e metas internacionais de segurança do paciente
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e metas internacionais de segurança do paciente
Artigo original Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) e metas internacionais de segurança do paciente: estudo-piloto Failure Mode and Effects Analysis (FMEA) and the international patient safety goals: pilot study Sylvia Lemos Hinrichsen1, Luana Possas2, Cristina Lúcia Ferraz de Oliveira2, Danielly Mouzinho Ramos2, Tatiana de Aguiar Santos Vilella3 Palavras-chave FMEA Metas internacionais de segurança do paciente Gestão de riscos Gestão em saúde Keywords RESUMO Em uma política de qualidade e segurança do paciente é fundamental a sistematização de processos. As ferramentas de gestão vêm sendo utilizadas como importantes auxílios para reduzir riscos e planejar ações futuras. Este trabalho apresentou uma proposta de utilização do método Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) como instrumento de análise de não conformidades e criação de subsídios para a melhoria das operações dos processos relacionados às metas internacionais de segurança do paciente (meta 1 – identificar o paciente corretamente; meta 2 – promover comunicação efetiva; meta 3 – promover segurança de medicamentos de alta vigilância; meta 4 – garantir cirurgias com local de intervenção, procedimento e pacientes corretos; e meta 6 – reduzir os riscos de danos ao paciente decorrentes de quedas). No período de julho 2011 a julho 2012, realizou-se um estudo-piloto descritivo com base na gestão organizacional de um hospital geral, privado e de alta complexidade, no Nordeste do Brasil. Após a avaliação dos índices, calculou-se o índice de risco segundo gravidade, ocorrência e detecção, sendo desenhada para cada meta uma matriz de tolerância de riscos (inaceitável, importante e moderado). Foram consideradas não conformidades inaceitáveis para o paciente: receber resultado de exame de outro paciente (meta 1); erro na prescrição da medicação prescrita (meta 2); carro de parada incompleto ou errado (meta 3); erro de lateralidade (meta 4); deixar o paciente desacompanhado e sem vigilância (meta 6). A metodologia FMEA mostrou-se de fácil utilização, permitindo identificar no processo analisado os pontos críticos, passíveis de monitoração. Com base nesses pontos, poderão ser desenvolvidos indicadores. ABSTRACT FMEA International patient safety goals Risk management Health management In a quality and patient safety policy is essential the processes systematization. The management tools have been used as important aids to reduce risks and to plan future actions. This paper presented a proposal to use the method Analysis Failure Modes and Effects (FMEA) as a tool for analyzing non-compliance and creating bases to improve process operations related to the international patient safety goals (1 – identify patient correctly; 2 – improve effective communication; 3 – improve safety of high-alert medications; 4 – ensure correct-site/ procedure/patient surgery; 6 – reduce patient harm risks resulting from falls). During one year (July 2011 to July 2012), it was carried out a descriptive pilot study, based on organizational management at a general private, high complex hospital in Northeast Brazil. After index evaluation, it was calculated the risk index according severity, occurrence and detection, and for each goal it was designed a risk tolerance array (unacceptable, important and moderate). It was considered unacceptable non-conformities to the patient: receiving test result from another patient (goal 1); error in the medication prescription (goal 2); emergency car stopped incomplete or wrong (goal 3); error of laterality (goal 4); leave the patient unattended and unsupervised (goal 6). FMEA methodology proved to be easy to use, allowing the process to identify the critical points discussed, subject to be monitoring. Based on these points, it could be developed indicators. Recebido em: 06/12/2012 Aprovado em: 27/01/2013 Conflito de interesse: nada a declarar Fonte de financiamento: nenhuma Trabalho realizado no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil. 1.Médica Infectologista; Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia, da UFPE Coordenadora do Programa de Qualidade, Gestão de Riscos e Controle de Infecções, Centro de Estudos do Hospital Memorial São José – Recife (PE), Brasil. 