Ibidem - Romanisches Seminar
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FEBRUAR 2016 (NR. 47) Ibidem Das Blatt der Romanistik-Doktorierenden Der akademische Nachwuchs berichtet zu aktuellen Veranstaltungen Repensando os modernismos O colóquio Modernismo(s). Fernando Pessoa. Eu e (os) outros ocorreu na Universidade de Zurique entre os dias 26 e 27 de outubro de 2015. Tratou-se de um evento críticocomemorativo a partir da efeméride de 100 anos da publicação do Orpheu – Revista Trimestral de Literatura, editada em Lisboa com o intuito de reunir produções literárias luso-brasileiras. desassossego para apontar traços constitutivos da escrita pessoana, e, principalmente, o seu caráter performativo, ao afirmar a identidade acionada na escritura dos heterônimos de Fernando Pessoa como um conjunto de qualidades e presenças ao tomarem a palavra. Em Livro do desassossego, através do heterônimo pessoano de Bernardo Soares, há uma experiência discursiva modificável a cada texto, porém destituída de um caráter evolutivo e temporalmente gradual, optando, por outro lado, por um ritmo cíclico em que os fragmentos textuais operam como máscaras do poeta. Por André Masseno De acordo com a idealizadora do colóquio, a professora Maria Ana Ramos (Universidade de Zurique), o evento também surgiu pelo desejo de dar continuidade aos debates sobre a escrita modernista e suas facetas, ou seja, debruçar-se sobre a importância do modernismo português e brasileiro para o período contemporâneo. Afinal de contas, o modernismo constitui-se como movimento múltiplo em que cada cultura literária promoveu discussões peculiares acerca tanto do fazer literário como de suas respectivas tradições culturais, além de estabelecer o jogo com uma certa “sensibilidade moderna” na maneira de ver o espaço urbano e o mundo. Modernismo(s). Fernando Pessoa. Eu e (os) outros teve as participações dos professores-pesquisadores Georges Güntert (Universidade de Zurique), Ida Alves (Universidade Federal Fluminense – Brasil), Rosa Martelo (Universidade do Porto) e Fernando Cabral Martins (Universidade Nova de Lisboa), além de contar com a exibição do filme “Conversa Acabada” (1982), de João Botelho, sobre a correspondência entre Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. O colóquio ocorreu sob a chancela da Cátedra Carlos de Oliveira e do Doutorado Interuniversitário de Estudos Iberoromânicos do Romanisches Seminar/UZH. Na conferência “Uma imagem emblemática do Livro do desassossego: as nuvens”, o professor Georges Güntert (Universidade de Zurique) partiu de Livro do As nuvens Evidentemente o papel do leitor é primordial para acionar a multiplicidade da obra pessoana, que, por tratar-se de uma obra sem cronologias, circular, aberta e portanto não-conclusiva, exige uma postura de leitura diferenciada. Evidencia-se a distância da obra de Fernando Pessoa do gênero autobiográfico, ou dito de outro modo, da autobiografia clássica. Sendo assim, qual seria o gênero literário presente nos heterônimos pessoanos e em seus comentários descontínuos sobre a vida? Como uma resposta nada peremptória, o professor Güntert direcionou-se à abordagem das nuvens como figuração importante do Livro do desassossego: tal como o céu com o passar incessante das nuvens, o protagonista muda continuamente sem se transformar. A mutação reside no nível discursivo, isto é, 1 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 nas diferenças do eu-narrador no trecho “Nuvens” a partir do avanço dos parágrafos, exigindo do leitor o emprego de significados pessoais. As nuvens apresentam-se como a própria ideia de Pessoa com o fazer literário, como um movimento plural e de passagem, sem a presença de um centro. A função primordial das imagens em Livro do desassossego é a de promover a ideia de nuvens como figuração de uma