Importância da Contabilidade nos Estudos Económicos
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Importância da Contabilidade nos Estudos Económicos
IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NOS ESTUDOS ECONÓMICOS Extraído da publicação “CONTABILIDADE APLICADA”, segundo as Prelecções feitas ao Curso do 4.º ano de 1956/57 da Faculdade de Economia da Universidade do Porto pelo Professor da cadeira Exmo. Snr. Dr. Camilo Afonso M. Cimourdain Ferreira de Oliveira. “… The first step is to make sure that all accountants have some training in economics and all economists have some training in economics and all economists have some training in accounting. Accountants have been too quick to label economics as impractical and of no use to them. Economists have been to apt to regard accounting as a useless business ritual which had no application to their field. These attitudes have been changed slowly over the past few decades although they still persist in many places.” (John Wheeler, “Economics and Accounting”) A Contabilidade tem sido considerada em Portugal uma disciplina universitária de segunda linha, pois está ainda muito espalhada entre pessoas responsáveis a ideia de que ela não tem categoria científica para ser incluída nos quadros universitários, atitude mental que, porém, se vai modificando, sobretudo no estrangeiro mas também no nosso país, pois os economistas começam a compreender que a Contabilidade, como a Estatística, é uma ferramenta indispensável na investigação económica. Terão razão os que assim pensam? Haverá motivos para esta pretensa inferioridade intelectual da Contabilidade? Vejamos, para efeitos de comparação, o que a este respeito se passa e se pensa no estrangeiro. Foi nos Estados Unidos e na Alemanha que, por volta dos começos deste século, apareceram as primeiras escolas superiores de ciências económicas e comerciais, tendo sido excelentes os resultados obtidos. Por isso, não tardou que lhes seguissem o exemplo a Inglaterra, a Suíça, a Itália, o Japão e outros países. 1 Presentemente, pode dizer-se que em quase todos os países da Europa e da América existem estabelecimentos de ensino superior em cujos quadros estão incluídas disciplinas de ciências económicas, financeiras, administrativas e comerciais. Numas, o ensino reveste uma feição mais especulativa, mais teórica; noutras, apresenta um cunho mais acentuadamente técnico e utilitário; mas, quer num quer noutro caso, pode dizer-se que, duma maneira geral, as respectivas escolas fazem parte dos quadros de universidades e são para todos os efeitos equiparadas às Faculdades Clássicas. Os diplomados pelas Colegiate Schools of Business americanas nunca terminam o seu curso antes dos 25 anos; na Checoslováquia há doutores “rerum commercialum”; e no Canadá existem escolas superiores que concedem licenciaturas em Ciências Comercias e Contabilísticas. Todas estas escolas e muitas outras são de grau superior e em todas elas, como diz o Prof. Doutor Gonçalves da Silva1 “a Contabilidade é ensinada da cátedra”. Isto, o que se passa lá fóra. Vejamos agora, por outro lado, os depoimentos de alguns economistas célebres, a respeito da importância que o estudo da Contabilidade desempenha nos estudos económicos e da necessidade de associar a este o conhecimento daquela disciplina. Principiemos por citar, com o Prof. Gonçalves da Silva, algumas afirmações de J. P. Proudhon, de Irving Fisher e de Werner Sombart. Comecemos por Proudhon que, segundo parece, trabalhou durante muito tempo como contabilista, sendo mesmo o exercício desta profissão que o levou mais tarde para o campo dos estudos económicos, onde veio a tornar-se o eminente homem que foi assim se compreendendo o grande entusiasmo que põe na defesa da Contabilidade, como vamos ver. Para Proudhon, a Contabilidade é “uma das mais belas e felizes aplicações da metafísica”; e, segundo aquele grande economista, todo aquele que “queira apreender o mecanismo económico, dissertar sobre o direito de propriedade ou esclarecer-se sobre a natureza do capital e do juro, ou ocupar-se em suma de quaisquer questões económicas, terá de adquirir previamente algumas sólidas noções de Contabilidade”. São dele as seguintes palavras: “Durante muito tempo, procurei apurar por que motivo os compêndios de Economia Política, desde Adam Smith até a M. Chevalier, se não referem à Contabilidade Comercial. 