a implantação do sistema brasileiro de televisão digital terrestre e a
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1 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL TERRESTRE E A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DA INTERATIVIDADE PARA A INCLUSÃO DIGITAL GT5 – Educação, Comunicação e Tecnologias Gilmar Silvestre da Cruz Silva1 André Luís Canuto Duarte Melo2 Carlos Menezes de Souza Júnior3 RESUMO A televisão é um dos meios de comunicação mais importantes do Brasil. Atualmente (2013), ela passa por mais um processo de transformação tecnológica, a saber: migração do sistema analógico para o digital. Essa tecnologia, que já vem sendo estudada desde a década de 80 na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, permite a transmissão dos sinais gerados pelas emissoras de TV na forma digital, além de possibilitar a interação do telespectador com o canal ao qual o mesmo se encontra sintonizado. Esse artigo é objeto de uma pesquisa exploratória onde os autores discutem, com base em estudos já produzidos no meio científico, as origens do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), além das possibilidades do recurso de interatividade, ao permitir que o próprio cidadão utilize a tecnologia como ferramenta importante no exercício dos seus direitos e deveres, já que a sociedade da informação deve ser considerada uma forma de expansão da democracia. Palavras-chave: Tecnologia. SBTVD-T. Interatividade. Inclusão Digital. ABSTRACT The television is one of the most important media in Brazil. Currently (2013), she undergoes a further process of technological transformation, namely shift from: analog to digital. This technology, which has been studied since the 80s in Europe, Japan and the United States, allows the transmission of signals generated by TV stations in digital form, and enable the viewer interaction with the channel to which the it is tuned. This article is the subject of an exploratory research where the authors argue, based on existing information in the scientific community and the press, the origins of the Brazilian Terrestrial Digital Television System (SBTVD-T) and the importance of the appeal of interactivity by allowing their own citizens use technology as an important tool in the exercise of their rights and duties, as the information society is a possibility of expanding democracy. Keywords: Technology. SBTVD-T. Interactivity. Digital Inclusion. ISSN: 21790663 1 Autor: Pós-Graduando em Sistemas de Telecomunicações, professor efetivo do Instituto Federal de Sergipe é pesquisador membro do grupo de pesquisa em Metrologia Aplicada (CNPq / IFS). Contato: [email protected] 2 Coautor: Especialista em Docência do Ensino Superior, professor efetivo do Instituto Federal de Sergipe é pesquisador membro do grupo de pesquisa MAVICOM – Matemática Aplicada à Visão Computacional (CNPq / IFS). Contato: [email protected] 3 Coautor: Especialista em Didática do Ensino Superior, pedagogo do Instituto Federal de Sergipe é pesquisador membro do grupo de pesquisa GETELL – Grupo de Estudo em Estudos de Texto, Leitura e Linguagem (CNPq / IFS). Contato: [email protected] 2 1. INTRODUÇÃO O governo brasileiro implementou, por meio do Decreto N.º 5.820, de 29 de junho de 2006, o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), ao mesmo tempo em que estabeleceu os parâmetros para a transição do sistema de transmissão de sinais de televisão analógico para o digital. Tal sistema foi instituído pelo Decreto N.º 4.901, de 26 de novembro de 2003 que, em seu Art. 1º, elenca os seguintes benefícios da nova tecnologia para o País: I - Promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação; II - Propiciar a criação da rede universal de educação à distância; [...] VI - Estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor e possibilitando o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, conforme legislação específica; VII - Estabelecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados à realidade econômica e empresarial do País; VIII - Aperfeiçoar o uso do espectro de radiofrequências; IX - Contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações; X - Aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas as atuais condições do parque instalado de receptores no Brasil; XI - Incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços digitais. (BRASIL, 2003). Isso significa que somente meios de comunicação acessíveis, didáticos, símplices e abrangentes podem provocar uma inclusão digital satisfatória, de maneira a envolver as pessoas que não têm acesso às evoluções científicas e tecnológicas. Destaca-se, então, a importância do sucesso da implantação da TV digital no Brasil e a adaptação social que as novas tecnologias devem levar em consideração para promover uma linguagem incentivadora e acessível. Portanto, as emissoras de televisão que adentrarem a esfera da transmissão digital devem se ater à didática necessária, tornando a superação analógica algo normal, parte do desenvolvimento nacional. Como a televisão é o aparelho que possui melhor usabilidade e tem maior penetração nos lares que o computador, essa vantagem deve ser considerada, visando permitir aqueles que estão em processo de inclusão digital uma navegação fácil e descomplicada pela interface do novo Sistema Brasileiro de Televisão Digital Interativa. 3 2. O SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL Segundo Eronen (2004), desde a primeira transmissão da televisão em preto e branco ocorrida em 1936, posteriormente, da adição do sinal colorido durante a década de 60 e das informações com texto, que as tecnologias e os investimentos nessa área não sessaram de acontecer. A TV Digital (TVD) tem possibilitado grande avanço no desenvolvimento da infraestrutura de telecomunicação, sendo responsável por importantes tecnologias para a difusão e utilização desta nova forma de transmissão de informações. Para o consumidor final, a TVD significa não apenas o aumento da qualidade de áudio e vídeo, mas também a possibilidade de se ter notícias, músicas, filmes, documentários, comédias, enfim, uma larga diversidade de programas ao alcance do controle remoto. Atualmente existem três projetos de padronização para a transmissão de TVD no mundo: A Digital Vídeo Broadcasting (DVB), padrão utilizado na Europa, Austrália e Ásia; O Advanced Television Systems Committee (ATSC), em utilização nos Estados Unidos, Canadá e parte da Ásia e o Integrated Services Digital Broadcasting (ISDB), padrão usado pelo Japão e que, segundo o Art. 5º do Decreto N.º 5.820, de 29 de junho de 2006, é o modelo de referência adotado pelo Brasil. Esses padrões são necessários para a entrega do sinal digital e, principalmente, para atender aos diferentes dispositivos que são inerentes à tecnologia digital e analógica, que terão de conviver juntas durante a transição para o novo padrão. Segundo Richard Webb (2005), as pesquisas para o desenvolvimento da TVD começaram por volta dos anos 80 no Japão, nos Estados Unidos e na Europa. Embora todos esses países já possuíssem um padrão de TV de Alta Definição (HDTV), ainda com transmissão terrestre analógica, investiram fortemente na criação de novos padrões de transmissão de sinais televisivos. Em 1993, surgiu o padrão europeu DVB, assim como também o padrão americano ATSC. Na mesma corrida, o Japão apresentou em 1999 o padrão ISDB, ainda que os testes desse sistema datem desde 1995, a primeira transmissão ocorreu em 1999. 2.1. O Modelo Brasileiro de Televisão Digital Interativa Para Montez e Becker (2005): 4 A universalização das telecomunicações fracassou e as perspectivas de melhora não são boas. Mesmo que ocorra a tão falada reformulação do modelo de telecomunicações ou a desejada ajuda estatal – desejo este das operadoras, deixe-se bem claro – ainda vai demorar alguns anos até vermos os resultados. Por isso, torna-se pertinente procurar outras saídas para a inclusão na Sociedade da Informação. Várias iniciativas nesse sentido já foram tomadas – desde a criação de modernos telecentros até a colocação de internet em banda larga nas escolas –, porém nenhuma com alcance global, que consiga atingir toda sociedade. (MONTEZ; BECKER, 2005, p. 19). A TVD, segundo esses dois autores, está em discursão há muitos anos no Brasil. A Sociedade Brasileira de Engenharia Brasileira de Televisão (SET), em parceria com a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e o Instituto Mackenzie realizam testes com os três sistemas de TVD mais utilizados no mundo, seguindo a metodologia recomendada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Posteriormente, a Anatel realizou a consulta pública N.