singularidade etérea, efêmera, cambiante, algo que flutua, mais leve do que o ar. O movimento interior do narrador Fernando Soares passa a ser representado através de uma linguagem imagética, em que as nuvens acionam uma passagem desfeita entre o céu e a terra, além de evocarem a espacialidade do sonho que se abriga na mente imaginativa do personagem. Por conseguinte, em Livro do desassossego se mune da imagem das nuvens para apresentar uma literatura em mise-en-abyme, ou melhor dito, um eu-narrador volátil e refratário a qualquer jogo (auto)biográfico. a proposição de um espaço literário de constante contato entre os mundos interno e externo. Deste modo a literatura como passagem e espaço de trânsito seriam pontos nevrálgicos na poética de ambos os poetas. Ida Alves enfatizou o ato poético como modo de convivência entre os modernistas e o seu legado, em que ocorre uma “dívida literária” – dívida positiva através da leitura e releitura de uma produção poético-literária antecedente. No caso de Carlos Drummond de Andrade, leitor da poesia pessoana, construiu-se um espaço de afetividade com a produção de Fernando Pessoa, que forma seu legado pessoal como artista. Portanto, há um jogo de dívidas do “herdeiro” Drummond com o legado literário – condição recorrente quando poetas (re)lê poetas, quando o empoderamento poético surge através da apropriação de vozes alheias, que consequentemente denota uma releitura e re-escritura de um passado literário. A partir deste jogo com as vozes alheias, pode-se verificar em Drummond e Pessoa uma poética do fingimento, em prol de uma estratégia de “outrar-se”. Uma janela (poética) para a modernidade A pesquisadora brasileira Ida Alves (Universidade Federal Fluminense), em Escritas poéticas – sua conferência “Moderentre duelos e duetos nismo(s): Campos e Drummond à janela de nossa conRevista Orpheu, fascículos n.º 1 e 2, 1915 Em sua conferência “Detemporaneidade”, enfatizou pois do poeta que era que, embora os Modernismos português e brasileiro uma literatura inteira”, calcada sobre a redescoberta tenham recebido contornos particulares em cada culde Fernando Pessoa pela poesia portuguesa das détura literária, houve traços concomitantes entre amcadas subsequentes ao modernismo, a pesquisadora bos. No caso da relação entre a poesia de Fernando portuguesa Rosa Martelo (Universidade do Porto) Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, já marcaressaltou a poética modernista como escrita situada das por diferenças geracionais, entrevê-se a afeição entre o dueto e o duelo, isto é, entre o escrever-falar dos dois poetas modernistas pela condição do sujeito junto com a tradição e o lutar contra a subserviência em espaços citadinos em transformação – no caso de ao passado literário. Pessoa, por uma Lisboa em mudança; Drummond Iniciando a abordagem aproximativa da obra de por um território brasileiro situado entre o progresso Pessoa com as de Sophia de Mello Breyner Andresen difundido pelo Estado e o atraso presente em uma e Mário Cesariny (ambos os poetas com uma relação realidade social repleta de desigualdades. Ambos os ambivalente com o legado pessoano), a pesquisadora poetas flertam com uma poética moldada por uma propôs um salto crítico para a poesia dos anos 80 e subjetividade advinda de identidades móveis que, 90, onde se constata uma apreensão de Portugal dipor sua vez, resultam da experiência urbana, além de versa à de Pessoa. Neste caso, a presença do corpo coadunada a uma escrita da paisagem da memória. possui aspectos distintos aos da impessoalidade e Deste modo, poder-se-ia dizer que há em Pessoa e em descarnalidade recorrentes na poética pessoana. Nas Drummond uma “fenomenologia” da janela, ou seja, produções poéticas mais recentes, os conceitos de 2 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 