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DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA A ELABORAÇÃO DE UM MODELO PARA EAD APLICÁVEL EM UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA DE UMA ESTATAL BRASILEIRA1 Professora Mestre Luiza de Marilac Vasconcelos Furtado (Orientanda)2 Professora Mestre Maria de Lourdes Cysneiros de Morais (Orientadora)3 Resumo Este artigo é o resultado de um Trabalho de Conclusão de Especialização em Educação Aberta e a Distância realizada no Senac em 2013. Trata-se de é um projeto de ação cujo objetivo é propor um “Modelo de Educação a Distância” com pilares de definição assentados em características comuns capazes de atenderem aos requisitos de uma solução educativa tanto para o Ensino Superior tradicional como para os cursos de formação profissional em serviços nas universidades corporativas. Como contribuição este trabalho pretende se constituir como fonte de consulta para outros interessados na temática. Neste documento, são apresentados os aspectos fundamentais para a implementação de um modelo hipotético para estudo, tais como: análise do contexto, viabilidade do projeto, referenciais teóricos do processo de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais para um contexto de Educação Aberta e a Distância. Os dados primários e os pressupostos teóricos tem sua origem em uma pesquisa realizada para uma organização estatal brasileira. Informações reais analisadas pela autora e que constituíram o cenário de discussão sobre o perfil dos atoresmodelos. Tomamos como base as similaridades das organizações estatais brasileiras para propor perfis de análise do design Instrucional, dos recursos e mediação tecnológicos, com vistas nas gerações que hoje convivem nas organizações e suas peculiaridades. A discussão circunscreve-se às questões didático-metodológicas tendo com referencial teórico a Andragogia. A proposta apresentada no tocante à Gestão em EAD e ao aparato tecnológico são apenas peças necessárias no tabuleiro, mas, estão fora do objeto de estudo. Palavras-Chaves: Educação Aberta e a Distância. Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Metodologia do Ensino. Andragogia. Mediação Tecnológica. Recursos Midiáticos. Introdução Este projeto de ação tem por objetivo definir um Modelo de Educação Aberta e a Distância (EAD) aplicável em uma universidade corporativa (UC) de uma organização estatal brasileira. A proposta de Modelo de Educação a Distância utiliza os dados de uma organização estatal brasileira e tem por finalidade a consultoria, o planejamento e a execução de projetos educacionais no âmbito das Universidades Corporativas suportadas pela EAD. Neste sentido, o projeto para um modelo educacional circunscreve-se ao segmento de educação corporativa formatado, prioritariamente, para organizações brasileiras interessadas em expandir as soluções de aprendizagem organizacional que transcendam o tradicional Centro de Treinamento e Desenvolvimento (T&D) presencial. Essa opção vai ao encontro das soluções educacionais na modalidade de Educação a Distância, que comporta modelos dos mais diversos estilos. No ciberespaço da sala de aula on-line, fonte de saber e aprendizagem, os alunos são desafiados por um modelo de aprendizagem distinto das salas presenciais, onde 1 Adaptado do trabalho de conclusão da Especialização em Educação a Distância defendida em 2013 - Senac e publicado no XIII EVIDOSOL e X CILTEC-Online - junho/2016 - <http://evidosol.textolivre.org>. 2 ** Mestre em Educação pela FEUSP – Universidade de São Paulo em 2005. Professora Assistente da Universidade Federal do Piauí. Contato: [email protected]. 3 *** Professora Tutora e orientadora da Especialização em Educação a Distância do Senac - CE. 2 a interatividade, as teorias de aprendizagem, os conteúdos científicos e a organização de um plano de trabalho, que contempla começo, meio e fim, devem estar sempre presentes. A opção por trabalhar com um “Modelo” deu-se em função do desejo de submeter ao julgamento de uma banca um esboço de trabalhos já realizados e também por encontrar na expansão da aprendizagem on line nas universidades corporativas e que se constitui um território fértil por sua necessidade de atingir um público maior e disposto em espaços diferentes, com a necessidade de formação permanente. Fato que majorou as oportunidades de educação que a