O poder global do agribusiness brasileiro
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O poder global do agribusiness brasileiro
O poder global do agribusiness brasileiro Um relatório do Economist Intelligence Unit Patrocinado por O poder global do agribusiness brasileiro Prefácio O poder global do agribusiness brasileiro é um relatório de pesquisa do Economist Intelligence Unit, patrocinado pela Accenture. O Economist Intelligence Unit conduziu a pesquisa e a análise e redigiu o relatório. O autor é Kieran Gartlan e a responsável pela edição é Katherine Dorr Abreu. O Economist Intelligence Unit gostaria de agradecer a todos que dedicaram seu tempo e suas observações para este projeto. Novembro 2010 1 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Sumário executivo B rasil é o quinto maior país do mundo em termos de área geográfica, e o maior em termos de terras cultiváveis. Embora somente uma parte de suas terras seja utilizada, o país produz uma grande diversidade de bens agrícolas. Isso coloca o Brasil numa posição única para liderar o setor agrícola mundial no médio e longo prazo. Com uma reserva abundante de recursos naturais (água, solo e clima favorável), o país tem chance de ser a maior superpotência em agribusiness, atendendo ao mercado mundial e também abastecendo sua própria população com alimentos de preço acessível. O país já é o maior fornecedor mundial de produtos tão variados quanto carne, suco de laranja e etanol. A expectativa é que ele continue a aumentar suas exportações de outros produtos, como algodão, óleo de soja e celulose. Seus mercados também são variados: a China é agora o maior mercado para os produtos agrícolas brasileiros, e as vendas para o leste europeu, o oriente médio e a África também estão em rápida ascensão. Para manter essa trajetória, o Brasil precisa expandir as significativas melhorias em produtividade que são a base de seu sucesso atual, além de superar as barreiras que impedem a realização plena de seu potencial. Os obstáculos vão desde a escassez de crédito até impasses logísticos, desde medidas protecionistas em mercados importantes até questões ambientais. As fronteiras agrícolas demonstram o que está certo e errado com o setor de agribusiness no Brasil. As ricas colheitas do vasto interior do país mais do que compensam o investimento público e privado em pesquisa para se criar novas variedades de plantas adaptadas ao solo e ao clima da região. A produção em larga escala e a gestão profissional ajudaram a contrabalançar o alto custo e a apertada margem de lucro de se cultivar tais áreas. Atraídos pela expectativa de crescimento, os investidores financiaram a expansão da agricultura e forneceram know-how tecnológico. Ainda assim, os empreendimentos agrícolas nessas regiões são dificultados pelo transporte inadequado e capacidade de armanezamento insuficiente. A produtividade em segmentos como carne e milho continua baixa. A margem de lucro continua pequena. O forte desempenho do setor hoje em dia tem base nas mudanças realizadas nos últimos 30 anos nos modelos de negócios, nas práticas de cultivo e na tecnologia. Para que o Brasil realize seu potencial como superpotência mundial em agribusiness nas próximas décadas, as empresas devem continuar a inovar, transformando como e onde fazem negócios. As empresas líderes testaram e tiveram sucesso com diferentes caminhos para expandir além das fronteiras do país. Para superar as barreiras protecionistas nos EUA e na Europa, elas diversificaram seus 2 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro produtos, aperfeiçoaram os controles sanitários e compraram competidores no exterior. Elas aumentaram o valor dos produtos vendidos nos mercados de países desenvolvidos, mas também penetraram nos mercados emergentes. Ainda são necessários mais investimentos e mudanças para que o setor de agribusiness possa florescer nas próximas décadas. Entre eles, estão: l A infraestrutura—transporte, portos e armazenagem—deve ser aprimorado de modo a suprir as necessidades atuais e futuras. l O solo deve ser usado de maneira mais produtiva, por meio de técnicas de cultivo inovadoras. O crescimento virá com a melhor utilização das terras atualmente usadas para cultivo e pastagem, e não apenas com a abertura de novas áreas. l Deve-se dar prosseguimento à pesquisa para assegurar o desenvolvimento de variedades de plantas melhor adaptadas ao clima e ao solo brasileiros. 3 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Situação atual M uito se fala da vastidão das terras disponíveis nas fronteiras agrícolas do Brasil—71mi de hectares, de acordo com o Ministério da Agricultura. Mas talvez sejam uma maior eficiência e novas técnicas de cultivo que permitirão ao país atender às necessidades de sua própria população ao mesmo tempo em que supre à demanda por alimentos cada vez maior no resto do mundo nas próximas décadas. O desafio para os fazendeiros brasileiros é corresponder às expectativas de que o país possa se tornar o celeiro do mundo. Segundo o consenso geral, eles têm capacidade para isso. O país apresenta várias vantagens competitivas. Entre elas, estão: l um clima favorável que permite duas ou mais colheitas por ano; l grandes extensões de terra arável barata, com potencial de duplicar a área de cultivo; l água abundante—quase o triplo da quantidade de água doce disponível nos EUA; l produtores e agroindústrias experientes com tecnologia; l solos e climas variados que estimulam a diversidade dos produtos. O Brasil já é o maior exportador mundial de carne bovina. É também o principal fornecedor internacional de