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Acesse a publicação em www.saberviver.org.br Uma publicação da Saber Viver Comunicação para profissionais envolvidos na distribuição de anti-retrovirais | Ano 4 | Julho/Agosto de 2007 A semente germinou Mas o papel do farmacêutico na enfermaria ainda pode crescer muito Os limites entre o farmacêutico e o médico Noemi aponta duas circunstâncias em que o farmacêutico costuma auxiliar especialmente os médicos: quando há recomendação de diminuir a sensibilidade do paciente a uma determinada substância, e quando o paciente precisa de um medicamento feito exclusivamente para ele. No primeiro caso, se uma pessoa precisa tomar um medicamento que contenha justamente a substância que não tolera, o médico muitas vezes conversa com o farmacêutico sobre o que prescrever para amenizar essa intolerância. No segundo caso, ela fala de uma paciente que veio da Itália e está internada no IPEC fazendo uso de um medicamento que não existe no Brasil. Agora, a farmácia vai decidir junto ao médico se a prescrição será trocada ou não. Na internação, Noemi verifica cada detalhe a cada dia. A pontado pela nova geração como referência em assistência farmacêutica, o prof. Levy Gomes Ferreira desconversa: “Plantei uma semente para os outros, cresceu um pouquinho, mas a árvore ainda não ficou frondosa”, avalia. Levy foi funcionário da Universidade Federal do Rio de Janeiro por 43 anos, período em que atuou como diretor da Faculdade de Farmácia e como chefe da farmácia do Hospital Universitário Clementino Fraga. A árvore que plantou pode não estar crescendo tão rapidamente quanto ele gostaria, mas já deu frutos. Um exemplo é o trabalho do farmacêutico junto aos pacientes internados realizado no Instituto de Pesquisa Evandro Chagas (IPEC-Fiocruz). Ali a maioria dos 32 leitos é ocupada por soropositivos que usufruem, além dos cuidados de enfermeiros e médicos, a atenção de farmacêuticos como Noemi da Rosa Pereira. ACONTECEU Anunciadas novidades no tratamento anti-aids 2 solução 20.indd 1 Os limites entre o farmacêutico e o enfermeiro “O enfermeiro cuida do paciente e o farmacêutico cuida para que o medicamento chegue ao paciente da forma mais correta”, explica Noemi. O trabalho começa com a análise da prescrição médica. Na internação, os detalhes das prescrições precisam ser observados diariamente, enquanto na farmácia ambulatorial só se faz uma conferência mensal por paciente. A prescrição sempre pode mudar e há ainda o problema da divergência entre o papel e o computador: “O médico faz a prescrição no computador, mas a correção ele costuma fazer à caneta, simplesmente riscando o papel impresso. Então, no dia seguinte, a prescrição será impressa sem as correções da véspera”, observa. A intervenção do farmacêutico na enfermaria é bem-vinda: “A enfermagem gosta, pois assim recebe a dose bem certinha”, assegura Noemi. Fora isso, pode haver troca de via de administração: “Nisso a farmácia também ajuda”, diz ela. EM DESTAQUE Atendimento pediátrico em farmácia do Rio 3 Os limites entre o farmacêutico e o paciente “Procuro me preservar na relação com o paciente. Alguns ficam meses internados. Se a gente se apega, pode sofrer”, observa Noemi. O “apego” ao paciente de que ela fala é o reflexo natural do avanço da assistência farmacêutica desde o início dos anos 80, quando se descobriu o HIV. O prof. Levy Gomes Ferreira lembra que até meados dos anos 90 a relação era bem diferente. Todos os pacientes portadores do vírus eram terminais e, mesmo entre os profissionais de saúde, havia o receio da aproximação com esses doentes: “Nem se pensava em acompanhamento farmacêutico na enfermaria”, afirma. Formado em 1950 pela própria UFRJ, Levy é coordenador de estágio na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Ele sabe que ainda faltam farmacêuticos nos hospitais para suprir a demanda da internação. Exercendo o papel de educador, porém, não desistiu de cuidar da árvore que plantou um dia. COMPROMISSO Três anti-retrovirais sofrem mudanças 4 2/10/2007 19:07:14 ACONTECEU Futuro promissor para o combate à aids www.ias2007.org Novos anti-retrovirais são anunciados em conferência internacional A IV Conferência Sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV da Sociedade Internacional de Aids reuniu 5 mil pessoas de 133 países. A terapia anti-retroviral está sendo reforçada por quatro novos medicamentos anunciados durante a conferência da International Aids Society (IAS) realizada em Sidney, Austrália, em julho deste ano. Dois deles pertencem a duas novas classes de medicamentos: Maraviroc (inibidor de CCR5) e Raltegravir (inibidor de integrase). Os demais são Intravirna e Rilpivirina, inibidores da transcriptase reversa não análoga de nucleosídeo (NNRTI). Além destes, um outro anti-retroviral, o Darunavir (TMC 114), da classe inibidor da protease, deve estar disponível no mercado brasileiro no início de 2008. A notícia da chegada desses medicamentos é comemorada por profissionais de saúde e pacientes, pois eles aumentam a chance de tratamento para quem está em falha terapêutica e, para os que estão em início de terapia, oferecem uma alternativa com menos efeitos colaterais. Dentre os novos ARVs anunciados na IAS, apenas o Maraviroc está registrado no Brasil e já foi aprovado pelo FDA, o órgão norteamericano responsável pela regulamentação dos medicamentos e dos alimentos. Antes de chegar aos pacientes brasileiros, todos eles ainda precisam ser aprovados pela Anvisa e depois incorporados ao tratamento pelo Ministério da Saúde. Os cinco novos ARVs: • Maraviroc (Celsentri), primeiro inibidor de CCR5 aprovado pelo FDA. Produzido pelo Laboratório Pfizer, está registrado no Brasil, mas ainda precisa do aval da Anvisa e do Consenso Terapêutico antes de chegar ao paciente. • Raltegravir (Isentress), inibidor de Integrase produzido pelo Laboratório Merck. Deve ser aprovado pelo FDA ainda este ano. • Intravirina (TMC 125), inibidor de NNTRI produzido pelo Laboratório Tibotec. Foi registrado nos EUA em julho de 2007 e deve ser aprovado pelo FDA. • Rilpivirina (TMC 278), inibidor de NNTRI produzida pelo Laboratório Tibotec. Só deve ser liberado para uso em 2009. • Darunavir (TMC 114), inibidor de Protease produzido pelo Laboratório Tibotec. Disponível para tratamento no Brasil a partir de 2008. NOTA Em linha direta com os pacientes N o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/ Fiocruz), eventos adversos e queixas sobre medicamentos são transmitidas diretamente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A farmacêutica Lusiele Guaraldo, gerente de Risco Sanitário Hospitalar da unidade, é responsável pela complementação, organização, avaliação e envio dos dados informados pelos enfermeiros, farmacêuticos e médicos. O contato com a Anvisa, então, é intermediado pela Unidade de Farmacovigilância do Estado do Rio de Janeiro: “O envio é feito on-line desde 2005”, conta Lusiele. Para ela, porém, mais que a rapidez na transmissão dos dados, o importante é ter o paciente como principal agente notificador: “A linha direta com o paciente é o nosso diferencial”, avalia. Reações comuns também merecem atenção Além de receber notificações através de membros da equipe multidisciplinar do instituto, Lusiele atende pelo menos um paciente por dia, encaminhado pelos farmacêuticos da Farmácia Ambulatorial. Em sua sala/ consultório, registra os casos de eventos adversos ou queixas técnicas. Mas seu papel é também orientar: “Sempre digo que ele não deixe de tomar o medicamento e o encaminho de volta ao médico”, diz. Ela não deixa de transmitir à Anvisa nem as suspeitas de reações adversas mais comuns: “Em relação aos anti-retrovirais, estão previstas em bula reações freqüentes, como enjôo e vômito. Mesmo assim, notifico”, observa. SAIBA+ www.ipec.fiocruz.br/ www.anvisa.gov.br/ 2 solução 20.indd 2 2/10/2007 19:07:15 NA PRATELEIRA EM DESTAQUE A hora de engolir A No atendimento pediátrico, o ritual de passagem da solução ao comprimido Conservação Esta nova formulação não deve ser conservada em geladeira. Recomenda-se conservá-la em temperatura ambiente, entre 15 e 30º C, protegida de luz e umidade. Como tomar Para adolescentes e adultos com mais de 13 anos e peso acima de 50 kg, recomenda-se 2 comprimidos de 12 em 12 horas, com ou sem alimento. Quando associado com efavirenz e nevirapina, recomenda-se 3 comprimidos de 12 em 