1 Prof. Gonçalves da Silva, “O Ensino da Contabilidade nas Escolas Superiores de Economia”, que estamos e continuaremos a seguir de muito perto. 2 E acabei por descobrir que, sendo a Contabilidade toda a Economia Política, não havia possibilidade de se aperceberem disso os autores desse montão de estudos pretensamente “económicos” e que, na verdade, não passam de comentários mais ou menos razoáveis sobre escrituração mercantil. Deste modo, a minha primeira extrema surpresa cessou completamente quando compenetrei de que os economistas eram, em grande parte, péssimos contabilistas que nada sabiam do Deve e Haver”. E continua: “A Economia Política é - diga-se assim – a ciência das contas da Sociedade, a ciência das leis gerais da produção, da distribuição e do consumo das riquezas. Não é a arte de produzir trigo, de fabricar vinho, de extrair carvão, etc., não é a enciclopédia das artes e ofícios; mas sim – mais uma vez o repito – o conhecimento de processos de ordem geral mediante os quais a riqueza se cria, se aumenta, se troca e se consome na sociedade. Destes processos gerais comuns a todas as indústrias possíveis, dependem o bem-estar dos indivíduos, o progresso das nações, etc. Ora, em todas as casas comerciais e industriais, ao lado dos operários ocupados na produção, expedição, etc., das mercadorias ou, em suma, ao lado dos trabalhadores especiais, aparece sempre um empregado superior, um representante, por assim dizer, da lei geral, um “órgão do pensamento económico”, encarregado de tomar nota de tudo o que se passa no estabelecimento do ponto de vista dos processos gerais da produção, da circulação e do consumo. Este empregado é o contabilista. É ele e só ele quem pode apreciar os efeitos duma divisão do trabalho bem entendida; dizer que economia resulta do emprego de tal máquina; se as receitas da empresa cobrem as suas despesas; quanto a venda deu de lucro; quais são os melhores mercados, ou seja, quais são os bons e os maus clientes e em que praças se pode esperar nova clientela. Como ele, ninguém se encontra tão bem colocado para seguir as manobras da concorrência, prever os resultados dum monopólio ou a alta e baixa dos preços…”2. 2 J.P. Proudhon – Systhème des Contradictions Économiques, 2. Volume, pág. 122 e seguintes, citado pelo Prof. Gonçalves da Silva. 3 Nas entrelinhas de muitas das suas páginas pode encontrar-se a profecia de planos contabilísticos como os que hoje existem em execução ou em estudo em quase todos os países cuja economia é mais ou menos dirigida. Assim, no seu “Sistema de Contradições Económicas”, já citado, pode ler-se: “La comptabilité commerciale doit embrasser le monde entier, et le grand-livre de la société avoir autant de comptes particuliers qu`il éxiste des individus, autant d`articles divers qu`il se produit de valeurs”. Noutros seus escritos ainda se revela, como não poderia deixar de ser, o seu entusiasmo pela Contabilidade. Assim, por exemplo, na conhecida polémica com Bastiat troça com frequência da ignorância deste em matéria de Contabilidade, chegando mesmo a dizer-lhe: “Se você tivesse os mais leves laivos de Contabilidade, não escreveria tais disparates…”. Concorde-se, no entanto, que o seu entusiasmo pela Contabilidade, filho, naturalmente, da circunstância de ter principiado a sua vida como contabilista, o levou a cometer o exagero de subordinar a Ciência Económica à Contabilidade. Vejamos agora o que, no tocante à importância da Contabilidade para os economistas, diz o famoso economista americano Irving Fisher, talentoso Professor da Universidade de Yale, de incontestada categoria intelectual e científica e de quem já se escreveu ser “o maior