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PAINEL 2015 APRESENTAÇÃO o Brasil há cerca de 1,7 milhão de qui- do a Agência Nacional de Transportes Aquáticos. lômetros de estradas por onde esco- Essa infraestrutura, ainda insuficiente, foi avaliada am quase 60% do volume nacional de pelo Fórum Econômico Mundial, que nos colo- N cargas. Com este total, temos a menor malha cou na 120ª posição entre 144 países. rodoviária entre as 20 maiores economias do mundo em relação ao território. Algumas das soluções apontadas são investimentos e a integração entre os diversos Aliado a isso, apenas 12,1% das rodovias são modais. Para levantar a discussão sobre este pavimentadas e 50% do pavimento tem al- tema, o PAINEL 2015 – PACTO PELA IN- gum tipo de problema, conforme mostra FRAESTRUTURA NACIONAL E EFICIÊNCIA Publicação editada por: um levantamento feito pela Confederação LOGÍSTICA se propõe a contribuir para a Instituto BESC de Humanidades e Economia Nacional de Transporte. Somente com a má formação de uma visão realista e estratégica, www.institutobesc.org qualidade do pavimento, o custo operacional por meio da contribuição do poder público, aumenta em torno de 26%. segmentos produtivos privados, especialistas EXPEDIENTE Projeto gráfico, diagramação e edição: e estudiosos do assunto. P6 Comunicação Hoje temos no Brasil uma malha ferroviária de www.p6comunicacao.com.br pouco mais de 27 mil quilômetros, sendo que Nosso objetivo é sugerir e assegurar ações para apenas um terço deste total é produtivo, por a melhoria da integração regional do Brasil. Impressão: meio do transporte de minério. Com relação aos Com isso, queremos contribuir para diminuir Gráfica e Editora Positiva portos, são 235 instalações portuárias, públicas e as desigualdades internas e para a inserção do www.gpositiva.com.br privadas, tanto marítimas quanto fluviais, segun- país no cenário econômico internacional. JUSSARA RIBEIRO Presidente do Instituto BESC de Humanidades e Economia 7 8 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 CONSELHO TÉCNICO E EMPRESARIAL Presidente de Honra Eliseu Padilha Ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República Coordenadores Temáticos Aurélio Lamare Soares Murta Márcio Almeida D’Agosto Coordenador do MBA em Logística Empresarial da Universidade Federal Fluminense Coordenador do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ Coordenadora Geral Jussara Ribeiro Presidente do Instituto BESC de Humanidades e Economia Reunião com o Ministro Eliseu Padilha Reunião no Palácio do Planalto Reunião na ANTT Reunião no Palácio do Planalto CONSELHEIROS “Sem deliberação, os projetos fracassam, com amplo aconselhamento se concretizam.” (Provérbios 15:22) Adalberto Febeliano, vice-presidente da Modern Logistics Airton Nogueira Pereira Júnior, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira das Empresas Aéreas – ABEAR Alberto Mayer, presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos Aluísio de Souza Sobreira, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil Aluísio Paiva Gomes, chefe de Administração de Frotas dos Correios André Batista Cotia, gerente nacional de Financiamento para Saneamento e Infraestrutura da CAIXA Antônio Badih Chehin, superintendente da Administração da Hidrovia do Paraná Antônio Sobral, gerente de Relações Governamentais da Petrobras Distribuidora Aroldo Cedraz, ministro presidente do Tribunal de Contas da União Arthur Quartim Barbosa Araujo, gerente de Desenvolvimento de Negócios do Terminal de Cargas do RIOgaleão – Aeroporto Internacional Tom Jobim Bruno Pessoa Serapião, presidente da Hidrovias do Brasil Bruno Ramos Pereira, coordenador do PPP Brasil Carlos Antonio Cavalcanti, diretor titular do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Carlos Cesar Meireles Vieira Filho, diretor da Associação Brasileira de Operadores Logísticos Carlos Eduardo Tavares, superintendente de Logística da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB Carlos Fávaro, vice-governador do Estado do Mato Grosso Cláudio de Jesus Marques, diretor da Companhia Docas do Rio de Janeiro Cleber Lucas, presidente da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem Daniela Carrera-Marquis, representante para o Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Danilo Soares Pereira Dias, presidente da Smiths Detection Brasil Edeon Vaz Ferreira, diretor da Associação Nacional dos Produtores de Soja Edimilson Antonio Dato Sant’ Anna, gerente de Relações Governamentais da Petrobras Distribuidora Edson Dalto, gerente do Depto de Transportes e Logística do BNDES Eduardo Ferreira Rebuzzi, presidente da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro Emma Russo, especialista em Projetos de Infraestrutura de Transportes Greenfield e membro do DEINFRA-FIESP Ernani Argolo Checcucci Filho, subsecretário de Aduana e Relações Internacionais da Receita Federal do Brasil Fábio Faizi Rahnemay Rabbani, superintendente da Agência Nacional de Aviação Civil Gustavo Bambini, diretor de Relações Institucionais da MRS Logística S.A. Gustavo Bonini, gerente de logística da Scania Henry James Robinson, membro do Conselho Administrativo da BTP – Brasil Terminal Portuário Jorge Luiz Macedo Bastos, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres José Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias José Eduardo Faria de Azevedo, secretário de Estado de Desenvolvimento do Espírito Santo José Luís Menghini, presidente da Inframerica Aeroportos – Aeroporto Internacional de Brasília José Maria da Costa Mendonça, vice-presidente da Federação das Indústrias do Pará José Perboyre Ferreira Gomes, coordenador de Logística da Associação Brasileira de Proteína Animal Júlio Cézar Busato, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia Luís Fernando Resano, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima Luis Henrique Teixeira Baldez, presidente-executivo da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio Luiz Fernando Ferrari, diretor Comercial, Marketing e Desenvolvimento de Negócios da Alstom Manoel Santos, gerente-geral da Associação Brasileira de Logística Marcelo Perrupato, consultor sênior para a Região das Américas da Deutsche Bahn International Brasil Marcello Magistrini Spinelli, diretor-presidente da VLI Márcio Giannico Rodrigues, gerente executivo do Banco do Brasil S.A. Marianne Von Lachmann, presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima e Atividades Afins do Estado do Rio de Janeiro Marilene de Sena Ribeiro, gerente executiva do Banco da Amazônia Mário Dirani, diretor de Infraestrutura Ferroviária do DNIT Mário Povia, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários Mark Juzwiak, gerente-geral da Aliança Navegação e Logística Martin Aron, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres Mauro Ribeiro Viegas Filho, presidente da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia Murillo de Moraes Rego Corrêa Barbosa, presidente da Associação de Terminais Portuários Privados Nelson Luiz Carlini, presidente do Conselho da LOGZ Logística Brasil Osmari de Castilho Ribas, diretor-superintendente da Portonave Pablo Fonseca Pereira dos Santos, subsecretário de Regulação e Infraestrutura do Ministério da Fazenda Paulo Roberto Guedes, presidente da Veloce Logística Paulo Tessari Coutinho, diretor da Galvão Engenharia Peter Lugthart, diretor do Porto de Rotterdam Participações do Brasil Renato Casali Pavan, diretor-presidente da Macrologística Rodrigo Otaviano Vilaça, presidente da Seção Ferroviária da Confederação Nacional do Transporte Rogério Teixeira Coimbra, secretário de Política Regulatória de Aviação Civil da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República Rogério Rezende, diretor de Assuntos Institucionais e Governamentais da Scania Sebastião Costa Filho, diretor-presidente da ArcelorMittal Mineração Sérgio Faria, vice-presidente do Grupo TCP Sérgio Salomão, presidente da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público Silvio Vasco Campos Jorge, presidente da Câmara Brasileira de Contêineres, Transporte Ferroviário e Multimodal Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária Vitor Kneipp, gerente-geral do Instituto Mar e Portos Wagner Ferreira Cardoso, gerente executivo da Confederação Nacional da Indústria Waldemar Rocha Júnior, presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários 9 10 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 SUMÁRIO 12 Experiência na política e no Direito 34 14 O BNDES e o apoio à infraestrutura logística no Brasil 36 18 A Lei dos Caminhoneiros: os impactos nos custos operacionais do transporte rodoviário de cargas 38 22 A evolução da privatização dos portos no Brasil 40 Questões para o novo código comercial: relações com a competitividade das empresas brasileiras Pacto pela infraestrutura nacional e eficiência logística A cabotagem pode crescer Brasil precisa investir em múltiplos modais 52 53 54 56 O desafio de construir parcerias público-privadas nos portos Cabotagem e desigualdade regional Um voo de volta ao pioneirismo Mais e melhores rodovias 26 Infraestrutura e competitividade da indústria brasileira 41 Logística em Mato Grosso 28 Logística conectada ao centro da operação 42 Missões internacionais: faróis de inovação em logística 30 Recuperar nossa infraestrutura de transportes: o que precisamos fazer 46 A cabotagem e seus diagnósticos 32 Inovação na transferência modal: combinação de sucesso para um melhor desempenho no transporte da indústria siderúgica 50 Desenvolver competências gerenciais (não certificar gerentes) é como capturaremos todo o valor criado pelos investimentos 11 12 PAINEL 2015 Foto: Divulgação Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística N a edição 2015, o Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística (Painel) presta homenagem a Eliseu Lemos Padilha, ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, que preside o Conselho Técnico e Empresarial deste evento. Padilha é formado em Direito e começou sua vida pública ainda na adolescência, como líder estudantil. Em 1989, foi eleito prefeito de Tramandaí, cidade do litoral norte gaúcho. Em seguida, se tornou deputado federal, depois secretário do Trabalho, Cidadania e Assistência Social do Rio Grande do Sul e, em EXPERIÊNCIA NA POLÍTICA E NO DIREITO 1997, ministro de Estado dos Transportes, retornando à Câmara dos Deputados em 2002. Os cargos que ocupou permitiram que Padilha fosse presidente de instituições e fóruns, como Fórum Nacional dos Secretários de Assistência Social, Associação de Prefeitos da Serra/Mar e do Conselho Brasileiro de Integração Municipal. Como estudante, advogado ou político, o ministro sempre teve coerência em suas posições. Neste sentido, defende que o Estado deve ter o tamanho necessário para garantir a toda a população os serviços e a participação na vida socioeconômica de forma a lhe garantir o direito de ser feliz. 