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ambiente da inovação brasileira Janeiro 2009 no 55 • Ano XV IMPULSO ÀS INOVADORAS Governo lança programa para alavancar empresas nascentes, que alia a oferta de recursos à capacitação de empreendedores. Com R$ 1,3 bilhão, o Prime promete gerar cerca de 5 mil empreendimentos e impulsionar o sistema de inovação brasileiro ESPECIAL CRISE Os efeitos da turbulência econômica nas MPEs inovadoras BIOPOLÍMEROS Tendências e oportunidades de um mercado calcado em P&D Locus • Janeiro 2009 3 Índice ambiente da inovação brasileira Janeiro 2009 • n o 55 • Ano XV ISSN 1980-3842 26 A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores Presidente Guilherme Ary Plonski Diretoria Francilene Procópio Garcia, Gisa Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre Labiak Junior e Paulo Gonzalez Superintendência Sheila Oliveira Pires Coordenação de Comunicação e Marketing Márcio Caetano Setúbal Alves Endereço SCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211 Brasília / DF – CEP 70711-902 Contatos (61) 3202-1555 E-mail: [email protected] Website: www.anprotec.org.br Anúncios: (61) 3202-1555 [email protected] Produção Patrocínio 6 10 16 22 32 34 39 40 42 44 47 49 Apoio 50 Impressão Gráfica Brasil Uberlândia Tiragem 5.000 exemplares Inovação no DNA Novo programa da Finep quer incentivar a geração e o crescimento de empreendimentos inovadores. Descubra por que o Prime é diferente de todos os programas de fomento implantados no Brasil. Conselho editorial Maurício Guedes – presidente Carlos Américo Pacheco, Gina Paladino, Helena Lastres e Josealdo Tonholo Coordenação editorial Débora Horn Márcio Caetano Colaboração Adriane Alice Pereira, Amanda Miranda, Bruno Moreschi, Caroline Mazzoneto, Eduardo Kormives, João Werner Grando, Leo Branco, Rosalvo Streit Junior e Salis Chagas Jornalista responsável Débora Horn – MTb/SC 02714 JP Direção de arte Luiz Acácio de Souza Edição de arte Rafael Ribeiro Revisão Sérgio Ribeiro Foto da capa Shutterstock c apa E n t r ev is t a Carlos Eduardo Guillaume, sócio da empresa de capital semente Confrapar, revela o que atrai os investidores em uma empresa nascente. E m movimen t o Retrospectiva 2008: os resultados do estudo sobre parques tecnológicos, a compra de uma graduada pela Vale e as principais discussões do último Seminário Nacional. Para 2009: eventos importantes, editais em aberto e produtos inovadores. ne g ó c ios Na onda da sustentabilidade, polímeros verdes ganham espaço no mercado internacional e garantem lucro a empresas de todos os portes. I nves t imen t o Especialistas garantem: a crise não afetará a oferta de venture capital para financiar MPEs inovadoras. Mas os investidores estão ainda mais seletivos. I N T E R N A C I O N A L Sucesso no Brasil, a Semana Global de Empreendedorismo reuniu 78 países para disseminar o “bota pra fazer”. su c esso Os vencedores das etapas regionais do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica contam como transformaram P&D em diferencial competitivo. O por t unidade Integração de software é apontada como grande tendência do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação. G E S TÃ O Em tempos de crise, aumenta a procura por MBAs na área de gestão. Descubra se a capacitação pode ajudar sua empresa a enfrentar a turbulência. A poio Com 200 anos de história, Banco do Brasil está se reinventando para atender demandas de pequenas empresas inovadoras. edu c a ç ão Núcleos de Inovação Tecnológica aumentam em quantidade e qualidade. Agora falta capacitar profissionais para fazer a interface entre pesquisadores e mercado. c ria t ividade Empresa do Pará transforma couro de peixe em calçados e acessórios cobiçados pelo mundo fashion. Novidade já chegou à França. Cul t ura Confira por que o filme Gomorra vem sendo chamado de “Cidade de Deus” italiano, além das tradicionais dicas de livros, exposições e música. opinião Na estréia como articulista da Locus, Mauricio Guedes conta uma história para inspirar gestores públicos. carta ao leitor N a primeira edição da Locus do ano passado, registramos neste espaço nosso desejo de que 2008 fosse um ano repleto de boas histórias para divulgar. E não foi diferente: tratamos de economia criativa, da benéfica relação entre grandes companhias e pequenas empresas inovadoras, dos caminhos da sustentabilidade e de negócios consolidados e incipientes. Em cada reportagem, empreendedores, gestores de incubadoras e parques, pesquisadores, gestores públicos, consultores e outras tantas fontes nos mostraram que o empreendedorismo inovador contribui para a construção de um país mais rico e menos desigual. Nesse contexto, 2009 não poderia começar de forma mais animadora. Finalmente saiu do papel o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), da Finep, cuja elaboração acompanhamos de perto ao longo do ano passado. E, apesar do pleonasmo, não há palavra que melhor defina o Prime do que “inovador”. Inova no conceito e na forma de operar. Representa um novo modo de aplicar os recursos da subvenção econômica, revelando o despertar do governo para a necessidade de destinar a maior parte desses recursos às empresas nascentes. Na reportagem que inicia na página 26, buscamos explicar o funcionamento do programa e mostrar a enorme expectativa criada em torno dessa iniciativa. Há um fator fundamental no Prime que aumenta nossa confiança em seu sucesso: o envolvimento das incubadoras de empresas, atuando como operadores descentralizados da Finep. A credibilidade alcançada por essas instituições é mais uma conquista a ser celebrada pelo movimento. A escolha por parte da Finep revela que no espectro de entidades de apoio ao empreendedorismo existentes no Brasil, as incubadoras se destacam pela experiência na identificação e suporte de em- presas inovadoras. E o histórico do movimento nos leva a crer que o empenho dessas instituições, aliado à capacidade inovadora dos empreendedores, pode tornar o Prime um marco no sistema de inovação brasileiro. Mas como nem tudo são flores, esta edição também trata de um fantasma que vem assombrando mercados em todo o mundo. Indispensável falar da crise e de seus possíveis impactos nas micro e pequenas empresas inovadoras. Buscamos informações sobre as tendências do mercado de venture capital e seed money, relatadas nas seções Investimentos e Entrevista. Os especialistas consultados são unânimes em afirmar que, embora a crise traga aversão a riscos, investidores continuam à caça de bons projetos. Para finalizar, uma informação importante sobre o futuro da própria Locus. Após dois anos no cargo, Maurício Guedes deixa a presidência do Conselho Editorial da revista, que agora conta com mais dois integrantes: Jorge Audy, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), e Maurício Mendonça, atual gerente de assuntos regulatórios da Philip Morris, que dirigiu a unidade de Competitividade Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e foi secretário de Política Tecnológica Empresarial do Ministério da Ciência e Tecnologia, entre outros cargos. Em nosso entendimento, os novos membros representam bem um dos principais focos da Locus: a aproximação entre academia e mercado. Boa leitura! Feliz 2009! C onselho E ditorial Locus • Janeiro 2009 5 6 Locus • Janeiro 2009 Ilana Lansky Entrevista D ébora H orn A lógica do semeador F ormado engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Eduardo Guillaume deixou uma promissora carreira executiva na Microsoft para criar uma das maiores empresas brasileiras da área de capital semente. A Confrapar foi fundada em 2005 por um grupo de 10 pessoas – alguns eram seus amigos, outros apenas conhecidos. Em comum, o fato de todos trabalharem com tecnologia. “Conversávamos muito sobre quais tecnologias iriam decolar, quais empresas seriam um bom investimento e quem eram os empreendedores nos quais apostaríamos. Decidimos que era melhor parar de falar e fazer”, conta Guillaume. Como os outros nove sócios, ele assinou um cheque de R$ 50 mil para dar início ao negócio. Os primeiros anos no novo nicho mostraram que a formação de uma rede maior de investidores poderia potencializar o conhecimento sobre a indústria e o próprio processo de investimento. Para atrair novos sócios, a Confrapar fez dois aumentos de capital e fundiu-se com a Estufa Investimentos, co-gestora do fundo Rotatec, focado em projetos inovadores no pólo eletroeletrônico da região de Santa Rita do Sapucaí (MG). Com a fusão, o volume de recursos geridos pela Confrapar passou para cerca de R$ 90 milhões. Em entrevista à Locus, Guillaume revela as razões que levam investidores a alocar recursos em empresas nascentes e dá dicas sobre os atributos indispensáveis a empreendimentos que buscam o seed capital para sair do papel. Locus: Como você avalia o mercado de seed capital brasileiro atualmente? Quais as principais diferenças observadas em relação a outros países? Guillaume: O mercado de seed capital no Brasil ainda é muito pequeno. São poucos os gestores de seed capital que atuam de maneira profissional. O Brasil se destaca em relação a outros países por bons e maus motivos. Por um lado, temos uma cultura bastante empreendedora, em que novas empresas e idéias surgem a todo momento. Por outro lado, temos ainda uma taxa de juros bastante alta, o que não ajuda o investimento no setor produtivo, pois o capital acaba sendo atraído para outros tipos de investimento, como a renda fixa. Se as perspectivas dos analistas para os próximos meses se concretizarem, com taxas de juros na casa dos 11%, o nível de seed capital tende a aumentar, pois haverá uma migração de investimentos. Locus: O sistema de inovação brasileiro é favorável ao desenvolvimento do seed capital? Guillaume: Vários programas estão favorecendo o desenvolvimento dessa indústria. Vale citar dois exemplos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Um é o programa Inovar Semente, que investe até 40% em fundos selecionados de seed capital, e do qual a Confrapar já participa. Outro é o Prime (Programa Primeira Empresa Inovadora), que irá incentivar empresas nascentes com recursos da ordem de R$ 120 mil por empreendimento. Locus: Que mecanismos seria necessário aperfeiçoar para alavancar investimentos? Guillaume: Esperávamos mudanças mais rápidas após a Lei da Inovação, mas hoje percebemos que o avanço lento se deve à própria cultura do pesquisador brasileiro. No Brasil ainda dependemos de muitos cases de sucesso, de cientistas que se tornaram empreendedores, para sensibilizar outros pesquisadores, fazendo com que eles descubram que há a opção de empreender. Essa mudança de cultura não ocorre de forma rápida, pois os cientistas, assim como a maioria dos profissionais, foram formados para ter emprego e não para serem empreendedores. Os cientistas, assim como a maioria dos profissionais, foram formados para ter emprego e não para serem empreendedores Locus: O que motiva um investidor a aplicar recursos em uma empresa nascente? Que riscos e possibilidades de retorno costumam ser avaliados? Guillaume: Os retornos financeiro e social são os dois principais motivos para o investidor. A indústria norteamericana apresentou resultados superiores a 37% ao ano para o investidor na última década. Espera-se retorno financeiro da mesma ordem para o Brasil nos próximos 10 anos, embora seja sempre difícil fazer previsões, principalmente pelo fato de termos gestores inexperientes nesse mercado, o que aumenta a chance de erros. Mas temos o venture capital crescendo junto com o país, assim como várias oportunidades de inovação aguardando recursos. Ou seja: há uma grande quantidade de projetos represada, que permitirão boa performance aos fundos de investimento nos próximos anos. Além do aspecto financeiro, outro motivo gratificante para se investir no setor é saber que aquele dinheiro vai criar novas empresas, empregos, arrecadação de impostos – já que investimos somente em empresas 100% formais – e alavancar novas tecnologias no Brasil. Locus: Como a Confrapar tem aferido Locus • Janeiro 2009 7 Entrevista o retorno de seus investimentos? Guillaume: Alguns fundos da Confrapar estão apenas no início de suas operações e outros em estágio pré-operacional. A empresa fez um investimento direto – sem usar a estrutura de fundos – que foi a Via6, uma rede profissional online (www.via6.com). Quando investimos na empresa, no início de 2007, ela tinha menos de 30 mil usuários cadastrados. Hoje tem quase 400 mil. Só saberemos o retorno desse investimento quando a empresa for