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EDIÇÃO ABRIL/2016 NESTA EDIÇÃO... 03 MATÉRIA PRINCIPAL INTERVENÇÃO ANALÍTICO COMPORTAMENTAL EM CRIANÇAS COM DÉFICIT NO CONTROLE INIBITÓRIO 08 ENTREVISTA AVALIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA EM CRIANÇAS AUTISTAS 11 RELATO DE PESQUISA OS EFEITOS DO GENE APOE 4 NAS HABILIDADES VISUOESPACIAIS E SUA ASSOCIAÇÃO COM CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DO LOBO TEMPORAL MEDIAL EM DIFERENTES ESTÁGIOS DA VIDA 15 RESUMO DE ARTIGO O CONSUMO ABUSIVO DE ÁLCOOL DURANTE A ADOLESCÊNCIA PREJUDICA AS FUNÇÕES EXECUTIVAS? 17 POLÍTICAS PÚBLICAS TEA: CONFIGURAÇÕES ATUAIS NO CAMPO DA SAÚDE 20 NOTÍCIA RELEVANTE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA A SERVIÇO DO TRATAMENTO DO TEA MATÉRIA PRINCIPAL Intervenção Analítico Comportamental em Crianças com Déficit no Controle Inibitório: Uma Interface com a Neuropsicologia Desenvolver a habilidade de regular pensamentos, emoções e comportamentos é um processo importante para uma melhor adaptação e interação da criança ao ambiente em que está inserida. Tal habilidade é denominada controle inibitório, e juntamente com o utro s p rocesso s co mo me mó ria operacional, capacidade de planejamento, tomada de decisões, flexibilidade cognitiva, atenção seletiva e fluência verbal integram as funções executivas. Alguns autores referemse às funções executivas como um conceito guarda-chuva que engloba diversas funções que são essenciais para garantir um bom desempenho acadêmico, emocional e social (1). Para Malloy-Diniz e cols.(2), “controle inibitório é a capacidade de inibir uma resposta para qual o indivíduo apresenta uma forte tendência, mas que não é adaptativa ou eficiente”. Dessa forma, essa habilidade é muito importante, pois nos ajuda a compreender como as crianças aprendem a emitir adequadamente determinado co mp o rt a me n to d en tr e u m vasto repertório. Segundo Malloy-Diniz e cols.(3) , evidências empíricas sugerem que o déficit no controle inibitório ABR/16 esteja relacionado a lesões envolvendo os circuitos pré-frontais orbitofrontais. Inúmeros transtornos com início na infâ ncia sã o ca ract erizado s pelo déficit no controle inibitório, como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno De sa f i a d o r d e Op o si çã o ( T DO) , Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) e Síndrome de Asperger (1). Quando a cri ança possui um comprometimento das habilidades executivas e mais especificamente um déficit no controle inibitório, ela a p re sen ta di fi cul da de s e m i nibir co mp o r t a me n t o s i mp r ó p r i o s, e m estabelecer novos repertórios co mp o r t a me n t a i s p a ra an t e cip ar consequências e menor frequência de comportamentos pró-sociais, o que acarreta diversos problemas à vida diária (4). William Gaddes (5) acreditava que a interface entre neuropsicologia e te ra pi a co mp o r ta me n tal se ria especialmente útil para os distúrbios de aprendizado da infância. Horton (5) afirmou que uma perspectiva neuropsicológica aumenta a habilidade do terapeuta comportamental em fazer discriminações precisas quanto à Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO... ABR/16 MAR/16 etiologia dos comportamentos do paciente possibilitando um plano de intervenção mais eficaz. A Análise do Comportamento é uma abordagem psicológica baseada nos pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical de B.F. Skinner. Seu objeto de estudo é o comportamento que Skinner (6) definiu como a interação entre o organismo e o meio em que ele vive. A psicoterapia analítico comportame n t a l se b a se i a n o mo d e l o d e causalidade, ou seja, como causa e efeito estariam relacionados e onde e como as causas de comportamentos deveriam ser procuradas ( 7) . Para investigar essa causa e efeito, utilizase um método denominado análise funcional, que consiste em identificar o comportamento alvo e as condições ambientais que o mantém. A análise funcional é considerada o caminho mais efetivo para o planejamento da intervenção clínica comportamental (8) . Após identificar os comportamentos alvo e o que os mantém, o próximo passo do psicoterapeuta comportamental é determinar a intervenção apropriada, selecionando as técnicas mais eficazes para cada caso. Essa seleção vai depender se o foco está no estímulo antecedente, no próprio comportamento ou nas suas consequências (9). A s i n t e r ve n çõ e s c o m f o co n o estímulo antecedente enfatizam o contexto em que aquele determinado comportamento ocorre. Nesse caso, opta-se por técnicas como: autoconhecimento, autocontrole, fading e regras. As intervenções com foco no próprio comportamento, que neste momento é considerado inadequado, têm como objetivo estabelecer e fortalecer um melhor repertório de respostas mais b e m ad apt ada s àq uele con te xto , assim, para isso, utiliza-se técnicas como modelação ou role-playing. As intervenções voltadas para as consequências do comportamento devem reduzir ou eliminar o comportamento disfuncional e dentro dessa perspectiva, utiliza-se técnicas como extinção, modelagem, punição e reforçamento diferencial (DR) (9) . Posteriormente, cabe ao psicoterapeuta monitorar o progresso da intervenção. A Terapia Analítico Comportamental Infantil (TACI) assume a Análise do Comportamento como ciência fundamental para o trabalho de intervenção na clínica infantil (10). Para Vermes (11), os objetivos gerais da TACI são: “identificar as principais variáveis envolvidas