economista contemporâneo!”3. É no seu livro “The Nature of Capital and Income”4 (A Natureza do Capital e do Rendimento) que mais frequentemente se encontram referências à Contabilidade. Segundo Fisher, a confusão que reinava entre estes dois conceitos fundamentais – o conceito de capital e o conceito de rendimento – deve atribuir-se à pouca atenção que os economistas prestavam à escrituração mercantil. São dele as palavras seguintes: “Em vez das distinções basilares entre “fundo” (fund) e “corrente” (flow), e entre “riqueza” e “serviços”, tínhamos a diferença meramente relativa entre uma e outra espécie de riqueza. 3 4 Révue d` Économie Politique, n.º 3, Maio/Junho de 1947. New York: The Macmillan Company, 1906. 4 Ora a arrumação dos livros de comércio envolve o reconhecimento prático, ainda que nem sempre consciente, do princípio em que assenta aquela distinção. Esse princípio é o “princípio do tempo”. Assim, por exemplo, o “balanço” duma linha férrea dá-nos a situação da empresa “em dado momento”, ao passo que a “demonstração dos resultados” nos mostra as suas receitas “durante um período de tempo”. A este respeito, escreve: “A little attention to business book-keeping would have saved ecomomists from such errors.”. Também o famoso economista alemão Werner Sombart, que foi eminente professor da Universidade de Berlim e a quem se devem trabalhos de incontestado mérito, muitas vezes enalteceu o estudo da Contabilidade, a que dedicou um capítulo no seu livro “O capitalismo moderno” (Der moderne Kapitalismus). Para Sombart, “a Contabilidade digráfica é uma das mais grandiosas criações do espírito humano e uma das mais fecundas em consequências”, sendo dele também as palavras seguintes: “Para ajuizar com verdade da sua importância (da Contabilidade) torna-se necessário compará-la aos conhecimentos que, desde o século XVI, os grandes pensadores ensinaram acerca da Natureza. Nasceu do mesmo espírido que os sistemas de Galileu e de Newton e que as doutrinas da Física e da Química modernas.”. E continua: “A Contabilidade faz-nos compreender o cosmos do mundo económico ou, mais exactamente, do mundo capitalista segundo aquele mesmo método posteriormente utilizado pelos naturalistas. Baseia-se na ideia fundamental e logicamente desenvolvida que todas as aparências se devem encarar como quantidades: assenta, pois, na ideia fundamental da quantificação à qual se devem tantas maravilhas do conhecimento da Natureza e que nela foi, porventura pela primeira vez, adoptada como ideia originária de todo um sistema.”. Depois de se referir à influência que a Contabilidade exerceu no aperfeiçoamento da vida económica e à sua decisiva contribuição para o desenvolvimento das ideias inerentes 5 ao sistema capitalista, Sombart acaba por concluir que “o capital não existia nem poderia existir, como categoria, anteriormente à descoberta da digrafia”. Em seu entender, “o capital pode ser mesmo definido como o património abrangido pela Contabilidade digráfica”. De Sombart são ainda as palavras seguintes: “Ao perseguir os seus fins, a Contabilidade forma ou ajuda a formar todos aqueles conjuntos de noções mediante os quais nos habituámos a conceber o mundo capitalista. As peças que integram a armadura da Economia (Privada e Social) quando esta tem por objecto o capitalismo, saíram em grande parte (e nem todos deram por isso) do arsenal da Contabilidade”. Ao que acrescenta: “Esta, ao criar a noção de capital, cria ao mesmo tempo a de empresa capitalista como organização económica que visa ao aumento de um dado capital”. E, ainda: “Só ela torna manifestas as diferenças inerentes a uma organização económica, constituindo assim a primeira condição de melhoramento contínuo e sistemático da empresa.”