13 14 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 BNDES tem sido a principal fonte de com 67,4%, de acordo com o Instituto Ilos recursos para os investimentos no (2014). Precisamos acelerar os investimentos Brasil. Seus desembolsos cresceram em hidrovias, ferrovias e cabotagem, com vis- a uma taxa média anual de 17% nos últimos 10 tas à adequada alocação de cargas em modais INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA NO BRASIL anos, partindo de um valor de R$ 47 bilhões de melhor desempenho energético e ambien- em 2005 para R$ 188 bilhões em 2014. Desse tal. Uma outra contribuição para a maior efici- total, a rubrica de infraestrutura representou, ência do setor é a perspectiva da integração em 2014, uma participação de 37%. Particular- modal, bem como o apoio ao desenvolvimen- mente no setor de logística, representado por to e consolidação de Operadores Logísticos e seus subsetores de transporte rodoviário, fer- a redução da idade média da frota. Edson Dalto O BNDES E O APOIO À O roviário, aeroportuário e portuário, o desembolso cresceu, no mesmo período, a uma taxa Do ponto de vista institucional e regulatório, anualizada de 33%, partindo de R$ 0,9 bilhão o país tem passado por um amplo processo em 2005 para R$ 11,5 bilhões em 2014. de concessionamento de rodovias, ferrovias e portos, desde os anos 90, e aeroportos, mais Apesar dessa expressividade, o setor de logísti- recentemente (a partir de 2011). Foram criadas ca ainda é muito carente de investimentos. De agências reguladoras para transportes terres- acordo com um relatório da Inter.B, (2015) , os tres e portos (2001) e aviação civil (2005). O quatro subsetores contribuíram com 0,71% do marco regulatório dos setores também tem PIB de 2014, o que é insuficiente sequer para evoluído. Destacam-se a lei das concessões, manutenção da depreciação do capital fixo. de 1995, lei dos portos (1993, 2008 e 2013) e De todo modo, a infraestrutura logística vem resoluções no setor ferroviário, visando maior absorvendo os maiores investimentos da dé- interoperabilidade das malhas (2011). cada, o que se justifica pelo maior atraso relativo. Iniciativas do governo federal, como os Há alguns desafios dentro desta perspectiva, lançamentos do PAC e PIL, contribuíram para como o fato de termos uma estrutura institu- maiores inversões privadas e públicas. Cabe cional complexa, com vários ministérios e ins- também destaque ao recente lançamento da tituições envolvidas nas intervenções em lo- segunda rodada do PIL, com investimentos gística. Desta forma, torna-se necessária uma totais previstos de R$ 198,4 bilhões, sendo R$ melhor definição e simplificação dos papéis de 69,2 bilhões no horizonte de 2015 a 2018. cada uma delas, nas questões de orientações políticas, estudos e modelagem, regulação, Na perspectiva de demanda, na última déca- planejamento e supervisão. Também é preciso da, o setor de rodovias cresceu 10% a.a., fer- aprimorar o modelo de concessão, avançando rovias 5%, aeroportos 11% e portos 5%, sendo mais na fase de projeto, de modo a atenuar ris- que a movimentação de contêineres cresceu cos e conferir mais assertividade aos custos e 8%. Em termos comparativos, no quesito de prazos dos projetos, objetivando uma redução infraestrutura logística, o Brasil ocupa a 102ª de barreiras à entrada de capital estrangeiro. posição no conjunto de 138 países, de acordo Um importante passo na formulação de plane- com o Relatório do World Economic Forum jamento com uma visão integrada da logística (2014) . Esta carência, por outro lado, repre- foi a criação da EPL (2011). senta uma enorme oportunidade em termos Ilustração: Freepik.com de investimentos. Ademais, é primordial que haja um avanço no programa de concessões, com ampliação do Outro desafio para o setor no Brasil é a busca escopo e maior uso de PPPs, além de uma vi- de maior equilíbrio na matriz modal. A parti- são de longo prazo, com geração contínua de cipação rodoviária ainda é muito expressiva, carteira de projetos. O BRASIL PRECISA APRIMORAR O MODELO DE CONCESSÃO, AVANÇANDO MAIS NA FASE DE PROJETO, DE MODO A ATENUAR RISCOS E CONFERIR MAIS ASSERTIVIDADE AOS CUSTOS E PRAZOS DOS PROJETOS, OBJETIVANDO UMA REDUÇÃO DE BARREIRAS À ENTRADA DE CAPITAL ESTRANGEIRO. 15 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística O governo federal tem trabalhado no amadu- ajustadas ao fluxo de caixa do empreendimen- recimento de marcos regulatórios dos diferen- to, de modo a garantir que a relação da gera- tes setores, na solução de instrumentos para ção e caixa do projeto com o pagamento da endereçamento de riscos não gerenciáveis ou amortização e juros da dívida não ponha em de pouco interesse das seguradoras, no aper- risco a conclusão do projeto. feiçoamento dos modelos na fase pré-leilão, com melhor detalhamento dos projetos, no Um grande estímulo promovido pelo governo endereçamento de riscos ambientais, assu- na concessão de crédito privado foi o sancio- mindo o papel de solucionar questões de li- namento da Lei 12.431/2011, que estabelece cenciamento, além de conferir agilidade no condições favoráveis à emissão de debêntu- equacionamento do equilíbrio econômico-fi- res de infraestrutura, tornando a sua aquisição nanceiro de contratos. isenta de IOF e de IR para pessoas físicas e não residentes. O BNDES, por sua vez, em seus fi- Foto: Divulgação 16 Quanto ao financiamento, o BNDES continua- nanciamentos, utiliza os instrumentos de com- rá sendo a principal âncora de recursos de lon- partilhamento de garantias das debêntures com go prazo, porém incentivando o incremento o crédito e uma condição de cross default, que da participação do mercado na concessão de vincula eventual inadimplemento da debênture crédito. Neste sentido, a nova política opera- ao crédito principal, reforçando a garantia ao cional do Banco prevê a ampliação da parcela investidor e mitigando seus riscos. Outra práti- do crédito atrelado à Taxa de Juro de Longo ca usual por parte do BNDES no financiamento Prazo (TJLP) condicionada à emissão de de- a projetos de infraestrutura logística para atrair bêntures por parte dos beneficiários, adicio- novos atores é o cofinanciamento e repasse, nado à troca de amortização do sistema SAC em que bancos são convidados a compartilhar pelo Price, com amortização das debêntures até 30% na parcela do crédito. No aspecto da estrutura do financiamento, a utilização do project finance limited recourseé crescente, o que implica em maiores cuidados na definição de matriz de riscos e atração de novos atores para compartilhamento desses riscos. A figura abaixo ilustra um cronograma de referência de um project finance. Como desafios permanecem a premente melhoria na regulamentação dos setores de portos e ferrovias, bem como a reestruturação do formato de concessões rodoviárias. O intuito dessas melhorias deveria ser garantir maior transparência e previsibilidade, o que provavelmente auxiliaria no aumento da participação EDSON DALTO Gerente do Departamento de Transportes e Logística do BNDES de capital estrangeiro, na forma de equity, em alguns projetos, além da diversificação e ampliação de grupos econômicos interessados em investir na logística, ainda com participação predominante de construtoras. Ser parceiro é entender onde uma empresa quer chegar e oferecer a ela atendimento especializado, no Brasil e no exterior. Banco do Brasil Corporate Banking. Soluções sob medida para grandes negócios. 18 Foto: Divulgação Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística A LEI DOS CAMINHONEIROS: OS IMPACTOS NOS CUSTOS OPERACIONAIS PAINEL 2015 O transporte rodoviário de cargas é fatores que têm afetado diretamente a opera- considerado o principal interme- ção entre empresas transportadoras e moto- diário entre as áreas de produção, ristas autônomos. industrial e agrícola, e de consumo no Brasil. De toda a produção nacional, cerca de 61% Por entender que a eficácia da Lei em vigor são distribuídos por meio da sua extensa ma- depende da atuação presente do Poder Pú- lha de rodovias, o que confere ao transporte blico, devem ser analisados os impactos nos rodoviário de cargas uma significativa e im- custos operacionais dentro do setor de trans- DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS portante participação no desenvolvimento porte rodoviário de cargas nas atividades das econômico do país. Os principais impasses empresas transportadoras e motoristas autô- do setor são: as deficiências na estrutura e as nomos rodoviários de carga em todas as re- Aurélio Lamare Soares Murta relações de trabalho, estas resultam da falta giões brasileiras. A nova Lei trará benefícios de investimentos em infraestrutura e regula- à sociedade, assegurando a redução de aci- mentação eficaz. Atualmente o setor passa dentes nas estradas. Todavia, em contraparti- por um processo de transição após a apro- da, está a oneração dos custos operacionais vação da Lei 13.103/2015 – Lei dos Caminho- para as empresas e trabalhadores autônomos, neiros. Segundo Santos e Murta (2015), a lei visto que parte dos custos pertinentes à Lei possui dissonâncias e inconstitucionalidades, serão de responsabilidade destes. CERCA DE 61% DA PRODUÇÃO NACIONAL É DISTRIBUÍDA POR MEIO DE UMA EXTENSA MALHA DE RODOVIAS, O QUE CONFERE AO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS UMA SIGNIFICATIVA E IMPORTANTE PARTICIPAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO PAÍS. 19 20 PAINEL 2015 Fotos: Divulgação Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística De toda a produção nacional, cerca de 61% são distribuídos por rodovias nomos, que ultrapassam os 800 mil e respon- identificação da elevação dos custos operacio- dem por quase 50% da frota de caminhões. nais e sociais para os motoristas autônomos e Este cenário é uma realidade mundial, por ser pequenas empresas transportadoras, pois estes mais vantajoso em termos de custos para as não possuem apoio efetivo, investimento e re- empresas contratantes, pois os trabalhadores, gulamentação por parte do Poder Público. Es- na maioria dos casos, atuam de maneira inde- tas pesquisas deveriam ter sido realizadas antes pendente assumindo os custos com o trans- da sanção da Lei, o que teria evitado uma série porte da carga (ARAÚJO, 2014). de problemas e descontentamentos. O fato é que com a sanção da Lei 13.103/2015, Atualmente no Brasil estão registrados no Re- o setor de transporte de cargas no Brasil pas- gistro Nacional de Transportes Rodoviários sou a viver um grande impasse no que se re- de Cargas – RNTRC 868.945 transportadores fere aos aspectos econômicos e de qualida- autônomos e 174.310 empresas transportado- de na prestação dos serviços. Ocorre que as ras (RNTRC, 2015). Portanto, o universo a ser transportadoras querem continuar pagando afetado pela Lei é muito expressivo e, confor- aos motoristas autônomos os mesmos preços me comentado, precisam ser desenvolvidas praticados anteriormente (fretes baratos) e ter pesquisas e dados técnicos de modo que se assegurado um serviço de transporte que seja possam fazer projeções dos impactos causa- eficiente e de qualidade. Em contrapartida, os dos. Tais impactos podem incidir diretamente profissionais autônomos estão operando no nos usuários finais dos produtos transporta- limite de suas capacidades para poder aten- dos como, por exemplo, o aumento no preço der a essa demanda e, ainda, têm encontrado final das mercadorias. dificuldades, pois os custos se tornaram mais Anteriormente à Lei 13.103/2015 e em face Cabe ressaltar que atualmente os temas recor- da necessidade premente de uma interven- rentes do debate sobre transportes rodoviários ção pública, que pudesse mitigar os proble- de cargas no Brasil são os problemas de in- A falta de manutenção e de segurança na infra- mas relacionados aos acidentes nas estra- fraestrutura e a elevação dos custos. E ainda, estrutura das rodovias brasileiras colabora para das, em 30 de abril de 2012, foi sancionada de acordo com WALTRICH (2014), o setor de o aumento dos custos no transporte de cargas. a Lei 12.619/2012, que, além de dispor sobre transportes sofre com a ausência da efetivida- Essa situação afeta diretamente a categoria de o exercício da profissão de motorista pro- de do Poder Público, pois a Lei 13.103/2015 transportadores autônomos e pequenas em- fissional, procurava regular e disciplinar a (que sucede a Lei 12.619/2012) já está em vi- presas transportadoras de cargas. Diante disso, jornada de trabalho e o tempo de direção, gor, mas as discrepâncias presentes nela têm verifica-se a importância de uma pesquisa para a chamada “Lei do Descanso”. Ela estabele- onerado e penalizado muito os transportado- ceu, entre outros, a carga horária que de- res autônomos e as empresas de menor porte. veria ser cumprida pelos motoristas rodo- Cabe ressaltar que o cenário do mercado de viários e tornavam obrigatórios, passível de fretes brasileiro é de imensa insatisfação por penalidade pelo seu não cumprimento, pe- parte dos transportadores rodoviários, pois a ríodos de descanso diário e semanal. Porém falta de regularização da atividade impacta di- esta Lei de 2012 possuía pontos polêmicos retamente na margem de lucro da atividade. e inviáveis que acabavam por disseminar desigualdade social no âmbito da categoria Devido à prática de baixos preços dos fretes, dos transportadores por elevar os custos do a predominância na prestação de serviços de transporte (WALTRICH, 2014). transportes de cargas é dos motoristas autô- elevados com a observância da nova Lei. O CENÁRIO DO MERCADO DE FRETES BRASILEIRO É DE IMENSA INSATISFAÇÃO POR PARTE DOS TRANSPORTADORES RODOVIÁRIOS, POIS A FALTA DE REGULARIZAÇÃO DA ATIVIDADE IMPACTA DIRETAMENTE NA MARGEM DE LUCRO DA ATIVIDADE. AURÉLIO LAMARE SOARES MURTA Engenheiro de Transporte e Logística, professor doutor no Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal Fluminense 21 22 Foto: Divulgação Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 A EVOLUÇÃO DA PRIVATIZAÇÃO 3314/86), que embutia compromissos do governo com a melhoria portuária, o processo de concorrência para a privatização dos portos finalmente prosperou. A Administração do Porto de Santos foi a primeira. Os investimentos