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O uso da Somatropina líquida administrada por caneta no tratamento da deficiência do Hormônio do Crescimento Brasília – DF Agosto/2008 MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Parecer Técnico-Científico: O uso da Somatropina líquida administrada por caneta no tratamento da deficiência do Hormônio do Crescimento Brasília – DF Agosto/2008 2008 Ministério da Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. Este estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT/MS) e não expressa decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). Informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Sede, 8° andar, sala 852 CEP: 70058-900, Brasília – DF Tel.: (61) 3315-3633 E-mail: [email protected] [email protected] Home Page: http://www.saude.gov.br/rebrats Elaboração: Revisão Técnica: Priscila Gebrim Louly (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Luiz Henrique Picolo Furlan (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Fernanda de Oliveira Laranjeira (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse Nenhum dos autores recebe qualquer patrocínio da indústria ou participa de qualquer entidade de especialidade ou de pacientes que possa ser incluído como conflito. iii RESUMO Introdução: O hormônio do crescimento (GH), ou somatropina, é um hormônio produzido pela glândula pituitária anterior e é essencial para o crescimento do ser humano. O tratamento da deficiência desse hormônio é realizado com administração de somatropina. Atualmente, a somatropina está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) na apresentação de 4UI e 12UI frasco-ampola/seringa, na forma de pó liofilizado que, após reconstituído, é administrado via subcutânea uma vez por dia, por 6 a 7 dias na semana. Em 1989 surgiu um novo sistema de injeção, por meio de caneta, que promete algumas vantagens sobre seringa, tais como: maior facilidade no manuseamento; menor tempo de administração; menos dor na aplicação. Essas vantagens aumentam a adesão ao tratamento, a qual está diretamente relacionada com os desconfortos advindos da aplicação do medicamento. Objetivo: O objetivo desse documento é avaliar a eficácia da somatropina administrada na forma de caneta, comparado com as formas alternativas de administração disponíveis. Metodologia: Foi realizada uma busca em bancos de dados eletrônicos: Medline (via PubMed), Cochrane Library (via Bireme), Center for Reviews and Dissemination e TripDatabase. Os termos utilizados na busca foram: “somatropin”, “norditropin”, “nordilet”, “growth hormone”, pen”. Foram selecionados dois estudos nãorandomizados, abertos, sem comparação entre grupos (a comparação dos resultados finais foi feita com o baseline). Considerações Finais: Os resultados dos estudos incluídos nesse PTC mostraram que a administração por caneta parece ser menos dolorosa (35% referiram maior dor com a seringa, 59% consideraram que a dor foi igual com a seringa e a caneta e 6% a dor foi maior com a caneta). Entretanto, a qualidade metodológica desses estudos é limitada, como número pequeno de participantes (12 e 51), falta de randomização dos grupos, subjetividade na aferição da dor em crianças com idade média de 7 anos, além do fato de não ser possível o cegamento das intervenções. Além disso, ambos os estudos foram financiados pela indústria, o que representa um potencial conflito de interesses. Nesta ocasião, a evidência disponível é insuficiente e não permite avaliar a superioridade de eficácia da somatropina na forma de caneta como Hormônio do Crescimento comparado a somatropina atualmente disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde. iv SUMÁRIO Contexto ........................................................................................................................... 6 Pergunta ........................................................................................................................... 7 Introdução ........................................................................................................................ 8 Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais ............................................. 