vendida, mas está claro que já criamos bastante valor ao longo do caminho. Uma equipe fraca ou a falta de um diferencial na oportunidade apresentada – a ausência de inovação – são fatais para a ambição de qualquer empreendedor em conseguir investimento 8 Locus • Janeiro 2009 empreendimento nos próximos quatro ou cinco anos. Locus: Como os investidores costumam avaliar a capacidade de uma equipe? Guillaume: A capacidade de uma equipe para desenvolver e executar um projeto se revela em uma série de fatores, como um currículo forte na indústria em que se propõe a atuar, um background de formação interessante e as experiências que a equipe já teve em conjunto. Outro fator importante é ver se eles estão motivados com a oportunidade que estão apresentando ou se um salário 50% mais alto os faria abandonar a equipe. Tem equipe que você vê que vai executar o projeto de qualquer forma, em que os membros já investiram recursos do próprio bolso, o que mostra o grau de comprometimento de todos com a proposta. Locus: Como é formada uma carteira de investimentos em seed capital? Qual a origem dos recursos que são aportados nas empresas? Guillaume: Os recursos geralmente são oriundos de fundos de pensão, órgãos de fomento e investidores-anjos. A composição da carteira depende muito do gestor e do setor do fundo, mas geralmente é composta por várias empresas, de setores ou características complementares, visando minimizar o risco do investimento. No caso da Confrapar, como investimos apenas em tecnologia, procuramos diversificar os portfólios investindo em subsetores diferentes. Locus: Quais as razões – principais ou mais recorrentes – que levam à rejeição de um projeto por parte do investidor? Guillaume: No caso das empresas e projetos que analisamos, uma equipe fraca ou a falta de um diferencial na oportunidade apresentada – a ausência de inovação – são fatais para a ambição de qualquer empreendedor em conseguir investimento. A Confrapar, por exemplo, não avalia empresas de uma pessoa só. Nesses casos, orientamos o empreendedor a procurar um sócio que acredite na sua idéia. Ou seja: convença um amigo, parente ou colega de faculdade de que sua idéia é boa e depois nos procure. Locus: Qual o perfil de negócio considerado potencial para receber seed capital? Guillaume: Empresas que apresentam uma equipe forte e motivada, capaz de transformar a inovação em um elevado crescimento de receitas e lucros para o Locus: Muitas vezes, a entrada de um investidor externo exige ajustes no modelo de gestão das empresas e no comportamento do próprio empreendedor. Como tornar construtiva – e menos conflitante – a relação entre empreendedores e investidores? Guillaume: Esse é um desafio constante. A falta de maturidade da indústria de venture capital no Brasil não contribui muito. Temos que ajudar o empreendedor a se sentir confortável antes e após o investimento. Nesse ponto, a transparência do investidor e o respeito pelo empreendedor são fundamentais. Muitas vezes o empreendedor não compreende como o investidor vai ganhar dinheiro, desconhece o business. Locus: Nesse caso, qual o melhor caminho para o entendimento? Guillaume: É preciso mostrar ao empreendedor quais são as intenções e expectativas do investidor, apresentando inclusive os instrumentos jurídicos que regulamentarão a parceria. Esse processo de preparação demora em média quatro meses, até que a empresa receba o investimento e dê início a uma relação que deve durar cerca de quatro anos. Nosso papel é muito mais informativo nessa hora. Isso por que a desinformação gera uma incerteza ainda maior na cabeça do empreendedor. Locus: Qual o papel dos parques tecnológicos e das incubadoras no aprimoramento do seed capital? De que forma podem contribuir para aproximar empreendedores e investidores? Guillaume: Muitas incubadoras e parques já fazem sua parte. Estão modificando seu modelo de negócios para um estilo menos paternalista, protetor. As incubadoras perceberam que um dos seus principais papéis é casar cada empresa com uma alternativa de investimento ou financiamento adequada. O capital empreendedor é apenas uma dessas alternativas. Locus: Quais as perspectivas do mercado de capital semente brasileiro frente à crise financeira internacional? O que os empreendedores podem esperar para 2009? Guillaume: Essa crise irá afetar as empresas já estabelecidas, principalmente as médias e grandes, de uma forma mais contundente. As pequenas empresas nascentes, principalmente no As incubadoras perceberam que um de seus principais papéis é casar cada empresa com uma alternativa de investimento ou financiamento adequada Brasil, estão afastadas do mercado de capitais e não devem sentir tão fortemente a retração da economia. Então irão sofrer menos com os efeitos. Muitas empresas de tecnologia até irão se aproveitar da crise para abrir mercado, aproveitando oportunidades trazidas pela turbulência. Um exemplo: a necessidade de reduzir gastos aumentará a demanda por softwares que gerenciem custos. A empresa que tiver esse software com o grau de inovação desejado pelo mercado terá grandes possibilidades de crescimento. Então os empreendedores devem continuar a inovar e tirar as idéias do papel. O impossível é aquilo que ainda não foi tentado. Locus: Qual seu conselho para o empreendedor que precisa de recursos para executar um projeto inovador? Onde buscar ajuda? O que fazer primeiro? Guillaume: Pesquise e descubra se seu projeto é de fato inovador. Apaixone-se pelo projeto. Depois busque e motive uma equipe capaz de executar essa idéia. Se ela for de fato inovadora e tiver um alto potencial de crescimento, busque ajuda de um fundo de capital empreendedor. Um e-mail conciso e bem escrito basta para chamar a atenção do investidor. Locus • Janeiro 2009 9 E M M O V I M E N TO Anprotec revela evolução de parques tecnológicos Ainda falta muito para que se conheça em profundidade o nível de desenvolvimento e o potencial dos parques tecnológicos instalados no Brasil. Mas o primeiro passo já foi dado. Em uma reunião com parceiros realizada no dia 16 de dezembro de 2008, a Anprotec lançou o “Portfolio de Parques Tecnológicos no Brasil”, que apresenta dados sobre diversas experiências nacionais de parques, ampliando o nível de informação sobre o segmento. No levantamento, foram identificadas 74 iniciativas de parques tecnológicos, distribuídas por todas as regiões brasileiras, das quais 64 responderam à pesquisa enviada pela Anprotec, dando origem aos indicadores. Desses, apenas 25 encontram-se em plena operação. A maioria ainda está em fase de projeto ou implantação – o que se explica pelo fato de 49 parques terem iniciado a partir de 2005 (veja gráficos). As regiões Sul e Sudeste concentram grande parte das iniciativas, com 23 e 34 parques, respectivamente. No Centro-Oeste e no Norte do Brasil, todos os parques identificados pelo levantamento encontram-se em fase de projeto. Em todo Brasil, os parques em operação abrigam 520 empresas, que juntas geram receitas da ordem de R$ 1,7 bilhão por ano. Porém, o faturamento individual de 475 delas não ultrapassa R$ 5 milhões. “O grande desafio dos parques é ampliar o nível de faturamento de suas empresas”, afirma o ex-presidente da Anprotec José Eduardo Fiates, que coordenou o estudo. Para consolidar os parques tecnológicos, a Anprotec estima que são necessários cerca de R$ 4 bilhões em investimentos, dos quais R$ 1,86 bilhão viria do setor público. Segundo Fiates, os resultados da pesquisa demonstram que o estímulo aos parques pode ser estratégico para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. “É fundamental saber quais são as prioridades setoriais, tecnológicas e regionais que o governo precisa estimular. Isso foi feito na França, na Coréia do Sul, na China e na Índia, tendo os parques como catalizadores desse processo de desenvolvimento”, enfatiza Fiates. O portfolio traz informações detalhadas sobre os 64 parques que responderam à pesquisa e está disponível no site da Anprotec (www.anprotec.org.br). 10 Locus • Janeiro 2009 Bayer testa produto da Imuny Criada em 2003 na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, a Petroleum Geoscience Technology (PGT), especializada em consultoria, análise e interpretação de dados de bacias petrolíferas, foi comprada pela Vale em novembro de 2008. O negócio, estimado em R$ 15 milhões, consolida a estratégia da mineradora de produzir gás natural para suprir suas operações no Brasil e no exterior. Desde 2007, a PGT prestava serviço à Vale na identificação de áreas potenciais para a descoberta de petróleo, tendo assessorado a gigante na aquisição de nove blocos na 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ao comprar a PGT, a Vale absorveu todo o quadro técnico da empresa, com cerca de 50 funcionários. De acordo com a mineradora, os sócios-diretores da PGT permanecerão na empresa, ajudando a conduzir os processos exploratórios. Com faturamento estimado em R$10 milhões por ano, a ex-incubada atende petroleiras do Brasil e do exterior. Integram a carteira de clientes as brasileiras Queiroz Galvão e Starfish, a norueguesa Norse Energy e a colombiana Ecopetrol. Em dezembro de 2008, a Bayer CropScience, subsidiária da Bayer que atua no setor de ciências agrícolas, começou a testar em suas plantações um produto desenvolvido pela Imuny, empresa de biologia molecular graduada na Incubadora de Empresas da Unicamp (Incamp), de Campinas (SP). Estão em teste os kits para diagnóstico precoce da ferrugem-da-soja, um teste imuno-químico padrão, desenvolvido para aplicação em laboratório. A ferrugem-da-soja é causada por um fungo e tem ocasionado prejuízos à produção desde que chegou ao Brasil, há cerca de sete anos. Até agora, a identificação da ferrugem nas lavouras de soja vem sendo feita pela observação das folhas com o auxílio de uma lupa. Aplicando-se o teste desenvolvido pela Imuny no monitoramento periódico da safra, a doença poderá ser detectada em seu estágio inicial, ainda imperceptível visualmente nas folhas, o que garantirá uma resposta mais precoce. O teste consiste em macerar a folha de soja, aplicá-la na membrana de nitrocelulose e, então, adicionar uma solução do anticorpo específico para o fungo da ferrugem, que foi desenvolvido pela equipe do Laboratório de Imunologia Aplicada do Instituto de Biologia da Unicamp. Se os testes forem bem-sucedidos, o produto brasileiro pode concorrer com o similar importado, cuja aplicação tornou-se inviável no Brasil devido ao alto custo. Confiante no resultado dos testes, a Imuny já abriu uma spin-off, denominada RheaBiotech, para aprimoramento e comercialização do novo produto. DIVULGAÇÃO/embrapa DIVULGAÇÃO/vale Vale compra empresa graduada Planta industrial da Vale: aquisição da PGT contribuirá para geração própria de energia Planta de soja atingida por ferrugem Locus • Janeiro 2009 11 E M M O V I M E N TO Sem cortes para C&T O Parque Tecnológico da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec) acaba de completar uma década de atividades. Criado em 1998 para apoiar, acompanhar e orientar empresas nascentes no desenvolvimento de seus empreendimentos, o Nutec oferece infra-estrutura tecnológica, com laboratórios acreditados pelo Inmetro, plantas-piloto e equipamentos modernos. As empresas incubadas no parque participam das fases fundamentais do processo de incubação – implantação, desenvolvimento, consolidação e graduação – adquirindo competitividade e sustentabilidade nos mercados em que atuam. A incubadora do Nutec abriga negócios de diversas áreas, como automoção, química industrial, biotecnologia e tecnologias para construção civil, entre outras. Mais informações em www.nutec.ce.gov.br. Após prever corte de R$ 1 bilhão em recursos para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o que inviabilizaria a execução de diversos programas da área – e principalmente a concessão de bolsas a estudantes e pesquisadores –, o Congresso Nacional aprovou a projeção orçamentária do MCT para 2009, de R$ 6,3 bilhões. “O Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional tem um conjunto de programas e ações que estão em andamento, e a questão dos recursos é central para a execução das metas do PACT&I”, afirmou o secretário executivo do MCT, Luiz Antonio Elias Rodrigues. Aprovado pelo Congresso no último dia 18 de dezembro, o orçamento para 2009 cria uma reserva de R$ 2,5 bilhões, que será usada pelo Executivo para manter a previsão orçamentária dos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC). O texto prevê gasto total de R$ 1,658 