começaram a surgir e cais começaram a substituir trapiches e pontes. Do ponto de vista prático, é o verdadeiro início da privatização portuária no Brasil. DOS PORTOS NO BRASIL Muito interessante também é salientar que não se tratava de prestação de serviço público, era uma atividade econômica privada sujeita ao controle do estado e a concessão era formali- Murillo Barbosa zada por contrato. As principais áreas abrigadas passaram a ser objeto de concessões por parte do governo e em cada uma dessas áreas passou a ser necessária a presença do Estado. Assim, como nos tempos atuais, órgãos com responsabilidades distintas atuavam dentro dessas áreas e tornou-se necessário um disciplinamento envolvendo as “Empresas de Portos” (todas as empresas, companhias e sindicatos que exploram os serviços das instalações do porto) e as repartições com competência nos portos. O decreto nº 15.693/1922 cobriu essa lacuna ao regulamentar os portos organizados. Em momento algum a legislação menciona ser permitido ou não a construção e explo- A adminsitração do Porto de Santos foi a primeira a ser privatizada ração de instalações portuárias privadas, mas C om a abertura dos portos às nações de ancoradouros e trapiches sob o regime de guarda e conservação das mercadorias de presume-se que não havia impedimento para amigas pela carta régia assinada em permissão. Em 1828, já um país independente, importação e exportação. Neste decreto são que armadores e embarcadores pudessem 28/01/1808 por D. João VI, abertura essa o regime de permissão é substituído pelo re- estabelecidas as regras que deveriam ser obe- construir e operar seus próprios trapiches em tornada definitiva por decreto de 18/06/1814, gime de concessão, um instrumento juridica- decidas na concessão que, entre outras, fixava razão do disposto no artigo 7º do Decreto-Lei também assinado pelo Príncipe Regente, pode- mente mais seguro. prazo máximo de 90 anos e reversão de todas º 6460/44 que dizia: “A construção e explo- as obras e o material fixo e rodante da empresa ração de instalações portuárias previstas neste para o governo ao final da concessão. Decreto-Lei serão feitas sem qualquer caráter se afirmar que também, nessa época, teve início a parceria público-privada para a exploração da Porém, foi em 1869, por meio do decreto nº atividade portuária no Brasil. 1746, de 13 de outubro, que o governo impe- de monopólio. Continuarão (grifo nosso) os rial criou o primeiro instrumento que visa à Esse decreto não produziu resultados imedia- armadores e embarcadores com a faculdade De forma bastante precária, o fim do período construção, nos diferentes portos brasileiros, tos, mas em 1886, com a promulgação da lei de construir trapiches próprios, satisfeitas as colonial foi marcado pela exploração privada de docas e armazéns para carga, descarga, orçamentária para o biênio 1886/1887 (lei nº exigências da legislação em vigor.” O FIM DO PERÍODO COLONIAL FOI MARCADO PELA EXPLORAÇÃO PRIVADA DE ANCORADOUROS E TRAPICHES SOB O REGIME DE PERMISSÃO. 23 24 Foto: Divulgação Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 Esta regulamentação veio em muito boa hora, das licitações para arrendamentos de terminais de recursos e estava disposta a investir, desde já que trouxe para muitas empresas a possibi- dentro do porto organizado. O sistema portu- que lhe fosse assegurada a necessária segu- lidade de incorporar à sua cadeia produtiva, a ário brasileiro passava a vivenciar um surto de rança jurídica ao empreendimento e a liberda- logística de seu produto tornando-a mais ágil e modernidade nunca visto anteriormente, em de para planejar e gerir o seu negócio. econômica. Ao mesmo tempo, como previs- razão dos vultosos investimentos realizados to em um dos parágrafos do artigo 26 citado pelos novos arrendatários. Mas o processo A opção por um modelo híbrido, sem similar acima, tais terminais poderiam ser usados pelo de conteinerização das cargas aliado à tímida no mundo, mas que tem todas as condições Poder Público como alternativa de movimen- oferta de terminais especializados em movi- para ser bem-sucedido foi a solução natural tação de cargas em caso de congestionamen- mentação desse tipo de carga, principalmente e mais inteligente para resolver o problema: to do porto público. no sul do país, provocou o interesse do em- dentro dos atuais portos organizados são man- presariado nacional em construir terminais de tidas as regras até então vigentes, não sendo A movimentação de granéis foi a grande be- uso privado especializados na movimentação admitidas novas outorgas para terminais priva- neficiada dessa alteração no regime portuário de contêineres. Até o final do século passado dos por autorização e em contrapartida, fora brasileiro e trouxe para o país novas tecnolo- os TUPs estavam envolvidos, basicamente, em do porto organizado, a operação do terminal gias de movimentação de cargas aumentan- movimentação de granéis. privado se dará sem qualquer tipo de restrição do significativamente a produtividade desses Os terminais privados já respondem por 65% da movimentação portuária no Brasil de movimentação de cargas. terminais. Quando se trata de mercadorias de Foi o início do conflito entre arrendatários e baixo valor agregado, tais ganhos podem de- autorizatários, cada lado com sua interpreta- Nos dias atuais, os terminais privados já são terminar a viabilidade da comercialização de ção da lei. A Agência Nacional de Transportes responsáveis por cerca de 65% da movimenta- um produto, como é o caso do minério, grãos, Aquaviários, recém-criada, tentou resolver o ção portuária nacional e esse número só tende fertilizantes e outros. problema por meio de resoluções e um pou- a crescer. Os recentes números disponibiliza- co mais tarde, a Secretaria Especial de Portos, dos pela agência reguladora já demonstram A grande restrição do modelo era que, em ra- criada em 2007, também tentou, por meio do isso e digno de nota é constatar que os em- zão de sazonalidades, a eventual ociosidade famoso decreto 6620/2008. Ambas as iniciati- preendimentos começam a evoluir de termi- do terminal não poderia ser aproveitada para a vas se mostraram infrutíferas em seu intento. nais portuários especializados para complexos movimentação de cargas de terceiros. O investimento no segmento portuário estava de terminais privados com seu funcionamento quase paralisado e o governo tinha que buscar muito semelhante ao de um porto organizado. A propósito, este Decreto-Lei nº 6460/44 é o embrião dos terminais de uso privado ao per- Em 1993, com a promulgação da lei 8630, co- mitir que estados e munícipios transferissem nhecida como a lei de modernização dos por- a conservação e a exploração dos terminais tos brasileiros, o processo de privatização do Para o governo, manter o modelo atual de que tivessem construídos para entidades pri- sistema portuário nacional avança em razão concessões e arrendamentos trazia uma im- vadas e idôneas. de duas importantes medidas contempladas previsibilidade muito grande. O aumento da uma solução urgente para destravar o setor. oferta de áreas para a operação portuária es- de mão de obra e a autorização para a movi- tava condicionada a algumas ações que não to a recuperação econômica dos portos na- mentação de cargas de terceiros pelos chama- lhe davam a certeza de sucesso no curto prazo cionais, entre outros, traz, pela primeira vez, dos terminais de uso privativo. necessário. Como a disponibilidade de áreas Foto: Sérgio Seiffert na nova legislação: a liberdade de contratação O Decreto-Lei no 5/66, que tinha como obje- a possibilidade de terminais portuários serem O DECRETO-LEI NO 5/66, QUE TINHA COMO OBJETO A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DOS PORTOS NACIONAIS, ENTRE OUTROS, TRAZ, PELA PRIMEIRA VEZ, A POSSIBILIDADE DE TERMINAIS PORTUÁRIOS SEREM EXPLORADOS PELA INICIATIVA PRIVADA. públicas nos portos organizados era pequena, explorados pela iniciativa privada. O caput do No entanto, a redação da definição do Termi- o governo teria que investir em aquisições ou artigo 26 deste DL dizia: “É permitido a embar- nal de uso privativo misto não explicitando de desapropriações de sucesso questionável ante cadores ou a terceiros, satisfeitas as exigências maneira clara como se daria a relação entre a a possibilidade de judicialização. Numa posição da legislação em vigor, construir ou explorar carga própria e a carga de terceiros desses ter- mais extrema teria que pensar em novos portos instalações portuárias, a que se refere o DL nº minais iria provocar, no início desse século, um organizados, com investimentos elevados em 6460/44, independentemente da movimenta- conflito de tamanha dimensão que só viria a ser infraestrutura, acessos aquaviários e terrestres. ção anual de mercadorias, desde que a cons- resolvido com a promulgação de uma nova lei. trução seja realizada sem ônus para o Poder O governo não dispunha de tempo nem de di- Público ou prejuízo para a segurança nacional, Em realidade, os primeiros anos de eficácia da nheiro para resolver o problema mantendo o e a exploração se faça para uso próprio.” lei foram extremamente positivos com o início modelo atual, mas a iniciativa privada dispunha MURILLO BARBOSA Diretor-Presidente da Associação de Terminais Portuários Privados - ATP 25 26 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística 27 PAINEL 2015 Fotos: Divulgação INFRAESTRUTURA E COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA Foto: Márcio Brunc Alberto Mayer TEMOS A MENOR MALHA RODOVIÁRIA ENTRE AS 20 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO EM RELAÇÃO AO TERRITÓRIO E 49,9% DO PAVIMENTO APRESENTAM ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA: BURACOS, TRINCAS, AFUNDAMENTOS, ONDULAÇÕES, ENTRE OUTROS PROBLEMAS. Apesar disso, cerca de 60% das mercadorias de boa gestão de estoques, armazenagem e a setor industrial do país vem per- são transportadas por via rodoviária, uma vez administração burocrática trazem um impacto dendo espaço na economia, como que quase não dispomos de rede ferroviária, adicional de 20 a 30% nos custos, não só da mostram os dados do PIB, por várias os portos estão sempre com problemas e a indústria como da agricultura. razões: baixa produtividade, câmbio defasado cabotagem naval não decola, e são raros os (felizmente em fase de correção), tributação aproveitamentos de hidrovias. O alta e confusa, burocracia, aumento de salá- 70 caminhões rodam 24 horas por dia em todo o país para recolher mais de 400 mil toneladas de pneus inservíveis Mudar esta situação, por meio de concessões, descentralização, simplificação tributária e re- rios sem correspondente crescimento da pro- Para a indústria de pneus a falta de infraes- dutividade e, não menos importante, sistema trutura adequada e a baixa eficiência logística logístico pobre, caro e deficiente. E agora, adi- impactam desde a compra de matéria-prima, cionalmente, altos custos da energia. que é onerada pelos custos portuários e ro- dução da burocracia é uma prioridade nacional. doviários, como na distribuição do produto Temos a menor malha rodoviária entre as 20 pronto, que ocupa bastante espaço e exige maiores economias do mundo em relação ao grande número de veículos para entregar território e 49,9% do pavimento apresentam aos 4.500 revendedores e às dezenas de in- algum tipo de deficiência: buracos, trincas, dústrias automotivas do país os 69 milhões afundamentos, ondulações, entre outros pro- de pneus que produzimos. E ainda temos o blemas, segundo o levantamento anual feito equivalente a 70 caminhões rodando 24 ho- pela Confederação Nacional de Transporte em ras por dia em todo o país para recolher as cerca de 100 mil dos 220 mil quilômetros pavi- mais de 400 mil toneladas de inservíveis e mentados existentes no país. O estudo conclui dar a eles destinação ambientalmente corre- que o custo operacional sobe, em média, 26% ta, serviço feito pela nossa entidade focada apenas devido à má qualidade do pavimento, neste serviço, a Reciclanip. e há também problemas na sinalização e na geometria das vias, que aumentam custos e Para efeito de comparação, o custo médio do provocam acidentes. transporte rodoviário é quase o dobro do que pagam nossos concorrentes nos Estados Uni- A Reciclanip é uma entidade focada em recolher pneus inservíveis e dar a eles destinação ambientalmente correta dos e nos demais países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Estudo do Banco Mundial mostra que a falta ALBERTO MAYER Presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip) e da Reciclanip 28 