8 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas ......................... 9 Somatropina - caneta................................................................................. 9 Alternativas terapêuticas .........................................................................11 Método para elaboração do Parecer Técnico-Científico ................................................12 Bases de dados e estratégia de busca ..................................................................12 Critérios de seleção e exclusão de artigos ..........................................................13 Resultados .......................................................................................................................14 Apresentação dos resultados dos estudos .......................................................... 14 Interpretação dos resultados .............................................................................. 16 Recomendações ............................................................................................................. 17 Referências bibliográficas ............................................................................................. 18 v Contexto Este Parecer Técnico-Científico (PTC) foi elaborado pela Área de Avaliação de Tecnologias em Saúde do DECIT/SCTIE/MS para avaliar as evidências científicas disponíveis atualmente acerca da eficácia e segurança da tecnologia em questão, visando ao bem comum e à eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS). Este PTC tem a finalidade de subsidiar a tomada de decisão do Ministério da Saúde e dos demais gestores do SUS, e não expressa a decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação. 6 Pergunta Para sua elaboração, estabeleceu-se a seguinte pergunta, cuja estruturação encontra-se apresentada no Quadro 1: Quadro 1: Pergunta estruturada para elaboração do PTC População Intervenção (tecnologia) Comparação Desfechos (resultados em saúde) Pacientes com deficiência de GH. Somatropina líquida administrada por uma caneta Somatropina disponível atualmente no SUS (pó liofilizado administrado por seringa, após reconstituição) Facilidade da técnica de aplicação, dor, preferência do paciente, adesão, eventos adversos, taxa de crescimento, qualidade de vida e sobrevida Pergunta: A administração da somatropina por caneta aumenta a adesão ao tratamento de deficiência de GH, é mais eficaz e segura quando comparada com a administração por seringa, atualmente disponibilizada no SUS? 7 Introdução Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais O hormônio do crescimento (GH), ou somatropina, é um hormônio produzido pela glândula pituitária anterior e é essencial para o crescimento do ser humano, agindo diretamente nas placas de crescimento 1. Também possui importante papel no metabolismo de proteínas, lipídeos e carboidratos1. A deficiência de GH é caracterizada pela baixa estatura, micropênis, aumento de gordura, voz aguda, propensão a hipoglicemia2. A deficiência de GH pode ocorrer isoladamente ou associada a outras deficiências de hormônios hipofisários, o que é chamado hipotuitarismo ou Síndrome de Simmond ou Síndrome de Sheehan. O hipotuitarismo caracteriza-se pela diminuição ou interrupção da secreção de um ou mais hormônios da adenohipófise, incluindo hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo estimulante (FSH), hormônio do crescimento (somatotrofina ou somatropina) e corticotropina3. As causas dessa deficiência podem ser idiopáticas, congênitas ou adquiridas (tumores, traumas/lesões hipofisários, irradiação do sistema nervoso central, etc). A falha no crescimento também está presente em crianças com insuficiência renal crônica, Síndrome de Turner e Síndrome de Pradder-Willi2. Faltam dados sobre a prevalência de pessoas com deficiência de GH no Brasil, mas a estimativa é que existam 2726 crianças menores de 16 anos na Inglaterra e 162 no País de Gales com essa deficiência1. Nos Estados Unidos, a incidência da deficiência é de 1 para cada 3480 nascidos vivos2. O tratamento é feito com reposição de GH, que age diretamente nas