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Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Departamento de Arquitetura e Construção Iniciação Científica 2010 - 2011 Relatório Final A produção habitacional nos países em desenvolvimento: a autoconstrução de moradias descrita na literatura internacional. Bolsista: Pietro Leonardo Nichelatti Nicolodi – R.A.: 094309 Orientadora: Profª. Drª. Doris C. C. K. Kowaltowski Junho de 2011 Campinas, SP. SUMÁRIO Resumo ............................................................................................................................................ 2 Introdução ........................................................................................................................................ 3 Metas Semestrais e Execução do Plano de Trabalho ..................................................................... 5 1. Estudo e atualização do banco de dados bibliográfico existente .............................................. 5 2. Seleção de artigos mais relevantes para leitura e análise detalhada ........................................ 6 3. Análise quantitativa do banco de dados e artigos selecionados ............................................... 6 4. Caracterização da autoconstrução de moradias...................................................................... 8 5. Estudo de caso em bairro periférico da região de Campinas .................................................. 16 Considerações Finais ..................................................................................................................... 19 Avaliação Pessoal .......................................................................................................................... 19 Referências .................................................................................................................................... 20 LISTA DE FIGURAS Figuras 1 e 3: Ruas características do bairro Residencial São José - parte nova .................................... 16 Figura 2: Estoque de materias em uma moradia autoconstruída ........................................................... 16 Figura 4: Vista do bairro Residencial São José - parte antiga ................................................................ 17 Figura 5: Moradia autoconstruída de três andares ............................................................................... 17 Figura 6: Varanda de saída dos quartos no piso superior dos sobrados ................................................. 17 Figura 7: Pátio interno da habitação investigada .................................................................................. 18 Figura 8: Vista da habitação autoconstruída investigada ....................................................................... 18 Figura 9: Casa original dos proprietários da habitação investigada ........................................................ 18 RESUMO A presente pesquisa consiste em uma analisa da autoconstrução sob uma perspectiva que, apesar de fundamental em sua essência, não foi abordada até então. Configura-se como um estudo bibliográfico e documental com análise comparativa de referências. Para tanto, tem como base estudos anteriores desenvolvidos na região de Campinas, SP, e a criação de um banco de dados de 985 referências internacionais e nacionais sobre o tema, o qual foi submetido a atualização e especificação. Tendo como objetivo avaliar esta modalidade habitacional para poder caracterizá-la em âmbito internacional, priorizou-se aspectos fundamentais descritos na literatura, como: configuração e dimensão dos lotes e casas; critérios de conforto ambiental; evolução no tempo e transformações; assim como aspectos sócio-econômicos e sócio-culturais. Estes dados foram quantitativamente organizados em gráficos e qualitativamente relacionados e descritos. Finalmente, para uma verificação desta caracterização e das tendências, foi introduzido um estudo de caso em bairros periféricos da região de Campinas com características predominantes de autoconstrução de moradias. Como principal resultado, observou-se que, no mundo, as casas autoconstruídas assemelham-se por destinarem-se ao suprimento das necessidades básicas humanas. Em adição, verificou-se a incorporação de novas práticas construtivas, com alteração de estilo e tamanho, e equipamentos industrializados que substituem elementos da arquitetura bioclimática. Palavras-chave: autoconstrução de moradias, banco de dados referêncial e análise comparativa. 2 INTRODUÇÃO Das Moradias Autoconstruídas A falta de habitação para a classe mais pobre da população é um problema que a maioria dos países em desenvolvimento enfrenta e influencia a qualidade de vida dessa população, bem como impacta a qualidade do espaço urbano como um todo. Por razões políticas, econômicas e sociais este quadro torna-se ainda mais agravante em países menos desenvolvidos. As questões acerca desse problema não são recentes, mas já conhecidas a partir da Revolução Industrial na Europa. No Brasil, diversas medidas foram tomadas por governos e entidades profissionais de engenharia e arquitetura entre outros para enfrentar tais problemas. Devido às condições específicas econômicas e de estruturas sociais, como também aos padrões de crescimento urbanos, casas construídas por famílias de baixa renda compõem uma porcentagem significativa da produção de habitação brasileira (KOWALTOWSKI, PINA et al., 1995; NOLASCO, 1995; ORNSTEIN, ROMERO et al., 1995; WERNA, 1996). De acordo com dados brasileiros 60% da produção de habitação é auto-construída (SCHULZ, 1996). Em outros países da América Latina este quadro se repete (TURNER, 1976; KELLETT e NAPIER, 1994; KELLETT, 2003; HERNANDEZ e KELLETT, 2009; KELLETT, 2009). A atividade de auto-ajuda foi saudada por muitos autores como uma maneira correta para resolver déficits de habitação enormes, mesmo sabendo que a aquisição de casas prontas é preferida pela população (HAMDI, 1991). Uma grande parcela da população, nos grandes centros urbanos de países em desenvolvimento, como o Brasil, não dispõe de renda suficiente para esse mercado. O nível de renda mensal de autoconstrutores urbanos no Brasil é situado entre 3 a 10 salários mínimos (SM). Um estudo sobre características da habitação no Brasil divide níveis de baixorenda em 3 grupos. Assim a renda muito baixa corresponde a um salário mensal de 0 a 2SM, baixa de 2 a 3SM e média baixa de 3 a 6SM (BRUSKY e FORTUNA, 2002). Estudos em cinco bairros de lotes urbanizados, desenvolvidos no Município da Cidade de Campinas, no Estado de São Paulo, demonstrou que 12% dos autoconstrutores declararam rendas sobre 5 salários mínimos, 32% declararam a renda entre 3 a 5SM e 48% ainda apontavam a um nível de renda mais baixo entre 1 a 5 SM. (WATRIN, 2003). Embora esse estudo apresente um largo espectro para a renda da família de autoconstrutores, o nível de salários é insuficiente para a aquisição de uma casa pelo mercado de habitação regular, sustentado pelas classes de renda alta ou media alta. Assim, no Brasil, 30 vezes mais casas são construídas de modo informal em relação à produção formal de construção (AUGUSTO e BASTOS, 1997). Fatores sócio-culturais influenciam a preferência das famílias de baixa renda em produzirem as suas próprias casas. Desde 1986 o Brasil não adota um programa de habitação nacional e durante os últimos quarenta anos, por exemplo, cidades como Campinas (SP), com um milhão de habitantes, teve um crescimento significativo e dobrou em tamanho na última década do século passado (VALENÇA, 1992; PATARRA, BAENINGER et al., 1994). Este crescimento acontece principalmente na periferia da cidade ocupada pela população de baixa renda em loteamentos autoconstruidos. Estudos dessa habitação das classes de baixa renda distinguem as atividades de autoconstrução em terras sem posse, como invasões ou favelas, e essas em lotes adquiridos por famílias em loteamentos regulares. A habitação espontânea sem posse, em muitos