Estratégia, Programas e Projetos e Sistema de Gestão
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Estratégia, Programas e Projetos e Sistema de Gestão
Volume 2 Estratégia, Programas e Projetos e Sistema de Gestão GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E FINANÇAS-SEPLAN INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA-IICA CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SERIDÓ (Decreto nº 14.543, de 03.09.99) PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA REGIÃO DO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE VOLUME 2: ESTRATÉGIA, PROGRAMAS E PROJETOS E SISTEMA DE GESTÃO Caicó-RN, 30 de setembro de 2000 1 EQUIPE RESPONSÁVEL GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE-GRUPO GESTOR Leonel Cavalcanti Leite (Coordenador) (Seplan) Fernando Augusto Noronha (Seplan) Luiz Gonzaga Tavares (Seplan) Rubens de Souza Passos (Seplan) CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SERIDÓCDS/COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DO PLANO-CAP Raimundo da Costa Sobrinho Sálvio José de Oliveira Verônica Maria de Barros SUPERVISÃO Carlos Luís de Miranda (IICA – Brasília) COORDENAÇÃO GERAL Rodolfo Teruel (IICA) Membros Natos D. Jaime Vieira Rocha – Diocese de Caicó (Presidente) Abelírio Vasconcelos da Rocha (Fiern) José Salim (Seplan) Antônio Ferreira de Assunção (AMSO) Rui Pereira dos Santos (AMS) Luiz Cláudio Souza (Sebrae-RN) João Dinarte Patriota (Fecomercio) Leônidas Ferreira de Paula (Faern) Manoel Cândido da Costa (Fetarn) Membros Honorários José Cortez Pereira de Araújo COORDENAÇÃO DO PCT-IICA-RN Fidel Braceras (IICA) APOIO DO PAPP-RIO GRANDE DO NORTE Evandro de Oliveira Borges (Coordenador do PAPP-RN) Sebastião Francisco de Menezes (PCT-IICA-RN) Janúncio Bezerra de Melo (Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, Campus de Caicó) 2-DIMENSÃO AMBIENTAL José Otamar de Carvalho (Coordenador) Mardone Cavalcante França (IICA) Ana Rosa Cavalcanti da Silva (técnica do Idema) Dilma Lucas da Silva (técnica do Idema) Hélio Batista de Faria (técnico do Idema) Hiramises Paiva de Pádua (técnica do Idema) Adailton J. E. de Carvalho (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047) Maria Auxiliadora Gariglio (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047) Newton D. Estrada Barcellos (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047) EQUIPES TÉCNICAS 1-ABORDAGEM ESPACIAL José Otamar de Carvalho (Coordenador) (IICA) Tânia Bacelar de Araújo (IICA) Newton Duque Estrada Barcellos (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047) Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo (Diocese de Caicó) Ubaldo Medeiros (Músico e Maestro) Membros Convidados Tarcísio Araújo (Rotary Club) Ronaldo Carlos Dantas de Souza (Lions Club) João Avelino de Lima (Colônia de Pescadores) Ridalvo Batista de Araújo (Ibama) Max Rosan dos Santos–Escola do Sertão Alvamar da Costa Queiroz (GEDS) Francisco de Morais Lima (DNOCS) Miriam Araújo (Cooperativa de Produção Artesanal do Seridó LTDA –Coase) 3-DIMENSÃO TECNOLÓGICA José Otamar de Carvalho (Coordenador) Mardone C. França Maria de Fátima Formiga (Cooperativa de Produtos Artesanais Industriais do Seridó–COOPAIS) Maria Mariz da Silva (Sindicato dos Trabalhadores na Educação–Sinte) José de Araújo Vale (Cooperativa Agropecuária de Caicó–Coacal) Pastor Daniel Rodrigues Martins (Igreja Presbiteriana do Brasil) Membros Colaboradores Sandra Lúcia Barbosa Cavalcanti (Fiern) Acácio Zânzio de Brito (Sebrae) José Rangel de Araújo (Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Caicó-ACISC) José Mariano Neto (Cooperativa de Eletrificação Rural do Seridó Ltda-Cersel) Ione Rodrigues Diniz (Ufrn/Ceres, Campus de Caicó) Júlio Roberto Araújo de Amorim (Emparn) Damião Santos de Medeiros (Seapac) Francisco das Chagas Teixeira de Araújo (Pastoral da Criança) Francisco Galvão Freire Neto (DDAS) Jailma Oliveira Nóbrega Febrônio de Azevedo (Pastoral da Criança) EQUIPE DE MOBILIZAÇÃO Waldecy de Urquiza e Silva (Coordenador) João Matos Filho Bertrand Brito de Araújo Dione Maria de Freitas Francisco Jacó Neto José Procópio de Lucena (Assessor do Pres. do CDS/CAP) Léa da S. Oliveira Lopes Mário Francisco de Oliveira Patrícia Morais Fernandes 4-DIMENSÃO ECONÔMICA Tânia Bacelar de Araújo, Coordenadora Eleonora Beaugrand (IICA) Antônio Ronaldo de Alencar Fernandes (IICA) 5-DIMENSÃO SOCIAL Leonardo Guimarães Neto (Coordenador) (IICA) Dinah S. Tinoco (IICA) Muirakytan Kennedy de Macêdo (Responsável pelo tema Cultura) 6-DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL Waldecy de Urquiza e Silva (Coordenador) (IICA) João Matos Filho (IICA) 7-CONSOLIDAÇÃO DOS TEXTOS José Otamar de Carvalho (Coordenador) Waldecy de Urquiza e Silva EQUIPE DE APOIO ADMINISTRATIVO (IICA, Natal) Geusamy da Silva Oliveira Maria Goreth B. F. Diógenes 2 SUMÁRIO VOLUME 2 ESTRATÉGIA, PROGRAMAS E PROJETOS E SISTEMA DE GESTÃO 4. PRÓLOGO 006 ESTRATÉGIA 011 4.1 CENÁRIOS 011 4.1.1 Cenário Tendencial 014 4.1.1.1 4.1.1.2 4.1.1.3 4.1.1.4 4.1.1.5 Dimensão Ambiental Dimensão Tecnológica Dimensão Econômica Dimensão Sociocultural Dimensão Político-Institucional 4.1.2 Cenário Desejado 4.1.2.1 4.1.2.2 4.1.2.3 4.1.2.4 4.1.2.5 5. 014 017 019 021 024 029 Dimensão Ambiental Dimensão Tecnológica Dimensão Econômica Dimensão Sociocultural Dimensão Político-Institucional 030 032 033 035 038 4.2 OBJETIVOS GERAIS 039 4.3 OPÇÕES E ESTRATÉGICAS 039 4.3.1 Reestruturação e Dinamização da Base Econômica 040 4.3.2 Desenvolvimento Humano, Tecnológico e Cultural 040 4.3.3 Conservação, Preservação e Recuperação Ambiental 040 PROGRAMAS E PROJETOS 042 5.1 DIMENSÃO AMBIENTAL 046 5.1.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água 046 3 5.2 5.3 5.4 5.1.2 Meio Ambiente 051 5.1.3 Tratamento e Reciclagem de Lixo Urbano 062 5.1.4 Armazenamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos 065 DIMENSÃO TECNOLÓGICA 071 5.2.1 Desenvolvimento Científico e Tecnológico 071 5.2.2 Instituição e Operação de Centros Tecnológicos 078 5.2.3 Difusão Tecnológica 080 5.2.4 Monitoramento Climático 083 DIMENSÃO ECONÔMICA 086 5.3.1 Democratização do Acesso à Terra , Regularização Fundiária e Apoio à Consolidação de Assentamentos Rurais, 086 5.3.2 Consolidação de Cadeias Produtivas Estratégicas 092 5.3.3 Reestruturação e Ampliação de Atividades Tradicionais 122 5.3.4 Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos 138 5.3.5 Complementação da Infra-Estrutura Econômica 144 5.3.6 Promoção de Oportunidades de Investimento 148 DIMENSÃO SOCIOCULTURAL 152 5.4.1 Convivência com a Seca e Atendimento às Populações Afetadas Pelas Irregularidades Climáticas 152 5.4.2 Cultura, Lazer e Turismo 158 5.4.3 Apoio à Saúde 165 5.4.4 Melhoria da Qualidade na Educação 178 5.4.5 Erradicação do Analfabetismo 185 5.4.6 Qualificação para o Trabalho 191 5.4.7 Melhoria Habitacional 199 4 5.4.8 Erradicação do Trabalho Infantil 205 DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL 213 5.5.1 Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano 213 5.5.2 Desenvolvimento Institucional 216 5.6 RECURSOS FINANCEIROS NECESSÁRIOS E DISPONÍVEIS 232 5.7 CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA DE PROGRAMAS E PROJETOS PASSÍVEIS DE IMPLEMENTAÇÃO MAIS IMEDIATA 236 5.5 6. SISTEMA DE GESTÃO DO PLANO 242 6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 242 6.2 PRESSUPOSTOS BÁSICOS DO SISTEMA 244 6.3 OBJETIVOS 246 6.4 ESTRUTURA DO SISTEMA DE GESTÃO 247 6.4.1 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável 247 6.4.1.1 6.4.1.2 6.4.2 249 249 Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável 6.4.2.1 6.4.2.2 6.4.3 Atribuições Composição Atribuições Composição 250 251 Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável do Seridó 6.4.3.1 6.4.3.2 Atribuições Composição 6.5 251 253 254 6.4.4 Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó 6.4.4.1 6.4.4.2 250 Atribuições Estrutura básica PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 254 256 257 257 258 5 PRÓLOGO O texto do Plano do Seridó é constituído por dois volumes. O primeiro contém o resultado dos estudos que serviram de base ao Diagnóstico da região, estando integrado por três capítulos, a seguir sintetizados. Capítulo 1 – Introdução Trata da metodologia adotada nos trabalhos do Plano. Descreve o processo de participação concebido e adotado e fixa os aspectos conceituais relevantes do Desenvolvimento Sustentável. Capítulo 2 – Desenvolvimento com Sustentabilidade Aborda questões relacionadas ao processo de desenvolvimento, enfatizando experiências de planejamento do desenvolvimento regional e sub-regional, em bases sustentáveis, postas em prática no Brasil. Destaca a cooperação do IICA, em apoio aos estudos realizados no âmbito do Projeto ÁridasNordeste e do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio Grande do Norte. Capítulo 3 – Diagnóstico do Seridó Descreve a realidade do Seridó, em todos os seus aspectos, assim desdobrados: abordagem espacial, dimensões ambiental, tecnológica, econômica, sociocultural e político-institucional. Trata também de questões relacionadas ao ambiente externo ao Seridó. Este segundo Volume abrange, além da concepção estratégica, as propostas de Programas e Projetos do Plano e o Modelo de Gestão proposto para sua implementação. Estruturado em três capítulos, já referidos na Apresentação do Volume I, o presente volume segue a numeração ali iniciada, conforme abaixo se descreve. Ao seu final, sob o título de Bibliografia Consultada, apresenta-se a relação das obras utilizadas ao longo de seu processo de elaboração. Capítulo 4 – Estratégia Inicia-se com o delineamento de cenários visualizados para a Região do Seridó, com base na análise conjugada das conclusões decorrentes do Diagnóstico, das ameaças e oportunidades do ambiente externo e dos anseios manifestados pela sociedade da região. Assim, descreve os cenários tendencial e desejado, a partir da trajetória da região, em suas várias dimensões, considerando a situação futura, que os seridoenses querem melhorar, com a utilização racional das potencialidades mais relevantes. Na seqüência, foram estabelecidos os objetivos gerais do Plano, assim qualificados: i) promover as condições de vida da população; ii) ampliar de forma relevante os níveis de qualificação de mão-de-obra; iii) consolidar o processo de reestruturação econômica e dinamização das atividades produtivas; iv) promover o desenvolvimento ambientalmente sustentável; e v) fortalecer a cidadania e a melhoria do desempenho das instituições que atuam na região. O capítulo é encerrado com a indicação das opções estratégicas fundamentais, segundo as quais são concebidas as intervenções necessárias à modificação da realidade considerada insatisfatória. 6 Capítulo 5 – Programas e Projetos Assentado principalmente nas constatações do capítulo anterior, esse capítulo 5 abriga a descrição dos Programas e Projetos requeridos para a retomada, em novas bases, do processo de desenvolvimento sustentável da Região do Seridó. Foram estruturados de forma a apresentar todas as informações e proposições necessárias ao seu completo entendimento, tanto no que diz respeito às suas justificativas, quanto aos seus propósitos e requisitos para a execução/operacionalização. Assim, o perfil dos Programas e Projetos descritos neste capítulo, compreende: i) situação atual; ii) objetivos; iii) diretrizes; iv) linhas de ação; v) metas; vi) instrumentos; vii) recursos financeiros e fontes; e viii) gestão. Capítulo 6 – Sistema de Gestão do Plano Componente importante do Plano do Seridó, o Sistema de Gestão é tratado no presente capítulo. Nele são apresentados os princípios básicos que nortearam sua concepção, as instâncias e órgãos que o integram e a forma de articulação que se pretende seja adotada para obter agilidade, eficiência e eficácia no exercício das ações do Plano. Inicialmente, e para que se tenha uma idéia precisa do contexto no qual atuará o Sistema de Gestão, apresenta-se uma breve descrição sobre a atuação do aparato institucional existente na Região do Seridó e a fragilidade dos sistemas municipais de governo, com destaque para a gradativa diminuição da presença do Estado na região e para as dificuldades enfrentadas pelas entidades do poder público, em bem desempenhar suas atribuições. Mostra-se, igualmente, como a falta de articulação entre as instâncias dos diversos níveis de governo determina superposição ou duplicidade de atuação dos órgãos governamentais. Isto, por sua vez, implica desperdícios de toda natureza e prestação deficiente de serviços públicos. Ainda na parte introdutória desse capítulo discutem-se as potencialidades apresentadas pela Região do Seridó, em seus aspectos político-institucionais, principalmente no tocante ao interesse demonstrado pela população em se organizar para participar mais efetivamente dos processos de gestão, com a criação de mecanismos de controle social para atuação junto às administrações municipais. O Sistema de Gestão do Plano do Seridó foi concebido considerando aqueles aspectos e as necessidades e características do Plano, fundamentando-se, assim, nos seguintes pressupostos básicos: i) efetiva participação da sociedade nos processos de tomada de decisões; ii) descentralização das ações determinantes da implementação dos Programas e Projetos que integram o Plano; e iii) assimilação de uma nova cultura quanto à gestão da coisa pública. A estrutura organizacional do Sistema foi formulada com a preocupação de reduzir o processo decisório ao estritamente necessário, para obter-se maior velocidade de decisão e melhores resultados na aplicação dos recursos do Plano. Compreende um conjunto de órgãos colegiados, de caráter consultivo (que atuam de forma articulada), e uma unidade de planejamento e gestão. São órgãos consultivos: i) os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável; ii) os Conselhos SubRegionais de Desenvolvimento Sustentável; e iii) o Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável. A unidade de planejamento e gestão do Plano é uma entidade do tipo Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, a ser constituída de acordo com as disposições da Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, sob a denominação de Agência de Desenvolvimento do Seridó. 7 Especificam-se a seguir as 51 iniciativas programáticas do Plano do Seridó, desdobradas em 24 Programas e 27 Projetos, assim distribuídas, por Dimensão: a. Dimensão Ambiental (4 programas e 6 projetos) a.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água; a.2 Meio Ambiente (Educação Ambiental; Manejo Florestal da Caatinga; Recuperação de Áreas Degradadas e em Processo de Desertificação; Despoluição de Mananciais e Reservatórios; Regularização de Áreas Urbanas Ocupadas Ilegalmente em Margens de Rios; e Recuperação das Áreas Sujeitas à Exploração Mineral); a.3 Tratamento e Reciclagem de Lixo Urbano; a.4 Recursos Hídricos; b. Dimensão Tecnológica (4 programas e 4 projetos) b.1 Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Documentação; Formação de Bases de Conhecimento e de Pesquisas; Linhas Prioritárias de Pesquisa; e Política de Ciência e Tecnologia). b.2 Instituição e Operação de Centros Tecnológicos; b.3 Difusão Tecnológica; b.4 Monitoramento Climático; c. Dimensão Econômica (6 programas e 12 projetos) c.1 Apoio à Consolidação de Assentamentos Rurais, Democratização do Acesso à Terra e Regularização Fundiária; c.2 Consolidação de Cadeias Produtivas Estratégicas (Pecuária Leiteira; Caprinoovinocultura; Fruticultura; Piscicultura; e Agricultura Irrigada); c.3 Reestruturação e Ampliação de Atividades Tradicionais (Mineração; Indústria Cerâmica; e Cotonicultura); c.4 Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos; c.5 Complementação da Infra-Estrutura Econômica (Gasoduto, Eletrificação Rural, Rede Rodoviária, Melhoria das Vias Urbanas e Telecomunicações); c.6 Promoção de Oportunidades de Investimento. d. Dimensão Sociocultural (8 programas) 8 d.1 Climáticas; Convivência com a Seca e Atendimento às Populações Afetadas Pelas Irregularidades d.2 Cultura, Lazer e Turismo; d.3 Apoio à Saúde; d.4 Melhoria da Qualidade na Educação; d.5 Erradicação do Analfabetismo; d.6 Qualificação para o Trabalho; d.7 Melhoria Habitacional; d.8 Erradicação do Trabalho Infantil; e. Dimensão Político-Institucional (2 programas e 5 projetos) e.1 Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano; e.2 Desenvolvimento Institucional (Ampliação e Melhoria de Desempenho da Administração Municipal; Modernização do Sistema Municipal de Administração Fiscal; Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal; Consolidação e Aprimoramento das Organizações Comunitárias; e Fortalecimento do Sistema Cooperativista da Região). Os Programas e Projetos referidos foram concebidos na perspectiva de que a sustentabilidade do desenvolvimento exige prazo de maturação de pelo menos 10 anos. Seu delineamento formal foi realizado de modo a cobrir um período de quatro anos, iniciando-se em 2001 e prosseguindo até o ano 2004. Com essa vigência, abrangerá parte do mandato do Governador Garibaldi Alves e parte do mandato de seu sucessor. Para cada uma daquelas iniciativas foram estimados os valores dos dispêndios com investimentos, durante os quatro anos. A execução do Plano do Seridó mobilizará, nos anos de 2001-2004, recursos financeiros estimados em R$ 264.806.300,00, eqüivalentes a US$ 147,114,600.00. Esse total está assim distribuído para os Programas e Projetos das cinco Dimensões do Desenvolvimento Sustentável: a. b. c. d. e. Dimensão Ambiental (25,17%): Dimensão Tecnológica (4,35%): Dimensão Econômica (37,27%) Dimensão Sociocultural (32,07%) Dimensão Político-Institucional (1,15%): 66.662,5 mil 11.470,0 mil 98.689,4 mil 84.928,4 mil 3.056,0 mil. Os cinco Programas que mobilizam maior parcela de recursos são os especificados a seguir: • • Consolidação das Cadeias Produtivas Estratégicas (16,84%): Recursos Hídricos (14,88%): 9 44.601,9 mil 39.402,5 mil • • • Complementação da Infra-Estrutura Econômica (12,73%): Melhoria da Qualidade da Educação (12,57%): Melhoria Habitacional (10,85%): 33.700,0 mil 33.280,0 mil 28.732,5 mil. Destaque-se, ademais, que, do total de recursos previstos para o Plano do Seridó, 23% provirão do orçamento da União, 39% do orçamento do Estado do Rio Grande do Norte, 6% do orçamento dos municípios, 4% de fontes externas (como o Banco Mundial, BID e FIDA), 22% de bancos nacionais de desenvolvimento (como o Bndes, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal), 4% do setor privado e 2% dos beneficiários do Plano. Do total de recursos previstos, cerca de 50% já podem ser considerados garantidos, por integrarem rubricas como os orçamentos federal, estadual e municipal ou fazerem parte de linhas de crédito de bancos oficiais, mobilizáveis mediante a formulação e aprovação de projetos de investimento. Esta circunstância significa que o esforço a ser realizado para garantir a obtenção dos outros 50%, por parte do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, do governo do Estado, dos empresários, da sociedade e de todos os beneficiários do Plano, pode resultar positivo. 10 4. ESTRATÉGIA Sem lugar a dúvidas, a vulnerabilidade climática constitui uma das mais marcantes fragilidades do Seridó. Além dos impactos sociais, as secas têm produzido fortes efeitos sobre a economia e contribuído para intensificar as perdas ambientais. A partir do final dos anos 70, a variabilidade climática vem sendo intensificada, por conta de uma mais freqüente repetição do fenômeno. As evidências a este respeito têm sido possibilitadas pela utilização de melhores instrumentos e processos de trabalho, relacionados ao estudo da meteorologia, tanto em escala regional e nacional, como mundial. As secas continuam contribuindo para agravar o fraco desempenho da economia do Seridó, revelando a ação dos fatores responsáveis pela insustentabilidade das atividades agropecuárias ali praticadas. O número crescente de trabalhadores rurais alistados nas frentes de trabalho criadas pelo governo, bem como dos que demandam apoio e não o recebem, reforça as evidências a este respeito. A elaboração de uma estratégia de desenvolvimento para o Seridó está pautada por reflexões sobre temas como monitoramento do clima, convivência com as secas e outras orientações sobre como promover o desenvolvimento, em bases sustentáveis. Ademais, a seca hoje já não afeta apenas as populações e as atividades rurais. As atividades urbanas em áreas urbanas e rurais passaram também a ser fragilizadas. Isto tem ocorrido, em boa medida, pelo quase abandono das populações que vivem das lides rurais. Não se está insistindo na tese tão ao gosto das idéias veiculadas nos anos 50 e 60 de que a seca constitui a causa maior dos problemas do semi-árido nordestino ou do Seridó. O destaque a essa questão é posto em evidência para mostrar que a seca amplia os problemas da pobreza, eleva o grau de dificuldades da economia e intensifica as fragilidades ambientais. Além dessas dificuldades de natureza interna ao Seridó, convém discutir aquelas cuja origem é externa à região. Daí tratar-se aqui desse aspectos, representados, de forma sintética, pelas perspectivas de desenvolvimento que a região apresenta, como se ilustra nos cenários (tendencial e desejado) construídos. A estes se segue a formulação dos objetivos e das opções estratégicas do Plano. 4.1 CENÁRIOS O que o Seridó vai ser no futuro depende de um conjunto muito complexo de circunstâncias externas e internas à região e da capacidade dos atores sociais da região em influir sobre a realidade atual, considerada insatisfatória. Para que a atuação dos atores sociais com interesse na concretização do desenvolvimento sustentável na região torne-se eficaz, é imprescindível partir dos problemas e potencialidades detectados em cada uma das dimensões anteriormente examinadas, considerando, ademais, o contexto no qual o Seridó está situado, as ameaças e as oportunidades que surgem nesse quadro mais geral, que irão moldar o desenvolvimento da região. Desse modo, é necessário considerar, na Dimensão Econômica, de um lado, a desestruturação da sua base econômica em período recente; a grande vulnerabilidade de sua economia às condições climáticas e a presença marcante do desemprego, do subemprego e da sub-remuneração da força de trabalho. E, de outro lado, a disponibilidade dos recursos e das oportunidades econômicas existentes, já assinaladas, a capacidade de modernização e introdução de novos processos produtivos por parte dos produtores, além da grande capacidade da população no aproveitamento dessas potencialidades, principalmente por meio dos pequenos negócios, que atualmente sustentam parte importante da economia e do emprego na região. 11 Relativamente à Dimensão Social, ficou evidente como resultado da análise feita, a presença de grandes problemas relacionados ao alto nível da pobreza e aos déficits dos serviços sociais básicos, notadamente em educação, saúde, saneamento básico e habitação, além, evidentemente, dos problemas associados à qualidade dos serviços sociais oferecidos à comunidade. Agregue-se a isto, o déficit, apontado pelas lideranças da comunidade, de oferta de cursos profissionalizantes e voltados para a qualificação para o trabalho, no contexto de um mercado de trabalho cada vez mais exigente em mãode-obra qualificada. Não obstante estes fatos, as informações examinadas mostram que alguns progressos ocorreram. Indicam também que, por meio da mobilização da sociedade, que tem clara percepção desses obstáculos, é possível avançar mais intensamente na superação, a médio prazo, de muitos dos problemas presentemente detectados pelos estudos e pelas lideranças nos seminários realizados com a sociedade organizada, em todos os municípios do Seridó. No que se refere à Dimensão Ambiental, ao lado do reconhecimento da potencialidade dos recursos naturais existentes na região, as conclusões dos estudos efetuados e as discussões levadas a efeito, mediante consulta e participação da sociedade, revelaram a ocorrência de um intenso grau de degradação do meio ambiente, mostrado, em particular, pela ocorrência de processos de desertificação e poluição, além da gestão inadequada dos recursos hídricos. Diante dessas evidências, é urgente pensar, conceber e pôr em prática medidas orientadas para a concretização de mudanças de vulto, no que se refere ao processo de retomada do desenvolvimento de região, privilegiando-se novas relações da população local com o meio ambiente, em particular dos contingentes envolvidos com as atividades produtivas menos preocupadas com a adequada utilização e preservação dos recursos naturais. Foi igualmente detectada a necessidade de promover avanços futuros no desenvolvimento e difusão de tecnologias, sem os quais, dificilmente, a região poderá superar muitos dos problemas nela presentes atualmente. Isto não significa desconhecer a existência de tecnologias adequadas, fora e dentro da região, mas reconhecer que é preciso intensificar esforços destinados a produzir e a tornar acessíveis processos produtivos ambientalmente mais adequados, economicamente mais eficientes e socialmente mais justos, no tocante aos negócios conduzidos pelos produtores dos diferentes segmentos produtivos em curso na região ou a serem ali postos em prática. Na Dimensão Político-Institucional, a análise procedida deixou evidente a existência de alguns problemas, que atuam como determinantes do desempenho pouco satisfatório do aparato institucional da Região do Seridó, entre os quais destacam-se: i) a desarticulação entre as instâncias de governo e gestão que atuam nos municípios; ii) o sistema de gestão das Prefeituras, com características tradicionais e extremas deficiências técnicas; iii) as Câmaras Municipais com baixo e restrito desempenho; iv) os instrumentos de participação frágeis e limitados; v) a deficiência das equipes técnicas; vi) a debilidade de atuação na área econômica; e vii) fragilidade da situação financeira. A desarticulação entre as instâncias de governo e gestão se manifesta na superposição e paralelismo dos programas, projetos e atividades executados pelos governos federal, estadual e municipal e pelas organizações não-governamentais, redundando em desperdício de recursos humanos, financeiros e organizacionais e na redução da eficiência, da eficácia e da efetividade da ação governamental. Os sistemas de gestão das Prefeituras Municipais não estão adequadamente estruturados para os desafios dos processos contemporâneos de descentralização de políticas públicas, em especial no que concerne à estruturação e funcionamento dos seus sistemas de planejamento e de controle orçamentário e fiscal. 12 A maioria das prefeituras não conta com secretarias ou assessorias de planejamento e finanças estruturadas, e o quadro de pessoal nelas existente mostra-se extremamente carente de técnicos e administradores regularmente capacitados para o exercício de suas funções. A centralização ainda é a tônica das decisões e o trabalho em equipe é pouco praticado, caracterizando um estilo de administrar burocrático, auto-referenciado, segmentado e desintegrado. Por outro lado, o desempenho das Câmaras Municipais é pouco satisfatório, reduzindo-se, em geral, à apresentação de poucos projetos cuja média, extremamente baixa, situou-se em pouco mais de um projeto por vereador no exercício de 1999. A participação popular no processo de gestão das administrações municipais pode ser considerada como pouco expressiva e quase que restrita à atuação daqueles órgãos tidos como obrigatórios por determinações legais ou por exigências de programas especiais, como os Conselhos Municipais de Saúde, de Educação, da Criança e do Adolescente e do Fumac, além de outros. A debilidade da situação financeira é evidenciada pelo elevado grau de dependência das finanças municipais em relação às transferências federais, situando-se em torno de oitenta por cento para a maioria dos municípios da Região. Além disso, há a considerar o fato de que os aportes do FPM são, muitas vezes, parcialmente retidos pelo governo federal para amortizar antigas dívidas das Prefeituras para com o INSS e o FGTS, o que foi caracterizado como um dos principais problemas por diversas administrações municipais. Apesar desses problemas, os municípios do Seridó contam com um apreciável elenco de potencialidades que, se bem trabalhadas, podem vir a representar um importante papel no processo de desenvolvimento da região. As mais significativas dessas potencialidades incluem o grau de mobilização e de interesse da sociedade na discussão e no encaminhamento de soluções para os problemas regionais; o nível de organização comunitária; as alterações positivas nos sistemas municipais de governo; a participação das organizações cooperativas e das associações civis na produção de bens e serviços públicos; e a existência de um razoável aparato técnico disperso nos centros universitários, nas associações de Municípios, nas entidades de classe e nas organizações sindicais e religiosas. Por outro lado, deve ser reconhecido que algumas administrações municipais da Região do Seridó vêm experimentando um sensível processo de mudança, tanto em suas estruturas, quanto em seus métodos de atuação, com um envolvimento maior e mais direto da sociedade nos processos de gestão. A mobilização das forças sociais no sentido de participarem mais diretamente junto às esferas públicas, começa a se manifestar de forma mais objetiva a partir da constituição de uma nova institucionalidade que inclui a produção de bens e serviços por organizações públicas não estatais, a implementação de formas alternativas de controle social e de exercício da cidadania, por intermédio de colegiados que acompanham o desempenho da gestão pública e a utilização de processos modernos de gestão da coisa pública, como é o caso dos consórcios municipais e dos mecanismos de co-gestão na prestação de serviços no âmbito regional. É bem verdade que esse processo de mudança ainda não é forte o bastante para viabilizar o exercício pleno da cidadania. No entanto, a consolidação e o aperfeiçoamento das práticas em curso deverão receber tratamento prioritário na implementação do Plano. 13 A longa experiência de instalação de cooperativas, acumulada na região, é também reconhecida como uma potencialidade a ser considerada. Uma profunda análise do atual sistema, identificando os seus problemas e possibilidades deverá constituir providência inicial para a adequada utilização das diversas iniciativas de organização da produção sob a forma cooperativa na região. Por último, mas não menos importante, deve ser reconhecida como potencialidade relevante a existência de um razoável aparato de apoio técnico existente e atuante na região, representado, entre outras instituições, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por intermédio do Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–CERES, Campus de Currais Novos e Campus de Caicó, pelas duas Associações de Municípios, por entidades classistas (como o Clube de Diretores Lojistas e as Associações Comerciais, etc.), pelas organizações sindicais e pela Diocese de Caicó. Articuladas e assistidas, essas instituições podem vir a desempenhar papel de relevante importância em programas de desenvolvimento institucional, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. 4.1.1 Cenário Tendencial Para o Seridó, o cenário tendencial leva em conta a trajetória da região em suas várias dimensões, considerando-se que devem atuar no seu desenvolvimento futuro os mesmos determinantes que foram responsáveis por sua evolução no passado recente. Não é possível traduzir em variáveis quantitativas todo o conjunto de aspectos das dimensões tratadas no Plano, de interesse tanto para o cenário tendencial quanto para o cenário desejado. Daí haver-se optado pela seleção daqueles aspectos mais facilmente quantificáveis, quando viável. Tais aspectos estão referidos a um ano base, escolhendo-se como tal o de 1999, e aos anos do futuro mais imediato (2005 e 2010). Há dimensões em relação às quais não foi possível (ou prudente) selecionar variáveis quantificáveis, diante da fragilidade da base de dados disponíveis. Para esses casos, preferiuse apresentar argumentos favoráveis e argumentos desfavoráveis, na medida do possível, referíveis a duas situações distintas: presença e ausência de fatores favoráveis à manutenção das tendências identificadas. Numa situação um, o cenário poderá ser caracterizado pela presença de um ou mais fatores positivos ao desenvolvimento de um determinado setor, subsetor ou ramos de atividades. Numa situação dois, o cenário será qualificado pela ausência de um ou mais fatores positivos ao desenvolvimento de um determinado setor, subsetor ou ramos de atividades. 4.1.1.1 Dimensão Ambiental As informações quantitativas sobre o grau de degradação ambiental no Seridó são escassas. As que se encontram disponíveis, já tratadas no item 3.2.7 (Fragilidades Ambientais) do Diagnóstico, estão referidas a indicadores selecionados a partir da utilização das terras para a exploração agropastoril. Foram discutidos ali os três seguintes indicadores, trabalhando-se com dados dos Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/96: i. “relação entre área alterada e área total”, que mede a expansão do uso das terras em atividade econômica. Significa dizer que quanto maior for o valor entre essas duas variáveis, mais intenso será o processo de alteração ambiental; 14 ii. “relação entre áreas de mata e área total”, que mensura a evolução do processo de desmatamento. Admite-se, contrariamente à situação anterior, que o processo de alteração do meio ambiente é tão mais intenso quanto menor for o valor entre essas duas variáveis; e iii. “relação entre área de matas e pessoas ocupadas em atividades rurais”, com o qual podem ser mensuradas as ocorrências de desmatamento, dependendo do maior ou menor valor dessas duas variáveis. Admitindo que os dados de 1995/96 possam eqüivaler-se aos vigentes em 1999, ano base para a construção dos cenários do Plano do Seridó, preparou-se a tabela 4.1.1.1, a seguir, da qual constam os valores estimados como correspondentes aos indicadores estudados, nos anos de 2005 e 2010. TABELA 4.1.1.1 SERIDÓ: INDICADORES SELECIONADOS DO CENÁRIO TENDENCIAL DA DIMENSÃO AMBIENTAL INDICADORES Relação entre Área Alterada e Área Total (%) Relação entre Áreas de Mata e Área Total (%) Relação entre Área de Matas e Pessoas Ocupadas em Atividades Rurais (%) (*) (**) *1999 48,65 15,17 19,72 ANOS **2005 44,79 14,29 19,82 **2010 41,80 13,60 20,32 Assume-se que os valores do ano base de 1999 sejam idênticos aos registrados no Censo Agropecuário para o ano de 1995/96. Os valores para esses dois anos foram calculados tomando por base as taxas de crescimento observadas entre os anos de 1985 e 1995/96. Os dados da tabela anterior 4.1.1.1 anterior sugerem uma tendência à melhora nas condições ambientais do Seridó, em relação ao indicador “área alterada/área total”, por se constatar uma redução no valor do indicador, segundo as tendências projetadas para os anos de 2005 e 2010, na vigência das condições observadas no período 1985 e 1995/96. A situação é, porém, diversa no que se refere ao indicador “área de mata/área total”. Pelos dados constantes da tabela referida, verifica-se uma redução, ainda que pequena, no valor desse indicador, significando perda de áreas de mata. O crescimento positivo da relação entre “área de matas/pessoas ocupadas em atividades rurais”, embora reduzido, contribuiria para demonstrar que a cobertura vegetal no Seridó se reduziria progressivamente até o ano 2010. No contexto da evolução das atividades produtivas da região, esse processo mostraria que a degradação ambiental tenderia a ser crescentemente positiva no Seridó. No contexto do que realmente ocorreu com as atividades agropastoris da região, no período 1985 a 1995/96, na prática, a situação pode chegar a ser pior, requerendo, por isso, uma adequada percepção do problema ambiental no Seridó do Rio Grande do Norte como um todo, à luz de um conjunto mais amplo de indicadores ambientais. No período em estudo, boa parte das áreas antes consideradas como desmatadas, por estarem ocupadas com a lavoura algodoeira, foram transformadas em capoeiras, com a eliminação gradativa das áreas de algodão, seja por conta da crise do “bicudo” ou da desorganização da produção agropecuária, engendrada pelas secas ocorridas em 1987, 1990, 1991, 1992, 1993, 1998 e 1999. Essas áreas, transformadas em “mata rala” podem até não ter sido incluídas pelo IBGE na categoria de mata. Daí o indicador “área de mata/área total” ter apresentado uma leve redução, não caracterizando necessariamente uma piora do quadro ambiental, medido por esse indicador. Pode-se até admitir uma perda de biodiversidade nas áreas anteriormente ocupadas com a lavoura algodoeira. Não se descarta porém a hipótese de ter havido aumento de biodiversidade naquelas áreas de “mata rala”, em virtude da eliminação da queima da vegetação e da realização de 15 tratos culturais, requeridos pelo processo de produção da lavoura algodoeira. De todo modo, o quadro ambiental não deve ter sido submetido a maiores alterações desfavoráveis. Não é lícito, pois, admitir um cenário tendencial mais favorável, como o mostrado pelos dados dos indicadores constantes da tabela antes mencionada. Estima-se, assim, que o cenário tendencial siga direção menos favorável, desde que aqueles dados sejam contrabalançados pela ponderação de variáveis qualitativas, como as que são discutidas a seguir. A construção do cenário tendencial, para a Dimensão Ambiental, envolve problemas particulares, por conta da exigência de informações para dar consistência às expectativas sobre os assuntos que configuram esse tema. Destaque-se, em primeiro lugar, a heterogeneidade espacial do Seridó, em quadro de aparente homogeneidade, como, aliás, ocorre em praticamente todo o semi-árido nordestino. Na presença de escassas informações quantitativas, optou-se por monitorar o comportamento do ambiente da região em estudo, agregando os seus elementos em duas escalas, assim especificadas: a escala regional (Nordeste, com ênfase em suas áreas semi-áridas) e a escala subregional (Região do Seridó). Assim construído nas duas escalas referidas, o cenário tendencial estrutura-se em torno da manutenção das condições prevalecentes no passado mais recente. Neste cenário trabalha-se com o pressuposto de que não haverá intervenção planejada. Significa dizer que os processos de degradação vigentes no Nordeste e no Seridó não serão alterados ou não irão agravar-se, como resultado das ações do setor público e do setor privado nos dois espaços referidos. Prevalece, pois, a hipótese de que tal cenário só será alterado por meio de iniciativas de ação deliberada do Estado, favoráveis ou contrárias a determinadas tendências. Mas também se consideram fatores capazes de contribuir para o agravamento deste cenário, a exemplo dos referidos à ocorrência de novos e continuados períodos de seca, em função dos quais o Estado seja levado a implementar programas de emergência que possam atuar no sentido de agravar as condições responsáveis pelo processo de degradação em curso na região. Em relação ao Nordeste, com particular ênfase para suas áreas semi-áridas, admite-se a continuidade de condições como as seguintes: i. aumento da pressão antrópica sobre os elementos que estruturam os Ecossistemas da Região das Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste; ii. manutenção das deficiências de recursos hídricos nas bacias carentes do Nordeste, visualizadas em seus limites nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará; iii. ocorrências localizadas de poluição, como resultado da expansão de atividades agroindustriais e de mineração; e iv. notabilização dos processos erosivos em áreas de desmatamento crescente, por conta da intensificação de atividades econômicas ou do empobrecimento das populações locais, continuadamente afetadas pela ocorrência de secas (parciais e totais). Essas condições tendem a apresentar os seguintes desdobramentos na Região do Seridó: 16 i. ocorrência também crescente de desmatamentos, inclusive em áreas protegidas, como resultado da intensificação dos processos de urbanização e da utilização dos recursos florestais como combustível para a indústria cerâmica; ii. intensificação dos déficits de recursos hídricos, reclamando providências de racionamento, nos aglomerados urbanos de maior porte e, até mesmo, em áreas rurais; iii. comprometimento dos mananciais (rios, riachos e açudes) na periferia das cidades, por detritos urbanos e industriais, notoriamente graves nos principais aglomerados populacionais; iv. uso inadequado do solo e ocorrência continuada de processos erosivos, que chegam a ser vislumbrados por meio do avanço, em direção às cidades, de finas nuvens de grãos de areia, durante as noites beneficiadas pelas brisas que amenizam a temperatura; v. continuação dos processos predatórios de caça e pesca; e vi. prevalência dos determinantes responsáveis pelo processo de desertificação em curso no Seridó. Este cenário caracteriza-se como de descompromisso para com o manejo racional e ordenado dos recursos naturais, os padrões tecnológicos, a viabilidade técnica e econômica das atividades produtivas, sem mencionar sua desarticulação com as atuais e futuras gerações do Seridó. Daí a importância de apresentar elementos qualitativos adicionais, referidos ao manejo dos recursos naturais. A este respeito, manifestam-se duas situações distintas: i) a de administração de solos e água nos perímetros urbanos e suburbanos; e ii) a de administração dos sistemas de gestão agrícola e ambiental em áreas rurais, considerando, em particular, as atividades conduzidas no âmbito de projetos de irrigação (públicos ou privados), nos quais deve-se conceder particular atenção aos recursos de solo e água. São evidentes as relações entre essas duas situações, advindo a necessidade de ampliação dos estudos no âmbito de bacias hidrográficas. Há que saber, por volta de 2010, onde estarão localizadas as áreas mais críticas, em matéria de oferta e demanda de recursos hídricos. Nas cidades e em suas periferias, a maior utilização da água é de natureza consuntiva, enquanto, no interior, é não-consuntiva. Nas áreas periféricas das cidades e nas áreas industriais e de serviços, o consumo de água para saneamento básico normalmente é precário, causando problemas de esgotos e de erosão dos solos. As dificuldades derivadas da urbanização são razoavelmente conhecidas por parte dos prefeitos, técnicos e administradores locais. Os novos padrões reclamados pelas comunidades do Seridó para as áreas urbanas e rurais constituem matérias sobre as quais ainda se conhece pouco. As mudanças requeridas exigem melhora de qualificação por parte do empresariado agrícola e da mão-de-obra, que necessitará especializar-se; assim como o aperfeiçoamento da infra-estrutura produtiva, que deverá ser mais atualizada; e a introdução de novas tecnologias, compatíveis com o ambiente local. 4.1.1.2 Dimensão Tecnológica O cenário tendencial, no contexto desta Dimensão, também está construído nas duas escalas já referidas: a do Nordeste e a do Seridó. É este o sentido das observações aqui procedidas em relação aos 17 elementos que estruturam a Dimensão Tecnológica, na linha abordada no Diagnóstico. Na linha dos procedimentos descritos em relação à Dimensão Ambiental, o cenário tendencial para esta Dimensão também está construído admitindo-se a manutenção das condições atuais. Pressupõe-se, do mesmo modo, que não haverá intervenção planejada, isto é, os novos processos tecnológicos que se espera para o Seridó não se alterarão, nem serão agravados em decorrência de ações do setor público e do setor privado. Continua valendo a hipótese de que o cenário tendencial só passará por alterações decorrentes de ação deliberada do Estado, favoráveis ou contrárias a determinadas tendências. Consideram-se, no mesmo sentido, que há fatores capazes de contribuir para agravar este cenário, como seriam os caracterizados pela presunção, por parte dos governos federal e estadual, de que a disponibilidade de recursos financeiros, para investimento em ciência e tecnologia, teria uma produtividade marginal superior, se aplicados em regiões norte-rio-grandenses melhor dotadas de vantagens comparativas e competitivas. Descarta-se, obviamente, essa hipótese, assumindo-se que este cenário pode ser favorável, desde que se mantenham presentes as possibilidades representadas pelos esforços realizados nos últimos anos, pelo governo estadual, com vistas à realização de iniciativas de fomento a atividades produtivas – como a do Programa do Leite –, no bojo do qual também constam ações de relevante interesse, em matéria de suporte tecnológico às atividades do setor privado. Considera-se, assim, que os atores sociais envolvidos na condução dos negócios na Região do Seridó, além de outros ligados a esferas de gestão pública, privada e não-governamental, estão comprometidos com a construção no Seridó de uma sociedade pautada por elementos como os especificados a seguir, em relação aos espaços seridoenses. O cenário tendencial vislumbrado para o Seridó, no que se refere à Dimensão Tecnológica, medeia dois momentos articulados: um de médio prazo (2005) e um de longo prazo (2010). Trabalha-se assim considerando a prevalência de tendências como as seguintes: • manutenção das taxas de participação dos setores agropecuário e industrial da Região do Seridó no Estado do Rio Grande do Norte, no quadro do padrão tecnológico encontrado nessa região; • viabilização de um modelo de desenvolvimento auto-sustentado, considerando as possibilidades tecnológicas alvitradas pelo desenvolvimento do Rio Grande do Norte e da Região Nordeste, maximizadas por ganhos advindos do relacionamento econômico com o MERCOSUL e os estados que integram a Região Nordeste, por sua vez, reforçado pela consolidação de propósitos entre representantes das classes empresariais, políticas e segmentos organizados das comunidades que fazem o “bloco econômico” do Nordeste; • evolução recente do perfil do empresariado ligado ao Seridó, que vem trabalhando para abrir novos espaços econômicos, em função das exigências do mercado globalizado, valorizando fatores como inovação tecnológica, qualidade, competitividade, economia de escala, eqüidade social e sustentabilidade ambiental; • consolidação das oportunidades que estão sendo vislumbradas pela agricultura e pelo agronegócio, em áreas urbanas, no quadro de oportunidades estratégicas de inserção produtiva, com competitividade, do Nordeste no mercado nacional e internacional; 18 • maior comprometimento com a preservação ambiental das atividades de geração/adaptação de tecnologias para o desenvolvimento da agropecuária e dos negócios urbanos, garantindo-se a sustentação do Seridó como centro de referência para a biodiversidade no semi-árido brasileiro; • utilização das orientações da Lei de Cultivares, recentemente aprovada e regulamentada no País, como instrumento de promoção da oferta de tecnologias ao setor agropecuário, fortalecendo o papel das instituições de pesquisa que atuam no Nordeste, a exemplo dos Centros de Pesquisa da Embrapa, 1 que já dispõem de um expressivo currículo no campo da geração de tecnologias para o setor produtivo regional. 4.1.1.3 Dimensão Econômica No que se refere à vida econômica seridoense, caso não se implementem medidas importantes como muitas das propostas no presente Plano de Desenvolvimento Sustentável, o futuro da região não será construído a partir de processos e tendências muito diferentes das que vigoraram nas últimas décadas, dando origem à situação atual, retratada no capítulo do Diagnóstico. Reações positivas foram ressaltadas, mas a crise dos principais complexos econômicos regionais ainda deixa marcas profundas, retratadas especialmente no desemprego – o mais importante problema destacado pela população nos Seminários realizados ao longo do processo de elaboração do presente Plano, e em especial do desemprego nas áreas rurais, que estimula o êxodo para as cidades da região ou para outros lugares mais distantes do Estado ou fora dele. Avanços vão continuar se dando, especialmente na pecuária leiteira, na caprino-ovinocultura, nos pequenos negócios urbanos (indústrias, comércio e serviços) e no turismo e artesanato, como ocorreu nos anos mais recentes. Mas nada muito relevante nem capaz de alterar significativamente a importância da economia seridoense ou mudar seu peso relativo, quando vista no contexto da economia norte-rio-grandense. A participação da produção da economia do Seridó, atualmente estimada em cerca de 8% do PIB total do Estado, deverá, nesse cenário, manter-se nesse patamar até 2005 e se elevar um pouco até 2010, atingindo os 9%. O dinamismo econômico do Rio Grande do Norte continuará se concentrando em torno de Natal, de Mossoró, do Vale do Açu, e o Seridó terá dificuldades de acelerar a ampliação de sua base econômica. A remuneração média da população ocupada (trabalhadores formais e informais), estimada em cerca de 0,5 salários mínimos mensais (R$ 77,00, a preços atuais) crescerá pouco (0,5% ao ano) até 2005, quando atingirá cerca de R$ 79,00 (a preços de 2000), seguindo tendência recente de quase estagnação, e aumentará um pouco esse ritmo, crescendo 0,7% ao ano, até 2010, quando se situará em torno de R$ 82,00 (a preços de 2000). Terá acumulado um modesto aumento real de 6,5%, portanto. (Tabela 4.1.1.2.) A população ocupada, por sua vez, estimada em 97,7 mil pessoas (1/3 da população total de 293 mil pessoas, em 1999), crescerá no mesmo ritmo projetado para a população total (0,3% ao ano), e será de 99,3 mil em 2005 e de 101 mil pessoas em 2010. Terão sido ocupadas mais 3,3 mil pessoas O 1 Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido–CPTSA, localizado em Petrolina-PE; Centro Nacional de Pesquisa do Algodão–CNPA, situado em Campina Grande-PB; e Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos–CNPC, localizado em Sobral-CE. 19 desemprego será o mesmo que é registrado atualmente, posto que a economia não terá dinamismo suficiente para apresentar taxa de absorção das pessoas no mercado de trabalho superior ao ritmo de crescimento da população que o busca. Com muito esforço dos produtores das atividades atualmente mais dinâmicas, e com a ampliação de segmentos integrantes de cadeias produtivas estratégicas, o número de estabelecimentos da indústria regional conseguirá manter sua posição relativa na economia industrial do Estado, com 9,5% do total de indústrias existente em 2005, e crescer um pouco até 2010, atingindo 10% do número de estabelecimentos então existentes no Estado. Isso com base em segmentos que já se expandem, como o de confecções, indústrias alimentares, laticínios, massas, calçados, entre outros. TABELA 4.1.1.2 SERIDÓ. PROJEÇÕES DO CENÁRIO TENDENCIAL DA DIMENSÃO ECONÔMICA INDICADOR/SEGMENTO Participação no PIB estadual 1999 8% 2005 8% 2010 9% Participação no número de estabelecimentos industriais do RN 9,40% 9,50% 10% Número de pessoas ocupadas (cresce igual à população: 0,3% a.a.) 97,7 mil 99,3 mil 101 mil Remuneração média mensal dos ocupados (preço de 2000) R$ 77,00 R$ 79,00 R$ 82,00 Lento avanço Lento avanço Caprino-ovinocultura Piscicultura 50 módulos de criação de alta tecnologia 20% de aumento na produtividade Exploração Extensiva 10 unidades demonstração instaladas Cajucultura domina em plantio aleatório 15% dos cajueiros renovados Cajucultura com 30% de renovação Outras pouco dinâmicas Outras frutas aumentam produção em 20% Produção de outras frutas aumenta 30% 130 mil litros/dia 135 mil litros/dia 142 mil litros/dia 3,3 litros/vaca 3,6 litros/vaca 4,2 litros/vaca Regularização precária 1000 regularizações 2000 regularizações 1.324 famílias assentamentos 1.520 famílias assentadas (aumento de 15%) 1.720 famílias assentadas (aumento de 30%) Cooperativas atuantes Fruticultura Pecuária Leiteira Regularização Fundiária e Democratização da Terra A ovino-caprinocultura continuará a se desenvolver, com certa lentidão, pois não haverá estímulos adicionais aos produtores. A simples definição de uma quota no “Programa do Leite” já deu um certo impulso a essa atividade nos anos mais recentes. Mas, sem novos estímulos, a não ser a dinâmica do próprio mercado, os avanços não serão acelerados, tanto que até 2005 se espera uma situação não muito distante da atual. Os esforços para avançar tecnologicamente e elevar o padrão dessa atividade só começarão a aparecer na segunda metade da década inicial do próximo século. Em 2010, será possível encontrar 50 módulos de criação desse rebanho com alta tecnologia. 20 A piscicultura manterá seu padrão atual de exploração extensiva, vez que nenhuma política significativa será implementada e os principais problemas não poderão ser enfrentados no curto prazo. Assim, a situação dessa atividade será muito semelhante à atual, em 2005. Só em 2010 se notará algum avanço mais significativo, com uma produtividade 20% mais elevada e a presença de cooperativas mais consolidadas e atuantes, inclusive na comercialização do pescado. Na fruticultura, as Serras continuarão a dominar a atividade e a cajucultura permanecerá gerando a mais relevante produção. O plantio do caju permanecerá dominantemente aleatório e o esforço de renovação dos cajueiros só atingirá cerca de 15% do total existente, em 2005. Haverá, até lá, um modesto aumento (20%) na produção de outras frutas, para as quais o Seridó tem evidentes potencialidades. Só em 2010 é que se terá conseguido renovar 30% dos cajueiros e a produção de outras frutas terá crescido 30% em relação à situação presente, quadro em que não tira, absolutamente, proveito do potencial existente, diante da ausência de políticas de apoio mais fortes. A pecuária leiteira continuará se firmando, na hipótese de permanência do apoio institucional dado pelo chamado “Programa do Leite”, que não deverá sofrer solução de continuidade, mesmo que haja alteração na sua sistemática. Os produtores continuarão avançando no ritmo atual e a região ampliará sua oferta e elevará seu padrão técnico nessa atividade. Assim, dos 130 mil litros diários atuais e de uma produtividade de 3,3 litros/vaca/dia se obterá, até o ano de 2005, uma elevação para 150 mil litros/dia (aumento de cerca de 15%), com a produtividade atingindo 3,6 litros/vaca/dia (10% a mais que a atual). Acelerando modestamente esse ritmo, em 2010, o Seridó estará produzindo 170 mil litros/dia e a produtividade crescerá para 4,2 litros/vaca/dia (ou seja, 25% a mais que a atual). No que se refere à estrutura fundiária, não se avançará muito na solução dos problemas hoje detectados de relativa concentração de terras, de fragmentação das propriedades menores e de ausência de regularização fundiária das unidades produtivas de milhares de posseiros e proprietários. Até 2005, apenas cerca de 1000 regularizações terão sido feitas (dada a fragilidade do aparato público estadual que apoia tecnicamente essa atividade e do custo elevado a ser pago nos cartórios, para grande parte dos produtores). Por sua vez, o número de assentamentos não crescerá significativamente, pois o número de famílias assentadas crescerá apenas 15% (passando das 1.324 atuais para 1.520 naquele ano). A situação estará um pouco melhor em 2010, com 2.000 regularizações realizadas e 1.720 famílias assentadas (um aumento de 30% em relação ao número atual). 4.1.1.4 Dimensão Sociocultural Para esta Dimensão, considera-se que, caso não sejam procedidas mudanças significativas na economia regional e na sua capacidade de absorver a população desempregada e subempregada, e, além disso, sem que transformações profundas sejam procedidas nas ações governamentais, no tocante à intensidade e qualidade dos programas e projetos sociais, continuarão a prevalecer os alarmantes indicadores de pobreza, de analfabetismo, de mortalidade e de precárias condições de habitação. Isto não significa que os avanços constatados nesta fase, no passado recente, deixarão de surtir efeitos. É importante considerar que os resultados positivos alcançados foram muito tímidos – relativamente aos anseios e às necessidades da população. Muitos deles, ademais, sobretudo os que dizem respeito à mortalidade infantil e à expectativa de vida, para terem continuidade, exigirão, no futuro imediato, mudanças nos níveis de renda das famílias e na disponibilidade e na qualidade da infra-estrutura e dos serviços sociais destinados às populações mais pobres da região. Em outras palavras, muitos dos avanços registrados ocorreram a partir de níveis extremamente precários de saúde 21 e de educação, por exemplo, e só terão continuidade se investimentos significativos vierem a ser realizados na infra-estrutura social e na qualidade dos serviços prestados. Relativamente à população, o que se observa é que, dadas as tendências recentes, constatadas sobretudo a partir de 1991-96, a evolução até o ano 2010 deverá ocorrer a uma taxa de crescimento muito reduzido. Nas projeções feitas, admitiu-se que até 2010 a população deverá crescer a uma taxa anual de 0,3% ao ano. Essa tendência está, em grande parte, associada ao que ocorre na economia, notadamente no meio rural, no qual se vem verificando um intenso processo de emigração da população que vive no campo. Assim, as 293 mil pessoas existentes no Seridó, em 1999, deverão corresponder a 298 mil em 2005 e a, aproximadamente, 303 mil, em 2010. No tocante ao IDH, a hipótese adotada é a de que sua evolução, de 1991 a 1999, seja igual à ocorrida entre 1980 e 1991 (taxa anual de 1,5%), e que, a partir de 1999, haja um arrefecimento da tendência anterior, durante a primeira década do ano 2000 (taxa anual de 1,1%). Desse modo, tendo ultrapassado a marca de 0,50 já em 1999, o IDH chegaria, na região, a 0,61, número correspondente ao encontrado para Região Sudeste, em 1970, ou seja, há 40 anos atrás. Na hipótese adotada, está implícita a idéia de que os avanços ocorridos no IDH, até o momento, não poderão ter continuidade com a mesma intensidade, a não ser que questões como a da mortalidade infantil ou da mortalidade geral e da dinamização do nível de renda per capita, a partir de uma crescente base econômica regional, sejam enfrentadas por intermédio da execução de programas e projetos de grande envergadura. Quando ao nível de renda familiar per capita, que estava expresso em percentual do salário mínimo, de setembro de 1991, divulgados pelo Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, foi transformado em valor monetário, utilizando-se o valor do dólar de 1998. Relativamente a esta variável, partiu-se, na projeção adotada, para a constatação de que, entre 1980 e 1991, a renda familiar per capita do Seridó, praticamente, estagnou, levando a que se projetasse, até 1999, o mesmo valor encontrado em 1991. De 1999 para 2010, admite-se um crescimento de 1% ao ano para esta variável. Partindo-se, pois, de um valor de US$ 59.00, em 1999, chega-se a US$ 62.00, em 2005, e a US$ 66.00, em 2010. No que se refere à parcela da população com insuficiência de renda, nos termos conceituados pelo Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, admitiu-se que o nível de insuficiência de renda, em 1999, era o mesmo de 1991. Essa suposição parece correta, pois, entre 1980 e 1991, os níveis de renda são similares. De fato, ocorreu um pequeno aumento do percentual de pessoas com insuficiência de renda, de 71,69%, no primeiro ano, para 72,54%, no segundo. 2 A partir daí, passou-se a trabalhar com a hipótese de uma melhora, que correspondesse a um declínio do alto percentual de insuficiência de renda, situado em torno de menos 1%. Com base nessas considerações, chega-se, em 2010 com 65% da população classificada como apresentando renda insuficiente. Sobre a redução do percentual da população de 4 anos e mais, sem instrução ou com apenas um ano de instrução, admitiu-se que a tendência de redução do analfabetismo, entre 1980 e 1991, seria a mesmo ocorrida entre 1991 e 1999 (menos 1,56%). A partir daí, assumiu-se que tal redução poderia ser intensificada sem grandes investimentos, passando para menos 2,5% ao ano. Desse modo, registrandose em 1999 cerca de 33% da população de 4 anos e mais sem instrução ou com apenas um ano de escola, alcança-se 2005 com 28% e 2010 com 25%. Está-se, pois, diante de uma taxa muito alta, para 2 Como se assinalou anteriormente, o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil considera como tendo insuficiência de renda a população que disponha de renda abaixo de um determinado nível, considerado, no caso, como correspondente à metade do salário mínimo por membro de família. 22 os anseios de uma população que, nos seminários realizados nos 28 municípios do Seridó, reivindicou, em várias oportunidades, por intermédio de suas lideranças, a erradicação do analfabetismo. Passando para os aspectos mais vinculados à saúde, a variável considerada como representativa foi a da mortalidade infantil. Admitiu-se, neste caso, a hipótese de que com o decorrer do tempo (se medidas de maior profundidade não ocorressem, no sentido de aumentar e melhor distribuir a renda ou, ainda, que permitissem um maior acesso aos serviços de saúde preventiva e curativa e ao saneamento básico) haveria um arrefecimento do processo de melhoria, constatado anteriormente, pois a região alcançaria um limite em que os ganhos adicionais, em relação a este indicador, se tornariam mais difíceis. Neste caso, de uma taxa anual de redução da mortalidade infantil, registrada nesta fase, de menos 4,3%, entre 1980 e 1991, o Seridó teria passado para um patamar de redução desse indicador de menos 2% ao ano, entre 1991 e 1999, e, posteriormente, para um declínio da mortalidade de menos 1,5% ao ano, entre 1999 e 2010. Com isto, a região teria registrado nesse último ano (2010) um coeficiente de mortalidade infantil de 63, que é um pouco menor do que o dobro do nível apresentado pelo Sudeste em 1991 (32,2). Não obstante a intensidade do avanço que se teve no número de domicílios com abastecimento de água no Estado do Rio Grande do Norte e na Região do Seridó, pelo que se depreende dos indicadores da maior parte dos municípios, é de se esperar que, sobretudo, em razão do nível de renda das famílias mais pobres, ocorra uma perda de ritmo na oferta de água tratada nos municípios urbanos. Foi a partir dessa hipótese que se considerou que o crescimento do percentual de domicílios com água adequada teria passado de 3,6% ao ano, de 1980 para 1991 – admitindo-se as taxas de crescimento constatadas para o Estado – para 1,5%, entre 1991-99, e, finalmente, de 1%, entre 1999 e 2010. Com isto se alcançaria, em 2010 a marca de 87%, valor inferior ao percentual (93%) alcançado pelo Sudeste em 1991. Relativamente aos domicílios com instalações sanitárias adequadas, adota-se a hipótese de que o Seridó, no cenário tendencial terá alcançado a marca de 80%, em 2010, com relação aos domicílios urbanos. Isto pressupõe que o ritmo de melhora, neste particular, seguiria a mesma tendência de 198091, verificado para o total do Estado do Rio Grande do Norte, e que tal ritmo teria continuidade, entre 1991 e 1999: taxa anual de aumento do percentual de 1,9%. A partir desse último ano, admite-se que a taxa de crescimento da participação seria de 1,5% ao ano. Vale o registro de que o nível de 80% é um pouco maior do que o alcançado no Sudeste, em 1991 (75,6%). TABELA 4.1.1.3 SERIDÓ. INDICADORES DO CENÁRIO TENDENCIAL DA DIMENSÃO SOCIOCULTURAL INDICADORES SOCIAIS População (mil pessoas) Índice de Desenvolvimento Humano % População com insuficiência de renda % População sem Instrução. ou só com 1 ano (4 anos e +) Mortalidade Infantil Domicílios Urbanos com Abastecimento Adequado de Água (%) Domicílios Urbanos com Instalações Sanitárias Adequadas (%) 23 1999 293 0,55 73 33 75 78 68 2005 2010 298 0,58 68 28 68 83 74 303 0,61 65 25 63 87 80 4.1.1.5 Dimensão Político-Institucional A caracterização dos problemas, das potencialidades, das ameaças e das oportunidades, agora acrescida de indicadores relacionados ao tamanho do Estado, às finanças municipais e aos instrumentos de controle da sociedade civil sobre o Estado, permite reunir os elementos básicos disponíveis para o desenho do cenário tendencial relativo da Região do Seridó, no tocante aos aspectos políticoinstitucionais. A análise desses elementos leva a concluir que estão em curso alguns avanços importantes no campo da descentralização administrativa e da participação social, embora ainda predominem a elevada dependência dos municípios às transferências do governo federal e a existência de práticas políticas fortemente marcadas pela centralização administrativa e pelo patrimonialismo. A capacidade operacional dos organismos estatais permanecerá como está ou será reduzida, com exceção de áreas específicas como segurança e educação, em relação às quais verifica-se um ligeiro aumento do número de funcionários. O nível de organização da sociedade civil continuará marcado por mediadores que utilizam a organização como estratégia de manutenção de favores ou de promoção pessoal, mas a progressiva consolidação de formas alternativas de democracia direta contribuirá para anular esse efeito deletério. Essas tendências de natureza geral serão vistas a seguir de forma mais detalhada por indicador selecionado. i. Tamanho do Estado. Na falta de desagregação do número de servidores do Estado do Rio Grande do Norte por Zona Homogênea, utilizou-se o indicador relativo à evolução do efetivo de pessoal ou de matrículas registradas, no qual fica evidenciada a tendência geral de redução ou de estabilização do tamanho do Estado. O pequeno aumento que se verifica pode ser explicado pela resposta do Estado aos graves problemas nas áreas de educação, saúde e segurança, reconhecidamente as poucas onde aconteceram contratações em número significativo. A redução do tamanho da administração indireta é explicada fundamentalmente pela extinção de um grande número de órgãos, pelas aposentadorias e pela adesão de funcionários ao programa de demissão incentivada, implementado no âmbito da reforma administrativa estadual. TABELA 4.1.1.4 RIO GRANDE DO NORTE - EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE SERVIDORES ESTADUAIS ATIVOS (1987, 1991, 1995 E 1996) ANOS TIPO DE ADMINISTRAÇÃO 1987 Administração Direta Administração Indireta Total 1991 54.264 16.713 70.977 1995 61.203 16.202 77.405 1996 62.867 16.994 79.861 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Secretaria de Administração do Estado do Rio Grande do Norte. 24 64.113 11.698 75.811 GRÁFICO 4.1.1.1 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE SERVIDORES ESTADUAIS ATIVOS 90000 80000 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 ADMINISTRAÇÃO DIRETA (A) ADMINISTRAÇÃO INDIRETA (B) TOTAL (A+B) 1987 1991 1995 1996 ii. Receitas Tributárias. Sem a desagregação das receitas tributárias estaduais, utilizou-se o indicador relativo à arrecadação do ICMS de 1990 a 1998 para o Estado, onde se verifica uma tendência claramente ascendente, o que tem conseqüências positivas para os municípios, já que parte dessa receita é para os mesmos repassada. Esse fato, decorrente da reforma administrativa do Estado e da modernização do sistema tributário, faz prever a continuidade dessa tendência positiva, em função do comportamento também crescente dos índices de crescimento econômico do Estado e da redução da sonegação, ao lado da estabilização dos preços propiciada pelo Plano Real (tabela 4.1.1.5). TABELA 4.1.1.5 EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO DO ICMS DO RIO GRANDE DO NORTE COMPARADA AO ICMS NACIONAL (1990 A 1998) ANO ARRECADAÇÃO ICMS EM R$ 1.000,00 IGP-DI 09/98 PARTICIPAÇÃO NO ICMS NACIONAL (RN/BR) (%) BRASIL RIO GRANDE DO NORTE 1990 55.328.400,00 332.400,00 0,60 1991 51.741.000,00 292.700,00 0,57 1992 48.005.000,00 260.600,00 0,54 1993 45.011.300,00 233.700,00 0,52 1994 50.343.000,00 272.600,00 0,54 1995 59.154.500,00 373.200,00 0,63 1996 62.799.900,00 426.900,00 0,68 1997 62.251.400,00 479.500,00 0,77 1998 61.316.900,00 513.300,00 0,84 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: GUARAGNA, Paulo Ricardo Saldanha & CASAROTTO, João Pedro (1998)“Secretaria de Tributação: a Experiência do Rio Grande do Norte.” In: Estudos Econômico-Fiscais – DEE. Porto Alegre, Ano 4, Nº 6, out.,1998. 25 GRÁFICO 4.1.1.2 INDICE DE EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO DO ICMS DO RIO GRANDE DO NORTE COMPARADA AO ICMS NACIONAL 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 BRASIL RN 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 iii. Receitas e Despesas dos Municípios. As receitas e despesas municipais também apresentaram tendência de crescimento nos últimos anos, como pode ser observado nas tabelas 4.1.1.6 4.1.1.7 e 4.1.1.8, apresentadas a seguir. Do lado das receitas, não é provável que esse comportamento continue com a mesma intensidade. Como se sabe, a maior parte das receitas municipais provém das transferências federais, relativas ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), cuja origem são o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A permanecer a conjuntura recessiva que vem caracterizando a economia brasileira, não há como prever índices significativos de crescimento das receitas municipais, as quais serão explicadas, se ocorrerem, pelo crescimento das transferências estaduais e da arrecadação própria dos Municípios. Do lado dos gastos, é importante notar que as despesas correntes nos diversos anos, oscilam entre 84% e 90%, o que indica um cenário tendencial de baixa capacidade de investimento dos municípios, apesar dos significativos aumentos de receitas, que representaram cerca de 2,6 vezes entre 1996 e 1998, o que é surpreendente numa economia em regime de estabilização. TABELA 4.1.1.6 RIO GRANDE DO NORTE – RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO SERIDÓ (1996-1998) (EM R$ 1.000,00) ANOS 1996 1997 1998 RECEITAS TOTAIS (A) VALOR 20.230,00 30.918,00 53.932,00 (B + C) % 100,00 100,00 100,00 RECEITAS CORRENTES (B) VALOR 17.866,00 26.942,00 49.580,00 (B/A.100)% 88,3 87,1 91,9 RECEITAS DE CAPITAL (C) VALOR 2.364,00 3.976,00 4.352,00 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuários Estatísticos do Rio Grande do Norte 1996-1998. 26 (C/A100) % 11,7 12,9 8,1 GRAFICO 4.1.1.3 RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO SERIDÓ - 1996/98 (EM R$ 1.000,00) 60000 50000 40000 TOTAIS 30000 CORRENTES 20000 CAPITAL 10000 0 1996 1997 1998 TABELA 4.1.1.7 RIO GRANDE DO NORTE – DESPESAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO SERIDÓ (1996-1998) (EM R$ 1.000,00) DESPESA REALIZADA DESPESA TOTAL (A) DESPESAS CORRENTES (B) DESPESAS DE CAPITAL (C) VALOR % VALOR (B/A.100) % VALOR (C/A.100) % 1996 19.040,83 100,00 16.109,93 84,60 2.930,90 15,40 1997 31.813,00 100,00 26.866,00 84,50 4.947,00 15,50 1998 54.948,00 100,00 49.850,00 90,72 5.098,00 9,28 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuários Estatísticos do Rio Grande do Norte. 1996-1998. ANOS GRÁFICO 4.1.1.4 DESPESA DOS MUNICÍPIOS DO SERIDÓ - 1996/98 (EM R$1.000,00) 60000 50000 40000 DESPESA TOTAL 30000 DESPESA CORRENTE 20000 DESPESA DE CAPITAL 10000 0 1996 1997 1998 27 TABELA 4.1.1.8 RIO GRANDE DO NORTE – PARTICIPAÇÃO DAS RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO SERIDÓ NO TOTAL DAS RECEITAS MUNICIPAIS (EM R$ 1.000,00) ANOS 1996 1997 1998 RECEITAS MUNICIPAIS (A) VALOR % 201.156,00 100,00 390.670,00 100,00 570.167,00 100,00 RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DO SERIDÓ (B) VALOR (B/A. 100) % 20.230,00 10,06 30.918,00 7,91 53.932,00 9,46 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuários Estatísticos do Rio Grande do Norte. 1996-1998. GRÁFICO 4.1.1.5 PARTICIPAÇÃO DAS RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO SERIDÓ NO TOTAL DAS RECEITAS MUNICIPAIS (EM R$1.000,00) 600000 500000 RECEITAS MUNICIPAIS 400000 300000 RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DO SERIDÓ 200000 100000 0 1996 1997 1998 iv. Perfil dos Conselhos Municipais. Os Conselhos Municipais vêm sendo reconhecidos por um grande número de formuladores de políticas públicas como as principais instâncias de exercício da democracia direta e de controle da sociedade civil sobre o Estado. Por esta razão, o conhecimento do perfil desses colegiados é de fundamental importância para o desenho das tendências desses instrumentos, tal qual eles vêm sendo utilizados nas políticas sociais em curso no Rio Grande do Norte e na Região do Seridó em particular. Pesquisa realizada pela Arquidiocese de Natal e Universidade Federal do Rio Grande do Norte, junto aos Conselhos de Educação, Criança e Adolescente, Assistência Social e Saúde, reconhece que a criação e o funcionamento desses Conselhos já é um passo fundamental para a implantação de uma nova forma de gestão das políticas públicas. No entanto, a efetivação dos princípios da descentralização, do reordenamento institucional e da participação popular se faz de forma bastante lenta, o que evidencia que a construção de uma nova institucionalidade não resulta somente da criação de mecanismos institucionais de participação popular, porém, mais do que isto, exige mudança de atitude e de práticas dos sujeitos coletivos responsáveis pela formulação e implementação dessas políticas. (Oliveira, 1998.) Algumas conclusões dessa pesquisa evidenciam as razões do cenário tendencial caracterizado pela lentidão na efetivação desses novos espaços de exercício da democracia direta e de controle social sobre as políticas públicas: i) 93% dos Conselhos foram criados por iniciativa do Poder Executivo Municipal, revelando o inexpressivo envolvimento do Legislativo e menos ainda da Sociedade Civil 28 nesse processo; ii) em 91%, o Presidente pertence a organização governamental, freqüentemente um secretário municipal; iii) 84% dos Conselhos não dispõem de recursos para o seu funcionamento; iv) 75,5% dos Conselhos possuem um Fundo Municipal, porém em 45% deles não foi verificado o cumprimento de contrapartida do município; v) o nível de democratização dos Conselhos 3 situa-se entre insuficiente e insatisfatório. v. Perfil Profissional dos Prefeitos. Pelo menos até a década de 1970, a maior parte da população do Seridó estava concentrada no meio rural e os Prefeitos da região eram, na sua grande maioria, proprietários rurais criadores de gado e produtores de algodão em regime de parceria. A decadência do complexo algodoeiro-pecuário e da mineração, trouxe, como conseqüência, a redução da participação das lideranças políticas seridoenses na distribuição dos cargos no âmbito estadual e federal e uma clara mudança no perfil profissional dos Prefeitos. Hoje, os centros urbanos concentram uma grande parcela da população em todos os municípios e os prefeitos são em sua maioria profissionais liberais, como demonstra a tabela 4.1.1.9, onde se verifica que apenas 21% dos Prefeitos têm a agropecuária como atividade principal. Ainda que para algumas pessoas essas mudanças não sejam significativas, dada a prevalência da dominação tradicional, é possível admitir um cenário tendencial caracterizado por administradores que possam vir a encarar a administração pública – e o próprio processo de desenvolvimento – sob óticas diferenciadas, de natureza urbano-industrial e não exclusivamente agropecuária. Por outro lado, face à atual concentração da população nos aglomerados urbanos e comunidades rurais, esses dirigentes dispõem de maiores facilidades para mobilizar a população em torno das grandes questões municipais, ensejando a possibilidade de abrir os processos de gestão à participação da sociedade. TABELA 4.1.1.9 RIO GRANDE DO NORTE. PERFIL PROFISSIONAL DOS PREFEITOS DA REGIÃO DO SERIDÓ – 1999. PROFISSÃO NÚMERO DE PREFEITOS ABSOLUTO RELATIVO (%) Agropecuarista 4 21,1 Engenheiro Agrônomo 3 15,7 Funcionário Público 2 10,5 Industrial 2 10,5 Médico 4 21,1 Outros 4 21,1 Total 19 100,0 FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pesquisa Direta, 2000. 4.1.2 Cenário Desejado No que se refere ao cenário desejado, o que se faz a seguir é traduzir as aspirações da população do Seridó, relativamente às diferentes dimensões que foram consideradas nos trabalhos de montagem do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região. Em outras palavras, dados os problemas analisados e discutidos, dadas as potencialidades identificadas no interior da região e, ainda, 3 Índice estatístico “formado a partir do conjunto das seguintes variáveis: forma de criação do Conselho e de escolha dos representantes da sociedade civil; existência de nomeação e posse dos conselheiros; forma de escolha do presidente; existência de regimento interno; mecanismos de organização interna; disponibilidade de recursos para o funcionamento do Conselho; existência de fundo municipal na área de política setorial a que se vincula o Conselho; e, disponibilidade de recursos no fundo.” (Oliveira, 1998: 36.) 29 consideradas as ameaças e oportunidades prevalecentes no ambiente externo, o que é que a população considera como desejável e possível de realizar nos próximos 10 anos (ou seja, até 2010), utilizando-se de um conjunto de ações, pressões e articulações em que estejam envolvidos governo e sociedade. O que a população do Seridó deseja para si mesma e para a região, pode ser traduzido, em linhas muito gerais, em percepções como as seguintes: i. retomada e reestruturação da base econômica da região, capaz de aumentar e distribuir melhor a renda da população e de gerar empregos produtivos para absorver a parte mais significativa do contingente de desempregados e subempregados existentes no Seridó; ii. acesso da população aos serviços sociais básicos – entre eles os de educação, saúde, assistência social e habitação – no contexto dos quais ocorra a universalização desse acesso e a melhoria significativa da qualidade dos serviços oferecidos, dos quais a população pode dispor no futuro imediato; iii. democratização dos processos decisórios, relativamente às grandes decisões que definem os rumos que a região deverá tomar e, sobretudo, no que se refere aos recursos e às ações governamentais que dizem respeito à oferta de serviços básicos e à dotação de infra-estrutura econômica e social, para o que se reconhece a necessidade de avanço na criação, aperfeiçoamento e consolidação das instituições governamentais e não-governamentais, que atuam no Seridó; e iv. finalmente, a aspiração da população no sentido de se definir, na região, um processo de desenvolvimento que considere as restrições ambientais como parte integrante das formas de expansão da economia ou de consolidação da base econômica da região, para o que a descoberta de novos processos tecnológicos e sua difusão venham permitir a consolidação do desenvolvimento sustentável do Seridó, em todas as dimensões relevantes. Torna-se, assim, importante garantir a inserção e a institucionalização da temática ambiental no currículo das escolas de primeiro e segundo graus. Esta descrição do cenário desejado por ser geral necessita de detalhamento, como o realizado a seguir, considerando-se cada uma das dimensões trabalhadas no Plano. Como se procedeu para o cenário tendencial, alvitrou-se conveniente pautar o cenário desejado para as dimensões caracterizadas por frágil base de informações quantitativas, apresentando-se argumentos favoráveis e argumentos desfavoráveis em torno das situações mais plausíveis. 4.1.2.1 Dimensão Ambiental O cenário desejado apresenta, de um lado, uma expectativa favorável do comportamento geral da economia e da sociedade, tanto na escala regional do Nordeste, como na escala sub-regional do Seridó. Incorpora, de outro, o resultado da aplicação das medidas de planejamento que procuram orientar o desenvolvimento segundo metas política e socialmente negociadas. Assume-se, assim, que os atores envolvidos na condução dos negócios da Região do Seridó, assim como das demais esferas de gestão pública, estão comprometidos com a construção de uma sociedade pautada por elementos como os definidos a seguir, nas escalas do Nordeste e do Seridó. O cenário desejado para a Dimensão Ambiental, considera, em relação ao Nordeste, elementos ou condições de estruturação como as referidas a seguir: 30 i. planejamento, controle e acompanhamento do processo de expansão da produção agropecuária, da mineração e da indústria, de sorte a poder preservar as áreas críticas, como as dos Núcleos de Desertificação de Gilbués, no Piauí; de Irauçuba, no Ceará; do Seridó, no Rio Grande do Norte; e de Cabrobó, em Pernambuco; além de outras áreas, como o Raso da Catarina, na Bahia; ii. difusão de técnicas de manejo sustentável dos recursos de solo, água e vegetação, para possibilitar melhoras substanciais na exploração das áreas semi-áridas, onde a pecuária pode tornar-se mais eficaz, desde que explorada segundo métodos de adequada convivência com as especificidades ambientais; iii. estudo e possibilidades de promoção do desenvolvimento do ecoturismo e da agrossilvicultura, como atividades capazes de contribuírem para a conservação de espaços dotados de alta vulnerabilidade natural; e iv. concepção, planejamento e generalização da execução de cursos de educação ambiental, junto às escolas primárias e secundárias. No que em particular se refere ao Seridó, o cenário desejado estará pautado por orientações que: i. contribuam para a redução do desflorestamento, por intermédio de medidas coercitivas e educativas, de sorte a se poder ampliar as superfícies de áreas preservadas bem como o controle social sobre elas; ii. garantam água, segundo seus diferentes usos e mecanismos de gestão compatíveis com suas disponibilidades e demandas, bem como adequado manejo dos recursos de solo, em áreas urbanas e rurais; iii. permitam substancial aumento na rede de coleta de esgotos e de tratamento de resíduos, compatível com as informações propiciadas pelos indicadores de poluição e contaminação ambiental; iv. evitem a ocupação desordenada e/ou ilegal das margens dos principais rios do Seridó, particularmente nas áreas urbanas; v. urbanas; e viabilizem a concepção, elaboração e execução de projetos de arborização de áreas vi. garantam a instalação de unidades de conservação da natureza, a racionalização do processo de ocupação das áreas urbanas, a recuperação de áreas degradadas ou em processo de degradação e a conservação de solo, quaisquer que sejam os seus usos. Destaque-se, ademais, que o uso racional e ordenado da água e dos solos no Seridó, depende, em grande medida, de novas posturas estratégicas de decisão em três campos: disponibilidade de recursos humanos capacitados e valorizados; reorganização institucional; e definição e/ou redefinição de mecanismos legais (leis, decretos, portarias e normas locais). As providências para o manejo sustentável dos recursos naturais exige a construção de novos entendimentos. O primeiro deles se 31 refere à formulação de compromissos agrários e urbano-ambientais, lastreados por consistentes programas de capacitação de recursos humanos. Requer, em segundo lugar, a formulação de protocolos agroprodutivos, em função dos quais os agentes/atores de uma determinada cadeia agroprodutiva atuam em sinergia, no que, em particular, se refere aos agronegócios com que estão envolvidos ou comprometidos. O zoneamento socioambiental ou econômico-ecológico constitui a principal ferramenta de acordos dessa natureza. Uma terceira ordem de requerimento para o manejo sustentável dos recursos hídricos, de solo e dos recursos florestais estaria referida a aspectos legais e regulatórios das atividades agropecuárias, agroflorestais e agroindustriais (inclusive pesca). A este respeito convirá, em futuro próximo, examinar as relações financeiras entre atores e elementos que estruturam as cadeias agroprodutivas. O instrumento requerido, nessa linha, estaria representado por um estatuto agrofinanceiro, destinado a estabelecer condições equânimes e justas de remuneração/taxação de serviços, produtos, subprodutos e derivados. Os esforços para a revisão da legislação e das participações relativas nos negócios agrícolas estariam vinculados ao universo de providências requerido para a redução de custos (produtivos e financeiros) e para a melhora da qualidade dos novos produtos. Os resultados daí advindos constituem importantes contribuições geradas pela introdução de melhoras tecnológicas, combinadas com a adoção de novos processos de gestão ambiental. 4.1.2.2 Dimensão Tecnológica O cenário desejável suscita a possibilidade de o Seridó poder vir a dar lugar à criação de vários pólos de desenvolvimento no interior do semi-árido norte-rio-grandense, dos quais possam ser irradiadas novas políticas de desenvolvimento. Poderá também ensejar a criação de núcleos geradores de conhecimentos científicos e tecnológicos, disseminadores de informações, tendo nos pequenos negócios urbanos, no agronegócio, no ecoturismo e no lazer, seus principais “motores” de desenvolvimento. Considera-se, assim, viável trabalhar com um cenário estruturado na necessidade crescente de inovação tecnológica, do qual emergirá um crescente aumento da demanda por serviços de tecnologia pelo setor produtivo, como estratégia para a melhoria de qualidade dos produtos e serviços; como elemento de redução do déficit de competitividade; como fator de agregação de valor aos produtos do Seridó; e como fator de suporte à ampliação das exportações. Para o horizonte de mais longo prazo (2010), será fundamental considerar as alterações que poderão ser colocadas pela economia (nacional, regional e estadual), decorrentes da globalização e de novos arranjos, capazes de provocarem demandas expressivas de novos perfis de qualificação de mãode-obra e de qualificação técnica para a gestão da produção, seja industrial, agropecuária ou de serviços. Neste sentido, poderá continuar vigorando tendência à escassez de recursos naturais (terra, água, etc.), em função da qual poderá haver uma maior e mesmo crescente valorização daqueles recursos, vis-à-vis os produtos industrializados. A rapidez das mudanças tecnológicas implicará, por outro lado, a necessidade de atividades mais precisas de monitoração e avaliação das tendências, tanto ao nível da produção quanto dos novos processos de gestão, com imediata inserção no setor educacional, pari passu à sua disseminação pelo sistema produtivo, exigências que só podem ser efetivadas por meio de novos mecanismos de 32 treinamento e reciclagem. As empresas necessitarão dominar, cada vez mais, instrumentos e procedimentos para a análise de informações e geração de conhecimentos, que subsidiem suas tomadas de decisão. O aumento exponencial da produção de conhecimentos – de natureza científica e tecnológica – e da oferta de informações poderá gerar uma crescente necessidade de capacitação das empresas no uso de metodologias de organização e análise de informações. No quadro deste cenário desejável, prevê-se, para dentro de 10 anos, que o Seridó venha a ter de produzir novos arranjos organizacionais em sua economia, tendo como atores não apenas empresas de médio porte. A economia seridoense talvez seja forçada a contar com parcerias que gerem maior valor agregado, oferecidas por empresas que apresentem vantagens competitivas baseadas na informação e comunicação, contribuindo, por isso, para alterar o perfil da área de pesquisa e do ensino de orientação tecnológica. 4.1.2.3 Dimensão Econômica No que se refere à Dimensão Econômica da vida seridoense, se espera poder ver implementado um conjunto de ações e medidas importantes, muitas das quais estão propostas no presente Plano de Desenvolvimento. O futuro da região será, nesse caso, construído a partir de processos e tendências muito diferentes das que estiveram em curso nas últimas décadas, e que deram origem à situação atual, retratada no Diagnóstico. Programas e Projetos estratégicos aqui propostos contarão com o apoio de agentes importantes, dentro e fora do Seridó, esperando-se poder superar o atual quadro de crise e de pouco dinamismo. Os principais complexos econômicos regionais serão reestruturados e mesmo sem voltar a ter a importância que tiveram no passado se farão presentes na vida econômica local, com novas formas organizacionais. Novas cadeias produtivas se expandirão e se consolidarão na próxima década, especialmente as aqui consideradas como estratégicas ao desenvolvimento futuro da região. Com isso, o desemprego – o mais importante problema destacado pela população nas Reuniões Municipais e SubRegionais – poderá ser enfrentado com melhores resultados. Nas áreas rurais, atividades agrícolas conviverão com atividades não-agrícolas (turismo, artesanato, serviços, entre outras) para dar ocupação aos seridoenses que ainda habitarão as áreas rurais, e em particular os assentamentos resultantes do processo de reforma agrária. Avanços vão continuar se dando, especialmente na pecuária leiteira, na caprino-ovinocultura, nos pequenos negócios urbanos (indústrias, comércio e serviços) e no turismo e artesanato, como ocorreu nos anos mais recentes. Mas o ritmo das mudanças será intensificado e novas atividades florescerão com mais vigor em função do esforço que as lideranças locais e o governo estadual farão para ver o Seridó desfrutando de um novo momento, mais positivo que o atual. A cotonicultura será reintroduzida em novas bases na região. O algodão orgânico será a opção principal, esperando-se implantar, até 2005, 3 mil hectares dessa lavoura e o dobro disso (6 mil hectares) até 2010. Na mineração, a exploração de gemas será valorizada na próxima década. Dinamizada sua base produtiva, a participação da produção da economia do Seridó, atualmente estimada em cerca de 8% do PIB total do Estado, deverá, nesse cenário, subir para 12% do total norterio-grandense, até 2005, e se elevar ainda mais até 2010, atingindo os 15% (quase o dobro do peso atual). O dinamismo econômico do Rio Grande do Norte, muito concentrado, nos anos recentes, em torno de Natal, de Mossoró e do Vale do Açu, será partilhado com o Seridó, na próxima década. 