placas de crescimento epifisárias. O uso do GH é reconhecidamente eficaz1, os primeiros estudos que avaliaram seu uso datam da década de 504. Inicialmente o GH era extraído da hipófise de cadáveres humanos. Porém, essa prática foi associada à ocorrência da doença de Creutzfeldt-Jakob (encefalopatia)5 e seu uso foi suspenso em 1985, quando começou a ser produzida a somatropina humana recombinante. O ministério da saúde possui Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas2 para tratamento da deficiência do hormônio do crescimento e diz que o medicamento está indicado para crianças com deficiência de GH caracterizadas, principalmente, por apresentarem baixa estatura e redução na velocidade de crescimento. Estão excluídas do 8 protocolo crianças com doença neoplásica ativa, doença aguda grave, hipertensão intracraniana benigna ou retinopatia diabética proliferativa ou pré-proliferativa. O protocolo não prevê o uso de somatropina em adultos com essa deficiência hormonal. Atualmente, a somatropina está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) na apresentação de 4UI e 12UI frasco-ampola/seringa, na forma de pó liofilizado que, após reconstituído, é administrado via subcutânea uma vez por dia, por 6 a 7 dias na semana. Em 1988 pesquisadores estudaram o uso de um sistema de injeção por meio de caneta (inicialmente desenvolvido para administração de insulina, para facilitar o uso e aumentar a adesão) em pacientes com deficiência de GH6. O estudo mostrou que os pacientes preferiram a caneta pela facilidade de preparar o medicamento, menor tempo na administração, menor dor na aplicação. Esse sistema de canetas foi autorizado pela primeira vez na Nova Zelândia em 1989 e promete algumas vantagens sobre seringa, tais como7: Não é necessário diluir; Maior facilidade de manuseamento; Menor tempo de administração; Fornece independência ao paciente; Menos dor na aplicação. As vantagens acima citadas aumentam a adesão ao tratamento, a qual está diretamente relacionada com os desconfortos advindos da aplicação do medicamento. Assim, este parecer técnico foi elaborado para avaliar a eficácia da forma de administração da somatropina por meio de caneta. Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas Somatropina - caneta A somatropina (polipeptídeo recombinante) administrada por caneta é comercializada no Brasil com o nome comercial Norditropin®, fabricado pelo laboratório Novo Nordisk. Está disponível em frasco-ampola contendo pó liofilizado de 4UI e 12UI e na forma de solução injetável de 5, 10 e 15 mg administrada por meio de 9 uma caneta (NordiletTM), sendo que 1mg equivale a 3UI8. A apresentação de 10 mg está registrada9 no Brasil sob o número 11766.0006/013-8 e validade 06/2011. É um medicamento usado em pessoas com baixa estatura idiopática ou secundária (deficiência de hormônio do crescimento, síndrome de Turner, insuficiência renal crônica, síndrome de Pradder-Willi), crianças com baixa estatura ao nascer em relação à idade gestacional1. É administrado via subcutânea nas seguintes doses10: Crianças com deficiência de GH: dose de 0,024 a 0,034 mg/kg/dia 6 a 7 vezes por semana, descontinuando até a consolidação das epífises. Crianças com Síndrome de Turner: até 0,067 mg/kg/dia, descontinuando até a consolidação das epífises. Crianças com insuficiência renal crônica: dose de até 0,35 mg/kg/semana, dividida em doses iguais, pode continuar até o transplante renal. Baixa estatura para a idade gestacional: dose de 0,48 mg/kg/semana dividida em doses iguais dadas 6 a 7 dias por semana. Adultos com deficiência de GH: dose inicial é de 0,004 mg/kg/dia; podendo ser aumentada até no máximo 0,016 mg/kg/dia após 6 semanas. Também pode ser usada uma dose inicial alternativa de 0,2 mg/dia (variando de 0,15 a 0,30 mg/dia) aumentando em 0,1 a 0,2 mg/dia a cada 1 a 2 meses de acordo com a resposta do paciente. Está contra-indicado em pacientes pediátricos com epífise fechada, em pacientes com retinopatia diabética, sensibilidade a somatropina, câncer ativo. Nos casos de síndrome de Pradder-willi, não é recomendado o uso em pacientes obesos ou que tem insuficiência respiratória pelo aumento