nos comportamentos alvo da criança; habilitar os pais, e, se possível a própria criança à realizar a análise funcional; ensinar à criança r e p e r t ó r i o s a l t e r n a t i vo s à q u e l e s considerados problemáticos, e instruir os pais a utilizarem condutas mais saudáveis e efetivas”. A intervenção comportamental em criança com déficit no controle inibitório segue essas etapas. SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO... Analisemos o caso de G.R.M, um menino de 06 anos diagnosticado com Transtorno Desafiador de Oposição ( T DO ) q ue foi e n ca mi n ha da à psicoterapia pelo neuropediatra e pela neuropsi cól oga, após ter sido submetido a avaliação com ambos os profissionais. Uma entrevista foi realizada com os pais para compreender melhor os comportamentos – queixa sobre a criança, fazer um levantamento sobre variáveis que podem favorecer a ocorrência desses comportamentos (estabelecer causa e efeito) e apresentar a proposta de trabalho. Nessa se ssão , o s p ai s d e scre ve m q u e G .R.M é agressivo (bate nas crianças na escola), não aceita a autoridade da professora (não faz as atividades Estímulo Antecedente A professora passa uma tarefa e ele não consegue fazer. propostas), atrapalha os colegas durante a aula (levanta o tempo todo, anda pela sala e por vezes ausenta-se da sala de aula sem autorização da professora). Ele já foi “convidado a se retirar” de duas escolas. Em casa, tem acessos de raiva quando os pais negam algum pedido dele, não aceita regras como hora de tomar banho ou de fazer as tarefas de casa, sempre desafia, diz que não vai fazer e corre pela casa gritando. Os pais relatam que ele não tem amigos, as outras crianças não gostam de brincar com ele porque ele sempre bate nelas. Após a entrevista, iniciou-se a análise funcional dos comportamentos descritos pelos pais. A Tabela 1 demonstra a análise funcional de um dos comportamentos alvo. Comportamento Ele anda pela sala e rasga a tarefa na frente da professora. Consequência A professora o leva para a coordenação e ele se esquiva de fazer a tarefa. Após a Análise Funcional dos comportamentos alvo descrito acima, foi possível identificar a relação de causalidade do comportamento. Verifica-se que G.R.M teve dificuldades em lidar com emoções como frustração e raiva por não conseguir fazer a tarefa. O comportamento de andar pela sala tinha a função de evitar o estímulo aversivo (tarefa). Quando a professora chama sua atenção pedindo que ele faça a atividade como todos os colegas, ele fica com raiva da professora que não o ajuda e o compara com os colegas (fazendo com que ele se sinta inferiorizado perante toda a sala), se comportando então de forma opositora, rasgando a tarefa. Nesse momento a professora o tira da sala e manda para a coordenação para levar uma advertência. Nesse caso, o comportamento de não fazer a tarefa e se opor à professora está sendo mantido por reforço negativo, a esquiva (o estímulo aversivo “fazer tarefa” foi retirado do ambiente). ABR/16 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO... Entendida a relação de causa e efeito do comportamento alvo, devem-se escolher as técnicas mais eficazes. Nesse caso, a intervenção escolhida foi a modelagem, que é uma técnica usada para ensinar um comportamento novo por meio de reforço diferencial de aproximações sucessivas do comportamento-alvo (12) . O comportamento a ser aprendido era fazer a tarefa, para isso, alguns comportamentos já presentes no repertório de G.R.M. foram reforçados socialmente (“parabéns”, “muito bem”, “estou orgulhosa de você”, “você conseguiu!”, passar pela carteira e fazer um carinho) e gradativamente aumentou-se o nível de exigência, até que G.R.M. conseguiu aprender o comportamento alvo. Comportamentos selecionados: Olhar para a tarefa colocada em sua frente Pegar na folha de atividade Pegar o lápis e encostá-lo sobre o papel Escrever seu nome na atividade Ficar sentado durante a explicação da professora Fazer o primeiro exercício Fazer a tarefa completa Para facilitar a aquisição do comportamento alvo, o procedimento de “Fading”ou esvanecimento foi utilizado para mudar o estímulo antecedente por meio de alterar a atratividade dos estímulos (tarefa). Dessa forma, folhas coloridas com letras maiores e menos exercícios foram inseridas e aos poucos, as letras maiores, as folhas coloridas foram retiradas, tornando-as mais genéricas (menos exercícios em uma folha branca, letras maiores em uma folha branca), até que apenas a presença da atividade (folha branca, com letras normais) se tornou um estímulo discriminativo para fazer a tarefa.Quando o comportamento alvo foi inserido em seu repertório, observou-se uma diminuição na emissão de outros comportamentos inadequados, como andar pela sala, sair da sala sem a autorização da professora e bater nos colegas. Considera-se ainda que houve a generalização, já que em casa os comportamentos agressivos também diminuíram de frequência. Através dos dados descritos, pode-se constatar que uma interface entre neuropsicologia e a análise do comportamento é possível, principalmente porque as duas se preocupam em compreender o comportamento humano. A neuropsicologia objetiva compreender a relação entre cérebro e comportamento, enquanto a análise do comportamento investiga quais variáveis estão envolvidas na ocorrência e manutenção de determinado comportamento (5). ABR/16 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO... REFERÊNCIAS 1. Uehara, E., Mata, F., Fichman, H.C., Malloy-Diniz, L.F. (2016). Funções Executivas na Infância. In Salles, J.F., Haase, V.G., Malloy-Diniz, L.F. (Org.). Neuropsicologia do Desenvolvimento – Infância e Adolescência (Cap. 1, pp. 17-27). Porto Alegre: Artmed. 