: A televisão já transmite para o computador e o computador agora é capaz de mandar texto, vídeo e som para qualquer parte do mundo. Essa rede fala por canais digitais.) UNICAMP-SP/92 — TEMA A: As sociedades ditas civilizadas vêem a violência, em especial quando organizada, como uma ameaça a seu sistema de valores. Levando em conta a coletânea abaixo, escreva uma dissertação sobre o tema: Violência nas tribos urbanas modernas. 1. “(...) a violência é de todos e está em todos. Mesmo que o sistema judiciário contemporâneo acabe por racionalizar toda a sede de vingança que escorre pelos poros dos sistema social, parece impossível não ter que usar a violência quando se quer liquidá-la e é exatamente por isso que ela é interminável. Tudo leva a crer que os humanos acabam engendrando crises sacrificiais suplementares que exigem novas vítimas expiatórias para as quais se dirige todo o capital de ódio e desconfiança que uma sociedade determinada consegue pôr em movimento.” (René Girard, A Violência e o Sagrado) 2. “Aqui nesta tribo ninguém quer a sua catequização / Falamos a sua língua mas não entendemos seu sermão / Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão / Mas não sorrimos à toa / Não sorrimos à toa / Aqui neste barco ninguém quer sua orientação / Não temos perspectiva mas o vento nos dá a direção / A vida que vai à deriva — 39 — é a nossa condução / Mas não seguimos à toa / Não seguimos à toa.” (Arnaldo Antunes, Volte para o seu lar) 3. “O Guns N’Roses, hoje com certeza a banda mais popular do mundo, entra em cena ao vivo e a [sic] cores no maior estilo rock-rebelde: palavrões cabeludos, sexo, drogas, quebra-quebra, atrasos enormes e até interrupções nos shows comprovam que os ‘bad boys’ continuam fazendo o estilo ‘inimigos públicos nº 1’. Com voz rasgada, eles ‘descem o verbo’ na disciplina, na política, nos amantes, nos vizinhos, nos críticos e na imprensa.” (Edição especial de Top Metal Band sobre o Guns N’Roses) 4. “Policiais e pretos, é isso aí / saiam do meu caminho (...) / Imigrantes e bichas / Não fazem nenhum sentido pra mim (...) / Radicais e racistas / Não apontem o dedo pra mim / sou um garoto branco, vindo de uma cidade pequena / apenas tentando acertar as pontas.” (Guns N’Roses, One in a million) 5. Pergunta: O tipo de som produzido por bandas como a sua não incita à violência? Resposta: Acho que sim. Mas é uma violência que não faz mal. É um lance de rebeldia liderada aí no show, sem precisar agredir ninguém. P: Se é assim, por que então um garoto morreu baleado num concerto que os senhores deram, em maio, na praça Charles Müller, em São Paulo? R: Não foi a primeira vez que morreu alguém em um show de rock. Quando muita gente se reúne, pode haver alguma confusão, principalmente no Brasil. Fiquei sabendo que o garoto que morreu estava com uma machadinha. Ele, então, não foi ao show com boas intenções. Ele não estava ali para ouvir música, mas para brigar (...). Culpar o rock por uma morte é mais fácil do que achar o verdadeiro culpado. P: E quem é o verdadeiro culpado? R: Acho que é o País inteiro, o estado em que o País se encontra. (Entrevista com Max Cavalera, vocalista do grupo de rock Sepultura. IstoÉ Senhor, 9/10/91) 6. “Hoje é véspera de Natal de 1999... Apesar do medo da guerra nuclear, que ainda nos assusta, conseguimos sobreviver às freqüentes guerras entre tribos surfísticas antagônicas(...). Multidões de jovens hipertensos dedicam-se a destruir ondas que mereciam ser acariciadas pela superfície lisa de suas peles e pranchas(...). Fiscais uniformizados e armados patrulham as praias para controlar as violentas guerras entre os surfistas. Além disso, aplicam tranqüilizantes nos surfistas que freqüentemente piram com a tensão do cotidiano(...). Discussões entre surfistas são decididas em combates rituais, onde a morte está sempre presente. Nas ruas das cidades imundas e perigosas, marginalizados povos primitivos que habitavam as favelas agora vagam famintos e agressivos.” (Tito Rosemberg, Lendas e Tribos: Revisando o Futuro, Fluir, out./90) — 40 — UNICAMP-SP/95 — TEMA A: Em momentos de crise, o homem procura desesperadamente encontrar saídas. Cientistas sociais, filósofos, políticos afirmam que é preciso alterar as condições econômicas, sociais, educacionais, para que indivíduos possam resolver seus problemas; místicos, esotéricos e defensores de várias formas de auto-ajuda prometem saídas pessoais, por vezes rápidas e eficazes. Na coletânea abaixo, você encontra elementos relevantes para a análise dessa questão. Com base nos fragmentos dessa coletânea, redija um texto dissertativo sobre o seguinte tema: Saídas milagrosas para a crise: solução ou ilusão? 1. “A auto-ajuda contém uma filosofia do senso comum, uma espécie de refinamento do que se vê nos pará-choques de caminhão. ‘Sorria para a vida e ela sorrirá para você’, por exemplo. Ou então: ‘Toda jornada começa com um passo’. É possível discordar disso?” 2. OS MAIS VENDIDOS: FICÇÃO — 1. O Alquimista, Paulo Coelho (8-212*); 2. Escrito nas Estrelas, Sidney Sheldon (1-14); 3. Memorial de Maria Moura, Rachel de Queiroz (3-31*); 4. O Dossiê Pelicano, John Grisham (4-10*); 5. Recomeço, Danielle Steel (5-3); 6. A Firma, John Grisham; 7. O Parque dos Dinossauros, Michael Crichton (4-9); 8. Bala na Agulha, Marcelo Rubens Paiva (8-39*); 9. As Valkírias, Paulo Coelho (2-53); 10. Noite sobre as Águas, Ken Follet (10-55*). NÃO FICÇÃO — 1. Emagreça Comendo, Lair Ribeiro (16); 2. O Sucesso Não Ocorre por Acaso, Lair Ribeiro (2-56); 3. Prosperidade, Lair Ribeiro (3-37*); 4. Comunica- ção Global, Lair Ribeiro (5-50); 5. À sombra das Chuteiras Imortais, Nelson Rodrigues (6-5); 6. Pequeno Manual de Instrução da Vida, Jackson Brown (7-18); 7. Minutos de Sabedoria, Torres Pastorino (8-8*); 8. Arte&Manhas da Sedução, Marion Vianna Penteado (9-12); 9. Na Sala com Danuza, Danuza Leão (4-48*); 10. Manual do Orgasmo, Marilene Cristina Vargas (7-5*). Os números entre parênteses indicam: a) cotação do livro na semana anterior; b) há quantas semanas o livro aparece na lista; (*) semanas não consecutivas. Esta lista não incluiu os livros vendidos em bancas. (Veja, 25/8/93) 3. O arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, acredita que os livros de Paulo Coelho sejam uma espécie de ponto de apoio dos desacreditados na religião. “Eles oferecem um mundo espiritualizado para o vazio deixado pelo materialismo da máquina e ensinam a felicidade que cada um busca”, diz dom Paulo. (A conversão do mago, IstoÉ, 3/8/94) 4. “Para quem ainda não sabe, a grande tábua de salvação chama-se neurolingüística, PNL, tem menos de vinte anos de vida e é um sucesso planetário, sozinha ou somada a outras técnicas. Nada que é humano, de crises de claustrofobia a paixões por doces, lhe é estranho. Tudo é importante, tudo tem remédio. Ensina que o negócio não é ver para crer, mas crer para ver. (...) Andam dizendo que introduziu nos trópicos o conceito de felicidade portátil, do faça você mesmo agora (...). — 41 — Imagine-se, vendo para crer, uma platéia de cinqüenta pessoas reunidas num hotel (...) para ouvir o doutor Lair Ribeiro (...): ‘O cérebro é uma máquina sofisticadíssima que vem sem um manual de instruções’. (...) ‘Ele foi programado para te [sic] dar o que você quer e para ele você quer tudo o que pensa’. (...) ‘Repita: dinheiro cresce como árvore. Dinheiro é limpo. Contribui para a felicidade. Pessoas ricas são abençoadas. O ser humano nasceu para ser próspero’.” 5. “Há também quem veja utilidade em tudo isso, como o psicanalista carioca Luiz Alberto Py. Ele acha que a auto-ajuda é um caso down-trading, uma característica do mercado de cigarros em que muitas vezes uma marca barata supera a venda das campeãs porque o preço delas subiu demais. ‘A psicanálise é cara. Comprar um livro de auto-ajuda é mais barato e pode funcionar’, diz.” (Os fragmentos 1, 4 e 5 foram extraídos de: A felicidade portátil, Veja, 24/11/93) 6. Veja — É possível recuperar a autoestima brasileira, perdida na década de 80? S. Kanitz [economista] — Os brasileiros foram cobaias de experimentos econômicos por quase dez anos, o que baixa a auto-estima de qualquer um. O Lair Ribeiro é resultado disso. Se as pessoas não estivessem de astral tão baixo, ele não venderia tantos livros. A auto-estima começa a melhorar quando você tem controle sobre sua vida econômica. (A crise já era, Veja, 12/10/94) 7. As modernas listas de best-sellers ilustram a imensa necessidade que temos desses livros de iniciação, verdadeiros manuais de sobrevivência para a travessia da vida. Mas a arte de viver adulta, envergonhada, costuma se apoiar em dois álibis: ou na psicologia, e então temos lições positivas de Lair Ribeiro, ou na religião, e temos aqui as fábulas esotéricas de Paulo Coelho. Não ousamos ainda nos apegar a uma arte de viver sem muletas, moldada diretamente pela própria vida. (José Castello, Caderno 2, O Estado de S. Paulo, 8/11/94) 8. A crise criou discursos, que se digladiam pelos louros do acerto. No discurso clamor à nação, o orador pede a uma Razão secreta que desperte, tipo “Deus, onde estás que não respondes?”. Tende para o religioso, para o sagrado horror; já que não há nenhuma Central da Razão que tome uma providência. (...) A crise é boa para aumentar o contato com o absurdo; logo, com o mistério da vida. Neste sentido, a crise é filosófica. (adaptado de Arnaldo Jabor, A crise é a salvação de muitos brasileiros, Os canibais estão na sala de jantar) 9. “Os homens fazem a sua própria história, mas não fazem arbitrariamente, em circunstâncias escolhidas por eles mesmos, e sim em circunstâncias diretamente dadas e herdadas do passado.” (Karl Max, O 18 brumário de Luiz mBonaparte) 10. “Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no monquém: quem mói no asp’ro, não fantasêia.’ (...) Viver é muito perigoso...” (palavras de Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa) — 42 — TEMA B: Na coletânea abaixo, há elementos para a construção de um texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as INSTRUÇÕES GERAIS. “A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.” (Alan Lightman, Sonhos de Einstein, 1993) CENA A: UM HOMEM, UMA MULHER* “Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver. Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim de tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes. O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor. Um homem sentado na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele. Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas. As sombras azuis das árvores numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte constante.” CENA B: UM PAI, UM FILHO* “Uma criança à beira do mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano. Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro. Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda. Uma chuva leve em um dia de primavera, em um passeio que será o último passeio que um o jovem fará no lugar que ele ama. Um pai e um filho sozinhos em um restaurante, o pai, triste, olhos fixos na toalha de mesa. Um trem com vagões vermelhos, sobre uma grande ponte de pedra, de arcos delicados, o rio que sob ela corre, minúsculos pontos que são casas a distância.” INSTRUÇÕES GERAIS: Escolha elementos de apenas uma das cenas apresentadas (A ou B), para construir: as duas personagens, o cenário, o enredo e o tempo de sua narrativa. O foco narrativo deverá ser em 3ª pessoa. O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por você, deverá levar em consideração o trecho de Alan Lightman, que introduz a coletânea. (* os fragmentos das cenas A e B também foram extraídos do livro de A. Lightman) TEMA C: “Na luta contra a Aids, defrontam-se os rigorosos, que exigem respeito aos princípios preventivos básicos e corretos, com os complacentes. Aqueles exaltam o valor do relacionamento sexual responsável, o combate efetivo à toxicomania e adequada seleção de doadores de sangue. Os outros preconizam coisas mais agradáveis, como por exemplo o emprego desbragado e a doação gratuita de camisinhas, a distribuição de seringas com agulhas a drogados e a perigosa, além de problemática, lavagem delas com água sanitária. Agora, os permissivos, que não estão obtendo qualquer vitória, pois a doença afigura-se cada vez mais difundida, ganharam novo aliado: o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), que concordou com o fornecimento de se- — 43 — ringas e agulhas, sem ônus, aos viciados. Portanto, esse órgão público associou ilegalidade à complacência. ” (Vicente Amato Neto [médico infectologista], Painel do leitor , Folha de S.Paulo, 18/9/94) A carta acima faz referência a uma proposta polêmica do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes): o fornecimento gratuito de seringas e agulhas a viciados em drogas injetáveis. A ) Caso você concorde com a proposta do CONFEN, escreva uma carta ao Dr. Vicente Amato Neto, procurando convencê-lo de que ela pode de fato contribuir para evitar a disseminação do vírus da Aids. B) Caso você discorde dessa proposta, escreva uma carta ao Presidente do CONFEN, procurando convencê-lo de que ela não deve ser posta em prática. Ao desenvolver sua redação, além de expor suas opiniões, você deverá necessariamente levar em consideração a coletânea abaixo. 1. “Graças a uma legislação liberal, a maior cidade suíça [Zurique] criou uma área especial — Letten, uma estação de trens desativada — onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (...) Desde 1992, quando os junkies* se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não pára de crescer — um fato atestado pelas 15.000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem é que a dis- tribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids.” * junkies: termo inglês que significa drogados. (O pico à luz do dia, Veja, 7/9/94) 2. Em nosso país, exige-se o diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pessoas não treinadas criam perigos para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e seringas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalidade se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado. A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precários. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma “roda”*, provavelmente dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada (sociológica, por exemplo). Não é difícil adivinhar que se trata de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer conseqüência para a epidemia da Aids. * roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas. (adaptado de Vicente Amato Neto & Jacyr Pasternak, A doação de seringas e agulhas a drogados, O Estado de S. Paulo, 5/9/94) — 44 — 3. “A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metada a taxa de propagação do vírus da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade Johns Hopkins, de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos. (...) antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes. Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da Aids.” (Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, Folha de S.Paulo, 2/11/94) 4. “No futuro, pagaremos caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado. Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto, a menininha ingênua, o senhor enrustido, a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução e higiene. Haverá milhões de pessoas com Aids, dependendo de tratamentos caros e assistência permanente. (...)” (Drauzio Varella, A era do genes, Veja 25 anos — Reflexões para o futuro, 1993) ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE APENAS AS INICIAIS DE SEU NOME. UNICAMP-SP(96) — TEMA A : A vida em sociedade exige uma clara definição dos limites entre a liberdade do cidadão e o poder do Estado. A análise de alguns casos de intervenção estatal na esfera privada (como os exemplificados em alguns dos fragmentos da coletânea a seguir) pode levar à conclusão de que, nesses casos, o Estado cerceia a liberdade individual, assumindo uma faceta totalitária. Pode-se argumentar, por outro lado, que tais medidas são inerentes ao papel do Estado, pois visam a garantir o bem-estar do cidadão e da sociedade como um todo. Com base na leitura da coletânea, escreva um texto dissertativo sobre o seguinte tema: Poder do Estado e direitos do cidadão: os limites da liberdade. 1. “A polêmica surgiu. Há quem proteste contra a nova lei [obrigatoriedade do uso de cinto de segurança na cidade de São Paulo]. Que direito tem o Estado de interferir na minha segurança pessoal? Como é que legisla sobre os riscos que quero assumir? Vai agora proibir o alpinismo, a asa delta, o boxe? O álcool e o cigarro serão banidos da cidade? Merece ser multado quem passeia à noite pela praça da Sé? O suicídio está fora da lei? Sem dúvida, a obrigatoriedade do cinto de segurança está em desacordo com os princípios liberais. Se alguém quer arriscar a vida, recusando-se a usar o cinto, é problema dele. O Estado nada tem a ver com isso. (...) Mas será que, quando alguém deixa de usar cinto, está conscientemente optando pelo risco de ter um acidente fatal?” (Marcelo Coelho, Cinto desperta desejo de obedecer à lei, Folha de S.Paulo, 9/12/94) — 45 — 2. “Embora, em tese, o uso do cinto de segurança diminua os riscos em caso de acidente, a sua imposição cria uma situação em que o sujeito é protegido contra ele mesmo. ‘Por razões filosóficas, condeno a qualquer relação paternalista entre o Estado e o cidadão. É como se tornassem obrigatório, por exemplo, escovar os dentes. Não faz sentido. É preciso que o sujeito se convença de que aquele comportamento é melhor para ele’, diz Celso Bastos, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional. Segundo Bastos, o uso de cinto de segurança deve ser determinado por critérios pessoais. Ele só admitiria a obrigatoriedade se ficasse provado que a ausência do cinto põe em perigo a vida de terceiros. Ele defende o uso de campanhas para mostrar a importância do cinto de segurança, deixando a opção de usá-lo ao indivíduo. (...) ‘O Estado tem que cuidar de coisas mais importantes, como o combate à violência. Isso ele não consegue fazer de maneira eficiente’, afirma Bastos.” (Eunice Nunes, Para jurista lei é paternalista, Folha de S.Paulo, 17/11/94) 3. “Ah, gozar a vida! Exercitar-se todo dia, não comer carne, não beber, usar camisinha, não consumir drogas e, claro, não fumar. Está aí a receita para atingir a meta final: morrer, sim, mas um minuto, três semanas, quatro meses ou alguns anos depois do amigo fumante, gordo, desregrado, carnívoro e promíscuo. (...) Foi, certamente, pensando nisso que o prefeito (...) resolveu proibir cigarro em restaurante. Está muito certo. Garante, assim, que na hora do repasto ninguém possa encurtar a vida. Ao menos com tabaco. Pense quanto tempo os paulistanos viverão a mais graças ao decreto! Pena que, por uma lamentável falha, não se cogitou em interditar a ingestão, comprovadamente maléfica, de doses excessivas de gordura, açúcar refinado e álcool nos restaurantes.” (Marcos Augusto Gonçalves, Obrigado por não fumar, Folha de S.Paulo, 1/10/95) 4. “O norte-americano Arthur Younkin, de 45 anos, foi condenado a cumprir 95 dias de prisão por ser gordo. Um juiz da cidade de Wichita deu a sentença porque ele não cumpriu a ordem de perder peso ‘substancialmente’. Younkin pesa 200 quilos e, segundo seu advogado, a obrigatoriedade do controle de peso é inconstitucional. (...) Younkin foi mandado embora da lanchonete em que trabalhava, pois um cliente se queixou às autoridades de saúde da cidade que ele suava sobre a comida, apesar de usar duas camisetas e um pano protetor na cabeça. Convocado pelo juiz, Younkin reclamou que seu peso o impede de ter um emprego. Em vez de retirar a queixa, o juiz o enviou para uma instituição na qual ele só poderia consumir 1.200 calorias por dia, no máximo. Depois de perder 25 quilos, [o juiz] determinou sua liberação, com a condição de que Younkin continuasse a fazer regime e a perder peso. Como não foi isso que ocorreu, o juiz decidiu colocá-lo atrás das grades.” (Americano vai preso por ser gordo, O Estado de S. Paulo, 20/10/95) — 46 — 5. Ao Estado confere-se autoridade para promulgar e aplicar as leis que definem os costumes públicos lícitos, os crimes, bem como os direitos e as obrigações dos membros da sociedade. Exige-se dos membros da sociedade obediência ao governo ou ao Estado, mas reconhece-se o direito de resistência e de desobediência quando a sociedade julga o governo ou mesmo o Estado injusto, ilegal ou ilegítimo. A idéia de sociedade pressupõe a existência de indivíduos independentes e isolados, dotados de direitos naturais e individuais, que decidem, por um ato voluntário, tornarem-se sócios ou associados para vantagem recíproca e por interesses recíprocos. A sociedade civil é o Estado propriamente dito. Trata-se da sociedade vivendo sob o direito civil, isto é, sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano. Feito o pacto ou o contrato [social], os contratantes transferiram o direito natural ao soberano e com isso autorizam a transformá-lo em direito civil ou direito positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada dos governados. Os indivíduos aceitam perder a liberdade civil; aceitam perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania. Enquanto criam a soberania e nela se fazem representar, são cidadãos. Enquanto se submetem às leis e à autoridade do governante que os representam, chamam-se súditos. São, pois, cidadãos do Estado e súditos das leis. (adaptado de Marilena Chauí, As filosofias políticas, Convite à Filosofia, 1994) 6. “Pegue uma idéia com charme internacional, embora algo supérflua numa cidade onde milhões vivem na pior miséria e violência. Venda essa idéia como imprenscindível à nossa modernidade (...) e imponha o decreto aos poucos, antes como conselho, depois como multa e só no fim como prisão. Transforme os que aplicam as penalidades em propagandistas do Estado, militantes da pureza (do ar, por enquanto); submeta as vítimas a sermão, além de multa. Como na Alemanha dos anos 30, vá criando uma atmosfera de vergonha, estigmatize quem não se intimidar (...). Desloque os opositores, aqueles para quem democracia é mais do que uma ditadura da maioria, de modo que eles se vejam obrigados a defender as causas mais ridículas: o direito de se esborrachar no trânsito, de fumar até morrer. (...) O que ocorre é que em toda parte o Estado deixa de regular a economia e transfere sua força de repressão para a vida particular, psíquica e comportamental. O próprio Estado parece desmilinguir-se, mas só nas aparências: ele apenas muda de lugar, infiltra-se na capilaridade social. (...) Não é que o Estado esteja em crise e por conseqüência a sociedade se torne mais livre; ao contrário, a sociedade se totalitariza.” (Otavio Frias Filho, Cortina de Fumaça, Folha de S.Paulo, 28/9/95). 