Carcinoma Renal de Células Papilíferas
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Carcinoma Renal de Células Papilíferas
4 Caderno Dois Este encarte é parte integrante da edição de nº 310 do Jornal da Imagem São Paulo, junho de 2004 Reunião do Clube Roentgen – outubro de 2003 Escola responsável: Hospital Nove de Julho Feocromocitoma Coordenadores: Dr. Fernando A. Moreira e Dra. Luciana P. S. Baptista São Paulo, junho de 2004 Caderno Dois Dr. Antônio Lopes Rocha Dr. Daniel B. Pedral Sampaio História Clínica M.S.L., 33 anos, masculino, branco, natural e procedente de São Paulo. H.P.M.A.: Quadro de cefaléia holocraniana associada a dor lombar, febre e calafrios há dois dias. Nega outras alterações associadas ou relato de antecedentes importantes. Exame Físico: Abdome globoso, flácido, RHA +, sem visceromegalias, não há sinal de dor à descompressão brusca, giordano negativo. Pressão Arterial 120 x 80 mmHg. Febre (38° C). Exame neurológico normal. Exames Laboratoriais: Metanefrina urinária : 1500 mcg/24 h (normal até 1.000). Noradrenalina urinária : 560 mcg/24 h (normal até 55). Diagnóstico Feocromocitoma. Discussão A prevalência de feocromocitomas confirmadas à autópsia é de 0,13% e essas neoplasias incomuns são responsáveis por 0,1 a 0,3% dos casos de hipertensão arterial. Ocorre liberação sistêmica de epinefrina, norepinefrina e, em alguns casos, de dopamina01,02. É o tumor funcionante mais comum da adrenal03. O tumor é composto por células cromafins que são embriologicamente derivados do neuroectoderma. Além das catecolaminas, os feocromocitomas podem produzir vasopressina, somatostatina, substância P, Interleucina-6, calcitonina e outras substâncias que podem contribuir para manisfestações atípicas02. Seguindo a “Regra dos 10”, aproximadamente 10% dos feocromocitomas são extraadrenais, bilaterais, extra-abdominais, malignos, familiares, pediátricos ou sem elevação dos níveis pressóricos01,04. Os feocromocitomas extra-adrenais, denominados de paragangliomas secretores de catecolaminas, associam-se intimamente ao órgão de Zuckerkandl, cadeia simpática em nível da bifurcação aórtica01,04. Os feocromocitomas familiares exibem transmissão autossômica dominante, sendo associados à síndrome de von Hippel-Lindau, neurofibromatose tipo I e síndromes de neoplasia endócrina múltipla tipo I e II01. Aproximadamente 90% dos feocromocitomas Cad2_04_01.pmd 1 Figuras 1 e 2 – TCH do abdome sem e com contraste: formação sólida, hipervascular, de contornos lobulados, contendo áreas de necrose/liquefação, localizada no retroperitôneo em situação interaortocaval anterior, deslocando anteriormente a terceira porção do duodeno. Há compressão da veia mesentérica superior sem sinais de trombose Figuras 3 (RM FSE T1), 4 (RM FSE T2), 5 (RM T1 pós-contraste) e 6 (Angio-RM com gadolíneo – Reconstrução MIP) – Massa sólida, heterogênea contendo áreas de liquefação ou necrose central, apresentando contornos bocelados, medindo 6,8 x 6,5 x 4,0 cm, localizada no retroperitôneo, limitada pela aorta abdominal e VCI inferiormente, superiormente pela terceira porção duodenal. Caracteriza-se por hipossinal nas imagens ponderadas em T1, leve hipersinal em T2, com realce heterogêneo após o contraste. A lesão comprime a VCI sem obstruir ou invadi-la, desloca superiormente a terceira porção duodenal e os vasos mesenteriais liberam catecolaminas, sendo a história típica de hipertensão refratária à terapia medicamentosa usual, respondendo apenas aos antagonistas (-adrenérgicos. A tríade clássica de sintomas do feocromocitoma é de palpitações, diaforese e cefaléia, sendo que 90% dos pacientes tem um ou mais elementos dessa tríade. Outros sintomas encontrados são palidez, vermelhidão, náusea, tremores, fadiga, ansiedade, dor01. Caracteristicamente os sintomas são paroxísiticos e elicitados por mudanças de decúbito ou por aumento da pressão abdominal. Atualmente a pesquisa clínica mais recomendada é a avaliação dos níveis urinários em 24 horas das catecolaminas e seus metabólitos01. O tratamento definitivo do feocromocitoma é a excisão cirúrgica, acrescentando o bloqueio (-adrenérgico pré-operatório e o seguimento dos níveis de catecolaminas e derivados na urina de 24 horas para averiguar se há tumor residual, outra lesão primária ou metástases. Feocromocitomas malignos e benignos são indistinguíveis à análise histológica. Lesões benignas podem ser localmente invasivas, invadir estruturas adjacentes como VCI ou cápsula renal. Os feocromocitomas são considerados malignos quando metástases estão presentes (13% dos casos). Sítios comuns de metástases são o esqueleto axial, fígado, pulmões e linfonodos retroperitoneais ou mediastinais. A taxa de sobrevida em 5 anos do feocromocitoma maligno é de menos de 50%02. Características Radiológicas O diagnóstico por imagem é utilizado para a localização da neoplasia. A tomografia computadorizada (TC) atualmente é a modalidade de escolha para a investigação de feocromocitoma e para o estudo das glândulas adrenais e do retroperitôneo. A aparência típica do feocromocitoma é de uma massa de tecidos moles arredondada, bem circunscrita, homogênea, medindo acima de 3,0 cm. A calcificação é muito rara01,04. O uso do meio de contraste iodado para caracterização da lesão pela TC é controverso na literatura, tendo em vista os riscos intrínsecos, não sendo necessário para a detecção da maioria das lesões considerando o seu