2. Malloy-Diniz, L.F., Nicolato, R., Moreira, L. Fuentes, D. (2012). Neuropsicologia das Funções Executivas. In Caixeta, L. & Ferreira, S.B. (Ed.). Manual de Neuropsicologia – dos Princípios à Reabilitação (Cap. 11, pp. 93-98). São Paulo: Atheneu. 3. Malloy-Diniz, L.F., Paula, J.J., Loschiavo-Alvares, F.Q., Fuentes, D., Leite, W.B. (2010). Exame das Funções Executivas. 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Essa heterogeneidade está também relacionada com o perfil cognitivo. A prevalência de deficiência intelectual é estimada em torno de 70% dos casos, entretanto o uso de testes tradicionais pode ser um dos aspectos associados com a alta prevalência de deficiência intelectual. Muitos instrumentos para avaliação da inteligência exigem habilidades verbais nas suas instruções e na execução, colocando crianças com TEA em desvantagem. 2. Quais são os testes mais frequentemente utilizados no Brasil para avaliar inteligência em autistas? Para avaliação da inteligência em crianças com TEA os instrumentos mais utilizados são as Escalas Wechsler e Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Esse também é um padrão dos estudos internacionais, porém é importante ressaltar que estudos comparando resultados desses dois testes nos mesmos indivíduos demonstram que as crianças com TEA apresentam melhor desempenho no Raven, sendo essa diferença estatisticamente significativa. Recentemente no Brasil tivemos o lançamento da escala SON-R 2 ½ - 7 que é um instrumento não verbal, utilizando em sua aplicação a manipulação de figuras, mosaicos e desenhos. A SON-R 2 ½ - 7 permite a avaliação cognitiva considerando duas dimensões como raciocínio e execução. A escala já possui estudos no Brasil, mostrando sua adequação para avaliação de crianças com TEA. ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade de pesquisa Relato ENTREVISTA CONTINUANDO... 3. Na prática clínica e de pesquisa, quais são as principais limitações encontradas na avaliação dessas crianças? A variabilidade é a principal limitação. É importante que o profissional/ pesquisador conheça a tríade sintomatológica, mas que considere o perfil comportamental antes de iniciar a avaliação. Para isso algumas sessões de observação e ensaios comportamentais são importantes para não queimar a aplicação do teste. Algumas crianças são bastante agitadas e precisam passar por algumas sessões para adaptação com o ambiente e avaliadores. Outras podem apresentar mais dificuldade na comunicação, sendo importante a utilização de instrumentos que a criança possa demonstrar suas respostas de forma mais prática. 4. Atualmente você está elaborando e validando um instrumento de avaliação da inteligência para crianças com autismo. O teste é baseado em qual modelo teórico da Psicologia Cognitiva? Você poderia descrever brevemente o seu estudo e o instrumento que está desenvolvendo? Já há resultados preliminares disponíveis? O estudo que estamos desenvolvendo no Núcleo de Investigações Neuropsicológicas da Infância e da Adolescência (Neurônia-UFBA) em parceria com o Laboratório de Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Autismo (LABIRINTO) coordenado pela Profª Milena Pondé da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) - consiste na elaboração de um instrumento de avaliação da inteligência considerando as especificidades das crianças com TEA. Esse projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB) e está em fase de coleta de dados. As primeiras etapas do estudo foram seleção e análise dos itens, análise dos juízes e estudo piloto. O instrumento possui 16 tarefas de natureza não verbal com a manipulação de figuras e objetos. O instrumento foi baseado no modelo Cattel-Horn-Carrol (CHC) da inteligência e os testes que compõem são para avaliar o desempenho das crianças nas seguintes dimensões cognitivas: processamento visuoespacial, processamento auditivo, memória de curto prazo, memória de longo prazo, rapidez de decisão, leitura e escrita, processamento quantitativo, flexibilidade cognitiva e inteligência fluída. Inicialmente, verifica-se que a aplicação é bem aceita pelas crianças, apesar de ser mais lenta, exigindo pelo menos três sessões, porém espera-se que com esse instrumento seja possível avaliar mais dimensões da inteligência, obtendo mais informações sobre o perfil cognitivo das crianças com TEA. ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade CONTINUANDO... ENTREVISTA 5. Qual a importância da avaliação de inteligência para a intervenção neuropsicológica com o indivíduo autista? A avaliação da inteligência como uma medida da capacidade de aprendizagem contribui para o planejamento das intervenções cognitivas e o planejamento educacional orientando melhor o currículo escolar. Por outro lado, o uso de instrumentos que forneçam mais informações sobre componentes cognitivos específicos como funções executivas, memória de curto prazo e longo prazo, velocidade de processamento, contribui de forma mais efetiva, pois informa para os profissionais e para a família quais são as maiores dificuldades da crianças e como é possível estimular. A identificação da deficiência intelectual direciona a intervenção para programas comportamentais para aprendizagem de comportamentos que são necessários no