PDITS MT - PÓLO CERRADO.
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PDITS MT - PÓLO CERRADO.
Governo do Estado de Mato Grosso Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo PRODETUR NACIONAL POLO CERRADO - MT PRODUTO 2: RELATÓRIO DIAGNÓSTICO Volume 1/2 São Paulo, SP Agosto, 2010 2 CRÉDITOS: Elaboração: Ágere Hotelaria e Turismo Coordenação Geral: Daniel dos Santos Brondi Coordenação Técnica: Gleice Regina Guerra Assistente Técnica: Thais Spiezzi Rinaldi Consultores: Ana Cristina Trevelin Doriane Azevedo Hamilton de Menezes Fernandes Jane Vargas Patrícia Palermo Sérgio Salazar Salvati Solange Maria da Silva Telcio Prieto Barboza Colaboradores: Daniela Venturato Giordani Gabriel Quevedo de Souza Leão Marina P. Breglio Pontes Sasha Sayuri Ueno SEDTUR / MT Coordenação: Vanice Marques Simone Lara Assessoria Técnica: Amanda Maciel Elize Thomé Maria Irene de Menezes Fotos: Equipe Ágere, exceto quando mencionado o contrário 3 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... 6 LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 10 LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................ 12 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17 AJUSTE DE ESCOPO .................................................................................................. 18 1 Polo Cerrado .............................................................................................................. 35 1.1 Campo Verde ...................................................................................................... 40 1.2 Chapada dos Guimarães ..................................................................................... 40 1.3 Cuiabá ................................................................................................................. 40 1.4 Jaciara ................................................................................................................. 40 1.5 Nobres ................................................................................................................. 40 2 Mercado turístico ....................................................................................................... 42 2.1 Demanda atual .................................................................................................... 43 2.1.1 Brasil ............................................................................................................. 43 2.1.2 Polo Cerrado ................................................................................................. 50 2.2 Demanda potencial .............................................................................................. 59 2.2.1 Agências de turismo de Mato Grosso............................................................ 59 2.2.2 Operadoras de viagens nacionais ................................................................. 62 2.2.3 Estimativa de demanda potencial.................................................................. 65 2.2.3.1 Material e métodos ................................................................................. 66 2.2.3.2 Variáveis utilizadas ................................................................................. 67 2.2.3.3 Testes estatísticos .................................................................................. 70 2.2.3.4 Resultados e discussão .......................................................................... 71 2.2.4 Copa do Mundo e Olimpíadas ....................................................................... 75 2.3 Oferta turística ..................................................................................................... 78 2.3.1 Equipamentos e serviços .............................................................................. 83 2.3.1.1 Meios de hospedagem ........................................................................... 83 2.3.1.2 Alimentação ............................................................................................ 85 2.3.1.3 Transporte .............................................................................................. 87 2.3.1.4 Lazer e eventos ...................................................................................... 87 2.3.1.5 Serviço de receptivo ............................................................................... 91 2.3.2 Atrativos turísticos ......................................................................................... 93 2.3.2.1 Turismo de aventura e ecoturismo .......................................................... 94 2.3.2.2 Turismo cultural .................................................................................... 118 2.3.2.3 Turismo rural ........................................................................................ 135 2.3.2.4 Negócios e eventos .............................................................................. 140 3 Infraestrutura básica e serviços em geral ................................................................. 141 3.1 Acesso .............................................................................................................. 143 3.1.1 Acesso rodoviário........................................................................................ 143 3.1.1.1 Cuiabá/ Chapada dos Guimarães ......................................................... 147 3.1.1.2 Cuiabá/ Jaciara/ Campo Verde ............................................................. 155 3.1.1.3 Cuiabá/ Nobres..................................................................................... 161 3.1.2 Acesso aéreo .............................................................................................. 166 3.1.3 Acesso hidroviário e ferroviário ................................................................... 170 3.2 Saneamento ...................................................................................................... 171 4 3.2.1 Abastecimento de água .............................................................................. 173 3.2.2 Esgotamento sanitário ................................................................................ 185 3.2.3 Drenagem pluvial urbana ............................................................................ 187 3.2.4 Limpeza urbana .......................................................................................... 192 3.3 Transporte urbano ............................................................................................. 198 3.4 Comunicação .................................................................................................... 199 3.4.1 Telefonia ..................................................................................................... 199 3.4.2 Rádio e televisão ........................................................................................ 204 3.4.3 Jornais e revistas ........................................................................................ 206 3.5 Energia elétrica.................................................................................................. 208 3.6 Saúde ................................................................................................................ 213 3.7 Segurança ......................................................................................................... 215 3.8 Outras considerações ........................................................................................ 217 4 Quadro institucional ................................................................................................. 220 4.1 Órgãos e instituições ......................................................................................... 222 4.1.1 Órgãos públicos de gestão do turismo ........................................................ 222 4.1.2 Instituições de pesquisas e organizações não governamentais .................. 225 4.2 Capacidade de gestão e políticas públicas ........................................................ 228 4.2.1 Federal........................................................................................................ 228 4.2.2 Estadual ...................................................................................................... 231 4.2.3 Municipal ..................................................................................................... 235 4.2.3.1 Campo Verde ....................................................................................... 235 4.2.3.2 Chapada dos Guimarães ...................................................................... 236 4.2.3.3 Cuiabá .................................................................................................. 237 4.2.3.4 Jaciara .................................................................................................. 238 4.2.3.5 Nobres .................................................................................................. 239 4.2.4 Síntese........................................................................................................ 241 4.3 Organização e coordenação do planejamento turístico ..................................... 243 4.4 Legislação ......................................................................................................... 249 4.4.1 Legislação ambiental .................................................................................. 250 4.4.2 Proteção do patrimônio ............................................................................... 258 4.4.3 Legislação turística ..................................................................................... 260 4.5 Investimento turístico ......................................................................................... 262 4.5.1 Incentivos a empresas ................................................................................ 263 4.5.2 Condições de financiamento ....................................................................... 266 5 Aspectos socioambientais ........................................................................................ 271 5.1 Impactos ambientais .......................................................................................... 272 5.1.1 Atrativos ...................................................................................................... 277 5.1.2 BR-163/ 364 ................................................................................................ 280 5.1.3 EP Cachoeira da Fumaça, MT-457 ............................................................. 281 5.1.4 EP Cuiabá-Chapada dos Guimarães-Mirante, km 15, MT-251 .................... 283 5.1.5 MT-010 ....................................................................................................... 284 5.1.6 Síntese........................................................................................................ 285 5.2 Gestão ambiental pública .................................................................................. 286 5.2.1 Órgãos e instituições de gestão ambiental .................................................. 287 5.2.2 Capacidade institucional municipal e estadual ............................................ 289 5.2.2.1 SEMA-MT ............................................................................................. 289 5.2.2.2 CEHIDRO ............................................................................................. 291 5.2.2.3 Municípios ............................................................................................ 291 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental ............................................ 293 5.2.4 Unidades de Conservação .......................................................................... 296 5.2.4.1 UC Estaduais........................................................................................ 296 5.2.4.2 UC Federais ......................................................................................... 299 5.3 Gestão ambiental nas empresas privadas ......................................................... 304 5 5.4 Instrumentos de planejamento e controle territorial ........................................... 307 5.4.1 Zoneamento Econômico-Ecológico ............................................................. 308 5.4.2 Planos Diretores Municipais ........................................................................ 311 5.4.3 Projetos ambientais a implantar em áreas protegidas ................................. 315 5.5 Participação de grupos de interesse no desenvolvimento turístico .................... 320 CONSOLIDAÇÃO DO DIAGNÓSTICO .............................................................volume 2/2 REFERÊNCIAS .................................................................................................volume 2/2 APÊNDICES ......................................................................................................volume 2/2 ANEXOS ............................................................................................................volume 2/2 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mato Grosso, Brasil ............................................................................................................. 35 Figura 2 – Polo Cerrado, MT................................................................................................................. 36 Figura 3 – Formações vegetais, região ampliada do Polo Cerrado ..................................................... 37 Figura 4 – Biomas brasileiros e o Cerrado ........................................................................................... 38 Figura 5 – Demanda internacional, desembarques .............................................................................. 43 Figura 6 – Demanda internacional, caracterização, Brasil ................................................................... 44 Figura 7 – Fluxo de passageiros no Aeroporto Internacional Marechal Rondon ................................. 50 Figura 8 – Infraestrutura e serviços turísticos, avaliação ..................................................................... 55 Figura 9 – Infraestrutura e serviços turísticos, itens mais citados, por categoria de avaliação ........... 55 Figura 10 – Turistas estrangeiros que visitaram a França 1995-2000 ................................................. 76 Figura 11 – Oferta turística ................................................................................................................... 79 Figura 12 – Localização dos atrativos, Jaciara ..................................................................................... 80 Figura 13 – Localização dos atrativos, Campo Verde .......................................................................... 81 Figura 14 – Localização dos atrativos, Chapada dos Guimarães ........................................................ 81 Figura 15 – Localização dos atrativos, Nobres ..................................................................................... 82 Figura 16 – Meios de hospedagem ...................................................................................................... 84 Figura 17 – Culinária típica ................................................................................................................... 85 Figura 18 – Estabelecimentos de alimentação ..................................................................................... 86 Figura 19 – Pousada Penhasco, Chapada dos Guimarães ................................................................. 88 Figura 20 – Hierarquização dos atrativos ............................................................................................. 93 Figura 21 – Balneário Thermas Cachoeira da Fumaça, análise .......................................................... 95 Figura 22 – Cachoeira da Fumaça e Cachoeira da Mulata, análise .................................................... 96 Figura 23 – Rio Tenente Amaral, análise ............................................................................................. 97 Figura 24 – Circuito de Cachoeiras, Chapada dos Guimarães ............................................................ 98 Figura 25 – Circuito de Cachoeiras, análise ......................................................................................... 98 Figura 26 – Cachoeira Véu da Noiva, Chapada dos Guimarães.......................................................... 99 Figura 27 – Cachoeira Véu da Noiva, análise .................................................................................... 100 Figura 28 – Caverna Aroê Jarí, Chapada dos Guimarães ................................................................. 100 Figura 29 – Caverna Aroê Jarí e Lagoa Azul, análise ........................................................................ 101 Figura 30 – Mirante do Centro Geodésico, Chapada dos Guimarães ............................................... 102 Figura 31 – Mirante do Centro Geodésico, análise ............................................................................ 102 Figura 32 – Mirante do Morro dos Ventos, Chapada dos Guimarães ................................................ 103 Figura 33 – Mirante do Morro dos Ventos, análise ............................................................................. 103 Figura 34 – Ninho das Águias, Chapada dos Guimarães .................................................................. 104 Figura 35 – Ninho das Águias, análise ............................................................................................... 104 Figura 36 – Balneário e Cachoeira Salgadeira, Chapada dos Guimarães ......................................... 105 Figura 37 – Balneário e Cachoeira Salgadeira, análise ..................................................................... 105 Figura 38 – Cachoeiras da Martinha, Chapada dos Guimarães ........................................................ 106 Figura 39 – Cachoeiras da Martinha, análise ..................................................................................... 107 Figura 40 – Aquário Encantado, Nobres ............................................................................................. 107 Figura 41 – Equipamentos para flutuação, Aquário Encantado, Nobres ........................................... 108 Figura 42 – Aquário Encantado, análise ............................................................................................. 108 Figura 43 – Balneário Estivado, Nobres ............................................................................................. 109 Figura 44 – Balneário Estivado, análise ............................................................................................. 109 Figura 45 – Cachoeira Serra Azul, Nobres ......................................................................................... 110 Figura 46 – Cachoeira Serra Azul, análise ......................................................................................... 110 Figura 47 – Cachoeira do Tombador, Nobres .................................................................................... 111 Figura 48 – Cachoeira do Tombador, análise..................................................................................... 111 Figura 49 – Duto do Quebó e Caverna da Cerquinha, Nobres .......................................................... 112 Figura 50 – Duto do Quebó e Caverna da Cerquinha, análise........................................................... 112 Figura 51 – Lagoa Salobão, Nobres ................................................................................................... 113 Figura 52 – Lagoa Salobão, análise ................................................................................................... 113 Figura 53 – Lagoa das Araras, Nobres ............................................................................................... 114 Figura 54 – Lagoa das Araras, análise ............................................................................................... 114 Figura 55 – Reino Encantado, Nobres ................................................................................................ 115 Figura 56 – Reino Encantado, análise ................................................................................................ 115 7 Figura 57 – Rio Triste, Nobres ............................................................................................................ 116 Figura 58 – Rio Triste, análise ............................................................................................................ 116 Figura 59 – Gruta da Lagoa Azul, nobres ........................................................................................... 117 Figura 60 – Gruta da Lagoa Azul, análise .......................................................................................... 117 Figura 61 – Cururu e Siriri, Cuiabá ..................................................................................................... 119 Figura 62 – Cururu e siriri, análise ...................................................................................................... 119 Figura 63 – Boi-à-serra ....................................................................................................................... 120 Figura 64 – Boi-à-serra, análise .......................................................................................................... 121 Figura 65 – Rasqueado cuiabano ....................................................................................................... 121 Figura 66 – Rasqueado, análise ......................................................................................................... 122 Figura 67 – Igreja Santana do Sacramento, Chapada dos Guimarães .............................................. 122 Figura 68 – Igreja Santana do Sacramento, análise .......................................................................... 123 Figura 69 – Casa da Cultura, análise ................................................................................................. 123 Figura 70 – Museu do Rio, Cuiabá ..................................................................................................... 124 Figura 71 – Museu do Rio, análise ..................................................................................................... 124 Figura 72 – Festa do Senhor Divino, Cuiabá ...................................................................................... 125 Figura 73 – Festa do Senhor Divino, análise ...................................................................................... 126 Figura 74 – Vale das Perdidas, Jaciara (muro) .................................................................................. 126 Figura 75 – Vale das Perdidas, análise .............................................................................................. 127 Figura 76 – Sítios arqueológicos, análise ........................................................................................... 127 Figura 77 – Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce, Campo Verde ............................................ 128 Figura 78 – Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce, análise ....................................................... 128 Figura 79 – Casa do Artesão, Cuiabá ................................................................................................. 129 Figura 80 – Casa do Artesão, análise ................................................................................................. 129 Figura 81 – SESC Arsenal, Cuiabá .................................................................................................... 130 Figura 82 – SESC Arsenal, análise .................................................................................................... 130 Figura 83 – Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, Cuiabá ..................................................... 131 Figura 84 – Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, análise ..................................................... 131 Figura 85 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, Cuiabá ....................................... 132 Figura 86 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, análise ....................................... 133 Figura 87 – Museu do Morro da Caixa D‟Água Velha, Cuiabá ........................................................... 134 Figura 88 – Museu do Morro da Caixa D‟Água Velha, análise ........................................................... 134 Figura 89 – Assentamento 14 de Agosto, Campo Verde ................................................................... 136 Figura 90 – Assentamento 14 de Agosto, análise .............................................................................. 136 Figura 91 – Fazenda Marabá, Campo Verde ..................................................................................... 137 Figura 92 – Fazenda Marabá, análise ................................................................................................ 138 Figura 93 – Grupo Bom Futuro, Campo Verde ................................................................................... 138 Figura 94 – Grupo Bom Futuro, análise .............................................................................................. 139 Figura 95 – Parque Industrial da Água Puríssima, Campo Verde ...................................................... 139 Figura 96 – Parque Industrial da Água Puríssima, análise ................................................................. 140 Figura 97 – Previsão de investimentos em transporte, região Centro-Oeste, 2007-2010 ................. 143 Figura 98 – Previsão de ligações intermodais, região Centro-Oeste, 2007-2010 .............................. 144 Figura 99 – Estratégias de infraestrutura logística, MT ...................................................................... 144 Figura 100 – Programa Estradeiro ...................................................................................................... 145 Figura 101 – Cuiabá, mapa viário, 2004 ............................................................................................. 149 Figura 102 – Cuiabá, anel viário ......................................................................................................... 149 Figura 103 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil e Av. João Gomes Sobrinho .................................................. 150 Figura 104 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil sentido Terminal Rodoviário .................................................. 150 Figura 105 – Cuiabá, Terminal Rodoviário Eng. Cássio Veiga de Sá ................................................ 150 Figura 106 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, sinalização turística ............................................................... 151 Figura 107 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, pavimentação ........................................................................ 151 Figura 108 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, desenho da via ...................................................................... 151 Figura 109 – Cuiabá, Av. Beira Rio .................................................................................................... 152 Figura 110 – Cuiabá, entorno imediato de via estrutural .................................................................... 152 Figura 111 – Cuiabá, Av. República do Líbano .................................................................................. 152 Figura 112 – Cuiabá, Av. República do Líbano, obras de adequação ............................................... 152 Figura 113 – Cuiabá, Av. República do Líbano, rotatória ................................................................... 153 Figura 114 – Cuiabá, MT-010 ............................................................................................................. 153 Figura 115 – Cuiabá, MT-251 ............................................................................................................. 154 Figura 116 – Chapada dos Guimarães, sinalização ........................................................................... 154 8 Figura 117 – Chapada dos Guimarães, MT-251 ................................................................................ 154 Figura 118 – Cuiabá, Av. Fernando Correa da Costa ........................................................................ 157 Figura 119 – Cuiabá, Av. Fernando Correa da Costa, sinalização turística ....................................... 157 Figura 120 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, alternância de sinalização e conservação ................... 158 Figura 121 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, precariedade na pavimentação e sinalização .............. 158 Figura 122 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, pontos de queimadas ................................................... 158 Figura 123 – Cuiabá/ Jaciara, BR 163/ 364, acampamento do MST ................................................. 158 Figura 124 – Jaciara, MT-457, acesso ao complexo da Cachoeira da Fumaça ................................ 159 Figura 125 – Jaciara, MT-457, acesso à Cachoeira da Mulata .......................................................... 159 Figura 126 – Jaciara, MT-457, condições noturnas de trafegabilidade .............................................. 159 Figura 127 – Jaciara/ Campo Verde, MT-344..................................................................................... 160 Figura 128 – Campo Verde, MT-344, trecho urbano .......................................................................... 160 Figura 129 – Campo Verde, vicinal de acesso à Fazenda Marabá .................................................... 160 Figura 130 – Campo Verde/ Chapada dos Guimarães, MT-251 ........................................................ 161 Figura 131 – MT-010, placa indicativa e de serviços turísticos privados ........................................... 163 Figura 132 – Cuiabá/ Nobres, BR-163 ................................................................................................ 163 Figura 133 – Cuiabá/ Nobres, BR-163, exploração de calcário ......................................................... 163 Figura 134 – Nobres, sinalização turística no perímetro urbano e vicinais ........................................ 164 Figura 135 – Nobres, vicinal com pontos de erosão .......................................................................... 164 Figura 136 – Nobres, sede Vila Bom Jardim ...................................................................................... 165 Figura 137 – Nobres/ Cuiabá, MT-241/351 ........................................................................................ 165 Figura 138 – Novo aeródromo de Chapada dos Guimarães, configuração proposta ........................ 169 Figura 139 – Novo aeródromo de Jaciara, configuração proposta .................................................... 169 Figura 140 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Campo Verde ................................ 175 Figura 141 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Chapada dos Guimarães .............. 176 Figura 142 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Cuiabá ........................................... 176 Figura 143 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Jaciara ........................................... 177 Figura 144 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Nobres ........................................... 177 Figura 145 – Sistema de esgotamento sanitário, Cuiabá ................................................................... 186 Figura 146 – Cuiabá, via local, ponto de alagamento ........................................................................ 189 Figura 147 – Cuiabá, via principal, ponto de alagamento .................................................................. 189 Figura 148 – Nobres, vicinal, ponto de alagamento ........................................................................... 189 Figura 149 – Cuiabá, Rio Coxipó, depósito de resíduos sólidos ........................................................ 193 Figura 150 – Chapada dos Guimarães, zona rural, depósito de resíduos sólidos ............................. 193 Figura 151 – Chapada dos Guimarães, vicinal, presença de resíduos sólidos .................................. 193 Figura 152 – Chapada dos Guimarães, PARNA, mobiliário para coleta de lixo ................................ 193 Figura 153 – Jaciara, núcleo urbano, mobiliário para coleta seletiva de lixo ..................................... 193 Figura 154 – Infraestrutura energética, PAC ...................................................................................... 208 3 Figura 155 – Participação das fontes renováveis no consumo final energético, MT/ Unidade 10 tEP ...................................................................................................................................... 209 Figura 156 – Balanço energético ........................................................................................................ 210 Figura 157 – Terras indígenas, Polo Cerrado..................................................................................... 229 Figura 158 – Regiões de planejamento MT+20 .................................................................................. 246 Figura 159 – Cobertura vegetal original e remanescente de cerrado, Brasil, 2004 ........................... 272 Figura 160 – Cobertura vegetal primitiva, MT..................................................................................... 273 Figura 161 – Cobertura antropizada, MT, 2004 .................................................................................. 273 Figura 162 – Desmatamento e Unidades de Conservação, MT......................................................... 274 Figura 163 – Sistemas antropizados, região ampliada do Polo Cerrado ........................................... 275 Figura 164 – MT-251, lixo nas Cachoeiras da Martinha ..................................................................... 278 Figura 165 – MT-251, pontos de erosão no Mirante do Centro Geodésico ....................................... 278 Figura 166 – MT-010, área de preservação permanente ao longo do Rio Cuiabazinho, Nobres ...... 279 Figura 167 – MT-457, queimada no acesso a Jaciara ....................................................................... 281 Figura 168 – MT-457, placa de educação ambiental ......................................................................... 281 Figura 169 – MT-010, pontos de erosão no acesso a atrativos em Bom Jardim, Nobres ................. 284 Figura 170 – Unidades de conservação ............................................................................................. 300 Figura 171 – PARNA Chapada dos Guimarães, municípios de entorno ............................................ 300 Figura 172 - PARNA Chapada dos Guimarães, sede administrativa ................................................. 301 Figura 173 – PARNA Chapada dos Guimarães, portaria ................................................................... 301 Figura 174 – PARNA Chapada dos Guimarães, estacionamento para visitantes ............................. 301 Figura 175 – PARNA Chapada dos Guimarães, zoneamento ........................................................... 303 9 Figura 176 – Vale do Jamacá, contemplação e observação da fauna e flora .................................... 306 Figura 177 – Pousada Penhasco, trilha suspensa ............................................................................. 306 Figura 178 – ZSEE, Polo Cerrado ...................................................................................................... 309 Figura 179 – Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade ............................................. 319 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Características geográficas ................................................................................................ 41 Tabela 2 – Características socioeconômicas ....................................................................................... 41 Tabela 3 – Avaliação de turistas internacionais em visita ao Brasil ..................................................... 46 Tabela 4 – Fluxo de turistas na alta temporada, em Cuiabá, por estado emissor, 2005 ..................... 51 Tabela 5 – Procedência dos turistas ..................................................................................................... 52 Tabela 6 – Meios de transporte para deslocamentos dentro do Polo .................................................. 52 Tabela 7 – Infraestrutura e serviços turísticos, avaliação ..................................................................... 54 Tabela 8 – Necessidades de melhoria .................................................................................................. 56 Tabela 9 – Indicadores turísticos, Mato Grosso do Sul ........................................................................ 57 Tabela 10 - Passeios realizados, Bonito/MS, 1996-2009 ..................................................................... 58 Tabela 11 – Estimativas da equação de demanda turística em Mato Grosso ..................................... 71 Tabela 12 – Estimativas da equação de oferta turística em Mato Grosso ........................................... 72 Tabela 13 – Oferta turística................................................................................................................... 78 Tabela 14 – Capacidade de hospedagem, alimentação e atrativos turísticos ..................................... 79 Tabela 15 – Categoria de meios de hospedagem e leitos disponíveis ................................................ 83 Tabela 16 – Tipo dos meios de hospedagem ....................................................................................... 84 Tabela 17 – Considerações sobre meios de hospedagem .................................................................. 84 Tabela 18 – Caracterização do serviço de alimentação ....................................................................... 86 Tabela 19 – Caracterização das áreas de lazer e entretenimento ....................................................... 87 Tabela 20 – Espaços para eventos ...................................................................................................... 87 Tabela 21 – Calendário de eventos ...................................................................................................... 88 Tabela 22 – Programa Estradeiro ....................................................................................................... 146 Tabela 23 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Chapada dos Guimarães ................. 148 Tabela 24 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Jaciara/ Campo Verde/ Chapada dos Guimarães ................................................................................................................... 155 Tabela 25 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Nobres/ Cuiabá ................................ 161 Tabela 26 – Aeródromos privados ...................................................................................................... 166 Tabela 27 – Aeródromos públicos ...................................................................................................... 167 Tabela 28 – Movimento aéreo operacional, 2003 e 2009 .................................................................. 167 Tabela 29 – Tipo de abastecimento de água, % de moradores ......................................................... 173 Tabela 30 – Tipo de captação de água, por distritos com rede de abastecimento ............................ 174 Tabela 31 – Solução alternativa para falta de abastecimento de água .............................................. 175 Tabela 32 – Proteção na captação de água ....................................................................................... 178 Tabela 33 – Captação de água com poluição ou contaminação na captação, por distrito ................ 178 Tabela 34 – Tipo de poluição ou contaminação na captação de água, por distrito ........................... 179 Tabela 35 – Estações de tratamento de água .................................................................................... 179 Tabela 36 – Tipo de tratamento de água, por distrito ......................................................................... 179 Tabela 37 – Tipo de análise realizada na água captada, por distrito ................................................. 180 Tabela 38 – Tipo e frequência da análise na rede de distribuição, por distrito .................................. 180 Tabela 39 – Constituição jurídica dos prestadores de abastecimento de água, por distrito .............. 181 Tabela 40 – Cobrança pelo abastecimento de água, por distrito ....................................................... 181 Tabela 41 – Motivo de racionamento de água, distritos com serviço ................................................. 182 Tabela 42 – Periodicidade do racionamento de água, por distrito ..................................................... 182 Tabela 43 – Ampliações ou melhorias na rede de distribuição de água, por distrito ......................... 183 Tabela 44 – Instalação sanitária, por tipo, em % de moradores ........................................................ 185 Tabela 45 – Tipo de rede coletora de drenagem urbana subterrânea, por município ....................... 187 Tabela 46 – Extensão da rede de drenagem urbana ......................................................................... 188 Tabela 47 – Ponto de lançamento de efluentes no manejo de águas pluviais .................................. 188 Tabela 48 – Extensão de áreas com inundações/ enchentes em 1998/1999 .................................... 188 Tabela 49 – Fatores agravantes em inundações/ enchentes em 1998/1999 ..................................... 189 Tabela 50 – Fatores agravantes de erosão que afetam o sistema de drenagem urbana .................. 190 Tabela 51 – Tipo de área de risco que demandam drenagem especial, por município ..................... 190 Tabela 52 – Tipo de sistema de drenagem nas ruas pavimentadas no perímetro urbano, por município ............................................................................................................................ 191 Tabela 53 – Ruas pavimentadas no perímetro urbano, por município ............................................... 191 Tabela 54 – Coleta de lixo, % de domicílios ....................................................................................... 192 11 Tabela 55 – Tipo de destino de lixo, % de moradores ....................................................................... 192 Tabela 56 – Forma de execução dos serviços de manejo de resíduos sólidos ................................. 194 Tabela 57 – Forma de cobrança dos serviços de limpeza urbana e coleta de lixo ............................ 195 Tabela 58 – Natureza dos serviços de limpeza urbana e coleta de lixo ............................................ 195 Tabela 59 – Tipo e frequência de coleta de lixo, por distritos-sede ................................................... 196 Tabela 60 – Execução de varrição e/ ou capina das vias públicas, por distritos-sede ...................... 196 Tabela 61 – Telefonia fixa ................................................................................................................... 199 Tabela 62 – Telefonia fixa e acessos, Chapada dos Guimarães ....................................................... 200 Tabela 63 – Telefonia fixa e acessos, Cuiabá .................................................................................... 200 Tabela 64 – Telefonia fixa e acessos, Campo Verde ......................................................................... 201 Tabela 65 – Telefonia fixa e acessos, Jaciara .................................................................................... 201 Tabela 66 – Telefonia fixa e acessos, Nobres .................................................................................... 201 Tabela 67 – Acessos móveis em operação e densidade ................................................................... 202 Tabela 68 – Acessos por plano de serviço ......................................................................................... 202 Tabela 69 – Participação no mercado das prestadoras por código nacional ..................................... 203 Tabela 70 – Operadoras de telefonia móvel por tecnologia ............................................................... 203 Tabela 71 – Emissoras de TV ............................................................................................................. 204 Tabela 72 – Radiodifusão de sons e imagens .................................................................................... 205 Tabela 73 – Jornais, periodicidade e tiragem ..................................................................................... 206 Tabela 74 – Energia elétrica, % de domicílios .................................................................................... 210 Tabela 75 – Fornecimento de energia elétrica, 2009 ......................................................................... 211 Tabela 76 – Prazos para fornecimento universal de energia elétrica ................................................ 211 Tabela 77 – Indicadores sociais externos: investimentos, 2008/2007 ............................................... 212 Tabela 78 – Natureza administrativa de hospitais, por município ...................................................... 213 Tabela 79 – Leitos da rede hospitalar ................................................................................................. 213 Tabela 80 – Tipos de leito hospitalar por município (SUS) ................................................................ 213 Tabela 81 – Capacidade ambulatorial, por município ........................................................................ 214 Tabela 82 – Polícia Militar ................................................................................................................... 215 Tabela 83 – Polícia Civil em Delegacias Regionais e Municipais ...................................................... 215 Tabela 84 – Polícia Civil em Delegacias Especializadas ................................................................... 216 Tabela 85 – Corpo de Bombeiros ....................................................................................................... 216 Tabela 86 – Órgãos responsáveis pela gestão direta do turismo ...................................................... 222 Tabela 87 – Órgãos complementares à gestão do turismo ................................................................ 223 Tabela 88 – Atividades do SEBRAE-MT ............................................................................................ 226 Tabela 89 – Principais ONG, Polo Cerrado ........................................................................................ 227 Tabela 90 – Base legal nos municípios, Polo Cerrado ....................................................................... 235 Tabela 91 – Municípios do Polo Cerrado e de outros programas no MT ........................................... 246 Tabela 92 – MT+20, propostas de desenvolvimento turístico ............................................................ 247 Tabela 93 – Leis ambientais e normas de interesse .......................................................................... 250 Tabela 94 – Macroprograma Fomento à Iniciativa Privada, principais ações .................................... 262 Tabela 95 – Impactos ambientais, síntese das observações de campo ............................................ 285 Tabela 96 – Órgãos responsáveis pela gestão ambiental em Mato Grosso ...................................... 287 Tabela 97 – Licenciamentos ambientais e infrações, 1999-2009, SEMA-MT .................................... 294 Tabela 98 – Infrações, Mato Grosso, IBAMA ..................................................................................... 295 Tabela 99 – Infrações, 2009, IBAMA .................................................................................................. 295 Tabela 100 – UC estaduais de proteção integral, Polo Cerrado ........................................................ 296 Tabela 101 – UC estaduais de uso sustentável, Polo Cerrado .......................................................... 297 Tabela 102 – Ações de manejo e de turismo nas UC estaduais, Polo Cerrado ................................ 298 Tabela 103 – UC federais de proteção integral, Polo Cerrado ........................................................... 299 Tabela 104 – UC federais de uso sustentável, Polo Cerrado ............................................................. 299 Tabela 105 – PARNA Chapada dos Guimarães, programas ............................................................. 302 Tabela 106 – Indicadores e requisitos de sustentabilidade ................................................................ 305 Tabela 107 – Eixos Estratégicos de Desenvolvimento ....................................................................... 309 Tabela 108 – Diretrizes gerais, Estatuto das Cidades ........................................................................ 311 Tabela 109 – Diretrizes gerais, uso e ocupação de terrenos da Marinha .......................................... 313 Tabela 110 – Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul, uso público ..................................................... 315 Tabela 111 – PARNA Chapada dos Guimarães, uso público ............................................................ 316 12 LISTA DE SIGLAS ABAV ABETA ABETRAN ABIH ABNT ACRIMAT AGER AMM ANA ANAC ANATEL ANDIMA ANEEL ANTT APA APP APROSOJA ASSUT AT BACEN BASA BB BID BIRD BNDES BNH BRAZTOA CANIE CAR CAT CBM CEAM CEF CEHIDRO CEMAT CI CLT CNFCP CODEFAT COFINS COMDEMA COMTUR Associação Brasileira das Agências de Viagens Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura Associação Brasileira de Educação de Trânsito Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Associação Brasileira de Normas Técnicas Associação dos Criadores de Mato Grosso Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Mato Grosso Associação Mato-grossense dos Municípios Agência Nacional das Águas Agência Nacional de Aviação Civil Agência Nacional de Telecomunicações Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro Agência Nacional de Energia Elétrica Agência Nacional de Transportes Terrestres Área de Proteção Ambiental Área de Proteção Permanente Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso Associação dos Usuários de Transporte Coletivo do Estado de Mato Grosso Área Turística Banco Central do Brasil Banco da Amazônia Banco do Brasil Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Banco Nacional de Habitação Associação Brasileira das Operadoras de Turismo Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas Cadastramento Ambiental Rural Centro de Atendimento ao Turista Corpo de Bombeiros Militar Centro de Educação Ambiental Municipal Caixa Econômica Federal Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos Centrais Elétricas Mato-grossense Conservação Internacional Consolidação das Leis Trabalhistas Centro Nacional de Cultura e Folclore Popular Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente Conselhos Municipais de Turismo 13 CONAMA CONSEMA CSLL CTN DAE DETRAN DIC DICOF DNIT DSEE DSL ECOA ECOSS EE EMBRAPA EMBRATUR EMPAER ENART EP EPP ERS ETA EXPOAGRO FAPEMAT FAT FBCVB FCO FESCAN FETHAB FGV FIC FINEM FIPE FMI FTTH FUNAI FUNASA FUNDEIC FUNDTUR FUNGETUR FWA GEF IAC IBAMA IBGE ICCA Conselho Nacional de Meio Ambiente Conselhos Estaduais do Meio Ambiente Contribuição Social sobre o Lucro Líquido Código Tributário Nacional Departamento de Água e Esgoto Departamento Estadual de Trânsito Duração de Interrupção Individual Divisão de Controle e Fiscalização Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes Diagnóstico Socioeconômico e Ecológico Digital Subscriber Line, ou Linha Digital de Assinante Ecologia e Ação Instituto de Ecossistemas e Populações Tradicionais Estação Ecológica Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Instituto Brasileiro de Turismo Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural Encontro de Negócios do Artesanato Estrada Parque Empresa de Pequeno Porte Escritório Regional de Saúde Estação de Tratamento de Água Exposição Internacional Agropecuária, Comercial e Industrial de Cuiabá Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso Fundo de Amparo ao Trabalhador Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureau Fundo Constitucional do Centro-Oeste Festival da Canção de Campo Verde Fundo Estadual de Transporte e Habitação Fundação Getúlio Vargas Frequência de Interrupção Individual por Unidade Consumidora Financiamento a Empreendimentos Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Fundo Monetário Internacional Fiber to the Home, ou Banda da Rede em Fibra Ótica Fundação Nacional do Índio Fundação Nacional de Saúde Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial Fundação de Turismo do Estado de Mato Grosso do Sul Fundo Geral de Turismo Fixed Wireless Access, ou Acesso Sem Fio na Rede Local Global Environmental Facility Instituto de Aviação Civil Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística International Congress and Convention Association 14 ICMBio ICMS ICV IDH-M IES IGP-M INCRA INFRAERO INSS IPDU IPEA IPHAN IPI IPTU IRPJ ISS(QN) LAU LGT ME MQO MST MTE MTur NBR NORMAM OMS OMT ONG ONU PAC PAMAT PARNA PASEP PCH PDITS PEGLA PI PIB PIS PJC PLANASA PLANMOB PM PMSS PNAD PNCG Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços Instituto Centro e Vida Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Instituições de Ensino Superior Índice Geral de Preços do Mercado Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária Instituto Nacional do Seguro Social Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Imposto sobre Produtos Industrializados Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana Imposto de Renda da Pessoa Jurídica Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza Licenciamento Único Ambiental Lei Geral de Turismo Microempresa Mínimos Quadrados Ordinários Movimento dos Sem Terra Ministério do Trabalho Ministério do Turismo Normas Brasileiras Norma da Autoridade Marítima Organização Mundial de Saúde Organização Mundial do Turismo Organização Não Governamental Organização das Nações Unidas Plano de Aceleração do Crescimento Plano Aeroviário do Estado de Mato Grosso Parque Nacional Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público Pequenas Centrais Hidrelétricas Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul Proteção Integral Produto Interno Bruto Programa de Integração Social Polícia Judiciária Civil Plano Nacional de Saneamento Básico Plano Diretor de Mobilidade Polícia Militar Programa de Modernização do Setor de Saneamento Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Parque Nacional da Chapada dos Guimarães 15 PNCT PNSB PNT PPA PPCDAM PRODEAGRO PRODETUR PROGER PRONAF PRT PSF RDM RESEX RPPN SAAE SANECAP SANEMAT SEBRAE SEC SECOM SEDTUR SEJUSP SEMA SEMINFE SEPLAN SES SESC SGA SICAFI SIDRA SIMLAM SINFRA SinMetro SISFLORA SISNAMA SMP SNUC SPU STFC SUDAM SUDECO SUS TI TJLP TNC TUP Plano Nacional de Contagem de Trânsito Pesquisa Nacional de Saneamento Básico Plano Nacional do Turismo Plano Plurianual Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento na Amazônia Legal Programa de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso Programa de Desenvolvimento do Turismo Nacional Programa de Geração de Emprego e Renda Programa Nacional de Agricultura Familiar Programa de Regionalização do Turismo Programa de Saúde da Família Revista de Mato Grosso Reserva Extrativista Reserva Particular do Patrimônio Nacional Serviço Autônomo de Água e Esgoto Companhia de Saneamento da Capital Companhia Estadual de Saneamento do Estado de Mato Grosso Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Secretaria de Estado de Cultura Secretaria de Comunicação Social Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo Secretaria de Justiça e Segurança Pública Secretaria do Meio Ambiente do Estado Secretaria Municipal de Infraestrutura Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral Secretaria Estadual de Saúde Serviço Social do Comércio Sistema de Gestão Ambiental Sistema de Cadastro, Arrecadação e Fiscalização Sistema IBGE de Recuperação Automática Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental Secretaria de Estado de Infraestrutura Sistema Nacional de Metrologia Sistema de Comercialização e Transportes de Produtos Florestais Sistema Nacional do Meio Ambiente Serviço Móvel Pessoal Sistema Nacional de Unidades de Conservação Secretaria do Patrimônio da União Serviço Telefônico Fixo Comutado Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste Sistema Único de Saúde Terra Indígena Taxa de Juros de Longo Prazo The Nature Conservancy Telefone de Uso Público 16 UC UFMT UHE UICN UNIRONDON UNIVAG UPF US USEE WTTC ZSEE Unidade de Conservação Universidade Federal de Mato Grosso Usina Hidrelétrica União Internacional para Conservação da Natureza Centro Universitário Cândido Rondon Centro Universitário de Várzea Grande Unidades Padrão Fiscal Uso Sustentável Unidade Socioeconômica e Ecológica World Travel and Tourism Council Zoneamento Socioeconômico e Ecológico 17 INTRODUÇÃO Este Diagnóstico foi elaborado a partir de pesquisas realizadas durante o trabalho de campo e de pesquisas secundárias relevantes para a análise e entendimento do contexto no qual o Polo Cerrado está inserido. Para fins deste estudo, são consideradas pesquisas secundárias as que partem de dados já consolidados e, muitas vezes, analisados. A exceção a isso é o Inventário da Oferta Turística, realizado pelo SEBRAE-MT para a SEDTUR-MT, que apresenta somente dados brutos, sem nenhum tipo de síntese analítica. As pesquisas primárias são as que foram feitas em campo e envolvem, por exemplo, aplicação de questionários, entrevistas, observação técnica dirigida e consultas públicas. A estrutura deste Diagnóstico procurou facilitar o entendimento dos assuntos tratados seguindo, exatamente, a estrutura de trabalho solicitada pelo Termo de Referência. Dessa forma, após realizar uma caracterização geral da área em estudo, o trabalho divide-se em quatro grandes capítulos: primeiro, são apresentadas as informações sobre o mercado turístico, entendido como a oferta e a demanda de produtos e serviços de turismo, além de atrativos e equipamentos; depois, são expostos os dados sobre a infraestrutura da região, envolvendo sistema viário, saneamento básico, transporte urbano, comunicação, energia elétrica, serviços de saúde e segurança; a seguir, é feita análise do quadro institucional dos municípios que compõem o Polo; por fim, a reflexão volta-se para os aspectos socioambientais, determinantes para o desenvolvimento sustentável da atividade turística. É importante salientar que algumas das análises realizadas neste Diagnóstico não são conclusivas, seja pela carência de dados disponíveis, seja pela incipiência de tais estudos na região. Assim, por vezes, optou-se por apresentar os resultados parciais ou análises gerais quando não foi possível o aprofundamento no Polo. Por fim, é importante ressaltar que, pesquisas dessa natureza, relacionadas fundamentalmente com as ciências humanas, não podem ser realizadas seguindo padrões positivistas previamente estabelecidos e dogmáticos, o que não significa que carecem de rigor e cientificidade. No entanto, suas conclusões jamais devem ser tomadas como verdades absolutas, sem questionamentos, uma vez que dependem das percepções e opiniões dos pesquisadores, o que significa que não são lineares nem neutras, ainda que cercados das necessárias teorização e consistência metodológica. 18 AJUSTE DE ESCOPO O Ajuste de Escopo foi elaborado a partir da constatação da necessidade de adequar a abrangência geográfica dos trabalhos do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS). Os municípios mencionados no Termo de Referência (MTUR, 2009) como pertencentes ao Polo Cerrado, preliminarmente considerados detentores de potencial turístico, não se mostraram em condições de compor o escopo de estudo, tão logo a realidade da região foi verificada. Assim, e a partir da própria orientação do Termo de Referência, que especifica que [...] o PDTIS será desenvolvido nas áreas físicas de abrangências dos municípios do Polo Cerrado. Serão avaliados 26 municípios, porém, com base nas diretrizes do estado enquanto potencial de atratividade da área turística e com as diretrizes de prioridade de investimento do estado (MTUR, 2009) [...] foi preciso rever a extensão das pesquisas, redesenhando a área turística, a fim de que o Diagnóstico e os produtos de estudos posteriores solicitados pudessem retratar uma região homogênea, capaz de constituir de fato um polo turístico merecedor de investimentos. Para definição da região a ser estudada, este documento considerou pesquisas secundárias, ou seja, as que partem de dados já consolidados e, muitas vezes, analisados – a exceção a isso é o Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006) do Polo Cerrado, que, quando disponível, apresenta, até o momento, somente dados brutos, sem nenhum tipo de síntese. Foram tratadas as características gerais dos municípios, englobando aspectos geográficos, ambientais, socioeconômicos e turísticos. Em seguida, apontadas as principais dificuldades técnicas encontradas, durante a fase de preparação e execução do Diagnóstico, para manter todos os municípios indicados pelo Termo de Referência. Por fim, apresentaram-se os resultados das reuniões com a SEDTUR-MT para que os trabalhos se iniciassem, com a redefinição do Polo Cerrado, conforme encaminhamento obtido. 19 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS MUNICÍPIOS Este capítulo é dedicado às características geográficas, ambientais, socioeconômicas e turísticas dos municípios que formam o Polo Cerrado. O objetivo é traçar um panorama das diferentes realidades encontradas, a fim de identificar o potencial da região para que seja possível a formação de uma área turística (AT) capaz de gerar demanda própria, aumentar o fluxo de visitação do Polo e contribuir para o desenvolvimento econômicos dos municípios. CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS O Termo de Referência para a Elaboração dos Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável no Estado de Mato Grosso (MTUR, 2009) identifica o Polo Cerrado como sendo composto por 26 municípios: Araputanga, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Curvelândia, Diamantino, Dom Aquino, Figueirópolis D‟Oeste, Gaúcha do Norte, Indiavaí, Jaciara, Jangada, Jaurú, Juscimeira, Lambari D‟Oeste, Mirassol D‟Oeste, Nobres, Nova Lacerda, Poxoréo, Primavera do Leste, Reserva do Cabaçal, Rondonópolis, Rosário Oeste, Salto do Céu, São José dos Quatro Marcos e Tangará da Serra (Figura A). Figura A – Polo Cerrado, MT Os municípios não são todos contíguos, estando distribuídos em um grande bloco de 13 cidades (Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Diamantino, Dom Aquino, Jaciara, Jangada, Juscimeira, Nobres, Poxoréo, Primavera do Leste, Rondonópolis, Rosário Oeste), que circundam mas não englobam Acorizal e São Pedro da Cipa; um bloco menor de 10 municípios (Araputanga, Curvelândia, Figueirópolis D‟Oeste, Indiavaí, Jaurú, Lambari D‟Oeste, Mirassol D‟Oeste, Reserva do Cabaçal, Salto do Céu, São José dos Quatro Marcos); e três municípios desconectados entre si e com os blocos (Gaúcha do Norte, Nova Lacerda, Tangará da Serra). O Polo Cerrado, tal qual inicialmente definido, corresponde, segundo a SEPLAN-MT (2008), a uma área total de 102.248,36 km2, ou seja, 11,3% de Mato Grosso, e fica a uma altitude média de 315 m. A distância média dos municípios até a capital é de 289 km, conforme apresenta a Tabela A. 20 Tabela A – Área dos municípios Município 2 Área (km ) Distância da capital (km) % Altitude média (m) Araputanga 1.602,73 1,57% 371 200 Campo Verde 4.794,56 4,69% 139 736 Chapada dos Guimarães 6.207,57 6,07% 65 811 Cuiabá 3.538,17 3,46% - 177 Curvelândia 748,36 0,73% 311 190* Diamantino 7.630,21 7,46% 209 269 Dom Aquino 2.205,08 2,16% 172 283 890,95 0,87% 402 300 16.898,57 16,53% 595 410* Indiavaí 600,33 0,59% 398 215 Jaciara 1.658,72 1,62% 148 367 Jangada 1.021,94 1,00% 82 178 Jaurú 1.832,78 1,79% 463 405 Juscimeira 2.205,02 2,16% 164 251 Lambari D‟Oeste 1.337,25 1,31% 327 186 Mirassol D‟Oeste 1.072,54 1,05% 329 260 Nobres 3.859,51 3,77% 151 200 Nova Lacerda 4.734,16 4,63% 667 190 Poxoréo 6.923,23 6,77% 259 360 Primavera do Leste 5.472,21 5,35% 239 500 Reserva do Cabaçal 1.350,09 1,32% 412 335 Rondonópolis 4.165,23 4,07% 218 227 Rosário Oeste 7.504,96 7,34% 133 192 Salto do Céu 1.741,27 1,70% 383 300 São José dos Quatro Marcos 1.280,85 1,25% 343 230 10.972,07 10,73% 242 387 Figueirópolis D‟Oeste Gaúcha do Norte Tangará da Serra Total 102.248,36 * Dados sujeitos a retificação. Fonte: SEPLAN-MT, 2008 A partir da análise dos dados apresentados, é possível concluir que: os municípios com maior área de extensão são: Gaúcha do Norte (16.899 km2), Tangará da Serra (10.972,07 km2), Diamantino (7.630 km2), Rosário Oeste (7.505 km2) e Poxoréo (6.923 km2); os municípios com menor área de extensão são: Indiavaí (600 km2), Curvelândia (748 km2), Figueirópolis D‟Oeste (891 km2), Jangada (1.022 km2) e Mirassol D‟Oeste (1.073 km2); os municípios mais próximos à capital do estado são: Chapada dos Guimarães (65 km), Jangada (82 km), Rosário Oeste (133 km), Campo Verde (139 km) e Jaciara (148 km); os municípios mais distantes da capital do estado são: Nova Lacerda (667 km); Gaúcha do Norte (595 km), Jaurú (463 km), Reserva do Cabaçal (412 km) e Figueirópolis D‟Oeste (402 km). 21 Os 141 municípios totais de Mato Grosso estão agrupados em 22 microrregiões políticoadministrativas, que fazem parte de cinco mesorregiões, definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há ainda a definição de 12 regiões de planejamento1 pela Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN-MT), de acordo com a Tabela B. Tabela B – Regiões político-administrativas e de planejamento, Mato Grosso Mesorregião Microrregiões Região de planejamento Norte Mato-grossense Aripuanã Tangará da Serra Noroeste 1 – Juína Nordeste Mato-grossense Alta Floresta Jaurú Norte – Alta Floresta Sudoeste Mato-grossense Colíder Alto Paraguai Nordeste – Vila Rica Centro Sul Mato-grossense Parecis Rosário Oeste Leste – Barra do Garças Sudeste Mato-grossense Arinos Cuiabá Sudeste – Rondonópolis Alto Teles Pires Alto Pantanal Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Sinop Primavera do Leste Sudoeste – Cáceres Paranatinga Tesouro Oeste – Tangará da Serra Norte Araguaia Rondonópolis Centro-oeste – Diamantino Canarana Alto Araguaia Centro – Sorriso Noroeste 2 – Juara Médio Araguaia Centro Norte – Sinop Alto Guaporé Fonte: Adaptado de SEPLAN-MT, 2008 É tão extensa a abrangência dos municípios do Polo Cerrado, tal qual definido inicialmente, que ocupa quatro das cinco mesorregiões existente no estado, 12 microrregiões do total de 22 definidas, e cinco regiões de planejamento (Tabela C), das 12 existentes. Tabela C – Cidades predefinidas, por região político-administrativa e de planejamento Município Araputanga Campo Verde Mesorregião Microrregiões Região de planejamento Sudoeste matogrossense Jaurú Sudoeste – Cáceres Sudeste mato-grossense Primavera do Leste Sudeste – Rondonópolis Curvelândia Centro-sul matogrossense Centro-sul matogrossense Centro-sul matogrossense Diamantino Dom Aquino Chapada dos Guimarães Cuiabá Cuiabá Cuiabá Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Alto Pantanal Sudoeste – Cáceres Norte mato-grossense Parecis Centro-oeste – Diamantino Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Sudoeste matogrossense Jaurú Sudoeste – Cáceres Norte mato-grossense Paranatinga Sudeste – Rondonópolis Indiavaí Sudoeste matogrossense Jaurú Sudoeste – Cáceres Jaciara Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Figueirópolis D‟Oeste Gaúcha do Norte 1 Até a elaboração do Plano Plurianual do estado de 2004/2007, eram consideradas as regiões delimitadas pelo IBGE, porém, a partir de então, adotou-se a regionalização proposta pelo estudo de Zoneamento Socioeconômico e Ecológico (ZSEE), realizado pela SEPLAN-MT. Tal mudança é refletida na organização dos municípios do Polo, que passaram a agrupar-se de maneira diferente. 22 Microrregiões Região de planejamento Rosário Oeste Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Jaurú Sudoeste – Cáceres Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Jaurú Sudoeste – Cáceres Jaurú Sudoeste – Cáceres Norte mato-grossense Alto Teles Pires Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Sudoeste matogrossense Alto Guaporé Sudoeste – Cáceres Poxoréo Sudeste mato-grossense Tesouro Sudeste – Rondonópolis Primavera do Leste Sudeste mato-grossense Primavera do Leste Sudeste – Rondonópolis Reserva do Cabaçal Sudoeste matogrossense Jaurú Oeste – Tangará da Serra Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Rosário Oeste Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Jaurú Sudoeste – Cáceres Jaurú Sudoeste – Cáceres Tangará da Serra Oeste – Tangará da Serra Município Jangada Jaurú Juscimeira Lambari D‟Oeste Mirassol D‟Oeste Nobres Nova Lacerda Rondonópolis Mesorregião Centro-sul matogrossense Sudoeste matogrossense Sudeste mato-grossense Sudoeste matogrossense Sudoeste matogrossense Centro-sul matogrossense Sudoeste matoSalto do Céu grossense Sudoeste matoSão José dos Quatro Marcos grossense Sudoeste matoTangará da Serra grossense Fonte: Adaptado de SEPLAN-MT, 2008 Rosário Oeste O grande bloco de 13 municípios, mencionado anteriormente, é distribuído em três mesorregiões (centro-sul mato-grossense, norte mato-grossense e sudeste matogrossense) e três regiões de planejamento (sul – Cuiabá/ Várzea Grande; centro-oeste – Diamantino; e sudeste – Rondonópolis), existindo diferença quanto à classificação somente no município de Nobres. O bloco de 10 municípios distribui-se em duas mesorregiões (sudoeste mato-grossense e centro-sul mato-grossense) e também duas regiões de planejamento (sudoeste – Cáceres e oeste – Tangará da Serra), existindo diferenças nas classificações de Curvelândia e Reserva do Cabaçal; os três municípios que não estão conectados aos demais fazem parte de duas mesorregiões (norte mato-grossense e sudoeste mato-grossense) e três regiões de planejamento (sudeste – Rondonópolis, sudoeste – Cáceres e oeste – Tangará da Serra). A distribuição geográfica dos municípios e as divisões político-administrativas do Polo delimitado sugerem, para fins de análise de potencial de desenvolvimento turístico, o estudo separado de cada um dos blocos mencionados anteriormente e o descarte, no momento, dos municípios que se apresentam avulsos, isto é, sem fronteira física com os demais – uma vez que, obviamente, não é intenção do PDITS estudar simultaneamente 26 municípios, haja vista os estudos anteriores financiados por este programa. O bloco de 13 municípios tem uma vantagem para o desenvolvimento do turismo evidente, por contar com a presença da capital, importante portão de entrada para o estado. Sua composição é detalhada na Tabela D. 23 Tabela D – Cidades do maior bloco, por região político-administrativa e de planejamento Município Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Mesorregião Microrregiões Região de planejamento Sudeste mato-grossense Primavera do Leste Sudeste – Rondonópolis Centro-sul matogrossense Centro-sul matogrossense Cuiabá Cuiabá Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Centro-oeste – Diamantino Diamantino Norte mato-grossense Parecis Dom Aquino Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Jaciara Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Centro-sul matogrossense Rosário Oeste Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Nobres Norte mato-grossense Alto Teles Pires Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Poxoréo Sudeste mato-grossense Tesouro Sudeste – Rondonópolis Primavera do Leste Sudeste mato-grossense Primavera do Leste Sudeste – Rondonópolis Rondonópolis Sudeste mato-grossense Rondonópolis Sudeste – Rondonópolis Rosário Oeste Centro-sul matogrossense Rosário Oeste Sul – Cuiabá/ Várzea Grande Jangada Juscimeira Estão no grupo de cidades da Tabela D municípios como Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Jaciara e Nobres, capazes de absorver investimentos de modo a gerar o retorno desejado com a atividade turística, sendo que Chapada dos Guimarães, Campo Verde e Jaciara estão dentre os mais próximos à capital, como visto na p. 20. A seguir, são feitas considerações a respeito das características ambientais do Polo Cerrado. 24 CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS Existem, nos municípios do Polo Cerrado, 30 unidades de conservação (UC) instituídas pelo poder municipal, estadual e federal. Divididas em parques, estações ecológicas (EE), monumentos naturais, áreas de proteção ambiental (APA), reservas particulares do patrimônio natural (RPPN), estradas parque (EP) e hortos florestais, as UC abrangem uma área de 948.414,14 ha. As UC localizadas exclusivamente nos municípios do Polo inicialmente indicados pela SEDTUR-MT são 26, e a extensão de áreas protegidas é de 167.958,61 ha (ou 1.679,59 km2), correspondendo a apenas 1,6% do Polo Cerrado. A Tabela E relaciona todas as UC do Polo conforme sua finalidade de uso. Tabela E – Unidades de Conservação Unidade de Conservação Área Documento e data de criação Município Proteção Integral Parque Nacional PARNA da Chapada dos Guimarães 32.032,46 ha Decreto n° 97.656, de 12/04/89 Cuiabá e Chapada dos Guimarães Estação Ecológica EE do Rio da Casca I 3.524,62 ha Lei n° 6.437, de 27/05/94 EE do Rio da Casca II 233,74 ha Lei n° 6.437, de 27/05/94 Campo Verde, Chapada dos Guimarães Campo Verde Parque Estadual PE Águas do Cuiabá PE Dom Osório Stoffel PE Gruta da Lagoa Azul 11.069,71 ha 6.360,47 ha 526,73 ha PE da Cidade - Mãe Bonifácia PE Massairo Okamura 77,50 ha PE da Saúde 70,01 ha 53,61 ha Dec. nº. 4.444 de 10/06/2002 Rosário Oeste, Nobres Dec. nº. 5.437 de 12/11/02 Rondonópolis Dec. nº. 1.472 de 09/06/00, Lei nº. 7.369 de 20/12/00 Decreto n° 1.470, de 09/06/00 Nobres Lei n° 7.506, de 21/09/01 e Decreto n° 3.345, de 08/11/01 Decreto n° 1.693, de 23/08/00 Cuiabá Cuiabá Cuiabá Monumento Natural Caverna do Jabuti 250,85 ha Decreto nº 25/07 de 19/07/07 Curvelândia Parque Municipais Jaciara 63,14 ha Lei. n.º 2.033 de 19/10/99 Jaciara Cabeceira do Coxipozinho Parque Natural do Residencial Alto da Boa Vista Parque Natural do Distrito de Progresso Parque Natural Ilto Ferreira Coutinho Uso Sustentável 91,32 ha Lei n.º 1.071 de 16/12/02 95,31 ha Lei n.º 1.756 de 23/05/01 Chapada dos Guimarães Tangará da Serra 1,17 ha Lei n.º 1.756 de 23/05/01 Tangará da Serra 11,35 ha Lei n.º 1.756 de 23/05/01 Tangará da Serra APA Chapada dos Guimarães Área de Proteção Ambiental 220.208,28 ha Decreto n.º 537, de 21/11/95 e Lei n.º 7.804, de 05/12/2002 APA Aricá-açu APA Cabeceiras do Rio Cuiabá 74.974,53 ha 453.004,43 ha Lei n.º 3.874/99 de 05/07/99 Dec. nº. 2.206 de 23/04/98 e Lei nº. 7.161 de 23/08/99 APA Nascentes do Rio 71.591,17 ha Decreto nº. 7.596 de 17/05/06 Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Santo Antônio do Leverger Cuiabá Rosário Oeste, Nobres, Nova Brasilândia, Santa Rita do Trivelato Alto Paraguai, 25 Unidade de Conservação Paraguai APA do Rio da Casca 29.250,00 ha Decreto-Lei nº. 1.356 de 27/05/94 DAE de Praia Rica 35.651,65 ha Decreto-Lei nº. 4.895 de 25/08/85 Área Reserva Particular do Patrimônio Natural 995 ha Portaria 60/00, de 27/09/00 RPPN Reserva Ecológica da Mata Fria RPPN São Luiz RPPN Parque Ecológico João Basso RPPN Hotel Mirante 120,55 ha 4.262,68 ha RPPN Vale do Sepotuba 1.088,28 ha EP Cachoeira da Fumaça EP Cuiabá - Chapada dos Guimarães/ Mirante e km 15 Horto Florestal Toti Garcia Horto Florestal Isabel Dias Goulart Fonte: SEPLAN-MT, 2008 Documento e data de criação 19,87 ha 698,47 ha 2.058,87 ha Portaria 104/94, de 04/10/94 Portaria 170/97, de 29/12/97 Portaria 25/04-N, de 08/03/04 Portaria 45/03, de 14/11/03 Estrada Parque Lei nº 7.091, de 28/12/1998 Decreto nº 1.473, de 09/06/2000 Município Diamantino Chapada dos Guimarães Nova Brasilândia, Rosário Oeste Chapada dos Guimarães Cuiabá Rondonópolis Chapada dos Guimarães Tangará da Serra Jaciara Cuiabá, Chapada dos Guimarães 11,21 ha Horto Florestal Lei n° 004/92 Cuiabá 17,16 ha Lei nº 1.535 de 04/08/88 Rondonópolis A análise das 26 UC localizadas exclusivamente em municípios do Polo mostra que a maior UC é a APA Aricá-açu, em Cuiabá, que responde por 44,6% da extensão total. São os municípios de Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Jaciara os responsáveis por grande concentração das áreas protegidas, abrigando, juntos, cerca de 86% da extensão total. Não há UC em Araputanga, Dom Aquino, Figueirópolis D‟Oeste, Gaúcha do Norte, Indiavaí, Jangada, Jaurú, Juscimeira, Lambari D‟Oeste, Mirassol D‟Oeste, Nova Lacerda, Poxoréo, Primavera do Leste, Reserva do Cabaçal, Salto do Céu e São José dos Quatro Marcos. As características ambientais reforçam as opções feitas pelo item anterior. Duas das três cidades descartadas por não terem fronteira física com nenhuma outra, não apresentam nenhuma UC (Gaúcha do Norte e Nova Lacerda) – apenas Tangará da Serra dispõe de quatro UC. Também o bloco de 10 municípios – descartado, em especial, por não ter um portão de entrada ao estado consolidado – sofre com a falta UC (apenas Curvelândia tem uma UC de 250 ha) e com altos índices de área desmatada – como ocorre em Araputanga (77,97%), Figueirópolis D‟Oeste (97,96%), Indiavaí (93,53%), Lambari D‟Oeste (82,83%), Mirassol D‟Oeste (89,40%) e São José dos Quatro Marcos (99,41%), superando até mesmo Cuiabá (36,64%), que, por compor o principal aglomerado urbano do estado e apresentar o maior grau de antropização dos municípios, era de se esperar que apresentasse um índice alto (SEPLAN-MT, 2008). O bloco de 13 municípios responde por 99% das UC do Polo, concentradas em Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Jaciara, principalmente – esse cenário é favorável ao desenvolvimento do turismo na região, uma vez que os atrativos e as atividades realizadas estão essencialmente relacionados aos recursos hídricos e à natureza e/ ou ambientes naturais. Em situação contrária, alguns municípios do mesmo bloco destoam e não contam com nenhuma UC e apresentam altos índices de desmatamento, como Dom Aquino, Juscimeira e Primavera do Leste, cujos índices são 78,84, 71,81 e 77,41%, respectivamente (SEPLAN-MT, 2008), não demonstrando vocação para o turismo. 26 A seguir, são caracterizadas as variáveis socioeconômicas do Polo Cerrado. 27 CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS De acordo com a SEPLAN-MT (2008), os 26 municípios inicialmente apontados para o Polo Cerrado totalizam uma população de 1.088.753 habitantes, que representa 38% dos habitantes mato-grossenses, realizando um PIB de R$ 15.033.804,00, que corresponde a 42,6% do PIB estadual – muito embora a capital Cuiabá, sozinha, represente 47,82% do total deste grupo. A Tabela F mostra as características relativas à população, ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do Polo. Tabela F – Características dos municípios Araputanga 15.335 9,57 205.248 14.156 0,754 Ranking do estado, por IDH-M 40 Campo Verde 25.924 5.41 767.418 30.056 0,800 12 Chapada dos Guimarães 17.377 2,80 120.787 6.733 0,711 93 526.831 148,90 7.189.521 13.244 0,821 2 Curvelândia 4.835 6,46 29.190 5.877 - - Diamantino 18.428 2,42 516.184 25.197 0,788 18 Dom Aquino 8.261 3,75 164.901 20.196 0,722 77 Figueirópolis D‟Oeste 3.648 4,09 30.064 8.582 0,705 97 Gaúcha do Norte 5.816 0,34 57.063 10.155 0,702 101 Indiavaí 2.524 4,20 35.375 17.007 0,714 91 Jaciara 24.945 15,04 315.911 11.490 0,788 19 8.058 7,89 52.633 6.161 0,680 118 Jaurú 10.774 8,85 84.665 6.642 0,680 119 Juscimeira 11.830 5,37 103.367 8.021 0,718 83 Lambari D‟Oeste 4.870 3,64 78.836 22.302 0,692 115 Mirassol D‟Oeste 24.538 22,88 214.178 9.467 0,739 55 Nobres 14.862 3,85 143.926 9.208 0,724 73 4.949 1,05 48.563 10.140 0,719 81 Poxoréo 17.592 2,54 167.172 9.727 0,743 51 Primavera do Leste 44.729 8,17 893.659 14.879 0,805 8 Reserva do Cabaçal 2.505 6,76 15.359 9.148 0,680 120 Rondonópolis 172.783 41,48 2.706.628 15.939 0,791 15 Rosário Oeste 18.031 2,05 120.735 6.829 0,715 89 3.650 2,78 28.289 10.194 0,702 105 São José dos Quatro Marcos 19.001 14,83 138.917 7.726 0,735 62 Tangará da Serra 76.657 6,63 805.215 11.135 0,780 23 1.088.753 - 15.033.804 - - - Município Cuiabá Jangada Nova Lacerda Salto do Céu Total População Densidade demográfica PIB (R$) PIB (per capita) IDH-M Fonte: SEPLAN-MT, 2008 A análise detalhada dos dados permite comparações interessantes entre os municípios, cabendo ressaltar as que seguem. Os municípios com maior densidade demográfica são: Cuiabá (148,9 hab./km2), Rondonópolis (41,5 hab./km2), Mirassol D‟Oeste (22,9 hab./km2), São José dos Quatro Marcos (14,8 hab./km2) e Araputanga (9,6 hab./ km2). 28 Os municípios com menor densidade são: Gaúcha do Norte (0,3 hab./km2), Nova Lacerda (1,1 hab./km2), Rosário Oeste (2,1 hab./km2), Diamantino (2,4 hab./km2) e Poxoréo (2,5 hab./km2). Desses, apenas Nova Lacerda não está entre os cinco maiores municípios do Polo em extensão. As maiores gerações de PIB estão em: Cuiabá (R$ 7,189 milhões), Rondonópolis (R$ 2,706 milhões), Primavera do Leste (R$ 893 mil), Tangará da Serra (R$ 805 mil) e Campo Verde (R$ 767 mil). Convém destacar que nem todos os municípios listados como maiores geradores de PIB possuem as maiores extensões territoriais ou maior densidade demográfica. As menores gerações de PIB estão em: Reserva do Cabaçal (R$ 15 mil), Salto do Céu (R$ 28 mil), Curvelândia (R$ 29 mil), Figueirópolis D‟Oeste (R$ 30 mil) e Indiavaí (R$ 35 mil), sendo que apenas Salto do Céu não faz parte dos cinco menores municípios do Polo. Os maiores produtos per capita estão em: Campo Verde (R$ 30 mil), Diamantino (R$ 25 mil), Lambari D‟Oeste (R$ 22 mil), Dom Aquino (R$ 20 mil) e Indiavaí (R$ 17 mil). É interessante observar que, dentre os municípios de alto PIB per capita, está um dos de menor PIB total (Indiavaí). Os menores produtos per capita estão em: Curvelândia (R$ 5 mil), Jangada, Jaurú, Chapada dos Guimarães e Rosário Oeste (todos com menos de R$ 7 mil), consistentemente com o fato de Curvelândia estar entre os municípios com menor extensão e menor PIB, mas Rosário Oeste, ao contrário, é um dos de maior extensão, apesar de ter baixa densidade demográfica. Os menores IDH-M estão em: Jangada, Jaurú e Reserva do Cabaçal (todos com 0,680), Lambari D‟Oeste (0,692), Gaucha do Norte e Salto do Céu (ambos com 0,702). Os maiores IDH-M estão em: Cuiabá (0,821), Primavera do Leste (0,805), Campo Verde (0,800), Rondonópolis (0,791), Diamantino e Jaciara (ambos com 0,788). Os números mostram um pouco as diferenças e similaridades intermunicipais e regionais existentes no Polo Cerrado, como, por exemplo, a diferença populacional e de geração de PIB e, por outro lado, a proximidade entre os produtos per capita e IDH-M. Os três municípios que não fazem fronteiras com os demais, Gaúcha do Norte, Nova Lacerda e Tangará da Serra, abrigam 8,0% da população total do Polo e respondem por 6,1% da geração de PIB. O IDH-M médio é de 0,734, o que colocaria o grupo em 63º lugar no ranking estadual, sendo que o desempenho é alavancado por Tangará da Serra. O bloco menor, de 10 municípios, abriga quase que o mesmo número de habitantes que os três municípios citados acima, sendo responsável por 8,4% da população do Polo. Embora seja mais numeroso, o bloco gera apenas 5,7% de PIB. O IDH-M médio do bloco é 0,711, o que corresponde ao 94º lugar no ranking estadual. O bloco de 13 municípios concentra 83,5% da população do Polo e é responsável pela geração de 88,2% de PIB. O IDH-M médio do bloco é 0,754, o que colocaria o grupo em 42º lugar no ranking estadual. 29 CARACTERÍSTICAS TURÍSTICAS Conforme dados do MTur (2009), o Polo Cerrado apresenta segmentos turísticos desenvolvidos e consolidados, como é o caso do: turismo cultural, ecoturismo, etnoturismo, pesca esportiva, turismo de eventos e negócios e turismo de aventura, sendo os principais atrativos turísticos o PARNA Chapada dos Guimarães, na Chapada dos Guimarães, o PE da Gruta da Lagoa Azul, em Nobres, e a Rota das Águas Termais, a 5 km de Jaciara, onde fica a Cachoeira da Fumaça. Durante as pesquisas iniciais para elaboração do Diagnóstico, foi confirmada a presença dos segmentos de turismo de aventura e ecoturismo, cultural, rural e de eventos e negócios, sendo que existe também potencial para a oferta de produtos para mercados específicos, voltados para a observação de aves e para o aprendizado científico e empresarial, promovendo visitas técnicas nas áreas de biologia, ecologia e botânica, entre outras, ou, ainda, visitas a propriedades rurais que apresentem, por exemplo, alta produtividade, rentabilidade ou boas práticas de sustentabilidade. No que se refere aos potenciais turísticos culturais, a região possui características singulares relacionadas às danças e ao folclore, o que pode gerar mais do que souvenirs típicos, por meio de possibilidades de interação e aprendizado entre a comunidade e o turista. O Polo conta com 35 bens tombados pela Secretaria de Estado de Cultura (SECMT), sendo um em Diamantino (Igreja Matriz e Casa Canônica), um em Nobres (Cachoeira do Tombador2) e 33 em Cuiabá (como, Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho, Arsenal de Guerra e Cine Teatro); existem também três bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), sendo um na Chapada dos Guimarães (Igreja da Sé de Sant‟Ana) e dois em Cuiabá (conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade e Igreja Nossa Senhora do Rosário). Como se pode notar, todos os bens tombados fazem parte do bloco das 13 cidades que, de acordo com os argumentos dos itens anteriores, tendem a se tornar o foco de estudo de desenvolvimento turístico do Polo Cerrado. Além das cidades mais próximas à capital (Chapada dos Guimarães, Campo Verde e Jaciara) que têm potencial turístico, a cidade de Nobres se destaca pela variedade de atrativos naturais, inclusive já explorados comercialmente, como o Balneário Estivado, a Cachoeira Serra Azul, a Cachoeira do Tombador, a Lagoa do Salobão e o Reino Encantado, entre outros. Apesar de todo o potencial de oferta turística verificado, a atividade no Polo ainda não está estruturada, de forma que as bases de dados estatísticos sobre o fluxo e perfil de demanda, ou mesmo sobre a oferta atual disponível, são insuficientes e não permitem análises qualitativas ou quantitativas. O capítulo a seguir trata das dificuldades técnicas encontradas para a realização do Diagnóstico, que justificam a redução do número de municípios sugeridos pelo Termo de Referência (26, inicialmente). 2 Embora a Cachoeira do Tombador seja um bem tombado pela SEC-MT e, portanto, apresentado aqui como atrativo cultural, neste estudo Diagnóstico foi classificada como atrativo natural, vide p.111. 30 DIFICULDADES TÉCNICAS PARA REALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO EM TODOS OS MUNICÍPIOS A função primeira do Diagnóstico solicitado para o Polo Cerrado, conforme o Ministério do Turismo (MTUR, 2009), é “a avaliação da situação estrutural da atividade turística na área turística”. Assim, os esforços de pesquisa voltaram-se, principalmente, para dados referentes à oferta do Polo, que abrange os equipamentos e serviços de turismo (meios de hospedagem, alimentação, transporte, lazer e eventos e serviço de receptivo) e os atrativos naturais e culturais. O cenário encontrado pela equipe de pesquisadores, entretanto, não foi muito promissor, visto que não existem dados consolidados que indiquem a situação da atividade turística nos municípios do Polo. A principal fonte de dados consultada foi o estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso (SEBRAE-MT), em 2006, intitulado Inventário da Oferta Turística. Como dito anteriormente, as informações do estudo encontram-se em estado bruto, sem qualquer tipo de análise ou tabulação; a equipe de pesquisadores envolveu-se, então, no demorado processo de agrupamento e identificação dos principais pontos levantados pelo Inventário – ações necessárias e essenciais para que a aplicação dos dados no Diagnóstico e demais Produtos fosse possível. Além da falta de análise dos dados do Inventário da Oferta Turística, as informações existentes referiam-se a 19 municípios3, sendo que nove compõem o Polo Cerrado originalmente definido: Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Diamantino, Dom Aquino, Jaciara, Juscimeira, Nobres e Rondonópolis. Assim, foram necessárias diversas pesquisas secundárias em fontes oficiais para se estabelecer a existência ou não da atividade turística nos municípios. A seguir, são apresentadas algumas das fontes consultadas e seus resultados. site do MTur4 oferece opções de destinos e roteiros em todo o Brasil e destaca, em Mato Grosso, os municípios de Cuiabá e Cáceres. O Portal de Serviços e Informações do Estado de Mato Grosso5, são indicados dados sobre meios de hospedagem, alimentação e roteiros e atrações, entre outros. No item de meios de hospedagem são relacionados 56 hotéis e pousadas6, sendo 18 em Cuiabá, quatro na Chapada dos Guimarães e um em Rondonópolis; quanto aos estabelecimentos de alimentação, são relacionados 81 no estado7, distribuídos, no Polo, em 54 em Cuiabá e um em Dom Aquino; não são indicados roteiros ou atrações. No A Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo (SEDTUR-MT) disponibiliza, em seu site, informações por meio do Guia do Turista8, que trata de 77 municípios. Os dados são divididos em meios de hospedagem, alimentação e eventos e festas, entre outros. 3 Alta Floresta, Barra do Garças, Cáceres, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Diamantino, Dom Aquino, Feliz, Natal, Jaciara, Juscimeira, Nobres, Novo Mundo, Paranaíta, Poconé, Rondonópolis, São José do Rio Claro, Sinop e Várzea Grande. 4 http://www.turismobrasil.gov.br 5 http://www.mt.gov.br 6 Além dos meios de hospedagem existentes no Polo, o Portal lista quatro em Água Boa, quatro em Poconé , três em Alta Floresta, dois em Sinop, dois em Barão de Melgaço, dois em Cáceres, um em Aripuanã, um em Barra do Bugres, um em Campo Novo do Parecis, um em Pontes e Lacerda, um em Santo Antônio do Leverger, um em Juína e um em Nova Olímpia, e nove que não indicam localização exata. 