Research results: Portuguese
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Research results: Portuguese
Networked Interaction in Foreign Language Acquisition and Research Grant Agreement Number - 2008 – 4467 / 001 - 001 NIFLAR Research results: Portuguese Deliverable number 3.3 Dissemination level Public Delivery date 24 February 2011 Status Final Author(s) Fernandes, A., Pereira, I., Schoenmakers, M. This document is free to download; no changes permitted NIFLAR Research results A Negociação de Sentido em Comunicação Vídeo-Web em Português de Língua Não Materna: um estudo de caso Anabela Fernandes, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras Isabel Pereira, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras Marian Schoenmakers, Utrecht University, Faculty of Humanities Abstract Within the European Project NIFLAR video-web communication was used to provide foreign language students with a tool to be able to communicate synchronously with native speakers in the target language and to enhance intercultural awareness. In this paper we present a preliminary analysis of a conversation between a language learner in The Netherlands and a pre-service teacher (native speaker) in Portugal, through video-web communication. We analysed two sessions of more or less one hour each. Our conclusion was that the conversation between these two speakers is clearly authentic and rather successful on those dimensions measuring aspects related to communication, such as: (i) specific cultural experiences and knowledge, which are shared; (ii) the atmosphere of communication, which is pleasant: there is laughing and irony; (iii) willingness to communicate, which is obvious. More thorough analyses on a larger corpus of recordings, though, is needed. We would also like to focus more specifically on negotiation of meaning and misunderstandings which do occur in the NIFLAR-recordings, in order to answer questions as (i) What kind of cultural and linguistic misunderstandings take place during the sessions? (ii) How are they solved or not solved? 1. Introdução A presença da tecnologia baseada no computador no contexto educativo tem vindo a revelar-se capaz de promover uma aprendizagem eficiente (Entwistle et al., 1998). Na adesão dos estudantes às TIC (i.e. Tecnologias de Informação e Comunicação), tem sido sublinhada uma motivação intrínseca (Laurillard, 1993) para as tarefas realizadas em muitos ambientes de ensino a distância, na perspectiva de uma aprendizagem colaborativa. O presente estudo considera o valor acrescido de um ambiente de comunicação a distância na aprendizagem de uma língua não materna — já defendida em vários estudos (Chapelle, 2003; Warschauer & Kern, 2000; O’Dowd e Ware, 2009) — , bem como a interacção verbal promotora de uma competência comunicativa intercultural (Byram, 1997 e Müller-Jacquier, 2005). A realidade fortemente marcada pelo processo de globalização determina a formação de uma identidade bicultural: parte da identidade de cada indivíduo está assente na sua cultura local e a outra parte está aliada a uma identidade global (Arnett, 2002). A estrutura dialógica subjacente à competência comunicativa intercultural decorre “as a function of two individual’s motivation to comunicate, knowledge of communication in that context, and skills in implementing their motivation and knowledge.” (Spitzberg, 1998). Na aprendizagem de uma língua não materna, a motivação estará presente em vários aspectos como a realização das tarefas, as razões da escolha da língua-alvo, o uso Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 2 NIFLAR Research results estratégico do aprendente bem como a continuidade da aprendizagem fora do contexto instrucional (Dörnyei, 2001). À semelhança de outras áreas da tecnologia na educação, estudos sobre a tecnologia aplicada à aprendizagem de línguas visam compreender de que modo a tecnologia capitaliza os conhecimentos do aprendente e de que forma são utilizados os recursos tecnológicos. Nesse sentido, a investigação efectuada até ao momento tem tido um carácter essencialmente descritivo (Knupfer e McLellan, 1996). O paradigma metodológico que orientou a investigação que aqui se apresenta foi o estudo de caso, uma vez que se reveste de uma natureza interpretativa/ qualitativa (Merriam, 