33 A renda média mensal da população ocupada, estimada em cerca de 0,5 salários mínimos mensais (R$ 77,00 a preços atuais) crescerá mais rápido (2% ao ano) até 2005, quando atingirá cerca de R$ 85,00 (a preços de 2000), seguindo tendência recente de quase estagnação, e aumentará um pouco esse ritmo, crescendo 4% ao ano até 2010, quando se situará em torno de R$ 103,40 (a preços de 2000). Terá, portanto, acumulado um aumento real de 34%, nos dez próximos anos. A população ocupada, por sua vez, estimada em 97,7 mil pessoas (1/3 da população total de 293 mil pessoas, em 1999), crescerá no mesmo ritmo superior (1%) ao projetado para a população total (0,3% ao ano), e será de 104 mil em 2005; e crescerá a 1,5% ao ano no período seguinte, atingindo 112 mil pessoas em 2010. Terão sido ocupadas 10 mil pessoas a mais do que no cenário tendencial. O desemprego terá se reduzido, visto que a economia terá dinamismo suficiente para apresentar taxa de absorção das pessoas no mercado de trabalho superior ao ritmo de crescimento demográfico. Com a melhoria do padrão de competitividade das atividades, hoje já dinâmicas no Seridó, e com a ampliação e consolidação de segmentos integrantes de cadeias produtivas estratégicas, o número de estabelecimentos da indústria regional conseguirá ser elevado e sua posição relativa na economia industrial do Estado, passará dos atuais 9,4% do total de indústrias existente no Estado para 15%, em 2005, atingindo os 20% do total estadual até 2010. Isso porque um esforço especial de desenvolvimento será realizado, novos investimentos serão captados e se agregará valor via indústria de transformação a atividades para as quais a região tem potencial. A ovino-caprinocultura, por exemplo, se desenvolverá e se difundirá em padrões modernos e em bases competitivas. Novos estímulos aos produtores virão se somar à dinâmica do próprio mercado, e os avanços serão acelerados. Até 2005, espera-se que estejam implantados cerca de 100 módulos de criação com alta tecnologia, que servirão como unidades de demonstração e que disseminarão conhecimentos e estímulos a outros produtores, inclusive nos assentamentos da reforma agrária. Isso porque se instalará um Fundo Rotativo que difundirá matrizes entre os produtores da região. Os esforços para avançar tecnologicamente e elevar o padrão dessa atividade começarão a dar frutos e na segunda metade da década, ou seja, até 2010, será possível encontrar na região uma caprinoovinocultura de elevado padrão técnico, fazendo do Seridó uma região de referência, no Nordeste, para os que se interessam em desenvolver essa atividade. Como se procurará agregar valor ao longo da cadeia, novos empregos serão criados nas atividades ligadas ao complexo da caprino-ovinocultura seridoense. A piscicultura, por sua vez, superará seu padrão atual de exploração extensiva. Um conjunto de ações e iniciativas atuarão no sentido de aproveitar o potencial existente na região e superar os obstáculos que têm dificultando sua expansão, nos anos recentes. Assim, até 2005, 100% dos pescadores das colônias serão capacitados – tarefa plenamente realizável – e em pelo menos 20 açudes públicos da região estará funcionando uma “Unidade de Demonstração”, para criação de peixe em “tanque-rede”. O padrão extensivo atual será gradualmente substituído e a produtividade aumentada elevará a renda dos pescadores em 30%, até 2005, e em 50%, pelo menos, até 2010. Com isso, a situação dessa atividade será muito diferente da atual, com impacto no consumo de proteína na dieta da população regional e com excedente comercializável fora dela. A exploração atomizada terá sido substituída por uma situação onde a exploração do peixe em tanque-rede será dominante. A região terá também a presença de cooperativas consolidadas e atuantes, inclusive na comercialização do pescado. Na fruticultura, a cajucultura permanecerá sendo muito importante, mas novas atividades se desenvolverão, diversificando essa atividade no Seridó. O plantio do caju superará a fase atual, onde é 34 dominante o plantio aleatório, ao mesmo tempo em que o esforço de renovação dos cajueiros atingirá cerca de 50% do total existente, em 2005, e 100%, até 2010. Um esforço importante de certificação dará a 200 produtores até 2005 e a 100% dos produtores até 2010 o certificado de “Produtor Orgânico”. Hoje, de fato, eles o são, mas não tiram proveito desse fato, num mercado que tende a valorizar de forma crescente os produtos orgânicos. Espera-se que até 2005 se instalem 2 unidades piloto de armazenagem na região, para melhorar a infra-estrutura de apoio a essa atividade. Haverá, por outro lado, um bom incremento na produção de outras frutas para as quais o Seridó tem evidentes potencialidades. A pecuária leiteira continuará se expandindo, diversificando e elevando seu padrão técnico. O apoio institucional dado pelo chamado “Programa do Leite” permanecerá, mesmo que haja alteração na sua sistemática. Os produtores continuarão avançando em ritmo mais acelerado que o atual. Assim, dos 130 mil litros diários atuais e de uma produtividade de 3,3 litros/vaca/dia se obterá, até o ano de 2005, uma elevação para 162 mil litros/dia (aumento de cerca de 25%), com a produtividade atingindo 4,2 litros/vaca/dia (25% a mais do que a atual). Nesse mesmo período, se elevarão em 30% os atuais índices de utilização de silagem e feno (20% com silagem e 6% com fenação). Em 2010, o Seridó estará produzindo 195 mil litros/dia e a produtividade terá crescido para 5 litros/vaca/dia (ou seja, 50% a mais que a atual). E metade dos produtores estarão usando feno e silagem para apoiar a alimentação de seu rebanho. Além disso, espera-se que até 2005 todos os produtores locais tenham obtido o Padrão de Identidade e Qualidade–PIQ, valorizando, mais ainda, a produção seridoense no mercado. E terão sido instaladas 20 unidades de múltipla capacidade para coleta e resfriamento de leite a granel, no Seridó. No final da próxima década todos os 28 municípios do Seridó terão pelo menos uma dessas unidades em seu território. No que se refere à estrutura fundiária, se avançará bastante na solução dos problemas hoje detectados. Com programa específico, novos instrumentos, recursos adequados e apoio aos órgãos técnicos, até 2005, cerca de 6.000 regularizações terão sido feitas na região. Por sua vez, o número de assentamentos crescerá significativamente, pois o número de famílias assentadas crescerá 40% (passando das 1.324 atuais para 1.850 naquele ano). A situação estará ainda melhor em 2010, com 100% das propriedades regularizadas e 2.120 famílias assentadas (um aumento de 60% em relação ao número atual). (Vide tabela 4.1.2.1, adiante.) 4.1.2.4 Dimensão Sociocultural O cenário desejado, no seu detalhamento relativamente à Dimensão Sociocultural, envolve uma íntima relação com o que ficou definido para a dimensão econômica. Antes de mais nada, é imprescindível para a concretização de muitas das aspirações na Dimensão Sociocultural que a base econômica da região se amplie e se diversifique e que não somente sejam geradas rendas adicionais – o que é inerente ao desenvolvimento da base econômica –, mas que sua distribuição alcance todo o contingente da população e, com isto, permita o seu acesso aos bens e serviços fundamentais ao seu desenvolvimento humano. Além disso, é importante que seja demandado, por parte das unidades produtoras de bens e serviços, um contingente de força de trabalho capaz de ocupar, em empregos produtivos, a população da região que pretende inserir-se ao mercado de trabalho. Por outro lado, é importante considerar que muitas das possibilidades que se abrem, no futuro, para a concretização do cenário desejável depende da ação política da região, a qual está intimamente associada à identidade cultural da sua população e aos laços de solidariedade que podem ser consolidados e fortalecidos mais intensamente a partir dessa identidade cultural. 35 Na Dimensão Sociocultural, uma descrição do cenário desejável passa pela possibilidade concreta de serem gerados emprego produtivos, dos quais decorram relações de trabalho e remuneração adequadas da população empregada, de forma a possibilitar o acesso do trabalhador e de sua família aos bens e serviços que lhes permita superar a pobreza e ter uma vida digna. TABELA 4.1.2.1 SERIDÓ. PROJEÇÕES DO CENÁRIO DESEJADO DA DIMENSÃO ECONÔMICA INDICADOR/SEGMENTO 1999 2005 2010 Participação no PIB estadual Participação no número de estabelecimentos industriais do RN Número de pessoas ocupadas (cresce igual à população: 0,3% ao ano) Remuneração média mensal dos ocupados (preço de 2000) 8,0% 12,0% 15,0% 9,4% 15,0% 20,0% 97,7 mil 104 mil 112 mil Caprino-ovinocultura Piscicultura R$ 77,00 Lento avanço Exploração Extensiva Cajucultura domina em plantio aleatório Fruticultura Outras pouco dinâmicas 130 mil litros/dia R$ 85,00 100 módulos de criação de alta tecnologia Fundo Rotativo instalado 100% dos pescadores treinados 20 unidades de demonstração instaladas 50% dos cajueiros renovados Outras frutas aumentam produção em 50% 200 produtores com certificado de orgânico 162 mil litros/dia R$ 103,00 Segmento modernizado Seridó como referência no Nordeste Produção em tanque rede consolidada Cooperativas exitosas Cajucultura com 100% de renovação Produção de outras frutas dobra 100% dos produtores com certificado 195 mil litros/dia Pecuária Leiteira Regularização Fundiária e Democratização da Terra 3,3 litros/vaca Regularização precária 1.324 famílias assentamentos Cotonicultura Em crise 4,2 litros/vaca 6.000 regularizações 1.850 famílias assentadas (aumento de 40%) 3 mil ha com orgânico 200 produtores com certificado de produto orgânico 5 litros/vaca 100% regularizados 2.120 famílias assentadas (aumento de 60%) 6 mil ha com orgânico 100% dos produtores certificados Além disso, centrando o foco das considerações no índice de desenvolvimento humano, é importante não só o aumento da renda das famílias mas a possibilidade de acesso aos serviços de educação, saúde, habitação, saneamento básico, etc., sem o que as demais dimensões do desenvolvimento humano (longevidade e instrução), muito enfaticamente definidas nos indicadores adotados (IDH), não sejam consideradas. No cenário desejado considerou-se que em 1999 o índice estimado estaria no nível de 0,55, um pouco maior do que o limite superior da situação considerada de baixo desenvolvimento humano (menor de 0,50). Além do mais, considerou-se que em 2010 esse nível seria de 0,80, isto é, alcançaria o limite superior da situação na qual os países e as regiões são consideradas de médio desenvolvimento humano. Isto posto, a trajetória do IDH para o Seridó seria de 0,55 em 1999, 0,70 em 2005 e 0,80 em 2010. Está, portanto, por trás desses valores o pressuposto de que haveria uma retomada e reestruturação da base produtiva da região, com geração de empregos capaz de absorver parte relevante 36 dos desempregados e subempregados. Além disso, que haveria avanços substanciais nas ações que permitem progressos na longevidade e no acesso à educação e à qualificação da população (tabela 4.1.2.2.) Desdobrando o IDH, passando-se para o componente renda, o que se deve destacar é a hipótese de que, dados os resultados desenvolvidos, visando a retomada da economia, espera-se que a renda familiar per capita registre uma expansão de 3,5% ao ano, entre 1999 e 2005, e se acelere a partir daí, apresentando uma expansão de 4% ao ano. Daí decorre que de uma renda familiar per capita de 59 dólares em 1999 passa-se para uma renda de 73 dólares em 2005 e de 89 dólares em 2010. Essas taxas de crescimento são substancialmente maiores do que as apresentadas anteriormente para o cenário tendencial. Quanto à pobreza ou insuficiência de renda, que em 1999 foi estimada como alcançando 73% da população, considera-se que haveria avanços significativos não em razão do aumento da renda, como da sua melhor distribuição, bem como em relação à melhoria do acesso aos serviços básicos. Neste particular, da marca de 73% se passaria para a marca de 30%, correspondente à situação da região Sudeste em 1991, registrada pelo PNUD, entre as melhores do País, à época. Isto significaria o registro de 45% no ano intermediário de 2005. Relativamente ao grau de instrução – outro aspecto que integra o IDH – considerou-se a aspiração da população do Seridó, manifestada, em várias oportunidades, no sentido de desenvolver um esforço particular na erradicação do analfabetismo, que as ações concretizadas reduziriam a taxa de um nível de 33% da população de 4 e mais anos, para apenas 10% em 2010, ficando, de fato, um contingente muito reduzido da população sem saber ler e escrever. O esforço seria desenvolvido logo de início, e já em 2005 se reduziria praticamente à metade a taxa de analfabetismo (pessoas de 4 anos e mais sem instrução ou com apenas um ano de escola): 17%. TABELA 4.1.2.2 SERIDÓ. INDICADORES DO CENÁRIO DESEJADO DA DIMENSÃO SOCIOCULTURAL INDICADORES SOCIAIS População (mil pessoas) Índice de Desenvolvimento Humano % População com insuficiência de renda % População sem instrução ou só com 1 ano (4 anos e +) Mortalidade Infantil Domicílios Urbanos com Abastecimento Adequado de Água (%) Domicílios Urbanos com Instalações Sanitárias Adequadas (%) 1999 293 0,55 73 33 75 78 68 2005 2010 298 0,70 45 17 45 87 82 305 0,80 30 10 30 95 95 No que se refere à longevidade, o indicador selecionado foi o que se refere à mortalidade infantil. Neste particular, partindo-se de um alto nível de mortalidade infantil de 73 mortes de crianças de menos de 1 ano para 1.000 nascidas vivas, em 1999, admite-se que se chegaria em 2010, com as ações previstas no Plano e outras ações em curso desenvolvidas pelas diferentes esferas de governo, ao nível de 30 por mil, um pouco melhor que o nível registrado para a região Sudeste em 1991 (32,17), segundo o PNUD. Em 2005, o coeficiente da mortalidade infantil seria de 45 por mil. Para isto, a cobertura de vacinas, sobretudo nas Serras Centrais, teria que ser significativamente ampliada, os níveis e a distribuição de renda familiar melhorados, as condições de habitação no que se referem à água 37 tratada e a instalações sanitárias melhoradas, e, finalmente, os serviços de saúde ampliados, relativamente à sua abrangência e melhorados, em termos de qualidade. Relativamente às condições dos domicílios, considera-se que, pelo menos no que se refere aos urbanos, haveria um cobertura de 95% deles com abastecimento de água tratada e com instalações sanitárias adequadas. Além disso, deveriam ser ampliados esforços para a erradicação das habitações com material não-durável, no sentido de dotar os domicílios rurais de água potável e de instalações consideradas adequadas pelos padrões sanitários tradicionalmente adotados. Cabe finalmente observar que, em relação à população, admite-se que a partir de 2005, em razão do maior dinamismo da economia e de uma maior geração de emprego, haveria uma melhoria na capacidade da região de reter sua população. Isto se traduziria em pequeno aumento na taxa de crescimento da população, entre 2005 e 2010, que passaria a ser de 0,5% ao ano, em lugar dos 0,3% do cenário tendencial. 4.1.2.5 Dimensão Político-Institucional. Pelo que se deduz das aspirações manifestadas nas Reuniões Municipais e Sub-Regionais e nas entrevistas com personalidades de reconhecido saber sobre a realidade regional, a sociedade seridoense visualiza, na Dimensão Político-Institucional, um cenário que atenda às seguintes aspirações: i) ter a sociedade civil adquirido consciência de sua cidadania, exercendo seus direitos e deveres de forma plena e conseqüente; ii) existir oferta de serviços públicos de melhor qualidade; e iii) haver um melhor desempenho da administração municipal, com uma crescente participação da sociedade nos processos de gestão. Confrontando o cenário tendencial com as aspirações da sociedade seridoense, pode-se delinear o cenário futuro (como desejado e possível) para a Região do Seridó, nos próximos dez anos, com as seguintes características: i. as formas patrimonial e burocrática de administração estarão reduzidas ao mínimo, enquanto as diversas formas de gestão compartilhada e de autogestão na produção de serviços públicos e o controle social sobre o Estado assumirão posição preponderante; ii. os Sistemas de Controle Fiscal e Tributário das Prefeituras Municipais estarão implantados e em funcionamento e as administrações municipais terão ampliadas as suas capacidades de arrecadação, aumentando as suas receitas próprias; iii. as Administrações Municipais terão adotado sistemas transparentes de divulgação das contas públicas e o acesso dos cidadãos às informações será estimulado de forma a facilitar o controle social sobre o Estado; iv. o Conselho Regional e os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável estarão com estruturas de apoio técnico e gerencial constituídas e com fundos de financiamento suficientes para custeio de suas atividades de forma autônoma e independente dos Poderes Executivo ou Legislativo; 38 v. a co-gestão, a autogestão, os consórcios municipais e outras modalidades de produção de bens e serviços públicos estarão difundidos em todos os municípios e na Região, quando a ação conjunta das administrações assim se fizer necessária, como é o caso dos consórcios municipais; vi. o sistema cooperativista da Região estará reestruturado com base nas modernas técnicas de planejamento estratégico situacional e fundamentado na implantação de cadeias produtivas compatíveis com as oportunidades oferecidas pela marca SERIDÓ e pelo potencial regional de produção orgânica; vii. as organizações não-governamentais e as associações civis estarão funcionando como espaços consolidados de produção de bens e serviços públicos com financiamento oportuno, adequado e suficiente por parte do Estado. 4.2 OBJETIVOS GERAIS DO PLANO O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó tem os seguintes objetivos gerais, que deverão definir os parâmetros das opções estratégias e do conjunto das ações que compreende os programas e projetos que deverão induzir a região ao cenário desejado, anteriormente estabelecido: • promoção de melhoria significativa das condições de vida da população através de sua melhor inserção na esfera econômica e de uma ampliação da oferta de serviços sociais básicos; • ampliação relevante dos níveis de qualificação da população de forma a que seu potencial criativo e produtivo possa ser melhor aproveitado em condições que lhe permita a gradativa melhoria das condições de vida; • consolidação do processo de reestruturação econômica em curso e dinamização das atividades produtivas regionais, com ênfase em iniciativas que ampliem as oportunidades de ocupação e elevem os níveis gerais de renda da população seridoense; • promoção do desenvolvimento ambientalmente sustentável, estimulando iniciativas que conservem, preservem e recuperem o meio ambiente regional; e • fortalecimento da cidadania e elevação do padrão de funcionamento e articulação das instituições que atuam na região. 4.3 OPÇÕES ESTRATÉGICAS As opções estratégicas fundamentais, que representam as escolhas dos grande conjuntos de ações que devem ser adotados com a finalidade de modificar a realidade considerada insatisfatória e voltadas para a concretização dos objetivos gerais anteriormente explicitados, são as seguintes: • reestruturação e dinamização da base econômica; • desenvolvimento humano, tecnológico e cultural; e • conservação, preservação e recuperação ambiental. 39 O desdobramento de cada uma delas, já descendo a aspectos mais concretos da realidade regional, compreende as seguintes ações, consideradas as mais relevantes: 4.3.1 Reestruturação e Dinamização da Base Econômica • Democratização do acesso à terra e regularização fundiária; • Consolidação de cadeias produtivas estratégicas, notadamente na pecuária leiteira, na ovino-caprinocultura, na fruticultura e na piscicultura; • Reestruturação de complexos produtivos tradicionais, principalmente da mineração, da cotonicultura e da indústria cerâmica; • Fortalecimento da economia de base local, fundada nos pequenos negócios urbanos (confecções, indústria de alimentos, indústria de calçados, artesanato, comércio e serviços pessoais, serviços educacionais e apoio à produção e ao turismo); • Complementação da infra-estrutura econômica, notadamente a voltada para a distribuição do gás, para o transporte rodoviário, para a eletrificação rural e a infra-estrutura hídrica; e • Otimização das áreas irrigáveis, através da promoção e consolidação da agricultura irrigada na região. 4.3.2 Desenvolvimento Humano, Tecnológico e Cultural • Realização de investimento maciço na educação fundamental, levando em conta seus aspectos quantitativos e qualitativos, na qualificação para o trabalho e na adoção de novas tecnologias; • Adoção e intensa difusão das modernas tecnologias de informação; • Reestruturação e fortalecimento da base científica e tecnológica da região; • Promoção da melhoria, em termos quantitativos e qualitativos, dos serviços de saúde, saneamento básico e habitação; • Elevação do padrão de funcionamento das instituições que atuam na região e que são estratégicas para a consolidação do desenvolvimento sustentável do Seridó; e • Valorização da rica e diversificada cultura seridoense. 4.3.3 Conservação, Preservação e Recuperação Ambiental • Recuperação de áreas em processo de desertificação e a despoluição de mananciais; • Promoção da gestão integrada e democrática dos recursos hídricos; • Adoção e consolidação do manejo florestal da caatinga; 40 • Valorização da biodiversidade da região; e • Promoção da educação ambiental da população do Seridó. Com base nas grandes opções estratégicas anteriormente estabelecidas, deverão ser desenvolvidos programas e projetos voltados para a concretização do cenário futuro desejável. Considerando as necessidades mais prementes da região, alguns desses programas e projetos deverão ser implementados de imediato. Entre eles cabe considerar os que dizem respeito: i) às ações que garantam a convivência com a seca e as que se referem ao atendimento às populações afetadas pelas irregularidades climáticas de grande impacto social e econômico na região; ii) às ações voltadas para a consolidação dos assentamentos rurais; iii) e às ações imediatas de geração de emprego e renda nas áreas urbanas; iv) às ações voltadas para a regularização da oferta de recursos hídricos, segundo esquemas simplificados de expansão da capacidade de armazenagem de água; e, finalmente v) às ações voltadas para a institucionalização do sistema de gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. Os demais, tão relevantes quanto os anteriores, deverão ser implantados em seguida e dizem respeito a ações que se esperam sejam as principais responsáveis pelas transformações mais profundas da realidade regional. Dizem respeito ao desenvolvimento e consolidação da cidadania e da participação da população nas decisões relevantes relacionadas com o Seridó, ao desenvolvimento da base produtiva e à geração de emprego, à universalização dos serviços sociais básicos, ao desenvolvimento e difusão de tecnologias necessárias e adequadas às atividades produtivas locais e, finalmente, à conservação e preservação do meio ambiente. 41 5. PROGRAMAS E PROJETOS As aspirações da população do Seridó foram formalizadas por meio de suas instâncias representativas, tal como colocadas durante as Reuniões Municipais, realizadas nos 28 municípios da região. O resultado dessas formulações foi apresentado, discutido e legitimado pelos representantes das comunidades locais, indicados como seus delegados junto às Reuniões Sub-Regionais, levadas a cabo nas Zonas Homogêneas de Caicó, Currais Novos e Serras Centrais. O futuro desejado, caracterizado nesses encontros é viável, pode ser concretizado pela população do Seridó, desde que se conjuguem, de forma decidida e racional, as forças e os fatores capazes de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável da região. Para tanto, há que realizar um grande esforço, envolvendo governo e sociedade, para pôr em prática as soluções técnicas mais recomendáveis, traduzidas por Programas e Projetos escolhidos e discutidos pelos beneficiários naqueles dois conjuntos de eventos – Reuniões Municipais e Sub-Regionais – para integrarem o Plano, em função da identificação, discussão e integração de quatro listas de propostas de ação programática, assim especificadas: • lista de programas e projetos em execução; • lista de programas e projetos sugeridos pela Equipe de Consultores do IICA; • lista de programas e projetos sugeridos pelos órgãos setoriais do governo estadual; e • lista de programas e projetos sugeridos pelas lideranças das Sub-Regiões do Seridó. Comenta-se a seguir cada uma dessas listagens, a partir das quais chegou-se ao rol de Programas e Projetos integrantes do Plano do Seridó. Lista de Programas e Projetos em Execução Foi preparada considerando o rol de iniciativas conduzidas no Nordeste por órgãos públicos (federais e estaduais), privados e não-governamentais. Durante sua produção, foi verificado se as iniciativas deveriam ser incluídas no Plano como Programas e/ou Projetos ou se apenas constituiriam aspectos (linhas de ação, por exemplo), a serem enfatizados no rol dos Programas e Projetos. Alguns deles, na realidade, funcionam mais como instrumentos do que como programas propriamente. A este respeito, foi estudado e sintetizado o seguinte rol de Programas, em fase de execução no Rio Grande do Norte, com relevante interesse para a Região do Seridó: i. Projeto de Combate à Pobreza Rural do Rio Grande do Norte (PCPR/RN); ii. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar–Pronaf; iii. Fundo de Apoio ao Trabalhador–FAT; iv. Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste–FNE; v. Programas Apoiados pela Caixa Econômica Federal-CEF, como o Habitar Brasil e o Programa de Ação Social em Saneamento–PASS, além de outros, como o Programa de Assistência Técnica à Parceria Pública e Privada em Saneamento–PROPAR; o Programa de Atendimento 42 Habitacional através do Poder Público–Pró-Moradia; o Programa de Saneamento–Pró-Saneamento; o Programa Nacional de Apoio à Gestão Administrativa e Fiscal dos Municípios Brasileiros–PNAFM; e o Programa de Infra-estrutura e Serviços em Assentamentos Rurais do Incra, incluído na área de InfraEstrutura Urbana e Rural; vi. Pró-Água/Semi-Árido. Trata-se de iniciativa do governo federal, incluída, prioritariamente, no Programa Brasil em Ação, e, mais recentemente, no Programa Avança Brasil; vii. Programa Comunidade Solidária. Refere-se a iniciativa do governo federal, criada pelo Decreto Presidencial nº 1.366, de 12.01.95. Tem como propósito contribuir para a eliminação da fome e da pobreza no Brasil. Seus princípios básicos de atuação abrangem a parceria, a solidariedade e a descentralização de ações; viii. Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial–Proadi. Corresponde a instrumento do governo estadual, de incentivo ao desenvolvimento industrial do Rio Grande do Norte, destinado a captar investimentos e a gerar empregos permanentes; ix. Educação Fundamental. Trata-se de iniciativa apoiada por recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação–FNDE; x. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação–FNDE; xi. Programa de Renda Mínima; xii. Sistema Único de Saúde–SUS; xiii. de seca; Programa de Emergência de Seca. O programa é instituído em situações de emergência xiv. Fundo de Aval. É um instrumento utilizado pelo Banco do Nordeste para ampliar e garantir os créditos disponibilizados para o financiamento do setor produtivo, principalmente na esfera dos municípios; xv. Finor. Trata-se de instrumento de apoio ao desenvolvimento do Nordeste, com ênfase no setor industrial; xvi. Programa do Leite. Instituído em 10.04.95, insere-se no contexto das políticas de compensação, orientadas para o apoio e assistência às famílias carentes do Estado. Tem sido de grande importância para a economia do Seridó; xvii. Incentivos ao Setor Mineral. O governo do Rio Grande do Norte apoia e coordena ações voltadas para o desenvolvimento do setor mineral do Estado. É de grande importância para o Seridó, região dotada de potencial relevante nessa área. Trata o governo de alavancar novas iniciativas, com a participação de lideranças empresariais e políticas do Estado, para revitalizar a exploração econômica do setor mineral; e xviii. Programa de Geração de Emprego e Renda–Proger. As ações apoiadas por esse programa são executadas com recursos do FNE. 43 Lista de Programas e Projetos Sugeridos pela Equipe de Consultores do IICA Essa lista foi preparada a partir da análise das soluções indicadas pela sociedade do Seridó (por ocasião das Reuniões Municipais) e do estudo das evidências identificadas no processo técnico de elaboração do Plano. A lista, depois de detalhada, sob a forma de ementas, foi sugerida às lideranças do Seridó, em documento preparado e apresentado durante as Reuniões Sub-Regionais de Currais Novos, Serras Centrais e Caicó. Posteriormente, foi dada a conhecer à Comissão de Acompanhamento do Plano–CAP e a representantes de órgãos setoriais do governo do Rio Grande do Norte e de instituições federais, com atuação no Estado e na Região do Seridó. Lista de Programas e Projetos Sugeridos pelos Órgãos Setoriais do Governo Estadual Os órgãos do governo do Rio Grande do Norte também apresentaram importantes sugestões ao Plano do Seridó, identificadas a partir das iniciativas que estão sendo executadas na região do Plano por instituições das diferentes Secretarias do Estado. Essa contribuição já vinha sendo oferecida desde a fase de formulação da Etapa I do Plano (Diagnóstico), quando começaram a ser levantadas informações neste sentido. Foi ainda complementada com os levantamentos efetuados em relação a todas as ações programáticas conduzidas na região, por instituições federais e estaduais. Lista de Programas e Projetos Sugeridos pelas Lideranças das Zonas Homogêneas do Seridó As sugestões a este respeito foram apresentadas durante as discussões realizadas nas Reuniões Sub-Regionais de Caicó, Currais Novos e Serras Centrais. Sua formulação implicou a criação de novos programas e a fusão de outros, em relação às diferentes dimensões do Plano. As propostas de programas e projetos integrantes dessas listas foram consolidadas em uma Lista Final, incorporando todas as iniciativas que integram o Plano. Características dos Programas e Projetos, Quanto ao seu Estágio de Formulação Este capítulo contempla as indicações mais importantes, em matéria de Programas e Projetos, apresentadas pelos diferentes atores envolvidos no esforço de (re)organização e fortalecimento das diferentes dimensões do desenvolvimento do Seridó. Essas iniciativas estão aqui detalhadas na linha do “perfil de projeto”. Este ponto requer alguns comentários. Os projetos constituem instrumentos utilizados pelos setores público e privado para a corporificação de decisões de investimento − de natureza econômica, social ou ambiental. Essas decisões são adotadas como resultado da preparação de estudos e da elaboração de planos e programas, referidos a contextos globais, setoriais e espaciais. Aos atores envolvidos no desenvolvimento do Seridó, interessará, a partir dos “perfis de projetos”, correspondentes a cada Programa e/ou Projeto do Plano, promover a captação de recursos financeiros e, se necessário, a contratação de financiamentos – internos ou externos. Como concepção e consolidação de opções de investimento, os Projetos precisam ser construídos. Primeiro, como “perfis” e, segundo, como cartas-consulta, fazendo ambas as categorias parte do chamado “ciclo de projetos”, que envolve uma determinada estrutura ou conjunto de componentes, variáveis conforme as metodologias adotadas pelas instituições responsáveis por sua elaboração e avaliação. O “ciclo de projetos” contempla os seguintes elementos: identificação, elaboração (envolvendo os estudos de pré-viabilidade, os estudos de viabilidade e a elaboração propriamente dita), avaliação, negociação e apresentação à agência de financiamento. (Holanda, 1975; Baum, 1978; e Buarque, 1988.) 44 Os “perfis de projetos” aqui considerados contemplam informações relacionadas apenas a uma parte dos elementos que compõem aquele ciclo, como as relacionadas aos seguintes aspectos: diagnóstico compreensivo sobre a situação atual relacionada aos problemas a resolver; objetivos (geral e específicos); diretrizes (setoriais e espaciais); linhas de ação; metas; instrumentos (legais, organizacionais, institucionais e financeiros); recursos financeiros e fontes; e gestão. Acrescente-se, também, que as iniciativas assim detalhadas serão implementadas no período 2001 a 2003 – escolhido como horizonte do Plano. Mesmo assim, há Programas (ou Projetos) que trabalham com metas a serem alcançadas até em 2005. As iniciativas que se encontram nessa situação ultrapassam, dessa forma, o último ano do período de vigência do Plano, além de alcançarem o ano final (2005) do primeiro cenário formulado no capítulo 4. Significa dizer que a mobilização das potencialidades para a solução dos problemas do Seridó irá requerer a continuidade da programação constante deste Plano, em anos posteriores ao de sua vigência. Esta particularidade é muito importante, pois a continuidade das ações constitui um dos requisitos fundamentais do desenvolvimento sustentável. Ademais, os Programas e Projetos do Plano do Seridó foram concebidos de forma a abrigar ações cujos conteúdos podem estar contidos – no todo ou em parte – em iniciativas integrantes de outros instrumentos de desenvolvimento da Região do Seridó. Saliente-se ainda que os Programas e Projetos de natureza ambiental têm caráter regulador e realizador, embora a primeira característica possa ser predominante, em relação a algumas iniciativas. Comportam também ações de caráter executivo, sem as quais a orientação normativa pode perder força. Os Programas e Projetos destinados ao atendimento das especificidades engendradas pelas dimensões econômica, sociocultural, tecnológica e político-institucional foram, assim, formulados para solucionar problemas de “mau desenvolvimento”, não tendo, por isso, caráter regulador específico. Isto não significa que os Programas e Projetos foram estruturados segundo a lógica exclusiva do mercado. Neste sentido, tem-se em vista que a ação reguladora/normativa do Estado continuará sendo exercida, como forma de eliminar a lógica dos processos que geram, ampliam e mantêm contingentes crescentes de excluídos. Destaque-se, por fim, consoante o que está salientado no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio Grande do Norte, que as ações programáticas deste Plano serão orientadas por Planos Operativos Anuais–POAs, em contraponto aos Planos Diretores Regionais de Desenvolvimento Sustentável, previstos no Plano Estadual. A elaboração dos POAs constituirá o instrumento principal da programação anual do Plano do Seridó, com destaques para as áreas prioritárias de desenvolvimento da região, detalhando-se a localização prioritária dos investimentos e pondo em relevo suas efetivas potencialidades econômicas, compatibilizadas com as restrições ambientais. Descrevem-se a seguir, nos itens 5.1 a 5.5, os Programas e Projetos que integram o Plano do Seridó, apresentados por Dimensão. No item 5.6 são indicados o volume de recursos financeiros necessários e disponíveis para a implementação do Plano. Por fim, o item 5.7 é dedicado à apresentação de critérios para a escolha de programas e projetos passíveis de implementação mais imediata. Dentre as 51 iniciativas que integram este Plano (24 programas e 27 projetos), algumas devem ter sua implementação iniciada primeiro do que outras. A seleção a este respeito poderá ser pautada pelas prioridades estabelecidas no referido item 5.7, ordenadas conforme dois conjuntos de prioridades. 45 5.1 DIMENSÃO AMBIENTAL No contexto desta Dimensão, foram elaborados os seguintes programas: Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água; e Meio Ambiente; Tratamento e Reciclagem do Lixo Urbano; e Recursos Hídricos. 5.1.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água a. Situação Atual A escassez de recursos hídricos no Seridó vem assumindo proporções notáveis. É assim no interior das fazendas, nas pequenas vilas e nas cidades de maior porte – como Caicó e Currais Novos. Isto tem a ver com a localização atomizada da imensa maioria dos quase 800 açudes existentes na região. Atente-se para o fato de a Região do Seridó contar com apenas 37 açudes com capacidade nominal de armazenamento de água superior a hum milhão de metros cúbicos. Na última década do século XX, até mesmo esses açudes quase chegaram ao limite máximo de suas capacidades de utilização. Significa dizer que os açudes médios – aqui considerados como aqueles com capacidade de armazenamento situada entre 100.000 a 1.000.000 m³ – chegaram ao seu limite, em alguns dos anos de seca da década em apreço. Os pequenos açudes – aqueles com menos de 100.000 m³ de capacidade de armazenamento –, armazenam volume de água que se esgota após um ano de seca. Provavelmente, esses açudes secaram todos, em vários daqueles anos de seca. Os pequenos açudes prestam-se para o abastecimento de áreas de demanda difusa, como as das fazendas. Localizam-se, de preferência, no interior das pequenas, que são as formadas por terras com menos de 100 hectares de superfície. No semi-árido nordestino, os estabelecimentos com menos de 100 hectares de área total compreendem entre 85 a 90% do número total de estabelecimentos agropecuários. O Seridó não foge a essa mesma situação. Nos anos de boas chuvas (ou de bom inverno), a demanda rural difusa no Seridó é atendida preferencialmente pela água acumulada nos pequenos açudes. Vem sendo assim desde os primórdios da colonização. Em depoimento datado de 1845, constata-se não apenas a importância dos pequenos açudes, como as dificuldades para sua construção. Um fazendeiro construiu naquele ano um açude a partir de uma cacimba escavada no leito seco de um rio, prática comum nos anos de seca. “Como era muito funda, necessitou ser alargada e ‘rampada’ para permitir o acesso do gado à água. A terra tirada da escavação da cacimba foi sendo acumulada no leito do riacho ao lado. Quando veio a chuva, aquela terra acumulada represou a água e, daí, o pessoal continuou colocando mais terra para sustentar a barragem e aumentá-la.” Essa não foi, necessariamente, a gênese da construção dos açudes no Seridó norte-rio-grandense, mas inúmeros açudes podem ter sido construídos por esse processo. (Ernesto Sobrinho et alii, 1983: 65.) A fonte complementar mais importante de abastecimento de água na região é representada pelas cacimbas e cacimbões (poços, tipo Amazonas). Isso ocorre, em particular, nas fazendas onde há coroas de rios e riachos bem dotadas de solos de aluvião. Ali se acumulam lençóis de água subterrânea de alguma expressão, onde são escavadas as cacimbas e cacimbões. A água dessa fonte apresenta alguma restrição no que se refere à qualidade. 46 Com a ajuda da técnica – pelo recurso a experiências praticadas em países também afetados pelas secas – e o apoio creditício, a juros baixos, complementado por algumas dotações de recursos a fundo perdido, os sertanejos passaram a ser orientados a construir outras formas de captação e armazenamento de água, em períodos mais recentes. Dos anos 60 do Século XX em diante, fazendeiros e agricultores do Seridó e do Nordeste semi-árido começaram a construir “barragens subterrâneas”, 4 “barragens submersas” 5 e cisternas, por orientação das instituições de extensão rural. Esses serviços foram prestados pelas divisões estaduais da antiga Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural–ANCAR, instaladas nos diferentes estados do Nordeste, a partir do final da segunda metade dos anos 50. Transformadas em Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural–Emateres, vinte anos depois, aquelas instituições descobriram o “pequeno produtor rural”, a quem passaram a dedicar atenção prioritária, em sua missão de melhor assistir a agricultura no Nordeste. Além dos pequenos açudes e cacimbas, bem como das “barragens subterrâneas” e das “barragens submersas”, vieram depois as alternativas de construção dos “barreiros de salvação”. 6 Essas iniciativas eram articuladas a “pacotes tecnológicos” destinados a apoiar a produção agropecuária, como os produzidos pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido–Cpatsa, subordinado à Embrapa. A produção de inovações tecnológicas específicas era realizada por solicitação das Emateres e das instituições responsáveis pela execução dos Programas Especiais de Desenvolvimento Regional, tipo Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste–Polonordeste e Projeto Sertanejo, 7 coordenados pela Sudene. Esses programas vigoraram entre os anos de 1974 e 1985. Graças a essas iniciativas, postas em prática em época caracterizada por considerável disponibilidade de recursos financeiros e acessáveis a juros baixos ou a fundo perdido, a infra-estrutura de recursos hídricos nas pequenas e médias fazendas do semi-árido foi consideravelmente ampliada. A construção dessa infra-estrutura foi positiva porque permitiu o aumento da oferta de água nas áreas de demanda rural difusa. Mas trouxe muitos problemas, como os causados pela construção indiscriminada de pequenos açudes. Sem o estudo das disponibilidades hídricas das bacias hidrográficas que integravam, os novos açudes construídos começaram a impedir que os açudes mais antigos, quer fossem pequenos, médios ou grandes, tivessem suas bacias de captação preenchidas com água. Além da ausência de uma adequada política de recursos hídricos, aqueles fatores foram agravados pela intensificação dos processos de desmatamento, pelo uso intenso e inadequado, em muitos casos, de máquinas agrícolas (tratores, em particular) nas áreas de baixadas, além de outros, que contribuíram para o assoreamento de muitos cursos d’água e reservatórios, pequenos ou grandes. A máxima de que o açude é um “santuário ecológico” no Nordeste semi-árido tende a perder sentido. Hoje, até os grandes açudes demoram a “sangrar”, por conta da construção de açudes nas cabeceiras dos cursos d’água que os alimentam e da degradação ambiental, responsável pelo assoreamento. Esse problema, entretanto, pode ter seus efeitos minimizados com a construção de “barragens de pedras soltas”, 8 ao longo das cotas das microbacias existentes nas fazendas. A retenção dos restos vegetais e das camadas de solo erodidas, sobretudo das resultantes da erosão laminar, é feita por aquele tipo de barramento. Com o tempo, esses barramentos podem se transformar em camadas sedimentares de solo (terraços), plenamente utilizáveis pela agricultura. As atividades do processo 4 As construídas ao nível do leito dos rios. As construídas com o objetivo de acumular um determinado volume de água, limitado à sua altura, no leito dos rios ou riachos. 6 Depressões escavadas em áreas não sedimentares, destinados à captação direta da água de chuva que nelas se precipita. 7 Corresponde a uma das mais importantes iniciativas estruturadoras das propriedades do semi-árido nordestino. Sua contribuição foi importante para o fortalecimento da infra-estrutura hídrica das propriedades. Teria sido bem mais expressiva se a oferta de crédito ao programa não houvesse sido limitada, até ser gradativamente eliminada. 8 São também chamadas de “barragens assoreadoras”. 5 47 descrito podem contribuir para a redução do assoreamento dos reservatórios e cursos d’água. Ao mesmo tempo, podem aumentar as disponibilidades de solos nas propriedades do semi-árido. A escassez de recursos hídricos no meio rural, bem como a limitação de acesso às fontes de água, vem sendo reforçada a cada ano. É o que demonstra o crescente número de carros-pipa utilizados na distribuição de água nos mais longínquos recantos do interior do Nordeste, tanto em áreas rurais como em povoados e vilas, assim como a construção de adutoras, em situações de emergência, e o deslocamento de pessoas e animais. Até cidades grandes, como Caicó, já chegaram a ter o seu abastecimento complementado por água transportada pelo citado tipo de veículo. No que em particular se refere ao Seridó, o crescimento do número desse meio de transporte de água, mesmo em anos de boas chuvas, indica que a demanda por água na região está tendo seus determinantes alterados. Não se trata mais do crescimento demográfico, em si, mas do crescimento populacional nas cidades. Por isso, as reservas de águas atualmente armazenáveis são insuficientes para atender os diferentes tipos de demanda, seja rural, seja urbana. O quadro é grave, mas ainda não é desesperador. As disposições legais advindas da Lei nº 9.433, de 08.01.97 (Lei de Recursos Hídricos), complementadas com a instituição da Agência Nacional de Água–ANA, reforçam as expectativas de que é possível adotar providências eficazes em relação à produção, distribuição, gestão e conservação da água e dos recursos hídricos. Com efeito, a lei que instituiu a ANA disciplina inúmeras atribuições de planejamento, supervisão e controle dos recursos hídricos da União. Sua aplicação prática deve requerer atenção redobrada. “Parece-me, porém, que a nova agência terá de atuar, muito mais, no apoio de uma ampla ação pedagógica para que o brasileiro de hoje não venha a ter sede amanhã. (...) Convenhamos. Necessitamos de mais civilidade no uso da água! Precisamos de uma mobilização que envolva a educação no lar, na escola e ao longo de toda a vida dos cidadãos.” (Moraes, 2000.) Diante das condições de abastecimento de água à população do Seridó, especialmente da que vive no campo, convém trabalhar melhor as contribuições que ainda podem ser oferecidas pelos sistemas simplificados de abastecimento. Além dos tipos já mencionados, é razoável conceder ênfase à perfuração de poços em áreas do cristalino, desde que se confira atenção aos rejeitos das águas dessalinizadas. Mesmo assim, é preciso agir de forma a não transformar uma possibilidade (a captação da água subterrânea) em um problema (o sal extraído das águas beneficiadas). Na mesma linha, há que cuidar de identificar métodos e processos que viabilizem a reutilização das águas. Este Programa está orientado para o atendimento das demandas mais imediatas da população do Seridó, compreendendo ações destinadas ao aumento da oferta de água, segundo esquemas simplificados de captação, armazenamento e distribuição desse produto. b. Objetivos O Programa de Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água, tem como objetivo geral avaliar e melhorar as fontes não-convencionais de captação e utilização de água, no contexto de uma política de uso sustentável dos recursos hídricos. Especificamente, pretende-se: • identificar, quantificar e estabelecer a importância relativa das principais fontes de abastecimento simplificado de água; 48 • realizar estudos prévios sobre o balanço hídrico das bacias e sub-bacias hidrográficas do Seridó; • pautar a construção de novos açudes – pequenos, médios ou grandes – no Seridó por informações adequadas, em matéria de oferta e demanda de recursos hídricos; • estabelecer rigoroso controle técnico na construção de açudes, “barragens subterrâneas” e “barragens submersas”, para evitar riscos de salinização e impedir que açudes a jusante não sangrem ou recebam pouca água; • aumentar a oferta de água para consumo difuso, racionalizando a construção, a manutenção e a conservação de novas fontes de abastecimento simplificado de água; • apoiar a criação de Agências de Bacias hidrográficas; e • adotar métodos e processos de reutilização das águas. c. Diretrizes O Programa terá suas ações pautadas pelas seguintes diretrizes: • a Agência de Desenvolvimento do Seridó realizará estudos orientados para a definição de uma política de recursos hídricos para a região, em articulação com a Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte; • a Agência de Desenvolvimento do Seridó apoiará as atividades das Agências de Bacias, relacionadas ao estudo e fiscalização de obras de produção e distribuição de água, em particular as destinadas ao atendimento da demanda rural difusa; • a construção de açudes, “barragens subterrâneas” e “barragens submersas” apoiada se as iniciativas estiverem lastreadas em estudos e projetos tecnicamente elaborados; 9 só será • as atividades de dessalinização de águas de poços só serão apoiadas se sua execução estiver acoplada a projetos de manejo ambiental dos rejeitos salinos; • os projetos de infra-estrutura hídrica apoiados pelo Programa serão executados sempre em articulação com atividades de florestamento e conservação dos recursos de solo e água em suas áreas de influência. d. Linhas de Ação Este Programa terá como linhas de ação: • realização de estudos sobre a construção, manutenção e conservação de fontes de abastecimento de água simplificado; 9 As “barragens subterrâneas” e as “barragens submersas” devem ser, preferencialmente, dotadas de dispositivos de descarga de fundo, para diminuir os riscos de salinização da água e do solo, especialmente nos anos de estiagem. 49 • apoio à construção de obras de abastecimento simplificado de água; e • execução direta ou indireta de projetos simplificados de infra-estrutura hídrica. e. Metas O Programa de Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água tem como metas principais, para o período 2001-2004: • realizar um estudo sobre os problemas e as possibilidades de armazenamento de água por estruturas simplificadas de abastecimento de água, até junho de 2002; • preparar uma Cartilha de Orientação para a construção de obras de abastecimento simplificado de água, até o final de 2002; • realizar cinco cursos de capacitação na elaboração de projetos de obras de abastecimento simplificado de água, destinados a profissionais dos serviços de assistência técnica oficial, bem como aos profissionais ligados a organizações não-governamentais, até o final de 2001; • realizar cinco campanhas de divulgação sobre as exigências para a construção de obras de abastecimento simplificado de água, até o final de 2001; • construir açudes, “barragens subterrâneas” e “barragens submersas”, em número compatível com a demanda, qualificada pelos projetos apresentados e aprovados. f. Instrumentos Serão mobilizados os instrumentos especificados a seguir na implementação deste Programa: 1. recursos do orçamento da União, via Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Integração Nacional (diretamente ou por intermédio de instituições como a Sudene e o DNOCS); 2. recursos orçamentários do Estado e dos governos municipais; 3. recursos do PAPP-Rio Grande do Norte; 4. recursos externos (via Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola–FIDA); 5. recursos de bancos nacionais, como o Bndes, Banco do Nordeste e Banco do Brasil (diretamente ou por intermédio da Fundação Banco do Brasil); 6. setor privado (empresários e beneficiários diretos); 7. colaboração de Comissões Municipais; 8. participação de organizações da comunidade com atuação no Seridó; e 50 9. colaboração de organizações não-governamentais com atuação no Seridó. g. Recursos Financeiros e Fontes O Programa de Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água mobilizará recursos no montante de R$ 5.000.000,00, equivalentes a US$ 2,777,778.00, à taxa de câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (15%), governo do Estado (10%), governos municipais (5%), PAPP-Rio Grande do Norte (15%), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola– FIDA (20%), Bndes (10%), Banco do Nordeste (10%), setor privado (10%) e beneficiários (5%). Os valores correspondentes a esses percentuais serão negociados com as instituições respectivas durante o processo de detalhamento e implementação do Programa. Parte dos valores referidos a algumas das fontes poderá constar de Projetos de Financiamento mais gerais, a serem elaborados pela Agência de Desenvolvimento do Seridó. Fontes como o FIDA, Bndes e Banco do Nordeste poderão ser consideradas em blocos de financiamentos que abranjam outros componentes do Plano do Seridó. h. Gestão A Agência de Desenvolvimento do Seridó será responsável pela coordenação deste Programa. Em caráter executivo, atuará por intermédio do Gerente do Programa. 10 O Gerente, apoiado pela Agência, articulará seus esforços com os dos parceiros do Programa. Destacam-se a este respeito, no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, as Secretarias de Planejamento e Finanças, da Agricultura e de Recursos Hídricos. Na esfera não oficial, trabalhará com o apoio do setor privado e de organizações nãogovernamentais e da comunidade. A coordenação, a nível de deliberação, das organizações públicas e nãogovernamentais será realizada pela Agência, com a participação do Gerente do Programa. 5.1.2 Meio Ambiente a. Situação Atual Os naturalistas europeus foram os primeiros ecologistas do Nordeste. Chegaram ao Brasil trazidos pelos colonizadores holandeses, franceses e portugueses. Foi o caso de Spix e Martius, Saint Hilaire, Humboldt e Darwin. Mas a contribuição brasileira também foi essencial, com destaque para os que integraram a Comissão Científica de Exploração, criada em 1859, como Francisco Freire Alemão (botânico), Guilherme Schüh Capanema (geólogo), Manuel Ferreira Lagos (zoólogo), Giacomo Raja Gabaglia (geógrafo) e Antônio Gonçalves Dias (etnólogo). Embora buscassem ouro e pedras preciosas, não deixaram de produzir importantes contribuições para a solução dos problemas das secas, com sugestões específicas para o aumento da oferta de recursos hídricos regularizados, como os resultantes da transposição de águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, no Ceará. A eles devem ser acrescentados nomes como os de Arrojado Lisboa, Luetzelburg, Albert Loefgren, Rodolpho von Ihering, José Augusto Trindade, Guimarães Duque e Vasconcelos Sobrinho. Também devem ser lembrados os nomes e as contribuições de cientistas, escritores e pensadores como Guilherme Studart (o Barão de Studart), Thomás Pompeu de Souza Brasil (o Senador Pompeu), Thomás Pompeu de Sousa Brasil Filho, Gilberto Freyre, Thomás Pompeu Sobrinho, Carlos Bastos Tigre, Dárdano de Andrade Lima e Lauro Xavier. (Carvalho, 1994.) 10 O Gerente de um Programa ou Projeto pode acumular as funções de gerência de um ou mais dessas iniciativas, em particular em suas fases iniciais – principalmente quando se tratar de funções comuns: estudo, planejamento ou execução. 51 Trabalhando os problemas das secas, aqueles pesquisadores estudaram e refletiram produtivamente sobre os recursos naturais do Nordeste, especialmente de suas vastidões semi-áridas, assentando os fundamentos da ecologia dessa Região. Estudando-os com a devida disciplina, os mais modernos, como Guimarães Duque, puderam demonstrar que a utilização mais adequada dos escassos recursos disponíveis no semi-árido não seria possível sem o devido respeito às leis da natureza. Por isso, Duque pregava como uma de suas máximas sobre o semi-árido: “Para implantar um sistema de agricultura econômica e permanente nas regiões de avareza climática nós teremos de ajustar os processos técnicos da população à manutenção mais ecológica possível do habitat.” Destaque-se que essa afirmativa não continha qualquer tendência desfavorável à introdução ao progresso técnico. O que ela trazia embutida era a necessária compatibilização entre possibilidades técnicas e exigências ambientais. Mais modernamente, a questão ambiental no Brasil teve sua importância ressaltada, de forma mais sistemática e oficial, a partir de 1971, com os preparativos para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que veio a ser realizada, em 1972, em Estocolmo, Suécia. Como resultado desta, o tema também passou a caracterizar uma preocupação internacional. Um dos resultados principais da Conferência citada foi o estabelecimento de 23 princípios básicos, consolidados na Declaração sobre o Ambiente Humano. Em resposta à aceitação externa, instituiu-se no Brasil, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente-SEMA, vinculada ao antigo Ministério do Interior, com o incentivo da qual foram criados e estruturados vários órgãos Estaduais do Meio Ambiente. Oficialmente, as preocupações com o meio ambiente no Estado do Rio Grande do Norte concretizaram-se posteriormente à criação da SEMA. O primeiro órgão de meio ambiente no Rio Grande do Norte foi a Coordenadoria do Meio Ambiente–CMA, criada em 1983, no âmbito da Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado. Posteriormente, a CMA foi incorporada ao Instituto de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte–Idec, transformado depois no Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente–Idema. Como foi discutido no capítulo 3, o Rio Grande do Norte tem mais de 90% do seu território inserido no Ecossistema da Região das Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste, no qual predomina o bioma da Caatinga, dotado de formação florestal típica. De acordo com a maior ou menor presença de xerofitismo, destacam-se ali dois tipos de caatinga: a hiperxerófila e a hipoxerófila. Em seu interior, há faixas de caatinga aberta, semidensa e densa, cobrindo cerca de 50% da superfície estadual, assim como áreas de caatinga em condições de exploração sustentável, considerando-se como tal as situadas fora das áreas de preservação permanente e de reserva legal. (PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007, 1992.) A floresta natural de caatinga tem provido grande parte da energia necessária às atividades produtivas e à subsistência da população local. Ainda é significativo o volume de biomassa florestal consumido pelos setores doméstico e industrial, representando uma razoável fonte de renda (lenha e carvão) para o agricultor, principalmente nos períodos de seca. Essas particularidades são mais acentuadas no Seridó, onde a vegetação predominante é constituída de espécies de caatinga. Anos de exploração continuada de solo mal tratado, de vegetação devastada e de recursos minerais obtidos na ausência de adequados processos de perfuração e extração têm contribuído para a redução das áreas de mata ali encontradas, para o carreamento das estreitas camadas de solo, com as quais são assoreados os riachos, rios e açudes, e para a diminuição da biodiversidade de uma fauna e flora outrora ricas. 52 Para suas relativamente frágeis bases físicas, são pesadas as marcas deixadas pelo processo de intensa ocupação por que tem passado a região. Durante vários anos e até mesmo centúrias, o homem tem conferido prioridade a atividades econômicas, como a pecuária extensiva, a cultura algodoeira e, mais recentemente, a cerâmica vermelha, cuja presença constitui forte pressão sobre a base dos recursos naturais existentes. Há muitos fatores que respondem pelos variados quadros de alterações ambientais. Os espaços naturais do Seridó assumem feição indesejável, com a constante retirada da cobertura vegetal para a instalação de campos de pastagem, onde nem sempre é tecnicamente recomendável a prática da pecuária. Nessas áreas, a mata de rala densidade é rapidamente eliminada pelo pisoteio dos rebanhos, em lotação excessiva. É o peso do uso acentuado de energéticos florestais, em par com a utilização, em moldes extrativistas, de solos agrícolas das áreas aluviais por parte da atividade ceramista. É comum ver-se pequenos, médios e grandes açudes diminuindo sua capacidade de armazenamento por causa do assoreamento provocado pela erosão laminar, tornando o atendimento da demanda rural difusa cada vez mais problemático. E não é difícil encontrar açudes com variada capacidade de armazenamento deixando de sangrar pela construção indiscriminada de novos açudes a montante. O contraponto das carências resultantes é o aumento da frota de carros-pipa, utilizados como precária alternativa para o dessedentamento das populações das fazendas e vilas espalhadas pelo interior dessa região. O Seridó enfrenta outras dificuldades ambientais, como as referentes à poluição atmosférica. É o que ocorre com a queima de lenha pelas cerâmicas, as atividades de torrefação, o processamento realizado por pequenas indústrias caseiras e o uso de teares domésticos, que contribuem para a ocorrência de formas variadas de poluição ambiental. Ademais, há que considerar as usinas de trituração de pedra granítica (para a produção de brita) e os fornos de produção de cal como grandes emissores de sílica e de material particulado. As padarias são as principais responsáveis pela poluição nas cidades, devido ao grande número de estabelecimentos existentes. As atividades de mineração para a exploração de calcário, argila e pedras ornamentais estão na origem da formação de enormes crateras, além de descaracterizarem a paisagem local, pelo desmatamento. A caracterização do Seridó norte-rio-grandense como um dos quatro Núcleos de Desertificação do Nordeste indica o grau de dificuldades que a região terá de superar para promover o seu desenvolvimento econômico sustentável, sem agravar o quadro ambiental. A proteção dos ecossistemas da região depende, em grande medida, do uso adequado dos recursos ambientais, da fiscalização permanente, da criação e implantação de Unidades de Conservação, do monitoramento de áreas críticas, visando a recuperação de áreas degradadas, do incentivo a estudos e pesquisas de tecnologias sustentáveis e de um programa eficiente de educação ambiental, aliados a uma gestão ambiental eficiente e eficaz. As lideranças do Seridó, vivendo no campo e nas cidades, estão conscientes desses problemas e sabem como resolvê-los. Já dispõem de um razoável grau de organização para pleitear apoio para esse rol de dificuldades. E conhecem o potencial que pode ser mobilizado para a busca de soluções compatíveis com a natureza de seus problemas. Uma das contribuições mais importantes já aportadas pela sociedade do Seridó para a solução de seus problemas ambientais está expressa pela instituição em 1997 do Grupo de Estudos de Desertificação do Seridó–GEDS. Esse Grupo, já tratado no volume 1 deste Plano (Diagnóstico, item 3.2.9), ainda tem estrutura informal, embora já venha prestando, desde sua criação, relevantes serviços à comunidade seridoense. Atua de acordo com programação que abrange componentes como os seguintes: combate à desertificação e uso de tecnologias de convivência com a seca. 53 Este Programa se desdobra nos seguintes Projetos: i. Educação Ambiental; ii. Manejo Florestal da Caatinga; iii. Recuperação de Áreas Degradadas e em Processo de Desertificação; iv. Despoluição de Mananciais e Reservatórios; v. Regularização de Áreas Urbanas Ocupadas Ilegalmente em Margens de Rios; e vi. Recuperação das Áreas Sujeitas à Exploração Mineral. A caracterização destes Projetos é feita a seguir, referindo-se cada um deles aos elementos utilizados na estruturação do Programa, a começar por esta situação atual. a.1 Educação Ambiental Trata-se de matéria que vem ganhando espaço crescente no País, embora ainda não tenha encontrado sua melhor forma de abordagem. Ora é tratada como questão ligada ao ensino, ora como assunto do domínio da ecologia. As instituições especializadas no assunto consideram a Educação Ambiental como matéria que vai além do ensino formal, dadas suas relações de comportamento e consciência, que se refletem sobre toda a comunidade, a começar da educação infanto-juvenil, nas escolas de 1º e 2º graus. “No Rio Grande do Norte a educação ambiental não foge à regra dos outros estados nordestinos. Apesar da boa intenção e dos discursos das instituições oficiais, a prática da educação ambiental ainda é pontual e, na maioria das vezes, se concretiza fruto do esforço abnegado de técnicos, o que resulta na falta de continuidade dos projetos.” (Queiroz, 1997: 41.) O quadro pode mudar, a partir da elaboração, em maio de 2000, do Programa de Educação Ambiental do Rio Grande do Norte, sob a responsabilidade da Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental–CIEA e o apoio do Idema. (Idema. CIEA, 2000.) A comunidade do Seridó, de sua parte, conhece bem os problemas ambientais, convivendo com eles em seu dia-a-dia. Dispõe de experiência no trato da matéria, expressa pelas atividades que vem desenvolvendo, por intermédio do GEDS. São, pois, justificáveis os fundamentos que recomendam a inclusão de um Projeto de Educação Ambiental no Plano do Seridó. Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, a educação ambiental constitui elemento essencial à viabilização das ações concebidas com essa orientação. A Educação Ambiental no Seridó começou em 1992, com a instituição do Programa de Educação Florestal-PEF, conduzido pelo governo do Rio Grande do Norte, Ibama e Secretarias de Educação dos Municípios de Caicó, Parelhas, Jardim do Seridó, Parelhas e Acari. O programa estava dirigido preferencialmente às escolas rurais. O programa encontra-se paralizado, daí recomendar-se a retomada desse importante tipo de iniciativa, por meio da implementação deste Projeto. 54 a.2 Manejo Florestal da Caatinga A perda de cobertura vegetal, a erosão do solo, o assoreamento de cursos d’água e outras fontes de água – naturais ou construídas – pode deixar de ocorrer ou ter os seus efeitos consideravelmente minimizados, mediante o manejo florestal das áreas de caatinga. No contexto ambiental do Seridó, o Manejo Florestal da Caatinga constitui o percurso mais adequado à correta utilização dos recursos naturais ali disponíveis, mormente os renováveis. Além das vantagens da preservação da flora e da fauna, o manejo florestal sustentado da caatinga pode garantir sua utilização permanente, sem riscos para o desequilíbrio ambiental. (MMA/Ibama, 1999.) Embora haja orientações técnicas sobre como promover e realizar o manejo florestal nas caatingas, ainda são muito restritas as experiências praticadas a este respeito. A elaboração deste Projeto inclui-se na linha da atenção prioritária que será concedida à conservação e adequada utilização da cobertura vegetal ainda existente no Seridó. Com essa perspectiva, o Projeto incluirá atividades de relevante interesse para a recuperação de áreas em processo de desertificação. a.3 Recuperação de Áreas Degradadas e em Processo de Desertificação O Seridó constitui um dos mais importantes Núcleos de Desertificação do semi-árido nordestino, contando com áreas ambientalmente degradadas e em processo de desertificação. Essas ocorrências são causadas pela utilização extensiva ou predatória dos recursos naturais disponíveis. Por virem sendo, há muito tempo, praticadas atividades agropastoris, minerais e industriais, sem o devido manejo, a recuperação dessas áreas e a não extensão de processos idênticos a terras ainda imunes ao problema dependerá da adoção de medidas preventivas de largo alcance, como serão aquelas legitimadas pela sociedade. Este Projeto abrigará medidas capazes de reforçar as ações que já vêm sendo postas em prática na região por diversas instituições articuladas pelo Grupo de Estudos de Desertificação do Seridó– GEDS. De importância neste sentido é a contribuição que vem sendo emprestada pelas entidades que participaram da constituição do GEDS e com ele vêm colaborando, como as especificadas a seguir: Ibama; Ibama/Estação Ecológica (ESEC); Emparn-Caicó; UFPB/CGA/Grupo III; Fundação Nacional de Saúde – D. S. de Caicó; DNOCS, em Caicó; Escritório Técnico de Apoio aos Municípios - IV ETAM; Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Municípios de Caicó; Fetarn; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caicó; Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários - Seapac; Fundação Grupo Esquel - Brasil; e Fundação Dinarte Mariz. O quadro de degradação ambiental vislumbrado no Seridó é dos mais graves, dentre os observados na hinterlândia semi-árida do Nordeste. Poderia até estar mais acentuado, na ausência das iniciativas que estão sendo praticadas na região pelas instituições antes referidas. As ações realizadas apresentam especificidades importantes, mas ainda é necessário elaborar um diagnóstico mais completo sobre a matéria, envolvendo as múltiplas interfaces do problema ambiental. a.4 Projeto Despoluição de Mananciais e Reservatórios Além de escassos, os recursos hídricos do Seridó vêm tendo seu uso comprometido pelo assoreamento (de riachos, rios e açudes) e pela poluição de seus corpos d’água mais importantes. Esse quadro resulta do uso inadequado dos recursos naturais, seja pela ocorrência de desmatamentos, em 55 particular das matas ciliares, da acumulação e uso não controlado da água e do lançamento de impurezas nos mananciais. Outros fatores ambientais adversos, como o clima, o solo e a cobertura vegetal, atuam também sobre as águas disponíveis, afetando seus aspectos qualitativos e quantitativos. A falta de instrução e de informação por parte da grande maioria dos usuários da água contribui, ademais, para a utilização predatória dos recursos naturais, em particular a dos recursos hídricos. Os problemas referidos tendem a assumir maior gravidade devido à intermitência dos cursos d’água. Com vazão nula durante grande parte do ano, os cursos d’água não podem ser usados como diluidores de despejos. Nos períodos de secas, os açudes têm seus volumes de água acumulada reduzidos, chegando, muitas vezes, a ficarem abaixo do nível mínimo necessário para os diversos usos. Nesses períodos, as águas barradas diminuem sua qualidade, pois aumentam as concentrações de poluentes. Saliente-se, ademais, que a maioria dos municípios do Estado não possui sistemas de tratamento de dejetos. Assim, um dos problemas mais graves da poluição dos mananciais e reservatórios se concentra no lançamento e infiltração de resíduos líquidos e sólidos nos corpos receptores e até mesmo a céu aberto. O uso descontrolado de agrotóxicos e fertilizantes também contribui para a poluição dos reservatórios e mananciais da região. A utilização dos produtos químicos é feita nas proximidades dos cursos d’água, sem observar os critérios de escolha daqueles produtos. Sua aplicação chega, além disso, a ser efetuada em dosagens elevadas e em épocas inadequadas. Muitas vezes, os equipamentos utilizados são lavados dentro dos próprios mananciais. A exploração inadequada dos recursos minerais também acentua a degradação dos recursos hídricos. Esse problema é de particular importância no Seridó, dado o peso das explorações minerais na região. Ali, a falta de cuidados com os rejeitos do processo da exploração pode intensificar o comprometimento dos corpos hídricos. (Idec, 1996.) Assim, a água, bem escasso, tende para a piora crescente de sua qualidade. Não há registros sobre a realização de programas ou projetos relacionados ao processo de despoluição de mananciais no Seridó. Justifica-se, assim, a inclusão deste Projeto no Programa de Meio Ambiente. a.5 Regularização de Áreas Urbanas Ocupadas Ilegalmente em Margens de Rios O intenso processo de migração de contingentes da população seridoense rumo às áreas urbanas da região tem criado problemas que precisam ser melhor conhecidos. Famílias expulsas pela seca – integradas pelos sem-terra e sem-teto –, com a ajuda da pobreza, buscam espaço para viver e morar nas proximidades das pequenas e médias cidades do Seridó. Alojam-se nos terrenos de aluvião e nas encostas menos férteis dos rios que cortam aquelas cidades. Ali constróem suas habitações e reorganizam suas famílias como podem às custas da expectativa de obtenção de uma remuneração qualquer, no setor informal urbano. Embora precariamente, conseguem muitas vezes acessar os serviços essenciais de educação e saúde, com os quais não contavam no interior das fazendas pouco rentáveis ou sem renda-dinheiro, de onde se deslocaram. Na ausência dessas alternativas, alguns desses deserdados podem engrossar as fileiras dos que encontraram abrigo no crime e no uso e comércio de drogas. O mais grave é que as possibilidades criadas por esses despossuídos têm servido de ensejo para que os especuladores de todas as ocasiões invadam seus “espaços”, expulsando-os dos seus mais recentes locais de residência. A ocupação das áreas urbanas em margens de rios por aqueles especuladores é mais grave, porque, em algumas situações, é feita com o desconhecimento apenas aparente das autoridades municipais. 56 Este Projeto está orientado para o estudo e a adoção de providências destinadas à regularização das áreas ocupadas segundo os procedimentos aqui descritos. a.6 Recuperação das Áreas Sujeitas à Exploração Mineral Os impactos ambientais das atividades de garimpagem derivam principalmente da lavra desordenada, da falta de prévio conhecimento da geologia regional, da disposição indiscriminada de rejeitos, do assoreamento de drenagens naturais e da falta de recuperação de áreas degradadas. A concepção de projetos nesse tema visa impor medidas de proteção ao ambiente em áreas minerais, tais como a recomposição de áreas já mineradas; a eliminação da poluição atmosférica, derivada do carreamento de poeira no transporte de minérios; o ordenamento das áreas de descarrego; o armazenamento dos rejeitos e seu beneficiamento; a melhoria das condições precárias de trabalho que a atividade provoca, assim como a adoção de técnicas adequadas de extração, para evitar a degradação irreversível dos depósitos minerais. No Seridó, as áreas de exploração mineral, em condições mais críticas, do ponto de vista ambiental, são encontradas nos Municípios de Carnaúba dos Dantas, Equador, Parelhas e Currais Novos. Nas áreas de mineração mais interiores estão localizadas as alterações que produzem mais impacto sobre o meio ambiente. São impactos observados tanto na fase de extração como na fase de beneficiamento dos minérios. Naqueles municípios, os rejeitos a céu aberto chegam a ser encontrados às margens das estradas principais, em vários locais. Esses problemas vêm ocorrendo há tempo, antes mesmo da vigência de leis que disciplinam os processos de mineração. Os problemas ambientais decorrentes da mineração são gerados tanto por empresas mineradoras como por garimpeiros. A recuperação das áreas degradadas pela mineração requerem práticas específicas, capazes de envolver adequada sinergia entre população e ecologia. Experiências conduzidas em áreas de mineração melhor administradas do ponto de vista da recuperação ambiental têm propiciado a adoção de práticas (medidas) orientadas por princípios básicos como os seguintes, aplicáveis ao Seridó: i) as práticas eficazes resultam de um compromisso com a reabilitação ideal; ii) as medidas ideais, usando sinergia ecológica, requerem sinergia humana; iii) a adoção de práticas ideais exige o planejamento de mudanças sistemáticas; e iv) a prática pode levar a perfeição. (Griffith, 1995: 19-24.) O melhor aproveitamento das possibilidades oferecidas pela mineração no Seridó depende, em muito boa medida, da natureza e da continuidade dos processos de recuperação que vierem a ser implementados nas áreas já exploradas/degradadas ou em processo de exploração. b. Objetivos O Programa de Meio Ambiente tem como objetivo geral garantir que a questão ambiental será devidamente considerada no estudo, concepção, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas e projetos voltados para o desenvolvimento do Seridó, em particular os que integram este Plano. Especificamente, pretende-se: • inserir e institucionalizar a temática ambiental em todas as escolas de 1º 2º grau do Seridó; 57 • criar cursos de especialização e de pós-graduação lato sensu em educação ambiental e em recursos naturais no Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–CERES, Campus de Currais Novos e de Caicó; • produzir e divulgar material didático destinado a apoiar as atividades de educação ambiental nas escolas oficiais do Seridó; • promover ações de manejo florestal da caatinga, orientado para a produção de lenha, de estacas, de madeira para serraria, de produção mista e de forragem, no quadro do Plano de Manejo Florestal disponível ou que vier a ser atualizado; • elaborar, consolidar e aprofundar estudos sobre as áreas degradadas e em processo de desertificação, estabelecendo-se seus principais determinantes e alternativas de recuperação, conservação e preservação; • incorporar a temática da desertificação às atividades dos movimentos sociais e das áreas e comunidades afetadas por esse processo; • adotar medidas de proteção e recuperação do ambiente natural das áreas susceptíveis à desertificação no Seridó; • promover ações orientadas para a despoluição de mananciais e reservatórios afetados por diferentes formas de poluição; • mapear e executar medidas para regularizar as áreas urbanas ocupadas ilegalmente em margens de rios do Seridó; • mapear e definir medidas destinadas a promover a recuperação das áreas sujeitas à exploração mineral no Seridó; • promover o fortalecimento e ampla articulação das ONGs e entidades da Sociedade Civil organizada, como os comitês de cidadania, redes temáticas, movimento sindical, organismos do movimento popular, com o setor privado e o setor público; • apoiar as ações do GEDS; e • realizar cursos de formação e capacitação de recursos humanos, assim como campanhas e eventos, para viabilizar a implementação de ações de preservação e de manejo sustentável dos recursos naturais. c. Diretrizes Este Programa será executado conforme as seguintes orientações: • a Agência de Desenvolvimento do Seridó detalhará, direta ou indiretamente, por meio de contrato ou convênio, os Projetos que integram este Programa; 58 • detalhamento dos Projetos do Programa será efetuado sob o marco da articulação e da complementaridade; • a Agência de Desenvolvimento do Seridó integrará as ações programáticas dos Projetos deste Programa com as iniciativas a cargo do Grupo de Estudos de Desertificação do Seridó–GEDS; • os agricultores que exercerem atividades em áreas susceptíveis a processos de desertificação serão obrigados a executar projetos de uso sustentável dos recursos naturais, previamente aprovados pelos órgãos competentes; • governo do Estado e os governos municipais aportarão recursos financeiros, materiais e humanos para viabilizar a implementação dos Projetos do Programa; • os gerentes dos Projetos do Programa conduzirão as ações sob suas respectivas responsabilidades em articulação com as realizadas pelos gerentes de Programas e Projetos de produção, distribuição e gestão de recursos hídricos, no que for de particular interesse da sociedade do Seridó; e • os temas ligados à educação ambiental, manejo florestal sustentado da caatinga, recuperação de áreas degradadas ou em processo de desertificação, despoluição de mananciais e reservatórios, regularização de áreas urbanas ocupadas ilegalmente em margens de rios e recuperação de áreas sujeitas à exploração mineral constituirão matéria de campanhas de esclarecimento, conduzidas sob a supervisão da Agência de Desenvolvimento do Seridó, com o apoio do governo estadual e dos governos locais e a participação de organizações ambientais. d. Linhas de Ação Na implementação deste Programa serão executadas atividades ligadas às seguintes linhas de ação: • produção de indicadores e parâmetros para a identificação de áreas degradadas por processos de desertificação ou pela poluição de recursos hídricos; • mapeamento das áreas degradadas, quer se trate do desenvolvimento de atividades agrícolas, pecuárias, minerais ou destinadas à produção e utilização de recursos hídricos e florestais; • realização de estudos e pesquisas sobre conservação do meio ambiente, em áreas rurais e urbanas, e experiências exitosas de convivência com a semi-aridez; • implementação de projetos de conservação ambiental; e • fortalecimento institucional. e. Metas O Programa terá como metas principais: • institucionalizar cursos de formação de professores em educação ambiental nas escolas de 1º e 2º grau de todos os municípios do Seridó, até o final de 2004; 59 • instalar cursos de especialização em educação ambiental e de pós-graduação em recursos naturais no Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–CERES, Campus de Currais Novos e de Caicó; • instalar Planos de Manejo Florestal em 500 propriedades rurais do Seridó, até o final de 2004; • institucionalizar e apoiar as ações conduzidas pelo GEDS, em apoio às medidas destinadas a reduzir os espaços submetidos a processos gerais de degradação ambiental, já a partir de 2001; • promover a recuperação de pelo menos 3.500 ha de áreas degradadas, até 2004; • realizar estudos de despoluição para os 26 principais açudes existentes no Seridó, até o final de 2002; • mapear e regularizar as áreas de margens de rios situados na área de influência imediata de pelo menos 50% das 28 sedes municipais do Seridó, onde as condições se apresentem mais graves, até o final de 2003; • mapear e promover a recuperação de 30% das áreas degradadas pela exploração mineral, até o final de 2004; • criar um Núcleo de Estudo e Monitoramento Ambiental em cada um dos Municípios do Seridó, até o final de 2004; e • realizar sete cursos de capacitação de gestores ambientais, com ênfase na preservação, conservação e recuperação de áreas degradadas ou em processo de degradação, até o final de 2002. f. Instrumentos Na implementação deste Programa, serão mobilizados instrumentos como os especificados a seguir: 1. recursos do orçamento da União, alocados ao Ministério do Meio Ambiente, ao Ministério da Integração Nacional (diretamente ou por intermédio de instituições como a Sudene e o DNOCS) e ao Ministério da Agricultura (via Embrapa e seus Centros de Pesquisa); 2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte–Ufrn; 3. recursos orçamentários do Estado e dos governos municipais; 4. recursos externos (via FIDA); 5. recursos de bancos nacionais, como o Bndes, Banco do Nordeste e Banco do Brasil; 6. setor privado (empresários e beneficiários diretos); 60 7. colaboração de Comissões Municipais; 8. participação de organizações da comunidade com atuação no Seridó; 9. colaboração de organizações ambientais que atuem no Seridó. g. Recursos Financeiros e Fontes O Programa de Meio Ambiente mobilizará recursos no montante de R$ 20.300.000,00, equivalentes a US$ 11,277,777.00, à taxa de câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, assim especificados: i. Formação de Professores (escolas de 1º e 2º grau e cursos de especialização e pós-graduação em educação ambiental e em recursos naturais) no CERES, Campus de Currais Novos e de Caicó: R$ 2.500.000,00; ii. Manejo Florestal da Caatinga: R$ 1.500.000,00; iii. Recuperação de Áreas Degradadas e em Processo de Desertificação: 11 Estudos de despoluição dos principais açudes do Seridó: iv. v. vi. vii. viii. R$ 5.000.000,00; R$ 2.000.000,00; Mapeamento e regularização de áreas de margens de rios situados na área de influência imediata de sedes municipais do Seridó: R$ 5.000.000,00; Mapeamento e recuperação de áreas degradadas pela exploração mineral: R$ 3.000.000,00; Criação de Núcleos de Estudo e Monitoramento Ambiental: R$ 600.000,00; Cursos de capacitação em problemas ambientais: R$ 700.000,00. Esses recursos provirão das seguintes fontes: União (15%), 12 governo do Estado (17%), governos municipais (5%), FIDA (25%), Bndes (15%), Banco do Nordeste (5%), PAPP (10%), setor privado (5%) e beneficiários (3%). As instituições que representam essas fontes serão contatadas durante o processo de elaboração dos Projetos do Programa. Os valores destinados a algumas das rubricas referidas poderão ser negociados no contexto de Projetos de Financiamento que incorporem outros componentes. Por exemplo, 11 Trabalha-se com um custo de recuperação por hectare para áreas de agricultura de sequeiro e de pecuária extensiva da ordem de US$ 750.00 e US$ 250.00, respectivamente. Os recursos especificados podem ser suficientes para recuperar algo em torno de 3.500 hectares de áreas degradadas. 12 Inclui a participação dos Ministérios do Meio Ambiente e da Integração Nacional e da Ufrn. 61 uma fonte como o FIDA poderá ser considerada em bloco de financiamento que abranja outros componentes do Plano do Seridó. h. Gestão O Programa será coordenado pela Agência de Desenvolvimento do Seridó. O Programa terá um Gerente, assim como cada um dos seus Projetos. 13 Na realização de suas tarefas, a Agência articulará os esforços de todos os parceiros do Programa, dentre os quais se destacam, no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, Secretarias como as de Planejamento e Finanças, Agricultura e Abastecimento, Recursos Hídricos e Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia. Organizações não-governamentais e da comunidade e do setor privado também participarão de sua execução. A coordenação dessas organizações públicas e não-governamentais também será realizada pela Agência. Durante a fase de detalhamento dos Projetos desse Programa, serão promovidas articulações com os responsáveis pelo Projeto Nossas Matas Ciliares – Alternativas Econômicas para Pequenas Comunidades da Região do Seridó do Rio Grande do Norte, que está sendo conduzido pelo Idema. Além do Idema, esse novo Projeto poderá contar com a participação da Emater, da Secretaria de Recursos Hídricos, do DNOCS, do Seapac e do Centro de Estudos e Assessoria Aplicados ao Desenvolvimento–Ceaad. Também poderão participar de sua implementação as instituições responsáveis pelo Projeto Lumiar (assistência técnica em áreas de assentamentos, coordenada pelo Incra), Projeto de Pesquisa sobre Manejo Florestal da Caatinga, localizado na Estação Ecológica do Seridó (a cargo do Ibama/Pnud) e Projeto de Controle da Desertificação no Município de Equador (Cooperação Técnica Brasil–Japão, por intermédio da Japanese International Cooperative Agency– JICA). 5.1.3 Tratamento e Reciclagem de Lixo Urbano a. Situação Atual É considerável a presença de lixo no leito (ou nas barrancas) dos rios e riachos localizados nas proximidades das cidades do Seridó. Trata-se de problema ambiental que se deriva do rápido e crescente processo de urbanização observado na região. A limpeza das cidades do Seridó contrasta com o que acontece com os riachos e rios que margeiam as áreas urbanas. Como não há aterros sanitários, a população se vale dos espaços dos cursos d’água. Os rios no Seridó, em boa medida, também perdem vazão por causa desse procedimento. As prefeituras não dispõem de estrutura e de recursos para administrar os efeitos da urbanização crescente. Considera-se oportuno e necessário elaborar um Programa de Tratamento e Reciclagem do Lixo Urbano, para sanar os problemas de coleta e destino final do lixo, aspecto fundamental à melhora da saúde da população. A reciclagem, embora recomendada como boa prática de desenvolvimento sustentável, não constitui, sozinha, solução para o problema dos resíduos industriais e domésticos. É necessário produzir um “mix” de atitudes e decisões políticas que conduza a abordagens mais abrangentes e a soluções que minimizem os estoques de resíduos na fonte geradora, contemplando a reutilização dos rejeitos aproveitáveis como embalagens e metais. Isto significa que a questão do lixo urbano requer como prioridade a adoção do Gerenciamento Integrado do Lixo, para equacionar o problema, contemplando os aspectos ambientais, econômicos e sociais, ou seja, simultaneamente, limpar o 13 O Gerente de um Programa ou Projeto pode acumular as funções de gerência de um ou mais dessas iniciativas, em particular em suas fases iniciais – principalmente quando se tratar de funções comuns: estudo, planejamento ou execução. 