tamanho, mas pode ajudar na caracterização e detecção de lesões extra-adrenais. Na maioria das lesões o realce é heterogêneo. Há uma discussão em torno de se administrar o bloqueio (-adrenérgico antes da administração do meio de contraste iodado, pois poderia aumentar os níveis de catecolaminas. Hoje, a maioria dos serviços prefere utilizar meios de contraste não-iônicos e não utilizar bloqueio adrenérgico para a administração do meio de contraste intravenoso, sendo necessário na investigação por arteriografia01,04. As características à ultra-sonografia são bastante variáveis, sendo arredondados e bem circunscritos na maiorias dos casos e são isoecóides a hipoecóides em relação ao parênquima renal01. Na ressonância magnética, pequenos feocromocitomas são isointensos ao músculo e hipointensos ao fígado em T1. Nas imagens pesadas em T2 são hiperintensos. Como são pobres em gordura, o sinal não cai nas seqüências “out-of-phase”01. A radiocintilografia com Iodo131 Meta-iodobenzil-guanidina (I131MIBG) ajuda na localização da lesão primária ou secundárias. I131MIBG é um análogo da guanetidina e compete com a noradrenalina na captação dos receptores, tendo uma sensibilidade de 85% e uma especificidade de 96% para visualização de feocromocitomas produtores de catecolaminas01. São lesões bastante vascularizadas, desenvolvendo ocasionalmente degeneração cística focal ou parcial. A degeneração cística subtotal ou total é bastante incomum. Postula-se que a degeneração cística ocorre por crescimento excessivo em relação ao suporte vascular. Os componentes císticos refletem necrose e liquefação. O diagnóstico diferencial de lesões adrenais císticas inclui cisto adrenal, pseudocisto, carcinoma adrenal e feocromocitoma01. Referências Bibliográficas 1. Lee, T.H.; Slywotzky, C.M.; Lavelle, M.T.; Garcia, R.A.; Radiographics. 2002;22:935-940. 2. Greenspan, F.S.; Gardner, D.G.; Basic & Clinical Endocrinology, Sixth edition, Lange Medical Books/McGraw-Hill, cap11, p411-420. 3. Taveras, J.M.; Radiology on CD, 1995 CD-ROOM Edition, The Adrenal gland, v4, cap82. 4. Suton, D.; Tratado de Radiologia e diagnóstico por imagem,, sexta edição, Revinter, cap36, vII, p1079-1083. Carcinoma Renal de Células Papilíferas História Clínica M. L.G., 20 anos, branco, masculino, natural e procedente de São Paulo, SP. HPMA: Hematúria de início súbito acompanhada por dor no flanco esquerdo de fraca intensidade que regredia após o uso de analgésicos comuns. Negava disúria, polaciúria ou febre. Não havia história de traumas pregressos. Negava antecedentes de litíase renal ou de infecções do trato urinário. Ao exame físico, abdome normotenso, indolor à palpação, sem visceromegalias, giordano negativo. Dados Laboratoriais: Urina I com mais de 300 hemáceas e 25 leucócitos degenerados por campo; cristais ausentes. Uréia, creatinina e hemograma dentro dos limites da normalidade. Diagnóstico Carcinoma Renal de Células Papilíferas. Discussão O carcinoma renal de células papilíferas é uma variante histológica incomum do carcinoma de células renais, sendo o adenocarcinoma o tipo mais comum. Acomete mais homens, predominando entre a quinta e a sexta décadas de vida. Possui aspectos imunohistoquímicos, microscópicos e genéticos característicos. Enquanto os carcinomas renais nãopapilíferos, representados pelos tumores de células claras e de células granulosas, caracterizam-se geneticamente por deleções do cromossomo 3p, os papilíferos cursam com trissomias do sétimo e décimo sétimo pares. A determinação precisa do subtipo histológico dos tumores renais influencia no prognóstico de cada doente. Via de regra, os carcinomas renais de células papilíferas devem ser constituídos histologicamente por ao menos 50% de componente papilar verdadeiro. Podem ser subdivididos em tipos 1 e 2 de acordo com sua cito-estrutura e classificados em alto ou baixo graus de malignidade, mas isso pouco influi nas taxas de sobrevida dos doentes. São multifocais em até 30% dos 31/5/2004, 14:29 Figuras 2 e 3 – Nódulo sólido, pseudoencapsulado com realce discreto e homogêneo pelo meio de contraste Figuras 4 e 5 – Lesão hipovascular no terço médio do rim esquerdo Figura 1 – Ultra-Som: Nódulo sólido, hipoecogênico, heterogêneo no terço médio do rim esquerdo casos e por vezes estão associados a tumores coexistentes geneticamente distintos. Os carcinomas renais mantêm-se clinicamente ocultos durante a maior parte da sua evolução, sendo encontrados incidentalmente na maioria dos casos. Hematúria, dor, febre, hipertensão, proteinúria, massa abdominal e perda de peso são os principais sinais/sintomas dessa patologia. A tríade clássica de hematúria, dor e massa abdominal palpável manifesta-se em apenas 19% dos casos, quando sinaliza doença avançada. No momento do diagnóstico, os carcinomas papilíferos são pseudocapsulados e estão confinados ao sítio primário. O screening tradicional se inicia pela urografia excretora (UGE), passando a seguir para ultra-sonografia (US), tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). A UGE tem sensibilidade muito menor que a TC e a RM no diagnóstico das massas renais. A TC é fundamental para o estadiamento do carcinoma renal, sendo que este diagnóstico baseia-se no reconhecimento da alteração do contorno renal, do parênquima, do sistema coletor e da gordura do seio renal, além das características próprias da massa. As indicações de TC para a investigação de massas renais