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 desafio da indústria automobilística, O considerando-se a infraestrutura logística existente na América Latina, traz um novo olhar com foco na conexão dos fluxos e na precisão do planejamento. Em um cenário de muito dinamismo econômico e pouca previsibilidade, o custo operacional da logística pode chegar a um terço de uma típica operação industrial, o que exige uma busca constante por alternativas para otimização de É PRECISO ESTIMULAR A COLABORAÇÃO ENTRE ATORES DA CADEIA, ENTENDER COMO OS VOLUMES SE COMPORTAM, ALÉM DE RETROALIMENTAR AS FONTES DE INFORMAÇÃO PROMOVENDO A MELHORIA CONTÍNUA E UM MAIOR ENTENDIMENTO DE COMO ESSES FATORES AFETAM OS PLANOS DE PRODUÇÃO E VENDAS. processos e redução de desperdícios. E fazer isso significa unir as pontas das diversas Além disso, com a complexidade da cadeia de operações que compõem a cadeia de abas- abastecimento, os processos são realizados por tecimento e utilizar outros componentes que operadores logísticos especializados nas suas vão além da projeção de vendas na hora do áreas de atuação e com visão limitada sobre o planejamento estratégico. Na prática, é pre- todo. Conectando esses operadores entre si e ciso estimular a colaboração entre atores da compartilhando suas necessidades e desafios, cadeia, entender como os volumes se com- podemos encontrar ainda mais potenciais de portam, além de retroalimentar as fontes de melhoria, coordenando suas atividades e bus- informação promovendo a melhoria contínua cando parcerias no formato ganha-ganha. e um maior entendimento de como esses fatores afetam os planos de produção e vendas. Em resumo, as palavras-chaves necessárias para enfrentar os desafios da Logística na Em mercados dinâmicos, o desafio da previ- América Latina são protagonismo e inovação. sibilidade é ainda maior e isso demanda agir É para lá que estamos olhando. com flexibilidade e rapidez nos processos de apenas o que a indústria precisa, sem faltas e nem excessos, eliminando custos com transportes extraordinários e armazenamento de LOGÍSTICA CONECTADA Centro Logístico da Scania Fotos: Wagner Menezes decisão. Assim, o fluxo de materiais contém sobre-estoque. Segundo, com uma melhor previsão de materiais é possível identificar os pontos de desperdício. Sem isso, no afã de resolver, você não consegue identificar a causa raiz dos desvios. Ao conectar os fluxos é possível encontrar sinergias e assim otimizar processos que antes eram gerenciados individualmente. Como exemplo, podemos citar algo que soa óbvio, mas passa desapercebido em muitas empre- AO CENTRO DA OPERAÇÃO sas: o reaproveitamento de contêineres. Inter- Fábio Castello os contêineres. ligando os fluxos de inbound (material recebido) e outbound (produto acabado) a nossa operação consegue reutilizar até 70% de todos FÁBIO CASTELLO Vice-presidente de Logística da Scania Latin America 29 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 RECUPERAR NOSSA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES: O QUE PRECISAMOS FAZER Marcelo Perrupato emos debatido muito esse tema entre A primeira delas é que precisamos de um pla- aqueles que militam no setor da logís- nejamento estratégico, capaz de configurar um T no seu trabalho de médio prazo, organizado indiretamente – as programações de obras e através dos Planos Plurianuais de investimen- serviços, seja com seus orçamentos públicos, to – PPAs, que envolvem todos os órgãos e seja em parceria com o capital privado, via PPPs. instituições de Poder Executivo e o Congresso Nacional que os converte em leis. completam e se realimentam em um círculo virtuoso de desenvolvimento e crescimento tarefa também dos governos, por meio de suas das nações, é preciso compreender o que é estruturas ministeriais, executando – direta ou eficiência, eficácia e efetividade. Verificando que são três substantivos com raízes latinas semelhantes, seria natural confundi-los ou pensar tratarem de termos semelhantes, o que, em realidade, não são. Recorri ao Dicionário Aurélio para não pecar por autodidatismo e encontrei um meio de defini-los. EFICIÊNCIA EFICÁCIA EFETIVIDADE 1. Qualidade do que é eficiente. 1. Força latente que têm as 1. Qualidade de efetivo. 2. Capacidade para produzir realmente um efeito. tica e dos transportes no nosso País. norte de longo prazo, baseado naquilo que en- 3. Qualidade de algo ou alguém tendemos como estratégia de desenvolvimento que produz com o mínimo de sua trincheira de combate, está tirando algu- socioeconômico para o País, visto como Nação erros ou de meios. mas conclusões. e não apenas como Território, e isto é missão 30 anos, envolvendo toda a sociedade. Virtude ou capacidade de produzir um efeito ou resultado. Expectativa da capacidade de Nem todos gostam disso, achando que é Em todas essas etapas, que se sucedem, se E finalmente vem o planejamento operacional, Nosso grupo de especialistas, cada qual em para o Estado, no sentido lato, com visão de 20, Fotos: Divulgação 30 substâncias para produzir determinados efeitos. 2. Virtude de tornar efetivo ou real. 3. Força (de produzir efeitos). Capacidade de produzir o efeito ou resultado desejado. Provar que os efeitos desejados foram produzidos. produzir os efeitos desejados. uma utopia, um sonho, uma insensatez. Mas todos nós sabemos que é assim que pensam e agem as grandes organizações e os gover- MARCELO PERRUPATO Engenheiro civil, consultor e senior advisor da Deutsche Bahn International nos que desejam errar menos, já que acertar Penso que, assim, fica mais claro e evidente tudo não é próprio da natureza humana e que para recuperar nossa infraestrutura de muito menos das previsões econômicas em transportes precisamos estabelecer e manter um mundo globalizado, plano, sem fronteiras, um processo de planejamento que seja efi- como abordou Thomas L. Friedmanem seu li- ciente, eficaz e efetivo, assegurando um círcu- vro “The World is Flat”, em 2005. lo virtuoso de políticas públicas duradouras e capazes de conduzir o País ao seu destino de O CIRCULO VICIOSO Em seguida temos de reconhecer que esse grande, próspera e justa Nação, sem discrimi- DA INSTABILIDADE planejamento estratégico tem de ser perma- nações de qualquer natureza. nentemente revisado, para se tornar perene. Poderíamos então evitar aquilo que se definiu De posse desse instrumento, temos de passar como O Círculo Vicioso da Instabilidade Políti- para a etapa do planejamento tático, capaz ca, definido pelo Banco Mundial nos relatórios de instrumentalizar os programas de obras do PPIAF - Public Private Infrastructure Advisory e investimentos. Isso é tarefa dos governos, Facility e que adaptei para este nosso contexto. POLÍTICA 2. Estado ativo de fato. 3. Duração de exercício. Qualidade de obter resultado permanente, estável, seguro, firme. Comprovar que os efeitos desejados foram produzidos e se mantêm. 31 32 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 INOVAÇÃO NA TRANSFERÊNCIA MODAL: COMBINAÇÃO DE SUCESSO PARA UM MELHOR DESEMPENHO NO TRANSPORTE DA INDÚSTRIA SIDERÚGICA Marcio de Almeida D’Agosto e Cintia Machado de Oliveira NO BRASIL EXISTEM LIMITAÇÕES PARA O TRANSPORTE DOS INSUMOS SIDERÚRGICOS. PORTANTO, ALÉM DE CONHECER O MERCADO E AS OPÇÕES DISPONÍVEIS PARA O TRANSPORTE DESSE MATERIAL, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO TAMBÉM SÃO INGREDIENTES NECESSÁRIOS NA TENTATIVA DE OBTER COMPETITIVIDADE. prevalece o uso do modo rodoviário sobre a alternativa ferroviária que apresenta natural abastecimento das indústrias side- No Brasil existem limitações para o transporte vocação para o transporte de granéis sólidos, rúrgicas deve garantir a continuidade dos insumos siderúrgicos. Portanto, além de com menores custos e impactos ambientais. do processo produtivo, a qualidade conhecer o mercado e as opções disponíveis Numa situação como esta, a combinação dos e o baixo custo do produto final. Nesse con- para o transporte desse material, criatividade e modos, quando possível e a utilização de equi- texto, o transporte se coloca como um dos inovação também são ingredientes necessá- pamentos não tradicionais podem contribuir pontos-chave para garantir a competitividade rios na tentativa de obter competitividade. No para melhorar o desempenho operacional das entre as empresas por meio de cadeias de su- caso específico do transporte de calcário no empresas ao mesmo tempo em que reduz os primento que representem baixo custo e alto Brasil, um dos principais insumos siderúrgicos, impactos ambientais desta atividade. nível de serviço enquanto minimizam os im- em função das limitações de disponibilidade pactos ambientais. de infraestrutura (malha e material rodante) O Fotos: Divulgação O transporte ferroviário apresenta natural vocação para o transporte de granéis sólidos, com menores custos e impactos ambientais CINTIA MACHADO DE OLIVEIRA Engenheira de transportes e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ Estudos realizados pelo Laboratório de Transporte de Carga da COPPE/UFRJ, na cadeia de suprimento de calcário siderúrgico das empresas localizadas no sudeste do país, demonstram que há redução de custos, do consumo de energia não renovável e da poluição atmosférica, na aplicação da intermodalidade rodoferroviária com o uso de contêineres. Portanto, uma vez que exista ociosidade no uso de vagões-plataforma e escassez na disponibildade de vagões-gôndola, o transporte de calcário por contêiner apresenta melhorias em relação aos custos, consumo de energia não renovável e poluição atmosférica de até 48% se comparada à prática rodoferroviária sem container e de até 43% que a prática rodoviária sem contêiner. O que comprova que inovar de forma cirativa pode trazer um melhor desempenho para a empresa, se tornando um diferencial para a tomada de decisão. MÁRCIO DE ALMEIDA D’AGOSTO Engenheiro de transportes e coordenador do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ 33 34 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 RELAÇÕES COM A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS BRASILEIRAS Fotos: Divulgação QUESTÕES PARA O NOVO CÓDIGO COMERCIAL: O CUSTO PARA EMPRESAS BRASILEIRAS SIMPLESMENTE CUMPRIREM O EMARANHADO DE MARCOS REGULATÓRIOS É TÃO ALTO QUE NÃO ENCONTRA PARALELO ENTRE AS NAÇÕES MERCANTES DO MUNDO. tribuir para que a logística marítima e portuária brasileira escale posições no ranking internacional. A baixa produtividade e eficiência da infraestrutura reflete-se em grande desvantagem competitiva do Brasil no ranking mundial Fabiana Simões Martins e Marianne Lachmann desde 2004, início da série histórica. A pontuação do segmento portuário, que em 2015 ficou em 122º lugar, dentre as 30 piores do mundo, reduz significativamente o resultado do Brasil nessa pesquisa (fonte The Global Competitiveness Report 2015). Para domar a deterioração da capacidade de produção e comercialização de bens e serviços, e mudar a tendência negativa do ambiente de negócios, o ideal, juridicamente, seria ratifi- FABIANA SIMÕES MARTINS Vice-presidente pelo Brasil do Instituto Ibero Americano de Direito Marítimo (IIDM) car as Convenções Internacionais afeitas ao Direito Marítimo privado e à responsabilidade por poluição marinha, adaptando-as, quando possível, à realidade brasileira, através de ressalvas. Contudo, ao deixar de ratificá-las para criar novas regras, o Brasil oferece ao comércio internacional um ambiente “exótico”, desconhecido, cujas práticas geram desconfiança e insegurança, que são características nefastas para a competitividade. hostilidade do ambiente de negó- Agora estamos diante do desafio de rever o Neste momento de análise de propostas le- cios no Brasil, sobretudo para a mo- Código Comercial, buscando adequar um tex- gislativas é hora de o Brasil rever sua política vimentação de cargas via aquaviária, to de 1850 às necessidades do século XXI, no externa e participar mais ativamente da Comu- é estarrecedora. O custo para empresas brasi- momento em que o Brasil despenca no ranking nidade Internacional verificando, também, se leiras simplesmente cumprirem o emaranhado de competitividade, saindo do 38º lugar em não é tempo de ter uma legislação autônoma de marcos regulatórios é tão alto que não en- 2010 para o 56º em 2015 (fonte IMD 2015 – (ou mesmo um Código de Navegação), uma contra paralelo entre as nações mercantes do Comparação entre 61 economias). Precisamos vez que sob os muros do Código Comercial mundo nem consegue ser mitigado pela maior aproveitar essa oportunidade para simultanea- não é possível regular importantes questões de das vantagens competitivas