1998; Yin, 1994; Stake, 1995), focalizando-se numa situação específica de modo a descobrir o que há nela de mais essencial, característico e assim tentar contribuir para a compreensão global de um determinado fenómeno. O projecto NIFLAR parte da constatação da necessidade de melhorar o desempenho ao nível do ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras (LE). Como limitações no âmbito do ensino de LE, assinala-se a falta de autenticidade nos actos comunicativos em sala de aula, as escassas possibilidades de os aprendentes interagirem com falantes nativos, a insuficiente exposição à língua-alvo, assim como as oportunidades de interacção e a necessidade de desenvolver, por parte dos aprendentes, de uma competência comunicativa intercultural. Além disso, os programas de formação de professores não induzem a uma verdadeira mudança nos processos de ensino, nomeadamente no que respeita à promoção da competência intercultural e ao uso de instrumentos tecnológicos. 2. Metodologia 2.1. O Projecto Niflar O projecto NIFLAR tem como objectivo principal contribuir para a inovação e a obtenção de melhores resultados no âmbito do ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras através da diversificação e enriquecimento do contexto de aprendizagem assentes no uso de ferramentas das TIC. Pretende-se, mediante o desenvolvimento de um sistema de b-learning, colmatar algumas limitações que actualmente afectam as práticas educativas ao nível das línguas estrangeiras. O sistema de b-learning desenvolvido combina o ambiente de sala de aula com a comunicação em sincronia entre pares (estudantes de língua estrangeira e falantes nativos da língua-alvo). Esta comunicação é feita através de comunicação vídeo-web, permitindo comunicação em tempo real, seja interacção oral ou escrita, partilha de documentos ou escrita conjunta de documentos. A comunicação é estabelecida através da plataforma Adobe Connect Pro, associada ao Surfgroepen. Esta é uma ferramenta colaborativa virtual para comunicação em sincronia, que possibilita que os participantes se vejam e falem uns com os outros, partilhem documentos (fotografias, excertos de gravações vídeo ou áudio, apresentações em powerpoint) e, ao mesmo tempo, elaborem documentos conjuntamente. As sessões interactivas foram gravadas, o que facilitou a observação da evolução do processo de aprendizagem/uso de LE e a avaliação dos métodos. 2.2. Participantes A fim de observar a negociação de sentido em comunicação intercultural foram realizadas tarefas interactivas subordinadas ao tema “Trabalhar em Portugal”, tendo como participantes Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 3 NIFLAR Research results uma pre-service teacher (falante-nativo) da Universidade de Coimbra e um aprendente de Português da Universidade de Utrecht. A preparação da falante-nativo teve lugar na unidade curricular Didáctica do Português do Curso de 2.º ciclo em Português Língua Estrangeira e Língua Segunda da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. No âmbito das actividades curriculares, procedeu-se à análise de documentos sobre os níveis de proficiência linguística, em particular o Quadro Europeu Comum de Referência, de textos teóricos alusivos ao conceito de competência comunicativa intercultural e aos critérios epistemológicos de conceptualização de tarefas para contextos de ambientes de aprendizagem em linha. Por outro lado, numa vertente mais prática, foram desenvolvidas tarefas interactivas que posteriormente contaram com a participação dos pre-service teachers quer nas interacções verbais quer na monitorização da execução das tarefas. 2.3. Procedimento O tema “Trabalhar em Portugal” é pertinente para jovens universitários que estão a fazer a sua preparação para o mundo do trabalho, tendo a tarefa sido desenvolvida ao longo de três sessões: Sessão 1 Durante a primeira sessão, foram debatidas questões tão importantes como o emprego/desemprego e comparou-se a situação em diferentes países da UE, centrando-se nas realidades portuguesa e holandesa. Sessão 2 Na segunda sessão, o aluno aprendente comentou imagens alusivos ao tema, aperfeiçoou a sua técnica de preenchimento de um curriculum da Europass. Sessão 3 Por último, na terceira sessão corrigiu-se em conjunto a carta de apresentação para um emprego