trilhão, já com o corte de R$ 8,5 bilhões em custeio, aprovado durante a tramitação da proposta na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). DIVULGAÇÃO/Nutec Parque cearense completa 10 anos Laboratório do Nutec: infra-estrutura para abrigar empreendimentos A partir deste ano, empresas inovadoras paulistas têm mais um motivo para instalarem-se em parques tecnológicos: incentivos fiscais. De acordo com um decreto do governo do estado, assinado no dia 16 de dezembro de 2008, os empreendimentos instalados no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos poderão utilizar os créditos acumulados do ICMS para investir em suas atividades. O decreto integra o Pró-Parque, programa que prevê o apoio do governo estadual para ampliar a infra-estrutura dos parques tecnológicos. “Esse programa sinaliza São Paulo voltado para o futuro. São cerca de R$ 16 milhões para estimular sete parques tecnológicos, incubadoras de empresas e laboratórios de desenvolvimento tecnológico, o que vai facilitar o investimento e a oferta de emprego”, disse o governador José Serra. Os parques beneficiados com o programa estão instalados em Piracicaba, São José dos Campos, Sorocaba, São Carlos e Campinas. Também foi assinado um protocolo de intenções com a prefeitura de São Paulo, que visa a cooperação para criação, estruturação e imGovernador José Serra assinou plantação de dois parques tecnológicos na capital paulista. decreto sobre incentivos fiscais 12 Locus • Janeiro 2009 Ciete Silvério Apoio aos parques em SP shutterstock Após ser implantado no Paraná e no Distrito Federal, o projeto Agentes Locais de Inovação (ALI) será levado pelo Sebrae a mais nove estados brasileiros. Ao todo, serão empregados R$ 27,8 milhões para incentivar a inovação em cerca de 10 mil empreendimentos de Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Para isso, devem atuar 204 agentes locais de inovação – pessoas formadas há três anos e capacitadas pelo Sebrae para orientar e propor soluções inovadores às empresas. Um projeto especial de ALI será desenvolvido pelo Sebrae na Região Norte, que contará com R$ 6,6 milhões, beneficiando cerca de 1.600 empresas. Mercosul tem fundo de US$ 100 milhões para MPEs Proposto pelo Brasil, o Fundo para Pequenas e Médias Empresas do Mercosul foi lançado na última cúpula do bloco, realizada em dezembro de 2008 na Costa de Sauípe (BA). O fundo contará com US$ 100 milhões, que devem ser utilizados como garantia em empréstimos concedidos a pequenas e médias empresas por bancos públicos e privados de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Os recursos serão destinados a empresas que mantêm projetos de integração produtiva com os países vizinhos. O Brasil terá 70% de participação no fundo, contra 27% da Argentina, 2% do Uruguai e 1% do Paraguai, com possibilidade de contribuições voluntárias adicionais. Mas o acesso será igualitário: cada país terá direito a 25% do montante. Os recursos serão gerenciados por um comitê intergovernamental. Parque do Rio abrigará multinacionais As multinacionais Schlumberger e FMC anunciaram neste mês a instalação de unidades no Parque Tecnológico do Rio, localizado no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juntas, elas deverão criar cerca de 600 empregos de alta qualificação técnica, além de gerar oportunidades de transferência de conhecimento com o meio acadêmico. “A chegada dessas empresas só confirma que a prinInstalação das companhias foi anunciada pelo cipal vocação da cidade do Rio de Janeiro é ser o celeiro do conheciprefeito Eduardo Paes (centro), ao lado do reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira (direita), e do mento brasileiro”, afirmou o prefeito Eduardo Paes ao anunciar a inssecretário municipal de C&T, Rubens Andrade talação as companhias no Parque. Especializada na área de petróleo e gás, a Schlumberger, de origem francesa, atua em mais de 80 países e tem na inovação tecnológica uma de suas principais características. Também atuante no setor de petróleo, a companhia norte-americana FMC Technologies fabrica equipamentos submarinos para a extração de óleo e gás em águas profundas. As multinacionais irão somar-se às 17 empresas já instaladas no Parque Tecnológico do Rio, que até 2017 terá mais de 120 mil m² de área construída. A estimativa é de que 4 mil pessoas trabalhem em cerca de 220 empresas sediadas no local. divulgação Agentes locais Locus • Janeiro 2009 13 M O V I M E N TO Ascensão feminina foi destaque em Aracaju divulgação/anprotec Reunidas na capital sergipana, cerca de 600 pessoas participaram do XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, organizado pela Anprotec em parceria com o Sebrae. Realizado entre os dias 22 e 26 de setembro de 2008, o evento promoveu discussões que contribuirão para o avanço do empreendedorismo inovador no Brasil. Um dos temas de maior destaque foi a pesquisa Mulheres Empreendedoras: Gênero e Trabalho nas Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos, realizada pela Anprotec em parceria com a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ITCP/UFRJ). Segundo a pesquisa, 47% das mulheres que trabalham em parques tecnológicos e incubadoras exercem cargos de gerência ou coordenação. “Esse resultado rompe com o paradigma de que o setor seja tradicionalmente masculino”, afirmou o antropólogo Marcelo Silva Ramos, que organizou a pesquisa. Apesar dos avanços, a pesquisa revelou que o preconceito à liderança feminina ainda é muito presente nas instituições, pois 45% das entrevistadas disseram ter sofrido alguma discriminação devido à idade – a maioria delas tem entre 25 e 35 anos – ou ao sexo. Sessão plenária apresentou os resultados da pesquisa no Seminário de Aracaju 14 Locus • Janeiro 2009 Nova data a celebrar Para estimular a criação de empreendimentos inovadores, incubadoras de 60 países se mobilizaram no último dia 8 de dezembro para comemorar 1º Dia Global de Incubação de Empresas. A iniciativa, liderada pela UK Business Incubation, celebrou o papel de entidades dessa natureza na promoção da inovação e do empreendedorismo. No Brasil, diversas instituições, coordenadas pela Anprotec, realizaram uma série de eventos paralelos, como exposição de casos de sucesso de empresas incubadas, realização de um dia de visitação às incubadoras, palestras e workshops, campanhas de mobilização de parcerias com os setores privado e governamental, além de atividades on-line. Segundo levantamento feito pela associação, o movimento brasileiro de incubação de empresas tem crescido a uma taxa expressiva nos últimos 10 anos, alcançando uma média superior a 25%. Atualmente, o país conta com cerca de 400 incubadoras que congregam 6.300 empresas de base tecnológica, responsáveis pela geração de 33 mil postos de trabalho, a maior parte dos quais qualificados. Inovação e saúde na gôndola Após lançar os primeiros limpadores de língua no mercado brasileiro e ser reconhecida pela FDA, a Kolbe, empresa graduada pelo Condomínio de Empreendedores e de Inovações Tecnológicas (Compete) da Universidade Federal da Bahia, comemora a parceria com a Ebal – Empresa Baiana de Alimento, conhecida como Cesta do Povo. Controlada pelo governo estadual, a Ebal é a maior rede de abastecimento alimentar do estado, com 279 lojas presentes em 225 municípios baianos. Com foco na população de baixa renda, a estatal colocou o limpador de línguas à venda em suas lojas, com preço diferenciado. Segundo a Kolbe, pesquisas mostram que 70% das doenças causadas por bactérias se instalam originalmente na boca, o que torna a limpeza da língua uma eficaz medida preventiva. Limpador de língua da Kolbe previne doenças originadas na boca divulgação E M High-Tech Agenda Criada pela Techway, residente do Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial de Manaus (CIDE), a Pentop permite a produção de livros interativos. Utilizando tecnologia semelhante ao de leitores de código de barras, um sensor lê os códigos impressos no livro e reproduz os sons correspondentes, como falas, sons ambientes, ruídos e músicas, por exemplo. A Pentop também pode traduzir textos e associar sons às imagens impressas. Saiba mais: www.techwaybr.com.br divulgação Caneta esperta ABRIL 17º Venture Forum Finep Data: 15 de abril de 2009 Local: São Paulo (SP) Informações: www.finep.gov.br MAIO 3rd Global Forum on Business Incubation Data: 11 a 15 de maio de 2009 Local: Brasília (DF) Informações: www.3rdglobalforum.com Dados a salvo Conferência Internacional Ethos 2009 – Empresas e Responsabilidade Social Data: 11 a 14 de maio de 2009 Local: São Paulo (SP) Informações: www.ethos.org.br/Ci2009 shutterstock Quem trabalha com notebook sabe: ter a máquina furtada pode representar não apenas prejuízo financeiro, mas também a perda de informações importantes ou até sigilosas. Pensando nisso a FindME, empresa residente no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/SP) criou o TCom Inspice Trace, um rastreador que permite localizar o equipamento e apagar os dados armazenados de forma remota. Tudo isso por meio de um programa instalado em um diretório oculto do HD. Saiba mais: www.findeme.com.br 9ª Conferência da Anpei – Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras Data: 8 a 10 de junho Local: Porto Alegre (RS) Informações: www.anpei.org.br 26ª Conferência Mundial da International Association of Science Parks (IASP) Data: 1° a 4 de junho Local: Raleigh, Carolina do Norte (EUA) Informações: www.iasp2009rtp.com Sem odores OUTUBRO divulgação Para alívio dos profissionais e clientes de salões de beleza, o mau cheiro gerado por produtos químicos de coloração e alisamento capilar está com os dias contados. A TBN, residente na Arca Multincubadora, da Universidade Federal do Mato Grosso, acaba de lançar um exaustor portátil, que neutraliza odores e melhora a qualidade do ar do ambiente, prevenindo doenças respiratórias. Saiba mais: www.arcamultincubadora.com.br JUNHO XIX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas Data: 26 a 30 de outubro Local: Florianópolis (SC) Informações: www.seminarionacional.com.br Locus • Janeiro 2009 15 e g ó c i o s shutterstock N A nova matéria R osalvo S treit J unior Mercado de biopolímeros cresce 30% ao ano e atrai empreendedores. Mas ainda é preciso convencer o consumidor a abandonar o barato plástico convencional S egunda-feira é dia de compras para a comerciante Tani Fátima dos Reis, 45 anos. Moradora da pequena cidade mineira de Guarda-Mor, a 600 quilômetros da capital Belo Horizonte, ela não começa a semana sem ir ao supermercado. A lista, na maioria dos casos, resumese a frutas, verduras e a alguns produtos que estejam em falta na casa da família. “Prefiro comprar aos poucos, uma vez por semana, pois é mais prático e menos cansativo”, afirma. Mas cada vez que ela vai ai supermecado, o porta-malas é ocupado por um material tão consumido quanto as próprias compras: as famosas sacolas plásticas. Para Tani, quanto mais, melhor. No supermercado, na padaria, na farmácia ou em uma locadora de filmes – não importa o lugar – o mesmo comportamento. “Levo 16 Locus • Janeiro 2009 o maior número possível de sacolas plásticas. Preciso delas para usar como embalagem e para colocar o lixo”, justifica. Atitudes como essa se repetem em milhões de lares do país. Os consumidores brasileiros podem não saber, mas, juntos, consomem todos os meses 1,5 bilhão de sacolas, cuja matéria-prima é plástico-filme, produzido a partir de uma resina chamada pelos especialistas de polietileno de baixa densidade, originada do petróleo. Resultado: 210 mil toneladas de plásticofilme são eliminadas todos os anos no país, contaminando o meio ambiente – em média, o tempo de decomposição desse material é de 100 anos. Desde que foi inventado – em 1862 pelo inglês Alexander Parkes –, o plástico surgiu como alternativa de redução de custos às indústrias. “A matéria”, como era popu- Esperança verde Em junho deste ano, o recorde de preço do barril de petróleo foi manchete em todos os jornais: US$ 140, o maior já registrado na Bolsa Mercantil de Nova Iorque. Menos de seis meses depois, a crise financeira mundial contribui para derrubar o valor do barril a US$ 55. Essa instabilidade de preço da matéria-prima usada para a fabricação do plástico sintético, somada à importância da preservação do meio ambiente, tem estimulado a propagação de uma inovadora tecnologia, a dos biopolímeros. A tecnologia não é propriamente nova. O desenvolvimento dos polímeros verdes, como também são conhecidos, data do início da década de 1960. “Essa tecnologia