7. O Partido ordenava que o indivíduo rejeitasse a prova visual e auditiva. (...) Eles [os intelectuais do Partido] estavam errados! O óbvio, o tolo e o verdadeiro tinham que ser defendidos. Os truísmos são verdadeiros, esse é que é o fato! O mundo sólido existe, suas leis não mudam. As pe- — 47 — dras são duras, a água é líquida, os objetos largados no ar caem sobre a crosta da terra. Com a impressão (...) de estar fixando um importante axioma, ele escreveu: A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitindose isto, tudo o mais decorre. ............................................................. Não podia mais lutar contra o Partido. Além disso, o Partido tinha razão. Devia ter: como poderia enganar-se o cérebro imortal coletivo? (...) A santidade era estatística. Era apenas a questão de aprender a pensar como o Partido. (...) O lápis pareceu-lhe grosso e desajeitado entre os dedos. Começou a grafar os pensamentos que lhe vinham à cabeça. Primeiro escreveu em grandes letras trêmulas: LIBERDADE É ESCRAVIDÃO. Depois, quase sem pausa, escreveu por baixo: terceiro dia, mais símbolos apareceram no batente esquerdo. Sua esposa, Moonshadow, desde o aparecimento das primeiras inscrições, passava os dias examinando antigos recortes de jornais, enrolada em uma manta indígena, entoando estranhos cânticos. Na tarde do quarto dia, Theodore encontrou um novo conjunto de símbolos, agora inscritos na própria porta. Ao entrar em casa, constatou que Moonshadow havia desaparecido. Procurou imediatamente a polícia. Foi assim que esse estranho caso chegou às minhas mãos. Comecei por tentar decifrar o significado dos símbolos, que descobri fazerem parte de um código alfabético. Consegui decifrar algumas palavras. Mas e os desenhos no centro da porta? Certamente não se tratava do mesmo código... A partir da coletânea acima, elabore uma narrativa em que o narrador (investigador de polícia) apresente a solução para o misterioso desaparecimento de Moonshadow. Siga as INSTRUÇÕES GERAIS. DOIS E DOIS SÃO CINCO (os trechos acima, extraídos do livro 1984, de George Orwell, tematizam a angústia da personagem Winston, que vive em uma sociedade governada totalitariamente por um partido único). INSTRUÇÕES GERAIS: o foco narrativo deverá ser, necessariamente, em 1ª pessoa; se julgar necessário, você poderá introduzir outras personagens na história. TEMA B: O que estou para narrar não é apenas um caso incomum e misterioso. É também a história de uma fatalidade. Tudo começou em uma tarde clara de outono, quando Theodore Morgenstern, ao chegar em casa, encontrou um estranho conjunto de símbolos inscritos no batente esquerdo da porta da frente. No dia seguinte, o milionário californiano reparou que outros estranhos símbolos haviam sido inscritos no batente direito; no TEMA C: “Veja — Um de seus ensaios termina com uma frase provocativa de Darwin: ‘Se a miséria de nossos pobres for causada não pelas leis da natureza mas por nossas instituições, grande é o nosso pecado’. Mais de 100 anos depois já se pode determinar sobre que ombros colocar o grande pecado da miséria humana? Stephen J. Gould — Darwin já sabia a resposta. Ela está implícita no enunciado da frase. (...) Ele sabia que as instituições — 48 — humanas podem produzir miséria. De maneira mais geral, a lição que permanece até hoje é que as instituições não são imutáveis. Sermos cruéis uns com os outros não é uma determinação natural. É uma invenção das instituições que pode ser mudada. (...) / Veja — A permanência da miséria no mundo moderno pode ser tomada como demonstração de sua tese de que o simples passar dos anos não traz progresso? Gould — Quando digo que não existe progresso, estou me referindo apenas à evolução dos seres vivos ao longo das eras. Digo que não há progresso, no sentido de que as espécies, incluindo a humana, não sofrem variações com o objetivo de ser cada vez melhores. Elas variam ao acaso. Na natureza não há progresso como o experimentado pelas culturas e pelo conhecimento humano, que são cumulativos. Ou seja, o que se aprende em uma geração é transmitido à outra, que trabalha sobre a herança recebida e passa adiante algo potencialmente melhor. Na natureza não há esse trabalho. As variações ocorrem ao acaso e, se o ambiente as favorecer, os portadores e seus descendentes terão mais chance de sobreviver.” (Veja, 22/9/93) Na entrevista acima, o biólogo Stephen J. Gould defende a idéia de que as variações que sofrem as espécies não visam a torná-las “melhores”. Segundo ele, as variações ocorrem ao acaso. Abaixo você encontra duas opiniões relativas à possibilidade de aprimoramento da espécie humana. TEXTO I Veja — (...) Você é nazista?/ Victor Fasano — Algumas idéias nazistas são excelentes. Por exemplo: quando desenvolvo uma espécie no meu criadouro de animais, procuro no acasalamento não misturar o sangue de um macho todo ferradinho com o de uma fêmea maravilhosa. O burro, o incompetente, o que foi comido pelo leão não vai passar o gene para frente. Nisso, Hitler tinha razão. / Veja — Dentro desse ponto de vista, a escolha de Maitê Proença — loura, linda e de olhos claros — para mãe de seu filho é perfeita? / Fasano — (...) Quero ter uma cria para ensiná-la a praticar esportes e a amar a natureza. Morro de medo de que ela se ligue em computadores. Por isso gostaria que meu filho nascesse de uma mãe que pensasse como eu. Acho que Maitê é essa pessoa.” (Veja, 11/10/95) TEXTO II “Hitler, antes de se matar no famoso ‘bunker’ em que se refugiava na Chancelaria do Reich, escreveu o mais sinistro dos capítulos da história. Não há (...), em nenhum outro texto trágico da saga da humanidade, nada que se compare ao que fizeram Hitler, Goebbels, Himmler e o sinistro Mengele em termos de ódio puro ao homem que não cabia nos conceitos ‘raciais’ do arianismo. (...) Caso Hitler houvesse ganho a guerra que perdeu em 1945, nosso mundo seria hoje inteiramente diverso do que é. A gente se irrita com a miséria que grassa no Brasil, com a guerra da Europa Central (...), mas nada disso nos dá uma idéia, pálida que seja, do mundo em que estaríamos vivendo caso a guerra tivesse sido ganha por Adolf Hitler. (...) Garanto a Victor Fasano que mal valeria a pena estar vivo em tal mundo. Nem com Maitê Proença embalando um berço com uma bonita criança dentro.” (Antonio Callado, Folha de S.Paulo, 28/10/95) — 49 — Tomando por base uma leitura cuidadosa dos textos I e II, e considerando a entrevista do biólogo Stephen Jay Gould, reflita sobre os aspectos considerados na questão da evolução da espécie humana, e: 3. "O defeito maior do presidencialismo, no Brasil, é que o presidente pode muito e manda pouco — ou não consegue mandar. Há sempre alguém, na cúpula federal, que, embora podendo menos, manda mais. Ou desmanda." • Caso você discorde das idéias defendidas pelo Sr. Victor Fasano, escreva-lhe uma carta procurando convencê-lo de que não se pode tratar a questão do aprimoramento da espécie humana apenas do ponto de vista biológico. (Joel Silveira, Guerrilha Noturna) • Caso você concorde com as idéias do Sr. Victor Fasano, escreva uma carta ao Sr. Antonio Callado procurando convencê-lo de que o aprimoramento biológico é um fator importante no processo evolutivo da espécie humana. ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE APENAS AS INICIAIS DE SEU NOME. FGV-SP/96 — Fragmentos de textos divididos em 2 blocos para escolha de um deles. BLOCO 1: 1. “Em todos os países que estão tentando uma adesão periférica ao processo de globalização, e fazem isso simultaneamente com planos de estabilização, surgiu um fenômeno: os presidentes ficaram levemente decorativos. Seja ele um gângster, um corrupto ou um intelectual.” (José Luís Fiori, Veja) 2. "Quem vai dar as regras do jogo sou eu. O candidato a Presidente da República sou eu. O presidente serei eu." (Fernando Henrique Cardoso. Folha de S.Paulo. Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994) BLOCO 2: 1. "Vejo a literatura como um exército que está sendo derrotado pela cultura das massas. Vanguardistas são os autores que conseguem dissuadir o inimigo." (Ricardo Piglia, escritor argentino, O Globo, Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994) 2. “Os jornais eletrônicos, que estão sendo proclamados como substitutos definitivos dos veículos impressos, são uma caricatura do jornalismo.” (Alberto Dines, jornalista, Jornal do Brasil, Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994) 3. “A Idade Média nos deu as catedrais góticas e a Divina Comédia. A nova Idade Média nos dará excelentes sedes bancárias e um belo catálogo de eletrodomésticos que poderemos mandar vir de Miami pelo correio.” (Carlos Heitor Cony, jornalista, Folha de S. Paulo, Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994) FAAP-SP/95 — PROPOSTA I TEMA A: “A arte não é um espelho que mostra a realidade como ela é. A arte mostra-nos um mundo refletido por uma mente incomum que impõe um estilo no que retrata.” (Walter Kaufmann) TEMA B: “Curtir filme ruim, música vagabunda e programa de índio vira moda entre os jovens brasileiros, que — 50 — elegem como ídolos os ultra-imbecis Beavis e Butt-head.” (Veja, 20/9/95, p. 102) TEMA C: “Nós temos por testemunho as seguinte verdades: todos os homens são iguais: foram aquinhoados pelo seu Criador com certos direitos inalienáveis e entre esses direitos se encontram o da vida, da liberdade e da busca da felicidade. Os governos são estabelecidos pelos homens para garantir esses direitos, e seu justo poder emana do consentimento dos governados. Todas as vezes que uma forma de governo se torna destrutiva desses objetivos, o povo tem o direito de mudá-lo ou de abolir, e estabelecer um novo governo, fundando-o sobre os princípios e sobre a forma que lhe pareça a mais própria para garantir-lhe a segurança e a felicidade.” (trecho de declaração de independência dos Estados Unidos, de 1776, reflexo na América dos ideais liberais iniciados pela Revolução Gloriosa em 1688, na Inglaterra) PROPOSTA II TEMA A: “O pior governo é o mais moral. Um governo composto de cínicos é freqüentemente mais tolerante e humano. Mas, quando os fanáticos tomam o poder, não há limite