esperança, ceticismo e percepção de risco no
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esperança, ceticismo e percepção de risco no
XXIV ENANGRAD MKT – Marketing ESPERANÇA, CETICISMO E PERCEPÇÃO DE RISCO NO CONSUMO. Letícia Boccomino Marselha Delane Botelho Florianópolis, 2013 Área Temática: Marketing ± MKT ESPERANÇA, PERCEPÇÃO DE RISCO E CETICISMO NO CONSUMO. Esperança, Percepção de Risco e Ceticismo no Consumo. RESUMO No curso da história, a esperança foi sendo absorvida como uma experiência cotidiana comum e alguns ditos populares surgiram, como ³DHVSHUDQoDpD~OWLPDTXHPRUUH´RX ³HQTXDQWRKi YLGD Ki HVSHUDQoD´ Mas a alta esperança pode tornar consumidores mais vulneráveis, uma preocupação recorrente na área de comportamento do consumidor. Em 2012, por exemplo, o número de usuários de produtos anabólicos, emagrecedores, redutores de flacidez e termogênicos chegou a 1,2 milhões de brasileiros. Há ainda os que recorrem a técnicas mais radicais, como as cirurgias plásticas estéticas. Este estudo visa investigar o comportamento destes consumidores, considerando a tendência atual de padronização de ideais de beleza. Para isso, analisa as relações entre os construtos da esperança, percepção de risco e ceticismo no setor estético. Pressupõe-se que o consumidor mais esperançoso torna-se menos cético e possui menor risco percebido sobre suas decisões, tornando-se mais propenso a consumir produtos possivelmente nocivos, tanto física quanto psicologicamente. São discutidas as implicações para políticas públicas de proteção ao consumidor, contribuindo com o estudo da esperança em Marketing no Brasil, que ainda é incipiente. O estudo baseia-se em entrevistas em profundidade e análises qualitativas, que indicaram congruência com as proposições de influência da esperança sobre os construtos de ceticismo e risco percebido. Palavras-chave: Esperança, Ceticismo, Risco percebido, Setor estético. Esperança, Percepção de Risco e Ceticismo no Consumo. ABSTRACT Throughout history, hope has being absorbed as a common experience and some popular sayings emerged, such as "hope is the last to die" or "while there is life, there is hope". However, high OHYHOVRIKRSHPD\LQFUHDVHFRQVXPHU¶VYXOQHUDELOLW\ZKDWFRQFHUQVWKHDUHDRI consumer behavior. In 2012, for example, the number of users of products such as anabolics, slimming medicines, fat reducers and thermogenics has headed to 1.2 million Brazilians. Moreover, some rather appeal to more radical techniques, such as cosmetic plastic surgeries. This study aims to investigate the behavior of these consumers, considering the current trend of standardization of beauty ideals. Therefore, it analyzes the relationships between constructs of hope, risk perception and skepticism in the aesthetic industry. The assumption here is that a consumer with a higher level of hope becomes less skeptical and detains lower perceived risk over its own actions, leading to an inclination to consume potentially harmful products, both physically and psychologically. It discusses the implications to public policies of consumer's protection, contributing to the study of hope in Marketing in Brazil, which is still incipient. The study was based on in-depth interviews and qualitative analysis, which showed congruence with the propositions of influence of hope on the constructs of skepticism and perceived risk. Keywords: Hope, Skepticism, Perceived risk, Aesthetic Industry. 1. INTRODUÇÃO Em 2012, o número de usuários de produtos como anabólicos, medicamentos emagrecedores, redutores de flacidez e termogênicos chegou a 1,2 milhões de brasileiros. Há ainda os que recorrem a técnicas mais radicais, como as cirurgias plásticas estéticas, que colocam o Brasil na segunda posição no ranking mundial destes procedimentos. Mas o que leva um indivíduo a recorrer a tais medidas? Esta pesquisa objetiva investigar o comportamento destes consumidores, considerando a tendência atual de adequação a ideais de beleza padronizados. Para tanto, analisase as relações entre os construtos da esperança, percepção de risco e ceticismo. O pressuposto aqui é que o consumidor mais esperançoso torna-se menos cético e possui menor risco percebido sobre suas decisões, o que gera elevação de sua vulnerabilidade e o torna mais propenso a consumir produtos possivelmente nocivos, tanto física quanto psicologicamente. Considerando o setor estético, as consequências negativas advindas do consumo vão desde problemas de saúde até a desfiguração ou a morte. A pergunta de pesquisa do artigo é: em que medidas a esperança do consumidor influi sobre sua percepção de risco e ceticismo quando este opta por produtos e serviços relacionados à estética? Para compreender a relação entre estes construtos e as possíveis consequências que o consumo acarreta, foi escolhido como objeto de estudo o setor de estética, com ênfase no ambiente de academias de ginástica e nos serviços e produtos consumidos por seus usuários, pois entende-se que há alto grau de esperança embutido no processo de obtenção do corpo idealizado e pautado em padrões de beleza, bem como risco e ceticismo possivelmente envolvidos em produtos estéticos tais como anabólicos, medicamentos para hipertrofia, medicamentos emagrecedores, termogênicos, aceleradores metabólicos e diuréticos. O artigo encontra-se assim estruturado: esta introdução apresentou o tema, problema e sua relevância. A próxima etapa apresenta o referencial teórico, seguido pelo método da pesquisa, em que se optou pela realização de entrevistas em profundidade, a fim de compreender as motivações que levam os consumidores recorrer às técnicas e produtos que visam a mudança corporal, objetivando satisfazer estados de tensão que sentem devido às necessidades de adaptação e aceitação social. O artigo é finalizado com a discussão dos resultados, principais conclusões e sugestões de pesquisa futura. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Esperança No curso da história, a esperança foi sendo absorvida como uma experiência cotidiana FRPXP1mRpjWRDDH[LVWrQFLDGHGLYHUVRVGLWRVHIUDVHVSRSXODUHVFRPR³D esperança é a última TXHPRUUH´³PDLVYDOHXPDHVSHUDQoDWDUGHGRTXHXPGHVHQJDQRFHGR´RX³HQTXDQWRKiYLGDKi HVSHUDQoD´6HJXQGR6Q\GHUDWXDOPHQWHDRSHUJXQWDUjVSHVVRDVVHDHVSHUDQoDpERDRX ruim, a maioria dirá que é boa. Isto possibilita a demarcação da primeira e mais básica definição do conceito, de que a esperança é baseada em expectativas positivas para o alcance de metas futuras. A esperança é um construto estudado em diversos campos de atuação. No entanto, devido a definições conflitantes encontradas na literatura, o conceito de esperança ainda precisa ser melhor desenvolvido (Eliott e Olver de 2007, MacInnis & Chun, 2007, Sigstad, Stray-Pedersen & Froland de 2005, Vanzellotti, 2007). Alguns teóricos classificam a esperança no âmbito emocional (Johnson & Stuart, 2004; Lazarus, 1994, 1999; MacInnis & Chun, 2007; MacInnis & de Mello, 2005; Vanzellotti, 2007), sendo que neste contexto a esperança se faria presente em função da possibilidade de obter resultados com o alcance de uma meta estabelecida. Assim, a esperança seria caracterizada por uma emoção positiva, já que o indivíduo apresenta desejo e expectativas sobre a meta, porém há incerteza sobre o sucesso na sua obtenção (MacInnis & de Mello, 2005; Obayauwana, 1982; Rycroft, 1979; Barros, 2010). Entretanto, outros autores parecem acreditar que a esperança tem, na verdade, cunho cognitivo (Snyder, 2000; Herth, 1991; Rubin, 2001), sendo baseada em um senso de sucesso na motivação direcionada à obtenção da meta bem como nas vias escolhidas para alçá-la (Barros & Botelho, 2012). O Quadro 1 mostra algumas das definições de esperança encontradas na literatura. Autor Definição Classificação Campo de estudo Lazarus (1999) Acreditar que algo positivo, que atualmente não se aplica à vida do indivíduo, ainda pode acontecer. Emocional Psicologia MacInnis e de Mello (2005) Uma emoção de valência positiva, que tem três dimensões: a meta de congruência, incerteza e importância. Emocional Marketing MacInnis e Chun (2007) O grau em que se anseia por um resultado positivo e possível. Emocional Marketing Averill (1990) Uma emoção de valência positiva, que surge quando se avalia a probabilidade de uma realização, que é importante e realista. Emocional Psicologia Obayuwana (1982) A sensação de que o que é desejado também é possível, ou que os eventos podem acontecer para o melhor. Emocional Medicina Block (1986) Uma antecipação do futuro de uma forma positiva e libertadora. Emocional Filosofia Snyder (2000) Um conjunto composto por agência cognitiva e caminhos para alcançar os objetivos. Cognitivo Psicologia Gelwick (1979) A crença de que o que é desejável (meta congruente) e bom também é possível. Cognitivo Teologia Staats (1989) A expectativa de eventos futuros desejáveis. Cognitivo Psicologia Quadro 1: As diferentes definições de esperança. É possível ressaltar, a partir das definições acima explicitadas, algumas características comuns formadoras do construto que mostram que a esperança possui relação com compostos motivacionais e mentais, além de congruência com uma meta futura positiva, sendo que esta meta precisa ser simultaneamente importante e acessível. A esperança consiste no estado motivacional positivo que se baseia no senso de sucesso da energia direcionada à meta (agency) e do planejamento para alcance desta meta (pathway) (Snyder e Harris, 1991). A esperança é a soma da capacidade de produção de rotas para as metas desejadas, juntamente com a motivação percebida para utilizar estas rotas. Agency representa o componente motivacional que impulsiona os indivíduos ao longo das rotas e caminhos imaginados por eles para alcançar seus objetivos, ou seja, é um componente mental de força de vontade. Snyder (2000) define o termo como a percepção do indivíduo de que ele é capaz de iniciar o movimento ao longo do caminho escolhido para obtenção de sua meta, e de continuar ao longo deste caminho. Pathway se refere ao processo de formação de rotas para se atingir metas, ou seja, é a capacidade do indivíduo de estabelecer possíveis e plausíveis caminhos a seguir para obter os objetivos desejados por ele. Um indivíduo repleto de força de vontade e de impulso motivacional para iniciar a busca por sua meta (agency), mas que não possui habilidade para planejar as rotas orientadoras (pathway) pode ter baixa esperança, assim como um indivíduo que vê a si mesmo como alguém totalmente capaz de traçar múltiplas vias e caminhos para chegar a seu objetivo, mas que não inicia qualquer movimento em direção a sua busca pelo fato de não possuir impulso motivacional. É a interação entre estes dois compostos mentais que constitui o componente formador da esperança. A esperança sem um objeto não pode sobreviver (Coleridge, 1912), assim, as metas constituem os pontos terminais de uma sequência mental, e são as âncoras da esperança (Snyder, 1994; Snyder, Cheavens & Sympson, 1977). Classifica-se como meta aqueles objetivos que são suficientemente valiosos e importantes para ocupar os espaços conscientes de um indivíduo (Averill, Catlin & Chon, 1990). Além disto, as metas sobre as quais deposita-se esperança precisam conter incertezas, pois se a meta tiver total probabilidade de ser alcançada, então o indivíduo não precisa depositar esperança sobre ela. Por outro lado, se a meta não tiver nenhuma chance de ser alcançada, é contraproducente focar esforços e esperança para alcançá-la (Snyder, 2000). Sendo a meta o estado ideal buscado pelo indivíduo, ela representa algo de grande importância e que possui em si determinada incerteza de obtenção, para que o indivíduo decida, então, depositar sobre sua meta certa esperança, motivando-se a iniciar sua busca (agency) e delineando os possíveis caminhos (pathways). A Figura 1 ilustra os principais conceitos considerados neste estudo que fazem parte do processo da esperança: (1) Componente mental de motivação ± Agency; (2) Capacidade de formação de rotas ± Pathways; (3) Metas, (4) orientadas para o futuro, (5) de prospecção positiva, (6) que contenham incertezas de obtenção, (7) e representem algo importante a ponto de o indivíduo depositar sobre elas esperança. Figura 1: Compostos de formação da esperança. Um importante conceito aqui é a noção de barreiras, que representam os obstáculos impostos na vida de um indivíduo que dificultam a busca por sua meta. De acordo com a teoria da esperança, proposta por Snyder (2000), inicialmente, a maioria dos indivíduos percebe que pode produzir ao menos uma rota principal para alcançar suas metas, no entanto, também é comum que estes indivíduos percebam que são capazes de pensar em múltiplas rotas. Assim, ao se depararem com impedimentos, podem encontrar rotas alternativas para o alcance da meta estipulada, sendo que esta capacidade de desenvolver e pensar em caminhos alternativos (pathway thoughts) é muito mais forte em indivíduos com alto nível de esperança do que em indivíduos com níveis mais baixos. 