2.Enfermeira; Controladora de Riscos Relacionados à Assistência à Saúde/Qualidade, Centro de Estudos do Hospital Memorial São José – Recife (PE), Brasil. 3.Farmacêutica; Biomédica; Pesquisadora Associada em Gestão de Projetos/Biossegurança e Controle de Infecções Risco Sanitário Hospitalar – Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE – Recife (PE), Brasil. Endereço para correspondência: Sylvia Lemos Hinrichsen – Rua Jornalista Guerra de Holanda, 158/2601 – CEP: 52061-010 – Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected] 152 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella TAS INTRODUÇÃO Em uma política de qualidade e segurança do paciente, são fundamentais a estrutura, os processos e os resultados. As ferramentas para gerenciar processos devem ter como objetivos: diminuir a probabilidade da ocorrência de falhas, atuais ou potenciais, em processos; aumentar a confiabilidade dos processos já em operação por meio da análise das falhas que ocorreram; e diminuir os riscos de erros e aumentar a qualidade em procedimentos clínicos e administrativos1. As ferramentas de gestão vêm sendo utilizadas como importantes auxílios para que se atinjam objetivos, seja os de aumentar receitas, reduzir custos, inovar, melhorar a qualidade, reduzir riscos ou planejar ações futuras. São utilizadas na abordagem da qualidade como facilitadoras da organização do trabalho de análise e na apresentação de resultados1-8. Garantir a qualidade é induzir as pessoas a fazerem o melhor em tudo que se propuserem a fazer. Uma gestão da qualidade tem como finalidade estabelecer um sistema e uma disciplina que evitem o aparecimento de defeitos no ciclo de desempenho de uma companhia/instituição/hospital, monitorando situações que possam causar problemas futuros e/ou eliminando elementos surpresas1-10. As ferramentas são, portanto, as bases da qualidade e o seu uso intensivo pode representar o ponto de partida para a melhoria e redução de custos e riscos, auxiliando na solução de problemas. Hoje, várias são as instituições/ hospitais que vivem momentos de grande relevância em suas histórias, quando focam sua gestão na qualidade e segurança do paciente como prioridade institucional1,10. É um constante desafio institucional trazer a qualidade e a segurança do paciente para o centro das discussões e desenvolver uma agenda positiva entre os diversos setores da cadeia assistencial de seus pacientes. As instituições, para atingirem esses objetivos, utilizam programas contínuos de gerenciamento de risco, a fim de identificar e reduzir eventos adversos inesperados e outros riscos à segurança de pacientes e profissionais, focados: na identificação, na priorização, na notificação, no gerenciamento e na investigação do risco, bem como no gerenciamento das queixas relacionadas aos riscos1,9. Em 2005, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente e identificou seis áreas de atuação, entre elas, o desenvolvimento de “Soluções para a Segurança do Paciente”. Neste mesmo ano, a The Joint Commission, a mais RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 importante organização de certificação de qualidade em assistência médico-hospitalar, e seu braço internacional, a Joint Commission International, foram designadas como o Centro Colaborador da OMS em “Soluções para a Segurança do Paciente”. É papel desse Centro a elaboração e a difusão de soluções que visem à Segurança do Paciente4,7. As seis Metas Internacionais de Segurança do Paciente são, portanto, soluções que têm como propósito promover melhorias específicas em áreas problemáticas na assistência1,6,7,9. A metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falha (Failure Mode and Effects Analysis), conhecida como FMEA, é uma ferramenta que busca, em princípio, evitar, por meio da análise das falhas potenciais e propostas de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto do produto ou do processo. Detecta as falhas antes, diminuindo as chances de o produto ou processo falhar10-21. São tipos de FMEA: FMEA de produto, análise cujo objetivo é evitar falhas no produto ou no processo decorrente do projeto, comumente