incluem: UGE com suspeita Figura 6 – Aspecto macroscópico de um corte longitudinal renal: note os focos centrais de necrose cística de massa renal; US com suspeita de massa renal, excluindo cisto benigno; achados normais a UGE / US em pacientes com sinais e sintomas suspeitos; metástases de neoplasias primárias desconhecidas; síndromes paraneoplásicas; síndromes com alta incidência de neoplasias renais (doença de Von Hippel-Lindau, doença cística adquirida, etc.); tratamento anterior de carcinoma de células renais e estadiamento. O aspecto tomográfico mais característico do carcinoma renal de células papilíferas é o discreto realce pelo meio de contraste iodado, inferindo hipovascularização, o qual é captado de forma homogênea. Realce acentuado e captação heterogênea são características que excluem a possibilidade diagnóstica de carcinoma renal papilífero. Apresentam-se à US, hipoecogênicos em relação ao parênquima renal preservado, o que se explica pela presença de áreas centrais de necrose cística. Até mesmo os tumores papilíferos de curso favorável podem possuir necrose maciça. Hipovascularização ou até mesmo avascularização são achados radiológicos típicos dos estudos angiográficos desses tumores. Os critérios de diagnóstico por imagem das massas renais são: massa que causa saliência no contorno renal; as características de valor de atenuação ou de intensidade de sinal da massa diferem do parênquima renal normal; realce que difere do parênquima renal normal continua... 2 Caderno Dois São Paulo, junho de 2004 São Paulo, junho de 2004 Caderno Dois 3 Cisto Epidermóide Carcinoma Renal de Células Papilíferas continuação... Dr. Eduardo Bancovsky Dr. Antônio Lopes Rocha (menor do que o tecido renal preservado); margem indistinta entre a massa e o parênquima renal é muito sugestiva de malignidade (entretanto, tal padrão é comum apenas entre os carcinomas maiores); quando presente, a parede de um carcinoma de células renais é perceptivelmente espessa e geralmente irregular; sinais secundários, quando presentes, como extensão venosa, metástases, linfadenopatia ou invasão de órgãos adjacentes, são indicativos de malignidade. O estadiamento clínico-radiológico é considerado o principal fator prognóstico para os portadores da doença. As taxas de sobrevida atingem até 78% cinco anos após o tratamento cirúrgico (nefrectomia parcial ou total) para aqueles com tumor restrito ao rim. Pacientes com estadio M1 (metástase a distância) apresentam sobrevida inferior a 12% em cinco anos. Estadiamento do Carcinoma Renal pela TC (Classificação de Robson): Estadio I: confinado pela cápsula renal. Estadio II: confinado pela fáscia de Gerota. Estadio III a: acomete a veia renal e/ou a veia cava inferior. Estadio III b: linfonodos regionais. Estadio IV: órgãos adjacentes ou metástases a distância. Observação: como as adrenais localizam-se no espaço perirrenal, o acometimento da glândula ipsilateral ainda é estadio II. Referências Bibliográficas 1. Salama ME, Worsham MJ, DePeraltaVenturina M.; Malignant papillary renal tumors with extensive clear cell change: a molecular analysis by microsatellite analysis and fluorescence in situ hybridization; Arch Pathol Lab Med. 2003 Sep;127(9):1176-81. 2. Hughson MD, Dickman K, Bigler SA, Meloni AM; Clear-cell and papillary carcinoma of the kidney: an analysis of chromosome 3, 7, and 17 abnormalities by microsatellite amplification, cytogenetics, and fluorescence in situ hybridization; Actas Urol Esp. 2002 Mar;26(3):150-62. 3. Aliaga M, Millan Salvador JM, Jimenez Cruz JF. Sandberg AA. [Microsatellite analysis of the 3p13-p25 region in renal cell carcinoma in humans]; Cancer Genet Cytogenet. 1998 Oct 15;106(2):93-104. 4. Goessl C, Heicappell R, Munker R, Anker P, Stroun M, Krause H, Muller M, Miller K.; Microsatellite analysis of plasma DNA from patients with clear cell renal carcinoma. Cancer Res. 1998 Oct 15;58(20):4728-32. I II III a III b III c IV a IV b Extensão da doença Tumor limitado ao rim (pequeno, intra-renal) Tumor limitado ao rim (grande) Disseminação do tumor para a gordura perirrenal, mas na fáscia de Gerota Disseminação do tumor para a veia renal ou veia cava Disseminação do tumor para os linfonodos locais Disseminação do tumor para os vasos e linfonodos locais N1-N3 Disseminação do tumor para os órgãos adjacentes Metástases a distância N4 TNM T1 T2 T3a T3b N1-N3 T3b T4 M1a-d 6. Herts BR, Coll DM, Novick AC, Obuchowski N, Linnell G, Wirth SL, Baker ME.; Enhancement characteristics of papillary renal neoplasms revealed on triphasic helical CT of the kidneys; AJR Am J Roentgenol. 2002 Feb;178(2):367-72. 7. Mancilla-Jimenez R, Stanley RJ, Blath RA.; Papillary renal cell carcinoma: a clinical, radiologic, and pathologic study of 34 cases; Cancer. 1976 Dec;38(6):2469-80. 8. Presti JC Jr, Rao PH, Chen Q, Reuter VE, Li FP, Fair WR, Jhanwar SC.; Histopathological, cytogenetic, and molecular characterization of renal cortical tumors; Cancer Res. 1991 Mar 1;51(5):1544-52. 9. Lager DJ, Huston BJ, Timmerman TG, Bonsib SM.; Papillary renal tumors. Morphologic, cytochemical, and genotypic features; Cancer. 1995 Aug 15;76(4):669-73. 10. Delahunt B, Eble JN.; Papillary renal cell carcinoma: a clinicopathologic and immunohistochemical study of 105 tumors; Mod Pathol. 