voltou a ser discutida recentemente, pois os preços estão mais competitivos e o apelo ecológico cada vez maior”, explica a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo Marilda Keico Taciro, que estudou o tema durante o doutorado. Produzidos a partir de matéria-prima renovável, os plásticos verdes despertaram a atenção das indústrias. “Antes, por causa do preço e da qualidade inferior, produzir esses plásticos era inviável. Hoje, a oferta de matéria-prima renovável no Brasil é infinita, os gastos com esse setor estão menores e os consumidores exigem responsabilidade ambiental das empresas”, explica o gerente de propriedade industrial da Braskem, Antônio Morschbacker. A multinacional brasileira é a maior fabricante de polietileno da América Latina e umas das primeiras a investir nesse nicho de mercado. Com investimentos em pesquisa e desenvolvimento da ordem de R$ 5 milhões, a Braskem anunciou, em 2007, a produção do primeiro polietileno com certificado internacional pela Beta Analytic, um dos principais laboratórios do mundo. A nova tecnologia, que começou a ser implantada há três anos, já rendeu reconhecimento – a Braskem conquistou, no ano passado, o primeiro lugar no prêmio Bioplastic Awards, na Alemanha. Produzido a partir do etanol da canade-açúcar, o polietileno verde da Braskem é fabricado em escala piloto – 12 toneladas anuais – no Centro de Tecnologia e Inovação da empresa em Triunfo (RS). A meta, segundo Morschbacker, é aproveitar todo o potencial do país na oferta de matéria-prima renovável. “Assim como o Oriente Médio é referência na produção de petróleo, o Brasil é símbolo mundial na produção de álcool extraído da canade-açúcar, potencial que pretendemos explorar”, explica. Morschbacker acrescenta Morschbacker, da Braskem: empresa quer explorar o potencial do etanol DIVULGAÇÃO larmente chamado (nome herdado de “matéria plástica”), ganhou espaço e virou vício da sociedade capitalista. Impulsionada pelos preços competitivos do petróleo no início do século, a produção desse material – “flexível, resistente, à prova d’água e, principalmente, barato”, conforme divulgava a publicidade – virou mania. Da comerciante Tani, no interior de Minas Gerais, às grandes indústrias e multinacionais, os polímeros sintéticos são presença garantida em diversos setores da economia e tomaram conta do planeta. Locus • Janeiro 2009 17 N e g ó c i o s que, em virtude do aumento da procura pelo álcool, o preço do produto também subiu e diminuiu a disparidade com o petróleo. Mais um motivo, afirma, para investir nos biopolímeros. Escala industrial Fotos: DIVULGAÇÃO A Braskem programa para 2010 o início da produção, em escala industrial, do primeiro plástico verde com certificado de qualidade internacional do mundo. Cien- Brinquedo e troféu do GP Brasil de Fórmula‑1, produzidos com o plástico verde da Braskem 18 Locus • Janeiro 2009 te que o mercado de biopolímeros cresce, em média, 30% ao ano, a empresa decidiu construir uma fábrica capaz de produzir, anualmente, 200 mil toneladas. “Temos indicadores que nos garantem o interesse do mercado pelo nosso produto. Estados Unidos e Japão, por exemplo, são nossos principais clientes”, diz Morschbacker. Para convencer os clientes a comprar a idéia da Braskem não faltam bons argumentos. “Nosso polietileno é muito versátil e pode ser usado na fabricação de diversos produtos como frascos, sacolas e brinquedos”. Outro ponto positivo é a facilidade com que os biopolímeros se adaptam às máquinas industriais que trabalham com o plástico convencional. Além de facilitar a operação, isso exime a empresa de investimentos extras para adaptar o parque. Enquanto a produção em larga escala não começa, empresas como a fabricante de brinquedos Estrela já procuraram a Braskem para firmar parcerias. Utilizando o plástico verde, a Estrela colocou à venda, em junho de 2008, 10 mil unidades do chamado ‘Banco Imobiliário – Sustentável’, renovando um dos jogos mais famosos do país. As peças do brinquedo e o filme plástico que envolve a embalagem foram fabricados com a nova resina. Resultado da inserção da Estrela na onda de sustentabilidade que carrega organizações de todo o mundo, esse foi o primeiro investimento da empresa nos biopolímeros e deve gerar novas parcerias. Para dar ainda mais visibilidade à inovação, a Braskem apostou no poder de divulgação da Fórmula ‑ 1. O último GP Brasil, que decidiu a competição no ano passado, concedeu ao vencedor um troféu confeccionado com o polímero de origem vegetal, 100% renovável, fato inédito na história da Fórmula ‑ 1. Além da inovação tecnológica, a peça tinha outro atrativo: foi desenhada por Oscar Niemeyer, que se inspirou nas colunas do Palácio da Alvorada. Ao apresentar o troféu à imprensa, o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, revelou o potencial do mercado. “Clientes comprometidos com a sustentabilidade em todo o mundo demandam soluções tecnológicas e econômicas da indústria petroquímica. Estivemos na Bio Plastic, no Japão, e confirmamos esse interesse, principalmente no mercado asiático. Firmamos parcerias com empresas renomadas, como a indústria de cosméticos Shiseido”, afirmou. Apenas o começo Apesar de ser a principal matéria-prima para a fabricação de biopolímeros, o etanol da cana-de-açúcar não está sozinho. A resina pode ser extraída de outros materiais – a exigência é que a fonte seja uma matéria-prima renovável. Essa oferta, somada ao empreendedorismo de alguns empresários, faz com que a lista de produtos com essa finalidade seja extensa. Vai, por exemplo, da quitosana extraída da carapaça de crustáceos à sacarose da própria cana. “O mercado para os biopolímeros não pára de crescer no Brasil. Cabe a cada fabricante encontrar o seu nicho de mercado e saber explorá-lo”, resume Antônio Morschbacker. Palavras de um especialista que já foram compreendidas por empresas em diversas regiões do Brasil e estão se transformando em experiências de sucesso. Tampas de caneta e de garrafas, copos plásticos, maçanetas de carros, retrovisores, embalagens de iogurte e chapas para cartão de crédito, crachás e chaves de hotel. Geralmente, esse tipo de objeto plástico tem origem no petróleo e gera uma série de danos ao meio ambiente quando descartado. Mas os artigos produzidos pela empresa paulista PHB Industrial são diferentes. “Nosso biopolímero é feito a partir do processo de fermentação da sacarose extraída da cana-de-açúcar – fonte natural e renovável – e se biodegrada em ambientes com atividade bacteriana”, or- gulha-se o diretor executivo da PHB, Sylvio Ortega Filho. Localizada em Serrana (SP), a empresa foi uma das primeiras do país a investir, desde o início da década de 90, na fabricação de biopolímeros. Da planta-piloto à fase industrial, prevista para começar a operar nos próximos três anos, a PHB utiliza diversas técnicas de transformação para chegar ao resultado final, o plástico biodegradável. Atendendo pelo nome comercial de Biocycle, o produto da PHB já conquistou o mercado internacional. Assim como no caso da gigante Braskem, Japão e Estados Unidos são os principais clientes. A meta é produzir até 30 mil toneladas por ano em 2011 – atualmente, a produção não ultrapassa 60 toneladas anuais. Apesar de otimista, Ortega aponta dois fatores que podem prejudicar a expansão dos negócios para quem pretende investir no mercado de biopolímeros. Primeiro, o preço do produto, mais caro que o do plástico convencional – o quilo do Biocycle, por exemplo, custa, em média, US$ 4,4, enquanto o concorrente sintético é vendido a US$ 1. O segundo empecilho, segundo o empresário, estaria ligado à falta de consciência ambiental do governo e da população brasileira. “As pessoas ainda não têm consciência de que comprar um produto fabricado com biopolímeros é mais saudável ao meio ambiente. Por outro lado, a carga tributária que pagamos para produzir o plástico verde é a mesma cobrada das fábricas convencionais. Não recebemos incentivo algum”, reclama. A pesquisadora Marilda Keico Taciro concorda com Ortega: “Falta legislação específica no Brasil para que o brasileiro possa adotar os biopolímeros em seu diaa-dia”. Mas é otimista em relação ao futu- Equipamentos da Quantas Biotecnologia: biopolímero extraído da sacarose Locus • Janeiro 2009 19 N e g ó c i o s ro. “Paralelamente ao desenvolvimento de novas tecnologias, o preço desses novos produtos irá cair”. Enquanto os biopolímeros não recebem a devida importância no Brasil, a PHB Industrial segue apostando nesse mercado. Duplo benefício A empresa baiana Quantas Biotecnologia S/A encontrou no plástico verde uma forma de gerar duplo benefício ao meio ambiente. Além de substituir recursos não-renováveis na fabricação de plásticos, faz com que a inevitável extração de petróleo seja mais limpa. A empresa também produz um biopolímero extraído da fermentação da sacarose da cana-de-açúcar – desta vez com a ação da bactéria Xanthomonas campestris –, a goma xantana. O nome pode parecer difícil, mas a aplicação é simples: ela é usada na perfuração de poços, inclusive os de petróleo. O material substitui os fluidos usados nas atividades de perfuração que são fabricados com matéria-prima não-renovável e demoram décadas para se decompor. Com elevado peso molecular e alta viscosidade, a goma adquire um efeito gel e torna-se capaz de suspender os resíduos retirados da rocha enquanto se perfura o poço. Ou seja: evita o entupimento do orifício, pois mantém o material retirado na superfície. Além disso, atua como lubrificante das brocas de perfuração e evita que elas se rompam. O projeto, desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) da Bahia, já foi aprovado pela Petrobras. “Estamos bastante otimistas. Neste início de ano vamos colocar o produto no mercado para testes. Em 2010 a meta é começar a produzir em escala industrial”, afirma o diretor-presidente da Quantas Biotecnologia, Edson Buzanelli. Ele afirma que R$ 5 milhões já foram investidos em pesquisa e desenvolvimento durante a fase-piloto e semi-industrial e que outros R$ 20 milhões estão previstos para terminar a construção da fábrica no Pólo Petroquímico de Camaçari (BA). Quando estiver pronta, ela vai ser a primeira do Hemisfério Sul a produzir goma xantana em escala industrial, com capacidade instalada de 7 mil toneladas por ano. Mas a expansão do produto esbarra, mais uma vez, na questão do preço. Como também é controlado internacionalmente, o valor da goma xantana no mercado ainda é elevado, cerca de US$ 10 por quilo. “Precisamos trabalhar para desenvolver- As mil e uma utilidades da quitosana Inovação Benefícios Cosméticos inteligentes Combatem rugas e radicais livres Quitosana em cápsulas Captura a gordura dos alimentos, favorecendo o emagrecimento Quitosana aromatizada Quando ingerida, funciona como aromatizante natural do corpo Quitosana + bactéria microcapsulada Em acidentes com petróleo em alto-mar, a bactéria se alimenta do combustível e atua na limpeza da área Produção de etanol com leveduras imobilizadas em quitosana Como a levedura se contamina com o álcool que produz, a quitosana a encapsula e a protege Bandagens A quitosana contribui para estancar hemorragias Membrana e películas de quitosana Preserva frutas e verduras na pós-colheita. Aumenta o tempo de prateleira de oito para 18 dias Fonte: Polymar 20 Locus • Janeiro 2009 Fotos: DIVULGAÇÃO mos mais tecnologia e diminuirmos essas cifras”, afirma Buzanelli. Mesmo assim, a Quantas Biotecnologia tem razões para comemorar. Recentemente, transformouse em uma sociedade anônima para receber como acionista um importante banco de investimento. Os aportes financeiros da parceira já garantiram a conclusão da primeira etapa da fábrica. “Vamos começar a produzir em módulos. Primeiro, iniciaremos uma parceria com a Petrobras para a perfuração dos poços. Depois, partiremos para desenvolver produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentícios. O último passo é conquistar os mercados da América Latina”, garante Buzanelli. Produção e pesquisas na Polymar: quitina de crustáceos é convertida em biopolímero multiuso Quitosana Os crustáceos – caranguejos, lagostas e camarões – que dão sabor à mesa de milhares de brasileiros todos os dias ganharam uma finalidade bastante curiosa nos últimos anos. A quitina extraída da carapaça desses invertebrados tem servido, por meio de uma transformação química e enzimática, de matéria-prima à produção de quitosana, convertida em um biopolímero multiuso. No Ceará, a Polymar, empresa graduada no Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec), decidiu