7 Os demais localizam-se em Várzea Grande (10), Cáceres (dois), Barra do Garças (dois), Poconé (um), e 11 não especificam em que município estão. 8 http://www.sedtur.mt.gov.br/guiadoturista, último acesso em jun. 2010. 31 Para os municípios do Polo, as informações disponíveis são: em relação aos meios de hospedagem, 26 em Cuiabá, 16 em Rondonópolis, nove na Chapada dos Guimarães, nove em Tangará da Serra, quatro em Jaciara, três em Primavera do Leste e um em cada um dos municípios de Araputanga, Campo Verde, Curvelândia, Diamantino, Dom Aquino, Jangada, Juscimeira e São José dos Quatro Marcos; em relação aos estabelecimentos de alimentação ou eventos, com exceção de Cuiabá (que tem 18 estabelecimentos listados), nenhum outro município do Polo dispõe de informações. O Portal Municipal, da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), oferece, em seu site9, espaço para informações sobre o turismo nos municípios, classificadas em hospedagem, gastronomia e pontos turísticos. Entretanto, somente sete municípios fornecem algum tipo de informação: Cuiabá (sete pontos turísticos), Curvelândia (um meio de hospedagem e cinco pontos turísticos), Dom Aquino (quatro meios de hospedagem), Jaurú (dois meios de hospedagem e dois pontos turísticos), Lambari D‟Oeste e Reserva do Cabaçal (dois meios de hospedagem e três pontos turísticos, cada) e Rosário Oeste (um ponto turístico). O Anuário Estatístico de Mato Grosso (SEPLAN-MT, 2008) apresenta um capítulo destinado ao turismo, que lista o número de cinemas, teatros, salões de festas, museus e bibliotecas por município. As informações encontradas não configuram um cenário capaz de definir a atividade turística no Polo. As prefeituras de Campo Verde, Diamantino, Dom Aquino, Poxoréo e Rondonópolis destacam os pontos turísticos dos municípios por meio de uma galeria de fotos. Os sites da Chapada dos Guimarães e Jaciara apresentam os próximos eventos das cidades, mas não trazem dados sobre pontos turísticos. Cuiabá disponibiliza dados referentes à cultura do município e os principais atrativos turísticos e culturais. A prefeitura de Curvelândia destaca pontos turísticos e roteiros disponíveis. Jaurú e Tangará da Serra disponibilizam os principais atrativos turísticos e serviços de apoio, como meios de hospedagem e alimentação. As prefeituras de Nova Lacerda, Reserva do Cabaçal e Rosário Oeste destacam atrativos naturais do município ou próximos. Os sites das prefeituras de Araputanga, Figueirópolis D‟Oeste, Gaúcha do Norte, Indiavaí, Lambari D‟Oeste, Mirassol D‟Oeste, Nobres, Primavera do Leste e São José dos Quatro Marcos não fazem menção à atividade turística nos municípios, nem trazem atrativos naturais ou culturais10. Não foram identificados sites para as prefeituras de Jangada, Juscimeira e Salto do Céu. A Tabela G apresenta um resumo da existência de informações sobre a oferta turística no Polo. 9 http://www.portalmunicipal.org.br/entidades/amm/municipio/turismo.asp, último acesso em jun. 2010. 10 Prefeituras: Araputanga - http://www.araputanga.mt.gov.br; Campo Verde - http://informe.campoverde.mt.gov.br; Chapada dos Guimarães - http://www.chapadadosguimaraes.mt.gov.br; Cuiabá - http://www.cuiaba.mt.gov.br; Curvelândia - http://www.curvelandia.mt.gov.br; Diamantino - http://www.diamantino.mt.gov.br; Dom Aquino http://www.domaquino.mt.gov.br; Figueirópolis D‟Oeste - http://www.figueiropolisdoeste.mt.gov.br/; Gaúcha do Norte - http://www.gauchadonorte.mt.gov.br/; Indiavaí - http://www.prefeituradeindiavai.com.br; Jaciara http://www.jaciara.mt.gov.br; Jaurú - http://www.jaurú.mt.gov.br; Lambari D‟Oeste http://www.lambaridoeste.mt.gov.br; Mirassol D‟Oeste - http://mirassoldoeste.mt.gov.br/; Nobres http://www.nobres.mt.gov.br/pmnobres/index.html; Nova Lacerda - http://www.novalacerda.mt.gov.br; Poxoréo http://www.poxoreu.mt.gov.br; Primavera do Leste - http://www.primaveradoleste.mt.gov.br; Reserva do Cabaçal http://www.pmreservadocabacal.amm.org.br/turismo.htm; Rondonópolis - http://www.rondonopolis.mt.gov.br; Rosário Oeste - http://www.rosariooeste.mt.gov.br; São José dos Quatro Marcos http://www.saojosedosquatromarcos.mt.gov.br; Tangará da Serra - http://www.tangaradaserra.mt.gov.br. Para todos os endereços eletrônicos, último acesso em jun. 2010. 32 MTur Portal do Estado Inventário (SEBRAE-MT, 2006) SEDTUR-MT AMM Anuário (SEPLAN-MT, 2008) Prefeitura Tabela G – Existência de dados, oferta turística Araputanga Não Não Não Sim Não Não Não Campo Verde Não Não Sim Sim Não Não Sim Chapada dos Guimarães Não Sim Sim Sim Não Não Sim Cuiabá Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Curvelândia Não Não Não Sim Sim Não Sim Diamantino Não Não Sim Sim Não Não Sim Dom Aquino Não Sim Sim Sim Sim Não Sim Figueirópolis D‟Oeste Não Não Não Não Não Não Não Gaúcha do Norte Não Não Não Não Não Não Não Indiavaí Não Não Não Não Não Não Não Jaciara Não Não Sim Sim Não Não Sim Jangada Não Não Não Sim Não Não Não Jaurú Não Não Não Não Sim Não Sim Juscimeira Não Não Sim Sim Não Não Não Lambari D‟Oeste Não Não Não Não Sim Não Não Mirassol D‟Oeste Não Não Não Não Não Não Não Nobres Não Não Sim Não Não Não Não Nova Lacerda Não Não Não Não Não Não Sim Poxoréo Não Não Não Não Não Não Sim Primavera do Leste Não Não Não Sim Não Não Não Reserva do Cabaçal Não Não Não Não Sim Não Sim Rondonópolis Não Sim Sim Sim Não Não Sim Rosário Oeste Não Não Não Não Sim Não Sim Salto do Céu Não Não Não Não Não Não Não São José dos Quatro Marcos Não Não Não Sim Não Não Não Tangará da Serra Não Não Não Sim Não Não Sim Município Como apresentado, a carência de dados consistentes sobre todos os aspectos do turismo no Polo Cerrado exigiu pesquisas primárias aprofundadas, que consumiram grande parte do tempo destinado à realização do Diagnóstico, tendo sido dada ênfase aos municípios que já contavam com alguma base de dados estruturada, como Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Campo Verde e Jaciara – já avaliados no capítulo 1 como tendo qualidades suficientes para compor a configuração final do Polo Cerrado, para fins deste PDITS. O município de Nobres, apesar de ter dados disponíveis somente no Inventário da Oferta Turística, não poderia deixar de ser incluído, uma vez que oferece grande quantidade de atrativos já consolidados e é relativamente perto da capital (151 km). Além da falta de dados, outras dificuldades foram encontradas durante o processo de pesquisa, entre elas: geográfica dos municípios pelo Polo – como tratado no item 1.1, os municípios não são contíguos, o que contribui para o distanciamento de suas respectivas realidades; distribuição 33 de chuvas – os trabalhos de campo foram realizados em sua totalidade durante a época de chuvas no Cerrado, o que causou diversos atrasos, seja pela limitação na mobilidade entre os municípios ou atrativos, seja pela impossibilidade de acesso, entre outros; época dos acessos – o deslocamento na região do Polo foi prejudicado pelas condições das rodovias, vicinais e, mesmo, da área urbana dos municípios. As condições de trafegabilidade, deterioradas pelas fortes chuvas, contribuíram para atrasos e dificultaram que uma área maior fosse pesquisada; precariedade no sistema de comunicação – problemas na disponibilidade dos sistemas de comunicação foram outra dificuldade encontrada; falhas institucional – houveram também dificuldades quanto ao suporte institucional, principalmente no que se refere ao atendimento das solicitações de dados e ausência de dados sistematizados sobre o órgão, sua atuação e resultados. suporte O próximo capítulo trata do encaminhamento dado à situação. 34 ENCAMINHAMENTO Diante das dificuldades encontradas, foram necessárias reuniões com a SEDTUR-MT, representada na época pelo Secretário de Turismo Sr. Yuri Bastos, para redefinir a abrangência dos trabalhos. O novo alinhamento de municípios foi estabelecido de acordo com as prioridades de investimentos do estado para o desenvolvimento turístico e com as prioridades de planejamento que visavam o projeto de Mato Grosso sediar a Copa do Mundo de 2014. Novamente, as diretrizes para o ajuste basearam-se na desconexão geográfica entre os municípios, na carência de dados, na precariedade dos acessos, nas falhas no sistema de comunicação e na falta de suporte institucional. Assim, foi decidido, junto à SEDTUR-MT, que o Polo Cerrado seria composto por cinco municípios, sendo eles Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jaciara e Nobres. 35 1 POLO CERRADO Mato Grosso, cuja capital é Cuiabá, faz parte da região Centro-Oeste do Brasil (Figura 1). Localizado na parte sul do continente americano, com superfície de 903.357,91 km², tem um produto interno bruto (PIB) de R$ 35.284 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008). Limita-se ao norte com Pará e Amazonas, ao sul com Mato Grosso do Sul, a leste com Goiás e Tocantins e a oeste com Rondônia e Bolívia. Sua população é estimada em 2.854.642 habitantes e, conforme estudo da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN-MT), a taxa de crescimento média é de 1,89% ao ano, sendo que aproximadamente 76,95% da população localiza-se na zona urbana (SEPLAN-MT, 2008a). Figura 1 – Mato Grosso, Brasil O estado é formado por 141 municípios, agrupados em 22 microrregiões políticoadministrativas, que fazem parte de cinco mesorregiões definidas pelo IBGE. Atualmente, há 68 reservas indígenas, 23 Unidades de Conservação (UC) federais, 43 estaduais e 38 municipais, distribuídas entre reservas, parques, estações ecológicas e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), segundo a SEPLAN-MT (2008). O mesmo estudo mostra que o turismo, enquanto atividade econômica e com características empresariais, é recente em Mato Grosso. O Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil, conduzido pelo Ministério do Turismo (MTur), identificou quatro regiões turísticas prioritárias, definidas como macropolos, sendo elas: Polo Araguaia, Polo Amazônia, Polo Pantanal e Polo Cerrado. Para a atividade turística no estado, foi considerado um marco quando o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), em 1976, declarou a Chapada dos Guimarães como “zona prioritária de turismo”, dentro de uma política de interiorização da oferta turística, inserindo no mercado interno e mundial novos atrativos, além daqueles vinculados às cidades litorâneas. De acordo com a SEPLAN-MT (2008), com o avanço da agricultura moderna no estado, nas décadas de 1970 e 1980, intensificou-se também o turismo de negócios como consequência do desenvolvimento econômico. O aglomerado urbano Cuiabá/ Várzea Grande constitui-se no maior polo emissivo de turismo interno e em centro receptor e distribuidor de fluxos turísticos internacionais de Mato Grosso, devido à infraestrutura de apoio disponível, como o Aeroporto Internacional Marechal Rondon, também chamado de Aeroporto Internacional de Cuiabá, localizado em Várzea Grande, e a rodoviária Cássio 36 Veiga de Sá, de grande porte e estruturada em Cuiabá, que oferece acesso rodoviário para as demais áreas com atrativos turísticos. O estado contava, em 2005, conforme o MTur e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo (SEDTUR-MT), com uma rede hoteleira que disponibilizava 10.494 leitos, com 35% deles no aglomerado urbano de Cuiabá/ Várzea Grande; quanto aos serviços turísticos de apoio, o estado possuía 137 agências de viagens e 84 transportadoras turísticas, sendo 57,6% delas localizadas na região de Cuiabá/ Várzea Grande (MTUR/ SEDTUR-MT, 2006). Segundo Camargo11 (apud SEPLAN-MT, 2008a), a inclusão da atividade turística na estratégia de desenvolvimento econômico é uma importante oportunidade para reduzir desigualdades regionais, proporcionando empregos diretos e indiretos e contribuindo para a diminuição da pobreza. No entanto, pontua Camargo, tal perspectiva só poderá ser conquistada pelas comunidades que conseguirem estruturar uma gestão responsável, que harmonize aspectos ambientais, econômicos e socioculturais, ou seja, pelas comunidades que desenvolverem o turismo de forma sustentável. Do contrário, as comunidades e seus atrativos podem tornar-se vulneráveis e suscetíveis aos problemas de degradação ambiental e social. Ainda conforme Camargo (apud SEPLAN-MT, 2008a), o cenário atual é propício para o desenvolvimento do turismo, sendo o momento de priorizar ainda mais o crescimento do agronegócio no estado, o que, além de fortalecer o turismo de negócio, faz com que outras modalidades sejam potencializadas. Nesse contexto, o estado de Mato Grosso, responsável pela captação de recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sob o marco do Programa de Desenvolvimento do Turismo Nacional (PRODETUR), selecionou as Áreas Turísticas (AT) denominadas Polo Pantanal e Polo Cerrado para serem incluídas no Programa. Figura 2 – Polo Cerrado, MT De acordo com o MTur (2009), a AT na qual o Polo Cerrado se encontra apresenta diversas oportunidades de desenvolvimento turístico, seja por incluir região com vários sítios arqueológicos, seja pela beleza exótica e riqueza natural, com cavernas e cachoeiras. 11 Lígia Camargo, engenheira cartógrafa, técnica da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral de Mato Grosso, mestre em Geografia pela UFMT – Área de Concentração: Ambiente e Desenvolvimento Regional (SEPLAN-MT, 2008a). 37 No entanto, cabe ressaltar que o Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Polo Cerrado (MTUR/ SEDTUR-MT, 2006) o identifica como sendo composto pelos municípios de Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Dom Aquino, Jaciara, Juscimeira e Nobres. Por outro lado, o Termo de Referência para a Elaboração dos Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável no Estado de Mato Grosso (MTUR, 2009) identifica o Polo Cerrado como sendo composto por 26 municípios, que incluem, além dos citados pelo Plano Regional: Araputanga, Curvelândia, Diamantino, Figueirópolis D‟Oeste, Gaúcha do Norte, Indiavaí, Jangada, Jauru, Lambari D‟Oeste, Mirassol D‟Oeste, Nova Lacerda, Poxoréo, Primavera do Leste, Reserva do Cabaçal, Rondonópolis, Rosário Oeste, Salto do Céu, São José dos Quatro Marcos e Tangará da Serra. Para fins de análises do Diagnóstico, foram considerados os municípios de Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jaciara e Nobres (Figura 2), conforme mencionado em Ajuste de Escopo. Assim entendido, o Polo Cerrado compreende importantes formações de cerrado, ecossistema que abrange aproximadamente 38,29% da cobertura original do estado de Mato Grosso (SEPLAN-MT, 1998). É limitado com os planaltos do entorno por recortes de paredões que desvendam uma região repleta de mananciais de águas cristalinas e puras, com vários pontos de águas termais, fauna e flora características. Importante para a ecologia por sua inter-relação com os demais elementos bióticos, a vegetação de cerrado apresenta características de formações vegetais bastante diversificadas. Especificamente em Mato Grosso, encontram-se dois subgrupos dessas formações (Figura 3): a savana gramíneo-lenhosa, que se apresenta como um tapete herbáceo gramíneo – também chamado de campos limpos – e a savana arbórea, com arbustos e árvores de até 10 m de altura, com troncos tortuosos, cascas espessas e folhas grossas – também conhecida como cerradão (SCHWENK, 2005). Estima-se que a flora do cerrado tenha aproximadamente 10 mil espécies que beneficiam a fauna e o homem (FERREIRA, 2001). Figura 3 – Formações vegetais, região ampliada do Polo Cerrado Fonte: CI, s/d Os recursos hídricos que surgem nas regiões elevadas do cerrado abastecem e equilibram outros domínios biogeográficos (Figura 4), o que enfatiza a necessidade de manutenção do sistema. Os rios mais importantes no Polo Cerrado são o Cuiabá e seus afluentes: Manso 38 (na porção norte) e São Lourenço (na porção sul), onde se concentram as principais nascentes formadoras das bacias Platina e Amazônica. As formas de relevo, entendidas como mais um dos componentes da natureza, são um recurso natural, pois suas variações favorecem ou dificultam os usos da sociedade (ROSS, 2005). Os cerrados apresentam relevos variados, embora predominem os amplos planaltos: metade do cerrado situa-se entre 300 e 600 m acima do nível do mar, e apenas 5,5% atinge uma altitude acima de 900 m (FERREIRA, 2001). O cerrado mato-grossense apresenta, na maior parte, topografia suave e solos profundos, sem impedimento físico (MAIA, 1990), possibilitando a utilização da mecanização intensiva em grandes áreas. Esse tipo de solo é pobre em nutrientes, mas rico em ferro e alumínio, sendo de cor vermelha amarelada, arenoso e permeável. A superfície tem pouca capacidade de absorver água, porém esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios (FERREIRA, 2001). O clima da região é característico de regiões tropicais, ou seja, o cerrado apresenta duas estações bem definidas: verão chuvoso e inverno seco. Em pelo menos dois terços da região o inverno é demarcado por um período de seca que se prolonga por cinco a seis meses (FERREIRA, 2001). Figura 4 – Biomas brasileiros e o Cerrado Fonte: WWF-BRASIL, s/d A riqueza e a diversidade de paisagens presentes no Polo Cerrado favorecem a atividade turística. Para conservar a biodiversidade, áreas protegidas em diferentes níveis vêm sendo criadas na região, inclusive por iniciativa de proprietários de terras particulares, com destaque para o Parque Nacional (PARNA) da Chapada dos Guimarães. 39 No entanto, nem sempre o turismo ocorre de forma organizada na região do Polo. O PARNA já teve áreas de visitação fechadas ao acesso público por falta de manejo adequado e a Cachoeira da Salgadeira12, inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Chapada dos Guimarães, sofre com o turismo sem controle. Além disso, apesar de ser importante eixo de atração turística, as áreas protegidas do cerrado são insuficientes, relativamente à área total, para assegurar a proteção de porções representativas do bioma cerrado (no mínimo 10% do bioma, segundo especialistas). As áreas protegidas existentes ainda carecem de investimentos para implantação de seus programas de manejo, tais como vigilância, infraestrutura administrativa e sistema de gestão da visitação pública, aspectos que serão abordados ao longo deste Diagnóstico. As atividades produtivas preponderantes na região são a agricultura e a pecuária extensiva de corte, mas é possível que atividades de aproveitamento dos recursos naturais tendam a obter grande participação na economia regional. Nesse sentido, segundo o Plano MT+20, a região de Rondonópolis, que abrange dois municípios do Polo Cerrado, foi assim descrita: Mesmo com taxas médias a altas de alteração do meio ambiente, a região de Rondonópolis conserva ainda um grande potencial de recursos naturais distribuídos nas USEEs [Unidades Socioeconômicas e Ecológicas]. Além das condições favoráveis para a pecuária e a agricultura moderna, já instaladas na região, Rondonópolis apresenta um grande potencial biótico e mineral, com domínio de rochas calcárias, além da variedade de fisionomias savânicas e belezas cênicas para aproveitamento turístico. O aproveitamento econômico das riquezas naturais da região pode ser ampliado e melhorado seguindo as alternativas de uso diferenciado identificadas pelo DSEE – Diagnóstico Socioeconômico e Ecológico (SEPLAN-MT, 2008b). O mesmo documento caracteriza a produtividade econômica da região de Cuiabá/ Várzea Grande, que contém três municípios do Polo, pelo seguinte relato: Com a terceira economia do estado, combinando a atividade pecuária com indústria e constituindo ponto de concentração de cargas e entroncamento de transporte multimodal (BR-174 e 070 e hidrovia do Paraguai), a região Sudoeste (Cáceres) sofre pressão antrópica, embora bastante desigual no ambiente savânico associado com pantanais. Sete das dezesseis unidades socioeconômicas e ecológicas (definidas no DSEE) registram baixa alteração ambiental, particularmente as unidades Baías e Lagoas do Paraguai e Pantanal do Paraguai, ambas com ocupação consolidada e ambiente savânico e pantaneiro conservado; mesmo considerando que a unidade Pantanal do Paraguai inclui o município de Cáceres, polo regional e importante centro industrial e de logística do estado (SEPLAN-MT, 2008b). Neste primeiro capítulo, após dar um panorama geral da área em estudo, o que se julga relevante é descrever brevemente os municípios que compõem o Polo, como está feito a seguir. 12 Está descrita na p. 81. 40 1.1 CAMPO VERDE O município de Campo Verde faz divisa ao norte com Nova Brasilândia, a leste com Primavera do Leste e Dom Aquino, ao sul com Jaciara e Santo Antônio do Leverger e a oeste com Chapada dos Guimarães. Distante 139 km da capital, localiza-se a uma altitude média de 736 m e tem uma extensão de 4.795 km2, ou 0,53% da área do estado. Com população de 25.924 habitantes, Campo Verde apresenta uma densidade demográfica de 5,4 hab./km2. Quando observado o PIB, o município destaca-se dos outros com o índice de R$ 767.418,00 e R$ 30.056,00 para o PIB per capita. Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), Campo Verde fica atrás apenas da capital Cuiabá, com 0,800. 1.2 CHAPADA DOS GUIMARÃES A Chapada dos Guimarães limita-se a nordeste com Nova Brasilândia, a leste com Campo Verde, ao sul com Santo Antônio de Leverger, a oeste com Cuiabá e a noroeste com Rosário Oeste. Dos municípios do Polo, é o mais próximo da capital (65 km), o que apresenta maior altitude média (811 m) e também maior extensão (6.207 km2 ou 0,69% da área de Mato Grosso). Por outro lado, Chapada dos Guimarães apresenta-se em segundo lugar quanto a menor população (17.377 habitantes), a menor densidade demográfica (2,7 hab./km2), e os menores índices de PIB (R$ 120.787,00), PIB per capita (R$ 6.733,00) e IDH-M (0,711). 1.3 CUIABÁ Como verificado anteriormente, Cuiabá é a capital do estado de Mato Grosso e apresenta uma área correspondente a 0,39% do estado (3.538 km2), localizada a uma altitude média de 176 m. As divisas do município são ao norte Rosário Oeste, a leste Chapada dos Guimarães, ao sul Santo Antônio do Leverger e a oeste Várzea Grande e Acorizal. A população de Cuiabá é de 526.830 habitantes e sua densidade demográfica (148,9 hab./km2) expressa claramente que o município é o maior centro urbano do Polo. Tal constatação também pode ser observada no PIB (R$ 7.189.521,00), PIB per capita (R$ 13.244,00) e IDH-M (0,821). 1.4 JACIARA O município de Jaciara faz limite ao norte com Campo Verde, a leste com Dom Aquino e São Pedro da Cipa, ao sul e sudeste com Juscimeira e a oeste com Santo Antônio do Leverger. Localizado a 148 km de Cuiabá, está a uma altitude média de 367 m e ocupa um território de 1.659 km2, que correspondem a apenas 0,18% da área do estado. Com uma população de 24.945 habitantes e sua pequena extensão, a densidade demográfica de Jaciara é a segunda maior do Polo (15,0 hab./km2). O PIB do município é de R$ 315.911,00, o PIB per capita é de R$ 11.490,00 e o IDH-M é de 0,788. 1.5 NOBRES Entre os municípios do Polo, Nobres é o mais distante da capital (151 km), localizado a uma altitude média de 200 m. O município faz divisa ao norte com Nova Mutum, a nordeste com Santa Rita do Trivelato, ao sul e sudeste com Rosário Oeste e a oeste com Alto Paraguai e Diamantino. Sua extensão é de 3.860 km2, ou 0,43% do estado. Nobres apresenta-se como o município com a menor população do Polo (14.862 habitantes), embora não tenha a menor densidade demográfica (3,8 hab./km2). O PIB do município é de R$ 143.926,00, o PIB per capita é de R$ 9.208,00 e o IDH-M é de 0,724. A Tabela 1 e Tabela 2 sintetizam os dados dos municípios do Polo Cerrado. 41 Tabela 1 – Características geográficas Município 2 Área (km ) Distância da capital (km) % Altitude média (m) Campo Verde 4.795 0,53% 139 736 Chapada dos Guimarães 6.207 0,69% 65 811 Cuiabá 3.538 0,39% - 176 Jaciara 1.659 0,18% 148 367 Nobres 3.860 0,43% 151 200 Fonte: AMM, 2009 Tabela 2 – Características socioeconômicas Município População Densidade demográfica PIB (R$) PIB per capita (R$) IDH-M Campo Verde 25.924 5,4 767.418 30.056 0,800 Chapada dos Guimarães 17.377 2,7 120.787 6.733 0,711 Cuiabá 526.830 148,9 7.189.521 13.244 0,821 Jaciara 24.945 15,0 315.911 11.490 0,788 Nobres 14.862 3,8 143.926 9.208 0,724 Fonte: AMM, 2009 O próximo capítulo trata do turismo atualmente encontrado no Polo, analisando a demanda e a oferta presentes no mercado do Polo Cerrado. 42 2 MERCADO TURÍSTICO A análise do mercado turístico envolve características específicas de estudo, pois, segundo Beni (2004), as operações ocorrem em uma espécie de “concorrência imperfeita, na qual os produtos não são homogêneos e intercambiáveis, mas diferenciados” – afinal, cada empresa ou destino oferece produtos únicos e distintos das demais e, nesse sentido, o mercado assemelha-se a um regime monopolista ou oligopolista. Com a característica de ser altamente competitivo entre as empresas e os destinos concorrentes e/ ou complementares, o mercado turístico disputa a atenção de nichos de consumo que, geralmente, movimentam-se em busca de diferentes tipos de turismo e lazer nos mesmos períodos do ano. Isso exige um posicionamento de marketing e gestão focado em atender necessidades e desejos dos turistas, visando fortalecer os diferenciais. De acordo com Beni (2004), o fator qualidade é o único critério que se impõe de maneira natural para determinar o êxito ou o fracasso de um produto turístico. Porém, a grande dificuldade está no fato de se tratar de uma variável intangível – embora mensurável –, uma vez que a percepção da qualidade está diretamente ligada às experiências de cada indivíduo. Logo, a mensuração de indicadores de satisfação, no turismo, precisa ser relacionada com as necessidades e desejos iniciais dos consumidores (turistas) e com o objetivo dos empreendimentos e empreendedores em relação à oferta. Assim sendo, considerando essas variáveis, a análise do mercado turístico do Polo Cerrado apresenta-se dividida em duas etapas, nas quais se observa primeiro a demanda (atual e potencial) e depois a oferta turística. O objetivo principal é verificar se a capacidade da oferta turística está satisfazendo a atual demanda e se há possibilidades de expansão e, havendo, quais os nichos de mercado que podem ser buscados a partir dos produtos turísticos existentes e potenciais. 43 2.1 DEMANDA ATUAL Este capítulo visa apresentar a demanda atual de turistas, primeiramente no Brasil, e na sequência no Polo Cerrado, considerando as diversas classificações de turismo existentes. 2.1.1 Brasil Conforme a publicação Tourism Satellite Accounting13, do World Travel and Tourism Council (WTTC), “o Brasil, que em 2008 era a 14ª nação do mundo com a maior economia de turismo, subiu para a 13ª posição em 2009”, entre as 181 nações avaliadas (WTTC apud MTUR, 2009a). Estima-se que tal colocação tende a melhorar ainda mais, pela certeza do país sediar os dois maiores eventos esportivos do mundo nos próximos anos: a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Com crescimento de cerca de 15% ao ano, o dobro da média mundial e três vezes a taxa de expansão do PIB, prevê-se que o mercado turístico brasileiro feche o ano de 2009 respondendo por 6,2% do PIB, com um total de 82,8 bilhões de dólares ou 190,4 bilhões de reais. Segundo o relatório Estatísticas Básicas de Turismo (MTUR, 2008), que se refere aos resultados de 2007, o número de desembarques internacionais no mundo todo foi de 903,3 milhões, sendo que, desse total, 19,9 milhões desembarcaram na América do Sul e cinco milhões no Brasil (Figura 5). Os principais destinos emissores para o Brasil, identificados pelo Anuário Estatístico do Turismo (MTUR, 2009b), foram a Argentina (20,15%), Estados Unidos (12,39%), Itália (5,26%), Alemanha (5,03%) e Chile (4,75%). 903,3 milhões mundo 19,9 milhões – América do Sul 5 milhões - Brasil Figura 5 – Demanda internacional, desembarques O Estudo da Demanda Turística Internacional 2005-2007 (MTUR, 2009c) aponta que a demanda internacional no Brasil teve como principal motivação as atividades de lazer (44,3%), seguidas por negócios, eventos e convenções (27,4%) e visita a amigos e parentes, em terceiro lugar (24,3%). Em relação às viagens a lazer, o principal motivo apontado pelo mesmo estudo foi o segmento de sol e praia, com 60,4% da preferência, seguindo pela modalidade natureza, ecoturismo ou aventura, com 20,9%, e o turismo cultural em terceiro, com 11,7%. Ainda de acordo com o MTur (2009c), 67,1% dos entrevistados já estiveram no Brasil outras vezes e 96,4% afirmaram que pretendem retornar. Quanto à composição do grupo, a maioria dos entrevistados, 41%, viaja sozinho, em segundo lugar aparecem as viagens com 13 A publicação Tourism Satellite Accounting é elaborada pela Oxford Economics e quantifica os diversos aspectos de viagens e turismo de 181 países. 44 a família, representando 20,6%, os casais sem filhos ficam em terceiro lugar, com 17,1%, e, em quarto lugar, figuram as viagens com amigos, com 14,9%. Os turistas internacionais de lazer, segundo o MTur (2009c), visitaram os destinos de: Rio de Janeiro (30,2%), Foz do Iguaçu (16,1%), Florianópolis (15,3%), São Paulo (13,7%) e Salvador (10,2%). Já os turistas que vieram ao Brasil motivados por negócios, eventos e convenções tiveram como principais destinos São Paulo (52,5%), Rio de Janeiro (24,7%), Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte (que, somados, correspondem a 14,6%). Quanto ao gasto per capita no Brasil, o mesmo estudo verifica que o turista de negócios, eventos e convenções é o que gasta mais em sua estada, com a média de US$ 112,86 por dia; o turista de lazer consome em média US$ 73,37 por dia, o que resulta em uma diferença de aproximadamente 53% nos gastos. A média de gastos do turista estrangeiro no Brasil, considerando todas as motivações de viagem, é de US$ 65,59. Os turistas motivados pelas atividades de lazer tiveram uma permanência média de 13,7 dias no Brasil, enquanto o turista de negócios, eventos e convenções permaneceu em média 12,1 dias. Conforme o MTur (2009c), o tipo de alojamento mais utilizado pela demanda turística internacional no Brasil foram hotéis, flats ou pousadas, com 55,5% das citações, seguido por casa de amigos e parentes, com 25,9%. O estudo afirma ainda que a fonte de informação mais utilizada na organização da viagem foi amigos e parentes, 38,4%, e internet, 24,4%. Cabe ressaltar que apenas 8,6% dos entrevistados citaram as agências de viagens como fonte de informação para organização da viagem ao Brasil. Quanto à satisfação em relação à viagem, 26,6% afirmaram que a viagem superou suas expectativas, 58% relataram que a viagem atendeu plenamente às expectativas, 12,8% disseram que o destino Brasil atendeu em parte suas expectativas e 2,6% disseram ter se decepcionado. A Figura 6, a seguir, apresenta gráficos que caracterizam a demanda atual, conforme números já apresentados aqui. Figura 6 – Demanda internacional, caracterização, Brasil Fonte: MTUR, 2009b 45 Figura 6 – Demanda internacional, caracterização, Brasil (cont.) A Tabela 3 mostra que os equipamentos e serviços ligados à atividade turística brasileira são bem avaliados pelos turistas internacionais. No entanto, é válido chamar a atenção para itens de infraestrutura geral, como segurança e limpeza pública, telecomunicações e sinalização turística, que tiveram os maiores percentuais de avaliações negativas. Em relação à infraestrutura turística, os itens com os maiores percentuais negativos foram as rodovias, e, em relação aos serviços turísticos, o item pior avaliado foi preço, seguido da informação turística. 46 Tabela 3 – Avaliação de turistas internacionais em visita ao Brasil Itens avaliados 2007 Positivo (%) Negativo (%) Infraestrutura Serviço de táxi 90,5 9,5 Transporte público 82,2 17,8 Telecomunicações 79,8 20,2 Segurança pública 78,8 21,2 Limpeza pública 78,4 21,6 Sinalização turística 73,8 26,2 Alojamento 95,6 4,4 Restaurante 95,1 4,9 Diversão noturna 91,4 8,6 Aeroporto 80,2 19,8 Rodovias 66,8 33,2 Hospitalidade 97,5 2,5 Gastronomia 96,0 4,0 Guias de turismo 91,9 8,1 Informação turística 86,5 13,5 Preço 67,4 32,6 Infraestrutura turística Serviços turísticos Fonte: Adaptado de MTUR, 2009b No que se refere à segmentação da demanda e suas características, a análise de estudos já publicados permite as classificações descritas a seguir14. a) Turismo de aventura e ecoturismo15 O MTur (2008) afirma que é difícil conceituar o perfil do ecoturista tendo em vista as diferentes motivações e comportamentos desse consumidor, mas, apesar disso, elenca algumas características: escolaridade de nível superior, profissão de caráter liberal, viaja sozinho ou em pequenos grupos. Os brasileiros permanecem em média quatro dias nos destinos e, os estrangeiros, 10 dias. São procedentes de grandes centros urbanos e desejam contribuir para a conservação do meio ambiente. O estudo do MTur afirma ainda que esse tipo de consumidor, de modo geral, importase com a qualidade dos serviços e equipamentos, com a singularidade e autenticidade da experiência e com o estado de conservação do ambiente, muito mais do que com o custo da viagem. 14 A classificação adotada considera os conceitos utilizados pelo MTur (2009h), que segmenta o turismo em: social, ecoturismo, cultural, estudos e intercâmbio, de esportes, de pesca, náutico, de aventura, sol e praia, negócios e eventos, rural e de saúde. Entende-se que a segmentação adotada para a elaboração do PDTIS do Polo Cerrado (MTUR, 2009) aborda também o etnoturismo, que não é tratado neste Diagnóstico por não ser representativo no Polo. 15 Os dois segmentos foram analisados em um mesmo item, pois muitas atividades consideradas de ecoturismo são também características do turismo de aventura e vice-versa. Vale ressaltar que, no âmbito da normatização turísticas, os segmentos também são tratados sob o mesmo escopo. 47 Conforme o estudo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA), intitulado Diagnóstico do Turismo de Aventura no Brasil (2008), durante o ano de 2008 foram atendidos aproximadamente 4,4 milhões de clientes nas atividades de turismo de aventura no Brasil, o que aponta para uma estimativa de faturamento das empresas do segmento de mais de R$ 490 milhões. O estudo revela ainda que “o mercado do turismo de aventura no Brasil foi se configurando por meio de iniciativas isoladas e bastante amadoras. Depois de certo tempo, alguns empreendedores buscaram a profissionalização, mas, nesse mesmo tempo, houve um crescimento da oferta e, mais recentemente, um decréscimo na demanda”. Considerando ainda o mercado nacional de turismo de aventura e ecoturismo, é conveniente ressaltar que a criação da ABETA, em 2004, e o início do processo de normatização das atividades relacionadas à segurança no segmento, em 2006, trouxeram uma nova fase para o turismo de aventura. A busca pela confiabilidade nos procedimentos relativos às atividades turísticas como rapel, rafting ou canoagem, por exemplo, aponta para um fortalecimento da demanda e as chances de sucesso do segmento. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT apud INSTITUTO DE HOSPITALIDADE, 2006), até 2020 haverá um crescimento de 6% ao ano no número de turistas internacionais no Brasil de maneira geral, e um crescimento da ordem de 14% ao ano para o ecoturismo. Isso representará, em 2020, uma movimentação de aproximadamente 1,3 milhões de estrangeiros no Brasil somente para ecoturismo, apontando para uma maior valorização das atividades ligadas à natureza e ao meio ambiente. Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) para o MTur, chamado Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil, 2002-2006 (MTUR/ FIPE, 2007), mostra que o número de pessoas que mencionaram ter como motivo de viagem o ecoturismo corresponde a 5,7% dos entrevistados que realizaram uma ou mais viagens durante o ano de 2006. Considerando isso e a estimativa do número total de consumidores de turismo apontados pelo mesmo estudo (48.810.000 pessoas), estima-se em 2.410.170 o número de ecoturistas em 2006 no Brasil. Atualmente, os destinos nacionais de ecoturismo mais procurados, segundo publicações de turismo e viagens16, são: Lençóis Maranhenses (MA), Parque Nacional das Cataratas do Iguaçu (PR), Chapada Diamantina (BA), Jalapão (TO), Pantanal (MT e MS), Amazônia (AM), Parque Nacional Aparados da Serra (RS), Bonito (MS) e Fernando de Noronha (PE). Conforme premiação realizada pela Revista Viagem & Turismo (ABRIL, 2009), a partir da escolha dos leitores da revista e demais consumidores de turismo, destacaram-se os destinos, em ordem de classificação: Bonito (MS), Brotas (SP), Fernando de Noronha (PE), Pantanal (MS e MT), Chapada Diamantina (BA), Itacaré (BA), Foz do Iguaçu (PR), Lençóis Maranhenses (MA) e Chapada dos Veadeiros (GO). Vale destacar o Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que oferece passeios de contemplação de fauna e flora e foi classificado em quarto lugar na premiação; outro destaque a ser considerado é a preferência por destinos como a Chapada dos Veadeiros (GO), onde as atividades turísticas são realizadas em uma UC, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e consistem em caminhadas, banhos de cachoeira, contemplação do cerrado e do relevo escarpado – um produto 16 Foram pesquisadas as revistas TAM Viagens, da New Content Editora e Produtora Ltda., e Viagem & Turismo, da Editora Abril. 48 turístico que se assemelha ao Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e indica o potencial da demanda para esse tipo de atividade. b) Turismo cultural O adensamento populacional nos grandes centros urbanos no início do século XX, somado ao surgimento de uma cultura globalizada de informação e troca, fizeram com que houvesse a valorização das diferenças culturais e da diversidade humana. Assim, os aspectos ligados às manifestações culturais, como dança, música, artesanato, gastronomia e hábitos típicos, são considerados importantes indutores de um turismo que promove o conhecimento intercultural e pessoal. Segundo o Plano Aquarela 2007-2010 (MTUR, 2005), estima-se que 10% das chegadas internacionais em todo o mundo têm propósito turístico cultural, o que equivale a mais de 84 milhões de viagens internacionais por ano. O Plano afirma ainda que os principais destinos nacionais de turismo cultural são cidades históricas de Minas Gerais, Salvador, Recife, Olinda, São Luis do Maranhão e Rio de Janeiro. No Brasil, a publicação Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil, 2002-2006 (MTUR/ FIPE, 2007), afirma que 12,5% dos entrevistados que realizaram uma ou mais viagens durante o ano de 2006 buscam experiências culturais, ou seja, de acordo com a estimativa do número total de consumidores de turismo apontados pelo mesmo estudo (48.810.000 pessoas), corresponde a 6.101.250 turistas em busca de cultura, em 2006, no Brasil. Apesar da importância desse segmento de mercado, não se tem muita informação sobre o perfil do turista que busca o turismo cultural. Em termos gerais, sabe-se que alguns turistas buscam destinos pelo forte apelo cultural, enquanto outros têm interesse por experiências relacionadas a atividades culturais. Acredita-se que, por tratar-se de um segmento que muitas vezes é consumido de forma complementar a outros, como turismo de negócios e eventos, exista certa dificuldade em traçar um perfil e mensurar o impacto do turismo cultural na economia. De qualquer maneira, entende-se que o Brasil é um país que exerce grande apelo cultural pela miscigenação de seu povo, sincretismo religioso (especialmente na Bahia), musicalidade, dança, manifestações populares, culinária e hábitos cotidianos, havendo ainda os atrativos relativos à história, paleontologia e arqueologia, que podem ser encontrados no Polo Cerrado, como os sítios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). c) Turismo rural Seguindo as tendências de busca pela individualização e de reencontro com as origens, que se veem expressas no ecoturismo/ turismo de aventura e turismo cultural, encontra-se também um novo olhar da demanda sobre a área rural e as possibilidades de interação e vivência com as „coisas da terra‟. O turismo rural é caracterizado por ser um segmento no qual o produto buscado é a experiência de viver „um dia‟ na fazenda em contato com um elo cultural distante. O perfil desse turista, segundo o MTur (2008a), é formado por moradores de grandes centros urbanos, entre 25 e 50 anos, casados com filhos, de formação superior e, a maioria, com pós-graduação. São de classe média para média alta, usam automóvel próprio ou vans e deslocam-se, geralmente, em um raio de até 150 km do núcleo emissor, fazendo viagens de curta duração – fins de semana e feriados. Além disso, são apreciadores da gastronomia típica regional, possuem elevado nível de consciência a respeito de questões ambientais e valorizam produtos autênticos e artesanais. Em relação à demanda do segmento, conforme o MTur/ FIPE (2007), 4,6% dos entrevistados que realizaram uma ou mais viagens durante o ano de 2006 buscaram 49 o turismo rural, o que poderia ser projetado para 2,2 milhões de turistas, em 2006, no Brasil. De acordo com as publicações consultadas, os principais destinos nacionais de turismo rural são fazendas históricas ligadas ao período da colonização do Brasil, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, as propriedades pertencentes a descendentes de europeus, que oferecem atividades rurais aliadas à culinária e vinhos característicos. No Polo Cerrado, há o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo rural, principalmente em Campo Verde, onde são realizadas visitas a fazendas que se destacam pela utilização de alta tecnologia no campo e assentamentos rurais, nos quais é possível ter contato com a agricultura familiar e suas peculiaridades. d) Negócios e Eventos Além das viagens de lazer, outro grande motivo que faz as pessoas viajarem são os negócios, eventos e congressos, nos quais se busca aprendizado, aumento e fortalecimento das redes de relacionamento, além dos próprios negócios. Conforme um ranking divulgado pela International Congress and Convention Association (ICCA, 2010), o Brasil está em sétimo lugar entre as nações que receberam eventos internacionais em 2008. Trata-se de um mercado bastante estruturado e, segundo pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureau (FBCVB), Dimensionamento econômico do setor de eventos no Brasil 2001-2002 (2002), são realizados no Brasil mais de 300 mil eventos anuais, envolvendo 79,8 milhões de participantes e gerando uma movimentação financeira da ordem de R$ 32,7 bilhões – contados pelo número de entradas em eventos, e incluindo os participantes locais. De acordo com o MTur/ FIPE (2007), 15,9% dos entrevistados que realizaram uma ou mais viagens, durante o ano de 2006, buscam negócios e eventos, o que, considerando a estimativa do número total de consumidores de turismo apontados pelo mesmo estudo, significa 7,7 milhões de pessoas, em 2006, no Brasil. Segundo esse estudo, os principais destinos brasileiros de eventos são as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Foz do Iguaçu. No Polo Cerrado, a capital do estado, Cuiabá, se destaca na captação do turismo de negócios e na realização de eventos, pois apresenta uma estrutura diversa e preparada, além de ser facilmente servida pelo Aeroporto Internacional Marechal Rondon. Quanto aos demais municípios do Polo, diversos eventos culturais acontecem durante todo o ano, sobretudo os festejos religiosos. Uma vez identificadas as características da demanda atual brasileira e os principais segmentos nos quais ela se desdobra, este Diagnóstico volta-se para a demanda do Polo Cerrado. 50 2.1.2 Polo Cerrado Em Mato Grosso, no ano de 2008, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO, 2009), o número de desembarques no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, situado em Várzea Grande, foi de 1.394.848 passageiros vindos de voos nacionais e apenas 1.316 de voos internacionais, menos de 0,10% dos desembarques realizados. Se comparados os períodos de janeiro a outubro de 2008 e 2009 (INFRAERO, 2009 e 2009a), é possível verificar um aumento de 14%, em 2009, no número de desembarques nacionais e uma diminuição de 35% no número de desembarques internacionais no estado. Apesar da INFRAERO não qualificar os dados, impossibilitando uma análise mais profunda, esse cenário pode ser reflexo somente de uma mudança nos itinerários de voos internacionais, que passaram a fazer escala ou conexão em outras cidades do país, tendo seus passageiros sido contabilizados em Mato Grosso como sendo de origem doméstica. A Figura 7 mostra o aumento do fluxo de passageiros no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, desde 2002. Figura 7 – Fluxo de passageiros no Aeroporto Internacional Marechal Rondon Fonte: Adaptado de INFRAERO, 2009b O Polo Cerrado não tem dados estatísticos sobre sua demanda turística, movimentação anual, características ou preferências dos visitantes. Entretanto, foram encontradas pesquisas específicas sobre as cidades de Cuiabá e Chapada dos Guimarães (MATO GROSSO, SEBRAE-NACIONAL e SEBRAE-MT, 2005). Tais pesquisas indicam que a capital apresentou um movimento estimado de 180 mil turistas em 2004 e a Chapada dos Guimarães manteve a média de ocupação hoteleira em torno de 59% durante o mesmo ano, sendo que os dois municípios atendem principalmente ao turismo doméstico e interno do próprio Mato Grosso. Além disso, é possível observar o fluxo de turistas em Cuiabá na alta temporada, em 2005, conforme o estado emissor, como mostra a Tabela 4. 51 Tabela 4 – Fluxo de turistas na alta temporada, em Cuiabá, por estado emissor, 2005 Estado % Mato Grosso 34,8 São Paulo 21,1 Mato Grosso do Sul 10,3 Paraná 9,5 Distrito Federal 5,2 Minas Gerais 4,9 Rondônia 3,2 Goiás 3,0 Rio de Janeiro 2,6 Rio Grande do Sul 2,1 Santa Catarina 0,7 Ceará 0,6 Acre 0,4 Alagoas 0,4 Bahia 0,4 Pernambuco 0,4 Rio Grande do Norte 0,2 Roraima 0,2 Tocantins 0,2 Total 100,00 Nota: 1- O estudo, realizado no mês de agosto de 2005, considera uma amostra de 535 entrevistados. Fonte: MATO GROSSO, SEBRAE-NACIONAL e SEBRAE-MT, 2005 Para complementar os dados secundários obtidos, foram realizadas pesquisas primárias com os turistas do Polo. A coleta de dados se deu a partir da aplicação de um questionário estruturado (Apêndice A), com questões abertas e fechadas, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o perfil e o comportamento da demanda atual e identificar as principais variáveis envolvidas. No total, foram aplicados 60 questionários, sendo 10 nos atrativos turísticos de Caverna Aroê Jarí17, em Cuiabá, Aquário Encantado, em Nobres e num ponto de prática de rafting no Rio Tenente Amaral, em Jaciara. Os demais foram aplicados no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande. O período de aplicação dos questionários foi de 8 a 9 de novembro nos atrativos e de 15 a 16 de novembro de 2009, no aeroporto. A escolha dos atrativos turísticos baseou-se em entrevistas com secretários municipais ligados à área de turismo e empresários do setor, que apontaram os principais produtos e serviços turísticos do Polo. No Aeroporto Internacional Marechal Rondon, buscou-se identificar pessoas que estiveram em visita a uma ou mais cidades do Polo Cerrado. Do total de entrevistados, 63% eram homens, 45% casados e 43% solteiros, com idade entre 25 e 44 anos (58%) e 45 a 65 anos (27%). Em relação à escolaridade, o maior índice ficou entre os graduados e com especialização (que somaram 82%) e, quanto à remuneração, a maior parte dos entrevistados (45%) informou renda mensal familiar acima 17 A Caverna Aroê Jarí está geograficamente situada no município de Cuiabá, mas seu acesso se dá pela BR-251, através dos municípios de Chapada dos Guimarães e Campo Verde, principais emissores. 52 de dez salários mínimos. Sobre a atuação profissional, 35% são funcionários de empresas privadas, 13% de instituições públicas e 27% são empresários e profissionais liberais. O perfil encontrado, de pessoas com poder aquisitivo médio/ alto e com alto nível de escolaridade pode ser reflexo do fato de grande parte das entrevistas ter sido conduzida no aeroporto. Esse é, no entanto, o principal eixo de movimentação de turistas do Polo, e a informação é coerente com produtos de custo relativamente alto (como apresentado adiante). Quanto à procedência dos turistas, a Tabela 5 retrata a composição da amostra: São Paulo com 28,3%, seguido por Mato Grosso do Sul, com 21,7% e pelo próprio Mato Grosso, com 11,7%. Tabela 5 – Procedência dos turistas Origem dos entrevistados Entrevistados % São Paulo 17 28,3 Mato Grosso do Sul 13 21,7 Mato Grosso 7 11,7 Minas Gerais 5 8,3 Paraná 4 6,7 Rio de Janeiro 4 6,7 Santa Catarina 3 5,0 Goiás 2 3,3 Brasília 2 3,3 Paraíba 1 1,7 Maranhão 1 1,7 Rio Grande do Sul 1 1,7 Total 60 100% Dos entrevistados, 46% afirmaram viajar sozinhos, 35% acompanhados pela família e 19% com amigos. Quanto à organização da viagem, 70% organizaram sua ida ao Polo Cerrado sem ajuda de agência de viagens e apenas 22% utilizaram os serviços de agência ou operadora de turismo, 7% utilizaram outras formas de organização e 1% não respondeu. Em relação aos meios de transporte utilizados para chegar ao Polo, os entrevistados indicaram: 55% o transporte aéreo, 22% veículo próprio, 10% ônibus fretado, 6% para outros, 5% veículos alugado e 1% ônibus fretado. Tabela 6 – Meios de transporte para deslocamentos dentro do Polo Meios de transporte Citações % Veículo próprio 20 32,8 Taxi 11 18,0 Ônibus de linha regular 10 16,4 Veículo alugado 7 11,5 Ônibus fretado 1 1,6 Outros 9 14,8 Não responderam 3 4,9 61 100% Total Após a chegada ao Polo, os turistas utilizaram mais de um meio de transporte, muitas vezes diferente do indicado para chegar ao destino. A Tabela 6 apresenta dados referentes aos deslocamentos dentro do Polo. 53 É interessante verificar que o percentual de deslocamento com veículo próprio dentro do Polo foi de 32,8%, embora apenas 22% dos entrevistados tenham citado essa modalidade como seu meio de transporte para chegar. Uma possível explicação para a disparidade talvez esteja no fato de que boa parte dos entrevistados, 34,4%, afirma visitar a região a negócios e trabalho, o que pode significar que tenham utilizado veículos locados ou empresariais. Sobre a motivação da viagem ao Polo Cerrado, 48% dos entrevistados afirmaram serem atividades de lazer e turismo e, quando perguntados sobre os segmentos de turismo que despertam maior interesse como possíveis motivadores de suas viagens, destacaram o ecoturismo (41%), turismo cultural (19%), eventos e negócios (18%), pesca (9%), esportes (6%) e turismo rural (4%). O tempo médio de permanência no Polo variava de dois a cinco dias para 52% dos entrevistados e uma semana ou mais para 42%. A tendência à longa permanência média é positiva, uma vez que significa mais recursos deixados na região. Para 51% dos entrevistados, o planejamento da viagem ao Polo Cerrado levou menos de um mês e, para 38%, levou de um a três meses. Em relação à frequência de visitação ao Polo, 38% já o havia visitado mais de dez vezes, 32% estavam entre a segunda e a quinta visita e 27% visitavam pela primeira vez. O alto índice de retorno é recorrente tanto no segmento de negócios quanto no de lazer. Quando perguntados sobre a época em que costumam viajar, 17% afirmaram ser durante o ano todo, sem período específico e 42% citaram preferir os meses de dezembro e janeiro, notadamente alta temporada para o turismo nacional. Cruzando essa informação com os dois principais segmentos, os resultados foram: entre os turistas com motivação de negócios e eventos, 15% informaram preferir viajar em janeiro18, porém a mesma porcentagem de entrevistados também informou não ter período específico para viajar; entre os turistas a lazer, 26% afirmaram viajar no mês de dezembro, seguido de 19% no mês de janeiro. No que se refere aos meios de hospedagem utilizados, 25% dos entrevistados afirmaram ter se hospedado na casa de amigos e parentes e 64% permaneceram em hotéis e pousadas, sendo que, deles, 32% afirmaram ter pagado uma diária variando entre R$ 71,00 e R$ 150,00 por pessoa e 18% pagaram mais de R$ 150,00. Quanto à utilização dos serviços de alimentação, 69% das citações apontaram o uso da rede de restaurantes disponível no Polo. Em relação ao gasto médio diário por pessoa, 20% dos entrevistados afirmaram ser entre R$ 80,00 e R$ 110,00, enquanto 47% gastam acima de R$ 110,00. Para 55% dos entrevistados, os preços cobrados no Polo são razoáveis – entretanto, 32% os julgaram elevados e 10% os consideraram exorbitantes. No que se refere à infraestrutura e aos serviços turísticos, foi solicitado aos entrevistados que os avaliassem através de notas, considerando o seguinte critério: 0 - não soube avaliar; 1 – péssimo; 2 – ruim; 3 – regular; 4 – bom; 5 – excelente. Os resultados são apresentados na Tabela 7 e na Figura 8. Sobre os resultados gerais do Polo, segundo a avaliação dos entrevistados, cabe o alerta de que apenas os atrativos naturais foram avaliados como bons; 16 das 19 categorias avaliadas foram consideradas regular, entre elas o acesso à região, conservação ambiental do atrativo e atendimento; as categorias equipamentos de lazer e diversão noturna foram avaliados como ruins. 18 Supõe-se que a pergunta foi respondida em relação às viagens de lazer. 54 Tabela 7 – Infraestrutura e serviços turísticos, avaliação Avaliação Total Média Avaliação final 29 60 4,5 Bom 26 7 60 3,5 Regular 14 19 7 60 3,5 Regular 7 17 17 9 60 3,4 Regular 3 8 16 24 8 60 3,4 Regular 3 6 8 11 23 9 60 3,4 Regular Acesso à região 2 5 9 19 14 11 60 3,3 Regular Acesso aos atrativos 7 3 6 19 20 5 60 3,3 Regular Segurança 5 6 6 19 19 5 60 3,2 Regular Informações turísticas 8 5 9 14 20 4 60 3,2 Regular Limpeza urbana 1 7 12 15 18 7 60 3,1 Regular Comércio 12 4 11 13 17 3 60 3,1 Regular Embarcações 50 2 0 4 3 1 60 3,1 Regular Conservação ambiental no atrativo 10 6 8 14 19 3 60 3,1 Regular Sinalização turística 4 6 12 17 16 5 60 3,0 Regular Guias de Turismo 33 3 7 7 6 4 60 3,0 Regular Conservação do patrimônio cultural 8 9 5 17 17 4 60 3,0 Regular Diversões noturnas 22 10 5 8 11 4 60 2,8 Ruim Equipamentos de lazer 24 5 12 12 6 1 60 2,6 Ruim Total 223 88 137 253 313 126 1.140 % 19,6 7,7 12,0 22,2 27,5 11,1 100% 3,3 Regular Itens avaliados 0 1 2 3 4 5 Atrativos naturais 10 0 0 3 18 Comunicações 4 4 5 14 Hospedagem 12 1 7 Empresas e serviços receptivos 7 3 Alimentação 1 Atendimento Outra observação que pode ser feita considerando os resultados da Tabela 7 é o fato de haver muitas citações relacionadas à nota 0 – não soube avaliar, o que pode apontar para deficiências na oferta de serviços. A Figura 9 mostra os itens mais indicados em cada categoria de avaliação. É interessante ressaltar que o fato de 50 dos 60 entrevistados não terem utilizado os serviços das embarcações se dá pelo motivo delas não fazerem parte da grande maioria dos atrativos e passeios desenvolvidos no Polo; as categorias guias de turismo e equipamentos de lazer também estão no topo dos serviços que os entrevistados não souberam avaliar, o pode refletir a falta de organização turística do local ou a inexistência de profissionais e, consequentemente, pode prejudicar a experiência do turista. 55 Atendimento Informações turísticas Conservação do patrimônio cultural Conservação ambiental no atrativo Embarcações Diversões noturnas Guias de Turismo Equipamentos de lazer Comércio Hospedagem Alimentação Atrativos naturais Empresas e serviços receptivos Acesso aos atrativos Sinalização turística Comunicações Segurança Limpeza urbana Acesso a região Não soube avaliar Péssimo Ruim Regular Bom Excelente Figura 8 – Infraestrutura e serviços turísticos, avaliação 60 50 40 30 20 10 0 Não soube avaliar Péssimo Ruim Regular Bom Excelente Embarcações Diversões noturnas Limpeza urbana/ sinalização turística/ equipamentos de lazer Acesso a região/ segurança/ acesso aos atrativos Comunicações Atrativos naturais Figura 9 – Infraestrutura e serviços turísticos, itens mais citados, por categoria de avaliação 56 De forma geral, a avaliação feita pelos entrevistados sobre a infraestrutura e os serviços turísticos do Polo Cerrado mostra que existem diversas deficiências que precisam ser abordadas para que o desenvolvimento da atividade turística ocorra de forma positiva. Entretanto, apesar dos números identificados, no que se refere ao grau de satisfação na viagem ao Polo, 95% dos entrevistados afirmaram que a experiência atendeu às expectativas, porém apontaram serviços e equipamentos que necessitam de investimento, conforme a Tabela 8. Tabela 8 – Necessidades de melhoria Necessidades de melhoria Citações % Infraestrutura pública 18 30,0 Melhores estradas 7 11,7 Lazer e entretenimento 4 6,7 Novas atividades turísticas 4 6,7 Melhor atendimento 3 5,0 Preservação e conservação da natureza 3 5,0 Trânsito melhor 3 5,0 Melhores hospedagens 2 3,3 Planejamento 2 3,3 Mais hospitalidade 2 3,3 Melhorar comércio 2 3,3 Informações 1 1,7 Preços compatíveis 1 1,7 Educação ambiental para jovens 1 1,7 Segurança 1 1,7 Caixa de banco 1 1,7 Lan house no aeroporto 1 1,7 Melhores Restaurantes 1 1,7 Trilhas e Caminhadas de longa duração 1 1,7 Divulgação 1 1,7 Transporte 1 1,7 Total 60 100% Os resultados mostram que os investimentos em infraestrutura pública – como estradas, preservação e conservação da natureza, trânsito melhor, planejamento, segurança e informações – são percebidos pelos turistas entrevistados como carentes de melhoria. Quando solicitados a relacionar, de forma aberta, observações sobre o Polo Cerrado, foram obtidos os seguintes comentários: acesso falta limitado; de investimento cultural e trabalho social a fim de atender o visitante; necessidade aumento de concorrentes do ecoturismo praticado na Chapada dos Guimarães; melhoraria museu da preservação ambiental; (Museu Histórico de Mato Grosso, em Cuiabá) precisa abrir aos finais de semana; melhorar falta de mais informação e marketing; a infraestrutura de trânsito; de infraestrutura na Chapada dos Guimarães; 57 melhorar o atendimento; melhorar rodovias. Por fim, quando perguntados se voltariam ao Polo, 92% disseram que sim, o que indica que, mesmo se deparando com as deficiências atuais, a experiência da viagem ao Polo Cerrado é válida. O MTur, em parceria com a FIPE e a EMBRATUR (2002), através da realização de entrevista com agências e operadoras nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, identificou que a maior demanda turística por ecoturismo está concentrada nos períodos de dezembro a fevereiro, embora exista também destaque para os meses de abril, maio, setembro e outubro, em razão de viagens de turismo científico organizadas por instituições de ensino, especialmente para destinos que permitem unir contato com a natureza e aprendizado. Tal dado mostra-se importante ao revelar um nicho de mercado que pode auxiliar na diminuição da sazonalidade do Polo Cerrado, que tem potencial para servir de palco para aprendizagem de disciplinas de biologia, geografia, história e economia, entre outras, tanto para alunos do ensino fundamental e médio, como para acadêmicos de cursos correlatos. Do mesmo modo que os resultados encontrados pela pesquisa de campo realizada para este Diagnóstico, o estudo do MTur, FIPE e EMBRATUR (2002) também indica que os operadores de turismo entendem os investimentos em divulgação, melhoria da infraestrutura receptiva, em particular de serviços de hospedagem e alimentação, melhoria nos acessos, sinalização e instalações sanitárias como sendo as maiores necessidades do setor de ecoturismo; as carências do Polo Cerrado são similares às do cenário nacional. Em suma, os resultados das pesquisas (MTUR, FIPE e EMBRATUR, 2002) mostram que há uma demanda expressiva para o ecoturismo e até mesmo para turismo científico, considerando-se o número de instituições de ensino existentes no próprio Mato Grosso e estados vizinhos. Porém, há necessidade de melhorias nas infraestruturas, diversificando e qualificando a oferta de produtos e serviços turísticos; do contrário, corre-se o risco dos destinos turísticos, em especial do Polo Cerrado, não acessarem essa demanda. O município de Bonito (MS), por exemplo, qualifica-se como um destino concorrente do Polo Cerrado, principalmente dos municípios de Nobres, Chapada dos Guimarães e Jaciara, pois tem as mesmas características no que se refere ao meio ambiente e às belezas cênicas. Portanto, a observação do comportamento de sua demanda e da de Mato Grosso do Sul pode permitir que algumas inferências sejam feitas. A análise do fluxo turístico do estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2005 a 2008, aponta para um aumento considerável; a Tabela 9 mostra a evolução nas chegadas e saídas de turistas estrangeiros e as entradas em meios de hospedagem no estado, de acordo com dados da Fundação de Turismo do Estado (FUNDTUR, 2009). Tabela 9 – Indicadores turísticos, Mato Grosso do Sul Chegadas e saídas de estrangeiros 2005 2006 2007 2008 56.991 66.307 89.520 89.904 Entradas em meios de hospedagens 735.951 830.287 992.496 1.034.040 Nota: 1 – Portais de chegada ao país por Mato Grosso do Sul: Corumbá, Ponta Porã e Campo Grande. Fonte: FUNDTUR, 2009 Nota-se um crescimento da demanda, no período analisado, que pode significar uma tendência de aumento na procura por regiões de grande beleza cênica e natureza preservada, como Mato Grosso do Sul e o Polo Cerrado. 58 A Tabela 10 traz o volume de visitação ocorrida em Bonito, no período de 1996 a 2009, medidas através do número de vouchers vendidos (entendido como o bilhete que dá acesso aos atrativos). Tabela 10 - Passeios realizados, Bonito/MS, 1996-2009 Ano base Total de visitas Número de visitantes Média mês Evolução % 1996 107.518 35.839 2.987 0,00 1997 143.037 47.679 3.973 33,04% 1998 144.962 48.321 4.027 1,35% 1999 186.089 62.030 5.169 28,37% 2000 174.731 58.244 4.854 -6,10% 2001 177.734 59.245 4.937 1,72% 2002 216.688 72.229 6.019 21,92% 2003 227.954 75.985 6.332 5,20% 2004 222.814 74.271 6.189 -2,25% 2005 220343 73.448 6.121 -1,11% 2006 210153 70.051 5.838 -4,62% 2007 205870 68.623 5.719 -2,04% 2008 191186 63.729 5.311 -7,13% 2009 266.039 88.680 7.390 TOTAIS 2.695.118 89.8373 5.347 39,15% (1996/2009) 147,44% Nota: 1 – O número de visitantes é o quociente do número de visitas aos atrativos por três, que é a média de passeios realizados por turistas no município de Bonito. Fonte: Adaptado de SECRETARIA DE TRIBUTAÇÂO E FINANÇAS DE BONITO, 2010 Percebe-se que a demanda turística em Bonito, ao longo do período estudado, sofreu variações. Cabe destacar a queda acentuada no ano 2000 e as sucessivas quedas a partir de 2004 até 2008: não se tem dados que indiquem a que se atribui os índices negativos, podendo ser resultado do surgimento de novos destinos, fatores econômicos e taxas de câmbio. O ano de 2009, por outro lado, apresenta uma forte recuperação do destino, que apresentou números superiores a qualquer outro ano analisado. É possível que o Polo Cerrado tenha compartilhado, nos últimos anos, as mesmas flutuações na demanda, o que imprime ainda maior urgência no planejamento adequado da atividade turística no longo prazo. 59 2.2 DEMANDA POTENCIAL É fato que em áreas como a da Chapada dos Guimarães, o potencial turístico é quase uma peça chave para o desenvolvimento da região, dadas suas condições geográficas. A região das chapadas (...) apresenta grande beleza cênica e biodiversidade expressiva (formações rupestres), com grande potencial para ecoturismo controlado de baixa densidade. Por outro lado, apresenta alta suscetibilidade a movimentos de massa, em especial, queda de blocos, sendo inapto para quaisquer outras atividades econômicas (DANTAS et al., 2002). Entende-se, assim, a situação comum dos municípios do Polo, quanto à sua condição de potencial turístico elevado e baixa condição estrutural, que será analisada mais especificamente neste subcapítulo. Também é fato que a demanda turística atual deve sofrer fortes impactos: em primeiro lugar, devido ao crescimento natural do turismo, como verificado anteriormente; depois, devido à realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Brasil – em função do primeiro evento, o MTur (2009d) prevê a visita de aproximadamente 500 mil estrangeiros no país. Dessa forma, este subcapítulo visa identificar, caracterizar e projetar a demanda potencial do Polo Cerrado, considerando a opinião de agências de turismo de Mato Grosso e de operadoras de viagem que atuam em âmbito nacional, e a partir da análise econométrica dos dados coletados para este Diagnóstico. 2.2.1 Agências de turismo de Mato Grosso Conforme a Pesquisa de Demanda Turística (MATO GROSSO, SEBRAE-NACIONAL e SEBRAE-MT, 2005), realizada nos municípios de Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Poconé e Várzea Grande, a maior parte dos turistas nessas regiões é oriunda do próprio estado. Portanto, com o objetivo de obter dados referentes à demanda pelos produtos turísticos existentes e potenciais, foi encaminhado questionário (Apêndice B) às agências de turismo receptivas e emissivas de Mato Grosso. Foi utilizada a ferramenta Formulários do Google Docs19 para elaborar e encaminhar o questionário por meio eletrônico (vide Apêndice B), através de e-mail, para 45 agências de turismo identificadas no site da Associação Brasileira das Agências de Viagens de Mato Grosso (ABAV-MT)20, como apresentado no Apêndice C. O envio do questionário ocorreu no dia 24 de outubro e, como houve resposta de apenas uma das 45 agências contatadas, foi reenviado nos dias 10 e 11 de novembro de 2009, quando se obteve o retorno de mais três agências. Assim, o resultado da aplicação do questionário conta com as respostas de quatro agências, correspondente a 8,9% das empresas contatadas. As respostas obtidas servem como parâmetros da percepção das agências entrevistadas em relação ao Polo Cerrado. A seguir são apresentados os principais resultados obtidos com a pesquisa. Para manter a privacidade dos entrevistados, não foi solicitado o nome das agências respondentes, que por sua vez também não informaram a cidade onde estão localizadas. Portanto, a caracterização das agências que participaram se dá a partir do tempo de atuação no mercado e do número de funcionários: as respondentes têm menos de cinco 19 20 Disponível em http://docs.google.com/. Embora a intenção original fosse enviar o questionário para 190 agências de turismo identificadas como associadas e não associadas à ABAV-MT, não foi possível encontrar os endereços eletrônicos da maioria das não sócias, de forma que o universo foi reduzido. 60 anos de existência, com exceção de uma, que está no mercado há mais de 10 anos, e possuem entre dois e nove funcionários. O público-alvo atendido é formado principalmente por turistas de São Paulo e Mato Grosso, sendo que três agências afirmaram atender estrangeiros originários do Japão, Holanda e Estados Unidos. Para buscar informações e estruturar seus roteiros de viagem, as agências afirmaram utilizar a internet, revistas especializadas, feiras e eventos da área e visita aos locais turísticos – nenhuma das respondentes especificou quais as publicações ou sites são utilizados como fonte de pesquisa. Quanto aos principais destinos e pacotes turísticos oferecidos, verificou-se que as agências de turismo trabalham com os segmentos de sol e praia (no litoral da região Nordeste) e ecoturismo, sendo que uma citou o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e a Caverna Aroê Jarí como produtos oferecidos. Quando perguntadas especificamente sobre destinos de Mato Grosso, as respostas foram o Pantanal e Chapada dos Guimarães, sendo citados ainda Jaciara, Nobres e Cáceres. Os destinos/ pacotes menos solicitados e comercializados, segundo as agências participantes, são os municípios do interior, que, em geral, estão distantes da capital e não oferecem infraestrutura pública ou privada para atender à demanda turística. Em relação à expectativa que as agências têm relacionada à prestação de serviços, esperam que o fornecedor seja profissional na entrega dos produtos e serviços e, no caso do ecoturismo, que dê informações consistentes sobre os locais visitados. Quando perguntados sobre o fator determinante na comercialização de um produto turístico, todas as agências afirmaram ser o preço. No que se refere aos pontos fortes do turismo em Mato Grosso, foram citadas as belezas cênicas, a piscosidade dos rios e a proximidade dos atrativos com a capital, Cuiabá. Quanto aos pontos fracos, foi indicada a falta de qualidade nos serviços e na infraestrutura disponível, a dificuldade de acesso e comunicação e a distância do estado de São Paulo. Sobre a fonte de informação mais utilizada pelos turistas, todas as respondentes informaram ser as próprias agências de turismo as formadoras de opinião. Quanto às expectativas dos turistas em relação às atividades turísticas desenvolvidas no estado, as agências afirmaram ser informação de qualidade, preço justo e segurança. Todas as agências participantes comercializam pacotes para o Polo Cerrado e, segundo elas, a imagem que o consumidor tem em relação aos produtos e serviços da região está ligada à natureza e sua conservação. Os destinos mais procurados são Chapada dos Guimarães e Nobres. Os pontos fortes do Polo são a proximidade com a capital e com outros municípios que também oferecem atividades turísticas complementares, a preservação ambiental e a segurança, enquanto os pontos fracos citados são a infraestrutura insuficiente, o turismo de massa e a falta de direcionamento político para o desenvolvimento da cadeia produtiva. Quando perguntadas sobre os fatores que facilitam a comercialização do Polo Cerrado, apenas duas empresas responderam e indicaram que existe uma parceria entre os municípios que permite ao turista consumir produtos de diferentes lugares em sua estada. Por outro lado, citam como fatores limitadores o fato de poucas pessoas e profissionais atuarem no mercado turístico e a falta de comunicação e disseminação de informações sobre as atividades e serviços complementares, o que prejudica o aproveitamento do visitante. Sobre as expectativas do turista com relação ao Polo Cerrado, as agências responderam que são “as melhores possíveis”, relacionadas com a natureza e a aventura, o que se deve ao fato do público ser formado principalmente por ecoturistas. 61 Os resultados das pesquisas mostram a busca da demanda por experiências em família ou em grupos pequenos, nas quais possam contemplar e interagir com a natureza, contratando serviços de qualidade, segurança e ambientalmente corretos, uma vez que a busca se dá por uma natureza conservada e uma atividade sustentável. 62 2.2.2 Operadoras de viagens nacionais Da mesma forma que a pesquisa realizada com as agências de turismo mato-grossenses, foram selecionadas 52 operadoras por meio do site da ABETA21, vide Apêndice E, e utilizou-se a ferramenta Formulários do Google Docs22, sendo que o questionário foi encaminhado por meio eletrônico, através de e-mail, no dia 30 de outubro. A ferramenta de questionários online (vide Apêndice D) foi utilizada por sua abrangência e por supostamente facilitar a participação dos respondentes. Como houve resposta de apenas duas das 52 operadoras contatadas, o e-mail foi reenviado no dia 10 de novembro de 2009, quando se obteve retorno de mais uma operadora. Assim, o resultado da aplicação do questionário conta com respostas de três operadoras, ou 5,8% de uma amostra selecionada intencionalmente. De qualquer forma, as respostas obtidas servem como parâmetros da percepção das operadoras entrevistadas em relação ao Polo Cerrado, e são apresentadas a seguir. Das operadoras participantes, uma é do Paraná (Curitiba) e duas de São Paulo (capital e Socorro). Todas estão há mais de três anos no mercado, sendo que a operadora paranaense trabalha há mais de 10 anos com turismo. Quanto ao número de funcionários, elas possuem entre dois e dez colaboradores. Os públicos-alvo das empresas são diversificados, sendo que uma atende principalmente estrangeiros, outra, empresários e, a terceira, turistas de forma geral. Quanto à origem do público atendido, a maioria dos turistas é proveniente do estado no qual a operadora está presente, embora as três empresas informassem atender clientes estrangeiros, predominantemente dos Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Argentina. Em relação ao modo de obter informações para montar roteiros turísticos, as três empresas citaram a visita aos locais/ destinos como o mais utilizado, sendo que uma delas citou também outras quatro fontes de informação: internet, consulta a revistas, participação em feiras e consulta a cadernos de turismo em jornais. Quando perguntadas sobre quais sites de internet são mais utilizados para a busca de informações, as operadoras não informaram os nomes específicos, sendo que foram citados “site do Pantanal” e “site do próprio Parque”23. No que se refere à mídia escrita, as publicações mais utilizadas para a busca de informação pelas operadoras são a revista Terra da Gente (editora Globo) e guias de viagens; quanto aos jornais utilizados, aparecem a Folha de São Paulo e jornais dos estados e municípios. No que se refere à forma que divulgam seus pacotes, as operadoras utilizam a internet e mala direta via e-mail como ferramentas principais. Sobre os principais destinos nacionais de ecoturismo e turismo de aventura oferecidos, foram citados: Floresta Atlântica (1), Pantanal (2), Ceará (1), Florianópolis (1) e os municípios paulistas (1). Apesar de a região do Pantanal ter sido indicada duas vezes, não é possível afirmar que se trata do Pantanal mato-grossense, visto que os atrativos também estão presentes em Mato Grosso do Sul. Em relação aos principais pacotes comercializados envolvendo os destinos citados, houve a indicação do pacote Pantanal Norte, que inclui projetos de preservação ambiental; no que se refere à duração dos pacotes, as operadoras informaram variar de um a sete dias, dependendo do destino, sendo que o preço vai de R$ 250,00 a R$ 3.000,00. Quando perguntadas sobre os destinos nacionais e internacionais mais vendidos, as operadoras informaram: Pantanal, Floresta Atlântica, Rio de Janeiro, Jericoacoara (CE), 21 Disponível em http://www.abeta.com.br/. 22 Disponível em http://docs.google.com/. 23 Entende-se que se trata do site http://www.icmbio.gov.br/parna_guimaraes//index.php. 63 Fernando de Noronha (PE) e Minas Gerais. Não foram citados destinos internacionais. Sobre os destinos menos vendidos e os motivos para a baixa procura, os respondentes informaram: Brasília, por não ser uma “cidade amigável” para o turismo; São Paulo, sem informar o motivo; e Minas Gerais, pela falta de qualificação. Em relação às questões sobre o perfil, gosto e preferências dos clientes, cada uma das empresas informou um fator determinante diferente para a escolha do destino por parte dos clientes: a natureza intacta, a quantidade de atrativos e a imagem/ status do destino. Sobre a fonte de informação mais utilizada pelos clientes, foram citadas a propaganda boca-a-boca, a internet e os guias turísticos, sendo os mais utilizados, segundo os respondentes, o Guia 4 Rodas (editora Abril), a revista Terra da Gente (editora Globo) e os programas de televisão da Rede Vida e do canal National Geografic. No que se refere aos fatores que os clientes consideram como pontos fortes nos destinos, foram apontados a natureza nativa, pessoas apaixonadas pela natureza nos destinos, cientistas apaixonados pelos projetos (no caso de destinos com projetos de preservação), além de diversidade de roteiros e atividades. Já com relação aos pontos fracos, foram apontados a falta de infraestrutura, a falta de banheiros públicos, limpos e funcionando, a falta de treinamento das pessoas locais e o transporte. No que diz respeito à imagem que os clientes têm do Polo Cerrado, as operadoras citam que remete à natureza, pessoas gentis e sérias e possibilidade de aventura. Quando questionadas sobre quem consideram um público-alvo possível do Polo Cerrado, as respostas variaram entre ecoturistas, jovens e todos os públicos. Com relação às estruturas de hospedagem mais utilizadas, destacaram-se as pousadas na natureza (isto é, afastadas da área urbana) e hotéis de quatro e cinco estrelas, o que demonstra a preferência dos turistas por estruturas de qualidade e confortáveis, mesmo estando localizadas em regiões mais distantes, como é o caso do cerrado mato-grossense. Quando questionadas sobre o que os clientes esperam como padrão mínimo de qualidade nos destinos em relação a recursos humanos, serviços turísticos e infraestruturas de acesso, obtiveram-se as seguintes respostas: recursos humanos: atenção, higiene, informação, bom atendimento; serviços turísticos: atrativo, profissionalismo, preços justos; infraestruturas de acesso: estradas com manutenção e seguras. Em relação a Mato Grosso e ao Polo Cerrado, duas das três empresas que responderam ao questionário informaram comercializar pacotes ou roteiros para o estado e que a imagem que os clientes costumam associar a esses produtos são o Pantanal e a natureza intacta. A respeito especificamente dos pontos fortes do Polo, as respostas remeteram ao cerrado intacto na Chapada dos Guimarães, aos paredões com aves grandes (urubu rei e araras vermelhas, entre outras), às trilhas e ao Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Quanto aos pontos fracos, foram mencionadas a falta de segurança e banheiros nos paredões e em outros atrativos e a falta de sinalização e informações turísticas. Os resultados mostram que o destino mais conhecido pelas operadoras no Polo Cerrado é a Chapada dos Guimarães. Outra questão levantada pelo questionário foi quais seriam os fatores facilitadores da venda do Polo, sendo indicado pelos respondentes pousadas de qualidade, bom atendimento pelos guias locais, custos dos serviços de transportes justos e trilhas para vários esportes. Já com relação aos fatores que dificultam a venda do Polo Cerrado, foram citados: pouca informação sobre empresas sérias no mercado, aluguéis caros de carro na região, poucas informações sobre as regiões e locais, falta de divulgação e atendimento precário à saúde. 64 Tais resultados indicam a falta de organização das atividades turísticas no Polo, que impedem que o mercado das operadoras passe a conhecer, acreditar e respeitar o turismo na região. Apesar do pouco volume de questionários preenchidos, pode-se perceber que tanto as operadoras quanto as agências de viagens desconhecem a divisão turística do estado em polos, bem como os destinos do Polo Cerrado especificamente. Tal cenário indica que talvez sejam necessárias ações de organização e divulgação do Polo como um todo, otimizando os recursos disponíveis e focando as ações de marketing para segmentações específicas do mercado. 65 2.2.3 Estimativa de demanda potencial Define-se por potencial “algo que pode vir a ser” (MATOS, 2000), ou seja, o patamar que uma determinada grandeza pode alcançar. No caso da demanda potencial, é a quantidade de demandantes que um determinado produto pode ter num determinado tempo futuro. Esse tipo de estimativa pode ser realizado por meio de técnicas econométricas, em modelos que agreguem variáveis significativas para a existência do fenômeno em estudo. Em outras palavras, a equação e análise econométrica têm por objetivo exatamente a aferição de uma determinada grandeza econômica potencial. Assim, a econometria foi utilizada para estimar e especificar as funções de demanda turística na região do Polo Cerrado, tendo como foco as cidades de Campo Verde, Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Jaciara e Nobres. O trabalho econométrico foi desenvolvido de forma que os resultados obtidos fossem relevantes para todo Mato Grosso. Tal generalização fez-se necessária devido à escassez de dados, tanto primários quanto secundários, em relação ao Polo, especificamente. Para a estimativa em relação a Mato Grosso, foram usadas fontes secundárias, com dados do estado e do Brasil, bem como de estados ou de cidades semelhantes às do Polo, sendo possível obter projeções quanto às condições potenciais de oferta e demanda turísticas locais. As condições de oferta são importantes na análise devido ao fato de „oferta e demanda‟ constituírem um modelo de equações simultâneas em economia, sofrendo e exercendo influências mútuas. Estimar somente a demanda pode ocasionar erros ou viés para a análise aqui realizada, já que a demanda deve, como condição de equilíbrio, equivaler à oferta. As variáveis explicativas selecionadas para o modelo de demanda foram o nível de preços corrente (Índice Geral de Preços do Mercado – IGP-M), o produto per capita brasileiro e a taxa nominal de câmbio. As variáveis explicativas do modelo de oferta foram o IGP-M, a taxa de juros média do período e a percepção turística do período anterior. As estimativas confirmam que as variáveis selecionadas afetam, significativamente, a demanda e a oferta turística na região. Os resultados obtidos, usando o método Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), mostram que a demanda e a oferta de turismo são preço-elásticas, (EPs = 1,12 e EPD = 1,21), comprovando o embasamento na teoria econômica do turismo. Para fins desta pesquisa, considerou-se o turismo como um produto econômico multidimensional, que engloba em si variadas formas de comercialização de um determinado local. Segundo a OMT (1994), “turista é um visitante que se desloca voluntariamente por período de tempo igual ou superior a 24 horas para um local diferente da sua residência e do seu trabalho sem ter por motivação a obtenção de lucro”. É importante observar aqui que não se está excluindo da definição o turismo de eventos, mas somente aquelas viagens que visam exclusivamente transações comerciais no local de destino. Como visto, o turismo pode ser dividido em diversas categorias que, entretanto, no caso do Polo Cerrado, não serão consideradas, uma vez que não interferem nas variáveis de análise, as determinantes previstas na teoria econômica. As diversas segmentações não afetam o modelo econométrico proposto, e outras variáveis estarão representadas na variável de erro estocástico de cada modelo apresentado no decorrer do capítulo. No entanto, há ainda outra subdivisão, que não pode ser negligenciada: a diferença entre o turismo doméstico e o internacional, uma vez que ambos são afetados por variáveis econômicas diferentes, como a taxa de câmbio e o PIB. No que concerne ao Brasil, segundo o Boletim de Desempenho Econômico do Turismo, do MTur (2009e), do mês de julho de 2009, o setor apresenta um cenário relativamente positivo para a segunda metade do ano de 2009 e para o ano de 2010, considerando a 66 condição de crise pela qual o mundo passou24. O número de chegada de turistas ao Brasil aumentou no segundo trimestre de 2009 e a recuperação econômica traz consigo aspectos de otimismo que chegam até a alguns empresários do setor de turismo (MTUR, 2009e). Efetivamente, a tênue recuperação da conjuntura econômica mundial é refletida no setor de turismo, onde [sic] vem sendo detectado aumento do otimismo no que concerne o faturamento. O saldo de 25% revela majoração do faturamento no consolidado de todos os setores, no 2º trim./09 em relação ao 1º trim./09, elevando-se para 79% quando solicitadas previsões para o 3º trimestre de 2009. Por outro lado, antevê-se que a contratação de funcionário também deverá aumentar no 3º trimestre, ante a [sic] perspectiva de aquecimento dos negócios (MTUR, 2009e). Deve ser levado em consideração que o Brasil possui uma condição diferenciada quanto ao turismo, na medida em que possui forte potencial de atração de turistas estrangeiros, bem como um vasto mercado de turismo doméstico, o que leva o país a contrabalancear aspectos econômicos voláteis como a taxa de câmbio e oscilações de produto. Ainda assim, devido à alta elasticidade do produto turístico, em cenários de crises prolongadas há restrição de atividades, como no final de 2008. Na última sondagem realizada pelo MTur (2009f) observa-se que, no período mais agravado da crise internacional, aliada à existência pandêmica da gripe Influenza A H1N1, as intenções de viagem reduziram-se consideravelmente. Especificamente no Polo Cerrado, o turismo apresenta características coerentes com a realidade brasileira. Como outras regiões, é afetado o turismo internacional pelas condições de câmbio, e as condições estruturais afetam ambas as demandas turísticas (doméstica e internacional). O Polo Cerrado está em uma região de baixa densidade populacional e tem como característica geográfica o isolamento relativo dos centros urbanos mais populosos do Brasil, o que pode ser uma variável considerável para o fluxo de turistas no local, mas, como dito anteriormente, poucos estudos disponíveis atualmente relativos ao turismo na região dificultam a modelagem econométrica. Basicamente, trabalhos isolados de instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o MTur são as principais fontes de dados sobre as condições locais. 2.2.3.1 MATERIAL E MÉTODOS É sabido que a quantidade demandada (QD) de um bem é função do seu preço (P), do preço de um bem complementar (PC), do preço de um bem substituto (PS) e da renda (Y) dos consumidores, ou seja: QD = ƒ(P, PC, PS, Y) (1) De acordo com a teoria do consumidor, a quantidade demandada reage negativamente ao aumento no preço do produto e no preço do bem complementar, e reage positivamente ao aumento no preço do bem substituto. Com relação ao aumento na renda dos consumidores, a quantidade demandada reage positivamente se o bem for normal e, negativamente, se o bem for inferior. Entretanto, o preço de produtos substitutos do turismo no Polo Cerrado e o preço de outros destinos não foram incluídos no modelo devido à indisponibilidade de dados, em séries históricas longas o suficiente para permitir um modelo estatisticamente válido. Por outro lado, a quantidade ofertada (QS) de um bem é função do seu preço (P), e dos preços dos fatores de produção utilizados na sua produção como: preço da mão de obra (W) e preço do capital (K), isto é: 24 Considerando que a crise nos mercados financeiros tenham se iniciado em julho de 2007, em 2009 o mundo foi para o terceiro ano da crise, mas já apresentando sinais de superação. 67 QS = ƒ(P, W, K) (2) Na grande maioria dos mercados, a quantidade ofertada de um bem reage positivamente aos acréscimos no seu preço e negativamente aos acréscimos nos preços dos fatores de produção. Na função de oferta também podem ser incluídas, além dos preços de produtos substitutos e complementares, variáveis de tecnologia, climáticas e políticas. O mercado fica em equilíbrio quando a quantidade ofertada do bem iguala a quantidade demandada. 2.2.3.2 VARIÁVEIS UTILIZADAS Para estimar as relações estruturais do setor de turismo na região estudada, foi proposto um modelo econométrico composto pelas equações de oferta e demanda adotando a forma log-log, por apresentar o melhor ajuste, e o método MQO. Assim, tem-se: (3) Em que: A expectativa é de que β2 < 0, β3 < 0 e β4 > 0. (4) Em que: A variável Tendência é uma variável proxy, ou seja, uma variável fortemente correlacionada com a variável omitida em questão, no caso, o nível de investimento local no setor de turismo. A expectativa é que β2 > 0, β3 < 0 e β4 > 0. Devido à especificação logarítmica, as elasticidades com relação ao preço e às demais variáveis são dadas por β1 > 0. Em estudos anteriores, diversas variáveis já foram consideradas como explicativas do fenômeno turístico (SANTOS, 2006). A escolha das variáveis para o modelo aqui desenvolvido encontra-se justificada a seguir. a) PIB per capita O PIB é sinônimo macroeconômico de renda, e faz referência à riqueza produzida e disponível para a utilização da demanda agregada, que inclui o turismo. Por esse 68 motivo, é uma variável importante na composição do fluxo de turistas para qualquer lugar, uma vez que é a compensação dos gastos inerentes à ação turística25. A maior parte dos estudos que abordam a renda como determinante do gasto turístico em uma viagem encontrou uma relação positiva e estatisticamente significante entre ambas as variáveis (AGARWAL, YOCHUM, 1999; CANNON, FORD, 2002; DOWNWARD, LUMSDON, 2003; FREDMAN, 2008; JANG et al., 2004; LEE, 2001; SEILER et al., 2002; THRANE, 2002)26. Do conjunto de estudos encontrados, três possibilitam a estimativa da elasticidade renda-gasto turístico: nos três casos, a elasticidade estimada é positiva, mas inferior a um, indicando que o consumo em uma viagem turística é um bem superior, mas não de luxo (AGARWALL, YOCHUM, 1999; DOWNWARD, LUMSDON, 2003; FREDMAN, 2008). No entanto, deve-se observar atentamente se aumentos no PIB conduzem a aumentos do fluxo de turistas no Polo, já que é possível que haja locais com comportamento econômico de bens inferiores quanto ao turismo, ou seja, indivíduos com rendas maiores podem passar a optar por destinos anteriormente não acessíveis. No mais, se tomará como hipótese aqui que os destinos analisados são bens normais e apresentam relação positiva com o PIB, sendo que o teste t pode apontar caso haja ineficiência do parâmetro. Em relação a Mato Grosso, a região tem apresentado considerável fluxo interno de turistas, sendo observada em campo a forte presença doméstica no local, o que leva a dizer que o PIB doméstico é uma variável mais importante que o PIB estrangeiro. De qualquer forma, no fluxo internacional, estudos anteriores demonstram que, para o Brasil, o câmbio tem sido variável mais significativa que o PIB per capita externo para emissão de turistas. A inclusão da variável PIB é condizente com o último boletim publicado pelo MTur (2009e), no qual se observa a importância do PIB para o turismo e toma-se como base de dados as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento do produto nas maiores economias do mundo (considerando a zona do euro agregadamente, bem como o Oriente Médio e o continente africano). Por fim, pode-se colocar matematicamente a relação do PIB com a demanda turística na seguinte forma: (5) Assim, a inclusão da variável justifica-se por esperar, a priori, uma relação positiva entre a demanda turística e aumentos no PIB. A opção pelo PIB per capita ao invés do PIB nominal puro, feita aqui, busca conciliar de forma mais coerente a população e o PIB dos emissores turísticos envolvidos. 25 A variável PIB foi considerada como causa num modelo univariado em estudo de Rabahy (1990, p. 149) sobre a demanda de turistas alemães para o Brasil. A OMT (1983) também desenvolveu um estudo utilizando modelos causais univariados, no qual considerou de maneira independente quatro variáveis como componentes do turismo no mundo: entre tais variáveis, o PIB apresentou efetiva siginificância. Além do PIB, foram consideradas também variáveis demográficas e energéticas, que não são abordadas aqui. 26 Apenas o estudo de Downward e Lumsdon (2000) não encontrou uma relação estatisticamente significante entre renda e gasto turístico. 