2.2. Esperança, Autoestima e Cultura Grupos de referência influenciam comportamentos ao longo do desenvolvimento do indivíduo, passando pela infância, adolescência e chegando até o estágio adulto. Crianças e adolescentes tendem a comportar-se como animais de rebanho, sempre esforçando-se para conseguir aceitação social e do grupo. Suas metas, soluções para problemas e sua energia gasta na busca por metas são extremamente influenciadas pelos interesses e valores dos grupos de referência. Isto é particularmente importante no caso da estética, uma vez que o poder dos grupos de referência representa parte dos motivos que direcionam os indivíduos a procurar pela adequação a padrões de beleza socialmente aceitos Snyder (2000). Uma vez que o indivíduo possui pensamentos moldados por grupos de referência e apresenta certa propensão a adequar-se a padrões sociais considerados por tal grupo, ele pode depositar esperança sobre uma meta voltada a aspectos de sua aparência ou status, pois possui sobre si mesmo uma atitude de reprovação a algum aspecto próprio, ou seja, baixa autoestima. Por autoestima entende-se a avaliação que o indivíduo realiza e costumeiramente mantém sobre si mesmo, demonstrando uma atitude de aprovação ou reprovação e indicando a extensão pela qual o indivíduo acredita em si como sendo alguém capaz e significante (Coopersmith, 1967). Principalmente no mundo ocidental, vive-se em uma cultura e em uma era nas quais a aparência é extremamente valiosa. A preocupação dos indivíduos com a aparência tornou-se uma indústria multimilionária (Kilbourne, 1994), e inúmeras estratégias são desenvolvidas para permitir que os indivíduos consigam obter suas metas pautadas na aparência seja por meio de dietas, exercícios, cirurgias estéticas, cosméticos, roupas modeladoras redutoras de medidas ou medicamentos. Racionalmente, na maioria dos casos, sabe-se que parecer-se com uma modelo é uma meta de baixa probabilidade, no entanto, a crença cultural na autodeterminação ensina indivíduos que eles podem possuir os corpos idealizados que desejam, apesar dos inconvenientes biológicos geneticamente determinados (Nichter & Nichter, 1991; Snyder, 2000). Culturalmente, metas que giram em torno da aparência influenciam o comportamento dos indivíduos (Berel & Irving, 1998), por exemplo, nas altas taxas de distúrbios alimentares que são altíssimas em nações que adotam um padrão de beleza que contempla o baixo peso (Nasser, 1998; Stice, 1994; Snyder, 2000). Estes padrões culturais de beleza são transmitidos por diversos canais (estando presentes também nos grupos de referência), sendo a mídia o mais eficaz canal de transmissão de mensagens uniformes sobre as qualidades necessárias para que se possa ser considerado um indivíduo atraente (Levine & Smolak, 1996). A força da influência exercida pela mídia tem sido mostrada em diversas pesquisas, indicando que a exposição a fotografias de moda de mulheres magras (em comparação com a exposição a fotografias de mulheres comuns ou imagens de objetos inócuos) produz autoavaliação negativa em mulheres (Strice & Shaw, 1994). Do mesmo modo, a exposição em canais de mídia de imagens de homens musculosos, como sendo um dos atributos considerados essenciais para a classificação da boa aparência e atratividade, produz o mesmo efeito autoavaliativo sobre indivíduos do sexo masculino. Desta forma, a presença de grupos de referência e dos estímulos presentes na cultura direcionam os indivíduos a depositar esperança sobre metas que envolvem aspectos da aparência, ou seja, metas de cunho estético. O ideal de beleza magro, acompanhado do estigma que cerca a obesidade (Crandall, 1994) contribuiu para uma cultura em que o corpo ideal é um objetivo muito desejado e, muitas vezes, perseguido com afinco. Neste contexto, insere-se a questão do risco percebido quanto ao uso de produtos estéticos escolhidos para alcançar determinadas metas, bem como o nível de ceticismo sobre a eficácia e veracidade das mensagens sobre tais produtos. 2.3. Esperança no consumo Uma notável capacidade humana é a de olhar para o futuro e aspirar a obtenção de estados desejados. A maioria dos comportamentos, como o uso de cosméticos, compra de bilhetes de loteria e investimentos no mercado imobiliário revelam o que as pessoas esperam. Na expectativa de que uma melhoria de vida torne-se real, os indivíduos se voltam ao mercado e se esforçam para comprar seus sonhos. De fato, o mercado oferece fontes ricas de esperança e estimula a busca interminável pela felicidade (MacInnis, Chun, 2007). As pessoas esperam ter uma melhor aparência, perder peso, ter uma bela casa, sentir-se relaxadas etc., então é razoável dizer que a esperança aparece como um antecedente das compras e comportamentos de consumo. A esperança também pode afetar o modo como consumidores processam e compreendem anúncios publicitários. Sabe-se que só há esperança quando a meta possui importância (Averill, Catlin & Chon, 1990; Barros, 2010), assim, quando o nível de esperança é alto, o envolvimento é maior, pois a meta tem grande representatividade para o indivíduo. Nestas situações, as pessoas processam as informações de um jeito mais sistemático e menos heurístico (MacInnis & Mello, 2005). Isto significa que, quando há altos níveis de esperança, ao se depararem com propagandas e anúncios publicitários, os indivíduos tendem a olhar sistematicamente para informações congruentes com sua meta, que aumentam suas crenças de que estas metas são possíveis (ao invés de impossíveis) (Barros, 2010). Mensagens publicitárias que apresentam congruência e harmonia com a meta procurada por um indivíduo passam a receber forte atenção, uma vez que a esperança está envolvida neste processo. Ou seja, a capacidade de influência que a mídia e os canais de comunicação são capazes de gerar sobre um indivíduo ao agir sobre sua esperança pode ser significativa, causando sobre ele grandes impactos. Novamente, neste ponto, observa-se uma relação entre a esperança e a percepção do consumidor quanto ao risco embutido na escolha de certos produtos, além do ceticismo deste indivíduo no que diz respeito à veracidade de anúncios e funcionalidade dos produtos. 