dia-a-dia. Esses programas são feitos em etapas e priorizam, inicialmente, a redução ou eliminação de comportamentos inadequados que podem agravar as dificuldades de socialização. As demais prioridades são definidas de acordo com a idade e perfil de cada crianças, buscando favorecer o máximo de autonomia possível, incluindo algum tipo de comunicação. Para as crianças sem deficiência intelectual a intervenção neuropsicológica segue protocolos de estimulação cognitiva para ampliar a comunicação e socialização, assim como melhor desempenho cognitivos para funções da atenção, flexibilidade cognitiva, memória verbal. Nos casos de TEA com ou sem deficiência intelectual a orientação dos pais através de programas de treinamento de pais é necessária. Muitas vezes, a forma como os pais lidam com a crianças em casa estabelece padrões de comportamento que não favorecem o desenvolvimento cognitivo, especialmente nos casos de TEA em que muitos pais sentem-se frustrados pela dificuldade de interagir com seus filhos. Patrícia Martins Freitas PROFESSORA ADJUNTA DA NEUROPSICOLÓGICAS CIÊNCIAS PELA DA SAÚDE, FACULDADE TRAÇÃO DE PSICOLOGIA UFBA, DA INFÂNCIA E COORDENADORA DO DO DA SAÚDE UFMG. MESTRE DESENVOLVIMENTO, PELA DA EM Sociedade Brasileira de Neuropsicologia CRIANÇA E DO PSICOLOGIA, FACULDADE HUMANAS DA UFMG E GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA PELA ABR/16 DE INVESTIGAÇÕES ADOLESCÊNCIA (NEURÔNIA-UFBA). DOUTORA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO MEDICINA NUCLEO DE EM ADOLESCENTE, ÁREA DE CONCEN- FILOSOFIA E CIÊNCIAS MESMA INSTITUIÇÃO. www.sbnpbrasil.com.br Entrevista DE PESQUISA RELATO ABR/16 MAR/16 Os efeitos do gene APOE 4 nas habilidades visuoespaciais e sua associação com características morfológicas do lobo temporal medial em diferentes estágios da vida A pesquisa tem como proposta identificar a relação entre desempenho cognitivo e características morfológicas do cérebro de indivíduos geneticamente vulneráveis a desenvolver Doença de Alzheimer (DA) de início tardio. Pesquisas na área de neuroimagem vêm se destacando devido à crescente evidência de que o alelo ɛ4 do gene apolipoproteína E (APOE), considerado o maior fator de risco para a DA, imprime diferenças estruturais e funcionais no cérebro desde os primeiros estágios da vida. Nesta pesquisa, que está sendo realizada no Centro de Neuroimagem da Universidade de Birmingham (BUIC), na Inglaterra, imagens por ressonância magnética estrutural serão analisadas a fim de examinar as características estruturais do lobo temporal medial (LTM) de crianças, jovens e idosos portadores do alelo ɛ4 do gene APOE. A avaliação neuropsicológica das habilidades visuoespaciais será conduzida e associada aos achados de neuroimagem. A DA é a causa mais frequente das demências e seu quadro clínico caracteriza-se por comprometimento da memória recente e da orientação espacial, progredindo com o declínio de funções executivas, atenção e linguagem (Caramelli & Barbosa, 2002, Storandt, 2008). A DA tem um forte componente genético, e dentre os muitos genes associados a ela, o gene APOE tem sido reportado de forma consistente na literatura (Tanzi & Bertram, 2001). O gene tem três alelos principais: ɛ2, ɛ 3 e ɛ4, com frequências na população geral de aproximadamente 8%, 78% e 14% respectivamente (Uterman et al., 1995). Evidências sugerem uma forte associação entre o alelo ɛ4 e um maior risco de desenvolver DA (Caselli et al., 2009, Wolk & Dickson, 2010), com aumento de até oito vezes para portadores homozigotos (ɛ4/4) em comparação a portadores dos genótipos ɛ2/3 ou ɛ 3/3 (Corder et al., 1993). Estudos têm demonstrado um efeito negativo do alelo ɛ4 na cognição de adultos e idosos sem DA, como déficits visuoespaciais (Borghesi, 2008), de atenção (Green et al, 2014) e de memória operacional (Reivang et al., 2010). O início do declínio cognitivo pode ocorrer 20 anos antes em portadores do alelo ɛ4 em comparação a não-portadores (Caselli et al., 2009). Por outro lado, tem-se atribuído ao SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade Entrevista DE PESQUISA RELATO CONTINUANDO... ABR/16 MAR/16 alelo ɛ2 um papel protetor, associado a um menor risco de declínio cognitivo em idosos (Han & Boindi, 2008). Estudos com crianças e jovens são escassos, e apesar dos resultados contraditórios na literatura, achados têm sugerido superioridade de portadores do alelo ɛ4 em escalas de inteligência (Yu et al., 2000), além de melhor desempenho cognitivo em idade escolar (Bloss et al., 2010), maior proteção em termos de morte perinatal (Becher, 2006) e menor frequência de abortos espontâneos (Zetterberg, 2002). Em contrapartida, o alelo ɛ2 estaria associado a um pior desempenho cognitivo em crianças, especialmente no que se refere a habilidades visuoespaciais, quando comparadas a crianças portadoras dos alelos ɛ3 ou ɛ4 da mesma idade (Bloss et al., 2010). Diante desses achados, o gene APOE tem sido apontado como um exemplo de pleiotropia antagonista, que caracteriza a capacidade de alguns genes manifestarem efeitos diversos em diferentes estágios da vida. Pesquisas na área sugerem que o APOE 4 tem efeito benéfico nos estágios iniciais do desenvolvimento, porém com efeito prejudicial na sua fase tardia (Tuminaello & Han, 2011). Contudo, os mecanismos de associação entre DA e APOE não são totalmente conhecidos e o debate sobre pleiotropia antagonista do gene APOE permanece ativo na literatura. Estudos de neuroimagem têm revelado diferenças estruturais e