12 horas. As crianças têm um contato direto com vocês? Não. Nem elas nem os adolescentes. São os pais ou responsáveis que nos procuram. Na farmácia, somos quase 40 funcionários, mas no ambulatório apenas eu e dois técnicos, o Delmo Valpassos e o Anderson Selva. Os dois estão aqui há mais tempo do que eu e conhecem cada pai ou responsável pelos nomes. Principais esquemas terapêuticos Com que idade as crianças em Letícia fez Farmácia para trabalhar com gente terapia com ARVs têm deixado sua última chance de tirar dúvidas. as soluções para tomar os comprimidos ou as cápsulas? Podemos abrir a embalagem junto com Varia. Tem criança de seis anos que ele, podemos ensiná-lo a usar. A seringa já aceita engolir um comprimido, tem para líquidos, por exemplo, parece difícil criança que não engole nem aos dez. Isso para alguns. pode ser complicado para o adulto que Como você encara a responsabilidade vem buscar o medicamento, por causa do seu trabalho? do peso das soluções. Em geral, cada paNossa clientela é de risco, atendemos ciente leva, mensalmente, de cinco a dez crianças e grávidas e qualquer erro pode frascos contendo entre 120 e 200 ml. ser muito grave. Isso me preocupa. Já No que mais você costuma auxiliar os pacientes? Somos o último contato antes de ele ir para casa com o medicamento. Quando passa por aqui, o paciente tem Nova apresentação Comprimidos de 200/50mg farmacêutica Letícia Lemme, de 35 anos, é responsável pela Farmácia Ambulatorial do Instituto Fernandes Figueira (IFF), no Rio de Janeiro. A unidade, que é referência no atendimento a gestantes, crianças e adolescentes, atende atualmente cerca de 50 pacientes com HIV/ aids. Fazendo as contas, pode chegar a dois litros de medicamento. Isso quando é apenas uma criança. Outro dia, vimos que seria um sacrifício para um pai levar os frascos dos dois filhos, um de oito e o outro de dez anos. Conversamos com o mais velho e ele aceitou engolir os comprimidos ou as cápsulas. O pai voltou para falar com o médico, trocou a prescrição e saiu daqui com a metade do peso. KALETRA (lopinavir/ritonavir) Co-formulação de dois inibidores de protease aconteceu de eu estar em casa e ficar paranóica com medo de ter dispensado o medicamento errado... Por que você fez Faculdade de Farmácia? Também pensava em Química Industrial, mas escolhi Farmácia para trabalhar com gente. Sempre tive esse perfil e acredito que todo mundo deve procurar trabalhar do jeito que mais gosta. Kaletra + zidovudina + lamivudina Kaletra + zidovudina + lamivudina + saquinavir Kaletra + zidovudina + lamivudina + abacavir Kaletra + zidovudina + lamivudina + efavirenz Kaletra + lamivudina + tenofovir Possíveis efeitos adversos Diarréia, náusea e vômito; dormência nos lábios e nas extremidades; possível aumento de sangramento em hemofílicos; aumento dos níveis de colesterol e triglicerídio; lipodistrofia e diabete. Principais interações com outras substâncias Interações perigosas com erva de são joão, cápsula de alho, echinácia, ginseng e ginko-biloba. Acesse os fascículos do SOLUÇÃO em www.saberviver.org.br SAIBA+ Instituto Fernandes Figueira (IFF) Av. Rui Barbosa, 716 / Flamengo Rio de Janeiro (21) 2554-1700 www.iff.fiocruz.br 3 solução 20.indd 3 2/10/2007 19:07:19 DESTAQUE COMPROMISSO POR DENTRO Hora de preparar o terreno T Mudanças em medicamentos contra o HIV anunciam benefícios e sugerem cuidados rês medicamentos utilizados na terapia anti-retroviral estão sofrendo mudanças. O efavirenz passou a ser produzido por outros laboratórios, deixando de ser exclusivo da empresa norte-americana Merck Sharp & Dohme, que o denomina Stocrin. O Brasil irá importar genéricos da Índia e pretende, em um ano, iniciar a produção nacional do medicamento. Já o amprenavir dará lugar ao seu pró-fármaco fosamprenavir, cuja formulação de liberação lenta diminui o número de comprimidos necessários, contribuindo certamente na melhoria da adesão ao tratamento. A maior novidade vem com o Kaletra. A combinação dos princípios ativos lopinavir/ritonavir não mudará, mas sua apresentação deixará de ser em cápsulas para ser em comprimidos revestidos desenvolvidos segundo técnica patenteada pelo laboratório Abbott. Essa nova formulação