º 29.101 para definir o tipo de canalização do sistema. Paralelamente à pesquisa de opinião pública realizada pela Anatel, o CPqD desenvolveu o projeto TV Digital Interativa (TVDI) que teve por meta avaliar as implicações da TV digital para a teleducação, o apoio ao professor em sala de aula, o ensino à distância e a inclusão digital. A implantação da TVD no Brasil abre um leque quase infinito de possibilidades, não apenas pela melhoria considerável na qualidade da imagem por meio da HDTV, mas principalmente, pela introdução dos recursos de interatividade e de novos serviços. O sistema de TVD brasileiro tem seus requisitos e condições definidas de tal forma que venha a ser um meio para atender às necessidades específicas da sociedade do País. Os atributos básicos desse sistema são: Baixo custo e robustez na recepção do sinal (classes C, D e E); Flexibilidade e capacidade de evolução (classes A e B); Interatividade e novos serviços (inclusão digital). Tendo em vista os requisitos acima apresentados, o que se vislumbrou na definição do sistema de TVD brasileiro foi um esforço em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para: Analisar e selecionar os padrões de codificação e transmissão dos sinais – Que resultou na escolha do sistema de TVD nipônico (ISDB-T); 5 Desenvolver o middleware4 de modo a permitir a inserção de novos serviços e aplicações – Que resultou na produção do software brasileiro Ginga5, desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 2.2. A Transição do Sistema de TV Analógico Para o Digital no Brasil Aqui no Brasil, em 29 de junho de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto N.º 5.820, regulamentando o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T). Na prática, isso significa que a TV digital no país será compatível com a tecnologia atualmente utilizada no Japão. A implantação do sistema no Brasil, porém, deve demorar. As transmissões digitais aqui tiveram inicio em 2 de dezembro de 2007, em São Paulo, sendo estendida ao restante do País progressivamente. A recepção do sinal digital pelos usuários será através de conversores cognominados set-top boxes, que permitirão aos televisores receberem os sinais digitais. De acordo com o CPQD (2005), já existem equipamentos preparados para a recepção direta do sinal digital à venda no mercado. Geralmente essas TVs vêm identificadas com o selo HD Ready. O governo espera que a TV digital substitua a analógica até dezembro de 2016 no país. Assim como nos EUA, quando isso acontecer, toda a transmissão analógica será interrompida e será necessário ter um conversor ou um televisor compatível com o sistema para poder assistir à TV. As emissoras entrevistadas pelo CPqD6 acreditam que a transmissão digital poderia ser iniciada dois anos após a emissão das licenças pela Anatel. Já a transição do sistema de transmissão analógico para o digital, deve ocorrer gradativamente ao longo de um período durante o qual todas estariam se digitalizando, ao mesmo tempo em que os consumidores estariam substituindo seus receptores por aparelhos digitais. Segundo as empresas de teledifusão consultadas pelo órgão acima mencionado, esse período poderia ser de dez anos, ajustável de acordo com o número de receptores digitais efetivamente instalados. Assim como sucedeu em países que já implantaram sistemas TVD ou que ainda estão em fase de mudança existe, no Brasil, um cronograma de migração e um período onde os dois sistemas, analógico e digital, coexistem – período esse denominado simulcasting – como 4 Camada de software (programa) que é executado nos conversores - set-top boxes e que é responsável pelas funções de interatividade, recepção e tratamento dos sinais digitais. (BECKER; MONTEZ, 2006, p. 5). 5 Para saber mais sobre esse middleware, consultar Lemos e Cunha (2005). 6 Modelo de Referência do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre. (CPQD, 2006). 