identidade resvalam da ideia de eu e propõem, por sua vez, a carnalidade como espaço e ponto primordiais. Sendo assim há uma inscrição poética do corpo em confronto (duelo) e em convivência (dueto) com a produção poética pessoana. literário do Saudosismo português, que estava interessado pelo resgate de uma certa “alma nacional”, isto é, de uma busca de entendimento, de certa forma essencialista e nostálgica, de um imaginário lusitano. A partir deste contexto, situado entre uma visada cosmopolita do mundo (advinda dos artistas em torno da revista Orpheu) e uma reivindicação de um “modo de ser lusitano” (próprio do Saudosismo), ficou evidente que o suposto “tempo moderno/modernista” tratou-se de uma gama complexa de movimentos e artistas dotados de formas diferentes de ver e participar dos debates artístico-culturais de sua atualidade. Modernismos para além do saudosismo De acordo com o pesquisador Fernando Cabral Martins (Universidade Nova de Lisboa) em sua conferência “Orpheu contra o saudosismo”, em certos discursos críticos o termo vanguarda é usado como substitutivo do termo modernismo, embora as vanguardas sejam múltiplas, e precisamente se for levada em Modernismo conta a diversidade entre os moe as escritas de/do agora dernismos português e brasileiro. Por conseguinte, o modernismo Na conferência-seminário “A poé plural, exigindo uma atenção esia portuguesa do século XXI”, a maior às forças de integração e pesquisadora Rosa Martelo procaracterização do termo em disblematizou as reverberações da tintas áreas de atuação, ainda que produção modernista portuguesa existam diálogos entre si a partir na poesia contemporânea. Em lide alguns de seus agentes interesnhas gerais, indagou-se até que sados em um diálogo entre a liteponto a produção atual transforratura e as demais manifestações mou ou manteve-se em contato artísticas. Ademais, Fernando direto com os traços constitutivos Cabral Martins assinalou a maledas obras modernistas como a vaabilidade dos termos artísticos e lorização da experiência cinética de suas reapropriações dentro do da velocidade, o gesto de ruptura debate intelectual e artístico, que, com o passado, a autorreflexividapor outro lado, podem acarretar de, a impessoalidade no lirismo e no uso indiscriminado do termo. o apreço pela investigação de uma Entretanto, e em linhas gerais, o linguagem poética peculiar, que pesquisador propôs pensar a vanseria consequência de uma crenguarda como um momento artísça e defesa do caráter autônomo Fernando Pessoa em Lisboa, 1928 tico-cultural desejoso por mudar da arte. Além disso, Rosa Marteos parâmetros de conhecimento vigentes através de lo ponderou a demarcação temporal de sua fala no uma reformulação crítica do mundo e de seus contexséculo XXI, deixando claro que tais procedimentos tos culturais. Deste modo, a vanguarda foi ressaltada pertencentes à produção contemporânea já estavam como extremamente relevante para se pensar acerca sendo empreendidos nas últimas décadas do século do mundo contemporâneo. anterior, e que o “século XXI” é um marcador tempoNo contexto português, através do lançamento da ral de um “tempo contemporâneo” onde se situa uma revista Orpheu em 1915, afirmou-se um espaço cosconstelação de poetas de gerações distintas, porém mopolita e transversal, produzindo uma peculiar com certos traços estéticos e éticos que dialogam com rede de relações em torno da revista. Por conseguindeterminados paradigmas artísticos recorrentes na te, a vanguarda em Portugal configurou-se através atualidade. de um grupo de artistas e literários em consonância A partir do século XXI, a produção poética passou entre si e que travavam conexões com outros grupos a problematizar a hiperatividade e a velocidade atraartísticos. Segundo Cabral Martins este pensamento vés de uma escrita que investiga uma