países, é sinônima de condições extremas de falta de qualidade construtiva e tem um impacto negativo no ambiente urbano (PETTANG e TATIETSE, 1998). O termo "autoconstrução" é entendido como um processo de produção de habitações que tem como gestor do processo o próprio morador. A autoconstrução também é entendida como a resposta básica às necessidades de satisfazer determinadas necessidades sociais que não são supridas a contento por órgãos governamentais ou entidades particulares (JACOBI, 1981). A 3 denominação “autoconstrução” enfatiza a forma pela qual são edificadas as moradias, principalmente de forma parcelada, à medida que o morador consegue recursos financeiros para aquisição dos materiais de construção e para pagamento de mão-de-obra para terceiros. A atividade construtiva geralmente acontece nos fins-de-semana ou nas férias. Acrescente-se a isso que é característica desta modalidade habitacional adquirir um lote geralmente em áreas urbanas periféricas, desprovidas de serviços e equipamentos públicos e que o autoconstrutor vai pagando ao longo do tempo, muitas vezes simultaneamente à construção da casa (MARICATO, 1982; PASTERNAK e MAUTNER, 1982). O universo da autoconstrução de moradias passou a fazer parte do interesse da comunidade acadêmica a partir da década de 70, com a publicação de “Housing by people”, de John Turner, em 1976. Nesta obra, o autor avaliava positivamente esta modalidade habitacional na esfera do terceiro mundo, fundamentada nas características de solidariedade e contato direto com a produção da casa. Turner contrapunha a autonomia e a participação dos moradores na construção da sua moradia à ineficácia dos programas habitacionais baseados na organização centralizada. Alguns autores apontam que um equívoco na visão de Turner fez com que a autoconstrução fosse considerada como a grande solução para os países subdesenvolvidos (JACOBI, 1981; MARICATO, 1982). Apesar das críticas, as experiências contribuíram especialmente para o desenvolvimento e incorporação de conceitos de co-gestão e de autogestão, mais tarde adaptados aos programas de mutirões. Nos anos 80 Ward (1982) enfatizou a importância do processo de autoconstrução como meio de alcançar a participação efetiva do usuário no processo de projeto, atingindo dessa forma a sua satisfação. Na década de 90, o processo de participação foi ampliado por Hamdi (1991), visando a “construção de comunidades”, partindo de investigações no cotidiano e de parcerias técnicosociais. Vários estudos propõem uma caracterização da autoconstrução. No Brasil a grande maioria destas pesquisas concentra-se no Estado de São Paulo. Os aspectos da técnica e do processo de construção, bem como dos projetos e do agenciamento espacial são abordados. Questões econômicas e urbanísticas bem como de políticas de apoio são levantadas (PASTERNAK e MAUTNER, 1982; SAMPAIO e LEMOS, 1984; ORNSTEIN, 1988; PINA, 1991; ORNSTEIN, ROMERO et al., 1995). Em Campinas/SP, a autoconstrução foi estudada em pesquisa realizada em meados dos anos 90, reafirmando esta modalidade como a mais praticada devido às características peculiares de iniciativa e decisão individual delegados à família de baixa renda na região (KOWALTOWSKI, PINA et al., 1995; PINA, 1998). Objetivos Gerais Esta pesquisa de iniciação científica tem como objetivo desenvolver uma pesquisa bibliográfica e documental da produção habitacional de autoconstrução de moradias nos países em desenvolvimento. Dados extraídos de referência bibliográficas e documentais serão analisados para caracterizar a autoconstrução de moradias. O projeto tem como base estudos anteriores desenvolvidos pela orientadora e um banco de dados que reúne mais de 900 referências desta modalidade habitacional. A delimitação do problema da pesquisa relaciona-se a definição da autoconstrução: casas construídas em lotes de periferia, comprados de um empreendedor que realizou o loteamento em condições legais perante o órgão público, ainda que desprovido de equipamentos sociais e/ou infra-estrutura. Tendo como objetivo avaliar a autoconstrução para poder caracterizá-la, são escolhidos os aspectos considerados fundamentais para efetuar a análise: Configuração e dimensão dos lotes; Programa de necessidades; Forma de ocupação no lote; Configuração espacial da casa; Critérios de conforto ambiental (térmico); Tipologias; Dimensão espacial da casa e dos ambientes; Densidade; Layout; Sobreposição de funções; Evolução no tempo e transformações; Espaço livre no lote; Perfil do autoconstrutor; Técnicas de execução e acabamento. Para a análise comparativa 4 serão levantados dados sobre conceituação da autoconstrução apresentada nas referências internacionais e nacionais. São abordados também os temas sobre fatores históricos e cronológicos da produção habitacional, diferentes componentes sócio-culturais com impacto sobre a casa autoconstruída, aspectos sócio-econômicos, o significado do lar, a casa como ambiente de trabalho, impactos urbanos dos bairros autoconstruídos e as políticas de apoio á autoconstrução nos dois países. Finalmente estudos de caso serão selecionados para detalhar as caracterizações e as tendências recentes na construção de moradias autoconstruídas. Para uma verificação desta caracterização e das tendências será introduzido um estudo de caso em bairros periféricos da região de Campinas com características predominantes de autoconstrução de moradias. Neste estudo de caso serão utilizados os resultados das investigações das referências internacionais como modelo para medir o grau de conhecimento presente na literatura e a necessidade de novas investigações nesta modalidade habitacional. METAS SEMESTRAIS E EXECUÇÃO DO PLANO DE TRABALHO As etapas do plano de trabalho cumpridas no primeiro e segundo semestres de desenvolvimento da pesquisa são relacionadas abaixo: 1. Estudo e atualização do banco de dados bibliográfico existente Para a realização da pesquisa, fez-se necessária a familiarização do proponente da pesquisa com a contexto da autocontrução, assim como com as referências existentes, reunidas em um banco de dados por meio do software EndNote X2™. O banco de dados em questão é composto por 974 referências que abrangem a temática sob diversos aspectos, sendo que 395 delas apresentam arquivos em “PDF” atrelados, quando estes estavam disponíveis, via sistema de busca da UNICAMP. Para a formação deste banco de dados, foi dada a preferência na busca de referências publicada em inglês e português. A atualização do banco de dados existente foi fundamentada na busca por trabalhos publicados no período de 2007 a 2011. Para tanto, foram utilizados as bases do sistema CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior) de busca de artigos e periódicos pelo Programa de Acesso à Informação Eletrônica (PAI-e). As bases de dados consultadas foram: Web of Science (ISI Web of Knowledge), Avery Index of Architectural Periodicals (CSA), Civil Engeneering Abstracts ASCE (CSA), SCOPUS e COMPENDEX®(Engineering Village). As palavras-chave escolhidas para o desenvolvimento da pesquisa de atualização foram: self-built houses, self-built housing, self-help housing, owner-built houses, informal house construction, informal housing, spontaneous housing e spontaneous house building. Para cada base de dados utilizada, empregou-se os termos supracitados seguindo as diversas estratégias de pesquisa que eram sugeridas pelo próprio sistema de procura. Como resultado da atualização, obteve-se quatorze referências interessantes, dentre centenas de outras que apenas mencionavam o tema da autoconstrução ou tangenciavam-no de modo insignificante. Destas quatorze, quatro já se encontravam disponíveis no banco de dados existente. Com efeito, foram dez as referências que constituíram a atualização citada, sendo apenas duas delas providas de textos completos. Estão envolvidos nessas referências nove países em desenvolvimento distintos. A pequena quantidade de referências encontradas na pesquisa correspondente à etapa de atualização evidencia a pouca ênfase que ultimamente é atribuída à temática da autoconstrução e, 5 por conseguinte, denota a importância e valor de trabalhos que a abordam e a analisam em amplitude internacional. 