modalidade presencial não tem como atender. No que concerne à metodologia utilizada, foram utilizados dados coletados em uma empresa estatal brasileira para identificar os sujeitos que compuseram o cenário onde o modelo foi forjado. Enfim, neste documento há o empenho em tratar aspectos fundamentais para a plena efetivação das ações educacionais em ambientes virtuais, quais sejam: metodologia e tecnologia. Pontos primordiais no planejamento de soluções educacionais que possam fluir permanentemente como ação intencional, institucionalizada e padronizada, objetivando a maximização dos resultados almejados pelo ensino, cumprindo a finalidade da Educação. Desenvolvimento As tecnologias interativas vêm evidenciando, na educação, o que deveria ser o cerne de qualquer processo de ensino-aprendizagem mediada pelas TICs nos dias atuais: a interação e a interlocução entre todos os que estão envolvidos nesse processo. Na medida em que avançam as tecnologias de comunicação virtual o conceito de presencialidade também se altera. O conceito de curso, de aula também muda. Hoje, ainda entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Mas, esse tempo e esse espaço, cada vez mais, serão flexíveis. Assim, tanto professores quanto alunos estarão motivados, entendendo "aula" como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do professor vem sendo redimensionado e, certo é que novas competências e habilidades deverão ser acrescidas na formação docente e enriquecerá esse processo com as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam: para receber e responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão e alimentar continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo fora do horário específico da aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes (MORAN, 2013). E este contexto forma um cenário perfeito para o desenvolvimento da Educação Corporativa na modalidade de Educação a Distância, podendo ser entendidas como um conjunto harmonioso de programas estrategicamente planejados dentro de um plano de formação profissional. Para Costa (2001) “educar corporativamente é fazer pessoas pensarem criticamente, envolverem-se, autogerenciarem e emocionarem-se [...]. Educar corporativamente é humanizar o ser, a empresa, a sociedade, o meio ambiente” e acrescenta que a educação corporativa não é apenas virtual, mas sim, relacional, de modo que os seres humanos criam vínculos, por meio dos quais constroem valores, e a partir daí estabelecem uma cultura. Neste sentido Lévy (1999, p.34), considera a virtualização dinâmica. E afirma que “o virtual, com frequência, não está presente. Através do virtual podemos partilhar o real a virtualização é aquilo através do qual compartilhamos uma realidade”. Moran (1998, p.21), corrobora quando afirma que “há um novo reencantamento pelas tecnologias porque participamos de uma interação intensa entre o real e o virtual”. Comunicamo-nos facilmente conectados com milhares de pessoas, organizações, redes sociais, banco de dados, servidores, e muito outros. E esta dinâmica é de extrema importância para a Educação a Distância como também, dentre outros, para a Educação Corporativa (MUNDIM & RICARDO, 2004). Em contexto de aprendizagem em meio virtual surgem atores fundamentais: o cursista adulto; o professor coletivo e o estudante autônomo, conforme aponta Belloni (2005). Esses elementos estão diretamente ligados a duas vertentes que sinalizam para tal modelo de 3 formação: a autonomia no processo de aprendizagem e a redução de custos no processo de formação permanente de aprendizes adultos. A primeira vertente guarda as características da aprendizagem em Andragogia e, a outra, possui uma demanda que é atendida pela Educação a Distância (RICARDO, 2005). A Andragogia é o nome adotado por Malcolm Knowles (KNOWLES, 1980; HOLTON III & SWANSON, 2005) para sua teoria sobre a aprendizagem de adultos, cuja proposta de formação focada no aluno adulto deve prever a realização de dinâmicas didáticas e comunicacionais planejadas com base em seis princípios: alunos adultos precisam saber; autonomia ou aprendizagem autodirigida; experiência prévia do aluno adulto; disposição para aprender; orientação para aprender e resolver problemas; motivação. Desse entrelaçamento teórico a ação educacional pode ser enriquecida em termos das mais diversas dinâmicas e mídias, suportadas