temporalidade vanguardista se contrapôs à presença do movimento desacelerada, expandida e sobreposta. Assinalou-se 3 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 também o interesse da poesia contemporânea por uma releitura desconstrutivista do legado literário, isto é, por um diálogo com os autores modernistas porém sem a retomada da visão utópica e modernista do poder da poesia (ou da “literatura como missão”). Ademais, se no modernismo houve a paixão pelo progresso tecnológico-industrial, na poética contemporânea surgiu um jogo irônico com a indústria cultural e sua produção incansável de massa de textos através dos meios de comunicação. A indústria cultural, considerada uma parcela constitutiva e inevitável do momento presente, passou a fazer parte de um jogo poético alicerçado no discurso intertextual e em uma escrita intermidiática. Outro ponto de diferença nas estratégias ético-estéticas entre as poesias modernista e a contemporânea reside na defesa da poesia como linguagem autônoma. Nas produções do século XXI, a poesia afirma-se como labor artístico alheio à busca e à defesa de uma marca identitária. Não há, portanto, nem a argumentação de uma autonomia identitária no cerne do fazer poético (ou seja, rechaça-se a concepção essencialista de categorização de sistemas ou métodos como unicamente pertencentes ao ato de “fazer poesia”) e tampouco a afirmação de uma suposta “identidade” verificável no eu-lírico. A produção poética portuguesa da atualidade apresenta-se como espaço das singularidades, de vozes móveis e maleáveis, mais dispostas a uma condição do devir do que a reivindicar o conceito moderno de identidade, geralmente atrelado às noções de onisciência, univocidade e coerência discursiva. Portanto, há um âmbito transnacional que é posto em discussão, quando o sujeito, a arte e as visões de mundo são redimensionados pelo trânsito entre as culturas, pelos meios de comunicação e pelas possibilidades de acesso à mediação e à locomoção (virtuais e/ou físicas) na contemporaneidade. Como exemplos desta poesia contemporânea portuguesa, onde são verificáveis tais traços estéticos acima abordados, Rosa Martelo apontou a obra poética de Manuel de Freitas, José Miguel Silva, Ana Luísa Amaral, Adília Lopes e Rui Pires Cabral. A fala de Rosa Martelo, em certo sentido, condensou o intento (por sinal logrado) de Modernismo(s). Fernando Pessoa. Eu e (os) outros: o de discutir a importância do modernismo luso-brasileiro no debate literário, retomar os paradigmas conceituais e estéticos do movimento para, por fim, apontar as tensões e os posicionamentos críticos recorrentes tanto na época de seu surgimento como na atualidade. André Masseno é assistente de Literatura e Cultura Brasileiras na cátedra de Estudos Luso-Brasileiros (Prof. Dr. Jens Andermann) no Romanisches Seminar/UZH. Sua pesquisa doutoral concentra-se nas configurações da noção de tropical na produção (contra)cultural e literária durante os decênios de 1960 e 1970 no Brasil. Lisboa em 1900 Sugestões de leitura Pessoa, Fernando. Livro do desassossego. Lisboa: Assírio & Alvim, 2013. Amaral, Ana Luísa. A gênese do amor. Porto: Campo das Letras, 2005. Breyner Andressen, Sophia de Mello. Obra poética. Lisboa: Assírio & Alvim, 2015. Cesariny, Mário. Louvor e simplificação de Álvaro de Campos. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009. Drummond de Andrade, Carlos. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. Freitas, Manuel de. Ubi Sunt. Lisboa: Averno, 2014. Lopes, Adília. Dobra: poesia reunida 1983-2014. Lisboa: Assírio & Alvim, 2014. Pires Cabral, Rui. Biblioteca dos rapazes. Lisboa: Pianola, 2012. Saraiva, Arnaldo. Modernismo brasileiro e modernismo português: subsídios para o seu estudo e para a história das suas relações. Campinas, São Paulo: Editora da UniCamp, 2004. Silva, José Miguel. Erros individuais. Lisboa: Relógio D’água, 2010. 