denominada também de FMEA de projeto; FMEA de processo, análise cujo objetivo é evitar falhas do processo, tendo como base as não conformidades do produto com as especificações do projeto; e FMEA de procedimentos administrativos, na qual se analisam as falhas potenciais de cada etapa do processo com o mesmo objetivo que as análises anteriores, ou seja, diminuir os riscos de falha10-21. Pode-se aplicar a análise FMEA nas seguintes situações: para diminuir a probabilidade da ocorrência de falhas em projetos de novos produtos ou processos; para diminuir a probabilidade de falhas potenciais (ou seja, que ainda não tenham ocorrido) em produtos/ processos já em operação; para aumentar a confiabilidade de produtos ou processos já em operação por meio da análise das falhas que já ocorreram; e para diminuir os riscos de erros e aumentar a qualidade em procedimentos administrativos10-21. Dentro desse contexto, o presente trabalho foi desenvolvido com os objetivos de definir, listar e criar um conjunto de recomendações, relativas à qualidade e aos riscos ao paciente, segundo matrizes de tolerância com bases nas metas internacionais de segurança do paciente6,7,9,10. METODOLOGIA No período de um ano (2011 a 2012), realizou-se um estudo-piloto, descritivo, com base na gestão organizacional de um hospital geral privado e de alta complexidade Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) e metas internacionais de segurança do paciente: estudo-piloto localizado em Recife. Como instrumentos de coleta de dados, foi utilizada a literatura referente à utilização do método FMEA (Análise de Modos e Efeitos de Falhas) e as metas internacionais de segurança do paciente (meta 1 – identificação; meta 2 – comunicação efetiva; meta 3 – medicamentos; meta 4 – cirurgia segura e meta 6 – quedas)1,9. Formaram-se equipes multidisciplinares de discussão, que se reuniam semanalmente por duas horas, num mesmo dia/horário, para listar as não conformidades relativas aos riscos relacionados às metas internacionais de segurança do paciente. Todas as observações oriundas das discussões entre as equipes eram compiladas, seguindo consensos, e transcritas em um banco de dados, para análise, obtidas por meio de um survey, direcionado à seleção dos principais riscos segundo o grau de importância (dano) e frequência de ocorrências. A partir dos resultados, foram criadas matrizes de tolerância para os riscos para servirem de base nos processos de melhorias institucionais. Para a montagem do FMEA, foi analisado o banco de dados de cada etapa do processo estudado (as metas 1, 2, 3, 4 e 6), sendo descritas todas as não conformidades ocorridas nos lotes produzidos no período avaliado. Não foram considerados na análise problemas que não fossem específicos aos processos de implementação das metas. Definiram-se como etapas para a aplicação: • Fase de planejamento – realizada pelo responsável pela aplicação da metodologia, que compreendeu: (1) descrição dos objetivos e abrangência da análise, em que se identifica qual(ais) produto(s)/ processo(s) será(ão) analisado(s); (2) formação dos grupos de trabalho, em que se define os integrantes do grupo, preferencialmente pequeno (entre quatro e seis pessoas) e multidisciplinar (contando com pessoas de diversas áreas, como Qualidade, Desenvolvimento e Produção); (3) planejamento das reuniões agendadas com antecedência e com o consentimento de todos os participantes para evitar paralisações; e (4) preparação da documentação. • Fase de análise de falhas em potencial – realizada pela equipe de trabalho que criou o formulário FMEA de acordo com: (1) função(ões) e característica(s) do produto/processo; (2) tipo(s) de falha(s) potencial(is) para cada função; (3) efeito(s) do tipo falha; (4) causa(s) possível(eis) da falha; e (5) controles atuais. • Fase de avaliação dos riscos – na qual foram definidos pela equipe os índices de gravidade (G) e probabilidade de ocorrência (P) para cada causa de falha, de acordo com critérios previamente definidos, sendo calculados os coeficientes de prioridade de risco (R) por meio da multiplicação desses dois índices15,19,20 (Quadros 1 e 2). Não foram considerados os índices de probabilidade de detecção (1 a 10) na construção dos riscos por se julgar que a instituição ainda