6 mostrado na figura 1. Na prática, será alocado um segundo canal para emissora continuar transmitindo seu sinal analógico e outro para o sinal digital. Figura 1 - Simultaneidade da Transmissão da TV Analógica e Digital no Brasil. (Fonte: Anatel.). Segundo a Anatel, no processo de transição haverá tempo para adaptação das emissoras ao novo sistema, denominada fase de transmissão voluntária. Em seguida, será iniciada a fase de transmissão obrigatória onde as empresas de teledifusão serão obrigadas a transmitir pelo menos três horas de programação nos padrões estabelecidos (HDTV, EDTV ou SDTV). A fase final será a de crescimento, na qual, as emissoras deverão aumentar o número de horas de programação com o sinal digital e, ao fim da mesma, transmitir a totalidade da programação no sistema digital. Após essas fases, ocorrerá a transição dos consumidores até finalizar todas as transmissões analógicas, significando o término do simulcast, isso dentro do cronograma de dez anos. Figura 2 - Período de Transição: Serão Utilizados dois Canais - Um Para Transmissão Analógica e outro, Para Digital. (Fonte: CPqD.). Com a introdução da tecnologia digital na radiodifusão de TV Digital Terrestre (TVDT), o usuário poderá optar por uma das seguintes situações: a) Continuar a receber a TV aberta da forma atual utilizando a sua TV analógica; b) Adquirir um conversor set-top box para receber o sinal digital e o converter para o formato multimídia disponível no aparelho de TV; 7 c) Adquirir uma TV nova que já incorpore o conversor. Esse processo vem ocorrendo em vários países. No Reino Unido, por exemplo, o processo iniciou-se em 1998. Em setembro de 2005, 65,9% das residências britânicas já tinham acesso à TVD. Nos Estados Unidos, o início das transmissões se deu em 2002 e no Japão, em 2003. O sucesso da implantação de tal tecnologia depende, em grande parte, da disponibilidade de conversores set-top boxes com preços acessíveis à população, sendo possível apenas com a produção desses dispositivos em larga escala. Essa foi uma das justificativas do CPqD7 para a adoção de um padrão único de TVD para o Brasil. 3. A APLICAÇÃO DA INTERATIVIDADE NA INCLUSÃO DIGITAL A interatividade é uma questão definida cientificamente, segundo Montez e Becker (2005, p. 118), não sendo apenas uma simples conceituação. No caso específico da TVDI, ela se refere à condição do fluxo da informação ser bidirecional. 3.1. O Conceito de Interatividade A convergência tecnológica, afirma Silva (2009, p. 4), lida com o bem mais precioso que uma sociedade pode ter: a informação. A sociedade brasileira é considerada, até então, apenas receptora de conhecimento. O que de fato caracteriza a TVDI é que essa mesma sociedade passa a ser produtora de informação. Tal tecnologia chega ao Brasil num momento em que... O governo brasileiro quer resolver um problema usando a TV Digital que muita gente sequer ouviu falar: a exclusão digital. Segundo vários especialistas no assunto, a exclusão digital é responsável por outro problema, esse sim muito conhecido pelo brasileiro: o aumento da exclusão social. A lógica é simples: sem informação de qualidade, que se tornou abundante e necessária com a revolução ocorrida nas telecomunicações, a vida das pessoas não evolui. Basta tentar imaginar como seriam nossas vidas sem a televisão, sem o rádio, ou para 7,5% de privilegiados, sem a internet. Além da TV digital, o governo também aposta em outras ferramentas, como o Serviço de Comunicações Digitais (SCD), para resolver esse problema, porém, com metas que vão um pouco além da simples inclusão digital/social. (MONTEZ; BECKER, 2005, p. 9). 7 Modelo de Implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. (CPQD, 2004). 8 A exclusão digital, de acordo com Silveira (2001), impede que se reduza a exclusão social. Estar fora da rede é ficar à margem dos principais fluxos informacionais. É por isso que a inclusão digital ficou tão importante dentro do contexto brasileiro. No Brasil, o governo está muito preocupado com a inclusão digital e vem enveredando esforços para a minimização da enorme disparidade tecnológica existente entre as diversas classes sociais no país. Foram feitos grandes investimentos através de grupos de pesquisas e estudos compostos por vários segmentos da sociedade civil para sugerir formas de melhor utilizar a interatividade que televisão digital possibilita. Além disso, as tecnologias que subsidiam essa nova realidade na comunicação foram apresentadas, o que facilitou a compreensão das diferentes opções que o país dispõe para efetivar a transição da TV analógica para a digital. O terminal de acesso, aparelho que permite o uso das TVs analógicas para