4 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 Otium et décadence chez Baudelaire Le 19 novembre 2015, Diemo Landgraf, professeur à l‘Acadia University (Canada), a tenu une conférence à l’Université de Zurich intitulée „Otium et décadence chez Baudelaire“. Sa communication s’est inscrite de manière thématique dans le cours magistral de Thomas Klinkert „Littérature et otium“. Par Philippe Lars Eberhard La conférence de Diemo Landgraf portait sur une analyse subtile de quelques poèmes des Fleurs du Mal de Charles Baudelaire centrée sur le thème de l’otium – terme latin qui signifie „loisir“ –, un état autotélique qui porte son but en lui-même. L‘homme est oisif pour être oisif, et non pas pour arriver à d’autres buts. L’otium est aussi un état dans lequel on a la liberté de prendre des décision libres. Dans cet état de loisir, des activités peuvent se dérouler qui renvoient à la dure réalité de la vie, à la survie ou à la conservation de l’espèce. En écoutant des histoires intéressantes – qui ne doivent pas forcément être vraies –, il est possible d‘apprendre des choses utiles pour la survie personnelle. Tels sont quelques aspects qui caractérisent le concept de l‘otium et qui peuvent être utils pour l’analyse de sa fonction dans l’oeuvre de Baudelaire, en particulier dans Les Fleurs du Mal. Charles Baudelaire, le poète du spleen participait à la bohème parisienne. Cependant, avec une attitude que Bourget caractérise comme étant „scientifique“ en affirmant dans un de ces essais que l’intelligence de l’analyste reste „cruellement maîtresse d’elle même“. C’est précisément la rencontre paradoxale de ces éléments hétérogènes qui fait la modernité du poète. Selon Diemo Landgraf, la thèse de Bourget est convaincante. Mais seulement parce que Baudelaire participait à la vie moderne, il lui était possible d’en devenir le chroniqueur. Ce que Bourget ignorait cependant c’était l’influence énorme de l’hermétisme sur Baudelaire, un aspect qui aide pourtant à comprendre l’expression de la crise existentielle dans son oeuvre. Les Essais de psychologie contemporaine de Bourget Paul Bourget, écrivain et essayiste, présente Baudelaire comme homme de décadence. L’intense expérience religieuse de son enfance aurait rendu le découlement de la société traditionnelle et de ses valeurs douloureux pour le poète: la perte de la foi, par conséquent, crée un vacuum spirituel qu’aucune des idéologies modernes ne pouvait remplir. Mais, selon les Essais de psychologie contemporaine (1883) de Bourget, Baudelaire n’était pas seulement mysthique, mais aussi libertin et surtout analyste. En même temps qu’il souffrait de cette nostalgie religieuse, il L’influence de l’hermétisme sur Les Fleurs du Mal L’hermétisme est une doctrine spirituelle qui contiendrait les sens et les mystères de l’antique religion egyptienne et dont les textes fondamentaux sont attribués à un adepte légendaire de l’Antiquité surnommé „Hermès Trismégiste“. Baudelaire y a été initié par son ami Louis Ménard qui avait 5 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 publié une nouvelle traduction de l’original grec suprême. Le moi lyrique parle d’une expérience en 1867. Ménard lui-même connaissait la doctrine personnelle, mais il suppose qu’il la partage avec hermétique par la traduction libre et christiannisée le lecteur: l’ennui – le vice de la modernité par de l’évêque François de Foix de 1579. Comme excellence – en est le plus redoutable et à la fois le Paul Arnold le démontre dans son étude sur plus illusoire. La dimension destructive de son „L’Ésotérisme de Baudelaire“ (1979), de nombreux indifférence et celle de sa cruauté sans fin se cache repères des Fleurs du Mal sont identiques avec des derrière le voile de sa