funcionais no cérebro de portadores do alelo ɛ 4. Os achados indicam um impacto negativo do ɛ4 tanto na função cerebral, como a redução do fluxo sanguíneo no cérebro de idosos portadores desse alelo (Filipini et al, 2011), quanto na estrutura cerebral, como a redução do volume do hipocampo (Pievasni et al., 2011) e da espessura cortical (Shaw et al., 2007). Quantificar essas diferenças e propor marcadores de neuroimagem mais precisos tem-se mostrado um grande desafio, porém um passo importante para entender os fatores que de fato contribuem para essa maior susceptibilidade de desenvolver DA. Assim, estudos com população de risco têm se mostrado especialmente promissores nesta direção. O objetivo do estudo é investigar as habilidades visuoespaciais de portadores do alelo ɛ4 em diferentes idades por meio de testes de memória operacional visuoespacial, memória espacial e efeito binding objetolocalização. Ressonância magnética estrutural tambem será realizada a fim de identificar características morfológicas do LTM de portadores do alelo ɛ4 em diferentes estágios do desenvolvimento. A expectativa deste estudo é a de que crianças e jovens portadores da variante ɛ4 apresentem um melhor desempenho em testes visuoespaciais comparados a não portadores. O contrário é esperado para idosos portadores do ɛ4, que deverão exibir um desempenho inferior quando SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade Entrevista DE PESQUISA RELATO CONTINUANDO... comparados àqueles sem o alelo ɛ4. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para elucidar questões controversas acerca da hipótese da pleiotropia antagonista, além de identificar padrões estruturais relevantes no cérebro de portadores e relacionar esses achados ao desempenho cognitivo. Em relação aos métodos, os participantes serão agrupados em duas categorias: portadores do alelo ɛ4 (se apresentarem pelo menos uma cópia do gene) ou não portadores do alelo ɛ4. A genotipagem se dará por amostras de sangue ou saliva, coletadas e analisadas na própria Universidade de Birmingham. Dados de neuroimagem, como por exemplo, medidas do volume cerebral total e de regiões de interesse (ROI) como o hipocampo e medida da espessura do cortex entorrinal, serão analisados por meio de ferramentas como o FSL e o FreeSurfer. Dentre os testes visuoepaciais selecionados, os testes com componentes visuoespaciais da bateria CANTAB (Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery), que têm sido utilizados com resultados consistentes em pesquisas na área de demência, serão aplicados em todas as faixas etárias. Outro destaque da avaliação neuropsicológica é o TAA (Teste de Arrumação do Armário), que avalia memória espacial e efeito binding objeto-localização. Este teste, criado pelo neuropsicólogo e pesquisador José Neander de Abreu, vem se destacando como um instrumento de alta validade ecológica e com versões adaptadas para a população infantil e adulta (Abreu et al., 2014). A reunião de diferentes áreas do conhecimento utilizadas neste estudo, como a genética, a neuropsicologia e a neuroimagem, traz contribuições importantes para a compreensão dos efeitos do gene APOE na estrutura do cérebro e na capacidade visuoespacial em diferentes estágios da vida. Além disso, espera-se que este estudo tenha aplicabilidade no âmbito da pesquisa em demência e no contexto clínico, por meio do desenvolvimento de novas abordagens e intervenções mais precoces. Juliana Pinto Jezler PSICÓLOGA PELA FACULDADE RUY BARBOSA, NA BAHIA. ESPECIALISTA EM GERONTOLOGIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA). MESTRE EM NEUROPSICOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE BRISTOL, INGLATERRA. ATUALMENTE DOUTORANDA EM NEUROPSICOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE BIRMINGHAM, INGLATERRA. ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade Entrevista DE PESQUISA RELATO CONTINUANDO... ABR/16 MAR/16 REFERÊNCIAS: 1. 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SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade RESUMO DE ARTIGO ABR/16 MAR/16 O consumo abusivo de álcool durante a adolescência prejudica as funções executivas? O artigo “Executive performance and dysexecutive symptoms in binge drinking adolescents” de Gil-Hernandez e Garcia-Moreno (2016), publicado na revista “Alcohol”, alerta para o impacto nas funções executivas de adolescentes que consomem álcool abusivamente. O álcool é a droga de abuso legalizada mais comumente consumida, sendo importante analisar os efeitos neurocognitivos do álcool em jovens, devido à alta prevalência de abuso dessa substância entre esta população (European Commission, 2010). Apesar disso, há poucas pesquisas que abordam as possíveis consequências de um menor de idade beber, por este ser um hábito relacionado a um fenômeno transitório, comum na maioria dos alunos do ensino médio e universitários (Bachman et al., 2002). Gil-Hernandez e Garcia-Moreno (2016) investigaram a associação entre o uso abusivo de álcool e disfunção executiva em adolescentes que ingeriam álcool no padrão chamado de “binge drinking”, definido como um consumo que eleva a concentração de álcool no sangue para cerca de 0,08% ou mais, em aproximadamente duas horas (Courtney & Polich, 2009). Participaram 223 adolescentes (12-18 anos de idade) que responderam um questionário anônimo sobre os padrões de seu consumo de álcool, com a amostra dividida em três grupos: 48 que consumiam álcool no padrão “binge drinking”, 53 que bebiam