2. Seleção de artigos mais relevantes sobre a autoconstrução de moradias para leitura e análise detalhada Após a análise e atualização do banco de dados, desenvolveu-se uma seleção dos artigos mais relevantes sobre esta modalidade habitacional divulgados na literatura internacional e nacional. Para tanto, procurou-se dar ênfase na seleção destes artigos para trabalhos que descrevessem o processo de construção destas casas e as suas características físicas e de uso pelas famílias de autoconstrutores. Enfatizou-se a seleção de trabalhos de vários países em desenvolvimento para que houvesse uma representação equilibrada desta produção habitacional no mundo. A metodologia aplicada para selecionar os artigos de interesse para o presente projeto consistiu na separação destes por categorias e posterior leitura. Primeiramente, analisou-se os trabalhos que possuíam arquivos em PDF atrelados. Observada a compatibilidade dos títulos com o contexto da autocontrução em estudo (descrição do processo de construção de casas e as suas características físicas e de uso pelas famílias de autoconstrutores), analisou-se o resumo, ou abstract. Caso persistisse a compatibilidade, os textos completos eram superficialmente examinados. Por fim, estes eram simultaneamente organizados em grupos que estipulavam o grau de convergência temática em questão. No processo de seleção dos artigos, observou-se a significante abrangência do contexto da moradia autoconstruída, de modo que diversos trabalhos relacionavam-se com outros assuntos, dentre eles, os mais recorrentes eram de cunho político e econômico. Pode-se citar os seguintes tópicos: status sócio-econômico, crescimento urbano e aumento da pobreza, implementação de programas governamentais de auxílio a autocontrutores, condições de vida em assentamentos, êxodo rural e imigração, política de apoio público para o setor informal, economia informal urbana, demanda de investimentos públicos, mercado imobiliário, transformações temporais de assentamentos, sistemas de financiamento habitacional e de urbanização. Como resultado desta etapa, obteve-se os seguintes parâmetros, organizados na forma de tabela: Tabela 1: Resultado da seleção de referências por grupos de convergência contextual. Categoria do Grupo N˚ Referências N˚ Países Alto grau de convergência 24 5 Moderado grau de convergência 20 6 Dentre as referências julgadas adequadas para as etapas subsequentes, há a predominância daquelas cujo país em estudo é o Brasil, compondo um total de 28. As referências que pouco abordavam a temática ou a ela não se dirigiam foram descartadas para efeitos da realização das próximas etapas. 3. Análise quantitativa da base de dados e artigos selecionados Tendo como fundamento a base de dados adotada e atualizada, uma série de gráficos foi gerada a fim de possibilitar uma análise quantitativa acerca da produção de artigos e trabalhos relacionados ao tema da autoconstrução. 6 7 4. Caracterização da autoconstrução de moradias Antes de tudo, a principal função da habitação é abrigar o homem das manifestações climáticas (sol, chuva, ventos, nevascas etc.), e dar-lhe condições de renovar sua força de trabalho pelo repouso físico e mental diário (CORDEIRO, 2004). A habitação possui diversas funções e nela são desempenhadas diferentes atividades, cada uma com necessidades espaciais particulares. O modo como se dá a realização das atividades domésticas e o lugar onde elas ocorrem afetam diretamente os usuários da moradia, visto que o ser humano requer espaços mínimos que lhe assegurem o devido conforto ergonômico. Nas últimas décadas, podem ser constatados estudos, pesquisas e artigos técnicos em geral, nacionais e internacionais, voltados para aspectos funcionais da habitação de interesse social, sobretudo daqueles voltados para aspectos como a área útil disponível para cada morador, a circulação e a integração entre cômodos e as disponibilidades de desenvolvimento adequado das tarefas sem sobreposições (CRUZ, 1995). É importante identificar se as alterações espacais estão relacionadas ao tamanho da moradia, ao tamanho de algumas peças específicas, ao arranjo ou disposição de algumas peças (por questões funcionais ou de privacidade), a questões simbólicas/estéticas, definição de território; também se as alterações físicas estão relacionadas a alterações no tamanho da família, nível econômico e educacional, etc. (REIS, 1995). 4.1. Caracterização da autoconstrução de moradias no Brasil Quanto à tradição Quanto à questão de tradição, no Brasil, geralmente as pessoas pensam o comum e simples como tradicional, levando em consideração a idade da casa, a presença de varanda, o tipo de porta, janela (em arco), parede e telhado. A maioria das pessoas considera que uma casa tradicional possui de dois a três quartos, uma sala, de um a dois banheiros, uma cozinha, pode ou não ter copa, tem necessariamente área de serviço e garagem, mas não possui porão ou qualquer outro cômodo além dos citados (WATRIN e KOWALTOWSKI, 2003). Por fim, verifica-se que, em geral, a autoconstrução brasileira caracteriza-se pela qualidade projetual baixa e pouca presença de elementos positivos da casa tradicional. 8 Quanto a avaliação do desempenho funcional A qualidade e o funcionamento da habitação estão diretamente ligados às formas de produção da moradia, conseqüência da política econômica brasileira, e refletem diretamente na qualidade de vida do usuário. Segundo Cordeiro (2004), as características físicas predominantes das autoconstruções pesquisadas na região de Maceió são: área útil de aproximadamente 50m², um pavimento, três dormitórios, uma sala de estar/jantar, cozinha e um banheiro. As áreas de circulação comuns às áreas sociais quase sempre são subdimensionadas. As áreas médias dos cômodos geralmente superam os valores pressupostos pela lei. Além disso, os moradores relataram que promovem ampliações nas residências por sentirem necessidade de acomodar melhor a família. Na habitação autoconstruída, os corredores de passagem são determinados pela disposição do mobiliário, o que quase sempre sugere espaçamentos muito desconfortáveis. A análise de plantas baixas indica que a largura média das áreas de circulação social é de 60cm, o que possibilita o deslocamento no interior da habitação de maneira aceitável. Apesar das habitações populares apresentarem um arranjo doméstico baseado na divisão de cômodos por atividades – “dormitórios, salas de estar e jantar, cozinhas e banheiros”, seu desempenho funcional está aquém do mínimo necessário à moradia, segundo padrões nacionais e internacionais. Os materiais de acabamento interno mais utilizados são: piso cerâmico ou cimentado, paredes revestidas com pintura látex PVA, coberta em telhas-vãs de cerâmica ou em telhas de fibrocimento. A falta de recursos dos moradores resulta em uma habitação inacabada e em obras. Deste modo, eles convivem com a falta de conforto resultante da não execução dediversos acabamentos (pisos, revestimentos, forro, lajes e até mesmo esquadrias) e com problemas na edificação decorrentes da má-execução ou da rapidez na construção (IMAI, 2002). Não obstante, existe uma supervalorização qualitativa da habitação por grande parte dos moradores dos moradores, os quais demonstram estarem satisfeitos com as condições físicas e aspectos funcionais de sua moradia. Provavelmente essa satisfação está relacionada à idéia de posse da casa própria. Um outro fator de valorização é o fato da habitação ser executada aos poucos pelos próprios moradores, seguindo as necessidades funcionais preeminentes. A sobreposição de funções é intensa na maioria dos cômodos, sobretudo as atividades estar/lazer, dormir e espaço necessário para utilização de armários em dormitórios. Da pesquisa de Cruz (1995), conclui-se que as maiores