Suas Tecnologias

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Suas Tecnologias
Professor Paulo Lobão
Linguagens, Códigos e
Suas Tecnologias
Língua Portuguesa
nº
28
OS FESTIVAIS DA CANÇÃO – MPB
“A importância da Música Popular Brasileira no cenário de nossa
cultura é inegável. Pode-se constatar que a MPB, além de sua relevância
como manifestação estética tradutora de nossas múltiplas identidades
culturais, apresenta-se como uma das mais poderosas formas de
preservação da memória coletiva e como um espaço social privilegiado
para as leituras e interpretações do Brasil.”
Ricardo Cravo Albin
Em tempos passados, os festivais de música cumpriram um papel
essencial na construção da carreira de cantores e compositores, e na
difusão de suas mensagens.
A origem do modelo competitivo data de 1930, com os primeiros
concursos de músicas destinadas a animar o Carnaval carioca.
Na década de 30, a competição entre as canções carnavalescas teve
seu ápice, ainda que tenha perdurado pelas duas décadas seguintes.
No início dos anos 60, os concursos receberam uma nova roupagem
e assumiram, enfim, a natureza de festivais. A I Festa da Música Popular
Brasileira, realizada pela rádio e TV Record, em 1960, foi o primeiro
festival de caráter nacional, embora quase não faça parte da memória do
público e dos envolvidos em sua realização.
Célebre, o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira produzido
pela emissora Excelsior, em 1965, é lembrado como o primeiro grande
festival na história da música brasileira. Com canções de Edu Lobo, Vinícius
de Moraes, Baden Powell, Chico Buarque e João do Vale, o festival foi bem
sintetizado por Cyro Monteiro em sua famosa declaração: “Não houve aqui
vencidos nem vencedores. Quem ganhou foi a nossa música.”
Talvez Elis Regina discordasse. Vencedora quase unânime (9 votos
contra 1), a jovem cantora foi consagrada por sua visceral interpretação
de Arrastão, de autoria de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. A partir desse
momento, teve início a história dos festivais como propagadores da
produção musical e aclamadores dos novos talentos.
Nos anos que se seguiram, até o início da década de 70, diversos
nomes despontaram nos festivais. Geraldo Vandré, Chico Buarque,
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jair Rodrigues, Nana Caymmi, Tom Zé… e
a lista de artistas hoje consagrados poderia continuar infinda.
Os festivais da década de 1960 foram marcantes para a música
popular brasileira, principalmente aqueles realizados entre 1966 e 1968,
período considerado, por muitos pesquisadores musicais, como “a era
de ouro dos festivais”. Entre os vários concursos diferentes, tiveram
destaque o Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, e o
Festival Internacional da Canção (FIC), da Rede Globo, que sacudiram o
Brasil e levaram multidões aos eventos, promovendo uma grande festa
popular que revelou muitos compositores e intérpretes.
Em 1965, a TV Excelsior organizou um evento pioneiro, o I Festival
Nacional de Música Popular, inaugurando o ciclo dos festivais, que
seriam consagrados a partir do ano seguinte. A canção vencedora desse
concurso, Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, foi o primeiro
grande sucesso dos festivais e ainda revelou a jovem intérprete Elis
Regina. O interesse despertado no público pelo festival e o estrondoso
sucesso obtido por Arrastão motivou o surgimento de novos festivais de
música popular brasileira.
Em 1966, a TV Record assumiu a organização do festival no lugar
da TV Excelsior, promovendo o II Festival de Música Popular Brasileira,
superando todas as expectativas de público. A atenção da grande final
ficou concentrada em duas das doze canções apresentadas: A banda, de
Chico Buarque, e Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, que
terminaram empatadas na classificação final. A banda, com seu lirismo
nostálgico e singeleza poética, converteu-se em um sucesso imediato e
vendeu mais de cem mil cópias em uma semana, cifra espantosa para
a época. Foi saudada com uma crônica, em jornal, pelo poeta Carlos
Drummond de Andrade e transformou Chico Buarque em ídolo musical
rapidamente. Já a canção épica Disparada, cantada durante o regime
militar iniciado em 1964, tematizava as desigualdades sociais existentes
no País e agradou ao público estudantil mais politizado, que ansiava por
uma música comprometida com a crítica à realidade social do Brasil.