açúcar, café, suco de laranja, etanol, tabaco e frango. Ocupa o segundo lugar na exportação de soja e o quarto na exportação de carne de porco e algodão. Mesmo ocupando uma posição de destaque, o Brasil pode fazer ainda mais. Somente 50mi hectares (de mais de 400mi hectares do total de terras cultiváveis) são utilizados para o cultivo, de acordo com Projeções da participação do Brasil no mercado global (%) Produto Açúcar* Café* Soja Farelo de soja Óleo de soja Milho Carne bovina Carne suína Carne de ave 2009/10 47 27 30 22 21 10 25 12 41 2014/15 47 27 33 21 16 11 31 14 48 2019/20 50 27 36 20 18 13 30 14 48 * Não há projeções, então a participação no mercado continua constante. Fontes: Departamento de Agricultura dos EUA 2010; Food and Agriculture Policy Research Institute, 2009; e AGE/ Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento 2010 4 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). De todos os principais países produtores, o Brasil ainda apresenta um dos menores índices de terra cultivada em relação à área total, com apenas 7% dedicados à lavoura, em comparação com aproximadamente 18% nos EUA, de acordo com Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ex-ministro da agricultura e membro do conselho administrativo da JBS, a maior produtora mundial de carne bovina. Parece lógico que o Brasil deva explorar esse enorme recurso de terras disponíveis para aumentar sua produção agrícola nas próximas décadas e satisfazer a demanda mudial cada vez maior por alimentos. Mas isso poderá não acontecer. Os agricultores que se aventuraram nas fronteiras agrícolas consideram extremamente difícil atuar em novas áreas devido a atuais pressões ambientais, alto custo e logística inadequada. Assim, a Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) estima que nos próximos dez anos a área de plantio irá aumentar em apenas 15mi hectares, sendo que grande parte dessa área será de pasto degradado, e não novas áreas desmatadas. Estima-se que a população mundial irá crescer de 7 bilhões para 9 bilhões até 2050. Para suprir as mudanças nos hábitos alimentares e uma maior demanda, a FAO estima que será preciso dobrar a produção de carne e aumentar a produção de grãos em 50%. Isso representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para o setor de agribusiness no Brasil. Previsão para produtos de exportação para o setor de agronegócio no Brasil Produto Unidades 2009/10 2019/20 Milho Soja Farelo de soja Óleo de soja Algodão Suco de laranja Carne de aves Carne bovina Carne suína Leite Açúcar Etanol Celulose Papel mt mt mt mt mt mt mt peso da carcaça mt peso da carcaça mt peso da carcaça m litros mt bil litros mt mt 7.6 28.5 12.4 2.1 0.5 2.1 4.0 2.1 0.6 1.1 22.2 5.4 7.4 2.2 12.6 37.9 13.6 2.3 0.8 2.7 6.1 3.1 0.8 1.9 31.2 13.7 11.1 2.8 Variação (%) 65.2 32.7 9.8 7.5 76.6 27.4 52.3 46.4 31.7 76.4 40.3 155.1 49.9 31.2 Taxa de crescimento annual composta (%) 5.2 2.9 0.9 4.4 5.9 3.5 4.3 3.9 2.9 5.8 3.4 9.8 4.1 2.8 Fonte: AGE/ Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento 2010 Mesmo com uma expansão modesta das terras cultivadas, a ABAG prevê um crescimento constante na produção agrícola na próxima década. Até 2020, a produção de grãos terá aumentado em 37%, para 180mi de toneladas, e a produção de carne terá aumentado em 38%, para 30,5mi de toneladas. O maior crescimento ocorrerá no setor da cana de açúcar: a ABAG estima que a produção de etanol aumentará em 127%, para 63bi de litros, e que a produção de açúcar crescerá em 48%, para 46,7mi de toneladas. Essa salto será resultado de melhores técnicas de cultivo e gestão mais profissional, de acordo com André M. Nassar, economista agrícola e diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações 5 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro SLC Agrícola: colhendo os frutos da agricultura de larga escala A SLC Agrícola demonstra como a gestão profissionalizada e o bom uso da tecnologia e dos mercados de capital podem levar a um rápido crescimento. A empresa entrou para a história em 2007, quando se tornou o primeiro produtor de grãos e algodão do mundo a ter ações numa bolsa de valores, levantando mais de R$309 mi (US$181 mi) para alavancar seus ambiciosos planos de expansão. Desde então, ela mais do que dobrou a área de plantio (para 220.000 hectares) e planeja chegar a 450.000 hectares até 2015. Em 2009, sua receita operacional líquida aumentou de R$269 mi (US$138,7 mi) em 2007 para R$597 mi (US$303,4 mi). A SLC foi fundada em 1945 por três famílias de imigrantes alemães. Produziu maquinário agrícola e depois se tornou pioneira na produção de colheitadeiras automatizadas no Brasil. A transição para a agricultura só aconteceu em 1977, quando a “onda da soja” tomou conta da América do Sul. A empresa continuou a produzir maquinário, no entanto. Sua parceria de 20 anos com John Deere, que começou em 1979, inspirou a SLC a criar uma equipe de gerência profissional. Num grande contraste com o modelo de empresa familiar de pequena escala comum à época, a SLC implementou um modelo de “agricultura empresarial” desde seus estágios iniciais. “Nosso modelo de negócios se baseia em alta tecnologia, pesquisa e maquinário de última geração”, explica Arlindo Moura, o CEO da empresa. Parte da estratégia da empresa é diversificar a produção tanto em tipo de cultura quanto em local de modo a diminuir os riscos de produção ocasionados pela seca e por doenças. A SLC cultiva soja, 2. A estação de plantio na América do Sul geralmente tem início em setembro, mas o tempo seco acabou causando um atraso em 2010 e o plantio começou no início de outubro. 