para a opressão.” (Henry Louis Mencken (1880-1956) Jornalista americano) TEMA B: “Como a fotografia é capaz de reproduzir a realidade com mais precisão do que nunca para mostrar a verdade, esse novo meio é inimigo mortal da arte e, na medida em que o de- senvolvimento da fotografia é produto do progresso tecnológico, poesia e progresso são como dois homens ambiciosos que se odeiam. Quando seus caminhos se cruzam, um deles deve dar passagem ao outro.” (Marshall Berman em Tudo que é sólido desmancha no ar) TEMA C: “Eu, etiqueta — Em minha calça está grudado um nome / Que não é meu de batismo ou de cartório, / Um nome... estranho. / Meu blusão traz lembrete de bebida / Que jamais pus na boca, nesta vida. / Em minha camiseta, a marca de cigarro / Que não fumo, até hoje não fumei. / Minhas meias falam de produto / Que nunca experimentei / Mas são comunicados a meus pés. / Meu tênis é proclama colorido / De alguma coisa não provada / Por este provador de longa idade. / Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, / minha gravata e cinto e escova e pente, / meu copo, minha xícara, / minha toalha de banho e sabonete, / meu isso, meu aquilo, / desde a cabeça ao bico dos sapatos, / são mensagens, / letras falantes, / gritos visuais, / ordens de uso, abuso, reincidência, / costume, hábito, premência, / indispensabilidade / e fazem de mim homem-anúncio itinerante, / escravo da matéria anunciada.” (Carlos Drummond de Andrade) UNESP-SP/92 — PROPOSTA: O trabalhador brasileiro, em sua grande maioria, recebe salário mensal que tem como ponto de referência a chamada “Cesta Básica”. Leia o texto abaixo e, baseado no que ele significa para você, escreva a sua redação, dissertativa. — 51 — COMIDA (Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sérgio Britto) “Bebida é água / Comida é pasto. / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comida, / A gente quer comida, diversão e arte. / A gente não quer só comida, / A gente quer saída para qualquer parte. / A gente não quer só comida, / A gente quer bebida, diversão, balé. A gente não quer só comida, / A gente quer a vida como a vida quer. Bebida é água. / Comida é pasto. / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comer, / A gente quer comer e quer fazer amor. / A gente não quer só comer, / A gente quer prazer pra aliviar a dor. / A gente não quer só dinheiro, / A gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, / A gente quer inteiro e não pela metade.” (em Jesus não tem dentes no país os banguelas – Titãs, 1988) UNESP-SP/93 — “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.” (Provérbio) “Todo homem tem direito à vida, à liberdade e a segurança pessoal.” (Art. 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10.12.48 pela Assembléia-Geral das Nações Unidas) PROPOSTA: Para muitos, a idéia em si é abominável. Porém, uns muito, uns mais ou menos e outros nem tanto enxergam na instituição jurídica da pena de morte um dos caminhos para o combate à violência que se exacerba a cada dia em nosso país. O tema tem estado em debate na imprensa e participa de discussões tanto no bar da esquina quanto no Congresso Nacional. Você, claro, já pensou nisto. Então, faça uma redação dissertativa sobre “A Pena de Morte no Brasil”. Demos-lhe, em epígrafe, duas indicações. Se você quiser e achar conveniente, utilize-as como estímulo a suas reflexões. FUNESP-SP(94) —Leia o seguinte texto: CASO DE ESCOLHA: O padrinho foi ao colégio, na Muda, e tirou Guilherme para passear. Olhos de inveja do irmão, também interno, mas sem direito a sair, porque seu comportamento era do tipo “deixa muito a desejar”, na linguagem do padre-reitor. Desejar o quê — ele não sabia. Sabia que o irmão ia gozar a vida lá fora, ar, ruas, cinemas, tudo aquilo que vale a pena, enquanto ele, Gustavo, continuaria mergulhado no marmorto do pátio, dos corredores, do nhenhenhém cotidiano. Guilherme tinha planos para a emergência, e todos se resumiam em tirar o máximo possível da liberalidade do padrinho. — O senhor me dá um presente de aniversário? — Seu aniversário é daqui a oito meses. — É, mas... — Bem, eu dou. O padrinho propôs-lhe um blusão alinhado, mas entendia que roupa é obrigação de pai e mãe — não vale. Livro tam- — 52 — bém não. Nas férias aceitaria a coleção science-fiction, mas em pleno ano letivo, para descanso de tanta labuta no campo da ciência e das letras, o que lhe convinha mesmo era um brinquedo bem legal. — Brinquedo? Mas você pode brincar com essas coisas no colégio? — Posso. Talvez não pudesse, mas isso era outros quinhentos. Foram à loja de brinquedos. O problema era escolher entre o trem elétrico, o foguete cósmico, a caixa de aquarela, o equipamento de Bat Masterson, o cérebro eletrônico e outras infinitas tentações. — Vamos, escolhe — dizia o padrinho, disposto a tudo, menos a esperar. Ele comparava, meditava, decidia, arrependia-se. E como era impossível levar todos os brinquedos que lhe atraíam, pois cada um tinha seu incoveniente, que era não ter as qualidades dos demais, repeliu todos: — Quero aquela gaitinha. Aquela verde, ali. O padrinho fez-lhe a vontade, sem compreender. Uma bobagem de oitenta cruzeiros! No colégio, Gustavo queria saber. E sabendo, escarneceu: — Você é mesmo uma besta. Tanta coisa bacana para escolher, e vem com essa gaitinha mixa. Guilherme quis provar que não era micha coisa nenhuma, tinha um engaste de pedrinhas faiscantes, som espetacular. O irmão voltou-lhe as costas, com desprezo: — Palhaço! Ah, se fosse com ele...E Gustavo passou a comportar-se melhor, na esperança de também ir à cidade. Um dia o padrinho dele apareceu, saíram. Aplicou o golpe do aniversário. O padrinho igual a todos os padrinhos do mundo, pensou em oferecer-lhe um blusão alinhado. Recusou, e foram parar na loja de brinquedos. Gustavo olhou superiormente para o monte de coisas que derrotara Guilherme. Sabia escolher, e preferiu logo a metralhadora japonesa. Mas pensou que se cansaria depressa de seu papoco; trocou-a por um marciano com bateria: os marcianos passam de moda; quem sabe se esse laboratório de química? Não, chega a química do programa. Foi escolhendo, refugando, substituindo. O padrinho consultava o relógio: “Escolhe, menino!” Era preciso escolher para sempre. E nada lhe agradava para sempre, nada valia verdadeiramente a pena. Com a angústia lembrou-se do irmão, procurou aflito uma coisa no milheiro de coisas e, apontando-a, murmurou: — Quero aquela gaitinha. (do livro Cadeira de Balanço, 1966. in Andrade, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa, 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 1226-27.) Em todas as fases de nossa vida temos de tomar decisões, fazer escolhas. Algumas escolhas têm efeitos passageiros; os efeitos de outras são permanentes. Algumas escolhas são estritamente pessoais; outras dependem de nosso relacionamento com o grupo de convívio, ou mesmo, com toda sociedade em que vivemos. Carlos Drummond — 53 — de Andrade, com singeleza de artista, explorou o tema em forma de narrativa, na crônica “Caso de Escolha”. Faça uma redação sobre o tema da “escolha”, em forma dissertativa. Escolha livremente o enfoque a partir do qual abordará esse tema. FUNESP-SP/95 — “O Brasil de ontem, de hoje, e as eleições de amanhã.” O MANDA-CHUVA Como dizia, porém, na Bruzundanga, em geral, o mandachuva é escolhido entre os advogados, mas não julguem que ele venha dos mais notáveis, dos mais ilustrados, não: ele surge e é indicado dentre os mais néscios e os mais medíocres. Quase sempre, e é um leguleio da roça que, logo após a formatura, isto é, desde os primeiros anos de sua mocidade até aos quarenta, quando o fizeram deputado provincial, não teve outro ambiente que a sua cidadezinha de cinco a dez mil habitantes, mais outra leitura que a dos jornais e livros comuns da profissão — indicadores, manuais etc.; e outra convivência que não a do boticário, do médico local, do professor público e de algum fazendeiro menos dorminhoco, com os quais jogava o solo, ou mesmo o “truque” nos fundos da botica. É este homem que assim viveu a parte melhor da vida; é este homem que só viu a vida de sua pátria na pacatez de quase uma aldeia; é este homem que não conheceu senão a sua camada e que o seu estulto orgulho de doutor da roça levou a ter sempre um desdém bonachão pelos inferiores; é este o homem que empregou vinte anos, ou pouco menos, a conversar com o boticário sobre as intrigas de seu lugarejo; é este homem cuja cultura artística se cifrou em dar corda no gramofone familiar; é este homem cuja única habilidade se resume em contar anedotas; é um homem destes, meus senhores, que depois de ser deputado provincial, geral, senador, presidente de província, vai ser o mandachuva de Bruzundanga. (...) Durante esse longo tempo em que ele passa como deputado, senador, isto e aquilo, o esperançoso mandachuva é absorvido pelas intrigas políticas, pelo esforço de ajeitar os correligionários, pelo trabalho de amaciar os influentes e os preponderantes, na política geral e regional. A sua atividade espiritual limita-se a isto. Os preponderantes e influentes têm todo o interesse em não fazer subir os inteligentes, os ilustrados, os que entendem de qualquer cousa; e tratam logo de colocar em destaque um medíocre razoável que tenha mais ambição de subsídios do que mesmo a vaidade do poder. Além disso, eles têm que atender aos capatazes políticos das localidades das províncias; e, em geral, estes últimos indicam, para os primeiros postos políticos, os seus filhos, os seus sobrinhos e de preferência a estes: os seus genros. A ternura de pai quer sempre dar essa satisfação à vaidade das filhas. (in Lima Barreto. Os Bruzundangas. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1961, p.90-91.) UNESP-SP/96 — “A violência contra a mulher, no Brasil.” O BRASIL E A DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES: Brasil é o 53º colocado no índice mundial de igualdade entre homens e mulheres. São — 54 — dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unida) e integram o Relatório do Desenvolvimento Humano de 1995. Foram pesquisados 130 países, levando-se em conta alfabetização, esperança de vida e economia. Em 116 países foram pesquisadas a representação feminina nos parlamentos, a porcentagem de mulheres em posições de gestão, a participação na força de trabalho e sua parte no rendimento nacional. No Brasil, o salário médio das mulheres equivale a 76% do salário dos homens; apenas 5% das mulheres fazem parte do parlamento. No ranking de igualdade entre homens e mulheres na América do Sul, embora o Brasil seja o país mais rico, situa-se em 6º lugar, abaixo do Uruguai, Argentina, Venezuela, Chile e Colômbia. (Resumo de notícia publicada no jornal Folha de S.Paulo, Cotidiano-1, em 18/8/95. O CASO SOLANGE: A impunidade começa a partir dos pequenos gestos de indiferença e de preconceitos contra as mulheres que são registrados no cotidiano da comunidade. Ao levantar informações sobre o assassinato de Solange [jovem morta por resistir ao estupro, em São Paulo], infelizmente pudemos observar a atitude, às vezes bastante cúmplice da violência, por parte da comunidade. Parece que a comunidade ainda aceita que se bata na namorada ou mesmo na esposa. Assim, torna-se cúmplice da violência. Essa cumplicidade vai-se consolidar nas salas dos tribunais de justiça, que acabam colocando o réu em liberdade. E a impunidade se perpetua. Em 1994 foram registrados 114.832 casos de violência, nas Dele- gacias de Polícia de Defesa da Mulher do Estado de São Paulo. Neste ano de 1995, em que se completam 10 anos de implantação dessas Delegacias, só no primeiro semestre foram registrados 67.957 Boletins de Ocorrências (agressões físicas e psicológicas, estupros, atentados violentos ao pudor, ameaças, cárceres privados, raptos, seduções etc.). Resumido do Boletim Informativo da Campanha contra a Violência à Mulher nº 4 (maio de 1995). Os dados sobre ocorrências policiais foram fornecidos pela Coordenadoria-Geral das Delegacias de Polícia de Defesa da Mulher do Estado de São Paulo. ISTO É UM ENFORCADOR — RASTEJA, seu burro! RASTEJA! Repetiu isso um bocado de vezes, eu já estava com o corpo mole e dor na nuca.Totó, encolhido, parecia surdo. Seu Quinca não desistia. Entrou outra vez na Serraria: — Roma não se fez num dia! Voltou com uma coleira especial. — Agora ou ele faz ou diz por que não faz. Colocou-a no pescoço do Totó, fechou a fivela, segurou firme, gritou novamente: — RASTEJA! Totó parecia de pedra. Achei que ele simplesmente não queria rastejar. Tinha pulado, deitado, subido, descido, esperado, mas rastejar ele não queria. Não era uma questão de aprender como seu Quinca pensava. Mas seu Quinca pu- — 55 — xava, puxava, fui ficando aflito. Totó dava ganidos estrangulados, entupidos, como o choro do Gentil. Seu Quinca estava vermelho de ódio, as orelhas pareciam maiores, o dente de ouro mais pontudo, cuspe no canto da boca: — RASTEJA senão te acabo com a raça! Quando abriu a mão para ajeitar melhor a coleira, Totó deu sua melhor pirueta. E, no caminho de ida, mordeu a mão de seu Quinca. Fez três furos num arranhão de sangue. Mordeu e correu para casa. Como um corisco. Seu Quinca ficou uma fera. Gritou: — Depois eu acerto as contas com esse cão do diabo, ele me paga! Você vai pra casa, leva a carrana pra mim, dá pra Cecília guardar. A carrana era a coleira. Cheguei em casa assustado, Totó estava tremendo de baixo da cama. Tirei a maldita carrana de seu pescoço com cuidado, havia sangue nos pêlos. Fiquei parado com ela nas mãos, medindo a maldade das garras, capaz de fazer qualquer um rastejar. Eu ainda chorava quando bati palmas na porta da casa de seu Quinca pra entregar a coleira, nunca mais vou deixar treinar o Totó. Não havia ninguém lá, era quase absurdo, Dona Cecília não tinha ordem de sair nem para ir na esquina comprar sal. Fiquei parado olhando a porta, a boa fechadura mais o cadeado. E tive, de novo, uma idéia-urubu bem pretinha descendo em minha cabeça: — Dona Cecília também usava carrana! Uma carrana invisível que seu Quinca empurrava pra baixo — RASTEJA! Mesmo de longe! Fi- quei assustado, Dona Cecília vivia sangrando, só que era sangue invisível. Ela e o Gentil, de manhã até a noite sendo treinados, como não percebi antes? Larguei a carrana no chão com nojo, quem importa que roubem, melhor pros cachorros! Voltei correndo pra casa, com medo de Seu Quinca chegar. E me enfurnei no quarto pra fazer curativo no pescoço do coitado do Totó. (...) Na hora da janta a Mãe disse pro Pai: — Dona Cecília e o filho dela fizeram a mala e pegaram o trem das seis. Nem deixaram o endereço. Ela veio se despedir de nós, disse que vai pro sertão, não quer ver nunca mais a cara de Seu Quinca. (Valle, Dinorath do. Totó Piruleta e o Menino do Povo. Curitiba: Criar Ed., 1986, p. 22-25.) UFMT/99 — Os textos abaixo, de fontes diversas, apresentam opiniões, fatos, dados sobre aspectos da realidade social, econômica e cultural vivida pela criança brasileira. Leia-os atentamente. 1 (Marcus Vaillant. Fotógrafo — Diário de Cuiabá, 26/7/96) — 56 — 2. “Chega suado e veloz do batente / e traz sempre um presente pra me encabular / tanta corrente de ouro, seu moço / que haja pescoço pra enfiar. / Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro: / chave, caderneta, terço e patuá, / um lenço e uma penca de documentos / pra finalmente eu me identificar. / Olha aí, olha aí, o meu guri ...” Proposta Produza um texto verbal que expresse sua reflexão sobre a realidade apresentada. (Chico Buarque, Almanaque, 1981.) 3. “A criança não deve permitir que desejos ilícitos prevaleçam deixando espaço para exploração, violência, crueldade e opressão. A criança deve aprender desde cedo que ninguém toca seu corpo sem sua expressa vontade” — afirma a professora Irenilda Ângela dos Santos, que orientou a pesquisa “O Lado Obscuro da Violência Doméstica: Abuso Sexual Incestuoso.” (Romilson Dourado, “Pesquisa pede mais educação”. A Gazeta, 22/9/96) 4. “A criança deve beneficiar-se de proteção especial e dispor de oportunidades e serviços assegurados por lei ou por outros meios, a fim de poder desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente de modo sadio e normal, em condições de liberdade e dignidade. Na adoção de leis com este objetivo, a consideração fundamental deve ser o interesse superior da criança.” (Artigo 2o da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela AssembléiaGeral da ONU, em 20/11/59) Os textos lidos devem servir de base para a sua produção textual. Reflita sobre o que eles dizem. UFPR — Na Mostra Comemorativa dos 20 Anos de Anistia no Brasil, foi apresentada a charge acima. A partir de sua leitura, escreva um texto, de até 10 linhas, que compare os dois períodos da história recente do Brasil contrapostos na charge, focalizando os contrastes explorados pelo humorista. UFBA — TEMA A identidade cultural no Brasil é uma questão polêmica, sobretudo no que se refere à língua portuguesa. — 57 — Leia, a seguir, alguns textos sobre o assunto, refletindo sobre o seu conteúdo, sem contudo copiá-los como parte de sua Redação. I. A Nação é uma resultante de agentes históricos. O índio, o negro, o espadachim, o jesuíta, o tropeiro, o poeta, o fazendeiro, o político, o holandês, o português, o francês, os rios, as montanhas, a mineração, a pecuária, a agricultura, o sol, as léguas imensas, o Cruzeiro do Sul, o café, a literatura francesa, as políticas inglesa e americana, os oito milhões de quilômetros quadrados... Temos de aceitar todos esses fatores, ou destruir a Nacionalidade, pelo estabelecimento de distinções, pelo desmembramento nuclear da idéia que dela formamos. Como aceitar todos esses fatores? Não concedendo predominância a nenhum. (Manifesto Nhengaçu) II. O contato entre culturas produz efeitos também no vocabulário das línguas. ............................................................. Atente para o fato de que os empréstimos lingüísticos só fazem sentido quando são necessários. É o que ocorre quando surgem novos produtos ou processos tecnológicos. (...) São condenáveis abusos de estrangeirismos decorrentes de afetação de comportamento ou de subserviência cultural. A imprensa e a publicidade muitas vezes não resistem à tentação de utilizar a denominação estrangeira de forma apelativa, como em expressões do tipo os teens (por adolescentes) ou high technology system (sistema de alta tecnologia). (Pasquale & Ulisses) III. Uma saudável epidemia tomou conta da imprensa brasileira. Os jornais publicam seções de valorização da língua portuguesa. ............................................................. A conclusão é que se deve cuidar dessa matéria de forma inteligente, sem patriotadas, mas com objetividade, no sentido de valorizar o idioma de Machado de Assis e de Fernando Pessoa. Se a nossa pátria é a língua portuguesa, por que não cuidar bem dela? (Arnaldo Niskier) IV. O uso desnecessário, abusivo ou enganoso de palavra ou expressão estrangeiras será tratado como lesivo ao patrimônio cultural brasileiro. ............................................................. Mais que uma lei, queremos criar um Movimento Nacional de Defesa da Língua Portuguesa. Sem xenofobia, mas com altivez e brio, é possível proteger o idioma contra o corrosivo bilingüismo que o desfigura e infunde nos brasileiros a deprimente ilusão de que a língua portuguesa é feia, limitada e vaga. Apesar das regras por vezes tortuosas, é bela, pródiga e precisa, dotada de recursos léxicos suficientes para acompanhar as descobertas, invenções e mudanças que transformam o mundo. Como indagou o professor Niskier, “por que não cuidar bem dela?” (Aldo Rebelo) — 58 — V. “Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões ............................................................. Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade E quem há de negar que esta lhe é superior E deixa os portugais morrerem à míngua MACK-SP- 99 - Faça uma dissertação a tinta com, no máximo, vinte linhas, desenvolvendo um tema comum aos dois textos. TEXTO I “O possível é aquilo criado pela nossa própria ação. É o que vem à existência graças ao nosso agir. No entanto, não surge como ‘árvore milagrosa’ e sim como aquilo que as circunstâncias abriram para a nossa ação.” TEXTO II “A liberdade não se encontra na ilusão do ‘posso tudo’, nem no conformismo do ‘nada posso’.” ‘Minha pátria é minha língua’.” (Caetano Veloso) A partir da análise desses fragmentos, produza um texto dissertativo sobre o tema: Brasil: Identidade Cultural e Preservação do Idioma Nacional. (Marilena Chauí) PUC-RS — TEMA: Em maio de 1999, a revista Época realizou uma pesquisa nacional para verificar o que o povo brasileiro pensa de si mesmo. Reproduzimos abaixo uma das questões e as respectivas respostas, que poderão auxiliá-lo na elaboração do seu texto. — 59 — Selecione os traços que, na sua opinião, melhor caracterizam o modo de ser e agir do brasileiro, mostrando como eles influem (positiva ou negativamente) sobre nossa vida. As conseqüências de experiências felizes como essa são maiores do que imaginamos.” FGV-SP — Redija um texto a partir das idéias apresentadas. Dê um título UFU-MG — Faça sua redação, procurando convencer um bebedor inveterado dos malefícios do álcool. TEMA: “Em meados deste ano o atual prefeito de Camaragibe, Paulo Santana, recebeu o prêmio Prefeito Criança, concedido pelo Unicef e pela Fundação Abrinq aos 20 municípios brasileiros com projetos mais bem-sucedidos na assistência a crianças e adolescentes. A implantação do atendimento dentário domiciliar fez da cidade modelo de saúde bucal; o projeto de atenção médico-psicológica a meninas reduziu, de modo drástico, a gravidez infantil: a lei de Dação, que permite o pagamento de dívidas ao município em doações de imóveis ou serviços de infra-estrutura comunitária, fez de maus devedores cidadãos empenhados em participar do bem-estar de sua cidade; espécies nativas da mata atlântica estão sendo cultivadas em um viveiro florestal; 5,5% do orçamento é destinado ao incentivo da cultura e do