pontifícia universidade católica de campinas
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pontifícia universidade católica de campinas
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE EM CAMPINAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EDUCAÇÃO ANAIS DO VII SEMINÁRIO SOBRE “A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ISSN 1984-2015 2013 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Dom Airton José dos Santos Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Arcebispo Metropolitano de Campinas Reitora Profa. Dra. Angela de Mendonça Engelbrecht Vice-Reitor Prof. Dr. Eduard Prancic Pró-Reitor de Graduação Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários Profa. Dra. Vera Engler Cury Pró-Reitor de Administração Prof. Dr. Ricardo Pannain 2013 1 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação APOIO 2 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades APRESENTAÇÃO Esta publicação reúne esforços de atores da comunidade acadêmico-científica do cenário educacional brasileiro que atenderam ao chamado do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da PUC-Campinas (PPGE) para, juntos, concretizarmos mais uma edição do já tradicional “Seminário sobre a Produção do Conhecimento em Educação” que, em 2013, chega à sua sétima edição, em torno do tema: Política Educacional do Século XXI: paradoxos, limites e possibilidades. São dois os princípios que se tornaram os pilares de sustentação desse Seminário, reflexo do ethos imbuído no PPGE da PUC-Campinas, a saber: (i) a produção do conhecimento não pode ser tratada desde uma perspectiva unívoca e unilateral, portanto, aposta-se na importância e necessidade do diálogo interdisciplinar entre as diversas disciplinas e vertentes teóricas que compõem as Ciências da Educação; (ii) o conhecimento científico, socialmente produzido, deve ganhar relevância e pertinência dentro de uma perspectiva voltada para o desenvolvimento humano, daí a importância do respeito e da valoração dos múltiplos conhecimentos existentes. Desta forma, também aposta-se na necessidade do diálogo entre o conhecimento científico e o conhecimento gerado pelos múltiplos atores do cenário educacional, decorrente do processo ação-reflexão-ação, isto é, da práxis educacional. São estes princípios que nortearam todo o processo de estruturação do “VII Seminário sobre a Produção do Conhecimento em Educação” que, em 2013, ganha sua primeira edição internacional, contando, para sua viabilização, com o apoio decisivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) cujos recursos, maximizados, permitiram manter a total gratuidade do evento, cobrindo custos que vão desde a acolhida dos quatro conferencistas internacionais até a edição dos registros do evento, como os Anais, ora apresentados à comunidade acadêmico-científica brasileira. A vocação interdisciplinar deste evento está retratada na escolha dos conferencistas internacionais que se debruçaram em torno da temática “Política Educacional do Século XXI: paradoxos, limites e possibilidades”, os quais provêm de diversos campos das Ciências da Educação: Prof. Dr. Gert Biesta (University of Luxembourg), Prof. Dr. António Gomes Ferreira (Universidade de Coimbra), Prof. Dr. Luis Sime Poma (Pontifícia Universidade Católica do Peru) e Prof. Dr. Juan José Martí Noguera (Universidad Antonio Nariño – Colombia). Reflete-se também na estruturação das atividades realizadas ao longo dos três dias do evento: quatro conferências ministradas pelos convidados estrangeiros, dez mesas de debates em que foram apresentadas 80 comunicações orais resultantes de pesquisas científicas e 15 palavras do professor, comunicações resultantes de reflexões práticas no campo educacional, bem como a exposição de 34 pôsteres. Convém registrar que, para garantir os objetivos do evento – de se constituir um espaço de discussão da produção do conhecimento –, em cada uma das mesas de debates foram incluídas somente a apresentação de quatro comunicações, garantindo um tempo maior para exposição e debate. Além da ampliação do tempo para a exposição dos trabalhos, o Seminário, coerente com o seu principal objetivo, que é a Produção do Conhecimento em Educação, possibilitou aos participantes assistir a três minicursos ministrados pelos convidados estrangeiros, nos quais se discutiram temas específicos no campo da metodologia científica para a produção do conhecimento. Todos os trabalhos selecionados para apresentação e discussão no evento foram analisados por um Comitê Científico que, diante do elevado número de trabalhos recebidos para avaliação, foi reforçado por pareceristas indicados por coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação recomendados pela CAPES, solicitação realizada junto à lista de Programas do Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação (FORPRED) da ANPEd. Os 200 trabalhos recebidos passaram por criteriosa avaliação por pares cega, e por um terceiro avaliador em casos de discrepância entre pareceres, sendo aprovados 127 trabalhos, 3 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades enviados por autores procedentes de instituições de ensino superior das diversas regiões do país. Acreditando na importância dos pareceres para o processo de aprimoramento da construção do conhecimento e do desenvolvimento da ciência, todos os autores cujos trabalhos não foram aceitos receberam uma justificativa com os motivos apontados pelo Comitê Científico para a denegação. Por derradeiro, em nome da Comissão Organizadora, agradecemos a todas as instituições e colaboradores que permitiram a concretização deste evento, bem como comunicamos à comunidade acadêmico-científica que, a partir desta presente edição, o “Seminário sobre a Produção do Conhecimento em Educação” passará a ter uma frequência bianual, registrando o compromisso dos docentes do PPGE da PUC-Campinas em manter o caráter internacional do evento nas edições vindouras. Prof. Dr. Adolfo Ignacio Calderón Prof. Dr. Samuel Mendonça Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da PUC Campinas 4 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón - PUC Campinas Prof. Dr. André Pires - PUC Campinas Prof. Dr. Artur José Renda Vitorino - PUC Campinas Profa. Dra. Heloisa Helena Oliveira de Azevedo - PUC Campinas Profa. Dra. Mônica Piccione Gomes Rios - PUC Campinas Prof. Dr. Samuel Mendonça - PUC Campinas COMISSÃO CIENTÍFICA Alice Ribeiro Casimiro Lopes - UERJ Alicia Maria Catalano de Bonamino - PUCRJ Ângela Maria Martins - UNICID Cassia Geciauskas Sofiato - USP Celia Maria Haas - UNICID Gionara Tauchen - UFRG Gregorio Valera-Villegas - Escuela de Educación de la Universidad Central de Venezuela Jefferson Mainardes - UEPG Jose Carlos Rothen - UFSCar Jose Eduardo de Oliveira Santos - UNINOVE Junot Cornélio Matos - UFPE Lina Katia Mesquita de Oliveira – UFJF Mara Sueli Simão Moraes - UNESP Maria Angélica Rodrigues Martins - UNISANTOS Maria Antônia de Souza - Universidade Tuiuti do Paraná María Guadalupe García Casanova - Universidade Nacional Autônoma do México Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca - UFC Marlucy Alves Paraiso - UFMG Monica de Carvalho Magalhaes Kassar - UFMT Nadja Mara Amilibia Hermann - PUCRS Ocimar Munhoz Alavarse - USP Raquel Goncalves Salgado - UFMT Romilda Teodora Ens - PUCPR Samuel Mendonca – PUC Campinas Sandra Maria Zakia Lian Sousa - USP Silvio Donizetti de Oliveira Gallo - UNICAMP Teise de Oliveira Guaranha Garcia - USP/ Ribeirão Preto Vlademir Marim - UFU Walter Omar Kohan - UERJ PARECERISTAS Adolfo Ignacio Calderon - PUC Campinas Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira - PUCPR André Pires - PUC Campinas Ari Raimann - Ari Raimann - UFG Artur José Renda Vitorino – PUC Campinas Aura Helena Ramos (FEBF/UERJ) Darcisio Natal Muraro - UEL 5 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Dimair de Souza França - UFMS/Campus do Pantanal Dora Fonseca de Castro - Instituto Politécnico do Porto Edivaldo José Bortoleto - Unochapecó Eliane Santana Debus – UFSC Elizeu Clementino – UNEB Heloisa Helena Oliveira de Azevedo - PUC Campinas Jaime Freitas - UFSCar José Carlos Rothen – UFSCar Leoni Maria Padilha Henning - UEL Rosânia Campos - UNIVILLE Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca - UFCE Maria Teresa Cauduro - URI Maurício Roberto da Silva - Unochapecó Mônica Piccione Rios - PUC Campinas Rosanne Evangelista Dias - UFRJ Silvia Sell Duarte Pillotto – UNIVILLE Talita Vidal (FEBF/UERJ) Vladimir Marim – UFU COMISSÃO DE APOIO Ana Maria da Silva Bittar Crivari Adriana Zampieri Martinati Andrea Oliveira Silva Daniela Fernanda Flores Isla Andrade Pereira de Matos Eliane de Godói T. Fernandes Leandro Gaspareti Alves Maria Salete Pereira Santos Priscila Pereira Dutra Regina Carvalho Calvo de Faveri Sheila Nunes de Mello Tatiana Cristina dos Santos Tatiane Cristina Moreira Andrietta 6 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades SUMÁRIO PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO GERAL…………………………..…….............................................…….…..25 PROGRAMAÇÃO DA APRESENTAÇÃO DE COMUNICAÇÃO ORAL, PÔSTER E PALAVRA DO PROFESSOR..............................................................................................................................27 RESUMOS DOS CONFERENCISTAS INTERNACIONAIS PRAGMATISING THE CURRICULUM: BRINGING KNOWLEDGE BACK INTO THE EDUCATIONAL CONVERSATION, BUT VIA PRAGMATISM (GERT BIESTA)…………....38 DA IDEIA DE AUTONOMIA E DA RESPONSABILIZAÇÃO DAS ESCOLAS: PERSPECTIVAS A PARTIR DA EUROPA (ANTÓNIO GOMES FERREIRA).......38 LA MERITOCRACIA EN LAS POLÍTICAS Y CULTURAS DOCENTES (LUIS SIME POMA)...............................................................................................................................................39 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NA EDUCAÇÃO SUPERIOR. UMA ABORDAGEM DO ESPAÇO IBEROAMERICANO (JUAN JOSÉ MARTÍ NOGUERA).......................................................................................................................................40 RESUMOS COMUNICAÇÕES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO................................................................................43 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM FOCO NAS PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA POSSIBILIDADE A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA...........................................................................................................................................43 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO CONTEXTO DAS TIC E O PIBID.......44 A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NO CONTEXTO DO GERENCIALISMO CONTEMPORÂNEO........................................................................................................................44 A PRÁXIS PEDAGÓGICA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ATUALIDADE..................................................................................................................................45 7 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNICAMP......................................................................................................45 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL...............46 ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA: PROGRAMA SEGUNDO TEMPO E O PAPEL DAS PREFEITURAS NA SUA DIFUSÃO................................................................................................46 AVALIAÇÃO CAPES NA PERSPECTIVA DO PARADIGMA DO ENSINO..............................47 AVALIAÇÃO E QUALIDADE - DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 AO SINAES............................47 AVALIAÇÃO NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO................................47 CIÊNCIA E EDUCAÇÃO SOB A RACIONALIDADE DA INOVAÇÃO.....................................48 EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL. UM BALANÇO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA (1988-2011) ...............................................................................................................48 ENSINO MÉDIO: BREVE REVISÃO DE LITERATURA.............................................................49 ENSINO MÉDIO BRASILEIRO EM CONTEXTO.........................................................................49 ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: ENEM E O CONTROLE SOCIAL NO BRASIL.......49 MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DE SÃO PAULO..............................................................................................................................................50 MUITOS SUJEITOS E POUCAS PESQUISAS: REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EJA................................50 O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS EDUCATIVAS NO CHILE (1981-2009): TRANSFORMACOES E CONTINUIDADES NOS DISCURSOS DO GOVERNO MILITAR E DOS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS.............................................................................................51 O ENEM E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO.............................................................................51 O LUGAR DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – ENTRE O FETICHISMO E UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL.........................................................................................................................................51 O PROJETO SOLDADO CIDADÃO E O PRONATEC: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA...................................................................................................................................52 ORGANIZAÇÃO DEMOCÁTICA DO TRABALHO E A PESRSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇOES.............................................................................................................................52 PERCEPÇÕES SOBRE O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR – UM ESTUDO NO IFRJ/REALENGO.............................................................................................................................53 8 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades POLÍTICA DE CURRÍCULO, DIVERSIDADE CULTURAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA: A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO NO TOCANTE ÀS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS............................................................................................................................53 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: FORMAMOS PROFISSIONAIS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA?....................................................................................................................54 PRODUÇÃO DE MICROCONTEÚDO PARA APRENDIZAGEM COM MOBILIDADE: PROPOSTA DE MODELO...............................................................................................................54 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E A ESCOLA NA PERCEPÇÃO DAS BENEFICIÁRIAS.......55 PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR E AS RESISTÊNCIAS DOS ATORES ENVOLVIDOS: IMPLEMENTAÇÃO NUMA DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO.......................................................................55 QUEM PODE FALAR SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO? UM ENSAIO SOBRE A PRODUÇÃO DO DISCURSO EM POLÍTICA EDUCACIONAL..................................................55 RAÍZES SÓCIO-HITÓRICAS QUE DERAM ORIGEM À UNIVERSIDADE NO BRASIL........56 EIXO TEMÁTICO: GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DEMOCRACIA VISTA COMO UM PROCESSO: O QUE PENSAM OS DIRETORES SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA? .......................................................................................................56 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: POLÍTICAS DE IMPLEMENTAÇÃO..............................................57 GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ/SC E OS PRINCÍPIOS DE DEMOCRATIZAÇÃO.........................................................................................57 GESTÃO ESCOLAR E DEMOCRATIZAÇÃO: INTERFACES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS CICLOS.................................................................................................57 GESTORES E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA – CAEd/UFJF...........................................................................................58 O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UM ESTUDO DE CASO...........................................................................................................................................58 PROGRAMA DE EXCELÊNCIA ACADÊMICA (PROEX): UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO................................................................................59 UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DE GESTORES ESCOLARES............................................................................59 9 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EIXO TEMÁTICO: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO E O SENTIDO DO SER: DIÁLOGOS ENTRE PAIDÉIA, EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E HEIDEGGER.........................................................................................................60 A PRODUÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA E SOCIAL DO CONHECIMENTO NA ABORDAGEM MARXISTA............................................................................................................60 DAS CONTRADIÇÕES AOS PARADOXOS: A ESCOLA COMO TEMPO LIVRE....................60 FILOSOFIA DA TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE ENGENHEIROS: ALGUMAS PERSPECTIVAS...............................................................................................................................61 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE IMMANUEL KANT..................61 MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: ALGUNS APONTAMENTOS.............................62 OS JOVENS E O ENSINO MÉDIO: A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA SER SUJEITO OU SUJEITAR-SE............................................................................................................62 PESQUISA EM EDUCAÇÃO E CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUESTÃO.................................................................................................62 POR UMA ESTÉTICA PEDAGÓGICA EM ALBERT CAMUS....................................................63 TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH E EDUCAÇÃO MORAL: NOTAS INTRODUTÓRIAS............................................................................................................................63 EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL: DESVELANDO O PAPEL SOCIOPOLÍTICO DESTE CAMPO DO CONHECIMENTO.........................................................64 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO....................................................64 COMPROMISSO COM A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA ATUAÇÃO REFLEXIVA......................................................................................................................................65 DIÁLOGOS: PROCESSOS REFLEXIVOS NO COTIDIANO ESCOLAR....................................65 EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIAS E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES PARA NOVAS APRENDIZAGENS NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO........................................................................................................................66 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SUAS PRÁTICAS................................................................66 INCLUSÃO: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS E COMPETÊNCIAS QUE NORTEIAM A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE........................................................................................66 10 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MEMÓRIAS ESCOLARES DE PROFESSORES/AS EM FORMAÇÃO.......................................67 MUITAS NOMENCLATURAS, ATRIBUIÇÕES, EXPECTATIVAS E POUCA DEFINIÇÃO: UM OLHAR À FUNÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO A PARTIR DA LITERATURA...................................................................................................................................67 O DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE AO RESPEITO: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES SOBRE O TEMA (2007-2011) ................................................................................68 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E A RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: PRINCÍPIOS PARA A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA....68 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO DE UM CURSO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.........................................................................................69 POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA FILOSOFIA DEWEYANA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES...........................................................69 TRILHANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA ESCOLA....................................................70 UMA “PROBLEMÁTICA INEXPRESSIVA” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA-FAMÍLIA.........................................................................................70 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS A ESTETIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL......................................................................71 A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO.........................................................................................................................................71 ALUNOS ESTRANGEIROS EM IES MILITAR: ESPAÇOS ESCOLARES FORMAIS E NÃO FORMAIS NO APRENDIZADO DE LÍNGUA PORTUGUESA....................................................72 AUTORIAS INFANTIS COMO HORIZONTE DE POSSIBILIDADES NA PRÁTICA ESCOLAR..........................................................................................................................................72 AVALIAÇÃO SOB O OLHAR DE FUTUROS PROFESSORES ENFERMEIROS......................72 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ALGUNS DIZERES DO, NO, EM CAMPO...........................73 EDUCAÇÃO MUSEAL: O CARÁTER PEDAGÓGICO DO MUSEU NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO............................................................................................................................73 LÍNGUA ESCRITA E SURDEZ: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS EM ESCOLA ESPECIAL DE ORIENTAÇÃO BILINGUE..........................74 NARRATIVA DE UMA PROFESSORA-ESCRITORA: PRÁTICAS DE REGISTRO..................74 O ENSINO DE FILOSOFIA: A PROCURA POR UMA DIDÁTICA DE RESULTADO..............74 11 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O PROGRAMA LER E ESCREVER E O BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO..................75 O PROGRAMA LER E ESCREVER NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: IMPRESSÕES DA PROFESSORA E DOS ALUNOS.....................................................................75 OS TATEIOS DO PROFESSOR - DA LEITURA A ESCRITA......................................................75 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS: ALGUNS LEGADOS PARA O SÉCULO XXI.....................................................................................................................76 PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O INGRESSO NA “NOVA ESCOLA”: REFLEXÕES E AÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS............76 UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM LÍNGUA PORTUGUESA – O COTIDIANO DE AULAS PARTICULARES..............................................................................................................................77 PÔSTERES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A IMPLEMENTAÇÃO DO PROEJA/PROEJA-FIC NO IFSP........................................................79 A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO EM CICLOS E A IMPLANTAÇÃO DA PROGRESSÃO CONTINUADA: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA......................................79 A ORIENTAÇÃO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS REFORMAS EM CURSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................80 ACESSO E EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR......................................................................80 ANÁLISE DAS MATRÍCULAS DE ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS (2008 – 2012)...........................................................................................80 COTAS NA UNIVERSIDADE: DO ACESSO À LUTA POR RECONHECIMENTO...................81 CRIANÇAS DE QUATRO ANOS DE IDADE NA ESCOLA: O QUE ISSO REPRESENTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL?.................................................................................................81 MAIS TEMPO DE ESCOLA: ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DOS ALUNOS PARTICIPANTES DE UM PROJETO DE AMPLIAÇÃO DE JORNADA ESCOLAR.................82 MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE OS COMPONENTES CURRICULARES...............................................................................................82 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) EM SÃO BERNARDO DO CAMPO: O AEE PESSOA COM SURDEZ......................................................................................83 12 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O DELINEAMENTO DO CURRÍCULO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: ANÁLISE DE SALAS DE APOIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO........83 O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA UTILIZAÇÃO PELO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA............................................................................................................................................84 PERFIL DOS JOVENS E ADULTOS QUE CERTIFICAM O ENSINO MÉDIO ATRAVÉS ENEM NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS E O CICO DE POLÍTCA DO EXAME........................84 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: DESAFIOS DAS CONDICIONALIDADES EM EDUCAÇÃO SOB AS PERSPECTIVAS DOS- PROFESSORES DE CAMPINAS (SP)......................................84 PROVA BRASIL, SARESP E A CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA.............................................................................................................................................85 PROVINHA BRASIL: REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL..........................................................................................................................................85 REFLEXÕES E DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA................................................................................................86 SENTIDOS DE QUALIDADE NO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA EDUCAÇÃO......................................................................................86 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS VISANDO À FORMAÇÃO DOCENTE.......................................................................86 UMA GERAÇÃO NEM TÃO PERDIDA ASSIM: A CONSTRUÇÃO DA ÉTICA, DA PLURALIDADE E DA SEXUALIDADE ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO...........................................................................................................................................87 EIXO TEMÁTICO: GESTÃO DA EDUCAÇÃO O POTENCIAL EMANCIPATÓRIO DO CONSELHO ESCOLAR NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO PAPEL DA COMUNIDADE.................................................................................................................................88 EIXO TEMÁTICO: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A AFETIVIDADE NO PROCESSO EDUCACIONAL: A AFEIÇÃO BOA E MÁ........................88 A ESCOLHA DO ENSINO TÉCNICO ENTRE FILHOS DE FAMÍLIAS DE CAMADAS POPULARES.....................................................................................................................................89 A RELAÇÃO EPISTEMOLÓGICA ENTRE OS CONCEITOS DE FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE...........................................................................................................89 FILOSOFIA, EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE: OS MOVIMENTOS DO AMOR E AS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO HUMANA NA ATUALIDADE.......................................... ..89 13 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A (RE)COSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL...................90 EDUCAR PELO CUIDAR: EMPENHO DA ÉTICA DO CUIDADO COM VISTAS À DIGNIDADE DE VIDA....................................................................................................................90 ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A FORMAÇÃO DO PROFESSOR....90 FORMAÇÃO DOCENTE COMO DEVIR ESTÉTICO....................................................................91 O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES.......91 PIBID NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I......................92 UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL...............................92 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NAS ESCOLAS.....................................................................................93 CULTURA VISUAL NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO: CONHECIMENTO ARTÍSTICO E USO DAS IMAGENS NA ESCOLA.......................................................................93 O USO DA LINGUAGEM VISUAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS...............................................................................................................................94 PALAVRA DOS PROFESSORES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A FRAGMENTAÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO DOCENTE NA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA..........................................96 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO (1932).........................................................96 EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A NECESSIDADE DE PREPARAÇÃO DO PEDAGOGO PARA ATUAR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA......................................................................................................................................97 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIAS INFANTIS E A GEOMETRIA.....................................................................................................................................97 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.........................................................................................................98 14 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA: INTEGRANDO TEORIA À PRÁTICA – TRANSFORMANDO À AÇÃO........................................................................................................98 RECONTEXTUALIZANDO QUADRINHOS, COMPREENDENDO CONCEITOS GEOGRÁFICOS................................................................................................................................99 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ENSINO DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA: BUSCA DE UMA DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA E DOCENTE NA PRÁTICA DA DANÇA.......................................................................................................................................99 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERLOCUÇÕES DE UM FAZER.........................100 INTEGRAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL............................................................................................................100 O ACOLHIMENTO/INSERIMENTO DOS BEBÊS NA CRECHE: UM MOMENTO DE ENCONTRO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS................................................................101 O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: UMA COMPETÊNCIA DIDÁTICA.................101 PROCESSOS DE (AUTO) FORMAÇÃO: IDENTIDADE PROFISSIONAL E OS SABERES DA EXPERIÊNCIA................................................................................................................................101 TRABALHOS COMPLETOS COMUNICAÇÕES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO...............................................................................105 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM FOCO NAS PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA POSSIBILIDADE A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA.........................................................................................................................................112 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO CONTEXTO DAS TIC E O PIBID.....119 A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NO CONTEXTO DO GERENCIALISMO CONTEMPORÂNEO......................................................................................................................125 A PRÁXIS PEDAGÓGICA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ATUALIDADE................................................................................................................................132 15 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNICAMP....................................................................................................139 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL.............144 ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA: PROGRAMA SEGUNDO TEMPO E O PAPEL DAS PREFEITURAS NA SUA DIFUSÃO..............................................................................................151 AVALIAÇÃO CAPES NA PERSPECTIVA DO PARADIGMA DO ENSINO............................158 AVALIAÇÃO E QUALIDADE - DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 AO SINAES..........................165 AVALIAÇÃO NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO..............................176 CIÊNCIA E EDUCAÇÃO SOB A RACIONALIDADE DA INOVAÇÃO...................................183 EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL. UM BALANÇO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA (1988-2011) .............................................................................................................189 ENSINO MÉDIO: BREVE REVISÃO DE LITERATURA...........................................................199 ENSINO MÉDIO BRASILEIRO EM CONTEXTO.......................................................................205 ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: ENEM E O CONTROLE SOCIAL NO BRASIL.....212 MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DE SÃO PAULO.............................................................................................................................................219 MUITOS SUJEITOS E POUCAS PESQUISAS: REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EJA..............................225 O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS EDUCATIVAS NO CHILE (1981-2009): TRANSFORMACOES E CONTINUIDADES NOS DISCURSOS DO GOVERNO MILITAR E DOS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS...........................................................................................232 O ENEM E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO...........................................................................239 O LUGAR DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – ENTRE O FETICHISMO E UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL.......................................................................................................................................245 O PROJETO SOLDADO CIDADÃO E O PRONATEC: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA.................................................................................................................................252 ORGANIZAÇÃO DEMOCÁTICA DO TRABALHO E A PESRSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇOES...........................................................................................................................260 PERCEPÇÕES SOBRE O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR – UM ESTUDO NO IFRJ/REALENGO.......................................................................................................... .................266 16 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades POLÍTICA DE CURRÍCULO, DIVERSIDADE CULTURAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA: A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO NO TOCANTE ÀS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS..........................................................................................................................273 POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: FORMAMOS PROFISSIONAIS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA?..................................................................................................................280 PRODUÇÃO DE MICROCONTEÚDO PARA APRENDIZAGEM COM MOBILIDADE: PROPOSTA DE MODELO.............................................................................................................286 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E A ESCOLA NA PERCEPÇÃO DAS BENEFICIÁRIAS.....295 PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR E AS RESISTÊNCIAS DOS ATORES ENVOLVIDOS: IMPLEMENTAÇÃO NUMA DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO.....................................................................300 QUEM PODE FALAR SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO? UM ENSAIO SOBRE A PRODUÇÃO DO DISCURSO EM POLÍTICA EDUCACIONAL................................................307 RAÍZES SÓCIO-HITÓRICAS QUE DERAM ORIGEM À UNIVERSIDADE NO BRASIL......312 EIXO TEMÁTICO: GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DEMOCRACIA VISTA COMO UM PROCESSO: O QUE PENSAM OS DIRETORES SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA? .....................................................................................................318 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: POLÍTICAS DE IMPLEMENTAÇÃO............................................324 GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ/SC E OS PRINCÍPIOS DE DEMOCRATIZAÇÃO.......................................................................................331 GESTÃO ESCOLAR E DEMOCRATIZAÇÃO: INTERFACES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS CICLOS...............................................................................................339 GESTORES E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA – CAEd/UFJF.........................................................................................345 O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UM ESTUDO DE CASO.........................................................................................................................................352 PROGRAMA DE EXCELÊNCIA ACADÊMICA (PROEX): UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO..............................................................................358 UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DE GESTORES ESCOLARES..........................................................................369 17 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EIXO TEMÁTICO: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO E O SENTIDO DO SER: DIÁLOGOS ENTRE PAIDÉIA, EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E HEIDEGGER.......................................................................................................375 A PRODUÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA E SOCIAL DO CONHECIMENTO NA ABORDAGEM MARXISTA..........................................................................................................383 DAS CONTRADIÇÕES AOS PARADOXOS: A ESCOLA COMO TEMPO LIVRE..................390 FILOSOFIA DA TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE ENGENHEIROS: ALGUMAS PERSPECTIVAS.............................................................................................................................396 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE IMMANUEL KANT................402 MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: ALGUNS APONTAMENTOS...........................410 OS JOVENS E O ENSINO MÉDIO: A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA SER SUJEITO OU SUJEITAR-SE..........................................................................................................416 PESQUISA EM EDUCAÇÃO E CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUESTÃO...............................................................................................426 POR UMA ESTÉTICA PEDAGÓGICA EM ALBERT CAMUS..................................................433 TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH E EDUCAÇÃO MORAL: NOTAS INTRODUTÓRIAS..........................................................................................................................439 EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL: DESVELANDO O PAPEL SOCIOPOLÍTICO DESTE CAMPO DO CONHECIMENTO......................................................445 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO..................................................451 COMPROMISSO COM A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA ATUAÇÃO REFLEXIVA....................................................................................................................................458 DIÁLOGOS: PROCESSOS REFLEXIVOS NO COTIDIANO ESCOLAR..................................464 EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIAS E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES PARA NOVAS APRENDIZAGENS NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO......................................................................................................................470 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SUAS PRÁTICAS..............................................................477 INCLUSÃO: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS E COMPETÊNCIAS QUE NORTEIAM A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE......................................................................................482 18 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MEMÓRIAS ESCOLARES DE PROFESSORES/AS EM FORMAÇÃO.....................................488 MUITAS NOMENCLATURAS, ATRIBUIÇÕES, EXPECTATIVAS E POUCA DEFINIÇÃO: UM OLHAR À FUNÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO A PARTIR DA LITERATURA.................................................................................................................................494 O DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE AO RESPEITO: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES SOBRE O TEMA (2007-2011) ..............................................................................500 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E A RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: PRINCÍPIOS PARA A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA..508 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO DE UM CURSO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.......................................................................................517 POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA FILOSOFIA DEWEYANA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES.........................................................524 TRILHANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA ESCOLA..................................................530 UMA “PROBLEMÁTICA INEXPRESSIVA” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA-FAMÍLIA.......................................................................................537 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS A ESTETIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL....................................................................543 A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO.......................................................................................................................................550 ALUNOS ESTRANGEIROS EM IES MILITAR: ESPAÇOS ESCOLARES FORMAIS E NÃO FORMAIS NO APRENDIZADO DE LÍNGUA PORTUGUESA..................................................557 AUTORIAS INFANTIS COMO HORIZONTE DE POSSIBILIDADES NA PRÁTICA ESCOLAR........................................................................................................................................564 AVALIAÇÃO SOB O OLHAR DE FUTUROS PROFESSORES ENFERMEIROS....................576 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ALGUNS DIZERES DO, NO, EM CAMPO.........................583 EDUCAÇÃO MUSEAL: O CARÁTER PEDAGÓGICO DO MUSEU NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO..........................................................................................................................589 LÍNGUA ESCRITA E SURDEZ: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS EM ESCOLA ESPECIAL DE ORIENTAÇÃO BILINGUE........................597 NARRATIVA DE UMA PROFESSORA-ESCRITORA: PRÁTICAS DE REGISTRO................602 O ENSINO DE FILOSOFIA: A PROCURA POR UMA DIDÁTICA DE RESULTADO............608 19 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O PROGRAMA LER E ESCREVER E O BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO................614 O PROGRAMA LER E ESCREVER NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: IMPRESSÕES DA PROFESSORA E DOS ALUNOS...................................................................621 OS TATEIOS DO PROFESSOR - DA LEITURA A ESCRITA....................................................627 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS: ALGUNS LEGADOS PARA O SÉCULO XXI...................................................................................................................634 PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O INGRESSO NA “NOVA ESCOLA”: REFLEXÕES E AÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS..........641 UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM LÍNGUA PORTUGUESA – O COTIDIANO DE AULAS PARTICULARES............................................................................................................................648 PÔSTERES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A IMPLEMENTAÇÃO DO PROEJA/PROEJA-FIC NO IFSP......................................................656 A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO EM CICLOS E A IMPLANTAÇÃO DA PROGRESSÃO CONTINUADA: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA....................................661 A ORIENTAÇÃO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS REFORMAS EM CURSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS...........................................................664 ACESSO E EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR....................................................................667 ANÁLISE DAS MATRÍCULAS DE ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS (2008 – 2012).........................................................................................671 COTAS NA UNIVERSIDADE: DO ACESSO À LUTA POR RECONHECIMENTO.................674 CRIANÇAS DE QUATRO ANOS DE IDADE NA ESCOLA: O QUE ISSO REPRESENTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL?...............................................................................................677 MAIS TEMPO DE ESCOLA: ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DOS ALUNOS PARTICIPANTES DE UM PROJETO DE AMPLIAÇÃO DE JORNADA ESCOLAR...............681 MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE OS COMPONENTES CURRICULARES.............................................................................................686 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) EM SÃO BERNARDO DO CAMPO: O AEE PESSOA COM SURDEZ....................................................................................690 20 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O DELINEAMENTO DO CURRÍCULO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: ANÁLISE DE SALAS DE APOIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO......694 O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA UTILIZAÇÃO PELO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA..........................................................................................................................................699 PERFIL DOS JOVENS E ADULTOS QUE CERTIFICAM O ENSINO MÉDIO ATRAVÉS ENEM NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS E O CICO DE POLÍTCA DO EXAME......................702 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: DESAFIOS DAS CONDICIONALIDADES EM EDUCAÇÃO SOB AS PERSPECTIVAS DOS- PROFESSORES DE CAMPINAS (SP)....................................706 PROVA BRASIL, SARESP E A CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA...........................................................................................................................................709 PROVINHA BRASIL: REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................................................................................711 REFLEXÕES E DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA..............................................................................................715 SENTIDOS DE QUALIDADE NO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA EDUCAÇÃO....................................................................................718 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS VISANDO À FORMAÇÃO DOCENTE.....................................................................721 UMA GERAÇÃO NEM TÃO PERDIDA ASSIM: A CONSTRUÇÃO DA ÉTICA, DA PLURALIDADE E DA SEXUALIDADE ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO.........................................................................................................................................725 EIXO TEMÁTICO: GESTÃO DA EDUCAÇÃO O POTENCIAL EMANCIPATÓRIO DO CONSELHO ESCOLAR NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO PAPEL DA COMUNIDADE...............................................................................................................................729 EIXO TEMÁTICO: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A AFETIVIDADE NO PROCESSO EDUCACIONAL: A AFEIÇÃO BOA E MÁ......................732 A ESCOLHA DO ENSINO TÉCNICO ENTRE FILHOS DE FAMÍLIAS DE CAMADAS POPULARES...................................................................................................................................737 A RELAÇÃO EPISTEMOLÓGICA ENTRE OS CONCEITOS DE FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE.........................................................................................................740 FILOSOFIA, EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE: OS MOVIMENTOS DO AMOR E AS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO HUMANA NA ATUALIDADE.......................................... 743 21 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A (RE)COSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL.................747 EDUCAR PELO CUIDAR: EMPENHO DA ÉTICA DO CUIDADO COM VISTAS À DIGNIDADE DE VIDA..................................................................................................................750 ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A FORMAÇÃO DO PROFESSOR..753 FORMAÇÃO DOCENTE COMO DEVIR ESTÉTICO..................................................................757 O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES.....760 PIBID NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I....................764 UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL.............................768 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NAS ESCOLAS...................................................................................771 CULTURA VISUAL NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO: CONHECIMENTO ARTÍSTICO E USO DAS IMAGENS NA ESCOLA.....................................................................774 O USO DA LINGUAGEM VISUAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.............................................................................................................................777 PALAVRA DOS PROFESSORES EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA EDUCACIONAL A FRAGMENTAÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO DOCENTE NA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA........................................782 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO (1932).......................................................785 EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES A NECESSIDADE DE PREPARAÇÃO DO PEDAGOGO PARA ATUAR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA....................................................................................................................................789 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIAS INFANTIS E A GEOMETRIA...................................................................................................................................793 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.......................................................................................................796 22 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA: INTEGRANDO TEORIA À PRÁTICA – TRANSFORMANDO À AÇÃO......................................................................................................800 RECONTEXTUALIZANDO QUADRINHOS, COMPREENDENDO CONCEITOS GEOGRÁFICOS..............................................................................................................................803 EIXO TEMÁTICO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ENSINO DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA: BUSCA DE UMA DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA E DOCENTE NA PRÁTICA DA DANÇA.....................................................................................................................................806 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERLOCUÇÕES DE UM FAZER.........................811 INTEGRAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL............................................................................................................814 O ACOLHIMENTO/INSERIMENTO DOS BEBÊS NA CRECHE: UM MOMENTO DE ENCONTRO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS................................................................818 O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: UMA COMPETÊNCIA DIDÁTICA.................821 PROCESSOS DE (AUTO) FORMAÇÃO: IDENTIDADE PROFISSIONAL E OS SABERES DA EXPERIÊNCIA................................................................................................................................824 23 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 24 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROGRAMAÇÃO GERAL VII SEMINÁRIO SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades DIA: 07/10/13 (SEGUNDA-FEIRA) Horário Atividade Descrição Local 8h30 Abertura Abertura do evento com a presença dos representantes da PUC Campinas Auditório D. Gilberto 9h às 11h Conferência de Abertura: Pragmatising the Curriculum - Bringing Knowlegde back into the Educational Conversation, but via Pragmatism Conferecista: Prof. Dr. Gert Biesta (University of Luxembourg). Debatedores: Profa. Dra. Alice Casimiro Lopes (Proped/UERJ) e Prof. Dr. Silvio D. Gallo (UNICAMP). Presidente: Prof. Dr. Samuel Mendonça Auditório D. Gilberto 11h às 12h Lançamento de livros Apresentação de títulos de autoria dos professores do Programa de PósGraduação em Educação e de convidados Hall de entrada do Auditório D. Gilberto 14h às 18h Apresentação de trabalhos Comunicação oral, pôster e “Palavra do Professor" Salas de aula do Complexo do CCHSA e Salas 800 e 900 DIA 08/10/13 (TERÇA-FEIRA) Horário Atividade Descrição Local 8h30min Programação cultural Programação cultural Auditório D. Gilberto 9h às 11h Conferência Autonomia e responsabilização das escolas. Perspectivas a partir da Europa Conferecista: Prof. Dr. António Gomes Ferreira (Universidade de Coimbra - Portugal) Debatedores: Prof. Dr. Pedro Ganzeli (Unicamp) e Profa. Dra. Maria Silvia Librandi da Rocha (PUC Campinas) Presidente: Profa. Dra. Heloisa Helena Oliveira de Azevedo (PUCCampinas) Auditório D. Gilberto 25 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 11h às 12h Atividade Cultural Apresentação de Dança Auditório D. Gilberto 14h às 18h Apresentação de trabalhos Comunicação oral, pôster e “Palavra do Professor” Salas de aula do Complexo do CCHSA e Salas 800 e 900 DIA 09/10/13 (QUARTA-FEIRA) Horário Atividade Descrição Local 8h Programação cultural Programação cultural Auditório D. Gilberto 8h30 às 10h15 Conferência Responsabilidade social na educação superior. Uma abordagem do espaço iberoamericano Conferencista: Juan José Martí Noguera (Universidad Antonio Nariño – Colombia) Debatedor: Prof. Dr. Carlos Rothen (Universidade Federal de São Carlos) Presidente: Prof. Dr. Arthur José Renda Vitorino (PUC-Campinas) Auditório D. Gilberto 10h45 às 12h30 Conferència La meritocracia en las políticas y culturas docentes Conferencista: Prof. Dr. Luis Sime Poma (Pontifícia Universidade Católica do Peru) Debatedora: Prof. Dr. Ângela Maria Martins (FCC/ANPAE/PPGEUNICID) Presidente: Profa. Dra. Mônica Piccione Gomes Rios Auditório D. Gilberto 14h30 às 17h30 Minicurso 1 Educação Comparada: Aspectos teóricometodológicos Docente responsável: Prof. Dr. António Gomes Ferreira (Universidade de Coimbra) Carga horária: 3h. Local: Auditório D. Gilberto 14h30 às 17h30 Minicurso 2 Los estudios documentales en la investigación educativa Docente responsável: Dr. Luis Sime Poma (Pontifícia Universidade Católica do Peru) Carga horária: 3h. Local: Sala 800 14h30 às 17h30 Minicurso 3 La investigación acción participativa en el campo de la eduación" Docente responsável: Prof. Dr. Juan José Martí Noguera (Universidad Antonio Nariño – Colombia) Carga horária: 3h. Local: Sala 900 26 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROGRAMAÇÃO DA APRESENTAÇÃO DE COMUNICAÇÃO ORAL, PÔSTER E PALAVRA DO PROFESSOR DIA 07 DE OUTUBRO DE 2013 Prédio do CCHSA - Sala 201 – 14h às 16h FILOSOFIA DA TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE ENGENHEIROS: ALGUMAS PERSPECTIVAS Comunicação Oral O LUGAR DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – ENTRE O FETICHISMO E UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL Comunicação Oral EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIAS E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES PARA NOVAS APRENDIZAGENS NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO Comunicação Oral O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: UMA COMPETÊNCIA DIDÁTICA Palavra do Professor SENTIDOS DE QUALIDADE NO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA EDUCAÇÃO Pôster Adolfo Ramos Lamar FURB Cíntia Velasco Santos UERJ/RJ Vanessa Nunes da Silva - UFT Isabel C. A. Pereira - Orientadora UFT Marciene Ap. Santos Reis - GEPEC UNICAMP Marissol Prezotto - GEPECUNICAMP Lívia Farias UFRJ Prédio do CCHSA - Sala 203 – 14h às 16h PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O INGRESSO NA “NOVA ESCOLA”: REFLEXÕES E AÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Comunicação Oral AUTORIAS INFANTIS COMO HORIZONTE DE POSSIBILIDADES NA PRÁTICA ESCOLAR Comunicação Oral A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO Comunicação Oral CRIANÇAS DE QUATRO ANOS DE IDADE NA ESCOLA: O QUE ISSO REPRESENTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL? Pôster FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIAS INFANTIS E A GEOMETRIA Palavra do Professor A NECESSIDADE DE PREPARAÇÃO DO PEDAGOGO PARA ATUAR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA Palavra do Professor Adriana Zampieri Martinati PUC Campinas Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da Rocha - PUC Campinas Katia Ferreira Moreira - UERJ - FFP SME/Rio de Janeiro/ GEPPAN Denise Lima Tardan - SME/Rio de Janeiro/CAp-UERJ/GEPPAN Maria Ghisleny de Paiva Brasil ProPEd / UERJ Rafaela Marchetti - UFSCar Maria Cecília Luiz - UFSCar Ana Paula Araújo Mota PUC Campinas Vânia Lima de Almeida UFMS Prédio do CCHSA - Sala 205 – 14h às 16h PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR E AS RESISTÊNCIAS DOS ATORES ENVOLVIDOS: IMPLEMENTAÇÃO NUMA DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO Comunicação Oral Alex Moreira Roberto UFJF 27 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MUITAS NOMENCLATURAS, ATRIBUIÇÕES, EXPECTATIVAS E POUCA DEFINIÇÃO: UM OLHAR À FUNÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO A PARTIR DA LITERATURA Comunicação Oral Camila dos Santos Almeida PUC Campinas Elvira Cristina Martins Tassoni PUC Campinas GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ/SC E OS PRINCÍPIOS DE DEMOCRATIZAÇÃO Comunicação Oral GESTÃO ESCOLAR E DEMOCRATIZAÇÃO: INTERFACES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS CICLOS Comunicação Oral A ORIENTAÇÃO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS REFORMAS EM CURSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS Pôster Carlos Odilon da Costa - FURB Ernesto Jacob Keim – FURB Gabrielle Cristina Becker - FURB Débora Dias Gomes da Costa UNIRIO Andréa Rosana Fetzner - UNIRIO Katya Lacerda Fernandes - UFT Rosilene Lagares -UFT Prédio do CCHSA - Sala 207 – 14h às 16h AVALIAÇÃO NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO Comunicação Oral AVALIAÇÃO SOB O OLHAR DE FUTUROS PROFESSORES ENFERMEIROS Comunicação Oral COMPROMISSO COM A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA ATUAÇÃO REFLEXIVA Comunicação Oral INCLUSÃO: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS E COMPETÊNCIAS QUE NORTEIAM A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE Comunicação Oral A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NAS ESCOLAS Pôster Regilson Maciel Borges (UFSCar) José Carlos Rothen (UFSCar) Carolina Valeriano Testi, Maria Helena Salgado Bagnato, Thiago Eduardo de França, Ana Paula Nagaoka, Claudia Cândido da Silva (UNICAMP) Carmem Lucia Albrecht da Silveira – UPF/RS Taís Maiara Loss Loehder – UPF/RS Simone Maria A. Lima - UFT Carmem Lúcia A. Rolim -UFT Nádia Faustino V. Borges - UFT Claudia Almada Leite (FFP/UERJ) Helena Amaral da Fontoura (FFP/UERJ) Prédio do CCHSA - Sala 209 – 14h às 16h DAS CONTRADIÇÕES AOS PARADOXOS: A ESCOLA COMO TEMPO LIVRE Comunicação Oral O USO DA LINGUAGEM VISUAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Comunicação Oral Fabiana Fernandes Ribeiro Martins UERJ LÍNGUA ESCRITA E SURDEZ: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS EM ESCOLA ESPECIAL DE ORIENTAÇÃO BILINGUE Comunicação Oral ANÁLISE DAS MATRÍCULAS DE ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS (2008 – 2012) Pôster O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) EM SÃO BERNARDO DO CAMPO: O AEE PESSOA COM SURDEZ Pôster Michelle Melina Gleica D. P. N. Pereira PUCSP Marina Alves Braga USP Cássia Geciauskas Sofiato - USP Vanessa Dias Bueno de Castro UNESP Maria Júlia Canazza Dall’Acqua UNESP Elaine Cristina Paixão da Silva - USP Cássia Geciauskas Sofiato - USP 28 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Prédio do CCHSA - Sala 211 – 16h às 18h DIÁLOGOS: PROCESSOS REFLEXIVOS NO COTIDIANO ESCOLAR Comunicação Oral A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL: DESVELANDO O PAPEL SOCIOPOLÍTICO DESTE CAMPO DO CONHECIMENTO Comunicação Oral ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA: PROGRAMA SEGUNDO TEMPO E O PAPEL DAS PREFEITURAS NA SUA DIFUSÃO Comunicação Oral TRILHANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA ESCOLA Comunicação Oral (RE)COSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Pôster Adriana Stela Pierini - UNICAMP Ana Maria Falcão de Aragão UNICAMP Beatriz Vito Vieira - UNICAMP Bianca Fiod Affonso - UNICAMP Luciana Haddad Ferreira - UNICAMP Débora Alfaro São Martinho da Silva UFSCar Edmilson Santos dos Santos UNIVASF Virgínia P. da S. de Ávila - UPE Petrolina Alexsandro dos Santos Machado UNIVASF Jean Carlos de Sá Andrade UNIVASF Marissol Prezotto- GEPEC-UNICAMP Marciene Reis - GEPEC-UNICAMP Ana Maria Falcão de Aragão GEPEC-UNICAMP Danielle Porfírio Maniuc de Lima GEPEC-UNICAMP Andréa A. M. Rodrigues GEPECUNICAMP Isabela Angeli - GEPEC-UNICAMP Luciana Pereira da Silva PUC Campinas Prédio do CCHSA - Sala 213 - 16h às 18h O PROJETO SOLDADO CIDADÃO E O PRONATEC: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA Comunicação Oral ALUNOS ESTRANGEIROS EM IES MILITAR: ESPAÇOS ESCOLARES FORMAIS E NÃO FORMAIS NO APRENDIZADO DE LÍNGUA PORTUGUESA Comunicação Oral MUITOS SUJEITOS E POUCAS PESQUISAS: REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EJA Comunicação Oral O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO DE UM CURSO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Comunicação Oral A IMPLEMENTAÇÃO DO PROEJA/PROEJA-FIC NO IFSP Pôster Hercules Guimarães Honorato ESCOLA NAVAL Hercules Guimarães Honorato ESCOLA NAVAL Márcia da Silva Freitas FFP/UERJ Wilmara Alves Thomaz USP Carolina Machado d´Avila UNICAMP Prédio do CCHSA - Sala 215 – 16h às 18h A EDUCAÇÃO E O SENTIDO DO SER: DIÁLOGOS ENTRE PAIDÉIA, EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E HEIDEGGER “O ENSINO DE FILOSOFIA: A PROCURA POR UMA DIDÁTICA DE RESULTADO” Comunicação Oral Angela Maria de Andrade Palhano FURB Celso Kraemer - FURB Aparecido Gomes Leal Instituto de Ensino Superior de Americana - IESA 29 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A PRODUÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA E SOCIAL DO CONHECIMENTO NA ABORDAGEM MARXISTA Comunicação Oral POR UMA ESTÉTICA PEDAGÓGICA EM ALBERT CAMUS Comunicação Oral FILOSOFIA, EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE: OS MOVIMENTOS DO AMOR E AS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO HUMANA NA ATUALIDADE Pôster Sandra Garcia Neves - UERJ Aline de Carvalho Moura - UERJ Danilo Rodrigues Pimenta UNICAMP Nyrluce Marília Alves da Silva UFPE Prédio do CCHSA - Sala 217– 16h às 18h ENSINO MÉDIO: BREVE REVISÃO DE LITERATURA Comunicação Oral Zizelda Lima Fernandes - UNICAMP Dirce Djanira Pacheco e Zan UNICAMP O ENEM E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO Comunicação Oral Juliana Piunti - UFSCar Rosa M. M. Anunciato de Oliveira UFSCar Joana D’Arc Ferreira de Macedo UFAL Elione Maria Nogueira Diógenes UFAL Bruna Colombo PUC-Campinas ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: ENEM E O CONTROLE SOCIAL NO BRASIL Comunicação Oral PROVA BRASIL , SARESP E A CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA Pôster O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA UTILIZAÇÃO PELO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA Pôster Priscila de Paulo Uliam - UFSCar Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes UFSCar FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Palavra do Professor Andréia Peretti Sangaletti-Senac Bauru Camila Roberta M. S. Pinheiro Senac Bauru Flávio Mangili Ferreira Centro Universitário Senac Prédio do CCHSA - Sala 219 – 16h às 18h FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE IMMANUEL KANT Comunicação Oral POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA FILOSOFIA DEWEYANA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Comunicação Oral TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH E EDUCAÇÃO MORAL: NOTAS INTRODUTÓRIAS Comunicação Oral MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: ALGUNS APONTAMENTOS Comunicação Oral ENSINO DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA: BUSCA DE UMA DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA E DOCENTE NA PRÁTICA DA DANÇA Palavra do Professor Fernanda Pavanelli Garcia PUC Campinas Samuel Mendonça - PUC Campinas Andréa Oliveira Silva PUC Campinas Maurício Rebelo Martins - UNICAMP Vânia Lima de Almeida UFMS Mariana Baruco Machado Andraus UNICAMP 30 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Prédio do CCHSA - Sala 221 - 16h às 18h AVALIAÇÃO E QUALIDADE - DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 AO SINAES Comunicação Oral RAÍZES SÓCIO-HITÓRICAS QUE DERAM ORIGEM À UNIVERSIDADE NO BRASIL PERCEPÇÕES SOBRE O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR – UM ESTUDO NO IFRJ/REALENGO Comunicação Oral EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: POLÍTICAS DE IMPLEMENTAÇÃO Comunicação Oral ACESSO E EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Pôster Fernanda de Cássia R. Pimenta UNICID Celia Maria Haas - UNICID Rubeneide O. L. Fernandes UNIMEP Sandra Cristina Alves de Melo Machado - UFRJ Sandra Ferreira Acosta - PUCSP/ UNESP Anamérica Prado Marcondes - PUC-SP Suzana Cristina A. de Souza - USP Célia Maria Haas- USP Prédio do CCHSA - Sala 223 - 16h às 18h O DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE AO RESPEITO: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES SOBRE O TEMA (2007-2011) Comunicação Oral O ACOLHIMENTO/INSERIMENTO DOS BEBÊS NA CRECHE: UM MOMENTO DE ENCONTRO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS Comunicação Oral EDUCAR PELO CUIDAR: EMPENHO DA ÉTICA DO CUIDADO COM VISTAS À DIGNIDADE DE VIDA Pôster UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL Pôster Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito - UFMT Ângela C. Gallani Zaia Clarice Celestino da Silva Irene de F. S. Apolinário Joseane Mª Parice Bufalo Juliana Ap. Graciano Fernandes Veiga Sandra Prado de Lima PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS Ilíria François Wahlbrinck Luci Mary Duso Pacheco URI Jónata Ferreira de Moura Adair Mendes Nacarato USF FILOSOFIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERLOCUÇÕES DE UM FAZER Palavra do Professor Maria Reilta Dantas Cirino UERN DIA 08 DE OUTUBRO DE 2013 Prédio do CCHSA - Sala 201 – 14h às 16h A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO CONTEXTO DAS TIC E O PIBID Comunicação Oral A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM FOCO NAS PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA POSSIBILIDADE A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA Comunicação Oral Simone Becher Araujo Moraes- UFSM Elizete Medianeira Tomazetti -UFSM Soila Canam - UFMT Ademar de Lima Carvalho - UFMT Simone de Albuquerque da Rocha UFMT 31 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades UMA “PROBLEMÁTICA INEXPRESSIVA” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA-FAMÍLIA Comunicação Oral O POTENCIAL EMANCIPATÓRIO DO CONSELHO ESCOLAR NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO PAPEL DA COMUNIDADE Pôster PIBID NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I Pôster PROCESSOS DE (AUTO)FORMAÇÃO: IDENTIDADE PROFISSIONAL E OS SABERES DA EXPERIÊNCIA Palavra do Professor Leandro Gaspareti Alves - PUCC Elvira Cristina M. Tassoni - PUCC Maria do Socorro S. Cavalcant - UFPB Maria Creusa de Araújo Borges PPGE/PPGCJ/UFPB Geonara Marisa de S. Marinho - UFPB Eliane de Godoi T.Fernandes-PUCC Maria Silvia P.M. L. Rocha - PUCC Eleonora Simões UFRGS Prédio do CCHSA - Sala 203 – 14h às 16h O PROGRAMA LER E ESCREVER NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: IMPRESSÕES DA PROFESSORA E DOS ALUNOS Comunicação Oral UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DE GESTORES ESCOLARES Comunicação Oral A DEMOCRACIA VISTA COMO UM PROCESSO: O QUE PENSAM OS DIRETORES SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA? Comunicação Oral GESTORES E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA – CAEd/UFJF Comunicação Oral A ORIENTAÇÃO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS REFORMAS EM CURSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS Pôster Tatiana Cristina dos Santos - PUCC Cristina Martins Tassoni - PUCC Renata Maria Moschen Nascente UFSCar Ronaldo Martins Gomes (UFSCar) Maria Cecília Luiz (UFSCar) Luísa G. A. Vilardi - CAEd/UFJ Leonardo O. Vilardi - PPGCS/PUCRio Katya Lacerda Fernandes - UFT Rosilene Lagares - UFT Prédio do CCHSA - Sala 205 – 14h às 16h EDUCAÇÃO MUSEAL: O CARÁTER PEDAGÓGICO DO MUSEU NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Comunicação Oral QUEM PODE FALAR SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO? UM ENSAIO SOBRE A PRODUÇÃO DO DISCURSO EM POLÍTICA EDUCACIONAL Comunicação Oral O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UM ESTUDO DE CASO Comunicação Oral MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DE SÃO PAULO Comunicação Oral O DELINEAMENTO DO CURRÍCULO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: ANÁLISE DE SALAS DE APOIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Postêr Isla Andrade Pereira de Matos PUC Campinas Jarbas Dametto - UPF Rosimar Serena Siqueira Esquinsani UPF Elmari Moreschi - Universidade Tuiuti do Paraná Adolfo Ignacio Calderón PUC-Campinas Mariana Valente Teixeira da Silva UNICAMP Deborah Piego, Stéfanie Melo Lima UNICAMP Adriana Lia Frizman Laplane UNICAMP Lisiane Fonseca Diogo - USP Rosêngela Gavioli Prieto - USP 32 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Prédio do CCHSA - Sala 207 – 14h às 16h POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: FORMAMOS PROFISSIONAIS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA? Comunicação Oral O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E A RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: PRINCÍPIOS PARA A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA Comunicação Oral MEMÓRIAS ESCOLARES DE PROFESSORES/AS EM FORMAÇÃO Comunicação Oral A PRÁXIS PEDAGÓGICA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ATUALIDADE Comunicação Oral REFLEXÕES E DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Pôster Helen Santana Mangueira de Souza (UFMT/CUR) Ademar de Lima Carvalho PPGEDU/UFMT/CUR Lindalva Maria Novaes Garske PPGEDU/CUR/UFMT Cristina Nogueira Barelli INSTITUTO SINGULARIDADES- SP Helena Amaral da Fontoura FFP/UERJ Soila Canam - UFMT Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito - UFMT Matildes Aparecida Trettel de Oliveira - UFMT Vanessa Cristina Dias de Souza PUC Campinas Prédio do CCHSA - Sala 209– 14h às 16h O PROGRAMA LER E ESCREVER E O BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO Comunicação Oral Ana Carolina Torres Vespoli - PUCC Elvira Cristina M. Tassoni - PUCC UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM LÍNGUA PORTUGUESA – O COTIDIANO DE AULAS PARTICULARES Comunicação Oral NARRATIVA DE UMA PROFESSORA-ESCRITORA: PRÁTICAS DE REGISTRO Comunicação Oral OS TATEIOS DO PROFESSOR - DA LEITURA A ESCRITA Comunicação Oral Ana Letícia Vieira - UERJ Carlos André de Castro Pérez - UFRJ PROVINHA BRASIL: REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Pôster Eliana de C. M. Lisboa PUC Campinas Helen Cristine Bido Brandt Delloso UNIMEP Marcia Regina de Oliveira Savian UNIMEP Daniele L. Appolinário PUC Campinas Prédio do CCHSA - Sala 211 – 16h às 18h EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL. UM BALANÇO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA (1988-2011) Comunicação Oral A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL Comunicação Oral ORGANIZAÇÃO DEMOCÁTICA DO TRABALHO E A PESRSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇOES Comunicação Oral Larissa Katsumata Gusmão - PUCC Adolfo Ignacio Calderón - PUCC Mariângela L. Jacomini - PUCC Mônica Piccione Gomes Rios - PUCC Marisa Xavier Coutrim Dalri - PUCC Mônica P. Gomes Rios – PUCC Jean-Baptiste Mendel UNICAMP 33 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MAIS TEMPO DE ESCOLA: ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DOS ALUNOS PARTICIPANTES DE UM PROJETO DE AMPLIAÇÃO DE JORNADA ESCOLAR Pôster Tatiana Ribeiro dos Santos Esteves FFP-UERJ Prédio do CCHSA - Sala 213 - 16h às 18h OS JOVENS E O ENSINO MÉDIO: A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA SER SUJEITO OU SUJEITAR-SE Comunicação Oral ENSINO MÉDIO BRASILEIRO EM CONTEXTO Comunicação Oral PERFIL DOS JOVENS E ADULTOS QUE CERTIFICAM O ENSINO MÉDIO ATRAVÉS ENEM NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS E O CICO DE POLÍTCA DO EXAME Pôster UMA GERAÇÃO NEM TÃO PERDIDA ASSIM: A CONSTRUÇÃO DA ÉTICA, DA PLURALIDADE E DA SEXUALIDADE ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO Pôster CULTURA VISUAL NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO: CONHECIMENTO ARTÍSTICO E USO DAS IMAGENS NA ESCOLA Pôster A ESCOLHA DO ENSINO TÉCNICO ENTRE FILHOS DE FAMÍLIAS DE CAMADAS POPULARES Pôster Gislaine de Medeiros Baciano (UNINOVE) Zizelda Lima Fernandes (UNICAMP) Dirce Djanira Pacheco e Zan (UNICAMP) Wilmara Alves Thomaz (USP) Beatriz Gandini de Souza - UNESP Nelson Pedro Silva - UNESP Aline Marques Belluci - UNESP Maria Cristina Luiz Ferrarini UFSCar Mariana Simões Ferreira Cintra (USP Bolsista CAPES) Geraldo Romanelli - USP Prédio do CCHSA - Sala 215 – 16h às 18h A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NO CONTEXTO DO GERENCIALISMO CONTEMPORÂNEO Comunicação Oral A ESTETIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Comunicação Oral O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS EDUCATIVAS NO CHILE (1981-2009): TRANSFORMACOES E CONTINUIDADES NOS DISCURSOS DO GOVERNO MILITAR E DOS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS. Comunicação Oral A RELAÇÃO EPISTEMOLÓGICA ENTRE OS CONCEITOS DE FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE Pôster Domingos Pereira Silva - UNICAMP Vicente Rodriguez - UNICAMP A AFETIVIDADE NO PROCESSO EDUCACIONAL: A AFEIÇÃO BOA E MÁ Pôster Laís Pereira de Mello PUC Campinas Samuel Mendonça PUC Campinas A FRAGMENTAÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO DOCENTE NA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Palavra do Professor Fabiana Fassis UNESP Luis Leal Cuevas - UERJ Clarissa Craveiro - UERJ Cristiane Regina Araujo - PUC Campinas Amanda Moreira da Silva UFRJ Prédio do CCHSA - Sala 217 – 16h às 18h ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA PÓSGRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Comunicação Oral Aline de Carvalho Moura -UERJ Sandra Garcia Neves -UERJ 34 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE OS COMPONENTES CURRICULARES Comunicação Oral AVALIAÇÃO CAPES NA PERSPECTIVA DO PARADIGMA DO ENSINO Comunicação Oral PROGRAMA DE EXCELÊNCIA ACADÊMICA (PROEX): UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO DOS PROGRAMAS DE PÓSGRADUAÇÃO Comunicação Oral André Martins Alvarenga UNIPAMPA Daniele S. Borges - FURG Gionara Tauchen - FURG Maria H. M. Moraes- FURG Melina T. Santos - FURG Ludmila S. Acosta - FURG Gessana D. Gomes - FURG Nadine S. Santos - FURG Jusélia P. da Silva - FURG Taís M.L. Loehder -UPF/RS Carmem L.A. Silveira-UPF/RS Niuza Vieira Corrêa – CAPES Gionara Tauchen - FURG Prédio do CCHSA - Sala 219 – 16h às 18h PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E A ESCOLA NA PERCEPÇÃO DAS BENEFICIÁRIAS Comunicação Oral PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: DESAFIOS DAS CONDICIONALIDADES EM EDUCAÇÃO SOB AS PERSPECTIVAS DOS PROFESSORES DE CAMPINAS/SP Pôster POLÍTICA DE CURRÍCULO, DIVERSIDADE CULTURAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA: A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO NO TOCANTE ÀS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS Comunicação Oral A PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNICAMP Comunicação Oral COTAS NA UNIVERSIDADE: DO ACESSO À LUTA POR RECONHECIMENTO Pôster O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO (1932) Palavra do Professor André Pires - PUCC Ana Paula Speck Feijó - PUCC Daniela Fernanda Flores - PUCC Prof. Dr. André Pires - PUCC Geonara de Souza Marinho PPGE/UFPB Maria Creusa de Araújo Borges PPGE/PPGCJ/UFPB Maria do Socorro Silva Cavalcante PPGE/UFPB Emanuel Mangueira Carvalho UNICAMP Catia Piccolo Devechi - UnB Gionara Tauchen - FURG Isabela P. L.Abrahão-FURG Fabíola M. Guedes - FURG Lara T. Pereira - FURG Larissa R.Oliveira - FURG Idyanara Merçon de Oliveira Machado - UFMS Prédio do CCHSA - Sala 221- 16h às 18h PESQUISA EM EDUCAÇÃO E CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUESTÃO Comunicação Oral PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS: ALGUNS LEGADOS PARA O SÉCULO XXI Comunicação Oral CIÊNCIA E EDUCAÇÃO SOB A RACIONALIDADE DA INOVAÇÃO Comunicação Oral Natália Regina de Almeida UERJ Cileda Perrella FEUSP e FZP Darlan Marcelo Delgado Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) Faculdade de Tecnologia de Mococa 35 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PRODUÇÃO DE MICROCONTEÚDO PARA APRENDIZAGEM COM MOBILIDADE: PROPOSTA DE MODELO Comunicação Oral RECONTEXTUALIZANDO QUADRINHOS, COMPREENDENDO CONCEITOS GEOGRÁFICOS Pôster Marcia Izabel Fugisawa Souza e Sérgio Ferreira do Amaral UNICAMP Zacarias Marinho UERN Prédio do CCHSA - Sala 223 - 16h às 18h O DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE AO RESPEITO: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES SOBRE O TEMA (2007-2011) Comunicação Oral O ACOLHIMENTO/INSERIMENTO DOS BEBÊS NA CRECHE: UM MOMENTO DE ENCONTRO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS Comunicação Oral EDUCAR PELO CUIDAR: EMPENHO DA ÉTICA DO CUIDADO COM VISTAS À DIGNIDADE DE VIDA Pôster UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL Pôster FILOSOFIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERLOCUÇÕES DE UM FAZER Palavra do Professor Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito UFMT Ângela C. Gallani Zaia Clarice Celestino da Silva Irene F. Silva Apolinário Joseane Mª Parice Bufalo Juliana Ap. G. F. Veiga Sandra Prado de Lima PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS Ilíria François Wahlbrinck - URI Luci Mary Duso Pacheco - URI Jónata Ferreira de Moura - USF Adair Mendes Nacarato - USF Maria Reilta Dantas Cirino UERN Prédio do CCHSA - Sala 225 - 16h às 18h – Prédio FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SUAS PRÁTICAS Comunicação Oral EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ALGUNS DIZERES DO, NO, EM CAMPO Comunicação Oral TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS VISANDO À FORMAÇÃO DOCENTE Pôster FORMAÇÃO DOCENTE COMO DEVIR ESTÉTICO Pôster PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA: INTEGRANDO TEORIA À PRÁTICA – TRANSFORMANDO À AÇÃO Pôster A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO EM CICLOS E A IMPLANTAÇÃO DA PROGRESSÃO CONTINUADA: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA Pôster INTEGRAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Palavra do Professor Jocyléia Santana dos Santos UFT Douglas T. L. Monteiro - UFJF Igor Ramon L. Monteiro - UFMG Luciano N. Corsino -UNIFESP Ingrid Julliane Freires Sartori Barbosa PUC Campinas Michelle Luísa Romani Fassina UNOCHAPECÓ Raquel de Oliveira e Silva do Nascimento Colégio SESI Marina Brunherotti - UFSCar Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes UFSCar Regina Carvalho Calvo de Faveri Ana Carolina P. Madureira Nadir de Faveri Queiroz Cibele Santieff PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS 36 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 37 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PRAGMATISING THE CURRICULUM: BRINGING KNOWLEDGE BACK INTO THE EDUCATIONAL CONVERSATION, BUT VIA PRAGMATISM Gert Biesta1 ABSTRACT The question of knowledge remains a vexed issue in discussions about the curriculum. Even where curriculum becomes defined in terms of capabilities and capacities, there is still the question what it is that students should engage with in acquiring these. Discussions tend to veer between two positions, one focusing on intrinsic qualities of knowledge – Herbert Spencer’s question ‘What knowledge is of most worth?’ – and one focusing on extrinsic qualities – Michael Apple’s question ‘Whose knowledge is of most worth?’ While the sociology of knowledge has made important contributions towards exposing the political complexities of curricular knowledge, it is limited in its ability to address more enduring questions about knowledge, such as those about truth and reality. This is why a number of scholars have recently been arguing for the need to bring knowledge back into the curriculum conversation. While I agree with the need for doing so, I question whether this can be done by moving back from sociology to epistemology, since both options provide different answers to the same questions that are based on the same set of premises. In my presentation I turn to Deweyan pragmatism in order to articulate an approach to curricular knowledge that goes beyond the sociology-epistemology pendulum. DA IDEIA DE AUTONOMIA E DA RESPONSABILIZAÇÃO DAS ESCOLAS: PERSPECTIVAS A PARTIR DA EUROPA António Gomes Ferreira2 RESUMO Pelo menos desde a década de oitenta do século passado, a autonomia escolar tem alimentado discursos e suportado políticas que lhe conferem a qualidade de potenciar os níveis de desempenho institucional que se traduzam numa melhor organização do ensino. Importa olhar para esses discursos e essas políticas tentando ver como se expressam e como abrem possibilidades de reorganizações diversas a partir de enunciados iguais ou muito semelhantes. Desde logo, importa ter 1 (www.gertbiesta.com) is Professor of Educational Theory and Policy at the University of Luxembourg and editor-inchief of the journal Studies in Philosophy and Education (Springer). He is a former president of the Philosophy of Education Society USA (2011-2012). He has published widely on the theory and philosophy of education and educational research, with a particular interest in questions of democracy and democratization. In addition he has conducted research and published on such topics as civic learning, vocational education, teacher education, and curriculum theory. Recent books include Beyond Learning: Democratic Education for a Human Future (Paradigm Publishers, 2006); Good Education in an Age of Measurement (Paradigm Publishers 2010); Learning Democracy in School and Society (Sense Publishers, 2011); and Making Sense of Education: Fifteen Contemporary Educational Theorists in their own Words (Springer, 2012). His latest book, The Beautiful Risk of Education, will appear in 2013 (Paradigm Publishers). 2 Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra, Subdiretor e professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, coordenador e investigador do GRUPOEDE – Grupo de Políticas e Organizações Educativas e Dinâmicas Educacionais do CEIS20, coordenador do Mestrado em Gestão da Formação e Administração Educacional da Universidade de Coimbra, coordenador do doutoramento em Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Autor de artigos publicados em importantes revistas portuguesas da Europa e América Latina, membro do conselho editorial de prestigiosas revistas científicas na área da Ciências da Educação. 38 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades consciência de ênfases diferentes. Invocar à participação democrática ou à gestão eficiente pode não ser contraditório mas exige atenção sobre o que realmente se pretende com a autonomia em causa. Olhando para a Europa podemos ver que não se avança para a autonomia escolar do mesmo modo e do mesmo ponto de partida e é certo que a capacidade de decisão e a responsabilidade das escolas em cada país é bastante diferente, o que nos leva a interpelar as razões e o alcance da tão propagandeada autonomia. Uma abordagem comparativa sociodinâmica pode ajudar-nos a compreender melhor este processo ao convocar para a análise uma indagação sociohistórica articulada com a análise da situação conjuntural dos diferentes países. LA MERITOCRACIA EN LAS POLÍTICAS Y CULTURAS DOCENTES Luis Sime Poma3 RESUMEN Los intentos de construir estados cada vez más democráticos, que superen las prácticas autoritarias, son uno de los procesos históricos más importantes en las sociedades latinoamericanas. La posibilidad de elegir y renovar autoridades, así como de estructurar un estado con división de poderes y más participación ciudadana, es sustancial en tal construcción y concepción democrática del estado que deslinda con los diversos tipos de autoritarismos. Sin embargo, ese proceso es incompleto si no va acompañado de la meritocracia estatal, de mecanismos transparentes y consensuados que permitan la selección, distribución de incentivos y movilidad laboral del personal público a partir de la evaluación del esfuerzo y desempeños de ese personal y no de otros factores. Em este contexto teórico, el tema de la meritocracia en el campo de actuación docente será analisada a la luz de las mas recientes experiências de reforma magisterial implantadas en el Peru,de la misma forma como estan siendo implantadas em diversos países latinoamericanos. En esta conferencia seran discutidas diversas perspectivas sobre cómo entender la meritocracia en el sector público com sus implicancias ideológicas, culturales y políticas. Pretendemos llamar la atención sobre la necesidad de situar esta discusión como parte de las reformas más profundas de los Estados Latinomaericanos y asumir su conflictividad en medio de culturas profesionales como la de los docentes, que ha permanecido durante largo tiempo al margen de este discurso. 3 Doctor en Ciencias Sociales (Ph. D.) de la Radboud University of Nijmegen (Holanda, 2007) y Magíster en Ciencias de la Educación, Mención Currículum, de la Pontificia Universidad Católica de Chile (1994). Profesor Principal del Departamento de Educación de la Pontificia Universidad Católica del Perú (PUCP). Actualmente es Director del Doctorado en Ciencias de la Educación y Coordinador de Investigación del Centro de Investigaciones y Servicios Educativos (CISE) de la PUCP. Así mismo, ejerce como docente visitante en diversos programas de postgrado en universidades públicas y privadas del país y es conferencista en eventos académicos nacionales e internacionales. Los temas que el Prof. Sime ha desarrollado en la docencia así como en investigaciones, consultorías y conferencias versan sobre: Producción Académica sobre Educación; Formación para la investigación; Desarrollo Profesional de Docentes; Educación y Desarrollo; Corrientes Educativas Transversales; Política Educativa e Investigación Educativa. Es miembro de la: American Educational Research Association (AERA-EEUU), International Sociological Association (ISA); Sociedad de Investigación Educativa Peruana (SIEP) y Foro Educativo (Perú). 39 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades RESPONSABILIDADE SOCIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NA EDUCAÇÃO SUPERIOR. UMA ABORDAGEM DO ESPAÇO IBERO-AMERICANO Juan José Martí Noguera4 RESUMEN En el marco de las políticas educativas, la promoción de una llamada Responsabilidad Social de la educación superior promovida por la UNESCO, y que presenta diferentes niveles de análisis y conceptualización en diferentes países, se está llevando a cabo un proceso de impulso de materias en la educación primaria y secundaria sobre "Educación para la ciudadanía". Atendiendo a que los modelos de formación por competencias promueven aspectos como la empatía, capacidad de diálogo, comprensión de la diversidad en un contexto de economía global, la educación desde ciclos básicos las fomenta como competencias transversales a adquirir en todo el ciclo educativo. La propuesta centra su atención en atender a modelos educativos varios que se están manejando en países iberoamericano, teniendo en cuenta un análisis de las oportunidades que presenta educar por una ciudadanía responsable y las competencias que requiere fomentar. 4 Doctor en Psicología por la Universidad de Valencia (España) con una tesis doctoral en un Estudio Iberoamericano sobre variables de responsabilidad social en la educación básica y educación superior con la participación de centros en Colombia, Chile, Perú y España. Licenciado en psicología, ha realizado una maestría en procesos de participación social entre academia y tercer sector, y en materia de gestión tecnológica aplicada a la empresa, así como varios programas de experto en innovación y cambio. Actualmente vinculado a la Universidad Antonio Nariño, sede de Cali (Colombia), forma parte del grupo de investigación GRIPSI en una línea educación superior y responsabilidad social en el espacio iberoamericano. Colaborando complementariamente como investigador en el Centro de Estudios y Análisis Económico. Línea de investigación en economía creativa 40 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 41 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 42 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO Mariângela Leocárdio Jacomini (PUC-Campinas) Mônica Piccione Gomes Rios (PUC- Campinas) RESUMO O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa que busca investigar a implantação das oficinas curriculares nas escolas que integram o Programa Escola de Tempo Integral. Por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa documental, aborda-se nesse artigo a escola de tempo integral no contexto das políticas públicas em educação do estado de São Paulo, que ganharam destaque no cenário brasileiro, tendo como foco a construção da qualidade da educação básica. Analisando os objetivos propostos para o Programa, percebe-se a preocupação com a evasão escolar e a necessidade da criação de mecanismos para que os alunos frequentem e permaneçam na escola. O estudo aponta que um Programa como a Escola de Tempo Integral necessita ser implantado de forma gradativa, especialmente no que se refere ao desenvolvimento das oficinas curriculares. Palavras-chave: escola de tempo integral, políticas públicas em educação, qualidade da educação A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM FOCO NAS PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA POSSIBILIDADE A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA Soila Canam (UFMT) Ademar de Lima Carvalho (UFMT) Simone de Albuquerque da Rocha (UFMT) RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar, observar e analisar as produções científicas produzidas entre os anos de 2007 a 2012, voltadas para políticas educacionais e formação continuada docente com foco em práxis pedagógica. Nossos dados foram obtidos através do site da CAPES para buscar as dissertações e teses, e ainda no portal da Universidade Federal do Mato Grosso, bem como pelo site do Scielo.br e Scielo.org para a coleta dos artigos voltados para a temática. A abordagem do trabalho foi quantitativa/qualitativa e buscou responder à questão: Como o educador compreende o processo indissociável entre teoria e prática, elementos da práxis pedagógica existente no movimento entre os espaços formação continuada e sala de aula. Palavras-chave: Pesquisa. Práxis pedagógica. Formação Continuada. 43 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO CONTEXTO DAS TIC E O PIBID Simone Becher Araujo Moraes (UFSM) Elizete Medianeira Tomazetti (UFSM) RESUMO Este trabalho é parte de uma dissertação de mestrado cujo objetivo é investigar a questão das tecnologias da comunicação e da informação (TIC) e a filosofia no Ensino Médio. A escola tem sido cada vez mais afetada pelas TIC, seja de forma direta: a partir da chegada das TIC na escola ou da presença dos alunos que são oriundos de uma sociedade cada vez mais tecnológica e tecnologizada, seja de forma indireta: a partir das demandas da sociedade e do mundo do trabalho. Discorremos aqui, sobre a formação do professor de filosofia a partir de uma breve reflexão sobre o Programa de Bolsas de Iniciação à docência – PIBID, uma política pública educacional que tem colaborado significativamente para a qualidade formação dos futuros professores de filosofia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, destacando o projeto “Olimpíada de filosofia” desenvolvido pelos bolsistas PIBID que realizaram no ano de 2012 oficinas com os alunos do Ensino Médio de duas escolas de Santa Maria – RS com o tema norteador: “O Homem e as tecnologias no séc. XXI”. Tal Tema, proporcionou aos bolsistas e futuros professores, um maior enfrentamento das questões relativas às TIC na escola e na sociedade, além de um maior contato com a realidade da escola. Palavras-chave: PIBID, TIC e ensino de filosofia. A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NO CONTEXTO DO GERENCIALISMO CONTEMPORÂNEO Domingos Pereira Silva (UNICAMP) Vicente Rodriguez (UNICAMP) RESUMO O presente artigo sintetiza os resultados de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida no âmbito do Doutorado em Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, a respeito da incidência do gerencialismo na escola pública. Assim, realizaremos uma breve contextualização do gerencialismo contemporâneo e sua implicação nas orientações da política educacional brasileira. De forma genérica, partimos do pressuposto de que a orientação das políticas educacionais sob a égide do gerencialismo contemporâneo, intrínseco à implementação da perspectiva neoliberal de “terceira via”, vem provocando mudanças não apenas nos aspectos organizacionais das escolas, como também na orientação cultural dos sujeitos, que são impingidos a promover a culturalização da lógica gerencial. Do ponto de vista da forma de abordagem a pesquisa é de natureza qualitativa e como procedimento utilizado recorremos à análise crítica da bibliografia selecionada. Palavras-Chave: Estado. Culturalização. Gerencialismo Contemporâneo. 44 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A PRÁXIS PEDAGÓGICA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ATUALIDADE Soila Canam (UFMT) Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito (UFMT) Matildes Aparecida Trettel de Oliveira (UFMT) RESUMO Este artigo tem como objetivo refletir sobre aspectos da Teoria Crítica da Educação, com foco no pensamento Humanista Freireano para compreender o movimento e articulação entre a práxis pedagógica e a formação contínua do educador no espaço escolar. O texto se organiza em quatro blocos, o primeiro apresenta uma breve explanação sobre a Teoria da Educação. O segundo traz a pedagogia crítica como substrato para a emancipação do sujeito e, ainda o conceito de práxis a partir do pensamento Freireano (1987), dialogando com os demais teóricos: Gadotti (2004), Carvalho (2005) e Pimenta (2011). O terceiro aborda a importância da reflexão da e sobre a práxis pedagógica. O quarto é destinado às contribuições da pedagogia crítica para a formação contínua do educador. Palavras-chave: Educação. Pedagogia crítica. Práxis pedagógica. A PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNICAMP 5. Emanuel Mangueira Carvalho (Unicamp) RESUMO A pesquisa realizou um “estado da arte” sobre a produção acadêmica da Unicamp a respeito das políticas de ações afirmativas. Nesse estudo foram analisadas, as teses, dissertações, monografias e os artigos disponíveis no site da COMVEST. A análise foi fundamentada com o “estado da arte” método este que possibilitou responder as problemáticas da pesquisa e atingir os seus objetivos. Os resultados mostraram que os TCC, dissertações, teses e livros abordaram como temática de pesquisa a necessidade de políticas de inclusão social, para o acesso ao ensino superior. Os artigos apresentam-se contrários às cotas raciais e ressaltam a importância da autonomia das universidades públicas. As produções apontaram também que as ações afirmativas não podem ser utilizadas para ocultar a educação de má qualidade que é oferecida nas escolas públicas à maior parte da população. Palavras-chave: Ações afirmativas; Estado da arte; Unicamp. 5 Pesquisa Financiada pelo CNPq. Trabalho apresentado no XIX Congresso interno de Iniciação Científica da Unicamp em 2011, em formato de pôster. Essa pesquisa tem continuidade em nível de mestrado a qual abrange a atualização de dados e informações referentes ao assunto abordado neste trabalho. 45 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL Marisa Xavier Coutrim Dalri (PUC-Campinas) Mônica Piccione Gomes Rios (PUC- Campinas) RESUMO O presente trabalho constitui um recorte de uma dissertação de mestrado que objetiva investigar a educação de tempo integral (ETI) e o processo de gestão escolar. As pesquisas a respeito do tema adquirem relevância no cenário educacional atual em que se destaca como política pública educacional, prevista na LDB e, mais recentemente, no PNE 2011/2020. No recorte escolhido, discutem-se as políticas públicas da educação de tempo integral (ETI) no Brasil, com ênfase nos séculos XX e XXI, por meio de pesquisa bibliográfica, a partir de autores como Höfling (2001), Frigotto e Ciavatta (2003). Para se compreender a ETI nos séculos XX e XI utilizam-se autores como Teixeira (1956), Dewey (1959, 1978), Bomeny (2009), Ribetto e Mauricio (2009), Cavalierie (2010). Constatamos que a partir do século XXI, houve um avanço nas políticas públicas, ao que se refere à educação em tempo integral. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para o debate necessário em torno da ampliação da jornada escolar no Brasil. Palavras-chave: escola de tempo integral; políticas públicas educacionais. ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA: PROGRAMA SEGUNDO TEMPO E O PAPEL DAS PREFEITURAS NA SUA DIFUSÃO Edmilson Santos dos Santos (UNIVASF) Virgínia P. da S. de Ávila (UPE – Petrolina) Alexsandro dos Santos Machado (UNIVASF) Jean Carlos de Sá Andrade (UNIVASF) RESUMO Os estudos sobre o impacto de programas federais de esporte educacional nos municípios brasileiros ainda são muito incipientes. Passados dez anos de implementação do Programa Segundo Tempo, pelo Ministério do Esporte, e, dada sua importância como uma política associada ao bemestar infantil e juvenil, torna-se necessário examinar o papel das prefeituras na sua difusão. Para tanto, privilegia-se a análise dos dados referentes ao ensino fundamental, disponíveis no mapa de distribuição do programa, considerando a adesão das prefeituras municipais no período de 2003 a 2012. Os resultados obtidos indicam que os incentivos à descentralização se apresentam de forma ainda muito tímida, não mobilizando a atenção dos gestores municipais. Nesse caso, a desatenção dos gestores compromete o bem-estar infantil e juvenil e promovem o acirramento da desigualdade de acesso ao desporto educacional e na melhoria da qualidade de vida. Palavras-chave: Programa Segundo Tempo, Esporte Educacional, Descentralização. 46 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades AVALIAÇÃO CAPES NA PERSPECTIVA DO PARADIGMA DO ENSINO Taís Maiara Loss Loehder UPF/RS Carmem Lucia Albrecht da Silveira – UPF/RS RESUMO A pesquisa tem como objetivo evidenciar o paradigma do ensino no sistema de avaliação em larga escala utilizado pela CAPES, órgão responsável pelas avaliações dos programas de stricto sensu brasileiros. Compreendendo o reflexo da utilização do paradigma do ensino, com bases objetivista e empiristas, na construção do conhecimento, enfatizando a necessidade de uma avaliação voltada para o processo de formação do sujeito, e não centrada na transmissão do conhecimento e no levantamento de dados, apenas. A avaliação deve priorizar a ação ampla do programa, buscando aspectos relevantes para a formação de um profissional crítico e autônomo. O estudo usa como metodologia uma análise qualitativa dos dados, tendo como base a revisão bibliográfica. Elencamos os aspectos relevantes para uma avaliação CAPES voltada para o processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chaves: Paradigma do ensino; Avaliação CAPES, aprendizagem. AVALIAÇÃO E QUALIDADE - DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 AO SINAES Fernanda de Cássia Rodrigues Pimenta - UNICID Celia Maria Haas – UNICID RESUMO Este trabalho discute os temas avaliação e qualidade presentes na legislação nacional, da Constituição de 1988 à Lei do SINAES. O texto apresentado é parte da pesquisa “Os Instrumentos de Avaliação do SINAES: Gestão e Qualidade na perspectiva dos Coordenadores de Curso”, desenvolvida com base na Constituição Federal de 1988 e respectiva legislação infraconstitucional referente à avaliação e qualidade da educação superior. Como resultado pode-se apontar que a concepção de qualidade está atrelada aos indicadores dos instrumentos de avaliação e que a avaliação serviu no início do SINAES como subsídio da Regulação, culminando em forte atuação na Supervisão. A partir do SINAES a questão da qualidade da educação superior passa a ser centralidade ou finalidade da avaliação. Palavras-chave: Avaliação. Qualidade. SINAES. AVALIAÇÃO NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO Regilson Maciel Borges (UFSCar) José Carlos Rothen (UFSCar) RESUMO O trabalho resulta de pesquisa bibliográfica que teve por objetivo analisar a construção do campo da avaliação no Brasil a partir de categorias propostas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. São apresentados os esforços da comunidade acadêmica brasileira na busca por referenciais teóricos aplicados a realidade nacional, assim como se identifica a organização de dois grupos o Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior (NUPES) e da Rede de Avaliação Institucional da Educação 47 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Superior (RAIES) que acabaram por se constituir como formuladores e defensores de políticas de avaliação para a educação brasileira a partir dos anos de 1990. O texto encerra alertando para a necessidade de desvendar o caráter oculto da avaliação escolar, disfarçada na aparência da informalidade. Palavras-chave: Avaliação no Brasil. Campo científico. Função social da avaliação. CIÊNCIA E EDUCAÇÃO SOB A RACIONALIDADE DA INOVAÇÃO Darlan Marcelo Delgado Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) Faculdade de Tecnologia de Mococa RESUMO O artigo apresenta um estudo sobre a relação de imbricação entre a Política Educacional e a Política Científica e Tecnológica no contexto em que a inovação é crescentemente valorizada. O objetivo central é buscar o entendimento sobre inovação por parte da Coordenação Pedagógica responsável pelo Ensino Médio nas escolas públicas da rede estadual no município de Mococa-SP. Verificou-se que a produção do conhecimento a respeito das demandas sociais e do setor produtivo sobre ciência, tecnologia e inovação e seus desdobramentos na educação chegam superficialmente às escolas. Percebeu-se a ausência de exercício da autonomia das escolas em propor inovações educacionais efetivas para uma formação emancipatória. Palavras-chave: Política Educacional. Política de CT&I. Ensino Médio. EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: UM BALANÇO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA (1988-2011) Larissa Katsumata Gusmão (PUC-Campinas) Adolfo Ignacio Calderón (PUC-Campinas) RESUMO Caracterizada como um estudo sobre o estado da arte referente à Educação de Tempo Integral, a presente comunicação debruça-se na compreensão da produção científica acerca dessa temática, realiza um mapeamento bibliográfico das teses e dissertações disponíveis no Banco de Teses da Capes, no período de 2009 a 2011 e identifica os eixos temáticos abordados em tais trabalhos. O recorte temporal justifica-se em função da complementaridade ao estudo de Ribetto e Maurício, no qual se apresenta um mapeamento da produção científica entre 1988 a 2008. Os eixos temáticos identificados foram: Práticas Educativas; Jornada Escolar; Formação de Professores; Democratização da Educação e Políticas Educacionais. A comparação entre os resultados de ambas as pesquisas apontam um aumento de aproximadamente 92% na produção científica, ressalta a relevância da experiência dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), que se manteve como principal foco de estudos. Palavras-chave: Educação em Tempo Integral. Estado da Arte. Mapeamento Bibliográfico. 48 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ENSINO MÉDIO: BREVE REVISÃO DE LITERATURA Zizelda Lima Fernandes (UNICAMP) Dirce Djanira Pacheco e Zan (UNICAMP) RESUMO Este artigo resulta de pesquisa bibliográfica de produções oriundas de estudos que vêm sendo realizados por estudiosos e pesquisadores em torno do jovem e da escola de ensino médio no Brasil na primeira década do século XXI. Esse exercício tem o caráter de mapear/conhecer a produção de conhecimentos em torno desse tema com a finalidade de compreender as questões postas pela comunidade acadêmica em seus projetos de pesquisa e/ou extensão em torno da realidade do ensino médio e sua relação com a juventude. Os estudos apontam para a urgência no trato com a escola média e os jovens que a frequenta. Palavras-chave: Ensino Médio; Juventude ENSINO MÉDIO BRASILEIRO EM CONTEXTO Zizelda Lima Fernandes (UNICAMP) Dirce Djanira Pacheco e Zan (UNICAMP) RESUMO Este artigo se origina dos estudos que vêm se desenvolvendo no doutorado em educação acerca da juventude e ensino médio no Brasil. Procura, assim, problematizar, no contexto atual, algumas questões específicas do ensino médio da escola pública estadual brasileira. A construção deste texto se deu a partir de uma séria e minuciosa análise de trabalhos produzidos por pesquisadores/as e estudiosos/as das ciências humanas e sociais que se debruçam sobre esse tema e análise de dados de pesquisa. Informações assinalam que a escola de ensino médio no Brasil está pedindo socorro. Um grande contingente de jovens alunos está se divorciando do ensino médio. Palavras-chave: Ensino Médio; Juventude ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: ENEM E O CONTROLE SOCIAL NO BRASIL Joana D´Arc Ferreira de Macedo – UFAL Elione Maria Nogueira Diógenes - UFAL RESUMO Nesse trabalho discutimos a perspectiva histórica do Brasil dos lampejos finais do século XX, as mudanças no contexto das políticas públicas de educação. Enfatizamos a inserção do país no recémcenário de democratização política. Realizamos uma abordagem sobre as dimensões conceituais do neoliberalismo como doutrina econômica norteadora da reforma do Estado brasileiro. A partir dessas informações é possível compreender as concepções e abordagens da interseção que há entre a política educacional e a política social e como o Estado exerce o controle social sobre a sociedade. Também esclarecemos como a sociedade entende essas políticas públicas regulatórias através do discurso do governo, o modo como elas são apreendidas por essa mesma coletividade e como esses 49 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades programas públicos agem nesse contexto social para o controle dos processos políticos, econômicos, educacionais e sociais. Palavras-chave: Neoliberalismo. Políticas Públicas. Enem. MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DE SÃO PAULO Mariana Valente Teixeira da Silva (UNICAMP) Deborah Piego (UNICAMP) Stéfanie Melo Lima (UNICAMP) Adriana Lia Frizman Laplane (UNICAMP) RESUMO A política de inclusão implementada no Brasil há mais de uma década tem tido efeitos na evolução das matrículas de alunos com deficiências e necessidades especiais nas redes de ensino. A história da educação especial mostra que o atendimento educacional dirigido a essa população iniciou-se em instituições e escolas especiais, inicialmente segregadas do ensino comum. As lutas pela ampliação dos direitos humanos e a universalização do ensino trouxeram mudanças no conceito de direito a educação. Este passou a ser “direito do cidadão” e “dever do estado”. Essas ideias foram concretizadas em documentos oficiais nacionais e internacionais que explicitaram as concepções e embasaram as sucessivas mudanças na legislação brasileira. Considerando a trajetória das políticas, o presente estudo se propõe a mapear as tendências na evolução das matrículas de alunos com deficiências e necessidades especiais no município de Campinas, SP, no período compreendido entre 2007 e 2012. Palavras-chaves: Educação Especial, História da Educação Especial, Inclusão. MUITOS SUJEITOS E POUCAS PESQUISAS: REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EJA Márcia da Silva Freitas - FFP/UERJ RESUMO O presente artigo trata-se de um trabalho concluído, apresentado como requisito parcial para avaliação da disciplina Seminário de Fundamentação, Processos Formativos e Desigualdades Sociais, no primeiro semestre de 2013, no curso de mestrado realizado na UERJ. É fruto de estudos realizados com o objetivo de iniciar o desenvolvimento do trabalho dissertativo, cujo tema refere-se ao ingresso e a permanência de pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NEE’s) na escola pública, particularmente na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Representa um exercício de pensamento a partir de observações feitas em escolas municipais de Itaboraí – RJ, de leituras efetuadas na Pós-Graduação, assim como através das reflexões elaboradas mediante as apresentações de seminários, vídeos, palestras e diálogos com a turma ao longo do processo formativo acadêmico. Palavras-chave: Escola pública, EJA e inclusão. 50 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS EDUCATIVAS NO CHILE (1981-2009): TRANSFORMACOES E CONTINUIDADES NOS DISCURSOS DO GOVERNO MILITAR E DOS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS Luis Leal Cuevas (UERJ) Clarissa Craveiro (UERJ) RESUMO O trabalho busca compreender as transformações e continuidades presentes nos discursos das políticas educacionais defendidos pelo Estado chileno durante o período 1981-2009. Para isso, analisaremos as articulações discursivas que caracterizaram as políticas e reformas educativas, considerando que esses discursos têm pretendido fixar determinados sentidos para os significantes de “qualidade, democratização e gratuidade da educação”. Utilizaremos como referencial teóricometodológico a Teoria do Discurso desenvolvida por Ernesto Laclau em conjunto com Chantal Mouffe e os aportes de Alice Casimiro Lopes no campo das políticas educacionais. Defendemos que existe uma continuidade histórica entre o discurso das políticas educacionais promovido pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet e os governos democráticos de centro-esquerda que tem procurado instaurar, promover e consolidar políticas de corte neoliberal desde a década de 1980 que, aos poucos estão sendo introduzidas no sistema educativo nacional. Palavras chaves: discurso, política educacional, neoliberalismo. O ENEM E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO Juliana Piunti (UFSCar) Rosa M. M. Anunciato de Oliveira (UFSCar) RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar um breve histórico do Ensino Médio no Brasil e as articulações entre a última Reforma prevista para esta etapa de Ensino e o Enem, avaliação externa de larga escala que tem ganhado destaque nos últimos quinze anos. Verificamos que a Reforma do Ensino Médio, que marca a década de 1990, e o Enem sugerem impactos nas práticas docentes de professores deste nível de ensino, além de outras mudanças no sentido de concretização de um novo Currículo atrelado as demandas de uma sociedade regida cada vez mais pela lógica do “Mercado”. Nossa compreensão de política pública e docência sugerem uma repensar destas relações possíveis entre o Enem e as práticas pedagógicas de professores do Ensino Médio. Palavras-chave: Reforma do Ensino Médio; ENEM; Docência. O LUGAR DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – ENTRE O FETICHISMO E UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL Cíntia Velasco Santos – UERJ/RJ RESUMO Este estudo apresenta uma reflexão acerca do lugar das tecnologias de informação e comunicação no Novo Plano Nacional de Educação. O que se pretende, aqui, é apontar como os discursos nos 51 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades documentos oficiais podem levar as tecnologias, em especial os laboratórios de informática das escolas, a serem compreendidos como solução para os problemas na educação, tais como acesso, permanência na escola e qualidade da formação. Este trabalho propõe, sob o olhar da Análise Crítica do Discurso, uma discussão sobre o fetichismo que recai sobre as tecnologias nos discursos das políticas educacionais e sobre as possibilidades de democratização do ensino através das tecnologias. Palavras-chave: tecnologias de informação e comunicação, Novo Plano Nacional de Educação, políticas públicas. O PROJETO SOLDADO CIDADÃO E O PRONATEC: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA Hercules Guimarães Honorato (Escola Naval) RESUMO O objetivo deste artigo é identificar em que medida o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) pode contribuir para minimizar o gargalo existente na formação técnica oriunda do Projeto Soldado Cidadão (PSC), que consiste no não atingimento da totalidade anual dos jovens durante o Serviço Militar. Ambos têm por finalidade precípua oferecer qualificação técnico-profissional aos jovens para concorrerem ao mercado de trabalho. A metodologia foi qualitativa com pesquisa documental exploratória, e no caso do PSC foi ainda utilizada uma empiria realizada via questionário com o gestor do Projeto no Comando do Exército. A demanda reprimida do PSC seria atendida pelo Programa, o qual, a princípio, não é obrigatório, cabendo a decisão de procurá-lo ao jovem, o que ratifica a não articulação entre as políticas. As políticas são fragmentadas e o ensino aligeirado, não havendo a formação completa do aluno. Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. Projeto Soldado Cidadão. PRONATEC. ORGANIZAÇÃO DEMOCÁTICA DO TRABALHO E A PESRSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇOES Jean-Baptiste Mendel (UNICAMP) RESUMO Este artigo procura analisar alguns aspectos teóricos ligados à organização democrática do trabalho no espaço escolar, considerando as perspectivas da Teoria das Organizações de uma maneira geral. Tentando identificar entraves que dificultam a organização democrática. Deste ponto de vista, é feita uma apresentação de diferentes aspectos ligados à gestão escolar democrática como a participação, o conceito de autonomia; seu significado e sua forma da concretização, e a democracia. Parte-se da perspectiva da Teoria das Organizações, uma análise crítica destaca os inconvenientes e atitudes que comprometem uma verdadeira organização democrática do trabalho no espaço escolar considerando a escola como uma organização. Palavras-chave: Autonomia. Participação. Democracia. 52 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PERCEPÇÕES SOBRE O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR – UM ESTUDO NO IFRJ/REALENGO Sandra Cristina Alves de Melo Machado (UFRJ) RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo analisar as percepções dos estudantes sobre o acesso ao ensino superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro/Campus Realengo (IFRJ/CReal). Para tal, buscou-se caracterizar os estudantes; e analisar, sob a ótica dos mesmos, os sentidos atribuídos ao acesso. Foi realizado um estudo descritivo centrado nos participantes de abordagem quantitativa e qualitativa. Foram utilizados como instrumentos de coleta de informação o questionário de perfil socioeconômico e a entrevista semiestruturada baseada em roteiro. Palavras–chave: acesso, ensino superior, percepções. POLÍTICA DE CURRÍCULO, DIVERSIDADE CULTURAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA: A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO NO TOCANTE ÀS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS Geonara de Souza Marinho (PPGE/UFPB) Maria Creusa de Araújo Borges (PPGE/PPGCJ/UFPB) Maria do Socorro Silva Cavalcante (PPGE/UFPB) RESUMO O artigo em questão resulta de um trabalho de pesquisa, elaborado na linha de Políticas Educacionais, do Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba. Tendo como objeto de estudo a Proposta Curricular do Estado de Pernambuco no tocante ao tratamento pedagógico de questões étnico-raciais. A pesquisa examina as concepções de currículo adotadas pela Secretaria de Educação de Pernambuco, focalizando a apreciação do documento Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos. Com aporte teórico-metodológico em Giroux (1986), Freire (1996), Arroyo (2011), Gomes (2012), Santos (2008), se compreende o currículo como um instrumento político em que têm lugar disputas em torno da definição do conhecimento e experiências relevantes socialmente e que, não obstante os avanços no campo da legislação, o currículo ainda se constitui como um espaço eurocêntrico e monorracial. Palavras-chave: Currículo. Coletivos Sociais. Lei 10.639/03. 53 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: FORMAMOS PROFISSIONAIS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA? Helen Santana Mangueira de Souza (UFMT/CUR) Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho (PPGEDU/UFMT/CUR) Prof.ª Drª Lindalva Maria Novaes Garske (PPGEDU/CUR/UFMT) RESUMO A atual configuração da formação de professores no Brasil é resultado do modelo de expansão do ensino superior implementado na década de 1990, a partir das reformas do Estado e subordinada às recomendações dos organismos internacionais. O presente artigo analisou as políticas de formação de professores vigentes no Brasil, bem como a sua concepção de formação humana e teceu alguns comentários acerca da contribuição da psicologia para uma formação crítica. A partir das análises foi possível verificar que o modelo tradicional de formação 3+1 ainda prevalece na prática, o que revela uma formação voltada para as disciplinas técnicas em oposição à formação para educação básica. O modelo de expansão baseado no ensino à distância, e na expansão do ensino privado é muito criticado. Nesse sentido torna-se necessário rever o modelo de expansão das licenciaturas e colocar em prática as reflexões já presentes nas retóricas críticas circulantes no meio educacional. Palavras-chave: Políticas Publicas Educacionais. Políticas de formação docente. Psicologia na formação de professores. PRODUÇÃO DE MICROCONTEÚDO PARA APRENDIZAGEM COM MOBILIDADE: PROPOSTA DE MODELO Marcia Izabel Fugisawa Souza (Unicamp) Sérgio Ferreira do Amaral (Unicamp) RESUMO Relata pesquisa de natureza teórica e conceitual, abordando questões como a aprendizagem com mobilidade, microaprendizagem, microconteúdo e hipermídia, microconteúdo educacional e linguagens híbridas. Salienta os desafios relativos à introdução de dispositivos móveis nas práticas educacionais. Consideram-se as limitações físicas e a natureza fragmentada da interação móvel, sob as quais os microconteúdos sejam, ao mesmo tempo, acessíveis e dotados de elementos pedagógicos. Microconteúdo educacional é analisado sob a perspectiva da hipermídia, considerando-se o predomínio das linguagens híbridas nas mídias digitais. Apresenta um modelo de produção de microconteúdo educacional para ambiente virtual de aprendizagem baseado nas linguagens híbridas. Palavras-chave: microconteúdo educacional; aprendizagem com mobilidade; dispositivos móveis 54 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E A ESCOLA NA PERCEPÇÃO DAS BENEFICIÁRIAS André Pires (PUC-Campinas) Ana Paula Speck Feijó (PUC-Campinas) RESUMO O presente trabalho que tem como tema central o Programa Bolsa Família e traz resultados parciais de uma pesquisa realizada com a finalidade de resultar em Dissertação de Mestrado em Educação da PUC Campinas. Para coleta dedados foram realizadas quinze entrevistas com beneficiárias do programa, residentes na região sul do município de Campinas mães de jovens com idade entre 13 e 17 anos. O principal objetivo da pesquisa é compreender as percepções destas mães com relação a exigência de frequência escolar, determinada pelo PBF como contrapartida para as família beneficiadas com a transferência de renda. Busca então compreender como essas beneficiárias relacionam essa exigência a melhoria de vida para seu filhos. Neste momento para esta apresentação trabalhamos com dois tópicos o PBF e a frequência escolar e o PBF e a escola frequentada pelo filho. Palavras chaves: Programa Bolsa Família (PBF); Escola; Frequência escolar. PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR E AS RESISTÊNCIAS DOS ATORES ENVOLVIDOS: IMPLEMENTAÇÃO NUMA DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO. Alex Moreira Roberto (UFJF) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a implementação do Programa Convivência Escolar numa Diretoria Regional de Educação da rede municipal de São Paulo. O Programa, que reflete sobre o exercício da convivência, cooperação, prevenção e intervenção da violência na escola foi formulado a fim de contribuir para a melhoria das relações estabelecidas nas escolas. Esta pesquisa se justifica, uma vez que, ao acompanhar os primeiros passos para a produção dessa política e a percepção dos atores envolvidos em relação às ações propostas, contribui com outras redes de ensino que estejam trilhando caminhos parecidos e/ou preocupadas com a questão da violência. Os dados aqui apresentados foram coletados via observação participante e entrevistas com assistentes de direção das unidades escolares, revelando certa resistência por parte desses sujeitos durante o processo de implementação da política. Palavras-chave: Convívio escolar. Programa Convivência Escolar. Violência na escola. QUEM PODE FALAR SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO? UM ENSAIO SOBRE A PRODUÇÃO DO DISCURSO EM POLÍTICA EDUCACIONAL Jarbas Dametto (UPF) Rosimar Serena Siqueira Esquinsani (UPF) RESUMO Este ensaio teórico-crítico busca problematizar a questão da produção da verdade no âmbito das políticas educacionais sob uma perspectiva foucaultiana, indagando-se sobre os locais de produção 55 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades e a legitimidade do discurso educacional. Frente a este intento, recorre-se a revisão de alguns conceitos pertinentes de Foucault, bem como a estudos recentes acerca da produção acadêmica na área das políticas educacionais, ponderando sobre as suas condições de emergência e sua aplicabilidade no palco propriamente político. Por fim, considera-se que os diversos discursos pronunciados sobre políticas educacionais, mormente no que tange aos rumos da educação nacional, carecem de um marco situacional que permita localizar o enunciador e suas circunstâncias, bem como de um arrazoado critico que permita identificar a origem e as intenções dos discursos extraacadêmicos, que tem participado acentuadamente das decisões políticas. Palavras-chave: Educação; políticas educacionais; discurso; verdade. RAÍZES SÓCIO-HITÓRICAS QUE DERAM ORIGEM À UNIVERSIDADE NO BRASIL Rubeneide Oliveira Lima Fernandes – Unimep RESUMO As circunstâncias históricas, a ideia de Universidade desde a sua gênese, enfrenta dificuldades no processo de desenvolvimento. No Brasil foi acompanhado por uma verdadeira revolução cultural e educacional, que ganham sentido histórico no conjunto de relações sociais de produção da existência dentro deste contexto. Através do registro escrito dos acontecimentos pretende-se descrever uma breve análise do contexto social no Brasil no período que antecede a Reforma Universitária de 1968. Palavras Chave: Sociedade, Educação, Universidade, Reformas. A DEMOCRACIA VISTA COMO UM PROCESSO: O QUE PENSAM OS DIRETORES SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA? Ronaldo Martins Gomes (UFSCar) Maria Cecília Luiz (UFSCar) RESUMO Este estudo teve como objetivo compreender a relação entre escola pública e democracia, mediada pela gestão democrática, na perspectiva de gestores escolares. Estabeleceu-se uma amostra de dez gestores(as), com os quais foram efetuadas entrevistas semiestruturadas. Compreendeu-se que os(as) gestores(as) entrevistados(as) estavam criando práticas democráticas na gestão escolar, ao estimular o diálogo e o acolhimento, ao escutar demandas, ao respeito às diferenças, singularidades e interesses na realidade escolar diária, ao compartilhar decisões e responsabilidades, ao respeitar os limites das funções e atribuições de membro na hierarquia do ambiente de trabalho, ao procurar realizar o trabalho em conjunto, no uso de “instrumentos” simples como o questionário para as famílias de estudantes, na flexibilização dos horários para atendimento de pais e familiares, na participação e formação de parceria entre escola e família para benefício dos estudantes, na construção coletiva do PPP como forma de aproximação entre a escola e a comunidade. Palavras Chaves: Democracia; Gestão Democrática; práticas democráticas. 56 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: POLÍTICAS DE IMPLEMENTAÇÃO Sandra Ferreira Acosta (PUC-SP/ Unesp) Anamérica Prado Marcondes (PUC-SP) RESUMO Esse estudo reconhece as atividades de Extensão como um papel fundante de contribuir com o desenvolvimento da solidariedade humana, especialmente no campo social e cultural. Diante de tal importância foi proposto, pela Comissão própria de Avaliação (CPA), a elaboração de um instrumento avaliativo capaz de possibilitar a institucionalização da organização de diferentes informações e saberes por meio da sistematização e análise de práticas extensionistas, visando oferecer subsídios para o aperfeiçoamento das decisões que podem reafirmar a identidade social de uma Universidade Comunitária. Tal estudo teve como objetivo compor uma proposta metodológica de avaliação vivenciada em uma IES comunitária, que levou em consideração a complexidade institucional de uma universidade e as dificuldades inerentes à realização dos processos avaliativos internos e à utilização de seus resultados para o aperfeiçoamento das ações educacionais. Palavras chaves: Extensão Universitária, Sistema de Informação, GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ/SC E OS PRINCÍPIOS DE DEMOCRATIZAÇÃO Carlos Odilon da Costa (FURB) Ernesto Jacob Keim (FURB) Gabrielle Cristina Becker (FURB) RESUMO A presente pesquisa teve como objetivo majoritário o mapeamento de políticas e práticas de gestão local do período de 2009 a 2012, com explicitação de aspectos relevantes na democratização da gestão da educação, em municípios que compõem a região metropolitana do Vale do Itajaí, espaço de abrangência da Universidade Regional de Blumenau (FURB). O eixo teórico norteador da pesquisa foi a gestão democrática, caracterizada como uma política pública que visa ampliar o direito à escolarização analisada a partir da concepção das teoria das representações com base em Henry Lefebvre. Constatou-se após a análise dos documentos oficiais, uma notável falta de políticas públicas que englobem a gestão democrática para amparar as instituições de ensino. Palavras-chave: Gestão Democrática na Educação, Representações Sociais, Políticas Públicas. GESTÃO ESCOLAR E DEMOCRATIZAÇÃO: INTERFACES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS CICLOS Débora Dias Gomes da Costa (UNIRIO) Andréa Rosana Fetzner (UNIRIO) RESUMO O trabalho, com o objetivo de discutir o papel da gestão escolar na democratização da escola, considerando o contexto da implementação dos ciclos no ensino fundamental, fez um levantamento sobre como a temática foi tratada, nos últimos cinco anos, na Associação Nacional de Política e 57 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Administração da Educação (ANPAE) e, entendendo que a democratização escolar necessariamente perpassa os processos de gestão e de organização do trabalho pedagógico na escola, apresenta o contexto da implementação dos ciclos em uma capital brasileira do sudeste do país e, por meio de quatro entrevistas com gestores escolares, levanta aspectos que se apresentaram como relevantes nos fazeres destes gestores quando tentam fazer a transição de uma escola em séries para uma escola organizada em ciclos. Palavras-chave: Gestão; Ciclos; Democratização da escola. GESTORES E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA – CAEd/UFJF Luísa G. A. Vilardi (CAEd/UFJF) Leonardo O. Vilardi (PPGCS/PUC-Rio) RESUMO A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 marca o processo de regulamentação da Educação a Distância (EaD) no Brasil e, como consequência desta lei, disseminam-se políticas públicas que fomentam cursos em EaD. Diante deste cenário, a UFJF em parceria com o CAEd passa a oferecer o curso de mestrado profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública (PPGP). O objetivo deste trabalho é, inicialmente, apresentar a organização semipresencial e a orientação institucional do PPGP para depois analisar com base na análise de conteúdo de Bardin (2010) quais são as principais temáticas desenvolvidas nas dissertações defendidas nos anos de 2011 e 2012. A relevância de tal análise se justifica uma vez que o público alvo de dito mestrado são gestores da rede pública de ensino. Os resultados encontrados nos mostram que há uma concentração de discussões nas temáticas referentes à gestão escolar e análise de políticas públicas. Palavras-chave: gestores, mestrado profissional, análise de conteúdo. O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UM ESTUDO DE CASO Elmari Moreschi (Universidade Tuiuti do Paraná) Adolfo Ignacio Calderón (PUC-Campinas) RESUMO A presente comunicação objetiva estudar a realidade do Conselho Municipal de Educação de São José dos Pinhais enquanto órgão do Estado. Nesta comunicação, realiza-se uma fundamentação histórico-legal do referido Conselho, analisam-se as experiências administrativas (2005-2010), a opinião dos conselheiros e aspectos referentes à capacitação de seus membros, à autonomia, ao controle social, à infraestrutura e ao funcionamento do Conselho. A partir de uma pesquisa qualitativa, por meio de análise documental e entrevistas semiestruturadas, constataram-se fragilidades a partir da existência de lacunas nos fundamentos jurídicos diante da inexistência de leis federais ou estaduais específicas a respeito dos CME, fato que determinam que os mesmos fiquem à mercê da vontade políticas governantes. Palavras-chave: Conselho Municipal de Educação. Gestão Democrática. Políticas Públicas Educacionais. 58 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PROGRAMA DE EXCELÊNCIA ACADÊMICA (PROEX): UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO Niuza Vieira Corrêa (Capes) Gionara Tauchen (FURG) RESUMO O presente estudo tem como escopo a avaliação das estratégias de gestão dos programas de pósgraduação da Área das Ciências Biológicas II, que obtiveram notas 6 e 7 em duas avaliações trienais consecutivas que aderiram ao Programa de Excelência (PROEX).O principal objetivo desta pesquisa é identificar as dimensões e as atividades que norteiam o nível de excelência acadêmica. A metodologia utilizada foi de natureza exploratória, qualitativa e descritiva, por meio da analise de relatórios financeiros do PROEX dos programas de pós-graduação stricto sensu da Área das Ciências Biológicas II e do caderno de indicador “Proposta do Programa”. Concluímos que são predominantes as ações de internacionalização Sul-Norte e a internacionalização passiva junto aos programas analisados. Palavras-chaves: Pós-Graduação. Gestão. Internacionalização. UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DE GESTORES ESCOLARES Renata Maria Moschen Nascente (UFSCar) RESUMO O objetivo da comunicação é apresentar e discutir alguns resultados de uma pesquisa dedicada às interlocuções entre uma formação oferecida pela SEE/SP por meio dos Grupos de Referência – GR a equipes gestoras, compostas por professores coordenadores, diretores de escola e supervisores de ensino, e suas práticas de gestão tanto em suas escolas como nas diretorias de ensino. A metodologia empregada é qualitativa e exploratória, baseada na triangulação de dados levantados e categorizados, oriundos de documentos oficiais referentes ao GR e de relatos de observações realizadas durante os encontros formativos. Primeiramente contextualiza-se historicamente a formação e o trabalho de gestores escolares. Em seguida explicita-se como a formação oferecida por meio do GR foi planejada. Finalmente serão expostos e discutidos alguns resultados, derivados de uma das categorizações de dados referentes a uma série de encontros formativos do GR. Palavras-chave: Gestores Escolares; Formação; Grupos de Referência. 59 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A EDUCAÇÃO E O SENTIDO DO SER: DIÁLOGOS ENTRE PAIDÉIA, EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E HEIDEGGER Angela Maria de Andrade Palhano (FURB) Celso Kraemer (FURB) RESUMO Este artigo aborda o conceito de Educação a partir do livro: Paidéia - A Formação do Homem Grego, que se trata de uma investigação histórica sobre os ideais de educação pensados na Grécia Antiga, e Educação um tesouro a descobrir que se trata do Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. O artigo articula as contribuições filosóficas de Martin Heidegger com a educação da Grécia antiga e a educação dos atuais dias do século XXI. Heidegger, através dos seus estudos sobre a fenomenologia hermenêutica, apresenta questões significativas para a educação como o retorno e o sentido do ser. Suas discussões permitem balizar a análise do conceito de educação do Relatório da UNESCO, indicando que a dimensão ontológica está ausente nesse Relatório. Palavras-chave: Educação, Ser, Humanismo. A PRODUÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA E SOCIAL DO CONHECIMENTO NA ABORDAGEM MARXISTA Sandra Garcia Neves (UERJ) Aline de Carvalho Moura (UERJ) RESUMO A discussão sobre os conceitos de mercadoria e de produto é bem desenvolvida na obra “O Capital” de Karl Marx quando discute o valor social dos produtos do trabalho. Nosso objetivo nesse estudo é, a partir desta ideia, apresentar os fundamentos da produção social, e, daí decorrente, da produção do conhecimento conforme encontramos nos escritos da professora Miriam Limoeiro Cardoso. O método por nós utilizado é o da pesquisa bibliográfica. Concluímos que a produção do conhecimento atende, como entendido por Marx (2008), a objetivos postos pelo econômico e pelo social, que, por sua vez, determina o modo como são produzidos e o que é produzido em termos de conhecimento. Palavras-chave: Karl Marx. Produção histórico-econômica e social do conhecimento. Produto. DAS CONTRADIÇÕES AOS PARADOXOS: A ESCOLA COMO TEMPO LIVRE Fabiana Fernandes Ribeiro Martins (UERJ) RESUMO A escola, como instituição nascida no bojo da sociedade moderna, aparece presente em uma grande parte da produção de conhecimento em educação. Fundamentalmente, esta produção se esforça em 60 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades pensar as diretrizes e os fundamentos da escola, bem como sua função e finalidade. Encontra-se, aí, uma estreita relação entre sociedade e escola. Com Rancière, procuramos tencionar esta relação, e pensar a escola como sendo, ademais de uma instituição social, uma forma que reconfigura a relação dos indivíduos com o espaço, o tempo e o conhecimento. Face às contradições da escola como instituição, nos propomos, portanto, a trabalhar sobre os paradoxos da escola quando concebida como tempo livre. Palavras-chave: Escola; instituição; espaço; forma; tempo livre FILOSOFIA DA TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE ENGENHEIROS: ALGUMAS PERSPECTIVAS Adolfo Ramos Lamar (FURB) RESUMO O estudo das bases filosóficas dos cursos de engenharia tem importância teórica e prática, porém essas bases são pouco pesquisadas na Universidade Regional de Blumenau (FURB) e outras universidades. Levando isso em conta, a presente comunicação aborda algumas perspectivas da Filosofia da Tecnologia que são importantes para os cursos de engenharia da FURB. Na pesquisa foi realizada uma revisão de literatura e foram consultados documentos institucionais como o Projeto Político-Pedagógico da FURB, os Projetos Pedagógicos dos cursos (PPC) de engenharia, diretrizes curriculares, planos de disciplinas e outros documentos institucionais da FURB e outras universidades. A análise das informações leva em conta o contexto da FURB, Santa Catarina e do Brasil. Palavras-chave: fundamentos da educação; filosofia da tecnologia; engenharia. FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE IMMANUEL KANT Fernanda Pavanelli Garcia (PUC Campinas) Samuel Mendonça (PUC Campinas) RESUMO A problemática deste manuscrito está alocada na teoria do conhecimento, com o enfoque na questão da origem do conhecimento e a interface com a questão educacional é tácita, na medida em que este fenômeno de transformação social, a educação, envolve os fundamentos da educação que são construídos, entre outras áreas, pela filosofia. O tema baseia-se na ideia de que Kant realizou a síntese entre a teoria empirista e a racionalista. Embora esta questão já tenha sido discutida por diversos filósofos, no campo educacional diz respeito a tema ainda pouco explorado. O objetivo é expor e estabelecer quais elementos destas duas teorias foram agregados à tese de Immanuel Kant e como as conciliaram. O método consiste em revisão bibliográfica de textos de três filósofos: David Hume, Gottfried W. Leibniz e Immanuel Kant. Palavras-chaves: Fundamentos da Educação, Kant, teoria do conhecimento, origem do conhecimento. 61 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: ALGUNS APONTAMENTOS Vânia Lima de Almeida- UFMS RESUMO Vivemos numa sociedade cheia de contradições e conflitos, onde as diferenças sociais estão cada vez mais evidentes. Porém, essas diferenças sociais não ocorreram do dia para a noite, esta foi fruto de um longo processo histórico ocorrido na sociedade. Para apreender e analisar todo essa dinâmica se faz necessário o uso de uma abordagem metodológica que possibilite a analise desejada. Neste sentido, este trabalho terá como objetivo apresentar de maneira introdutória o materialismo histórico e dialético, concebido por Karl Marx, como um instrumento cientifico no auxilio da interpretação desta realidade, considerando as transformações ocorridas no campo das questões econômicas, sociais, políticas e culturais. Para dar conta deste objetivo foi realizado um estudo bibliográfico, onde utilizamos autores como Marx entre outros que abordam a temática em questão. A partir do estudo realizado conclui-se que o materialismo histórico e dialético é um importante instrumento de análise, interpretação e transformação da realidade social da qual fazemos parte enquanto ser produtor de história. Palavras chave: Marxismo; método; dialética. OS JOVENS E O ENSINO MÉDIO: A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA SER SUJEITO OU SUJEITAR-SE Gislaine de Medeiros Baciano (UNINOVE) RESUMO O presente artigo discute as possibilidades dos jovens exercerem escolhas autônomas na sociedade contemporânea. Buscando compreender se os jovens têm possibilidades efetivas de serem sujeitos ou se têm maiores probabilidades de se sujeitarem a ordem social vigente, aplicamos um questionário a 192 jovens alunos do Ensino Médio de uma escola pública paulistana com questões sobre a escola propriamente e sobre aspectos sociais. Verificamos que a ordem social vigente preconiza a homogeneização cultural e a reificação da consciência. Logo, são muito escassas as possibilidades concretas de ser um sujeito autônomo e crítico e acabam predominando estratégias de adaptação e integração. Palavras-chave: Jovens; Ensino Médio; Possibilidades de escolha. PESQUISA EM EDUCAÇÃO E CONCEPÇÕES DE CONHECIMENTO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUESTÃO Natália Regina de Almeida (UERJ) RESUMO No campo de conhecimento em educação, a discussão sobre o tratamento atribuído à sua definição enquanto campo, objeto investigativo e as diferentes possibilidades teórico-metodológicas, epistemológicas aumentou nas últimas décadas do século XX. Nesta perspectiva os aspectos que dizem respeito ao processo de construção e de produção de pesquisas no campo do conhecimento 62 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades em educação, e das diferentes possibilidades teórico-metodológicas merecem mais investimento teórico-conceitual. Em linhas gerais, no presente texto, a partir da pesquisa bibliográfica, proponho uma apresentação das diferentes concepções de conhecimento na construção de pesquisas no campo do conhecimento em educação e a apresentação de duas posições teórico-metodológicas da prática da pesquisa em educação. Palavras-chave: Pesquisa em educação. Concepções de conhecimento. Produção do conhecimento. POR UMA ESTÉTICA PEDAGÓGICA EM ALBERT CAMUS Danilo Rodrigues Pimenta (UNICAMP) RESUMO Albert Camus não possui uma obra especifica sobre educação, mas o conjunto de seus textos nos oferece indicações para pensar uma pedagogia do absurdo, assim, o objetivo desta comunicação é analisar a estética camusiana, nas obras Le mythe de Sisyphe, L’homme révolté e Discours de Suède, identificá-la como uma atitude coerente diante do absurdo e da revolta e pensar em uma possível pedagogia do absurdo. A intenção pedagógica do artista é manter a consciência da absurdidade da existência por meio de sua criação artística. A estética pedagógica proposta pelo franco-argelino é proporcional ao homem e por isso é mais esclarecedoras que todas as bibliotecas, visto que Camus está convencido da mensagem instrutiva da aparência sensível que descreve o fracasso da existência humana. É exatamente por isso que a criação artística é um instrumento de libertação, visto que ela tem a finalidade de despertar o homem de sua vida maquinal, isto é, da vida desprovida da consciência da absurdidade da existência. Palavras-Chave: existência, estética, educação. TEORIA DO RECONHECIMENTO DE AXEL HONNETH E EDUCAÇÃO MORAL: NOTAS INTRODUTÓRIAS Maurício Rebelo Martins (Doutorando em Educação/UNICAMP) RESUMO Pretendemos apresentar de forma introdutória a Teoria do Reconhecimento de Axel Honneth e as suas possibilidades para pensarmos os problemas educacionais na atualidade. Essas reflexões fazem parte de um trabalho mais amplo que aspira investigar como essa teoria pode nos ajudar a pensar a educação moral e a fazer uma 'viragem' nos seus processos formativos, dando prioridade a aceitação das diferenças e o reconhecimento da autenticidade do outro. Assim, primeiro, apresentamos a Teoria do Reconhecimento elaborada por Honneth para compreender o significado da luta por reconhecimento para constituição da identidade dos sujeitos. Depois, analisamos a situação das nossas sociedades complexas e plurais. E, por fim, tecemos algumas reflexões sobre como essa teoria pode contribuir para pensarmos uma educação moral que possa transformar a escola num ambiente democrático e positivo para constituição da identidade dos nossos educandos. Palavras chave: Educação moral, sociedade, reconhecimento. 63 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL: DESVELANDO O PAPEL SOCIOPOLÍTICO DESTE CAMPO DO CONHECIMENTO Débora Alfaro São Martinho da Silva (UFSCar) RESUMO Este ensaio é resultado de um estudo teórico bibliográfico em Educação Matemática e tem por objetivo refletir sobre o papel sociopolítico da Matemática no contexto atual. Procura-se discutir como pesquisas podem contribuir para a disseminação de concepções, cuja influência na estruturação de seu ensino e nas práticas pedagógicas realizadas pelos professores pode tornar a Matemática um instrumento voltado para a transformação social ou à seleção e classificação dos indivíduos na sociedade. Para isso, percorrerá parte da História da Matemática, apresentando alguns dos sistemas de pensamento formulados nos períodos abordados que inspiraram dimensões tão dicotômicas nesse campo do conhecimento. Acredita-se que o desvelamento de determinadas concepções sobre o ensinar e aprender matemática possa contribuir para que esse campo de conhecimento assuma seu papel enquanto prática social transformadora. Palavras-chave: Educação matemática. História da matemática. Ensino e pesquisa de matemática. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Aline de Carvalho Moura (UERJ) Sandra Garcia Neves (UERJ) RESUMO Este trabalho tem como objetivo identificar alguns problemas teórico-metodológicos no campo da educação, discutindo, mais especificamente, algumas questões sobre a produção do conhecimento na pós-graduação em educação. Nesse contexto, iremos apresentar duas perspectivas teóricometodológicas que se apresentam no campo da educação, tendo em mente a expansão da pósgraduação brasileira em seus mais de cinquenta anos, pensando suas mudanças, controvérsias e polêmicas. A discussão sobre a produção do conhecimento compreende algumas questões. Dentre essas questões, destacamos a relação entre o sujeito de conhecimento e o objeto de conhecimento, relação delimitada pelo campo teórico; o processo de teorização em educação e a pós-graduação como um espaço legítimo de produção do conhecimento. Palavras-chave: Produção do conhecimento. Pós-graduação. Teórico-metodológico. 64 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades COMPROMISSO COM A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA ATUAÇÃO REFLEXIVA Carmem Lucia Albrecht da Silveira – UPF/RS Taís Maiara Loss Loehder – UPF/RS RESUMO O artigo apresenta estudo pontuando a importância da formação continuada, direcionada por paradigma reflexivo, localizando o momento histórico atual da escola e do professor agregado as mudanças sociais correntes. A escrita foi baseada em revisão bibliográfica e pesquisa empírica qualiquantitativa realizada com professoras das redes estadual e municipal, de um dos municípios pertencentes à Associação dos Municípios do Alto Jacuí (AMAJA), região norte do Rio Grande do Sul. Centra-se em destacar o momento da educação atual, situando a importância da formação continuada através da atuação reflexiva dos professores. A educação reflexiva poderá proporcionar formas diferenciadas de construir o conhecimento e facilitar processos de aprendizagem através de formas cognitivas questionadoras e críticas, substituindo as tradicionais metodologias perpetuadas pela história. Palavras chave: Formação continuada. Atuação reflexiva. Professor. DIÁLOGOS: PROCESSOS REFLEXIVOS NO COTIDIANO ESCOLAR Adriana Stela Pierini (UNICAMP) Ana Maria Falcão de Aragão (UNICAMP) Beatriz Vito Vieira (UNICAMP) Bianca Fiod Affonso (UNICAMP) Luciana Haddad Ferreira (UNICAMP) RESUMO O presente trabalho objetiva ampliar o debate acerca dos fatores que potencializam os processos reflexivos no cotidiano da escola. Embasados na teoria reflexiva, são apontadas as principais contribuições de uma ação problematizadora no desenvolvimento da prática educativa e formação continuada do professor. A escuta e o olhar do outro e de si permitem ao sujeito a construção de sua identidade, tanto coletiva quanto individual, possibilitando a percepção das singularidades provenientes de sua imersão em determinado espaço social. Fatores que rememoram a importância do exercício de acolhida, partilha, diálogo e (auto)formação dos sujeitos em seu desenvolvimento, tornando-o mais perceptivo e engajado em relação às situações vividas. Apresenta-se assim a importância do profissional reflexivo para a compreensão de situações em que são contextualizadas as vivências e experiências dos sujeitos: a reflexão na prática, para a prática e sobre a prática. Palavras-chave: Reflexividade. Formação de professores. Prática docente. 65 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIAS E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES PARA NOVAS APRENDIZAGENS NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO Vanessa Nunes da Silva (UFT) Isabel C. A. Pereira - Orientadora (UFT) RESUMO O presente trabalho objetivou discorrer sobre o paradigma educacional emergente que requer a inserção de novas práticas curriculares e metodologias inovadoras e destacar o papel da Universidade na formação de docentes aptos na utilização da tecnologia no seu cotidiano de forma crítica e criativa. A presente produção científica é fruto de pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo e está embasada nos autores: Belloni (2008), Castell (1999), Lévy (2011), Zabalza (2004), dentre outros. Palavras-chave: Educação mediada por tecnologias. Novas demandas de formação. Criatividade. FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SUAS PRÁTICAS Jocyléia Santana dos Santos (UFT) RESUMO O artigo problematiza o uso do filme em sala de aula como uma fonte/documento para o ensino de história. A prática da análise histórica de um filme (seja como documento ou como discurso sobre o passado), sobretudo para o professor de História, muitas vezes é dificultada pela sua falta de preparação, tanto a nível teórico quanto técnico. Conhecimentos básicos acerca da relação cinemahistória, das novas teorias da comunicação e da educação — que consideram a imagem como um elemento fundamental do processo de aprendizagem contemporâneo —, da linguagem cinematográfica e das técnicas de cinema e vídeo são fundamentais para provocar situações de aprendizagem em História da Educação. Palavras-chave: Ensino de História, Formação de Professores, Filmes. INCLUSÃO: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS E COMPETÊNCIAS QUE NORTEIAM A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE Simone Maria Alves de Lima - (UFT) Carmem Lúcia Artioli Rolim – (UFT) Nádia Faustino V Borges (UFT) RESUMO O presente trabalho teve por objetivo refletir sobre os desafios da universidade frente à política de inclusão e sobre as competências necessárias aos professores para desempenharem a ação em contexto inclusivo. Tendo como questionamentos, quais bases formativas fundamentam a ação docente na prática inclusiva e quais desafios e responsabilidades a atual política de educação especial perpassa as instituições de Ensino Superior e de Educação Básica. Com o intuito de obter repostas propusemos uma pesquisa participante. Como resultado é possível pontuar que a atual 66 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades política educacional coloca a universidade frente a um duplo desafio, primeiro por ter que se adequar física e pedagogicamente para receber alunos em caráter de inclusão; segundo, por ser uma instituição produtora de conhecimento cabe a ela, a responsabilidade de rever os currículos dos cursos de licenciaturas e assim promover uma formação voltada a atender os problemas sociais vigentes. Os docentes da educação básica necessitam de formação. Palavras-chave: Desafios da Universidade. Formação e Competências. Atividade Inclusiva. MEMÓRIAS ESCOLARES DE PROFESSORES/AS EM FORMAÇÃO Helena Amaral da Fontoura (FFP/UERJ) RESUMO Este trabalho apresenta um exercício de escrita de experiências escolares de alunos de graduação e mestrado em uma instituição pública de ensino superior no estado do Rio de Janeiro dedicada à formação de professores. Os participantes trazem suas memórias que são tematizadas pela autora na interlocução com autores que trazem os temas de memórias escolares, narrativas e formação docente como preocupação teórica. Concluímos afirmando a importância de termos espaços de reflexões pessoais e coletivas nos processos formadores de professores como um dos eixos fundantes. Palavras-chave: memórias escolares; formação de professores; narrativas. MUITAS NOMENCLATURAS, ATRIBUIÇÕES, EXPECTATIVAS E POUCA DEFINIÇÃO: UM OLHAR À FUNÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO A PARTIR DA LITERATURA Camila dos Santos Almeida (PUC Campinas) Elvira Cristina Martins Tassoni (PUC Campinas) RESUMO Este trabalho é um recorte da pesquisa em andamento intitulada “O Processo formativo do Programa Ler e Escrever: Uma análise da rede de formações proposta pelo estado de São Paulo”. A pesquisa investiga o processo formativo no interior da escola e tem como elemento central o Coordenador Pedagógico. A análise de como a literatura vem abordando a função do Coordenador Pedagógico corrobora as análises da pesquisa, constituindo um olhar à função, na intenção de compreender a realidade investigada durante a pesquisa. O estudo bibliográfico sobre o Coordenador Pedagógico permite algumas conclusões que apontamos neste artigo. O Coordenador Pedagógico, pela trajetória histórica e pelo momento que vivencia demonstrado nas teses e dissertações, tem sua função ainda em definição. É consenso nos diferentes portadores estudados – teses, dissertações, livros e pesquisa encomendada – que a formação continuada no lócus escolar tem se definido cada vez mais como função essencial do Coordenador Pedagógico. Palavras-chave: formação de professores; coordenador pedagógico; política educacional 67 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O DIREITO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE AO RESPEITO: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES SOBRE O TEMA (2007-2011) Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito (UFMT) RESUMO Este levantamento visa subsidiar o projeto de pesquisa em andamento que objetiva investigar as concepções de professores sobre o direito das crianças e adolescentes com relação ao respeito. De cunho quantitativa-qualitativa, o levantamento de dissertações, teses e artigos nos sites da CAPES e Scielo, respectivamente, mostrou que há muitas produções realizadas no Brasil nos últimos cinco anos (2007 a 2011) sobre a temática dos direitos da criança e do adolescente. O estudo busca responder a questão sobre os adultos, especialmente professores se consideram as ideias e os direitos da criança/adolescente, respeitando-os como parte interessada às decisões de sua formação. Os resultados aponta que há poucas publicações sobre o direito da criança ao respeito no espaço escolar nas modalidades de ensino fundamental ao ensino médio. Palavras-chaves: Educandos. Respeito. Educação O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E A RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: PRINCÍPIOS PARA A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA Cristina Nogueira Barelli - Instituto Singularidades, SP RESUMO Este texto discorrerá sobre a relevância do Estágio Curricular e da Residência Pedagógica, entendidos como práticas pré-profissionais, no curso de Pedagogia (Formação de professores para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental) de uma IES situada em SP-Capital. Serão apontados os princípios existentes que valorizam e dimensionam o estágio como um lócus de aprendizagem na formação inicial do docente, bem como sua forma de desenvolvimento no currículo, visando a promoção da formação de profissionais mais bem qualificados para o ensino. O estágio está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (2006) e a relação entre estágio e docência, em sua problemática de articulação entre teoria e prática e a sua finalidade nos cursos de formação de professores, é algo já discutido (PIMENTA, 2011). Contudo, a proposta aqui é aprofundar o estágio como base e um dos eixos para a formação dos profissionais de ensino, apresentando como operá-lo no currículo de forma a propiciar a construção do olhar profissional do professor e valorizar uma ação docente investigativa e reflexiva. Palavras – chave: Formação inicial; estágio; currículo. 68 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO DE UM CURSO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS6 Wilmara Alves Thomaz (USP) RESUMO O sistema educacional brasileiro sofre problemas sérios, destacando-se, entre eles, a evasão escolar, um fenômeno complexo que envolve tanto fatores intra como extraescolares. Na superação desse problema, cabe ao professor rever sua atuação, inserindo em sua prática atividades que promovam a autonomia do aluno. O objetivo é analisar o desenvolvimento do processo de aquisição de autonomia de alunos de um curso de Educação de Jovens e Adultos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa da qual participaram onze professores e quatro alunos de uma turma de terceiro semestre de um curso de Educação de Jovens e Adultos. Professores e alunas comprovaram a hipótese de que a escola pesquisada busca o fortalecimento da autonomia dos seus alunos do curso de EJA. Palavras-chaves: evasão escolar, autonomia, educação de jovens e adultos. POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA FILOSOFIA DEWEYANA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Andréa Oliveira Silva (PUC Campinas) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre possíveis implicações da filosofia de John Dewey para a formação de professores. A ideia é identificar alguns elementos enunciados por ele, em especial, nas obras Experiência e Educação e Interesse e Esforço em Educação que possam ter desdobramentos para a construção de uma “epistemologia” pessoal e coletiva dos professores em formação e em serviço. Acreditamos que as ideias de Dewey, embora localizadas num tempoespaço determinado, são extremamente importantes e relevantes na atualidade e que longe de se constituírem como receitas aplicáveis na prática educacional, podem nos dar um corpo de conhecimentos consistentes que podem ajudar a (re) construir as concepções dos professores sobre a educação e, principalmente, mobilizar suas práticas. Palavras-chave: John Dewey, Formação de professores, Educação. 6 Resumo da monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ética, Valores e Saúde na Escola: Universidade Estadual de São Paulo (USP) / Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), para a obtenção do Título de Especialista. 69 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades TRILHANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA ESCOLA Marissol Prezotto (GEPEC-UNICAMP) Marciene Reis (GEPEC-UNICAMP) Ana Maria Falcão de Aragão (GEPEC-UNICAMP) Danielle Porfírio Maniuc de Lima (GEPEC-UNICAMP) Andréa de Andrade Marangoni Rodrigues (GEPEC-UNICAMP) Isabela Angeli (GEPEC-UNICAMP) RESUMO Diante do questionamento de como a experiência do cotidiano pode contribuir para a formação do professor, as autoras buscam alguns indícios de respostas na própria trajetória como professoras e nos momentos que compõem o cotidiano escolar. Por meio de experiências significativas de aprendizagem e de formação, objetivam compreender a constituição do professor reflexivo e evidenciar que os recursos, experiências e tecnologias presentes no dia a dia favorecem a relação com o outro – crianças, professores, interlocutores acadêmicos – e, consequentemente, fazem do espaço da escola palco de encontros, conflitos e descobertas. O professor, ao vivenciar e refletir nos momentos do cotidiano, reconstrói conceitos, ressignifica suas atitudes e recria a si mesmo. Palavras-chave: Formação de professores. Cotidiano. Ambiente formativo. Reflexividade. UMA “PROBLEMÁTICA INEXPRESSIVA” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA-FAMÍLIA Leandro Gaspareti Alves (PUC-Campinas) Elvira Cristina Martins Tassoni (PUC-Campinas) RESUMO A relação escola-família vem ganhando espaço nas proposições de pesquisadores e nas políticas de Educação. Contudo, a interlocução entre tal relação e a formação de professores tem sido ainda “inexpressiva”. Assim, o presente artigo objetiva discutir a partir da literatura nacional e internacional, a importância da presença dos estudos sobre a relação escola-família na formação de professores. Consideramos a necessidade de maior investimento por parte dos pesquisadores para subsidiar a interlocução entre formação de professores e as relações escola-família. Palavras-chave: formação de professores, relação escola-família, desempenho acadêmico. 70 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ESTETIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Fabiana Fassis (UNESP) RESUMO Um dos desafios da atualidade é a superação de uma crise reducionista, fragmentária e utilitarista que há tempos se faz presente como valores em nossos processos educativos, nossa produção de conhecimentos e que cerca também nossas relações com os outros e com o meio ao qual estamos inseridos, fazendo-nos acríticos e pouco reflexivos, muitas vezes com nossa própria existência. Pensar em um meio de renovação cultural e de valores tem sido a cada dia mais necessário, já que o estilo de pensamento atual não tem dado conta de responder toda complexidade que nos cerca. Uma nova sensibilidade, através da estetização, se faz possível pelas vias da educação, com foco aqui na Educação Ambiental. O que será refletido é resultado de uma pesquisa bibliográfica realizada na disciplina “Educação Ambiental e Práticas Pedagógicas” do Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro-SP. Palavras-chave: práticas pedagógicas; estetização; educação ambiental. A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO Maria Ghisleny de Paiva Brasil – ProPEd / UERJ RESUMO Este estudo investiga as rotinas desenvolvidas na educação infantil: seus pressupostos e relações com as proposições oficiais para essa etapa da educação. As rotinas representam, na organização curricular, à estrutura de sobre a qual será organizado o tempo didático com as crianças. Objetivamos sistematizar concepções teóricas acerca do conceito e papel das rotinas no contexto da Educação Infantil buscando compreender em que consistem e como são concebidas nas teorizações da área e como têm sido propostas em documentos oficiais. O estudo assumiu a forma de uma pesquisa bibliográfica que possibilitou uma fundamentação teórico-metodológica para a construção das informações, assim como a análise documental que nos possibilitou conhecer o modo como o tema é concebido nos documentos. Palavras-chave: Infância, Rotina diária, Organização Curricular 71 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ALUNOS ESTRANGEIROS EM IES MILITAR: ESPAÇOS ESCOLARES FORMAIS E NÃO FORMAIS NO APRENDIZADO DE LÍNGUA PORTUGUESA Hercules Guimarães Honorato (Escola Naval) RESUMO Esta investigação versa sobre a imigração temporária de jovens estrangeiros que estudam na Escola Naval, instituição que promove a formação superior dos oficiais da Marinha do Brasil. Este estudo é de cunho qualitativo, com pesquisa documental exploratória inicial e contou com os dados obtidos sobre os alunos estrangeiros do Estágio de Nivelamento turma 2013. É apresentado uma análise dos dados coletados: entrevista com a docente e a avaliação didática da disciplina de língua portuguesa, ministrada também em espaços não escolares de conhecimento. Foi verificado que os alunos reconhecem a dificuldade da barreira do idioma, principalmente quando deverão ser expostos no curso acadêmico regular. Saber uma língua é adquirir competências para se expressar adequadamente em qualquer situação. Implica também conhecer a cultura do país, entender o “espírito” dos povos que a aprenderam como língua materna. Palavras-chave: Escola Naval. Estudantes Estrangeiros. Língua portuguesa. AUTORIAS INFANTIS COMO HORIZONTE DE POSSIBILIDADES NA PRÁTICA ESCOLAR Katia Ferreira Moreira (UERJ – FFP SME/Rio de Janeiro/ GEPPAN) Denise Lima Tardan (SME/Rio de Janeiro/CAp-UERJ/GEPPAN RESUMO Este trabalho pretende compartilhar reflexões tecidas a partir de uma experiência vivida com alunos de duas turmas de alfabetização de uma escola pública na cidade do Rio de Janeiro No desafio de pensar a prática escolar de outro modo, como horizontes de possibilidades, onde a produção de conhecimento se dá a partir de perguntas e interesses infantis, assumimos, neste trabalho, os estudos com o cotidiano como possível metodologia de investigação. Para tanto, defendemos a ideia do trabalho com projetos de pesquisa, acreditando que pesquisa é uma atividade realizada não apenas no espaço acadêmico, socialmente reconhecido e legitimado, mas vivida cotidianamente na escola. A discussão desta experiência permite ainda, buscarmos compreender aspectos da construção da leitura e da escrita como prática discursiva e dialógica (Smolka,1993). Palavras-chave: alfabetização, projetos de pesquisa, prática dialógica AVALIAÇÃO SOB O OLHAR DE FUTUROS PROFESSORES ENFERMEIROS Carolina Valeriano Testi (UNICAMP) Maria Helena Salgado Bagnato (UNICAMP) Thiago Eduardo de França (UNICAMP) Ana Paula Nagaoka (UNICAMP) Claudia Cândido da Silva (UNICAMP) RESUMO Estudo qualitativo sobre a concepção de avaliação de 30 alunos de licenciatura de enfermagem, tendo como objetivo identificar as avaliações vivenciadas na sua trajetória universitária e suas 72 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades propostas de avaliação enquanto futuros professores. A coleta de dados ocorreu por meio das respostas a um questionário, analisadas de acordo com Bardin, onde emergiram três categorias: A. Compreensão de avaliação; B. Instrumentos utilizados na graduação pelos professores para avaliação e C. Como você, futuro professor avaliaria seus alunos. Assumir uma atitude dialógica e dialética de avaliação pode colaborar na formação de maneira mais inclusiva e crítica, papel que queremos construir nas práticas de cuidados em saúde. Palavras-chave: avaliação, ensino-aprendizagem, graduação enfermagem. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ALGUNS DIZERES DO, NO, EM CAMPO Douglas Tomácio Lopes Monteiro – UFJF Igor Ramon Lopes Monteiro - UFMG Luciano Nascimento Corsino – UNIFESP RESUMO O presente trabalho surgiu como resultado de pesquisas feitas no interior de uma escola na periferia de Belo Horizonte. Através da imersão no ambiente escolar, bem como do diálogo com pensadores diversos, buscou-se entender os saberes que permeiam a prática da educação física nas escolas, neste caso nos anos iniciais do ensino fundamental. Nesse exercício, se fizeram proeminentes as perspectivas dos sujeitos envolvidos em todo o processo e a relação destas com os pareceres legais que norteiam a referida disciplina. Além disso, como importantes focos de análise, também estão o currículo e a prática docente. Em suma, o trabalho, sob uma abordagem qualitativa, de caráter etnográfico, evidencia o cotidiano escolar, trazendo à tona o os sujeitos nele inseridos e levantando a problemática do ensino na educação física, disciplina ainda marginalizada na escola. Palavras-chave: Educação-física. Prática docente. Cotidiano escolar. EDUCAÇÃO MUSEAL: O CARÁTER PEDAGÓGICO DO MUSEU NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Isla Andrade Pereira de Matos (PUCCAMP) RESUMO O governo brasileiro, por intermédio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), está desenvolvendo uma Política Nacional de Educação Museal (PNEM) com o propósito de fortalecer esse campo profissional, garantindo as condições necessárias para que sejam realizadas as práticas educacionais nos museus. Acompanhando o desenvolvimento dessa proposta, o presente trabalho discute o caráter pedagógico do museu, que envolve a análise da função do museu e sua relação com a memória. Ao se compreender a exposição museológica como documento histórico, defende-se a realização de visitas com planejamento e de forma processual (se iniciando na escola, partindo para o museu e finalizada novamente na sala de aula), de modo a permitir a construção do conhecimento por meio da educação museal. Palavras-chave: Museu; Educação museal; Exposição museológica. 73 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades LÍNGUA ESCRITA E SURDEZ: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIDAS EM ESCOLA ESPECIAL DE ORIENTAÇÃO BILINGUE Michelle Melina Gleica D. P. N. Pereira (PUCSP) RESUMO Este estudo teve como objetivo investigar e analisar as práticas de ensino utilizadas no ensino da língua portuguesa escrita, em escolas especiais de orientação bilíngue, para educação dos surdos. Para tanto, o procedimentos de coleta de dados utilizado foi a observação de uma classe do quinto ano do ensino fundamental I, de escola especial para alunos surdos, realizada entre Fevereiro e Maio de 2011. Os dados coletados foram analisados com base nas contribuições de Vygotsky (2000, 2005), Ferreiro (2001) e Soares (2009 e 2010). O estudo evidenciou que as atividades didáticas desenvolvidas, que envolviam o uso da língua portuguesa escrita, não favoreceram a sua apropriação, na medida em que a relação estabelecida entre a língua de sinais e portuguesa escrita empobreceu o conhecimento linguístico dos alunos e, o processo de ensino da linguagem escrita se apresentou como codificação da língua de sinais. Palavras-chave: Práticas pedagógicas. Escrita. Surdos. NARRATIVA DE UMA PROFESSORA-ESCRITORA: PRÁTICAS DE REGISTRO Eliana de C. M. Lisboa (PUC Campinas) RESUMO Na condição de professora e escritora de literatura infantil pretendo narrar aspectos da minha trajetória profissional e pessoal. O desejo de escrever histórias infantis teve origem na minha prática pedagógica de registro. Práticas alternativas de registro formam criadas para atender um questionamento fundamental: como registrar o trabalho e as vivências na educação infantil? Esta pergunta e as formas alternativas de documentação do trabalho pedagógico abriram uma possibilidade de narrar as histórias de crianças reais em forma de literatura infantil. Palavras-chave: Registro, escuta e literatura. O ENSINO DE FILOSOFIA: A PROCURA POR UMA DIDÁTICA DE RESULTADO Aparecido Gomes Leal - Instituto de Ensino Superior de Americana (IESA) RESUMO O ensino de filosofia no Ensino Médio tornou esta disciplina importante ferramenta para os alunos em sua formação básica educacional, talvez pelo caráter eminentemente provocador, instigante, crítico e interdisciplinar que é seu aspecto mais reconhecido. Além disto, contudo, ensinar filosofia para alunos tão jovens é um grande desafio para os professores desta área do conhecimento. Muitos, porém, se incomodam exatamente com este caráter questionador que mobiliza os educandos a pensar e problematizar tudo à sua volta, inclusive eles mesmos, daí que é grande a responsabilidade e o desafio dos professores, sendo que a formação dos mesmos precisa estar solidificada e amparada na extensa literatura filosófica para os debates e questionamentos em sala de aula. Estes, dentre outros aspectos serão abordados nesta comunicação. Palavras-chave: Ensino, filosofia, didática. 74 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O PROGRAMA LER E ESCREVER E O BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO Ana Carolina Torres Vespoli (PUC-Campinas) Elvira Cristina Martins Tassoni (PUC-Campinas) RESUMO O Programa Ler e Escrever é uma política do estado de São Paulo que teve seu início em 2007 e tem como metas: alfabetizar todos os alunos até os oito anos de idade (3º ano do ensino fundamental), atuar na formação e capacitação de professores e elaborar e distribuir materiais didáticos. Diante desse contexto, a presente pesquisa tem como objetivo compreender a composição e a organização do material didático disponibilizado para as instituições de ensino que aderiram ao Programa Ler e Escrever. Em vista de atender tal objetivo, a metodologia utilizada é a análise documental do material didático do Programa referente ao bloco de alfabetização (1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental). Espera-se que esta pesquisa proporcione maiores esclarecimentos para os profissionais da educação que utilizam esse material como uma ferramenta para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. Palavras-chave: alfabetização; material didático; Programa Ler e Escrever. O PROGRAMA LER E ESCREVER NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: IMPRESSÕES DA PROFESSORA E DOS ALUNOS Tatiana Cristina dos Santos (PUC-Campinas) E. Cristina Martins Tassoni (PUC-Campinas – PPGE) RESUMO Este trabalho tem como escopo apresentar o uso do material didático do Programa de Ler e Escrever em uma sala de primeiro ano do Ensino Fundamental (EF). O Ler e Escrever se caracterizada como um Programa em prol da melhoria da qualidade da alfabetização nos primeiros anos do EF. Para tanto, o programa conta com um sistema de formação e, em especial, com a distribuição de materiais didáticos para subsidiar o trabalho pedagógico em sala de aula. As observações foram realizadas em uma escola de Região Metropolitana de Campinas (RMC) em dias específicos de utilização do material pesquisado. Foram entrevistados também a professora da sala e os alunos a respeito de suas impressões sobre a proposta do Ler e Escrever. Os resultados e considerações sinalizaram uma melhor compreensão sobre como se efetiva o material estudado em sala de aula e como é organizada a prática pedagógica e os fatores implicados a ela. Palavras-chave: alfabetização; material didático; trabalho pedagógico. OS TATEIOS DO PROFESSOR - DA LEITURA A ESCRITA Helen Cristine Bido Brandt Delloso (Unimep) Marcia Regina de Oliveira Savian (Unimep) RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar, uma análise sobre a produção de ensino materializada na sala de aula pela mediação da linguagem. O trabalho ancora-se teoricamente na perspectiva 75 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades histórico-cultural do desenvolvimento humano Vigotski (1989, 2003) articulada aos estudos de Bakhtin (2003, 2004) no campo da semiótica. Articular o trabalho docente ao processo de pesquisa é uma opção metodológica, pois, permite analisar as práticas de ensino de língua bem como os processos de significação acerca da produção de textos privilegiando um olhar não somente para as atividades desenvolvidas, mas para as relações que se estabelecem entre os sujeitos inseridos na dinâmica interativa. Os dados produzidos evidenciam que a mediação da professora, no trabalho de produção, elaboração e reelaboração de textos escritos, possibilitam melhora significativa em suas produções escritas. Palavras-chave: leitura, escrita, mediação. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS: ALGUNS LEGADOS PARA O SÉCULO XXI Cileda Perrella (FEUSP e FZP) RESUMO A partir de um recorte da tese de doutorado que, na perspectiva de pesquisa qualitativa (TRIVIÑOS,1987), tratou da formação e participação política de conselheiros de escola, neste texto apresentamos algumas experiências que demonstram a relevância da formação política desenvolvida na educação popular e não formal. Nelas, percebe-se que a questão dos direitos une as pessoas em torno da preocupação de se constituir um espaço coletivo que possibilite jogos democráticos em que se manifestem diferentes vozes; em que as ações do Estado e a luta pelos direitos da sociedade civil desencadeiem participação e formação política. O objetivo é trazer elementos para o debate sobre a importância dessa participação e formação em diferentes espaços da sociedade. Nessas experiências, assinala-se uma formação voltada para o desenvolvimento do potencial de governante que todo cidadão possui, no sentido de prepará-lo para acompanhar e controlar as ações do Estado. Palavras Chave: direitos, participação política, aprendizagens. PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O INGRESSO NA “NOVA ESCOLA”: REFLEXÕES E AÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Adriana Zampieri Martinati (PUCC) Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da Rocha (PUCC) RESUMO O Ensino Fundamental de nove anos é um fato recente na legislação brasileira e preceitua que a transição da Educação Infantil (EI) para o Ensino Fundamental (EF) ocorra sem rupturas, pois toda mudança incide sobre o desenvolvimento biopsicológico da criança. Todavia, sabe-se que nas práticas escolares não costumam predominar ações aos processos psicológicos implicados no ingresso das crianças em novas escolas e ocupados em ouvi-las. Assim, o objetivo deste trabalho é refletir sobre a percepção das crianças de EI sobre o ingresso na nova escola e analisar as práticas pedagógicas relativas a essa passagem por meio de observação participante, análise documental, entrevistas e desenho. Os resultados indicaram a inexistência de um trabalho pedagógico voltado à transição escolar, ressaltando a importância do diálogo entre as escolas de EI e EF e investimentos na formação continuada privilegiando a voz infantil e o brincar. Palavras-chave: Educação Infantil; Ensino Fundamental; Transição escolar. 76 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM LÍNGUA PORTUGUESA – O COTIDIANO DE AULAS PARTICULARES Ana Letícia Vieira (UERJ) Carlos André de Castro Pérez (UFRJ) RESUMO O trabalho surge da necessidade de estudar o cotidiano de aulas particulares oferecidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde Ana Letícia é a professora e André, o aluno. O objetivo principal deste trabalho é apresentar uma prática educativa em que tentamos subverter lógicas tradicionais de ensino/aprendizagem em Língua Portuguesa. Para isso, utilizamos como metodologia os estudos nos/dos/com os cotidianos (Alves, 2008). Tentamos subverter a lógica que superioriza a teoria e inferioriza a prática, produzindo textos e a partir deles trabalhando com as teorias da Língua Portuguesa. Pensando em uma relação prática-teoria-prática (Alves, 2008) tecemos conhecimentos e compartilhamos saberes nesse movimento constante de ensinar/aprender que perpassam nossas vidas e o cotidiano de nossas aulas. Assim, este trabalho potencializa um processo de aprendizagem mais questionador, democrático, prazeroso e dialógico. Palavras-chave: Língua portuguesa, cotidiano, práticas educativas. 77 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 78 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A IMPLEMENTAÇÃO DO PROEJA/PROEJA-FIC NO IFSP Carolina Machado d´Avila (UNICAMP) RESUMO A pesquisa pretende analisar a implementação do Decreto 5.840/2006, que institui o Programa Nacional da Educação Profissional com a Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP, sob a ótica do ciclo de políticas. O PROEJA, programa, que prevê a formação profissional de jovens e adultos simultânea à formação escolar, foi implementado nos câmpus mais antigos do IFSP, mas não acompanhou a ampla expansão ocorrida a partir de 2009. A metodologia utilizada será o estudo de caso e, através de levantamento bibliográfico, documental e entrevistas com os principais atores desse processo, espera-se caracterizar o programa e identificar os motivos que impediram a expansão do PROEJA para os novos câmpus do IFSP. Palavras-chave: Educação de jovens e adultos. Educação profissional. PROEJA. A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO EM CICLOS E A IMPLANTAÇÃO DA PROGRESSÃO CONTINUADA: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA Marina Brunherotti (UFSCar) Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes (UFSCar) RESUMO Esta pesquisa tem como tema a concepção de estudantes de pedagogia sobre ciclos e progressão continuada no estado de São Paulo. O objetivo geral da pesquisa consiste em fazer um levantamento com os estudantes do 4º ano do curso de pedagogia de uma universidade pública do estado de São Paulo, verificando qual a concepção destes em relação à progressão continuada. A coleta de dados será realizada por meio da aplicação de questionários e realização de entrevistas semiestruturadas coletivas com estudantes voluntários que aceitem participar da pesquisa. Os dados serão analisados por meio de um referencial crítico-dialético. Espera-se que os resultados da pesquisa possam oferecer um panorama geral sobre a concepção dos estudantes de pedagogia em relação à progressão continuada, buscando contribuir com as reflexões sobre a qualidade da sua formação e possibilidades de atuação no contexto de ciclos e de progressão continuada. Palavras-chave: Progressão Continuada; organização do ensino em ciclos; qualidade do ensino superior. 79 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ORIENTAÇÃO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS REFORMAS EM CURSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS Katya Lacerda Fernandes (UFT) Rosilene Lagares (UFT) RESUMO No presente artigo, discutiremos sobre o processo de orientação da gestão municipal da educação na atualidade como parte dos desdobramentos da reforma estatal implementada na última década do século XX. Nesse sentido, e em consonância com o referencial teórico utilizado, defendemos o pressuposto de que para compreender a atual configuração da gestão municipal da educação faz-se necessário altercarmos sobre o imbricamento das políticas educacionais aos desdobramentos da reforma do Estado. Por entendermos a indissociabilidade existente entre a gestão municipal da educação e os desdobramentos da reforma estatal da década de 1990, utilizou-se a pesquisa de natureza qualitativa, e como instrumento teórico-metodológico, a pesquisa bibliográfica. Com base na análise realizada, pontuamos que esse processo vem sendo orientado pela perspectiva gerencial o que tem implicado à ressignificação das políticas públicas. Palavras-Chave: Reforma Estatal. Políticas Públicas Educacionais. Gestão Municipal. ACESSO E EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Suzana Cristina Andrade de Souza - Universidade Cidade de São Paulo Celia Maria Haas - Universidade Cidade de São Paulo RESUMO Esta pesquisa investiga a evasão discente escolar em uma Instituição Pública de Educação Superior do Município de Guarulhos buscando verificar se há relação entre o processo de ingresso - ação afirmativa ou ampla concorrência - dos alunos com o abandono dos estudos. O estudo será realizado em um curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e um curso de Licenciatura em Matemática da Instituição, com alunos evadidos entre os anos de 2008 e 2010. O propósito da pesquisa é ouvir aos alunos evadidos para conhecer as razões da escolha de um curso superior tecnológico ou de licenciatura de uma determinada Instituição de Ensino e levantar os motivos que provocaram a desistência. Palavras-chave: Evasão, Educação superior, Ação afirmativa. ANÁLISE DAS MATRÍCULAS DE ALUNOS PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS ÚLTIMOS 5 ANOS (2008 – 2012) Vanessa Dias Bueno de Castro (UNESP) Maria Júlia Canazza Dall’Acqua (UNESP) RESUMO Esta pesquisa, que está em desenvolvimento, tem como objetivo analisar o quadro de matrículas de alunos público-alvo da educação especial através dos dados das sinopses estatísticas dos censos 80 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades escolares nos últimos 5 anos (2008 – 2012), após a mudança na política educacional em 2008, quando a educação especial passou a ser compreendida na perspectiva da educação inclusiva. Palavras-chave: educação especial, política educacional, censo escolar. COTAS NA UNIVERSIDADE: DO ACESSO À LUTA POR RECONHECIMENTO Catia Piccolo Devechi (UnB) Gionara Tauchen (FURG) Isabela Pandolfo Leusin Abrahão (FURG) Fabíola Machado Guedes (FURG) Lara Torrada Pereira (FURG) Larissa Rodrigues de Oliveira (FURG) RESUMO No ano de 2013, em virtude da Lei n. 12.711/2012, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) implementou a reserva de 30% do total das vagas oferecidas, considerando os critérios de renda e étnico-raciais, representando o ingresso de 694 estudantes distribuídos entre os 53 cursos oferecidos. Este estudo objetiva analisar o impacto das políticas de cotas na formação de professores e a permanência dos estudantes nos cursos de licenciaturas, articulando a formação universitária com as políticas de reconhecimento do outro. A partir da análise quantitativa dos dados dos ingressantes, evidenciou-se que a desigualdade socioeconômica é um dos fatores de maior influência no acesso à universidade, o que demandaria a promoção de políticas que garantissem a permanência dos mesmos. Palavras-chave: Ação afirmativa. Política de cotas. Universidade. CRIANÇAS DE QUATRO ANOS DE IDADE NA ESCOLA: O QUE ISSO REPRESENTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL? Rafaela Marchetti (UFSCar) Maria Cecília Luiz (UFSCar) RESUMO Esse estudo tem como objetivo analisar a Lei 12.796/13 (BRASIL, 2013) e como a obrigatoriedade de crianças a partir de quatro anos de idade vêm modificando a realidade da Educação Infantil (EI) no Brasil. A hipótese é que essa obrigatoriedade tem propiciado mudanças e características que antes não eram percebidas na EI. Está sendo feito um levantamento bibliográfico, sobre a temática, com vistas a estudar vários referenciais teóricos, bem como as políticas públicas educacionais promulgadas para a primeira infância. Existe uma parte empírica que está sendo realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com gestores, docentes, funcionários e familiares com filhos nessa faixa etária, em escolas municipais da cidade de São Carlos. O propósito é investigar suas percepções quanto às mudanças desta Lei na vida escolar dessas crianças pequenas. Palavras Chaves: Educação Infantil; Política Educacional; Obrigatoriedade Escolar. 81 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MAIS TEMPO DE ESCOLA: ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DOS ALUNOS PARTICIPANTES DE UM PROJETO DE AMPLIAÇÃO DE JORNADA ESCOLAR Tatiana Ribeiro dos Santos Esteves (FFP UERJ) RESUMO Esta pesquisa se insere nos estudos da linha de pesquisa Políticas, Direitos e Desigualdades, do Mestrado em Educação da UERJ. Trata-se de uma pesquisa em andamento, sobre um projeto de ampliação de jornada realizado em uma escola da rede pública do município de Niterói, que se desenvolveu a partir da questão: que resultados as atividades de ampliação de jornada escolar trazem à escola e aos alunos? Para responder a esse questionamento, foi definido como objetivo geral investigar o desempenho escolar de alunos do ensino fundamental regular, que permaneceram três anos em ampliação de jornada. Em termos metodológicos, a pesquisa se constitui em um estudo de caso instrumental e as referências teóricas de suporte utilizadas sobre ampliação de jornada são os estudos de CAVALIERE (2002, 2009, 2012), COELHO (2009), MAURÍCIO (2009, 2012); e com relação aos indicadores educacionais, os estudos de BROOKE (2008) e LAHIRE (1997). Palavras-chave: ampliação de jornada escolar; indicadores educacionais; políticas públicas. MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE OS COMPONENTES CURRICULARES André Martins Alvarenga (UNIPAMPA) Daniele Simões Borges (FURG) Gionara Tauchen (FURG) Maria Helena Machado de Moraes (FURG) Melina Terra dos Santos (FURG) Ludmila Soares Acosta (FURG) Gessana Damasceno Gomes (FURG) Nadine Silva dos Santos (FURG) Jusélia Paula da Silva (FURG) RESUMO O presente estudo apresenta os resultados iniciais de um estudo sobre os mestrados profissionais na Área do Ensino, o qual objetivou investigar os componentes curriculares que integram as propostas dos cursos voltados ao Ensino de Ciências e Matemática. O estudo foi realizado por meio da abordagem de Métodos Mistos e Análise de Conteúdo. Os resultados sinalizam forte ênfase nos estudos disciplinares, nas didáticas específicas e nos fundamentos epistemológicos e sóciohistóricos. Palavras-chave: Mestrado Profissional. Ensino. Componentes curriculares. 82 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) EM SÃO BERNARDO DO CAMPO: O AEE PESSOA COM SURDEZ Elaine Cristina Paixão da Silva (USP) Cássia Geciauskas Sofiato (USP) RESUMO A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva propõe a substituição das escolas especiais pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE), conforme a Resolução CNE/CEB nº 4 de 2009 para os alunos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. A rede de ensino de São Bernardo do Campo (SP), a partir desta Resolução, estabeleceu o encerramento gradativo das escolas especiais, propondo o AEE e promovendo mudanças na organização da Educação Especial, inclusive no trabalho de seus professores. O objetivo desse trabalho é o de contribuir com a reflexão acerca do AEE pessoa com surdez no município de São Bernardo do Campo e delinear a sua forma de constituição, considerando a perspectiva da educação inclusiva. Trata-se de uma pesquisa em andamento, com abordagem qualitativa e de cunho bibliográfico e documental. Palavras- chave: Atendimento Educacional Especializado, educação de surdos, educação inclusiva. O DELINEAMENTO DO CURRÍCULO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: ANÁLISE DE SALAS DE APOIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Lisiane Fonseca Diogo (USP) Rosêngela Gavioli Prieto (USP) RESUMO O atual atendimento de alunos/as com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no município de São Paulo é regido pelo Decreto nº 51.778 de 2010, o qual estabelece a inclusão social e escolar desse alunado, por meio do Programa Inclui. Neste documento destaco a organização de salas para o atendimento educacional especializado, destinadas ao apoio pedagógico em caráter complementar ou suplementar em todas as áreas da educação especial. A pesquisa em andamento, de natureza qualitativa, apresenta como principal objetivo compreender como está previsto o currículo nestas salas. Para tanto, sistematizou preliminarmente um referencial bibliográfico teórico, este que fundamentará a etapa de realização de entrevistas e questionários junto aos organizadores do currículo da educação especial da capital paulista e; seleção amostral de salas de apoio para observação. Desse modo, espera-se ampliar a compreensão das propostas políticas e curriculares para o atendimento educacional especializado. Palavras-chave: Política de Educação Especial. Atendimento Educacional Especializado. Currículo. 83 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUA UTILIZAÇÃO PELO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA Priscila de Paulo Uliam (UFSCar) Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes (UFSCar) RESUMO O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica é fonte de muitas discussões que se estabelecem sobre a estrutura das avaliações, sobre os itens considerados para sua formulação (fluxo e desempenho), sobre sua ligação com o estabelecimento de políticas públicas neoliberais e sobre as implicações das divulgações dos dados de desempenho para a escola. Neste contexto, o trabalho tem como objetivo levantar reflexões acerca dos princípios norteadores da “Prova Brasil”, da “Provinha Brasil” da dimensão dos dados apresentados e da relevância da utilização dos dados do INEP dentro das escolas como ferramenta para auxiliar o trabalho docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em especial, durante o período de alfabetização. Palavras-chave: Prova Brasil, Provinha Brasil, SAEB. PERFIL DOS JOVENS E ADULTOS QUE CERTIFICAM O ENSINO MÉDIO ATRAVÉS ENEM NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS E O CICO DE POLÍTCA DO EXAME. Wilmara Alves Thomaz (USP) RESUMO O sistema educacional brasileiro é perpassado pela evasão e o fracasso escolar. Estes alunos evadidos da escola, anos mais tarde, recorrem aos cursos de educação de Jovens e adultos (EJA) ou aos exames de certificação como, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), por acreditarem que terão em mãos um passaporte para o mundo do trabalho e a cidadania. Esta pesquisa pretende compreender as razões que levam jovens e adultos a certificarem o ensino médio EM através do ENEM e analisar o ciclo de política do exame. A Metodologia empregada será a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Espera-se trazer luz a interpretação deste ciclo de política e colaborar para a elaboração de novas pesquisas na área capazes de traçar ações realmente inclusivas e possam proporcionar ao jovem e ao adulto a conquista plena da sua cidadania. Palavras-chaves: evasão escolar, educação de jovens e adultos, certificação. PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: DESAFIOS DAS CONDICIONALIDADES EM EDUCAÇÃO SOB AS PERSPECTIVAS DOS PROFESSORES DE CAMPINAS (SP) Daniela Fernanda Flores (PUC Campinas) Prof. Dr. André Pires (PUC Campinas) RESUMO O Programa Bolsa Família (PBF), instituído em 2003, é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, destinado a beneficiar famílias de baixa renda existentes no país. Na área educacional, a exigência mínima mensal de frequência escolar é de 85% para as crianças entre 6 e 15 anos, e 75% para adolescentes entre 16 e 17 anos. Trabalhos acadêmicos colocam em 84 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades questão a efetividade da exigência das condicionalidades, na área da educação. A pesquisa tem por finalidade compreender quais são as percepções dos professores de uma escola pública do município de Campinas (SP) quanto à importância desse programa para o enfrentamento da pobreza por meio da frequência escolar. O trabalho está sendo desenvolvido por meio de pesquisas bibliográficas e será voltado para a organização dos múltiplos significados que surgirão a partir das entrevistas semiestruturadas com os professores. Com a pesquisa, espera-se melhor compreensão de uma política de transferência. Palavras-chave: Programa Bolsa Família. Educação. Política Pública. PROVA BRASIL, SARESP E A CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA Bruna Colombo (PUCCAMP) RESUMO As avaliações em larga escala da Educação Básica, centradas em exames de desempenho dos alunos, têm sido utilizadas para monitoramento da qualidade da educação por meio da geração de indicadores de qualidade. O presente trabalho é um recorte da dissertação de mestrado “Prova Brasil e Saresp:um estudo sobre o impacto na construção da qualidade da educação em escolas públicas estaduais do município de Campinas”. Tal recorte tem como objetivo apresentar o contexto das avaliações em larga escala no Brasil, bem como o problema que emergiu desse cenário, acompanhado dos procedimentos metodológicos para o desenvolvimento da pesquisa, cuja abordagem predominante é qualitativa. Pretende-se com essa pesquisa contribuir para os educadores refletirem sobre as avaliações em larga escala e as implicações para a qualidade da educação básica do estado de São Paulo. Palavras-Chave: políticas públicas em educação; avaliação em larga escala; qualidade da educação PROVINHA BRASIL: REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Daniele L. Appolinário (PUC Campinas) RESUMO A Provinha Brasil constitui uma avaliação em larga escala distribuída pelo governo federal, a partir de 2008, para ser aplicada em crianças do segundo ano do ensino fundamental que frequentam escolas públicas. A presente pesquisa, em andamento, tem como objetivo investigar as repercussões da Provinha Brasil nas práticas curriculares da educação infantil, em escolas municipais do interior de São Paulo, segundo a percepção de professores e gestores. Em uma abordagem qualitativa, definiu-se como técnicas de coleta de dados a análise documental, observação, entrevistas semiestruturada e grupo focal, tendo como sujeitos a equipe de gestão e as professoras, respectivamente, de duas escolas pesquisadas. Espera-se com este estudo contribuir para as reflexões sobre as políticas públicas de avaliação e sua repercussão no currículo da educação infantil, primeira etapa da educação básica. Palavras-Chave: Políticas Públicas em Educação; Provinha Brasil; Educação Infantil. 85 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades REFLEXÕES E DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Vanessa Cristina Dias de Souza (PUC Campinas) RESUMO A Lei 10639/03 que torna obrigatório o Ensino de História da África na Educação Básica completou este ano 10 anos e o que se observa ainda é a dificuldade na sua implantação, visto que no período do Estágio Docente que realizei tive a oportunidade de investigar e intervir na realidade de algumas Unidades Escolares, com base na referida lei. Diante destas reflexões o presente texto apresenta a organização prévia do Trabalho de Conclusão de Curso que tem como objetivo responder a seguinte pergunta: quais as reflexões e os reais desafios emergentes na implantação da Lei 10639/03 no cotidiano escolar, a partir de reflexões e experiências no Estágio Docente? Além de ter a preocupação em desenvolver a prática da pesquisa acadêmica, o pano de fundo deste trabalho é a contínua busca pela diminuição do preconceito e da discriminação racial na sociedade. Palavras-chave: política educacional, cultura afro-brasileira, Lei 10639/03. SENTIDOS DE QUALIDADE NO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA EDUCAÇÃO Lívia Farias (UFRJ) RESUMO Esta proposta contém resultados parciais da pesquisa de dissertação em andamento e tem como foco de análise os discursos produzidos pelos organismos internacionais influentes na definição de políticas curriculares relacionados à introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no espaço escolar. Para tal analiso os textos “Metas educativas 2021” (2010) “Miradas sobre la educación”(2011) e “Padrões de competência em TIC para professores: UNESCO” (2008), produzidos pela OEI e Unesco, respectivamente. Entendo que mais do que influenciar no aumento da produção de políticas que advogam o uso das TIC nas escolas, esses organismos produzem diferentes sentidos para o significante qualidade da educação. Este trabalho está orientado pela teoria do discurso de Ernesto Laclau para a análise do conceito de hegemonia e demandas. Palavras-chave: Política curricular; TIC; Organismos Internacionais; TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS VISANDO À FORMAÇÃO DOCENTE Ingrid Julliane Freires Sartori Barbosa (PUC Campinas) RESUMO O presente trabalho pretende estudar as políticas públicas relacionadas ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no âmbito escolar, considerando a relação decorrente dos professores com as TIC utilizadas nas escolas e o processo de formação inicial e continuada dos mesmos. Diante da evolução das tecnologias na sociedade e consequentemente de sua inserção nas instituições educacionais, surgiu o questionamento em torno das atuais medidas e ações 86 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades governamentais para que, de fato, ocorra essa inclusão digital. Então, a partir de levantamentos de dados foi desenvolvido um aporte teórico das Políticas Públicas adotadas pelo Governo Federal, Estadual de São Paulo e Municipal de Campinas, para promover a inclusão das TIC no processo educativo, enfocando nos programas que visam à formação docente na área tecnológica. Palavras-chave: Políticas Públicas; Formação Docente; Tecnologia da Informação e Comunicação. UMA GERAÇÃO NEM TÃO PERDIDA ASSIM: A CONSTRUÇÃO DA ÉTICA, DA PLURALIDADE E DA SEXUALIDADE ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PÚBLICO Beatriz Gandini de Souza - UNESP Nelson Pedro Silva - UNESP Aline Marques Belluci - UNESP RESUMO Estamos desenvolvendo ação psicopedagógica junto a alunos de Ensino Médio, cujo fim é o de contribuir para que eles construam saberes relacionados à ética, à diversidade e à sexualidade e à orientação sexual. Fomos movidos a realizar o citado estudo, por termos verificado, entre outros aspectos, a prioridade que os jovens têm dado a formas de glória; o individualismo; a conduta de consumismo; a intolerância; o desinteresse pelos estudos escolares; as queixas dos docentes; o apreço à incultura e as relações interpessoais efêmeras. Objetivamos, sobretudo, coordenar, organizar e preparar atividades que tenham por fim auxiliar os alunos do Ensino Médio à construção de saberes acerca dos temas transversais. Trabalhamos com nove alunos, de ambos os sexos, do 1º ano do Ensino Médio de uma escola pública de Assis (SP), com idade média de 15 anos e de nível socioeconômico C. Desenvolvemos com eles ateliês semanais, com 1h30. Tais encontros consistem em espaço de circulação de discursos. A atuação dos executores é a de viabilizar a elaboração de linguagens não trabalhadas pela escola e por outras agências educativas. Até o presente, verificamos que os sujeitos têm pouco conhecimento sobre temáticas atuais. Segundo relatos, eles manifestam desinteresse em conhecê-las, salvo assuntos atinentes ao mundo showbusiness, b) eles são críticos quanto às condutas contrárias às de honestidade e às de justiça. Contudo, que eles apresentam amiúde atitudes injustas e mesquinhas; c) mostram-se preconceituosos e d) apresentam dificuldades de relação entre eles e com a família. Enfim, estimamos que a referida intervenção possibilitasse o vínculo entre os membros do grupo e entre eles e os executores. Contatamos também que houve contribuição para o desenvolvimento ético, já que eles têm buscado colocar-se um no lugar do outro, além de refletirem sobre a condição das pessoas excluídas ou vítimas de violência. Palavras-chave: Ética, Sexualidade, Ensino Médio. 87 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O POTENCIAL EMANCIPATÓRIO DO CONSELHO ESCOLAR NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO PAPEL DA COMUNIDADE Maria do Socorro Silva Cavalcante (UFPB) Maria Creusa de Araújo Borges (PPGE/PPGCJ/UFPB) Geonara Marisa de Souza marinho (UFPB) RESUMO Este trabalho é resultado dos estudos referentes à pesquisa realizada no PPGE/UFPB, na área de Políticas Educacionais, cujo objeto focaliza o conselho escolar e a possibilidade de democratização da gestão da escola pública: o papel da comunidade. A pesquisa tem como objetivo apreciar o conselho escolar como um instrumento político de fortalecimento da gestão democrática da escola pública, a partir da atuação da comunidade. Com aporte na abordagem proposta por Santos (2010; 2011), parte-se do pressuposto que o conselho escolar constitui uma possibilidade de democratização da gestão, ainda não devidamente explorada, na perspectiva do pilar regulação comunidade e do conhecimento emancipação. A pesquisa aponta a necessidade de revalorização do conselho, com ênfase no papel da comunidade na ótica da emancipação dos sujeitos. Palavras-chave: Conselho escolar. Comunidade. Conhecimento emancipação. A AFETIVIDADE NO PROCESSO EDUCACIONAL: A AFEIÇÃO BOA E MÁ Laís Pereira de Mello (PUC Campinas) Samuel Mendonça(PUC Campinas) RESUMO O presente manuscrito discute a afetividade no processo educacional de aprendizagem. Parte-se do conceito do termo afeto e afeição segundo dicionários de filosofia. A pergunta que se pretende discutir ao longo do texto está assim formulada: o que justifica uma relação afetiva quando não há afetividade no processo educacional? Três textos são analisados com o objetivo de questionar a possibilidade de haver lado negativo do afeto, partindo da pergunta, que ocasionará a reflexão de o que justifica uma relação afetiva quando não há aprendizagem. O método utilizado refere-se à revisão da literatura com ênfase em artigos publicados em revistas qualificadas. Palavras-chaves: Afetividade, afeto, aprendizagem. 88 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ESCOLHA DO ENSINO TÉCNICO ENTRE FILHOS DE FAMÍLIAS DE CAMADAS POPULARES Mariana Simões Ferreira Cintra (USP - Bolsista CAPES) Geraldo Romanelli (USP) RESUMO Esta pesquisa, que está em desenvolvimento, tem como objetivo investigar a relação entre vivências familiares e o ingresso de adolescentes no ensino técnico integrado ao ensino médio e como se articulam as aspirações e expectativas de pais e filhos quanto a essa modalidade de escolarização. Palavras-chave: família; processo de escolarização; ensino técnico. A RELAÇÃO EPISTEMOLÓGICA ENTRE OS CONCEITOS DE FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE Cristiane Regina Araujo – PUC Campinas RESUMO Este trabalho discute, à luz dos fundamentos da educação, os conceitos de filosofia e de interdisciplinaridade. Embora consagrados no campo acadêmico, este conceitos apresentam significativa importância para a formação de professores, da mesma forma que para as práticas educacionais, então, de forma tácita, o texto pretende explorar algo que é fundamental no campo da educação, isto é, a questão da filosofia. O método diz respeito à revisão da literatura, e o contato com clássicos como Martin Heidegger justifica a investigação. Outros comentadores foram utilizados e, em relação ao conceito de interdisciplinaridade, Thiesen e Fazenda foram as bases teóricas. Os resultados almejados evidenciam a necessidade de contínua retomada da filosofia, seja para a formação de conceitos, seja para, principalmente, pensar a interdisciplinaridade como base fundamental da construção dos projetos político pedagógicos. Palavras chave: Filosofia, Interdisciplinaridade, relação. FILOSOFIA, EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE: OS MOVIMENTOS DO AMOR E AS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO HUMANA NA ATUALIDADE Nyrluce Marília Alves da Silva – UFPE RESUMO O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de doutorado em andamento e objetiva problematizar, desde uma perspectiva teórica-empírica problematizar como a articulação entre eros e conhecimento pode se configurar em uma relação estabelecida entre os sujeitos envolvidos em uma experiência formativa, investigando as implicações da dimensão amorosa para se pensar a ideia de formação humana na contemporaneidade. Acreditamos que o amor seria o princípio base da compreensão da filosofia como espiritualidade, impulsionando os sujeitos a saírem de si mesmos e arriscarem uma transformação existencial. Palavras-chave: amor pedagógico; formação humana; fundamentos da educação. 89 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A (RE)COSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Luciana Pereira da Silva - PUC Campinas RESUMO A pesquisa tem o intuito de compreender o processo de (re)construção das Representações Sociais de professoras de Educação Infantil sobre a profissão. Traçamos como meta investigar quais Representações Sociais as professoras têm construído acerca da profissão docente e as possibilidades de reconstrução dessa identidade, além de compreender o papel das políticas públicas nessas representações. Como metodologia optamos pela abordagem qualitativa, com coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas e observação em sala de aula. Espera-se que ao final desse trabalho possamos compreender quais Representações Sociais as professoras de Educação Infantil tem constituído para si e quais possibilidades de mudança. Palavras-chaves: Identidade Docente; Profissionalidade Docente; Educação Infantil. EDUCAR PELO CUIDAR: EMPENHO DA ÉTICA DO CUIDADO COM VISTAS À DIGNIDADE DE VIDA Ilíria François Wahlbrinck (URI) Luci Mary Duso Pacheco (URI) RESUMO Há como falar em educação sem que haja empenho por sua fundamentação se o objetivo é a formação com vistas à dignidade humana e a consequente libertação do jugo que o fenômeno do descuido alimenta? Compreender a educação como formação humana é engajar-se por sua efetivação na radicalidade: implica em educar pelo cuidar e para o Cuidado. Uma educação marcada pelo Cuidado implica no esclarecimento de conceitos, na assumição da radicalidade e na condução do processo com vistas à transformação. Educar pelo cuidar é formar sujeitos que também o assumam em sua prática tornando-se eles também cuidadores. O processo conduzirá, assim, à dignidade do ser humano. Será, então, humanizador promovendo o que essencialmente caracteriza o ser humano: o Cuidado. Palavras-chave: Educação – Cuidado – Dignidade humana. ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A FORMAÇÃO DO PROFESSOR Luciane Vaughn (PUC-Campinas) Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da Rocha (PUC-Campinas) RESUMO Trata-se de uma pesquisa sobre o estágio curricular em Educação Infantil em um Curso de Pedagogia, cujo objetivo geral é investigar como a vivência (conforme definida por L. S. Vigotski) 90 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades do estágio pelos alunos contribui para sua formação enquanto futuros professores deste segmento educacional. A partir deste, os objetivos específicos foram assim delineados: (i) analisar aspectos considerados relevantes, pelos alunos, nas vivências de estágio registradas nos relatórios por eles produzidos; (ii) examinar se e como a relação teoria e prática é abordada nos relatórios e (iii) analisar as concepções destes alunos a respeito dos conceitos de criança, educação infantil e professor de Educação Infantil, a partir dos textos examinados. Estes objetivos serão alcançados através da análise qualitativa dos relatórios de estágio produzidos pelos alunos. Palavras-chave: estágio curricular; formação de professores; teoria Histórico-cultural. FORMAÇÃO DOCENTE COMO DEVIR ESTÉTICO Michelle Luísa Romani Fassina - UNOCHAPECÓ RESUMO Este projeto se propõe a realização de pesquisa de dissertação com vistas à compreensão do modo pelo qual a estética pode contribuir para a formação docente articulada à arte e a outras formas de manifestações pelas quais se pode auferir conhecimento, a partir das experiências cotidianas singulares, imersas no mundo contemporâneo. A proposta é ousar nos caminhos rizomáticos da educação e colocar esta em diálogo com a estética, na busca de reconhecer como ela poderia proporcionar novas e criativas formas de fazer e pensar a educação. Busca desvendar qual é a visão dos professores, não enquanto indivíduos isolados, mas enquanto grupos, (que em linguagem deleuziana denomino grupelhos) que podem criar e produzir em bando com seus alunos. Palavras chave: Estética. Formação de professores. Educação O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES Priscila Pereira Dutra (PUC-Campinas) Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha (PUC-Campinas) RESUMO Trata-se de pesquisa na qual se investiga o papel de uma Coordenadora Pedagógica (CP) na formação dos professores. Os objetivos específicos são: (i) descrever as estratégias utilizadas pela CP para a construção do trabalho coletivo e (ii) identificar principais desafios enfrentados para o desenvolvimento de seu trabalho. O lócus é uma escola de Ensino Fundamental Estadual, (município de Campinas/SP). Os procedimentos utilizados foram (i) acompanhamento de reuniões de ATPC, através de vídeo-filmagens, (ii) recolha do material produzido pela CP para comunicação com as professoras e (iii) entrevista narrativa com a CP. As análises estão em andamento; porém, já é possível identificar a presença de estratégias relacionadas à afetividade, configuradas de modo estreitamente ligado a aspectos concretos do trabalho pedagógico, o que é inovador no tema estudado. As análises são qualitativas, a partir dos aportes da teoria Histórico-cultural. Palavras-chave: coordenador pedagógico; formação continuada de professores, trabalho coletivo, afetividade. 91 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PIBID NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I Eliane de Godoi Teixeira Fernandes (PUC Campinas) Maria Silvia Pinto de Moura Librandi Rocha (PUC Campinas) RESUMO Trata-se da apresentação dos resultados parciais de pesquisa qualitativa, feita por análise documental e pesquisa bibliográfica na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, com objetivos de analisar (i) se e como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência se constitui como espaço privilegiado de formação docente inicial e continuada para o Ensino Fundamental I e (ii) se no desenvolvimento das atividades dos subprojetos são construídos espaços para troca de saberes entre professores regentes e bolsistas, analisando a importância desta troca para a formação inicial do bolsista e para a formação continuada do professor regente. Apresenta-se os resultados da pesquisa bibliográfica. Destes, destaca-se a escassez de pesquisas, sobre o Pibid no Ensino Fundamental I e a ausência dos professores regentes como informantes. Os resultados apontam lacunas a serem preenchidas por pesquisas futuras, dentre as quais se enquadra este estudo. Palavras-chave: Pibid; formação docente para o Ensino Fundamental; programas de formação docente. UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL Jónata Ferreira de Moura Adair Mendes Nacarato RESUMO A presente pesquisa de mestrado, em andamento com apoio financeiro da CAPES, tem como objetivo central investigar as percepções que professoras que ensinam matemática na educação infantil da rede pública municipal de Imperatriz/MA têm da formação que receberam e das práticas que realizam. Para isso, desenvolvemos uma pesquisa empírica de natureza qualitativa com seis professoras da Educação Infantil que atuam em uma pré-escola da zona urbana da rede pública municipal de Imperatriz-MA e que realizaram sua formação acadêmica em Universidades da Região Tocantina. Para isso, utilizamos a entrevista narrativa e pretendemos também estabelecer parceria com uma delas, com vistas a acompanhar o movimento de planejamento conjunto de tarefas e desenvolvimento em sala de aula. Para isso, contaremos com suporte do diário de campo. Os dados serão analisados à luz da Teoria Histórico-Cultural. Palavras-chaves: Formação de professores. Educação matemática e educação infantil. Teoria Histórico-Cultural. 92 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NAS ESCOLAS Claudia Almada Leite (FFP/UERJ) Helena Amaral da Fontoura (FFP/UERJ) RESUMO O uso de Jogos Cooperativos propicia integração e cooperação entre os alunos, e dentro do contexto do Ensino de Ciências Biológicas é atividade facilitadora do aprendizado, pois é fator motivador e desenvolve o raciocínio e a criatividade. É objetivo deste trabalho, evidenciar como e quais os Jogos Cooperativos podem contribuir para o Ensino de Ciências nas escolas. A pesquisa se fundamenta no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vigotsky, nas contribuições de Freire quando aponta que toda formação docente tem que estar associada ao exercício da criticidade, e do reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade e da intuição. Conta ainda com a contribuição de Brotto sobre as três dimensões da dinâmica de ensinoaprendizagem da Pedagogia dos Jogos Cooperativos. Buscamos contribuir para ampliar as concepções de ensino de Ciências referenciadas em práticas docentes cooperativas e participativas. Palavras-chave: Prática docente; Jogos cooperativos; Ensino de Ciências Biológicas. CULTURA VISUAL NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO: CONHECIMENTO ARTÍSTICO E USO DAS IMAGENS NA ESCOLA Maria Cristina Luiz Ferrarini (UFSCar) RESUMO Vivemos numa sociedade cujo universo visual é expressivo, o que pressupõem a importância das contribuições da cultura visual e suas colaborações aos processos de ensino-aprendizagem. O estudo sistemático da cultura visual pode proporcionar a educadores o desenvolvimento da consciência estética e o desenvolvimento de um olhar cultural. Esta pesquisa, que está em andamento, trata da compreensão dessa cultura visual, e tem por objetivo analisar a visão de educadores sobre as possibilidades (a partir da utilização de imagens) de desenvolver compreensão em espaços escolares. Para tanto, foi feita uma parte empírica, por meio de entrevistas, com professores e gestores da Secretaria Estadual de Educação (SEE). Estes educadores discorreram sobre a compreensão da cultura visual nas perspectivas: subjetiva e emancipadora, e em quais espaços, situações e tempos escolares essa compreensão seria possível de ser desenvolvida. Palavras-chave: cultura visual, educação visual, prática pedagógica. 93 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O USO DA LINGUAGEM VISUAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Marina Alves Braga (USP) Cássia Geciauskas Sofiato (USP) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo investigar como as Escolas Municipais de Educação Bilíngue de Surdos (EMEBS) do Município de São Paulo têm desenvolvido o trabalho referente ao uso de metodologias apoiadas na linguagem visual com alunos surdos. Segundo o Decreto-Lei nº 5626 de 2005 “São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo” (BRASIL, 2005). O reconhecimento da necessidade e a inserção da Libras nas EMEBS foi de extrema importância, entretanto, ainda é necessário pensar na inserção de novas metodologias que possibilitem ao aluno surdo um desempenho acadêmico satisfatório e que venham ao encontro daquilo que se espera em termos de valorizar as suas experiências visuais. Palavras- chave: Surdez – Pedagogia visual – Educação bilíngue. 94 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 95 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A FRAGMENTAÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO DOCENTE NA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DE UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Amanda Moreira da Silva (UFRJ) RESUMO O presente relato expõe as condições de trabalho docente e toma como tema preferencial de reflexão a questão da precarização. Para tanto, define como base empírica as condições de trabalho a que estão sendo submetidos os professores das escolas públicas estaduais do Rio de Janeiro. A escolha do tema está diretamente ligada à minha atuação como professora desta rede e ao meu inconformismo para com as orientações políticas dirigidas aos professores pela Secretaria Estadual de Educação dentro das políticas educacionais adotadas nos últimos anos. Palavras-chave: Tempo, trabalho docente, precarização. O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO (1932) Idyanara Merçon de Oliveira Machado - UFMS RESUMO Este trabalho resulta de uma breve análise sobre o Manifesto de 1932, focando suas propostas acerca do direito de todo indivíduo, à educação de qualidade. Neste trabalho apresentamos uma leitura do documento que traduz sua importância na História da Educação Brasileira, uma vez que neste documento aparecem nuances da educação que ainda hoje são muito pertinentes. Os resultados nos mostram que as questões apontadas no Manifesto dos Pioneiros da Educação, no que diz respeito à educação de qualidade, gratuidade e obrigatoriedade são muito atuais. Apesar de suas deficiências, a escola ainda é o lugar que pode levar as pessoas a refletirem sobre outro tipo de sociedade. Palavras Chaves: Manifesto dos pioneiros da Educação;Escola Pública; Educação de qualidade. 96 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A NECESSIDADE DE PREPARAÇÃO DO PEDAGOGO PARA ATUAR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA Vânia Lima de Almeida- UFMS RESUMO Essa pesquisa teve como objetivo investigar como os pedagogos que atuam em Instituições Sociais Não Escolares de atendimento à infância e adolescência localizados em dois municípios de Mato Grosso do Sul/MS analisam a formação recebida no curso de Pedagogia. A proposta foi colocar em discussão a Formação do pedagogo na atualidade que sinaliza para uma preparação para atuar também no espaço não escolar. Os resultados apontaram que os cursos de Pedagogia, de uma maneira geral, parecem não estar preparados para lidar com as questões da prática educativa que se desenvolve para além dos muros escolares, tornando-se urgente que repensem suas propostas formativas. Palavras-Chave: Educação. Formação de Professores. Pedagogia Social. FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIAS INFANTIS E A GEOMETRIA Ana Paula Araújo Mota – (PUC Campinas) RESUMO O presente trabalho buscou investigar quais as possibilidades de trabalhar noções geométricas através da contação de histórias infantis com alunas da disciplina educação, espaço e forma de um curso de Pedagogia do PARFOR de uma universidade privada do interior do estado de São Paulo. Na busca de tal compreensão foi proposto que as alunas da disciplina escolhessem um livro de literatura infantil que pudessem relacionar a ideias geométricas, buscando trabalhá-lo em suas salas de aula. Nesse sentido foram produzidas atividades relacionadas ao livro escolhido pelas alunas e reflexões sobre o trabalho realizado em suas de aula. Os resultados refletem diretamente sobre as práticas dos docentes, que muitas vezes, não vê a possibilidade formativa de utilizar histórias infantis para trabalhar outras áreas do conhecimento como a matemática. Palavras Chave: formação de professores; ensino de matemática; histórias infantis. 97 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Andréia Peretti Sangaletti (Senac Bauru) Camila Roberta Muniz Serra Pinheiro (Senac Bauru) Flávio Mangili Ferreira (Centro Universitário Senac) RESUMO A formação de professores para o ensino de empreendedorismo torna-se fundamental nas instituições de ensino e instrumentos são necessários para facilitar as estratégias e práticas pedagógicas. O presente trabalho apresenta a utilização do plano de negócio circular na capacitação de professores para o desenvolvimento do ensino do empreendedorismo por meio do plano de negócios. O trabalho realizado é aplicado, qualitativo e exploratório, com oficinas de plano de negócios utilizando um instrumento circular, com 20 professores de cursos profissionalizantes. O Plano de Negócio Circular oferece uma visão sistêmica do empreendimento, facilitando o detalhamento posterior do plano e apresenta-se como uma possibilidade de estratégia de ensino de conteúdos de empreendedorismo. Futuros estudos com turmas formadas por alunos poderão contribuir com a avaliação do Plano de Negócios Circular no ensino de empreendedorismo. Palavras-chave: Formação, Empreendedorismo, Plano de Negócio. PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA: INTEGRANDO TEORIA À PRÁTICA – TRANSFORMANDO À AÇÃO Raquel de Oliveira e Silva do Nascimento (Colégio SESI) RESUMO A Formação Continuada aqui relatada, suscita a modalidade de Formação em Contexto de Trabalho, realizada em nossa prática por meio da pesquisa-ação e está associada às diversas formas de ação coletiva orientada pela resolução de problemas ou de objetivos de transformação. Através disso ocorre a ação dialogada e reflexiva referente a um tema escolhido pela equipe de professores de cada Colégio. Constituído um roteiro de pesquisa, com aprofundamento teórico vislumbrando a práxis (relação teoria-prática), consolidando o pensar e refletindo sobre a realidade em que está inserido, vivendo um constante aprender a aprender para melhor agir. Cooperando para que o (a) Professor (a) seja o portador (a) do processo de inovação, refletindo em suas ações, na sua capacidade interdisciplinar e de realizar avaliação apreciativa frente às situações complexas, com visão sistêmica do processo e assim participando de sua própria Formação. Palavras-Chave: Formação continuada, Professores, Prática Reflexiva. 98 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades RECONTEXTUALIZANDO QUADRINHOS, COMPREENDENDO CONCEITOS GEOGRÁFICOS Zacarias Marinho (UERN) RESUMO Este artigo tem por objetivo relatar a experiência de um trabalho desenvolvido numa turma de Ensino de Geografia, do curso de Pedagogia do Campus Central da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Apoiamo-nos em Jacintho (2004); Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) e Marinho (2013) que discutem o ensino da Geografia e Luyten (2011) que discute o uso de HQs7 em sala de aula. Nossas constatações apontam que os alunos passaram a compreender melhor os conceitos com os quais vão trabalhar futuramente em suas turmas. Concluímos que o trabalho de recontextualização de quadrinhos tem um potencial significativo no ensino da Geografia e na formação inicial em Pedagogia. Palavras-chave: Formação inicial; Conceitos geográficos; Trabalho com quadrinhos. ENSINO DE IMPROVISAÇÃO EM DANÇA: BUSCA DE UMA DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA E DOCENTE NA PRÁTICA DA DANÇA Mariana Baruco Machado Andraus (UNICAMP) RESUMO Este texto propõe pensar o ensino de improvisação em dança a partir de uma dimensão epistemológica que seja pautada na experiência artística e docente no âmbito prático da dança. A improvisação, conteúdo abordado na experiência docente aqui relatada, vem sendo cada vez mais utilizada na dança e pode cumprir com diferentes papéis; entre eles, como forma de preparação do bailarino para a cena e elemento estrutural de sua formação. Por envolver o exercício sistemático de fazer escolhas durante o próprio ato da dança, a improvisação revela-se um caminho que desobriga o artista de tentar ser cientificista, dentro de um paradigma positivista, e possibilita que ele assuma os saltos criativos como parte do processo, bem como as rupturas paradigmáticas como inerentes à própria natureza da pesquisa artística. É nessa perspectiva que se sugere, neste texto, pensar uma epistemologia da dança. Palavras-chave: epistemologia da dança; improvisação; criatividade. 7 Histórias em Quadrinhos. 99 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades FILOSOFIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERLOCUÇÕES DE UM FAZER Maria Reilta Dantas Cirino (UERN) RESUMO O presente relato tem como objetivo apresentar a dinâmica de trabalho de um Projeto de Extensão ofertado através do Curso de Licenciatura em Filosofia, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN/Campus Caicó. Assumimos como objetivo que a criança tem competência desde a mais tenra idade, inserida em seu contexto social e pode desenvolver essa competência em várias áreas do conhecimento, inclusive na área da Filosofia, desde que lhes sejam proporcionadas situações desencadeadoras adequadas levando-as a experiências significativas ao seu desenvolvimento. Assim, defendemos a experiência de se fazer Filosofia com Crianças baseada nos fundamentos teóricos propostos por Mattew Lipman. Palavras-chave: Filosofia. Criança. Mattew Lipman. INTEGRAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Regina Carvalho Calvo de Faveri (Prefeitura Municipal de Campinas) Ana Carolina P. Madureira (Prefeitura Municipal de Campinas) Nadir de Faveri Queiroz (Prefeitura Municipal de Campinas) Cibele Santieff (Prefeitura Municipal de Campinas) RESUMO Este trabalho resulta de um projeto desenvolvido em uma escola pública situada em Campinas. Desde a implementação do sistema de Ciclos, concomitantemente à implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos, discute-se sobre o impacto dessas mudanças na relação ensinoaprendizagem. Em 2013, situações que permearam o cotidiano dos anos iniciais na escola, simultaneamente às ações decorrentes do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, mobilizaram ações pedagógicas que exigiram maior integração entre os profissionais. A publicação de Diretrizes Curriculares da Educação Básica representou um novo norte para as ações docentes. A partir das demandas, objetivou-se criar estratégias de trabalho, numa perspectiva mais lúdica e que promovesse reflexão sobre a prática. Mesmo no início do processo de trabalho notam-se resultados dessa experiência, como o estudo e a integração entre os docentes e o interesse demonstrado pelas crianças. Palavras-chave: Integração docente. Reflexão sobre a prática. Sistema de ciclo. 100 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O ACOLHIMENTO/INSERIMENTO DOS BEBÊS NA CRECHE: UM MOMENTO DE ENCONTRO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS Ângela C. Gallani Zaia (Prefeitura Municipal de Campinas) Clarice Celestino da Silva (Prefeitura Municipal de Campinas) Irene de Fatima Silva Apolinário (Prefeitura Municipal de Campinas) Joseane Mª Parice Bufalo (Prefeitura Municipal de Campinas) Juliana Ap. Graciano Fernandes Veiga (Prefeitura Municipal de Campinas) Sandra Prado de Lima (Prefeitura Municipal de Campinas) RESUMO A Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica, norteia-se por alguns princípios como: o cuidar e o educar são indissociáveis na educação das crianças pequenininhas em espaços coletivos; o brincar é o eixo principal no desenvolvimento do projeto pedagógico; e a Educação Infantil é composta de três atores: crianças, famílias e docentes, sendo a criança a protagonista no processo. A partir destes princípios elaboramos uma proposta de acolhimento da turma de meninas e meninos de 1 ano a 1 ano e 5 meses, em uma creche da rede pública de Campinas no ano de 2013. Tendo como objetivo a interação entre os adultos envolvidos no processo, ou seja, famílias e profissionais, entre as crianças e entre as crianças e as docentes, propomos um acolhimento no início do ano que contemplasse a participação das famílias no ambiente da creche por um período de uma a duas semanas, conforme avaliação da equipe de docentes a respeito das necessidades das crianças. Palavras chave: formação de professores/as, bebês na creche, acolhimento, adaptação. O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: UMA COMPETÊNCIA DIDÁTICA Marciene Ap. Santos Reis (GEPEC-UNICAMP) Marissol Prezotto (GEPEC-UNICAMP) RESUMO O uso da tecnologia na educação como competência didática é um desafio atual para os professores. Possibilitar seu uso como prática educativa engajada na formação crítica e reflexiva do aluno requer não somente um preparo dos profissionais da educação no uso dos equipamentos, mas também a uma reestrutura das competências, habilidades e atitudes. Uma situação didática vivenciada em uma sala de aula do ensino fundamental mostra a possibilidade do uso da tecnologia nesse viés de formação e de mediação aluno-professor-tecnologia-conhecimento. Palavras-chave: Competência didática; Tecnologia na educação; Formação de professores. PROCESSOS DE (AUTO)FORMAÇÃO: IDENTIDADE PROFISSIONAL E OS SABERES DA EXPERIÊNCIA Eleonora Simões (UFRGS) RESUMO O presente texto configura-se como um relato de experiência fruto das atividades de estágio docente realizado no ano de 2012 como requisito final do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do 101 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Rio Grande – FURG, na escola em que atuo como professora referência, E.M.E.F. Cidade do Rio Grande – CAIC/FURG, com crianças entre 3 e 4 anos. Busco apresentar como foram se configurando novos saberes a partir da proposta compartilhada com a orientadora de estágio, uma vez que já atuava com crianças pequenas em virtude de ser formada pelo Magistério. Trago as contribuições que foram (re)compondo minha identidade profissional e as transformações da prática docente com as experiências vivenciadas nesse período. Concluo enfatizando que a graduação em Pedagogia e o estágio, contribuíram de forma ímpar para (re)pensar minhas ações com as crianças, buscando trabalhar com a proposta a partir das linguagens. Palavras-chave: Educação Infantil, estágio docente, experiência formativa 102 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 103 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 104 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO Mariângela Leocárdio Jacomini (PUC-Campinas) Mônica Piccione Gomes Rios (PUC- Campinas) RESUMO O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa que busca investigar a implantação das oficinas curriculares nas escolas que integram o Programa Escola de Tempo Integral. Por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa documental, aborda-se nesse artigo a escola de tempo integral no contexto das políticas públicas em educação do estado de São Paulo, que ganharam destaque no cenário brasileiro, tendo como foco a construção da qualidade da educação básica. Analisando os objetivos propostos para o Programa, percebe-se a preocupação com a evasão escolar e a necessidade da criação de mecanismos para que os alunos frequentem e permaneçam na escola. O estudo aponta que um Programa como a Escola de Tempo Integral necessita ser implantado de forma gradativa, especialmente no que se refere ao desenvolvimento das oficinas curriculares. Palavras-chave: escola de tempo integral, políticas públicas em educação, qualidade da educação Introdução Para discutir políticas públicas em educação é necessário que façamos uma análise do contexto sócio-econômico-histórico em que estas são pensadas e implantadas além de sua ligação com o Estado. A relação entre Estado, educação e políticas educacionais é marcada por processos e dinâmicas complexas, que traduzem a historicidade das relações sociais mais amplas, suas prioridades e formas ideológicas. Assim, se faz necessário apreender as múltiplas conexões que as demarcam, estrutural e conjunturalmente, num determinado espaço histórico-social. São diversas as definições de Estado que constantemente, no senso comum, é confundido com governo. Hofling (2001, p. 31) traz a diferenciação entre ambos: Para se adotar uma compreensão sintética [...] é possível se considerar Estado como o conjunto de instituições permanentes como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessariamente que possibilitam a ação do governo; e Governo, como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período. Levando em conta que nas sociedades capitalistas modernas o Estado é a agência dominante na produção, financiamento e regulação das políticas públicas, talvez ele seja o ator mais importante nos processos de conservação ou transformação social. Porém, é importante reconhecer que o Estado existe a partir das relações com diversas forças e grupos de interesses com interpretações e demandas diferentes entre si. Em acordo com Nardi (2011, p. 112) “Os anos de 1990 foram marcados por reformas que proclamaram a modernização do Estado brasileiro, consoantes às exigências da economia mundial.” 