6 milho e algodão em seis estados: Maranhão, Bahia, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Piauí. Nos últimos cinco anos, a produtividade média em algodão da SLC foi 70% maior que a dos EUA—o maior exportador de algodão do mundo—e 22% maior que a do Brasil. Sua produtividade média em soja nesse mesmo período foi 21% maior que a dos EUA e 29% maior que a média brasileira.1 A empresa também deu um grande salto na produção total nos últimos anos ao arrendar terras vizinhas às suas fazendas e fazer maior uso do cultivo duplo (produção de dois grãos diferentes na mesma área durante a mesma safra, em geral soja seguida de milho ou algodão). Isso reduz os custos unitários de produção e aumenta o fluxo de caixa durante todo o ano. Parte desse impressionante desempenho é resultado da dedicação da empresa à pesquisa. Na safra de 2009-10, a SLC tinha 190 projetos experimentais em 1.300 hectares de terra, com uma equipe de quatro agrônomos, nove técnicos de pesquisa e nove técnicos assistentes realizando pesquisas próprias. Ela também participa em projetos conjuntos de pesquisa com a Embrapa e órgãos de pesquisa do governo. “Gostamos de experimentar diferentes variedades de planta, diferentes aplicações de fertilizantes e diferentes espaçamentos. Assim que atingimos resultados satisfatórios, imediatamente fazemos a mudança em escala comercial”, explica o Dr. Moura. Essa abertura à inovação, aliada a uma gestão profissionalizada, é um modelo que outras empresas podem seguir. 1. A SLC relata que sementes geneticamente modificadas (GM) são utilizadas quase que universalmente nos EUA, resultando em produção maior do que no Brasil, onde a prática está aumentando mas não é ainda tão presente. A seca no sul e a ferrugem asiática na região centro-oeste (2004-07) também serviram para diminuir a produção de soja nos últimos cinco anos. Internacionais (ICONE), um think tank de São Paulo. As economias de escala e novas técnicas de cultivo ajudarão a impulsionar lucros e produtividade nos próximos anos. O cinturão agrícola brasileiro está passando por uma fase de consolidação: grandes corporações agrícolas, bem administradas, aproveitam as economias de escala para compensar as margens de lucro baixas e o alto custo de se fazer negócio nas fronteiras agrícolas. Os 20 maiores produtores do estado de Mato Grosso plantaram 1,2 mi de hectares na última safra, um aumento de 130% em comparação com os 500.000 hectares de cinco anos atrás, de acordo com o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (IMEA). Como resultado, as megafazendas agora representam 20% da área de cultivo do estado, em comparação com apenas 9% cinco anos atrás. Enquanto isso, novos gigantes agrícolas, como a El Tejar, que plantará mais de 1 mi de hectares na América do Sul na próxima safra2, trouxeram o know-how e a tecnologia da Argentina, bem como acesso a © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro linhas de crédito internacionais. Empresas familiares tradicionais como a Cosan e a SLC Agrícola adotaram gestão profissionalizada e agora são negociadas no mercado de valores local de modo a ajudar a cobrir os altos custos com a expansão das fronteiras agrícolas. E os agricultores menores estão trocando os tratores pelos escritórios, o que lhes dá mais tempo para avaliar riscos e fazer melhores decisões de mercado. Muitos estão transformando suas fazendas em entidades corporativas, o que lhes dá acesso a crédito mais barato. A agricultura desempenha um papel crucial na economia brasileira atual. “À medida que ela for evoluindo para novos modelos de organização, passará a servir de exemplo para outros setores”, afirma Décio Zylbersztajn, economista agrícola e professor da Universidade de São Paulo (FEA-USP). 7 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Aproveitando as oportunidades O crescimento agrícola do Brasil nos últimos 20 anos foi impressionante. Por exemplo, embora a área de plantio tenha aumentado em apenas 30%, a produção mais que o dobro. E é possível que continue a crescer nas próximas décadas: embora os segmentos tradicionais como carne bovina, café, soja e açúcar continuem fortes, estima-se que o Brasil assuma a liderança em outras áreas, incluindo carne de frango, etanol, algodão, óleo de soja e celulose. “São produtos que têm grande potencial de crescimento para os próximos anos”, afirma Paulo Roberto de Souza, presidente da Coopersucar, uma das maiores tradings de açúcar e etanol do Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura, a participação do Brasil nas exportações mundiais de carne de frango crescerá de 41% para 48% nos próximos dez anos. Sua participação no setor do açúcar aumentará de 47% para 50% nesse mesmo período. E o que está por trás do crescente sucesso da agricultura brasileira? As vantagens naturais do país servem de base. Mas as políticas governamentais de longo prazo, que encorajaram o investimento na pesquisa e educação, e ao mesmo tempo criaram incentivos de preço e crédito, também criaram um ambiente favorável, de acordo com Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, professor e coordenador da CEPEA, um centro de pesquisa da Universidade de São Paulo. Os esforços de indivíduos, empresas e instituições também tem sido de grande importância. l A conversão de novas áreas. Nos últimos 20 anos, os agricultores conseguiram converter com sucesso a região do cerrado em uma nova e vasta fronteira agrícola que é responsável por quase 70% da produção do país. l O desenvolvimento de produtos agrícolas inovadores. A Embrapa e a Fundação Mato Grosso, um órgão de pesquisa privado fundado e patrocinado pelos agricultores locais, adaptaram sementes de soja, um produto de clima temperado oriundo da China, para os trópicos. l Os esforços de fazendeiros pioneiros. Os fazendeiros brasileiros também fizeram sua parte. Durante as décadas de 1970 e 1980, sedentos por novas terras, eles saíram das regiões superlotadas do sul para converter novas terras em uma Meca agrícola. Os fazendeiros de pequeno porte também foram engenhosos, juntando forças para comprar em grande quantidade e conseguir melhores preços por seu produto. Somente no estado do Paraná, existem agora seis cooperativas agrícolas com mais de R$1bi (US$580mi) de receita anual. 