receber o sinal digital e participar dos programas interativos, pode ter diferentes custos e várias funcionalidades. O principal diferencial está no vídeo de alta definição e na interatividade. Conforme Becker e Moraes (2005), a interatividade é uma consequência da TVD. O fluxo de vídeo é transmitido através de uma compressão no padrão Moving Pictures Experts Group v.2 (MPEG-2) 8, que permite multiplexar informações de áudio, vídeo e dados num mesmo canal de transmissão. Os dados podem variar desde simples enquetes, como acontece hoje na Europa, até aplicações de e-mail, comércio eletrônico ou sincronização de vários programas, onde o telespectador escolhe qual gostaria de assistir. O que de fato caracteriza a interatividade é a digitalização da transmissão do sinal, permitindo um canal de retorno no mesmo veículo de transmissão, dispensando o uso de outros meios para a comunicação com o emissor do sinal. A interatividade possibilita ao usuário manifestar suas preferências e reações quanto à escolha e usufruto do conteúdo e serem exploradas novas aplicações envolvendo as respostas do usuário. Os níveis de interatividade previstos variam segundo a existência do canal de retorno – que poderá ser local, intermitente ou permanente – e como ele é mantido ativo para suportar as aplicações que estarão executando em seu middleware. Segundo matéria publicada na revista The Economist, com o título “Power in your hands”, na edição de 11 de abril de 2002 e citada em Becker e Moraes (2005) , “o que as pessoas querem, é uma nova forma, mais simples e conveniente de usar a televisão, onde possam escolher a melhor programação que os agrade”. Segundo os autores da reportagem, o 8 Para mais informações sobre esse formato de compressão de stream multimídia, consultar Jack (2005). 9 espectador somente quer fazer escolhas, e não usar a televisão como um computador pessoal, muito menos para ler e-mails ou conferir o saldo bancário. Logo, a interatividade deve se restringir a oferecer escolhas, nada mais. 3.2. Serviços de Interatividade A interatividade abrange uma série de aplicações, serviços e tecnologias. Becker e Moraes (2005) apresentam as seguintes disposições quanto aos tipos de serviços que a TVDI pode oferecer aos telespectadores: a) Enhanced TV → Tipo de conteúdo televisivo que abrange texto, vídeo e elementos gráficos, como fotos e animações. Na sua forma mais simples, é a apresentação integrada desses elementos, organizada por uma grade de programação. A principal diferença para a TV analógica consiste justamente na integração desses elementos e no aumento da qualidade do vídeo e do som. A resolução do monitor deixa de ser na proporção 4:3 para ser 16:9, que é a resolução da tela de cinema. b) Internet on-TV → Permite o acesso à internet usando o televisor. Todas as funções da internet que se conhece estão disponíveis. c) Individualized TV → Admite a adaptação total da TV ao gosto do telespectador, que pode escolher ângulos de câmera em transmissões esportivas ou espetáculos teatrais, personalizar a interface, com escolha de cores, fontes, e organização das janelas na tela. Também permite o replay de cenas perdidas em transmissões de eventos esportivos, por exemplo. d) Video-on-demand → Capacita espectadores a assistirem a determinado programa na hora em que quiserem, sem restrições quanto ao horário em que é transmitido pela emissora. Pode ser comparado ao acesso à videolocadora em qualquer horário, com apenas alguns cliques do mouse ou controle remoto. A emissora pode disponibilizar toda grade de programação, com exceção dos programas ao vivo, para serem assistidos em qualquer horário. Não deve ser confundido com near video-on-demand, 10 onde determinado programa é transmitido em certos horários, como acontece hoje com os canais pay-per-view. e) Personal Video Recorder (PVR) → Também conhecido como Personal TV ou Digital Video Recorder (DVR), possibilita a gravação digital de programas apenas especificando o título, o horário, o assunto, o ator, ou algum outro dado pré-cadastrado sobre o filme. Essa função pode pausar a transmissão, mesmo que ela esteja acontecendo ao vivo, e retomar a reprodução do ponto em que foi parado, eliminando as propagandas publicitárias. Tal equipamento tem integrado um dispositivo de armazenamento em massa onde vídeo é