1997 Jun;10(6):537-44. Cad2_02_03.pmd 1 Masculino, 66 anos, branco. H.P.M.A.: Deu entrada no PS deste serviço com quadro de confusão mental e cefaléia intensa. Exames físico e laboratorial: sem alterações significativas. Realizou TC e RM sem contraste por solicitação dos familiares. Figura 1 – TC de crânio sem contraste: Imagem hipodensa arredondada em topografia do III ventrículo, com coeficiente de atenuação de gordura, observando-se dilatação dos ventrículos laterais, mais importante à esquerda epidermóides aparecem iso ou mesmo hiperintensos em relação ao parênquima encefálico nas imagens ponderadas em T1, sendo chamados de “epidermóides brancos”, apresentando alto teor lipídico na espectroscopia. Em contrapartida, epidermóides com valores de T1 longos (epidermóides pretos) apresentam conteúdo lipídico reduzido à espectroscopia. Diagnóstico Diagnóstico Diferencial Cisto epidermóide. Discussão 5. Fuzesi L, Gunawan B, Bergmann F, Tack S, Braun S, Jakse G.; Papillary renal cell carcinoma with clear cell cytomorphology and chromosomal loss of 3p; Histopathology. 1999 Aug;35(2):157-61. Correlação entre a classificação de Robson e o estadiamento TNM: Robson História Clínica Os cistos epidermóides podem ter origem congênita ou mais raramente adquirida. Cistos epidermóides congênitos são na verdade cistos de inclusão não neoplásicos. Surgem provavelmente da inclusão de elementos epiteliais da ectoderme no período de fechamento do tubo neural, entre a 3a e a 5a semanas de gestação ou durante a formação das vesículas cerebrais secundárias. Os adquiridos são resultantes de trauma e, nestes casos, a epiderme é implantada nos tecidos profundos subjacentes, formando um cisto que tem seu crescimento relacionado à descamação de queratina. São lesões císticas bem definidas que se insinuam ao longo das cisternas liquóricas, apresentando superfície externa normalmente lobulada, freqüentemente de aspecto perláceo. O interior da lesão é preenchido por material querato-hialínico resultante da descamação progressiva de parede cística. Podem envolver vasos e nervos, invaginando-se profundamente no tecido encefálico adjacente. O crescimento tumoral é lento e maleável, tendendo a se adaptar ao formato das estruturas adjacentes. Acometem indivíduos entre 20 e 60 anos de idade, com pico de incidência na 4a década, sem predileção por sexo. Quanto a localização, 90% são intradurais, ocorrendo primariamente nos espaços subaracnóides basais. Cerca de 40% a 50% são encontrados nas cisternas ângulo-pontocerebelares, sendo a 3a massa mais comum 31/5/2004, 14:25 Figuras 2, 3, 4 – RM de crânio, cortes axiais (Figura 2: T2; Figura 3: FLAIR; Figura 4: T1): Imagem nodular, heterogênea, de contornos anfractuosos, em topografia do III ventrículo, com região central apresentando hipersinal nas seqüências T1, T2 e FLAIR, obliterando os forâmenes de Monro, com dilatação associada dos ventrículos laterais, notadamente à esquerda, com sinais de transudação ependimária Figura 5 – A lesão descrita apresenta hipersinal na seqüencia de difusão e leve hipersinal periférico com hipossinal central no mapa de ADC nesta topografia (schwanoma do acústico e meningioma são as mais comuns). Nas regiões supra e para-selar, sua incidência é cerca de 7%. A localização intra-axial é incomum, sendo o IV ventrículo o local mais acometido. Raramente ocorrem nos hemisférios cerebrais ou tronco encefálico. Aproximadamente 10% são extradurais, a maioria intradiplóicos, nos ossos frontal, parietal e occipital. Características Radiológicas O aspecto tomográfico é de lesão hipodensa, de contornos bem definidos, com densidade semelhante à do líquido cefalo-raquidiano (LCR), contendo calcificações em 10-25% dos casos. Ocasionalmente podem aparecer hiperdensos, em decorrência de Embora schwanomas completamente císticos possam mimetizar tumores epidermóides, o diagnóstico diferencial mais importante a ser considerado é o cisto aracnóide. Aquisições de RM em difusão podem ser úteis na diferenciação entre os cistos aracnóides e os epidermóides. O coeficiente de difusão aparente (ADC) do cisto aracnóide é similar ao da água estacionária, enquanto o ADC dos tumores epidermóides é similar ao do parênquima cerebral. Astrocitomas císticos, hemangioblastomas e outras lesões hipodensas das cisternas também podem ser raramente confundidos com tumores epidermóides. Devemos considerar ainda: ependimoma, subependimoma, neurocitoma, astrocitoma de células gigantes subependimárias, papiloma de plexo coróide, carcinoma de plexo coróide, meningioma e metástase, que, devido à possibilidade de apresentação intraventricular, podem ser incluídos no diagnóstico diferencial. Referências Bibliográficas sangramento, conteúdo protéico elevado ou depósito de pigmentos que contenham ferro. À ressonância magnética (RM) tipicamente apresentam tempos de relaxamento longos tanto em T1 como em T2 e características de sinal semelhantes às do LCR. Raramente apresentam intensidade mista de sinal. Apresentam margens lobuladas, com leve aumento na intensidade de sinal em relação à porção central do cisto. Em alguns casos, podemos observar uma margem hiperintensa fina que provavelmente representa LCR represado ao redor da lesão. Alguns cistos 1. Osborn, A.G.; Diagnostic Neuroradiology, St Louis: Mosby, 1994. 2. Som, P.M.; Curtin, H.D.; Head and Neck Imaging- 3a ed St Louis: Mosby, 1996. 3. Atlas, S.W.; MRI of the Brain and Spine. New York: Raven Press, 1991. 4. Koeller, K.K.; Sandberg, G.D.; Cerebral intraventricular neoplasms: radiologic pathologic correlation. Radiographics, 22(6): 1473-1505, 2002. 