62 ambiente, gerar emprego e renda e melhorar a vida dos que vivem de catar lixo nas ruas ou nos lixões das cidades. O Gerenciamento Integrado do Lixo subentende o processo de educação e conscientização da população, a coleta seletiva, a reciclagem e a deposição final em aterros sanitários adequadamente construídos. b. Objetivos Pretende-se com esse Programa alcançar os seguintes objetivos: • conscientizar a sociedade seridoense da importância da questão do lixo para a preservação da higiene ambiental e da saúde das pessoas; • urbano; e articular as prefeituras da região para agir em parceria na solução do problema do lixo • dotar as cidades da região de sistemas de coleta e destinação final do lixo que as mantenham limpas e saudáveis. c. Diretrizes O Programa de Tratamento e Reciclagem do Lixo Urbano será implementado obedecendo às diretrizes abaixo especificadas: • as prefeituras do Seridó deverão articular-se, formando consórcios para a elaboração de projetos que visem a busca de melhor solução para o problema do lixo urbano; • as prefeituras, em associação com organizações ambientais, deverão promover campanhas de esclarecimento e conscientização da população, mostrando a importância da participação da sociedade na solução do problema do lixo; • as prefeituras da região deverão articular-se também com as entidades estaduais e federais responsáveis pela área de saneamento básico, para pleitear apoio técnico e financeiro para a solução dos problemas de lixo urbano; • as prefeituras, em parceria com organizações não-governamentais, deverão desenvolver formas de aproveitamento econômico do material reciclável, aproveitando a mão-de-obra desocupada das famílias mais carentes. d. Linhas de Ação Para a implementação desse Programa, as seguintes linhas de ação deverão ser seguidas: • promoção da associação de prefeituras em consórcios municipais, para reduzir os custos dos projetos de tratamento e reciclagem do lixo; • uso de soluções que não acarretem agravos ao meio ambiente; • utilização de experiências já adotadas em outras cidades, passíveis de adaptação às 63 condições das cidades do Seridó; • concepção de programas no âmbito das prefeituras para o gerenciamento dos projetos de tratamento e reciclagem do lixo. e. Metas Com a implementação desse Programa, pretende-se cumprir as seguintes metas: • dotar todos os municípios do Seridó de sistemas adequados de coleta e destino final de lixo urbano, até o final do ano 2001; e • apoiar a formação de consórcios municipais orientados para a melhoria da eficiência e eficácia dos sistemas municipais de tratamento do lixo urbano. f. Instrumentos Para a implementação do Programa, serão utilizados instrumentos integrantes das seguintes categorias: 1. recursos do orçamento da União (Plano Plurianual de Investimentos–PPA); 2. Fundação Nacional de Saúde–FNS; 3. recursos do orçamento do Estado (PPA); 4. Companhia de Abastecimento e Saneamento do Rio Grande do Norte–CAERN; 5. recursos dos orçamentos dos municípios; 6. Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Bndes e Caixa Econômica Federal; e 7. recursos externos (de instituições como o BID e BIRD). O Programa poderá contar, ademais, com instrumentos programáticos, a exemplo dos referentes ao Projeto Fibra do Sertão, projeto piloto que está sendo realizado em alguns Estados do Nordeste com apoio da UNESCO, Sudene e Programa Comunidade Ativa, com orientação técnica da ONG Compromisso Empresarial para a Reciclagem– CEMPRE, que atua na área de tratamento de lixo. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução do Programa mobilizará recursos no montante de R$ 1.960.000,00, equivalentes a US$ 1,090,000.00, à taxa de câmbio US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: • recursos da União, oriundos de vários Programas e Fundos (como o Programa Comunidade Ativa e o Programa Pró-Saneamento, da CEF) (20%); 64 • recursos do Tesouro Estadual, conforme o que está previsto nas ações programáticas das Secretarias Estaduais e no PPA do Rio Grande do Norte (20%); • prefeituras municipais (15%); • recursos do Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Bndes e Financiadora de Estudos e Projetos–Finep (30%); • Empreendimentos para o Fluir Saudável do Dinheiro–WIDAR 14 (10%); e • beneficiários (5%). h. Gestão O Programa será executado sob a coordenação de um Gerente. Com o apoio da Agência de Desenvolvimento do Seridó, o Gerente articulará as ações das prefeituras, dos consórcios municipais que vierem a ser criados e de um conselho do qual participarão representantes de organizações nãogovernamentais ligadas à questão ambiental, além de representantes das instituições financiadoras dos projetos. 5.1.4 Armazenamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos a. Situação Atual A questão dos recursos hídricos no Rio Grande do Norte está sendo equacionada no âmbito do Plano Estadual de Recursos Hídricos. Esse Plano encontra-se em fase de execução, como parte integrante do Pró-Água/Semi-Árido, iniciativa do governo federal, incluída, prioritariamente, no Programa Brasil em Ação. De natureza estruturante, o Pró-Água/Semi-Árido foi instituído sob o marco da ênfase ao fortalecimento institucional dos principais atores envolvidos nas atividades de gestão de recursos hídricos, tanto nas bacias hidrográficas de domínio da União, quanto nas de domínio dos Estados. O Pró-Água/Semi-Árido abrange os seguintes componentes: Gestão de Recursos Hídricos; Estudos e Projetos; Gestão do Rio São Francisco; Obras Prioritárias; e Gerenciamento, Monitoria e Avaliação. O Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte está pautado pela estruturação que orienta o Pró-Água/Semi-Árido. O componente Gestão de Recursos Hídricos do Pró-Água/Semi-Árido compreende aspectos de Desenvolvimento Institucional e Bases Técnicas para a Gestão de Recursos Hídricos. Os aspectos de Desenvolvimento Institucional abrangem, por sua vez, as áreas de Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos; Desenvolvimento e Aplicação da Legislação; Estruturação dos Órgãos Gestores e Unidades Estaduais de Gestão de Projetos–UEGP; Sistema de Outorga e Cobrança; Programa de Capacitação de Recursos Humanos; Mecanismos Econômico-Financeiros; Comunicação, Educação e Gestão Participativa; Preparação do PRO-ÁGUA Nacional; e Preparação do PROÁGUA/Semi-árido, fase II. As Bases Técnicas para a Gestão de Recursos Hídricos incluem atividades relacionadas à Rede Hidrometeorológica/Qualidade de Água; e ao Sistema de Informação de Recursos Hídricos. 14 E-mail: www.sab.org.br/inv-cred/widar.htm. 65 O componente Estudos e Projetos envolve o Planejamento de Recursos Hídricos, que abarca, por sua vez, questões ligadas a Planos de Bacias Hidrográficas; Planos para Situações de Emergência; Consolidação da Base de Dados/Estratégia de Recursos Hídricos; Planos de Recuperação e Manutenção da Infra-estrutura Existente; Estudos e Projetos Específicos; Estudos de Disponibilidade Hídrica; Estudos de Viabilidade de Obras Elegíveis; e Normas para Operação e Manutenção de Reservatórios. O componente Gestão do Rio São Francisco tem como objetivo geral a implementação de um novo modelo de gestão para a Bacia do Rio São Francisco, ancorado nos princípios da Lei Nº 9.433/97 (Lei de Recursos Hídricos) e nas orientações de um Plano de Gestão de Recursos Hídricos, que inclui a organização da base de dados existente, de forma a permitir sua utilização por todos os setores da sociedade interessados no assunto. O componente Obras Prioritárias abrange ações referentes ao financiamento de obras de infraestrutura hidráulica de interesse local, voltadas para a armazenagem e distribuição de água por atacado (bruta) para comunidades com problemas permanentes de suprimento. Tais obras serão executadas de forma descentralizada pelos Estados. Esse componente do Pró-Água/Semi-Árido é executado sob a responsabilidade da Unidade de Gerenciamento de Obras, subordinada, desde agosto de 1999, à Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional. As intervenções referidas a esse componente contemplam, prioritariamente: a construção de barragens ou açudes que se destinem predominantemente ao abastecimento humano; a construção de adutoras de água por atacado; a Construção de Estações de Tratamento de Água; a construção de Sistemas Simplificados de Abastecimento de Água; e a implementação de sistemas de captação de água subterrânea. O componente Gerenciamento, Monitoria e Avaliação envolve atividades conduzidas sob a responsabilidade da Unidade de Gestão do Pró-Água/Semi-Árido, que está subordinada à Secretaria de Recursos Hídricos-SRH, do Ministério do Meio Ambiente. As ações desse componente abrangem, prioritariamente, atividades de educação e divulgação; incentivo à criação de associações de usuários de água; monitoramento e fiscalização; e outorgas e licenças. Essas atividades estão sendo conduzidas no Rio Grande do Norte consoante as orientações estabelecidas pela Política Estadual de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 66.908, de 1º de julho de 1996. No caso das associações de usuários de água, o Estado já conta com 55 dessas associações, legalmente criadas e 12 Comissões Organizadoras Provisórias. As atividades de monitoramento e fiscalização estão voltadas para o monitoramento, a operação e a fiscalização dos mananciais superficiais e subterrâneos do Estado. São realizadas de forma participativa e descentralizada, de modo a garantir a oferta, a preservação e a conservação dos recursos. As outorgas e licenças são concedidas sob os fundamentos da administração dos recursos naturais, no contexto de sua integração com os diversos usos da água no âmbito das diferentes bacias hidrográficas. Permite que seu aproveitamento seja feito de forma eqüitativa e participativa, atendendo com eficiência os padrões de qualidade e quantidade, satisfatórios para os atuais e futuros usuários. A autorização e as concessões de Outorgas de Direito de Uso de Água e Licenciamento de Obras Hidráulicas são feitas de conformidade com a Lei nº 66.908 (já citada), regulamentada pelo Decreto nº 13.283, de 22 de março de 1997. 66 A gestão das águas distribuídas pelas adutoras está a cargo da Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte–CAERN é quem opera os sistemas e realiza sua manutenção. Nas comunidades e povoados, a gestão da água distribuída por meio de chafarizes é realizada por pessoas da comunidade, com o apoio da Secretaria de Recursos Hídricos. Os principais problemas de gestão da água no Estado estão relacionados a aspectos educacionais da população. Há ocorrências de desvio de água por meio das válvulas de descarga e/ou de pressão localizadas em alguns pontos da tubulação. Destaque-se ainda que o impacto social da água de boa qualidade e relativamente abundante tem provocado mal uso e desperdício em cidades e povoados rurais. O Plano Estadual de Recursos Hídricos foi concebido de forma a propiciar o abastecimento das populações interioranas submetidas à escassez relativa de água. Engloba sete sistemas adutores, localizados nas principais regiões do Estado, conforme especificação a seguir: • Sistema Adutor Agreste/Trairi/Potengi; • Sistema Adutor Jardim do Seridó; • Sistema Adutor Médio Oeste; • Sistema Adutor Mossoró; • Sistema Adutor Piranhas-Caicó; • Sistema Adutor Serra de Santana; e • Sistema Adutor Sertão Central–Cabugi. Conforme discutido no item 3.2.2 do Diagnóstico (Volume 1 do Plano), são extraordinárias as carências de recursos hídricos no Seridó. As providências para sua superação referem-se ao aumento da oferta de água, considerado no contexto de uma adequada gestão dos recursos hídricos disponíveis e a acumular. As carências identificadas já foram aqui pontuadas, de forma específica, ao se tratar do Programa de Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água, descrito no item 5.1.1 anterior. Este Programa de Recursos Hídricos, de características mais ortodoxas, requer, por seu turno, ações de maior envergadura, como as que estão previstas no Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte. Daqueles sete sistemas adutores, três interessam, diretamente, ao Seridó: • Sistema Adutor Jardim do Seridó; • Sistema Adutor Piranhas-Caicó; e • Sistema Adutor Serra de Santana. O Sistema Adutor Jardim do Seridó, com obras já concluídas, tem por objetivo suprir de água de boa qualidade a cidade de Jardim do Seridó e sete comunidades situadas ao longo do seu traçado, 67 atendendo uma população de 11.989 habitantes. No contexto dos estudos realizados pelo Ministério da Integração Nacional para o Projeto de Transposição de Águas do São Francisco, o Sistema Adutor Piranhas-Caicó está projetado para captar água do Rio Piranhas. Esse rio encontra-se perenizado pelo sistema Coremas–Mãe D’água, na Paraíba. O ponto de captação estudado fica próximo à ponte Jardim de Piranhas. O sistema adutor abastecerá as cidades de Caicó, São Fernando, Timbaúba dos Batistas e Jardim de Piranhas, cuja população beneficiada é de 58.300 habitantes. O alcance do projeto é de 20 anos. A vazão estimada para o final do Projeto de Transposição é da ordem de 121 litros por segundo. O traçado de todo o sistema adutor está orientado ao longo da BR-427, à exceção do trecho para Timbaúba dos Batistas, que segue em estrada secundária. Estão previstos 45,40 km de adutora, com diâmetros variando de 350 mm a 150 mm, com no mínimo duas estações elevatórias de água tratada. (MI/SIH, 2000-f, Vol. 1.) O Sistema Adutor Serra de Santana captará água da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, por meio de uma estação de bombeamento composta por flutuadores dotados de bombas submersas. Esse sistema adutor será executado em duas etapas. A primeira etapa contempla a captação, estação de bombeamento, estação de tratamento de água e adutora, beneficiando a cidade de Florânia e mais nove localidades. Para a segunda etapa estão previstas quatro estações de bombeamento, além da adutora para atender as cidades de Tenente Laurentino Cruz, São Vicente, Lagoa Nova e Bodó e mais 70 pequenas localidades. A adutora principal, a ser construída na primeira etapa do projeto, irá da Estação de Tratamento de Água–ETA até uma estação de bombeamento, em Florânia, seguindo com adutoras secundárias, que derivam da principal e atenderão as demais localidades. O sistema adutor Serra de Santana beneficiará uma população de 59.887 habitantes ao final do Projeto (em 2018). (MI/SIH, 2000f, Vol. 1.) Os três sistemas referidos levarão água de boa qualidade a nove municípios, 85 povoados e comunidades rurais do Seridó, abrangendo uma população da ordem de 115.000 habitantes, correspondentes a 39,8% da população total da região. b. Objetivos Este Programa de Recursos Hídricos tem o mesmo objetivo geral do Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, consistente em garantir a oferta de água de boa qualidade aos usuários, de modo que a escassez relativa desse bem não continue a constituir impedimento ao desenvolvimento sustentável do Seridó. Especificamente, pretende-se: • ampliar a infra-estrutura hídrica do Seridó, por meio da construção de barragens para uso múltiplo, em articulação com a construção de barragens sucessivas, de cisternas comunitárias e a perfuração de cacimbas, cacimbões e poços; 15 • maximizar o uso da infra-estrutura hídrica construída, utilizando-se o excedente de água para consumo humano em projetos de irrigação simplificada, cultivos em vazante, piscicultura e consumo animal; • estudar formas alternativas de complementação da expansão da oferta de água com as possibilidades oferecidas pelo Projeto de Transposição de Águas do São Francisco; 16 15 Previstos no Programa de Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados de Expansão da Capacidade de Armazenagem de Água, antes detalhado. 68 • garantir a utilização das águas armazenadas segundo esquemas de gerenciamento efetivo; • viabilizar a convivência com as secas das populações residentes no Seridó; • promover o desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos, com ênfase na gerência participativa; e • estabelecer de forma sustentável um processo de administração, operação e manutenção das infra-estruturas de água. c. Diretrizes Este Programa está orientado pelas seguintes diretrizes: • a construção de novas barragens dependerá da existência de estudos indicativos de que a capacidade de armazenamento prevista não correrá o risco de se tornar ociosa, em função das disponibilidades hídricas da bacia, ou de não ser possível reter as águas armazenáveis, em virtude da existência de açudes a montante da barragem a construir; • abastecimento de água será, prioritariamente, destinado ao consumo humano; e • a destinação de água para a irrigação dependerá de sua adequada disponibilidade, vis-à-vis a disponibilidade de solos irrigáveis. d. Linhas de Ação O aumento da oferta de recursos hídricos e sua distribuição e utilização será tornado efetivo mediante a execução de iniciativas subordinadas às seguintes linhas de ação: • elaboração de estudos básicos, de alternativas de transposição de águas e de estudos orientados para a dessalinização e o melhor aproveitamento dos açudes (públicos e privados) existentes e a construir, bem como de planos e projetos de aproveitamento e gerenciamento dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos; • hídricos; aperfeiçoamento dos instrumentos legais, destinados à melhor utilização dos recursos • fortalecimento das iniciativas relacionadas ao efetivo gerenciamento dos recursos hídricos; e • construção de barragens, para abastecimento de água e atendimento a pequenos projetos de irrigação pontual. 16 Do total dos 28 municípios da Região do Seridó, os 25 especificados a seguir integram o rol das municipalidades a serem beneficiadas no Rio Grande do Norte pelo Projeto de Transposição de Águas do São Francisco: Acari, Bodó, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim de Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, São João do Sabugi, Santana do Matos, Santana do Seridó, São Fernando, São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz, Timbaúba dos Batistas e Triunfo Potiguar. 69 e. Metas Este Programa tem como metas globais: i. concluir a construção das obras dos Sistemas Adutores Piranhas-Caicó e Serra de Santana, até o final de 2004; ii. aumentar o valor da relação entre oferta e demanda de recursos hídricos no Seridó, considerados os diferentes tipos de demandas e o adequado uso e conservação das águas disponíveis; iii. produzir um Plano de Armazenamento e Gerenciamento dos Recursos Hídricos para o Seridó, até o final de 2002. f. Instrumentos Para a implementação deste Programa de Recursos Hídricos, serão utilizados instrumentos integrantes das seguintes categorias: 1. recursos do orçamento da União; 2. recursos do orçamento do Estado (PPA); e 3. recursos externos (do Banco Mundial). g. Recursos Financeiros e Fontes Os recursos previstos para o Rio Grande do Norte, em relação aos sete Sistemas Adutores mencionados, estão estimados em R$229.793.194,00, tendo como fontes o governo federal (20%), o governo do Estado (10%) e financiamento do Banco Mundial (70%). 17 Os que se referem aos sistemas adutores de específico interesse para o Seridó somam R$ 39.402.492,00, correspondendo, portanto, a 17,1% do volume total de investimentos previstos para os sete Sistemas Adutores. (SERHID, 1999.) Essa última parcela equivale a US$ 21,890,273.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, tendo fontes semelhantes às referidas acima. O governo do Rio Grande do Norte está preparando a ampliação do atual Plano Estadual de Recursos Hídricos, elaborado no contexto do Pró-Água/Semi-Árido. Trata-se, na realidade, de um novo Plano, que tomará por base o Projeto de Investimento que está sendo elaborado com recursos a fundo perdido, oriundos de Acordo firmado com o governo japonês. Este Projeto deverá estar concluído dentro de uns dois anos, por volta da segunda metade do ano 2002. Dependendo da capacidade de pagamento do Estado, o Projeto poderá alavancar empréstimos de até US$ 50 milhões, junto ao Banco Mundial. O mutuário desse empréstimo, no entanto, será o próprio governo do Estado, e não mais a União. É fundamental que a Agência de Desenvolvimento do Seridó esteja atenta para essa possibilidade, de grande importância para a região. 17 Para o Estado, os recursos do empréstimo entram a fundo perdido, pois o seu tomador é a União. 70 h. Gestão O Programa de Recursos Hídricos será executado sob a coordenação da Agência de Desenvolvimento do Seridó. Contará com a participação de entidades vinculadas à Secretaria de Recursos Hídricos, à Secretaria de Agricultura e à Secretaria de Planejamento e Finanças. Na esfera federal, expressiva colaboração deverá ser emprestada por instituições como o Ministério da Integração Nacional, Ministério do Meio Ambiente, DNOCS e Ibama. Além da contribuição das organizações públicas, espera-se a participação de instituições do setor privado e de organizações não-governamentais. A contribuição do Banco Mundial será de grande valia, por se tratar da principal instituição de financiamento, a ser envolvida na implementação do Programa. A coordenação geral do Programa estará a cargo da Agência de Desenvolvimento do Seridó, que atuará permanentemente por meio do Gerente do empreendimento. 5.2 DIMENSÃO TECNOLÓGICA As demandas dos agentes produtivos do Seridó, em matéria de inovações tecnológicas, requerem ações expressas por Programas relacionados às áreas de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Instituição e Operação de Centros Tecnológicos; Difusão Tecnológica; e Monitoramento Climático. 5.2.1 Desenvolvimento Científico e Tecnológico Este Programa é constituído por cinco projetos, previamente submetidos à discussão com as comunidades do Seridó, durante as Reuniões Sub-Regionais realizadas nas Zonas Homogêneas de Currais Novos, Serras Centrais e Caicó. As sugestões colhidas foram incorporadas às iniciativas a seguir descritas: • Documentação; • Formação de Bases de Conhecimento e de Pesquisa; • Linhas Prioritárias de Pesquisa; e • Política de Ciência e Tecnologia. a. Situação Atual O Desenvolvimento Científico e Tecnológico na região do Seridó apresenta carências encontradas na maioria das sub-regiões do Nordeste. Falta uma política bem definida; são escassos os recursos financeiros disponíveis; e há deficiência de recursos humanos em áreas estratégicas, entre outros. Os efeitos desses problemas são potencializados pela falta de um adequado aparato institucional que aglutine e coordene as ações necessárias ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da região. O planejamento das atividades de Ciência & Tecnologia no Estado está concentrado em alguns órgãos de pesquisa e Secretarias de Estado. Nem sempre há estudos identificando as reais demandas por C & T nas Zonas Homogêneas do Rio Grande do Norte. A base de Ciência e Tecnologia com que 71 conta o Estado, para produzir e difundir inovações, não é suficiente para suprir a demanda por tecnologia naqueles espaços. É visível a necessidade de adotar estratégias que avancem etapas do processo e promovam, com mais rapidez, o desenvolvimento e a absorção de tecnologias apropriadas. A Região do Seridó constitui um bom exemplo dessa situação. Está, por isso, a requerer um esforço de reestruturação de suas bases de C & T. para possibilitar o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida da população. No que concerne ao Projeto Documentação há muito por ser feito no Seridó. As tradições culturais e econômicas do Seridó são cantadas em verso e prosa, há séculos. Não obstante, o acervo de seus registros estão dispersos (ou perdidos). Quando disponíveis, não se encontram sistematizados, indicando as referências mais importantes sobre as Obras Produzidas (relatórios, livros, mapas, filmes, vídeos e outros); Autores; Fontes (órgãos produtores ou patrocinadores); Arquivos (bibliotecas); e Mídias Disponíveis (papel, filme, vídeo, discos, microfilme, meios magnéticos e óticos). A documentação a esse respeito se torna atualmente inacessível à sociedade seridoense e norte-riograndense. Com o Projeto Documentação, pretende-se, além de resgatar o que já foi produzido, iniciar um processo de produção intelectual no Seridó, que abranja as diversas áreas do conhecimento relevante para o seu desenvolvimento. Neste sentido, propõe-se criar a Coleção Seridoense, visando sistematizar a produção intelectual do Seridó. A coordenação editorial dessa coleção deverá ficar sob a responsabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por intermédio de seus Centros Universitários que atuam na Região, em articulação com a sociedade local. O Projeto Formação de Bases de Conhecimento e de Pesquisa deverá tratar, dentre outros, dos seguintes assuntos: Bibliotecas (gerais e específicas) sobre rochas, minerais, mineração, solos, clima, recursos naturais, seca, agricultura, algodão, pecuária; Laboratórios/Núcleos de Estudos do Semi-Árido (em geral e do Seridó em particular); Sítios e Parques e Museus (para o estudo e preservação da fauna e flora, cultura e incentivo ao ecoturismo histórico e religioso); e Criação e Manutenção de Websites e Homepages (gerais e temáticas). A fase de elaboração do Diagnóstico (Volume 1 do Plano) serviu para mostrar as carências de conhecimento em áreas estratégicas ao desenvolvimento e bem-estar social dos seridoenses. O Projeto Linhas Prioritárias de Pesquisa, inserido no contexto da Dimensão Tecnológica, abrangerá assuntos relacionados às linhas de pesquisa trilhadas no passado; à identificação das pesquisas realizadas no presente; à identificação e especificação das principais demandas de pesquisa; e à formulação de propostas para o futuro, incluindo o aproveitamento do grande potencial do Sol (na agricultura, na geração de energia e na hidroponia). Em qualquer área do conhecimento, a coordenação e sistematização das ações é condição sine qua non para se atingir a eficácia desejada. Por isso, o Plano do Seridó contemplará o Projeto Política de Ciência e Tecnologia para a região. O esforço a este respeito envolverá a Proposição de Ações Coordenadas (entre os promotores, produtores e usuários de Ciência e Tecnologia, de modo a fazer chegar ao empreendedor, o conhecimento necessário à melhor utilização das técnicas existentes e que vierem a ser geradas); o Incentivo à Participação (em todo o processo, da inteligência e da experiência local); a Não-Realização e Não-Concessão de Prioridade a Pesquisas que possam gerar ações prejudiciais ao ambiente regional; a Busca de Inclusão das Iniciativas Prioritárias ao Desenvolvimento do Seridó nos programas e prioridades dos governos; a Integração das Instituições Sub-Regionais de Pesquisa com outros centros de pesquisa – nacionais e internacionais; e a Busca de Mecanismos e Agências de Financiamento para projetos de pesquisa prioritários, de interesse do Seridó. 72 b. Objetivos Este Programa tem por objetivo geral criar as condições necessárias à promoção do Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Seridó, mediante a estruturação e implementação de projetos nessa área. Especificamente, pretende-se: • ampliar a base de conhecimento sobre os recursos naturais e a biodiversidade dos ecossistemas da região; • promover a articulação dos órgãos de C & T que atuam na região; • criar melhores condições de competitividade para a economia da região; e • criar instrumentos institucionais para a capacitação de recursos humanos na área de b.1 Projeto Documentação C&T. Com este Projeto, pretende-se: • recuperar a base documental histórica, cultural, econômica e científica da região; • criar uma base de informação e conhecimento sobre a região do Seridó; • publicar sistematicamente documentos técnico-científicos sobre a realidade da região, nos seus aspectos econômicos, ambientais e socioculturais; • montar bibliotecas multimídias com acervo de livros e documentos impressos, bem como vídeos, fitas cassetes, Vídeotapes, CDs e outras modalidades; • montar arquivos de documentos em vídeos, fitas cassetes, VTs e outras modalidades; • sistematizar a produção de conhecimento sobre a realidade da região; • estimular a sociedade seridoense a se engajar no esforço de produção intelectual, por meio da institucionalização da Coleção Seridoense; • interesse. b.2 tornar acessível à população do Seridó informações recuperadas e produzidas do seu Projeto Formação de Bases de Conhecimento e de Pesquisa Os objetivos deste Projeto consistem em: • dotar a região do Seridó de uma base científica e tecnológica diversificada e atualizada capaz de promover sua inserção no processo de desenvolvimento sustentável do Estado; 73 • ampliar as bases de conhecimento específicos em áreas estratégicas para o aproveitamento das potencialidades da região; e • contribuir para melhorar a capacitação dos recursos humanos do Seridó. b.3 Projeto Linhas Prioritárias de Pesquisa Este Projeto se insere no esforço de estabelecer e definir para o Seridó as linhas prioritárias de pesquisa que possibilitem: • identificar pesquisas e tecnologias desenvolvidas no passado, que ainda possam ser • definir as áreas de C & T mais prioritárias para a região; • identificar as demandas por C & T da região; e úteis; • propor pesquisas que possam, no futuro, ser transformadas em tecnologias que maximizem o aproveitamento dos recursos da região. b.4 Projeto Política de Ciência e Tecnologia Este Projeto é de fundamental importância para a sistematização das ações em prol da estruturação e definição dos rumos da C & T no Seridó. Basicamente, sua implementação contribuirá para delimitar o papel que a C & T desempenhará em relação ao futuro da região, a partir do cumprimento dos seguintes objetivos: • coordenar ações visando o envolvimento integrado de todas as entidades de C & T que atuem na região; • avaliar sistematicamente os resultados dos investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento (P & D) na região, visando obter o máximo de eficácia nos resultados; e • definir as prioridades, sempre em função da demanda efetiva por C & T. c. Diretrizes A execução desse Programa, integrando os quatro Projetos referidos, será norteada pelas seguintes diretrizes: • os órgãos de desenvolvimento, fomento e difusão de ciência e tecnologia sediados no Estado (Universidades, Institutos de Pesquisas, Empresas, Laboratórios, Escolas Técnicas, tanto os ligados às esferas federal, estadual e municipal como à iniciativa privada) se articularão para conjuntamente desencadear o processo de produção e difusão de inovações tecnológicas na Região; • os órgãos de C&T identificarão, de imediato, os setores de atividade com maiores possibilidades de respostas à introdução de inovações tecnológicas, complementando as iniciativas 74 executadas ou em andamento; • será concedida prioridade àquelas tecnologias que impulsionem o desenvolvimento com baixos riscos de danos ao meio ambiente; • será conferida ênfase à educação em ciência e tecnologia, no âmbito da Região do Seridó, mediante a implementação de programas para a juventude e a criação de oportunidades de reinserção profissional de trabalhadores, inclusive à distância, nos locais de trabalho; • as instituições públicas ou privadas, responsáveis pelos cursos de profissionalização, deverão compatibilizar e harmonizar a capacitação e o treinamento dos jovens para o trabalho com os princípios basilares da ética e da cidadania; • a absorção de conhecimentos e tecnologias modernas, por parte da sociedade seridoense, deverá compatibilizar-se às especificidades da cultura local; • a produção de bens e serviços decorrentes da introdução de novas tecnologias deve visar a agregação de valor, com a criação de padrões de qualidade; e • as entidades responsáveis pelas atividades de capacitação e treinamento deverão planejá-las e dimensioná-las de acordo com as necessidades e as áreas estabelecidas como prioritárias. d. Linhas de Ação As linhas de ação desse Programa são as seguintes: • instalação de centros de incubadoras de empresas que utilizem matérias-primas originárias de produtos naturais da região; • desenvolvimento e utilização de tecnologias de gestão para abrir mercado para os produtos que apresentem vantagens comparativas; • elaboração de estudos em áreas prioritárias, tais como: mapeamento, estudos de mercado, campanhas de marketing para promover os produtos da região e estudos para identificar tecnologias apropriadas à região; • garantia de padrões de qualidade e competitividade aos produtos e serviços da economia seridoense, tanto no que se refere ao setor público como ao privado; • conscientização da necessidade de romper com o atraso científico e tecnológico, ajustando os valores culturais voltados para o espírito inovador e empreendedor; • elaboração do perfil de qualificação e definição de áreas de interesse prioritário para a construção dos projetos de capacitação, considerando-se a disponibilidade e o perfil dos recursos humanos envolvidos em C&T; • oferecimento de cursos para treinamento e capacitação em serviços, destinados a profissionais de nível médio, visando elevar os padrões de qualidade dos serviços prestados à população; 75 • instalação de Redes de Informação Tecnológica conectando os Centros de Ciência e Tecnologia instalados na Região com outros Centros do Estado, do Brasil e do Mundo; • aperfeiçoamento de professores do 2º grau, para ampliar seus conhecimentos e aprimorar as práticas pedagógicas nas disciplinas mais diretamente ligadas à área tecnológica (matemática e ciências), buscando articular e integrar o segundo grau e a universidade; • oferecimento de cursos em nível de especialização, mestrado e doutorado para estudantes e professores universitários da Região; • promoção da capacitação para o desenvolvimento tecnológico nos setores mineral, leite e derivados, alimentos e artesanato, buscando o aperfeiçoamento dos produtos e a agregação de valor; e • organização de catálogos de produtos/serviços de interesse do Seridó (específico para o Projeto Formação de Bases de Conhecimento e de Pesquisa). e. Metas As metas a serem atingidas com a execução dos projetos contemplados nesse Programa são as seguintes: • organizar e institucionalizar a “Coleção Seridoense”, destinada à publicação de textos técnicos, didáticos, históricos e culturais de interesse da região; e • organizar o acervo documental que trata do conhecimento registrado sobre o Seridó, e se encontra materializado em diferentes formas de registro (específica para o Projeto Documentação). f. Instrumentos Os instrumentos a serem mobilizados para a implementação desse Programa abrangem uma vasta rede de instituições e programas, tanto da área governamental como de setores da iniciativa privada. Na área dos governos federal, estadual e municipal, podem ser especificadas as seguintes: • Universidade Federal do Rio Grande do Norte; • Universidade Estadual do Rio Grande do Norte–Uern; • Escola Superior de Agronomia de Mossoró-ESAM; • Centro Federal de Ensino Técnico–Cefet; • Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis–Ibama; • Petrobras; 76 • Secretaria de Indústria Comércio, Ciência e Tecnologia–Sintec; • Secretaria de Educação e Desportos do Rio Grande do Norte; • Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte–Emparn; • Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte–Emater; • Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial–Proadi; e • Prefeituras Municipais da Região. No tocante ao setor privado, podem ser mencionadas as seguintes entidades: • Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte–Fiern; • Senai; • Sesi; • Sebrae; e • universidades privadas do Estado. Além das instituições mencionadas, podem ser mobilizados outros apoios, como os referentes à categoria dos instrumentos financeiros, a exemplo dos seguintes: • recursos provenientes do Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e TecnológicoFundet (1% da receita do Estado); • financiamentos captáveis junto a agências de fomento à pesquisa, como o CNPq, Finep, Capes; • instituições financeiras como o Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Bndes e Caixa Econômica Federal; • recursos externos, captáveis junto a instituições como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento–BID. Na categoria de instrumentos programáticos, é possível mobilizar apoio junto a Programas como o de Tecnologias Apropriadas–PTA/RN, de Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Norte–Protec e Plano Estadual de Ciência e Tecnologia–Citec/2000-2002. 77 g. Recursos Financeiros e Fontes A execução desse Programa mobilizará recursos no montante de R$ 3.000.000,00, equivalentes a US$ 1,666,000.00, à taxa de câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: • recursos do Tesouro Estadual, conforme o que está previsto nas ações programáticas das Secretarias e no PPA do Estado (70%); • União, por intermédio de vários Fundos e Programas (Fundef, FAT, Fumac e Comunidade Ativa), que já vêm sendo mobilizados no Estado (10%) ; • União, com recursos a serem conseguidos junto às Agências Brasileiras de Fomento à pesquisa como CNPq, Finep, Capes (10%); e • recursos de instituições controladas pela iniciativa privada, tais como Sebrae, SESI, Senai, Senac (10%). h. Gestão O Programa será executado sob a coordenação de uma gerência geral e de gerências específicas para cada projeto. Para tanto, na execução de suas atividades se articularão, em primeira instância, com a coordenação a Agência de Desenvolvimento do Seridó, e, em última instância, com a Secretaria de Indústria Comércio, Ciência e Tecnologia–Sintec, e com as instituições de C & T, a exemplo da Emparn. Essa articulação será estendida às Secretarias de Planejamento e Finanças, Agricultura e Abastecimento e Recursos Hídricos, como também às Universidades Federal e Estadual, além das universidades privadas. Nesse arranjo estarão também envolvidas instituições federais da área de C & T, a exemplo da Sudene, Embrapa, CNPq, Finep, DNOCS, Petrobrás, IBGE e Ibama, dentre outras. Participarão, ainda, da execução do Programa, instituições da área financeira, dentre as quais se destacam o Bndes, o Banco do Nordeste, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, além de Bancos Internacionais. 5.2.2 Instituição e Operação de Centros Tecnológicos a. Situação Atual A região do Seridó se diferencia das demais regiões do Estado por ter sabido encontrar, ao longo de sua história, formas de aproveitar suas potencialidades e transformá-las em produtos comerciais de boa aceitação no mercado. Foi assim com o algodão, com os minérios, e está sendo agora com a carne de sol, o queijo e outros derivados do leite, o artesanato, principalmente os bordados, e mais recentemente a bonelaria e frutas regionais como a pinha, entre outros. Toda essa vocação para a diversidade produtiva da região aconteceu sem que houvesse uma política que tratasse de organizar e estruturar a região com instrumentos adequados para fomentar, operacionalizar e maximizar os resultados de sua vocação natural para produzir. Daí, a necessidade de se instalar na região centros tecnológicos que atendam a essa demanda. 78 As alternativas para o desenvolvimento do Seridó dependem, fortemente, da adoção de novas tecnologias, tanto de produto, como de processo e gestão. Os esforços para a criação do Pólo de Modernização Empresarial das Indústrias de Queijos do Seridó, localizado em Currais Novos, deverão ser ampliados, com a instituição de iniciativas similares, referidas a outras áreas como, a exemplo do Centro Profissionalizante em Produção Animal, em fase de instalação pela Emparn, no Município de Cruzeta e do Centro de Formação Profissionalizante, a ser instalado em Caicó. O mercado para pequenos negócios – urbanos e rurais – é favorável, estimando-se conveniente o delineamento de centros orientados para a área de mineração e de aproveitamento de frutas regionais, dentre outras. A administração dessas possibilidades constitui o alvo principal de interesse desse Programa. b. Objetivos Este Programa tem como objetivos: dotar a região de um conjunto integrado de centros tecnológicos que catalisem seu sistema produtivo; e identificar entre os municípios da região aqueles que apresentem as melhores condições, em termos de vantagens comparativas e locacionais, para a instalação de Centros Tecnológicos específicos. c. Diretrizes O Programa será conduzido de acordo com orientações como as seguintes: • os órgãos do governo estadual responsáveis pelas ações nessa área, as prefeituras da região e a iniciativa privada, em conjunto, deverão promover o desenvolvimento industrial e dos serviços no Seridó, de forma espacialmente bem distribuída, evitando a concentração do desenvolvimento em apenas uns poucos municípios; • a Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia deverá elaborar estudos para identificar entre os municípios da região aqueles que apresentem as melhores condições, em termos de vantagens comparativas e locacionais, para a instalação de Centros Tecnológicos específicos; • as entidades da área de formação de recursos humanos, como as Universidades, Centros de Formação Profissionalizantes e afins, deverão delinear seus planos de qualificação profissional para a região, de acordo também com as novas demandas geradas pelos Centros Tecnológicos a serem instalados; • deverá ser criado no âmbito da Sintec um Fórum com representantes do Seridó, para fazer o monitoramento e avaliação do desempenho dos Centros Tecnológicos e de Formação que estiverem funcionando na região, visando a constante atualização tecnológica dos equipamentos e o treinamento de seus recursos humanos. d. Linhas de Ação A execução do Programa será pautada por linhas de ação como as seguintes: 79 • capacitação para o desenvolvimento tecnológico nos setores mineral, de leite e derivados, alimentos e artesanato, tendo em vista o aperfeiçoamento dos processos de produção e a conseqüente agregação de valor aos produtos da região; e • celebração de convênios de cooperação técnica com Universidades e Centros Tecnológicos, orientados para o intercâmbio e a troca de informações, de sorte a manter os Centros atualizados. e. Metas O Programa tem como metas principais: • instalar o Centro Tecnológico do Queijo, em Currais Novos, até meados do ano 2001; • instalar o Centro de Tecnologia de Produtos Animais em Caicó, até 2002; • instalar um Centro de Tecnologia para o Aproveitamento da Produção de Frutas das Serras, até 2002; e • instalar um Centro de Formação Profissional no Município de Caicó, no âmbito do Programa de Reforma da Educação Profissional–Proep, a ser implementado com recursos do MEC/MTB e do BID, com oferta de cursos técnicos nas áreas de mineração, agropecuária e gestão/comércio, além de cursos básicos em 14 áreas de interesse da região, até meados do ano 2002. f. Instrumentos Os instrumentos mobilizáveis para a implementação desse Programa abrangem uma vasta rede de instituições públicas e privadas, já referidas em relação ao Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, descrito no item 5.2.1 anterior. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução do Programa mobilizará recursos no montante de R$ 6.720.000,00, equivalentes a US$ 3,733,333.00, à taxa de câmbio US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: União (60%), Finep (30,0%) e setor privado (10%). h. Gestão A gestão do Programa seguirá esquema similar ao previsto para o Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, descrito no item 5.2.1 anterior. 5.2.3 Difusão Tecnológica a. Situação Atual Uma das constatações mais freqüentes detectadas no decorrer do processo de consulta à sociedade seridoense foi o desmonte do sistema institucional público de difusão tecnológica, 80 representado, do lado do governo estadual, pela Emater. Naturalmente, essa situação é sentida com mais intensidade pelos agentes produtivos dedicados à agricultura e à pecuária, áreas em relação às quais a Emater já teve momentos de relevante contribuição. Hoje, cobrindo um pouco esse vazio, atuam a Emparn, o Sebrae e algumas Cooperativas da região, mesmo assim, sem condições de oferecer a cobertura que o Seridó necessita. A difusão de novas tecnologias é tão importante quanto sua criação. Novas atividades econômicas poderiam estar sendo introduzidas e executadas no Seridó, se a estrutura de difusão tecnológica existente pudesse atuar consoante as novas demandas da sociedade regional. É fundamental fortalecer os mecanismos de difusão tecnológica existentes, tomando por base a experiência de instituições governamentais como a Emater, Emparn e outras, como o Sebrae e organizações nãogovernamentais, a exemplo do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários–Seapac; a Associação de Apoio às Comunidades do Campo–AACC; e o Grupo de Estudos de Desertificação do Seridó–GEDS. b. Objetivos O Programa tem como principais objetivos: • reestruturar os instrumentos de difusão tecnológica disponíveis na região, conferindo prioridade às instituições do sistema estadual, como a Emater e a Emparn; • fortalecer os instrumentos de difusão tecnológica não-governamentais, a exemplo do Sebrae, Cooperativas e ONGs que já atuam na região; • ampliar as áreas de atividades a serem alcançadas pelos instrumentos de difusão tecnológica e que ainda não tiveram acesso a esse benefício; e • fazer um mapeamento regional para identificar em que setor de atividades as novas tecnologias são mais demandadas, conferindo-se destaque ao seu grau de urgência. c. Diretrizes As diretrizes centrais do Programa estão assim definidas: • governo estadual deverá rever, mediante avaliação dos órgãos responsáveis pela difusão tecnológica no Estado e na região do Seridó, sua política para essa atividade; • governo do Rio Grande do Norte deverá fortalecer os organismos que atuam na área de difusão tecnológica, principalmente aqueles com ação voltada para os pequenos e médios produtores rurais, apoiando complementarmente as organizações que já vêm se dedicando produtivamente à prestação de serviços nessa área; • os órgãos responsáveis pela difusão tecnológica da região deverão selecionar as inovações tecnológicas mais apropriadas, que respondam às reais necessidades dos agentes produtivos do Seridó; • os responsáveis pela difusão de tecnologias no Seridó deverão prestar especial 81 assistência aos pequenos negócios não-agrícolas, ligados ao artesanato, à indústria em pequena escala, ao beneficiamento de produtos de origem animal, vegetal e à prestação de serviços; • as prefeituras da região deverão articular-se para pleitear junto aos órgãos federais, estaduais e da iniciativa privada maior apoio – financeiro, inclusive –para a difusão de tecnologias no Seridó. d. Linhas de ação O Programa terá suas atividades pautadas pelas seguintes linhas de ação: • realização de atividades de treinamento e formação de agentes de difusão e inovação tecnológica na região; • formação de grupo técnico especial capaz de identificar as reais necessidades de tecnologia em todos os setores produtivos da região; • adoção de mecanismos de acompanhamento para avaliar os resultados decorrentes das tecnologias transferidas e postas em prática nos diversos tipos de negócio; • adoção de modelos e técnicas experimentais, quando se tratar de tecnologias novas ou de eficácia ainda não totalmente confirmada; • preparação de material técnico-didático (cartilhas, folhetos, folders, vídeos, etc.) que abordem e ensinem o uso correto de novas ou adequadas tecnologias, utilizando linguagem compatível com o nível de conhecimento dos clientes; e • a Sintec, Emater, Emparn, Sebrae, Cooperativas e Organizações Não-Governamentais envolvidas em atividades de difusão tecnológica, participarão da elaboração e aplicação do Plano Regional de Difusão Tecnológica do Seridó–PRDTS. e. Metas Este Programa tem como metas principais: • realizar pesquisa de campo nos municípios da região para identificar e dimensionar a real demanda por tecnologia no Seridó, até meados de 2001; • elaborar um Plano Regional de Difusão Tecnológica do Seridó, como instrumento orientador das estratégias a serem adotadas para a difusão de tecnologias no Seridó, com base em pesquisa a ser concluída até o final do terceiro trimestre de 2001; • capacitar pelos menos cinco agentes multiplicadores de tecnologia para cada município da região, até o final de 2001; e • utilizar os agentes multiplicadores de tecnologia de cada município da região, bem como todos os veículos de comunicação de massa possíveis, na realização de campanhas de ampla cobertura popular, para fazer chegar o conhecimento sobre tecnologia e inovações a todos os agentes produtivos do Seridó, durante o período de vigência do Plano. 82 f. Instrumentos A implementação do Programa estará apoiada na mobilização de instrumentos como os seguintes: 1. Sintec, Emater, Emparn, Banco do Nordeste, SINE, Sebrae, Senai, SESI, Senac, Ufrn, por intermédio dos seus Centros Regionais de Ensino Superior do Seridó – Campi de Cursais Novos e de Caicó –, GEDS, Seapac, AACC e PAPP, dentre outros; 2. recursos do Plano Plurianual de Investimentos–PPA, do Estado e da União; 3. recursos provenientes dos financiamentos captáveis junto a instituições financeiras como o Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Bndes e Caixa Econômica Federal; 4. BIRD, etc.); recursos externos, captáveis junto a agências de financiamento internacional (BID, 5. recursos aportados por instituições comandadas pela iniciativa privada; e 6. recursos oriundos das Prefeituras da região. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução deste Programa mobilizará recursos no montante de R$ 1.000.000,00, equivalentes a US$ 556,000.00, à taxa de câmbio US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: governo do Estado (80%), governos municipais (10%) e setor privado (10%). h. Gestão O Programa será coordenado pela Agência de Desenvolvimento do Seridó, que operará por meio de Gerentes, responsáveis pelas ações de difusão de tecnologia nas três Zonas Homogêneas do Seridó. A Agência e os Gerentes se articularão com a Sintec e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Norte, com o Incra, os Sindicatos dos Trabalhadores, os Sindicatos de Produtores e instituições de apoio ao setor privado, como o Sebrae e o Senar. Articulação semelhante deverá ser realizada com o Seapac, AACC, GEDS e PAPP. A participação de agências financeiras, como o Banco do Nordeste, Bndes e CEF, também será de fundamental importância. 5.2.4 Monitoramento Climático a. Situação atual Não há dúvidas sobre a constante ocorrência de secas no Nordeste. Desde que o fenômeno é inevitável, os esforços realizados para sua previsão têm tido o propósito de minimizar seus efeitos sobre a população e os segmentos mais afetados da economia regional. Os trabalhos de previsão de seca no Nordeste representam o esforço de instituições e pesquisadores devotados ao assunto. Para se dispor de resultados positivos na matéria foi necessário que trabalhos similares fossem conduzidos, com sucesso, por países desenvolvidos, para que os esforços brasileiros conseguissem credibilidade. 83 As contribuições aportadas à metodologia e aos trabalhos de previsão de secas por instituições como a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos-Funceme, nos anos 70, e o Instituto de Pesquisas Espaciais-INPE, de São Paulo, nos anos 80, foram decisivas para que as secas do Nordeste pudessem ser previstas com meses de antecedência. A experiência sedimentada foi sistematizada e apoiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com o suporte de quem foram instituídos, na maioria dos Estados do Nordeste, Núcleos Estaduais de Monitoramento de Tempo e Clima e Gerenciamento de Recursos Hídricos. Imagina-se colocar o Seridó no roteiro dos estudos e pesquisas que vêm sendo realizados por aqueles núcleos, considerados de grande importância para a proteção e preservação ambiental dessa região, com a elaboração de um Programa de Monitoramento Climático. b. Objetivos Este Programa assenta-se nos seguintes objetivos: • dotar a Região do Seridó do aporte de informações meteorológicas que permitam reduzir as incertezas quanto à incidência de secas; • ampliar, modernizar e equipar a rede de estações meteorológicas existentes na região; • treinar pessoal para operar e coletar as informações geradas pelas estações meteorológicas; • • de secas. c. utilizar imagens de satélites para o monitoramento climático da região; e difundir, com antecedência, em toda a região do Seridó, as previsões sobre a incidência Diretrizes O Programa pautará sua implementação pelas seguintes diretrizes: • os órgãos estaduais responsáveis pelo serviço de monitoramento climático do Estado deverão preparar um Plano Especial de Monitoramento Climático para o Seridó; • a Emparn deverá preparar, com antecipação, o cronograma de previsão de chuvas ou de seca para o Seridó; e • a Emparn deverá prestar serviços de orientação aos produtores rurais do Seridó, com base nas previsões meteorológicas realizadas. d. Linhas de Ação As linhas de ação para esse Programa são as seguintes: • modernização do sistema de informações meteorológicas da região do Seridó; • realização de previsões antecipadas sobre a situação climática do Seridó; 84 • prestação de orientação técnica aos agricultores do Seridó, quanto às probabilidades de ocorrência de inverno ou de seca na região; e • prestação de informações aos agricultores do Seridó quanto aos melhores momentos para o início do plantio nos períodos chuvosos. e. Metas Este Programa tem como metas principais: • sistematizar e atualizar a série histórica de dados das estações climatológicas existentes no Seridó, até o final de 2001; • instalar, pelo menos, uma estação meteorológica em cada município da região, até o final de ano 2001; • treinar operadores de estações meteorológicas para atuar em todos os municípios da região, até o final de 2001; • fazer investimentos na Emparn, tanto em equipamentos como em pessoal, para torná-la mais apta a desempenhar as atividades de monitoramento climático do Estado e do Seridó. f. Instrumentos Os principais instrumentos para a implementação desse programa são a Emparn, no âmbito estadual, a Ufrn, por intermédio da Funpec, o DNOCS, a Sudene e o Ibama, pelo lado do governo federal. Além desses, poderão fazer parte desse esforço outras entidades de pesquisa nos domínios da meteorologia, de outros estados, como a Funceme, do Ceará, e o Instituto de Pesquisas Espaciais-INPE, de São José dos Campos-SP, por meio da celebração de convênios de cooperação técnica. As Agências nacionais de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico como a Finep, Capes e CNPq também se caracterizam como parceiros importantes, para a adequada implementação do Programa. O Programa de Tecnologias Apropriadas–PTA/RN, o Programa de Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Norte–Protec e a Sintec, no contexto do Plano Estadual de Ciência e Tecnologia–Citec/2000-2002, representam outras áreas de apoio importante. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução desse Programa mobilizará recursos no montante de R$ 750.000 (setecentos e cinqüenta mil reais), equivalentes a US$ 417,000.00, à taxa de câmbio US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: governo federal – diretamente e por intermédio de agências de fomento à pesquisa (45%) –, governo do Estado – diretamente e por meio do FUNDET (30%) e prefeituras municipais (25%). h. Gestão O Programa será executado sob a coordenação da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio 85 Grande do Norte–Emparn, em parceria com a Sintec. Outras instituições da área de pesquisas meteorológicas, do Brasil ou estrangeiras, poderão participar dos projetos técnico-científicos por meio de convênios de cooperação técnica que possam vir a ser celebrados. A Agência de Desenvolvimento do Seridó exercerá a coordenação geral do Programa. 5.3 DIMENSÃO ECONÔMICA O atendimento das demandas identificadas no Diagnóstico, em reforço às ênfases colocadas pelas comunidades do Seridó, no que se refere à dinamização e reorganização das atividades produtivas, exigiu a elaboração de programas como os especificados a seguir: Democratização do Acesso à Terra e Regularização Fundiária e Apoio à Consolidação de Assentamentos Rurais; Consolidação de Cadeias Produtivas Estratégicas; Reestruturação e Ampliação de Atividades Tradicionais; Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos; Complementação da Infra-Estrutura Econômica; e Promoção de Oportunidades de Investimento 5.3.1 Democratização do Acesso à Terra, Consolidação de Assentamentos Rurais a. Regularização Fundiária e Apoio à Situação Atual A questão fundiária no Seridó difere muito pouco da que se encontra no Semi-Árido em geral ou na Região Nordeste como um todo. O acesso limitado à terra, a grande desigualdade da propriedade fundiária (que limita a produtividade e o emprego rural) e a ausência de um sistema financeiro rural, que funcione para os pobres, constituem fatores que contribuem para acentuar a pobreza rural na região. A exploração agropecuária ainda é importante, inserindo-se em ambiente onde a parceria também constitui marcante relação de trabalho. A população ativa no campo apresenta baixo nível educacional e reduzida qualificação tecnológica. No Seridó, predomina a combinação de grandes e pequenas propriedades. Por ser uma área de grande número de açudes, a grande propriedade concentra a terra e a água. E nunca é demais lembrar que “água” é um dos fatores centrais de estrangulamento ao desenvolvimento agropecuário do Nordeste semi-árido em seu conjunto e, dentro dele, também do Seridó. Nos minifúndios se concentra a maior parte da população rural, em parcelas de terra muito pequenas, com baixos padrões de tecnologia, sem a necessária assistência técnica e sem possibilidades de acesso ao crédito, para que possam ser praticadas atividades econômicas que garantam uma renda suficiente à melhora de suas condições de vida. Segundo o Censo Agropecuário de 1985, a Região do Seridó tinha 89% dos seus estabelecimentos incluídos nos estratos de área de até 100 ha, participando com 24,4 % da área total. Os acima de 1.000 ha representavam somente 0,7% do total de estabelecimentos, mas ocupavam 24,8% da área. Em 1995/96, os menores estabelecimentos haviam aumentado em número (de 12.716 passaram para 13.807), mas haviam reduzido seu peso tanto no total de estabelecimentos (de 89% para 87%) quanto na área (de 24,4% para 22% da área total). Por sua vez, os grandes estabelecimentos (com mais de 1.000 ha) também eram mais numerosos (passaram de 106 para 126) e haviam mantido praticamente igual sua participação tanto no total quanto na área ocupada. Portanto, em dez anos, as mudanças não haviam sido relevantes. As análises realizadas a partir do Censo Agropecuário de 1995/96 não apontam alterações expressivas na estrutura fundiária do Seridó, particularizado por suas Zonas Homogêneas. Mantém-se a 86 concentração fundiária existente. Quando se calcula o Índice de Gini, observa-se uma modesta redução dessa concentração, vez que ele passa de 0,76 para 0,74, entre 1985 e 1995/96, no conjunto do Seridó. Foge a esse comportamento a Zona Homogênea das Serras Centrais, onde esse índice passou de 0,79 para 0,80, no mesmo período. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999.) Há, pois, um processo relevante, que é o da fragmentação das pequenas propriedades, e um problema a enfrentar, que é o da não regularização dos imóveis, o que termina por bloquear o acesso de milhares de produtores aos benefícios de políticas públicas, em especial do crédito oficial. De acordo com informações fornecidas pela Fetarn, o Seridó conta com 14 Assentamentos Rurais, com 958 famílias ocupando 25.958 ha de área, ou apenas 2,6% da área total dos estabelecimentos da região (estimada em 995 mil ha, conforme o Censo Agropecuário de 1995/1996). Uma participação, portanto, muito modesta. Há mais 5 assentamentos, que estão sendo instalados, com 366 pessoas, abrangendo área de 5.949 ha (no município de Cerro Corá). São assentamentos localizados em pleno semi-árido, voltados para a agricultura de sequeiro e o pequeno criatório. Em função das irregularidades das chuvas e do conseqüente risco climático, aliado à falta de infra-estrutura hídrica, de oportunidades econômicas e de serviços sociais (educação, saúde e saneamento), são difíceis as possibilidades de progresso econômico dessas comunidades, tomando-se por base esse tipo de agricultura e a precariedade dos investimentos que podem realizar. Nesse contexto adverso, os assentados buscam a sobrevivência, complementando a renda no extrativismo, trabalhando como diaristas em outras propriedades, enquanto alguns terminam migrando para as cidades mais próximas, transferindo seus lotes para terceiros ou abandonando o assentamento. Têm sido identificados outros aspectos que não permitiram uma solução para o problema agrário na Região, tais como: a) falta de política agrária e redefinição dos papéis da Emater e de outros órgãos vinculados ao desenvolvimento agrário no Estado; b) insuficiente aparelhamento e autonomia institucional; c) falta de capacitação de recursos humanos; d) inexistência de Bancos de Dados; e) crédito e assistência técnica insuficiente; e f) falta de trabalhos de organização/gestão comunitária e planejamento participativo nas áreas de assentamento. Atualmente, há condições favoráveis à criação de oportunidades para a utilização de instrumentos de apoio às ações de redistribuição fundiária. A estratégia do governo federal, de atenuação da pobreza no Nordeste, está ligada a uma estratégia geral de investimentos e de aumento da produtividade no setor agrícola – para a superação de restrições ao crescimento –, concebida para um contexto de expansão de oportunidades de emprego fora das propriedades rurais. O sucesso da nova geração de projetos tipo PAPP ou PCPR 18 apoia-se em modelo baseado em efetiva implementação descentralizada de projetos de desenvolvimento rural, executados com o uso de mecanismos de mercado e o suporte da estrutura institucional da reforma agrária. Essas particularidades justificam a elaboração de um Programa de Democratização do Acesso à Terra, de Regularização Fundiária e Apoio à Consolidação de Assentamentos Rurais. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral contribuir para o processo de desenvolvimento sustentável do Estado e da população rural da Região do Seridó, em particular da que vive em condição 18 Programa de Combate à Pobreza Rural. 87 de extrema pobreza, buscando assegurar a posse e o uso da terra, o acesso e o uso da água e a melhora das condições de vida. Especificamente, pretende-se: • planejar e executar de forma integrada, regionalizada, descentralizada e participativa, a ação agrária, aperfeiçoando os mecanismos para a regularização, reorganização e redistribuição fundiária; e • consolidar as áreas de assentamentos, promovendo e incentivando a participação dos beneficiários e assegurando sua responsabilidade na identificação, preparação e execução dos projetos. c. Diretrizes O Programa será orientado pelas seguintes diretrizes: • merecerão prioridade as ações de obtenção de recursos fundiários para redistribuição, reorganização e regularização, com vistas ao equilíbrio Homem/Terra, reduzindo a ociosidade das terras nos grandes imóveis e a pressão populacional nos pequenos imóveis, dando facilidades para a aquisição de imóveis rurais, a serem realizadas entre potenciais compradores e vendedores de terras; • a política agrária será compatibilizada com a política estadual de recursos hídricos, no que toca a oferta e gestão d’água e outras políticas setoriais, em convergência com a estratégia de desenvolvimento sustentável da Região do Seridó; • buscar-se-á estabelecer a complementaridade entre as diversas formas de democratização do acesso à terra (processos desapropriatórios, mercado de terras, processos de regularização, etc.), adequando as alternativas às características da realidade local; • a adoção dos princípios da descentralização e da democratização será valorizada, de modo a garantir ao Estado o comando da Política Agrária, propiciando a modernização institucional, a participação dos municípios e da Sociedade Civil organizada da região; • a integração das ações dos diversos níveis de governo, voltadas para a estruturação e consolidação dos assentamentos advindos do processo de reestruturação fundiária, deverá ser buscada com firmeza; • será estimulada a participação dos produtores no processo decisório das ações prioritárias do Programa. d. Linhas de Ação As linhas de ação desse Programa estão desdobradas em quatro blocos: regularização, titulação e democratização do acesso à terra; consolidação e emancipação dos assentamentos; capacitação e assistência técnica; e desenvolvimento institucional, descritas a seguir. d.1 • fundiário; e Regularização, Titulação e Democratização do Acesso à Terra Instrumentalização da titulação como meio importante para o melhor ordenamento 88 • Instrumentalização do processo de regularização fundiária. d.2 Consolidação e Emancipação dos Assentamentos • Elaboração de planos de investimento para a estruturação, desenvolvimento e consolidação dos assentamentos, com foco na organização comunitária e fundamentada na unidade de produção familiar; • Inserção dos produtores assentados nas ações dos demais programas prioritários do Plano do Seridó, especialmente naqueles que irão fomentar as principais cadeias produtivas da economia regional; e • Emancipação dos assentamentos mediante apoio técnico para a formalização jurídica sobre as novas formas organizacionais a serem adotadas pelos assentados. d.3 Capacitação e Assistência Técnica • Capacitação de técnicos dos órgãos envolvidos na implementação desse Programa na Região; e • Capacitação de assentados e assistência técnica para o planejamento e autogestão dos projetos de assentamento, visando sua consolidação e definição do processo de emancipação. d.4 Desenvolvimento Institucional Descentralização e modernização do processo de obtenção de terras utilizando mecanismos ágeis e de menores custos financeiros, por meio da desapropriação por interesse social; compra, via leilões públicos/licitações; arrecadação de Terras Devolutas; criação de outras formas que envolvam proprietários, público-meta, estados e municípios; crédito fundiário; e revisão de concessões. Esses trabalhos deverão ser realizados através de ações integradas entre Incra, Estado (Emater), municípios, agentes financeiros, proprietários de imóveis rurais e público-meta da reforma agrária; • Instituição de uma nova Lei de Terras Estadual adequada às necessidades do Estado, no que tange à reestruturação e autonomia do órgão de terras e estabelecimento de uma política agrária; • Garantia dos meios para organização, implantação e manutenção de Cadastro Técnico de Imóveis Rurais e implantação de um Sistema de Cadastro Rural, georreferenciado, usando técnicas de geoprocessamento, que permita administrar os recursos fundiários, tributar o imóvel rural, identificar áreas para regularização e redistribuição fundiária, etc.; • Articulação com os agentes financeiros para participar no processo de reforma agrária, definindo o papel do Estado, do município e dos beneficiários, no que diz respeito à infra-estrutura básica para o desenvolvimento das áreas destinadas à reforma agrária; E • Atualização e regulamentação da legislação agrária vigente, principalmente no que diz respeito à obtenção de Terras, Cadastro Técnico de Imóveis Rurais, Parceria e Arrendamento, Lei de Águas, Códigos de Uso dos Solos e outros recursos naturais. 89 e. Metas O Programa tem como metas principais: • regularizar a posse de 6.000 posseiros, até o final de 2004, no segmento de reordenamento fundiário; • assentar 1.325 famílias em 19 assentamentos, a serem consolidados e emancipados em área de aproximadamente 32 mil hectares, até o final de 2004; e • estruturar e consolidar o assentamento de 500 famílias em 15 novos assentamentos, em área de aproximadamente 20 mil hectares, até o final de 2004. f. Instrumentos O Programa se apoiará e adotará instrumentos e políticas diferenciadas por Zona Homogênea e por categoria de produtores, considerando iniciativas de fomento à agropecuária e à agroindústria, como o Pronaf, Proger – conduzido pelo Banco do Nordeste –, PCPR-RN, FAT e outras iniciativas públicas implementadas pelo Estado e por organizações da sociedade civil. Será necessário enfatizar a pesquisa agrícola, para que sejam geradas e adaptadas tecnologias adequadas ao contexto da Agricultura Familiar. Nas áreas redistribuídas e reorganizadas deve ser garantido serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural até a consolidação dos empreendimentos, como previsto na Constituição Federal. Deve-se assegurar os meios técnicos e financeiros necessários à organização, implantação e manutenção do Cadastro Técnico dos Imóveis Rurais, para aperfeiçoar e modernizar o Sistema de Cadastro Rural. Será necessário ainda estabelecer condições jurídicas e institucionais para agilizar o processo de reforma agrária, por meio de parceria com o Incra, municípios, organizações não-governamentais e instituições creditícias de desenvolvimento. É de grande importância para a agilização e descentralização da reforma agrária, a criação de um Fundo Agrário, voltado para o crédito fundiário, destinado a grupos de trabalhadores rurais sem terra ou a produtores com áreas insuficientes de terra. A distribuição dos recursos do Fundo deverá ser definida em negociação com os parceiros institucionais, levando em consideração critérios definidos pelo Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. Os critérios devem procurar combinar condições específicas dos municípios, em termos de potencialidade e carência. A formação do Fundo Agrário deverá dar maior agilidade às ações do Programa, possibilitando ao Estado antecipar-se aos conflitos, adquirindo terras mais baratas. Na execução do Programa, se trabalhará com as terras devolutas do Estado, podendo-se estabelecer mecanismos para a utilização das terras hipotecadas aos Bancos Oficiais, em fase final de processo de execução. Também deverão ser utilizadas as terras doadas e outras áreas de terra pública, para criar um estoque de terras mobilizáveis pelo Programa na região. 90 g. Recursos Financeiros e Fontes A execução desse programa exigirá recursos no montante de R$ 11.452 mil, 19 equivalentes a US$ 6,362,222.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União, por intermédio do FAT, Incra, Pronaf e Ministério Extraordinário para a Política Fundiária (40%), governo do Estado (15%), PCPR-Rio Grande do Norte (5%), Proger (30%), prefeituras (5%) e beneficiários (5,0%). Os recursos oriundos dos governos federal e estadual deverão financiar os gastos com aquisição de terras, para redistribuição e reorganização fundiária, e para instalação de infra-estrutura produtiva nos assentamentos e organizações dos produtores. Aos municípios caberá a responsabilidade de contrapartida em obras e serviços sociais. A operacionalização do crédito fundiário deverá ser de responsabilidade dos bancos oficiais. A assistência técnica será de responsabilidade da Emater, ONGs e outros órgãos, que possam ser selecionados. h. Gestão O modelo de gestão proposto envolve ações de atores governamentais e não-governamentais, nos diversos níveis: nacional, estadual, regional (entendido como a Região do Seridó) e municipal. Será explicitado a seguir, por blocos de atividade. h.1 Definições Gerais A gestão do Programa deve ser estabelecida e aperfeiçoada mediante a institucionalização do processo de reforma agrária, envolvendo a União, Estado, Agência de Desenvolvimento do Seridó, municípios, iniciativa privada e entidades da Sociedade Civil organizada, ligadas aos trabalhadores e aos proprietários rurais. A Emater, como órgão executor da política fundiária no Estado, estará encarregada da coordenação das ações técnicas e operacionais de responsabilidade das instituições envolvidas. As responsabilidades sobre a legislação de desapropriação de terras serão revisadas. Neste sentido, deve-se estabelecer parceria entre o governo do Rio Grande do Norte e a União, utilizando-se os Títulos da Dívida Agrária–TDA como instrumento para a aquisição de terras, desapropriação de terras e regularização fundiária. Para assegurar legitimidade e controle social, será definido e instalado um Conselho de Desenvolvimento Agrário, com a participação e a co-participação das instituições públicas no processo de reforma agrária. 19 Esse total está assim distribuído: i) regularização e titulação de 6.000 imóveis: R$ 210.000,00, oriundos do governo do Estado do Rio Grande do Norte; ii) capacitação e assistência técnica (com técnico de órgão vinculado ao programa e assentados): R$ 642.000,00, oriundos do FAT e do PCPR-Rio Grande do Norte; iii) consolidação e emancipação de 19 assentamentos existentes (1.325 famílias) e 15 novos assentamentos (500 famílias): R$ 10.500.000,00, oriundos do Incra, Pronaf, Proger, prefeituras e governo do Estado; e iv) ação institucional (cadastro, sistema de informação e estudos e instrumentos jurídicos): R$ 100.000,00, oriundos do governo do Estado e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. 91 h.2 Orientações para as Esferas Estadual e Regional A execução do Programa dependerá, em grande medida, da criação e adequada gestão do Fundo Agrário previsto. A composição e estrutura desse Fundo será integrada por representantes das Associações Municipais no Estado e por representantes da sociedade civil organizada (federação de trabalhadores, empresários, organizações comunitárias e ONGs). Valerão para o Seridó, guardadas suas particularidades, as normas e procedimentos estabelecidos para o Estado do Rio Grande do Norte. Assim, as responsabilidades pela condução do Fundo Agrário serão cumpridas em articulação com a Agência de Desenvolvimento do Seridó e os Conselhos Municipais. A concessão de recursos a esse Programa será feita de acordo com critérios prévios, que incluem os processos de acompanhamento e monitoria do Programa e do Fundo. O apoio do Fundo Agrário ao Programa será feito sob as orientações da Gerência, do Conselho e da Secretaria Executiva do Fundo. A estrutura e o funcionamento dessas instâncias serão institucionalizados, posteriormente, na esfera do governo estadual, com a participação do Conselho de Desenvolvimento do Seridó e a Agência de Desenvolvimento. Os recursos do Fundo Agrário serão aplicados juntamente com as outras fontes financeiras de apoio ao Programa. A gestão do Programa e do Fundo será realizada com a participação dos Conselhos Municipais do Seridó. O Fundo poderá alocar recursos para o processo de estruturação do Sistema Institucional do Programa, no que se referir ao Seridó, financiando a montagem das condições técnicas e operacionais da região e de seus municípios, no tocante ao processo de desenvolvimento agrário. h.3 Execução no Âmbito Municipal As decisões nessa esfera serão estabelecidas posteriormente, mediante discussões das instâncias representativas dos municípios com o Conselho de Desenvolvimento do Seridó e a Agência de Desenvolvimento do Seridó. h.4 Conselho do Fundo A responsabilidade política pela condução geral do Programa caberá ao Conselho do Fundo Agrário. O Conselho definirá os critérios gerais de alocação de recursos do Fundo entre as regiões e municípios que aderirem ao Programa e realizará o acompanhamento do desenvolvimento municipal e implementação dos instrumentos, com o apoio técnico da sua Secretaria Executiva. 5.3.2 Consolidação de Cadeias Produtivas Estratégicas Na linha dos estudos disponíveis sobre gestão agroindustrial, entende-se como cadeia produtiva um segmento do negócio agrícola, que abranja as relações entre fornecedores de insumos, a fazenda, com seus diferentes sistemas de produção, a agroindústria e a comercialização, assim como o mercado consumidor de um determinado produto. A utilização desse conceito possibilita uma melhor compreensão das relações entre os distintos atores que participam de uma dada cadeia produtiva. Permite a compreensão e a análise das novas demandas do mercado consumidor, caracterizado por indivíduos ou organizações, que apresentam necessidades comuns e interesses no consumo de um dado produto. A cadeia produtiva caracteriza-se como uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico. É também um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de 92 transformação, um fluxo de troca, entre fornecedores e clientes. É um conjunto de ações econômicas que preside a valoração dos meios de produção e assegura a articulação das operações. Envolve três macrossegmentos principais, como os de comercialização, industrialização (ou produção de serviços) e produção de matérias-primas. Em síntese, a cadeia produtiva é definida a partir da identificação de um determinado produto final. Por exemplo: a cadeia produtiva do leite, da soja, do milho ou da carne. No quadro desse Programa, serão enfatizadas as cadeias produtivas e as atividades consideradas estratégicas para o desenvolvimento futuro do Seridó, relacionadas aos seguintes temas: Pecuária Leiteira; Caprino-ovinocultura; Fruticultura; Piscicultura e Agricultura Irrigada. Integrado por esses Projetos, o Programa mobilizará recursos no montante de R$ 44.601.900,00, equivalentes a US$ 24,778,800.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (13,5%), governo do Estado (35,3%), municípios (5,2%), externa (2,9%), bancos oficiais (37,7%) e beneficiários (5,4%). 5.3.2.1 a. Pecuária Leiteira Situação Atual Historicamente e até os dias atuais, a bovinocultura constituiu o segmento mais importante da produção animal no Seridó, representando o ramo leiteiro, com os seus derivados de fabricação artesanal (queijos, nata e manteiga-da-terra), o principal foco de exploração, seguido pela carne bovina seca ou carne-de-sol. Os bovinos representam 62,3% do efetivo total da pecuária de ruminantes da região, confirmando a forte vocação do espaço seridoense para essa atividade. A existência da cultura do algodão e de grande número de moradores nas fazendas facilitava o emprego de um sistema de produção tradicional, com baixo nível de tecnologia, embora se reconhecesse no pecuarista da região uma permanente preocupação em possuir animais de melhor desempenho leiteiro. Com o declínio da lavoura algodoeira em todo o Estado, e em particular na região do Seridó, que praticamente abandonou o cultivo do algodoeiro mocó, a pecuária bovina perdeu uma importante fonte de forragem volumosa, pois, após a colheita do algodão, o rebanho tinha acesso a essas áreas, onde por alguns meses pastava os restolhos das plantas ali existentes. Paralelamente, a torta extraída da semente do algodão constituía a mais importante fonte protéica da alimentação animal. (Fernandes & Garcia, 1999.) A ausência do algodão e do morador-parceiro da atividade agrícola e, de certa forma, da responsabilidade com o manejo de determinado número de vacas de cria, com direito ao desfrute do leite, exigiu do produtor uma intensificação da atividade, para a geração de receitas, que, em parte, pudesse suprir a lacuna do algodão. Neste sentido, é visível a gradativa melhoria do rebanho leiteiro regional, bem como a modernização parcial dos estabelecimentos laticinistas. É importante destacar o papel exercido pelas cooperativas sediadas em Caicó e Currais Novos – a Coacal e a Cersel, respectivamente –, desde o inicio dos anos 90, fomentando a melhoria racial e produtiva dos plantéis, assim como do processo de comercialização do leite e fabricação de produtos lácteos. Com a instituição do “Programa do Leite”, pelo governo do Estado, desde 1995, a pecuária de leite tornou-se a principal fonte de receita do conjunto de atividades praticadas em regime de sequeiro, 93 em todo o Estado do Rio Grande do Norte, dando ao mesmo tempo, um novo suporte de mercado às usinas de beneficiamento. A participação da região foi de 31,8% na produção de leite do Estado, no ano de 1995, colocando-a como a segunda maior bacia leiteira estadual (Idec, 1995), ficando abaixo do conjunto formado pelas bacias do Litoral/Agreste, que alcança cerca de 50% do leite produzido. O produtor de leite, com acesso ao Programa, recebe por litro de leite, entregue na plataforma da usina, uma remuneração que varia, dependendo do local e da qualidade do produto, de 0,35 a 0,42 centavos de real, o que significa os mais elevados preços pagos ao produtor de leite no Nordeste. Por outro lado, funciona na região seridoense mais de uma centena de queijarias, a grande maioria tendo precárias condições de instalações e higiene para o fabrico artesanal do queijo-demanteiga, de coalho e a manteiga-de-garrafa. Essas unidades estão necessitando receber maior atenção da vigilância sanitária e adotar padrões de identidade e qualidade para esses produtos, por parte dos setores competentes. Essas medidas também dizem respeito ao preparo da carne-de-sol, lingüiça e outros derivados da produção animal. Ainda quanto à produção de laticínios, vale lembrar que as cooperativas mencionadas dispõem de equipamentos e instalações laboratoriais para a fabricação de variado elenco de produtos, como os seguintes: manteiga, iogurte e bebidas lácteas, queijos regionais e do tipo mussarela, já estando em fabricação diversas linhas de produto. De um modo geral, os produtos do Seridó são conhecidos da maioria dos consumidores do Estado, de outras capitais e cidades nordestinas, além do grande contingente de pessoas originárias do Nordeste, que residem nos grandes centros urbanos constituídos por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O nome Seridó já é uma marca, e como tal, tem forte apelo de mercado, necessitando estabelecer padrões de qualidade e marketing para seus principais produtos, permitindo ao mesmo tempo maior participação dos produtores na cadeia produtiva. Contudo, persistem sérios e antigos problemas na pecuária bovina da Região, sendo consensual a insuficiência de alimentos volumosos, sobretudo nos meses de verão, que representa a maior limitação ao desenvolvimento do rebanho. Isso se reflete diretamente na produção de leite e carne, principalmente no leite, que passa a exigir grandes quantidades de rações concentradas, contribuindo para elevar o custo de produção, um dos mais elevados das bacias leiteiras do País. Segundo o Diagnóstico da Bovinocultura de Leite do Rio Grande do Norte, trabalho do qual participaram diversas instituições, sob a coordenação do Sebrae, o custo médio do leite no universo pesquisado na Região do Seridó era de R$ 0,60, a margem bruta de R$ 0.08 e a líquida de – 0,14 centavos de real. Esses resultados indicam que os produtores não estão considerando os custos indiretos. Como inexiste contabilidade e outras medidas de caráter gerencial, eles permanecem na atividade operando com prejuízo, complementando a receita com a venda de animais da produção leiteira ou de outras criações, ou mesmo, de outras atividades fora da agropecuária. Além disso, cumpre registrar, que o reduzido leque de opções econômicas no setor contribui para estabilizar essa situação. A mesma pesquisa conduzida pelo Sebrae revela que, apesar do grave problema de falta de pastagens, nos meses secos, e da relativa disponibilidade de alimentos volumosos, no período das chuvas, quando ocorrem os “bons invernos,” apenas 14,6% dos criadores utilizam silagem e 4,2% dos fazem feno para suprir a alimentação do rebanho. Essa constatação é critica. Confirma o grave problema de alimentação do rebanho leiteiro e a constante alternância de produção entre o período seco 94 e o chuvoso, assim como o estado geral de carne dos animais. Revela, ainda, um aspecto cultural de resistência às inovações, pois há décadas os órgãos de pesquisa e assistência técnica vêm orientando e demonstrando aos criadores do semi-árido norte-rio-grandense a importância dessas práticas de alimentação animal. Apenas uma minoria incorporou novas tecnologias ao processo de produção. A maior parte dos produtores, por variados motivos, prefere alimentar a esperança de um bom inverno no próximo ano, apelando, na falta deste, para a queima do xique-xique, impondo nova degradação à caatinga. Outros aspectos relevantes foram evidenciados pelo mencionado estudo, que abrangeu uma amostra total de 219 produtores de leite, de 77 municípios, distribuídos em todas as 8 Zonas Homogêneas do Estado, classificados segundo 3 estratos: i) até 20 litros de leite/dia: pequenos produtores; ii) entre 21 e 200 litros de leite/dia: médios produtores; e iii) acima de 200 litros de leite/dia: grandes produtores. Verificou-se que mais de 50% dos produtores da amostra apresentavam baixo nível de escolaridade (22,8% tinham primário completo; 24,2%, primário incompleto; e 13,7% não tinham instrução), evidenciando um problema para a adoção de tecnologias. A maioria das propriedades estudadas é administrada diretamente pelo proprietário, de forma exclusiva, ou em conjunto com a família. A mão-de-obra familiar representava 59,1% de toda a força de trabalho utilizada na atividade na Região do Seridó. Outra realidade preocupante foi constatada: em 57,1% dos estabelecimentos leiteiros pesquisados, nenhuma pessoa foi capacitada formalmente, entre 1996/1997, mostrando a desqualificação da mão-de-obra e as dificuldades para estabelecer novos e mais rentáveis perfis produtivos. Os percentuais médios de mortalidade no rebanho leiteiro, em animais de até um ano, era de 5,35% no Seridó, contra 7,8% no Estado, o que mostra uma melhor situação para o Seridó. Para os animais com um a dois anos, o índice médio de mortalidade foi de 3,7% na amostra estadual e de 5,6% na Região do Seridó. O tipo de instalação predominante e a higiene da ordenha indicam que a grande maioria dos entrevistados não tem preocupação com a qualidade do leite produzido. A produtividade média, referente ao total de vacas do rebanho, foi de 3,3 litros por vaca/dia para o total do Estado, sendo esse baixo índice semelhante ao do Seridó. Essas análises indicam que ainda há muito o que fazer, nos estabelecimentos rurais, para que se obtenham novos padrões de produção para a pecuária leiteira do Estado e, em particular, para a do Seridó. Em que pese a situação diagnosticada, alguns exemplos de produtores assistidos tecnicamente mostram haver potencialidades, tecnologias e práticas gerenciais capazes de desenvolver de forma econômica e sustentável a atividade leiteira no Seridó. É inegável a vocação regional para o segmento pecuário, assim como sua capacidade geradora de trabalho e renda, mediante as amplas possibilidades de desdobramento nos setores agroindustrial, comercial e de insumos e serviços. 95 b. Objetivos Este Projeto tem por objetivo geral, promover de forma sustentada o desenvolvimento da bovinocultura de leite, para que os produtores, ampliando suas participações na cadeia produtiva, agreguem mais valor e gerem mais emprego e renda nas propriedades. Especificamente, pretende-se: • aumentar a produção, produtividade e qualidade do leite e derivados; • reduzir o custo de produção do leite e derivados, elevando a renda dos produtores e demais agentes envolvidos na atividade; • ampliar a participação dos produtores do Seridó na cadeia produtiva; e • estabelecer os padrões de identidade e qualidade para os produtos lácteos e para a carne- c. Diretrizes de-sol. As orientações gerais para o desenvolvimento da pecuária leiteira estão consubstanciadas nas diretrizes a seguir: • a capacitação profissional e a organização dos produtores, aspectos fundamentais para promover a modernização do setor agropecuário regional, deverão envolver todos os segmentos do agronegócio; • governo estadual e a iniciativa privada, principalmente as cooperativas, desenvolverão em parceria um conjunto de ações para tornar a atividade competitiva e economicamente sustentável; • a definição dos padrões de identidade e qualidade para os produtos de origem animal constituirá condição imperativa para a ampliação do mercado dos produtos do Seridó; • a regularização das terras sem documentação legal, uma prioridade que precisa de solução imediata, deverá ser realizada para habilitar centenas de agricultores às políticas governamentais; • a melhoria da assistência técnica merecerá prioridade pelos diversos órgãos do governo, pois se impõe como fundamental para conferir mais eficiência aos processos de difusão e adoção de tecnologias; e • a política de fortalecimento dos recursos hídricos regionais terá caráter permanente. d. Linhas de Ação A execução desse Projeto estará pautada por linhas de ação como as seguintes: • garantia de assistência técnica aos produtores, dando prioridade à ampliação do suporte forrageiro e à produção e armazenagem de alimentos volumosos para suprimento do rebanho no período seco; 96 • capacitação e treinamento de produtores, com prioridade para os aspectos de alimentação, sanidade, manejo, melhoramento animal e gerenciamento da exploração; • fomento à ampliação e rotação das áreas de pastagem, plantio de capineiras, leguminosas e cactáceas, assim como o manejo da cobertura vegetal da caatinga, mediante seu rebaixamento e raleamento seletivo; • aumento do emprego de rações, com base nas disponibilidades locais de matéria prima: pedúnculo de caju, mandioca, algaroba, cama de aviário, etc.; • estímulo à melhoria do rebanho, mediante inseminação artificial e substituição gradativa dos plantéis (quantidade x qualidade); • melhoria das condições de higiene e da qualidade dos produtos das queijarias artesanais, ampliando a fiscalização sanitária e a qualificação da mão-de-obra; • queijarias; financiamento de iniciativas que visem à melhoria das instalações e equipamentos das • estabelecimento, com o apoio dos organismos competentes, de Padrão de Identidade e Qualidade–PIQ, para os produtos de origem animal da região, dotando-os de embalagem, marca e selo de qualidade; • estímulo a empreendimentos agroindustriais, preferencialmente em moldes associativos, que verticalizem a produção e fortaleçam o segmento agropecuário; • desenvolvimento de campanhas promocionais para ampliar o consumo dos produtos regionais, principalmente do segmento pecuário; e • ampliação do mercado institucional para os produtos lácteos (merenda escolar hospitais públicos, quartéis, penitenciárias, etc.). e. Metas O Projeto tem como metas principais: • elevar no período de 5 anos (2000/2005) a média diária de lactação das vacas, de 3,3 litros/dia para 4 litros/dia; • elevar em 30%, no mesmo prazo, os atuais índices de utilização de silagem e feno do rebanho leiteiro, que são de 14% e 4,2%, respectivamente; • implantar 20 unidades de múltipla capacidade, para coleta e resfriamento do leite a granel nos principais municípios produtores, até o final de 2003; e 97 • estabelecer até o ano de 2002, o Padrão de Identidade e Qualidade–PIC, para os produtos de origem animal da Região do Seridó. f. Instrumentos Em apoio a esse Projeto, estarão disponíveis distintos instrumentos/instituições, dentre os quais podem ser destacados: 1. Secretaria de Agricultura e Abastecimento; 2. Emater e Emparn (vinculadas da Saab); 3. Delegacia Federal de Agricultura; 4. Centro Tecnológico do Queijo do Seridó, na cidade de Currais Novos; 5. Centro Profissionalizante em Produção Animal no Município de Cruzeta; 6. Programa do Leite; 7. Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados; 8. Cooperativas e Associações de Produtores; 9. Incentivos do Governo do Estado e Finor; 10. Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores–Anorc; 11. Feiras e Exposições; 12. Linhas de crédito no contexto do Protocolo da Bovinocultura de Leite, operadas principalmente pelo Banco do Nordeste-FNE, Proger, Pronaf e Bndes; 13. Programa de Combate à Pobreza Rural do Rio Grande do Norte–PCPR; 20 14. Pronaf/Infra-Estrutura; e 15. Sebrae. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução do Projeto de Pecuária Leiteira deverá mobilizar recursos no montante de R$14.590.318,00, volume equivalente a US$ 8.105.732,20, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União(8%), Estado(80%), municípios(5%) e Recursos Externos (7%). Não se fez estimativa para a demanda de crédito. Sabe-se, entretanto, que há disponibilidades financeiras a este respeito nos bancos oficiais. No caso específico do Banco do 20 Antigo Programa de Apoio ao Pequeno Produtor–PAPP. 98 Nordeste, o segmento pecuário ao qual se confere prioridade caprinocultura. h. no semi-árido é o da ovino- Gestão O acompanhamento e avaliação dos trabalhos de execução do Projeto estará a cargo de uma gerência, com funcionamento no âmbito da Agência de Desenvolvimento do Seridó. Dentre suas mais importantes atividades, destacar-se-á a articulação entre os diversos atores executivos, para cumprimento dos objetivos e metas na área municipal. Como principal interlocutor da gerência do projeto, a estrutura municipal mais adequada é a constituída pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento, que poderão também criar idêntica unidade no nível local. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento com suas unidades executivas próprias, e as instituições vinculadas, estarão de igual forma, integradas aos diversos projetos que fazem parte das cadeias produtivas da agropecuária seridoense. A Secretaria do Trabalho e Ação Social, articulada às Usinas de Pasteurização de Leite, estará presente na região assegurando a continuidade do Programa do Leite, promovido pelo governo do Estado. 5.3.2.2 a. Caprino-ovinocultura Situação Atual A caprino-ovinocultura, até recentemente, caracterizava-se como atividade tipicamente subsidiária e complementar à bovinocultura, relegada a segundo plano pelos criadores, popularmente denominada de “miunça.” Recentemente, vem se revelando em algumas criações bem conduzidas como alternativa econômica e ecologicamente compatível com o ambiente semi-árido prevalecente na região Seridó. (Cerri, 2000.) Examinando de forma separada as duas espécies, verifica-se que o rebanho ovino é quase o dobro do efetivo de caprinos, sendo a Zona Homogênea de Caicó a principal detentora de ovinos, com 48,7%, concentrando a Zona das Serras Centrais o maior rebanho caprino, que representa 49,2% do total de animais no Seridó. Na Zona Homogênea de Currais Novos observa-se certo equilíbrio quanto ao número das espécies. Ali, os rebanhos apresentam os menores contingentes da região. Enquanto os bovinos representam 62,3% do total da pecuária de ruminantes do Seridó, os plantéis de ovinos e caprinos tiveram participação de 39,1% e 21,1%, respectivamente. (IBGE, 1997). Essa predominância dos bovinos pode ser explicada pela própria formação econômica da região. Como ocorre nas diferentes áreas do semi-árido do Nordeste, a bovinocultura desempenhou papel chave no desbravamento e colonização do Seridó. Ademais, em virtude da escassez relativa de solos com aptidão agrícola, desenvolveu-se uma agricultura dispersa, pulverizada em pequenos “roçados”, baseada no algodão arbóreo e nas culturas de subsistência. Nesse contexto, a existência de criações ultra-extensivas de caprinos e ovinos sempre constituiu uma ameaça à integridade das lavouras, sobretudo pelos primeiros, cujos hábitos nômades transformam o caprino em animal incansável na busca por alimentos, dotado de reconhecida habilidade para transpor obstáculos, além de competir vantajosamente com os bovinos pelo reduzido suporte forrageiro nativo da caatinga. De um modo geral, a maioria dos rebanhos é explorada extensivamente, predominando animais SDR – sem raça definida –, com pouca ou quase nenhuma adoção de práticas elementares de sanidade, 99 alimentação e manejo. Não existe um calendário de vacinação, controle de reprodução, suplementação protéica e melhoramento genético, dentre as principais medidas, denotando o baixo nível tecnológico das explorações. Decorrem daí as reduzidas produções de carne, leite e peles de qualidade, advindas desse conjunto de fatores, que repercute negativamente nos resultados econômicos e financeiros das explorações. Por outro lado, a cadeia produtiva da caprino-ovinocultura é caracteristicamente desarticulada, com oferta irregular de produtos, tanto em quantidade como em qualidade, apresentando preços elevados e um padrão que não satisfaz ao mercado. As criações de caprinos estão voltadas para a produção de carne, peles e leite de cabra para consumo familiar, num sistema de produção extensivo, de cria e venda de animais vivos ou abatidos nas fazendas ou feiras municipais, com participação de atravessadores e marchantes locais. A região semi-árida é bem suportada pelos caprinos e ovinos, que ali vivem com nítidas vantagens sobre os bovinos. As constantes secas ocorridas nos últimos 20 anos no Estado e, particularmente, no Seridó, afetam com grande impacto o rebanho bovino, causando mortandade e elevado custo de manutenção, em contraste com as boas condições físicas e sanitárias de caprinos e ovinos. Estes apresentam também facilidades de comercialização e liquidez. Os criadores de caprinos e ovinos estão se organizando em associações, mobilizadas em apoio à produção. Com a realização de Caprifeiras (ou Feiras de Caprinos) nas diversas regiões do Estado e estimulados por programas governamentais de apoio, estão desenhando um novo e promissor cenário para essa atividade no Rio Grande do Norte. O estabelecimento de uma cota diária de 4.000 litros de leite de cabra para aquisição pelo Programa do Leite, apoiado pelo governo do Estado, constituiu fator decisivo para o soerguimento da atividade. Segundo a Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Sertão Central Cabugi– ACOSC, a usina processadora de leite localizada no Município de Angicos, região central do Estado, já está beneficiando 4.500 litros de leite por dia. Registrem-se, também, as modificações que vêm ocorrendo no mercado consumidor de carnes, sobretudo nos centros urbanos do Nordeste, com o aumento da procura por carne de ovino e caprino, graças às campanhas e propagandas relacionadas ao consumo de alimentos mais saudáveis, com baixos teores de gordura. Além disso, a instalação de abatedouros industriais em algumas cidades dotadas de satisfatória logística, tem permitido a distribuição de carne em cortes especializados, que chegam com excelente apresentação às principais redes de supermercados e restaurantes das capitais nordestinas. Segundo o Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos, da Embrapa, em Sobral-CE, o interesse por carnes de caprinos e ovinos é muito grande, mas os empresários esbarram na atual escassez de oferta. O Ceará está importando carne de ovinos da Argentina e do Uruguai. Os Emirados Árabes compram 60 milhões de dólares em caprinos e ovinos de vários países do mundo e o Nordeste não se inclui como fornecedor, por absoluta falta de garantia de oferta. (Cerri, 2000.) A importação no final de 1999 de animais da raça Boer, grande produtora de carne, oriundos do Canadá, para cruzamento com o rebanho caprino nativo, de elevada rusticidade, constitui mais um passo no sentido de melhorar o desempenho econômico dessa exploração. De forma similar, verifica-se a introdução de ovinos das raças Santa Inês, Cabeça Preta da Somália e da raça Morada Nova, voltados para a produção de carne e pele. 100 A Região do Seridó também participa dessas ações, organizando associações de criadores em municípios como Currais Novos e Caicó. Já há criadores que, recebendo assistência técnica da Emater e do Sebrae, estão adotando novas práticas de alimentação, sanidade, manejo e melhoramento animal. Com sua tradição laticinista, o Seridó vem mostrando que é possível racionalizar os plantéis existentes e novos, substituindo quantidade de animais por qualidade. Viabiliza-se, assim a convivência da caprinocultura, direcionada prioritariamente para a produção de leite e queijo, com a bovinocultura. Essas providências contribuem para reduzir a lotação animal na caatinga, disponibilizar maior suporte forrageiro, permitir outras explorações pecuárias, maximizar as rendas do setor animal nas propriedades, além de permitir a melhoria dos níveis de nutrição das populações interioranas. A exemplo do que vem ocorrendo com a bovinocultura de leite, a caprino-ovinocultura tem que ser explorada em sistema semi-extensivo, adotando-se manejo produtivo e sustentado da caatinga seridoense. Estão sendo tornados disponíveis alimentos volumosos, sobretudo com o plantio e a armazenagem de forrageiras, sob a forma de feno e/ou silagem. b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral, o desenvolvimento sustentado da caprino-ovinocultura na Região do Seridó, ampliando a participação dos produtores nas várias etapas das cadeias produtivas, agregando valor aos produtos, propiciando mais trabalho e renda às explorações. Como objetivos específicos buscará: • aumentar a oferta de carne, leite, pele e derivados; • estabelecer padrões de qualidade para os produtos da caprino-ovinocultura; • viabilizar a implantação de empreendimentos agroindustriais; • introduzir raças melhoradas de caprinos e ovinos para cruzamento com às raças nativas, permitindo o aumento da produtividade preservando as características de rusticidade do rebanho; e • melhorar o nível tecnológico e gerencial das unidades de produção. c. Diretrizes O Projeto de Caprino-ovinocultura terá as seguintes e principais diretrizes: • setor público, em parceria com a iniciativa privada, desenvolverá esforços para inserir competitivamente e de forma sustentada, a caprino-ovinocultura como uma atividade econômica, geradora de emprego e renda, e ecologicamente adequada às condições do Seridó; • a capacitação profissional dos criadores constituirá precondição para o alcance dos objetivos e metas propostos, assim como para a modernização de todo o segmento caprino-ovinocultor; • a assistência técnica e gerencial aos produtores, de forma suficiente e com qualidade, se constituirá em fator decisivo ao êxito da atividade; 101 • a caprino-ovinocultura será explorada em sistema intensivo e semi-intensivo, tendo em vista a preservação da caatinga e a obtenção de melhores resultados técnicos e econômicos; e • os governos federal e estadual darão continuidade à política de fortalecimento dos recursos hídricos em todo o semi-árido estadual, conferindo prioridade à Região do Seridó. d. Linhas de Ação As linhas de ação do Projeto abrangem: • a ampliação do suporte forrageiro da caatinga, mediante rebaixamento e raleamento de sua massa vegetal, rotação de áreas, plantio de capim buffel, de cactáceas forrageiras e de leguminosas, para formar banco de proteínas; • estabelecimento de práticas sanitárias e de reprodução que assegurem elevados índices de sanidade animal e de natalidade; • a melhora do padrão racial dos rebanhos, para aumentar a produção de leite, elevar o peso das carcaças e reduzir o tempo de abate; • a garantia de alimentos volumosos para os meses secos do ano, mediante produção de feno e/ou silagem, aproveitando a forragem nativa e de capineiras disponíveis no período chuvoso; • a organização e envolvimento dos produtores, mediante a mobilização de cooperativas, associações e sindicatos, visando sua maior participação no agronegócio; • a capacitação de técnicos e produtores em modernas tecnologias de sanidade, alimentação, manejo, reprodução e práticas gerenciais; • apoio aos segmentos de abate, beneficiamento e comercialização de carne, pele, leite e derivados, integrando-os com os demais elos da cadeia produtiva; • a viabilização da oferta de produtos de qualidade superior (animais padronizados para abate e frigorificação, leite, queijos, peles e subprodutos), em quantidade e regularidade; • a ampliação do mercado institucional, a exemplo do Programa do Leite, incluindo os produtos da caprino-ovinocultura na merenda escolar e no suprimento de hospitais e quartéis; e • a melhora da atuação do Serviço de Inspeção Sanitária junto às agroindústrias de leite e derivados, carne e peles. e. Metas Este Projeto de Caprino-ovinocultura tem como principais metas: 102 • implantar até o ano 2005, 100 módulos de criação de caprinos e/ou ovinos para exploração em bases técnicas e gerenciais, que possam ser utilizados como unidades demonstrativas para difusão de tecnologia e treinamento; • estabelecer um Fundo Rotativo de Animais, de forma a instalar na região um sistema formado por pequenos núcleos de caprinos e ovinos, geneticamente melhorados, nas comunidades/assentamentos rurais, atendendo até o ano 2005, 200 produtores; e • capacitar técnica e gerencialmente 100 criadores dos módulos que serão utilizados como unidades demonstrativas. f. Instrumentos Para apoiar esse Projeto, serão utilizados diversos instrumentos e unidades operacionais, que já se encontram mobilizadas, por intermédio de órgãos e/ou programas como os especificados a seguir: 1. Centro Tecnológico do Queijo do Seridó, em Currais Novos; 2. Centro Profissionalizante em Produção Animal, em Cruzeta; 3. Centro Nacional de Caprinos, da Embrapa; 4. Cooperativas participantes do Programa do Leite; 5. Incentivos fiscais do governo do Estado e Finor; 6. Linhas de crédito criadas no contexto do Protocolo da caprino-ovinocultura, operadas pelo Banco do Nordeste-FNE, Pronaf e Bndes; 7. Recursos orçamentários dos governos federal, estadual e municipais; 8. Recursos do PAPP; 9. Projeto de caprino-ovinocultura em execução pelo Sebrae; e 10. Programa de Caprinocultura contido na Proposta de Desenvolvimento Rural Integrado e Sustentado do Semi-Árido Potiguar (Acordo de Cooperação Brasil-Espanha). g. Recursos Financeiros e Fontes O Projeto mobilizará recursos da ordem de R$ 3.375.000,00, equivalentes a US$1.875.000,00, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (12%), governo estadual (15%), prefeituras (8%), financiamentos dos bancos oficiais (60%) e beneficiários (5%). 103 h. Gestão O Projeto de Caprino-ovinocultura será gerido por uma unidade de caráter regional, vinculada à Agência de Desenvolvimento do Seridó. Sua atribuição principal será a de articular nos municípios os órgãos envolvidos na execução das atividades ligadas à caprino-ovinocultura. Essa gerência temática, manterá a Agência de Desenvolvimento do Seridó sempre atualizada sobre o andamento do Projeto nas diversas unidades municipais, cabendo-lhe administrar e dar solução aos problemas executivos decorrentes. Para valorizar e conferir maior envolvimento comunitário às atividades do Projeto, a gerência manterá estreita articulação com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento do Seridó. 5.3.2.3 a. Fruticultura Situação Atual A fruticultura constitui a atividade de maior importância e potencialidade para os municípios da Zona Homogênea das Serras Centrais, cujos territórios se incluem nos platôs das Serras de Santana e João do Vale. Essas áreas se caracterizam pelo clima ameno, decorrente da altitude (700 m), com duas estações: inverno, com chuvas de fevereiro a maio, e verão, correspondendo aos demais meses do ano. Com base nos dados do posto pluviométrico de Recanto, localizado no Município de Cerro Corá, temse ali uma precipitação média anual de 588 mm, concentrada em quatro meses. A deficiência de água é um dos maiores problemas dessas áreas, havendo dificuldade, inclusive, para o abastecimento humano e animal. No alto dos terraços serranos, não há condições para a construção de açudes. A água vem sendo obtida por poços de baixa vazão e contém elevada salinidade, sendo o seu consumo assegurado pelo emprego de dessalinizadores, além de carros pipas. Futuramente, o problema será sanado com a adutora de Serra de Santana, em fase de construção, que já chegou à cidade de Florânia. Os solos da área são planos, profundos, de textura média ou arenosa. Os elevados teores de areia grossa, aliados à topografia plana que domina o ambiente, facilitam a infiltração de água, aumentando a precipitação efetiva, quando comparada a outras regiões de precipitação semelhante, mas de solos diferentes. Eles se estendem por cerca de 33.000 hectares na Serra de Santana e 1.000 hectares na Serra do João do Vale. São explorados por uma diversificada tipologia de agricultores, constituída por ocupantes, posseiros, foreiros e arrendatários, a grande maioria sem documentação. Essas terras foram inicialmente cultivadas com lavouras de subsistência, como milho, feijão, fava e mandioca, sendo, posteriormente, acrescidas com cultivos de mamona e sisal, ao lado dos antigos cajueirais. A partir de meados dos anos 70, a cultura do cajueiro ganhou importância econômica, ocupando hoje 6.726 ha (Idec, 1997), quase que exclusivamente nos platôs da Zona Homogênea, distribuída em área onde os minifúndios representam 74% dos estabelecimentos e detêm apenas 14% da área (Incra,1992). Um exemplo ilustrativo dessa situação é dada pelo Município de Lagoa Nova, um dos mais representativos da Serra, onde 78% das propriedades estão abaixo de 10 ha. Os dados sobre área cultivada com cajueiro, segundo técnicos da Cersel e pessoas com vivência na Serra, 21 indicam que a referida cultura ocupa uma área muito maior do que a apresentada pelas estatísticas oficiais. Com base nas informações dos compradores de castanha, expressa pelo volume de aquisições em 1999 e pela produtividade média dos cajueirais, admite-se que a área cultivada com cajueiros abrange de 12 a 15.000 hectares. 21 Pesquisa direta na Serra de Santana. 104 Predomina um sistema de plantio aleatório, disperso em pequenas áreas, onde as plantas não obedecem a nenhum arranjo espacial prévio. A cultura do cajueiro ocupa a maior parte dos terrenos, sem espaçamento definido, com castanhas selecionadas diretamente pela observação do produtor. As plantas formam bosques com árvores deixando espaços livres para o cultivo de lavouras anuais e de outras fruteiras, dentre as quais se destacam a pinheira (pinha ou ateira), seqüenciada por gravioleiras, mangueiras, goiabeiras e jaqueiras. Entre essas espécies há uma relação de tolerância quanto à escassez de umidade, em maior ou menor grau, na seguinte ordem: cajueiro-mangueira-jaqueira-gravioleira e pinheira. O cajueiro é a planta que mais tolera a falta de chuvas nas estiagens mais prolongadas, ao contrário da pinheira, que é a mais sensível. Ambas as culturas, são responsáveis pelas principais safras de frutas da Serra, cujo volume de produção é resultado da maior ou menor quantidade e distribuição das chuvas anuais. Os pomares apresentam grande variabilidade genética com plantas muito heterogêneas das diversas espécies plantadas; empregam muito pouca tecnologia, mesmo as mais simples e de baixo custo, resultando em baixas produtividades. Entretanto, há um aspecto positivo nesse sistema de produção que é a ausência de fertilizantes e defensivos de natureza química, o que caracteriza uma produção orgânica que pode, mediante certificação das entidades competentes e adoção de processos de marketing, obter diferenciação de preços para seus produtos. A esse respeito, vale ressaltar a importância que os produtos orgânicos vêm assumindo nos nichos dos mercados nacional e internacional, como elemento fundamental para uma dieta mais saudável. Por outro lado, com a melhor utilização de práticas de baixo custo – como roço, coroamento, poda, consorciação e cobertura morta –, todas com capacidade de absorção da mão-de-obra familiar, será possível obter ganhos no rendimento da produção frutícola. Também, deve ser estimulada a gradativa recuperação de cajueirais velhos e improdutivos, mediante substituição de copas e/ou plantio de novos espaços com clones do cajueiro anão precoce, a partir de mudas enxertadas produzidas por viveiristas credenciados e de melhor assistência técnica aos agricultores. Ao mesmo tempo, a superação das atuais deficiências da assistência técnica, a adequação das linhas de financiamento e a criação de fundos específicos, a nível municipal, para o custeio dos tratos culturais, manutenção do pomar e da colheita, serão medidas que irão fortalecer a produção e contribuir para reduzir a influência dos intermediários na área. É reconhecido que os problemas de maior peso na fruticultura regional estão ligados ao atual processo de comercialização, sendo decorrentes, em grande parte, da desorganização dos produtores, da atomização da produção, da desinformação, da pouca disponibilidade de recursos financeiros e de materiais, aliados à falta de medidas associativas mais eficientes. Com efeito, o agricultor minifundista tem muito pouca informação sobre o mercado, desconhecendo a complexidade que envolve as diversas cadeias produtivas e os valores que vão sendo agregados aos produtos primários, ao longo do processo comercial, ou dos agronegócios. O principal elo de sua articulação comercial para venda de castanha é o comprador/intermediário, que organiza no início da safra seu ponto comercial para recebimento, pesagem e pagamento da castanha. Esses atravessadores reúnem a produção para as indústrias de beneficiamento, localizadas nas cidades de Mossoró-RN e Fortaleza-CE. Ainda na área comercial, envolvendo a compra de castanha e do pedúnculo para extração do suco, o principal agente na safra de 1999 foi a Cersel, sediada na cidade de Currais Novos. O pedúnculo é recolhido diretamente nas unidades de produção por atravessadores/transportadores, que obtêm um pequeno diferencial de preço entre o preço pago ao agricultor e o recebido na plataforma da indústria. 105 Outra importante estrutura instalada na região é a da Cooperativa da Serra de Santana– Coopersantana, com sede na cidade de Cerro Corá, que conta com unidade de beneficiamento de castanha, galpões para recepção, armazenagem e processamento manual da castanha, além de uma instalação para a fabricação de doces. Essas estruturas estão distribuídas em diversas comunidades rurais da Serra, com o objetivo de contribuir para a organização da produção, do processo comercial e da agregação de valor para os agricultores. Todavia, essa cooperativa passa por sérios problemas financeiros e de inadimplência junto ao Banco do Nordeste, decorrentes em grande parte do superdimensionamento do projeto, que implicou em vultosas obras, e de questões administrativas e gerenciais. Outras empresas operam no processamento do pedúnculo do caju em função do comportamento do mercado, a exemplo da Maguari, Vinhos São Braz, Da Fruta e Palmeron. A comercialização da pinha, cuja duração da safra é dependente das chuvas guarda semelhança com o processo do caju, com os intermediários recolhendo a produção nas propriedades, para entrega aos atacadistas, que destinam a produção para a Ceasa de Natal e outros centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. É o que está acontecendo na safra deste ano de 2000, que deve estender-se até o mês de julho. Os preços pagos aos agricultores são muito baixos – R$ 0,10 por unidade –, enquanto o preço ao consumidor, nos supermercados e feiras livres (maio de 2000), alcança patamares de até 1.000% de aumento. Do exposto, evidencia-se a estratégica prioridade de intervenção no processo de comercialização das frutas produzidas nos platôs serranos, assim como as amplas possibilidades de aproveitamento agroindustrial. Ao mesmo tempo, a melhora da precária malha viária que interliga os municípios serranos constituirá um decisivo fator para a circulação das safras, ensejando a instalação de empreendimentos de múltiplo porte, que confiram qualidade aos produtos de mesa e aos submetidos a processamento ou transformação industrial. Há outro aspecto relevante para um novo modelo de comercialização. Trata-se da possibilidade de instalação de câmaras para armazenagem a frio e de minifábricas para beneficiamento da castanha, do pedúnculo do caju e demais frutas da produção local. As minifábricas podem trabalhar de forma autônoma ou em parceria com uma indústria de porte, privada, ou de natureza associativa, que assumiria o papel de âncora, responsável pelo acabamento final dos produtos, pela marca e demais aspectos mercadológicos. b. Objetivos O objetivo geral deste Projeto é promover a inserção dos agricultores nas cadeias produtivas dos principais produtos frutícolas da Zona Homogênea das Serras Centrais, de forma competitiva, para que os ganhos de produtividade possam ser adequadamente revertidos em benefício dos produtores, a partir de uma produção organizada de castanha-de-caju e de frutas de mesa, assim como do processamento ou transformação industrial desses produtos, com redução da perecibilidade, das perdas pós-colheita e da estacionalidade da oferta. No limite, quer-se propiciar mais valor agregado aos produtos. Como objetivos específicos, o Projeto pretende: • fortalecer a fruticultura de produção familiar; • regularizar a posse da terra; • ampliar a participação dos produtores no processo de comercialização; 106 • obter o Certificado de Produção Orgânica para as principais frutas e a castanha-de-caju; • promover a agroindustrialização de pequeno porte nas áreas de produção; e • melhorar a malha viária intermunicipal. c. Diretrizes As orientações gerais para condução desse Projeto estão baseadas nas seguintes diretrizes: • setor público, com atuação no segmento agropecuário, as Prefeituras Municipais e os produtores e suas organizações, atuarão de forma integrada, para melhorar as condições de produção e comercialização dos produtos da Serra, com ênfase na castanha-de-caju, nas frutas de mesa e no seu processamento e transformação industrial; • serão estimuladas a capacitação técnica e gerencial dos produtores e de suas organizações, para que o agronegócio seja verticalizado e produza com qualidade e competitividade; • a regularização das terras sem documentação legal, utilizadas no processo produtivo pelas diversas categorias de produtores, será apoiada, para viabilizar o acesso dos produtores aos benefícios das políticas públicas, sobretudo as de financiamento da rede oficial de crédito; • a melhoria da oferta de assistência técnica, tanto em termos quantitativos, como qualitativos, constituirá providência das mais urgentes, com a adoção de novo arranjo institucional; e • a pesquisa agropecuária dará continuidade à realização de novas pesquisas em relação às demandas da fruticultura. d. Linhas de Ação Este Projeto de Fruticultura terá como principais linhas de ação: • promoção da organização dos produtores nas diversas formas de associação (gerenciamento com tecnologias agrícolas compatíveis com as características das unidades produtivas); • regularização das terras, para habilitar os posseiros e demais categorias de produtores aos benefícios do acesso ao crédito oficial e às demais políticas governamentais; • viabilização de novas formas de assistência técnica e extensão rural, com ênfase na integração dos serviços existentes, conferindo prioridade aos aspectos de organização, assistência técnica e gerencial, envolvendo atividades agrícolas e não-agrícolas do agronegócio; • articulação com os agentes financeiros, para assegurar linhas de crédito adequadas, suficientes e compatíveis com as demandas dos produtores; 107 • gestões junto a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Secretaria da Indústria e Comércio Ciência e Tecnologia, Sebrae e Centro de Agroindústria Tropical da Embrapa, para realização de Estudo de Mercado e de Possibilidades da Agroindustrialização; • prioridades para a pesquisa agronômica e tecnológica, com vistas à superação de problemas relevantes nas cadeias produtivas; • erradicação dos cajueirais velhos e improdutivos, substituindo copas e/ou plantando clones de cajueiro anão precoce; • realização de cursos de capacitação gerencial e tecnológica para os agricultores, em escala municipal; • utilização de normas e procedimentos referentes à obtenção e concessão do Certificado de Produto Orgânico; • seleção, acondicionamento e processamento das frutas de mesa e da castanha-de-caju, utilizando as associações e cooperativas; e • melhora da malha viária municipal, a partir de trabalhos de articulação entre as Prefeituras Municipais e o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem. e. Metas O Projeto de Fruticultura terá como metas principais: • regularizar a situação fundiária de 800 posseiros até o ano 2005; • cadastrar e habilitar 200 produtores com o Certificado de Produção Orgânica, até o ano • dotar 200 produtores com maquinas de beneficiamento de castanha de porte familiar; e 2005; • instalar, até o ano 2002, duas unidades-piloto de armazenagem a frio e de produção de polpa na Serra. f. Instrumentos Para o cumprimento dos objetivos e metas estabelecidas no Programa serão mobilizados os seguintes instrumentos: 1. recursos do Estado constantes do PPA (2000/2003) e dos orçamentos anuais; 2. recursos dos orçamentos municipais; 3. linhas de financiamento do Pronaf, FNE, Banco do Brasil, Bndes e Finor; 4. recursos do PCPR-RN; 108 5. equipes técnicas da Saab, Sintec, Emater, Emparn, Sebrae e Cersel; 6. Secretarias Municipais de Agricultura e Organizações Não-Governamentais; 7. Faern/Senar; 8. Delegacia Federal da Agricultura; 9. Centro de Agroindústria Tropical, da Embrapa; 10. Fetarn; 11. Cooperativas, Associações de Produtores e Sindicatos Rurais; e 12. Programa de Recuperação e Desenvolvimento da Cajucultura no Estado do Rio Grande do Norte (Protocolo da Cajucultura). g. Recursos Financeiros e Fontes O Projeto de Fruticultura no Seridó, centrado nos platôs serranos (Serra de Santana e João do Vale) envolverá recursos no montante R$ 2.837.314,00, correspondentes a US$ 1,655,099.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (10%), Estado (10%), municípios (5%), recursos externos (10%), crédito dos bancos oficiais (60%) e beneficiários (5%).Os financiamentos deverão ser baseados, principalmente, na linha do Pronaf, cujas condições são mais adequadas aos produtores, pela eliminação da correção monetária e da taxa de juros anuais de 3%. h. Gestão A implementação desse Projeto tem como fundamento a coordenação regional do elenco de ações a cargo dos diversos atores envolvidos. Neste sentido, a postura dos órgãos setoriais ligados ao tema do Projeto, deverá ser a de viabilizar as competências do Conselho de Desenvolvimento do Seridó, especificamente de sua Agência de Desenvolvimento, sob a coordenação da qual funcionarão as diversas gerências dos projetos. Será fundamental que as Secretarias de Estado e suas vinculadas e as instituições federais e privadas mobilizem suas estruturas sobre a importância da articulação entre o Plano do Seridó e o conjunto de Programas e Projetos nele contidos. A Gerência do Projeto de Fruticultura deverá estar localizada preferencialmente em um dos municípios serranos, atuando articuladamente com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento, órgãos executivos e associações de produtores. No que concerne à assistência técnica e à extensão rural, esse serviço deverá conferir prioridade ao atendimento de grupo de produtores, em suas comunidades, para obter maior eficiência e eficácia. Caberá ao Conselho de Desenvolvimento do Município mobilizar as Secretarias Municipais de Agricultura, para realizarem o acompanhamento das ações locais dos órgãos setoriais, ou criar um gerente com a mesma finalidade. A gerência do Projeto manterá um sistema permanente de informação das ações em curso, para que a Agência de Desenvolvimento do Seridó realize uma adequada supervisão de suas ações. 109 5.3.2.4 a. Piscicultura Situação Atual A piscicultura é uma atividade recente no Brasil. Com fundamento científico e tecnológico, surgiu inicialmente no Nordeste, em conseqüência da política de combate às secas, no contexto das denominada fase hidráulica de enfrentamento às estiagens. A construção dos grandes reservatórios foi iniciada, em 1909, pela Inspetoria de Obras Contra as Secas–IOCS, transformada, em 1919, em Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas–IFOCS. Em 1945, a IFOCS cedeu lugar ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas–DNOCS. Os trabalhos de desenvolvimento da piscicultura nos açudes construídos por aquelas instituições foram iniciados em 1932, quando da instalação da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste. Desde então, vêm sendo desenvolvidas importantes tarefas para incrementar a produção pesqueira nos açudes construídos na área do Polígono das Secas. Além de pesquisas sobre manejo das explorações, aclimatação de espécies e reprodução induzida por hormônios, cabe destacar o povoamento e repovoamento das coleções de água públicas e particulares, assim como a produção e comercialização de alevinos. A Região do Seridó é considerada uma das mais açudadas do mundo, sendo superada apenas por algumas áreas na Índia. A geologia, o relevo, o clima, a rede hidrográfica e as obras de acumulação de água, foram responsáveis pela formação de espelhos d’água, cujas áreas são altamente dependentes do regime de chuvas. A luminosidade gerada por uma insolação de 3.000 horas/ano e a temperatura elevada que prevalecem na região constituem fatores de grande influência para o desenvolvimento de peixes tropicais. A sub-bacia do Rio Seridó, integrante do sistema Piranhas/Açu, possui 38 açudes públicos, 715 açudes particulares e 29 reservatórios comunitários todos com volume acima de 100 mil metros cúbicos (Idec, 1991). Totalizando um potencial de acumulação de água da ordem de 532 milhões de metros cúbicos, forma espelhos d’água com área em torno de 10 mil hectares a pleno volume. Referida área pode gerar uma produção extensiva de 2.500 toneladas de pescado por ano, ou seja 250 kg/ha/ano, que é o indicador adotado pelo DNOCS. A Emparn (1997), em levantamento sobre o potencial das áreas de espelhos d’água do Seridó, para a piscicultura intensiva, estima uma disponibilidade de 8.800 hectares, a pleno volume, considerando um percentual de 25% de utilização, suficientes para a instalação de 22 mil gaiolas, com produção anual, em duas despescas, de aproximadamente 20 mil toneladas. Os municípios com melhor potencial para a piscicultura são os de Acari, Caicó, Currais Novos, Cruzeta, Jardim do Seridó, Jucurutu, Jardim de Piranhas, Parelhas, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte, São Fernando e Cerro Corá. Entretanto, o crescimento da população, juntamente com o exacerbado esforço de pesca, a irregularidade e a escassez de chuvas, têm contribuído negativamente para o esgotamento dos estoques naturais, além da ineficácia das ações de povoamento e repovoamento dos mananciais, sobretudo públicos, com múltiplas funções. A atividade pesqueira, embora seja conhecida e praticada há mais de 50 anos na região, é 110 desenvolvida predominantemente de forma extensiva em todas as categorias de açudes: públicos, comunitários e particulares. Nos públicos, a pesca é realizada pelas colônias/associações, em número de 10, inscritas no DNOCS, operando com grandes deficiências. Formam grupos de 30 a 180 pescadores, sendo provável que somados aos trabalhadores envolvidos na atividade, o esforço de pesca no Seridó reúna entre 2.000 a 3.000 pessoas, segundo estimativa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Norte (1999). A pesca tem caráter artesanal, extrativista, com baixo volume de inversões em equipamentos e infra-estrutura. A tecnologia é rudimentar e a mão-de-obra apresenta pouca ou nenhuma qualificação. Os equipamentos e apetrechos são empregados de acordo com a modalidade da pesca e da espécie a ser capturada. Nos açudes públicos, a pesca é realizada durante 10 meses, sendo suspensa na época do defeso, (março/abril). O pescador inscrito e legalmente estabelecido na colônia/associação nada paga pela captura. Nos reservatórios particulares, a pesca é concentrada no período de verão, quando o volume de água está reduzido pela intensa evaporação, facilitando as pescarias. A piscicultura tradicional tem como característica básica o processo de alimentação natural dos cardumes e a reposição ou povoamento periódico de alevinos nas coleções d’água. Esse tem sido o importante papel cumprido pela Estação de Piscicultura Estevão de Oliveira, localizada em Caicó-RN, no Açude Itans, pertencente ao DNOCS. A produção da Estação é da ordem de 7 milhões anuais de alevinos, envolvendo diversas espécies de grande importância comercial, como a tilápia, tambaqui, carpa e curimatã, cujo destino mais freqüente são os açudes do Estado e os reservatórios do Ceará, Paraíba e Pernambuco. No esforço para o desenvolvimento da piscicultura, além do DNOCS, participam a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a Secretaria do Trabalho e Assistência Social, a Emater, a Emparn, o Sebrae, o Seapac-Caicó, Cooperativas, Colônias/Associações de Pescadores, ONGs e firmas privadas. Dadas as características da pesca extrativista praticada, a descontinuidade da oferta, a concentração de atacadistas/distribuidores e a natureza do produto final, a cadeia produtiva do pescado regional apresenta forte grau de rigidez na relação pescador-atacadista-destino da produção, verificando-se várias desarticulações entre seus segmentos. A falta de conhecimentos sobre o processo de comercialização e a agregação de valor que vai sendo formada até o consumidor final, as deficiências de infra-estrutura de acondicionamento e beneficiamento do pescado, somam-se à baixa qualificação do pescador, tornando-o totalmente dependente do comprador/atacadista. Desde 1998, a Região do Seridó vem passando por sérios problemas de abastecimento de água, apesar das chuvas ocorridas, dado o caráter localizado da maioria das precipitações. Muitos dos grandes mananciais da zona polarizada pela cidade de Caicó, à exceção do Açude Passagem das Traíras, localizado em áreas pertencentes a três municípios (Jardim do Seridó, São José do Seridó e Caicó), que está com 30% de sua capacidade, apresentam situação crítica, a exemplo do Itans, em Caicó, que dispunha em finais de 1999 de apenas 12% de seu volume de água. Outros açudes estão em precária situação, como o Cruzeta (18%), Caldeirão (2,6%) Sabugi (4,2%) e Zangarelhas (24%), localizados, respectivamente, nos Municípios de Cruzeta, Parelhas, São João do Sabugi e Jardim do Seridó. Já na Zona Homogênea de Currais Novos, as chuvas foram favoráveis às acumulações, estando 111 os principais reservatórios na seguinte situação, em relação ao volume de água disponível: Marechal Dutra, no Município de Acari (48%), Dourados, em Currais Novos, com 98%, e Boqueirão de Parelhas, com 35% de sua capacidade total. Os açudes comunitários e particulares, formam uma ampla e variada rede de reservatórios de múltiplo porte, distribuída em comunidades e propriedades rurais, com grande variação de água acumulada e até mesmo de mananciais secos. Essa situação reflete-se na atividade pesqueira, pois a redução do volume de água dificulta, ou mesmo impede, o povoamento e repovoamento de alevinos, a colocação de tanques-rede ou gaiolas para a piscicultura intensiva, assim como o suprimento de água para viveiros de terra, cuja topografia favoreça o suprimento por gravidade. Destarte, o preço que o pescado de água doce vem alcançando no mercado do Nordeste reflete as conseqüências de uma demanda insatisfeita pela oferta irregular e insuficiente. Nos mercados das principais cidades do Seridó, o preço do peixe de água doce apresenta-se sempre mais caro do que o da carne bovina e de aves. Outro aspecto a considerar refere-se à redução da pesca da merluza na Argentina e no Uruguai, com o imediato aumento de preço, criando condições para sua substituição no mercado brasileiro pelo filé de tilápia. (DNOCS, 1999). Embora se reconheçam as potencialidades do Seridó, para o desenvolvimento da pesca e da piscicultura intensiva, há fortes limitações a serem superadas. Além do regime de chuvas, constata-se de se atuar em áreas como a organização de pescadores e piscicultores, a qualificação da mão-de-obra, a adequação de linhas de financiamento e incentivos, para que surjam empreendimentos agroindustriais, com possibilidades de desenvolvimento da cadeia produtiva do pescado. A esse respeito, vale mencionar que no Programa de Desenvolvimento da Aquicultura no Nordeste- Prodane (DNOCS, 1999) está prevista a instalação de quatro Centros Aqüícolas, nos estados com maior potencial de espelhos de águas públicas e/ou áreas inadequadas à agricultura, situadas nos perímetros irrigados do DNOCS. O Centro Aqüícola do Rio Grande do Norte abrangerá áreas dos açudes Armando Ribeiro Gonçalves (Açu), Itans (Caicó), Marechal Dutra (Acari), Pau dos Ferros (Pau dos Ferros) e Sabugi (São João do Sabugi). Esse Centro utilizará uma superfície de 140 hectares de espelho d’água no cultivo intensivo de peixe em gaiolas, cuja produção é estimada em 45 mil toneladas/ano de pescado. Nos perímetros de irrigação, as áreas salinizadas ou impróprias para agricultura somam 46 hectares, dos quais 40 hectares serão destinados à construção de viveiros, que irão produzir 800 toneladas/ano de pescado. Uma unidade demonstrativa, dotada de 2,0 hectares de viveiros e 128 m³ de gaiolas, será instalada no Perímetro Irrigado do Açude Itans, com o objetivo de difundir tecnologia e apresentar resultados econômicos, para atrair investimentos privados. Está prevista, também, a ampliação da Estação de Piscicultura Estevão de Oliveira, em Caicó, em 3,0 hectares, e a construção de uma nova estação, com área inundada de 7,0 hectares, na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no Município de Açu. Esses novos investimentos ampliarão sensivelmente a produção de alevinos, possibilitando um melhor ordenamento pesqueiro em todo o Estado do Rio Grande do Norte. 112 Dessa forma, o Projeto de Piscicultura para a Região do Seridó estará fortemente embasado, mas dependente das realizações programadas pelo DNOCS e da parceria com órgãos estaduais, pescadores e suas associações, assim como novos empreendedores do segmento piscicultor. A esse respeito, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento vem prestando todo apoio à Estação existente no Seridó, inclusive perfurando poços tubulares para complementar o suprimento de água daquela unidade, em virtude do baixo volume de água do Açude Itans. Para atrair o setor privado a investir na piscicultura com empreendimentos de porte variado, centrados no desenvolvimento e integração da cadeia produtiva, o DNOCS simplificará os processos de licitação para os espelhos d’água dos açudes públicos e estenderá o tempo de concessão para 10 anos, prorrogáveis por mais 10. Essa medida de ampliação da concessão será fundamental para a maturação dos projetos, assim como para atender as exigências dos agentes financeiros. Além disso, é importante proceder o acompanhamento desses projetos, monitorando a qualidade das águas, pois o uso de rações contendo ingredientes químicos pode comprometer o manancial. Outros aspectos da estratégia envolverão um programa publicitário, para estimular o consumo do pescado de água doce, a difusão de tecnologia resultante das unidades demonstrativas instaladas nos Centros Aqüícolas e os cursos de capacitação de técnicos e produtores. b. Objetivos O objetivo geral desse Projeto consiste em aumentar a produção e a oferta de pescado de água doce, para reduzir o atual déficit, diminuir os elevados preços, elevar a renda dos produtores e melhorar os níveis de alimentação das populações de baixa renda. Pretende-se, especificamente: • melhorar tecnicamente as condições de peixamento dos açudes; • promover o ordenamento da pesca extrativa e da aquicultura nos açudes públicos; • estimular o cultivo de peixes em tanques redes ou gaiolas flutuantes; • utilizar áreas salinizadas e impróprias para agricultura em perímetros irrigados, para a piscicultura em viveiros de terra; • viabilizar empreendimentos agroindustriais; e • gerar emprego e elevar a renda na região. c. Diretrizes O Projeto será norteado pelas seguintes diretrizes: • a parceria entre entidades governamentais federais, estaduais, municipais, associações de produtores e empresários privados, será objeto de permanente atenção, para adequar o Projeto aos interesses do público envolvido; • buscar-se-á o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do pescado, mediante a verticalização dos produtos; 113 • as unidades demonstrativas implantadas, ou a implantar, constituirão módulos didáticos e de demonstração de resultados econômicos, destinados a fortalecer o processo de difusão de tecnologia; • a capacitação e treinamento de pescadores artesanais e de piscicultores constituirá condição essencial para a adoção de novos conhecimentos técnicos e gerenciais; e • os estudos e pesquisas conduzidos pelo DNOCS, Emparn, Sebrae e Ufrn deverão ser continuados, para assegurar a geração de novos conhecimentos na aqüicultura de águas interiores. d. Linhas de Ação O Projeto de Piscicultura terá como linhas de ação principais: • fomento à organização dos pescadores, principalmente nos aspectos de ordenamento da pesca nos açudes públicos e de comercialização dos produtos, visando qualidade e preço; • capacitação técnica e gerencial dos pescadores artesanais, sobre os períodos de defeso, novas opções de captura, tratamento do pescado e comercialização da produção; • capacitação de técnicos e produtores para o desenvolvimento da piscicultura intensiva, tanto em tanques-rede como em viveiros de terra; • continuidade dos trabalhos desenvolvidos pelo DNOCS, Emparn e Sebrae, para a consolidação da piscicultura intensiva; • repasse continuado dos resultados de estudos e pesquisas para o segmento de assistência técnica e extensão pesqueira; • integração inter e intra-institucional em todos os níveis, de programas e projetos de apoio a aqüicultura; • monitoramento periódico dos mananciais, para a melhora da qualidade da água e a preservação ambiental; e • estabelecimento de mecanismos de apoio fiscal e de financiamento, para instalação de empreendimentos agroindustriais que promovam a integração da cadeia produtiva do pescado na Região do Seridó. e. Metas Este Projeto tem como principais metas: • atender a 10 colônias/associações de pescadores do Seridó com cursos de treinamento técnico e gerencial, até o ano 2005; 114 • realizar, anualmente, treinamento tecnológico e gerencial para os profissionais do setor público e da iniciativa privada envolvidos em atividades de pesca e piscicultura na região; • instalar pelo menos uma unidade demonstrativa de criação de peixes em tanques-rede, nos reservatórios públicos que permitam essa modalidade de exploração; • instalar uma unidade demonstrativa de criação intensiva de peixes em viveiros de terra, nos Perímetros Itans e Sabugi, até o final do ano 2001; e • ampliar a Estação de Piscicultura de Caicó (do DNOCS), em mais 3 hectares de viveiros de peixe, até o final de 2001. f. Instrumentos O alcance dos objetivos e metas previstos para a pesca e piscicultura, na Região do Seridó, guarda estreita relação com as proposições contidas no Programa de Desenvolvimento da Aqüicultura no Nordeste–Prodane, elaborado pela Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS, cuja diretriz central está assentada na parceria entre governo e iniciativa privada. Dessa forma, os objetivos e metas aqui estabelecidos fundamentaram-se naquele Plano e no esforço que vem sendo realizado por órgãos e entidades ligadas ao tema, na esfera estadual. A responsabilidade pela execução das principais ações referidas está a cargo de um conjunto de instituições, dotadas de instrumentos e mecanismos, como se especifica a seguir: 1. DNOCS, a partir do Prodane; 2. recursos do Estado, constantes do PPA (2000-2003) e orçamentos anuais; 3. recursos dos orçamentos municipais; 4. recursos do PCPR-RN; 5. recursos do Pronaf/Infra-estrutura; 6. linhas de financiamento do Pronaf, Banco do Nordeste-FNE, Banco do Brasil e Bndes; 7. incentivos fiscais do governo do Estado e Finor; 8. Delegacia Federal de Agricultura; 9. Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 10. equipes técnicas do DNOCS, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Emparn, Emater-RN, Sebrae e Secretarias Municipais de Agricultura; 11. Ibama; 12. Idema; 115 13. Faern/Senar e SINE; e 14. Cooperativas Agropecuárias e Colônias/Associações de pescadores. g. Recursos Financeiros e Fontes Este Projeto mobilizará recursos no montante de R$ 14.834.258,00, equivalentes a US$8,241,254.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: União (10%), Estado (10%), municípios (5%), bancos oficiais (70%) e beneficiários (5%). h. Gestão A execução do Projeto envolverá um amplo conjunto de instituições, com maior destaque para o DNOCS, nos setores de produção, comercialização de alevinos e unidades demonstrativas; a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Norte, mediante suas vinculadas – Emater e Emparn, nos campos da extensão pesqueira, projetos de crédito e estudos e pesquisas, respectivamente, que contam também com o apoio do Sebrae. Todas essas entidades somarão esforços nas atividades de capacitação e treinamento de pescadores e piscicultores, de acordo com as demandas e grau de especialização dos seus respectivos quadros funcionais. A Agência de Desenvolvimento do Seridó cuidará da coordenação do Projeto, por meio de um Gerente, com atuação em âmbito regional. Ficará responsável pela ligação sistemática entre a Agência e as áreas operacionais, mantendo o Conselho de Desenvolvimento do Seridó permanentemente informado sobre o andamento do Projeto. Os Conselhos de Desenvolvimento Municipal e demais organizações comunitárias deverão estar comprometidos, nos seus respectivos municípios, com os objetivos e metas do Projeto, participando ativamente do acompanhamento e avaliação dos trabalhos. Nada impede, por sua vez, que se crie, na esfera municipal, um comitê ou gerência, para coordenar as ações locais, facilitando, ao mesmo tempo, a comunicação direta com a gerência regional. Nesse esforço, em favor da pesca e piscicultura seridoense, papel relevante será desenvolvido pelas associações/colônias de pescadores e empresários ligados à agroindústria e à exportação de pescado. Igual procedimento é esperado dos agentes financeiros, como o Banco do Nordeste, Banco do Brasil e Bndes, parceiros importantes do Projeto. 5.3.2.5 a. Agricultura Irrigada Situação Atual As limitações físicas de água e solo foram determinantes para o pouco desenvolvimento da irrigação na região do Seridó, sobretudo as restrições representadas pela escassez de recursos hídricos. Com efeito, as irregularidades pluviométricas a que está submetido o espaço seridoense, respondem pelas reduzidas possibilidades de estabelecer com regularidade os cultivos irrigados. Em paralelo, a predominância de solos rasos, cuja superfície, apresenta muitas pedras, topografia ondulada e fertilidade variada, funciona como o segundo fator de impedimento. Excetuam-se a essas características dominantes nos solos Bruno Não-Cálcicos e Litólicos, os de baixada, ao longo dos rios e riachos e os 116 situados a jusante dos açudes. As áreas de baixadas dispersas por toda a região seridoense são estimadas em 60 mil hectares. (Idec, 1987). Elas formam dois grupos pedológicos principais – os constituídos pelos aluviais a montante dos açudes, geralmente de textura mais fina, e os aluviais, mais arenosos, distribuídos ao longo dos rios. Em virtude da grande quantidade de açudes com múltipla capacidade de acumulação e dos leitos secos de rios durante grande parte do ano, o agricultor desenvolveu um tipo de utilização da umidade residual, que poderia ser denominada de sub-irrigação, caracterizada pelas chamadas vazantes. Essa prática foi introduzida no Seridó, desde a época colonial, provavelmente trazida pelos escravos das regiões áridas e semi-áridas do continente africano. Entretanto, a primeira referência sobre culturas de vazantes, em leitos de rios, data do ano de 1825, no rio Acauã, Município de Acari, que é considerado o berço da agricultura de vazante no Nordeste do Brasil. (Ernesto Sobrinho et alii, 1983.) Presume-se, pois, que esse sistema de produção tenha começado em leitos de rios e, posteriormente, haja sido instalado nas bordaduras dos açudes que iam sendo construídos. Está fundamentado no aproveitamento pelas raízes das plantas da umidade retida na areia grossa desses leitos, assim como na existente às margens dos reservatórios, tornada disponível à medida que o espelho d’água vai gradativamente sendo reduzido e liberando faixas de terra. Daí, a importância do açude para o sertanejo. Seu múltiplo aproveitamento, foi sem dúvida, o principal fator responsável pela fixação do homem nas terras do Seridó. Nas vazantes é cultivado, em consórcio, um conjunto diversificado de plantas, dentre as quais se destacam: batata-doce, feijão-de-corda, milho e gramíneas forrageiras para corte (capim elefante, capim mandante e capim andrequicé). (Otero, 1961.) Um exemplo da representatividade das vazantes, no contexto da agricultura seridoense, pode ser medido pela meta contida no Plano Anual de Trabalho da Emater-RN, relativo ao ano de 1981, (terceiro ano da seca 1979-83), que visava atingir 7 mil vazanteiros, com uma área total de 1.400 hectares. Por sua vez, a Emparn desenvolveu trabalhos de pesquisa objetivando determinar as doses corretas de esterco de curral, espaçamento e melhores arranjos para as culturas consorciadas que viessem a permitir a obtenção de índices de produtividade mais elevados, de forma a contribuir, para. o aumento da oferta de alimentos básicos e de forragens. (Lima, Holanda, Pereira & Santos, 1987.) A partir de 1945, com a criação do DNOCS, consolidou-se a fase hidráulica, passando a constituir a principal estratégia de combate às estiagens no Nordeste semi-árido, mediante a construção de açudes públicos, cuja acumulação de água era voltada para o uso humano e animal. Por muito tempo, esse recurso, capaz de promover uma agricultura mais estável produtiva e geradora de emprego e renda, permaneceu sem utilização. A irrigação como tecnologia de produção chegou ao Seridó com a instalação dos perímetros irrigados, no começo dos anos 70. Essas áreas – perímetros do Itans (70 ha), Sabugi (360 ha) e Cruzeta (120 ha) – somam 550 ha de irrigação pública federal, cujo fornecimento de água é assegurado pelos reservatórios de igual nome. Elas foram parceladas e distribuídas com colonos, sob gerenciamento técnico/econômico do DNOCS, no Rio Grande do Norte. Nesses perímetros plantavam-se, via de regra, culturas de subsistência como o feijão, milho e batata-doce, além de lavouras para o mercado, como o algodão e produtos hortícolas, principalmente o tomate industrial. Durante muito tempo, o órgão atuou de forma paternalista, em todas as fases dos projetos, contribuindo para a baixa participação dos colonos nos processos decisórios. Isso limitou a capacidade de iniciativa e de organização dos 117 produtores. Por outro lado, os entraves burocráticos presentes no serviço público, aliados à descontinuidade de recursos financeiros, constituíram fatores que, ao longo dos anos, impediram o melhor funcionamento desses perímetros. Acrescentam-se, também, questões ligadas aos financiamentos agrícolas e aos preços pagos aos colonos, especialmente quando o produto era destinado à indústria. Em junho de 2000, essas áreas, por impedimento físico, estão fora de operação, tendo em vista o baixo volume de água dos respectivos mananciais, por força de anos seguidos de poucas chuvas. Outras iniciativas para promover a irrigação no Seridó, foram desenvolvidas nos primeiros anos da década de 80, quando em Caicó foram instaladas áreas irrigadas, de caráter demonstrativo, em propriedades particulares, usando-se os métodos de irrigação localizada e de superfície. Esse trabalho foi realizado sob os auspícios da Sudene/CNPq e IICA, com apoio da então Secretaria da AgriculturaSAG, que instalou uma unidade técnica onde permaneceram os especialistas daquele organismo internacional. Posteriormente, com recursos do Polonordeste, foi desenvolvido o Projeto Seridó, ao longo de trechos perenizados dos rios Acauã e Seridó, num total de 56 ha, com assentamento de agricultores, envolvendo atividades de sequeiro e pequenas áreas irrigadas, para o plantio de fruteiras. Esse projeto não obteve os resultados esperados, em função das limitações de água para manter a vazão dos respectivos rios, em decorrência de sucessivos anos de seca, das limitadas áreas irrigáveis e da pouca profundidade dos aluviões para o desenvolvimento de fruteiras permanentes. Quanto à irrigação privada, ela é feita de maneira pontual, constituindo glebas irrigadas de porte muito variado, determinado pelas disponibilidades de solo e água em cada propriedade. Estimativas realizadas pela Emater no ano de 1999, assinalam uma área em torno de 450 hectares para a irrigação privada, na qual predomina o cultivo de forrageiras, embora já se verifique a produção com plantas hortícolas e frutíferas. Os conhecimentos disponíveis indicam que o Seridó dispunha naquele ano de 1.056 ha de áreas irrigadas, dos quais 606 ha de irrigação pública e 450 ha de irrigação estabelecida pela iniciativa particular. Essa área já esta sendo ampliada, fruto da perenização de 30 km do Rio Espinharas, em cujo leito foi construído um conjunto de barragens sucessivas (nove), que irá permitir a incorporação de mais 300 ha de cultivos irrigados. Entretanto, um grave problema fitossanitário está ocorrendo nas culturas irrigadas e de vazantes, em conseqüência do ataque da mosca branca (Bemisia argentifolii), que vem dizimando os plantios existentes, à exceção das capineiras. A generalização dessa praga tende a fortalecer, ainda mais, a ampliação do cultivo de forrageiras nas vazantes e áreas irrigadas, uma vez que a pecuária leiteira vem sendo fortemente estimulada em todo o Estado, sob os auspícios do vetor qualificado pelo Programa do Leite, patrocinado pelo governo do Rio Grande do Norte. A qualidade da água para irrigação foi objeto de um estudo realizado pela Emparn, em 32 fontes de água, de 16 municípios do Seridó, mediante coletas mensais de água, por um período de quatro anos. O estudo assinalou que os reservatórios, em sua totalidade, são portadores de água classificada de regular a excelente para irrigação. A capacidade total de água armazenada ultrapassava os 380 milhões de metros cúbicos, o que, potencialmente, poderia suprir água a mais de 3.500 ha de terras irrigadas. Recomenda, ainda, a necessidade de prevenir a salinização progressiva, onde a evaporação é a maior consumidora de água. Quase metade dos açudes apresentam classe de salinidade média, o que os aproxima do limite superior. A irrigação com água desses reservatórios deve ser muito 118 bem manejada, para evitar, em futuro próximo, a inclusão das áreas irrigadas no grupo de alta salinidade. (Pereira, Holanda, Medeiros & Brito, 1993.) As piores águas da região correspondem às coletadas em leitos de rios não perenizados, extraídas do próprio lençol freático. Foram constatadas duas exceções, com lençol de boa qualidade, nos Municípios de Carnaúba dos Dantas e São Fernando. A pesquisa considerou que os setores hidrológicos do Sabugi-Piranhas e dos Rios Currais Novos e Carnaúba apresentaram água de excelente qualidade para a irrigação. Os setores formados pelos Rios Acauã, Barra Nova e Espinharas apresentam água com qualidade de boa a regular, enquanto os constituídos pelos Rios São José, Quinqüê, trecho do Seridó, Cobra e Quintos mostraram qualidade ruim ou péssima para os cultivos irrigados. Um balanço das disponibilidades dos recursos hídricos e de solos do Seridó evidencia as limitadas possibilidades de participação da agricultura irrigada no desenvolvimento da região, uma vez que o ecossistema dominante da caatinga parece vocacionar as terras ali localizadas para atividades pastoris, circunstância historicamente comprovada. Contudo, os escassos recursos de solo e água devem ser motivo de atenção especial, para que, maximizados, possam propiciar maior estabilidade ao processo produtivo das culturas alimentares e forrageiras, oferecendo assim uma efetiva contribuição ao fortalecimento econômico do Seridó. b. Objetivos Este Projeto tem por objetivo geral o aumento da produção e da produtividade das culturas alimentares e das forrageiras, em bases sustentáveis e com reduzidos riscos climáticos. Especificamente, pretende: • racionalizar o cultivo das vazantes, compatibilizando-o com a exploração principal da propriedade; • produtivo; • promover melhor manejo das áreas irrigadas, conferindo mais eficiência ao processo assegurar maior garantia de oferta de alimentos de forragem para corte, silagem e feno; e • apoiar a realização de estudos mais detalhados dos solos do Seridó, para identificar novas ocorrências de terras agricultáveis, em regime de sequeiro e/ou de irrigação. c. Diretrizes As orientações gerais que nortearão esse Projeto estão assim expressas: • os órgãos de assistência técnica orientarão os produtores para ajustar suas áreas irrigadas às disponibilidades de água e de solos de cada unidade de produção, à exploração básica e aos “pacotes tecnológicos” recomendados pela pesquisa; • a capacitação em tecnologias agrícolas e nos aspectos gerenciais constituirão temas centrais dos treinamentos; 119 • a pesquisa dará continuidade aos estudos relativos ao melhor uso das vazantes e das áreas irrigadas, para maximizar os resultados econômicos e a conservação do ambiente; e • os governos federal, estadual e municipais darão continuidade a política de fortalecimento dos recursos hídricos, visando a ampliação das reservas e o disciplinamento da construção e uso desses recursos. d. Linhas de Ação Na execução desse Projeto serão adotadas linhas de ação como as seguintes: • incentivo ao emprego de métodos de irrigação que economizem água e energia, contribuindo para a redução dos custos de produção; • utilização de variedades de plantas precoces e com elevado grau de resistência à seca; • promoção do uso sistemático de matéria orgânica nos cultivos de vazantes e irrigados; • irrigados; • • ampliação da rede de distribuição de energia nas áreas que concentrem os cultivos realização de estudos que permitam a perenização de rios na região; capacitação e organização dos agricultores, para agregar valor aos seus produtos; e • apoio às iniciativas de instalação de unidades agroindustriais e de beneficiamento que possam utilizar matéria-prima das áreas irrigadas. e. Metas O Projeto de Agricultura Irrigada tem como principais metas: • instalar 1.500 hectares de áreas com infra-estrutura irrigada (cerca de 20% das terras irrigáveis do Seridó), em esquemas de pequena irrigação (ou irrigação simplificada), até o final de 2005; • propiciar assistência técnica adequada a, pelo menos, 30% dos produtores que praticam a agricultura irrigada na região, a partir de “pacote tecnológico” que contemple variedades adequadas de plantas, densidade populacional, adubação e manejo integrado de pragas, até o ano 2005; • conceber e executar um programa de treinamento adequado às demandas dos técnicos e produtores, nas áreas de tecnologia e manejo de áreas irrigadas e de vazantes, beneficiando, anualmente, 20% dos usuários dessas técnicas; • realizar um estudo sobre as possibilidades de perenização dos rios do Seridó, até o final do ano 2002; e 120 • elaborar um estudo, a nível de semidetalhe, sobre os solos do Seridó, para aprofundar o conhecimento das áreas com novas ocorrências de terras agricultáveis, até o final do ano 2003. f. Instrumentos A execução desse Projeto exigirá a mobilização dos seguintes instrumentos: 1. recursos do governo federal, principalmente do Ministério da Integração Nacional; 2. recursos do Estado, constantes do PPA (2000-2003); 3. recursos dos orçamentos municipais; 4. Delegacia Federal de Agricultura 5. linhas de financiamento do Pronaf, FNE e demais financiamentos do Banco do Nordeste, Banco do Brasil. Bndes e Finor; 6. recursos do PCPR e do Pronaf/Infra-estrutura; 7. equipes técnicas da Saab, Emparn, Emater e Secretarias Municipais de Agricultura, Cooperativas e Organizações Não-Governamentais; 8. Faern/Senar; 9. Fetarn; e 10. Associações de Produtores e Sindicatos Rurais. g. Recursos Financeiros e Fontes Para a execução desse Projeto serão mobilizados recursos no montante de R$ 8.965.000,00, equivalentes a US$ 4,980,555.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, destinados aos seguintes tipos de atividades: • construção de infra-estrutura de irrigação: 22 • assistência técnica: 675.000,00 • capacitação de técnicos e produtores: 540.000,00 • estudos técnicos, socioeconômicos e ambientais: 6.750.000,00 1.000.000,00. Os recursos do Projeto provirão das seguintes fontes: União (30%), governo estadual (20%), prefeituras municipais (5%), bancos oficiais (30%) e beneficiários (15%). 22 Abrangendo esquemas de irrigação simplificada e de vazantes, ao custo unitário de US$ 2,500.00 (ou R$ 4.500,00) por hectare de área beneficiada. 121 h. Gestão O Projeto será executado sob a coordenação de um Gerente Regional, ligado à Agência de Desenvolvimento do Seridó. Esse profissional terá como tarefa principal a articulação com instituições que atuam nos diferentes assuntos de interesse do Projeto, estimulando e apoiando as oportunidades de negócios nos domínios afetos à irrigação e à agricultura irrigada. Será também responsável pelas tarefas de acompanhamento das ações do Projeto em toda a Região do Seridó, mantendo a Agência e o Conselho de Desenvolvimento do Seridó devidamente informadas dos progressos e ações em curso, referentes ao Projeto. 5.3.3 Reestruturação e Ampliação de Atividades Tradicionais O programa pensado a este respeito abrange segmentos produtivos que já tiveram presença marcante na vida da região, ou ainda têm, como é o caso da cerâmica. Devidamente estruturados, tais segmentos podem ter suas atividades expandidas, como é o caso dos tratados a seguir: Mineração, Indústria Cerâmica e Cotonicultura. Este Programa deverá mobilizar, com os projetos que o integram, recursos no montante de R$4.735.500,00, equivalentes a US$ 2,630,800.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (2,1%), governo do Estado (26%), municípios (4,6%), externa (7,2%), bancos oficiais (39,5%), setor privado (14,9%) e beneficiários (5,7%). 5.3.3.1 a. Mineração Situação Atual O Seridó ostenta em sua trajetória econômica a fase áurea da mineração. Por meio da extração da scheelita e da tantalita constituiu, durante vários anos, atividades importantes da base econômica do Estado. Juntos, apenas esses dois produtos respondiam, em 1980, por 38,3% do volume de minérios exportados. A scheelita empregava 2.476 pessoas na produção de 200 toneladas/mês, com receita mensal superior a R$ 2,4 milhões. Este é um elo de identidade importante do seridoense, cuja região possui 942 jazidas constituídas de 24 minérios e rochas industriais, identificadas e qualificadas. O desempenho da atividade mineral, em 1980, traduzia-se nos 2.700 empregos diretos e no volume de bens exportados, no valor de US$ 23,7 milhões, correspondentes a 43% do total das exportações do Estado. Como maior produtor nacional da scheelita, o Rio Grande do Norte viu sua produção declinar gradativamente, em virtude da superprodução do concentrado de wolframita proveniente da China, cujos preços no mercado internacional, além de inferiores aos praticados no Brasil, se beneficiavam da isenção das taxas de importação. Entre 1990 e 1997, fecharam as principais mineradoras da Região Seridó: Brejuí, Zangarelhas I, Boca de Lage I e II e Barra Verde. Houve uma queda de 95% na produção, caindo o volume exportado de US$ 24 milhões, em 1980, para US$ 2,2 milhões, passando a representar apenas 2,2% do total das exportações do Estado, no presente. O número de pessoas empregadas foi reduzido em 80%. A última mineração a fechar suas portas foi a Mina Brejuí, da Mineração Tomaz Salustino, em 1997. No sentido de reativar o setor de mineração, a Secretaria de Industria, Comércio, Ciência e Tecnologia implementou o Programa de Revitalização do Setor Mineral, criado para mensurar as 122 reservas de scheelita, quantificar e caracterizar as minas de calcários existentes para fins industriais, além de apontar as possibilidades de aproveitamento desses minérios. Estima-se que haja 500 diferentes formas de aplicações dessas possibilidades, destacando-se, dentre elas, as destinadas à produção de cimento, papel e tinta. De acordo com Paulo Ventura, Diretor da Mineração Tomaz Salustino, as reservas de scheelita disponíveis no Seridó podem ser exploradas por mais um período de pelo menos 20 anos. Acredita-se que a retomada dessa atividade depende basicamente de vontade política, pautada por orientação que confira mais apoio à produção nacional. Recentemente, dois empreendimentos de grande porte se constituíram no embrião de novas perspectivas para o setor. São eles a EDEX Nordeste e a Central de Beneficiamento de Minerais da Região Seridó, cujo nome comercial é MCN Importações e Exportações. Em fase de implantação, espera-se que esses dois projetos possam abrir alternativas para a mineração na região. Assim, a EDEX vai explorar calcário e brita e a Central vai trabalhar principalmente com o ouro, além de outros minérios, como a tantalita, componente básico da indústria da cibernética; molibdenita, usado na produção de nutrientes animais e vegetais. A EDEX vai restaurar a estrutura da antiga Mina Acauã, em Currais Novos. Estima-se que as reservas de calcário da mina cheguem a quase 3 milhões de toneladas. A empresa vai comprar o minério dos garimpeiros e fazer o beneficiamento para fins industriais. O calcário será exportado para a industria siderúrgica, onde o minério é usado para fabricação de tubos PVC e para fábricas de tintas. Além do calcário, a empresa vai também explorar a brita. A Central de Beneficiamento de Minerais da Região Seridó, por seu turno, deverá gerar 300 novos empregos indiretos na extração do ouro, tantalita e molibdenita, e terá uma capacidade instalada para beneficiar até 10 toneladas de minério por dia. Esse projeto tem um custo da ordem de 200 mil dólares, e está sendo montado por um empresário potiguar e um alemão, devendo entrar em atividade até o terceiro trimestre de 2000. Segundo os diretores da empresa, não há uma grande jazida dos dois minerais, mas eles estão disseminados nos municípios de Equador, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, Cerro Corá e Lajes Pintada. Por se tratar de empreendimento que utilizará um método moderno de refino – a flotação química –, os empresários têm mantido sigilo quanto à sua operacionalidade, esperando que a empresa seja pioneira no uso de processos ultra modernos no refino de minerais. Uma outra empresa que optou por formas alternativas de produção foi a Metais do Seridó S.A.– Metasa, de propriedade de Marcelo Porto, Presidente do Sindicato da Mineração do Rio Grande do Norte. Hoje, sua empresa está aos poucos retomando a compra de scheelita nas cidades de Cerro Corá, Parelhas e Lajes, além de produzir ferro-tungstênio, vendidos para a fábrica Gerdau do Rio Grande do Sul e Aços Vilares de São Paulo. A empresa também está apostando na produção de ferro-manganês, cujo minério é comprado da Companhia Vale do Rio Doce. Mesmo sem uma retomada consolidada, a única mineração em funcionamento – a Metasa – emprega 108 trabalhadores, dos quais 96 na Mina Bodó e 12 na industria de ferro. A partir de junho, a empresa, que é a única produtora de scheelita atualmente no Brasil, deve triplicar sua capacidade instalada, com a entrada de um novo engenho e maquinário mais moderno, aumentando a produção do minério das atuais 6 toneladas/mês para 20 toneladas/mês. Dentre outras alternativas da mineração, algumas já estão sendo consolidadas, tanto a nível de exploração como de comercialização. Na subprovíncia gemológica pegmatítica do Seridó encontra-se uma diversidade de gemas de grande valor comercial, a exemplo das águas-marinhas, turmalinas, euclásios, ametistas, quartzo-róseo, amazonitas, granadas e heliodoros. O conceito de gema extrapola o de mineral. O comércio de pedras coradas (jóias, artes, amostras para coleção, lotes de pedras brutas) é 123 importante, mas se acredita que a maior parte dele esteja na informalidade. Estima-se que mais de U$250 milhões, em pedras brutas e lapidadas, saiam anualmente do País de forma irregular. Algumas dificuldades são hoje apontadas pelos trabalhadores da região como obstáculos à expansão da atividade de minérios e gemas. Alguns entraves podem ser destacados: • elevada carga tributária incidindo na comercialização das pedras. No Brasil, a incidência de tributos é de 51%, no Japão, de 3%, nos Estados Unidos, de 7% e na Tailândia, de 10%. Em vez de aumentar a arrecadação, aumenta a sonegação, fortalecendo ainda mais a atividade de caráter informal; • baixo grau de profissionalização dos garimpeiros; falta de informações e conhecimento do valor das gemas, no estado bruto e lapidado, no mercado; • fechamento da Companhia de Mineração do Estado–CDM, que encerrou suas atividades depois do declínio da atividade no Estado. Sua importância, no mapeamento e na exploração das jazidas, na organização de lapidários e artesãos, era considerável, permitindo uma articulação mais integrada entre garimpeiros e comerciantes; • ICMS incidente sobre as gemas lapidadas é de 18%, se vendidas no mercado interno, e de 2,6%, se exportadas. O comércio nacional está distribuído em gemas (5 a 10%), jóias (80%) e bijuterias (quase a totalidade da produção). Algumas ações governamentais foram implementadas no período de 1995/1998, em relação projetos já concluídos, na Região do Seridó, como os referidos a seguir: i. Projeto Potencial Aurífero do Rio Grande do Norte. Contempla a divulgação das potencialidades auríferas no sentido de atrair empresas de mineração nacional e estrangeira, para o Estado, por meio de incentivos fiscais. A empresa MGP Mineração Ltda., responsável pela reativação da Mina São Francisco, em Currais Novos, investiu R$ 250.000,00 no projeto, com a participação técnica da Sintec/CRM; ii. Projeto Licitação dos Direitos Minerários da CDM/RN. Concede orientação técnica junto à extinta CDM/RN, quanto aos direitos minerários, para repassar à iniciativa privada seus respectivos títulos. Esse projeto incluiu a licitação pública de oito direitos minerários, distribuídos em Requerimentos, Alvarás de Pesquisa, Relatório Final de Pesquisa e Portaria de Lavra. Na Região do Seridó, a Mina de scheelita de Bodó foi incluída no projeto; iii. Projeto Quartzitos do Rio Grande do Norte. Contempla um diagnóstico do potencial de minérios da Rochas Ornamentais do Estado – os quartzitos –, no sentido de divulgar para o mercado interno e externo os depósitos em produção. O projeto teve a participação do Sintec/CRM; iv. Projeto Gemas do Estado do Rio Grande do Norte. Refere-se à elaboração e impressão do Mapa Gemológico do Estado, contribuindo para o conhecimento da geologia dos depósitos de pedras preciosas, selecionando e indicando as áreas mineralizadas favoráveis ao seu aproveitamento econômico. Esse projeto teve o apoio do Cprm (de Pernambuco), Sintec/CRM, Sebrae (RN), Senai (RN) e Etfrn. Seu custo total foi de R$ 170.000,00; e 124 v. Projeto Minerais Industriais do Rio Grande do Norte. Abrange a Elaboração do Mapa de Minerais Industriais, indicando áreas favoráveis, em matéria de potencialidade geológica, para revitalizar o setor de minérios, por meio da exploração de outros minerais. Participaram desse projeto o Cprm (de Pernambuco), Sintec/CRM, Sebrae (RN), Senai (RN) e Etfrn. O custo total foi de R$170.000,00. Para revitalizar o setor mineral, estão sendo encaminhados outras propostas e projetos, como os referidos abaixo: i. Programa de Apoio ao Pequeno Minerador. Objetiva incentivar o pequeno minerador, pela concessão de apoio técnico e administrativo, incentivando o aproveitamento racional dos minérios, o ordenamento da comercialização e o fortalecimento do setor, a partir de pequenos núcleos, organizados em cooperativas; ii. Incentivo à Pesquisa Mineral e Tecnológica. Apoiado pelo Fundo de Desenvolvimento Científico Tecnológico do Estado do Rio Grande do Norte–FUNDET, estabelece convênios de cooperação técnica e científica para a elaboração e execução de projetos dotados de forte impacto socioeconômico, envolvendo os seguintes órgãos: Sintec, Seplan, Fiern/Senai–RN, Sebrae, Ufrn, Etfrn, Cprm, Dnpm; iii. Programa de Revitalização da Scheelita. Esse programa compreende 3 projetos: • Projeto Anti-Dumping. Elaborado pela Fiern e Sindicato dos Mineradores, com o apoio do governo do Estado. Foi apresentado ao Ministério de Industria e Comércio, reivindicando aumento no percentual da alíquota de importação, estabelecido para os concentrados de scheelita e derivados; • Projeto de Industrialização do Minério Tungstênio. Trata da industrialização dos concentrados de scheelita, tais como o paratungstênio de Amônia–APT, o carbonato de tungstênio e o tungstênio metálico; e • Projeto de Aproveitamento do Rejeito da Scheelita. Esse projeto prevê estudos no sentido de aumentar o aproveitamento viável do grande potencial de scheelita, da ordem de 10.000.000 de toneladas, com 0,10% de wolframato de tungstênio (WO3), estocados na superfície das minas Brejuí, Barra Verde e Boca de Laje, encravados nos municípios de Bodó e Santana do Matos. A idéia da consolidação de um Parque Industrial de Tungstênio, Gemas e Minerais Industriais abre perspectivas para a revitalização do setor mineral do Estado em outras bases. Assim, a reabertura de minas e a exploração do setor de gemas tem acenado para formas alternativas de aproveitamento dos recursos da Região do Seridó. Embora a inclusão do projeto do gás natural constitua variável a ser contabilizada em favor da recuperação da atividade de mineração, sabe-se que a mola propulsora da recuperação da atividade depende de vários fatores endógenos e exógenos à dinâmica econômica do próprio Estado. Mas há sinais de um eventual crescimento da mineração. Neste sentido, algumas iniciativas poderão nortear essa tendência, como as referidas, segundo as orientações estabelecidas por esse Programa. 125 b. Objetivos O Projeto de Mineração tem como objetivo geral contribuir para a retomada da atividade da mineração na Região do Seridó. Especificamente, pretende-se: • viabilizar novos empreendimentos no setor de minérios, para que sejam criadas condições de utilização de novas oportunidades de investimento nas atividades em expansão; • promover uma maior divulgação das potencialidades dos minérios, competitividade e sustentabilidade do setor; • melhorar as técnicas de exploração e comercialização dos produtos da mineração; e • garantir um maior aproveitamento do calcário. c. Diretrizes Este Projeto será orientado pelas seguintes diretrizes: • o governo criará uma maior e melhor estrutura de controle e fiscalização das atividades de mineração, revendo e adequando a legislação vigente, garantindo meios eficazes e racionais de efetivo controle das atividades minerais; • será estimulada a formação de parcerias entre associações de produtores e empresários, sindicatos de garimpeiros e entidades governamentais federais, estaduais e municipais, para conscientizar os principais atores envolvidos nas atividades de mineração, assim como promover a formação de cooperativas entre os garimpeiros; • a expansão das atividades minerais exigirá uma maior articulação entre as diversas instituições nelas envolvidas, na formação e especialização técnico-gerencial e na capacitação da mãode-obra, para melhorar o padrão técnico vigente e a inserção dos trabalhadores no rol das novas atividades; • dada a fragilidade da sustentabilidade produtiva e comercial da exploração de gemas, será estimulada a instalação de pequenas e médias indústrias de lapidários, voltadas para a produção de jóias, bijuterias, artesanato mineral e preparação de amostras; • a adoção de técnicas mais sofisticadas de manejo de pedras será prevista nos projetos de consolidação da atividade; • será estimulada a formação de cooperativas para a organização dos garimpeiros; e • dada a importância da comercialização de gemas para a economia do Seridó, será estimulada a constituição de consórcios entre os municípios produtores, fortalecendo os principais garimpos e pequenas minerações, de sorte a promover maior integração dos trabalhadores ao longo de toda a cadeia produtiva. 126 d. Linhas de Ação As linhas de ação do Projeto estão assim estruturadas: • reestruturação do direito de lavra, promovido pelo governo federal; • mapeamento e monitoramento das jazidas existentes, com levantamento das condições técnicas dos garimpos; • capacitação de técnicos que operem na Bolsa de Mercadorias do Rio Grande do Norte– BMRN, com sede em Mossoró; • organização de cooperativas que trabalhem e divulguem informações, quanto à cotação de minérios e gemas no mercado nacional e internacional; • desenvolvimento de métodos de prospecção para detectar depósitos de pedras preciosas; • realização de estudos de avaliação das possibilidades de revitalização dessa cadeia produtiva, com destaque para a lapidação das gemas e fabricação de jóias e bijuterias. • realização de Leilões Públicos e Particulares de minérios, junto à Bolsa de Mercadorias do Rio Grande do Norte–BMRN, para promover, valorizar, divulgar e facilitar a comercialização com o mercado consumidor; e. Metas Este Projeto tem como metas principais: • Promover a abertura da mina de Laje Verde até o ano 2002 no sentido de integra-la à retomada da atividade de minérios na região, ampliando a produção mensal geral e gerando empregos nas atividades do segmento. • Industrializar 10% do total da produção de gemas no próximo ano ampliando esse percentual em 10% a cada ano no sentido de melhorar a cadeia produtiva instalada na região nos próximos 5 anos, até atingir uma média que varie entre 40 e 50% da produção total de gemas industrializadas no Seridó. • Gerar renda adicional pela incorporação do valor agregado com a transformação da pedra em estado bruto na fabricação de jóias e artefatos de gemas e minérios, dando ênfase a geração de empregos no setor, aumentando a margem de lucro do setor em pelo menos 50%. f. Instrumentos O Projeto será executado com o apoio de instrumentos como os especificados a seguir: 1. utilização do Cadastro Técnico Estadual das Potencialidades de Minérios; 127 2. Projeto de Aproveitamento do Rejeito da Scheelita, a cargo da Sintec/CRM, Fiern, Sebrae-RN, Dnpm/RN, Cprm/PE e Ufrn; 3. Agência de Promoção às Exportações– APEX; 4. Orçamentos estaduais e municipais; 5. Linhas de crédito dos bancos oficiais (Banco do Nordeste, BB e Bndes) e incentivos do 6. Equipes técnicas da Sintec, Ufrn, Cefet, Fiern e Sebrae; e 7. Cooperativas, associações e sindicatos. g. Recursos Financeiros e Fontes Finor; Este Projeto mobilizará recursos da ordem de R$ 337,5 mil, equivalentes a US$ 187,5 mil, ao câmbio de R$ 1.80/U$ 1,00, vigente em maio de 2000, oriundos do governo do Estado (80%) e do setor privado (20%). Podem ser aportados recursos adicionais, na dependência de estudos a serem realizados, sobre as possibilidades de abertura das minas fechadas. É recomendável também produzir estudos orientados para o aproveitamento dos rejeitos de scheelita, estocados na superfície das minas. A exploração desse material é considerada rentável por profissionais do ramo. O aproveitamento dos rejeitos também pode contribuir para a expansão das possibilidades de criação de novos empregos para os trabalhadores dedicados aos garimpos. h. Gestão Este Programa requer uma ampla articulação entre os diversos segmentos que compõem a mineração, sugerindo a formação de uma instância colegiada integrada, para mobilizar o maior número de atores envolvidos e viabilizar a abertura das minas. Sua gestão deverá ser conduzida no contexto de um Plano de Ação Estadual, do qual constem estudos de viabilidade econômica para as atividades da mineração, incluindo levantamentos, análises e divulgação de experiências exitosas em outras regiões de minérios, no Brasil e em outros países. Sua implementação envolverá um conjunto de instituições, com destaque para a Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia, Ufrn, Sebrae, Fiern e empresas privadas – nacionais e estrangeiras. 5.3.3.2 a. Indústria Cerâmica Situação Atual A atividade cerâmica é de grande importância para a economia do Seridó, particularmente para alguns municípios da região. O segmento produtor de cerâmica, instalado no Seridó, possui cerca de 80 estabelecimentos (dos quais 9 sob a forma de associação de produtores); tem forte concentração em Parelhas (23 empreendimentos) e Carnaúbas dos Dantas (17), que juntos detêm metade das cerâmicas regionais. 128 A produção de telhas e tijolos de 8 furos é largamente predominante no segmento que tem capacidade instalada para gerar uma produção anual de cerca de 555 mil milheiros desses dois produtos, segundo pesquisa recente feita pelo Sebrae-RN. Trata-se de negócio típico de pequenas empresas, posto que 16% dos estabelecimentos têm menos de 20 empregados; 41% têm entre 20 e 30; e 43% contam com 30 a 50 empregados. Estima-se que o segmento emprega pouco mais de 3.200 pessoas (cerca de 3,5% da PEA regional), que recebem um salário médio de R$ 250,00. Os empregados residem predominantemente na zona urbana (82%), e têm o 1º grau (65%) ou o 2º grau (35%) de instrução, segundo a mesma pesquisa. Três quartos dos empresários têm instrução acima do primário, mas a grande maioria nunca participou de cursos de capacitação gerencial (88%) ou de capacitação ligada ao melhor conhecimento do processo produtivo (97%), conforme a mesma pesquisa. Essa atividade apresenta bom padrão de competitividade, quando vista no contexto da região Nordeste, tanto que o mercado local absorve apenas 28% do total produzido, enquanto cerca de 70% da produção gerada no Seridó se destinam a atender a demanda de outros locais. Clientes importantes, fora do Estado do Rio Grande do Norte, estão distribuídos em Pernambuco (28%), Paraíba (25%), Bahia (17%), Sergipe e Alagoas (11%). As principais matérias-primas utilizadas são a argila e a lenha, obtidas distante dos locais de produção (cerca de 60 km em muitos casos). Dentre os problemas mais relevantes para a sustentabilidade da atividade se destaca seu impacto ambiental, gerado pela degradação do solo, provocada pelo uso da argila, que vem diminuindo na região. Apesar disso, o empresário local avalia que a exploração da lenha tem maior impacto sobre a natureza, pois o desmatamento também provoca a degradação do solo. Aos problemas tecnológicos ligados ao uso da energia, e que geram impacto ambiental indesejado, se agregam problemas ligados ao processo de fabricação, geradores de perdas importantes. Problemática, de outra parte, é a sistemática de comercialização, feita em 84% dos casos via entrega direta ao cliente (muitos deles atravessadores), que em ¾ dos casos pagam a prazo (cerca de 30 dias, em 85% dos casos). A intensa disputa interempresarial leva à degradação dos preços e prejudica a rentabilidade do setor. Dentre outros problemas apontados na pesquisa feita pelo Sebrae destaca-se o baixo investimento feito até hoje na qualificação gerencial, produtiva e laboral das pessoas que comandam ou atuam no segmento, num ambiente crescentemente competitivo. Tanto que o investimento em qualidade e produtividade dos produtos e da gestão dos empreendimentos também fica muito distante do padrão de exigência dos principais consumidores – a indústria da construção civil e os construtores independentes. Para muitos empresários do segmento, a ausência de linhas de crédito adequadas às suas necessidades de custeio, sobretudo para realizarem estoques que lhes permitam atuar com mais regularidade no mercado, constitui um forte obstáculo a um melhor desempenho do setor. 