2.4. Percepção de risco Uma meta sobre a qual se deposita esperança possui grande valor para o indivíduo, gerando forte influência sobre suas escolhas. Este grande anseio por uma meta incerta pode motivar os consumidores a adotar caminhos que impliquem em um grau relativamente elevado de risco (MacInnis et al., 2004, MacInnis e de Mello, 2005). Isto pode explicar o porquê de os consumidores recorrerem a alternativas radicais, tais como cirurgias plásticas estéticas e reconstruções corporais, ou alternativas pouco testadas, como novos medicamentos e suplementos, para que seja possível alcançar o resultado desejado a partir do alcance da meta (Schouten, 1991; Brenkert, 1998). O risco pode ser definido como a probabilidade da ocorrência de eventos e da magnitude de suas consequências (Bettman, 1973; Kaplan, Syzbillo & Jacoby, 1974; Karsperson, 1988; Lopes, 1995; Taylor, 1974; Barros, 2010). A percepção de risco pode ser definida como a extensão pela qual um produto ou serviço é percebido como capaz de propiciar consequências incertas, pessoais e negativas (Bauer, 1960; Cunningham, 1979; Johnson, Sivadas & Garbarino, 2008). Desta maneira, a percepção de risco associa-se a antecipações de resultados negativos (Cunningham, 1967; Johnson, 2008; Stone & Gonhaug, 1993), à incerteza (Taylor, 1974), bem como à possibilidade de perda e efeitos negativos (Bauer, 1960), uma vez que é impossível garantir qual será o resultado final proveniente da aquisição de um serviço ou produto, e isto torna a decisão de compra arriscada. A literatura sugere que altos níveis de esperança podem levar a decréscimos na percepção de risco, conduzindo os consumidores a comportamentos prejudiciais (Fleming, 2008; Barros & Botelho, 2012). Um consumidor mais esperançoso com relação a uma meta específica pode subestimar os riscos envolvidos em situações de compra, pois os altos níveis de esperança aumentariam a percepção de que a meta desejada é possível, ao mesmo tempo em que reduziriam a percepção de probabilidade de consequências negativas e de suas gravidades (MacInnis & Chun, 2007; Barros & Botelho, 2012). Uma vez que o risco associa-se à possibilidade de consequências negativas, sob a ótica do setor estético, estas consequências podem ser graves para o indivíduo. Considerando o uso de produtos estéticos em geral, a exemplo produtos anabólicos, emagrecedores, termogênicos, entre outros, o risco pode ser alto. Se a esperança impacta a percepção de risco do consumidor, então até que ponto este consumidor estaria disposto a chegar, ou a que produtos estaria disposto a recorrer, para alcançar metas pautadas na aparência? 2.5. Ceticismo Considerando os altos investimentos em publicidade, que geram dispêndio de tempo e recursos para as organizações, o ceticismo do consumidor pode vir a ser prejudicial ao tornar estes esforços de marketing menos eficazes na persuasão de consumidores, já que, segundo Obermiller, Spangenberg e MacLachlan (2005), um maior grau de ceticismo aumenta a propensão de consumidores a evitar a publicidade. O construto ceticismo vem recebendo a atenção de autores das várias áreas do campo de estudo do marketing. Obermiller, Spangenberg e MacLachlan (2005) definem o conceito de ceticismo sobre a publicidade como uma tendência para a descrença de anúncios publicitários; Mohr, Eroglu, e Ellen (1998) definem ceticismo como a resposta cognitiva que varia de acordo com o contexto e o conteúdo da comunicação; Ditto e Lopez (1992), sob a ótica da psicologia, propõem que o ceticismo motivado representa a tendência a acreditar mais facilmente em informações desejáveis do que indesejáveis. Calfee e Ford (1988) partem do pressuposto de que os consumidores não confiam em anúncios publicitários a menos que tenham razões pessoais específicas para isso, o que indica uma relação entre o ceticismo e os mecanismos motivacionais de consumo. A intuição de que esperanças, desejos, apreensões e medos afetam julgamentos é convincente e persistente. Ligar esta intuição a fatos empíricos e teóricos viáveis, contudo, provou ser um dos problemas mais persistentes na história da psicologia experimental (Erdelyi, 1974; Miller e Ross, 1975; Ditto e Lopez, 1992). Dentro da literatura motivacional, a descoberta empírica que recebeu maior atenção foi a tendência dos indivíduos de perceber informações que são consistentes com conclusões preferidas por eles como sendo mais válidas do que informações que são inconsistentes com estas conclusões. Uma explicação possível para isto é que a informação consistente com uma conclusão preferida é submetida a uma análise cognitiva menos extensa e menos crítica do que a informação inconsistente (Ditto e Lopez, 1992). É neste ponto que o ceticismo aproxima-se da questão da esperança, ao passo que se propõe que um maior nível de esperança possa gerar interesses mais fortes nos indivíduos fazendo com que seu grau de ceticismo se reduza, ou seja, tornando-os menos céticos e críticos em relação a produtos ou propagandas. Uma vez que estes consumidores detém um menor grau de ceticismo, depositando maior confiança nas informações percebidas, podem aumentar sua propensão ao consumo de produtos passíveis de danos tanto corporais, quanto psicológicos ou financeiros. Assim, o conceito de ceticismo pode estar relacionado à percepção de risco do consumidor. Também relaciona-se ao ceticismo o conceito de intangibilidade. Por intangível, entende-se algo que não é físico e não pode ser percebido de forma alguma (Myers, 2011); (1) que não é suficientemente claro ou definido para ser percebido ou entendido; (2) que elude a percepção ou o entendimento (Dicionário Houaiss, 2012). Considerando o ambiente do consumo, a intangibilidade traz consigo uma grande quantidade de risco, uma vez que faz com que os produtos sejam difíceis ou algumas vezes até impossíveis de se avaliar antes da compra (Rushton; Carson, 1989). Segundo Levitt (1981), quando clientes potenciais não podem experimentar o produto com antecedência à compra, de modo a verificar se são realmente eficazes, eles compram apenas promessas de satisfação, ou seja, consomem com expectativa de que o produto lhes ofereça o nível prometido e desejado de satisfação. Haveria, portanto, maior risco associado a produtos com maior intangibilidade, uma vez que a percepção de risco associa-se a incertezas e possibilidade de consequências negativas advindas do consumo. Considerando o setor estético, grande parte dos produtos e serviços divulgados detém certa intangibilidade, uma vez que envolvem promessas de mudanças corporais milagrosas em curtos espaços de tempo. A Figura 2 exemplifica este tipo de apelo publicitário que pode agir sobre a esperança de consumidores. Figura 2: Anúncio publicitário do setor estético 3. MÉTODO Este estudo é caracterizado como exploratório descritivo, com abordagem qualitativa. 