105 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades As funções do Estado foram delimitadas sendo estabelecidas três áreas de atuação, segundo Pereira (1997): a de atividades exclusivas do Estado, que compreende serviços sociais e científicos do Estado e a de produção de bens e serviços para o mercado, cada qual possuindo atividades principais e auxiliares, ou de apoio. A lógica do Estado mínimo introduzida pelo neoliberalismo acompanhada da descentralização denota o afastamento do Estado do campo das “políticas sociais e a progressiva ocupação desse espaço pelo mercado, o que se processa via privatizações, terceirizações e publicização dos serviços públicos, bem como por transferências de encargos a outros governos.” (NARDI, 2011, p.113). Assim, a municipalização das séries iniciais do Ensino Fundamental, a terceirização de alguns serviços das escolas, os convênios com instituições particulares de ensino para garantir atendimento a determinados grupos de alunos ou níveis de ensino, as parcerias com instituições privadas para a realização de programas e projetos junto às escolas públicas são formas de minimizar as ações do Estado. Como não pode ser dissociada das mudanças sociais e econômicas ocorridas na sociedade, a educação é afetada também pela crise do neoliberalismo e sofre os reflexos das desigualdades e da exclusão sociais, os efeitos das políticas que promoveram a precarização do emprego e a retração ou vulnerabilização de outros direitos sociais. Enunciar esta crise pode ser também uma forma de chamar a atenção para a existência de novos factores subnacionais, regionais e transnacionais que condicionam e limitam os campos da autonomia relativa dos Estados e que, entre muitas outras expressões, podem traduzirse em tensões e desconexões, mais ou menos evidentes, entre, por um lado, as identidades culturais, linguísticas, étnicas, religiosas e raciais e, por outro, as soberanias territoriais. (AFONSO, 2001, p.6). Desta forma, uma série de políticas públicas em educação, com viés de políticas sociais, foram criadas na tentativa de minimizar os efeitos da crise neoliberal ou como resposta à exigências dos organismos internacionais aos quais Afonso se refere no excerto acima, como o Banco Mundial e o fundo Monetário Internacional. Quando se trata de uma política educacional, é preciso levar em consideração o foco em questão, considerando o que se pretende com esta política, se pretende garantir o acesso e a permanência dos alunos de determinado nível de ensino ou faixa etária na escola, se pretende garantir um ensino de excelência, em quais níveis, em que escolas etc. Nesse contexto, as políticas públicas em educação ganharam destaque no cenário brasileiro seja no âmbito das pesquisas e produções acadêmicas e científicas seja no âmbito dos programas de governo seja nos debates em diferentes esferas da sociedade, tendo como foco a construção da qualidade da educação básica e superior. Dourado, Oliveira e Santos (2007) apontam que: a qualidade da educação envolve dimensões extra e intraescolares e, nessa ótica, devem se considerar os diferentes atores, a dinâmica pedagógica, ou seja, os processos de ensinoaprendizagem, os currículos, as expectativas de aprendizagem, bem como os diferentes fatores extraescolares que interferem direta ou indiretamente nos resultados educativos. Assim, reitera-se a importância de se analisar criticamente as atuais políticas públicas em educação, com destaque às atuais políticas públicas de avaliação em larga escala, de modo que contribuam para a formação do aluno/cidadão e para a construção da qualidade social da educação. Escola de Tempo Integral do Estado de São Paulo O Programa Escola de Tempo Integral foi instituído no estado de São Paulo pela Resolução SE 89 publicada em 9 de dezembro de 2005. No início do ano letivo de 2006, o Programa atingia 106 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 514 escolas de ensino fundamental 8 da rede pública oficial de ensino do estado de São Paulo envolvendo 148.697 alunos matriculados em 121 escolas da Coordenadoria de Ensino de Ensino da região metropolitana da Grande São Paulo (COGSP) e 387 da Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI), jurisdicionadas a 25 Diretorias de Ensino na Capital e Grande São Paulo e 62 no interior. No total, eram 230 municípios beneficiados: 214 no interior e 16 na Capital e Grande São Paulo. 9 Nas considerações que iniciam o texto legal, a educação é citada como “presença fundamental no dia a dia de crianças e jovens, por desempenhar papel relevante na dinâmica das sociedades”. Trata-se de o Estado reconhecendo a importância da educação, no caso, formal e institucionalizada, como forma de inserção das crianças e jovens nas dinâmicas sociais e reforça a ideia de que a educação faz parte da vida em sociedade refletindo as transformações sociais, culturais, ideológicas e econômicas pelas quais esta passa ao longo da história. Com a implantação do Programa, as escolas participantes passaram funcionar em período integral, ou seja, das 7 horas da manhã às 16h10, sendo oferecidas no período matutino as disciplinas integrantes do currículo regular e no contra turno, as “oficinas culturais com atividades artístico-culturais (dança, música, teatro e artes plásticas), atividades esportivas (várias modalidades, além de atletismo, ginástica, xadrez e jogos cooperativos), orientação à pesquisa e aos estudos, resolução de problemas matemáticos, hora da leitura, informática, práticas em salas ambientes de ciências físicas e biológicas, práticas de educação ambiental e qualidade de vida, e meditação”. (SÃO PAULO, 2006). A rotina diária incluía ainda “língua estrangeira moderna e filosofia (para trabalhar ética com crianças e a arte de conviver bem estimulando o respeito e valores morais), além de atividades para desenvolver uma cultura de empreendedorismo e estímulo ao protagonismo juvenil”. (SÃO PAULO, 2006). A educação brasileira tem sido caracterizada ao longo de toda sua história pela seleção elitizada dos sujeitos que a ela devem ter acesso e pela exclusão, sobretudo dos indivíduos oriundos das classes menos favorecidas. No que se refere ao acesso, porém, observa-se a partir dos dados do Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (INEP), uma melhora acentuada nos indicadores de matrículas de 1991 a 2000. No estado de São Paulo não foi diferente, mas, embora tenha ocorrido aumento significativo do número de matrículas ainda persistia no ano de 2005 o problema da evasão e do abandono, sobretudo, em escolas que atendiam as comunidades carentes e em situação de vulnerabilidade social. Daí a necessidade da definição de políticas educacionais que equacionassem estes dois problemas: garantia de acesso à escola e manutenção da frequência às aulas. O Programa Escolas de Tempo Integral veio, de acordo com texto legal, atender aos desejos e anseios desta população vulnerável. A Resolução prossegue instituindo o Programa e destacando, no Artigo 1º, o objetivo geral deste: prolongar a permanência dos alunos de ensino fundamental na escola pública estadual, de modo a ampliar as possibilidades de aprendizagem, com o enriquecimento do currículo básico, a exploração de temas transversais e a vivência de situações que favoreçam o aprimoramento pessoal, social e cultural. (SÃO PAULO, 2005). O documento de implantação do Programa Escola de Tempo Integral demonstra que seus idealizadores acreditam que prolongando a permanência dos alunos na escola ampliarão também as possibilidades de aprendizagem. A questão da qualidade da educação oferecida, cujo conceito varia de acordo com o contexto, o tempo e o espaço, não é tratada na Resolução 89 o que leva a diversos 8 As escolas da rede estadual de São Paulo oferecem o Ensino Fundamental dividido em Ciclo I (do 1º ao 5º anos – alunos dos 6 aos 10 anos) e Ciclo II (do 6º ao 9º ano – alunos de 11 a 14 anos) e o Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries – alunos dos 15 anos). O programa Escola de Tempo Integral abrange apenas o Ensino Fundamental. 9 Os dados foram obtidos mediante consulta ao endereço eletrônico oficial da secretaria da Educação do estado de São Paulo www.educacao.sp.gov.br. (Acesso realizado em 07/09/2012). 107 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades questionamentos como: que tipo de ensino está sendo proposto para esta comunidade em estado de vulnerabilidade cujos filhos frequentam a escola pública estadual? Sobre a questão da qualidade há controvérsias entre os diversos posicionamentos a respeito do programa Escola de Tempo Integral. Enquanto para Coelho (2004), tempo integral na escola pressupõe a adoção de uma concepção de educação integral que vá além das atividades pedagógicas, Libâneo (2006) aborda o agravamento da dualidade existente na educação brasileira segundo ele, caracterizada por uma escola do conhecimento para os ricos e uma escola do acolhimento para os pobres. Assim, para Libâneo (2012), a Escola de Tempo Integral teria caráter assistencialista uma vez que visa ocupar o tempo dos alunos com atividades diversas para que estes não fiquem pelas ruas ocupando-se de aprendizagens de atos ilícitos, expostos à violência e oferecendo risco à ordem social estabelecida. A dualidade perversa tratada por Libâneo (2006) refere-se a uma escola de desempenho para os ricos e uma escola do acolhimento para os pobres. Outros autores como Oliveira (2008) e Franco (2008) analisam o impacto do aumento do tempo de permanência na escola sobre o desempenho escolar de alunos da 4ª série do Ensino Fundamental a partir da análise dos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Segundo Franco (2008), as crianças que estudam mais de cinco horas diárias na rede privada têm melhores notas enquanto na rede pública isto não ocorre. Na pesquisa de Oliveira (2008), entretanto, fica comprovado que o aumento de quatro para cinco horas da jornada levou a um aumento de pontos em matemática na avaliação do SAEB. Aquino e Kassouf (2011) buscam responder se a ampliação da jornada escolar melhora o desempenho acadêmico dos estudantes a partir de coleta e análise de dados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) e concluem que o fato de os alunos permanecerem na escola por nove horas em vez de cinco não surtiu efeito no desempenho acadêmico em matemática sendo que em língua portuguesa, os resultados foram positivos, mas em pequena magnitude. Ainda que haja omissão nos documentos, a respeito da qualidade, as pesquisas citadas apontam que há melhora no desempenho dos alunos no SARESP, que implica o IDESP, índice que tem sido considerado indicador de qualidade da educação de estado de São Paulo. Os resultados do SARESP passaram a compor o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP) a partir de 2008, juntamente com o fluxo escolar que se refere a taxa média de aprovação nas séries do ensino fundamental e do ensino médio. O artigo 2º da resolução 89 trata dos objetivos específicos do Programa: I - promover a permanência do educando na escola, assistindo-o integralmente em suas necessidades básicas e educacionais, reforçando o aproveitamento escolar, a auto estima e o sentimento de pertencimento; II -intensificar as oportunidades de socialização na escola; III - proporcionar aos alunos alternativas de ação no campo social, cultural, esportivo e tecnológico; IV - incentivar a participação da comunidade por meio do engajamento no processo educacional implementando a construção da cidadania; V - adequar as atividades educacionais à realidade de cada região, desenvolvendo o espírito empreendedor. (SÃO PAULO, 2005). Analisando os objetivos propostos para o Programa percebe-se claramente a preocupação com a evasão escolar e a necessidade da criação de mecanismos para que os alunos frequentem e permaneçam na escola. A oferta de três refeições: lanche pela manhã, almoço e lanche à tarde, embora possa parecer irrelevante, pode contribuir para a permanência das crianças e jovens na escola se forem consideradas as condições econômicas da comunidade onde ela está inserida. As oportunidades de socialização seriam, de acordo com a resolução, intensificadas com o aumento do tempo de permanência na escola além do acesso à tecnologia, as atividades artísticas e esportivas o que, teoricamente, serviriam como atrativo para que os alunos comparecerem às aulas. A participação da comunidade e a adequação das atividades escolares à realidade de cada região 108 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades funcionariam como estímulo para que os alunos se sentissem pertencentes ao contexto escolar desenvolvendo, assim, o desejo de continuar frequentando a escola. O caráter social do Programa parece mais acentuado pelo artigo 3º que trata do critério para a escolha das escolas para participar da etapa inicial. Artigo 3º - O Projeto Escola de Tempo Integral prevê o atendimento inicial de escolas da rede pública estadual de ensino fundamental que atendam aos critérios de adesão, que estejam distribuídas pelas 90 Diretorias de Ensino, inseridas, preferencialmente, em regiões de baixo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - e nas periferias urbanas. (SÃO PAULO, 2005). Além de estarem localizadas em regiões de baixo índice de desenvolvimento humano e áreas periféricas, foram estabelecidos outros critérios para que as escolas pudessem participar do Programa: Parágrafo único - São critérios para adesão ao Projeto: 1 - espaço físico compatível com o número de alunos e salas de aula para funcionamento em período integral e 2 - intenção expressa da comunidade escolar em aderir ao Projeto, ouvido o Conselho de Escola10. (SÃO PAULO, 2005) O artigo 4º esclarece a forma como será organizado o tempo da escola a partir da implantação do Programa Escola de Tempo Integral: [...] funcionará em dois turnos - manhã e tarde, com uma jornada de 9 horas diárias e carga horária semanal de 45 aulas. Entendendo-se educação integral como um processo permanente que envolve “todas as necessidades formativas que deem condições para as pessoas sobreviverem em uma sociedade capitalista e que não é um processo pré-estabelecido, culminando dentro de um prazo determinado.” (GOMES, 2009, p.21), acredita-se que uma educação integral não se limita aos conteúdos escolares tradicionais, mas, sobretudo, visa contribuir para a formação do cidadão e sua inserção na sociedade e no mundo do trabalho. Assim, apenas aumentar em horas o tempo em que o aluno permanece na escola não significa que seu desempenho sofrerá automaticamente melhoria significativa ou que prenderá muito mais que aquele aluno que frequenta apenas as aulas regulares durante cinco horas diárias11. Nesta linha de pensamento, Cavaliere (2007, p.1017) afirma que: reduzir as potencialidades da ampliação do tempo de escola à busca de mais eficiência nos resultados escolares ou à adaptação às rotinas da vida urbana contemporânea limita os possíveis sentidos ou significados educacionais inovadores dessa ampliação. Entretanto, parece evidente que a maior quantidade de tempo não determina por si só, embora possa propiciar, práticas escolares qualitativamente diferentes. No artigo seguinte, a resolução 89/05 trata da organização curricular para as ETIs com a manutenção das disciplinas curriculares da grade comum e as oficinas curriculares implantadas no Programa. Artigo 5º - A organização curricular da Escola de Tempo Integral inclui o currículo básico do ensino fundamental e ações curriculares direcionadas para: 10 O Conselho de Escola é um dos colegiados existentes nas escolas da rede estadual de São Paulo. Foi instituído pelo Artigo 95 do Estatuto do Magistério Paulista, Lei Complementar 444 de 27/12/1985, tem caráter deliberativo e é composto por representantes dos professores, alunos, pais e funcionários da escola eleitos em assembleia. 11 Nas escolas da rede estadual de São Paulo, os alunos do Ensino Fundamental Ciclo II têm 6 aulas diárias com a duração de 50 minutos cada totalizando 5 horas diárias ( 20 minutos são dedicados ao intervalo). 109 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades I - orientação de estudos; II - atividades Artísticas e Culturais; III - atividades Desportivas; IV - atividades de Integração Social; V - atividades de Enriquecimento Curricular. As oficinas curriculares veem, desta forma, complementar o trabalho desenvolvido nas aulas das disciplinas da grade curricular básica buscando aprofundamento, aprimoramento e enriquecimento conforme consta do documento elaborado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) e publicado em 2006 com a finalidade de orientar as escolas para a implantação das oficinas curriculares nas ETIs. As escolas, de posse destas orientações, precisariam proceder a adaptação de toda a sua estrutura para que as oficinas atendessem aos objetivos propostos pela Secretaria da Educação e houvesse, de fato, uma inovação pedagógica. O redimensionamento de que trata o documento com as Diretrizes Gerais necessita ir além do tempo de permanência dos alunos na escola, incluindo a estrutura organizacional desde os aspectos operacionais como a adaptação da estrutura física, recursos humanos, financiamento, atribuição de aulas, organização dos horários até os pedagógicos como articulação curricular entre oficinas e disciplinas regulares, organização das turmas, planejamento e execução das atividades, acompanhamento da equipe gestora, formação continuada dos professores e material pedagógico. Considerações Finais A pesquisa que teve como objetivo estudar a Escola de Tempo Integral no contexto das políticas públicas em educação do estado de São Paulo revelou que, apesar de haver outros critérios para que as escolas pudessem participar do Programa, preponderou a localização em regiões de baixo índice de desenvolvimento humano e áreas periféricas, vindo a atender aos desejos e anseios desta população vulnerável. A pesquisa do documento de implantação do Programa Escola de Tempo Integral demonstra que seus idealizadores acreditam que prolongando a permanência dos alunos na escola ampliarão também as possibilidades de aprendizagem. Os resultados do SARESP demonstram, no entanto, que o fato de os alunos permanecerem na escola por nove horas em vez de cinco não surtiu efeito na melhoria do desempenho acadêmico em matemática, sendo que em língua portuguesa, os resultados foram positivos, contudo, em pequena magnitude, o que pode indicar que, em havendo melhoria dos processos de ensino e aprendizagem, essa não se expressa por meio de indicadores de qualidade que encerram desempenho do aluno e fluxo escolar. Parece-nos, assim, que um Programa como a Escola de Tempo Integral precisaria ser implantado de forma gradativa buscando adequar os espaços físicos das escolas à nova demanda, bem como a preparação dos professores e da equipe gestora, além dos outros aspectos envolvidos que vão desde o repasse de verbas específicas até a confecção de materiais pedagógicos especialmente para as oficinas curriculares. O improviso além de suscitar polêmica e desconfiança por parte da sociedade e dos envolvidos no Programa, ocasiona perdas irreparáveis de tempo e de recursos humanos e materiais e compromete a qualidade da educação. Referências AFONSO, Almerindo. Reforma do Estado e políticas educacionais: entre a crise do EstadoNação e a emergência da regulação supranacional. Educação & Sociedade, ano XXII, nº 75, Campinas: Agosto/2001. AQUINO, Juliana Maria de; KASSOUF, Ana Lúcia. A ampliação da jornada escolar melhora o desempenho acadêmico dos estudantes? Uma avaliação do Programa ‘Escola de Tempo 110 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Integral’ da rede pública do estado de São Paulo. REAP – Rede de Economia aplicada – workingpaper 013: São Paulo, 2011. CAVALIERE, Ana Maria. Tempo de escola e qualidade na educação pública. Educ. Soc.:Campinas, vol. 28, n.100 – Especial, p. 1015 – 1035, out. 2007 – disponível em http://www.cedes.unicamp.br- Acesso em 17/03/2012). DOURADO, L.F.; OLIVEIRA, J. F.; SANTOS, C. de A. A qualidade da educação: conceitos e definições. Textos para discussão. Série Documental, Brasília, v. 24, n. 22, p. 5-34, 2007. FRANCO, Ana Maria de Paiva. Os determinantes da qualidade de educação no Brasil. 2008. Tese (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2008. GOMES, Maria do Carmo Rodrigues Lurial. 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São Paulo/SP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. 111 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM FOCO NAS PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA POSSIBILIDADE A PARTIR DO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLICA Soila Canam (UFMT) Ademar de Lima Carvalho (UFMT) Simone de Albuquerque da Rocha (UFMT) RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar, observar e analisar as produções científicas produzidas entre os anos de 2007 a 2012, voltadas para políticas educacionais e formação continuada docente com foco em práxis pedagógica. Nossos dados foram obtidos através do site da CAPES para buscar as dissertações e teses, e ainda no portal da Universidade Federal do Mato Grosso, bem como pelo site do Scielo.br e Scielo.org para a coleta dos artigos voltados para a temática. A abordagem do trabalho foi quantitativa/qualitativa e buscou responder à questão: Como o educador compreende o processo indissociável entre teoria e prática, elementos da práxis pedagógica existente no movimento entre os espaços formação continuada e sala de aula. Palavras-chave: Pesquisa. Práxis pedagógica. Formação Continuada. INTRODUÇÃO O trabalho de pesquisa teve por objetivo conhecer, identificar e analisar as produções entre os períodos de 2007 a 2011 sobre formação continuada docente, com foco na práxis pedagógica. Para compreendermos a origem e significado da palavra práxis recorremos a Vasconcelos e Brito (2006, p. 157) ao denominar que: “Práxis: É o termo grego que significa ação. Na terminologia Marxista, designa o conjunto de relações de produção e trabalho, que constituem a estrutura social e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações”. Ao iniciarmos o estudo estabelecemos alguns critérios como: delimitar a temporalidade tanto para analisar as produções científicas dos programas de pós-graduação stricto sensu, quanto para observar os periódicos. Após, estipulamos descritores para iniciar as buscas na Web e Web sites. A relevância dessa pesquisa está em conhecer as produções científicas acerca do nosso objeto de estudo, pois é uma das formas de legitimar o trabalho enquanto pesquisadores. À medida que nos cercamos dos conhecimentos já produzidos, mais seguros ficamos para dar continuidade e, (re) construir novos conhecimentos. Nesse sentido, ao construirmos conhecimento por intermédio da pesquisa é tomar para si a aprendizagem como processo social (FREITAS, 2002). REFERENCIAL TEÓRICO Nesse capítulo trataremos do referencial teórico que subsidiou nossas análises envolvendo práxis pedagógicas e formação continuada. Diante da necessidade de entender o cenário social e histórico, foi necessário resgatar produções situadas num contexto temporal a fim de compreender as reais necessidades da época, bem como as teorias utilizadas para as leituras da realidade, que a cada movimentação no ambiente requer respostas teorizadas (PUCCI, 2007). Ao abordarmos a temática sobre formação continuada e práticas pedagógicas, contextualizadas e comprometidas com a emancipação do sujeito, nos pautamos na pedagogia crítica e libertadora de Freire, por acreditar na ideologia que nos move em prol do ser humano 112 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades crítico e consciente do seu papel enquanto cidadão que age em busca de uma sociedade mais justa, humana e igualitária. Nesse palco, a educação popular de Paulo Freire (1967) emerge, em virtude do contexto de luta ideológica, de luta pela libertação dos homens através da (re) construção do sujeito-objeto para o sujeito-histórico. A educação libertadora de Freire foi uma “resposta aos desafios contidos nesta passagem que fazia a sociedade” (1967, p. 35). Tais desafios seriam estreitados por intermédio das relações dialógicas entre educador/educando, pois elas nascem do amor ao próximo. Segundo Freire (1987, p. 45) “Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também diálogo. Dai que seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação de dominação”. Nesse sentido, Carvalho (2005, p. 70) defende que “o diálogo criativo e crítico com a prática social, com o mundo da vida e da cultura constitui-se no tecido fundamental do processo de construção do conhecimento”. Tais percepções de si, do outro e do mundo são fatores essenciais para a configuração da práxis. Assim, a práxis se constitui em ações que promovem o autoconhecimento do sujeito, que ao perceber-se manipulado, explorado, minimizado pelas injustiças sociais, culturais, políticas, entre tantas outras formas de anulação da subjetividade, será capaz de criar estratégias de transformação do estado menorizado, para o crítico reflexivo. Nesta perspectiva, o pensamento Marxista é relevante para analisar as práxis pedagógicas, tendo em vista que este pensar tem legitimidade uma vez que é a nascente do conhecimento sobre práxis. Ainda aprofundando os estudos sobre a práxis Vazquéz (1977, p. 185) afirma que “Toda PRAXIS é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. O autor apresenta a definição em sentido amplo, ao passo que os demais estudiosos trazem a essência da práxis para a sala de aula, na figura do pedagogo o sujeito da práxis. No pensamento de Freire (1987, p. 70) ela se configura como condição, ou seja, “se os homens são seres do quefazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É transformação do mundo”. Seguindo essas trilhas enraizadas na pedagogia crítica humanizadora Gadotti (2004, p. 30-31) concebe a práxis como ação transformadora da realidade social, pois permite ao educador apoiar-se em sua “subjetividade criadora, crítica e reflexiva”. Ainda tratando as discussões em torno da práxis, temos Pimenta (2011) ao afirmar que a práxis é atividade docente, pois pressupõe que o educador conheça seu objeto de estudo, estabeleça propósitos, cujas interferências recairão sobre a realidade do sujeito de forma transformadora. Para compreender o porquê de instituir o processo de formação permanente na educação brasileira iniciamos o diálogo com Gatti (2008) de acordo com estudos os últimos anos do século XX foram marcados exacerbadamente com a ideia de formação continuada em diversas instituições universitárias, sobretudo em setores como a: educação, cultura, saúde, entre outros. Isso pressupunha inovação e atualização constante em virtude das exigências modernas acerca do trabalho. Ancoramos nos aportes teóricos acerca da práxis consubstanciados ao pensamento de Freire (1967, 1987), Vázquéz (2007), Gadotti, (2004), Carvalho (2005) e, de Pucci (2007) que reafirma a necessidade em compreender o contexto histórico para abstrair sentido das teorias que o contempla, assim a formação continuada se sustenta em Freire (1967, 1987), Vasconcelos e Brito (2006), Freitas (2007). Enfim, enfatizamos que o substrato fundante para reflexão da temática proposta tem como referencial básico o pensamento de Freire sobre o conhecimento educativo, sobretudo a preocupação a formação de sujeitos históricos, conscientes, humanizados, justos e críticos, porque continua sendo a nossa angústia e um desafio para os educadores na contemporaneidade. METODOLOGIA Para realizarmos esta pesquisa de revisão de literatura analisamos as produções científicas entre o período de 2007 a 2012 ressaltando as contribuições e considerações sobre a temática 113 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades “práxis pedagógica e formação continuada”, publicadas tanto em periódicos, quanto nas pesquisas realizadas nos PPGs mestrado e doutorado no Brasil. Nos pautamos na abordagem qualitativa/quantitativa, pois contempla as expectativas acerca da demonstração dos resultados, bem como proporciona uma visão geral dos aspectos particulares de cada pesquisa. As análises dos gráficos, cuja abordagem se estabelece pela qualitativa/quantitativa foram subsidiadas por André (1992, 2000, 2001, 2008, 2012), Oliveira (2007), Freitas (2002), Guimarães (2002) e Gatti (2008) para entender o surgimento do processo. A pesquisa contempla artigos do site Scielo.br (http://www.scielo.br) e Scielo.org (http://www.scielo.org), bem como o banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES ( http://www.capes.gov.br/) e Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT (http://www.ufmt.br). A PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL: UM ESTUDO SOBRE A PRÁXIS PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO CONTINUADA De acordo com os dados do site http://www.brasil.gov.br do Governo Federal sobre Produção Científica, o Brasil produz a cada ano (8%) de trabalhos científicos, uma vez que a média mundial é de (2%) ao ano. Importante frisar que nosso contato com a pesquisa ainda é muito recente se compararmos a outros países que produzem ciência, esse dado é um número expressivo considerando a temporalidade e o investimento na Educação de modo geral. Entre os anos de 2007 e 2008 aumentou em (56%) a produção de artigos publicados em revistas internacionais. Isso é excelente se compararmos as produções no ano de 1981 onde o país produzia 0,44% desses trabalhos. Em 2007 e 2011 houve 2 (duas) produções em ambos os anos, porém em 2009 e 2010 houve apenas 1 (um) trabalho em cada ano, ao passo que 2008 e 2012 foram marcados pela ausência de produção voltada para a temática Práxis Pedagógica e Formação Continuada. Nesse cenário os dados sobre a fundação da PUC-SP revelam que foi a pioneira em pósgraduação, talvez devamos atribuir a isso a maior concentração de pesquisas realizadas em São Paulo, ainda que nem todas as produções sejam da instituição. Isso reflete nos demais campus da Instituição, visto que 3 (três) produções estão na PUC/PR, e 2 (duas) na Federal da Bahia, as demais instituições ficaram ambas com 1 (uma) produção. As Teses se concentram na USP com 2 (duas) produções, a UNESP, UFRGS, ULBRA e PUC/SP ambas com 1 (uma) produção. Steiner (2005) explica o motivo pelo qual a USP detém a maior concentração na produção das Teses. E ainda apresenta as quatro instituições responsáveis pela formação de doutores. Segundo ele: Se considerarmos o conjunto das universidades dos EUA e do Brasil, das dez instituições que mais formaram doutores no ano de 2003, quatro são brasileiras (USP, Unicamp, Unesp e UFRJ) e seis são norte-americanas (U. CA Berkely, Nova Southeastern U., U. TX Austin, U. WI Madison, U. IL Urbana-Champaign e U. MI). A primeira do ranking é a USP, que em 2003 formou mais doutores (2.180) do que as três primeiras do ranking americano somadas (2.116)” (STEINER, 2005. p. 351). Nesse sentido, Guimarães (2002) traz um dado importante sobre o motivo que levou algumas intituições aderirem as pesquisas científicas. Segundo ele: “Talvez, haja apenas quatro universidades onde a atividade de pesquisa foi pensada como missão institucional inaugural. A USP, a Unicamp, a UnB e a recentíssima Universidade do Norte Fluminense (UENF)” (GUIMARÃES, 2002. p. 46). Steiner apresenta um paralelo entre o quantitativo de doutores formados por área de conhecimento no Brasil e nos Estados Unidos no ano de 2003, nas analogias entre as áreas (ciências: agrárias, biológicas, exatas, da saúde) enfim, mas o dado que nos chama atenção está 114 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades relacionado à área de “Humanidades/Educação, pois detém a menor formação em relação as demais apresentadas, cerca de 1,821 (22%) de doutores na Educação, ao passo que nos EUA foram cerca de 14,350 (35%)” (2005. p. 352). AGÊNCIAS E FINANCIAMENTOS DA PESQUISA No cenário atual das pesquisas ainda são tímidos os recursos para financiamento cerca de 76% das Dissertações e, 50% das Teses não contaram com auxilio financeiro, porém chama atenção quando nos voltamos para CAPES que auxiliou os trabalhos no doutorado, cerca de 33%, equivalendo a 2 (duas) pesquisas. Nesse contexto de produção é explicita e expressiva a participação do gênero feminino nas dissertações produzidas mantendo 82%, e masculino apenas com 18%, legitimando esse espaço de produção em escala de gênero as Teses contam com 83% dos trabalhos desenvolvidos por mulheres e, apenas 17% produzidos por homens. Ainda sobre financiamentos Guimarães (2002) explica sobre o processo de fomento e apoio a pesquisa por parte do Governo Federal, nesse sentido ainda que de forma tardia reconhecemos os esforços em recuperar o período de estagnação das pesquisas. Segundo Guimarães a disseminação das produções: No campo do fomento, a reforma aponta para um deslocamento importante em três direções sinérgicas, mas que possuem vida e identidades próprias. A legislação que cria e regulamenta os fundos setoriais, principal instrumento financeiro da reforma, determina que os programas organizados em seu âmbito sejam predominantemente: de caráter induzido, agregando-se componentes prioritários à perspectiva de mérito científico, definidos por atores de dentro e de fora da comunidade científica; de caráter tecnológico, deslocando o tradicional balanço observado na pesquisa realizada em nosso país, predominantemente científica; de caráter empresarial, contemplando, sempre que possível, associações das empresas com grupos e instituições de pesquisa, e deslocando o eixo institucional de execução predominante no Brasil, localizado nas universidades e institutos de pesquisa.(GUIMARÃES, 2002.p. 41) Atualmente a Capes é uma das responsáveis pelo fomento das produções científicas, tanto que Araújo (2013) em sua matéria sobre o “Lançamento do livro A pós-graduação e a evolução da produção científica brasileira” disponível no portal de periódicos da Capes ressalta que “nosso país ocupa o 13º lugar no ranking das produções científicas”. Em 2007 um ano após o texto sobre as alterações na estrutura da CAPES ter sido encaminhada ao Congresso, nos deparamos com a análise de Marli André a respeito dos financiamentos para pesquisa: A grande maioria das pesquisas relatadas nos textos não contou com financiamento externo. Apenas 20% teve apoio financeiro do CNPq, CAPES ou das Fundações Estaduais. Esses dados deixam muito evidente o quanto a pesquisa ainda é uma atividade voluntarista, que depende mais da iniciativa pessoal do que de uma política institucional ou de políticas públicas. (ANDRÉ, 2007, p. 492) Guimarães (2002) aborda a relação do Brasil com as produções científicas, cujo desenvolvimento temporal inicia na década de 50, ao passo que o crescimento atinde maior velocidade nos anos 70 ao contemplar as instituições públicas nos seus programas de pósgraduação. 115 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A ABORDAGEM QUALITATIVA NAS PESQUISAS EDUCACIONAIS Ao tratarmos de pesquisas voltadas para a esfera educacional é relevante levarmos em consideração os fatores que estão nos bastidores tanto do lócus, quanto dos sujeitos. Nesse sentido Frago (1993) ao realizar sua pesquisa histórica a respeito da alfabetização no cenário mundial constatou que a essencia não era revelar tao somente o quantitativo de pessoas que não faziam parte do mundo da escrita, mas entender os meandros, os por menores que levaram algumas pessoas a desenvolver em seus grupos o processo de aquisição da leitura. Nesse contexto, surge então fatores novos que se materializavam como implicações a serem pesquisadas tais como: “as causas, agentes e modos de realização deste último” (FRAGO, 1993, p. 30), assim as análises partem para outros vieses rumo a qualificação. Nesse sentido, buscando entender o inicio dessa abordagem em nosso país André fala sobre o período em que iniciaram as abordagens qualitativas no Brasil, segundo a autora: “No final dos anos 80 há um número considerável de dissertações, teses e relatórios de pesquisas nos Programas de Pós-Graduação em Educação do Brasil que mencionam as abordagens qualitativas” (ANDRÉ, 1998. p 31). Ainda sobre a esfera nacional Guimarães (2002, p. 43) nos fornece informações a respeito do privilégio por parte das esferas públicas nas produções científicas, segundo o autor está praticamente se equiparando, em uma década o distanciamento das particulares com relação as pesquisas estão diminuindo significativamente. Sem dúvidas esse estreitamento está relacionado ao crescimento das Universidades, houve modificações no panorama das produções, com isso a abordagem qualitativa, ganha vida e espaço em aproximandamente 100% dos trabalhos analisados em nossos estudos. É válido ressaltar que os instrumentos utilizados nas pesquisas realizadas são pertinentes à abordagem qualitativa e, necessário para a triangulação dos dados em virtude da diversificação dos instrumentos de análise, que André (2001) atribui tal crescimento ao estudo qualitativo. No panorama educacional André acredita que a pesquisa etnográfica seja a que melhor descreve o ambiente escolar, quando nos referimos às práticas docentes, pois o pesquisador vai o lócus com o objetivo de registrar, compreender e descrever as ações e situações em seus diversos contextos, segundo ela: Para entender e descrever essa cultura, o pesquisador faz uso da observação participante, que envolve registro de campo, entrevistas, análises de documentos, fotografias, gravações. Os dados são considerados sempre inacabados. O observador não pretende comprovar teorias nem fazer generalizações estatísticas. O que busca, sim, é compreender e descrever a situação, revelar seus múltiplos significados. (ANDRÉ, 1998. p 30) Ao reconhecer as contradições postas nas relações dialéticas, cuja materialização personifica-se no chão da escola, em virtude das culturas concentradas nesse espaço representando nossa sociedade em todos os seus aspectos: sociais, ideológicos, econômicos, e culturais. Tais particularidades dos sujeitos como nos dizia Frago (1993) devem ser consideradas sim, em sua totalidade, pois exercem forças na constituição da identidade do homem, cujas explicações estão relacionadas a interesses (políticos, econômicos, religiosos) e contextos históricos. Nessa perspectiva, nosso tema de estudo é contemplado pela abordagem qualitativa, uma vez que não só os sujeitos são componentes essenciais para a pesquisa, mais também os meandros, os conflitos e as contradições. Buscamos em Freitas um olhar subjetivo a partir do contexto sócio histórico, diante disso a autora afirma que: Os estudos qualitativos com o olhar da perspectiva sócio-histórica, ao valorizarem os aspectos descritivos e as percepções pessoais, devem focalizar o particular como instância da totalidade social, procurando compreender os sujeitos envolvidos e, por seu intermédio, compreender também o contexto. (FREITAS, 2002. p. 26) 116 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Nessa perspectiva sócio-histórica é possível compreender o sujeito a partir da percepção do contexto, uma vez que os meios em virtudes das contradições irão de alguma forma influenciar no desenvolvimento das pessoas. Percebemos quão relevantes são os pormenores da pesquisa, as situações externas ao ambiente, as entrelinhas cotidianas que de certa forma são impregnadas no ambiente escolar, por conseguinte no fazer pedagógico. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Durante a pesquisa foi constatado a existência de produções científicas que contemplavam parcialmente nosso objeto de estudo, pois o foco estava direcionado em especial ao processo de “formação continuada docente”, ao passo que o tema que nos propusemos a pesquisar estava um passo além, isso significa explorar não só os caminhos dessa formação permanente, mas também a forma como estabelecem o elo com as atividades em sala de aula. Evidente, que as produções acerca do processo indissociável entre teoria e prática docente ainda precisam ser mais exploradas, uma vez que, a práxis necessita de uma teoria que a sustente, que lhe dê vida. Por isso, fazê-la existir é um desafio para os educadores, principalmente para os que se veem capazes de construir junto a seus educandos uma sociedade mais justa e humanizada através das relações dialógicas no contexto escolar. Diante das leituras até aqui apresentadas é possível chegar à conclusão que a descontinuidade do saber científico na escola é visível, com exacerbado desencontro entre o discurso e ação, o que é dito, não é confirmado em sala de aula. Ausência de sustentação teórica que legitimam as práticas educativas, associada a uma visão desvalorizada da formação no espaço escolar pelos próprios profissionais comprometendo a existência de professores reflexivos. Esses dados são preocupantes se considerarmos a essência da formação continuada docente e suas implicações para a educação cidadã pautadas na práxis pedagógica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ. Marli Eliza Dalmazo Afonso. Cotidiano escolar e práticas sócio-pedagógicas. Em Aberto, Brasília, ano 11, n.53, jan./mar. 1992. 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Discorremos aqui, sobre a formação do professor de filosofia a partir de uma breve reflexão sobre o Programa de Bolsas de Iniciação à docência – PIBID, uma política pública educacional que tem colaborado significativamente para a qualidade formação dos futuros professores de filosofia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, destacando o projeto “Olimpíada de filosofia” desenvolvido pelos bolsistas PIBID que realizaram no ano de 2012 oficinas com os alunos do Ensino Médio de duas escolas de Santa Maria – RS com o tema norteador: “O Homem e as tecnologias no séc. XXI”. Tal Tema, proporcionou aos bolsistas e futuros professores, um maior enfrentamento das questões relativas às TIC na escola e na sociedade, além de um maior contato com a realidade da escola. Palavras-chave: PIBID, TIC e ensino de filosofia. Da formação inicial do professor de filosofia Sabemos que a qualidade na formação de professores e a sua inegável influência no contexto educacional como um todo, tem sido, nos últimos tempos, tema de diversas conferências, artigos e livros. Esta temática tem se tornado cada vez mais relevante no contexto atual da nossa sociedade, caracterizada cada vez mais pela velocidade, flexibilidade de tempo e espaço, bem como permeada por diversas e constantes mudanças. A formação do professor de filosofia por sua vez, na maioria dos casos, se dá com o foco nos conteúdos filosóficos propedêuticos, ou seja nos conteúdos, que dizem respeito à história da filosofia e das obras e pensamentos dos filósofos. Em contrapartida são muito poucas as disciplinas que tratam especificamente sobre as questões pedagógicas, fator que causa uma grande defasagem entre o que se aprende na Universidade e o que se vivencia no contexto da Escola Básica. Tais conteúdos propedêuticos trazem ao futuro professor de filosofia em formação, a possibilidade de este desenvolver algumas competências muito restritas à área da filosofia, dando um tom muito forte de bacharelado à Licenciatura em Filosofia, que por sua vez, de acordo com Heuser (2010, p. 21) “No melhor dos casos formam-se competentes pesquisadores que, no entanto, sentem-se incapazes de assumirem turmas nas escolas por não estarem minimamente preparados para o exercício de tradução dos conceitos e para o uso didático dos textos da tradição filosófica.” Ainda, conforme ressalta Heuser (2010, p. 19), “(...) poucas são as licenciaturas que vivem tão intensamente a dicotomia entre prática e teoria como a Filosofia, chegando a ser sentida como uma cisão entre dois mundos na própria grade curricular de boa parte dos cursos.” Ao defrontar-se com o desafio de um estágio, na medida em que o acadêmico de licenciatura em filosofia sabe que ficará frente a frente com seus alunos do ensino médio, este já sente necessidade de mais aprofundados conhecimentos das áreas relativas à prática pedagógica. Inúmeras são as dúvidas e receios que permeiam pensamentos e discussões com professores e colegas, uma vez que, no decorrer do curso de licenciatura, poucas são as disciplinas que abordam as questões sobre o ensino e a aprendizagem de filosofia, fator que causa grande insegurança ao 119 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades futuro professor. De acordo com Heuser (2010, p.1): “Por força de lei todo curso de Licenciatura tem prevista a atividade curricular Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado, atividade que não pode ficar reduzida a um espaço isolado e desarticulado do restante do curso”. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia - CNE/CES 492/2001, estão previstas uma série de competências a serem desenvolvidas pelos estudantes dos cursos de Licenciatura em Filosofia, que vão desde o desenvolvimento das habilidades de leitura e interpretação de textos filosóficos, desenvolvimento de consciência crítica, trabalho com o aparato conceitual próprio da filosofia, até o desenvolvimento da competência em utilização da informática. É de suma importância a reflexão sobre um dos principais problemas na formação do professor de filosofia, que tem em sua base de formação uma carência de conhecimentos que dizem respeito ao desenvolvimento das competências didático pedagógicas e em utilizar e pensar sobre as tecnologias da informação e da comunicação na prática pedagógica. Tal problema, se configura em um dos grandes paradigmas existentes dentro do próprio curso de licenciatura, a saber: ser filósofo ou ser professor de filosofia. No caso da graduação em filosofia na UFSM, o PIBID nos últimos anos tem sido um dos grandes aliados na formação dos licenciandos, uma vez que eles podem ter uma maior oportunidade de vivência dentro da escola básica antes mesmo de iniciar o estágio curricular previsto na grade curricular do curso, pois, um dos grandes impasses para a formação do professor de filosofia, no sentido de dar-lhes condições para utilizar, problematizar e promover a produção filosófica com seus alunos no ensino médio é a carência de disciplinas didático-pedagógicas. As disciplinas didático pedagógicas devem proporcionar um maior contato do acadêmico com as questões relativas à realidade escolar, aos tipos de alunos e aos tipos de TIC que hoje fazem parte do cotidiano da sociedade e dos alunos e de que forma elas nos afetam ou até mesmo podem ser utilizadas no ensino e aprendizagem de filosofia. Com a introdução do programa PIBID no curso de licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria, muitas das questões citadas acima, no que se refere à carência da preparação do futuro professor de filosofia para o enfrentamento da sala de aula no Ensino Médio passaram a ser trabalhadas em forma de projetos articulados com duas escolas públicas de Santa Maria localizadas no Rio Grande do Sul. Num primeiro momento, faz necessário uma elucidação sobre como se chegou até esse programa, ou seja, qual o caminho percorrido para que chegássemos até o programa PIBID que hoje, no ano de 2013 é um programa já consolidado e que tem atingido muitas das metas estabelecidas em sua origem. Até o ano de 2007, os principais índices nacionais de avaliação da educação básica, tais como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), vinham apontando o fracasso de muitos dos programas do governo de incentivo à melhoria da educação no Brasil, fator que originou a necessidade de implementação de políticas que de fato fomentassem a melhoria da formação inicial e também continuada dos professores da educação básica. Com o intuito de estabelecer um plano de ações voltadas para a melhoria da educação, em 2007, o decreto nº 6.094 estabelece um Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, cujo objetivo seria a junção de ações coletivas por parte da União, estados e municípios, bem como o apoio da sociedade. Complementarmente à esse decreto, foi sancionada a lei 11.502 de 11 de Julho de 2007, trazendo a reformulação da estruturação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que a partir desta lei, passa a ser responsável pelas políticas de desenvolvimento e formação para o magistério (BRASIL, 2007a). Em 29 de Janeiro de 2009, a CAPES promulgou o decreto nº 6.755 que tratava da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação básica que prevê o apoio dos três níveis de governo para a organização e amparo ao processo de formação docente, tendo como foco a escola como parceira das instituições de ensino superior na criação dos projetos para 120 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades estímulo à docência na educação básica (BRASIL, 2009b). Alguns dos principais objetivos deste decreto são: a promoção da melhoria da qualidade da educação básica pública, o apoio na expansão e oferta aos cursos de formação inicial e continuada dos profissionais do magistério, a promoção da igualdade de oportunidades de formação inicial e continuada a nível nacional, valorização docente, a atualização técnico-metodológica dos profissionais da educação, a ampliação de docentes atuantes na educação básica, formação integral dos professores, atualização, principalmente no que se refere às TIC e a integração da formação inicial com a educação básica. Sendo assim, a CAPES cria o Programa institucional de bolsas de iniciação à docência (PIBID), cujos principais objetivos são os descritos acima, acrescidos da valorização do magistério para que mais acadêmicos escolham a carreira docente, da elevação da qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial dos professores, da inserção dos licenciandos no contexto escolar para uma maior integração entre a escola e a universidade, e, da mobilização dos professores das escolas básicas como co-formadores dos futuros professores. No caso do PIBID no curso de filosofia da UFSM, no ano de 2012, o tema gerador trabalhado pelos bolsistas do PIBID juntamente com as duas escolas públicas da cidade de Santa Maria escolas foi: “O Homem e as tecnologias no séc. XXI”. Tal temática proporcionou aos bolsistas momentos de leitura, análise e reflexão filosófica sobre textos relativos às tecnologias suas possibilidades, limites e consequências na sociedade contemporânea. Concomitantemente aos estudos realizados dentro da Universidade pelos bolsistas, os mesmos desenvolveram oficinas com os jovens das duas escolas participantes do projeto PIBID, de forma a contemplar a temática utilizando conceitos, problemas e reflexões filosóficos. Foram planejados e produzidos nestas oficinas: textos, vídeos, poemas, fanzines 12 , esculturas, teatro, música e dança contemplando tal temática, de forma a sensibilizá-los de uma maneira filosófica sobre a questão das tecnologias, bem como a dar aos alunos aportes teóricos para que eles pudessem realizar reflexões filosóficas a partir da realidade em que estão inseridos. Para a finalização do projeto, foi organizada uma “Olimpíada de filosofia” na Universidade Federal de Santa Maria com o intuito de integrar os participantes do programa bem como convidar a comunidade acadêmica e escolar para conhecer os trabalhos desenvolvidos pelos bolsistas em parceria com os professores e alunos. No dia do evento “Olimpíada de filosofia”, os alunos das escolas participantes, os bolsistas e os professores tanto da Universidade quanto da escola, puderam em conjunto refletir sobre as questões das tecnologias e como elas tem afetado nossa maneira de viver, de ser, de pensar de ensinar e aprender. Pois, desde meados do século XX, é notória a presença crescente das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) em todos os setores da nossa sociedade, seja na produção primária ou de bens de consumo, seja na prestação de serviços ou nos relacionamentos interpessoais. Juntamente com as TIC, vieram inúmeras facilidades, comodidades e avanços em termos de comunicabilidade, produção e difusão de conhecimento, intercâmbio cultural, entre outras tantas, sem as quais as pessoas em geral já não podem mais viver sem. A informação, por sua vez, através das TIC, ganha uma dimensão global e instantânea, sendo por vezes construída e disseminada por milhares de internautas conectados no World Wide Web 13. Ao escrever sobre as mudanças contemporâneas, Lévy (2000) reflete sobre a questão da velocidade com que as informações surgem e são renovadas nas redes que se criam e que se interconectam, e que segundo ele, faz com que as pessoas se comuniquem de forma anárquica (no sentido de diversidade) e produzam uma verdadeira guerra de saberes, imagens, conceitos, propagandas, etc. No campo educacional essas mudanças vêm impondo a necessidade de várias adaptações, atualizações e revisões nas práticas pedagógicas. Estas questões são, na maioria das vezes, bastante 12 13 Fanzine é uma revista editada por um fã. WWW é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na internet. 121 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades desafiadoras para o professor que está em sala de aula, bem como para o professor formador de professores, pois, diferentemente de outros setores da sociedade, a questão das TIC na educação brasileira ainda é considerada como uma novidade recente e está sendo, de forma bastante lenta, introduzida, tanto materialmente quanto conceitualmente, nas práticas escolares e nas reflexões sobre estas práticas. O paradigma educacional emergente requer a inserção de novas práticas curriculares e metodologias inovadoras, para fazer frente às necessidades de uma sociedade globalizada, que altera padrões de vida das pessoas, seja na maneira de se comunicar, nas habilidades profissionais de atuação ou na forma de aquisição do conhecimento e do pensar. (GREGIO, 2004, p.2). Para Lévy (2000), as tecnologias não podem ser taxadas como boas, como más ou como neutras, segundo ele, tudo irá depender do uso que fazemos delas e do ponto de vista de quem a utiliza, das situações diversas em que elas aparecem, condicionam ou restringem. Para ele, a questão não é avaliar os impactos da tecnologia, mas de pensar sobre as possibilidades de sua utilização em nossas vidas, em constante velocidade de renovação. Vivemos hoje na era do desenvolvimento humano, marcado pelo que Castells (1999) chama de informacionalismo, que é baseado nas tecnologias da informação, ou seja, vive-se na urgente busca de conhecimento, seja para satisfazer nossas necessidades primárias, seja para dar sentido à nossa existência. Nessa busca hoje, por meio da internet, somos capazes de desenvolver e criar novos saberes a partir do que já possuímos e isso, através da interação que altera significativamente o cotidiano social, cultural, o mundo do trabalho, as formas de representar, organizar e adquirir o conhecimento. Tais condições acabam por alterar as relações entre ensino e aprendizagem na escola. Fora da sala de aula convencional, a linguagem digital ou audiovisual, desempenha já há algum tempo, o papel de uma nova forma de representar o conhecimento e passa a conviver com as mais tradicionais formas de linguagem, ou seja, forma oral e escrita. São os mais jovens os usuários mais assíduos dessas novas linguagens, pois eles aprendem e criam saberes a partir e com essas novas ferramentas e formas de significação do mundo e do conhecimento: Estamos diante de uma geração que aprendeu a falar inglês diante da imagem de televisão captada por uma antena parabólica, e não na escola, que tem forte simpatia pela linguagem das novas tecnologias e que se sente mais à vontade escrevendo no computador do que numa folha de papel. Tal simpatia se apoia numa plasticidade neuronal que dota os adolescentes de uma enorme capacidade de absorção de informação, seja ela via televisão ou vídeo games, e de uma facilidade quase natural para entrar na complexidade das redes informáticas e manejá-la. (…) Os jovens respondem com uma aproximação composta não apenas por uma facilidade em se relacionar com as tecnologias audiovisuais e informática, mas também por uma cumplicidade cognitiva e expressiva: encontram seu ritmo e seu idioma nos relatos e imagens dessas tecnologias, em sua sonoridade, fragmentação e velocidade (BARBERO, 1999, p. 19-20). Os últimos anos são marcados por inúmeras reformas educacionais que propõem uma perspectiva educacional que seja mais condizente com a nossa sociedade em constante transformação e que hoje é denominada por muitos de “sociedade tecnológica”. Não obstante, sob a perspectiva do mero discurso contido nos decretos e projetos das reformas educacionais, não é possível que se tenha uma transformação imediata para sua utilização na escola. Por ora, não se faz nem possível falar de um discurso que disputa o poder para nomear uma nova realidade emergente de acordo com as ideias foucaultianas sobre as “epistemologias sociais” que estão na constante disputa pelo poder de definir as novas realidades em emergência. Esta discussão está para além dos campos acadêmicos, pois é política, ou seja, estas questões são abordadas nas dinâmicas sociais do poder. 122 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Visto que o discurso (…) não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar. (FOUCAULT, 2004, p.10). Entretanto, este discurso que diz respeito à urgente “tecnologização” das nossas escolas, aos poucos constrói a legitimação das ações governamentais sobre a educação. Sabemos, portanto, que a efetiva implantação das TIC na educação, não significa somente a instalação dos suportes técnicos e físicos, mas que ela carrega consigo as epistemologias sociais que irão bater de frente com as diferentes realidades das escolas espalhadas pelo Brasil. São necessários portanto, o estudo, a reflexão e o debate sobre os pressupostos pedagógicos, políticos, filosóficos e tecnológicos que hoje movem esses discursos e das políticas educacionais, para que possamos ter uma compreensão mais ampla sobre as implicações das TIC nas relações de ensino e de aprendizagem e até que ponto elas estão sendo implementadas com sucesso no sentido de uma construção de saberes efetiva e não apenas no nível da instrumentalidade. De acordo com Silva & Coronel (2006) o ensino de filosofia tem passado por um momento de maior análise, abrindo cada vez mais espaço para os diálogos concernentes aos conteúdos e metodologias da disciplina, de forma a contemplar as características próprias da filosofia, não apenas no que se refere a transposição das metodologias que são utilizadas nos cursos de graduação em filosofia, mas sim, na tentativa de tornar a filosofia mais aderente à realidade da sala de aula do ensino médio. A análise mais aprofundada sobre as questões próprias do ensino de filosofia, tem movido há alguns anos diversos pensadores da educação e, inclusive, legisladores a pensarem em projetos que procuram visar de alguma forma o aprimoramento do professor desde a sua formação inicial. Atualmente, várias políticas para a formação inicial e continuada de professores vem sendo implementadas. Dentre essas políticas, procuramos destacar neste trabalho, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) que tem proporcionado uma maior oportunidade de inserção dos acadêmicos na instituição escolar e ao mesmo tempo proporcionando aos professores da escola pública e alunos do ensino médio, um trabalho mais diversificado, como pudemos perceber a partir da experiência vivida pelo PIBID filosofia da UFSM. Referências Bibliográficas BARBERO, Jesús Martín. Novos regimes de visualidade e descentralizações culturais. In. Mediatamente! Televisão, cultura e educação. Secretaria de Educação à Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999, P.17-40. (Série de Estudos. Educação a Distância, v11). BRAIDA, C. R. Filosofia, Ensino e o Império do Virtual. In: Filosofia e seu ensino: desafios emergentes/ Org. NOVAES & AZEVEDO. Porto Alegre: Sulina, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. Brasília, 2007a. 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Acessos em 19 nov.2012 A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NO CONTEXTO DO GERENCIALISMO CONTEMPORÂNEO Domingos Pereira Silva (UNICAMP) Vicente Rodriguez (UNICAMP) RESUMO O presente artigo sintetiza os resultados de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida no âmbito do Doutorado em Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, a respeito da incidência do gerencialismo na escola pública. Assim, realizaremos uma breve contextualização do gerencialismo contemporâneo e sua implicação nas orientações da política educacional brasileira. De forma genérica, partimos do pressuposto de que a orientação das políticas educacionais sob a égide do gerencialismo contemporâneo, intrínseco à implementação da perspectiva neoliberal de “terceira via”, vem provocando mudanças não apenas nos aspectos organizacionais das escolas, como também na orientação cultural dos sujeitos, que são impingidos a promover a culturalização da lógica gerencial. Do ponto de vista da forma de abordagem a pesquisa é de natureza qualitativa e como procedimento utilizado recorremos à análise crítica da bibliografia selecionada. Palavras-Chave: Estado. Culturalização. Gerencialismo Contemporâneo. 125 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades I - INTRODUÇÃO É preciso situar o gerencialismo contemporâneo como parte de um processo dinâmico de reestruturação do modo de produção capitalista e da reforma do Estado, o que pressupõe o reordenamento de sua relação com a sociedade civil. Partimos do pressuposto de que a Educação e especificamente a escola, não se separam do campo mais amplo das políticas e de que sua compreensão passa necessariamente pela análise das bases materiais, historicamente constituídas pelos homens em sociedade. Conforme Hypolito (2007) o Brasil e a América Latina tem seguido o modelo da reforma educacional conservadora iniciada nos anos de 1980 em países como EUA e Inglaterra e posteriormente disseminado em outros países do planeta. Do ponto de vista da forma de abordagem a pesquisa é de natureza qualitativa e teve como referência resultados de pesquisas empíricas e revisão bibliográfica. A partir da análise realizada, apresentamos as mudanças na educação como parte de um processo mais amplo e fundamental que perpassa o setor público, no qual a “alteração estrutural é apenas uma parte e um momento do processo de reforma” (BALL, 2011, p. 39). Por isso, ressaltamos não só o papel fundamental das alterações no aparato legislativo, como também na cultura e na gestão dos processos políticos. Para fins deste ensaio, objetivamos realizar uma breve contextualização do gerencialismo contemporâneo e sua incidência nas orientações da política educacional brasileira. Para tanto, tentamos apanhar a sua face mais desenvolvida, a partir das reflexões de Stephen Ball (2011) sobre a trajetória do Reino Unido e situar o contexto brasileiro frente à “importação e disseminação do gerencialismo”. II - CONTEXTUALIZANDO O GERECIALISMO CONTEMPORÂNEO Como desdobramento do processo de reestruturação do capitalismo se evidencia de forma concomitante ao contexto das políticas educacionais a reforma do Estado, que se efetiva na atualização da perspectiva gerencial que denominaremos para fins deste trabalho como gerencialismo contemporâneo. Para Ball (2011), como resultado das políticas adotadas no Reino Unido, a educação e o setor público estão mais próximos dos modos de regulação e controle que predominam no setor privado. Nesse sentido, “o setor público não é mais visto como tendo qualidades especiais que o distingam de um negócio” (Id., ibid., p. 25). Dentre os aspectos da reestruturação Ball (2011, grifos do autor) destaca como categorias de mudança, as alterações no modo de regulação e a formação de novas subjetividades “profissionais”, que permitem capturar ou transmitir sua natureza multifacetada. Em linhas gerais o movimento de indução das políticas públicas no atual gerencialismo, se desdobrou no Brasil com a implantação do Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), que teve à frente Luiz Carlos Bresser Pereira, de 1995 a 1998. É desse período o Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado - PDRAE, lançado em 1995, que estabeleceu a orientação vigente das políticas em curso. A partir do documento ora referenciado foram definidos quatro setores do Estado, a saber: o núcleo estratégico, formado pelo Legislativo, Judiciário, Cúpula dos Ministérios e pelo Ministério Público; as atividades exclusivas, como regulamentação, fiscalização, segurança pública e seguridade social básica; os serviços não exclusivos, compostos por universidades, hospitais, centros de pesquisa e museus, e; a produção para o mercado, representado pelas empresas estatais. Outro aspecto importante a ser observado no PDRAE é a caracterização das formas de propriedade. Assim, No núcleo estratégico a propriedade tem que ser necessariamente estatal. Nas atividades exclusivas de Estado, onde o poder extroverso de Estado é exercido, a propriedade também 126 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades só pode ser estatal. Já para o setor não exclusivo ou competitivo do Estado a propriedade ideal é a pública não estatal. (BRASIL, 1995, p.43). Frente ao exposto é possível observar, ainda hoje, o lastro da orientação apresentada. Sob esse “novo modelo” as escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, as creches, os ambulatórios, os hospitais, as entidades de assistência aos carentes, os museus, etc., são considerados como serviços não exclusivos do aparelho do Estado (PEREIRA, 1997). Destarte, em decorrência da mudança “organizacional” e cultural que vem sendo cultivada no interior da administração pública para o estabelecimento de uma administração gerencial, isto é, pautada pela lógica mercantil, atravessam diametralmente o Estado brasileiro os processos de terceirização, publicização e privatização. No âmbito da Educação, este último adquire contornos diferentes e menos visíveis, dos quais destacamos a sujeição da formação às noções do mercado e a adoção de ferramentas gerenciais. Os processos de reforma gerencial, que ganharam força no final do século XX, foram incentivados principalmente pelas experiências ocorridas no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, nos governos Tatcher e Reagan, respectivamente. A referida experiência caracterizou-se pela preconização da modernização da administração pública via utilização de critérios provenientes de empresas privadas. Nesse sentido, Ball (2011) ao tratar das transformações do setor público aponta como pontos-chave os discursos de excelência, efetividade e qualidade, bem como a lógica e a cultura do novo gerencialismo. Por constitui-se como parte do processo de reforma do Estado, o gerencialismo contemporâneo está associado à perspectiva neoliberal cuja ascensão remonta a década de 1970 quando o Estado de Bem-Estar social é colocado em questão, emergindo a defesa do Estadomínimo e a não intervenção do Estado na economia, com ênfase no mercado como regulador das relações sociais. Assim, a crescente adoção de mecanismos gerenciais como o planejamento estratégico, a gestão gerencial e a avaliação por resultados, tem ocasionado não apenas mudanças na forma como a escola se organiza, mas principalmente mudanças nos padrões culturais dos profissionais da educação, dos alunos, dos pais e de forma genérica da sociedade. A partir da orientação hegemônica do gerencialismo contemporâneo o cidadão passa a ser classificado como cliente/consumidor; a escola e a universidade como uma empresa/organização e o Estado passa da condição de instância responsável pela oferta e acompanhamento da implementação de políticas públicas dos direitos sociais, para condição de “regulador” gerencial de uma “nova cultura moral”. Desse modo, “Com a introdução da forma de mercado na provisão pública, não só um novo mecanismo de alocação e distribuição de recursos é alcançado, mas também a criação de um novo ambiente moral, tanto para consumidores quanto para produtores” (Id., Ibid., 2011, p.26). Nesse processo de privatização do espaço público da escola, é importante assinalar que a reforma gerencial contemporânea de inspiração neoliberal, desempenha um [...] importante papel de destruir os sistemas ético-profissionais que prevaleciam nas escolas, provocando sua substituição por sistemas empresariais competitivos (Id., 2005, p. 544). É mister destacar que a análise de Ball (2011) reporta-se especificamente a realidade do Reino Unido, por isso relata um contexto no qual os serviço públicos encontram-se em uma fase explicita de privatização. No Brasil, devido a questões sócio-históricas e políticas, presenciamos a ascensão da publicização e da terceirização, entendidas como formas veladas desse movimento. Vale destacar que Ball (2011) pontua cinco advertências cruciais para a análise em foco. Primeiro, “as mudanças do gerenciamento neotaylorista para o novo gerencialismo não são rupturas claras”. Segundo, “nem todas as organizações incorporam mudanças com igual boa vontade ou entusiasmo”. Terceiro, “em muitas organizações do setor público é possível identificar, conjuntamente em ação, ‘mensagens mescladas’. Quarto é importante não confundir o calor e o ruído da reforma e a retórica da marketização com a mudança “real” de estrutura e valores. Quinto, 127 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades a total transformação da lógica do pós-fordismo para o Estado do trabalho Schumpeteriano não deve ser possível nem desejável. Depois de destacar as particularidades do modelo gerencial em sua face mais intensificada, vale registrar que tal opção se realiza, dentre outros fatores, por considerarmos que as advertências podem servir como importante referencial na discussão do modelo gerencial, que no caso brasileiro encontra-se em curso sob os auspícios da perspectiva neoliberal de “terceira via 14”, que tem com a sua ascendente implantação evidenciado uma privatização dissimulada, operacionalizada mediante o redimensionamento das relações entre Estado e sociedade civil, em consonância com a ressignificação de termos e concepções. III - “TERCEIRA VIA”: O NEOLIBERALISMO RECONFIGURADO A “terceira via” pode ser entendida como a estratégia capciosa de reconfiguração das orientações que não foram implementadas em sua plenitude pelo neoliberalismo. O projeto político e econômico da “terceira via” sistematizado por Anthony Giddens15 promove uma culturalização sutil do ideário neoliberal e é por ele caracterizado como, [...] uma estrutura de pensamento e de prática política que visa a adaptar a socialdemocracia a um mundo que se transformou fundamentalmente ao longo das duas ou três últimas décadas. É uma terceira via no sentido de que é uma tentativa de transcender tanto a social-democracia do velho estilo quanto o neoliberalismo (GIDDENS, 2005, p. 36). Assim, em virtude da falta de possibilidades políticas da “direita” e da “esquerda”, seria inevitável que todas as forças políticas optassem pelo “centro radical”, cuja pauta consiste na defesa da “humanização do capitalismo”, na garantia da igualdade de oportunidade para todos e na democratização da democracia (GIDDENS, 1996; 2005). Nessa perspectiva, a “terceira via” “efetua” a crítica ao fundamentalismo de mercado, igualmente denominado de “neoliberalismo radical”, ao se opor às teses do Estado mínimo e de desregulamentação irrestrita e ao acusá-lo de desconsiderar a estrutura social que lhe dá sustentação. Assim, “O neoliberalismo é uma abordagem profundamente falha à política, porque supõe que não é preciso se responsabilizar pelas consequências sociais das decisões baseadas no mercado” (GIDDENS, 2001, p. 40). Critica-se também a esquerda, “Os neoliberais querem encolher o Estado; os socialdemocratas, historicamente, têm sido ávidos para expandi-lo. A terceira via afirma que é necessário reconstruí-lo”. (Id., 2005, p. 80). Nessa direção, naturaliza-se o processo histórico-social, ao negar a existência das lutas de classes e a centralidade da categoria trabalho, e ao tomá-lo como um aglomerado de fragmentos, descontinuidades e etapas, marcado por incertezas e imprecisões. Esse projeto-político, econômico e cultural, apesar de realizar a crítica às teses neoliberais, tidas como ortodoxas, traz, em sua estrutura, a autopreservação do projeto neoliberal, o que pode ser evidenciado na seguinte afirmação: “A maioria dos governos ainda tem um bocado a aprender com a melhor prática empresarial – por exemplo, controle de metas, auditorias eficazes, estruturas de decisão flexíveis e maior participação dos funcionários – o último destes sendo um fator de democratização” (Id., 2005, p. 84). 14 A “terceira via” surge quando o Novo Trabalhismo se apresenta como uma alternativa ao Neoliberalismo de Thatcher e também à antiga social democracia. A “terceira via”, atual social-democracia, é “uma terceira via no sentido de que é uma tentativa de transcender tanto a social democracia do velho estilo quanto o Neoliberalismo” (GIDDENS, 2005, p. 36). 15 Sociólogo britânico, ex-reitor da London School of Economics, assessor direto de Tony Blair. Ficou mundialmente conhecido ao sistematizar a teoria da “terceira via”. 128 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Com relação às críticas recebidas por assumir tal posicionamento Giddens (2001, p. 42) assevera que, “A esquerda deve se acostumar com os mercados, com o papel das empresas na criação de riqueza e com o fato de que o capital privado é essencial para o investimento social”. Conforme os elementos expressos é possível aludir que a opção da perspectiva de “terceira via” pelo capitalismo é evidente, pois: “Uma sociedade que não estimula a cultura empresarial não pode gerar a energia econômica que provém das ideias mais criativas” (Id., Ibid., p. 80). Destarte, a “terceira via” idealizada por Giddens visa de forma geral, estabelecer o consenso em torno do determinismo mercantil. “Não há mais alternativas conhecidas à economia de mercado; a competição de mercado gera ganhos a que nenhum outro sistema pode se equiparar” (Id., Ibid., p. 166). IV - IMPLICAÇÕES DO GERENCIALISMO PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR Cientes de que o gerencialismo representa uma orientação empresarial incidindo sobre as políticas públicas educacionais, cumpre-nos neste item, discutir sobre as implicações inerentes ao referido processo de transposição da lógica gerencial para a educação escolar. Porém, antes de realizar esse intento é extremamente necessário fazer, mesmo que de forma breve, uma distinção entre o conceito de público e privado, bem como realizar a distinção entre organização e instituição. Primeiramente cabe situar que o público diz respeito ao acesso coletivo de algo comum, independentemente da condição de classe à qual a sociedade tem se “organizado” historicamente. No que concerne ao privado, caracteriza-se pela apropriação individual ou grupista de algo produzido socialmente ao longo do desenvolvimento histórico. Como desdobramento dessa discussão, é imprescindível fazer a distinção entre empresa (organização) e escola (instituição). Em uma empresa, o trabalho é voltado para produção de mercadorias, deste modo, o excedente proveniente da força de trabalho é apropriado de forma privada e, em troca, os trabalhadores por venderem a sua força de trabalho (propriedade privada) recebem um salário como forma de se manterem vivos. Em uma instituição pública, no caso específico, a escola, o trabalho produzido pelo professor gera um processo como resultado que é “consumido” simultaneamente ao ato de produção ou para além dela. Abordar tais questões foi necessário para verificarmos que existe uma distinção incidente entre empresa e escola e tal distinção pode ser destacada dentre outros fatores, tanto pela natureza do que é produzido em cada uma delas quanto pela finalidade e organização do trabalho realizado pelos sujeitos em seu interior. Assim, ao passo que a função de uma empresa gira em torno da produção de mercadorias com a apropriação privada do mais valor, a função de uma escola constitui-se pela organização do trabalho com vistas a promover valor de uso voltado principalmente para a apreensão dos conhecimentos historicamente acumulados e das condições necessárias para o estabelecimento do desenvolvimento do pensamento crítico dos cidadãos. Ressalvada a existência de uma confluência entre o que é produzido e de como é produzido nos diferentes espaços sociais e períodos históricos é possível aludir a incongruência da transposição dos mecanismos gerenciais provenientes da empresa para a escola pública, dada a distinção indenitária entre ambas. Assim, com a transposição de mecanismos gerenciais como: planejamento estratégico, avaliação por resultados, eficiência, excelência, produtividade e competição para dentro da escola, tem-se a descaracterização da escola pública enquanto instituição histórica de direito público. É mister destacar que a introjeção dos mecanismos gerenciais na administração pública e especificamente na educação faz parte, conforme apresentado, de um processo de atualização e adaptação do neoliberalismo (“terceira via”). Nessa linha de pensamento é possível asseverar, ainda, que a “terceira via” faz parte da orientação teórico-política que visa promover a reforma do 129 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Estado e consequentemente estabelecer junto à sociedade civil “uma nova cultura” de privatização, por meio da publicização e da terceirização. De fato, [...] essa reforma, ao definir os setores que compõem o Estado, designou um desses setores como setor de serviços não exclusivos do Estado e nele colocou a educação, a saúde e a cultura. Essa localização da educação no setor de serviços não exclusivos do Estado significou: a) que a educação deixou de ser concebida como um direito e passou a ser considerada um serviço; b) que a educação deixou de ser considerada um serviço público e passou a ser considerada um serviço que pode ser privado ou privatizado (CHAUÍ, 2003. p, 6). O processo de reforma do Estado, intensificado na década de 1990, incidiu diretamente na educação. Esta ao “deixar” de ser concebida como direito - ao ser deslocada para o âmbito do serviço - passa, consequentemente, a ser implementada de forma publicizada, ou seja, podendo ser implementada por Organizações Sociais sem “fins lucrativos” e quando a educação deixa de ser considerada um serviço público e passa a ser entendida como um “serviço” ou “produto” pode ser privatizada e, logo, realizada por empresas. Vale ressaltar que [...] o processo de reforma gerencial do Estado contou com a adesão da social-democracia, por meio de seu projeto conhecido como a “terceira via” que estabeleceu novas obrigações aos indivíduos e à sociedade civil em relação ao Estado (SILVA, 2006, p. 69). Com efeito, a exacerbação dessa perspectiva por parte do Estado, assume a incumbência primordial de promover a regulação gerencial: restrita do ponto de vista de suas responsabilidades constitucionais, de atuar diretamente na oferta dos direitos sociais; e ampliada do ponto de vista da regulação intrinsecamente atrelada à desconcentração. Evidencia-se, portanto, a crescente desobrigação do Estado com a educação pública, aspecto que pode ser observado pela adoção de programas que defendem a publicização, o voluntariado e a terceirização da administração político-pedagógica, gerenciada por institutos ou empresas, dentre outros. Barroso (2005, p.732) nos traz um exemplo elucidativo sobre a atuação gerencial do Estado no processo de regulação das políticas educacionais, O Estado não se retira da Educação. Ele adopta um novo papel, o do Estado Regulador e avaliador que define as grandes orientações e os alvos a atingir, ao mesmo tempo que monta um sistema de monitorização e de avaliação para saber se os resultados desejados foram, ou não, alcançados. Se por um lado, ele continua a investir uma parte considerável do seu orçamento em educação, por outro ele abandona parcialmente a organização e a gestão quotidiana, funções que transfere para os níveis intermediários e locais, em parceria e concorrência com actores privados desejosos de assumirem uma parte significativa do ‘mercado’ educativo. Nesse contexto, é possível elucidar que o supramencionado processo de desrresponsabilização do Estado ocorre de forma articulada ao fortalecimento da regulação sob a lógica gerencial, calcada nos conceitos de eficiência, eficácia, excelência, produtividade, planejamento estratégico, qualidade total, publicização, filantropia, avaliação por desempenho, competências e habilidades, dentre outros. V - À GUISA DE CONCLUSÃO A reforma do Estado, no contexto da reestruturação do capitalismo, assenta-se em três dimensões, a saber: a institucional-legal, referente às alterações no aparato regulatório; a cultural, baseada na assimilação do ideário gerencial, e; a dimensão-gestão, que coloca em prática as ideias gerenciais e propala a modernização e qualidade do serviço público (BRASIL, 1995). Em tempo, sublinhamos que a reforma da aparelhagem estatal foi ideologicamente apresentada como uma medida moderna e democrática de superação tanto do intervencionismo do 130 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Estado, quanto do fundamentalismo do mercado, apesar de sutilmente se pautar pelos pressupostos desse último. Assim, como estratégia de legitimação, foi apresentada a necessidade de modernizar a administração pública e atender aos desafios inexoráveis postos pela globalização, no qual a atualização da perspectiva gerencial teve um papel central nesse processo. No Brasil temos experienciado a intensificação da lógica empresarial, por meio da transposição de mecanismos gerenciais para o setor público e consequentemente para a escola. Nesta perspectiva, o Estado passa a incorporar e a desenvolver gradativamente a lógica e a cultura do gerencialismo, identificados com os princípios mercadológicos de excelência, produtividade, efetividade, qualidade, competitividade, entre outros. Em função do gerencialismo contemporâneo ser utilizado na administração pública com vistas a estabelecer um padrão de organização relacionado com a lógica privada é perceptível a paulatina desresponsabilização estatal no que concerne a oferta de uma educação pública e de qualidade criticamente referenciada, pois na perspectiva gerencial o processo escolar passa a ser secundarizado em detrimento da eficiência mercadológica. Como consequência da importação e disseminação de pressupostos gerenciais para o espaço público, importa notar que “não simplesmente o que fazemos mudou; quem nós somos, as possibilidades de quem deveríamos nos tornar também mudaram” (BALL, 2011, p.32). Há de chamar a atenção para o fato de que, com a transposição dos mecanismos empresariais para a administração pública, verifica-se o processo de ressignificação tanto dos direitos conquistados pela classe trabalhadora quanto da função social da escola e, com isso, o estabelecimento de um determinismo mercantil, que apregoa ser a lógica do mercado o único caminho possível. Em síntese, temos verificado na organização do trabalho e da escola a adoção de formas mais sutis de gerenciamento e processos de ressignificação de termos e concepções, o que vem dificultando a apreensão do movimento de exploração que tem caracterizado as relações sociais. Logo, urge o estabelecimento de uma unidade entre a compreensão das condições existentes e a prática política voltada para a superação da regulação gerencial e consequentemente da abissal desigualdade socioeconômica. VI - REFERÊNCIAS BALL, Stephen J. Profissionalismo, Gerencialismo e Performatividade. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, set./dez. 2005. __________. MAINARDES, Jefferson (Orgs.). Políticas educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011. BARROSO, João. O Estado, a Educação e a regulação das políticas públicas. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n. 92, p. 725-751, Especial, Out. 2005. BRASIL. Ministério da Administração e Reforma do Estado. Plano diretor da reforma do aparelho de Estado. Brasília, 1995. CHAUÍ, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação, n. 24, Rio de Janeiro, ANPED, Set/Out/Nov/Dez 2003. GIDDENS, Anthony. A terceira via e seus críticos. Tradução de Rita Vinagre. Rio de Janeiro: Record, 2001. __________. A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da socialdemocracia. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. __________. Para além da esquerda e da direita. O futuro da política radical. Tradução de Álvaro Hattnher. São Paulo: Edunesp, 1996. HYPOLITO, Álvaro Moreira. Gestão do trabalho docente e qualidade da educação. Disponível em: http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2007/16.pdf Acesso em: 07/06/2013. 131 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado nos anos 90: lógicas e mecanismos de controle. Brasília: MARE, 1997. SILVA, Luís Gustavo Alexandre da. Educação e participação. Goiânia: Ed. da UFG, 2006. A PRÁXIS PEDAGÓGICA E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ATUALIDADE Soila Canam (UFMT) Márcia Regina Mathias dos Guimarães Brito (UFMT) Matildes Aparecida Trettel de Oliveira (UFMT) RESUMO Este artigo tem como objetivo refletir sobre aspectos da Teoria Crítica da Educação, com foco no pensamento Humanista Freireano para compreender o movimento e articulação entre a práxis pedagógica e a formação contínua do educador no espaço escolar. O texto se organiza em quatro blocos, o primeiro apresenta uma breve explanação sobre a Teoria da Educação. O segundo traz a pedagogia crítica como substrato para a emancipação do sujeito e, ainda o conceito de práxis a partir do pensamento Freireano (1987), dialogando com os demais teóricos: Gadotti (2004), Carvalho (2005) e Pimenta (2011). O terceiro aborda a importância da reflexão da e sobre a práxis pedagógica. O quarto é destinado às contribuições da pedagogia crítica para a formação contínua do educador. Palavras-chave: Educação. Pedagogia crítica. Práxis pedagógica. INTRODUÇÃO Este artigo é um ensaio teórico, cujo objetivo é refletir sobre alguns aspectos da Teoria Crítica da Educação, com enfoque no pensamento Humanista Freireano, para compreender as relações intrínsecas entre a teoria e prática pedagógica na atualidade. A Teoria Crítica se apresenta como fundamento na construção teórico metodológica do professor no processo de ensino aprendizagem. Daí a importância atribuída à formação continuada docente, que deve ser configurada num espaço destinado a (re) construção da identidade do ensinante numa perspectiva gradativa, constante, reflexiva e transformadora. A nossa reflexão está pautada na pedagogia crítica, humanista e libertadora de Paulo Freire, pois entendemos que educação de qualidade somente será possível quando houver a compreensão da importância desses fundamentos teóricos – pedagógicos de caráter humanizante comprometido com o processo de emancipação do ser humano, visando sair da condição de homem-objeto marginalizado, para a condição homem-sujeito forjador de sua própria história. Partindo desse pressuposto, compreendemos que a teoria crítica da educação consubstanciada ao pensamento educativo e pedagógico tem uma importância fundamental para a formação do educador. TEORIA DA EDUCAÇÃO A Teoria da educação como foco para compreender a condição do desenvolvimento humano pressupõe uma articulação entre as ciências no campo da Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Sociologia e Antropologia, tendo em vista o desvelar do mundo real e subjetivo do ser humano. Portanto, esse desvelamento constitui uma ação delicada e tensa, que requer dedicação e atenção aos aspectos socioculturais e históricos que permeiam a vida do homem. Assim, investigar o modo 132 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades como o indivíduo adquire conhecimento sempre foi uma das preocupações emergentes das ciências filosóficas, psicológicas, pedagógicas e da teoria da educação. Na concepção de Freire ensinar ultrapassa a mediação, é estar lado a lado educador/educando como sujeitos da aprendizagem, onde as relações dialógicas caracterizam esse processo de descobertas, de curiosidade, de criação e cumplicidade. O educador segundo o pensamento Freireano deve: Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face a tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, p. 21). Da mesma forma, compreender a articulação entre as concepções e o desenvolvimento do sujeito, e ainda a forma como interferem no modo de agir, de pensar e nas relações interpessoais é uma questão que os educadores devem estar atentos, pois tênue ou acentuada elas interferem na aprendizagem do estudante. PEDAGOGIA CRÍTICA E A EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO Ao tratar de educação e sujeito, cuja emancipação está posta nas relações interpessoais entre o educador e educando, sem dúvidas esse modo de perceber a si e o outro estão intimamente ligados à pedagogia crítica em virtude das práticas dialógicas. Nessa perspectiva de emancipação, os teóricos da escola de Frankfurt são os responsáveis pelo resgate do Homem “sujeito contingente, histórico e ativo” (PUCCI, 2010, p. 17). O desejo das pessoas comprometidas e engajadas em prol da educação de qualidade e significativa está em potencializar a emancipação do sujeito. Porém, esse estágio de autonomia é um processo minucioso, que exige uma postura crítica e reflexiva das práticas pedagógicas, bem como comprometimento político e social do educador, cujos embasamentos teóricos sejam alicerçados na pedagogia crítica, conforme afirma Carvalho: Os professores norteados pela teoria crítica da educação tornam-se convictos de que o princípio de uma prática pedagógica inovadora se constitui na sala de aula numa prática educativa criadora, sobretudo passam a assumir o compromisso de que a escola, enquanto prática social, tem o papel fundamental de colaborar com o processo de formação integral do educando. (CARVALHO, 2005, p. 135): A teoria crítica busca incessantemente a transição do pensamento ingênuo para o crítico, cuja identidade do educando seja (re) construída à medida que o processo de ensino lhe conduza a refletir sobre as questões políticas, econômicas, sociais e pessoais presentes no seu dia a dia. A percepção de autonomia o educador conseguirá à medida que se comprometer com a educação significativa, que possibilita outras maneiras de se observar no contexto social. Ainda que a concepção tradicional de caráter magistocêntrica centrada na figura do professor visto por ela como mentor do conhecimento, aquele que tudo sabe e nada tem a aprender. Ainda assim, em meio às contradições socioculturais é possível dizer que estamos rumo à libertação ideológica concreta. Uma vez que já iniciamos o estágio de transição, porque de acordo com o pensamento de Nóvoa (2006, p. 6) “a pedagogia tradicional era baseada nos conhecimentos e na transmissão dos conhecimentos. A grande ruptura provocada pela pedagogia moderna foi colocar os alunos no centro do sistema”. Ao despertar os estudantes desse “sono ingênuo” recorremos a Paulo Freire (1982, p. 2) e encontramos o que o autor chama de virtudes do educador, que concentra em saber se posicionar entre a “palavra e o silêncio”, não é uma tarefa tão fácil segundo ele por várias razões e, acrescento 133 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades em tempo o “desconforto” em dar a “voz” e “vez” ao “outro”, a estar realmente disposto a ouvir e, para isso o educador deve lidar com as “tensões” em possibilitar esse processo de construção da autonomia. Nesse jogo do silêncio e palavra, para muitos professores a expressão “eu vou pesquisar porque desconheço o assunto” soa como incompetência! Mas, isso é puro mito, fantasia de quem quer ser o centro e o senhor do saber. Os caminhos trilhados para a reflexão sobre a formação docente, visando à construção e a (re) construção da própria identidade profissional nos valemos de Silva e Carvalho ao afirmarem que: É preciso ainda despertar nos profissionais já professores a necessidade de refletir sobre a sua própria prática, na expectativa de que a reflexão possa ser um instrumento de desenvolvimento do pensamento e da ação e, sobretudo, da transformação da prática educativa técnica – reprodução de um ideário alheio – em uma prática reflexiva e crítica. (SILVA; CARVALHO, 2011, p. 226) A pedagogia crítica é determinante no processo de (re) organização introspectiva do ensinante, pois ele é convidado a submergir no mundo humanizado, crítico, reflexivo e transformador. Quer isto dizer, que a essência da pedagogia crítica está centrada no Homem, cujas potencialidades devem ser acentuadas no cotidiano escolar, por intermédio das relações interpessoais mediadas e compartilhadas pelo educador. Para melhor compreender a Educação Cidadã na perspectiva “emancipadora” é preciso entender o significado social do conceito de práxis, pois nela concentra-se toda expectativa quanto às mudanças na realidade que está posta. Vivemos tempos de contrastes pós-modernos, cuja negação do sujeito e sua subjetividade são marcas desse movimento acerca da educação. Evidente que o nosso trabalho não busca respaldo teórico desse movimento, ao contrário, suas raízes são da modernidade. Nessa perspectiva Moderna retomamos o conceito da práxis a partir do pensamento de Marx, com ênfase na Humanização de Paulo Freire (1987), atrelado aos demais teóricos imprescindíveis para compreender esse movimento constante das práticas pedagógicas como: Gadotti (2004), Carvalho (2005) e Pimenta (2011) para percorrer o caminho indissociável entre a teoria e prática pedagógica. Pensar a práxis pedagógica a partir do pensamento humanista Freireano é preciso entender o sujeito como ser histórico capaz de reescrever sua própria história. Portanto, a práxis está no movimento entre a teoria e prática do educador, que estabelece em suas atividades pedagógicas o elo entre: realidade, homem, reflexão, crítica, ação e transformação. Ao passo que, a legitimação da práxis está em o sujeito se perceber em seu contexto social levando em consideração todas as implicações que o aflige, engessa e o oprime, para que consiga criar mecanismos de superação dessas aflições e transformar sua realidade. Para Freire toda práxis necessita de uma teoria, cujo movimento está relacionado entre reflexão e ação transformadora da realidade humana. Segundo ele, a condição é que: se os homens são seres do quefazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É transformação do mundo. E, na razão mesma em que o quefazer é práxis, todo fazer do quefazer tem de ter uma teoria que necessariamente o ilumine. O quefazer é teoria e prática. É reflexão e ação. (FREIRE, 1987, p. 70). Partindo desse pressuposto Gadotti (2004) enfatiza que a práxis é ação transformadora da realidade social, ao passo que permite ao educador apoiar-se em sua subjetividade criadora, crítica e reflexiva. Dentro desse movimento a práxis para Carvalho (2005) é o trabalho crítico do educador, em prol do reconhecimento do sujeito (educando), cujas atitudes se pautam em resgatar o passado, em busca do entendimento da realidade atual, a fim de projetar e organizar o amanhã significativo. 134 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Para Pimenta (2011) a práxis é atividade docente, pois parte da premissa que o educador conheça seu objeto de estudo, estabeleça propósitos, cujas interferências recairão sobre a realidade do sujeito de forma transformadora. Ao abordar o conceito de práxis a intensão é provocar no educador a sensibilidade, de modo que perceba a interdependência entre teoria e prática, bem como as reais transformações da realidade que virão através dessas práticas engajada política, ética e solidariamente em prol da (re) construção do Ethos ativo na sociedade. REFLEXÃO DA E SOBRE A PRÁXIS PEDAGÓGICA A educação de qualidade pressupõe que todo professor esteja imerso no processo de autocritica, de (re) construções permanentes das práticas pedagógicas, visando à libertação ideológica do estudante frente à dinâmica do mundo em que está situado. Ainda que atue muitas vezes de forma descontextualizada dos princípios da emancipação humana, é preciso resgatar o “ensinante” para agir de forma humanizada, comprometida política, ética e ideologicamente com o sujeito. É evidente que pensar e construir uma prática pedagógica transformadora no contexto da sala de aula é desafiador. No pensamento de Nóvoa a formação do docente se configura num ato desafiador. Assim afirma que o: desafio é a formação mais centrada nas práticas e na análise das práticas. A formação do professor é, por vezes, excessivamente teórica, outras vezes excessivamente metodológica, mas há um déficit de práticas, de refletir sobre as práticas, de trabalhar sobre as práticas, de saber como fazer. (NÓVOA, 2006, p. 14) O desafio engendrado na formação continuada é parte do dia a dia escolar, mas escolher ser desafiado e buscar formas de entender, analisar e refletir sobre nossas trilhas pedagógicas, ou se entregar ao desafio de forma derrotada é escolha política e ideológica de cada educador. Porém, com isso não significa que estamos mascarando problemas seculares de âmbito educativo, ao contrário, sabemos quão árduo é o ofício de educar, sobretudo com seriedade, compromisso e responsabilidade. Por outro lado, não podemos cair nas artimanhas de discursos carregados de negatividade e nostalgia ao qual nos habituamos a falar e ouvir, onde a culpa desse déficit na educação fosse de todos: Estado, família, das más condições de trabalho, do baixo salário, menos do agente da ponta, aquele que convive com as contradições, cujos desafios enfrentam todos os dias. Nesse viés aflorado de contradições o entendimento da realidade social é essencial, sobretudo as contribuições teóricas, tendo em vista que o contexto histórico movimenta-se, modifica-se e, nesse processo emerge as novas respostas com respaldo científico (PUCCI, 2007). Neste mesmo movimento processual em busca do desenvolvimento da criticidade Pimenta (2010, p. 58) salienta a relevância do educador enquanto mediador entre estudante e a realidade social que o cerca. Segundo a autora: “o acesso ao conhecimento explícito da dominação não é automático, requer a mediação dos professores que na prática educativa, tem como objeto de seu trabalho tornar viva e explícita a finalidade sócio-política da educação escolar”. É importante ressaltar que em se tratando das práticas pedagógicas devemos refletir sobre nossas ações diante do estudante, pois as artimanhas do capitalismo são tão fortes, persistentes e ideologicamente petrificantes, que por vezes acabamos reproduzindo o sistema capitalista em sala de aula, formando o estudante para ter um emprego, para ser mão de obra e barata. Esse tipo de educação sem criatividade, sem rupturas, sem possibilidades, sem marcas de pessoalidade, cuja neutralidade do educando é a marca desse ensino, que faz submergir o aprendiz em suas aspirações e seus sonhos, sufocando toda e qualquer expectativa de emergir para autonomia. Na visão de Freire: 135 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Eis ai a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guarda-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta (na melhor das hipóteses) equivocada concepção “bancária”. (FREIRE, 1987, p. 33) Nessa linha equivocada do ensino posta para os sujeitos caminharem, é fundamental que o educador assuma seu papel e introduza o educando no mundo, frente as suas peculiaridades, que apresente a situação real e, ainda as implicações nas entrelinhas das esferas. Essa é uma forma de politização do sujeito, que ao perceber-se manipulado pela indústria cultural, será capaz de discernir sobre sua ação e postura diante das adversidades sociais que emergem no cotidiano. AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA CRÍTICA PARA A FORMAÇÃO DO EDUCADOR A pedagogia crítica tem papel imprescindível na formação contínua do educador, pois incita a reflexão das práticas pedagógicas em prol do desenvolvimento total do estudante. A essência dessa pedagogia está em conceber o sujeito como ser histórico, ativo e crítico diante das situações que o aflige no dia a dia, através do enfrentamento dessas condições, para ter uma vida mais digna, justa e humanizada. É de suma relevância reconhecer a pedagogia crítica como norteadora da (re) construção da identidade do educador como sujeito da práxis. Vale ressaltar que a formação continuada tem seu caráter legal, amparado pela Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. A legitimação desse processo cabe ao educador através do comprometimento engajado politicamente visando à autonomia, criatividade e libertação dos educandos. Isso, sem dúvidas é um ato de coragem, de amor ao próximo, de humanização (FREIRE, 1967). Ancorados ao pensamento Freireano enfatizamos que ser educador é se comprometer ética, política e socialmente assumindo a educação significativa como forma de vida profissional, cuja reflexão é constante, pois nesse processo está um dos princípios de Freire posto na ação – reflexão – ação. Por isso o autor pregava que cabe ao educador capacitar permanentemente através de uma análise crítica de seu fazer pedagógico (FREIRE, 2001). Partindo dessa premissa de formação permanente a (re) construção das práticas devem estar em constante movimento, ainda que o processo para adquirir total autonomia pedagógica seja lento, é fundamental para consolidar o fazer pedagógico comprometido com o sujeito. Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente crítico que demanda “necessariamente uma forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do contexto. (FREIRE, 2001, p. 164)”. Logo, refletir criticamente é conhecer a trajetória da educação e entender o contexto histórico, os teóricos e suas teorias, pois cada período exige uma resposta fundamentada para as mazelas sociais que afligem o homem. Tratar da contemporaneidade é, sobretudo uma viagem ao passado, pois através dele incorporamos e refletimos sobre as práticas pedagógicas. Diante disso Nóvoa diz que: Não é a prática que é formadora, mas sim a reflexão sobre a prática. É a capacidade de refletirmos e analisarmos. A formação dos professores continua hoje muito prisioneira de modelos tradicionais, de modelos teóricos muito formais, que dão pouca importância a essa prática e à sua reflexão. (NÓVOA, 2006, p. 16) O ato de reflexão deve ser a máxima da vida profissional, que guiará para um novo significado do ensino e os caminhos que o levam a aprendizagem real, significativa, crítica e emancipatória. Ser educador é perpassar todos os infortúnios da caminhada, é reconhecer-se como sujeito da história do homem e, nesse contexto contraditório construir pontes que unem os povos. 136 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades É preciso trazer para nossos caminhos os teóricos da pedagogia crítica que nos guiarão, pois prática e teoria são indissociáveis. É nesse contexto teorizado e reflexivo que a ação educativa ganha força e significação à medida que mundo real e subjetivo se aproximam, visando estabelecer interconexão entre ensino e realidade. Nessa perspectiva, a aprendizagem segundo Carvalho é resultado dessa associação: Enfim, a ação educativa significativa é aquela que provoca o diálogo, desafia, estimula o aluno à necessidade e ao desejo de aprender. Isto implica desenvolver atividades pedagógicas que tenham sentido para o aluno; desenvolver atividades vinculadas à necessidade do aluno (CARVALHO, 2005, p. 34 – 35). E dialogar exige relações dialógicas, que por sua vez devem ser introduzidas urgentemente no contexto escolar, provocando o estreitamento das relações entre ensinante/aprendiz. Essa prática exige amor e generosidade do educador, que ao se reconhecer como sujeito político e comprometido com a instrumentalização dos educandos rumo à cidadania, conseguirá conduzir esse sujeito às reflexões da realidade que lhe foi apresentada e continua a fazer parte do seu contexto. Mostrar as possibilidades para uma vida mais digna, justa e humana é função do educador, sobretudo papel social da escola. Esses aprendizados humanizados sem dúvidas deverão ser os ideais da formação continuada, pois nos relacionamos com pessoas a maior parte do tempo, e essas relações devem ser harmoniosas e reflexivas sobre o nosso estar em um contexto social, para agir da forma equilibrada, consciente e crítica na sociedade que pertencemos. Freire (1967) insistia que a educação a qual almejaram e lutaram estava ligada as profundas e urgentes transformações pelas quais o contexto histórico da época necessitava, pois os homens estavam massificados, rotulados e excluídos, condicionados a serem sombras devido aos fatores socioculturais e econômicos. Diante daquelas injustiças contra a humanidade, as posições corretas eram manter a postura crítica diante dos problemas e mazelas que afligiam os sujeitos. Ao pensar em movimentação, Gadotti (2004, p. 16) enfatiza que “a formação e o trabalho do educador inserem-se numa estratégia político-pedagógica de transformação social na qual a educação deveria se constituir num fator importante”. É preciso mais ênfase e estratégias dos atores educacionais para uma educação de qualidade e significado, cujos resultados sejam frutos do fortalecimento da formação continuada através do elo entre a proposta Sala de Educadores e Projeto Político Pedagógico. Nesses vieses de ordenação escolar, de reflexão e engajamento político, os educadores devem se organizar e atuar coletivamente em benefício mútuo trazendo para o contexto escolar reflexões acerca das questões sociais (SILVA e CARVALHO, 2011). Compreender as relações dialógicas como essência da formação continuada é um dos fatores desencadeadores da eficiência no ambiente escolar, e como parte desse processo constitutivo é primordial diagnosticar as contradições inerentes aos estudantes independente da modalidade (ensino, social, cultural, particular), para ancorarem em teóricos que subsidiarão as práticas pedagógicas em função da educação de qualidade e da emancipação ideológica do sujeito autônomo, crítico e humanizado. CONSIDERAÇÕES Neste artigo, apresentamos aspectos da Teoria Crítica da Educação, ressaltando o pensamento Humanista Freireano como alicerce para a formação continuada docente. Contanto que, para haver práxis pedagógica, a priori deve haver comprometimento político e ético do educador, seguido pelo trabalho germinado na pedagogia crítica, pois a reflexão das práticas pedagógicas é um processo diário, constante e intenso. 137 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A formação permanente deve proporcionar ao educador a visão reflexiva-crítica do seu papel social e político, cujas ações implicam o desenvolvimento do educando ingênuo para o crítico, a partir da percepção de si mesmo, do outro e do mundo. A superação do estado de “acomodação” para a “ruptura” do “eu-objeto”, rumo ao “eusujeito” é o que pressupõe a pedagogia crítica. Amparados na concepção teórica-dialógica, cujas ações implicam a existência de pessoas que interagem, se comunicam, que falam e também ouvem. Essas (re) construções de imagens e identidades são indicadores de uma educação de qualidade, aquela que provoca sensações e desejos, que aproxima o mundo real do subjetivo de maneira que a aprendizagem concreta se estabeleça por apreensão da realidade. Essas contribuições da pedagogia crítica libertadora Freireana são essenciais para a formação permanente do educador crítico, reflexivo e consciente sobre a função social das suas práticas pedagógicas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf> acesso em 13 de maio de 2013. CARVALHO. Ademar de Lima. Os caminhos perversos da Educação: a luta pela apropriação do conhecimento no cotidiano da sala de aula. Cuiabá: EdUFMT. 2005. FREIRE, Paulo. EDUCAÇÃO como prática de LIBERDADE. Paz e Terra. Rio de janeiro. 1967. _____________ Carta de Paulo Freire aos Professores. Estud. av. v.15 n.42 São Paulo maio/ago. 2001. Artigo disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010340142001000200013&lng=pt&nrm=iso> acesso em 07 de julho de 2013. _____________ Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996. _____________ Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1987. _____________ Virtudes do Educador. Veredas. 1982. Disponível em: < http://acervo.paulofreire.org/xmlui/handle/7891/1475#page/1/mode/1up> acesso em 20 de junho de 2013. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. 4ª ed. São Paulo. Cortez. Instituto Paulo Freire, 2004. MATO GROSSO. Parecer Orientativo referente ao Desenvolvimento do Projeto Sala de Educador para o ano de 2012. NÓVOA, Antônio. Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo. São Paulo, SP, 2006. Disponível em: < http://www.sinpro.org.br/arquivos/novoa/livreto_novoa.pdf> acesso em 05 de julho de 2013 PIMENTA. Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teórica e prática? 10ª ed. Cortez, São Paulo, 2011. PUCCI, Bruno . Teoria Crítica e Educação (4ª edição). In: Bruno Pucci. (Org.). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, São Carlos, SP: EDUFSCAR, 2007, p. 11-58. SILVA, Adelmo Carvalho da. CARVALHO, Ademar de Lima. Reflexão Crítica: Elemento Estruturador da Prática Pedagógica de Educadores Populares. EDUFMT, 2011, p. 219-240. 138 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE AS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNICAMP 16. Emanuel Mangueira Carvalho (Unicamp) RESUMO A pesquisa realizou um “estado da arte” sobre a produção acadêmica da Unicamp a respeito das políticas de ações afirmativas. Nesse estudo foram analisadas, as teses, dissertações, monografias e os artigos disponíveis no site da COMVEST. A análise foi fundamentada com o “estado da arte” método este que possibilitou responder as problemáticas da pesquisa e atingir os seus objetivos. Os resultados mostraram que os TCC, dissertações, teses e livros abordaram como temática de pesquisa a necessidade de políticas de inclusão social, para o acesso ao ensino superior. Os artigos apresentam-se contrários às cotas raciais e ressaltam a importância da autonomia das universidades públicas. As produções apontaram também que as ações afirmativas não podem ser utilizadas para ocultar a educação de má qualidade que é oferecida nas escolas públicas à maior parte da população. Palavras-chave: Ações afirmativas; Estado da arte; Unicamp. INTRODUÇÃO O presente trabalho é resultado da pesquisa de Iniciação Científica realizada durante o ano de 2011. Esta pesquisa, de levantamento bibliográfico, teve como objetivo realizar um estado da arte sobre a produção acadêmica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) que aborde sobre a temática das ações afirmativas. Para esta pesquisa entende-se por produção acadêmica, as teses, as dissertações, os TCC (Trabalhos de Conclusão de Curso), livros e os artigos de jornais e/ou revistas. Esta pesquisa surgiu após participação em alguns debates sobre ações afirmativas para o ensino superior. Contudo, esta pesquisa foi feita em caráter bibliográfico, pois o que motivou o estudo foi a curiosidade em saber o que as teses e dissertações tratavam sobre as ações afirmativas. Entretanto, devido à complexidade que se exige das pesquisas de levantamento bibliográfico e considerando o tempo de estudo exigido para uma iniciação científica, a pesquisa foi norteada pelas seguintes problemáticas, a saber: Qual a produção acadêmica da Unicamp que aborde a temática das ações afirmativas? A qual faculdade ou instituto pertencem essas produções? Quais as temáticas mais abordadas? Para responder a essas problemáticas, a pesquisa foi estrutura com os seguintes objetivos: localizar a produção acadêmica; identificar a produção por tipo, ou seja, se é tese, dissertação, TCC ou artigo; e caracterizar a produção registrando, o título, autor, ano, faculdade ou instituto. Na sequência será apresentado o que se entende por ações afirmativas. Essa compreensão permitiu estabelecer parâmetros que delineou qual o assunto deve ser privilegiado, pela produção acadêmica, para que esta pudesse ser selecionada no levantamento bibliográfico. Este delineamento permitiu também identificar se a produção localizada pode ser considerada como sendo de ações afirmativas ou não. O levantamento bibliográfico está fundamento no estado da arte, método que permite responder as problemáticas e alcançar os objetivos dessa pesquisa. 16 Pesquisa Financiada pelo CNPq. Trabalho apresentado no XIX Congresso interno de Iniciação Científica da Unicamp em 2011, em formato de pôster. Essa pesquisa tem continuidade em nível de mestrado a qual abrange a atualização de dados e informações referentes ao assunto abordado neste trabalho. 139 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A escolha pelo estudo da produção acadêmica da Unicamp prende-se ao fato desta instituição possuir todo o conteúdo de seu acervo cadastrado no SBU (Sistema de Bibliotecas da Unicamp). O acesso a essa base de dados é possível através da rede mundial de computadores, ou seja, na internet. Assim, é possível ao visualizar o acervo bibliográfico da Unicamp e identificar qual produção acadêmica aborda sobre as ações afirmativas. AS AÇÕES AFIRMATIVAS As ações afirmativas é um conjunto de políticas públicas que surgem para combater a discriminação. Pode ser definida como, políticas públicas (e privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. Na sua compreensão, a igualdade deixa de ser um simplesmente um princípio jurídico a ser respeitado por todos, e passa a ser um objetivo constitucional a ser alcançado pelo Estado e pela sociedade. (GOMES, 2003. p.21). Por conseguinte, é possível ampliar o significado de ações afirmativas. Isso porque, Atualmente as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego. (GOMES, 2003. p.27). Nesse sentido, é prudente destacar que o significado de ações afirmativas também foi estendido com o objetivo de abranger e assegurar a educação. Dessa forma, passou a contemplar também o acesso ao ensino superior. O termo ação afirmativa refere-se à política e procedimentos obrigatórios e voluntários desenhados com o objetivo de combater a discriminação no mercado de trabalho e também de retificar os efeitos de práticas discriminatórias exercidas no passado pelos empregadores. Da mesma forma que no caso das leis anti-discriminatórias, o objetivo da ação afirmativa é tornar a igualdade de oportunidades uma realidade, através de um “nivelamento de campo”. [...] A ação afirmativa corresponde a qualquer medida que aloca bens (benefícios) – tais como o ingresso em universidades, empregos, promoções, concursos públicos, empréstimos comerciais e o direito de comprar e vender terra – com base no pertencimento a um grupo específico, com o propósito de aumentar a proporção de membros desse grupo na força de trabalho, na classe empresarial, na população estudantil universitária e nos demais setores nos quais esses grupos estejam atualmente sub representado em razão de discriminação passada ou recente. (ALTAFIN, 2011. p.13). Até aqui fica claro o amplo significado que o termo “ação afirmativa” possui. E, considerando o significado desse termo, foram escolhidas as seguintes palavras-chave para realizar o levantamento bibliográfico, a saber: “ações afirmativas, sistema de cotas, inclusão social e políticas de ações afirmativas”. Estas palavras-chaves foram selecionadas para ser utilizada como referência de busca no site do SBU. Entretanto, antes de abordar como foi feito o levantamento bibliográfico se faz necessário abordar sobre o estado da arte. O estado da arte é o método que possibilitou a esta pesquisa localizar e caracterizar a produção acadêmica da Unicamp. 