do país - a escala mente garantir a agilidade do comércio (just- Direito Marítimo Tributário, Trabalhista, Penal e MARIANNE LACHMANN de nossa economia. -in-time e porta a porta) e objetivamente con- Administrativo. Fica o convite à reflexão. Presidente do SindaRio Ilustração: Freepik.com A 35 36 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística “PACTO PELA INFRAESTRUTURA NACIONAL E EFICIÊNCIA LOGÍSTICA” Renato Casali Pavan PAINEL 2015 generalizada a opinião de que falta ao Porém nem tudo está perdido, graças a essa Brasil uma infraestrutura adequada, prin- guerreira chamada Jussara, do Instituto BESC, cipalmente na área do transporte de car- que criou para o setor do transporte, o Con- ga. Sou de opinião que enquanto não tivermos selho Técnico e Empresarial, composto pelas uma visão estratégica e o planejamento estra- melhores cabeças (com exceção da minha). E tégico que definam a prioridade dos projetos pelo critério de custo benefício e impacto am- Desejo ressaltar também a brilhante ideia do biental, dificilmente vamos ser competitivos. Rodrigo Vilaça em criar através do Whatsapp uma fonte permanente de comunicação en- O GEIPOT de saudosa memória é que no pas- tre os ferroviários. Encerrando desejo cum- sado exercia esse papel e o que ele falava era primenta-los também pela brilhante ideia de respeitado por todos, muito embora houvesse convidar o meu ministro Eliseu Padilha para distorções causadas pela política, na hora de presidir o PAINEL 2.015, com quem tive a hon- escolher as obras prioritárias. ra de trabalhar quando presidente da FEPASA. ENQUANTO NÃO TIVERMOS UMA VISÃO ESTRATÉGICA E O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO QUE DEFINAM A PRIORIDADE DOS PROJETOS PELO CRITÉRIO DE CUSTO BENEFÍCIO E IMPACTO AMBIENTAL, DIFICILMENTE VAMOS SER COMPETITIVOS. Creio que a soma desses esforços podem auO Bernardo Figueiredo, o grande injustiçado xiliar o governo em suas decisões. do setor, teve a visão de recriar o GEIPOT através da EPL, que apesar da turbulência política, continua no seu trabalho silencioso de avaliação dos diversos projetos que estão na praça, com o objetivo de oferecê-los para o debate e chegar a um consenso. Hoje o cenário está conturbado e projetos comprovadamente inviáveis como FIOL, FICO, TRANSOCEÂNICA, são defendidos por expoentes do setor. O pior é que essas atitudes contaminam o processo como um todo, chegando inclusive a comprometer uma inciativa louvável do governo Dilma, que é o PIL. Por não ter estudos detalhados, principalmente de ferrovias, se quer ter consultado a EPL, e a iniciativa privada, é que assistimos novamenFotos: Divulgação te ao espetáculo costumeiro de fracasso das concessões ferroviárias, sem contar a insegurança jurídica, financeira e regulatória, representadas pelas mudanças de última hora. RENATO CASALI PAVAN Diretor-presidente da Macrologística 37 38 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 A CABOTAGEM PODE CRESCER Nelson L. Carlini Os principais obstáculos ao crescimento da neis líquidos, 10% graneis sólidos, 4% carga cabotagem hoje são o combustível mais caro solta e 8% carga unitizada (contêiner). na navegação, em relação ao diesel rodoviário, uma mão de obra igualmente cara, porque Para estimular o crescimento da cabotagem, altamente especializada, e ainda a dificuldade podemos repensar as seguintes questões: 1) de fabricação de navios no país para atender a reduzir impostos incidentes sobre os combus- este setor. Cabe ressaltar que somente empre- tíveis de navegação, ainda pesados comparati- sas brasileiras com navios brasileiros podem vamente ao “subsídio indireto na matriz de pre- atuar na cabotagem, permitindo-se a impor- ços de combustíveis protegendo o óleo diesel tação de embarcações quando não há dispo- rodoviário”; 2) reduzir a burocracia na chegada nibilidade no país. Ocorre que os custos de e saída de navios e das cargas nos Portos; 3) importação são impraticáveis. liberar da praticagem os comandantes brasi- EMBORA A PARTICIPAÇÃO DA CABOTAGEM NA MATRIZ DE TRANSPORTE BRASILEIRO TENHA AVANÇADO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, AINDA FALTA MUITO PARA QUE ALCANCEMOS ÍNDICES COMPARÁVEIS AOS DA EUROPA E DA ÁSIA NO QUE SE REFERE À IMPORTÂNCIA DESTE SEGMENTO. leiros em navios de cabotagem; 4) reduzir imAcrescente-se a esses fatores intrínsecos uma postos na aquisição de embarcações. questão de caráter externo, que é o fato de a navegação exigir um grau de organização por No que toca à tributação, deve-se propiciar um parte do cliente-usuário, em termos logísticos, novo sistema de tributação que fixe as taxas em que somente as empresas de maior porte no função da tonelagem transportada, isentando Brasil possuem. Então, não devemos fazer as empresas brasileiras de navegação do Im- nada para estimular a cabotagem? Devemos posto de Renda. Deve-se ainda permitir que os permanecer de braços cruzados? investimentos em fundos destinados à aquisi- Ilustração: Freepik.com ção de navios para a Bandeira Brasileira sejam Não, não é bem assim. Até porque, com uma igualmente isentos do IR. Ambas as medidas são cabotagem mais vigorosa, a tendência é pas- adotadas na União Europeia e no Japão. Está aí sarmos a ter, também, progressivamente, um a receita para o crescimento da cabotagem. transporte rodoviário (e até ferroviário) de melhores serviços e menores custos para toda a cadeia produtiva. A economia ganha com isso. Vejamos o exemplo da Zona Franca de o final dos anos 1990, apenas granéis o mercado hoje permite. Seria melhor ampliar Manaus. Originalmente, o transporte de car- líquidos e sólidos, produtos como ga- esta participação? Sim, seria – até porque é gas para a ZF era todo feito por barcaças, com N solina e minério de ferro, eram trans- um transporte mais seguro e menos poluente caminhões/carretas no convés, e depois via portados por nossa frota mercante de cabo- –, mas desde que isso ocorra dentro de regras rodoviária Belém-Brasília. Hoje, este transporte tagem. Embora a participação deste modal na de mercado, ou seja, sem a imposição de ar- é feito crescentemente por navios de contê- matriz de transporte brasileiro tenha avançado tificialismos que acabariam gerando distorções ineres de até 3.900 TEUs (unidade padrão para nas últimas décadas, sobretudo nos últimos econômicas com impacto negativo na compe- contêineres de 20 pés). anos, ainda falta muito para que alcancemos titividade e nos custos. índices comparáveis aos da Europa e da Ásia no que se refere à importância deste segmento. Fotos: Divulgação carga mais competitivo, o que se traduz em Em retrospectiva, observamos que, dos anos A questão é que hoje o Brasil tem a cabota- 1990 até os nossos dias, já houve uma signifi- gem que o mercado permite. O que significa cativa diversificação do emprego deste modal. Contudo, antes que nos lancemos a uma ba- dizer que o transporte rodoviário, a despeito Ainda assim, atualmente a cabotagem trans- talha para tentar reverter a qualquer custo as dos notórios problemas, incluindo alto índice porta cerca de 700 mil TEUs por ano, o que causas deste ainda modesto aproveitamento de perda e falta de segurança, ainda consegue equivale a pouco mais de 1% do total da carga da cabotagem, devemos considerar, de forma oferecer ao usuário de transporte uma rela- transportada dentro do país. Do total dos 150 realista, que este segmento da navegação tem ção custo/agilidade mais interessante do que milhões de toneladas de carga transportadas uma participação compatível com aquilo que o transporte marítimo. internamente pela cabotagem, 78% são gra- NELSON L. CARLINI Engenheiro naval e presidente do Conselho de Administração da LOGZ Logística Brasil S.A. 39 40 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística 41 PAINEL 2015 LOGÍSTICA BRASIL PRECISA INVESTIR EM Ilustração: Freepik.com MÚLTIPLOS MODAIS Carlos Fávaro EM MATO GROSSO Edeon Vaz Ferreira Estado de Mato Grosso é um dos prin- 1.950 km. Neste trecho os produtores america- cipais produtores agrícolas do país, nos pagam de US$ 10 a 18 de frete por tonelada. O sendo o 1º produtor de soja, o 1º de pós a década de 1950 o Brasil passou nomia do país. Empresários brasileiros, princi- a investir no modal rodoviário em detrimento dos modais ferroviário e A hidroviário. A necessidade de interiorizar rapi- algodão, o 2º de milho e o 1º de gado de cor- Vejam temos muito para avançar. Acredito que palmente os de commodities, perdem até US$ te, tem sua economia baseada essencialmente em 5 anos teremos outro Mato Grosso. Até lá te- 100 por tonelada transportada, comparados a nesta atividade. Escoar esta produção é uma das remos duplicada a BR 163 de Sinop à divisa com seus concorrentes norte-americanos. tarefas que exige infraestrutura de rodovias, fer- o Mato Grosso do Sul e neste Estado duplicado rovias, hidrovias, estações de transbordo de car- até a divisa com o estado do Paraná, reduzindo levou os governos a direcionarem seus inves- Para reverter esta situação o Brasil deve inves- gas (tiram-se dos caminhões e carregam-se as tempo de transporte, economizando combustí- timentos na construção de rodovias. Como tir fortemente em ferrovias, hidrovias e portos, barcaças nos rios) e terminais portuários (com veis e principalmente vidas. exemplo, BR-010 (Belém – Brasília), BR-153 utilizando o poder de investimento da iniciativa carregamento dos navios). (Transbrasiliana), BR-163 (Cuiabá – Santarém) privada. Para que estes investimentos se tor- e BR-230 (Transamazônica), algumas até hoje nem atrativos, o sistema de concessão deve Embora grande produtor, temos deficiências da e com reforço de capa asfáltica em toda sua sem pavimentação concluída. ter prazos adequados e com taxa de retorno em toda nossa infraestrutura: o estado de Mato extensão, permitindo alimentar as estações de acima de investimentos similares no exterior. A Grosso possui 25.000 km de rodovias estaduais, transbordo de cargas em Miritituba, que estarão A Rede Ferroviária Nacional, que nas décadas partir do governo Lula foi adotado um modelo sendo 5.400 km pavimentados e 19.600 km não em sua maioria prontas e com capacidade de de 1940 e 1950 foi responsável pelo desenvol- de menor tarifa, consequentemente, redução pavimentados. A grande maioria destas em pés- carga superior a 20 milhões de toneladas. vimento e transporte de cargas e passageiros dos valores de pedágio. Bom para o conces- simo estado de conservação. Possui 4.700 km em mais de 25.000 km, foi deixada de escan- sionário, bom para o usuário. Infelizmente, nos de rodovias federais, sendo a maioria pavimen- Santarém terá capacidade de operar com 9 teio na política de transporte nacional. Com a programas de investimento lançados recente- tada em condição razoável de tráfego. milhões de toneladas e um terminal de fertili- privatização no modelo vertical das ferrovias, mente foi apresentado uma nova modelagem temos hoje basicamente em operação 10.500 de concessão, com a volta do modelo de ou- Temos no Estado uma única ferrovia (Ferronor- ladas. Os portos de Santana, Vila do Conde e km de linhas exploradas em regime de mono- torga. Isso é um retrocesso. te), que liga Rondonópolis a Santos, transportan- Outeiro estarão em operação com capacida- do no ano passado (2014) 14 milhões de tone- de de escoamento superior a 25 milhões de A busca de marcos regulatórios que propor- ladas. Como se trata de um só operador passou toneladas. O TEGRAM em Itaqui, São Luiz do cionem segurança jurídica para as concessões a ser um monopólio, em que é cobrado o valor Maranhão, estará concluído e com capacida- No modal hidroviário não foi diferente. Os in- deve ser prioridade no Legislativo. É um tema do frete rodoviário, diferentemente dos países de de 10 milhões de toneladas, que somada à vestimentos nas hidrovias do Sul e Sudeste se de Estado e não de governo. O Brasil precisa em que existe concorrência. capacidade do terminal da Ponta da Madeira deram entre as décadas de 1930 e 1960. Após buscar a iniciativa privada e criar condições de este período o país foi beneficiado apenas com trabalho, com segurança jurídica, diminuição Neste caso, entre o frete rodoviário de Sorriso a navegando o rio Paraguai e transportando investimentos pontuais. Os rios navegáveis do da burocracia e adoção de um modelo de con- Rondonópolis e desta a Santos pela ferrovia pa- mais de 3 milhões de toneladas para os portos Centro-Oeste e Norte sequer foram colocados cessão que não vai, lá na frente, penalizar o ci- gamos, no ano de 2014, em média US$ 126 por do Uruguai ou da Argentina. como prioridades. dadão e o