esporte e, por último e o mais importante, a cidade tem a menor taxa de mortalidade infantil do Nordeste (5,6 por 1000, inferior à de São Paulo) e 100% das crianças com idade de 7 a 14 anos estão na escola. Tudo isso, pasmem, não impediu a prefeitura de pagar a seus funcionários um salário mínimo de R$ 163,00 — acima da média da maioria do país!... (Jurandir Freire Costa, Folha de S.Paulo, 28/11/99) Observações: 1. Fazer um texto expositivo ou argumentativo; 2. Dê um título à sua redação; 3. Não copie trechos dos textos motivadores. Leia os trechos abaixo: “O Brasil sofre no paradoxo das drogas legalizadas. Maconha é crime, mas cigarros podem ser facilmente comprados no supermercado. Tranqüilizantes precisam de receita médica, embora qualquer um possa relaxar com o álcool na festinha de batizado. Álcool e fumo são vendidos e consumidos no Brasil com facilidades banidas nos países desenvolvidos. O efeito dessa liberalidade é devastador. As drogas legais viciam, causam doenças, separam famílias e constituem graves problemas sociais e de saúde pública.” (In Superinteressante, set./98) “Beber pode ser agradável sem prejudicar a saúde. O primeiro efeito é o bem-estar. Um drinque entorna alegria, desinibição, segurança. O álcool é uma substância que ultrapassa facilmente as membranas celulares e em minutos — 60 — encharca todos os órgãos e tecidos. Mesmo o cérebro, protegido por filtros bioquímicos, é imediatamente invadido.” (In Superinteressante, set./95) O Brasil está gastando cerca de US$ 61,2 bilhões por ano com problemas de bebidas alcoólicas — internações hospitalares, tratamento de doenças e assistência a acidentados no trânsito. Esse é o balanço do Hospital das Clínicas de São Paulo. Outros números: • Cada brasileiro consome em média por ano 35 litros de cerveja contra 20 litros do leite. • 60% dos leitos de ortopedia estão ocupados por vítimas de acidentes causados por álcool. rapadura. Serei teu cicerone. Mas não te levarei, apenas, aos bairros ricos, de casas modernas e confortáveis, a Barra, Graça, Vitória e Nazaré. Iremos nos piores bondes do mundo para a Estrada da Liberdade, onde descobrirás a miséria oriental se repetindo naqueles casebres do Japão e da China, te levarei aos cortiços infames. Esse é bem um estranho guia, moça. Com ele não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar. Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos álacres e de lágrimas doloridas. Ah!, moça, esta cidade da Bahia é múltipla e desigual. Sua beleza eterna, sólida como em nenhuma cidade brasileira, nascendo do passado, rebentando em pitoresco no cais, nas macumbas, nas feiras, nos becos e nas ladeiras, sua beleza tão poderosa que se vê, apalpa e cheira, sua beleza de mulher sensual, esconde um mundo de miséria e de dor. Moça, eu te mostrarei o pitoresco, mas te mostrarei também a dor. Quando a viola gemer nas mãos do seresteiro, nascido na Bahia e cheio da sua poesia, não reflitas sequer. Moça, a Bahia te espera e eu serei teu guia pelas ruas e pelos seus mistérios. Teus olhos se encherão de pitoresco, teus ouvidos ouvirão histórias que só os baianos sabem contar, teus pés pisarão sobre o mármore das igrejas, tuas mãos tocarão o ouro de São Francisco, teu coração pulsará mais rápido ao bater dos atabaques. Mas, moça, estremecerás também muitas vezes e teu coração se apertará de angústia ante a procissão fúnebre dos tuberculosos na cidade de melhor clima e de melhor percentagem de tísicos do Brasil. A beleza habita nesta cidade misteriosa, moça, mas ela tem uma companheira inseparável que é a fome. Vem e serei teu cicerone. Juntos comeremos no Mercado sobre o mar o vatapá apimentado e a doce cocada de Se és apenas uma turista ávida de novas paisagens, de novidades para virilizar um coração gasto de emoções, • O alcoolismo é responsável por 80% das internações psiquiátricas. (In IstoÉ, 6/10/99) UFPA CONVITE — 61 — viajante de pobre aventura rica, então não queiras esse guia. Mas, se queres ver tudo, na ânsia de aprender e melhorar, se queres realmente conhecer a Bahia, então, vem comigo e te mostrarei as ruas e os mistérios da cidade do Salvador, e sairás daqui certa de que este mundo está errado e que é preciso refazê-lo para melhor. Porque não é justo que tanta miséria caiba em tanta beleza. Um dia voltarás, talvez, e então teremos reformado o mundo e só a alegria, e a saúde e a fartura caberão na beleza imortal da Bahia. Redação: Assim como o escritor baiano, escreva um texto convidando alguém para visitar a cidade onde você nasceu. O convidado pode ser uma pessoa real ou imaginada. Evidentemente, ele não conhece sua cidade. Procure mostrá-la com objetividade, mas também com sensibilidade. Seja um guia crítico, bem humorado, até mesmo irônico, mas nunca pessimista. Afinal, você quer que seu convidado conheça sua cidade e goste dela. Se amas a humanidade e desejas ver a Bahia com olhos de amor e compreensão, então serei teu guia. Riremos juntos e juntos nos revoltaremos. Qualquer catálogo oficial, ou de simples cavação, te dirá quanto custou o Elevador Lacerda, a idade exata da Catedral, o número certo dos milagres do Senhor do Bonfim. Mas eu te direi muito mais. Junto com o pitoresco e a poesia te direi da dor e da miséria. Sua redação deve ser em prosa e ter, no máximo, 30 linhas. Vem, a Bahia te espera. É uma festa e é também um funeral. O seresteiro canta seu chamado. Vou mandar que batam os atabaques e os saveiros partam em sua busca no mar. Serão a doce brisa e os ventos e as palmas dos coqueiros que te saudarão das praias. Arc, o marciano, quer saber o que fazem os economistas. Por exemplo, fazem economia? Vem, a Bahia te espera! (Trecho do prefácio que Jorge Amado fez ao seu livro Bahia de Todos os Santos, em 1968.) UFMS O marciano Arc já se tornou personagem conhecido do público-leitor da revista Veja pelo seu hábito de questionar os usos e costumes dos terráqueos, como no diálogo a seguir: Arc* e os economistas — Claro que não, Arc. Fazer economia qualquer um pode fazer. Basta gastar menos... Os economistas se dedicam a importantes estudos sobre a conjuntura econômica de um país, até do mundo: produção, consumo, arrecadação, déficits e superávits, entende? *Arc é marciano e invisível, vem regularmente à Terra – inclusive ao Brasil – para ver se vale a pena Marte investir aqui. Por enquanto, ele acha que não dá... — 62 — — Não. Isso tudo serve para quê? Por exemplo, melhora a vida da população? — Tá difícil, hein, marciano? Eu disse “importantes estudos”, entendeu? Por exemplo, fazem previsões sobre o futuro da economia... — ... e acertam? — Nunca. Mas não é isso que interessa. Ao estudar os movimentos da economia, eles elaboram tendências para o futuro... — Entendi. Estudam o que já aconteceu, para prever o que não vai acontecer... Desculpe a insistência, mas isso serve para quê? (Veja, 28/7/99, p. 36) Tomando por base o trecho abaixo, retirado de uma reportagem publicada no mesmo número da revista Veja (28/ 7/99, p. 46-7), e usando sua criatividade, estabeleça um diálogo com Arc, analisando a situação apresentada: ............................................................. A escola pública de ensino fundamental e médio forma três vezes mais alunos do que a escola particular, mas oferece uma qualidade de ensino notadamente inferior e fica com a minoria das vagas nas boas faculdades. Resultado: quem tem dinheiro no bolso e gastou com a educação do filho consegue matriculá-lo na universidade pública, que é de graça e melhor que a faculdade particular. FUVEST Recentemente, o Deputado Federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), visando proteger a identidade cultural da língua portuguesa, apresentou um projeto de lei que prevê sanções contra o emprego abusivo de estrangeirismos. Mais que isso, declarou o Deputado, interessa-lhe incentivar a criação de um “Movimento Nacional de Defesa da Língua Portuguesa”. ............................................................. Leia alguns dos argumentos que ele apresenta para justificar o projeto, bem como os textos subseqüentes, relacionados ao mesmo tema. Qual é a chance de um estudante ingressar num curso disputado numa universidade pública? Se ele foi aluno de escola particular, a chance de passar no vestibular é uma em nove. Se estudou em colégio do governo, a possibilidade é bem menor: uma em 104. Outra forma de dizer a mesma coisa: 75% dos candidatos ao vestibular de medicina da Universidade de São Paulo, USP, são oriundos da escola pública, mas eles só conseguem ocupar 20% das vagas. “A História nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua. (...)” “...estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da Língua Portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos — como ‘holding’, ‘recall’, ‘franchise’ ; ‘coffeebreak’, ‘self-service’ — (...). E isso vem ocorrendo com voracidade e rapidez tão espantosas que não é exagero supor que estamos na iminência de comprometer, quem sabe até truncar, a comuni- — 63 — cação oral e escrita com o nosso homem simples do campo, não afeito às palavras e expressões importadas, em geral do inglês norte-americano, que dominam o nosso cotidiano (...)” “Como explicar esse fenômeno indesejável, ameaçador de um dos elementos mais vitais do nosso patrimônio cultural – a língua materna –, que vem ocorrendo com intensidade crescente ao longo dos últimos 10 a 20 anos? (...)” “Parece-me que é chegado o momento de romper com tamanha complacência cultural, e, assim, conscientizar a nação de que é preciso agir em prol da língua pátria, mas sem xenofobismo ou intolerância de nenhuma espécie. (...)” (Dep. Fed. Aldo Rebelo, 1999) “Na realidade, o problema do empréstimo lingüístico não se resolve com atitudes reacionárias, com estabelecer barreiras ou cordões de isolamento à entrada de palavras e expressões de outros idiomas. Resolve-se com o dinamismo cultural, com o gênio inventivo do povo. Povo que não forja cultura dispensa-se de criar palavras com energia irradiadora e tem de conformar-se, queiram ou não queiram os seus gramáticos, à condição de mero usuário de criações alheias.” (Celso Cunha, 1968) “Um país como a Alemanha, menos vulnerável à influência da colonização da língua inglesa, discute hoje uma reforma ortográfica para ‘germanizar’ expressões estrangeiras, o que já é regra na França. O risco de se cair no nacionalismo tosco e na xenofobia é evidente. Não é preciso, porém, agir como Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto, que queria transformar o tupi em língua oficial do Brasil para recuperar o instinto de nacionalidade. No Brasil de hoje já seria um avanço se as pessoas passassem a usar, entre outros exemplos, a palavra ‘entrega’ em vez de ‘delivery’. (Folha de S.Paulo, 20/10/98) Levando em conta as idéias presentes nos três textos, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, expondo o que você pensa sobre essa iniciativa do Deputado e as questões que ela envolve. Apresente argumentos que dêem sustentação ao ponto de vista que você adotou. Modelo 1 – ENEM 2000 “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.” (Artigo 227, Constituição da República Federativa do Brasil.) — 64 — (...) Esquina da Avenida Desembargador Santos Neves com Rua José Teixeira, na Praia do Canto, área nobre de Vitória. A.J., 13 anos, morador de Cariacica, tenta ganhar algum trocado vendendo balas para os motoristas. (...) PAPAI NOEL, COELHINHO DA PÁSCOA... PANACA! DAQUI A POUCO VAI DIZER QUE MÃE EXISTE! “Venho para a rua desde os 12 anos. Não gosto de trabalhar aqui, mas não tem outro jeito. Quero ser mecânico.” A Gazeta , Vitória (ES), 9/6/2000. Entender a infância marginal significa entender por que um menino vai à rua e não à escola. Essa é, em essência, a diferença entre o garoto que está dentro do carro, de vidros fechados, e aquele que se aproxima do carro para vender chiclete ou pedir esmola. E essa é a diferença entre um país desenvolvido e um país de Terceiro Mundo. (Gilberto Dimenstein. O cidadão de papel. 