129 b. Objetivos O objetivo geral do Projeto consiste em melhorar as condições de sustentabilidade, assim como a competitividade do segmento cerâmico seridoense. Pretende-se, especificamente: • reduzir os impactos ambientais, elevar os níveis tecnológicos e gerenciais e melhorar as condições de trabalho do setor cerâmico; • estimular práticas associativas e cooperativas entre empresas e dentro delas; • reduzir a ação dos atravessadores, assegurando melhores níveis de remuneração aos empresários e trabalhadores do segmento; • introduzir mudanças no padrão tecnológico atualmente dominante no segmento; • melhorar a qualidade do produto e da gestão do segmento; e • fornecer metodologia e sistemas de manejo para recomposição de áreas degradadas, minimizando impactos sobre o meio físico e a paisagem. c. Diretrizes Nortearão o Projeto as seguintes diretrizes: • a expansão da indústria cerâmica no Seridó deve ser fortemente pautada por medidas de cautela, no tocante ao manejo e aos cuidados com o meio ambiente, dada a fragilidade ambiental da região; • a produção de cerâmica, lastreada em matérias-primas que apresentem impactos negativos sobre o meio ambiente – como as argilas oriundas dos aluviões –, deverá ser objeto de estudo, no tocante à escolha de novas matérias-primas, novos combustíveis e novas tecnologias de produção de cerâmica; • pelo papel que desempenha na geração de emprego na Região do Seridó, 23 a indústria cerâmica continuará sendo apoiada, sempre na perspectiva de os agentes produtivos adotarem medidas mitigadoras, vis-à-vis os danos causados ao meio ambiente; e • pari passu, os agentes de fomento e crédito estarão mais atentos aos problemas ambientais, decorrentes do uso da argila dos aluviões e, sobretudo, da lenha. No caso da energia, recomendarão, sempre, práticas adequadas de manejo da caatinga, estimulando, ao mesmo tempo, o uso de outros energéticos, inclusive o gás, para assegurar a manutenção, pelo menos, dos atuais padrões de rentabilidade econômica das unidades produtivas seridoenses. 23 A indústria cerâmica emprega atualmente parcela não desprezível da força de trabalho do Seridó, correspondente a cerca de 4,0 mil pessoas, ou seja, 4% da PEA da região. 130 d. Linhas de Ação O Projeto terá como principais linhas de ação: • estímulo ao cooperativismo e ao associativismo; • melhora dos padrões gerenciais e da qualidade da produção e dos produtos; • introdução de mudanças no padrão tecnológico; • geração e difusão de informações técnicas que contribuam para o aumento da produtividade da indústria cerâmica; • adequação e ampliação da oferta de crédito para custeio e financiamento dos investimentos necessários à elevação do padrão de sustentabilidade do segmento; • estímulo ao uso de novos materiais no processo produtivo e ao reaproveitamento das perdas resultante da fabricação de peças com defeito que não se destinam ao comércio. e. Metas Até 2005, devem ser alcançadas as seguintes metas: • difundir novas tecnologias para 100% das empresas; • promover a capacitação gerencial e tecnológica de todos os proprietários de Cerâmica no • organizar pelo menos 2 cooperativas e 5 associações de produtores de cerâmica; Seridó; • realizar estudo de viabilidade sobre o uso do gás como combustível, em substituição à lenha, até o final do primeiro semestre de 2001; • ceramistas; montar um sistema de difusão de informação tecnológica acessível à totalidade dos • realizar um estudo sobre o aproveitamento das perdas (peças defeituosas) e entulhos de material de construção civil da região, com o objetivo de transformá-los em subprodutos, como a brita 2 e 3, pedrisco e areia; e • construir uma Central de Moagem para aproveitamento do subproduto resultante dos entulhos das cerâmicas na construção de casas. 24 24 As casas construídas com esse tipo de material custam 20% menos do que as construções tradicionais. Para cada 1,75 mil metro quadrado de construção, utilizam-se 280 toneladas de entulhos, segundo experiência do Projeto de Urbanização de Favela, conduzido em Londrina, Paraná. 131 f. Instrumentos O Projeto será executado com o apoio de instrumentos como os seguintes: 1. de capacitação: Sebrae, Cefet, Senai e Centros de Formação; 2. de difusão tecnológica: Ufrn; 3. de realização de estudos: Universidades e consultorias privadas; 4. de Crédito: Banco do Nordeste, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, entre g. Recursos Financeiros e Fontes de Financiamento outros. A execução do Projeto mobilizará recursos no montante de R$ 1.000.000,00, equivalentes a US$ 555,555.00, oriundos das seguintes fontes: União (10%), governo estadual (45%), prefeituras municipais (5%), bancos oficiais (30%) e beneficiários (10%). Há outras possibilidades que podem ser aproveitadas. Por exemplo, os recursos para a realização de cursos de qualificação poderão provir do MTb-FAT, quando ministrados pelo Programa Estadual de Qualificação–PEQ, por meio do SINE. Quando ministrados pelo Sebrae, deverão provir das instituições responsáveis pelos treinamentos. Esses cursos são, geralmente, divididos em módulos, que custam R$ 50,00 para cada treinando, equivalentes a 15 horas de aula. O estudo do aproveitamento das perdas da cerâmica pode demandar recursos da ordem de R$ 54.000,00 (US$ 30,000.00), considerando os gastos efetuados pelo Projeto “Jardim Morar Melhor”, de Londrina. h. Gestão A execução do Projeto envolverá uma maior articulação dos empresários do setor, com os poderes público – municipal e estadual –e as ONGs, relacionada à questão do meio ambiente. O pessoal técnico responsável pelo gerenciamento e planejamento do Projeto deverá articular-se também com os responsáveis pela execução dos Programas e Projetos da Dimensão Ambiental, anteriormente descritos. A coordenação do Projeto estará a cargo de um Gerente. Esse gerente pode ser recrutado junto ao Sebrae, no Seridó, ou fazer parte dos quadros desse Serviço. Ele estará encarregado de ligar a Agência de Desenvolvimento do Seridó com as entidades responsáveis pela operacionalização das ações prioritárias aqui definidas, mantendo o Conselho de Desenvolvimento do Seridó permanentemente informado sobre o andamento deste Projeto. Os Conselhos de Desenvolvimento dos municípios onde as atividades de cerâmica são econômica e socialmente importantes apoiarão as ações do Programa, inclusive em relação aos trabalhos de acompanhamento e monitoria. Nada impede, por exemplo, que na esfera municipal, seja criado um comitê ou uma gerência que coordene as ações locais, ao mesmo tempo que irá facilitar a comunicação direta com a gerência regional. 132 5.3.3.3 a. Cotonicultura Situação Atual A cultura do algodão no Rio Grande do Norte, foi até o final da década de 70 a principal fonte geradora de emprego e renda, tendo a agricultura participado em percentuais médios, no período 196271, com 45% da renda estadual; isoladamente, o algodão contribuiu com 32%. A área cultivada chegou a alcançar uma área de 500 mil hectares, absorvendo um contingente de mão-de-obra que ultrapassava 100 mil pessoas, conforme registros estatísticos e relatórios dos órgãos governamentais na época. A lavoura algodoeira ocupou praticamente a maioria das terras cultivadas, à exceção da faixa litorânea leste, onde são cultivadas lavouras como a cana-de-açúcar, coco, banana, mandioca e culturas de subsistência. Durante as décadas de 50, 60 e 70 o algodão cobria em torno de 50% da área agricultada total do Estado. De acordo com critérios adotados pela Secretaria de Agricultura, o algodão era classificado, em função do comprimento da fibra, em Mata, Sertão e Seridó. As variedades que formavam o tipo Seridó tinham fibras cujo comprimento variava de 34/36 a 38/40 mm. A produção desse tipo de algodão chegou a representar, no quinquênio 1966/70, cerca de 64,75% da produção de pluma classificada do Estado, segundo dados da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Norte. As principais regiões onde esteve concentrada a produção do algodão arbóreo de fibra longa e de características semiperenes foram as do Seridó, Litoral Norte (antigo Sertão Central), Serrana, parte do Agreste e Mossoroense (antiga Salineira). Essa elevada presença do algodão de fibra longa, popularmente denominado de algodão mocó, é indicativa do ajuste ecológico dessa planta ao ambiente do semi-árido e da lacuna que representa o seu abandono como atividade econômica. A produtividade dessa lavoura era variável, dependendo de fatores como solo, pluviosidade, pragas e tratos culturais. Seu ciclo alcançava cinco anos, mas 70% da produção estava concentrada no segundo e terceiro anos. O algodão produzido no Nordeste passou por sucessivas crises, podendo-se estabelecer como marco o início dos anos 30, quando começou a forte concorrência do algodão paulista, cuja produção era realizada em grande escala, com emprego de tecnologia atualizada, comparativamente ao processo de cultivo praticado no Nordeste, sobretudo nas regiões produtoras do algodão arbóreo. Em período mais recente, e até os dias atuais, um conjunto de fatores pode ser responsabilizado pela decadência da cotonicultura nordestina em geral e, em particular, da praticada no Rio Grande do Norte e no Seridó. Neste sentido, podem ser apontados o aparecimento das fibras sintéticas, no final dos anos 50, a modernização do parque têxtil nacional, privilegiando as fibras curtas, o baixo rendimento agrícola das variedades arbóreas, as repetidas secas ocorridas nas décadas de 60, 70 e 90, além das dificuldades para a obtenção de financiamento. Destaca-se também a abertura da economia, no começo da década de 90, facilitando maciças importações de pluma, em condições de prazo e financiamento altamente favorecidas, se comparadas às praticadas no País (prazos superiores a 1 ano e juros de 4% a 8% a.a.). A redução da tarifa de importação, de 55% para 3%; o não cumprimento e as distorções da política de Preços Mínimos, somados aos baixos preços pagos aos produtores determinaram um quadro extremamente desfavorável para a permanência da atividade nos tradicionais estados produtores do Nordeste. Agravando mais esse quadro, a economia passava por forte processo inflacionário, sobretudo nos anos 80, que afetaram o preço dos insumos e equipamentos, incidindo diretamente no crédito rural, que passou a incorporar a correção monetária aos financiamentos rurais, 133 tonando-os impraticáveis para a atividade agrícola de sequeiro. O aparecimento da praga do bicudo, e sua generalização no inicio e meados da década de 80, determinou o fim do sistema tradicional de produzir algodão no Nordeste. Nesse contexto, cabe particularizar alguns aspectos da situação do algodão mocó na Região do Seridó, destacando os efeitos devastadores da seca de 1979-83 sobre a cultura, que chegou a ser totalmente desestruturada. Com os financiamentos inviabilizados, o agricultor não pôde renovar os “roçados”, ao final do ciclo de cinco anos. A persistência da estiagem exigiu que as capoeiras de algodão fossem transformadas em pastagem, como alternativa para salvar o rebanho nas propriedades. Dessa forma, quando o bicudo alastrou-se encontrou uma lavoura devastada e sem maiores perspectivas de recuperação. A ocorrência do bicudo serviu, também, para demonstrar a fragilidade e o abandono a que chegou a mais importante atividade agrícola do Seridó, constituindo-se no elemento final de um longo processo de deterioração, que culminou com a falência de todos os integrantes da cadeia produtiva dessa lavoura. Os dados mais recentes sobre a área cultivada com algodão arbóreo no Estado indicam que há uma superfície de 5.042 ha ocupados no Estado, dos quais 4.642 correspondem à Região do Seridó, ou seja, 92% da área total. (Idec, 1998.) Registre-se que o declínio da cotonicultura em todas as regiões produtoras, de certo modo, chegou a ser patrocinado pelo Estado, apoiado por incentivos governamentais. Assim, um dos mais modernos parques têxteis do Nordeste, com capacidade para processar, anualmente, 80 mil toneladas de pluma entrou em crise. As indústrias ainda existentes têm como fonte de matéria-prima o algodão importado do exterior e das regiões Centro-Sul e Centro-Oeste, produtoras de variedades herbáceas de fibra curta, pois a produção atual do Rio Grande do Norte é insignificante. Algumas iniciativas de revitalização da cultura chegaram a ser desenvolvidas no inicio dos anos 90, envolvendo a distribuição de sementes selecionadas, utilização de defensivos e assistência técnica, que não surtiram os resultados esperados, em virtude de problemas culturais do agricultor, que resistiu ao cumprimento de exigências da tecnologia recomendada, sobretudo, pela falta de continuidade das ações governamentais. No curso do ano 2000, graças às chuvas observadas na maioria das regiões do Estado e ao apoio governamental, na distribuição de sementes e preparo mecanizado do solo, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento-Saab, estima que a área cultivada com algodão alcance 30.000 ha, predominantemente de variedades herbáceas. Ao mesmo tempo, não apenas os produtores como a própria sociedade vêm manifestando o desejo de fazer com que o algodão volte a ocupar espaço no quadro da economia agropecuária estadual. Neste sentido, a imprensa tem tido papel marcante, cobrando medidas e destacando o esforço do vizinho Estado do Ceará, que, com forte apoio do Banco do Nordeste, tem como meta para o ano 2000, plantar 100 mil ha com algodão. Para que isso ocorra, reconhece-se a necessidade de adotar novos métodos de produção e de capacitação dos produtores, permitindo a convivência com a praga do bicudo e a obtenção de níveis de produção, rendimento e custos compatíveis com o mercado. Por sua vez, o Sindicato da Indústria Têxtil do Rio Grande do Norte assegura haver interesse das unidades que operam no Estado, em adquirir produção local, desde que haja oferta, qualidade e preço em consonância com o mercado. Adverte, entretanto, para o limitado mercado do algodão de fibra longa, tradicionalmente produzido no Seridó e demais regiões semi-áridas do Estado. Por outro 134 lado, os avanços que vêm sendo conseguidos pelo Centro Nacional de Pesquisa do Algodão–CNPA, da Embrapa, sinalizam para as amplas possibilidades de introdução nessas áreas, de uma nova variedade, resultante do cruzamento do algodão herbáceo com o algodão arbóreo – a CNPA-7 MH. Essa variedade associa a resistência do algodão arbóreo aos níveis de produtividade do herbáceo, tendo ciclo de 3 anos, características de precocidade, fibra uniforme e resistente, cujo cumprimento mede de 32/34mm a 34/36mm, atendendo plenamente as exigências do segmento industrial. Com base no trabalho que vem sendo realizado no Ceará, com apoio do Centro, as produções alcançadas dependem da quantidade e distribuição das chuvas. Essa produção tem atingido patamares de rendimento situados entre 1.000 e 2.500 kg/ha, em campos instalados por produtores selecionados. Recomendando uma posição mais cautelosa, o CNPA propõe que se trabalhe com estimativas médias de 1.000 a 1.300 kg/ha. Além disso, outro fator, de natureza qualitativa, pode ser agregado a essa variedade, qual seja, o de realizar o seu cultivo em moldes orgânicos, para atingir nichos diferenciados de mercado, que pagam ágio de até 30% sobre o algodão produzido segundo práticas convencionais. Dessa forma, a lavoura algodoeira poderá se enquadrar nessa nova modalidade de agricultura, para as áreas típicas de sequeiro e de exploração com base na mão-de-obra familiar. O cultivo orgânico está fundamentado em quatro princípios: rotação de culturas, balanço integrado, entre a produção da lavoura e a criação de animais, gerenciamento dos adubos, compreendendo compostos e produtos naturais, e métodos naturais de controle de pragas e doenças. Nas áreas semi-áridas, notadamente as ocupadas com o algodoeiro arbóreo, a incorporação de esterco e restos culturais irá melhorar sensivelmente a textura e estrutura do solo, contribuindo para o aumento da retenção de água, devido à ação da matéria orgânica, reduzindo as perdas dos materiais do solo, por percolação e erosão, e diminuindo os problemas de pragas. Em função das típicas condições naturais da Região do Seridó – elevada luminosidade, alta temperatura e baixa umidade relativa do ar –, que reduzem substancialmente os problemas de pragas e doenças do algodoeiro, e da existência de cultivares precoces, de boa adaptabilidade e capacidade produtiva de algodoeiro arbóreo, é possível obter sucesso com o seu cultivo orgânico. (Moreira; Beltrão; Freire; Novaes Filho; Santos; & Amorim Neto, 1995.) É pois neste contexto, e sob novo enfoque, que se propõe um Projeto que busque revitalizar a cultura algodoeira no Seridó, fundamentado em zoneamento das áreas mais adequadas e na seleção e capacitação de produtores. b. Objetivos O objetivo geral do Projeto consiste em reimplantar a cultura do algodão na Região do Seridó, em bases sustentáveis, com novo perfil tecnológico e produtivo, para a obtenção de preço diferenciado e agregação de valor, assegurando trabalho e renda para os cotonicultores. Tem como objetivos específicos: • fomentar o plantio da cultivar CNPA-7MH, em bases orgânicas; • elevar os níveis de rendimento da cultura, mediante o emprego das tecnologias recomendadas pela pesquisa; • iniciar a formação de um pólo produtor de fibras de algodão orgânico; 135 • • animal; e propiciar a instalação de unidades agroindustriais na Região; contribuir para o aumento da oferta de proteína e óleo para a alimentação humana e • contribuir para o aumento da oferta de emprego na zona rural. c. Diretrizes O Projeto de Cotonicultura terá sua execução pautada pelas seguintes diretrizes: • setor governamental, representado, principalmente, pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Norte, pelo CNPA–Embrapa, prefeituras municipais e iniciativa privada, por meio dos produtores e de suas organizações e da indústria têxtil, desenvolverão esforços capazes de viabilizar o restabelecimento da cultura algodoeira na Região do Seridó; • a capacitação tecnológica e gerencial dos produtores e de suas organizações constituirá precondição para desenvolver um novo sistema de produção para a cadeia produtiva do algodão; • a participação dos produtores e de suas organizações no processo de beneficiamento do algodão e comercialização da pluma influirá positivamente na renda auferida pelos produtores, industriais e comerciantes ligados ao algodão; e • a atividade algodoeira será desenvolvida no contexto das cadeias produtivas, de forma que as ações a ele referidas contemplem todos os segmentos envolvidos no agronegócio. d. Linhas de Ação Este Projeto terá como principais linhas de ação: • a articulação dos produtores com o CNPA, para assegurar sementes básicas da cultivar 7MH, para multiplicação, capacitação de técnicos, de produtores e assessoramento e supervisão ao Projeto nos seus múltiplos aspectos; • seleção dos municípios historicamente caracterizados como concentradores da produção algodoeira de maior expressão no Seridó; • seleção e cadastramento dos produtores, preferencialmente enquadrados na categoria de agricultores familiares, com apoio dos órgãos de assistência técnica e da Fetarn; • garantia, junto aos agentes financeiros, de adequada oferta de crédito para o Programa, mediante contrato de financiamento compatível com o pacote tecnológico a ser empregado, com a tipologia do produtor e com a máxima simplificação e agilização bancárias; • participação das prefeituras nas atividades do Projeto; • criação de pólos localizados de produção, evitando-se a dispersão do uso de recursos; 136 • medidas para a verticalização da produção; • desenvolvimento de parcerias com a indústria têxtil, com vistas à integração da atividade e celebração de acordos comerciais; e • fiscalização e classificação da produção, em articulação com as atividades de beneficiamento e comercialização de sementes. e. Metas O Projeto de Cotonicultura tem como principais metas: • realizar um cadastro municipal dos produtores interessados no cultivo do algodão orgânico ate o final do ano 2000; • capacitar 200 produtores até o ano 2002, com base na seleção cadastral; • estabelecer, com 200 produtores, áreas de cultivo orgânico, empregando um “Kit” mínimo de tecnologia, até o final de 2003; • instalar 3.000 ha de algodão orgânico, pela via da difusão de tecnologia e do crédito rural, até o ano 2005; e • instalar, preferencialmente nas áreas dos assentamentos rurais que aderirem ao Projeto, pelo menos 5 unidades de descaroçamento de algodão, de caráter demonstrativo, compatíveis com a área cultivada, guardando a proporção de uma unidade para cada 100 a 120 hectares. f. Instrumentos Diversos instrumentos e estruturas operacionais serão postos em ação para o cumprimento das ações previstas neste Projeto, destacando-se os seguintes: 1. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, da Embrapa; 2. Secretaria da Agricultura e Abastecimento; 3. Emparn; 4. Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte-Emater; 5. Delegacia Federal da Agricultura-DFA, do Ministério da Agricultura e Abastecimento; 6. Incra; 7. Secretarias Municipais de Agricultura; 8. Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Norte-Fetarn; 137 9. Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte-Faern/Senar; 10. Cooperativas, Associação de produtores e Sindicatos Rurais; 11. Sindicato da Industria Têxtil do Rio Grande do Norte; 12. linhas de crédito operadas pelos bancos oficiais; 13. incentivos fiscais do governo do Estado e do Finor; 14. recursos orçamentários dos governos federal, estadual e municipal; 15. Programa de Apoio ao Pequeno Produtor-PAPP; e 16. Parcerias com a iniciativa privada. g. Recursos Financeiros e Fontes Os recursos destinados ao Projeto somam R$ 3.398.000,00, equivalentes a US$ 1.889.665,50, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: Estado (15%), prefeituras municipais (5,0%), recursos externos (10%), bancos oficiais (55%), setor privado (10%) e beneficiários (5%). h. Gestão A revitalização da lavoura algodoeira está sendo iniciada no Estado sob a coordenação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento–Saab, que espera alcançar, ainda em 2000, uma área de 30 mil ha e em 2001 cerca de 100 mil ha. O Projeto de Cotonicultura para o Seridó, dentro de um novo sistema de cultivo, está também inserido no contexto maior da revitalização, proposta para todas as áreas algodoeiras do Rio Grande do Norte. Como está vinculado a um Plano Regional de Desenvolvimento, sua gestão ocorrerá nesse nível de abrangência, tendo uma gerência própria, a exemplo de outros projetos e programas do Plano. A Agência de Desenvolvimento do Seridó irá facilitar as tarefas de articulação e acompanhamento das ações de distintas entidades, com responsabilidades executivas. O funcionamento, na maioria dos municípios, de Conselhos de Desenvolvimento, permitirá a distribuição de tarefas, facilitando a integração dos diversos atores envolvidos no Projeto, assim como o acompanhamento e avaliação dos resultados a serem obtidos. 5.3.4 Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos A economia do Seridó encontra-se em processo de reestruturação, cabendo importante papel aos pequenos negócios urbanos. As possibilidades a este respeito vêm sendo aproveitadas nas cidades de grande e médio porte da região, podendo ser estendidas a outras cidades e distritos do Seridó. O programa imaginado tem, dentre outros, o propósito de consolidar e modernizar atividades ligadas a 138 pequenos negócios urbanos, tomando por base os apoios concedidos por instituições públicas, as possibilidades de negócios locais e os interesses da população. a. Situação Atual As atividades urbanas dos municípios da região do Seridó estão concentradas principalmente no setor da industria, do comércio e dos serviços, e têm se apresentado com desempenho razoável nos últimos tempos. Dentre elas, podem ser destacadas as atividades industriais e comerciais de pequeno porte, particularmente aquelas ligadas à cerâmica, ao artesanato, às confecções, às panificadoras e aos diferentes serviços em geral. De acordo com o Cadastro Industrial do Rio Grande do Norte, a região concentra 9,4% do total de empresas registradas no Estado. Ainda que se observe o surgimento de alguns serviços oriundos da nova economia, 25 não se pode considerar que tenha havido um processo de modernização das atividades urbanas. Em Caicó, a maior cidade da região, não há grandes supermercados nem shopping centers, e a estrutura do comércio se mantém da mesma forma que funcionava há vários anos. Partilhando de um mesmo sentimento de inquietação, quanto ao futuro dos seus negócios, comerciantes e empresários da região têm demonstrado preocupação quanto à estagnação das atividades, apontando como obstáculos, além de uma demanda incipiente, problemas a nível da comercialização – no nível de preços dos distribuidores e atraso das transportadoras. A falta de uma melhor capacitação dos gerentes e dos trabalhadores dos segmentos urbanos também contribui para não se dispor de um melhor padrão de desenvolvimento dessas atividades. Observa-se, neste sentido, o surgimento de novas pequenas empresas – prestadoras de serviços com características mais dinâmicas, sem contudo provocar mudanças no padrão econômico local. No contexto de quase inexistência de novos grandes empreendimentos na região, os pequenos negócios têm respondido tanto às necessidades de emprego como à demanda local por produtos industriais (indústrias de bens de consumo não-duráveis). Dentre os novos setores da economia do Seridó, que têm se destacado, encontra-se o setor das bonelarias, distribuídas em vários municípios. As bonelarias se consolidaram dentro e fora do Estado, com um aumento na produção, particularmente nos períodos pré-eleitorais, com a venda a empresas de grande porte, que subcontratam as pequenas unidades de produção da região para a fabricação de bonés para as grandes marcas. Um dos setores dinâmicos da região a merecer destaque é o do artesanato, que ocupa um importante papel na economia do Rio Grande do Norte. Esse setor contribui com 1,5% do PIB do Estado. Por ano, são quase R$ 6 milhões de produção, referentes ao comércio de diversos produtos, como cerâmica, bordados, madeira, palha de carnaúba e sisal. Esses dados correspondem a um total de 1.760 artesãos, cadastrados nas principais cooperativas e associações do Estado, que estão registradas no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RN). Estima-se, portanto, que existam mais de 70% dos artesãos trabalhando no setor informal. A maioria recebe entre um e dois salários mínimos por mês. Ainda que tendo destaque na economia estadual, o artesanato não aparece na balança comercial. De acordo com informações da Secretaria Estadual de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia, os produtos nem estão registrados na pauta de exportações do Rio Grande do Norte. 25 Ou seja, da economia baseada em atividades de informática e do comércio via Internet. 139 Para a Região do Seridó, um dos principais cartões de visita é, sem sombra de dúvida, o artesanato, constituído principalmente de bordados, rendas, além do artesanato em fibras vegetais e cerâmicas decorativas. Dentre eles, os mais conhecidos – os bordados de Caicó – fabricados, na maior parte, em Timbaúba dos Batistas, tornaram-se famosos dentro e fora do Estado, sendo encontrados em lojas de todo o País. Responsável pela sobrevivência de grande parte da população dos municípios produtores, o bordado tem origens diferenciadas. Assim, nem todos os fabricantes fazem parte do processo de produção oficialmente identificável. Muitas são as bordadeiras que vendem seus produtos para terceiros, a preços baixos, sem nenhuma perspectiva de integrarem o circuito de comercialização. Uma parte do artesanato do Estado está inserida na rota oficial do comércio organizado, com produção assegurada. Por isso, tem-se verificado que o artesanato mais rudimentar tem sua produção e comercialização mais restrita, dependente de intermediários. Um exemplo é dado pela Cooperativa de Produção Artesanal–Coopercrutac, cuja tradição na distribuição e comercialização é bem mais antiga. A Cooperativa das Oficinas de Produção Artesanal Industrial do Seridó–Coopais também está trabalhando no sentido de melhorar a qualidade dos produtos e levá-los às feiras e exposições internacionais, a exemplo do que já ocorreu na Argentina, Chile, Estados Unidos e Itália, quando da participação do Estado em missões comerciais. Quanto às atividades comerciais do Seridó, os principais estabelecimentos distribuem alimentos, remédios, veículos e autopeças, materiais de construção e insumos agrícolas. Em Caicó, o setor de comércio é bastante dinâmico, apresentando, nos últimos 18 anos, um crescimento de 92%, ao passar de 410 para 786 estabelecimentos, com particular destaque para o subsetor de alimentação e bebidas, seguido do subsetor de armarinhos e butiques. Acrescente-se a esses números, os estabelecimentos comerciais do setor informal. De acordo com a Secretaria de Finanças de Caicó, estima-se haver 420 estabelecimentos funcionando de maneira informal. O crescimento da atividade turística também contribuiu para a ampliação das atividades comerciais. No que se refere aos serviços, eles se concentram principalmente na área de alimentação (bares, lanchonetes, restaurantes, cantinas), além de salões de beleza, academias, locadoras de vídeo e de automóveis. Ainda que esses serviços sejam importantes, a maior concentração de pequenos empreendimentos se encontra nos serviços de apoio à produção econômica ou de reparação (oficinas, garagens), responsáveis por 50% do total de estabelecimentos na região. Outras áreas merecem também destaque, como as empresas construtoras e os escritórios de contabilidade, símbolos de um processo de urbanização mais avançado. b. Objetivos O Programa tem como objetivo geral dinamizar as atividades urbanas da Região do Seridó, consolidando os empreendimentos já existentes e apoiando novas oportunidades e alternativas produtivas, para novos segmentos e unidades geradoras de emprego e renda. Pretende-se, especificamente: • estimular o associativismo e a elevação dos níveis gerais de capacitação (tanto laboral como gerencial) no ambiente dos pequenos negócios urbanos; • melhorar a qualidade da produção e a competitividade dos empreendimentos existentes; 140 • melhorar os sistemas de fornecimento de matéria-prima e de comercialização dos produtos finais (distribuição, transportes); e • estimular a implantação de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativa Popular. c. Diretrizes O Programa será implementado com base nas seguintes diretrizes: • deverá ser valorizada e estimulada a articulação interempresarial com os empreendedores dos pequenos negócios, fortalecendo entidades representativas locais, que possam atuar no sentido de defender os interesses do segmento; • buscar-se-á, por meio da valorização das “coisas da região”, favorecer a ampliação do mercado para os produtos e serviços oriundos dos pequenos negócios urbanos do Seridó; • as prefeituras da região deverão incentivar permanentemente a consolidação, a maior integração e a ampliação do segmento dos pequenos negócios (artesanato, indústria, comércio e serviços), colocando seus principais instrumentos de atuação (fundo de aval, programas de capacitação, entre outros) a serviço da promoção dessas atividades; • face às reivindicações dos pequenos empresários por uma melhor capacitação, será valorizada a promoção de cursos de formação para empreendedores; • a formação de Incubadoras de cooperativas de trabalho permitirá o desenvolvimento e a disseminação de conhecimentos e geração de postos de trabalho. Em se tratando de Programa que visa a geração de empregos, as entidades representativas deverão participar dele ativamente, inclusive fornecendo subsídios técnicos e gerenciais, além de auxiliarem na formação de cooperativas e associações de produtores; e • deverá ser estimulada a realização de parcerias com as instituições integrantes do “Sistema S”, promotores de cursos e treinamentos na área do “empreendedorismo”, para uma melhor cooperação técnica e mais efetivo aporte de recursos. d. Linhas de ação O Programa será pautado pelas seguintes linhas de ação: • melhoria das condições de produção, comercialização e da qualidade dos produtos; • adequação dos padrões de qualidade dos principais produtos (controle e selo de qualidade, código de barra), por intermédio da ferramenta “D'OLHO NA QUALIDADE”; 26 26 A Ferramenta D'OLHO NA QUALIDADE faz parte do Programa de Qualidade executado pelo Sebrae, estando inserido no módulo do Programa Compete, que capacita o empresariado para melhorar o grau de competitividade das empresas, ampliando as oportunidades de negócio no mercado. 141 • divulgação e marketing dos produtos do Seridó, promovendo a participação ativa dos artesãos do Estado nas principais feiras do País e do exterior; • elaboração de planos de financiamento adequados ao apoio aos pequenos empreendimentos, para viabilizar o acesso ao crédito e a modernização técnica e operacional; • capacitação técnica e gerencial dos empresários nas áreas de finanças, vendas, gestão de recursos humanos, marketing e informática; e • articulação com entidades prestadoras de serviços de assistência técnica e gerencial. e. Metas Este Programa de Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos tem como metas principais: • ampliar em 50%, nos próximos dez anos, o número de empreendimentos, com ênfase no comércio e nos serviços; • negócios; 27 ampliar, em 33%, o nível médio de renda da população urbana ocupada nos pequenos • treinar 10.000 empregados (1/7 da PEA urbana) e gerentes de pequenos negócios até 2005, proporcionando melhorias nas condições de competitividade, para aumentar o potencial empreendedor; e • facilitar a auto-sustentabilidade de 50% dos empreendimentos financiados, nos próximos 10 anos, mediante promoção de programas integrados com capacitação técnico-gerencial, de qualificação profissional e assistência técnica aos beneficiários. f. Instrumentos Há um amplo rol de instrumentos, mobilizáveis em apoio ao Programa, como os especificados a seguir: 1. programa de apoio às cooperativas de produção e do trabalho (incubadoras); 2. programas de capacitação, assistência técnica e estudos das potencialidades do mercado ministrados pelo Sebrae, por intermédio do Programa de Artesanato; 3. linhas específicas de crédito para micro e pequenas empresas do Banco do Nordeste (microcrédito), BB (Crédito Amigo), Fundos de Aval Municipal e Estadual, para viabilizar crédito; 4. programa de capacitação da Emater (pequenas empresas de produtos alimentares ou empreendimentos de fabricação caseira); 27 Parte significativa das 70 mil pessoas que integrarão a PEA urbana da região em 2010. 142 5. Balcão de Negócios, para a divulgação dos produtos do Seridó, por intermédio de exposições e comercialização nas grandes lojas do País; 6. instituições de ensino superior e Escolas Técnicas na oferta de cursos de formação, pessoal capacitado, equipamentos e material didático; 7. empresas e cooperativas; 8. sindicatos e associações de trabalhadores; 9. Programa para Empreendedores–Empretec e Compete – Sebrae-RN; e 10. Brasil Empreendedor – Sebrae. g. Recursos Financeiros e Fontes de Financiamento Os recursos necessários para a ampliação e consolidação das Micro e Pequenas Empresas, referentes aos setores da indústria, comércio e serviços, poderão ser obtidos junto aos bancos oficiais e/ou por meio de convênios firmados entre municípios e entidades envolvidas com os Programas de Capacitação e Formação, que são em parte financiados com recursos do FAT, via SINE–estadual, como o CDL, Sindicatos e Associações Comerciais. Os cursos de capacitação ministrados pelo Sebrae, tipo “Brasil Empreendedor”, Empretec, custam por aluno R$ 50,00 por 15 horas/aula. Partindo do principio de que 10.000 empregados e gerentes deverão se capacitar em pelo menos três cursos ou módulos, o montante dos recursos necessários ao treinamento dos empregados será da ordem de R$ 1.500.000, a serem desembolsados pelos próprios treinandos, ou por alguma associação da qual ele faça parte. Quando ministrado pelo Programa Estadual de Qualificação–PEQ, que engloba principalmente cursos na área de informática e de língua estrangeira, os recursos serão provenientes do Ministério do Trabalho–FAT e repassados via SINE-RN, ligado à Secretária do Trabalho do Estado. Este programa mobilizará recursos no montante de R$ 3.000.000,00, equivalentes a US$ 1,666,666.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: União (15%), Estado (20%), municípios (10 %), bancos oficiais (25%), setor privado (30%). h. Gestão A implementação e execução desse Programa exigirá que o Conselho de Desenvolvimento do Seridó se articule com o conjunto de órgãos representativos dos vários setores: indústria, comércio e serviços, além dos governos municipal e estadual, que, juntos com a Federação do Comércio, Fiern, CDL, Sebrae, Senai e SESC, promoverão iniciativas para conscientizar a classe de pequenos empresários a participarem da elaboração de ações conjuntas, que venham a melhorar as condições econômicas da região, particularmente por meio de transformações na estrutura comercial e industrial dos pequenos negócios do Seridó. 143 5.3.5 Complementação da Infra-Estrutura Econômica Este Programa contempla projetos de diversos segmentos, orientados para a melhora das condições de competitividade da economia seridoense, como os seguintes: rede rodoviária (ampliação, restauração e melhoramentos na malha de rodovias), vias urbanas, eletrificação rural, gasoduto e fontes alternativas de energia e telecomunicações. a. Situação Atual A infra-estrutura econômica não constitui um gargalo central ao desenvolvimento do Seridó. Mas ainda apresenta pontos de estrangulamento que devem ser enfrentados e carências a sanar. Nos tempos atuais, em que as mercadorias precisam circular a custos decrescentes, para assegurar condições de competitividade às empresas que as produzem, e que a competição se exacerba, o investimento nas condições de acessibilidade e na melhoria dos serviços de energia e comunicações continua sendo fundamental. Investimentos realizados em décadas anteriores asseguraram um padrão de acessibilidade por via terrestre razoável ao Seridó, sobretudo por rodovias (como de resto, ocorreu em todo o País). As condições pioram quando se trata da circulação de pessoas e de mercadorias no interior da região, onde a oferta de serviços de transportes foi considerada insuficiente e precária por empresários e residentes entrevistados. A acessibilidade intra-regional é, portanto, um problema mais grave a enfrentar. Vale ainda salientar que essa situação é diferenciada dentro do Seridó. De acordo com a manifestação dos participantes das Reuniões Municipais, a Zona Homogênea das Serras Centrais apresenta o maior número de reivindicações, quanto à melhoria das estradas (vicinais em sua maioria), assim como a construção de pontes e o asfaltamento de estradas. As condições de comercialização são prejudicadas em muitas localidades, pelas dificuldades encontradas para o escoamento da produção, em conseqüência da insuficiência das estradas ou de sua inadequada conservação. A crise da base produtiva da região, nos últimos anos, e as dificuldades financeiras dos governos estadual e federal certamente contribuíram para o agravamento de alguns aspectos relevantes do quadro da infra-estrutura regional. O transporte ferroviário é praticamente inexistente e o aéreo é muito restrito. Há três modestos Campos de Pouso no Seridó, capazes de receber apenas aeronaves do tipo leve. Ali, as condições de uso deixam a desejar, embora os campos tenham recebido investimentos recentes em melhoria, tanto que não há novas previsões de investimento no Plano Plurianual do governo estadual (PPA 2000-2003). A oferta de energia não constituiu problema, nem no Estado nem na região, nos anos recentes. A energia elétrica atingia nos anos 90 cerca de 65 mil consumidores, dos quais 55 mil (85%) eram consumidores residenciais, segundo dados do Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, para 1997. As três Zonas que integram o Seridó apresentavam um consumo de cerca de 114 mil MWh, dos quais 42% eram para consumo residencial, no mesmo ano. Mais uma vez, há diferenciações internas a registrar, pois a eletrificação rural continua sendo o principal desafio da região. As áreas urbanas dispõem de uma oferta mais ampla, tanto que os consumidores rurais pesam apenas 5% no número total de consumidores, e a demanda atendida de eletrificação rural era de apenas 7,7 mil MWh (6,7% do total). Na próxima década, o Brasil e particularmente o Nordeste poderão enfrentar problemas com a oferta de energia. As fontes de energia hidráulica para oferta em grande escala praticamente se 144 esgotaram no Nordeste brasileiro. E novas formas devem ser utilizadas crescentemente. Isso não é problema grave para o Rio Grande do Norte, um dos estados mais ricos em energia da região (tem petróleo, gás natural e possibilidades de explorar a energia eólica e a energia solar, além de abrigar usinas termelétricas). Mas o Seridó não é a região mais bem dotada desse potencial no Estado, precisando também antecipar investimentos em fontes alternativas às atuais. Outras áreas do semi-árido nordestino já vêm avançando, por exemplo, na oferta de energia solar, especialmente para localidades ou estabelecimentos isolados, onde os custos para levar a energia elétrica de origem hidráulica têm se mostrado muito altos. No Seridó, esse processo ainda é muito incipiente. No que se refere às comunicações em geral, a região é razoavelmente bem servida, com bom acesso a sistemas de rádio e TV e com alguns jornais e revistas regionais, fora o acesso a periódicos de circulação estadual e nacional. Já nas telecomunicações, serviço cada vez mais estratégico e de uso corrente, vale salientar de saída, que as transformações ocorridas, de uma forma geral no País e no Estado, modificaram o cenário das últimas décadas. O processo de privatização da TELERN, o crescimento da telefonia móvel e a chegada de outras operadoras no sistema, nos últimos tempos, tendem a redesenhar o mapa da telefonia no Estado e na Região do Seridó. Mas, no curto prazo, a insuficiência de terminais instalados na região – entre aparelhos convencionais, celulares e outros, particularmente os públicos (que representam apenas 5% do total do Estado, quando seu peso na população é mais do que o dobro) – não se modificou com a proliferação de telefones celulares, que preenchem, apenas, em parte, a demanda insatisfeita da população. Ainda que haja facilidades de aquisição e habilitação das linhas de telefonia celular, a manutenção dos serviços – com os preços elevados das tarifas do sistema – não está ao alcance do poder aquisitivo da maioria dos seridoenses. Como nos demais segmentos dos serviços públicos, é importante observar a existência de uma cobertura desigual do sistema de telecomunicações. A ZH de Caicó apresenta uma média de 15,8 habitantes por linha telefônica instalada, proporção que sobe na ZH de Currais Novos para 21,3 habitantes/linha e chega a 140,2 habitantes/linha telefônica na ZH das Serras Centrais. A média do Estado era de 12 habitantes/linha, superior, portanto à média da Região Seridó. Os dados a nível de municípios revelam carências maiores em uns do que noutros. Caicó (92%) e Currais Novos (82%), por exemplo, concentram fortemente o número de terminais instalados (fixo e celular), nas suas respectivas Zonas Homogêneas, enquanto os outros municípios têm apenas postos de serviço. As maiores deficiências entretanto encontravam-se na Zona Homogênea das Serras Centrais. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999). No Programa “Avança Brasil”, do governo federal, onde estão previstos os investimentos prioritários para os próximos anos, não se identifica nenhum projeto importante para a ampliação da infra-estrutura de transportes ou de energia no Seridó. No que tange ao Rio Grande do Norte, há algumas indicações, como as destinadas à instalação de duas usinas termelétricas (uma nas proximidades de Natal e outra nas de Macau); a instalação da linha de transmissão Banabuiú–Natal; a ampliação da infra-estrutura portuária no porto de Areia Branca; e o recém inaugurado aeroporto de Natal, entre outros. Mas a região seridoense não se faz prioritária. Nas telecomunicações, o programa tem metas nacionais amplas e o Seridó pode se organizar para delas participar. No Plano Plurianual do Governo Estadual (PPA 2000-2003) há recursos (cerca de R$ 35 milhões) para investir na ampliação da oferta de gás natural na região da Grande Natal, de Mossoró e no pólo cerâmico do Açu (reduzindo o uso da lenha e preservando o meio ambiente). Mas o Seridó não 145 aparece, sequer, com estudo de pré-viabilidade. Em outros segmentos, há metas e recursos previstos para o Seridó, cujos montantes podem ser ampliados, caso a região se mobilize para tal. Daí, se ousar superá-las na proposta de Programa aqui apresentada. b. Objetivos O objetivo geral deste Programa é melhorar as condições de acessibilidade aos diversos lugares da região seridoense e a oferta de serviços essenciais. Neste sentido, espera-se poder levar progresso às empresas regionais e alterações positivas, para a população, nas condições de acesso a serviços de energia, transportes e comunicações. Pretende-se, especificamente: • superar os pontos de estrangulamento ao eficaz deslocamento de pessoas e mercadorias no Seridó e da região com outros lugares; • preparar o Seridó para a nova fase de redefinição da matriz energética, que o Nordeste enfrentará nos próximos anos; • rurais; e ampliar a oferta de eletrificação nas áreas ainda menos dotadas, em especial nas áreas • ampliar a oferta e as condições de acesso de pessoas, instituições e empresas aos serviços de telecomunicações, e em particular à Internet. c. Diretrizes Nortearão o Programa as seguintes diretrizes: • deverão merecer prioridade os municípios, as comunidades e os segmentos com mais alto déficit de atendimento. Em termos de eletrificação rural, por exemplo, oferta prioritária deveria ser dirigida aos Municípios de São João do Sabugi, Ipueira, Serra Negra, Ouro Branco, Cerro Corá, e Tenente Laurentino; • em termos de rodovias, deverá ser conferida prioridade às ligações intra-regionais e às ligações de áreas ainda menos acessíveis aos principais eixos de ligação do Seridó com outras regiões do Rio Grande do Norte e com outros estados do País; • esforço mais intenso deve ser dirigido às comunidades rurais, em especial à Zona das Serras Centrais, onde a infra-estrutura de transportes e de comunicações é mais precária; • os dirigentes municipais deverão assumir parte dos investimentos em infra-estrutura, cuidando especialmente da ampliação e conservação das rodovias vicinais; e • alguns estudos especiais deverão ser estimulados, para orientar decisões futuras dos agentes econômicos e políticos da região, na luta por investimentos na infra-estrutura econômica. 146 d. Linhas de Ação Nos próximos cinco anos, devem ser estimuladas atividades referentes às seguintes linhas de ação: • ampliação da oferta de rodovias, e manutenção das existentes; • ampliação da cobertura atual do sistema de eletrificação rural; • elevação do acesso das pessoas, empresas e instituições (especialmente as ligadas à educação) aos serviços de telecomunicações; • ampliação do acesso e uso da Internet na região (empresas, escolas, e pessoas); e • Realização de estudos visando ampliar a oferta de energia com fontes alternativas. e. Metas O Programa tem como metas principais, até 2005: • ampliar a malha rodoviária pavimentada da região em 100 km; • restaurar e melhorar 450 km de estradas; • melhorar o sistema viário das vias urbanas das principais cidades do Seridó; • levar energia elétrica a 2,5 mil propriedades rurais; • triplicar o acesso à Internet, na região; • dobrar o número de terminais de telefonia (fixa e móvel), chegando a 24 mil terminais, em 2005, o que daria uma média de 12,5 habitantes/linha. 28 Na telefonia móvel, a meta seria a mesma meta prevista para o Estado em seu conjunto (5 habitantes/linha); e • realizar estudo de viabilidade para a instalação de um gasoduto no Seridó, com ligação a partir da região norte do próprio Estado (Guamaré), ou para a distribuição de gás natural na região, por outros meios. f. Instrumentos Serão mobilizados os seguintes instrumentos, em apoio ao Programa: 28 • programa de investimentos públicos (governos federal, estadual e municipal); e • programa de investimentos de empresas privadas (Iberdrola e Telemar, entre outras). Em Caicó, cidade de melhor índice na região, esse indicador hoje é de 16 habitantes/linha. 147 g. Recursos Financeiros e Fontes De 2001 a 2005 serão investidos recursos no montante de R$ 33.700.000,00, equivalentes a US$ 18,722,222.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (57,9%), municípios (23,3%), externa (1,7%) e setor privado (17,1%), assim distribuídos pelas atividades e projetos previstos: • R$ 10 milhões para ampliação da malha rodoviária em 100 km (70% do Estado e 30% dos municípios); • R$ 15 milhões para restauração e melhoramentos em 450 km de rodovias (70% do Estado e 30% dos municípios); • PCPR); R$ 5,5 milhões para eletrificar 2,5 mil propriedades (90% do setor privado e 10% do • R$ 3 milhões para melhoria das vias urbanas (90% do DETRAN e 10% dos municípios); • R$ 200 mil para estudos de viabilidade do gasoduto e de fontes alternativas de energia (50% da Potigás e 50% do governo estadual); e • investimentos em telecomunicações (telefonia e transmissão de dados via Internet). 29 h. Gestão Este Programa envolve diversos projetos e diversos agentes (públicos e privados). Torna-se, pois, necessário promover um acompanhamento muito preciso de sua execução. Os Conselhos subregionais e o Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável, em pelo menos duas de suas reuniões, a cada ano, devem examinar relatórios analíticos sobre o andamento dos projetos (preparados por técnicos da Agência de Desenvolvimento do Seridó). Os representantes governamentais devem adotar iniciativas e medidas de correção, no caso de desempenho lento dos executores. O Presidente do Conselho Regional deverá realizar articulações com as entidades (públicas ou privadas) responsáveis pelos investimentos, caso o Conselho considere que os entraves por ventura existentes não estão sendo superados. 5.3.6 Promoção de Oportunidades de Investimentos Esta é uma proposta de ação muito especial, que se cristalizará em iniciativas da região e dos dirigentes estaduais (governo e entidades patronais), para que se possa ampliar a densidade econômica do Seridó. Para que o Plano do Seridó seja bem sucedido, será imprescindível mobilizar todas as forças sociais interessadas no desenvolvimento da região: governo, setor privado e setor e não-governamental. Dessa mobilização dependerá o conhecimento que se deverá dar aos mercados de investidores potenciais sobre as vantagens regionais e os avanços que a cada dia são observados no quadro subregional, estadual, regional e nacional. Em outras palavras, será indispensável lançar-se o Seridó no contexto estadual, nordestino, brasileiro e internacional, como forma de atrair novos investimentos para 29 Nessa fase, não foi possível definir os valores dos investimentos para esse Projeto. Serão calculados e incorporados ao Projeto durante o processo de consolidação da versão do Plano. 148 a região. Um programa dessa ordem delineia os contornos mais gerais das ações a serem desenvolvidas para tornar conhecidas as alternativas de investimento encontradas na região. a. Situação Atual Como foi ressaltado no Diagnóstico, os pilares estruturantes da base produtiva local – empresas e estabelecimentos de maior porte ligados à pecuária, à produção e transformação do algodão e à mineração –, entraram em crise nos anos 80. Muitos dos que haviam feito fortuna na fase áurea daquelas possibilidades econômicas deslocaram seus investimentos para outras regiões, enquanto outros reduziram seu patamar de atuação no Seridó. A estratégia de superação do quadro adverso que se instalou na região nas últimas décadas se fundamentou, em grande parte, no interessante dinamismo dos pequenos negócios, que se ampliaram bastante no Seridó, muitos com grande sucesso. Três importantes Cooperativas também se destacam na fase mais recente. Mas a região continua a carecer de reforço na sua base produtiva, a ser dado por empresas de maior porte, capazes de gerar excedentes de uma certa dimensão, que complementem o esforço que vem sendo realizado pela iniciativa dos pequenos empreendedores. O Cadastro Industrial do Rio Grande do Norte revela, com nitidez, o quadro de escassez de grandes empreendimentos nessa região. Apenas 3 empresas têm mais de 100 empregados, produzindo postes, tubos e galpões (Caicó), produtos alimentares (Carnaúba dos Dantas) e sabão e creme vegetal (Jardim do Seridó). Com mais de 20 empregados, a região tem, em seu segmento industrial, somente cerca de 25 empresas, o que é muito pouco para uma área onde vão viver na próxima década mais de 300 mil pessoas. Dentre os segmentos que abrigam, hoje, as maiores empresas atuantes no Seridó, destacam-se as ligadas à indústria de produtos alimentares, à cerâmica, à produção de móveis, à produção de sabão, perfumaria e artefatos de couro, além de uma mineradora de scheelita. Nas atividades comerciais e de prestação de serviços, outro foco de dinamismo recente, também predominam as micro, pequenas e médias empresas. O governo estadual, em função do ambiente de “Guerra Fiscal” que se instalou no Brasil, nos anos recentes, também montou um instrumento de atração de novos empreendimentos, o Proadi, e a Região do Seridó conseguiu atrair algumas iniciativas, ou fazer participar desse mecanismo empresas da região. Tanto que integram a lista das empresas atualmente beneficiadas pelo Proadi, segundo a Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia–Sintec, cerca de 8 empresas de um certo porte (mais de 20 empregados), que atuam no Seridó, como é o caso da Medeiros S/A, Indústria e Comércio (Jardim do Seridó, com 240 empregados), da Pincol (Caicó, com 71 empregados) e outras menores, especialmente em Caicó, Jardim do Seridó, Currais Novos e Ipueira (Cerâmica União), com investimentos previstos da ordem de R$ 10 milhões, responsáveis pela geração de cerca de 450 empregos. Foram, por outro lado, identificadas empresas novas, instaladas e em instalação no Seridó, que não contaram com financiamento do Proadi. Dentre as novas destacam-se a J. Galvão Jr., do segmento de biscoitos, em Currais Novos, com investimento de cerca de R$ 700 mil; a Cerâmica União, em Currais Novos, com investimento de R$ 131 mil; a Cersal, do segmento de suco, em Lagoa Nova, com R$ 2,0 milhões de investimento e 120 empregos; a Armil Beneficiamento de Metais, em Parelhas, com R$ 2,7 milhões, gerando 66 empregos, entre outras. Por sua vez, dentre as apoiadas pelo Finor, mecanismo de incentivo administrado pela Sudene, a presença do Rio Grande do Norte, em seu conjunto, e do Seridó, em particular, tem sido muito modesta. Das 123 Cartas-Consulta que solicitaram, recentemente, recursos do Finor, apenas 5 delas, ou 149 seja, 4,1% do total, foram encaminhadas por empresas instaladas ou a se instalar no Rio Grande do Norte. Mas a recente criação de uma Agência de Fomento ao Desenvolvimento, na esfera do governo do Estado do Rio Grande do Norte, constitui estímulo que deve ser bem aproveitado e reforçado. As oportunidades de investimento do Seridó poderão ser melhor identificadas e apoiadas por aquela agência, que pretende atuar em diversos sentidos: como entidade de captação e fomento, como estimuladora de incubadoras de empreendimentos, como financiadora, etc. As prioridades estabelecidas no momento atual, de constituição dessa Agência, tendem, como é natural, para aproveitar oportunidades mais evidentes. Concretamente, porém, essas oportunidades não se localizam no Seridó, predominando, ao contrário, no Entorno de Natal, de vales como o do Açu, no litoral e no Entorno de Mossoró. Projetos ligados à fruticultura irrigada, ao pólo gás-sal, aos pólos de turismo do litoral e à produção de camarão tendem a merecer a atenção inicial. Mas nada impede que em futuro próximo a região seridoense mereça um tratamento mais prioritário, desde que se organize para obtê-lo e apoie a ação daquela Agência com iniciativas que lhe sejam complementares. b. Objetivos O objetivo geral deste Programa é aumentar a densidade da base produtiva do Seridó, para que a região possa aproveitar melhor as potencialidades nela existentes e gerar emprego e renda em proporções bem maiores do que as atuais. Pretende-se, especificamente: • atrair novos investimentos produtivos de porte significativo para a região; • ampliar o tamanho do excedente econômico aí gerado; e • contribuir para o aumento do peso relativo do Seridó na economia do Rio Grande do c. Diretrizes Norte. Este Programa terá as seguintes diretrizes principais: • deverão ser priorizados os segmentos produtivos ligados direta ou indiretamente às aqui chamadas “cadeias produtivas estratégicas”; • as articulações interempresariais, ao longo das cadeias produtivas e outras articulações, devem ser trabalhadas no sentido da construção de alguns “clusters” nas atividades que apresentarem maior potencial; • o esforço de captação de novos empreendimentos deverá ser apoiado pelas municipalidades, devendo as prefeituras colaborar com o aporte que estiver ao seu alcance; • deverá ser valorizada a articulação de esforços similares aos realizados pelo governo estadual, para potencializar os resultados no Seridó; 150 • os Centros de Ensino e as entidades ligadas à capacitação (laboral e gerencial) deverão orientar seus esforços para a melhoria dos recursos humanos necessários às atividades nas quais os novos investimentos produtivos predominem; e • a Agência de Desenvolvimento do Seridó deverá estimular a realização de estudos especiais, cujos produtos possam orientar as decisões futuras dos agentes econômicos e políticos da região, na luta pela captação de novos investimentos. d. Linhas de Ação Nos próximos cinco anos, devem se implementadas as seguintes linhas de ação : • estímulo à participação de empresas seridoenses ou que atuem na região nos incentivos do Proadi, do Banco do Nordeste e da Sudene; • articulação com a Agência de Fomento ao Desenvolvimento; • prospecção e elaboração de levantamento de investidores que possam se interessar pela região; • elaboração de material de qualidade sobre as vantagens e potencialidades do Seridó, para difusão via Internet ou em encontros e ambientes empresariais; e • apoio à Agência de Fomento ao Desenvolvimento do Estado, para que o Seridó esteja sempre entre suas prioridades e. Metas Até 2005, a região deverá: • representar 15% da economia estadual, como se prevê no cenário desejado; • dispor de um núcleo bem estruturado, capaz de estabelecer e manter estreita articulação com a nova Agência de Fomento ao Desenvolvimento, criada pelo governo estadual; • abrigar, adicionalmente, pelo menos 25 empreendimentos de grande porte, nos segmentos estratégicos ao seu desenvolvimento; e • abrigar pelo menos 4 Cooperativas consolidadas e de porte (1/3 a mais que o número atual), atuando nos segmentos estratégicos da economia local. f. Instrumentos O principal instrumento desse Programa é a recém criada Agência de Fomento ao Desenvolvimento. Ao seu lado e, de forma complementar, destacam-se o Proadi (instrumento estadual), o Finor e o sistema de redução ou isenção do Imposto sobre a Renda (instrumentos federais, 151 coordenados pela Sudene); os Bancos Oficiais, em especial o Banco do Nordeste (com destaque para os recursos do FNE). g. Recursos Financeiros e Fontes Esse é um Programa em que a atividade mais relevante é a da articulação. Para isso, os meios financeiros não são elevados. De 2001 a 2004 serão investidos cerca de R$ 350 mil/ano, ou seja, R$1.500.000,00, no período de vigência do Plano, equivalentes a US$ 666,700.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000. Com esses meios, espera-se fazer o papel de apoio à Agência de Fomento ao Desenvolvimento do Estado. Atribui-se ao governo estadual a responsabilidade pelo ônus dessa iniciativa (70%), que também pode merecer apoio financeiro da Fiern e de outras entidades do setor privado (30%). Eventualmente, poderá contar com a colaboração de prefeituras do Seridó interessadas em captar investimentos em negociação. h. Gestão Para que esse Programa apresente sucesso é necessário criar um Núcleo Específico de profissionais, incluindo empresários de peso da região, representantes do governo estadual e das Associações de Prefeitos. Sua estruturação deverá ser feita de forma a promover estreita articulação com a nova Agência de Fomento ao Desenvolvimento do Estado. A Agência de Desenvolvimento do Seridó deverá abrigar esse Núcleo, cujo trabalho essencial será de articulação. 5.4 DIMENSÃO SOCIOCULTURAL Diante das demandas mais específicas apontadas pelas comunidades do Seridó, foram eleitos como prioritários os programas descritos a seguir: Convivência com a Seca e Atendimento às Populações Afetadas pelas Irregularidades Climáticas; Cultura, Lazer e Turismo; Apoio à Saúde; Melhoria da Qualidade na Educação; Erradicação do Analfabetismo; Qualificação para o Trabalho; Melhoria Habitacional; e Erradicação do Trabalho Infantil. 5.4.1 Convivência com a Seca e Atendimento às Populações Afetadas Pelas Irregularidades Climáticas a. Situação Atual A reconhecida vulnerabilidade da economia do semi-árido, que se expressa no declínio e, até mesmo, no desaparecimento de algumas atividades produtivas do Nordeste, vem alcançando, historicamente, e sobretudo nas últimas décadas, parte significativa da população do Seridó, que se vê, periodicamente, na condição de total indigência, sem os meios que lhe permitam atravessar as fases mais críticas das secas, estiagens ou irregularidade climática. (Araújo, 2000: 235.) É por intermédio dos programas de emergência que parte significativa da população rural e dos pequenos aglomerados urbanos tem sido atendida, tanto por meio de ações assistenciais de distribuição de cestas básicas e recursos financeiros, como a partir da realização de obras e investimentos, para os quais é mobilizada parcela da população adulta durante o período mais crítico. Tais programas vêm evoluindo, nas suas formas de gestão, com o decorrer do tempo. No entanto, seu objetivo fundamental é garantir a sobrevivência das populações alcançadas pelas secas e pelas irregularidades climáticas, sobretudo nas fases mais intensas do fenômeno. 152 No caso do Rio Grande do Norte, na última seca, em meados do ano de 1998, encontrava-se em estado de emergência, a quase totalidade dos seus municípios, ou seja 156 dos 166 existentes. O Programa de Emergência, que foi definido e posto em execução, considerou várias linhas de ação, entre as quais vale o destaque para a recuperação da infra-estrutura hídrica do Estado. Para isso, foi definido um plano de obras e serviços, além da criação de “Frentes de Trabalho” para executá-los. Outra linha de ação consistiu no financiamento especial, através do crédito rural, voltado para os produtores alcançados pelas estiagens. Essas duas linhas foram complementadas por outras que se referiam às ações voltadas para a alfabetização de adultos e para a distribuição de cestas básicas. Além disso, foi posto em prática, por ocasião das primeiras chuvas de 1999, um conjunto de ações voltadas para a distribuição de sementes. Os beneficiários do conjunto de ações são os trabalhadores rurais e suas famílias, que residem nos municípios considerados em estado de emergência. Para que se tenha uma idéia do contingente envolvido recentemente nas ações desenvolvidas, em junho de 1998, os pagamentos realizados sob a forma de ajuda, beneficiaram cerca de 84,6 mil trabalhadores. Em janeiro de 1999, o contingente desses trabalhadores alcançou cerca de 108 mil. Considerados os dependentes, nessa última estimativa, a população total beneficiada alcançou cerca de 498,2 mil pessoas em todo o Estado. Relativamente a outras linhas de ação, ainda da perspectiva do Rio Grande do Norte, o crédito rural de emergência alcançou produtores rurais, independentemente da dimensão da sua unidade de produção. De um total de 13,9 mil propostas recebidas, neste sentido, cerca de 8 mil foram atendidas, sendo que 58% foram propostas relacionadas ao custeio da produção e 42% direcionadas para investimentos. No que se refere ao alcance das atividades voltadas para a alfabetização de adultos, foram atendidos e cadastrados cerca de 4 mil trabalhadores. Com relação, especificamente, ao Seridó, foram cadastradas no Programa de Emergência cerca de 57,2 mil pessoas (na última emergência), sendo que nos meses finais de 1999 estavam registradas, ainda, cerca de 34,7 mil pessoas, o que representava cerca de 19% da população rural então estimada pelo Programa. No que se refere ao Rio Grande do Norte, em seu conjunto, tais cifras correspondiam a 164,3 mil e 109,4 mil, respectivamente. Esse registro maior, ocorrido na última emergência, de 57,2 mil para todo o Seridó, alcançando todos os 28 municípios, estava distribuído, segundo as Zonas Homogêneas na seguinte proporção: 7,9 mil na ZH de Currais Novos, 8,7 mil na de Caicó e aproximadamente 12 mil na Zona Homogênea das Serras Centrais. Nos municípios, cabe o destaque para o de São Tomé (3,3 mil), o de Santana do Matos (2,5 mil) e o de Caicó (2 mil). Com relação à distribuição de cestas básicas, na região foram recebidas cerca de 26,5 mil em praticamente todos os municípios. Relativamente ao crédito rural, foram encaminhados 2,6 mil pleitos, que representaram 32% do número de propostas do Estado e cerca de 37% dos recursos financeiros totais para o Rio Grande do Norte. Merece destaque o reconhecimento geral a respeito da insuficiência dos recursos para atender a demanda de crédito rural, o que gerou insatisfação da parte de produtores e técnicos envolvidos com os programas. Além disso, as avaliações feitas registram a forma insuficiente de atuação das Comissões Municipais do programa, ao lado de presença marcante em vários municípios de uma demanda reprimida de trabalhadores rurais, não atendida na ação de emergência. 153 Tais cifras e considerações permitem que se tenha uma idéia da grande fragilidade da base produtiva do Seridó e das condições de extrema vulnerabilidade, também, da população para enfrentar situações de emergência como as provocadas pela seca. Essas constatações apontam para a necessidade não só de ações governamentais necessárias para garantir a sobrevivência das populações vítimas das secas ou afetadas pela irregularidade climática, mas para a necessidade de programa preventivo no qual as ações predefinidas considerem formas mais racionais e efetivas de socorro às populações numa situação de emergência. Além disso, é necessária a identificação de recursos e meios necessários para o referido atendimento, de sorte que as ações possam ser adotadas em tempo hábil, reduzindo os custos sociais (e até econômicos) decorrentes dos impactos das secas e irregularidades do clima. Tais ações, evidentemente, devem ser reconhecidas como emergenciais, compensatórias ou complementares, relativamente a um conjunto complexo de programas e projetos permanentes e estruturadores, que devem ser definidos no sentido de reduzir a vulnerabilidade da base econômica regional e garantir às populações capacidade de superar as fases críticas de ocorrência das secas, estiagens ou outra qualquer irregularidade climática. Ou seja, as ações de emergência devem ser parte integrante, no conjunto das ações governamentais, de programas mais estratégicos, permanentes e de longo prazo, que visem induzir a base econômica regional e a sociedade a uma convivência com a seca e as irregularidades antes referidas, a custos sociais bem menores que os que ocorrem, tradicionalmente, no Nordeste. É importante também que se insiram nos programas emergenciais objetivos e ações que extrapolem os estreitos limites do socorro e assistência à população vitimada pela seca e irregularidade climática. É crucial que se inclua a realização de obras estratégicas e permanentes no rol das atividades das “Frentes de Trabalho”, a serem criadas, a exemplo das referidas à alfabetização, qualificação e requalificação da população para o trabalho; difusão de novos processos tecnológicos, que tornem a base produtiva mais resistente às estiagens e reforce as culturas agrícolas e as atividades econômicas desenvolvidas; difusão de práticas que reduzam a incidência de doenças e da mortalidade; e desenvolvimento do associativismo e da cooperação, como partes integrantes das ações de emergência, promovidas pelo setor público. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral, apoiar as famílias e populações afetadas pela seca ou pela irregularidade climática, em todo o território dos 28 municípios da Região do Seridó. Especificamente, pretende-se: • atender as pessoas mais diretamente afetadas pela seca ou pelas irregularidades climáticas na região; • garantir o abastecimento de água às comunidades mais diretamente atingidas; • utilizar mão-de-obra, rural sem trabalho e alistada, em obras comunitárias estratégicas para o desenvolvimento da região e em obras nas pequenas propriedades rurais; • intensificar ações sociais voltadas para alfabetização, qualificação e requalificação para o trabalho, difusão de práticas e processos de trabalho que permita o exercício de atividades menos vulneráveis e de maior eficiência; e 154 • difundir práticas que possibilitem a melhora da saúde das famílias atingidas pelas irregularidades climáticas e pela redução da mortalidade geral e infantil. c. Diretrizes O Programa terá sua execução pautada por diretrizes como as seguintes: • as ações que integram o Programa de Convivência com a Seca e a Irregularidade Climática deverão ser concebidas considerando que a inscrição dos beneficiários deve obedecer a critérios objetivos que estabeleçam regras para a inclusão das famílias mais carentes nas oportunidades de apoio e socorro; • na realização das obras se considerará que aquelas de caráter comunitário e estratégicas para a região devem ter preferência relativamente às obras particulares, realizadas em benefício direto das propriedades; • será viabilizado o atendimento do maior número de pessoas desempregadas em decorrência da seca e da irregularidade climática, por meio do desenvolvimento de parcerias entre as diferentes esferas de governo, a organização de produtores e os sindicatos e associações dos trabalhadores; • serão enfatizadas as ações voltadas para a alfabetização, capacitação e difusão de conhecimento e práticas que permitam a consolidação da atividade produtiva sob novas bases e a melhora das condições de vida da população, que deverá ser considerada parte integrante do Programa de Emergência; e • as atividades de emergência serão submetidas a adequados esquemas de fiscalização e controle, incluindo-se os municípios nas atividades de emergência de acordo com critérios técnicos e objetivos, eliminando interferências de outra ordem, que possam comprometer o real atendimento às populações mais necessitadas. d. Linhas de Ação O Programa terá como principais linhas de ação: • levantamento das obras e da infra-estrutura mais relevantes, de interesse das comunidades e estabelecimento, a partir daí, das prioridades de execução, na ocorrência de secas ou irregularidade climática; • execução das ações de emergência envolvendo o setor público (nas suas três esferas), as organizações comunitárias, patronais e os sindicatos dos trabalhadores, definindo-se, previamente, uma divisão de trabalho e de responsabilidade, assim como formas de atuação que devam ser adotadas nas secas e na ocorrência de irregularidades climáticas; • identificação de fontes de recursos necessárias para o financiamento das ações, tanto no âmbito do governo federal e estadual, como dos governos municipais e adoção de formas mais 155 adequadas de mobilização da população, para minimizar os efeitos dos impacto das secas sobre a população e as atividades econômicas; • criação de linhas de crédito que possibilitem a recuperação das atividades produtivas nos momentos propícios, após a superação da fase mais crítica das secas; e • adoção de critérios objetivos para a inclusão dos municípios no atendimento de emergência, assim como os trabalhadores e famílias a serem beneficiadas nas “Frentes de Trabalho”. e. Metas O Programa terá como principal metas atender na situações de emergência de seca, durante um período médio de 8 meses, o equivalente a uma população de 45 mil pessoas nas “Frentes de Trabalho”, envolvendo seus dependentes nas ações de apoio e assistência social. 30 f. Instrumentos Constituem instrumentos centrais do Programa: 1. recursos orçamentários da União e do governo do Estado, colocados em disponibilidade quando da decretação do ‘estado de calamidade pública; 2. linhas especiais de crédito agrícola abertas pelos bancos oficiais para atender, especificamente, os produtores que sofreram perdas de safra; 3. comissões municipais, instituídas com o fim específico de cadastrar, selecionar e alistar trabalhadores afetados pela seca e irregularidades climáticas; 4. núcleos regionais da Emater-RN; e 5. Comissão Regional do Seridó para ações de emergência, constituída a partir da CAP, com a finalidade de promover uma ação articulada de apoio à população afetada pela seca e irregularidades climáticas, da perspectiva regional. g. Recursos Financeiros e Fontes Os recursos necessários ao atendimento do número médio de famílias em situação de emergência no Seridó, considerando as tendências recentes, adiante referidas, atingem o montante de R$ 58.016.000,00, equivalentes a US$ 32,231,111.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000. Provirão, em princípio, das seguintes fontes: União (por meio de aportes do governo federal, do Programa de Alfabetização Solidária e do FAT/Planfor – 46,9%), governo estadual (18,6%) e bancos oficiais (crédito rural de emergência – 34,5%). As hipóteses adotadas na estimativa dos recursos foram as seguintes: 30 Este número foi definido considerando-se que na última emergência o número de pessoas alistadas alcançou no Seridó cerca de 57,2 mil, havendo períodos nos quais o contingente registrado foi de 34,7 mil. 156 • o Programa seria executado durante 8 meses, pagando-se a cada um dos 45 mil trabalhadores alistados R$ 100,00 por mês; • do total dos gastos com mão-de-obra, estimados em R$ 36 milhões, o governo federal se responsabilizaria por 70% e o governo estadual por 30%. Tais recursos deveriam estar disponíveis após a decretação do “estado de calamidade pública”, em decorrência de seca total; • adicionalmente, seriam postos à disposição dos produtores rurais recursos no valor de cerca de R$ 20 milhões, para financiamento de suas atividades, a título de crédito rural de emergência. Para essas estimativas considerou-se como base o crédito de emergência demandado por 2,56 mil propostas de produtores do Seridó, que alcançou R$ 17,1 milhões, e que foi considerado insuficiente em algumas avaliações; • haveria um processo de alfabetização envolvendo 8 mil pessoas, o dobro do que ocorreu na emergência anterior, cujo custo, de acordo com os parâmetros adotados no Programa de Alfabetização Solidária, é de R$ 17,00/mês, por aluno, tendo o curso a duração de 6 meses; e • haveria um conjunto de ações voltadas para a qualificação para o trabalho de 8 mil trabalhadores, cujo custo, de acordo com os parâmetros do Planfor, seria de R$ 150,00 por pessoa qualificada. Os recursos para a execução desse Programa de Emergência, pelas características aleatórias de ocorrência da seca, foram apenas estimados, para dar uma idéia da magnitude dos gastos que podem ter de ser realizados pelo setor público (federal, estadual e municipal), na vigência desse tipo de calamidade pública. Destaca-se que os recursos estimados não se incluem na categoria de investimento. Por isso, não constam do total dos investimentos do Plano, tal como especificados no item 5.6 do capítulo 5. Na hipótese de ocorrência de seca, entretanto, o setor público já disporá de uma estimativa dos gastos necessários ao atendimento desse tipo de demanda social, considerada no contexto da Estratégia do Plano. h. Gestão Na experiência recente foi implantada uma estrutura que considerou: i) o Grupo Executivo do Programa de Convivência com a Seca, com a finalidade de planejar, coordenar, articular e propor projetos; ii) a Comissão Estadual Gestora do Programa Emergencial das Frentes Produtivas, com o objetivo de aprovar os planos de trabalho e estabelecer normas executivas e adotar medidas necessárias à implementação do Programa; iii) a Gerência Operacional com as atribuições de definir e adotar as definições estabelecidas pelo Grupo Executivo e aprovadas pela Comissão Estadual Gestora do Programa Emergencial de Frentes Produtivas; iv) as Coordenações Regionais, com a finalidade de coordenar os programas específicos dos municípios integrantes de cada região administrativa; v) as Comissões Municipais, com a função de cadastrar os trabalhadores, elaborar o plano de obras e serviços de acordo com as demandas locais, encaminhar planos de trabalho à Comissão Estadual e fiscalizar e avaliar a execução do Programa nos municípios; e vi) as Gerências Municipais, com a função de representar o governo estadual junto às Comissões Municipais. Essa é uma estrutura que pode ser mantida na execução das ações de emergência. O que deve ser considerado, no entanto, nessa estrutura, é a adoção de uma partição regional das atividades na qual venha a ser instituída uma Comissão Regional do Seridó, que englobaria as três Zonas Homogêneas 157 (Currais Novos, Caicó e Serras Centrais), com a função específica de coordenar os programas municipais dos 28 municípios da região. Sua composição seria estabelecida a partir da CAP. 5.4.2 Cultura, Lazer e Turismo a. Situação Atual O Seridó constitui uma região peculiar no Estado do Rio Grande do Norte, com uma identidade regional pronunciada, que pode ser expressa a partir de quatro principais instâncias: religiosa, política, socioeconomica e educacional. O território do Seridó norte-rio-grandense é fortemente marcado pela religião católica, embora outros credos tenham vindo a essa se juntar posteriormente. A interpretação religiosa colaborou para a construção da identidade da região, na perspectiva da fé, mediante uma explicação mítica do aparecimento da povoação de Caicó. Conta a narrativa que um vaqueiro acossado por um touro braviopossuído por Tupã – rogou a Sant’Ana (considerada protetora dos pastores) proteção do ataque do animal. Tendo sido atendido, o vaqueiro mandou construir uma capela dedicada à santa de sua devoção. Nas imediações dessa capela deu-se início à povoação de Caicó. Até hoje o sentimento de religiosidade do povo do Seridó se expressa nos festejos e ritos de homenagem a Sant’Ana, que ocorrem ao longo de todo o mês de julho, em festas de padroeira com pronunciado lado profano, principalmente nas cidades de Caicó e Currais Novos, quando essas cidades atraem uma numerosa população flutuante, constituindo uma espécie de “turismo religioso”. Aos atos de fé juntam-se inúmeras atividades responsáveis pela dinamização da atividade econômica, tais como: bares, clubes, feiras de artesanato e comidas típicas, turismo, coletivas de artistas plásticos e lançamento de livros, entre outros. Uma única festa de romaria foi identificada no Seridó, a Semana Santa do Monte do Galo (Carnaúba dos Dantas). A população local encena o martírio de Jesus, atraindo grande contingente de turistas e romeiros para aquela cidade. 31 A instância política faz parte de um passado áureo de líderes expressivos em âmbito estadual, regional e mesmo nacional. Esse tempo político expressou-se com mais ênfase até o fim da República Velha (Amaro Cavalcanti, José Augusto de Medeiros e Juvenal Lamartine) e no Estado Novo, com Dinarte Mariz. Contudo, a decadência econômica foi acompanhada de uma perda de representatividade política da região em termos de suas lideranças. Quanto à instância socioeconomica, esta expressou-se principalmente de duas maneiras: enquanto elemento simbólico a partir da cotonicultura e da produção alimentícia artesanal do Seridó: queijos, carnes-de-sol, manteiga, entre outros. A cotonicultura teve forte repercussão na cidade, com a instalação das usinas e a acentuada urbanização. Apesar da drástica decadência da cotonicultura, a mesma permanece de forma simbólica no imaginário do homem do Seridó. Já a pecuária não teve o mesmo impacto na representação do homem seridoense, apesar do aspecto pioneiro do criatório na origem, fundação e povoamento do Seridó. Por último a instância educacional, profundamente ancorada na educação como valor básico a ser reconhecido e valorizado, principalmente no que se refere à educação formal e importância 31 O sentimento de identidade seridoense talvez seja mais forte no Seridó histórico, que é aquele reconhecido nos trabalhos de planejamento do Estado como Zona Homogênea de Caicó e Zona Homogênea de Currais Novos. Este sentimento não é tão forte na Zona Homogênea das Serras Centrais. 158 atribuída à formação intelectual. Isso se reflete em termos institucionais pela forte presença de escolas de qualidade, tais como a Escola de Latim, criada em Caicó, na primeira metade do século XIX. A elite do Seridó foi profundamente marcada pela formação em Direito, efetuada principalmente na Faculdade de Direito do Recife. A articulação da instância religiosa e educacional se mostra nos estabelecimentos de ensino, como o Educandário Santa Terezinha, criado em 1925, sob a responsabilidade da Congregação das Filhas do Amor Divino, e o Ginásio Diocesano de Caicó, fundado em 1942. Outro exemplo é a Faculdade de Filosofia e Teologia Cardeal Dom Eugênio Araújo Sales, com cursos universitários, a partir de 1999. A ação pedagógica da Igreja Católica ocorre também por meio da Emissora de Educação Rural de Caicó, que difundiu, pelo rádio, a evangelização católica no meio rural, bem como programas de educação à distância, além de preservação e dinamização de práticas culturais regionais, a exemplo do programa “Violeiros do Seridó”, que é veiculado desde 1963. São muitas e diversificadas as práticas culturais seridoenses. Os bens culturais para o consumo turístico compreendem: • sociedade; acervo a monumentos históricos e o registro de legados que expressam os valores da • os museus e as galerias de arte, que reúnem as várias modalidades de expressão artística, um verdadeiro arquivo das etapas de desenvolvimento de culturas; • as manifestações populares de caráter religioso e profano; o folclore, que retrata, numa reconstituição cênica de ambiência histórica, as etnias formadoras de populações; e • a cultura popular, que mais efetivamente evidencia o presente de cada área, tornando-se por vezes, geradora de fluxos turísticos específicos e caracterizadora de regiões dentro de um único país. (Beni, 1988: 86.) O Seridó apresenta quase todos esses bens culturais. Merece destaque o artesanato desenvolvido na região. Ela é reconhecida pelos seus bordados (principalmente Timbaúba dos Batistas e Caicó), pelas cerâmicas ornamentais e utilitárias, bem como pelas artes plásticas em geral. Têm significativo valor cultural as pinturas parietais, chamadas pinturas rupestres. De grande importância arqueológica, essas pinturas encontram-se em paredes pétreas do sertão, nem sempre de fácil acesso. Atualmente, a ONG Fundação Seridó vem desenvolvendo um trabalho de preservação desse acervo, em parceria com o Estado e a Universidade Federal de Pernambuco–UFPE. A região foi reconhecida pela excelência das suas partituras para bandas de música, por meio dos compositores regionais, tais como Tonheca Dantas e Felinto Lúcio. Provêm das bandas municipais grande parte dos músicos que ingressam em conjuntos de bailes. É expressivo o papel exercido pela Escola e Banda das Aldeias SOS de Caicó – ONG vinculada à proteção de menores abandonados. Essa organização conta com a articulação e o apoio de órgãos nacionais e internacionais. Outros destaques na área da música são os grupos vocais, a exemplo do “Sertão Encanto”, que partiu da iniciativa de um professor do Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–CERES, Campus de Caicó e de pessoas da comunidade. Destina-se à formação de futuros músicos e ao aperfeiçoamento dos que se encontram em atuação. Tanto as bandas de música quanto os grupos vocais 159 incorporam o ensino de teoria musical. Expoentes individuais da música encontram-se também em poetas-violeiros e cantores e compositores, alguns com repercussão regional, outros de projeção local. As danças podem ser observadas a partir de duas principais categorias: étnicas e comemorativas. Dentre as étnicas destacam-se os Negros do Rosário de Caicó e da Comunidade de Boa Vista (Parelhas). Esses grupos são uma reminiscência das comunidades de negros escravos do Seridó. Originam-se das Irmandades Católicas que celebravam a Virgem do Rosário e que reuniam apenas pessoas de cor. Por ocasião das comemorações litúrgicas dançam em louvor de Nossa Senhora do Rosário. Quanto às danças comemorativas, o destaque vai para as quadrilhas de São João. Merecem destaque especial as quadrilhas de Cruzeta, Acari e Caicó. Embora recentes, os grupos de quadrilhas do Seridó obtiveram tão bom desempenho e qualidade de organização e apresentação que se tornaram competitivos em festivais de quadrilha no Rio Grande do Norte e mesmo de outros estados. Originaram-se nas comunidades e bairros, e hoje contam com o apoio de grupos políticos locais. As festividades de rua foram revitalizadas, destacando-se do cenário carnavalesco seridoense os blocos de lixo. Esses blocos, em especial o Ala Ursa Poço de Santana, recuperaram e democratizaram o carnaval de rua, na medida em que incorporam todos os foliões indistintamente. As artes cênicas têm sido exercidas e cultivadas, principalmente no meio estudantil, nos grupos de teatro amador. Elas permanecem na agenda cultural regional, embora praticamente sem apoio institucional adequado ao seu desenvolvimento e expansão. As práticas culturais mencionadas constituem elementos de forte coesão social, visto que estão intrinsecamente ligadas aos traços identitários seridoenses e expressam a forte solidariedade social existente na Região. Merece especial destaque o “Movimento Mãos à Arte”, que mobilizou artistas e consumidores da cultura do Seridó, para reivindicar um espaço cultural para a arte local. O Centro Cultural situado em Caicó encontra-se em construção e contou com recursos das privatizações estaduais. Tratando-se de uma região rica em expressões culturais diversas, e tendo em vista a grave crise econômica que assola a região, o incentivo ao turismo cultural parece ser uma alternativa viável e sustentável de desenvolvimento. Embora o turismo venha se constituindo no mundo todo como uma alternativa de desenvolvimento, para localidades que apresentam potencial de exploração turística, ainda são recentes no Brasil as ações voltadas para dinamização do turismo. No âmbito da Política Nacional de Turismo – Diretrizes e Programas (1996-99), destaca-se o Programa Nacional de Municipalização do Turismo-PNMT (Portaria nº 130, de 30 de março de 1994), do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (atualmente sob a supervisão do Ministério do Esporte e Turismo), cuja execução está entregue à Embratur. O PNMT é norteado por cinco princípios: descentralização, sustentabilidade, parcerias, mobilização e capacitação. A descentralização visa dar condições para que o poder público municipal, contando com participação popular, possa assumir junto com instituições privadas, a definição e gestão da política de turismo em bases sustentáveis. A sustentabilidade se dá mediante o estabelecimento de prioridades pela comunidade, considerando os aspectos culturais, políticos, econômicos, sociais e ambientais. As parcerias entre órgãos públicos, privados e organizações da sociedade devem permitir a mobilização de recursos técnicos, financeiros e econômicos em prol do turismo sustentável. A mobilização e sensibilização da comunidade para participar e decidir é uma vertente educacional do programa, capaz de garantir a relevância das prioridades estabelecidas. Por fim, a capacitação tem por objetivo tanto a gestão em bases participativas como a prestação dos serviços turísticos de melhor qualidade. 