Nesse mesmo ano, o governo da Guanabara organizou o I Festival
Internacional da Canção (FIC), evento oficial coordenado pela Secretaria
de Turismo, com fórmula diferente da do Festival da TV Record. Foi criado
para ser um evento internacional, inspirado no Festival de San Remo,
na Itália. A fase nacional servia apenas para decidir quem representaria
o Brasil na fase internacional, essa sim, a mais importante. Teve sua
primeira edição realizada no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro e, a partir
da sua segunda edição, em 1967, seria promovido e transmitido pela TV
Globo. Na sua segunda edição, o FIC revelaria o então novato cantor
e compositor Milton Nascimento, com Travessia, canção composta em
parceria com Fernando Brant, que ficou em 2º lugar e rendeu o prêmio
de Melhor Intérprete a Milton Nascimento. Nas suas composições, novos
materiais sonoros e poéticos seriam incorporados à música popular
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brasileira, resultantes da fusão da sonoridade da música regional mineira
com algumas influências de música internacional, sobretudo o rock, que
resultariam no material estético presente no disco Clube da Esquina,
lançado na década de 1970.
Em 1967, o III Festival da Record ficou marcado pela explosão dos
prototropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, que com as suas canções
Alegria, alegria e Domingo no parque, respectivamente, procuravam
questionar os paradigmas estéticos e políticos que orientavam a música
popular brasileira. Em tempos de regime militar, os palcos dos festivais
tornavam-se um espaço privilegiado para o debate que não se restringia
apenas ao aspecto musical. Estava em jogo, também, um projeto de
nação e a construção de uma identidade nacional. Esse festival da Record
explicitou a tensão existente entre a corrente que defendia uma pesquisa
mais aprofundada nas tradições musicais populares – da qual a canção
vencedora, Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, pode ser considerada
um modelo – e a que propunha uma implosão desse paradigma, com a
proposta de um “som universal”, que incorporava a cultura de massa e a
música estrangeira à estética musical e à própria reflexão sobre o Brasil.
Após esse embate, o ano de 1968 teria um dos mais controvertidos
festivais da história, o III FIC, em que Gilberto Gil e Caetano Veloso,
juntos com outros artistas e intelectuais, propunham uma nova forma
de expressão artística. O público reagiu à apresentação de É proibido
proibir, de Caetano, com muitas vaias, que foram respondidas com um
discurso, que, devido à sua repercussão, acabaria sendo lançado em
compacto simples pela Philips. A canção de Caetano era dirigida tanto
ao autoritarismo do regime militar quanto à juventude de esquerda, que,
segundo o artista, policiava a música popular brasileira, querendo impor
um discurso político e estético aos artistas.
A polêmica não pararia por aí. A canção vencedora, Sabiá, de
Tom Jobim e Vinícius de Moraes, também receberia vaias, ao ganhar
da canção favorita da plateia estudantil, Pra não dizer que não falei de
flores, de Geraldo Vandré. Naqueles anos conturbados de regime militar,
a preferida do público era uma canção de conteúdo social. A canção de
Vandré era propositadamente simples, apoiada em apenas dois acordes,
tendo a força na sua letra, que desafiava violentamente a ditadura, com
versos como “nos quartéis lhes ensinam antigas lições / de morrer pela
pátria e viver sem razão”. Os versos da canção realizavam uma síntese do
pensamento político de estudantes e intelectuais de esquerda ao chamar
para uma ação efetiva contra o regime militar. A oposição ao governo
aumentava e ganhava força. As passeatas estudantis contra o regime
já eram frequentes. Em 28 de março desse ano, uma manifestação dos
estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por melhores
condições em seu restaurante universitário, foi reprimida com violência
pela Polícia Militar, resultando na morte do estudante secundarista Edson
Luís de Lima Souto, de 17 anos. Com a sua morte, novas passeatas de
repúdio e indignação foram realizadas, sendo todas também reprimidas
pela polícia. O AI-5, decretado em 13 de dezembro, suspenderia direitos
políticos e intensificaria a repressão e a censura, trazendo muitos reflexos
na música popular brasileira, sobretudo na década de 1970, durante o
Governo Médici. Encerrava-se o clima de espontaneidade e discussão
presentes nos festivais da década de 1960.