não apresenta a cultura da informação de riscos quando estes se mostram presentes pelas equipes multidisciplinares. Assim, não são calculados com respeito à relação quanto maior a detecção maior a possibilidade de visualizar a falha e intervir na causa. Por consequência, quanto maior a possibilidade de detecção menor a nota (20). Na montagem do FMEA, consideraram-se as principais etapas do processo de produção, envolvendo manipulação, análise e compreensão. Como função, determinou-se a utilidade de cada etapa diante das etapas posteriores. Como modo de falha, consideraram-se as falhas apontadas nas planilhas de não conformidades. Como efeito da falha, evidenciaram-se as consequências de cada modo de falha tanto para os clientes internos como externos. Para a determinação de possíveis eventos causadores dos modos de falha, utilizou-se de experiência prática e literatura técnica especializada. Nos controles atuais, apontaram-se os possíveis controles existentes numa instituição de saúde de alta complexidade (seja pública ou privada). A seguir, classificou-se cada modo de falha nos critérios de ocorrência e gravidade, atribuindo notas. Quanto maior a gravidade e ocorrência, maiores as notas (Quadros 1 e 2). Cada índice foi avaliado separadamente, atribuindo notas de acordo com a experiência dos envolvidos no processo, considerando o impacto que a falha acarretaria para a próxima etapa e contando com a ajuda de outros técnicos que atuam na mesma área. Após a avaliação dos índices, calculou-se o índice de risco pelo registro do produto dos três índices anteriores: gravidade, ocorrência e detecção. Uma vez calculado, obteve-se vários índices de riscos que foram desenhados numa matriz de tolerância (Figura). Os índices que apresentaram maiores valores foram considerados como problemas a serem priorizados e sobre os quais deveria ser estabelecido um plano de ação pelas equipes e governança. RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 153 154 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella TAS Na definição das não conformidades relativas às metas internacionais de segurança do paciente, foram identificadas: • Meta 1 – identificar o paciente corretamente (falhas no processo de identificação dos pacientes como causa de erros graves, como administração de medicamentos e cirurgias em pacientes “errados”; falta de checagem pelo menos de duas identificações, nome completo e número de prontuário/registro, nenhuma devendo ser o número do quarto do paciente, antes da administração de medicamentos, sangue e hemocomponentes, coleta de amostras de sangue e outras amostras para testes clínicos e quando da realização de tratamentos ou procedimentos, encontrados na pulseira de identificação do paciente e nas etiquetas aderidas aos documentos do prontuário). • Meta 2 – promover a comunicação efetiva: erros de comunicação entre os profissionais da assistência causam danos aos pacientes no momento em que se faz uma ordem verbal ou telefônica ou se comunicam resultados críticos de exames, sem a certificação de que a informação foi compreendida e registrada corretamente por quem a recebeu, por meio do registro em prontuário do que foi ouvido, lendo-se de volta a ordem completa ou o resultado de exame. • Meta 3 – promover a segurança de medicações de alta vigilância: soluções de eletrólitos em altas concentrações para uso endovenoso, definidas como medicamentos de alta vigilância, como o cloreto de potássio – 19,1%, o cloreto de sódio – 20%, o sulfato de magnésio – 50% e o fosfato de potássio – 2 mEq/mL, que devem estar facilmente disponíveis no hospital, devendo ser manipuladas na farmácia. As medicações de alta-vigilância dos carros de emergência devem ser identificadas com etiqueta vermelha e segregadas das demais. • Meta 4 – garantir cirurgias com local de intervenção correto, procedimentos e pacientes corretos: cirurgias ou procedimentos invasivos em locais ou membros errados são erros que podem ser prevenidos por meio da marcação do local da cirurgia ou do procedimento invasivo por um círculo ou dois círculos circunscritos simulando um alvo. Além disso, pode-se criar uma lista de verificação pré-operatória para confirmar que procedimentos importantes, como a avaliação pré-anestésica, anamnese, exame