160 O Rio Grande do Norte deu início ao PNMT em 1997, tendo, para isso, formado o Comitê Estadual do Programa. Na Região do Seridó, sete municípios integram o referido Programa: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, Florânia, Jardim do Seridó e Santana do Seridó. Esses municípios estão participando das oficinas de trabalho desde 1997. O PNMT se desenvolve em fases sucessivas. A primeira – de sensibilização – visa conscientizar e sensibilizar os agentes multiplicadores estaduais e monitores municipais, para posterior atuação no Estado ou município de origem. A segunda fase – de capacitação e qualificação dos agentes multiplicadores nacionais, estaduais e dos monitores municipais – deve discutir a formação do Conselho Municipal de Turismo e o Fundo Nacional de Turismo. A terceira visa iniciar a elaboração do Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável do Turismo. As fases subseqüentes buscam incorporar os representantes dos segmentos da comunidade envolvidos com o turismo, o estabelecimento de parcerias e responsabilidades e o planejamento do Programa, nas três esferas de governo, além da promoção e divulgação das ações operacionais. O PNMT pode constituir um elemento importante, tanto para nortear as atividades turísticas dos municípios, como para aperfeiçoar e qualificar recursos humanos, capacitando-os para atuar nesse segmento econômico. No âmbito estadual, o Rio Grande do Norte já dispõe de um instrumento norteador para o turismo, trata-se do Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico do Rio Grande do Norte (Secretaria de Estado do Turismo, s/d), que destaca como objetivos específicos: • promover, divulgar e consolidar a área de estudo como um destino turístico diferenciado e competitivo no mercado turístico nacional e internacional; • valorizar os recursos com características originais existentes na área de estudo; • definir propostas adequadas ao perfil da demanda turística potencial dos municípios, criando as condições necessárias para viabilizá-las e mantê-las; • minimizar prováveis impactos da atividade turística sobre o meio ambiente, propondo soluções que conservem a qualidade ambiental e paisagística da região de interesse; • promover na área de estudo o desenvolvimento de modalidades turísticas condizentes com a vocação natural de seus recursos; • identificar e indicar determinadas localidades para atuarem como assentamentos turísticos, mediante a observação de critérios preestabelecidos; e • turístico. qualificar a população local para atuar como mão-de-obra empreendedora do setor O PNMT atua junto a 42 municípios, que foram escolhidos como os de maior potencial turístico. A Região do Seridó contém 5 desses municípios, quais sejam: Caicó, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Florânia. O referido documento destacou respectivamente o recurso principal e a modalidade turística de cada município com potencial turístico. No que se refere ao recurso principal, 161 a Região do Seridó dispõe de sítios arqueológicos e paleontológicos, afloramentos rochosos de granito, culinária e artesanato típicos do sertão e lagos. Quanto à modalidade turística, destacam-se na região o Turismo Cultural, o Ecoturismo e o Turismo Desportivo. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral, promover o desenvolvimento auto-sustentado do Seridó, mediante o fortalecimento integrado da cultura, do turismo e do lazer. Especificamente, pretende-se: • incentivar a cultura local e o turismo através da construção de espaços que permitam a realização de eventos ligados à cultura sertaneja (literatura, música, dança e teatro) e à prática de atividades desportivas; • reunir num mesmo espaço físico atividades complementares, de forma a constituir atrativo para o turista e os habitantes da comunidade local e das áreas circunvizinhas, isto é, prática de atividades culturais, artísticas e esportivas e comercialização de “produtos da terra” (artesanato, alimentação típica); • promover a criação direta e indireta de novos postos de trabalho vinculados à produção e comercialização do artesanato, das diversas iguarias alimentícias e dos vários setores envolvidos com a administração, limpeza e manutenção do espaço cultural; • criar postos de trabalho em horários não regulares (noite e finais de semana), de forma a dar maior flexibilidade à população para as atividades de recreação e turismo; • fortalecer as práticas culturais existentes, mediante o incentivo à realização de intercâmbio e cursos de formação e aperfeiçoamento entre os grupos locais (de dança, canto, teatro) e as instituições de ensino especializadas nessas atividades, como a Escola de Música, Departamento de artes da Ufrn, de forma a estimular o desenvolvimento de atividades culturais, principalmente junto às crianças; e • promover medidas visando o desenvolvimento turístico de municípios identificados como potencialmente receptores de fluxos turísticos, através de elaboração de folders, organização de sinalização, para facilitar o acesso aos atrativos turísticos, instalação de quiosques de informações sobre os bens turísticos, e formas de entretenimento possíveis, tais como passeios organizados, guias, etc. c. Diretrizes As diretrizes deste Programa contemplam as seguintes orientações: • para que o Centro Cultural desenvolva o seu papel de catalisador da cultural regional será necessário promover o envolvimento articulado de organizações governamentais das três esferas de governo e de organizações não-governamentais, com uma precisa divisão de trabalho, para não haver desperdício de recursos humanos, financeiros e organizacionais; 162 • será relevante a constituição de um Comitê composto pelas diferentes expressões culturais da comunidade local (música, dança, teatro, festas, artesanato, culinária), juntamente com os poderes públicos e privados, de maneira a discutir e definir a utilização e ocupação do Centro Cultural, horários, formas de funcionamento e gerenciamento, especificação da programação e dos eventos; • os representantes dos órgãos vinculados ao Centro Cultural deverão articular-se com os monitores e gestores que participaram das oficinas de treinamento e capacitação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo-PNMT, para obter apoio constante nas discussões sobre a organização e funcionamento do Centro Cultural; • será imprescindível obter apoio das prefeituras municipais, em termos financeiro e logístico, para incentivar intercâmbios e parcerias entre estabelecimentos de ensino, voltados para a formação e aperfeiçoamento artístico, e democratizar o acesso ao mais amplo leque de expressões e organizações da cultura local; e • será fundamental promover parcerias entre órgãos públicos, privados e organizações não-governamentais, para prover instalações e equipamentos turísticos, organizar, promover e divulgar eventos que possam canalizar um fluxo turístico para os municípios da região, articulando turismo cultural e ecoturismo. d. Linhas de Ação A execução deste Programa será pautada pelas seguintes linhas de ação: • identificação, quantificação e qualificação dos diferentes grupos que expressam as diversas modalidades artísticas do Seridó, para conhecer as prioridades quanto à ocupação do Centro Cultural e a demanda específica desses grupos por capacitação e treinamento apropriados às suas necessidades e aspirações; • sensibilização e motivação dos empresários locais sobre os investimentos em cultura, como forma de marketing, patrocinando a elaboração de folders e a organização de eventos, para incentivo às diversas expressões culturais do Seridó; e • estabelecer parcerias com o órgão responsável pelo fomento ao turismo, no Estado, para produzir uma agenda de eventos a ser desenvolvida ao longo do ano, tais como: Festival Culinário (que poderá ocorrer simultaneamente com a exposição e degustação de produtos regionais); Festival Regional de Teatro Amador, Festival de Dança, Feiras de Arte, entre outros que poderão ser planejados, segundo prioridades expressas pela comunidade. e. Metas O Programa de Cultura, Lazer e Turismo do Seridó tem como metas principais: • implantar dois Centros Culturais, um em Currais Novos e outro em Acari, para o exercício das atividades culturais, econômicas e de entretenimento no Seridó, até 2.004, e acompanhar a instalação e funcionamento do Centro Cultural atualmente em construção em Caicó; e 163 • fortalecer as expressões culturais locais por meio de cursos de aperfeiçoamento. Inicialmente será necessário identificar as demandas mediante levantamento dos grupos existentes nas principais modalidades artísticas e culturais, com suas necessidades especificas, para possibilitar uma melhor identificação das metas, posteriormente. f. Instrumentos O Programa mobilizará instrumentos como os seguintes: • apoio financeiro e técnico do governo federal, por meio do PNMT, da Ufrn, via Departamento de Artes e Escola de Música e dos Campi de Caicó e de Currais Novos; • incentivos financeiros do governo estadual, para a instalação dos empreendimentos; • apoios dos governos municipais e das Associações de Municípios, mediante articulação, em apoio à dinamização da cultura, lazer e turismo e da própria atividade econômica dos municípios da região; • organizações culturais presentes no município, via articulações para a obtenção de patrocínios; e • lideranças econômicas e políticas que possam apoiar e patrocinar parte das obras. g. Recursos Financeiros e Fontes O Programa mobilizará recursos no montante de, aproximadamente, R$ 1.350.000,00, equivalentes a US$ 750,000.00, para os dois centros culturais, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos da União (20%), do governo do Estado (50%) e do setor privado (30%). Tomou-se por parâmetro o custo da obra realizada em Caicó, orçada em R$ 1.348.128,33 (financiada com recursos da privatização do governo do Estado). A proposta refere-se a empreendimentos de menor porte. O financiamento das obras pode ser feito com o apoio do Banco do Nordeste e os terrenos podem ser doados pelo poder público ou por grupos privados. h. Gestão Pensa-se na criação de uma Comissão Regional, voltada para a dinamização da cultura e desenvolvimento do turismo, articulando as várias instâncias que com esse propósito atuam no Seridó. Essa Comissão deve trabalhar em estreita ligação com o Conselho do PNMT, para viabilizar ações conjuntas (esforços para a obtenção de financiamento para os empreendimentos, estabelecimento de intercâmbio para a formação e capacitação das expressões culturais e artísticas presentes no Seridó). A Comissão Regional deve estabelecer parcerias com instituições privadas, governamentais e não-governamentais, promovendo a realização de eventos com patrocínio das mais diversas entidades da região ou de outras partes do Estado. 164 5.4.3 Apoio à Saúde 32 a. Situação Atual As condições de saúde da população do Seridó, a exemplo do que ocorre no Rio Grande do Norte, ainda apresentam sérias deficiências. Os baixos rendimentos da população ocupada, associados às precárias condições de vida (habitações insalubres, abastecimento d’água inadequado, ausência de saneamento básico, alimentação insuficiente, desconhecimento de noções elementares de higiene, entre outros aspectos), fazem do Seridó uma região que inspira cuidados. Dois principais indicadores podem ilustrar esse fato: o de esperança de vida ao nascer (indicador de longevidade) e a taxa de mortalidade infantil. Quanto ao indicador de esperança de vida ao nascer, os dados de 1991mostram uma situação ligeiramente superior à média do Estado do Rio Grande do Norte. Enquanto a esperança de vida ao nascer para o Seridó era de 61,62 anos, esse mesmo indicador para o Estado alcançava 60,58 anos. Trata-se, assim, de percentuais inferiores aos constatados para o Brasil, que eram, então, de 65,37 anos. As Zonas Homogêneas da região apresentam situação diferenciada. As Zonas de Caicó e de Currais Novos apresentam esperança de vida de 63,58 anos e 63,06 anos, respectivamente, enquanto a das Serras Centrais o indicador era de apenas 57,42 anos. As taxas de mortalidade infantil são elevadas tanto na região quanto no Rio Grande do Norte. O Seridó apresentava uma média elevada de mortalidade infantil – de 86,43 por 1.000 crianças nascidas vivas – em 1991. No Estado, a situação ainda é mais grave, com 90,51 por 1.000 crianças nascidas vivas. No Brasil, essa taxa era de 49,49 por mil crianças nascidas vivas. As Zonas Homogêneas apresentam situação diversa no âmbito da região. A Zona Homogênea de Caicó apresenta a menor taxa, que é de 69,83 crianças por 1.000 nascidas vivas. A de Currais Novos mostra-se mais elevada, com média equivalente a 73,92. O caso das Serras Centrais é o mais grave, visto que a taxa de mortalidade infantil era de 116,64 crianças para cada 1.000 nascidas vivas. Durante as Reuniões Municipais realizadas, a população seridoense indicou como principais problemas a serem enfrentados: • déficit no atendimento da população: instalações físicas insuficientes; • insuficiência de equipamentos, de pessoal especializado e de médicos residentes; • necessidade de políticas preventivas, de vigilância sanitária e de campanhas de saúde; • ausência ou deficiência de transportes e ambulâncias; • necessidade de apoio aos agentes de saúde e regularização de sua situação funcional; • farmácia básica; e • atuação deficiente das instituições relacionadas com a saúde. 32 A elaboração desse Programa baseou-se em informações da Internet do site do Ministério da Saúde (http://www.saúde.gov.br/programas/pacs/psf.htm) . 165 O combate a esses problemas exige um amplo Programa de atenção à Saúde, integrado por vários projetos. O Ministério da Saúde vem desenvolvendo diversas linhas de ação no sentido de promover melhores condições de vida para a população, e deve participar ativamente do processo, com vistas ao alcance do que vem sendo designado por “municípios saudáveis”. Segundo aquele Ministério, “um município começa a ser saudável quando suas organizações locais e seus cidadãos adquirem o compromisso e iniciam, em parceria com o poder público, o processo de melhorar continuamente a qualidade de vida de seus habitantes. Neste sentido esse compromisso expressa-se através de políticas públicas saudáveis que favorecem o desenvolvimento local integrado e sustentável, a criação de ambientes e entornos saudáveis; a promoção de estilos de vida saudáveis, e a reorientação de sistemas e serviços públicos.” Tendo em vista os avanços alcançados pela municipalização do setor, que já dispõe de diversos repasses de recursos, sob a sistemática de transferência fundo a fundo, ou seja, repasse de verbas do Fundo Federal de Saúde para os fundos municipais de saúde, foram selecionados programas e projetos já existentes no escopo de financiamento da saúde no Brasil, que, uma vez dirigidos para os municípios carentes, integrados por ações complementares, podem contribuir positivamente para melhorar o quadro de atendimento da saúde nos municípios da Região do Seridó. Dessa maneira, serão concedidas prioridades a iniciativas como as expressas pelos Projetos a seguir especificados: • Projeto Saúde da Família–PSF; • Projeto Pólo de Capacitação de Recursos Humanos para a Saúde da Família; e • Projeto Consórcio Intermunicipal de Saúde. 5.4.3.1 a. Projeto Saúde da Família Situação Atual O primeiro projeto selecionado para integrar as ações voltadas para a saúde da Região do Seridó é o Programa Saúde da Família–PSF. Iniciado em janeiro de 1994, esse Programa é integrado por Unidades de Saúde da Família, isto é, por uma equipe multiprofissional que se responsabiliza por uma dada parcela da população, junto à qual atua para prevenção, tratamento e reabilitação. Como essas equipes se deslocam para visitas às famílias nas habitações onde as mesmas residem, alcançando áreas territoriais previamente definidas, podem apreender com mais exatidão as necessidades de intervenção, no contexto do binômio saúde/doença. A equipe de saúde da família é geralmente integrada por profissionais de diversos níveis: um médico (clínico geral), um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e cerca de quatro a seis agentes comunitários de saúde–ACS. Cada equipe pode responsabilizar-se por um contingente populacional de 2.500 a 4.500 pessoas, no máximo. É de responsabilidade das Unidades de Saúde da Família: 166 • a realização do cadastramento das famílias sob sua responsabilidade e a elaboração do diagnóstico, contemplando aspectos sociais, demográficos e epidemiológicos; • a identificação e caracterização dos principais problemas de saúde, incluindo situações de risco; as • a elaboração de um plano local, elaborado com a participação popular, considerando os processos de saúde/doença; • a assistência integral à população adscrita, seja na Unidade de Saúde da Família, na comunidade, no domicílio ou nos serviços de referência ambulatorial e hospitalar; e • desenvolvimento de ações de caráter educativo para o enfrentamento dos atuais problemas de saúde e prevenção de problemas futuros. No Brasil, o Programa Saúde da Família tem se expandido consideravelmente, desde o início de sua execução, em 1994. Começou atendendo a 55 municípios e contando com 320 equipes. Em 1998, foram atendidos 1.117 municípios, que contaram com 3.147 agentes. No ano 2.000 estarão sendo atendidos em todo o País 1.933 municípios. O número de Equipes de Saúde da Família–ESF já é de 5.139. No Rio Grande do Norte, o PSF foi iniciado de forma lenta. Neste ano de 2000 ainda está restrito a 50 municípios, contando com apenas 92 equipes de saúde da família. Na Região do Seridó, apenas 10 municípios integravam o referido programa, em janeiro de 2000, sendo mobilizadas 13 Equipes de Saúde da Família. Há dificuldades para a instalação dessas equipes, em razão da necessidade da mobilização de um médico, além de enfermeiros, assistentes de enfermagem e dos agentes comunitários. Às vezes, torna-se necessário a oferta de salários relativamente altos para viabilizar a ocupação de algumas vagas de profissionais mais especializados da área médica no interior. Uma precondição para a criação de Unidades de Saúde da Família é a presença nos municípios de agentes comunitários de saúde. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde–PACS teve início em junho de 1991. Tais agentes são moradores do local onde atuam e, a partir daí, estabelecem vínculo de responsabilidade para com a população, mediante o atendimento e acompanhamento regular e sistemático desta, por meio de visitas domiciliares, prestando orientação e acompanhamento, no que diz respeito às ações relativas à saúde e, inclusive, encaminhamento a serviços de referência, quando necessário. A atuação dos agentes é ampla e variável, segundo as necessidades das comunidades, incluindo atividades como as seguintes: combate a endemias, assistência a idosos, e saneamento básico, entre outros. Alguns requisitos são exigidos dos agentes comunitários de saúde, tais como: i) ter idade mínima de 18 anos; ii) saber ler e escrever; iii) residir na comunidade há dois anos, no mínimo; e iv) dispor de tempo integral para o exercício de suas atividades. São capacitados e treinados no próprio município por um enfermeiro, que exerce o papel de instrutor-supervisor, acompanhando e orientando o trabalho dos agentes. A capacitação desses agentes conta ainda com a participação de outros profissionais de saúde e com o apoio de publicações e vídeos elaborados com essas específicas finalidades. 167 Todos os 27 estados federados dispõem do PACS, do qual participam as três esferas de governo: municipal, estadual e federal. Presentes em todos os 164 municípios do Estado, o Rio Grande do Norte contava em janeiro de 2000 com 4.030 agentes comunitários de saúde. O Seridó dispunha de 740 agentes comunitários de saúde, distribuídos em todos os vinte oito municípios da região (o que dá uma média de atendimento de 397,5 pessoas por agente, superior ao padrão exigido pelo Ministério da Saúde, que é de 450 a 750 pessoas por agente). Isso facilita a instalação das Unidades de Saúde da Família, visto que esse último programa constitui uma transição do Programa de Agentes Comunitários de Saúde. b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral, proporcionar melhores condições de atendimento médico-ambulatorial e hospitalar à população do Seridó visando estimular cuidados preventivos de atenção à saúde e facilitar práticas curativas ágeis e eficazes, o combate às doenças, de forma a equacionar o déficit de atendimento daquela população. Especificamente pretende-se: • instalar Equipes de Saúde da Família de forma a atender às populações das áreas urbanas e rurais dos municípios do Seridó com vistas a melhorar as suas condições de saúde; desenvolver ações de prevenção, tratamento e reabilitação de agravos; • reduzir o déficit de médicos residentes e demais pessoal especializado para atendimento da população do Seridó; e • formular e implantar políticas preventivas, de vigilância sanitária e campanhas de saúde para melhorar as condições de salubridade e reduzir as enfermidades nos municípios do Seridó. c. Diretrizes Entre as diretrizes mais relevantes do Projeto devem ser ressaltadas as seguintes: • a unidade de saúde da família dirige-se prioritariamente para a atenção básica e deve estar vinculada à rede de serviços de referência e contra-referência, permitindo o encaminhamento para os níveis de atendimento do sistema de saúde de maior complexidade, quando se fizer necessário, assegurando assim atenção integral às pessoas e respectivas famílias; • cada unidade deve ter uma área territorial de atuação delimitada, assim como uma clientela adscrita a essa área de abrangência. É de responsabilidade da unidade de saúde da família o cadastramento e acompanhamento da população sob sua área de atuação; • a formação da equipe de saúde da família deve ser integrada por no mínimo um médico (clínico geral) ou médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e entre quatro a seis agentes comunitários de saúde. A proporção média de atendimento dever situar-se na faixa entre 450 e 750 pessoas por agente. Outros membros podem se integrar à equipe, cujo número de membros pode ser redefinido, em função das exigências e das possibilidades locais; • cada unidade de saúde da família pode atuar com uma ou mais equipes de saúde da família, dependendo do número de pessoas residentes no território adscrito; e 168 • embora o projeto deva contemplar todas as Zonas Homogêneas do Seridó, atenção especial deve ser dada a Zona Homogênea das Serras Centrais, por apresentar os indicadores mais desfavoráveis e os índices mais elevados de mortalidade infantil, bem como a menor esperança de vida, em termos de idade média. d. Linhas de Ação As linhas de ação necessárias para a efetiva concretização deste Projeto devem considerar entre outros destaques, principalmente aqueles relacionados à: i) fase preparatória e (ii) fase de efetiva instalação. Relativamente à fase preparatória, é da maior relevância considerar, da parte dos municípios, como condição básica para a constituição das equipas de saúde da família: • remessa de proposta ao Conselho Municipal de Saúde, para apreciação e aprovação; • escolha de áreas prioritárias para a instalação (bairros e distritos); • apresentação e discussão da proposta com a população a ser beneficiada; • apresentação e discussão da proposta com setores do governo e da sociedade local; • promoção de condições de atendimento das equipes de saúde da família: equipamentos e instalações físicas; • complexas; • estabelecimento de fluxo de referência e contra-referência de apoio de unidades mais estabelecimento de condições de contratação dos integrantes das equipes; • encaminhamento de solicitação formal de adesão ao programa à Secretaria Estadual de Saúde, para viabilizar, junto à Comissão Intergestora Bipartite, a alocação de recursos federais aos municípios, a título de incentivo; e • capacitação dos profissionais que compõem a equipe de saúde da família, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde, para efetuar o treinamento introdutório e de educação permanente. Com relação à fase de instalação: • realização do cadastramento das famílias; • instalação do sistema de informação–SIAB; • elaboração do diagnóstico da comunidade; • elaboração da programação de trabalho, em conjunto com a comunidade e com base no diagnóstico; e 169 • prestação do serviços pelas equipes aos indivíduos, às famílias e à comunidade, realizados no domicílio, na comunidade, na unidade de saúde e no acompanhamento aos serviços de referência. e. Metas O Projeto tem como metas principais: • instalar 74 novas equipes de saúde da família (sendo 22 na Zona Homogênea de Currais Novos, 29 na Zona Homogênea de Caicó e 23 na Zona Homogênea das Serras Centrais), de forma a totalizar 85 Equipes de Saúde da Família, considerando as 11 equipes existente atualmente no Seridó, para atender toda a população da região, residente em áreas urbanas e rurais, até o ano 2004; • reduzir o índice de mortalidade infantil da Região do Seridó de uma média de 86,43 crianças por mil nascidas vivas para 49,49, que é a média brasileira, até o ano de 2004; e • aumentar a esperança de vida ao nascer (índice de longevidade), dos atuais 61,62 anos na Região do Seridó para a média brasileira de 65,37 anos, até o ano 2004. f. Instrumentos O Projeto Saúde da Família implica mudança nas práticas tradicionais de assistência, que serão substituídas por práticas inovadoras, contemplando a atenção básica à saúde, além de possibilitar a criação de vínculo de responsabilidade entre equipe médica e população. Proporciona cuidados de medicina preventiva e curativa. É passível de criar hábitos saudáveis de higiene e evitar contaminações, podendo contribuir para educar a população, ajudando a prevenir doenças. Apresenta uma grande abrangência territorial, podendo cobrir a população residente tanto em áreas urbanas como rurais. Muitas são as instituições e instrumentos envolvidos na consecução do Projeto: 1. o governo federal, por meio do Ministério da Saúde e do Programa Saúde da Família, o qual se encontra em plena expansão em todo o País; 2. a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mediante a realização de cursos de capacitação e treinamento para os profissionais de saúde; 3. o governo estadual, por intermédio da Secretaria de Saúde Pública e da Gerência Estadual do Programa de Agentes Comunitários-PACS e do Programa Saúde da Família-PSF; 4. o governo estadual, por meio da Comissão Intergestora Bipartite, que deve acatar e aprovar as propostas de adesão ao PSF. 5. o IV ETAM (Escritório Técnico de Apoio Municipal), que deve contribuir para a articulação do poder público municipal com o poder público estadual; 6. as duas Associações dos Municípios do Seridó (Associação dos Municípios do Seridó– AMS e Associação dos Municípios da Microrregião do Seridó Ocidental–AMSO), que podem mobilizar o esforço conjunto dos prefeitos associados, para facilitar a aquisição de equipamentos e a 170 construção de instalações, principalmente com a viabilização dos dois Consórcios Intermunicipais de Saúde; 7. o governo municipal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde e dos órgãos colegiados do setor, tais como o Conselho Municipal de Saúde; 8. o governo municipal, por intermédio da Secretaria de Educação e diferentes escolas da rede pública e privada, pode favorecer o atendimento médico-odontológico dos seus alunos e a introdução de práticas educativas de promoção à saúde; 9. os agentes comunitários de saúde, que já realizam um trabalho junto à população, podendo contribuir para indicar as necessidades mais prementes, considerando as especificidades e peculiaridades locais; 10. entidades religiosas, a exemplo da Pastoral da Criança, que já vem desenvolvendo um trabalho de prevenção de doenças e acompanhamento junto a crianças, gestantes e idosos; e 11. a população, que, pela mobilização e organização, deve intensificar a interlocução com o poder público municipal, para participar ativamente de discussões em fóruns e outros espaços, de sorte a favorecer a resolução de seus problemas e contribuir para melhorar o atendimento. g. Recursos Financeiros e Fontes O custo total do Projeto é de R$ 8.287.900,0, equivalentes a US$ 4,599,400.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos do governo federal (100%). O valor unitário por equipe, transferido pelo governo federal aos municípios, é de R$ 2.333,33. 33 As 74 novas Equipes de Saúde da Família podem apresentam um custo de R$ 172.666,42 por mês, totalizando R$ 2.071.997,00 por ano. Os custos podem exceder esse valor, se for considerada a remuneração de toda a equipe, devendo, nesse caso, ser complementado pelos governos municipais. Como o Programa de Agentes Comunitários já está instalado em todo o Estado, com o repasse de verbas assegurado (R$ 183,33 por agente), acredita-se ser possível pleitear a expansão do Projeto em bases otimistas. O Piso de Assistência Básico–PAB (valor transferido pelo governo federal para o custeio de procedimentos de assistência básica por habitante ano) é atualmente igual a R$ 10,00 por hab/ano, acrescido de um percentual variável segundo a cobertura da população pelos Programas Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde. O PAB poderá, assim, adicionar recursos ao Projeto. h. Gestão Por tratar-se de Programa em andamento no Estado, contando-se com modelo de gestão predefinido, recomenda-se atenção dos órgãos de saúde, para que prestem efetiva contribuição ao seu aperfeiçoamento. Essa colaboração é importante, principalmente no que se refere ao envolvimento da população, no estabelecimento de prioridades de atuação, capacitação e treinamento permanente dos profissionais de saúde, assim como a definição de fóruns de discussão para (re)orientar a ação das equipes e acompanhar e avaliar sistematicamente as atividades do Projeto. 33 Valor transferido por equipe em janeiro do ano 2.000. 171 5.4.3.2 a. Projeto Pólo de Capacitação de Recursos Humanos para a Saúde da Família Situação Atual Os Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente em Saúde da Família realizam a articulação entre instituições de ensino superior e Secretarias Estaduais de Saúde, promovendo a capacitação de recursos humanos que atuam em conjunto nas equipes de saúde da família, ou seja, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. No âmbito dos Pólos são ministrados cursos de especialização e atualização e favorecida a introdução de inovações curriculares nos cursos de Enfermagem e Medicina. É recente a implantação desses Pólos no País, datando os primeiros de 1996. Atualmente, os Pólos já perfazem 20 unidades, estando presentes em 15 unidades da federação: Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. O Rio Grande do Norte ainda não dispõe de Pólo de Capacitação, mas já tem um projeto intitulado Pólo de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da Família. A primeira versão desse Projeto foi encaminhada, inicialmente, em novembro de 1998, tendo sido revisado e atualizado, segundo recomendação da comissão avaliadora, e submetido à apreciação, em fevereiro de 2000. Embora aprovado, os recursos de cerca de R$ 300.000,00 ainda não foram liberados. Providências no sentido de agilizar a liberação da verba são consideradas pertinentes, principalmente se for buscado o incentivo ao Projeto de Equipes de Saúde da Família. b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral, promover a capacitação e a permanente atualização dos recursos humanos necessários aos desenvolvimento das ações voltadas para a saúde na região. Especificamente, pretende-se: • criar um Pólo de Capacitação de Recursos Humanos para o Programa Saúde da Família, de forma a viabilizar no Estado um centro para treinamento e capacitação permanente de recursos humanos voltados para a área da saúde; e • apoiar e fortalecer o Programa de Saúde da Família, proporcionando melhores condições de atuação dos profissionais de saúde. c. Diretrizes O Projeto será orientado pelas seguintes diretrizes: • será dada a necessária ênfase ao engajamento das Instituições de Ensino Superior e da Secretária de Saúde Pública, juntamente com as Secretarias Municipais de Saúde e os Conselhos Municipais de Saúde, para viabilizar, no mais curto espaço de tempo possível, a criação de um Pólo de Capacitação no Rio Grande do Norte; 172 • Projeto Saúde da Família exigirá o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas, como educação à distância, realização de estudos e pesquisas, além de cursos, oficinas, seminários, conferências e pesquisas, entre outras; e • será imprescindível mobilizar o apoio de instituições governamentais ou nãogovernamentais na promoção à saúde na região. d. Linhas de Ação O Projeto Pólo de Capacitação de Recursos Humanos para a Saúde da Família tem como linhas de ação principais: • articulação política, para viabilizar a criação do Pólo mediante a liberação dos recursos necessários à sua consecução; • Projeto; formação, capacitação e educação permanente dos profissionais de saúde necessários ao • articulação da Secretaria de Saúde Pública Estadual com as Secretarias Municipais de Saúde dos municípios do Seridó, Universidades e instituições de ensino superior com experiência na área médica; e • estabelecimento de parcerias interinstitucionais, para promover intercâmbio permanente de conhecimento e experiências, estimulando mudanças nos processos de formação. e. Metas O Projeto tem como metas principais: • incentivar a instalação de um Pólo de Capacitação no Estado do Rio Grande do Norte, até o final de 2001, como precondição para a concretização no mesmo sentido na Região do Seridó; 34 e • capacitar e promover o treinamento de todas as equipes de saúde da família existentes no Seridó, a serem instaladas até o ano de 2004. 35 e. Instrumentos O instrumento fundamental para a realização do Projeto é representado pelo Ministério da Saúde, por meio de equipe técnica da Secretaria de Assistência à Saúde, que é quem aprecia e aprova os projetos, a partir do seguinte conjunto de precondições: i) ter a proposta aprovada pela Comissão Intergestora Bipartite; ii) dispor de formação, capacitação e treinamento compatível com as exigências 34 O Projeto apoiará, no Estado, o treinamento de profissionais de saúde para o desempenho das mais diversas atividades e especializações no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS. Esse Pólo de Capacitação deverá promover o treinamento e a capacitação permanente de todas as equipes do Programa Saúde da Família que venham a ser instituídas no Estado. É recomendável que o Pólo seja instalado em Natal, em razão da proximidade com os órgãos mobilizados pelo empreendimento, em especial a Ufrn e a Secretária de Saúde Pública do Estado. 35 Essas equipes serão necessárias para atender a população da região, apoiando a instalação das 74 novas equipes de saúde, referidas, além das 11 já existentes no Seridó. 173 do Programa Saúde da Família; iii) dispor de instituições de nível superior, universidades com experiência em cursos voltados para ensino e prestação de serviços na área da saúde, Secretaria de Saúde do Estado e Secretarias Municipais de Saúde. Compreende, ademais, o envolvimento de instituições como as seguintes: i. Ufrn, por meio do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva–NESC36, envolvendo o Hospital Universitário Onofre Lopes, Departamento de Medicina Clínica, Departamento de Enfermagem, Departamento de Toco-Ginecologia, Departamento de Saúde Coletiva e Nutrição, Residência em Medicina Geral/Comunitária/Departamento de Infectologia, Departamento de Pediatria, Hospital de Pediatria, Projeto UNI/Natal/RN, Hospital Ana Bezerra e Unidade de Saúde Familiar e Comunitária; ii. Universidade Estadual do Rio Grande do Norte–Uern, por meio da Faculdade de Enfermagem de Mossoró, Secretaria de Estado da Saúde–SESAP, via Coordenadoria de Recursos Humanos, Centro de Formação de Pessoal, Coordenadoria de Promoção à Saúde, Gerência Estadual do Programa de Saúde da Família–PSF/PACS, Gerência Estadual do Projeto Reforsus e Coordenadoria de Planejamento e Controle do Sistema de Saúde; iii. Secretaria de Saúde do Município de Natal, Fundação Nacional de Saúde–FNS e apoio do Conselho de Secretários Municipais de Saúde–COSEMS-RN. Prevêem-se, ainda, articulações permanentes entre o Sistema de Saúde do Estado e dos Municípios e o Pólo de Capacitação. f. Recursos Financeiros e Fontes O Projeto mobilizará recursos no montante de R$ 300.000,00, equivalentes a US$ 166.700.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos do governo federal, mediante convênio. Novos convênios deverão ser celebrados para dar prosseguimento às atividades do Pólo. g. Gestão 37 A coordenação executiva do Pólo ficará a cargo do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva– Nesc/Ufrn e da Secretaria de Estado da Saúde–Sesap, mediante a designação de profissionais para exercerem a gerência executiva do Pólo. Esses profissionais devem apoiar-se em decisões tomadas no âmbito do Conselho Deliberativo do Pólo, a ser integrado pelas instituições parceiras. A gestão do Pólo deve ser realizada em conjunto pelas instituições parceiras, utilizando-se outras formas e mecanismos de acompanhamento das ações desenvolvidas, tendo em vista a demanda dos programas de saúde do Estado, especificamente os do Seridó, em relação ao Pólo e sua resposta efetiva a essa demanda, nas distintas especialidades. O acompanhamento e a avaliação das ações do 36 A instalação da sede física do Pólo está prevista no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva-Nesc/Ufrn, o qual deve reunir profissionais das instituições envolvidas. 37 Cf. Projeto Pólo de Capacitação , formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da Família do RN. Projeto revisado e atualizado da versão encaminhada em novembro de 1998, conforme recomendações da comissão avaliadora e realidade atual do Estado, Natal-RN, Fevereiro de 2.000, Sesap/Ufrn/Urrn/FNS/Cosems. 174 Pólo devem ser permanentes. Para isso, será necessário conceber instrumentos adequados, abrangendo estrutura, processos e resultados referentes à atuação do Pólo. 5.4.3.3 a. Consórcio Intermunicipal de Saúde Situação Atual A formação de consórcios tem possibilitado a gestão mais eficaz e eficiente de determinados serviços públicos de cunho social, principalmente no âmbito de um conjunto de pequenos e médios municípios, que, individualmente, não poderiam arcar com os custos dos empreendimentos, ou se o fizessem seria às expensas de outros investimentos, igualmente necessários e prioritários. No Brasil, a formação de consórcios intermunicipais é prática crescentemente adotada, mais especificamente no Sul e Sudeste do País, em vários setores de prestação de serviços públicos, especialmente no tocante a serviços de saúde. No Rio Grande do Norte, essa prática é recente, contando-se apenas três iniciativas na área da saúde. Duas delas situam-se na Região do Seridó. Uma já está consolidada e em funcionamento. Trata-se do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Seridó. A outra, já aprovada, refere-se ao Consórcio Intermunicipal de Saúde de Currais Novos, ainda não regulamentado e instalado. O Consórcio Intermunicipal de Saúde do Seridó é formado pela Associação dos Municípios do Seridó–AMS, integrada por dez municípios: Caicó, Ipueira, Jardim de Piranhas, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte, Timbaúba dos Batistas, Cruzeta e Jucurutu. Com sede no Município de Caicó, o referido Consórcio já se encontra em atuação, sendo responsável pela administração de um hospital em Caicó. O Consórcio Intermunicipal de Saúde de Currais Novos é vinculado à Associação dos Municípios da Microrregião do Seridó Ocidental–AMSO. Integram o referido Consórcio quinze municípios: Acari, Bodó, Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Equador, Florânia, Lagoa Nova, Jardim do Seridó, Parelhas, Ouro Branco, Santana do Seridó, Santana do Matos, São Vicente e Tenente Laurentino Cruz. Esse Consórcio já passou pelas Câmaras de Vereadores dos respectivos municípios, mas ainda não foi aprovada a autorização das prefeituras para débito em suas contas, precondição para dar início ao seu funcionamento. 38 No Projeto do Consórcio constam dois projetos a serem implementados: i) organização da oferta de consultas especializadas entre os municípios consorciados, nas áreas de psiquiatria, oftalmologia e cardiologia: (ii) garantia da oferta de exames especializados entre os municípios do consórcio nas áreas de raioX/ecocardiograma, ultrasom/tomografia, eletrocardiograma, eletroencefalograma e endoscopia. Três dos municípios que integram a Região do Seridó não estão vinculados às duas associações de Municípios do Seridó, nem fazem parte da lista de associados dos dois consórcios (um instalado e outro em formação). São eles: São Tomé, Campo Grande (ex-Augusto Severo) e Triunfo Potiguar. A adesão futura desses municípios aos Consórcios será oportuna, para viabilizar estratégias conjuntas de ação na área de saúde. 38 Segundo entrevista realizada em 13.01.2.000 com o Secretário de Saúde de Acari, Dr. José Fernandes Neto, que elaborou juntamente com o Sr. Valdenor Euclides de Araújo, Secretário Executivo da AMSO, o Projeto do referido Consórcio. 175 b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral prover melhores estruturas, equipamentos e serviços de saúde na Região do Seridó, sobretudo nas Zonas Homogêneas de Currais Novos e das Serras Centrais, cujo consórcio ainda não se encontra instalado. Especificamente, pretende-se: • implantar o Consórcio Intermunicipal de Currais Novos; e • fortalecer o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Seridó (com sede em Caicó), recentemente instalado. c. Diretrizes O Projeto está orientado pelas seguintes diretrizes: • os consórcios intermunicipais de saúde do Seridó 39 deverão contemplar serviços públicos federais descentralizados, serviços públicos estaduais descentralizados, serviços públicos municipais, pessoas jurídicas de direito privado, conveniados ou contratados e serviços ofertados pelos consórcios; • para que os serviços de saúde sejam prestados por intermédio de consórcios, será necessário promover maior conscientização dos executivos municipais e dos atores políticos dos municípios sobre as economias de escala, minimização de custos e maximização da prestação de serviços de média e alta complexidade; e • os consórcios deverão, em conjunto com os municípios associados, incorporar a participação da comunidade no planejamento integrado da saúde na sub-região, definindo a política de investimento e a política de recursos humanos, considerando as particularidades e necessidades locais. d. Linhas de Ação 40 Constituem linhas de ação desse Projeto: • aquisição e manutenção de insumos, materiais de consumo e equipamentos para as ações e serviços de saúde, segundo específicos critérios de prioridade; 41 39 Destinados a organizar o Sistema de Saúde no âmbito dos municípios consorciados, localizados em determinada subregião, seguem normas e diretrizes do Sistema Único de Saúde–SUS. 40 Formuladas a partir do Projeto do Consórcio Intermunicipal de Saúde (AMSO). O referido projeto baseou-se no projeto do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraopeba (Cismep), de Betim-Minas Gerais. 41 Destacando-se os necessários à “internação hospitalar em clínicas básicas (clínica médica, cirurgia geral, pediatria e gineco-obstetrícia), tratamentos de grandes queimados, cuidados intensivos (CTI), emergências clínicas, cirúrgicas e politraumatizados, serviços de apoio ao diagnóstico e terapia em imagenologia (rx contrastados, ultra-sonografia, tomografia computadorizada, mamografia, ecocardiografia e ressonância nuclear magnética), traçados gráficos (eletroencefalografia, eletromiografia, holter e ergometria de esforço), anatomocitopatologia, patologia clínica de maior complexidade, medicina nuclear, endoscopia digestiva e fisioterapia, assistência ambulatorial secundária, ações de vigilância à saúde de referência microrregional”, dentre outros, constantes no Plano Intermunicipal de Saúde. 176 • articulação com entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras para a obtenção de recursos para investimentos, de interesse microrregional, no âmbito da assistência à saúde e ao saneamento básico; • integração de investimentos municipais, estaduais e federais, para projetos de interesse comum, particularmente os voltados para a implantação do Sistema Único de Saúde na região; • instalação, avaliação e controle de um sistema de referência e contra-referência subregional, de forma promover a integração dos serviços assistenciais dos municípios consorciados em uma rede hierárquica; • instalação e operação de uma central de internações hospitalares e de uma central de consultas e de exames especializados, articulados com as existentes nas sub-regiões próximas; • instalação de serviço sub-regional de manutenção de equipamentos médico-hospitalares, em convênio com o Ministério da Saúde; • estabelecimento de uma política de recursos humanos compatível com a realidade; • garantia da participação dos usuários e trabalhadores de saúde, por intermédio dos Conselhos Municipais de Saúde, na formulação, execução e controle de estratégias, incluindo as econômicas e financeiras; • promoção de assistência técnica aos consorciados; • assessoria e cooperação com os Poderes Executivo e Legislativo dos municípios integrantes dos consórcios; e • incentivo à realização de estudos e pesquisas, em apoio à solução de problemas microrregionais. e. Metas O Projeto tem como meta-síntese prestar atendimento médico-hospitalar a todos os municípios associados aos consórcios, principalmente no que se refere a serviços mais especializados de referência. f. Instrumentos O Projeto contará com o apoio de instituições como as relacionadas a seguir: 1. Prefeituras municipais, com suporte financeiro para o Projeto; 2. Governo federal, por intermédio do Ministério da Saúde, enquanto órgão gestor do SUS; 3. Secretaria de Saúde Pública do governo estadual e Comissão Intergestora Bipartite, formada pelo Secretário Estadual de Saúde e representantes dos Secretários Municipais de Saúde; 177 4. Associações dos Municípios; 5. Secretarias Municipais de Saúde; 6. Conselhos Municipais de Saúde; e 7. Universidades com experiência em cursos voltados para o ensino e a prestação de serviços na área da saúde. g. Recursos Financeiros e Fontes O total de recursos do Projeto é de R$ 1.500.000,00, equivalentes a US$ 833,300.00, oriundos dos municípios (100%). Constituindo a fonte principal do Projeto, os recursos provirão da Cota de 1% do Fundo de Participação dos Municípios–FPM, para custear as atividades dos consórcios, após aprovação em lei votada na Câmara Municipal de cada município consorciado. O FPM de todos os municípios da região, em 1997, foi de aproximadamente R$ 37 milhões. Na previsão de recursos foram considerados 4 anos. Além dessa fonte, é importante considerar o remanejamento de tetos orçamentários – ambulatorial e hospitalar – dos municípios integrantes dos consórcios para os municípios prestadores de serviços assistenciais de referência sub-regional, conforme o Plano Intermunicipal de Saúde. Também é possível contar com recursos obtidos de projetos específicos de entidades governamentais e não-governamentais. h. Gestão Cabe à liderança dos consórcios administrar e prestar contas dos recursos aos municípios membros. A participação dos municípios nos consórcios será feita por intermédio da DiretoriaExecutiva de cada consórcio, constituída por um coordenador, um subcoordenador e um secretário, a serem escolhidos entre os titulares dos órgãos de saúde desses municípios ou entre pessoas por estes designadas. As indicações devem ser referendadas pelo colegiado de prefeitos. Os consórcios intermunicipais devem articular-se de forma permanente com a Secretaria de Saúde Pública do Estado, bem como com as demais instituições voltadas para a prestação de serviços de saúde. Inclusive, deve haver uma estreita articulação entre os consórcios que venham a ser instalados. É preciso também envidar esforços permanentes para capacitar e treinar os profissionais de saúde que integram as unidades de saúde dos seus municípios. 5.4.4 Melhoria da Qualidade na Educação a. Situação Atual 42 Nos anos 90 a política educacional brasileira passou a conferir prioridade ao ensino fundamental, mediante a criação de incentivos financeiros específicos, voltados para a sua universalização, instituição de linhas de atuação diversificadas, abrangendo desde a melhoria das 42 As informações e subsídios para a elaboração desse diagnóstico originaram-se, em grande parte, do documento Subsídios ao Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região do Seridó, elaborado pela Assessoria Técnica e de Planejamento da Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos do Rio Grande do Norte (Secd). 178 condições físicas das escolas até a qualificação dos professores e o incentivo salarial para o magistério, de forma a reduzir as enormes distorções e iniqüidades constatadas em todo o País, sobretudo nos municípios menores e mais pobres da Federação. Enquanto isso, o ensino infantil (pré-escola) e o ensino médio não têm recebido atenção especial, embora também apresentem deficiências marcantes. A observação de dados estatísticos do período 1991-98 permite compreender a evolução da situação da educação no Seridó, nos três níveis de ensino: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Entre 1991 e 1998, a educação infantil cresceu em número de matrículas (taxa de crescimento de 26,10%). Enquanto as matriculas na rede de ensino estadual, nessa modalidade de ensino, diminuíram, as da rede municipal apresentaram crescimento, já absorvendo 82,1% do total da oferta de matrículas (equivalente a 11.289 alunos). Isto se deve à transferência gradativa para os municípios da responsabilidade por esse tipo de ensino. Trabalho realizado pela Secretaria Estadual de Educação e dos Desportos, em cooperação com a rede municipal de ensino, faz “foco no aluno e na escola, (e tem) compromisso com a qualidade do processo de ensino aprendizagem, com a gestão democrática e autonomia escolar, com a qualificação e valorização do magistério.” O ensino fundamental tem sido fortalecido. É obrigatório por lei e tem recebido um grande aporte de investimentos. A Região do Seridó tem demonstrado avanços marcantes quanto a esse nível de ensino. A taxa de atendimento no ensino fundamental (faixa etária dos 7 a 14 anos) passou de 86,7% em 1991 para 94,3% em 1998. Contudo, algumas especificações permitem uma apreensão mais acurada das suas características, no Seridó. Constatou-se nos anos aqui referidos (1991 e 1998) uma melhoria da produtividade escolar, por meio do aumento da taxa de aprovação do ensino fundamental na rede estadual e municipal. Contudo, as reprovações e os abandonos ainda são relevantes, embora tenham diminuído no decorrer dos anos. Em 1991, foram reprovados 28,7% na rede estadual e 35,1% na municipal. Em 1998, as reprovações reduziram-se para 17,2% e 23,2%, respectivamente. O abandono escolar também foi restringido em sua dimensão, passando de 16,85% na rede estadual e de 19,98% na municipal, em 1991, para 14,79% na rede estadual e 14,01% na municipal. Ciente da gravidade da situação, a Secretaria de Educação e dos Desportos (SECD) tem envidado esforços no sentido de coibir o fracasso e a repetência escolar, mediante a adoção de um amplo conjunto de medidas para o aperfeiçoamento da rede escolar estadual. Dentre elas, podem ser destacadas as seguintes: • curso de atualização curricular com 180 e 90 horas. Apoia-se nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional–LDB (Lei n° 9394/96). Trata-se de formação continuada, que abrange todos os professores da rede estadual do ensino fundamental; • curso de atualização de gestores escolares (para a rede estadual de ensino). São Projetos Classes de Aceleração da aprendizagem (PCA), que contam com a parceria do MEC/FNDE, contemplando, no Seridó, os seguintes municípios: Currais Novos, Equador, Parelhas, Jardim de Piranhas, Florânia, Jucurutu e Caicó; • proposta pedagógica específica para classes multisseriadas; 179 • adaptação do programa curricular às características da região; e • edificação ou ampliação da rede escolar na zona rural, a fim de propiciar as instalações físicas e os requisitos materiais e humanos para seu pleno funcionamento, em condições de igualdade com as escolas situadas no meio urbano. O ensino médio apresenta uma situação peculiar que merece reflexão. No contexto atual, esse nível de ensino é essencial para todos, em razão das novas exigências do mercado de trabalho. Para se ter uma visão do ensino médio no Seridó, constatou-se que o atendimento na faixa etária de 15 a 17 anos foi de cerca de 10,6%, em 1991, alcançando 17,2%, em 1998. Observa-se uma descontinuidade da escolaridade nesse nível de ensino, que pode ser explicada por um conjunto de causas como as seguintes: a evasão e repetência verificadas no ensino fundamental e a premência de muitos jovens abandonarem os estudos atraídos pelo mercado de trabalho com a conclusão do ensino fundamental. Os que retornam, quando retornam, estão em geral fora da faixa recomendada para esse nível de ensino, que é de 15 a 17 anos. Observou-se também melhora na produtividade escolar nesse nível de ensino na Região do Seridó. Os índices de aprovação no ensino médio, que eram de 61,5% em 1991, passaram para 71,08%, em 1998. Os dados permitem constatar que o índice de aprovação vai aumentando gradativamente no decorrer das séries. Para 1998, os índices de aprovação na primeira, segunda e terceira séries foram respectivamente de 63,3%, de 71,9% e de 84,7%, respectivamente. Há diferenças marcantes também quanto às taxas de aprovação por dependência administrativa. As taxas de aprovação são menores na rede estadual de ensino e aumentam sucessivamente na rede municipal e particular. As taxas de aprovação também variam no interior das Zonas Homogêneas. Em 1998, as taxas de aprovação mais elevadas verificaram-se nas Serras Centrais, com 74,3%, sendo seguida de perto pela Zona Homogênea de Currais Novos, com 74,1%, e, por último, a Zona Homogênea de Caicó, com 67,60%. Também ocorreu redução nas taxas de abandono na Região do Seridó, que eram de 27%, em 1991, e passaram para 22%, em 1998. Ressalte-se que a taxa de abandono é mais elevada na rede estadual de ensino do que na rede municipal e particular, como demonstram os índices seguintes para 1998: 26,5%, 13,9% e 5%, respectivamente. O abandono escolar também se diferencia por Zona Homogênea, atingindo, em 1998, 17,3% na Zona Homogênea de Currais Novos, 20,2% nas Serras Centrais e 26,49% na Zona Homogênea de Caicó. Surpreende que a Zona Homogênea de Caicó esteja apresentando os piores índices da Região do Seridó, tanto em relação às taxas de aprovação quanto ao abandono escolar. O ensino médio está concentrado na rede estadual de ensino, que absorveu, em 1998, 69,3% das matrículas. O governo estadual tem empreendido esforços no sentido de ampliar o atendimento nesse nível de ensino. O número de alunos matriculados na Região do Seridó passou de 5.289 alunos em 1991 para 7.536 em 1998, ou seja, houve um crescimento de 42,49% entre 1991 e 1998. É muito elevada a distorção idade/série no âmbito da região. Embora tenha havido algum avanço entre 1991 e 1998, a distorção esteve expressa em 1998 por taxas ainda excessivamente elevadas. Na primeira série, a taxa foi de 88,47%, na segunda série, de 87,61% e na terceira série, de 85,23%. Apesar dos avanços obtidos, a situação do ensino médio ainda requer atenção, sobretudo no que se refere à qualidade do ensino. Três principais fatores podem explicar essa situação: 180 • as condições infra-estruturais e de recursos humanos das escolas; • as condições sociais e econômicas dos alunos (que determinam sua inserção muito cedo no mercado de trabalho); e • os aspectos técnicos e metodológicos do currículo. Acena-se com alternativas para esse nível de ensino, principalmente vinculadas ao ensino profissionalizante. Com investimentos do Ministério da Educação, em parceria com o Ministério do Trabalho e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi criado o Programa de Educação Profissional–Proep, para realizar a Reforma da Educação Profissional, objetivando atender, com eficácia, as demandas do mercado de trabalho, bem como as especificidades do desenvolvimento econômico e social do Estado. Neste sentido, a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos vem tomando providências no sentido de integrar o Rio Grande do Norte no esforço nacional de formação profissional, referido ao ensino médio. Na Região do Seridó está prevista a criação do Centro de Educação Profissional, a ser localizado em Caicó, oferecendo cursos técnicos e básicos. As informações disponíveis indicam ainda a necessidade de realização de esforços adicionais para melhorar a qualidade do ensino médio, que ainda apresenta deficiências visíveis, em relação a indicadores como índice de aprovação, abandono escolar, defasagem em termos de idade/escolaridade. A melhora da qualidade de ensino é fundamental para todos os níveis, para que o processo ensino/aprendizagem se estabeleça em bases sólidas e permita a almejada vinculação entre o ensino e os requisitos exigidos pelo atual mercado de trabalho. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral melhorar a qualidade de ensino nos três níveis: infantil, fundamental e médio, de forma a aumentar a cobertura, favorecendo a universalização do ensino com qualidade, para aperfeiçoar as condições que favoreçam a aprendizagem dos alunos. Especificamente, pretende-se: • reduzir os índices de reprovação e abandono escolar dos alunos de todos os níveis de ensino, sobretudo no ensino fundamental e no ensino médio; • melhorar a qualidade do ensino ministrado a partir de uma política intensiva de capacitação e treinamento permanente dos professores; • proporcionar às unidades escolares melhores condições de atendimento aos alunos, mediante melhora das instalações físicas, dos equipamentos e do apoio técnico e operacional requerido para a adoção de novas práticas didáticas e pedagógicas; • favorecer a inovação do currículo, tornando-o mais próximo dos interesses e vivências dos alunos; e 181 • introduzir o interesse pela pesquisa junto a alunos e professores, propiciando motivação e condições técnicas e financeiras ao desenvolvimento de pesquisas científicas nas diversas áreas do conhecimento. c. Diretrizes Este Programa será executado conforme as seguintes diretrizes: • a Secretaria Estadual de Educação e dos Desportos, por intermédio de sua Coordenação de Planejamento da Educação, coordenará o Programa de Qualidade na Educação, que orienta a transferência de conhecimentos e experiências para as instâncias municipais de governo, favorecendo maior integração entre os prestadores de ensino de âmbito estadual e municipal, bem como os prestadores de serviços da rede particular; • durante a execução do Programa, será conferida prioridade à integração e articulação permanente entre as instâncias municipal e estadual, para que não haja corte abrupto ou descontinuidades nas práticas pedagógicas; e • incentivo a pesquisa será moldado por motivações específicas do corpo docente e discente, concedendo-se financiamento a estudos que permitam o resgate de práticas culturais e o conhecimento dos recursos econômicos e geoambientais da região do Seridó. d. Linhas de Ação O Programa terá como linhas de ação principais: • capacitação e treinamento dos professores da rede estadual e municipal do ensino fundamental e médio; • incentivo ao desenvolvimento de práticas pedagógicas alternativas, incorporando o conhecimento das características culturais, históricas, econômicas e ambientais da região; • produção de material didático-pedagógico a partir do resultado das pesquisas realizadas por professores com a colaboração de alunos; • estruturação das escolas com base material mínima, compatível com o incentivo à adoção de métodos pedagógicos diversificados e capazes de aumentar a motivação dos alunos; e • melhora das condições de deslocamento dos alunos do meio rural que freqüentam escolas na área urbana. e. Metas O Programa de Melhoria da Qualidade da Educação tem como metas principais: 182 • reduzir o índice de reprovação 43 no ensino fundamental na Região do Seridó, de um total de 19% dos alunos matriculados em 1998 para uma taxa menor que 10%, até 2005, passando-se de um efetivo de 13.200 alunos reprovados em 1998 para 6.900, e para cerca de 5% nos próximos 10 anos; • diminuir o índice de abandono no ensino fundamental, de 13% (cerca de 9.200 alunos, em 1998) para 6% nos próximos 5 anos. Esforço maior deve ser efetuado na primeira série, que apresenta taxa elevada de abandono (16,58% em 1998), e na quinta série (18,78% de abandono); • reduzir o índice de distorção idade/série no ensino fundamental, que é excessivamente alto, em todas as oito séries, sobretudo nas quatro últimas séries, passando de taxas próximas a 80% nas quatro primeiras séries, e superiores a esse montante nas quatro últimas séries em, 1998, para índices próximos a 50% nos próximos 5 anos e inferiores a 30% nos próximos 10 anos; • diminuir a taxa de abandono no ensino médio, passando de 22% (cerca de 2.400 alunos em1998) para menos de 10% nos próximos 5 anos e menos de 5% nos próximos 10 anos. Um esforço maior deve ser empreendido na primeira série, que apresenta o índice mais elevado das três séries, isto é, 27%; • reduzir o índice de reprovação no ensino médio dos atuais 6,6% para 3% nos próximos 5 anos; • efetuar treinamento permanente do total de professores do pré-escolar, primeiro e segundo grau no meio urbano e rural; 44 e • equipar todos os 1.147 estabelecimentos escolares existentes no Seridó, particularmente as 787 escolas existentes no meio rural. f. 45 Instrumentos Destacam-se como principais instrumentos: 1. o Ministério de Educação e dos Desportos–MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação–FNDE e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério–Fundef; 2. o FNDE pode financiar o Ensino Fundamental nas linhas aqui propostas, principalmente por meio dos Programas i) de Formação Continuada de Professores; ii) de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental–Dinheiro na Escola; iii) de Aceleração de Aprendizagem; iv) de Apoio Tecnológico; e v) do Programa Nacional do Transporte do Escolar–PNTE; 3. formação continuada de professores; 46 43 As taxas de reprovação, abandono escolar, defasagem idade/série baseiam-se em informações fornecidas pela SECD, tratadas aqui com a relatividade que o tema sugere. 44 Em 1997, o Seridó dispunha de um total de 4.427 professores nos três níveis de ensino, dos quais 1.156 atuavam no meio rural. 45 Em 301 deles funciona a pré-escola, em 807 é ministrado o ensino de primeiro grau e em 39 o ensino de segundo grau. 46 Esse programa dá assistência financeira para a formação continuada de professores, visando o desenvolvimento profissional dos que se encontram em exercício. Objetiva, além do desempenho em sala de aula, a atuação dos professores, enquanto membros de equipe educacional. Deve contemplar além das ações previstas no Plano Estratégico da Instituição, os 183 4. Escola; Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental–Dinheiro na 47 5. Programa de Aceleração de Aprendizagem (objetiva reverter o fracasso escolar dos alunos do sistema público de ensino que atende as séries iniciais do ensino fundamental – 1ª a 4 ª séries); 6. Programa de Apoio Tecnológico (destina-se a dotar as escolas públicas com 100 ou mais alunos de recursos financeiros para aquisição de recursos tecnológicos básicos (“kit” tecnológico); 7. Programa Nacional do Transporte do Escolar–PNTE; e 8. Fundef, criado Lei n 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e regulamentado pelo Decreto n° 2.264 de junho de 1997. Os recursos do Fundef são aplicados exclusivamente no ensino fundamental, em despesas de “manutenção e desenvolvimento do ensino” (art. 70, Lei Federal n° 9.394/96). Para receber recursos do Fundef, os estados e municípios devem oferecer atendimento ao ensino fundamental e ter cadastrados seus alunos no Censo Escolar do ano anterior. Para efeitos desse Fundo não são consideradas as matrículas em educação infantil (creche e pré-escola) e ensino médio (antigo 2° grau). O cálculo do Fundo considera os recursos que integram o Fundo em cada Estado e o número de alunos do ensino fundamental atendidos pelo Estado e municípios, segundo registro no Censo Escolar do MEC do ano anterior. 48 Além do que foi disposto pelo Fundef, o município é obrigado a destinar 15% das demais receitas de impostos e transferências, não incluídas no Fundo, na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental, bem como um mínimo 25% das receitas e transferências na educação (Artigo 212 da Constituição Federal). O ensino médio não dispõe de recursos destinados ao financiamento de linhas de ação. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução desse Programa mobilizará recursos no montante de R$ 32.280.000,00, equivalentes a US$ 18,488,900.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, Referenciais Curriculares Nacionais e os definidos no Estado e/ou no município, para cada nível de educação. No caso do ensino fundamental, essa ação presta assistência também à aquisição, produção ou impressão de material didático/pedagógico para professores. Os destinatários são professores do ensino pré-escolar, do ensino fundamental e vinculados à formação de jovens e adultos; 47 Esse programa integra o Programa Fundescola, fruto do Acordo de Empréstimo n°4.311-BR, com o Banco Mundial, no âmbito do Projeto BRA 98/011 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento–Pnud. 48 O coeficiente de distribuição do Fundef referente a cada município pode ser calculado assim: número total de alunos matriculados no ensino fundamental do município, segundo registro no censo Escolar do MEC, referente ao ano anterior, dividido pelo total de alunos por Estado (somados os da rede estadual e os da rede municipal da Unidade da Federação onde se localiza o município). O resultado dá um coeficiente que será multiplicado pelo total de recursos do Fundef da Unidade Federada em análise, resultando em um valor para o município em questão. Há também um valor mínimo, que deve ser investido por aluno igual a R$ 315,00. Quando o valor per capita de estados e municípios for inferior a esse resultado, a União complementa o restante. 184 oriundos do Estado (100%). A maior parte desses recursos está voltada para a educação básica de qualidade (cerca de R$ 13 milhões nos quatro anos) e para a expansão e melhoria da rede de ensino (valor estimado em R$ 11 milhões, para os quatro anos). Há um grande número de programas e de fontes de recursos voltados para a expansão e melhoria da qualidade da educação, sobretudo a fundamental. Não foi possível realizar uma quantificação mais completa e precisa dessas disponibilidades. Daí ter-se explicitado apenas o valor oriundo da fonte governo do Estado. A base de cálculo foi Plano Plurianual do Estado (2000/2003). Nessa estimativa estão considerados os montantes previstos para as ações destinadas à educação básica de qualidade, à expansão e melhoria da rede de ensino e à capacitação e valorização do pessoal voltado para o ensino. Com base nos quantitativos previstos pelo PPA, considerou-se como critério de participação do Seridó, respectivamente, a participação da região na matrícula inicial nos cursos de 1º e 2º graus, a participação do Seridó no número de salas de aula e, finalmente, seu peso no número de professores do 1º e 2º graus. O montante previsto representa um total de aproximadamente R$ 11 milhões anualmente, considerado uma cifra modesta, relativamente aos recursos repassados aos governos municipais, oriundos de várias fontes, inclusive federais. Neste particular, é importante realizar esforços para quantificar e avaliar os montantes transferidos e seu destino. Convém ainda, antes de quantificar melhor os recursos, efetuar um levantamento detalhado das principais necessidades da rede escolar e classificar as escolas da Região do Seridó, por número de alunos, visto que o Programa de Manutenção (Dinheiro na Escola) transfere recursos que variam segundo o número de alunos por estabelecimento escolar. Ademais, as reparações e compras de equipamentos dependem das necessidades e carências detectadas por estabelecimento escolar. É também importante conhecer em que medida as escolas utilizam-se desses mecanismos financeiros existentes. A capacitação e treinamento dependem também dos cursos já ministrados, dos professores contemplados e dos que ainda estão alijados do processo de capacitação. Portanto, a implantação de um programa voltado para a qualidade do ensino exige um amplo esforço de qualificação da realidade a ser objeto de intervenção. h. Gestão A principal responsabilidade pelo Programa de Qualidade da Educação deve ficar a cargo da Secretaria Estadual de Educação e dos Desportos. No âmbito regional, o Programa será executado sob a coordenação do Conselho de Desenvolvimento do Seridó e da Agência de Desenvolvimento a ele vinculada. Deverão, ademais, serem também mobilizados os Conselhos Municipais de Educação da Região do Seridó. Essas instâncias deverão prever e programar a elaboração de uma agenda de fóruns, encontros e seminários para discutir a qualidade da educação nos diferentes níveis de ensino, de acordo com suas ocorrências e importância. 5.4.5 Erradicação do Analfabetismo a. Situação Atual No diagnóstico sobre as condições educacionais da população do Seridó foi dado destaque ao alto nível de analfabetismo existente presentemente na região. De fato, as informações disponíveis para 1996, segundo dados censitários do IBGE, mostram que aproximadamente 30% da população de 4 e 185 mais anos estavam constituídos por analfabetos ou pessoas com menos de uma ano de escola. Isto representaria, naquele ano, cerca de 79 mil pessoas. Considerando-se as pessoas de 15 a 64 anos e aplicando este percentual de 30% ao total, o número de analfabetos, nesta faixa etária, está próximo de 50 mil pessoas. Mesmo descontado, naquele total de 79 mil pessoas, o número de crianças da faixa mais jovem, que, de fato, não teria tido tempo de ser alfabetizado, ainda assim, os dados apresentados destacam um contingente significativo de pessoas que está submetido a uma limitação importante na sua convivência social diária, numa sociedade crescentemente urbana e complexa. Trata-se, ademais, de um contingente que tem, ou deverá ter, no futuro, dificuldades muito grandes para se inserir no mercado de trabalho, cada vez mais exigente em conhecimento e capacidade de adaptação aos novos processos adotados na produção de bens e serviços. É verdade que passos importantes vêm sendo dados no sentido da universalização do acesso ao ensino. Isto fica evidente quando são examinados os dados num horizonte temporal maior. De fato, em 1970, da população de 15 anos e mais, cerca de 54,7% estavam constituídos de analfabetos; essa cifra passa para 45,3 em 1980 e para 37,9% em 1991. Não obstante os avanços, qualquer projeção de tendência que se faça a respeito, visando a eliminação do analfabetismo, sugere que se deverá levar muitos anos para sua efetivação, nesta progressão verificada nas últimas décadas. É importante considerar, também, que há uma grande heterogeneidade de situações no interior da região. Se na Zona Homogênea de Currais Novos o contingente de 4 e mais anos – analfabeto ou com apenas 1 ano de escola – representa 27,3% da população nessa faixa etária (4 anos e mais) e na Zona Homogênea de Caicó alcança 25,6%, na Zona Homogênea das Serras Centrais tal proporção chega a 39,6%. Em alguns municípios dessa última Zona Homogênea, a relação considerada atinge cerca de 44% da população, ou seja, valor que está próximo da metade da população naquela faixa etária. As razões que estão por trás do alto grau de analfabetismo ainda prevalecente na população do Estado e, em particular, no Seridó, são as mais diferentes. Ora aparece, na explicação, a limitada abrangência do sistema de ensino, ora a qualidade do ensino e sua reduzida capacidade para reter a população jovem nas escolas, ora, ainda, o reduzido nível de renda familiar que induz os membros da família à inserção precoce no mercado de trabalho, visando complementar a baixa renda familiar, inclusive por meio da mobilização do trabalho infantil ou do adolescente. Além disso, deve-se levar em conta que parte considerável dos analfabetos é constituída por população adulta, que o sistema de ensino, nas décadas anteriores, não foi capaz de retirar da condição de analfabetos. Presentemente, tal sistema não tem revelado condições de atrair para a escola essa população adulta, inclusive em razão da necessidade premente do adulto de garantir, com dedicação exclusiva, seu sustento e o de sua família. A isto se poderia acrescentar as dificuldades crescentes do setor público em concretizar os propósitos de avançar com ensino de qualidade, tendo em vista as prioridades nem sempre adequadas que adota e os problemas financeiros que tornam difícil a construção de mais escolas, o seu aparelhamento e equipamento e a remuneração adequada dos professores e funcionários, voltados para os serviços de educação. 186 Tais constatações estiveram bem presentes nas discussões com os líderes e representantes de vários segmentos da população de todos os municípios do Seridó, que, além de reforçar os registros feitos anteriormente, destacaram a inadequação do calendário e do currículo escolar às condições locais, o que reduziria a eficácia do sistema de ensino. É importante chamar a atenção para o fato de que com esse objetivo de erradicação ou redução significativa do analfabetismo existem iniciativas já encaminhadas, inclusive a partir do movimento denominado de “alfabetização solidária”, que pretende envolver vários atores sociais, considerando, entre outras vertentes, para sua ação, a de mobilização nacional, a de projeto piloto nas ações iniciais, a busca de incentivos e parcerias e, finalmente, a preocupação com a avaliação. No caso específico do Seridó, não obstante o fato de que muitas dessas diretrizes devam ser consideradas, dado o grau de organização da sociedade na região – e a oportunidade da implementação de um plano regional, na forma participativa com que este foi elaborado – é importante, de imediato, superar o caráter experimental e piloto do programa, partindo para uma mobilização mais ampla da sociedade, que, já na fase de Diagnóstico mostrou disposição para atuar neste sentido. É evidente que este fato não elimina a necessidade de considerar em toda sua dimensão a necessidade de um planejamento detalhado dos meios e dos objetivos, precondições para a concretização de um permanente acompanhamento e avaliação dos esforços efetivados. Nos trabalhos que devem ser desenvolvidos, voltados para a erradicação do analfabetismo é importante considerar que os esforços somente terão resultados concretos se contarem com a mobilização da população da região, numa articulação que deverá utilizar os recursos humanos e materiais disponíveis na sociedade. Isto é da maior relevância, diante de uma situação concreta, na qual já é significativo, e deverá ser ainda mais ampliado, o número de instituições governamentais, nãogovernamentais e privadas, envolvidas nesse esforço comum. O ponto estratégico para o sucesso deverá ser, ao lado da capacidade do Seridó de mobilizar meios e pessoas para o desenvolvimento de ações consideradas relevantes, no processo de erradicação do analfabetismo, a promoção de uma articulação e coordenação, a partir da qual ocorra uma divisão de trabalho entre as mais diferentes instituições, ao lado de um processo de descentralização que permita liberdade de ação dos responsáveis pelo atendimento direto com os beneficiário, reportando-se, permanentemente, à coordenação do programa. Neste sentido, é importante que, no nível regional, do Seridó, e distribuídas pelas Zonas Homogêneas, sejam consolidadas coordenações nas quais os esforços de avaliação do Programa e sua consolidação progressiva venham a ser efetivados. Tendo em vista a dimensão dos esforços e a grande probabilidade de que seja envolvido um grande número de instituições (governamentais estaduais, municipais e federais; não governamentais; empresas, etc.), o esforço a ser desenvolvido somente poderá resultar profícuo à medida que seja instalado, a nível regional, um conselho ou coordenação voltada para a articulação e compatibilização das ações direcionadas para a erradicação do analfabetismo. O primeiro passo a ser dado neste sentido consiste no estabelecimento de uma divisão de trabalho entre as entidades que podem e devem ser mobilizadas, considerando-se, entre outras, a participação i) do Ministério de Educação, por meio de projetos já existentes e nos termos definidos pelo “alfabetização solidária”, pela garantia de repasse de parte significativa dos recursos e pelo fornecimento de material didático; ii) das instituições de ensino superior, no treinamento dos coordenadores e alfabetizadores, na produção de material didático de interesse para o desenvolvimento 187 dos esforços voltados para a erradicação do analfabetismo e nos trabalhos de avaliação; iii) dos governos municipais, na seleção, de acordo com critérios estabelecidos pelas instituições de ensino superior, dos candidatos a alfabetizadores, que deverão passar pelo treinamento antes mencionado; além da mobilização e recrutamento das pessoas que devam ser alfabetizadas e da garantia das instalações necessárias para o funcionamento do programa; iv) do governo estadual, na oferta de instalações adicionais para funcionamento do Programa, apoio na edição e distribuição do material didático, treinamento de coordenadores e alfabetizadores; e v) das empresas (locais ou de fora da região), pela doação de recursos necessários para o financiamento do Programa, podendo divulgar os resultados das ações desenvolvidas e a oferta de locais para sua instalação. O esforço voltado para a erradicação do analfabetismo deve, portanto, considerar não só a percepção da grande heterogeneidade das condições de alfabetização existente na região – o que implica ação diferenciada em seu interior, enfatizando, desde logo, as Zonas Homogêneas e municípios nos quais é maior a gravidade do problema –, mas o esforço de articulação, sem o que a dispersão de esforços e a superposição de ações podem comprometer a concretização dos objetivos fundamentais do Programa. É importante que, em razão do esforço de mobilização já realizado, seja sugerida uma mudança na metodologia de programas como o de “alfabetização solidária” (que preconiza a realização de experiência piloto e municípios isolados. Seria possível, para o caso, no estágio em que se encontra a sociedade, no Seridó, partir-se para uma mobilização muito mais ampla, de modo a considerar o Seridó, em sua totalidade, como uma experiência piloto ou experiência modelo, no esforço nacional de erradicação do analfabetismo. Isto significaria concentrar meios e capacidade técnica e administrativa na concretização do objetivo de eliminação do analfabetismo, numa escala maior e mais significativa. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral erradicar o analfabetismo no Seridó, num esforço contínuo que beneficie as pessoas de todas as faixas etárias, que não sabem ler ou escrever, com a concentração nas faixas etárias da população jovem, mediante a mobilização e a articulação das instituições não-governamentais e governamentais das três esferas do setor público. Especificamente, pretende-se: • alfabetizar, no médio prazo, a quase totalidade das pessoas residentes no Seridó, tanto no meio urbano como rural, com a concentração de esforços nas áreas de maior nível de analfabetismo e na população jovem analfabeta; • mobilizar e articular, de forma eficiente e eficaz, neste sentido, os meios que já estão mobilizados por diferentes iniciativas e instituições, com a finalidade de erradicar o analfabetismo, estabelecendo uma divisão de trabalho e o comprometimento das diferentes organizações envolvidas; e • consolidar, por meio da negociação com os diferentes parceiros desse esforço comum de erradicação do analfabetismo, um abrangente programa piloto de combate ao analfabetismo no Seridó, que venha a constituir modelo a partir do qual novas experiências possam ser difundidas no Estado, no Nordeste e em outras regiões brasileiras. 188 c. Diretrizes O Programa tem como diretrizes principais: • a sociedade do Seridó, por meio de comissão responsável pela erradicação do analfabetismo, na região, desenvolverá esforço estratégico de articulação e coordenação das entidades não–governamentais, empresas e instituições governamentais, para estabelecer entre elas uma divisão racional de tarefas, a partir das quais sejam eliminadas superposições e duplicação de esforços e de mobilização de recursos; • no esforço a ser desenvolvido, será importante definir, de imediato, as precondições para a efetiva instituição do Programa, salientando-se entre elas i) a identificação do público-meta, segundo sua localização e dimensão; ii) os recursos humanos que deverão ser mais diretamente envolvidos com o trabalho de alfabetização (coordenadores e alfabetizadores); iii) a definição de instalações nas quais deverão ser desenvolvidos os cursos; iv) os meios materiais (sobretudo material didático) e financeiros, que deverão constituir suporte para a concretização do Programa; • os esforços voltados para eliminação do analfabetismo no Seridó deverão ser abrangentes no sentido de compreender todas as pessoas analfabetas da região, considerando, enfaticamente, i) as áreas nas quais as taxas de analfabetismo sejam as mais altas da região e nas quais as dificuldades de aceso ao sistema de ensino também sejam maiores (meio rural, municípios menores e mais pobres); e ii) as pessoas da faixa etária de 15 a 25 anos; e • as ações das entidades e instituições envolvidas deverão considerar a i) importância do esforço contínuo e não episódico do Programa (contrariamente à experiência de muito programas e projetos cujos resultados foram extremamente reduzidos neste particular), para o que é imprescindível o engajamento e a mobilização da sociedade; e ii) a necessidade de que, depois de alfabetizadas, as pessoas sejam direcionadas para atividades práticas ou instituições nas quais possam dar continuidade ao aprendizado e aperfeiçoar, a partir do curso de alfabetização, o conhecimento adquirido, inclusive especialização e qualificações voltadas para o desenvolvimento de atividades produtivas. d. Linhas de Ação O Programa Erradicação do Analfabetismo tem como principais linhas de ação: • articulação das entidades envolvidas, no sentido da utilização mais racional possível dos recursos humanos, dos meios materiais e dos recursos financeiros; • levantamento detalhado da população beneficiária, definindo com precisão o número de pessoas a serem atendidas, sua localização, o número de coordenadores e alfabetizadores necessários, os locais nos quais devam ser administrados os cursos, as fontes de financiamento e a necessidade de material didático para o desenvolvimento do Programa; • participação das instituições do ensino superior na formação dos coordenadores e dos alfabetizadores necessários à implantação dos projetos, além de sua participação no acompanhamento e avaliação dos trabalhos; • envolvimento gradativo dos governos municipais e dos governos estadual e federal, quer na oferta de instalações, para a implementação do Programa (governos municipais, instituições 189 religiosas, empresas, escolas particulares e governo estadual), quer no financiamento e na oferta de material didático (governo estadual e governo federal, empresas); e • leituras. e. desenvolvimento pessoal e consolidação do aprendizado oferecido a partir das primeiras Metas O Programa tem como metas principais: • reduzir o nível atual de analfabetismo, de uma da taxa de 30% da população de 15 anos e mais para uma taxa de 10% nos próximos 5 anos e de menos de 5% nos próximos 10 anos; e • alfabetizar, nos próximos 4 anos, cerca de mais 27 mil pessoas, com o atendimento de 5 mil no primeiro ano, 6 mil no segundo ano e 7,5 mil no terceiro e 8,5 mil no quarto. f. Instrumentos Serão mobilizados, dentre outros, instrumentos como os seguintes: 1. o governo federal e, em particular, o Ministério de Educação e o Programa de Alfabetização Solidária, mediante o repasse de recursos e da produção e distribuição de material didático e de assistência técnica na implementação, consolidação e avaliação do Programa de Erradicação do Analfabetismo; 2. o governo estadual, por meio da Secretaria de Educação, oferecerá apoio técnico, financeiro e oferecerá instalações e salas de aulas para desenvolvimento dos cursos, além da produção e distribuição de material didático; 3. os governos municipais, pelo apoio na seleção do público-meta, de acordo com critérios estabelecidos pelo Programa, dos coordenadores e alfabetizadores, além de apoio técnico, financeiro e oferta de salas de aula para a realização de cursos; 4. as instituições de ensino superior no apoio técnico, na produção de material didático, no treinamento e capacitação dos coordenadores e alfabetizadores, no acompanhamento do Programa e em sua avaliação periódica; 5. as instituições religiosas, por meio da mobilização e motivação das pessoas – beneficiárias ou parceiras – e da oferta de salas e espaços a serem utilizados nos cursos de alfabetização; 6. empresas e cooperativas, via apoio financeiro às atividades específicas do Programa ou por intermédio de bolsas de estudo ou outras formas que venham a ser adotadas, além da oferta de espaços que possam ser utilizados para ministrar aulas; e 7. sindicatos e associações dos trabalhadores e empregadores, por intermédio da mobilização das pessoas (beneficiários e parceiros), de contribuição com recursos financeiros e oferta de instalações físicas para o desenvolvimento de cursos. 190 g. Recursos Financeiros e Fontes A execução do Programa mobilizará recursos no montante de R$ 2.754.000,00, equivalentes a US$ 1,530,000.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União – via Alfabetização Solidária (75%), Estado (10%), municípios (10%) e setor privado (5%). g. Gestão A gestão do Programa deve ter como instância estratégica uma comissão de erradicação do analfabetismo no Seridó, que represente a extensão técnica e política da CAP, para esta questão específica da alfabetização. Nela deverão estar representadas instituições governamentais (governos federal, estadual e municipais), empresas, instituições de ensino superior, igrejas, sindicatos e cooperativas. O executor mais significativo deverá ser o governo municipal, segundo divisão de tarefas que reflita as metas e instrumentos antes estabelecidos. Deve-se, ademais, não pretender contar apenas com o apoio governamental (governos estadual, federal ou municipais) nas ações a serem desenvolvidas, procurando-se envolver instituições e atores sociais que possam, igualmente, desempenhar papel de relevo no esforço de erradicação do analfabetismo. Para este esforço será da maior importância desenvolver na região a prática da coordenação e aglutinação dos esforços dispersos das instituições públicas e privadas, governamentais e da sociedade civil, sem que isto venha a significar centralização e concentração, que possa limitar a capacidade criativa da sociedade e das pessoas e instituições envolvidas no encaminhamento das soluções. Na estratégia adotada, será importante superar a concepção de programa piloto em municípios isolados, tornando abrangente a ação do programa em toda a Região do Seridó. Isto se justifica, pela existência de experiências que podem ser seguidas na região e pela grande mobilização da sociedade neste esforço de implementação do Plano do Seridó. 