140 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O ESTADO DA ARTE A necessidade de uma análise sobre fatos, acontecimentos e discussões pode ser feita através da compreensão da produção acadêmica. A produção acadêmica pode incidir sobre uma determinada temática, localizado em um acervo específico ou, ainda, sobre um determinado assunto. Para essa pesquisa a compreensão da produção acadêmica a respeito das ações afirmativas foi feita com base no estado da arte também conhecido como estado do conhecimento. Esse procedimento é importante porque, Fazer um balanço do conhecimento (...) identificar temas de pesquisas que carecem de desenvolvimento e tentar avançar na compreensão das questões postas pelas relações sociais concretas é um trabalho que se impõe principalmente no caso brasileiro, onde as conquistas democráticas são incipientes e a cidadania é pouco mais que uma concepção formal, em decorrência do que a oferta educacional tem sido insuficiente e inadequada. (KUENZER, 1987. p. 5 e 6). O estado da arte é uma entre as diversas estratégias que a metodologia científica oferece e que facilita a organização de diversas fontes em torno de uma determinada temática. As pesquisas denominadas estado da arte também são Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica (...), tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que forma e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, tese de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e seminários. (FERREIRA, 2002. p.258). Nesse sentido, os estudos fundamentados no estado da arte permitem responder as problemáticas propostas para esta pesquisa, e alcançar os objetivos, pois O pesquisador do “Estado da Arte” tem dois momentos bastante distintos. Um, primeiro, que é aquele em que ele interage com a produção acadêmica através da quantificação e de identificação de dados bibliográficos, com o objetivo de mapear essa produção num período delimitado, em anos, locais, áreas de produção. Nesse caso, há um certo conforto para o pesquisador, pois ele lidará com os dados objetivos e concretos localizados nas indicações bibliográficas que remetem à pesquisa. Ele poderá visualizar, nesse momento, uma narrativa da produção acadêmica que muitas vezes revela a história da implantação e amadurecimento da pós-graduação, de determinadas entidades e de alguns órgãos de fomento de pesquisa em nosso país. Nesse esforço de ordenação de uma certa produção de conhecimento também é possível perceber que as pesquisas crescem e se espessam; ampliam-se em saltos ou em movimentos contínuos; diversificam-se os locais de produção; em algum tempo ou lugar ao longo de um período. Um segundo momento, é aquele em que o pesquisador se pergunta sobre a possibilidade de inventariar essa produção imaginando as tendências, ênfases, escolhas metodológicas e teóricas, aproximando ou diferenciando trabalhos entre si, na escrita de uma história de uma determinada área do conhecimento. (FERREIRA, 2002. p.265). Nesse sentido, é possível constatar que as pesquisas denominadas estado da arte podem ter uma perspectiva para além do caráter de sistematizar e inventariar uma determinada produção acadêmica. Essa produção pode ser caracterizada de vários aspectos podendo ser feito inclusive com o uso de um recorte temporal ou temático. 141 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO Com o objetivo de localizar a produção acadêmica da Unicamp as palavras-chaves selecionadas foram utilizadas nos filtros de busca, dentro do banco de dados "Base Acervus" da Unicamp. As palavras selecionadas estão relacionadas com o assunto estudado, ou seja, as ações afirmativas, e foram selecionadas as seguintes: “ações afirmativas”, “sistema de cotas”, “inclusão social” e “políticas de ações afirmativas”. A escolha dessas quatro palavras-chave teve por finalidade, esgotar todas as possibilidades de localizar as produções acadêmicas que de alguma forma esteja relacionada com as ações afirmativas. O mapeamento dessa produção foi realizado com o uso da página do SBU através do catálogo on-line, disponível em: http://acervus.unicamp.br. Para acessar esse site, faz-se necessário acessar primeiro o site: http://www.sbu.unicamp.br/portal/ e, após abrir a página, selecionar o item "Catálogo On-line". Após selecionar esse item é possível acessar o banco de dados da biblioteca da Unicamp. Em seguida foram utilizadas as palavras-chave, nos filtros de busca, para obter os resultados do levantamento bibliográfico. Após a realização do levantamento bibliográfico foi elaborada a caracterização e identificação das produções acadêmicas. Para realizar a caracterização foram extraídas de cada produção acadêmica as seguintes informações: o tipo de produção, ou seja, se era tese, dissertação, TCC, artigo ou livros. Para identificar essas produções foram obtidas as seguintes identificações de cada material: o autor, título, ano, faculdade ou instituto. Buscando facilitar o registro desses itens foi criada uma ficha de registro. Esta ficha buscou sistematizar de forma mais clara as informações que deveriam ser obtidas da produção acadêmica, aglutinando todos os itens que deveriam ser identificados. É importante registrar que durante a pesquisa foram localizados alguns artigos que comentavam sobre a inclusão social e em especial sobre o PAAIS da Unicamp. Esses artigos estão disponíveis no site da COMVEST (Comissão Permanente para os Vestibulares) da Unicamp. O acesso é possível no site www.comvest.unicamp.br. Esses materiais foram inseridos no levantamento bibliográfico da pesquisa uma vez que está presente no contexto da Unicamp, e trata de assunto relacionado à temática das ações afirmativas. Esses artigos também foram identificados e caracterizados conforme o que foi proposto para as produções acadêmicas. Assim, o primeiro momento fica destacado nessa etapa, com ênfase na caracterização e descrição da produção acadêmica. Nesse sentido, após esse primeiro momento, foi possível avançar para um segundo momento de contato mais profundo com as produções acadêmicas. O segundo momento para essa pesquisa, consoante os critérios do estado da arte, procurou identificar, nessas produções acadêmicas os fenômenos privilegiados como objeto de estudos. Isso para poder identificar e registrar as temáticas mais abordadas na produção acadêmica. Com isso, foi possível, através de leitura das produções acadêmicas, identificar os objetos de estudos dentro das temáticas privilegiadas. Isso permitiu, sobretudo, identificar se a produção realmente tratava de assuntos relacionados às ações afirmativas, consoante a definição de ação afirmativa apresentada nesse trabalho. RESULTADOS Após realizar o levantamento bibliográfico no SBU foram localizados os seguintes trabalhos que puderam ser classificados como sendo de assuntos sobre ações afirmativas, sendo estes: dois (2) Trabalhos de Conclusão de Curso localizados na biblioteca da Faculdade de Educação. Uma (1) dissertação de mestrado e uma (1) tese de doutorado pertencente à biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem. Uma (1) tese de doutorado e uma (1) tese de pós-doutorado pertencente à biblioteca 142 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades da Faculdade de Educação. Foram localizados dez (10) artigos, no site da COMVEST, e treze (13) livros. O resultado do levantamento bibliográfico permite responder a primeira problemática dessa pesquisa que é: Qual a produção acadêmica da Unicamp que aborde a temática das ações afirmativas? Esse levantamento permitiu também responder a segunda problemática da pesquisa que é: A qual faculdade ou instituto pertencem essas produções? Antes de avançar com a apresentação dos resultados, cabe esclarecer que ao leitor o porquê não houve a identificação da biblioteca na qual pertencem os livros. Após a localização dos livros não foi possível identificar se os livros eram resultado de estudos feitos na Unicamp ou em outra instituição. Assim, foi feito o registro para mostrar que está presente no acervo da Unicamp, porém, estava claro, mediante a leitura dos livros, que muitos deles não eram referentes a ações afirmativas na produção acadêmica da Unicamp. Ao realizar a identificação das produções acadêmicas foi possível responder a terceira problemática dessa pesquisa que foi: Quais as temáticas mais abordadas? Conforme será apresentado a seguir. Os livros em sua maioria tinham como principal temática de pesquisa os estudos referentes às políticas de ações afirmativas por cotas, abordando principalmente sobre a discriminação e a trajetória histórica do negro no Brasil. Os artigos localizados no site da COMVEST mostraram, como temática de pesquisa, justificativas para um posicionamento contrário às políticas de cotas. Em seus conteúdos os artigos chamaram a atenção quanto à obrigatoriedade das cotas nas Universidades Públicas Federais, por intermédio de lei, que pode ferir a autonomia da universidade. Apontou ainda a viabilidade de ação afirmativa sem acontecer por intermédio de cotas. Chama a atenção para outros indicadores no que se refere ao acesso ao ensino superior que é quanto à qualidade do ensino oferecido nas escolas públicas. Escola esta que atualmente atende a maioria da população brasileira, em especial, a população mais pobre. A falta de um ensino dos conteúdos básicos com qualidade, segundo essas pesquisas, tem sido um limitador para o acesso ao ensino superior. Entre as teses e dissertações localizadas no acervo do SBU, que abordavam sobre a problemática dessa pesquisa, ressaltaram, sobretudo, como temática de pesquisa a necessidade de ter políticas públicas para a inclusão social, no que refere ao acesso ao ensino superior, em especial nas universidades públicas. As teses, dissertações e trabalhos de conclusão de cursos, os TCCs, abordaram em sua essência o estudo sobre o preconceito e também, sobre a marginalização do negro na sociedade brasileira. Durante a análise das produções acadêmicas pouco foi comentado sobre as ações afirmativas por cotas sociais, ou por bonificações. Contudo, ressaltaram a importância de debater e refletir sobre outros elementos que tornam as cotas, as políticas de ações afirmativas viável para o acesso ao ensino superior. Destacaram que deve ter políticas públicas para o acesso ao ensino superior público e de qualidade independentemente que este acesso seja através de cotas, ou sistema de bonificações. Em especial de destacaram que o acesso ao ensino superior deve ser de fato assegurado e garantido para todos. Por conseguinte, foi possível avançar um pouco mais com os resultados do levantamento bibliográfico. A seguir apresenta-se outra informação que se acredita ser pertinente. Entre os trabalhos de conclusão de curso, dissertação de mestrado e tese de doutorado, o primeiro material data de 2005 e o mais recente de 2009. Entre os livros o primeiro está datado de 1994 e o mais recente de 2009. Entre os artigos o primeiro está datado de 2005 e o mais recente de 2008. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das produções acadêmicas aponta a necessidade de inclusão social para o acesso ao ensino superior. Porém, não se pode esquecer que o acesso ao ensino superior, seja por cotas raciais ou sociais, pode estar comprometido, em longo prazo, se as universidades não disporem de recursos suficientes para manter seus alunos, ingressantes por alguma política de ações afirmativas. 143 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Por conseguinte, é preciso ressaltar que a leitura das produções aponta para outros indicadores que é prudente ser retomado aqui. Esses indicadores se referem quanto à qualidade de ensino que é oferecido no ensino médio nas escolas públicas e que atendem a maioria dos alunos carentes da população. Nesse sentido, quando esses alunos conseguem ingressar, e geralmente esses são minorias, em relação aos alunos que cursaram o ensino médio em escolas particulares, esses alunos precisarão de apoio para permanecer e concluir o curso de graduação. Nessa ordem de considerações, é possível afirmar que, por intermédio da leitura das produções acadêmicas dessa pesquisa, que as escolas públicas estão com alguma deficiência ou necessita de mudanças nas políticas públicas para conseguir formar seus alunos em condições de prestarem os vestibulares das universidades públicas. É importante deixar bem claro que as políticas de ações afirmativas são medidas políticas, atualmente necessárias para o contexto brasileiro. Isso é sinal de que este contexto está passando por mudanças no contexto brasileiro. O estudo da produção acadêmica deixa claro alguns pontos importantes, por exemplo, realização de debates e discussões sobre o assunto, para que as políticas de ações afirmativas possam ser eficientes e eficazes. Assim, com o estudo da produção acadêmica é possível avançar e contribuir para a discussão e implementação das ações afirmativas para o ensino superior no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTAFIN, Juarez. Cotas na universidade. Uberlândia, MG: EDUFU, 2011. 142p. FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “Estado da Arte”. Educação e Sociedade. Ano, XXIII, nº 79. Agosto/2002. p. 257-272. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n79/10857.pdf Acesso em 10/09/2012. GOMES, Joaquim Barbosa. O debate constitucional sobre as ações afirmativas. In: SANTOS, Renato Emerson dos; LOBATO, Fátima. (ORG). Ações afirmativas: políticas públicas contra as desigualdades raciais. Rio de Janeiro, RJ: DP&A editora, 2003. p.15-57. KUENZER, Acácia Zeneida. Educação e trabalho no Brasil: o estado em questão. Brasília, DF: INEP: REDUC, 1987. 125p. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL Marisa Xavier Coutrim Dalri (PUC-Campinas) Mônica Piccione Gomes Rios (PUC- Campinas) RESUMO O presente trabalho constitui um recorte de uma dissertação de mestrado que objetiva investigar a educação de tempo integral (ETI) e o processo de gestão escolar. As pesquisas a respeito do tema adquirem relevância no cenário educacional atual em que se destaca como política pública educacional, prevista na LDB e, mais recentemente, no PNE 2011/2020. No recorte escolhido, discutem-se as políticas públicas da educação de tempo integral (ETI) no Brasil, com ênfase nos séculos XX e XXI, por meio de pesquisa bibliográfica, a partir de autores como Höfling (2001), Frigotto e Ciavatta (2003). Para se compreender a ETI nos séculos XX e XI utilizam-se autores como Teixeira (1956), Dewey (1959, 1978), Bomeny (2009), Ribetto e Mauricio (2009), Cavalierie (2010). Constatamos que a partir do século XXI, houve um avanço nas políticas públicas, ao que se refere à educação em tempo integral. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para o debate necessário em torno da ampliação da jornada escolar no Brasil. Palavras-chave: escola de tempo integral; políticas públicas educacionais. 144 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Introdução A crise econômica do Brasil no final da década de 1980, resultado de um sistema capitalista globalizado e os avanços dos ideais neoliberais, apontaram cada vez mais para a reorganização das funções do Estado e, consequentemente da administração pública que adquire um caráter gerencial, objetivando ajustar-se a essa nova organização. Nesta perspectiva, a reorganização do Estado brasileiro ficou explicitada em diversas reformas que tiveram seu ápice no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), no período de 1995 a 1998, com a criação do Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), cujo ministro Bresser Pereira, liderou o que ele próprio chamou de medidas necessárias para uma “[...] reforma da administração pública a partir da perspectiva ampla da reforma do Estado.” (BRESSER PEREIRA, 2001, p.22). Tais reformas repercutiram nas políticas públicas educacionais do sistema de ensino, desde a educação infantil até a educação superior, por meio de significativas alterações na legislação da época, em especial às que diziam respeito ao ensino fundamental. Autores como Souza e Faria (2004) assinalam a importância que as recomendações advindas, de um lado de órgãos multilaterais de financiamento como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial (BM), e de outro lado, de instituições voltadas à cooperação técnica como a Organização para a Coooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), assumem nos países periféricos, evidenciando-se “o aprofundamento da intervenção de diversos organismos internacionais nas políticas de educação de países situados à margem das economias centrais, em particular na América Latina.” (SOUZA; FARIA 2004, p. 927). Dentre os diversos fóruns mundiais e regionais de educação, ocorridos na época, os autores citam a Conferência Mundial sobre Educação para Todos ocorrida em 1990 na cidade de Jomtien na Tailândia, patrocinada pelo Banco Mundial e órgãos da ONU, como a UNESCO. Na época, o Brasil, um dos participantes, integrava o grupo conhecido como E-917, pois se encontrava entre os nove países com a maior taxa de analfabetismo do mundo. A Declaração de Jomtien, resultante desse encontro, preconizava a universalização do acesso à educação básica, além da garantia da aprendizagem e da promoção da equidade. Tal documento serviu como referência para a construção, no Brasil, do Plano Decenal de Educação para Todos e do Plano Nacional de Educação 2000/2010 e traduziu-se pela “definição de competências e responsabilidades das instâncias de governo em relação à gestão e financiamento da Educação Básica.” (SOUZA; FARIA 2004, p. 928). As questões da política para a educação básica também foram temas de interesse de autores como Frigotto e Ciavatta (2003) que analisaram, em ambos os mandatos do governo de FHC, a cidadania expressa naquele nível de ensino, tanto no plano institucional-legal como no plano pedagógico, e identificaram a nova ordem mundial capitalista, resultado da economia globalizada, como sendo o pano de fundo para tais reformas que se concretizaram a partir dos anos de 1990. De acordo com Frigotto e Ciavatta (2003), o capitalismo necessitou, de um lado destruir direitos para manter as taxas de lucro e exploração, e de outro lado de uma política de “Estado mínimo” que não interferisse nas leis naturais do mercado, evidenciando um neoliberalismo que resultou, inclusive nos países ricos, em altos níveis de desemprego e exclusão social. Tal política caracterizou-se no Brasil pela diminuição de investimentos em políticas públicas, num momento em que ainda não se havia alcançado o chamado “estado de bem estar social”, implicando em formas mais severas de exclusão social do que aquelas ocorridas nos países desenvolvidos. Segundo Höfling (2001), as políticas públicas têm um papel importante de redistribuição dos benefícios sociais, pois contribuem para a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo 17 Conforme Souza e Faria (2004, p.928) este grupo era formado por “Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e Paquistão [...]” 145 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades sistema capitalista, em que poucos detêm a maioria dos bens socialmente produzidos e a maioria da população tenta vender, por um preço cada vez menor, sua força de trabalho que, contraditoriamente, deve se apresentar cada vez mais qualificada, conforme exigências de um mercado globalizado, tecnológico e altamente competitivo. Uma das políticas públicas ainda não universalizada no Brasil, conforme Cury (2005), refere-se à educação básica, para a qual têm se convergido vários esforços nos últimos anos, não apenas do governo, mas de muitos setores da sociedade. Apesar de dispormos de uma legislação considerada avançada como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ainda não temos uma política efetiva e inclusiva de educação de qualidade 18 , que garanta o direito de acesso e permanência com sucesso escolar de todas as crianças e jovens. A histórica má distribuição dos bens econômicos e sociais pode nos ajudar a compreender o habitual descompasso entre a publicação e a efetivação das leis brasileiras que faz com que direitos como os da escola pública e gratuita, de sua gestão democrática e da gradual ampliação do tempo escolar, previstos na atual Constituição Federal de 1988 e também na Lei Nº 9.394, de 20/12/1996 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), por si só não garantam sua efetivação. Apesar disso, devemos assinalar o esforço dos governantes e sociedade em geral em se construir um sistema nacional de educação. A I Conferência Nacional de Educação (CONAE), que aconteceu em 2010 em Brasília, teve como tema “Construindo um Sistema Nacional articulado de educação: Plano Nacional de Educação, suas Diretrizes e Estratégias de Ação” e se constituiu “em espaço de deliberação e participação coletiva, envolvendo diferentes segmentos, setores e profissionais interessados na construção de políticas de Estado”. (BRASIL, 2013, p. 11). É nessa perspectiva que surge o Projeto de Lei Nº 8.035, de 2010 do Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso Nacional, cuja Meta nº 6 interessa especificamente a nossa pesquisa porque trata da ampliação dos tempos e espaços escolares, objetivando o atendimento em tempo integral, até o final de 2020, em no mínimo 50% das escolas públicas da Educação Básica brasileira. Educação em tempo integral: do século XX ao século XXI Nas primeiras décadas do século XX, conforme Bomeny (2009), o Brasil, já marcado pelas diferenças econômicas e sociais de classe entre os poucos privilegiados e os muitos desprovidos, se encontrava dividido também entre os habitantes das áreas urbanas e os que lutavam pela permanência ou, na maioria das vezes, pela saída das áreas rurais. Esta movimentação de grandes massas populacionais provocou mais do que um êxodo rural, um dos maiores movimentos demográficos brasileiros e a consequente ocupação desordenada dos espaços urbanos. O resultado foi o surgimento, segundo a autora (2009, p.111) “de categorias de pensamento voltadas para definir regiões e costumes como atrasados ou modernos, jecas ou sofisticados, provincianos ou metropolitanos.” Diante deste quadro, é compreensível que educadores como Anísio Teixeira (1900-1971), a partir da concepção de escola com tarefas e responsabilidades sociais ampliadas, defendessem uma ETI como solução para iniciar essas crianças provindas em sua maioria dos espaços rurais, nos códigos de relacionamento e sociabilidade, preparando-as para a vida na sociedade que se modernizava. Os educadores liberais da época, conhecidos como progressistas ou escolanovistas, de acordo com Bomeny (2009), colaboraram teórica e tecnicamente para o fortalecimento desta Escola Nova com funções sociais ampliadas, formando um grupo de intelectuais que se impôs a responsabilidade e o compromisso de encontrar soluções para o país. 18 Cunha (2007, p. 825) diz que devemos falar “da qualidade da educação pública, não em termos do mais e do menos, do maior ou do menor rendimento diante de certos testes, mas em termos do que se ensina, do que e como se aprende [...].” (grifos do autor). 146 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento elaborado em 1932 por dezesseis intelectuais e educadores brasileiros, dentre eles Anísio Teixeira, preconizava a renovação educacional do país e a organização de um sistema nacional completo de educação, conforme Saviani (2002, p. 33): Partindo do pressuposto de que a educação é uma função essencialmente pública, e baseado nos princípios da laicidade, gratuidade, obrigatoriedade, co-educação e unicidade da escola, o manifesto esboça as diretrizes de um sistema nacional de educação, abrangendo de forma articulada, os diferentes níveis de ensino, desde a educação infantil até a universidade. Em defesa de uma escola pública, democrática e com funções ampliadas, o Manifesto propunha-se a realizar uma reconstrução social por meio da educação, a qual teria a função de retirar o país do atraso educacional em que se encontrava. A concepção de educação integral contida neste documento era aquela que defendia uma educação pública como direito do indivíduo, com alcance nas diversas dimensões de sua formação. Embora a ideia de uma educação escolar abrangente esteja presente em toda a obra de Anísio Teixeira, Cavalierie (2010) assinala que o autor não faz uso da expressão "educação integral", [...] talvez por não considerá-la suficientemente precisa e, provavelmente, para evitar qualquer identificação com os Integralistas, que, como vimos, usaram abundantemente, durante os anos 1930, as expressões ‘homem integral’, ‘Estado integral’ e ‘educação integral’. (CAVALIERI, 2010, p.5). Anísio Teixeira foi influenciado, sobremaneira, na sua concepção de educação integral pelo filósofo e educador John Dewey (1959) e sua compreensão de que o conhecimento se desenvolve na ação, pela experiência e não pela aprendizagem formal, pré-concebida e exterior ao aluno. De acordo com Dewey (1959, p.83) “educação é uma reconstrução ou reorganização da experiência, que esclarece e aumenta o sentido desta e também a nossa aptidão para dirigirmos o curso das experiências subsequentes.” Educar, nesta perspectiva, é relacionar o ensino à experiência pessoal do aluno. Porém, conforme Dewey (1978), nem toda experiência tem valor educativo, somente a que se baseia na continuidade de um conhecimento significativo que afeta o aluno em seu modo de pensar, entender e se comportar diante do mundo. A concepção republicana de educação de Teixeira e a teoria da educação como reconstrução da experiência de Dewey, juntamente com uma crítica acirrada ao sistema escolar vigente no início do século XX, de acordo com Cavaliere (2010, p. 22), “impulsionou a elaboração do projeto anisiano de educação integral”. A partir dos conhecimentos deweyanos, Anísio Teixeira pode construir um projeto de reforma para a educação brasileira. No que concerne à produção acadêmica sobre o tema, Ribetto e Mauricio (2009) apontam que as pesquisas sobre a ampliação da jornada escolar no Brasil são fundamentais para a instauração do debate público sobre ETI. As autoras estudaram a produção científica no período de 1984 a 2008 e destacaram a tendência de um grupo de pesquisadores que acreditam na ampliação dos tempos escolares como contribuição significativa para a melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas brasileiras. O conjunto da produção científica reflete, de acordo com as autoras, o envolvimento dos educadores que vivenciaram a implantação das escolas de tempo integral, especialmente com os CIEPs no Rio de Janeiro, tendo em vista a profundidade e a fidelidade com que o assunto foi tratado por eles, “desde a tese de doutorado até a produção atual, seja orientação de monografias e dissertações, sejam artigos publicados ou comunicações em congressos a respeito do tema.” (RIBETTO, MAURICIO, 2009, p. 15). Recente pesquisa intitulada “Educação integral/educação integrada e (m) tempo integral: concepções e práticas na educação brasileira - Mapeamento das experiências de jornada escolar ampliada no Brasil”, (BRASIL, 2009), revelou uma grande diversidade de experiências de 147 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ampliação de jornada nas escolas públicas brasileiras, em sua maioria recentes e sob a responsabilidade das secretarias municipais de educação. Guará (2006) também aponta tal diversidade, principalmente quanto aos diferentes conceitos que se apresentam sobre ensino integral. A autora assinala que um dos poucos consensos sobre ETI entre os educadores é a constatação de que o tempo dedicado à escola “está muito aquém do que seria necessário para dar conta da formação de nossas crianças para os desafios do século XXI.” (GUARÁ, 2006, p. 18). A autora nos recorda que a infância é uma categoria social construída nos últimos séculos, juntamente com o advento do capitalismo e que, portanto as crianças devem ser concebidas como sujeitos de direito, capazes de produzir sua própria história. Alguns exemplos brasileiros de educação em tempo integral onde foram utilizados espaços para além dos muros escolares são: o projeto “Cidade Aprendiz da Vila Madalena” (SP) criado em 1997; o “Pacto pela Educação” em Apucarana (PR) criado em 2001, o “Programa Bairro Escola” implantado no ano 2006 em Nova Iguaçu (RJ), com repercussão nacional e o “Programa Escola Integrada” da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, também criado em 2006. Convém destacar o “Projeto Educação” de tempo integral de Apucarana (PR), que foi criado por meio do “Pacto pela Educação 19 ”, durante o primeiro dos três mandatos do prefeito Valter Pegorer (PMDB), cuja continuidade no governo municipal, provavelmente tenha sido um dos fatores que propiciou que as políticas públicas da área não fossem interrompidas. Neste sentido, Ponce (2013) assinala que, depois de onze anos de implantação do referido projeto, mesmo com a mudança de governo municipal em 2013, [...] a proposta ainda continua em vigor. Diferentemente de outras políticas que terminam junto com o mandato do prefeito ou do governador, a própria população abraçou o projeto em uma atitude participativa. Essa participação, como se pode inferir, não se deu apenas de forma oitiva, mas de forma governante, de modo a possibilitar mudanças. (PONCE, 2013, p. 82). Foram encontradas aproximações entre o referido projeto e os princípios do Programa Cidade Educadora20 expresso na Declaração de Barcelona, conforme Ponce (2013, p. 82), “tendo em vista a utilização dos elementos disponíveis na cidade para o desenvolvimento de uma educação integral aos seus habitantes.” Em se tratando de ampliação de jornada escolar, a articulação entre espaços escolares e não escolares pode ser uma estratégia importante para resolver a questão da falta e/ou inadequação de infraestrutura física em muitos prédios escolares no Brasil, onde são necessários outros espaços além da sala de aula, como quadras, laboratórios, bibliotecas, salas de informática etc, para se realizarem atividades próprias da ETI. Entretanto, é importante que a concepção de ensino na perspectiva das cidades educadoras não seja apenas a de suprir carências de espaços escolares, mas [...] a de efetivamente estabelecer parcerias que potencializem a relação com a comunidade, em uma perspectiva de território educativo. A realização dessas parcerias não pode substituir o investimento nas condições físicas e na arquitetura da escola, as quais 19 O Pacto pela Educação foi “firmado entre a Prefeitura e cerca de 500 lideranças locais, em 8 de fevereiro de 2001, com o objetivo de definir ações básicas para a implantação do projeto.” (GUERREIRO, 2011, p. 1). 20 De acordo com Gadotti, Padilha e Cabezudo (2004), as cidades educadoras se reuniram em Barcelona no ano de l990, no I Congresso Internacional das Cidades Educadoras, ocasião em que elaboraram a Declaração de Barcelona de 1990. O objetivo principal é se unirem, para dialogar, refletir e cooperarem entre si, na intenção de trabalharem juntas em projetos e atividades que visem à melhoria da qualidade de vida de seus habitantes tendo como propulsores o investimento cultural e a formação permanente de sua população. 148 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades também constituem, em si, elementos educativos e componentes dos deveres do Estado em relação à educação. (BRASIL, 2009, p. 131) Convém destacarmos pela amplitude de suas políticas públicas envolvendo a ETI, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, tendo em vista que, conforme Cavalieri (2010), no Rio de Janeiro foram criados 506 CIEPs, por meio do denominado PEE - Programa Especial de Educação, de 1982 a 1986, tendo à frente o educador Darcy Ribeiro. No que se refere ao estado de São Paulo, Castro e Lopes (2011), assinalam que, no ano de 2006, foi instituído o Projeto de Escola de Tempo Integral em mais de 500 escolas da rede pública estadual paulista, tendo por objetivo ampliar as possibilidades de aprendizagem dos alunos, por meio do oferecimento de oficinas pedagógicas, no contraturno do período regular de aula. Neste sentido, podemos notar, a partir do século XXI, um avanço nas políticas públicas, ao que se refere à educação em tempo integral. Considerações finais Esse estudo que se debruçou sobre as políticas públicas da educação em tempo integral no Brasil, nos séculos XX e XXI, demonstrou, por meio das diversas experiências, que a ampliação dos tempos e espaços escolares explicitada pela escola de tempo integral, se coloca como desafio, considerando que tais experiências necessitam problematizar e humanizar os espaços educativos que levem em conta a natureza multidimensional da educação e que respeite integralmente o aluno, em suas necessidades emocionais, psicológicas, físicas e cognitivas. Ficou evidenciado que a educação integral, após se destacar no início do século XX, volta ao cenário educacional brasileiro no final daquele e início deste século XXI, em que diversas cidades e municípios vem implantando políticas educacionais de ampliação da jornada escolar, alinhadas ou não, em torno da produção acadêmica, como uma das alternativas para a melhoria da educação de crianças, adolescentes e jovens, o que demanda políticas públicas em educação que garantam a qualidade da educação em tempo integral. Referências BOMENY, Helena. A escola no Brasil de Darcy Ribeiro. Revista Em Aberto, v. 22, n. 80, p. 109120, Brasília, abr. 2009. Disponível em: <www.emaberto.inep.gov.br/ index.php/emaberto/article/ view/.../ 1223> Acesso em: abr.2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Casa Civil da Presidência da República, 1988. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/cci vil_03/ constituicao/ constituicao.htm> Acesso em: maio/2012. ______. 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Documento Referência para a Conferência Nacional de Educação (CONAE) 2014. Disponível em: <http://conae2014.mec.gov.br/images/pdf/doc_refe rencia .pdf> Acesso em maio/2013. 149 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Do estado patrimonial ao gerencial. In: PINHEIRO, WILHEIM E SACHS (org) Brasil: um século de transformações. S. Paulo: Cia. das Letras, 2001. p. 222-259. CASTRO, Adriana de; LOPES, Roseli Esquerdo. A escola de tempo integral: desafios e possibilidades. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 19, n. 71, p. 259-282, abr./jun. 2011. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/ensaio/v19n71/a03v19n71. pdf> Acesso em jul./2012. CAVALIERI, Ana Maria. Anísio Teixeira e a Educação Integral. Revista Paidéia, Ribeirão Preto, SP, v. 20, n.46, mai/agost. 2010. 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Para tanto, privilegia-se a análise dos dados referentes ao ensino fundamental, disponíveis no mapa de distribuição do programa, considerando a adesão das prefeituras municipais no período de 2003 a 2012. Os resultados obtidos indicam que os incentivos à descentralização se apresentam de forma ainda muito tímida, não mobilizando a atenção dos gestores municipais. Nesse caso, a desatenção dos gestores compromete o bem-estar infantil e juvenil e promovem o acirramento da desigualdade de acesso ao desporto educacional e na melhoria da qualidade de vida. Palavras-chave: Programa Segundo Tempo, Esporte Educacional, Descentralização. Introdução Os estudos sobre o impacto de programas federais de esporte educacional na escala local ainda são muito incipientes. Passados 10 anos de implementação do Programa Segundo Tempo pelo Ministério do Esporte, e dada sua importância como uma política associada ao bem-estar infantil e juvenil (promoção do desporto educacional), torna-se necessário examinar o papel das prefeituras na sua difusão. Para a análise aqui pretendida, organizamos o trabalho em três seções. Na primeira, apresentamos de forma sucinta os antecedentes do Programa Segundo Tempo e como ele está organizado atualmente. Na segunda, abordamos alguns aspectos que aproximam o programa a um projeto maior de atenção integral à criança, a despeito de não ter sido concebido de forma articulada com uma política de educação integral. Por último, analisamos de que forma a participação das prefeituras municipais no desenho federalista ajudou a diminuir (ou não) a desigualdade de acesso ao desporto educacional e sua influência na melhoria da qualidade de vida das crianças brasileiras. Programa Segundo Tempo: breve histórico O Ministério do Esporte, enquanto órgão exclusivo da gestão esportiva, foi criado pela Medida Provisória nº 103 de 01/01/2003, durante o primeiro ano da gestão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua criação surge com o desafio de centralizar a política pública de esporte, como assinalam Alves e Pieranti (2007). Entre as primeiras ações do ME no campo do esporte educacional, está a continuidade dada à política de atenção às crianças, principalmente as mais vulneráveis, implementada ainda durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Esse legado, além de permitir desencadear ações já no início do governo, contribuiu na criação de outras políticas, como o Programa Bolsa Família, por exemplo. A ideia central foi a de condensar programas já existentes a partir da criação de um novo, com capacidade de ampliar o atendimento. Nesse sentido, o Programa Segundo Tempo (PST) tem uma história em termos de política pública. Ele surge de forma incremental a partir dos programas Esporte na Escola e Esporte 151 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Solidário (Ferreira, Cassiolato e Gonzalez, 2009). O primeiro destinava-se a desenvolver a prática esportiva junto aos alunos de escolas públicas. O segundo estava direcionado à garantia do acesso à atividade esportiva às comunidades carentes. O Programa Esporte na Escola foi criado no segundo semestre de 2001, com objetivo de democratizar o acesso à prática esportiva, de forma a contribuir com o desenvolvimento integral dos estudantes. Ele nasce com uma meta bastante ambiciosa: implantar cerca de 100 mil núcleos esportivos em todo o território nacional e atingir 36 milhões de estudantes em 12 anos. Para sua implementação foram realizadas parcerias com o Ministério da Educação, Ministério da Defesa e organizações não governamentais. O Programa Esporte Solidário é mais antigo, foi implementado em 1996. Surge como objetivo de desenvolver ações em regiões carentes a fim de diminuir a exposição ao risco social. A faixa etária de atendimento era de 7 a 24 anos. O programa chegou a alcançar 26 estados em 2001, com 857 núcleos e 239 mil pessoas atendidas. Ciente das dificuldades de infraestrutura para o seu desenvolvimento (as regiões mais pobres carecem também de infraestrutura adequada à prática esportiva), o programa também pactuou com a Caixa Econômica Federal a construção de 1.771 espaços esportivos e a modernização de outros 78 para execução de suas atividades. O PST acabou unificando dois objetivos: atender crianças matriculadas no sistema público de ensino no contraturno escolar e, preferencialmente, aquelas em situação de vulnerabilidade ou risco social. O programa surge, portanto, com uma forte preocupação de combate à exclusão social, política prioritária do Governo Lula, visando garantir atenção à criança no turno inverso. Em que pese a preocupação com o turno inverso, o programa nasce desvinculado de uma política mais ampla de educação integral. Como veremos mais adiante, esse dado nos permite refletir sobre uma velha narrativa que vê o tempo ocioso de determinadas crianças (as mais pobres) como um problema social. Coube à Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED/ME), através do Departamento de Esporte Escolar e Identidade Cultural, o compromisso de formular e implementar políticas de esporte educacional (dentre elas estava o PST). E é justamente o entendimento sobre o significado do esporte educacional que tem produzido importantes implicações à análise da política pública pela ambiguidade que carrega (ZAHARIADIS, 2007). O programa surge com uma preocupação redistributiva muito forte, na esteira de outros projetos do Governo Lula (ALMEIDA, 2004). Sua agenda social foi a principal marca que o governo procurou imprimir em suas ações. A democratização do desporto educacional a que se propõe o programa passa, primeiro, pelas áreas de vulnerabilidade social. Atenção integral à criança e o papel do PST No art. 34° da LDB está fixado que “A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola”. O parágrafo 2º acrescenta que “O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino”. A garantia das quatro horas e sua ampliação constituem objetivo a ser perseguido pelo Estado. Dentro dessa carga horária, o desporto aparece, por meio do ensino da educação física, como um componente curricular obrigatório e, no turno inverso, como uma ferramenta que possibilita a ampliação das experiências desportivas. É importante destacar que o projeto de educação integral, ao transcender os aspectos puramente cognitivos (GUARÁ, 2006), incorpora o desporto de uma forma muito positiva. O Plano Nacional de Educação (2000) define que a ampliação da jornada de estudo deve possibilitar “[...] orientação no cumprimento dos deveres escolares, prática de esporte (grifo nosso), desenvolvimento de atividades artísticas e alimentação adequada, no mínimo em duas refeições.” Nesse sentido, o desporto que aqui está sendo pautado difere daquele que aparece como obrigação a 152 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ser contemplada pelas aulas de educação física: a busca utilitária pela aprendizagem e pelo desenvolvimento de algum desporto. O desporto, por sua capacidade agregadora, mobilizadora e socializadora, não pode servir como isca para objetivos que não se constituem no campo do direito 21. Nesse sentido, parece-nos muito contraditório apresentar como objetivos de programas que buscam garantir a atenção integral, como o Programa Segundo Tempo (PST) – cabe ressaltar que ele não é o único –, o cuidado com o tempo ocioso da criança e do adolescente. Se entendermos o tempo ocioso como um direito a ser preservado (art. 6° da CF), a questão não pode ser colocada sob o prisma do Estado punitivo – vigilância intensiva (SEIBEL, 2005). O cuidado na formação integral é que exige a oferta de atividades que possam enriquecer culturalmente a vida das crianças e dos jovens, e não a tentativa de regrar a vida das crianças e jovens moradores das periferias, que “exigem” controle e vigilância. O PST configura-se então como importante ferramenta que visa garantir direitos às crianças, principalmente às mais vulneráveis. Para alcançar esse objetivo, o programa propõe descentralizar recursos através de convênios firmados com o Ministério para governos estaduais, prefeituras ou organizações da sociedade civil. Seu objetivo principal é democratizar o acesso ao desporto educacional. Descentralização de programas na federação brasileira A política pública na área social tem como premissa básica a democratização do acesso a um determinado bem social, de forma a diminuir a desigualdade existente em sua distribuição na sociedade. Essa preocupação está expressa de maneira explícita no Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte. O programa se coloca como um forte aliado na diminuição da desigualdade regional e social. Por conseguinte, a justiça alocativa está diretamente associada ao aumento de investimentos nas áreas em que se encontra o público-alvo do programa, quais sejam as localidades mais vulneráveis que, historicamente, são portadoras de múltiplas desvantagens e severas assimetrias, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Nos dez anos de implantação do programa, apenas 435 municípios do território nacional assinaram termo de convênio com o Ministério do Esporte, o que representa menos de 10% do total. Podemos extrair desse dado algumas hipóteses, tais como: as prefeituras tiveram poucos estímulos à adesão (ganhos pouco atrativos à adesão), algumas dificuldades (principalmente operacionais) de aderir ao programa ou ele (o PST) não compõe o pacote de preferências dos governos municipais. De toda forma, os resultados demonstram que as prefeituras não se tornaram, ao longo do período aqui analisado, parceiros estratégicos do governo federal na difusão do PST e tampouco não conseguiram diminuir a desigualdade regional de acesso ao serviço ofertado pelo programa. Considerando apenas aquelas prefeituras que se conveniaram ao programa, as regiões mais desenvolvidas, sul e sudeste, foram responsáveis por mais de 62,53% da difusão. Nesse aspecto, o resultado acabou por reproduzir a desigualdade distributiva regional a qual se propõe a combater, como pode ser observado na Tabela 1. 21 Bourdieu (1983) aponta que o esporte, na sua origem moderna, já era pensado como uma estratégia para o controle dos estudantes das public schools. 153 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela 1- Diferença do percentual de representação do número de prefeituras por região pelo percentual de prefeituras por região que difundiram o PST Região Prefeituras % Adesão % Diferença (pp) 449 8,07 16 3,68 ↓ 4,39 Norte 1794 32,24 121 27,82 ↓ 4,42 Nordeste 1668 29,97 189 43,45 ↑ 13,48 Sudeste 1189 21,37 83 19,08 ↓ 2,29 Sul 465 8,36 26 5,98 ↓ 2,38 Centro-Oeste Fonte: IBGE e Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte (2013). O Brasil já experimentou uma variedade de arranjos federativos, como aponta Souza (2005). Mais do que compreender esse histórico, a questão que se coloca é tentar identificar que variáveis caracterizam o modelo brasileiro e seus impactos na distribuição de recursos. As assimetrias entre os níveis de governo (desempenho fiscal, por exemplo) produzem diferentes cenários à distribuição e redistribuição de recursos e à oferta de políticas públicas (GIBSON, CALVO e FALLETI, 2003)22, como pode ser observado na tabela 1. Cada política específica engendrou um tipo de relação entre os entes federados que, no caso brasileiro, envolve uma complexidade a mais por conta da tripla soberania (ARRETCHE, 2005), produzindo significado e conteúdo distintos, com diferentes resultados para a política pública23, seja pela descentralização política e autonomia de agenda, seja pela descentralização fiscal e capacidade de arrecadação. No caso do PST, governo central e governos subnacionais podem atuar de forma cooperativa ou concorrencial. A desigualdade socioeconômica é o ponto de partida para o debate federalista brasileiro e sua diminuição é o projeto a ser perseguido pelo Estado. A Constituição de 1988 colocou como objetivo para o fortalecimento da federação a promoção de um maior equilíbrio entre os entes constitutivos (SOUZA, 2005). Há uma tensão permanente no estado federativo pela distribuição/redistribuição de poder e de recursos que não estão associados à eficiência dos governos subnacionais. Essa distribuição/redistribuição ganha uma dinâmica ainda mais complexa, no caso brasileiro, por conta da elevação do município a membro da federação. Dinâmicas de cooperação, disputas, consentimento e barganhas são produtoras de uma complexa engenharia política (ALMEIDA, 1995; RODDE, 2005; SOUZA, 2005). Esse cenário aponta para relações intergovernamentais altamente competitivas, vertical e horizontalmente (SOUZA 2005). Outra marca de nosso federalismo é sua descentralização, convivendo ao lado de tendências centralizadoras (ALMEIDA, 2005). A Constituição de 1988, de forte viés municipalista – aspecto descentralizador –, transferiu capacidade decisória, funções e recursos às instâncias subnacionais. Ele, o município, foi o principal beneficiário desse movimento 24. Havia uma expectativa de que a descentralização melhoraria o resultado da política pública de forma a diminuir as desigualdades intrarregionais (BARACHO, 2000). No plano nacional, a crise do regime militar e a transição democrática geraram poderosas correntes descentralizadoras que foram associadas à democracia, à cidadania e à diminuição das desigualdades (ALMEIDA, 1995; ARRETCHE, 2005). No plano internacional, pressionada por uma maior eficiência dos governos, a descentralização estava 22 A experiência internacional aponta que as clivagens étnicas e religiosas, produtoras de desigualdades, têm sido uma das principais preocupações na constituição do federalismo. No Brasil, segundo Arretche (2010), é a clivagem econômica que melhor explica as variações de nosso federalismo. 23 Eles podem significar diversidade, diferença por concorrência ou desigualdade, conforme o modelo analítico utilizado (ARRETCHE, 2010). 24 Longe de ser uma idiossincrasia, a descentralização em direção aos municípios pode ser interpretada como o resultado da experiência acumulada pelos atores políticos municipais (na maior parte dos municípios), que durante o regime militar acumularam experiência política e administrativa (ALMEIDA e CARNEIRO, 2003). 154 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades associada ao paradigma da modernização gerencial (MELO, 1996). Esses dois movimentos acabaram por dar força a essa ideia, que acabou por criar dificuldades ao discurso e à prática centralizadora, elevando os custos da recentralização. Porém, a consequência não esperada do processo de descentralização brasileira acabou por desnudar seus limites, principalmente aqueles associados à manutenção ou aprofundamento da desigualdade regional, como pode ser observado no gráfico 1. São eles: a ambiguidade de competências entre as três esferas de governo, que produziu, em determinadas áreas, imobilismo; a baixa qualificação da burocracia; uma descentralização fiscal que dificultou a coordenação de certas políticas, de forma a garantir maior equidade entre os entes federativos; e, vulnerável às pressões advindas das elites locais, o clientelismo (MELO, 1996). Gráfico 1- Distribuição regional da adesão das prefeituras ao PST de 2003 a 2012 19,08% n = 83 5,98% n = 26 3,68% n =16 27,82% n = 121 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 43,45% n = 189 Fonte: Dados do Programa Segundo Tempo/Ministério do Esporte (2013). Após dez anos de implementação, observa-se a fraca coordenação entre os entes federados (especialmente entre o governo federal e as prefeituras) e a consequente manutenção dos parâmetros de desigualdade (SOUZA, 2001; ARRETCHE, 2007). Affonso (1996) não interpreta a descoordenação como uma variável interveniente na manutenção do cenário de desigualdade, mas como uma característica do modelo de descentralização brasileira que produz resultados políticos desiguais. Uma análise mais acurada do desempenho dos governos é dependente dos arranjos institucionais e setoriais de uma dada política (ARRETCHE, 2003; ALMEIDA, 2005). A complexidade das relações federativas interage com diferentes fenômenos e produz resultados diferenciados na distribuição das políticas públicas também na realidade estadual. Como pode ser observado na tabela 2, apenas oito estados conseguiram que mais de 10% (que poderia ser um patamar mínimo de difusão) de seus municípios aderissem ao PST ao longo dos dez anos aqui analisados. A região Sudeste foi a que obteve o melhor resultado, com três estados ultrapassando a barreira dos 10%; e na região Centro-Oeste nenhum estado conseguiu ultrapassar essa barreira. De qualquer forma, o programa apresentou um desempenho bastante irregular na difusão via convênio com prefeituras e os estados apresentam desempenhos muito distintos. 155 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela 2 - Percentual de difusão do PST entre as prefeituras por estados UF % UF % UF % UF % UF % 0 TO 1,44 PE 4,86 RJ 3,84 AC 19,56 MS 4,84 AL 2,94 PI 3,57 SP 5,67 AM 14,11 MT BA RN PR AP 18,75 10,31 14,97 10,5 3,49 CE 9,78 SE 2,67 RS 6,05 PA 1,92 MA 1,38 ES 3,75 RO 14,10 SC 4,84 MG 8,09 GO 6,1 RR 13,33 PB Fonte: Programa Segundo Tempo/Ministério do Esporte (2013). Temos assistido, pelo menos em termos de políticas de esporte, cada vez mais, ao protagonismo do governo federal na formulação de políticas públicas (efeito centralizador), que se tornam mais e mais necessárias diante da falta de recurso dos governos subnacionais, dos (não) ganhos eleitorais que uma política que congrega esporte e criança pode ensejar25 e da diferenciação do valor que a política de esporte para criança tem em cada agenda intergovernamental. A cooperação pode se dar por meio da produção de um pacote de incentivos de forma a seduzir ou mobilizar a atenção dos governos subnacionais, principalmente para aqueles mais vulneráveis. São esses que possuem mais dificuldades na implementação de políticas próprias. Porém, um conjunto de variáveis intermediárias que se coloca entre o governo federal e o beneficiário do programa produz dinâmicas diferenciadas na implementação da política pública. Após experimentar dez anos de implementação do Programa Segundo Tempo (2003 a 2012), tornase importante analisar as consequências do modelo desenhado de descentralização das ações pelo Ministério do Esporte na diminuição das desigualdades regionais de acesso a esse bem social, tendo em vista a importância do programa para o desenvolvimento da criança. Observando o desempenho dos municípios mais vulneráveis 26 na adesão ao programa, percebe-se a grande dificuldade para alcançar os escolares dessas cidades, que representam 41,15% delas. Essa distribuição não se dá de forma equânime no território nacional. A região Nordeste é responsável por 72,14% (n = 1652) das cidades no nível mais elevado de exclusão; a região Norte, por 13,89% (n = 318); a região Sudeste, por 10,44% (n = 239); a região Sul, por 1,57% (n = 36); e a região Centro-Oeste, por 1,97% (n = 45). Como podemos perceber, a região Nordeste monopoliza o maior número de cidades em exclusão severa. Apenas 4,59% (n = 105) dos municípios nesse nível de exclusão conveniaram com o programa. A desassistência de 2.185 municípios com o programa colabora para a amplificação de sua vulnerabilidade à medida que não empreendem esforços em garantir melhores condições de bem-estar para suas crianças. A região que melhor conseguiu adesão de seus municípios mais vulneráveis foi a Sul, com 5,55% (n = 2); a segunda maior difusão entre esses municípios foi na região Nordeste, com 5,15%; seguidos das regiões Sudeste, 4,6%, Centro-Oeste, 4,44%, e Norte, 1,57%. Nenhuma região conseguiu atingir, nos dez anos aqui analisados, 10% dos municípios mais vulneráveis. Como a difusão27 do PST segue o modelo de descentralização por demanda (é dependente de convênios com parceiros), não é possível obrigar os municípios mais vulneráveis a aderirem ao programa. Tudo indica que, para este grupo de proponentes (as prefeituras), o pacote de incentivos não é atraente, aliado ao fato de esporte e atenção à criança não serem plataformas eleitorais importantes. Portanto, a grande questão é se esse modelo de descentralização por demanda é suficiente para que se obtenham resultados redistributivos (atender a regiões mais vulneráveis), 25 Para análise da participação dos partidos e coalizões na difusão do PST, ver Santos (2012). Para esta análise, estamos utilizando a classificação de vulnerabilidade trazida por Pochmann e Campos (2005). A exclusão severa se refere ao seu pior estágio. 27 Para análise do tema da difusão, no sentido de compreender como uma política vai se reproduzindo em outros ambientes ao longo do tempo, ver Berry e Berry (1999). 26 156 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades principalmente diante da autonomia política do poder local, das dificuldades operacionais à descentralização e dos patamares existentes de políticas locais de democratização do esporte. Pelo que foi apresentado até aqui, não. À guisa de conclusões É indiscutível a importância de programas que buscam ampliar o bem-estar infantil e juvenil, como o PST. Também é indiscutível que as prefeituras, principalmente as mais vulneráveis, possuem muitas dificuldades para, com recursos próprios, promoverem o desporto educacional. Esse cenário, por si só, já deveria garantir uma difusão do programa para todos os estados, o que de fato aconteceu; para todas as prefeituras, o que ficou muito longe de acontecer; e para as prefeituras mais vulneráveis, o que logrou resultados inexpressíveis. Analisando esse resultado pela perspectiva federalista, podemos inferir que os incentivos à descentralização são muito tímidos, não mobilizando atenção dos gestores municipais. Nesse caso, a desatenção dos gestores compromete o bem-estar infantil e juvenil e promove o acirramento da desigualdade de acesso ao desporto educacional e à melhoria da qualidade de vida. A temática é envolvente e suscita novas pesquisas, visto que precisamos compreender melhor as motivações que levam os municípios, principalmente os mais vulneráveis, a não aderirem ao programa. REFERENCIAS AFONSO, J. R. R.; LOBO, T. Descentralização fiscal e participação em experiências democráticas retardatárias. 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Elencamos os aspectos relevantes para uma avaliação CAPES voltada para o processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chaves: Paradigma do ensino; Avaliação CAPES, aprendizagem. Introdução O ensino superior em pós-graduação, Stricto sensu, está baseado nas estruturas de sistema imposto pela CAPES, que tem como objetivo principal a construção dos saberes, geradores de mudanças que irão atender a demanda social existente no país. Ao refletir tal objetivo, voltemo-nos 158 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades para a realização das avaliações que são feitas a cada três anos nas instituições de ensino superior, considerando até que ponto o sistema de avaliação atual esta ajudando para atingir tal meta? Quais são as bases metodológicas que utilizam para isso? Acreditamos que o sistema a qual nos referimos tenha como base de fundamentação o paradigma, muito utilizado pelos professores do ensino básico e superior do Brasil. É um modelo voltado à exposição dos conteúdos, preocupado com a transmissão de informações ao aluno. No caso do sistema, a preocupação esta com a estrutura montada pelos cursos para atender as exigências impostas pelas políticas educacionais e os órgãos responsáveis, deixando o processo reduzido à esfera burocrática. Segundo Sguissardi (2006, p. 50) o modelo atual de avaliação existe e funciona em sentido restrito ou se esse modelo caracteriza-se por ser regulador, controlador e de acreditação própria de um órgão financiador de pós-graduação. Tal processo serve de garantia pública de qualidade, de validade legal de títulos e de diplomas. Procuramos nas próximas páginas discorrer sobre reflexo de tal paradigma na formação do saber, visto que a universidade, e principalmente os cursos de mestrado e doutorado, tem instituídos, culturalmente, o dever de ser o centro de produção do conhecimento científico. Como esse conhecimento científico pode ocorrer a par de todo os processos de desenvolvimento humano? O stricto sensu está se reduzindo a discussões teóricas distante do contexto real? O texto, em sua primeira sessão apresenta a contextualização do modelo CAPES de avaliação. Nos parágrafos seguintes inicia uma prevê discussão sobre o paradigma de ensino e sua estruturação, e por fim, iremos debater sobre a estrutura do sistema CAPES em uma perspectiva do paradigma do ensino, salientando a importância de um sistema de avaliação voltado para a formação do conhecimento dentro do um processo de construção do sujeito. Sistema de Avaliação CAPES A Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) tem como responsabilidade a expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados do Brasil. Aproveitando-se de tais responsabilidades o órgão estreita a relação da avaliação dos programas, criando mecanismos efetivos de controle e qualidade com a comunidade científica e acadêmica. Tendo como estruturação de suas atividades os seguintes programas: a avaliação da pósgraduação Stricto Senso; acesso e divulgação da produção científica; investimento na formação de recursos de alto nível no país e exterior; promoção de cooperação científica internacional e indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação básica nos formatos presencial e a distância. Ratificando que, desde sua fundação até os dias atuais, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior tem como objetivo principal a construção dos saberes, geradores de mudanças que irão atender a demanda social existente em país. A estruturação dos mecanismos de avaliação do instituto, que vem ao longo dos anos se aperfeiçoando, busca um padrão de excelência acadêmica, sendo que os resultados são utilizados para a elaboração de políticas voltadas aos programas de pós-graduação. O processo de avaliação do CAPES é composto por três etapas. A primeira etapa consiste no preenchimento dos dados no aplicativo Coleta de Dados 12.0 da CAPES, onde será feito o levantamento inicial de dados da instituição. Questões como: informações básicas dos cursos, áreas de concentração, número de docentes, titulações, vínculo do docente, quantidade de discentes, dados pessoais dos discentes, linhas de pesquisas do programa, financiamentos, produção intelectual, fluxo de discentes, as cinco produções mais relevantes do corpo docente, dissertações, entre outros aspectos. A coleta dos dados é importante, pois é através do seu armazenamento que será possível, ao órgão responsável, avaliar os programas de pósgraduação, constituir a chamada “memória da pós-graduação”, que é o acervo de informações 159 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades consolidadas sobre o Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) e planejar seus programas de fomento e delimitar suas políticas institucionais. No segundo passo são as visitas dos consultores aos cursos, buscando maiores informações através do contato pessoal e direto com os integrantes de cada pós-graduação. As visitas são realizadas por comissões, compostas por avaliadores qualificados em suas respectivas áreas do conhecimento. Cabe, aos consultores no momento da visita, observar as legislações incidentes sobre as respectivas atividades, como: identificar o cumprimento das políticas de desenvolvimento elaboradas pela CAPES, sinalizar tendências e rumos de pesquisas existentes em cada programa, auxiliando na harmonização dos interessas da área. Por fim, a última etapa corresponde ao envio dos resultados produzidos para o Conselho Técnico-Científico da Educação Superior, o qual é responsável pela avaliação e definição do padrão de cada instituição. Os padrões que são citados no parágrafo acima correspondem a uma nota na escala de "1" a "7" que fundamentam a deliberação Conselho Nacional de Educação/MEC sobre quais cursos obterão a renovação de reconhecimento. Sendo que o investimento e reconhecimento que a instituição irá receber está diretamente condicionada a sua nota CAPEM. Após esta rápida descrição do sistema CAPES de Avaliação podemos observar que o processo de avaliação corresponde apenas a um levantamento de dados, os quais são devidamente checados nas visitas feitas em cada instituição, deixando de atender aos interesses do processo de formação do saber. Ao analisar a estrutura organizada pela CAPES, a qual é seguida rigorosamente pelos programas de stricto sensu, é perceptível algumas tendências mercadológicas onde o centro no ensino é o professor e o conhecimento a ser passado, ignorando o processo de ensino-aprendizagem existente na formação desses especialistas, acabando por distorcer o real papel da universidade: a formação integral do indivíduo. Os rigorosos indicadores presentes na avaliação direcionam muito mais aos números do que ao contexto, exigindo do ensino superior uma lógica espaço temporal dinâmica, onde seus integrantes tem o dever de cumprir com todos os requisitos em um curto espaço de tempo. Um professor imerso nesta lógica acaba por valorizar mais aulas, mais eventos, mais publicações, e por consequência valoriza menos a aprendizagem e a aquisição do conhecimento de seu aluno. Em um contexto amplo, as instituições já não cobram de seus docentes uma maior responsabilidade com o processo de ensino aprendizagem, preocupados com os recursos que virão, se sua nota CAPES não baixar, ignoram o sujeito e exigem a quantidade. Portanto, percebe-se a ênfase na titulação de especialistas e de produção acadêmica em curto prazo, deixando para segundo plano o papel fundamental dos programas de Mestrado e Doutorado: a construção do saber específico em determinada área do conhecimento, ficando evidente a influencia do paradigma do ensino nas estruturas de avaliação do stricto sensu. O problema que o presente artigo tenta levantar é justamente, indicar a presença do paradigma do ensino não apenas em sala de aula, como uma opção metodológica do professor, mas sim como sendo o paradigma norteador de nosso sistema de educacional como um todo. Mas qual a consequência desta escolha de paradigma, pelas instituições de avaliação, para o processo de aquisição do saber? O Paradigma do ensino Ao iniciar sua aula o professor utiliza de técnicas e metodologias específicas, que facilitam a compreensão do conteúdo pelos alunos. Ao adotar uma postura em sala de aula, este professor, mesmo sem perceber, escolhe um paradigma que irá moldar seu trabalho docente, desde o momento da preparação de suas aulas até a avaliação de seus alunos. Ainda nos dias atuais encontramos na maioria das salas de aula a presença do paradigma do ensino, o qual tem como objetivo principal a 160 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades transmissão do conhecimento para os alunos, para que ele, através de seus estudos consiga absorver e reproduzir tais ensinamentos. Podemos dizer que esta abordagem "tradicional" do ensino parte do pressuposto de que a inteligência é a capacidade que o homem tem de armazenar informações, as quais serão relevantes em algum momento de sua vida. Cabendo ao professor a responsabilidade de descrever a realidade a ser estudada de forma simples, transformando-o em objeto de estudo. Reduzindo o papel da educação à um simples processo de acumulação de conhecimento. Aspectos como elementos da vida emocional ou afetiva do sujeito são negligenciados por supor-se que eles poderiam comprometer negativamente o processo, sendo que o objeto principal deste paradigma é o ensino, ou seja, a retenção do conhecimento. “Também são ignoradas as competências pedagógicas do professor, privilegiando a preparação do aluno para o momento da prova, etapa decisiva, onde poderá ser aferido o sucesso da aprendizagem” do sujeito. Segundo Paulo Freire28, esta seria a educação bancária, uma visão tradicional, absolutista, onde o professor é o narrador e o aluno o objeto ouvinte. O ensino é algo parado, estático, compartimentado e completamente alheio à experiência existencial dos educandos. O sujeito é considerado um ser adaptável, ajustável, tendo uma educação sem criatividade e transformação do saber. [...] a educação ainda permanece vertical. O professor ainda é um ser superior que ensina os ignorantes. Isto firma uma consciência bancária. O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. (FREIRE, 1983, p.. 38). O paradigma do ensino utiliza o método pedagógico expositivo, quando aplicado de uma forma verticalizada transforma o sujeito em mero espectador, seguindo a teoria da tabula raza de Locke, o sujeito não possui nenhum conhecimento à priori, e é dever da escola transpor todas as informações necessárias a este sujeito para viver em sociedade. [...] atribui-se ao sujeito um papel irrelevante na elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está adquirindo conhecimento compete memorizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico. (Mizukami, 1986. p.11) Portanto, o mais importante neste viés o processo de ensino, sendo que deveria ser o processo de aprendizagem do sujeito. Sendo que a qualidade do ensino só acontecerá se o aluno for o centro de todo o processo, e não mais, como em um viés tradicional de educação, uma educação passiva e ignorante, onde o mais importante é o conteúdo a ser passado. Podemos organizá-lo sob três grandes pilares: o primeiro corresponde à estruturação dos conteúdos em currículos estanques e fechados, os quais irão embasar qualquer ação docente; o segundo é a ênfase em professores extremamente qualificados, do ponto de vista do conteúdo em sala de aula, mas sem necessariamente domínio pedagógico; e por fim, o terceiro diz questão ao "tempo a vencer", ou seja, todo conteúdo descrito na grade curricular deve ser "vencido" no tempo estipulado para o curso. O que podemos evidenciar neste três pilares é que na dialética professor, aluno e aprendizagem, o centro de todo esse processo é o professor, o qual tem em suas mãos todo o saber. Ao aluno cabe o papel passivo, sendo ignorado em seu processo de construção do saber, até mesmo porque, nesta perspectiva o saber não pode ser construído, a ação da aprendizagem corresponde ao 161 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades simples ato de adquirir um saber no sentido intelectual, apropriando-se de um determinado conteúdo de pensamento. Mas como uma metodologia docente pode ser identificada em um sistema de avaliação em larga escala? É justamente isto que iremos evidenciar nos próximos parágrafos, como os princípios básicos de um paradigma voltado para a ação docente em sala de aula estão presentes na estruturação e aplicações dos sistemas de avaliação da CAPES. A avaliação CAPES em uma perspectiva do Paradigma do ensino Toda ação humana esta pré-condicionada a seguir modelos, todo conhecimento gerado é gerado sob outro conhecimento já existente, com os sistemas de avaliação em larga escala não seria diferente. Paradigmas não serão encontrados apenas nos ambientes em sala de aula, mas também no restante dos setores que estão envolvidos na estrutura educacional, como por exemplo, na Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O modelo CAPES de avaliação tem como objetivo qualificar os processos educativos dos programas de stricto sensu, através da elaboração de um sistema, o qual deveria seguir uma lógica pedagógica, tendo como centro o processo de aprendizagem dos alunos dos cursos de mestrado e doutorado. Mas o que vemos hoje é justamente o contrário, o sistema que vem sendo aplicado em nossas universidades segue a lógica de mercado, onde o tempo e rendimento são os mais importantes, ou seja, visão de acumulo de conhecimento. O primeiro grande problema que levantamos é se essa avaliação acontece no sentido de melhoria da qualidade na educação ou apenas como forma de regulamentar e controlar os grandes produtores de intelectuais especializados do país. Tal angústia é levantada a partir da análise de que a avaliação considera para fins de qualidade apenas dados de quantidade em comparação com a produção final sem considerar o processo de construção desses resultados com seus respectivos recursos. Não basta que qualidade seja um elemento presente na avaliação. O importante é que o elemento qualidade seja determinante na avaliação e que leve às mudanças necessárias. Avaliar de forma justa é avaliar de forma ampla uma formação que também deveria ser ampla, mas o que vemos é uma avaliação extremamente ligada a metas oficiais, atendendo aos interesses exclusivos e privados de organizações que em um contexto capitalista, atendem aos interesses do mercado. Não podemos restringir os fins da educação naquilo que o mercado diz que deve ter qualidade, mas que englobe elementos que estejam vinculados à formação integral do indivíduo. A pressão exercida sobre os docentes universitários, a qual cobra deles produção em massa de artigos científicos, um grande montante de orientações, uma vida acadêmica ativa com participações em eventos, enfim, tais exigências acabam por transformar a vida intelectual acadêmica em um sistema mercantil, onde quem produz mais é visto e "recompensado", sendo que a produção de pesquisa e de conhecimento deve sanar as necessidades sociais, viabilizando assim o ensino. O sistema avaliativo CAPES, ao incorporar um paradigma centrado na acumulação do conhecimento, tende a reafirmar um processo de ensino rápido e objetivo, onde o sujeito será preenchido de teoria, dando respostas através de produções, embasadas em conhecimentos já existentes no mundo acadêmico, perdendo-se neste processo o objetivo principal de sua existência, a qualidade do ensino. O sistema se desenvolve com base na racionalidade científica, que impõe compromissos ideológicos à pedagogia. Portanto, a instituição deve ser um espaço útil ao desenvolvimento econômico, buscando nas áreas uma excelência que trará ao país um reconhecimento mundial. Por esta visão que as linhas de financiamento, em sua maioria, são voltadas para as áreas de tecnologia. O princípio básico de uma instituição de ensino superior, de formar sujeitos autônomos e democráticos, é ignorado frente às normatizações e financiamentos impostos e oferecidos pela 162 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades CAPES, transformando-as em agenciadoras de projetos e de informações não mais necessariamente de conhecimento dirigível, tendo o foco principal a assimilação rápida pelo mercado. Como já vimos na análise anterior, o paradigma do ensino não evidencia o processo de aprendizagem do aluno, que se dá de forma individual e subjetiva, fazendo com que a professora tenha um olhar diferenciado para cada aluno na sala de aula. Na avaliação das instituições acontece o mesmo princípio, as instituições são aferidas de forma individual, mas os indicadores a serem observados são elaborador para todas as instituições. Neste sentido a avaliação se confunde com processo de mensuração com fins classificatórios de mecanismo de poder e controle burocrático. A avaliação faz parte dos contextos humanos, que estão sempre inevitavelmente mergulhados em ideologias e valores e, portanto, em jogo de interesses contraditórios e disputas de poder. A avaliação é fundamentalmente política porque pertence ao interesse social e produz efeitos públicos de grande importância para a sociedade. (SOBRINHO, 2003, p. 93,) A avaliação atual da CAPES consiste em atribuir valor às políticas elaboradas pelo órgão e implantadas nas instituições, averiguando se os objetivos educacionais traçados estão sendo alcançados, aliando a isso a distribuição de verbas para o desenvolvimento dos cursos. Tais políticas privilegiam os cursos que já possuem "certa" tradição no mundo acadêmico, aumentando a assimetria entre os cursos nas várias regiões do Brasil. Sendo que, ao tentar contribuir para um efetivo desenvolvimento acadêmico, o processo deveria incorporar as instituições e seus sujeitos, sua memória histórica, sua ação efetiva em seus contextos sociais, em fim, a avaliação deveria priorizar pela ação ampla deste programa, buscando aspectos relevantes para a formação de um profissional crítico e autônomo. Em outras palavras, a avaliação não pode ser punitiva e excludente, mas do contrário, deve apresentar um caráter formativo, pedagógico, tendo em vista o aprimoramento dos programas. [...] o poder pé distribuído de forma democrática entre os participantes ou distintos grupos, partindo do princípio de que a participação é fundamental e que toda informação deve ser levada em conta. não se trata de um processo tranquilo e sem contradição. O processo é de permanente negociação, o que significa não eliminar, e sim considerar as contradições teóricas, práticas e de interesses organizacionais ou políticos e busca os acordos necessários para o desenvolvimento da avaliação. (SOBRINHO, p. 35, 2003) Alguns aspectos como gastos com pesquisa, impacto no mercado de trabalho, produtividade, falta de indicadores qualitativos, a exclusão do processo formativo, a falta de avaliação da qualidade das dissertações e teses, são fatores que indicam um olhar segmentado desta avaliação, buscando uma estrutura compartimentada de fácil análise, diminuindo o trabalho dos consultores, mas em contrapartida, defasada para as necessidades reais dos programas brasileiros. Se a autonomia, a criatividade, a peculiaridade de cada programa ou a proposta das universidades onde estão inseridos, não fazem parte do processo de transmissão do conhecimento, como se dá a produção dos saberes e a formação de competências essenciais? Culturalmente, temos as instituições de ensino superior como centro de produção do conhecimento científico, ou seja, a universidade sempre foi vista como instância privilegiada no contínuo processo que cria e difunde a experiência cultural e científica da sociedade e, por isso mesmo teria a responsabilidade da construção da identidade sociocultural de um país, como esse processo de construção de identidade se dará, perante uma avaliação dogmática que influência os programas de forma a excluírem o sujeito do processo? Essas são algumas indagações que ficam para reflexão buscando elucidar, que a função de um processo avaliativo é a busca da ação efetiva da instituição perante a sociedade, priorizando a ação ampla do programa, buscando aspectos relevantes para a formação de um profissional crítico e autônomo. 163 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Considerações Finais A avaliação baseada na construção do sujeito, em seu processo cognitivo e moral, tem como objetivo explicitar a complexidade humana, a qual não pode ser analisada e quantificada apenas em alguns minutos de observação ou aferição. Portanto, um sistema preocupado com a verdadeira construção da identidade de um país, dever ter uma visão holística da estrutura, buscando a autonomia intelectual de seus integrantes, garantindo assim a formação de um conhecimento real. Ficou claro que tais características não são encontradas no nosso atual sistema de avaliação CAPES, mas encontramos atributos específicos de um paradigma objetivista, empirista, centrado no tradicional e nas análises quantitativas. Tornando-se uma avaliação reguladora e controladora, delimitando a ação das instituições a tal ponto que chegam a ignorar o processo de formação de seus alunos, centrando-se apenas em questões de produtividade e quantidade. Sob o domínio do “Estado avaliador” dos últimos anos, a avaliação da educação superior tem sido praticada como instrumento privilegiado de regulação. Portanto, vem exacerbando sua dimensão burocrático legalista de controle, modelação, ajustamento e fiscalização. (DIAS SOBRINHO, 2003a, p. 35). A avaliação baseada em um paradigma do ensino está sustentada em metodologias voltadas para a gestão, o planejamento, o controle fiscal e a hierarquização das instituições de um sistema. Os resultados são alcançados segundo metas e objetivos pré-estabelecido, ignorando as influências externas que podem ocorrer. Não estamos afirmando que a avaliação não se faz necessária, mas pelo contrário, é preciso uma avaliação voltada para as necessidades reais da comunidade a qual ela integra, para que possa, de uma forma incisiva, agir na demanda social existente em país. Em fim, a avaliação não é um processo limitado, compreendido em si mesmo, necessita de uma visão holística do cotidiano de uma instituição. É preciso ter claro que a avaliação ultrapassa o objetivo de apenas avaliar, mas engloba, amplamente, todo um reflexo social, a partir da análise de seus resultados. Acredito que ao transpor a avaliação regulatória que vem sendo utilizada hoje em nossas escolas e cursos, ampliamos ainda mais os reflexos da educação em nossa sociedade. Um professor que tem uma formação baseada em uma avaliação emancipatória compreenderá quais os aspectos mais significantes a serem analisados e, de certa forma, julgados em sala de aula. Pretende-se, através deste artigo evidenciar a cadeia avaliatória existente em nosso sistema educacional, força-se uma transformação radical no ensino médio do RS com o objetivo de reduzir as reprovações, utilizando para isso a avaliação emancipatória. Mas como conseguir isto se nossos docentes já estão condicionados a uma avaliação quantitativa e opressora. Não haverá mudança real na base de ensino enquanto não for modificada a estrutura do ensino superior, aqui abro o leque tanto para o ensino superior de graduação como de pósgraduação, sendo que este último é o grande responsável por formar mentes que deverão agir para um melhor desenvolvimento de nosso país, segundo um dos princípios do CAPES. Como formar “mentes pensantes” em uma realidade opressora, onde nada além dos números importa? Ou pior como formar esses profissionais especializados se quando encontram-se em sala de aula a teoria aprendida não corresponde com a realidade vivida no próprio curso de pósgraduação? Enfim, acredito que na grande máxima que Paulo Freire dizia, “educa-se pelo exemplo”, não temos como cobrar de nossos professores uma avaliação crítica, voltada para o processo de ensinoaprendizagem se os responsáveis por essas discussões no ensino de pós-graduação não se preocupam com tal processo. A avaliação CAPES deveria ser o exemplo para os profissionais que pretendem formar no Brasil, compreendendo que um paradigma não pode apenas ser ensinado, mas também demonstrado. 164 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Referencias Bibliográficas BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Plano Nacional de Pós-Graduação – PNPG 2011-2020 / Coordenação de Pessoal de Nível Superior. – Brasília, DF: CAPES, 2010. Disponível em: ˂ http://www.capes.gov.br/sobre-a-capes/plano-nacional-de-pos-graduacao/pnpg-2011-2020˃. Acesso em: 28 de nov. 2012. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Editora Paz e Terra. Volume I. Rio de Janeiro. 1983. MASETTO, Marcos Docência universitária: repensando a aula. In: TEODORO, Antônio; VASCONCELOS, Maria Lucia (orgs.). Ensinar e aprender no ensino superior: por uma epistemologia da curiosidade na formação universitária. 2 ed. São Paulo: Cortez/Mackenzie, 2005. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MORAES, Maria C. M.. Paradigmas e adesões: temas para pensar a teoria e a prática em educação. Perpectiva. Florianópolis, v.17, n.32, p.51, jul/dez 1999. SGUISSARDI, Valdemar. A avaliação defensiva no “modelo CAPES de avaliação” – É possível conciliar avaliação educativa com processos de regulação e controle do estado? Perspectiva, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 49-88, jan./jun. 2006. Disponível em: ˂ http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10141˃. Acesso em: 30 out. 2012. SOBRINHO, José Dias. Avaliação: políticas educacionais e reformas da educação superior. São Paulo. Editora Cortez. 2003. AVALIAÇÃO E QUALIDADE - DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 AO SINAES Fernanda de Cássia Rodrigues Pimenta - UNICID Celia Maria Haas – UNICID RESUMO Este trabalho discute os temas avaliação e qualidade presentes na legislação nacional, da Constituição de 1988 à Lei do SINAES. O texto apresentado é parte da pesquisa “Os Instrumentos de Avaliação do SINAES: Gestão e Qualidade na perspectiva dos Coordenadores de Curso”, desenvolvida com base na Constituição Federal de 1988 e respectiva legislação infraconstitucional referente à avaliação e qualidade da educação superior. Como resultado pode-se apontar que a concepção de qualidade está atrelada aos indicadores dos instrumentos de avaliação e que a avaliação serviu no início do SINAES como subsídio da Regulação, culminando em forte atuação na Supervisão. A partir do SINAES a questão da qualidade da educação superior passa a ser centralidade ou finalidade da avaliação. Palavras-chave: Avaliação. Qualidade. SINAES. INTRODUÇÃO O Brasil passou por importante expansão do seu sistema de ensino superior privado, saltando, em 1991, de 671 instituições de educação superior e 4.908 cursos de graduação, para 2.013 instituições de educação superior e 18.644 cursos de graduação em 2004. Em 2011, já havia 2.365 instituições de educação superior e 30.420 cursos de graduação (BRASIL, 2010f, 2013c). Após algumas tentativas de avaliações isoladas (PARU, GERES, PAIUB, ENC, 29 ACO, ACE), a criação de um sistema nacional de avaliação se fez necessária para atender à 29 Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU); Grupo Executivo para Reformulação da Educação Superior (GERES); Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB); Exame Nacional de Cursos (ENC); Análise de Condições de Oferta (ACO); Avaliação das Condições de Ensino (ACE). 165 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades vertiginosa expansão deste sistema de ensino, sendo aprovado, em 2004, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). O objetivo era implantar um sistema nacional e articulado de avaliação que previsse a avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes. Para compreender a construção do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, hoje em vigor, levantou-se o histórico normativo e legal, desde a Constituição Federal (BRASIL, 1988), no que se refere à avaliação da educação superior e a qualidade, até o ano de 2012. 1. AVALIAÇÃO E QUALIDADE NA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) vincula e trata das questões relativas à avaliação da educação no âmbito do ensino privado quando dispõe em seu artigo 209 que o ensino é livre à iniciativa privada desde que autorizado e avaliada a sua qualidade pelo Poder Público. Contudo, quando a Constituição trata dos princípios do ensino no artigo 206, dispõe sobre a garantia do padrão de qualidade não diferindo o ensino privado do ensino público. Sete anos depois, foi editada a Lei nº. 9.131/1995 (BRASIL, 1995), alterando os artigos 6º, 7º, 8º e 9º da Lei nº 4.024/1961 (BRASIL, 1961), LDBEN vigente. O artigo 6º da LDBEN trazia como redação “O Ministério da Educação e Cultura exercerá as atribuições do Poder Público Federal em matéria de educação”, ganhando nova redação em 1995: Art 1º - O Ministério da Educação e do Desporto exerce as atribuições do poder público federal em matéria de educação, cabendo-lhe formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis que o regem (BRASIL, 1995). Diferentemente do que dispõe a Constituição Federal de 1988, trata-se nessa alteração da LDBEN da avaliação da política nacional de avaliação, independentemente se público ou privado. Destaca-se nesta nova política de avaliação o aspecto da periodicidade imposta pela Lei 9.131/1995 (BRASIL, 1995), que em seu artigo 3º prescreve que o Ministério da Educação e do Desporto fará realizar avaliações periódicas das instituições e dos cursos de nível superior para deliberação sobre as autorizações, credenciamento e recredenciamento de instituições de educação superior, inclusive de universidades. O artigo 3º dispôs, ainda, sobre os procedimentos e critérios, sendo estes abrangentes dos diversos fatores que determinam a qualidade e a eficiência das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Em seu artigo 4º, a Lei demonstra um dos seus objetivos, pois dispõe que os resultados das avaliações também serão utilizados para orientar as ações do Ministério da Educação e do Desporto no sentido de estimular e fomentar iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade do ensino, principalmente as que visem a elevação da qualificação dos docentes. Em 10 de outubro de 1996 foram tratados determinados aspectos para o processo de avaliação dos cursos e das instituições de educação superior, por meio do Decreto Federal nº. 2.026 (BRASIL, 1996), com a definição dos procedimentos de análise e de avaliação. Pela primeira vez definiram-se os aspectos a serem considerados pelo MEC para avaliação individual das instituições de educação superior, conduzida por Comissão Externa à instituição, especialmente designada pela Secretaria de Educação Superior (SESu): administração geral, administração acadêmica, integração social e produção científica, cultural e tecnológica. Para a avaliação dos cursos de graduação, a SESu designava Comissões de Especialistas de Ensino, responsáveis pelo estabelecimento dos indicadores e da própria avaliação. A análise dos indicadores deveria levar em consideração os resultados dos Exames Nacionais de Cursos e os indicadores estabelecidos no próprio Decreto nº 2.026/1996 (BRASIL, 1996). 166 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Quanto à avaliação da pós-graduação stricto sensu, esta era realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), de acordo com os critérios e metodologia estabelecidos pelo próprio órgão. Em 20 de dezembro de 1996 foi editada a nova LDBEN, Lei Federal nº. 9.394, que veio consolidar a necessidade de processos de avaliação. O artigo 49 destaca a autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, com prazos limitados, devendo ser renovados periodicamente, após processo regular de avaliação. Este artigo foi regulamentado pelo Decreto Federal nº. 2.207/1997, revogado pelo Decreto Federal nº. 2.306/1997, este também revogado, agora, pelo Decreto Federal nº. 3.860/2001, e substituído pelo Decreto Federal nº. 5.773/2006, em vigor, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino (BRASIL, 1997a, 1997i, 2001b, 2006c). O Decreto nº 2.207/1997 regulamentou o artigo 16 da LDB de 1996 quanto à estrutura do ensino superior, classificando-o quanto à natureza jurídica e à organização acadêmica, quando foi criada a figura do Centro Universitário. Com relação à avaliação, este Decreto, apenas ratificou o credenciamento de instituições de ensino superior concedido por tempo limitado “renovado periodicamente após processo regular de avaliação” (BRASIL, 1997a). Logo a seguir, o Ministro da Educação e do Desporto baixou inúmeras Portarias definindo os procedimentos para o credenciamento de universidade privadas, para a autorização de cursos fora de sede das universidades, para o credenciamento de faculdades, faculdades integradas, institutos superiores ou escolas superiores, para a autorização de cursos de graduação, e para o reconhecimento de cursos ou habilitações, bem como sua renovação (BRASIL, 1997b, 1997c, 1997d, 1997e, 1997f, 1997g). Por meio dessas Portarias, inclusive, foram definidos os prazos e periodicidade das avaliações. Em agosto desse mesmo ano, o Decreto nº. 2.207/1997 foi revogado pelo Decreto nº 2.306/1997 e esta nova norma incluiu a reavaliação e o descredenciamento de instituições de ensino superior, bem como acrescentou aos procedimentos e às condições, estabelecidas em ato do Ministro de Estado da Educação e do Desporto, o atendimento às disposições do Decreto nº. 2.026/1996 (BRASIL, 1997a, 1997i, 1996a). Depois de dois anos nessa sistemática de avaliação, a Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação manifestou-se no ano de 1999 à SESu, por meio do Parecer CNE/CES nº. 1.070/1999, no sentido de externar sua preocupação em relação aos critérios que vinham sendo utilizados pelas Comissões de Especialistas de Ensino e de Verificação por ocasião da análise dos processos de autorização e reconhecimento de cursos (BRASIL, 1999). Em 9 de janeiro de 2001, foi editada a Lei Federal nº. 10.172, que aprovou o Plano Nacional de Educação, que estabeleceu, dentre suas prioridades, o “desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino [...] como instrumentos indispensáveis para a gestão do sistema educacional e melhoria do ensino” (BRASIL, 2001a). O Plano aprovado tratou, também, entre outros aspectos, sobre a expansão do setor privado, indicando planejamento com qualidade, evitando-se a massificação da educação superior. Considerou importante a contribuição do setor privado na educação superior, que já oferecia a maior parte das vagas neste nível de ensino, destacando o significativo papel a cumprir, “desde que respeitados os parâmetros de qualidade estabelecidos pelos sistemas de ensino” (BRASIL, 2001a). Em 9 de julho de 2001, os Decretos nº. 2.026 e nº. 2.306 foram revogados pelo Decreto nº 3.860, que dispõe sobre a organização do ensino superior, avaliação de cursos e de instituições, além de outras providências. Com relação à avaliação, delega a responsabilidade ao INEP, trazendo os indicadores a serem considerados. (BRASIL, 1996a, 1997i, 2001b). Contudo, deve-se destacar no Decreto nº. 3.860/2001 o marco legal sobre os aspectos punitivos da avaliação da educação superior, quando dispõe que identificadas eventuais deficiências 167 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ou irregularidades mediante ações de supervisão ou de avaliação e reavaliação de cursos ou instituições de educação superior, o Poder Executivo poderá determinar: Art 36 – [...] I - a suspensão do reconhecimento do curso; II - a desativação de cursos superiores; III - a suspensão temporária de prerrogativas de autonomia de universidades e centros universitários; I V - a intervenção na instituição de educação superior; V - o descredenciamento de instituições de educação superior (BRASIL, 2001b). Após essa determinação, os primeiros doze cursos com renovação de reconhecimento suspensos foram de matemática e de letras, anunciados em dezembro de 2001.30 Com a finalidade de analisar, oferecer subsídios, fazer recomendações, propor critérios e estratégias para a reformulação dos processos e políticas de avaliação da Educação Superior e elaborar a revisão crítica dos seus instrumentos, metodologias e critérios utilizados, foi criada no ano de 2003, a Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior (CEA), por meio das Portarias MEC/SESu nº 11 e nº 19 ((BRASIL, 2003a, 2003c). A Comissão apresentou, em setembro de 2003, proposta em que constava a avaliação institucional como centro do modelo avaliativo. A autoavaliação, realizada no interior das instituições, teria subcomissões internas para avaliar os diferentes cursos, sendo completada com um momento de avaliação, por meio de visitas in loco. A avaliação contaria, ainda, com outros dados advindos de um exame do Processo de Avaliação Integrado do Desenvolvimento Educacional e da Inovação da Área, chamado de PAIDEIA, aplicado de maneira amostral entre alunos do segundo e do último ano de cada curso, além das informações estatísticas coletadas pelo MEC. A Comissão apresentou, ainda, a sugestão de criação de um órgão responsável pela avaliação, a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES). A proposta gerou grande debate, com posições que defendiam a visão neoliberal da avaliação como controle, mediante a classificação das instituições e cursos, e criticavam a avaliação institucional por considerarem-na subjetiva, enquanto que o resultado das provas era considerado objetivo (BARREYRO; ROTHEN, 2006). O então Ministro da Educação, Cristovam Buarque, apresentou à Câmara, em dezembro de 2003, uma nova proposta de avaliação: o Sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior (SINAPES). Na proposta do sistema, o resultado final da avaliação seria expresso pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Superior (IDES), inspirado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, composto por quatro índices. Quando editada a Medida Provisória nº. 147/2003, o modelo avaliativo apresentado sofreu alterações, não trazendo, por exemplo, nenhuma referência ao IDES. Além disso, a CONAES foi substituída por outras duas Comissões Ministeriais, uma executiva e outra deliberativa. O MEC e o INEP são os principais agentes da avaliação e o resultado da avaliação seria expresso em três níveis –satisfatório, regular e insatisfatório –, dessa maneira, o resultado final da avaliação não facilitaria a criação de rankings (BARREYRO; ROTHEN, 2006). Depois de reeditada a Medida Provisória, em 2004, com a saída de Cristovam Buarque, assumindo a pasta o Ministro Tarso Genro, a norma foi convertida Lei Federal nº. 10.861, em 14 de abril de 2004, reformulando-se o conteúdo, e regulamentada, em seguida, pela Portaria do MEC nº. 2.051/2004, instituindo-se definitivamente o SINAES (BRASIL, 2004a, 2004b). A partir do SINAES, a avaliação passou a ser concebida como instrumento dinâmico e 30 Notícia publicada no dia 12 de dezembro de 2001, porém já retirada do sítio eletrônico do INEP: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/doze-cursos-terao-reconhecimentosuspenso>. 168 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades processual, superando a fase estática característica do Provão. O SINAES vem em substituição a um conjunto não articulado de instrumentos de avaliação e com a ideia de instalação de um ciclo de avaliação que seria referencial para a regulação das instituições (ROTHEN; BARREYRO, 2011). A coordenação e a supervisão do SINAES ficaram sob a responsabilidade da CONAES e a operacionalização sob responsabilidade do INEP, em conjunto com a SESu. A trajetória do processo avaliativo na educação superior até a implantação do SINAES, de acordo com Felix (2008), Fonseca (2007) e Polidori (2009), considera uma divisão em quatro ciclos, também chamados de fases pelos autores: a) Primeiro ciclo (PARU, GERES - 1986 à 1992) – neste período foram várias avaliações isoladas, com iniciativas de organização de um processo de avaliação. No entanto, não se constituiu em uma avaliação de caráter nacional; b) Segundo ciclo (PAIUB - 1993 à 1995) – período em que houve a instalação do Programa de Avaliação Institucional das universidades brasileiras, com adesão voluntária das universidades interessadas. Foi um período denominado de formulação de políticas; c) Terceiro ciclo (ENC, ACO, ACE - 1996 à 2003) – neste período foi criado o Exame Nacional de Cursos (ENC), popularmente chamado de Provão, e foram aplicadas as Avaliações das Condições de Oferta (ACO), chamadas posteriormente de Avaliações das Condições de Ensino (ACE). Foi um período de implementação de proposta governamental. d) Quarto ciclo (SINAES - 2003 aos dias atuais) – período de criação e implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), com proposta de se desenvolver a avaliação formativa e que considera as especificidades das instituições de educação superior do país. Este é um período de construção de avaliação emancipatória, tendo dentre as suas finalidades a melhoria da qualidade de ensino. A partir do quarto ciclo, com o SINAES, a questão da qualidade da educação superior passa a ser centralidade ou finalidade da avaliação. Mesmo não havendo concordância dos autores em seu conceito, [...] há uma tendência clara de usá-lo [conceito de qualidade] para referir-se às condições de infra-estrutura [sic] e ao corpo docente de um IES. Isso significa que a qualidade na legislação educacional brasileira centra-se em instrumentos, sem nenhuma reflexão sobre a questão. Contudo, há na avaliação da educação outros elementos sobre a qualidade que não podem ser ignorados (SANTANA, 2007, p. 86). Para Dias Sobrinho (2008 a) os conceitos de qualidade, padrões e critérios, além dos procedimentos para determiná-la e os efeitos desejados, são elaborados e fixados por aqueles que exercem o poder burocrático-legal da avaliação e do controle, por aqueles que detem a titularidade da ‘acreditação’ e afirma que: A qualidade é, então, conformidade a padrões previamente estabelecidos por especialistas e pelos membros dos órgãos que definem os critérios e padrões através dos quais são controlados os setores acadêmicos e efetuadas as medidas (DIAS SOBRINHO, 2008a, p. 819). No entanto, quando se observam os conceitos de qualidade, bem como sua avaliação e acreditação determinados por agentes externos e autoridades governamentais, Dias Sobrinho (2008a) aponta para os riscos da avaliação se limitar a apenas medir, controlar, certificar e regular, impossibilitando-se um processo participativo e ambiente de reflexão da comunidade acadêmica e científica, prejudicando o exercício da autonomia universitária. Preedy et all (2006, p. 42) entendem que 169 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A noção de qualidade também deve abranger um conceito de oportunidades iguais, que se concentre não apenas em resultados, mas em processos – como os alunos experienciam e participam do sistema educacional. [...] As definições de qualidade em educação precisam incluir considerações sobre padrões, mas também precisam atentar para: Quem está usando o serviço? Qual o alcance e a diversidade de necessidade? 2. SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR (SINAES) A Lei do SINAES, como começou a ser chamada a Lei Federal nº. 10.861/2004, vem com o objetivo de “assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes”, reforçando o que preceituam os incisos VI, VIII e IX, do art. 9º, da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL,1996b, 2004a). Consoante o § 1º, do art. 1º, da Lei Federal nº. 10.861/2004, o SINAES tem por finalidade: [...] a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional (BRASIL, 2004a). Para atender às suas finalidades, o SINAES compreende três componentes principais: a avaliação das instituições, a avaliação dos cursos, e a avaliação do desempenho dos estudantes. A avaliação das instituições de educação superior, também chamada de avaliação institucional, compreende a avaliação interna – autoavaliação – e a avaliação externa – in loco. Tanto a avaliação interna quanto a avaliação externa devem considerar as diferentes dimensões institucionais, dentre elas, obrigatoriamente, dez dimensões relacionadas na Lei. Além da avaliação interna e da avaliação externa, a Lei do SINAES dispõe que outros procedimentos e instrumentos diversificados devem ser utilizados para a avaliação das instituições de educação superior. A avaliação externa subsidia os processos de credenciamento e de recredenciamento de instituições de educação superior, resultando na aplicação de conceitos, ordenados em escala de cinco níveis, a cada uma das dimensões e ao conjunto das dimensões avaliadas. A avaliação dos cursos de graduação tem por objetivo identificar as condições de ensino oferecidas aos estudantes, especialmente as relativas a três dimensões do curso: Organização Didático-Pedagógica; Perfil do Corpo Docente; e Instalações Físicas. A avaliação dos cursos de graduação subsidia os processos de autorização, de reconhecimento e de renovação de reconhecimento de cursos de graduação e também utiliza procedimentos e instrumentos diversificados, dentre os quais, obrigatoriamente, de acordo com a Lei do SINAES, as visitas por Comissões de Especialistas das respectivas áreas do conhecimento, resultando na atribuição de conceitos, ordenados em uma escala de cinco níveis, a cada uma das dimensões e ao conjunto das dimensões avaliadas. A avaliação do desempenho de estudantes dos cursos de graduação é realizada mediante aplicação do ENADE, considerado como componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, com o objetivo de aferir o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso, suas habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas competências para compreender temas exteriores ao âmbito específico de sua profissão, ligados à realidade brasileira e mundial, bem como a outras áreas do conhecimento. 170 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A avaliação de desempenho dos estudantes de cada curso no ENADE também é expressa por meio de conceitos, ordenados em escala com cinco níveis. Além dos componentes acima descritos, o SINAES compreende, ainda, diversos instrumentos complementares, como os instrumentos de informação: o Censo da Educação Superior e o Cadastro de Cursos e Instituições. O SINAES, enquanto Sistema Nacional de Avaliação da Educação superior atua como subsídio da regulação e da supervisão, conforme dispõe o Decreto Federal nº. 5.773 (BRASIL, 2006c): Figura 1: Avaliação, regulação e supervisão AVALIAÇÃO Processo formativo e referencial para a Regulação e Supervisão da Educação Superior, a fim de promover a melhoria de sua qualidade. REGULAÇÃO Realizada por atos autorizativos de IES e de cursos de graduação credenciamento e recredenciamento de IES, autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos. SUPERVISÃO Objetivo de zelar pela qualidade da oferta de educação superior n o sistema federal. Fonte: Elaborada com base no Decreto Federal nº. 5.773/2006. Atualmente, é a Portaria Normativa 40/2007 – Consolidada, 31 republicada em 29 de dezembro de 2010, que dispõe sobre o sistema e-MEC – sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de informações relativas aos processos de regulação, avaliação e supervisão da educação superior no sistema federal de educação, sobre o Cadastro e-MEC de Instituições e Cursos Superiores e consolida disposições sobre indicadores de qualidade, banco de avaliadores (Basis) e sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), além de outras disposições (BRASIL, 2010e). 31 A Portaria Normativa 40/2007 foi reeditada e republicada no Diário Oficial da União nº 249, no dia 29 de dezembro de 2010. 171 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A partir de 2008, com a criação do Conceito Preliminar de Curso (CPC), instituído pela Portaria Normativa nº 4 (BRASIL, 2008a), e do IGC - Índice Geral de Cursos, instituído pela Portaria Normativa nº 12 (BRASIL, 2008b), estes dois indicadores, um como indicador de qualidade dos cursos de graduação – CPC – e o outro como indicador de qualidade de instituições de educação superior – IGC, passaram a ser considerados como indicador de qualidade, a partir do indicador de qualidade de desempenho de estudantes, o ENADE (BRASIL, 2008d, 2008e). Os conceitos de avaliação são expressos em escala de cinco níveis, sendo os níveis iguais ou superiores a três indicadores de satisfatória qualidade, assim como os indicadores de qualidade também são expressos em escala de cinco níveis, indicando qualidade satisfatória aqueles que atingem faixas iguais ou superiores a três. Estes indicadores de qualidade orientam as avaliações do ciclo avaliativo e geram conceitos de avaliação de instituições e de cursos de graduação, divulgados periodicamente pelo INEP, produzindo novo ranking entre as instituições (CALDERÓN; POLTRONIERI; BORGES, 2011; DIAS SOBRINHO, 2008a, 2010; ZAINKO, 2008; ROTHEN; BARREYRO, 2011). O Conceito de Curso (CC) e o Conceito de Instituição (CI ) são considerados conceitos de avaliação, resultado da avaliação in loco das Comissões de Avaliação do INEP. Para o Conceito de Curso são consideradas as três dimensões mencionadas quando discutida a Avaliação dos Cursos de Graduação do SINAES e para o Conceito de Instituição são consideradas as dez dimensões já mencionadas quando da Avaliação Institucional Externa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com este estudo podemos destacar alguns aspectos importantes a respeito da avaliação e da qualidade na legislação brasileira: a) A consolidação da avaliação como processo para garantia e controle da qualidade do ensino superior, de 1988 a 1995; b) O percurso da avaliação da educação superior de processo isolado e desarticulado para um processo sistemático e articulado, de 1995 a 2004; c) A desarticulação do SINAES com a predominância dos indicadores de qualidade CPC e IGC sobre o processo avaliativo como um todo, desconsiderado as demais etapas do SINAES, de 2004 a 2008; d) A definição de qualidade por parte do Poder Público a partir da definição dos critérios e indicadores de qualidade para as avaliações externas e de cursos do SINAES, 2004 a 2012. REFERÊNCIAS BARREYRO, Gladys Beatriz. De exames, rankings e mídia. 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São apresentados os esforços da comunidade acadêmica brasileira na busca por referenciais teóricos aplicados a realidade nacional, assim como se identifica a organização de dois grupos o Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior (NUPES) e da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES) que acabaram por se constituir como formuladores e defensores de políticas de avaliação para a educação brasileira a partir dos anos de 1990. O texto encerra alertando para a necessidade de desvendar o caráter oculto da avaliação escolar, disfarçada na aparência da informalidade. Palavras-chave: Avaliação no Brasil. Campo científico. Função social da avaliação. Introdução O presente trabalho apresenta reflexões em torno da construção do campo da avaliação educacional no Brasil, estabelecendo relações com os escritos do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Trata-se de um estudo bibliográfico inserido em pesquisa que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação (Doutorado) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que busca estudar a história e as políticas da avaliação na educação superior brasileira, a partir da análise do conceito de avaliação emancipatória. Objetiva-se analisar a construção do campo científico brasileiro da avaliação a partir das categorias propostas por Bourdieu em seus textos o “campo científico” e as “categorias do juízo professoral”. Inicialmente, é traçado um breve histórico da construção do campo da avaliação no cenário acadêmico nacional, demarcando as influências que marcaram o início da avaliação no país. Em seguida, identifica-se a constituição de grupos acadêmicos que acabaram por formular e defender as políticas de avaliação implementadas pelos governos brasileiros a partir da década de 1990. E por fim, destaca-se o papel social que oculta à avaliação escolar, isto é, seu papel de classificação social e hierarquização dos indivíduos. A trajetória da avaliação educacional no Brasil Os primeiros esforços em torno da avaliação educacional no país iniciaram-se a partir dos anos 1960, com forte influência da produção de autores norte-americanos (SAUL, 2001; DIAS SOBRINHO, 2003). Num primeiro momento, são as ideias de Ralph Tyler que receberão importante atenção da comunidade científica brasileira, através da tradução para o português de sua obra Princípios Básicos do Currículo e Ensino, somado à tradução de trabalhos de seus seguidores Hilda Taba, Robert F. Mager, James Popham, Eva Baker (SAUL, 2001). Tyler (1974) propunha a avaliação como um meio poderoso de clarificar objetivos educacionais, e que esta exerce uma poderosa influência sobre a aprendizagem, de modo que, tanto os alunos quanto os professores seriam influenciados; o aluno pela espécie de avaliação que será feita, e os professores pela espécie de avaliação que irão fazer. No entanto, a perspectiva tyleriana de avaliação, ao considerar que só poderia ser avaliado aquele que fosse observado por meio de 176 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades provas ou algum outro tipo de instrumento de medida, passou a ser rejeitada por parte da comunidade científica brasileira, que passou a questionar o caráter basicamente comportamental da avaliação, e foram buscar outros referenciais em autores como Lee Cronbach, Michael Scriven, Robert Stake, Daniel Stufflebeam, e entre outros. Cronbach entende a avaliação como entidade diversificada, que exige a tomada de diversos tipos de decisões e o uso de uma grande variedade de informações. Scriven, por sua vez, a vê como levantamento sistemático de informações e sua posterior análise para fins de determinar o valor de um fenômeno educacional. Para Stake trata-se da descrição e julgamento de programas educacionais. Stufflebeam a reconhece como um processo de identificação e coleta de informações que permitam decidir entre várias alternativas (VIANNA, 1989). Depois dos anos 1970 os problemas da avaliação passaram a merecer um enfoque teórico mais aprofundado (SAUL, 2001). Neste período, a avaliação educacional torna-se um campo profissional definido, exigindo inclusive especialização aprofundada (VIANNA, 1995). A reflexão teórica sobre a análise política da avaliação, no final da década de 70 e início dos anos 80, será objeto de estudo de pesquisadores brasileiros, que passaram a desenvolver referenciais teóricos alternativos ao modelo tecnicista de avaliação, e com isso criaram as bases para o surgimento, no âmbito da comunidade científica, da chamada “avaliação emancipatória”. Neste cenário merece destaque os estudos de Marli André, Ana Maria Saul, Bernadete Gatti, Maria Amélia Goldberg, Clarilza Prado de Sousa, Cipriano Luckesi, Magda Soares, Sandra Zákia Sousa, Pedro Demo, Jussara Hoffman, Celso dos Santos Vasconcelos, Mere Abramowicz, Lea Depresbiteris, Isabel Cappelletti, Maria Laura Barbosa Franco, Menga Ludke, Thereza Penna Firme (SOUSA, 1998). Ainda nos anos 80, serão criados alguns programas de avaliação, tanto para a educação básica, como o de avaliação do rendimento de alunos de escolas de 1º grau da rede pública em todo o país, e o projeto de avaliação sobre o desempenho escolar de alunos da 3ª série do Ensino Médio (VIANNA, 2002), quanto para a educação superior, como o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU), e o Grupo de Estudos da Reforma da Educação Superior (GERES) (DIAS SOBRINHO, 2003; ROTHEN; BARREYRO, 2011a). Nos anos 1990 a avaliação passa a ter papel central na formulação e implementação das políticas educacionais nos dois níveis educacionais. Neste período foram criados o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), em 1990, o Programa da Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), em 1993, o Exame Nacional dos Cursos (ENC), em 1995, e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em 1998. Já na primeira década do presente século são criados outros instrumentos de avaliação, tanto para a educação básica, como a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), a Prova Brasil, e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), como para a educação superior, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), o Indicador de Diferença dentre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), Índice Geral de Cursos (IGC), e o Conceito Preliminar do Curso (CPC). O campo científico da avaliação educacional no Brasil Entendemos assim como Bourdieu (1983), o campo científico como “o lugar, o espaço de jogo de uma luta concorrencial”. Dizer que o campo é um lugar de lutas não é simplesmente romper com a imagem irenista da ‘comunidade científica’ tal como a hagiografia científica descreve [...] É também recordar que o próprio funcionamento do campo científico produz e supõe uma forma específica de interesse (as práticas científicas não aparecendo como ‘desinteressadas’ senão 177 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades quando referidas a interesses diferentes, produzidos e exigidos por outros campos) (BOURDIEU, 1983, p.122, grifos do autor). No campo das políticas de avaliação nas décadas de 1980, 1990 e também na primeira década do presente século, é possível observar na literatura científica a tensão permanente entre dois paradigmas teóricos, denominado por Saul (2001) como “técnico-burocrático” e “críticotransformador”, e por Dias Sobrinho (2004) de “objetivista” e “subjetivista”. Isto sinaliza em grande parte a luta pelo monopólio da competência científica, na medida em que parece estar em jogo “o monopólio da autoridade científica” (BOURDIEU, 1983, p.122). Neste cenário das políticas de avaliação, dois grupos de intelectuais irão se organizar na tentativa de formular e defender as propostas avaliativas implementadas pelos governos a partir dos anos 1990 (BARREYRO; ROTHEN, 2008). Trata-se do Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior (NUPES) e da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES). O NUPES foi um centro temático da Universidade de São Paulo, criado em 1989. Muito de seus membros, entre os quais encontram-se Eunice Durham, Helena Sampaio, Simon Schwartzman, José Goldemberg, entre outros, estiveram ligados aos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), no período em que é implantado o Exame Nacional dos Cursos (que ficou conhecido como Provão) (BARREYRO; ROTHEN, 2008b). A RAIES surgiu em 1996 a partir da experiência do PAIUB, como resposta a criação do ENC-Provão. Suas concepções permearam a proposta de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (LULA), e alguns de seus membros, como José Dias Sobrinho, Dilvo Ristoff, Isaura Belloni, Maria Amélia Zainko, entre outros, fizeram parte de comissões deste governo, e ajudaram na implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) (BARREYRO; ROTHEN, 2008a). Deve-se considerar que os integrantes de cada um dos grupos mencionados, antes mesmo de participarem dos mesmos, já eram possuidores daquilo que Bourdieu (1983) denomina de capital científico e político, de modo que o julgamento sobre a capacidade científica destes membros está relacionado ao “conhecimento da posição que ele ocupa nas hierarquias instituídas [...]” (BOURDIEU, 1983, p.124). Os “conflitos pela dominação do campo científico” da avaliação podem ser observados nos embates travados pelos grupos em torno da defesa e crítica aos instrumentos de avaliação criados pelo governo FHC e pelo governo Lula (ROTHEN; DAVID; LOPES, 2008). Uma polarização que sofreu abrupta inversão na mudança de um governo para o outro, isto é, quem tanto criticou o Provão, acabou por presenciar a retomada de muitos desses mecanismos pelo SINAES, principalmente no destaque dado ao ENADE em relação aos outros dois outros instrumentos que compõem o sistema, e a retomada de ranqueamentos (ROTHEN; BARREYRO, 2011a). Essa dicotomia também se deu na definição das concepções de avaliação que defendiam cada grupo. Para o NUPES a avaliação deveria ser uma ferramenta de controle de informação ao mercado consumidor sobre a qualidade do produto educação. Enquanto para a RAIES a finalidade da avaliação deveria ser a melhoria da qualidade, numa concepção de avaliação institucional, formativa, e participativa (BARREYRO; ROTHEN, 2008b). Instaurava-se dessa maneira uma polarização entre duas visões, a da avaliação enquanto desempenho/resultados e da avaliação formativa/emancipatória (ROTHEN; BARREYRO, 2011b). A partir do exposto podemos compreender o conjunto de observações de Dias Sobrinho (2004) em torno do que ele denominou de paradigmas “objetivista” e “subjetivista” da avaliação. A epistemologia objetivista diz-se eminentemente técnica, sendo seu principal objetivo prestar informações objetivas, científicas, claras, incontestáveis, úteis para orientar os mercados e os governos. Enquanto na epistemologia subjetivista não pode contentar-se com meras verificações, constatações e medidas, dada sua compreensão de que a realidade é complexa, dinâmica, aberta e polissêmica (DIAS SOBRINHO, 2004). 