FDS: Aquela máquina! Jornal Têxtil
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FDS: Aquela máquina! Jornal Têxtil
24 Abril’16 Jornal Têxtil [ Vestuário ] Ética Empresas pouco transparentes A maior parte das empresas não revela as práticas antitráfico e trabalho forçado que tem implementado, sendo ainda pouco transparentes nas suas cadeias de aprovisionamento. Têxtil Nortenha Subcontratar dentro de portas Com mais de 60 anos, a Têxtil Nortenha reconverteu-se e, além de trabalhar apenas para exportação, está a desenvolver novas parcerias dentro das suas próprias instalações. Sessenta e dois anos depois da sua fundação, a Têxtil Nortenha continua a moldar-se ao mercado. A empresa, nascida inicialmente como trading de tecidos para África e transformada, nos anos 80, em produtora de vestuário, está atualmente vocacionada para o mercado de gama alta, com peças que combinam diferentes materiais e estruturas. «Estamos agora a fazer termocolados, com peças em seda e malhas técnicas», explicou a administradora Inês Branco, que, juntamente com o irmão Paulo Branco, dirige a empresa familiar. Durante a visita do presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão à empresa, no âmbito do roteiro MadeIN, os administradores revelaram ainda que a Têxtil Nortenha está a «produzir capas de chuva, o que para nós é uma situação nova». Um novo produto que vai de encontro à estratégia da empresa. «A aposta tem sido na qualidade, no artigo mais específico, de maior valor acrescentado», sublinhou Paulo Branco. Com coleção própria, a empresa tem relações próximas com alguns dos principais produtores de tecidos e malhas nacionais, albergando no seu showroom as coleções de empresas como a Riopele, LMA e Tintex, entre várias outras. «As empresas enviam-nos as coleções atuais», revelou Inês Branco, o que permite que os clientes possam escolher diretamente as matérias-primas. «Temos um cuidado muito grande com a apresentação das tendências aos clientes», destacou a administradora, acrescentando que «tudo o que é novidade, nós temos, por isso temos de estar sempre numa busca contínua para saber quais são as tendências. Os nossos clientes também obrigam a isso. Chamamos-lhes trend clientes – já nem é moda, estamos nou- tra direção», referiu. Inglaterra, Escandinávia, Alemanha e EUA são atualmente os principais mercados da Têxtil Nortenha, que realiza todo o seu volume de negócios, que em 2015 atingiu 9,5 milhões de euros, nos mercados externos. «O nosso maior cliente é alemão, chama-se Marc Cain. Estamos a produzir também para a COS, para um cliente de catálogo inglês, a Mini Boden, e temos vários outros. A nossa carteira anda na ordem dos 20 clientes», apontou Paulo Branco. Com 100 colaboradores e tinturaria dentro de portas, além da confeção, a empresa recorre a subcontratados para realizar 70% da produção. Uma dessas empresas ocupa mesmo um espaço nas instalações da Têxtil Nortenha. Um modelo que gostaria de replicar. «Teríamos obviamente interesse em criar sinergias com empresas ligadas ao têxtil. Se houver outras empresas interessadas em vir trabalhar para aqui, estamos completamente recetivos», afirmou Paulo Branco. «Não tem de ser só confeção, pode ser estamparia, lavandaria,… Desde que esteja ligada ao ramo», acrescentou Inês Branco. Um estudo piloto da KnowTheChain revela que apenas quatro em 20 empresas foram completamente abertas sobre a forma como fazem o rastreamento e lidam com o trabalho forçado nas suas cadeias de aprovisionamento. A Fundação Walk Free, da Austrália, estima que o número de pessoas que vivem como escravas em todo o mundo, traficadas em bordéis ou para trabalho forçado ronda os 36 milhões, com o negócio da escravatura estimado em 150 mil milhões de dólares (cerca de 134,5 mil milhões de euros). Os ativistas anti-escravatura estão a pedir às empresas para serem mais transparentes no seu sourcing e aos consumidores que questionem a proveniência dos artigos. «No geral, a pesquisa conclui que há uma vasta distribuição na transparência das empresas nos esfor- «estamos a fazer isto com a crença de que os líderes devem ser reconhecidos, os retardatários devem ser incentivados a melhorar» ços para mitigar o tráfico humano e o trabalho forçado nas suas cadeias de aprovisionamento», revela o estudo. «Estamos a fazer isto com a crença de que os líderes devem ser reconhecidos, os retardatários devem ser incentivados a melhorar e todas as empresas devem ter uma noção de como os seus homólogos estão a responder a estes desafios para que possam tentar fazer melhor», acrescenta. O estudo concluiu que a maior parte das empresas (17 em 20) tem políticas formais para responder a um potencial tráfico humano e trabalho forçado, mas nenhuma revelou incentivos de gestão ligados à resposta a estas questões. Poucas empresas demonstraram que as suas políticas estão disponíveis para partes vulneráveis nas suas cadeias de aprovisionamento, como trabalhadores locais, e poucas traduzem os principais documentos na língua local para os tornar acessíveis. Além disso, raras são as que revelaram os nomes e localizações dos principais fornecedores, indica o estudo. Todas as empresas têm processos de auditoria para avaliar o cumprimento dos fornecedores com os padrões de aprovisionamento, mas apenas três em 20 fizeram entrevistas com trabalhadores subcontratados no local como parte desse processo, aponta o estudo. As empresas de vestuário e calçado tiveram uma melhor performance do que as do ramo alimentar e de bebidas e do que as de tecnologias de informação e comunicação. O estudo não revela a performance individual das 20 empresas estudadas, que incluem a Gap, Nike, Unilever, Apple, Hennes & Mauritz e Samsung Electronics.