aliar as condições geográficas do estado – propícias ao desenvolvimento de crustáceos – ao crescimento do mercado de biopolímeros. “Como somos os maiores produtores de camarão do país, por exemplo, e vimos a extensa gama de opções em que a quitosana pode ser usada, não pensamos duas vezes. Resolvemos apostar”, conta o diretor-presidente da Polymar, Alexandre Craveiro. Ainda em fase-piloto, a expectativa da Polymar é encontrar parceiros para que o projeto chegue à fase industrial nos próximos dois anos. Produtos para serem desenvolvidos, garante Craveiro, não faltam. A lista de pedidos de patentes para serem registradas pela Polymar já soma 38 projetos. “Nosso objetivo é virar referência no país”, explica o diretor-presidente. A Polymar enfrenta o mesmo problema que as demais fabricantes de biopolímeros: o valor elevado em comparação aos produtos convencionais. “Já temos preços competitivos nos ramos alimentício e farmacêutico. O desafio é reduzir os custos de produção para a quitosana no setor industrial”, explica Craveiro. Por enquanto, o meio ambiente é o maior beneficiado pelo plástico verde da Braskem ou as inovações em biopolímeros da PHB Industrial, da Quantas Biotecnologia S/A e da própria Polymar. Essas empresas já provaram ter tecnologia, iniciativa e empreendedorismo de sobra para tornar o Brasil um destaque na área de biopolímeros. Falta, ainda, a disposição dos clientes em pagar mais por um produto que não prejudica o ecossistema. Locus • Janeiro 2009 21 i nv e s t i m e n t o A fonte não secou Apesar do cenário econômico internacional, fundos ainda têm muito dinheiro para investir em negócios inovadores. Mas aumentaram as exigências para minimizar riscos shutterstock E duardo K ormives 22 Locus • Janeiro 2009 P rimeiro a boa notícia: a despeito da turbulência financeira global, a indústria de capital de risco funciona a todo vapor para financiar ou turbinar o crescimento de empresas inovadoras no país. A notícia ruim é que a venda de participação para fundos de private equity ou venture capital será negociada em termos bem menos favoráveis do que alguns meses atrás, quando havia fartura de crédito na praça. O fato é que essa indústria representa talvez a única janela de negócios num momento em que a crise tornou o dinheiro dos bancos caro e escasso e simplesmente varreu da lista de opções o lançamento de ações no mercado (IPO, na sigla em inglês). Estrear na Bolsa de Valores de São Paulo foi uma grande jogada em 2007. O número recorde de 64 IPOs realizados na Bovespa resultou em R$ 55,5 bilhões captados. Mas lançar mão de tal estratégia está fora de questão desde o segundo semestre do ano passado. Na montanha-russa que se transformou o mercado acionário, a bolsa paulista acumulou perdas de 42,7% entre janeiro e novembro de 2008. Tanto que apenas quatro empresas – OGX Petróleo e Gás, Le Lis Blanc, Hypermarcas e Nutriplant – fizeram ofertas primárias de ações nesse período, o que lhes rendeu R$ 7,5 bilhões. E uma única, a fábrica de fertilizantes Nutriplant, de Paulínia (SP), inaugurou, em fevereiro, o Bovespa Mais, novo segmento voltado a empresas de menor porte. Os IPOs são a melhor estratégia de saída – desinvestimento, no jargão do mercado – da indústria de capital de risco. Como observa o economista Robert Binder, da Antera, gestora do fundo de capital semente Criatec, “o private equity trabalha num horizonte com a certeza de IPO, enquanto que o venture capital, com 50% de chance”. Apesar disso, o cenário de turbulência das bolsas caiu como uma luva para o setor. A explicação mescla três fatores principais. Em primeiro lugar, os investimentos dos fundos de private equity e venture capital são focados no longo prazo. Segundo: sem os IPOs, as empresas tornaram-se investimentos mais atraentes e mais aber- Caixa reforçado Por último, mas não menos importante, a indústria de capital de risco dispõe de um bom caixa para tirar proveito das oportunidades. Uma pesquisa da KPMG para o jornal Valor Econômico revelou que em agosto do ano passado os 38 fun- DIVULGAÇÃO tas à entrada de um sócio. “Como havia farta oferta de recursos, os empresários começaram a enxergar as suas próprias empresas com uma idéia errada. Por isso, ficou mais difícil fechar negócios”, afirma Luiz Eugênio Figueiredo, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap). Para a chefe da unidade de investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Patrícia Freitas, a crise está trazendo o mercado de volta à realidade. “As empresas voltaram ao preço normal. Há um retorno à análise dos fundamentos para determinar o seu valor”, explica. dos de private equity ouvidos dispunham de R$ 8,1 bilhões em capital não-investido. No mesmo mês de 2007, esse montante era de R$ 5,6 bilhões, ou 30,9% menor. Figueiredo, da Abvcap, descarta um recuo na atuação dos investidores apesar da turbulência. Não há volta em relação ao dinheiro em caixa não-investido nem aos recursos que os investidores se compro- Figueiredo, da Abvcap: investidores não irão recuar por causa da crise Investidor-anjo Aplica dinheiro quando a empresa não é nada além de um brilho nos olhos do empreendedor. Normalmente tratam-se de profissionais bemsucedidos que resolvem apostar em bons projetos. shutterstock Os tipos de investidor Capital semente Um grau além do investidor-anjo, são recursos para uma empresa que já se firmou para iniciar um processo de crescimento. Normalmente são fundos públicos ou de entidades sem fins lucrativos, mas também pode haver dinheiro privado. Venture Capital (capital de risco) Recursos mais estruturados, dedicados a comprar partes ou o controle de empresas iniciantes com sólidas perspectivas de crescimento. Normalmente são recursos privados de investidores institucionais. Private Equity Fundos de investimentos dedicados a comprar partes de empresas já estabelecidas, que têm boas possibilidades de abrir capital ou de serem vendidas para um investidor estratégico. Normalmente, são recursos privados de investidores institucionais. Mezzanine Funds Dedicados a financiar empresas que pretendem abrir capital comprando ações e títulos de renda fixa. Normalmente, são recursos privados de investidores institucionais. Locus • Janeiro 2009 23 i nv e s t i m e n t o IPOs na Bovespa Ano Operações Volume de captação (R$ bilhões) 2004 7 4,5 2005 9 5,4 2006 26 15,4 2007 64 55,5 2008* 4 7,5 *Até novembro Fontes: Bovespa e Abvcap Números do setor, em R$ bilhões Ano Total de recursos Capital comprometido 2008 50,6 39,5 2007 26,7 14,7 Ano Recursos investidos Recursos não-investidos 2008 31,4 8,1 2007 6,6 5,6 Fonte: pesquisa KPMG para o jornal Valor Econômico A divisão do capital semente meteram a colocar nos fundos – R$ 50,6 bilhões em 2008. Todas essas condições reunidas no mercado brasileiro explicam por que a gestora americana Advent assumiu o controle da varejista gaúcha de eletroeletrônicos e materiais de construção Quero-Quero, com 170 lojas no Rio Grande Sul e em Santa Catarina, em setembro, quando a crise estourou mundo afora. O valor do negócio, estimado em US$ 300 milhões, vem a ser o maior investimento de um fundo de participações no país. Embora os aportes da indústria de capital de risco signifiquem menos dinheiro do que se poderia esperar de um IPO, na avaliação de Patrícia Freitas, da Finep, para as empresas inovadoras eles representam uma maneira mais segura de se obter crescimento sustentável. Em muitos casos, a estréia na bolsas antecede a profissionalização da gestão, principal atividade dos fundos, que preparam as empresas para acessarem sozinhas o mercado de capitais. “Muitas empresas acabam pulando a etapa de crescimento com governança e indo direto para a bolsa”, afirma Patrícia. Participação por tipo de investidor nos fundos aprovados pela Finep - em % Finep 72,9 Investidores-anjo 15,7 Outros investidores privados 6,0 Fundos de pensão 5,4 Fonte: GVcepe Balanço das saídas Venda das participações via abertura de capital e venda privada - em % Ano Venda privada Abertura de Capital 2003 100 - 2004 63 37 2005 62 38 2006 52 48 2007 63 37 Fonte: Abvcap 24 Locus • Janeiro 2009 Áreas atraentes E por falar em crescimento, as empresas inovadoras, as chamadas portadoras de futuro, saem na frente em relação aos demais setores em busca de capital para alavancá-lo. “As áreas de biotecnologia, mobilidade e segurança têm chamado atenção. Historicamente, a área de Tecnologia da Informação atrai investimentos e vai continuar assim”, projeta Eugênio Figueiredo, que, além de presidir a Abvcap, é sócio da Rio Bravo, gestora de fundos com R$ 250 milhões em carteira, parte deles investidos em tecnologia. Patrícia Freitas, por sua vez, observa que os fundos de venture capital em operação no país chegaram a concentrar algo em torno de 80% de seus investimentos em TI. Projeções As boas perspectivas para a indústria de capital de risco não significam que, no Brasil, o setor esteja desconectado dos desdobramentos da crise financeira global. Nos Estados Unidos, epicentro do abalo, os fundos de venture capital estão gradativamente fechando as torneiras para novos aportes. Um levantamento da Thomson Reuters, com PricewaterhouseCoopers e a National Venture Capital Association, no terceiro trimestre, mostrou fluxo de US$ 7,1 bilhões para empresas iniciantes (startups), uma queda de 9% em relação ao mesmo período do ano passado e a primeira desde o último trimestre de 2005. Além disso, num cenário de instabilidade, apenas seis empresas americanas apoiadas por fundos de venture capital iniciaram o processo de abertura de capital, o menor volume em 31 anos. Há um consenso, no entanto, que o impacto da crise será menor no Brasil do que nos outros países. “Acho que o Brasil não vai ser atingido tão fortemente porque não fizemos nem sombra ao volume de negócios derivativos nos países desenvolvidos. A maior parte não estava especulando em moeda”, avalia Binder. Figueiredo, presidente da Abvcap, confessa que nem se arrisca mais a responder sobre quanto tempo mais a turbulência durará. Mas ressalta que os fundos de venture capital e private equity serão mais ou menos afetados dependendo do estágio em que se encontrarem. Aqueles em fase de captação podem enfrentar dificuldades com a restrição de crédito internacional e com a desconfiança dos investidores em níveis variáveis conforme os seus perfis. Os fundos em fase de desinvestimento, avalia ele, serão os mais afetados. A Abvcap estima que estejam disponíveis cerca de US$ 11 bilhões para investimento nos fundos de participação domésticos e naqueles estrangeiros que destinam parte das carteiras ao Brasil. Ao todo, segundo a associação, são cerca de US$ 26 bilhões, incluindo recursos já alocados em empreendimentos, o que representa um aumento de 56% em relação a 2008. Para Patrícia Freitas, da Finep, não haverá uma queda na disposição do investidor nacional. Porém, ela se mostra muito menos confiante em relação ao capital estrangeiro. “Quem tiver de tomar decisão no Brasil sobre uma boa oportunidade de investimento vai esperar até o final de 2009. Investimento mesmo, só no primeiro semestre de 2010”. Sinal de que os empreendedores brasileiros ainda vão ouvir falar muito sobre a crise. João Luiz Ribeiro/FINEP Hoje, a fatia abocanhada pelo segmento situa-se entre 40% e 45%. A diversificação colocou em evidência áreas como biotecnologia, energias limpas, nanotecnologia e agronegócio. “Há uma boa chance de se conseguir recursos. Os fundos de capitalsemente têm bastante dinheiro para investir. Qualquer proposta submetida no nosso site será examinada. E há uma série de fundos de venture capital não-afetados pela crise que também estão com dinheiro”, afirma Robert Binder. O fundo gerido por ele, o Criatec, conta com R$ 100 milhões dirigidos a empresas inovadoras com faturamento anual de até R$ 6 milhões. O dinheiro deve ser aplicado, no prazo de três anos, em 50 operações. Em um ano, 10 projetos foram aprovados e seis já receberam investimentos. Estimativas do mercado apontam para um patrimônio total já comprometido pela indústria de capital-semente de cerca de R$ 140 milhões. Patrícia Freitas, da Finep: aporte de capital de risco pode garantir sustentabilidade às inovadoras Locus • Janeiro 2009 25 s p e c i a l shutterstock e Inovação no DNA Finep lança programa para estimular a geração de empreendimentos inovadores e combater os fatores que reduzem as chances de crescimento das MPEs. Com R$ 240 milhões para distribuir somente em 2009, Prime será operado por incubadoras de empresas D ébora H