passivité. Tout se déroule formulations de ce texte. plutôt dans l’imagination: l’ennui ne fait que „rêver Selon l’approche hermétique, des esprits créés d‘échafauds“ et se sert de substituts comme d‘un par l’esprit primaire acquièrent une autonomie et „houka“ qui affaiblissent encore la volonté. s’incarnent sur terre sous forme d‘une âme, ce qui Avec l’image de l‘ennui comme fumeur oriental, empêche la perception directe de la réalité spirituelle Baudelaire fait référence au roman Mademoiselle de et de Dieu. Seulement de cette façon peuvent-ils Maupin (1835) de Théophile Gautier. Dans ce texte, le se former une idée du bien et du mal de manière protagoniste, désespéré par sa propre indifférence autonome et s’orienter vers le bien par des propres et impuissance, rêve d’être un pacha fumant. Dans décisions. Sous l’influence directe de Dieu et sans la cet état d’âme, il est possible de voir toute la base de liberté de la volonté absolue, ils ne seraient que des la littérature de la décadence. Mais, ce qui se cache animaux ou des machines. derrière l’ennui, selon Diemo Ainsi, la matière est l’adversaire Landgraf, c’est le nihilisme: la de l’esprit dans la doctrine perte des valeurs, l’indifférence, hermétique parce qu’elle l’impuissance et, par conséquent, l‘enveloppe et l’aveugle ce qui, l’abandon à la perversion dans la en fait, est nécessaire pour son quête de stimulant toujours plus apprentissage. Transposé dans extrême pour combattre l’ennui la terminologie chrétienne, il et la dépression. s’agit de s’orienter vers Dieu et de Au fond, l’allégorie de l’ennui résister aux tentations charnelles fumeur caractérise Les Fleurs du du diable pendant la vie sur terre. Mal dans leur ensemble. L’ennui Cette métaphysique – qui est y est très présent de même que proche de la religion chrétienne, Diemo Landgraf pendant sa conférence la violence et la cruauté. La mise mais ou manque Jésus et la en scène propre à Baudelaire du rédemption à la grâce divine – est repérable dans sujet éternel de l’homme entre la quête de Dieu et la presque tous les poèmes des Fleurs du Mal. Elle perversion est très moderne. Le mal devient un sujet est particulièrement notable dans le poème „Au d’oeuvre d’art. Dans „Au Lecteur“, les éléments Lecteur“ dans lequel l’ennui joue également un rôle positifs de l’esprit et de la volonté ne sont présents important. qu’implicitement. L’élément négatif domine, ici sous la forme du mal et du diable. Le poète s‘adresse „Au Lecteur“ La transfiguration du poète dans „Bénédiction“ Ce poème expose la conception baudelairienne de l’homme. L’explication de ces méchanismes Le poème „Bénédiction“, qui ouvre „Spleen et Idéal“, se retrouve dans les strophes trois et quatre. La est un des rares textes des Fleurs du Mal où l’élément métaphore de „l’oreiller du mal“ évoque, dans la positif est au premier plan. Au contraire de la règle troisième strophe du poème, l’oisivité dans un cadre présentée dans „Au Lecteur“, le poète parvient à négatif où l’homme n’est que le jouet de ses vices. triompher sur toutes les contrariétés du monde et du La conséquence du relachement par l’abandon aux diable. On y trouve également une des rares allusions plaisirs sensuels est une vie vicieuse, ce que les deux à Jésus. Par l’augmentation exclusive en faveur strophes précédentes et les trois suivantes illustrent. de Dieu, le poète n’est pas affecté par les attaques Les trois dernières strophes du texte préparent un d‘autrui, par exemple celles de sa femme cruelle climax qui présente l’ennui comme étant le vice qui veut lui arracher métaphoriquement son coeur 6 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 de saint avec son comportement blasphématoire. Ainsi, des idées inspirées par l’hermétisme et par la religion chrétienne se combinent avec la transfiguration du poète dans „Bénédiction“. Comme „Au Lecteur“, „Bénédiction“ est un texte fortement stilisé qui acquiert un caractère presque baroque par l’importance de l’allégorie et par le sujet religieux: bien et mal sont des hyperboles élevées au degré de pensée absolue. Par contre, les notes de Baudelaire publiées sous le titre „Fusées“ montrent que sa propre spiritualité était marquée par l’incertitude. Par exemple, parmi ces notes on trouve la remarque suivante: „Dès mon enfance, tendance à la mysticité. Mes conversations avec Dieu“. En outre, Baudelaire confesse à sa mère dans une lettre du 6 mai 1861: „Je désire de tout mon coeur (avec quelle sincérité, personne ne peut le savoir que moi!) croire qu’un être extérieur et invisible s’intéresse à ma destinée; mais comment faire pour le croire?“ Il s’agit de la crise spirituelle qui fait de Baudelaire un homme de décadence. Selon Bourget, les poèmes de „Spleen et Idéal“ constitueraient l’exemple de la décadence le plus remarquable dans Les Fleurs du Mal. Il n’y règne que le pôle négatif, et il s’agit de l’expression d’un désespoir existentiel. „maigre et galeux“, de „l’âme d‘un vieux poète“, de la „bûche enfumée“ et du grincement de l’horloge créent une émotion anxieuse. La mort se décrit comme processus actif inhérent au monde, à la matière et au temps. L’isotopie de la mémoire se joint à celle du temps et de la mort par des images du „cimetière“, de „l’âme d‘un vieux poète“ et de „l’héritage fatal d’une vieille hydropique“ : elle sert, par conséquent, à transcender la rupture de la mort dans le temps. Cependant, le poète – dont le corps se trouve au cimetière – n’est pas éternisé par l’oeuvre immortelle qui transpose son esprit: il semble qu’il poursuit en tant que fantôme l’existence triste et blafarde que le moi lyrique déplore dans ses vers. Le séjour du moi lyrique dans l’espace d’otium, qui est celui du poète, n’est pas vécu de manière positive par lui – au contraire: ce séjour est la source de l’ennui. Spleen et nihilisme Dans „Spleen II“, le moi lyrique explique les causes de l’ennui. La mémoire se trouve au centre du premier vers déclarant: „J’ai plus de souvenirs que si j’avais mille ans“. Par exagération hyberbolique, le texte renvoie à l’âge, à la décrépitude et à la décadence. La mémoire du moi lyrique se limite à des sujets personnels. Cependant, il ne s’agit pas d’expériences vécues elles-mêmes, mais de leur archivage dans des „vers“, des „billets doux“, des „quittances“ et des dossiers. Le lieu qui correspond à ce genre de documents est „un gros meuble à tiroirs“. Par la comparaison de ce meuble avec une pyramide, la dimension s’agrandit, bien entendu en gardant le caractère insignifiant des souvenirs, puisque la pyramide est comparée à une force commune. En plus, la putréfaction est à l’oeuvre dans la pyramide, et par l’homophonie des vers biologiques et des vers poétiques, la poésie du moi lyrique est associée à la mort. L’insignifiance de la mémoire, d’ailleurs, s’étend de la dimension personnelle au domaine collectif. La civilisation elle-même est L‘otium comme source de l‘ennui „Spleen I“ nous introduit dans la demeure du poète, c’est-à-dire dans un espace favorable à la création artistique ou poétique. Aussi s’agit-il d’un espace de l’ennui. Le poème commence avec une allégorie de la mort: „Pluviôse, irrité contre la ville entière […]“. La mort tombe sur les habitants des „faubourgs brumeux“. Si bien que le déménagement au „cimetière voisin“ n’est qu’un petit pas, l’environnement personnifié par l’allégorie du moi „pluviôse“ est un principe actif, mais hostile à la vie. Les strophes suivantes se déroulent à l’intérieur de la demeure du poète. Les descriptions du chat 7 Ibidem FEBRUAR 2016 (NR. 47) MAI 2010 assujettie aux lois de l’évanescence, comme le moi lyrique lui-même. Face à la banalité de sa