6HJXQGR&HUYRH%HUYLDQ³na pesquisa descritiva observa-se, analisa-se e correlacionamse fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-ORV´ 8PD YH] TXH HVWD SHVTXLVD YLVD LQYHVWLJDU D esperança e construtos relacionados, como a percepção de risco e o ceticismo, define-se como descritiva por delinear um panorama da produção científica nas áreas que abordam estas variáveis. Pela natureza qualitativa e interpretativa, esta pesquisa objetiva a compreensão mais aprofundada de um conceito, o isolamento das variáveis e relações-chave para exame posterior e estabelecimento de prioridades para pesquisas posteriores. Optou-se pela realização de entrevistas em profundidade, com um roteiro semi-estruturado, uma vez que esta metodologia permite revelar análises pessoais mais aprofundadas por meio da livre troca de informações. Como o objetivo da pesquisa é justamente a compreensão das causas específicas que podem impactar o grau de esperança de cada indivíduo e direcioná-los à formação de metas voltadas a aspectos estéticos de acordo com seus interesses próprios, considerou-se mais adequado realizar esta investigação de modo individual (e não em um grupo de foco). A entrevista semi-estruturada parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias, que são de interesse da pesquisa e que, posteriormente, podem oferecer amplo campo de interrogativas, fruto de novas proposições/hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas (Triviños, 1987; Almeida, 2010). Durante as entrevistas, objetivou-se avaliar o grau de familiaridade que os entrevistados possuem com os ambientes de academias de ginástica, bem como com os produtos estéticos relacionados, buscando informações tanto sobre suas experiências atuais como passadas. Além disso, o comportamento dos entrevistados com relação à suas metas individuais também foi avaliado, visando-se compreender o grau de esperança depositado sobre estas metas, bem como identificação de possíveis riscos que estes indivíduos correram ou estariam dispostos a correr para alcance das metas desejadas e seu grau de ceticismo sobre a efetividade destes produtos. As entrevistas aconteceram entre os dias 7 de novembro e 22 de dezembro de 2012, e foram constituídas por entrevistas pessoais, com duração média de uma hora. Todas as entrevistas foram gravadas em formato de áudio, com consentimento prévio dos entrevistados, e transcritas. Os entrevistados foram selecionados por conveniência, já que a seleção de entrevistados foi feita através de indicações e contato direto com indivíduos que possuem ou já possuíram experiências nos ambientes de academias de ginástica. Foram entrevistados cinco indivíduos (dois homens e três mulheres), na faixa etária de 20 a 27 anos, todos com renda familiar mensal superior a R$ 15.300 (classe A, segundo critério base do IBGE) sendo quatro deles estudantes de graduação e um já graduado, atuando como profissional remunerado no mercado. 4. RESULTADOS Inicialmente, para compreender o grau de familiaridade que os entrevistados possuem com os ambientes de academias de ginástica, eles foram questionados sobre suas rotinas e hábitos diários, com enfoque nas atividades esportivas. Nos cinco depoimentos coletados, a prática de exercícios em academias foi ressaltada como sendo a atividade esportiva que recebe maior atenção no dia-a-dia dos indivíduos, variando de uma a três horas diárias, de quatro a seis dias por semana. Observa-se, portanto, que todos os entrevistados encontram-se familiarizados com o ambiente de academias de ginástica, sendo que o tempo de experiência varia de seis meses a até sete anos. Quando questionados sobre os motivos que os levaram a iniciar tal prática esportiva, todos relataram a necessidade de cuidado com a aparência e saúde do corpo. O Quadro 2 apresenta a definição das metas dos cinco entrevistados. ³(XTXHURWHUXPFRUSRIRUWHHGHILQLGR8PFRUSRIRUWHHWULQFDGR(VVDpDPLQKD PHWD³0DVWDPEpPTXHURPHYHUHPHVHQWLUEHPFRPLVVR´ Entrevistado 1 ³0HXREMHWLYRHUDFUHVFHUPXLWRGHP~VFXORHWULQFDUEHPHXTXHULDILFDUFRPRFRUSR Entrevistado 2 TXHHXLPDJLQDYD´ ³3HUFHELTXHTXHULDPXLWRGLPLQXLUPHXSHVRFRQVHJXLUXPFRUSRGLIHUHQWH>@´ ³1R Entrevistada 3 total quero perder 10 NJ´ ³1DUHDOLGDGHHXFRPHFHLFRPDTXHVWmRGRFRUSRGHFXLGDUGDVD~GHGRFRUSRHGH Entrevistada 4 cuidar da aparência, era a minha meta me sentir melhor´ ³)DoRPDLVSHODDSDUrQFLDGRXPXLWRYDORUDLVVRH valorizo a ideia, quero emagrecer Entrevistada 5 HSRULVVRUHFRUULjDFDGHPLD´. Quadro 2: Metas dos entrevistados Quando os entrevistados foram questionados, então, sobre os motivos que os levaram a ansiar tal objetivo, os pontos em comum descritos foram (1) a influência de familiares e amigos, (2) pressão do ambiente em que estudam ou trabalham. O Quadro 3 apresenta trechos das principais respostas citadas pelos entrevistados. ³(XVHPSUHDQGHLFRPDPLJRVEHPPDLVYHOKRVGRTXHHX(OHVLDPj academia e eu ficava olhando, eu queria treinar também, porque todos eles praticavam. Dos meninos da minha idade eu era o mais forte, mas em relação aos meus amigos eu HUDRPDLVIUDFR´>@³(HXIXLLQGRQRFDPLQKRGHOHV HDtTXLVFRPHoDU´ Entrevistado 1 ³(X Mi TXHULD ID]HU DFDGHPLD ID] WHPSR SDVVHL R FROHJLDO LQWHLUR TXHUHQGR ID]HU mas nunca começava mesmo. É porque eu era mais magro que todos os meus Entrevistado 2 DPLJRVPHLQFRPRGDYDPXLWRLVVR´ ³>@ GH XP WHPSR SUD Fi FRPHFHL D VHQWLU vontade. Acho que também porque na IDFXOGDGHWHPPXLWDVPHQLQDVPDJUDV>@´³(XVHQWLPXLWRLVVRTXDQGRPXGHLSUD São Paulo. [...] na minha cidade no interior as pessoas eram bem mais normais, Entrevistada 3 assim, de se importar menos com a aparência [...] Mas aqui você fica meio que GHVWRDQGR´ ³(XFRPHFHLFRPDTXHVWmRGRFRUSRGHFXLGDUGDDSDUrQFLD´>@³HXIDoRSRUTXH eu quero me sentir bem comigo mesma e porque eu sinto que eu preciso manter minha saúde em dia. Não é que eu não ligo para a aparência também, mas antes eu Entrevistada 4 ID]LDVySRUFDXVDGLVVR´ ³4XDQGR HX WLQKD DQRV PHXV SDLV PH PDWULFXODUDP QD DFDGHPLD SRUTXH HX HVWDYDPXLWRJRUGLQKD´³(QDIDFXOGDGHWHPPXLWDPHQLQDPDJUD>@HODVVHYHVWHP muito bem, muitas estão sempre maquiadas, isso faz uma pressão pra que você Entrevistada 5 WDPEpPTXHLUDFXLGDUGDDSDUrQFLD´ Quadro 3: Justificativas dos entrevistados em relação à busca por suas metas Observa-se que os entrevistados possuem uma visão própria de corpo idealizado, indicando que a prática de exercícios iniciou-se em função da busca pela meta pautada em aspectos estéticos. Além disso, observa-se nos