orn 26 Locus • Janeiro 2009 H á dois anos, a rotina da pesquisadora Vera Fantinato mudou completamente. Professora aposentada da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ela decidiu transformar em negócio o estudo desenvolvido durante o doutorado no final dos anos 1980. A dedicação à pesquisa, que pretende colocar no mercado um iogurte capaz de reduzir a incidência de amigdalite, passou a ser dividida com as novas atribuições de empreendedora. Da obtenção da patente à busca por financiamento, Vera deparou-se com um universo desconhecido. “A parte que se refere à pesquisa sempre foi mais fácil, afinal eu domino o assunto. Mas o processo de abertura e estruturação da empresa representa um grande desafio, pois tudo é novidade. Sinto que não tenho todos os subsídios necessários ao gerenciamento do negócio”, afirma Vera, que abrigou o empreendimento no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), de São Paulo. Neste ano, Vera e outros tantos empreendedores brasileiros terão a rara oportunidade de receber apoio financeiro para transformar idéias inovadoras em negócios sustentáveis. Lançado no final de 2008 pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) concederá R$120 mil em recursos não-reembolsáveis (é isso mesmo: dinheiro dado) a mais de 2 mil empreendimentos de todo o país. E não pára por aí: as empresas que cumpri- Foco nas nascentes Integrando o Plano de Ação 2007-2010 do MCT, o Prime reúne características que o diferem de outros programas de fomento à inovação implantados no Brasil nas últimas décadas. Isso por que, conforme a superintendente da área de pequenas empresas inovadoras da Finep, Gina Paladino, foi elaborado com base na constatação de duas deficiências recorrentes nesse tipo de empreendimento. “Por um lado, os empreendedores carecem de conhecimento na área de gestão, essencial para o bom encaminhamento dos negócios. Por outro, quando esses empreendedores, geralmente pessoas com formação técnica de alto nível, participam ativamente da administração da empresa, encontram dificuldades para se dedicar ao desenvolvimento de projetos inovadores”, explica. A oportunidade para combater essas fragilidades veio com o advento da subvenção econômica, em 2004. “A partir desse mecanismo foi possível elaborar um programa que prevê a alocação de recursos em um conjunto de competências para ajudar na gestão dos empreendimentos nascentes ao mesmo tempo em que garante a dedicação do empresário ao projeto inovador”, afirma Gina. Conforme o regulamento do programa, os R$ 120 mil recebidos pela empresa na primeira etapa deverão ser destinados à contratação de recursos humanos qualificados e de serviços de consultoria especializada nas áreas jurídica, financeira e de gestão. Stúdio código nove/sirlene oliveira rem os objetivos da etapa inicial receberão mais R$120 mil a juro zero – a serem pagos em 100 parcelas. Não é à toa que o Prime tem deixado em polvorosa empreendedores, investidores e gestores de incubadoras e parques tecnológicos de todo o país. Segundo especialistas, se tudo correr como o esperado, o programa tem potencial para revolucionar o sistema de inovação brasileiro. “O Prime deve proporcionar o surgimento de 5,4 mil empresas inovadoras nos próximos quatro anos. Nesse período, os recursos totais do programa ultrapassam R$ 1,3 bilhão. Estamos apostando muito nesse projeto porque cada empresa beneficiada vai impactar positivamente a cadeia produtiva em que está inserida”, explica o diretor de inovação da Finep, Eduardo Costa. A empreendedora Vera: gestão da empresa ainda representa um grande desafio Quem pode participar Empresas nascentes, com no máximo dois anos de existência – contados a partir da data de lançamento do edital. Caso a empresa ainda não tenha sido formalizada, no envio da primeira proposta não é necessário apresentar o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). O mais importante é apresentar produtos ou serviços com elevado nível de inovação e um plano de negócios que indique as reais possibilidades de crescimento da empresa. Como participar No site de cada incubadora-âncora (veja box na pág. 29) estão disponíveis, além do edital completo, os formulários eletrônicos para preenchimento. Na primeira fase, deve ser enviada uma proposta simplificada, contendo uma breve descrição da empresa, dos produtos, da tecnologia e do mercado em que pretende atuar. Um plano de negócios mais aprofundado será elaborado pelas empresas contempladas após a realização do programa de treinamento previsto no edital. Principais critérios de seleção • Grau de inovação do produto/serviço • Viabilidade e potencial de mercado • Potencial de retorno econômico-financeiro • Consistência do plano de negócios Locus • Janeiro 2009 27 s p e c i a l divulgação/ anprotec e radicalmente o seu modo de operar, com segurança de que os padrões de ética, eficácia e eficiência no uso dos recursos públicos serão atendidos”, afirma o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski. joão luiz ribeiro/ finep Operador engajado Gestores de incubadoras reuniram-se com a Finep para assinatura dos contratos Outro diferencial do Prime está na escolha de operadores descentralizados para gerenciar tanto os recursos quanto os resultados do programa. A experiência das incubadoras de empresas em prospectar e apoiar empreendimentos inovadores fez com que a Finep elegesse 18 incubadoras-âncora, em nove estados, para desempenhar essa função na primeira etapa do Prime. “A Finep reconheceu nas incubadoras a combinação de competências específicas, postura e credibilidade adequadas para que a agência pudesse inovar As incubadoras-âncora também são responsáveis pelo lançamento do edital e pela seleção de projetos que receberão os recursos. Embora o programa tenha abrangência nacional, as incubadoras têm orientado os empreendedores a enviarem propostas às instituições de seus estados. Mas nada impede que as âncoras aprovem projetos de diferentes regiões do país, em especial as incubadoras temáticas. Na incubadora do Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (BioRio), por exemplo, serão avaliadas propostas vindas de outros estados, nos quais a instituição já mantém parcerias. “Embora nosso foco esteja no Rio de Janeiro, já temos um parceria com a cidade de Lages, em Santa Catarina, que deve originar projetos com potencial”, explica a gerente de desenvolvimento de negócios do BioRio, Kátia Aguiar. Ao todo, cada incubadora-âncora deverá selecionar 120 empreendimentos inovadores para participar do Prime. “O programa não exige que essas empresas O Kit Prime O Kit Prime, como foram denominados pela Finep os itens de apoio, prevê o pagamento de até dois empreendedores para a realização de atividades na área tecnológica. Caso os sócios da empresa não tenham formação para o desenvolvimento Item Apoio ao empreendedor/especialista técnico Apoio ao controller/gestor de negócios Apoio a consultorias na área de gestão Apoio à consultoria de mercado 28 Locus • Janeiro 2009 dessas atividades, o recurso poderá ser aplicado na contratação de um especialista. Além disso, deverá ser contratado um gestor de negócios (controller) para acompanhar a execução do projeto apoiado com recursos do programa. Valor máximo alocado (R$) 40 mil 40 mil 30 mil 30 mil Distribuição das incubadoras-âncora RR CIDE AP www.cide.org.br PAQTEC www.paqtec.org.br AM PA MA CE PI AC SE AL BA MT GO MG SP www.fipase.org.br www.cietec.org.br www.univap.br/parquetecnologico www.incamp.unicamp.br residam na incubadora, mas estamos trabalhando para ampliar nossas instalações e abrigar parte delas”, afirma Kátia. Atualmente, a incubadora do BioRio abriga 30 empreendimentos. Para atuar como operadora do programa, cada âncora receberá 3% do valor total destinado às empresas. No estado do Rio de Janeiro, as três incubadoras-âncora selecionadas pela Finep – BioRio, Instituto Gênesis e Incubadora da Coppe/UFRJ – formaram um consórcio que receberá recursos complementares do Sebrae estadual para desenvolver o programa. “Cada uma dessas in- CISE www.cise.org.br ES Biominas www.biominas.org.br Fumsoft www.fumsoft.softex.br Inatel www.inatel.br RJ PR SC RS PUC/Raiar www.pucrs.br/agt/raiar FAURGS/CEI www.inf.faurgs.br/cei CESAR www.cesar.org.br DF MS Fipase Cietec FVE/Univap Incamp PE TO RO RN PB Coppe/UFRJ www.incubadora.coppe.ufrj.br Instituto Gênesis www.genesis.puc-rio.br BioRio www.biorio.org.br Celta www.celta.org.br Instituto Gene www.institutogene.org.br cubadoras pretende atender as 120 empresas previstas pelo edital. Se imaginarmos que 10% dessas empresas obtenham sucesso, teremos 36 empreendimentos gerando produtos inovadores, emprego e renda. É uma grande oportunidade de as incubadoras contribuírem ainda mais com o desenvolvimento regional”, conclui Kátia. A descentralização das operações da Finep, ampliando a abrangência dos programas por meio de parceiros nos estados, está entre as principais recomendações de um estudo desenvolvido pelo economista Locus • Janeiro 2009 29 s p e c i a l divulgação e Incubadoras-âncora, como o Cietec (SP), selecionarão 120 empresas para participar do Prime José Mauro de Morais, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que avalia os programas desenvolvidos pela agência. “A Finep precisa descentralizar suas operações, conforme determina a Lei da Inovação. O fato de haver uma incubadora, com know how na identificação, seleção e apoio a projetos inovadores dá um perspectiva maior de sucesso para esse programa”, afirma Morais. divulgação/ ipea Atalho para o crescimento Morais, do IPEA: operadores descentralizados aumentam capilaridade do programa 30 Locus • Janeiro 2009 Para Sérgio Risola, gestor do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), de São Paulo, o Prime deve abreviar de forma significativa o caminho trilhado por empresas nascentes até chegar ao mercado. “Nossa experiência mostra que, após ingressar na incubadora, os empreendimentos passam cerca de oito meses aguardando recursos de alguma fonte – editais da Fapesp, CNPq e Finep, por exemplo. Ao conceder os R$ 120 mil logo no início do negócio, o Prime permitirá que o empreendedor estruture a empresa para uma entrada mais rápida no mercado”, afirma. O atalho para o crescimento tem como fator decisivo a oferta de recursos, já que as empresas de pequeno porte enfrentam restrições de acesso a empréstimos concedidos pelo sistema financeiro. De acordo com o estudo do IPEA, a ausência de ativos para apresentar como garantias, a falta de transparência nos registros contábeis e a inexperiência dos empreendedores na área de gestão são fatores que impedem o acesso das MPEs às linhas de crédito convencionais. “No caso de empresas inovadoras, essas dificuldades tendem a ser mais acentuadas, pois o risco envolvido em um projeto inovador é muito maior”, explica Morais. Segundo o gerente executivo da diretoria de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil, Kedson Macedo, são poucas as instituições financeiras dispostas a correr os riscos inerentes à inovação. “Geralmente, as empresas inovadoras trabalham com recursos intangíveis, baseadas em conhecimento e não em bens de produção. A maioria das linhas de financiamento atuais não está adaptada a essa realidade”, diz. O resultado: juros altos, prazos curtos para pagamento e exigências burocráticas que inviabilizam o obtenção de recursos para alavancar o negócio. “Por isso o Prime representa o recurso certo na hora certa”. Mas as barreiras não são exclusividade do mercado privado de crédito. O estudo do IPEA indica que os programas governamentais de financiamento também exigem informações quantitativas e qualitativas normalmente indisponíveis nas empresas que desenvolvem projetos de inovação – dados de produção e vendas, previsões dos fluxos de caixa e resultados do negócio, por exemplo. “É preciso adequar a oferta de crédito às características e necessidades desse público-alvo. No caso do Prime, a participação das incubadoras contribuirá muito, pois são instituições acostumadas a dar suporte técnico a empresas na captação de recursos, o que ajudará a Finep a adaptar o modus operandi do programa”, analisa o gerente da Unidade de Acesso à Inovação do Sebrae, Paulo Alvim. Apontada como um dos principais motivos de fracasso das empresas, a capacidade gerencial dos empreendedores está no foco do Prime. Antes de assinar o contrato para receber a verba, os empresários contemplados passarão por um treinamento obrigatório, a fim de ampliar os conhecimentos sobre gestão e aperfeiçoar o plano