empresário que precisa transportar a tonelada, isto para um trecho de 2.250 km. Nos pólio natural. São 15.000 km a menos do que o Brasil dispunha há 65 anos. CARLOS FÁVARO Vice-governador do Estado de Mato Grosso Teremos a BR 163 de Sinop a Santarém concluí- Foto: Aprosoja Foto: Divulgação damente o desenvolvimento saindo da costa zantes com capacidade de 2 milhões de tone- chegará a 15 milhões de toneladas. Estaremos produção pelos caminhos do Brasil, sejam eles Estados Unidos, do Meio Oeste americano aos Acham que se trata de um sonho? Não, todos A precária condição das nossas rodovias e a hidroviário, rodoviário ou ferroviário. Governo e portos de Seattle no oceano Pacífico, são 3.000 estes projetos são privados e já estão em anda- falta da integração e investimentos em múlti- setor privado podem ser parceiros na constru- km e o valor cobrado é de US$ 33 por tonelada. mento. Portanto, não se trata de um sonho, mas plos modais têm um efeito perverso na eco- ção de um Brasil mais eficiente e produtivo. Por hidrovia, de Saint Louis a New Orleans são de uma realidade. EDEON VAZ FERREIRA Diretor executivo do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso 42 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística 43 PAINEL 2015 Foto: Divulgação MISSÕES INTERNACIONAIS: FARÓIS DE INOVAÇÃO EM LOGÍSTICA Cesar Meireles e Paulo Roberto Guedes Esses três países buscam ser hubs logísticos na macrorregião econômica denominada Big Banana. Essa macrorregião está compreendida num raio de 1.300 km, que vai da Inglaterra ao norte de Itália, e tem cerca de 350 milhões Para ilustrar um pouco como os investimentos pela dragagem e aluguel dos espaços ao se- de consumidores de elevada renda per capta e em infraestrutura logística, automação e go- tor privado que investem nos terminais e nas com produção variada: agrícola, alta tecnolo- vernança propiciam operações logísticas efica- instalações. Essa operação gera mais de 800 gia e de alto valor agregado. zes, comentaremos, a seguir, alguns exemplos empregos diretos e cerca de 40 mil indiretos. Porto Aquaviário de Duisburg, Alemanha: maior porto fluvial multimodal do mundo de sucesso e que, infelizmente, confirmam a Enquanto os projetos e suas execuções estão grande distância que separa a realidade brasi- Na sequência visitamos o Porto de Antuérpia, o sempre em curso e entregues no tempo certo, leira daquela vista no Euro Delta. segundo porto da Europa, que movimenta mais de 190 milhões de toneladas de carga por ano, Ilustração: Freepik.com quando não antecipados, as pesquisas e os estudos em ciência e tecnologia e aqueles dire- Porto Aquaviário de Duisburg: maior porto flu- ficando atrás apenas de Rotterdam. No ranking cionados especificamente à logística também vial multimodal do mundo, tem extensão de de contêineres é o terceiro porto europeu, com seguem um caminho de eficácia. Exemplo dis- 20 km, capacidade para 120 milhões de tone- mais de 8,6 milhões de TEUs. Entre os maiores so é o Dinalog (Dutch Institute for Advanced ladas e 3,4 milhões de TEUs (movimentação de portos do mundo o Porto de Antuérpia ocupa a Logistics), uma think-tank em logística (Think- Santos). O Duisburg Intermodal Terminal (DIT) 16ª posição (o 1º é Shanghai com 36,6 milhões -Tank são organizações que atuam na produ- recebe, anualmente, cerca de 20 mil barcaças de TEUs). O Porto de Santos, o maior da Améri- ção e na difusão de conhecimentos, com o e está integrado a 5 autopistas e mais de 360 ca Latina, está na 38ª posição. objetivo de influenciar em transformações so- conexões ferroviárias por semana para mais de ciais, políticas, econômicas e científicas). 80 destinos, o que corresponde a cerca de 20 Com mais de 800 destinos globais o Porto de mil trens por ano. Essa movimentação é pos- Antuérpia é totalmente multimodal. Oferecen- Outra característica da região é a farta utiliza- sível graças à estrutura de 21 docas portuárias, do 950 saídas de barcaças fluviais por sema- ntre os dias 14 e 19 de junho, tivemos ção da Sincromodalidade, definida como “a 9 terminais de contêineres com 15 portêineres na para mais de 75 destinos, ainda opera 220 a oportunidade de participar da Missão concepção de todos os modais em um só sis- e 2 milhões de m2 de área coberta para arma- trens por dia, interligados às mais importantes E Logística Europa, coordenada pelo Ins- tema integrado”, ou “o correto gerenciamento zenagem e 2 terminais Roll-On / Roll-Off com rodovias da Europa. Nos limites territoriais do tituto de Logística e Supply Chain (ILOS) em da infraestrutura, dos serviços, dos transportes, 220 mil m2 de pátios. porto há 1000 Km de linhas férreas. Multimo- parceria com a Breda University of Applied de modo integrado e sincronizado”. Science (NHTV), na qual visitamos institutos de dalidade, obras sistêmicas e contínuas, sisteO DIT também é exemplo de governança, pois mas eletrônicos de antecipação de notificação estudos e pesquisas, portos, centros de distri- Não é à toa que esses três países se orgulham é organizado como porto público, no modelo de embarque, parques de estacionamento em buição, operadores logísticos e terminais mul- da posição que têm no Logistics Performance tripartite, entre município, estado e governo todo o território portuário, capacitação de pes- timodais, na região logística conhecida como Index (LPI) do Banco Mundial, ocupando, nesta federal. Seu principal executivo vem do mer- soas, gestão profissional e baixa interferência Euro Delta que congrega três países: Holanda, ordem, Alemanha, Holanda e Bélgica, o 1º, 2º cado e sem interferência política e é adminis- pública resultam em previsibilidade, produtivi- Alemanha e Bélgica. e 3º lugares. O Brasil está em 65º lugar. trado pela autoridade portuária, responsável dade, competitividade e sustentabilidade. O DUISBURG INTERMODAL TERMINAL (DIT) RECEBE, ANUALMENTE, CERCA DE 20 MIL BARCAÇAS E ESTÁ INTEGRADO A 5 AUTOPISTAS E MAIS DE 360 CONEXÕES FERROVIÁRIAS POR SEMANA PARA MAIS DE 80 DESTINOS, O QUE CORRESPONDE A CERCA DE 20 MIL TRENS POR ANO. 44 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística Em seguida visitamos o maior porto da Europa, tados, vale a pena falar sobre o CD da Nike. Bleiswijk, Eelde e Veiling Rhein-Maas, sendo a o Porto de Rotterdam, que com movimento Localizado na região norte da Bélgica, está Flora Holland o principal centro de comercial anual de mais de 440 milhões de toneladas, próximo do Porto de Antuérpia. Com 200 mil de flores e plantas da Holanda. Em Aslsmeer ocupa a 11ª posição mundial. Tem extensão m2 de área coberta, movimenta mais de 200 ocorrem os leilões com pregões que chegam a de 42 km e até 2013 operava no limite da sua mil SKUs! Desde 1994 (antes a Nike dispunha efetuar mais de 45 mil transações por dia. capacidade. Muito antes de atingir sua matu- de 32 CDs em todo o mundo) transformou-se ração, em 2008 foram iniciadas as obras do no maior CD da empresa em todo o mun- Como último ponto da missão, visitamos o Maasvlakte 2, elevando o porto para 12.603 do. Com investimentos de € 500 milhões e operador logístico Menzies, do Aeroporto de hectares de área e capacidade para 17 milhões implantado em um terminal multimodal (hi- Schiphol, Amsterdam. Em 2014 o aeroporto foi de TEUs. Tudo pronto em 5 anos! ghways, ferrovias e hidrovia), tem ligação utilizado por 99 empresas aéreas, transportan- com todos os principais portos e regiões da do 1,6 milhão de toneladas de cargas e mais Com a movimentação anual de aproximada- Europa e do mundo. Dispõe de 9 megawatts de 55 milhões de passageiros, para 323 des- mente 40 mil navios, mais de 100 mil barcaças de turbinas eólicas e gera 1.300 empregos di- tinos em todo o mundo. As atividades desse marítimas e 30 mil fluviais, está conectado a retos. Conhecido por EMEA Logistic Center aeroporto empregam mais de 65 mil pessoas e todo continente Europeu e recebe os maiores (Europe, the Middle East and Africa), o CD é agregam € 26 bilhões ao PIB holandês. navios do mundo, pois tem calado entre 15 e o epicentro do conhecimento de logística do 23 metros. Ainda em expansão, o Maasvlakte 2, Grupo. Lá, as inovações, os experimentos e O Menzies Aviation - Logistics Solutions, ope- em 2033, atingirá 34 milhões de TEUs, igualan- as tecnologias são desenvolvidas para serem rador logístico especializado em aeroportos do-se ao Porto de Shanghai. aplicadas efetivamente. (cargas e passageiros), opera mais de 149 sites, Em Maasvlakte 2, terminais como o APM Ter- Visitamos, também, o CD da Flora Holland, em laboradores e registra movimentações de mais minals e o Rotterdam World Gateway (RWG) Aalsmeer. Fundada em 1915 a cooperativa com de 1,5 milhão de toneladas de carga. Com rá- dão um show de tecnologia de ponta com 5.300 produtores de flores e plantas ornamen- pido desembaraço de cargas, as mercadorias veículos de movimentação de contêineres te- tais possui um CD com 2,7 milhões de m2 de ficam no terminal de carga aérea (TECA) o me- leguiados / Automated Guided Vehicles (AGV) área coberta. Gerando uma receita bruta anual nor tempo possível e o Operador Econômico e portêineres de última geração. de € 14 bilhões e mais de 250.000 empregos Autorizado (OEA) funciona no aeroporto de diretos e indiretos, tem instalações em seis lo- Schiphol com sucesso há 6 anos. Foto: Marie Hippenmeyer EM 2014, O AEROPORTO DE SCHIPHOL, AMSTERDAM, FOI UTILIZADO POR 99 EMPRESAS AÉREAS, TRANSPORTANDO 1,6 MILHÃO DE TONELADAS DE CARGAS E MAIS DE 55 MILHÕES DE PASSAGEIROS, PARA 323 DESTINOS EM TODO O MUNDO. PAINEL 2015 PAULO ROBERTO GUEDES está em 32 países, emprega mais de 21 mil co- Foto: Divulgação Dentre os centros de distribuição (CD) visi- cais diferentes: Aalsmeer, Naaldwijk, Rijnsburg, Ao longo dos sete dias vimos muito sobre tecnologia avançada em movimentação e gestão Foto: Divulgação O Porto de Rotterdam, na Holanda, é o maior da Europa e movimenta mais de 440 milhões de toneladas por ano Mestre em administração de empresas pela EAESP/ FGV e consultor de empresas de estoques, softwares sofisticados de gestão de armazéns e tracking da carga, robotização em linhas de picking e packing e transelevadores de última geração alimentando estruturas autoportantes de grandes dimensões. Missões como esta nos dão clareza a respeito do enorme gap que ainda temos para superar. Se por um lado ficamos indignados por termos a certeza que tudo isso poderia ter sido construído no Brasil nas últimas décadas, certificamo-nos que temos muitas oportunidades de crescimento. O Brasil tem um potencial inigualável, basta que se execute os projetos necessários dentro dos conceitos de multimodalidade integrada e sustentabilidade, ao custo, qualidade e tempo previsíveis. CARLOS CESAR MEIRELES VIEIRA FILHO Mestre em administração pela UFBA e diretor executivo da Associação Brasileira de Operadores Logísticos 45 46 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística 47 PAINEL 2015 A CABOTAGEM E SEUS DIAGNÓSTICOS Mark P. Juzwiak Muitos países da Comunidade Europeia são gem, movimentação de containers e cargas enfáticos em defender a necessidade de imple- em geral. mentar políticas públicas de incentivo ao transporte intermodal para combater os congestio- Devemos olhar um pouco além dos nossos namentos nas estradas, impactos ambientais e horizontes e aproveitar as experiências de ou- melhorar de uma maneira geral a eficiência no tros países para definirmos até que ponto o go- tráfego contribuindo também para uma redu- verno deve intervir nas relações de mercado. ção significativa dos custos de logística. Nove países europeus investem anualmente aproxi- Uma boa estratégia de desenvolvimento da madamente € 450 milhões em melhorias que logística intermodal deveria otimizar o “supply incentivem o transporte intermodal. chain” e incentivar as conexões entre empresas operadoras, mas a questão é como as políticas odemos de uma forma simplista dizer De acordo com o Banco Mundial, no entan- Outros países, como os EUA, preferem não im- estratégicas e inovações do transporte inter- que num serviço porta a porta, a logís- to, o número de “containers intermodais” que por políticas de incentivos ou subsídios como é modal podem ser alinhadas com as necessida- P tica intermodal, como parte da logística passam pelos portos do mundo duplicou na feito na Europa já que preferem que os fluxos des das operações e cadeias logísticas. Além integrada avançada e do supply chain mana- última década. Este crescimento se estende de carga sejam definidos pelas forças do mer- disso, como uma nova onda de governança gement, é o transporte contínuo da carga, uti- ao