deficiências observadas nas moradias autoconstruídas são as sobreposições de atividades, a circulação entre cômodos não claramente identificada e a área útil aquém da necessária no caso dos demais dormitórios se não o primeiro. No que se refere a ocupação do terreno, os autoconstrutores desconhecem soluções espaciais mais eficientes e racionais, não só do ponto de vista construtivo mas também em relação ao conforto ambiental. Entretanto, também em vários conjuntos habitacionais, os projetos arquitetônicos implicam em implantações que não levam em conta critérios de conforto ambiental ou mesmo de condições mínimas de salubridade. Quanto a alterações espaciais Essas alterações, freqüentemente, representam a natural evolução da família moradora, mas, em alguns casos, demonstram falhas na comunicação durante a elaboração do projeto, resultando na percepção tardia da incompatibilidade do projeto em relação às expectativas dos moradores. Como existe uma grande diversidade de condições sócio-econômicas dos moradores, este processo não acontece de forma homogênea, refletindo-se em edificações com diferentes níveis de acabamento e em diferentes etapas. A casa apresenta-se como um espaço em evolução, visto que, com a alteração da composição familiar e uma possível mudança sócio-econômica dos 9 moradores, surgirão novas necessidades em relação à moradia. É natural supor que a evolução da família moradora irá reproduzir-se na organização espacial da edificação, conferindo um caráter dinâmico à habitação. Isso ocorre até o ponto onde há uma estabilização dessas necessidades e, conseqüentemente, das modificações na edificação (IMAI, 2002). A pesquisa de César (2002) revela que são três as principais tipologias de moradias e que apresentam transformações características. A primeira refere-se a casas com sala voltada para frente do lote e a cozinha para os fundos, conectadas internamente por uma circulação. Essas residências foram as que praticamente não apresentaram alterações no núcleo original da casa, tendo apenas ampliações de outros cômodos que não constavam no projeto, principalmente garagens e áreas de serviço. Essas ampliações geralmente aconteceram nas laterais da edificação e em direção ao fundo do lote, com a garagem antecedendo a sala e a área de serviço antecedendo a cozinha. A segunda se trata daquelas cuja cozinha está conectada diretamente à sala. Parte desses casos referem-se a habitações implantadas no fundo do lote (edículas) e em outra parte a habitações com a cozinha conectada diretamente a sala. Entre essas residências aconteceram mais alterações no núcleo original da casa, acompanhadas de ampliações. A terceira tinha como característica principal a existência de varandas frontais e em alguns casos também na área de serviço. A principal modificação interna ocorrida foi a mudança de posição da cozinha, com alteração na distribuição interna dos ambientes. As demais residências, que possuíam uma diversidade de configurações espaciais, apresentaram poucas modificações. Essas alterações, quando ocorreram, estavam relacionadas à ampliação de ambientes como área de serviço, garagem e varanda. As exceções são dois projetos de edícula que tiveram ampliação de cômodos, prejudicando a iluminação natural e a ventilação dos ambientes, e gerando configurações confusas e de forte controle espacial. No caso da expansão de cômodos, o aumento de área em ambientes como a sala e a cozinha foram priorizados, e, em menor escala, os dormitórios. Para que fosse possível esse aumento, houve uma diminuição de área de outros cômodos, como varandas e banheiro, e a supressão de alguns ambientes, como pequenas varandas, áreas de serviço e dormitório. Nos casos de expansão do projeto original, com a ampliação de áreas e de cômodos, os novos ambientes executados são, principalmente: garagens, áreas de serviço, varandas, despensas e dormitórios e banheiros (IMAI, 2002). Determinados autores têm a convicção de que alterações são ações positivas refletindo uma característica positiva da moradia em permitir a apropriação do espaço físico por parte do morador. Outros argumentam que o fato de o morador estar fazendo alterações significa que o projeto habitacional não está satisfazendo as necessidades do usuário. Alguns aspectos, como, por exemplo, as dimensões exíguas dos dormitórios, forçam o morador a realizar alterações que talvez não fossem necessárias, caso as características do projeto arquitetônico determinasse dimensões às necessidades dos moradores. Ainda, o custo destas alterações tende a ser superior ao custo para promover espaços com características similares nos projetos originais (REIS, 1995). Quanto ao conforto térmico De maneira geral, no Brasil, as condições climáticas não são rigorosas. Deste modo, não encontramos nas casas autoconstruídas uma presença sistemática de elementos arquitetônicos tradicionais positivos, o que demonstra que a os autoconstruores não têm uma preocupação com, ou não priorizam as questões climáticas. Com efeito, existem problemas nesse tipo de habitação principalmente na falta de preocupação sobre o conforto térmico, como indicam pesquisas (KOWALTOWSKI et al, 1995). A casa tradicional brasileira possui elementos que contribuem para o conforto térmico de moradias, mas não constitui um projeto bioclimático efetivo. Observa-se que especialmente a orientação da casa é uma característica freqüentemente aleatória no cotidiano brasileiro. 10 Segundo Watrin (2003), para uma melhor compreensão do fenômeno da autoconstrução é importante pesquisar a origem dos elementos arquitetônicos utilizados, assim como o significado cultural e o valor que a população local lhes atribui. A tradição é principalmente associada a aspectos psicológicos, sentimentos de segurança, hábitos e comportamentos relacionados às atividades domésticas e questões que evocam a importância da memória, dos comportamentos de territorialidade, privacidade e comunidade. Na pesquisa de Watrin (2003), As casas das pessoas entrevistadas em sua maioria são habitadas em média por 3 a 5 pessoas. A maioria dos lotes tem 150m2 de área e a grande maioria destes possui apenas uma casa construída. Ainda, na pesquisa, os elementos mais votados como aqueles que influenciam o conforto térmico das moradias foram o tipo de telha com 92,72% e a varanda com 90,07%. Em seguida apareceram o tamanho dos cômodos com 86,75%, o tamanho das aberturas com 86,09% e o forro com 83,44%. 70,86% dos entrevistados consideraram a posição das aberturas um fator de influência no conforto térmico dos ambientes. A maioria das pessoas (66,23%) afirmou que não moraria em casas sem muro ao redor alegando a falta de segurança nos bairros. Contudo algumas delas afirmaram que se estivessem morando em cidades menores menos violentas não fariam questão de muro ao redor de suas casas. Observa-se que autoconstrutores não utilizam janelas suficientemente grandes para garantir conforto de suas casas primeiramente por questões financeiras e em segundo lugar por questões estéticas e de disponibilidade comercial. As varandas geralmente aproximam-se do conceito de alpendre, como um telhado que avança para fora da parede “mestra” da casa, apoiado em colunas, com a função de fazer sombra e refrescar o interior da casa. A segunda situação onde surge a varanda é nas habitações implantadas no fundo do lote, com uma característica de forte controle espacial sobre os outros ambientes, acumulando funções de lazer e de serviços, e buscando também auxiliar na solução de problemas de conforto térmico (IMAI, 2002). Além disso, constata-se que eles continuamente buscam espaço funcional. O que talvez se justifique pelo hábito e necessidade de construção da casa por etapas e pelo espaço nunca ser suficiente em relação às necessidades reais dos moradores. “Pode-se afirmar que o povo brasileiro possui uma tradição construtiva relativamente forte, refletida nas técnicas e materiais de construção e na simplicidade do projeto adotado. A população não é necessariamente