Boletim - Fazenda da Esperança

Transcrição

Boletim - Fazenda da Esperança
Boletim
Edição 31
abril 2010
www.fazenda.org.br
Um pouco de
dignidade
Chão batido de terra, com e até sem paredes feitas de barro, telhado de capim,
quando não foram queimados ou derrubados pelo vento, bancos improvisados com
troncos e galhos, quando muitas vezes não preferem rezar debaixo da própria árvore.
Nisso tudo não há nenhuma dignidade, mas é a realidade das capelas de muitos fieis
da população ao redor da missão da Fazenda em Moçambique no continente africano.
Sem portas, sem janelas e escoradas para ficarem em pé
O
estado das pequenas igrejas sem portas, nem
paredes e onde os animais se abrigam por toda a
semana, de fato, é consequência da simplicidade
e da condição financeira daquele povo.
Toda essa situação rodeia a missão estudantil situada
em Dombe, aonde missionários brasileiros da Fazenda
da Esperança encontram-se há quatro anos. Desde que
chegaram muito se fez pela comunidade local. Ampliaram a escola, passando a instrução do sétimo para o
décimo ano e, em 2011, a meta é possibilitar o estudo
até o décimo segundo ano, quando se chega na fase do
curso superior, faculdade ou universidade.
Daí em diante não será possível acolhê-los mais, terão
que voltar à sociedade. O bispo responsável por esse trabalho acredita que cumpriu sua missão com o futuro de
cada um. “Demos escolaridade, educação para a vida e
ensinamos a fonte de amor. Eles estão prontos para se
inserir no mercado de trabalho ou buscar novas fontes
de estudo que não temos a possibilidades de oferecer”,
afirma dom João Francisco Silota, bispo de Chimoio,
em Moçambique.
Os jovens do internato, onde se acolhe os estudantes
das regiões mais distantes, também foram beneficiados
pois, antes da chegada dos missionários do Brasil, suas
camas eram esteiras espalhadas pelo chão, mas há alguns anos, já se acomodam em beliches e em colchões
para descansarem.
Com muito sacrifício as primeiras capelas foram construídas
2 - Boletim Fazenda da Esperança - Edição 31 - abril 2010
Atualmente, no interior, as mais estruturadas têm paredes de terra
Não só a missão estudantil foi beneficiada. A capela
da escola, além de atender os padres, irmãs e missionários acolhe, com todo conforto, a comunidade local
em seus momentos de prece e de encontro. Isso ficou
muito claro, quando a seca assombrou por alguns longos meses aquela população, mas graças ao apoio de
muitos, principalmente, dos Embaixadores da Esperança
brasileiros foi possível evitar a morte de muitas crianças,
jovens e adultos.
Atualmente, um trator recebido de doação tem ajudado ‘os missionários fazendeiros’ a manter a produtividade necessária para sustentar todos da escola. As casas
da futura Fazenda da Esperança a fim de atender os dependentes químicos desse país estão sendo construídas
e ainda em 2010 serão inauguradas.
No entanto, os missionários não estão contentes com
a situação descrita pelos padres e observadas por eles
mesmos, quando visitam a vizinhança da missão mais ao
interior de Moçambique de onde é a maioria dos jovens
do internato.
As pequenas vilas do interior não têm vias de acessos para veículos, os padres e voluntários utilizam outros
meios e se esforçam para levar a fonte do amor a essas
localidades. Na diocese de Chimoio são 15 paróquias, só
as duas ao redor da missão em Dombe, totalizam 62 comunidades e mais de duas mil pessoas batizadas. “Uma
realidade que poderia ser diferente”, acredita o padre
O conforto e a beleza dão dignidade ao povo
Aconteceu comigo
Padre Timóthée
Bationo, Missionário
da África e pároco
de Sussudenga,
em Dombe, em
Moçambique.
Pe. Timothée
Tudo que as comunidades têm para as capelas está na natureza
Timóthée Bationo, pároco de Sussudenga em Dombe,
em Moçambique.
No ano passado, conseguiram construir uma capela
inteiramente de alvenaria, toda de tijolinho a vista, com
bancos apropriados e com telhado de ferro. Muita gente
que rezava debaixo das árvores viera para a inauguração, mas para a surpresa do padre Timóthée que esperava cerca de 50 pessoas, a capela ficou lotada com aproximadamente 200, ficando gente até do lado de fora.
Para essa construção foram gastos R$ 10 mil dólares. Já as capelas que pretendem construir nas vilas mais
isoladas o custo é bem menor R$ 5 mil reais. O padre
Timóthée chama-as de capelas melhoradas, pois deseja fazê-las com paredes de tijolos, feitos pela própria
comunidade, as colunas com barrotes de madeira tirados da floresta local, as telhas com chapas de zinco e
contratar uma pessoa que entende de construção para
orientar a população local, a fim de realizar trabalho
bem feito e bonito.
Com cinco mil reais, no Brasil, é possível comprar um
carro usado, um terreno, uma moto, mas não daria para
construir uma casa, muito menos uma capela. No entanto, isso seria o suficiente para a dignidade que infunde respeito, honra, autoridade, brio e decência para o
povo cristão de Moçambique.
Trabalho junto com os missionários da Fazenda da
Esperança na missão em Dombe.
Estou na diocese de Chimoio que se encontra em
Moçambique e que faz fronteira com o Zimbábue. Essa
diocese tem 15 paróquias e os padres diocesanos são
oito, contando com os diáconos.