. Sombart, que foi um inultrapassável enaltecedor da Contabilidade, a ponto de ter afirmado que “a Contabilidade por partidas dobradas é, de facto, uma das mais admiráveis criações do maravilhoso poder criador da humanidade europeia”, escreveu ainda: “A Contabilidade por partidas dobradas separa o empresário da sua própria empresa. A sua contribuição para a formação da ideia da autonomia empresarial está bem patente no facto de, em certas línguas latinas, a palavra ratio (ragione, raison, razão), que a princípio significava “cálculo”, “factura”, ter passado a significar “conta” e, finalmente, “firma” e “empresa”. É difícil dizer-se mais e melhor a respeito de uma qualquer disciplina académica! Além dos referidos, também outros grandes economistas não desdenhavam dedicar à Contabilidade alguma da sua atenção. Assim, o grande Léon Walras, fundador da Escola de Lausanne, ao tratar da teoria da produção, incluiu nos seus “Eléments d`Économie Politique Pure” um capítulo sobre Contabilidade, em que chegou a escrever o seguinte: “… a prática industrial expressa pela Contabilidade pode servir com sucesso para estabelecer a teoria da produção”. 6 Nos nossos dias, também o eminente economista americano P.A. Samuelson, no seu “Economics – An Introductory Analysis”, inclui um capítulo sobre Contabilidade, que intitula “Elementos de Contabilidade para usos dos economistas”, dizendo que estas noções devem ser familiares a todos êles. Aí, Samuelson começa por dizer: “Nós vivemos na idade das máquinas; mas vivemos também – e isto é pouco menos importante – na idade das contas. É absolutamente indispensável ao homem moderno iniciar-se um pouco nos domínios da Contabilidade.”. A seguir, ao tratar do balanço, diz: “Todo o economista deve estar em situação de compreender os dois elementos contabilísticos essenciais, que são o balanço e a conta de Lucros e Perdas”. Tratando do problema da avaliação dos “stocks” e depois de referir-se aos métodos FIFO e LIFO, observa que os lucros das empresas são susceptíveis de diferir fortemente, segundo um outro daqueles dois métodos é aplicado no decurso de um período de inflação ou de deflação, chamando ainda a atenção para a repercussão daquele facto sobre o momento dos impostos a pagar. A terminar o seu capítulo sobre Contabilidade, refere aquilo a que chama “algumas relações interessantes entre a economia e a Contabilidade”: 1. Todos os balanços se baseiam na avaliação dos activos, a qual constitui um dos problemas fundamentais da teoria do capital e do juro. 2. Todas as estatísticas de rendimento nacional se fundam nos dados contabilísticos relativos aos montantes dos negócios, aos preços de custo, etc. 3. Os dados da Contabilidade analítica de exploração desempenham um papel importante na forma como as empresas fixam os seus preços. O Prof. Hicks, da Universidade de Oxford, que tivemos o prazer de ouvir nesta Faculdade no ano lectivo findo, no prefácio da 2.ª edição do seu “The Social Framework”, lamenta-se de que, dez anos antes, ao redigir a 1.ª edição, tivesse tão poucos conhecimentos de Contabilidade. Sente-se, porém, satisfeito de, nesse intervalo de dez anos, ter feito grandes progressos nos seus conhecimentos desta matéria, devido ao contacto que no entretanto teve com contabilistas. 7 Por aqui se vê que também este eminente Professor entende conveniente que os economistas possuam alguma cultura contabilística até para, como diz Canning5, evitarem erros na utilização dos números fornecidos pela Contabilidade, dado que, evidentemente, o cometimento destes erros é menos provável desde que o economista tenha gasto alguns anos da sua vida a familiarizar-se com a técnica contabilística. A falta de familiaridade com a forma como os resultados são obtidos e, portanto, com o seu autêntico significado, é, segundo John Wheeler6, Professor de Contabilidade e Economia na Universidade de Minnesota, o maior inconveniente do usos dos dados contabilísticos, pelos economistas; e acrescenta que, em regra, os contabilistas conhecem as limitações dos dados encontrados nas contas publicadas, mas que um economista desconhecedor de Contabilidade provavelmente usará aqueles números sem realizar aquelas limitações. Até aqui, passámos em revista aquilo que alguns eminentes economistas de várias épocas expressamente disseram acerca da relevância