69 b) Preço Uma vez que a demanda e oferta se ajustam por meio de um mecanismo de preços, essa é outra variável muito comum em modelos econométricos. Intuitivamente, pode-se afirmar que, a preços maiores dos componentes turísticos, a demanda turística se reduza, e vice-versa. No entanto, a quantidade demandada de alguns bens não reage necessariamente de modo negativo a aumentos de preço – são os chamados Bens de Gifen – e, nesse caso, usa-se a forma semi-log para avaliar tais condições. Além disso, assim como no caso da variável PIB, deve ser observado tanto o nível de preços do receptor quanto do emissor turístico e, se a análise for feita em uma série temporal, as taxas de inflação interna e externa. Diversos estudos apontam também a necessidade de considerar os preços de concorrentes27. Dessa forma, incluem-se automaticamente os preços de bens substitutos. No entanto, considerando a dificuldade de obtenção de dados de preços amostralmente significantes, aqui se optou pela utilização dos preços médios gerais do Brasil. Assim, adotou-se para os preços dos produtos o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas (FGV), levando-se em conta que um conjunto relativamente grande de bens componha o produto turístico. Assim, espera-se que o nível geral de preços se relacione de maneira inversa com a demanda e diretamente em relação à oferta turística. (6) c) Taxas de câmbio Considerando que parte relevante28 do turismo brasileiro é composta por estrangeiros, essa é uma variável que se espera num modelo econométrico sobre a demanda turística29. Entretanto, existem duas questões a sanar em relação à variável. A primeira se refere à forma da taxa de câmbio utilizada, a nominal ou a real30. O problema de usar a taxa de câmbio real (mais condizente com a realidade) é a correlação que a inflação também possui com a variável preço, podendo causar um 27 Por exemplo, Labeau (apud PALOMO, 1985). Kulendran e Witt (2001) apresentam uma versão multivariada para o modelo de impacto dos preços de Labeau, em um estudo que desenvolve um modelo do fluxo emissivo do Reino Unido para seus oito principais destinos: França, Alemanha, Grécia, Itália, Países Baixos, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Em sua versão do modelo de impacto dos preços, é considerado um maior número de variáveis explicativas, sendo assim esperado um resultado de melhor qualidade, tratando a questão do preço dos bens e dos serviços turísticos no destino de forma relativa, comparados aos preços do núcleo emissor dos turistas. Assim, são incluídos os preços dos concorrentes e, além disso, informações referentes ao custo de acesso, tanto do destino quanto dos concorrentes. 28 No ano de 2008, o fluxo financeiro advindo do turismo internacional chegou a 5,8 bilhões de dólares segundo dados do Banco Central (apud MTUR, 2009b), com um crescimento de 16,8%, superior à média mundial de 7%. 29 Segundo dados do Banco Central (apud MTUR, 2009b), os gastos de turistas estrangeiros em visita ao Brasil, de abril a junho de 2009, somaram US$ 1,144 bilhão, representando declínio de 11,4% em relação a igual período de 2008 (US$ 1,291 bilhão). Por sua vez, a despesa cambial turística (correspondente aos gastos efetuados por brasileiros com viagens internacionais) atingiu US$ 2,537 bilhões, uma queda de 15,3% comparativamente ao segundo trimestre de 2008 (US$ 2,997 bilhões). Portanto, o saldo da conta viagens, de janeiro a abril de 2009, foi negativo em US$ 1,393 bilhão. Já a corrente cambial turística (receita mais despesa), confrontados iguais períodos desses dois anos, também diminuiu de US$ 4,288 bilhões para US$ 3,681 bilhões (-14,2%). 30 A taxa de câmbio nominal apresenta simplesmente o resultado da oferta e demanda de determinada moeda no país (geralmente o dólar), enquanto que a taxa de câmbio real utilizada é a taxa de câmbio nominal multiplicada pela inflação do país emissor da outra moeda, dividida pela inflação interna (no caso, a brasileira). 70 viés ao modelo. Sendo assim, adota-se aqui a taxa nominal, também adotada em estudos anteriores (ANDRADE, 2007). O segundo ponto problemático é definir a relação da variável taxa de câmbio com o fluxo de turistas. Supondo válida a condição de Marshall-Lerner, desvalorizações da moeda nacional tendem a provocar maior entrada de turistas estrangeiros e menor saída de turistas nacionais rumo ao exterior, ocorrendo o inverso em caso de valorizações da moeda nacional. Assim, a influência da variável „taxa de câmbio‟ pode ser positiva ou negativa sobre o fluxo de turistas para a região do Cerrado, sendo que o próprio parâmetro da variável é capaz de prever o quanto ela influencia o turismo, seja como força emissora ou restritiva do fluxo na região31. d) Taxa de juros Trata-se de uma variável comum em análises econômicas, principalmente relacionadas à oferta, uma vez que é esperado que a taxas de juros maiores houvesse menores investimentos, e que o contrário também ocorra. No que concerne ao presente estudo, utilizou-se a série histórica apresentada pelo Banco Central do Brasil (BACEN, 2010) disponibilizada em seu site oficial. e) Nível de Investimento Usado como variável proxy, nomeado de tendência. Essa variável objetiva captar o nível de investimento através da série histórica de concessão de crédito produtivo exibida pelo BACEN, agregando dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outras instituições. 2.2.3.3 TESTES ESTATÍSTICOS Para testar a significância das regressões obtidas pelo método MQO utilizou-se o teste F, enquanto que o grau de ajustamento das regressões foi avaliado por meio do coeficiente de determinação (R²). A significância dos coeficientes, individualmente, foi verificada por meio do teste t de Student32. A existência de correlação serial nos resíduos foi avaliada por meio do teste d, de Durbin-Watson33. Os dados utilizados são provenientes de séries temporais anuais de 2000 a 2008, sendo que os dados relativos aos municípios foram ponderados de acordo com suas dimensões, proporcionais ao Mato Grosso ou ao Brasil. Isso se deve ao fato de não haver dados suficientes dos municípios em questão e, por isso, ter sido criado um modelo para o turismo em Mato Grosso, considerando dados: do IBGE (população e renda dos municípios e da região); da INFRAERO (fluxos de passageiros para Cuiabá ponderados pela proporção nacional de passageiros e turistas); 31 Como exemplo, pode-se citar, segundo Santos (2006), o estudo de Rabahy (2003, p. 185), no qual é proposto um modelo causal multivariado para a entrada de turistas argentinos no país. As variáveis explicativas incluídas no modelo representam apenas três elementos: o PIB da Argentina, a taxa de câmbio da moeda argentina para a brasileira, e a taxa de câmbio entre Argentina e Uruguai. A inclusão da taxa de câmbio da moeda uruguaia reflete as condições de viagem dos turistas argentinos para o concorrente do Brasil. De fato, espera-se que a relação para demanda seja mantida. 32 Para determinar a importância de um coeficiente individual no modelo de regressão, usa-se um teste baseado na estatística t de Student. O parâmetro estatístico calculado, tcalc, deve ser maior que o tabelado, t(n–k–1), onde k é o número de regressores e n é o tamanho da amostra. Se tcalc>ttab, rejeita-se a hipótese nula de não significância do parâmetro, com os níveis de significância indicados em cada regressão apresentada, em geral superando os níveis indicados pela norma, de 10% de significância (considerando duas caudas, para o Grau III). 33 Consiste em computar uma soma ponderada dos resíduos, de tal forma que seja possível detectar algum padrão no seu comportamento. Tem o problema de captar apenas a autocorrelação de primeira ordem. 71 do MTur (referente às condições específicas do turismo no Brasil e na região e, mais especificamente, quanto à informação da tendência); do BACEN (referente à variação anual do PIB per capita, da taxa de juros média da economia e da média mensal da taxa de câmbio nominal); da FGV (referente à variação no índice de preços); e de estudos paralelos citados ao longo do trabalho. 2.2.3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Utilizando o método MQO, as variáveis que se mostraram relevantes para explicar as variações na demanda turística foram: preço corrente (IGP-M) e PIB per capita no Brasil (Y). O melhor ajustamento foi obtido utilizando o modelo na forma logarítmica. Na Tabela 11 são apresentados os resultados obtidos para a equação de demanda de turismo em Mato Grosso. Tabela 11 – Estimativas da equação de demanda turística em Mato Grosso Variáveis explicativas Descrição Constante Coeficiente estimado Erro-padrão Teste t 0,5572 Ln Pt Preço corrente IGP-M Ln Yt PIB per capita Brasil Ln Taxa de câmbio nominal R² = 0,9132 -0,2149* 0,0358 4,351 1,807* 0,0462 11,23 0,3284* 1,085 8,553 d=1,6428 (SC) Nota: * significativo em nível de 1%. 1 – (SC): sem correlação serial. 2 – Dados de 2000 a 2008. O coeficiente de determinação (R²) indica que 91,32% das variações ocorridas na demanda turística foram explicadas pelas variáveis predeterminadas no modelo. O coeficiente da variável preço (IGP-M) foi significativo em nível de 1% de probabilidade e apresentou sinal negativo, sugerindo uma relação inversa entre preço geral e quantidade demandada. O coeficiente da variável PIB per capita também foi significativo em nível de 1% de probabilidade, apresentando sinal positivo, o que indica uma relação direta entre a renda e a quantidade demandada do produto turístico. O teste d, de Durbin-Watson, aplicado à equação de demanda, para avaliar a existência de correlação serial nos resíduos, confirmou sua ausência em nível de 1% de probabilidade. Como as estimativas foram feitas a partir de um modelo logarítmico, os parâmetros podem ser interpretados como estimativas das elasticidades. A elasticidade-preço da demanda turística foi -0,2149, sugerindo que um aumento de 10% no nível geral de preços ocasionaria uma redução de 21,5% na quantidade demandada do produto, ceteris paribus34, indicando que a demanda turística é sensível a variações no preço. Com relação ao PIB per capita, pode-se dizer que um aumento de 10% ocasionaria um aumento de 180% de demanda turística na região, demonstrando também assim uma alta sensibilidade do produto turístico à renda. No que diz respeito à taxa de câmbio, observa-se uma grande elasticidade no consumo do turismo na região, uma vez que para 10% de aumento na taxa de câmbio nominal, esperase um aumento de 32% no fluxo, colocando-se assim como um quesito de alta elasticidade. 34 Expressão latina traduzida como "outras coisas sendo iguais", é usada para lembrar que todas as variáveis, que não aquela que está sendo estudada, são mantidas constantes (IGF, 2009). 72 No que se refere à oferta turística (Tabela 12), os dados de preço geral, taxa de juros média e de tendência captada se mostraram significantes. Pode-se entender que 87% das mudanças na oferta de produtos turísticos em Mato Grosso foram geradas por mudanças nas variáveis colocadas no modelo, testadas a 1% de significância. Pela análise das elasticidades, verifica-se que variações de 10% do preço médio corrente tendem a causar variações na oferta de produto em torno de 12,1%, demonstrando-se razoavelmente elástica. Já mudanças na taxa de juros média em 10% tendem a impactar negativamente na oferta em torno de 5,4%. Por fim, percepções de aumento médio de 10% no fluxo de turistas tendem a gerar aumentos de 21,8% na oferta, demonstrando assim alta elasticidade quanto à percepção de tendência, baixa elasticidade quanto a variações na taxa de juros e elasticidade de neutra a alta quanto a mudanças nos preços em geral da economia. Tabela 12 – Estimativas da equação de oferta turística em Mato Grosso Variáveis explicativas Descrição Constante Coeficiente estimado Erro-padrão Teste t 16,2678 Ln Pt Preço corrente IGP-M Ln it Taxa de juros média Ln Tt Tendência captada R² = 0,87 0,121* 0,2879 18,94 -0,0543* 0,5132 10,11 0,218* 0,0231 21,22 d=1,58(SC) Nota: * significativo em nível de 1%. 1 – (SC): sem correlação serial. 2 – Dados de 2000 a 2008. O trabalho econométrico desenvolvido para o Polo Cerrado observou seis relações, sendo explicado a seguir o resultado de cada uma delas. Vale lembrar que todas as variáveis são medidas em fluxos anuais e que o equilíbrio encontrado das duas equações é próximo a 980 mil turistas anuais, para as variáveis médias de tal fluxo no período de 2009 a 2010 – o valor refere-se a todo Mato Grosso e, embora possa parecer exagerado, reflete as condições estruturais da oferta (uma vez que se refere à quantidade de equilíbrio da oferta e demanda). Com as alterações futuras, deve-se observar o valor das elasticidades para estimar as quantidades futuras de equilíbrio. a) Relação entre quantidade demandada de turismo e nível geral de preços A elasticidade observada – na qual para cada 10% de aumento do nível geral de preços a demanda tende a cair 21,5% – mostra que há uma relevante sensibilidade dos turistas a preços, e que esse é provavelmente um aspecto bastante competitivo local. No entanto, tal queda não é tão acentuada quanto uma análise preliminar faria supor, já que 10% de aumento no nível geral de preços é algo considerável. Possivelmente, a queda não é mais acentuada devido ao fato de algumas pessoas visitarem a região por negócios ou por laços de parentescos, o que torna a visita menos sensível a preços pelo fato de não haver uma concorrência com outro local. 73 b) Relação entre quantidade demandada de turismo e renda per capita brasileira Como mencionado, para cada 10% de aumento da renda per capita brasileira, tende a haver um aumento de 180% no fluxo de turistas ao ano. Embora pareça um número estratosférico de aumento de turistas, vale lembrar que 10% de aumento na renda per capita é bastante considerável, que ocorre geralmente de geração em geração em uma economia, sendo esse um indicador de mais longo prazo para o turismo na região. Deve-se tomar o cuidado de observar que o modelo utilizado não permite a proporcionalização intuitiva de 10 está para 1 assim como 180 está para 18. Mas, ainda assim, o parâmetro pode ser útil no curto prazo se puder ser observado em quanto tempo o PIB per capita da região deverá atingir a alta de 10% e, assim, traçar-se uma tendência correspondente de aumento do fluxo de turistas. c) Relação entre quantidade demandada de turismo e taxa de câmbio nominal Essa talvez seja a variável mais sensível, na medida em que 10% de aumento da taxa de câmbio é muito mais provável de ocorrer de um ano para o outro do que os 10% referentes às duas outras variáveis anteriormente citadas – e geraria 32% no fluxo de turistas. Com o atual momento de queda acentuada do câmbio, espera-se que haja uma redução no fluxo de turistas estrangeiros, dada a alta valorização do real. d) Relação entre oferta de serviços turísticos (medida em investimento financeiro) e taxa de juros Trata-se de uma medida comum na teoria econômica, que é mais acentuada em locais em desenvolvimento, que dependam mais de linhas de crédito. Foi utilizado aqui o volume de estabelecimentos locais constantes nos registros do SEBRAE-MT em 2005, padronizado com os indicadores de empréstimos locais, através de dados do BACEN de 2008. O procedimento é feito distribuindo a média de empréstimos por estabelecimento e comparando-se os resultados com outras regiões e estados do país. No caso do Polo analisado, é notável que apresente índices de regiões em desenvolvimento, e, portanto seja dependente de crédito para realizar seus empreendimentos. É interessante que a queda do volume de investimentos não seja tão acentuada quanto em outras regiões do país, quer dizer, a elasticidade jurosoferta é baixa, havendo menor sensibilidade dos investidores às taxas de juros, talvez pelo fato de o índice de lucratividade da região ser bom, talvez por existência de liquidez, ou pela expectativa de bons negócios que justifique o compromisso com o pagamento de juros futuros. e) Relação entre oferta de atrativos turísticos e nível geral de preços O resultado para essa variável é condizente com o resultado para a variável „juros‟. Percebeu-se que um aumento de 10% no nível geral de preços incentiva o empresariado local a aumentar seus investimentos em torno de 12,1%, ou seja, uma elasticidade alta, com uma sensibilidade positiva ao aumento de preços. Assim como se observou na variável „juros‟, o empresariado local está percebendo que há possibilidades de ganhos nos seus investimentos, tornando-os menos sensíveis aos juros e mais sensíveis aos bons preços, na visão do ofertante. f) Relação entre oferta de atrativos turísticos e percepção de fluxo de turistas pelos ofertantes locais Essa variável é condizente com as duas anteriores, mas é mais específica ao fluxo efetivo e potencial medido pelo MTur para o Brasil e para Mato Grosso. Pode-se dizer que, quanto mais o empresariado percebe a presença de turistas num ano, mais tende a aumentar seus investimentos no ano seguinte. O aumento de 10% no fluxo de turistas se traduz em média a 21,8% de aumento no fluxo de investimentos 74 locais na cadeia do turismo, o que significa que há um empresariado susceptível às percepções de mercado, como se observou nas outras variáveis. Ressalta-se que os números apresentados refletem a demanda potencial, ou seja, tanto a capacidade de absorção local pelas estruturas de Mato Grosso, quanto a quantidade de turistas que devem buscar o estado. O sistema formado pela equação de oferta e demanda colapsa no valor de 980 mil turistas previstos, número que, apesar de elevado, reflete as condições nas quais os dados foram obtidos. Como foram consideradas variáveis de investimento e fluxo para todo Mato Grosso, o modelo captou toda a possibilidade de absorção do estado, refletindo consigo a capacidade ociosa para recepção turística não só do Polo Cerrado, como do restante do estado. Isto é, o sistema de equações informa que Mato Grosso tem condições de receber, sem problemas e sem reestruturação de preços, um número aproximado de 980 mil turistas. Tais valores podem sofrer desajustes devido a fatores que fogem à análise do modelo. Outro ponto importante que vale ser destacado é que o modelo não faz comparações e compensações qualitativas, de modo que os dados relativos a investimentos não separaram a rede hoteleira quanto à sua qualidade. Dessa forma, o número de leitos, por exemplo, não foi considerado, apenas a comparação entre o que se investe e a quantidade de turistas. Por outro lado, números reais colocam a demanda efetiva como algo em torno de 445.416 turistas – essa é a quantidade que as condicionantes de demanda, independente do sistema que constrói a oferta, apresenta como número aproximado de turistas para o estado em 2014. As restrições de absorção da infraestrutura local são mais compatíveis com o Polo em si e, possivelmente, menos drásticas para o estado como um todo. 75 2.2.4 Copa do Mundo e Olimpíadas A realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil e dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro certamente impactará sobre o fluxo de turistas, tanto domésticos quanto internacionais, para as cidades sedes da Copa em 2014 e para o Rio de Janeiro em 2016. As questões que se colocam são: haverá alteração do fluxo de turistas para as regiões periféricas às sedes dos eventos? E, nesse caso, é possível incluí-las nas estimativas apresentadas no presente trabalho? Além disso, a divulgação internacional que será obtida permite dizer que o nível de turistas se manterá mais alto no longo prazo? A resposta para tais perguntas é relativa. Quantitativamente, não há séries históricas que possibilitem a análise econométrica das demandas potenciais, uma vez que tais eventos possuem características temporais defasadas, sendo realizados em locais diferentes sob circunstâncias consideravelmente diferentes. Sendo assim, não é possível incluir as variáveis „Copa do Mundo‟ e „Olimpíadas‟ na equação estimada para o fluxo anual de turistas para Mato Grosso. No entanto, é possível realizar uma inferência comparativa para tal fluxo com base nas características do estado e nas análises quantitativas realizadas aqui ou em outros estudos da área, mas uma diferenciação deve ser feita. É possível analisar a Copa do Mundo de 2014, mas é consideravelmente mais difícil em relação às Olimpíadas, tanto por a sede estar consideravelmente longe (Rio de Janeiro), quanto porque os efeitos da Copa do Mundo sobre o turismo nas Olimpíadas tendem a ser bastante fortes. A existência de eventos de grande magnitude tão próximos é algo raro na história, o que torna os efeitos do primeiro evento sobre o segundo imprevisíveis, já que a Copa do Mundo pode servir tanto como potencializadora do turismo quanto como má propaganda. Além desses fatores, as Olimpíadas de 2016 tendem ainda a herdar grande parte da estrutura dos eventos da Copa, o que se torna outra variável de impacto de difícil previsão. Portanto, o foco central neste item será a Copa do Mundo de 2014. Em pesquisa do MTur (2008) constatou-se que para parcela considerável dos turistas de eventos no Brasil (para os diversos eventos, incluindo os esportivos), existem algumas tendências passíveis de serem combinadas com as informações existentes do Polo Cerrado: em torno de 70% dos turistas de eventos demandaram produtos ou serviços turísticos no ano de 2008 no Brasil; aproximadamente 66% de tais turistas permaneceram na cidade do evento além das necessidades do evento em si, numa média de 2,5 dias a mais; e 43,8% dos entrevistados realizaram tour por outra cidade ou estado que não fosse a do evento em questão. Esses dados podem significar que os turistas que forem às cidades sedes da Copa tendem a visitar atrações da cidade, e pouco menos da metade a visitar cidades próximas que ofereçam atrativos turísticos. Assim, pode-se supor que as cidades mais próximas a Cuiabá receberão um fluxo maior de turistas durante o período da Copa do Mundo de Futebol. Considerando-se ainda, como visto anteriormente, que o turismo é constituído por um oligopólio diferenciado, talvez as cidades que mais investirem em publicidade e atrativos tendam a superar possíveis deficiências logísticas, como a distância da sede dos jogos. A partir da conclusão obtida de que a variação do PIB leva a um crescimento do turismo doméstico no Brasil, considerando a projeção do BACEN (2009) de crescimento médio de 3% nos próximos cinco anos e um nível de crescimento populacional estável em Mato Grosso – ou seja, mantidas as variáveis nas médias consideradas para a construção do modelo –, a tendência é que até 2014 haja um incremento próximo a 150% do atual fluxo de turistas no estado (08/2008 – 08/2009). Isso sem considerar os efeitos da Copa do Mundo, que gerará um multiplicador de demanda sobre o fluxo. Em julho de 2009, o fluxo 76 aproximado de turistas foi 296.944 para o estado, de forma que o fluxo para julho de 2014 é estimado em 445.416 turistas. Leva-se em consideração que Mato Grosso e o Governo Federal deverão realizar as melhorias de infraestrutura necessária para receber o fluxo de pessoas para a Copa e que, portanto, variáveis como capacidade hoteleira e segurança não deverão restringir o fluxo de passageiros. No entanto, como se observa a seguir, é importante que isso ocorra o quanto antes para impulsionar o fluxo futuro de turistas. O fluxo de passageiros que desembarcam no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, segue uma tendência claramente crescente nos últimos anos, possivelmente em virtude do crescimento econômico brasileiro, assim como tem havido um crescimento no fluxo de turistas para o local, conforme pode ser avaliado na Figura 7 (página 50). Adaptando os meses para números correspondentes e adotando janeiro de 2002 como início da série, a equação ganha a seguinte adaptação: y= 37,751x - 1E+06 y = 1.149,3x + 38.973 R² = 0,8631 Mantendo a atual tendência, o número de desembarques internacionais (INFRAERO, 2009b), no mês de julho de 2014 seria de aproximados 198.726. Considerando que cerca de 45% desses passageiros sejam turistas de diferentes tipos (MATO GROSSO, SEBRAENACIONAL e SEBRAE-MT, 2005), e que tenderão a compor o fluxo mensal de turistas em aproximadamente 25% (MTUR, 2008b), pode-se supor, tomando apenas a tendência do fluxo de passageiros, que o fluxo de turistas é algo próximo aos 357 mil turistas em julho de 2014, ou seja, menor do que o número encontrado considerando-se o PIB per capita no período (445.416). Figura 10 – Turistas estrangeiros que visitaram a França 1995-2000 Fonte: SZYMANSKI, 2002 O multiplicador de demanda da Copa do Mundo deverá ser observado ao longo dos três anos que antecedem a Copa, se a estrutura do turismo se mantiver a mesma do que se observara em outras Copas. Na Copa do Mundo da França, em 1998, Szymanski (2002) colocou que o fluxo de turistas não se alterou quanto à sua tendência nos anos anteriores (Figura 10). Sendo a França um dos principais destinos turísticos do mundo, pode-se entender que haja uma possível tendência quanto à dissipação do incremento turístico ao longo dos anos próximos ao evento. Tal tendência provavelmente ocorre em função dos 77 gastos publicitários e de promoção anteriores ao evento, e pela impressão positiva que os turistas que vão até o local carregam consigo, impulsionando o turismo futuro. Na Copa de 2002, na Coreia e no Japão, houve um incremento relativamente pequeno quando comparado à tendência dos três anos anteriores e posteriores, segundo estudo de Lee e Taylor (2005). Na Alemanha, em 2006, Ohmann, Jonas e Wilkes (2006) apontam que houvera alterações no fluxo de turistas, embora não se observou aumento considerável ao longo do ano quando comparado à série histórica. Considerando tais informações, torna-se crucial que Mato Grosso passe a sistematizar a evolução turística nos próximos anos para ter uma noção mais clara do aumento que efetivamente deverá ocorrer em 2014, e, mais importante ainda, para os ofertantes locais se prepararem para começar a receber os turistas frutos da realização da Copa já provavelmente a partir de 2011. Embora haja diferenças consideráveis na realidade mato-grossense, entende-se que não há variável significativa que possa alterar a tendência que se observa nos outros países. A diferença provavelmente consistirá no número absoluto de turistas quando comparado, mas não na diferença do seu comportamento. A taxa de câmbio, outra variável presente no modelo econométrico, é difícil de prever para 2014. Porém, a partir de 2013, provavelmente já deve haver indícios de em que faixa oscilará a taxa de câmbio, podendo assim ser estimada com maior precisão tal demanda. Daí advém a necessidade de acompanhamento das principais variáveis nos próximos anos para melhor aproveitamento dos benefícios oriundos da Copa do Mundo de 2014. Por outro lado, deve-se atentar que grande parte dos turistas que compõe o fluxo para Cuiabá é de regiões que também abrigarão sedes da Copa do Mundo (MATO GROSSO, SEBRAE-NACIONAL e SEBRAE-MT, 2005), e que Cuiabá competirá com outros Polos. De acordo com a Tabela 4 (p. 51), dos estados que mais emitiram turistas no ano de 2005 para Cuiabá, seis sediarão jogos da Copa (Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo) e três serão vizinhos próximos de outra sede, como Mato Grosso do Sul é de São Paulo e do Paraná. O que pode definir o destino de um turista com várias opções, são as seleções que estarão em campo em cada local. 78 2.3 OFERTA TURÍSTICA A análise da oferta turística do Polo Cerrado foi realizada a partir do Inventário da Oferta Turística de Mato Grosso, elaborado pelo SEBRAE-MT (2006) para a SEDTUR-MT, e de visitas de campo ocorridas no período de 26 de outubro a 16 de novembro de 2009. A análise também se valeu de pesquisas secundárias e examinou as informações do Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Polo Cerrado, realizado pelo MTur e pela SEDTUR-MT (2006) por meio do Programa de Regionalização do Turismo (PRT). Nesse documento, o Polo Cerrado era considerado como sendo composto pelos municípios de Campo Verde, Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Dom Aquino, Jaciara, Juscimeira e Nobres, como verificado no Capítulo 1 deste Diagnóstico. Entretanto, quando comparadas informações da oferta turística relativa aos municípios constantes do Plano Regional com o Inventário da Oferta Turística, constatam-se diferenças muito significativas: nesses casos, optou-se por confiar no documento mais recente, o Inventário da Oferta Turística de Mato Grosso, como fonte para as análises. O Inventário considera como atrativos turísticos naturais e culturais toda a potencialidade do Polo, sem nenhuma menção a suas condições atuais, legais ou operacionais. Assim, a contextualização e análise da oferta de atrativos e equipamentos e serviços turísticos a partir dessas fontes secundárias foi parcialmente comprometida. Além dessas fontes, e para que a opinião dos atores públicos e privados do trade turístico do Polo Cerrado fosse conhecida, foram realizadas entrevistas não estruturadas, que seguiram um roteiro preestabelecido para os diversos segmentos do turismo, em diferentes municípios. Com o objetivo de não inibir os entrevistados, optou-se por não realizar gravações e sim anotações das considerações expostas. As entrevistas foram realizadas com empresários, representantes do poder público ligados ao turismo, representantes de associações do trade turístico e dos Conselhos Municipais de Turismo (COMTUR), quando existentes. No total, foram realizadas 15 entrevistas, sendo: cinco em Nobres, quatro na Chapada dos Guimarães, quatro em Jaciara e duas em Campo Verde. Os resultados das entrevistas auxiliam na descrição e análise da oferta turística de atrativos e demais equipamentos e serviços turísticos no Polo, bem como fornece a opinião dos entrevistados quanto à situação atual do turismo, de forma geral, nas regiões envolvidas no Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS). Em linhas gerais, a oferta total (formal e informal, material e imaterial) existente no Polo Cerrado pode ser observada na Tabela 13. Tabela 13 – Oferta turística Oferta turística Municípios Meios de hospedagem Alimentação Campo Verde 12 14 14 Chapada dos Guimarães 19 30 Cuiabá 63 Jaciara Nobres Total Atrativos naturais Atrativos culturais Agência e transportes Espaços de eventos 1 13 12 31 2 18 10 160 14 67 95 92 11 11 51 2 21 4 10 23 29 2 15 75 115 238 139 74 162 193 Fonte: SEBRAE-MT, 2006 A Figura 11 mostra como está distribuída a oferta pelos municípios do Polo. 79 Figura 11 – Oferta turística Observa-se que Cuiabá é o município responsável pela maior parcela dos equipamentos turísticos do Polo Cerrado, o que se deve ao fato de se tratar da capital política do estado e do município ser vizinho ao portal aéreo de entrada para os demais destinos no Polo e no estado de Mato Grosso. A Tabela 14 traz um panorama sobre a capacidade atual da oferta do Polo, de acordo com o Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006), que contribui para o entendimento da cadeia produtiva. Tabela 14 – Capacidade de hospedagem, alimentação e atrativos turísticos Capacidade de hospedagem (leitos) Capacidade dos 2 atrativos naturais Capacidade dos atrativos culturais 1.593 280 25 723 2.384 60 pessoas por guia e 535 por dia * Cuiabá 4759 19.915 * 3.700 Jaciara 444 1.428 * 50 Nobres 282 1.782 08 por guia * 6.725 27.102 883 3.775 Municípios Campo Verde Chapada dos Guimarães Total 517 Capacidade de 1 alimentação Notas: * sem informação. 1 – É apresentada a capacidade simultânea dos estabelecimentos e não a capacidade total, visto que a rotatividade dos assentos não foi contemplada. 2 – O total estimado corresponde à somatória do número de atendimento do atrativo, considerando, nos casos em que há limite de pessoas por monitor de turismo, um grupo por dia. Fonte: SEBRAE-MT, 2006 As análises da Tabela 14 ficam prejudicadas pelo fato da maioria dos atrativos naturais não oferecer informações suficientes sobre sua capacidade de atendimento. Outro fator que dificulta a análise está relacionado à metodologia aplicada na coleta de dados (SEBRAEMT, 2006), que, por vezes, valeu-se do número de pessoas por dia e, em outros casos, do número de grupos monitorados. Assim, nem sempre é possível identificar a capacidade total. 80 Além disso, não foram evidenciados estudos formais de capacidade de suporte para os atrativos naturais, em termos de fatores ambientais e estruturais, como trilhas interpretativas, balneários, termas, rafting, rappel em cachoeiras, parques e atividades de trilha e contemplação da natureza. Os atrativos culturais também não oferecem dados concretos, o que pode ser resultado da dificuldade de mensurar a capacidade de atendimento de uma festa ou espaço popular, como o Carnaval. As imagens a seguir (Figura 12, Figura 13, Figura 14 e Figura 15) mostram a localização dos atrativos em cada um dos municípios do Polo, com exceção de Cuiabá, que, por possuir todos os atrativos na área urbana, não permite que esse nível de detalhamento seja alcançado. Figura 12 – Localização dos atrativos, Jaciara 81 Figura 13 – Localização dos atrativos, Campo Verde Figura 14 – Localização dos atrativos, Chapada dos Guimarães 82 Figura 15 – Localização dos atrativos, Nobres Para analisar a oferta turística, este capítulo encontra-se dividido em dois grandes grupos, cada um com itens específicos: equipamentos e serviços: meios de hospedagem, alimentação, transporte, eventos e lazer e receptivo; atrativos turísticos: aventura e ecoturismo, cultural, rural, negócios e eventos. 83 2.3.1 Equipamentos e serviços Equipamentos e serviços de turismo podem ser entendidos como o conjunto de edificações, instalações e serviços indispensáveis ao desenvolvimento da atividade turística. Compreendem meios de hospedagem, serviços de alimentação, transporte, eventos, entretenimento, agenciamento, informações e outros serviços. No que se refere aos equipamentos e serviços turísticos oferecidos no Polo Cerrado, o Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006) traz informações sobre a área de hospedagem, alimentação, transporte e eventos e lazer. 2.3.1.1 MEIOS DE HOSPEDAGEM A oferta de hospedagem no Polo Cerrado tem um total de 6.725 leitos distribuídos em 115 meios de hospedagem de diferentes categorias e serviços. Cuiabá se destaca com 63 empreendimentos hoteleiros divididos entre albergues, apart-hotéis, campings, hotéis e motéis, sendo responsável por 4.759 leitos – 70,8% da oferta total de leitos. A Tabela 15 e a Tabela 16 auxiliam na observação do cenário formado pelos meios de hospedagem. A Tabela 15 evidencia que o maior número de empreendimentos concentrase na categoria simples, com 62 empresas que representam 53,9% do total da oferta; as categorias econômica e turística respondem por 33,0% juntas; as categorias superior e luxo respondem por 0,9% cada. Tabela 15 – Categoria de meios de hospedagem e leitos disponíveis Simples Econômico Turístico Superior Luxo Superior luxo Não informado Categoria de hospedagem (quantidade de empreendimentos) Quantidade de leitos Campo Verde 9 1 - - - - 2 517 Chapada dos Guimarães 9 4 5 - - - 1 723 Cuiabá 28 13 12 1 1 - 8 4.759 Jaciara 8 2 - - - - 1 444 Nobres 8 1 - - - - 1 282 62 21 17 1 1 0 13 6.725 Municípios Fonte: SEBRAE-MT, 2006 As características do segmento de hospedagem são reflexos da demanda que, segundo informações coletadas nas entrevistas realizadas com secretários de turismo e representantes do trade turístico durante o trabalho de campo, é formada em parte por vendedores e empresários que estão de passagem pelo Polo e não exigem serviços complementares ou diferenciados de hospedagem. O fluxo turístico, segundo os entrevistados, é formado por turistas do próprio estado, que visitam os atrativos da região em um ou dois dias, em finais de semana e feriados, gerando ocupações irregulares e sazonais que impactam diretamente na gestão. Ressalta-se que Cuiabá é uma exceção a esse cenário, uma vez que, por ser a capital do estado, não sofre os mesmos efeitos que os outros municípios. Como complemento aos dados da Tabela 15, a Figura 16 ilustra a distribuição dos meios de hospedagem entre os municípios analisados. 84 9% Campo Verde 10% 10% Chapada dos Guimarães 16% Cuiabá Jaciara Nobres 55% Figura 16 – Meios de hospedagem A Tabela 16 apresenta o número de empreendimentos hoteleiros em cada município do Polo, de acordo com seu tipo. Cada empreendimento responde em média por 58 leitos, sendo que Cuiabá destaca-se com a maior média de leitos por empreendimento (76), sendo o município com meios de hospedagem de maior porte; Nobres apresenta a menor média de leitos por empreendimento (28), e os outros municípios têm oferta de cerca 40 leitos por meio de hospedagem. Isso não inclui a capacidade de acomodação dos campings, que para o Polo todo é de 356 barracas, distribuídas em 150 na Chapada dos Guimarães, 164 em Cuiabá e 42 em Nobres – não há informações sobre a capacidade do estabelecimento de Jaciara. Tabela 16 – Tipo dos meios de hospedagem Apart-hotel Estância Hotel Hospedaria Motel Pousada Total Campo Verde - - - - 8 1 2 1 12 Chapada dos Guimarães - - 2 1 4 1 - 11 19 Cuiabá 1 1 3 - 42 - 16 - 63 Jaciara - - 1 - 7 - 1 2 11 Nobres - - - - 3 1 - 6 10 Total 1 1 7 1 64 2 19 20 115 Municípios Camping Albergue Tipo de hospedagem Fonte: SEBRAE-MT, 2006 A Tabela 17 mostra considerações sobre os meios de hospedagem do Polo baseadas nas visitas de campo. Tabela 17 – Considerações sobre meios de hospedagem Municípios Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Considerações Hotéis de pequeno porte, com infraestrutura simples e fachadas modestas, sendo sua maioria destinada para atender viajantes de negócios (vendedores). Quase a totalidade dos hotéis é de pequeno porte, com infraestrutura simples, tendo a maioria se estabelecido em residências que foram adaptadas para tal finalidade. Alguns são de alto padrão como, por exemplo, a Pousada Penhasco e a Pousada dos Ingleses. Devido às dimensões da cidade e às características de capital do estado, tem grande diversidade de hotéis, que variam desde pequenos e familiares a grandes integrantes 85 Municípios Jaciara Nobres Considerações de cadeias multinacionais. Da mesma maneira, há diversidade de valores cobrados, serviços oferecidos e infraestrutura disponível. Os hotéis são de pequeno porte, com infraestrutura simples, sendo a maioria destinada a atender viajantes de negócios (vendedores). Os hotéis são de pequeno porte, com infraestrutura simples, sendo que os localizados na sede do município são, na maioria, destinados a atender viajantes de negócios (vendedores) e funcionários das empresas de mineração que estão desenvolvendo algum trabalho temporário. Os localizados na Vila de Bom Jardim são mais utilizados por turistas, apesar de apresentarem as mesmas características. 2.3.1.2 ALIMENTAÇÃO Os serviços de alimentação no Polo Cerrado se destacam pela presença de pratos típicos diversos da culinária regional (Figura 17). Pelo peixe ser um alimento farto em Mato Grosso e poder ser comido frito, assado, ou ensopado, recheado com farinha de mandioca ou servido com pedaços de mandioca, por exemplo, é o principal ingrediente utilizado em várias receitas, sendo que a mujica de peixe é o prato mais famoso, concorrendo com a ventrecha de pacu e a piraputanga ao molho branco. Os peixes de mais prestígio nas mesas locais são o pacu, o dourado, a cachara, a piraputanga, o pacupeva, o piavuçu, o curimbatá, o jaú e o pintado, entre outros. O arroz com pequi é outra receita muito apreciada na culinária local, além do Maria Izabel, picadinho de carne com quiabo e a carne assada. Outros pratos tradicionais são o bolo de arroz35, o bolo de queijo e a farofa de banana. Existe ainda uma grande variedade de doces e licores apreciados pela população local, com destaque para o furrundu (doce feito de mamão e rapadura de cana) e os doces de mangaba, goiaba, caju em calda, figo e abóbora. Como aperitivo, são muito apreciados os licores de pequi, caju e mangaba. Figura 17 – Culinária típica Fonte: COISAS DE MATO GROSSO, 2009 e AS NOVIDADES, 2009 A maioria dos estabelecimentos de alimentação está localizada em Cuiabá, que comporta 67,2% da oferta; os demais municípios do Polo apresentam certo equilíbrio na oferta desse 35 A D. Eulália é uma cozinheira famosa, que vende o bolo de arroz na própria casa, em Cuiabá. 86 tipo de serviço, sendo que em cada um deles há, em média, 19 estabelecimentos. A Tabela 18 detalha a distribuição do serviço a partir dos dados do Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006). Tabela 18 – Caracterização do serviço de alimentação Municípios 1 Serviços de alimentação % Número de assentos % Campo Verde 14 5,9 1.593 5,9 Chapada dos Guimarães 30 12,6 2.384 8,8 Cuiabá 160 67,2 19.915 73.5 Jaciara 11 4,6 1.428 5,3 Nobres 23 9,7 1.782 6,6 Total 238 100 27.102 100 Nota: 1 – O número de assentos não traduz exatamente a capacidade de atendimento dos restaurantes, uma vez que a rotatividade dos assentos não foi considerada. Fonte: SEBRAE-MT, 2006 Durante o trabalho de campo, pode-se verificar que em Cuiabá estão os serviços de alimentação mais adequados para atendimento aos visitantes. O município destaca-se também por oferecer a maior variedade de restaurantes, que incluem culinária regional mato-grossense, oriental, italiana, árabe, entre outras. Nos demais municípios, a oferta de alimentação é muito simples, sendo que alguns restaurantes, bares ou similares não inspiram confiança quanto à qualidade dos produtos vendidos. Na Chapada dos Guimarães destacam-se os restaurantes Morro dos Ventos e o restaurante Penhasco, com boa qualidade e estruturas adequadas para o atendimento de turistas; em Campo Verde, o restaurante Lorenzetti; Nobres não oferece estabelecimentos de alimentação de qualidade para o turismo, tampouco Jaciara. A Figura 18 mostra alguns estabelecimentos de alimentação. Figura 18 – Estabelecimentos de alimentação Fonte: MAHALO, 2009 e SERRA RESTAURANTE, 2009 87 2.3.1.3 TRANSPORTE Os serviços de transportes são oferecidos em diversas modalidades, sendo que são disponibilizados táxis, locação de veículos, motos, ônibus regulares, serviços de taxi aéreo e voos regulares a partir de diversos pontos do Brasil, além de serviços de vans e ônibus fretados por agências e grupos diversos. Segundo os entrevistados, os turistas vindos de outras regiões do Brasil e de outros países por meio de voos regulares normalmente se utilizam de locação de veículos, táxis, vans e ônibus para se dirigirem do aeroporto, em Várzea Grande, para outros municípios do Polo Cerrado. A utilização de táxis é comum quando o turista se hospeda em Cuiabá. 2.3.1.4 LAZER E EVENTOS Em relação às opções de lazer e eventos oferecidas no Polo Cerrado, a Tabela 19 traz dados sobre a área de lazer disponível para moradores e turistas, considerando praças públicas, balneários, estádios, ginásios, quadras poliesportivas, clubes festivos e outras estruturas. Tabela 19 – Caracterização das áreas de lazer e entretenimento Municípios Área de lazer e entretenimento Campo Verde 7 Chapada dos Guimarães 6 Cuiabá 29 Jaciara 1 Nobres 3 Total 46 Fonte: SEBRAE-MT, 2006 Vale considerar que os espaços de lazer e entretenimento, em geral, são gratuitos e de fácil acesso para as comunidades nas quais estão inseridos, o que os tornam equipamentos indispensáveis para o desenvolvimento e, principalmente, para o envolvimento e interação entre moradores e turistas, em festas populares e eventos específicos. Considerando ainda as áreas disponíveis, a Tabela 20 mostra os espaços para eventos no Polo Cerrado, com destaque mais uma vez para a cidade de Cuiabá, que conta com 44,1% da oferta. Os espaços de eventos incluem salas de reuniões em meios de hospedagem, como na Pousada Penhasco na Chapada dos Guimarães (Figura 19) ou em associações, como na Associação Comercial de Campo Verde. Entretanto, a grande maioria refere-se a salões de festas e buffets, que oferecem serviços de locação de equipamentos de som e decoração. Tabela 20 – Espaços para eventos Municípios Tipos Espaços para eventos Centro de convenções Auditório Capacidade de atendimento Sala de eventos Pavilhão Campo Verde 7 2 1 4 - 3.380 Chapada dos Guimarães 5 3 - 2 - 705 Cuiabá 15 4 - 2 9 5.365 Jaciara 2 1 - - 1 340 Nobres 5 - - 3 2 50 34 10 1 11 12 9.840 Total Fonte: SEBRAE-MT, 2006 88 Figura 19 – Pousada Penhasco, Chapada dos Guimarães Fonte: POUSADA PENHASCO, 2010 As áreas de eventos, com exceção de Cuiabá, são destinadas a atender demandas de suas próprias comunidades ou, no caso das localizadas em meios de hospedagem, têm capacidade para atender no máximo 250 pessoas. Assim, nota-se ausência de espaços para eventos de médio e grande porte. Todas as cidades do Polo têm um calendário de eventos que reflete sua religiosidade e destaca as festas comemorativas e aniversários de santos católicos (Tabela 21). Verifica-se que, no decorrer do ano, ocorrem diversos eventos, porém grande parte deles é divulgada apenas pelos seus organizadores, com datas escolhidas conforme suas próprias necessidades ou realidades. Por consequência, tem-se um calendário de eventos não oficial que aborda apenas parte dos eventos que ocorrem na cidade, de forma que os municípios perdem a oportunidade de divulgar outros eventos a turistas potencialmente interessados. Tabela 21 – Calendário de eventos Chapada dos Guimarães Campo Verde Nome do evento Período Carnaval de rua Fevereiro Baile do Algodão Maio Festa Junina Junho Expoverde Agosto Festa do Porco Paraguaio Setembro Baile do Chopp Outubro Festival da Canção de Campo Verde (FESCAN) Outubro Campo Verde Cidade do Papai Noel Dezembro Carnaval Fevereiro Junho/ Julho Festival de Inverno de Chapada Festa Nossa Senhora de Sant'Ana Julho Réveillon Dezembro/ Janeiro Observações Bandas musicais, concurso de fantasias e blocos carnavalescos. Baile com banda ao vivo que comemora a colheita anual de algodão. Barracas de alimentos e bebidas, prendas, apresentação de quadrilhas e danças caipira. Shows musicais, rodeios, exposição de máquinas agrícolas, concurso da rainha do rodeio, palestras, workshops, sorteios, festa do costelão. Almoço com som ambiente e ao vivo, com cardápio à base de suíno assado. Banda de música com chopp à vontade para os participantes que adquirirem a caneca (ingresso) do evento. Concurso de canções para participantes amadores. Apresentações culturais nas praças com decoração natalina nas ruas. Festa tradicional. Teatro, apresentações culturais, shows regionais e nacionais. Festa da padroeira do município com duração de 15 dias, com atividades religiosas como procissão e missas, além de leilões e bailes. Festa tradicional 89 Nome do evento Bulixo Corrida de Reis Carnaval Popular Copa Centro América de Futsal Cuiabá Copa dos Campeões Período Toda quintafeira Janeiro Observações Exposição e comercialização de artesanato regional e comidas típicas acompanhadas de apresentações artísticas e culturais. Corrida de rua com percurso de 10 km. Fevereiro Fevereiro/ Maio Março/ Maio Festa tradicional. Campeonato de futebol de salão envolvendo equipes de vários municípios mato-grossenses. Campeonato de futebol de salão que acontece entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Festivais com músicas regionais, comidas típicas e apresentações culturais. Palestras técnicas e oficinas, exposições, festival gastronômico com carne suína e derivados. Apresentações culturais, feira gastronômica, exposição do potencial do estado em estandes dos municípios, palestras, cursos relacionados ao turismo e seu desenvolvimento. Exposição e comercialização de flores e plantas ornamentais. Festa religiosa com missas, comidas típicas, bailes e bingos. Festa religiosa com missa, procissão e festividades com comidas e danças típicas e artesanato religioso. Festa religiosa com missa, procissão e festividades com comidas e danças típicas e artesanato religioso. Festa religiosa com missa, levantamento do mastro, lavagem do santo e distribuição de sopa santa. Manifestação religiosa com missas, procissão, apresentações culturais, culinária e artesanato regional. Manifestação religiosa com Cavalgada, partindo de Chapada dos Guimarães com chegada em Coxipó do Ouro, missa, leilão e baile. Aniversário de Cuiabá Abril Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura Abril Festa Internacional do Pantanal Maio Festival das Flores Maio/ Junho Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Junho Festa de São Benedito Junho Festa de São Benedito da Dona Betinha Junho Festa de São João Junho Festa do Senhor Divino Junho Festa do Divino Espírito Santo, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário Exposição Internacional Agropecuária, Comercial e Industrial de Cuiabá (EXPOAGRO) Junho Julho Festival Cururu e Siriri Agosto Peladão de Cuiabá Agosto/ Abril Micarecuia Setembro Seminário Estadual de Design Outubro Cuiabá Cidade Arte Festival de Música Congresso de Inovação Tecnológica Outubro Outubro Festival Siminina Outubro Próbeleza Outubro Festa da Imaculada de São Gonçalo Dezembro Leilões de animais, negócios, exposições, rodeios e shows musicais Sem caráter competitivo, os grupos se apresentam valorizando a cultura. Abriga feira de artesanato, festival gastronômico, salão de artesanato, universo criativo, seminário de culturas populares e mostra de fotografias. Campeonato de futebol amador que engloba, além das disputas esportivas, concursos de rainha do evento. Carnaval fora de época. Feira de exposição com palestras sobre design de móveis, ecodesign, meio ambiente, moda e joias. Concurso de música com shows regionais. Congresso municipal específico para advogados e áreas afins. Apresentação de meninas em encenações que abordam de forma educativa brincadeiras infantis tradicionais como pula-corda, amarelinha e escravo de jó. Feira e congresso de beleza com apresentação de tendências em cortes, maquiagem, tratamentos capilares, estética e cosmetologia. Festa religiosa com missas, danças tradicionais (Cururu e Siriri), sopão. 90 Nome do evento Magias e Encantos do Natal Dezembro Confortex Evento bianual Copa da Juventude Jaciara Período Encontro de Negócios do Artesanato (ENART) Temporada de Esportes Radicais Festa do Padroeiro de São Francisco Romaria para Nossa Senhora Aparecida União da Mocidade da Assembleia de Deus de Jaciara e região Data não especifica da Data não especifica da Setembro Outubro Observações Decoração e espetáculos natalinos, artesanato e apresentação de corais. Feira de móveis, decoração, paisagismo e construção, além de seminários, salão de tecnologias sustentáveis e encontro de negócios, com organização do SEBRAE-MT e parceiros. Campeonato de futebol de salão envolvendo equipes de escolas públicas e privadas dos municípios mato-grossenses. Encontro de artesãos com empresários do setor varejista. Organização do SEBRAE-MT e parceiros. Competição de esportes radicais e de aventura. Festa religiosa com missa e festividades com comidas, bingo e baile. Outubro Romaria que atravessa a cidade. Outubro Gincana e cultos religiosos. Festa de São Sebastião Janeiro Carnaval de Rua de Nobres Encontro Estadual de Laço Comprido e Festa do Laço Fevereiro Evento cultural e religioso na forma de ladainhas. Ocorre desde 1937, realizado pela família do Sr. Acendino da Silva Campos. Festa tradicional Abril/ Maio Atividades desportivas e artísticas (provas de laço). Apresentações artísticas e culturais com shows locais e regionais. Evento cultural e religioso que ocorre há mais de Festa do Senhor Divino Junho 50 anos na casa da Sra. Antonia Norberta da Ressurreição. Festa de São Sebastião e Sta. Evento cultural e religioso realizado pelo Sr. Silvino Julho Luzia Malaquias de Santana. Festa de São Cristóvão Agosto Festa religiosa com missa e procissão. Festa de Nossa Senhora da Evento cultural e religioso realizado pela família do Setembro Imaculada Conceição Sr. João Valério da Fonseca, ocorre desde 1929. Evento cultural e religioso realizado pela família do Festa de Nossa Sra. Aparecida Outubro Sr. Antonio Roque, ocorre desde 1990. Festa de Nossa Senhora da Guia, Evento cultural e religioso realizado pela família do Outubro São Gonçalo e São Sebastião Sr. Juvêncio Dias Pedroso, ocorre desde 1962. Data não Evento cultural e religioso na forma de ladainhas, Festa de Cultura e Tradição especifica gastronomia e danças típicas, criado pelo Sr. da Nelson Nonato, primeiro prefeito de Nobres. Fonte: SEBRAE-MT, 2006 e SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E MEIO AMBIENTE DE SANTO ANTÔNIO DO LEVERGER, 2009 Maio Nobres Aniversário de Nobres Além disso, ao observar a Tabela 21, nota-se uma concentração muito grande de eventos em determinados períodos do ano, como em junho e agosto, em detrimento de outros meses, com poucos eventos oficialmente reconhecidos, como março e julho, considerados de baixa temporada para o público de lazer e que, por essa razão, poderiam comportar alguns eventos já existentes e outros novos, para minimizar os impactos da baixa temporada e provocar uma distribuição mais equilibrada da demanda. A ausência de um calendário oficial de eventos mais completo e abrangente compromete também o planejamento de hotéis, comércio local, restaurantes e guias, que muitas vezes se veem surpreendidos por uma grande demanda inesperada, gerada em decorrência de um evento na cidade desconhecido pela maioria do comércio. 91 2.3.1.5 SERVIÇO DE RECEPTIVO O Polo Cerrado tem 68 agências e operadoras, segundo Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006), estando a maioria concentrada em Cuiabá (53 agências) e as demais distribuídas pelos outros municípios do Polo, sendo: cinco na Chapada dos Guimarães, cinco em Jaciara, quatro em Nobres e uma em Campo Verde. A maior parte delas (40 agências) atua no segmento de turismo emissivo, 18 com receptivo e 10 trabalham com os dois segmentos. Destaca-se que uma agência identificada dedica-se exclusivamente à comercialização de passagens aéreas. O turismo de lazer é a principal atividade desenvolvida pelas agências e operadoras do Polo, seguido do turismo de eventos e negócio. Entre as agências, 34% delas têm entre um e cinco anos de funcionamento, 29% estão no mercado de seis a 10 anos, outros 29% de 11 a 20 anos e 8% trabalham com turismo há mais de 20 anos, o que mostra a predominância de empresas consolidadas no mercado turístico do Polo. As agências e operadoras empregam, em média, cinco funcionários e têm um público-alvo formado por clientes com renda familiar de dois a mais de 25 salários mínimos (SEBRAE-MT, 2006). Apenas 18 agências, ou 26% da oferta total do serviço, dedicam-se à comercialização de produtos turísticos de Mato Grosso e do próprio Polo Cerrado, o que pode ser um indício da baixa demanda pelos produtos, ou ainda reflexo da comercialização direta dos produtos turísticos pelos fornecedores turísticos. Há, também, a atividade ilegal de agenciamento e condução de visitantes, que impacta diretamente sobre o mercado das agências e operadoras receptivas. A mão de obra disponível foi avaliada pelo setor privado da área de turismo como regular. Entretanto, constatou-se que, na maior parte dos casos, os funcionários acabam sendo membros da família, de forma que a atividade não gera empregos para a comunidade. Esse cenário está atrelado ao fato do empreendimento não alcançar as expectativas do investimento feito pelos proprietários. A agência Ícone, na Chapada dos Guimarães, desenvolveu um sistema de controle de reservas, chamado Ecobooking, que foi implantado e já se encontra em operação no PARNA da Chapada dos Guimarães, embora ainda passe por ajustes. A meta é manter um sistema que controle reservas, imprima vouchers e quantifique o volume de visitação. Seu funcionamento é via internet e permite uma integração entre os agentes de viagens, guias, condutores e os atrativos, sendo que já está em uso por alguns profissionais. A SEDTUR-MT oferece, em seu site36, o Guia do Turista, no qual informa a existência de 70 guias de turismo cadastrados no Polo Cerrado, distribuídos em quatro municípios, sendo: 45 em Cuiabá, 22 na Chapada dos Guimarães, dois em Jaciara e um em Nobres. De acordo com os representantes do poder público e da iniciativa privada entrevistados durante os trabalhos de campo, essa oferta é suficiente para atender à demanda atual, chamando a atenção apenas para necessidade da capacitação dos guias em idioma estrangeiro, notadamente a língua inglesa. Diversas atividades oferecidas no Polo Cerrado exigem o acompanhamento de guias, seja pela riqueza de informações existentes, pela dificuldade de acesso ou por questões de segurança. O cumprimento de normas da ABNT asseguram o nível de qualidade do serviço prestado. Verificou-se, durante as visitas de campo aos atrativos do Polo, que a apresentação pessoal dos profissionais e o nível de conhecimento técnico variam consideravelmente: alguns guias agem de forma profissional e sabem passar diversas informações sobre a fauna, flora, relevo etc., de forma correta e clara, enquanto outros se mostram completamente 36 http://www.sedtur.mt.gov.br/guiadoturista 92 ignorantes sobre a região e os atrativos. Torna-se necessária, portanto, a capacitação sobre a região, para que os guias não transmitam ao turista informações distorcidas ou equivocadas, o que pode ser bastante prejudicial, visto que muitos dos turistas que praticam atividades junto à natureza têm algum conhecimento prévio sobre as regiões que visitam e consideram relevante as informações que recebem. Outro aspecto de destaque é o fato dos guias estarem concentrados em Cuiabá e na Chapada dos Guimarães, enquanto que os municípios de Campo Verde, Nobres e Jaciara possuem poucos ou nenhum profissional. Para contornar o déficit existente, é possível a formação de pessoas da comunidade, o que facilitaria o acesso ao serviço, além de gerar ocupação e renda para a população. Atualmente, os segmentos de agenciamento e condução de visitantes sofrem com a informalidade de atividades realizadas por pessoas que abordam os turistas, em pontos como aeroporto e rodoviária, oferecendo serviços de transporte, hospedagem, passeios turísticos e condução. Tal prática, além de prejudicar agências e guias de turismo, oferece riscos ao próprio turista, pois os serviços de transporte, por exemplo, são realizados em veículos sem fiscalização pelos órgãos competentes de controle e a condução dos visitantes feita por pessoas sem treinamento ou comprometimento com o desenvolvimento do turismo no Polo. As atividades ilegais enfraquecem a oferta oficial dos serviços de receptivo e prejudicam o desenvolvimento do turismo no Polo como um todo, através da evasão de impostos, falta de segurança e qualidade, além de se constituírem concorrência desleal junto à economia formal. O próximo item analisa os atrativos turísticos do Polo Cerrado. 93 2.3.2 Atrativos turísticos Os atrativos turísticos disponíveis no Polo têm, por si só, capacidade de motivar a visitação. Porém, para o desenvolvimento e implantação de programas e atividades relacionados ao turismo, há a necessidade de criação de condições e estruturas mínimas. Assim, faz-se aqui uma breve avaliação e descrição dos principais atrativos turísticos das cidades do Polo Cerrado, conforme os segmentos de turismo já discutidos no item 2.1.2 Polo Cerrado (p. 50): aventura e ecoturismo, cultural, rural e eventos e negócios. Atualmente os períodos de maior ocupação dos atrativos turísticos são os feriados nacionais e estaduais e, principalmente, as férias escolares, com destaque para os meses de verão. Segundo os entrevistados durante os trabalhos de campo, quando ocorre o aumento da demanda nos municípios, frequentemente ocorre também a falta de infraestrutura pública, como é o caso da Chapada dos Guimarães, onde o abastecimento de água é insuficiente, o que ocasiona problemas para moradores e turistas, como está mais bem retratado a partir da p. 173. Foram relatadas também dificuldades em manter a qualidade no atendimento e a entrega de produtos e serviços turísticos. A fim de organizar e hierarquizar os atrativos para fins de análise, foram consideradas a importância deles para o público-alvo, sua expressividade e seu estado atual, determinando a situação mercadológica de cada um deles37. O resultado da análise auxilia a estudar as possibilidades de aumento do número de turistas, de aumento da permanência no Polo, aumentando também o nível de gasto, ou, ainda, de atrair segmentos turísticos mais desejáveis para a sustentabilidade do destino. Figura 20 – Hierarquização dos atrativos O nível de expressividade dos atrativos é avaliado em alto, médio e baixo, conforme familiaridade, reconhecimento e consciência dos turistas em relação aos atrativos. O estado atual do atrativo considera sua vitalidade (realização de eventos ou aproveitamento do local para atividades culturais, esportivas, educacionais etc.), estado de conservação, originalidade, acesso, comodidade e condições de recepção de turistas e é avaliado em ótimo, bom, regular ou ruim. Assim, a síntese de situação mercadológica é obtida a partir do cruzamento dos indicadores de expressividade e estado atual, e reflete, na verdade, o nível de atratividade. Dessa forma, os atrativos turísticos podem ser classificados em três cenários distintos, com 37 A metodologia adotada está baseada em Vaz, 1999. 94 situação mercadológica ou nível de atratividade considerado como viável, viável com adaptações e inviável. A Figura 20 apresenta um quadro síntese da metodologia aplicada. A seguir são apresentadas as informações e análises dos atrativos do Polo Cerrado. 2.3.2.1 TURISMO DE AVENTURA E ECOTURISMO A oferta de atrativos de turismo de aventura e ecoturismo refere-se a atividades que se utilizam de atrativos naturais. Apesar do grande potencial da região, as atividades necessitam de apoio para sua estruturação e legalização (legislação ambiental), com a implantação de sistemas de gestão ambiental e turística voltados para a proteção dos recursos naturais e valorização dos aspectos culturais regionais, além da observância de normas de segurança aplicáveis. No Polo Cerrado, os atrativos naturais são utilizados em todos os municípios – com diferenças nas infraestruturas disponíveis e na organização das atividades oferecidas, que envolvem visitas a cavernas e cachoeiras, balneários, trilhas para contemplação de paisagens do cerrado, mergulho autônomo, boia cross, rafting, rappel em cachoeiras (cascading) e arvorismo. As visitas a cavernas e cachoeiras para contemplação de paisagens são realizadas principalmente na região da Chapada dos Guimarães, que tem montanhas e vales com trilhas bem estruturadas que facilitam a atividade. No mesmo município se localiza o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, responsável pela atração de boa parte do público que visita o Polo – cabe destacar a obrigatoriedade do acompanhamento de guias de turismo nos passeios dentro do Parque. Em relação aos balneários e cachoeiras fora do PARNA, há a necessidade de uma maior preocupação com questões ambientais nos locais onde as atividades são desenvolvidas, bem como a necessidade de uma melhor ordenação. Conforme verificado, os usuários dos atrativos naturais, como os balneários, são na sua maioria oriundos da baixada cuiabana, que se dirigem a esses locais principalmente nos fins de semana e feriados e, em geral, não se hospedam no município, sendo, dessa forma, visitantes de um dia. Em Jaciara, as empresas que desenvolvem as atividades de aventura não fornecem infraestrutura para o turismo receptivo, carecendo de proporcionar maior conforto ao turista. Ficam disponíveis somente equipamentos imprescindíveis, não havendo nos locais estruturas como banheiros, vestiários e outros elementos para maior segurança e satisfação dos consumidores. O município também oferece balneários, sendo que o mais bem estruturado é o Thermas Cachoeira da Fumaça, que além de piscinas oferece caminhada em trilhas para contemplação da paisagem local e visitação a cachoeiras. Em Nobres, são praticadas atividades de mergulho autônomo na Lagoa Salobão38, boia cross e mergulho livre (também chamado de flutuação) em rios de águas cristalinas, que são o grande diferencial da região. Além desses atrativos, existem muitas cavernas com potencial para o espeleoturismo, porém todas se encontram interditadas por não terem licenciamento ambiental para a exploração de atividades turísticas. Nobres oferece ainda caminhadas em trilhas e visitas a cachoeiras, sendo que, para a visita aos atrativos, é necessária a apresentação de voucher39 adquirido nas agências de turismo receptivo da cidade. 38 39 Chamada também de Lagoa Salobrão. De acordo com TREVELIN (2004), o voucher é um documento que formaliza a contratação de serviços turísticos entre o cliente e os prestadores envolvidos em seu pacote ou roteiro turístico, podendo ser também ferramenta de recolhimento tributário, como ocorre no município de Bonito/ MS. No Polo Cerrado, o voucher é usado como um documento interno das agências de viagens para formalizar sua relação entre o turista e os prestadores de serviços envolvidos, como guias e atrativos turísticos. 95 Na Chapada dos Guimarães, os principais atrativos são a Caverna Aroê Jarí e a Lagoa Azul, que oferecem infraestrutura de atendimento com banheiros e restaurante, e exigem o acompanhamento de guia de turismo especializado em espeleologia e cadastrado no MTur e na SEDTUR-MT. Além desses atrativos, existem mirantes que podem ser visitados para observação das paisagens, trilhas e atividades de rappel. Atualmente, outros atrativos vêm sendo estruturados para o desenvolvimento de atividades de turismo na natureza. A capital Cuiabá oferece atrativos naturais basicamente de contemplação, especialmente de rios da região, como o Cuiabá, Coxipó, Claro e dos Peixes, e trilhas em parques e outras localidades. De maneira geral, o Polo Cerrado oferece contemplação da natureza com atividades em trilhas, cavernas, rios com cachoeiras, flutuação e mergulho. As atividades tipicamente de turismo de aventura precisam ser mais bem estruturadas para que o atendimento ao turista ocorra de forma organizada e segura – esse é o grande potencial da região, pois oferece desde atividades mais radicais, que exigem preparo físico, até caminhadas leves, que podem ser desenvolvidas pelo grande público, uma vez estruturadas. A seguir, são classificados e hierarquizados os atrativos relacionados ao turismo de aventura e ecoturismo. Balneário Thermas Cachoeira da Fumaça, Jaciara Localizado a 10 km da sede de Jaciara, nas coordenadas geográficas 15° 58' 48,07"S e 55° 0' 33,11"W, esse atrativo funciona todos os dias da semana e não há necessidade de agendamento. Oferece atividades turísticas de trilha interpretativa às margens do Rio Tenente Amaral e banhos de piscina e rio, sendo que na trilha é necessário o acompanhamento de monitor ou guia. Sua capacidade de atendimento diário é de no máximo 800 pessoas. O empreendimento apresenta a infraestrutura turística de melhor qualidade do Polo Cerrado, com recepção, restaurante, banheiros, vestiários, piscinas para crianças e adultos, redários e estacionamento. No restaurante são servidas comidas típicas da região e lanches. A Figura 21 apresenta a análise do atrativo. Figura 21 – Balneário Thermas Cachoeira da Fumaça, análise De acordo com o gerente do Balneário, em encontro informal ocorrido em 05 de novembro de 2009, existe a intenção de estruturar o estacionamento para, nos períodos de alta temporada, atender melhor os clientes, além de melhorar as infraestruturas da trilha 96 interpretativa para oferecer maior segurança. O gerente identifica ainda a necessidade de capacitação dos colaboradores em quase todos os setores do empreendimento. Cachoeira da Fumaça e Cachoeira da Mulata, Jaciara A Cachoeira da Fumaça e a Cachoeira da Mulata são conhecidas por oferecerem condições para a prática de cascading, também chamado de rappel em cachoeira. A atividade é desenvolvida, respectivamente, a 13 e 16 km da sede do município, nas coordenadas geográficas 15° 58' 48,19"S e 55° 2' 2,95"W e 15° 59' 29,96"S e 55° 3' 41,38"W. É desenvolvido por duas equipes capacitadas que, entretanto, não possuem empresas formalmente constituídas. É a única atividade oferecida nos locais e a capacidade de atendimento diário é de no máximo 20 pessoas por equipe. As duas cachoeiras não oferecem infraestruturas destinadas ao turismo, sendo disponibilizado ao turista apenas equipamentos técnicos necessários para realização da atividade e equipamentos de segurança. Para que a atividade ocorra é necessária a presença de dois monitores, responsáveis por montar o equipamento e dar apoio ao longo de toda a descida. Segundo os responsáveis, em encontro informal ocorrido em 5 de novembro de 2009, existe a intenção de construir uma pequena recepção e dois banheiros com vestiário nas proximidades de ambas as cachoeiras. No entanto, o fato da Cachoeira da Fumaça estar em área de terceiros e, a Cachoeira da Mulata, em área da prefeitura, dificulta a liberação dessas construções. A Figura 22 apresenta a análise do atrativo. Figura 22 – Cachoeira da Fumaça e Cachoeira da Mulata, análise Rio Tenente Amaral, Jaciara No Rio Tenente Amaral, a 13 km da sede do município, nas coordenadas geográficas 15° 58' 48,19"S e 55° 2' 2,95"W, logo abaixo da Cachoeira da Fumaça, a atividade de rafting é desenvolvida por três empresas estabelecidas no município de Jaciara. A extensão do percurso é de 2.200 metros, terminando na área vizinha ao Balneário Thermas, nas coordenadas geográficas 15° 58' 48,07"S e 55° 0' 33,11"W. Cada bote inflável pode descer o rio com até oito turistas, sempre conduzido por um instrutor/ remador. Não há infraestrutura destinada ao turismo, nem no início nem no final do passeio, sendo oferecido apenas os equipamentos técnicos e de segurança necessários para a realização da atividade. 97 A intenção de construir recepção e banheiros com vestiário das equipes que desenvolvem o cascading na Cachoeira é em parceria com as equipes de rafting (conforme encontro informal ocorrido em 06 de novembro de 2009), o que é, como mencionado, dificultado pelo fato dos atrativos estarem em áreas de terceiros. A Figura 23 apresenta a análise desse atrativo. Figura 23 – Rio Tenente Amaral, análise PARNA Chapada dos Guimarães, Circuito das Cachoeiras, Chapada dos Guimarães Localizado a 11 km da sede da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas geográficas 15° 24' 56,18"S e 55° 50' 39,61"W, o atrativo exige o acompanhamento de um guia credenciado junto ao PARNA da Chapada dos Guimarães. Oferece banhos de cachoeira e passeios em trilha interpretativa , isto é, realiza-se a interpretação do ambiente geográfico (relevo e solo), da fauna e flora. O agendamento deve ser feito até às 8h00 do dia do passeio; as terças e quartas-feiras o PARNA não abre para visitação. O local apresenta infraestrutura turística somente na área administrativa do PARNA, onde os visitantes encontram banheiros, lanchonete, estacionamento, recepção e onde ficam os guias de plantão. As trilhas estruturadas oferecem condições de segurança para as caminhadas dos turistas e não apresentam grandes dificuldades. Conhecer todos os atrativos do Circuito leva cerca de seis horas, portanto o visitante deve levar água, lanche e demais itens recomendados para caminhadas em ambientas naturais, pois não há nenhum comércio na área. No percurso, pode-se visitar a Casa de Pedra, uma gruta arenítica esculpida pelo Rio Independência, com vestígios de inscrições rupestres (ICMBio, 2010); conta a história que o lugar serviu de abrigo aos homens da Coluna Prestes durante sua viagem pelos sertões do Brasil. Também se diz que a Casa de Pedra já foi local de refúgio para escravos fugitivos. 98 Figura 24 – Circuito de Cachoeiras, Chapada dos Guimarães Fontes: FÉRIAS BRASIL, 2009 e GOEBEL, 2009 A Figura 25 apresenta a análise do atrativo. Figura 25 – Circuito de Cachoeiras, análise PARNA Chapada dos Guimarães, Mirante do Véu da Noiva, Chapada dos Guimarães Localizada a 11 km da sede da Chapada dos Guimarães (Figura 26), dentro do PARNA, nas coordenadas geográficas 15° 24' 31,91"S e 55° 49' 58,68"W, a Cachoeira Véu da Noiva encontra-se na mesma região do Circuito de Cachoeiras verificado anteriormente, mas para visitar o Mirante não há necessidade de acompanhamento de guia. Após um acidente em 2008, quando morreu uma pessoa no Véu de Noiva, houve mudanças nas regras de uso público do Parque, que ficou um longo período fechado para 99 visitação. Reaberto depois de mais de um ano, o estacionamento ficou apenas na entrada do local e o acesso às cachoeiras está sendo controlado, só podendo ser feita a visita ao Mirante. Figura 26 – Cachoeira Véu da Noiva, Chapada dos Guimarães A trilha que leva ao Mirante do Véu de Noiva tem 550 m de extensão em área aberta e terreno irregular. Recomenda-se que o visitante evite os horários mais quentes do dia e use roupas e calçados adequados para caminhada. O atrativo fica aberto de quarta-feira até segunda-feira, das 09h00 às 16h30 e é fechado para visitas às terças-feiras. O limite de capacidade é de 120 pessoas simultâneas no Circuito. A entrada é franca e o controle é feito por monitores da Prefeitura Municipal da Chapada dos Guimarães. Embora não seja obrigatório o acompanhamento de guias, os visitantes que optarem pelo serviço podem solicitá-lo na sede do PARNA, sendo que o pagamento é feito diretamente ao profissional; existe também a opção de contratar os serviços em uma agência de turismo da cidade. No Mirante não há infraestrutura de apoio, disponível somente na sede do PARNA, que dista cerca de 3 km do atrativo, e é composta de banheiros, lanchonete, estacionamento e recepção, onde ficam os guias de plantão. A Figura 27 apresenta a análise do atrativo. 100 Figura 27 – Cachoeira Véu da Noiva, análise Caverna Aroê Jarí e Lagoa Azul, Chapada dos Guimarães Localizadas a 35 km da sede da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas geográficas 15° 36' 2,31"S e 55° 28' 42,32"W, as cavernas estão abertas para visita todos os dias da semana e não há necessidade de agendamento. O acesso para os atrativos se dá através da BR-251 e por uma estrada vicinal em leito natural que, em determinados trechos, é esburacada. Não há manutenção constante e a trafegabilidade em épocas de chuvas pode ser dificultada ou mesmo impedida. Figura 28 – Caverna Aroê Jarí, Chapada dos Guimarães Há atividades de trilha interpretativa, visita às cavernas Aroê Jarí (Figura 28) e Lagoa Azul e banho de cachoeira. Em todas as atividades é exigido o acompanhamento de guia. A capacidade de atendimento diário dos dois atrativos é de, no máximo, 80 pessoas. 101 O empreendimento apresenta uma infraestrutura turística simples, tendo recepção com restaurante, banheiros, área de estacionamento e redário. No restaurante são servidas comidas típicas da região, simples e saborosas. A Figura 29 apresenta a análise do atrativo. Figura 29 – Caverna Aroê Jarí e Lagoa Azul, análise De acordo com informações do responsável pelo atrativo, em encontro informal ocorrido em 09 de novembro de 2009, existe a intenção de estruturar o estacionamento para, nos períodos de alta temporada, atender melhor os visitantes e melhorar as infraestruturas de recepção e restaurante. O responsável identifica também a necessidade de capacitação dos colaboradores em quase todos os setores do empreendimento. Mirante do Centro Geodésico, Chapada dos Guimarães Localizado a 8 km da sede da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas 15° 28' 46,41"S e 55° 41' 15,78"W, o atrativo é um mirante, não exigindo o acompanhamento de guia e oferecendo a contemplação da área de planície abaixo da chapada. Sem infraestrutura turística satisfatória, há apenas algumas placas informativas em quantidade insuficiente e um vendedor de água de coco, que oferece cadeiras plásticas para seus clientes, conforme se pode ver na Figura 30. 102 Figura 30 – Mirante do Centro Geodésico, Chapada dos Guimarães A Figura 31 apresenta a análise do atrativo. Figura 31 – Mirante do Centro Geodésico, análise 103 Mirante do Morro dos Ventos, Chapada dos Guimarães Localizado na área urbana da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas geográficas 15° 29' 2,50"S e 55° 44' 46,64"W, o mirante tem livre acesso todos os dias da semana. O local fica dentro de um condomínio residencial e há cobrança de taxa de visitação. Atualmente oferece apenas a contemplação da área de planície abaixo da chapada. Figura 32 – Mirante do Morro dos Ventos, Chapada dos Guimarães O local apresenta excelente infraestrutura turística e conta com um restaurante e uma loja de artesanato, também chamado Morro dos Ventos, como pode ser verificado na Figura 32. A Figura 33 apresenta a análise do atrativo. Figura 33 – Mirante do Morro dos Ventos, análise 104 Ninho das Águias, Chapada dos Guimarães Localizado a 10 km da sede da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas geográficas 15° 28' 25,12"S e 55° 49' 27,95"W, o atrativo exige o acompanhamento de guia. As atividades oferecidas são contemplação da área de planície abaixo da chapada e trilha interpretativa até a planície. Figura 34 – Ninho das Águias, Chapada dos Guimarães Fonte: EU JÁ FUI, 2009 O local não apresenta infraestrutura turística, apenas algumas placas informativas. A Figura 35 apresenta a análise do atrativo. Figura 35 – Ninho das Águias, análise 105 Balneário e Cachoeira Salgadeira, Chapada dos Guimarães Localizado a 18 km da sede da Chapada dos Guimarães, nas coordenadas geográficas 15° 21' 24,82"S e 55° 49' 47,00"W, o atrativo funciona todos os dias da semana e não há necessidade de agendamento, nem de acompanhamento de guia. Atualmente oferece banho de rio e de cachoeira. Figura 36 – Balneário e Cachoeira Salgadeira, Chapada dos Guimarães O atrativo apresenta infraestrutura turística para atender grande quantidade pessoas, tendo recepção com restaurante, banheiros, área de estacionamento, redário, churrasqueiras e vestiário. A Figura 37 apresenta a análise do atrativo. Figura 37 – Balneário e Cachoeira Salgadeira, análise 106 Cachoeiras da Martinha, Chapada dos Guimarães O complexo das Cachoeiras da Martinha é composto por cinco quedas, com alturas que variam de um a 10 metros, com o maior volume de água do município da Chapada dos Guimarães. Localizadas no Rio da Casca, na divisa da Chapada de Guimarães e Campo Verde, há sítios arqueológicos do período colonial (SECOM-MT, 2007). O entorno dos rios Casca e Quilombo foi palco da ocupação de inúmeros engenhos no século XVIII, sendo que restam apenas vestígios das edificações construídas por escravos. Pesquisas do Instituto de Ecossistemas e Populações Tradicionais (ECOSS) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) localizaram ruínas de um engenho do final do século XVIII, que constitui importante sítio arqueológico nas proximidades do complexo das Cachoeiras da Martinha. A SEC-MT realizou o tombamento dos bens materiais e naturais e dos monumentos históricos naturais e paisagísticos, presentes no atrativo, conforme Lei 3.774, de 20/06/1976 (SECOM, 2007). Dentre os bens naturais tombados, além das cinco quedas do complexo, está a nascente conhecida como Olho d‟Água, descoberta durante as investigações para o tombamento. Já no sítio arqueológico constituído pelo engenho, destaca-se a preservação de paredes e esteios na posição original, fornos e fossos da fabricação da cachaça e canal de escoamento da água para movimentação da roda d‟água. A área tombada é de aproximadamente 79 ha, que somada à área de entorno totaliza 150 ha (SECOM-MT, 2007). A Figura 38 mostra um pouco da paisagem das Cachoeiras da Martinha. Figura 38 – Cachoeiras da Martinha, Chapada dos Guimarães Fonte: (A) ECOVIAGEM, 2010; (B) OKAMURA, 2010; (C) PICASA, 2010; (D) FLICKR, 2010 As cachoeiras são utilizadas, principalmente, pelos moradores de Campo Verde, Chapada dos Guimarães e Cuiabá, sendo que o atrativo não oferece nenhuma infraestrutura turística e nem controle de visitação. Como fica às margens da BR-251, que liga Chapada dos Guimarães a Campo Verde, os visitantes estacionam na beirada da rodovia e vão até às cachoeiras para se banhar; é comum levarem e consumirem alimentos e bebidas no local, sendo que muitas vezes os resíduos não são descartados apropriadamente, gerando impactos negativos no ambiente. A Figura 39 apresenta a análise do atrativo. 107 Figura 39 – Cachoeiras da Martinha, análise Aquário Encantado, Nobres Localizado a 55 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 14° 35' 45,33"S e 55° 57' 56,43"W, o atrativo funciona todos os dias da semana e, para visitação, não há necessidade de agendamento. Oferece trilha interpretativa e flutuação no Rio Salobra, sendo que para ambas é necessário o acompanhamento de monitor ou guia. Figura 40 – Aquário Encantado, Nobres O atrativo conta com recepção, restaurante, banheiros com vestiário, estacionamento, apartamentos para hospedagem e sala de equipamentos para a flutuação. 108 Figura 41 – Equipamentos para flutuação, Aquário Encantado, Nobres A Figura 42 apresenta a análise do atrativo. Figura 42 – Aquário Encantado, análise Balneário Estivado, Nobres Localizado a 66 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 14° 32' 41,67"S e 55° 51' 45,36"W, funciona todos os dias da semana, com agendamento. Oferece banho de rio e não é necessário o acompanhamento de monitor ou guia. 109 Figura 43 – Balneário Estivado, Nobres O empreendimento apresenta infraestrutura turística simples, como pode ser visto na Figura 43, com uma recepção, restaurante e banheiros. No restaurante são servidas comidas típicas da região e lanches. A Figura 44 apresenta a análise do atrativo. Figura 44 – Balneário Estivado, análise A proprietária, conforme encontro informal ocorrido em 13 de novembro de 2009, tem interesse de reestruturar a construção a 100 metros da margem do rio e ampliar todas as infraestruturas existentes 110 Cachoeira Serra Azul, Nobres Localizada a 85 km da sede de Nobres, pertence politicamente ao município de Rosário Oeste, nas coordenadas geográficas 14° 35' 3,19"S e 55° 45' 26,70"W. Entretanto, apesar de não pertencer a Nobres, é por meio desse município que se tem acesso ao atrativo. Funciona todos os dias da semana, com necessidade de agendamento prévio. Oferece trilha interpretativa e banho de cachoeira, sendo necessário o acompanhamento de monitor ou guia para as duas atividades. Figura 45 – Cachoeira Serra Azul, Nobres O atrativo possui uma excelente infraestrutura turística com recepção, restaurante, banheiros, vestiários, estacionamento, sala de equipamentos e alojamento para pesquisadores. A Figura 46 apresenta a análise do atrativo. Figura 46 – Cachoeira Serra Azul, análise 111 Cachoeira do Tombador, Nobres Localizada a 13 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 14° 37' 36,06"S e 56° 16' 33,77"W, a cachoeira (Figura 47) não tem nenhuma estrutura formal para receber turistas, sendo que a visitação ocorre de forma indiscriminada e sem autorização da empresa proprietária da área. Figura 47 – Cachoeira do Tombador, Nobres Parte da história do município de Nobres, tem em seu entorno um caminho de pedras construído pelos Bandeirantes para o desbravamento do norte de Mato Grosso. Outro atrativo cultural que o local apresenta são as ruínas das moradias dos funcionários da usina, construída em 1948, ao lado da queda d‟água. Com a atual forma de visitação, o local tem sofrido impactos no que se refere ao lixo deixado pelos visitantes e ao uso da trilha. Além disso, a maneira como a trilha está estruturada apresenta risco ao usuário. A Figura 48 apresenta a análise desse atrativo. Figura 48 – Cachoeira do Tombador, análise 112 Duto do Quebó e Caverna da Cerquinha, Nobres Localizado a 90 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 14° 26' 26,39"S e 56° 1' 15,56"W, o atrativo funciona todos os dias da semana e não é necessário agendamento prévio. O local oferece trilha interpretativa e espeleoturismo, sendo necessário o acompanhamento de monitor ou guia para as duas atividades. No entanto, atualmente, apenas a trilha que leva à caverna encontra-se aberta; por falta de Plano de Manejo, a Caverna está fechada para visitação segundo determinação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Figura 49 – Duto do Quebó e Caverna da Cerquinha, Nobres O atrativo não tem infraestrutura turística e, quando havia visitação, os turistas eram recepcionados na casa da proprietária do terreno onde está a caverna – o atrativo está em área de assentamento rural. A Figura 50 apresenta a análise do atrativo. Figura 50 – Duto do Quebó e Caverna da Cerquinha, análise Lagoa do Salobão, Nobres Localizada a 12 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 40' 36,58"S e 56° 14' 1,09"W, o atrativo funciona todos os dias da semana e exige agendamento prévio para visitas. Oferece mergulho autônomo e mergulho livre, sendo que para as duas modalidades é preciso o acompanhamento de um instrutor ou divemaster. 113 Figura 51 – Lagoa Salobão, Nobres Fonte: TOCA DO MERGULHO, 2009 A infraestrutura disponível é simples, porém adequada, suprindo as necessidades dos visitantes. A Figura 52 apresenta a análise do atrativo. Figura 52 – Lagoa Salobão, análise Lagoa das Araras, Nobres Localizada a 65 km da sede de Nobres, na Vila de Bom Jardim, nas coordenadas geográficas 14° 33' 43,36"S e 55° 52' 28,81"W, fica aberta todos os dias da semana e há necessidade de agendamento e pagamento de taxa de visitação. Os atrativos são a contemplação do por do sol e do sobrevoo das araras canindés (Ara ararauna). 114 Figura 53 – Lagoa das Araras, Nobres Fonte: AVENTURATUR EXPEDIÇÕES, 2009 O local tem infraestrutura simples, com alguns bancos e uma plataforma de madeira, porém adequada, suprindo as necessidades dos visitantes. A Figura 54 apresenta a análise do atrativo. Figura 54 – Lagoa das Araras, análise Reino Encantado, Nobres Localizado a 58 km da sede de Nobres, nas coordenadas geográficas 14° 35' 25,88"S e 55° 57' 43,17"W, o atrativo funciona todos os dias da semana, mediante agendamento. Tem trilha interpretativa e flutuação no Rio Salobra, sendo necessário o acompanhamento de monitor ou guia para as duas atividades. 115 Figura 55 – Reino Encantado, Nobres O empreendimento conta com recepção, restaurante, banheiros com vestiário, estacionamento, apartamentos para hospedagem e sala de equipamentos para flutuação. A Figura 56 apresenta a análise do atrativo. Figura 56 – Reino Encantado, análise Rio Triste, Nobres A 100 km da sede de Nobres, pertence politicamente ao município de Rosário Oeste, nas coordenadas geográficas 14° 36' 26,25"S e 55° 43' 20,88"W. Entretanto, apesar de não pertencer a Nobres, é por esse município que se tem acesso ao atrativo. O local funciona todos os dias da semana, com necessidade de agendamento. Realiza a atividade de flutuação no Rio Triste, com acompanhamento de monitor ou guia. 116 Figura 57 – Rio Triste, Nobres O empreendimento tem recepção, banheiros com vestiário, estacionamento e sala de equipamentos para a flutuação. Na visita de campo constatou-se a presença de muitas arraias (Potamotrygon sp.), que podem oferecer graves riscos aos visitantes. A Figura 58 apresenta a análise do atrativo. Figura 58 – Rio Triste, análise Gruta da Lagoa Azul, Nobres A Gruta da Lagoa Azul fica na Gleba Coqueiral, em Nobres, e está dentro do Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul, criado em 09/06/2000 com o objetivo de conservar e preservar a fauna, a flora e as cavernas em uma área de 12.512 ha. A beleza da Gruta está nos grandes espeleotemas do tipo estalactites, cortinas e travertinos, que transformam seu interior em um local que desperta interesse. Contudo, o estado de conservação do atrativo está bastante prejudicado, tendo sido depredado e 117 destruído, principalmente, pelo turismo desordenado. Atualmente, está fechado para visitação, por determinação do IBAMA, por não contar com um Plano de Manejo definido e aprovado. Foi identificado em sua entrada, pela arqueóloga Suzana Hirooka, um cemitério do povo indígena Bororo, que também encontra-se depredado. A Figura 59 mostra imagens da Gruta da Lagoa Azul. Figura 59 – Gruta da Lagoa Azul, nobres Fonte: (A, B e C) CIDADES DE MATO GROSSO, 2008; (D) GIANNINI, 2010 A Figura 60 apresenta a análise do atrativo. Figura 60 – Gruta da Lagoa Azul, análise 118 2.3.2.2 TURISMO CULTURAL O turismo cultural é pouco desenvolvido no Polo Cerrado, com exceção de Cuiabá e Campo Verde, que oferecem atrativos de forma estruturada. Cuiabá se destaca pelas manifestações folclóricas como o siriri e o cururu, além do boi-àserra e o rasqueado. Outras manifestações importantes da cultura popular são a Festa do Senhor Divino, as artes plásticas, a culinária cuiabana e a música regional. Alguns espaços culturais são a Casa da Cultura (atual sede da Secretaria Municipal de Cultura), o Museu do Rio e o Espaço Liu Arruda. Em Campo Verde, o Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce tem acervo relacionado com o telégrafo e também apresenta informações do distrito de Capim Branco e da história de Marechal Rondon. Já na Chapada dos Guimarães há algumas edificações, como a Igreja Santana do Sacramento, de 1751, e eventos culturais, como o Festival de Inverno e o Chapada in Jazz. No município de Nobres encontram-se sítios arqueológicos, o Centro de Tradições Nobrense de Siriri e Cururu e a Cachoeira do Tombador, importante por seu entorno histórico, tombado pela Secretaria de Cultura do Estado. Em Jaciara há atrativos, ainda que com visitação incipiente, de turismo arqueológico (pinturas rupestres) e pedagógico, estruturados apenas em uma trilha. Grande parte dos visitantes são acadêmicos de cursos ligados à arqueologia e história ou interessados no assunto. Atualmente somente dois guias de turismo podem conduzir os grupos na área, pois são os únicos guias capacitados e autorizados pelos proprietários do local. Assim, de modo geral, o turismo cultural no Polo está ligado às manifestações e tradições populares e ao artesanato, podendo ser mais bem desenvolvido principalmente no que se refere ao turismo arqueológico. Cabe a ressalva de que os patrimônios arqueológicos registrados pelo IPHAN não são necessariamente atrativos turísticos, mas têm importante potencial turístico a ser explorado. Os municípios do Polo têm registros de sítios arqueológicos distribuídos da seguinte forma: 53 na Chapada dos Guimarães, dez em Jaciara, oito em Cuiabá, um em Campo Verde e um em Nobres – ressalta-se que são registros e não tombamentos do patrimônio arqueológico; portanto, não é possível dizer, em um primeiro momento, quais as condições de preservação de cada um deles. A seguir, são classificados e hierarquizados os atrativos culturais. Cururu e siriri O cururu e o siriri são manifestações culturais muito importantes em todo Mato Grosso, encontradas em todos os Polos do estado. Trata-se de uma espécie de canto e dança específicos, realizados segundo o calendário anual de festas dos santos católicos, como, por exemplo, na comemoração do dia de São Sebastião ou de Santo Antônio, respectivamente nos dias 20 de janeiro e 13 de junho. Durante as comemorações, reúnem-se os recursos necessários para os festejos de devoção aos santos, quando diversas funções são conduzidas: primeiro ocorre o cururu, depois há a reza e a ladainha40 para o santo, forma-se o reinado, ergue-se o mastro e, então, prossegue a cantoria dos cururueiros madrugada adentro. A orquestra do cururu é 40 Canto cerimonial baseado em textos da liturgia católica; é uma prece cantada para evocar a proteção de Deus, Jesus, Virgem Maria e santos (CNFCP, 2010). 