transporte intermodal que utiliza os modais cado. A política aplicada nos EUA é de fornecer pode ser desenvolvida, levando em conta tam- lizando pelo menos dois modais de transporte. marítimo, fluvial, aéreo, ferroviário e rodoviário. as condições de infraestrutura necessárias para bém os aspectos legais e institucionais face ao Normalmente a parte inicial e a final do trans- Estes indicativos demonstram a evolução que o desenvolvimento da intermodalidade como: histórico de competição entre os modais e po- porte são feitas por rodovia e o percurso mais se traduz diretamente em impactos significati- longo é feito por ferrovia, hidrovia, mar ou ar. vos na economia, ambiente e na qualidade de vida das populações. portos e áreas de transbordo de cargas. porta a porta utilizando pelo menos dois mo- A União Europeia conduziu estudos que de- dais, já que as estatísticas disponíveis não só no monstram as economias em custos sociais Brasil como também no mundo são impreci- que podem ser atingidas com o uso mais in- sas ou não existentes. tensivo do transporte intermodal. OS NÚMEROS A SEGUIR DÃO UMA IDEIA DO IMPACTO E DO MÉRITO DE SE BUSCAR UM BALANCEAMENTO NA MATRIZ DE TRANSPORTE: O uso do transporte intermodal resulta em 60 a 80% menos acidentes. € 1 economizado por 85 t-Km transferido da rodovia para o modal ferroviário, 52 t-Km para a hidrovia e 50 t-Km para navegação de cabotagem. �Infraestrutura viária com fácil acesso aos Emissões de CO² 40% a 50% menores quando se compara o transporte intermodal ao transporte puramente rodoviário. A economia e custo social estão entre 33% e 72% se comparado ao transporte rodoviário. � Desvios rodoviários que facilitam o tráfego e retiram os caminhões das cidades. � Criação de áreas exclusivas para armazena- líticas já implementadas. Isso tudo levando em conta os interesses do mercado de um lado e de outro as metas de políticas públicas e sociais de entidades governamentais. As autoridades são normalmente chamadas para desenvolver políticas de logística intermodal e analisar as estratégias mais eficientes Foto: Divulgação Ilustrações: Freepik.com É difícil quantificar a importância do transporte � Acessos ferroviários aos portos. DE ACORDO COM O BANCO MUNDIAL, NO ENTANTO, O NÚMERO DE “CONTAINERS INTERMODAIS” QUE PASSAM PELOS PORTOS DO MUNDO DUPLICOU NA ÚLTIMA DÉCADA. 48 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística SE EXISTE CONSENSO DE QUE A CABOTAGEM É ESTRATÉGICA PARA O PAÍS, O GOVERNO SE OMITE AO NÃO EXIGIR CLARAMENTE DOS DIFERENTES ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS QUE AÇÕES EFETIVAS, PRAGMÁTICAS E URGENTES SEJAM TOMADAS PARA DERRUBAR AS BARREIRAS BUROCRÁTICAS E CUSTOS ASSOCIADOS QUE AFETAM ESPECIFICAMENTE A CABOTAGEM. PAINEL 2015 para a sua implementação. O papel do estado mais eficientes para o transporte e, com isso, nel sólido, carga geral, carga de projeto, car- como essa que poderia reduzir um prejuízo é de garantir as condições livres de impedi- reduzir o custo dos produtos nas prateleiras gas rolantes e containers. Cada mercado exige significativo na operação das empresas brasi- mentos para o desenvolvimento de “networks” dos supermercados. equipamentos sofisticados, distintos e formas leiras de navegação e incentivar imediatamen- diferentes de fazer a logística que vão evoluin- te a cabotagem, uma solução não é dada, fica logísticos como rotas, corredores, portos, aeroportos e terminais promovendo seu uso Retirando mesmo que sendo uma peque- do com experiências trazidas de outros países, a dúvida quanto à validade de termos tantas otimizado e cumprindo com as exigências na parcela dos caminhões das estradas nos a inventividade de cada empresa e as necessi- comissões e estudos desenvolvidos pelos di- da proteção do meio ambiente. Quando fa- percursos de longa distância, diminuímos o dades locais. Não podemos ignorar que existe versos órgãos públicos e privados que buscam lamos em “livre de impedimentos” temos que orçamento do governo na manutenção de “expertise” muito específica em cada uma des- encontrar soluções novas e às vezes mirabo- lembrar que é também uma obrigação dos ór- estradas, reduzimos congestionamentos e o tas áreas que foi adquirida com anos de opera- lantes em vez de resolver as velhas e já conhe- gãos governamentais encontrar soluções para número de acidentes e, com isso, poupamos ções na costa brasileira. cidas pendências. as barreiras burocráticas que muitas vezes in- a saúde pública de gastos relacionados, eco- viabilizam ou encarecem a cadeia logística de nomizamos combustível e deixamos de des- Dentro do mercado de cabotagem temos hoje O diagnóstico é claro. Se existe consenso de tal forma que impedem seu desenvolvimento. carregar toneladas de poluentes na nossa já a livre concorrência, em que um armador, que a cabotagem é estratégica para o país, o As políticas públicas, uma vez discutidas e de- sofrida atmosfera. apresentando as condições mínimas exigidas governo se omite ao não exigir claramente dos pela lei, pode ser autorizado a operar sem res- diferentes órgãos governamentais que ações cididas, deveriam ser adotadas por todos os órgãos governamentais como metas a serem Nesse contexto, parece ser opinião unânime trições. A entrada é livre e este armador pode efetivas, pragmáticas e urgentes sejam toma- cumpridas já que uma falta de alinhamento dos nossos governantes, empresários e até da competir com outros armadores nas mesmas das para derrubar as barreiras burocráticas e entre estes mesmos órgãos pode levar todo o população em geral de que a cabotagem, um condições de mercado, mas também compe- custos associados que afetam especificamen- projeto ao fracasso. dos modais componentes da solução inter- tirá com o transporte rodoviário, já que isso é te a cabotagem. Estas barreiras impedem o modal, é importante para o país. uma particularidade do transporte de cabota- fluxo contínuo de cargas domésticas e dos na- gem quando comparado ao transporte maríti- vios que as transportam e consequentemente mo de longo curso. encarecem o produto final. Se resolvermos Os clientes e provedores de serviços deveriam, portanto, ter como preocupação, aquilo que Muito já foi e continua sendo dito sobre esse melhor sabem fazer, que é o desenvolvimento assunto. Estudos são feitos, conferências orga- de soluções e projetos logísticos eficientes em nizadas, comissões são formadas, com o in- Hoje temos uma distorção que prejudica a livre forma e em custo, ecologicamente corretos e tuito de chegar a um “diagnóstico” que levará concorrência. Quando falamos em livre mer- agregando valor aos seus clientes. a medidas a serem implementadas para incre- cado concorrencial significa que condições mentar a navegação costeira. iguais de competição e isonomia no tratamento entre modais deveriam ser condições ga- geografia e as soluções a serem encontradas Temos que tomar cuidado neste momento já rantidas. Significa que as empresas brasileiras deverão ser caseiras já que somos diferentes que muitas soluções são disparadas e tiros são que operam no transporte marítimo de cabo- dos outros países na história, nas leis, na cultu- dados em todas as direções. Muitos são os pal- tagem e as empresas de transporte rodoviário ra, enfim, somos diferentes em tudo, mas uma pites de pessoas que pensam que entendem deveriam estar sujeitas a exatamente os mes- meta que devemos perseguir é que o governo do assunto, outros que tentam entender e por mos impostos, taxas, exigências documentais, faça sua parte e não interfira em assuntos que fim aqueles que defendem interesses diversos. inspeções, multas e obstruções em geral. não são de sua competência. Não há nada de errado com isso, consideran- É fácil compreender que o mar e até certo do que estamos vivendo num país democráti- Hoje a livre concorrência entre modais não co onde todos têm o direito de opinar. é uma realidade, já que o tratamento dado à ponto os rios são vias naturais que estão dis- Foto: Divulgação O Brasil é um país único na sua dimensão e isso, é meio caminho andado. cabotagem sofre de uma “inércia burocrática” poníveis e não são necessários investimentos Mas não podemos esquecer que a cabotagem histórica, em que navios nacionais são tratados de alto impacto financeiro ou ambiental para é uma realidade que segue crescendo, já que como navios estrangeiros e da carga domés- torna-los utilizáveis para a navegação. temos empresas que investiram durante anos tica é exigido praticamente o mesmo trâmite em navios, infraestrutura, treinamento e co- burocrático da carga de longo curso. Não é difícil de compreender que tendo boas nhecimento de mercado, dentro das regras vi- condições de infraestrutura nos portos e gentes. A cabotagem envolve vários mercados Aqui o governo deveria estar preocupado em principalmente nos seus acessos, podemos específicos como o transporte de petróleo, tirar os obstáculos em vez de artificialmente in- começar a pensar em alternativas logísticas produtos de petróleo, químicos líquidos, gra- sistir em mantê-los. Se numa questão simples MARK P. JUZWIAK Gerente geral e Assuntos Institucionais - Hamburg Sud & Aliança Navegação e Logística Ltda 49 50 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 DESENVOLVER COMPETÊNCIAS GERENCIAIS (NÃO CERTIFICAR GERENTES) É COMO CAPTURAREMOS TODO O VALOR CRIADO PELOS INVESTIMENTOS Vitor Kneipp Assim, as metodologias mais adequadas para observando e praticando em suas atividades aproximar os profissionais-alunos de um cená- de treinamento gerencial e executivo na in- rio global e dinâmico como este parecem esti- dústria marítima e portuária do Rio de Janeiro. mular o engajamento acadêmico e social den- ANO APÓS ANO, BRASILEIROS COMO NÓS APELAM POR INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA NACIONAIS AO QUE, VEZ POR OUTRA, SEGUE O DISCURSO SOBRE A NECESSIDADE DE SE CAPACITAR A MÃO DE OBRA PARA OPERAR OS AVANÇOS CONQUISTADOS. tro e fora de sala, deles requerendo e avaliando Para além dos programas customizados in contribuições significativas durante os encon- company (muitos dos quais falham em efe- tros. É como escolas de negócios no mundo tivamente customizar), raros são os cursos inteiro, incluindo algumas no Brasil, já estão regulares abertos preocupados em atender trabalhando, e com resultados surpreendentes. demandas concretas de mercado. Isso porque é fácil ocultar a ineficiência do treina- Enfim, nossas observações em educação cor- mento do pessoal “de escritório” quando não porativa setorial recomendam a superação do se incluem expressamente no escopo o de- paradigma enciclopedista e expositivo (o tradi- senvolvimento de habilidades analíticas, fer- cional no Brasil e pouco eficiente) para que se ramentais e de liderança. desenvolva e avalie tanto o domínio e aplicação de fundamentos quanto a atitude perante Em outras palavras, não é o nome, o conteúdo o grupo, resultando para as empresas em ga- ou o certificado do curso que garante a vaga nhos de produtividade individual e da equipe e maginemos, por um momento, que esti- Ano após ano, brasileiros como nós apelam ao candidato no longo prazo, mas o quanto redução da “caça predatória” de talentos por vessem concluídos e em operação todos por investimentos em infraestrutura e logística ele é capaz de performar. concorrentes, tradicional em clusters e polos os projetos de infraestrutura e logística nacionais ao que, vez por outra, segue o dis- necessários para destravar importantes gar- curso sobre a necessidade de se capacitar a Quantos profissionais frequentaram gradua- mento dos níveis de satisfação profissional e galos econômicos no País. Quem operaria mão de obra para operar os avanços conquis- ção, pós-graduação e demais cursos no País identificação com a empresa patrocinadora. as novas tecnologias? Formaríamos tantos tados. Mas apesar do incremento do número e experimentaram, em verdade, tanto quanto e tão bem? E quem lideraria esses (novos) de técnicos no Brasil durante os últimos anos, compilações de palestras e seminários apa- O IMAPOR investe na melhoria destes indica- processos, a níveis de supervisão, coorde- não espanta que a empresa tradicional brasi- rentemente autônomos, com docentes des- dores, convicto de que os efeitos persegui- nação, gerência e diretoria? É preciso que, leira ainda seja avessa à qualificação de seus conhecedores das demais disciplinas, com dos pelo treinamento gerencial e executivo pelo menos, estes últimos compreendam o funcionários administrativos, “de escritório”. repetição de conteúdo e restrição do debate? dependem e dependerão sempre do quanto I