pelos inúmeros recursos das TICs (TORI & KIRNER, 2006), otimizando os resultados em termos de efetivação da aprendizagem. Assim, considera-se possível planejar inúmeras simulações, utilizando-se do compartilhamento de elementos virtuais e reais, em um mesmo ambiente. Os cursos ofertados podem ser customizados dentro de suas características para atender a demandas diferentes. Tori (2009) refletindo que a gradação da interatividade pode variar de passiva até interativa. Ao tratar do aluno adulto, da autonomia na aprendizagem, necessário se faz verificar as contribuições do “Cone de Dale”, que alinham e estabelecem valores para a retenção das informações em funções dos recursos didáticos utilizados, fornecendo indicadores que podem ser combinados para facilitar a construção do conhecimento. A figura abaixo conhecida como “Pirâmide da Aprendizagem” ou “Cone de Dale” (1966) é uma representação gráfica simbólica, que poderá servir de guia no planejamento das ações educacionais Nela os estilos cognitivos foram projetados com o propósito de se obter estratégias para elaborar opções didáticas adequadas ao aprendiz adulto. Figura 1: Metodologia baseada na pirâmide da aprendizagem Fonte: Dale, 1996. Um olhar atento percebe que a aprendizagem tende a ser maior no nível decrescente do cone, no sentido dos níveis inferiores onde se localizam as atividades práticas. A questão básica é saber que situação didática reunirá o maior número possível de degraus da pirâmide de forma a otimizar as possibilidade de aprendizado. Os recursos das TICs utilizados na metodologia de EAD podem ser a resposta a essa questão, pois, como ferramentas de mediação e midiatização dos conteúdos abrangem uma vasta gama de recursos passíveis de customização, possibilitando a criação de diversas situações de ensino. Na composição das atividades, agrupando diversos níveis da pirâmide, ampliam-se as formas de comunicação, resultando em um ambiente para promover altos níveis de aprendizagem. 4 Na prática, ao fazer incidir o “Índice de Estilos de Aprendizagem” de Felder (ILS) sobre a “Pirâmide da Aprendizagem” de Dale (1966) obtém-se um plano no qual as atividades de aprendizagem podem ser distribuídas em três momentos: ler, ouvir e interagir. Essa divisão tem caráter didático, sendo que estes momentos podem ser utilizados parcialmente ou combinados de forma variada, conforme a demanda educacional e os objetivos a serem alcançados. As situações de aprendizagem a serem adotadas e a escolha das estratégias de ensino tem na “pirâmide da aprendizagem” uma forte aliada – tendo em vista que esta consiste numa forma de visualizar os resultados das escolhas realizadas (DALE, 1966), como demonstra a figura que segue: Pirâmide da Aprendizagem Figura 2: Metodologia baseada na pirâmide da aprendizagem – Cone de Dale Fonte: Adaptado de Litto & Formiga, 2009. Estas ações encontram um facilitador no uso das TICs sendo uma ótima alternativa para trabalhar situações de aprendizagem que envolvam tais percepções e situações, considerando a possibilidade de em uma única aula, serem mesclados os diversos recursos didáticos e tecnológicos, otimizando o índice de aprendizagem, na perspectiva dos “Estilos de Aprendizagem de Felder (ILS)”. Os estudos de Felder (2008) propõem alguns estilos de aprendizagem cujas dimensões devem ser consideradas no planejamento das ações educacionais e que estão posta na tabela abaixo. DIMENSÕES PARA AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO Ativo/Reflexivo De um lado, necessita-se de situações e exercícios práticos, trabalhando-se de forma mais grupal; de outro, trabalha-se com questionamentos e teorias, de forma mais individualizada. Visual/Verbal De um lado, são apresentados gráficos, ilustrações, vídeos; de outro, predomina a leitura de texto ou a audição de um conteúdo. Concreto/Intuitivo De um lado, necessita-se de fatos e soluções de problemas por métodos mais estruturados e estabelecidos; de outro, trabalha-se com maior criatividade, inovação, busca de novas soluções e pouca estruturação. Sequencial/Global De um lado, trabalha-se com uma visão linear cujos conceitos básicos possibilitam a compreensão de outros mais complexos; de outro, inicialmente, trabalha-se com uma compreensão do todo, para depois se compreender os detalhes, possibilitando o acompanhamento de hipertextos. Quadro 2: Dimensões propostas por Felder (2008) para os estilos cognitivos. Fonte: <http://www.ncsu.edu/felder-public/ILSdir/styles.html>. 