8 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro l A onda de produtores empresariais, ricos em capital. Grandes grupos internacionais com gestão profissionlaizada têm investido no Brasil, trazendo conhecimento tecnológico e recursos financeiros. As empresas locais, envolvidas tanto na agricultura quanto no processamento, também cresceram rapidamente, expandindo para além das fronteiras brasileiras para ter acesso a novos mercados. Uma nova onda de investidores corporativos e megaprodutores instigará um crescimento ainda maior. 9 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro As empresas de agribusiness brasileiras O perfil das empresas de agribusiness no Brasil mudou radicalmente nos últimos cinco a dez anos. Anteriormente, as tradings multinacionais denominadas “A,B,C,D”—Archer Daniel Midlands (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus—dominavam o mercado, beneficiando-se da rápida expansão na produção de soja e grãos em fronteiras agrícolas como o Mato Grosso. Mas as empresas brasileiras estão em expansão. Existem atualmente cerca de 20 empresas de agribusiness no chamado clube de bilionários do Brasil—com receitas anuais de mais de US$1bi—e outros em breve se unirão a eles por meio de crescimento orgânico ou consolidação. Entre 2006 e 2009, por exemplo, a receita operacional líquida da Cosan aumentou em 153%, a da Marfrig aumentou em 351% e a da JBS aumentou em 698%. Os caminhos que essas e outras empresas inovadoras de agribusiness tomaram para crescer podem servir de lição para as empresas mais ambiciosas do Brasil. Preencher lacunas. Nos últimos anos, o alto risco e o arrocho de crédito mundial levaram as tradings multinacionais a se conrtrair nas fronteiras agrícolas. A Multigrain, uma trading nacional, aproveitou para dobrar sua receita de US$ 475,6mi em 2008 para US$972,2 mi em 2009, e espera mais crescimento em 2010. Outras empresas de peso são a AMaggi e a Caramuru. Consolidação. A fusão da Citrosuco com a Citrovita, anunciada em maio de 2010, mas cuja aprovação está pendente diante do CADE, dará origem ao maior produtor de suco de laranja do mundo, com US$1,1bi em receita anual. A empresa terá pomares no Brasil e nos EUA, e terminais portuários na América do Norte, Ásia e Europa. Outra grande empresa, a Brasil Foods, é resultado da fusão de duas grandes rivais, Sadia e Perdigão. Ela agora está entre os maiores produtores de alimentos congelados do mundo, com vendas anuais de quase US$6bi. As fusões deram a diversas empresas brasileiras a chance de penetratrem em mercados estrangeiros, aumentando sua expressão mundial. Dois produtores de carne bovina, a Marfrig, com receita operacional líquida de R$9,6bi (US$4,9bi) em 2009, e a JBS, com receita operacional líquida de R$34,3bi (US$17,4bi) no mesmo ano, são exemplos dessa estratégia. Diversificar. Empresas como o Grupo Maggi, chefiada pelo “rei da soja” e ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, deixaram de ser exclusivamente produtores para oferecer uma grande variedade de serviços, incluindo a comercialização, o processamento e o transporte. No segmento do açúcar e do etanol, as empresas inovaram ao agregarem valor aos produtos, adicionando etanol e agora energia aos produtos e serviços oferecidos. A Cosan, gigante na área de açúcar e etanol e que já havia adquirido os ativos da Exxon no Brasil, agora criou uma joint venture com a Shell no segmento de biocombustíveis que abrange os locais de venda a varejo das empresas. Buscar fontes de financiamento internacional. A obtenção de crédito é uma preocupação constante para o setor agrícola brasileiro. As taxas de juros são altas—a taxa básica anual é de 10,75%—e os bancos são relutantes em atender um setor que consideram de alto risco. Como resultado, algumas empresas agrícolas de grande porte buscaram recursos em fundos de investimento internacionais, assim como gestão profissonalizada. A Adecoagro, fundada pelo investidor bilionário George Soros, e a Agrifirma, patrocinada por investidores britânicos, entre eles Lorde Rothschild, têm comprado terras em regiões de fronteira agrícola como a Bahia e o Maranhão. Uma lei de agosto de 2010 limita a posse estrangeira de terras no Brasil e pode inibir nova entrada de capital, muito embora seja provável que os investidores mais experientes continuem firmes no setor. A recente entrada de capital no Brasil gerou uma fonte mais barata de crédito para o desenvolvimento das fronteiras agrícolas, mas também serviu para trazer conhecimento técnico de grande importância. Grupos argentinos, como El Tejar e Los Grobo, por exemplo, introduziram sacos de armazenamento (“silo bags”) para a estocagem de grãos a curto prazo, enquanto os investidores americanos ajudaram a desenvolver o cultivo de precisão utilizando GPS e tecnologia autodirigível, a chamada “auto-steer”. Usar a bolsa de valores para levantar capital. Empresas dos segmentos de açúcar, etanol e carne bovina, incluindo a Cosan, a JBS, a Marfrig e a Minerva realizaram lançamentos de ações (IPOs). A SLC foi a primeira produtora de grãos a entrar para a Bovespa. (Ver o estudo de caso da SLC.) Outras empresas, tais como a Vanguarda, a Maggi, a ETH e a Caramuru podem se beneficiar do renovado apetite global por investimentos no Brasil para dar início a uma nova onda de lançamentos de ações do setor agrícola brasileiro. IPOs no setor de agribusiness brasileiro Empresa SLC Marfrig JBS São Martinho Brasilagro Cosan Setor Produção agrícola Carne bovina Carne bovina Açúcar e etanol Produção agrícola Açúcar e etanol Data da IPO Jun-07 Jun-07 Mar-07 Feb-07 May-06 Nov-05 Em milhões de reais 490 1021 1,600 260 553 886 Valor Em milhões de US$ dólares* 254 529 766 124 256 401 *Com a taxa de câmbio média mensal. Fontes: Relatórios das empresas. 