178 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Para Dias Sobrinho (2004), não se trata de adotar exclusivamente o controle (medida, verificação, constatação, classificação, seleção, etc.), nem tampouco de adotar exclusivamente procedimentos subjetivistas que não tenham base em dados da realidade. As duas epistemologias representam duas visões de mundo distintas, até mesmo concorrentes entre si, porém são complementares e não excludentes. Os embates das concepções presentes nas ideias dos membros dos dois grupos que influenciaram na elaboração das propostas de avaliação acabaram por receber legitimidade, na medida em que são transformadas em políticas avaliativas para a educação no Brasil, isso reflete o que Bourdieu (1983) chama de “monopólio do capital específico”, demonstração do fundamento do poder e da autoridade específica dentro do campo. Portanto, os que monopolizam o capital específico – os dominantes – se utilizam de estratégias de “conservação”, que buscam assegurar a perpetuação da ordem científica com a qual compactuam. Bourdieu (1983) recorda que os novatos que se recusam as carreiras já traçadas, só poderão vencer os dominantes em seu próprio jogo, seja pela utilização das “estratégias de sucessão”, seja pela utilização de “estratégias de subversão”. Em todo campo se põem, com forças mais ou menos desiguais segundo a estrutura da distribuição do capital no campo (grau de homogeneidade), os dominantes, ocupando as posições mais altas na estrutura de distribuição de capital científico, e os dominados, isto é, os novatos, que possuem um capital científico tanto mais importante quanto maior a importância dos recursos científicos acumulados no campo (BOURDIEU, 1983, p.136137). Tudo isso faz da avaliação educacional um campo cheio de contradições e múltiplas referências, sobretudo no processo acumulativo do conhecimento construído cientificamente. Tratase do contraste e enfrentamento entre diversas teorias, dento do “conflito entre as comunidades científicas” (APPLE, 2006, p.131). Elas são resultados de discussões e conflitos interpessoais e intergrupais que dispõem “de teorias concorrentes e será descartada aquela que não só contradiz os fatos, mas quando a comunidade científica tiver uma teoria melhor que a anterior” (CHIZZOTTI, 2006, p.23). A função social da avaliação No que concerne à avaliação escolar, Bourdieu (2007) apresenta junto com Saint-Martin importantes contribuições para desvendar a função social da avaliação, disfarçada sob a aparência de sua função técnica. Para Bourdieu (2007, p.188), as operações de classificação são o lugar privilegiado em que se revelam os “princípios organizadores do sistema de ensino no seu conjunto”, e que indicam, além dos procedimentos de seleção, a hierarquia a ser reproduzida. Os procedimentos de avaliação estão articulados com a forma que a escola assume enquanto instituição social, o que, em nossa sociedade, corresponde a determinadas funções: hierarquizar, controlar e formar os valores impostos pela sociedade (submissão, competição, entre outros) (Freitas, 2005, p.133). Bourdieu (2007, p.191), ao estudar um conjunto de anotações feitas por um professor de filosofia sobre o desempenho de suas alunas, observa que “qualificativos mais favoráveis aparecem com uma frequência cada vez maior na medida em que a origem social das alunas é mais elevada”, assim como “as notas médias elevam-se à medida que sobre a hierarquia social”. Por outro lado, as apreciações são tanto mais severas quanto mais baixa é a origem social das alunas. Isso deixa claro que a avaliação docente vai muito além da simples verificação da aprendizagem, constitui-se na prática de um verdadeiro julgamento social: 179 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Não há dúvida de que os julgamentos que pretendem aplicar-se à pessoa em seu todo levam em conta não somente a aparência física propriamente dita, que é sempre socialmente marcada (através de índices como corpulência, cor, formato do rosto), mas também o corpo socialmente tratado (com a roupa, os adereços, a cosmética e principalmente as maneiras e a conduta) que é percebido através das taxinomias socialmente constituídas, portanto lido como sinal de qualidade e do valor da pessoa [...] (BOURDIEU, 2007, p.193). Nas produções sobre avaliação educacional, muitos autores tem denominado esse julgamento realizado pelo professor como “avaliação informal” (PERRENOUD, 1986; ENGUITA, 1989; FREITAS, 1994; SACRISTÁN, 2000; BERTAGNA, 2010). No geral, trata-se da construção de conceitos e juízos sobre os alunos, que acontece de modo encoberto e assistemático: Verificamos que a informalidade do processo de avaliação é um fator decisivo, pois envolve a formação de juízos gerais sobre o aluno, os quais podem terminar orientando a forma como o professor interage com este em sala de aula e, por isso, confirmar suas apreciações informais através da avaliação formal (FREITAS, 1994, 259). Freitas (2005, p.132) aponta que as estratégias de trabalho do professor em sala de aula ficam permeadas por tais juízos que acabam por determinar o investimento que o professor fará neste ou naquele aluno. Para o autor “aqui começa a ser jogado o destino dos alunos para o sucesso ou para o fracasso”. É, portanto, nessa informalidade que se joga o destino das crianças pobres. A análise realizada por Bourdieu (2007, p.196) revela que os qualificativos utilizados (adjetivos) nos documentos para expressar propriedades específicas do exercício escolar, designam na verdade a qualidade da pessoa: “como se o professor se autorizasse de uma ficção escolar para julgar, à maneira de um crítico literário ou artístico, não a aptidão técnica para se conformar as exigências rigorosamente definidas, mas uma disposição global, a rigor indefinível [...]”. O autor (BOURDIEU, 2007, p.196) recorda ainda que é por intermédio do sistema de classificação, elaborado pelo sistema escolar, que se “estabelece a correspondência entre as propriedades sociais dos agentes e das posições escolares hierarquizadas”: para os alunos, expresso na ordem do ensino (primário, secundário, superior), e estabelecimento (grandes écoles e faculdades, seções nobres e inferiores), e para os mestres, expresso na localização do estabelecimento (Paris, interior). Contudo, Bourdieu (2007) ressalta essas posições escolares hierarquizadas só podem funcionar se a homologia permanecer “oculta” e se a taxinomia utilizar as oposições socialmente mais “neutras” da taxinomia dominante. A pretensa neutralidade apregoada pela escola e pelo sistema não passa na verdade de um “um funcionamento dos mecanismos ideológicos que não podem operar a não ser determinando os agentes a agir segundo sua lógica, o que supõe que eles lhes proponham seus objetivos de forma irreconhecível” (BOURDIEU, 2007, p.198). Numa tentativa de explicitar a hierarquização escolar que os procedimentos convencionais de avaliação ocultam, Freitas (1991, p.275) destaca que: O campo da avaliação revela-se, transmuta-se no da hierarquia escolar. Mostra-se como produtor/legitimador desta hierarquia através da: 1. manutenção propriamente dita das classes dominantes em profissões nobres; 2. eliminação adiada, ou manutenção provisória das classes populares em profissões menos nobres; 3. manutenção adiada, ou exclusão pura e simples das camadas populares do interior da escola, ou seja, a evasão; 4. eliminação propriamente dita (privação), no sentido de impedir o ingresso das camadas populares na escola. A explicitação de Freitas (1991) também indica a delimitação do campo da avaliação, na medida em que a avaliação passa a ser entendida como um estudo sistemático dos mecanismos de eliminação/manutenção, revestidos de “novas formas de exclusão” (FREITAS, 2005), que atuam por dentro da escola adiando a eliminação do aluno e internalizando o processo de exclusão. 180 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Como sempre, a Escola exclui; mas, a partir de agora, exclui de maneira contínua, em todos os níveis dos cursus (entre as classes de transição e os liceus de ensino técnico não há, talvez, mais que uma diferença de grau), e mantém em seu seio aqueles que exclui, contentando-se em relegá-los para os ramos mais ou menos desvalorizados. Por conseguinte, esses excluídos do interior são votados a oscilar – em função, sem dúvida, das flutuações e das oscilações das sanções aplicadas – entre a adesão maravilhada à ilusão que ela propõe e a resignação a seus veredictos, entre a submissão ansiosa e a revolta impotente (BOURDIEU, 2007, p.224, grifos do autor). Considerações finais A reflexão realizada considerou três momentos. O primeiro foi à constituição de um campo científico sobre avaliação educacional no país, expresso na tentativa de pesquisadores brasileiros em elaborar uma teoria e prática de avaliação aplicada a realidade nacional. Essa tentativa acabou por criar uma visão de avaliação denominada “avaliação emancipatória”. O segundo momento foi justamente uma contraposição ao caráter hegemônico que este modelo de avaliação receberá do meio acadêmico e intelectual. Trata-se da defesa de uma visão mais técnica e operacional dos processos avaliativos, deixando de lado o caráter político-ideológico presente na abordagem emancipatória. O terceiro momento esclarece que o ato de avaliar traz consigo uma carga de subjetividade que pode levar a apreciações severas dos alunos. Diante deste cenário é possível constatar que o campo científico brasileiro da avaliação ainda encontra-se em processo de constituição e fortalecimento, encontrando em diferentes fontes, entre os quais artigos científicos, livros, comunicações em eventos científicos, teses e dissertações, meios para difundir conhecimentos sobre o tema. Outra constatação é que diferentes governos cercaram-se de grupos acadêmicos que acabaram por legitimar suas políticas para a avaliação da educação. Foi assim no governo FHC que teve o respaldo do NUPES na defesa do Exame Nacional dos Cursos (Provão), como também o governo LULA obteve da RAIES auxílio da elaboração e implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). E tem sido assim no governo da presidente Dilma Rousseff que tem buscado na Associação Brasileira da Avaliação Educacional (ABAVE) alguns intelectuais para compor quadros estratégicos em comissões responsáveis pelas políticas de avaliação de seu governo. Referências APPLE, Michael W. Ideologia e Currículo. Vinicius Figueira (trad.). Porto Alegre: Artemd, 2006. BARREYRO, Gladys; ROTHEN, José Carlos. História das Concepções de Avaliação da Educação Superior: A Revista Avaliação (1996 2002). In: V. Congresso Brasileiro de História da Educação: O ensino e a pesquisa em história da educação. São Cristóvão/SE; Aracajú/SE: Universidade Federal de Sergipe: Universidade Tiradentes, 2008a. ____; ____. 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Verificou-se que a produção do conhecimento a respeito das demandas sociais e do setor produtivo sobre ciência, tecnologia e inovação e seus desdobramentos na educação chegam superficialmente às escolas. Percebeu-se a ausência de exercício da autonomia das escolas em propor inovações educacionais efetivas para uma formação emancipatória. Palavras-chave: Política Educacional. Política de CT&I. Ensino Médio. Introdução O vínculo entre Educação e Ciência no Brasil, até o período de redemocratização, é emblemático no diagnóstico de Shozo Motoyama em artigo do primeiro número da Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, em 1985. O texto, transcrição de sua fala em novembro de 1984 no Seminário Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, promovido pela Comissão de Ciência e Tecnologia (C&T) da Câmara dos Deputados, objetivava traçar as linhas mestras em C&T do futuro governo a ser empossado (MOTOYAMA, 1985). Nesse início do processo de reorganização política, social e econômica, o país apresentava graves problemas sociais, aguda crise econômica e indicadores educacionais desanimadores (especialmente de analfabetismo e taxas de escolarização da população32), caracterizando a persistência de uma escola excludente (CUNHA, 2009). Tendo-se esse panorama em 1984, o autor encaminha como propostas para as políticas de C&T a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), destinação de recursos financeiros à ciência, com percentuais fixos do Produto Nacional Bruto (PNB), e a valorização da educação e profissão do educador, destacando a necessidade de educação científica desde o ensino de 1º grau (Ensino Fundamental). Passados quase trinta anos, o MCT, criado em 1985 no governo Sarney, foi recentemente renomeado, incorporando a “Inovação” (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, MCTI) 33, expressando o quanto esta assumiu caráter balizador da política nacional de C&T, orientada fortemente pelas necessidades oriundas da atual configuração capitalista, cuja competitividade e produtividade do capital e do trabalho são pautadas em inovações tecnológicas. Por seu turno, a educação também é pressionada a inovar, atendendo aos anseios de determinado tipo de alfabetização científica. Assim, este artigo apresenta algumas considerações resultantes de uma pesquisa cujo objeto de investigação está nas conexões das políticas de CT&I e de Educação. 32 Da população com idade superior a 15 anos, 20,7% eram analfabetos no Brasil em 1985, sendo 39,5% da população da zona rural composta de analfabetos contra 14,4% da população da zona urbana. Apenas 15,3% da população de 15 a 19 anos possuíam o ensino de 2º grau (CUNHA, 2009). 33 O Ministério da Ciência e Tecnologia teve seu nome alterado em 03 de agosto de 2011 (publicação no Diário Oficial da União). Isso está em consonância com as mudanças que vem ocorrendo desde a 2ª CNCT&I, com a Lei da Inovação (Lei nº 10.973/2004) e com a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005). 183 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A literatura sobre o tema da inovação no campo da Educação não insere necessariamente a inovação em sua relação de imbricação com outras esferas de políticas públicas, como a política industrial e a política de C&T. Além de procurar essa abordagem, a pesquisa não se pautou em analisar casos de ocorrências sabidas de inovação em escolas, como feito em outros trabalhos (ABRAMOVAY, 2004; GHANEM JR, 2013). O aspecto diferenciador deste estudo em relação à produção do conhecimento sobre o tema reside em ter procurado o entendimento sobre inovação (e sua relação com a ciência) em escolas que não manifestaram ter realizado uma ação inovadora. O escopo central é compreender o entendimento de inovação por parte de professores(as) coordenadores(as) pedagógicos(as) do Ensino Médio em escolas da rede pública levando-se em consideração as próprias inovações ocorridas na política educacional inerentes ao Ensino Médio na última década. Para sua realização foram convidadas a participar escolas estaduais do município de Mococa-SP. Metodologia Trata-se de pesquisa ex post facto dividida em dois polos. No pólo teórico é realizada uma abordagem sobre ciência, inovação e as recentes alterações na Política Educacional. No pólo empírico foi conduzida pesquisa de campo tendo o município de Mococa-SP como recorte geográfico e como universo as escolas públicas estaduais de Ensino Médio, portanto, jurisdicionadas à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SSE/SP). Sete escolas foram convidadas a participar, sendo encaminhado um questionário, composto de questões abertas e fechadas e de uma carta de apresentação. Apenas três escolas participaram. Optou-se que o respondente fosse o(a) Professor(a) Coordenador(a) Pedagógico(a) (PCP) do Ensino Médio. A escolha do PCP é devida às suas atribuições, que conforme a Resolução SE nº 88/2007 (SÃO PAULO, 2007) são, entre outras, “atuar no sentido de tornar as ações de coordenação pedagógica espaço coletivo de construção permanente da prática docente” (inciso II do art. 2º) e “divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis” (inciso VII do art. 2º). Ciência, Inovação e a Política e Gestão Educacional Verifica-se uma acelerada ascensão do valor conferido à inovação na contemporaneidade. Ela se converte na metáfora do “motor” ou “mola” do progresso tecnológico e do desenvolvimento econômico no atual estágio do capitalismo, sendo privilegiada a racionalidade de que produtos e processos inovadores são portadores de vantagens competitivas e também do poder de sedução dos consumidores, ávidos por novidades, nessa “sociedade da sensação” (TÜRCKE, 2010). A argumentação do autor está assente na percepção de que tudo que não for capaz de “causar uma sensação tende a desaparecer sob o fluxo de informações, praticamente não sendo mais percebido, então isso quer dizer, inversamente, que o rumo vai na direção de que apenas o que causa uma sensação é percebido” (TÜRCKE, 2010, p. 20). A valorização da inovação pelo setor produtivo, nos últimos anos, vem pressionando e legitimando a mobilizando de ações em políticas públicas, como a Política Educacional e a Política de CT&I. De acordo com Dias (2011), é notável a dinâmica de aumento da influência da Economia da Inovação nas reflexões sobre a Política de Ciência e Tecnologia (PCT). Percebendo-a como política-meio, ou seja, que pode fornecer suporte para as demais políticas públicas (industrial, agrícola, de saúde, de inclusão social e de educação) e por se constituir em arena de fortes disputas de concepções político-ideológicas oriundas da sociedade capitalista, a PCT parece ser mais facilmente capturada por interesses específicos, geralmente privatistas. Esse movimento de sacralização da inovação conduzido pela racionalidade de mercado pode ser verificado observando-se algumas ações do Ministério de CT&I na última década. Tomando-se 184 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades as propostas oriundas das Conferências Nacionais de CT&I (CNCT&I), especialmente a partir da 2ª CNCT&I, ocorrida em 2001, tem-se uma amostra clara. Nessa oportunidade a inovação foi elevada à condição privilegiada nas estratégias de elaboração das PCTs do país, sendo 2002 eleito o Ano da Inovação. E mais uma vez a educação viria a ser convocada a colaborar com a agenda (neo)desenvolvimentista, de modo análogo ao discutido por Motoyama (1985). Quando se realizou a 4ª CNCT&I, em 2010, a Educação Básica estava entre os temas integrantes das agendas de debates, merecendo uma sessão plenária intitulada Educação e C,T&I: educação de qualidade desde a primeira infância (BRASIL, 2010a; 2010b). Resultou dessa última conferência a noção sobre a necessidade de uma “revolução” desde a Educação Básica até o Ensino Superior, defendida devido aos hiatos entre os indicadores educacionais do Brasil e de outros países, particularmente os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os emergentes. Nesse contexto, o Ensino Médio passou a merecer atenção especial, dado seu caráter estratégico, como terminalidade da Educação Básica e etapa que forma egressos para o mundo do trabalho ou para prosseguimento de estudos na Educação Superior. Nesse contexto, algumas inovações podem ser localizadas na política educacional com impacto no Ensino Médio. A primeira a ser destacada é a emenda constitucional nº 59, de 2009, que alterou o inciso I do art. 208 da Constituição Federal, passando o Estado a garantir a Educação Básica como obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade. Em conformidade com essa alteração tem-se a meta 3 do Projeto de Lei (PL) nº 8.035/2010 sobre o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020: universalizar até 2016 o atendimento escolar para toda população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%, nesta faixa etária. A segunda inovação observada foi a propositura do Programa Ensino Médio Inovador ProEMI (BRASIL, 2009), pautado pela busca de práticas educacionais inovadoras, contempla maior carga horária (mínimo de 3.000 horas no lugar das 2.400 horas do Ensino Médio “regular”), corpo docente em regime de dedicação exclusiva de 40 horas semanais, ênfase em atividades curriculares integradoras, incluindo a prática de Iniciação Científica, centralidade na leitura, estímulo às atividades teórico-práticas apoiadas em laboratórios (de ciências, matemática etc.), entre outras. Em termos da identidade e de seus fins sociais o documento esclarece que “A identidade do ensino médio se define na superação do dualismo entre propedêutico e profissionalizante [...]. Busca-se uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático e utilitário” (BRASIL, 2009, p. 4). A terceira inovação é a Resolução CNE/CEB nº 2/2012 (BRASIL, 2012a), a qual está assentada sobre o Parecer CNE/CEB nº 5/2011 (BRASIL, 2012b), que define as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), revogando as diretrizes da Resolução CNE/CEB nº 3/1998. As novas DCNEM reforçam a indissociabilidade entre teoria e prática e trazem a relação articulada entre trabalho, tecnologia, ciência e cultura. Essas categorias, de certa forma, já estavam presentes nas diretrizes curriculares anteriores, porém foram tornados explícitos o trabalho como princípio educativo, a pesquisa como princípio pedagógico e os direitos humanos como princípio norteador geral no Ensino Médio. Segundo o Parecer: Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa investir fortemente na ampliação de sua capacidade tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado, não se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o grande salto para o futuro. (BRASIL, 2012b, p. 1). Verifica-se que uma inadequada ou insuficiente ação de política educacional dedicada ao Ensino Médio pode causar constrangimentos ao desenvolvimento do país no que concerne 185 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades especificamente ao papel de “qualificação” profissional. Os pareceristas não se limitam, entretanto, a abordar apenas o caráter instrumentalizador (economicista) do Ensino Médio, pois ponderam que Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem perder de vista que a educação também é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais direitos sociais. (BRASIL, 2012b, p. 1) Pode-se argumentar que as novas DCNEM apresentam como inovações relevantes a interconexão dos feixes trabalho, tecnologia, ciência e cultura, a valorização do conhecimento científico historicamente acumulado e os desdobramentos sobre as formas de conhecer os princípios técnico-científicos que estão na base do trabalho e presidem a produção da existência humana. Para isso ativa-se a pesquisa como princípio pedagógico, inaugurando a Iniciação Científica no Ensino Médio como componente curricular. Ao se tratar da inovação no campo da Educação, a meso-abordagem de Nóvoa (1992) revela-se como possível aporte teórico-metodológico. Segundo o autor, os estudos até então conduzidos sobre esse tema se concentravam ou no nível macro dos sistemas educacionais ou no nível micro da sala de aula. Sendo assim, argumenta que produzir uma inovação era sinônimo de conceber e implantar algum tipo de reforma estrutural no sistema educativo (ou a partir dele: uma inovação imposta verticalmente) ou, por outro lado, a inovação era entendida como a aplicação de novos métodos e técnicas pedagógicas na sala de aula. Hoje, parece evidente que é justamente no contexto da organização escolar que as inovações educacionais podem implantar-se e desenvolver-se. Num certo sentido, não se trata tanto de inovar, mas de criar as condições organizacionais para que a inovação aconteça, para que as experiências pedagógicas não sejam sistematicamente destruídas com argumentos burocráticos, para que os profissionais do ensino se sintam motivados e gratificados por participarem em dinâmicas de mudança. (NÓVOA, 1992, p. 40-1) Colocada dessa forma, a dinâmica da inovação depende dos aspectos de gestão da unidade escolar, no exercício da autonomia pedagógico-administrativa relativa (BARROSO, 2011), respeitando a Constituição Federal, a LDB e demais normas. Caberia, assim, à equipe de gestão proporcionar um ambiente favorável ao fomento de inovações na escola por parte dos profissionais da educação. Isso significa compreender que inovações de natureza didático-pedagógica são intimamente articuladas a novas (e inovadoras) formas de gestão escolar. Percebe-se a relevância assumida pela capacidade da escola em ativar sua autonomia para a construção do projeto político-pedagógico, o qual pode ser portador de inovações efetivas do ponto de vista do alcance político da formação humana plena e emancipatória. A autonomia, segundo Barroso (2011) deve ser construída pela escola através da participação e da discussão democráticas. Assim, a “autonomia construída” é distinta da “autonomia decretada”, dada pela legislação. Ao se pesquisar as escolas que ofertam o Ensino Médio em Mococa-SP, a primeira constatação é que os docentes responsáveis pela Coordenação Pedagógica parecem não conhecer o debate acadêmico sobre a relação ciência-educação no contexto tratado anteriormente, tampouco as discussões oriundas das Conferências Nacionais de CT&I e suas implicações para o Ensino Médio. Nenhuma das escolas pesquisadas havia aderido ao ProEMI, assim como não havia docentes conduzindo projetos de iniciação científica, apesar da orientação das novas DCNEM. Também foi possível perceber, através das entrevistas com as PCPs, que ativar o conceito de pesquisa como princípio pedagógico, assim como desenvolver uma cultura científica ou promover a “alfabetização científica” nos alunos ainda são utopias distantes da realidade vivida nas escolas. 186 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A precariedade da infraestrutura física é notável. Cada escola pesquisada informou possuir apenas um laboratório de informática. A que apresenta a melhor situação possui 25 computadores, tendo 149 alunos matriculados nas três séries do Ensino Médio (além de 80 alunos na Educação de Jovens e Adultos, EJA). Considerando apenas os alunos do EM, tem-se o índice de 5,96 alunos por computador. Esse índice está dentro da média nacional de um computador para pouco mais de 6 alunos da Educação Básica, porém a Colômbia apresenta número muito superior ao Brasil, com um computador para quase 3 alunos e a China tem índice de 1,75 aluno por computador (CUNHA, 2011). A primeira questão sobre inovação apresentada à Coordenação Pedagógica foi saber o que entendiam por inovação pedagógica. Duas escolas ofereceram respostas e uma deixou em branco. Uma das respondentes direcionou a resposta para a dimensão política da tomada de decisão, mas não esclareceu o que se pensa sobre inovação pedagógica: “Se considerar que Gestão da Educação é tomada de decisões conscientes sobre o que fazer a partir de objetivos definidos, necessário se faz entender que toda a tomada de decisão é um pensar e um ato político, porque implica em escolhas que se faz entre opções existentes e escolhas que se faz a partir de aonde se quer chegar”. Por outro lado, a PCP da segunda escola foi mais clara ao argumentar que “Inovação Pedagógica é acreditar na mudança; é criar novas formas de avaliação; é trazer a comunidade para a escola (o Projeto Família na Escola); é ver o jovem como um ser global e investir no desenvolvimento e aprimoramento de diversas habilidades e competências como: a oralidade, a cooperação, o respeito aos colegas, respeito ao meio ambiente e, a construção de novos caminhos”. Na sequencia, questionou-se como a unidade definiria inovação na gestão escolar. Novamente a mesma respondente que havia deixado a questão anterior em branco o fez novamente. A PCP que enfatizou o caráter político sobre a inovação pedagógica também o fez em relação ao conceito de inovação na gestão escolar, afirmando ser necessária a organização do trabalho pedagógico a partir de objetivos precisamente expressos a partir das decisões tomadas coletivamente como forma de garantir a execução da política educacional e a qualidade de ensino. A PCP da outra escola também enfatizou a dimensão política e do papel social da educação, destacando a autonomia e a liberdade de ação e de decisão daí advindas na construção do projeto educacional que mira a formação do sujeito participante (cidadania ativa) para a consolidação da sociedade democrática. Ela também destacou a importância da gestão democrática (colegiada) e da redefinição do papel do Estado na educação, o que poderia criar condições para que práticas inovadoras são sejam impedidas. Apesar do teor aparentemente positivo das respostas, ao questionar se as escolas tinham projetos pedagógicos considerados por elas inovadores implantados as respostas conduziram a uma verificação relevadora. Apenas uma escola respondeu afirmativamente e que os mesmos constavam do projeto político-pedagógico (PPP). Contudo, ao descrevê-los, pôde-se verificar que todos eram projetos da Secretaria da Educação (SEE/SP). Se a ausência das respostas de duas escolas pode indicar a não existência de projetos inovadores pode também comunicar rejeição/resistência a mudanças (ou ao teor dessa pesquisa). Além disso, a resposta obtida indica tanto a ausência do exercício efetivo da autonomia da unidade escolar em propor projetos próprios, como a sobrecarga de projetos implantados pela SEE/SP. A PCP afirmou que muitos projetos “chegam à escola” na forma de “Orientação Técnica” através da “Diretoria de Ensino”, sendo que alguns possuem alto nível de adesão e de sucesso, enquanto outros nem tanto. Além de não serem projetos de autoria interna à escola, a maioria aparenta ter impacto superficial e pouco extensivo no sentido de promover uma experiência inovadora rica em termos de apropriação do conhecimento no processo de ensino-aprendizagem ou mesmo de gestão da unidade escolar. São citados projetos/programas como “Educação Bucal” (orientações sobre higiene bucal), “Prevenção também se ensina” (sobre doenças sexualmente transmissíveis e drogas), “Projeto Acessa Escola” (acesso à internet para alunos, funcionários e comunidade), entre outros. 187 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Nota-se a ausência de menção a autores ou a alguma fundamentação teórica nas respostas fornecidas, evidenciando que a produção do conhecimento acadêmico se chega aos docentes da rede pública, é de forma superficial. Outro problema é a inexistência de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados e do impacto no rendimento escolar dos alunos com os projetos considerados inovadores (mas que são da própria SEE/SP) mencionados, inviabilizando qualquer balanço crítico dos mesmos. Considerações finais A pesquisa proporcionou a compreensão do hiato existente entre a “letra da lei” (política educacional) e produção do conhecimento acadêmico e o que se concretiza no fazer pedagógico e na gestão na realidade escolar. O estudo crítico das dimensões econômica, política e social da CT&I precisa estar inserido no currículo do Ensino Médio e, para tanto, exige formação adequada de professores e gestores. A educação e as inovações na educação podem servir tanto à adaptação/ajuste do indivíduo ao sistema (visão economicista, tecnicista) quanto à sua emancipação (visão humanista, crítica). A educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo. Porém, ela seria igualmente questionável se ficasse nisto, produzindo nada além de well adjusted people, pessoas bem ajustadas, em consequência do que a situação existente se impõe precisamente no que tem de pior. Nestes termos, desde o início existe no conceito de educação para a consciência e para a racionalidade uma ambiguidade. Talvez não seja possível superá-la no existente, mas certamente não podemos nos desviar dela. (ADORNO, 2010, p. 143). O caráter ambíguo da educação apresenta-se no par adaptação/emancipação. Cabe ao policy maker e ao gestor educacional ter consciência de que a alfabetização científica não poderia ter como finalidade apenas uma dessas posições. Esta preocupação não deve ser menosprezada pois quando os profissionais da educação se mostram fragilizados teoricamente ou insuficientemente preparados para a compreensão das orientações políticas em franco embate na arena social em torno da C&T e de suas implicações na política educacional abre-se a lacuna para a legitimação do discurso orientado pela razão técnica instrumental, o qual é competentemente elaborado e difundido. Referências ABRAMOVAY, M. (Coord.). Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas. Brasília: UNESCO, Ministério da Educação, 2004. ADORNO, Thedodor W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995. BARROSO, J. O reforço da autonomia das escolas e a flexibilização da gestão escolar em Portugal. In: FERREIRA, N. S. C. (org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE). Livro Azul da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. Brasília, DF: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2010a. 99 p. ______. Sessão Plenária 4: Educação e C,T&I – educação de qualidade desde a primeira infância. Brasília, DF: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2010b. 128 p. BRASIL. Ministério da Educação (MEC),Conselho Nacional de Educação (CNE), Câmara de Educação Básica (CEB). Resolução nº 2, de 30 de janeiro de 2002. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, DF: 31 jan. 2012b. Seção 1, p. 20. 188 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ______. Parecer nº 5, de 04 de maio de 2011. Sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, DF: 24 jan. 2012a. Seção 1, p. 10. BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica, Coordenação Geral de Ensino Médio. Ensino Médio Inovador. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2009. 30 p. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ensino_medioinovador.pdf>. Acesso em 04 fev. 2012. CUNHA, L. A. Contribuição para a análise das interferências mercadológicas nos currículos escolares. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48, set.-dez. 2011. ______. 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Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010. EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: UM BALANÇO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA (1988-2011) Larissa Katsumata Gusmão (PUC-Campinas) Adolfo Ignacio Calderón (PUC-Campinas) RESUMO Caracterizada como um estudo sobre o estado da arte referente à Educação de Tempo Integral, a presente comunicação debruça-se na compreensão da produção científica acerca dessa temática, realiza um mapeamento bibliográfico das teses e dissertações disponíveis no Banco de Teses da Capes, no período de 2009 a 2011 e identifica os eixos temáticos abordados em tais trabalhos. O recorte temporal justifica-se em função da complementaridade ao estudo de Ribetto e Maurício, no qual se apresenta um mapeamento da produção científica entre 1988 a 2008. Os eixos temáticos identificados foram: Práticas Educativas; Jornada Escolar; Formação de Professores; Democratização da Educação e Políticas Educacionais. A comparação entre os resultados de ambas as pesquisas apontam um aumento de aproximadamente 92% na produção científica, ressalta a relevância da experiência dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), que se manteve como principal foco de estudos. Palavras-chave: Educação em Tempo Integral. Estado da Arte. Mapeamento Bibliográfico. 1. INTRODUÇÃO A temática da educação integral tem sido alvo de estudos no Brasil desde a década de 1920. Paro et al. (1988) aponta que, nesse período, embora as discussões não estivessem voltadas necessariamente para a questão de horário integral, surgiram os primeiros elementos geradores que culminariam em uma proposta de educação em tempo integral na década de 1950. Com a criação do 189 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Centro Educacional Carneiro Ribeiro e a proposta de escolas-classe e escolas-parque, implantados por Anísio Teixeira em Salvador, na Bahia, no ano de 1953, passando pela década de 1980, a partir da implantação dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), idealizados por Darcy Ribeiro durante o primeiro mandato do governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e outras experiências semelhantes, como a criação, de abrangência nacional, dos Centros de Atenção Integral à Criança (CAICs), a temática em questão ganhou um fértil campo de pesquisas, tanto de cunho teórico quanto empírico. (COELHO, 2009) A instituição de programas como o Mais Educação, dentre outras propostas atuais, contribui para a continuidade de tais discussões. Ressalta-se que, no Brasil – desde suas experiências iniciais propostas por Anísio Teixeira –, a educação integral associa-se à ideia de ampliação da jornada escolar. A Educação em Tempo Integral constitui uma temática que tem divido os analistas e intelectuais, gerando posturas a favor e contra a iniciativa. A respeito desta questão, Ribetto e Maurício (2009) destacam Costa (1991), Cavaliere e Coelho (2002), Cavaliere (2007) e Maurício (2004), como autores dispostos ao debate das possibilidades que podem ser oferecidas pela ampliação da jornada escolar, ao passo que Lobo Jr. (1991), Paro (1988), Mignot (1989) e Kramer (1991) abordam a relação custo-benefício e a função da escola como inapropriadas, indicando o alto custo da proposta, a falta de adequação ao aluno brasileiro que necessita trabalhar e até mesmo a inviabilidade para o sistema de ensino, por sua incapacidade de oferecer o mínimo de quatro horas diárias de escola. A autora aponta, ainda, que as análises em torno da temática estão expressas em diversos artigos, considerando, entretanto, que essa literatura encontra-se dispersa em relação ao tempo e aos tipos de publicações. Ainda conforme Ribetto e Maurício (2009), dentre as autoras favoráveis à temática, constata-se que essas têm dado continuidade às pesquisas e à publicação de trabalhos sobre a escola de tempo integral, ao passo que aqueles que se demonstraram contrários à proposta deixaram de se dedicar aos estudos e a publicações acerca do tema. Na tentativa de compreender a produção científica em torno da temática, a presente pesquisa se insere, precisamente, no campo de análises sobre a Educação em Tempo Integral, caracterizando-se como um estudo sobre o estado da arte referente à temática, no período de 2009 a 2011. Este estudo debruça-se sobre o mapeamento da produção científica disponibilizada no Banco de Teses da Capes e sobre a identificação dos eixos temáticos abordados nas teses e dissertações mapeadas, com foco na análise de seus conteúdos. A justificativa do período se estabelece em função da complementaridade a um estudo já publicado sobre a temática, por Ribetto e Maurício (2009), intitulado “Duas décadas de educação em tempo integral: dissertações, teses, artigos e capítulos de livros”, na revista Em Aberto, promovida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Nesse estudo, as autoras fazem o esforço de sistematizar a produção científica brasileira expressa, como pode ser observado no título, por vários meios de divulgação do conhecimento científico, compreendendo um período de 20 anos, de 1988 a 2008. O presente trabalho amplia o período de análise, de 2009 a 2011, focando especificamente teses e dissertações, período no qual, conforme veremos, houve um salto quantitativo no número de estudos produzidos, em torno de aproximadamente 92% nos estudos referentes à temática, totalizando 50 trabalhos, ao passo que, de 1988 a 2008, foram mapeados 54 trabalhos. No que tange ao mapeamento da produção científica, foram consideradas categorias como cronologia; distribuição geográfica; tipos de produção e respectivos orientadores, dentre outras, ao passo que a identificação dos eixos temáticos e a análise de seus conteúdos culminaram em um agrupamento a partir de cinco eixos: Práticas Educativas, Jornada Escolar, Formação de Professores, Democratização da Educação e Políticas Educacionais. Além do aumento quantitativo na produção científica, constatou-se, também, uma mudança significativa no foco dos estudos analisados. No período de 1988 a 2008, predominava a abordagem de Políticas Educacionais, englobando um percentual de 24% das 54 teses e 190 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades dissertações, ao passo que, na produção de 2009 a 2011, houve um redirecionamento das preocupações teóricas dos pesquisadores, focando as Práticas Educativas, tema que se apresenta em 52% dos 50 trabalhos mapeadas. 2. METODOLOGIA Quanto aos estudos sobre o estado da arte, destaca-se que a metodologia permite compreender a evolução do conhecimento científico, contribuindo para avaliar tal produção, traçando um panorama longitudinal das tendências do conhecimento sobre a temática em questão. Ferreira (2002) aponta que pesquisas sobre o estado da arte, ou ainda, estado do conhecimento, definem-se por um levantamento bibliográfico, um mapeamento que discute a temática em questão em diversos campos do conhecimento, e que, também, “[...] são reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca investigar [...]”. (FERREIRA, 2002, p. 258). Romanowski e Ens (2006) apontam, ainda, a possibilidade de uma visão geral da produção científica em determinadas áreas, permitindo a percepção da evolução das pesquisas, sua caracterização, além da visualização de suas lacunas. De tal modo, os estudos dessa metodologia, contribuem para a compreensão da produção científica de determinada temática. O presente trabalho insere-se, precisamente, nos estudos sobre o estado da arte, se debruçando sobre a compreensão da produção científica sobre Educação de Tempo Integral, por meio do mapeamento de tal produção dentro de um recorte temporal de três anos (2009-2011), bem como da identificação dos eixos temáticos abordados na literatura científica brasileira, expressa na forma de teses e dissertações, disponíveis no Banco de Teses da Capes. O mapeamento bibliográfico toma por referência as categorias: cronologia; distribuição geográfica; distribuição por instituições de ensino e formatos administrativos; áreas do conhecimento e de concentração; tipos de produção e respectivos orientadores. Para a identificação dos eixos temáticos abordados, considera-se a complementaridade aos estudos de Ribetto e Maurício (2009), de modo que as categorias de análise utilizadas são as mesmas indicadas na publicação das referidas autoras: Jornada Escolar, Políticas Educacionais, Práticas Educativas e Democratização da Educação. Registra-se que, durante o processo de agrupamento temático, houve a necessidade de incluir mais uma categoria, trata-se da categoria que aqui se denomina Formação de Professores, totalizando, portanto, cinco categorias de análise. Este trabalho torna-se complementar à pesquisa realizada por Ribetto e Maurício (2009) – que cobriu o período de 1988 a 2008. Afirma-se sua complementaridade, na medida em que tentase propõe dar continuidade aos dados apresentados pelas referidas autoras, atrelando-se a produção científica realizada por meio de teses e dissertações publicadas no Banco de Teses da Capes, cobrindo um período posterior, que abrange três anos, de 2009 a 2011. Ao olhar leigo pode parecer pouco significante e irrelevante a análise da produção de três anos, entretanto, esse período ganha destaque ao se considerar a quantidade de teses e dissertações defendidas: 50 estudos sobre a temática. Esse número ganha uma dimensão maior, ao considerar que as autoras em questão apontam que, entre 1988 e 2008, isto é, ao longo de 20 anos, foram produzidos 54 estudos entre teses e dissertações. Isso significa que, em um período de três anos, a quantidade de estudos sobre o tema em questão foi praticamente duplicada. Acrescente-se também que o presente trabalho resulta de uma pesquisa de dimensão quantitativa e de cunho bibliográfico, pois que, por meio do mapeamento da produção científica, foram identificadas as teses e dissertações referentes à temática, que posteriormente foram agrupadas a partir das categorias de análise citadas anteriormente. Ressalta-se, ainda, que o trabalho foi elaborado a partir das orientações metodológicas próprias dos estudos sobre o estado da arte. 191 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Para a identificação dos eixos temáticos abordados e para o agrupamento das teses e dissertações, foi considerada tanto a leitura dos resumos quanto dos trabalhos na íntegra, quando necessário. Foram consideradas, também, as palavras-chave destacadas pelos autores, embora tal critério tenha sido reavaliado nos casos em que as palavras-chave não apontavam, de fato, o foco presente nas teses e dissertações. Neste ponto, a leitura dos trabalhos na íntegra e a reavaliação das palavras-chave ocorreram no intuito de sanar as limitações inerentes àquelas pesquisas sobre o estado da arte que se atrelam apenas à leitura dos títulos, palavras-chave e resumos coletados. Convém registrar, de acordo com Calderón e Ferreira (2011), as limitações inerentes às pesquisas sobre o estado da arte que se baseiam nos títulos, nas palavras-chave e na análise dos resumos dos textos coletados, especialmente aquelas que se enquadram no campo das ciências humanas: Entre outras limitações, podemos citar: títulos que não refletem necessariamente o conteúdo do texto, o caráter extremamente abrangente e genérico da grande maioria das palavraschave utilizadas, a subjetividade existente no enquadramento dos textos e na definição das palavras-chave, além dos problemas de forma existentes em muitos resumos. (CALDERÓN; FERREIRA, 2011. p. 325). Justamente por compreender as limitações supracitadas é que, além do acesso aos resumos disponibilizados pelo Banco de Teses da Capes, foram buscados os trabalhos na íntegra para coletar as informações necessárias à realização deste estudo. 3. MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA Foram encontrados 50 trabalhos referindo-se à temática deste estudo, sendo 47 dissertações e 3 teses. As buscas feitas no Banco de Teses da Capes foram realizadas utilizando os descritores “Educação de Tempo Integral”, “Escola de Tempo Integral”, “CIEP”, “PEE”, “CAIC”, “PRONAICA”, “CEI” e “PROFIC”. Tais descritores foram levantados a partir do trabalho de Ribetto e Maurício (2009), a fim de que se constitua uma continuidade mais coerente com o trabalho de tais autoras. Entretanto, observa-se nos resultados apresentados no presente trabalho que nem todos os descritores utilizados proporcionaram resultados para a pesquisa. Das três teses encontradas, duas foram defendidas no estado de São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Já as dissertações estão divididas em 12 estados. A fim de que se possa comparar as produções mapeadas por Ribetto e Maurício (2009), apresenta-se a Tabela 1, atribuindo a quantidade de trabalhos mapeados a seus respectivos estados. 192 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela 1. Teses e Dissertações por Estado. 1988 a 2008 Estado 2009 a 2011 Teses Dissertações Teses Dissertações RJ 7 22 1 19 SP 3 9 2 5 RS - 5 - 5 DF - 3 - 5 MS - - - 5 CE - - - 2 RN - - - 1 ES - - - 1 GO - - - 1 SC - 1 - 1 MG - 1 - 1 PR - 1 - 1 Exterior 1 1 - - Total 54 50 Fonte: elaboração dos autores. Nota-se que o índice mais expressivo de produção continua sendo no Rio de Janeiro, seguido pelo estado de São Paulo que possui um maior número de trabalhos se considerarmos as teses e dissertações. Com relação aos descritores utilizados, registra-se que a maior parte da produção destina-se aos estudos voltados para os CIEPs com 19 estudos sobre a temática, 37,25% em relação ao total de trabalhos, fato que evidencia a expressividade das experiências do projeto no estado do Rio de Janeiro, considerando que a segunda maior produção científica destina aos estudos dos CAICs com uma parcela de 16 estudos, equivalente a 31,37%, ressalta-se que o programa possuía uma abrangência nacional. A obtenção de tais resultados reforça àqueles apontados nas pesquisas de Ribetto e Maurício (2009), na produção científica de 1988 a 2008 os CIEPs detinham 63% das produções científicas, ou seja, 34 trabalhos, seguidos pelos CAICs com um percentual de 15%, 8 trabalhos. 4. PRINCIPAIS EIXOS TEMÁTICOS Conforme citado anteriormente, o agrupamento dos 50 estudos mapeados foi realizado a partir de cinco eixos temáticos. Gráfico 1 apresenta tais eixos com seus respectivos resultados, possibilitando uma melhor comparação entre estes: 193 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Gráfico 1. Eixos Temáticos. Fonte: elaboração dos autores. A fim de que se possa estabelecer uma comparação entre os dados apresentados na pesquisa de Ribetto e Maurício (2009), a Tabela 2 representa o percentual em relação aos eixos temáticos expostos pelas autoras e o percentual obtido pela presente pesquisa. Tabela 2. Comparação percentual atribuído aos Eixos Temáticos. Período Jornada Escolar Políticas Educacionais Práticas Educativas Democratização da Educação Formação de Professores Total Fonte: elaboração dos autores. 1988 a 2008 Qtde. % 21 38,89 13 24,07 11 20,37 2009 a 2011 Qtde. % 11 22 2 4 26 52 9 16,67 3 6 0 54 0 100% 8 50 16 100% Ao comparar os resultados ressalta-se a mudança no foco das pesquisas, o índice mais expressivo apontado na pesquisa de Ribetto e Maurício atribui-se a Jornada Escolar, que com 38,4% compreendeu o índice de 21 trabalhos, seguido pelas pesquisas referentes às Políticas Educacionais, 24% – correspondente a 13 trabalhos. A presente pesquisa apresenta as Práticas Educativas como a tendência temática mais abordada nos estudos produzidos entre 2009 a 2011, com 26 trabalhos, correspondendo a 52% do total de produções, ao passo que o eixo Jornada Escolar se configura como segunda maior tendência, abrangendo 11 trabalhos, equivalente a 22%. Ressalta-se ainda a diferença percentual em relação às Políticas Educacionais, abordada amplamente no período de 1988 a 2008, a temática foi abordada em apenas 2 dissertações no período de 2009 a 2011, o equivalente a 4% do total das produções, revelando uma mudança de foco significativa. 194 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A) Práticas Educativas Este eixo temático possui a quantidade mais expressiva de trabalhos, agrupa as produções científicas que discutem as questões de currículo, avaliação, experiências de projetos, alfabetização, educação de jovens e adultos, dentre outros. Engloba também as pesquisas realizadas em determinadas unidades escolares em que estas foram utilizadas somente como campo de estudo, sem priorizar especificamente a abordagem da questão da Educação em Tempo Integral, tanto em sua perspectiva de ampliação da jornada escolar quanto de formação integral do indivíduo. Destacase ainda a abordagem de experiências e adaptações escolares em instituições de Tempo Integral localizadas em regiões de fronteiras do Brasil que recebem alunos estrangeiros. Este eixo contou com 26 trabalhos no total, sendo apenas 1 tese em nível de doutorado. O eixo Práticas Educativas englobou 12 categorias de análise, apresentadas na Tabela 3. Tabela 3. Eixo temático: Práticas Educativas. PRÁTICAS EDUCATIVAS Categoria Ciências Quantidade de Trabalhos nº % 4 15,4 SOUZA (2009), ANÇA (2010), BEHEREND (2011) e MELO NETO (2011) JAIME (2010), MORAIS (2010), BENEVIDES (2010) e OLIVEIRA (2011) Estudos Relacionados a Linguagem em Regiões de Fronteira do Brasil 4 15,4 Questões do Cotidiano Escolar 3 11,5 Utilização de Recursos Tecnológicos 3 11,5 Educação de Jovens e Adultos 2 7,7 Práticas de Leitura 2 7,7 Práticas Esportivas 2 7,7 2 1 1 1 1 26 7,7 3,8 3,8 3,8 3,8 100% Qualidade de Ensino Currículo Escolar Participação Política Relações Raciais Saúde Total Fonte: elaboração dos autores. Autores FERREIRA (2009), ROLIM SILVA (2009) e FERNANDES (2010) MORAES (2010), MEDEIROS (2010) e MOURÃO (2011) DINIZ (2010) e LEITE (2009) REIS MORAES (2010) e FIORELLI (2011) ALMEIDA (2010) e OLIVEIRA (2011) SOARES (2009) e FRANKLIN (2011) BRANDÃO (2009) ALBUQUERQUE (2011) SANTOS (2011) BERTOLIM (2011) B) Jornada Escolar Este eixo englobou os estudos que tratavam de experiências relativas à ampliação do tempo escolar, às experiências de Tempo Integral vivenciadas por instituições escolares, bem como a história da Educação em Tempo Integral, questões voltadas para a organização de tais instituições 195 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades e seus processos de implementação. Para este eixo fora atribuídos 11 trabalhos, sendo 10 dissertações e apenas 1 tese. A Tabela 4 traz as categorias que compõe o eixo Jornada Escolar, apontando seus autores, quantidade de trabalhos e percentual atribuído. Foram atribuídas a este eixo, 4 categorias de análise. Tabela 4. Eixo Temático: Jornada Escolar. JORNADA ESCOLAR Categoria Quantidade de Trabalhos nº % Autores GOMES (2009), KIRCHNER (2009), DE MORAES (2009), DE SOUZA (2010) e FIGUEIREDO (2011) CELLA (2010), FONSECA (2010) e VIEIRA DA SILVA (2011) Organização e Concepção da Escola de Tempo Integral 5 45,5 História da Educação de Tempo Integral 3 27,3 Processos de Implementação das Escolas de Tempo Integral 2 18,2 ROCHA (2010) e VETORAZZI (2011) 1 11 9,1 100% AQUINO (2011) Desempenho Escolar Total Fonte: elaboração dos autores. C) Formação de Professores Este eixo é constituído das pesquisas voltadas para a Formação de Professores, bem como a formação continuada. É composto por 8 trabalhos, sendo 1 tese e 7 dissertações, que abordam principalmente os processos de formação contínua dos professores que atuam em jornadas ampliadas nas instituições de Tempo Integral. Assim como para o eixo Jornada Escolar, foram atribuídas 4 categorias para o eixo de Formação de Professores, expressos na Tabela 5. 196 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela 5. Eixo Temático: Formação de Professores. FORMAÇÃO DE PROFESSORES Quantidade de Trabalhos nº % Categoria Autores Programas e projeto de formação continuada 4 50,0 Formação em serviço 2 25,0 Formação inicial 1 12,5 BENTO (2009), MARTINELLI (2009), SILVA PEREIRA (2009) e CLARINDO (2011) DA SILVA (2009) e DESIDÉRIO DA SILVA (2009) WITHERS (2011) Formação para inclusão 1 12,5 OLIVEIRA FERNANDES (2011) 8 100% Total Fonte: elaboração dos autores. D) Democratização da Educação O eixo de Democratização da Educação envolve dissertações que tratam da inclusão de alunos, seja pela deficiência ou pela diferença, aborda a diversidade cultural em escolas de Tempo Integral e contém um total de apenas 3 dissertações. A Tabela 6 aponta as duas categorias que se fizeram necessárias à análise das tendências temáticas abordadas no eixo “Democratização da Educação”. Tabela 6. Eixo Temático: Democratização da Educação. DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Categoria Quantidade de Trabalhos nº % 2 66,7 Inclusão social Inclusão da 1 deficiência Total 3 Fonte: elaboração dos autores. 33,3 Autores SANT'ANNA (2010) e PINTO (2010) TRIÑANES (2009) 100% E) Políticas Educacionais O eixo de Políticas Educacionais reuniu a quantidade menos expressiva de trabalhos, com apenas 2 dissertações, o eixo envolve as pesquisas voltadas para as políticas públicas relacionadas a temática de Educação em Tempo Integral. A Tabela 7 aponta o último eixo, Políticas Educacionais, com sua respectiva categoria de análise. 197 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela 7. Eixo Temático: Políticas Educacionais. POLÍTICAS EDUCACIONAIS Categoria Quantidade de Trabalhos nº % Políticas 2 públicas Total 2 Fonte: elaboração dos autores. 100,0 Autores CASTRO (2009) e SILVA JR. (2009) 100% 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do mapeamento realizado no presente estudo, foi possível perceber a expressividade da implantação dos CIEPs no estado do Rio de Janeiro, tendo em vista que a maior concentração de produção científica se restringe às universidades do referido estado, desde os estudos de Ribetto e Maurício (2009). Ressalta-se que, embora a implantação dos CAICs tenha sido de abrangência nacional, a quantidade de pesquisas dedicadas a tal experiência não acompanha, em quantidade, a experiência do Rio de Janeiro. No que se refere aos dados comparativos entre a presente pesquisa e a pesquisa de Ribetto e Maurício (2009), é válido ressaltar a mudança no panorama traçado: além da quantidade de teses e dissertações destacadas em cada uma das pesquisas, a própria configuração dos estados e universidades que possuem produções científicas acerca da temática apresentou características bastante diferenciadas. Enquanto Ribetto e Maurício (2009) apresentam um total de seis estados e o Distrito Federal como detentores de tais produções, no período de três anos foram acrescidos mais seis estados, demonstrando a expansão para as regiões Nordeste e Centro-Oeste, que a princípio, não apresentavam resultados. No que tange à classificação das universidades a partir da quantidade de produções, a pesquisa de Ribetto e Maurício (2009) aponta a Universidade Federal do Rio de Janeiro em primeiro lugar, com um total de doze produções, ao passo que na presente pesquisa, a UFRJ obteve um resultado de apenas três produções, ficando em quarto lugar, atrás da Universidade de Brasília, que possui a quantidade de quatro trabalhos, da Universidade Federal Fluminense, que conta com um total de cinco trabalhos, e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que com seis produções, destaca-se como a universidade que mais produziu estudos sobre a temática. O presente estudo possibilitou, também, a compreensão da abordagem das tendências temáticas presentes nas teses e dissertações mapeadas, evidenciando a importância atribuída aos estudos voltados para as Práticas Educativas, temática mais recorrente dentre os 50 estudos utilizados para esta análise. Ressalta-se a mudança no foco temático. O percentual atribuído ao eixo de Políticas Públicas, certamente, é o que chama mais atenção, pois, ao passo que se coloca em segundo lugar nos resultados entre 1988 e 2008, com um percentual de 24%, no período condicionado à presente pesquisa, de 2009 a 2011, o percentual atribuído ao eixo refere-se a apenas 4% dos trabalhos. Ainda no tangente à comparação dos resultados expostos por Ribetto e Maurício (2009) com a presente pesquisa, destaca-se a necessidade da inclusão de outra categoria de análise, fato que, em conjunto com o aumento de aproximadamente 92% na produção científica, evidencia a importância atribuída aos estudos voltados para a Educação em Tempo Integral, bem como o incentivo às novas experiências que vêm sendo implantadas no país. Acredita-se que tais experiências possam motivar pesquisadores que se interessam pela temática e que o fato de não 198 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades terem sido encontrados, dentre as teses e dissertações disponibilizadas pelo Banco de Teses da Capes, trabalhos que tratem a Educação em Tempo Integral a partir dos programas mais recentes do Governo Federal, como por exemplo, o Programa Mais Educação, pode ser atribuído ao curto período de tempo entre a implantação do referido programa e a realização da presente pesquisa. 6. PRINCIPAIS REFERÊNCIAS CALDERÓN, A. I.; FERREIRA, A. G. Administração da educação no Brasil: um diálogo comparativo com as tendências temáticas da Revista Ibero-Americana de Educação. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 27, n.2, p.321-339, maio/ago. 2011. FERREIRA, N. S. de A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação & Sociedade, Campinas, v.23, n.79, p.257-272, ago. 2002. RIBETTO, A.; MAURÍCIO, L. V. Duas décadas de educação em tempo integral: dissertações, teses, artigos e capítulos de livros. Em Aberto, Brasília, v.22, n.80, p.137-160, abr. 2009. ROMANOWSKY, J. P.; ENS, R. T. As pesquisas denominadas do tipo “estado da arte” em Educação. Diálogo Educacional, Curitiba, v.6, n.19, p.37-50, set/dez. 2006. ENSINO MÉDIO: BREVE REVISÃO DE LITERATURA Zizelda Lima Fernandes (UNICAMP) Dirce Djanira Pacheco e Zan (UNICAMP) RESUMO Este artigo resulta de pesquisa bibliográfica de produções oriundas de estudos que vêm sendo realizados por estudiosos e pesquisadores em torno do jovem e da escola de ensino médio no Brasil na primeira década do século XXI. Esse exercício tem o caráter de mapear/conhecer a produção de conhecimentos em torno desse tema com a finalidade de compreender as questões postas pela comunidade acadêmica em seus projetos de pesquisa e/ou extensão em torno da realidade do ensino médio e sua relação com a juventude. Os estudos apontam para a urgência no trato com a escola média e os jovens que a frequenta. Palavras-chave: Ensino Médio; Juventude INTRODUÇÃO São muitas as razões para se afirmar que o Ensino Médio é um tema instigante, desafiador e complexo, com múltiplos sentidos, gerador de discussões em contextos diversos, seja na problematização da condição juvenil dos seus alunos, nas demandas que esses alunos apresentam para a escola, no desenvolvimento de projetos que respondam a essas demandas, seja na própria legitimidade da escola e, especificamente na legitimidade dessa etapa da educação básica. Dilemas, tensões e crises vão surgindo, há que se considerar, contudo, que as grandes transformações pelas quais a sociedade vem passando não se depositam, exclusivamente no ensino médio, mas na educação, nas instituições, na realidade sociocultural, de modo geral. Porém, necessário se faz compreender ou problematizar o papel da escola média na formação do jovem aluno. Para Corti (2009, p.12), “o ensino médio passa a ser reconhecido como um dos principais gargalos da educação brasileira e uma etapa de ensino estratégica para o desenvolvimento do país”. Nesse sentido, a escola passa por uma crise e, no ensino médio, essa crise ganha maior 199 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades expressividade. Inclusive, há uma “convicção generalizada” de que se o ensino no Brasil é deficitário, no ensino médio esse problema se evidencia mais ainda (CORTI, 2009). Nas últimas décadas, paralelo às políticas públicas implementadas, estudiosos vêm se debruçando sobre a escola pública de ensino médio brasileiro, na busca de compreenderem os sujeitos que a frequentam e os desafios impostos ao ensino médio frente às grandes mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais, que vêm ocorrendo no seio da sociedade e que “consequentemente, afetam diretamente as instituições e os processos de socialização das novas gerações nos seus tempos e espaços” (DAYRELL et all, 2007, p. 16). Em seus estudos, Peralva e Spósito (1997, p. 03) afirmam que “o trabalho, a escola, os valores, a política constituem elementos centrais destas transformações, que afetam os jovens, mais do que outras categorias da população, simplesmente porque esta é uma história que está nascendo com eles”. Nesse aspecto, ante novos contornos, muitos dos estudos sobre o jovem e a escola de ensino médio se propõem a compreender de forma densa o jovem na sua relação com a escola e com o saber (DAYRELL, et al, 2007). Quando as grandes mutações afetam diretamente as sociabilidades juvenis e ao mesmo tempo promovem uma nova configuração da escola pública, decorrente, em especial, “da expansão das oportunidades escolares” (DAYRELL, et al, 2007, p. 16). Por outras palavras, é inegável que o ensino médio, como última etapa da educação básica, vem sofrendo profundas alterações perante as novas arquiteturas, o que sinaliza para um ressignificar do tempo e espaço dessas escolas. Diante do exposto, ressaltamos que nos propomos a fazer uma pesquisa bibliográfica 34 de produções oriundas de projetos de pesquisa e extensão que vêm sendo realizados em torno do jovem e da escola de ensino médio no Brasil na primeira década do século XXI. Esse exercício tem o caráter de mapear a produção de conhecimentos em torno desse tema com a finalidade de compreender as questões postas pela comunidade acadêmica em seus projetos de pesquisa e/ou extensão em torno da realidade do ensino médio e sua relação com a juventude. Quais são as suas questões de pesquisa? Quais são os seus propósitos? Como se posicionam frente à realidade educacional do ensino médio? Quais as questões postas para a condição juvenil e o ensino médio? O que revelam os dados da (s) pesquisa (s) empreendidas? A nossa meta está em se inteirar dos debates, discussões, propostas em torno da juventude e dos desafios do ensino médio. Na busca de apreender os sentidos que os jovens atribuem à escola e ao ensino médio, Dayrell, Leão e Reis (2011), por meio do projeto “Diálogos com o Ensino Médio” realizaram uma pesquisa com jovens estudantes do ensino médio de três cidades do Pará. Partindo do pressuposto de que os jovens são interlocutores fundamentais para se compreender o ensino médio os referidos pesquisadores elegeram os jovens como sujeitos da investigação, problematizando perante as seguintes indagações: Quais as visões que possuem sobre a sua vivência escolar? Quais os significados que atribuem à escola? Quais os desafios que apontam? A metodologia possibilitou “descortinar um quadro de grandes dificuldades das escolas investigadas em dialogar com seus jovens” (p. 270). Os estudiosos extraem dos depoimentos dos jovens contribuições das escolas na realização das suas demandas e expectativas, como também muitas lacunas e impasses. Dentre outros, os jovens acenam para a ausência de políticas educacionais adequadas, problemas ligados à falta de infraestrutura, abandono e falta de investimento no ensino médio, falta de diálogo e de flexibilidade do diretor em relação aos alunos (prática autoritária), falta de adequação da escola em relação à realidade dos alunos e suas necessidades, reconhecimento da importância dos docentes aliado a pontos negativos nesse aspecto, desmotivação dos professores, desinteresse de parte dos alunos, reconhecimento da importância das 34 A organização do material de estudo foi realizada por meio de consulta e seleção de artigos num acervo público de franco acesso - revistas eletrônicas – Educar em Revista, Revista Brasileira de Educação, Educação e Sociedade, Perspectiva, Educação, Cadernos de Pesquisa, Educação e Pesquisa, Cadernos Cedes, Coletânea fruto do Seminário “Juventude e Iniciação Científica: políticas públicas para o Ensino Médio”, Série Juventude e Escolarização: os sentidos do Ensino Médio (Salto para o Futuro), dentre outros. 200 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades atividades desenvolvidas por meio de projetos, oficinas, feiras, seminários, entre outras, crítica à qualidade e à forma como as aulas eram ministradas em suas escolas, conteúdos tratados muitas vezes de forma superficial, preocupação com o futuro profissional e com os exames vestibulares, poucas oportunidades de lazer e de participação em atividades para além da escola. Sem perder de vista a diversidade de realidades entre as escolas públicas pesquisadas, os autores afirmam que a escola, apesar de apresentar muitos limites e dificuldades, tem uma grande importância na vida dos jovens. Chamam a atenção para a política de desvalorização do ensino noturno, para uma escola empobrecida marcada por limitadas relações humanas, pela desorganização e pela dificuldade dos jovens se subjetivarem como alunos. Segundo os pesquisadores (2011, p. 270), “parece-nos que a escola não vem possibilitando uma formação mais ampla de seus jovens [...] Eles se encontram com limitados suportes institucionais, materiais e subjetivos que os ajudem a vislumbrar possíveis caminhos no seu futuro”. Silva, Pelissari e Steimbach (2012), com o artigo intitulado “Juventude, escola e trabalho: permanência e abandono na educação profissional técnica de ensino médio”, expõem os resultados de duas pesquisas empíricas que se ocuparam de analisar o que levam os jovens a abandonar ou a permanecer na escola. Assim, procurando justificar a importância do tema abordado tentaram responder, num duplo movimento, questões que tratam do abandono escolar e do fenômeno denominado “esvaziamento de significado do espaço escolar” (COSTA, KOSLINSKI, 2006). Considerando os sujeitos jovens como centrais nesse estudo, os pesquisadores procuraram desenvolver uma metodologia que desse conta de abarcar tal proposta de estudo. Em suas conclusões os estudiosos afirmam que, no caso da escola de educação profissional técnica de nível médio na área de tecnologia verifica-se que “a relação entre a escola e o jovem mantém-se distanciada e, assim, não se vê mais motivos para permanecer na escola” (p.11). Dentre as observações dispostas pelos pesquisadores, cabe ressaltar: “urgência de se ressignificar o espaçotempo das escolas de ensino médio, favorecendo o sentido da escola como local privilegiado, ainda que não exclusivo, no qual a identidade juvenil se constrói”. Outra observação é apontada como a falta de indícios de que a dificuldade de conciliar trabalho e estudo seja a causa central. Pois, muitos jovens com condições de se sustentar materialmente (maioria dos jovens entrevistados) acabam por abandonar a escola tendo em vista questões estruturais mediadas pela própria organização escolar. Por fim, “o que é levado a cabo pelo poder público é uma expansão que não se propõe a alterar a essência estrutural da educação técnica” (p.12). Seu compromisso maior é com as demandas do mercado e do desenvolvimento. Questões centrais para o processo de educação formal não são problematizadas, a exemplo do currículo, visões e anseios dos alunos, a cultura escolar e a gestão da escola pública. Com o artigo intitulado “Juventude e Educação: interações entre a educação escolar e a educação não-formal”, Spósito (2008), apresenta as análises realizadas decorrentes dos resultados de um projeto de pesquisa35. Trata de um exame das interações entre as formas de educação nãoescolar e a educação escolar destinada a jovens pobres do Brasil. Assim, com o propósito de abstrair dados com relevantes reflexões em torno da juventude e da escola pública de ensino médio realizamos significativos recortes das análises feitas pela autora. A seguir: Expansão do ensino médio – Uma das questões emergentes é o tema da identidade do ensino médio. Os diagnósticos que demonstram a recente expansão revelam também a presença de graves problemas de ordem estrutural nas escolas; A conclusão do ensino médio para a maioria dos jovens de origem popular é uma grande vitória. Vitória essa que vem acompanhada da terminalidade da escolarização e, muitas vezes, da não garantia do trabalho. Isto, sem falar que ao se encerrar o tempo escolar se encerra também a possibilidade de ser jovem para muitos deles; 35 Trata-se do projeto “Juventude, escolarização e poder local”(FAPESP/CNPq). 201 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Sob o ponto de vista dos jovens, há um paradoxo da recente expansão do acesso à escola. De um lado a escolaridade se desponta como fundamental e, ao mesmo tempo, a ausência de sentido imediato para essa escola; Enfim, na discussão travada sobre a expressão não-formal, Spósito, se espelhando nas análises realizadas por Brougére e Bezille (2007), ressalta que o processo educativo assume formas diversas. Nesse aspecto, “a forma escolar seria uma forma educativa dentre outras, caracterizada pelo grau mais elevado de institucionalidade” (p. 95). Trazer essa questão para as nossas reflexões se torna importante quando podemos observar, nos últimos anos, uma intensa disseminação de ação não-escolar para os mesmos jovens que frequentam a escola, ação paralela à escola, ao mesmo tempo, distantes do mundo escolar. Paralelismo que só penaliza os jovens “soma-se uma proposta escolar precária com a participação obrigatória em programas educativos” (p. 90). A ideia de formação para os jovens de origem popular pode assumir múltiplos sentidos, de formação dos sujeitos como seres inacabados em desenvolvimento que parte “das necessidades como modalidade de carecimentos que são múltiplos e históricos” (93) e de formação que parte do princípio de segmentos de jovens incompletos e mal acabados com “forte teor de controle, moldagem, de recuperação ou de contenção” (p.93). Daí a importância de se analisar as concepções e projetos que estruturam os programas e projetos educativos destinados a jovens pobres. Ao publicar, no ano de 2009, o livro “O ensino médio no Brasil”, Krawczyk muito contribui para o debate sobre o sistema educacional brasileiro, especialmente da escola pública de ensino médio. A autora expõe grandes desafios que se apresentam ao ensino médio nos tempos atuais que, “com certeza não se esgotam nesse texto” e que precisam ser pensados no campo das políticas públicas. Segundo a autora (2009, p. 34), “as exigências colocadas pela configuração socioeconômica do Brasil, caracterizada por extrema desigualdade e concentração de renda, somada à grave situação educacional do ensino médio nos apresentam um conjunto enorme de desafios”. Os desafios englobam temas de grande relevância no contexto da escola pública de ensino médio, como por exemplo: a identidade do ensino médio; as políticas educacionais sejam de financiamento, de oferta e regulação estatal, de formação de professores; relação público e privado; novas tecnologias educacionais; a escola de nível médio para os jovens, dentre outros (KRAWCZYK, 2009). No artigo intitulado “Reflexão sobre alguns desafios do ensino médio no Brasil hoje”, Krawczyk (2011), ressalta a relevância do estudo que, por determinação, não se funda numa descrição do ensino médio, tampouco em rever as atuais deficiências dessa etapa de escolaridade, mas, prioritariamente, “contribuir para o debate sobre o ensino médio, a partir dos desafios apresentados pela realidade social, econômica e política” (KRAWCZYK, 2011, p. 754). Em suas conclusões, ressalta, dentre outras observações, que: as possibilidades de reflexão, comunicação e redefinição das regras e valores na relação com os jovens se tornam fundamentais; a organização e o funcionamento do ensino médio quase não mudaram, “o aumento da demanda da escola média esta acontecendo sob uma estrutura sistêmica pouco desenvolvida, com uma cultura escolar incipiente para o atendimento dos adolescentes e jovens das parcelas mais pobres da população” (KRAWCZYK, 2011, p. 766). Para a autora, a efetiva democratização está distante, o que se observa é um processo de massificação do ensino que se apresenta em condições precárias e desvencilhado dos reais interesses da população jovem. Tempos antes, Krawczyk, publica no ano de 2003 um artigo intitulado “A escola média: um espaço sem consenso” onde busca discutir o processo de implementação da reforma de ensino médio. Dentre as várias observações e reflexões realizadas pela autora, destacamos: A situação atual do ensino médio encerra várias e complexas questões: aspectos estruturais, precariedade desse ensino público brasileiro, condicionamentos mais amplos que dizem respeito às transformações que ocorrem em outros âmbitos políticos, sociais e econômicos, diretrizes e ações compartilhadas com a politica de gestão do ensino fundamental e 202 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades tendências em construção a partir de novas diretrizes para a expansão e melhoria desse nível de ensino (KRAWCZYK, 2003, p. 172). É possível observar que a “clientela” do ensino médio tende a ser mais heterogênea, tanto socioeconomicamente quanto pela composição etária (KRAWCZYK, 2003, p. 171). Os recursos financeiros disponíveis para o ensino médio são, principalmente, oriundos dos organismos internacionais e comprometem contrapartidas estaduais. Eles são bastante reduzidos e não têm sustentação financeira a longo prazo (KRAWCZYK, 2003, p. 187). Nos últimos anos duas questões têm sido problematizadas, em se tratando do trabalho docente no Brasil: número insuficiente de professores e falta de capacitação para ensinar (KRAWCZYK, 2003, p. 188). No âmbito político-educativo, coexistem hoje de maneira bastante confusa dois níveis bem diferentes de análise, um epistemológico e outro estratégico, sobre os critérios de seleção e de organização do conhecimento escolar (KRAWCZYK, 2003, p. 189). Compreender e revelar a trajetória de escolarização de jovens estudantes do ensino médio de escolas públicas que se encontram em situação de defasagem escolar é também uma das metas de Carrano. Com o artigo intitulado “O ensino médio na transição da juventude para a vida adulta”, Carrano (2010) vem indagar sobre o lugar que o ensino médio pode ocupar na transição dos jovens para a vida adulta, assim como quem são esses jovens, o que eles visualizam, “como os jovens se apropriam do social e adquirem redes de sociabilidade e interações que se distanciam dos modelos educacionais” (CARRANO, 2010, p. 148). Para o autor, “não são todos os jovens que vivem a sua juventude como uma situação de trânsito e preparação para as responsabilidades da vida adulta” (2010, p. 159). Ou seja, para muitos jovens, especialmente aqueles das camadas populares, a responsabilidade da vida adulta é antecipada, se manifestando enquanto esses ainda experimentam vivências relacionadas à juventude. Assim, nem mesmo a escola pode ser vivida como um espaço em que o jovem pode se dedicar aos seus estudos, aos lazeres, sem ter que trabalhar. O autor afirma, ainda, que para os jovens o ensino médio ocupa um lugar de destaque e suporte na transição para a vida adulta, desde que possibilite a continuidade dos estudos no ensino superior, além de se “permitir que a passagem pelo ensino médio seja estação suficiente para que jovens se qualifiquem como trabalhadores e tenham assegurados os seus direitos à formação técnica e profissional” e, se “capacitem como cidadãos cultural e eticamente plenos” (CARRANO, 2010, p. 164). No processo de produção do conhecimento se sobressai, também, o projeto de pesquisa “Ensino Médio em Diálogo” (2009-2010), integrado por Juarez Dayrell (UFMG), Leão (UFMG), Carrano (UFF), dentre outros. Importante se faz destacar que esses estudiosos fazem parte, respectivamente, do Observatório da Juventude UFMG e do Observatório Jovem da UFF. Os estudos realizados em torno do referido projeto se voltam para a temática da juventude e ensino médio, por meio de uma sistematização e divulgação de produção acadêmica que propicie, ou melhor, subsidie políticas públicas que atendam com qualidade o jovem no contexto escolar. Os desdobramentos que se seguem conduzem ao projeto de extensão “Diálogos com o ensino médio” (2011 – atual) que se propõe a ampliar o conhecimento sobre os jovens estudantes do ensino médio, desenvolvendo ações que favoreçam a troca de informações entre os atores envolvidos com o ensino médio (jovens estudantes, profissionais da educação, gestores e pesquisadores). Dentre as ações que vêm sendo realizadas pelo projeto se destacam os trabalhos voltados para a formação dos professores e o Portal EMdiálogo36, espaço virtual que busca favorecer a interação entre os atores do campo da pesquisa sobre ensino médio e juventude, se tornando um “canal de expressão” dos jovens estudantes e professores sobre temas que envolvam a escola de ensino médio. Kuenzer, em seus estudos, se propõe a traçar um perfil da educação básica no Brasil e os muitos desafios postos para o ensino médio, com o intento de fornecer subsídios para a formulação 36 Portal feito em parceria pela rede de universidades EMdiálogo, UFF, UFMG, UFC, UFPA, UFAM, UFSM, UnB, UFPR – Maiores informações www.emdialogo.uff.br 203 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades de políticas públicas voltadas para a educação básica, incluindo a formação inicial e continuada de docentes e pesquisadores, na perspectiva das práticas sociais e pedagógicas de inclusão, considerando a diversidade. Uma das obras organizadas por Kuenzer (2009) é o livro intitulado “Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho”. Resultante de cinco anos de investigação empírica e de discussões coletivos, o presente trabalho incorpora as contribuições teóricas mais recentes desta etapa do ensino e as importantes colaborações de professores da rede estadual de Mortas Grosso, tomadas como fundamento. Para Kuenzer (2009, p. 22), “por acreditar na escola como espaço político e no conhecimento como processo coletivo de produção da unidade na diversidade, é que apresentamos o resultado das nossas experiências, como elementos para a construção”. Em suas reflexões, Kuenzer (2011), aponta além da perda de sentido da escola para os jovens, outros fatores, de que a escola vai significar uma terceira jornada para os jovens que trabalham, jornada cansativa, sem resultados efetivos, se tornando desinteressante, daí a dificuldade de integrar o trabalho e a escola. A autora elenca outras razões para a intensificação da desistência dos jovens, uma delas diz respeito ao projeto pedagógico da escola que, em geral, acaba por excluir a classe trabalhadora suscitando, nos jovens alunos, sentimentos de impossibilidade e baixa autoestima perante aos desafios postos e à própria ausência de mecanismos de apoio. Outro elemento dessa cadeia é a migração ou condução para a modalidade de Educação de Jovens e Adultos, considerando que a EJA apresenta a possibilidade de conclusão do curso, mais rápida. Um elemento forte e articulador nesse contexto, sobretudo quando se trata da realidade brasileira, provém da situação de classe desses jovens. Situação essa marcada pela falta de condições materiais para frequentar a escola, evidenciadas na alimentação, no transporte escolar, enfim na falta de dinheiro. Com o olhar voltado para a geração atual de jovens, Frigoto (2009) traz em suas pesquisas relevantes contribuições no estudo das juventudes e ensinos médios. O foco dos seus estudos está para “juventude, trabalho e educação”, priorizando as concepções e os sujeitos do Ensino Médio e a relação quantidade e qualidade (2009). Em suas considerações o pesquisador afirma que “O Brasil poderia dar aos milhares de jovens que estão fora da escola, ou que estudam precariamente, uma bolsa de um salário mínimo para que completassem o ensino médio” (FRIGOTO, 2009, p. 28). Outros estudos, pesquisas e iniciativas em torno dos sentidos do ensino médio nas escolas públicas brasileiras e na defesa de uma educação de melhor qualidade para os/as jovens brasileiros vêm sendo perseguidos, a exemplo de Abramovay e Castro (2003), Corti (2009, 2010), Simões (2010), Peregrino (2006), Ciavatta e Frigoto (2004), Oliveira (2010), Zibas (2005), Brandão (2011), dentre outros. Constatamos que, hoje, as discussões e estudos acerca do ensino médio brasileiro se intensificam nas academias, nas organizações político-administrativas, nas organizações educativas, sociais, culturais e na sociedade de modo geral. As questões que passam pelo ensino médio são um tanto preocupantes e comprometedoras. Comprometem a juventude de hoje e de amanhã, comprometem a nação, na própria capacidade produtiva. Assim, se torna fundamental garantir uma melhor formação para os jovens, se torna fundamental compreender as identidades juvenis que circundam pela escola. Tudo isso significa investir nos jovens, dar suportes para a sua emancipação à vida adulta, colaborar no processo de “consolidação de suas escolhas biográficas e profissionais” (CARRANO, 2010, p. 146) e na conquista da sua autonomia. Por fim, fundamental se faz “correr contra o tempo”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARRANO, P. O Ensino Médio na transição da juventude para a vida adulta. In: In: FERREIRA, C.A et al (orgs), Juventude e Iniciação Científica; Rio de Janeiro: EPSJV, UFRJ, 2010. 204 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades CORTI, A.P. Juventude e diversidade no Ensino Médio: In: Juventude e Escolarização: Os sentidos do Ensino Médio, Ano XIX, boletim 18, novembro/2009. COSTA, M. da; KOSLINSKI, M. C. Entre o Mérito e a Sorte: escola, presente e futuro na visão de estudantes do ensino fundamental do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação, v. 11, Nº 31, jan/abr. 2006. DAYRELL, J. LEÃO, G. REIS, J. B. Juventudes, Projetos de Vida e Ensino Médio. Educação e Sociedade, Campinas, v. 32, Nº 117, out/dez, 2011. DAYRELL, J. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100 – Especial, outubro/2007. FRIGOTO, G. Ensino Médio no Brasil: “juventudes” com futuro interdidato. 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A construção deste texto se deu a partir de uma séria e minuciosa análise de trabalhos produzidos por pesquisadores/as e estudiosos/as das ciências humanas e sociais que se debruçam sobre esse tema e análise de dados de pesquisa. Informações assinalam que a escola de ensino médio no Brasil está pedindo socorro. Um grande contingente de jovens alunos está se divorciando do ensino médio. Palavras-chave: Ensino Médio; Juventude 205 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades INTRODUÇÃO Qual o papel do Ensino Médio na formação da identidade dos jovens? Que jovem/ aluno é esse que chega ao Ensino Médio? A juventude e a cultura juvenil são temas incorporados no currículo do Ensino Médio? De que forma essa escola contribui ou pode contribuir para os planos da juventude? Qual é a identidade do Ensino Médio? Que lugar vai ocupar o Ensino Médio nos próximos anos? Essas são as grandes questões, dentre tantas outras, que pesquisadores, gestores, professores e outros interessados na temática do ensino médio brasileiro vêm fazendo nos últimos anos. Perguntas/problematizações e reflexões são ferramentas indispensáveis em qualquer estudo. A partir delas o itinerário a ser perseguido ganha dinamicidade e move-se em labirintos teóricometodológicos. E, nesse movimento, nascem as possibilidades de aprofundamento e descobertas. Nessas circunstâncias, tomamos como ponto de partida para escrever esse texto os questionamentos levantados que propõem problematizações e diálogos, permeado por reflexões sobre a escola de Ensino Médio no Brasil. As perguntas gerais são sementes lançadas que funcionarão como um guia nesse percurso. Ensino médio das escolas públicas brasileiras, considerado hoje, por muitos estudiosos, como uma “dívida social” (FRIGOTO, 2009), uma profunda dívida com os jovens das camadas populares, aqueles que por um bom tempo não frequentaram a escola e que hoje ocupam, majoritariamente, a proporção de 84,9% do total da matrícula geral no ensino médio brasileiro (Censo Escolar/2012). A redemocratização brasileira e a Constituição Federal de 1988 deram novos contornos à função da escola e do ensino médio e introduziram novas diretrizes que culminaram com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei n.º 9394/96). Ao situar o ensino médio como etapa final da educação básica, a referida LDB proporciona a democratização do acesso a essa etapa do ensino, o que implica numa maior heterogeneidade do corpo discente, ou seja, na mudança de perfil do aluno. As transformações geradas ampliam a oferta do ensino médio público, contudo, a restrição dos recursos financeiros necessários frente à extensão interferiu de forma significativa na qualidade do ensino público no Brasil. Tudo isso se reverte em desafios para o ensino médio, que ocupa, majoritariamente, a escola da rede pública de ensino. Recentemente, parcela significativa de jovens alunos das escolas públicas está abdicando do ensino médio, suscitando, por sua vez, uma reversão do crescimento das matrículas. Esse abdicar pode ser traduzido, também e prioritariamente, pela exclusão escolar que se concretiza na evasão, repetência, abandono, distorção idade/série, analfabetismo funcional, indisciplina, violência, enfim na falta de sentido e significado dessa escola para esses jovens. Assim, em meio a toda complexidade - que envolve a educação escolar, o jovem aluno e a sua cultura, a estrutura econômica, política e social de um país - nos deparamos com uma escola que passa por uma crise de legitimidade. Para Fanfani (2003, p. 11) “los ‘problemas de la educación media tienem efectos ciertos e inmediatos sobre la vida de quienes los padecem em forma directa pero también se expresan em conductas y prácticas que muchas veces ponen en peligro la propia integración de la sociedad como un todo”. A história brasileira se constituiu e se constitui dentro dessa lógica e a escola de educação básica, apesar das conquistas, não se furta a tudo isso, enfrenta hoje uma forte crise, cuja expressividade se encontra no ensino médio com 1,6 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, 25,5% dos jovens nessa faixa de idade se encontram no ensino fundamental e apenas 52,2% dos jovens estão na etapa de ensino apropriada para a sua idade, e mais ainda, parcela significativa destes, em torno de 60% o fazem em condições precárias (Censo Escolar/2012). Exemplo clássico de negação da cidadania e de afirmação das desigualdades de condições e oportunidades para milhões de jovens do Brasil. 206 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Dentro desse contexto, constatamos que pesquisar e estudar sobre o ensino médio significa incluir, essencialmente, nesse estudo a juventude, quando parte significativa da população jovem se encontra dentro da escola média que, por sua vez, é um ambiente de convívio social para o jovem, espaço de reafirmação das identidades e diferenças. Para Spósito (2010), a questão escolar atravessa todos os jovens, ela está posta para todos, ou na sua ausência, na sua recusa, no seu desejo ou expectativas. Os números corroboram, nesse sentido, quando o nosso país é formado por um grande contingente de jovens entre 15 a 17 anos37, totalizando 10.561.243. Desses, apenas 5.490.418 se encontram no ensino médio regular. Onde estão os outros jovens? Muitos dependem do emprego ou subemprego para a sobrevivência, outros estão desempregados e sem recursos materiais para frequentar a escola, portanto, não estudam, outros, por defasagem idade/série encontram-se no ensino fundamental, e parcela relevante na educação de jovens e adultos, e assim aos “trancos e barrancos” vem se arrastando o ensino médio da escola pública brasileira. Esse quadro se agrava, ainda mais, na medida em que os jovens das camadas populares, praticamente, só encontram acesso aos estudos sistematizados por meio da instituição escolar. Atualmente, muito se discute sobre as dificuldades pelas quais vêm passando o ensino médio no Brasil, suas políticas norteadoras e a constituição da sua identidade, o que não deixa de ser uma questão crucial quando se trata da última etapa da educação básica destinada à população jovem, segmento etário que exerce um papel relevante na configuração do país. Muitas vezes chega a se falar que o ensino médio perdeu a sua identidade, no entanto, o que constatamos perante os estudos que vimos realizando é que a escola secundária sempre apresentou indefinições quanto à sua identidade, com permanentes tensões entre a formação profissional e a preparação para a universidade. Para Nosella (2011, p. 1054), “sua dualidade, escola secundária para dirigentes e profissional para preparar os quadros do trabalho, é antiga e ainda hoje perdura, apesar dos muitos ‘esforços’ para superá-la ou para dissimulá-la”. Imprecisões que se tornaram mais arrojadas com o chamado processo de universalização da escola média que colocou para dentro da escola um grande contingente de jovens alunos, provenientes das camadas populares com um perfil diferente daquele de “aluno ideal”, até então. Enfim, são muitas as razões que explicam o debruçar, nos tempos atuais, para a escola de ensino médio, não somente no Brasil, mas em toda a América Latina. As diversas mudanças socioeconômicas, tecnológicas e culturais da contemporaneidade, o novo modelo de globalização, as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, geraram fortes impactos teóricos e práticos ocasionando as reformas educacionais (BRASIL.INEP, 2010). Dentre as questões que se impõem, diante do exposto, destacamos aquelas que se referem à fundamental compreensão da juventude considerando que é nesse contexto que as políticas públicas de modo geral e a escola de ensino médio, de modo particular, necessitam pensar e reconhecer os jovens e as jovens alunos/as nas suas especificidades e identidades. OS NÚMEROS DO ENSINO MÉDIO: EM BUSCA DE COMPREENSÃO Para Frigoto (2009), o ensino médio tem “rosto definido”. Ou seja, o número de matrículas na rede pública de ensino, prioritariamente, na rede estadual é um tanto expressivo, o que se traduz a partir de um percentual de jovens provenientes das camadas populares. Trata-se, portanto, dos jovens filhos dos trabalhadores assalariados/as ou que produzem a vida de forma precária, que muitas vezes não encontram sentido e significado na escola de ensino médio, principalmente quando trabalham. Vejamos no gráfico n.º 01: 37 Fonte: IBGE/Pnad – Elaboração: Todos Pela Educação. As estimativas levam em consideração a idade em anos completos em 30 de junho, ou idade escolar. 207 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Gráfico n.º01 - Ensino Médio / 2011 Matrículas por Dependência Administrativa Fonte: MEC/Inep/DEED Podemos constatar que dos 8.400.689 jovens estudantes (15 a 17 anos) matriculados no ensino médio regular - 85,5% desse total estão na rede pública de ensino (7.182.888), 12,2% em instituições privadas (1.022.029), e as escolas municipais (80.833) e federais atendem pouco mais de 2%. Para Frigoto (2009, p. 26), “sob o ponto de vista dos sujeitos e as escolas que frequentam temos, como consequência, vários ensinos médios”. Em continuação aos dados apresentados, de acordo com o INEP/2011, verificamos que o Ensino Médio apresenta uma distorção idade/série em média de 31,8% para as escolas públicas, correspondendo a 36,5%, 37,2% e 21,6%, para as escolas estaduais, municipais e federais, respectivamente. Os desafios que se colocam para o ensino médio nas últimas décadas são diversos. Um dos grandes desafios pode ser identificado numa das metas do PNE (2011-2021): universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final da sua vigência a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%. Nos tempos atuais, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad/2011) do IBGE, cerca de 80% dos jovens de 15 a 17 anos se encontram matriculados na escola, contudo, pouco mais da metade se encontra no Ensino Médio, ou seja, na etapa apropriada da trajetória escolar para essa faixa etária. Para Krawczyk (2011), a tão declamada expansão do ensino médio não pode ser caracterizada, ainda, nem como processo de universalização, tampouco democratização, afinal, parcela significativa de jovens permanecem fora da escola, as matrículas, nos últimos anos estão apresentando uma tendência de declínio e, a evasão e reprovação continuam apresentando elevados índices. A tabela de n.01 traz dados que revelam significativas características do ensino médio. 208 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela nº01: Taxa Líquida de Matrícula no Ensino Médio – Brasil – 1995/2010 População Matrícula Alunos com Alunos de 15 Taxa de 15 a 17 no Ensino mais de 17 Ano a 17 anos Líquida anos (x Médio (x anos (x 1.000) (%) 1.000) 1.000) (x 1.000) 1995 10.163 5.374 2.388 2.804 23,5 1999 10.395 7.769 3.388 4.290 32,6 2000 10.702 8.192 3.565 4.561 34,4 2005 10.646 9.301 4.687 4.261 45,3 2006 10.424 8.906 4.723 4.093 47,1 2007 10.262 8.369 4.539 3.643 48,0 2008 10.289 8.272 5.222 2.956 50,4 2009 10.399 8.337 5.175 3.010 50,9 2010 10.357 Fonte: MEC/Inep 8.357 5.474 2.883 52,0 Nos anos de 1995 a 2005 ocorre um grande processo de expansão das matrículas, ao mesmo tempo em que de 2006 a 2010 esse volume começa a apresentar sensíveis declínios. O Censo da Educação Básica/2012 aponta um decréscimo de 0,3% nas matrículas de 2011 para 2012. Os fatores que levam a essa queda nas matrículas são muitos. O próprio processo de expansão foi realizado em meio a baixos investimentos, gerando, portanto, impactos negativos na qualidade educacional, isto sem falar nos novos contingentes da população que antes não se encontravam na escola. Para Corti (2010), não é à toa que o ensino médio cresceu basicamente aproveitando a infraestrutura do ensino fundamental. Em continuação, a autora, afirma que se avançou no direito à educação, mas não se avançou na garantia dos direitos sociais. Assim, as desigualdades sociais vão para dentro da escola suscitando novos embates e tensões. Ainda, recorrendo à tabela de n.º 01 podemos perceber que, no decorrer dos anos, houve uma ampliação da taxa líquida de matrícula, no entanto, 4,9 milhões de jovens em idade adequada à escola média não estavam nela. Os números evidenciam que parcela significativa dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos não se encontra matriculada no ensino médio. Indicam que a população de jovens de 15 a 17 anos corresponde a 10.357 milhões: a matrícula no ensino médio corresponde a 8.357 milhões, sendo 5.474 milhões de jovens entre 15 a 17 anos e 2.883 milhões com mais de 17 anos. Se observarmos atentamente os dados que compõem a tabela, nesse aspecto, poderemos perceber que o número de alunos com mais de 17 anos no ensino médio, ainda é muito grande. Os números, por si só, revelam que os problemas da escola brasileira vão se acumulando nas etapas escolares e, por fim, se desembocam no ensino médio, agravando, mais ainda, o fosso da escolarização. Para Simões (2012), há um escândalo no ponto de vista quantitativo do acesso, mas, o maior escândalo é aquilo que nós estamos fazendo no projeto de escolarização para esses jovens que acessaram a escola. Para o autor, o Brasil foi um dos países que mais retardou o direito à educação como direito real das pessoas. Dessa questão podemos extrair a lição de que muitos dos dilemas que enfrentamos hoje no ensino médio têm forte relação com a história da educação no nosso país. Os dados do IBGE/Pnad (2011) revelam que 15,1 % de jovens de 15 a 17 anos se encontram fora da escola e elevado contingente desses jovens está no ensino fundamental, aproximadamente 3,0 milhões. A tabela de n.02 se propõe a apresentar em números o “destino” desses jovens. 209 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Tabela nº 02 Onde estão os jovens de 15 a 17 anos 2011 ETAPA DE ENSINO % POPULAÇÃO Ensino Fundamental 2.690.137 25,5% Ensino Médio 5.490.418 52,0% 16.007 0,2% Alfabetização de Jovens e Adultos 141.382 1,3% Educação de Jovens e Adultos – Fundamental Educação de Jovens e Adultos – Ensino Médio 27.371 0,3% Ensino Superior 144.250 1,4% Pré-vestibular 27.110 0,3% Não estudam e não concluíram o Ensino Médio 1.593.866 15,1% Não estudam, mas concluíram o Ensino Médio 430.702 4,1% TOTAL 10.561.243 100% Fone: IBGE/Pnad – Elaboração: Todos pela educação. Nota: As estimativas levam em consideração a idade em anos completos em 320 de junho ou idade escolar. Dentro dessa cadeia numérica verificamos que, independentemente das políticas públicas desencadeadas nos últimos anos, os jovens estão indo embora do ensino médio ou vem se arrastando em etapas anteriores ao ensino médio. Os elevados índices de evasão, conforme tabela n.02 (1.593.866 jovens não concluíram o ensino médio) e as altas taxas de abandono e repetência, conforme gráfico nº 02 retratam essa questão. Gráfico nº02 - Fluxo – Taxas de Aprovação, Reprovação e Abandono no Brasil Ensino Médio – Total – 2011 Série1; APROVAÇÃO; 77,40% Série1; REPROVAÇÃO; 13,10% Série1; ABANDONO; 9,50% Fonte: MEC/Inep/DEED Os números acenam que a escola de ensino médio no Brasil está pedindo socorro. Um grande contingente de jovens alunos está se divorciando do ensino médio, muitos nem concretizam o “casamento”, outros, com as suas entradas e saídas colaboram, por demais, com a distorção idade/série. Em outras palavras, o ensino médio não atende aos desejos, anseios e possibilidades de parcela significativa dos jovens que aspiram, entre outros, inserção no trabalho. 210 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Para Frigoto (2009), pouco mais da metade dos jovens que tem direito ao ensino médio o estão frequentando, desse grupo, apenas 25% estão na idade apropriada e os demais frequentam com idade defasada, proveniente das repetições e interrupções. Cabe destacar, ainda, que mais de 50% fazem o Ensino Médio no turno noturno e parte significativa na Educação de Jovens e Adultos. Assim, sem deixar de considerar as particularidades desse universo, para o autor, esses jovens, filhos dos trabalhadores, residem, em sua maioria, em bairros populares ou favelas das médias e grandes cidades do Brasil. Nesse cenário, corroboramos com Oliveira (2010), ao ressaltar que mesmo diante das grandes conquistas no acesso escolar, a não permanência do jovem aluno continua a ser um problema muito grave que exige um debruçar sobre a escola média brasileira. Podemos reconhecer, também, que muitos dos jovens alunos apresentam um insatisfatório desempenho na escola de ensino médio. O IDEB 38 , indicador de qualidade que articula fluxos (taxa de aprovação) com proficiência (nota média padronizada no SAEB39) ao procurar fornecer um parâmetro para a escola média brasileira, traz para o contexto de análise problemas diversos a serem enfrentados, como: a grande defasagem do ensino médio em termos de qualidade e a não permanência do aluno nessa escola. No gráfico n.º 03 podemos acompanhar a evolução desse indicador nos anos de 2005/2007/2009 e 2011, considerando que a média nacional estipulada pelo MEC para ser alcançada em 2022 é 5,2. Gráfico nº: 03 - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) - Ensino Médio – Escola Pública – Brasil Série1; 2005; 3,10% Série1; 2007; 3,20% Série1; 2009; 3,40% Série1; 2011; 3,40% Fonte: MEC/Inep As questões postas, dentre outras, remetem à relevância desse estudo nos tempos atuais, acenando para a definição de políticas referentes à universalização do ensino médio com qualidade social, que se atente para as especificidades dos/as jovens alunos/as. 38 39 Indíce de Desenvolvimento da Educação Básica Sistema de Avaliação da Educação Básica 211 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 9394/96. Diário Oficial da União, Brasília, dez/1996. BRASIL. Ministério da Educação. Conferência Nacional de Educação (CONAE). Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educaçao, diretrizes e estratégias. Documento Final. 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ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: ENEM E O CONTROLE SOCIAL NO BRASIL Joana D´Arc Ferreira de Macedo – UFAL Elione Maria Nogueira Diógenes - UFAL RESUMO Nesse trabalho discutimos a perspectiva histórica do Brasil dos lampejos finais do século XX, as mudanças no contexto das políticas públicas de educação. Enfatizamos a inserção do país no recémcenário de democratização política. Realizamos uma abordagem sobre as dimensões conceituais do neoliberalismo como doutrina econômica norteadora da reforma do Estado brasileiro. A partir dessas informações é possível compreender as concepções e abordagens da interseção que há entre a política educacional e a política social e como o Estado exerce o controle social sobre a sociedade. Também esclarecemos como a sociedade entende essas políticas públicas regulatórias através do discurso do governo, o modo como elas são apreendidas por essa mesma coletividade e como esses programas públicos agem nesse contexto social para o controle dos processos políticos, econômicos, educacionais e sociais. Palavras-chave: Neoliberalismo. Políticas Públicas. Enem. 212 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 1. A FORMAÇÃO (NEO) LIBERAL “A essência humana é a verdadeira comunidade humana”. (Karl Marx) O jornalista baiano Sebastião Augusto de Sousa Nery 40 , em seu site (coluna política), escreveu o artigo “Depois do Muro”, em que afirma: A “globalização”, esse novo Império Romano comandado pelos Estados Unidos, todo mundo já sabe o que é: um novo sistema financeiro internacional, dirigido pelos banqueiros, a serviço da especulação e dos lucros brutais. Resta saber o preço a ser pago por cada país. Nesse sentido, precisamos entender o real significado do que se passou a chamar de “globalização”, relacionando-a com os dois mais importantes acontecimentos históricos do século XX: o fim da “Cortina de Ferro” e a queda do “Muro de Berlim”. O primeiro se refere à expressão utilizada para designar o domínio autoritário da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e seus estados secundários após a Segunda Guerra Mundial sobre os países do leste europeu. O segundo alude ao período da construção de um obstáculo físico construído pela República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) para estabelecer a separação da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental) no período da Guerra Fria 41. Este período é marcado por uma “agitação silenciosa” entre Oriente e Ocidente. O medo de uma guerra nuclear entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos representava o pano de fundo de muitos debates políticos, econômicos. Nesse cenário, o capitalismo segue expandindo-se para o bloco comunista. O fenômeno da globalização impõe um modelo de vida baseado no consumo e no imperialismo norte-americano, que pretende impor seus modelos de vida, cultura e economia a todos, seja através do cinema, da propaganda, da música ou mesmo através dos padrões de sociedade transmitidos ao mundo por seu governo. Tais mudanças são legitimadas pela difusão midiática. Quando o Brasil adentra as últimas décadas do século XX, o mundo, em dado sentido, se fazia (neo) liberal. Entretanto, o “novo” liberalismo não é, em si, “novo”: determinados termos, em momentos específicos sócio-históricos e dependendo de quem os atribui e por quem são recebidos, podem causar impactos distintos. No caso em particular do termo “novo” agregado à outra nomenclatura já existente, assinala uma alteração de sentido; nesse caso, se move com o inconsciente do ser, cria-se uma expectativa de preenchimento para as suas abstrações, ou seja, as condições de produção do discurso é que irão estabelecer seu sentido real. Com todas essas contradições político-sócio-econômicas, os indivíduos buscavam a liberdade de ação e o fim da intervenção do Estado na economia. Estes direcionamentos foram reconhecidos por Adam Smith (1723-1790) como o princípio da “mão invisível”, ou seja, a sociedade seria de certo modo independente para atuar na economia sem nenhum órgão regulador. A “mão invisível”, expressão criada por Smith, que servia como reguladora da economia de mercado, agiria como uma espécie de “entidade” abstrata que os componentes de grupos monopolistas a usavam como guia para atuar no mercado econômico junto a um Estado intervencionista. Neste sentido, os homens são guiados pela “mão invisível”. Contudo, se a sociedade é formada por seres totalmente heterogêneos, não há como encontrar interesses comuns; 40 Nascido em Jaguaquara, Bahia, em 08 de março de 1932. Atualmente escreve uma coluna diária publicada em jornais de 20 estados; programa de TV na “Rede Minas”, conferencista e escritor. Disponível em: <http://www.sebastiaonery.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2012. 41 Conflitos indiretos entre os países Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que lutavam por suas independências e preservações político-sócio-econômico-tecnológicas no período compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial até o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. 213 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades enfim, é preciso certa uniformização. Parte dessa constatação é o início de uma crise que já se organizava desde a invenção da “mão invisível”. É, pois, relevante enfatizar que o liberalismo tem, de fato, sua ascensão a partir da metade do século XIX. Chegamos ao século XX com novas formas de relações sociais, determinadas pelas novas estruturas de divisão do trabalho. A saída encontrada para essa crise configurou-se na intervenção político-econômica do Estado. Ele se ausenta do papel de “mediador de conflitos” e passa a atuar na condição de executor. Teixeira (1998, p. 212) esclarece que a partir daí surge “[...] um novo sistema de produção: o ‘modo social-democrático de produção’[...]”. Esse modelo de produção estabelece como período áureo aquele compreendido a partir da Segunda Guerra Mundial até meados da década de setenta. O referido modelo (TEIXEIRA, 1998) foi utilizado pelo professor Francisco de Oliveira42 para expressar a teoria da regulação43 como instrumento que desregula a economia em retorno ao modelo (neo) liberal. Dessa maneira, o filósofo francês Louis August Paul Rougier (1889-1982), em agosto de 1938, organizou em Paris um encontro, denominado Colloque Walter Lippmann, com vários intelectuais para ressuscitar o liberalismo clássico. A partir daí os referidos intelectuais propõem a recriação do liberalismo. Surge, então, pela primeira vez o termo (neo) liberal através do sociólogo e economista alemão Alexander Rüstow (1885-1963). A essência da teoria (neo) liberal está na reconfirmação de que o mercado é a forma exclusiva de obter a liberdade política, pois, segundo seus teóricos, todos os indivíduos nascem com determinadas ausências que os acompanhará até a morte. No decorrer da vida desse indivíduo, ele buscará alguma forma particularizada de satisfação e, ao contentar a si, estará de certo modo contentando a sociedade através de um acordo político, ou seja, essa satisfação só será completa pela intervenção do mercado. Dessa forma, cada indivíduo é o próprio responsável pelo cumprimento de sua satisfação, daí a ideia de intervenção mínima do Estado na vida de cada indivíduo, pois este deve ser o executor da sua própria realização pessoal. Oliveira (1998, p.238) analisa que em tal teoria “Cada indivíduo se serve do outro para satisfazer a si próprio”. Esta afirmativa se reporta ao princípio da equivalência e alega que a sociedade se fundamenta na relação de troca de mercadorias. São as trocas das mercadorias que fazem fluir essa sociabilidade entre os indivíduos. Os valores atribuídos às mercadorias irão delimitar suas relações de respeito mútuo. Para que haja uma relação ética, devem existir elementos para a solução dos dilemas mais comuns do indivíduo, devem existir discernimento e opção de escolha por parte desse indivíduo. Concluindo, a doutrina (neo) liberal não oferece à sociedade condição para uma reflexão do real, mas apenas as ditas “vantagens e gozos” que essa comunidade irá usufruir, velando, através desse mecanismo, as frustrações dessa coletividade, por isso o neoliberalismo é uma doutrina que traz em sua elaboração um conjunto de ideias políticas e econômicas a favor dos grandes capitalistas e que retira do Estado o seu poder governamental direto sobre a sociedade, tornando o Estado gerenciador das crises que ele próprio atravessa. 2. ESTADO, POLÍTICA SOCIAL E POLÍTICA EDUCACIONAL Para o melhor entendimento das políticas públicas voltadas à educação e o seu entrelaçamento com a política social, faz-se necessário imergir no campo das abordagens sobre Estado, política, relações entre o público e o privado. Esclarecemos que há uma diferença entre políticas públicas e políticas sociais, mas não uma dicotomia. As que pertencem ao segundo grupo 42 Professor titular da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/6590387040032117>. Acesso em: 23 mar. 2012. 43 Teoria econômica que defende a minimização dos aspectos coletivos e sociais da economia e rechaça a perspectiva histórica assim como a possibilidade das transformações estruturais. Em outras palavras: a ideia é justificar a supremacia da economia em detrimento da justiça social. 214 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades são as da educação, cultura, saúde, saneamento, habitação, assistência social e segurança. De outro lado, as políticas públicas são consideradas como a totalidade da ação do Estado no campo societal. Toda política social é uma política pública de Estado, mas nem toda política pública é uma política social. Portanto, há uma relação direta entre a ação do Estado e o estabelecimento de políticas públicas de corte social (DIÓGENES, 2011). Importa entender o papel do Estado para realizar as análises procedentes envolvendo este e as políticas de corte educacional. A teoria marxiana do Estado tem como fundamento o fato de que o mesmo não se desenvolveu apartado das relações de produção. Em verdade, o sociometabolismo do capital é mantido pela dupla trabalho e Estado, que são entre si contraditórios (ANTUNES, 2009). Por sua vez, tais contradições dificilmente serão rompidas no cenário atual. Neste sentido, há certa valorização da estrutura material representada pelo capital e seus antagonismos com os interesses do trabalho mediados pelos agentes personificados do Estado. Todo esse processo gera uma crise no Estado denominada de “crise de legitimação”, também é conhecida como “crise fiscal do Estado”. Desse modo, o Estado se vê incapacitado em seu comando político, desarticulado para lidar com as situações conflitantes que o capital exige e também impossibilitado de gerir a força de trabalho explorada pelo sistema. A crise social está consolidada a partir da engrenagem entre os interesses do capital e da inabilidade do Estado para lidar com essas situações antagônicas. O objetivo aparente da política é resolver os problemas gerais da sociedade, porém só consegue resolver alguns problemas pontuais. Aciole (2006, p. 44) afirma que, quando muito, caberia ao Estado “[...] regulamentar o mercado, mas não a ponto de impedir que este viceje e consolide”. O mesmo autor ainda assegura que, apesar de o termo “público” estar ligado à coletividade, não se deve ter tal pensamento de dissociação entre público e privado, pois, desse modo, estaríamos corroborando o pensamento liberal. A compreensão de ambos os termos, público e privado, é imprescindível. Não há como entender um sem entender o outro. Observa-se, então, o paradoxo entre os dois termos: um ligado ao mercado (econômico) e outro, ao estatal (política). Os debates dos programas de renda mínima que foram priorizados no contexto político de vários países, a partir das décadas de 1980 a 1990, e como esses programas favoreceram o controle dos processos políticos, econômicos, educacionais e sociais. A organização sobre as redefinições do Estado de Bem-Estar Social e as suas políticas de caráter universalizante que partem dos chamados países centrais, aqueles que detêm o comando das organizações capitalistas, surgiram com mais intensidade após o aparecimento da chamada nova pobreza44. Com essa estrutura gera-se a precarização das relações de trabalho, o aumento do desemprego e a regulação da pobreza, que se encontra inserida e representada nos programas compensatórios de renda mínima para os mais carentes economicamente. Tais programas também contemplam investimento mínimo em educação e saúde. Pela via dessa sistemática, percebe-se que se trata de um processo para regulamentação da sociedade nos padrões apropriados aos interesses do capital. Os programas sociais de subsídio de renda no Brasil são dirigidos às populações extremamente pobres ou miseráveis e, ao mesmo tempo, acoplados às políticas de saúde e educação. Ferreira (2009, p. 256-257) assegura que: Uma análise geral dos programas e projetos implantados no período nos revela a preocupação do governo em diminuir o chamado “custo Brasil”, privatizando empresas estatais e regulando os serviços sociais de forma que passaram a focalizar uma parte da população “em risco social” e, no caso da educação o critério foi o cumprimento da formação básica para a população de 7 a 14 anos (entendida como domínio da leitura, 44 Oliveira & Duarte (2005). 