5.4.6 Qualificação para o Trabalho a. Situação Atual O Diagnóstico a respeito das condições da população do Seridó em relação à escolaridade e seu nível de qualificação para o trabalho mostrou aspectos da maior relevância, com destaque para a grande participação, ainda, da população que não sabe ler nem escrever no total da população em idade escolar e, mais ainda, da população em idade ativa, além da média muito reduzida dos anos de escolaridade. Com relação à média dos anos de escolaridade, as informações mostram que a população de 25 anos e mais, da região, apenas ultrapassava a duração de 3 anos de escola, no início dos anos 90, marca que não deve ter mudado substancialmente a partir de então. Neste particular, a média da região em número de anos de escolaridade é mais baixa do que a do Estado do Rio Grande do Norte, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, e é muito desigual no interior do Seridó, marcando sua presença em municípios nos quais o número de anos está próximo da metade do registrado para a região em seu conjunto. É importante considerar, neste caso, a situação de grande 191 parte dos municípios da Zona Homogênea das Serras Centrais, que registram indicadores bem mais precários do que os demais municípios das Zonas Homogêneas de Caicó e Currais Novos. Este é seguramente um indicador muito importante do nível de escolaridade e qualificação da força de trabalho, juntamente com o alto nível de analfabetismo dos adultos, que está próximo de 30%. É evidente que ocorreram avanços, neste indicador de escolaridade, quando se considera um período de duas décadas, por exemplo. No entanto, como ficou evidente no Diagnóstico sobre as condições educacionais, o progresso é muito lento, notadamente em relação à população adulta e que participa da força de trabalho. Além disso, partiu-se de um nível muito baixo em anos das décadas anteriores. Por outro lado, essa diferença se torna mais expressiva quando se faz o confronto das condições educacionais da população em idade ativa do Seridó com a crescente exigência do mercado de trabalho nos dias atuais. Foi, seguramente, a partir dessa percepção e também da compreensão sobre a presença do desemprego e subemprego na região do Seridó que as lideranças locais, nos encontros realizados para a montagem do Plano do Seridó, ressaltaram, ao lado das precárias condições de qualificação da população para o trabalho, a necessidade de preparar a mão-de-obra para o mercado de trabalho. Queriam com isso sugerir formas de superar as restrições de acesso ao emprego, que as empresas ou unidades de produção de bens e serviços, em geral, impõem a uma força de trabalho com reduzido grau de qualificação e, em decorrência, de reduzido poder de barganha. A mera qualificação não constitui, por si mesma, garantia de obtenção de um emprego produtivo em satisfatórias condições de trabalho e de remuneração. No entanto, as mudanças que nas últimas décadas vêm ocorrendo nos processos produtivos, tanto nas atividades produtoras de mercadorias (agropecuária e indústria) quanto nas atividades terciárias (comércio e serviços) vêm, cada vez com maior intensidade, marginalizando a força de trabalho que, sem instrução, sem especialização e sem capacidade para dominar, no trabalho, os novos processos adotados, não têm condições de garantir emprego ou de progredir no mercado de trabalho. É importante ressaltar que as mudanças em curso vêm alcançando com muita intensidade grande parte dos setores produtivos; além disso, se disseminam por toda parte, não só nos grande aglomerados urbanos mas, igualmente, nas mais distantes regiões e sub-regiões do País. Tais mudanças, associadas às condições de reduzido crescimento da economia implica, no mercado de trabalho, uma disputa acirrada dos trabalhadores, que termina mantendo fora do mercado de trabalho os menos preparados para atender as exigências dos empregadores. As reivindicações das lideranças municipais e da região, de modo mais geral, se voltaram para algumas questões fundamentais, entre os quais cabe ressaltar: i) a demanda de cursos profissionalizantes, para a capacitação da mão-de-obra em atividades industriais, notadamente naquelas atividades já desenvolvidas localmente (cerâmica, movelaria, produção de queijos, etc.); ii) o ensino técnico vinculado ao setor agropecuário, que considera, entre outros temas, o de preparação de solos, o conhecimento e domínio de novas tecnologias agrícolas, inclusive as que impliquem maior adaptação do setor às condições climáticas; iii) a qualificação dos artesãos nos processos produtivos e na administração e gestão das atividades que exercem; iv) a qualificação voltada para o desenvolvimento de atividades turísticas; e v) finalmente, a qualificação na área de informática e computação. 192 Tal demanda se expressou, também, na exigência de montagem de núcleos de ensino profissionalizantes e cursos de extensão, além do maior envolvimento das universidades existentes no Estado, com esse objetivo. Nessa mesma direção, em várias ocasiões, foi demandada uma maior participação na qualificação da força de trabalho de instituições presentes no Estado ou na região, entre as quais foram mencionadas o Senai, Senac, Senar, SESI e Sebrae. O esforço a ser desenvolvido não se refere apenas às pessoas que estão fora do mercado de trabalho ou que estão na véspera de sua inserção na atividade produtiva como trabalhador. Tal qualificação, como ficou manifesta em algumas discussões nos seminários voltados para elaboração do Plano, está relacionada à necessidade de preparação contínua de pessoas ocupadas, de empregadores ou empreendedores potenciais, sobretudo levando em conta, além das transformações nos processos produtivos já referidas, o acirramento da competição com a abertura da economia e a necessidade de uma permanente atualização nas formas de gestão. Não obstante o déficit de escolaridade e a qualificação da população em idade de trabalhar ou que está para entrar no mercado de trabalho, é importante considerar a existência de instituições e fundos de financiamento que podem ser mobilizados pela sociedade no sentido de, no médio prazo, envolver contingentes significativos de pessoas num esforço dessa natureza, no Seridó. A experiência de instituições como o Senai, Senac, Sebrae, Senar e SESI, além de outras, e os trabalhos que estão sendo desenvolvidos com o apoio financeiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador– FAT, entre eles o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (Planfor), que tem como meta nacional, nos próximos anos, a qualificação de contingente correspondente a 20% da população economicamente ativa, todo ano, constituem precondições ou potencialidades que devem ser consideradas, presentemente, no sentido de elevar a qualificação da mão-de-obra local. Além disso, é importante ter em mente, no âmbito da administração pública estadual, em sua articulação com o governo federal, o esforço de reforma da educação profissional, que tem como objetivo “atender, com eficácia, às demandas do mercado de trabalho, bem como as especificidades do desenvolvimento econômico e social do Estado”, como ressaltado pela Assessoria Técnica e de Planejamento da SECDRN. É importante ainda, no que se refere à ação do Estado, a definição e compromisso, na sua estratégia de ação, de implantação do Centro de Educação Profissional no Município de Caicó, que deverá oferecer à região cursos de nível técnico e básicos, inclusive com a instalação de núcleos de apoio em outros municípios. Tais referências merecem, em seguida, a apresentação de alguns desdobramentos. Relativamente ao Planfor, é importante ressaltar suas metas ambiciosas, no que se refere ao grande contingente de população economicamente ativa, que o programa pretende qualificar profissionalmente em todo o País, no sentido de estabelecer um processo continuo de qualificação e requalificação da mão-de-obra. Neste sentido, estabeleceu para os próximos anos (até 2002) um nível anual de qualificação de 20% da PEA, o que significará um patamar mínimo que permitirá garantir uma chance de atualização profissional para cada trabalhador de cinco em cinco anos, o que, segundo os textos oficiais do Planfor, “é pouco no mundo de hoje, com mudanças tão rápidas”. Além do mais, assinala que alguns países dinâmicos, como o Chile e Espanha, já vêm fixando tais metas desde o início dos anos 90. Ressalta como resultado já alcançado, neste particular, o fato de que tendo começado, juntamente com a rede de educação profissional do País, com um percentual de 5% da PEA em 1995, alcançou, em 1999, cerca de 12% desse contingente. 193 Embora destaque que a qualificação profissional não gera trabalho nem eleva a renda, nem a produtividade, por si mesma, reconhece nela uma ferramenta indispensável no objetivo de reduzir o desemprego e combater a pobreza e as desigualdades, uma vez integrada a outros mecanismos, como o seguro-desemprego, o sistema de intermediação da mão-de-obra, o crédito popular e os demais programas de geração de trabalho e renda, em grande parte financiados pelo FAT. Algumas características adicionais do Planfor necessitam ser destacadas: i) o seu objetivo é o de garantir educação profissional permanente no âmbito da política pública de trabalho e renda; ii) seu foco é na demanda do mercado de trabalho, sendo portanto um programa orientado pelo demanda efetiva do setor produtivo, em matéria de qualificação da mão-de-obra; iii) o fato de que suas principais prioridades, em termos de público beneficiário, residem no atendimento dos chamados “grupos vulneráveis”, que têm dificuldades de acesso a outras alternativas de qualificação profissional, com destaque para as pessoas desocupadas ou em risco de desocupação, além de empreendedores, autônomos, associados e cooperados; destaca, neste particular, o direcionamento das ações para o público alvo mais pobre, menos escolarizado e mais sujeito à discriminação no mercado de trabalho; e iv) tem como forma de atuação, ao lado da mobilização dos recursos do FAT, a articulação e catalisação de recursos e parcerias, com o setor público ou privado, para ampliar o raio de ação. Com relação ao Rio Grande do Norte, a exemplo de outros estados da federação, via plano estadual de qualificação, vêm sendo, desde 1998, desenvolvidas ações neste sentido, estando prevista, no curto prazo, sua disseminação a todos os municípios do Estado, incluídos, evidentemente, os que integram a Região do Seridó. Os trabalhos efetuados contam com a parceria de várias instituições voltadas para a qualificação para o trabalho, inclusive algumas das já referidas anteriormente. Mais recentemente, está ocorrendo uma intensificação dos trabalhos no sentido de ampliar as ações, por meio de convênios e contratos, com o que se espera uma abrangência bem maior das ações de capacitação e qualificação para o trabalho nos próximos anos. Quanto ao Centro de Educação Profissional, do governo estadual, sua concepção, como é assinalado em documento do governo, foi baseada numa análise da economia estadual e da região e de suas tendências, considerando-se a sua demanda de força de trabalho. Deverá oferecer cursos técnicos em mineração, agropecuária, além de gestão/comércio, assim como cursos básicos em normas de saúde e segurança no trabalho, técnicas de mapeamento, impactos ambientais, classificação de rochas, gerenciamento de equipes de trabalho, controle de qualidade na produção agroindustrial, processo de comercialização, nutrição animal e forragens, sanidade animal, técnicas de comunicação visual, controle de estoques, planejamento tributário/financeiro/contábil, seleção e desenvolvimento de recursos humanos. Vinculados, e estreitamente articulados com o Centro, deverão ser instalados núcleos nos municípios que apresentem maior concentração populacional, maiores potencialidades econômicas e necessidade de formação de mão-de-obra. O financiamento para o Centro está em situação avançada de negociação com fontes financeiras. Deverá ser instalado logo após a conclusão de centro similar em Natal. Mudanças de outra ordem estão sendo procedidas no ensino médio, visando maior estreitamento com o mercado de trabalho, inclusive com a oferta de cursos profissionalizantes ou de formação profissional nos próprios estabelecimentos de ensino ou, ainda, em parceria com instituições especializadas. A criação de centros de referência para profissionalização de alunos, a reformulação do currículo do ensino médio e o fortalecimento das escolas de ensino médio são elemento que integra a 194 estratégia do governo estadual, apresentando relação com a problemática do Seridó, de acordo com o texto já mencionado. Relativamente às demais instituições – Senai, Senac, Sebrae, Senar e SESI – o papel desempenhado no Estado e, em alguns casos, na região, tem sido relevante na qualificação da força de trabalho. A título de ilustração, podem ser referidas as formas de atuação de algumas delas. O Sebrae atua por meio de um grande número e modalidade de cursos, entre os quais podem ser referidos os relacionados à gestão pela qualidade total (a conquista da qualidade, melhoria de processos, etc.), técnicas de vendas, conhecimento sobre custos e formação de preços de venda da empresa comercial, técnicas de vendas, contabilidade, atendimento ao público, gestão dos recursos humanos, desenvolvimento de lideranças, além de cursos e treinamentos específicos voltados para informatização de empresas, análise e redução de custos e marketing. Questões como a implantação de micro e pequenas empresas, acesso às fontes de financiamento, acesso aos mercados nacionais e internacionais estão presentes nos cursos e treinamentos oferecidos pela entidade. A atividade do Sebrae tem sido desenvolvida também através de parcerias com outras instituições não–governamentais e com o setor público. No que se refere ao Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), que tem como objetivo a capacitação de mão-de-obra para o mercado de trabalho rural e a promoção social do trabalhador rural, seu público-alvo está constituído pelo jovem e adulto (homens e mulheres) que exercem ou pretendem exercer atividade profissional no meio rural, com ou sem vínculo empregatício. Sua atuação ocorre em parceria com sindicatos patronais, associações e entidades locais, desenvolvimento de cursos e treinamentos profissionais em aproximadamente 50 ocupações, entre elas: inseminador artificial de bovinos, aplicador de defensivos agrícolas, viveiristas, tratoristas agrícolas, trabalhador na apicultura, trabalhador na irrigação, na avicultura, no cultivo de fibras (algodão e agave), trabalhador no cultivo de plantas industriais (a exemplo da cana-de-açúcar), na olericultura básica, no cultivo de fruteiras perenes (laranjeira, abacateiro, goiabeira, mangueira, cajueiro, etc.) e trabalhadores no cultivo de fruteiras semiperenes (abacaxi, maracujá, melão, etc.). Vale o registro para a flexibilidade do Senar no atendimento de demandas específicas, relacionadas com o setor agropecuário, provenientes de associações comunitárias e sindicatos e na realização de parcerias com o Sebrae, Ministério do Trabalho, Emater, além de outras instituições. As linhas de ação desenvolvidas na formação profissional abrangem os segmentos de agricultura, pecuária, silvicultura, aqüicultura, extrativismo, agroindústria e atividades de apoio à agropecuária. Os cursos oferecidos, neste caso, não têm custos para os beneficiários. O Senac tem, também, uma experiência consolidada na qualificação de recursos humanos em atividades comerciais e nos serviços, podendo, portanto desempenhar papel relevante nas ações voltadas para a qualificação para o trabalho, no Seridó. Em áreas específicas como administração, comunicação e artes, informática, saúde, turismo e hotelaria desenvolve grande número de curso com diferente duração. Na área de administração, vale o destaque para serviços de almoxarifado, contabilidade (geral, fiscal, empresarial), controle financeiro, serviços de pessoal, vendas, gerência (financeira, de recursos humanos), matemática financeira, planejamento empresarial, introdução à digitação, serviços de faturamento; informática (Excel, Windows, Word, Access, Internet e construção de Home Pages, introdução à rede, princípios de linguagem de programação, etc.); saúde: auxiliar de creche, atendente de consultório, auxiliar de farmácia, auxiliar de enfermagem, recepcionista de serviços de saúde, agente de saúde de comunidade, primeiros socorros, etc.); turismo e hotelaria: guias 195 especializados em atrativos turísticos, guia de excursão, garçom, cozinheiro, camareira, recepcionista, turismo pedagógico, informações turísticas; idiomas. O Senai pode igualmente desenvolver atuação similar, com uma gama diversificada de cursos e treinamento, voltados, no entanto, para a atividade industrial, dependendo da demanda que venha a se manifestar na região. O que foi anteriormente destacado mostra o potencial de instituições, recursos humanos, materiais e financeiros que pode ser mobilizado no esforço de qualificação para o trabalho. Se a esse potencial se agrega uma forma articulada e coordenada de ação, na qual venha a ser estabelecida uma divisão de tarefas e de objetivos, que considere suas especializações e experiências, em áreas específicas, a questão da qualificação para o trabalho pode encaminhar-se, na região, para uma trajetória diferente da que vem sendo desenvolvida. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral qualificar a população adulta e adolescente do Seridó, em particular a força de trabalho, para o desenvolvimento de atividades produtivas, em condições que permitam sua inserção no mercado de trabalho, em situações vantajosas e favoráveis. Especificamente, pretende-se: • contribuir para a redução dos níveis de desemprego e subemprego da população do Seridó, por meio da qualificação da população jovem e da força de trabalho, considerando sua inserção no mercado de trabalho e a obtenção de melhores condições de trabalho e remuneração; • desenvolver de forma contínua um processo de qualificação da população economicamente ativa, no sentido de prepará-la para sua adaptação às constantes mudanças no mercado de trabalho e para sua inserção em trabalhos produtivos que lhe garantam condições de trabalho e rendimento satisfatórios; • qualificar a população economicamente ativa de forma a atender sua diversidade social, econômica e regional, promovendo igualdade de oportunidade no esforço de capacitação e treinamento e no acesso ao mercado de trabalho; • atender, em especial, os grupos vulneráveis, que têm dificuldade de acesso a outras atividades de qualificação ou que se encontram em situação de desemprego e subemprego; e • contemplar, na qualificação para o trabalho, o desenvolvimento integrado de habilidades básicas, específicas de gestão do trabalho, além de uma atualização permanente dos beneficiários dos cursos e treinamentos. c. Diretrizes O Programa tem como diretrizes principais: • o conjunto de atividades necessárias ao desenvolvimento do Programa de Qualificação para o Trabalho deverá incorporar, de forma articulada e coordenada, diferentes instituições governamentais e não-governamentais que atuam neste campo específico, através de uma divisão de 196 responsabilidade que evite a superposição de tarefas e o desperdício de meios; para isto, deverá haver uma perfeita integração entre as três esferas de governo e, o que é também relevante, entre estas e as entidades não-governamentais; • a atividade de coordenação deverá ser expressa regionalmente por meio de um conselho ou grupo de trabalho responsável pela articulação dos esforços voltados à qualificação para o trabalho, do qual participem integrantes do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, além de representantes dos órgãos e instituições governamentais e não-governamentais que integram o Programa; • o governo federal deverá ser o principal responsável pelo financiamento das atividades de capacitação, com apoio complementar do governo estadual e dos governos municipais; • o governo estadual deverá, mediante o aporte de recursos próprios ou obtidos por meio de financiamento, ser o principal responsável pelo financiamento dos investimentos no Centro de Educação Profissional e nos núcleos que o integram, alem de desenvolver, na região, via plano estadual de qualificação e de sua rede de educação profissional, cursos e treinamentos específicos de qualificação e educação profissional; • as prefeituras deverão apoiar os esforços desenvolvidos não só material e financeiramente, mas pela mobilização das cooperativas, sindicatos e associações comunitárias, no sentido de informar e criar condições para que sejam realizados com sucesso os cursos de qualificação, em suas diferentes modalidades; e • as instituições de ensino superior, o governo estadual, pela Secretaria de Educação e instituições como o Sebrae, Senac, Senar, Senai e outras, deverão, de forma articulada, contribuir para a permanente atualização das informações referentes à demanda de mão-de-obra dos setores produtivos, que deverão subsidiar o processo de atualização e adaptação permanente dos esforços de qualificação para o trabalho à demanda proveniente das atividades produtivas. d. Linhas de Ação Este Programa terá sua execução pautada pelas seguintes linhas de ação: • envolvimento das diferentes instituições governamentais e não-governamentais que integram as ações voltadas para a qualificação da força de trabalho; • atualização das informações referentes à demanda de mão-de-obra para atividades produtivas, levando em conta as mudanças que ocorrem nos processos produtivos e o surgimento de novas demandas; • desenvolvimento de sistema de avaliação do treinamento e dos cursos realizados, em termos da qualidade do treinamento efetuado e de sua importância na inserção da população economicamente ativa no mercado de trabalho, assim como sua forma de vinculação no desenvolvimento de atividades produtivas; • atendimento prioritário do público alvo, considerando o atendimento imediato às pessoas desocupadas (desempregadas com seguro desemprego ou sem seguro desemprego e jovens em busca 197 do primeiro emprego) e às pessoas ocupadas, em risco de desocupação permanente ou conjuntural (empregados em setores que estão passando por modernização ou reestruturação; em atividades sujeitas a instabilidade por conta do clima, restrição legal, ciclo econômico, etc.); trabalhadores domésticos; empreendedores que já têm ou querem iniciar micro e pequenos negócios; e autônomos associados, cooperados; • a eles; e mobilização de entidades representativas dos segmentos vulneráveis ou que atuam junto • intermediação da mão-de-obra, com postos de atendimento, de imediato, nos centros urbanos mais importantes da região, e, posteriormente, em todos os municípios. e. Metas O Programa tem como meta global qualificar nos próximos 4 anos o correspondente a 20% da PEA, o que significa, o treinamento de um contigente próximo a 20 mil pessoas neste horizonte temporal. f. Instrumentos Dentre os instrumentos a serem mobilizados para a execução do Programa, destacam-se os seguintes: • os recursos financeiros provenientes do FAT, repassados via Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador–Planfor e Plano Estadual de Qualificação–PEQ; • os recursos do governo estadual, notadamente os voltados para a viabilização do Centro de Educação Profissional, a ser instalado no Seridó, e dos núcleos municipais a ele relacionados; • trabalho; grupo ou comissão de coordenação das ações voltadas para a qualificação para o • as instituições universitárias, o Sebrae, Senar, Senac, Senai e SESI, escolas públicas voltadas para a educação profissional ou profissionalizante, com desempenho a ser desenvolvido no contexto de uma divisão de tarefas que venha a ser negociada por comissão ou grupo voltado para a qualificação do trabalho no Seridó; e • os governos municipais, conselhos municipais, associações comunitárias, os sindicatos patronais e dos trabalhadores, na mobilização de recursos materiais e financeiros e na mobilização dos trabalhadores ou jovens às vésperas de entrada no mercado de trabalho, para a participação nos cursos ou treinamentos que estão sendo demandados pela sociedade. g. Recursos Financeiros e Fontes Este Programa mobilizará recursos no montante de R$ 3.000.000,00, equivalentes a US$ 1,666,700.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: União (80%) e Estado (20%). 198 Não estão incluídos naquele valor – por falta de informação – os recursos vinculados à construção e operacionalização do Centro de Educação Profissional, bem como os recursos que deverão ser mobilizados para a atuação dos órgãos que oferecem qualificação, pagas ou não pelo público, nos municípios do Seridó. No entanto é importante ressaltar que prosseguem as negociações orientadas para o detalhamento do Programa e a quantificação dos recursos que devem ser mobilizados. h. Gestão Dada a presença de um grande número de entidades participantes envolvidas e a dimensão e a complexidade do programa de qualificação para o trabalho, a efetiva implantação das ações exige, antes de mais nada, um esforço articulado de mobilização de recursos financeiros, materiais e humanos. Neste sentido não se pode prescindir da presença de uma comissão ou grupo de articulação regional, no qual estejam representados todos os mais relevantes participantes e no qual sejam negociadas as parcerias e a divisão de trabalho, além de fixadas metas de qualificação. 5.4.7 Melhoria Habitacional a. Situação Atual O diagnóstico relacionado às condições habitacionais da população do Seridó, produzido a partir de dados secundários e dos problemas assinalados pelas lideranças da região, mostrou a presença de várias formas de déficits, que necessitam ser considerados em qualquer esforço voltado para o desenvolvimento social da região. Embora as informações secundárias sejam defasadas, por se referirem ao início dos anos 90, elas indicam que estão ainda presentes nos dias atuais as condições precárias de habitação nos municípios do Seridó. Em primeiro lugar, cabe o destaque, no que se refere às condições de domicílios, para o problema da ausência de abastecimento de água adequado em parte significativa dos domicílios da região, mesmo quando são considerados apenas aqueles que poderiam ser mais facilmente beneficiados, ou seja os que se localizam no meio urbano. De fato, no que se refere a esses municípios, os dados mostram que, àquela época, possuíam abastecimento de água adequado cerca de 64% do total de domicílios urbanos, o que significa que um pouco mais de 1/3 não tinha acesso à água tratada. Essa situação é, em diferentes aspectos, muito desigual quando, se consideram as várias Zonas Homogêneas, e, mais ainda, quando a questão é examinada na perspectiva dos municípios. Enquanto na Zona Homogênea de Currais Novos cerca de 28% dos domicílios urbanos não têm acesso ao abastecimento de água adequado, na Zona Homogênea das Serras Centrais, essa cifra chega a mais de 2./3, ou seja 68%. À época, as informações disponíveis registravam, sobretudo nas Serras Centrais, uma proporção, ainda muito alta, de municípios sem abastecimento adequado de água. Mesmo que se considere o avanço ocorrido, numa área na qual as prioridades das administrações estaduais foram concedidas a essa questão, o déficit no acesso à água tratada é ainda um problema relevante, sobretudo quando se consideram todos os domicílios, inclusive os da zona rural. Os dados disponíveis revelam, ainda, um déficit maior, no que se refere às instalações sanitárias adequadas nos domicílios urbanos do Seridó. Neste caso, as cifras para o início dos anos 90 mostram que cerca de 42% dessas residências não possuíam tais instalações, segundo o padrão estabelecido pelo Pnud/Ipea/Ibge/FJP, no seu Atlas de Desenvolvimento Humano. A cobertura na região era muito desigual, havendo, no entanto, uma concentração maior das piores condições nos domicílios urbanos 199 das Serras Centrais: a média das Zonas Homogêneas–ZH com situação inadequada era de 42% na ZH de Currais Novos, 29% na de Caicó e 69% na Zona Homogênea das Serras Centrais. Além disso, embora os levantamentos mais atuais sejam precários ou inexistentes, é de esperar a presença de problemas mais graves, neste particular, nos domicílios rurais de toda a região. Também no que se refere aos domicílios urbanos, no tocante à disponibilidade de instalações sanitárias, não há como negar os avanços ocorridos, embora se tenha partido de uma base muito reduzida e os déficits ainda sejam relevantes, como se assinalou. Outras características são relevantes para conhecer as condições dos domicílios do Seridó. O Relatório do Desenvolvimento Humano do Brasil mostra, para os domicílios urbanos não só a existência de uma grande densidade de pessoas por domicílio – o que é sinal de déficit de habitação –, como a existência de domicílios com material de construção não durável. No que se refere à existência de domicílios com dormitórios cuja ocupação é superior a duas pessoas, a estimativa para o início dos anos 90 era de 31% dos domicílios nessa condição. Mais uma vez, aqui, se repetem as diferenças sub-regionais: na ZH de Currais Novos a média era de 26%, na de Caicó, 29%, e nas Serras Centrais, 39%. Como, neste particular, não ocorreram programas de grande impacto nas últimas administrações, é provável que valores próximos a esses ainda sejam encontrados neste ano de 2000. O déficit no que se refere a domicílios construídos com material não durável é bem menor: 8% na região, em seu conjunto, com um valor mais alto dessa média, no que se refere às Serras Centrais, que é de 15%. Relativamente a essa questão, houve uma melhoria generalizada, de 1970 para 1991, na região, de acordo com os dados do Relatório anteriormente citado. Outros aspectos das condições sanitárias da população do Seridó foram assinaladas quando da discussão com as lideranças dos municípios e da região, nos encontros para a elaboração do Plano do Seridó. Entre eles, cabe referir não só a insuficiência da oferta de água tratada, como a má qualidade do abastecimento de água e seu desperdício, por parte da população. Relativamente à má qualidade do abastecimento, foi concedido grande destaque ao comprometimento dos mananciais, a partir da precariedade do sistema de saneamento, que pode, evidentemente, provocar impactos negativos de grande significação sobre as condições de vida da população. Na mesma direção, as deficiências no tratamento do lixo e em seu destino, nas proximidades dos rios e mananciais usados para o abastecimento de água, também concorrem para reduzir a qualidade do abastecimento de água no Seridó. Não há como deixar de mencionar a atuação do setor público no tratamento dessas questões, quando se pretende caracterizar a situação atual nas condições dos domicílios. Relativamente à habitação, o governo do Estado desenvolveu programas voltados para a redução do déficit, entre os quais cabe destacar o Programa de Erradicação das Casas de Taipa, que teve sua concepção voltada para a substituição das residências com material não durável e inadequado, assim como para outras formas de melhoria das condições de domicílios: construção de dormitórios, serviços de infra-estrutura em vivendas duráveis das famílias de baixa renda, compreendendo sobretudo instalações de água, esgoto e energia elétrica. De concreto, entre as intervenções concluídas e em andamento, até recentemente (segundo semestre de 1999), cabe destacar as realizações em todo o Estado, no horizonte temporal iniciado em 200 1997. Foram construídos 13,6 mil casas populares, 12,5 mil unidades sanitárias, 3,7 obras de melhorias habitacionais e 35 equipamentos comunitários. Ao todo, foram cerca de 29,8 mil intervenções. Nessas intervenções foram mobilizados recursos orçamentários da União e do governo estadual, por intermédio de programas como o Habitar-Brasil, Ação Social em Saneamento (PASS), Programa Novo Lar e Erradicação de Casas de Taipa (inclusive mediante convênios com as Prefeituras). Relativamente aos municípios do Seridó, cabe o destaque para as seguintes ações: • no que se refere ao Programa Habitar-Brasil, foram desenvolvidos trabalhos de construção de unidades habitacionais em Currais Novos e Caicó, num total de 200 casas (cem unidades em cada um desses municípios); • para o Programa de Erradicação da Casa de Taipa, mediante convênios com as Prefeituras da Região, a partir de 1998 estavam em andamento ou concluídas 868 unidades habitacionais, 75 unidades sanitárias, 59 obras de melhoria habitacional e a construção de 2 equipamentos comunitários. Para 1999, os contratos já formalizados, relativamente às obras voltadas para os municípios do Seridó, abrangiam 541 unidades habitacionais e 320 unidades sanitárias. As habitações financiadas no âmbito do Programa de Erradicação de Casas de Taipa referem-se ao Embrião, ou seja, 29,07 m² de área construída, composta de sala, dormitório, cozinha, banheiro e lavanderia. Dispõe de instalações hidráulicas, sanitárias (fossa/sumidouro) e de instalações elétricas; e • com relação ao Programa de Ação Social em Saneamento–PASS, referente aos recursos orçamentários da União, para 1997, foram concluídos ou estavam em andamento 893 unidades sanitárias na Região do Seridó. Com recursos orçamentários da União, para 1998, as metas previstas eram de 480 unidades sanitárias em domicílios localizados nessa Região. O esforço do governo estadual, via Programa de Erradicação da Casa de Taipa, foi significativo, embora tenha alcançado pouco mais da metade das ações previstas no Estado do Rio Grande do Norte, em 1998, isto é, 5.951 unidades habitacionais das 10.497 previstas para aquele ano. Por contar com recursos da privatização da Cosern, esse Programa se encontra praticamente desativado. Para promover ações no sentido de viabilizar novas construções, ampliações e melhorias das condições infra-estruturais, no Rio Grande do Norte como um todo e no Seridó em particular, é necessário envidar esforços das três esferas de governo e mobilizar parcerias que possam ser estabelecidas em prol de melhores condições de moradia, de vida e de saúde, sobretudo para os segmentos sociais mais carentes. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral melhorar as condições de moradia da população residente no Seridó, tanto em termos de unidades habitacionais adequadas, quanto em relação à dotação de saneamento básico, inclusive instalações sanitárias, elétricas e hidráulicas apropriadas à conservação ambiental e à manutenção das condições de salubridade pública. Especificamente, pretende-se: • contribuir para a redução do déficit habitacional na Região do Seridó, mediante a construção de novas unidades habitacionais e a dotação de abastecimento d’água e instalações sanitárias nas habitações que se encontram desprovidas desses serviços; 201 • atender à população de baixa renda com ações voltadas para a melhoria das condições habitacionais, dando tratamento preferencial aos que se encontram em situação mais precária de habitabilidade; • incentivar a oferta de linhas de financiamento com vistas a permitir a ampliação e/ou construção de cômodos adicionais, de forma a reduzir o déficit por densidade excessiva de ocupação das unidades habitacionais; e • contribuir para a criação de novos postos de trabalho na indústria de construção civil e para o treinamento de pessoas da comunidade, em técnicas construtivas, no caso de beneficiários envolvidos em práticas de mutirão. c. Diretrizes O Programa terá suas ações pautadas pelas seguintes diretrizes: • a promoção de melhores condições habitacionais para a população do Seridó passará por um amplo esforço de captação e destinação de investimentos das três esferas de governo: federal, estadual e municipais, para proporcionar, sobretudo à população, mais carente acesso a habitações salubres; • será incentivado o envolvimento da população a ser beneficiada, assegurando-se maior adequação dos projetos habitacionais às necessidades dos usuários; • nos casos de transferências de casas de taipa ou de casas feitas com material nãodurável, para habitações duráveis e dotadas de saneamento básico, será imprescindível realizar campanhas de conscientização para o uso adequado dos equipamentos e materiais, de forma a contribuir para a perpetuação de hábitos de higiene e descarte de dejetos compatíveis com a preservação e a qualidade do meio ambiente; • os poderes públicos estarão atentos para a desocupação de áreas de risco, impróprias ou que apresentem perigo à população residente e ao meio ambiente; e • a regularização da posse do imóvel constituirá outra condição importante a ser considerada nos programas de habitação para a população de baixa renda. d. Linhas de Ação Este Programa compreenderá linhas de ação como as seguintes: • elaboração de projetos habitacionais que contemplem uma comunicação efetiva entre técnicos (arquitetos, engenheiros) e a população beneficiada pelos projetos, de forma a garantir a adequação entre as características das habitações populares e os hábitos e anseios da população a que se destina; • apoio à população beneficiada pelas habitações populares para adoção de hábitos que contribuam para melhorar as condições familiares de saúde, bem como a proteção e preservação do meio ambiente; 202 • utilização de métodos construtivos alternativos e incentivo ao uso de material de construção de origem local, para baratear custos; • treinamento dos beneficiários em noções de técnicas de construção e preservação das habitações e suas instalações; • utilização das normas estabelecidas pelo Habitar-Brasil e pelo Programa de Ação Social em Saneamento–PASS, para viabilizar a obtenção de financiamentos, entre as quais caber destacar as seguintes: i) o Estado ou município que tiver interesse deve em primeiro lugar encaminhar o Plano de Trabalho para a CEF, nos prazos estabelecidos pela Portaria que define o calendário anual das contratações; ii) a CEF efetua uma análise preliminar e envia o Plano de Trabalho para a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano–SEDU, enquanto órgão gestor do Programa para seleção da proposta; iii) no caso de a proposta obter aprovação do gestor (SEDU), o Estado/município encaminha a documentação exigida; iv) uma vez comprovada a situação adequada do proponente, de acordo com os requisitos da legislação vigente e a viabilidade da proposta, é firmado Contrato de Repasse de Recursos do Orçamento Geral da União entre a Caixa e o Estado/município; e v) finalmente, para complementar os recursos da União, é imprescindível a contrapartida – recursos próprios dos estados, municípios ou de terceiros, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias em vigor. e. Metas O Programa tem como metas principais: • construir no mínimo 3.000 habitações, até o ano 2.004, para substituir o equivalente a 60% do total das habitações não-duráveis existentes em 1991; • reduzir em 20% o total de habitações com densidade maior do que a adequada, mediante ampliação das habitações de reduzida dimensão, eqüivalendo a ampliar em aproximadamente 3,8 mil habitações, de um total de 19.200 habitações com elevada densidade demográfica (mais de 2 pessoas por cômodo); • reduzir em 40% o total de habitações urbanas com abastecimento de água inadequado (6 mil habitações) até 2004, na mesma proporção com que o problema se apresenta nas zonas homogêneas do Seridó; e • reduzir em 40% o déficit de habitações urbanas com instalações inadequadas de esgoto (6,7 mil habitações), até 2.004. f. Instrumentos O Programa será apoiado por instrumentos como os seguintes: 1. Programa Habitar-Brasil, nas Modalidades Urbanização de Áreas Ocupadas por Subhabitações e Urbanizações de Áreas não Ocupadas; 203 2. Programa Pró-Saneamento, 49 nas modalidades Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Saneamento Integrado–Prosanear, Desenvolvimento Institucional, Drenagem Urbana, Resíduos Sólidos, Estudos e Projetos; 3. Programa Pró-Moradia, 50 Programa de Atendimento Habitacional, via poder público, nas modalidades Urbanização de Áreas, Aquisição e/ou Produção de Lotes Urbanizados, Cesta de Materiais de Construção, Infra-estrutura em Conjuntos Habitacionais, Produção de Conjuntos Habitacionais e Desenvolvimento Institucional; e 4. Programa de Ação Social em Saneamento–PASS, nas modalidades Implantação, Ampliação e/ou Melhoria dos serviços de Abastecimento de Água, Implantação, Ampliação e/ou Melhoria dos Serviços de Esgotamento Sanitário, Implantação, Ampliação e/ou Melhoria dos serviços de Tratamento de Resíduos Sólidos. g. Recursos Financeiros e Fontes O Programa mobilizará recursos no montante de R$ 28.732.500,00, equivalentes a US$15,962,500,00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000. Tal estimativa considerou, na construção e ampliação de habitações: • 3.000 habitações (Lotes Urbanizados), ao custo unitário de R$ 2.500,00 (custo do Embrião Habitacional construído pelo Programa de Erradicação de Casa de Taipa no Rio Grande do Norte em 1999), perfazendo um total de R$ 7.500.000,00; e • 3.800 Cestas de Material de Construção ao custo de R$ 1.500,00 (valor com base na modalidade recuperação e melhoria habitacional do Habitar-Brasil), no total de R$ 5.700.000,00. Os investimentos na construção de instalações foram assim estimados: • Unidades Sanitárias: valor médio de R$ 975,00 51 por unidade sanitária, com base no PASS implantado na Região do Seridó em 1999, no valor total de R$ 6.532.500,00, considerando-se 6,7 mil habitações beneficiadas; e • Abastecimento de Água: estimativa efetuada segundo a modalidade recuperação e melhorias habitacionais do Habitar-Brasil, a R$ 1.500,00 por habitação melhorada, perfazendo um total de R$ 9.000.000,00, considerando cerca de 6 mil habitações. Para financiar a construção das habitações (Lotes Urbanizados) deve ser encaminhada solicitação de financiamento ao Programa Habitar-Brasil, por se tratar de recursos a fundo perdido, com contrapartida de 10% das prefeituras para municípios com menos de 25.000 habitantes e contrapartida de 20% para municípios com população superior a esse limite. Sabe-se que por receber muita demanda, não é fácil o acesso ao Programa, que confere prioridade aos municípios que integram o Programa Comunidade Solidária. As demais propostas ou no caso de não ser possível a obtenção de financiamento pelo Habitar-Brasil devem ser feitas ao Programa Pró-Moradia da Caixa Econômica 49 No Pró-Saneamento as taxas de juros variam de 5 a 8 % ao ano. No Pró-Moradia incidem taxas de juros de 5% ao ano. 51 Valor médio da Unidade Sanitária financiada através do Programa de Erradicação de Casa de Taipa do Governo do Estado para 1998. 50 204 Federal, nas modalidades Produção de Conjuntos Habitacionais, Aquisição ou Produção de Lotes Urbanizados e Cesta de Material de Construção. h. Gestão Todas as três esferas de governo devem articular-se para resolver o problema da habitação no Seridó. O governo do Estado, por intermédio da Coordenadoria de Habitação da Secretaria de Trabalho e Ação Social, poderá liderar a ação, haja vista a experiência acumulada nessa área, com o desenvolvimento do Programa de Erradicação de Casa de Taipa, e a disponibilidade de equipe técnica especializada. De qualquer modo, é necessário estabelecer uma estreita articulação entre a mencionada coordenadoria e a Agência de Desenvolvimento do Seridó, para que as especificidades regionais sejam preservadas e as aspirações e hábitos da população contemplados. Também devem ser realizadas articulações e parcerias com construtoras e a Caixa Econômica Federal. O detalhamento posterior do Programa exigirá esforços para identificar e quantificar os déficits de moradia, bem como os associados às condições de moradias (instalações sanitárias, acesso a água tratada e insuficiência de cômodos) no meio rural, que não foram considerados no programa. Neste particular, a mobilização de equipes técnicas e de recursos adicionais constitui esforço a ser realizado pela Agência de Desenvolvimento do Seridó, diretamente ou de forma terceirizada. 5.4.8 Erradicação do Trabalho Infantil a. Situação Atual Tanto em relação às análises feitas pelas lideranças municipais durante a fase de Diagnóstico do Plano do Seridó (Reuniões Municipais e Sub-Regionais), quanto a partir das análises realizadas com base em dados secundários, ficou evidente a presença, na região, do trabalho infantil e das conseqüências que dele decorrem para o desenvolvimento futuro das crianças envolvidas nesses trabalhos, notadamente em seu desenvolvimento cultural e no seu aprendizado na escola. Também foram pontuadas as conseqüências sobre a saúde e o futuro das crianças, numa sociedade que, de modo crescente, exige a alfabetização, o conhecimento e a habilidade profissional como elementos centrais na convivência diária e no desenvolvimento da cidadania. Quanto aos dados secundários, as informações apresentadas no Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil mostraram a presença, no Seridó, em 1991, de aproximadamente 3,9 mil crianças de 10 a 14 anos, em atividades econômicas, parcela significativa das 21,8 mil existentes, nas mesmas condições, no Rio Grande do Norte. Essa faixa de população infantil que trabalha está concentrada nos municípios maiores, da perspectiva demográfica, notadamente Caicó e Currais Novos e nos municípios das Serras Centrais, que, em geral, apesar de menores, registram percentual significativo da população vinculado ao meio rural, onde é adotada com mais freqüência a prática do trabalho infantil. Em valores absolutos, as informações mostram uma redução da população infantil nas atividades produtivas – de 5,2 mil em 1970, para 4,9 mil em 1980 e 3,9 mil em 1991. No entanto, não só essa redução é pouco significativa no prazo ocorrido, como o contingente é relevante, ainda, para a população infantil do Seridó. É de esperar, com essa tendência, que presentemente haja aproximadamente 3,5 mil crianças vinculadas a atividades produtivas na região, sobretudo quando se 205 considera que o registro dos levantamentos censitários inclui, somente, as crianças de mais de 10 anos. Sabe-se, porém, que ocorre o envolvimento das de menos de 10 anos nas atividades produtivas. Consta de estudo recentemente publicado, sobre a criança e o adolescente no Estado (“Criança e Adolescente no Rio Grande do Norte”), de responsabilidade do governo do Estado (Idema), com o apoio do Unicef e da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente–Fundac, um consistente diagnóstico sobre o trabalho infanto-juvenil, destacando, dentre outros aspectos, as atividades identificadas como focos desse tipo de trabalho no Estado, os municípios do Estado com identificação de trabalho infanto-juvenil, os ciclos do trabalho infantil e suas conseqüências. Entre os pontos mais relevantes do estudo, que merecem ser aqui lembrados – dada sua importância para a definição de objetivos, estratégias e diretrizes para um programa de erradicação do trabalho infantil – dá-se destaque aos seguintes: • na evolução recente, no Estado, ocorreu até 1998 um processo de erradicação do trabalho infantil em várias atividades, notadamente pela atuação da DRT e do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil; • posteriormente, os dados levantados mostraram uma situação preocupante em 1999, com o ressurgimento do trabalho infantil, inclusive em localidades nas quais estava erradicado, ocasionado pela pobreza e necessidade premente das famílias de mobilizarem as crianças para complementar a renda e pela ausência de programas específicos que servissem de suporte para a manutenção dos trabalhadores precoces na escola; • no rol das atividades identificadas como focos de trabalho infantil, o relatório destaca, dentre outras, as seguintes: na atividade de cerâmica – a fabricação de telhas e tijolos; na pesca – a atividade artesanal de pesca de peixes, moluscos e crustáceos; no algodão – a colheita e o ensacamento; no sisal – a colheita; nas casas de farinha – a colheita, raspagem da mandioca e separação da fécula; nas pedreiras – a trituração manual das pedras, com marretas; na fruticultura – a colheita e o encaixotamento de frutos; na tecelagem – o acabamento de redes, mantas, colchas de cama e panos de prato; na bonelaria – a costura, acabamento e colagem de bonés; na colheita do caju – as atividades do período da safra, envolvendo inclusive as crianças que trabalham nas casas de farinha; na produção de fogos de artifícios – a fabricação artesanal de fogos nos domicílios; na mineração – o extrativismo nas minas de scheelita e água-marinha; em atividades nas ruas centrais das cidades – a venda de produtos, panfletagem, guardadores de carros; no emprego doméstico – o trabalho como babás, cozinheiras e jardineiros; no comércio – como balconistas, vendedores, demonstradores, caixas e embaladores; nas panificadoras – auxiliar de padeiro, empacotadores e balconistas; nos depósitos de lixo – cata de lixo; e nas lanchonetes e bares: auxiliares de cozinha e garçons; • com relação aos municípios do Seridó, cabe mencionar, entre os que foram citados no trabalho do Idema, os seguintes, com as atividades que mais freqüentemente utilizam o trabalho infantil: fabricação de redes, mantas e panos de prato (Jardim de Piranhas), bonelaria, tecelagem e fabricação de chuteiras (Caicó); bonelaria (São João do Seridó, Serra Negra do Norte); nas casas de farinha e na colheita do caju (Lagoa Nova e Tenente Laurentino Cruz); casas de farinha (Cerro Corá, Santana do Matos, São Vicente, Florânia); cerâmica e pesca (Acari); cerâmica (Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta); cerâmica e mineração (Currais Novos); pedreiras (Ouro Branco); pesca (São João do Sabugi, Jardim do Seridó, Jucurutu); 206 • entre as conseqüências sociais negativas mais freqüentes: i) relativamente à escola: o abandono, a repetência, o fracasso escolar e faltas freqüentes; ii) em relação à inserção futura no mercado de trabalho: a impossibilidade e dificuldade para uma qualificação profissional, tendo em vista sobretudo a ausência de domínio da leitura e escrita, e o desemprego; relativamente à saúde: fadiga, esgotamento, doenças, dores freqüentes, desnutrição, lesão, risco de vida; e • no que se refere particularmente à escola, o relatório destaca, para o Rio Grande do Norte, considerado como um dos que mais ocorreu, entre os estudados, o abandono da escola, tendo registrado a cifra de 12% das crianças e adolescentes que deixaram a escola para trabalhar; além disso, “mais de 60% são repetentes pelo menos um ano e mais de 70% estão em série inadequada à idade”; no que se refere aos chefes de domicílios, ressalta, ainda, que “97% afirmaram que trabalharam quando crianças e 85% desses não têm escolaridade nenhuma ou, no máximo, três anos de estudo”. No rol das principais conclusões, o estudo do Idema destaca: • “A existência de um ciclo repetitivo relacionado à escolaridade das crianças trabalhadoras, cujos pais também trabalhavam na infância, verificando-se, em ambos, uma baixa escolaridade ou até nenhuma escolaridade”; • a renda auferida pelas crianças nem sempre implica um acréscimo real na renda domiciliar, ou seja, o argumento de “complementação da renda familiar” não justifica o trabalho infanto-juvenil, por tratar-se de valores incertos, esporádicos e insignificantes”; • “Nenhuma orientação aos trabalhadores para realização dos trabalhos. Nenhum equipamento de proteção individual”; • “Total falta de informação das famílias quanto ao risco do trabalho”; • “Os trabalhadores, mesmo os adultos, nunca associam os sinais e sintomas que apresentam com os trabalhos que realizam”; e • “A relação entre as enfermidades encontradas, a desnutrição e o trabalho precoce, com certeza, tende a expor as crianças e os adolescentes a situações maiores de risco”. Cabe lembrar a importância e significação do chamado ciclo repetitivo, no qual não se rompe a situação de pobreza, entre outros motivos, pela impossibilidade de o filho adquirir, por meio do acesso ao conhecimento e qualificação, melhores condições para inserção no mercado de trabalho. Deve-se, além disso, destacar a referência feita à reduzida importância da renda proveniente do trabalho infantil para a família. Neste particular, vale acrescentar à existência de estudos, inclusive realizados no próprio Nordeste, que mostram que tal renda significa um aporte relevante em algumas atividades, a exemplo daquela desenvolvida nos canaviais e na Zona da Mata de Pernambuco e da Paraíba. No momento atual, há um ambiente propício para a erradicação do trabalho infanto-juvenil, não só em razão da ênfase que vem sendo dada a respeito pelas lideranças do Seridó, como a partir das mais diferentes experiências que têm tido relativo sucesso em distintos estados. Ao lado da experiência do Distrito Federal e de governos municipais do Sudeste, cabe o destaque para experiência recente de Pernambuco, que atende através do seu programa de erradicação do trabalho infantil pouco mais de 70 207 mil crianças, na faixa de 7 a 14 anos, envolvendo cerca de 40 mil famílias num total de mais de 60 municípios. No Rio Grande do Norte, com o apoio da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente (Fundac/RN), está sendo desenvolvido um conjunto de ações voltadas para a erradicação do trabalho infantil, estando sendo atendidas nos primeiros meses do ano 2000 cerca de 3,6 mil crianças, em todo o Estado, tanto no meio urbano como rural. A Fundac tem registrada uma demanda correspondente a 5,4 mil crianças no meio rural e aproximadamente 3 mil no meio urbano. Desse total de crianças beneficiadas, cerca de mil já estão sendo atendidas em municípios do Seridó. Entre estes cabe destacar o de Caicó, Tenente Laurentino Cruz, Jardim de Piranhas e Lagoa Nova. Há uma demanda registrada, a ser atendida, no Seridó, nos Municípios de Bodó, Cerro Corá, Currais Novos, Florânia, Santana do Matos, São Vicente, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Equador, Jucurutu, Ouro Branco e São José do Seridó. Essa demanda já ultrapassa o provável envolvimento de 1,3 mil crianças trabalhadoras. Tem havido, nessas experiências, em geral, dentro e fora do Estado, a participação das três esferas de governo, num processo de coordenação compartilhada, sendo o repasse de recursos de responsabilidade do governo federal, com os governos municipais apresentando um envolvimento maior na operacionalização direta do Programa e no apoio ao seu financiamento, o que é também compartilhado pelos governos estaduais. É importante lembrar que, em algumas experiências, parte relevante do êxito do programa depende da participação da sociedade por meio dos conselhos (estaduais e municipais) voltados para a erradicação do trabalho infantil, significando seu envolvimento nos processos decisórios e na fiscalização das ações desenvolvidas, neste particular. As ações realizadas por meio do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil–PETI supõem a concretização de um pacto entre empresários, trabalhadores e famílias, que tem como objetivo básico mudanças significativas nessas relações de trabalho, concentrando os esforços nas famílias mais vulneráveis à pobreza e à exclusão econômica e social. O instrumento básico do programa reside na bolsa-escola, concedida mensalmente às famílias, com crianças e adolescentes de 7 a 14 anos, que assumam o compromisso de retirá-las do trabalho, mantendo-as nas atividades escolares. Neste particular, o que se pretende é “criar condições mínimas para que a família possa promover suas necessidades básicas e complementar sua renda, sem depender do trabalho da criança e do adolescente”. Além disso, não se trata apenas do acesso à escola, mas à permanência e ao sucesso no desenvolvimento das atividades escolares, através do estímulo para um segundo turno escolar – a jornada ampliada – pela qual as escolas ou unidades de apoio, “com suporte de recursos humanos e materiais asseguram a alimentação, a orientação nos estudos, o esporte e o lazer”. 52 Além disso, há, no próprio País, um contexto propício ao desenvolvimento do esforço de erradicação do trabalho infantil, que tem sua referência maior na Constituição de 1988, que estabelece como idade para o exercício da atividade profissional a de 14 anos. Ao lado dessa especificação constitucional, deve-se considerar o que foi estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990 (Lei 8.069/90). A partir daí, têm sido realizados esforços no âmbito do Ministério da Justiça, do Ministério do Trabalho, dos governos estaduais e de vários órgãos, departamentos e conselhos voltados para o cuidado com a criança e o adolescente, no sentido de promover a erradicação do trabalho infanto-juvenil. 52 Cf. Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Secretaria de Estado de Assistência Social (S.d.)- Manual operacional criança cidadã, do Ministério da Previdência e Assistência Social. S. n. t. 208 Apoiado nesses suportes constitucionais e legais, na presença de entidades que, há algum tempo vêm desenvolvendo ações neste sentido, e nas experiências de programas específicos, diretamente voltados para a erradicação do trabalho das crianças, o Seridó pode avançar na consolidação de um programa exemplar com esse objetivo, apoiado na participação da sociedade, nas instituições de fiscalização, no suporte financeiro dos governos federal e estadual e nas Secretarias de Educação dos governos municipais e do governo estadual. No que se refere à estratégia geral do Programa, relativamente ao seu objetivo de erradicação do trabalho infantil no Seridó, ele comporta, de um lado, i) o apoio ao menor e à sua família, no sentido de retirá-lo do trabalho, induzindo-o a freqüentar a escola, e, de outro lado, ii) o desenvolvimento de uma ação de fiscalização junto às empresas ou unidades de produção, no sentido de coibir a prática de utilização e exploração do menor de 14 anos, mediante o cumprimento da legislação a respeito. Não se trata, neste sentido, de apenas desenvolver um trabalho destinado a coibir a prática de utilização do menor, como mão-de-obra barata, no desenvolvimento de atividades produtivas, mas de apoiar a família e ao menor, visando sua educação e desenvolvimento pessoal, inclusive no sentido de romper o ciclo de pobreza ao qual sua família, em geral, vem sendo submetido em várias gerações e de permitirlhe, no futuro, uma inserção, mais vantajosa que a de seus pais, no mercado de trabalho. Relativamente ao apoio ao menor, é digno de destaque o conjunto de esforços voltados para retirá-lo de atividades produtivas que dificultam ou impedem o seu desenvolvimento pessoal e escolar, sua vinculação ao sistema de ensino e o reforço à sua participação na escola e na sociedade através da jornada ampliada. No que se refere à família, além do apoio financeiro, via bolsa-escola, que passa a receber a partir da permanência dos filhos na escola, o Programa deverá apoiar os pais na melhoria de suas condições de vida e de inserção no mercado de trabalho. Em termos operacionais, ao lado de uma articulação entre as diferente instituições que podem participar dos esforços de erradicação do trabalho infantil no Seridó, é importante definir, desde logo, uma divisão de tarefas e de responsabilidades, entre os diferentes órgãos ou entidades, para eliminar o desperdício de meios e esforços e a superposição de trabalhos e funções. A parte mais relevante da execução dos trabalhos deverá caber às prefeituras. No entanto, o financiamento do Programa, em grande parte, deverá ser realizado com recursos provenientes de fontes que o governo federal, em programas similares, tem mobilizado com esse propósito. Em qualquer arranjo institucional, é da maior importância o amplo envolvimento da sociedade, tanto nas decisões a respeito das prioridades do Programa, como no que diz respeito à avaliação permanente dos resultados obtidos. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral erradicar o trabalho das crianças de 7 a 14 anos, no Seridó, por meio de sua vinculação ao sistema de ensino e o acompanhamento do seu desempenho escolar. Especificamente, pretende-se: • eliminar o trabalho das crianças de 7 a 14 anos, sobretudo nas atividades que envolvem risco, comprometem a saúde e impedem ou dificultam o acesso à escola e o bom desempenho escolar das crianças; 209 • vincular a criança beneficiada por meio dos esforços voltados para a erradicação do trabalho infantil com as atividades escolares, acompanhando seu desempenho; • auxiliar financeiramente as famílias pobres das crianças vinculadas ao Programa, quando comprovada sua condição de pobreza e/ou a grande dependência da renda familiar à contribuição do menor trabalhador, mediante o pagamento de bolsa escolar; • assistir e acompanhar as famílias pobres beneficiadas pelo Programa, para assistir os filhos menores, viabilizando sua maior integração à escola e o apoio ao seu engajamento em atividades que possam garantir melhora nas condições de vida e de trabalho; • adequar os sistemas de ensino às exigências de erradicação do trabalho infantil, consolidando o desenvolvimento de atividades adicionais através de jornada ampliada, nas quais seja oferecido apoio escolar à criança, alimentação e o desenvolvimento de práticas esportivas e de lazer; e • mobilizar a sociedade, com o seu compromisso de promover o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, pela eliminação das condições que induzem ao envolvimento precoce das crianças na realização do trabalho produtivo. c. Diretrizes O Programa terá suas ações pautadas pelas seguintes diretrizes: • esforço necessário para o desenvolvimento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil deverá envolver, de forma articulada e coordenada, diferentes instituições governamentais e não-governamentais, com uma divisão de responsabilidade que evite a superposição de tarefas e o desperdício de meios; • a atividade de coordenação deverá ter sua expressão regional, expressa por um conselho ou grupo de trabalho voltado para a erradicação do trabalho infantil, no qual participem integrantes da Comissão de Acompanhamento do Plano-CAP (ou da Agência de Desenvolvimento do Seridó), representantes dos órgãos e instituições governamentais e não-governamentais que participam do Programa; • governo federal, a exemplo do que ocorre em programas e projetos similares, deverá ser o principal responsável pelo financiamento do Programa, notadamente no que se refere aos custos da bolsa-escola e ao apoio ao sistema escolar, para ampliação da jornada, com suporte complementar do governo estadual e dos governos municipais; • as prefeituras deverão voltar-se preferencialmente para a administração e execução direta do Programa, tanto no que se refere à vinculação com os menores e suas famílias como em relação à articulação do menor trabalhador com o sistema de ensino; • deverá caber, ainda, aos governos municipais a articulação posterior do menor de mais de 14 anos, que tenha sido assistido anteriormente pelo Programa, com a continuidade dos estudos, da realização de estágios ou da participação em cursos voltados para sua qualificação para o trabalho; e 210 • simultaneamente ao apoio ao menor trabalhador e à sua família, deverá desenvolver-se esforço de fiscalização das empresas dos setores produtivos nas quais se utilize mão-de-obra infantil, no sentido de coibir, de acordo com a lei, essa prática. d. Linhas de Ação O Programa será executado a partir de linhas de ação como as seguintes: • envolvimento das diferentes instituições governamentais e não-governamentais que integram os esforços voltados para erradicação do trabalho infantil; • mapeamento completo e atualizado – por meio sobretudo do governo estadual –, dos municípios e dos segmentos produtivos, nos quais ocorra a utilização do trabalho infantil, para estabelecer a partir dessas informações as prioridades nas ações que devam ser desenvolvidas, considerando-se os municípios e as atividades produtivas; • utilização de critérios de apoio aos menores e famílias, via bolsa-escola, para estabelecer prioridade no atendimento às famílias pobres, para as quais a contribuição da renda obtida pelo trabalho do menor é relevante; • articulação das iniciativas do sistema de ensino municipal com atividades específicas de erradicação do trabalho infantil, tanto no que se refere à assistência ao menor, como à sua família, tendo como foco o desempenho das crianças na escola; • continuidade do apoio ao menor de mais de 14 anos, que tenha sido beneficiado com o Programa, em estágios ou junto ao sistema de ensino e de qualificação para o trabalho, no sentido de permitir-lhe uma inserção vantajosa no mercado de trabalho; • produção de informações sobre programas similares de erradicação do trabalho infantil, em outros estados ou regiões, relativamente às fontes de financiamento, à continuidade da assistência ao menor, à sua vinculação posterior com a atividade produtiva e aos resultados concretos obtidos no seu aproveitamento escolar e em sua inserção no mercado de trabalho; e • avaliação permanente do Programa. e. Metas O Programa tem como meta-síntese beneficiar 3,5 mil menores trabalhadores, de 7 a 14 anos, no período de 4 anos, retirando-os do trabalho e vinculando-os aos sistemas de ensino. f. Instrumentos Entre as instituições e instrumentos que devem ser mobilizados para o desenvolvimento do programa de erradicação do trabalho infantil, podem ser destacados os seguintes: 1. conselho ou grupo de trabalho para a erradicação do trabalho infantil no Seridó, que deverá ter sob sua responsabilidade a coordenação e articulação das ações e a avaliação permanente dos resultados obtidos; 211 2. os recursos financeiros do governo federal, sobretudo o vinculado à bolsa escola e à manutenção da jornada ampliada, que deverá contar com apoio complementar do governo estadual; 3. as prefeituras municipais, como responsáveis pela parte operacional do Programa, tanto no que se refere ao apoio socioeducativo aos menores e às suas famílias, quanto à continuidade da assistência ao menor que ultrapassou a idade de atendimento imediato; 4. apoio de entidades do governo federal, estadual, via PETI, e de instituições nãogovernamentais, em diferentes aspectos do Programa (apoio técnico, de fiscalização, mobilização, etc.) entre as quais cabe destacar: i) Fundação Estadual da Criança e do Adolescente-Fundac/RN, responsável, no Estado, pela consolidação do PETI; ii) Delegacia Regional do Trabalho–DRT, por meio do Núcleo de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente– NUCA; iii) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Rio Grande do Norte-Consec/RN; iv) Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte–Idema; e 5. os sindicatos e associações dos trabalhadores, os sindicatos e associações patronais, as igrejas e os conselhos municipais. g. Recursos Financeiros e Fontes O Programa mobilizará recursos no montante de R$ 5.724.000,00, equivalentes a US$ 3,180,000.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, provenientes das seguintes fontes: União (83%), Estado 9%) e municípios (8%). O custo total do Programa foi calculado com base nas seguintes estimativas: • um aumento gradativo do atendimento das crianças que trabalham, começando com 1,5 mil no primeiro ano, 2,0 mil no segundo e 2,5 mil no terceiro e 3,5 mil no quarto ano; • a participação de 65% do atendimento de crianças envolvidas em trabalho rural e 35% em trabalho urbano, de acordo com a estrutura da demanda existente na Fundac; • com base nessas estimativas e considerando a existência de custos diferentes para a criança do meio rural (R$ 25,00 criança/mês para bolsa, repassada para a família, e R$ 20,00 por criança/mês para a jornada ampliada, importância repassada para os governos municipais) e do meio urbano (de R$ 25,00 a R$ 40,00 para a bolsa e de R$ 10,00 para a jornada ampliada), calculou-se o custo médio anual em R$ 530,00 por criança-adolescente/ano, nesses dois itens; e • somando os 4 anos, considerando a evolução anual das metas, os recursos necessários para tais itens alcançam R$ 4.770.000,00. Admitiu-se que os governos municipais e o governo estadual contribuiriam, cada um deles, com uma participação de 10% do referido valor. h. Gestão As linhas gerais do modelo de gestão devem envolver, em primeiro lugar, um conselho ou grupo de trabalho voltado para a coordenação e articulação com as entidades envolvidas no Programa. 212 Esse conselho ou comissão deverá subordinar-se à Agência de Desenvolvimento do Seridó, compreendendo, além de representantes diretos das instituições integrantes do Conselho de Desenvolvimento do Seridó, representantes de órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) e entidades não-governamentais que participam do empreendimento. 5.5 DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL Foram selecionados e detalhados dois Programas, no âmbito desta Dimensão: o de Institucionalização do Sistema de Gestão e o de Desenvolvimento Institucional, abrangendo este último os seguintes Projetos: Ampliação e Melhoria de Desempenho da Administração Municipal; Modernização do Sistema Municipal de Administração Fiscal; Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal; Consolidação e Aprimoramento das Organizações Comunitárias; e Fortalecimento do Sistema Cooperativista da Região. 5.5.1 Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano a. Situação Atual O quadro institucional da Região do Seridó apresenta desempenho pouco satisfatório, em razão, principalmente, da desarticulação entre as diversas instâncias de governo e gestão, e do paralelismo e superposição de funções. Debitam-se esses desajustes, em grande parte, à estrutura e à forma de atuar das instituições públicas, excessivamente centralizadas e hierarquizadas, notadamente nos níveis federal e estadual. Daí resultam a prestação de serviços públicos de má qualidade e desperdícios de toda ordem, que terminam por comprometer a execução das ações governamentais e o cumprimento de objetivos e metas de programas e projetos, cujos recursos financeiros se diluem, em elevados percentuais, nos gastos com as atividades-meio. A inadequação de estruturas e de processos reflete-se, também, na administração municipal, onde a centralização é a tônica do processo de tomada de decisões, em meio à deficiência técnica nos sistemas de gestão, nos quais praticamente inexiste o trabalho em equipe e pouca importância se dá à participação da sociedade, por meio de mecanismos de co-gestão. A situação é agravada, ainda, pela baixa capacidade de arrecadação tributária dos municípios, o que determina sua elevada dependência às transferências intergovernamentais. A elaboração do Plano do Seridó teve como uma de suas características principais a participação da sociedade civil, por intermédio de seus mais expressivos segmentos, em trabalho no qual se somaram conhecimentos e experiências, com o objetivo de definir caminhos e ações que possibilitassem o deslanche e a consolidação do processo de desenvolvimento desejado. Assim, o Plano é o resultado de uma notável conjugação de esforços que envolveu o governo do Estado do Rio Grande do Norte, as Associações de Municípios (AMSO e AMS), Prefeituras Municipais da região, a Diocese de Caicó, entidades empresariais, sindicatos e várias outras instituições representativas da sociedade civil. Os esforços despendidos para sua elaboração, no entanto, podem resultar inócuos se não se conceber e se colocar em prática um Sistema que venha a possibilitar a gestão eficiente e eficaz das ações propostas. A concepção do Sistema de Gestão, a exemplo das demais propostas contidas no Plano, teve como ponto de partida as discussões realizadas com as instâncias representativas dos municípios, das Zonas Homogêneas e do Seridó, envolvendo, assim, um 213 processo detalhado e compreensivo sobre como melhor atender às demandas da comunidade, com a implementação dos programas e projetos contidos no Plano. O Sistema foi concebido de forma a garantir a participação da sociedade nos processos de gestão de Programas e Projetos, assim como a continuidade do Plano, por intermédio de metodologias que permitam a capacitação dos atores envolvidos, para que possam atuar como agentes permanentes de melhoria do Sistema. b. Objetivos Este Programa tem como objetivo geral conceber e instalar a estrutura e os processos de gestão do Plano do Seridó, adotando sistemática de planejamento, coordenação, monitoria e avaliação que permita às instituições envolvidas estabelecerem, entre si, um relacionamento objetivo e permanente, integrando e atualizando ações que favoreçam as orientações estratégicas de desenvolvimento dos municípios da Região do Seridó. Especificamente, o Programa contemplará: • a internalização de um processo permanente e articulado para o planejamento, a execução e o acompanhamento das ações do Plano; • a integração e a sinergia entre as diversas instituições e entidades envolvidas na implementação do Plano, de modo a estabelecer parcerias que facilitem a consecução dos objetivos determinados; e • cumprimento das metas dos Programas e Projetos com eficiência, eficácia e economia de meios. c. Diretrizes O Sistema de Gestão do Plano será institucionalizado de forma a contemplar toda a Região do Seridó, atuando em três instâncias distintas, mas interligadas: o município, a Zona Homogênea e a região como um todo. Com níveis diferenciados de autonomia e competência, essas instâncias atuarão no planejamento e gestão de todas as ações do Plano, no âmbito das iniciativas públicas e privadas, fundamentado nas seguintes diretrizes: • participação da sociedade, com organizações não-governamentais e outras entidades da sociedade civil atuando como parceiros e co-responsáveis pela condução das ações do Plano, em conjunto com instituições governamentais dos três níveis da administração pública; • descentralização, com suas instâncias operando segundo competências, atribuições e responsabilidades especificamente definidas na cadeia dos processos decisórios, de forma a se obter maior agilidade e eficiência na execução das ações; • coordenação das ações, exercida pelas instâncias do Sistema, com o apoio técnico de instituições governamentais; e • planejamento efetivo, envolvendo a obrigatoriedade de elaboração prévia de Planos Operativos Anuais, para todos os Programas e Projetos. 214 d. Linhas de Ação A Institucionalização do Sistema de Gestão dar-se-á por intermédio das seguintes linhas de ação: • identificação das Organizações Não-Governamentais e demais instituições da sociedade civil que deverão integrar o Sistema de Gestão; • adequação de estruturas, procedimentos e formas de atuação das instituições da sociedade civil integrantes do Sistema, para que possam cumprir com eficiência as atribuições que lhes forem cometidas; • adequação da atuação das Associações de Municípios (AMSO e AMS), principalmente no que se relaciona aos trabalhos destinados à modernização e melhoria de desempenho das administrações municipais; • concepção de programas específicos de treinamento para os representantes das instituições integrantes das diversas instâncias do Sistema; • capacitação de técnicos e beneficiários em desenvolvimento local sustentável, com ênfase em planejamento econômico, meio ambiente, administração de projetos comunitários e mobilização e organização comunitária; e • estabelecimento de sistema informatizado envolvendo o andamento de todos os Programas e Projetos do Plano, incluindo um banco de dados e um cadastro de comunidades, associações comunitárias, organizações não governamentais, etc. e. Metas O Programa de Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano tem como metas: • criar o Comitê de Implementação do Sistema, constituído pelo Grupo Gestor (SeplanRN) e por consultores, para conduzir as ações necessárias à implementação do Sistema; • instalar Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável e/ou adequar, às peculiaridades do Sistema, os já existentes, abrangendo os 28 municípios da Região do Seridó, até março de 2001; • instalar 3 Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável (um em cada Zona Homogênea da Região do Seridó), até março de 2001; • reestruturar o Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, instituído pelo Decreto nº 14.543, de 3 de setembro de 1999, até outubro de 2000; • criar e instalar a Agência de Desenvolvimento do Seridó (unidade de planejamento e gestão do Plano), vinculada ao Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, até março de 2001; 215 • formar equipes técnicas, no âmbito da Agência de Desenvolvimento do Seridó, para desenvolver a capacidade local e regional de mobilização e organização comunitárias; • realizar 3 seminários para capacitação dos componentes dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável, até abril de 2001; e • realizar um curso sobre gestão estratégica, elaboração, execução, monitoria e avaliação de programas e projetos de desenvolvimento sub-regional, para os componentes da equipe técnica da Agência de Desenvolvimento do Seridó, em maio de 2001. f. Instrumentos Para a viabilização das linhas de ação do Sistema de Gestão do Plano serão utilizados alguns instrumentos de caráter operacional, agrupados, segundo sua natureza em: i) institucionais; ii) jurídicolegais; e iii) administrativos. f.1 Institucionais: são as várias instituições governamentais, não-governamentais, entidades de classe e entidades outras, representativas dos diversos segmentos da sociedade civil, que integram as instâncias do Sistema de Gestão do Plano. Instrumentos importantes para o funcionamento do Sistema, esse conjunto de entes deve atuar com alta capacidade operativa, para viabilizar a concretização das ações do Plano. f.2 Jurídico-Legais: constituem o conjunto de instrumentos legais, a serem gerados no âmbito da administração pública estadual e municipal, necessários à formalização da personalidade jurídica do Sistema e ao funcionamento de suas diversas instâncias. f.3 Administrativos: envolvem a concepção e formalização das estruturas organizacionais necessárias à constituição e operacionalização do Sistema, tais como: estatutos, regimentos internos, portarias, resoluções, etc. g. Recursos Financeiros e Fontes Os recursos financeiros necessários à Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano somam R$ 1.052.200,00, equivalentes a US$ 569,600.00, ao câmbio de US$ 1.00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (40%), municípios (5%), bancos oficiais (30%) e setor privado (25%). h. Gestão A implementação do Programa envolve a esquematização das ações necessárias, a forma como devem interagir os atores envolvidos e a indicação das providências para a instalação efetiva do Sistema. Esse conjunto de ações será executado pelo Comitê de Implementação do Sistema, sob a coordenação do Presidente do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. 5.5.2 Desenvolvimento Institucional Os municípios que integram a Região do Seridó contam com um número bastante expressivo de instituições, que prestam uma gama diversificada de serviços de interesse público. O espectro dessas 216 instituições abrange desde órgãos e entidades das três esferas de governo até entidades de classe, organizações não-governamentais e associações comunitárias. O desempenho de todo esse aparato institucional, no entanto, ainda deixa muito a desejar, seja por razões ligadas a estruturas inadequadas seja pela utilização de processos deficientes seja, ainda, pela carência ou despreparo de equipes técnicas. O sucesso das ações previstas no Plano do Seridó depende, entre outros fatores: i) da modernização das instituições básicas da política no âmbito local (especificamente Prefeituras e Câmaras de Vereadores), como forma de ampliar a capacidade de processamento da política e do sistema político; ii) da reestruturação da estrutura organizacional e do funcionamento do Executivo, de modo a ampliar a capacidade dos sistemas municipais de governo para planejar, dirigir e coordenar as ações da administração pública; e iii) do estabelecimento de novas relações entre o Estado e as organizações da sociedade civil, no âmbito local, na produção de bens e serviços públicos e na constituição de novas instâncias institucionais para o exercício da democracia direta. Assim, é de fundamental importância promover a adequação das atuais estruturas organizacionais às exigências decorrentes do elenco de funções inerentes ao Sistema de Gestão do Plano, assim como a definição e adoção de normas e procedimentos que agilizem o desempenho institucional. Para tanto foi concebido o presente Programa de Desenvolvimento Institucional, que contempla os seguintes Projetos: i) Ampliação e Melhoria de Desempenho da Administração Municipal; ii) Modernização do Sistema de Arrecadação Fiscal; iii) Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal; iv) Consolidação e Aprimoramento das Organizações Comunitárias; e v) Fortalecimento do Sistema Cooperativista da Região. Em seu conjunto, este elenco de projetos demanda recursos no montante de R$ 2.030.800,00, equivalentes a US$ 1,128,200.00, ao câmbio de US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000. 5.5.2.1 a. Ampliação e Melhoria de Desempenho da Administração Municipal Situação Atual A administração municipal ainda é marcada, com maior ou menor intensidade, por uma das características históricas da administração pública brasileira, onde sobressaem, de um lado, a concentração do poder no âmbito da Prefeitura (e, nesta, nas figuras do Prefeito e de seus auxiliares mais diretos) e, de outro, a ausência de mecanismos descentralizados de planejamento, participação e ação governamental compartilhada. A situação não é diferente nos municípios do Seridó, nos quais se destaca, ainda (principalmente nos de menor porte), a dificuldade encontrada pelas administrações municipais com respeito à constituição de suas equipes técnicas. Como são poucas as pessoas disponíveis no município para o exercício das funções especializadas integrantes do processo de gestão e como, pela debilidade econômica da quase totalidade dos municípios, os salários oferecidos não estimulam possíveis interessados, são poucas as Prefeituras que dispõem de um quadro de pessoal qualitativamente satisfatório. Embora em alguns municípios o altruísmo de alguns cidadãos procure suprir tal deficiência, a regra geral é a existência de equipes técnicas reduzidas ao mínimo e com nível de capacitação muito aquém do necessário. Por outro lado, a maioria das Câmaras Municipais tem também se caracterizado por uma atuação extremamente deficiente, com pouca presença nas decisões sobre as questões de interesse público, ora atuando segundo as orientações mais específicas do Poder Executivo, ora exercendo uma oposição plena e às vezes radical, a depender das relações políticas entre Vereadores e Prefeitos. 217 Excetuando-se a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, poucos são os instrumentos do poder local que atuam efetivamente nas decisões, especialmente naquelas que dizem respeito ao desenvolvimento econômico do município. Os graus de consciência política e de organização da população ainda são muito precários, e só aos poucos vêm se recompondo do retrocesso que sofreram no período autoritário de longa duração a que o País foi submetido. Há que destacar, no contexto da situação descrita, a existência de um instrumento de atuação popular, que começa a integrar o Sistema Municipal de Governo, com alguma forma de participação positiva: são os Conselhos, especialmente os de Saúde, de Educação, da Criança e do Adolescente, que vêm ganhando expressão em alguns municípios. Por força de exigência legal ou por atuarem em áreas quase sempre elevadas à categoria de prioritárias pelas administrações inovadoras, esses colegiados vêm se fortalecendo nos últimos anos, embora possa se apontar como uma de suas deficiências o fato de terem predominância, em sua constituição, de pessoas ligadas direta ou indiretamente à administração municipal, em decorrência da especificidade de suas funções. De ação mais abrangente e voltada para o crescimento socioeconômico dos municípios são os Conselhos de Desenvolvimento Municipal (denominação mais usual, dentre outras encontradas). Esses Conselhos vêm se formando aos poucos em alguns municípios da Região do Seridó, ganhando expressão como colegiados que articulam a ação da sociedade, por meio da representação de seus diversos segmentos, na formulação de políticas, programas e projetos capazes de melhor orientar a atuação da administração municipal. É bem verdade que ainda apresentam muitas deficiências, tanto em sua estruturação quanto em seu próprio funcionamento, principalmente por não se estar desenvolvendo um trabalho eficiente de conscientização entre seus integrantes sobre suas competências e a abrangência de suas funções, mas é inegável que representam um poderoso instrumento de ação política, capaz de minar a predominância do velho sistema oligárquico, centrado na Prefeitura e no Prefeito. À medida em que se multiplicarem e aprimorarem o seu funcionamento, esses Conselhos tenderão a contribuir para a ampliação e a melhoria do Sistema Municipal de Governo, hoje quase que exclusivamente limitado à dualidade representada por Prefeitura/Câmara de Vereadores. b. Objetivos O Projeto tem como objetivo geral ampliar, consolidar e aprimorar o desempenho do Sistema Municipal de Governo, propondo-se, especificamente, a: • adequar a estrutura organizacional das Prefeituras às exigências do Sistema de Gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; • possibilitar a adoção de métodos e processos mais modernos de planejamento e gestão dos serviços públicos; • capacitar o quadro de pessoal das administrações municipais, com vistas à melhoria de seu desempenho e à otimização dos serviços públicos; e • estimular a participação da sociedade na administração municipal, com a adoção de mecanismos de co-gestão e de controle social. 218 c. Diretrizes Com o Projeto de Ampliação e Melhoria de Desempenho da Administração Municipal, pretende-se ampliar e consolidar um processo de mudança nas práticas e métodos da administração municipal, para o que são estabelecidas as seguintes diretrizes: • a atenção ao cidadão estará orientada para disponibilizar e facilitar o acesso às informações (legais, tributárias, financeiras e outras) de interesse geral e prestar serviço de forma integral e conclusiva, além de receber críticas, sugestões e reclamações dos munícipes, prestando conta das providências adotadas e de seus resultados; • apoio à gestão de recursos humanos e o gerenciamento das funções de administração de pessoal serão realizados com base em informações sobre admissão, qualificação profissional, folha de pagamento, evolução salarial, lotação e outros dados de assentamento funcional; • a administração de serviços gerais, para permitir a gestão patrimonial, controlará todas as etapas do processo de aquisição de bens ou serviços, de controle material e de uso e manutenção de veículos, máquinas e equipamentos; • apoio à alta gerência disponibilizará informações sobre os resultados das diversas funções da administração municipal, permitindo o acesso rápido e atualizado por meio eletrônico aos textos da legislação municipal, de forma a auxiliar o processo decisório; e • a participação mais efetiva e eficiente da sociedade na tomada de decisões e nos processos de co-gestão será conduzida por intermédio de Conselhos e outros mecanismos de controle social. d. Linhas de Ação A execução do Projeto dar-se-á segundo as linhas de ação abaixo especificadas: • adequação das estruturas organizacionais das Prefeituras às especificidades do Plano do Seridó; • concepção e implantação de um Sistema Integrado de Planejamento, envolvendo os municípios e a Região do Seridó, como um todo, articulado com a Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte; • Humanos; e concepção, implantação e execução de um Programa de Capacitação de Recursos • concepção, implementação e execução de um Programa de Capacitação de integrantes de Conselhos Municipais e outros mecanismos de controle social. e. Metas A execução do Projeto estará voltada para o cumprimento das seguintes metas: 219 • realizar a reestruturação organizacional de 28 prefeituras municipais, até dezembro de • montar um Sistema Integrado de Planejamento, até junho de 2001; 2001; • realizar 4 cursos de capacitação em ações de planejamento, para servidores das Prefeituras Municipais, entre julho e dezembro de 2001; e • realizar 30 cursos de treinamento para integrantes de Conselhos Municipais e outros colegiados afins, entre março de 2001 e julho de 2002. f. Instrumentos Para viabilizar a execução do Projeto, serão utilizados os seguintes instrumentos institucionais; 1. Instituto Brasileiro de Administração Municipal–IBAM; 2. Secretaria de Administração do Estado do Rio Grande do Norte; 3. Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte; 4. Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Rio Grande do Norte; 5. Associação dos Municípios do Seridó Ocidental–AMSO; 6. Associação dos Municípios do Seridó–AMS; 7. Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e 8. Organizações Não-Governamentais com atuação nas áreas de treinamento e organização comunitária. g. Recursos Financeiros e Fontes A execução do Projeto exige recursos da ordem de R$ 550.000,00, equivalentes a US$305,556.