depoimentos a questão da influência do ambiente externo, dos padrões sociais de beleza, sendo que esta pressão pode servir como possível fonte de impulso para que os indivíduos optem pela prática de exercícios em academias de ginástica. Identifica-se, portanto, convergência com as proposições da teoria de Snyder (2000) com relação à cultura social e grupos de referência, explicitados no referencial teórico deste estudo. Portanto, este poder de influência pode direcionar os indivíduos à procura pela adequação a padrões de beleza socialmente aceitos. Sabe-se que só se pode classificar como meta aqueles objetivos que são suficientemente importantes para ocupar os espaços conscientes de um indivíduo (Averill, Catlin & Chon, 1990; Snyder, 2000), e as metas sobre as quais se deposita esperança precisam conter incertezas (Snyder, 2000). Nos depoimentos coletados, ficou claro que a obtenção do corpo ideal representava um aspecto importante para os entrevistados. Com relação ao grau de certeza de obtenção da meta, ao serem questionados, muitos mostraram-se otimistas com os resultados positivos que obtiveram recentemente, porém nenhum deles afirmou possuir certeza de que chegarão ao corpo ideal. Abordando o conceito de agency, os entrevistados foram questionados sobre os recursos que utilizam para manter-se motivados a continuar com o plano para obtenção da meta. Cada um deles citou forças motivacionais próprias. Uma das entrevistadas, por exemplo, citou que gosta de ler revistas ou sites relacionados à moda e à boa forma corporal, onde encontra exemplos de mulheres que emagreceram e hoje encontram-se satisfeitas. De qualquer maneira, todos demonstraram obter componentes mentais próprios de motivação. Considerando que os indivíduos mais esperançosos seriam aqueles capazes de manter o componente de força de vontade durante a rota escolhida (agency), transpassando impedimentos encontrados, além de formular rotas alternativas para alcançar o objetivo desejado (pathways), os entrevistados foram questionados sobre eventuais barreiras que já encontraram durante o caminho percorrido, para avaliar a capacidade de transpor ou contornar estes obstáculos. Todos eles descreveram situações pessoais pelas quais passaram, que variam desde a falta de tempo devido ao excesso de estudos e trabalho, até a realização de uma cirurgia de redução de estômago, realizada por uma das entrevistadas. Independente dos obstáculos, todos os entrevistados demonstraram continuar interessados no objetivo final, ou seja, não abriram mão de suas metas inicialmente estipuladas, adaptando suas rotinas e exercícios físicos dependendo do problema, enfrentado ou reestruturando sua meta e o tempo previsto para alcançá-la. Observou-se a possibilidade de uso produtos que envolvem riscos à saúde, quando três dos entrevistados detalharam as rotas escolhidas para alcance de suas metas, bem como possíveis rotas alternativas caso enfrentassem barreiras hipotéticas. ³6H PHX SODQHMDPHQWR QmR GHVVH FHUWR HX EXVFDULD DOJXP MHLWR PDLV HILFD] HX trocaria os suplementos, tomaria algo mais pesado, algo que desse efeito, Entrevistado 1 SURYDYHOPHQWHHVVDVHULDDVDtGD´ ³6H QmR HVWi IXQFLRQDQGR HX YRX PDOKDU PDLV WHPSR YRX FRPHU PHQRV RX QmR FRPRQDGD´>@³DFKRTXHLDDFDEDUUDGLFDOL]DQGR´³$WpDJRUDHXWHQWHLQmRWRPDU nada de mais, tipo esses remédios pra emagrecer, eu não sei se estaria disposta a WRPDU LVVR PDV VH PHX SODQR DWXDO QmR IXQFLRQDVVH WDOYH] VLP´ ³$FKR TXH HX Entrevistada 3 apelaria para o lado natural, vejo bastante gente tomando aqueles remédios naturais, coisas de ervas, chás, essas coisas, então acho que eu experimentaria LVVRSULPHLURSRUTXHPHSDUHFHPDLVOHYH´ >@ ³VH PHX SODQR QmR IXQFLRQDVVH PHVPR eu cortaria definitivamente qualquer comida que engorda, a dieta seria muito mais rígida, muito mesmo, nem que eu só tivesse que comer uma colher de arroz por dia. No momento também não estou tomando nada, nada de suplementos, mas se precisasse eu tomaria aqueles mais FRQILiYHLVFRPR+HUEDOLIHTXHPHXSDLMiWRPRXDQWHV´ Entrevistada 5 Quadro 4: presença de risco em rotas para alcance de metas Observa-se no Quadro 4 que os três entrevistados demonstraram propensão a recorrer a práticas consideradas mais arriscadas, ou pouco testadas, por envolverem restrições alimentares que podem conduzir a deficiências vitamínicas e distúrbios alimentares, além da utilização de produtos emagrecedores ou suplementos que podem conter substâncias nocivas à saúde. Metas que giram em torno da aparência influenciam o comportamento dos indivíduos (Berel & Irving, 1998), por exemplo, na presença de distúrbios alimentares (Nasser, 1998; Stice, 1994; Snyder, 2000). Assim, no estudo em questão, além da prática de atividades físicas ou uso de algum produto estético, o comportamento alimentar dos indivíduos também recebeu atenção. Observou-se que todos os indivíduos, juntamente com a prática de exercícios, realizam algum tipo de controle alimentar. Os entrevistados foram questionados, além das restrições alimentares, sobre outros hábitos de conduta ou uso de produtos que poderiam resultar em consequências negativas no âmbito físico ou psicológico. O Quadro 5 mostra trechos das respostas coletadas, em que se pode constatar o uso, presente ou passado, bem como a prospecção futura, de produtos voltados à modificações da forma física em prol da obtenção de metas estéticas. ³7RPR VXSOHPHQWR VLP -i WRPHL PXLWRV GLIHUHQWHV SRUTXH FRPHFHL FHGR FRP DQRVPDVKRMHHXVHLRTXHHXWRPR´³>@KRMHVRXFRQVFLHQWHPDVQRFRPHoRHX QmR HUD´ ³4XDQGR YRFr FRPHoD YRFr não tem muita informação. Então você chega na loja, vem um cara forte para vender algum produto e você compra. Quando falta instrução você fica mais vulnerável sim, aceita mais fácil. O que influencia também é a imagem que esses caras têm, o cara que te indica é forte e trincado, ou então aqueles lutadores que são patrocinados por várias marcas de VXSOHPHQWRVYRFrVHHVSHOKDQHOHV´ ³7HQKR SULPRV DPLJRV FRQKHFLGRV TXH HVWmR FRPHoDQGR D PDOKDU (OHV YHHP propagandas na TV ou revistas e compram um monte de porcaria. [...] Em casa meu pai é químico, tem muito mais conhecimento do que eu. Às vezes antes de comprar um produto eu pergunto pra ele. O produto fala um monte de coisa, mas aí YRFrYDLYHUHVyWHPSRUFDULDGHQWURXPPRQWHGHOD[DQWHHVWLPXODQWH´. Entrevistado 1 ³4XDQGRHXFRPHFHLDDFDGHPLDQmRWRPDYDQDGDHXQmRFRQKHFLDWDPEpPPDV aí os caras que treinavam lá, uns amigos, e os instrutores da academia, falavam que não adiantava nada malhar se eu não tomasse alguma coisa