registrado, podendo ser redistribuído posteriormente de acordo com a legislação dos direitos autorais vigente no País. f) Walled Garden → Um portal contendo um guia das aplicações interativas. Esclarece ao usuário o que é possível fazer, o que está disponível, e serve de canal de entrada para essas aplicações. Pode ser comparado a uma revista com a grade de programação das TVs a cabo. g) Game Console → Permite o uso da TV para jogos, seja contra o próprio aparelho, o computador, em rede ou contra outros jogadores. O comercio eletrônico televisivo, ou t-commerce – como é chamado –, pode estar disponível tanto nas aplicações de internet, como sites especializados acessíveis por navegador, ou no grupo Walled Garden, com aplicações especialmente desenvolvidas para esse fim. O mesmo raciocínio é valido para o t-banking, ou banco televisivo. Apesar da maioria dos profissionais da área concordar que esses sete itens representam muitas das possibilidades da interatividade na TV, Reisman (2002) deixa claro que as emissoras de TV ainda não descobriram o que é de fato a Interatividade e o que fazer com ela. “As pessoas ainda não entendem o quanto a TVDI pode ser maravilhosa. Por isso, não há demandas para essa mídia”, diz. Esse raciocínio justifica a tese de que as emissoras simplesmente digitalizaram o sinal, sem qualquer adaptação nas linguagens, formatos e conteúdos; ainda não aprenderam a fazer televisão interativa. Para o autor do referido estudo, muitas pessoas não querem apenas interagir com os aparelhos de TV, mas também com a programação oferecida, ou com mais serviços, além de simples programas televisivos (BECKER e MORAES, 2005). 11 3.3. Níveis de Interatividade Uma classificação para os níveis de interatividade, em relação à televisão, é proposta e detalhada por Lemos (1999), ei-las9: a) Nível 0 → Este é o nível mais baixo de interatividade, sendo possível ao telespectador apenas efetuar a troca de canal, ou a regulagem de volume, contraste, brilho e ligar ou desligar o aparelho de televisão. A transmissão ainda ocorre em preto e branco, com apenas um ou dois canais. b) Nível 1 → Surge, então, a televisão colorida, e outras emissoras. O controle remoto vem suprir a demanda de conforto requerida pela possibilidade de navegar entre os inúmeros canais disponíveis, assim como efetuar ajustes na forma como a programação é assistida. Essa navegação, também chamada de zapping, é considerada a precursora da navegação da Web (World Wild Web). c) Nível 2 → O aparelho de televisão passa a poder ser utilizado para outros fins, não apenas para assistir aos programas transmitidos pelas emissoras. Jogos eletrônicos, videocassetes e câmeras portáteis permitiram ao usuário a apropriação da TV para jogar ou simplesmente assistir às filmagens previamente gravadas. O videocassete ainda permite que o usuário possa se apropriar dos programas transmitidos pelas emissoras, podendo gravá-los e assistí-los quando bem desejar. d) Nível 3 → Os primeiros sinais de interatividade digital surgem aqui, onde o telespectador pode interferir no conteúdo na programação através de fax, telefone ou mensagens de correio eletrônico (e-mail). Programas como BigBrother, Intercine e Você Decide – da Rede Globo, Casa dos Artistas – do SBT e outros similares encontram-se classificados nesse nível. e) Nível 4 → Surge a TV interativa, possibilitando ao telespectador a utilização do controle remoto e a sua interferência na programação, selecionando cenas ou ângulos de câmeras que lhe convém. 9 Becker e Moraes (2005) apresentam uma forma de classificação dos tipos de interatividade em apenas três níveis sendo, portanto, mais generalistas que Lemos (1999). 