consciente do conforto ambiental, pois, quando da necessidade, os materiais construtivos que podem garantir um conforto maior são facilmente substituídos por outros mais baratos (telha de cimento-amianto, bloco de cimento, etc)” (WATRIN e KOWALTOWSKI, 2003). Quanto a aspectos estéticos e simbólicos O uso dos gradis no alinhamento frontal dos lotes que, além da função evidente de proteção e de segurança, possui também aspectos estéticos e simbólicos, permitindo a visualização da residência e buscando demonstrar o status social da família moradora. Em muitos casos, essa situação é claramente percebida pela importância dada à fachada frontal, geralmente com melhor acabamento, enquanto que a parte dos fundos da edificação não foi sequer rebocada, ocasionando problemas de umidade no interior das casas. A varanda também apresenta um caráter simbólico, como uma área de lazer e de transição para o interior da casa. 4.2. Caracterização da autoconstrução de moradias em Bangladesh No estudo realizado por Tipple (1999) em um assentamento em Dhaka, Bangladesh, 55% das casas têm um "sanitário" (normalmente pour-flush), mas o resto depende de latrinas ou a campo aberto. Quase 70% têm eletricidade. 11 Menos da metade dos domicílios da cidade contêm habitações construídas com tijolos ou materiais à base de cimento; 34 % têm palha, bambu ou vara de juta nas paredes; 16% têm paredes de folha de zinco e 6% têm paredes de barro. No entanto, 60% das casas estão protegidas por telhados de zinco e têm concreto na laje. Apenas 12% contam com palha, folhas de bambu, juta ou de polietileno para se manter protegidos do sol e chuva . Entre os pobres, no entanto, o quadro muda radicalmente. Apenas 45% têm acesso a serviços sanitários e apenas 25% possuem energia elétrica, por meio de ligações clandestinas. Em cerca de 40% o abastecimento de água provém de encanamentos de poços com 1 a 20 famílias partilhando cada poço. De acordo com o Asian Development Bank, 90% da população pobre urbana de Dhaka têm apenas um cômodo principal na casa, sendo que 65% têm menos de 9,3 m². Os pisos são de terra batida . Em Mirpur, observou-se a capacidade de usar a casa para atividades econômicas. Poucas casas têm salas dedicadas especificamente aos usos comerciais. Onde elas existem, tendem a ocupar a área de pelo menos um quarto de solteiro, e uma grande minoria a ocupar espaço equivalente em área para a habitação original. Espaços dedicados ao uso comercial tendem a ser quartos de frente para uma rua ou beco. Lojas tendem a ser pequenas (dois a três metros de largura e cerca da mesma profundidade e, normalmente, vendem uma variedade de alimentos e artigos para uso doméstico, ou de bens especializados, como roupas ou eletrodomésticos. Há também barbeiros, alfaiates e papelarias/fotocopiadoras. No entanto, não parece ser uma conversão de quartos residenciais para uso comercial em uma escala que poça sugerir que a área está sendo abandonada como habitação. Em vez disso, os ocupantes parecem estar se aproveitando de um ambiente dinâmico, prestando serviços aos vizinhos (TIPPLE, 1999). 4.3. Caracterização da autoconstrução de moradias na China Como indica Jie (1997), uma proporção significativa dos edifícios mais antigos de Pequim em bairros internos da cidade, é composta por construção informal, construída ao longo dos anos em sua maioria pelos próprios moradores. Mais que apenas residenciais, grande parte destas construções informais também fornecem espaço para o desenvolvimento econômico, por meio de atividades como varejo, restaurantes ou pequenas oficinas, que são vistas como vital para a economia dos bairros da cidade. Das autoconstruções, 17% foram classificados como sendo de habitação pobre e 12,4% das casas de famílias foram ditas 'inconvenientes', ou seja, necessitavam de instalações básicas, incluindo banheiros e cozinhas. Em suma, 38,2% das famílias pesquisadas por Jie (1997) viviam com problemas habitacionais graves. A qualidade e tamanhos limitados da habitação informal têm uma grande influência sobre seu uso. Uma pesquisa aleatória mostrou que 60% do seu espaço é usados para cozinhas, 30% para o armazenamento e 10% para os quartos. Na maioria dos casos, as medidas de área das habitações variam entre 6 e12m², apenas poucos excedem a 20m². Verificou-se que 86% da habitação informal é construída por chefes de família, e 14% é construído com ajuda de unidades de trabalho. Em termos de qualidade de construção, a maioria das habitações auto-construídas informalmente, tende a ser de menor qualidade do que aquelas construídas com a ajuda de unidades de trabalho. Para a habitação auto-construída, a maioria dos materiais de construção são reciclados a partir de edifícios antigos ou de qualquer outra fonte disponível (JIE, 1997). 12 4.4. Caracterização da autoconstrução de moradias na Colômbia A pesquisa de Gough (1996) discute a natureza da autoconstrução na cidade de Pereira, Colômbia, com foco nos materiais utilizados e as tentativas de reduzir seus custos. Nas casas comuns, o custo com materiais corresponde cerca de 60 a 65% do total, enquanto que essa porcentagem em casas autoconstruídas eleva-se para 86%. Tradicionalmente, nos países em desenvolvimento, as casa eram construídas com materiais locais, como terra, bambú e madeira, com telhados de palha e folhas, coletados pelos próprios autoconstrutores. Com o tempo, esses materiais tornaram-se escasso, exigindo a compra de materiais industrializados, como cimento, ferro, etc. Desta maneira, algumas medidas foram consideradas pelo governo e por ONGs, como a criação de centros de materiais de construção, empréstimos, compra de materiais em grandes quantidades a custos menores e produção de materiais alternativos. O fracasso de muitos projetos para reduzir os custos de materiais de construção deriva em parte das dificuldades de coordenar um grupo heterogêneo de autoconstrutores que têm diferentes capacidades e recursos disponíveis. o sucesso de construção de auto-ajuda depende da sua natureza informal. Tentativas de formalizar o processo, através de compra a granel de materiais de construção ou construção coletiva, embora com base em motivos econômicos racionais, muitas vezes falham porque não eram flexível o suficiente (GOUGH, 1996). No estudo realizado, algumas casas tinham saneamento básico, enquanto algumas utilizavam recursos hídricos dos vizinhos ou apresentavam conexões ilegais de eletricidade. Dois sistemas de construção foram identificados na cidade de Pereira. O primeiro começou com a construção de barracos de materiais temporários. As paredes eram geralmente de bambú, às vezes envolvido por plástico para abrigar da chuva, e o telhado de telhas de barro de segundamão ou papelão betumado. Algumas famílias substituíram materiais existentes por outros de melhor qualidade, mas ainda materiais temporários. Às vezes, paredes de tijolos eram construídas em torno do exterior das paredes de bambu. Assim, quando a casa de bambu fosse completamente cercada ela era retirada. No segundo sistema, as casas eram construídas com tijolo desde o início. Algumas casas foram construídos progressivamente; famílias erguiam uma sala de tijolos em que viviam enquanto lentamente construiam o resto da casa na parte de trás. Outras famílias viviam em outros lugares, enquanto a casa de tijolos estava sendo construída, e só se mudavam quando o piso térreo fosse concluído. Algumas famílias conseguiram construir um ou mesmo dois pisos de materiais permanentes em uma única etapa (GOUGH, 1996). Das casas pesquisadas, 66% delas tinham caráter temporário. Isto se explica pelo fato de os proprietários temerem serem despachados devido à ocupação de territórios irregulares. Nos últimos estágios do processo de construção, há uma tendência crescente de empregar qualificados de trabalho; geral, dois terços das famílias contratados de trabalho em algum momento no processo de construção. As diferentes origens dos assentamentos criam diferenças nos estágios iniciais de construção de casas autoconstruídas. Em invasões, a falta de segurança da terra reduz o nível de investimento feito nas casas, nos primeiros anos. Onde os direitos da terra são mais seguras, as famílias investem em materiais de construção permanente mais cedo. Essas diferenças, porém, desaparecem com o tempo se as invasões tornam-se seguras (GOUGH, 1996). 