19. ed. São Paulo: Ática, 2000.) Com base na leitura da charge do artigo da Constituição, do depoimento de A.J. e do trecho do livro O cidadão de papel, redija um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre o tema: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional? Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos ad- (Angeli, Folha de S.Paulo , 14/5/00) quiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender o seu ponto de vista, elaborando propostas para a solução do problema discutido em seu texto. Observações: Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da língua. Espera-se que o seu texto tenha mais do que 15 (quinze) linhas. A redação deverá ser apresentada a tinta na cor preta e desenvolvida na folha própria. Você poderá utilizar a última folha deste Caderno de Questões para rascunho. — 65 — Modelo 2 – UFMG 99 TEXTO 2 REPORTAGEM O trem estacou na manhã fria, num lugar deserto, sem casa de estação: Prova de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira "A" Questão 1 Leia os Textos 1 e 2. O Texto 1 é um trecho de uma coluna de jornal que publica pedidos, reclamações e sugestões dos leitores, bem como a resposta do jornal a essas manifestações. TEXTO 1 ATENDIMENTO Leitor — Há uma senhora que fica na esquina da rua Iraí com o Largo José Cavalini. Ela dorme no chão, espalha lixo e parece ser doente. Quem pode socorrer essa senhora? Resposta — A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Social disse que a referida senhora já foi atendida pelo Programa de População de Rua da Prefeitura de Belo Horizonte e também pelo Departamento de Saúde Mental da Regional Centro-Sul. A última abordagem foi no último dia 20. Ela aparenta ter doença mental e, apesar de não ser agressiva, resiste aos encaminhamentos. Mesmo assim será realizada outra tentativa de encaminhá-la por equipe especializada. (Jornal de Casa, Belo Horizonte, fev./98, p. 4, 8-14.) (Texto adaptado) a parada do Leprosário... Um homem saltou, sem despedidas, deixou o baú à beira da linha, e foi andando. Ninguém lhe acenou... Todos os passageiros olharam ao redor, com o medo de que o homem que saltara tivesse viajado ao lado deles... Gravado no dorso do bauzinho humilde, não havia nome ou etiqueta de hotel: só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro... O trem se pôs logo em marcha apressada, e no apito rouco da locomotiva gritava o impudor de uma nota de alívio... Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso, mas ele ia já longe, sem se voltar nunca, como quem não tem frente, como quem só tem costas... (Rosa, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 68-69.) A partir dessa leitura, redija um texto narrativo, em prosa, que atenda aos seguintes requisitos: — 66 — a) tenha, como material básico, o episódio documentado no Texto 1, acrescido de outros elementos criados por você; b) apresente estratégia narrativa semelhante à do Texto 2 — um narrador que fala em primeira pessoa, adota uma posição exterior aos acontecimentos e, ao mesmo tempo, expressa sua avaliação pessoal quanto a esses acontecimentos; c) configure-se como matéria publicável em jornal de grande circulação, capaz de provocar o interesse dos leitores. Modelo 3 – UERJ 2000 Instruções Nesta prova você vai planejar e redigir um texto argumentativo, em duas etapas obrigatórias: ETAPA 1 – preencher o esquema de “Planejamento do texto”, na página 2 do Caderno de Respostas, preparando a redação; ETAPA 2 – escrever o texto argumentativo, na página 3 do Caderno de Respostas, respeitando o “Planejamento do texto”. Proposta de Redação As notícias sobre trabalho infantil, abandono, violência a reclusão de menores têm trazido à discussão a forma como nosso país investe no futuro. A partir dessa discussão, redija um texto argumentativo capaz de sustentar seu ponto de vista acerca da seguinte afirmação-base: O Estatuto da Criança a do Adolescente desencadeou a adoção de uma política que tem provocado mudanças profundas na vida dos menores carentes. Para fundamentar sua argumentação, você encontrará, a seguir, uma Coletânea com diferentes tipos de textos, organizada em 4 conjuntos. Leia-a com atenção, pois você precisará usar, nas duas etapas da prova, idéias apresentadas nesses textos. Coletânea de Textos Conjunto 1 — Crianças e adolescentes no Brasil ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (Lei 8069/90) (...) Art. 3º – A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem — 67 — prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 4º – É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O JOVEM E A VIOLÊNCIA O Brasil conta com uma legislação de vanguarda – o Estatuto da Criança a do Adolescente (ECA) – mas os fatos insistem em demonstrar que muito chão precisa ser trilhado antes que a realidade passe a refletir o quadro de justiça a cidadania tão bem desenhado no papel. Um ponto extremamente crítico é o que focaliza o tratamento dado aos adolescentes autores de atos infracionais. O Ministério da justiça reconhece, em pesquisa publicada este ano, que o acentuado crescimento do número de jovens em conflito com a lei não é fruto de mero acaso. O problema, aponta o documento, “é re- flexo da desestruturação social, em que crianças e adolescentes em situação de indigência são levados às mais variadas e divergentes estratégias de sobrevivência...”. A sociedade brasileira está encontrando dificuldades em evitar que parcela significativa de sua população viva imersa nesta “situação de indigência”. E quando os adolescentes, pressionados pela total falta de perspectivas, cometem atos infracionais, só raramente contam com iniciativas que contribuem de forma consistente para sua ressocialização e reabilitação. (Site da Associação Nacional dos Direitos da Infância ANDI, seção “Conversa Afiada” http://www2.uol.com.br/andi/afiada/afiada 8.htm) Conjunto 2 — A infância na mídia (Época, 17/9/99) — 68 — (Propaganda institucional da Casa do Caminho http://www.cosmo.com.br/casadocaminho) (IstoÉ, 8/7/99) — 69 — Conjunto 3 — Alguns dados Segundo dados do IBGE, 40% das crianças brasileiras entre 0 e 14 anos vivem em condições miseráveis, ou seja, a renda mensal familiar não passa de metade do salário mínimo. Quase todas as crianças brasileiras têm hoje acesso ao ensino elementar, mas pouco mais da metade chegará à 8ª série. Uma em cada seis ingressa no mercado de trabalho antes de completar 15 anos. Dos 15 aos 17, quando deveria estar na escola, metade está no batente. Milhões de jovens crescem sem outra perspectiva senão a de legar suas dificuldades aos filhos. O desafio é tão dramático que muita gente acaba dando de ombros, convencida de que se chegou a uma situa- http://www.IBGE.gov.br/IBGEteen/pesquisas ção da qual não há retorno. É um erro. Nesse momento, milhares de fundações a de organizações não governamentais, ONGs, estão demonstrando como boas idéias, um pouco de dinheiro a uma disposição podem mudar essa realidade para melhor. (Veja, 22/9/99) (Veja, 22/9/99) (Época, 20/9/99) — 70 — Conjunto 4 — Cenas brasileiras Modelo 4 – ESPM-SP TEXTO I o barro (Veja, 22/9/99) toma a forma que você quiser você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer (IstoÉ, 15/9/99) FOTOPOEMA Como sugerem os versos acima, do poeta e publicitário Paulo Leminski, uma criação não expressa apenas o que deseja o seu criador. Veja-se, por exemplo, o caso da linguagem da propaganda. TEXTO II O garoto trabalhando os grãos de café. Na parede, solidária sombra. Foto: Bruno Alves Texto: Raimundo Gadelha (Brasil Retratos Poéticos. São Paulo: Escrituras, 1996.) O produto da propaganda não se limita apenas à marca, à mercadoria ou ao serviço que ela anuncia. É sempre muito mais que isso: há valores, conceitos, idéias a comportamentos envolvidos em qualquer peça publicitária. Será possível, portanto, imaginar que os responsáveis pela criação dos anuncios deixem de considerar os limites da ética, em suas atividades? Não faltam exemplos de como a propaganda pode influir, positiva ou negativamente, no comportamento das pessoas. — 71 — Modelo 5 – PUC-RS 2000 Redação A seguir, são apresentados três temas. Examine-os atentamente, escolha um deles e elabore um texto dissertativo com 25 a 30 linhas, no qual você exporá suas idéias a respeito do assunto. Ao realizar sua tarefa, tenha presentes os seguintes aspectos: ♦ Evite fórmulas preestabelecidas ao elaborar seu texto. O mais importante é que ele apresente idéias organizadas, apoiadas por argumentos consistentes, e esteja de acordo com a norma culta escrita. ♦ Antes de passar a limpo, a tinta, na folha definitiva, releia seu texto com atenção e faça os reparos que julgar necessários. ♦ Não é permitido usar corretor líquido. Se cometer algum engano ao passar a limpo, não se preocupe: risque a expressão equivocada e reescreva, deixando claro o que pretende comunicar. ♦ Dê um título a seu texto. ♦ Lembre-se de que não serão considerados: • textos que não desenvolverem um dos temas propostos; • textos redigidos a lápis ou ilegíveis; • cópias ou paráfrases de textos constantes na prova objetiva. Boa prova! A seguir, você encontrará algumas idéias expressas pelo eminente educador Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. (São Paulo: Paz e Terra, 1997). Elas estão aqui por duas razões: para homenagear esse grande pensador da Educação e para auxiliar você a encaminhar sua redação. Para produzir seu texto, escolha um dos três temas propostos abaixo. Lembre-se de que você deverá escrever uma dissertação; portanto, mesmo que seu texto possa conter pequenas passagens narrativas ou descritivas, nele deverão predominar suas opiniões sobre o assunto que escolheu. TEMA 1 “O professor que desrespeita a curiosidade do educando, seu gosto estético, sua inquietude, sua linguagem; que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ele ‘se ponha no lugar’ ao mais tênue sinal de rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, transgride os princípios éticos de nossa existência.” (p.66) Considerando que cada nível de ensino requer um professor com características particulares, e que você está às portas da Universidade, disserte sobre a questão abaixo. — 72 — Que características deve possuir um professor universitário para ser considerado competente? TEMA 2 “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção. Quando entro em uma sala de aula, devo agir como um ser aberto às indagações, às inibições dos alunos; um ser crítico e inquiridor, inquieto diante da tarefa que tenho – a de ensinar, e não a de transferir conhecimento.” (p. 52) Considerando que a aprendizagem depende de inúmeros fatores, entre eles o comprometimento do próprio aprendiz, disserte sobre o tema abaixo. O papel do aluno na construção do seu próprio conhecimento. Como conciliar liberdade com responsabilidade na escola? Modelo 6 – PUCCAMP-SP Instruções Gerais I – Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos: 1. Leia atentamente as propostas, escolhendo uma das três para sua prova de redação. 