119 composta da viola de cocho41 e do ganzá42; no caso do siriri, adiciona-se o mocho43 (FONSECA, 2006). Figura 61 – Cururu e Siriri, Cuiabá Fonte: SEC-MT, 2010 O siriri é uma suíte de danças realizadas aos pares. Sua prática pode se dar tanto durante as festas tradicionais dos santos padroeiros e de maneira independente, como expressão folclórica, à moda de uma quadrilha. Os passos executados pelos dançarinos são chamados de fornadas, destacando-se a nhandaia, a serra e a ciranda. Os homens tocam e puxam versos entoando em solo a primeira parte da estrofe, sendo o último verso sempre cantado pelos demais participantes (FONSECA, 2006). A Figura 62 apresenta a análise do atrativo. Figura 62 – Cururu e siriri, análise 41 Instrumento musical do grupo dos alaúdes curtos, produzida por mestres artesãos, violeiros e cururueiros (CNFCP, 2010). 42 Instrumento musical de percussão utilizado em vários ritmos brasileiros, sendo classificado como um idiofone executado por agitação. Chocalho feito de folha-de-flandres em cujo interior colocam-se sementes, pedrinhas ou grãos de chumbo, podendo ser munido de cabo (CNFCP, 2010). 43 Instrumento cujo som é obtido pela percussão da membrana por baquetas. Sua estrutura em madeira é semelhante a um banco para sentar (CNFCP, 2010). 120 Boi-à-serra O boi-à-serra é um folguedo44 do carnaval mato-grossense, quase sempre ligado à religiosidade do povo. Porém, segundo alguns autores45, o boi-à-serra pode ser dançado em qualquer festa. Figura 63 – Boi-à-serra Fonte: SEC-MT, 2010 A manifestação folclórica, comum em diversas regiões do Brasil, trata de bois bravios que vivem em liberdade e, no caso do boi-à-serra, canta-se e dança-se a coragem e força dos peões que conseguem capturar os bois que vivem nas serras, distantes das áreas habituais de manejo do gado. Atualmente, quando ocorre a dança, o responsável pela confecção do boi deve dar um nome a ele, a partir de alguma característica que ele tenha, seja devido à cor do tecido que o reveste, ao seu brilho ou a alguma parte cômica da figura do boi. Os instrumentos musicais usados no boi-à-serra são a viola de cocho e o ganzá, sendo que sempre que o boi-à-serra surge inserido na dança do siriri nota-se ainda a presença do mocho. A Figura 64 apresenta a análise do atrativo. 44 Atividade ritual que se expressa como manifestação coletiva composta de elementos dramático, musical e coreográfico. Em geral, organiza-se ao longo de reuniões periódicas para os ensaios dos integrantes, que são mais ou menos constantes. A divisão de trabalho e a hierarquia interna dos grupos exigem certa permanência, contribuindo para a manutenção de um padrão básico. O folguedo integra dimensões festivas, musicais, estéticas e dramáticas (CNFCP, 2010). 45 Vide, por exemplo, O Portal do Brasil (2010). 121 Figura 64 – Boi-à-serra, análise Rasqueado Em Mato Grosso, as expressões musicais „rasqueado cuiabano‟ ou „dança popular matogrossense‟ trazem no seu processo histórico toda uma saga, que começou após o fim da Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai), quando os prisioneiros e refugiados da Retomada de Corumbá ficaram confinados à margem direita do Rio Cuiabá, atualmente cidade de Várzea Grande. Isso permitiu a proximidade e interação de pessoas de diferentes culturas, originando um ritmo de música e dança a partir da polca paraguaia, por conta dos paraguaios retidos em Mato Grosso, e do siriri e cururu dos cuiabanos ribeirinhos (RASQUEADO CUIABANO, 2010). Figura 65 – Rasqueado cuiabano Fontes: SEC-MT, 2010 e Abril, 2010 A Associação do Rasqueado Cuiabano Mato-Grossense tem o objetivo de difundir o ritmo e valorizá-lo como um símbolo do estado e da própria cidade de Cuiabá. Para isso, é mantido um site46, no qual é possível encontrar informações sobre os artistas, os instrumentos utilizados, a história do Rasqueado e a discografia existente. 46 http://www.rasqueadocuiabano.com.br/ 122 A Figura 66 apresenta a análise do atrativo. Figura 66 – Rasqueado, análise Igreja Santana do Sacramento, Chapada dos Guimarães Na região central da cidade da Chapada dos Guimarães, na Praça D. Wunibaldo, a igreja histórica, tombada pelo IPHAN, foi construída em 1751 e teve sua cobertura de palha substituída por outra mais resistente em 1779, com estilo barroco. Figura 67 – Igreja Santana do Sacramento, Chapada dos Guimarães Fonte: FÉRIAS BRASIL, 2009a Em sua construção foi usada mão de obra indígena para socar as paredes que, nessa região, são de terra pilada. A igreja tem conservado seu altar pintado com ouro. As instalações foram reformadas em 1996 e, atualmente, está em funcionamento regular. A Figura 68 apresenta a análise do atrativo. 123 Figura 68 – Igreja Santana do Sacramento, análise Centro Cultural Casa Cuiabana, Cuiabá Espaço cultural voltado para a promoção de atividades como resgate das tradições religiosas cuiabanas, divulgação e preservação dos costumes culinários, datas comemorativas, eventos culturais e oficinas. Seu projeto foi executado para funcionar como um espaço cultural de uso múltiplo, contando, inclusive, com um teatro de arena que se configura como mais uma alternativa para os grupos artísticos regionais. A sede do Centro Cultural é um dos mais expressivos exemplares arquitetônicos da Cuiabá do século XVIII (SEC-MT, 2010a). Localizada na R. General Valle, esquina com a Travessa Frei Ambrósio, a Casa Cuiabana é uma construção colonial em taipa e adobe, sobre alicerces em pedra canga. Um dos detalhes interessantes da edificação é a manutenção da ambiência de um quintal cuiabano tradicional. O tombamento do imóvel foi feito pela portaria 27/83, constando no Diário Oficial do Estado de 13/06/1983 (SEC-MT, 2010a). Atualmente, o atrativo encontra-se fechado para restauração e revitalização. A Figura 69 apresenta a análise do local. Figura 69 – Casa da Cultura, análise 124 Museu do Rio Hid Alfredo Scaff e Aquário Municipal, Cuiabá Localizado na Av. Beira Rio, Porto a 3 km do centro de Cuiabá, o atrativo funciona de terça a domingo, das 9h00 às 21h00, com entrada franca (TG, 2010). O Museu é uma construção de 1899 tombada pelo Governo do Estado em 1983, através da portaria nº 26/83, com publicação no Diário Oficial em 13/06/83 (TG, 2010). Originalmente, as instalações abrigavam o Mercado Municipal e do Peixe, que perdeu ao longo do tempo suas características. Recuperado pela Prefeitura Municipal de Cuiabá, em 1999, o imóvel passou a abrigar o Museu do Rio Hid Alfredo Scaff e, ao lado da construção, fica o Aquário Municipal. A função do Museu é contribuir para a recuperação da memória do bairro do Porto e dos municípios da beira do rio Cuiabá. Figura 70 – Museu do Rio, Cuiabá Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2009 O Museu é administrado pela Secretaria Municipal de Cultura, e realiza eventos e exposições que servem como polo criador e articulador de vivências e pesquisas sobre a arte e a cultura popular mato-grossense. A Figura 71 apresenta a análise do atrativo. Figura 71 – Museu do Rio, análise 125 Festa do Senhor Divino, Cuiabá Celebrada em diversos municípios de Mato Grosso, a Festa do Divino é representada pela pomba, símbolo da paz, que figura em grandes bandeiras de cetim vermelho e branco. Os festeiros, responsáveis pelo evento, geralmente são escolhidos num concorrido sorteio solene. Cada festeiro assume uma insígnia sagrada, que carrega durante toda a esmola e procissão: a coroa é levada pelo Imperador, o cetro pela Imperatriz, a bandeira rica pelo Alferes da Bandeira e a bandeira pobre pelo Capitão do Mastro (O PORTAL DO BRASIL, 2010). O principal elemento desse ritual é o Mestre, que guarda detalhado conhecimento das práticas, aptidão para música e capacidade de liderança. O seu mandato é vitalício. Quando há a presença dos „foliõezinhos‟, o Mestre também é responsável pela escolha e treino dos meninos, que entoarão os cantos sagrados durante a esmola e a festa propriamente dita. Os músicos ou tocadores são, com frequência, em número de três: o Mestre, tocando a viola, o Contramestre, que é o tocador de sanfona e um tocador de bumbo (O PORTAL DO BRASIL, 2010). Figura 72 – Festa do Senhor Divino, Cuiabá Segundo a Arquidiocese de Cuiabá (2009), o Divino Espírito Santo começou a ser festejado em Portugal, no início do século XIV. Os festejos surgiram no Brasil nos tempos coloniais, no reinado de Dom João VI. No século XVII espalhou-se por todas as colônias portuguesas. A Festa do Divino tornou-se tradicional e se cristalizou em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso e Goiás. Curiosamente, a denominação de imperador para o principal festeiro do evento originou-se do fato de Dom Pedro I ter sido Imperador e não Rei do Brasil. As festas que se destacam são de Vila Bela de Santíssima Trindade e de Cuiabá, devido à importância religiosa e histórica para as populações. A Figura 73 apresenta a análise do atrativo. 126 Figura 73 – Festa do Senhor Divino, análise Vale das Perdidas, Jaciara Localizado a 15 km da sede de Jaciara, nas coordenadas geográficas 15° 53' 46,18"S e 55° 3' 34,73"W. Trata-se de um sítio arqueológico em abrigo sob rochas, sendo que nos paredões são exibidas pinturas rupestres de 3.610 a 4.620 anos existência. É um dos raros sítios que conta com representações humanas, de animais e de rituais. O atrativo fica aberto todos os dias da semana, porém há a necessidade de agendamento prévio. Oferece as atividades turísticas de trilha interpretativa e contemplação de pinturas rupestres. Sua capacidade de atendimento diário é de no máximo 40 pessoas, sendo obrigatório o acompanhamento de um guia de turismo cadastrado no atrativo. O empreendimento (Figura 74) apresenta como infraestrutura turística somente uma trilha interpretativa, que necessita de manutenção mais frequente. Figura 74 – Vale das Perdidas, Jaciara (muro) O proprietário, em conversa informal ocorrida em 07 de novembro de 2009, declara ter a intenção de construir uma recepção com lanchonete e banheiros. Há necessidade de contratação de funcionários para recepcionar o turista, haja vista que isso é feito atualmente pelo pai do proprietário, que não se mostra preparado para a função, pois não transmite informações mínimas sobre o atrativo. Após a estruturação, estratégias de divulgação do atrativo devem ser desenvolvidas. A Figura 75 apresenta a análise do atrativo. 127 Figura 75 – Vale das Perdidas, análise Sítios arqueológicos, Nobres Existem dois sítios arqueológicos de grande valor científico catalogados nas fazendas Santa Luzia e Sonho Dourado, com pinturas e inscrições rupestres, que atestam a antiguidade da vida humana na região. Porém, por falta de infraestrutura turística, atualmente estão fechados para visita (DECOTUR, 2010). A Figura 76 apresenta a análise dos sítios. Figura 76 – Sítios arqueológicos, análise Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce, Campo Verde Localizado a 25 km da sede de Campo Verde, nas coordenadas geográficas 15° 32' 55,93"S e 55° 1' 7,35"W, o atrativo funciona de terça a sábado e não há necessidade de agendamento. Oferece aos visitantes informações históricas de Mato Grosso, focando 128 principalmente a história do povoado do Capim Branco e do Capitão Cândido Mariano da Silva Rondon (Marechal Rondon)47. Figura 77 – Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce, Campo Verde Fonte: Trabalho de campo e SECOM-MT, 2010 Conta com exposição de antigos objetos e documentos, e abriga reproduções de fotografias dos pioneiros desbravadores, assim como dos primeiros migrantes sulistas a explorar a região. Esses últimos, responsáveis por tornar o município e a região uma referência nacional e internacional com suas agroindústrias em grandes lavouras de algodão, soja e milho. O empreendimento apresenta infraestrutura em excelente estado de conservação, com banheiros e, em frente ao Museu, um restaurante de comidas típicas da região. Não é necessário o acompanhamento de monitor ou guia. A Figura 78 apresenta a análise do atrativo. Figura 78 – Museu Estação Telegráfica Coronel Ponce, análise 47 O título (patente) de Marechal foi concedido ao Capitão Rondon pelo Congresso Nacional, em 1955, quando ele completou 90 anos. Por esse motivo, existe a variação da patente em sua documentação biográfica. 129 Casa do Artesão, Cuiabá Situada na Rua 13 de Junho, no bairro do Porto, a Casa do Artesão oferece uma bela amostra da cultura mato-grossense. O local abriga o Museu do Artesanato, com exposição permanente de peças caboclas e indígenas, que estão à venda juntamente com outros suvenires. Figura 79 – Casa do Artesão, Cuiabá Fontes: PANORAMIO, 2010, E-MATO GROSSO, 2010 e MTUR, 2010 Segundo a SEC-MT (2010b), a construção funcionou como estabelecimento de ensino desde a sua inauguração, em 1910, até o ano de 1975 quando, em 15 de maio, passou a abrigar a Casa do Artesão. Em 15 de novembro de 1983 o local foi tombado pela Fundação Cultural de Mato Grosso, passando a fazer parte do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, conforme a Portaria nº 57/83, D.O. 09/01/84. A Figura 80 apresenta a análise do atrativo. Figura 80 – Casa do Artesão, análise 130 SESC Arsenal, Cuiabá O Serviço Social do Comércio de Mato Grosso (SESC-MT) mantém a unidade Arsenal, com centro cultural, museu e teatro. Construída em 1818, por ordem de Dom João VI, a edificação funcionou como um estabelecimento militar para conserto e fabricação de armas; hoje, encontra-se restaurada e oferece apresentações culturais, exposição e venda de artesanatos e comidas típicas, além de contar com excelente bar. Figura 81 – SESC Arsenal, Cuiabá As exposições normalmente acontecem somente às quintas-feiras, quando ocorre a programação denominada Bulixo – SESC Arsenal, que atrai muitas pessoas do próprio município e também visitantes de outros lugares. A Figura 82 apresenta a análise do atrativo. Figura 82 – SESC Arsenal, análise 131 Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, Cuiabá A Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho está localizada no alto do Morro do Seminário, ao lado do Seminário da Conceição, em Cuiabá. Foi uma das primeiras a serem construídas no município, ainda no século XVIII. A construção atual, entretanto, com características neogóticas, data de 1918 e foi erguida durante o governo estadual de Dom Francisco de Aquino Correia, que também era arcebispo de Cuiabá na época. Tombada, juntamente com o Seminário da Conceição, pela SEC-MT em 1977, passou por processo de reforma recentemente, tendo sido reaberta em 2004. Em 1994, a Lei 3.265, declarou a Igreja como “Símbolo Cuiabano de Tradição e Cultura” do Município de Cuiabá (ROMANCINI, 2008). A Figura 83 mostra o atrativo e a apresenta sua análise. Figura 83 – Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, Cuiabá Fonte: WIKIPEDIA, 2010 Figura 84 – Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, análise 132 Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, Cuiabá Localizada na Praça do Rosário, no centro histórico de Cuiabá, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito foi contemplada com o primeiro tombamento federal em Cuiabá, sendo inscrita no Livro Tombo de Belas Artes e no Livro Tombo Histórico do IPHAN, em 4 de dezembro de 1975. A proteção abrange, além do próprio monumento, todos os equipamentos do interior da igreja, entre eles retábulos, imagens, alfaias e mobiliário antigo (ROMANCINI, 2008). O atrativo é um dos principais símbolos da cultura cuiabana, espaço da festa de São Benedito, maior expressão da religiosidade popular dos cidadãos cuiabanos. Com mais de 280 anos de tradição, a festa de São Benedito é considerada pela comunidade como um tempo de festejos e celebrações, que se inicia com um mês de antecedência, tendo como ponto culminante o primeiro domingo do mês de julho (ROMANCINI, 2008). Por constituir uma permanência na paisagem, por quase três séculos, a igreja é, nos dias atuais, o principal referencial da memória da sociedade cuiabana (ROMANCINI, 2008). A Figura 85 mostra imagens do atrativo. Figura 85 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, Cuiabá Fontes: CONHECENDO MATO GROSSO, 2010; MOCHILEIRO, 2010 A Figura 86 apresenta a análise do atrativo. 133 Figura 86 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, análise Museu do Morro da Caixa D’Água Velha, Cuiabá O Museu do Morro da Caixa D‟Água Velha é vinculado à Secretaria de Cultura de Cuiabá e está aberto para visitação de terça-feira a domingo, não há necessidade de agendamento prévio e existe uma taxa de visitação que, atualmente, é de R$2,00. Palco do primeiro reservatório de água da capital, que funcionou de 1882 até o início da década de 50, o atrativo foi entregue à população em novembro de 1882, sendo que durante 142 anos abasteceu a cidade; a partir de 1950, teve sua estrutura abandonada. Em 1991, o local foi elevado ao status de Patrimônio Municipal, por meio de um projeto de lei da Câmara Municipal. Em 2007, após sua restauração, o Museu abriu as portas para a visitação turística. Hoje, carece de investimentos em equipamentos para melhor se adequar para a recepção do público. O reservatório comportava 1,2 milhões de litros, suficientes para garantir o abastecimento aos 25 mil moradores de Cuiabá da época. As caixas d‟água submersas, formadas por duas galerias, recebiam água direto do Rio Cuiabá e, por gravidade, distribuíam para as bicas espalhadas em diferentes pontos da cidade. A partir das bicas, os moradores abasteciam suas casas, levando a água em charretes, no lombo de cavalos ou em baldes sobre a cabeça. O Museu do Morro da Caixa D‟Água Velha expõe seu acervo nas antigas galerias, que contam a história sequencial dos avanços que o setor de saneamento básico vem sofrendo. O local serve a reuniões culturais, exposições contínuas de artistas plásticos, lançamento de livros e outras atividades afins. Na parte superior, há um restaurante e uma praça, conforme o projeto arquitetônico original. A Figura 87 mostra imagens do atrativo. 134 Figura 87 – Museu do Morro da Caixa D’Água Velha, Cuiabá Fonte: PORTAL DO TURISMO MT, 2010 A Figura 88 traz a análise mercadológica do atrativo. Figura 88 – Museu do Morro da Caixa D’Água Velha, análise 135 2.3.2.3 TURISMO RURAL No Polo Cerrado existe a vocação para o turismo rural, embora pouco explorada. Em Campo Verde, no Assentamento 14 de Agosto, um grupo de 80 famílias oferece várias atividades turísticas, entre elas cavalgada e caminhada pela Trilha dos Alimentos, que consiste em levar o turista para conhecer diferentes tipos de produção agrícola. Campo Verde participa ainda do Projeto Caminhadas na Natureza, do Instituto IVV e da organização não governamental (ONG) Anda Brasil, desenvolvido no estado pela SEDTURMT em parceria com as prefeituras municipais, que estimula esse tipo de atividade em vários pontos do Brasil e do mundo. Em Jaciara, por sua vez, há a intenção de desenvolver atividades de turismo rural no Vale das Perdidas, conciliando-as com as de turismo arqueológico já praticado. Em Nobres busca-se implantar o segmento de turismo rural em uma das comunidades de trabalhadores mais antigas do município, a de Sela Dourada. Essas iniciativas mostram que o turismo rural tem potencial para ser desenvolvido no Polo. A proximidade dos municípios com a capital é um grande diferencial, facilitando o acesso do público interno e externo. O turismo tecnológico48 voltado para as atividades rurais é desenvolvido principalmente no município de Campo Verde, com ênfase para o agronegócio. Campo Verde ostenta títulos como a Capital Nacional do Algodão, Capital Estadual do Frango, Maior Produtor de Ovos do Centro-Oeste e de Excelência em Cultivo de Grãos. Destacam-se locais como a Fazenda Marabá, que oferece visita a grandes áreas de cultivo agrícola, principalmente algodão e soja, trabalhando no sistema de plantio direto. Acompanhadas por palestras, visita às instalações de beneficiamento de algodão e armazenamento de soja, os turistas são orientados por funcionários da empresa, e é obrigatório o pré-agendamento. Outro atrativo são as fazendas do Grupo Bom Futuro, que também oferecem visitas a grandes áreas cultivadas com algodão e soja e realizam palestras, visita às instalações de beneficiamento de algodão, à indústria de sementes e armazenamento de soja, bem como ao campo. As fazendas trabalham também com piscicultura e adotam tecnologias diferenciadas e eficientes. As visitas são acompanhadas por funcionários da empresa e é obrigatório o agendamento prévio. O Parque Industrial da Água Puríssima é mais um local que oferece palestras e visitas à área industrial conduzida por um funcionário da empresa, com o objetivo de mostrar o processo de captação e engarrafamento da água. Algumas vezes, também é realizado um passeio pela trilha que dá acesso à nascente de onde é retirada a água mineral, cuja fonte é considerada a maior do planeta, sobre o Aquífero Guarani e dentro de uma fazenda em área de preservação ambiental. A seguir são classificados e hierarquizados os atrativos desse segmento. Assentamento 14 de Agosto, Campo Verde Localizado a 20 km da sede de Campo Verde, nas coordenadas geográficas 15° 35' 25,69"S e 55° 1' 22,70"W, o atrativo funciona todos os dias da semana com atividades de dia inteiro (day use), com agendamento antecipado, para grupos de no mínimo três pessoas. O contato atualmente é feito através de um celular, que fica com o responsável pelo assentamento, porém nem sempre é possível conseguir a conexão, devido a 48 Pode ser caracterizado “pelos interesses sociais e culturais dos turistas e comunidade local para com as fontes de informações de tecnologia. Em outros termos, o turismo tecnológico na agricultura se denomina viagem de estudos, uma vez que o motivo do turismo se funda em diversos atrativos: a troca de experiências, a abstração dos conhecimentos da cultura local e de seus diversos aspectos, a produção e a forma operacional do sistema tecnológico na agroindústria sustentável” (KRUG e FACHASUL, 2003). 136 problemas na cobertura do sistema (vide p.199) – esse fato dificulta a visitação, pois inviabiliza os agendamentos. Oferece trilha interpretativa, passeio de boia pelo Rio Piraputanga, visita às plantações orgânicas e cooperativa de mandioca e cana-de-açúcar. Além disso, inclui almoço e palestras sobre o Movimento Sem Terra (MST), com acompanhamento de monitor ou guia. Figura 89 – Assentamento 14 de Agosto, Campo Verde Fonte: SECULLUS TOUR, 2010 A Figura 89, do Assentamento 14 de Agosto, destaca a Agroindústria de Derivados de Cana e permite observar que a infraestrutura turística disponível é simples, mas conta com banheiros na área da cooperativa e no restaurante. Também oferece alojamento modesto. Existe a intenção de oferecer passeios de cavalgada permanentemente. A Figura 90 apresenta a análise do atrativo. Figura 90 – Assentamento 14 de Agosto, análise 137 Fazenda Marabá, Campo Verde Localizado a 50 km da sede de Campo Verde, nas coordenadas geográficas 15° 15' 56,93"S e 55° 7' 35,75"W, o atrativo funciona mediante agendamento, para grupos de no mínimo três pessoas, geralmente apenas às quartas-feiras. Exceções podem ser feitas por meio de negociação com agência de turismo. Para que a entrada dos visitantes seja autorizada, existe um procedimento adotado pelos proprietários do empreendimento que consiste em solicitar os documentos pessoais (RG e CPF e, se estrangeiro, passaporte) para averiguação de registro junto à Polícia Federal. A justificativa dada para adoção de tal procedimento é a preocupação com a espionagem industrial. O roteiro oferecido é de dia inteiro, incluindo almoço e visitas às áreas que desenvolvem técnicas apuradas de plantio direto de grãos, ao laboratório de análise de algodão dentro das especificações internacionais, à algodoeira equipada com maquinário moderno e, se houver interesse, à área de confinamento de gado com avanços tecnológicos para engorda. O acompanhamento por um funcionário da empresa, chamado de condutor de turismo tecnológico, é sempre necessário. A Figura 91 apresenta alguns pontos que são visitados pelos turistas durante a atividade, sendo importante ressaltar que o empreendimento possui ótima infraestrutura adaptada para o uso turístico. Figura 91 – Fazenda Marabá, Campo Verde Fontes: SECULLUS TOUR, 2010 e INTERATIVA PANTANAL EXPEDITIONS, 2010 A Figura 92 apresenta a análise do atrativo. 138 Figura 92 – Fazenda Marabá, análise Grupo Bom Futuro, Campo Verde Localizado a 30 km da sede de Campo Verde, nas coordenadas geográficas 15° 25' 17,77"S e 54° 51' 50,74"W, o atrativo funciona somente com agendamento, para grupos de no mínimo três pessoas, geralmente apenas às quartas-feiras. Assim como na Fazenda Marabá, as exceções devem ser negociadas por meio de agência de turismo. As mesmas restrições para entrada também se aplicam, sendo necessária a apresentação de documentos pessoais. Figura 93 – Grupo Bom Futuro, Campo Verde Fontes: INTERATIVA PANTANAL EXPEDITIONS, 2010 e TUIUIÚ TUR, 2010 A Figura 93 traz imagens de três das agroindústrias do Grupo Bom Futuro, que oferecem roteiros de dia inteiro, com atividades turísticas que incluem almoço, seguro, palestra e visitas a áreas que desenvolvem técnicas apuradas de plantio direto de grãos, parque de máquinas, silos, unidade de beneficiamento do soja, usina de algodão em plumas e, se houver interesse, visita ao setor de piscicultura (tanques e frigorífico). O roteiro é acompanhado por funcionário da empresa. O empreendimento apresenta ótima infraestrutura, adaptada de forma adequada para o uso turístico. 139 A Figura 94 apresenta a análise do atrativo. Figura 94 – Grupo Bom Futuro, análise Parque Industrial da Água Puríssima, Campo Verde Localizado a 40 km da sede de Campo Verde, nas coordenadas geográficas 15° 36' 5,59"S e 54° 55' 1,34"W, o atrativo pertence ao município de Dom Aquino, entretanto, por integrar o roteiro de turismo tecnológico da região, optou-se por mantê-lo junto aos demais. Assim como os outros atrativos rurais, funciona somente com agendamento, para grupos de no mínimo três pessoas, geralmente às quartas-feiras. A exemplo dos outros empreendimentos, as exceções também são mediadas por agência de turismo. Figura 95 – Parque Industrial da Água Puríssima, Campo Verde Fonte: SECULLUS TOUR, 2010 Atualmente oferece um roteiro de meio dia, com atividades turísticas que incluem trilha interpretativa em floresta conservada, com espécies catalogadas, visita à fonte de água 140 mineral e reconhecimento do parque industrial nos aspectos de recepção de matéria-prima e envasamento. O acompanhamento de guia é sempre necessário. A Figura 95 apresenta a Água Puríssima e alguns pontos visitados durante a atividade turística, cabendo ressaltar que o empreendimento apresenta ótima infraestrutura adaptada para o uso turístico. A Figura 96 apresenta a análise do atrativo. Figura 96 – Parque Industrial da Água Puríssima, análise 2.3.2.4 NEGÓCIOS E EVENTOS O turismo de eventos se desenvolve fortemente em Cuiabá, onde inúmeros eventos acontecem durante todo o ano, principalmente relacionados ao agronegócio e esportes, além de shows e espetáculos. O município da Chapada dos Guimarães, conforme informações da Secretária de Turismo, cultura e Meio Ambiente Sra. Telma Meira Rezende, tem interesse em desenvolver o turismo de eventos através de shows musicais e festivais, com o objetivo de atrair um perfil diferenciado de turistas. Atualmente já acontece o Festival de Inverno e, em outubro de 2009, ocorreu o primeiro Festival de Jazz, que pretende ser mantido no calendário anual de eventos do município. Campo Verde realiza eventos voltados para o segmento tecnológico do agronegócio, porém sem calendário definido e fixo. As cidades de Jaciara e Nobres não apresentaram eventos de negócios relevantes para o Polo e, portanto, não desenvolvem, ainda, esse tipo de turismo. Por não apresentarem manifestações organizadas e fixas, não são descritos e hierarquizados aqui os atrativos do turismo de negócios e eventos. Entretanto, entende-se que há atualmente uma vontade dos municípios, manifestada pelos empresários do trade turístico e pelo poder público municipal, em mudar seu foco estratégico – saindo ou diminuindo a força do turismo de pesca, através da incorporação do turismo de eventos e negócios, porém ainda sem organização e expressividade relevantes. 141 3 INFRAESTRUTURA BÁSICA E SERVIÇOS EM GERAL A infraestrutura pode ser entendida como tudo que é necessário para a geração de riquezas na sociedade e, por conseguinte, funciona como suporte físico, nas escalas urbana, regional e nacional, para o desenvolvimento de toda e qualquer atividade econômica, proporcionando as condições necessárias de produção, circulação, distribuição e consumo de bens, serviços e pessoas (DEÁK, 1989). As políticas de implantação da infraestrutura econômica e social em Mato Grosso, seja federal ou estadual, pautaram-se primordialmente na implantação e melhoria da rede viária (leia-se, principalmente, da malha rodoviária) – que, desde os planos e programas das extintas Superintendências de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e do Centro-Oeste (SUDECO), aplicavam as estratégias do Governo Federal de integração nacional, fortemente implementadas a partir da década de 1970. Desde então, esse conjunto infraestrutural não sofria incrementos significativos (AZEVEDO, 2006). Na década de 1990, com a discussão sobre como alavancar as potencialidades econômicas das grandes regiões brasileiras, no contexto dos “Eixos de Integração e Desenvolvimento Nacional”, foram pensados projetos das mais diferentes naturezas, entre eles os de implantação ou ampliação e recuperação de aeroportos, portos, hidrovias, rodovias, ferrovias, comunicações, energia, entre outros. Para Mato Grosso, como unidade federativa que compõe tanto a região Centro-Oeste quanto a Amazônia Legal, discutia-se inúmeros projetos, destacando a ampliação/ duplicação e recuperação das principais rodovias federais (BR-163 e BR-364), das hidrovias (Paraná/ Paraguai, Araguaia/ -Tocantins, Teles Pires), e a extensão da ferrovia Ferronorte, hoje limitada à porção extrema sul do estado, além da infraestrutura social e de saneamento básico para as cidades (AZEVEDO, 2006). Partes consideráveis dos projetos continuaram na pauta de investimentos do Ministério da Integração Nacional, Ministério dos Transportes/ Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Ministério das Cidades e, atualmente, estão sendo implantados com o apoio dos recursos vinculados ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. A síntese sobre as condições da infraestrutura básica e serviços em geral no Polo Cerrado é o resultado das informações levantadas junto aos órgãos governamentais da esfera estadual – destaque à SEPLAN-MT, Secretaria de Estado de Infraestrutura (SINFRA-MT), Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SEMA-MT), SEDTUR-MT, Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-MT), e Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Mato Grosso (AGER) – e federal – como o DNIT, Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) –, das concessionárias prestadoras de serviços, como Rede Centrais Elétricas Mato-grossenses (CEMAT), Companhia de Saneamento da Capital (SANECAP) e Brasil Telecom –, da Associação dos Municípios de Mato Grosso (AMM), prefeituras, agências de turismo e instituições de pesquisa, como o IBGE e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Para aprofundar a análise desses dados, foram realizadas visitas, no período de outubro a dezembro de 2009, a alguns dos escritórios dos órgãos e instituições citados acima; levantamento de dados disponíveis em seus sites; pesquisa bibliográfica referente ao tema em questão, em busca de informações das empresas envolvidas em saneamento e construção e manutenção de rodovias; e levantamentos de campo nos municípios abrangidos pelo Polo, no caso dos serviços de responsabilidade das administrações municipais. Desse modo, a pesquisa é fruto da análise de dados de variadas fontes e períodos, o que pode levar a algumas inconsistências de dados, embora tenham sido adotados procedimentos que minimizam as implicações negativas nos resultados das análises. Este capítulo está dividido em: rede viária de acesso, saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e limpeza urbana), transporte urbano, 142 comunicação, energia elétrica (com ênfase em iluminação pública), saúde e segurança. Apresenta, no final, algumas considerações gerais. 143 3.1 ACESSO O Polo Cerrado abrange localidades com diferentes realidades, como Chapada dos Guimarães, município de transição para o urbano, de pequena dimensão demográfica, a municípios completamente urbanos, de grande dimensão demográfica, como Cuiabá, capital do estado. Entretanto, esses municípios têm algumas carências em comum quanto à infraestrutura viária nas diferentes escalas – tanto na articulação nacional e regional, quanto urbana (AZEVEDO, 2006). Este item do Diagnóstico divide-se em acessos rodoviário, aéreo, hidroviário e ferroviário. 3.1.1 Acesso rodoviário O Plano MT+20 (SEPLAN-MT, 2008b) destaca as vantagens da região potencializada pelo aglomerado urbano Cuiabá/ Várzea Grande, onde o apoio urbano e a alta oferta de infraestrutura, embora com certas deficiências, podem proporcionar o desenvolvimento de uma diversidade econômica. Contudo, problemas residem na questão da desigualdade socioeconômica que, na escala intrarregional, materializa configurações espaciais marcadas pelas carências de infraestrutura. Em especial, a carência no setor de transporte levou o Governo Federal, após um programa limitado de recuperação das rodovias ocorrido em 2006, a apresentar o PAC que estima, durante o período de 2007 a 2010, investimentos de mais de 30 bilhões no setor rodoviário, cuja malha é administrada pelo Ministério dos Transportes, o DNIT e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Para a região Centro-Oeste, como é possível observar na Figura 97 e Figura 98, a previsão de investimentos em transporte, até o final de 2010, é de R$ 3,5 bilhões, sobressaindo em Mato Grosso algumas intervenções: BR-163-364-MT – duplicação Rondonópolis/ Cuiabá/ Posto Gil; BR-158-MT – pavimentação Ribeirão Cascalheira/ Divisa MT/ PA; BR-364-MT – pavimentação Diamantino/ Campo Novo dos Parecis; BR-242-MT – pavimentação Ribeirão Cascalheira/ Sorriso; Ferronorte – construção do trecho Alto Araguaia/ Rondonópolis (investimento privado com financiamento do BNDES) e dragagem e derrocagem na Hidrovia do Paraná-Paraguai-MS-MT (DNIT, 2007). Figura 97 – Previsão de investimentos em transporte, região Centro-Oeste, 2007-2010 Fonte: DNIT, 2007 144 Figura 98 – Previsão de ligações intermodais, região Centro-Oeste, 2007-2010 Fonte: DNIT, 2007 Os relatórios parciais do PAC evidenciam os objetivos pretendidos pelo investimento em transporte no território mato-grossense: ampliar a infraestrutura logística existente para integrar o estado e melhorar as condições de sua interligação com as regiões Norte e Sudeste, especificamente São Paulo (BR-242, BR-158, BR-163-364, BR-163); consolidar o corredor exportador, aumentando a capacidade de escoamento da produtividade regional por meio dos intermodais (ferrovia/ rodovias e hidrovia Paraná-Paraguai); apoiar a mobilidade urbana e reduzir o congestionamento do trânsito nas cidades cruzadas pela BR163 e também apoiar o turismo, por meio da readequação do Aeroporto Internacional Marechal Rondon (Figura 99). Figura 99 – Estratégias de infraestrutura logística, MT Fonte: BRASIL, 2009 No âmbito estadual, está em andamento – sob a coordenação da SINFRA-MT (2009), desde 2003 – o programa estadual denominado Estradeiro, voltado para a construção e 145 manutenção de estradas, a partir de ações individuais do Governo Estadual, em parcerias com outras esferas governamentais e mesmo com consórcios estabelecidos entre produtores rurais e outras instituições privadas. Desde sua criação, o programa pavimentou 1.380 km (sendo 257 km de pavimentação asfáltica nova em estradas estaduais e 333,5 km em vias urbanas) e conservou ou restaurou 790,8 km de estradas pavimentadas. A meta, segundo informações disponibilizadas no site da SINFRA-MT (2009), é alcançar 4.390 km de estradas asfaltadas, priorizando as rodovias e entorno imediato, estratégicas quanto à demanda para o fluxo de cargas e passageiros, como a BR-364, BR-163, BR-070, que alimentam o Polo Cerrado (Figura 100). O programa Estradeiro divide-se em subseções e é detalhado na Tabela 22. Figura 100 – Programa Estradeiro Fonte: SINFRA-MT, 2009a Os dados fornecidos pela SINFRA-MT (2009) correspondem aos resultados das ações executadas até o ano de 2008 e indicam que Mato Grosso tem 30 mil quilômetros de rodovias, sendo que, desse total, 11% estão sob jurisdição do Governo Federal (BR), por meio do DNIT. Os demais 89% são rodovias estaduais, que representam 26,5 mil quilômetros. 146 Tabela 22 – Programa Estradeiro Modalidade Parceria públicoprivada Agentes Objetivo Responsabilidades - Governo do Estado; - Associações de produtores agrícolas; - Prefeituras municipais. - Realização de obras que atendam ao escoamento da produção agrícola e circulação de passageiros. Licitações públicas -Governo do Estado (recursos do Fundo Estadual de Transporte e Habitação – FETHAB); - Governo Federal. - Obras de conservação e restauração da malha rodoviária estadual pavimentada; - Manutenção e/ ou construção das pontes de concreto. Estado: - licenças ambientais; - obras de imprimação, drenagem superficial e pavimentação. Associações: - obras de base, subbase; - regularização de leito; - manutenção do trecho, objeto do consórcio. - Conforme contrato. Licitações públicas - Governo do Estado. - Obras de conservação e restauração da malha rodoviária estadual não pavimentada - Reforma e/ ou construção das pontes de madeira. - Conforme contrato. Contratos de cessões - Governo do Estado; - Prefeituras municipais. - Obras de abertura e conservação de ruas e avenidas. Estado: - cede máquinas às prefeituras. Prefeituras: - execução das obras. - Governo do Estado; - Prefeituras municipais. - Recuperação do maquinário sucateado das prefeituras municipais (patróis, tratores de esteira, caminhões basculantes etc.), Estado: - disponibilização de recursos para manutenção/ recuperação das máquinas e compra de óleo diesel. Prefeituras: - utilização dos equipamentos na prestação de serviços de manutenção em rodovias estaduais, na abrangência do referido município. Pró-reforma Pró-máquinas Rodovias não pavimentadas/ pontes de madeira Rodovias pavimentadas/ pontes de concreto Consórcios rodoviários Subseções Resultados - 783,67 km vias pavimentadas. - 452,41 km de pavimentação asfáltica nova (recursos FETHAB); - 81,4Km de pavimentação asfáltica (parceria com o Governo Federal); Ex.: obras de pavimentação das rotas do turismo matogrossense (Plano Estadual de Desenvolvimento do Ecoturismo), como: MT 040, 370 e 060 na região do Pantanal. - Patrolamento de 35.326,16 km; - Encascalhamento de 7.413,39 km de estradas (os 18.089,6 km de rodovias não pavimentadas receberam manutenção duas vezes); - Obras de reforma em 130 pontes; - Construção de 223 novas. - Empréstimo a 70 municípios de 35 páscarregadeiras, 43 caminhões e 27 motoniveladoras. Total = 105 máquinas cedidas. Obs.: Ao final do período de empréstimo, as prefeituras podem optar pela aquisição das máquinas. Investimentos aproximados de: - R$ 11 milhões recuperação das máquinas; - R$ 2,9 milhões - compra de óleo diesel. Fonte: Adaptado de SINFRA-MT, 2009 As rodovias permitem acesso aos núcleos urbanos e a alguns atrativos. Outros atrativos turísticos localizam-se em áreas mais interiores, ultrapassando os limites imediatos dessas e de outras rodovias que alimentam o Polo, o que torna necessária a utilização de estradas 147 vicinais, trilhas ou mesmo transporte fluvial por barcos – algumas vezes, apenas os de pequeno porte ou canoas. Em relação a indicadores de tráfego, o DNIT conta com o Plano Nacional de Contagem de Trânsito (PNCT) (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES e DNIT, 1977) que, por meio da implantação de postos de contagem, coleta os dados de trechos mais representativos das rodovias em cada estado, a fim de subsidiar estudos em geral (planejamento, estudos econômicos, projetos rodoviários etc.). Tais informações foram solicitadas ao DNIT em novembro de 2009, por meio de ofício – entretanto, não houve retorno sobre nenhum dos dados solicitados, dentre eles, sobre os postos de contagem em Mato Grosso e a mensuração do tráfego. Há previsão de implantação de pontos de fiscalização eletrônica em 12 rodovias estaduais pelo DETRAN-MT, de acordo com as informações disponibilizadas no site da Associação Brasileira de Educação de Trânsito (ABETRAN, 2009) e pela Secretaria de Comunicação Social (SECOM-MT, 2009). O projeto, com estudo das áreas que receberão os aparelhos, já se encontrava em fase de elaboração de edital, e prevê radares, lombadas e câmeras de monitoramento. A justificativa para tal medida baseia-se no alto índice de acidentes registrado em Mato Grosso, considerado um dos estados mais violentos do país nesse quesito, tanto em áreas urbanas quanto rurais. Somada à violência no trânsito, há outros registros não muito satisfatórios para os usuários locais e visitantes turísticos quando observadas as condições adversas e problemas socioambientais associados às vias. Para facilitar a sistematização dos dados levantados em campo, as condições das vias de acesso estão analisadas em diferentes escalas: a escala intermunicipal, basicamente alimentada por rodovias federais e estaduais; a escala intramunicipal, que combina rodovias estaduais, municipais e vicinais, como acesso aos atrativos; e a escala urbana, na sede dos municípios. A Tabela 23, a Tabela 24 e a Tabela 25 analisam cada uma dessas escalas em cada trecho turístico. Em campo, confirmaram-se as diversas obras de conservação, duplicação e construção nas rodovias estaduais e federais, o que pode, em parte, resolver as difíceis condições de trafegabilidade, muitas delas causadas pelo intenso fluxo de caminhões escoando a produção agrícola. As condições observadas nas rodovias pavimentadas e não pavimentadas oscilam de qualidade ao longo de sua extensão, predominando trechos precários. Foram registradas inúmeras irregularidades quanto a deficiências de drenagem e pontos de erosão, invasões de faixas de domínios das vias de transporte, desde áreas ocupadas por assentamentos que defendem ações de reforma agrária, como o MST, como também a utilização irregular por particulares, resultantes da precária fiscalização. Estes assuntos são tema do item 5.1. 3.1.1.1 CUIABÁ/ CHAPADA DOS GUIMARÃES A Tabela 23 caracteriza o trecho entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães, detalhando condições de trafegabilidade e sinalização viária. Em síntese, poder-se-ia classificar da seguinte forma os aspectos abordados: Cuiabá, perímetro urbano: pavimentação e sinalização boas nas vias principais; algumas vias secundárias com problemas de trafegabilidade e sinalização; Cuiabá/ Chapada dos Guimarães, MT-251: fluxo intenso e difíceis condições de tráfego; sinalização razoável; Chapada dos Guimarães, perímetro urbano: pavimentação e sinalização viária e turística concentradas nas vias de maior importância, onde se encontram os principais pontos de comércio, serviços e atrativos turísticos. 148 Condição da via Via Vias urbanas - MT-251 Cuiabá Chapada dos Guimarães Vias urbanas - Salgadeira Chapada dos Guimarães Observações Trecho Cuiabá – sede (perímetro urbano) Localidades Tabela 23 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Chapada dos Guimarães Trafegabilidade Sinalização viária A pavimentação encontrase em bom estado nas vias consideradas estruturais e algumas principais. Boa parte das vias coletoras e locais apresenta muitos defeitos (irregularidades na pista, depressões) ou ainda ausência de pavimentação, exigindo cautela para trafegar. Muitas vias ainda não possuem pavimentação. Segmento apresenta difíceis condições de tráfego. Intenso fluxo de veículos (carros de passeio, caminhonetes, motos, vans e ônibus). Pistas e acostamento estreito, curvas acentuadas em certos trechos. Pavimentação em boas condições nas vias principais. A maior parte das vias estruturais e principais apresenta sinalização, tanto vertical quanto horizontal, em boas condições. O mesmo não ocorre nas vias hierárquicas menores. Presença de sinalização turística nas vias estruturais e principais. Certa facilidade em acessar os atrativos. Aparentemente, segue orientações do Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Ruas centrais bem sinalizadas. Sinalização vertical e Grande potencial horizontal em paisagístico, condições regulares. combinando vegetação típica de cerrado e os chapadões. Presença de sinalização turística em boas condições, embora exista conflitos entre a padronização atual e a utilizada anteriormente. Ruas centrais bem sinalizadas. A situação de pavimentação de Cuiabá está retratada na Figura 101. A Figura 102 mostra o projeto do anel viário do município, obra que faz parte do programa de adequação da mobilidade urbana e envolve construção, duplicação e restauração de vias para a Copa do Mundo de Futebol, em 2014. 149 Figura 101 – Cuiabá, mapa viário, 2004 Fonte: IPDU, 2004 Figura 102 – Cuiabá, anel viário Fonte: COPA DO PANTANAL, 2009 150 Outros aspectos que merecem destaque estão retratados nas figuras a seguir. A Figura 103 mostra a Av. Miguel Sutil, em Cuiabá, que dá acesso a várias saídas para outras localidades, em ponto recorrente de congestionamento, no cruzamento entre a Av. João Gomes Sobrinho e a antiga Av. dos Trabalhadores, atualmente denominada Av. Gov. Dante Martins de Oliveira. A Figura 104 apresenta a sinalização turística na Av. Miguel Sutil, especialmente necessária por abrigar o Terminal Rodoviário Eng. Cássio Veiga de Sá (Figura 105). Figura 103 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil e Av. João Gomes Sobrinho Figura 104 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil sentido Terminal Rodoviário Figura 105 – Cuiabá, Terminal Rodoviário Eng. Cássio Veiga de Sá No sentido de Várzea Grande, a sinalização turística continua presente na Av. Miguel Sutil, indicando acesso a atrativos e equipamentos turístico, como parque urbano, centro de convenções, aeroporto, rodoviária e estádio, que sediará jogos durante a Copa do Mundo (Figura 106). 151 Figura 106 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, sinalização turística A Figura 107 traz a Av. Miguel Sutil na altura do bairro Despraiado, com o Parque Mãe Bonifácia à esquerda da pista; em seu final, no sentido leste-oeste, encontra-se a ponte sobre o Rio Cuiabá, que separa os municípios de Cuiabá e Várzea Grande. Observa-se a pavimentação em boas condições, a presença de sinalização horizontal e vertical e iluminação pública. Entretanto, a via apresenta problemas em seu desenho e em seus elementos que prejudicam a fluência do trânsito; medidas paliativas, como a redução do tamanho da rotatória (Figura 108), resultariam em mais área para comportar os carros, porém também representariam maior dificuldade nas manobras. Figura 107 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, pavimentação Figura 108 – Cuiabá, Av. Miguel Sutil, desenho da via 152 A Figura 109 mostra a sinalização e iluminação pública na Av. Beira Rio, via estrutural que compõe a malha viária de Cuiabá. Contudo, são comuns vias locais no entorno imediato de vias estruturais sem pavimentação e, muitas vezes, sem iluminação (Figura 110). Figura 109 – Cuiabá, Av. Beira Rio Figura 110 – Cuiabá, entorno imediato de via estrutural Na Figura 111, verifica-se uma ilustração panorâmica do estado de conservação da pavimentação, sinalização viária e iluminação pública da Av. República do Líbano, sendo que, no núcleo urbano, foram constatadas obras de adequação na malha viária (Figura 112). Figura 111 – Cuiabá, Av. República do Líbano Figura 112 – Cuiabá, Av. República do Líbano, obras de adequação Ao final da Av. República do Líbano há uma rotatória que dá acesso às saídas para Acorizal, pela MT-010, e para Chapada dos Guimarães, pela MT-251. A Figura 113 mostra a sinalização viária e turística existente. 153 Figura 113 – Cuiabá, Av. República do Líbano, rotatória A rodovia MT-010, conhecida como Helder Cândia, é uma alternativa à congestionada BR163. Obras recentes imprimiram boas condições à via (Figura 114), muito utilizada, atualmente, como acesso a Acorizal, Rosário Oeste e Nobres. Figura 114 – Cuiabá, MT-010 Já a MT-251, conhecida como Rodovia Emanuel Pinheiro, que liga Cuiabá à Chapada dos Guimarães, é uma das rodovias mais perigosas de Mato Grosso, apresentando altos índices de acidentes. Em novembro de 2009, foi assinado contrato para duplicação de subtrecho da rodovia (do entroncamento da MT-010 ao entroncamento da MT-351, entrada do Manso, num total de 17,2 km), com duração esperada de um ano e recursos do FETHAB. São previstas três outras etapas de obras, para subtrechos de 9,3 km, 25,5 km (dentro do PARNA Chapada dos Guimarães) e 10,2 km, nas proximidades do Portão do Inferno, podendo envolver a construção de túnel no paredão e, consequentemente, estudos de impacto e licença ambiental. A Figura 115 mostra a rodovia. 154 Figura 115 – Cuiabá, MT-251 Na Chapada dos Guimarães, é possível encontrar placas de diferentes modelos e padrões nas vicinais (Figura 116), causando certa confusão e poluição visual. Figura 116 – Chapada dos Guimarães, sinalização Na rodovia MT-251, também são comuns padrões diferentes de sinalização turística. Verifica-se a presença da sinalização oficial instalada pela SEDTUR-MT ao lado da anteriormente instalada pela campanha comercial da administradora de cartões VISA, tanto nos atrativos localizados na zona rural, como no núcleo urbano (Figura 117). Figura 117 – Chapada dos Guimarães, MT-251 O município da Chapada dos Guimarães mostra-se pouco preparado, no que tange à infraestrutura viária, para a realização de eventos que gerem um fluxo muito intenso de 155 turistas, pois a estrutura física não comporta grande volume de carros circulando. Existe prejuízo também quanto à mobilidade urbana, com destaque para a circulação de pedestres, que deveria ser privilegiada com a readequação do sistema viário e/ ou criação de calçadões com características da cidade, pelo menos na área central. 3.1.1.2 CUIABÁ/ JACIARA/ CAMPO VERDE A Tabela 24, a seguir, refere-se ao trecho entre Cuiabá e Jaciara/ Campo Verde, detalhando suas condições. De um modo geral, pode-se dizer que: Cuiabá/ Jaciara, vias urbanas: a Av. Fernando Correa da Costa apresenta intenso fluxo, principalmente de caminhões que transportam a produção agrícola do médio norte e norte do estado; a pavimentação e sinalização viária e turística são regulares. Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364: ocorrência de obras de duplicação, a partir da subida da Serra de São Vicente, como medida para minimizar o grande número de acidentes devido ao intenso fluxo de caminhões , melhorar a qualidade da pavimentação e da sinalização precária. Jaciara, perímetro urbano: pavimentação em bom estado e presente em maior parte das vias na área urbana já consolidada; presença mínima de sinalização viária urbana. Jaciara, atrativos (Cachoeira da Fumaça e da Mulata), MT-457: presença de pavimentação e sistema de drenagem apenas em certo trecho, para se chegar às cachoeiras enfrenta-se área sem pavimentação e sem drenagem. Jaciara/ Campo Verde, MT-344: rodovia estadual que alterna trechos em boas condições de trafegabilidade com outros trechos bem prejudicados; a sinalização viária é precária e em muitos pontos há queimadas e erosão. Campo Verde, perímetro urbano: pavimentação e sinalização viária em boas condições na área do núcleo central. Nas áreas de baixa renda, encontra-se infraestrutura de baixo padrão. Campo Verde/ Chapada dos Guimarães, MT-251: boas condições de trafegabilidade, possibilitadas pelas condições de conservação da pavimentação asfáltica, sinalização viária existente e proibição do tráfego de caminhões pesados. Localidades Via Cuiabá – sede (perímetro urbano da região sul) Tabela 24 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Jaciara/ Campo Verde/ Chapada dos Guimarães BR-163/364 – área de sobreposição (entre Campus da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, e Posto Polícia Rodoviária) Condição da via Trecho Trafegabilidade Trecho anterior km 310, inclusive, da BR364 Segmento em condições regular de tráfego, apresentando defeitos graves ao longo do trecho. Observações Sinalização viária Sinalização horizontal prejudicada e vertical em condições razoáveis (placas com pintura desgastadas) Saída para Rondonópolis, cruzando área extremamente urbanizada (Bairro Coxipó), de Distrito Industrial, com intenso fluxo de caminhões; presença de vilas rurais e de torres de transmissão de energia. Em toda a malha urbana foram encontradas obras de construção e adequação sendo realizadas no sistema viário. Jaciara – sede (perímetro urbano) Jaciara (sede) / Cachoeira da Fumaça Cuiabá/Jaciara Localidades 156 Trecho Condição da via Via Trafegabilidade Alterna segmentos de muitas irregularidades na pista, devido a sucessivos recapeamentos, com segmentos em condições regular de tráfego, com alguns defeitos ao longo do trecho. Observações Sinalização viária Sinalização horizontal e vertical em condições regulares condições. No início da subida Serra de São Vicente exige cautela devido a tráfego intenso de caminhões e obras de duplicação em andamento. Presença de paisagem típica de cerrado prejudicada por depósito indevido de lixo nas margens da rodovia. Verificação de queimadas, erosão e plantações de grãos ao longo das margens da rodovia. A via de acesso Hotel Águas Quentes Km 350 (BR364) tem aproximadamente 10,4 km de extensão, pavimentada, sem acostamento, apresentando edificações de pequeno e médio porte (uso residencial/ comercial e institucional) ao longo da rodovia. A pavimentação da via realizada pelo Programa Estradeiro. Verificação de obras em andamento, intenso fluxo de caminhões, pontos de erosão ao longo das margens da pista, que alterna áreas de pastagens e cerrado. Presença de acampamento com cerca de 300 pessoas. Conforme depoimento de assentado, o acampamento existe há cerca de 7anos. BR-163/ 364 – área de sobreposição km 319 a 350 BR-163/364 – área de sobreposição Segmento em condição km 319 precária de (BR-364) tráfego, com até muitas entrada irregularidades de Jaciara devido a recapeamento ruim. Sinalização horizontal e vertical em condições regulares condições. MT-457 (Estrada parque) 11 km de via pavimentada, com boas condições de tráfego. Até Complexo da Da sede Cachoeira, sem até pavimentação, acesso condições de Cachoeira tráfego prejudicadas pelas fortes chuvas e deficiência de drenagem. Sinalização horizontal e vertical em condições regulares. No segmento de pista sem pavimentação, a sinalização é deficiente. Via sem iluminação pública em boa parte de sua extensão. Barril instalado no acesso a trilha da cachoeira da Mulata, para depósito de lixo. Conforme guia, coleta de responsabilidade da prefeitura (área municipal) é irregular. Sinalização urbana quase inexistente. Presente apenas em área consolidada e saídas interregionais/ atrativos. As vias não possuem sistema de drenagem, acentuando o grave problema de erosão no perímetro urbano. Vias urbanas - Segmentos municipalizados, sendo boa parte com pavimentação. Não possui sistema de drenagem. Campo Verde/ Chapada dos Guimarães Campo Verde – sede (perímetro urbano) Jaciara/ Campo Verde Localidades 157 Trecho Condição da via Via Trafegabilidade MT-344 Vias urbanas MT-251 Contorno na BR364/163, sentido Dom Aquino até Campo Verde - Observações Sinalização viária Condições de trafegabilidade razoável, com trechos de pavimentação ruins – recapeamento de baixa qualidade, resultando em muitas irregularidades na pista. Sinalização viária precária, com poucos trechos com alguma sinalização horizontal e vertical. Nas laterais da rodovia, encontramse plantações, assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), movimentações de terra (provavelmente de obras), com alguns pontos de erosão e, também, pontos de queimada. Apenas as vias do núcleo central são pavimentadas. Sinalização viária boa no núcleo central e bairros adjacentes. Do outro lado da rodovia, onde se encontram a maior parte dos bairros de baixa renda, a sinalização é regular. O sistema de drenagem existente é o superficial, aproveitando a queda natural das vias, com valas nos cruzamentos. Nas franjas do perímetro urbano, concentram-se habitações de baixa renda, com baixo padrão de infraestrutura. Pavimentação em bom estado aliada a boa trafegabilidade. Rodovia bem sinalizada, mas com ausência de elementos de segurança nas curvas. Existe legislação que proíbe o tráfego de caminhões pesados, o que contribui para a conservação da pavimentação, tornando o percurso tranquilo e possibilitando a fruição da rodovia com alto potencial cênico na região dos Chapadões. A Av. Fernando Correa da Costa, em Cuiabá, é o trecho urbano da BR-163/ 364, que dá acesso a diversos atrativos da região. Embora seja uma via principal (Figura 118), eventos do município, como o concurso público promovido pelo Governo do Estado em novembro de 2009, evidenciam a insuficiência da estrutura atual da via no escoamento do tráfego, o que resulta em congestionamento e filas ao longo do segmento próximo à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sugerindo obras de adequação. A Figura 119 mostra a sinalização turística da avenida, indicando os acessos aos atrativos. Figura 118 – Cuiabá, Av. Fernando Correa da Costa Figura 119 – Cuiabá, Av. Fernando Correa da Costa, sinalização turística 158 Já no trecho de ligação entre Cuiabá e Jaciara, a rodovia BR-163/ 364 apresenta alternância de segmentos em bom estado de conservação e sinalização, e segmentos com trafegabilidade bem prejudicada, o que colabora para o título de „rodovia da morte‟, como também é conhecida (Figura 120). A Figura 121 apresenta segmento da rodovia BR-163/ 364 com pavimentação em péssimo estado e ausência de sinalização. Figura 120 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, alternância de sinalização e conservação Figura 121 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, precariedade na pavimentação e sinalização Às margens da BR-163/364, encontram-se pontos de queimadas e erosão (Figura 122) e presença de acampamentos do MST aguardando assentamento agrário (Figura 123). Figura 122 – Cuiabá/ Jaciara, BR-163/ 364, pontos de queimadas Figura 123 – Cuiabá/ Jaciara, BR 163/ 364, acampamento do MST 159 A MT-457, conhecida como EP Cachoeira da Fumaça (Lei Estadual 7.091/98), dá acesso ao atrativo de mesmo nome, além de a outros, como Cachoeira da Mulata (p. 96) e aos Balneários Ipê e Thermas (p. 95), que, durante a alta temporada, chegam a receber 800 visitantes por final de semana. A Figura 124 mostra os graves problemas de drenagem que aparecem na rodovia, após uma chuva rápida, no trecho sem pavimentação, que acarretam em grande perda de material. Instantaneamente após a chuva, a cor, a limpeza e o volume das águas dos atrativos e córregos nos arredores da rodovia são afetados pela transferência do material vindo da EP, como é o caso da Cachoeira da Mulata. Na Figura 125, observa-se que no acesso à Cachoeira da Mulata não há condições de segurança durante o percurso, situação que se repete em outros atrativos. Figura 124 – Jaciara, MT-457, acesso ao complexo da Cachoeira da Fumaça Figura 125 – Jaciara, MT-457, acesso à Cachoeira da Mulata A Figura 126 apresenta as condições noturnas precárias de trafegabilidade na rodovia MT457, devido à sinalização viária horizontal e vertical e à sinalização turística em péssimo estado. Figura 126 – Jaciara, MT-457, condições noturnas de trafegabilidade Em Jaciara, a área urbana da sede do município é definida por uma malha viária com padrão ortogonal rígido, que é cortado longitudinalmente pela BR-364/ 163, o que causa alguns pontos de conflito devido ao intenso fluxo de caminhões. A maior parte das vias 160 urbanas são pavimentadas (tipo asfáltico) e não possuem sistema de drenagem, que seria imprescindível devido à característica do solo, muito suscetível aos problemas de erosão. A rodovia MT-344 apresenta-se como uma alternativa de acesso a Campo Verde, a partir de Jaciara, assim como a BR-251, a partir da Chapada dos Guimarães. Tem grande potencial paisagístico, uma vez que está instalada na crista das elevações, proporcionando rica vista do horizonte, com os Chapadões ao fundo. Entretanto, verificam-se problemas quanto às condições de trafegabilidade existente, pavimentação irregular, intenso fluxo de caminhões, qualidade e quantidade da sinalização oscilante ao longo dos segmentos, perigos causados pela alta velocidade que se alcança (pela própria forma da pista) e conflitos de tráfego, como se vê na Figura 127. Figura 127 – Jaciara/ Campo Verde, MT-344 Em Campo Verde, o trecho urbano da rodovia MT-344 é dominado pelo trânsito de caminhões à espera do carregamento da produção agrícola (Figura 128). A vicinal que dá acesso à Fazenda Marabá, a partir do município de Campo Verde, está em boas condições, apesar das fortes chuvas. Porém, deve-se ter cautela para, eventualmente, transitar juntamente com a comitiva transportando o gado (Figura 129). Figura 128 – Campo Verde, MT-344, trecho urbano Figura 129 – Campo Verde, vicinal de acesso à Fazenda Marabá No acesso de Campo Verde à Chapada dos Guimarães, pela rodovia MT-251, é proibida a circulação de caminhões, o que contribui para as boas condições de trafegabilidade e pavimentação do trecho; a sinalização viária e turística também é boa (Figura 130). 161 Figura 130 – Campo Verde/ Chapada dos Guimarães, MT-251 3.1.1.3 CUIABÁ/ NOBRES O trecho entre Cuiabá e Nobres está caracterizado pela Tabela 25. Sinteticamente, verificase que: Cuiabá, perímetro urbano: percurso até o início da MT-010 é feito em área urbana consolidada de Cuiabá, com intenso fluxo de automóveis. Boa sinalização de trânsito e turística. Cuiabá/ Nobres, MT-010/ 246: recentemente entregue, a MT-010 apresenta-se como alternativa à congestionada BR-163, que está em obras. Conta com boa sinalização viária, mas nenhuma sinalização turística. Cuiabá/ Nobres, BR-163: atualmente, as condições da rodovia são muito precárias, entretanto, espera-se que sejam melhoradas após a conclusão das obras de duplicação, que incluirão a total sinalização da via. – perímetro urbano: pavimentação, predominantemente asfáltica, apenas nas vias principais e entorno imediato. O núcleo urbano, embora de dimensões demográficas e físicas reduzidas, apresenta trânsito confuso devido à sinalização viária deficiente. Nobres – atrativos nos distritos de Roda d‟Água e Vila Bom Jardim, vicinais: destaque para a intensa sinalização viária. Desde a sede do município até as sedes dos distritos, todo o percurso é realizado em via sem pavimentação (e, aparentemente, sem manutenção), com as condições de trafegabilidade prejudicadas pelas chuvas. Nobres Nobres/ Cuiabá, MT-240/ 351: rodovia sem pavimentação, com muitos trechos em obras. O percurso permite verificar o imenso potencial cênico das vias, muito propício para o turismo. Cuiabá – sede (perímetro urbano) Localidades Tabela 25 – Monitoramento das vias, trecho turístico Cuiabá/ Nobres/ Cuiabá Condição da via Via Trecho Trafegabilidade Segmento em Saída para condições regular Entroncamento Acorizal (Rodovia de tráfego, entre BR-251 e Emanuel apresentando MT-010 Pinheiro) irregularidades ao longo do trecho. Observações Sinalização viária Sinalização horizontal e vertical em boas condições. Cruza área extremamente urbanizada (Bairro Consil), próximo ao Terminal Rodoviário de Cuiabá e a via estrutural importante (Av. Miguel Sutil). Nobres/ Cuiabá Nobres (sede) / atrativos Nobres – sede (perímetro urbano) Cuiabá/ Nobres Cuiabá/ Nobres Localidades 162 Condição da via Via Trecho Trafegabilidade MT-010/ 246 BR-163 Vias urbanas Vicinais MT-240/ 351(denominação dada conforme informação constante nos mapas disponibilizados pela SINFRA-MT) Todo o trecho até Jangada Trecho de Jangada a Nobres - Todo o trecho entre a sede e os atrativos (Vila Bom Jardim) - Observações Sinalização viária Segmento em boas condições de tráfego, sem irregularidades na superfície da pavimentação. Sinalização horizontal e vertical em boas condições, porém não há sinalização turística. Presença de pontos de movimentação de terra e erosão (não foi possível identificar se a movimentação é decorrente de atividade mineradora ou mesmo das obras da rodovia, ainda recentes). Verificado lixo depositado nas margens da pista. Segmento em condições precárias de trafegabilidade, com obras de duplicação. Sinalização prejudicada. Longos trechos sem qualquer sinalização horizontal/ vertical. Provavelmente será escopo de obra em andamento. Nas proximidades da rodovia, o acesso à Cachoeira do Tombador é mal sinalizado, causando confusão no percurso. Sinalização regular. Aparentemente, sem sistema de drenagem. Sinalização viária regular e boa sinalização turística. Muitos pontos de erosão, aumentando o risco da circulação, principalmente no período noturno. Vias, em sua maioria, sem pavimentação. Apenas as ruas da região central possuem pavimentação (asfáltica ou paralelepípedos). Vias sem pavimentação, alternando trechos em boas condições de trafegabilidade com trechos de condições precárias, exigindo atenção redobrada do condutor. As rodovias apresentaram grande potencial cênico. Vias sem Trecho da MT-351, pavimentação, Sem sinalização, próximo Eclusa de Manso, com muitos vias em obras com pavimentação e trechos em obras. sinalização em bom estado. Como visto anteriormente, no perímetro urbano de Cuiabá, é a Av. República do Líbano que dá acesso à saída para Acorizal, pela MT-010. A via tem tráfego intenso, pois o percurso é utilizado também como saída para Chapada dos Guimarães. A MT-010/ 246, atualmente, tem sido muito utilizada como acesso a Nobres, em alternativa à BR-163, entretanto não foram encontradas placas indicativas da localidade/ quilometragem ao longo do segmento. A Figura 131 mostra exemplos da sinalização turística presente na rodovia. 163 Figura 131 – MT-010, placa indicativa e de serviços turísticos privados A BR-163, no trecho de Jangada a Nobres, apresenta condições de trafegabilidade opostas à encontrada na MT-010. A Figura 132 mostra o intenso fluxo de caminhões na rodovia. Na Figura 133, observa-se a exploração de calcário às margens da BR-163; foi registrada também a presença de pasto (fazendas de pecuária), áreas de reflorestamento (com a espécie arbórea „teca‟) e pontos de depósito de lixo. Figura 132 – Cuiabá/ Nobres, BR-163 Figura 133 – Cuiabá/ exploração de calcário Nobres, BR-163, No perímetro urbano de Nobres e nas vicinais, a sinalização turística é maciça, garantindo fácil acesso aos atrativos (Figura 134). Quanto à sinalização viária, a ausência de um sistema eficiente no perímetro urbano contribui para uma confusão generalizada na mobilidade no município: não há separação nas vias para os diferentes usuários (automóveis, ciclistas, pedestres, entre outros), o que gera diversos conflitos no trânsito. 164 Figura 134 – Nobres, sinalização turística no perímetro urbano e vicinais As vicinais apresentam vários pontos de erosão às margens da pista de rolamento, prejudicando possível área de acostamento, conforme Figura 135. As condições de trafegabilidade são prejudicadas com as chuvas, evidenciando pouca manutenção e não utilização de sistema de drenagem específico para vias não pavimentadas. Figura 135 – Nobres, vicinal com pontos de erosão A Vila Bom Jardim (Figura 136), em Nobres, representa a realidade dos pequenos núcleos urbanos da região, que não contam com uma configuração urbanística consolidada. No retorno de Nobres à capital, existe a alternativa de acesso pela rodovia MT-241/ 351, porém há muitas obras durante o percurso. O trajeto configura-se, contudo, por grande potencial paisagístico (Figura 137). 165 Figura 136 – Nobres, sede Vila Bom Jardim Figura 137 – Nobres/ Cuiabá, MT-241/351 Apontados os problemas de acesso rodoviário às cidades e atrativos do Polo, o próximo item trata do acesso aéreo. 166 3.1.2 Acesso aéreo Em Mato Grosso, conforme a Tabela 26, existem 23 aeródromos particulares distribuídos pelos municípios do Polo Cerrado. Segundo nomenclatura adotada pela ANAC (2009), aeródromo é “toda área destinada ao pouso, decolagem e movimentação de aeronaves”. Um aeroporto é um aeródromo público que também é “dotado de instalações e facilidades para dar apoio às aeronaves e ao embarque e desembarque de pessoas e cargas”. Dos aeródromos privados, destacam-se três, pela relevância para o conjunto dos atrativos ou pela proximidade: Fazenda Marabá, em Campo Verde; Morro do Chapéu II e Fazenda Buriti, ambos na Chapada dos Guimarães. Todos os demais aeródromos pertencem a fazendas agropecuárias, em maior número no município da Chapada dos Guimarães. IFR noturno Comprimen to da pista Piso IFR Data da efetivação Portaria da efetivação Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 10/07/03 DAC Nº 1015/SIE Fazenda Galheiro Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 01/11/06 ANAC Nº 383/SIE Fazenda Marabá Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 26/12/00 ANAC Nº 933/SIE Fazenda Floresta Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 23/10/00 ANAC Nº 679/SIE Fazenda Santo Antônio Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 31/10/00 ANAC Nº 951/SIE Fazenda Lagoa Funda Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 25/11/00 ANAC Nº 1325/SIE Aviador Mário Luiz Spinelli Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 28/11/02 DAC Nº 1689/SIE Morro do Chapéu II Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 11/03/03 DAC Nº 434/SIE Paredão da Serra Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 12/02/07 ANAC Nº 123/SIE Fazenda Buriti Sim n.d. n.d. n.d. 1000 Gra ma 24/01/05 DAC Nº 54/SIE Cachoeira Rica Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 08/08/03 DAC Nº 1129/SIE Ninho das Águias Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 15/07/00 DAC Nº 616/SIE Estância Santa Rita Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 14/07/04 DAC Nº 704/SIE CIFI Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 14/07/04 DAC Nº 728/SIE Estância Santana Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 22/04/03 DAC Nº 603/SIE Chácara Córrego Fundo Não Não Não Não n.d. n.d. 04/07/07 ANAC Nº 673/SIE Chácara São José Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 25/11/00 DAC Nº 1268/SIE Fazenda do Açúcar Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 01/11/06 ANAC Nº 382/SIE Essência Retiro do Rio Cuiabá Sim Não Não Não 1000 Pedr a 17/06/09 ANAC Nº 931/SIE Nobres Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. Aeródromo (*) 50 VFR noturno Luiz Eduardo Magalhães 49 VFR diurno diurno Tabela 26 – Aeródromos privados Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Fazenda Nossa Senhora Aparecida Nobres 49 VFR refere-se a visual flight rule, isto é, o voo realizado com referências visuais externas. 50 IFR refere-se a instrument flight rule, isto é, o voo realizado sem referências visuais externas, por instrumentos. IFR noturno Comprimen to da pista Piso IFR Data da efetivação Portaria da efetivação Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. Empresa de Mineração Aripuanã Ltda. Sim n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. 24/01/01 DAC Nº 1095/SIE Aeródromo (*) 50 VFR noturno Fazenda Tuiuiú 49 VFR diurno diurno 167 Nota: n.d. = não disponível. Fonte: Adaptado de ANAC, 2009 (*) Aeródromos existentes em 15/12/2009 Com relação aos aeródromos públicos (Tabela 27), na Chapada dos Guimarães há uma unidade administrada pela Aeronáutica e, em Jaciara, uma com administração municipal, ambas com autorização para receber voos nacionais. O último, e principal, é o Aeroporto Internacional Marechal Rondon, administrado pela INFRAERO, situado no aglomerado urbano de Cuiabá/ Várzea Grande, que oferece ligações com os grandes centros brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília) e conexões, além de receber também voos internacionais. n.d. Aeroclube de Jaciara Jaciara Sim n.d. n.d. n.d. INFRAERO Marechal Rondon Sim Sim Sim Sim n.d. Av. Ronan Araújo Itacarambi, s/n R. Gov. João Ponce de Arruda, s/n Jardim Aeroporto Piso n.d. Largura n.d. Comprimento da pista IFR noturno Sim Município IFR diurno Posto Leonardo Vilas Boas Endereço VFR noturno VI Comando Aéreo Regional Aeródromo VFR diurno CGB Interessado/ administrado r (*) IATA Tabela 27 – Aeródromos públicos Chapada dos Guimarães 1000 20 n.d. Jaciara 1088 22 Asfalto Várzea Grande 2300 45 Asfalto Nota: n.d. = não disponível. Fonte: Adaptado de ANAC, 2009 (*) Aeródromos existentes em 15/12/2009 Todos os aeródromos públicos do Polo Cerrado têm estruturas físicas que operam no limite ou aquém da necessidade para o desempenho de suas funções. Pode-se observar, por exemplo, as condições de funcionamento do Aeroporto Internacional Marechal Rondon que, há muito, não atendem ao movimento operacional, causando dificuldades de acesso no check-in, raios-x, desembarque, para retirada das bagagens e, inclusive, nas áreas de transbordo externo e estacionamento. A Tabela 28 indica o incremento apresentado no fluxo de aeronaves e passageiros do aeroporto, em um período menor que 10 anos. Se comparados os números de aeronaves e de passageiros dos anos 2003 e 2009, verifica-se um aumento de mais de 30% com relação ao total do movimento de aeronaves e acima de 25% do total de passageiros. Tabela 28 – Movimento aéreo operacional, 2003 e 2009 Dependência Aeroporto Marechal Rondon (*) Janeiro a outubro. Fonte: INFRAERO, 2009. Ano Aeronaves (unid.) Domest. Intern. Total Domest. Passageiros (unid.) Intern. Total 2003 (*) 28.436 80 28.516 529.831 284 530.115 2009 (*) 36.913 182 37.095 1.348.755 728 1.349.483 168 É o que justifica o fato de que, desde 2003, o aeroporto vem recebendo obras de melhoria, como recuperação do pátio de aeronaves, implantação do sistema de macrodrenagem, climatização, entre outras. Porém, devido ao crescente fluxo de passageiros, seja para negócios e eventos (feiras agropecuárias), seja para lazer, há obras de reforma e ampliação em processo de licitação. Conforme informações dadas em entrevista do Superintendente da INFRAERO em Mato Grosso ao jornal Circuito MT (ALVES, 2009), pode-se elencar o conjunto de adequações que serão realizadas no aeroporto: remanejamento da área administrativa (áreas vizinhas); adequação do sistema viário de acesso ao aeroporto, considerando o acesso do público por meio de transporte coletivo (hoje, os ônibus circulam apenas na avenida contígua ao acesso da rota de entrada, obrigando o pedestre a caminhar para entrar nas dependências do aeroporto); reforma e ampliação do atual estacionamento (o atual ocupa uma área de 9.080,31m² e oferece 260 vagas); instalação de pontes de embarque e construção de conector interno; ampliação da sala de embarque (a atual tem 580m², o projeto prevê aproximadamente o dobro de tamanho); ampliação da sala de vistoria (de 114m² para quase 300m²) e esteiras; aumento do número de balcões de check-in (hoje o aeroporto conta com somente sete unidades). A publicação do edital de contratação do projeto executivo está prevista para março/2010, com conclusão prevista para abril/2011, sendo que, em maio/2011, será publicado o edital para execução da obra, que tem como prazo de conclusão junho/2013. A estruturação do Aeroporto Internacional Marechal Rondon compõe o conjunto de obras programadas para a melhoria do sistema aeroviário do estado, previstos no Plano Aeroviário do Estado de Mato Grosso (PAMAT), para o período de 2005-2024, realizado pelo Instituto de Aviação Civil (IAC), em 2004, em diálogo com o Governo do Estado (MATO GROSSO e IAC, 2005). Tal plano apresenta o levantamento de instalações de administração/ interesse público e privado – todavia, restringiu-se à análise e proposta apenas dos aeródromos públicos. De forma geral, o PAMAT indica que o desenvolvimento das unidades aeroportuárias é possível e que apenas 26% dos aeródromos analisados não podem manter suas atividades no mesmo sítio, caso ocorra incremento nas atividades – dentre eles, o da Chapada dos Guimarães e Jaciara. Diante desse cenário, o PAMAT apresenta alternativas para a adequação dos aeródromos públicos desses municípios. Por terem sido considerados inadequados para receber investimentos em obras de melhorias e ampliações, torna-se, portanto, necessária a instalação dos aeródromos em outro lugar. O PAMAT prevê, dessa forma, atividades que compreendem um conjunto de obras e serviços a serem realizados ao longo do seu período de vigência (2005-2024), como seleção de novo sítio aeroportuário, prevendo a adequação do entorno à legislação aeronáutica, regularização patrimonial, implantação dos elementos básicos que compõem a infraestrutura do novo aeródromo/ aeroporto, futuras adequações (quando se mostrar necessária a modificação de características físicas ou operacionais da infraestrutura diante do crescimento da demanda) e manutenção. Para os aeródromos/ aeroportos classificados como turísticos, são definidas plantas de configuração a serem utilizadas como subsídio para a elaboração do planejamento e projetos executivos e, no caso de novas unidades, para o atendimento das diretrizes vinculadas à adequação do sítio selecionado. Na análise da demanda por transporte aéreo de Mato Grosso, foram definidos os municípios que devem ser atendidos de forma regular. A Chapada dos Guimarães, descrita como “município muito importante no tocante ao turismo ecológico e esotérico, 169 apresentando o maior potencial turístico do estado” (BRASIL e MATO GROSSO, 2005), e Jaciara, que, de acordo com o PAMAT, detém grande importância junto ao turismo de aventura, foram incluídas como relevante, sendo avaliados, inclusive, quanto ao potencial de operação de tráfego não regular (charter). Para a Chapada dos Guimarães foi indicada a operação de aviação não regular que se utilize de aeronaves de fretamento ou de voo charter de grande porte, e aviação regular de médio porte. As atividades para a implantação do novo aeródromo foram distribuídas ao longo do período de vigência do PAMAT, sendo que: até 2009, a fase de implantação deveria ser atendida, abarcando desde a escolha de sítio aeroportuário, elaboração de lei municipal de uso do solo do entorno até a implantação da pista e sua pavimentação, entre outros elementos; entre 2010 a 2014, foram previstas ampliações do comprimento e largura da pista de pouso e decolagem até um total de 1.800 m por 45 m, ampliações do terminal de passageiros e do estacionamento de veículos; e, a partir de 2015, foi prevista a manutenção das instalações existentes. Até o fechamento deste Diagnóstico não foram obtidas informações sobre o atendimento da primeira fase, contudo a planta de configuração proposta para o aeroporto da Chapada dos Guimarães já havia sido apresentada pelo PAMAT, conforme a Figura 138. Figura 138 – Novo aeródromo de Chapada dos Guimarães, configuração proposta Fonte: MATO GROSSO e IAC, 2005 Para o município de Jaciara foi indicada a instalação de um novo aeródromo que atenda a aviação regular e não regular de médio porte. As atividades de implantação da nova infraestrutura foram distribuídas da mesma forma que na Chapada dos Guimarães, seguindo, inclusive, os mesmos prazos. A diferença reside apenas na planta de configuração proposta (Figura 139). Figura 139 – Novo aeródromo de Jaciara, configuração proposta Fonte: MATO GROSSO e IAC, 2005 No item seguinte são tratados os acessos hidroviários e ferroviários no Polo Cerrado. 170 3.1.3 Acesso hidroviário e ferroviário Para finalizar este item, é necessário analisar os sistemas hidroviário e ferroviário, que pouco contribuiriam para facilitar o transporte de pessoas (visitantes ou não) pelo estado, pela forma como foram concebidos nos planos em andamento. No entanto, poderiam ter reflexos diretos no desafogamento do sistema rodoviário. São antigas as reivindicações de expansão da ferrovia Ferronorte até a capital Cuiabá, o que atenderia toda a baixada cuiabana e demais regiões. Porém, embora o projeto da ferrovia conste dos antigos e atuais Planos Plurianuais (PPA) do Governo Federal, os estudos de impactos socioambientais ainda estão em discussão. Ademais, o projeto prevê apenas o escoamento da produção agrícola, sem transporte de passageiros. A seguir, é apresentada a realidade do Polo sob a perspectiva de sua infraestrutura de saneamento básico. 171 3.2 SANEAMENTO Questões como a melhoria das condições de saneamento das cidades e o controle de epidemias urbanas pautam as discussões de saúde pública e, há muito, são uma preocupação diante do crescente índice de urbanização mundial. Ao longo da história, as sociedades desenvolveram pesquisas e tecnologias na área de saneamento para enfrentar tecnicamente o abastecimento regular de água e a remoção de resíduos indesejáveis à vida comunitária, práticas que se utilizam de níveis tecnológicos cada vez mais sofisticados em determinados países e de sistemas simplificados em regiões subdesenvolvidas e com populações de baixo poder aquisitivo. Por isso, embora os avanços sejam inúmeros, a universalização dos serviços de saneamento básico – desafio lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a todos os países –, ainda não é uma realidade mundial, mas tornou-se uma meta a ser alcançada até 2015. No Brasil, os investimentos em projetos de obras de instalação e ampliação na área de saneamento foram retomados com mais intensidade no PAC (gestão federal 2006/ 2010) (AZEVEDO, 2006) em ritmo que não se observava desde a extinção do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANASA) e do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1986 Segundo dados do IBGE com base no censo de 2000, da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2001-2007 e do Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE e IBGE, 2009a-e), até 2007 havia 83,3% dos domicílios brasileiros ligados à rede geral de abastecimento de água. Todavia, quando o assunto é esgotamento sanitário, apenas 55,5 milhões de domicílios brasileiros eram ligados a redes coletoras no mesmo período, o que representa 51,3% do universo. Por não possuírem rede coletora de esgoto, 58% dos distritos51 brasileiros têm como alternativa a utilização de fossas sépticas e sumidouros, fossas negras52 ou mesmo lançamentos diretos em cursos d‟água. Quanto ao sistema de drenagem pluvial, apenas 58% dos núcleos urbanos dos distritos possuem tal rede. A coleta de lixo atende 90,2% dos domicílios brasileiros, mas isso não garante a existência da prática da coleta seletiva e, tampouco, que a disposição final do lixo ocorra segundo critérios e normas técnicos que visem o controle da poluição e proteção à saúde pública. Algumas ações no Brasil desenham um cenário de otimismo: o maciço investimento definido no PAC – embora, para atingir a meta de universalização, analistas indicam que os investimentos deveriam ser dobrados, caso contrário, a meta somente será atingida em 2033 (EXAME, 2008) – e a aprovação da Lei 11.445/2007 (BRASIL, 2007), que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, auxiliando na adequada implantação e/ ou manutenção do conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais, após mais de 20 anos sem parâmetros para a regulação. Em Mato Grosso, a maior parte das ações de saneamento é de responsabilidade das administrações municipais, o que pode indicar o baixo grau de eficiência e de investimentos, dada às fragilidades institucionais (entre elas, limitações financeiras e técnicas) que a maioria dos municípios apresenta (AZEVEDO, 2006; 2007). Até 1996, o saneamento 51 Conforme os conceitos oficiais que embasam as pesquisas do IBGE, distrito é toda unidade administrativa do município. Ver capítulo “Notas Metodológicas” - Censo Demográfico 2000 (IBGE, 2000a). 52 Por fossa séptica e sumidouro, entende-se todo dispositivo tipo câmara, enterrado, destinado a receber o esgoto sanitário para separação e sedimentação do material orgânico e mineral, transformando-o em material inerte. A fossa negra, também conhecida por fossa seca, ao contrário, caracteriza-se por poço seco escavado em terra, destinado a receber e acumular todo o esgoto sanitário (IBGE, 2000b). 172 básico, que compreendia o sistema de captação, tratamento e abastecimento de água e também o sistema de tratamento do esgoto sanitário, estava sob a responsabilidade da Companhia Estadual de Saneamento do Estado de Mato Grosso (SANEMAT). A partir da sua extinção, os municípios optaram por diferentes modelos: concessão ao setor privado, prestação direta do serviço por secretaria municipal, criação de autarquias, companhias municipais, entre outros. No mesmo ano, na esfera estadual, criou-se a AGER-MT para desempenhar as atividades de controle, fiscalização, normatização e padronização com relação aos serviços de saneamento, rodovias, portos e hidrovias, transporte intermunicipal de passageiros, distribuição de gás canalizado, energia elétrica e telecomunicações. Com relação ao saneamento básico, as ações se pautam na legislação federal aprovada em 2007. Ao avaliar sistemas de saneamento numa região como o Polo Cerrado, depara-se com serviços de qualidade muito aquém do desejável – em detrimento do bem-estar da população – e com ausência de informações operacionais mais detalhadas, com elevado grau de imprecisão e mesmo superficialidade quando provenientes das administrações municipais, embora sejam as gestoras preferenciais dos serviços. 173 3.2.1 Abastecimento de água Um sistema de abastecimento de água precisa atender a requisitos mínimos de qualidade, como regularidade e continuidade dos serviços oferecidos, condições operacionais e de manutenção do sistema (em seus conjuntos de produção e distribuição e atendimento aos usuários) adequadas, a fim de suprir as necessidades básicas de consumo e proteção da saúde da população, conforme a legislação de saneamento básico brasileira. Na média, a região Centro-Oeste, embora com incrementos nas últimas décadas, é uma das áreas com alto déficit de atendimento da população com abastecimento de água canalizada (residencial, comercial, industrial e pública), e Mato Grosso apresenta números que contribuem para o déficit elevado. Para a realização do diagnóstico do Polo Cerrado, foram utilizadas duas abordagens. Uma delas, mais geral sobre os municípios, contou com uma análise feita a partir dos dados disponibilizados pelo Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA)53 e também dos Cadernos de Informação de Saúde – planilhas que compilam indicadores das diferentes bases de dados do Ministério de Saúde e o do IPEA. Complementarmente, foram acessados os estudos realizados no âmbito do Programa de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS), do Ministério das Cidades (2008a-e). A segunda abordagem deu-se com base em pesquisas nos municípios, por meio de aplicação de entrevista junto aos agentes governamentais ou da sociedade organizada, de técnicas de observação e de levantamento de dados operacionais primários. A primeira avaliação sobre o sistema de abastecimento de água potável, na escala nacional, estadual e dos municípios do Polo, é uma leitura sobre o tipo de sistema e o seu incremento em uma década. Tabela 29 – Tipo de abastecimento de água, % de moradores Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Ano Rede geral (%) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 68,0 75,8 57,5 63,6 38,5 75,6 39,9 54,6 94,7 91,9 78,2 89,3 64,4 73,6 Poço ou nascente na propriedade (%) 20,2 16,7 37,9 33,5 60,2 23,9 56,3 42,2 3,2 5,4 19,7 9,6 22,1 16,1 Outra forma (%) 11,7 7,5 4,5 2,9 1,3 0,5 3,8 3,1 2,1 2,7 2,1 1,1 13,5 10,3 Fonte: IBGE, 2000c A Tabela 29 mostra três formas de abastecimento de água: rede geral, poço ou nascente e „outra forma‟. Para o primeiro caso, são estabelecidos percentuais referentes à canalização da rede pública geral – indicador a ser considerado, pois é o mais recomendável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para reduzir os índices de mortalidade infantil e tantas outras enfermidades vinculadas ao consumo de água não tratada. Os índices do Brasil e de Mato Grosso são colocados a título de referência. Em relação aos municípios do Polo, observa-se com clareza que: 53 O sistema SIDRA incorpora os dados do Censo Demográfico 2000 e da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000, entre outros. 174 entre 1991 e 2000, do total dos cinco municípios, quatro apresentaram incremento na proporção de moradores abastecidos por meio de rede geral: Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Jaciara e Nobres; desses, o menor percentual verificado é na Chapada dos Guimarães, com cerca de 54% dos moradores abastecidos por esse sistema. Assim, os números se traduzem, para os municípios do Polo, na necessidade de investimentos em ações de saneamento para benefício da população. Tal variável permite uma caracterização geral de acesso ao serviço, mas é insuficiente para qualificar os sistemas de abastecimento em termos de controle da qualidade da água na captação, tratamento e distribuição, existência de racionamento, projetos de ampliação ou melhoria da rede, bem como a entidade prestadora do serviço e a existência, ou não, de um sistema tarifário para a cobrança dos serviços, conforme as diretrizes nacionais para o saneamento básico estabelecidas pela Lei 11.445/2007 (BRASIL, 2007). Todas essas análises são feitas a seguir, a partir dos dados disponíveis, relativos ao ano de 2000. A Tabela 30 mostra o tipo de captação de água. Isso é determinado conforme a localização dos mananciais, mas, do ponto de vista sanitário, a captação superficial é sempre suspeita, exigindo, no mínimo, precauções quanto a evitar focos de poluição (descarga de esgoto a montante da captação) e proteção contra corpos, inclusive peixes (AZEVEDO NETTO, 1982). Tabela 30 – Tipo de captação de água, por distritos com rede de abastecimento Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total geral de distritos Total de distritos com abastecimento Superficial Poço raso 9.848 227 2 3 4 2 2 8.656 186 2 2 4 2 1 4.236 76 1 3 2 1 774 1 - Adutora Poço de água profundo bruta 4.609 137 2 1 1 1 1 1.160 6 1 - Adutora de água tratada 1.549 6 - Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de captação. 2 – Superficial: captação de água de diferentes cursos d‟água, como rio, córrego, ribeirão, lago, lagoa, açude, represa etc., que têm o espelho d‟água na superfície do terreno. 3 – Poço raso: captação de água de lençol freático, ou seja, de água que se encontra acima da primeira camada impermeável do solo. 4 – Poço profundo: captação de água de lençóis situados entre as camadas impermeáveis. 5 – Adutora de água bruta: canal, galeria ou encanamento destinado a conduzir a água da captação, antes de receber qualquer tipo de tratamento, até a estação de tratamento. 