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Bibliografia:
Mello, Zuza Homem de. Aera dos festivais: uma parábola. 34. ed. São Paulo:
2003.
Napolitano, Marcos. Seguindo a canção: engajamento político e indústria
cultural na mpb (1959-1969). São Paulo: Annablume/fapesp, 2001.
http://www.mosaicoculturaearte.com.br.
http://falacultura.com/2012/04/11/festivais-musica/.
Exercícios
1. A música popular brasileira passou por grandes transformações e
deu origem a diversos estilos diferenciados ao longo do século XX.
Sobre isso, assinale o que for correto.
A) Devido ao regime militar, o mercado fonográfico foi altamente
prejudicado, apresentando produções rarefeitas e de pouco
impacto de venda.
B) A produção e o consumo da MPB, durante os governos militares,
constituíram um significativo circuito, no qual eram veiculadas
mensagens políticas ora cifradas, ora metafóricas; mas, ao
término desse período, tornaram-se mais explícitas.
C) O grupo Legião Urbana teve grande importância na
conscientização política dos jovens da chamada geração AI-5.
D) A repressão política do regime militar interferiu de forma
dramática na produção cultural brasileira dos anos 60 e 70 do
século XX, forçando artistas, como Chico Buarque, a aderir a
uma corrente musical de forte apelo popular, isenta de qualquer
discurso político ou contestação ideológica.
E) As imagens de modernidade, liberdade e contestação política
estão fortemente presentes na música popular brasileira
contemporânea. Tal fato se comprova pela grande recepção do
público nos grandes meios de comunicação.
2. Leia o texto a seguir.
FB NO ENEM
OLHOS NOS OLHOS
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
’Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz.
Chico Buarque. Letra e música. 1989.
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No texto de Chico Buarque, observamos que o eu lírico se utiliza
de uma estratégia para promover sua vingança em relação ao
seu amado. Esse sentimento está construído:
A) de forma sutil e irônica.
B) de maneira passional e destrutiva.
C) de forma sarcástica e grotesca.
D) de maneira ambígua e introspectiva.
E) de forma equivocada e difusa.
3. Leia os textos.
4. Leia o texto.
Tropicalismo ou Movimento Tropicalista foi um movimento
cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas
de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop
rock e o Concretismo); misturou manifestações tradicionais da
cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos
comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade,
sob o regime militar, no final da década de 1960. Um dos maiores
exemplos do Movimento Tropicalista foi uma das canções de
Caetano Veloso, denominada exatamente de Tropicália.
Texto I
CASAL NEURAS - Glauco
Essa não! O bichão
do ciúme voltou?
Nada, só passou pra
me ver e...
Matar a saudade!
Glauco. Casal Neuras. Folha de S. Paulo, 05/06/2005.
Texto II
CIÚME
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropic%C3%A1lia
Eu quero levar uma vida moderninha
Deixar minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
(Refrão)
Mas eu me mordo de ciúme
Mas eu me mordo de ciúme
Meu bem me deixa sempre muito à vontade
Ela me diz que é muito bom ter liberdade
Que não há mal nenhum em ter outra amizade
E que brigar por isso é muita crueldade
Mas eu me mordo de ciúme
Mas eu me mordo de ciúme
Eu quero levar uma vida moderninha
Deixar minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
Mas eu me mordo de ciúme
Mas eu me mordo de ciúme
O ôôô
O ôôô
Com relação ao Movimento Tropicalista, assinale a alternativa
que emite um julgamento correto.