junto, porque eu precisava primeiro crescer pra depois transformar em músculo. Então eles me recomendaram várias coisas [...] eu escolhi os mais tradicionais, aqueles que todo mundo toma. Comecei tomando Whey Protein, Creatina e Albumina. Depois desses testei vários outros, mas alguns eu parei, hoje eu ainda tomo Whey, Creatina só às YH]HVH5TXHpSURWHtQDHFDUERLGUDWR´ ³7RPHL DQDEROL]DQWH VLP PDV QmR PXLWR WHPSR 7RPHL SRUTXH YiULRV DPLJRV tomavam e não tinha problema, e também como eu tomei por pouco tempo então QmRWHPSUREOHPD)D]PDOTXDQGRYRFrWRPDPXLWRWHPSRVHJXLGR´³)RLORJRQR FRPHoR SRUTXH HX TXHULD FUHVFHU UiSLGR >@´ ³7RPHL FiSVXODV GH WHVWRVWHURQD WDPEpPFKDPD7HVWDUROPDVGHSRLVHXSDUHL´ ³>@ SRU HQTXDQWR PHXV Hxercícios estão dando certo e eu não vejo motivo para tomar. Se meus exercícios parassem de funcionar então talvez eu mudasse de ideia [...] se fosse algum produto mais light, de ervas, essas coisas, aí talvez sim. Eu tenho um pouco de medo porque não conheço muito disso. Na verdade não conheço nada, eu acho que tomaria se visse alguém conhecido e confiável WRPDQGR´ ³6HHXYLVVHXPDDPLJDXVDQGRDOJRHVHHODHVWLYHVVHHPDJUHFHQGRHXLDTXHUHU saber o que era pelo menos. Eu ia procurar informações, porque não conheço nada, PDVDFKRTXHQHVVHVSURGXWRVPDLVOHYHVGiSUDFRQILDUVLP´ ³6yWRPR:KH\3URWHLQHWDPEpP%&$$TXHpDPLQRiFLGR>@´³(XVHPSUHHVWRX disposta a propor algo novo pra minha nutricionista, se eu quiser experimentar algo. Dependendo da maneira que alguém me apresenta um produto, ou alguma propaganda que eu vejo, se eu sentir vontade de experimentar eu vou conversar com ela. Mas tem que ter o aval dela [...] como fiz a cirurgia de redução do estômago, preciso de acomSDQKDPHQWR´ ³$QWHV GD FLUXUJLD HX LD PDLV SRU FRQWD SUySULD´ ³1RPRPHQWRQmRHVWRXWRPDQGRQDGD0DVMiWRPHLVKDNH>@´³7RPHL+HUEDOLIH sabe? [...] eu realmente confio, primeiro porque meu pai já tomou por um tempo em uma dieta dele, ele e outros amigos já me recomendaram. Eles contaram que o cara que criou a Herbalife ganhou um dos prêmios Nobel, então acho que da pra FRQILDU´ Entrevistado 2 Entrevistada 3 Entrevistada 4 Entrevistada 5 Quadro 5: Relatos do uso de produtos estéticos Sabendo-se que a percepção de risco associa-se à incerteza (Taylor, 1974) e à possibilidade de perda e efeitos negativos (Bauer, 1960), este representa um importante fator de influência no comportamento do consumidor (Almeida, 2010). Observa-se, nos depoimentos acima apresentados, que o comportamento dos indivíduos em momentos atuais ou momentos passados envolvem a presença de riscos, uma vez que os produtos estéticos tais como anabólicos, estimulantes hormonais, shakes, emagrecedores, entre outros, carregam incertezas quando à eficácia, bem como possibilidade de riscos à saúde, dependendo da maneira e frequência em que são utilizados. Foram citados também fatores como a exposição a produtos por meio de canais de mídia e comunicação, bem como a recomendação por grupos de referência, sendo que as maneiras pelas quais os entrevistados entram em contato com estes produtos influenciam sua confiabilidade. Neste ponto, o ceticismo parece aproximar-se dos níveis mais elevados de esperança embutidos nos entrevistados, o mesmo ocorrendo com o risco percebido, uma vez que estes se dispuseram a usar produtos possivelmente prejudiciais e sem garantias de resultados. Outro aspecto interessante foi citado nos depoimentos dos entrevistados 1 e 2, que relataram a influência que o tempo de experiência no ambiente de academias de ginástica possui sobre o indivíduo, no sentido de que este estaria mais propenso a recorrer ao uso de produtos e medicamentos estimulantes se estivesse no processo inicial de obtenção da meta, já que normalmente neste ponto o indivíduo possui pouco conhecimento e aceita com maior facilidade indicações de amigos ou de propagandas e anúncios sobre o produto. Isto permite supor que a falta de experiência, bem como a grande motivação que o indivíduo possui para alcançar a meta estabelecida, geram falta de paciência e o desejo pela obtenção de resultados mais rápidos, que conduzem a um comportamento de consumo passível de ocasionar fortes danos. As evidências encontradas nos depoimentos coletados dão suporte à ideia de que o grande anseio por uma meta incerta pode motivar os consumidores a adotar caminhos para alcançar o resultado desejado que impliquem em um grau relativamente elevado de risco (de Mello e MacInnis, 2005, MacInnis e de Mello, 2005, MacInnis et al., 2004), o que indica que estes depositam maior confiança e dão maior credibilidade a estes produtos, ou seja, possuem um nível cético e de risco percebido reduzido sobre eles. Desta maneira, as entrevistas em profundidade forneceram subsídios para reforçar as proposições realizadas no item 3 deste estudo, suportando a ideia de que o consumidor mais esperançoso pode tornar-se menos cético e subestimar os riscos envolvidos em situações de compra, uma vez que altos níveis de esperança podem aumentar a percepção de que a meta desejada é possível, reduzindo a percepção de probabilidade de consequências negativas e de suas gravidades (MacInnis & Chun, 2007). 5. COCLUSÕES E SUGESTÕES DE PROPOSIÇÕES Na esfera do consumo, catálogos e anúncios são planejados e desenhados para criar ou elevar a esperança de se obter a meta desejada (MacInnis, Chun, 2007). Há uma diversidade de técnicas que induzem a esperança nos consumidores, criando a sensação de que resultados impossíveis pareçam possíveis. Sugere-se que algumas táticas podem afetar a esperança intensificando os desejos e a importância percebida sobre a meta. Alcançar metas é impossível se o indivíduo não sabe como fazê-lo. Assim, a ideia de que as metas impossíveis de serem alcançadas são, na verdade, possíveis, podem ser reforçadas ao se revelar segredos, truques até então desconhecidos, dicas e soluções para alcançá-las (MacInnis & Mello, 2005; MacInnis, 2004; MacInnis, Chun, 2007). Assim, ao observar a capa de uma revista que Gi DRV FRQVXPLGRUHV ³GLFDV H[FOXVLYDV´ H ³VHJUHGRV GH FHOHEULGDGHV´ SDUD SHUGHU SHVR HP FXUWRV períodos de tempo ou então para modelar o corpo até o próximo verão, o indivíduo pode ter seu grau de esperança elevado. A utilização de celebridades funciona como um referencial neste tipo de técnica, pois faz com que o indivíduo utilize o artista como ponto de referência, somando a admiração que possui pelo mesmo à vontade de espelhar-se em sua imagem. Se o nível elevado de esperança realmente possui relação negativa com o ceticismo, ou