Nós temos cerca de 62 capelas e somente 10 já foram
melhoradas. No ano passado, construímos a primeira
capela e foi a primeira de minha vida de sacerdote.
Eu entendo que na palha e no chão não há dignidade.
A capela está para os cabritos de segunda a sábado. No
domingo, as pessoas que a usam para rezar.
O grande problema porque eles não vêm às capelas é porque não dignifica a pessoa humana. Penso,
que quando venho à igreja, que não seja para sujar
a minha roupa. Uma capela que dignifica, realmente
fará maravilhas.
Vai ser a maior alegria de minha vida trabalhar com
agricultura! Eu adoro, na realidade não gostava,
quando estava na minha terra em Burkina Faso que
é deserto e difícil de cultivar. Mas ao chegar à minha
paróquia, recebi em minhas mãos 186 hectares de terra
com água corrente. Consegui esse ano, com uma charrua e duas vacas, fazer uma plantação. Mas meu sonho
é aprender a pescar, porque também não é dignificante estar sempre à bater à porta para pedir.
Eu gostaria de dizer ao povo brasileiro, sobretudo à juventude católica, faço um apelo: Olhe
realmente para a África e doe-se para levar essa boa
notícia do evangelho, a boa nova a esses nossos irmãos.
A voz do embaixador
Tive o grande prazer de conhecer mais de perto os seus trabalhos, numa visita a Fazenda da Esperança em Guaratinguetá / SP, com o movimento de jovens de Santa Maria/MG e Itabira/MG.
Foi uma experiência de extremo enriquecimento pessoal, conversar com cada recuperando. Escrevo
neste momento com o coração irradiando de felicidade, pois enfim, começaram as obras da primeira Fazenda aqui na minha cidade! Obrigada pela acolhida. Jane Raquel - Itabira / MG.
Meu filho passou pela Fazenda de Gararu / SE, voltou um homem renovado. Meu pedido de
oração é de agradecimento a Deus e a Fazenda da Esperança, como também para que meu filho
continue firme na Palavra de Deus. Verônica Castro - Maceió / AL.
Boletim Fazenda da Esperança - Edição 31 - abril 2010 - 3
A-notável
O amor transforma
Jullien Leite Gomes da
Silva, 18 anos, Recife / PE.
Jullien chegou ao fundo do
posso, mas se levantou e,
atualmente, é uma missionaria
da Esperança
Quando tinha cinco
anos minha mãe morreu.
Depois disso, eu ficava
com uma babá, dormia
na casa de um tio e meu
pai não ligava.
Quando fiz 10 anos, saí
de casa e abri a porta para
a dependência química.
Não gostava de cigarro, fui direto ao crack e à cocaína.
Com 11 anos, tornei-me mulher de um traficante, com
quem morei sete anos. Aos 12 anos, fiz um aborto, pois
não queria a criança.
Nessa época, meu pai foi me buscar numa boca de
fumo. Eu disse que não ia. Ele levantou a mão, talvez
não me batesse, mas eu lhe disse: “Você não é louco!”.
Coloquei o revolver na boca dele e falei: “Vá embora,
pois você não e meu pai!”.
Engravidei novamente aos 14 anos. Tirei outra vez.
Dois meses depois, fiquei grávida de novo. Aí vi que não
conseguiria abortar e por pouco não tive minha filha na
penitenciária. Quando estava para tê-la o juíz me mandou para casa.
Não sabia ser mãe, não gostava da minha filha e batia
na minha barriga. Quando ela nasceu era muito linda,
mas nem quis olhá-la. Dei-a para minha sogra.
Eu adorava minha vida de crime, pois tinha dinheiro e
tudo que queria. Ainda aos 12 anos fui presa. Por todas as
coisas que fiz o juíz disse que eu não ia para uma Febem.
Eu dizia que não tinha filha. Levei muito tempo para
aceitá-la. Um dia, voltei em casa e olhando para minha
filha que já estava com um ano e seis meses, entendi que
eu não era assim e que precisava me recuperar.
Fui para uma penitenciária, chegando lá, apanhei de
12 mulheres, porque eu era novata. Saí de lá com 13
anos. Fugi durante uma rebelião. O conselho tutelar colocou-me num abrigo, onde eu era a “bam bam bam”
e batia em todos.
Na minha entrevista, na capela da Fazenda da Esperança, chorei muito e pedi para me ajudarem, porque se
não o fizessem eu morreria. A responsável perguntava
sobre minhas marcas. Uma era tiro e cada uma das outras tinham uma história diferente.
Minha coordenadora perguntava se eu gostaria de me
recuperar. Eu dizia que não e que meu pai já tinha me internado por 11 anos. Ela me falava: “Olha o seu estado,
você é um monstro”. Eu rebatia: “Não sou um monstro,
o mundo me tornou assim”.
Os primeiros dias foram muitos difíceis porque eu não
sabia viver em comunidade. A responsável colocou-me
para trabalhar diariamente na enxada. Para mim foi uma
vitória quando lhe disse: “Hoje, amei concretamente e
não bati em ninguém”.
Roubava, dava na cara de quem eu queria e chegou a ponto de minha família dizer que não queria olhar mais para mim.
Apesar de não ter minha filha perto de mim, um dia,
quero ser mãe de verdade.
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