no risco de mortalidade. O grau de risco do uso durante a gravidez é C1, 11. Não há consenso sobre a segurança de seu uso durante a lactação, o risco não deve ser descartado10. Deve ser usado com cuidado em pacientes com doença renal crônica, pois pode apresentar declínio da função renal. Recomenda-se monitorar a função renal, e ajustar a dose, caso necessário. Deve ser usado com cautela em pacientes diabéticos, pode levar a 1 Estudos em animais não indicam risco para o feto e não existem estudos controlados em grávidas, ou não existem estudos animais ou humanos. O medicamento deve ser usado apenas se os potenciais benefícios justificarem o risco potencial para o feto. 10 intolerância à glicose. Há possibilidade de desenvolvimento de hipotireoidismo, assim, recomenda-se a monitorização da função tireoidiana10. Os efeitos adversos comuns são edema (13 a 50%), hipertensão (4,7 a 7,7%), eczema no local da injeção (32% to 50%), retenção de líquido corporal, hiperglicemia, hipotiroidismo (16%), dor abdominal (>20%), gastroenterite, náusea (>3%), vômito, dor de cabeça (7%), parestesia (6,7 a 11%) artralgia (10,8 a 23,3%), dor musculoesquelética (5 a 11%), mialgia (6,7 a 15%), hematoma (9%), bronquite (>9%), febre, sintomas de gripe (8 a 15%). Efeitos adversos graves: lesões na pele, Diabetes mellitus, pancreatite, leucemia, reação de hipersensibilidade, escoliose, câncer, otite média (em pacientes com Síndrome de Turner), morte súbita (em crianças com fator de risco e Síndrome de Padder-Willi)10. Possui biodisponibilidade de 60 a 80% por via subcutânea; é metabolizado pelo rim e fígado e o tempo de ½ vida varia de 3 a 5 horas12. Alternativas terapêuticas Atualmente, estão disponíveis no SUS a somatropina frasco-ampola de 4UI e 12UI na forma de pó liofilizado administrado, depois de reconstituído, por seringa. Os preços dos medicamentos são apresentados na tabela a seguir: Tabela 1 - Preço do Norditropin® e de suas alternativas terapêuticas Medicamento Somatropina 1 frasco-ampola de 4 UI Somatropina 1 frasco-ampola de 12 UI Norditropin® Nordilet, 10 mg cartucho + aplicador Preço unitário Preço / UI* R$ 20,78 a 25,44 13 R$ 5,20 a 6,36 R$ 73,80 a 145,2513 R$ 6,15 a 12,10 R$ 945,19 a 1338,7314 R$ 31,50 a 44,62 *1 mg = 3 UI 11 Método para elaboração do Parecer Técnico-Científico Bases de dados e estratégia de busca Realizou-se ampla busca em bases de dados objetivando-se encontrar a melhor base para evidência científica, representada por revisões sistemáticas ou, na falta dessas, estudos cínicos randomizados e controlados. A pesquisa foi realizada com os termos “somatropin”, “norditropin”, “nordilet”, “growth hormone”, pen” nas bases de dados eletrônicas: Medline (via Pubmed)15, Cochrane Library (via Bireme)16, Center for Reviews and Dissemination17 e TripdataBase18. Como não foi encontrado nenhum estudo (revisão sistemática ou ensaio clínico randomizado) que comparasse somatropina administrada por caneta com a somatropina administrada por seringa, foram incluídos neste PTC dois estudos clínicos CrossOver, abertos, não-randomizados. As estratégias de busca utilizadas em cada base e o resultado encontram-se na Tabela 2. Tabela 2 - Pesquisa em bases de dados eletrônicas realizada em 03/07/2008. Base Medline (via Pubmed)15 Cochrane Library16 Center for Reviews and Dissemination17 TripDataBase18 Resultados Estudos selecionados Estudos utilizados 25 9 1 17 5 0 14 7 1 (somatropin) OR (norditropin) 83 1 0 (norditropin) (nordilet) (somatropin) (somatropin) and (pen) (norditropin) (nordilet) (somatropin) and (pen) 0 0 8 0 9 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Termos ("somatotropin-binding protein "[Substance Name] OR "Growth Hormone"[Mesh] OR "Human Growth Hormone"[Mesh]) AND (pen) Limite = humano ((somatropin) and (pen)) AND (randomized controlled trial[Publication Type] OR (randomized[Title/Abstract] AND controlled[Title/Abstract] AND trial[Title/Abstract])) (norditropin simplexx) and (pen) 12 Critérios de seleção e exclusão de artigos O principal critério de seleção para esse parecer foram revisões sistemáticas de ensaios clínicos, seguidas de ensaios clínicos controlados randomizados. Outro