físico e consentimento informado, foram realizados on time out, uma verificação final, feita no local onde a cirurgia ou o RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 procedimento invasivo serão realizados, em voz alta, pela equipe responsável. • Meta 5 – reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde. • Meta 6 – reduzir os riscos de danos ao paciente decorrentes de quedas. Quadro 1. Análise do Tipo e Efeito de Falha – Estratégia de análise dos riscos (Índice de gravidade). Recife, 2011–2012. Risco /Gravidade Trivial/Mínima Criticidade 1 Medidas Não requer ação específica. Aceitável/Pequena Criticidade 2, 3 Não é necessário melhorar a ação. No entanto, devem ser consideradas avaliações periódicas a fim de analisar sua evolução, pois afeta, mas não desqualifica, por não ser tão significativo. Moderado Criticidade 4, 5, 6 Devem ser implementadas políticas de redução do risco a médio e curto prazo, pois afeta, não desqualifica, mas leva a uma investigação. Importante/Alta Criticidade 7, 8, 9 O risco precisa ser reduzido rapidamente. Devem ser implementadas políticas de redução do risco a curto prazo e avaliações periódicas para garantia da redução do risco. Inaceitável Criticidade 10,12–16 Ação não deve continuar até que o risco seja imediatamente reduzido, sob a pena de serem cancelados atos/procedimentos clínicos e até encerrados os serviços clínicos. Quadro 2. Análise do Tipo e Efeito de Falha – Estratégia de análise dos riscos (Índice de ocorrência da causa). Recife, 2011–2012. Índice Risco/Probabilidade de ocorrência Ocorrência 1 Muito improvável/remota Excepcional 2 Muito pequena/improvável Muitas poucas vezes 3 Pequena/Provável Poucas vezes Moderada/Muito provável Ocasionalmente, algumas vezes Alta Frequente Muito Alta Inevitável, certamente ocorrerá falha 4, 5, 6 7, 8 9, 10, 12–16 Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) e metas internacionais de segurança do paciente: estudo-piloto RESULTADOS Foram selecionadas cinco estratégias de análise dos riscos e criadas suas matrizes de tolerância para as metas internacionais de segurança do paciente (Quadros 3 a 7). DISCUSSÃO O método FMEA é útil para identificar as falhas atuais e potenciais e seus efeitos em sistemas e processos para definir ações que visem a reduzir ou eliminar o risco associado a cada falha. O FMEA avalia a severidade de cada falha relativamente ao impacto causado aos clientes e sua probabilidade de ocorrência e de detecção antes de chegarem às mãos dos clientes. INACEITÁVEL IMPORTANTE MODERADO Figura. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Matriz de Tolerância de Riscos. Recife, 2011–2012. Com base nesses três elementos — gravidade, ocorrência e detecção — o método FMEA leva à priorização de quais modos de falha acarretam os maiores riscos ao cliente e que, portanto, merecem atenção. Para a avaliação da gravidade, parece haver concordância de que esta deva ser realizada a partir do efeito da falha. Porém, para avaliação da ocorrência e detecção, não se observa consenso entre os autores6,10-21. Com a aplicação do FMEA, neste estudo, verificaram-se a falha (quando um sistema ou parte dele comporta-se de maneira não desejada); o modo (a maneira na qual a falha pode acontecer ou falhar); o efeito (os resultados ou as consequências do modo de falha); e a análise (o exame detalhado dos elementos de um processo)6,7,10,20. Por meio do FMEA, puderam-se observar oportunidades de melhorias nas possibilidades de riscos de forma preventiva, bases para planos de ações a serem implementadas com as equipes multiprofissionais. Observou-se que o FMEA Meta 1 (identificação correta do paciente) tem como prioridade evitar erros no recebimento de exames pela dupla checagem do nome e registro/número do prontuário do paciente diante de qualquer procedimento, administração de medicamentos, impressos/prontuário, entre outros. Durante a administração de medicamentos/dietas, deverá ser checada a pulseira de identificação do paciente com a prescrição. Notou-se que é fundamental no FMEA Meta 2 (comunicação efetiva) o treinamento das equipes de Quadro 3. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 1- identificar os pacientes corretamente. Recife, 2011–2012. Gestão Eventos sentinelas definidos para cada gestão Identificação do Paciente Gestão de risco Deixar o paciente sem identificação, ou identificação incompleta, bem como identificar o paciente pelo número do leito ou pelo diagnóstico. Danos Gravidade do dano* Probabilidade/ Ocorrência** Estimar Risco (R=GxP) Risco Receber medicação de outro paciente 3 3 9 Importante Receber dieta de outro paciente 3 3 9 Importante Receber resultado de exame de outro paciente 3 4 12 Inaceitável Receber diagnóstico de outro paciente 3 2 6 Moderado Receber hemocomponente de outro paciente 3 2 6 Moderado Realização de procedimento cirúrgico errado no paciente errado 3 2 6 Moderado Realizar exame no paciente errado Confundir o acompanhante com o paciente 2 3 6 Moderado 1 3 3 Aceitável R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4). RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 155 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella TAS enfermagem/multidisciplinar para a identificação do paciente pelo nome completo e número de prontuário/ registro diante de qualquer procedimento assistencial. Para evitar o recebimento de medicação/dietas de outro paciente, serão também necessários treinamentos para a dupla checagem com o paciente e/ou acompanhantes (repetição/read back), fazendo sempre conferência verbal e/ou por meio da visualização de etiquetas e/ou pulseira com a identificação do paciente. A equipe de enfermagem deverá ser treinada para receber uma prescrição fonada, realizada item a item, fazendo-se a releitura do que se escreveu (read back) e confirmando o que foi escrito, a qual deve ser posteriormente assinada e carimbada com o nome e registro do profissional. Em relação ao FMEA Meta 3 (segurança de medicamentos de alta vigilância), observou-se que há necessidade de serem implementados planos de ações de melhorias baseados em treinamentos focados nos carros de parada, para que estejam completos com materiais/medicamentos durante intercorrências e existam registros em comandas (manuais ou eletrônicas), bem como deve se dar maior atenção ao lacre dos carros. A falta de itens não padronizados e/ou consignados sem aviso prévio demanda também treinamentos com a equipe de farmácia para que se faça o levantamento prévio de tais itens. Quanto ao armazenamento errado, observou-se que essa não conformidade poderá levar à dispensação errada, assim como à perda de propriedades físico-químicas. Também é necessária a etiquetação segura dos medicamentos, assim como o fracionamento correto e seguro dos medicamentos. São de extrema importância para se evitarem erros: a legibilidade das prescrições, a colocação do nome correto da medicação, assim como a sua posologia em miligrama e a via de administração. A medicação ou dietas não deverão ser liberadas se não corretas e completas. O aprazamento do soro dos pacientes deverá ser rigorosamente calculado, segundo horários de gotejamento pré-estabelecidos. Quanto ao FMEA Meta 4 (cirurgia segura), é fundamental a sistematização por parte das equipes da marcação do sítio cirúrgico de forma padronizada (em X) Quadro 4. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 2 – melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais da assistência . Recife, 2011–2012. Gestão Gestão de risco Comunicação efetiva 156 Eventos sentinelas definidos para cada gestão Danos Gravidade do dano* Probabilidade/ Ocorrência** Estimar Risco (R=GxP) Risco Preenchimento da prescrição médica ilegível Erro na identificação da medicação prescrita 3 4 12 Inaceitável Prescrição médica incompleta (nome do medicamento, dose, via, posologia) Erro na dosagem, via ou posologia da medicação prescrita 3 3 9 Importante Avaliação inicial incompleta Dados importantes sobre o paciente não informados, podendo levar a erro de diagnóstico e assistência 2 4 8 Importante Aprazamento do soro por fases ao invés de abertura por horário Descontrole na dose a ser administrada 2 4 8 Importante Acréscimo de medicamento por meio da prescrição fonada sem anotação, releitura e confirmação do que foi anotado Erro de medicação a ser administrada 3 3 9 Importante Resultado de exames por meio da via fonada sem anotação, releitura e confirmação do que foi anotado Erro de diagnóstico e de conduta a ser tomada 3 3 9 Importante Validação de prescrição