2 Caderno Dois São Paulo, junho de 2004 São Paulo, junho de 2004 Caderno Dois 3 Cisto Epidermóide Carcinoma Renal de Células Papilíferas continuação... Dr. Eduardo Bancovsky Dr. Antônio Lopes Rocha (menor do que o tecido renal preservado); margem indistinta entre a massa e o parênquima renal é muito sugestiva de malignidade (entretanto, tal padrão é comum apenas entre os carcinomas maiores); quando presente, a parede de um carcinoma de células renais é perceptivelmente espessa e geralmente irregular; sinais secundários, quando presentes, como extensão venosa, metástases, linfadenopatia ou invasão de órgãos adjacentes, são indicativos de malignidade. O estadiamento clínico-radiológico é considerado o principal fator prognóstico para os portadores da doença. As taxas de sobrevida atingem até 78% cinco anos após o tratamento cirúrgico (nefrectomia parcial ou total) para aqueles com tumor restrito ao rim. Pacientes com estadio M1 (metástase a distância) apresentam sobrevida inferior a 12% em cinco anos. Estadiamento do Carcinoma Renal pela TC (Classificação de Robson): Estadio I: confinado pela cápsula renal. Estadio II: confinado pela fáscia de Gerota. Estadio III a: acomete a veia renal e/ou a veia cava inferior. Estadio III b: linfonodos regionais. Estadio IV: órgãos adjacentes ou metástases a distância. Observação: como as adrenais localizam-se no espaço perirrenal, o acometimento da glândula ipsilateral ainda é estadio II. Referências Bibliográficas 1. Salama ME, Worsham MJ, DePeraltaVenturina M.; Malignant papillary renal tumors with extensive clear cell change: a molecular analysis by microsatellite analysis and fluorescence in situ hybridization; Arch Pathol Lab Med. 2003 Sep;127(9):1176-81. 2. Hughson MD, Dickman K, Bigler SA, Meloni AM; Clear-cell and papillary carcinoma of the kidney: an analysis of chromosome 3, 7, and 17 abnormalities by microsatellite amplification, cytogenetics, and fluorescence in situ hybridization; Actas Urol Esp. 2002 Mar;26(3):150-62. 3. Aliaga M, Millan Salvador JM, Jimenez Cruz JF. Sandberg AA. [Microsatellite analysis of the 3p13-p25 region in renal cell carcinoma in humans]; Cancer Genet Cytogenet. 1998 Oct 15;106(2):93-104. 4. Goessl C, Heicappell R, Munker R, Anker P, Stroun M, Krause H, Muller M, Miller K.; Microsatellite analysis of plasma DNA from patients with clear cell renal carcinoma. Cancer Res. 1998 Oct 15;58(20):4728-32. I II III a III b III c IV a IV b Extensão da doença Tumor limitado ao rim (pequeno, intra-renal) Tumor limitado ao rim (grande) Disseminação do tumor para a gordura perirrenal, mas na fáscia de Gerota Disseminação do tumor para a veia renal ou veia cava Disseminação do tumor para os linfonodos locais Disseminação do tumor para os vasos e linfonodos locais N1-N3 Disseminação do tumor para os órgãos adjacentes Metástases a distância N4 TNM T1 T2 T3a T3b N1-N3 T3b T4 M1a-d 6. Herts BR, Coll DM, Novick AC, Obuchowski N, Linnell G, Wirth SL, Baker ME.; Enhancement characteristics of papillary renal neoplasms revealed on triphasic helical CT of the kidneys; AJR Am J Roentgenol. 2002 Feb;178(2):367-72. 7. Mancilla-Jimenez R, Stanley RJ, Blath RA.; Papillary renal cell carcinoma: a clinical, radiologic, and pathologic study of 34 cases; Cancer. 1976 Dec;38(6):2469-80. 8. Presti JC Jr, Rao PH, Chen Q, Reuter VE, Li FP, Fair WR, Jhanwar SC.; Histopathological, cytogenetic, and molecular characterization of renal cortical tumors; Cancer Res. 1991 Mar 1;51(5):1544-52. 9. Lager DJ, Huston BJ, Timmerman TG, Bonsib SM.; Papillary renal tumors. Morphologic, cytochemical, and genotypic features; Cancer. 1995 Aug 15;76(4):669-73. 10. Delahunt B, Eble JN.; Papillary renal cell carcinoma: a clinicopathologic and immunohistochemical study of 105 tumors; Mod Pathol. 1997 Jun;10(6):537-44. Cad2_02_03.pmd 1 Masculino, 66 anos, branco. H.P.M.A.: Deu entrada no PS deste serviço com quadro de confusão mental e cefaléia intensa. Exames físico e laboratorial: sem alterações significativas. Realizou TC e RM sem contraste por solicitação dos familiares. Figura 1 – TC de crânio sem contraste: Imagem hipodensa arredondada em topografia do III ventrículo, com coeficiente de atenuação de gordura, observando-se dilatação dos ventrículos laterais, mais importante à esquerda epidermóides aparecem iso ou mesmo hiperintensos em relação ao parênquima encefálico nas imagens ponderadas em T1, sendo chamados de “epidermóides brancos”, apresentando alto teor lipídico na espectroscopia. Em contrapartida, epidermóides com valores de T1 longos (epidermóides pretos) apresentam conteúdo lipídico reduzido à espectroscopia. Diagnóstico Diagnóstico Diferencial Cisto epidermóide. Discussão 5. Fuzesi L, Gunawan B, Bergmann F, Tack S, Braun S, Jakse G.; Papillary renal cell carcinoma with clear cell cytomorphology and chromosomal loss of 3p; Histopathology. 