critério de inclusão foi estudo que comparasse a somatropina administrada por caneta com a somatropina administrada por seringa. Alguns critérios de exclusão foram determinados, como estudos que não comparassem a caneta com a seringa, revisões narrativas, avaliações econômicas, registros de ensaios controlados, apenas resumos de ensaios clínicos, estudos em língua estrangeira que não portuguesa ou inglesa. A pesquisa resultou em 158 artigos. Considerando os critérios acima mencionados e o fato de que não foi encontrado nenhuma revisão sistemática ou ensaio clínico randomizado, após análise do título e / ou resumo, foram selecionados 22 estudos para análise aprofundada da qualidade metodológica. Desses, 11 eram duplicados e três foram excluídos, pois dois comparavam a caneta com outro dispositivo de administração que não a seringa e um estudava outro tipo de caneta que não o Nordilet. Dos restantes, não foi possível obter o artigo completo de 6 estudos sendo, então, utilizados neste PTC apenas dois estudos não-randomizados, abertos, sem comparação entre grupos (a comparação dos resultados finais foi feita com o baseline). 13 Resultados Apresentação dos resultados dos estudos Tabela 3 - Resultados dos estudos selecionados. TIPO DE ESTUDO/ POPULAÇÃO Marchisotti Estudo nãoet al, randomizado, aberto. 2007 19 Não houve comparação entre grupos, os resultados finais foram comparados com o baseline. ESTUDO DESFECHOS Seringa vs caneta Técnica de aplicação* Muito fácil: 10% vs 70% Fácil: 50% vs 30% Difícil: 40% vs 0% Muito difícil: 0% vs 0% Dor à aplicação* Nenhuma: 20% vs 50% Pouca: 50% vs 50% Moderada: 30% vs 0% Muita: 0% vs 0% Desperdício de medicamento* Nenhum: 10% vs 50% Pequeno: 60% vs 50% Médio: 30% vs 0% Grande: 0% vs 0% n = 12 crianças de 7,6 ± 3,7 anos, tempo de estudo = 6 meses Norditropin 4U (somatropina frascoampola) vs Norditropin SimpleXx 10mg (somatropina líquida em caneta) RESULTADOS Armazenamento e Muito fácil: 10% vs 70% transporte* Fácil: 50% vs 30% Difícil: 40% vs 0% Muito difícil: 0% vs 0% Preferência 100% preferiram a caneta Conflito de interesse O medicamento usado no estudo foi fornecido pela NovoNordisk. * Os desfechos foram avaliados por meio de questionário fornecido aos pacientes/familiares no início do estudo e após 3 meses de uso da caneta. 14 Iyoda et al, 1999 20 Estudo nãorandomizado, aberto. Não houve comparação entre grupos, os resultados finais foram comparados com o baseline. Os desfechos foram observados no início (basal) e no final do estudo para comparação Basal (±DP) vs Final (±DP) Taxa de crescimento (cm/ano) GRUPO A = 4,0 (±2,4) x 9,2 (±2,9); p<0,01 GRUPO B = 7,0 (±2,4) x 6,7 (±1,9); NS Altura (Z-score) GRUPO A = -2,6 (±0,6) x 2,1 (±0,5); p<0,01 GRUPO B = -2,0 (±0,6) x 1,9 (±0,9); NS Altura idade/idade óssea GRUPO A = 0,87 (±0,17) x 0,98 (±0,22); p<0,05 GRUPO B = 0,84 (±0,13) x 0,86 (±0,13); NS GRUPO B: GRUPO B: Conveniência no uso 85% consideraram a caneta mais conveniente do que a seringa Dor Caneta menor do que a seringa: 35% Igual: 59% Maior: 6% Manuseamento Caneta mais fácil do que a seringa: 88% Igual: 12% Preferência Caneta: 79% Seringa: 3% Não opinaram: 18% Conflito de interesse O medicamento usado no estudo foi fornecido pela NovoNordisk. n = 51 crianças tempo de estudo = 6 meses GRUPO A - n = 15 virgens de tratamento com GH - Idade: 7,5 ± 2,6 - Intervenção: Norditropin SimpleXx 10mg (somatropina líquida em caneta) GRUPO B - n = 36 que recebiam previamente ao estudo tratamento com GH - seringa - Idade: 8,7 ± 2,1 - Intervenção: mudança para Norditropin SimpleXx 10mg (somatropina líquida em caneta) DP = Desvio Padrão NS = Não Significativo 15 Interpretação dos resultados Os estudos selecionados apresentam qualidade metodológica limitada, com pequeno número de participantes (12 pacientes no estudo de Marchisotti 19 e 51 pacientes no estudo de Iyoda20) e falta de randomização dos grupos. Além disso, no estudo de Iyoda e colaboradores 20 os grupos A e B não são comparáveis em relação aos desfechos Taxa de crescimento (cm/ano), Altura (Z-score), Altura idade/idade óssea, pois os pacientes do grupo A eram virgens de tratamento e os do grupo B já