dos conhecimentos contabilísticos no estudo e compreensão da Ciência Económica. A seguir, veremos que, desde a fundação desta Ciência, até os nossos dias, muitos dos mais conhecidos economistas, não só se referiram nos seus livros à importância da Contabilidade, mas, além disso, usaram a sua terminologia ou os resultados daquela provenientes. Assim, começando por Adam Smith, verifica-se, por várias passagens do seu celebérrimo livro “An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations”, que a escrituração comercial lhe era familiar7 - o que parece estar um pouco em contradição com o que escreveu Proudhon e vimos atrás8. A circunstância de Adam Smith ter usado tão pouco os dados que as escritas dos comerciantes poderiam fornecer-lhe é explicada pelas suas curiosas afirmações, relativas ao segredo em que os homens de negócios desejam manter a sua escrituração: um comerciante em regra não quer que se saiba que lucros está obtendo, porque, se está conseguindo um bom lucro, outros gostariam de entrar no negócio, e, se estiver ganhando pouco, também não deseja que os outros conheçam o seu fracasso. Portanto, acrescenta, a sua escrita era 5 John B. Canning, “The Economics of Accountancy”, pág. 313. Economics and Accounting, in-Handbook of Modern Accounting Theory, editado por Morton Backer (New York, 1955), pág. 50. 7 “In England… all accounts are kept, and the value of all goods and of all estates is generally computed in silver… At Rome all accounts appear to have been kept, and the value of all estates to have been computed either in Asses or in Sestertii…” “This difference, however, would be altogether owing to the custom of keeping accounts, and of expressing the amount of all great and small sums rather in silver than in gold money” (Vol I, págs. 58/60, da 4.ª edição:Londres, A. Strahon, 1786.). 8 Ver págs. 2 e 3 6 8 cuidadosamente guardada e os respectivos resultados não se tornavam disponíveis, que pelos economistas, quer por quaisquer outras pessoas. Por seu lado, também J.B. Say usou a terminologia contabilística nos seus escritos, tendo-se, até, servido dum hipotético mapa de balanço para mostrar que “… um individuo poderia ser mais rico embora possuísse uma soma menor de dinheiro9”. David Ricardo, que foi corretor de fundos públicos e a quem, portanto, o mundo dos negócio foi familiar, não fez, nos seus “Principles of Political Economy”, qualquer referência à escrituração mercantil, tendo, porém, feito uso, em alguns dos seus ensaios, de dados extraídos de escritas comerciais. T.R. Malthus, muito conhecido pelo seu “Ensaio sôbre a População” (1798), utilizou, da escrita duma Companhia, um mapa muito semelhante ao actual desenvolvimento da conta Lucros e Perdas. Stanley Jevons, não só se referiu à Contabilidade, como sugeriu a sua importância na investigação económica. A pág. 11 da 2.ª edição (Londres: Macmillan and Company, Ltd., 1879) do seu “The Theory of Political Economy”, pode ler-se: “But where, the reader will perhaps ask, are your numerical data for estimating pleasures and pains in Political Economy? I answer, that my numerical data are more abundant and precise than those possessed by any other science, but that we have not yet known how to employ them. The very abundance of our data is perplexing. There is not a clerck nor book-keeper in the country who is not engaged is recording numerical facts for the economist. The private account books, the great ledgers of merchants, and bankers and public offices, the share lists, price-lists, bank returns, monetary intelligence, Custom-house and other Government returns are all full off the king of numerical data required to render Economics an exact mathematical science. Thousands of folio volumes of statistical, parliamentary, or other publications await the labour of the investigator. It is partly the very extent and complexity of the 9 No seu “Cours Complet d`Économie Politique Pratique”. 