10 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Maiores empresas de agribusiness no Brasil 2008-09 Classificação* (por vendas) Empresa Atividade Controle 15 (9)z 22 (19) 36 (224) 50 (81) 61 (67) 63 (69) 75 (66) 81 (89) 91 (78) 95 (114) 103 (101) 131 (135) 137 (184) 152 (185) 164 (155) 166 (156) 197 (196) 198 (214) 249 (509) 297 (284) 302 (280) 324 (324) 337 (358) 339 (295) 351 (348) 353 (494) 363 (270) 381 (870) 394 (552) 434 (590) 489 530 565 (790) 630 715 728 (932) 736 (683) 774 863 946 (881) Bunge Cargill Brasil Foods Copersucar JBS ADM Louis Dreyfus Coamo Suzano AMaggi Klabin Seara Marfrig Minerva Fibria Imcopa Caramuru C. Vale Multigrain Lar Agrenco Cocamar Algar Agro Carol Cosan Arosuco Cooperativa Agraria Fiagril Mataboi Guarani Vanguarda Big Frango Bom Gosto Bela Vista Abengoa Barra Grande Cacique Citrosuco SLC Café Tres Corações Trading Trading Alimentos processados Açúcar/Etanol Carne bovina Trading Trading Cooperativa Papel & celulose Produtora/Trading Papel e celulose Carne bovina Carne bovina Carne bovina Papel e celulose Exportadora/Moedora Produtora alimentícia Cooperativa Trading Cooperativa Trading Cooperativa Trading Cooperativa Açúcar/Etanol Suco de Laranja Cooperativa Fornecedora de produtos e serviços Carne bovina Açúcar/Etanol Produtora--diversos grãos Carne de frango Laticínios Laticínios Açúcar/Etanol Açúcar/Etanol Produtora de café Suco de laranja Produtora--diversos grãos Produtora de café Holanda EUA Brasil Brasil Brasil EUA França Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Bélgica Brasil Brasil Brasil França Brasil Brasil Brasil Brasil Espanha Brasil Brasil Brasil Brasil Israel Vendas (em milhões de US$) 2009 2008 $9,747 $14,157 $8,406 $8,691 $5,992 $1,176 $4,047 $2,923 $3,376 $3,355 $3,295 $3,295 $2,890 $3,450 $2,573 $2,811 $2,426 $3,033 $2,359 $2,180 $2,136 $2,390 $1,753 $1,916 $1,642 $1,421 $1,565 $1,420 $1,464 $1,680 $1,452 $1,673 $1,216 $1,329 $1,207 $1,210 $972.2 $475.6 $822.7 $895.7 $806.5 $901.5 $752.0 $798.0 $725.5 $710.0 $723.8 $863.5 $687.6 $743.3 $684.1 $491.6 $662.0 $940.5 $616.7 $226.9 $599.4 $432.0 $530.4 $395.1 $456.7 ND $415.7 ND $383.0 $259.8 $332.5 ND $283.3 ND $279.0 $211.0 $276.0 $320.9 $255.8 ND $223.7 ND $193.4 $223.3 * Posição entre as maiores empresas brasileiras; classificação de 2008 entre parênteses. Fonte: Exame, As mil maiores empresas brasileiras 11 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Superando os desafios A despeito das muitas vantagens naturais do Brasil, nos últimos anos alguns dos fatores que favorecem o setor de agribusiness foram neutralizadas por deficiências em infraestrutura, incluindo a capacidade de transporte e armazenagem e altos custos portuários. Outros desafios incluem a necessidade de se importar fertilizantes, pressões ambientais e questões trabalhistas, além da faca de dois gumes que é a forte moeda nacional. Embora muitas empresas tenham encontrado maneiras de contornar esses problemas, assim conseguindo progredir, somente um esforço sistemático para superar tais barreiras permitirá que o setor de agribusiness alcance todo o seu potencial. Infraestrutura inadequada aumenta os custos A infraestrutura de transportes é um grande empecilho para a agricultura brasileira. Somente 10% da rede rodoviária do país é asfaltada; no entanto, mais de 60% da produção agrícola é transportada em caminhões, muitas vezes através de milhares de quilômetros. Enquanto isso, o sistema ferroviário do país tem um sétimo do tamanho do sistema ferroviário dos EUA, e consiste em diversas ferrovias pequenas que não se interligam, por causa de bitolas diferentes. Milhares de passagens de nível nas ferrovias limitam a velocidade dos trens. A rede fluvial no Brasil é cerca de 20% maior que a dos EUA, mas é extremamente subutilizada, devido às pressões ambientais e à falta de investimento nos portos e dragagens. Como resultado da falta de planejamento, a maioria das usinas hidrelétricas foi construída sem eclusas, o que impede a passagem de embarcações. O transporte rodoviário predomina no Brasil Vias fluviais e outras Estradas de ferro Rodovias Rússia 11 81 8 Índia 50 50 China 13 50 37 Austrália 4 43 53 EUA 25 43 32 Argentina 10 20 70 Brasil 17 25 58 Brasil (líquido de minério de ferro) 19 10 71 * O minério de ferro representa grande porcentagem do frete ferroviário no Brasil, e muito é transportado por ferrovias de propriedade da, e operadas pela, Vale. Fontes: Ministério dos Transportes do Brasil; CIA Factbook 12 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro O sistema portuário do país, por sua vez, é caro e deficiente. As filas nos grandes portos de grãos podem chegar a 50 km de comprimento no auge da colheita, e os caminhões podem ficar até 20 dias esperando para descarregar. Isso em grande parte reflete o