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado do Rio Grande do Norte (40%), municípios (20%) e bancos oficiais (40%). h. Gestão A coordenação geral das ações do Projeto estará a cargo da Agência de Desenvolvimento do Seridó e sua execução dar-se-á de forma específica a cada respectiva meta, segundo a descrição abaixo: • a implantação do Sistema Integrado de Planejamento deve ser desenvolvida por meio de ação conjunta envolvendo a Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte, a AMS e a AMSO; 220 • a reestruturação organizacional das prefeituras será objeto de trabalho integrado a ser desenvolvido pelas seguintes instituições: IBAM, Secretaria de Administração do Estado do Rio Grande do Norte, Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, AMS e AMSO; • as atividades de capacitação de servidores municipais estarão a cargo da Secretaria de Administração do Estado do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte, AMS e AMSO; e • as atividades de capacitação de integrantes de Conselhos Municipais e colegiados afins serão desenvolvidas por Organização Não-Governamental com experiência na área, a ser mobilizada pela Agência de Desenvolvimento do Seridó. 5.5.2.2 a. Modernização do Sistema Municipal de Administração Fiscal Situação Atual Os sistemas administrativos municipais que compõem a Região do Seridó vêm sendo desafiados pelas transformações socioeconômicas que ocorreram no âmbito local, nas últimas quatro décadas, ou que foram provocadas pela crise do Estado e pelas mudanças nas políticas econômicas e sociais daí decorrentes. O rápido deslocamento das populações dispersas no meio rural para as comunidades rurais e sedes municipais acarretou não somente uma maior pressão sobre a demanda por trabalho e por infraestrutura econômica e social, mas, também, a possibilidade de diversificação e aumento das receitas tributárias e de contribuições patrimoniais, no âmbito municipal. A mudança no perfil produtivo da região, com a decadência do algodão e a ampliação e diversificação de atividades urbanas nas cidades e no meio rural, requer uma efetiva participação do município como instância de promoção, financiamento e realização de investimentos e serviços públicos. A descentralização das políticas, programas e projetos sociais, ocorrida a partir dos anos 80, sobretudo com a Constituição de 1988, ampliou as transferências, e conseqüentemente, as receitas dos níveis subnacionais de governo. No entanto, as despesas no âmbito dos municípios aumentaram de forma aleatória, face à ausência de uma estratégia clara de descentralização político-institucional e fiscal no âmbito nacional, e, conseqüentemente, de uma reforma tributária capaz de garantir a alocação de receitas compatíveis com as novas demandas geradas no âmbito municipal. Como conseqüência, os municípios do Rio Grande do Norte, e particularmente do Seridó, padecem de graves restrições em matéria de disponibilidade de recursos financeiros. As receitas próprias são pouco expressivas e a dependência das transferências governamentais é bastante elevada. Considere-se ainda que o principal item das receitas municipais, o FPM, é muitas vezes parcialmente retido pelo governo federal para amortizar antigas dívidas das Prefeituras com o INSS e o FGTS. A relação entre a quota-parte do FPM e a receita total dos municípios situa-se acima de 70%, na maior parte dos casos. Além disso, o principal critério de distribuição do FPM, que é a proporcionalidade em relação à população, coloca num mesmo patamar de receitas municípios com 221 populações bastante diferentes, configurando uma clara situação de injustiça distributiva. Timbaúba dos Batistas e Cruzeta, por exemplo, estão classificados com o mesmo coeficiente (0,6), tendo recebido quantias iguais no ano 1987, correspondentes a R$ 932.073,00, apesar de possuírem populações de 1.934 e 7.874 habitantes, respectivamente, naquele mesmo ano. (Idema, 1998). O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços–ICMS é outra fonte de receita dos municípios, aparecendo de forma significativa apenas nos dois maiores municípios da Região – Caicó e Currais Novos. Na maioria dos casos, os municípios não cobram o Imposto Predial e Territorial Urbano-IPTU, por considerarem que o valor a ser arrecadado não compensa os desgastes políticos e os custos administrativos decorrentes de sua cobrança. As municipalidades contam ainda com outras fontes de receitas, como as relativas ao Imposto Sobre Serviços–ISS e ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores-IPVA. As receitas deles derivadas só são significativas em casos excepcionais, isto é, nos municípios de maior porte, como Caicó e Currais Novos. Por estas razões, torna-se extremamente relevante conceber e instalar estruturas, mecanismos e procedimentos modernos de administração tributária, orçamentária e financeira, que sejam capazes de contribuir para o aumento da eficiência, da eficácia e da efetividade da ação governamental no âmbito local. b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral aumentar a eficiência, a eficácia e a efetividade dos sistemas municipais de governo, mediante a instalação de estruturas e métodos modernos de administração tributária, orçamentária e financeira nos municípios da Região do Seridó, no Estado do Rio Grande do Norte, propondo-se, especificamente, a: • instalar Sistemas Integrados de Administração Tributária, para o controle das receitas correntes e de capital, no âmbito dos municípios, e dar suporte às ações de recuperação de obrigações não cumpridas. Os sistemas de administração tributária compreenderão as funções de Cadastro Técnico Municipal; Lançamento de Tributos; Controle de Arrecadação; Conta Corrente Fiscal; Cobrança; Fiscalização; Contencioso; e Dívida Ativa; e • instituir Sistemas Integrados de Administração Orçamentária e Financeira, destinados a compatibilizar a disponibilidade de recursos com as despesas, registrar os fatos contábeis e dar suporte à programação financeira e ao planejamento dos investimentos e do custeio, anuais e plurianuais, realizados pelos governos municipais. Esses Sistemas terão as seguintes funções: Elaboração e Programação Orçamentária; Programação Financeira; Execução Orçamentária e Financeira; e Contabilidade. c. Diretrizes O Projeto de Modernização do Sistema Municipal de Administração Fiscal terá sua execução pautada por duas diretrizes básicas, a seguir discriminadas: • diminuição do grau de dependência: trata-se de conceber estruturas e de pôr em prática mecanismos que venham a permitir a redução gradativa da dependência hoje apresentada nos orçamentos municipais, com relação às transferências das outras esferas do poder público; e 222 • obediência aos princípios de justiça e equidade fiscal: intenta-se, efetivamente, fazer valer a obrigatoriedade constitucional de os cidadãos prestarem sua contribuição para a prestação dos serviços públicos. d. Linhas de Ação O Projeto conterá duas linhas básicas de ação, a seguir descritas: • modernização da administração tributária, objetivando garantir um efetivo controle da receita tributária, de contribuições e da receita patrimonial de competência do Município, dando suporte às ações de cobrança de impostos e taxas não recolhidos pelos contribuintes; e • modernização da administração orçamentária e financeira, de modo a permitir o planejamento dos recursos e das ações contempladas nas propostas orçamentárias (anual e plurianual), compatibilizando a disponibilidade dos meios financeiros com as despesas previstas. e. Metas As metas do Projeto terão seu cronograma subordinado à manifestação da adesão por parte das Prefeituras Municipais da Região, fato que se prevê venha a ocorrer até julho de 2002. São as seguintes as metas estabelecidas: • instituir o Sistema de Administração Tributária em 28 Prefeituras, no período compreendido entre julho de 2001 e junho de 2002; • instituir o Sistema de Administração Orçamentária e Financeira em 28 Prefeituras, no período compreendido entre julho de 2001 e junho de 2002; e • realizar 4 cursos de especialização para operacionalização dos Sistemas, por parte dos servidores das administrações municipais, no período compreendido entre julho de 2001 e junho de 2002. f. Instrumentos Para a execução do Projeto serão mobilizados os instrumentos institucionais abaixo indicados: 1. Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte; 2. Instituto Brasileiro de Administração Municipal–IBAM; 3. Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas–Sebrae/RN; 4. Associação dos Municípios do Seridó Ocidental–AMSO; e 5. Associação dos Municípios do Seridó–AMS. 223 g. Recursos Financeiros e Fontes O Projeto está orçado em R$ 674.000,00, equivalentes a US$ 374,400.00, ao câmbio de US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (60%), prefeituras municipais (10%) e bancos oficiais (30%). h. Gestão A coordenação geral das ações do Projeto estará a cargo da Agência de Desenvolvimento do Seridó. Sua execução dar-se-á de forma específica a cada respectiva meta, segundo a descrição abaixo: • a instituição dos Sistemas deve ser desenvolvida por meio de uma ação conjunta envolvendo a Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte, a AMS e a AMSO; e • as atividades de capacitação de servidores municipais estarão a cargo do Sebrae-RN, da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte, da AMS e da AMSO. 5.5.2.3 a. Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal Situação Atual De acordo com disposições constitucionais, os municípios brasileiros são regidos por uma lei orgânica, promulgada pela Câmara Municipal, que é a instituição política responsável por cumprir funções legislativas e de fiscalização sobre a atuação do Poder Executivo. Dentre as atribuições e competências das Câmaras de Vereadores destacam-se as de legislar sobre assuntos de interesse local e de fiscalizar, mediante controle externo, a administração direta ou indireta e as empresas de que participe o município, como detentor da maioria das ações com direito a voto. Além disso, em defesa do bem comum, a Câmara tem o direito de se pronunciar sobre qualquer assunto de interesse público. Em linhas gerais, são atribuições exclusivas e específicas do Poder Legislativo Municipal, decidir sobre matérias que se relacionem a: i) Sistema Tributário (arrecadação, distribuição das rendas, anistias fiscais e de débitos); ii) Matéria Orçamentária (plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública); iii) Planejamento Municipal (plano diretor e legislação decorrente); iv) Organização do Território Municipal (criação de distritos e delimitação de perímetros urbanos e rurais); e v) Estruturação Organizacional (criação ou extinção de Secretarias, cargos comissionados e funções gratificadas). Este elenco de atribuições e competências dá bem uma idéia da importância das Câmaras Municipais no âmbito do Sistema Municipal de Governo. Essa importância, no entanto, é minimizada, na prática, à medida que a instituição não exerce suas funções nos níveis de competência que dela se espera. E é exatamente neste ponto que o desempenho deixa a desejar. A maioria das Câmaras Municipais, como instrumento do poder legislativo local, tem se caracterizado por uma atuação extremamente deficiente, com pouca presença nas decisões sobre as questões de interesse público, operando, na maioria das vezes, segundo as orientações mais específicas do Poder Executivo, ou exercendo uma oposição plena e às vezes radical, a depender das relações políticas entre Vereadores e Prefeitos. 224 Isso, ao mesmo tempo em que representa um sério desvio no exercício de suas competências básicas, contribui para que os cidadãos tenham uma noção distorcida da instituição e das funções que cabe aos seus integrantes desempenhar, em prol do bem público. Assim, o funcionamento do Poder Legislativo Municipal é comprometido pela conjugação de fatores extremamente negativos: em primeiro lugar, a centralização das decisões de governo no Poder Executivo, mais especificamente na pessoa do Prefeito; em segundo, a própria acomodação dos vereadores, que, em muitos casos, limitam a atuação parlamentar à intermediação de favores, facilitando o acesso de seus eleitores a alguns serviços públicos (atendimento em postos médicos e obtenção de vagas em escolas públicas, por exemplo) ou apoiando-os em pleitos de solicitação de empregos públicos junto à administração municipal; por fim, o próprio desconhecimento dos cidadãos sobre o verdadeiro papel do legislativo municipal. A esses fatores deve-se somar, ainda, a utilização, por parte das Câmaras Municipais, de práticas e métodos administrativos arcaicos que, entre outras coisas, impedem os vereadores de terem a seu dispor, de forma segura e rápida, informações e dados necessários ao desempenho de suas funções. b. Objetivos O Projeto de Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal tem como objetivo geral melhorar o desempenho das Câmaras de Vereadores dos municípios da Região do Seridó, de forma que seus integrantes desenvolvam uma compreensão mais aprofundada do papel que devem exercer, frente ao Executivo e junto à sociedade. Especificamente, pretende: • propiciar condições aos vereadores para que adquiram maior capacitação, quanto ao exercício do poder local pelas diversas instituições que atuam no município e quanto às formas como as mesmas devem se articular em busca do desenvolvimento auto-sustentável; • difundir, junto à sociedade, noções sobre constituição, competências, funções e responsabilidades do poder legislativo municipal; e • modernizar as estruturas e processos administrativos em uso pelas Câmaras Municipais. c. Diretrizes Com o Projeto de Melhoria de Desempenho do Poder Legislativo Municipal, pretende-se introduzir novos conceitos e práticas para o funcionamento das Câmaras de Vereadores, em obediências às seguintes diretrizes básicas: • o aprimoramento da ação política se dará de forma a obter a conjugação de esforços entre os poderes executivo e legislativo municipais e a sociedade civil, com vistas aos interesses da população; e • a difusão, junto à comunidade, dos direitos e deveres inerentes à cidadania, será conduzida de forma a aperfeiçoar e dar maior credibilidade ao exercício dos processos políticos. 225 d. Linhas de Ação Três são as linhas de ação que nortearão a execução do Projeto, como abaixo discriminado: • capacitação dos Vereadores para o melhor desempenho de suas funções; • conscientização dos cidadãos sobre a estrutura do Sistema Municipal de Governo, suas competências, funções e responsabilidades; e • modernização das estruturas e processos administrativos das Câmaras Municipais. e. Metas Para a implementação completa do Projeto estão previstas as seguintes metas: • realizar diagnóstico aprofundado das estruturas e das práticas administrativas de 28 Câmaras Municipais e formular propostas para seu aperfeiçoamento, no período compreendido entre março e setembro de 2001; • realizar 28 seminários, destinados aos vereadores, sobre a competência e o funcionamento das Câmaras Municipais, no período compreendido entre outubro de 2001 e março de 2002; • instalar sistemas informatizados em 28 Câmaras Municipais, no período compreendido entre setembro e dezembro de 2001; e • realizar 10 cursos de capacitação para funcionários das Câmaras Municipais, no período compreendido entre março e setembro de 2001. f. Instrumentos Para a execução do Projeto serão mobilizados os seguintes instrumentos institucionais: 1. Instituto Brasileiro de Administração Municipal–IBAM; 2. Associação dos Municípios do Seridó Ocidental–AMSO; 3. Associação dos Municípios do Seridó–AMS; e 4. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. g. Recursos e Fontes de Financiamento O Projeto exigirá recursos no montante de R$ 470.140,00, equivalentes a US$ 261,189.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (50%), bancos oficiais (45%) e municípios – via Câmaras de Vereadores da Região do Seridó (5%). 226 h. Gestão O Projeto será coordenado, em suas respectivas áreas de atuação, pela Associação dos Municípios do Seridó Ocidental–AMSO e pela Associação dos Municípios do Seridó–AMS. As ações relacionadas à realização do diagnóstico das estruturas e ao modus operandi das Câmaras Municipais (bem como a formulação de propostas para seu aperfeiçoamento) serão executadas pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal, que se responsabilizará, também, pela implantação dos serviços informatizados. Os cursos e seminários previstos no Projeto serão concebidos e realizados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Caberá ao Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó a supervisão geral dos trabalhos. 5.5.2.4 a. Consolidação e Aprimoramento das Organizações Comunitárias Situação Atual A população do Seridó tem sido beneficiada por ações, cujo desempenho positivo deve-se, em boa medida, à experiência acumulada em trabalhos realizados sob os auspícios da Igreja, de sindicatos ou de organizações não-governamentais, que estimulam e apoiam a criação e a atuação de Organizações Comunitárias. No conjunto dos 28 municípios que compõem a região do Seridó há mais de 450 dessas instituições, atuando predominantemente no meio rural, em atividades de apoio aos pequenos produtores. Não obstante os esforços despendidos, essas entidades ainda não estão suficientemente preparadas para o exercício pleno das funções a que se propõem, o que justifica a concepção de um Projeto que tenha como propósito fortalecer as iniciativas oriundas da comunidade e capacitar as organizações comunitárias para desempenhar com eficiência e eficácia o seu papel de cogestoras de algumas das futuras ações do Plano do Seridó. Com esse Projeto, pretende-se propiciar, a essas organizações, condições para a ampliação e o aprimoramento de sua atuação, de forma a se constituírem não apenas em entidades representativas das comunidades onde atuam mas também – e principalmente – em instrumentos importantes no processo de implementação do Plano. b. Objetivos Este Projeto tem como objetivo geral contribuir para a consolidação de novos espaços institucionais, destinados a reivindicar e apoiar a produção de bens e de serviços públicos com maior eficiência, eficácia e efetividade, bem como estimular o exercício da cidadania, mediante formas alternativas de democracia direta, em todos os aglomerados populacionais urbanos e rurais da região. Cabe-lhe, especificamente: • fortalecer a capacidade política, técnica e gerencial das Organizações Comunitárias; e • aprimorar seus mecanismos e instrumentos de coordenação e articulação com as demais instituições atuantes no Plano do Seridó. 227 c. Diretrizes O Projeto de Consolidação e Aprimoramento das Organizações Comunitárias terá sua execução pautada pelas diretrizes a seguir especificadas: • a construção de uma nova institucionalidade, não necessariamente estatal, será destinada à produção de bens e serviços públicos e à construção e ao exercício da cidadania mediante o fortalecimento das associações civis, que dela participam. Com isso, pretende-se criar e manter um ambiente favorável a um projeto coordenado e responsável de descentralização político-institucional, onde o Estado não constitua uma instância ausente ou omissa, mas um ator relevante, que tem responsabilidades indelegáveis no financiamento, na regulação, na concepção de novos padrões de intervenção pública e no assessoramento às instituições descentralizadas; • a descentralização dos recursos e do exercício das ações, mediante a efetiva transferência de recursos e funções da esfera do Estado para o âmbito local, será realizada de forma a garantir a capacidade real de tomada de decisões e conseqüentemente a autonomia das organizações comunitárias dessa esfera. Exceto em circunstâncias claramente definidas (que requerem mediação ou a ação do poder regulador do Estado ou, ainda, de níveis estratégicos do processo de implementação de políticas públicas), as decisões deverão ser tomadas no nível mais próximo da população envolvida, com sua efetiva participação; • a integração e articulação das ações corresponderão à necessidade de integração e articulação entre as instituições que financiam, apoiam ou podem apoiar as organizações comunitárias. O impacto da descentralização pode ser extremamente reduzido se os órgãos continuarem desintegrados e desarticulados, sem potencializarem os efeitos sinérgicos da atuação integrada; e • a administração orientada por resultados dirá respeito à progressiva substituição da lógica burocrática de realização dos meios, que ainda predomina nas organizações comunitárias, pela lógica dos resultados, com a instituição de sistemas descentralizados de assistência técnica, gerencial e pedagógica que garanta a obtenção dos resultados esperados em função dos investimentos realizados em programas e projetos direcionados àquelas organizações. d. Linhas de Ação Para que as diretrizes acima estabelecidas sejam efetivamente seguidas, o Projeto desenvolverá as seguintes linhas de ação: • controle participativo e auditorias externas, com vistas ao efetivo acompanhamento da aplicação dos recursos e dos resultados daí advindos. Nas organizações comunitárias, onde os projetos e atividades são executados por pessoas que freqüentemente se conhecem, os controles burocráticos formais podem ser exercidos pela gestão participativa. Isso, no entanto, não dispensa os serviços de auditorias externas, procedimento que deve ser reconhecido como uma prática saudável nas organizações comunitárias, assim como o é nas empresas privadas; • organização da informação e intercâmbio de experiências, tendo em vista a necessidade de estruturar e aprimorar sistemas simplificados de informação nas organizações comunitárias, de forma a garantir o monitoramento das ações realizadas, o intercâmbio de experiências e um fluxo 228 regular de informações para os sócios, entidades financiadoras e avaliadores de políticas públicas, considerando que o nível de organização da informação nas associações civis é extremamente baixo; e • capacitação e assistência técnica, gerencial e pedagógica permanentes e predominantemente regionais e locais, para minimizar os problemas, usar as potencialidades, neutralizar as ameaças e aproveitar as oportunidades do ambiente externo, utilizando-se, para tal, de instituições e profissionais conhecedores da realidade local e regional. e. Metas O Projeto tem como metas realizar: • 24 seminários para dirigentes de Organizações Comunitárias, no período compreendido entre abril de 2001 e abril de 2002; • 28 cursos sobre finanças, para dirigentes de Organizações Comunitárias, no período compreendido entre abril de 2001 e abril de 2002; • 28 cursos sobre planejamento e gestão de projetos, para dirigentes de Organizações Comunitárias, no período compreendido entre abril de 2001 e abril de 2002; • 30 seminários de intercâmbio entre dirigentes de Organizações Comunitárias, no período compreendido entre junho de 2001 e junho de 2002. f. Instrumentos Para a execução do Projeto serão mobilizados os instrumentos institucionais abaixo indicados: 1. Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte; 2. Coordenadorias do PAPP, Pronaf, PEQ (SINE), Proger e de outros programas e projetos de produção de bens e serviços sociais e de apoio à cidadania; 3. Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários–Seapac; e 4. Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas–Sebrae/RN. g. Recursos Financeiros e Fontes O Projeto está orçado em R$ 210.540,00, equivalentes a US$ 116,967.00, ao câmbio de US$1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (30%), municípios (5%), externa (10%) e bancos oficiais (55%). h. Gestão A coordenação geral das ações do Projeto estará a cargo da Agência de Desenvolvimento do Seridó. Sua execução dar-se-á de forma específica a cada respectiva meta, segundo a descrição abaixo: 229 • a realização dos Seminários para Capacitação de Dirigentes e dos Seminários de Intercâmbio será objeto de ação conjunta, envolvendo o Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (Seapac) e a Coordenadoria do PAPP/RN, com apoio das demais Coordenadorias de Programas e Projetos relacionadas na alínea f; • Curso de Finanças será desenvolvido pela Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte; e • Curso de Planejamento e Gestão será realizado por meio de ação conjunta, envolvendo a Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte e o Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas–Sebrae/RN. 5.5.2.5 a. Fortalecimento do Sistema Cooperativista da Região Situação Atual A Região do Seridó conta, presentemente, com 15 cooperativas, congregando principalmente produtores rurais. Elas atuam nas áreas de eletrificação rural e de apoio à produção agropecuária. Além da concessão de financiamentos para investimentos e custeio e do fornecimento de insumos, realizam o beneficiamento e a industrialização da produção de seus associados, com destaque para o ramo de lacticínios e fruticultura. Algumas delas dispõem de unidades de processamento de rações e contam com patrulhas mecanizadas para a prestação de serviços aos cooperados. A crise econômica derivada da desestruturação das atividades do complexo pecuária-algodãolavouras alimentares e do complexo mineral da região também afetou gravemente a saúde financeira das cooperativas e, em decorrência, influiu de maneira negativa na atuação desenvolvida junto a seus associados. Elas atravessam, atualmente, uma fase delicada, vivendo um processo de transição, em função do qual buscam adequar-se à nova conjuntura da economia globalizada, de forma a adquirirem maior eficiência e melhorarem a qualidade de seus produtos, capacitando-se ao exercício de uma concorrência mais competitiva. Com esse intuito, no entanto, muitas delas tentaram investimentos custosos e de rentabilidade duvidosa, do que resultaram projetos mal sucedidos que vieram agravar mais ainda a sua debilidade econômico-financeira. Acrescente-se a isso a ausência, por parte dos associados, do conhecimento pleno de seus direitos e deveres e das vantagens do associativismo como sistema de organização dos produtores e a má gestão que, ao longo do tempo, sofreram algumas das cooperativas da região e se terá um quadro pouco animador do cooperativismo do Seridó. A mudança desse quadro exige trabalho que envolva não apenas as cooperativas mas, também, os bancos oficiais, as organizações comunitárias e os sindicatos rurais (tanto de produtores quanto de trabalhadores). b. Objetivos O objetivo geral desse Projeto é a reestruturação e o fortalecimento do sistema cooperativista da Região do Seridó. Pretende-se, especificamente: • realizar um diagnóstico de todas as cooperativas ora em atuação; e 230 • formular propostas para sua recuperação/dinamização. c. Diretrizes O Projeto será executado em obediência às três diretrizes básicas, abaixo indicadas: • divulgação do associativismo junto às organizações comunitárias e sindicatos rurais, como forma de internalizar a prática cooperativista entre os produtores, a partir de suas próprias organizações de base; • reestruturação das Cooperativas, adequando-as às reais necessidades de seus associados, a fim de possibilitar o cumprimento dos objetivos por eles fixados; e • adoção de instrumentos que possibilitem a melhoria de desempenho das cooperativas, pautadas por transferência de conhecimentos e mudanças de atitudes, a partir das organizações comunitárias e dos sindicatos rurais. d. Linhas de Ação Darão conseqüência ao Projeto as seguintes linhas de ação: • integração entre cooperativas e organizações comunitárias, com o que se pretende obter maior participação dos associados; • estabelecimento de mecanismos de controle interno e externo, nas cooperativas, como forma de garantir a aplicação dos recursos mobilizados de acordo com as finalidades estabelecidas pelos associados, como forma de dar maior transparência à gestão de seus dirigentes; e • concepção, implantação e execução de um Programa de Capacitação de Recursos Humanos, para dirigentes e associados de cooperativas, com o que se pretende melhorar os processos de gestão. e. Metas São as seguintes as metas do Projeto: • realizar diagnóstico (conjugado a auditorias externas) em 15 cooperativas da região, no período compreendido entre janeiro a julho de 2001; • reestruturar 15 cooperativas, no período compreendido entre janeiro e setembro de 2001; • realizar 15 seminários sobre cooperativismo, para dirigentes de organizações comunitárias e sindicatos rurais, no período compreendido entre agosto e dezembro de 2001; e • realizar 3 cursos de capacitação de dirigentes de cooperativas, no período compreendido entre janeiro e junho de 2002. 231 f. Instrumentos São instrumentos institucionais do Projeto: 1. Cooperativas existentes nos municípios da Região do Seridó; 2. Organizações comunitárias; 3. Sindicatos rurais (de produtores e de trabalhadores rurais); 4. Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários–Seapac; 5. Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas–Sebrae/RN; 6. Banco do Nordeste; 7. Banco do Brasil; e 8. Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura do Rio Grande do Norte. g. Recursos e Fontes de Financiamento O Projeto demandará recursos da ordem de R$ 126.250,00, equivalentes a US$ 70,139.00, ao câmbio de US$ 1,00/R$ 1,80, vigente em maio de 2000, oriundos das seguintes fontes: governo do Estado (30%), bancos oficiais (65%) e setor privado (5%). h. Gestão A coordenação geral das ações do Projeto estará a cargo da Agência de Desenvolvimento do Seridó. A execução das ações dar-se-á segundo o esquema abaixo: • a realização do diagnóstico estará a cargo do Banco do Nordeste e do Banco do Brasil; • a reestruturação das cooperativas estará sob a responsabilidade do Sebrae/RN; • os Seminários sobre cooperativismo, para dirigentes de organizações comunitárias e sindicatos rurais, serão organizados e realizados pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários–Seapac, com o apoio da Coordenadoria do PAPP/RN e da Fetarn; e • Nordeste. 5.6 os cursos para capacitação de dirigentes de cooperativas serão realizados pelo Banco do RECURSOS FINANCEIROS NECESSÁRIOS E DISPONÍVEIS A explicitação mais precisa de recursos para um programa ou projeto depende, em boa medida, do grau de detalhamento de cada uma dessas iniciativas. As estimativas apresentadas para o Plano do Seridó baseiam-se nas disponibilidades especificadas em documentos como o Brasil em Ação, o 232 Avança Brasil e o PPA (2000-2003). O governo do Estado do Rio Grande do Norte, com o seu PPA (2000-2003), além de outros instrumentos, constitui um segundo conjunto de possibilidades. As administrações municipais representam um terceiro conjunto no mesmo sentido. Em quarto lugar, consideram-se as possibilidades expressas pelas linhas de crédito trabalhadas por instituições financeiras internacionais, cuja mobilização depende da elaboração, análise e avaliação, ex-ante, de projetos. Figuram nesse caso instituições como o Banco Mundial, o BID e o FIDA. Consideram-se, em quinto lugar, as possibilidades oferecidas pelas linhas de crédito dos bancos oficiais (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Bndes e Caixa Econômica Federal). Um sexto conjunto está representado pelos recursos a serem alocados, diretamente, pelo setor privado, nos ombros de quem se depositam sólidas expectativas de contribuição para a implementação bem sucedida do Plano do Seridó. Em sétimo lugar, consideram-se os aportes de recursos dos beneficiários, qualificados por produtores de várias categorias. Os quantitativos dos diferentes Programas e Projetos foram, também, estimados utilizandose coeficientes técnicos específicos, como os que têm sido considerados no cálculo dos custos de atividades referidas a estudos e pesquisas. O detalhamento das iniciativas do Plano do Seridó está feito na escala de Programa e Projeto, segundo a concepção do planejamento estratégico. Cada iniciativa aqui abrigada contempla referências aos seus objetivos, diretrizes, metas, recursos necessários e respectivas fontes, instrumentos e modelos de gestão, além de detalhes adicionais, tornados possíveis, em função do estágio de avanço da iniciativa considerada. No curso do Ano I de implementação do Plano do Seridó, seus gestores tratarão da elaboração mais detalhada das iniciativas já referidas, contando com a decisiva participação do governo estadual, do governo federal, do setor privado, dos municípios e de vários outros parceiros. Nessas oportunidades deverão ficar mais claras as demandas e as efetivas possibilidades de alocação dos recursos necessários à consecução dos Programas e Projetos. No mesmo sentido, serão definidas ou redefinidas as metas a serem alcançadas em relação a cada iniciativa. As dificuldades por que passa a economia brasileira não são desconsideradas. Acredita-se que se está trabalhando para superar os gargalos mais importantes. Desse modo, os recursos previstos para o Plano, quanto ao montante e às fontes, têm sua garantia de alocação dependente do grau de mobilização das forças seridoenses e potiguares − governamentais e da sociedade. Esse tipo de mobilização deve ser feito a partir da demonstração do retorno certo em termos de desenvolvimento e da geração de riqueza pelos agentes produtivos da região. Consideradas as possibilidades e restrições mencionadas, estima-se que os recursos necessários à execução dos Programas e Projetos do Plano do Seridó, para o período 2001-2004, elevam-se ao montante de R$ 264.806.300,00, equivalentes a US$ 147,114,600.00, à taxa de câmbio de US$1.00/R$1,80, vigente em maio de 2000. (Veja-se as tabelas 5.1 e 5.2.) Sua distribuição, em termos absolutos, por Dimensão e Programa, é a seguinte (em R$ 1.000.00): 1. DIMENSÃO AMBIENTAL a.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos, Segundo Esquemas Simplificados Meio Ambiente Tratamento e Reciclagem de Lixo Urbano Armazenamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos a.2 a.3 a.4 66.662,5 233 5.000,0 20.300,0 1.960,0 39.402,5 b. DIMENSÃO TECNOLÓGICA 11.470,0 b.1 b.2 b.3 b.4 Desenvolvimento Científico e Tecnológico Instituição e Operação de Centros Tecnológicos Difusão Tecnológica Monitoramento Climático c. DIMENSÃO ECONÔMICA 98.689,4 c.1 c.2 c.3 c.4 c.5 c.6 Apoio à Consolidação de Assentamentos Rurais, Democratização do Acesso à Terra e Regularização Fundiária Consolidação de Cadeias Produtivas Estratégicas Reestruturação e Ampliação de Atividades Tradicionais Consolidação e Modernização dos Pequenos Negócios Urbanos Complementação da Infra-Estrutura Econômica Promoção de Oportunidades de Investimento 11.452,0 44.601,9 4.735,5 3.000,0 33.700,0 1.500,0 d. DIMENSÃO SOCIOCULTURAL 84.928,4 d.1 d.2 d.3 d.4 d.5 d.6 d.7 d.8 Convivência com a Seca e Atendimento às Populações Afetadas Pelas Irregularidades Climáticas 53 Cultura, Lazer e Turismo Apoio à Saúde Melhoria da Qualidade na Educação Erradicação do Analfabetismo Qualificação para o Trabalho Melhoria Habitacional Erradicação do Trabalho Infantil ... 1.350,0 10.087,9 33.280,0 2.754,0 3.000,0 28.732,5 5.724,0 e. DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL 3.056,0 e.1 e.2 Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano Desenvolvimento Institucional 1.025,2 2.030,8 TOTAL 3.000,0 6.720,0 1.000,0 750,0 264.806,3 Do total de recursos do Plano, 25,17% destinam-se à Dimensão Ambiental, 4,33% à Dimensão Tecnológica, 37,27% à Dimensão Econômica, 32,07% à Dimensão Sociocultural e 1,15% à Dimensão Político-Institucional. Os recursos identificados se originam de fontes como as seguintes, em percentuais médios: • União (23%); 53 As estimativas de gastos anuais para esse Programa, em função da natureza episódica de sua execução, não foram incluídos no total de recursos previstos para o Plano. Entretanto, essa referência está feita no local em que o Programa foi descrito anteriormente. 234 • governo do Estado (39%); • municípios (6%); • externa − BIRD, BID, FIDA, etc. − (4%); • bancos oficiais − Banco do Brasil, Bndes e Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal − (22%); • setor privado (4%); e • beneficiários (2%). O setor privado, na realidade, entra com 28%, ao serem somadas as participações dos bancos oficiais, do setor privado propriamente e dos beneficiários. A fonte externa pesa pouco, mas pode ser aumentada ou substituída, diminuindo-se a participação dos bancos públicos oficiais. À medida que forem sendo detalhadas as iniciativas do Plano, também será possível verificar as possibilidades de preparação de cartas-consulta dirigidas a instituições de financiamento internacional. É possível, ainda, indicar que pelo menos 50% do total dos recursos estimados podem ser considerados disponíveis, pelo fato de as parcelas integrantes desse valor: i. já constarem dos orçamentos da União, dos estados e municípios; ii. está sendo negociada junto a instituições multilaterais de financiamento (Banco Mundial, por exemplo); iii. ser mobilizável no âmbito das instituições de crédito oficial (Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Bndes e Caixa Econômica Federal), pelo setor privado, mediante a apresentação de projetos de investimento; e iv. integrar aportes de ativos (financeiros ou não) do setor privado (empresas, associações e confederações setoriais diversas), como contrapartida para a captação de financiamentos disponibilizados pelas instituições oficiais de crédito. Ainda assim, a mobilização dos recursos estimados irá depender, fortemente, de muita vontade política e árduo trabalho, por parte das instituições governamentais (federais, estaduais e municipais), dos empresários e beneficiários, que precisam se preparar para acessarem aqueles recursos, elaborando projetos exeqüíveis e realizando grandes esforços de negociação, para apresentação às instituições dotadas de possibilidades financeiras, materiais e humanas, que a sociedade do Seridó está trabalhando para mobilizar e, em conseqüência, promover em prol da adequada implementação deste Plano do Seridó. 235 5.7 CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA DE PROGRAMAS E PROJETOS PASSÍVEIS DE IMPLEMENTAÇÃO MAIS IMEDIATA Na elaboração dos Programas e Projetos do Plano do Seridó foram considerados os seguintes elementos estruturadores: situação atual; objetivos; diretrizes; linhas de ação; metas; instrumentos; recursos financeiros e fontes; e gestão. O maior ou menor aprofundamento de cada um desses tópicos dependeu, em boa medida, da disponibilidade de informações, estudos ou projetos para cada uma das iniciativas programáticas. A escolha dos Programas e/ou Projetos a serem selecionados, prioritariamente, para implementação imediata, deverá recair sobre iniciativas cuja execução contribua para solucionar, com eficiência e eficácia, problemas que exigem solução mais urgente. Diante dos diferentes conjuntos de problemas identificados para cada Dimensão, no Diagnóstico, e das possibilidades de adequada utilização dos diferentes tipos de recursos disponíveis − materiais, humanos e financeiros −, há um considerável leque de opções. Admite-se, por isso, que a seleção de Programas e/ou Projetos passíveis de implementação imediata poderá ser realizada à luz de dois conjuntos de critérios, em função dos quais as iniciativas programáticas poderão ser definidas como de Prioridade Um ou de Prioridade Dois. a. Programas de Prioridade Um. Estarão incluídas nessa categoria, as iniciativas caracterizadas, no conjunto, pelas seguintes situações: a.1 dispuserem de detalhamento na escala de projeto executivo (quando se tratar de um projeto) e dos recursos financeiros requeridos, alocados ou passíveis de disponibilização (no todo ou em parte) em orçamentos dos governos (federal, estaduais ou municipais) e/ou em linhas de crédito bancárias mobilizáveis pelo setor privado; a.2 também contarem com detalhamento na escala de programa (quando se tratar de um programa) e dos recursos financeiros requeridos alocados ou passíveis de disponibilização (no todo ou em parte) em orçamentos do governo (federal, estaduais ou municipais) e em linhas de crédito bancárias mobilizáveis pelo setor privado; a.3 dispuserem dos estudos e relatórios de impacto ambiental, legalmente exigidos; a.4 contribuírem para a conservação, preservação ou recuperação ambiental; a.5 usarem tecnologias modernas, constitutivas de vantagens competitivas, no âmbito do Seridó ou fora dessa região; e a.6 demonstrarem, por meio dos documentos de programas e/ou projetos executivos, maior capacidade de geração de emprego. b. Critérios de Prioridade Dois. Nesse nível estarão incluídas as iniciativas que também puderem ser caracterizadas, no conjunto, pelas seguintes situações: b.1 estiverem dotadas de estudos na escala de “perfil de projeto” (quando se tratar de um projeto) ou na escala básica de programa (quando se tratar de um programa), além de indicação sobre a disponibilidade efetiva (ou em negociação) dos recursos financeiros necessários à sua implementação, 236 junto ao governo (federal, estaduais e municipais) ou ao setor bancário (quando se tratar da mobilização de recursos oriundos de linhas de crédito para o setor privado); b.2 já tiverem dado início à elaboração dos estudos e relatórios de impacto ambiental, exigidos por lei; b.3 previrem o uso de tecnologias modernas, constitutivas de vantagens competitivas; b.4 puderem demonstrar, por meio de documentos de programas e/ou “perfis de projetos”, maior capacidade de geração de emprego; b.5 estiverem localizadas em áreas que permitam a criação e o fortalecimento de novos pólos de desenvolvimento. Esses critérios devem ser reexaminados, modificados e adaptados pela equipe técnica da Agência de Desenvolvimento do Seridó, a quem competirá escolher as iniciativas que irão ser executadas prioritariamente na região, a partir de 2001, ouvidas as instâncias responsáveis pelo Sistema de Gestão deste Plano. 237 TABELA 5.1 RECURSOS DESTINADOS À IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DO SERIDÓ, NO PERÍODO 2001-2004 (Continua) PROGRAMAS DIMENSÃO AMBIENTAL 5.1.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos 5.1.2 Meio Ambiente 5.1.3 Tratamento e Reciclagem do Lixo Urbano 5.1.4 Recursos Hídricos DIMENSÃO TECNOLÓGICA 5.2.1 Desenvolvimento Científico e Tecnológico 5.2.2 Instituição e Operação de Centros Tecnológicos 5.2.3 Difusão Tecnológica 5.2.4 Monitoramento Climático DIMENSÃO ECONÔMICA 5.3.1 Democratização do Acesso à Terra 5.3.2 Consolidação das Cadeias Produtivas Estratégicas 5.3.2.1 Pecuária de Leite 5.3.2.2 Caprino-ovinocultura 5.3.2.3 Fruticultura 5.3.2.4 Piscicultura 5.3.2.5 Agricultura Irrigada 5.3.3 Reestruturação Ampliação de Atividades Tradicionais 5.3.3.1 Mineração 5.3.3.2 Industria Cerâmica 5.3.3.3 Cotonicultura 5.3.4 Consolidação e Modernização dos Peq. Neg. Urbanos 5.3.5 Complementação da Infra-estrutura Econômica 5.3.5.1 Gasoduto 5.3.5.2 Eletrificação Rural 5.3.5.3 Rede Rodoviária 5.3.5.4 Melhoria das Vias Urbanas 5.3.5.5 Telecomunicações (*) 5.3.6 Promoção de Oportunidades de Investimentos (*) RECURSOS EM R$ 1,000,00 66.662,5 5.000,0 20.300,0 1.960,0 39.402,5 11.470,0 3.000,0 6.720,0 1.000,0 750,0 98.689,4 11.452,0 44.601,9 14.590,3 3.375,0 2.837,3 14.834,3 8.965,0 4.735,5 337,5 1.000,0 3.398,0 3.000,0 33.700,0 200,0 5.500,0 25.000,0 3.000,0 1.500,0 Não se estimou o valor dos investimentos desse Projeto. % DE CADA PROGRAMA EM RELAÇÃO AO TOTAL 25,17 1,89 7,67 0,74 14,88 4,33 1,13 2,54 0,38 0,28 37,27 4,32 16,84 5,51 1,27 1,07 5,60 3,39 1,79 0,13 0,38 1,28 1,13 12,73 0,08 2,08 9,44 1.13 0,00 0,45 RECURSOS EM US$ 1,000 37.034,7 2.777,8 11.277,8 1.088,9 21.890,3 6.372,2 1.666,7 3.733,3 555,6 416,7 54.827,4 6.362,2 24.778,8 8.105,7 1.875,0 1.576,3 8.241,3 4.980,6 2.630,8 187,5 555,6 1.887,8 1.666,7 18.722,2 111,1 3.055,6 13.888,9 1.666,7 0,0 666,7 238 PARTICIPAÇÃO DE CADA FONTE DE RECURSOS NO TOTAL DE RECURSOS (R$ 1.000,00) UNIÃO ESTADO MUNICÍPIO EXTERNA BANCO SETOR BENEFICIÁRIO OFICIAL PRIVADO 12.067,5 750,0 3.045,0 392,0 7.880,5 4.969,5 600,0 4.032,0 0,0 337,5 11.159,7 4.580,8 6.028,9 1.167,2 405,0 283,7 1.483,4 2.689,5 100,0 0,0 100,0 0,0 450,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8.283,3 500,0 3.451,0 392,0 3.940,3 3.125,0 2.100,0 0,0 800,0 225,0 40.426,2 1717,8 15.738,7 11.672,2 506,3 283,7 1.483,4 1.793,0 1.229,7 270,0 450,0 509,7 600,0 20.300,0 100,0 0,0 17.500,0 2.700,0 0,0 840,0 1.559,0 250,0 1.015,0 294,0 0,0 287,5 0,0 0,0 100,0 187,5 11.223,8 572,6 2.331,3 729,5 270,0 141,9 741,7 448,3 219,9 0,0 50,0 169,9 300,0 7.800,0 0,0 0,0 7.500,0 300,0 0,0 0,0 8.855,0 1.750,0 7.105,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2.767,5 572,6 1.305,1 1.021,3 0,0 283,7 0,0 0,0 339,8 0,0 0,0 339,8 0,0 550,0 0,0 550,0 0,0 0,0 0,0 0,0 33.229,8 1.000,0 4.060,0 588,0 27.581,8 2.016,0 0,0 2.016,0 0,0 0,0 22.855,4 3.435,6 16.800,9 0,0 2.025,0 1.702,4 10.384,0 2.689,5 1.868,9 0,0 0,0 1.868,9 750,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.711,0 500,0 1015,0 196,0 0,0 1.072,0 300,0 672,0 100,0 0,0 7.017,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 707,3 67,5 300,0 339,8 900,0 5.050,0 100,0 4950,0 0,0 0,0 0,0 360,0 957,0 250,0 609,0 98,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3.239,6 572,6 2.397,1 0,0 168,8 141,9 741,7 1.344,8 269,9 0,0 100,0 169,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 TABELA 5.1 RECURSOS DESTINADOS À IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DO SERIDÓ, NO PERÍODO 2001-2004 (Conclusão) PROGRAMAS DIMENSÃO SOCIOCULTURAL 5.4.1 Convivência com a Seca (**) 5.4.2 Cultura, Lazer e Turismo 5.4.3 Apoio à Saúde 5.4.3.1 Projeto Saúde da Família 5.4.3.2 Pólo Capacitação R. Humanos 5.4.3.3 Consórcio Intermunicipal 5.4.4 Melhoria da Qualidade de Educação 5.4.5 Erradicação do Analfabetismo 5.4.6 Qualificação para o Trabalho 5.4.7 Melhoria Habitacional 5.4.8 Erradicação do Trabalho Infantil DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL 5.5.1 Institucionalização Sistema Gestão Plano 5.5.2 Desenvolvimento Institucional 5.5.2.1 Ampliação, Melhoria Adm. Municipal 5.5.2.2 Modernização Sistema Municipal 5.5.2.3 Melhoria Desempenho P. Legislativo 5.5.2.4 Consolidação e Aprimoramento Org. Comunitárias 5.5.2.5 Fortalecimento Sistema Cooperativista TOTAL GERAL DO PLANO (**) RECURSOS EM R$ 1,000,00 84.928,4 0,0 1.350,0 10.087,9 8.287,9 300,0 1.500,0 33.280,0 2.754,0 3.000,0 28.732,5 5.724,0 3.056,0 1.025,2 2.030,8 550,0 674,0 470,0 210,5 126,3 264.806,3 % DE CADA PROGRAMA EM RELAÇÃO AO TOTAL 32,07 0,00 0,51 3,81 3,13 0,11 0,57 12,57 1,04 1,13 10,85 2,16 1,15 0,39 0,77 0,21 0,25 0,18 0,08 0,05 100,00 RECURSOS EM US$ 1,000 47.182,4 0,0 750,0 5.604,4 4.604,4 166,7 833,3 18.488,9 1.530,0 1.666,7 15.962,5 3.180,0 1.697,8 569,6 1.128,2 305,6 374,4 261,1 116,9 70,2 147.114,6 PARTICIPAÇÃO DE CADA FONTE DE RECURSOS NO TOTAL DE RECURSOS (R$ 1.000,00) UNIÃO ESTADO MUNICÍPIO EXTERNA BANCO SETOR BENEFICIÁRIO OFICIAL PRIVADO 32.727,9 0,0 270,0 8.587,9 8.287,9 300,0 0,0 0,0 2.065,5 2.400,0 14.653,6 4.750,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 60.924,6 49.424,5 0,0 675,0 0,0 0,0 0,0 0,0 33280,0 275,4 600,0 14078,9 515,2 1.370,5 410,1 960,4 220,0 404,4 235,0 63,2 37,9 102.629,4 2.233,3 0,0 0,0 1.500,0 0,0 0,0 1500,0 0,0 275,4 0,0 0,0 457,9 262,7 51,3 211,4 110,0 67,4 23,5 10,5 0,0 15.566,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 11.643,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.160,2 307,6 852,6 220,0 202,2 211,5 136,8 82,1 59.240,3 542,7 0,0 405,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 137,7 0,0 0,0 0,0 262,6 256,3 6,3 0,0 0,0 0,0 0,0 6,3 10.605,6 Em função da natureza episódica de sua execução, as estimativas de gastos anuais para esse Programa não foram incluídas no total de recursos do Plano, conforme referido anteriormente. 239 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4.196,6 TABELA 5.2 RECURSOS DESTINADOS À IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DO SERIDÓ, NO PERÍODO 2001-2004 (Continua) PROGRAMAS DIMENSÃO AMBIENTAL RECURSOS EM % 100,0 100,0 5.1.2 Meio Ambiente 100,0 5.1.3 Tratamento e Reciclagem do Lixo Urbano 100,0 5.1.4 Recursos Hídricos 100,0 DIMENSÃO TECNOLÓGICA 100,0 5.2.1 Desenvolvimento Científico e Tecnológico 100,0 5.2.2 Instituição e Operação de Centros Tecnológicos 100,0 5.2.3 Difusão Tecnológica 100,0 5.2.4 Monitoramento Climático 100,0 DIMENSÃO ECONÔMICA 100,0 5.3.1 Democratização do Acesso à Terra 100,0 5.3.2 Consolidação das Cadeias Produtivas Estratégicas 100,0 5.3.2.1 Pecuária de Leite 100,0 5.3.2.2 Caprino-ovinocultura 100,0 5.3.2.3 Fruticultura 100,0 5.3.2.4 Piscicultura 100,0 5.3.2.5 Agricultura Irrigada 100,0 5.3.3 Reestruturação Ampliação de Atividades Tradicionais 100,0 5.3.3.1 Mineração 100,0 5.3.3.2 Industria Cerâmica 100,0 5.3.3.3 Cotonicultura 100,0 5.3.4 Consolidação e Modernização dos Peq. Neg. Urbanos 100,0 5.3.5 Complementação da Infra-estrutura Econômica 100,0 5.3.5.1 Gasoduto 100,0 5.3.5.2 Eletrificação Rural 100,0 5.3.5.3 Rede Rodoviária 100,0 5.3.5.4 Melhoria das Vias Urbanas 100,0 5.3.5.5 Telecomunicações (*) 100,0 5.3.6 Promoção de Oportunidades de Investimentos 100,0 (*) Não se estimou o valor dos investimentos desse Projeto. 5.1.1 Regularização da Oferta de Recursos Hídricos UNIÃO 18,1 15,0 15,0 20,0 20,0 43,3 20,0 60,0 45,0 11,3 40,0 13,5 8,0 12,0 10,0 10,0 30,0 2,1 10,0 15,0 * - PARTICIPAÇÃO DE CADA FONTE DE RECURSOS NO TOTAL DE RECURSOS (%) ESTADO MUNICÍPIO EXTERNA BANCO SETOR OFICIAL PRIVADO 12.4 10,0 17,0 20,0 10,0 27,2 70,0 80,0 30,0 41,0 15,0 35,3 80,0 15,0 10,0 10,0 20,0 26, 80,0 45,0 15,0 20,0 60,2 50,0 70,0 90,0 * 70,0 2.3 5,0 5,0 15,0 2,5 10,0 25,0 11,4 5,0 5,2 5,0 8,0 5,0 5,0 5,0 4,6 5,0 5,0 10,0 23,1 30,0 10,0 * - 240 13.3 35,0 35,0 2,8 5,0 2,9 7,0 10,0 7,2 10,0 1,6 10,0 * - 49,8 20,0 20,0 30,0 70,0 17,6 30,0 23,2 30,0 37,7 60,0 60,0 70,0 30,0 39,5 55,0 25,0 * - 2,6 10,0 5,0 10,0 93,3 10,0 10,0 10,0 7,1 14,9 20,0 30,0 10,0 30,0 15,0 50,0 90,0 * 30,0 BENEFICIÁRIO 1,4 5,0 3,0 5,0 3,3 5,0 5,4 5,0 5,0 5,0 15,0 5,7 10,0 5,0 - TABELA 5.2 RECURSOS DESTINADOS À IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DO SERIDÓ, NO PERÍODO 2001-2004 (Conclusão) PROGRAMAS DIMENSÃO SOCIOCULTURAL 5.4.1 Convivência com a Seca (**) 5.4.2 Cultura, Lazer e Turismo 5.4.3 Apoio à Saúde 5.4.3.1 Projeto Saúde da Família 5.4.3.2 Pólo Capacitação R. Humanos 5.4.3.3 Consórcio Intermunicipal 5.4.4 Melhoria da Qualidade de Educação 5.4.5 Erradicação do Analfabetismo 5.4.6 Qualificação para o Trabalho 5.4.7 Melhoria Habitacional 5.4.8 Erradicação do Trabalho Infantil DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL 5.5.1 Institucionalização Sistema Gestão Plano 5.5.2 Desenvolvimento Institucional 5.5.2.1 Ampliação, Melhoria Adm. Municipal 5.5.2.2 Modernização Sistema Municipal 5.5.2.3 Melhoria Desempenho P. Legislativo 5.5.2.4 Consolidação e Aprimoramento Org. Comunitárias 5.5.2.5 Fortalecimento Sistema Cooperativista TOTAL GERAL DO PLANO (**) RECURSOS EM % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 UNIÃO 39,0 ** 20,0 85,0 100,0 100,0 75,0 80,0 51,0 83,0 23,0 PARTICIPAÇÃO DE CADA FONTE DE RECURSOS NO TOTAL DE RECURSOS (%) ESTADO MUNICÍPIO EXTERNA BANCO SETOR OFICIAL PRIVADO 58,0 ** 50,0 100,0 10,0 20,0 49,0 9,0 45,0 40,0 47,0 40,0 60,0 50,0 30,0 30,0 39,0 3,0 ** 15,0 100,0 10,0 8,0 9,0 5,0 10,0 20,0 10,0 5,0 5,0 6,0 ** 10,0 4,0 ** 38,0 30,0 42,0 40,0 30,0 45,0 55,0 65,0 22,0 BENEFICIÁRIO 1,0 ** 30,0 5,0 9,0 25,0 5,0 4,0 Em função da natureza episódica de sua execução, as estimativas de gastos anuais para esse Programa não foram incluídas no total de recursos do Plano, conforme referido anteriormente. 241 ** 2,0 6. SISTEMA DE GESTÃO DO PLANO Como está salientado no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio Grande do Norte, as ações programáticas deste Plano serão orientadas por Planos Operativos Anuais–POAs, em contraponto aos Planos Diretores Regionais de Desenvolvimento Sustentável, previstos no Plano estadual. A elaboração dos POAs constituirá o instrumento principal da programação anual do Plano do Seridó, com destaques para as áreas prioritárias de desenvolvimento da região, detalhando-se a localização prioritária dos investimentos e pondo em relevo suas efetivas potencialidades econômicas, compatibilizadas com as restrições ambientais. Na linha das diretrizes do Plano estadual e das premissas defendidas pela sociedade do Seridó, a própria gestão do Plano será pautada por orientações a serem concedidas pelo Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, criado quando da realização dos primeiros esforços de elaboração deste Plano. Tratar-se-á da formação de uma instância de negociação e deliberação sobre as prioridades de desenvolvimento de cada área prioritária de desenvolvimento da Região, reunindo os atores sociais locais e as instituições públicas (estaduais e federais) e o setor privado, de modo a comprometê-los nas ações de desenvolvimento. 6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES O Diagnóstico que integra o Plano do Seridó, revelou, em sua Dimensão Político-institucional, que a presença do Estado naquela região evoluiu de um pequeno número de organizações dedicadas à arrecadação fiscal e à implementação das políticas de combate aos efeitos das secas e de infra-estrutura rodoviária, no início do século, para uma institucionalidade complexa, hoje formada por mais de uma centena de organizações integrantes das estruturas administrativas dos governos federal, estadual e municipal. Essas organizações são responsáveis pela execução de políticas de apoio à agricultura e à indústria, e por um diversificado conjunto de políticas sociais, entre as quais se incluem a educação, a saúde, a segurança pública, a previdência, a assistência social, a suplementação alimentar, a habitação, o saneamento e um conjunto de programas e projetos de apoio ao desenvolvimento local. À proporção que foi se diversificando essa estrutura institucional, também foi sendo construído um padrão hegemônico de implementação da ação governamental, historicamente caracterizado pela centralização das finanças públicas e do processo decisório no Executivo Federal, e pela constituição de uma estrutura administrativa piramidal e hierarquizada. Os governos subnacionais, particularmente os executivos estaduais e municipais, seguiram uma trajetória semelhante na construção de suas respectivas estruturas e na implementação de suas ações, impossibilitando o efetivo controle da sociedade sobre o Estado e a participação das organizações representativas da sociedade civil na formulação e na implementação das políticas públicas. No caso específico do Rio Grande do Norte, e, em particular, da Região do Seridó, o padrão tradicional de implementação da ação governamental, acima referido, gerou um desempenho pouco satisfatório do aparato institucional que ali atua, em razão, principalmente, da desarticulação entre as diversas instâncias de governo e gestão; do paralelismo e da superposição de funções cometidas aos três níveis de governo; da baixa capacidade de arrecadação de recursos próprios e da elevada dependência dos municípios em relação às transferências intergovernamentais; da deficiência técnica 242 nos sistemas de gestão e na prestação de serviços públicos; da incidência de clientelismo e assistencialismo nas relações entre o Estado e a Sociedade Civil; do baixo desempenho das Câmaras Municipais; e da fragilidade dos mecanismos de participação cidadã. Essas razões encontram sua origem fundamental na existência de estruturas governamentais extremamente centralizadoras e burocratizadas e na diminuta participação da sociedade nos processos de gestão. No primeiro caso, o que se nota é que a inadequação de estruturas e o excesso de regras e procedimentos burocráticos acabam fazendo com que as instituições percam de vista as pessoas, às quais deveriam estar servindo. No segundo, a ausência da participação da sociedade, ao mesmo tempo em que nega a premissa de que o governo pertence à comunidade, impede ou dificulta uma maior transparência nos atos de gestão. A tendência do Estado moderno aponta cada vez mais enfaticamente para a necessidade de se eliminar (ou, pelo menos, minimizar) esses dois fatores negativos, com o aparecimento de uma esfera pública não-estatal, motivada pela crise fiscal do Estado e pela conquista de novos espaços democráticos de participação cidadã no processo de formulação e de implementação de políticas públicas. No Brasil, o processo de municipalização de alguns serviços públicos vem contribuindo para uma melhoria de seus padrões de qualidade (embora em ritmo mais lento do que o desejável), ao mesmo tempo em que se constata a crescente participação das comunidades nos processos de tomada de decisão, ao nível das administrações municipais. A mobilização das forças sociais no sentido de participarem mais diretamente junto às esferas do poder público (fazendo reivindicações, acompanhando o seu desempenho ou participando diretamente da produção de bens e serviços públicos) começa a se manifestar de forma mais objetiva, não só por intermédio de mecanismos de controle social (como tais considerados os colegiados que acompanham o desempenho da gestão pública), mas, também, de outros, destinados a se envolver no próprio processo de gestão, como coadjuvantes da administração pública. Hoje, a participação da sociedade na gestão da coisa pública já avulta de importância, determinando um novo desenho para o sistema de governo (com a incorporação de conselhos ou comitês formados, a partir de organizações comunitárias e classistas, de clubes de serviços, instituições religiosas, etc.) e contribuindo para a adoção de novos métodos e processos de gestão, notadamente no que se relaciona à transparência da administração pública. É bem verdade que esse processo de mudança ainda não é forte o bastante para viabilizar o exercício pleno da cidadania, consolidar a prática democrática em toda a sua plenitude e aperfeiçoar o desempenho das políticas econômicas e sociais na região. No entanto, os novos espaços públicos que estão sendo construídos no Seridó fazem parte das profundas mudanças que estão ocorrendo nos paradigmas contemporâneos de gestão e de representação social; ainda que incipientes, eles são fundamentais para a construção de uma nova institucionalidade pública democrática, que se mostre capaz de servir aos interesses do Povo com eficiência, eficácia e economia, requisitos indispensáveis à prestação dos serviços públicos. 243 6.2 PRESSUPOSTOS BÁSICOS DO SISTEMA O Sistema de Gestão é o instrumento fundamental a ser utilizado para construir a nova institucionalidade pública, não necessariamente estatal, responsável pela implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. Nesta perspectiva, as instituições do Estado e da Sociedade Civil são consideradas como meio e materializam-se no conjunto de regras e procedimentos para formação das decisões, com a ampla participação das cidadãs e dos cidadãos seridoenses. São, portanto, instâncias privilegiadas de publicização; de estabelecimento de relações horizontais entre os cidadãos; de neutralização do clientelismo e do paternalismo; de conciliação do interesse das pessoas e dos grupos com a solidariedade social; de articulação e integração de políticas, programas e projetos sociais; e de identificação e articulação de empreendimentos econômicos estruturadores. O fortalecimento da Sociedade Civil que resulta desse processo deve se expressar, portanto, na consolidação de novas formas de gestão e de representação social. No entanto, não se trata de fortalecer a sociedade civil enfraquecendo o Estado, aqui reconhecido como instância fundamental de financiamento, de regulação das políticas públicas e de promoção do desenvolvimento regional e local. O que conduz às novas formas de gestão social não é, portanto, nem o predomínio de um Estado forte sobre uma sociedade fraca, nem, ao contrário, o predomínio de atores sociais fortalecidos sobre um Estado frágil, mas a existência simultânea de uma Sociedade e de um Estado fortes, como esferas autônomas, se enfrentando um ao outro, em uma relação caracterizada pelo controle mútuo e pela negociação. Expressam-se os pressupostos básicos do Sistema de Gestão do Plano, por conseguinte, mediante i) a efetiva participação da sociedade nos processos de tomada de decisões; ii) a descentralização das ações determinantes da implementação dos programas e projetos que integram o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; e iii) a assimilação de uma nova cultura quanto à gestão da coisa pública, como indicado na figura 6.2.1. Em relação ao primeiro, é conveniente lembrar que a participação da sociedade representou a característica mais marcante do processo de elaboração do Plano. Nas Reuniões Municipais (em número de 28, com a presença de mais de 1.200 pessoas, em seu conjunto), representando os poderes públicos municipais, estaduais e federal, bem como os mais diversos segmentos da sociedade da região, a sociedade seridoense deu importantes contribuições para a identificação dos principais problemas que afligem os municípios da região, para a formulação das soluções mais adequadas ao seu equacionamento, para a indicação das potencialidades mais relevantes (capazes de viabilizar as soluções propostas) e, por fim, delineou o cenário do futuro desejado para a região. Mas o processo de consulta e participação não se exauriu aí. Posteriormente, foram realizadas três Reuniões SubRegionais, nas quais – com presença de cerca de 500 pessoas – foram revistos os dados do Diagnóstico e discutidos os Programas e Projetos que deveriam integrar o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. É importante ressaltar que todo esse processo serviu, também, para mostrar o grau de interesse dos habitantes da região em discutir o seu viver atual e seus anseios para o futuro, deixando transparecer um elevado sentimento de solidariedade entre eles e entre a geração presente e as futuras. Neste ambiente é perfeitamente viável desenvolver-se um trabalho marcado pela participação da sociedade e pela democratização das instituições, com o estabelecimento de mecanismos e canais de 244 participação social direta, nos níveis comunitários e municipais, e por formas mais agregadas, nos níveis sub-regionais e regional. FIGURA 6.2.1 SISTEMA DE GESTÃO DO PLANO FUNDAMENTOS PARA UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE 245 Quanto à descentralização das ações do Plano – segundo pressuposto básico do Sistema – os trabalhos de Diagnóstico mostraram ser uma providência de absoluta e urgente necessidade. As instituições governamentais perdem muito de seu poder de ação em função do modelo centralizador e burocratizado de que se revestem, o que faz com que sua atuação seja morosa e exija vultosos recursos para sua própria operacionalização. Instituições descentralizadas, ao contrário, são muito mais flexíveis e, portanto, capazes de tomar decisões e determinar providências com maior agilidade. Além disso, as instituições descentralizadas são muito mais abertas à adoção de novas técnicas e processos de gestão. A partir dessas constatações, buscou-se, na concepção do Sistema (ao lado da democratização dos processos decisórios) uma forma de promover maior flexibilidade de ação, por meio da descentralização das decisões pelas instâncias mais próximas da realidade e dos cidadãos. O terceiro pressuposto refere-se à necessidade da formação e assimilação de uma nova cultura, quanto à gestão da coisa pública. Essa concepção nova, além de envolver a gestão compartilhada, entre o governo e a sociedade, passa pelo conhecimento, domínio e aplicação de novos conceitos, novo ambiente e novos métodos de gestão, por parte de todas as instituições diretamente envolvidas com o processo de gestão do Plano. Passa, também, pela necessidade de cultivar novas formas de articulação entre Estado e Sociedade, com a formação de parcerias entre o governo e as associações civis, organizações não-governamentais, entidades privadas e movimentos sociais. 6.3 OBJETIVOS O Sistema de Gestão tem como objetivos gerais contribuir para a construção de uma nova institucionalidade pública e estabelecer mecanismos político-institucionais que assegurem a execução do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, visando, especificamente: • aumentar a eficiência e a eficácia das instituições governamentais, induzindo-as a assumir uma postura de administração voltada para alcançar resultados, atuando em parceria com entidades da sociedade civil, no âmbito do Plano do Seridó; • assegurar o cumprimento dos dispositivos legais e institucionais para a promoção do desenvolvimento sustentável nos âmbitos regional, municipal e comunitário; • democratizar as instituições do Estado e da Sociedade Civil, ampliando o espaço de decisões e descentralizando os instrumentos de controle social sobre a execução das políticas, programas e projetos de desenvolvimento; • contribuir para o aumento da eficiência, da eficácia e da efetividade das políticas, programas e projetos de desenvolvimento; • fomentar a realização de parcerias e co-responsabilidades entre o Estado e as organizações da Sociedade; e • obter o respaldo e o compromisso da sociedade para com a implementação e a continuidade do Plano do Seridó. 246 6.4 ESTRUTURA DO SISTEMA DE GESTÃO A concepção do Sistema de Gestão parte do princípio de que se deve buscar a potencialização do papel do Estado, utilizando-se as estruturas institucionais existentes nos níveis municipal, estadual e nacional, às quais devem somar-se entidades da sociedade civil, como forma de dispor de um aparato institucional que envolva governo e Sociedade, filosofia de ação que serviu de base ao próprio processo de elaboração do Plano. Além disso, é indispensável que as instituições que atuem no Plano do Seridó (tanto as já existentes quanto aquelas que vierem a ser criadas) compreendam perfeitamente o Sistema como um todo, para poderem cumprir sua parte, sem perder de vista a perspectiva do conjunto. O Sistema de Gestão foi concebido e estruturado em função, primeiro, da estrutura programática do Plano, que representa o conjunto das ações por meio das quais se espera alcançar os resultados programados e, segundo, da estrutura institucional, que será responsável pela sua execução. Preliminarmente, há que considerar a existência de diferentes níveis, abrigando vários agentes, que atuam e decidem sobre o Plano. Esses níveis constituem os patamares nos quais se desenvolvem as atividades, ou seja, são instâncias decisórias que devem funcionar de forma articulada. O conjunto de unidades administrativas participantes do Plano constitui a estrutura operacional do Sistema, que dá ao processo de gerenciamento o necessário suporte institucional, atuando de acordo com as atribuições e responsabilidades que foram confiadas a cada uma delas, para os fins do Plano. A estrutura organizacional do Sistema foi formulada com a preocupação de reduzir o processo decisório ao estritamente necessário, para se obter maior velocidade de decisão e melhores resultados na aplicação dos recursos do Plano. Contempla um conjunto de órgãos colegiados, de caráter consultivo, e uma unidade de planejamento e gestão, na qual se desenvolvem as ações de gerenciamento propriamente ditas (vide Figura 6.4.1). São órgãos consultivos: i) os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável; ii) os Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável; e iii) o Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável. A unidade de planejamento e gestão do Plano é uma entidade do tipo Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, a ser constituída de acordo com as disposições da Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, sob a denominação de Agência de Desenvolvimento do Seridó. 6.4.1 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável Cada município da Região do Seridó terá um Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável–CMDS (que integrará o Sistema Municipal de Governo), tendo como função primordial apoiar a implementação do Plano do Seridó em sua respectiva área de jurisdição. 247 FIGURA 6.4.1 SISTEMA DE GESTÃO DO PLANO REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO SISTEMA Agência de Desenvolvimento do Seridó Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável Unidade de Planejamento e Gestão do Plano 248 O Conselho é uma organização civil com origem em iniciativas de grupos organizados da sociedade local, independente da administração pública municipal para o desempenho de suas atividades administrativas e financeiras. Os CMDS constituirão a instância de decisão, no nível municipal, para assuntos relativos ao Plano do Seridó, obedecidas as suas diretrizes. 6.4.1.1 Atribuições Para cumprir sua função primordial, os CMDS terão, dentre outras, as seguintes atribuições: a. promover e divulgar o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó em toda a área do município, inclusive tomando iniciativas para a mobilização e organização das comunidades, diretamente ou em conjunto com outras instituições governamentais e não-governamentais; b. definir, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, os programas e projetos considerados prioritários para o município; c. elaborar, com o apoio técnico da Agência de Desenvolvimento do Seridó, os Planos Operativos Anuais, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; d. estimular a participação da sociedade, promovendo debates, cursos e seminários, e sistematizando críticas e sugestões para encaminhamento à administração municipal ou a quaisquer outras instituições públicas; e. apoiar a Agência de Desenvolvimento do Seridó em seus trabalhos de monitoria e fiscalização de obras e serviços, com relação a programas e projetos integrantes do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, no município, fornecendo-lhe todas as informações necessárias a permitir o seu adequado acompanhamento; f. articular-se com o Conselho Sub-Regional de Desenvolvimento Sustentável de sua respectiva Zona Homogênea, principalmente no que se relaciona ao estabelecimento de prioridade para programas e projetos e às atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos; e g. manter espaço permanente de participação democrática, resgatando a cidadania, através da valorização da ação política. 6.4.1.2 Composição A composição dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável não segue um padrão rígido, predeterminado, já que se pretende moldar um sistema cuja característica fundamental são os procedimentos democráticos. Quando de sua constituição, haverá que atentar, no entanto, para a necessidade de que seus integrantes representem todos os segmentos da sociedade civil, da administração municipal e de instituições de outros níveis de governo que atuem no município. Apenas a título exemplificativo, o CMDS poderia ser constituído por representantes das seguintes instituições, órgãos e entidades, dentre outros: • Prefeitura Municipal; 249 • Câmara de Vereadores; • Ministério Público; • Sindicatos de Trabalhadores; • Sindicatos Patronais; • Associações Empresariais; • Organizações Comunitárias; • Agência de Desenvolvimento do Seridó; • Igrejas; • Clubes de Serviços; • Organizações Não-Governamentais; • Cooperativas; • Órgãos públicos federais e estaduais com atuação no município; e • Bancos oficiais. Recomenda-se que, na formação dos Conselhos, considere-se o fato de o número de seus componentes não dever ser tão pequeno a ponto de comprometer sua representatividade, nem tão grande de forma a inviabilizar um processo eficiente de funcionamento e tomada de decisões. 6.4.2 Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável Os Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável (CSRDS) serão em número de três (um em cada Zona Homogênea da Região do Seridó). Constituem a segunda instância do Sistema, em termos de órgãos colegiados, e têm por objetivo a promoção do desenvolvimento harmônico e sustentável de suas respectivas áreas de atuação. De natureza jurídica e características semelhantes aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável, os CSRDS assumem o papel de colegiados de segundo grau, para os quais convergem os resultados da atuação dos Conselhos Municipais. 6.4.2.1 Atribuições São atribuições específicas dos Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável: a. analisar as propostas oriundas dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável dos municípios de sua área de abrangência, com o propósito de verificar sua adequação aos propósitos do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; 250 b. estabelecer a prioridade de programas e projetos propostos ao nível dos municípios, em função da disponibilidade de recursos e das necessidades e interesses da Zona Homogênea; c. promover a consolidação dos Planos Operativos Anuais elaborados pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável, submetendo os documentos consolidados à apreciação do Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável; d. propor ao Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável políticas e estratégias que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população, para a distribuição eqüitativa da riqueza produzida, para estímulo à permanência do homem em sua respectiva Zona Homogênea e para a preservação e recuperação do meio ambiente; e. articular-se com os CSRDS das demais Zonas Homogêneas, objetivando o intercâmbio de informações e de experiências e o fortalecimento da cultura da Região do Seridó; f. apoiar a ação da Agência de Desenvolvimento do Seridó no exercício de suas atividades de planejamento e gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; e g. articular-se com a administração pública dos municípios de sua respectiva Zona Homogênea, aportando colaboração no sentido de contribuir para a melhoria dos serviços públicos. 6.4.2.2 Composição Tratando-se de colegiado de segundo grau, os Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável têm sua composição definida previamente, compreendendo: • Prefeitos dos municípios que compõem a Zona Homogênea; • Presidentes das Câmaras de Vereadores dos municípios da ZH; • Presidentes dos CMDS dos municípios da ZH; • 03 representantes dos CDMS dos municípios da ZH; • 02 representantes da Agência de Desenvolvimento do Seridó; • 01 representante de cada órgão do governo estadual atuante na ZH; • 01 representante de cada órgão do governo federal atuante na ZH; e • 01 representante da Associação de Municípios que atue na ZH. 6.4.3 Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável do Seridó É a instância máxima do processo decisório do Sistema de Gestão. Já existe formalmente, criado por meio do Decreto nº 14.543, de 03 de setembro de 1999, em decorrência de um Protocolo de Intenções celebrado, na mesma data, entre o governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Associação 251 dos Municípios da Microrregião do Seridó Ocidental–AMSO e a Associação dos Municípios do Seridó–AMS, com a interveniência das seguintes instituições: Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern); Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (Sebrae-RN); Federação do Comércio do Estado do Rio Grande do Norte (FECOMÉRCIO); Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Faern); Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn); Arquidiocese de Natal; e Diocese de Caicó. O Protocolo assentou-se sobre a argumentação de que: 54 i) a estratégia de desenvolvimento sustentável procura organizar a intervenção pública e privada de forma múltipla e articulada, incorporando e integrando as dimensões econômica, social, ambiental, tecnológica e políticoinstitucional; ii) o desenvolvimento sustentável demanda novas instituições e novo sistema de distribuição de responsabilidades e papéis na sociedade, combinando a descentralização do poder, das competências, dos recursos e das responsabilidades do setor público, devendo evoluir para crescentes formas de parceria e co-responsabilidade; iii) os Planos Diretores Regionais de Desenvolvimento Sustentável e os Conselhos Regionais de Desenvolvimento Sustentável estão inseridos no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte, como instrumentos da política espacial, centrada em mecanismos de indução da descentralização espacial das ações de investimentos, tanto públicos quanto privados, voltados para a promoção do desenvolvimento local diferenciado; e iv) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento Sustentável possibilitam a formação de uma instância de negociação e deliberação sobre as prioridades de desenvolvimento de cada área, reunindo os atores sociais locais e as instituições públicas, de modo a comprometê-los na ação. A meta principal do Protocolo foi expressa como correspondendo ao estabelecimento de mecanismos institucionais capazes de viabilizar a formulação e a execução de políticas públicas com a participação da iniciativa privada e a mobilização dos mais diversos segmentos da sociedade civil visando promover a recuperação econômica da Região do Seridó, por meio da criação do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó–CDS e da elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. A missão básica do CDS, de acordo com o Protocolo, traduzia-se por sua contribuição para o desenvolvimento sustentado de todos os municípios da Região do Seridó, "integrando pessoas, ações, tempo e recursos, dentro de uma visão estratégica e cooperativa, reduzindo ao máximo os esforços dispersos e fragmentados, além de exercer o controle social das verbas públicas aplicadas nos municípios, através do fortalecimento de uma mentalidade de cidadania baseada na participação popular." Suas funções primordiais envolviam o desenvolvimento de atividades temporárias e permanentes: as primeiras, relacionadas ao acompanhamento do processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó e as últimas referentes à coordenação de sua implementação. Para o cumprimento das funções de caráter transitório, o CDS optou por criar, mediante a edição da Resolução nº 001/99, de 27 de outubro de 1999, a Comissão de Acompanhamento do Plano– CAP, para cuja constituição foram mobilizados não apenas os membros integrantes do próprio Conselho mas representantes de outras instituições da sociedade civil, bem como personalidades detentoras de notório conhecimento sobre a Região do Seridó, e, como tal, capazes de aportarem contribuição relevante aos trabalhos de elaboração do Plano. 54 Extraído do Termo de Protocolo. 252 Para o exercício de suas atividades de caráter permanente, o CDS deverá proceder, tanto em sua estrutura quanto no que diz respeito às suas atribuições e competências, a mudanças necessárias à sua condição de instância máxima do Sistema de Gestão. Por outro lado, para imprimir mais agilidade nos processos de decisão e permitir uma mais efetiva interação com as demais instâncias decisórias, o CDS terá sua sede na cidade de Caicó. Pelo termos do Decreto nº 14.543, de 03 de setembro de 1999 o Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó é diretamente subordinado ao Governador do Estado do Rio Grande do Norte. 6.4.3.1 Atribuições Como instância máxima do Sistema de Gestão, o Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó tem as seguintes atribuições: a. coordenar a implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; b. contribuir para o desenvolvimento sustentável da totalidade dos municípios que compõem a Região do Seridó, integrando pessoas, ações, tempo e recursos, dentro de uma visão estratégica e cooperativa, reduzindo ao máximo os esforços; c. consolidar os objetivos do Plano, de melhoria da situação socioeconomica da Região do Seridó, com efeitos sobre sua economia, através de ações voltadas para seu desenvolvimento sustentável; d. intensificar a participação da sociedade civil organizada, tanto junto aos Poderes Públicos Federal e Estadual quanto ao Municipal, por meio de trabalho integrado e de constantes parcerias, de forma a confirmar a legitimidade, a eficiência e a efetividade do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó como adequado instrumento de desenvolvimento regional; e. acompanhar as ações dos governos federal, estadual e municipal, no âmbito da Região do Seridó, fiscalizando a aplicação dos recursos, avaliando seus resultados e, se necessário, sugerindo modificações com o objetivo de adequá-las às estratégias e diretrizes do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; f. analisar e aprovar os Planos Operativos Anuais apresentados pelos Conselhos SubRegionais de Desenvolvimento Sustentável, para cada respectiva Zona Homogênea da Região do Seridó, repassando-os, posteriormente, à Agência de Desenvolvimento do Seridó, com vistas à tomada de providências relacionadas à sua execução e monitoramento; g. supervisionar o funcionamento da Agência de Desenvolvimento do Seridó bem como diligenciar no sentido de viabilizar providências destinadas a propiciar-lhe as condições necessárias ao perfeito cumprimento de suas funções; h. apoiar a atuação dos Conselhos Municipais e Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável, aportando-lhes, quando necessário, suporte técnico para o exercício de suas funções, bem como desenvolvendo atividades de capacitação de seus dirigentes. 253 6.4.3.2 Composição A composição do Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, definida em seu Decreto de criação, será modificada para atender às especificidades do Sistema de Gestão do Plano. Assim, será formado por representantes das seguintes instituições: • Governo do Estado do Rio Grande do Norte; • Diocese de Caicó; • Associação dos Municípios da Região do Seridó Ocidental–AMSO; • Associação dos Municípios Seridó–AMS; • Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte–Fiern; • Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Rio Grande do Norte–Sebrae/RN); • Federação do Comércio do Estado do Rio Grande do Norte–FECOMÉRCIO; • Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte–Faern; • Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte–Fetarn; • Universidade Federal do Rio Grande do Norte; • Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; • Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável; e • Conselhos Sub-Regionais de Desenvolvimento Sustentável. 6.4.4 Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó Constitui a unidade de planejamento e gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, caracterizando-se, em outras palavras, como o braço executivo do Sistema, cabendo-lhe as responsabilidades básicas de instrumentalizar, viabilizar e implementar as decisões tomadas pelos Conselhos componentes do Sistema, de acordo com os procedimentos determinados pelo processo de gerenciamento. Ao mesmo tempo, reveste-se de características de instituição promotora do desenvolvimento sustentável da região, na medida em que tem a seu cargo, igualmente, a tarefa de estimular a integração de entidades públicas e privadas, no sentido de viabilizar os programas e projetos previstos no Plano. Em total coerência com os fundamentos e pressupostos que serviram de base tanto ao processo de elaboração do Plano quanto ao delineamento das demais instâncias do Sistema de Gestão, ou seja, participação democrática e aliança governo–sociedade, a unidade de planejamento e gestão congrega 254 instituições públicas, entidades classistas, organizações comunitárias, além de outros segmentos organizados da sociedade civil. Optou-se, assim, por delinear, para o exercício dessas funções, uma entidade de caráter privado que, por sua própria natureza, reúne melhores condições de agilidade, flexibilidade e eficiência para assegurar a execução das ações do Plano. Elegeu-se a figura da Sociedade Civil de Interesse Público, de que trata a Lei Federal nº 9.790, de 23 de março de 1999 que, em seu artigo 3º estabelece: Artigo 3º - A qualificação instituída por esta Lei, observado, em qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: I - promoção da assistência social; II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; V - promoção da segurança alimentar e nutricional; VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII - promoção do voluntariado; VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnico e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo. Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas configurase mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doação 255 de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins. Como se pode observar, o perfil escolhido para a Agência de Desenvolvimento do Seridó apresenta-se como o mais adequado, quer sob o ponto de vista do elenco de atividades que pode vir a desenvolver, quer pela sua própria natureza jurídica, que, embora de direito privado, possibilita a integração e a sinergia com instituições de direito público. 6.4.4.1 Atribuições Como órgão executivo do Sistema de Gestão do Plano, cabe à Agência de Desenvolvimento do Seridó desempenhar, dentre outras, as seguintes atribuições básicas: a. promover a integração das diversas instâncias e instituições envolvidas com as ações do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, objetivando a concentração de esforços e recursos no sentido de viabilizar os programas e projetos contemplados no mesmo; b. coordenar as ações previstas nos Planos Operativos Anuais aprovados pelo Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; c. mobilizar os agentes públicos e privados que deverão responsabilizar-se pela execução das ações referentes ao desenvolvimento de programas e projetos; d. disponibilizar meios para a capacitação técnica das instituições envolvidas com a implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; e. realizar estudos, pesquisas e projetos especializados ou específicos, necessários ao desenvolvimento sustentável da Região do Seridó; f. conceber e promover seminários, palestras, ciclo de debates e outros eventos, visando a sensibilização, mobilização, articulação e integração das instituições públicas, privadas e entidades representativas da sociedade civil, com vistas à divulgação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó; g. promover a formação de parcerias entre as instituições públicas e privadas, objetivando a obtenção de recursos financeiros, materiais e humanos necessários à execução de programas e projetos de interesse da Região do Seridó; h. promover, articular e firmar convênios, intercâmbios técnicos e científicos, de interesse para o desenvolvimento sustentável da Região do Seridó, com quaisquer instituições públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras; i. articular-se com a Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio Grande do Norte (por intermédio do Grupo Gestor, especificamente criado para apoiar a elaboração e a implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó) e com a Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, principalmente com vistas à identificação, divulgação e promoção de investimentos na Região do Seridó. 256 6.4.4.2 Estrutura Básica Condizente com os fundamentos e propósitos do Sistema de Gestão, a estrutura organizacional da Agência de Desenvolvimento do Seridó será leve e horizontal, limitando-se ao mínimo os níveis hierárquicos, com vistas à agilização de seus procedimentos operacionais. Assim, considerando-se os objetivos para os quais será instituída e observando-se as exigências decorrentes da Lei Federal nº 9.790, a Agência de Desenvolvimento do Seridó terá a seguinte estrutura básica: i) Conselho Consultivo; ii) Conselho Fiscal; iii) Diretoria Executiva; e iv) Grupos Temáticos de Trabalho. O quadro de pessoal próprio será limitado ao mínimo necessário ao seu funcionamento administrativo. As equipes técnicas (que integrarão os Grupos Temáticos de Trabalho) serão constituídas com servidores de instituições públicas e privadas, colocadas à sua disposição por períodos de longa duração ou, quando for o caso, pelo tempo necessário à realização de atividades específicas. Assim como no caso do Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável – e pelas mesmas razões apontadas no item 6.4.3 anterior – a Agência de Desenvolvimento do Seridó terá sua sede na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte. 6.5 PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO O detalhamento do Sistema e os procedimentos a serem seguidos para sua implementação e operação são os previstos no Programa Institucionalização do Sistema de Gestão do Plano, que consta do Capítulo 5 deste Volume. 257 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AB’SABER, Aziz Nacib (1999)- “Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida”. Estudos Avançados, Universidade de São Paulo, Instituto de Estudos Avançados, vol. 1, nº 1: 7-68, São Paulo: IEA, 1987. (Dossiê Nordeste Seco.) AB’SABER, Aziz Nacib [1975]- O domínio morfoclimático semi-árido das caatingas brasileiras. [Brasília], Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico– CNPq [1975]. 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