6 – Adutora de água tratada: canal, galeria ou encanamento destinado a conduzir a água da estão de tratamento aos reservatórios de distribuição, depois de receber tratamento. Fonte: IBGE, 2000c A partir da Tabela 30, observa-se que: no Brasil e em Mato Grosso, predomina a captação em poço profundo; dos 13 distritos do Polo, em sete o abastecimento de água é realizada por captação superficial: um distritos na Chapada dos Guimarães; três dos quatro distritos de Cuiabá; em Jaciara, dois em conjunto com poço profundo; assim como em Nobres, que combina captação superficial com poço profundo; tanto em Nobres como em Chapada dos Guimarães, nota-se um distrito sem captação. A Tabela 31 mostra que soluções alternativas de abastecimento são verificadas na Chapada dos Guimarães, por meio de chafariz, bica ou mina e, em Nobres, com a utilização de poço particular que serve apenas a uma propriedade. 175 Tabela 31 – Solução alternativa para falta de abastecimento de água Total geral de distritos Brasil 9.848 Mato Grosso 227 Campo Verde 2 Chapada dos Guimarães 3 Cuiabá 4 Jaciara 2 Nobres 2 Fonte: IBGE, 2000c 343 7 - 561 33 - 84 - 92 - 103 1 - 9 - Total de distritos com solução alternativa 1.192 41 - 1 - 1 - - - - 1 1 Chafariz, bica ou mina Poço Caminhão- Cursos Outra particular pipa d’água Sem declaração Dos dados coletados em pesquisas secundárias e em campo, pode-se afirmar que: em Campo Verde, a captação subterrânea é feita em seis poços tubulares profundos espalhados em pontos diferentes da área urbana do município; Figura 140 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Campo Verde Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008a na Chapada dos Guimarães, a captação superficial é feita nos Córregos Monjolo (a 2 km do município) e Quinera, que sofrem pressão com os assentamentos irregulares (como o Grilo Sol Nascente, nas proximidades da cabeceira do Córrego Monjolo) e com a implantação de inúmeros condomínios fechados, que refletem a expansão da malha urbana sem controle oficial. A Tabela 31 indica que o município utiliza como solução alternativa de abastecimento chafariz, bica ou mina – no entanto, desde 2005, existem registros de gastos com caminhão-pipa para abastecer a população de água nos meses de seca (CHAGAS, 2005); 176 Figura 141 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Chapada dos Guimarães Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008b em Cuiabá, apenas 5% da captação de água é subterrânea, sendo que 95% da água distribuída é de captação superficial feita no Córrego Ribeirão do Lipa (Figura 142), principal fonte de água do município. Assim como as pressões causadas pelos assentamentos irregulares na Chapada dos Guimarães, pesquisas de campo indicam resquícios de invasão na parte baixa do Bairro Sucuri, em Cuiabá; e, em dezembro de 2008, ocorreu a reintegração de posse, após liminar da Vara Especializada Ambiental, de área de grande importância hídrica para o Rio Cuiabá, acima da estação de captação do Córrego Ribeirão do Lipa – a mesma situação tinha ocorrido no final da década de 1980 (DEUS, 2008); Figura 142 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Cuiabá Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008c 177 em Jaciara, a captação de água é realizada em poços tubulares profundos (Figura 143); Figura 143 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Jaciara Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008d embora dados do IBGE (2000c) indiquem que, em Nobres (Figura 144), ocorra a combinação de captação superficial e poço profundo, a pesquisa de campo confirmou apenas a utilização da captação superficial no Rio Nobres. Figura 144 – Descrição do sistema de abastecimento de água, Nobres Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008e Os distritos com captação, seja superficial ou poço profundo, implantam alguma forma de proteção, sendo que as mais utilizadas são o cercamento da área, preservação da vegetação e proibição de despejos, como mostra a Tabela 32. Infelizmente, os levantamentos em campo verificaram que essas formas de proteção não impedem a pressão sobre as áreas de captação, especialmente as do tipo superficial. 178 Tabela 32 – Proteção na captação de água 9.848 227 2 Com proteção na captação 4.236 76 - 3 4 2 2 1 3 2 1 Total geral de distritos Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Vigilância Área cercada Preservação da vegetação Proibição de despejos Outra 1.308 26 - 2.682 59 - 1.803 47 - 1.622 46 - 133 1 - 3 1 1 1 3 2 1 1 3 1 1 1 3 1 1 - Sem proteção na captação 695 8 - - Nota: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de captação. Fonte: IBGE, 2000c A poluição das águas nas áreas de captação vem ocorrendo por alguns fatores. O despejo de esgoto sanitário e industrial, típico de áreas urbanas mais densas, é verificado em Cuiabá. Em Nobres, observou-se que a destinação inadequada do lixo e do esgotamento sanitário é o tipo de contaminação mais frequente. Para complementar a questão da contaminação da água, não restrita apenas à área de captação, foram analisados os dados do estudo Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2008a), na seção sobre Meio Ambiente, que menciona outros tipos de poluição, afirmando que a contaminação do solo e da água está muito ligada às atividades de criação de animais devido à expansão da produção pecuária, infiltração de resíduos líquidos poluentes (vinhoto, chorume e sumidouros), a ocupação irregular dos cursos d‟águas e das áreas de águas subterrâneas, além do assoreamento do corpo d‟água por causa da mineração, dragagem dos bancos de areia, desmatamento em áreas de entorno e mata ciliar. Uma ou mais das situações listadas foram verificadas em todos os municípios do Polo. A Tabela 33 mostra a poluição na captação de água com, classificada pelo tipo de captação usada. A Tabela 34, por sua vez, discrimina o tipo de poluição encontrada. Tabela 33 – Captação de água com poluição ou contaminação na captação, por distrito Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Captação superficial (unidades) Captação superficial (percentual) 4.236 76 1 3 2 1 43,0% 33,5% 33,3% 75,0% 100,0% 50,0% Captação Captação Captação de poço de poço de poço raso raso profundo (unidades) (percentual) (unidades) 774 1 - 7,9% 0,4% - 4.609 137 2 1 1 1 1 Nota: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de poluição ou contaminação na captação. Fonte: IBGE, 2000c Captação de poço profundo (percentual) 46,8% 60,4% 100% 33,3% 25% 50% 50% 179 Tabela 34 – Tipo de poluição ou contaminação na captação de água, por distrito Número de distritos com captação superficial (Unidades) Recebimento de esgoto sanitário Recebimento de despejo industrial Destinação inadequada de lixo 612 3 - 316 5 - 316 2 - 217 1 - 585 2 - 356 4 - - - - - - - 1 - 1 - 1 - - 1 Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Atividade Resíduos mineradora agrotóxicos Outro Nota: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de poluição ou contaminação na captação. Fonte: IBGE, 2000c Da Tabela 35 à Tabela 38, é possível verificar se existe tratamento de água e qual o tipo efetuado. Observa-se que todos os municípios do Polo Cerrado têm, ao menos, uma estação de tratamento de água (ETA), exceto Campo Verde, que utiliza a simples desinfecção (cloração e outros) de 100% do volume de água. Os demais municípios tratam 100% do volume de água de abastecimento, com exceção da Chapada dos Guimarães, onde 96,7% recebe tratamento não convencional e 3,3% não passam por tratamento algum. Tabela 35 – Estações de tratamento de água Segmento Número de estações de tratamento (unidades) Produção total das estações de tratamento (litro por segundo) Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres 4.560 76 2 8 1 1 2.172.270 23.426 50 2.145 11 29 Nota: 1 – Há ocorrências de distritos que não souberam informar o número de estações de tratamento. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 36 – Tipo de tratamento de água, por distrito Volume Volume total Não Convencional de água de água com convencional (%) total (%) tratamento (%) (%) Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Simples desinfecção (cloração e outros) (%) 54 Sem tratamento 100,00 100,00 100,00 92,83 96,15 100,00 69,66 67,80 - 5,18 2,65 - 17,85 25,70 100 7,17 3,85 - 100,00 100,00 100,00 100,00 96,68 100,00 100,00 100,00 99,09 9,97 87,47 96,68 0,80 - 0,11 90,03 12,53 3,32 - Nota: 1 – A categoria volume total de água com tratamento inclui o volume total de água distribuída nos municípios que não discriminaram o tipo de tratamento da água. Fonte: IBGE, 2000c 54 Nesta linha, a soma de convencional (69,66%), não convencional (5,18%) e simples (17,85%) não dá o volume total de água com tratamento (92,83%). No entanto, esta é a informação do IBGE, 2000c. 180 Observa-se também a questão do controle de qualidade na captação de água (frequência anual, semestral, mensal, quinzenal, semanal, diária), de acordo com a Tabela 37 e a Tabela 38. Nenhum município do Polo realiza todos os procedimentos de controle da água indicados (IBGE, 2000c), entretanto Nobres é o município que segue o maior número de tipos de controle (bacteriológica, físico-química, substâncias químicas orgânicas, substâncias químicas inorgânicas e teor de flúor natural). Os municípios declararam que as prestadoras de serviço realizam coleta de amostra para análise na rede de distribuição – em Cuiabá, ocorre a coleta com frequência mais rigorosa (diária) e, na Chapada dos Guimarães, a menos rigorosa (semanal para o tipo cloro residual e mensal para o tipo de análise bacteriológica). Tabela 37 – Tipo de análise realizada na água captada, por distrito Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total Bacteriológica Físicoquímica Substâncias químicas orgânicas Substâncias químicas inorgânicas Indicadores de poluição Teor de flúor natural Não existe análise 4.236 76 - 3.137 60 - 3.064 61 - 2.201 17 - 2.173 15 - 1.485 14 - 1.313 15 - 880 9 - 1 1 - - - - - - 3 2 1 3 2 1 3 2 1 1 1 3 - 3 1 - Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de análise da água. 2 – Os números totais de distritos referem-se apenas aos com captação superficial de água. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 38 – Tipo e frequência da análise na rede de distribuição, por distrito Tipo e frequência da análise Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total CR 01 CR 07 CR 15 CR 30 CR 180 CR 365 Bac 01 Bac 07 Bac 15 Bac 30 Bac 180 Bac 365 5.463 112 2 989 40 - 2.458 20 1 493 6 - 1.135 24 1 228 15 - 61 3 - 1.709 27 - 972 6 - 298 3 - 752 9 - 468 5 - 70 2 - 1 - 1 - - - - - - - 1 - - 3 2 1 3 2 1 - - - - - 3 2 - 1 - - - - Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de análise da água. 2 – CR: cloro residual. 3 – Bac: bacteriológico. 4 – Os números totais de distritos referem-se aos analisados. Fonte: IBGE, 2000c A Tabela 39 apresenta o tipo de constituição jurídica das empresas que prestam serviços de abastecimento nos distritos dos municípios do Polo Cerrado conforme dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000c). Todavia, as informações divergem dos dados levantados em campo e dos constantes em estudo sobre os serviços de água e esgoto em Mato Grosso realizados pelo PMSS (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008a – e). A maior parte dos municípios do Polo tem seu abastecimento de água gerenciado por órgãos públicos, conforme segue: Campo Verde: dados oficiais do IBGE (2000c) indicam que, até 2000, os serviços de abastecimento eram realizados por autarquia. Atualmente, a empresa prestadora dos serviços de saneamento básico é a Águas de Campo Verde, pertencente à Kullinan Engenharia e Construção Ltda.; 181 Chapada dos Guimarães: Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), órgão vinculado à administração pública municipal; Cuiabá: SANECAP, sociedade anônima de economia mista, vinculada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano; Jaciara e Nobres: Departamento de Água e Esgoto (DAE) de cada município, órgãos municipais da administração direta. Tabela 39 – Constituição jurídica dos prestadores de abastecimento de água, por distrito Total Brasil 8.656 Mato Grosso 186 Campo Verde 2 Chapada dos Guimarães 2 Cuiabá 4 Jaciara 2 Nobres 1 Administração direta do poder público Empresa com participação Autarquia majoritária do poder público 3.166 96 1 2 - 923 21 2 4 - 4.717 60 1 - Empresa privada Outra 496 15 1 1.070 2 - Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um tipo de constituição jurídica das entidades prestadoras de serviço de abastecimento de água. 2 – A coluna total refere-se ao número de distritos analisados. Fonte: IBGE, 2000c Em todos os municípios do Polo Cerrado, os prestadores responsáveis pelo abastecimento de água utilizam para a cobrança dos serviços uma estrutura tarifária diferenciada, que considera o volume consumido e a classe de consumo, exceto Nobres, que utiliza uma tarifa única para todas as classes de consumo, diferenciando apenas o volume consumido. Na Chapada dos Guimarães existe uma tarifa social, cujo valor é de R$ 0,80/m3, utilizada para cobrança dos serviços de oferecidos às famílias de baixa renda (MNISTÉRIO DAS CIDADES, 2008b). Apesar da existência da estrutura tarifária, observa-se na Tabela 40 que três distritos (um em Campo Verde, um na Chapada dos Guimarães e um em Cuiabá) não realizam a cobrança pelo abastecimento de água. Isso se deve, provavelmente, por tratar-se de locais com menor densidade populacional, cujos habitantes são de renda baixa. A cobrança nos demais distritos pode significar tarifas simbólicas, insuficientes para a cobertura dos custos operacionais. A questão da cobrança dos serviços de água é sempre muito delicada e explica a postura de algumas administrações em não permitir a concessão dos serviços com o argumento da população de baixa renda a ser atendida. Tabela 40 – Cobrança pelo abastecimento de água, por distrito Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total 8.656 186 2 2 4 2 1 Cobra 7.011 146 1 1 3 2 1 Não cobra Sem declaração 1.606 39 40 1 1 1 - Nota: 1- A coluna total refere-se ao número de distritos analisados. Fonte: IBGE, 2000c A existência da cobrança criteriosa pelo serviço prestado pode garantir a autossuficiência do sistema, incluindo sua manutenção e ampliação, evitando possíveis racionamentos ou insuficiência no fornecimento de água potável. Como registrado nos relatórios do PMSS 182 (MINISTÈRIO DAS CIDADES, 2008a-e), os municípios de Campo Verde, Chapada dos Guimarães e Jaciara apresentaram redução das tarifas cobradas e consequente diminuição dos recursos captados, dificultando as possibilidades de investimento na manutenção e melhoria do sistema. Em Nobres, apesar do reajuste do valor da tarifa, em 2006, superior à inflação, não houve melhoria significativa do serviço de abastecimento de água. Cuiabá, com a prestação dos serviços pela SANECAP, é o único município que possui sistema de atualização das tarifas juntamente com parcerias, ampliando investimento e melhorias no sistema. A Tabela 41 e a Tabela 42 apresentam, respectivamente, dados sobre a existência e os motivos para o racionamento no abastecimento de água nos distritos e a frequência de ocorrência. Tabela 41 – Motivo de racionamento de água, distritos com serviço Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total geral de distritos Total Problemas Capacidade de na tratamento reservação insuficiente 9.848 227 2 8.656 186 2 346 9 - 129 6 - 67 1 - 1.254 32 - 282 9 - 7.005 141 2 3 2 - - 1 1 - 1 4 2 2 4 2 1 - - - 1 - 3 - 1 2 1 População flutuante Problemas Não de seca e/ ou Outro existe estiagem Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um motivo de racionamento. 2 – A categoria Outro inclui os distritos sem declaração do motivo de racionamento. Fonte: IBGE, 2000c Tais dados são importantes, pois apontam a necessidade de investimentos para a ampliação do sistema de abastecimento de água, uma vez que Cuiabá e Chapada dos Guimarães sofrem com o problema de racionamento de água, seja nos períodos de redução do volume das chuvas, que provoca estiagem, como em Cuiabá, seja por problemas na reservação insuficiente devido aos períodos de seca, como na Chapada dos Guimarães. A Chapada dos Guimarães chama ainda mais atenção, pois, sendo um dos municípios que, anualmente, vê um incremento na atividade de turismo pela proximidade com a capital e também relacionado a eventos de grande porte, como o Festival de Inverno de Música, momento em que a flutuação do contingente populacional praticamente triplica, apresenta uma necessidade urgente de ampliação de captação, tratamento e reservação de água. Por fim, declarações de moradores também indicam falta de água em períodos de alta temporada e o uso de caminhões-pipa para suprir o sistema de abastecimento (KREBS, 2009). Tabela 42 – Periodicidade do racionamento de água, por distrito Total geral de distritos Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres 9.848 227 2 3 4 2 2 Todos os Constante, anos na Total independente da época da época do ano seca 1.709 45 1 3 - 357 10 - Nota: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar mais de um motivo de racionamento. Fonte: IBGE, 2000c 679 30 1 3 - Esporadicamente Outra Sem declaração 582 4 - 105 1 - 6 - 183 Em 2000, os dados apresentados sobre investimentos em ampliações ou melhorias nas partes do sistema de abastecimentos dos municípios do Polo Cerrado indicavam que em ao menos 50% dos distritos ocorreram investimentos na rede de distribuição (Tabela 43), o que é coerente com o quadro de expansão dos núcleos urbanos, em grande parte de forma desordenada, onerando ainda mais as suas infraestruturas deficitárias. O município de Nobres também investiu na captação, adução, tratamento e reservação. Tabela 43 – Ampliações ou melhorias na rede de distribuição de água, por distrito Total Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Sem Na rede de Na Na No Na ampliações Outra distribuição captação adução tratamento reservação ou melhorias em curso 8.656 186 2 3.326 63 - 1.618 40 - 818 14 - 991 30 - 1.162 22 - 370 4 - 4.645 110 2 2 4 2 1 1 2 1 1 1 1 2 1 2 1 - 1 2 1 - Notas: 1 – Um mesmo distrito pode apresentar diferentes locais onde estão sendo feitas ampliações ou melhorias no sistema. 2 – A categoria Outra inclui os distritos sem declaração do local onde estão sendo feitas ampliações ou melhorias no sistema. 3 – A coluna total refere-se aos distritos com ampliação ou melhorias na rede. Fonte: IBGE, 2000c Depois disso, em Campo Verde, no período compreendido entre 2003 e 2007, por meio de convênios firmados com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), Caixa Econômica Federal (CEF) e a prefeitura, foram realizados investimentos no sistema de abastecimento de água (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008a). Entre 2006 e 2007, a Chapada dos Guimarães conseguiu, com recursos provenientes de convênios com a FUNASA e o MTur, aliados a recursos próprios, cerca de R$ 2 milhões para investir em serviços de ampliação do abastecimento de água (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008b). Em Cuiabá, foram registrados investimentos da SANECAP nos serviços prestados na área operacional (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008c), como: implantação e substituição de mil hidrômetros, apresentando um aumento de 144,2%, o que impacta diretamente no montante de arrecadação com o consumo; reservatório de 20.000 litros para o bairro Serra Dourada, que atende cerca de 300 famílias; construção de dois reservatórios de 1.000.000 de litros no bairro Altos da Serra, para desativação de poços artesianos e atendimento aos bairros Altos da Serra, Altos da Glória e Três Barras; extensão da rede de distribuição de água na Av. Beira Rio, na região do Porto, para atender os bairros Jardim Europa, Grande Terceiro, Praeirinho, São Mateus, entre outros (aproximadamente 15.000 ligações); reforma e adequação das instalações das ETA I e II, localizadas no bairro Quilombo; aquisição de área de cerca de 30 ha (Parque Municipal das Águas Dante Martins de Oliveira), que circunda a área de captação do Ribeirão do Lipa, que abastece 60% da população do município; obras de mais de R$ 2 milhões, em parceria com o Governo Federal, através do PAC, atualmente em andamento, pois haviam sido temporariamente paralisadas para investigação da existência de irregularidades. 184 Jaciara, no período de 2001 a 2007, firmou convênio com a FUNASA, conseguindo recursos para melhoria e ampliação dos serviços de abastecimento. Em Nobres, as melhorias no sistema de abastecimento de água foram realizados com recursos próprios. A partir da análise dos dados secundários, é possível concluir que no Polo há um claro predomínio de distritos que se utilizam de captação de água superficial para o abastecimento urbano, não há controle de qualidade na captação de água de poço profundo ao contrário da captação por adutora de água bruta e existe o predomínio do tratamento da água com simples desinfecção, seguido pelo tratamento convencional. Todos os municípios cobram pelos serviços de água, todavia, estudos do PMSS (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008a – e) indicam que ainda existem deficiências que limitam o aumento da arrecadação e consequente redução nos investimentos de ampliação de melhoria da rede de abastecimento de água. O levantamento de campo indica que as deficiências dos sistemas de abastecimento de água se ampliam quando se trata dos distritos rurais e outros fora da sede. Os problemas são percebidos por técnicos das prefeituras pesquisadas e por outros atores envolvidos com o turismo, principalmente quanto a deficiências com relação à quantidade e garantia do fornecimento, especialmente nos períodos de baixo índice pluviométrico, o que compromete a vazão dos corpos d‟águas e a qualidade da água, à mercê de poluição e dos precários meios de tratamento. Descritas as condições de abastecimento de água, o próximo item trata, dentro da questão de saneamento, do esgotamento sanitário. 185 3.2.2 Esgotamento sanitário A lei federal 11.445/2007 (BRASIL, 2007) estabelece que o esgotamento sanitário seja constituído pelo conjunto de infraestruturas e instalações operacionais para viabilizar a coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos e líquidos, das ligações prediais até lançamento no meio ambiente, com critérios de qualidade que visem minimizar os impactos ambientais quanto à poluição orgânica de corpos d‟água e mesmo contaminação do solo, bem como aumentar os índices de saúde pública. No Brasil, o sistema adotado é o denominado „separador absoluto‟, ou seja, sistemas independentes de esgotamento sanitário e de águas pluviais. Do mesmo modo que o sistema de abastecimento de água, o sistema de esgotamento sanitário é municipalizado, sendo que cada cidade tem um modelo de gestão específico, embora as atividades de regulamentação, acompanhamento e fiscalização estejam previstas no escopo das atividades da AGER-MT. Para o turismo, um sistema adequado de coleta de efluentes residenciais e industriais é garantia de qualidade ambiental aos ecossistemas aquáticos no Polo, aos próprios mananciais de abastecimento e à saúde da população em geral. Pelos dados preliminares, o grau de tratamento de água servida é muito baixo ou inexistente, considerando os níveis ideais de universalização dos serviços, criando riscos elevados para a saúde pública em geral e para o desenvolvimento do turismo. De acordo com Azevedo (2006), os dados indicam uma deficiência geral nos sistemas de água e esgoto urbano, com casos de lançamento de efluentes diretamente nos córregos e rios, ou de utilização de sistemas inadequados de fossa/ sumidouro, que desembocam e contaminam os mesmos pontos dos corpos d‟águas (lençol freático, córregos e rios). Ao observar a Tabela 44, vê-se uma situação preocupante de esgotamento sanitário nos municípios do Polo Cerrado, pois a maior parte deles apresenta percentuais de domicílios urbanos ligados à rede geral inferiores à média estadual, ficando acima da média na categoria fossas rudimentares. Tabela 44 – Instalação sanitária, por tipo, em % de moradores Rede Fossa geral de Fossa rudiAno esgoto/ séptimentar pluvial ca (%) (%) (%) Brasil 1991 32,1 16,8 27,4 2000 44,4 14,8 25,0 Mato Grosso 1991 5,2 19,1 55,7 2000 15,4 13,9 60,0 Campo Verde 1991 67,6 24,1 2000 1,5 2,7 90,9 Chapada dos 1991 8,0 38,5 Guimarães 2000 0,2 12,4 64,7 Cuiabá 1991 16,2 51,4 24.6 2000 51,8 21,6 22.8 Jaciara 1991 0,6 93,7 2000 0,7 31,1 64,4 Nobres 1991 28,2 46,5 2000 0,3 15,2 65,4 Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE e IBGE, 2009a-e Vala (%) Rio, lago ou mar (%) Outro escoadouro (%) Não sabe (%) Não tem (%) 3,6 2,7 2,3 1,2 1,3 1,9 3,4 7,2 1,5 0,8 0,3 0,5 5,7 1,4 2,6 0,4 0,2 1,0 - 3,6 0,9 0,5 0,7 0,0 0,2 0,0 0,3 0,8 0,5 0,0 0,4 0,1 1,9 0,2 0,3 0,1 0,8 0,3 - 16,3 9,6 16,9 8,4 7,0 2,6 49,9 15,2 4,8 1,6 5,1 2,9 19,5 15,7 Pode-se concluir ainda: com relação à instalação sanitária ligada à rede geral, os casos mais críticos são, sem dúvida, Chapada dos Guimarães (0,2%), Nobres (0,3%), Jaciara (0,7%) e Campo Verde (1,5%); 186 para fossa séptica, três municípios têm percentuais acima da média estadual, sendo os casos mais extremos Jaciara (31,1%) e Cuiabá (21,6%); na categoria fossas rudimentares, a situação do esgotamento sanitário se delineia nas suas reais proporções. Com exceção de Cuiabá, todos os municípios têm esse tipo de instalação em valores relativos altos, sendo Campo Verde o caso mais extremo (90,9%), ficando acima da média estadual, seguido por Chapada dos Guimarães (64,7%), Jaciara (64,4%), e Nobres (65,4%). A situação é preocupante, pois os sistemas são operados por órgãos da administração direta municipal, os quais não possuem estrutura técnico-administrativa suficiente (em número, qualificação técnica e recursos financeiros) para investir na implantação e/ ou ampliação do sistema de esgotamento, que garanta a qualidade ambiental. O sistema de esgotamento de Cuiabá (Figura 145) está sob a responsabilidade da SANECAP e, embora conte com pouco mais de 50% de domicílios ligados à rede geral, isto é, tenha uma malha deficitária, recentemente foram retomadas as obras do PAC e prevê-se que, após sua conclusão, Cuiabá amplie o seu sistema de esgotamento sanitário para 70%. Figura 145 – Sistema de esgotamento sanitário, Cuiabá Fonte: MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008c Em síntese, os serviços são essencialmente prestados pelas prefeituras; o esgotamento sanitário é lançado in natura nos rios, o que preocupa, levando-se em conta a importância desse recurso natural para grande parte dos atrativos turísticos do Polo Cerrado. Para continuar a análise das condições de saneamento do Polo Cerrado, o próximo item descreve aspectos da drenagem pluvial urbana. 187 3.2.3 Drenagem pluvial urbana Com a impermeabilização e compactação do solo, a drenagem urbana é um sistema esgotamento de águas pluviais de extrema importância, tendo a finalidade primeira captar o eventual excesso de água que não se infiltra no solo, conduzi-lo e destiná-lo forma a reduzir os riscos de inundação, de transmissão de doenças, de maus odores e redução da mobilidade urbana. de de de de Os sistemas de drenagem de água são divididos em microdrenagem e macrodrenagem. O sistema de microdrenagem compõe-se dos sistemas de coletas iniciais das águas pluviais como bueiros, sarjetas e dutos de ligação, enquanto que o sistema de macrodrenagem refere-se aos grandes troncos coletores, capazes de conduzir as águas pluviais, por gravidade sempre que possível, até o destino final. Há, ainda, dois sistemas de coleta de águas: a coletora unitária, onde esgoto sanitário e drenagem de águas correm juntos; e a coletora separadora, em que cada sistema corre de modo independente. Embora seja comum ocorrer a interconexão entre os dois sistemas, tal situação é preocupante diante de enchentes, uma vez que aumenta o risco de transmissão de doenças. Assim como ocorre com o sistema de abastecimento de água e com o sistema coletor de esgotamento sanitário, é preocupante a carência de sistemas de drenagem pluvial em áreas urbanas, principalmente por intensificar os processos de degradação ambiental, com consequências graves para a saúde pública e para o meio ambiente. As informações levantadas em campo e os dados apresentados na Tabela 45, Tabela 46 e Tabela 47 permitem afirmar que: para os municípios que o possuem, o serviço de drenagem pluvial é de responsabilidade exclusiva da administração direta dos municípios; os municípios da Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Nobres têm sistemas de drenagem pluvial urbana subterrânea e utilizam a modalidade de coleta separadora; Cuiabá é o município com a maior extensão de rede de drenagem e, em relação à microdrenagem, tem praticamente um terço de toda a rede estadual; o ponto de lançamento preferencial é em curso d‟água permanente. Tabela 45 – Tipo de rede coletora de drenagem urbana subterrânea, por município Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total geral de municípios Total de municípios com serviço de drenagem urbana subterrâneo 5.507 126 1 1 1 1 1 3.690 67 1 1 1 Notas: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um tipo de rede coletora de drenagem urbana. 2 – A coluna total representa o universo de municípios no censo de 2000. Fonte: IBGE, 2000c Unitária Separadora 806 4 - 3.019 64 1 1 1 188 Tabela 46 – Extensão da rede de drenagem urbana Extensão da rede de drenagem urbana (quilômetros) Macro/ Total Microdrenagem mesodrenagem Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres 104.906 1.158 12 320 2 18.751 193 20 - 78.473 964 12 300 2 Nota: 1 – A categoria Total inclui a extensão da rede de drenagem dos municípios onde não houve declaração da extensão da rede de macro/ mesodrenagem ou microdrenagem. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 47 – Ponto de lançamento de efluentes no manejo de águas pluviais Municípios Total com serviço de de manejo municíde águas pios pluviais Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Cursos d'água permanentes Cursos d'água intermitentes Áreas livres públicas ou particulares Reservatórios de acumulação ou detenção Outros Sem declaração 5.507 126 1 4.327 97 1 3.272 66 1 515 17 - 895 14 - 324 10 - 88 4 - 6 - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 - 1 - - - - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um ponto de lançamento do efluente. Fonte: IBGE, 2000c Outras questões pesquisadas foram a ocorrência de inundações ou enchentes e erosão, cuja constatação foi resultado da observação nos levantamentos de campo. As informações sobre ocorrência de inundações ou enchentes e área de extensão (Tabela 48) ficaram restritas a dois municípios – Cuiabá e Nobres – que apresentam, como fatores agravantes, adensamento populacional, obstrução de bueiros e boca de lobo, interferências físicas e obras inadequadas. Em Cuiabá, soma-se a própria constituição geológica, que apresenta solos de difícil permeabilidade que possibilitam a existência de lençóis freáticos – durante o período chuvoso, esses lençóis freáticos transformam sua área de abrangência em áreas alagadas, e muitas vezes, inundadas (Tabela 49). Tabela 48 – Extensão de áreas com inundações/ enchentes em 1998/1999 Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Fonte: IBGE, 2000c Total geral de municípios (Unidades) Total de municípios que sofreram inundações ou enchentes nos últimos dois anos (Unidades) Extensão das áreas onde ocorreram inundações ou enchentes (Hectares) 5.507 126 1 1 1 1 1 1.235 15 1 1 48.809 1.464 200 2 189 Sofreram inundações ou enchentes Dimensionamento inadequado de projeto Obstrução de bueiros/ bocas de lobo Obras inadequadas Adensamento populacional Lençol freático Existência de interferência física Outros Sem declaração Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total geral de municípios Tabela 49 – Fatores agravantes em inundações/ enchentes em 1998/1999 5.507 126 1 1.235 15 - 339 1 - 631 8 - 345 2 - 391 4 - 205 5 - 298 4 - 237 5 - 3 - 1 - - - - - - - - - 1 1 1 1 1 - 1 - 1 1 - 1 - 1 - - - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um fator agravante das inundações ou enchentes. Fonte: IBGE, 2000c A Figura 146 mostra ponto de alagamento em via local em Cuiabá após chuva de intensidade de média a forte. Também em Cuiabá, a Figura 147 apresenta ponto de alagamento em via principal, na Av. Beira Rio, próxima à Av. Fernando Corrêa da Costa, devido à insuficiência de esgotamento no sistema de drenagem. Figura 146 – Cuiabá, via local, ponto de alagamento Figura 147 – Cuiabá, via principal, ponto de alagamento A Figura 148 apresenta ponto de alagamento em vicinal na região de Nobres. Figura 148 – Nobres, vicinal, ponto de alagamento 190 Quanto a problemas com erosão no perímetro urbano, somente Cuiabá declarou ocorrência, cujos fatores agravantes são ocupação intensa e desordenada das áreas, bem como desmatamento. Com problemas de erosão que afetam o sistema de drenagem urbana Ocupação intensa e desordenada do solo Condições geológicas e morfológicas características de processos erosivos Desmatamento Sistema inadequado de drenagem urbana Outros Sem declaração Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Total geral de municípios Tabela 50 – Fatores agravantes de erosão que afetam o sistema de drenagem urbana 5.507 126 1 1 1 1 1 1.101 21 1 - 461 4 1 - 540 16 - 403 5 1 - 448 10 - 109 - 3 - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um fator agravante de erosão que afeta o sistema de drenagem. Fonte: IBGE, 2000c Na Tabela 51, Tabela 52 e Tabela 53 observa-se pouca informação disponível com relação às áreas de risco e pavimentação dos municípios do Polo, o que exigiu um esforço para a complementação dos dados a partir dos levantamentos de campo. Em síntese, os levantamentos comprovam que: é de responsabilidade da administração municipal a execução dos serviços ou obras de drenagem urbana; em muitos casos, a rede de drenagem é unitária, causando sérios problemas urbanos, como em Cuiabá, com o despejo de esgoto e águas pluviais nos córregos; não se tem dados sobre sistemas de monitoramento, incluindo plantas e banco de informações atualizados, e sobre extensão das redes e projetos; é grave o caso de Jaciara que não tem um sistema de drenagem subterrâneo e apresenta gravíssimos processos erosivos em seu perímetro urbano. Áreas anteriormente parceladas estão impedidas de serem ocupadas, pois o processo erosivo já tomou parte do local, formando grotões. Áreas de baixio sujeitas a inundações e/ ou proliferação de vetores Áreas sem infraestrutura de drenagem Áreas urbanas com formação de grotões, ravinas e processos erosivos crônicos Outras Sem declaração 5.507 Mato Grosso 126 Campo Verde 1 Chapada dos Guimarães 1 Cuiabá 1 Jaciara 1 Nobres 1 Áreas em taludes e encostas sujeitas a deslizamento Brasil Com áreas de risco no perímetro urbano que demandam drenagem especial Total geral de municípios Tabela 51 – Tipo de área de risco que demandam drenagem especial, por município 1.340 37 1 1 1 1 507 1 - 417 9 1 1 773 17 1 1 332 16 1 1 - 14 4 5 1 1 - 6 - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um tipo de área de risco. Fonte: IBGE, 2000c 191 Tabela 52 – Tipo de sistema de drenagem nas ruas pavimentadas no perímetro urbano, por município 5.507 126 1 1 Municípios com ruas pavimentadas no perímetro urbano 4.313 96 1 1 1 1 1 1 1 1 Total geral de municípios Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Superficial Subterrâneo Sem declaração 3.470 90 1 1 3.678 67 1 - 1 1 1 1 1 - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um tipo de sistema de drenagem urbana. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 53 – Ruas pavimentadas no perímetro urbano, por município Total geral de municípios Municípios com ruas pavimentadas Até no perímetro 20% urbano Mais de 20 a 40% Mais de 40 a 60% Mais Mais de 80 Sem de 60 a declaração a 80% 100% Brasil Mato Grosso Campo Verde 5.507 126 1 4.313 96 1 392 37 - 501 29 - 777 20 1 1.390 7 - 1.245 3 - 8 - Chapada dos Guimarães 1 1 - 1 - - - - 1 1 1 1 1 1 - 1 1 1 - - - - Cuiabá Jaciara Nobres Fonte: IBGE, 2000c Cabe destacar que a falta de sistema de drenagem adequado, além de dificultar a mobilidade, interfere no aspecto dos corpos d‟água dos atrativos turísticos, como verificado em Jaciara (vide Figura 124 e Figura 125). Em linhas gerais, constatou-se o quanto a precariedade do sistema de drenagem (seja urbano ou das vias que possibilitam o acesso às localidades/ atrativos) prejudica a mobilidade (urbana e regional) e tem interferido negativamente no meio ambiente de forma geral (erosões, descaracterização dos atrativos, entre outros). O próximo item trata de limpeza urbana. 192 3.2.4 Limpeza urbana Um sistema de limpeza urbana adequado busca retirar os resíduos sólidos do ponto de geração (residencial, comercial e industrial, entre outros usos), reduzir o potencial poluidor desses resíduos e minimizar os impactos ambientais – quer dos recursos hídricos ou do meio físico, e consequentes riscos à saúde humana – antes de seu depósito, normalmente no solo ou subsolo. Ao mesmo tempo, incentiva práticas que reduzam a sua geração, aliadas a um sistema de coleta seletiva que visa à reciclagem dos resíduos materiais. Os serviços de limpeza urbana englobam varrição, coleta regular, coleta de lixo especial, coleta seletiva, reciclagem, remoção de entulhos, tratamento e disposição final. Eventuais ineficiências podem gerar sérios problemas de saúde pública e contaminação dos solos e mananciais, bem como afetar esteticamente a paisagem das localidades turísticas, prejudicando sua imagem de hospitalidade. Dados do IPEA (2009) apontam que, com relação à população atendida nos municípios do Polo Cerrado, houve um aumento da proporção de domicílios com coleta de lixo entre 1991 e 2000 (Tabela 54), o que não significa que a maioria da população seja atendida pela coleta, e tampouco que a prática de destinação do lixo domiciliar seja a mais recomendada. Tabela 54 – Coleta de lixo, % de domicílios 1991 2001 Brasil 77,86 91,16 Mato Grosso 64,66 87,55 Campo Verde 75,61 95,38 Chapada dos Guimarães 70,57 83,15 Cuiabá 87,79 93,20 Jaciara 44,49 92,93 Nobres 55,06 73,17 Fonte: IPEA, 2009 Os municípios de Campo Verde, Cuiabá e Jaciara, a partir de 2001, apresentam percentuais de domicílios com coleta de lixo acima da média estadual e nacional. Já a Tabela 55 mostra valores percentuais muito acima da média estadual para a queima domiciliar de lixo não orgânico na Chapada dos Guimarães e em Nobres, situação inadequada pelos riscos que promove ao ambiente natural e pela emissão de poluentes. Tabela 55 – Tipo de destino de lixo, % de moradores Ano Brasil Coletado 1991 60,3 2000 76,4 Mato Grosso 1991 48,5 2000 71,5 Campo Verde 1991 43,5 2000 73,7 Chapada dos 1991 26,4 Guimarães 2000 51,0 Cuiabá 1991 86,2 2000 92,0 Jaciara 1991 43,1 2000 84,7 Nobres 1991 40,2 2000 57,0 Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE e IBGE, 2009a-e Queimado na propriedade 12,7 12,5 31,0 20,9 27,5 11,9 33,5 29,6 7,7 4,5 41,2 10,0 37,4 34,2 Enterrado na propriedade 1,6 1,2 2,2 2,5 10,9 7,8 4,1 11,9 0,3 0,2 1,2 1,4 2,5 3,7 Jogado Outro destino 18,9 8,4 15,3 4,3 17,7 6,5 27,0 6,3 5,5 2,9 14,2 3,3 18,2 4,5 6,5 1,4 3,0 0,8 0,4 0,2 9,0 1,2 0,3 0,4 0,3 0,6 1,7 0,5 A Figura 149 mostra o depósito de resíduos sólidos à beira do Rio Coxipó, em Cuiabá. Na Figura 150 vê-se depósito de lixo na zona rural da Chapada dos Guimarães. A Figura 151 e a Figura 152 mostram, respectivamente, a presença de resíduos sólidos em vicinal, na 193 Chapada dos Guimarães, e a presença de estrutura para coleta de lixo na sede do PARNA, no mesmo município. A Figura 153 apresenta estrutura urbana para depósito seletivo de lixo, entretanto não indica que existam a coleta e o tratamento seletivo do lixo no município. Figura 149 – Cuiabá, Rio Coxipó, depósito de resíduos sólidos Figura 150 – Chapada dos Guimarães, zona rural, depósito de resíduos sólidos Figura 151 – Chapada dos Guimarães, vicinal, presença de resíduos sólidos Figura 152 – Chapada dos Guimarães, PARNA, mobiliário para coleta de lixo Figura 153 – Jaciara, núcleo urbano, mobiliário para coleta seletiva de lixo Os serviços de limpeza urbana e coleta de lixo são essencialmente prestados pela administração municipal (Tabela 56). No entanto, em Cuiabá, a prefeitura divide a atuação com outras entidades e, em Campo Verde, a prefeitura não tem responsabilidades pelo serviço, sendo executado por outra entidade. 194 Tabela 56 – Forma de execução dos serviços de manejo de resíduos sólidos Total Brasil A prefeitura é a única Outras entidades são executora dos serviços executoras dos serviços A prefeitura e outras entidades são executoras dos serviços 5.475 4.822 73 580 Mato Grosso 126 114 2 10 Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá 1 - 1 - 1 1 - - 1 - - 1 Jaciara 1 1 - - Nobres 1 1 - - Nota: 1 – A coluna Total refere-se ao total de municípios que apresentam execução dos serviços de manejo de resíduos sólidos. Fonte: IBGE, 2000c Em alguns municípios, dados do PMSS (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008a-e) trazem informações diferentes sobre a prestação do serviço. Em suma, o documento indica que: em Campo Verde, a coleta de resíduos sólidos está sob responsabilidade da prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e de Viação e Obras Públicas, que atuam conjuntamente. O município possui aterro sanitário, no qual atua a Cooperativa de Reciclagem de Campo Verde; na Chapada dos Guimarães, a coleta e disposição final de resíduos sólidos está sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente e pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos; em Cuiabá, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo e a Secretaria Municipal de Infraestrutura (SEMINFE) são responsáveis por ações de prevenção, regulação e fiscalização de danos ambientais, bem como coleta de resíduos sólidos. O município tem aterro sanitário, inaugurado em meados da década de 1990, juntamente com a usina de compostagem, financiados por recursos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), no âmbito do Programa de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso (PRODEAGRO), como forma, inclusive, de recuperação de antiga área de garimpo. Desde 2005, noticia-se o esgotamento do aterro, em parte pelo não funcionamento da usina de compostagem em sua capacidade máxima (OLIVEIRA, 2005). Entretanto, em 2009, os técnicos da SEMINFE informaram que o aterro como um todo não corre o risco de se esgotar, apenas os módulos destinados para o acolhimento dos resíduos que têm sua capacidade preenchida; recentemente foi criado o Módulo Sul, com capacidade/ durabilidade para 15 anos – contudo, foi enviado à SEMAMT, à Procuradoria Municipal e ao Ministério Público um relatório de diagnóstico ambiental do município visando a implantação de novo aterro (PINHEIRO, 2010); em Jaciara, a prefeitura é a responsável pela coleta de resíduos sólidos. O projeto de aterro sanitário encontra-se pronto, aguardando apenas a captação de recursos para sua execução. É voz corrente entre as Secretarias envolvidas (Administração e Infraestrutura) que um consórcio entre os municípios vizinhos seria a alternativa mais coerente para viabilizar a construção do aterro sanitário dentro dos padrões técnicos desejáveis. A Lei de Saneamento Básico (BRASIL, 2007), em seu Capítulo III, já prevê a prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico; em Nobres, a coleta de coleta de resíduos sólidos está sob responsabilidade da SEMA-MT e da prefeitura. 195 Total Municípios com cobrança dos serviços Taxa específica Taxa junto com o IPTU Tarifa por serviços especiais Outra Sem declaração Municípios que não cobram pelos serviços Tabela 57 – Forma de cobrança dos serviços de limpeza urbana e coleta de lixo 5.475 2.484 129 2.310 13 25 7 2.952 Mato Grosso 126 38 1 36 1 - - 88 Campo Verde 1 1 1 - - - - - Chapada dos Guimarães 1 - - - - - - 1 Cuiabá 1 1 - 1 - - - - Jaciara 1 1 - 1 - - - - Nobres 1 1 - 1 - - - - Brasil Nota: 1 – Os dados excluem os municípios que não declararam a existência de cobrança dos serviços. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 58 – Natureza dos serviços de limpeza urbana e coleta de lixo Total Brasil Total com Limpeza serviços urbana Coleta de lixo Coleta seletiva Reciclagem Remoção Coleta de de lixo entulhos especial 5.507 5.475 5.461 5.471 451 352 4.690 3.567 Mato Grosso 126 126 126 126 1 2 114 61 Campo Verde 1 1 1 1 - - 1 1 Chapada dos Guimarães 1 1 1 1 - - 1 1 Cuiabá 1 1 1 1 - 1 1 1 Jaciara 1 1 1 1 - - 1 - Nobres 1 1 1 1 - - - 1 Notas: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um tipo de serviço. Fonte: IBGE, 2000c Também se observa que: o sistema de cobrança pelos serviços, taxa junto com o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), está restrito a 36 municípios do estado (IBGE, 2000c), sendo três do Polo Cerrado – Cuiabá, Jaciara e Nobres; quanto à natureza dos serviços de manejo dos resíduos sólidos, os serviços básicos que ocorrem em 100% dos municípios são a limpeza urbana, a coleta de lixo e a remoção de entulhos; a coleta de lixo é realizada regularmente nas sedes dos municípios. Em todos eles, a frequência é diária nas vias e logradouros públicos comerciais e residenciais, exceto em Cuiabá que, em áreas residenciais, a periodicidade é de três vezes por semana (Tabela 59); no sistema de limpeza urbana a varrição é essencialmente manual. A varrição e capina mecânica em Campo Verde e a capina química em Campo Verde e Jaciara têm ocorrência muito restrita (Tabela 60). 196 Tabela 59 – Tipo e frequência de coleta de lixo, por distritos-sede Duas vezes por semana Uma vez por semana Outra Total de distritos-sede com serviço de coleta de lixo Diária Três vezes por semana Duas vezes por semana Uma vez por semana Outra Total de distritos-sede com serviço de coleta de lixo Diária Três vezes por semana Duas vezes por semana Uma vez por semana Outra Brasil 5.366 3.274 1.103 680 225 141 5.298 3.432 947 625 207 135 5.388 3.690 764 528 228 236 Mato Grosso 124 72 30 11 6 6 123 77 25 10 5 7 124 74 19 13 6 13 Campo Verde 1 1 - - - - 1 1 - - - - 1 1 - - - - Chapada dos Guimarães 1 1 - - - - 1 1 - - - - 1 1 - - - - Cuiabá 1 - 1 - - - 1 1 - - - - 1 1 - - - - Jaciara 1 1 - - - - 1 1 - - - - 1 1 - - - - Nobres 1 1 - - - - 1 1 - - - - 1 1 - - - - Frequência da coleta Três vezes por semana Nas vias e logradouros públicos Diária Comercial Total de distritos-sede com serviço de coleta de lixo Residencial Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar diferentes frequências de atendimento. Fonte: IBGE, 2000c Tabela 60 – Execução de varrição e/ ou capina das vias públicas, por distritos-sede Total de distritos com varrição e capina das vias públicas Brasil Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Com Varrição varrição - manual Varrição manual e mecânica Com capina Capina - Capina mecânica manual Capina química 5.461 5.344 5.151 193 5.427 673 5.203 1.452 126 116 111 5 125 26 122 33 1 1 - 1 1 1 1 1 1 1 1 - 1 - 1 - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 - 1 1 1 - 1 1 1 1 - Nota: 1 – Um mesmo município pode apresentar mais de um tipo de sistema de capina. Fonte: IBGE, 2000c Após análise dos dados referentes ao saneamento básico nos municípios do Polo Cerrado, conclui-se que se torna essencial, ao ser considerado um aumento de demanda decorrente do incremento da atividade turística na área em estudo, incorporar novas bases na formulação de políticas públicas que sejam, de fato, eficazes e eficientes em atender com qualidade a desejada universalização dos serviços, questão importante para o binômio 197 sociedade e ambiente em qualquer parte do globo e, principalmente, em ambientes ricos em diversidade e, ao mesmo tempo, extremamente frágeis, como o cerrado. O próximo item trata do transporte urbano. 198 3.3 TRANSPORTE URBANO Para o Ministério das Cidades, em seu Plano Diretor de Mobilidade (PlanMob) (2007), o sistema de transporte deve ser analisado no âmbito das políticas de mobilidade urbana. O PlanMob destaca algumas características visíveis em cidades: situações crônicas de congestionamento resultando, pela restrição de mobilidade, em elevado tempo de viagem e redução da produtividade das atividades urbanas; prejuízos crescentes no desempenho da circulação dos ônibus urbanos, principalmente pela redução de sua velocidade e consequente impacto nos custos de operação, na redução da confiabilidade e atratividade do serviço, em tarifas excessivas cobradas dos usuários e decréscimo no quantitativo de usuários do transporte público, entre outras. Esses problemas são verificados, na maioria das vezes, em cidades de médio e grande porte, como é o caso de Cuiabá, no Polo Cerrado. Além de Cuiabá, apenas Jaciara tem serviços de transporte urbano, fiscalizados pelo Departamento Municipal de Trânsito. No âmbito de políticas públicas referentes ao aglomerado urbano Cuiabá/ Várzea Grande, encontra-se em elaboração, por grupo de trabalho instituído pela SEPLAN-MT, o Plano Integrado de Transporte Coletivo. Devido à precariedade do sistema, dados da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo do Estado de Mato Grosso (ASSUT-MT) apontam descontentamento dos usuários com a prestação de serviço das empresas de ônibus, sendo muito utilizado também o serviço de moto-táxi, regulamentado por lei municipal. Quanto às pequenas cidades, a situação pode ser considerada mais problemática pela total ausência de política ou mesmo de qualquer sistema de transporte urbano, principalmente para o deslocamento da massa populacional que habita as áreas periféricas ou a zona rural. Normalmente, a população utiliza-se de outros meios de locomoção nas zonas urbanas dos pequenos municípios, como seus próprios automóveis e bicicletas. Em alguns municípios do Polo Cerrado, a utilização de charretes com tração animal ou de cavalos pode ser verificada. O agravante é a falta de estruturação do sistema viário em todos os aspectos, principalmente em relação às áreas específicas para circulação desse público (ciclovia etc.), como também a necessária interação regional, o que exige, inclusive, a oferta de transporte interurbano de qualidade e custo acessível. 199 3.4 COMUNICAÇÃO As condições de funcionamento dos sistemas de comunicação em todo o Brasil, incluindo telefonia fixa e móvel e cobertura de emissoras de rádio e televisão (aberta e por assinatura), estão sob a fiscalização e regulamentação da ANATEL. Outro ponto tratado neste capítulo refere-se à comunicação escrita, composta principalmente de jornais e revistas. 3.4.1 Telefonia As concessionárias de telefonia fixa e móvel participam de um programa de metas da universalização do serviço, devendo cumpri-las anualmente para que não sofram as sanções contratuais, que podem chegar à perda da permissão de usufruto da área de concessão. Dessa forma, é possível obter dados de cobertura dos serviços de telefonia em todas as regiões do Polo, especialmente para identificar as lacunas que podem refletir em dificuldades de comunicação das empresas turísticas, prejudicando as relações comerciais e o atendimento ao consumidor, bem como, e especialmente, em casos emergenciais envolvendo o socorro a grupos de visitantes em lugares remotos. Entre 2007 e 2009, Mato Grosso teve um crescimento populacional de mais de 3%, percentual acompanhado pelo aumento de „acessos fixos instalados‟, ou seja, mesmo que não estejam em funcionamento, toda a instalação até a entrada externa encontra-se pronta, com tempo de ativação reduzido após a solicitação do cliente. No mesmo período, os „acessos fixos em serviço‟ aumentaram em torno de 1,3%. No Polo, verifica-se um provimento de acessos (fixos instalados versus fixos em serviço) que pode atender ao crescimento da demanda nos próximos anos (Tabela 61). Localidades Acessos fixos instalados Acessos fixos em serviço Acessos fixos individuais Acessos individuais classe especial Telefones de uso público Brasil - 2009 Nº de municípios Tabela 61 – Telefonia fixa 5.564 37.464 43.648.974 33.537.510 32.409.759 311.944 1.127.751 721 526.857 393.286 509.461 375.890 17.396 MT - 2007 MT - 2009 141 740 543.715 398.439 380.529 20.639 17.910 Campo Verde 7 3.776 3.308 3.168 65 140 Chapada dos Guimarães 14 2.218 1.348 1.228 60 120 Cuiabá 18 178.765 125.732 121.623 Jaciara 4 4.310 2.957 2.820 61 127 Nobres 8 1.865 1.206 1.115 37 91 10.459 4.109 Notas: 1 – Localidades: parcela limitada do território nacional que possua um aglomerado permanente de habitantes e edificações adjacentes, formando uma área continuamente construída, com arruamentos reconhecíveis, ou disposta ao longo de uma via de comunicação. 2 – Acessos fixos instalados: conjunto total de telefones fixos (individuais ou públicos). 3 – Acessos fixos em serviço: total de telefones fixos já ativados para uso, seja na forma de telefones individuais ou telefones públicos de uso coletivo. 4 – Telefones de uso público: são os telefones popularmente chamados de "orelhões", ou seja, telefones de uso coletivo que permitem a qualquer pessoa utilizar o serviço telefônico fixo, independentemente de assinatura ou inscrição junto à prestadora. Fonte: ANATEL, 2009 Da Tabela 64 à Tabela 66, é apresentado o acesso à telefonia fixa (individual e pública) em cada município, por localidade, indicando a empresa prestadora de serviço. 200 Foi possível confirmar a existência de telefone de uso público (TUP) em pontos turísticos de Cuiabá (Salgadeira e Rio dos Peixes) e Chapada dos Guimarães (Véu de Noiva, formalmente designados como tal nos dados da ANATEL55). Tabela 62 – Telefonia fixa e acessos, Chapada dos Guimarães Tipo de localidade Empresa Acessos individuais TUP Cachoeira Rica Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 João Carro Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 2 6 Vila Rural Manequinho Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Sede do Município Brasil Telecom Nacional e filial MT 1.216 93 Água Fria Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 9 5 Rio da Casca Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 1 5 Jangada Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Samambaia Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Biquinha Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Véu de Noiva Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 2 SINDACTA (DPV-DT 62) - Aeronáutica Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Água Branca Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Mata Grande Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Roncador Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Tipo de localidade Empresa Acessos individuais TUP Comunidade Machado Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 COHAB Sucuri Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 3 2 Localidade Chapada Dos Guimarães TUP – telefone de uso público Fonte: ANATEL, 2009 Tabela 63 – Telefonia fixa e acessos, Cuiabá Localidade Cuiabá Sede do Município Brasil Telecom Nacional e filial MT 121.393 4.064 Nossa Senhora da Guia Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 130 14 Coxipó do Ouro Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 3 Jatobá - Posto Fiscalização PRF Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Aguaçu Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 46 6 Salgadeira Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Posto Chapadão – BR-364, km 45 Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Sucuri Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 51 8 Tarumã Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 São Jerônimo Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Arraial dos Freitas Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Rio dos Peixes Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Rayzama Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Rio dos Couros Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 13ª Brigada do Exército Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Escola do Betinho-(Cinturão Verde) Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Fonte: ANATEL, 2009 55 O atrativo da Cachoeira Véu de Noiva está localizado na sede do PARNA Chapada dos Guimarães, denominado pelo nome do atrativo, o que pode justificar a existência de dois telefones públicos nos documentos oficiais. 201 Em Campo Verde, existe ponto de TUP na Fazenda Marabá que, juntamente com os atrativos de Cuiabá e Chapada dos Guimarães mencionados, possibilitam o acesso, a pé, em até 15 minutos, a um telefone, por qualquer frequentador. Tabela 64 – Telefonia fixa e acessos, Campo Verde Tipo de localidade Empresa Acessos individuais TUP PA Taperinha Projeto de Assentamento Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Campo Verde Sede do Município Brasil Telecom Nacional e filial MT 3.153 131 Posto Limeira Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Agrovila João Ponce de Arruda Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 15 4 Trevo do Gardez Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Fazenda Marabá Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 PRF Campo Verde Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Projeto de Assentamento Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Localidade PA Taperinha TUP – telefone de uso público Fonte: ANATEL, 2009 Em Jaciara, existe a concentração de telefones públicos na sede do município, nas sedes dos distritos (Vila Dejac e Celma) e em ponto de parada na rodovia BR-364. Tabela 65 – Telefonia fixa e acessos, Jaciara Tipo de localidade Empresa Acessos individuais TUP Jaciara Sede do Município Brasil Telecom Nacional e filial MT 2.814 131 Celma Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 5 3 Pensão Seca Posto e Restaurante Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Vila Dejac Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 1 2 Localidade TUP – telefone de uso público Fonte: ANATEL, 2009 Em Nobres, não há indicação nominal de que os acessos de telefonia fixa se encontram em pontos turísticos, no entanto, a Vila Bom Jardim é parada obrigatória – enquanto núcleo urbano mais estruturado – para aqueles que querem visitar o Balneário Estivado (p. 109), dentro do núcleo, e outros atrativos próximos, como Aquário Encantado (p. 106), Lagoa Azul (p.116), na abrangência do Parque Estadual, o que pode explicar o ponto de telefone público indicado na Tabela 66, entre outros. Tabela 66 – Telefonia fixa e acessos, Nobres Localidade Bom Jardim Tipo de localidade Empresa Acessos individuais TUP Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 17 4 Santana Aldeia Indígena EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Nobres Sede do Município Brasil Telecom Nacional e filial MT 1.077 78 Gleba Coqueiral Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 21 4 CIMAG Fábrica de Cimento Outros Brasil Telecom Nacional e filial MT 0 1 Lagoa Azul Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Córrego Fundo Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 Lagoa Salgada Outros EMBRATEL/ EMBRATEL 0 1 TUP – telefone de uso público Fonte: ANATEL, 2009 202 As informações fornecidas pela ANATEL indicam que as empresas prestadoras de Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) facilitam a oferta de serviços de internet para os assinantes de „acessos fixos individuais‟, pois a maior parte das tecnologias56 empregadas possibilita a transmissão tanto de voz quanto de dados, pelos mais diferentes meios (cabos, fibras, ondas de rádio, sinais de satélite). Não foi confirmado se apenas a utilização das tecnologias é suficiente para o fornecimento do serviço. Quanto à telefonia móvel, pela própria peculiaridade do serviço, as informações são disponibilizadas por estado (e códigos nacionais), não por localidades. Nesse caso, verificase que Mato Grosso apresenta uma densidade de acessos à telefonia móvel em operação maior que a média brasileira e menor que a média da região Centro-Oeste (Tabela 67), ultrapassando os 100%. Tabela 67 – Acessos móveis em operação e densidade Nº de acessos em operação Densidade (acessos por 100 habitantes*) Brasil 168.037.030 87,60 Centro-Oeste 14.889.602 106,50 Mato Grosso 2.880.924 94,21 Notas: 1 – Total de acessos em outubro/2009 do SMP:- Controle de Acessos do Serviço Móvel Pessoal 2 – (*) Projeção mensal da população do Brasil, segundo o IBGE, até outubro de 2009: 191.818.917 habitantes. Fonte: ANATEL, 2009 Entre 2004 e 2009, a quantidade de acessos praticamente triplicou, tanto no plano de serviço pré-pago, quanto no pós-pago (Tabela 68), predominando a prestadora VIVO, seguida pela TIM, Claro e OI (que adquiriu a Brasil Telecom), como mostra a Tabela 69. Tabela 68 – Acessos por plano de serviço Unidade Federação out/2004 Mato Grosso out/2009 Mato Grosso Fonte: ANATEL, 2009 56 Pré-pago % do total Pós-pago 885.394 2.484.178 85,2 86,2 153.565 396.746 % do total 14,8 13,8 Total 1.038.959 2.880.924 Tecnologias disponibilizadas pelas prestadoras de serviço de telefonia fixa nas localidades dos municípios do Polo Cerrado: xDSL (abreviação de Digital Subscriber Line, ou linha digital de assinante) permite transmissão de dados e voz, assim como facilidade de acesso a internet; Spread Spectrum, tecnologia que viabiliza a transmissão de dados via rádio com alta taxas de transmissão e confiabilidade, sendo os serviços de interligação de redes corporativas ou de acesso à internet os mais comumente oferecidos; FWA, abreviação de Fixed Wireless Access, ou acesso sem fio na rede local; serviço de distribuição de sinais de televisão e de áudio por assinatura via satélite; FTTH (abreviação de Fiber to the Home, ou banda da rede em fibra óptica) viabiliza conexões em elevada velocidade e serviços que demandam altas taxas de transmissão; híbrido, que serve tanto fixo como móvel. 203 Tabela 69 – Participação no mercado das prestadoras por código nacional UF MT Código Nacional 65 66 65 66 65 66 65 66 Empresa OI CLARO VIVO TIM TOTAL 65 TOTAL 66 TOTAL UF Acessos % do total 235.744 136.631 362.689 189.654 618.266 536.102 157.885 103.533 1.374.584 965.920 2.340.504 17,2 14,1 26,4 19,6 45,0 55,5 11,5 10,7 Nota: 1 – No Polo Cerrado, os municípios Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Nobres atendem pelo código nacional 65 e Campo Verde e Jaciara, 66. 2 – Dados de outubro/2009 Fonte: ANATEL, 2009 A Tabela 70 mostra que todas as operadoras atuantes no Polo utilizam a tecnologia GSM (sistema móvel global), sendo que a Claro e a OI utilizam o GSM/ 3G, que facilita o roaming e dificulta fraudes. Apenas a VIVO – que, conforme a Tabela 46, apresenta a maior parte dos acessos em Mato Grosso desde 2009 – disponibiliza a tecnologia CDMA (acesso múltiplo por divisão de código), a mais indicada para o acesso 3G à internet. Tabela 70 – Operadoras de telefonia móvel por tecnologia Mato Grosso Código nacional 65/ 66 Região SMP II/ Área SMC 7 Operadora Tecnologia VIVO (Banda A) Claro (Banda B) TIM (Banda D) OI (Banda E) GSM/ CDMA VIVO GSM/ 3G (WCDMA/ HSDPA) GSM GSM/ 3G (WCDMA/ HSDPA) Fonte: Adaptado de TELECO, 2009 Embora as maiores operadoras do mercado brasileiro atendam todo Mato Grosso, não é raro, em determinadas localidades, algumas operadoras não terem sinal, não operando a contento, como observado durante a visita de campo, por exemplo, na Vila Bom Jardim, onde alguns moradores dizem que “celular só funciona subindo no morro!”. O item seguinte verifica as concessões de rádio e televisão. 204 3.4.2 Rádio e televisão No que se refere aos sistemas de comunicação de rádio e televisão, os dados da ANATEL informam que o conjunto de emissoras possibilita a cobertura total de Mato Grosso pelas principais redes nacionais de televisão, a partir das retransmissoras. A Tabela 71 apresenta as emissoras de TV, no âmbito do Polo Cerrado, licenciadas como geradoras/ exibidoras, ou seja, que têm permissão para transmitir programação própria ou de terceiros dentro de uma região, e as retransmissoras, que não têm autorização para veicular programação própria e nem para comercialização. Tabela 71 – Emissoras de TV Programação própria Canal Rádio e Televisão Campo Verde Ltda. Não 10 Televisão Cidade Verde S/A Não 3+ Televisão Real Ltda. Sim 7- Centrais Elétricas Mato-grossenses S.A. – CEMAT Sim 13 Outorgada Município Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Centrais Elétricas Mato-grossenses S.A. - CEMAT Sim 6 Rádio e Televisão Brasil Oeste Ltda. Não 11 Rede Mundial Rádio e Televisão Ltda. Não 13+ Televisão Cidade Verde S/A Não 7 Fundação Evangélica Boas Novas Não 59 Senado Federal Não 56 Abril Radiodifusão S/A Sim 25 Fundação Cásper Líbero Sim 19 Fundação João Paulo II Sim 33 Fundação Nazaré de Comunicação Não 14 Fundação Universidade Federal de Mato Grosso Sim 2 Rede Mundial Rádio e Televisão Ltda. Sim 27 Rvo A Voz D'Oeste Comunicações Ltda. Sim 47 Televisão Cidade Modelo Ltda. Não 53 Televisão Independente de São José do Rio Preto Ltda. Não 43 Televisão Nova Amazônia Ltda. Sim 17 Televisão Centro América Ltda. Sim 4 Televisão Rondon Ltda. Sim 5- Brunini Telecomunicações Ltda. Não 42 Prefeitura Municipal de Jaciara Sim 7 Prefeitura Municipal de Jaciara Sim 9 Televisão Centro América Ltda. Não 11- Televisão Cidade Verde S/A Não 6- Televisão Vale do São Lourenço Ltda. Sim 13 Televisão Vale do São Lourenço Ltda. Sim 13 Fundação Século Vinte e Um Não Sim 3 10 Televisão Centro América Ltda. Fonte: ANATEL, 2009. Das emissoras, destacam-se, entre os canais abertos de televisão: TV Universitária (TV Brasil), TV Centro América (Rede Globo, presente em todo o estado), TV Rondon (SBT), TV Médio Norte (Rede 21, presente em todo o estado), Record MT (Record, vinculada ao 205 Grupo Gazeta de Comunicações, que oferece transmissão via satélite e tem cobertura de 98% do estado) e TV Cidade Verde (Band, com cobertura de 94% do estado). Com relação às emissoras de rádio, todas as cidades do Polo têm sistema de radiodifusão local. Destacam-se, na Tabela 72: Rádio Cidade Bela FM, em Campo Verde; Gazeta FM, Jovem Pan FM, Rádio Cidade FM e Rádio Cuiabana FM, em Cuiabá; Web Rádio Gospel MT, em Jaciara; e Rádio Nobres FM, em Nobres. Tabela 72 – Radiodifusão de sons e imagens Localidade Programação própria Não Chapada dos Guimarães Empresa Brasil de Comunicação S/A Não Cuiabá Fundação Altamiro Galindo Não Cuiabá Fundação Cantares de Salomão Governo do Estado de Mato Grosso - Assembleia Legislativa Estadual Pantanal Som e Imagem Ltda. Sim Cuiabá Não Cuiabá Sim Cuiabá Rádio Capital FM Ltda Sim Cuiabá Rádio Cidade de Cuiabá Ltda. Sim Cuiabá Rádio Cuiabana de Melodias Ltda. Sim Cuiabá Rádio e Televisão Brasil Oeste Ltda. Sim Cuiabá Rádio Real FM Ltda. Sim Cuiabá Senado Federal Não Cuiabá Sistema Lageado de Comunicação Ltda. Sim Cuiabá Televisão Centro América Ltda. Sim Cuiabá Televisão Cidade Verde S/A Sim Cuiabá TV Gazeta Ltda. Sim Cuiabá Rádio Cidade Bela Ltda. Sim Campo Verde Sim Nobres Outorgada Natureza Comunicações Ltda.-Me Rádio Nobres FM Ltda. Fonte: ANATEL, 2009 A seguir, os jornais e revistas presentes no Polo Cerrado. Estação 206 3.4.3 Jornais e revistas Em relação aos sistemas de comunicação escritos, a Tabela 73 relaciona os jornais em circulação nos municípios do Polo Cerrado. Destacam-se as publicações distribuídas no aglomerado urbano Cuiabá/ Várzea Grande e em algumas cidades do interior, sendo possível o acesso ao conteúdo via internet. Tabela 73 – Jornais, periodicidade e tiragem Municípios Nome do jornal Periodicidade Tiragem Diário 2.000 Folha da Cidade Semanal 2.500 Jornal Integração Semanal 1.800 Jornal Visão Semanal 2.000 Folha do Estado Diário 18.000 A Gazeta Diário 18.000 O Estadão Semanal 2.800 Diário 16.000 Circuito MT(*) Semanal 20.000 Informe Geral Quinzenal 2.000 Tribuna da Cidade Semanal 3.800 Tribuna do Norte Semanal 2.000 Mensal 3.000 Jornal do Ônibus Semanal 2.000 Jornal Mato Grosso Popular Semanal 6.000 Parlamento Popular Semanal 2.000 Jornal da Cidade Quinzenal 2.500 A Voz do Estado Semanal 5.000 Folha do Coxipó Semanal 2.000 ... ... Ação e Comunidade Mensal 3.000 Bastidores do Poder Mensal 1.800 Semanal 1.500 Condomínio News Mensal 2.000 Jornal CRM Mensal 3.500 Diário 3.000 Jornal Meninos de Rua Semanal 2.500 Folha do Povo Semanal 2.500 Jornal da PM Semanal 2.000 Mensal 1.900 A Crítica Quinzenal 1.800 Correio da Semana Semanal 2.200 Folha Comunitária I Mensal 1.800 O Diário de Campo Verde Campo Verde Diário de Cuiabá Rosa Choque Cuiabá Folha do Norte Jornal Esportivo Jornal Página Única Folha da Capital 207 Municípios Jaciara Nobres Nome do jornal Periodicidade Tiragem Jornal Extra Semanal 2.200 Jornal Página 12 Semanal 4.000 Jornal MT.COM Semanal 1.800 Jornal da OAB Mensal 3.000 Folha do CPA Semanal 2.000 A Gazeta do Sul Semanal 3.000 Correio do Vale Semanal 2.000 O Contato Regional Quinzenal 2.800 A Tribuna de Nobres Semanal 2.000 Fonte: SEPLAN-MT, 2007; (*) CIRCUITO MT, 2009 Alguns periódicos produzidos em Cuiabá são encontrados também nos municípios turísticos, com destaque para as revistas RDM e Camalote. A RDM – Revista de Mato Grosso, em versão impressa, com tiragem mensal aproximada de 30 mil exemplares, e on line, declara em seu site (RDM, 2009) que a publicação é enviada não somente aos diferentes segmentos sociais de Mato Grosso, mas também a setores da sociedade civil das capitais e cidades-polo brasileiras. O periódico informa que seu público, em percentuais, são empresas privadas (39%), edifícios e residências de classes A e B (15%), profissionais liberais (9%), instituições de ensino (8%), órgãos públicos (6%), bancas (5%), instituições de saúde e beleza (3%) e outros (15%). A Revista Camalote, lançada em maio de 2007, aborda assuntos relacionados ao turismo e meio ambiente em Mato Grosso. Voltada para as classes A e B, é uma publicação bilíngue, com tiragem mensal de 5 mil exemplares, e com assinantes e colaboradores na França, Suíça, Estados Unidos e Bolívia. Circula em todo o território estadual e tem pontos de distribuição em São Paulo, Brasília e Zurique (JOSÉ, 2008). Destaca-se também o Circuito MT, hoje com tiragem restrita a Cuiabá e Chapada dos Guimarães, entre os municípios do Polo Cerrado, mas que pretende atingir todo o estado no médio prazo. Assim, completa-se a análise da infraestrutura de comunicação do Polo Cerrado. A seguir, são verificadas as condições de fornecimento de energia elétrica. 208 3.5 ENERGIA ELÉTRICA Na escala regional, a energia elétrica na região Centro-Oeste e em Mato Grosso é um dos setores inclusos nas políticas de investimento do Governo Federal. O PAC objetiva garantir a estabilidade do setor energético em todas as suas etapas (geração, transmissão e distribuição), aliada a tarifas de baixo valor. O Sétimo Balanço do PAC, relatório que compreende janeiro-abril/2009, elenca uma série de projetos, desde obras concluídas até ações preparatórias, como é possível observar na Figura 154. Dessas, destacam-se as obras em andamento e concluídas de pequenas centrais hidrelétricas (PCH), nas proximidades de Jaciara/ Campo Verde. Mais uma ação preparatória, para posterior licitação, é a da linha de transmissão que compreende o trecho Cuiabá/ Nobres, estendendo-se até Nova Mutum. Sobressai, inclusive, os investimentos em outras fontes energéticas, como as advindas do etanol e biodiesel, e ainda o alcoolduto, passando por Campo Grande (MS) e Paranaguá (PR), chegando até Cuiabá. O balanço energético de Mato Grosso já registra um crescimento de mais de 10% na utilização de fontes renováveis (Figura 155). Figura 154 – Infraestrutura energética, PAC Fonte: BRASIL, 2009 209 Figura 155 – Participação das fontes renováveis no consumo final energético, MT/ Unidade 10 tEP 3 Fonte: SICME-MT, 2008 O Plano MT+20 (SEPLAN-MT, 2008b) propõe o desenvolvimento regional de Mato Grosso por meio do aproveitamento das vantagens competitivas para os próximos vinte anos e arrola uma série de potencialidades, entre elas a oferta de energia elétrica assegurada, principalmente, pelo sistema elétrico interligado. Todavia, a desigualdade intrarregional socioeconômica – que reflete, também, a desigualdade de infraestrutura, urbano e institucional –, e a baixa capacidade de investimentos, não beneficiando um amplo contingente populacional, apresentam-se como um gargalo da gestão pública que atrasa o desenvolvimento de algumas atividades econômicas, entre elas as vinculadas ao turismo. No contexto do Plano MT+20, foram definidos sete eixos de desenvolvimento para a região, prevendo programas e projetos para eliminar/ minimizar os estrangulamentos e melhorar o desempenho da região/ estado. É exatamente no Eixo IV. Infraestrutura econômica e logística que se verifica que a política estadual está consoante com a federal ao definir programas, como: expansão de oferta de energia elétrica compreendendo os projetos de expansão dos sistemas de geração e de transmissão e aumento da oferta com a expansão do sistema de distribuição das CEMAT; diversificação da matriz energética, compreendendo projetos de produção de energia por meio de fontes renováveis (energia limpa, como H-bio, novo processo na produção de óleo diesel, a partir de óleo vegetal) e aumento da oferta de gás natural na região. A análise de dados preliminares (GRUPO REDE, 2009) indicou que, após a privatização das CEMAT, foram investidos valores da ordem de 400 milhões de reais para melhoria e ampliação da rede de serviços, que viabilizaram a melhora da qualidade da energia elétrica distribuída em Mato Grosso. De uma forma geral, observou-se que, entre 1991 e 2001, ocorreu uma ampliação do abastecimento de energia elétrica aos domicílios dos municípios do Polo Cerrado (Tabela 74), segundo dados do IPEA (2009). 210 57 Tabela 74 – Energia elétrica , % de domicílios Município 1991 2001 Campo Verde 81,00 92,59 Chapada dos Guimarães 48,53 80,15 Cuiabá 97,55 99,70 Jaciara 92,75 98,76 Nobres 67,97 82,21 Fonte: IPEA, 2009 O Relatório de Administração Grupo Rede – ano 2008 (REDE CEMAT, 2009) informa que a CEMAT é a única concessionária de distribuição de energia em Mato Grosso, e conta com cerca de 25 centrais termoelétricas, com capacidade instalada de 61,95MW. Parte da energia distribuída é decorrente da atividade de geração de energia de um braço do Grupo Rede, por meio da usina hidrelétrica (UHE) Guaporé (nos municípios de Pontes e Lacerda e Vale de São Domingos/ MT), com capacidade instalada de 120MW e também a PCH Juruena, localizada em Aripuanã, norte do estado, com capacidade de 6,1MW. Entretanto, o Balanço Energético do Ano de 2008 evidencia que a geração de energia, seja hidráulica ou térmica, não é suficiente para atender a demanda de abastecimento do estado, o que exige a compra de aproximadamente 90%, conforme explicita a Figura 156. O balanço do período de 09/2008 a 09/2009 lista os fornecedores de energia, em MWh e em reais. Tal situação pode explicar a necessidade de maciços investimentos do PAC na construção de hidrelétricas (usinas e pequenas centrais) e também nas linhas de transmissão. Figura 156 – Balanço energético Fonte: REDE CEMAT, 2009 Dentre as estratégias da CEMAT estão os investimentos em projetos de geração de médio e pequeno porte, como também em outros pontos nevrálgicos nos serviços do Grupo Rede – CEMAT, como programas de redução de perdas (atualmente, 19,80% do total da energia requerida), e recursos humanos, especificamente do setor técnico, buscando eficiência técnica e operacional. 57 Percentual de pessoas que vivem em domicílios com iluminação elétrica, proveniente ou não de uma rede geral, com ou sem medidor. 211 Desde 2005, tem-se registro, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), de processos de fiscalização conjunta de técnicos das agências reguladoras federal – ANEEL – e estadual – AGER –, para verificar o cumprimento das metas que deveriam ser atingidas em 2004, pelo Programa de Universalização (BRASIL, 2002) e pelo Programa Luz para Todos (BRASIL, 2003). As metas apontam que, até 2004, 19 municípios deveriam atingir a universalização de acesso e, em Mato Grosso, a universalização seria atingida até 2008, na área rural, e 2013, na área urbana. Os dados da ANEEL indicam que isso ainda não ocorreu, sendo o „índice geral de atendimento‟ em Mato Grosso de 89,6%, nível que fica abaixo das médias da região CentroOeste e do Brasil, conforme a Tabela 75. Na Tabela 76, podem-se constatar os índices de atendimento por município e o ano previsto inicialmente para atingir a universalização. Tabela 75 – Fornecimento de energia elétrica, 2009 Brasil Centro-Oeste Mato Grosso Domicílios 44.720.854 3.153.284 (7,05% do Brasil) Domicílios com iluminação 42.277.826 3.020.371 (7,14% do Brasil) Índice geral de atendimento 94,5 % 95,8 % 645.585 (20,47% da Região) (1,44% do Brasil) 578.469 (19,15% da Região) (1,37% do Brasil) 89,6 % Fonte: Adaptado de ANEEL, 2009 Tabela 76 – Prazos para fornecimento universal de energia elétrica Domicílios Domicílios com iluminação Índice de atendimento (%) Ano Campo Verde 4.551 4.178 91,80 2006 Chapada dos Guimarães 4.010 3.263 81,37 2010 Cuiabá 126.912 126.475 99,66 2004 Jaciara 6.131 6.029 98,34 2004 Nobres Fonte: ANEEL, 2009 3.616 2.923 80,84 2010 Município Como, até o fechamento deste Diagnóstico, os dados mais detalhados sobre o alcance da meta de universalização ou não e projetos/ obras de expansão, solicitados ao Departamento de Projetos e Construção – CEMAT, não foram fornecidos, a análise valeuse de outros itens do Balanço Social do Grupo Rede, a fim de verificar se existem ações voltadas para o atendimento das metas de universalização dos serviços de distribuição de energia elétrica, como apresenta a Tabela 77. Na análise do Balanço Social, verifica-se um incremento de recursos nos programas de Universalização e Luz para Todos, tanto em números absolutos, quanto percentuais, no ano de 2008 em comparação a 2007. 212 Tabela 77 – Indicadores sociais externos: investimentos, 2008/2007 2008 Consolidados Programas sociais Programa Nacional de Universalização – Luz para Todos Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL Programa Universalização Outros Total 2007 R$ FPB RL (% sobre) R$ FPB RL (% sobre) 703.011 153,2 17,6 501.735 181,3 15,2 4.761 1,0 0,1 - 0,1 0,0 34.292 437 742.501 7,5 0,1 161,8 0,9 18,56 26.223 6.032 533.990 9,5 2,2 193,1 0,8 0,2 16,2 Notas: 1 – FPB: folha de pagamento bruta. 2 – RL: receita líquida. Fonte: REDE CEMAT, 2009 Em campo, pode-se constatar uma aparente facilitação no acesso à energia elétrica em alguns lugares. Todavia, ressalta-se que, durante o trabalho de campo, presenciaram-se várias interrupções curtas no fornecimento de energia. Em conversa com funcionário do Grupo Rede – CEMAT, comenta-se (informalmente) que os índices de interrupção verificados na Capital praticamente se repetem em outros municípios do estado (para Cuiabá, zona urbana, o índice duração de interrupção individual (DIC) em horas, e o de frequência de interrupção individual por unidade consumidora (FIC), em vezes, são 3,47 e 1,00 respectivamente, abaixo do padrão ANEEL, que seria 17,00 e 10,0058. 58 Conforme informação constante na conta de energia elétrica de agosto de 2009. 213 3.6 SAÚDE A Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT), gestora do Sistema Único de Saúde (SUS), define políticas e apoia a programação, o acompanhamento e a avaliação das ações e atividades de saúde, em função do número de municípios e da extensão territorial do estado. A SES-MT está subdivida em 16 Escritórios Regionais de Saúde (ERS) para administrar e ofertar o serviço de saúde em Mato Grosso. Para os municípios do Polo Cerrado, os escritórios de assistência são: 1- ERS Baixada Cuiabana e 2- ERS Rondonópolis. A distribuição dos postos nos municípios atende às atuais diretrizes do SUS, privilegiando o Programa de Saúde da Família (PSF), proporcionalmente ao número de habitantes dos municípios. Quanto aos serviços ambulatoriais e capacidade de internação em hospitais ou clínicas especializadas, todos os Postos de Saúde da Família, conforme orientação do SUS, têm serviços ambulatoriais de urgência. As clínicas e hospitais especializados são distribuídos nos municípios conforme as demandas das regiões a que pertencem, definidas pela SES-MT. A Tabela 78 apresenta os hospitais existentes nos municípios do Polo e a responsabilidade pela sua administração. Tabela 78 – Natureza administrativa de hospitais, por município Município Esfera administrativa Natureza administrativa Federal Estadual Municipal Privada Filantrópica Universitária Total - - 1 1 - - 2 Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá - - 1 - - - 1 1 1 1 15 3 1 22 Jaciara - - 1 1 - - 2 - - - 1 - - 1 Nobres Fonte: SEPLAN-MT, 2007 A Tabela 79 mostra o número de leitos da rede hospitalar de cada município e a Tabela 80, por sua vez, registra o tipo dos leitos disponibilizados. Tabela 79 – Leitos da rede hospitalar Leitos Município Campo Verde Chapada dos Guimarães SUS Privado Total 47 4 51 40 - 40 Cuiabá 1.182 814 1.996 Jaciara 30 31 61 Nobres Fonte: SEPLAN-MT, 2007 36 7 43 Tabela 80 – Tipos de leito hospitalar por município (SUS) Município Tipos de leito hospitalar UTI CIR CLIN OBST PED PSI TIS FPT OUT Total Campo Verde - 10 17 10 10 - - - - 47 Chapada dos Guimarães - 5 12 10 12 - - - 1 40 Cuiabá 100 336 277 118 196 90 5 - 60 1.182 Jaciara - 12 7 4 6 - - - 1 30 Nobres - 5 16 6 7 - - - 2 36 214 Legenda: UTI: Unidade de Terapia Intensiva. CIR: Clínica Cirúrgica. CLIN: Clínica Médica. OBST: Obstetrícia. PED: Clínica Pediátrica. PSI: Clínica Psiquiátrica e Neurológica TIS: Tisiologia FPT: Fora de possibilidade de Tratamento. OUT: Outros (Cardiologia, Oncologia, Reabilitação) Fonte: SEPLAN-MT, 2007 A Tabela 81 indica a capacidade ambulatorial de cada município do Polo. Centro de saúde Policlínica Consultório Isolado Unidade móvel terrestre Unidade móvel pré-hospitalar Clínica especializada Unidade de Vigilância Sanitária Farmácia Unidade de apoio, diagnose e terapia Unidade mista Pronto socorro geral Hospital geral Campo Verde 6 7 - 17 - - 5 - - 2 - 1 1 Chapada dos Guimarães 2 7 - - - - 1 - - - - - 1 Cuiabá 3 73 5 556 2 14 139 1 1 74 - 1 13 Jaciara - 10 - - - - - - - 3 - - 2 Nobres Fonte: SEPLAN-MT, 2007 2 4 - 1 - - - 1 - 1 - - 1 Municípios Posto de saúde Tabela 81 – Capacidade ambulatorial, por município Pelos dados apresentados, constata-se que Cuiabá tem o maior número de hospitais e leitos, embora a estrutura não seja suficiente para atender a demanda do município, cujos habitantes sofrem muito com a alta incidência de doenças infecciosas e parasitárias, típicas de ambientes com deficiência em saneamento básico. Apontam-se, inclusive, deficiências no quadro de recursos humanos, em quantidade (número de profissionais) e qualidade (qualificação). O atendimento emergencial é realizado no Pronto-Socorro de Cuiabá, que fica a aproximadamente 1, 2 e 3 horas da Chapada dos Guimarães, Campo Verde, e Nobres (núcleos urbanos sedes), na sequência. No caso de Jaciara, em situações possíveis, o atendimento ocorre em Rondonópolis, a cerca de 1 hora de carro – casos graves são direcionados para Cuiabá. O atendimento em Cuiabá sofre uma sobrecarga ainda maior, pois, devido à falta de um pronto socorro estadual, existe além da demanda dos municípios adjacentes, a demanda dos estados vizinhos. Nobres e Chapada dos Guimarães representam bem as dificuldades que os municípios do Polo Cerrado enfrentam no atendimento à saúde: dificuldades em atender à demanda devido à precariedade da estrutura de saúde, agravadas pela extensão do território com características geográficas que restringem o acesso, em função dos meios de transporte possíveis de ser utilizados e do tempo de percurso. Deve-se esclarecer ainda que, embora o Polo Cerrado seja composto pela capital, que polariza um dos consórcios de saúde nos ERS, isso não é uma situação indicativa da qualidade e da quantidade necessária da estrutura de saúde existente. O próximo item trata de segurança, enquanto importante componente de infraestrutura para o desenvolvimento do turismo. 215 3.7 SEGURANÇA Para Braggio (2007), a segurança pública constitui um fator importante ao ser uma das condicionantes na formação da imagem da cidade como destino turístico, afirmando que “quando o destino turístico começa a incorporar vulnerabilidades, o turista antevê riscos e tende a mudar sua rota [...] e qualquer sinal de instabilidade pode resultar na rejeição a um determinado destino”. Por isso, a importância em se conhecer, ao menos grosso modo, o aparato de segurança pública. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP) de Mato Grosso é formada pela Polícia Militar (PM), Polícia Judiciária Civil (PJC) e Corpo de Bombeiros Militar (CBM). Não há dados disponíveis por município quanto ao nível de segurança oferecido à população e aos turistas e a respeito de zonas de risco ou áreas com alta incidência de criminalidade, próximo ou no acesso às localidades turísticas. A Tabela 82 mostra o efetivo da Polícia Militar e, a Tabela 83, da Polícia Civil, dividido em delegacias municipais e regionais. Para analisar os quantitativos, utilizou-se como parâmetro a recomendação da ONU, que indica um policial para cada 250 habitantes. A Tabela 82 evidencia que, mesmo somando com o efetivo apresentado na Tabela 83, desconsiderando as especificidades de cada um deles, apenas Cuiabá atende à relação; o caso mais deficitário é Campo Verde, que apresenta uma relação mais de quatro vezes abaixo do recomendado (1/1.156). Tabela 82 – Polícia Militar Município Comando Efetivo 59 Total Estadual 5.839 Operacional Administrativo km²/PM Hab./PM 5.281 513 154.711,06 481 Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá CR IV 21 21 - 228,33 1.156 CR I 56 49 7 110,84 314 CR I 2.394 2.036 358 1,48 223 Jaciara CR IV 38 38 - 43,66 709 Nobres CR II Fonte: SEPLAN-MT, 2007 17 17 - 227,06 913 O total efetivo da Polícia Civil é mostrado na Tabela 83 e na Tabela 84. Com exceção de Nobres, todas as cidades têm pelo menos um delegado. Os dados oficiais apontam seis funcionários efetivos em Nobres, apesar da ausência de delegado. Em Cuiabá, o efetivo está distribuído nas Delegacias Especializadas. Tabela 83 – Polícia Civil em Delegacias Regionais e Municipais Delegacia Regional Município Delegacia Municipal Delegado Escrivão Agente Delegado Escrivão Agente Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães 18 - 20 - 116 - 59 1 1 142 2 4 612 6 9 Cuiabá Jaciara Nobres Fonte: SEPLAN-MT, 2007 - - - 1 - 1 1 9 5 59 O Anuário Estatístico de Mato Grosso (SEPLAN-MT, 2008c) não indica a que se refere a diferença de 45 policiais encontrada entre o número de efetivos relacionados e a soma dos que se dedicam à operação e à administração. 216 As delegacias especializadas, constantes na Tabela 84, existem apenas em Cuiabá. Tabela 84 – Polícia Civil em Delegacias Especializadas Município Delegacia Especializada Infância e Roubos e Furtos Juventude Mulher CISC Total Del. Esc. Ag. Del. Esc. Ag. Del. Esc. Ag. Del. Esc. Ag. 4 11 39 5 8 61 3 13 54 34 44 217 - - - - - - - - - - - - 9 - - - - - - - - - - - - 14 2 - 6 - 27 - 1 - 2 - 18 - - - - 28 - 36 - 173 - 293 11 6 Mato Grosso Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres 1.460 Notas: 1 – CISC: Centro Integrado de Segurança e Cidadania. 