propre vie – qui s’exprime dans le caractère inerte des moyens matériels d’archivage –, le moi lyrique est en proie à une morne incuriosité. Cela n’est autre chose que le nihilisme: la vie a perdu sa valeur et est devenue ennuyeuse. C’est surtout le matérialisme que Baudelaire juge responsable de la décadence: seuls les produits de l’esprit peuvent durer dans le temps. Selon l’hermétisme et la religion chrétienne, l’esprit est immortel. Cependant, il se trouve enveloppé par la chair, c’est-à-dire par la matière pendant l’incarnation terrestre, si bien qu’il court le risque de se perdre à elle et d’oublier toute notion de la vie spirituelle. Les derniers vers de „Spleen II“ décrivent la victoire de la matière sur l’esprit au niveau d’une civilisation: „Désormais tu n’es plus, ô matière vivante !“. La culture est mémoire vivante et vécue: la signifaction du sphinx – „ignoré du monde insoucieux“ – n’est plus connue. Le sphinx représente donc de manière révélatrice le phénomène de la décadence et de la disparition de civilisations entières: le moi lyrique, qui a oublié la signifacation de la vie, s’identifie avec lui. La décadence devient ainsi le sujet principal du poème dans lequel la vie personnelle – représentée par „un gros meuble à tiroirs“ – est connotée au domaine collectif qui est représenté par la pyramide et le sphinx. La relation entre le présent et le passé acquiert un caractère grotesque par la disparité des éléments comparés: le jugement négatif du présent s’augmente. La liberté issue de cette situation comporte une nouvelle forme d’otium que le poète reflète dans sa poésie. En opposition au matérialisme des sociétés modernes, Baudelaire adhère à une métaphysique inspirée par l’hermétisme et la religion chrétienne –sans toutefois y donner place à Jésus et à l’idée de la rédemption par la grâce divine. Au lieu de cela, l’individu a peu de chances de ne pas succomber aux appas de la matière, comme le montre „Au Lecteur“. Une victoire sur ces mécanismes n’existe que dans la forme d’un idéal utopique, ce qui est le sujet de „Bénédiction“, puisque la volonté du poète n’est pas assez forte pour s’établir comme individu spirituellement autonome et, de cette façon, proche de Dieu : la liberté est expérimentée de manière négative. Apparemment, le nihilisme est dû à la volonté de donner du sens à la propre vie de manière autonome. Diemo Landgraf est arrivé à la conclusion qu‘à cause de cet échec au niveau spirituel, la société autant que le poète – qui s’oppose à elle – peuvent être qualifiés de décadents ; l’auteur du présent article partage cet avis. L’otium s’avère comme un phénomène où se cristallise la crise existentielle de la modernité dans l’oeuvre de Baudelaire. Doctorant à l’Université de Zurich, Philippe Lars Eberhard est en train de rédiger sa thèse de littérature française moderne sur Claude Simon et Samuel Beckett sous la direction du Professeur Thomas Klinkert. IMPRESSUM Baudelaire, le poète décadent Herausgegeben vom «Doktoratsprogramm Romanistik: Methoden und Perspektiven» der UZH. Autorinnen und Autoren sind die RomanistikDoktorierenden der Universität Zürich. Layout und Gestaltung: Paul Sutermeister Kontakt: [email protected] Online: www.rose.uzh.ch/doktorat/ibidem.html Le point de départ de Baudelaire est celui du sujet romantique qui se comprend comme individu solitaire. Cela se doit aux phénomènes de l’exclusion dans la société moderne qui ne connaît plus l’organisation hiérarchique et qui n’a pas de justification transcendantale. La situation de Baudelaire est particulière parce qu’elle refuse les nouvelles structures sociales de manière radicale. Die Texte dieser Zeitung sind lizenziert unter einer Creative Commons Namensnennung 4.0 International Lizenz. Sie dürfen wiederverwendet werden, solange ihre Urheber genannt werden. 8