5 Essas dimensões devem ser consideradas para elaboração do material didático e das situações de aprendizagem. Um exemplo de recurso das TICs que contempla dimensões é ferramenta Breeze, pois congrega vídeo, áudio, textos e imagens. É bem verdade que, em se tratando do uso de TICs, a aprendizagem é uma atividade constante, pois o corpo teórico que sustenta o conceito de mediação tecnológica está sendo gestado enquanto vivemos um período de grandes desafios no ensino focado na aprendizagem em ambiente virtual. A sociedade aposta na educação para encontrar caminhos alternativos rumo ao locus onde máquina, software, homem, mundo virtual geram a integração do humano e do tecnológico, do racional, sensorial, emocional e da ética; de integração do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida (MORAN, 2004; ALMEIDA, 2000 e 2003; RICARDO, 2005; AZEVEDO, 2004 e PETERS, 2001). Considerações Finais O foco desta discussão encontra-se interface das características do processo ensinoaprendizagem em ambientes virtuais, da educação aberta e a distância e da educação corporativa ancorada pela Andragogia. Assim, parte-se do princípio de que o termo “a distância” refere-se a uma modalidade de ensinar e aprender, na qual a (re)construção do conhecimento é feita a partir da interação entre os participantes somada a interatividade entre participantes e conteúdo. Considerando essas premissas, a modalidade EAD muito em breve atingirá um grande contingente de pessoas de forma eficiente e eficaz, levando a formação de dado conhecimento, antes restrito aos grandes centros, até localidades distantes. Passando a constituir importante estratégia para o enfrentamento das constantes mudanças no mundo do trabalho, diante do acelerado avanço científico e tecnológico da sociedade moderna. Pode-se dizer, portanto, que essa modalidade reduz as fronteiras espaciais. Há ainda que se considerar que se trata de uma modalidade que utiliza modelo pedagógico com flexibilidade cognitiva, entendida como capacidade de reestruturar de forma espontânea o próprio conhecimento. A Educação a distância forma pessoas com propostas inovadoras diante de situações e soluções múltiplas. Nesse documento estão apresentadas as linhas teóricas condutoras do planejamento das atividades de aprendizagem, são identificados os recursos didáticos que por sua compatibilidade poderão ser estrategicamente unidos compondo um ambiente de aprendizagem virtual que juntos poderão compor os elementos metodológicos de um “modelo de EAD para uma universidade corporativa”. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Maria Elisabeth B.. O computador na escola: contextualizando a formação de professores. São Paulo. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000. BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância e inovação tecnológica. Trabalho, Educação e Saúde. Rio de Janeiro, n. 1, p. 187-198, 2005 CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque. Andragogia: A Aprendizagem nos adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, n. 6, jul. 1999. CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque. Andragogia: a aprendizagem nos adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, ano 4, n. 6, jul, 1999. Disponível em: <http://www.rautu.unicamp.br/nou-rau/ead/document/?view=2>. Acesso em: 25 nov 2009. COSTA. Ana Claudia Athayde da. Educação corporativa: um avanço na gestão integrada do desenvolvimento humano. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 6 DALE, Edgar. Metodos de Enseñanza Audiovisual. México: Editorial Reverte Mexicana, 1966. FELDER, Ricardo M. Felder Learning styles and strategies. North Carolina State University. Disponível em:<http://www.ncsu.edu/felder-public/ILSdir/styles.html>. Acesso em: 3 out 2008. LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LITTO, Frederich Michael; FORMIGA, Sueli Cristina. Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Person, 2009. MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal: gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998. _____. O que é educação a distância. São Paulo, 2013. Disponível em < EAD_moraneca2.pdf>. MUNDIM, Ana Paula Freitas; RICARDO, Eleonora Jorge. 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