1999 Aug;35(2):157-61. Correlação entre a classificação de Robson e o estadiamento TNM: Robson História Clínica Os cistos epidermóides podem ter origem congênita ou mais raramente adquirida. Cistos epidermóides congênitos são na verdade cistos de inclusão não neoplásicos. Surgem provavelmente da inclusão de elementos epiteliais da ectoderme no período de fechamento do tubo neural, entre a 3a e a 5a semanas de gestação ou durante a formação das vesículas cerebrais secundárias. Os adquiridos são resultantes de trauma e, nestes casos, a epiderme é implantada nos tecidos profundos subjacentes, formando um cisto que tem seu crescimento relacionado à descamação de queratina. São lesões císticas bem definidas que se insinuam ao longo das cisternas liquóricas, apresentando superfície externa normalmente lobulada, freqüentemente de aspecto perláceo. O interior da lesão é preenchido por material querato-hialínico resultante da descamação progressiva de parede cística. Podem envolver vasos e nervos, invaginando-se profundamente no tecido encefálico adjacente. O crescimento tumoral é lento e maleável, tendendo a se adaptar ao formato das estruturas adjacentes. Acometem indivíduos entre 20 e 60 anos de idade, com pico de incidência na 4a década, sem predileção por sexo. Quanto a localização, 90% são intradurais, ocorrendo primariamente nos espaços subaracnóides basais. Cerca de 40% a 50% são encontrados nas cisternas ângulo-pontocerebelares, sendo a 3a massa mais comum 31/5/2004, 14:25 Figuras 2, 3, 4 – RM de crânio, cortes axiais (Figura 2: T2; Figura 3: FLAIR; Figura 4: T1): Imagem nodular, heterogênea, de contornos anfractuosos, em topografia do III ventrículo, com região central apresentando hipersinal nas seqüências T1, T2 e FLAIR, obliterando os forâmenes de Monro, com dilatação associada dos ventrículos laterais, notadamente à esquerda, com sinais de transudação ependimária Figura 5 – A lesão descrita apresenta hipersinal na seqüencia de difusão e leve hipersinal periférico com hipossinal central no mapa de ADC nesta topografia (schwanoma do acústico e meningioma são as mais comuns). Nas regiões supra e para-selar, sua incidência é cerca de 7%. A localização intra-axial é incomum, sendo o IV ventrículo o local mais acometido. Raramente ocorrem nos hemisférios cerebrais ou tronco encefálico. Aproximadamente 10% são extradurais, a maioria intradiplóicos, nos ossos frontal, parietal e occipital. Características Radiológicas O aspecto tomográfico é de lesão hipodensa, de contornos bem definidos, com densidade semelhante à do líquido cefalo-raquidiano (LCR), contendo calcificações em 10-25% dos casos. Ocasionalmente podem aparecer hiperdensos, em decorrência de Embora schwanomas completamente císticos possam mimetizar tumores epidermóides, o diagnóstico diferencial mais importante a ser considerado é o cisto aracnóide. Aquisições de RM em difusão podem ser úteis na diferenciação entre os cistos aracnóides e os epidermóides. O coeficiente de difusão aparente (ADC) do cisto aracnóide é similar ao da água estacionária, enquanto o ADC dos tumores epidermóides é similar ao do parênquima cerebral. Astrocitomas císticos, hemangioblastomas e outras lesões hipodensas das cisternas também podem ser raramente confundidos com tumores epidermóides. Devemos considerar ainda: ependimoma, subependimoma, neurocitoma, astrocitoma de células gigantes subependimárias, papiloma de plexo coróide, carcinoma de plexo coróide, meningioma e metástase, que, devido à possibilidade de apresentação intraventricular, podem ser incluídos no diagnóstico diferencial. Referências Bibliográficas sangramento, conteúdo protéico elevado ou depósito de pigmentos que contenham ferro. À ressonância magnética (RM) tipicamente apresentam tempos de relaxamento longos tanto em T1 como em T2 e características de sinal semelhantes às do LCR. Raramente apresentam intensidade mista de sinal. Apresentam margens lobuladas, com leve aumento na intensidade de sinal em relação à porção central do cisto. Em alguns casos, podemos observar uma margem hiperintensa fina que provavelmente representa LCR represado ao redor da lesão. Alguns cistos 1. Osborn, A.G.; Diagnostic Neuroradiology, St Louis: Mosby, 1994. 2. Som, P.M.; Curtin, H.D.; Head and Neck Imaging- 3a ed St Louis: Mosby, 1996. 3. Atlas, S.W.; MRI of the Brain and Spine. New York: Raven Press, 1991. 4. Koeller, K.K.; Sandberg, G.D.; Cerebral intraventricular neoplasms: radiologic pathologic correlation. Radiographics, 22(6): 1473-1505, 2002. 4 Caderno Dois Este encarte é parte integrante da edição de nº 310 do Jornal da Imagem São Paulo, junho de 2004 Reunião do Clube Roentgen – outubro de 2003 Escola responsável: Hospital Nove de Julho Feocromocitoma Coordenadores: Dr. Fernando A. Moreira e Dra. Luciana P. S. Baptista São Paulo, junho de 2004 Caderno Dois Dr. Antônio Lopes Rocha Dr. Daniel B. Pedral Sampaio História Clínica M.S.L., 33 anos, masculino, branco, natural e procedente de São Paulo. H.P.M.A.: Quadro de cefaléia holocraniana associada a dor lombar, febre e calafrios há dois dias. Nega outras alterações associadas ou relato de antecedentes importantes. Exame Físico: Abdome globoso, flácido, RHA +, sem visceromegalias, não há sinal de dor à descompressão brusca, giordano negativo. Pressão Arterial 120 x 80 mmHg. Febre (38° C). Exame neurológico normal. Exames Laboratoriais: Metanefrina urinária : 1500 mcg/24 h (normal até 1.000). Noradrenalina urinária : 560 mcg/24 h (normal até 55). Diagnóstico Feocromocitoma. Discussão A prevalência de feocromocitomas confirmadas à autópsia é de 0,13% e essas neoplasias incomuns são responsáveis por 0,1 a 0,3% dos casos de hipertensão arterial. Ocorre liberação sistêmica de epinefrina, norepinefrina e, em alguns casos, de dopamina01,02. É o tumor funcionante mais comum da adrenal03. O tumor é composto por células cromafins que são embriologicamente derivados do neuroectoderma. Além das