uso de equipamento antiquado e processos intensivos de mão de obra. Os sindicatos portuários também são fortes, e as greves, embora sejam menos comuns do que no passado, continuam a ser um preocupação. Além disso, o país padece de um déficit de armazenamento de grãos de 43 mi toneladas3, de acordo com o Ministério da Agricultura. A má distribuição agrava o problema: somente 11% da capacidade está nas lavouras, em comparação com 40% na Argentina e 80% no Canadá. Além disso, a construção de infraestutura não acompanhou a expansão muito rápida da agricultura, e a estocagem ainda se concentra mais no sul do país do que nas regiões de fronteira agrícola, as quais correspondem a 70% da produção do país. De acordo com os analistas, os fazendeiros brasileiros perdem em média US$1 por bushel ( em torno de 3.5 litros) de soja porque não possuem instalações para estocagem no local de cultivo e devem vender na época de colheita, quando os preços estão em seu patamar mais baixo. Essa perda pode ser muito maior dependendo das condições do mercado: em 2010, os preços estavam em torno de US$8 por bushel no Mato Grosso na época da colheita (abril), enquanto que no fim de setembro chegaram a US 11 por bushel. Pressões ambientais Os desafios para o agribusiness não se limitam à infraestrutura. O adubo importado corresponde a mais de 70% do abastecimento do Brasil e é essencial para melhorar a fertilidade do solo, principalmente nas fronteiras agrícolas. A logística de se transportar o adubo percorrendo grandes distâncias, por navio e caminhão, aumenta seu custo e sobrecarrega o sistema de transporte do país, já bastante abarrotado. A pressão para se preservar o meio-ambiente aumentou consideravelmente nos últimos anos, retardando ou paralizando os projetos de infraestrutura e a abertura de novas terras, principalmente nas fronteiras agrícolas. Regras ambientais severas, incluindo exigências de que as fazendas separem grandes áreas como reservas ecológicas (que vão de 20% a 80% da área total, dependendo da região), estão sendo colocadas em vigor, restringindo ainda mais os fazendeiros. Objeções por parte dos ambientalistas também atrasaram a chegada de novas tecnologias. Os produtos geneticamente modificados (GM) que aumentam o rendimento e podem ajudar a reduzir os custos, foram aprovados para o uso comercial somente em 2003. O Brasil agora é responsável por 16% da produção global de produtos GM e tem 21,4 mi de hectares sob cultivo. Embora ainda existam objeções aos produtos GM na Europa, isso não é um problema para outros grandes mercados como a China, por exemplo. 3. O Ministério da Agricultura considera a capacidade de estocagem ideal 20% maior do que a produção total. Assim, com a produção de 149 mi de toneladas e uma estocagem total de 136 mi de toneladas, o déficit é de 43 mi de toneladas. 13 Problemas de moeda forte e de mão de obra Os concorrentes muitas vezes citam a mão de obra barata como uma vantagem no Brasil, mas a realidade é que os altos impostos e leis trabalhistas muitas vezes confusas fazem com que a contratação no Brasil seja menos atraente do que possa parecer de início. Isso é agravado por uma escassez de mão de obra especializada, principalmente nas fronteiras agrícolas, o que pode ser um problema significativo quando os funcionários precisam manejar maquinário e equipamento que custa centenas de milhares de dólares. © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Área de plantio da soja cresce à medida que a moeda desvaloriza Área plantada (época de cultivo, milhão de hectares) Taxa de Câmbio (Setembro, $R/US$) 25,000 3.5 20,000 3.0 15,000 2.5 10,000 2.0 5,000 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 1.5 Fontes: CONAB; Banco Central do Brasil. Um grande obstáculo para a expansão agrícola nos últimos anos foi a valorização do real. Embora um real mais forte resulte em preços mais baixos para materiais tais como o adubo importado, produtos químicos e maquinário, ele faz com que os fazendeiros sejam menos competitivos no mercado internacional e diminui margens de lucro já bastante apertadas. A soja é um claro exemplo do impacto das variações da moeda na competitividade. Quando o real foi desvalorizado no fim da década de 1990, tornando os produtos brasileiros mais competitivos no mercado global, a área plantada com soja expandiu rapidamente, atingindo seu ápice em 2004. Quando o real começou se valorizar em 2003, a expansão se estancou. (Existe um atraso entre a decisão de plantar, a qual é influenciada, entre outras coisas, pelas expectativas monetárias, e o plantio. Desde 2007, a área dedicada à soja aumentou novamente apesar da moeda forte, devido a fatores como a grande demanda por parte da China e o baixo preço do milho.) Soluções improvisadas geram mudanças Muitas empresas contornaram tais obstáculos com sucesso, ou então os transformaram em situações de vantagem. Agricultores e pesquisadores colaboraram para abordar problemas como a ferrugem asiática, que em 2004 destruiu 8% da produção de soja do país. Tanto a Fundação Mato Grosso quanto a Embrapa trabalharam em conjunto com os agricultores em busca de uma maneira de combater a doença. Também no Mato Grosso, os agricultores construíram estradas que ligam as fazendas às autoestradas federais e estaduais. Na Bahia, os agricultores estão usando as sacos de armazenagem para solucionar o problema da estocagem—tecnologia importada por duas empresas argentinas, El Tejar e Los Grobo. Até mesmo desafios macroeconômicos, como a moeda nacional cada vez mais forte, foram aproveitados por algumas empresas. A JBS e a Marfrig compraram concorrentes internacionais para ganhar acesso a mercados restritos. Os produtores de carne de ave e porco poderiam muito bem seguir seu exemplo e começar a diversificar suas operações no exterior. 