esporadicamente dosagens baixas e 122 que não bebiam. Foram aplicados Span de Dígitos e Espacial, Sequência de Números e Letras, Fluência Verbal (fonológica e semântica), Trail Making Test, Stroop Task e Five Digit Test. Os participantes também responderam o Frontal Systems Behaviour Scale e o Dysexecutive Functioning Questionnaire para avaliar a presença de disfunção executiva em situações de vida diária. Uma sintomatologia disexecutiva foi mais evidente entre os grupos que bebem em resposta aos questionários (sintomas de desinibição, disfunção executiva, intencionalidade, memória executiva, afeto positivo e negativo), mas não nos testes neuropsicológicos. Os grupos de adolescentes que bebem tiveram desempenho superior em algumas tarefas neuropsicológicas (Span Espacial, Fluência Verbal semântica, Trail Making Test form B, Stroop Task e Five Digits Test), com maiores escores do grupo que bebe no padrão “binge drinking”, em comparação com o grupo que não bebe. Essa diferença entre os grupos pode estar relacionada a diferenças nas características pessoais dos participantes, como apresentado no estudo de Randall, Elsabagh, Hartley, & File (2004), onde não bebedores e bebedores esporádicos apresentam níveis SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade CONTINUANDO... RESUMO DE ARTIGO mais elevados de ansiedade somática e humor agressivo do que os bebedores moderados (Randall, Elsabagh, Hartley, & File, 2004). Além disso, em termos de funcionalidade do cérebro, o fato de adolescentes bebedores do tipo “binge drinking” não apresentarem piores resultados do que os nãobebedores poderia ser devido a algum tipo de mecanismo compensatório na atividade cerebral. Assim, haveria um recrutamento adicional de recursos neurais e m indivíduos “binge drinking” para executar as tarefas com o mesmo nível que o grupo controle (Zöllig, Martina, & Kliegelb, 2010). Os autores ressaltaram que os testes neuropsicológicos utilizados foram construídos com propósitos clínicos, sendo que é necessário haver deterioração neurológica para mostrar déficit cognitivo, enquanto os q u e sti o ná ri o s co mp o r t a me n t a i s mostram os prejuízos na vida cotidiana. Portanto, neste estudo é demonstrado que o consumo de álcool por adolescentes afeta o funcionamento executivo dessa população, relacionada à disfunção no córtex préfrontal. No entanto, essa alteração n ã o é e n co n t ra d a pel o s t e ste s neuropsicológicos, mas sim no autorelato dos participantes, ressaltando características de impulsividade e desinibição. REFERÊNCIAS: Bachman, J. G., O’Malley, P. M., Schulenberg, J. E., Johnston, L. D., Bryant, A. L., & Merline, A. G. (2002). The decline of substance use in young adulthood: Changes in social activities, roles, and beliefs. Mahwah, NJ: LawrenceErlbaum Associates, Inc. Courtney, K. E., & Polich, J. (2009). Binge drinking in young adults: Data, definitions, and determinants. Psychological Bulletin, 135, 142-156. European Commission. (2010). Eurobarometer. EU citizens’ attitudes towards alcohol. Brussels, Belgium: TNS Opinion & Social. Gil-Hernandez, S., Garcia-Moreno, L. M. (2016). Executive performance and dysexecutive symptoms in binge drinking adolescents. Alcohol, 51, 79-87. Randall, D. C., Elsabagh, S. H., Hartley, D. E., & File, S. E. (2004). Does drinking have effects on mood and cognition in male and female students? Pharmacology, Biochemistry, and Behavior, 78, 629-638. Zöllig, J., Martin, M., & Kliegel, M. (2010). Forming intentions successfully: Differential compensational mechanisms of adolescents and old adults. Cortex, 46, 575-589. Autora do resumo: Jaqueline de Carvalho Rodrigues ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade POLÍTICAS PÚBLICAS Políticas Públicas em TEA: ABR/16 MAR/16 Configurações atuais no campo da saúde O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que apresenta múltiplas etiologias, e se caracteriza por comprometimentos sociocomunicativos e pela presença de comportamentos repetitivos e estereotipados American Psychiatric Association [APA], 2013). Trata-se de um transtorno de início precoce e curso crônico e por isso, está entre os mais graves transtornos que afetam o desenvolvimento infantil. Estudos epidemiológicos recentes têm apontado um crescimento importante nas taxas estimadas de prevalência do transtorno em todo o mundo, sendo que o último estudo realizado pelo Centers for Disease Control Pr e ve n t io n (CDC), encontrou uma prevalência de aproximadamente 1% (1 em cada 68 crianças) em várias regiões dos Estados Unidos (Centers for Disease Control and Prevention [CDC], 2016). Portanto, as características do transtorno e as taxas de prevalência atuais indicam que, identificar e tratar os sintomas o mais cedo possível é uma questão urgente de saúde pública. De fato, os últimos anos têm sido marcados por conquistas relevantes nas políticas públicas voltadas ao TEA no Brasil. Acredita-se que do ponto de vista histórico, um marco importante no campo ético e legal para o avanço de políticas públicas voltadas ao TEA, tenha sido a “Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência” realizada em 2007 em Nova Iorque. A Convenção resultou em uma mudança paradigmática das condutas oferecidas à pessoa com deficiência, elegendo a acessibilidade como ponto central na garantia dos direitos individuais. Como consequência, o estado Brasileiro promulgou o decreto 6.949 em 25/08/2009 no qual assumiu perante a comunidade internacional, o compromisso