elaborada em casa pelo aprendente e foi simulada uma entrevista de candidatura a um trabalho numa empresa. A distribuição do tempo (calculada em tempos médios) foi feita do seguinte modo: (i) preparação prévia: 30 minutos; (ii) execução da tarefa: 3 momentos de 45/60 minutos; (iii) trabalho em casa entre cada sessão da tarefa: 45 minutos; (iv) avaliação: 30 minutos. Relativamente aos recursos utilizados, assinala-se a recolha de imagens e de notícias da imprensa, de um anúncio de emprego, e páginas web com informação e formulários para preenchimento online. A monitorização da tarefa nas várias sessões contou com a avaliação da experiência, de acordo com critérios definidos (aprendente e pre-service teacher). 3. Resultados As interacções verbais confirmaram uma motivação intrínseca por parte dos interlocutores para as tarefas realizadas na plataforma, reconhecendo a sua multifuncionalidade. Nesse sentido, a comunicação oral síncrona fez sobressair a complementaridade entre as interacções verbais orais, os elementos paraverbais e não verbais — os risos ocorrem com frequência —, a comunicação escrita síncrona — presente no chat para escrever as palavras desconhecidas pelo aprendente — , a partilha de documentos autênticos — as Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 4 NIFLAR Research results imagens e a página com anúncios de emprego — e a escrita colaborativa — através do note para registar o texto de opinião sobre os efeitos do desemprego na sociedade. Assim sendo, do ponto de vista da pragmática cultural, em termos genéricos, registou-se um respeito pelas regras de interacção — cada turno de fala sucede sem muitas sobreposições. Quando os discursos se sobrepõem, de um modo geral, entrecruzam-se como se pode ver no exemplo seguinte: (PC = pre-service teacher, falante nativo; PU = aluno aprendente) PU1: espera lá / quando as pessoas são preguiçosas elas também não vão PC1: à procura de emprego PU1: não é? PC1: exactamente PU1: fica deitado no sofá a ver televisão PC1: exactamente PU1: a fumar um cigarro PC1: e a beber uma cerveja PU1: sim sim ja (risos) No que diz respeito à competência comunciativa intercultural, a partilha de informação cultural e de experiências culturais específicas, por vezes, contrastantes foi acompanhada pela capacidade para mudar perspectivas. Se por um lado, o aprendente em dado momento afirma que não estará muito interessado no tema do desemprego, posteriormente revela não ficar indiferente aos efeitos da precariedade laboral. Após a descrição da imagem de uma página de jornal com anúncios de emprego, regista-se a seguinte resposta: PC1: Tu olhando para os jornais aí na Holanda notas que notas que há cada vez mais ofertas de emprego ou não? Ou há poucas? PU1: olha sabes eu estou muito desinteressado PC1: ainda não tens que pensar nisso A partir daqui a conversa centra-se no telemóvel recentemente adquirido, nas novas tecnologias e no modo como alteraram comportamentos sociais. Porém, um pouco depois, perante a imagem de um homem com uma expressão corporal que aponta para uma atitude reflexiva, o aprendente não fica indiferente e relaciona essa imagem com a possibilidade de a pessoa ter sido despedida. PU1: sabes o que acho? eu acho que o patrão dele PC1: o mandou embora PU1: o despediu PC1: também me parece […] PU1: eu estou muito mal fico mal com este pensamentos e estas imagens porque eu acho é uma vergonha que estas coisas no mundo / estás a perceber? Do ponto de vista das características de carácter pessoal, neste par de interlocutores a comunicação intercultural foi marcada pela atitude espontânea, solícita e receptiva dos dois participantes. PU1: tu vives num prédio grande? quantos andares tem? PC1: tem quatro andares / não é muito grande PU1: boa / o prédio é novo? PC1: tou aqui a morar há quatro anos / o prédio tem quatro anos Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 5 NIFLAR Research results PU1: então foste a primeira PC1: até fui a última PU1: tu tens planos de mudar a casa ou tu ainda estás contente? PC1: ainda estou contente com a minha casinha PU1: boa boa (risos) PC1: daqui a uns anos muda-se para uma casa grande gigante PU1: sim sim é o meu sonho também (risos) A vontade de comunicar foi muito evidente, justificando, deste modo, a manifesta atmosfera agradável, pautada por risos e ironia. 