recebiam a somatropina aplicada com seringa e passaram a utilizar a caneta. Os autores compararam os pacientes de cada grupo em relação a fase basal e após o tratamento. A comparação entre a estratégia de aplicação com caneta ou seringa só foi feita no grupo B quando os pacientes foram submetidos ao cross over. Depois foram avaliados desfechos subjetivos relacionados à adesão como conveniência no uso, dor, manuseio e preferência. Ambos os estudos incluídos nesse PTC19,20 foram financiados pela indústria, o que representa um potencial conflito de interesses. Outro fator de potencial viés seria a subjetividade na aferição da dor em crianças com idade média de 7 anos, além do fato de não ser possível o cegamento das intervenções. Contudo, um estudo21 (não incluído nesse PTC por falta de acesso ao artigo na íntegra) mostrou que a biodisponibilidade da somatropina administrada por caneta é a mesma da administrada por seringa. Porém, dados em relação à eficácia não estão disponíveis. Alguns estudos22 mostram que o desconforto na aplicação do medicamento, a mudança na rotina e incômodos no transporte são problemas comuns e que influenciam diretamente no abandono do tratamento. Os estudos incluídos nesse PTC mostraram que a administração por caneta parece ser menos dolorosa (35% referiram maior dor com a seringa, 59% consideraram que a dor foi igual com a seringa e a caneta e 6% a dor foi maior com a caneta). 20 O manuseio também seria mais fácil com a caneta do que a seringa, além de ser mais fácil de transportar e armazenar. 16 Recomendações Nesta ocasião, a evidência disponível é insuficiente e não permite avaliar a superioridade de eficácia da somatropina na forma de caneta como Hormônio do Crescimento comparado à somatropina atualmente disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde. Os estudos disponíveis mostraram que a administração por caneta parece apresentar vantagens do ponto de vista da adesão terapêutica. Assim, seriam necessários mais estudos comparativos para avaliar a eficácia e segurança das duas formas de administração de hormônio do crescimento. Se ambas as estratégias apresentarem eficácia e segurança similares, uma avaliação econômica seria útil para subsidiar a decisão de incorporação da caneta, tendo em vista sua possível vantagem em relação à adesão e o seu maior preço por Unidade posológica. 17 Referências Bibliográficas: 1 - Guidance on the use of human growth hormone (somatropin) in children with growth failure. National Institute for Clinical Excellence (NICE). Technology Appraisal Guindance nº 42. 2005. 2 – Harrison’s princípios de Medicina Interna, 16ª edição. Disponível em: http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/hcp/library/hol_inicio.html 3 - BRASIL, Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Deficiência de Hormônio do Crescimento – Hipotuitarismo. Somatropina. 2006 4 - Raben MS. Treatment of a pituitary dwarf with human growth hormone. J Clin Endocrinol Metab 1958; 18: 901-903. 5 - Hintz RL. The prismatic case of Creutzfeldt-Jakob disease associated with pituitary growth hormone treatment. 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Disponível em: http://www.crd.york.ac.uk/crdweb. Acessado em 03/07/2008. 18 - TRIPDATABASE. Disponível em: http://www.tripdatabase.com/index.html, Acessado em 03/07/2008. 19 - Marchisotti FG, Carvalho LRS, Berger K, Arnhold IJP, Mendonça BB. Tratamento da deficiência do Hormônio de Crescimento (GH) em crianças: comparação entre o isso de canetas versus frascos/seringas para a aplicação do GH. Arq Bras Endocrinol Metab 2007;51/7:1093-1096 20 - Iyoda K, Moriwake T, Seino Y, Niimi H. The Clinical Usefulness of Liquid Human Growth Hormone (hGH) (Norditropin® SimpleXxTM) in the Treatment of GH Deficiency. Horm Res 1999;51(suppl 3):113–115 21 - Blok GJ, van der Veen EA, Susgaard S, Larsen F. Influence of concentration and injection volume on the bioavailability of subcutaneous growth hormone: comparison of administration by ordinary syringe and by injection pen. Pharmacol Toxicol. 1991 May;68(5):355-9. 22 - Smith SL, Hindmarsch PC, Brook CGD. 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