fonada após 24 horas Invalidação da prescrição. Pode levar a problema judicial em caso de dano ao paciente 2 3 6 Moderado R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4). RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) e metas internacionais de segurança do paciente: estudo-piloto e conhecida por todos os profissionais, a qual deverá ser feita antes de o paciente ser encaminhado para o procedimento cirúrgico/sala de cirurgia. Lembramos que essa prática deverá ser registrada no prontuário do paciente e repassada nas trocas de plantões. No FMEA Meta 6 (reduzir riscos de danos decorrentes de quedas), não se deve deixar o paciente desacompanhado e sem vigilância diária. A enfermagem deverá orientar, diariamente, os acompanhantes a chamar a equipe sempre que for necessário e/ou se estes se ausentarem ou tiverem alguma dificuldade no acompanhamento dos pacientes. A barra de segurança nos banheiros deverá ser uma prioridade institucional, assim como o uso de adesivos antiderrapantes em piso molhado. Correção do erro de identificação do paciente quanto ao risco de quedas deverá ser feita por meio da classificação de riscos e uso de pulseira para pacientes e acompanhantes. É fundamental estabelecer uma rotina para a manutenção da grade do leito elevada, assim como o monitoramento se a cama apresenta defeito na grade. Na construção da matriz de segurança dos riscos segundo resultados do FMEA (metas 1, 2, 3, 4 e 6), foi importante focar os escores obtidos relacionados ao inaceitável, importante e moderado. Essas matrizes, desenhadas em forma de figuras, foram trabalhadas com as equipes multidisciplinares em forma de cartazes e banners, fixados e/ou enviados por meio de Quadro 5. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 3 – Melhorar a segurança de medicações de alta vigilância. Recife, 2011–2012. Dispensação – Materiais Abertos Dispensação – Medicamentos Gestão Gestão de risco Eventos sentinelas definidos para cada gestão Danos Gravidade do Dano* Probabilidade/ Ocorrência** Caixa de anestésicos incompletos e/ou com itens errados Administração errada do medicamentos/itens 4 1 4 Moderado Carros de parada incompletos e/ou com itens errados Administração errada do medicamento/itens 4 4 16 Inaceitável Medicamentos/itens em estoque com prazo de validade vencido Perda da eficácia do medicamento/itens levando à não garantia de qualidade e riscos para o paciente 2 2 4 Moderado Falta de solicitação, sem aviso prévio de medicamentos/itens não padronizados na instituição (incluindo os consignados) Falta de prescrição no momento do procedimento e/ou administração do medicamento 3 4 12 Inaceitável Armazenamento de medicamentos/itens errados, acarretando a dispensação errada e a perda de propriedades Físico-químicas Dispensação errada 4 3 12 Inaceitável Contaminação de material consequente ao retorno de medicamento/item contaminado em carros/bandejas de outro paciente Dispensação de material contaminado e riscos de acidente biológico 1 2 2 Aceitável 4 2 8 Importante 4 3 12 Inaceitável 4 3 12 Inaceitável Erro de dispensação de medicamentos/itens Erro de Etiquetação de medicamentos/itens Erro de fracionamento de medicamentos/itens Tratamento errado/uso não racional do medicamento/itens prescritos/falha terapêutica Dispensação errada/ tratamento errado/uso não racional do medicamento/itens/ falha terapêutica Erro de medicamento/falha na terapêutica Estimar Risco (R=GxP) Risco R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4). RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 157 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella TAS Quadro 6. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 4 – assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto. Recife, 2011–2012. Time-Out Gestão Gestão de risco Time-Out imcompleto 158 Eventos sentinelas definidos para cada gestão Danos Gravidade do dano* Probabilidade/ Ocorrência** Estimar Risco (R=GxP) Risco Identificação do paciente Identificação incompleta e/ou errada 4 1 4 Moderado Lateralidade Sítio cirúrgico marcado errado ou não marcado 3 4 12 Inaceitável Equipamentos, materiais e monitores de anestesias adequados e funcionantes Equipamentos, materiais e monitores quebrados ou danificados 3 1 3 Aceitável Paciente com alergia