2. Escreva, na primeira linha do formulário de redação, o número da proposta escolhida. (A colocação de título é optativa.) 3. Redija seu texto a tinta (em preto). TEMA 3 “A autoridade coerentemente democrática, fundamentando-se na importância de si mesmo e da liberdade dos educandos para a construção de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. Empenha-se em desafiá-la sempre e sempre; jamais vê na rebeldia da juventude um sinal de deterioração da ordem.” (p.104) Considerando que um ambiente propício à construção do conhecimento pressupõe disciplina e autonomia, disserte sobre a questão a seguir. 4. Apresente o texto redigido com letra legível (cursiva ou de forma) em padrão estético conveniente (margens, paragrafação etc.). 5. Não coloque o seu nome na folha de redação. 6. Tenha, como padrão básico, o mínimo de 30 (trinta) linhas. II – Da elaboração da redação: 1. Atenda, com cuidado, à proposta escolhida em todos os seus aspectos. — 73 — Às redações que não atenderem à proposta (adequação ao tema e ao tipo de composição) será atribuída nota zero. 2. Empregue nível de linguagem apropriado à sua escoIha. 3. Estruture seu texto utilizando recursos gramaticais e vocabulário adequados. Lembre-se de que o uso correto de pronomes e de conjunções mantém a coesão textual. 4. Seja claro e coerente na exposição de suas idéias. III – Das Propostas: Proposta I — Dissertação Todo texto dissertativo aborda um tema, ou seja, a delimitação de um assunto. Após leitura do edital da Folha de S.Paulo e percepção das suas idéias principais, verifique qual é o seu tema e sobre ele escreva uma dissertação clara e coerente. TEXTO O fenômeno meteorológico batizado de “EI Niño” começa a assumir, no mundo todo, o papel antes reservado às pragas bíblicas, responsáveis por todas as desgraças. Sem negar os efeitos do fenômeno, parece um raciocínio simplista e cômodo atribuir a ele os males, do inverno que foi verão forte no Centro-Sul brasileiro às enchentes na Espanha, passando pelas queimadas no Sudeste Asiático. Culpar um fenômeno natural exime as autoridades e a sociedade de refletir sobre os danos provocados pelo homem, cada vez mais graves. Típica do comodismo é a reação do governo brasileiro contra relatório do Fundo Mundial para a Natureza que aponta o Brasil como campeão mundial do desmatamento de florestas tropicais nos últimos anos. Para o porta-voz da Presidência, os dados do governo indicam diminuição do desmatamento. O importante não é tanto se o desmatamento aumentou ou diminuiu, mas o fato de que ocorra sem que fique clara uma política de ocupação da Amazônia. É preciso levar em conta que, segundo a ONU, o Brasil é o terceiro país do mundo em área preservada de florestas de fronteira atrás apenas de Rússia e Canadá. Se se considerar que quase a metade das florestas mundiais já virou pasto ou campo agrícola, fica evidenciada a importância internacional de se preservar o que resta. Mas o comodismo se estende também aos governos dos países ricos (que, aliás, já promoveram uma devastação quase total de suas florestas). O presidente dos EUA, Bill Clinton, por exemplo, nega-se a aceitar um aumento nos preços dos combustíveis fósseis, uma forma de tentar conter a emissão dos gases que geram o efeito estufa, responsável pelo crescente aquecimento da Terra. Tudo somado entende-se o motivo da cômoda satanização do “El Niño”: ela evita que cada um enfrente suas próprias responsabilidades. (Folha de S.Paulo 1/2, 10/10/97) — 74 — Proposta II — Dissertação argumentativa Leia cuidadosamente os dois textos abaixo. Observe que eles tratam do mesmo tema, mas apresentam argumentos contrários, pois defendem teses opostas. Com qual delas você concorda? Redija uma dissertação argumentativa clara e coerente, defendendo um dos pontos de vista e refutando aquele contrário ao seu. TEXTO I Há um clássico argumento que procure justifìcar a ditadura cubana: o feroz isolamento que o governo dos EUA impõe à ilha, dificultando a vida econômica do país e de sua população, tese ainda defendida por intelectuais e políticos brasileiros de esquerda. O raciocínio é em parte correto, mas acaba por legitimar o regime ditatorial. TEXTO II Os que se horrorizam com o ditatorialismo dos regimes em que não há revezamento no poder esquecem-se de que as democracias de fachada podem ocultar os piores totalitarismo: a fome, a concentração de renda, o desamparo social. Os índices da educação e da saúde públicas de Cuba ainda são melhores do que os nossos, apesar dos EUA. (A partir de um editorial da Folha de S.Paulo, 15/10/97) Walmor: 40 anos, estatura média, cabelos claros, pele clara, ligeiramente avermelhada; os olhos são pequenos, esverdeados e nunca se fixam nos olhos de um interlocutor. Veste-se com apuro; usa sempre meias da mesma cor da camisa. É formado em administração de empresas. Seu passatempo predileto são filmes de ação; seu livro inesquecível chama-se A vida dos grandes estadistas. Paulo: 25 anos, cabelos e olhos castanhos, pele clara, alto, magro. Só veste algodão; não se preocupa em combinar cor de roupa. Queria muito estudar arqueologia, mas acabou se formando em economia. Gosta de viajar e andar de bicicleta. Tem sempre consigo uma antologia da obra de Manuel Bandeira. Imagine uma situação em que essas personagens se encontram. Baseando-se em suas características, desenvolva uma pequena narrativa. Modelo 7 – UNIFOR-CE 1. Das 3 propostas apresentadas a seguir, escolha a que mais lhe agradar e faça uma redação. 2. A redação deve ter a extensão mínima de 20 linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho regular. Proposta III — Narrativa Proposta I — Dissertação Atente para a descrição das seguintes personagens: 1. Leia o tema dado a seguir a analise as idéias nele contidas. — 75 — 2. Com base nessas idéias, faça uma dissertação em que você exponha seus pontos de vista e conclusões. quem nada tem neste vale [...]” TEMA (Poema sujo. p. 42) Houve época em que os operários paravam as máquinas; hoje, as máquinas param os operários. Proposta II — Narração Faça uma narração levando em conta o espaço de um dia, iniciando-o assim: Hoje foi um dia em que nada deu certo. Proposta III — Descrição Você está observando um salão no final de uma festa. II “[...] Na província, enfim, cada um tem o seu coração, por ele vive e pratica, por ele ama e só ele delibera; na capital, há somente um coração oficial, uma víscera de nação, um aparelho mecânico e econômico – tem a mesma pulsação e o mesmo calor para todos; é quase que um coração artificial; é mais um objeto de luxo, que um órgão necessário; é uma tetéia dourada, é um boneco de papelão, é um trapo, é lama! [...]” (Uma lágrima de mulher. p. 66) Descreva-o. III Modelo 8 – UEMA 1. Leia atentamente os fragmentos a seguir. 2. Extraia de um deles o tema e elabore sua redação. “[...] — Que desleixo é esse, Arian? Mulher que não se cuida, que não se arruma, que não se ajeita, que não se perfuma, que não zela pela sua imagem, não é bem mulher ... E tu, pelo abandono em que estás, te esqueceste de tua obrigação fundamental como mulher! [...]” I (Uma sombra na parede. p. 57) “[...] Vale quem tem vale quem tem vale quem tem Modelo 9 – UEL-PR vale quem tem nada vale quem não tem nada não vale nada vale Redação 1. Leia o tema dado a seguir e analise as idéias nele contidas. — 76 — 2. Com base nessas idéias, faça uma dissertação em que você exponha seus pontos de vista e conclusões. 3. A dissertação deve ter a extensão mínima de 20 linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho regular. TEMA Num noticiário de TV, tão veloz e tão variado, todas as notícias parecem ter o mesmo peso. Modelo 10 – UFPE Objetivo: Elaborar uma dissertação, demonstrando originalidade e organização das idéias com correção, coerência e coesão. Leia o texto com atenção: A uma turma de alunos do segundo grau, com cerca de quinze anos de idade em média, foram explicadas as muitas formas de preconceito e a distinção entre o que é formalizado e assumido e o sutil e disfarçado, como no Brasil. O professor propôs uma experiência a cerca de dez voluntários. Consistia em se atar uma fita de cor laranja na testa dos alunos e mantê-la em diferentes ambientes, sem que se esclarecesse sua razão. O resultado da experiência foi, literalmente, aterrador, mas uma oportunidade excelente para que possamos refletir sobre nossa educação, valores e sobre o roteiro que estamos imprimindo à nossa juventude. Desnecessário seria afirmar que esses jovens, por usar uma fita inocente, sofreram todo o tipo de rejeição imaginável. Desde singelos apelos de professores para que a tirassem em nome de uma uniformidade disciplinar, até pais que se rebelaram com o pedido para que esperassem uma semana para conhecer a razão do gesto insólito. Uma semana depois os alunos puderam tirar as fitas da testa, revelar os objetivos do experimento e relatar de forma minuciosa toda a segregação sofrida e toda a violência que o seu gesto causou. Mas, além do fato circunscrito, fica a grande indagação: os jovens puderam tirar a fita que os fazia “diferentes”, mas os negros, os índios, os favelados, os velhos e outros tantos jamais poderão tirar o estigma que os distingue e a marca que os faz sofrer. De repente, ser diferente deixa de refletir características de individualidade para se transformar em rótulos intolerados que buscamos extirpar. Um homem é um homem, independentemente da cor de sua pele, da sua idade, conta bancária ou fita na testa? Adaptação: Uma fita de cor laranja – Celso Antunes (DP – 24/12/95, F.1 – Caderno 2) Mantendo a temática do texto, redija uma dissertação que responda à pergunta do título: — 77 — Um homem é um homem, independentemente da cor de sua pele da sua idade, conta bancária ou fita na testa? Critérios básicos de correção – Adequação da dissertação à temática e ao título proposto. (Fuga ao tema implica nota zero.) – Atendimento às normas gramaticais. – Coerência, coesão e clareza na exposição das idéias. – Originalidade (transcrição literal de frases implica perda de pontos). – Obediência ao número de linhas (20 a 25).