seja, se o indivíduo mais esperançoso torna-se menos cético, então ele estaria mais propenso a optar pelo uso destes produtos e serviços, vistos em propagandas e anúncios, que prometem levá-lo ao alcance de sua meta. Uma vez que estes produtos possuem resultados incertos e podem carregar consigo consequências negativas, o nível de risco na compra é elevado. Um indivíduo que recorre a estes produtos seria detentor, portanto, de um nível reduzido de percepção de risco. Proposições Sugere-se que os níveis mais fortes de esperança podem aumentar a percepção de que o objetivo desejado vai acontecer, diminuir a percepção de probabilidade de consequências negativas e de suas gravidades, e aumentar a percepção de que a relação risco-retorno vale a pena (MacInnis e de Mello , 2005). Por estas razões, é razoável prever uma relação negativa entre a esperança e a percepção de risco: P1: Quanto maior a esperança, menor o nível de percepção de risco. ³$LQWXLomRGHTXHHVSHUDQoDVGHVHMRVapreensões e medos afetam julgamentos é convincente H SHUVLVWHQWH´ (Erdelyi, 1974; Miller e Ross, 1975; Ditto e Lopez, 1992). Dentro da literatura motivacional, propõe-se a tendência dos indivíduos de perceber informações que são consistentes com suas metas como sendo mais válidas do que informações que são inconsistentes com estas metas, devido ao fato de que a informação consistente com as preferências do indivíduo seria submetida a uma análise cognitiva menos extensa e menos crítica do que a informação inconsistente (Ditto e Lopez, 1992). Assim, gera-se subsídio para a proposição de uma relação negativa entre a esperança e o ceticismo: P2: Quanto maior a esperança, menor o nível de ceticismo. Autores (ARD Almeida et al., 2007, Fleming, 2008, MacInnis & de Mello, 2005) explicitam que dentre as consequências negativas provenientes da baixa percepção de risco tem-se os danos psicológicos, físicos e financeiros. Considerando que consumidores que detém um menor grau de ceticismo, depositando maior confiança nas informações percebidas, podem aumentar sua propensão ao consumo de produtos com maior nível de risco embutido, propõe-se uma relação positiva entre o ceticismo e a percepção de risco: P3: Quanto menos cético é o indivíduo, menor é o risco percebido por ele. O modelo teórico apresentado a seguir mostra as relações propostas entre as variáveis. Esperança P1 P2 Percepção de risco P3 Ceticismo Figura 2: Modelo teórico do papel da esperança na percepção de risco e ceticismo. O processo de entrevistas em profundidade gerou subsídios para formular proposições sobre as possíveis relações entre a esperança e os construtos relacionados de percepção de risco e ceticismo, tomando por base a ideia de que o indivíduo que estipula como meta a obtenção de algum padrão de beleza estaria mais sujeito a submeter-se a altos níveis de risco envolvidos na compra de produtos estéticos. As proposições indicam, portanto, que este indivíduo estaria depositando sobre o processo de obtenção da meta um alto grau de esperança, tomando decisões com reduzida percepção das consequências negativas que poderia adquirir. Observou-se por meio das entrevistas que o alto nível de esperança encontrado pode ter sido em grande parte responsável pelas opções de consumo de produtos estéticos tais como suplementos, medicamentos termogênicos, emagrecedores, reguladores metabólicos, além da formulação de dietas. Uma vez que estes comportamentos são acompanhados da possibilidade de consequências de ordem negativa, é possível observar congruência com as proposições de que o alto nível de esperança geraria queda na percepção de risco e no ceticismo dos indivíduos, tornando-os mais vulneráveis. Outro fator de congruência encontrado foi a influência de grupos de referência, já que todos os entrevistados citaram a presença de pressão social em seus ambientes de estudo e trabalho. Foram citados também fatores relacionados à divulgação em mídias impressas e televisivas, além da questão do uso de celebridades e atletas como referências de imagem corporal e estética. Apesar de o estudo ter fornecido informações para a formulação de novos pensamentos e proposições sobre o tema abordado, algumas limitações devem ser consideradas. Em primeiro lugar, embora a abordagem qualitativa baseada em entrevistas em profundidade tenha se mostrado apropriada para o estudo, é preciso considerar possíveis limitações no que se diz respeito à confiabilidade e validade dos depoimentos dos entrevistados, já que por se tratar de um método que utiliza abordagem direta e pessoal, algumas perguntas mais pessoais podem fazer com que os indivíduos sintam-se intimidados ou pouco a vontade para relatar determinados comportamentos. Em segundo lugar, é preciso considerar que o procedimento de seleção amostral (amostra por conveniência) limita a generalização das informações obtidas no estudo realizado. Outro fator limitante é que outras variáveis podem causar impactos sobre o risco percebido e ceticismo do consumidor, tais como traços de personalidade, experiências passadas de consumo e nível de informação. Por fim, dado que a etapa qualitativa do estudo exploratório apenas gera subsídios para o entendimento mais aprofundado sobre um dado tema, é necessário realizar estudos posteriores de ordem conclusiva para verificar a eficácia e veracidade das proposições realizadas. Desta forma, as proposições formuladas neste estudo poderiam ser testadas futuramente em pesquisas empíricas. Para estudos futuros, portanto, seria interessante partir para a realização de pesquisas conclusivas, utilizando estudos experimentais quantitativos para tentar estimar o grau de relação entre os construtos estudados, de forma a compreender melhor os motivos que movem os indivíduos e os direcionam a determinados caminhos na esfera dos produtos e serviços estéticos. 6. REFERÊNCIAS Almeida, A. R. D. (2010). Esperança: construção e teste de um modelo teórico da sua influência no processo de compra do consumidor de cirurgia plástica estética. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Averill, J.R., Catlin, G., Chon, K.K. (1990). The rules of hope. New York: Springer - Verlag. Barros, L. (2010). Hope, risk perception and propensity to indebtedness. Dissertação de Mestrado. FGV-EAESP, São Paulo, SP, Brasil. Barros, L.; Botelho, D. Hope, Perceived Risk and Propensity to Indebtedness. XXXV Encontro da ANPAD, 2012, Rio de Janeiro, RJ. Bauer, R. A. (1960). 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