de negócios. “Esse é um diferencial fundamental do Prime em relação a outros programas: aliar o fomento à capacitação, por meio de um treinamento de âmbito nacional, direcionado especificamente a esse perfil de empreendedor”, afirma Gina Paladino, da Finep. As empresas que obtiverem sucesso nos 12 primeiros meses do programa, alcançando as metas estipuladas no plano de negócios, poderão candidatar-se, após um processo de avaliação, a receber um empréstimo do programa Juro Zero, garantindo mais R$ 120 mil para alavancar as atividades no segundo ano – esse valor deverá ser devolvido em cem parcelas. “A concessão da segunda parcela de recursos garante continuidade às ações da empresa desenvolvidas com apoio do Prime. Além disso, esses empreendimentos serão preparados para receber aporte de venture capital ou seed money no futuro”, explica a superintendente da Finep. A possibilidade de receber investimentos de um fundo de capital semente dependerá das condições criadas pela empresa para produzir um produto ou serviço inovador e com viabilidade de mercado. “O benefício que o Prime traz é a pré-seleção de projetos, indicando aos investidores as empresas com potencial para receber venture capital. Ter participado do programa será uma espécie de aval”, afirma o economista José Mauro de Morais, do IPEA. Após analisar os programas da Finep voltados a empresas de pequeno porte, o economista ressalta a necessidade de monitoramento dos empreendimentos bene- ficiados. “O grande problema que encontramos em nossos estudos é que as empresas beneficiadas nos últimos anos pelos mecanismos de subvenção não têm apresentado seus resultados à sociedade. Se esses dados existem, estão guardados. É preciso divulgar o que está acontecendo com as empresas que são financiadas. Isso contribui com a análise da eficácia dos programas”, avalia. divulgação/anprotec Ações perenes Plonski , da Anprotec: Prime pode transformar panorama empresarial brasileiro Plantando figueiras Como toda inovação, o Prime ainda precisa de tempo para ser avaliado de forma mais crítica. Entre as fontes consultadas por Locus, há consenso em relação ao potencial do programa para alavancar o empreendedorismo inovador. “É nossa expectativa, bem como de outros parceiros do movimento, que os resultados do Prime ajudarão a criar uma massa crítica de empreendedores que têm a inovação em seu DNA, capaz de transformar o panorama empresarial brasileiro no médio prazo”, afirma o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski. Para o diretor de inovação da Finep, Eduardo Costa, o programa deve incentivar não apenas potenciais empreendedores recém-formados, mas também profissionais que atuam em empresas e desejam transformar uma idéia inovadora em um empreendimento comercial. “O nosso objetivo não é criar, manter e acalentar empresas pequenas. Não queremos criar bonsais, queremos plantar figueiras”, explica Costa. Transformar anos de pesquisa em um produto que beneficie a sociedade é o grande sonho da Vera Fantinato. Apesar dos recursos conquistados por ela em outras fontes de fomento, não foi possível colocar seu empreendimento de biotecnologia para funcionar. Pré-incubada no Hotel de Projetos do Cietec, a empresa ainda não tem nome. Mas a esperança tem: Prime. Locus • Janeiro 2009 31 i n t e r n a c i o n a l O mundo bota pra fazer Evento realizado simultaneamente em 78 países dissemina o movimento empreendedor em escala global. Em 2008, Brasil foi um dos destaques C aroline M azzonetto Fotos: DIVULGAÇÃO Peça publicitária da campanha liderada pelo Instituto Empreender Endeavor no Brasil 32 Locus • Janeiro 2009 E ntre os dias 17 e 23 de novembro do ano passado o mundo esteve sincronizado em torno de uma causa comum: promover o empreendedorismo, ensinando e incentivando jovens a investir em seus projetos e idéias. Foram sete dias de palestras, seminários, workshops, debates, fóruns, gincanas, competições, jogos e outras atividades gratuitas acontecendo ao mesmo tempo em 78 países – a Semana Global do Empreendedorismo. No Brasil o evento foi organizado pelo Instituto Empreender Endeavor e reuniu 1.735 parceiros (entre profissionais, empresas, universidades e instituições) e mais de 1,4 milhão de pessoas em todos os estados, o que fez da edição a maior do mundo em número de participantes. A Semana faz parte de um movimento surgido na Inglaterra, que pretendia retomar a cultura do empreendedorismo que conduzira o país à Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX. Com a adoção de uma economia mais focada em instituições financeiras, essas idéias haviam sido abandonadas. Em 2004 o então ministro da Fazenda britânico, Gordon Brown, lançou a Enterprise Week UK para resgatar o empreendedorismo que impulsionara o país nos séculos anteriores. Com o sucesso do movimento, a Semana britânica se repetiu nos anos seguintes. Em 2007 os Estados Unidos copiaram a idéia e organizaram a Entrepreneurship Week USA. Os dois eventos, somados, envolveram naquele ano 11 mil organizações, responsáveis por nove mil atividades. Surgiu então a idéia de realizar um movimento mundial e, em novembro do ano passado, representantes de 30 nações se reuniram em Londres para discutir a Semana Global do Empreendedorismo. O Brasil era um dos participantes. “O resultado foi surpreendente. A gente realmente não esperava. Tínhamos uma meta grande, mas nos surpreendemos”, orgulha-se Rodrigo Teles, diretor da Endeavor. A meta citada por ele era de envolver um milhão de brasileiros nas atividades da Semana brasileira – número que atingiu 1,4 milhão de pessoas. Nos outros países, que realizaram atividades semelhantes, a mobilização foi menor – o que prova, de acordo com Teles, que o Brasil é muito mais empreendedor. Enquanto que a Enterprise Week UK é puxada pela campanha nacional Make Your Mark, aqui a Semana faz parte do Bota Pra Fazer. Uma das grandes ações desse movimento é disseminar exemplos de empreendedores que colocaram suas idéias em prática e tiveram sucesso. “O brasileiro precisa muito de exemplos. Quando mostramos que tem gente botando pra fazer, incentivamos as pessoas a correrem atrás de seus sonhos”, completa o diretor da Endeavor. Com os exemplos de sucesso e as demais atividades, a Semana pretende colocar o empreendedorismo, de uma vez por todas, na pauta da sociedade. De acordo com a coordenadora do Programa de Empreendedorismo do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) – que executa no Brasil o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a mais completa pesquisa sobre o tema no mundo –, Simara Greco, qualquer campanha que envolva um grande número de pessoas, como a Semana fez, desperta o interesse das pessoas para o empreendedorismo. “Qualquer pessoa que não está envolvida começa a prestar atenção e os que já conhecem intensificam a valorização do tema”, explica Simara. Resultados intangíveis Com o objetivo de disseminar o interesse pelo empreendedorismo, os resultados do movimento não são medidos em números. Para Simara, a chance de que a Semana renda frutos é grande, principalmente por que muitas das atividades desenvolvidas estavam relacionadas à disseminação do conhecimento através de treinamentos e capacitação. “Se sair um empreendedor de cada evento já vamos ter uma grande evolução”, completa. A falta de capacitação, aliás, é um dos grandes problemas do empreendedorismo brasileiro. O retrato que o GEM faz daqui é de um país bastante empreendedor, com muitas pessoas motivadas, mas pela causa errada: cerca de 50% delas são movidas pela necessidade de superar dificuldades financeiras. Com isso, os empreendedores brasileiros, em geral, têm pouco conhecimento e habilidade, o que torna seus negócios frágeis em relação aos implantados em outros países. As atividades da Semana preenchem, em parte, essa lacuna. “É preciso manter o nível de empreendimentos, mas aumentar a sofisticação, o conhecimento de gestão dos empreendedores”, acrescenta Simara. De acordo com o GEM 2007, o país está entre as 10 nações onde as pessoas mais abrem novos negócios. Ainda que haja abertura para novos negócios, o mercado brasileiro impõe dificuldades para os iniciantes. Prova disso é que a atividade que mais repercutiu na Semana foi a discussão sobre o ambiente regulatório nacional e as dificuldades de se fazer negócio no Brasil. “Seria ideal que o país fizesse as reformas necessárias e melhorasse os processos dentro do governo”, explica Teles. Com o encerramento das Semanas Globais do Empreendedorismo, uma reunião de avaliação será realizada nos Estados Unidos para discutir o resultado do evento. Sejam quais forem as conclusões, já está confirmado: neste ano tem Semana de novo. Teles, do Endeavor, e Simara, do GEM: eventos como a Semana impulsionam o empreendedorismo Locus • Janeiro 2009 33 s u c e s s o Grandes inovadoras Pequenas empresas foram o destaque da 11ª edição do Prêmio Finep de Inovação, respondendo por 44% das inscrições Adriane A lice Pereira fotos: divulgação Produção na Pharmakos d’Amazônia 34 Locus • Janeiro 2009 E m sua 11ª edição, o Prêmio Finep de Inovação 2008 recebeu um número recorde de inscrições de pequenas empresas. Foram 140 inscritos na categoria, 55% a mais do que no ano passado. As pequenas representaram 44% do total de inscrições no Prêmio e mostraram que são inovadoras em sua essência. As cinco vencedoras das etapas regionais atuam em setores bastante distintos – de fármacos a robótica –, mas todas são exemplos que comprovam o slogan do Prêmio: “Dentro de cada brasileiro existe um inovador”. Foi uma inquietação que levou o pesquisador e professor de Farmácia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Schubert Pinto a abrir a Pharmakos d’A mazônia, pequena empresa vencedora do Prêmio Finep de Inovação na Região Norte. “Sempre me intrigou o fato de que a grande maioria das pesquisas não ultrapassa as prateleiras das bibliotecas e, conseqüentemente, não chega ao alcance econômico e social”, conta Pinto. Com esse questionamento, apresentou um plano de negócios para incubação no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), de Manaus. “O objetivo da empresa era aproveitar os recursos bioativos oriundos da floresta amazônica, transformando-os em produtos inovadores para a beleza, a saúde e o bem-estar. Gerando emprego e renda para os povos ribeirinhos, promovendo o desenvolvimento sustentável, economicamente justo e ecologicamente correto”, destaca o diretor-presidente da empresa. Evolução inovadora Com apenas quatro funcionários, a empresa nasceu, em janeiro de 2001, operando com utensílios e recursos improvisados e com uma produção artesanal de 500 unidades diárias. O lançamento do primeiro produto inovador foi em 2002, com um gel do óleo de copaíba (árvore da região) com ação tópica antiinflamatória. “Nos anos seguintes fomos pioneiros no lançamento da primeira parafina bronzeadora com óleo de urucum, seguida de um sabonete íntimo de crajiru e do Reumatgel, na época apelidado de Salompas do Amazonas”, enumera Pinto. Hoje, com 40 colaboradores, a empresa possui uma linha de 73 produtos entre xampus, condicionadores, géis, pomadas, xaropes, óleos, parafinas, sabonetes e bronzeadores. Todos resultados da inovação. A empresa investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico cerca de 35% do faturamento bruto. “Conseguimos proporcionar maior valor agregado ao produto e, pelo fato de o retorno ser palpável, a empresa como um todo consegue visua- lizar, valorizar e conseqüentemente desejar participar desse processo”, afirma Pinto. Para o diretor-presidente da Pharmakos d’A mazônia, a inovação é fundamental para a empresa se diferenciar no mercado. “Copiar é permanecer sempre um passo atrás do concorrente e inovar é antever e melhorar o processo, contribuindo tanto para o desenvolvimento pessoal quanto tecnológico e social”, destaca o pesquisador. A inovação da Pharmakos também é reconhecida pelo destaque no Prêmio Finep. Das quatro edições de que participou, a empresa conquistou três vezes o primeiro lugar regional e uma vez a segunda colocação. Outra campeã no Prêmio Finep de inovação é a Armtec Tecnologia em Robótica, de Fortaleza (CE). A empresa, criada em 2004, ganhou o Prêmio 2005 na categoria produto, com o robô SACI, tecnologia de apoio ao combate de incêndios. Dois anos depois, em 2007, outro produto da empresa foi eleito o mais inovador do país – o Sistran, equipamento que simula o trafégo de veículos para testes de durabilidade de cobertura asfáltica. No mesmo ano a Armtec venceu a categoria Pequena