catecolaminas, os feocromocitomas podem produzir vasopressina, somatostatina, substância P, Interleucina-6, calcitonina e outras substâncias que podem contribuir para manisfestações atípicas02. Seguindo a “Regra dos 10”, aproximadamente 10% dos feocromocitomas são extraadrenais, bilaterais, extra-abdominais, malignos, familiares, pediátricos ou sem elevação dos níveis pressóricos01,04. Os feocromocitomas extra-adrenais, denominados de paragangliomas secretores de catecolaminas, associam-se intimamente ao órgão de Zuckerkandl, cadeia simpática em nível da bifurcação aórtica01,04. Os feocromocitomas familiares exibem transmissão autossômica dominante, sendo associados à síndrome de von Hippel-Lindau, neurofibromatose tipo I e síndromes de neoplasia endócrina múltipla tipo I e II01. Aproximadamente 90% dos feocromocitomas Cad2_04_01.pmd 1 Figuras 1 e 2 – TCH do abdome sem e com contraste: formação sólida, hipervascular, de contornos lobulados, contendo áreas de necrose/liquefação, localizada no retroperitôneo em situação interaortocaval anterior, deslocando anteriormente a terceira porção do duodeno. Há compressão da veia mesentérica superior sem sinais de trombose Figuras 3 (RM FSE T1), 4 (RM FSE T2), 5 (RM T1 pós-contraste) e 6 (Angio-RM com gadolíneo – Reconstrução MIP) – Massa sólida, heterogênea contendo áreas de liquefação ou necrose central, apresentando contornos bocelados, medindo 6,8 x 6,5 x 4,0 cm, localizada no retroperitôneo, limitada pela aorta abdominal e VCI inferiormente, superiormente pela terceira porção duodenal. Caracteriza-se por hipossinal nas imagens ponderadas em T1, leve hipersinal em T2, com realce heterogêneo após o contraste. A lesão comprime a VCI sem obstruir ou invadi-la, desloca superiormente a terceira porção duodenal e os vasos mesenteriais liberam catecolaminas, sendo a história típica de hipertensão refratária à terapia medicamentosa usual, respondendo apenas aos antagonistas (-adrenérgicos. A tríade clássica de sintomas do feocromocitoma é de palpitações, diaforese e cefaléia, sendo que 90% dos pacientes tem um ou mais elementos dessa tríade. Outros sintomas encontrados são palidez, vermelhidão, náusea, tremores, fadiga, ansiedade, dor01. Caracteristicamente os sintomas são paroxísiticos e elicitados por mudanças de decúbito ou por aumento da pressão abdominal. Atualmente a pesquisa clínica mais recomendada é a avaliação dos níveis urinários em 24 horas das catecolaminas e seus metabólitos01. O tratamento definitivo do feocromocitoma é a excisão cirúrgica, acrescentando o bloqueio (-adrenérgico pré-operatório e o seguimento dos níveis de catecolaminas e derivados na urina de 24 horas para averiguar se há tumor residual, outra lesão primária ou metástases. Feocromocitomas malignos e benignos são indistinguíveis à análise histológica. Lesões benignas podem ser localmente invasivas, invadir estruturas adjacentes como VCI ou cápsula renal. Os feocromocitomas são considerados malignos quando metástases estão presentes (13% dos casos). Sítios comuns de metástases são o esqueleto axial, fígado, pulmões e linfonodos retroperitoneais ou mediastinais. A taxa de sobrevida em 5 anos do feocromocitoma maligno é de menos de 50%02. Características Radiológicas O diagnóstico por imagem é utilizado para a localização da neoplasia. A tomografia computadorizada (TC) atualmente é a modalidade de escolha para a investigação de feocromocitoma e para o estudo das glândulas adrenais e do retroperitôneo. A aparência típica do feocromocitoma é de uma massa de tecidos moles arredondada, bem circunscrita, homogênea, medindo acima de 3,0 cm. A calcificação é muito rara01,04. O uso do meio de contraste iodado para caracterização da lesão pela TC é controverso na literatura, tendo em vista os riscos intrínsecos, não sendo necessário para a detecção da maioria das lesões considerando o seu tamanho, mas pode ajudar na caracterização e detecção de lesões extra-adrenais. Na maioria das lesões o realce é heterogêneo. Há uma discussão em torno de se administrar o bloqueio (-adrenérgico antes da administração do meio de contraste iodado, pois poderia aumentar os níveis de catecolaminas. Hoje, a maioria dos serviços prefere utilizar meios de contraste não-iônicos e não utilizar bloqueio adrenérgico para a administração do meio de contraste intravenoso, sendo necessário na investigação por arteriografia01,04. As características à ultra-sonografia são bastante variáveis, sendo arredondados e bem circunscritos na maiorias dos casos e são isoecóides a hipoecóides em relação ao parênquima renal01. Na ressonância magnética, pequenos feocromocitomas são isointensos ao músculo e hipointensos ao fígado em T1. Nas imagens pesadas em T2 são hiperintensos. Como são pobres em gordura, o sinal não cai nas seqüências “out-of-phase”01. A radiocintilografia com Iodo131 Meta-iodobenzil-guanidina (I131MIBG) ajuda na localização da lesão primária ou secundárias. I131MIBG é um análogo da guanetidina e compete com a noradrenalina na captação dos receptores, tendo uma sensibilidade de 85% e uma especificidade de 96% para visualização de feocromocitomas produtores de catecolaminas01. São lesões bastante vascularizadas, desenvolvendo ocasionalmente degeneração cística focal ou parcial. A degeneração cística subtotal ou total é bastante incomum. Postula-se que a degeneração cística ocorre por crescimento excessivo em relação ao suporte vascular. Os componentes císticos refletem necrose e liquefação. O diagnóstico diferencial de lesões adrenais císticas inclui cisto adrenal, pseudocisto, carcinoma adrenal e feocromocitoma01. Referências Bibliográficas 1. Lee, T.H.; Slywotzky, C.M.; Lavelle, M.T.; Garcia, R.A.; Radiographics. 