4.5. Caracterização da autoconstrução de moradias no México A autoridade CIDOC / SHF (2006) afirma que dois terços do atual mercado habitacional do México e cerca de metade das construções de novas moradias nacionais estão relacionadas essencialmente às atividades de auto-ajuda habitacional. Segundo Bredenoord (2009), áreas consideráveis de auto-ajuda habitacional apareceram pela ocupação maciça e ilegal de terras com milhares de barracos caindo aos pedaços, em grande 13 parte desprovida de serviços públicos. No devido tempo, face às deficiências de produção habitacional formal (de mercado), muitas autoridades municipais desenvolveram políticas de tolerância em relação aos assentamentos de auto-ajuda habitacional. Gradualmente, muitos foram regularizados e manutenção, por exemplo, com eletricidade, água canalizada, estradas alcatroadas e transportes públicos, escolas, etc. Uma vez que a regularização foi arranjada e os títulos de terra foram garantidos, atividades de autoconstrução voltou-se para uma gradual melhoria das habitações, na sequência de uma abordagem passo-a-passo. Dependendo da situação financeira das famílias, as moradias foram melhoradas e expandidas, utilizando-se melhores materiais, criando novas salas, segundos pisos, etc. Na verdade, uma grande quantidade de casas nos assentamentos foi melhorada e expandida ao longo do tempo, um processo que pode demorar de 5 a 15 anos. Nezahualcóyotl, uma cidade marcada pela autoconstrução de moradias, apresenta predominância de casas de dois andares, com algumas de um andar, três ou até quatro andares. Os terrenos têm, em geral, aproximadamente 150 m² e a tipologia habitacional é dominada por moradias unifamiliares. Muitas casas de família apresentam função mista: habitação e local de trabalho ou loja (BREDENOORD e VERKORENA, 2009). 4.6. Caracterização da autoconstrução de moradias no Quênia No Quênia, o déficit habitacional tem sido agravado pela alta taxa de crescimento urbano e baixo investimento na habitação pública. O planejamento urbano é baseado em conceitos colonial britânica cujos objetivos, embora relevantes no passado estão obsoletas. A análise de Kamau (2005) mostra que a ocupação familiar de uma casa autoconstruída inteiramente concluída é uma ocorrência rara. Cerca de 80% de todas as casas estudadas foram ocupadas antes de conclusão. Fatores que podem ser citados para a adoção do desenvolvimento incremental habitacional seriam o financiamento inadequado para construção de casas, carência de disponibilidade e confiabilidade da infra-estrutura básica e apoio e o grau de incerteza à propriedade da terra devido ao fato de que a certificação de posse é essencialmente informal. Assim, pode-se construir de forma incremental enquanto que a posse da terra de consolida e a infra-estrutura e serviços básicos melhoram. A ocupação da casa antes da conclusão pode ser visto como uma poupança na estratégia de aluguel, com a economia no aluguel sendo usado para comprar materiais para continuar com o processo de construção de casas. Todas as áreas de autoconstrução estudadas não tinham esgotos e sistemas de eliminação de resíduos de água. Infra-estrutura engloba um amplo espectro de instalações que são necessárias para o desenvolvimento da habitação. Dentro das áreas de auto-construção, fornecimento de infraestrutura básica e de apoio é inadequada e as condições de infra-estrutura existente é pobre (KAMAU, 2005). A disponibilidade destas instalações influencia diretamente a construção da casa como também são insumos no processo de construção. No entanto, verificou-se que outros fatores têm um efeito maior sobre o processo de construção de casas. 4.7. Caracterização da autoconstrução de moradias na Romênia Soalita (2007) indica em sua pesquisa de campo que em 301 terrenos vistos, havia 105 casas em diferentes estágios de construção, das quais 46 foram acabados (13 não são habitadas). Existem 43 casas habitadas (10 delas estão inacabados). Os habitantes das casas autoconstruídas descrevem suas casas igualando-as à identidade pessoal. A maioria assume suas casas como permanentes e mencionam o esforço dedicado pela família para realizá-las. 14 A descrição das casas pelos dois grupos de profissionais envolvidos se desenvolve ao longo de três grandes temas: características físicas (superdimenionadas), estilo arquitetônico (mistura de vernáculo e oriental, este último claramente mais apreciado), e padrões técnicos (não atendeu aos requisitos de segurança estrutural e termo-isolamento) (SOALITA, 2007). Quanto aos participantes da construção, a maior ocorrência foi segundo a ordem: somente com o empreiteiro (formal ou informal); empreiteiro (formal ou informal) e família; somente família; família, amigos e vizinhos. Quanto ao tempo dedicado ao processo de construção observou-se quatro para 1 ano, cinco para 2 anos, cinco para 3 anos, nove para 5 anos, duas para 9 anos e vinte e uma para inacabadas. 4.8. Caracterização da autoconstrução de moradias no Senegal O estudo de Osmont (1983) observou assentamentos de uma cooperativa de Castores (pessoas de renda baixa, que constroem suas próprias casas), que construiram 90 casas entre 1956 e 1958 na periferia de Daclé / Dakar. O projeto consistia de casas duplas, cada uma com três compartimentos e duas varandas, com uma área de 62 m² num terreno de 200m². Um ponto interessante de organização de espaço da casa é o que diz respeito a utilização do patio, que tornou-se o foco principal de atividaes diárias como preparo das refeições, lavagem de roupa, entretenimento de visitas, costura, brinquedos de crianças e refeições; enquanto que, o interior da casa permanecia vazio até a hora de ir dormir à noite. Os espaços, inicialmente construidos, foram parcialmente demolidos e remodelados de acordo com a característica supracitada, transformando salas em dormitórios, especialmente para crianças ou sala de orações. As cozinhas foram pouco utilizadas ou totalmente remodeladas para outros usos. O conceito de uso personalizado do espaço foi introduzido, com exceção dos casos em que a densidade habitacional da casa era aumentada. Observou-se uma tendência de Mercado de aumentar a parte interna da casa, fechando a varanda de entrada, eliminando o jardim ou construindo um segundo pavimento com o intuito de abrigar de 20 a 30 pessoas por casa, significando um aumento crescente da população urbana com situação econômica precária, do desemprego, especialmente de jovens, e da sensação de projetos inacabados. Devido ao desemprego e falta de oportunidades, as casas também são utilizadas para atividades econômicas , comerciais e para confecção de artesanato. Alguns aposentos são alugados para terceiros, o que contribui para o adensamento populacional. Outro fator que contribui para a mudança original do projeto é a prática da poligamia e a diversidade de opiniões e necessidades destes grupos, que podem trazer filhos, sobrinhos e netos para o convivio na mesma casa, causando muita competição entre eles e a necessidade de mais comodos, inclusive para o isolamente de alguns membros (OSMONT, 1983). Sendo assim, podemos dizer que o habitat pode ser um instrumento, um suporte para a integração mas não a determina. Finalmente, nota-se que transformações ocorridas nos espaços habitados representam muitos acordos condicionados por circunstâncias objetivas de urbanização e a existência de modelos culturais e de sociabilidade. Observação sobre a caracterização internacional da autoconstrução: Como este trabalho consiste em uma análise sobre diversos aspectos que caracterizam a autoconstrução, são muitas as informações que cabem serem descritas. Com efeito, o desenvolvimento de todo o conteúdo proposto nesta pesquisa acarretaria em um relatório demasiadamente extenso, o que não seria viável segundo o programa. Neste sentido, optou-se por dar enfoque a alguns dos países selecionados e permitir a perspectivas de continuidade ou desdobramento deste trabalho. 