14 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro JBS faz uso da moeda forte para crescer no exterior A JBS, a produtora de carne, é uma das maiores histórias de sucesso do Brasil. Por meio de uma agressiva campanha de aquisições, a empresa brasileira se tornou a maior processadora de carne bovina do mundo, e está entre as maiores processadoras de carne de aves e porco. A empresa, originalmente chamada Friboi, teve um início modesto em 1953, com capacidade de abate de apenas cinco cabeças por dia. Ela só começou a expandir cerca de 30 anos mais tarde, por meio de aquisições e investimentos para aumentar a produção. Em 2002, sua capacidade de abate era de cerca de 5.800 animais por dia. A empresa mudou o nome para JBS, as iniciais do fundador, quando começou a expandir no mercado internacional, em 2005. Seu primeiro passo foi adquirir a Swift Armour, a maior produtora e exportadora de carne bovina da Argentina. Seguiram-se mais aquisições e, em 2006, a capacidade de abate havia quadruplicado. Em 2007, a empresa entrou para a história como a primeira produtora de carne bovina do mundo a lançar ações em bolsa (IPOs), emitindo papéis na Bovespa. Também em 2007, a JBS entrou no mercado americano ao adquirir a Swift Foods Company, e depois comprou 50% da Inalca, uma das maiores empresas de produção de carne da Europa. Hoje ela opera em todos os maiores mercados produtores de carne bovina do mundo. Contudo, foi preciso mais do que o lançamento de ações para financiar o apetite da empresa para adquirir concorrentes internacionais. Em 2009, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu um empréstimo de curto prazo altamente subsidiado para a aquisição da Pilgrim’s Pride, a maior produtora de frango dos EUA. Mas a expansão não ocorreu sem desafios. A oferta de boi de corte na Argentina diminuiu devido a uma seca severa no ano passado e a medidas do governo que limitaram a exportação de carne e os preços internos. A JBS recentemente anunciou que suspendeu a produção em diversas de suas plantas de processamento de carne e poderá vender parte da empresa por causa da falta de animais. Nos EUA, a empresa enfrenta acusações de discriminação religiosa em uma fábrica no Colorado. Ao que consta, sua parceria com a Inalca está passando por uma fase difícil. Além disso, a JBS pode vir a ter de pagar uma multa se não conseguir pagar o empréstimo do BNDES dentro do prazo, como resultado das fracas condições do mercado financeiro, que atrasaram o lançamento da Pilgrim’s Pride na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Tais desafios são típicos de uma empresa em rápida expansão. Para reforçar sua estratégia arrojada, a JBS se baseou em sua vasta experiência no setor de carne bovina. Mas o que talvez diferencie a empresa seja o uso da moeda nacional cada vez mais forte como oportunidade para a expansão no exterior, comprando concorrentes e ganhando acesso a todos os grandes mercados, como salienta Marcus Vinicius Pratini de Moraes, um dos diretores da JBS. O mercado agrícola está se tornando mais globalizado, mas as barreiras comerciais ainda impedem o acesso aos mercados americano e europeu. A estratégia da JBS foi perfeita para superar tais obstáculos e ganhar acesso ao consumidor final. No futuro, a empresa pretende agregar valor a seus produtos, desenvolvendo alimentos prontos para o consumo, carnes curadas e outros. São estratégias que podem ajudar as empresas brasileiras a ganhar relevância no mercado global. O setor agrícola também pode buscar inspiração na indústria de cana de açúcar para superar os desafios e aumentar sua eficiência. Nos últimos anos, a indústria de cana foi líder de inovação, primeiro diversificando a produção com açúcar e etanol, e depois construindo usinas de co-geração que utilizam o bagaço residual da cana para a produção de energia. Diante de uma demanda fraca por etanol, o setor ajudou a desenvolver a tecnologia de carros flex. Isso levou a um aumento no consumo de etanol no Brasil, que ultrapassou o da gasolina. Antecipando-se a um prazo imposto por lei, o setor já concordou em desativar a colheita manual de cana de açúcar, que envolve um processo de queima que era alvo de crítica dos ambientalistas. Agora o setor contribui para a geração de energia do país por meio da co-geração. Ele não é apenas auto-suficiente em termos de energia como também fornece o excedente de eletricidade gerada para a cadeia elétrica local. Até 2030, o setor pode ser responsável por quase 20% do fornecimento total de energia do país, de acordo com a ABAG. Embora outras empresas possam aprender com tais exemplos, essas não são soluções de longo prazo. Para que o setor de agribusiness do Brasil floresça, ele precisa enfrentar os empecilhos ao seu crescimento. 