2002;22:935-940. 2. Greenspan, F.S.; Gardner, D.G.; Basic & Clinical Endocrinology, Sixth edition, Lange Medical Books/McGraw-Hill, cap11, p411-420. 3. Taveras, J.M.; Radiology on CD, 1995 CD-ROOM Edition, The Adrenal gland, v4, cap82. 4. Suton, D.; Tratado de Radiologia e diagnóstico por imagem,, sexta edição, Revinter, cap36, vII, p1079-1083. Carcinoma Renal de Células Papilíferas História Clínica M. L.G., 20 anos, branco, masculino, natural e procedente de São Paulo, SP. HPMA: Hematúria de início súbito acompanhada por dor no flanco esquerdo de fraca intensidade que regredia após o uso de analgésicos comuns. Negava disúria, polaciúria ou febre. Não havia história de traumas pregressos. Negava antecedentes de litíase renal ou de infecções do trato urinário. Ao exame físico, abdome normotenso, indolor à palpação, sem visceromegalias, giordano negativo. Dados Laboratoriais: Urina I com mais de 300 hemáceas e 25 leucócitos degenerados por campo; cristais ausentes. Uréia, creatinina e hemograma dentro dos limites da normalidade. Diagnóstico Carcinoma Renal de Células Papilíferas. Discussão O carcinoma renal de células papilíferas é uma variante histológica incomum do carcinoma de células renais, sendo o adenocarcinoma o tipo mais comum. Acomete mais homens, predominando entre a quinta e a sexta décadas de vida. Possui aspectos imunohistoquímicos, microscópicos e genéticos característicos. Enquanto os carcinomas renais nãopapilíferos, representados pelos tumores de células claras e de células granulosas, caracterizam-se geneticamente por deleções do cromossomo 3p, os papilíferos cursam com trissomias do sétimo e décimo sétimo pares. A determinação precisa do subtipo histológico dos tumores renais influencia no prognóstico de cada doente. Via de regra, os carcinomas renais de células papilíferas devem ser constituídos histologicamente por ao menos 50% de componente papilar verdadeiro. Podem ser subdivididos em tipos 1 e 2 de acordo com sua cito-estrutura e classificados em alto ou baixo graus de malignidade, mas isso pouco influi nas taxas de sobrevida dos doentes. São multifocais em até 30% dos 31/5/2004, 14:29 Figuras 2 e 3 – Nódulo sólido, pseudoencapsulado com realce discreto e homogêneo pelo meio de contraste Figuras 4 e 5 – Lesão hipovascular no terço médio do rim esquerdo Figura 1 – Ultra-Som: Nódulo sólido, hipoecogênico, heterogêneo no terço médio do rim esquerdo casos e por vezes estão associados a tumores coexistentes geneticamente distintos. Os carcinomas renais mantêm-se clinicamente ocultos durante a maior parte da sua evolução, sendo encontrados incidentalmente na maioria dos casos. Hematúria, dor, febre, hipertensão, proteinúria, massa abdominal e perda de peso são os principais sinais/sintomas dessa patologia. A tríade clássica de hematúria, dor e massa abdominal palpável manifesta-se em apenas 19% dos casos, quando sinaliza doença avançada. No momento do diagnóstico, os carcinomas papilíferos são pseudocapsulados e estão confinados ao sítio primário. O screening tradicional se inicia pela urografia excretora (UGE), passando a seguir para ultra-sonografia (US), tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). A UGE tem sensibilidade muito menor que a TC e a RM no diagnóstico das massas renais. A TC é fundamental para o estadiamento do carcinoma renal, sendo que este diagnóstico baseia-se no reconhecimento da alteração do contorno renal, do parênquima, do sistema coletor e da gordura do seio renal, além das características próprias da massa. As indicações de TC para a investigação de massas renais incluem: UGE com suspeita Figura 6 – Aspecto macroscópico de um corte longitudinal renal: note os focos centrais de necrose cística de massa renal; US com suspeita de massa renal, excluindo cisto benigno; achados normais a UGE / US em pacientes com sinais e sintomas suspeitos; metástases de neoplasias primárias desconhecidas; síndromes paraneoplásicas; síndromes com alta incidência de neoplasias renais (doença de Von Hippel-Lindau, doença cística adquirida, etc.); tratamento anterior de carcinoma de células renais e estadiamento. O aspecto tomográfico mais característico do carcinoma renal de células papilíferas é o discreto realce pelo meio de contraste iodado, inferindo hipovascularização, o qual é captado de forma homogênea. Realce acentuado e captação heterogênea são características que excluem a possibilidade diagnóstica de carcinoma renal papilífero. Apresentam-se à US, hipoecogênicos em relação ao parênquima renal preservado, o que se explica pela presença de áreas centrais de necrose cística. Até mesmo os tumores papilíferos de curso favorável podem possuir necrose maciça. Hipovascularização ou até mesmo avascularização são achados radiológicos típicos dos estudos angiográficos desses tumores. Os critérios de diagnóstico por imagem das massas renais são: massa que causa saliência no contorno renal; as características de valor de atenuação ou de intensidade de sinal da massa diferem do parênquima renal normal; realce que difere do parênquima renal normal continua...
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