permitirá que o medicamento não necessite de refrigeração, que ele seja administrado acompanhando ou não as refeições e que seja menor a quantidade de unidades tomadas. Para completar a lista de benefícios ao paciente, o novo Kaletra deve provocar menos complicações gastrintestinais do que a formulação antiga. Paulo Roberto Gomes dos Santos, chefe da Farmácia Ambulatorial do Ipec-Fiocruz, lembra que os pacientes se acostumam com a cor, a forma, a embalagem e a posologia dos medicamentos e estranham as mudanças: “Por isso é melhor nos prepararmos para informá-los sobre essas novidades”, acredita. Ele informa que o efavirenz indiano, o Kaletra comprimidos e o fosamprenavir já estão estocados em Brasília e já estão sendo distribuídos para algumas farmácias do país conforme elas esgotam os estoques das formulações antigas. Gradativas, as mudanças ainda levarão meses para alcançar todo o território nacional. SAIBA+ Na pág. 3, em Na Prateleira, veja detalhes da nova formulação de Kaletra. Na página inicial do PNDST/Aids, clique em Novidades: www.aids.gov.br Dicas para evitar confusão Se o paciente demonstrar insegurança sobre a eficácia do efavirenz produzido por outros laboratórios, reforce a informação de que nada mudou nessa formulação. Quanto ao fosamprenavir e ao novo Kaletra, fique atento aos eventos adversos e queixas técnicas relatados pelos pacientes e os notifique. Também lembre aos pacientes sobre mudanças nas posologias: se ele for distraído, pode continuar tomando a quantidade a que já se habituou. CARTILHA Dicas Posithivas O Ministério da Saúde distribui 120 mil exemplares da cartilha Dicas Posithivas, direcionada para pessoas que têm o HIV e estão em tratamento. A publicação explica como devem ser utilizados os medicamentos anti-retrovirais, que fazem parte do chamado “coquetel”; sugere hábitos saudáveis e informa sobre como reduzir possíveis efeitos colaterais dos medicamentos e os riscos de interrupção do tratamento. Serviços de saúde, coordenações estaduais e municipais de DST e Aids e organizações da sociedade civil receberão o material. Distribua a cartilha entre seus pacientes! CONGRESSOS II Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos O II Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos acontece de 15 a 18 de outubro, no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina. As inscrições devem ser feitas on-line pelo site www.urm.ufsc.br XV Congresso Paulista de Farmacêuticos, VII Seminário Internacional de Farmacêuticos e Expofar O XV Congresso Paulista de Farmacêuticos, o VII Seminário Internacional de Farmacêuticos e a Expofar 2007, promovidos pelo Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRFSP), serão realizados de 20 a 23 de outubro no Palácio de Convenções do Anhembi, São Paulo-SP. O prazo para inscrição antecipada e com desconto vai até 30 de setembro. Após esta data, a inscrição deverá ser feita no local do evento. Mais informações no endereço www.congressocrf.org.br/congresso/ CONCURSO Prêmio Jayme Torres 2007 Se você tem experiência na área da homeopatia, pode ser o vencedor do Prêmio Jayme Torres 2007, promovido pelo Conselho Federal de Farmácia. Os profissionais devem enviar um artigo com o tema “Minha trajetória na Prática Homeopática”; para os estudantes, o tema é “Meu estágio numa Farmácia Homeopática”. O melhor autor em cada categoria receberá R$ 5 mil e R$ 3 mil respectivamente. As inscrições vão de 1/10 a 30/11 e o edital está disponível em www.cff.org.br Mande Sugestões! [email protected] Ano 3 | Nº20 | Julho/Agosto de 2007 solução 20.indd 4 Solução é uma publicação da Saber Viver Comunicação (21 2544 5345) | Rua 13 de Maio, 13, sala 1417 - Centro, Rio de Janeiro/RJ Cep: 20031-901 | Coordenação e edição: Adriana Gomez e Silvia Chalub | Edição e reportagem: Ana Letícia Leal | Reportagem: Flávio Guilherme | Secretária de redação: Ana Lúcia da Silva | Consultoria lingüística: Leonor Werneck | Foto: Paulo Múmia, agência Pedra Viva | Projeto gráfico: Metara Comunicação (21 22427609) | Conselho editorial: José Liporage Teixeira, Marília Santini, Paulo Roberto Gomes dos Santos e Sérgio Aquino | Impressão: Gráfica Joselia | Tiragem: 5 mil 2/10/2007 19:07:21