215 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades escrita e primeiros números) como necessidade para uma colocação no mercado de trabalho. Esse processo de associação entre a carência financeira (da maior parte da população) à oferta de serviços educacionais é relevante, pois fica nítido o interesse dos órgãos internacionais que defendem os interesses do capital com a promoção de programas que aumentem o capital cultural da população por meio do ensino oficial. Assim, a regra geral dos organismos internacionais configurou-se em articular e programar a educação nos países periféricos, principalmente aquela que é voltada à formação do trabalhador. Por meio dessa estratégia é indicado, pois, uma intencionalidade no que diz respeito ao controle social dessa população, formando indivíduos reprodutores da ideologia dominante, acríticos e apenas voltados para o mercado de trabalho. Desse modo, é alterado o veio filosófico da educação: a educação emancipatória é rechaçada em prol de um certificado para a comprovação da escolaridade exigida pelo sistema. Com isto, o sistema escolar na fase (neo) liberal está contribuindo para a formação de indivíduos acríticos e alienados. No Brasil a política social é submetida à política econômica, que contribui no sentido da manutenção da pobreza. Tal situação permanece por meio da adoção de medidas paliativas, através de programas assistenciais de caráter focalizatório (e compensatório), que silenciam e camuflam a realidade social. Draibe (1997) apud Oliveira e Duarte (2005) intitularam de “Receituário das mudanças na área social” uma ideia clara e categórica que expõe um diagnóstico das reformas das políticas sociais e dos programas sociais em sete países da América Latina, elucidando o que é necessário para que essa transformação ocorra: a) ajustes fiscais que facilitariam os ajustes macroeconômicos e que trariam o empobrecimento da população, recessão sobre o emprego, renda e redução dos serviços sociais; b) pobres e vulneráveis são alvos estratégicos da reforma social; e c) programas de caráter produtivo, investimento em capital humano. É importante observar que os homens, como seres sociais, desenvolvem suas atividades conforme as configurações históricas, que são a um só tempo educacionais e culturais. Mas são esses mesmos seres que formam a estrutura social e o Estado, em determinadas condições de produção. Marx (2010, p. 21) afirma que “o Estado encontra a sua razão última de ser, a sua essência, na sociedade civil e expressa essa razão de ser. E que, nesse sentido, nenhuma inversão é possível”. Não é a consciência que determina a vida em sociedade, porém a vida é que determina a consciência, daí a linguagem perpassa a consciência, e o grau de consciência corresponde ao desenvolvimento social de uma dada civilização. Em Marx (1993) o processo de emancipação restitui ao mundo humano a igualdade do ser livre de opressão nas relações humanas e ao próprio homem restitui sua autonomia. Ainda encontramos em Marx que “A essência humana é a verdadeira comunidade humana” (op. cit., p.2728). Ou seja, com a alteração da raiz da sociedade civil. Portanto, não há como entender a realidade socioeducacional brasileira sem o devido entendimento da relação entre política social e educação, como forma de (re) produzir as condições do mercado de trabalho nas artes, cultura, economia, política, enfim todas as manifestações sociais dependentes intrinsecamente e ontologicamente do conhecimento. Krawczyk e Vieira (2008) colocam a necessidade da implantação das “reformas” educacionais, no momento em que se instala a iminência de crise do capital (interior ou exterior), afetando o sistema educacional. Krawczyk e Vieira afirmam que a “[...] consequência da fetichização da necessidade do conhecimento instrumental [...]”. Tem-se, pois que tal reforma é: “[...] apresentada à sociedade como estratégia necessária para racionalizar os investimentos e a gestão pública, e não como a finalidade última do projeto de desenvolvimento neoliberal” (KRAWCZYK e VIEIRA, 2008, p. 16). O que podemos constatar é que a própria sociedade não tem uma definição clara do que é política social, que se apresenta à população de um modo não esclarecedor: um discurso camuflado 216 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades de uma visão progressista, mas contraditório para tal acepção, pelo fato de que se fica apenas no discurso, com ações que vão estabelecendo uma direção inteiramente inversa. Desse modo, “educação pobre para o pobre” é a melhor forma de evitar que o discurso (neo) liberal seja compreendido em sua essência. A coletividade absorve tais políticas, devido aos modelos culturais e estruturais passados à sociedade e que nela se impregnam. Faleiros (1991, p.14) afirma que “A ideologia da colaboração está ligada à proteção social”. 3. ENEM: FORMULAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E DISCURSO A partir da terceira LDBEN se originou as reformas da educação brasileira. A primeira versão do exame foi realizada no período de 1998 a 2008 era anual, sempre com data específica anunciada previamente pelo MEC. O mesmo exame, tanto no período inicial – 1998 a 2008 – como a partir de 2009, é também de interesse para as pessoas que desejam auferir pontos para o Programa Universidade para Todos (PROUNI). Por meio dos resultados, o MEC utiliza o ENEM como critério para a distribuição de bolsas de ensino, parcial ou total, em instituições privadas de ensino superior. A partir de 2009, o ministro da educação Fernando Haddad apresentou a proposta para unificar o vestibular das universidades federais com o modelo de prova intitulado (novo) ENEM. O argumento do MEC para a unificação do vestibular baseou-se na questão da locomoção dos estudantes, possibilitando ao candidato a escolha do lugar onde gostaria de estudar. Além disso, o MEC afiançou que este modelo de exame unificado, desenvolvido com base em 21 habilidades e 4 competências definidas como modalidades estruturais da inteligência dos estudantes. O exame traria a possibilidade de consolidar no currículo escolar conteúdos mais relevantes, também seria importante para definir a política educacional, o conteúdo a ser ministrado no ensino médio, bem como, a autoavaliação desse nível. A avaliação tem autonomia para certificar a conclusão do ensino médio em cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), antigo supletivo, substituindo o Exame Nacional para Certificação de Jovens e Adultos (Encceja) para pessoas maiores de 18 anos. Dá acesso ao ensino superior nas universidades brasileiras que aderiram ao novo ENEM como forma parcial ou total de seleção. Cada universidade 45 também pode aquiescer ao Sistema de Seleção Unificado (SISU). Salientamos que as primeiras mudanças que ocorreram a partir da LDB 9394/96 vieram efetivar um processo formativo inspirado em modelos pensados pelos intelectuais transnacionais e nacionais, como novo projeto de sociedade que visa construir um saber técnico voltado para a formação de profissionais qualificados para a construção capitalista e mercadológica (DIÓGENES, 2010; LEITÃO, 2010). Isto corrobora as intenções de órgãos internacionais que desejam sancionar a cultura globalizada e capitalista. Diante dessas afirmações, surge o seguinte questionamento: a partir de que visão de sociedade o contexto geral do (novo) ENEM, nos seus sete objetivos, vislumbra uma avaliação, capacitação e certificação dos diversos níveis educacionais? Indagamos se este documento proporciona uma visão de educação emancipadora 46 ou um diagnóstico de um conhecimento operativo. Orlandi (2003) estabelece que a linguagem é o lugar em que a ideologia se manifesta. A linguagem instaura a realidade, animando as coisas inertes, fazendo ver o que ainda não é, e trazendo de volta o que desapareceu. Linguagem, portanto, é discurso: articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos. É produção humana, social. Segundo Pêcheux (1997, p. 15): “a região do materialismo histórico que interessa ao estudo do discurso é a da superestrutura 45 Criado pelo MEC em 2009 no sentido de promover a seleção unificada dos candidatos às vagas das instituições públicas de ensino superior com base na nota do ENEM. 46 Conforme o pensamento de Marx (1993) que coloca a emancipação como condição primeira das relações sociais e da liberdade humana. 217 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ideológica ligada ao modo de sua produção dominante na formação social considerada”. Assim, para o referido autor, o local da ideologia deve ser assinalado por uma materialidade específica articulada sobre a materialidade econômica. O discurso é, assim, o observatório da relação língua/ideologia. É na história, na produção de acontecimentos que os sentidos e os sujeitos se constituem, segundo um imaginário que os afeta em suas posições políticas. Daí se observa que a ideia central em toda averiguação discursiva é a de salientar as formas como os sentidos se constroem, regulam e controlam o conhecimento, as relações sociais e as instituições, e examinar as formas como as pessoas utilizam ativamente a linguagem na construção do significado da vida cotidiana, revelando como o enunciador conduz suas crenças e os valores com os quais se identifica. Quando pronunciamos um discurso, agimos sobre o mundo, marcamos uma posição – ora selecionando sentidos, ora excluindo-os no processo interlocutório. Na ótica da Análise do Discurso, a linguagem não é um simples instrumento de comunicação ou de transmissão de informação. Ela é mais do que isso, pois também serve para não comunicar. A linguagem é o lugar de conflitos e confrontos, pois ela só pode ser apanhada no processo de interação social. Não há nela um repouso confortante do sentido estabilizado. Assim, é nesta perspectiva que adentramos este campo sutil. Não nos cabe aqui fazer julgamento, entretanto não é possível imergir no discurso sem uma profunda e radical compreensão da realidade no que diz respeito à formação social, econômica, política e cultural desta mesma realidade. Estamos lidando com uma tarefa investigativa que nos coloca o discurso, a linguagem e a prática como construções de mediação do real. REFERÊNCIAS ACIOLE, G. C. A saúde no Brasil: Cartografia do público e do Privado. São Paulo, Hucitec, 2006. ANTUNES, Ricardo. Apresentação. In: MÉSZÁROS, István. Para Além do Capital. São Paulo, Boitempo, 2009. 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As lutas pela ampliação dos direitos humanos e a universalização do ensino trouxeram mudanças no conceito de direito a educação. Este passou a ser “direito do cidadão” e “dever do estado”. Essas idéias foram concretizadas em documentos oficiais nacionais e internacionais que explicitaram as concepções e embasaram as sucessivas mudanças na legislação brasileira. Considerando a trajetória das políticas, o presente estudo se propõe a mapear as tendências na evolução das matrículas de alunos com deficiências e necessidades especiais no município de Campinas, SP, no período compreendido entre 2007 e 2012. Palavras-chaves: Educação Especial, História da Educação Especial, Inclusão. Introdução A educação especial no estado de São Paulo Nas primeiras décadas do século XX, a rede de ensino pública se expande para aumentar o atendimento escolar destinado ao público geral. Essa expansão ocorreu lentamente, em função principalmente das necessidades do desenvolvimento econômico do país, que precisava de mão de obra capaz de dar conta das demandas do trabalho industrial e urbano. Da mesma forma os serviços de educação especial cresceram lentamente. Jannuzzi (2004) aponta que até 1935, existiam apenas 22 instituições voltadas para alunos com deficiências físicas, sensoriais ou mentais. Apesar de que já nesta década, classes e escolas especiais começaram a funcionar na capital do estado de São Paulo, somente em 1966, a Lei 47.186/66 formaliza a criação do Serviço de Educação Especial no Departamento de Educação. A legislação que atualmente regula a educação especial no estado se baseia na legislação nacional (Constituição Federativa do Brasil, 1988; Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990; Lei 219 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996; Diretrizes para a educação especial na educação básica, 2001) e na legislação estadual que a partir da década de 1980 baliza as ações dessa modalidade (Decreto n° 23.131/84 que cria o Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Deficiente; Constituição do Estado de São Paulo, 1989; Indicação CEE 70/2007 CEB; Deliberação CEE 68/2007). Um conjunto de Resoluções da Secretaria de Educação do Estado normatiza o atendimento educacional na rede pública estadual, as ações inclusivas, o atendimento da demanda educacional, os apoios e recursos complementares, a formação requerida dos docentes, o transporte e a celebração de convênios com instituições especializadas, dentre outras 47. Região de Campinas No que se refere à história da Educação Especial na cidade, durante a década de 1970, a participação da Prefeitura Municipal de Campinas na educação especial consistia principalmente em ceder às Instituições Especializadas sem Fins Lucrativos, professores especializados em educação especial, então contratados em caráter de substituição, normalmente com vínculo temporário de um ano. Nesta época, as instituições de caráter privado eram as principais proponentes das iniciativas voltadas para o público deficiente. O Estado começa a atuar de maneira mais consistente a partir de 1985, quando a “Comissão de Entidades de e para Deficientes”, formada até então por entidades privadas como APAE, Pestalozzi e outras, passa a ter a participação das Secretarias Municipal e Estadual de Educação, da Câmara Municipal, sendo renomeada “Comissão Municipal de Integração do Deficiente – COMINDE”. Tal fato pouco modificou, no entanto, a dinâmica estabelecida entre o poder público e as Instituições Especializadas. (Joaquin, 2006) Na década de 90, assim como em âmbito nacional e estadual, há um grande aumento do número de atos legislativos voltados ao público deficiente. Ressalta-se que, ainda em 1989, é sancionada no município a Lei n° 6.134/89, que autorizava o poder executivo a criar salas de recursos e equipes itinerantes voltadas ao apoio educacional de pessoas com necessidades especiais. A Lei Orgânica Municipal, promulgada em 1990, constitui a base deste processo, ao instituir como princípio, a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. A Lei declara obrigatória a oferta de vagas aos alunos com deficiência no sistema público de ensino, tendo estes direito a matricula em escolas próximas às suas residências. O documento também prevê a construção de salas de recursos, classes especiais e centros profissionalizantes para o público deficiente, citando que tal estrutura servirá de apoio aqueles que não “não tenham condições de frequentar a rede regular de ensino”. Neste contexto e para atingir tais objetivos, as entidades privadas são consideradas parceiras estratégicas, o que caracterizará a posição oficial também na década seguinte. (Campinas, 1990) No final de 1993, a Secretária de Educação, através da Portaria nº 32/93 nomeia uma Comissão com o objetivo de redigir uma proposta contendo as normas mínimas de estruturação e funcionamento de um Programa de Educação Especial, visando à regulamentação da Lei nº 6134/8914 e dos convênios com as Instituições Especializadas sem Fins Lucrativos. Em 1994 é elaborado o “Programa de Ação Político-Pedagógico" e o Programa de Educação Especial é reconhecido como parte integrante da estrutura do Ensino Regular. (Campinas, 1993; Campinas, 1994) A gestão do governo municipal do ano de 1997 a 2000 é marcada pelo impasse relacionado à manutenção ou supressão da cessão de professores da rede pública às Instituições Especializadas sem Fins Lucrativos. Com a aprovação Lei nº 9635, os 48 cargos de professores até então cedidos, 47 Resoluções SE: 61, de 5-4-2002; 32, de 23-5-2007; 11, de 31-1-2008 e 31, de 24-3-2008; 86, de 28-11-2008; 38, de 19-6-2009; 72, de 9-10-2009; 70, de 26-10-2010 e 13, de 3-33-2011;; 15, de 14-3-2011; 27, de 9-5-2011; 54, de 12-82011; 77, de 6-12-2011; 14, de 7-2-2012; 70, de 29-6-2012 e 81, de 7-8-2012. 220 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades são transpostos para o cargo de Professor de Educação Especial e são criados 152 novos cargos. (Campinas, 1998) Ainda assim, em 2000, apenas 36 professoras de Educação Especial eram efetivas na rede municipal regular, uma vez que as outras professoras efetivas especializadas continuavam cedidas às Instituições privadas, persistindo a necessidade da contratação de muitos substitutos. (Joaquim, 2006) Em 2001 muda o modelo de Cooperação com as 15 Instituições Especializadas sem Fins Lucrativos que atuavam no atendimento às pessoas com necessidades educacionais especiais. A subvenção financeira substituiu a cessão de professores e estes foram reincorporados à Rede Municipal como Professores Itinerantes. Além disso, a SME propôs mudanças para o desenvolvimento do Programa de Educação Especial. Este passou a ser chamado de “Projeto de Inclusão de Portadores de Necessidades Especiais” e deixou de ter uma Coordenação Central, passando a organização do serviço aos NAEDS “Núcleos de Ação Educativa Descentralizada”, divididos nas regiões Sul, Sudoeste, Leste, Norte e Noroeste do Município. (Campinas, 2012) Em 2004, a Resolução SME/FUMEC Nº. 16, esclarece as responsabilidades do Professor de Referência, sistematiza o processo de escolha das unidades de atuação de cada profissional e autoriza os professores a se dedicarem com carga horária total – 30 ou 44 horas/aula – na respectiva função. Padilha (2009) constata que no ano de 2008, o município contava com 168 professores voltados ao atendimento educacional especializado, o que representa um grande acréscimo em comparação com os 36 professores especializados efetivos atuantes nas escolas públicas, registrados por Joaquin (2006), oito anos antes. Em julho de 2009 a Lei n° 13.642 altera os dispositivos da lei 10.869, de 29 de junho de 2001, que dispõe sobre o Repasse de Recursos Orçamentários da Secretaria Municipal de Educação às instituições privadas. Desta maneira a colaboração entre a prefeitura e estas instituições passa a ser em forma de convênios. Os repasses passam a ser trimestrais e os contratos a terem a validade de até 05 anos, sendo que até então, não havia um tempo máximo para a revisão dos contratos. Ao se estudar, nas últimas décadas, a organização e estrutura dos serviços públicos educacionais voltados ao público com deficiência no município, se percebe uma organização e expansão crescentes. Em paralelo, ocorre a legitimação do papel das entidades privadas, que, através do financiamento do Estado, mantêm uma serie de serviços complementares ao atendimento público. Objetivos Tendo em vista o quadro anteriormente delineado, o presente estudo visa a descrever a evolução das matrículas dos alunos com deficiências e necessidades especiais no ensino básico do município de Campinas nos anos de 2007 a 2012. Metodologia Trata-se de um estudo descritivo que utiliza os microdados do Censo Escolar (INEP) dos anos 2007 a 2012. As variáveis utilizadas para o recorte específico deste estudo foram os tipos de deficiência e a dependência administrativa das escolas. A análise está centrada na variação percentual das matrículas. Resultados e Discussão No período em análise houve alterações na legislação cujo alvo é a população com necessidades especiais do Estado de São Paulo. O reconhecimento dos direitos dessa parcela da 221 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades população se traduz em uma maior oferta de serviços que envolvem os setores de Educação, Saúde e Assistência Social. É interessante notar que a integração destas três áreas está prevista no estado de São Paulo desde 1991, no Decreto n° 33.823, e continua a ser articulada ainda em 2005 com a Deliberação n° 68 do Conselho de Educação Estadual (CEE). A criação e o aprimoramento do serviço de educação especial demandam investimentos e ações de várias naturezas (Estado de São Paulo, 1995; Deliberação do Conselho Estadual de Educação de 2007). No município de Campinas assim como no Estado como um todo há um aumento no número de pessoas com necessidades especiais que recebem algum tipo de assistência educacional. Isto resulta de uma crescente oferta de vagas nas escolas públicas, que passam a ter papel protagonista na educação do público com necessidades especiais. A média de matrículas de 2007 a 2012 nas escolas do município de Campinas foi de aproximadamente 255 mil alunos, sendo que quase 2% dessas matrículas correspondem aos alunos com deficiências ou necessidades especiais, ou seja, quatro mil alunos matriculados na rede de ensino necessitam de recursos específicos. Tabela 1. Matrículas no Ensino Básico por dependência administrativa: Estado de São Paulo Dependência 2007 % 2012 % Var% Administrativa 5.077.537 47,67% 4.601.365 42,39% -9,39 Estadual 3.879.983 36,43% 4.118.904 37,95% -6,16 Municipal 1.689.253 15,86% 2.124.519 19,57% 25,77 Privada 10.651.119 100,00% 10.852.826 100,00% 1,89 Total Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP. Censos Escolares - 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. Na tabela 1 se observa que entre 2007 e 2012, o número geral de matriculas se mantém praticamente estável, passando de 10.651.119 para 10.852.823 (Var% 1,89). A tabela 2 mostra uma variação significativa no número de matriculas de alunos com necessidades especiais tanto no estado de São Paulo como no município de Campinas. Tabela 2. Variação de matriculas de alunos com necessidades especiais no Ensino Básico por dependência administrativa: Estado SP e Campinas. Estado SP Campinas Dependência 2007 2012 Var% 2007 2012 Var% Estadual 44.527 68.571 53,99 1.063 1.835 72,62 Municipal 64.747 102.155 57,77 972 1.177 21,09 Privada 42.164 49.506 17,41 1.233 1.225 -0,64 156.443 220.270 40,79 3.268 4.237 29,65 Total Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP. Censos Escolares - 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. De acordo com a tabela 2, as matrículas de alunos com necessidades especiais aumentaram, no período considerado, de 156.443 para 220.270, caracterizando um aumento de 40,79%. Observase também que o maior crescimento concentrou-se nas escolas públicas estaduais e municipais, estas últimas participando em menor medida, apesar da municipalização iniciada em 1995. No que 222 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades diz respeito à participação das instituições privadas, as matrículas aumentam discretamente no estado, enquanto permaneceu estável no município. Tabela 3 Tipos de deficiência por dependência administrativa: Campinas DEFICIÊNCIA MENTAL Dependênci 200 200 a Adm /Ano 7 8 Var % 200 8 200 9 Var % 200 9 201 0 Var % 201 0 201 1 Var % 201 1 201 2 Var % Total Var% (20072012) 122,5 4 Estadual 457 654 43,10 654 108 1 38,51 108 1 116 8 8,04 116 8 958 17,97 958 101 7 6,16 Municipal 317 299 24,60 299 352 16,44 352 378 7,38 378 451 19,31 451 564 25,06 77,92 Privada 759 780 2,76 780 876 19,84 876 100 8 15,06 100 8 998 -0,99 998 952 -4,61 25,43 Total 153 3 173 3 13,04 173 3 230 9 24,64 230 9 255 4 10,61 255 4 240 7 -5,75 240 7 253 3 5,23 65,23 DEFICIÊNCIA FÍSICA Dependência 2007 2008 Adm /Ano Var% 2008 2009 Var% 2009 2010 Var% 2010 2011 Var% 2011 2012 Var% Estadual 123 135 9,75 135 187 38,51 187 244 30,48 244 267 9,42 267 292 9,36 Total Var% (20072012) 137,40 Municipal 129 152 17,82 152 177 16,44 177 216 22,03 216 221 2,31 221 252 14,02 95,33 Privada 115 131 13,91 131 157 19,84 157 278 77,07 278 177 36,33 177 190 7,34 65,22 Total 367 418 13,89 418 521 24,64 521 738 41,65 738 665 -9,89 665 734 10,37 100,00 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO Dependência Adm /Ano 2007 2008 Var% 2008 2009 Var% 2009 2010 Var% 2010 2011 Var% 2011 2012 Var% Total Var% (20072012) Estadual 192 287 49,47 287 476 65,85 476 406 406 255 243 -4,71 -46,83 254 240 -5,51 240 270 12,5 270 211 211 211 37,19 0 255 Municipal 211 200 -5,21 .36,91 Privada 126 130 3,17 130 147 13,07 147 96 96 65 76 16,92 -89,99 572 657 14,86 657 893 35,92 893 713 713 531 32,29 25,52 65 Total 14,70 21,85 34,69 20,15 531 519 -2,26 -85,34 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP. Censos Escolares - 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. Os tipos de deficiência que apresentam maior número de matrículas no Ensino Básico são: a deficiência física, a deficiência mental ou intelectual e os transtornos do desenvolvimento. Essas matrículas encontram-se distribuídas, em Campinas, entre as três redes (privada, municipal e estadual). Como podemos observar na tabela 3, houve um aumento de matrículas de alunos com deficiência mental e física em todas as dependências administrativas no período de 2007 a 2012. É importante ressaltar que houve um decréscimo no número de alunos atendidos pelas instituições privadas, especialmente entre 2010 e 2011. Considerando a variação percentual total no caso do público diagnosticado com transtornos do desenvolvimento, se dá uma diminuição do número total de atendidos em todas as dependências consideradas. 223 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Conclusão No contexto histórico delineado pelos documentos e leis que regulam a oferta de educação especial no estado de São Paulo e no município de Campinas, observa-se que o aumento das matrículas de alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino acompanha a tendência nacional, induzida pelas políticas inclusivas. O aumento das matrículas concentra-se, no período considerado, nas escolas estaduais, sendo que o atendimento em escolas privadas e municipais tem pouca variação em números absolutos. Nota-se que a legislação, mesmo com todas as mudanças que incorpora, tem preservado as prerrogativas das Instituições Privadas sem Fins Lucrativos e mantido as parcerias com essas instituições, que ainda respondem por aproximadamente um terço da demanda da educação especial no município. Assim, à medida que a legislação expande os direitos do alunado com deficiência, propondo, por exemplo, acompanhamento preventivo e interdisciplinar aos alunos com necessidades especiais, também abre espaço para legitimar a atuação da iniciativa privada, tanto no que diz respeito à provisão de serviços escolares ou complementares quanto à capacitação de servidores públicos. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília,1989. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9.394). 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CAMPINAS. Educação Especial na SME de Campinas. Secretaria de Educação. Departamento de Educação Especial. Disponível: http://www.campinas.sp.gov.br/governo/educacao/depto-pedagogico/educacao-especial/smecampinas.php. Acessado em: 28 de Setembro de 2012 JANNUZZI, G. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. Campinas. Autores Associados, 2004. JOAQUIN, G. A política de Educação Especial: Um estudo sobre sua implementação nas escolas municipais de campinas no período de 1989 a2004.215 f. Tese de mestrado (Mestrado em educação) - Faculdade de Educação, Unicamp,Campinas, 2006. LIMA, A. B; VIRIATO, E. O. As políticas de descentralização, participação e autonomia: desestatizando a educação pública. Trabalho apresentado na, 23ª Reunião Anual AMPED. Disponível em : http://www.anped.org.br/reunioes/23/trabtit1.htm#gt5. 224 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades MAZZOTA, J. S. M. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2003. PADILHA, A. C. Projeto político pedagógico e Educação Especial: ações, contradições e desafios à inclusão educacional na rede municipal de Campinas/ SP. Tese de mestrado (Mestrado em educação) - Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas, 2009. SÃO PAULO. Constituição Estadual de São Paulo. São Paulo,1989. SÃO PAULO. Decreto n°33.823, 1991. Institui o Programa Estadual de atenção à Pessoa Portadora de Deficiência. São Paulo, 1991. SÃO PAULO. Decreto n°. 38.641, de 17 de maio de 1994. Institui o Programa de Atendimento ao deficiente visual em idade escolar. São Paulo, 1994. SÃO PAULO. Lei no 9.167/95. Cria o Programa Estadual de Educação Especial. São Paulo, 1995. SÃO PAULO. Decreto n° 40.673/96. Paulo Institui o Programa de Ação de Parceria Educacional Estado-Município para atendimento ao ensino fundamental. São Paulo, 1996. SÃO PAULO. Lei no 9.938/98. Dispõe sobre os direitos da pessoa portadora de deficiência. São Paulo, 1998. SÃO PAULO. Decreto n°. 46.264/01. Autoriza a Secretaria da Educação a celebrar convênios com instituições que mantêm atendimento educacional gratuito, na modalidade de Educação Especial. São Paulo, 2001. SÃO PAULO. Decreto n°. 48.060/03 Autoriza a Secretaria da Educação a, representando o Estado, celebrar convênios com instituições sem fins lucrativos, com atuação em educação especial. São Paulo, 2003. SÃO PAULO. Lei n°12.295/2006. Dispõe sobre a impressão na linguagem Braille dos livros, apostilas e outros materiais pedagógicos. São Paulo, 2006. SÃO PAULO. Deliberação CEE n°68 2007. Fixa normas para a educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, no sistema estadual de ensino. São Paulo, 2007. SÃO PAULO. Lei n 12.907/08. Consolida a legislação relativa à pessoa com deficiência no Estado de São Paulo. São Paulo, 2008. SÃO PAULO. Resolução SE n° 11, e 86, de 2008. Dispõe sobre a educação escolar de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino e dá providências correlatas. São Paulo, 2008. SÃO PAULO. Decreto n° 54.553/09. Institui o Programa de Integração Estado/Município para o desenvolvimento de ações educacionais nas escolas das redes públicas municipais. São Paulo, 2009. SÃO PAULO. Deliberação CEE Nº 94/2009. Estabelece normas para a formação de professores em nível de especialização, para o trabalho com crianças com necessidades especiais, no sistema de Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo, 2009. SÃO PAULO. Decreto 54.887/2009. Autoriza a Secretaria da Educação a representar o Estado na celebração de convênios com instituições sem fins lucrativos, atuantes em educação especial. São Paulo, 2009. MUITOS SUJEITOS E POUCAS PESQUISAS: REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EJA Márcia da Silva Freitas - FFP/UERJ RESUMO O presente artigo trata-se de um trabalho concluído, apresentado como requisito parcial para avaliação da disciplina Seminário de Fundamentação, Processos Formativos e Desigualdades 225 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Sociais, no primeiro semestre de 2013, no curso de mestrado realizado na UERJ. É fruto de estudos realizados com o objetivo de iniciar o desenvolvimento do trabalho dissertativo, cujo tema refere-se ao ingresso e a permanência de pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NEE’s) na escola pública, particularmente na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Representa um exercício de pensamento a partir de observações feitas em escolas municipais de Itaboraí – RJ, de leituras efetuadas na Pós-Graduação, assim como através das reflexões elaboradas mediante as apresentações de seminários, vídeos, palestras e diálogos com a turma ao longo do processo formativo acadêmico. Palavras-chave: Escola pública, EJA e inclusão. INTRODUÇÃO Este artigo tem como finalidade adensar as pesquisas por mim realizadas ao longo do primeiro semestre do presente ano letivo, iniciadas a partir de leituras efetuadas, de diálogos e de reflexões ocorridas durante as aulas do Mestrado em Educação, Processos Formativos e Desigualdades Sociais da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, além de procurar descrever algumas situações presenciadas e discutidas com professores, alunos e responsáveis que estão diretamente envolvidos com o processo educativo na modalidade de Educação de Jovens e Adultos em estabelecimentos públicos de ensino localizados no município de Itaboraí – Rio de Janeiro. Através das atividades propostas e de ‘exercícios de pensamento’ tive a oportunidade de melhor conhecer alguns teóricos e aprimorar meus saberes acerca de assuntos como: a massificação da escolaridade e os problemas provenientes da mesma; os interesses em disputa presentes em nossa sociedade e entre instituições escolares e outras fontes de produção do conhecimento; as transformações no mundo do trabalho e sua relação com os processos de escolarização; além de considerações pertinentes sobre discriminação, exclusão, movimentos sociais e sobre o que é formar, para que se forma, onde e como se forma. Neste momento, apresento os estudos e diálogos realizados objetivando uma maior reflexão a respeito do tema/problema de pesquisa “anunciado”: a inserção de pessoas com necessidades educacionais especiais na EJA, fato concreto que tem acontecido na maioria das escolas por mim visitadas no decorrer deste ano, correspondente a situações de aflição e de angústia por parte de educadores comprometidos com sua função, porém, ainda sentindo-se inseguros em relação à suas ações pedagógicas com vistas a possibilitar uma real inclusão de seus alunos e a colaborar com um efetivo ensino-aprendizagem de todos os envolvidos. RELEVÂNCIA DO PROBLEMA Com o objetivo de buscar pesquisas a respeito da articulação entre as modalidades de ensino supracitadas e de buscar subsídios para tentar compreender e melhor orientar os educadores, realizei um levantamento dos trabalhos apresentados nos últimos cinco anos na ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graducação em Educação), nos GT’s (Grupos de Trabalho) da Educação de Pessoas Jovens e Adultas (GT 18) e da Educação Especial (GT 15). A partir deste levantamento, foi possível perceber que poucos estudiosos, nos últimos anos, realizaram articulações entre essas realidades, cada vez mais presentes no cotidiano escolar. Dentre as variadas pesquisas, havia apenas uma no GT da Educação Especial que mencionava diretamente algo sobre os adultos, e apenas uma no GT da EJA que falava sobre os alunos com necessidades educacionais especiais. Entre as pesquisas publicadas, selecionei para estudo inicial o texto da autora Windyz B. Ferreira, PhD em Educação Inclusiva e Desenvolvimento Escolar pela School of Education University of Manchester, Inglaterra, e Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba, cujo 226 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades título é: EJA & DEFICIÊNCIA: estudo da oferta da modalidade EJA para estudantes com deficiência. Segundo ela, a EJA não constitui um novo tema no cenário educacional, porém, já a Educação de Jovens e Adultos com deficiência no sistema regular de ensino representa um novo viés, acrescentando que esses jovens e adultos com deficiência constituem uma grande parcela da população de analfabetos no mundo porque não tiveram a oportunidade de acesso à educação na idade apropriada. “Em ambos os casos eles são privados de aprendizagem formal e de desenvolvimento humano”. (FERREIRA, 2009). A autora também destaca que em países economicamente ricos, a maioria das pessoas com deficiência está “institucionalizada”, e nos países economicamente pobres, está escondida, invisível na escola e nos vários espaços sociais. Além disso, segundo a mesma: No contexto das profundas desigualdades socioeconômica e política entre grupos sociais, reconhecer os direitos de pessoas com deficiências à EJA constitui ainda um significativo desafio para a sociedade brasileira. (FERREIRA, 2009, p. 75). Percebemos tentativas de inclusão, porém muitas vezes este termo é utilizado de um modo esvaziado de sentido. Ainda de acordo com Windyz B. Ferreira, originalmente a EJA foi criada para atender o adulto trabalhador sem deficiência, por isso a opção do sistema educacional pelo horário noturno. Ela também nos leva a refletir que “o turno noturno parece constituir um dos maiores entraves para o aumento nas matrículas de estudantes com deficiência nas turmas de EJA”. Segundo ela, é indiscutível a urgência de se introduzir na pauta da formação docente para EJA questões pertinentes a esse alunado e a práticas de ensino inclusivas. ITABORAI: MEMÓRIAS, HISTÓRIA E REALIDADE LOCAL – UM PANORAMA A RESPEITO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A escolha pelo município de Itaboraí para a pesquisa ocorreu após a oportunidade de ter percorrido por variados contextos educacionais nessa cidade, sendo possível perceber através de diálogos e observações as desigualdades sociais existentes e as dificuldades de acesso e permanência ocorridas para diversos alunos. Atualmente, Itaboraí conta com aproximadamente 150 professores que atuam na EJA, distribuídos em 17 unidades escolares, envolvendo em média 3 mil alunos. Grande parte do território de Itaboraí é ocupado por propriedades rurais. Inicialmente sua economia era baseada na cana de açúcar (século XVI). A arte em cerâmica também sempre foi destaque em sua economia e cultura. Já no século XX, após um período de declínio, o cultivo de laranja surgiu como nova forma de economia agrícola, perdurando até a década de 80. Apesar de ainda ser considerado um município rural, atualmente Itaboraí tem recebido muitas pessoas oriundas de outros estados e países devido ao início da construção do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (COMPERJ), um empreendimento da empresa Petrobras e, consequentemente, as Unidades Escolares têm recebido com frequência um grande número de trabalhadores requerendo matrículas para seus filhos no ensino regular, e para os próprios adultos, na modalidade EJA, que desejam dar continuidade aos estudos não realizados na idade considerada “apropriada”, com vistas a obtenção de oportunidades empregatícias no COMPERJ. No entanto, segundo relatos de vários funcionários, percebemos que já houve casos de alunos que não demonstraram interesse em estudar de fato, mas apenas gostariam de obter uma declaração de escolaridade a fim de ingressar no mercado de trabalho. De acordo com os levantamentos publicados na agenda do município, há uma estimativa de que “o complexo vai gerar mais de 200 mil empregos diretos e indiretos e o início da fase de operação do COMPERJ está previsto para 2014”. Outros alunos jovens e adultos, porém, até apresentaram o desejo em dar sequência aos seus estudos, mas devido a fatores como o horário de trabalho, o cansaço físico ou até 227 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades mesmo em função das complexas condições do trânsito comuns em certos horários e rodovias na cidade, passaram a compor o grande índice de evasão existente. Situações como as supracitadas nos levam a refletir sobre antigas e atuais questões relativas à políticas educacionais, políticas públicas, à classe trabalhadora, à teoria do Estado, entre outras. Além disso, como educadores não somos favoráveis a opinião de que a educação escolar simplesmente objetive uma preparação mercadológica. É de primordial importância que ocorra na escola o desenvolvimento integral dos sujeitos, em todos os seus aspectos: afetivos, cognitivos e sociais. Por outro lado, temos a consciência de que todos os estudantes-trabalhadores devem ser respeitados em todos os sentidos, mediante as diversas particularidades apresentadas cotidianamente. Não alheios a essas questões, entretanto mais preocupados em realizar uma formação para os alunos jovens, adultos e idosos da cidade que seja plena, crítica e emancipadora, e não meramente mercadológica, os responsáveis pela Coordenação da EJA no município têm buscado ao longo do ano letivo de 2013 efetuar mudanças significativas, investindo na formação continuada e na redução da rotatividade dos docentes, articulando-se também com outras instâncias a fim de promover melhores formas de acesso e permanência aos alunos, como por exemplo: análise sobre o horário das aulas e alteração no mesmo, parcerias relacionadas aos meios de transporte e ao acesso a eventos culturais. Um dos principais pontos positivos observados em Itaboraí, é que os Referenciais Curriculares em vigor atualmente foram construídos coletivamente com os professores no ano letivo anterior (2012). Em relação à análise e alteração no horário das aulas, a equipe constatou que inúmeros estudantes trabalhadores não conseguiam cumprir o antigo horário estabelecido, das 18:00h às 22:00h, pois a maioria deles constantemente chegava atrasada por motivos de trabalho e uma grande parcela precisava sair mais cedo. Sendo assim, no ano de 2013 foram feitas alterações no Calendário Escolar, de modo a adaptar as turmas de EJA ao novo horário em vigor: das 18h30min às 21h30min. Outra mudança relevante neste ano letivo tratou-se da possibilidade de conseguir ônibus escolares para transportar os estudantes das escolas mais afastadas do centro da cidade, numa tentativa de facilitar o trajeto dos mesmos e evitar a evasão. Também é válido ressaltar, que como a EJA não pode ser considerada sinônimo de ensino noturno, há nas perspectivas futuras da Coordenação dessa modalidade o intuito de implementar turmas no horário diurno, a fim de incluir, por exemplo, senhores(as) com mais de 50 anos de idade que possuam dificuldades para se locomoverem sozinhos(as) a noite, por questões de saúde, e que desejem estudar. No que tange a outras ações concretas observadas no primeiro semestre de 2013, encontramse o ingresso de novos docentes através de concurso público e a realização de Formações Continuadas desenvolvidas com professores e funcionários que atuam com essa clientela. Os profissionais foram convidados a participar, em seu horário de trabalho, de palestras gerais sobre Educação e Juventude, por exemplo, e palestras mais específicas relacionadas aos eixos temáticos trabalhados em suas áreas de conhecimento. Outros momentos importantes foram registrados em prol do desejo de melhorias na EJA, como a realização da Semana da VEJA (Semana de Valorização da EJA), onde atividades culturais diversas foram produzidas nas escolas com a participação e elaboração direta dos alunos, e a discussão dos eixos da CONAE (Conferência Nacional da Educação) com um olhar também direcionado para as questões pertinentes à EJA. O incentivo pela valorização profissional e o estímulo à formação continuada foram extendidos para o segundo semestre deste ano através do convite enviado aos professores para participação em um curso de extensão gratuito: Curso de Formação de Educação de Jovens, Adultos e Idosos na Diversidade. Também para o segundo semestre, foram programados agendamentos de ônibus para a realização de visitas a espaços culturais com professores e alunos da EJA. A proposta político-pedagógica da Secretaria de Educação objetiva “ampliar o universo 228 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades cultural dos alunos jovens, adultos e idosos inseridos nesta modalidade de ensino a partir de visitas orientadas em espaços culturais com fins pedagógicos”. Apesar da existência de vários aspectos positivos observados e apresentados ao longo deste artigo, ainda há muitas pendências a serem solucionadas. Durante conversas com alunos e professores, percebemos inquietações relacionadas a fatores, como: a existência de Bibliotecas, Salas de Leitura, Laboratórios de Informática e até mesmo alguns banheiros que ficam fechados no horário noturno em algumas escolas. Além disso, retornando ao tema central de minha pesquisa, há um demasiado número de estudantes com necessidades educacionais especiais matriculados na EJA, frequentando às aulas em diversas escolas, em alguns casos sem a presença de um profissional de apoio especializado e/ou sem participar das Salas de Recurso no contraturno. É válido destacar que, embora a iniciativa e a qualidade das formações continuadas tenham sido muito boas e elogiadas por vários professores, até o momento em nenhuma delas houve menção direta aos casos relacionados à prática educativa para alunos com necessidades educacionais especiais. Questões como essas não podem ficar alheias às nossas preocupações, pois interferem cotidianamente no ambiente escolar onde estão inseridos esses alunos. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM INTERFACE COM A EDUCAÇÃO ESPECIAL A modalidade de ensino destinada à educação escolar de jovens e adultos que por inúmeros motivos não tiveram a oportunidade de estudar na idade “apropriada”, é atualmente fruto de pesquisas de vários estudiosos na área educacional, principalmente devido ao caráter excludente que demonstra. Na EJA há tensões, desigualdades, conflitos. Muitas vezes são necessárias negociações diversas. A fadiga também se faz presente entre educadores e educandos, mas “o cansaço, ao mesmo em tempo que evidencia sensações de impotência, também pode ser anúncio de potência.” (DOMINGUES, 2010, p. 20). É fundamental salientar que quando nos referimos à Educação de Jovens e Adultos e seus processos formativos, referimo-nos também à vida, à esperança, à potência e ao constante desejo de desnaturalizar injustiças. Quando comprometidos com as pessoas envolvidas nesta modalidade, confiamos na perspectiva dos encontros, acreditando na possibilidade de se produzir uma vida outra, diferente, desacomodada, enfim, que não quer produzir conformismo diante das dificuldades, escolhas e ausências de oportunidades no tempo oportuno. É válido ressaltar que o tempo de aprendizagem de cada aluno deve ser respeitado. Segundo pesquisas realizadas na área da psicologia, por exemplo, há inclusive a possibilidade de um certo “declínio intelectual” ocorrer na idade adulta: É no âmbito dos estudos psicométricos que se desenvolvem os primeiros trabalhos sobre o declínio intelectual constatado com o avanço da idade cronológica. As capacidades intelectuais mais afetadas pela idade são, entre outras, a informação não verbal, a capacidade de dar respostas rápidas, e resolver situações novas; a capacidade de organizar informações, de ignorar aspectos irrelevantes, de se concentrar, de manter e dividir a atenção; a resolução de tarefas não familiares e não sujeitas a treino; a resolução de problemas espaciais; os raciocínios abstratos. (DIAS, 2011, p. 71). Ao refletirmos sobre a existência da modalidade em questão, remetemo-nos também às relações de poder que se dão sobre a população, sobre o indivíduo. No campo da educação, é muito importante realizarmos análise da macro e da micropolítica. Não podemos olhar somente os mecanismos e dispositivos considerados grandiosos. A EJA como modalidade de educação básica definida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/ 96, não pode ser pensada como oferta menor, nem menos 229 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades importante, mas sim como uma modalidade educativa, um modo próprio de conceber a educação básica, modo esse determinado pelas especificidades dos sujeitos envolvidos. (BRASIL, 2001, p. 21). Convém ainda tentarmos analisar os deslocamentos entre poder e controle, assim como entre saber e poder. É preciso estarmos atentos para não submeter as pessoas à rigidez da linguagem, pois pode ser algo problemático, e é fundamental valorizarmos os conhecimentos e potencialidades dos estudantes da EJA, todavia, sem lhes negar novos saberes que cotidianamente serão compartilhados com/entre todos os presentes, respeitando as diferenças e o espaço do outro. Pensar a Educação de Jovens e Adultos no contexto atual, suscita uma reflexão sobre as desigualdades sociais que tem repercussões no mundo da escola. Além disso, os preconceitos religiosos, étnicos, intergeracionais e de gênero também ecoam na EJA, de um modo geral, e participam das construções de sentidos. Já em relação à inclusão, ao estudarmos a história, os parâmetros e as demais legislações pertinentes à modalidade denominada Educação Especial, percebemos que por muito tempo o que perdurou em nosso sistema educacional pode ser considerado exclusão/segregação perante as diferenças. Já nos tempos atuais, cada vez mais cresce a perspectiva de uma escola inclusiva, assim como a necessidade de formação inicial e continuada de profissionais que atuam nesta área tão importante. O número de estudantes com algum tipo e necessidade especial cresce a cada ano na escola comum inclusiva, e este crescimento não ocorre por acaso. A atual legislação nacional brasileira visa à garantia do acesso ao Ensino Fundamental regular a todos, sem exceção. Além disso, também é garantido por lei que os estudantes com necessidades educacionais especiais recebam atendimento especializado complementar, de preferência dentro da escola. A inclusão ganhou reforços com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e com a Convenção da Guatemala, de 2001. Esta última proíbe qualquer tipo de diferenciação, exclusão ou restrição baseada na limitação física das pessoas. Atualmente, a Educação Especial é entendida como a modalidade de ensino que tem como objetivo quebrar as barreiras que impedem a criança de exercer a cidadania. Mas, nem sempre foi assim. Como consta nos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais - os PCN’s, a perspectiva de educação para todos constitui um grande desafio, principalmente porque a nossa realidade aponta para uma numerosa parcela de excluídos do sistema educacional. Do ponto de vista da escola comum, a possibilidade de garantirmos o acesso, a participação e a aprendizagem de todos os alunos, pode contribuir para a construção de uma cultura de valorização das diferenças. De acordo com os Parâmetros: A inclusão escolar constitui, portanto, uma proposta politicamente correta que representa valores simbólicos importantes, condizentes com a igualdade de direitos e de oportunidades educacionais para todos, em um ambiente educacional favorável. Impõe-se como uma perspectiva a ser pesquisada e experimentada na realidade brasileira, reconhecidamente ampla e diversificada. (PCN, p. 17). Com o objetivo de manter vivo o campo problemático, e de não conformar ou produzir consensos, é importante refletirmos que o problema do “para todos” pode inviabilizar as singularidades. Além disso, DORZIAT nos alerta que apesar do tema em questão constituir uma resposta apropriada às demandas da sociedade, as iniciativas decorrentes equivocam-se ao instituírem novas práticas, sem alterar as concepções antigas, simplesmente delimitando os espaços físicos das instituições de ensino como prioridade para o processo inclusivo. Segundo ela, é importante que propostas curriculares sejam implementadas com vistas a promover uma real interação aluno(a)-professor(a)-conhecimento-aluno(a) e não basta a constatação quantitativa de acesso às escolas regulares dos alunos tradicionalmente excluídos, mas, sobretudo, a possibilidade de superação do modelo engessado de educação que trabalha com procedimentos 230 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades homogeneizadores, na busca de vias alternativas de educação que reconheçam as diferenças como fonte de conhecimento e de desenvolvimento humano. Sendo assim, na perspectiva da educação inclusiva, a escola deve ser um espaço genuinamente democrático, onde o conhecimento e a experiência com o diferente sejam partilhados, e todos os direitos fundamentais respeitados plenamente. É preciso ter um olhar mais justo para as pessoas com necessidades educacionais especiais. Não podemos mais tolerar que a exclusão ocorra dentro das próprias instituições de ensino, onde nos reunimos para tratar da “educação”. Nesse sentido, foi possível observar que o município de Itaboraí também tem investido em formações continuadas para seus profissionais, convocado pessoas para realizarem atendimentos educacionais especializados através de concurso público e promovido a implantação de Salas de Recursos em algumas de suas instituições. Ao me aproximar de realidades locais na busca por interfaces entre as modalidades Educação Especial e Educação de Jovens e Adultos em Itaboraí, afetou-me a fala de uma professora quando esta mencionou que os alunos com NEE’s, por não apresentarem o êxito almejado pela sociedade em sua trajetória escolar no ensino regular, são na maioria das vezes encaminhados para a EJA. Em outros momentos, foram apresentadas situações a respeito de pessoas que, devido as suas limitações físicas, não foram “aceitas” em escolas regulares durante sua infância e por este motivo iniciaram sua vida escolar epenas na juventude ou na idade adulta. CONCLUSÃO A primeira conclusão pertinente em relação a este artigo é que o mesmo não se esgota por aqui. Pelo contrário, ao invés de concluí-lo, inicio neste momento novos questionamentos e buscas por mais referências e conceitos que possam auxiliar na reflexão sobre esse tema tão relevante para o contexto escolar. Com o presente ‘exercício de pensamento’ procurei apresentar algumas inquietações e análises acerca de tensões e possibilidades que dialogam com a Educação de Jovens e Adultos e com a Educação Especial, a partir de algumas leituras e vivências pedagógicas com estudantes, responsáveis e profissionais que atuam na área da Educação. Não há como negar que encontramos nessas modalidades de ensino situações que reafirmam seu caráter duplamente excludente: ambas apresentam em sua essência a responsabilidade de incluir aqueles que, por distintos motivos e em momentos históricos variados, estiveram a margem do sistema educacional. Assim como ainda há uma escassez de literatura na área específica, as dificuldades locais são inúmeras, mas a potência desses alunos e dos profissionais comprometidos com o desenvolvimento dos mesmos também pode ser grandiosa. Cabe salientar, enfim, o genuído desejo para que o assunto em tela possa estar intrínseco no âmbito das políticas educacionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Conferência Regional Preparatória. Brasília, janeiro 97. V Conferência Internacional sobre Educação de adultos. Hamburgo, julho 97. Brasília: MEC, 1998. ______. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB nº. 11/2000. Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, maio 2000. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm ______. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Documento Introdutório. Nov., 1995. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações curriculares. Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília, 1998. Disponível em: http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/Downloads_PCN.PDF 231 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades DIAS, Rosimeri de Oliveira. Deslocamentos na formação de professores: aprendizagem de adultos, experiência e políticas cognitivas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011. DOMINGUES, Leila. A flor da pele: subjetividade, clínica e cinema no contemporâneo. Porto Alegre: Sulina, 2010. DORZIAT, Ana. O outro da educação: pensando a surdez com base nos temas Identidade/Diferença, Currículo e Inclusão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. FERREIRA, W. B. EJA & deficiência: estudo da oferta da modalidade EJA para estudantes com deficiência. In: PAIVA, J.; BARBOSA, M.J.; FERREIRA, W. B. Educação de Jovens e adultos: o que dizem as pesquisas. Recife: Gráfica J. Luiz Vasconcelos, 2009. p. 75-128. http://www.cidadesdomeubrasil.com.br/rj/itaborai. Acessado em 08/09/2013. http://www.prefeituraitaborai.com/3926/itaborai-abre-inscricoes-para-o-curso-deformacao-deeducacao-de-jovens-adultos-e-idosos/. Acessado em 12/09/2013. MACHADO, Leila Domingues. Subjetividades contemporâneas. In: BARROS, Maria Elizabeth (org.) Psicologia: questões contemporâneas. Vitória: Edufes, 1999. O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS EDUCATIVAS NO CHILE (1981-2009): TRANSFORMACOES E CONTINUIDADES NOS DISCURSOS DO GOVERNO MILITAR E DOS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS Luis Leal Cuevas (UERJ) Clarissa Craveiro (UERJ) RESUMO O trabalho busca compreender as transformações e continuidades presentes nos discursos das políticas educacionais defendidos pelo Estado chileno durante o período 1981-2009. Para isso, analisaremos as articulações discursivas que caracterizaram as políticas e reformas educativas, considerando que esses discursos têm pretendido fixar determinados sentidos para os significantes de “qualidade, democratização e gratuidade da educação”. Utilizaremos como referencial teóricometodológico a Teoria do Discurso desenvolvida por Ernesto Laclau em conjunto com Chantal Mouffe e os aportes de Alice Casimiro Lopes no campo das políticas educacionais. Defendemos que existe uma continuidade histórica entre o discurso das políticas educacionais promovido pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet e os governos democráticos de centro-esquerda que tem procurado instaurar, promover e consolidar políticas de corte neoliberal desde a década de 1980 que, aos poucos estão sendo introduzidas no sistema educativo nacional. Palavras chaves: discurso, política educacional, neoliberalismo. 1.-Introdução: O presente artigo visa analisar as transformações e continuidades nas políticas educacionais desenvolvidas pelo governo chileno no período 1981-2009. Para isso analisarei as articulações discursivas que caracterizaram as políticas educacionais chilenas durante o período que vai desde a introdução de políticas de corte neoliberal por parte da ditadura militar (que governou desde 1973 até 1989), através da introdução de um conjunto de reformas educativas aplicadas a partir de 1981 por parte do regime militar de Augusto Pinochet por meio da privatização do sistema educacional universitário chileno, a municipalização do sistema educativo nacional nos níveis básico e secundário, a criação do sistema de subvenções entre outras reformas que fomentaram a introdução dos princípios neoliberais na área da educação. Assim as políticas educacionais do regime militar serão comparadas com as políticas educacionais desenvolvidas pelos governos democráticos da 232 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades aliança política de centro-esquerda, denominada “concertación de partidos por la democracia” 48 que governou quatro governos consecutivos desde 1990 a 2009, desse modo viso a identificar os elementos de continuidade e cambio logo após do fim da ditadura militar e o inicio da transição “negociada” para a democracia (GARRETON, 2003). Defendo a existência de uma continuidade entre as políticas educacionais desenvolvidas durante a ditadura militar com as políticas dos governos democráticos da “concertación de partidos por la democracia”. Considero que as bases das políticas educacionais e as reformas ao sistema educativo nacional desenvolvidas durante as ultimas três décadas (1981-2009) são de corte neoliberal, e respondem a tentativas de inserção de Chile no complexo sistema internacional atual, as que forma parte de um projeto político maior e de longo prazo desenvolvido pela ditadura militar e os governos democráticos logo após da transição para a democracia em que a ditadura militar chamou a eleições livres e democráticos logo de perder o plebiscito . Desse modo defendo que existe uma continuidade entre as políticas educacionais e reformas ao sistema educacional desenvolvidas pelo regime militar de augusto Pinochet, e as desenvolvidas pelos governos democráticos de centro-esquerda. Assim se adverte que desde as reformas de 1981 até a elaboração da nova lei geral de educação LGE no 2009 existe uma continuidade histórica nas políticas e reformas educacionais que obedecem aos princípios neoliberais que os governos chilenos desde as ultimas três décadas vem aplicando, desse modo apoiado em Garreton (2003) e Leher (2004) o contexto da expansão dos princípios da globalização capitalista neoliberal “tem levado a uma redefinição da função da educação publica, e suprimindo as barreiras e fronteira entre o publico e privado” (LEHER, 2004 pág. 868). Na presente pesquisa adotarei una perspectiva pós-estruturalista, baseado na Teoria do Discurso desenvolvida por Ernesto Lclau e Chantal Mouffe, e também os aportes de Alice Casimiro Lopes ao campo das políticas educacionais. Através da teoria do discurso procuro compreender cómo se constituí a unidade de um grupo social, ou seja de uma identidade política, a partir de uma dispersão de pontos de ruptura, antagonismos e demandas. 2.- Contexto político econômico das políticas educacionais: A expansão da globalização capitalista neoliberal na área da educação: A globalização49 é um fenômeno que impacta profundamente diversas áreas da complexa estrutura do sistema internacional atual. Esta situação tem gerado intensos debates ao interior do mundo acadêmico e político a nível mundial; sobre as conseqüências ao meio e longo prazo que vai ter este fenômeno na configuração do novo ordem mundial, através da produção de novos contextos e desafios para a sociedade em geral, e dentro dos círculos de poder especificamente (WALLERSTEIN, 2001). Assim resulta fundamental compreender em maior profundidade o impacto que esta tendo a globalização na elaboração das políticas educacionais, pois esta representa um campo sumamente estratégico para o desenvolvimento das nações, já que a educação é a responsável de formar pessoas e dar as ferramentas necessárias para a constituição dos futuros cidadãos que configurarão a sociedade do século XXI. Leher afirma que um dos pressupostos mais reiterados pelo discurso dominante sobre a educação é a afirmação de que esta, congruente com a revolução científicotecnologia, permite inserir as nações da periferia e da semi periferia no admirável mundo globalizado e de que todos os que fizeram opções educacionais corretas terão um futuro grandioso (LEHER, 2004 pag. 870) mas esta “verdade” é repetida pelos meios de comunicação, mas de fato é 48 Aliança política de centro-esquerda que ganhou o plebiscito de 1988. Fenómeno mundial que impacta profundamente diferentes ámbitos del sistema internacional como el económico, político, social y cultural. Entendido como un proceso cambiante y heterogéneo en que hay producción de culturas hibridas (LOPES 2002a; 2006b) 49 233 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades a educação a nova riqueza das nações ou essa proposição faz parte de um processo de mercantilizacao e de ideologização da educação?. Assim o campo da educação tem se visto fortemente impactada provocando profundas transformações no seu interior, e que tem levado á incorporação de uma profunda reforma educativa nos países da região. Esta situação tem transformado sectores como o currículo, a administração ou gerenciamento das instituições, a formação docente, as avaliações, os textos de estudo, entre outros âmbitos que até pouco se mantinham fora dos alcances da globalização. 3.- As políticas educativas durante o governo militar de Augusto Pinochet: (1973-1989) As políticas educacionais durante o período de Ditadura Militar tem se caracterizado pela incorporação de uma serie de elementos de corte neoliberal na estrutura e na administração do sistema educativo nacional, por meio de uma profunda reforma que se iniciou durante o período ditatorial que por mais de dezessete anos governou o Chile, (1973-1989). Estas políticas educacionais promoveram uma reforma sistemática ao modelo educativo nacional desde a administração da educação publica, passando desde o Ministério de Educação MINEDUC ás municipalidades, promovendo alem a privatização da educação nos níveis universitário, através de uma profunda reforma ao sistema universitário chileno em que se deu plena autonomia as universidades publicas de administrar seu orçamento e gerar os seus próprios recursos econômicos para se auto financiar, desligando se o Estado dessa importante responsabilidade histórica, reduzindo consideravelmente a sua participação nessa área como financiador e fiscalizador, o que possibilitou a apertura massiva de universidades privadas. Essas reformas tiveram importantes conseqüências na qualidade e cobertura do sistema educacional chileno, essas políticas neoliberais foram continuadas pelos novos governos democráticos de centro-esquerda quem no discurso propunham mudanças em favor do retorno até uma educação publica e de qualidade, mas que na pratica converteu se num continuador das praticas neoliberais que supostamente mudaria. Esta situação provocou uma serie de problemas no sistema educacional, relacionados com a privatização da educação, o incremento na desigualdade entre a educação publica e privada, a pauperizacao do labor docente, a falta de qualidade da educação publica, e em geral a iniqüidade do sistema, isso levou á formação do movimento estudantil chileno que durante muitos anos foi apagado pelo próprio governo que identificou neste movimento um ator antagônico perigoso pois produzia na população um grande apoio e representava uma ameaça para a continuidade do sistema que tanto lutaram por manter. 4.-As políticas educacionais desenvolvidas pelos governos democráticos da “Concertación de Partidos por La Democrácia” 1990-2009: Frente ao discurso das políticas educacionais pela ditadura, temos ao discurso das políticas educacionais desenvolvidos pelos quatro governos da aliança de centro-esquerda denominado como “concertación de partidos pela democracia” 50 representado pelo governo de Patrício Alwyn e Eduardo Frei Ruiz-Tagle do partido democrata crista (D/C), e Ricardo Lagos e Michel Bachelet do partido socialista (P/S) os que governaram logo após da ditadura militar e da transição negociada para a democracia uma serie de políticas de corte neoliberal. Transformando-se em continuadoras das políticas desenvolvidas pela ditadura militar, mas que em reformistas do sistema educativo nacional, em direta contraposição ao discurso reformista que eles articularam durante a campanha eleitoral. Desse modo as aneladas transformações ao sistema econômico, educativo, de saúde, laboral entre outros, se manteve intato desde o período de transição para a democracia de 1990, sendo incapaz de responder ás promessas feita á sociedade chilena que ansiosa aguardava uma serie de mudanças que teoricamente se aplicariam uma vez a centro-esquerda chegara ao poder, mas que 50 Agrupação de partidos políticos de centro-esquerda que governaram o Chile após da ditadura militar. 234 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades na pratica logo após de vinte anos de governos democráticos não se cumpriram. Desse modo temos que o discurso da “concertación de partidos por la democracia” não fez transformação dentro da estrutura educativa nacional, continuando com as políticas de corte neoliberal instauradas durante a ditadura militar na elaboração, adoção e hegemonização do discurso reformista adotado por eles na década de 1990. O discurso das políticas educacional desenvolvido pela aliança política de centro-esquerda tem se desenvolvido num contexto histórico marcado pela transição para a democracia em que existia uma impetuosa necessidade de justificar e legitimar este novo projeto político-social elaborado pela aliança de centro-esquerda que no discurso buscava se diferenciar do seu antecessor, mas que na pratica não rompeu com os elementos estruturais herdados da ditadura militar. Sem lugar a duvidas era fundamental legitimar este novo projeto, não só frente á sociedade chilena, mas também frente ao poder militar que se encontrava em retirada, pois existiu uma negociação favorável para a ditadura militar e para a nova aliança política que procurava ficar com o poder, limitando as reformas que o novo governo pudesse aplicar. Para o sucesso de esta transição, denominada por Garretón como “transición pactada” ou “negociada”, era fundamental a continuidade dos elementos neoliberais implantados pelo governo militar em áreas como a saúde, sistema de pensões e educação entre outros, pontos chaves e irrenunciáveis por parte de a junta militar, e que eram elementos que tinham sido negociados previamente entre ambos os bandos políticos, por tanto a permanência dos princípios neoliberais era una questão irrenunciável. De este modo existia um acordo tácito entre os blocos (partidos da concertación de centro-esquerda e a ditadura) de respeitar a estrutura herdada do governo militar com o fim de encontrar uma saída pacífica, rápida e sem grandes transtornos político-sociais que puderam provocar grandes derramamentos de sangre o que levaram ao desenvolvimento de uma guerra civil devido á profunda divisão e tensão interna que existia nesse momento. Na área específica da educação é possível advertir uma evidente necessidade por parte do governo de centro-esquerda de adotar um discurso reformista que teoricamente solucionaria os problemas estruturais pelos que atravessava a educação chilena, adquiridos desde o governo militar, onde a qualidade, e a equidade eram sumamente questionadas a nível nacional, pelos professores, estudantes e a opinião pública em geral como resultado da municipalização e privatização da educação chilena, que segundo estudos nacionais e internacionais tinham diminuído drasticamente a qualidade e cobertura da educação pública, como também incrementou a distancia entre as escolas públicas e privadas com o conseqüente impacto social que disparava a desigualdade social, convertendo a Chile num dos países com maior índice de desigualdade social segundo o índice Gini. De este modo a reforma educacional era sumamente necessária, pois o retorno á democracia provocou uma serie de expectativas dentro da população que esperavam grandes transformações dentro do sistema educacional chileno que rompera com os elementos herdados da ditadura. Desse modo o discurso dos diferentes governos pós- ditatoriais, ou seja o Estado, segundo afirma Polanyi (2000) e Leher, foi o grande responsável da transformação na educação e da sua privatização, e da falta de qualidade do ensino, o que demonstra, de modo brilhante, como o mercado resultou de uma construção social deliberada a partir do Estado e, portanto, de suas leis e normas. Por tanto afirma Leher que a propugna que a comodificação da educação vem sendo operada também por intermédio do próprio Estado (LEHER, 2004) que foi hegemonizando o discurso reformista a partir dos princípios da globalização e do neoliberalismo a ele associados herdados da ditadura militar, mas que foram dissimulados baixo conceitos como produtividade, avaliação, competitividade, tecnologia, domínio das TICs, por sobre significantes centrais e que até então tinham sido centrais na educação tais como: “qualidade e equidade” da educação, e que eram vistos como os principais problemas pelos quais atravessava o sistema educacional chileno, e que justificavam a afirmação tão popular durante a década de 1990 sobre a profunda crise dos sistemas educacionais dos países latino americanos, ideia que era amplamente promovidas pelas instituições símbolos do neoliberalismo como o Banco Mundial BM ou Fondo Monetário Internacional FMI. 235 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Assim os novos governos de centro-esquerda adotaram um discurso onde promoviam entre a população a crença de que a reforma educacional de 1994 “poseía tintes mesiánicos y casi redentores” (CANDAU, 1998, pag. 30), afirmando que as mudanças ao sistema educativo e a renovação pedagógica eram os eixos centrais para a superação de todos os problemas e dificuldades que enfrentava o sistema educacional no marco do processo de modernização (CANDAU, pag.30, 1998) embora que em realidade a reforma eram continuadora das políticas educacionais de corte neoliberal instauradas pela ditadura, assim também estas respondiam ás diretrizes do Consenso de Washington, e as indicações do Banco Mundial, organismos internacionais que promovem e funcionam baixo da lógica neoliberal, e que os governos da “concertación por la democracia” esforçavam se em seguir fielmente, utilizando os princípios dessas organizações como guia para a implementação da reforma educativa visando a melhorar a qualidade da educação, mas que na pratica não tiveram sucesso na medida em que se adotaram reformas semelhantes ás desenvolvidas na Espanha, sem considerar as diferenças culturais e sociais existentes entre essas duas realidades. Os novos governos pós -ditatoriais elaboraram um discurso reformista, que promoveu a reforma educacional implantada no Chile entre 1994 ao 2000, e que se propunha como um exemplo de transformação e melhora da educação nacional, mas que no fundo não foi mais que uma continuidade dos elementos ditatoriais herdados, pois os princípios neoliberais e a conversão da educação numa mercadoria seguiram tão presentes como sempre (GARRETÓN, 2001), pois como afirma Leher os “espaços públicos cada dia são mais frágeis, a burocracia do aparato de fomento e os governos interessados em silenciar a educação publica e as universidades como lugar da critica. (LEHER, 2004 pág. 886) Assim o discurso da globalização tem impactado direta e profundamente as políticas educacionais nacionais elaboradas pelos governos democráticos de centro-esquerda, e que tem servido de base para a elaboração e hegemonização do discurso reformista promovido durante a década de 1990 e 2000. Este discurso aspira á formação de um novo capital humano, a formação de cidadãos competitivos e produtivos, para obter isto a reforma de 1994 tem estabelecido um currículo nacional regido pelos parâmetros indicados pelos CMO (aprendizagem mínimos obrigatórios), também das constantes reformas ao currículo em diversos setores do aprendizagem entre os que destacam historia, educação cívica e tecnologia, também tem se expandido e difundido sistemas de avaliação nacional como SIMCE o PSU, junto com o sistema nacional de avaliação docente (este último provocou profundas discrepâncias entre o Estado e o grêmio docente, que incluso chamaram a boicotar a avaliação através da ausências aos exames e a não elaboração do porta folio), ao mesmo tempo tem se estabelecido a JEC (jornada escolar completa, passando as escolas de ter duas jornadas estudantis a só uma, mais extensa, com o conseqüente impacto sobre o ingresso salarial dos professores que normalmente trabalhavam em duas jornadas). Com a adoção do discurso reformista baseado nos princípios da globalização tem se buscado a criação de um novo tipo de cidadão que responda aos desafios e demandas do mundo globalizado, onde a competitividade e produtividade são os elementos centrais na sua configuração, alem de ser funcionais aos princípios do sistema econômico neoliberal que no Chile rapidamente tem se expandido á área da educação já desde a década de 1980, e que teve a este país como um dos primeiros centros de experimentação a nível mundial dos princípios do sistema econômico neoliberal promovido pelos EUA e Inglaterra, baseados nas ideias de Friedman e Hayek e de um grupo de economistas chilenos formados nas universidades norte americanas que logo foram conhecidos como os “Chicago boys” e que ocuparão as principais carteiras nos ministérios de economia e fazenda, transformando se nos principais responsáveis de expandir a lógica neoliberal durante o governo militar, em áreas como a saude, sistema de pensões, educação entre outros, desmantelando os princípios do Estado de Bienestar que tinha prevalecido no Chile durante décadas. 236 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 5.- Continuidades e transformações entre as políticas educacionais da ditadura militar e os governos da “concertación de partidos por la democracia”: Dentro das políticas educacionais desenvolvidas pelo Estado chileno, identifica se a articulação de um discurso que busca justificar a orientação neoliberal que possuem as políticas educacionais desenvolvidas no Chile e também justificar as reformas educativas que vem desde a Ditadura Militar e que foram herdadas sem grandes transformações pelos governos democráticos de centro-esquerda que governaram entre 1990-2010, transformando-se nos continuadores, mas que nos transformadores das bases ditatórias do sistema educativo nacional que o povo aspirava. Sendo continuadores das diretrizes adotadas e difundidas pelo regime ditatorial de Augusto Pinochet que promoveu os princípios do neoliberalismo, e a mercantilizacao da educação, promovendo a privatização do sistema universitário e parte do sistema fundamental de ensino, e de outros setores fundamentais para a sociedade como o sistema de pensões e de saúde. Desse modo ao longo das ultimas tres décadas tem se desenvolvido políticas educacionais de corte neoliberal, existindo uma clara continuidade entre as políticas desenvolvidas durante o período militar e o período democrático logo após da transição para a democracia em 1990, e continuidade com os quatro governos de centro esquerdos que chegaram ao poder, incorporando a lógica da oferta e da demanda na área educativa, privatizando a educação universitária no Chile, marginando ao Estado como financiador da educação, reduzindo seu papel ao de avaliador em direta relação com a performatividade que o próprio sistema neoliberal intenta introduzir nas diferentes esferas da realidade social. Criou-se a educação subvencionada 51 que transformou ela numa mercadoria, pois os empresários a partir de estas reformas puderam começar a abrir escolas e lucrar com a educação, criando firmas que administram enormes caudais de dinheiro, a partir da subvenção entregada pelo governo e o dinheiro aportado pelos padres, dando origem a escandalosos casos de corrupção. Também a municipalização da educação pública que estava sobre o controle e administração do ministério de educação MINEDUC, deteriorando a qualidade da educação pública e abrindo uma enorme diferencia entre a qualidade da educação pública e privada (EL MERCURIO, 08/10/2011), deteriorando a labor docente, foram marginados do sistema de funcionários públicos, e vieram diminuídos seus salários, junto com sua categoria na estrutura de pagos e antiguidade do sistema público, perdendo o reconhecimento de seus anos de trabalho impactando direta e negativamente suas jubilações. Por tanto é possível advertir que com o fim da ditadura e o retorno para a democracia não se experimentou um quebre no modelo neoliberal introduzido na área da educação na década de 1980, representando uma continuidade das antigas estruturas, não cumprindo as demandas e as altas expectativas de mudança que esperava a população em geral, e dos professores e estudantes em particular, e que supostamente trariam os governos democráticos de centro-esquerda. Isso deve se á negociação política desenvolvida entre a ditadura militar e a “concertación de partidos por la democracia”, e que procurou negociar una “transición pactada” baseado no respeito ao trabalho da ditadura ao longo de dezessete anos, e é por isso a aplicação dos princípios de mercado continuou durante toda a década de 1990 e 2000, (GARRETÓN, 2001). Esta situação levou ao surgimento de um movimento social em oposição ao governo e ao sistema neoliberal implantado na área da educação, começando a articular uma série de ações em torno dos significantes de qualidade e equidade que foram emblemáticos da reforma da educação chilena de 1994, às quais se aderiu á demandas para a derrogação da LOCE, o "dês municipalização e dês privatização" da educação, como intento de deletar as ações que procuravam lucrar com a educação, entre outros problemas associados ás demandas não satisfeitas ao longo dos anos. 51 Educación subvencionada: sistema educacional que no es privado ni público, sino de financiamiento compartido entre el Estado y los padres. 237 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades 6.- Conclusões: Podemos concluir que a expansão do fenômeno da globalização capitalista neoliberal na elaboração das políticas educacionais é um fato real e que não pode ser negado. Ela vai continuar impactando direta e indiretamente diversas áreas: econômica, política, social, tecnológica e claramente a educacional, impondo novos desafios a partir da configuração de novos contextos, re configurando substancialmente a estrutura dos sistemas educativos da região, especialmente de Chile, onde é possível advertir um crescente avance do setor privado na educação por sobre o publico. Segundo Leher (2004) a maioria dos exemplos das experiências das parcerias publica/privado mostram que os benefícios dessas atividades acabam privilegiando poucos e pequenos grupos, cujo foco de trabalho esta dirigido para as atividades que as empresas consideram de seu interesse (LEHER, 2004) esta afirmação de Leher representa plenamente a situação que vive a educação ao interior do Chile, onde devido ao avance do setor privado que tem reduzido a labor do estado á de avaliador, o que tem possibilitado o enriquecimento de empresários que devido á difusão dos princípios neoliberais na área da educação tem trazido grandes benefícios econômicos a um grupo reduzido de pessoas, em desmedro da população em geral. Através do presente texto temos defendido a existência de uma continuidade histórica entre as políticas educacionais desenvolvidas durante a ditadura militar com as políticas educacionais dos governos democráticos da “concertación de partidos por la democracia”. Considero que as bases das políticas educacionais e as reformas ao sistema educativo nacional desenvolvidas durante as ultimas três décadas (1981-2009) são de corte neoliberal, e respondem a tentativas de inserção de Chile no complexo sistema internacional atual, as que forma parte de um projeto político maior e de longo prazo desenvolvido pela ditadura militar e os governos democráticos logo após da transição para a democracia em que a ditadura militar chamou a eleicoes livres e democráticos logo de perder o plebiscito. Desse modo defendo que existe uma continuidade entre as políticas educacionais e reformas ao sistema educacional desenvolvidas pelo regime militar de augusto Pinochet, e as desenvolvidas pelos governos democráticos de centro-esquerda. Assim se adverte que desde as reformas de 1981 até a elaboração da nova lei geral de educação LGE no 2009 existe uma continuidade histórica nas políticas e reformas educacionais que obedecem aos princípios neoliberais que os governos chilenos desde as ultimas três décadas vem aplicando, desse modo apoiado em Garreton (2003) e Leher (2004) o contexto da expansão dos princípios da globalização capitalista neoliberal “tem levado a uma redefinição da função da educação publica, e suprimindo as barreiras e fronteira entre o publico e privado” (LEHER, 2004 pág. 868). Referencias Bibliográficas: ESTHER BARBE, Relaciones internacionales, edit. TECNOS, 2007 BUENFIL, ROSA: “Globalización y políticas educativas en México 1988-1994. encuentro de lo universal y lo particular. revista latinoamericana de estudios educativos. Año 2000. BRUNNER, JOSE JOAQUIN: Globalización y el futuro de la educación: tendencias, desafíos, estrategias. 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Verificamos que a Reforma do Ensino Médio, que marca a década de 1990, e o Enem sugerem impactos nas práticas docentes de professores deste nível de ensino, além de outras mudanças no sentido de concretização de um novo Currículo atrelado as demandas de uma sociedade regida cada vez mais pela lógica do “Mercado”. Nossa compreensão de política pública e docência sugerem uma repensar destas relações possíveis entre o Enem e as práticas pedagógicas de professores do Ensino Médio. Palavras-chave: Reforma do Ensino Médio; ENEM; Docência. Ensino Médio no Brasil O Ensino Médio é o nível de ensino no Brasil que tem provocado hoje os debates mais controversos, seja pelos persistentes problemas do acesso e da permanência, seja pela qualidade da educação que oferece, ou, ainda, pela discussão sobre a sua identidade. Para Krawczyk (2011, p.755) tem se falado muito da perda da identidade, “quando na verdade o ensino médio nunca teve uma identidade muito clara, que não fosse o trampolim para a universidade ou a formação profissional”. Atualmente falamos em Ensino Médio, mas esta etapa de escolarização demorou a ter uma configuração próxima da que temos atualmente. Por muito tempo em nossa história da estrutura e funcionamento da escolarização falávamos em “ensino secundário”. Foi apenas por volta da década de 1930 quando o capitalismo industrial ganha fôlego no Brasil que passamos a reconhecer uma educação secundária com objetivos mais ou menos definidos. Até então, Zanchet (2003) nos explica que o sistema educacional do Brasil era estruturado em duas redes de ensino determinadas pelas características do desenvolvimento social e econômico que existia no país: “para os pobres, o ensino primário em geral de caráter profissional, voltado para a formação de mão-de-obra; e para os 239 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ricos, o ensino secundário, de caráter propedêutico, como forma de preparação ao ensino superior” (ZANCHET, 2003, p.108). Assim se constituía, portanto, o Ensino Médio no Brasil nas primeiras décadas do século XX: propedêutico e elitista; um meio de ingresso ao Ensino Superior. As classes populares estavam excluídas desta etapa de escolarização. Porém, com o advento da organização econômica e social de uma era tipicamente urbana e industrial instalada no país a partir de 1930, que faz emergir classes sociais que irão reivindicar uma educação escolarizada como forma de ascensão social, os desequilíbrios de nosso sistema educacional ficam mais evidentes. Zibas (2005) destaca que nos fins dos anos de 1960 e início dos de 1970, o embate políticoideológico que constrói a história do Ensino Médio sofreu uma grande mudança. A matriz de tal guinada estava, para a autora, entre outros aspectos, no crescente desprestígio do “modelo francês” (ensino clássico, erudito, propedêutico típico dos liceus) entre nós – principalmente em vista da chegada de novos contingentes populacionais ao ensino secundário –, bem como na influência de conselheiros de agências internacionais, como o Banco Mundial. Seguindo o pensamento de Kuenzer (1997), os objetivos da proposta de Ensino Médio da época, articulada ao modelo político e econômico da ditadura militar no Brasil, eram: primeiro a contenção da demanda de estudantes secundaristas ao ensino superior; segundo a despolitização do ensino secundário, por meio de um currículo tecnicista; e terceiro a preparação de força de trabalho qualificada para atender as demandas do desenvolvimento econômico. Ultrapassados os anos de governo militar, Zan (2012) relembra que, durante os anos de 1980 o Brasil viveu ampla mobilização social na luta pela democratização e a ampliação de direitos sociais dos brasileiros. A década se encerrou com a aprovação de uma nova Constituição Federal (1988), que selou este ciclo de lutas sociais e políticas de resistência ao regime ditatorial-militar iniciado em 1964. No texto constitucional aprovado, no capítulo referente à Educação, dentre outras novidades, é explicitado o reconhecimento do Ensino Médio como direito de todo cidadão brasileiro. No entanto, com a crise de empregos aparente e o novo padrão de sociedade capitalista em vigor, nos anos 1990, caracterizado também pela desregulamentação da economia e pela flexibilização das relações e dos direitos sociais (fundamentos da nova ordem neoliberal), a possibilidade de desenvolvimento de projetos pessoais integrados a um projeto de nação e de sociedade tornou-se frágil. Não sendo mais possível preparar somente para o mercado de trabalho, devido a sua instabilidade, o Ensino Médio, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN n.9394/96, deveria “preparar para a vida”. Em 1997, com o Decreto n. 2.208/97, é restabelecido o dualismo entre o ensino Médio e Técnico, baseados nas Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais. Com a revogação do Decreto n. 2.208/97 e aprovação do Decreto n. 5.154/04 inicia-se o processo de implementação do Ensino Médio integrado ao Ensino Técnico. Isto irá possibilitar, a partir de 2004, autonomia para a criação e implantação de cursos em todos os níveis da educação profissional e tecnológica. Outras mudanças também ocorreram a partir de então em nível estadual e federal como: mudanças de currículo e material didático, políticas de formação e valorização docente, avaliações externas entre outras. Porém, os impactos sentidos não provocaram mudanças de rota significativas. Continuamos a constatar o baixo nível de aprendizagem e elevado grau de evasão dos alunos nas escolas de nível médio. Reforma do Ensino Médio e o ENEM A década de 1990 marcada por uma Reforma Educacional expressa em grande medida por um novo currículo nacional e sistema de avaliação, buscou uma nova configuração e identidade para o Ensino Médio brasileiro. A implementação do Exame Nacional do Ensino Médio tem estreitas relações com as iniciativas voltadas para a Reforma do Ensino Médio. Não podemos 240 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades perder de vistas que todas estas circunstâncias históricas de Reformas do Ensino Médio deixam pouco ou nenhum espaço para o posicionamento profissional e político dos professores. Ao nos referirmos à Reforma Educacional que propõe dimensionar a “nova identidade” do Ensino Médio brasileiro, consideramos relevante lembrar que este período (década 1990) está inserido num contexto marcado essencialmente pela lógica da Globalização, de uma Sociedade da informação e permeado por práticas típicas do Neoliberalismo. Em relação à educação escolarizada e a influência que a lógica neoliberal opera nesta área, temos alguns pressupostos básicos previstos para os sistemas educacionais: necessidade de “qualidade total”, “modernização” da escola, adequação do ensino à competitividade do mercado internacional, incorporação das técnicas e linguagens da informática e da comunicação, avaliação externa e constante para prestar contas “aos clientes”. Neste sentido, a educação passa a não ser incluída no campo das ações social e política, passando a ser integrada ao “Mercado”. Na prática, temos visto que a influência do neoliberalismo na escola implica a transformação do aluno e sua família em consumidores do ensino, enquanto o professor passa a ser reconhecido como um funcionário “treinado” para capacitar os seus alunos a se integrarem ao mercado de trabalho. As mudanças de rota implícitas na Reforma Educacional, desencadeada na década de 1990, ocorre especialmente a partir da promulgação, em 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), conhecida por praticamente todos os atores envolvidos com educação escolar no país. Afinal, em que constitui a Reforma Educacional para o Ensino Médio? O questionamento a seguir de Zan (2012) nos dá uma síntese dá mudança projetada para o Ensino Médio com a nova LDB: Mas no que consiste o Ensino Médio no Brasil? Segundo a legislação vigente esse nível de ensino tem como finalidades o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, a possibilidade de articulação entre os conhecimentos teóricos e práticos de cada uma das disciplinas, o aprimoramento do educando como pessoa humana e a preparação básica para o trabalho. Pode-se, até certo ponto, afirmar que a LDB de 1996 definiu o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica, cujo objetivo maior seria a formação geral dos estudantes (ZAN, 2012, p.59). Pensando a relação entre a proposta da LDB e nossa sociedade, reproduzimos a afirmação de Zanchet (2003): A proposta para o atual ensino médio busca construir valores apropriados ao processo de adaptação do cidadão/trabalhador à individualização do trabalho e das formas de sobrevivência numa sociedade caracterizada pelas incertezas da contemporaneidade. Ao nível médio da escolarização, é solicitado o desenvolvimento de condutas e valores que respondam às exigências desse tempo. (Zanchet, 2003, p.139). Lopes (2002), no entanto, vem nos lembrar que “desde sua publicação e distribuição às escolas, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM – Brasil, 1999) vêm se constituindo como a expressão maior da reforma desse nível de ensino no Brasil” (LOPES, 2002, p.387). E essa não foi a única ação do Ministério da Educação para produzir tal reforma. O estabelecimento de referenciais nacionais vem associado ao conjunto de ações previstas no Projeto Escola Jovem (Brasil, 2001), financiado em grande medida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, 1999): expansão de vagas nas escolas, estruturação de sistemas de avaliação centralizada nos resultados (Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM), programas de formação continuada de docentes e gestores de escolas, programas de educação a distância e melhoria da infraestrutura das escolas. Em que consiste afinal as Diretrizes para o Ensino Médio articuladas nos PCNEM? Lopes (2000) nos lembra que desde o início das primeiras formulações, da Secretaria da Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação e do Desporto (Semtec/MEC), voltadas para a reforma do 241 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Ensino Médio, iniciadas no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (1994-1998), tínhamos como diretrizes fundamentais: 1. A identificação do Ensino Médio com a formação geral básica, articulada com uma perspectiva de educação tecnológica e com o mundo do trabalho; 2. O ideário de diversificação e flexibilização curricular, como forma de estabelecer um modelo educacional flexível de atendimento às diferentes clientelas; 3. A autonomia da escola e do aluno na adequação curricular, favorecendo o processo formativo contextualizado e 4. A definição de diretrizes curriculares nacionais que privilegiassem as competências e as habilidades básicas voltadas para o trânsito e a complementaridade entre o ensino regular e a formação profissional. Alguns conceitos são estruturantes desta reforma curricular: contextualização, interdisciplinaridade, competências e habilidades. Zan (2012) nos lembra de que a justificativa para um currículo centrado nas competências aparece nos documentos ao afirmar-se que as competências seriam mais gerais e constantes enquanto os conteúdos são mais específicos e variáveis. Aponta-se desta forma que o currículo do Ensino Médio seja definido com base em conteúdos disciplinares constituintes de competências básicas que sejam também pré-requisitos de formação profissional. No Documento Básico do Enem (2000) encontramos uma definição para o conceito de competências e de seu derivado, o conceito de habilidades (estruturante da matriz avaliativa do Enem): Competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do “saber fazer”. Por meio das ações e operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando nova reorganização das competências (p.5). Não podemos perder de vista que a LDB/96 anuncia como eixos centrais para o desenvolvimento da educação escolar, a flexibilidade e a avaliação, sinalizando que a União deve assumir o papel de articulador e coordenador da política nacional de avaliação. Segundo Zanchet (2003), o controle sobre os resultados oriundos da educação escolar tornou-se imperativo dentro da lógica econômica que é incorporada à educação, como forma de verificar a qualidade dos sistemas educativos. Esta condição fez emergir, nas agendas governamentais, políticas de avaliação para todos os níveis escolares. Temos observado a centralidade que o Enem adquire na vida escolar de nível médio ao relacionar-se diretamente com a reforma proposta. Para Lopes e López (2010, p.102) “o foco nas competências e habilidades é apresentado como uma organização curricular e uma forma de avaliação obrigatórias, na medida em que são entendidas como capazes de atender às mudanças no mundo globalizado”. A cada ano, desde 1998, percebemos forte influência quer direta, ou indiretamente, do Exame Nacional do Ensino Médio em nossas escolas. Escutamos seu nome nas salas de aulas e de professores, são emitidas opiniões sobre ele e críticas. O ENEM foi instituído em 1998 como "procedimento de avaliação do desempenho do aluno" (art. 1º da Portaria Ministerial nº. 438, de 28 de maio), atendendo ao artigo 9º, VI, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente, que define claramente o objetivo do processo nacional do rendimento escolar: "a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino". De uma forma geral, o Enem apresenta um construto teórico que fundamenta os critérios para a avaliação de competências e habilidades do aluno ao término da escolaridade básica. Aplicado aos concluintes e egressos do nível médio a prova está dividida em duas faces: questões objetivas e redação. Seu diferencial em relação aos demais exames de larga escala realizados no Brasil se dá em termos metodológicos (relativos à elaboração da prova, sua correção e a existência da redação) e também no que se refere à sua utilização, pois oferece aos estudantes um 242 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades “instrumento para auto-avaliação”. No Documento Básico que busca esclarecer as características do Enem temos que: Para estruturar o exame, concebeu-se uma matriz com a indicação de competências e habilidades associadas aos conteúdos do ensino fundamental e médio que são próprias ao sujeito na fase de desenvolvimento cognitivo, correspondente ao término da escolaridade básica. Tem como referência a LDB, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a Reforma do Ensino Médio, bem como os textos que sustentam sua organização curricular em Áreas de Conhecimento, e, ainda, as Matrizes Curriculares de Referência para o SAEB (p.2). A intensa articulação que o MEC mantém com as universidades, por entender que “a principal utilização do ENEM, no início, seria para o acesso ao ensino superior”, em substituição aos exames vestibulares tradicionais, nos leva a questionar se, de fato, o ENEM constitui-se em um exame direcionado ao aluno, como oportunidade para ele se auto-avaliar nas competências preestabelecidas, conforme apregoam os documentos oficiais. Temos visto que o uso da nota do Enem pelos alunos no Prouni52 e como substituição do vestibular tem sido a principal forma de popularização deste Exame. Entre os professores este parece ser “o grande poder transformador” do Enem. Castro e Tiezzi (2005, p.133) apontaram o Enem como um poderoso instrumento indutor de mudanças, na medida em que “expressa no que é avaliado aquilo que deveria ter sido ensinado”. Eles também nos lembram que a reforma do Ensino Médio estava assentadas sobre quatro eixos: expansão do sistema visando a sua progressiva universalização; redefinição do papel do Ensino Médio no processo educacional; melhoria das condições de oferta; melhoria da qualidade do ensino. E destacam ainda que as demandas que geraram esta reforma do ensino médio, passando pela LDB de 1996, foram as exigências do mercado de trabalho, a expansão da oferta de vagas rumo à universalização do acesso e afirmam a relação direta entre as políticas de avaliação como o Enem e a “ênfase em programas de formação continuada de professores” (p.130). É possível assim inferir aqui que o INEP passou ao ENEM a responsabilidade de oferecer uma referência para os professores sobre quais competências precisam ser desenvolvidas e como elas podem ser avaliadas. Esse parece ser um dos pontos centrais que justifica o esforço empreendido pelo INEP para a realização desse Exame, justificando a relação direta que a reforma propõe entre a formação dos professores e o Enem, ou seja, entre este Exame e a necessidade de preparar os professores para atuarem na direção das demandas do Enem. Na Revista do Enem (2001, p.12) encontramos a seguinte afirmação: “esse é o poder transformador do ENEM: quando você avalia dessa maneira, está dizendo que isso é que deveria ter sido ensinado. Esse é o grande poder pedagógico do ENEM e a grande ajuda que pode dar a reforma do ensino médio”. Enem e a Docência Partimos da compreensão do Enem enquanto uma avaliação externa de larga escala envolvida em uma política educacional que lançou as bases da Reforma do Ensino Médio na década de 1990. Pensamos, e Ball e Mainardes (2011) nos ajudam nesta percepção, que as políticas de uma forma geral envolvem confusão, necessidades (legais e institucionais), crenças e valores discordantes, incoerentes e contraditórios, pragmatismo, empréstimos, criatividade e experimentações. São perceptíveis também as relações de poder assimétricas (de vários tipos), sedimentação, lacunas e espaços, dissenso e constrangimentos materiais e contextuais. 52 Programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo Federal em 2004, que concede bolsas de estudos em instituições privadas de ensino superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, a estudantes brasileiros sem diploma de nível superior. Os resultados do Enem são usados como critério para a distribuição das bolsas de estudo, isto é, as bolsas são distribuídas conforme as notas obtidas pelos estudantes no exame. 243 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Os mesmos autores (BALL e MAINARDES, 2011) também sinalizam que as políticas, particularmente as educacionais, em geral são pensadas e escritas para contextos que possuem infraestrutura e condições de trabalho adequadas (seja qual for o nível de ensino), sem levar em conta variações enormes de contexto, de recursos, de desigualdades regionais ou das capacidades locais. Também indicam que: A política pode estar relacionada à organização das práticas e à relação que elas têm com alguns tipos de princípios. Elas não são, no entanto, fixas e imutáveis e podem ser sujeitas a interpretações e traduções e compreendidas como respostas a problemas da prática. As políticas estão sempre em algum tipo de fluxo, no processo de se tornarem algo mais. Esse é, fundamentalmente, o caso atual da educação, que flui ao lado da política (declarações, demandas e expectativas) (BELL e MAINARDES, 2011, p.14). Por outro lado compreendemos a docência como a prática de profissionais que carregam saberes diversos, heterogêneos, e especialmente contextualizados, situados, ligados fortemente à personalidade dos atores (professores) e à particularidade das situações de trabalho. Tardif (2010) coloca que a ação profissional do professor é estruturada basicamente por duas séries de condicionantes: a transmissão da matéria e a gestão das interações humanas em sala de aula. Este seria o próprio cerne da profissão. Para Tardif (2010, p. 221) “a razão do professor, a razão pedagógica, se estabelece sempre em sua relação com o outro, isto é, em suas interações com os alunos”. E é nesse sentido, portanto, que ela difere profundamente da racionalidade científica e técnica, a qual está voltada para a objetivação e para a manipulação dos fatos. A partir destas colocações sobre política educacional e docência, evidenciamos a distância entre o discurso linear e técnico dos documentos oficiais que promulgam as bases do Enem, e o cotidiano escolar, onde a prática profissional ganha outra dimensão, divergente daquela que o Estado esperava encontrar: professores prontos e aptos à reproduzir um novo currículo preparando seus alunos para uma avaliação externa pautadas num ensino por competências. Considerações Finais Pensamos que há um desencontro entre o que é previsto pelo Enem em relação às possíveis mudanças das práticas pedagógicas dos professores, e o que ocorre de fato no cotidiano escolar. Mas por que este desencontro? Nossa percepção é que a política pública que engloba o Enem no contexto de Reforma do Ensino Médio não levou em consideração aspectos fundamentais da profissão dos atores que agem no “contexto de prática” (BALL E MAINARDES, 2011) da política, ou seja, condições inerentes aos saberes docentes. Concordamos com Zanchet (2003) que, sob o ponto de vista das características das questões, a prova do Enem sinaliza uma outra lógica importante para a avaliação dos conhecimentos. Esse realmente é um fato incontestável. No entanto, também acreditamos que “afirmar que esse instrumento seja capaz de alterar as práticas pedagógicas e induzir à implantação da reforma para o ensino médio é fato discutível”. (ZANCHET, 2003, p.184). Também consideramos evidente o erro na idéia de que o Enem ao avaliar o aluno avalia o ensino e, portanto, o professor, fazendo com que este processo leve os professores a reverem suas práticas. Uma avaliação externa é capaz de “melhorar” o ensino oferecido pelos professores? O que pensam estes profissionais sobre esta idéia promulgada pelo governo a partir da Reforma do Ensino Médio? Quinze anos após o surgimento do Enem quase nada mudou em termos de “qualidade de ensino”, se pensarmos que as notas dos alunos da rede pública de ensino tem se alterado muito pouco. Não é evidente que para o sucesso de qualquer política pública educacional é necessário considerar o contexto da prática marcado pelos saberes dos agentes implementadores, neste caso, os professores? Uma política “de cima para baixo”não pode ter garantia de sucesso. Acreditamos que nossa pesquisa dialoga com outros trabalhos na área de políticas públicas, avaliação, e, formação 244 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades continuada de professores. É preciso ousadia e criatividade para a concretização de um Ensino Médio que atenda as demandas da atual juventude, e professores que acreditem e se realizem profissionalmente nesta etapa de ensino. Referências BALL, S. J; MAINARDES, J. (organizadores). Políticas Educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011. CASTRO, M.H.G.; TIEZZI, S. A reforma do ensino médio e a implantação do ENEM no Brasil. In: BROCK, C.; SCHWARTZMAN, S. (Org.). Os desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. p. 119-154. LOPES, A. C. Os parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio e a submissão ao mundo produtivo: o caso do conceito de contextualização. Educação & Sociedade, Campinas, vol.23, n.80, p.386-400, set. 2002 LOPES, A. C. e LÓPEZ, S. B. A performatividade nas políticas de currículo: o caso do Enem. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.26, n.01, p.89-110, abr. 2010 TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. KRAWCZYK, Nora. Reflexão sobre alguns desafios do ensino médio no Brasil hoje. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 144, p.753-769, dez. 2011. ZANCHET, Beatriz Maria Atrib. A prática avaliativa do exame nacional do ensino médio (ENEM): pressupostos conceituais e implicações no contexto escolar. Santa Maria, RS, 2000. 303 p. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. ZAN, D. D. P. A Concepção de Ensino Médio e de Currículo Expressa da Proposta de São Paulo. Horizontes, São Paulo, v.30, n.2, p.59-68, jul./dez. 2012. O LUGAR DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – ENTRE O FETICHISMO E UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL Cíntia Velasco Santos – UERJ/RJ RESUMO Este estudo apresenta uma reflexão acerca do lugar das tecnologias de informação e comunicação no Novo Plano Nacional de Educação. O que se pretende, aqui, é apontar como os discursos nos documentos oficiais podem levar as tecnologias, em especial os laboratórios de informática das escolas, a serem compreendidos como solução para os problemas na educação, tais como acesso, permanência na escola e qualidade da formação. Este trabalho propõe, sob o olhar da Análise Crítica do Discurso, uma discussão sobre o fetichismo que recai sobre as tecnologias nos discursos das políticas educacionais e sobre as possibilidades de democratização do ensino através das tecnologias. Palavras-chave: tecnologias de informação e comunicação, Novo Plano Nacional de Educação, políticas públicas. INTRODUÇÃO De um modo geral, as políticas públicas brasileiras vêm sendo direcionadas para a modernização de todos os setores da sociedade. Para tanto, investe-se maciçamente em tecnologia, buscando com isso atingir estágios superiores de desenvolvimento das forças produtivas e da organização política e social. (BONILLA; PRETTO, 2000, p. 1) 245 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011 – 2020 passa por processo de aprovação em um contexto onde os processos de ensino e aprendizagem têm sido profundamente atravessados por novas funções cognitivas humanas e novas formas de percepção e raciocínio trazidas pela velocidade na circulação da informação, pela inserção das comunidades nas redes de dados e pelo ciberespaço (LÉVY, 2010). Caberia, então, às políticas públicas para a educação incorporar essas novas formas de percepção e aprendizagem como possibilidades de formação do indivíduo, abarcando as tecnologias de informação e comunicação (TIC) como fundamentais para esse processo. O que se observa no PNE, entretanto, é uma profunda contradição. Em seu discurso, o Plano Nacional de Educação apresenta as TIC como elemento crucial nos processos de democratização do acesso à educação e na formação do aluno. Porém, a forma superficial como a incorporação das tecnologias nas práticas educativas é apresentada em seu texto, pode levar a uma compreensão equivocada do papel das TIC nas escolas. Levantando a bandeira da democratização, a metas apresentadas no PNE apontam as tecnologias como “capazes” de elevar o nível de escolaridade dos alunos, de reduzir a defasagem entre idade e série escolar e de ampliar o número de formados através da educação a distância. Ou seja, é atribuído às TIC o papel de sujeito na educação, com possibilidade de solução para todos os problemas. Este discurso, porém, não apresenta como as tecnologias podem trazer soluções para questões educacionais. Isto significa que as TIC estão fortemente presentes no discurso do PNE, mas sua aplicação nas práticas pedagógicas sofre um apagamento, já que o documento não deixa claras as limitações e possibilidades na incorporação das tecnologias às práticas educativas. Este cenário de apagamento das práticas pedagógicas no PNE abre espaços para que os laboratórios de informática das escolas sejam subutilizados e para que as práticas educativas que envolvem as tecnologias sejam uma repetição daquelas que envolvem quaisquer outros recursos como o livro didático ou o quadro de giz. Todavia, a utilização da tecnologia no contexto formativo ainda se apresenta, na maioria das vezes, restrita a softwares educativos e plataformas de educação a distância, ou seja, como um mero recurso na aquisição do velho conhecimento. (FRANCO; LEAL, 2011, p. 224). O que se pretende com este estudo é discutir, sob o olhar da Análise Crítica do Discurso (ACD), quais conjuntos de forças podem atravessar o PNE, levando a incorporação das tecnologias a um processo de fetichização do computador na escola, e propor uma crítica às limitações e possibilidades do papel das TIC nos processos de democratização do ensino. A ACD, por apontar que relações de poder podem moldar os discursos, contribui para a compreensão dos fenômenos sociais, políticos e culturais presentes nos textos das políticas públicas. Para isso, este estudo adota as contribuições da ACD propostas por Norman Fairclough em sua obra Discurso e Mudança Social. Nesta obra, Fairclough aponta a democratização e a tecnologização do discurso como recursos linguísticos aplicados com o intuito atender aos anseios do receptor/leitor. Esses recursos podem ser aplicados às políticas públicas para a educação, pois são discursos que atendem às demandas, sejam elas das forças de mercado e políticas, sejam das comunidades escolares. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO PNE – PARA QUÊ? PARA QUEM? Propor uma reflexão sobre o papel das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas políticas públicas para a educação no Brasil significa também refletir sobre vários fatores que são exteriores à educação. Tais políticas podem ser profundamente influenciadas pelas vozes altas e firmes do mercado de trabalho e da grande indústria de aparatos tecnológicos. Essas vozes 246 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades costumam predominar nos discursos das políticas para a educação, anulando, quase sempre, os anseios das comunidades escolares e de setores organizados da sociedade. Há, notoriamente, um conjunto de forças que levam o discurso das políticas públicas, consequentemente, do PNE, a transformar as tecnologias em sujeitos capazes de ações incríveis para solucionar velhos problemas educacionais. O primeiro deles é a demanda por qualificação. Isso significa que, estando a escola inserida na chamada sociedade da capacitação (DIAS, 2011), onde uma formação rápida e permanente (já que as aptidões tornam-se obsoletas da noite para o dia) é indispensável, a escola é vista como espaço para a qualificação em massa para o mercado de trabalho. “Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habilitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho” (FRIGOTTO, 1995, p. 26) Como documento oficial, o Plano Nacional de Educação formaliza tal massificação da capacitação para o mercado, respondendo às demandas do capital. A fim de garantir o progresso técnico-científico, investe-se na reforma dos sistemas educacionais, pois à escola atribui-se o papel de formadora de recursos humanos que essa nova sociedade moderna necessita para funcionar. À educação não cabe outra finalidade além de potencializar a estrutura de produção do país (BONILLA; PRETTO, 2000, p. 1,2). Desta forma, os laboratórios de informática das escolas podem ficar restritos à qualificação de indivíduos para o uso instrumental do computador, não havendo negociação de sentidos, não promovendo o desenvolvimento de novas funções cognitivas, de novas percepções e subjetividades. Assim, com a apropriação meramente instrumental das tecnologias, o aluno está supostamente apto a atender às demandas do mercado de trabalho informatizado, que logo apresentará a ele novas demandas por capacitação, nem sempre possíveis. O segundo conjunto de forças que atravessa o discurso do PNE e interfere na incorporação das tecnologias é o atendimento às demandas por formação recomendadas pelos grandes organismos internacionais, tais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Estes grandes organismos apontam caminhos a serem seguidos pelas instituições educacionais em países da América Latina para ampliar o número de formados em educação básica e superior, com o intuito de elevar o nível de escolaridade nesses países (BARRETO, 2002). As tecnologias, mais uma vez, são vislumbradas como a solução para o problema da necessidade de formação. Com uma qualificação rápida e de baixo custo, a educação a distância (EAD) tornou-se primordial na ampliação do número de indivíduos com formação superior no Brasil. “As páginas escritas pelos organismos internacionais estão centradas na redução do papel do Estado no financiamento da educação, bem como na diminuição dos custos de ensino” (Idem, p. 89). Tendo como lema formar o maior número de pessoas no menor tempo possível, a EAD passa a ser a principal finalidade da incorporação das TIC às políticas públicas para a educação. É possível questionar, entretanto, a qualidade dessa formação rápida e de baixo custo. Como afirma Zuin (2010), “o mero acesso ao uso da internet, por meio de maior quantidade de computadores (...) não implica, por si só, a garantia de que o acesso aos conteúdos informativos se converta verdadeiramente em formação educacional”. O que se tem observado é uma verdadeira indústria de diplomas, com mínima interferência governamental no controle dos cursos oferecidos. Novamente, o que a educação a distância pode promover é o uso instrumental das tecnologias, sem aplicação crítica de seu uso, sem observar suas possibilidades e limitações. Trata-se, então, de um outro processo de massificação da formação superior no qual a qualidade, também nesse seguimento, pode ocupar posição irrelevante. Neste cenário, a formação de professores tem sido bastante afetada. Observa-se uma verdadeira “explosão” de cursos de formação a distância para esses profissionais, seja para formação inicial ou continuada. Isto ocorre em função da grande demanda por capacitação de cidadãos para o trabalho, mas, para sua concretização, é necessário ampliar a formação de 247 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades professores formadores. A capacitação a distância para professores surge, então, como solução para atendimento a essa demanda por educadores. Como afirma Lévy (2010): Os dispositivos de formação profissional e contínua estão saturados. Quase metade da sociedade está, ou gostaria de estar, na escola. Não será possível aumentar o número de professores proporcionalmente à demanda por formação (p. 171) Outro conjunto de forças, este, talvez, o mais avassalador é a indústria de equipamentos de informática e softwares educativos. Para este setor da economia, a escola pode ser compreendida como um forte mercado consumidor de seus produtos. Ao tratar as tecnologias como solução para todos os problemas da educação, o PNE abre as portas da escola para a entrada desse mercado de forma bastante significativa. Uma reflexão sobre a entrada desse mercado na escola é fundamental, porque observa-se um afastamento da comunidade escolar na tomada de decisões sobre a incorporação das tecnologias às práticas pedagógicas. A escola é receptora, consumidora de softwares educativos produzidos pelas indústrias de materiais tecnológicos educacionais que, atendendo a um processo de homogeneização das práticas educativas, não considera as particularidades e características das comunidades escolares. A forma como ocorre a incorporação desses produtos tecnológicos não envolve a participação de docentes, de coordenadores pedagógicos ou diretores, nem de alunos, que passam a ser meros reprodutores de conhecimentos institucionalizados por essa indústria. Exemplos dessas práticas são as teleaulas e os programas governamentais de aceleração da aprendizagem através de cursos semipresenciais. Atribui-se, então, ao professor a função de animador ou monitor de aparatos tecnológicos e aulas que já vêm prontas, retirando da função docente o desenvolvimento de senso crítico, da negociação de sentidos, da elaboração de seus próprios materiais, baseada em suas escolhas. Isso tem gerado um desconforto entre os docentes que, quase sempre, ao recusarem tal função de “monitores da aprendizagem” através das TIC, são vistos como resistentes às tecnologias, recaindo sobre seus ombros a responsabilidade pelo caráter obsoleto que pode ser atribuído à escola que não as incorpora em suas práticas. A demanda por formação para o mercado de trabalho, a interferência dos organismos internacionais e o atendimento aos interesses da indústria de aparatos tecnológicos têm provocado um verdadeiro fetichismo relacionado às tecnologias nas políticas públicas para a educação e, consequentemente, nas escolas. Isto significa que, sendo compreendidas como mercadorias, as TIC produzem um olhar fetichizado sobre elas: precisam, por um determinismo da sociedade da capacitação, ser consumidas pela escola (MENEZES; ALVES, 2010). É notório que, para estar na sociedade da capacitação, a escola precisa estar devidamente equipada com laboratórios de informática, salas de vídeo e projetores. Essa combinação de um discurso que aborda as tecnologias de informação e comunicação como a solução para todos os problemas educacionais brasileiros, sem estabelecer minimamente os critérios para que as TIC sejam abarcadas pelas práticas educativas, com a forma avassaladora como as tecnologias chegam às escolas, sem prévia formação e observação de suas capacidades e limitações, desenha um cenário que poderia ser de democratização do acesso, da permanência e da qualidade na educação, mas que, na verdade, vem reproduzindo as mesmas práticas hegemônicas, a mesma exclusão da comunidade escolar na tomada de decisões sobre o uso das tecnologias e o mesmo atendimento aos interesses de grupos exteriores à escola. A DEMOCRATIZAÇÃO E A TECNOLOGIZAÇÃO DO DISCURSO NO PNE – ATENDENDO ÀS DEMANDAS Estas forças que atravessam o discurso do PNE podem ser compreendidas segundo a Análise Crítica do Discurso (ACD) proposta por Norman Fairclough. Nela, o discurso é entendido “como 248 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades luta hegemônica em que o poder é exercido para construir a realidade social através do controle intertextual” (FRANCO, 2008, p.56). Considerando a ACD proposta por Fairclough (2001), o conceito de democratização do discurso, no qual há “a retirada de desigualdades e assimetrias dos direitos, das obrigações e do prestígio” está presente no Plano Nacional de Educação. Como explicitado anteriormente, o PNE, ao abarcar as tecnologias da informação e comunicação como aparatos capazes de elevar o índice de escolaridade, de reduzir a defasagem entre idade e série escolar e ampliar a oferta de formação através da educação a distância, compreende as tecnologias como solução para redução das desigualdades e assimetrias na educação brasileira. Isso é observado especialmente nas metas 3, 7, 11 e 14. A meta 3, que trata da universalização do acesso à educação para a população entre 15 e 17 anos de idade, em seu item 3.11 determina, para essa universalização, a ampliação da oferta de acesso à rede mundial de computadores: 3.11) Universalizar o acesso à rede mundial de computadores em banda larga de alta velocidade e aumentar a relação computadores/estudante nas escolas da rede pública de educação básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da comunicação nas escolas da rede pública de ensino médio. (BRASIL, 2010) A meta 7 apresenta as tecnologias, em seu item 7.11, também como fundamentais para a elevação do índice da educação básica: “7.11) Prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas de ensino fundamental e médio.” (Idem) As metas 11 e 14, que abordam a ampliação da qualificação, trazem a formação a distância como um caminho possível, em seus itens 11.3 e 14.4, compreendendo as tecnologias, assim como nas metas 3 e 7, como solução para a democratização do acesso à formação: 11.3) Fomentar a expansão da oferta de educação profissional técnica de nível médio na modalidade de educação a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e democratizar o acesso à educação profissional pública e gratuita. (Idem) 14.4) Expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu utilizando metodologias, recursos e tecnologias de educação a distância, inclusive por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB. (Idem) É notória a democratização do discurso nas metas acima. Evidenciam-se os anseios da população por uma educação de melhor qualidade e por ampliação no acesso à formação, cabendo às tecnologias de informação e comunicação o papel de destaque para esse fim. Do mesmo modo, a atribuição de papel de destaque na redução das assimetrias e desigualdades dada às tecnologias vai de encontro aos interesses dos grupos de forças descritos anteriormente. Como sujeitos na educação, as TIC atendem à indústria de aparatos tecnológicos para a educação, atendem às demandas por qualificação para o mercado de trabalho e às demandas por formação recomendadas pelos grandes organismos internacionais. Em contrapartida, é possível obervar nessas metas a forte presença das tecnologias em oposição à superficialidade de sua incorporação. Pode-se afirmar que há um processo de tecnologização do discurso. Nesse processo, mecanismos linguísticos de sintaxe, gramática e elementos lexicais são cuidadosamente aplicados para produção de um efeito desejado: As tecnologias discursivas estabelecem uma ligação íntima entre o conhecimento sobre linguagem e discurso e poder. Elas são planejadas e aperfeiçoadas com base nos efeitos antecipados mesmo nos mais apurados detalhes de escolhas linguísticas (...). Elas produzem mudança discursiva mediante um planejamento consciente. (FAIRCLOUGH, 2001, p. 265) 249 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Esse processo faz-se presente na elaboração do discurso do PNE ao apresentar um apagamento de propostas pedagógicas para uso das tecnologias. Isso significa que, mesmo estando presentes no Plano Nacional de Educação e atendendo, assim, às demandas por uso das tecnologias, as TIC, apresentadas de modo superficial no discurso, abre espaços para sua consequente subutilização. Nas metas 3, 7, 11 e 14, onde as tecnologias são apresentadas como fundamentais para solução de problemas educacionais, há, ao mesmo tempo uma desobrigação na elaboração de propostas para sua incorporação às práticas educativas. Não há, nessas metas maiores esclarecimentos sobre a responsabilidade na elaboração das propostas pedagógicas. Caberia aos estados? Aos municípios? À comunidade escolar? Essas ausências culminam nos caros laboratórios de informática das escolas, pouco utilizados ou utilizados apenas em substituição de outros elementos como o livro didático e o quadro de giz. Esse processo de tecnologização do discurso, onde a forte presença das tecnologias está aliada ao apagamento de seu uso pedagógico, atribui ao PNE o caráter de mercadoria produzida, conforme as demandas dos grupos de forças descritos neste estudo, a ser oferecida aos cidadãos consumidores, que, ludibriados pela suposta democratização do discurso, podem não perceber as tecnologias discursivas usadas em sua elaboração. CONSIDERAÇÕES FINAIS – POR UMA DEMOCRATIZAÇÃO POSSÍVEL ATRAVÉS DAS TIC O Plano Nacional de Educação para o decênio 2011 – 2020 deveria ser um dispositivo de democratização da educação e de valorização da cultura nacional. Entretanto, a superficialidade com que são tratados, neste documento, aspectos relevantes como a incorporação das tecnologias de informação e comunicação acaba afastando o PNE do conceito de democratização proposto por Fairclough: sofre um apagamento, no PNE, a redução de assimetrias e desigualdades. A linha de argumentação que vem sendo trazida até aqui aponta para a necessidade de não excluir o mundo da tecnologia de ponta do ambiente cultural de todos os níveis da escola no Brasil, mormente da escola pública oficial. No entanto, esta linha de pensar oferece perigos de deslizes que podem trazer sérios riscos à educação, como aquele da dependência cultural (ALMEIDA, 2005, p. 67) Com estas palavras de Fernando Almeida, estas considerações finais fazem um convite para uma reflexão acerca da necessidade de incorporação das tecnologias de informação e comunicação de forma criteriosa às práticas pedagógicas. Este trabalho não busca posicionar-se contra a entrada das tecnologias nos ambientes escolares, mas fazê-la de modo a obervar as peculiaridades de cada comunidade onde a escola esteja inserida. Assim, a implementação das TIC deixa de ser apenas uma representação de interesses das classes dominantes: “mesmo a informática aplicada à educação tende a ser um modo de rearticulação do poder da burguesia na educação, um modo de retomar os benefícios da instrução para projetos de maior participação e controle desta classe na cultura”. (Idem, p. 54). É possível vislumbrar maior democratização do acesso à formação e da educação de qualidade e redução das desigualdades através das tecnologias, desde que a sua incorporação às práticas educativas não esteja atrelada, simplesmente, ao progresso tecnológico e às demandas do capital. Este progresso, “pela sua natureza instrumental, não pode constituir-se em um fim da educação e muito menos em um fim da própria sociedade, pois a modernização técnica e industrial não implica necessariamente a modernização em sentido mais amplo da sociedade” (BONILLA; PRETTO, 2000, p. 2). Como propor, então, um processo de democratização do acesso à formação e das práticas educativas através das tecnologias? Um caminho possível seria retirar das TIC o papel de sujeito 250 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades capaz de resolver questões importantes da educação e devolver este papel ao professor e ao aluno. Como sujeitos da educação, mestres e educandos são capazes de tomar decisões para melhor incorporação das tecnologias. Mesmo que estas cheguem às escolas atravessadas por diversos conjuntos de forças exteriores às comunidades escolares, se couber ao professor e a aluno determinar como e para que as TIC devem ser aplicadas, haverá uma grande aproximação das práticas pedagógicas dos benefícios que as TIC podem trazer para o desenvolvimento da sociedade. “A presença e o uso criterioso de materiais instrucionais, usados comumente pela cultura reinante, é uma forma de incentivar o maior número de pessoas nos benefícios sociais” (ALMEIDA, 2005, p. 66). E retirar das tecnologias o papel de sujeito dos processos educacionais e devolver este papel à comunidade escolar significa democratizar estes processos, dar aos alunos e professores a oportunidade de compreender com maior clareza as características da sociedade informatizada, como a escola pode formar indivíduos capazes de interagir criticamente com tais características e, assim, desenvolver de forma mais autônoma e criativa melhores formas de se apropriar das TIC. É notório que a mera reestruturação dos espaços escolares através do envio de aparatos tecnológicos não culmina em ampliação do acesso à formação de qualidade. Isto ocorre porque as políticas públicas para educação vêm abarcando aplicações de tecnologias propostas por agentes exteriores à escola. É somente através de uma atmosfera de cooperação e envolvimento de professores, pais, alunos, gestores e agentes do governo, bem como sua sensibilização sobre os limites e possibilidades, que as tecnologias de informação e comunicação podem democratizar os acessos à formação. Como dito anteriormente, não se pretende aqui, fechar as portas para as tecnologias nas escolas, mas fechar as portas para o “despencar” das TIC nas práticas escolares como determina o Plano Nacional de Educação para este decênio. Ir além da mera instrumentalização das práticas escolares por meio das tecnologias e ampliar a participação da comunidade escolar são caminhos possíveis para maior democratização. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Fernando J. Educação e Informática: os computadores na escola. São Paulo, Cortez, 2005. BARRETO, Raquel G. Formação de Professores, Tecnologias e Linguagens. São Paulo, Loyola, 2002. BONILLA, Maria H. S.; PRETTO, Nelson. Políticas Brasileiras de Educação e Informática. 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Ambos têm por finalidade precípua oferecer qualificação técnico-profissional aos jovens para concorrerem ao mercado de trabalho. A metodologia foi qualitativa com pesquisa documental exploratória, e no caso do PSC foi ainda utilizada uma empiria realizada via questionário com o gestor do Projeto no Comando do Exército. A demanda reprimida do PSC seria atendida pelo Programa, o qual, a princípio, não é obrigatório, cabendo a decisão de procurá-lo ao jovem, o que ratifica a não articulação entre as políticas. As políticas são fragmentadas e o ensino aligeirado, não havendo a formação completa do aluno. Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. Projeto Soldado Cidadão. PRONATEC. INTRODUÇÃO Em nosso país como em outros, o mercado de trabalho encontrado principalmente pelos jovens “é muito diferente do mercado encontrado pelos seus pais. Os contratos de trabalho são piores, expandiram-se os contratos temporários e a informalidade aumentou” (CAMARANO et al. 2001 apud FRESNEDA, 2009, p.16). A maioria dos jovens recebe salários menores e está menos protegido socialmente, o que geram dúvidas e incertezas quanto ao seu futuro, além de sofrerem com especial rigor os fenômenos do desemprego e da inserção precária no trabalho (HASENBALG, 2003). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE, 2010), os jovens de 16 a 24 anos somam cerca de 34 milhões de indivíduos, entre homens e mulheres. Esta faixa etária representa cerca de 47% do total global de desempregados e não mais que 25% da totalidade da população economicamente ativa. Branco (2011, p.130) argumenta que “enquanto para os adultos presentes no mercado de trabalho 8 (oito) em cada 100 se encontravam desempregados; no caso dos jovens, essa cifra saltava para 24,5 em cada 100, ou seja: três vezes mais”. O caminho da preparação para o primeiro emprego e a necessária competência desse jovem são temas que têm tido espaço na agenda política a partir dos anos de 1990 (SPOSITO, 2003) e também do atual governo, que, entre outras ações estratégicas, pretende dobrar o número de vagas oferecidas pelo ensino técnico. A necessidade, portanto, de melhor qualificação é uma aspiração também da população, que sabe que pessoas mais educadas conseguem melhores empregos e melhores rendas (CASTRO; SCHWARTZMAN, 2013). O objetivo deste artigo, portanto, foi identificar as principais potencialidades e limitações da formação técnica que favorecem o acesso dos jovens egressos do Serviço Militar Inicial (SMI) na busca do primeiro emprego via Projeto Soldado Cidadão (PSC), e na articulação que se faz 252 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades necessária com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), visto ser este o responsável por absorver a demanda reprimida dos recrutas que não obtiveram formação por um dos cursos de qualificação do Projeto. O artigo é um pesquisa bibliográfica exploratória, de cunho qualitativo e que contou também com uma pesquisa empírica, tendo como instrumento de coleta um questionário com perguntas abertas enviado ao Coordenador do PSC no Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro (COTER), um dos órgãos responsáveis por sua gestão. A pergunta da pesquisa foi: em que medida o PRONATEC está articulado e pode contribuir para minimizar o gargalo existente na formação técnica oriunda do PSC? Este artigo está organizado em três seções principais, além da Introdução e das Considerações Finais. A primeira apresenta os conceitos de juventudes e as principais políticas públicas; na segunda são mostrados alguns registros da pesquisa realizada, focando no PSC, a análise das respostas do Coordenador do Projeto, além de dados e principais pontos observados do PRONATEC; e, por último, a necessária articulação complementar entre ambas as políticas públicas educacionais de formação técnica. JUVENTUDE OU JUVENTUDES: CONCEITOS COMPLEXOS A noção de juventude é uma construção histórica que está relacionada ao desenvolvimento da sociedade moderna (BALARDINI, 1999). Andrade (2008, p.24-25), que cita Ariés (1981), argumenta que até o início do século XVIII não havia diferenciação clara entre infância e vida adulta, pois as crianças eram tratadas como “adultos em miniaturas”. Dessa forma, o “surgimento das noções de infância, adolescência e juventude deram-se a partir da constituição da família burguesa e das instituições escolares, que com a formação desses espaços, foi criado um período de transição entre infância e vida adulta” (CATANI; GILIOLI, 2008). O termo se tornou juventudes, reconhecido no plural, porque deseja-se enfatizar que, “a despeito de constituírem um grupo etário que partilha várias experiências comuns, subsiste uma pluralidade de situações que confere diversidade às demandas e necessidades dos jovens” (CASTRO; AQUINO; ANDRADE, 2009, p.25). Corroboram-no Catani e Gilioli (2008, p.16) quando citam Pierre Bourdieu (1930-2002) e destacam a juventude no plural, pois aquele autor acredita “que haveria pelo menos duas juventudes, a burguesa e a das classes populares, com diferenças significativas entre si". No caso do Brasil por exemplo, a questão juventudes é considerada eminentemente urbana, com cerca de 80% nas cidades. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n o 9.394 de 20 de dezembro de 1996, determina que é dever do Estado a educação escolar pública e que será efetivado mediante a garantia de oferta de educação regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola, além de ofertar e manter uma específica modalidade de ensino para jovens e adultos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria, e que deverá ser preferencialmente associada à educação profissional e tecnológica (BRASIL, 1996). Relembra-se que até pouco tempo a Constituição Federal não tinha a juventude como determinação legal. Graças a Emenda Constitucional n o 65/2010 que a palavra “jovem” ganhou efetiva instituição no dispositivo máximo da Nação. Agora no capítulo VII, que trata da família, da criança, do adolescente e do idoso, tem também o jovem descrito no seu art. 277, como sendo dever do Estado, e em especial lhe sendo atribuído o direito à profissionalização (BRASIL, 2010b, grifo nosso). Foi possível também avançar na institucionalização da Política Nacional de Juventude com a criação de órgãos e conselhos específicos nos estados e município (HONORATO, 2012). 253 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE/PARA/COM JUVENTUDES É direito dos jovens de serem sujeitos-atores de seus próprios direitos e é do Estado o papel de legislar, administrar e implementar políticas públicas em consonância com a sociedade civil (CASTRO, 2004). Essa autora ainda salienta que o debate sobre políticas de/para/com juventudes, considerando que os próprios jovens deveriam reivindicar direitos, passa pela formulação no sentido de aprender a zelar pela coisa pública, acompanhar e cobrar a ação do Estado, exercício de cidadania civil e política ativa, monitorando o uso da coisa pública. Um primeiro direito humano é o da voz da diversidade, defendendo que hoje há vários tipos de jovens e dando espaço para que eles representem seus direitos. Políticas públicas de/para/com juventudes é toda ação articulada que se orienta tanto para o sucesso e realização de objetivos sociais referentes ao período vital juvenil, assim como aquelas estratégias orientadas a influenciar nos processos de socialização envolvidos. Trata-se de políticas reparadoras ou compensatórias, de produção e orientadas para o desenvolvimento e construção da cidadania (BALARDINI, 1999). Em suma: é gerar condições em que os jovens possam ser como tal e, ao mesmo tempo, participar na formação da sociedade em que vivem. Em relação às fragilidades das políticas públicas para os jovens, Castro (2003 apud ANDRADE, 2008) afirma que não se considera a diversidade entre juventudes; não se concebe o jovem com idade própria e desconsidera a falta de direitos humanos básicos como estudar, divertirse, exercitar-se, investir em autonomia, ter assegurada sua manutenção econômica e afetivofamiliar. É o que Sposito e Carrano (2003) parecem ratificar, pois apontam que as políticas públicas destinadas a essa faixa da população muitas vezes fracassam por não correspondem às expectativas e desejos dos favorecidos. PRINCIPAIS POLÍTICAS PÚBLICAS A partir de ações combinadas, vários avanços foram conquistados nos últimos anos. Como produto final, em 2006, foi lançado o primeiro "Guia de Políticas Públicas de Juventude" pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ). Em sua apresentação, o referido documento deixa claro a importância em se ter o entendimento das singularidades e das peculiaridades das juventudes, com o objetivo de garantir direitos a esta geração, aspectos "fundamentais para consolidar a democracia no Brasil, com inclusão social. É esta a perspectiva que norteou o Governo Federal na concepção e implantação de políticas públicas de juventude” (BRASIL, 2006, não paginado). Na busca por ações políticas com esse coletivo de atores, o segundo mandato do presidente Lula da Silva manteve 19 principais programas e projetos por intermédio da reedição de um novo Guia, lançado em 2010 (BRASIL, 2010a). Os que estão ligados ao tema de estudo são: o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM); o Programa Brasil Alfabetizado; o Programa de Integração de Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA); o Reforço às Escolas Técnicas e Ampliação das vagas em Universidades Federais; e o Projeto Soldado Cidadão (PSC), este último foco deste artigo. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) foi lançado na gestão da Presidente Dilma Rousseff em 2011, e em 2013 foi disponibilizada, pela SNJ, uma nova cartilha, que requer um estudo mais aprofundado, pois valorizou apenas quatro ações estratégicas: o Plano Juventude Viva, o Programa Estação Juventude, o Participatório e o Programa de Inclusão Produtiva, Formação Cidadã e Capacitação para Geração de Renda da Juventude Rural53. 53 Disponível em: <http://www.juventude.gov.br/documentos/cartilha-politicas-publicas>. Acesso em: 20 maio 2013. 254 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O PROJETO SOLDADO CIDADÃO A Constituição Federal de 1988, em seu art. 142, apresenta as Forças Armadas como instituições nacionais de caráter permanente e regular, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob comando do Presidente da República e destinadas à defender a Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Outro artigo, o 143, ratifica que o Serviço Militar Inicial (SMI) é obrigatório nos termos da lei, competindo às Forças Armadas a sua implementação (BRASIL, 1988). Com base estrutural nas leis do ensino profissional técnico e nos planos e programas de incentivo à profissionalização e à inserção dos jovens no mercado de trabalho, o Presidente Lula oficializou o PSC em 10 de agosto de 2004, com abrangência nacional e recursos orçamentários do próprio Governo Federal repassados ao Ministério da Defesa (MD). O Projeto tem por finalidade qualificar social e profissionalmente os jovens que prestam o Serviço Militar para ingresso no mercado de trabalho. No início, o PSC foi integrado ao Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE), com a proposta também de minimizar o desemprego juvenil. O PNPE foi substituído e em seu lugar foi apresentado em 2005 o Projovem. Segundo dados do próprio Ministério da Defesa (MD), de 2004 a 2012, foram habilitados mais de 165 mil jovens. A população média de jovens que efetivaram o alistamento militar entre 2004 e 2011 foi de 1.660.037 (vide Tabela 1). Deste total, cerca de 66.000 em média prestam efetivamente o SMI, ou melhor, cerca de 4% (quatro por cento) do total. Deste montante, apenas 26% em média tiveram a oportunidade de realizar um curso do PSC, ou seja 16.845 recrutas em média por ano. Tabela 1 – Relação dos alistados versus cursantes do Projeto Soldado Cidadão (2004-2011) INCORPORADOS % % ALISTAD TOTAIS ANO OS ALIST/INCOR PSC/TOTA TOTAL PSC P L 2004 1.670.839 90.063 5,39 26.398 29,31 2005 1.625.295 64.319 3,96 20.426 31,76 2006 1.648.550 78.398 4,76 16.241 20,72 2007 1.663.208 54.775 3,29 17.906 32,69 2008 1.689.880 64.113 3,79 15.777 24,61 2009 1.626.306 49.809 3,06 12.098 24,29 2010 1.669.733 63.595 3,81 11.685 18,37 2011 1.686.486 62.492 3,71 14.227 22,77 MÉDIAS 1.660.037 65.946 4 16.845 25,57% Fonte: COTER. Elaboração própria. Os cursos têm uma carga horária média de 160 horas, abrangendo conteúdos programáticos específicos de formação profissional técnica. O PSC está presente em 134 municípios brasileiros que contam com instalações militares. A oferta de cursos é regulada de acordo com a demanda e o perfil econômico de cada região. Por exemplo, na Região Amazônica é ofertado um curso de manutenção de motores de popa, tão necessário para uma região cuja via principal de transporte e locomoção é o rio. Ou mesmo São Paulo, um estado com indústria automobilística, são ministrados cursos de mecânica básica de automóveis, funilaria e pintura, eletricista automotivo, pintor automotivo, entre outros. Uma lacuna nessa educação formal com certeza está aberta quando não se atinge a totalidade de jovens que estão prestando o SMI por ano. O estudo demonstrou que é por falta de 255 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades recursos orçamentários em especial, mas também pela necessidade de se manter a atividade-fim do Serviço Militar, ou seja, a instrução, as operações e a vida vegetativa das organizações militares não poderia ser comprometida (HONORATO, 2012). A partir desse ponto, pode-se argumentar com propriedade que deveria entrar em ação um caminho alternativo como solução para esse vazio de formação técnica, o que é discutido na próxima seção. O PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) foi instituído pela Lei no 12.513, de 26 de outubro de 2011, com o objetivo central de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica, atendendo aos estudantes do ensino médio da rede pública, inclusive da Educação de Jovens e Adultos (EJA), trabalhadores (incluem-se agricultores familiares, silvicultores, agricultores, extrativistas e pescadores) e beneficiários dos programas federais de transferência de renda como o Bolsa Família. Foi criada a “Bolsa Formação” no valor de R$ 100,00 e é ofertada nas modalidades Estudante e Trabalhador. São oferecidos cursos gratuitos nas escolas públicas federais e estaduais e nas unidades de ensino do Sistema "S". Durante a realização dos cursos, o estudante recebe o material didático e uma auxílio para sua alimentação e transporte. No nosso estudo em questão, interessa-nos conhecer o que é previsto na Bolsa-Formação Trabalhador, que é "destinada ao trabalhador e aos beneficiários dos programas federais de transferência de renda, para cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional" (BRASIL, 2011, não paginado). O PRONATEC, em seu sítio na internet54, não nos disponibiliza quaisquer tipos de dados que pudéssemos trabalhar na busca sobre a sua efetividade como política pública de qualificação profissional. Tal situação verificada, corrobora o que Castro e Schwartzman (2013, p.9) argumentam sobre este Programa, que ele é [...] muito recente e seus resultados precisarão ser avaliados nos próximos anos. Mas desde já, surgem preocupações com seu desenvolvimento. Primeiro, este programa está sendo implantado sem resolver o problema central da camisa de força do ensino médio convencional, que impede um desenvolvimento diferenciado da educação profissional. Segundo, a educação profissional, para não se reduzir, simplesmente, a uma educação média de segunda classe, necessita de fortes parcerias entre o sistema escolar e o sistema produtivo, que é o segredo dos sistemas mais bem sucedidos em todo o mundo, [...]. O que parece ratificar o ensino profissional e técnico como minimalista para os trabalhadores. Isso com certeza não é o que se deseja, a luta pela não mercantilização da educação profissional, pela escola pública unitária e de qualidade, laica, gratuita, um verdadeiro sistema educacional orgânico e colaborativo, que venha a ser organizado e gerido por educadores e toda a sociedade civil, num caminhar a passos fortes e certeiros de um país verdadeiramente grande no campo educacional como somos em extensão territorial. Em recente Colóquio realizado no Instituto Federal do Rio Grande do Norte, o tema PRONATEC foi bastante discutido, o que culminou com a elaboração pelos seus participantes da "Carta de Natal 2013" que foi encaminhada ao Exmo. Sr. Ministro da Educação, Senhor Aluízio Mercadante. Foi solicitado a revisão do conteúdo da Lei que instituiu o Programa, pois foi asseverado que ele é aligeirado e fragmentado, não se configurando uma política pública educacional voltada para a formação integral da classe trabalhadora (COLÓQUIO, 2013) O PSC E O PRONATEC: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA Acredita-se na formação para o trabalho como uma das dimensões educativas do processo 54 Disponível em: < http://pronatec.mec.gov.br>. Acesso em: 29 abr. 2013. 256 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades de formação humana. Um direito social que deve ser incorporado aos projetos de escolarização de nível médio e fundamental, aos jovens e adultos pertencentes aos grupos populares. Pode-se sintetizar que “a educação profissional é um campo de disputas e de negociação entre os diferentes grupos que compõem uma sociedade, desvelando as reformas de ensino, das concepções, dos projetos e das práticas formativas” (MANFREDI, 2002, p. 60). O PRONATEC, por intermédio do seu art. 5o, classifica a educação profissional e tecnológica em duas modalidades de cursos: o de formação inicial e continuada ou qualificação profissional e o de educação profissional técnica de nível médio. O parágrafo 1 o deste artigo determina que os cursos da qualificação profissional, que serão relacionados pelo MEC em documento próprio, devem contar com carga horária mínima de 160 (cento e sessenta) horas, a mesma prevista pelo PSC, o que mostra uma feliz relação. Está previsto que o Programa atenda em especial o ensino médio, porém, tal imposição entra em choque com o que é previsto para o jovem se alistar e prestar o SMI, ou seja, basta ter apenas o ensino fundamental. Na pesquisa realizada em Centro de Instrução da Marinha no Rio de Janeiro, com 292 recrutas, todos cursantes de um dos cursos previstos do PSC, contatou-se que 97% completaram ou estavam cursando o ensino médio, aptos, portanto, ao Programa. Não podemos porém generalizar, visto que o resultado foi obtido em uma cidade capital e da região Sudeste, que tem altos índices de escolarização (HONORATO, 2012). Uma das questões expostas ao Coordenador do PSC foi o da relação existente entre o PRONATEC e o PSC, inclusive questionando se com a entrada em 2011 do Programa não poderia significar o término Projeto, principalmente porque este não atinge a totalidade dos recrutas em SMI. A resposta foi simples, que o PSC está sendo desenvolvido como previsto e que o Programa será importante para suprir a demanda reprimida que é reconhecida como existente. Em 2011, ratificando o que foi respondido pelo Coordenador do PSC, foi assinado um acordo de Cooperação entre o MD e o MEC, que prevê a disponibilidade de vagas no PRONATEC em cursos técnicos junto ao Sistema "S" e Rede Federal de escolas Técnicas para preenchimento pelo público alvo do Projeto. Foi prevista para 2012 uma oferta de 45.000 vagas, sendo que 10.000 são consideradas como reprimidas, conforme dados do MD (BRASIL, 2012). A questão que aparece como uma interrogação é como isso seria articulado entre o MEC e o MD, visto que, segundo o Coordenador, os cursos seriam pós-Serviço Militar, no retorno à vida civil. Assim posto, a decisão de cursar ou não seria apenas do próprio jovem, sem ação ou responsabilização das Forças Armadas, o que é uma limitação importante. A partir de 2012 entrou em vigor o Plano de Gestão do PSC, sobre a coordenação da Chefia de Logística do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do MD, cuja descrição do seu escopo ainda se mantém o mesmo do projeto original, lançado em 2004, o de capacitar jovens brasileiros incorporados às fileiras das Forças Armadas, por intermédio de cursos profissionalizantes que lhes proporcionem qualificação profissional e facilitem seu ingresso no mercado de trabalho (BRASIL, 2012, grifo nosso). O estudo de Honorato (2012) tratou das principais potencialidades e limitações do PSC para o atingimento do seu objetivo colimado. O Coordenador no COTER argumentou que a principal limitação é que a atividade-fim do serviço militar não pode ser comprometida pelo PSC, ou seja, a instrução, as operações e a vida vegetativa das organizações militares devem ocorrer sem prejuízos. Quanto às possibilidades, são diversas, variando com as demandas regionais de mão-de-obra com os cursos realizados, já citada anteriormente. Os cursos de ambas as políticas públicas têm uma carga horária de 160 horas, abrangendo conteúdos programáticos específicos de qualificação profissional técnica. O Soldado Cidadão está presente em 134 municípios brasileiros que contam com instalações militares vis a vis o Brasil possuir mais de 5.560 municípios, o que demonstra que para o atingimento de metas mais robustas de formação a política pública tem que abranger mais jovens e municípios. 257 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Acredita-se que a existência de vagas em quantidade também não resolverá o problema. Dois pontos importantes merecem destaque: o primeiro é a existência de um mercado de trabalho que absorva a massa de entrante qualificado e que estará sendo disponibilizada naquelas formações profissionais específicas; e o segundo fator é a impossibilidade de escolha por parte do jovem, sujeito de direito reconhecido e participante da sociedade civil, em relação à formação que está sendo ofertada, ou mesmo a sua obrigação em ter que fazer um determinado curso que em nada o atenderá. Estes dois fatores só acarretarão desperdícios de recursos e frustração pelo não emprego. CONSIDERAÇÕES FINAIS O nosso país é um dos cinco maiores em extensão territorial e uma das oito maiores economias do mundo, mas ainda carece de uma educação básica de qualidade, independente se propedêutica ou profissional. Os desafios enfrentados pelos jovens são complexos. Estes que recentemente foram reconhecidos como sujeitos de direitos, e não mais como em situações de risco e/ou vulnerabilidade. Verifica-se o incremento pelo Estado nos últimos anos de políticas públicas educacionais afirmativas e universais para este coletivo e não mais assistências a determinado grupo de risco. O PSC completou em agosto de 2012 nove anos de existência. Passando até o momento por dois governos com a mesma linha ideológica e do mesmo partido político. Não havia uma organicidade do que era feito no âmbito de cada Força Singular - Marinha, Exército e Aeronáutica. Com o advento do Plano de Gestão e a Coordenação do programa pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, acredita-se que um gerenciamento centralizado pode ser uma potencialidade que aglutine as ideias inovadoras e as melhores práticas a serem divulgadas para todos os integrantes da rede. Uma alternativa já implementada pelo poder público para a inclusão do maior número de jovens em cursos de formação técnica não passará pelo PSC, que deverá manter o seu quantitativo de formação anual em torno de 23.000. Contudo, a lacuna que existe entre o número de jovens que prestam o SMI e as vagas do projeto em estudo, a princípio, será atendido pelo acordo firmado entre o MD e o MEC via Programa Nacional de Acesso ao ensino Técnico. Uma questão levantada é o da efetividade da complementação de cursos técnicos para a demanda reprimida do PSC por esse programa. Visto a recente implementação do PRONATEC, inclusive com a falta de dados para serem trabalhados. Soma-se também o controle dos cursos fora da organização militar, independente do que é demandado no mercado local de trabalho e do desejo do jovem aprendiz. O que responde a questão da pesquisa que atualmente não existe uma articulação entre ambas as políticas públicas educacionais de qualificação profissional, não sendo possível no momento avaliar a medida de complementação do Projeto no Programa. As políticas públicas de formação educacional estudadas se revestem de um caráter muito importante para que a tão reconhecida dualidade entre a formação propedêutica e o ensino profissional técnico tenha uma linha condutora única, por intermédio de uma educação básica de qualidade para todos, porém são consideradas fragmentadas e aligeiradas no que concerne a formação integral do aluno em questão. Pensar no jovem como sujeito de direitos, reconhecer as juventudes existentes, procurar a inclusão realmente inclusiva de todas, independente de seu extrato social e capital cultural familiar, é o caminho a ser conquistado. REFERÊNCIAS ANDRADE, E. A. de. Gestão municipal de políticas públicas dirigidas à juventude e possíveis aproximações com a promoção da saúde. 2008. 189f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. BALARDINI, S. Políticas de juventud: conceptos y la experiencia argentina. 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Parte-se da perspectiva da Teoria das Organizações, uma análise crítica destaca os inconvenientes e atitudes que comprometem uma verdadeira organização democrática do trabalho no espaço escolar considerando a escola como uma organização. Palavras-chave: Autonomia. Participação. Democracia. Introdução Nas diferentes tipos de organizações ou no espaço escolar não é sempre possível pôr em prática as teorias ligadas ao conceito de organização democrática ,levando em consideração inconvenientes inesperados ou más atitudes na organização.Quer na administração empresarial quer no espaço escolar não se pode desconsiderar os seguintes termos: qualidade, autonomia, participação e democracia. Assim, no espaço escolar se faz possível analisar e interpretar estes aspectos da gestão, pelo fato que eles constituem o conjunto de condições e de meios utilizados para assegurar o bom funcionamento de uma instituição escolar ou pelo fato que eles se referem ao conjunto de normas, diretrizes, estrutura organizacional, ações e procedimentos envolvidos nas diferentes concepções de organização e gestão. Neste contexto, é possível refletir sobre a gestão democrática escolar. Quem são os diferentes autores a intervir sobre esse assunto? . Como é a questão na perspectiva da Teoria das Organizações? Quais são as interpretações críticas? Estas são as diferentes perguntas a serem abordadas nas linhas que seguem. As Diferentes concepções de organização e gestão e a perspectiva da Teoria das Organizações As contribuições de José Carlos Libâneo apresentam a organização e gestão escolar de maneira teórica passando pelas diferentes concepções de organização e gestão. Segundo estes autores, a organização e os processos de gestão assumem diferentes modalidades, conforme a concepção que se tenha das finalidades sociais e políticas da educação em relação à sociedade e à formação dos alunos. A concepção técnico-científica ou científico-racional prevalece uma visão burocrática e tecnicista da escola. 260 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A concepção autogestionária é baseada na responsabilidade coletiva,na ausência de direção centralizada e na acentuação da participação direta e por igual de todos os membros da instituição. A concepção democrático-participativa valoriza a relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe. Acentua a importância na busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de tomadas de decisões ,define de maneira explícita, por parte da equipe escolar, os objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola. Entre outros: - Qualificação e competência profissional. - Busca de objetividade no trato das questões da organização e da gestão,mediante coleta de informações. - Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. A Teoria das Organizações é uma disciplina que analisa de maneira crítica as principais escolas de administração, estuda o processo de racionalização do trabalho, da cooperação e da burocracia. Contextualização das diferentes formas de organização e controle no trabalho deste o taylorismo,no fordismo ,no toyotismo e nos modelos flexíveis atuais pós –fordismo.Ela analisa as relações de dominação, manipulação e poder nas organizações privadas e públicas passando pelos sistemas públicos de ensino na gestão das unidades escolares. Assim é criticada pela teoria das organizações a concepção técnico-científica ou científicoracional que prevalece uma visão burocrática da escola. Onde a direção é centralizada em uma pessoa, enfatizando relações de subordinação, centralização das decisões que vêm de cima para baixo. No Brasil bem especificamente, as políticas neoliberais afetam consideravelmente a área da educação. O fato de incluir uma gestão democrática no âmbito da educação foi inédito em termos de legislação. Processo cuja concretização não foi tarefa fácil, ou seja, não foi possível. Para a real efetivação das medidas de caráter democrático, estabelecidas na lei, as escolas necessitam de uma gestão com flexibilidade organizacional. No entanto, percebemos que esta característica é incompatível com a rigidez burocrática já implementada na escola e no sistema escolar. (FARIA, 2005, p. 39 apud RIBEIRO,2011). De acordo com Motta ( 2001), Merton ,Gouldner e Selznick concentram suas analises nas disfunções da burocracia na idea de que os mesmos fatores que levam a eficiência podem também levam a ineficiência . O que esta em jogo é a racionalidade do sistema , a excessiva burocratização ,bem como as resistências à conformidade pode levar a ineficiência do sistema . O conceito da autonomia e a perspectiva da teoria das organizações A percepção de uma ausência total de qualquer dependência dos outros corresponde muito pouco ao verdadeiro significado da autonomia. Segundo Pinto ( 1998,p.17,apud MOURRA,1999 ) o ser humano não é um ser isolado, ele é “intrinsecamente um ser de relação.” A literatura mais relevante sobre a autonomia na aprendizagem acentua a importância da inter-relação com os outros para que o aprendente possa assumir maior controlo na sua aprendizagem, pois o aprendente autônomo não é indepedente ou dependente, mas interdependente. De acordo com o mesmo autor ,Macedo (1991) declara que a autonomia pressupõe autoorganização.Segundo o autor ,ao auto-organizarem-se isto é, ao estruturar-se na realização de objetivos que definem o sistema diferencia-se de outros sistemas com quem está em inter-relação, criando a sua própria identidade. Assim, a autonomia pressupõe que se seja capaz de identificar e se diferenciar dos outros. Mas esta capacidade de diferenciação só é possível na inter-relação com os outros . 261 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Quanto a Barroso ,ele relata que a autonomia da escola não é algo adquirido,mas sim algo que se vai construindo na inter-relação, portanto só assim a escola vai criando a sua própria identidade. A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis ( BARROSO,1996B,p. 17). Baseando na teoria das organizações, no que tange à organização do trabalho no espaço escolar,Motta (2001) relata que a imposição de um padrão de comportamento pode gerar frustrações que levam à desobediência, a deteriorização do moral ou a redução da capacidade produtiva por parte dos alunos ou dos funcionários. Também é bastante importante a análise do cooptação nas organizações ( considerando a escola como organização) burocráticas desenvolvida por Selznick ,entendida como processo de reforço burocrático . De forma aberta isso ocorre quando o recrutamento se da por relações pessoais e afinidades. De forma dissimulada ,quando ,obedecendo a regra burocrática, e seleção implica e fato essas relações e afinidades. Numa linha semelhante esse modo de seleção faz parte do que Stragtemberg ( 1990 ) chama de Delinquência Acadêmica .O autor afirma que a universidade classista se mantém a traves do poder exercido pela seleção dos estudantes e pelos mecanismos de nomeação de professores. Ela reproduz o modo de produção capitalista dominante não apenas pela ideologia que transmite, mas pelos servos que ela forma. O mestre possui um saber inacabado e o aluno uma ignorância absoluta. A separação entre o aluno e o professor entre opera-se através de uma relação de poder simbolizada pelo sistema de exames –“esse batismo burocrático do saber “.O exame é a parte visível da seleção. Para o professor há o currículo visível, publicações e conferencias . E através da nomeação, do cooptação dos mais conformistas ( nem sempre os mais produtivos ). Os valores de submissão e conformismo, a cada instancia, exibidos pelos professores, já constituem um sistema ideológico. Macedo pensa que essa pratica de submissão e conformismo por parte dos professores criticada por Stragtemberg é longe de promover ou valorizar a autonomia que pressupões a autogestão da escolar e sua capacidade de se identificar com os outros sistemas bem como a capacidade do professor de se identificar no espaço escolar, um dos fatores estimuladores da capacidade de produção , este aspecto da delinquência acadêmica permite observar que a criação de conhecimento e sua reprodução cede lugar ao controle burocrático de sua produção como suprema virtude,onde “administrar aparece como sinônimo de vigiar e punir –o aluno é controlado mediante os critérios visíveis e invisíveis de exame e o professor mediante os critérios visíveis e invisíveis de nomeação . Neste sentido ,o autor sugere a criação de canais de participação real no trabalho. Autogestão, participação social e teoria das organizações. São frequentes as conhecidas perguntas: "quem participa?", "como participa?", "no que participa?", Segundo Luce e Madeiros ( 2006) a gestão democrática da educação estaria ligada ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização de ações que desencadeiem a participação de todos na organização do trabalho: a formulação de políticas educacionais; o planejamento; as tomada de decisões; a definição do uso de recursos e necessidades de investimento; os momentos de avaliação da escola e da política educacional. Em efeito, a participação é um conceito muito importante que pode ser exercida em diferentes níveis,em todos os momentos .Ela implicaria também convidar a comunidade escolar para eventos ou para 262 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades contribuir na manutenção e conservação do espaço físico. Visa Decisões coletivas eliminação de todas as formas de exercício de autoridade e de poder. Ao passo que a teoria das organizações criticam as organizações levando em consideração que prevalecem a heterogestão no detrimento da autogestão.Assim Motta( 1981) fazendo uma analise do pensamento do Proudhon, afirma que a característica fundamental da administração burocrática é a heterogestão e a sua alternativa é a autogestão . Os principio da heterogetão opta pela estrutura hierárquica onde as responsabilidades e atribuições de comando são bem definidas e fragmentadas ,pela separação entre aqueles que planejam ,organizam e controlam dos que executam os atividades,pela disciplina rígida que dificultam a criatividade com exigências de fazer o que estabelecido nas normas,pela tecnocracia e impessoalidade nos processos e relações ,uma burocracia acentuada através do aprendizado das normas e obediência as mesmas. Neste sentido quer na administração empresarial ou na manufatura quer na escola considerada como uma organização a essa separação ,a venda do forço do trabalho , e a exigência do capitalismo como proprietário fundam a relação autoritário entre capital e trabalho e a subordinação .Com essa heterônoma que se faz presente , a coordenação ,contudo, só se expressa enquanto uma relação de dominação ,na medida em que responde à relação de autoridade e submissão que permeia a lógica do capital . A coordenação não é algo que surge da necessidade do trabalho, mas sim algo que se impões como necessidade do capital. Caracterizando a Burocracia moderna, Weber (1976) chama a atenção para entendê-la a partir de três aspectos funcionando desta maneira: é um sistema com normas e regras, formado por profissionais selecionados segundo critérios racionais e que se encarregam de diversas tarefas importantes dentro do sistema. Os princípios de hierarquia são de mando e subordinação, sempre o superior supervisionando o inferior. A administração burocrática se basea no documento escrito e arquivamento, existindo ate um quadro de funcionários para realizar tais tarefas. o Autor afirma que existe hierarquia em toda estrutura burocrática . É neste sentido que Weber (1982) falando dos três tipos de Dominação legitimas (dominação tradicional, dominação carismática e dominação legal), o autor põe ênfase na dominação legal caracterizada pela hierarquia e burocracia apontando que mesmo que não é a única ,a burocracia é um dos tipos de dominação legal. No capitulo 5 do livro escrito por Tragtemberg sobre a Burocracia e ideologia, Benjamin qualifica a burocracia como instrumento de dominação ao afirmar: “[...] por outro lado ,a racionalização não conduz necessariamente à burocratização,pois a primeira se processa num regime fundado na dominação ,e a burocratização é um sistema de dominação”. (TRAGTENBERG, 1980, p 188). Numa linha semelhante Enrique (1974) considerando a organização como um sistema imaginário, e simbólico onde figuram o recalcamento e a repressão avança que as organizações como um sistema imaginário ,favorece a institucionalização de uma relação de submissão que no principio da heterogetão opta pela estrutura hierárquica onde as responsabilidades e atribuições de comando são bem definidas Uma das razões pelas quais que Tragtenberg( 1990) criticando a Delinquência Acadêmica, chama a atenção para a alternativa que visa autogestão e participação ,é a criação de canais de participação real de professores, estudantes e funcionários no meio universitário, que oponham-se à esclerose burocrática da instituição. Autogestão: é a gestão que consiste na autonomia da coletividade dos membros de decidir sobre os destinos, os processos e os resultados do trabalho. Suas ideias gerais são: Fim do assalariamento; Organização do trabalho com base na gestão democrática; Eliminação da hierarquia; Decisões tomadas por democracia direta. A cooperativa configura-se como uma empresa autogestionária na qual todos os cooperados devem em conjunto decidir as questões políticas, estratégicas e produtivas. 263 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A autogestão pedagógica teria o mérito de devolver à universidade um sentido de existência, qual seja: a definição de um aprendizado fundado numa motivação participativa e não no decorar determinados “clichês”, repetidos semestralmente nas provas que nada provam, nos exames que nada examina, mesmo porque o aluno sai da universidade com a sensação de estar mais velho, com um dado a mais: o diploma acreditativo que em si perde valor na medida em que perde sua raridade. A participação discente não constitui um remédio mágico aos males acima apontados, porém a experiência demonstrou que a simples presença discente em colegiados é fator de sua moralização. Democracia no espaço escolar e Teoria das Organizações a ) qualidade do ensino Todos concordam que tem que elevar a qualidade do ensino ,pondo o acento sobre a compreensão do papel da educação no processo de desenvolvimento de um país. Se para alguns, seu papel é de formar cidadãos conscientes e participativos capazes de ajudar a transformar as estruturas injustas da sociedade, para outros, a educação é concebida como a possibilidade dos países sair da crise em que se encontram e como estratégia de desenvolvimento econômico. Enguita (1994,apud Marquez,2003) relata que é possível se discutir o conceito de qualidade de ensino a partir de três lógicas. Num primeiro momento, a qualidade de ensino foi identificada com a dotação de recursos humanos e materiais dos sistemas escolares ou suas partes componentes: gastos públicos aplicados, custos por aluno, por professores, duração da formação escolar, nível do salário dos professores, etc. Esta é a lógica do “Bem-Estar”, a lógica dos serviços públicos, que, em síntese, pretende medir a qualidade tendo como referência os gastos públicos aplicados à educação. Num segundo momento, as análises sobre a qualidade do ensino voltam sua atenção não mais para os gastos em recursos (humanos e/ou materiais), mas para os processos: conseguir o máximo resultado com o mínimo custo. Essa é a lógica da produção empresarial privada. Hoje, predomina a lógica da competição no mercado e a qualidade do ensino passa a ser identificada com os resultados obtidos pelos estudantes, tais como: taxa de evasão e repetência, egressos dos cursos superiores, comparações internacionais do rendimento escolar, etc. Hoje, predomina a lógica da competição no mercado e a qualidade do ensino passa a ser identificada com os resultados obtidos pelos estudantes, tais como: taxa de evasão e repetência, egressos dos cursos superiores, taxas de aprovação, comparações internacionais do rendimento escolar, etc. Diferentes autores afirmam que quando se discutia sobre a democratização da gestão escolar polarizava-se um dos aspectos: a universalização escolar. Rodrigues Propõe,então, que para a viabilização do processo de democratização da escola deve-se quebrar a espinha dorsal do autoritarismo presente no seu interior. Assim, Cunha nos adverte sobre a redução da democratização da educação a um determinado aspecto afirmando que “o ensino democrático não é só aquele que permite o acesso de todos os que o procuram, mas, também oferece a qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais. [...]” (Cunha, 1987, apud GUERDES SILVA, 2009, p. 12). Na perspectiva da teoria das organizações Motta ( 2001 ) avança que atualmente a definição mais utilizada de qualidade é a de que um produto ou serviço deve satisfazer ou superar as expectativas dos consumidores . Por outro lado Deming pensa que no que tange a qualidade o erro não deveria ser corrigido, mas sim evitado, entendida que a procurar de qualidade deveria ser uma tarefa de todos os participantes da organização.Todas as pessoas deveriam ser comprometidas ,por esta razão propôs um ciclo “ Plan,Do,Study,Act” que deveria ser obedecido por todos e que segundo o qual , cada pessoa realizasse seu trabalho com qualidade ou que todos os atores organizacionais devem estar empenhados na procura de qualidade total . 264 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades O Autor 14 pontos que, se obedecidos garantiriam a qualidade total da organização, entre outros notamos: -Eliminar normas de trabalho. Substituir por liderança -Instituir um programa vigoroso de educação e autodesenvolvimento -Colocar todos para trabalhar, a fim de realizarem a transformação, que deve ser um trabalho de todos. -Instituir a liderança. O objetivo da supervisão deve ser ajudar pessoas e maquinas a fazer um trabalho melhor -Afastar-se do medo, a fim de que todos possam trabalhar de forma eficiente. Liderança visionária, cooperação interna e externa, aprendizagem, administração do processo, melhoria continua são os conceitos que Anderson, Rungtusanatahn e Shroeder apontam como constituindo a base dos 14 pontos. Neste sentido de Colocar todos para trabalhar a fim de realizarem a transformação que deve ser um trabalho de todos na procura de qualidade, podemos dizer o autor não é o único a pensar assim, uma vez que a teoria do agir comunicativo de Habermas para a atividade cotidiana comunicativa propõe uma tipologia da ação que tenha por base uma compreensão dialógica, um modelo de intenção social, o agir comunicativo. Segundo o autor a noção de agir comunicativo é o único tipo de ação social orientada a intercompreensão. Levando em consideração a complexidade que se tornou o mundo moderno, o agir comunicativo se torna menos eficaz, faltando de potência, assim o autor propõe uma nova e complexa ligação dos conceitos básicos da teoria do agir com os da teoria dos sistemas, perspectiva que leve em conta dois tipos de coordenação das ações: a que se obtém por intermédio do consenso dos participantes ,e a que é realizada pela via funcional dos observadores , ótica do sistema . Ao mesmo tempo, na procura de qualidade via eliminação das normas de trabalho, a substituição por liderança deve entrar em conformidade com o conceito de liderança sugerido por Motta e Vasconcelos( 2002) no capitulo 3 do seus livros sobre a Teoria geral da Administração. O autor procura evidenciar que os trabalhos de Maslow passaram a ser base de teorias sobre motivação e liderança. Na procura de qualidade no trabalho não se pode esquecer o as necessidades complexas trabalhador, ou seja, ou funcionário. O conceito de homem complexo vai alem do conceito do homo social da Escola de Relações Humanas. O homem complexo tem necessidades múltiplas, não só as necessidades de associação e filiação como propunha e Escola de Relações Humanas. Os estudos de Maslow voltaram se primordialmente para o estudo da teoria da personalidade e do desenvolvimento humano, independentemente de preocupações com eficiência organizacional. Segundo Maslow o ser humano tem necessidades complexas que podem ser hierarquizadas. O comportamento humano é dirigido primeiro para a satisfação de necessidades simples e fundamentais ( lower-order needs ) ,as quais são fundamentais e se relacionam à fisiologia e a segurança do ser humano. São as necessidades de abrigo, comida e dinheiro por exemplo. Após satisfazê-las o ser humano procurará satisfazer as suas necessidades mais complexas ( higher-order needs ) . Difícil será o atitude de motivação e liderança sem a satisfação das necessidades múltiplas do ser humano. 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Para tal, buscou-se caracterizar os estudantes; e analisar, sob a ótica dos mesmos, os sentidos atribuídos ao acesso. Foi realizado um estudo descritivo centrado nos participantes de abordagem quantitativa e qualitativa. Foram utilizados como instrumentos de coleta de informação o questionário de perfil socioeconômico e a entrevista semi-estruturada baseada em roteiro. Palavras–chave: acesso, ensino superior, percepções. I – Introdução O presente estudo teve como objetivo analisar as percepções dos estudantes sobre o acesso ao ensino superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro/Campus Realengo (IFRJ/CReal). O acesso ao ensino superior no Brasil foi historicamente concedido às populações mais abastadas, contudo, atualmente vem se consolidando entre as classes mais baixas, através do 266 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades incentivo de políticas governamentais. De acordo com Fernandes (apud LIMA, 2007, p.127), com o desenvolvimento do capitalismo monopolista vislumbrou-se a possibilidade de inserção da classe baixa nas universidades, com o pretexto de educação inclusiva, porém, a inserção desses jovens se deu nas universidades privadas. O acesso ao ensino superior é mensurado no Brasil através do número de matrículas, que atualmente encontra-se em grande maioria no setor privado, de acordo com os dados apresentados pelo censo da educação superior de 2010 e 2011. O acesso ao ensino superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) foi consolidado há alguns anos, sobretudo para que fosse conformada na Instituição a oferta verticalizada de ensino. A expansão dos IF em muito colaborou para o acesso ao ensino superior no Brasil. Dentro deste plano de expansão ocorreu a implantação do campus Realengo, de forma abrupta, dada a necessidade de expansão da rede através do Plano Nacional de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, iniciada em 2003, no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta autorização foi dada às faculdades, institutos e escolas superiores públicas com o intuito de aumentarem em 50% o número de vagas, contudo, tal expansão se deu sem a estrutura necessária para o desenvolvimento dos cursos, desde a estrutura física (prédios, salas de aula e laboratórios) até a contratação de docentes, entre outros profissionais. Foi implantado recentemente no Brasil o Exame Nacional do Ensino Médio55 (ENEM) com o intuito de estabelecer uma única forma de avaliar os estudantes de nível médio, contribuindo assim para “seleção” dos que estariam aptos a ingressar Foi implantado recentemente no Brasil o Exame Nacional do Ensino Médio56 (ENEM) com o intuito de estabelecer uma única forma de avaliar os estudantes de nível médio, contribuindo assim para “seleção” dos que estariam aptos a ingressar na universidade. Inicialmente pretendia a avaliação dos alunos do ensino médio, contudo, foi adotado por algumas universidades como forma de ingresso em substituição ao vestibular, sendo assim, tornou-se ferramenta de acesso aos cursos superiores. Observa-se nesse sentido que o ProUni e o SiSU são programas governamentais que fazem parte de um sistema que tenciona democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil. Contudo, há que se ressaltar que desde o governo Collor o acesso ao ensino superior tem se dado pela ótica da privatização, desencadeada com a expansão das universidade privadas. O ProUni se propõe a ser uma política publica de acesso das camadas pobres ao ensino superior, isto significa que não é este segmento que está nas universidades atualmente, sendo necessária a elaboração de políticas que promovam o acesso. II - Trajetória da Política de educação do ensino superior no Brasil Na República Velha as forças políticas em questão propagavam uma educação pautada na construção de cursos profissionalizantes. Os proclamadores da república foram profundamente influenciados pelos ideais positivistas que estavam em questão na época. O grupo que estava no poder afirmava que as universidades eram sistemas arcaicos e ultrapassados nos métodos e formação de ensino (OLIVEN, 2002). Com a intenção de mudança latente nos movimentos sociais a favor de transformações no ensino superior brasileiro foi criado o Ministério da Educação. O momento histórico era favorável às alterações na conjuntura social dada a tomada do poder por Getúlio Vargas. Nesse sentido, com a criação do Ministério da Educação foi permitida a implantação de universidades no território brasileiro. Estas seriam regidas pelo estatuto das universidades brasileiras, poderiam ser públicas ou 55 A primeira aplicação do ENEM foi em 1998. 267 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades privadas, na época tratadas por “oficial” ou “livre”, respectivamente. A estrutura seria regida por uma reitoria mas cada universidade continuaria a manter sua autonomia. No período ditatorial, com relação à política de educação para o ensino superior, observouse que esta fazia parte do conjunto de estratégias do governo para dar continuidade ao plano de abertura econômica ao capital privado e ao projeto de modernização. Nesse período houve um crescente aumento do número de universidades privadas. Contudo, a política de educação não foi apenas uma das reformas; a reforma universitária era funcional ao regime ditatorial. De acordo com Melo (2007) a reformulação do ensino superior, presente no Brasil desde os anos de 1990 possui três objetivos: 1) alívio da pobreza (e nesse caso não só o Brasil, mas todos os países considerados dependentes), sendo a política educacional uma forma de “compensar” as populações pobres, seja oferecendo diretamente “qualificação” para que o indivíduo ascenda socialmente e saia do círculo da pobreza, seja, indiretamente, garantindo refeições aos alunos pobres; 2) difusão de um novo projeto de sociabilidade burguesa, criando mecanismos de “facilidade” de inserção no mercado de trabalho, com baixa qualificação mas com potencialidades de consumo; e 3) formação de um lócus qualificado para exploração do novos mercados, via capital internacional. Com base nestes três objetivos, pode-se traçar o perfil desenvolvido pela educação superior desde os anos de 1990 até o atual momento. III – Percurso Metodológico Tratou-se de uma pesquisa analítica acerca das percepções dos estudantes sobre o acesso ao ensino superior no IFRJ/Campus Realengo, de abordagens quantitativa e qualitativa. Esta abordagem, denominada por Minayo (2004) de triangulação de métodos, é um modo de análise capaz de combinar as distintas estratégias de pesquisa (quantitativa e qualitativa) com a intenção de garantir a expressividade e representatividade dos grupos sociais que compõe o público a ser estudado. O lócus da pesquisa foi o campus Realengo, situado no bairro de Realengo na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Este campus foi escolhido por ter sido o mais recente dentro do plano de expansão dos IF; por estar situado na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro; e por ser o local de trabalho da pesquisadora. Foram utilizados como instrumentos de coleta de informação, um questionário de perfil socioeconômico (Anexo A) e entrevista semi-estruturada, baseada em roteiro com perguntas abertas e fechadas (Anexo B). Os dados referentes ao questionário de perfil socioeconômico utilizados nesta dissertação foram obtidos através da COTP que anualmente aplica os questionários de perfil às turmas ingressantes no campus. Para a aplicação dos questionários solicitou-se o apoio aos Centros Acadêmicos e coordenadores dos cursos para a divulgação e sensibilização dos alunos para o preenchimento do questionário. Foram utilizados nesta pesquisa os questionários aplicados pela COTP no período de fevereiro a abril de 2011. Foi pesquisado o perfil dos estudantes do IFRJ/Campus Realengo, com destaque para os seguintes aspectos: identificação pessoal, composição familiar e antecedentes escolares dos estudantes e dos pais. Os questionários foram aplicados a 54,8% dos estudantes matriculados nos cursos de Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, totalizando 205 estudantes. O roteiro das entrevistas foi estruturado em três eixos: 1. Dados de identificação; 2. O acesso ao IFRJ e o ENEM e 3. Trajetória escolar da família. Para as entrevistas, a amostra se deu por acesso e foi realizado convite aos estudantes por email e pessoalmente. O contato foi facilitado pelos estudantes monitores de disciplina do campus, que divulgaram a pesquisa e estimularam a participação. Os estudantes participaram de maneira voluntária através de agendamento das entrevistas, que ocorreram na sala de reuniões da COTP. Em 268 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades todas as entrevistas foram esclarecidos os objetivos da pesquisa e fornecida cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo C). Os critérios de inclusão para participação nas entrevistas foram: 1. estar matriculado e cursando um dos cursos do campus Realengo, 2. pertencer ao sexo masculino e feminino e 3. concordar em participar da pesquisa. As entrevistas foram gravadas em MP3 e posteriormente transcritas, conforme descrito no TCLE. No que tange à abordagem quantitativa, foi realizada análise através de estatística simples. O perfil dos estudantes foi traçado a partir dos alunos que responderam o questionário socioeconômico. Havia neste período 374 estudantes regularmente matriculados no Campus Realengo. Responderam ao questionário 39,5% dos estudantes do curso de Farmácia, 71,5% dos estudantes do curso de Fisioterapia e 62,8% dos estudantes do curso de Terapia Ocupacional. Em relação aos estudantes entrevistados, foi utilizada a técnica de saturação de respostas que consiste na percepção da redundância dos dados obtidos, pelo pesquisador, interrompendo assim a coleta das informações. (FONTANELLA, RICAS, TURATO, 2008). Para a análise dos discursos dos entrevistados, foi utilizada uma adaptação da técnica de análise de conteúdo, na modalidade temática, que Segundo Bardin, (apud GOMES, 1999, p.791), “consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja frequência de aparição pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”. Em cumprimento ao TCLE, foi garantido o anonimato aos entrevistados e optou-se na apresentação dos resultados pela classificação (E) de estudante, seguidos da numeração ordinal correspondente à participação na pesquisa. Para a análise dos dados foram empregadas as seguintes etapas: 1. leitura flutuante; 2. definição das categorias de análise; 3. Identificação das ideias associadas e 4. análise e articulação com os referenciais teóricos. A pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil em 27 de maio de 2012 e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFRJ em 03 de dezembro de 2012. (Anexo D), em cumprimento à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos. As entrevistas contaram com a participação de 14 estudantes, dos quais 6 eram do sexo feminino e 8 do sexo masculino. A média de idade dos estudantes entrevistados foi de 24 anos, tendo o mais novo 19 anos e o mais velho 47 anos. A média de tempo das entrevistas foi de 22 minutos. A entrevista com maior tempo durou 32 minutos e a com menor tempo durou 7 minutos. III – Resultados Esta pesquisa teve como objetivo analisar as percepções dos estudantes sobre o acesso ao ensino superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro/Campus Realengo (IFRJ/CReal). Foi realizada uma descrição e análise das percepções dos estudantes de abordagem quantitativa e qualitativa e utilizados como instrumentos de coleta de informação, o questionário de perfil socioeconômico e a entrevista semi-estruturada baseada em roteiro. A literatura estudada permitiu compreender que o acesso na educação superior está intrinsecamente relacionado ao acesso aos outros níveis de ensino; fundamental e básico e somente no final dos anos de 1990 é que o país registrou a universalização do acesso ao ensino fundamental. Ao traçar um panorama da educação superior no Brasil foi observado que o acesso a este ensino foi historicamente negado à classe menos favorecida financeiramente. Atualmente, o ProUni e o SiSU tencionam democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil a este segmento. A análise do material empírico permitiu observar, no que diz respeito à faixa etária que, em todos os cursos a maioria dos estudantes esteve concentrada no grupo de idade de 15 a 25 anos, sem defasagem de idade e série; apontou também que 75% dos estudantes que responderam ao questionário são mulheres. Em relação à cor da pele, o estudo apontou que a maioria dos estudantes se autodeclarou branca, 48% dos estudantes, seguidos por 29% de pardos e 16 % de negros. 269 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Sobre o vínculo conjugal, 91% dos estudantes informaram ser solteiros, situação que se relaciona à idade da maioria dos estudantes pesquisados, dentro da faixa etária de 15 a 25 anos. O Rio de Janeiro é a cidade de nascimento da maioria dos estudantes que responderam o questionário; 91,7%. Os outros estados de nascimento identificados foram Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Sobre o município de moradia do estudante ao ingressar no IFRJ, obteve-se que o maior percentual é de estudantes do município do Rio de Janeiro, com um grupo expressivo de estudantes advindos de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis e São João de Meriti. No que se refere ao meio de transporte para chegar ao campus Realengo, 91% relata que usa o transporte coletivo. Observou-se também que 14, 7% informa chegar ao campus à pé, de carona ou de bicicleta. O fato de existir um campus universitário na Zona Oeste do município faz com que esses estudantes possam se locomover sem a necessidade de utilizar o transporte coletivo. Referente ao percurso em quilômetros, têm-se que a maioria dos estudantes percorre até 50 Km das suas residências até a universidade. Considerou-se importante nesta questão o fato de pelo menos 8% percorrem de 150 km à 300 km, fator que, somado à outras variáveis, pode contribuir para a evasão de discentes. Com relação às pessoas com quem o estudante reside, predominou o grupo de alunos que reside com os pais, 81%. Os que vivem com o cônjuge somam 7%. Observou-se que o principal provedor financeiro da família é o pai, 56%. As famílias dos estudantes cuja mãe é a principal provedora, correspondem a 27%. Com relação à renda das famílias dos estudantes pesquisados, observou-se que 32% relataram receber até 4 salários mínimos. Nos três cursos há uma média de 4 a 6 pessoas que vivem na família com a renda informada. Sobre trabalho, constatou-se que 62% dos estudantes que responderam ao questionário não trabalham ou nunca trabalharam. Com uma porcentagem um pouco menor para os que trabalham ou já trabalharam, 37%. Por curso, a maioria dos estudantes que trabalham ou já trabalharam encontrase no curso de Terapia Ocupacional, cuja renda familiar é a menor dos três cursos. Quanto à escolaridade dos pais dos estudantes, a grande maioria possui somente o ensino médio. A pós-graduação é encontrada na maior parte dos pais dos estudantes de Farmácia, e a porcentagem de pais analfabetos e alfabetizados é mais expressiva nos pais dos estudantes de Terapia Ocupacional. No que se refere ao tipo de escola em que estudaram, foi possível constatar que a maioria estudou integralmente em escolas públicas. O fato de o IFRJ ser uma instituição pública que fornece ensino gratuito e ensino de qualidade foram os principais motivos para a opção pela instituição, segundo os estudantes. Quanto à escolha do curso os principais motivos considerados foram: aptidões pessoais, disponibilização de vagas no mercado de trabalho e pouca concorrência no vestibular. A frequência em cursos pré-vestibulares informada mostrou que há um maior predomínio de estudantes que não fizeram curso pré-vestibular. Entre os estudantes que cursaram, observou-se uma equivalência entre os que cursaram na rede privada e na rede pública. Obter uma formação voltada para o mercado de trabalho foi a expectativa de 61% dos estudantes com relação ao curso universitário. A formação voltada para a pesquisa foi a justificativa de 20% dos estudantes. A pretensão de 71% dos estudantes é trabalhar e continuar estudando logo após concluir a graduação. Uma hipótese para a necessidade de continuar estudando está relacionada à necessidade de especialização para os profissionais de saúde. No que se refere ao trabalho, 73% dos estudantes informaram que pretendem trabalhar na área em que se graduaram ao passo que 9% relataram trabalhar em qualquer área que possuir oportunidade. Quanto aos estudos, 31% dos estudantes pretendem fazer outra habilitação dentro do mesmo curso e 21% tenciona iniciar uma pós-graduação lato-sensu. 270 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A pesquisa apontou que 75% dos estudantes não haviam iniciado nenhum curso de nível superior antes do IFRJ, porém, 5% já iniciaram e concluíram. Sobre a satisfação com o curso, 61% relataram estarem satisfeitos, ao passo que 15% relataram-se insatisfeitos e 13% pouco satisfeitos. Com relação aos sentidos atribuídos, na categoria perspectivas após o ensino médio foram identificadas as ideias associadas inserção no mercado de trabalho; e oportunidade de adquirir conhecimento. Os estudantes com a intenção de ingressar na universidade assim o fizeram, mesmo que em tempo não previsto. Os demais, que não possuíam essa intenção, foram levados a cursar devido ao insucesso nas outras perspectivas. Quanto à categoria IFRJ, encontraram-se as ideias associadas proximidade com a residência e o local de trabalho; escolha pelo curso; e desempenho suficiente para aprovação. Pode-se inferir que o curso e a instituição foram elementos mais importantes para se escolher onde estudar, inclusive para os estudantes que foram aprovados somente no IFRJ. Sobre a categoria curso, as ideias associadas foram área da saúde; afinidade com as disciplinas do fluxograma do curso; remuneração futura; e possibilidade de realização profissional. Observou-se que a escolha pelo curso é mais relevante para os estudantes do que a escolha da instituição. Sobre o acesso ao IFRJ pelo ENEM, foi possível identificar ideias associadas relacionadas ao aumento da acessibilidade de determinado grupo social aos cursos de graduação nas universidades públicas; e o acesso independe da forma de seleção. Na categoria dificuldades de acesso à universidade as ideias associadas identificadas foram desempenho na prova e situações emocionais. Os estudantes consideraram que as dificuldades foram relativas à preparação para a prova. As situações emocionais relatadas referiramse à perda de entes queridos e à situação de estresse na véspera dos exames. Sobre o acesso dos pais ao ensino superior, prevaleceram as ideias associadas maior incentivo para a atual geração e perseverança pessoal. Para os estudantes entrevistados há atualmente maior incentivo das suas gerações do que a anterior para continuar estudando. Sobre a perseverança pessoal prevaleceu a ideia de que as intenções pessoais podem alterar o habitus que prevalece nas famílias de baixa escolaridade. No que diz respeito à categoria diferenciação no acesso para pessoas de diversas etnias e cores foram observadas duas ideias associadas uma corresponde à desigualdade relacionada ao processo histórico de escravidão e a outra ao acesso à universidade adquirido com perseverança e interesse pessoal. Para os estudantes, as cotas raciais podem contribuir para amenizar as desigualdades históricas além do esforço e mérito próprio dos estudantes. Em relação à categoria distinção no acesso para homens e mulheres, para justificar a predominância de homens e mulheres na universidade foi encontrada a ideia associada escolha profissional. Foi destacado pelos estudantes que no campus Realengo há predominância de mulheres por serem cursos na área da saúde. Na categoria tipo de escola e o acesso à universidade, as ideias associadas identificadas foram estímulo ao estudo; e melhor preparação. Foi destacado que os estudantes da rede pública possuem menos acesso ao ensino superior porque possuem uma cultura diferenciada e vivem num meio que contribui para dificultar o acesso aos estudos. Os estudantes entrevistados concluíram que o público que acessa as universidades públicas é advindo de escolas privadas. Fraco e inferior foram as principais características destacadas pelos entrevistados quanto ao ensino público. Na categoria analisada que tratou da interferência da renda no acesso à universidade as ideias associadas encontradas foram: renda familiar baixa e necessidade de trabalhar. Para os estudantes entrevistados, a renda interfere na preparação para o vestibular, pois uma renda baixa pode não proporcionar aquisição de material didático para estudo e, se tratando de famílias pobres, pode requerer que o estudante exerça atividade laborativa para complementar a renda familiar, ou, 271 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades para arcar com seus próprios gastos. A renda interfere diretamente na preparação para o vestibular pois na percepção dos estudantes está estritamente vinculada ao pagamento de instituições de ensino privadas. IV – Conclusões A pesquisa de campo identificou as percepções dos jovens universitários acerca do acesso ao ensino superior, resgatando elementos das suas trajetórias de vida que auxiliaram na compreensão do lugar que a educação formal ocupou, de uma forma geral, nas gerações anteriores. O estudo apontou as lacunas existentes na formação básica dos jovens e como estas podem se tornar obstáculos para o tão “sonhado” acesso ao ensino superior. Destacou também, como a necessidade de renda pode levar o jovem a uma inserção precoce no mercado de trabalho e com isso retardar o seu acesso à universidade. Concluiu-se que o ENEM oportunizou o acesso de camadas sociais mais pobres no entanto, o interesse pessoal e perseverança, além do estímulo familiar, podem contribuir para o acesso. A pesquisa apontou que, de uma maneira geral, esse exame tem sido bem avaliado e aceito pelos jovens, como melhor forma de acesso aos cursos de graduação. Foi percebido que o exame oferece maior possibilidade de ascensão educacional aos segmentos menos favorecidos economicamente. Recomenda-se especificamente ao IFRJ/CReal maior divulgação da instituição no território de abrangência. A região conta atualmente com um campus do Colégio Pedro II, além de outras instituições públicas de ensino que podem realizar junto com o IFRJ/CReal um trabalho de divulgação dos cursos além de fornecer informações sobre o ENEM como nova forma de acesso. Ainda sobre a divulgação, sugere-se que o IFRJ promova orientação sobre os cursos do PROEJA aos pais dos estudantes. Compreende-se que seria uma forma de fazer com que os pais dos estudantes interessados em retomar os estudos, pudessem fazê-lo, além de envolvê-los no processo educacional dos filhos, conferindo-lhes maior entendimento da importância da educação escolarizada para uma melhor inserção no mercado de trabalho. O fato de estudantes de outros estados e municípios distantes virem cursar graduação no IFRJ aponta para a necessidade de acolhimento pela instituição através de subsídios via transferência de renda (Auxílio permanência) ou a oferta de alojamento para que se evite a evasão e o baixo rendimento no curso. Outra proposta interessante acerca da permanência seria o fornecimento de transporte coletivo entre os campi para facilitar o acesso de estudantes que residem longe do campus Realengo mas estão próximos ao campus Nilópolis, município da Baixada Fluminense em que residem muitos estudantes. Aos IF aponta-se a necessidade de maior interação com o território onde é ofertado o ensino. A partir da proposta de articulação dos três níveis de ensino, com principal investimento no ensino técnico, é imprescindível que os IF se articulem com as demais instituições locais para a absorção dos estudantes egressos nas vagas de empregos e nas áreas afeitas à pesquisa. Observou-se a necessidade de serem avaliadas as políticas de apoio e incentivo ao ensino superior no Brasil, atualmente representadas pelo ProUni e pelo FIES. Apesar de esses programas oferecerem oportunidades de mobilidade educacional para muitos jovens brasileiros, ainda existem muitas dificuldades relativas à informação sobre os direitos acerca da educação. O fomento de vagas em instituições privadas, sem a garantia de um ensino qualidade, se coloca como entrave a uma boa formação, que requer articulação entre ensino, pesquisa e extensão. A realidade da educação superior no Brasil se coloca como um grande desafio para os Assistentes Sociais na medida em que a educação é direito elementar do ser humano, devendo ser resguardado pelo Estado tal usufruto. Em tempos de fortalecimento da esfera privada em detrimento da pública, é dever desse profissional atuar nos espaços de construção e elaboração de políticas que resguardem o acesso de todos os jovens ao ensino superior público. 272 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Os limites encontrados para a realização deste estudo residiram na proximidade da pesquisadora com o campo estudado, reduzindo a capacidade de “estranhamento” necessária ao pesquisador e o fato de os sujeitos pesquisados estarem submetidos à dinâmica institucional. As informações aqui enunciadas apontam para a construção de novos objetos de pesquisa tais como análise das estratégias de permanência no IFRJ dos estudantes negros e dos estudantes de baixa renda; análise dos sentidos atribuídos pelos professores ao novo perfil dos estudantes do IFRJ; análise dos sentidos atribuídos pelas famílias dos estudantes do IFRJ acerca da mobilidade educacional. V - . Referências: AGUILAR, M. J; ANDER-EGG, E. Questões básicas em torno dos objetivos, princípios e requisitos da pesquisa avaliativa. Avaliação de serviços e programas sociais. Petrópolis: Vozes, 1994, p.61-86. ALBUQUERQUE, T. Do abandono à permanência num curso de ensino superior. Disponível em: http<://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo7D2PT.pdf>. Acesso em 07 jul 2012. ALMEIDA, N. L. T. O Serviço Social na educação. Revista Inscrita. Nº. 6. Brasília: CFESS, 2000. p.19 - 24. AMARAL. D.P; OLIVEIRA. F.B. 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Tendo como objeto de estudo a Proposta Curricular do Estado de Pernambuco no tocante ao tratamento pedagógico de questões étnico-raciais. A pesquisa examina as concepções de currículo adotadas pela Secretaria de Educação de Pernambuco, focalizando a apreciação do documento Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos. Com aporte teórico-metodológico em Giroux (1986), Freire (1996), Arroyo (2011), Gomes (2012), Santos (2008), se compreende o currículo como um instrumento político em que têm lugar disputas em torno da definição do conhecimento e experiências relevantes socialmente e que, não obstante os avanços no campo da legislação, o currículo ainda se constitui como um espaço eurocêntrico e monorracial. Palavras-chave: Currículo. Coletivos Sociais. Lei 10.639/03. Introdução O currículo escolar se constitui em instrumento político central para o desenvolvimento do trabalho pedagógico. Consiste em elemento estruturante da atuação da instituição escolar. Como aponta Arroyo (2011), o currículo é compreendido como o território mais cercado, mais normatizado. Mas, também, o mais politizado, inovado, ressignificado. Nessa perspectiva, Arroyo (2011) enfatiza as demandas dos novos coletivos sociais que disputam espaço no currículo. Assim, os currículos são construções coletivas. Segundo Arroyo (2011), os currículos são pobres em experiências porque são pobríssimos em sujeitos. Há a necessidade, portanto, de currículos não verticalizados, em que coletivos de professores, de estudantes sintam-se contemplados, sejam capazes de se perceber no currículo. Entendendo o currículo como uma construção coletiva, um espaço democrático de construção de conhecimentos, experiências e valores, o artigo em pauta examina a Proposta Curricular do Estado de Pernambuco no tocante à inclusão obrigatória no currículo, de questões étnico-raciais. O objetivo dessa pesquisa consiste em perceber como essas questões estão postas na proposta em tela. Realiza-se uma análise das concepções de currículo adotadas pelo estado de Pernambuco e do documento Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos, com aporte teórico em Henry Giroux (1986), Paulo Freire (1996), Miguel Arroyo (2011) e Nilma Lino Gomes (2012). Nesse contexto, se problematiza sobre a concepção curricular presente na proposta do estado de Pernambuco, se questionando se essa proposta contribui no desenvolvimento de uma prática voltada para a superação do preconceito e da discriminação racial. No ano de 2003, é sancionada a Lei nº 10.639/03 que altera a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96) e estabelece as Diretrizes Curriculares para a implementação da mesma. A Lei em comento institui a obrigatoriedade do Ensino da História da África e dos Africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio, de escolas públicas e privadas. Vários são os dispositivos legais que constituem referência para a Lei nº 10.639/03, como se esclarece abaixo. Reivindicações e propostas do Movimento Negro ao longo do século XX apontam para a necessidade de diretrizes que orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a de educação de relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir (BRASIL, 2005, p. 09). No ano de 2008, a Lei nº 10.639/03 sofre uma modificação, ao acrescentar o indígena. Assim, além da história e cultura afro-brasileira, a escola deverá trabalhar com a história e cultura indígena. Um trabalho que requer empenho de todo poder público, principalmente, no que concerne à elaboração de propostas curriculares que contemplem esses coletivos sociais na condição de sujeitos produtores de conhecimentos e experiências relevantes. 274 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Currículos: A concepção do Estado e as demandas da sociedade No ano de 2012, a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco divulga os Parâmetros para a Educação Básica. Dentre os livros apresentados, voltados para diferentes áreas de ensino, há a preocupação da Secretaria com a criação de um livro contendo a concepção de currículo, além de outros enfoques teóricos como o Projeto Político-Pedagógico e o processo de elaboração desses parâmetros. Vale salientar o destaque dado pelo então secretário de Educação Anderson Gomes, na apresentação do material. Os Parâmetros Curriculares da Educação Básica de Pernambuco, que neste momento chegam às mãos dos professores e educadores, são, antes de tudo, resultado de um trabalho que consistiu em debates, análises, sugestões e avaliações da comunidade acadêmica, de especialistas nas diversas áreas do conhecimento da Secretaria de Educação, das secretarias municipais de educação, e, também, dos professores da rede pública (PERNAMBUCO, 2012, p. 13). Nesse sentido, a proposta que vai para as mãos dos professores, no momento de sua elaboração, ou parte dela, conta com a representação de professores de diferentes regiões do estado, assim como Gerentes Regionais de Educação e da UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). É perceptível a iniciativa para a construção de uma proposta curricular com a participação de alguns coletivos sociais. Segundo Arroyo (2007), se tornam crescentes as sensibilidades para com o currículo das escolas, pois já há a percepção de que a organização curricular afeta o trabalho do professor e também dos estudantes. Até mesmo o prestígio dado pelos currículos a determinados conhecimentos, cria categorias de docentes mais ou menos prestigiadas. Consequentemente, o currículo é o pólo estruturante de nosso trabalho. As formas em que trabalhamos, a autonomia ou falta de autonomia, as cargas horárias, o isolamento em que trabalhamos... dependem ou estão estreitamente condicionados às lógicas em que se estruturam os conhecimentos, os conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos (ARROYO, 2007, p. 18). Segundo Giroux (1986), há muitas instituições de ensino que prezam por uma concepção tradicional de educação, onde prevalece a ideia de que as escolas são, apenas, locais de instrução. Para o autor, “é ignorado que elas são também locais culturais e políticos, assim como é ignorada a noção de que elas representam arenas de contestação e luta entre grupos culturais e econômicos que têm diferentes graus de poder” (GIROUX, 1986, p. 12). Diferentes grupos estão presentes nas escolas, professores, estudantes, pais, gestores, cada um com uma vivência, uma cultura, uma forma de ver e viver o mundo. Essas questões precisam ser levadas em consideração na construção de qualquer proposta curricular que almeje uma educação transformadora. Conforme o documento dos Parâmetros Curriculares do Estado de Pernambuco, o termo currículo foi utilizado no seu sentido original. “A palavra currículo tem origem no latim – curriculum – que significa “corrida” ou “pista de corrida”, sugerindo um percurso a ser seguido pelos estudantes” (PERNAMBUCO, 2012, p. 21, grifo do autor). Conceito ainda seguido por muitas instituições de ensino, onde realizam uma corrida para vencer os conteúdos propostos no currículo. É penoso pensar que, em muitas escolas, o currículo seja visto como um montante de conteúdos que precisam ser cumpridos até o final do bimestre, como se quantidade resultasse em qualidade. Para Arroyo (2007), o currículo não pode ser entendido como um conjunto de conhecimentos verticalizados, prontos para serem depositados nos estudantes. 275 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades São uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagógicas. Conhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e reinterpretados em cada contexto histórico. (ARROYO, 2007, p. 9). Nesse contexto, se torna determinante para uma escola democrática, na perspectiva de uma educação transformadora, a construção coletiva do currículo. Assim, vale destacar a concepção de currículo adotada pelo estado de Pernambuco, no Projeto de Parâmetros Curriculares, “[...] o currículo – stricto sensu – foi tomado como sendo um conjunto de conhecimentos, habilidades e competências, traduzido em expectativas de aprendizagem” (PERNAMBUCO, 2012, p. 23 grifo do autor). E ainda o estado esclarece. Dissemos que o Currículo se configura hoje como um importante campo de estudos, caracterizado pelas lutas e disputas por espaços e status. Isto dificulta sobremaneira os processos de seleção e organização curricular: quais conhecimentos, quais habilidades, quais atitudes, quais valores, quais competências – traduzidos em expectativas de aprendizagem – deverão ser escolhidos para figurar nos currículos escolares? Esse processo estará sempre contaminado por algum tipo de interesse: econômico, político, social, pedagógico, cultural. Estará, sobretudo, atrelado a uma concepção de educação (PERNAMBUCO, 2012, p. 28). Divergências em relação ao currículo estão presentes em diferentes contextos educacionais. Secretarias de educação, gerências regionais e nas escolas no momento da elaboração do Projeto Político-Pedagógico, principalmente, em relação ao posicionamento dos professores contra um currículo único, segundo a proposta do estado “Tanto a LBDEN como as Diretrizes Curriculares procuram garantir a todos a mobilização de conhecimentos nacional e globalmente relevantes, promovendo-se a ampliação desse conjunto, com saberes que respeitem a diversidade cultural” (PERNAMBUCO, 2012, p. 28). Cabe ressaltar que a própria instância estadual responsável pelo documento destaca que: O currículo formal é fruto de escolhas, o que não deixa de refletir o pensamento de um segmento social dominante. Assim, estes Parâmetros, sendo também um exemplo de currículo formal, não são neutros em suas escolhas. Entretanto, no intuito de atender a diferentes grupos, numa dinâmica que se pretendeu democrática e plural, estes Parâmetros foram organizados com a colaboração de diferentes profissionais, em diferentes instâncias, tais como: Secretaria, Gerências Regionais de Ensino e as próprias escolas e seus professores (PERNAMBUCO, 2012, p. 30). A proposta é de que esse currículo formal seja um guia no trabalho docente. Já o currículo real, o que acontece no cotidiano da sala de aula, condicionado a questões de ordem social, política, econômica, cultural e financeira que desenham o perfil do estudante, na maioria das vezes, destoa do currículo formal. Nem todas as vozes são ouvidas na construção do currículo. Por isso, na escola ele pode se tornar inviável. Apesar da constatação que os currículos avançaram muito em relação a conhecimentos científicos, foi observado que pouco avançaram na perspectiva da afirmação das diversidades das experiências sociais. “Nas diretrizes e reorientações curriculares, falta sociedade, falta dinâmica social, faltam as tensas experiências que nos cercam, que invadem as escolas nas vidas das crianças e dos adolescentes, dos jovens e adultos, dos próprios docentes” (ARROYO, 2011, p. 119). Essas mesmas diretrizes e conhecimentos, na prática, por não refletirem a dinâmica social, tornam-se abstratos, distantes e desinteressantes. Como superar preconceito e discriminação num currículo que previlegia algumas “vozes”? Como trabalhar com história e cultura africana, afro-brasileira e indígena num currículo em que não há a participação de representados daqueles que por séculos sofreram com injustiças sociais e lutam para que seus conhecimentos sejam reconhecidos? Não há como privilegiar determinados 276 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades conhecimentos, como forma de agradar a poucos que não conhecem o contexto em que estudante e professor estão inseridos. Há uma luz no fim do túnel?! No final de 2012, o estado de Pernambuco divulga o material intitulado Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos. Todas as escolas foram contempladas com o material impresso e também digitalizado. Nesse contexto, é importante observar as contribuições que esse documento traz para a concepção e prática do currículo. Orientações Curriculares: Educação em Direitos Humanos A produção do conhecimento precisa ser repensada a partir do real, das experiências vividas pelas pessoas, das suas necessidades, do seu cotidiano. Como sugeria Freire: “Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos [...] e os baixos níveis de bem-estar das populações [...]” (FREIRE, 1996, p. 33). A pluralidade e a diversidade de saberes produzem uma rica diversidade de conhecimentos e formas de pensar enquanto humanos. As questões étnico-raciais, a valorização da própria história e cultura constituem uma necessidade da educação no contexto de uma sociedade que privilegia uma história e cultura eurocêntrica ou monocultural, como aponta Santos (2008), em detrimento às demais. A diversidade que forma o povo brasileiro, como analisado por Darcy Ribeiro, no livro O Povo Brasileiro (2006), precisa ser pensada no sistema escolar como parte constituinte do currículo. Desse modo, “É preciso compreender a diversidade como a construção histórica, cultural, social e política das diferenças. Ela é construída no processo históricocultural do homem e da mulher, no meio social e no contexto das relações de poder” (BRASIL, 2010, p. 130, grifo do autor). A escola não está à margem dessas questões, o trabalho a partir da diversidade nela existente é condição necessária para a construção de uma sociedade que respeite as diferenças, que estas sejam vistas enquanto características de cada indivíduo e não como motivo para discriminação e preconceito. Atitudes de discriminação e preconceito são corriqueiras, por mais que professores, coordenadores e gestores utilizem diversos meios de coibir essas práticas, elas estão presentes no meio escolar, discriminação por ser negro, índio, pobre, mulher, LGBT, não há como fechar os olhos diante dessa situação. É importante toda a ação que tenha como foco a superação do preconceito e o reconhecimento das diferenças. De acordo com Santos (2008), “temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza” (SANTOS, 2008, p. 462). Do mesmo modo, o Documento Final da CONAE (2010), alerta que: Essa luta alerta, ainda, para o fato de que, ao desconhecer a diversidade, pode-se incorrer no erro de tratar as diferenças de forma discriminatória, aumentando ainda mais a desigualdade, que se propaga via a conjugação de relações assimétricas de classe, étnicoraciais, gênero, diversidade religiosa, idade, orientação sexual e cidade-campo. As questões da diversidade, do trato ético e democrático das diferenças, da superação de práticas pedagógicas discriminatórias e excludentes e da justiça social se colocam para todas as instituições de educação básica e superior, independentemente da sua natureza e do seu caráter (BRASIL, 2010, p. 128). É inegável a preocupação da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco com essas questões. Atendendo a uma demanda dos professores por material didático para trabalhar com as diferenças, em 2012, é publicado o Caderno de Oreintações Pedagógicas para a Educação em Direitos Humanos, com o título Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos, o que causa uma certa confusão, pois leva a deduzir que se trata de uma proposta curricular, mas, na verdade, é apenas um caderno mais voltado a sugestões de atividades a serem trabalhadas. Segundo a Secretaria de Educação, se trata de um caderno temático que objetiva oferecer ao professor subsídios para o trabalho pedagógico. Como esclarece a Secretaria. 277 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Ele foi construído a partir do princípio norteador da política educacional do Estado, a Educação em Direitos Humanos, e a necessidade de transversalizar esta temática em todos os componentes curriculares do Ensino Fundamental e Médio, bem como das diversas modalidades de ensino (PERNAMBUCO, 2012, p. 07). O Caderno está organizado em oito eixos temáticos: Enfrentamento da pobreza e da fome; Promoção da igualdade entre gêneros e diversidade sexual; Garantia da sustentabilidade socioambiental; Reconhecimento e garantia da preservação do patrimônio material e imaterial da humanidade; O direito à terra como condição de vida; Prática pedagógica e as relações étnicoraciais na sociedade brasileira; Garantia do bem estar físico, emocional e social; Os tempos humanos e as garantias dos direitos. O eixo seis focaliza a temática prática pedagógica e as relações étnico-raciais na sociedade brasileira. Como objetivo geral propõe “Promover o conhecimento das relações étnico-raciais apontando para a educação o reconhecimento da cultura afro-brasileira e buscando propiciar o enfrentamento do racismo” (PERNAMBUCO, 2012, p. 78). Como a própria Lei 10.639/03, citada também nesse eixo, pretende o estudo da história e cultura africana e afro-brasileira, posteriormente as Diretizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e cultura Afro-brasileira e Africana, assim como o Parecer do CNE/CP 3/2004 elucida. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial (BRASIL, 2005). As ações desenvolvidas pelo poder público no que se refere às questões étnico-raciais precisam ser pensadas no sentido de combater o racismo e a discriminação, com base na produção de conhecimentos que façam com que estudantes e demais cidadãos sintam orgulho do seu pertencimento étnico-racial. Esse trabalho vai além de um eixo num caderno pedagógico. Exige uma orientação curricular, como diz a capa do referido Caderno. De acordo com Giroux (1986), [...] um enfoque mais viável para se desenvolver uma teoria da prática de sala de aula terá que se basear numa fundamentação teórica que reconheça o jogo dialético entre interesse social, poder político e poder econômico, de um lado, e reconhecimento e prática escolar, por outro lado (GIROUX, 1986, p. 68). O caderno produzido e divulgado pela Secretaria Estadual de Educação é de grande importância, visto que a grande reclamação por parte dos professores refere-se à falta de material didático para trabalhar com as questões étnico-raciais. Mas não é suficiente, falta participação dos professores, dos estudantes, dos gestores, coordenadores escolares, movimentos sociais, sindicatos, faltam vozes além das que se propuzeram a construir o caderno pedagógico. Relevante, sim. Importante, sim. Mas é preciso, ao se tratar de questões étnico-raciais, pensar em séculos de opressão, de discriminação, de rejeição, de exploração, de desvalorização. De acordo com Gomes (2012), Quanto mais se amplia o direito à educação, quanto mais se universaliza a educação básica e se democratiza o acesso ao ensino superior, mais entram para o espaço escolar sujeitos antes invisibilizados ou desconsiderados como sujeitos de conhecimento. Eles chegam com os seus conhecimentos, demandas políticas, valores, corporeidade, condições de vida, sofrimentos e vitórias. Questionam nossos currículos colonizados e colonizadores e exigem propostas emancipatórias (GOMES, 2012, p. 02). Nesse contexto de mudanças no acesso à educação, de democratização do ensino superior enquanto garantia de acesso ao conhecimento por essas maiorias a quem por muito tempo esse 278 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades direito foi negado, surge a necessidade de um currículo que contemple suas demandas. Desse modo, produzir currículos em gabinetes, com alguns representantes de professores, pouco vai contribuir para a emancipação do estudante. As políticas voltadas para o currículo precisam ser produzidas no coletivo, de uma forma crítica, buscando valorizar a história e a cultura de negros e indígenas de modo que ao longo do ano letivo se estabeleça uma relação de não indiferença com práticas preconceituosas e racistas tão presentes no meio escolar. Considerações Preliminares A convivência com a comunidade, com os estudantes propicia ao professor um material riquíssimo na construção do currículo. Ele está presente no dia a dia, interage com cada um, percebe as dificuldades e as necessidades no processo de ensino e aprendizagem. O currículo é um instrumento político, que precisa ser construído de forma coletiva. O coletivo de professores, de alunos, os movimentos socias reivindicam um espaço no currículo para que diferentes vozes sejam ouvidas e nele reconhecidas. As questões étnico-raciais, da forma como aparecem no documento apresentado pela Secretaria Estadual de Educação, pouco contribuem para um trabalho sistemático em sala de aula para a superação do preconceito racial, de valorização da história e cultura de negros e indígenas. São décadas de luta dos Movimentos Negros de todo Brasil por um espaço no currículo oficial. O Caderno Pedagógico que tem como título de capa Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos gera uma expectativa de que, finalmente, o poder público resolveu fazer uma proposta curricular que contemple as questões étnico-raciais de uma maneira mais específica, abordada em Direitos Humanos, relevante para todos os componentes curriculares. A frustração surge ao abrir e se deparar com um Caderno Pedagógico, também importante, também necessário, mas insuficiente. Há uma tentativa de auxiliar o professor no trabalho diário, com o Caderno Pedagógico de Direitos Humanos apresentado pelo estado de Pernambuco, mas é um passo muito pequeno frente a uma demanda muito grande de pessoas que esperam por respeito e valorização de sua história e cultura. Referências ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. ARROYO, Miguel G. Indagações sobre currículo: educandos e educadores – seus direitos e o Currículo. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: <http://www.mec.gov.br.>. Acesso em: 15 maio 2013. BRASIL. Conferência Nacional de Educação. Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o plano nacional de educação, diretrizes e estratégias de ação – CONAE (Documento Final). Brasília – DF: MEC, 2010 BRASIL. Lei Federal nº 10.639/2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura Afro-brasileira” e dá outras providências. Brasília – DF, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2003/l10.639.htm.>. Acesso em: 14 mar. 2013. BRASIL. Lei Federal nº 9.394, de 20/12/1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília – DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em 12 mar. 2013. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília – DF, 2005. 279 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GIROUX, Henry A. Teoria Crítica e resistência em Educação. Trad. Ângela Maria B. Biaggio. Ed. Vozes. Petrópolis, 1986. GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan/Abr 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/ Acesso em: 06/08/2013. PERNAMBUCO. Orientações Curriculares Educação em Direitos Humanos. Caderno de Orientações Pedagógicas para a Educação em Direitos Humanos. Secretaria de Esducação. Estado de Pernambuco. 2012. Disponível em: http://www.educacao.pe.gov.br/ Acesso em: 07/08/2013. PERNAMBUCO. Parâmetros Para a Educação Básica do Estado de Pernambuco. Parâmetros Curriculares. Secretaria de Esducação. Estado de Pernambuco. 2012. Disponível em: http://www.educacao.pe.gov.br/ Acesso em: 03/08/2013. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008. POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: FORMAMOS PROFISSIONAIS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA? Helen Santana Mangueira de Souza (UFMT/CUR) Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho (PPGEDU/UFMT/CUR) Profª Drª Lindalva Maria Novaes Garske (PPGEDU/CUR/UFMT) RESUMO A atual configuração da formação de professores no Brasil é resultado do modelo de expansão do ensino superior implementado na década de 1990, a partir das reformas do Estado e subordinada às recomendações dos organismos internacionais. O presente artigo analisou as políticas de formação de professores vigentes no Brasil, bem como a sua concepção de formação humana e teceu alguns comentários acerca da contribuição da psicologia para uma formação crítica. A partir das análises foi possível verificar que o modelo tradicional de formação 3+1 ainda prevalece na prática, o que revela uma formação voltada para as disciplinas técnicas em oposição à formação para educação básica. O modelo de expansão baseado no ensino à distância, e na expansão do ensino privado é muito criticado. Nesse sentido torna-se necessário rever o modelo de expansão das licenciaturas e colocar em prática as reflexões já presentes nas retóricas críticas circulantes no meio educacional. Palavras-chave: Políticas Publicas Educacionais.Políticas de formação docente.Psicologia na formação de professores. No século XIX, após a Revolução Francesa, quando a instrução popular passou a representar um interesse social, foram criadas as primeiras escolas Normais com o intuito de formar professores para atender a essa demanda. No Brasil, a questão da formação de professores se apresenta formalmente após a independência quando se cogita da organização da instrução popular (SAVIANI, 2009). Desde então, o paradigma da formação de professores no Brasil passou por algumas etapas. Inicialmente, com o dispositivo da Lei das escolas de primeiras letras, os professores eram obrigados a se instruir às próprias custas, o que perdurou até o advento da criação das escolas Normais, cuja primeira escola data de 1835 em Niterói-RJ. Nas escolas Normais preconizava-se o 280 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades domínio do conteúdo a ser transmitido em contraponto ao domínio pedagógico. A partir de 1932 foram criados os Institutos de Educação, com um novo ímpeto: a educação não era considerada apenas como objeto do ensino, mas também da pesquisa. Posteriormente, os institutos de educação foram elevados ao nível universitário e incorporados à Universidades (SAVIANI, 2009). A partir do decreto de lei nº 1.190, de 4 de abril de 1939, que institucionalizou à Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, foram criados os cursos de formação de professores para as escolas secundárias que tinha como base um modelo que ficou conhecido como “3+1”, já que apresentava uma proporção de três anos de disciplinas de conteúdo para um ano de disciplinas de natureza pedagógica. Essa organização partia do pressuposto de que era necessário apenas o domínio do conteúdo a ser transmitido ao aluno em oposição ao domínio pedagógico criando uma tensão entre teoria x prática que pendia para a teoria (PEREIRA, 1999; SAVIANI, 2009). As demais escolas de nível superior que consideravam a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil como referência, adotaram o modelo ali implantado para organizar os cursos de licenciatura e pedagogia. Após o golpe militar de 1964 as escolas normais foram substituídas pela habilitação específica de Magistério, no entanto, o modelo de formação de professores continuou intacto (SAVIANI, 2009). De acordo com Pereira (1999) a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB- lei n° 9394/96- BRASIL, 1996) representou mais um marco na formação docente no Brasil e suscitou intensos debates sobre essa problemática, porém, alguns autores (ver SAVIANI, 2009; ROSSO et. al., 2010) acreditam que ela não atendeu às expectativas de uma formação adequada aos problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país. Os autores concordam, na verdade, que as disciplinas pedagógicas devem constituir a base da formação de professores, já que estas preparariam os mesmos para situações vivenciadas cotidianamente em salas de aula (PEREIRA, 1999; SAVIANI, 2009; ROSSO et. al., 2010). De acordo com Freitas (2007) a atual configuração da formação de professores no Brasil é resultado do modelo de expansão do ensino superior implementado na década de 1990, a partir das reformas do Estado e subordinada às recomendações dos organismos internacionais. Nesse sentido, são criados os Institutos Superiores de Educação e há uma “diversificação e flexibilização da oferta dos cursos de formação – normais superiores, pedagogia, licenciaturas, cursos especiais e cursos à distância –, de modo a atender a crescente demanda pela formação superior” (LEITE, 2007, p.1208). Deste modo, são criadas várias políticas governamentais no nível federal buscando a expansão do ensino como a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), o Pró-Licenciatura, o Plano Nacional de Formação de Professores da educação básica – PARFOR, Programa Universidade para todos – PROUNI. Estas políticas, todavia, não estão livres de críticas e de dúvidas quanto ao seu caráter formativo, principalmente as iniciativas de formação à distância (EaD), já que se caracterizam pelo caráter compensatório e emergencial. Nesse artigo serão analisadas as políticas de formação de professores vigentes no Brasil, bem como a sua concepção de formação humana, além de tecer algumas cosiderações acerca da contribuição da Psicologia para uma formação crítica e emancipadora. Influências supranacionais nas políticas educacionais A crise do Estado-Nação, ocorrida por volta das décadas de 70 e 80, em consequência das demandas da globalização e da transnacionalização do capitalismo e impulsionada pela ideologia neoliberal, afetou profundamente as políticas educacionais em diversos países, inclusive no Brasil (AFONSO, 2001). Se antes o Estado de Bem Estar Social buscava prover as demandas sociais, o Estado Mínimo reduz as intervenções sociais em nome de uma economia livre. Nessa reformulação do 281 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Estado, surgem diversas denominações referentes aos novos papéis adotados por ele decorrentes do novo modelo ideológico-econômico que privilegia a regulação supranacional tais como: “Estadoreflexivo, Estado-activo, Estado-articulador, Estado-supervisor, Estado-avaliador, Estadocompetidor” (AFONSO, 2001, p.25). Dentre as agências reguladoras supranacionais citadas por vários autores, que exercem maior influência sobre as políticas educacionais estão a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (AFONSO, 2001; BALL, 2001, 2005; BEECH, 2009; SOUZA, 2002). Essa influência varia desde a gestão escolar em sua organização, e racionalidade; quais os recursos, sua quantidade, como e onde eles devem ser alocados; que profissionais estão aptos, qual sua formação e como devem prosseguir com a formação continuada; até as políticas curriculares e que aluno deve ser formado para atender as demandas, normalmente econômicas. Assim, na atual forma de regulação do Estado as prioridades para educação são elencadas, de acordo com Afonso (2001) da seguinte forma: 1) apoio aos processos de acumulação; 2) garantia da ordem e controle social; 3) legitimação do sistema. Assim, a formação do sujeito autônomo, reflexivo, questionador como desejam as pedagogias críticas e a educação libertadora está em segundo plano em detrimento de uma educação mercadológica e alienante que se diz moderna e democrática. Nesse sentido Souza (2002) afirma: A modernização e a democratização do Estado em geral, e da administração educacional, serão consequentes quando desatreladas da racionalidade econômica e cultural que tem balizado as políticas atuais. Donde a necessidade da crítica em relação ao papel do Estado e às estratégias de desenvolvimento por ele adotadas, tendo em vista a redefinição de um Estado democrático e popular em suas estruturas, instituições e funções, cujo sistema educacional público seja igualmente popular, administrado e gerido de forma autônoma e democrática em seus diferentes aspectos e dimensões, pautado pela formação integral do Homem e pela emancipação popular, coletiva (p. 101). Deste modo, as relações externas à própria Nação são determinantes e influenciam indireta e diretamente as políticas educacionais nacionais. As políticas de formação de professores no Brasil As atuais políticas de formação de professores no Brasil têm apresentado cada vez mais a preferência pela formação em instituições de ensino privado em oposição ao ensino público e à distância (EaD) em caráter semi-presencial em detrimento da formação presencial. Gatti, Barreto e André (2011) apontam que em 2009, 68% das matrículas em licenciatura de pedagogia e 53% das matrículas nas demais licenciaturas estavam em universidades privadas. Enquanto 71% dos cursos de bacharelado são presenciais, 50% dos cursos de licenciaturas são oferecidos na modalidade à distância. A criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e de programas como o PróLicenciatura concretizam a expansão da educação à distância e de sua preferência como meio de formação inicial, apesar de a CAPES privilegiar o ensino presencial para a primeira licenciatura e o ensino à distância para a formação continuada e segunda licenciatura (FREITAS, 2007). Há que se questionar se a expansão dessa forma de ensino não atende às expectativas mercadológicas e numéricas solicitadas pelos acordos internacionais. Vários estudos demonstram que s ressalvas quanto à educação à distância são inúmeras por parte dos pesquisadores, seja por seu caráter semi ou não presencial, pelos resultados insatisfatórios nas avaliações oficiais, pelo alto índice de evasão, ou pela falta de contato com os professores, o que também constitui aprendizagens para a formação de professores (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; FREITAS, 2007). 