conhecida O médico não questiona sobre a existência de alergias no paciente, ou o mesmo desconhece se tem algum tipo de alergia 4 2 8 Importante Via aérea difícil Risco de aspiração 4 2 8 Importante Acesso venoso e fluídos adequados Risco para perda sanguínea maior que 500 mL 4 1 4 Moderado Antibioticoprofilaxia nos últimos 60 minutos Risco para infecção pós-cirúrgica 2 4 8 Importante Exames disponíveis, relacionados ao procedimento cirúrgico Risco de erro do local e procedimento correto 3 1 3 Aceitável Erro de identificação Possível troca de paciente 4 1 4 Moderado Erro de marcação (lateralidade) Erro de localização do procedimento cirúrgico 3 4 12 Inaceitável Erro de diagnóstico Erro do procedimento cirúrgico 4 1 4 Moderado R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4). RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 Análise de Modos e Efeitos de Falhas (FMEA) e metas internacionais de segurança do paciente: estudo-piloto Quadro 7. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 6 – reduzir o risco de lesões aos pacientes, decorrentes de quedas. Recife, 2011–2012. Queda do Paciente Gestão Gestão de risco Eventos sentinelas definidos para cada gestão Danos Gravidade do dano* Probabilidade/ Ocorrência** Estimar Risco (R=GxP) Risco Deixar o paciente desacompanhado e sem vigilância Retirada não programada de diferentes artefatos terapêuticos 4 4 16 Inaceitável Falta da barra de segurança no banheiro Traumas teciduais de diferentes densidades; piora nas condições clínicas do paciente 4 3 12 Inaceitável Piso molhado sem aviso Traumas teciduais de diferentes densidades; piora nas condições clínicas do paciente 4 3 12 Inaceitável Grade do leito abaixada ou com defeito Traumas teciduais de diferentes densidades; desconexão de artefatos terapêuticos diversos 4 2 8 Importante Campainha para chamar enfermagem longe do paciente Traumas teciduais de diferentes densidades; desconexão de artefatos terapêuticos diversos 4 1 4 Moderado Realizar procedimento técnico complexo sem auxílio Retirada não programada de diferentes artefatos terapêuticos; piora das condições clínicas 4 1 4 Moderado Segurar bebês no colo e não nos carrinhos durante o transporte Traumas teciduais de diferentes densidades 4 1 4 Moderado Erro de identificação do paciente quanto ao risco de queda Paciente sem acompanhamento adequado 4 3 12 Inaceitável R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4). RAS _ Vol. 14, No 57 – Out-Dez, 2012 159 160 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella TAS recursos de e-learning/educação continuada. Observaram-se nessa experiência suas eficácias quanto à universalização das informações preventivas em todos os segmentos do hospital, especialmente com a governança, que passou a utilizá-la como política de segurança do paciente/qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na formulação para o FMEA proposta, a apresentação gráfica em forma de quadros e matriz de tolerância facilita as atualizações e a visualização do status do risco e das medidas planejadas e concluídas. A metodologia mostrou-se de fácil utilização, permitindo identificar no processo analisado pontos críticos e passíveis de monitoração por meio de indicadores relacionados às metas de segurança do paciente. DECLARAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO Sylvia Lemos Hinrichsen, Luana Possas, Cristina Lúcia Ferraz Oliveira e Danielly Mouzinho contribuíram substancialmente para a concepção e planejamento do projeto, obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados. Sylvia Lemos Hinrichsen e Tatiana de Aguiar Santos Vilella contribuíram significativamente na elaboração do rascunho ou na revisão crítica do conteúdo. Sylvia Lemos Hinrichsen e Tatiana de Aguiar Santos Vilella participaram da aprovação da versão final do manuscrito. REFERÊNCIAS 1. Hinrichsen SL. Qualidade e Segurança do Paciente. Gestão de Riscos. Rio de Janeiro: Medbook; 2012. 335 p. 2. Crosby PB. Qualidade é investimento. Rio de Janeiro: José Olympio Editora; 1984. 327 p. 3. Falconi V. O verdadeiro poder. INDG. Instituto de Desenvolvimento Gerencial. Minas Gerais: Nova Lima. 2009. 158 p. 4. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente. 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