12 Existem, ainda, mais três níveis complementares propostos por Becker e Montez (2004) que possibilitam ao telespectador interferir plenamente na programação e não apenas reagir às ações solicitadas pelos programas transmitidos pelas emissoras, ei-las: f) Nível 5 → Neste nível o próprio telespectador pode participar da programação, enviando vídeos de baixa qualidade, produzidos através da webcam ou filmadoras analógicas. Surge, aqui, a necessidade de um canal de retorno ou canal de interação que seja capaz de prover recursos para a transmissão do vídeo do telespectador para a emissora. g) Nível 6 → Esse nível oferece os mesmos recursos que o nível 5, entretanto, permite a transmissão de vídeos de alta qualidade. O canal de retorno ou canal de interatividade deve, obrigatoriamente, dispor de banda superior à oferecida no nível anterior. h) Nível 7 → Neste nível o telespectador alcança a interatividade plena, gerando conteúdo da mesma forma que a emissora. Neste modelo, o telespectador rompe o monopólio de produção e veiculação das redes de televisão e passa a atuar como se fosse um internauta na Web, com capacidade e recursos necessários à publicação de sites com o conteúdo que desejar. Os três níveis auxiliares propostos por Becker e Montez, expostos anteriormente, abrem inúmeras possibilidades, podendo revolucionar totalmente a mídia televisiva. Apenas a título de exemplificação, seria possível – a partir do nível 4 – o acesso a mais informações sobre o filme que se deseja assistir ou a detalhes sobre os times que estão disputando uma partida de um jogo qualquer que esteja sendo transmitido. Até os comerciais poderiam ser revolucionados com a introdução de níveis de informação onde o cliente esclarece todas as dúvidas sobre o item a ser adquirido, podendo fechar a compra on-line. A interatividade é, sem dúvida, o recurso mais aguardado, propalado, divulgado e festejado da TVD. Com a introdução desse novo recurso, o telespectador deixa de ser um mero agente passivo, o que significa o fim da unilateralidade das transmissões televisivas. No entanto, o que se vê atualmente não é a interatividade em sua forma plena, mas apenas uma convergência tecnológica entre os meios de comunicação10. 10 A jornalista Ariane Pereira apresenta em Gobbi e Kerbauy (2010, p. 166-177) uma reflexão importante sobre a convergência tecnológica das mídias televisivas e o que aparenta ser interatividade, mas não é. 13 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os meios de comunicação são indispensáveis em todos os aspectos das atividades humanas. Invenções históricas como o telefone fixo, o fax, o computador, a internet, o telefone celular, entre outros, mudaram profundamente a convivência entre as pessoas no mundo moderno. Assim como aconteceu na mudança do padrão preto e branco para o colorido, a TVDI é um novo marco na história da televisão brasileira. A melhoria da qualidade de som e imagem representa apenas as necessidades atuais que o mercado e a ciência exigem. Entre as diversas possibilidades que o uso dessa nova tecnologia pode oferecer, as mais importantes são: capacidade de efetuar o comércio eletrônico, estudar, navegar na internet, interagir com a emissora e o governo eletrônico. Tais serviços criam um ambiente perfeito para auxiliar a sociedade em seu processo de evolução e da busca continua pelo conhecimento. A TVDI é mais uma tecnologia que revolucionará o modo de vida da sociedade. Pelo histórico dos impactos das inovações tecnológicas, não há dúvidas que ela estará presente nos lares das famílias brasileiras, trazendo os benefícios digitais aos cidadãos, assim como se deu com os computadores, celulares e câmeras digitais. Nesse ponto, é de suma importância que a incorporação deste modelo de televisão na sociedade ocorra de tal forma que venha alcançar a todas as camadas sociais para que as oportunidades sejam distribuídas equitativamente. Justamente por estar presente em mais de 90% dos domicílios brasileiros, o aparelho de televisão vem a ser a principal ferramenta para alavancar o plano de inclusão digital proposto pelo governo brasileiro. O progressivo processo de substituição da tecnologia analógica pela digital deve vir acompanhado pela adequação social ao novo aparelho, possibilitando a efetiva inserção e alfabetização digital dos cidadãos brasileiros. A inclusão digital deve servir como propulsora da inclusão social. Os países, onde as pessoas estão inseridas no âmbito virtual das relações humanas e onde a tecnologia e a informação estão aliadas, são os mesmos que possuem elevada qualidade de vida. Os avanços tecnológicos são caros no começo, impedindo que todas as pessoas tenham acesso aos mesmos. Quem tem recursos para acompanhar o avanço do processo tecnológico, aumenta ainda mais as possibilidades de obtê-los. 14 REFERÊNCIAS BECKER, Valdecir; MONTEZ, Carlos. TV Digital Interativa: Conceitos e Tecnologias. 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