Baixe aqui a entrevista com Michel Groisman

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ENTREVISTA COM MICHEL GROISMAN
Luisa Duarte: Em Vitrais você apresenta um conjunto de trabalhos que se diversificam entre
performances, vídeos e fotografias. Você poderia falar sobre as intenções deste trabalho e
como estas diferentes linguagens se comunicam?
Michel Groisman: Aqui, estas linguagens são como diferentes portas de entrada para a mesma
sala, ou melhor, para o mesmo momento-templo, iluminado por um vitral perene, o corpo,
que confere forma à luz.
Luisa Duarte: A questão da continuidade me parece ser importante em muitos dos seus
trabalhos, seja nas performances propriamente ditas, seja na vontade já expressa por você de
instaurar certa continuidade entre arte e vida cotidiana. Como você lida com esta questão
hoje?
Michel Groisman: Sempre que possível procuro me lembrar da qualidade da continuidade,
sobretudo quando me vejo demasiadamente preocupado em alcançar objetivos, como se a
“chegada” fosse mais importante que a caminhada, como se houvesse um sem o outro, como
se houvesse performance à noite em um vernissage, sem aquele momento durante o banho
pela manhã, ou como se aquele importante encontro profissional fosse possível sem a ida ao
supermercado. Assim, comecei a tentar lavar a louça como se estivesse diante do público e a
realizar minhas performances como se estívesse em casa lavando louça. Embora pareça
absurdo, ambas as experiências se tornaram muito mais interessantes - tanto o ato de lavar a
louça quanto o de se apresentar. Então, o que dizer de cortar as unhas do pé como se
estivesse visitando um importante museu e visitar um importante museu com se estivesse
cortando as unhas do pé ? É, parece que o nosso modo de olhar as coisas pode torná-las bem
diferentes. O termômetro que utilizo é a pressa. Se percebo que estou com pressa, tomo como
um sinal de que estou acreditando que algo que virá a seguir será mais importante que o
momento atual. É um sinal de que mais uma vez fui pego pela descontinuidade. Mas o que
fazer? “mesmo quando estiver correndo, corra devagar”, foi o que escutei outro dia.
Luisa Duarte: Os seus trabalhos lidam desde o início com o corpo como ponto de partida.
Como surgiu esta escolha? Quais artistas te inspiraram neste caminho?
Michel Groisman: É impressionante como traçamos nossos planos baseado nas cartas que
temos à mão, e, de repente, compramos do bolo uma nova carta que modifica o sentido de
todas as outras! Foi o que aconteceu comigo ao descobrir o uso do corpo como meio. Algo
maravilhoso - a descoberta de uma ponte entre pensamento, sentimento e expressão.
Atualmente, o que que me inspira muito em meu processo é reconhecer a qualidade de
entrega e doação no fazer dos artistas. Gosto de assistir a vídeos no youtube: Clara Nunes, Ray
Charles, Sivuca, Elis Regina e Hermeto em Montreux, entre outros.
Luisa Duarte: Muitas das suas performances ofertam uma participação ao público. No Paço da
Artes não será diferente. Como você enxerga essa participação do outro no seu trabalho?
Michel Groisman: A participação do outro é um caminho para minha relação com o meu
trabalho, assim como o meu trabalho é um caminho para minha relação com o outro