2 – Total inclui valores das duas tabelas. Fonte: SEPLAN-MT, 2007 Por fim, a Tabela 85 retrata que apenas três cidades do Polo têm efetivo de Bombeiros. Os municípios não contam com equipes de salva-vidas para atender aos atrativos, que em grande parte se localizam em áreas naturais com riscos intrínsecos, como rios e florestas. Cuiabá concentra a maior parte do contingente, porém, se considerado que a brigada da capital atende também ao entorno imediato (podendo, inclusive, abranger área próxima à Chapada dos Guimarães), os números refletem uma deficiência com relação à demanda. Tabela 85 – Corpo de Bombeiros Viaturas Município Pessoal AEM AHQ ABT AT ABS ABSL UR AR ATP Outros* Total 14 - - 1 - - - 1 - - - 2 Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá - - - - - - - - - - - - 473 2 2 1 4 - 2 3 3 - 47 64 Jaciara 15 - - 1 - - - 1 - - - 2 Nobres - - - - - - - - - - - - Legenda: AEM: Auto Escada Mecânica. AHQ: Auto Hidro-Químico. AT: Auto Tanque. ABS: Auto Busca e Salvamento. ABSL: Auto Busca e Salvamento Leve. UR: Unidade de Resgate. *Outros incluem veículos de apoio à administração. ABT: Auto Bomba Tanque. AR: Auto Rápido. ATP: Auto Transporte de Pessoal Fonte: SEPLAN-MT, 2007 Com relação às guardas municipais, Cuiabá teve a instituição efetivamente instalada, sendo que, em 2007, foram realizados concursos para contratação dos primeiros 50 agentes, coordenados pela Diretoria de Segurança e Cidadania, vinculada à Secretaria de Esporte e Cidadania. Para finalizar a análise de infraestrutura do Polo Cerrado, serão feitas considerações complementares no próximo item. 217 3.8 OUTRAS CONSIDERAÇÕES Ao longo deste item, buscou-se definir o cenário atual quanto à infraestrutura básica e de serviços em geral nos municípios do Polo Cerrado. Verificou-se que, em linhas gerais, prevalece uma carência, em quantidade e qualidade, no atendimento da demanda existente. As políticas públicas territoriais da esfera federal – como o PAC, por exemplo – ou da esfera estadual buscam minimizar as carências em busca do desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso. No estado, o Plano MT+20 criou cenários para os próximos vinte anos com o objetivo de minimizar as diferenças regionais encontradas, e para tanto definiu uma série de programas, alguns deles prevendo investimentos em infraestrutura econômica e logística, como a recuperação e ampliação do sistema de transporte rodoviário por meio da ampliação e recuperação das vias de integração dos municípios da região; duplicação da BR-364 e BR-163; melhoria dos serviços do aeroporto de Cuiabá/ Várzea Grande, ampliando a capacidade aeroportuária regional, e também no ramal ferroviário Rondonópolis-Cuiabá, todos em andamento. Os investimentos nas obras de pavimentação das rodovias estaduais, instalação de rede de transmissão e distribuição de energia elétrica, entre outras, têm sido uma constante nessa primeira década do século XXI. Porém, sabe-se que a partir da década de 1970 muitos problemas socioambientais foram gerados pela intensidade e pelas técnicas utilizadas na implantação de infraestruturas. Hoje, a pavimentação asfáltica das rodovias mato-grossenses é o destaque nas políticas públicas rodoviária, sendo utilizada em todas as vias, desde as estradas-parque, como parte da MT-457, que está sendo ansiosamente esperada em Nobres, nas vias que ligam até a Vila de Bom Jardim. As críticas, muitas vezes, também são feitas às linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica, juntamente com seus esguios postes. Atualmente, nem tanto pela lesão às aves, já que o encapamento dos fios resolve a descarga elétrica resultante da diferença de potencial ativada pelo contato dos fios quando do pouso/ voo dos pássaros, mas muito mais pela interferência na paisagem natural do cerrado. A questão que se coloca refere-se às futuras políticas, programas e projetos públicos. Com a ampliação da infraestrutura econômica regional, o Governo pretende estruturar a rede urbana que articula as diferenças territoriais, apresentado como outro eixo do Plano MT+20. Para isso, entende-se que é importante a implantação de transporte metropolitano e inter-regional ligando as cidades, através do investimento na integração viária dos municípios conurbados, devidamente sinalizados, como também de políticas de mobilidade urbana, incluindo aí a de transporte urbano público, adequado as realidades locais, não apenas como réplicas das políticas adotadas nos grandes e médios centros urbanos. Ainda discutindo o sistema viário, dois tipos de estruturas podem ser comentados: os portos – aero e hidro, onde foram recorrentes os comentários dos entrevistados sobre as dificuldades de utilizar os aeroportos menores e/ ou pistas de pouso para o translado de visitantes, optando-se, portanto, pelos já consolidados (chegada pelo Aeroporto Marechal Rondon e translado rodoviário). Cabe registrar que diversas fazendas no interior da área em estudo possuem pistas de pouso particulares, muitas delas com potencial para uso turístico, que também podem se tornar alternativas para um acesso mais direto a determinados atrativos do Polo Cerrado, por meio de estudos para verificar como integrá-las de maneira a se manter os custos acessíveis. Embora a navegação fluvial seja discutida no âmbito das políticas de articulação econômica nacional e até mesmo transnacional, não foram verificadas informações quanto à estruturação dos „pequenos‟ portos, embora seja considerável o movimento dos barcos nos rios do Polo Cerrado (Cuiabá, principalmente). Entretanto, são indiscutíveis os prejuízos ambientais que o uso indevido e em excesso dos barrancos nas margens desses rios têm 218 apresentado, isso sem explorar a questão da desconfiguração espacial das áreas portuárias, resultando em ambientes de baixa qualidade urbanística e arquitetônica. Na área de comunicações, verificou-se que, fora das localidades sedes, a maioria fica restrita a alguns poucos pontos de telefone de uso público, o que pode dificultar em muito a comunicação em casos de emergência/ urgência, pois mesmo considerando apenas a localidade e um raio de abrangência, as distâncias são consideráveis, da mesma forma que a escala estadual. Grave também é a situação encontrada no sistema de saneamento básico que os municípios gerenciam, pois os levantamentos realizados indicam a necessidade de modernização e também expansão dos sistemas. Considerando a situação ideal de universalização do acesso aos serviços, há a necessidade de manutenção e expansão, em menor grau, dos sistemas de abastecimento de água e, em maior grau e de forma urgente, do sistema de esgotamento sanitário em todos os municípios da área de planejamento, demandando investimentos vultosos, possibilidade dificultada pela falta de projetos e/ ou competência técnica de execução. Quando se verifica a situação precária nas sedes, e potencializadas nos seus distritos, particularmente nos detentores de atrativos turísticos de destaque, como é o caso de Nobres e do distrito de Vila Bom Jardim, com deficiências em todos os setores do saneamento básico, conclui-se que as administrações municipais não estão preparadas para formulação de projetos adequados em quantidade e, principalmente, em qualidade. Assim, não basta apenas ampliar a oferta da rede de água e esgoto, como também melhorar a qualidade dos serviços prestados pelas operadoras. Urge uma proposta de fortalecimento institucional que torne os municípios capazes para o planejamento e gestão, como também de se articularem com as diferentes escalas de governo e se ajustarem às novas diretrizes estabelecidas pela Lei de Saneamento Básico. Também é fato a necessidade de amadurecimento institucional e técnico dos municípios na formulação, implementação e fiscalização de políticas públicas de ordenamento territorial, uso e ocupação do solo, a fim de evitar as ocupações irregulares e o crescimento desordenado, que gera inúmeros vazios urbanos, encarecendo a implantação das redes de infraestrutura. Quanto à limpeza urbana e coleta de lixo, nenhum município possui programa de coleta seletiva, sendo premente sua formulação para promover a participação da sociedade tanto em relação ao reaproveitamento e reciclagem dos resíduos sólidos quanto sobre sua própria destinação, como uma alternativa de minimizar o passivo ambiental. A questão da contaminação de corpos d‟água e do solo exige atuação mais eficaz dos órgãos de controle e fiscalização dos recursos naturais e do meio ambiente, o que, mais uma vez, implica na promoção do aprimoramento institucional. Quanto à capacidade de atuação dos municípios, considerando até mesmo a dimensão demográfica de boa parte deles (não se restringindo apenas ao Polo Cerrado, mas à realidade mato-grossense) e as fragilidades técnico-político e administrativas, pensar em soluções regionalizadas, com a devida capacitação dos municípios, pode acelerar a expansão da prestação dos serviços e consequente universalização do acesso aos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, o mesmo podendo ser expandido para a questão do transporte interurbano coletivo. Na área de saúde e segurança, ambas precisam atender em qualidade e quantidade a demanda existente, antes de tudo e, manter esses critérios nas futuras políticas que buscarão o incremento decorrente das solicitações da ampliação da atividade turística, com a contratação de novos funcionários, por meio dos concursos públicos, o aprimoramento das novas e atuais equipes, melhoria e ampliação da estrutura física de saúde, bem como dos equipamentos utilizados. 219 Com relação aos serviços privatizados, como energia elétrica e telefonia, a fiscalização do atendimento as metas de universalização estabelecidas seria o ponto inicial para se buscar as ações complementares necessárias. Cabe destacar que toda e qualquer rede de infraestrutura se materializa no espaço, e toda e qualquer previsão de custos na manutenção e ampliação das mesmas é feita com base em planos, nos quais se possa prever e otimizar os recursos disponibilizados e os encaminhamentos da instalação física das infraestruturas. Deve-se evitar apenas gerenciar os prejuízos, devido à descontinuidade das estruturas existentes, levando as redes para áreas urbanas dos municípios antes não ocupadas porque ocorreram ocupações irregulares que não foram evitadas por políticas públicas competentes. Como visto ao longo do Diagnóstico, o crescimento desordenado das cidades tem prejudicado não só a instalação e funcionamento da infraestrutura existente como também da futura, dos mais variados tipos de redes, inclusive as estruturas aeroviárias. A otimização dos recursos por meio de projetos adequados, que dialoguem com o conjunto das políticas públicas em todas as esferas governamentais, implica em infraestruturas em constante manutenção, ampliação e com qualidade. 220 4 QUADRO INSTITUCIONAL Como já foi dito, o turismo, reconhecido como atividade econômica que se insere de forma complexa e dinâmica nas economias locais e regionais, prescinde de processos efetivos de planejamento e gestão, que envolvem não somente indicadores de investimentos diretos, públicos ou privados, em produtos e serviços, mas, também e fundamentalmente, de uma avaliação crítica sobre a forma e intensidade como é produzido e consumido no território, dado que suas atividades têm potencial para os mais variados impactos sociais, econômicos e ambientais nas localidades turísticas. Em alguns casos, em grau e ordem bastante significativos, a interação entre atividade turística e destino receptor exige, por parte de gestores públicos e privados e dos demais agentes sociais interessados ou afetados, ações efetivas e equilibradas de ordenamento, controle e fiscalização, assim como de fortalecimento e incentivos em diversos níveis, sejam políticos ou financeiros. Diante dessa realidade, o setor público tem um papel fundamental a cumprir. Estruturas públicas preparadas para o planejamento e fomento do desenvolvimento turístico já são uma realidade no Brasil, bem como políticas públicas formuladas para o crescimento do setor. Entretanto, essa não é a regra. Políticas públicas de turismo precisam de instrumentos como: existência de legislação aplicada, ordenamento do território, capacidade das organizações governamentais para a gestão, uso de sistemas de comunicação e informação. Tais instrumentos são orientados para o desenvolvimento turístico por meio de planos, programas e projetos de fomento e controle da atividade, executados, por sua vez, por diferentes atores sociais, públicos e privados. A implantação dessa estrutura exige processos de comunicação e articulação sofisticados, que somente podem ser implementados se houver claro entendimento entre os setores envolvidos de que a convergência de intenções aliada ao desenvolvimento de planos e projetos viáveis é o caminho mais fácil para o estabelecimento do turismo de forma consolidada e eficaz. Para lograr sucesso, cabe ao poder público mobilizar os setores de meio ambiente, cultura, infraestrutura básica60 e planejamento, além de instituições financeiras oficiais, para um esforço no atendimento às demandas primárias que o turismo necessita, articulados sob a liderança do órgão público de turismo. Essa premissa vale para as esferas federal, estadual e municipal, ficando claro que a falta de uma aproximação e articulação entre si também prejudica qualquer proposta de desenvolvimento turístico de médio/ longo prazo. Ao mesmo tempo, também cabe ao governo federal, estadual e municipal uma efetiva comunicação e articulação com os setores da sociedade que produzem o turismo (mercado privado e associações de classe) ou que possuem interesse em seu desenvolvimento (instituições de ensino, órgãos de pesquisa ambiental, organizações não governamentais de cunho social e ambiental, entre outras), assim como com entidades de fomento, como o SEBRAE e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Dessa forma, este capítulo tem como objetivo identificar e analisar as organizações envolvidas nesse complexo processo de desenvolvimento turístico, seus objetivos, as políticas vigentes, a legislação incidente, a atuação das organizações e os instrumentos de incentivo e controle ao turismo. Especificamente, foram identificados e avaliados os órgãos públicos que participam direta ou indiretamente na construção dos planos e projetos de desenvolvimento turístico no Polo, nas esferas federal, estadual e municipal, e também as ONG que contribuem para o processo, como instituições de ensino e pesquisa, procurando reconhecer suas atribuições, 60 Vide Capítulo3. 221 competências, planos e programas desenvolvidos, assim como estrutura operacional e orçamentária, quadro de pessoal e demais dados. Para isso, foram feitas prospecções e levantamentos analíticos por meio de pesquisa de gabinete e questionários de entrevistas semi-estruturados, complementados com as pesquisas de campo, que envolveram entrevistas formais e informais com os responsáveis pelos órgãos. O processo envolveu o acesso na internet a dados e documentos referentes à participação de cada entidade no Polo, a elaboração e aplicação de formulários de pesquisas para organizações-chave e levantamentos de campo, que, tanto quanto possíveis de terem sido realizados, permitiram uma análise crítica do nível de governança de cada organização que interage com a atividade turística. Porém, não houve sucesso na obtenção de dados de vários dos órgãos contatados, assim como muitos deles não disponibilizam informações estratégicas sobre suas políticas, orçamentos e estrutura em seus sites. Nos itens 4.1.1 Órgãos públicos de gestão do turismo e 4.1.2 Instituições de pesquisas e organizações não governamentais, são identificadas e listadas as principais instituições responsáveis pela gestão do turismo no Polo Cerrado, com breve descrição de suas atribuições e, no item seguinte (4.2 Capacidade de gestão e políticas públicas), os órgãos são avaliados em sua capacidade administrativa e operacional. No item 4.3 Organização e coordenação do planejamento turístico, são detalhados os planos e programas de turismo atualmente em desenvolvimento, seguidos, no item 4.4, de uma abordagem sobre a legislação ambiental e turística que o setor deve observar. Finalizando este capítulo, está a identificação dos incentivos e fontes de financiamento para o turismo, no item 4.5. 222 4.1 ÓRGÃOS E INSTITUIÇÕES Órgãos e instituições, no contexto aqui referido, são organizações responsáveis pelo incentivo e gestão das atividades desenvolvidas dentro de uma sociedade. A atividade turística envolve uma gama complexa de segmentos de uma sociedade, sendo, portanto, sua gestão dependente de muitos outros setores produtivos, tanto da iniciativa pública quanto da privada. Para entender como se dá a gestão do turismo no Polo Cerrado, são apresentados os órgãos e instituições responsáveis, nas diferentes esferas da administração pública, por cuidar do planejamento e gestão do turismo, assim como outras instituições que contribuem para o desenvolvimento da atividade. 4.1.1 Órgãos públicos de gestão do turismo As instâncias de gestão do turismo no Polo Cerrado são órgãos executivos e consultivos municipais, estaduais e federais. A responsabilidade dos órgãos executivos é buscar o acerto na definição das políticas e ações estratégicas de desenvolvimento turístico e, mais ainda, no estabelecimento de prioridades que serão definidas nos planos e nos orçamentos públicos. Para isso, tanto mais eficiente será a condução do processo quanto maior for o respaldo e a efetiva articulação de interesses e expectativas com os diferentes setores interessados no desenvolvimento do turismo, incluindo os órgãos consultivos e deliberativos. Os órgãos consultivos são muitas vezes presididos e custeados pelo órgão executivo. Na Tabela 86 são apresentadas as organizações que formam o sistema de turismo que atua no Polo, seus objetivos, principal base legal e formas de atuação. Tabela 86 – Órgãos responsáveis pela gestão direta do turismo Órgão 61 Base legal Interação com o turismo no Polo MTur Define e executa a Política Nacional de Turismo. Lei Geral de Turismo (LGT) Responsável pelo desenvolvimento turístico em nível regional e no Polo, por meio do Programa de Regionalização do Turismo (PRT). SEDTUR-MT Define e executa a Política Estadual de Turismo. LGT e Lei Estadual de Turismo Responsável pelo planejamento e gestão do turismo no Polo. Fórum Estadual de Turismo Órgão assessor e consultivo da SEDTUR-MT. LGT e Lei Estadual de Turismo Define prioridades de planos, projetos e investimentos. Prefeituras/ Secretarias de Turismo Estruturas integrantes das prefeituras municipais que estabelecem e executam a política municipal de turismo. LGT, Lei Estadual de Turismo, leis e decretos municipais Executa os programas e as políticas públicas de turismo em nível local. Conselhos Municipais de Turismo COMTUR Órgãos colegiados de assessoramento das secretarias de turismo, avaliam, propõem e deliberam sobre as diretrizes da gestão pública municipal em turismo. LGT e leis e decretos municipais Assessoram e deliberam sobre planos e projetos de turismo em nível local. Decidem sobre processos de investimentos, elaboram normas e deliberam sobre questões de sua competência. 61 Objetivos O item 4.4 Legislação detalha, a partir da p. 222, a legislação ambiental e turística pertinente. 223 De modo complementar, diversas outras instituições têm ações que convergem para a promoção do desenvolvimento turístico, como pode ser observado na Tabela 87. São entes públicos que têm, entre suas atribuições, a gestão de territórios ou de serviços que são de forte interesse para a atividade turística e que, se não forem bem planejados e executados, podem interferir sobremaneira em planos e programas de desenvolvimento turístico. Tabela 87 – Órgãos complementares à gestão do turismo 62 Interação com o turismo no Polo Órgão Objetivos Base legal Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) Responsável pela fiscalização das áreas naturais (protegidas ou não) de competência federal e pelo licenciamento de atividades potencialmente poluidoras em nível regional. Lei da Política Nacional de Meio Ambiente e demais normas federais de meio ambiente Fiscalização das áreas naturais de competência federal e licenciamento de atividades potencialmente poluidoras em nível regional. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Responsável pelas políticas e normas de gestão de UC federais e entorno de amortecimento, pela criação, regularização fundiária e gestão da UC e ainda apoio à implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Lei 11.516, de 28 de agosto de 2007 (criação), Lei 9.985, de 18 de julho de 2000 (SNUC) e leis específicas de criação de cada UC Implantação e gestão de UC por meio de planos de manejo e planos de uso público. Gestão da visitação em conformidade com normas e diretrizes da Diretoria de UC de Proteção Integral, que inclui a Coordenadoria de Visitação em UC. Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMAMT) Responsável pela definição e execução da Política Estadual de Meio Ambiente, com competências de planejamento e gestão do patrimônio natural do estado. Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Código Florestal e Código Ambiental de Mato Grosso Fiscalização do uso dos recursos naturais pelo turismo e manejo da visitação em UC de sua competência. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) Responsável no estado pelos processos de assentamentos e regularização fundiária, inclusive em áreas de potencial turístico. Lei 10.267, de 28 de agosto de 2001 Regularização de áreas de assentamento em destinos turísticos, incluindo seu georeferenciamento. Fundação Nacional do Índio (FUNAI) Responsável no estado pelas ações de política indigenista. Estatuto do Índio - Lei nº 6.001 de 19 de dezembro de 1973 e demais normas da política indigenista Regulamentação e apoio à atividade turística em terras indígenas. Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) Responsável pelo Sistema Nacional do Patrimônio Cultural, que inclui o registro de tombamento e conservação do patrimônio histórico e artístico. Decreto Federal n° 25/37 Identificação, proteção, restauração e revitalização de monumentos, sítios e bens móveis de interesse turístico. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN-MT) Responsável pelo planejamento e gestão geral das ações do estado, incluindo as diretrizes orçamentárias. n.a. Estabelecimento de diretrizes de planejamento (políticas e orçamentárias) que interferem positiva ou negativamente no desenvolvimento do turismo. Setor Privado e Associações de Empresas turísticas com atuação relevante no Polo e suas LGT Participação na elaboração e apoio à implementação das 62 O item 4.4 Legislação detalha, a partir da p. 222, a legislação ambiental e turística pertinente. 224 Órgão Classe Objetivos associações de classe, como Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), ABAV etc. 62 Base legal Interação com o turismo no Polo políticas públicas em turismo. Nota: 1 – n.a. = não se aplica. No item 4.2 Capacidade de gestão e políticas públicas, esses órgãos terão suas ações principais atuais avaliadas. Antes, porém, são apresentadas as demais organizações que contribuem para o planejamento e a gestão do turismo sustentável. 225 4.1.2 Instituições de pesquisas e organizações não governamentais As instituições de ensino e pesquisa podem contribuir para a gestão do turismo no Polo de forma efetiva por meio de levantamento e análise das políticas e programas existentes e averiguando de forma científica em que grau as ações estatais se constituem em fator de desenvolvimento sustentável para os destinos turísticos. Além disso, muitas instituições têm programas e projetos próprios que favorecem o desenvolvimento do setor, envolvendo pessoal qualificado em diferentes ramos do conhecimento, tais como biologia, turismo, geografia, arquitetura e economia. Algumas parcerias entre instituições abrangem ações de interesse ao setor, como a desenvolvida para a realização da pesquisa de demanda do turismo (MATO GROSSO, SEBRAE-NACIONAL e SEBRAE-MT, 2005), realizada em 2005, pelo Centro Universitário UNEMAT, UNIVAG, UNIRONDON, SEBRAE-MT e SEDTUR-MT, demonstrando que, ainda que incipientes, essas relações são benéficas para o turismo no Polo. Localizado no município de Cuiabá, o Centro Universitário Candido Rondon (UNIRONDON), primeira instituição de ensino superior (IES) de Mato Grosso a oferecer o curso de turismo, tem envolvimento institucional com o setor do turismo por meio de cursos de graduação e pós-graduação e, também, de programas e projetos de pesquisas voltados para o desenvolvimento turístico no Polo Cerrado. Muitos dos projetos são partes integrantes dos cursos regularmente desenvolvidos, numa estratégia de proporcionar aprendizado aos alunos ao mesmo tempo em que oferece contribuições de pesquisa. A UFMT, apesar de não ofertar cursos na área de turismo, trabalha com linhas de estudos voltadas para a atividade, por exemplo, nos cursos de graduação e pós-graduação de geografia e biologia. Várias pesquisas científicas da UFMT contribuem para um estudo mais aprofundado das políticas públicas sobre o desenvolvimento das atividades turísticas no Polo Cerrado – vale ressaltar as pesquisas desenvolvidas no curso de Biologia, pela Prof.ª Vera Guarim, como o Plano de Diagnóstico Ambiental na região de Nobres. Nem todas as IES na região de influência do Polo Cerrado responderam às solicitações de informações da equipe de pesquisa do PDITS, mas pode-se afirmar que as instituições de ensino públicas tem se mostrado mais envolvidas do que as privadas em propostas de desenvolvimento turístico, ainda que timidamente, levando-se em conta o potencial gerador de conhecimento que carregam. O SEBRAE se destaca no cenário nacional por sua atuação em projetos de empreendedorismo de pequenos e médios negócios, incluindo o setor de turismo, sendo forte a parceira com o MTur no processo de qualificação empresarial e de promoção de produtos e destinos turísticos. Os principais projetos em desenvolvimento em nível nacional, e que poderiam ser mais bem explorados em Mato Grosso, são: rede de cooperação técnica para a roteirização: em parceria com diversas outras entidades para a elaboração de roteiros para a exploração do turismo, de forma sustentável, em todas as regiões do país; benchmarking em turismo: aprendendo com a experiência: qualificação de empresários a partir de boas práticas no país e no mundo, oferecendo parte do custeio de viagens internacionais e nacionais para observação e vivência da operação de destinos referência em turismo; turismo vivencial (Projeto Economia da Experiência): incentivo a micro e pequenos empresários na criação de uma rede de produtos, visando proporcionar interatividade com o turista e diferenciais competitivos que possam oferecer experiências vivenciais e não apenas contemplativas; Caravana Brasil Nacional: viagens técnicas de agentes de viagens e operadores a destinos de referência em diferentes segmentos do turismo para trocas de experiência e estímulo à comercialização. 226 Em Mato Grosso, o SEBRAE se apresenta como um dos principais parceiros das instituições do setor privado e público para o desenvolvimento do turismo. Os investimentos em andamento estão direcionados à capacitação e qualificação profissional. Em seu site (SEBRAE-NACIONAL, 2010), estão disponibilizados diversos projetos em andamento, além de cursos, palestras e apoio a eventos, conforme a Tabela 88. Tabela 88 – Atividades do SEBRAE-MT 63 Projeto Objetivos Público-alvo Resultados Agregação de Valor à Cadeia de Turismo no Vale do Rio Cuiabá II Agregar valor aos atrativos turísticos e artesanais do Vale do Rio Cuiabá para fomentar a captação e realização do turismo de eventos e negócios, elevando sua procura nos eixos regional, nacional e internacional. Empreendedores da cadeia de turismo de eventos e negócios e do artesanato na região do Vale do Rio Cuiabá, com foco nos segmentos de produção artesanal, meios de hospedagem, gastronomia, meios de transporte, operadoras e agências de turismo. Transformar a região sudoeste de Mato Grosso em um destino turístico competitivo no mercado nacional e internacional, promovendo a gestão sustentável e institucional do turismo. Empresários e profissionais do setor de turismo e artesãos da região de Cáceres, com foco nos piloteiros, guias, hotéis e barcos-hotéis, pousadeiros, restaurantes, bares e similares, condutores, agentes de viagem e organizadores de eventos. Finalísticos: - Elevar o número de eventos de âmbito regional, nacional e internacional em 30% até dezembro de 2010 (base 2007). - Aumentar em 30% a renda média mensal do artesão com a venda de artesanato até dezembro de 2010 (base 2007). Intermediários: - Formatar dois novos produtos turísticos na região do Vale do Rio Cuiabá até dezembro de 2010. - Aumentar em 10% o número de turistas de eventos nos destinos da Região do Vale do Rio Cuiabá, operados por agências de viagens (base 2007). Finalísticos: - Alcançar a média anual de 65% de taxa de ocupação dos meios de hospedagens em Cáceres até dezembro 2008. - Aumentar em 50% a renda média do artesão com a venda de seus produtos até dezembro de 2008 (base 2005). Intermediários: - Aumentar em 20% o número de artesãos associados em entidades representativas,até dezembro de 2008. Desenvolvimento do Turismo e Artesanato na Região Sudoeste de Mato Grosso Outras atividades desenvolvidas pelo SEBRAE-MT envolvem ações pontuais, características da atuação do órgão, como eventos e palestras de apoio e promoção ao empreendedorismo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Cerrado desenvolve importantes pesquisas ambientais, que têm influências diretas e indiretas nas atividades turísticas no Polo. Atua em parceria com IES, como a UFMT, e ONG, como a The Nature Conservancy (TNC), Conservação Internacional (CI), Instituto Centro e Vida (ICV) e Oréades. Como resultado das parcerias, tem-se, por exemplo, o projeto Avaliação de impactos ambientais, econômicos e sociais dos sistemas de produção de bovinos de corte no Cerrado, na Amazônia e no Pantanal, que interfere indiretamente na atividade turística ao buscar estratégias que aliem o aumento da competitividade da pecuária de corte e menor impacto ambiental no Cerrado. Na região do Polo Cerrado também se encontram organizações do terceiro setor que atuam em uma perspectiva social e ambiental, como mostra a Tabela 89, e que produzem, muitas 63 A página de monitoramento de resultados não é clara em confirmar ou não se os resultados estão sendo alcançados, porém detalha as atividades realizadas, o que indica que os projetos cumprem os prazos. 227 vezes, estudos e projetos que suprem lacunas importantes não realizadas pelos gestores públicos64. Tabela 89 – Principais ONG, Polo Cerrado Entidade Objetivos Atividades gerais Conservação Internacional (CI) Preservar a biodiversidade global e demonstrar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza. Desenvolve e apoia projetos de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e alternativas econômicas sustentáveis. Desenvolve parcerias com o MMA, Fundação Oswaldo Cruz e outras ONG que atuam no Cerrado e no Pantanal. The Nature Conservancy (TNC) Identificar prioridades, ameaças e ações de conservação colaborativas para a região. Desenvolve e apoia projetos que promovam o desenvolvimento econômico e garantam ao mesmo tempo a conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais. Instituto Centro de Vida (ICV) Promover a sustentabilidade e a qualidade de vida através estudos e ações que favoreçam a conservação ambiental, o fortalecimento e a harmonia entre a sociedade e a natureza. Desenvolve e apoia projetos com foco no meio ambiente, sustentabilidade e cidadania. A CI tem em seu acervo importantes estudos e projetos visando o desenvolvimento sustentável da região do Cerrado, como o Projeto Corredor da Biodiversidade Cuiabá-São Lourenço, que envolve boa parte dos municípios integrantes do Polo Cerrado. A ONG, em parceria com a Ecotrópica, Ecologia e Ação (ECOA), IBAMA, SEMA-MT e UFMT, também desenvolveu ações visando proteger o patrimônio natural por meio do mapeamento das pressões de ocupação humana sobre os recursos naturais, indicando novas áreas com relevante interesse para a conservação, incentivando a criação de novas RPPN. A TNC é uma instituição bastante atuante na região e muitos de seus trabalhos de conservação de áreas de cerrado são realizados em parceria com a UNESCO e IBAMA. Um dos projetos atuais cria modelos de restauração de grandes bacias hidrográficas, incluindo atividades turísticas desenvolvidas de forma sustentável. O ICV, localizado em Cuiabá, desenvolve pesquisas científicas com significativa vertente ambiental e social, que geram contribuições diretas e indiretas para a atividade turística no Polo. São 24 técnicos que buscam viabilizar soluções, por meio de pesquisas e programas, para a sustentabilidade do bioma Cerrado; são desenvolvidos cinco programas temáticos (Governança Florestal, Monitoramento e Planejamento Territorial, Conservação e Áreas Protegidas, Sustentabilidade e Inclusão Socioambiental),que abrangem cerca de 13 projetos. Assim como a CI, o ICV tem em seus acervos importantes estudos e projetos visando o desenvolvimento sustentável da região do Cerrado, entre eles o Cerrado Que Te Quero Vivo. 64 Em outros itens deste capítulo e no capítulo 5, Aspectos Socioambientais, são apresentados mais detalhes sobre os projetos ambientais das ONG no Polo Cerrado. 228 4.2 CAPACIDADE DE GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS Pela ótica do turismo, Cruz (2003) define políticas públicas como “um conjunto de intenções, diretrizes e estratégias estabelecidas e ações deliberativas no âmbito do poder público, em virtude do objetivo geral de alcançar ou dar continuidade ao pleno desenvolvimento da atividade turística do território”. Este item avalia as políticas públicas desenvolvidas para a promoção do turismo e outras que podem contribuir para seu incremento, ainda que indiretamente. Para tanto, também são identificadas e avaliadas as capacidades dos órgãos executores em realizá-las. 4.2.1 Federal A atividade turística do Polo Cerrado, na esfera federal, é dirigida pelo MTur, cuja missão é desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social. Portanto, tem o objetivo de conduzir as políticas públicas para o turismo, bem como trabalhar sua gestão. Em Mato Grosso e no Polo Cerrado, o MTur estabelece e acompanha, por intermédio da Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, os programas de desenvolvimento regional e promove apoio técnico, institucional e financeiro necessários ao fortalecimento da execução e da participação do estado e dos municípios e, por meio do Departamento de Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo, coordena o beneficiamento das populações locais e promove o incremento da renda gerada pelo turismo nacional e internacional, articulado com a EMBRATUR. Sua responsabilidade para com o Polo Cerrado é atribuída com base no Plano Nacional do Turismo (PNT), nos quesitos de estruturação, ordenamento e diversificação do turismo regional no Brasil, que remetem à política descentralizada do MTur, flexibilizando, articulando e mobilizando ações que capacitem atores regionais para atuar nas áreas turísticas (MTUR, 2009g). O PNT 2007/2010 é um instrumento de planejamento e gestão do Governo Federal orientado por macroprogramas e metas para o período de quatro anos. O objetivo central do PNT é ser um importante indutor do desenvolvimento e da inclusão social por meio de ações estratégicas que envolvem, dentre outras, o fortalecimento do mercado interno, investimentos em infraestrutura e qualificação profissional em 65 destinos turísticos distribuídos em todo o território nacional, facilitação do acesso de aposentados, trabalhadores e estudantes a pacotes de viagens e promoção do Brasil no exterior. De acordo com o PNT 2007/2010, O turismo no Brasil contemplará as diversidades regionais, (...) a criação de emprego e ocupação, a geração e distribuição de renda, a redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção da igualdade de oportunidades, o respeito ao meio ambiente, a proteção ao patrimônio histórico e cultural e a geração de divisas (MTUR, 2007). A partir dessa visão, o Plano tem como principais estratégias de ação a descentralização da gestão do turismo para promover o fortalecimento do turismo doméstico, a qualificação da mão de obra para o turismo e a criação de um banco de dados com o mapeamento do turismo nacional. Um dos resultados da política de regionalização foi a elaboração, em 2006, do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Polo Cerrado com atividades de planejamento participativo, como reuniões técnicas, oficinas temáticas e levantamentos específicos, a partir da metodologia estabelecida pelo PRT – como parte do processo, originaram-se as regiões turísticas e os roteiros integrados do estado (MTur/ SEDTUR-MT, 2006). No contexto do PRT (MTur, 2009h), Cuiabá foi definida como região turística indutora, servindo como referência de políticas públicas e ações implantadas para desenvolver a atividade. Para se tornar um município indutor, Cuiabá participou do estudo de 229 competitividade65 do Programa 65 Destinos Indutores, realizado pelo MTur, SEBRAE e FGV, cuja metodologia identifica as potencialidades e deficiências de cada destino, com o intuito de focar em investimentos e estabelecer prioridades, tendo como objetivo avaliar a capacidade crescente de gerar negócios nas atividades econômicas relacionadas ao setor turístico, de forma sustentável, proporcionando ao turista uma experiência positiva. O processo prevê que cada município disponha de uma ferramenta online para acompanhar a evolução do desenvolvimento das propostas prioritárias. Quando identificado um problema no desenvolvimento do turismo, a ferramenta aponta para uma lista de fontes de financiamentos do Governo Federal e o passo a passo para conseguir os recursos (SEBRAE-NACIONAL, 2009). Contudo, durante os levantamentos de campo, observou-se que as políticas voltadas para o turismo em Cuiabá ainda não são bem desenvolvidas em conjunto com as variáveis prioritárias que abrangem a proposta do Estudo de Competitividade dos 65 Municípios Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. Uma análise feita nesse ano (SEBRAE-NACIONAL, 2009), mostrou que os municípios brasileiros estão melhores estruturados para receber o turismo, sendo que o avanço se deu em maior nível nas capitais – os demais municípios mantiveram um desenvolvimento menos significativo. Mesmo assim, ainda há muito a ser feito (SEBRAE-NACIONAL, 2009). Outros órgãos federais, indiretamente envolvidos com o turismo, merecem a atenção deste estudo, como os responsáveis pela gestão da terra, proteção de áreas indígenas e proteção do patrimônio natural e cultural nacional. Porém, não foi possível uma análise mais aprofundada de seus programas e ações na região do Cerrado, uma vez que as solicitações de informação enviadas pela equipe de pesquisa não foram atendidas, de forma que as análises ficaram restritas a fontes secundárias. Figura 157 – Terras indígenas, Polo Cerrado 65 Desenvolvido por meio de questionários que avaliaram 60 variáveis, contidas em 13 dimensões: infraestrutura geral, acesso, serviços e equipamentos turísticos, atrativos turísticos, marketing, políticas públicas, cooperação regional, monitoramento, economia local, capacidade empresarial, aspectos sociais, ambientais e culturais. As informações foram abordadas correlacionando o município com capitais e não capitais, o que permitiu a Cuiabá ser classificado como um município indutor. 230 A FUNAI é mais um órgão federal atuante na região. Entretanto, não foi verificada a ocorrência de turismo ou projetos nesse sentido em nenhuma das áreas indígenas contidas no Polo Cerrado, mas, segundo a SEDTUR-MT, tem havido discussões junto à FUNAI para uma possível cooperação técnica de regulamentação do turismo nas aldeias. O Polo Cerrado conta com apenas uma Terra Indígena (TI); localizada em Nobres, a TI Santana (Figura 157), que tem 105 km2 de extensão e sofre com a pressão do avanço da pecuária, que ameaça sua integridade. 231 4.2.2 Estadual Regionalmente, as principais instituições públicas responsáveis pela gestão do turismo no Polo Cerrado são as já mencionadas SEDTUR-MT e secretarias municipais, sendo que a SEDTUR-MT segue orientações do PNT, definindo para Mato Grosso as regiões turísticas no estado, implantando roteiros turísticos prioritários para o cenário do mercado nacional e indicando os municípios com potencial indutor do turismo. A SEDTUR-MT vem trabalhando na gestão do turismo mato-grossense para cumprir o papel de fortalecer o processo de municipalização e regionalização, estabelecendo parcerias e fomentando o desenvolvimento de produtos turísticos, entre outras ações. O turismo no estado, de modo geral, está pouco desenvolvido, bem como no Polo Cerrado. As principais deficiências que afetam o desenvolvimento do turismo em Mato Grosso são: equipamentos e serviços turísticos insuficientes, deficiência de mão de obra qualificada, dificuldade de acesso às regiões e aos atrativos turísticos e processo de promoção e divulgação insuficientes. Por outro lado, identifica-se como pontos positivos que favorecem o desenvolvimento do turismo a diversidade cultural e natural, bem como o fato da região abrigar três grandes biomas brasileiros (pantanal, cerrado e amazônico), além da hospitalidade do mato-grossense, fato que é notoriamente observado em várias regiões turísticas brasileiras. Especificamente em relação ao Polo Cerrado. os pontos fortes elencados pela SEDTUR-MT são: serviços, bares e restaurantes variados e agências receptivas;os pontos fracos estão relacionados à qualidade de atendimento dos meios de hospedagem e guias turísticos não qualificados. São citadas também algumas deficiências na infraestrutura e nos serviços públicos, como coleta e destinação de lixo, coleta e tratamento de esgoto e malha viária para acesso aos atrativos e sinalização, que afetam negativamente a atividade turística. No caso dos acessos, a SEDTUR-MT afirma que vem sendo realizadas reuniões com a SINFRA-MT para solucionar problemas relativos à malha viária e à sinalização turística, assim como articulações com a ANAC para acelerar os projetos previstos de ampliação e melhoria dos serviços aeronáuticos. Nos últimos dois anos, a SEDTUR-MT afirma não ter observado ocorrências de degradação ambiental que tenham prejudicado o turismo no Polo Cerrado. Isso talvez justifique a pouca preocupação mencionada com a conservação/ preservação dos atrativos turísticos naturais e culturais do estado e, consequentemente, nenhuma ação nesse sentido. Talvez falte uma articulação efetiva com a SEMA-MT para a troca de informações sobre as ações de monitoramento da gestão ambiental em alguns atrativos turísticos, como exigências de licenciamento ambiental e recuperação de áreas degradadas. De maneira geral, a SEDTUR-MT relata não ter requisitos suficientes em termos de recursos materiais, humanos e financeiros para alcançar resultados mais amplos na gestão do turismo. O órgão diz contar com uma média de 40 funcionários diretos66, informando que há déficit de competências no que se refere à elaboração de projetos, técnicas de planejamento turístico e coleta e tratamento estatístico de dados e informações. O orçamento estadual destinado ao órgão em 2010 está previsto em R$ 12 milhões, uma queda se comparado ao orçamento de 2009, em torno de R$ 13,7 milhões. Os recursos são aplicados segundo prioridades: infraestrutura, promoção e marketing, participação em feiras de eventos, planejamento e gastos com pessoal. Os principais projetos que o órgão tem promovido nesse Governo estão relacionados com o PRT, em parceria com MTur, e o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Turismo. De modo geral, numa autoavaliação, a SEDTUR-MT se considerou relativamente eficiente. Foram elencadas algumas parcerias com organizações públicas, privadas e não governamentais, como o SEBRAE no Projeto de Roteirização e Regionalização, provendo 66 Não foram fornecidas informações sobre a qualificação técnica dos profissionais. 232 ações de qualificação e promoção, e o SENAC, também no PRT, com ações de qualificação. O Fórum Estadual de Turismo, estabelecido pela SEDTUR-MT, importante instrumento do processo político, de caráter propositivo, consultivo e mobilizador, visa à integração dos órgãos públicos com as instituições que compõem a cadeia produtiva do turismo, além de IES e ONG, no debate e nas proposições de desenvolvimento turístico do estado. Apesar de não ser um órgão deliberativo, o processo de discussão se dá por meio da apresentação e votação de projetos. Os trabalhos, dirigidos pelo Secretário de Turismo do Estado, funcionam de forma sistemática, com leituras de atas e correspondências, seguido da discussão da pauta. Conta atualmente com 57 membros, sendo que menos da metade participa ativamente das reuniões, conforme verificado nas atas das reuniões – além dos órgãos públicos, os mais atuantes são o SENAC, UNEMAT, Sindicato das Agências de Turismo e algumas operadoras, como a Ícone, que apresentou nas reuniões o sistema de controle de reservas Ecobooking, que está sendo usado pelo PARNA da Chapada dos Guimarães. Os Secretários de Turismo do Polo Cerrado informaram participar pouco do Fórum Estadual,com exceção do Secretário de Nobres, que se mostrou bastante envolvido com as reuniões. As atribuições de planejamento e gestão do patrimônio natural no estado, e consequentemente no Polo, incluindo o papel de fiscalização e manejo de áreas naturais de interesse turístico, são realizados pela SEMA-MT67, órgão ambiental que trabalha com orçamento reduzido, de menos de 1% do orçamento estadual total, como indica o Sr. Everaldo Farias, assessor especial da instituição, vinculado ao gabinete do Secretário, em entrevista ocorrida em novembro/2009. Em 2009, os recursos destinados para o órgão foram de R$ 93,5 milhões, já em 2010 houve uma queda para R$ 86 milhões, sendo que boa parte é aplicada principalmente na fiscalização ambiental – tarefa custosa pelas dimensões do estado e pelas fortes pressões causadas pelos setores produtivos da terra, dificultando a realização de planos de manejos, investimentos no quadro pessoal e infraestrutura das UC, bem como nas ações de planejamento e controle territorial. De um total de 689 funcionários do quadro de pessoal da SEMA-MT, 359 são estáveis (concursados) e 330 contratados em regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e/ ou comissionados; 439 profissionais têm nível superior completo (64% do quadro total), sendo 343 (ou 78%) na área de meio ambiente e 96 oriundos de outras formação técnicas. Segundo a SEMA-MT, há necessidade de capacitação de funcionários em todas as áreas, principalmente para atuar de forma eficaz na elaboração e implementação de planos de manejo, no planejamento e zoneamento territorial, na coleta de dados, informação e estatística. Apesar de algumas dificuldades flagrantes, a SEMA-MT afirma considerar ter recursos materiais, humanos e financeiros necessários e suficientes para desenvolver seus trabalhos. O comprometimento com a defesa das causas ambientais foi apresentado pelo órgão como seu ponto forte. Os esforços voltados para as questões de licenciamento e fiscalização ambiental são auxiliados pelo Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (SIMLAM), uma das principais ferramentas de gestão. O SIMLAM é um sistema online de processamento de dados que facilita a análise de processos ambientais e uma ferramenta de consulta pública para auxiliar o andamento dos licenciamentos ambientais no estado, gerando relatórios técnicos onde são visualizados dados e posição dos processos em andamento. É possível também acompanhar os dados gerais dos empreendimentos, administrar essas informações, fazer busca de processos ambientais, verificar a situação 67 Em especial, o item 5.1 descreve ações da SEMA-MT, o 5.2.2 detalha outros aspectos sobre sua estrutura e programas e o item 5.2.3 tem mais informações sobre proteção e fiscalização ambiental. 233 das emissões de licenças e autorizações de operações potencialmente poluidoras e ainda visualizar mapas de licenciamento. O MT Legal68 é um programa desenvolvido pela SEMA-MT que tem o objetivo de estabelecer ações integradas para a redução do desmatamento ilegal e para o fortalecimento do Cadastro Ambiental Rural e do Sistema de Licenciamento Ambiental de Imóveis Rurais, especialmente no que tange ao passivo ambiental desses imóveis, observada a legislação federal e estadual pertinente, especialmente o Código Florestal (SEMA-MT, 2009b). Regulamentado recentemente pelo Decreto 2.238, de 13 de novembro de 2009, o programa é um dos mais aguardados pelo setor produtivo, sendo que organizações como a Associação dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT) apoiam sua implantação, acompanhando as políticas ambientais e fundiárias por meio de uma secretaria extraordinária, e a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (APROSOJA), que busca consolidar no mercado internacional a ‟soja verde‟, isto é, aquela produzida com algum tipo de controle e manejo ambiental, diminuindo as pressões do mercado internacional de commodities agrícolas sobre os que contribuem para o desmatamento na Amazônia ou do Cerrado. A SEPLAN-MT, órgão estratégico na formulação de políticas de desenvolvimento do estado, não forneceu diretamente detalhamento de seus projetos – no entanto, vários de seus documentos já foram analisados neste Diagnóstico, o que permite identificar que o turismo vem ganhando espaço nos processos de macroplanejamento do estado e demonstra, mesmo que tardiamente, o reconhecimento de sua importância para a economia local e regional. A SEPLAN-MT destaca que o Polo Cerrado está entre os polos do estado com grande potencial para o desenvolvimento do turismo, porém, por outro lado, avalia que a cadeia de turismo atual é tida de forma pouco positiva: considera mediano o grau de integração entre as empresas que constituem o núcleo da cadeia, baixa integração entre elas e o mercado, baixa articulação com os fornecedores e também baixo grau de estruturas de apoio. A infraestrutura teve considerações negativas em relação ao acesso ao Cerrado, assim como foi diagnosticada a ausência de mão de obra qualificada e alto custo dos pacotes regionais. A SEPLAN-MT coordenou a construção e consolidação do diagnóstico e da proposta de Zoneamento Socioeconômico Ecológico (ZSEE) do estado, com a participação da sociedade, que se configura como o principal instrumento de política pública de uso do solo. Com o intuito de diversificar a economia em Mato Grosso por meio do turismo, um dos programas estratégicos lançados trata da diversificação e adensamento das cadeias produtivas, sendo a do turismo considerada uma das mais relevantes pelo ZSEE, que afirma que “todos os elos da cadeia produtiva do turismo, estão presente em Mato Grosso, tanto os que constituem o elo principal, como elos secundários ou auxiliares” (SEPLAN-MT, 2008b). As propostas do ZSEE são balizadoras ao gestor público e, após sua aprovação em lei estadual, estão previstas para serem desenvolvidas nos próximos 20 anos, almejando dar suporte aos propósitos de desenvolvimento do estado. No Polo Cerrado, o programa envolve o incentivo à atividade turística por meio dos seguintes projetos: ampliação criação da capacidade hoteleira regional; de uma rota de turismo fluvial no Rio Cuiabá; profissionalização do turismo na região; desenvolvimento do ecoturismo, do turismo científico nos parques nacionais, do turismo de negócio e do turismo rural; criação 68 de polos e roteiros turísticos; Outros detalhes são discutidos em 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental, p. 297. 234 criação da agência regional do turismo; implantação de infraestrutura e serviços turísticos; estruturação do turismo ecológico e turismo de pesca esportiva, conservando a fauna aquática regional; introdução do turismo ecológico e antropológico com visitas a aldeias indígenas visando divulgar sua cultura e seus artefatos. Portanto, as diretrizes de planejamento para a diversificação da estrutura e adensamento das cadeias produtivas colocadas pela SEPLAN-MT tendem a ampliar o turismo e, principalmente, o ecoturismo, e a promover o surgimento de novas formas sustentáveis de aproveitamento dos recursos naturais, estimulando a economia da região com maior potencial de recursos naturais e belezas cênicas. 235 4.2.3 Municipal No âmbito local, as secretarias municipais são os órgãos executivos que detêm atribuições de gestão do turismo. Com o papel de administrar os municípios do Polo, as prefeituras têm encontrado dificuldades para desenvolver suas funções de planejamento e controle do turismo devido às lacunas de estrutura técnica, administrativa e orçamentária, quadro esse verificado em todo Polo Cerrado. Além do baixo poder de intervenção das secretarias, a gestão local do turismo no Polo se apresenta desarticulada e sem projetos expressivos, conforme colocado pelos próprios Secretários responsáveis pela gestão do turismo nos municípios de Cuiabá, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Jaciara e Nobres. Observou-se, durante o levantamento de campo, dificuldades relevantes para o desenvolvimento do turismo em Mato Grosso, como a pouca eficiência das ações políticas e dos projetos desenvolvidos pelos órgãos municipais do Polo Cerrado. Mesmo assim, destacam-se algumas ações relevantes, como a participação dos municípios em feira e eventos nacionais. A gestão do turismo nesses municípios se equipara aos problemas de gestão do turismo no Brasil como um todo, que, de acordo com Beni (2004), erra ao se apresentar como uma política móvel, sem visão e compromisso de longo prazo, sujeita às prioridades das autoridades que sucessivamente vão assumindo os postos. O Polo Cerrado se apresenta com sua base normativa legal, em nível local, incompleta, ou não efetivamente implementada, conforme se observa na Tabela 90. Tabela 90 – Base legal nos municípios, Polo Cerrado Conselhos Municipais Código de Postura Plano de Desenvolvimento do Turismo Turismo Meio Ambiente n.e X n.e n.e n.e . X X X X X X X n.e X X X X X X X X. X X Jaciara X X X X X X X Nobres X n.e n.e X n.e X X X Em elaboração Lei de Uso do Solo X Plano Diretor Municipal Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Instrumentos de gestão Lei Orgânica Lei do Código de Obras Base Legal Nota: 1 – n.e. = não existe. Fonte: Trabalho de campo; SEBRAE-MT, 2006; IBGE, 2008 Apesar dos dados apresentados, foi constatado durante as pesquisas de campo que alguns conselhos de turismo estão começando a se estruturar em vários aspectos (periodicidade das reuniões, revisão da composição do conselho, participação dos membros e revisão da legislação vigente) e outros, mesmo constituídos, não são atuantes, dificultando sobremaneira a articulação dos seus membros na busca de alternativas para o desenvolvimento regional do turismo. 4.2.3.1 CAMPO VERDE A análise do município de Campo Verde parte de observações realizadas durante as pesquisas de campo e de entrevistas informais, pois não houve retorno/ resposta ao questionário enviado para a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo. Como em todos os municípios do Polo Cerrado, observou-se que a gestão pública enfrenta problemas de baixo orçamento e déficit no corpo técnico qualificado, sendo que o município 236 não conta com legislação e instrumentos normativos adequados e não há macropolíticas, como Plano Diretor, e políticas específicas e direcionadas ao turismo. A atual Secretária, Sra. Maria Salete Carraro, assumiu o cargo recentemente (em janeiro de 2010) e está se interando de todo o aparato político direcionado ao turismo. De toda forma, o relacionamento com as esferas federais e estaduais foi descrito como bom. Em relação ao Conselho Municipal, suas atividades estão sendo retomadas, a fim de envolver o trade turístico no desenvolvimento do setor. Existe o foco na implantação de um centro de atendimento ao turista. O COMTUR também ganhou atribuições e responsabilidades a partir de 2006, com a aprovação da lei 1.164, que instituiu um passaporte de visitação, chamado de voucher, e regulamenta as atividades turísticas no município. 4.2.3.2 CHAPADA DOS GUIMARÃES Chapada dos Guimarães tem a gestão do turismo associada à cultura e ao meio ambiente. A Secretária Municipal enfrenta dificuldades orçamentária, bem como referentes ao corpo técnico atuante, sendo que as atividades desenvolvidas estão voltadas com maior ênfase para eventos culturais. Conforme diagnosticado em campo e Pellegrim (2009), o município não conta com políticas públicas que favoreçam o turismo, não havendo planos de desenvolvimento para a atividade e, embora o relacionamento com a prefeitura seja bastante estreito, existe certa negligência em relação às políticas do setor. Na esfera estadual, falta apoio da SEDTUR-MT, principalmente em relação à divulgação do município, tendo sido verificada uma considerável dificuldade de comunicação entre as Secretarias. Como consequência, o órgão municipal não vem participando do Fórum de Turismo, pois afirma que não recebe convites para as reuniões. Houve críticas também quanto à execução de políticas da SEDTUR-MT que vão de encontro às do município, como a implantação de placas de sinalização em pontos turísticos que não contam com a mínima estrutura para visitação, o que contribui para um turismo desordenado e impactante. Quanto ao COMTUR, está havendo uma retomada das atividades, com o objetivo de que o órgão volte a realizar reuniões e tomar de decisões que contribuam para o desenvolvimento turístico da Chapada dos Guimarães. Mesmo diante desses entraves, a atividade turística no município é considerada como desenvolvida, com perspectiva de crescimento no segmento de ecoturismo (PELLEGRIM, 2009). Do ponto de vista dos empresários do setor, foi verificado um elevado grau de insatisfação com as políticas públicas em todas as esferas. Foi relatado pouco acompanhamento e promoção do município por parte do MTur; no âmbito municipal, foi identificada a falta de articulação entre os atores, bem como de políticas que atendam aos interesses do setor privado; foi apontada a falta de instrumentos de fomento, como incentivos e linhas de crédito para o setor; e, no geral, os órgãos (MTur, SEDTUR-MT, Secretaria de Turismo e COMTUR) foram tidos como pouco eficientes. Identificou-se também descontentamento entre os próprios empresários, falta de motivação e pouca flexibilidade para parcerias. O município foi ironizado como sendo “o mico do ecoturismo”. No que tange aos guias de turismo e condutores, existe uma insatisfação relacionada às políticas públicas de turismo, aos órgãos ambientais e à falta de articulação do setor como um todo (ASSIS, 2009). 237 A falta de políticas públicas afeta o atrativo natural de maior relevância do município,o Parque Nacional, que enfrenta problemas, principalmente, relacionados ao quadro de pessoal e fiscalização e interação com a esfera municipal. Ressalta-se, todavia, que o turismo de massa, um dos maiores problemas do Parque, foi contornado por meio da implantação de um sistema de controle de visitação, que conta com guias credenciados – existe ainda a necessidade de um programa regional para a qualificação da mão de obra. O Parque também se beneficiou do estreitamento nas relações com a SEDTUR-MT, com a qual desenvolveu, em 2008, uma proposta de uso público para seus atrativos. Entretanto, não foram identificadas linhas de financiamentos para os investimentos necessários. A administração do Parque procura participar das reuniões do COMTUR e firmou um termo de cooperação com a prefeitura municipal, no qual conta com o fornecimento de funcionários municipais para a portaria e vigilantes, para que possa continuar aberto para a visitação. Contudo, foi relatada uma grande dificuldade de relacionamento com a prefeitura local (PINHEIRO, 2009). 4.2.3.3 CUIABÁ Assim como ocorre nos outros municípios do Polo Cerrado, o percentual do orçamento municipal destinado especificamente para a Secretaria de Turismo de Cuiabá é de menos de 5%, havendo ausência de técnicos da área, prédios ou salas próprias, de forma que suas atividades são desenvolvidas no prédio da prefeitura. Nos últimos anos, a Secretaria concentrou esforços na criação de rotas especificas para valorizar os pontos turísticos existentes, na realização de eventos, em obras de melhoria de pontos turísticos, na revitalização dos centros históricos, na reativação do COMTUR e na implantação do centro de atendimento ao turista. O município não possui políticas ou normas específicas que contribuam para o desenvolvimento responsável do turismo, conforme colocado pela Secretária de Turismo do município. A atuação do órgão foi considerada relativamente baixa, pois depende de outros órgãos para que os projetos se concretizem, o que acarreta, muitas vezes, no encaminhamento fora do prazo, além de depender de liberações do órgão superior para qualquer atividade. A atividade turística foi classificada como bem desenvolvida pela Secretaria de Turismo, com perspectivas de crescimento, apresentando maior potencial para o turismo de eventos. O turismo já gera empregos para o município e se almeja que, com seu crescimento, existam novas oportunidades ligadas aos atrativos naturais e culturais. Os principais atrativos do município citados pela Secretaria são: os rios, o Centro Geodésico, o complexo da Cachoeira Salgadeira, os museus, o centro histórico e os eventos que a cidade recebe, sendo que todos foram avaliados como muito promissores, com possibilidades de se constituírem como produtos turísticos a serem explorados com maior intensidade. Infelizmente, a divulgação desses atrativos é ineficiente, feita, na maior parte das vezes, por parentes e amigos, embora exista distribuição de material de divulgação por parte da Secretaria de Turismo. Como ferramenta de apoio, Cuiabá conta com um centro de atendimento ao turista (CAT), todavia, enfrenta dificuldades para atender a demanda, sendo que existe a hipótese de se ter mais um CAT no terminal rodoviário. A prefeitura, em parceria com outros municípios e instituições, tem tomado a iniciativa para o desenvolvimento do turismo, por meio de acordos com IES que oferecem cursos direcionados ao turismo, com colaboração para a elaboração de pesquisas e confecção de projetos para adequação e melhoria da infraestrutura básica e de promoção do turismo. O município não tem recebido financiamentos ou benefícios que contribuam para a conservação e preservação dos atrativos turísticos naturais e culturais. 238 Segundo a Secretaria de Turismo, são necessárias ações que promovam maior divulgação e promoção dos atrativos, bem como a confecção de um plano de desenvolvimento turístico municipal, é citada ainda a necessidade de promoção de cursos e oficinas de qualificação profissional no ramo do turismo. Os principais entraves ao desenvolvimento do turismo são a falta de divulgação, necessidade de melhorias no aeroporto, falta de infraestrutura em pontos turísticos, pouca conscientização da classe empresarial sobre a qualidade do serviço oferecido, falta de mão de obra adequada e projetos voltados para o turismo. Por outro lado, os pontos favoráveis, na percepção da Secretaria de Turismo, são norteados pelas belezas naturais em abundância, patrimônio histórico, cultura, hospitalidade e vida noturna. Na esfera federal, foram identificadas ações que beneficiam o desenvolvimento do turismo, entre elas cursos de qualificação, tornando, de modo geral, as intervenções do MTur no município, eficientes. A prefeitura também desenvolveu cursos de capacitação de mão de obra destinados a cozinheiros (higienização e manipulação de alimentos) e guias turísticos. Em relação ao setor privado, o município de Cuiabá está em fase inicial de desenvolvimento formal e contínuo: os empresários do ramo estão começando a entender a necessidade de se articularem, iniciando um trabalho estratégico de divulgação e investimento no setor turístico e se envolvendo em projetos que estão sendo desenvolvidas nas três esferas políticas. 4.2.3.4 JACIARA A partir das observações e dados coletados nas pesquisas de campo em Jaciara, verificouse que os representantes da atividade turística demonstraram pouco conhecimento sobre as políticas nacional e estadual do turismo. Ressalta-se que o fato do Secretário Adjunto de Turismo69 ter assumido há pouco tempo a pasta dificulta uma maior compreensão, até o momento, da atividade. Verificou-se que a Secretaria de Turismo e a SEDTUR-MT apresentam um bom relacionamento e parceria, porém não foram identificadas grandes ações estaduais no município, exceto o mapeamento dos pontos turísticos. A base normativa de Jaciara encontra-se desatualizada e está em processo de revisão – o que demonstra certo amadurecimento institucional. Entretanto, ainda existem muitos aspectos a serem cobertos. Por exemplo, não existem estudos de impacto ambiental nos atrativos turísticos por falta, em parte, de articulação e envolvimento da Secretaria de Turismo com os órgãos ambientais, o que acarreta no desenvolvimento do turismo de forma desordenada e prejudicial ao meio ambiente. Assim como ocorre no restante do Polo, Jaciara sofre com a carência de divulgação do município e de seus atrativos. Outra dificuldade enfrentada é a falta de conscientização de que o turismo pode trazer benefícios para o município, como gerar empregos e renda. Como reflexo desse cenário, o município não tem operadoras de turismo ou agências de viagens que atuem no segmento receptivo, nem dispõe um CAT – quando necessário, alguns meios de hospedagem entram em contato com guias da região para que o serviço seja prestado; contudo, o relacionamento da Secretaria de Turismo com o setor empresarial se dá de forma estreita. Os investimentos considerados mais importantes de serem realizados, de acordo com os órgãos públicos, são a conscientização da comunidade de que o turismo é uma indústria lucrativa e a criação de espaço para discussões de cunho ambiental, como a questão do lixo no Vale do São Lourenço (Jaciara, Juscimeira e Dom Aquino). 69 Em Jaciara, a pasta de turismo é conduzida pelo Secretário Adjunto de Turismo, Sr. Luiz Maurício Bonvini, e está subordinada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. 239 4.2.3.5 NOBRES Em Nobres, observou-se um maior envolvimento da prefeitura e da Secretaria com a gestão do turismo e, apesar de sua base normativa estar incompleta, as políticas adotadas são direcionadas para que se alcance o desenvolvimento turístico na região. O percentual do orçamento estadual destinado especificamente à Secretaria é menos de 5% e, mesmo com problemas de recursos financeiros, são desenvolvidas algumas atividades como: capacitação profissional (condutor local, turismo rural e trilhas, garçons e atendimento ao turista); regularização e implantação do sistema de voucher para entrada nos atrativos; realização de eventos; orientação ao trade turístico; conscientização da população através de palestras, encontros e workshops; atendimento ao turista; levantamento de dados; e elaboração de projetos. A falta de recursos orçamentários da Secretaria impacta, de certa forma, no desenvolvimento de projetos para o turismo e no quadro de funcionários. Esses fatores, somados a um enfraquecimento na credibilidade do órgão por conta de má administrações passadas, comprometem o andamento dos serviços da Secretaria. O envolvimento com a SEDTUR-MT ainda ocorre de forma bastante tímida, faltando uma maior articulação entre os órgãos. Entretanto, a atuação do órgão estadual é tida como eficiente, devido a diversas ações que estão sendo realizadas no município, como a implantação da sinalização turística; a realização de cursos de capacitação durante 2010; a implementação do processo de georeferenciamento em assentamentos do INCRA, onde se localizam grande parte dos atrativos; além de assessoramento jurídico. Como dito, muitos atrativos de Nobres encontram-se em áreas de amortecimento que pertencem ao INCRA, o que gera uma situação política delicada, que se arrasta por anos, e muitas vezes resulta em conflitos entre o trade turístico e a SEMA-MT. Com a regularização do georreferenciamento, numa ação do Ministério Público, INCRA e as partes envolvidas de Mato Grosso, serão elaborados Termos de Ajuste de Conduta para que as atividades sejam liberadas. Após o término do processo, será realizado pelo estado o zoneamento turístico para o município, conforme informações da Secretaria Municipal de Turismo, porém já existem divergências de como esse processo acontecerá. Atualmente, verificam-se problemas no Complexo da Cerquinha (p. 112), onde se encontra um conjunto de cavernas. O atrativo fica em região de assentamento realizado pelo INCRA e alguns moradores o exploram sem licenciamento ambiental – como visto, atualmente o atrativo encontra-se fechado por falta de Plano de Manejo; foi reportado o abuso por parte de engenheiros e demais profissionais envolvidos no processo de licenciamento, que teriam cobrado valores acima do praticado no mercado, exercendo pressão para que as taxas de visitação também fossem elevadas. Não foi identificada nenhuma ação dos órgãos públicos, SEDTUR-MT ou SEMA-MT, no sentido de esclarecer ou legalizar a situação. O envolvimento com outros órgãos públicos nem sempre acontece de forma harmônica. Por exemplo, as conversas entre a Secretaria e os responsáveis pelo desenvolvimento de atividades turísticas na Cachoeira do Tombador foram prejudicadas pelo tombamento realizado pela SEC-MT. Não foi identificada a existência de ações, projetos ou programas de âmbito federal que envolvam Nobres. Também não foi verificada a presença de ONG que beneficiem o desenvolvimento do turismo, embora a Secretaria de Turismo acredite ser relevante a presença das mesmas, pois contribuem para o desenvolvimento do turismo local, auxiliam no processo de conscientização da população e em campanhas de preservação aos atrativos, entre outros. O município não conta com um sistema de informação turística e existe uma carência de informações ao turista, como as limitações e potencialidades dos atrativos. Outra fragilidade de Nobres está na falta de sensibilização da comunidade em relação às questões voltadas 240 para o turismo; existe uma resistência na participação e envolvimento nas reuniões que ocorrem na prefeitura para discutir o tema, dificultando o avanço das políticas de desenvolvimento no município, como exemplo, pode-se citar a auditoria pública sobre o turismo realizada, mas que não trouxe benefícios. Os recursos naturais e culturais foram considerados promissores pela Secretaria de Turismo, pois existe uma predominância, segundo sua percepção, de demanda pelo turismo de lazer, que tem como motivação a diversão, o descanso, o turismo de aventura, o ecoturismo, o turismo rural e cultural, seguido pelo turismo pedagógico, turismo de negócios, religioso e de eventos. Atualmente, o turismo gera poucas oportunidades de empregos na região, todavia foi destacada a implantação de novos restaurantes e agências de viagens durante a atual gestão – a principal atividade do município é o comércio e a indústria de minérios. Há uma proposta para a criação de um consórcio que trabalhe na articulação do turismo, em algumas ações pontuais que devem ser desenvolvidas com os municípios de Rosário Oeste e Diamantino. A ideia é manter o turista no município por mais tempo, com a oferta de circuitos experimentais de um dia. De acordo com a Secretaria Municipal de Turismo, os principais entraves para o desenvolvimento do turismo são a questão fundiária, a falta de apoio dos órgãos estaduais e federais e a precariedade da infraestrutura turística e básica. Por outro lado, as principais alavancas são a diversidade de atrativos naturais, a riqueza da cultura local e a localização privilegiada do município, pois está próximo da capital. O município de Nobres, portanto, apresenta-se em situação semelhante aos demais municípios do Polo no que se refere a empecilhos na estrutura institucional, enfrentando dificuldades e obstáculos para aplicar e dar continuidade a suas diretrizes políticas administrativas. 241 4.2.4 Síntese O quadro institucional apresentado nos itens 4.1.1 Órgãos públicos de gestão do turismo e 4.1.2 Instituições de pesquisas e organizações não governamentais demonstra um cenário não muito satisfatório para permitir que a atividade turística se desenvolva na intensidade que o mercado deseja e com a qualidade que o consumidor espera, em função do potencial de atratividade que o Polo apresenta. Além disso, o Polo Cerrado necessita de políticas e instituições fortes na qualificação e promoção do turismo e desenvolvimento de produtos de qualidade, ao mesmo tempo em que não pode prescindir de instituições fortes de proteção e bom manejo dos recursos naturais. Por um lado, Mato Grosso possui as instituições e os instrumentos básicos necessários para o planejamento do turismo, envolvimento e participação dos atores, fomento à produção e controle e monitoramento da gestão. Se a intenção é ter um conjunto de órgãos, instrumentos legais e espaço de participação, pode-se dizer que o estado tem instalado um genuíno sistema de turismo. Por outro, as instituições integrantes desse sistema apresentam graves carências orçamentárias, de recursos materiais e humanos e, muitas vezes, de visão política e competência técnica, para o planejamento em longo prazo num mercado fortemente competitivo. O que se vê, de modo geral, por parte de gestores públicos e privados, são arremedos de iniciativas que tendem a não se sustentar no tempo e no espaço. Criam-se áreas protegidas que não cumprem sua função de proteção da biodiversidade, nem permitem a visitação. Divulgam-se destinos, produtos e roteiros turísticos no mercado antes de qualificá-lo para atender com a qualidade que o mercado exige. Elaboram-se planos, projetos e programas sem respaldo financeiro para viabilizá-los. O turismo não é, definitivamente, uma política de Estado em Mato Grosso, apesar de, em vários documentos oficiais, como ZSEE, a atividade aparecer como uma diretriz estratégica de desenvolvimento em diversas regiões de planejamento. E muito menos é uma política prioritária nos municípios, apesar do discurso dos responsáveis enfatizando o contrário. A atividade turística ainda não foi capaz de agregar pessoas e organizações numa visão única e de longo prazo, nem de arregimentar os recursos materiais, humanos e financeiros necessários para um planejamento eficiente e implantação concreta na região. Ademais, algumas das diretrizes de planejamento de Mato Grosso interferem no desenvolvimento turístico, tanto em seu benefício como podendo gerar prejuízos, especialmente em atividades que necessitam de amplos recursos naturais, como a pecuária e agricultura intensivas. De modo geral, a atuação da SEMA-MT e da SEDTUR-MT esbarra em um déficit no quadro de pessoal e infraestrutura para desenvolver suas atividades. Porém, o Governo do Estado parece não admitir essa situação como preocupante, mesmo que claramente as demandas de pressão ambiental e do mercado turístico exijam um posicionamento mais ágil e eficaz. Ter uma avaliação interna transparente, que reconheça as lacunas na atuação dos principais órgãos de fomento e controle para um turismo sustentável é o primeiro passo para se buscar soluções viáveis. Ao mesmo tempo, ao se pensar em um sistema de turismo, o Fórum Estadual assume o papel que caberia a um Conselho Estadual de Turismo, esse sim um órgão colegiado deliberativo e consultivo, legalmente implantado, formulador das normas que regulam a atividade turística e ente tomador de decisão sobre projetos de investimentos públicos, propostas orçamentárias da SEDTUR-MT, licenciamento de empreendimentos, entre outras ferramentas de planejamento e gestão. A proposta de estabelecimento dos Fóruns Estaduais, em vez de Conselhos, teve o mérito de facilitar o entendimento das organizações interessadas no turismo da importância de se ter um espaço de participação na condução das políticas públicas, ao mesmo tempo em que permitiu aos órgãos executivos estaduais estabelecer de forma ágil um colegiado 242 consultivo, visto que boa parte deles não existe legalmente, pois o processo exige aprovação da assembleia legislativa. Todos os municípios do Polo Cerrado têm constituído seus COMTUR, mas esbarram em problemas estruturais como baixa representatividade, funcionamento irregular e de forma desarticulada, ou simplesmente não atuantes, não provendo sequer reuniões que possibilitariam o encontro e articulação dos membros para, ao menos, se promover o amadurecimento das discussões referente às políticas públicas de turismo. Muitos gestores reconhecem a importância do COMTUR e há muitas intenções de reativá-los para que colaborem para o desenvolvimento do turismo local, mas a desmotivação do mercado e do terceiro setor do turismo em participar é alta, devido à demora nas tomadas de decisão e pela ausência de propostas concretas. Por outro lado, os municípios integrantes do Polo contam com atrativos turísticos diferenciados em paisagens, biodiversidade, cultura e oportunidades de lazer na natureza. Porém, esse potencial não está sendo aproveitado para o desenvolvimento do turismo na região também pelas dificuldades encontradas que se observam na gestão do turismo em nível local, falta de visão política e estratégica e, principalmente, pela carência de profissionais e de estruturas de apoio para a elaboração e gestão de políticas e projetos em turismo. Em todos os municípios ficou clara a baixa articulação e comunicação entre os atores de interesse, sendo que não se pode coletar um único exemplo de planejamento integrado entre os diferentes setores interessados no turismo. Muitas vezes, as organizações não são sequer convidadas para as tomadas de decisão estratégicas e, como consequência, sentem dificuldades em atuar em parceria, promovendo o isolamento dos atores, cada qual com seu projeto. Muitas são as parcerias pontuais entre algumas instituições, o que demonstra que há espaço e vontade para tanto, mas claramente faltam lideranças (no estado e nos municípios) capazes de aglutinar os diferentes interesses e articular a elaboração de propostas comuns de médio e longo prazo. A dificuldade de integração – entre o poder público estadual e local com o setor privado e demais associações não governamentais e de ensino – não permite que uma aliança estratégica em duas ou mais organizações se estabeleça, o que poderia suprir parte das deficiências da gestão pública. Nem o estado nem os municípios têm e/ ou disponibilizam um banco de dados organizado, essencial para ter planos coerentes e que projetem resultados que efetivamente mudem a situação diagnosticada. 243 4.3 ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO O conceito de planejamento acompanha as tendências dos processos de desenvolvimento sustentável ao adquirir novas amplitudes e incluir, sobretudo, os desafios para construir um futuro menos excludente e com maior sustentabilidade econômica, ecológica e social para o planeta. O planejamento deve ser visto também como um processo de aprendizado. A integração e a negociação de interesses estimulam o aprendizado social e ampliam a capacidade dos locais de se adaptarem e responderem aos desafios e às mudanças locais, regionais e até globais (BUARQUE, 2006). Segundo Buarque, todo município deve planejar, definir prioridades, formular estratégias, pensar no médio e longo prazos, coordenar e articular as decisões e ações em um programa de trabalho consistente. A importância do planejamento turístico decorre de ser ele um processo que analisa a atividade de determinado espaço geográfico, diagnosticando seu desenvolvimento e fixando um modelo de atuação mediante definição de roteiros e estabelecimento de programas, ações e diretrizes com as quais se pretende impulsionar, coordenar e integrar o turismo ao conjunto macroeconômico no qual esteja inserido. Diversas iniciativas de planejamento turístico puderam ser observadas no Polo Cerrado, em diferentes níveis de abordagem político-institucional, abrangência e objetivos. Tem-se, por exemplo, tanto iniciativas de organizações não governamentais como do setor público federal e estadual. Como já mencionado neste capítulo, o MTur oferece diretrizes aos estados e municípios por meio de políticas descentralizadoras estratégicas, que se consolidam em instrumentos norteadores da atividade no território nacional – PNT e LGT (vide p. 260) –, que vêm mobilizando as estruturas regionais públicas da área para um processo de debates participativos que visa à organização de roteiros e produtos domésticos, por meio do PRT. O PRT (MTUR, 2009h) chama a atenção por intervir diretamente na organização territorial do turismo, ao mesmo tempo em que mobiliza os diferentes setores envolvidos na atividade, dois princípios relevantes para o crescimento ordenado. O PRT é um macroprograma que define regiões turísticas como estratégicas para o desenvolvimento do turismo para fins de planejamento e gestão nas 27 unidades federativas. Nessas regiões, são desenvolvidos projetos e ações direcionados ao planejamento, gestão, estruturação e apoio ao turismo, como inventários da oferta turística e projetos de desenvolvimento turístico nos moldes do PRODETUR e do PDITS. O Polo Cerrado vem sendo abordado geograficamente pelo PRT por meio de três regiões turísticas (e seus respectivos municípios): Vale do São Lourenço: Campo Verde e Jaciara; Região Metropolitana: Cuiabá; Médio Norte: Chapada dos Guimarães e Nobres. Esse modelo de regionalização do turismo, que é proposto desde 2003 em parceria com estados e municípios, procura envolver as diferentes esferas de governos no âmbito executivo (SEDTUR-MT e secretarias municipais) e consultivo (Fórum Estadual de Turismo e conselhos municipais), em forma de gestão participativa. Também no âmbito do MTur, o Programa de Competitividade do Turismo propõe a avaliação da atividade sob a perspectiva de internacionalização da oferta turística, propondo ações voltadas para exportação e aumento da presença comercial dos serviços turísticos, tendo uma relação de fomento com os instrumentos de planejamento territorial e setorial70. 70 Além desses programas, o MTur trabalha pontualmente em nível regional e local apoiando estudos e iniciativas de planejamento, formação de mão de obra, sensibilização das comunidades, sistemas de informação turística, 244 Tal modelo de planejamento embasou, em Mato Grosso, a elaboração do planejamento do turismo, cujo intuito é garantir a qualificação, promoção e inclusão dos produtos e/ ou serviços turísticos do estado em âmbito nacional e internacional. Assim, as políticas públicas em turismo no estado se organizam em torno de um documento principal, o Plano Estadual do Turismo 2003-2014, estruturado pela SEDTUR-MT (2003), pelo qual Mato Grosso articula e desenvolve programas, ações e metas regionais e locais para alcançar os objetivos propostos. O Plano procura refletir a diversidade e abundância de riquezas culturais e naturais que o estado tem a oferecer ao mercado, tendo como fundamento as potencialidades econômicas e cênicas regionais e a comprovada vocação para o turismo. O Plano Estadual (SEDTUR-MT, 2003) tem como objetivo geral transformar Mato Grosso em destino turístico diferenciado e competitivo, tanto para o mercado nacional quanto internacional, contribuindo para posicionar o setor de turismo entre as atividades produtivas líderes do estado, na promoção do desenvolvimento econômico, social e cultural. Nesse enfoque, o Plano Estadual prevê, entre suas ações, a criação de microrregiões turísticas, com a finalidade de descentralizar políticas e incluir os municípios no processo de desenvolvimento turístico, inserindo-os numa cadeia de ações integradas e coordenadas através de seus macros objetivos. Uma das estratégias de atuação do Plano consiste no desenvolvimento da cadeia produtiva do turismo, assim descrito: Promover ações de fomento de Cadeia Produtiva do Turismo através da organização de Arranjos Produtivos Locais e incentivar o empreendedorismo e a inserção do capital local, com o objetivo de elevar a competitividade de Mato Grosso nos mercados nacionais e internacionais. (SEDTUR-MT, 2003). Com base no modelo proposto pelo Governo Federal, dividiu-se o estado em quatro macrorregiões, denominadas Polos Turísticos: Polos Amazônia, Araguaia, Cerrado e Pantanal, que envolvem 31 municípios. Em sua primeira etapa, o Plano estabelece a elaboração de roteiros integrados que seriam promovidos em parceria com o Governo Federal. A segunda etapa visa consolidar os roteiros formatados, bem como elaborar novos roteiros, como estratégia para alcançar suas metas; essa etapa é chamada de processo de microrregionalização turística pelo Plano Estadual. Assim, os Polos foram desmembrados em fragmentos regionais, denominados regiões, compostos por municípios que apresentam proximidade geográfica e afinidades do ponto de vista turístico. Essas regiões, por sua vez, são inseridas em Consórcios Intermunicipais de Desenvolvimento Socioeconômico, Ambiental e Turístico. Os programas previstos no Plano têm a intenção de serem executados pela SEDTUR-MT em parceria com diversas organizações, como a SEMA-MT, IBAMA, ICMBio, prefeituras municipais, COMTUR, organizações privadas e não governamentais, IES e instituições de pesquisas, de modo a suprir também as lacunas de infraestrutura e recursos humanos, materiais e financeiros para suas operações. Especificamente na região em estudo, e fruto do processo de planejamento regional, a SEDTUR-MT contratou estudos para a elaboração, em 2006, do Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Polo Cerrado, com atividades de planejamento participativo, tais como reuniões técnicas, oficinas temáticas e levantamentos específicos, a partir da metodologia estabelecida pelo PRT. Por conta disso, originaram-se e consolidaram-se as regiões turísticas e os roteiros integrados do estado (MTUR/ SEDTURMT, 2006), hoje conhecidas como Polos. promoção e comercialização, infraestrutura básica, serviços de apoio ao turismo, controle ambiental, entre outros pequenos e médios projetos que visam resultados mais imediatos. 245 Mais recentemente, o Polo Cerrado foi contemplado com a elaboração do inventário da oferta turística, realizada pelo SEBRAE-MT. O trabalho serve como instrumento para desenvolvimento de roteiros e mesmo para estudos de competitividade71. As políticas definidas pela SEDTUR-MT também indicam a implantação do Sistema de Gerenciamento Integrado do Turismo como um instrumento relevante para a análise e monitoramento da efetividade das políticas públicas, prevendo a integração dos principais elos da cadeia produtiva do turismo em Mato Grosso com o intuito de desenvolver os segmentos turísticos. Atualmente, gestores de organizações públicas, privadas e não governamentais atuantes no Polo relatam dificuldades nessa integração, conforme já registrado neste capítulo. Também é possível, e desejável, a observação da organização e da coordenação do processo de planejamento turístico a partir de uma visão geral do território do estado, visando o estabelecimento de políticas integradas entre os diferentes setores públicos e privados, consolidando o turismo dentro de uma perspectiva de planejamento macrorregional. Assim, no âmbito de Mato Grosso, há ações que remetem ao ordenamento do território e planos de desenvolvimento econômico nos quais o turismo é citado como um dos focos de planejamento. Um documento relevante elaborado pelo estado nos últimos anos e já mencionado no capítulo 3 é o Plano MT+20 (SEPLAN-MT, 2008b), que indica atributos, vulnerabilidades, vocações e tendências do setor turístico como uma das forças do desenvolvimento regional e define, a partir dos resultados obtidos pelo ZSEE, as Regiões de Planejamento do Estado e seus reflexos para o turismo face às diferentes propostas de crescimento econômico e uso e ocupação do solo. São duas as Regiões de Planejamento do ZSEE que envolvem municípios do Polo Cerrado, conforme a Figura 158: – Região de Planejamento Sudeste (Rondonópolis - 19 municípios): Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Campo Verde, Dom Aquino, Gaúcha do Norte, Guiratinga, Itiquira, Jaciara, Juscimeira, Paranatinga, Pedra Preta, Poxoréo, Primavera do Leste, Rondonópolis, Santo Antônio do Leste, São José do Povo, São Pedro da Cipa e Tesouro. V – Região de Planejamento Sul (Cuiabá/ Várzea Grande – 13 municípios): Acorizal, Barão de Melgaço, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jangada, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Nova Brasilândia, Planalto da Serra, Poconé, Rosário Oeste, Santo Antônio do Leverger e Várzea Grande. VI 71 Entretanto, como já relatado neste Diagnóstico, o que se averiguou nos resultados dos inventários dos municípios foi a aplicação de uma metodologia baseada em dados quantitativos, prejudicando a análise qualitativa. Ademais, foram constatadas no trabalho de campo algumas discrepâncias, como a ausência ou falhas do levantamento em muitos atrativos. 246 Figura 158 – Regiões de planejamento MT+20 Fonte: SEPLAN, 2008c No entanto, não se pode afirmar que os coordenadores das políticas vigentes atuam de forma harmônica, muito menos que têm sua aplicação de maneira integrada. As bases de zoneamento do ZSEE, que deram origem às Regiões de Planejamento do MT+20, não coincidem geograficamente com as regiões do PRT, criando um conflito técnico para a tomada de decisões em planos de desenvolvimento e propostas de investimentos. Como visto, são duas Regiões de Planejamento do ZSEE que envolvem geograficamente os municípios do Polo Cerrado, mas, como explicado anteriormente, no PRT do MTur, os municípios integrantes do Polo são abordados geograficamente de modo distinto (Tabela 91). A pouca harmonia nos limites geográficos das regiões que serão objetos de investimentos de programas públicos pode gerar distorções na definição de prioridades, ou desequilíbrios nos volumes de investimentos entre municípios do mesmo Polo, mas em regiões distintas. Tabela 91 – Municípios do Polo Cerrado e de outros programas no MT Municípios integrantes do Polo Cerrado PDITS (MTUR, 2009) Campo Verde Chapada dos Guimarães Cuiabá Jaciara Nobres Regiões de Planejamento do MT+20 com municípios do Polo Cerrado (SEPLAN-MT, 2008b) V – Região de Planejamento Sudeste (Rondonópolis - 19 municípios): Campo Verde e Jaciara. VI – Região de Planejamento Sul (Cuiabá/ Várzea Grande – 13 municípios): Chapada dos Guimarães, Cuiabá e Nobres. Regiões Turísticas do PRT com municípios do Polo Cerrado (MTUR, 2009g) Vale do São Lourenço: Campo Verde e Jaciara. Região Metropolitana: Cuiabá. Médio Norte: Chapada Guimarães e Nobres. dos 247 O ZSEE diagnosticou para as Regiões de Planejamento Sudeste e Sul as seguintes vocações e aptidões: indústria e agroindústria, serviços e terciário moderno, turismo, fruticultura, aquicultura e mineração. A partir do diagnóstico do ZSEE, o documento MT+20 (SEPLAN-MT, 2008b) prevê diversas ações de desenvolvimento para a Região de Planejamento Cuiabá/ Várzea Grande e Rondonópolis que favorecem ou afetam o turismo e, especificamente, propõe um programa de desenvolvimento do turismo, compreendendo os projetos mostrados na Tabela 92. Tabela 92 – MT+20, propostas de desenvolvimento turístico Região Cuiabá/ Várzea Grande ampliação da capacidade hoteleira regional; criação de uma rota de turismo fluvial no Rio Cuiabá; profissionalização do turismo na região; desenvolvimento do ecoturismo, do turismo científico nos parques nacionais, do turismo de negócios, e do turismo rural; Região Rondonópolis capacitação das comunidades e formação técnica de nível médio em turismo inclusão da língua espanhola na formação escolar estruturação do turismo ecológico e cultural na região ampliação da infraestrutura de turismo e serviço difusão de práticas de turismo agroindustrial divulgação dos pontos turísticos; criação de polos e roteiros turísticos; implementação de assistência técnica em ecoturismo; organização do trade turístico; conversão de áreas recuperadas em locais de pesquisa e divulgação turística exploração do turismo científico e tecnológico. implantação de infraestrutura e dos serviços turísticos. Fonte: SEPLAN-MT, 2008b O Plano MT+20 é organizado em duas partes: a primeira apresenta o Plano de Desenvolvimento de Mato Grosso, dividido em sete eixos; e a segunda detalha as ações do Plano, dedicando um capítulo por Região. O eixo cinco trata da diversificação e adensamento das cadeias produtivas, no qual está localizado o Programa de Desenvolvimento do Turismo, implantado através de quatro projetos complementares e articulados: ampliação e melhoria da infraestrutura de turismo e dos serviços e apoio ao turismo no estado; qualificação e capacitação para o turismo: o capacitação de mão de obra turística o capacitação das comunidades locais, para facilitar as relações com os turistas; promoção e divulgação dos atrativos turísticos e do calendário de eventos dos diferentes polos turístico de Mato Grosso. Assim, o documento elenca projetos e ações planejadas em busca do desenvolvimento turístico e também defende que a atividade pode ser desenvolvida de maneira sustentável, tratando o ecoturismo como uma forte tendência na região mato-grossense. O turismo é tratado dentro das perspectivas futuras de desenvolvimento para a região pelo adensamento das cadeias produtivas e diversificação que a expansão da atividade pode trazer, sendo identificado na análise de planejamento como integrante do campo das vantagens/ potencialidades. Portanto, vista das ambiente problema o MT+20 menciona o turismo como uma oportunidade no ambiente externo em possibilidades de expansão de fluxo turístico mundial e identifica vantagens no interno para seu desenvolvimento. Por outro lado, apresenta também um de estrangulamento, ou seja, aponta uma deficiência de infraestrutura urbana de 248 apoio ao turismo, além do problema de desvalorização e degradação do patrimônio histórico e cultural da região. Em síntese, Mato Grosso possui as bases principais para o planejamento turístico de longo prazo: órgãos executivos, consultivos e deliberativos estabelecidos em nível regional e local permitindo-se a configuração de um sistema de gestão do turismo; base política e legal estabelecida em um Plano Estadual de Turismo, em sinergia com o modelo de planejamento federal; macropolíticas que inserem o turismo em uma proposta de desenvolvimento do estado. Mato Grosso vem buscando desenvolver ações de planejamento, como pesquisas de demanda e inventários turísticos dos municípios. Porém, encontra muitas dificuldades operacionais que prejudicam tais iniciativas. Por exemplo, o Inventário da Oferta Turística (SEBRAE-MT, 2006), feito como uma das propostas do PRT no estado, ainda não cobria todos os municípios no momento do início da realização deste Diagnóstico e a última pesquisa de demanda turística realizada data de 2005 (MATO GROSSO, SEBRAENACIONAL e SEBRAE-MT, 2005). As dificuldades em conduzir o processo podem ser atribuídas à pouca estrutura e capacitação de pessoal e orçamentos insuficientes, mas os impedimentos poderiam ser minimizados se fosse dedicada atenção ao planejamento participativo, a parcerias mais consistentes com setores do turismo privados e entidades de pesquisa, ensino e não governamental. Por outro lado, a elaboração do PDITS sinaliza que as lacunas são de conhecimento dos gestores públicos, e este processo pode culminar em uma nova etapa na história do planejamento da atividade para os próximos anos, corrigindo as distorções criadas, a fim de tornar o estado um espaço turístico competitivo dentro do mercado nacional e ampliar sua participação na atração do mercado internacional, aproveitando sua imensa riqueza e diversidade de atrativos. Para tanto, e a título de resgate do que foi tratado, as principais lacunas observadas na análise dos temas deste capítulo e que devem ser objeto de ações futuras são: entraves políticos significativos apresentados pelas secretarias municipais em planejar e deliberar planos e estratégias locais para o turismo; descentralização das ações e formação de uma rede de parceiros para a execução das políticas de desenvolvimento do turismo no Polo Cerrado e no estado como um todo; ausência de estudos de viabilidade econômica e mercadológica balizadores para as tomadas de decisão de investidores privados, ausência de estudos de impactos ambientais e sociais provocados pelo turismo; baixa integração entre os operadores de mercado, como agências e operadoras, transportadores e meios de hospedagens; ausência de planejamento integrado entre os setores públicos de turismo, meio ambiente, transportes, infraestrutura, cultura e planejamento, visando suprir lacunas do órgão gestor; maior participação e envolvimento no planejamento regional dos atores representativos do setor do turismo nas localidades. Complementando essas análises, os itens a seguir permitem formar um quadro mais geral da situação institucional do turismo no Polo Cerrado. 