9 information which deters us from its proper use. But it is chiefly a want of method and completeness in this vast mass of information which prevents our employing it in the scientific investigation of the natural laws of Economics”. Por outro lado, o actual desenvolvimento de alguns capítulos da Economia deve-se a contabilistas, tais como os italianos Cerboni, Besta e Rossi, cujas obras, publicadas nos fins do século XIX, exerceram muita influência nos economistas da Itália e doutros países. Confirmando esta afirmação, escreve Alfred Marshall no seu “Industry and Trade”, pág. 365: “Movements towards the general application of scientific methods in business administration were pioneered by studies of cost accounting”. Alfred Marshall fez, nos seus trabalhos, frequentes referências à Contabilidade, parecendo ter sido o primeiro economista que, por escrito, citou um livro de Contabilidade: “Factory Accounts”, de Garcke and Fells10. Também nos últimos anos a Contabilidade tem desempenhado um papel muito importante no desenvolvimento da teoria económica, sendo certo que se tornará neste capítulo, ainda mais preciosa no futuro e, sobretudo, na teoria da empresa, cuja actual formulação, segundo alguns economistas, se encontra bastante afastada da realidade, necessitando, por isso, de novos estudos e revisão. Sendo assim, é natural que os economistas, tentando tornar aquela teoria mais realística, mais conforme com os factos da vida real, utilizem o auxílio da Contabilidade, que pode fornecer-lhes inestimável ferramental teórico e prático11. Uma das mais interessantes aplicações da Contabilidade à Teoria Económica em tempos recentes é a tentativa, feita pelo Professor Kenneth Boulding no seu livro “A 10 11 Ver Alfred Marshall, Princípios de Economia (Madrid, 1954), pág. 298. John Wheeler, obra citada, pág. 52. 10 Reconstruction of Economics”, de introduzir o balanço como conceito analítico central da teoria da empresa. Ali se pode ler: “The simplest theory of the firm is to assume that there is a “homeostasis of the balance sheet” – that there is some desired quantity of all the various items in the balance sheet, and that any disturbance of this structure immediately sets in motion forces which will restore the status quo. Thus, if a customer purchases finished product, this diminishes the firm’s stocks of finished product and increases its stocks of money. In order to restore the status quo the firm must spend the increased money stock to produce more finished product. On these assumptions the firm’s production, and indeed the production of the whole society, is a necessity imposed on it by the fact of consumption. Because moth and rust corrupt we must weave more cloth and smelt more iron. Every act of production, of course, disturbs the stocks of raw materials and goods in process, which also have to be replaced. Hence consumption directly “causes” production in such a system, and, be it noticed, without any intervention of a price system or any assumption about maximizing profits or any other variable”12. Boulding escreve ainda que é essencial obter uma visão dinâmica da empresa e que a Contabilidade pode ser muito útil neste sentido, visto que é através dela que as alterações resultantes das operações comerciais são projectadas em dados que podem ser analisados e desenvolvidos para melhor explicar aquelas alterações. O Prof. Boulding também desenvolve um ensaio de teoria macroeconómica da distribuição mediante a utilização de mapas comparativos de balanços. Tudo o que fica exposto põe em evidência a crescente importância que a Contabilidade está tendo no desenvolvimento da Economia, e será, sem dúvida, duma cada vez maior cooperação entre economistas e contabilistas que resultará a Teoria Económica 12 Kenneth E. Boulding, “A Reconstruction of Economics”, pág. 27. 11 desenvolver-se no sentido duma formulação viva e realística, que não seja apenas de interêsse como exercício mental para os estudiosos de Economia, mas também de grande relevância no desenvolvimento duma melhor compreensão das operações da nossa economia e especialmente da empresa. 12