Ilustração: Freepik.com É o que o Instituto Mar e Portos (IMAPOR) vem setoriais, provavelmente decorrentes do au- que acontece ao redor, para que empresas e os participantes puderam agregar à experiênIsso porque ainda que lógico o discurso, care- Vemos sim treinamentos para operar equipa- cia coletiva, guiada pelo professor propondo mo valor possível das inovações. ce de profundidade. O ensino qualitativamente mentos e executar rotinas administrativas re- e mediando debates, incentivando e aferindo ineficiente não basta. Os treinamentos devem petitivas, mas quantos explicam a dinâmica do contribuições e comportamentos desejáveis. ter objetivos claros e práticos e foco em com- setor propriamente dito, isto é, o racional do petências, para o máximo proveito de empre- negócio, as carreiras, relações comerciais, ins- sas patrocinadoras e alunos, ainda que a custo titucionais e costumes que lhe são peculiares, da conveniência da instituição de ensino. os indicadores, dados e agentes econômicos Foto: Divulgação investidores possam capturar e gerar o máxi- que o compõem? Ganham força, entre gestores e recrutadores de recursos humanos, dinâmicas que aferem Estudos sugerem que, para maximizar o apro- competências relacionais e analíticas dos can- veitamento nas aulas, a experiência de apren- didatos, que recebem tanto mais e melhores dizagem deve motivar e envolver os partici- propostas quanto houverem revelado capaci- pantes intelectual e emocionalmente – o que dade de liderar e trabalhar em equipe e habili- essencialmente indica, admitamos, o processo dade de analisar cenários multidisciplinar e cri- natural por que o ser humano aprende desde ticamente. Esses atributos podem e devem ser a primeira infância: aprendemos fazendo, pra- trabalhados nos treinamentos, lapidando e di- ticando, participando mais como autores e co- recionando talentos para as vagas disponíveis. autores do que como expectadores passivos. VITOR KNEIPP Gerente Geral do Instituto Mar e Portos 51 52 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística 53 PAINEL 2015 Foto: Divulgação O DESAFIO DE CONSTRUIR PARCERIAS PÚBLICOPRIVADAS NOS PORTOS Wilen Manteli CABOTAGEM E DESIGUALDADE REGIONAL Sérgio Faria problema da divisão modal na cir- O culação interna de cargas conduz, inevitavelmente, à análise do tema da navegação de cabotagem. Por que em um país com 7500 km de costa o transporte de cabotagem não é devidamente explorado? O governo depende do aporte de capitais privados para expandir o sistema portuário. porto é tipicamente um ambiente de portuário, cabe a ele instituir um modelo de A princípio, a maior participação do modal convivência entre agentes públicos e gestão que inspire maior confiança entre os aquaviário parece natural, considerando alguns privados. No Brasil, há algum tempo atuais e potenciais investidores. Um modelo elementos como a extensão da nossa costa, a se discute a importância de uma coordenação descentralizado, que estimule o engajamento existência de um parque portuário numeroso e harmônica entre esses agentes por meio de das comunidades locais nos projetos de de- o desenvolvimento econômico concentrado parcerias público-privadas, que, entretanto, não senvolvimento dos respectivos portos. na região litorânea. Pesquisa recente, realizada O pelo Instituto Ilos, constatou que 6 entre 10 em- mente, a gestão dos portos brasileiros tem sido É inegável que o modelo vigente das Cias. presas usuárias da cabotagem desejam aumen- Cabe o alerta pois, a despeito dos sinais evi- utilizada como moeda política nas coalizões Docas e das autarquias regionais está esgo- tar em média 45% da movimentação até 2016. dentes de melhor equilíbrio na divisão terri- com fins eleitorais, o que não só inviabiliza a tado. A nova lei dos portos (nº 12.815/2013) formação de parcerias estáveis como dificulta restringiu ainda mais a já limitada autonomia Entretanto, dentre as principais dificuldades, portuário não tem acompanhado a mesma imensamente a negociação de pactos de pro- dessas companhias, e agora o governo estuda destaca-se que cabotagem implica duas tendência. Em 2001 as regiões Norte, Nordes- dutividade e eficiência no plano operacional. retirar-lhes a última atribuição que restava – a pontas de operação dentro do sistema por- te e Centro-Oeste representavam, juntas, 25% dragagem de manutenção dos canais de aces- tuário brasileiro. Assim, a atual situação dos do PIB nacional e, em 2014, esse percentual foi A percepção geral dos usuários, nesse cená- so marítimo. Sem funções nem poderes que nossos portos, onde, não obstante os avan- da ordem de 28,7%. Paradoxalmente, no mes- rio, é a de que os portos estão preparados para justifiquem sua permanência, só resta extinguir ços que podem e devem ser reconhecidos, mo período, os portos públicos dessas regiões funcionar mais como barreiras do que como esses “elefantes brancos” e partir para um novo ainda predomina o quadro de ineficiência, reduziram sua participação de 30,74% para instrumentos facilitadores do comércio exte- modelo de administração portuária. lentidão, custos elevados, burocracia ex- 25,23% na movimentação dos portos organi- cessiva, infraestrutura precária e defasagem zados em todo o País. rior. E assim será enquanto eles estiverem à torial da economia, a evolução do sistema mercê de interesses político-partidários, quase Podemos vislumbrar uma alternativa com base tecnológica dos equipamentos, termina por sempre conflitantes com as necessidades da na lei nº 11.079/2004, que trata das Parcerias desestimular e inibir, sensivelmente, a opção A consolidação da cabotagem no Brasil pres- economia produtiva. Público-Privadas: a Sociedade de Propósito pela cabotagem. supõe, portanto, a consciência do problema acima apontado, cabendo ao poder público Específico (SPE), uma modalidade de empresa WILEN MANTELI Presidente Executivo da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP) O “choque de gestão” prometido pelo gover- que tem participação da administração públi- no federal fica reduzido à mera retórica diante ca, mas na qual o capital votante é majoritaria- dos entraves estruturais criados pelo aparelha- mente privado e a adoção de boas práticas de mento político-partidário das administrações governança corporativa é obrigatória. Pode ser portuárias. Se o governo depende do aporte um bom começo para tornar a gestão portuária de capitais privados para expandir o sistema no Brasil mais compatível com a atual realidade. Dentre as principais dificuldades, destaca-se que cabotagem implica duas pontas de operação dentro do sistema portuário brasileiro Foto: Valter Pontes Foto: Alexandre Fortes chegam a se concretizar. Isto porque, historica- 6 ENTRE 10 EMPRESAS USUÁRIAS DA CABOTAGEM DESEJAM AUMENTAR EM MÉDIA 45% DA MOVIMENTAÇÃO ATÉ 2016. iniciativas concretas de planejamento estratégico para desenvolvimento diferenciado da infraestrutura portuária nas regiões menos favorecidas, reduzindo as dificuldades regionais e ampliando as perspectivas de melhor equilíbrio na matriz de divisão modal brasileira. SÉRGIO FARIA Vice-presidente do Grupo TPC e professor da UFBA 54 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística PAINEL 2015 Foto: Divulgação O processo de concessão de aeroportos permitiu a aceleração dos investimentos por conta da capacidade de aporte financeiro da iniciativa privada to e conhecimento operacional são algumas DEPOIS DE DÉCADAS SEM MELHORIAS E MODERNIZAÇÕES, O BRASILEIRO E O TURISTA QUE POUSAREM EM TERRITÓRIO NACIONAL ENCONTRARÃO AEROPORTOS MELHORES E COMPATÍVEIS COM O PADRÃO DE QUALIDADE INTERNACIONAL. das características presentes e que são fundamentais para o sucesso do nosso trabalho. Sabemos que ainda há muito a fazer, mas as obras estão em ritmo acelerado e até abril de 2016 uma renovação completa trará mais conforto e segurança aos passageiros. A modernização estará refletida na construção de um píer anexo ao terminal 2, com 26 novas pontes de embarque, novos elevadores e esteiras, renovação completa do sistema de ar-condicionado e energia, além de melhorias no pátio de aeronaves e estacionamentos. Para essa primeira fase, estão concentrados R$ 2 bilhões de investimento e, até o fim da concessão, investiremos R$ 5 bilhões, reforçando nosso UM VOO DE VOLTA AO compromisso em resgatar o sentimento de PIONEIRISMO orgulho pelo aeroporto que é, inegavelmente, um marco do Rio de Janeiro e uma das principais portas de entrada do Brasil. Foto: João Laet Luiz Rocha epois de décadas sem melhorias e mo- pouco tempo, passageiros, visitantes e funcio- ção de cargas, galpões e escritórios, além da dernizações, o brasileiro e o turista que nários da comunidade aeroportuária puderam aquisição de novos equipamentos e adoção D pousarem em território nacional en- usufruir de mais opções de alimentação, lojas de novos processos e procedimentos. Esses contrarão aeroportos melhores e compatíveis e serviços de transporte, além da melhoria no investimentos já proporcionaram uma redu- com o padrão de qualidade internacional. Esse funcionamento de escadas rolantes, elevado- ção de 20% no tempo médio de liberação novo cenário, que ainda está em construção, só res, energia e ar-condicionado. Os aprimora- de cargas, um ganho de extremo benefício foi possível devido ao processo de concessão mentos operacionais já implantados permi- para os clientes. de aeroportos que permitiu a aceleração dos in- tiram às companhias aéreas aumentarem a vestimentos por conta da capacidade de aporte oferta de voos e frequências, além de atrair Nosso trabalho gradativo em busca da exce- financeiro da iniciativa privada. novas linhas aéreas para o Rio de Janeiro. lência operacional vem também do aprendizado dos nossos sócios: a Odebrecht Mesmo os aeroportos concedidos na segun- A concessionária também já iniciou as refor- Transport, a Changi Airports International e a LUIZ ROCHA da rodada já começam a dar resultados. Em mas dos terminais de importação e exporta- Infraero. Expertise, investimento, planejamen- Presidente do RIOgaleão 55 56 Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística RODOVIAS José Alberto Pereira Ribeiro Foto: Alexandre Fortes Apenas 12% das rodovias brasileiras são pavimentadas, o percentual mais baixo do mundo specialistas da área econômica cor- Segundo a Associação de Comércio Exterior roboram o pleito do segmento de in- do Brasil (AEB), o custo logístico interno equi- fraestrutura de transportes por mais vale a aproximadamente, 11,5% do PIB nacio- investimentos nas rodovias federais, mesmo nal, algo em torno de US$ 500 bilhões. O gasto em tempos de ajuste fiscal. Independente da representa o dobro do registrado nos Estados forma, o apelo tem endereço certo e chega Unidos, o triplo da Europa e quatro vezes mais com o peso do momento emblemático, no que o da China. Sem mencionar a burocracia, qual o país sofre com a crise econômica, mas outro fator que pesa nessa logística. E precisa voltar a crescer urgentemente. É hora de seguir em frente, de saldar as díviNão é mais tolerável que o setor continue a convi- das com as empresas, para tocar as obras que ver com incertezas que comprometem a execu- estão em andamento. E na sequência, voltar a ção e o prazo de entrega de obras sob a gestão avaliar o direcionamento do recurso vinculado do Estado. Muitos desses temores têm origem para o segmento rodoviário, a Cide-Combus- nos processos de contratações equivocados, ca- tíveis (contribuição de intervenção no domínio rentes de ajustes, como ocorre com o Regime econômico). Sem Cide, destinada à finalidade Diferenciado de Contratações (RDC). O modelo constitucional, o país perde uma arrecadação peca, essencialmente, por não separar obras de de R$ 12 bilhões ao ano. grande complexidade daquelas de menor porte. JOSÉ ALBERTO PEREIRA RIBEIRO Engenheiro civil e presidente da Aneor Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias A despeito da onda de apreensões e do desâAtualmente, o Brasil detém o percentual mais nimo que rondam o cenário econômico mun- baixo do mundo em pavimentação de rodo- dial e nacional, as empresas associadas à ANE- vias (12%), levando-se em conta a extensão de OR mantêm o compromisso de honrar seus 1,7 milhão de quilômetros de estradas, com contratos e concluir os trabalhos. Entretanto, apenas 215 mil pavimentados. Lamentável, cabe ao poder público tomar a firme decisão menosprezar uma malha rodoviária por onde de voltar a apostar numa área capaz de recolo- o país transporta quase 70% da safra agrícola. car o país no ranking da competitividade. Foto: Divulgação MAIS E MELHORES