282 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades De acordo com Gatti, Barreto e André (2011) a interação presencial com os professores é um instrumento de ensino-aprendizagem, que influencia significativamente no desenvolvimento educacional. Em uma aula presencial é possível que o professor receba e garanta feedbacks ao aluno, que ministre o ensino, de modo que os alunos interajam e também participem da construção do seu conhecimento, o que não é possível numa aula à distância. A expansão do ensino superior em instituições privadas por meio de incentivos fiscais também sofre questionamentos, pois se investe no setor privado em detrimento do setor público. Essa expansão ampliou-se por meio de programas de financiamento estudantil como o Programa Universidade para todos – PROUNI, que oferece bolsas de estudos a estudantes que concluíram o ensino médio em escolas públicas e apresentem baixa renda familiar, para cursar o ensino superior em instituições privadas, que em contrapartida recebem incentivos fiscais. Outra característica das políticas de formação de professores é seu caráter compensatório e emergencial (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; FREITAS, 2007). Um dos exemplos é o Plano Nacional de Formação de Professores da educação básica – PARFOR que visa capacitar professores que não tem a formação exigida pela Lei nº 9.394/1996-LDB (BRASIL, 1996). Por meio desta política há a intenção de corrigir dissonâncias entre a atual legislação e a atuação dos professores, que nem sempre têm a devida habilitação da disciplina que ministram aulas. Deste modo, as políticas que valorizam a formação superior presencial em instituições públicas ainda são escassas. Há que se destacar o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID, que permite aos licenciandos entrar em contato com as práticas educacionais e a educação básica, incentivando assim o ingresso nas licenciaturas e o aprimoramento de suas práticas (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011). Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores: noções básicas A Resolução nº1 do CNE/CP de 18 de fevereiro de 2002 (BRASIL. MEC. CNE, 2002) institui as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Nesse documento a relação teoria-prática é destacada, propondo espaços para ambas, sendo que a prática deverá atravessar toda a formação. A noção de formação de competências em oposição aos modelos conteudistas é privilegiada, a interdisciplinariedade, os conhecimentos trazidos pelos educandos, a educação para além dos conteúdos, e a educação cidadã são colocados em pauta. Porém, como destacam Gatti, Barreto e André (2011) essas proposições além das demais discussões promovidas pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e pelo Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) não ressonam sobre as licenciaturas, tornando-se o proposto apenas uma retórica sem lugar na prática. As pesquisas acerca do currículo das licenciaturas evidenciam uma ênfase na formação específica em detrimento da formação profissional, sendo destinado um espaço de 30% para as primeiras e 70% para as últimas o que evidencia a ênfase na formação do bacharel em oposição à formação para ser professor, permanecendo o modelo “3+1” de proposição do início do século XX; outra característica é a falta de integração entre as disciplinas que constituem o currículo, além da falta de articulação entre os conteúdos pedagógicos e os conteúdos específicos; há ainda uma dissonância entre os projetos pedagógicos do curso e o conjunto de disciplinas com suas ementas (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; GATTI; NUNES, 2009). Deste modo, Gatti, Barreto e André (2011) concluem que a formação para a educação básica, que deveria ser privilegiada nas licenciaturas não ocorre como previsto nos discursos das entidades que se inserem na formação de professores e nos discursos oficiais. O professor não é formado para educação básica e sim para as disciplinas e atividades em seu interior. 283 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades A psicologia na formação de professores Dentre os conhecimentos exigidos para a constituição de competências, são destacados pelo Parecer nº 1 do CNE/CP (BRASIL. MEC. CNE, 2002) conhecimentos acerca de questões culturais, sociais, sobre o desenvolvimento humano, crianças, adolescentes, jovens e adultos. Uma das ciências que pode auxiliar a educação no que diz respeito a esses temas é a Psicologia. As relações entre Psicologia e educação são históricas, a inserção da disciplina de psicologia no currículo das Escolas Normais data do início do século XX, pois havia uma exigência de cientifização da educação e a psicologia seria uma das ciências utilizadas como base para a Pedagogia (BARBOSA, 2011). Porém as relações entre a Psicologia e educação no Brasil se iniciam desde a organização das primeiras escolas pelos jesuítas, quando estes apresentavam nuances de idéias psicológicas acerca do controle do corpo por meio de punições e premiações, o que, posteriormente, se tornou objeto de estudo da psicologia científica (BARBOSA, 2012). No início do século XX a ideia de que o conhecimento psicológico poderia fornecer auxílio à ação educativa partiam do novo papel da criança na sociedade, dos avanços da psicologia infantil, das críticas ao ensino centrado no professor e dos avanços nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano, aprendizagem, processos cognitivos e testes psicológicos (psicometria) assim como suas relações com os processos educativos (BARBOSA, 2011, 2012; SGANDERLA; CARVALHO, 2010). O foco da educação tinha vistas ao ajustamento, normatização e disciplinarização para atender ao projeto de sociedade que o Brasil vislumbrava, a partir de um ideal liberal que via a educação como instituição promotora de igualdades e oportunidades. Nesse contexto a Psicologia fornecia conhecimentos acerca dos processos de aprendizagem, de desenvolvimento, motivação que instrumentalizavam a prática escolar nestes moldes (SGANDERLA; CARVALHO, 2010). Após esse período e sob influência dos movimentos pedagógicos que questionavam o papel da educação para o ajustamento social a psicologia educacional também passa por reflexões acerca de seu papel nessa área (BARBOSA, 2011, 2012). Ainda para Barbosa (2011, 2012) é possível construir teorizações, uma formação e uma prática com propósitos emancipatórios e libertadores. Para isso os profissionais devem estar comprometidos ética e politicamente com a mudança. Assim a Psicologia poderá se constituir enquanto pedagógica e auxiliar na formação do professor para educação básica a partir de um posicionamento político emancipador. Considerações finais A partir da análise das políticas educacionais no Brasil fica evidente, de certo modo, a manutenção do modelo tradicional de formação 3+1 embora a retórica oficial, por meio da LDB (BRASIL, 1996), da resolução do CNE (BRASIL. MEC. CNE, 2002), e as associações educacionais como a ANPEd, a ANFOPE, o CEDES destaquem a importância de uma formação substancial, integrada, voltada para educação básica (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; GATTI; NUNES, 2009). Para tanto é necessário que a formação dos profissionais para educação básica privilegie nas licenciaturas a formação profissional, por meio de um trabalho efetivo e substancial das disciplinas pedagógicas. O caráter emergencial e compensatório das políticas a nível federal também é destacado pelos autores, e o modelo de expansão das licenciaturas por meio da educação à distância, e nas universidades privadas também é questionado (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; GATTI; NUNES, 2009; LEITE, 2007). É necessária, ainda, a expansão das licenciaturas, mas em um modelo presencial, que se pauta nas relações entre educadores e educando no processo de ensino-aprendizagem, que acredita que por meio dessa interação são construídas bases prático-teóricas que não ocorrem no ensino à 284 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades distância (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; LEITE, 2007). As universidades públicas, também devem ser privilegiadas na formação de professores, já que possuem o tripé: ensino-pesquisaextensão, e, nesse sentido, apresentam condições que podem proporcionar ao educando experiências que tornarão sua formação sólida, reflexiva, crítica. No sentido de uma formação crítica, reflexiva e emancipadora, a psicologia, por meio dos seus conhecimentos científicos pode auxiliar na formação do profissional com tais características. Diante disso, podemos salientar que em resposta a questão inicial pode-se dizer se políticas de formação docente no Brasil formam profissionais para educação básica? - é necessário então rever o modelo de expansão das licenciaturas e colocar em prática as reflexões já presentes nas retóricas críticas circulantes no meio educacional. REFERÊNCIAS AFONSO, Almerindo Janela. Reforma do Estado e políticas educacionais: entre a crise do Estadonação e a emergência da regulação supranacional. 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Microconteúdo educacional é analisado sob a perspectiva da hipermídia, considerando-se o predomínio das linguagens híbridas nas mídias digitais. Apresenta um modelo de produção de microconteúdo educacional para ambiente virtual de aprendizagem baseado nas linguagens híbridas. Palavras-chave: microconteúdo educacional; aprendizagem com mobilidade; dispositivos móveis Introdução Diversos tipos de dispositivos de comunicação móvel e sem fio, tais como telefone celular, smartphone, tablet, etc., foram rapidamente introduzidos e mesclados às tecnologias de informação e comunicação (TIC), contribuindo assim para impulsionar as frenéticas mudanças tecnológicas em curso em toda a sociedade. É nesse contexto tecnológico que decorre o fenômeno da mobilidade das pessoas, dos objetos e dos recursos de informação, cujos impactos imediatos abrem novas perspectivas para os processos de ensino-aprendizagem, principalmente no tocante à formação e capacitação continuada daqueles profissionais que realizam seus trabalhos em mobilidade (ZANELLA et al., 2009). Este estudo, de caráter teórico e conceitual, introduz a discussão sobre a necessidade de se produzir microconteúdo para veicular em ambientes virtuais de aprendizagem com mobilidade (AVAm), ou seja, objetos de aprendizagem para dispositivos móveis. O objetivo principal desta pesquisa é o desenvolvimento de um modelo de produção de microconteúdo educacional para AVAm, tomando como ponto de partida as interconexões observadas entre a Pedagogia, a Comunicação e a Semiótica. Metodologia Esta pesquisa foi executada em duas fases distintas, sendo a primeira etapa dedicada à revisão de literatura sobre aspectos da Pedagogia, Comunicação e Semiótica. Para as questões da área pedagógica, buscou-se identificar os estudos convergentes com os fundamentos da pedagogia freireana e com a teoria sociointeracionista e que pudessem corroborar com o objetivo da pesquisa. Nas questões da área de comunicação, buscou-se o entendimento teórico sobre o panorama da cibercultura e a convergência das mídias, em especial. Foram priorizados os aspectos da cultura digital, como a convergência transmidiática, a cultura da convergência, a cultura participativa, a 286 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades inteligência coletiva e a interatividade, dentre outras abordagens. Os aspectos semióticos analisados na literatura forneceram os elementos teóricos e conceituais para a compreensão dos signos e da linguagem, em especial, das matrizes da linguagem presentes nas mídias digitais. A segunda etapa da pesquisa foi dedicada à criação do modelo de produção de microconteúdo educacional. Para tal, adotou-se a técnica de processo operacional para organizar e representar os fluxos das principais atividades e tarefas do sistema de produção em questão. Os conceitos teóricos identificados na literatura orientaram o desenvolvimento da metodologia de análise de produção de microconteúdo educacional para AVAm, em uma abordagem transdisciplinar. Os aspectos semióticos foram analisados a partir das contribuições teóricas e aplicadas, desenvolvidas por Lucia Santaella (2009, 2011c, 2008). Nessa perspectiva, o modelo de produção de microconteúdo educacional proposto toma por base a metodologia de análise semiótica desenvolvida por Santaella (2008). O modelo proposto representa uma opção crítica e dialógica de apoio a distintas abordagens e práticas, em especial das diferentes modalidades de aprendizagem, como a aprendizagem com mobilidade, microaprendizagem, aprendizagem significativa, aprendizagem colaborativa, aprendizagem informal, aprendizagem pervasiva, etc.. Assim, o modelo desenvolvido está fundamentado teoricamente em Freire (2011), Vigotski (2009), Vigotskii et al. (2010) e Alves (2012). No tocante à aprendizagem com mobilidade e às práticas pedagógicas surgidas no seu entorno, o modelo proposto está amparado pelas contribuições teóricas e práticas apontadas pela análise da literatura, enunciadas por Naismith et al. (2006), Meirelles et al. (2006), Schlemmer et al. (2007), Hug (2007), Buchem e Hamelmann (2010), Guy (2009), Sánchez-Alonso et al. (2006), Leene (2006a, 2006b). Quanto aos aspectos comunicacionais, o modelo proposto procurou refletir aqueles traços da cibercultura que são essenciais à caracterização da hipermídia e da linguagem hipermidiática, dados os contextos da convergência transmidiática, da cultura da convergência, da cultura participativa e da inteligência coletiva. Nesse aspecto, a base teórica do modelo apoia-se em Lévy (2007), Lemos (2010), Santaella (2011a, 2010), Santaella e Lemos (2010) e Jenkins (2011). Tecnologias Móveis As tecnologias móveis, como o celular e o tablet, trazem um leque de oportunidades para a criação de novos espaços voltados a práticas educacionais mediadas pelas linguagens híbridas, o que poderá contribuir para a elevação dos níveis de escolaridade do País. São potencialmente promissoras para alavancar processos educativos, sobretudo em instituições públicas de ensino. Além de portáteis e pessoais, tais tecnologias podem apoiar atividades do processo de ensinoaprendizagem, envolvendo estudantes, professores, gestores e demais atores e agentes que interatuam no desenvolvimento de novas aprendizagens, como a aprendizagem com mobilidade (SCHLEMMER et al., 2007). As tecnologias móveis podem, ainda, facilitar a participação colaborativa e a criação de novos conhecimentos em diversos contextos educacionais, possibilitando ao educando tomar parte no processo de aprendizagem, como atestam Silva et al. (2009) e Torres e Amaral (2011). Aprendizagem com Mobilidade O fenômeno da crescente mobilidade das pessoas, dos objetos e dos recursos de informação, dentre tantos desafios de pesquisa, traz novas perspectivas para os processos de ensinoaprendizagem, principalmente no tocante à formação e capacitação continuada daqueles profissionais que realizam seus trabalhos enquanto estão em mobilidade (ZANELLA et al., 2009). Estudos com trabalhadores em mobilidade apontam a existência de restrições de tempo para a realização de cursos de capacitação formal e de interação em processos de aprendizagem (HARDLESS et al., 2001). Observa-se, entretanto, que em inúmeras situações e de forma crescente, o deslocamento físico nem sempre é necessário, o que pode representar economia de tempo. Dessa 287 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades forma, o uso de dispositivos móveis significa uma abertura de novas possibilidades de aprendizagem, seja formal ou informal. Tecnologias e dispositivos móveis ensejam o surgimento de uma nova modalidade de ensino-aprendizagem, denominada de aprendizagem com mobilidade. Na aprendizagem com mobilidade, o processo de ensinar e aprender ocorre intermediado por dispositivos sem fio, como o telefone celular, o smartphone e o tablet, por exemplo. Aprendizagem com mobilidade é definida por O´Malley et al. (2005, p. 7), como sendo: “qualquer tipo de aprendizado que acontece quando o aluno não está em um local fixo pré-determinado, ou de aprendizagem que ocorre quando o aprendiz aproveita as oportunidades oferecidas pelas tecnologias móveis”. Contudo, são enormes os desafios a serem superados visando ao estabelecimento de práticas de aprendizagem com mobilidade, os quais envolvem dimensões tanto tecnológicas e econômicas, como pedagógicas e também socioculturais (NAISMITH et al., 2006; IEEE-RITA, 2010; HUG, 2007; DRUIN, 2009; GUY, 2009; SACCOL et al., 2009; REINHARD et al., 2007; SCHLEMMER et al., 2007). Aspecto relevante na aprendizagem com mobilidade diz respeito ao conteúdo, dadas as peculiaridades dos aparelhos móveis, principalmente aquelas relacionadas ao tamanho reduzido de tela e de teclado. Em consequência, o conteúdo pedagógico a ser veiculado nos dispositivos móveis deve apresentar características de microconteúdo, para que atenda aos aspectos de mobilidade, conectividade, design, usabilidade, interatividade, linguagem, entre outros requisitos. Estudantes em mobilidade podem ser favorecidos pelo melhor aproveitamento do tempo disponível, não precisando se prender a espaços físicos fixos para ter acesso a materiais didáticos, e tampouco, para interagir com professores, outros alunos e demais atores do processo de ensino-aprendizagem (VAVOULA et al., 2010). Entretanto, para que a aprendizagem com mobilidade possa se tornar efetiva no processo educativo é preciso repensar as próprias concepções de aprendizado e também a forma como esta modalidade pode favorecer a construção de conhecimento e o desenvolvimento de competências nos aprendizes. Neste sentido, Schlemmer et al. (2007, p. 2) argumentam que a aprendizagem com mobilidade necessita de um modelo de aprendizagem que “[...] esteja fundamentado por uma concepção epistemológica interacionista-construtivista-sistêmica”. Microaprendizagem Microaprendizagem é uma modalidade de aprendizagem que envolve aspectos da didática e da educação, cujo foco está direcionado para o nível micro, em especial, microconteúdos ou micromídia (recursos de mídia em tamanho micro). A microaprendizagem lida com unidades de aprendizagem relativamente pequenas e com atividades didáticas de curto prazo. De acordo com Gabrielli et al. (2006, p. 45): Microaprendizagem é uma nova área de pesquisa que visa explorar novas maneiras de responder à crescente necessidade de aprendizagem ao longo da vida ou de aprendizagem sob demanda apresentada por membros da nossa sociedade, como os trabalhadores do conhecimento. Baseia-se na ideia de desenvolvimento de pequenos pedaços de conteúdo, de aprendizagem e no uso de tecnologias flexíveis que permitam aos alunos acessá-los mais facilmente em condições e momentos específicos, por exemplo, durante os intervalos de tempo ou enquanto estão se deslocando. Atividades de microaprendizagem, por definição, dependem do acesso a recursos e conteúdos de aprendizagem, o que pode ocorrer em momentos de pausa ou de intervalo nas atividades da vida diária e de trabalho dos alunos. Uma vez que estes intervalos podem incidir em diferentes lugares e em distintos momentos, microaprendizagem é definitivamente a forma típica de aprendizagem em qualquer momento e em qualquer lugar (GABRIELLI et al., 2006). A microaprendizagem é particularmente apropriada à aprendizagem informal, em atividades específicas, nas quais os aprendizes estão mais interessados em conteúdos de informação curtos e específicos, do que no acesso a um sólido corpo de conhecimento sobre determinada disciplina. 288 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Microaprendizagem, portanto, “significa uma experiência de aprendizagem e um método efetivo de aprendizagem...” (HUG, 2006, p. 8), os quais requerem conteúdos e mídias apropriados. Microconteúdo e Hipermídia De acordo com Buchem e Hamelman (2010), o termo microconteúdo se relaciona mais a uma característica formal de como apresentar o conteúdo, do que propriamente à qualidade deste conteúdo. “Microconteúdos são pedaços estruturados de conteúdo autocontido e indivisível, os quais têm foco único e endereço exclusivo para que possam ser (re) encontrados” (LEENE, 2006b, p. 25). São exemplos comuns de microconteúdos os podcasts, blogposts, wiki pages, mensagens curtas do Facebook ou Twitter, ou seja, recursos digitais compostos de elementos sonoros, visuais e verbais, comumente criados, publicados e compartilhados na web. A definição de microconteúdo insere-se no universo da hipermídia, que na literatura especializada refere-se a uma nova linguagem, a um novo paradigma de comunicação. Hipermídia, como define Santaella (2011b), é a linguagem do ambiente virtual de comunicação, ou seja, a linguagem do ciberespaço, também referida como linguagem hipermidiática. Na hipermídia, graças aos processos de digitalização, que transforma textos, imagens e dados em bit (a menor unidade de informação), quaisquer recursos, dentre os quais se enquadra o microconteúdo educacional, podem ser transmitidos seja na linguagem sonora, visual ou verbal, favorecendo a interatividade em acessos a distância. Microconteúdo Educacional Microconteúdo é um tema que aos poucos está sendo introduzido na Educação, particularmente por intermédio da aprendizagem com mobilidade e da microaprendizagem. Ambas as modalidades se apoiam na ideia de fragmentar o conteúdo educacional para torná-lo mais adequado aos dispositivos e artefatos tecnológicos móveis. Entretanto, microconteúdo educacional não se restringe a uma ideia de medida, ou de tamanho, mas sim, a uma unidade, a um módulo, e como tal, é dependente do contexto ao qual está inserido. Na opinião de Sánchez-Alonso et al. (2006), microconteúdo de finalidade educacional, ou seja, micro-objeto de aprendizagem, pode ser considerado como um objeto regular de aprendizagem, portanto, passível de ser utilizado em atividade de microaprendizagem e de aprendizagem com mobilidade. Os microconteúdos, a exemplo de quaisquer objetos de aprendizagem, devem guardar relação estreita com os traços caracterizadores da hipermídia, quais sejam: a natureza híbrida dessa hipermídia (linguagens sonora, visual e verbal); a arquitetura hipertextual e alinear; a extensibilidade de nós e nexos associativos; e, a interatividade (interface que favoreça a participação ativa). (SANTAELLA, 2011b). O microconteúdo educacional, assim, pode ser constituído por um texto, um vídeo, um áudio, uma figura, um gráfico, um desenho, uma foto, etc. Também, esses recursos poderão aparecer reunidos em um único item microconteúdo. Em ambos os casos, deverão ser observadas as recomendações apontadas por especialistas em microaprendizagem e aprendizagem com mobilidade, bem como as restrições referentes aos aspectos de usabilidade (tamanho de tela e teclado) e conexão móvel (tarifas, velocidade, etc.). Linguagens Híbridas A classificação das matrizes da linguagem e pensamento, proposta por Santaella (2009), baseia-se na percepção humana; tais matrizes objetivam explicitar a origem das múltiplas linguagens existentes, denominadas como híbridas, por serem uma mescla das três matrizes primordiais (verbal, visual e sonora). O universo das mídias produz uma diversidade de hibridização multiforme de meios e códigos, para a qual não há mais do que três matrizes semióticas: sonora, visual e verbal, afirma Santaella (2009). Significa dizer que não são puras as matrizes, tampouco as linguagens. Em 289 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades constante mutação, as linguagens nem sempre são percebidas como manifestações híbridas, visto que as linguagens são ensinadas separadamente: “a literatura e as formas narrativas em um setor, a arte em outro; o cinema de um lado, a fotografia de outro; a televisão e o vídeo em uma área, música em outra e assim por diante” (VASQUES FILHO, 2006, p. 14-15). As linguagens híbridas, portanto, se dão a partir da mistura entre as três fontes primárias: a linguagem verbal, a linguagem visual, a linguagem sonora. Os programas multimídia (software) são os responsáveis por tais misturas de linguagens, que compreendem: “os signos audíveis (sons, músicas, ruídos), os signos imagéticos (todas as espécies de imagens fixas e animadas) e os signos verbais (orais e escritos)” (SANTAELLA, 2009, p. 25). No contexto atual de contínuas transformações tecnológicas, sociais e culturais, nas quais se inclui a convergência das mídias, fazse necessário introduzir reformulações nas práticas de produção de conteúdo audiovisual, sobretudo, se considerados os aspectos relativos à mobilidade das pessoas, as aplicações e plataformas móveis e o predomínio da hipermídia. De acordo com Jenkins (2011), nesse ambiente cultural e tecnológico, embora as mídias possuam características próprias, elas se convergem, se complementam, se mesclam, e, por isso, se tornam dependentes de sinergia entre umas e outras. Diferentes mídias habitam diferentes plataformas com o mesmo conteúdo, caminhando rumo à transição para ambientes hipermidiáticos, nos quais se fundem as telecomunicações, a informática, a web, a televisão, o cinema, o celular, os jogos eletrônicos, etc.. Conteúdos multiplataformas, transversais às diferentes tecnologias, são cada vez mais requeridos para veicular em novos canais de comunicação, bem como para aumentar os níveis de interação entre as pessoas e os próprios conteúdos. Logo, produzir conteúdos audiovisuais para AVAm torna-se inevitável, em razão das mudanças de hábito de consumidores de mídias que, cada vez mais, se interessam simultaneamente por diferentes conteúdos, formatos e suportes. Ao contrário do que pode ocorrer na mídia tradicional de finalidade comercial, em atividades educacionais, na hipermídia, o importante é produzir conteúdo que rode em diferentes plataformas (veículos e dispositivos), com aumentada capacidade de difusão, traduzindo-se em maior possibilidade de acesso, independentemente da mídia. Entretanto, produzir microconteúdo educacional requer o estabelecimento de um processo de produção que envolva uma dinâmica inovadora fundamentada em aspectos pedagógicos e semióticos, nos quais esteja contemplado o atendimento às especificidades e à natureza dialógica da linguagem hipermídia, visando à compreensão e à assimilação do caráter híbrido, manifestado pelas hipermídias. Modelo de Produção de Microconteúdo Educacional O esquema geral da produção de microconteúdo educacional se fundamenta em três núcleos básicos de análise que representam pontos distintos de reflexão oriundos da aproximação da pesquisadora com o objeto de estudo. Os três núcleos (conceitual, analítico e metodológico), em síntese, correspondem ao macroprocesso de produção de microconteúdo, o qual é formado por dois processos distintos: arquitetura pedagógica (AP) e arquitetura das linguagens (AL). O núcleo conceitual constitui-se na base epistemológica do Modelo PME, uma vez que reúne os principais conceitos norteadores da produção de microconteúdo educacional. O núcleo analítico oferece um modelo de análise voltado para a aprendizagem colaborativa com mobilidade, tendo como pressuposto o uso de microconteúdos educacionais elaborados com base em elementos essenciais da semiótica e das matrizes das linguagens e pensamento (sonora, visual e verbal). O núcleo metodológico é o cerne do modelo, e em termos práticos resume-se na orientação metodológica da produção de microconteúdo educacional. No núcleo metodológico são operados os processos da AP e da AL. O primeiro trata dos aspectos relativos ao processo de ensinoaprendizagem. O segundo compreende os aspectos que envolvem as linguagens e as mídias digitais. Ambos os processos (Quadro 1), apesar de distintos, são interconectados entre si, o que reforça as características de transdisciplinaridade enfatizadas na análise da literatura. 290 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Quadro 1. Processos de produção de microconteúdo educacional – Modelo PME 291 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Processo Arquitetura Pedagógica (AP) O conceito de AP tem sido aplicado em educação a distância, sobretudo, na concepção e elaboração de objetos de aprendizagem. Constitui-se de elementos organizacionais, instrucionais, metodológicos e tecnológicos, os quais mantém estreita relação entre si (BEHAR et al., 2009). Do ponto de vista da representação metodológica do Modelo PME, inicia-se a produção de microconteúdo educacional a partir do estabelecimento do processo AP, o qual reflete as principais etapas que compreendem o processo didático-pedagógico. Nesse processo são condensadas e traduzidas, na forma de fluxos, as questões teóricas e conceituais discutidas nos núcleos conceitual e analítico. O quadro 2, a seguir, destaca os fluxos que compõem o processo AP. Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 5 Passo 6 Passo 7 Quadro 2. Principais atividades do processo AP Formar equipe editorial responsável pela produção do microconteúdo. Definir o tema central do microconteúdo. Desenvolver estratégia didático-pedagógica para abordagem do tema. Discutir e selecionar conteúdos essenciais à formulação do microconteúdo (preliminar). Estabelecer pontos de convergência entre os diversos conteúdos de apoio selecionados para embasar a elaboração do microconteúdo. Identificar material didático selecionado para embasar a estruturação do conteúdo a ser contemplado pelo microconteúdo. Desenvolver a AP, propriamente dita, de organização de conteúdos em formato de microconteúdo para dispositivos móveis. Atividades principais: - Analisar e selecionar material didático. - Discutir com especialistas visando ao tratamento interdisciplinar do material selecionado. - Selecionar mídias a serem utilizadas para disseminar o conteúdo do microconteúdo. - Elaborar o design instrucional contextualizado, compreendendo: análise instrucional, design instrucional, desenvolvimento instrucional, implementação e avaliação. Processo Arquitetura das Linguagens (AL) Este processo destaca as principais ações da produção de microconteúdo educacional para dispositivos móveis envolvendo aspectos semióticos, como as linguagens, as matrizes da linguagem e pensamento. Na AL são sintetizados e representados, na forma de fluxos, os conceitos e aspectos teóricos ressaltados nos núcleos conceitual e analítico. O quadro 3, a seguir, apresenta as principais ações deste processo. Passo 1 Passo 2 Passo 3 Quadro 3. Principais atividades do processo AL Analisar os aspectos semióticos do microconteúdo quanto às faces da: - significação (icônico, indicial, simbólico). - referência (modos qualitativo, existencial e genérico). - interpretação (interpretantes imediato, dinâmico e final). Identificar as três matrizes da linguagem e pensamento; analisar misturas e combinações dessas matrizes (linguagens híbridas – linguagens das hipermídia). Ajustar o design instrucional contextualizado às linguagens da hipermídia. 292 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Após a explicitação dos processos AP (quadro 2) e AL (quadro 3), o Modelo PME prevê, de forma integrada, a etapa de elaboração do protótipo do objeto de aprendizagem. Deve materializar os principais pontos discutidos na proposta do modelo, como os aspectos pedagógicos, os aspectos semióticos e das linguagens da hipermídia, as restrições em relação à mídia digital (dispositivos móveis), bem como atender aos requisitos técnicos de informática. Essa atividade deve ser executada por uma equipe multidisciplinar, com a indispensável participação do professor (especialista em conteúdo), do designer instrucional, além do especialista de informática. Após a elaboração do protótipo, faz-se o teste do microconteúdo, a ser executado em situação simulada, antes da efetiva utilização do objeto de aprendizagem. Testes devem ser feitos enquanto erros e problemas persistirem. Finalizados os testes, ou seja, corrigidos os erros e problemas, conclui-se a fase de produção do microconteúdo educacional. A partir desse momento, o microconteúdo está apto para ser utilizado na aprendizagem com mobilidade. Encerra-se aqui, o ciclo metodológico que compreende os processos de produção de microconteúdo educacional. Conclusões O Modelo PME, elaborado com base na AP e na AL, apresenta os elementos conceituais e teóricos essenciais à produção de microconteúdo educacional para aprendizagem com mobilidade. No tocante ao desenvolvimento da metodologia de produção de microconteúdo educacional, os conceitos e fundamentos expostos nesta pesquisa são considerados elementos teóricos e conceituais prévios. O Modelo PME fornece subsídios à elaboração de novas propostas de pesquisa, ou seja, tem potencial para fomentar novos projetos de pesquisa acadêmica. O Modelo PME conta com a possibilidade de sua utilização em propostas didáticopedagógicas que priorizem, por exemplo, a aprendizagem colaborativa e a coautoria. Referências ALVES, S. M. Freire e Vigotski: um diálogo entre a pedagogia freireana e a psicologia históricocultural. Chapecó: Argos, 2012. 274 p. BEHAR, P. A.; BERNARDI, M.; SILVA, K. K. A. da. Arquiteturas pedagógicas para a educação a distância: a construção e validação de um objeto de aprendizagem. RENOTE – Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 7, n. 1, jul. 2009. BUCHEM, I.; HAMELMANN, H. Microlearning: a strategy for ongoing professional development. eLearning Papers, n. 21, p.1-15, Sept. 2010. DRUIN, A. (Ed.). Mobile technology for children: designing for interaction and learning. Burlington: Morgan Kaufmann, 2009. 353 p. FREIRE, P. 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Busca então compreender como essas beneficiárias relacionam essa exigência a melhoria de vida para seu filhos. Neste momento para esta apresentação trabalhamos com dois tópicos o PBF e a frequência escolar e o PBF e a escola frequentada pelo filho. Palavras chaves: Programa Bolsa Família (PBF); Escola; Frequência escolar. Introdução O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência de renda condicionada do governo federal, criado em 2003, destinado às famílias pobres com renda per capita mensal igual ou inferir a R$ 140,00 (cento e quarenta reais). Segundo Castro e Modesto (2010), o PBF surge com a intenção de enfrentar a pobreza em dois princípios. Primeiro, combater a pobreza de forma imediata por meio da transferência de renda, atuando no que Sônia Rocha (2006) caracterizou como “pobreza absoluta”. Segundo, combater a chamada transmissão intergeracional da pobreza através de condicionalidades vinculadas à saúde e à educação. Em relação à educação é exigida frequência escolar mínima de 85% para as crianças entre 6 e 15 anos, e 75% para adolescentes entre 16 e 17 295 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades anos. Na saúde são exigidos cuidados básicos com os membros das famílias beneficiadas, acompanhamento do desenvolvimento e crescimento, cartão de vacinação e acompanhamento pré e pós– natal. (CURRALERO, C. B.; et al; 2010). Este trabalho apresenta resultados parciais de uma investigação, que busca compreender como se estabelece a relação entre frequência escolar e melhoria de vida de acordo com as opiniões dos titulares das famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família residentes na região sul do município de Campinas (SP). No período entre doze de dezembro de 2012 a onze de Janeiro de 2013 foram realizadas 15 (quinze) entrevistas semiestruturadas com mulheres inscritas no programa, com filhos entre 13 e 17 anos matriculados em escolas da rede pública de ensino deste município. Considerando que a Lei 11.274 de 2006 estabelece que o ensino fundamental obrigatório deva iniciar aos 6 (seis) anos de idade, a escolha desta faixa etária para os filhos justifica-se pelo fato de que estas mães já estão com seus filhos há mais de 6 anos frequentando o universo escolar. As famílias que compõem a amostra foram selecionadas no Distrito de Assistência Social da Região Sul, local do escritório descentralizado do Centro Público de Apoio ao Trabalhador (CPAT), administrado pela Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho Assistência e Inclusão Social (SMCTAIS) da Prefeitura Municipal de Campinas, onde são feitas as inscrições e acompanhamento dos cadastrados no programa Bolsa Família da região sul. As entrevistas foram realizadas em dez datas e períodos diferentes, sendo seis manhãs e quatro tardes. Com isso buscou-se criar condições para uma seleção variada do conjunto das entrevistadas em termos de idade, número de filhos, dias e horários que frequentam o serviço. Aos beneficiários que se manifestaram estar de acordo com a realização da entrevista foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), lido e assinado antes do início das entrevistas. Importante clarear que de acordo com o TCLE foi retirado do texto qualquer informação que permita identificar as entrevistadas. Os nomes das entrevistadas e dos seus familiares que aparecem neste texto são fictícios. Na sequência, serão apresentadas as analises das entrevistas subdivididas em: Bolsa Família e a exigência de frequência escolar e Opiniões sobre o conhecimento passado aos filhos pela escola. Pode-se dizer que as entrevistadas são adultos jovens, todas têm entre 31 e 49 anos. Outra importante característica é que sete entrevistadas têm quatro ou mais filhos e as demais têm entre um e três filhos. Vivem em arranjos conjugais com realidades diversas umas das outras, sete entrevistadas tem companheiro, oito estão separadas. A escolaridade das integrantes da amostra é outro fator bastante variado, pois temos duas analfabetas, sete com ensino médio incompleto, três com ensino fundamental completo e três com ensino médio completo. Outro fato curioso é que das quinze entrevistadas, oito já foram ou ainda são beneficiárias de outro programa governamental além do bolsa família. Para a coleta dos dados da pesquisa foi construído e utilizado um roteiro de perguntas previamente dividido também em eixos do conhecimento como: caracterização do entrevistado e sua família, formas de obtenção de renda, percepções sobre o programa bolsa família e percepções sobre educação e frequência escolar. Para a análise dos dados utilizados na construção deste artigo, privilegiaremos alguns assuntos destes blocos, como se verá a seguir. Bolsa Família e a exigência de frequência escolar Um aspecto importante tratado nas entrevistas foi a relação entre o PBF e a condicionalidade ligada à educação, ou seja, a exigência da frequência escolar. Ao analisar as entrevistas fica claro, que para a maior parte das entrevistadas, fazer com que as crianças sejam inscritas na escola e frequente as aulas é obrigação dos pais e dever das crianças. Treze das quinze entrevistadas referem que a exigência da frequência é o mínimo que o governo poderia fazer, e que é muito importante, uma vez que mesmo sendo algo esperado dos responsáveis pelas crianças, nem todos tem este compromisso com a escolaridade dos filhos. Por tanto, exigir a presença das crianças na escola é fundamental e nada difícil de cumprir. 296 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Em geral concordam com a exigência de frequência escolar do programa, por algumas razões relacionadas. Primeiramente, por se tratar de um dever dos pais, e assim o programa só viria a reforçar algo que já era feito. A exigência ganha ares de uma troca que de certa forma legitima o recebimento do dinheiro numa relação de reciprocidade. É o que sugere esta passagem: Eu acho que ele não ta pedindo nada demais em troca, isso ai é um dever dos pais por os filhos na escola. E pegar no pé dos filhos pra ir pra escola, os meus filhos nossa, eu fico assim oh, não do tempo pra eles nem pensar em faltar, só em caso de necessidade eu falo pros meus filhos. Porque assim cada dia que você não vai pra escola você perde um conteúdo novo, e o que você perde vai te fazer falta lá na frente. Então eu pego no pé, eu acho que é fundamental ir pra escola, eu acho que ai o programa tá sendo muito certo em cobrar isso (Cleide, ensino médio, mãe de cinco filhos, sendo três em idade escolar). Ainda nesta ideia de troca, observa-se também na fala de uma das entrevistadas a percepção do quanto este benefício colabora para manutenção do interesse dos pais em manter as crianças na escola. Segundo a entrevistada nem todos os pais vêem a importância de manter seus filhos frequentes na escola e isso faz com que alguns não permitam aos filhos estudar porque eles têm que trabalhar, inclusive ilustra sua história como um exemplo desta realidade. Isso ai é uma coisa que eu acho bom, porque, tipo assim, tem várias pessoas que recebem o bolsa família e tem criança que abandona a escola. Vê se na minha época existisse, a minha mãe interessada, ela tinha me deixado estudar. A minha mãe não deixou eu estudar, pôs eu pra trabalhar. Então isso ai hoje prejudicou a minha vida, porque o tempo que eu tinha que ir pra escola era quando eu era pequena, não hoje, hoje eu não consigo estudar, eu tentei, mas eu não consigo. Dessa parte eu acho bom, porque os pais deixam os filhos na escola pra estudar que nem eu falo pros meus filhos, não faltam não porque senão eu vou perder o meu bolsa família. (Lara, ensino fundamental cursado no EJA). É importante afirmar que para a maioria das entrevistadas, se o programa não existisse, mesmo assim, os filhos estariam na escola, sendo exceção este fato apenas para duas entrevistadas, que afirmam que se não fosse pelo incentivo financeiro, seus filhos não iriam a escola. Conforme observamos nas falas abaixo: Não, já tinha parado. é muita humilhação, dos alunos, e não é só de um é de vários professores, então ele já teria desistido. [fala da entrevistada a se referir ao fato do seu filho ter apresentado problemas com uma professora e pela falta de limites, tanto do jovens quanto dos professores frente aos jovens] (Margarida, ensino médio completo). Eu acho que ela não estaria na escola não. Porque a única coisa pra ela é que ela que recebe o dinheiro para comprar as coisa que ela que. (Flor, analfabeta). O pensamento de considerar a educação um fator importante e de esforçar-se para colocar as crianças na escola independente da situação econômica, é evidenciado por Simon Schwarzman (2009). O autor faz uma reflexão sobre as condicionalidades do PBF e sobre a ideia, para ele equivocada, de que os problemas da educação são de demanda, enquanto na verdade eles são de oferta. Há vagas nas escolas e em geral os pais matriculam seus filhos, o problema está na qualidade dessas escolas. Afirma que essa má qualidade está relacionada a uma série de fatores, como formação inadequada de professores, desconhecimentos de metodologias pedagógicas mais adequadas, entre outros, porém mesmo conhecendo essa realidade as políticas públicas em geral são voltadas a atender demanda. Outra razão relaciona-se com a contribuição do estado no árduo papel de educar os filhos. A maioria dos arranjos familiares que recebe o programa é chefiada por mulheres. Assim, cabem a elas praticamente todas as tarefas relacionadas aos filhos, como cobrá-los pela saúde, higiene, escola etc. Isso é claramente percebido na fala das entrevistadas, quando estas sugerem que deveria existir maior fiscalização do governo em relação ao cumprimento da frequência, pois isso ajuda na 297 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades tarefa de convencimento dos filhos. Não ficando somente a cargo da mãe esta tarefa tida como difícil, de cobrar a ida da criança na escola, uma vez que elas já negam muitas coisas aos filhos cotidianamente. Esse contexto, de ver as políticas públicas como corresponsáveis com as mães em orientar seus filhos quanto às escolhas mais adequadas e não necessariamente as mais atraentes as crianças, fica evidente também no relatório síntese do Ibase (2008). Neste documento é evidenciado que as mães veem como um reforço as políticas públicas que recomendam a adesão a uma alimentação saudável. Porém o fato de afirmar que os filhos não estariam mais na escola caso não estivessem recebendo o dinheiro do PBF, foge do que se imagina como resposta, uma vez que mesmo buscando sempre a imparcialidade, sabemos que em alguns momentos as entrevistadas poderiam se sentir obrigada a responder aquilo que é conhecido popularmente como resposta esperada pela sociedade. Sendo então neste caso diverso, pois para nossa sociedade o esperado é que todos queiram seus filhos na escola. Opiniões sobre a escola frequentada pelos filhos Um importante fato que a pesquisa nos traz é a opinião das entrevistadas sobre a escola frequentada pelos seus filhos, ou mesmo por outras que estão localizadas nos arredores de suas residências. Observa-se de maneira clara que titulares que têm maior grau de escolaridade vêem a escola com opiniões mais críticas quanto ao papel desempenhado por esta ou que poderia desempenhar se administrada ou conduzida de maneira diversa. Além de perceber a escola como uma possibilidade de mudança, de melhores oportunidades, seja para elas ou para o futuro dos filhos. Já para aquelas com menor escolaridade, essa associação não se faz presente de forma tão nítida. Neste tema observamos certos termos recorrentes nas falas das entrevistadas, como por exemplo, problemas com o conteúdo desenvolvido nas escolas, com a infraestrutura, com a segurança, com o aproveitamento da escola fora do horário curricular, entre outros. Evidencia-se também que quanto maior a escolaridade das mães, maior o potencial de crítica ao formular as respostas ao que está sendo questionado. a) Problemas com conteúdo A escola ruim é a escola do “outro”57 fica bastante evidenciado esta situação na fala da Cleide ao referir que foi contemplada com vagas para os três filhos em uma escola próxima da sua residência, mas que optou por outra, [...] eu coloquei consegui a vaga pros três lá, ai a Maria, falou assim eu não vou naquela escola. A filha da minha amiga está na sexta série e ela não sabe nada, esses dias ela veio ai como que faz MMA, Já é assim, ela não conseguia fazer, porque ela não aprendia a tabuada. Sabe e os professores não pegam no pé. E eu coloquei meu filho, meu filho falou não, não quero e ai ele falou para a irmã não vem, não vem porque é terrível essa escola, e ela ficou com medo de ir. Então ela permanece no Carmelino. O João desde que subiu ele disse o mãe eu não vou ficar aqui. Eu gosto da escola dele, porque o ensino é bem mais puxado e as pessoas da região que vão pra aquela escola senão conseguir acompanhar não passam, eles reprovam, eles pegam no pé, eles exigem uniforme, nada de boné em sala de aula. Se pega aluno zanzando pela escola eles colocam os meninos pra dentro das salas. Então assim nela eu acho que não mudaria não, mas na outra eu mudaria tudo. Se eu tivesse a oportunidade eu mudaria tudo (CLEIDE, ensino médio). 57 Essa referência a escola ruim é a escola do “outro”, refere-se ao fato que as entrevistadas em geral ao realizarem criticas ao sistema escolar, ou a alguma escola especifica afirmavam que conheciam escolas muito ruins, porém a escola de seus filhos eram boas, e essas instituições problemáticas eram escolas onde estudavam os filhos das vizinhas, ou algum parente, ou os próprios filhos, mas por um curto espaço de tempo. 298 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades As entrevistadas parecem valorizar bastante os professores rigorosos, pois para as entrevistadas, isso significa que o profissional está interessando pelo aprendizado do aluno. Também sugerem que há uma diferença marcante entre estudar numa escola da prefeitura ou do estado, em geral mais fracas, em relação as escolas particulares e/ou profissionalizantes. Assim como, para algumas entrevistadas migrantes valorizam a escola em Campinas quando a comparam com a situação das escolas em suas regiões de origem. [Entrevistada ao referir-se ao porque considera a escola aqui em Campinas melhor que na sua cidade de origem responde da seguinte forma] Porque lá é uma professora só. É uma professora só, e aqui é duas, três professoras no dia. Ai a criança sempre vai no ritmo daquela lição certinha. E lá não é das 7 as 11, sempre com a mesma professora (ROSE, ensino fundamental incompleto). b) Problemas com infraestrutura e Ambiente escolar Algumas entrevistadas destacam problemas que envolvem as escolas em geral no que tange principalmente ao ambiente escolar intra e extramuros da escola, entre estes tem destaque a violência, as drogas, a falta de segurança e a própria estrutura interna dos prédios. Olha eu não sei, mas provavelmente, a minha filha uma vez ela chegou a apanhar vamos dizer assim na escola que ela desmaiou, o garoto deu uma pancada na cabeça dela que ela caiu no chão, e isso as professoras fizeram vista grossa, então ai eu fui lá na escola e a professora me falou, a mas o menino é danado ai eu disse então leva ele pro conselho tutelar. Orienta eles pra fazer alguma coisa, porque eu vou deixar a minha filha aqui pra ele matar a minha filha? Ai ela falou que ia dar um jeito, com relação a isso ai né, porque esse menino continua danado, ainda bem que ela passou e ele ficou né, ele ficou na outra série. E hoje eu tenho medo do meu filho se encontrar com ele né. Porque ele perde muito, ele não passa de ano, então uma hora o meu filho vai encontrar com ele, e ai se ele fizer a mesma coisa, entendeu. Ai eu acho assim, essas crianças violentas eu acho que deveria ter alguém pra conversar com elas, sei lá, só sei que não pode ficar assim. Porque isso daí, às vezes, pode até ocasionar das crianças não quererem ir pra escola. Porque vai chegar na sala de aula e o menino vai bater, então acontece geralmente isso daí. Graças a Deus isso não aconteceu porque, eu fui na escola eu conversei e eu conversei com a minha filha. Eu conversei com a diretora, se acontecer de novo eu ia denunciar ela (SOL, ensino médio). Mauricio Tragtenberg (1995) já evidenciou esse papel da escola de instituição disciplinar, onde o aluno é vigiado como um detento, situação esta onde o professor exerce o papel de vigia, ou observador do aluno, estigmatizando aqueles que têm um comportamento inadequado e não auxiliando em nada para a mudança destes comportamentos, uma vez que o professor também se vê como um subordinado que obedece a ordens e que não enxerga alternativas de como mudar tudo isso. O autor também reforça que a escola é um local de ambiguidades, porque o mesmo professor que atua desta forma reprodutora de uma sociedade desigual critica o governo pelas péssimas condições de trabalho que lhe são impostas. Considerações Finais Interessante destacar que muitas das falas realizadas pelas entrevistadas e seus posicionamentos críticos quanto à necessidade da rigidez escolar, ou seja, uma escola boa é exigente e rígida. Bem como, o fato que frequentar a escola pode vir a oportunizar aos filhos uma vida diferentes daquela vivida por seus pais. São fatores que também são encontrados no estudo de caso realizado no Bairro Esperanza na Argentina com dados do censo de 2004 e com entrevistas as famílias deste bairro, por Magdalena Cafiero (2005). Assim como no estudo do Bairro Esperanza, também evidenciamos nesta pesquisa um imenso esforço dos pais em permitir aos filhos frequentar a escola. Mesmo que não estivessem 299 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades recebendo o benefício, deixam bem claro que os filhos estariam na escola, pois referem ser a única coisa que eles podem garantir aos filhos. Assim como para alguns pais que afirmam ter filhos mais rebeldes, o PBF serve como um incentivo para manutenção destes jovens na escola, pois caso contrário estariam longe do ambiente escolar há tempo. Ainda assim fica evidente que para estas famílias a única esperança de que os filhos poderão ter uma vida melhor, diferente das próprias será obtendo um diploma. Os beneficiários verbalizam a necessidade de maior cobrança das crianças com relação à aprendizagem do conteúdo, pois ao afirmarem que a escola boa faz isso, reforçam que o ideal seria que todas fossem assim. Considerando os levantamentos obtidos com a analise, fica evidente que a condicionalidade exigida pelo PBF de frequência escolar é bem vista pelos beneficiários e entra inclusive como um apoio a esta cobrança já realizada pelos pais com relação aos filhos. Referências CAFIERO, Magdalena. La escuela em la vida cotidiana de famílias em contextos de pobreza.In: EGUÍA, Amalia.; ORTALE, Susana. Los significados de la pobreza. Editorial Biblos Sociedad, 2008. CASTRO, Jorge A.; MODESTO, Lúcia. Bolsa Família 2003-2010: avanços e desafios. Vol. 1. Brasília: IPEA, 2010. CURRALERO, C. B.; et al; As Condicionalidade do Programa Bolsa Família. In: CASTRO, Jorge A.; MODESTO, Lúcia. Bolsa Família 2003-2010: avanços e desafios. Vol. 1. Brasília: IPEA, 2010. IBASE. (2008). Repercussões do Programa Bolsa Família na segurança alimentar e nutricional: relatório síntese. Rio de Janeiro: Ibase. SCHWARZMAN, Simon. Bolsa família: mitos e realidade. Interesse Nacional, ano2, nº7, dez 2009, p. 20-28. TRAGTENBER, M. Relações de Poder na Escola. Educação & Sociedade. Ano VII – Nº 20 – Jan/Abril de 1985. Campinas: CEDES/Unicamp; São Paulo: Cortez Editora, pp. 40-45. PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR E AS RESISTÊNCIAS DOS ATORES ENVOLVIDOS: IMPLEMENTAÇÃO NUMA DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO. Alex Moreira Roberto (UFJF) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a implementação do Programa Convivência Escolar numa Diretoria Regional de Educação da rede municipal de São Paulo. O Programa, que reflete sobre o exercício da convivência, cooperação, prevenção e intervenção da violência na escola foi formulado a fim de contribuir para a melhoria das relações estabelecidas nas escolas. Esta pesquisa se justifica, uma vez que, ao acompanhar os primeiros passos para a produção dessa política e a percepção dos atores envolvidos em relação às ações propostas, contribui com outras redes de ensino que estejam trilhando caminhos parecidos e/ou preocupadas com a questão da violência. Os dados aqui apresentados foram coletados via observação participante e entrevistas com assistentes de direção das unidades escolares, revelando certa resistência por parte desses sujeitos durante o processo de implementação da política. Palavras-chave: Convívio escolar. Programa Convivência Escolar. Violência na escola. 300 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades (Re) pensando o cotidiano da escola: implementação do Programa Convivência Escolar numa Diretoria Regional de Educação da rede municipal de ensino de São Paulo São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil, com mais de 11 milhões de habitantes (IBGE, 2011). A Secretaria Municipal de Educação (SME) da capital paulista atende a cerca de um milhão de alunos, divididos em, aproximadamente, 2300 escolas municipais, separadas por Diretorias Regionais de Educação, as DREs. O portal da SME informa que, ao todo, são treze diretorias (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, s/d). A DRE pesquisada é composta por cinco distritos que estão localizados no extremo leste da zona leste de São Paulo. De acordo com dados do IBGE de 2010, a população total dessas regiões atendidas pela DRE era de 742.623 habitantes (PREFEITURA DE SÃO PAULO, s/d). A Fundação Tide Setubal (s/d), uma instituição filantrópica e familiar que atua na região há vários anos, ao apresentá-la, afirma que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) (da região) é de 0,451, em São Paulo, o índice é de 0,843 e o do Brasil é 0,766. O Desemprego entre os jovens da região é de 23,48%, índice maior que os 18,33% que atingem a cidade como um todo. 14,68% dos domicílios não estão ligados a rede de esgoto. O índice de gravidez na adolescência é de 17,13%, enquanto o índice da cidade é de 13,88%58. Além desses fatores, a região conta com altos índices de violência e criminalidade, e assom como grande parte dos bairros de periferia de São Paulo, a região ainda é um local com um grande número de favelas e vilas extremamente pobres e, por isso, o poder público ainda precisa lidar com diversos problemas relacionados às precárias condições nas quais muitas famílias se encontram. Programa Convivência Escolar O Programa Convivência Escolar proposto pela SME foi uma das maneiras encontradas pela rede municipal para repassar às escolas uma devolutiva sobre os aspectos apresentados tanto pelo Sindicato dos Gestores Educacionais de São Paulo (SINESP) quanto pelas autovaliações das escolas realizadas ao final do ano de 2010 (PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR, s/d). Um grande número dessas ferramentas evidenciou que parte dos profissionais que atuam nas escolas estão preocupados com as relações desgastadas estabelecidas nas unidades escolares, sendo preciso, por isso, repensar a questão do convívio escolar. Para a produção do Plano Estratégico da DRE e amparado pelos referenciais de atuação propostos pela SME, foi criado um Grupo de Trabalho (GT) na diretoria, como forma de contribuir com esse processo. No total, os GTs da DRE foram organizados em 12 encontros de formação e discussão. O GT da DRE ocorreu, inicialmente, no mês de maio de 2012, momento no qual todos os assistentes de direção (ADs) da DRE, vice-diretores das escolas, passaram por uma formação, planejada em parceria com a SME e executada pela Fundação de Apoio à Faculdade de Educação (FAFE), seu objetivo foi vivenciar os processos de construção de um plano estratégico de ação, com a finalidade de elaborar táticas eficientes para o enfrentamento das situações de conflito que incidem nas escolas. Posteriormente ocorreu uma Jornada Pedagógica (JP), no dia 3 de agosto de 2012, neste momento todas as escolas da DRE/MP discutiram questões relacionadas ao início do planejamento estratégico de cada unidade escolar, com foco na aprendizagem e no desenvolvimento dos educandos, realizando, assim, um diagnóstico da escola. Nesse evento já começaram a ficar evidentes alguns aspectos referentes à resistência dos professores e ADs à implementação do PCE. 58 Disponível em: <http://www.ftas.org.br/como_atuamos/>. Acesso em: 30 abr. 2013. 301 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Ao acompanhar uma das JPs, foi possível notar por parte dos docentes presentes – aproximadamente 20 –, uma oposição em relação ao Programa, uma vez que ele estaria reforçando a permissividade frente aos problemas de violência na escola, ou seja, que, mais uma vez, a escola estava dando prioridade aos direitos dos alunos, deixando de lembrá-los dos seus deveres. A resistência dos docentes não se mostrava apenas por meio das falas de desestímulo, que evidenciavam o quanto acreditavam que as ações do Programa Convivência Escolar (PCE) não modificariam os problemas da escola, mas também se revelava por meio do silêncio quando precisavam propor ações de melhorias no convívio escolar. A mesma atitude foi notada com relação aos ADs, pois, frente à postura resistente ao PCE e ao descompromisso de alguns docentes, esses profissionais passavam a não acreditar na sua eficiência, uma vez que ele exigia mudanças na postura dos professores, que não se mostravam acessíveis para discutir o seu papel enquanto educador nem modificar a sua prática pedagógica. A partir dessa Jornada, as instituições educacionais iniciaram os trabalhos de diagnóstico da sua realidade, tendo como pano de fundo a questão do convívio escolar, e passaram a refletir e discutir sobre o tema, motivadas pelas ações iniciais propostas pelo Programa. No dia 17 de julho de 2012, foi publicado o Comunicado de n° 1.170, que tratava da Jornada GT Convívio Escolar: elaboração de Plano Estratégico Regional (SINESP, 2012). O plano estratégico no nível da DRE teria como objetivo fazer um diagnóstico das escolas que compunham as diretorias, além de estabelecer parcerias com instituições do entorno, no intuito de criar uma rede de proteção às crianças e aos adolescentes, além de determinar fluxos de trabalho da DRE no atendimento às demandas relativas ao convívio escolar. O GT da DRE pesquisada foi composto por 20 ADs que se candidataram, por e-mail. Os supervisores responsáveis pelo Programa nessa diretoria informaram que tinha sido feita uma seleção dos inscritos, tendo em vista as escolas com os maiores números de relatos envolvendo problemas relacionados à violência e também aquelas localizadas em áreas de alta vulnerabilidade social. O objetivo desse GT foi a estruturação do plano estratégico da DRE. Encontros do Grupo de Trabalho da Diretoria Regional de Educação, com o formador da Fundação de Apoio à Faculdade de Educação (FAFE) No encontro inicial, foram apresentados os objetivos da capacitação, sendo eles construir um plano estratégico sobre convívio escolar para a DRE, afinar visões, criando consensos sobre violência na escola e convívio escolar. Para os supervisores que acompanharam todo o processo, essas metas não foram plenamente alcançadas, uma vez que o período para as discussões foi muito curto e o movimento de debate entre os sujeitos escolares é novo na RME. Durante essas reuniões, alguns ADs citaram as dificuldades experenciadas com relação ao corpo docente. Apontaram que os professores ainda se mostravam muito resistentes em se articular e discutir questões relacionadas aos Direitos Humanos em Educação, por exemplo. Além disso, alegavam que “os estudantes conhecem muito bem os seus direitos, faltando na escola uma discussão acerca dos deveres dos alunos”. Diante dessas demandas, foram abordados aspectos relativos à necessidade de fortalecer as redes internas das UEs no enfrentamento dessas questões e que, muitas vezes, os profissionais atuantes na escola silenciavam as vozes dos alunos. As entrevistas e as observações participantes realizadas possibilitaram, assim, compreender o quanto as resistências dos professores em relação ao PCE retroalimentavam as dos ADs. Os ADs, ao lidarem com essas devolutivas dos professores, se desmotivavam em relação ao PCE e, no retorno às reuniões do GT, se mostravam também resistentes ao Programa, uma vez que vivenciavam as dificuldades da sua implementação no dia a dia da escola. O número de participantes foi diminuindo em cada um dos quatro encontros ocorridos. Dos 20 participantes que iniciaram a formação, apenas sete estavam presentes no último dia. Em entrevista, os ADs afirmaram que a dinâmica da escola é muito complexa e que ficava difícil se 302 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades ausentar para participar dessas reuniões. Além disso, na percepção deles, a formação não estava atendendo às suas expectativas de contribuir com o cotidiano das escolas, pois as discussões transitavam muito no “campo das ideias”. Para os supervisores, a diminuição no número de participantes ao longo das formações se deu pela complexidade do trabalho que deveria ser realizado. Além do grande número de demandas da escola, os ADs tinham dificuldades diante do trabalho que estava sendo conduzido, ou seja, da produção de um plano estratégico para a DRE, com foco na questão do convívio escolar. Além dos quatro encontros com o GT na DRE, ocorreram as Reuniões de Orientação do Convívio Escolar (ROCE), que tinham como finalidade discutir assuntos relativos ao convívio escolar e ao dia a dia das unidades escolares, analisar as ocorrências mais frequentes nas escolas e socializar dicas e boas práticas para a prevenção e/ou solução de conflitos no âmbito escolar. Assistentes de Direção e Professores: Resistências ao Programa Convivência Escolar Com o decorrer das ações iniciais do PCE, dos encontros dos GT e das ROCEs, ficaram nítidas as resistências destacadas pelos ADs, associadas, principalmente, a pouca contribuição dos GTs da DRE, uma vez que quase nenhuma proposta prática de mudança foi apresentada 59 . Os docentes, quando apresentados ao PCE, em geral, demonstravam pouca motivação em realizar mudanças que visavam à melhoria do convívio na escola. As demandas dessa instituição eram muitas e, para esses sujeitos, o Programa seria mais uma “carga burocrática” de trabalho. Além disso, afirmavam que sozinhos seriam incapazes de gerar uma mobilização na escola como um todo, que os alunos estavam cada vez mais “difíceis” de lidar e as famílias, mais ausentes da escola. Em muitos dos encontros ocorridos, os ADs demonstravam que grande parte dessa oposição ocorria porque acreditavam que uma parcela significativa dos professores não estava motivada a rever a sua atuação profissional para a melhoria das relações estabelecidas cotidianamente com os alunos. Além disso, essa desmotivação estava muito associada ao momento crítico pelo qual passava o magistério no Brasil: salas super lotadas, infraestrutura precária, ausência de recursos materiais, baixa remuneração, desvalorização da carreira, pouco apoio das famílias, longas jornadas de trabalho, dentre outros fatores. Essas resistências em relação ao PCE, tanto por parte dos ADs quanto dos professores, parecem ser um dos impeditivos para que o Programa se efetivasse nas escolas. Dessa forma, podemos perceber que ele encontrou dificuldades de implantação, não sendo, portanto, incentivador da transformação do cotidiano das escolas e da melhoria do convívio existente entre os atores que nela atuam. Com a transição de poder ocorrida na gestão da cidade de São Paulo e a troca de secretário de educação, as ações do PCE foram canceladas. No portal da internet disponibilizado pela SME, no link do Programa60, não foram disponibilizadas informações sobre a sua interrupção e não há, na agenda de 2013, o planejamento da retomada de suas ações. 59 As propostas dos encontros foram que os ADs entendessem um pouco sobre a elaboração de um plano estratégico, diagnosticassem as ocorrências mais comuns no cotidiano da escola e, com base nesse mapeamento, elaborassem o plano da instituição na qual trabalhavam, envolvendo ações para a melhoria do convívio escolar. 60 Disponível em: <http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/convivereaprender/Default.aspx>. Acesso em: 26 jun. 2013. 303 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Violência na escola e convívio escolar: compreender para poder atuar O termo convívio escolar é bastante recente nas discussões teóricas brasileiras e são poucas as produções que tratam especificamente da sua conceituação. Tal termo, em geral, é associado ao cotidiano da escola e às relações estabelecidas no seu interior. O relatório “Educação um tesouro a descobrir”, produzido por Jacques Delors (2010) para a UNESCO trata, dentre outros aspectos, dos quatro pilares nos quais a educação para o século XXI deve estar alicerçada: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. O autor reconhece a necessidade de que a escola discuta e reflita junto aos alunos a importância do entendimento do outro e do que é viver uma vida em comunidade. Sobre o pilar aprender a conviver, afirma que é preciso desenvolver “a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz” (DELORS, 2010, p.102). Ainda discutindo acerca dessa interação com o outro, o relatório aponta que a educação deve auxiliar crianças e adolescentes a se descobrirem, pois só então poderão, verdadeiramente, se colocar no lugar do outro, como maneira de entender os seus interesses, anseios, as suas dúvidas, ou seja, conhecê-lo efetivamente. Menezes (2011, s/p), em artigo publicado na Revista Nova Escola, intitulado “Escolas com bom convívio têm muito a ensinar”, faz um importante alerta: Antes de tudo, para um bom convívio, é preciso que haja convívio – o que por mais óbvio que pareça, nem sempre ocorre. Quando o ensino se resume a treinamento e transferência de informação, as interações entre os estudantes chegam a ser evitadas a pretexto de prejudicarem a concentração (...). Já se o convívio é participativo é promovido nas salas de aulas e em atividades de sentido social, artístico, técnico ou científico, o aprendizado se dá em um processo cooperativo, no qual relações de confiança e amizade se estabelecem naturalmente. Isso pode ocorrer por iniciativa de um professor, mas só se generaliza quando há um projeto educativo que promove a convivência de toda a equipe escolar e dos jovens . Mesmo sendo, ainda, bastante escassa a conceituação do termo convívio escolar na bibliografia existente até o início da segunda década do século XXI, pode-se lançar mão das discussões propostas por alguns autores como Corti (2002), Leite (2008), Delors (2010) e Menezes (2011) que, investigando os temas convívio/convivência escolar, nos apresentam análises que auxiliam na construção de um entendimento sobre essa questão. Os sujeitos que lidam cotidianamente com a violência nas escolas tendem a hierarquizá-la conforme os níveis apresentados. Entretanto, essa tentativa de determinar limites às ações violentas que ocorrem no ambiente escolar não deve encobrir as especificidades do fenômeno, já que existem diferentes tipos de violência. Como forma de afunilar ainda mais o nosso olhar no sentido de compreender melhor as diferentes manifestações desse fenômeno, cabe resgatar a conceituação utilizada por Bernard Charlot (2002 apud RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2006, p.32), que distingue violência de transgressão e de incivilidade, sendo a violência o uso de força ou de ameaça na prática de delitos; a transgressão, um comportamento contrário às regras estabelecidas pela escola como, por exemplo, a não participação em determinadas atividades, e as incivilidades, que englobam casos que prejudicam a boa convivência no ambiente escolar, como a desordem, a falta de respeito aos alunos, professores e funcionários e a grosseria, por exemplo. O autor nos alerta sobre a importância de distinguir os fenômenos para, posteriormente, agir. Ao tratar da incivilidade que aflige muitas escolas, nos informa que a ausência de solução para os casos ocorridos é o que causa a sensação de violência, reforçando, por parte dos atores que transitam nesse espaço, a impressão de que a escola é um lugar violento e pouco seguro. 304 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Muito embora as conversas das ROCEs e GTs não tenham avançado a tempo de ser realizado um diagnóstico mais completo e conceitual da violência na escola e os seus entraves, esses encontros reforçaram a necessidade de entender o quão complexo e multifatorial é o fenômeno, cabendo, com isso, ações diversas, que levassem em consideração a sua qualificação. Em síntese, parte das proposições dos autores relacionadas à conceituação do fenômeno caminha no mesmo sentido traçado pela DRE: diagnosticar e entender a violência a fim de discutir entre os pares alguns mecanismos de prevenção. Implementação de políticas públicas educacionais O ciclo de políticas públicas apresenta dentre as suas etapas o complexo processo de implementação. Esta pesquisa acompanhou, em tempo real, essa fase do PCE. Quando nos propomos a refletir sobre essa fase da política, é preciso considerar que um dos aspectos de extrema importância está relacionado à adesão dos atores envolvidos. Se utilizarmos como modelo comparativo tal experiência para pensarmos o processo de implementação do PCE na DRE, podemos dizer que o programa paulistano não se preocupou em convencer os atores, professores e ADs de que a proposta executada contribuiria com a melhoria do clima escolar e, assim, com o ambiente de trabalho de todos os profissionais atuantes na escola. As resistências dos professores ao entrarem em contato com o PCE reforçam a ideia defendida por Viscardi (2003 apud RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2006), uma vez que não foi considerado na sua estruturação a variável relacionada à adesão dos atores. Além disso, como cita a autora, é fundamental garantir que os sujeitos que o implementarão compreendam quais são as propostas e ações a serem desenvolvidas. Frente a isso, ao analisar os processos de implementação do PCE e a sua formatação, foi possível notar que pouco foi feito no sentido de certificar que os atores haviam compreendido os fatores relacionados ao Programa. Muitos são os fatores que interferem e atrapalham o desenvolvimento e sucesso de programas na área de educação. Gonçalves e Sposito (2009 apud LEME, 2009, p.549) contribuem com o debate e nos apresentam outros fatores que interferem na consolidação dos programas: descontinuidade, ocasionada pelas mudanças de gestão nas administrações (...) municipais; (...) despreparo dos recursos humanos que atuam como multiplicadores nas formações, e a ausência de monitoramento confiável, que permita aferir a eficácia das medidas tomadas . O PCE se propôs a refletir, discutir e agir frente a alguns dos problemas cotidianamente enfrentados pelas escolas no tocante ao convívio escolar, suas proposições estão bem próximas aos ideais dos programas educacionais existentes em outros países latino-americanos, uma vez que procura, por meio do diagnóstico dos diferentes tipos de violência ocorridos no seu interior e das reflexões dos atores envolvidos, uma solução que passe por aspectos como o respeito, o diálogo, a tolerância e outros, que são de suma importância para a formação de um cidadão. Considerações finais A iniciativa de propor um programa voltado para uma reflexão que busca a melhoria do convívio escolar, em parceria com os profissionais que atuam na escola, além de necessária, é também louvável. Os ideais propostos pelo PCE convergem com grande parte da bibliografia sobre o tema e ocupam um espaço antes vazio na DRE pesquisada. É de se esperar que obstáculos surjam no resgate do PCE. No entanto, esses devem ser entendidos como parte do processo para a sua implementação. Diante dos novos desafios, não se deve desistir. Refletir, discutir, propor mudanças e pensar em estratégias são as melhores maneiras de modificar o planejamento inicial do Programa para que ele se adéque às especificidades dos sujeitos envolvidos. 305 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Sabe-se que a convivência, o viver junto, a vida em sociedade e as relações humanas são assuntos marginais nas discussões estabelecidas pela escola. Entretanto, tais questões devem ser a base, a essência de qualquer debate entre equipe escolar e comunidade. Medidas de punição, ameaça e imposição só reforçam a sensação de insegurança existente nas UEs e pouco contribuem para a criação de relações pautadas no respeito, no diálogo e na construção coletiva de estratégias de melhoria do convívio escolar. Almeja-se que a experiência aqui relatada – o processo de implementação do Programa Convivência Escolar numa Diretoria Regional de Educação da rede municipal de São Paulo – possa contribuir com outras redes que também estejam trilhando caminhos semelhantes na busca por uma escola mais segura a todos que nela atuam. Os limites do processo de implantação do Programa presentes neste estudo podem auxiliar nas discussões e na criação de estratégias por parte de outras instituições escolares também preocupadas com o clima escolar, com as relações estabelecidas entre os pares, com a atuação dos seus profissionais e, acima de tudo, com a construção de uma escola mais democrática. As leituras, a análise documental, a coleta de dados via observação participante e as entrevistas realizadas apontam a importância de se instituir e estabelecer o diálogo no interior das escolas, entendido como ferramenta para o enfrentamento de possíveis problemas e dificuldades relacionados à convivência entre os sujeitos educacionais. No sentido de ampliar os limites deste estudo, sem esgotar as análises aqui sugeridas, cabe, ainda, investigar questões como: para além do diálogo, o que pode ser proposto em termos de políticas públicas educacionais para a melhoria do convívio nas escolas? Que outras possibilidades podem ser incentivadas tendo em vista a transformação desta realidade escolar? Que ações podem ser adotadas, visando a uma participação mais efetiva de docentes, alunos, funcionários e comunidade? Tais reflexões podem abrir caminhos para pesquisas futuras também preocupadas com a transformação do cotidiano das instituições educacionais. REFERÊNCIAS CORTI, A. N. Violências nas escolas e as relações sociais. A dimensão social da violência escolar: conflito nas relações ou ausência de relação? In: MEC. Debate: violência, mediação e convivência na escola. Boletim 23, nov. 2005. DELORS, J. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. UNESCO, 2010. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf>. Acesso em: 28 mai. 2013. FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL. Como atuamos. s/d. Disponível em: <http://www.fundacaotidesetubal.org.br/como_atuamos/?>. Acesso em: 28 nov. 2012. IBGE. IBGE divulga as estimativas populacionais dos municípios em 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1961&id_pag ina=1>. Acesso em: 26 ago. 2012. LEITE, C.R. Convivência escolar: a questão dos conflitos entre alunos e professores. In: Congresso Nacional de Educação. Anais eletrônicos. Paraná: PUC-PR, 2008, p. 2587-2598. Disponível em:<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/127_136.pdf>. Acesso em: 27 mai. 2013. LEME, M. I. da S. A gestão da violência na escola. In: Re. Diálogo Edu., Curitiba, v.9, n.28, set/dez 2009. MENEZES, L. C. de. Escolas com bom convívio escolar têm muito a ensinar. In: Revista Nova Escola, ed. 244, ago. 2011. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Dados Demográficos dos Distritos pertencentes às Subprefeituras. s/d. Disponível em: 306 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demografi cos/index.php?p=12758>. Acesso em: 27 nov. 2012. PROGRAMA CONVIVÊNCIA ESCOLAR. Versão preliminar para discussão com as equipes das Diretorias Regionais de Educação, s/d. (MIMEO). RUOTTI, C.; ALVES, R.; CUBAS, V. de O. Violência na escola: um guia para pais e professores. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO. A rede em mapas. s/d. Disponível em: <http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/AnonimoSistema/BannerTexto.aspx?MenuBannerID=32>. Acesso em: 26 ago. 2012. SINESP. Comunicados. 2012. Disponível em: <http://www.sinesp.org.br/canal.asp?cod=342&cod_idioma=1&cod_conteudo=4333&tipoINICIO= &codConteudoINICIO=4333>. Acesso feito em: 26 ago. 2012. QUEM PODE FALAR SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO? UM ENSAIO SOBRE A PRODUÇÃO DO DISCURSO EM POLÍTICA EDUCACIONAL Jarbas Dametto (UPF) Rosimar Serena Siqueira Esquinsani (UPF) RESUMO Este ensaio teórico-crítico busca problematizar a questão da produção da verdade no âmbito das políticas educacionais sob uma perspectiva foucaultiana, indagando-se sobre os locais de produção e a legitimidade do discurso educacional. Frente a este intento, recorre-se a revisão de alguns conceitos pertinentes de Foucault, bem como a estudos recentes acerca da produção acadêmica na área das políticas educacionais, ponderando sobre as suas condições de emergência e sua aplicabilidade no palco propriamente político. Por fim, considera-se que os diversos discursos pronunciados sobre políticas educacionais, mormente no que tange aos rumos da educação nacional, carecem de um marco situacional que permita localizar o enunciador e suas circunstâncias, bem como de um arrazoado critico que permita identificar a origem e as intenções dos discursos extraacadêmicos, que tem participado acentuadamente das decisões políticas. Palavras-chave: Educação; políticas educacionais; discurso; verdade. “(...) o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar” (FOUCAULT, 2002c). Introdução: Ao folhar qualquer jornal ou revista dirigida ao grande público, de ampla circulação e que trate de assuntos gerais, salta aos olhos a quantidade de reportagens e colunas de opinião que versam sobre temáticas educacionais. Ao que parece, diversos olhares se voltaram à educação nos últimos anos, e fica impossível não perceber que ao fundo desses discursos se reeditam, por vezes, caducas panaceias, como a fórmula “educação, solução para todos os problemas”, por vezes em uma nova roupagem, inversa e alarmista: “educação brasileira, a causa de todos os nossos problemas”. Outro dado que possivelmente desperte a curiosidade de pesquisadores vinculados a área de políticas educacionais é a formação daqueles que falam sobre educação no contexto dos grandes 307 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades veículos de comunicação de massa: muito frequentemente são economistas, administradores, jornalistas, profissionais liberais, empresários, políticos, enfim, sujeitos cujos lugares de fala são deveras distintos das realidades vivenciadas pela imensa maioria dos educadores brasileiros, bem como alheios ao local por excelência de produção deste tipo de saber: os institutos de pesquisas educacionais e os programas de pós-graduação em Educação. Grandes semanários de circulação nacional chegam a ter colunistas especializados em ponderações e pronunciamentos acerca do tema educação, ocupando-se de assuntos cadentes que envolvem, não raras vezes, ações de política educacional. Tais especialistas adotam, em geral, um discurso que carrega um tom acima na crítica encetada demonstrando, através de afirmações fortes e em alguns casos de um certo deboche embutido, uma autoridade incontestável para falar sobre o assunto. Frente a isso, pergunta-se: quem, afinal, pode falar sobre os rumos da educação? Quem teria a legitimidade para fazer isso? Por meio deste questionamento, pretende-se provocar um debate que extrapola a uma pretensa resposta à questão, resposta esta, que possivelmente não será satisfatória, mas que pode suscitar discussões que vão além de um direito à verdade, incidindo sobre questões basais desta área, como as forças que mobilizam a agenda política, o contexto de produção do saber em políticas educacionais, e a solidez das bases epistemológicas que orientam o campo acadêmico das políticas educacionais, ou da própria educação como um todo. Algumas observações sobre as práticas discursivas: “Quem está falando?” Este questionamento, para além de uma curiosidade recorrente comum a todos que ouvem uma determinada idéia, nos remete a uma questão central da análise das práticas discursivas, conforme pensada pelo filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Para ele, a verdade se institui em um espaço polêmico, de conflito e organização tática, na qual a posição institucional do sujeito que ostenta, reproduz ou promove um discurso, ocupa um lugar privilegiado (FOUCAULT, 2005). Logo, esta perspectiva de análise do discurso tem como foco seu caráter estratégico, indo além das regras linguísticas de sua enunciação (FOUCAULT, 2002b). Cabe investigar a organização topológica da prática discursiva, dada sua imersão em uma teia social repleta lugares de fala, uma ampla diversidade de pontos de apoio e de resistência, um campo de possibilidades e limitações. Como propõe Fischer (2001), a questão que remete ao status do enunciador pode ser ampliada, revelando a extensão da problemática em questão: A pergunta “quem fala?” desdobra-se em muitas outras: qual o status do enunciador? Qual a sua competência? Em que campo de saber se insere? Qual seu lugar institucional? Como seu papel se constitui juridicamente? Como se relaciona hierarquicamente com outros poderes além do seu? Como é realizada sua relação com outros indivíduos no espaço ocupado por ele. Também cabe indagar sobre o “lugar de onde fala”, o lugar específico no interior de uma dada instituição, a fonte do discurso daquele falante, e sobre a sua efetiva “posição de sujeito” suas ações concretas, basicamente como sujeito incitador e produtor de saberes. (p.208). Discursos não emergem ao acaso, assim como, na pretensão de enunciar o verdadeiro, não se pode dizer o que se quer, a qualquer momento e de qualquer lugar. O discurso, assim como o sujeito que o enuncia, está submetido a um princípio de rarefação, atrelado à dinâmica social. Mesmo em uma sociedade em que há ampla circulação de conhecimento e informação, ocorre a exclusão e inclusão de sujeitos à ordem discursiva, dando-lhes ou não o direito à enunciação. A produção discursiva é “(...) ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório” (FOUCAULT, 2002c, p. 8-9), em outros termos, não vivemos em um mundo em que a verdade flui livremente, o discurso não é algo solto, pelo contrário, o direito a 308 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades enunciação é algo condicionado ao previamente instituído, bem como ao que já é concebido como verdadeiro. Assim, a resposta para a questão ‘quem está falando’ remete a uma solução orgânica em relação ao enunciado: qual o lugar histórico e circunstanciado de fala do emissor? De quem se trata e com quais ferramentas opera para se pronunciar acerca de determinado tem? Parece que ‘quem está falando’ está proporcionalmente ligado a questão ‘de onde fala?’ As regras que guiam, limitam ou aglomeram o discurso, compõe o que se denomina “formação discursiva”, que são redes complexas de relações que existem dentro de campos do saber que lhe atribuem certa regularidade, e também certa exclusividade. Trata-se de um sistema de formação que “(...) prescreve o que deve ser correlacionado em uma prática discursiva, para que esta se refira a tal ou tal objeto, para que empregue tal ou tal enunciação, para que utilize tal ou tal conceito, para que organize tal ou tal estratégia.” (FOUCAULT, 2005, p.82-3). De um modo geral, cada campo do saber possui seu léxico próprio, seus lugares-comuns, suas práticas discursivas ou extra-discursivas familiares a todos que passaram pelo crivo iniciático, via de regra universitário, e que compartilham de seu contexto. Como aponta Fischer (2001), tratase de uma “matriz de sentido” em que os falantes se reconhecem dada a obviedade e naturalidade com que são percebidas as significações correntes em cada campo de saber. As “coisas ditas”, portanto, são radicalmente amarradas às dinâmicas de poder e saber de seu tempo. Daí que o conceito de prática discursiva, para Foucault, não se confunde com a mera expressão de idéias, pensamentos ou formulação de frases. Exercer uma prática discursiva significa falar segundo determinadas regras, e expor as relações que se dão dentro de um discurso. (FISCHER, 2001, p.204). Na leitura foucaultiana o discurso é o campo em que se constitui o verdadeiro, que não diz respeito aos acontecimentos ou as coisas, tal e qual são, mas sim ao que desses fenômenos se pronuncia, seguindo a regras específicas de determinada cultura e momento histórico, e principalmente de determinados campos do saber (FOUCAULT, 2002c). O sentido, nesta perspectiva, não é extraído da realidade, as verdades não são fieis representações dos fatos, são sim acontecimentos que remetem às relações de poder e saber que permeiam toda a sociedade. Temos que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. (FOUCAULT, 1984, p.30). Tais considerações nos remetem a uma análise crítica das práticas discursivas impetradas na sociedade moderna, expondo a natureza política da verdade. De um modo geral, não podemos afirmar que tal panorama mudou, que hoje o discurso e a verdade estão desatrelados do poder e de suas bases institucionais, pelo contrário, nas últimas décadas, se intensificaram as regulações, principalmente naquilo que concerne as disciplinas científicas e técnicas: a precisão conceitual e a coerência epistemológica e metodológica vêm sendo solicitadas para atestar a validade do discurso científico das mais diversas áreas. Como nos propõe Foucault, A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua ‘política geral’ de verdade: isto é, os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos. (2002a, p.12). Curiosamente, e é este aspecto que incita o presente ensaio, o campo educacional como um todo, e em especial o campo das políticas educacionais, parece não participar destes princípios de regulação do discurso. Com exceção de parte do que é publicado em âmbito acadêmico, a maioria 309 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades daquilo que é dito, seja na mídia geral, em livros com temas educacionais ou em eventos dirigidos aos próprios educadores, comumente foge a qualquer ordenação discursiva: não se trata de um discurso propriamente pedagógico ou educacional, mas sim, de alguém falando sobre educação, de qualquer lugar, com qualquer léxico, com qualquer formação. Mas paradoxalmente, tais discursos, mesmo com tais características, não deixam de provocar efeitos atribuíveis a uma verdade, como o consentimento, mudanças nas agendas políticas, mudanças de conduta ou de visões de mundo, ou seja, tais discursos, mesmo desconectados com uma suposta “política geral do discurso do campo educacional”, geram efeitos práticos na vida dos sujeitos envolvidos. Frente a tais observações, cabe traçar mais alguns questionamentos: qual o local de emergência da verdade no discurso sobre política educacional? Seria este local a escola, a academia, os grupos e centros de pesquisa, a sociedade como um todo? E ainda, qual a política de verdade da educação, como reconhecemos o verdadeiro do falso nos discursos sobre a prática educativa? Sua inevitável interdisciplinaridade e polissemia lançariam o campo educacional “nas mãos de todos”? Ou, em termos menos polidos, “nas mãos de qualquer um”? Ou temos visto, efetivamente, uma invasão deste domínio através de um grosseiro direito de fala, oriundo meramente de uma estrutura econômico-midiática, hoje em vias de se tornar anacrônica, em que perdura uma espécie de monopólio da enunciação, paradigma que permeou os meios de comunicação de massa durante todo o século XX? Características da produção do saber em políticas educacionais no Brasil: Barretto (2009) considera que a pesquisa no campo das políticas educacionais no Brasil sofre uma marcante dispersão por serem desenvolvidas, em sua maioria, por discentes de pósgraduação, que operam em condições de financiamento precárias ou inexistentes, bem como com prazos que forçam a opção por pesquisas de menor amplitude. Sobre esta questão, Krawczyk (2012) pondera que, desde a década de 1960, A institucionalização da pesquisa, conjuntamente com a institucionalização da pósgraduação em educação, diferentemente de outros países, trouxe como consequência uma forte associação entre atividades de formação e de produção de conhecimento; e, principalmente, a burocratização do trabalho científico, o que se reflete no que poderíamos denominar de escolarização da produção científica. Por isso, é comum encontrar produções acadêmicas associadas a diplomas, determinada por uma organização e um formato que expresse os requisitos institucionais e os tempos preestabelecidos. ( p.4). Como pontua Krawczyk (2012) a pesquisa e a produção de conhecimento em políticas educacionais no Brasil, desde sua origem na década de 1940, sempre esteve atrelada aos fenômenos sociais, políticos e econômicos em âmbito nacional ou internacional. Em geral “as macrodecisões sobre as políticas educacionais são tomadas com base em referenciais que provêm, frequentemente, de outros campos do saber” (BARRETTO, 2009, p.04) ou, como pondera outra autora, “as contribuições teóricas e metodológicas advindas da antropologia, da sociologia e da ciência política, sobretudo, foram fundamentais para a incorporação de muitos (re) desenhos na área da educação” (MARTINS, 2011, p.308). A pesquisa nesse âmbito institui-se como uma forma, ora de referendar e dar suporte a tendências macropolíticas predominantes em um dado contexto histórico, ora de contrapor tais tendências, como uma forma de resistência e crítica a propostas hegemônicas. Além do mais, são raros os estudos em políticas educacionais que “procuram relacionar resultados e políticas de âmbito geral. O mais comum é que a abordagem, seja ela no âmbito federal, estadual ou local, ocupe-se de grande variedade de objetos, sendo ainda tênue o esforço cumulativo capaz de adensar as temáticas exploradas” (BARRETO, 2009, p.03). 310 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Estas lacunas e dispersões restam por permitir que opiniões de senso comum – ou baseadas em um conhecimento que pode ser parcial ou ancorado em práticas advindas de campos alheios ao âmbito educacional -, sejam forjadas para dar conta de fenômenos educacionais, em especial para explicar e analisar políticas públicas voltadas para área da educação brasileira. Como não há um suficiente acúmulo de conhecimento em relação a determinados temas, bem como uma polissemia epistemológica, qualquer conhecimento produzido de forma fragmentada passa a ser o indicativo confiável de interpretação sobre o fenômeno, permitindo a emissão de opiniões e o pronunciamento de discursos convincentes, que incidem, principalmente no grande público, como verdades dignas de crédito. A apropriação do saber acadêmico pela gestão educacional: Cabe ponderar que os pesquisadores em políticas educacionais, via de regra, são pessoas que elaboram análises e críticas acerca das políticas, porém não são os agentes que elaboram, implantam e avaliam as ações. O campo político e o campo acadêmico não são alheios um ao outro, pelo contrário, mostram uma marcante imbricação, como aponta Krawczyk (2012). No entanto, são espaços de ação diferentes, que obedecem a coerções discursivas e extra-discursivas distintas. Enquanto o campo propriamente político tem como balizador o interesse público, ou mais superficialmente, a opinião pública, suas demandas e pressões, bem como pressões oriundas de interesses classistas ou particulares; a academia precisa dar conta de um campo conceitual préexistente, de uma filiação teórico-metodológica válida, de um léxico que lhe é particular. (...) os pesquisadores, de um modo geral, desenvolvem pesquisas com o objetivo de compreender uma determinada política ou um conjunto de políticas e, ao fazer isso, oferecem ideias e elementos que poderiam ser úteis na formação ou reorientação de políticas. No entanto, a realização de pesquisas com o objetivo específico de instrumentalizar decisões políticas pode restringir a autonomia dos pesquisadores acadêmicos. A esse respeito, Paiva (1998) faz um alerta relevante ao indicar que o tempo, intenções e finalidades são diferentes para os gestores do sistema e para os pesquisadores. (MAINARDES; FERREIRA; TELLO, 2011, p.151). Recorrendo ao conceito de “analista simbólico” - operacionalizado por Mainardes, Ferreira e Tello em obra de 2011 -, é possível indicar que a validade de uma análise de políticas em âmbito acadêmico estaria, não em seus critérios de cientificidade, mas agora, em sua “utilidade”, no modo como se mostra instrumental na busca por dominância no campo decisório. O poder legitimado do saber científico poderia amparar as decisões políticas. Em última análise, estudos vinculados a esta possibilidade, não passariam de simulacros de trabalhos científicos, uma proposta caricata que racionaliza as ideias do senso comum. Considerações finais: A “verdade” da política educacional não pertence à academia nem nela se localiza com exclusividade. Também é temerário localizá-la de maneira isolada nas ações que correspondem às políticas educacionais, como algo a ser descoberto e examinado pelo olhar do pesquisador, como propõe Foucault, em parte das ideias acima revisadas. Antes, a verdade é discurso, um discurso que efetivamente extrapola os limites da ciência, que organizam-se estrategicamente e empreendem permanente conflito. Interessante sinalizar, diante desta constatação, que ao pesquisador em políticas educacionais cabe tratar os discursos sobre os rumos da educação emitidos nos grandes meios de comunicação ou em outros contextos não-acadêmicos como mais um fenômeno político digno de análise, que participa da formação das agendas políticas em educação, ou delas emerge como um 311 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades efeito. Quando se fala dos rumos da educação, partindo de pontos de ancoragem alheios a ela, temse propriamente uma luta pelo direito à verdade. Por fim, considera-se que os diversos discursos pronunciados sobre políticas educacionais, mormente no que tange aos rumos da educação nacional, carecem de um marco situacional que permita localizar o enunciador e suas circunstâncias, bem como - e em função de uma dispersão epistemológica que lhe é típica -, de um arrazoado critico que permita identificar a origem e as intenções dos discursos extra-acadêmicos, que participam acentuadamente das decisões políticas. Referências Bibliográficas: BARRETTO, Elba S. de S.. Perspectivas teóricas e metodológicas da pesquisa em política educacional na atualidade. Estudos em Avaliação Educacional. v. 20, p. 493-506, 2009. Disponível em: <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1531/1531.pdf>. Acesso em 01 ago 2013. FISCHER, Rosa M.B.. Foucault e a análise do discurso em Educação. Cadernos de Pesquisa, n. 114, p.. 197-223. nov. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a09n1 14.pdf. Acesso em: 11 ago. 2012. FOUCAULT, M. 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(Jorge Nagle, 1974 p 110) 312 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Para compreender o Projeto de Reforma Universitária exposto na Reforma Universitária de 1968, meu objeto de pesquisa, é necessário destacar que no Brasil devido às circunstâncias históricas, a ideia de universidade desde a sua gênese enfrenta dificuldades. Em análise neste estudo, no caso brasileiro e no plano da historicidade, as múltiplas conexões no campo das contradições, mediações e determinações que o constituem estrutural e conjunturalmente, expressam a relação sociedade e educação. É neste enfoque que pretende fazer uma breve análise do contexto social no Brasil, no período que antecede a Reforma Universitária de 1968. O debate sobre as políticas públicas de educação e as propostas de reformas que foram influenciados por uma concepção determinista que estabeleceu relações diretas entre mudanças nos processos de trabalho e requisitos de formação e escolarização. Como diz Favero(2006 p22), entendia que as dificuldades de organização da família quanto as deficiências dos serviços comunitários em geral, quando existentes, dificultavam ou mesmo impediam que as populações pobres adquirissem o mínimo de conhecimentos, de hábitos e de atitudes que lhes permitissem caminhar na direção de “uma vida mais plena e mais feliz, assim como desenvolver os melhores elementos de sua cultura nacional e facilitar o acesso a um nível econômico e social superior”. A formação do pensamento dos teóricos da educação brasileira, explicita os valores culturais hegemônicos da época e não é uma “ideia fora de lugar” 61 . Para Anísio Teixeira, a educação, sendo um processo de cultivo ou de cultura, há de ser sempre algo em permanente mudança, em permanente reconstrução, a exigir, por conseguinte, sempre, novas descrições, análises novas e novos tratamentos. A proposta de registro desse período e todas as mudanças decorrentes em direção à modernidade revelam vínculos profundos e complexos das esferas sociais, culturais, econômicas e políticas do país. Besselaar (1973), afirma “não ser possível conceber o tempo histórico sem movimento e sem intervenção de sujeitos que através de suas ações construam esse próprio tempo”. Neste tempo histórico específico é definido pela ação de sujeitos históricos individuais ou coletivos; pode-se ressaltar que as ações humanas são as responsáveis pela construção do tempo histórico, bem como de suas características peculiares, nas diversas inter-relações que a formam e a definem. A reforma da instrução pública que foram conduzidas, planejadas e executadas, irá traduzir em um corpo mais substantivo de medidas em sintonia com o contexto em que são concebidas. Essa complexidade permite compreender alguns dos principais conflitos instaurados neste período, bem como mostrar a importância dos indivíduos no processo histórico não deixando de apontar as forças sociais e econômicas que possibilitaram a sua ação. A maneira como uma sociedade se organiza, e insere-se no trabalho, produzem bens culturais, direta ou indiretamente as relações entre todas as atividades que lhe são próprias. No entendimento de Carmo (1998, p.8), na busca dessas raízes, Constata-se que “sempre houve certo interesse da elite econômica em considerar inferior o trabalhador, o homem pobre nacional”. Como assevera Janotti (1999, p.3), “a visão de mundo dos indivíduos enraíza-se em circunstâncias específicas por eles vividas, como morar na cidade ou no campo, ser rico, remediado ou pobre, ter ou não recebido educação formal, dedicar-se ao trabalho rural, fabril ou comercial, ser vendedor ou comprador da força de trabalho, ter ou não acesso aos meios de comunicação”, entre outras. Discutir as raízes republicanas do povo brasileiro, é avaliar sua aceitação ou não pelo público a que se destinava, bem como sua eficácia em promover a sua legitimação. A discussão sobre as questões de legitimação poderá fornecer elementos para entender a visão de sociedade, de história e do próprio ser humano, ou seja, este elemento integrador na relação de poder que se verifica no âmbito do Estado. A legitimidade decorre diretamente do princípio da soberania popular; onde somente o povo concebido como uma pluralidade de forças culturais, sociais e 61 José Van Den Besselaar. Introdução dos estudos históricos. São Paulo: Pedagógica, 1973. 313 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades políticas podem deliberar sobre a conformação da sua ordem político-social. Vale ressaltar que o poder político era exercido em causa própria por grupo social, cuja caracteristica era dominar a máquina política e administrativa do país, da qual obtinha benefícios, prestígios e riqueza. Observa que cada tempo tem sua marca específica, definida pelas ações dos sujeitos históricos e pelos valores que o conformam. O Brasil, sendo um país com um território extenso é marcado por diferenças. Sua história se desenvolve em diversos ritmos. As expressões culturais apresentam, assim, aspectos regionais acentuados, organizações próprias e especificidades étnicas, o que não deixa de ser positivo e constitutivo para uma nação. Considerando os fatos sociais como objeto de observação, como afirma Comte , as ciências sociais ocupa-se em estabelecer suas relações mutuas e apreende as influências que cada indivíduo exerce sobre o conjunto do desenvolvimento humano. “Na interpretação comtiana, era esse conjunto consensual, fundamental para a sociedade, que estava se desagregando frente ao movimento conflituoso de desaparecimento e nascimento de uma nova ordem social. Esse era o cerne da crise que precisava ser superada através da constituição de uma nova unidade de pensamento capaz de recompor a ordem, acelerando sua marcha natural no sentido da modernização industrial e científica”.(SUPERTI,1998 p 2). Em consideração o desenvolvimento como processo de modernização, o mesmo concentram suas atenções na transformação das instituições políticas e sociais, objetivando aumentar o conhecimento, as habilitações e a capacidade de todas as pessoas numa sociedade, visando o progresso da nação e melhoria do nível de vida da população. Do ponto de vista social e cultural, o desenvolvimento humano abre as portas à modernidade através da educação formal, a começar pela formação inicial, seguindo a secundária e posteriormente a formação superior, incluindo os estabelecimentos, universidades e institutos técnicos especializados. Para os historiadores em comparação com outras sociedades mais modernas, o efeito de nossa urbanização considerada “atrasada” (FAORO apud GIMARÃES, 2009 p 130), foi a manutenção do predomínio das relações emocionais ou afetivas entre pessoas, e não das abstrações burocráticas das instituições. Houve dificuldades para lidar com as normas de uma sociedade burocrática e moderna, tornando-se cada vez mais complexa. Esta fase da sociedade exige a diversificação de conduta no mundo da produção, apagando-se as relações de laços pessoais, infundindo nas relações humanas certa impessoalidade entre os indivíduos e as instituições. O esforço, principalmente ao longo do século XX de superar o atraso econômico, deveu-se, sobretudo a adaptação de padrões (tecnológicos, de consumo e culturais) estrangeiros, estranhos é as idiossincrasias locais e por isso geradores de heterogeneidade social, pois tais padrões não se adaptam da mesma forma a outra institucionalidade. O país apresenta uma “trajetória dependente da modernização", que determina seu atraso, subdesenvolvimento e dependência. A causa última desse comportamento deve-se a matriz institucional brasileira, que molda os agentes a comportarem-se como “emuladores" de estratos sociais mais modernos, rompendo com identidades culturais que poderiam levar ao desenvolvimento econômico do país. (AREND,2008 p 653). No período de 1930 a 1960, o Brasil é marcado por uma política caracterizada pelo populismo, nacionalismo e desenvolvimentismo. Como ressalta Cunha (1989) O populismo era adotado como instrumento de controle e “mobilização das massas em proveito das classes dominantes”(p 48). “O nacionalismo surgiu entre os grupos políticos, tecnocratas e militares, que buscavam uma estratégia estatal capaz de enfrentar os problemas do desenvolvimento crônico do Brasi pelo desenvolvimentismo”(p 52). Sob a liderança de Getúlio Vargas, o país transferiu para si as decisões nacionais e formulou uma estratégia nacional de desenvolvimento com sucesso. O período também é marcado pelo regime militar, que aliado politicamente com os Estados Unidos mantém-se “nacionalista”. (ROMANELLI,2001 p 58) 314 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades Como assevera Otavio Ianni(1968 p 27), “ de fato entre 1930 e 1964, verifica a criação de um vigoroso setor industrial no Brasil. Nesta época o Estado passa a ser o centro nacional mais importante das decisões sobre a política econômica. Tanto assim que o poder público não só formula e orienta a política econômica, como também passa a executar alguns dos pontos dos programas de desenvolvimento”. Sob a estratégia e ideologia que orientava o desenvolvimentismo, o Brasil transformou-se, passando de um país agrário para industrial, bem como de uma formação social mercantilista para capitalista, visando objetivos políticos de desenvolvimento econômico, justiça social e liberdade. Como afirma IANNI (1968 p 30), “à medida que se desenvolve a industrialização e se diferencia a estrutura econômica nacional, o Estado passa a ser cada vez mais importante”. O processo de transformação conduziria mudanças na sociedade em termos de preparo, cultura, educação e oportunidades de aprendizado e trabalho. Neste sentido, a vida em comunidade sofre mudanças. Acontece as migrações das antigas comunidades para novas comunidades, baseados no conhecimento compartilhado, nas filiações profissionais, relacionadas com valores e interesses específicos de dimenções éticas e religiosas, bem como, o “Estado ingressa ativamente nas diversas esferas da vida econômica, colaboando, incentivando e realizando a criação da riqueza”.(IANNI, 1968 p 32). Carmo (1998, p.11), apresenta dois aspectos básicos da personalidade do homem moderno, principalmente do chamado “homem de organização”; sua grande tolerância à frustração e sua capacidade de adiar recompensas características psicológicas fundamentais para sua submissão ao trabalho racional das empresas. A história brasileira tem uma marca muito especial, a da crença na transformação do presente com o objetivo de construção de um futuro alternativo ao presente. A sociedade moderna impõe aos homens a necessidade para obtenção de recompensas materiais e simbólicas, ou seja, o desejo de consumo, bem como, a necessidade de prestígio, reconhecimento, autoestima e outros. Depois de um período de intensa reelaboração da estrutura social a partir de 1939, a economia brasileira que já se encontrava marcada pelo fenômeno da industrialização, entra numa nova fase de luta pela apropriação do excedente econômico e expansão das forças produtivas. Este período chama-se Era das Invenções, para designar uma intensa mobilização da sociedade brasileira no campo do embate político em todas as áreas. A crescente industrialização, o sistema educacional com novos métodos pedagógicos e os meios de comunicação de massa que desenvolvem nos cidadãos o espírito e os valores do capitalismo, são os principais indutores da sociedade moderna. Como afirma Romanelli(2001 p 59) “a intensificação do capitalismo industrial no Brasil, acabou por representar, determinou consequentemente o aparecimento de novas exigências educacionais... a nova situação situação implantada veio modificar profundamente o quadro das aspirações sociais, em materia de educação, e, em função disso, a ação do próprio Estado”. Portanto, o processo de desenvolvimento no Brasil foi acompanhado por uma verdadeira revolução cultural e educacional, que ganha sentido histórico no conjunto de relações sociais de produção da existência dentro desse contexto. Isso configura sua herança histórica, de país latino-americano marcado por um caráter estrutural de sociedade cindida em classes, assumindo agora as marcas da modernidade pela conformação ao capitalismo dependente de desenvolvimento desigual e combinado. “A herança histórica pesa na construção de uma nova armadura, trama das classes sociais, à qual se junta a complexidade duma nova situação, onde a presença do capital se faz ineludivelmente dominante”. (Oliveira, 1987 p15). Ao analisar os aspectos sociais e políticos, entende-se que alguns períodos da história brasileira são marcados por uma arrojada concepção socializante, nos quais havia um forte sentido de esperança caracterizado pela consciência de intervenção humana, para implementação de projeto comprometido com o desenvolvimento social. Como afirma Janotti(1999 p 115) “o Brasil foi palco de explosão de forças sociais e políticas oriundas de uma realidade que se alterara 315 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades substancialmente com a emergência dos trabalhadores no jogo político, bem como da pequena burguesia industrial e das classes médias”. Em 1930, a República começaria um novo tempo. É empossado no governo Getúlio Vargas que permanece até 1945. Este período é marcado por revoluções62·, mas que tinha como propósito pôr o país no rumo da modernização e democratização social. Então em andamento um projeto de nacionalidade com princípio, meio e fim. Para os historiadores a grande mácula deste processo reside na forma autoritária que presidiu esse movimento e que se tornaria uma herança de difícil administração para as futuras gerações. A base social desse período era ampla e diversificada; nasce das rupturas das grandes oligarquias da insatisfação das classes médias urbanas com as práticas políticas vigentes e da existência de um mal estar generalizado. Este período é marcado por indefinições, projetos e propostas eram postos em pauta, a sociedade se mobilizando em torno deles. Seu campo de possibilidades era imenso e o governo tinha que se mobilizar com certo cuidado. É importante destacar que este se caracterizou pelas reformas mais significativas e pela tentativa de legitimação do novo regime. Os interesses sociais, econômicos e políticos eram diferentes e contraditórios levando a uma série de importantes transformações na vida social, política, econômica e cultural da sociedade brasileira. Faz-se necessário compreender as crescentes mudanças e transformações no contexto político nacional, bem como na vida social, econômica e cultural, advêm também das circunstancias externas e internas. A entrada do Brasil na Segunda Guerra constitui um marco de mudanças importantes no Estado Novo. Conforme o citado, a vigência do Estado Novo se define pelo novo regime político orientado por novas regras legais e políticas. Segundo Mendonça (1999, p.257) “sob a égide da ditadura, abrir-se-iam novas possibilidades de redefinição dos canais de representação, de participação política e de construção de cidadania”. Portanto, destaca uma fase decisiva do processo de constituição do Estado brasileiro, como Estado Nacional, capitalista, burguês, levando à centralização do poder unificado, genérico, e representativo do interesse geral. Todo esse processo redefine a política nacional, vindo à tona as questões sociais, gerando assim os movimentos de mobilização popular. As ações humanas projetavam-se deliberadamente para a construção do amanhã. Como afirma Jorge Ferreira: Surgiu na sociedade brasileira uma geração de homens e mulheres que partilhando de ideias, crenças e representações, acreditou que no nacionalismo, na defesa da soberania nacional, nas reformas das estruturas socioeconômicas do país, na ampliação dos direitos sociais dos trabalhadores do campo e da cidade, entre outras demandas materiais e simbólicas, encontrariam os meios necessários para alcançar o real desenvolvimento do país e o efetivo bem estar da sociedade. (FERREIRA, 2001 p.171). Por fim, compreende-se que, as transformações econômicas e culturais pelas quais o Brasil passava nesse período, teriam condicionado uma visão de educação que concebia a escola como sendo a instituição responsável pela difusão da cultura, do progresso, para o desenvolvimento do país. 62 Revolução ou Golpe de Estado são expressões usadas para caracterizar os acontecimentos a partir de 1930, que significa mudança violenta e radical das estruturas sociais e políticas por partido revolucionário, em nome de uma classe social emergente que substitui os grupos dominantes no poder. “Revolução em seu sentido real e profundo, significa o processo histórico assinalado por reformas e modificações econômicas, sociais e políticas sucessivas, que, concentradas em período histórico relativamente curto, vão dar transformações econômicas e do equilíbrio recíproco em transformações estruturais da sociedade, e em especial das relações econômicas e do equilíbrio recíproco das diferentes classes e categorias sociais”.(PRADO JR, 1966 p 2). 316 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AREND, Marcelo. 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Ronaldo Martins Gomes (UFSCar) Maria Cecília Luiz (UFSCar) RESUMO Este estudo teve como objetivo compreender a relação entre escola pública e democracia, mediada pela gestão democrática, na perspectiva de gestores escolares. Estabeleceu-se uma amostra de dez gestores(as), com os quais foram efetuadas entrevistas semiestruturadas. Compreendeu-se que os(as) gestores(as) entrevistados(as) estavam criando práticas democráticas na gestão escolar, ao estimular o diálogo e o acolhimento, ao escutar demandas, ao respeito às diferenças, singularidades e interesses na realidade escolar diária, ao compartilhar decisões e responsabilidades, ao respeitar os limites das funções e atribuições de membro na hierarquia do ambiente de trabalho, ao procurar realizar o trabalho em conjunto, no uso de “instrumentos” simples como o questionário para as famílias de estudantes, na flexibilização dos horários para atendimento de pais e familiares, na participação e formação de parceria entre escola e família para benefício dos estudantes, na construção coletiva do PPP como forma de aproximação entre a escola e a comunidade. Palavras Chaves: Democracia; Gestão Democrática; práticas democráticas. Introdução O foco deste trabalho foi compreender a relação entre escola pública e democracia, tendo como dimensão articuladora a gestão democrática. A pesquisa teve como objetivo central refletir sobre a importância da democracia e do seu significado no âmbito das relações escolares, mais especificamente, na perspectiva de quem estava como gestor escolar, no município de Rio Claro, SP. Para atingi-lo, formalizou-se alguns objetivos específicos: constatar como a Democracia Deliberativa é conceituada por Habermas, e identificar como os gestores entrevistados possibilitavam práticas democráticas nas escolas públicas municipais e em quais espaços isso acontecia. Democracia: uma perspectiva As experiências democráticas diferem de acordo com os contextos e as condições objetivas das sociedades, o que faz com que a reflexão sobre práticas democráticas sirva de referência para se conceber o exercício democrático, que é naturalmente passível de atualização e contextualização. Quando se percebe a democracia como um fenômeno nas práticas diárias, consegue-se ter maior clareza da ambiguidade provocada pelo caráter polissêmico da expressão, pois a democracia enquanto ideal nem sempre caracteriza práticas concretas, o que em outras palavras denomina-se como democracia prescritiva e descritiva. O ideal democrático (definição prescritiva) não é necessariamente a realidade concreta de um regime dito democrático (definição descritiva). Não se afirma que o aspecto teórico é superior à prática, antes, entende-se que a prática é de suma 318 VII Seminário sobre “A produção do conhecimento em educação” Política educacional do século XXI: paradoxos, limites e possibilidades importância para a formação de conceitos. Ressalta-se ainda que