15 5. Estudo de caso em bairro periférico da região de Campinas Finalmente, no dia 07 de julho de 2011, um estudo de caso foi conduzido no bairro Residencial São José, na região periférica de Campinas, SP, cujas características predominantes são de autoconstrução de moradias. Neste estudo de caso foram observados e comparados os resultados das investigações das referências internacionais para medir o grau de conhecimento presente na literatura e a necessidade de novas investigações nesta modalidade habitacional. O bairro Residencial São José foi selecionado devido ao conhecimento prévio da região, onde anteriormente foram realizados estudos sobre autocontrução e sobre as áreas destinadas a vegetação. Deste modo, foi possível estabelecer uma perspectiva temporal acerca deste estudo, verificando-se qual efeito surtido e quais as possíveis tendências. A fim de ter uma visão geral do bairro, primeiramente fez-se um percurso de reconhecimento e registrou-se fotograficamente as características predominantes. O bairro é dividido substancialmente em duas partes, a antiga e a nova. Residencial São José - Parte Nova A parte nova tem cerca de 4 anos e caracteriza-se como uma zona especial de interesse social e é resultado de um remanejamento de ocupantes de uma área de reserva ambiental. Apresenta-se em uma fase inicial repleta de obras em andamento. As ruas não são pavimentadas e observa-se diversos trabalhadores nas construções. Dentre as principais características, notou-se: • Os terrenos são segmentados em lotes estreitos com 8m de fachada frontal e 15m de comprimento, totalizando 125m², aproximadamente; • Os edifícios aparentemente consolidados possuem um nível de acabamento baixo, com alvenaria exposta. Há predominância de casas de paredes de cerâmica e telhas de fibrocimento. A maioria é térrea e existem alguns sobrados; • Há quase nenhuma área livre com vegetação. Existem pequenos quintais onde são estocados materias como blocos de alvenaria estrutural, bancos de areia e bancos de pedra britada (figuras 2 e 3); • A maioria das casa possui muros elevados e portões (figuras 1 e 3). Apesar da moradia estar inacabada, estes elementos custosos são tidos como necessários pelos moradores; • Em algumas residências a caixa dʼágua é aparente; • Muitas das casas quase prontas estavam desocupadas, aparentemente abandonadas; • A construção ocupa quase todo o terreno, caracterizando uma infração à lei de zoneamento; • Em algumas casas, as obras contam com a intervenção da construtora NISSEI. Residencial São José - Parte Antiga Com a volta de reconhecimento, algumas mudanças sofridas na região foram observadas, como a consolidação de mais construções, tornando carente a parte ambiental do bairro. Notou-se que a intervenção do estudo realizado para a implantação de áreas verdes e cultivo destas por meio da concientização da comunidade local não vingou a longo prazo. 16 • Em relação à parte nova, esta região mostra-se intensamente mais desenvolvida, com ruas asfaltadas, calçadas e rede elétrica estabelecida. Quanto às moradias, apresentam nível de acabamento superior; a maioria possui telhados de telhas de cerâmica voltados para frente e pintura (ao menos da fachada frontal). Novamente a predominância é de casas térreas, com presença de bastantes sobrados e eventualmente algumas de três andares. • O bairro apresenta-se espacialmente saturado, com edifícios muitas vezes acoplados e poucas áreas destinadas ao lazer público. • Percebeu-se que uma grande quantidade de moradias oferece serviços variados, como de costura, venda de roupas e alimentos diversos. • Além disso, chamou a atenção o fato de várias casas terem aspecto escuro e confinado. Os muros, juntamente com o telhado, envolvem toda a casa sem que haja aberturas suficientes para promover uma passagem adequada de luz. • Pode-se afirmar que um elemento típico de grande parte das moradias é a varanda de saída dos quartos, no piso superior. Apesar de ser um elemento que contribui para o conforto térmico, muitas delas estão organizadas espacialmente de maneira inadequada, desprovendo a varanda de suas características positivas e evidenciando a falta de conhecimento dos autoconstrutores quanto aos aspectos positivos de elementos arquitetônicos que promovem a qualidade ambiental da construção. Avaliação de uma moradia selecionada O estudo de caso envolveu a seleção de uma moradia para retirada de informações e uma breve avaliação, tendo como fundamento os artigos analisados anteriormente. Para tanto, uma ficha técnica foi elaborada incluindo parâmetros como, avaliação funcional, transformações ocorridas e conforto térmico. O critério de seleção foi o conhecimento prévio dos moradores da residência por estudos realizados anteriormente na região. A família que reside na casa em estudo é composta por 4 pessoas (um casal e duas filhas) e estabeleceram-se neste local há 9 anos. O terreno em questão é de esquina e possui área de aproximadamente 125m², não estreito. Divide-se em duas partes, contendo duas casas, a original e uma em processo construtivo. A extensão do terreno é praticamente toda cimentada e não apresenta um índice de permeabilidade do solo considerável. É escassa a área livre com ou sem vegetação, a qual comporta espaços destinados a circulação e cultivo de pequenas mudas. O terreno é cercado por um muro de 2,50m que circunda todo o comprimento da fachada, contendo um portão de madeira muito simples. Este muro não tem apenas função de segurança, mas também é utilizado como parede da casa original. A primeira casa, ainda em utilização pelos moradores, é térrea e comporta 2 cômodos e 2 banheiros. Observa-se que estes espaços são subdimensionados para atender a necessidades primárias de quatro pessoas e também faz-se presente a sobreposição de funções. O nível de acabamento é baixo, com paredes não revestidas, piso cimentado e telhas de fibrocimento. 17 Observa-se que a casa original sofreu algumas transformações conforme o desenvolvimento da estrutura familiar. Caracterizam-se principalmente como ampliações de cômodos, sem alteração do núcleo original da casa. A segunda casa está sendo construída há 3 anos e encontra-se na fase de consolidação da alvenaria estrutural. O edifício possui dois pavimentos formados, no andar térreo, por sala de estar, cozinha, lavanderia, banheiro e, no andar superior, por 2 suítes e uma varanda. A técnica construtiva adotada é a utilização de tijolo baiano, argamassa e pilar de concreto armado. Não se pode afirmar muito sobre o nível de acabamento, uma vez que esta etapa ainda não foi atingida. No entanto, prevê-se que será superior ao verificado na casa original, com piso cerâmico parede revestida com pintura látex PVA e telhado com telhas-vãs de cerâmica. Aspectos como a distribuição e áreas úteis dos cômodos, arranjo espacial das áreas de circulação interna, integração entre cômodos e o desenvolvimento das atividades domésticas sem sobreposições parecem ser atendidos de forma satisfatória, com excessão de um dos banheiros e da garagem que apresentam dimensões desconfortáveis. Quanto à parte de conforto térmico, pode-se afirmar que apenas a segunda casa apresenta alguns elementos arquitetônicos positivos perceptíveis, como janelas e portas grandes e altas, promovendo ventilação cruzada, altura do pé direito de 2,70m e varanda. Todavia este último não foi pensado para o conforto térmico, haja vista que é muito estreita (0,60m) e é voltada para a direção Sul, comprometendo sua eficiência e funcionalidade. Outros elementos como beiral, telha de barro e forro ainda não são verificados visto que a cobertura ainda não foi finalizada. Considerações do estudo de caso O estudo de caso promoveu a