de respeitar, obedecer e fazer cumprir as obrigações previstas na Convenção. Essa mudança de paradigma teve impacto direto na formulação de políticas públicas que desde então, precisavam estar comprometidas com a ampliação do acesso da pessoa com deficiência a programas de habilitação e reabilitação particularmente nas áreas da saúde, emprego, educação e serviços sociais, de forma a garantir a autonomia e melhorar as condições de vida dessa população. Especificamente no campo do TEA, a publicação da “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista” (Lei 12.764 de 27/12/2012) também foi um marco histórico. A partir da instituição da lei, pessoas com TEA passaram a ser consideradas pessoas com deficiência para todos os efeitos legais. Entre as diretrizes estabelecidas pela lei, está o acesso a ações e serviços de saúde atendendo à atenção integral às suas necessidades de SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade POLÍTICAS PÚBLICAS CONTINUANDO... ABR/16 MAR/16 saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento. Sendo assim, a partir da construção da lei, o TEA parece ter sido oficialmente colocado na agenda das políticas em saúde. Entre 2011 e 2012 foram formados grupos de trabalho compostos por técnicos do Ministério da Saúde, da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, assim como representantes de universidades e da sociedade civil com o objetivo de construir diretrizes de atenção em saúde às pessoas com TEA. O esforço desses grupos de trabalho deu origem a dois documentos intitulados “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)” (Brasil 2014) e “Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde” (Brasil, 2015). Atualmente, os dois documentos tem sido utilizados como referência para as práticas dos serviços de saúde pública com o objetivo de ampliar o acesso e a qualificação da atenção às pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas famílias. As diretrizes e ações sugeridas nesses documentos têm como base os princípios de integralidade preconizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), portanto, ambos os documentos apontam a necessidade de que as ações sugeridas estejam articuladas em toda a rede de atenção SUS, assim como aos serviços de proteção social (Centros dia, CRAS, CREAS) e à educação. Dentre as ações sugeridas para a rede de atenção SUS, encontram-se diretrizes quanto à responsabilidade pela identificação e tratamento das pessoas com TEA. Quanto à identificação busca-se a qualificação das equipes de atenção básica para o reconhecimento de sinais precoces do TEA, inclusive constam nesses documentos, os instrumentos de uso livre para o rastreamento de problemas de desen vol vi men to co mo o IRDI (Indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil) e um instrumento de rastreamento de sinais de TEA, M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers). Apesar de utilizar abordagens um pouco distintas, ambos os documentos apresentam o conceito de TEA e os principais indicadores de risco, ou sinais precoces do TEA, assim como apresentam sugestão de perguntas para realização de entrevista de anamneses com as famílias. SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade POLÍTICAS PÚBLICAS CONTINUANDO... Quanto à habilitação/reabilitação, ambos os documentos seguem os princípios do SUS quanto à referência para serviços de maior complexidade na rede, a partir da identificação de risco. Seguindo a determinação do SUS, conforme a Portaria nº 336/2002, o CAPSI (ou outra modalidade de CAPS nos municípios onde não houver CAPSI) é indicado como serviço de referência à criança com TEA, embora não se dirija de modo exclusivo a essa clientela. Como estratégia de tratamento, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) deve ser desenvolvido pela equipe multiprofissional do CAPSI a partir da identificação das necessidades dos sujeitos e de suas famílias. Quanto à abordagem ou método de tratamento, os documentos não apontam uma única diretriz, mas esclarecem que essa escolha deve respeitar a singularidade de cada caso e as possibilidades do serviço. Sendo assim, é importante destacar que a publicação desses documentos caracteriza-se como o primeiro passo para a qualificação das políticas de atenção à saúde voltadas às pessoas com TEA. Considerando a sutileza e a especificidade dos comprometimentos relacionados ao TEA, o desenvolvimento de estudos de avaliação de resultados poderia apontar indicadores de efetividade, assim como identificar possíveis fragilidades dessa política, subsidiando novas ações e políticas no campo do TEA baseadas em evidências. REFERÊNCIAS: American Psychiatric Association [APA] (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5thºed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. Brasil. (2014). Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Brasil. (2015). Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Centers of Disease Control and Preventions. (2016). Prevalence of autism spectrum disorder among children aged 8 yearsautism and developmental disabilities monitoring network, 11 sites, United States, 2012. Morbidity and mortality weekly Simone Steyer Lampert PSICÓLOGA CRP 07/12540 DOUTORA EM PSICOLOGIA PESQUISADORA NO NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO - NIEPED/UFRGS ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade NOTÍCIA RELEVANTE ABR/16 MAR/16 Educação e Tecnologia a serviço do Tratamento do Transtorno do Espectro Autista Com a popularização dos smartphones, a tecnologia vem a cada dia mais contribuindo para as intervenções com crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Hoje, no Play Store (plataforma disponível para downloads de aplicativos para o sistema operacional Android) é possível encontrar mais de 20 aplicativos, entre gratuitos e pagos, para o trabalho com crianças com TEA. Dentre estes, serão listados abaixo dois recentemente desenvolvidos. Em 2014 foi lançado o aplicativo “ABC Autismo”, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal de Alagoas, que tem por objetivo auxiliar no processo de aprendizagem de crianças com TEA por meio de divertidas atividades. O aplicativo apresenta 4 níveis de dificuldade, além de 40 fases interativas e outros recursos. Sua proposta foi baseada na metodologia de um programa mundialmente utilizado: Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação (TEACCH) - criado em 1964 na Universidade da Carolina do Norte (EUA) - com o propósito de auxiliar no processo de alfabetização de crianças com Transtornos de Desenvolvimento. O “ABC Autismo” já teve mais de 40.000 downloads em todo o mundo e está disponível para três idiomas: português, inglês e espanhol. Mais recentemente, no dia 14 de abril de 2016, foi lançado o aplicativo “AUTS” (abreviação da palavra autista) no Teatro da Universidade do Estado da Bahia (campus Salvador), durante o “I Seminário sobre Autismo da UNEB”, realizado pela Liga de Saúde e Educação da universidade. Este aplicativo educativo gratuito traz como conceito desenvolver as habilidades da primeira infância juntamente com o ponto de vista singular do universo autista. Fazendo uma interlocução entre cultura digital, educação e mídias audiovisuais, o aplicativo reúne animações e atividades educativas para serem trabalhadas com crianças em idade de primeira infância, dentro e fora do espectro. Baseado em uma série de animação inédita, o aplicativo estimula o desenvolvimento das habilidades sensoriais, sociais e lúdicas das crianças. O uso de desenhos, cores, músicas e palavras tornam o aprendizado muito divertido. O protagonista do aplicativo - “Auts” é dublado por Arthur (10 anos), filho do desenvolvedor. Toda a sua família também participa emprestando as vozes aos desenhos. Os personagens de fácil interação com as crianças SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade NOTÍCIA RELEVANTE CONTINUANDO... - Au t s , An a , D a vi e Ca ch o r r o propõem “experiências fascinantes e divertidas”. Aut s te m f or ma d e quadrado, Ana de círculo, Davi de retângulo e Cachorro de triângulo. Segundo os desenvolvedores, os formatos geométricos de cada personagem ajudam na comunicação com as crianças por meio de situações lúdicas e divertidas. O projeto AUTS foi cuidadosamente pensado e desenvolvido pelo artista Renato Barreto junto com a Takapy Digital Art e em parceria com o Instituto Viva Infância. A proposta foi contemplada no edital Arte em Toda Parte ano III, da Fundação Gregório de Mattos, vinculada da Secretaria de Cultura e Turismo do município de Salvador. Imagem retirada do site: http://eusouauts.com/ Fontes: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.dokye.abcautismo&hl=pt_BR http://www.correio24horas.com.br/single-educacao/noticia/aplicativo-que-auxilia-criancas-com-autismo-tem-quase-40-mildownloads/?cHash=daf178ce17c39161a5c9cb1ff5bc4756 http://www.bahiaja.com.br/tecnologia/noticia/2016/04/11/auts-para-criancas-dentro-e-fora-do-espectro-autista,91074,0.html http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Aprovado/noticia/2016/04/projeto-auts-auxilia-na-interacao-de-criancas-comautismo.html http://varelanoticias.com.br/mesa-de-debate-sobre-educacao-lanca-aplicativo-para-autistas-na-uneb/Mesa de debate sobre educação lança aplicativo para autistas na UNEB http://eusouauts.com/ ABR/16 MAR/16 SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade NOTÍCIA RELEVANTE CONTINUANDO... Imagem retirada do site: http://www.autismoalagoas.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=49:abc-autismo&catid=5:noticias Cassio Lima DESENVOLVIMENTO PELO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, RESPONSÁVEL TÉCNICO E COLABORADOR DO LABORATÓRIO DE PESQUISA EM NEUROPSICOLOGIA CLÍNICA E COGNITIVA – NEUROCLIC UFBA/CNPQ E PESQUISADOR PELA FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO EM SAÚDE – FIOTEC/ FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ – FIOCRUZ RIO DE JANEIRO. MESTRANDO EM ABR/16 MAR/16 PSICOLOGIA DO SociedadeBrasileira Brasileira de de Neuropsicologia Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br Sociedade GESTÃO 2015-2017 Presidente: Neander Abreu Vice-presidente: Gabriel Coutinho Presidente: Alina Teldeschi Vice-presidente: Gustavo Siquara Conselho deliberativo Comissão SBNp Jovem: Leandro Fernandes Malloy-Diniz Adriele Wyzykowski Paulo Mattos Camila Bernardes Jerusa Salles Cássio Lima Lucia Iracema Jaqueline Rodrigues Conselho fiscal Rodrigo Grassi-Oliveira Natália Becker Natália Canário Annelise Júlio Samara Reis Laiss Bertola Thais Quaranta Secretária Executiva Thales Coutinho Carina Chaubet D’Alcante Valim Secretário Geral Andressa M. Antunes Comissão SBNp Kids: Nayara Argollo Tesouraria Executiva Beatriz Bitttencourt Tesouraria Geral Deborah Azambuja ABR/16 MAR/16 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia Editoração: Camila Bernardes Alina Teldeschi www.sbnpbrasil.com.br Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br