15 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro Alimentando o crescimento O setor de agribusiness do Brasil tem potencial para ocupar uma fatia ainda maior do mercado mundial nas próximas décadas, ajudando a suprir a crescente demanda interna e internacional por alimentos. Mas apesar de outros grandes países produtores terem limitados recursos naturais, o Brasil ficará restrito a suprir deficiências no abastecimento internacional nos próximos anos se não superar o alto custo de produzir nas fronteiras agrícolas, assim como os empecilhos financeiros que seus produtores enfrentam (incluindo a escassez de crédito e moeda forte). A menos que tenha sucesso na abordagem desses problemas, é pouco provável que o Brasil consiga deslocar suprimentos atuais. A inovação é essencial para o setor de agribusiness brasileiro manter seu crescimento dinâmico e aumentar sua participação no mercado global. Assim como os investimentos em pesquisa, educação e crédito agrícola iniciados na década de 1980 estão gerando resultados hoje, as medidas adotadas agora servirão de base para um maior crescimento e transformação do setor. Como demonstram as três últimas décadas, todos os interessados devem participar. Eles precisam: l Intensificar o cultivo duplo e a integração entre pecuária e agricultura. Existe um potencial significativo para o crescimento por meio da conversão de pasto em terras aráveis e do aumento da produtividade por meio de melhor gestão agrícola. “Veremos uma melhoria nos sistemas de produção agrícolas”, diz o Dr. Nassar. “Isso inclui mais duplo cultivo, o plantio direto e maior integração entre pecuária e agricultura, o que gera um fluxo de caixa durante todo o ano”. As fazendas como um todo ficarão mais eficientes e lucrativas, permitindo que os fazendeiros invistam em melhor tecnologia e melhor utilização de produtos. A produção de carne bovina também exige mudanças. O sistema atual de produção de carne no Brasil é barato mas ineficiente. Criadores se limitam a apenas um animal por hectare, em comparação com quatro animais por hectare em outros países; isso resulta do pouco investimento em adubo ou replantio. O Dr. Pratini de Moraes prevê um uso mais intensivo dos pastos e também um aumento no número de confinamentos nos próximos cinco anos. Atualmente, somente 5% do gado abatido no Brasil é procedente de confinamentos, em comparação com 80% nos EUA. 16 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 O poder global do agribusiness brasileiro l Transformar as estruturas corporativas. Os agronegócios precisam continuar a evoluir. A consolidação pode fornecer a escala necessária para competir a nível mundial. Tornar-se uma empresa multinacional ou transnacional pode ajudar a contornar as barreiras comerciais. Qualquer que seja a estratégia escolhida, contudo, para crescer será necessária uma transformação contínua na gestão e nas operações da empresa. l Expandir a pesquisa de novas variedades de grãos. Aumentar a produção de grãos individuais requer tempo e dinheiro, mas pode revolucionar o setor. Por exemplo, a produção média de milho no Brasil é de apenas cerca de 60 bushels por acre, ou um terço da média nos EUA, e cerca de metade do nível produzido pela Argentina. Será necessário realizar mais pesquisas de modo a desenvolver variedades de milho e outras plantas melhor adaptadas aos trópicos. l Reavaliar a gama de produtos nas fronteiras agrícolas para maximizar o potencial. Os produtores brasileiros já estão aumentando o valor de seus produtos, mas ainda é possível fazer mais. Converter parte da proteína vegetal em proteína animal de maior valor aumentará a eficiência nas fronteiras agrícolas e também reduzirá o alto impacto do custo com transporte. Por exemplo, o custo do transporte de milho até o porto, saindo de Mato Grosso, era de US$200/tonelada na época da colheita em 2010, enquanto que o produto era avaliado em apenas US$170/tonelada. Usar este milho para fazer a engorda de mais gado no Mato Grosso e depois despachar a carne reduziria o custo relativo do transporte, já que a carne bovina tem um valor muito maior que o milho. O governo também pode estimular o setor de processamento, talvez seguindo o exemplo da Argentina, onde fortes incentivos fiscais encorajam o esmagamento da soja e a produção de biodiesel. Isso não apenas criaria empregos em regiões de cultivo mais remotas como também reduziria os custos de transporte e acrescentaria à produção de bioenergia do país. l Aumentar o investimento em vias fluviais e ferrovias. O Brasil obviamente precisa de mais investimento em sua infraestrutura de transporte, principalmente nas vias fluviais e ferrovias. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que almeja acelerar o crescimento econômico por meio de maior investimento, ajudou a dar início a projetos, mas de modo geral o progresso ainda é muito lento, em grande parte devido a severas regras ambientais que aumentam os custos e o tempo de desenvolvimento de projeto. Embora novos projetos ferroviários tenham sido implementados nos últimos anos, os agricultores reclamam que os custos permancem altos. Os preços de transporte na linha ferroviária ALL (América Latina Logística), que vai de Alto Araguaia no Mato Grosso até o porto de Santos, por exemplo, são equivalentes aos do transporte por caminhão. São necessários modos de transporte alternativos, como o fluvial, para que se possa estimular a competição e diminuir os custos. Tais medidas criarão as condições necessárias para que o setor de agribusiness brasileiro se desenvolva nas próximas décadas. Elas reforçarão o resultado financeiro das empresas, permitirão que elas possam se beneficiar de novas oportunidades em mercados existentes e emergentes, e colocarão o Brasil na vanguarda da inovação no setor de agribusiness. 17 © Economist Intelligence Unit Limited 2010 Cover image: Corbis 18 Ainda que todos os esforços tenham sido realizados para verificar a exatidão dessas informações, nem o Economist Intelligence Unit Ltd. nem os patrocinadores deste relatório podem assumir qualquer responsabilidade ou obrigação de confiabilidade, por qualquer pessoa neste documento, ou quaisquer informações, opiniões ou conclusões nele apresentadas. 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