A) O Tropicalismo teve como maior expoente de suas ideias
antropofágicas Chico Buarque de Holanda.
B) O movimento tropicalista restringiu-se ao universo da música e
da literatura, não produzindo desdobramento em outros setores
da cultura.
C) A contestação política, a crítica ideológica e a musicalidade
genuinamente brasileira, isenta de qualquer influência cultural
estrangeira, caracteriza a produção do Tropicalismo.
D) O movimento é lançado com a apresentação das músicas
Alegria, Alegria, de Caetano, e Domingo no Parque, de Gil, no
Festival de MPB da TV Record, em 1967. Acompanhadas por
guitarras elétricas, as canções causam polêmica com uma
classe média universitária nacionalista, contrária às influências
estrangeiras nas artes brasileiras.
E) Movimento cultural do fim da década de 60 que, ao fazer uso
de deboche, irreverência e improvisação, revoluciona a música
popular brasileira, até então dominada pela estética da Jovem
Guarda, caracterizada pelo discurso ideológico e social.
5.
Ultraje a Rigor
Com relação à leitura dos textos, é possível considerar que:
A) embora abordem a mesma temática, os textos se distanciam
pelo tratamento dado ao tema.
B) apesar de utilizarem os mesmos recursos expressivos no
tratamento do tema, os textos se diferenciam no aspecto formal.
C) o texto I ilustra de forma visual a imagem verbal presente no
texto II.
D) os textos divergem em relação ao tema e à forma.
E) o texto II não encontra correspondente no texto I, pois ambos
divergem em suas propostas temáticas.
FB NO ENEM
Garota de Ipanema
TOM JOBIM E VINÍCIUS DE MORAES
A Bossa Nova nasceu em Ipanema, no Rio de Janeiro, e ganhou o mundo.
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O movimento musical conhecido como Bossa Nova surgiu
na década de 50, no Rio de Janeiro. Nessa época, jovens que
moravam em Ipanema tentaram misturar as raízes do samba
com o improviso e a modernidade do jazz norte-americano.
O resultado foi um dos mais deliciosos ritmos da Música Popular
Brasileira, reconhecido no mundo inteiro.
Marco – O lançamento do disco Canção do Amor Demais,
gravado em 1958, por Elizeth Cardoso e João Gilberto, é o marco
da popularização do ritmo que nascia. Com músicas de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes, levou ao grande público a batida e
o violão que caracterizam a bossa. Em pouco tempo, a novidade
se espalhou, com apresentações de Chico Feitosa, Sylvia Telles,
Nara Leão e Baden Powel, entre muitos outros.
Mundo – Em 1960, ficaram na história os shows realizados na
Faculdade de Arquitetura e na Pontifícia Universidade Católica
(PUC), no Rio. Em 1962, a bossa nova já estava em cartaz no
Carnegie Hall, em Nova York, encantando o mundo.
Gíria – A palavra “bossa” era uma gíria usada na época.
A pessoa com bossa era uma pessoa com jeito especial.
A bossa nova era um novo jeito de tocar. O ritmo nasceu nos
botecos, praia e ruas de Ipanema, bairro em que viviam os pais
do novo ritmo. O movimento musical virou até estilo de vida,
traduzido com maestria nas poesias e músicas de Vinícius de
Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Toquinho, Joyce e Nara
Leão, Roberto Menescal, Emílio Santiago, entre tantos outros.
Com relação à Bossa Nova, assinale a alternativa que deixa de
se identificar com essa corrente musical.
A) Ambientada em Ipanema.
B) Bem-recebida por um público mais jovem.
C) Abordagem de temas do cotidiano.
D) A dor como o fato dominante da existência.
E) Maior sofisticação harmônica e rítmica.
FB no Enem – Nº 27 – Professor: Carlos James
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Anotações
OSG.: 63015/12 - 23/08/12
Dig.: André / Rev.: AR/Tony
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