249 4.4 LEGISLAÇÃO Conforme esclarece Dorta & Pomilho (2003), a lei “corresponde a uma regra obrigatória numa comunidade com o intuito de manter a ordem e assegurar o desenvolvimento”. Podese também entender que a lei é uma norma ou conjunto de normas elaboradas e votadas pelo Poder Legislativo, em um dos três níveis governamentais (federal, estadual ou municipal), sendo que a competência de cada um deles para legislar está expressa na Constituição Federal. O poder público só atua em função do que é permitido legalmente e os demais atores do turismo (mercado privado e sociedade em geral) atuam livremente, desde que não infrinjam as leis. Ambos têm os seus interesses limitados em prol de interesses difusos, incluindo os que envolvem a proteção do patrimônio ambiental, cultural e histórico de interesse turístico. No caso do turismo, a legislação pode tanto ter a função de controle de determinada atividade (poder de polícia: função de fiscalizar, militar e embargar), como pode incentivá-la, estabelecendo políticas facilitadas de financiamento ou de isenção de taxas e tributos. Sua importância no Polo Cerrado está ligada diretamente à questão da sustentabilidade ambiental, econômica e social do turismo, já que uma legislação bem desenhada e aplicada regulariza e permite o desenvolvimento de forma ordenada. Este item traz uma contribuição para o entendimento da legislação que rege as obrigações ou limitações do setor de turismo perante o uso do território, sua paisagem e biodiversidade e aspectos do patrimônio cultural que devem ser resguardados, elencando as principais leis que norteiam as políticas de turismo. 250 4.4.1 Legislação ambiental A legislação de proteção do patrimônio natural, histórico e cultural – material e imaterial – é de fundamental importância para o turismo, em função de assegurar que seu uso se dê de forma equilibrada e, inclusive, de contribuir para sua conservação. O estudo da legislação aplicável permite uma análise da normatização ambiental em seus aspectos que, de um lado, favorecem o desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis e, de outro, criam entraves para a atividade, seja por restrições de uso do patrimônio ou território, seja por favorecer a degradação de recursos ambientais relevantes e de interesse turístico diante de sua fragilidade jurídica. A publicação do WWF-Brasil (2004) Turismo Responsável: manual para políticas locais faz uma compilação da legislação ambiental federal que afeta o desenvolvimento do turismo ou que deve ser observada em planos e programas. A Tabela 93 mostra, também, a legislação em outros níveis de jurisdição, sendo que as mais relevantes são caracterizadas a seguir. Tabela 93 – Leis ambientais e normas de interesse Legislação Ambiental/ Territorial Níveis de jurisdição Federal Estadual Lei da Política Nacional do Meio Ambiente Projeto de Lei do Zoneamento Terrenos da Marinha (Art.2°, VII, CF) Socioeconômico 73 Ecológico Estatuto das Cidades Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC Lei do Código Florestal Lei do Sistema Nacional de Recursos Hídricos - Código das Águas 72 Municipal Leis de Uso e Ocupação do Solo Código Ambiental de 74 MT Leis dos Planos Diretores Lei da Pesca - Lei 7.881/02 Demais leis locais - Leis locais Lei do Código da Fauna HistóricoCultural Decreto 99.556/90 – Proteção das Cavidades Naturais Subterrâneas Lei de Crimes e Infrações contra o Meio Ambiente Decreto 25/37 – Lei do Tombamento de Bens Móveis e Imóveis. Decreto Federal n° 3.551/2000 – Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial A lei de referência para todas as políticas ambientais é a da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981), estabelecida pela Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, que tem como objetivo fundamental a compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. A Lei estabelece conceitos, objetivos, princípios e diretrizes e institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Integram o SISNAMA os órgãos ou entidades da administração federal direta ou indireta e os órgãos estaduais, como órgãos seccionais, com atribuições relacionadas ao disciplinamento do uso de recursos ambientais. No âmbito federal tem-se: Conselho MMA, Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), como órgão consultivo e deliberativo; como órgão executivo, que inclui o IBAMA e o ICMBio. 72 Tratado em mais detalhes no item 4.2.3. 73 Tratado nos itens 4.2.2, 4.3, 5.1 e 5.4.1. 74 Tratado em mais detalhes no capítulo 5. 251 O sistema estadual em Mato Grosso tem a mesma configuração que o federal, sendo o CONSEMA o órgão consultivo e deliberativo e a SEMA-MT, o órgão executor. No nível municipal, o mesmo se repete, com as secretarias e os conselhos municipais de meio ambiente. De acordo com o Artigo 6º da Lei 6.938/81, os órgãos ou entidades estaduais e municipais integrantes do SISNAMA são responsáveis, na qualidade de órgãos locais, pelo controle e fiscalização das atividades capazes de provocar degradação ambiental, entre elas o turismo. Um dos itens mais importantes dessa Lei, e pouco aplicado no turismo, encontra-se no caput do Art. 10, que afirma que as atividades que utilizam recursos ambientais e que sejam capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependem de prévio licenciamento ambiental. Compete ao CONAMA estabelecer normas e critérios gerais para o licenciamento de atividade efetiva ou potencialmente poluidora, determinar a realização de estudos ambientais sobre a viabilidade de projetos públicos e privados e estabelecer normas, critérios e padrões gerais relativos ao controle de poluição e à manutenção da qualidade do ambiente e dos recursos naturais. Para o turismo, cabe atentar para a Resolução CONAMA 237/97 (MMA, 1997), que regulamenta o licenciamento para localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades que se utilizam de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Para a obtenção da Licença Ambiental, os impactos ambientais negativos decorrentes da implantação do empreendimento devem ser previstos, corrigidos, mitigados e compensados, assim como devem ser introduzidas práticas adequadas de gestão na operação, na perspectiva da contribuição específica do empreendimento à qualidade ambiental e a sua sustentabilidade (WWF-BRASIL, 2004). A Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981) afirma que a fiscalização e o controle de aplicação de critérios, normas e padrões de qualidade ambiental são exercidos pelo IBAMA, em caráter supletivo à atuação dos órgãos estadual e municipal competentes. Nesse sentido, a SEMA-MT vem, aos poucos, implantando o sistema de licenciamento também para as atividades turísticas, porém no âmbito dos municípios isso não acontece. Para tanto, haveria a necessidade de um convênio com a SEMA-MT, o perfeito funcionamento do conselho municipal de meio ambiente e um quadro técnico habilitado a proceder a vistorias e atos de fiscalização, o que inclui multas e embargos. Além do licenciamento, a Política Nacional do Meio Ambiente define outros instrumentos importantes para o turismo, como o zoneamento ambiental – em Mato Grosso aplicado sob a forma de ZSEE (SEPLAN-MT, 2008c) –, a avaliação de impactos ambientais (que precede o licenciamento) e a criação de espaços territoriais especialmente protegidos. Tais espaços formam um sistema relevante para o turismo por meio das UC federais, estaduais e municipais, que integram o conjunto de áreas protegidas do Brasil, constituindo o SNUC, instituído pela Lei Federal 9.985/00 (MMA, 2000), que define as UC, em seu Artigo 2º, como Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. O Capítulo III do SNUC dispõe sobre as categorias das UC – entre elas, encontram-se os parques75, presentes no Polo por iniciativas federais e estaduais, que representam áreas de 75 Segundo o SNUC (MMA, 2000), Art. 11, parques nacionais “tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas 252 grande beleza cênica de forte interesse como atrativos turísticos, e espaços bastante relevantes para o segmento do ecoturismo ou de turismo de aventura. Antes, porém, da criação do SNUC, diversas categorias de manejo já existiam e, devido à variação terminológica adotada em municípios, estados e no Governo Federal, as legislações que se propunham a proteger não eram claras e eficazes na matéria, sendo que por vezes não possuíam referencial jurídico em comum (CORTES apud BARROS e PONTES, 2002). Nesse ponto reside o conflito legal que se observa no Polo Cerrado referente à implantação de EP, categoria de UC não prevista pelo SNUC e que deve ser readequada a outra categoria, como a APA. No Brasil, assim como no Polo, são poucos os parques preparados para receber o visitante de forma adequada76. Para o desenvolvimento do turismo nas UC, são exigidos planos de manejo que avaliem os locais onde a atividade pode ocorrer, com base no zoneamento, bem como indiquem as estruturas básicas necessárias, como um centro de atendimento ao turista, estrutura administrativa, equipamentos (trilhas, sanitários, estacionamentos, sinalização) e serviços diversos (alimentação, guias, transportes) para atender a demanda turística. A satisfação desses requisitos mínimos garante o funcionamento eficaz da atividade com respeito à conservação ambiental. Ainda na área ambiental, outra importante legislação refere-se à proteção da vegetação natural e dos ambientes onde ocorrem. Assim, o Código Florestal (BRASIL, 1965), no Art. 1º, afirma que as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem. O Código Florestal também estabelece áreas protegidas que formam um conjunto complementar às definidas pelo SNUC, por meio das Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reservas Legais. As APP são áreas protegidas nos termos dos Arts. 2º e 3º, cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Nesse sentido, cabe uma discussão complexa e delicada. Pelo Código Florestal, são consideradas de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas (Art. 2º): - ao longo dos rios ou de qualquer curso d‟água em faixa marginal cuja largura mínima está definida pela alínea “a” do Art. 2º do Código; - ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d‟água naturais ou artificiais, cuja extensão está definida em resolução do CONAMA; - ao redor de nascentes e nos olhos d‟água num raio mínimo de 50 metros; - nos topos de morro, montes, montanhas e serras, cuja extensão está definida em resolução do CONAMA; - nas encostas com declividade superior a 45 graus; - nas restingas e mangues; - nas bordas de chapadas e tabuleiros em faixa mínima de 100 metros a partir da linha de ruptura do relevo; e científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, na recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. 76 No capítulo 5.2.4 as UC presentes no Polo são caracterizadas com mais detalhes. 253 - em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação. Já Reservas Legais são áreas localizadas no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessárias para o uso sustentável dos recursos naturais, para a conservação e reabilitação dos processos ecológicos, conservação da biodiversidade e abrigo e proteção de fauna e flora nativas. É a parte da propriedade que não será utilizada economicamente, que varia de bioma para bioma, em geral ocupando de 20 a 80% da área. Outra lei relevante para o turismo no Polo Cerrado, é referente ao manejo de espécies da fauna: a Lei de Proteção à Fauna Silvestre (BRASIL, 1967), de 3 de janeiro de 1967, dispõe sobre a proteção da fauna brasileira e expressa assim seus objetivos Art. 1º - Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado, sendo proibido a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (BRASIL, 1967). Considerando que uma parte do Polo Cerrado é considerada abrigo natural de diversas espécies da fauna, sua proteção é fundamental tanto para o equilíbrio dos ecossistemas, como também é garantia para a manutenção de um turismo de natureza de qualidade, que satisfaça segmentos turísticos importantes como o de observadores de aves (birdwatchers), mochileiros (backpackers) e ecoturistas. A Lei se aplica através de fiscalização pelos órgãos ambientais federal e estadual. O patrimônio espeleológico brasileiro, formado pelas cavidades naturais subterrâneas, é considerado pela Constituição Federal (BRASIL, 1988), Art. 20, inciso X, bens da União. Já o Art. 216 considera, no inciso V, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico como patrimônio cultural brasileiro. A gestão da visitação em cavernas é regulamentada pelo Decreto Federal 99.556/90 (BRASIL, 1990). As cavidades constituem um patrimônio ambiental e histórico-cultural e devem ser conservadas de modo a permitir estudos de caráter técnico-científicos, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo e incluem todos os termos regionais, como gruta, lapa, toca, abismo, furna e buraco. A lei protege não somente o espaço físico proporcionado pela caverna, mas também o conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali encontrados, bem como a área de influência da cavidade a ser definida por estudos técnicos específicos, obedecendo a peculiaridades e características de cada caso. Para o uso das cavernas pelo turismo, se faz necessário um plano de manejo espeleológico, tal como um estudo de impacto ambiental das possíveis atividades de visitação. O CECAV, criado e vinculado ao IBAMA em 1997, é o órgão federal que propõe, normatiza, fiscaliza e controla o uso do patrimônio espeleológico brasileiro, sendo o responsável pela sua conservação e detendo a competência para emitir licenças para projetos de pesquisa e demais solicitações de uso do patrimônio espeleológico nacional, observando a legislação específica. Assim, a Resolução do CONAMA n° 347/04 (MMA, 2004) estabelece o Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE) e define os procedimentos de uso e exploração do patrimônio, visando sua proteção ambiental e estabelecendo o licenciamento obrigatório pelo órgão ambiental competente (Art. 4º). Para tanto, prevê-se a elaboração do Plano de Manejo Espeleológico (Art.6º) para o seu uso, o que inclui o licenciamento de atividades turísticas. A licença deve ter a anuência do IBAMA, no caso da cavidade estar localizada em terras privadas ou ser considerada relevante – ou seja, caso apresente significativos atributos ecológicos, ambientais, cênicos, científicos, culturais ou socioeconômicos – no contexto local ou regional em razão, entre outras, das seguintes características: 254 dimensão, morfologia ou valores paisagísticos; peculiaridades geológicas, geomorfológicas ou mineralógicas; vestígios arqueológicos ou paleontológicos; recursos hídricos significativos; ecossistemas espécies frágeis; endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção; diversidade relevância biológica; ou histórico-cultural ou socioeconômica na região. Recentemente, o MMA (2009a) editou a Portaria nº 358/09 instituindo o Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeleológico, a cargo do ICMBio, que tem como objetivo desenvolver uma estratégia nacional de conservação e uso sustentável do patrimônio espeleológico brasileiro. O Programa tem como diretrizes (Art. 2°): I. valorização do Patrimônio Espeleológico, bem da sociedade brasileira; II. integração de ações setoriais, por meio da descentralização de ações, do fortalecimento da ação governamental, do estabelecimento de parcerias e envolvimento dos setores interessados na implementação do Programa; III. abordagem ecossistêmica para a gestão do Patrimônio Espeleológico, avaliando problemas, identificando soluções e propondo medidas adequadas de conservação, uso sustentável e recuperação dos recursos da geodiversidade (MMA, 2009a). O Art. 3° delimita os seguintes componentes do programa: a) Componente 1 - Conhecimento do Patrimônio Espeleológico [...], tendo as seguintes metas iniciais: 1. Inventário Anual do Patrimônio Espeleológico Nacional; 2. Diagnóstico das Unidades Espeleológicas do Brasil; e 3. Programa de pesquisa aplicado à conservação e manejo de cavernas. b) Componente 2 - Conservação do Patrimônio Espeleológico [...], tendo as seguintes metas iniciais: 1. Criação de 30 Unidades de Conservação Federais com o objetivo de proteger cavidades naturais subterrâneas de significativa importância ecológica e cênica; e 2. Realização de estudos espeleológicos na elaboração de Planos de Manejo nas Unidades de Conservação federais. c) Componente 3 - Utilização Sustentável dos Componentes do Patrimônio Espeleológico [...], tendo como meta inicial a elaboração de um programa de turismo sustentável para as cavernas brasileiras, incentivando a inserção do Brasil no cenário mundial da prática de espeleomergulho, com abertura do circuito nacional; d) Componente 4 - Monitoramento, Avaliação, Prevenção e Mitigação de Impactos sobre o Patrimônio Espeleológico [...], tendo como meta inicial a elaboração de norma para regulamentação do uso do patrimônio espeleológico com base no diagnóstico [...] e [...]os princípios estabelecidos neste Programa; e) Componente 5 - Divulgação sobre o Patrimônio Espeleológico [...], tendo as seguintes metas iniciais: 1. Lançamento da Revista Brasileira de Espeleologia; e 2. Criação e implementação do [...] CANIE. 255 f) Componente 6 - Fortalecimento Institucional para a Gestão do Patrimônio Espeleológico [...], tendo como meta inicial a realização do primeiro curso de pós-graduação lato senso em espeleologia do Brasil. Como já visto, Mato Grosso também tem sua política ambiental. A Lei Complementar nº 38/95 dispõe sobre o Código Estadual de Mato Grosso (MATO GROSSO, 1995), o qual tem como finalidade integrar os órgãos e instrumentos da Política Estadual do Meio Ambiente. Atualmente, a Lei passa por reformas para tentar resolver alguns entraves políticos e institucionais, atualizando-se em função da necessidade de ajustes frente à legislação federal. O Código Ambiental atual identifica o turismo como atividade potencialmente impactante, explicitando a obrigatoriedade do licenciamento ambiental para o desenvolvimento sustentável da atividade. Porém, nos estudos em campo, foram diagnosticados diversos problemas ambientais nas regiões turísticas que exigiriam a aplicação da legislação federal e estadual, como exploração mineral (garimpos), criação de gado em áreas de preservação e agricultura em larga escala77. No Polo Cerrado, é importante também registrar a necessidade de aplicação do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos/ Código das Águas, Lei Federal nº 9.433/97 (BRASIL, 1997), que institui uma política nacional para a gestão dos recursos hídricos com características de descentralização e participação, tendo como unidade territorial de planejamento as bacias hidrográficas. Para o turismo, o WWF-Brasil faz a seguinte observação sobre sua relação com os recursos hídricos A maioria dos municípios com elevado potencial turístico mantém uma estreita relação entre a atividade e a qualidade e quantidade de recursos hídricos. São balneários, municípios ribeirinhos, municípios com águas termais, com rios e cachoeiras, no entorno de reservatórios, lagoas e lagunas etc. A gestão da água nesses municípios é assunto estratégico para a atividade turística e, portanto, faz-se necessário sua preparação para participar ativamente do sistema de gestão dos recursos hídricos, seja o nacional, nas bacias hidrográficas federais (rios federais), seja nos sistemas estaduais (rios estaduais). O Código das Águas (BRASIL, 1997) representa uma inovação em termos de gestão de recursos naturais, pois conceitua o bem mineral como de domínio público, que depende de outorga federal ou estadual para seu uso, ao contrário do domínio privado consagrado no Código de Águas de 1934. Assim, trata a conceituação da água como um bem de uso múltiplo (consumo humano e animal, industrial e agrícola), que passa a ter cobrança pela utilização, tendo como prioridade o consumo humano e a dessedentação de animais, rompendo a hegemonia histórica de outros setores usuários. Entre seus principais instrumentos de gestão, ressaltam-se os de caráter técnico, nos quais estudos de planos diretores, de monitoramento e sistemas de cadastramento e informação são a base para a avaliação das alternativas de uso em cada bacia hidrográfica, combinado com um instrumento jurídico, a outorga (ou direito de uso), que tem como mecanismo econômico-financeiro a cobrança, cujos valores de arrecadação são vinculados a um fundo específico para a gestão e proteção ambiental da própria bacia produtora. A isto se soma um interessante esquema político-institucional que compreende os Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos e os Comitês de Bacias Hidrográficas, órgãos colegiados que asseguram a participação democrática da sociedade civil na gestão dos recursos hídricos. Por fim, a Agência Nacional das Águas (ANA) é o órgão regulador de todo o sistema responsável pelo planejamento e monitoramento da aplicação da política nacional. 77 No capítulo 5.1, os impactos ambientais observados em campo estão detalhados. 256 Todo esse sistema se completa com os demais órgãos públicos nos três níveis de governo, cujas competências relacionam-se com a gestão das águas. O processo de implantação de um modelo tão novo de gerenciamento territorial vem enfrentando entraves, alguns deles recorrentes no trajeto de transformação da estrutura e da cultura institucional presentes na área ambiental. Dentre eles, se destacam a fragmentação e desarticulação das instituições ligadas à problemática ambiental, a despeito do discurso vigente de visão holística e sistêmica (PAGNOCCHESCHI, 2003, p.242). O desafio apresentado se reflete em Mato Grosso nas dificuldades de gestão dos recursos hídricos, que teve suas discussões iniciadas pelo estabelecimento da Política Estadual de Recursos Hídricos, Lei 6.945/97 (MATO GROSSO, 1997), fundamentada na legislação nacional. Apesar de estabelecerem uma política específica, essas leis não foram suficientes para que um novo modelo de gerenciamento do território mato-grossense fosse implantado78, visto que não há nenhum comitê de bacias implementado, muito menos foram feitos quaisquer estudos relativos à capacidade de produção de água de cada bacia, fundamental para implantar os instrumentos de uso, outorga e cobrança. Para o turismo, há uma evidente vocação na região do Polo Cerrado a partir da contemplação e uso dos recursos hídricos, que apenas se desenvolverá e se sustentará na hipótese da existência de salvaguardas ambientais de proteção à qualidade dos recursos hídricos existentes. Ainda com foco no gerenciamento do território sob o aspecto dos recursos hídricos, encontra-se a legislação referente aos terrenos da marinha, Art.20°, VII, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que trata das águas marinhas e também de interiores. São considerados terrenos da marinha "todos os que banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, em sua foz, vão até a distância de 33 metros para a parte das terras, desde o ponto em que conta a preamar média” (BRASIL, 1988). Tal dispositivo constitucional está baseado nos Arts. 2º e 3º do Decreto Lei nº 9.760/46 (BRASIL, 1946), que também se refere, no Art. 64, que os imóveis da União podem ser aforados, cedidos ou alugados e acrescenta que o aforamento79 ocorrerá quando coexistirem os interesses de radicar o indivíduo ao solo e mantiver-se a propriedade pública. O aforamento de terreno de marinha pode ser feito por meio de contrato e pagamento de foro, regido pelo direito administrativo, conforme previsto no Decreto Lei 9.760/46. Nesse sentido, as localidades que se encontram próximas do Rio Cuiabá, como Cuiabá e Nobres, e do Rio São Lourenço, como Jaciara e Campo Verde, devem atentar para as regras de utilização de terrenos sob influência dos recursos hídricos, pois são considerados como de propriedade da União Federal, cujo uso é administrado e fiscalizado pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), órgão do Ministério do Planejamento. No Polo Cerrado, a Capitania de Portos da Marinha encontra-se sediada no município de Cuiabá. Segundo o WWF-Brasil (2004), Deve-se ater também para as regras de proteção à navegação previstas na Lei Federal n° 9.537/97, conferindo à autoridade marítima a elaboração de normas sobre a execução de obras às margens das águas nacionais no que diz respeito à segurança da navegação e ao ordenamento do espaço aquaviário (Art. 4°, I, "h"). Já, a Portaria da Diretoria de Portos e Costas n° 52/01, a qual remete-se especificamente à Norma da Autoridade Marítima 11/01 (NORMAM 11/01), estabelece as normas para obras sobre as margens das águas nacionais e prevê que a execução de obras 78 No item 5.2.2, pode-se obter maior detalhamento sobre o gerenciamento dos recursos hídricos no Estado de Mato Grosso. 79 Segundo o WWF-Brasil (2004), aforamento “é o instituto civil que permite ao proprietário atribuir a outrem o domínio útil de móvel, pagando a pessoa que adquire ao senhorio direto uma pensão ou foro, anual, certo e invariável". 257 particulares sob, sobre e às margens das águas jurisdicionais brasileiras depende de consulta prévia à Capitania, à Delegacia ou à Agência. Cada uma das legislações citadas possui mecanismos de punição às infrações. Porém, a Lei Federal 9.605/98, que regulamenta os crimes e infrações administrativas contra o meio ambiente, preenche uma lacuna normativa, que permitia facilidades na obtenção de recursos protelatórios via judiciário. A Lei dispõe sobre os crimes e as respectivas sanções penais, os procedimentos e as formas de aplicação das penas, bem como sanções administrativas para o caso de ação ou violação de regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. Prevê uma série de crimes contra a fauna e flora, poluição em suas diferentes formas, crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e contra a administração ambiental. 258 4.4.2 Proteção do patrimônio Cabe ainda, neste item, destacar a legislação de proteção do patrimônio histórico-cultural, representada pelo Decreto Federal 25/37 – Lei do Tombamento de Bens Móveis e Imóveis (BRASIL, 1937) e pelo Decreto Federal n° 3.551/00 – Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial (BRASIL, 2000). Como pano de fundo legal para o tema, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece, em seu artigo 23, incisos III e IV, que compete à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios “proteger os documentos, as obras, e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos” e “impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural”. Especificamente no âmbito municipal, o Art. 30, inciso IX, delimita para o município “promover a proteção do patrimônio histórico local, observada a legislação a ação fiscalizadora federal e estadual.” O Art. 216, afirma que, (...) constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial os quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988). A Lei do Tombamento de Bens Móveis e Imóveis (BRASIL, 1937) diz que o patrimônio histórico e artístico nacional constitui-se do “conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”80. O Decreto estabelece que não é permitido, na vizinhança do bem tombado, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nele colocar anúncios ou cartazes sem prévia autorização atual IPHAN. No entanto, o poder público estadual ou municipal pode estabelecer procedimentos próprios mediante legislação específica, desde que respeitados os princípios gerais estabelecidos pelo Decreto Federal. O Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial (BRASIL, 2000) identifica as manifestações culturais de característica não material – sejam artísticas, folclóricas, gastronômicas, artesanais ou religiosas – como patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. O registro imaterial tem como referência o estabelecimento dos seguintes livros: Livro de Registro dos Saberes, no qual são inscritos os conhecimentos e os modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; Livro de Registro das Celebrações, no qual são inscritos os rituais e as festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; 80 Dentre os bens culturais no Polo Cerrado que potencialmente podem ser protegidos pelo tombamento destacamse: sítios históricos, paleontológicos, arqueológicos ou étnicos (índios, caiçaras, ribeirinhos e quilombolas); monumentos da arquitetura civil (residencial, comercial, público) e religiosa; esculturas; conjuntos históricos (casarios); museus; ruínas; minas e portos; estradas e trilhas históricas; eventos e festas culturais; instituições e centros culturais e bibliotecas públicas. 259 Livro de Registro das Formas de Expressão, no qual são inscritas as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; e Livro de Registro dos Lugares, no qual são inscritos os mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. As propostas desse tipo de tombamento são dirigidas ao IPHAN, pelos órgãos federais, estaduais e municipais, e pela sociedade ou associações civis, contendo a documentação técnica do bem e a descrição pormenorizada de todos os elementos culturalmente relevantes. O IPHAN encaminha as propostas ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e, se aprovado, o bem é inscrito no livro correspondente e recebe o título de Patrimônio Cultural do Brasil. Essas são as principais abordagens legais que devem embasar toda e qualquer ação proposta pelo PDITS para assegurar a legitimidade dos processos de desenvolvimento turístico no Polo Cerrado. Ademais, também cabe estabelecer observações sobre a legislação que regula a atividade turística em sim, conforme apresentado a seguir. 260 4.4.3 Legislação turística De modo geral, são poucas as normas específicas em turismo no Brasil e não cabe a este Diagnóstico resgatar legislações históricas anteriormente estabelecidas, sejam as leis federais ou as portarias da antiga EMBRATUR, em vista da aprovação recente da Lei nº 11.771/08 – LGT (MTUR, 2008c), a qual inclusive carece de regulamentação para se efetivar juridicamente no cenário regulador da atividade no país. Ademais, a partir da LGT e de sua regulamentação, regras legais complementares podem ser estabelecidas pelos estados e municípios para a gestão responsável do turismo. A LGT81 dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, definindo as atribuições do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico, disciplinando a prestação de serviços turísticos, o cadastro, a classificação e a fiscalização dos prestadores de serviços turísticos. Algumas fragilidades são observadas, como o fato de não estabelecer de fato uma política nacional, mas apenas seus objetivos gerais, e sugerir a formação de um sistema nacional de turismo, embora sem indicar responsabilidades e ações de cada órgão dentro do sistema. Por outro lado, a LGT avança em questões importantes, remetendo ao PNT, às políticas de desenvolvimento, determinando a revitalização do Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR) como instrumento de incentivo e financiamento público do turismo (Arts. 15 a 20) e a regulação da prestação de serviços turísticos, entendidos como (...) as sociedades empresárias, sociedades simples, os empresários individuais e os serviços sociais autônomos que prestem serviços turísticos remunerados e que exerçam as seguintes atividades econômicas relacionadas à cadeia produtiva do turismo: I - meios de hospedagem; II - agências de turismo; III - transportadoras turísticas; IV - organizadoras de eventos; V - parques temáticos; e VI - acampamentos turísticos (MTUR, 2008c). O cadastro no MTur permitirá que as demais sociedades empresárias voltadas para a prestação de serviços diversos sejam também reconhecidas pelos seguintes serviços de suporte ao turismo: restaurantes, centros cafeterias, bares e similares; ou locais destinados a convenções e/ou a feiras e a exposições e similares; parques temáticos aquáticos e empreendimentos dotados de equipamentos de entretenimento e lazer; marinas casas e empreendimentos de apoio ao turismo náutico ou à pesca desportiva; de espetáculos e equipamentos de animação turística; organizadores, promotores e prestadores de serviços de infraestrutura, locação de equipamentos e montadoras de feiras de negócios, exposições e eventos; locadoras 81 de veículos para turistas; e Revoga: Lei nº 6.505, de 13 de dezembro de 1977 (sobre atividades e serviços turísticos, e condições para o seu funcionamento e fiscalização); Decreto Lei nº 2.294, de 21 de novembro de 1986 (relacionado ao exercício e à exploração de atividades e serviços turísticos) e dispositivos da Lei nº 8.181, de 28 de março de 1991 (que renomeia a EMBRATUR e dá outras providências). 261 prestadores de serviços especializados na realização e promoção das diversas modalidades dos segmentos turísticos, inclusive atrações turísticas e empresas de planejamento, bem como a prática de suas atividades. Já mencionada e descrita neste capítulo, Mato Grosso segue também uma Política Estadual de Turismo, porém não convertida em Lei. 262 4.5 INVESTIMENTO TURÍSTICO A importância da atividade econômica do turismo é traduzida pelo Art. 180 da Constituição Federal, que identifica a União, os estados e o Distrito Federal como promotores e incentivadores do turismo como fator de desenvolvimento social. De modo geral, as políticas de fomento ao mercado privado do turismo vem sendo adotadas pelo MTur, conforme apresentados na Tabela 94, por meio do macroprograma de Fomento à Iniciativa Privada do PNT. Tabela 94 – Macroprograma Fomento à Iniciativa Privada, principais ações Programa de atração de investimentos Programa de financiamento para o turismo - Pesquisa e identificação de potenciais investidores do Brasil e do exterior. - Gestão do Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR). - Apoio a empreendedores da iniciativa privada na superação de entraves à implantação de projetos turísticos no País. - Promoção e realização de seminários, congressos e fóruns de debate sobre produtos e serviços financeiros voltados para a cadeia produtiva do turismo. - Incentivo a investimentos de empreendedores do turismo, com especial atenção para as atividades turísticas de micro, pequeno e médio porte. - Criação e/ ou aprimoramento de linhas de crédito e de outros produtos e serviços financeiros de apoio a projetos de investimento da cadeia produtiva do turismo. - Divulgação de oportunidades de investimentos no turismo, em busca de potenciais investidores para o desenvolvimento da atividade no País. Fonte: MTUR, 2009i - Acompanhamento dos programas oficiais de financiamento para o turismo, executados pelos bancos públicos federais. No âmbito do estado, apesar da iniciativa de planejamento por meio de processos de diagnóstico e zoneamento de uso do território e identificação de cenários futuros de desenvolvimento e a prioridade dada ao turismo, não foram identificadas medidas concretas de incentivo ao investimento no setor. Talvez, com a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil, sendo Cuiabá a sede de uma de suas etapas, o estado defina formas de garantir um fluxo de investimentos do setor privado em novos negócios e produtos turísticos. O Polo Cerrado, como um produto turístico reconhecido nacionalmente e com potencial significativo para o mercado internacional, especialmente por conta de sua paisagem, pode ter a atração de investimentos gerenciada pelo estado para alcançar melhores resultados na atuação do mercado turístico. 263 4.5.1 Incentivos a empresas Incentivos são benefícios concedidos pelo governo com o intuito de estimular certa área, setor ou atividade econômica. Caracteriza-se como incentivo fiscal a redução e/ ou eliminação, direta ou indireta, de ônus tributário, oriundo de lei ou norma específica. Identificar os entraves e/ ou facilidades para a constituição e gestão de empresas turísticas não é tarefa fácil no emaranhado complexo e confuso da normatização tributária brasileira, partindo de levantamentos de dados secundários em sites especializados e consultas à legislação tributária82. O turismo nunca teve uma política de incentivo clara e consistente até a publicação da LGT, em 2008. Mesmo ela, no entanto, não oferece um tratamento diferenciado ao setor – mas cria condições para facilitar o acesso a incentivos devido à organização e cadastramento das organizações turísticas num sistema reconhecido pelo governo. Os incentivos se dão por meio de facilidades tributárias dispostas em diversos instrumentos legais. Assim, o mercado em geral e todos os agentes públicos devem observar primeiramente o Código Tributário Nacional (CTN) Lei 5.172/66 (BRASIL, 1966), que versa sobre o sistema tributário brasileiro83. Complementarmente, e especificamente pensando-se no turismo, composto majoritariamente por micro e pequenas empresas, e também com presença forte de empresas informais, deve-se atentar para leis que criam facilidades para esse setor empresarial, como a Lei Geral de Micro e Pequena Empresas, leis de benefícios fiscais diversas e a Lei Geral das Cooperativas, entre outras. Em 2006 foi sancionado o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (BRASIL, 2006), que cria o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, contendo uma série de facilidades tributárias e de negócios – como o tratamento diferenciado em licitações públicas – e instituiu o Super Simples, atualizando o regime jurídico conhecido como Simples Nacional84. O Super Simples é um dispositivo que cria uma série de facilidades tributárias para as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) que se enquadrarem nas categorias de faturamento: ME: pessoa jurídica que fatura até R$ 240 mil ao ano; EPP: pessoa jurídica que fatura mais de R$ 240.00,01 até R$ 2,4 milhões ao ano85; Nesse enquadramento, as ME e EPP têm unificados oito impostos: Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); 82 As solicitações de entrevistas com associações de classe como a ABAV, ABRASEL, Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA), ABIH, assim como entidades de fomento, como o SEBRAE-MT, para dados primários não foram atendidas. 83 Além da CTN, outras leis devem ser observadas pelas empresas turísticas, como a legislação do imposto de renda (Lei 8.383/91), a legislação de benefícios fiscais (Lei 11.196/05) (BRASIL, 2005), entre outras específicas, por exemplo, as que especificam regimes tributários diferenciados para MPE. 84 Essa normatização revogou o Estatuto da Micro e Pequena Empresa (Lei 9.841/1999) e foi regulamentada pelo Decreto nº 6.204, publicado em 5 de setembro de 2007. 85 Sendo facultativo aos estados (e seus respectivos municípios) com participação em até 5% do PIB (como é o caso do Mato Grosso) adotarem o limite de R$ 1,8 milhão para pequenas empresas. 264 Programa de Integração Social/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP); Contribuição Imposto para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN ou ISS); Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). O Super Simples não atende serviços de corretagem (intermediação de serviços), mas, no caso do turismo, as agências de viagens podem usufruir das facilidades previstas (como também o transporte municipal de passageiros e as empresas montadoras de estandes para feiras), pagando um valor único de imposto entre 6 a 17,42% de receita, conforme as tabelas anexas à Lei. Além da unificação no pagamento dos impostos, quem estiver no sistema está desobrigado do pagamento de contribuições às entidades do sistema S, como SEBRAE, SENAC ou SESC, e também está isento da contribuição sindical patronal ou qualquer outro imposto sindical previsto na CLT, prevendo facilidades na relação com os funcionários. A Lei também desburocratiza a abertura, fechamento e manutenção de uma empresa, pela unificação do registro no âmbito federal, municipal e estadual. Além disso: para começar a funcionar, a empresa que não apresenta alto risco, como é o caso do turismo, não precisa de autorizações prévias da prefeitura, como atestados de segurança sanitária, controle ambiental e prevenção contra incêndios. A documentação pode ser feita até seis meses depois da abertura da empresa; o empresário não precisa de provas de quitação de tributos administrativos, previdenciários ou trabalhistas ou de declarações negativas de antecedente criminal para abrir ou fechar a empresa, mas responderá sobre as irregularidades e contravenções, caso existam; não é preciso mais apresentar escritura de propriedade do imóvel ou contrato de locação onde a empresa vai funcionar; e os empresários não precisam comprovar contribuição a órgãos de classe. Prevê também que as empresas que se enquadrem tenham acesso a créditos mais vantajosos (juros de 0,5 a 0,9% ao mês) por meio de cooperativas de crédito, cujos associados sejam micro ou pequenas empresas, usando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Por serem impostos de responsabilidade dos governos estadual e municipal, respectivamente, o ICMS e o ISS dependem de legislação específica para serem incluídos no sistema de facilidades do Super Simples. Nesse sentido, Mato Grosso decretou, em fins de dezembro de 2009, a redução, a partir de 1º de janeiro de 2010, de 11% para 9% a alíquota do ICMS para empresas optantes do Super Simples, de forma escalonada e gradativa anual, passando em 2011 para 7,5%, em 2012 para 6,0%, em 2013 para 4,5%, chegando em 2014 a 3% (SÓ NOTÍCIAS, 2009). O turismo se beneficia indiretamente da redução de alíquota do ICMS, em função de algumas atividades que estruturam, equipam ou abastecem o setor. Por outro lado, não foram identificadas facilidades diferenciadas de cobrança de ISS para o turismo nos municípios pertencentes ao Polo e, assim, os seguintes serviços turísticos são taxados em, no máximo, 5% sobre o valor da prestação de serviço, alíquota máxima conforme declina a Lei Complementar 116/03 (BRASIL, 2003a)86: 86 Os serviços de fornecimento de alimentação e bebidas são tributados pelo ICMS. 265 hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service condominiais, flat, aparthotéis, hotéis residência, residence service, suite service, hotelaria marítima, motéis, pensões e congêneres; ocupação por temporada com fornecimento de serviço; agenciamento, organização, promoção, intermediação e execução de programas de turismo; passeios, guias viagens, excursões e congêneres; de turismo; serviços de diversões, lazer, entretenimento e congêneres. Já a Lei 11.727/08 (BRASIL, 2008) dispõe, entre outras medidas tributárias, sobre aquelas destinadas a estimular os investimentos e a modernização do setor de turismo, afirmando, em seu artigo primeiro, que, “para efeito de apuração da base de cálculo do imposto de renda, a pessoa jurídica que explore a atividade de hotelaria poderá utilizar depreciação acelerada incentivada de bens móveis integrantes do ativo imobilizado”. Para o turismo é importante notar a Lei Geral das Cooperativas, instituída pela Lei Federal 5.764/71 (BRASIL, 1971), que implantou a Política Nacional de Cooperativismo. Cooperativa é uma modalidade de sociedade de pessoas com forma e natureza jurídica próprias, não sujeita à falência, e de natureza civil, com a finalidade de prestação de serviços aos associados, para o exercício de uma atividade econômica comum na forma de prestadora de serviços a terceiros. As cooperativas têm se tornado um importante instrumento societário para o turismo na medida em que, sendo uma atividade sazonal, o mercado turístico que envolve as ME e EPP encontra dificuldades em manter um quadro regular de profissionais ao longo do ano, motivo pelo qual se observa forte informalidade nas contratações do setor, em prejuízo claro aos direitos dos trabalhadores. No Polo Cerrado não foi observada nenhuma iniciativa de formação de cooperativas de prestadores de serviços turísticos. Para a consolidação do turismo no Polo Cerrado, uma política clara de benefícios deve ser observada pelos gestores públicos, não somente pela visão de incentivos financeiros e fiscais, mas também na facilitação de obtenção de créditos, como explicado a seguir. 266 4.5.2 Condições de financiamento Foram pesquisadas e analisadas as condições gerais de financiamento que o setor privado encontra no sistema financeiro público e privado para investimentos em produtos e serviços turísticos, que envolve aplicações de curto e longo prazo, as taxas de interesse, os períodos de carência, assim como a obtenção de descontos tributários, a fim de identificar se existe política clara sobre os tipos de investimento preferenciais no Polo, o que inclui também a facilitação de trâmites burocráticos para acesso a tais créditos. Assim, foram feitos levantamentos secundários nos sites dos principais bancos e agências de crédito do estado, especialmente de programas de financiamento operados por agentes financeiros públicos. Como mencionado no item 4.4 Legislação, p. 249, o MTur retomou um antigo fundo de crédito ao setor privado do turismo, o FUNGETUR que, operado pela CEF, tem diretrizes específicas para novos investimentos privados em turismo que necessitam de financiamento público. O FUNGETUR objetiva atender as demandas de implantação, melhoria, conservação e manutenção de empreendimentos turísticos (MTUR, 2008c). Cabe ressaltar que essas demandas podem também atender a empresários que visem interesses específicos, podendo-se citar aqueles vinculados à sustentabilidade, como aquisição de tecnologias ambientais ou promoção de ações que gerem renda e emprego nas localidades. Além do FUNGETUR, empresas e gestores públicos podem obter linhas de financiamento do Governo Federal, por meio de investimentos orientados pelo MTur, oriundos de diferentes fontes de recursos, como do BNDES ou do FAT, e operados diretamente por eles ou em parceria com bancos públicos tais como a CEF e o Banco do Brasil (BB). Dentre as linhas de financiamento, destacam-se as seguintes, que serão descritas: Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER)-Turismo (modalidades Investimento e Capital de Giro): parceria entre o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT), BB e MTur, operados pelo BB (2009) e CEF (2009); Microcrédito Empreendedor Popular: parceria entre MTE, CODEFAT, BB e MTur, com recursos do FAT; BNDES Caixa - Programa de Turismo: parceria entre o BNDES e o MTur; Turismo: parceria entre a CEF e o MTur; Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO): parceria entre o Ministério da Integração Nacional e o MTur; Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF)- Turismo Rural: parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, BB e MTur. Os financiamentos do PROGER-Turismo Investimento e do PROGER-Turismo Capital de Giro são destinados a pessoas jurídicas do setor turístico regularmente estabelecidas e cadastradas no Sistema de Cadastros dos Prestadores de Serviços, o CADASTUR, estabelecido pela LGT e gerenciado pelo MTur, com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões, atendendo às seguintes oportunidades de negócios: comércio varejista de artesanato e souvenirs; estabelecimentos alojamento transporte serviços hoteleiros, com ou sem restaurantes, exceto motéis; turístico, camping e outros tipos de alojamentos; rodoviário de passageiros, não urbano; de locação de veículos; transportes regular de bondes, funiculares, teleféricos ou trens próprios para exploração de pontos turísticos; atividades de agência de viagens e organizadores de viagens; 267 aluguel de automóveis; gestão de salas de espetáculos - centro de convenção; outras atividades relacionadas ao lazer - parques temáticos e aquáticos. Mais especificamente, o PROGER-Turismo Investimento é uma linha de crédito destinada ao financiamento de recursos para itens indispensáveis ao funcionamento do empreendimento turístico, tais como: bens e serviços; construção civil (edificações comerciais novas) e reformas em edificações comerciais existentes; instalações comerciais (elétrica, hidráulica, vitrines, balcões etc.), depuradores de resíduos, máquinas e equipamentos novos ou usados com até 5 anos de uso (inclusive de origem estrangeira), já internalizados, móveis e utensílios; veículos de fabricação nacional, modelo básico, novos ou usados com até 5 anos de uso, destinados à atividade comercial do empreendimento financiado, compreendendo ônibus, micro-ônibus, vans e jipe, pick-up e furgão de até 2.000 cc, reboque e semirreboques, motocicleta de até 125 cc., motoneta, triciclo e quadriciclo de até 175 cc; despesas de transporte e seguro das máquinas e equipamentos objetos do financiamento; recuperação, montagem, engenharia, supervisão, manutenção e aquisição de partes e peças de máquinas e equipamentos; gestão empresarial, sistemas de qualidade, capacitação e treinamento. O prazo para a quitação do PROGER Investimento é de até 120 meses, incluído período de carência de até 30 meses, com financiamento de até 90% do valor do projeto, com valor máximo de contratação de até R$ 300.000,00 para empresas com faturamento bruto anual de até R$ 3 milhões e de até R$ 400.000,00 para empresas com faturamento bruto anual entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões, já incluído capital de giro associado. A taxa de juros no período referido é a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 5,33% ao ano (taxa equivalente a 0,95% ao mês). Já o PROGER Capital de Giro destina-se à antecipação de créditos de vendas realizadas com cartão de crédito ou desconto de cheques pré-datados, destinado a empresas cadastradas no MTur, com teto financiável de até 10% do faturamento bruto anual para empresas com faturamento bruto anual de até R$ 3 milhões, e de até 8% para empresas com faturamento bruto anual entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões. O prazo de quitação é de até 12 meses. O BNDES (2010) conta com uma complexa linha de financiamento dos setores produtivos primários, secundários e terciários, destacando-se o BNDES Automático (financiamento a projeto de investimento de valor até R$ 10 milhões) e o BNDES Financiamento a Empreendimentos (FINEM): financiamentos a projetos de investimento de valor superior a R$ 10 milhões. Além dessas, outra linha de financiamento interessante para o turismo é o Cartão BNDES, constituído por um crédito rotativo pré-aprovado, limitado à R$ 1 milhão, destinado a micro, pequenas e médias empresas, e usado para a aquisição de bens e insumos. Dentre os produtos disponibilizados no cadastro de fornecedores do BNDES para o turismo, encontra-se: equipamentos diversos como capacetes de resgate/ rafting, reboques e semirreboques; sistemas de gestão online para agências e operadoras de turismo ou para sistemas administrativos e de gerenciamento; serviço de Certificação em Sistemas de Gestão Ambiental e em Sistemas de Gestão de Turismo Aventura. 268 Os bancos que emitem o Cartão BNDES atualmente são: BB, CEF, Bradesco, Nossa Caixa e Banrisul. A taxa de juros é definida mensalmente, em função da taxa a termo divulgada pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (ANDIMA), calculada com base nas Letras do Tesouro Nacional, e o prazo para amortização é de 3 a 48 prestações mensais, fixas e iguais, sujeito à consulta junto ao banco emissor. Dentro das linhas do BNDES, em parceria com o MTur, há linhas específicas para o turismo. O programa de turismo do BNDES tem por objetivo apoiar empreendimentos do setor nas localidades que apresentem potencial para a atividade, contribuindo para o desenvolvimento e competitividade do setor no país. O público-alvo são empresas de qualquer porte, nacionais ou estrangeiras. Os prazo totais são de até 12 anos, para as regiões abrangidas pelos Programas Regionais do MTur, e de até 10 anos para as demais regiões, com carência de até 12 meses após a entrada em operação comercial do empreendimento. Os recursos são operados por diversos agentes públicos como o BB, a CEF, o Banco da Amazônia (BASA) e o Banco Sicred. O limite de valor financiável anual é de até R$ 10 milhões, sendo que para micro, pequenas e médias empresas o financiamento chega a até 100% do valor total, grandes empresas a até 70% e para implantação de empresas até 60% do valor do projeto. No caso de financiamento de capital de giro associado ao projeto, os limites são de até 70% para ME, 40% para MPE e até 15% para grandes empresas. Os itens financiáveis do projeto de investimentos são, entre outros investimentos fixos, os que seguem: gastos com obras civis (construção e reforma), materiais e instalações; equipamentos hoteleiros; máquinas e equipamentos nacionais (como elevador, escada rolante, equipamentos para cozinha industrial, sistemas de refrigeração e de telefonia etc.); capacitação profissional e treinamento de mão de obra; informatização, incluindo a aquisição de equipamentos de processamento de dados e software; embarcações e ônibus de fabricação nacional, destinados ao transporte de turistas; desenvolvimento e implantação de sistemas para melhoria de qualidade e produtividade. O BNDES tem também linhas de crédito cujos recursos são não reembolsáveis, ou seja, aplicações a fundo perdido, realizadas por meio de dois programas: o Apoio a Projetos no Setor da Cultura e o Fundo Social (BNDES, 2010a). O Apoio a Projetos no Setor da Cultura tem origem em dotações anuais no orçamento do BNDES, e privilegia: o desenvolvimento e fortalecimento da cadeia produtiva da economia da cultura no país; a preservação da memória cultural tangível e intangível; a preservação do patrimônio histórico arquitetônico associado à revitalização urbana e turística e ao desenvolvimento social; a inclusão social através da arte e da cultura. O Apoio também se aplica a projetos relativos ao patrimônio histórico e arqueológico brasileiro - monumentos tombados pelo IPHAN, que sejam de uso público e de propriedade de pessoa jurídica de direito público ou privado, sem fins lucrativos. São apoiados projetos aprovados pelo Ministério da Cultura e enquadrados no Art. 18 da Lei Rouanet (BRASIL, 1991). Já o Fundo Social BNDES, cuja natureza dos recursos é constituída com parte dos lucros anuais do banco, tem a finalidade de apoiar projetos de caráter social nas áreas de geração 269 de emprego e renda, serviços urbanos, saúde, educação e desportos, justiça, meio ambiente, desenvolvimento rural e outras vinculadas ao desenvolvimento regional e social. Destinado a pessoas jurídicas de direito público interno e pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, com participação do banco de até 100% do investimento total, financia investimentos fixos, incluindo: aquisição de máquinas e equipamentos importados, sem similar nacional no mercado interno, e de máquinas e equipamentos usados; programas de capacitação; capital de giro; despesas préoperacionais e outros itens considerados essenciais para a consecução dos objetivos do apoio. O BNDES trabalha também por meio do programa de microcrédito – o BNDES Microcrédito, cujo objetivo é promover a economia popular, ofertando recursos para o microcrédito produtivo para atividades de pequeno porte, visando incentivar a geração de trabalho e renda. Os projetos financiáveis são aqueles que utilizem o microcrédito como instrumento de inclusão social, complementação de políticas sociais e/ ou promoção do desenvolvimento local, cujos agentes sejam instituições de microcrédito produtivo que atuem diretamente com o microempreendedor ou agentes de intermediação que alimentam tais instituições, tais como: agências de fomento; instituições financeiras públicas ou privadas; cooperativas centrais de crédito; cooperativas singulares de crédito etc. Nessa mesma linha, o programa de Microcrédito Empreendedor Popular, parceria entre o MTE, CODEFAT, BB e MTur, com recursos do FAT, oferece abertura de crédito fixo a pessoas físicas atuantes, exclusivamente, no setor informal (trabalhadores autônomos, empreendimentos de caráter domiciliar, prestadores de serviços, artesãos e outros que comprovadamente assim sejam caracterizados), objetivando sua integração ao setor produtivo formal da economia. O valor do financiamento, incluído o capital de giro associado, quando houver, está limitado a R$ 10.000,00 por proponente, destinando-se a investimento fixo (30% do valor financiado), e o valor da parcela não pode ultrapassar 25% da sua renda bruta mensal, com prazo máximo para pagamento de 36 meses, incluída carência de até 6 meses. O programa é operado pelo BB, CEF e BASA. Uma outra parceria entre a CEF e o MTur gerou o Programa Caixa Turismo. A modalidade Capital de Giro oferece desconto de títulos para o turismo, realizando empréstimos destinados a antecipar o fluxo de caixa da empresa. Desconta títulos ou cheques prédatados de terceiros entregues para cobrança na CEF. Os beneficiários são as empresas com faturamento anual ilimitado, porém com foco de atuação para empresas com faturamento anual de até R$ 5 milhões. A modalidade Giro-Caixa Instantâneo para o Turismo trata de crédito rotativo com limites flutuantes, em uma mesma conta corrente, para antecipação dos recebíveis (cheques pré-datados, cheques eletrônicos pré-datados, duplicatas de venda mercantil, duplicatas de prestação de serviços e aplicações financeiras). Beneficia empresas com faturamento anual de até R$ 35 milhões. O FCO (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2010), outra opção aqui destacada, pode ser acionado nas agências do BB, viabilizado por meio de uma parceria entre o Ministério da Integração Nacional e o MTur. O prazo máximo de financiamento é de até 12 anos, com prazo máximo de carência de até 3 anos dependendo da finalidade do crédito. Por fim, ainda na linha do financiamento para o setor privado, o PRONAF-Turismo Rural é uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, BB e MTur, apoiando o desenvolvimento de projetos turísticos em propriedades familiares, tais como pousadas, restaurantes, „pesque e pague‟ e cafés coloniais. Os beneficiários são produtores rurais enquadrados no PRONAF Grupos C e D, que possuam renda bruta anual acima de R$ 2 mil e até R$ 40 mil, sendo, no mínimo, 80% proveniente da atividade agropecuária e não agropecuária, assim considerados os serviços e atividades relacionados ao turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e com a prestação de serviços no meio rural, e que possua ou explore área de terra até 6 módulos fiscais, quando a atividade preponderante for a bovinocultura ou a ovinocaprinocultura, ou ainda que tenham o trabalho 270 familiar como predominante. O teto de financiamento é de R$ 27 mil por beneficiário, com prazo de financiamento de até 8 anos, incluída a carência de 5 anos. Há também o PRONAF- Agregar, que visa apoiar projetos de investimento que contribuam para aumentar renda de propriedades rurais familiares, com a exploração do turismo rural, o desenvolvimento de produtos artesanais, o beneficiamento, processamento e a comercialização da produção agropecuária, por exemplo. Os beneficiários são produtores rurais enquadrados no PRONAF Grupos B, C e D, com renda bruta anual de até R$ 40 mil, sendo, no mínimo, 80% proveniente da atividade agropecuária e não agropecuária, conforme acima. O teto de financiamento é de R$ 18 mil por beneficiário ou R$ 720 mil para financiamentos coletivos, observado o limite individual por beneficiário. O prazo de financiamento é de até 8 anos, incluída a carência de 3 anos. Ambos são operados pelo BB e BASA. No âmbito do Governo Estadual, foi identificada uma linha de financiamento de interesse para o turismo – o Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial (FUNDEIC) da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Mineração e Energia, que tem por objetivo apoiar projetos com as seguintes finalidades: acelerar o desenvolvimento econômico do estado; viabilizar a existência de linhas especiais de crédito; estimular a produtividade das empresas já constituídas no estado; propiciar o desenvolvimento econômico ao micro trabalhador autônomo; estimular a modernização da atividade empresarial nos setores industrial, comercial e de turismo, visando à melhoria contínua da qualidade na prestação de serviços ao cliente cidadão; atrair novos empreendimentos para o estado. As disponibilidades do Fundo se destinam a empresas industriais, comerciais e de turismo, de micro e pequeno porte, instaladas ou que vierem a se instalar em Mato Grosso e a trabalhadores autônomos, sendo que os limites de valores financiáveis são, no máximo, 2.500 Unidades Padrão Fiscal (UPF)-MT. O prazo de carência máximo é de 24 meses da data da liberação da última parcela do financiamento e o de amortização, 5 anos, excluído o período de carência. O próximo capítulo trata do cenário socioambiental verificado no Polo. 271 5 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS Nos tópicos a seguir são apresentadas as informações e as análises sobre as questões socioambientais mais relevantes para o PDITS. Para isto, foram considerados dados obtidos em pesquisas secundárias, dados de levantamento de campo e informações coletadas por meio de formulários de entrevistas. Cabe ressaltar a grande dificuldade em se obter os dados originalmente previstos, em função, principalmente, de sua inexistência ou não disponibilidade nas páginas eletrônicas dos órgãos pesquisados e, ainda, pela não devolução das solicitações específicas feitas pela equipe diretamente aos órgãos. O item 5.1 trata de impactos ambientais na região do Polo Cerrado, concluindo que resultados de estudos diversos são facilmente observados em trabalhos de campo, tais como o desmatamento resultante da pressão antrópica. São analisados atrativos turísticos presentes no Polo e especial atenção foi dada às EP: MT-251 e MT-457. A gestão ambiental pública é o tema do item 5.2, abrangendo órgãos e instituições executivos, analisando a capacidade institucional municipal e estadual, compilando medidas de proteção e fiscalização em vigor e verificando aspectos de gestão das UC do Polo. Em seguida, o item 5.3 se encarrega de analisar a gestão ambiental nas empresas privadas, verificando as boas práticas aplicadas, especialmente, em empreendimentos turísticos. Em 5.4, instrumentos de planejamento e controle territorial são verificados, abrangendo especialmente o ZSEE, planos diretores municipais e projetos ambientais. Por fim, o item 5.5 identifica as ações dos órgãos responsáveis pela gestão e controle do meio ambiente no Polo voltadas para o desenvolvimento da atividade turística. 272 5.1 IMPACTOS AMBIENTAIS A análise ambiental é de fundamental importância, pois revela um cenário capaz de caracterizar as fragilidades atuais das paisagens de interesse turístico e apontar os impactos – positivos e negativos – no ambiente, motivados pelo turismo ou por outras atividades econômicas, objetivando definir ações que venham a ser aplicadas para eliminar, corrigir ou mitigar os desequilíbrios ou degradações da natureza, favorecendo o desenvolvimento turístico sustentável e mantendo a qualidade ambiental. Assim, impacto ambiental pode ser entendido, segundo Graf (apud VILÀS, 1992), como a modificação ou consequência que uma ação antrópica exerce sobre a paisagem e seu entorno, sendo que a avaliação de impactos ambientais advindos de futuros empreendimentos antrópicos surgiu da necessidade de exercer uma proteção mais efetiva do meio natural. O objetivo é identificar, interpretar e prever seus efeitos sobre o bem-estar dos sistemas dos quais depende o homem para sobreviver. Partindo-se de um quadro geral da região Centro-Oeste, onde se localiza Mato Grosso, a situação observada não é das mais animadoras. O cerrado, bioma mais influente nas paisagens do Polo e muito importante para manter seu equilíbrio, vem sofrendo ações de degradação já há bastante tempo (Figura 159). No entorno do Cerrado, onde se localizam as cabeceiras dos rios que o abastecem, é claramente visível o avanço do desmatamento, especialmente por atividades agropastoris. Figura 159 – Cobertura vegetal original e remanescente de cerrado, Brasil, 2004 Fonte: MACHADO et al., 2004 Na área de Mato Grosso (Figura 160 e Figura 161), as perdas de vegetação natural são significativas. Um estudo conduzido por LIMA et al. observou que Em termos gerais, resta no estado de Mato Grosso a área de 57% de suas formações originais. As diversas formações vegetais presentes em Mato Grosso, signo do alto valor biológico contido no estado, foram e estão sendo convertidas inadvertidamente em sistemas agropecuários. Tal processo, iniciado efetivamente na década de 60, ganha novos nuances no início desta década. O capital gerado e acumulado pela produção de commodities agrícolas, principalmente a soja tem estabelecido um novo padrão de conversão de cobertura natural, marcado pela grande velocidade e extensão das áreas devastadas. Este novo padrão de conversão suscita a rápida elaboração e implementação de políticas de conservação que sejam capazes proteger a diversidade biológica do estado (LIMA et al., 2007). O autor reforça ainda que a agricultura em larga escala é mais impactante, pelo tamanho e rapidez dos desmatamentos, que a pecuária e a agricultura familiar. Os principais tipos de usos antrópicos desenvolvidos em Mato Grosso são representados pela pecuária, agricultura, extrativismos madeireiro e mineral. 273 Figura 160 – Cobertura vegetal primitiva, MT Fonte: LIMA et al., 2007 Figura 161 – Cobertura antropizada, MT, 2004 Fonte: LIMA et al., 2007 274 Outro estudo, conduzido pelo ICV, demonstrou também o avanço global do desmatamento de vegetação natural de Mato Grosso, complementando que a região vem sofrendo fortes pressões sobre os limites das UC de proteção integral (SANTOS et al., 2006), conforme demonstra a Figura 162. Figura 162 – Desmatamento e Unidades de Conservação, MT Fonte: SANTOS et al., 2006 Um dos principais documentos de referência para a análise dos impactos ambientais presentes no Polo é o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso (ZSEE) (SEPLAN-MT, 2008c), já discutido ao longo do capítulo 4, que descreve, de modo geral, a caracterização do Polo da região de Rondonópolis conforme segue. O ambiente da região Sudeste, predominantemente savânico com algumas áreas de transição e contato com floresta, apresenta média a alta alteração pela penetração da pecuária e da agricultura empresarial. Seis das treze USEE em que foi dividida a região contam com alta taxa de antropização e têm ambiente altamente alterado, quase sempre com maior desempenho na economia regional, como Planalto de Primavera do Leste, Alcantilados de Guiratinga, Depressão de Rondonópolis, Serra da Estrela, Itaquira/ Alto Araguaia, e Depressão do Alto Taquari. Em todo caso, a região tem unidades com baixa alteração do ambiente, como Gaúcha do Norte, dominada pela pecuária em grandes fazendas e pequenos produtores de alimentos, Noroeste de Paranatinga, com ambiente de savana pouco alterado, e Província Serra Leste, registrando vazio demográfico. Em relação à região de Cuiabá, o mesmo documento analisa: Em ambiente que combina savana, transição savana/ floresta, e savânico associado a pantanais, com presença de formações florestais, a região tem elevada relevância ecológica pela diversidade de paisagens, grande biodiversidade e belezas cênicas, mas apresenta média a alta alteração ambiental, com poluição e assoreamento de rios que formam o Pantanal e degradação da qualidade de vida urbana [...] com predomínio de pecuária, 275 além do turismo e da pesca, apresentam média taxa de antropização com ambiente natural com moderada alteração (SEPLAN-MT, 2008c). A SEPLAN-MT (2008c) indicou os principais impactos observados na região e que podem vir a afetar tanto a qualidade dos recursos naturais, como, evidentemente, as atividades turísticas que dependem desses recursos para seu bom desenvolvimento. De acordo com a SEPLAN-MT, os principais impactos verificados são: perda dos habitats com consequente empobrecimento da fauna; exposição do solo, aumentando a probabilidade de processos erosivos; empobrecimento da flora local e regional e destruição do banco genético local; alterações climáticas locais e regionais; alteração significativa da paisagem local; aumento da probabilidade de incêndios florestais; assoreamento dos rios e córregos, entre outros. A análise da paisagem e da biodiversidade no Polo permite estabelecer alguns cenários de uso potencial e de desenvolvimento do território. Tal análise, aliada ao estudo mais aprofundado de documentos recentes focados no planejamento regional, favorecem a definição de alternativas de uso econômico do Polo, suas possibilidades e restrições. Nesse contexto, o documento MT+20 (SEPLAN-MT, 2008b) vislumbra algumas restrições ambientais planejadas para os territórios que compreendem o Polo Cerrado: Região Cuiabá/ Várzea Grande - destinação de 1/3 do território de uso para recuperação ambiental e o restante de uso a consolidar e destinados à UC, e prevê como dinâmica econômica futura um crescimento econômico moderado com consolidação de centro industrial e de serviços avançados e terciário moderno, expansão do turismo, da aquicultura e da mineração. Região de Rondonópolis - aproximadamente 1/3 de uso controlado e pouco mais da metade de usos a consolidar e reordenar na estrutura produtiva; crescimento econômico alto e qualitativo com consolidação e adensamento da agropecuária, mineração controlada, formação de parque industrial e parque logístico, e ampliação dos serviços e do terciário moderno. Estudos feitos pela ONG Conservação Internacional (CI, s/d) para a implantação de corredores de biodiversidade ligando o cerrado a norte e a leste do pantanal até o sul da planície, já em Mato Grosso do Sul, revelam também um quadro preocupante de alterações na vegetação na parte alta no entorno da planície pantaneira, onde se localizam as cabeceiras dos rios responsáveis pelos ciclos de cheia e seca do Pantanal, devido à ocupação e uso do solo por atividades agropastoris (Figura 163). Figura 163 – Sistemas antropizados, região ampliada do Polo Cerrado Fonte: CI, s/d 276 No trabalho de campo para a realização deste Diagnóstico, foram realizadas visitas ao Polo Cerrado que permitiram observar grande parte do que apontam os estudos; ocorridas de outubro a novembro de 2009, por meio de viagens rodoviárias aos principais eixos de exploração turística do Polo Cerrado, uma equipe multidisciplinar munida de formulários de entrevistas, planilhas de observação e máquina fotográfica visitou cada município do Polo e seus principais atrativos, buscando identificar os impactos ambientais perceptíveis e quantificá-los87. Além desse levantamento, foram entrevistados formal e informalmente pessoas-chave para o tema, como secretários municipais de meio ambiente e de turismo, proprietários de pousadas, chefes de unidades de conservação, entre outros. A seguir, são apresentadas as análises feitas em campo: primeiramente, em relação a impactos relacionados com atrativos e, em seguida, os problemas encontrados nas EP. 87 O escopo deste trabalho não permite uma análise mais qualitativa, que considere especialmente a tipologia dos impactos, tais como a abrangência (generalizada, espalhada ou localizada), intensidade (alto, moderado ou suave) e ainda permanência (permanente, longo, médio e curto prazos). Assim, este estudo de campo não permite observar a persistência, o alcance, os efeitos no tempo dos impactos e suas consequências diretas e indiretas, visto necessitar de estudos mais complexos. 277 5.1.1 Atrativos De fato, a região que compreende a AT tem grande parte de sua paisagem destinada a atividades agrícolas. No Polo, Cuiabá e Jaciara são os municípios que apresentam as mais elevadas taxas de urbanização, sendo Cuiabá o ponto de partida para os municípios do Polo Cerrado, por apresentar a maior base econômica, com destaque para atividade industrial. Consequentemente, também apresentam consideráveis taxas de antropização e degradação em pontos de savana, paisagem típica regional, embora ainda sejam encontradas vastas áreas em bom estado de conservação. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cuiabá tem proporcionado educação ambiental através do Centro de Educação Ambiental Municipal (CEAM) e do Horto Florestal Tote Garcia, além de oficinas realizadas em escolas públicas e privadas. O turismo no município vem contribuindo com baixa intensidade para a degradação ambiental, contudo tem melhorado o nível de conscientização para a necessidade de preservação/ conservação dos recursos naturais e culturais. A região da Salgadeira, local bastante procurado por turistas pela sua localização, facilidade de acesso e belas paisagens, recebe cerca de 214.000 pessoas ao ano, o que está deteriorando o local. Não foram observados pontos de erosão no estacionamento, entretanto há presença de grande quantidade de lixo. Segundo o responsável pelo PARNA da Chapada dos Guimarães, toda a região nas proximidades da Salgadeira, perto do paredão, são áreas de vereda bastante sensíveis, onde se tem um controle ambiental e de visitação parcial, pois a ação realizada atualmente se limita a apenas alguns funcionários que ficam no local barrando as pessoas. Em Jaciara, o gerente do Balneário Thermas Cachoeira da Fumaça (p. 95) informou que disponibiliza, toda semana, um funcionário para limpar a margem do rio e que recolhe em torno de cinco a seis sacos de lixo, formado principalmente por garrafas plásticas, que vem através dos rios das chácaras a jusante. Além disso, a região apresenta áreas de plantio de cana-de-açúcar, atividade econômica que vem causando impactos negativos pela utilização de agrotóxicos, que acabam sendo jogados nos rios. De acordo com o gerente do Thermas, o estabelecimento tem sua gestão voltada para o meio ambiente, preservando o máximo possível de sua propriedade. Elaborado um projeto para a construção de um hotel, não houve autorização da SEMA-MT para a construção, pelo fato da construção já existente estar em área de preservação permanente. Ainda em Jaciara, a Cachoeira da Mulata é uma área da prefeitura e apresenta bom estado de preservação – contudo, foi identificado grande quantidade de lixo no seu interior. Na Chapada dos Guimarães, o PARNA (p. 98), segundo relatos do responsável, vem sofrendo com problemas ambientais, pois, ocasionalmente, são identificadas invasões, incêndios e pessoas que entram para praticar rally de moto, sendo possível verificar que alguns morros foram cortados por trilhas de motos. O responsável indica também que existem questões fundiárias críticas e que os maiores problemas ocorrem nas proximidades do Rio Mutuca, com propriedades de lazer. Outra região na Chapada dos Guimarães que também está sofrendo grandes impactos devido à visitação excessiva são as Cachoeiras da Martinha (p. 106), pois não existe controle de entrada, nem fiscalização no uso. Durante as visitas de campo, foi observado muito acúmulo de lixo em todo o entorno do atrativo (Figura 164). 278 Figura 164 – MT-251, lixo nas Cachoeiras da Martinha Verificou-se também que, na Chapada dos Guimarães, o crescimento de condomínios de lazer vem causando impactos negativos, devido a grandes áreas desmatadas no entorno da área do PARNA. Conforme informações da Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente do município, existe, por exemplo, um condomínio que é cercado por eucaliptos, fato que não é permitido no perímetro urbano. A mesma Secretaria da Chapada dos Guimarães afirma ainda que tem percebido impactos relacionados ao Festival de Inverno, que traz uma movimentação muito grande de pessoas para a região, sendo que a população do município quadriplica. Como visto em 3.2.1, a Chapada dos Guimarães tem enfrentado grandes problemas com relação à falta de água, mesmo estando numa região com grande abundância: a captação feita pela prefeitura não é suficiente para o abastecimento. Outro problema enfrentado no município que é agravado pelo turismo é a falta de educação ambiental relacionada ao lixo, que agride os mananciais da região – a Secretaria relata que não há estrutura e nunca houve investimentos no setor. Hoje, o município tem graves pendências com relação à disposição de resíduos sólidos, ainda depositados em um lixão a céu aberto sem controle sanitário principalmente na zona rural. O Mirante do Centro Geodésico, na Chapada dos Guimarães, tem apresentado vários pontos com fortes erosões, devido à intensa visitação de turistas e falta de infraestrutura, como pode ser observado na Figura 165. Figura 165 – MT-251, pontos de erosão no Mirante do Centro Geodésico Em Nobres tem havido uma boa articulação entre a SEMA-MT e a administração municipal, é a primeira vez, em 20 anos, que as secretarias fazem um trabalho articulado. Foram realizadas atividades com a comunidade, como uma campanha contra queimadas, 279 utilizando uma abordagem educacional e um trabalho com as escolas municipais, com concurso de literatura com oito premiações. A SEMA-MT e a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER-MT) têm sido grandes parceiras, apontando dois objetivos: criar uma unidade brigadista e uma unidade de fiscalização permanente para Nobres. No Balneário Estivado (p. 109), em Nobres, há reclamações sobre a circulação de carretas pesadas diariamente. O empreendimento está em área de preservação permanente, com projeto para a construção do restaurante e demais instalações distante do rio. Outros atrativos da região, como Cachoeira Serra Azul (p. 110), Aquário Encantado (p. 107) e Complexo da Cerquinha (p. 112), encontram-se em bom estado de conservação (Figura 166), do mesmo modo que os situados em Bom Jardim. Entretanto, observa-se certa carência de placas indicativas, bem como de educação ambiental, ressaltando-se que as que foram encontradas foram, muitas vezes, feitas pelos próprios proprietários dos atrativos (Figura 131). Figura 166 – MT-010, área de preservação permanente ao longo do Rio Cuiabazinho, Nobres A atividade turística tem sido causadora de impactos de maior intensidade em alguns pontos da Chapada dos Guimarães, como no Mirante do Centro Geodésico. Nos demais atrativos não ficou evidente que o turismo seja causador de impactos de intensidade significativa. Obviamente, a implantação de acessos facilitados aos diversos atrativos pode levar a mais e maiores ocupações produtivas em seu entorno, pela facilidade de deslocamento e escoamento da produção, o que pode ocasionar, inclusive, como consequência, uma interação negativa com o desenvolvimento da atividade turística na região. Esta é uma reflexão importante que pode ser feita a partir das observações de campo. É notório que a abertura e pavimentação de acessos, por meio de EP ou não – seja como estratégia para mais facilidade no escoamento da produção agropecuária ou para distribuição dos fluxos turísticos por meio viário –, leva a uma intensificação de processos de ocupação e apropriação da paisagem, invariavelmente sem controle e fiscalização, o que seria evitado se políticas efetivas de proteção de suas margens, por disciplinamento de uso do solo e fiscalização, fossem implantadas. Sendo assim, uma preocupação do trabalho de campo foi avaliar os acessos ao Polo Cerrado. Como visto no item 3.1.1, a partir de Cuiabá pode-se acessar MT-251, EP CuiabáChapada dos Guimarães-Mirante, e, a partir de Jaciara, a MT457, EP Cachoeira da Fumaça. 280 5.1.2 BR-163/ 364 No trecho percorrido de Cuiabá a Jaciara (BR-163/ 364), ao longo da faixa de domínio da rodovia, é comum observar áreas de desmatamento recentes que, quase certo, serão destinadas à ampliação da superfície de pastagem. Como consequência da retirada da proteção do solo, essa prática vem causando impactos, como erosões que aparecem em vários pontos na extensão da via. No conjunto da paisagem, intercalam-se extensas áreas preservadas de cerrado com pastagens. 281 5.1.3 EP Cachoeira da Fumaça, MT-457 A partir de Jaciara, pode-se acessar a EP Cachoeira da Fumaça (MT-457), que dá acesso a vários atrativos da região, como a Cachoeira da Fumaça, Cachoeira da Mulata (p. 96) e ao Balneário Thermas Cachoeira da Fumaça (p. 95). No entanto, embora constituída como EP, e com predominância de áreas de cerrado preservado, verifica-se que boa parte das configurações desejáveis e estabelecidas na lei não é atendida, como, por exemplo, o exercício de atividades que provoquem erosão, que ameacem a fauna e a flora da região e a prática de queimadas e desmatamentos (Figura 167). Ao longo da estrada, não se observa o manejo adequado do solo, em função de inúmeras atividades de pecuária no seu entorno, que desfiguram a paisagem natural da savana devido o plantio de pastagens não nativas. Ainda, foi observada pouca sinalização relativa à educação ambiental; as poucas placas existentes estão em mal estado de conservação ou em locais de visibilidade ruim (Figura 168). Figura 167 – MT-457, queimada no acesso a Jaciara Figura 168 – MT-457, placa de educação ambiental As demais observações feitas na MT-457, em relação a aspectos ambientais, são, por trecho: a) Cuiabá – Jaciara: pouca pontos ou nenhuma sinalização; de erosão ao longo das margens da rodovia; desmatamento ambos os lados aparentemente para abertura de novos pastos; pavimentação irregular, recapeamento muito fino/ sem resistência sob fluxo de caminhões e período das chuvas; concentração de propriedades voltadas à pecuária. 282 b) Perímetro urbano de Jaciara: sinalização turística pouco eficiente; sinalização de trânsito confusa ou inexistente. 283 5.1.4 EP Cuiabá-Chapada dos Guimarães-Mirante, km 15, MT-251 Na EP entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães (MT-251), observa-se a presença de áreas de cerrado e o desenvolvimento de pastagens em vários pontos. A rodovia, criada pelo estado a partir do Decreto 1.473, de 09 de junho de 2000, inicia-se em Cuiabá, no entroncamento das rodovias MT-251 e MT-351, chamado de Trevo do Manso, e segue até o Mirante Geodésico (km 15 para Campo Verde), na Chapada dos Guimarães, localizandose no entorno do PARNA Chapada dos Guimarães, em sua maior parte. As principais observações de caráter ambiental feitas na MT-251, por trecho, são: a) Cuiabá – Chapada dos Guimarães: presença de sinalização de placas educativas; presença de fazendas com pastagem não nativa; desmatamento presença pontos de ambos os lados; de lixo em pontos da estrada; de erosão marginais à pista. b) Chapada dos Guimarães – Campo Verde: presença de sinalização de placas educativas; presença de fazendas com pastagem não nativa; desmatamento presença pontos de ambos os lados; de lixo em pontos da estrada; de erosão marginais à pista; concentração de propriedades voltadas à pecuária. 284 5.1.5 MT-010 No trecho de Cuiabá a Nobres (MT-010), identifica-se alternância de paisagem entre cerrado e pastagens, com ocorrência de pequenas propriedades. Em Nobres, funcionam em torno de seis mineradoras, responsáveis pela maior parte da geração de renda do município, entre elas a Votorantin, que trabalha com exploração de cavernas. As principais observações de caráter ambiental feitas na MT-010, no trecho CuiabáNobres, são as seguintes. a) Cuiabá – Nobres: desmatamento presença pontos em ambos os lados; de lixo em pontos da estrada; de erosão marginais à pista (Figura 169); presença de queimadas em pontos da estrada; concentração de propriedades voltadas à pecuária. Figura 169 – MT-010, pontos de erosão no acesso a atrativos em Bom Jardim, Nobres O próximo item sintetiza as condições observadas. 285 5.1.6 Síntese A Tabela 95 apresenta um resumo das condições encontradas no Polo. Obras de Infraestrutura X X X X X Campo Verde X X X Chapada dos Guimarães X X X X Cuiabá X X X X X Jaciara X X X X X Nobres X X X X Aglomeração de veículos e/ou pessoas Queimada de vegetação natural Caça/ pesca irregular Desmatamento Poluição dos rios Mineração Erosão e/ ou movimento de terra Disposição inadequada de lixo Tabela 95 – Impactos ambientais, síntese das observações de campo X X Assim, o levantamento e análise dos impactos ambientais permitem afirmar que a região do Polo Cerrado apresenta, de modo geral, uma razoável qualidade ambiental dos recursos naturais, porém com presença significativa de áreas degradadas em seu entorno e algumas áreas suscetíveis de ocupação ou em risco de deterioração em sua borda interna de maior contato com as regiões urbanas. Os fatores de degradação são, em grande parte, associados à agricultura em larga escala e pecuária, sugerindo aos gestores públicos medidas de reabilitação e/ ou proteção. Certamente, a proposição de implantação de áreas protegidas de uso sustentável, como APA, pode auxiliar no controle do avanço das atividades produtivas para o interior do Polo, além de favorecer amplamente o desenvolvimento de atividades de menor impacto, como o turismo. A seguir, se descrevem os mecanismos de gestão ambiental pública do Polo Cerrado. 286 5.2 GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA A ação planejada por parte do estado é vital para criar novas oportunidades, dinamizar as atividades e abrir frentes de investimentos. A gestão ambiental pública faz-se necessária para efeito de planejamento de políticas, planos e programas que venham a assumir o compromisso de zelar pela conservação dos recursos naturais e pela qualidade do meio ambiente, fatores de grande relevância para o desenvolvimento organizado da atividade turística. No Polo Cerrado, foi observada uma carência bastante significativa de políticas efetivas voltadas para a gestão e conservação da paisagem e da biodiversidade. De certo, há um avanço nas políticas de proteção ambiental, porém não se verifica que estejam efetivamente implantadas, situação que é bastante comum no cenário da gestão pública no país, mesmo nas regiões mais desenvolvidas. Nos próximos tópicos, é verificado como o estado e os municípios se organizam nos processos de conservação da natureza, avaliando, quando possível, o quantitativo de instalações, materiais, equipamentos, recursos humanos e financeiros disponibilizados pelos órgãos, em função das demandas de ocorrências ambientais e áreas monitoradas. Cabe ressaltar que foram solicitadas informações a todos os municípios do Polo, mas, muitas vezes, os órgãos municipais não responderam a tempo deste Diagnóstico ou omitiram algumas respostas, prejudicando uma análise mais específica. Por outro lado, a própria condição de falha institucional para atender à demanda de informação revela uma parte das fragilidades dos órgãos públicos na questão ambiental: ausência de dados sistematizados sobre o órgão, sua atuação e resultados, dificuldades operacionais e de recursos humanos especializados para tais tarefas e para a comunicação a público amplo. 287 5.2.1 Órgãos e instituições de gestão ambiental Para entender como se dá a gestão ambiental no Polo Cerrado, são apresentados, na Tabela 96, os órgãos e instituições responsáveis, nas diferentes esferas públicas, por cuidar da conservação dos recursos naturais. Tabela 96 – Órgãos responsáveis pela gestão ambiental em Mato Grosso Órgão Objetivos Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CEHIDRO Órgão colegiado integrante do Sistema Estadual de Recursos Hídricos, que reúne órgãos governamentais e da sociedade civil, na forma de usuários, e que tem como meta discutir a gestão dos recursos hídricos no estado, para otimizar sua utilização e evitar o surgimento de conflitos futuros. Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA 88 Forma de atuação Estrutura Instituído pela Lei Estadual nº 6.945, de 05 de novembro de 1997 e regulamentado pelo Decreto nº 6.822, de 30 de novembro de 2005. Atribuições consultivas, deliberativas e normativas. Define a outorga da água por bacia hidrográfica (formas de uso e cobrança do consumo). Presidido pelo Secretário do Estado de Meio Ambiente, composto por Presidente, Plenária, Secretaria Executiva e Câmaras Técnicas, sendo os membros representantes dos órgãos públicos, sociedade civil e usuários. Assessorar, avaliar e propor ao Governo de Mato Grosso diretrizes da Política Estadual do Meio Ambiente, bem como deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida. Leis das Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente e demais normas federais e estaduais na área. Decidir sobre processos de licenciamento, elaborar normas ambientais e deliberar sobre questões ambientais de sua competência. As decisões são votadas. 27 membros que representam diversos segmentos da sociedade e entidades: o poder público, a sociedade civil organizada e entidades ambientalistas não governamentais. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA Responsável pela fiscalização das áreas naturais (protegidas ou não) de competência federal e pelo licenciamento de atividades potencialmente poluidoras em nível regional. Lei da Política Nacional de Meio Ambiente e demais normas federais de meio ambiente. Fiscalização e licenciamento ambiental de obras e empreendimentos potencialmente poluidores em nível regional, especialmente os que afetam UC federal. Conta com escritórios regionais em Poconé e Cáceres. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio Apresentar e editar normas e padrões de gestão de UC federais, propor a criação, regularização fundiária e gestão da UC, e ainda apoiar a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Lei 11.516, de 28 de agosto de 2007 (criação) e lei 9.985, de 18 de julho de 2000 (SNUC). Executar políticas e ações de implantação e gestão de UC, elaborar seus planos de manejo e planos de uso público. Dentre outras, tem uma Diretoria de UC de Proteção Integral, que inclui uma Coordenadoria de Visitação em UC. Tem representação regional. Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA-MT Planejar e gerir o patrimônio natural do estado. Executar a Política Estadual de Meio Ambiente. Código Ambiental de Mato Grosso (em reformulação desde 2006, por meio de comissões técnicas - floresta, fauna, mineração, UC e recursos Atribuições de fiscalização do uso dos recursos naturais e o manejo de áreas protegidas de sua competência. Funciona com aproximadamente 359 funcionários concursados, e 330 pela CLT e/ou comissionados. 88 Base legal Observar item 4.4 sobre as normas ambientais e turísticas incidentes em Mato Grosso. 288 Órgão Objetivos 88 Base legal hídricos). Forma de atuação Estrutura Secretarias Municipais de Meio Ambiente Executar a política municipal de meio ambiente. Leis das Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente e demais normas federais e estaduais de meio ambiente. Poder de fiscalização e autuação mediante convênio com a SEMA-MT, desde que disponha de corpo técnico especializado. n.a. Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA Propor e deliberar as diretrizes da Política Estadual do Meio Ambiente, no âmbito de suas competências. Assessorar, avaliar sobre processos de uso dos recursos naturais locais. Leis das Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente Decidir sobre processos de licenciamento, elaborar normas ambientais e deliberar sobre questões ambientais de sua competência. n.a. Nota: 1 – n.a.: não se aplica. Os órgãos necessários para formular e executar as políticas de meio ambiente estão presentes em Mato Grosso e são parte importante do processo de gestão da conservação da natureza no estado, o que certamente dá garantias para um turismo que se almeja sustentável. Cabe ressaltar que duas são as novidades na política ambiental brasileira: o aparecimento de órgãos específicos para a gestão dos recursos hídricos (CEHIDRO) e para a gestão de UC (ICMBio). Apesar desse último não ser exatamente uma novidade, visto que isso já era uma atribuição do IBAMA, a criação de um órgão específico é um avanço importante no cenário nacional. Já no caso do CEHIDRO, a novidade está no fato de que, ao ter poderes plenos para gerir o uso e assegurar a qualidade dos recursos hídricos, o órgão será peça importante em tomadas de decisão que afetem todas as demais políticas ambientais e de uso do território, na medida em que tem a responsabilidade de disciplinar os critérios de acesso a esses recursos e os valores cobrados por seu uso. Isso quer dizer também que o turismo sustentável, mais que nunca, terá um aliado importante na conservação de um recurso que é, não somente atrativo fortemente presente no Polo Cerrado, mas também item de grande consumo no setor, especialmente pelos serviços de hospedagem. Por fim, ter a presença institucional dos órgãos de meio ambiente na região do Polo é um bom sinal para que uma política ambiental consistente possa ser implementada. Mas nem sempre isso ocorre de forma satisfatória, como discute o capítulo a seguir. 289 5.2.2 Capacidade institucional municipal e estadual Além da responsabilidade pela elaboração de políticas e planos e pelo estabelecimento e execução de programas e projetos, cabe ao estado avaliar em que medida esse processo está sendo implementado satisfatoriamente, quais benefícios vem alcançando e em quanto tempo, assim como analisar periodicamente se os resultados alcançados estão sendo suficientes para assegurar a conservação da natureza diante das pressões antrópicas por ela sofrida. Para tanto, os órgãos públicos responsáveis pela gestão ambiental precisam estar de posse de um aparato tecnológico compatível com suas funções (materiais e equipamentos), de recursos humanos com competência e habilidades nas diferentes posições profissionais e de modelos operacionais ágeis e eficientes para o desenvolvimento satisfatório das funções e atividades que lhes compete. Por meio de pesquisas primárias junto aos órgãos públicos mencionados no item 5.2.1 e com os responsáveis pela política ambiental em nível estadual e local, foram solicitadas informações sobre as principais atividades em desenvolvimento atualmente, a disponibilidade técnica e administrativa do quadro de funcionários, equipamentos e materiais de trabalho, orçamentos anuais destinados a essas atividades, qualificação de profissionais, entre outros itens, que permitiriam demonstrar como os órgãos se organizam para a gestão ambiental nas suas localidades e áreas de competência e em que medida percebe-se o sucesso no desempenho de suas atividades. Entretanto, grande parte das solicitações não foi atendida. Por vezes os gestores responsáveis informaram não ter tempo ou pessoas disponíveis para responder às demandas deste Diagnóstico, assim como outros sequer puderam se disponibilizar para serem contatados diretamente. Dessa forma, as pesquisas voltaram-se para fontes secundárias e, com base em dados disponibilizados pelos órgãos em seus sites e analisando alguns estudos, pode-se ter um quadro geral da situação encontrada no Polo Cerrado quanto à capacidade de gestão ambiental pública. Mato Grosso tem corretamente implantada uma Política Estadual de Meio Ambiente, estabelecida por meio das Leis Complementares nº 38/95 e n° 232/05, que instituíram a Política e o Código Ambiental do Estado de Mato Grosso (SEMA-MT, 2005). Assim, em teoria, o estado dispõe dos órgãos, dos instrumentos e das bases normativas necessários para a gestão ambiental, definidos por meio de uma política e de um Sistema Estadual de Meio Ambiente (composto pela Secretaria de Estado, como órgão executor, e pelo CONSEMA, como órgão máximo regulador). Nesse contexto, os órgãos estaduais relevantes para a conservação dos recursos naturais de interesse turístico que foram motivo de análise são o órgão executivo de meio ambiente estadual (SEMA-MT) e os dois órgãos estaduais colegiados e normativos (CEHIDRO e CONSEMA). No entanto, houve uma dificuldade acentuada para avaliar a atuação do CONSEMA, pela ausência de dados disponíveis e/ ou impossibilidade de realização de entrevistas estruturadas. 5.2.2.1 SEMA-MT A SEMA-MT tem adquirido importância cada vez mais relevante nas políticas do estado, uma vez que Mato Grosso é frequentemente listado por órgãos federais de meio ambiente como um dos líderes em desmatamento no país, especialmente em sua porção amazônica, que ocupa grande parte de sua área. Dessa forma, nos últimos dez anos, a SEMA-MT recebeu investimentos significativos em termos de equipamentos, recursos humanos e inovação em processos de capacitação e de operação de suas atividades. Entre as inovações, estão o cadastramento fundiário das propriedades rurais, visando definir claramente as áreas produtivas e as legalmente protegidas pelo Código Florestal 290 (BRASIL, 1965), como Reserva Legal e Área de Proteção Permanente (APP)89. Com o reconhecimento público das áreas rurais, as propriedades podem, por exemplo, ter acesso a financiamentos públicos e privados. A SEMA-MT também reformulou o processo de licenciamento ambiental de atividades potencialmente poluidoras, criando o Licenciamento Ambiental Único (LAU). Ambas as inovações fazem parte do programa MT Legal90, que propõe a regularização jurídica, ambiental e fundiária das propriedades em áreas rurais – o que, obviamente, também favorece o desenvolvimento do turismo nessas áreas91. A SEMA-MT exerce um papel importante na região do Polo. Em diversos atrativos turísticos, foi possível observar sua presença institucional, seja licenciando atividades econômicas potencialmente impactantes aos recursos naturais, como pastagens, ou licenciando o próprio atrativo turístico, no caso específico de envolver propriedades particulares. A Coordenadoria de UC da SEMA-MT tem um quadro reduzido de funcionários92, segundo informações disponibilizadas no site (SEMA-MT, 2010) e confirmadas em uma conversa informal com técnicos da equipe, revelando que o orçamento destinado à manutenção de pessoal e demais atividades não é o suficiente para a eficácia dos trabalhos93. Quanto à capacidade institucional de fiscalização ambiental, não se obteve dados relevantes para uma análise mais crítica. A SEMA-MT possui unidades administrativas regionalizadas e descentralizadas, conforme listado a seguir: Unidade Regional de Alta Floresta; Unidade Regional de Aripuanã; Unidade Regional de Barra do Garças; Unidade Regional de Cáceres; Unidade Regional de Juara; Unidade Regional de Juína; Unidade Regional de Guarantã do Norte; Unidade Regional de Rondonópolis; Unidade Regional de Sinop; Unidade Regional de Tangará da Serra; Unidade Regional de Vila Rica. A descentralização confere certa agilidade nos processos de gestão do patrimônio ambiental em cada região específica, o que envolve a fiscalização de atividades antrópicas. No entanto, não se sabe como cada uma das unidades está equipada em termos de materiais, equipamentos e recursos humanos. Mais a frente, no item 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental, é possível avaliar algumas iniciativas dos órgãos públicos que visam à proteção da natureza e que, portanto, também inferem na análise de sua capacidade institucional. 89 Conforme mencionado no item 4.4.1 do Quadro Institucional. Vide item 4.2 e 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental. 91 As ações serão mais bem avaliadas no item 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental. 92 Coordenada por um biólogo, a equipe é bem diversificada em termos de especialização técnica. Porém, em números de profissionais, é insuficiente para cuidar do patrimônio natural protegido no Estado. Além do coordenador, a equipe técnica é composta por dois biólogos, uma arte-educadora, um arquiteto, uma historiadora, um turismólogo, um bacharel em Letras, uma geógrafa e um economista. Há também uma equipe específica para assuntos de regularização fundiária das UC, composta por um engenheiro agrônomo, um bacharel em Direito e um agente de meio ambiente. 93 Informações obtidas em entrevista informal (BATISTELA, 2009). 90 291 5.2.2.2 CEHIDRO O CEHIDRO, colegiado responsável pelo planejamento e macrogestão dos recursos hídricos do estado, tem se reunido regularmente como previsto em seu regimento legal, contando com uma participação bastante regular de seus membros, incluindo ONG ambientalistas, universidades, associações de grandes usuários empresariais e cooperativas, entre outros. A análise das atas das reuniões do ano de 2009 revela que o principal instrumento de gestão da Política Estadual de Recursos Hídricos – a implantação dos Comitês de Bacias Hidrográficas e a definição do potencial de uso da água e sua cobrança – ainda está longe de ter resultados concretos, visto que Mato Grosso não tem dados hidrológicos básicos, como a capacidade de produção hídrica de cada bacia, fundamental para estabelecer os potenciais de uso e os padrões e critérios para outorga e cobrança. O estado conta com vários programas e projetos voltados à gestão das águas em andamento, os quais são financiados por distintas agências de apoio: Gestão das Águas da Sub-bacia do Alto Paraguai Superior (Global Environmental Facility - GEF); Monitoramento da Qualidade da Água da Bacia do Rio Cuiabá (SEMA-MT); Monitoramento de Efluentes Industriais da Área do Município de Cuiabá (GEF); Implantação de um Projeto Piloto de Gestão das Águas na Sub-bacia do Alto Rio das Mortes (PRODEAGRO); e Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Noroeste de Mato Grosso (Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais, sendo financiado pelos países do antigo G7 – PP-G7). Não obstante, não há indícios de ação articulada entre os programas, evidenciando-se, assim, um aporte desordenado de recursos por parte de organismos governamentais e multilaterais. Esse assunto é relevante para o turismo no Polo devido à forte relação da atividade turística de lazer com os recursos hídricos. Os recursos obtidos pela outorga e cobrança de uso de água são, por força de lei, investidos na conservação da própria bacia e, assim, problemas atuais de conservação podem ser resolvidos com mais agilidade, como a despoluição e desassoreamento de rios, recuperação de matas ciliares, implantação de infraestrutura de lazer, controle e fiscalização da pesca etc. 5.2.2.3 MUNICÍPIOS No plano municipal, é difícil estabelecer uma análise mais efetiva das estruturas de funcionamento e capacidade de gestão pela ausência de alguns dados indicadores, como recursos humanos disponíveis, porcentagem de orçamento disponibilizado em relação ao orçamento total do município e sua evolução nos últimos anos, medidas efetivas adotadas frente aos desafios de proteção ambiental, evolução dos casos notificados de desmatamento e demais agressões ambientais em áreas turísticas do Polo. Porém, entrevistas realizadas com os gestores municipais da área ambiental apontam para alguns aspectos relevantes sobre a capacidade de gestão dos órgãos em nível local. Nenhuma localidade do Polo Cerrado tem uma política e uma legislação ambiental municipal efetivamente implantada, o que compromete severamente o trabalho de planejamento e gestão pelo órgão local, impedindo-os, por exemplo, de efetuar o licenciamento ambiental de atividades econômicas que explorem o meio ambiente (como é o caso do próprio turismo) e de fiscalizar ações de degradação ambiental. Ficam, portanto, impedidos de uma ação eficiente diante, inclusive, de uma situação emergencial de autuação e/ ou embargo de flagrante de atividade ilegal, à espera que o corpo de fiscalização do órgão estadual ou federal seja notificado e mobilizado. A existência de um código ambiental municipal em vigor é um dos aspectos que demonstraria um grau elevado de maturidade política e de percepção da importância do equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento municipal, especialmente quando a tipologia da atividade turística na localidade exige que a qualidade ambiental seja mantida, como é o caso da região do Cerrado. 292 Solicitações de licenças para atividades de baixo impacto ambiental, como queima controlada, e licenças de pequenos empreendimentos na área urbana e rural, são motivos de burocracia e longa espera, facilitando uma situação de desobediência legal. A eficácia da administração pública de meio ambiente local é também dificultada pelo fato de que sua gestão está integrada na estrutura administrativa municipal com outros temas pouco ou não diretamente relacionados, como cultura e planejamento. Entrevistas com os gestores municipais da pasta de meio ambiente confirmam que a capacidade institucional para administração é mínima. O quadro de funcionários e os orçamentos destinados ao tema são claramente insuficientes, como é o caso da Secretaria de Meio Ambiente de Nobres, que conta com apenas uma turismóloga, inviabilizando a atuação do órgão por falta de pessoal e também de estrutura. Por fim, empresários do turismo entrevistados no Polo (uma operadora de viagens na Chapada dos Guimarães) têm a mesma percepção, que indica que a capacidade institucional para a gestão ambiental – tanto da SEMA-MT, como do IBAMA e dos gestores municipais – é pouco eficiente. O próximo item aprofunda a discussão da gestão ambiental pública, verificando medidas de proteção e fiscalização. 293 5.2.3 Medidas de proteção e fiscalização ambiental Neste item são avaliadas a aplicação e fiscalização do Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 1965) e do Código Ambiental de Mato Grosso (SEMA-MT, 2005), verificando em que medida essas ações afetam o desenvolvimento turístico atual. Além disso, são mencionadas outras ações de proteção e conservação ambiental. Para fins de análise, as medidas que vêm sendo tomadas pelos órgãos públicos para a proteção da paisagem e da biodiversidade no Polo foram sistematizadas de acordo com temas estratégicos. Assim, além dos aspectos políticos-institucionais apresentados no item anterior, são abordadas análises mais específicas sobre aspectos operacionais dos principais órgãos estadual e federal executores das políticas de meio ambiente no Polo, como as ações de licenciamento e fiscalização ambiental no âmbito das UC, e, por fim, é apresentada uma abordagem específica sobre as medidas adotadas em nível municipal. No âmbito estadual, duas medidas foram identificadas como sendo de interesse para o turismo no Polo Cerrado: o Programa MT Legal de regularização fundiária e o ICMS Ecológico de manutenção de UC nos municípios. O Programa MT Legal, já mencionado no item anterior, com o objetivo principal de regularizar as propriedades rurais, pretende corrigir os passivos ambientais na região, com a definição de Reserva Legal e APP. Dessa forma, dois outros propósitos são atingidos: a efetivação do licenciamento ambiental das atividades produtivas e a facilitação ao acesso e obtenção de créditos e financiamentos públicos e privados às propriedades. O programa foi claramente instituído para beneficiar produtores agropecuaristas da porção amazônica de Mato Grosso, cujo passivo ambiental é significativo; porém, o turismo no espaço rural deve ser também beneficiado. O ICMS Ecológico de Mato Grosso, instituído pelas Leis Complementares 073/00 (MATO GROSSO, 2000) e 157/04 (MATO GROSSO, 2004), regulamentado também por meio do Decreto Estadual 2.758/01 (MATO GROSSO, 2001), foi implantado a partir do ano fiscal de 2002, visando destinar 5% da receita bruta do recolhimento do imposto aos municípios que tiverem em seu território, total ou parcialmente, UC ou Terras Indígenas. Até o final de 2008, dos 141 municípios existentes em Mato Grosso, 86 estavam sendo beneficiados, incluindo os municípios de Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Jaciara e Nobres, que compõem o Polo Cerrado. As demais medidas de proteção ambiental desenvolvidas pelos órgãos estaduais (SEMAMT) e do Governo Federal (IBAMA) referem-se aos processos de licenciamento ambiental, fiscalização de ações de degradação e gestão de UC de competência de cada órgão. A análise da legislação permitiu afirmar que os princípios básicos de controle de atividades poluidoras e de proteção da natureza – especialmente no que se refere ao licenciamento e fiscalização de atividades potencialmente degradadoras – e as autuações de empreendimentos por crimes ambientais estão abarcadas como política de estado em Mato Grosso. Um estudo (SEMA-MT, 2009) aponta que as dificuldades para criar medidas que promovam o uso sustentável de recursos ambientais se devem à grande dimensão geográfica do estado, o que o levou a implementar, a partir de 1999, um sistema de controle e monitoramento chamado Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais. Atualmente, após ajustes e o aprendizado adquirido, o processo de licenciamento de imóveis rurais obedece a duas etapas: o Cadastramento Ambiental Rural (CAR) e o LAU, como verificado anteriormente – sendo ambos integrantes do Programa MT Legal. O CAR é o registro eletrônico (on line) dos imóveis na SEMA-MT, para fins de controle e monitoramento da situação fundiária de cada propriedade. Num primeiro momento, por meio da delimitação das coordenadas da área em um mapa digital, o CAR visa à regularização fundiária e a solucionar conflitos com terceiros, o que auxilia na resolução de 294 um problema histórico no estado, a falta de documentação das propriedades rurais. Uma vez formalizado o cadastro, o proprietário ou possuidor do imóvel deve providenciar em um, dois ou até três anos, dependendo da extensão da propriedade, a localização e regularização da Reserva Legal e das APP (SEMA-MT, 2009a). Com isso, resolve-se também um conflito com os órgãos federais de licenciamento e fiscalização ambiental por conta do atendimento aos preceitos do Código Florestal. Como já verificado, todo o processo traz consigo outras vantagens relevantes para os produtores rurais: com a documentação legalmente reconhecida, o produtor tem acesso a créditos públicos e privados e, com a regularização fundiária e a delimitação e conservação das APP e Reserva Legal, a propriedade pode obter certificados de qualidade ambiental de seus produtos (por exemplo, boi verde, madeira certificada etc.) por conta de estar, pelo menos, atendendo a esses critérios. Por meio do já mencionado SIMLAM (p. 232), sistema responsável pela emissão das licenças, a SEMA-MT vem disponibilizando uma série de ferramentas administrativas, que buscam um controle eficiente, mais detalhado e ágil do andamento dos processos. O tempo de espera para a liberação das licenças ambientais que era de, em média, um ano, vem diminuindo rigorosamente, tendo sido realizada agora no período de três meses. Apesar das inovações, o estudo citado (SEMA-MT, 2009) mostra que o estado ainda enfrenta problemas no atendimento da crescente demanda de denúncias e solicitações, pois não tem conseguido dar fluxo e agilidade necessários para um trabalho eficaz. Consultas realizadas nos arquivos públicos disponíveis na SEMA-MT mostram ações de fiscalização de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente; a maior parte das autuações de empreendimentos por crimes ambientais, ocorridos nos últimos anos, foi realizada devido ao desmate de vegetação nativa sem autorização, seguido de comercialização de madeira, uso de fogo, entre outros. A Tabela 97 mostra o número de autuações, embargos e licenças ambientais expedidas pela SEMA-MT nos últimos dez anos nos municípios do Polo. Pouco se pode inferir com base nos dados disponíveis, especialmente em termos qualitativos, como abrangência do impacto das autuações ou embargos. Tampouco se sabe se algum empreendimento turístico teve licenciamento expedido. Tabela 97 – Licenciamentos ambientais e infrações, 1999-2009, SEMA-MT LAU Embargos Autuações Campo Grande Municípios 5 2 42 Chapada dos Guimarães 4 1 33 Cuiabá 5 2 438 Jaciara 1 1 51 Nobres 2 0 58 17 06 622 Total Fonte: SEMA-MT, 2010a A SEMA-MT também conta com o Sistema de Comercialização e Transportes de Produtos Florestais (SISFLORA), que objetiva regular tais atividades no âmbito do estado. O Sistema é regido pela Lei Complementar n° 233/2005, que dispõe sobre a Política Florestal de Mato Grosso (SEMA-MT, 2005) e pelo Decreto 8.188/2006, que a regulamenta. O IBAMA (2009) tem uma atuação importante em Mato Grosso, embora apresente carência de estrutura e pessoal. A Divisão de Controle e Fiscalização (DICOF) do órgão distribui-se por Mato Grosso em quatro gerências executivas (Cuiabá, Juína, Sinop e Barra do Garças) e em 11 escritórios regionais (Alta Floresta, Aripuanã, Brasnorte, Cáceres, Canarana, Guarantã do Norte, Juara, Poconé, Pontes e Lacerda, Rondonópolis e São José do Rio Claro), sendo que no Polo está presente através da gerência executiva de Cuiabá. 295 Dados disponíveis para consulta no Sistema de Cadastro, Arrecadação e Fiscalização (SICAFI) colocam Mato Grosso (IBAMA, 2009a) como integrante do grupo de estados líderes em infrações ambientais, com base em 2006 e 2007, para os diferentes tipos de agressão ambiental (Tabela 98). Tabela 98 – Infrações, Mato Grosso, IBAMA Tipo de infração Poluição/ degradação Número de ocorrências Ranking Número de ocorrências Ranking Número de ocorrências Ranking Pesca Ranking Fauna Número de ocorrências Flora 2007 1.506 1º. 207 3º. 103 8º. 376 1º. 2006 1.398 3º. 107 10º. 150 5º. 251 6º. Variação 2006-2007 7,7% - 93,5% - -31,3% - 49,8% - Nota: 1 – Ranking refere-se à posição de Mato Grosso em comparação com as demais Unidades da Federação. Fonte: IBAMA, 2009a O relatório anual do IBAMA (2009b) apresenta um balanço das ocorrências em Mato Grosso. Em 2009, foram realizadas cerca de 20 grandes operações de fiscalização em todo o estado, culminando com 1.816 autos de infração lavrados e R$ 811 milhões em multas aplicadas, sendo que 68% das autuações foram motivadas por crimes contra a flora. As principais autuações da fiscalização do IBAMA na área do Polo devem-se ao desmatamento irregular de florestas e/ ou demais formas de vegetação natural, em áreas consideradas de preservação permanente e sem autorização de órgão competente, e a atos que impedem ou dificultam a regeneração natural de florestas e outras formas de vegetação. No Polo, as ocorrências de embargos por infrações ambientais foram maiores no município de Cuiabá, conforma mostra a Tabela 99. Tabela 99 – Infrações, 2009, IBAMA Município Embargos Licenciamento Campo Grande 4 4 Chapada dos Guimarães 0 0 Cuiabá 8 8 Jaciara 5 3 Nobres Total Fonte: IBAMA, 2009a 3 0 20 15 Cabe ressaltar que, ainda segundo o relatório do IBAMA (2009b), o Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) gerou, em 2009, redução de 68% do número de desmatamentos em comparação a 2008 em Mato Grosso. No município de Cuiabá, Campo Verde, Jaciara e Nobres, em 2009, foram identificadas ações de degradação: destruição, dano ou desmatamento de florestas ou demais formas de vegetação considerada de preservação permanente. Ainda segundo o relatório do IBAMA (2009b), o Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) gerou, em 2009, redução de 68% do número de desmatamentos em comparação a 2008 em Mato Grosso. A seguir, são analisadas as UC do Polo, em relação à gestão ambiental pública. 296 5.2.4 Unidades de Conservação As unidades de conservação são mundialmente reconhecidas por serem espaços territoriais especialmente protegidos para assegurar a conservação da biodiversidade. De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN, 1994), uma UC é uma superfície de terra ou mar consagrada à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, manejada por meios jurídicos e outros eficazes. Isso envolve tanto as áreas administradas pela esfera pública em seus diferentes níveis, como as reservas naturais estabelecidas pelo setor privado. As UC são, também, em sua grande maioria, espaços de especial beleza cênica e paisagística ou que agrupam elementos peculiares da natureza, como refúgios de espécies, abrigo de fauna ou flora em extinção, entre outros. Essas particularidades contribuem para o aumento no número de interessados na observação da natureza. Nesse contexto, foram feitas pesquisas secundárias nos órgãos públicos gestores das UC instaladas no Polo, pesquisas de campo em algumas UC e, quando possível, entrevistas com os gestores responsáveis pelas áreas, além de pesquisa com formulários junto aos órgãos responsáveis. 5.2.4.1 UC ESTADUAIS Com base nas informações disponibilizadas pela SEMA-MT (2010), atualizadas até 2008, sabe-se que apenas 2.934.070 ha do território de Mato Grosso encontra-se protegido por UC, o que representa cerca de 3,2% (Anexo A). No total, são 43 UC localizadas nos três biomas do estado (Anexo B), dividindo-se em 21 UC em cerrado (46,9%), 16 UC de amazônia (45,4%) e 6 UC de pantanal, (7,7%, sendo três UC declaradas como EP). As UC pertencem a duas categorias diferentes de manejo, proteção integral (PI) e uso sustentável (US). Na categoria de PI são 31 UC, incluindo 19 Parques Estaduais – tipologia de forte interesse para a visitação pública –, que compreendem 1.915.948 ha, ou cerca de 65,3% da área total das UC. As unidades de US correspondem a 1.018.122 ha (34,7% da área total), divididos em 12 UC que incluem, por exemplo, as APA e Reservas Extrativistas (RESEX) – tipo de UC que mantém a propriedade sobre a terra e, portanto, permite visitação, apesar de não ser um dos objetivos centrais de sua criação. A Tabela 100 e a Tabela 101 destacam as UC estaduais que fazem parte do Polo Cerrado. Tabela 100 – UC estaduais de proteção integral, Polo Cerrado Unidade de Conservação Área Criação Município Parque Estadual PE Águas do Cuiabá PE Gruta da Lagoa Azul PE da Cidade-Mãe Bonifácia PE José Innácio da Silva - "Zé Bolo Flô" PE Massairo Okamura Total Fonte: SEMA-MT, 2008 10.600,00 ha 12.512,54 ha 77,16 ha 66,39 ha 53,75 ha 23.309,84 ha Dec. 4.444 de 10/06/2002 Dec. 1.472 de 09/06/00 e Lei 7.369 de 20/12/00 Decreto 1.470, de 09/06/00 Decreto 4.138, de 05/04/02 Decreto1.693, de 23/08/00 Lei 7.313, de 01/09/00, Lei 7.426, de 22/05/01, Lei 7.506, de 21/09/01 e Portaria 019, de 13/04/05 Rosário Oeste e Nobres Nobres Cuiabá Cuiabá Cuiabá 297 Tabela 101 – UC estaduais de uso sustentável, Polo Cerrado Unidade de Conservação Área Criação Município Área de Proteção Ambiental APA Chapada dos Guimarães APA Cabeceiras do Rio Cuiabá APA do Rio da Casca 251.847,93 ha 473.410,61 ha 39.250,00 ha Dec. 537, de 21/11/95 e Lei 7.804, de 05/12/2002 Dec. 2.206 de 23/04/98 e Lei 7.161 de 23/08/99 Lei 6.437 de 27/05/94 Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Santo Antônio de Leverger Rosário Oeste, Nobres, N. Brasil, Plan. Serra e Nova Mutum Chapada dos Guimarães Estrada parque EP Cachoeira da Fumaça EP Cuiabá Chapada dos Guimarães/ Mirante Total Entrada da BR 364 MT-457 até Entrada da MT-373 - 18 km Rodovia MT251/Entrada da MT351 trecho Cuiabá Chapada/Mirante 15 km 764.508,50(*) ha Lei Estadual 7.091, de 28/12/1998 Jaciara Dec.Estadual 1.473, de 09/06/2000 Cuiabá e Chapada dos Guimarães Nota: (*) Exceto EP. Fonte: SEMA-MT, 2008 Cabe ressaltar que, entre as UC de Uso Sustentável estão as EP, que, como visto, não têm amparo legal no SNUC. Em Mato Grosso, são cinco EP distribuídas entre os Polos Pantanal (três) e Cerrado (duas), que foram criadas antes da implantação do SNUC. Atualmente, tem-se discutido de que forma esse conflito, ainda sem solução, pode ser resolvido; em uma análise voltada para o turismo e meio ambiente, considera-se a intenção dos gestores públicos correta ao criar um tipo de UC em áreas específicas de trânsito de visitantes que dão acesso a atrativos relevantes, considerando a proteção de suas margens, geralmente 300 m, e a conservação paisagística. No que se refere à gestão das UC estaduais, foi possível levantar algumas informações por meio de entrevistas realizadas durante os trabalhos de campo – os dados estão sintetizados na Tabela 102. De modo geral, observa-se um quadro crítico em relação à conservação, especialmente pela ausência de planos de manejo das UC – instrumento de fundamental importância para posicionar a unidade em um contexto estratégico de proteção da biodiversidade no Polo Cerrado. Sem objetivos e propostas de manejo claramente definidos, a visitação pública não pode ser desenvolvida, porque legalmente não é permitida sem o plano de manejo aprovado e também porque não há definição quanto às áreas de visitação, infraestrutura (portal de recepção, estacionamento, centro de atendimento ao visitante, trilhas, locais de alimentação, sanitários etc.) e recursos humanos (atendimento receptivo, guias e condutores, fiscais, entre outros) necessários para que a visitação ocorra de forma satisfatória ao visitante, ao mesmo tempo em que contribua para a conservação das paisagens da UC. 298 Tabela 102 – Ações de manejo e de turismo nas UC estaduais, Polo Cerrado Plano de manejo aprovado Plano de uso público ou de gestão da visitação Infraestrutura de acesso Serviços de apoio Funcionários capacitados para a visitação Ações de manejo PE Águas do Cuiabá Não Não Não Não Não PE Gruta da Lagoa Azul Sim Não Não Não Não PE da Cidade-Mãe Bonifácia Não Não Não Não Não PE José Innácio da Silva-"Zé Bolo Flô" Não Não Não Não Não APA Chapada dos Guimarães Não Não Não Não Não APA Cabeceiras do Rio Cuiabá Não Não Não Não Não APA do Rio da Casca Não Não Não Não Não EP Cachoeira da Fumaça EP Cuiabá - Chapada dos Guimarães/ Mirante Fonte: BATISTELA, 2009 Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Dentro do quadro de recursos orçamentários da SEMA-MT, não se obteve dados sobre aqueles disponíveis para cada UC, nem de outros recursos oriundos de investimento privado ou de doações provenientes de organizações ou de pessoas físicas (no caso de UC de uso sustentável e RPPN). Porém, diante do cenário apresentado, infere-se que os recursos atualmente disponibilizados para a gestão das UC são insuficientes para sua efetiva implantação. Da mesma forma, não se obteve dados sobre os recursos oriundos do ICMS Ecológico e de compensações resultantes de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental. Ademais, não foram identificadas ações de educação ambiental ou de integração e participação social dos grupos de interesse da população de entorno diretamente envolvidos com a gestão das unidades, importantes para a manutenção da qualidade. A fiscalização das atividades econômicas nas propriedades inseridas nas UC de uso sustentável, como é o caso das fazendas e pousadas ao longo das EP, assim como das que ocorrem no entorno e no interior das UC de proteção integral, é realizada seguindo os processos regulares de fiscalização ambiental da SEMA-MT, não havendo um esquema específico para monitorar a qualidade ambiental nessas unidades. 299 5.2.4.2 UC FEDERAIS No Polo Cerrado foram identificadas, além das cinco UC estaduais, outras duas de proteção integral implantadas pelo Governo Federal (Tabela 103), totalizando mais de 36 mil ha, sendo o PARNA da Chapada dos Guimarães (32 mil ha) o mais relevante para o turismo, mesmo porque a outra UC é uma Estação Ecológica (EE) e tem visitação restrita, com a finalidade de pesquisa ou educação ambiental, mediante autorização do gestor responsável. Tabela 103 – UC federais de proteção integral, Polo Cerrado Unidade de Conservação Área Documento e data de criação Município Parque Nacional PN da Chapada dos Guimarães 32.776,00 ha Decreto n° 97.656, de 12/04/89 Cuiabá e Chapada dos Guimarães Estação Ecológica EE do Rio da Casca I e II Total Fonte: SEMA-MT, 2006 3.534,00 ha Lei n° 6.437, de 27/05/94 Chapada dos Guimarães 36.310,00 ha Além dessas, existem três RPPN registradas no IBAMA, totalizando mais de 234 ha de áreas protegidas de Uso Sustentável no âmbito federal (Tabela 104). Tabela 104 – UC federais de uso sustentável, Polo Cerrado Unidade de Conservação Área Documento e data de criação Município Reserva Particular do Patrimônio Natural Reserva Ecológica da Mata Fria Fazenda São Luiz RPPN Hotel Mirante Total 9,95 ha 200,00 ha 25,00 ha Portaria 60 de 27/09/00 Portaria 104/94-N Portaria 25/04-N Chapada dos Guimarães Cuiabá Chapada dos Guimarães 234,95 ha Fonte: SEMA-MT, 2006 O mapa da Figura 170 apresenta a distribuição e localização das UC no Polo Cerrado. Considerando, portanto, o acréscimo de cerca de 36 mil ha que as áreas federais representam e incorporando-as ao quadro de UC estaduais, verifica-se que o Polo Cerrado tem um total aproximado de 824 mil ha de áreas legalmente protegidas, que correspondem a 41% da extensão do Polo, considerando a área total de 2.005.900 ha. Cabe ressaltar que organizações ambientalistas importantes, como a CI, WWF-Brasil e IUCN, recomendam como amostra representativa da diversidade biológica a porcentagem mínima de 10% do território de cada bioma protegido na categoria de PI. 300 Figura 170 – Unidades de conservação Fonte: SEPLAN-MT, 2008a No contexto das UC federais no Polo Cerrado, uma das mais importantes para o turismo é o PARNA da Chapada dos Guimarães, situada a sudeste do estado, nos municípios de Cuiabá e Chapada dos Guimarães (Figura 171). O limite do Parque está a 26 km da área urbana de Cuiabá e a 6 km da Chapada dos Guimarães, tendo acesso pela MT-251, que passa dentro dele. Como visto, o PARNA tem 32.776 ha e foi criado em 12 de abril de 1989, pelo Decreto Federal n.º 97.656. Figura 171 – PARNA Chapada dos Guimarães, municípios de entorno Fonte: MMA, 2009 301 Na região do Mirante do Véu de Noiva (p. 98) encontra-se a sede administrativa do Parque (Figura 172), composta por uma guarita localizada na estrada de acesso (Figura 173), dois estacionamentos (Figura 174) e dois blocos de edificações de alvenaria, sendo que o primeiro conta com antessala com varanda, escritório, cozinha, três banheiros, dois quartos e uma garagem utilizada como almoxarifado e área de concentração da Brigada do Véu de Noiva. O segundo bloco conta com um salão com duas varandas, banheiros e um auditório. Figura 172 - PARNA Chapada dos Guimarães, sede administrativa Fonte: MMA, 2009 Figura 173 – PARNA Chapada dos Guimarães, portaria Figura 174 – PARNA Chapada dos Guimarães, estacionamento para visitantes 302 O PARNA Chapada dos Guimarães tem como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Seu Plano de Manejo foi elaborado em 2009, pelos servidores da UC, com apoio de técnicos da Coordenação dos Biomas Cerrado e Pantanal do ICMBio. Os levantamentos de campo necessários para a realização do Plano tiveram o auxílio de pesquisadores de instituições parceiras, como IBAMA e UFMT, e consultoria contratada. A Tabela 105 mostra os dez programas de gestão criados, que envolvem as ações necessárias para a implantação da UC, entre eles a visitação. Tabela 105 – PARNA Chapada dos Guimarães, programas Programas Subprogramas Estruturação da sede administrativa e bases Operacionalização Capacitação Gerenciamento Organização do conhecimento Regularização Fundiária Consolidação territorial Controle dos ocupantes Regularização Fiscalização Prevenção e Combate a Incêndio Gestão do Entorno Monitoramento geológico Monitoramento e Manejo Ambiental Monitoramento dos recursos hídricos Monitoramento do atropelamento de fauna silvestre Monitoramento do impacto de incêndios na UC Monitoramento de espécies exóticas Monitoramento da biodiversidade em longo prazo Integração do monitoramento Pesquisa Controle e acompanhamento de pesquisas Estímulo a pesquisas prioritárias Educação Ambiental Capacitação do Conselho Consultivo Orientação e sensibilização Visitação Gestão participativa Divulgação e comunicação Integração e Participação Social Voluntariado Estágios Desenvolvimento local Fonte: MMA, 2009 A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo IBAMA, por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. No contexto do zoneamento proposto pelo plano, as áreas e os roteiros para visitação dentro do PARNA estão previstos nas zonas de uso primitiva, intensivo, extensivo, histórico cultural e de uso conflitante. De acordo com o documento, alguns atrativos ficam restritos à visitação com acompanhamento de condutores, como a trilha 303 Mirante Alto – Mata Fria, a trilha Sete de Setembro – Casa de Pedra, todas as trilhas de acesso ao Morro de São Jerônimo e a trilha Portal do Céu – Cidade de Pedra e o Rio Claro. Figura 175 – PARNA Chapada dos Guimarães, zoneamento Fonte: MMA, 2009 Figura 175 – PARNA Chapada dos Guimarães, zoneamento (cont.) Fonte: MMA, 2009 Porém, segundo o chefe do Parque, a administração vem enfrentando problemas com a visitação irregular, como a entrada de pessoas para realização de rally de moto. O Parque também enfrenta problemas críticos com a questão fundiária, pois 64% da sua área ainda está sob domínio de particulares, principalmente próximo ao Rio Mutuca, em propriedades de lazer. Em síntese, as medidas de proteção adotadas possuem um enfoque correto, de criação de UC e melhoria dos processos de licenciamento e fiscalização ambiental, mas que, aparentemente, são carentes de novos investimentos em estrutura operacional e recursos humanos. 304 5.3 GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS PRIVADAS Organizações responsáveis buscam alcançar e demonstrar um desempenho socioambiental eficaz. Uma das maneiras de fazê-lo é controlando os impactos de suas atividades, produtos e/ ou serviços por meio de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). A finalidade principal de um SGA é a de fornecer para a organização um processo estruturado e um contexto de trabalho com os quais ela possa alcançar e controlar sistematicamente o nível de desempenho socioambiental que estabelecer para si. O nível real de desempenho, os sucessos e o resultado em relação a todo o entorno depende do contexto econômico, de regulamentos legais e de outras circunstâncias que impactam direta e indiretamente no processo. A gestão ambiental privada deve ser parte integrante do sistema de gestão global de uma organização e se configurar como um processo administrativo, dinâmico e interativo de recursos, a fim de equilibrar a proteção ambiental, por meio da formulação de política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais significativos, visando à melhoria contínua no desempenho ambiental da organização (FLORIANO, 2007). A implantação de SGA na área de turismo não é uma tarefa simples e fácil. A organização interessada precisa identificar e ter acesso às exigências legais e a outras que se proponha a atender e que sejam aplicáveis aos aspectos sociais e ambientais de suas atividades, produtos e serviços, tanto no ambiente interno quanto no externo. Para tanto, deve também exigir de seus fornecedores produtos e componentes com qualidade socioambiental compatível com a de seus próprios produtos e educar e treinar seus funcionários para que atuem sempre de forma ambientalmente correta. Além disso, é interessante que a organização desenvolva pesquisas e adote novas tecnologias e procedimentos que reduzam os impactos ambientais e contribuam para a redução do consumo de matérias-primas, água e energia, se assegurando também de que seus resíduos são transportados corretamente e em segurança até o destino estabelecido, de acordo com as práticas ambientais reconhecidas. Mais que isso, a organização pode propor melhorias ambientais mais amplas do que apenas aquelas influenciadas diretamente por suas operações. Para tanto, pode se engajar numa política de desenvolvimento sustentável no local ou região onde está instalada ou onde opera seus roteiros e produtos, visando incrementar a manutenção da biodiversidade, a redução do consumo exagerado e desperdício, o resgate e valorização de aspectos da cultura local, as campanhas educativas amplas, a sustentação da economia local etc. Para verificar se há políticas privadas de gestão ambiental no Polo, foi pesquisada a existência de boas práticas socioambientais em organizações do setor do turismo. Para fins deste estudo, entende-se que as boas práticas podem ou não ser desenvolvidas e implantadas por meio da adoção de SGA – comumente utilizados em programas de certificação focados na qualidade ambiental, como ISO 14.000, mas conhecidos no mercado e possíveis de ser implantados sem a intenção de se obter certificados específicos. Especificamente em turismo, existem normas de certificação para a gestão da sustentabilidade em meios de hospedagem aprovadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no âmbito do Sistema Nacional de Metrologia (SinMetro). A Norma Brasileira (NBR) 15.401 fornece importante subsídio para a implantação de sistemas de gestão, com foco não apenas nos aspectos ambientais, mas também sociais e econômicos, conforme pode ser observado na Tabela 106. As normas fazem referência aos princípios do turismo sustentável, como parte integrante de uma visão estratégica a ser assimilada pelo setor. Entre eles, destacam-se (ABNT, 2006): respeitar a legislação vigente; 305 garantir os direitos das populações locais; conservar considerar estimular garantir o ambiente natural e sua biodiversidade; o patrimônio cultural e valores locais; o desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos; a qualidade dos produtos, processos e atitudes; estabelecer o planejamento e a gestão responsáveis. Tabela 106 – Indicadores e requisitos de sustentabilidade Aspecto Ambientais Sociais Econômicos Requisitos - NBR 15.401 Preparação e atendimento a emergências ambientais. Preservação de áreas naturais, fauna e flora. Arquitetura e impactos da construção no local. Paisagismo. Redução de emissões de efluentes e resíduos sólidos. Eficiência energética. Conservação e gestão do uso de água. Ações para reconhecer, promover e respeitar o patrimônio histórico-cultural da região e as tradições e valores culturais não predatórios. Desenvolvimentos dos trabalhadores e comunidades na cadeia produtiva. Viabilidade econômica do empreendimento. Qualidade e satisfação do cliente. Saúde e segurança dos clientes e dos trabalhadores. Fonte: ABNT, 2006 As pesquisas para este item do Diagnóstico envolveram o envio de formulários de entrevistas por correio eletrônico, no período de 27/11/2009 à 15/12/2009, para 14 estabelecimentos turísticos nos cinco municípios do Polo, como pousadas e agências de viagem, visando identificar as boas práticas. A seleção dos estabelecimentos deu-se por meio de identificação em guias turísticos e nos inventários, conhecimento técnico anterior da equipe de pesquisa e também junto aos estabelecimentos visitados durante a pesquisa de campo. Entretanto, a exemplo do ocorrido nas pesquisas de demanda potencial, o número de respostas foi consideravelmente baixo (apenas duas). Além da pesquisa primária, foram feitas pesquisas em sites de empreendimentos privados e em estudos desenvolvidos em algumas regiões do Polo, que serviram de comparativo para compreender a situação atual. Para complementar as análises, foram incorporadas algumas práticas observadas durante as visitas de campo. As ações identificadas como geradoras de benefícios efetivos ao desenvolvimento sustentável do turismo – como medidas de proteção ambiental dos atrativos, controle do abastecimento e consumo de água e energia, disposição adequada de resíduos sólidos, capacitação de pessoal para a gestão ambiental, ações de conscientização de visitantes, manejo adequado de trilhas e demais áreas de visitação, entre outras – são compiladas a seguir, visando criar programas de incentivo a tais práticas no âmbito deste PDITS. As boas práticas ambientais mais observadas foram a reutilização de materiais de consumo/ de escritório e/ ou de materiais reciclados, a utilização de materiais de limpeza biodegradáveis, a educação ambiental aos visitantes, o treinamento de pessoal para questões ambientais, a horta orgânica e/ ou viveiro de mudas nativas, entre outras. Não foi verificada a implantação de SGA formal, porém diversas iniciativas de gestão ou de promoção ambiental foram identificadas: sistemas informais de gestão ambiental, com treinamento de funcionários pela própria empresa, envolvimento dos clientes por meio de comunicação impressa e visual, contratação proteção e treinamento de mão de obra local; às margens de rios e adequação no embarque e desembarque de passageiros; 306 opções de passeios náuticos não motorizados (canoas, botes), evitando contaminação dos rios com óleo diesel e poluição sonora; incentivo à contemplação e observação da fauna e flora, especialmente a observação de pássaros, enriquecendo o conhecimento do visitante sobre a biodiversidade do cerrado e a importância de sua conservação (Figura 176); Figura 176 – Vale do Jamacá, contemplação e observação da fauna e flora incentivo e criação de trilhas suspensas (Figura 177); Figura 177 – Pousada Penhasco, trilha suspensa reintrodução apoio de aves apreendidas pelo IBAMA; a pesquisas científicas; cuidados com resíduos sólidos, como destinação de orgânicos para compostagem ou alimentação animal e de destinação de metais, plásticos, papéis e outros inertes para reciclagem. O próximo item deste capítulo analisa os instrumentos de planejamento e controle territorial. 307 5.4 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E CONTROLE TERRITORIAL O controle e a intervenção pública são necessários para promover regulamentação, incentivos e políticas adequadas para uma ocupação mais sustentável e articulada de áreas ambientais que afetem regiões com potencial turístico. A delimitação de zonas de uso do território em áreas naturais regula as atividades econômicas em consonância com suas principais aptidões e vulnerabilidades de desenvolvimento. Como já visto em capítulos anteriores, o ZSEE, com o intuito de promover o desenvolvimento sustentável de unidades territoriais, é um instrumento técnico-político de grande importância para o planejamento estratégico (SEPLAN-MT, 2008c), podendo ser de grande valor para definir diretrizes para o desenvolvimento do turismo. Outro instrumento essencial são os Planos Diretores, em geral voltados para a definição do padrão de ocupação urbana de um território. Neles, são identificadas e analisadas as características físicas, atividades predominantes e capacidades de uso e ocupação em níveis adequados à aptidão do território, tornando-se uma ferramenta para a racionalização do uso dos recursos públicos, visando à melhoria da qualidade de vida da população e a preservação dos recursos naturais. As análises realizadas em relação a instrumentos de planejamento e controle territorial estão descritas a seguir. 308 5.4.1 Zoneamento Econômico-Ecológico Como já mencionado, Mato Grosso desenvolveu, nos últimos anos, uma proposta de ZSEE que se configura como o principal instrumento de política pública de uso do solo, assegurando condições equilibradas de aproveitamento para quaisquer atividades produtivas e, sobretudo, para o turismo, que depende de recursos naturais conservados (ou pelo menos bem manejados). Esse conceito está em consonância com o Decreto Federal 4.297/02, alterado pelo Decreto Federal nº 6.288/07, que regulamenta o artigo 9º, inciso II da Lei 6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente. A construção e consolidação do diagnóstico e da proposta de ZSEE do estado foram coordenadas pela SEPLAN-MT, com a participação da sociedade, como visto em 4.2.2. Fruto dos debates oriundos do Zoneamento Agroecológico, posteriormente denominado Zoneamento Primeira Aproximação, deu origem à Lei 5.993/92, que trata da Política de Ordenamento Territorial de Mato Grosso. A proposta atual, denominada Segunda Aproximação, é pautada, de acordo com a SEPLAN-MT, pelos princípios da democratização e descentralização, sustentabilidade e qualidade de vida, equidade social, convergência e parcerias. As propostas de zoneamento de uso do território, incluindo os mapas e as definições das estratégias futuras de intervenções e investimentos contidas no ZSEE, foram dispostas num projeto de lei que se encontra em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado. Conforme a SEPLAN-MT (2008b), Essa proposta de zoneamento tem como base estudos da realidade matogrossense em seus diversos aspectos dos meios físico, biótico e socioeconômico em escala suficiente para identificar potencialidades e vulnerabilidades e, com isso, definir os usos mais corretos para os diversos ambientes que compõem o estado de Mato Grosso. Entendido como instrumento de planejamento, o ZSEE-MT indica as diretrizes técnicas de planejamento, voltadas ao fomento, adequação/ redirecionamento e normatização de atividades socioeconômicas e produtivas, para que a apropriação de recursos e a ocupação dos espaços ocorram de forma adequada, visando o desenvolvimento sustentável do estado. Dessa forma, o ZSEE permite intervenções e ações em seu território por meio de planos setoriais integrados de ordenação territorial, do condicionamento da propriedade à sua função social, da regionalização coordenada dos serviços e obras estaduais, da tributação, da articulação com os municípios visando estimular e coordenar seus planos urbanísticos, do incentivo e estímulos, indutores das atividades privadas e da articulação e participação da sociedade. A partir de um diagnóstico elaborado por uma equipe multidisciplinar, que trabalhou de forma integrada para o levantamento e análise dos aspectos naturais, sociais e econômicos, foram delimitadas unidades socioeconômicas ecológicas (USEE), caracterizadas no ZSEE como Regiões de Planejamento, como já visto na p. 245, sendo que o Polo Cerrado inserese em duas delas: V – Rondonópolis e VI – Várzea Grande. Definidas as Regiões de Planejamento, o ZSEE foi consolidado em zonas e subzonas de intervenção, agrupadas em categorias e subcategorias de uso. O zoneamento proposto inclui mapas com definições de intervenção de uso do território mais apropriadas, segundo critérios mencionados (Figura 178). 309 Figura 178 – ZSEE, Polo Cerrado Fonte: SEPLAN-MT, 2008c Os documentos de planejamento territorial que compõem o ZSEE já disponibilizados no site da SEPLAN-MT (2010) indicam o cenário desejado e as diretrizes de investimentos futuros, as quais podem contribuir para a formulação de ações estratégicas de curto e médio prazo no âmbito deste Diagnóstico. Para efeito de ilustração, a Tabela 107 detalha uma das propostas estratégicas de desenvolvimento do estado, nesse caso o Uso Sustentável dos Recursos Naturais, no qual se observa a complexidade e diversidade de projetos necessários para sua efetiva implantação. Tabela 107 – Eixos Estratégicos de Desenvolvimento Eixo 1 – Uso sustentável dos recursos naturais Este eixo estratégico articula o conjunto das ações que podem reduzir as pressões antrópicas da expansão da economia, contribuindo para a conservação do meio ambiente e reorientando o modelo de aproveitamento das riquezas naturais de Mato Grosso, particularmente na região de planejamento de Cuiabá/ Várzea Grande. O eixo se desdobra em programas e projetos, como apresentado abaixo. Eixo estratégico – programas 1. Programa de fortalecimento do sistema de gestão ambiental 2. Programa de criação, Projetos • Fortalecimento dos órgãos estaduais que atuam na região e dos órgãos municipais de controle ambiental. • Conservação das formações florestais que protegem as escarpas da Chapada dos Guimarães. • Melhoramento dos instrumentos de fiscalização e controle do meio ambiente e das atividades econômicas. • Controle e fiscalização da pesca e da atividade mineral. • Criação de sistema de fiscalização adequado para coibir a biopirataria. • Proibição do uso de defensivos agrícolas em faixa de entorno do Pantanal. • Criação, ampliação e implantação das UC com regras diferenciadas para 310 Eixo estratégico – programas implantação e manutenção de unidades de conservação 3. Programa de promoção do uso sustentável dos recursos naturais 4. Programa de recuperação, preservação e manejo das bacias hidrográficas 5. Programa de reflorestamento de áreas degradadas Projetos aproveitamento de acordo com a destinação (educação ambiental, turismo, pesquisa científica, preservação de espécies e amostras da biodiversidade). • Manutenção e controle das UC. • Promoção da conservação do Pantanal. • Fomento e disciplinamento do uso sustentável do potencial dos recursos naturais da região. • Promoção da educação ambiental formal e informal. • Fomento a projetos para o mercado de crédito de carbono. • Aplicação de procedimentos de engenharia adequados para conservação de estradas no ambiente pantanal. • Proteção das cabeceiras e áreas alagadas do Pantanal frente ao desmatamento, ao assoreamento e à contaminação das águas. • Intensificação da fiscalização dos ecossistemas aquáticos e terrestres pantaneiros. • Recuperação das áreas de bacias degradadas, córregos e rios. • Recuperação dos rios poluídos em função de atividades econômicas urbanas e rurais. • Controle da erosão e manejo de solo e água em microbacias críticas. • Promoção de ações de mitigação e compensação dos danos provocados pelo uso intenso dos recursos hídricos. • Recuperação e reflorestamento de áreas degradadas, incluindo a recuperação da capacidade de suporte das pastagens plantadas e degradadas do Pantanal. • Recuperação das áreas de garimpo da região. • Capacitação de técnicos e empresários em elaboração de projetos para captação de recursos do mercado de crédito de carbono. Fonte: SEPLAN-MT, 2008c Do Anexo C ao Anexo F deste trabalho, é apresentada uma seleção de diretrizes das zonas de interesse inseridas no Polo Cerrado, apontando as que têm alguma influência ou aproximação com as futuras propostas de desenvolvimento turístico em cada região. Dessa forma, foram excluídas as diretrizes que sugerem apoio a outras atividades econômicas, como pecuária, agricultura e mineração, com aproveitamento incompatível com os requisitos do turismo sustentável94. Não é possível prever, especificamente, em que medida essas decisões de planejamento podem afetar, positiva ou negativamente, as propostas de desenvolvimento turístico sustentável do Polo. Cabe estabelecer um sistema de monitoramento da implantação do ZSEE, por meio da análise e cruzamento das ações governamentais de incentivo a atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras dos recursos naturais, com as áreas notadamente de potencial turístico, buscando apontar medidas restritivas e mitigadoras de impactos ambientais e socioculturais. 94 Os anexos mencionados dividem as diretrizes relacionadas ao turismo em quatro tipos de áreas: com estrutura produtiva consolidada ou a consolidar; que requerem readequação dos sistemas de manejo; que requerem manejos específicos; e áreas protegidas. Critérios políticos e institucionais, como o apoio a atividades atualmente consolidadas ou em consolidação – algumas nem sempre sustentáveis, como os sistemas agropecuários intensivos e a produção florestal –, foram também utilizados pelos técnicos do Governo, responsáveis pela elaboração do ZSEE, interessados em manter atividades econômicas relevantes ao Estado, procurando inserir intervenções de manejo sustentável dos recursos nas propostas. 311 5.4.2 Planos Diretores Municipais A Constituição Federal, artigos 182 e 183, determina que cabe ao poder público municipal estabelecer a política urbana e, para tanto, incumbe-lhe de estabelecer normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. A Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, mais conhecida como Estatuto das Cidades, regulamenta os instrumentos disponíveis ao poder público municipal para implementação da política de desenvolvimento urbano, que afeta também o espaço rural – e todo o espaço dedicado ao turismo. A Tabela 108 traz um resumo do Estatuto. Tabela 108 – Diretrizes gerais, Estatuto das Cidades Diretrizes do Estatuto das Cidades Cidades sustentáveis pelo direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho a ao lazer, para as presentes e futuras gerações. Gestão democrática pela participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. Cooperação entre governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social. Planejamento do desenvolvimento das cidades pela distribuição espacial da população e das atividades econômicas do município e do território sob sua área de influência. Interesses e necessidades da população e características locais pela oferta adequada de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos. Ordenação e controle do uso do solo, para evitar: a utilização inadequada dos imóveis urbanos; a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana; a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; a deterioração das áreas urbanizadas; a poluição e a degradação ambiental. Integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do município e do território sob sua área de influência. Padrões de produção, consumo de bens e consumo de serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do município e do território sob sua área de influência. Benefícios e ônus da urbanização pela justa distribuição dos benefícios e ônus do processo de urbanização. Política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos pela adequação dos instrumentos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais. Recuperação dos investimentos do poder público pela contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico. Audiência do poder público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população. Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais. Simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas municipais, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais. Isonomia (igualdade) de condições para agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e 312 atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social. Instrumentos do Estatuto das Cidades Plano Diretor: a ser aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, devendo englobar o território do município como um todo, sendo obrigatório: para cidades com mais de 20.000 habitantes; cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; cidades integrantes de áreas de especial interesse turístico; cidades inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; e para cidades onde o poder público municipal pretenda utilizar o parcelamento ou edificação compulsórios, IPTU progressivo no tempo ou desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública. Zoneamento ambiental: define o ordenamento territorial e permite definir ações especializadas na orientação de direção voltadas para um objetivo em consolidar um cenário futuro. São formulados a partir do grau de conhecimento da biodiversidade da área de proteção ambiental e da identificação e avaliação dos problemas e conflitos, das oportunidades e potencialidades decorrentes das formas de conservação da biodiversidade, uso e ocupação do solo e da utilização dos recursos naturais da área. Estudo prévio de impacto ambiental: consiste em determinar os potenciais efeitos ambientais, sociais e sobre a saúde de um determinado empreendimento e avaliar seus efeitos físicos, biológicos e socioeconômicos. Estudo prévio de impacto de vizinhança: definido por lei municipal, caracteriza os empreendimentos e atividades privadas ou públicas em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança para obter licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do poder público municipal. Usucapião especial de imóvel urbano: situação na qual aquele que possuir como sua área ou edificação 2 urbana de até 250 m , por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Direito de preempção: confere ao poder público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano, localizado em áreas delimitadas em lei, objeto de alienação onerosa entre particulares. Outros instrumentos Planos de Desenvolvimento Econômico e Social. Outorga Onerosa do Direito de Construir. Tombamento Operações Urbanas Consorciadas. Zonas Especiais de Interesse Social. Transferência do Direito de Construir. Fonte: BRASIL, 2001 Planos Diretores Municipais, principal instrumento legal do Estatuto das Cidades, são instrumentos públicos de forte interesse para gestores em turismo, obrigatório em localidades de interesse turístico. Localidades turísticas que disciplinam o uso do seu território de acordo com suas vocações e aptidões tendem não somente a permitir um melhor equilíbrio no desenvolvimento socioeconômico e melhor qualidade de vida a seus habitantes, mas também melhor qualidade no receptivo e no bem estar do visitante. Um Plano Diretor regula os processos de produção, reprodução e uso do espaço urbano e rural, sendo o instrumento público que se refere diretamente aos mecanismos, ações e procedimentos aplicáveis para o desenvolvimento e crescimento físico do município. Pode não tratar especificamente de turismo, mas muitas de suas orientações o influenciam, como: planejamento das ações da administração pública; enfrentamento de problemas provocados pelo crescimento econômico; análise das dimensões do desenvolvimento político, social, econômico, espacial, administrativo e financeiro; distribuição equitativa dos bens e serviços urbanos, ecologicamente equilibrada do território municipal; e garantia de bem estar aos munícipes. propiciando a ocupação 313 Um Plano Diretor, ao planejar o uso e ocupação do solo nos municípios, permite assegurar a manutenção da integridade e, se for o caso, a recuperação dos ecossistemas de interesse turístico e para a manutenção da qualidade de vida dos habitantes da região, assim como deve dirigir ações para o crescimento urbano equilibrado, prevendo espaços que, pelas características socioambientais, necessitem de restrições para uso e ocupação. Ao Plano Diretor, seguem-se normas reguladoras, que disciplinam em detalhes o funcionamento dos diferentes sistemas de uso e controle urbano, também na forma de leis, tais como as que regulamentam o perímetro urbano; zoneamento de uso e ocupação do solo; o parcelamento do solo urbano; o sistema viário; o código de obras; e o código de postura. Cabe destacar que, no processo de discussão dessas normas, é de responsabilidade do poder público municipal a garantia de participação de comunidades, movimentos e entidades da sociedade civil, além de representantes do mercado turístico, por meio de, por exemplo, um órgão colegiado de política urbana municipal, e/ ou de debates e conferências sobre assuntos de interesse urbano e audiências e consultas públicas antes da votação dos projetos de lei. Além do Plano Diretor, é importante mencionar a Lei Orgânica do Município – a „constituição municipal‟ –, que rege todas as políticas públicas locais, incluindo temas de interesse para o turismo, como educação, saúde, lazer e esportes, segurança, cultura, ambiente ecologicamente equilibrado, transporte coletivo e saneamento básico. Delimita as competências municipais, algumas das quais relevantes para o desenvolvimento da atividade turística. No Polo Cerrado, por ser uma região com a presença de importantes recursos hídricos, onde boa parte dos municípios tem os rios Cuiabá e São Lourenço como forte elemento da paisagem urbana e de relevante interesse social e econômico, cabe mencionar que as áreas consideradas como terrenos da Marinha Brasileira são classificadas como bens da União, conforme prevê o Art. 2º, VII, da Constituição Federal. São considerados terrenos de marinha, em acordo ao Decreto Lei n° 9.760/46, "todos os que banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, em sua foz, vão até a distância de 33 metros para a parte das terras, desde o ponto em que conta a preamar média”. Os destaques desse decreto, bem como de outras normas aplicáveis à área, encontram-se na Tabela 109. Tabela 109 – Diretrizes gerais, uso e ocupação de terrenos da Marinha Normas gerais Decreto Lei n° 9.760/46 - A Secretaria do Patrimônio da União é o órgão do Ministério do Planejamento responsável pela administração e pela fiscalização do uso dos bens da União. Os imóveis da União podem ser aforados, cedidos ou alugados quando coexistirem os interesses de radicar o indivíduo ao solo e mantiver-sese a propriedade pública. O aforamento de terreno de marinha pode ser feito por meio de contrato e pagamento de foro, regido pelo direito administrativo. Lei Federal n° 9.537/97 - Regras de proteção à navegação conferindo à autoridade marítima a elaboração de normas sobre a execução de obras às margens das águas nacionais no que diz respeito à segurança da navegação e ao ordenamento do espaço aquaviário (Art. 4°, I, "h"). Portaria da Diretoria de Portos e Costas n° 52/01 e Norma da Autoridade Marítima 11/01 - Estabelece normas para obras sobre as margens das águas nacionais e prevê que a execução de obras particulares sob, sobre e as margens das águas jurisdicionais brasileiras depende de consulta prévia à Capitania, à Delegacia ou à Agência. Colocados os aspectos relevantes da legislação, para analisar as políticas municipais, objeto deste item do trabalho, foram realizadas pesquisas primárias e secundárias nas prefeituras dos municípios do Polo, que têm grande deficiência na base normativa relativa às políticas urbanas, como mostra a Tabela 90, p. 235. Somente Cuiabá, Jaciara e Chapada dos Guimarães têm Plano Diretor elaborado. Chapada dos Guimarães está reformulando seu plano diretor. 314 As diretrizes de um Plano Diretor devem ser respaldadas por uma legislação básica, composta por: (a) Lei do Perímetro Urbano; (b) Lei de Zoneamento e Uso e Ocupação do Solo; (c) Lei de Parcelamento do Solo Urbano; (d) Lei do Sistema Viário; (e) Lei do Código de Obras; e (g) Lei do Código de Postura, o que levanta outra problemática: alguns dos municípios do Polo Cerrado não contam com todo esse aparato legislativo, impossibilitando que suas diretrizes sejam levantadas e inviabilizando uma análise direta de cada município. Assim, somente é possível fazer referência ao Plano Diretor de Cuiabá, a partir da análise de suas diretrizes que impactam no desenvolvimento turístico. As diretrizes gerais do desenvolvimento estratégico de Cuiabá estabelecem, no Art. 9° do Plano Diretor, que o município deve estar apto a: XIII - definir políticas e programas voltados ao fortalecimento das vocações naturais do Município como polo regional capacitado à prestação de serviço de qualquer natureza, turismo, entreposto comercial e centro processador de matérias-primas regionais; XIV - revisar a legislação de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo Urbano. As análises indicam a preocupação do município em trabalhar em prol da atividade turística de forma integrada e simultânea pelo poder público municipal, visando garantir a sustentabilidade do desenvolvimento local e regional. As diretrizes de desenvolvimento econômico já apresentam reflexos como o incremento do turismo de negócio e lazer no município e o apoio a empreendimentos turísticos de pequeno porte, através de canais de financiamento, para a melhoria e ampliação de suas atividades. De modo geral, percebe-se que é tímida a atenção dada pelos gestores municipais à formulação de políticas de planejamento urbano, o que pode afetar o desenvolvimento turístico nos municípios e no Polo Cerrado como um todo. 315 5.4.3 Projetos ambientais a implantar em áreas protegidas No Polo Cerrado, foram investigados e analisados alguns programas e projetos ambientais que vêm sendo executados ou estão previstos, seja por iniciativa do setor público, privado ou não governamental. Alguns projetos foram identificados durante as pesquisas para este Diagnóstico, sendo alguns já mencionados no item 5.2.3 e, outros, no decorrer deste texto. A Tabela 110 e a Tabela 111 sintetizam dois outros projetos identificados e suas principais características. Tabela 110 – Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul, uso público Uso Público do Plano de Manejo do Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul (PEGLA) Município Nobres UC Envolvida Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul Responsáveis SEMA-MT, IGPlan Inteligência Geográfica Descrição sintética Flora: - Levantamento exaustivo da flora do PEGLA segundo as diferentes fisionomias da vegetação local. - Levantamentos da estrutura da vegetação segundo diferentes fisionomias. - Estudos das interações entre a vegetação e a fauna direcionados ao entendimento dos processos de polinização e disseminação de sementes. - Estudos da interação entre a vegetação com fatores físicos como os solos e a geologia. Fauna: - Levantamento exaustivo das espécies de vertebrados e correlação das espécies com os diferentes elementos locais da paisagem. - Levantamento e estudo dos padrões de movimentação e da área de vida de mamíferos de médio e grande porte no Parque e entorno. - Estudo da viabilidade populacional de mamíferos ameaçados de extinção na área do Parque e entorno, a exemplo do lobo guará (Chrysocyon brachyurus), do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), do veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), dentre outros. - Levantamento e estudo da estrutura da comunidade de aves do Parque e entorno. - Estudo das relações entre a quiropterofauna e a vegetação regional. - Estudo da biologia e dinâmica populacional de aves ameaçadas de extinção do Parque e entorno. - Levantamento e estudo da estrutura das comunidades de squamata (serpentes, lagartos e anfisbenídeos) e de quelônios e crocodilianos do Parque e entorno. - Levantamento e estudo da estrutura da comunidade de anfíbios anuros do Parque e entorno. - Inventário de espécies e conhecimento de aspectos ecológicos da ictiofauna. - Estudo da origem da assembleia de peixes da Gruta da Lagoa Azul. - Inventário da entomofauna e da aracnofauna regional. - Estudos das relações insetos-plantas e sua importância para a conservação local da vegetação. Arqueologia: - Levantamento e caracterização do patrimônio espeleológico do PEGLA e de demais cavidades da Zona de Amortecimento. - Levantamento da fauna das cavernas do PEGLA e de demais cavidades da Zona de Amortecimento. Fiscalização e Vigilância: - Estabelecimento de um padrão formal de relacionamento e comunicação entre a vigilância e os responsáveis pela fiscalização, no caso a SEMA-MT. - Desenvolver e manter atividades de fiscalização no interior da UC, com a definição de roteiros e periodicidades estratégicas. - Elaborar formulário de registro e controle das atividades. - Implantação de placas de sinalização informativas sobre os limites do Parque e a proibição da retirada de material do seu interior sem a devida autorização. - Estabelecimento de convênios entre a administração do Parque, as Polícias Militar, Civil e Federal, quando for o caso, para apoiar o desenvolvimento das operações de fiscalização direcionadas. - Formação da infraestrutura básica de apoio para atender às necessidades da fiscalização, incluindo: veículo, equipamentos, materiais diversos e outros. 316 Uso Público do Plano de Manejo do Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul (PEGLA) Prevenção e Combate a Incêndios: - Estabelecimento de aceiros com 5 metros de largura em todo o entorno do PEGLA, os quais se prestarão também para o desenvolvimento das atividades de fiscalização. - Promoção de um diagnóstico para avaliação e determinação das condições propícias para a propagação de incêndio no Parque,incluindo: material combustível, condições climáticas, topografia e umidade do material combustível. - Estabelecimento de uma torre de controle de incêndios florestais junto à região mais elevada do bloco C do Parque. - Formulação de um modelo com a determinação do Índice de Perigo de Incêndio, adaptado para as características do Parque, tendo como referência modelos desenvolvidos em outros locais do país. - Divulgação diária do Índice de Perigo de Incêndio para os usuários do Parque, os quais deverão tomar a devidas precauções nas atividades operacionais. - Divulgação do Índice de Perigo de Incêndio em placas localizadas em locais visíveis, principalmente nas margens das estradas e no portal de acesso ao Parque. - Campanha massiva de educação ambiental para a comunidade interna e externa ao Parque sobre o perigo e os danos causados pelos incêndios, incluindo: jornais, panfletos, folders, comunicação via rádio e televisão e outras formas de comunicação. - Realização de cursos e palestras sobre a importância do controle dos incêndios. - Campanha intensa de educação ambiental junto aos trabalhadores dos diversos projetos executados no interior do Parque Estadual, incluindo a proibição do uso do fogo e queimadas, o controle do fumo pelos funcionários e outros. - Implantação de placas na margem das estradas orientando sobre o dano causado pelas queimadas e os riscos provocados pelo lançamento de restos de cigarro aceso no acostamento. - Organização de uma estrutura de vigilância com estrutura de comunicação ágil, para coletar diariamente informações sobre a ocorrência de queimadas no interior e nos limites do Parque. - As equipes de vigilância do Parque Estadual devem coletar informações sobre a ocorrência de queimadas nos seus limites e também focos de incêndio no seu interior. - Eliminação do material combustível que esteja armazenado ou disposto de forma inadequada, como por exemplo: restos de vegetação, de capina de área urbana, de margem de estrada e outros. - Manter em operação uma estrutura para abastecimento dos carros pipa e tanques com água para ser utilizada nos casos de emergência. - Capacitar os funcionários do Parque e membros das comunidades do entorno equipes para a formação de uma Brigada de Combate a Incêndios Florestais. - Realizar treinamento do pessoal da Brigada de Incêndios, com apoio do Corpo de Bombeiros do Estado de Mato Grosso. - Efetuar a aquisição de material de combate a incêndios, tais como material hidráulico, equipamentos de proteção individual, foices, enxadas com cabos, abafadores (no mínimo 10 de cada), e sua disposição em local estratégico de fácil acesso, inclusive às comunidades do entorno da UC; - Estabelecer canais de comunicação entre as comunidades, indicando-se em cada uma pelo menos dois representantes da Brigada de Incêndios. Proteção e recomposição de nascentes e vegetação ciliar em corpos d‟água: - Demarcação de todas as nascentes e cabeceiras de drenagem existentes no Parque e em seu entorno. - Avaliação da situação de APP. - Estabelecimento e/ou cobrança de projetos de recuperação ambiental nessas áreas, conforme cada caso. - Estabelecimento de procedimentos para a dessedentação de animais domésticos, captação de água e tratamento de efluentes nas propriedades rurais da Zona de Amortecimento. Controle de atividades de pesca: - Demarcação de áreas liberadas para as atividades de pesca na região do Rio Cuiabazinho. - Estabelecimento de padrões para a atividade, tais como períodos e horários liberados para a mesma, espécies e tamanhos relativos liberados para pesca etc. - Fiscalização contínua da atividade. Fonte: SEMA-MT, 2006a Tabela 111 – PARNA Chapada dos Guimarães, uso público Uso Público do Plano de Manejo do PARNA Chapada dos Guimarães (PNCG) Município Chapada dos Guimarães UC Envolvida PARNA Chapada dos Guimarães Responsáveis ICMBio Descrição sintética Situação atual 1. Programa de operacionalização 1.1 Subprograma de estruturação da sede administrativa e bases - construção e estruturação de nova sede administrativa e de bases avançadas para o parque nacional; 1.2 Subprograma de capacitação - promoção de capacitação em ferramentas gerenciais e técnicas para execução, controle e avaliação das ações previstas no plano de manejo. 1.3 Subprograma de gerenciamento - implementação de ferramentas gerenciais para a gestão do parque nacional. Sem previsão de execução 317 Uso Público do Plano de Manejo do PARNA Chapada dos Guimarães (PNCG) - aquisição de equipamentos e material permanente para a execução dos programas de gestão. - elaboração de estratégias para incremento de pessoal. 2 - Programa de regularização fundiária 2.1 Subprograma de organização do conhecimento - organizar e sistematizar o conhecimento existente sobre a situação fundiária. 2.2 Subprograma de consolidação territorial - confirmar a localização dos limites da UC; - divulgar a localização dos limites da UC junto a ocupantes, população do entorno, cartórios e demais possíveis interessados. 2.3 Subprograma de controle de ocupantes - documentar as situações existentes quanto a tipo de ocupação e benfeitorias. 2.4 Subprograma de regularização - instaurar processos para regularização de todas as áreas do PNCG. 3 - Programa de fiscalização - minimizar, na área da unidade: invasões e ocupações; ocorrências de desmate, coleta, caça, pesca e demais danos à fauna, à flora e ao meio físico; uso incorreto dos recursos naturais e práticas indevidas ou perigosas; risco de ocorrência de acidentes; danos patrimoniais provenientes de vandalismo; a prática de motocross; - maximizar, na área da unidade: a presença de agentes de fiscalização e monitoramento e a segurança dos usuários; - minimizar o descumprimento da legislação vigente e das normas e restrições determinadas pelo plano de manejo do PNCG na zona de amortecimento; - maximizar a presença de agentes de fiscalização e monitoramento na zona de amortecimento. 4 - Programa de prevenção e combate a incêndios - minimizar, na área da unidade, as ocorrências de incêndio, seu grau de impacto e o tamanho da área queimada. 5 - Programa de gestão do entorno - minimizar o descumprimento da legislação vigente e das normas e restrições determinadas pelo plano de manejo do PNCG na zona de amortecimento e área circundante da UC, atenuando o impacto que atividades antrópicas do entorno possam trazer à unidade. 6 - Programa de monitoramento e manejo ambiental 6.1 Subprograma de monitoramento geológico - monitorar áreas de fragilidade geológica da UC, com especial atenção àquelas nas quais há visitação; - manejar áreas de risco geológico, conforme recomendação técnica. 6.2 Subprograma de monitoramento dos recursos hídricos - monitorar a qualidade da água dos rios e córregos que cortam a UC; - monitorar o assoreamento dos rios da UC; - executar ações que minimizem o assoreamento dos rios. 6.3 Subprograma de monitoramento de atropelamento de fauna silvestre - monitorar o atropelamento da fauna silvestre nas estradas e rodovias que cortam o PNCG ou seu entorno. 6.4 Subprograma de monitoramento do impacto de incêndios na UC - monitorar os impactos dos incêndios florestais na UC; - monitorar os impactos do manejo de fogo na UC. 6.5 Subprograma de monitoramento de espécies exóticas - monitorar a existência e o impacto gerado pela ocorrência de espécies exóticas e/ou invasoras; - implantar medidas de controle de espécies exóticas e/ou invasoras e de seus efeitos na biota do PNCG. 6.6 Subprograma de monitoramento da biodiversidade em longo prazo - monitorar a biodiversidade da UC em longo prazo, como forma de avaliar o efeito do manejo. 6.7 Subprograma de integração do monitoramento - organizar e tornar disponível dados referentes ao monitoramento ambiental da UC. 7 - Programa de pesquisa 7.1 Subprograma de controle e acompanhamento de pesquisas - controlar a execução de pesquisas científicas no PNCG. - organizar e manter banco de trabalhos científicos e publicações sobre a UC. 7.2 Subprograma de estímulo a pesquisas prioritárias - estimular a realização de pesquisas científicas sobre temas prioritários para gestão da UC. 8 - Programa de educação ambiental 8.1 Subprograma de capacitação do conselho consultivo Sem previsão de execução Sem previsão de execução Sem previsão de execução Sem previsão de execução Sem previsão de execução Sem previsão de execução Sem previsão de 318 Uso Público do Plano de Manejo do PARNA Chapada dos Guimarães (PNCG) - capacitar ou promover a capacitação dos atores sociais para a efetiva participação no processo de gestão desta UC. 8.2 Subprograma de orientação e sensibilização - sensibilizar e orientar segmentos sociais que sejam afetados pela existência da UC ou afetem a consecução dos objetivos deste PARNA na tentativa de conciliar interesses. 9 - Programa de visitação - estruturar a recepção do visitante, oferecendo informação e orientação quanto aos objetivos e normas do PARNA, de modo acessível ao público de todos os níveis de escolaridade e de renda; - consolidar a infraestrutura de apoio à visitação, de forma a proporcionar segurança e tranquilidade ao visitante, respeitando os objetivos e o zoneamento da UC e, adicionalmente, obter recursos para a gestão da unidade; - proporcionar espaços e instrumentos para atividades de cunho recreativo e didático; - definir um conjunto mínimo de serviços associados à visitação que poderão ser operados em regime de concessão; - definir áreas de desenvolvimento para novas atividades, de forma a atender aos diversos públicos potenciais, tendo sempre como princípio as condições de segurança e os objetivos da UC; - incentivar a visitação por moradores dos municípios de abrangência da UC; - manter dados históricos sobre a visitação na UC;. - possibilitar a criação de fontes de renda alternativa para a população do entorno; - ordenar a condução de visitantes na UC; - minimizar os impactos ambientais da visitação no PNCG. 10 - Programa de integração e participação social 10.1 Subprograma de gestão participativa - desenvolver ações que possibilitem a efetiva participação da sociedade na gestão do PARNA. 10.2 Subprograma de divulgação e comunicação - divulgar para a sociedade em geral o PARNA e seus objetivos; - manter canais de relacionamento entre UC e sociedade; - facilitar o relacionamento entre UC e sociedade. 10.3 Subprograma de voluntariado - estreitar relacionamento entre UC e sociedade. 10.4 Subprograma de estágios - estreitar relacionamento entre UC e instituições de ensino e pesquisa. 10.5 Subprograma de desenvolvimento local - buscar, em conjunto com as comunidades, alternativas de desenvolvimento local que conciliem os objetivos do PARNA e as necessidades da população do entorno da UC. Fonte: MMA, 2009 execução Sem previsão de execução Sem previsão de execução O Governo Federal tem o Projeto Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade Brasileira, que vem trabalhando para emplacar propostas de proteção mais efetiva do patrimônio biológico brasileiro e estabeleceu um projeto específico para o Cerrado. O mapa das áreas prioritárias da região mais atualizado pode ser observado na Figura 179. 319 Figura 179 – Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade Fonte: MMA, 2007 Não se obteve informações sobre projetos do Governo do Estado para serem implantados nas UC estaduais. Entretanto, acredita-se que, certamente, muitos projetos podem estar sendo processados por organizações financiadoras. Sabe-se, todavia, que parte dos pequenos projetos é elaborada por ONG, parceiras das UC, visto que elas somente podem ter acesso a financiamentos oriundos de orçamento público. 320 5.5 PARTICIPAÇÃO DE GRUPOS DE INTERESSE NO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO O turismo pode ter o papel de contribuir com a qualidade de vida das comunidades onde se insere, tanto pelo aspecto econômico de geração de renda e emprego como pelo resgate de aspectos relevantes do patrimônio ambiental e cultural das populações. E, para aperfeiçoar seus benefícios, medidas que facilitem a participação das comunidades no processo de planejamento e gestão do turismo são necessárias. O desenvolvimento do turismo deve se dar de modo participativo e, mesmo que esse procedimento ainda esteja sendo construído no Brasil, Queiroz et al. (2004) afirmam que, nos dias de hoje, em um “estado moderno, com o avanço dos processos democráticos, cabe ao governante e à sociedade, por meio de participação nas decisões, a responsabilidade por políticas públicas”. Os atores da atividade turística devem assumir seus papéis, considerando seus benefícios e responsabilidades. Em pesquisas primárias e secundárias realizadas na região do Polo, buscou-se compreender como se efetiva a participação dos diferentes grupos de interesses juntos aos tomadores de decisão, especialmente em órgãos públicos que promovem direta ou indiretamente a gestão do turismo na região, como as secretarias e conselhos de meio ambiente municipais, os conselhos consultivos e deliberativos de meio ambiente implantados em âmbito regional (CONSEMA), bem como os conselhos gestores de UC implantados pelo ICMBio e SEMA-MT. Neste sentido, esperava-se colher subsídios para se avaliar o funcionamento dessas instâncias de representação social e o grau de participação da sociedade civil organizada, do setor privado e outros segmentos de interesse no turismo. Porém, nem sempre a busca de dados ou as respostas aos questionários enviados foram significativas para essa análise. Alguns poucos órgãos públicos disponibilizam as atas de reunião de colegiados sob sua responsabilidade e o acesso às informações mostrou-se bastante obstruído. Assim, a avaliação baseia-se principalmente nas percepções do levantamento de campo e nas entrevistas e conversas informais realizadas. Verificou-se que os grupos de interesse no desenvolvimento do turismo do Polo encontramse desgastados, desacreditados e, em sua grande maioria, inativos. Muitas organizações instituídas não atuam de forma integrada, estando sujeitas a influências políticas e, por vezes, tendo suas ações determinadas somente a partir de objetivos governamentais, que desconsideram a opinião do setor privado, terceiro setor e comunidade. No cenário institucional desenhado de fragilidade generalizada do setor público estadual e dos municípios do Polo, devido principalmente à carência de recursos humanos em quantidade e qualidade e a insuficientes aportes de recursos orçamentários, não é de se estranhar que estimular e gerir processos participativos seja tarefa relegada a segundo plano, em geral não incorporada nos momentos de formulação de políticas e/ou de projetos de interesse social, econômico ou ambiental. No âmbito federal, o ICMBio, presente no Polo através do PARNA Chapada dos Guimarães, tem desenvolvido o Plano de Conservação de Áreas Protegidas e trabalha na proteção da biodiversidade por meio de alvos de concentração. O IBAMA, além da fiscalização de áreas naturais, vem trabalhando por meio de projetos desenvolvidos em parcerias com ONG que atuam na conservação de áreas de cerrado. Na esfera estadual, como já explicitado anteriormente, houve uma dificuldade acentuada para avaliar a atuação do CONSEMA, o que impossibilitou a análise de ações voltadas ou que contribuam com o desenvolvimento turístico. A SEMA-MT, por sua vez, vem exercendo um papel importante na região do Polo através de ações de planejamento e gestão do patrimônio natural, bem como de fiscalização e manejo de áreas naturais de interesse turístico. O órgão também contribui para o desenvolvimento do turismo através de programas como o MT Legal, que age sobre o desmatamento ilegal. 321 Já as Secretarias Municipais dispõem de poucos recursos para desenvolver suas atividades e lidar com o planejamento da gestão, tendo sido poucos os projetos observados voltados para a conservação dos atrativos naturais e culturais, como o que ocorre em Nobres. Em Cuiabá e Chapada dos Guimarães, a atividade turística já está trazendo prejuízos ao meio ambiente, por ocorrer de forma desordenada pela ausência de uma política local de implantação. Durante as pesquisas de campo, verificou-se grandes expectativas dos gestores municipais em relação à criação de COMDEMA, nos municípios que ainda não dispõem do Conselho, visto que trarão maior representatividade e desmembrarão das demais secretarias os assuntos de meio ambiente. Em relação às IES e de pesquisa, a UFMT, embora não ofereça cursos na área de turismo, tem contribuído com estudos direcionados ao desenvolvimento das atividades do setor no Polo, com destaque para o Plano de Diagnóstico Ambiental, desenvolvido pelo curso de biologia. A UNIRONDON também contribui através de programas e projetos de pesquisa voltados para o desenvolvimento do turismo. Nas entrevistas realizadas com as ONG da região é relatada insatisfação com a desarticulação entre as esferas federal e estadual e os representantes locais. As ONG indicam que ocorrem reuniões sem que todos os interessados sejam informados, ficando, muitas vezes, excluídas de discussões e decisões que interessam ao trabalho que desenvolvem no Polo. As oficinas realizadas com a comunidade e os setores público e privados, em dezembro de 2009, foram também oportunidades importantes para constatar o nível de interesse e participação da comunidade e sua interação com o estado. Embora exista de fato uma grande desarticulação entre os diferentes grupos de interesse, pode-se verificar o desejo de que o desenvolvimento de forma sustentável e competitiva aconteça, reconhecendo e valorizando as potencialidades e limitações de cada comunidade. Contudo, não se pode afirmar que os investimentos de um plano de desenvolvimento turístico possa ter sucesso sem que haja investimentos efetivos na mobilização da sociedade e na reconstrução dos espaços colegiados que viabilizem e deem sustentação para uma gestão de qualidade do patrimônio ambiental e turístico do Polo.Tornam-se, assim, necessárias ações de fortalecimento institucional que busquem assegurar, com relação a suas entidades, a coerência de princípios e de organização, o efetivo funcionamento e a atuação integrada das diversas entidades, tanto no âmbito de cada município quanto na totalidade do Polo. O volume 2 deste Diagnóstico se encarregará de realizar a consolidação das informações apresentadas, apontando os principais aspectos verificados por este trabalho.