4. Discussão e conclusões A aprendizagem de uma língua não materna fora do país de origem da língua-alvo carece de oportunidade de interacção entre aprendentes e falantes-nativos. Os resultados do presente estudo de caso são inequívocos quanto ao reconhecimento desse espaço criado pela comunicação video-web. Porém, não deixa de ser curioso que uma interacção oral baseada numa tarefa pré-elaborada, com sessões definidas e com tempos mais ou menos pré-determinados, seja vivida como autêntica. Ainda que o tema das tarefas fosse claro e estivesse presente, a conversa entre os participantes seguiu outros rumos temáticos como o tempo meteorológico e fenómenos naturais como terramotos, habitação e construção antisísmica, telemóveis e o seu efeito na vida das pessoas. Tratando-se de um ambiente de aprendizagem informal — complementar às aulas de língua em contexto instrucional —, espera-se que as correcções linguísticas não ocorram com muita frequência e as explicações não se pautem por parâmetros da gramática — para a referência ao género feminino pontualmente foi referida a expressão “é menina”. A transcrição revela, porém, alguns aspectos do discurso de sala de aula: o pre-service teacher finaliza o turno de fala do aprendente e a correcção é feita de forma explícita: PC1: dormem é com O PC1: é com C / não é T Provavelmente, a observação e respectiva análise da gravação, assim como a leitura da transcrição contribuiriam para uma reflexão sobre o discurso a manter por parte do falantenativo, mesmo sendo pre-service teacher, com vista a conferir mais autenticidade, ou melhor será dizer, maior proximidade às situações discursivas reais. PC1: a crise / o que é que é a crise? PU1: o que está a acontecer agora no mundo inteira PC1: no mundo inteiro PU1: inteiro e quer dizer que muitas pessoas perdem os trabalhos deles PC1: sim PU1: e que eles têm problemas de fazer um vida PC1: tem problemas na vida para sobreviverem PU1: na vida / se calhar é melhor Para terminar, o estudo aqui apresentado pretendia compreender de que modo decorria a negociação de sentido. Durante as interacções não perpassaram estereótipos e o desconhecimento do significado de alguns vocábulos levou a que fossem necessárias explicações semânticas, tendo anulado possíveis equívocos. Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 6 NIFLAR Research results O projecto NIFLAR assenta em opções teórico-metodológicas no domínio do ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras - competência comunicativa intercultural, competência pragmática, ensino baseado em tarefas - em cuja aplicação as TIC podem ter um papel fundamental, por permitirem criar contextos de comunicação autêntica dificilmente possíveis no ambiente de sala de aula. Ao criarem situações menos artificiais podem contribuir também para o aumento da motivação dos estudantes e, consequentemente, para melhores resultados. O conjunto de dados que resultaram das experiências realizadas foi objecto de investigação, que contribuirá, seguramente, para definir melhor de que forma e em que proporção a utilização de ferramentas electrónicas se reflecte nos resultados de aprendizagem de LE. Project number – 143472-LLP-1-2008-1-NL-KA2-KA2MP 7 NIFLAR Research results Referências bibliográficas Arnett, J.J. (2002). “The psychology of globalization”. American Psychologist, 57 (10), pp. 774-783. Byram, M. (1997). Teaching and assessing intercultural communicative competence. Clevedon, England: Multilingual Matters. Chapelle, C.A. (2003) Computer Applications in Second Language Acquisition. Cambridge: Cambridge University Press. Dörnyei, Z. (2001) Motivational Strategies in the Language Classroom. Cambridge: Cambridge University Press. Entwistle, N., Tait, H., McCune, V. Speth, C. e Odor, P. (1998). Personalised advice on study skills. University of Edinburgh: Centre for Research on Learning and Instruction. Knupfer, N.N. e McLellan, H. (1996). “Descriptive research methodologies. In Jonassen, D. (ed). Handbook of research for educational communications and technology. New York: MacMillan. Laurillard, D. M. (1993). Rethinking University Teaching: A Framework for the Effective Use of Educational Technology. Routledge, London. O’Dowd, R. e Ware, P. 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