aquisição de conhecimento na prática sobre os aspectos estudados na revisão bibliográfica, permitindo a confirmação e comparação dos resultados obtidos com o observado em loco. Desta maneira, tornou-se possível medir o grau de conhecimento presente na literatura e a necessidade de novas investigações nesta modalidade habitacional. Indubitavelmente, a abrangência de conhecimento da autoconstrução é ilimitada, uma vez que este fenômeno mundialmente estudado apresenta-se em constante metamorfose, tanto em âmbito físico, quanto social, político e econômico. São infindáveis as variáveis que constituem a caracterização das moradias autoconstruídas, possibilitando a geração progressiva de estudos enquanto estas permanecerem presentes nos meios urbanos. Os artigos analisados neste trabalho, que caracterizam a autoconstrução em diversas regiões do Brasil, esquadrinharam de modo eficaz as qualidades desta modalidade. No entanto, novas tendências sempre surgem com o passar do tempo, tornando algumas informações obsoletas. Com efeito, se fazem necessárias novas investigações como, por exemplo, sobre a acessibilidade dos autoconstrutores aos materiais e informações na atualidade, bem como o desenvolvimento de suas técnicas relacionando-as com conceitos já consolidados. Verificou-se que afirmações e conceitos apresentados em alguns artigos, como de elementos simbólicos e estéticos das moradias ou do processo de transformações destas, não foram confirmados segundo a pesquisa de campo. Isto pode ser explicado novamente pela grande 18 variedade regional de projetos, de técnicas construtivas, de necessidades dos moradores e sobretudo de cultura. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma queda enorme na oferta de habitação urbana se faz presente na maioria dos países em desenvolvimento, onde entre 50% a 70% da população urbana é categorizada como vivendo em favelas e assentamentos irregulares. A autoconstrução é uma resposta direta a esta carência em habitação na medida em que as pessoas tentam obter moradia acessível para uso próprio (KAMAU, 2005). Deste modo, é inegável a necessidade do estudo e caracterização desta modalidade habitacional a fim de aprimorar seu conhecimento e suprir suas deficiências, elevando, consequentemente, a qualidade de vida da população de autoconstrutores. Da presente pesquisa, pode-se afirmar que a análise das moradias autoconstruídas no mundo indica a existência de uma similaridade substancial desse tipo de habitação nos diversos países relacionados. Isso se dá pelo fato de todas serem destinadas ao atendimento das necessidades básicas humanas, como abrigo, descanso e alimentação. No que fundalmentalmente diferem refese a aspectos culturais e técnicas construtivas, além de aspectos meramente estéticos. Muitas das referências analisadas faziam uma reflexão sobre a autoconstrução de modo genérico, sem que houvesse uma descrição precisa destas habitações em diferentes locais do mundo. Todavia deve-se levar em consideração que o banco de dados utilizados não possui todas as referências de abrangência global, uma vez que sua maioria fora obtida por meio de pesquisas em bases de dados internacionais, que não dispõem de todas e, das que oferece, não são todas que contém o texto completo. Sendo assim, muito possivelmente artigos interessantes que convergem com a temática do presente trabalho não foram analisados. No resumo, foram indicados resultados como a verificação de equipamentos industrializados que substituem elementos da arquitetura bioclimática. Esta afirmação consistiu em uma hipótese fundamentada no fato de que os autoconstrutores, em geral, não possuem conhecimento de tais elementos e, com o aquecimento da economia brasileira e ascensão de classes menos abastadas, eles seriam capazes de substituí-los provendo a casa de equipamentos industrializados, como ar condicionado. Entretanto, esta hipótese não e confirmou na pesquisa de campo. Isto pode ser explicado pelo fato de que as condições climáticas da região pesquisada são amenas, possibilitando que se dispense este artifício, poupando-se recursos. AVALIAÇÃO PESSOAL A realização de um trabalho de Iniciação Científica demonstra grande valor na medida em que muito contribui na formação do proponente, aderindo-lhe práticas não antes experimentadas na vida acadêmica. É uma modalidade de pesquisa interessante pelo fato de permitir ao graduando o contato com diversas áreas do conhecimento. A conciliação do desenvolvimento da pesquisa de Iniciação Científica com o programa de graduação foi identificada como a maior dificuldade circunstancial, uma vez que a elevada quantidade de trabalhos e avaliações disciplinares inviabilizava a execução das tarefas nos prazos estipulados entre o bolsista e a orientadora. Deste modo, foi de consenso que a produtividade acerca do projeto seria acelerada após o término do período letivo da graduação. Faz-se necessário ressaltar a dificuldade presente nas etapas de atualização e especificação do banco de dados existente, decorrente da pouca disponibilidade de textos completos e da grande quantidade de referências que pouco se relacionavam à descrição de moradias auto-construídas propriamente dita. 19 Por se tratar de um assunto muito diversificado, que permite análises e estudos sob diversos âmbitos, a moradia autoconstruída apresenta em seu repertório literário inúmeras abordagens filosóficas que divergem dos princípios deste trabalho, o que dificulta o encontro de materiais convergentes aos objetivos propostos. A etapa de seleção de artigos mais relevantes sobre a autoconstrução de moradias para leitura e análise detalhada foi caracterizada como a mais exaustiva, haja vista que o banco de dados atualizado é composto por 983 referências, sendo majoritariamente formado por artigos em inglês. Foram mais interessantes, frustrantes e inspiradoras as etapas correspondentes a leitura/análise dos artigos selecionados e a pesquisa de campo, uma vez que enriqueceram minha visão acerca da até então desconhecida realidade da autoconstrução no meu país e em outros, assim como abriram minha perspectiva quanto a variedade e complexidade desta modalidade habitacional. Apesar de todas as condições adversas, o esforço certamente é compensado pela aprendizagem e experiência acadêmica adquirida com um trabalho de Iniciação Científica, que instiga e incentiva os estudantes-pesquisadores a formarem um caráter questionador e consciente. A oportunidade de trabalhar junto a orietadora deste projeto foi muito gratificante e cientificamente inspirador. Pude perceber diversas características positivas de um pesquisador e experimentar um pouco do árduo e recompensador trabalho desta personalidade. Por fim, dedico meus agradecimentos a minha competente e compreensiva orientadora e à instituição de bolsas para iniciação científica PIBIC/CNPq, que colaboraram para a execução do projeto. REFERÊNCIAS AUGUSTO, C.; BASTOS, R. Moradia Informal Vive Boom em São Paulo. O Estado de São Paulo. São Paulo: O Estado de São Paulo: C1 p. 1997. BREDENOORD, Jan; VERKORENA, Otto. Between self-help - and institutional housing: A bird's eye view of Mexico's housing production for low and (lower) middle-income groups. Habitat International, 2009. BRUSKY, B.; FORTUNA, J. P. Entendendo a Demanda para as Microfinanças no Brasil: um Estudo Qualitativo de Duas Cidades. BNDES. 2002. CRUZ, Antero de Oliveira; ORNSTEIN, Sheila W. O projeto arquitetônico da habitação popular : insumos para análise do desempenho funcional com base na avaliação pós ocupação da autoconstrução. In: ENTAC 95, 1995, Rio de Janeiro. Antac. GIL, Antonio Carlos. Como delinear uma pesquisa bibliográfica?. In _______. 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Brasil. São Paulo: Antac, 2004. Obs: Como o projeto relatado consiste em uma revisão bibliográfica e, para tanto, utilizou-se um banco de dados referencial, torna-se inviável o relato de todas as referências consultadas. 21
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