Empresa. Feito que repetiu em 2008. Primeiro empreendimento abrigado na incubadora da Universidade de Fortaleza (Unifor), a empresa respira, expira e transpira inovação. Além de investir 40% do faturamento e dedicar 83% da equipe à área de pesquisa e desenvolvimento, 100% do lucro é aplicado em inovação. “A Armtec está na fase de investir na geração de Equipamento desenvolvido pela Frontalmaq, do Mato Grosso novos produtos. Atualmente temos oito produtos no mercado e 15 em fase de projeto”, explica Roberto Lins de Macêdo, diretor-executivo de P&D da Armtec. Capacidade de sonhar Os investimentos pesados em inovação exigem que a empresa se estruture em todos os setores, envolvendo profissionais de diferentes áreas. “Mostramos para toda a equipe que a empresa como um todo é responsável pela inovação. Dessa forma, desenvolvemos o principal valor de uma empresa inovadora: a capacidade de sonhar e de realizar da sua equipe”, destaca Macêdo. Nesse ambiente, a Armtec premia as iniciativas inovadoras dos seus colaboradores. Há um programa interno, chamado Prêmio Inventor Armtec, que estimula a adoção de práticas para reduzir custos e aumentar a produtividade. Além Locus • Janeiro 2009 35 u c e s s o fotos: divulgação s Mato Grosso, a empresa Frontalmaq cresce a índices expressivos graças ao investimento em inovação. Desde a sua fundação, em 2004, a empresa apresenta um percentual de crescimento de mais de 145% em seu faturamento e de aproximadamente 120% no quadro de funcionários. “Investindo em pesquisa e valorizando o pessoal técnico a Frontalmaq apostou na inovação tecnológica, produzindo máquinas que geram alto impacto na produtividade e rentabilidade na alimentação animal, produzindo ração de elevada qualidade”, destaca o sócio da empresa, Beronício Dias. nononnonn nonononn nononon Diferencial competitivo Macedo, da Armtec, e o inovador Sistran (ao lado) disso, os colaboradores da empresa que propõem um produto inovador ou que captam editais de projetos recebem parte do lucro obtido com a inovação. Esse modelo de participação, aliado à estrutura enxuta, mas com grande concentração de capital intelectual, resulta em um sistema de gestão também inovador. Esse modelo inclui a terceirização da produção, a parceria com instituições de pesquisa e universidades e a formação de uma rede de cooperação bem estruturada. “Ter um produto inovador não quer dizer que a empresa seja inovadora. O importante é ter uma gestão inovadora com impacto direto na sua competitividade”, avalia o diretor da Armtec. Localizada na cidade de Primavera do Leste, a 230 quilômetros de Cuiabá, no 36 Locus • Janeiro 2009 Incubada na categoria não-residente (associada) à ARCA Multiincubadora, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Frontalmaq desenvolve máquinas e implementos agrícolas para a produção de silagem. Diante das necessidades cada vez maiores de eficiência e sustentabilidade do setor agrícola, a empresa se diferencia no mercado pela oferta de produtos inovadores. “Entendemos que inovar é explorar novas idéias, e foi exatamente isso que fizemos quando decidimos trabalhar e desenvolver os implementos que hoje fabricamos. Os impactos são revelados pelo incremento nas vendas, no quadro de funcionários, nas margens de lucro e no acesso a novos mercados, entre outros benefícios”, avalia Dias. O principal produto da empresa é a máquina colhedora de forragem MCF-3000, um dispositivo inédito em formato de kit, acoplável em colheitadeiras de grãos de diversos modelos. A empresa também desenvolve uma plataforma de recolhimento em linha para milho e sorgo e outra plataforma, duas linhas, para recolhimento de cana-de-açúcar. Para ampliar a gama de produtos, a empresa planeja investir ainda mais em inovação. “Consideramos que as inovações são capazes de gerar vanta- gens competitivas em médio e longo prazos. Inovar torna-se essencial para a existência e continuidade da nossa empresa”, ressalta Dias. O primeiro Prêmio Finep é para a empresa um reconhecimento e um incentivo para continuar a inovar. “Acreditamos que novas portas se abrirão para firmarmos parcerias no quesito inovação tecnológica”, prevê Dias. Na incubadora Assim como a Frontalmaq, a ESSS (Engineering Simulation and Scientific Software), de Florianópolis (SC), venceu este ano pela primeira vez o Prêmio Finep de Inovação na Região Sul. Criada em 1995 e incubada do Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), a ESSS desenvolve softwares para simulação computacional de sistemas de engenharia e atua em diversos setores como óleo e gás, automotivo, metalurgia e eletrodomésticos, entre outros. A tecnologia da ESSS permite que empresas simulem o desempenho de seus produtos por meio de um software. “As nossas ferramentas auxiliam empresas que desenvolvem novos produtos e processos simulando no computador o seu funcionamento. Dessa forma, as empresas podem testar virtualmente uma idéia, detectar problemas e efetuar modificações antes de criar um protótipo físico. Assim, a tecnologia da ESSS contribui para a economia de recursos e de tempo”, aponta o presidente Clóvis Maliska Júnior. Um dos principais clientes da empresa é a Petrobras, que utiliza diversas soluções da ESSS, entre elas uma voltada a simular a perfuração e a produção de reservatórios de petróleo. Com 100 funcionários, três escritórios no Brasil e um em Santiago, no Chile, a empresa exporta para mais de 10 países. Trabalhando com clientes altamente inovadores e que exigem conhecimentos técnicos avançados, a ESSS mantém o caráter inovador em todas as atividades cotidianas da empresa. “A inovação é o alimento da empresa. Vendemos conhecimento, que irá gerar ganhos e promover a inovação dos nossos clientes”, completa o empreendedor Maliska Júnior. Maliska Júnior, empreendedor da ESSS Em órbita Atender a clientes referência em inovação também é a realidade da Orbital Engenharia, de São José dos Campos (SP), vencedora do Prêmio Finep de Inovação na Região Sudeste. A empresa desenvolve produtos e presta serviços para o setor aeroespacial. Entre eles estão geradores fo- Softwares da ESSS simulam sistemas de engenharia Locus • Janeiro 2009 37 u c e s s o divulgação s Geradores fotovoltaicos produzidos pela Orbital tovoltaicos para aplicações espaciais, que geram a energia elétrica necessária para alimentar os equipamentos e carregar as baterias a bordo de satélites artificiais. Os geradores fotovoltaicos convertem diretamente a radiação solar extraterrestre em energia elétrica. “Os geradores viabilizam a utilização de equipamentos eletrônicos a bordo dos satélites artificiais por longos períodos de tempo, proporcionando dessa forma uma gama imensa de aplicações que vão desde a simples retransmissão de dados até complexos sistemas de imageamento ambiental, telecomunicações e de aplicações científicas de exploração espacial nas mais diversas áreas do conhecimento”, explica Célio Costa Vaz, diretor de engenharia da Orbital. Com alto grau inovação tecnológica, a Orbital contribui para o desenvolvimento de tecnologias e produtos que estão sendo utilizados em importantes projetos do governo brasileiro, como são os casos do Cbers-2B e do foguete de sondagem VSB30. Além disso, a Orbital já exporta sua tecnologia para uma companhia canadense. “Somos uma das poucas empresas brasileiras que atuam no segmento espacial e que conquistaram participação, ainda que 38 Locus • Janeiro 2009 modesta, no mercado externo desse segmento de elevada competitividade e complexidade tecnológica”, avalia Vaz. Criada em 2001, esta é a segunda vez que a empresa vence o Prêmio Finep de Inovação. Em 2007, ganhou na Região Sudeste na categoria Processo – que em 2008 foi excluída do Prêmio. Essa foi apenas uma das mudanças feitas pela Finep na 11ª edição da premiação. “Em 2008 lançamos o piloto de um novo Prêmio que não pretende premiar uma empresa com um único produto inovador, mas sim uma empresa inovadora na sua natureza”, afirma Vera Marina da Cruz e Silva, coordenadora nacional do Prêmio Finep. Na edição de 2008 as vencedoras das categorias Produto e Grande Empresa foram escolhidas entre as companhias clientes da Finep. A principal mudança, no entanto, foi feita nas premiações. A partir dessa edição as empresas vencedoras regionais e nacionais terão direito a uma linha pré-aprovada de financiamento. No caso das pequenas empresas, o financiamento é via subvenção econômica no valor de R$ 500 mil para as vencedoras regionais e mais R$ 500 mil para as campeãs nacionais. o p o r t u n i d a d e Outro perfil de usuário Especialista alerta para a necessidade de adaptação dos softwares a diferentes públicos A tecnologia da informação devem investir na criação de equipamentos e sistemas que acompanhem não apenas o crescimento, mas também o envelhecimento populacional. O pesquisador sugere a interação de todas as disciplinas relacionadas à computação, denominada por ele de “convergência de tudo”, tornando a integração dos softwares mais acessível. Durante a conferência da qual participou Ramamoorthy, profissionais da área de TI reclamaram da falta de investimentos em tecnologia em todo o mundo. Para o presidente do Programa Instituto Internacional de Integração de Sistemas, Fuad Gattaz Sobrinho, os investimentos devem priorizar recursos humanos para gerar inovações. “Deve-se investir no que chamamos de protocolos: protocolos de conteúdo, protocolo de comunicação, protocolo de interface e protocolo de sistemas. Quando se desenvolve um protocolo, o retorno sobre o investimento é alto”, explica. Segundo Fuad, a integração de software pode ser considerada uma das principais tendências da área de TI. S alis C hagas Estimativa de vida em 2020 será de 128 anos: softwares devem focar terceira idade SHUTERSTOCK tecnologia da informação precisa, com urgência, de investimentos para desenvolver softwares voltados a pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Essa é a constatação do presidente honorário da Universidade de Berkeley, na Califórnia, C. V. Ramamoorthy, que esteve no Brasil em novembro do ano passado, participando da 5 a Conferência Internacional de Integração de Sistemas. Segundo Ramamoorthy, dois terços da população mundial não têm acesso à tecnologia, pois os softwares atuais são focados nas pessoas com alto poder aquisitivo. O currículo de Ramamoorthy lhe confere autoridade para apontar tendências. Graduado em Física e Tecnologia, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Ciências da Computação, ele foi um dos três engenheiros que desenvolveram o primeiro computador transistorizado da história – Honeywell (H290). Para Ramamoorthy, hoje a solução é inovar, desenvolvendo softwares que interajam uns com os outros em diversas áreas, a fim de atender, por exemplo, as necessidades do homem no campo, possibilitando que o agricultor acompanhe, pelo computador, as diversas etapas da produção. “Isso já ocorre na China e na Índia, onde a migração do campo para a cidade diminuiu, mostrando o quanto é válido o processo de desenvolvimento de softwares destinado a pessoas de baixa renda”, afirmou. Novas demandas Ramamoorthy alerta para a expectativa de vida da população em 2020, estimada em 128 anos. Segundo ele, as empresas de Locus • Janeiro 2009 39 Ã O Shutterstock GEST Questão de sobrevivência Crise financeira alavanca procura por MBAs no Brasil. Especialistas garantem que quem administra melhor tem mais chances de entender e superar a instabilidade Por L eo B ranco 40 Locus • Janeiro 2009 E m terra de cego, quem tem um olho é rei. O ditado serve como analogia para o fenômeno que atinge escolas de negócios em todo o mundo: a procura por cursos de pós-graduação em gestão, os MBAs, aumenta quando os mercados financeiros entram em crise, a exemplo da mais recente, derivada dos problemas de crédito no setor imobiliário norte-americano e considerada a pior desde o crash de 1929. O interesse está na capacitação profissional como diferencial em um mercado de trabalho mais instável por conta da escassez de crédito. “As pessoas estão ávidas por conhecimento e querem estar próximas umas das outras, aproximar-se de quem sabe para esclarecer o que está acontecendo”, diz a coordenadora de cursos de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ana Lígia Finamor. Segundo a coordenadora, por conta do curto espaço de tempo decorrido desde o começo da crise, cujo ápice foi a queda generalizada das bolsas de valores durante o mês de outubro, essa demanda extra por qualificação ainda não pôde ser checada em números, mas sim pela quantidade de telefonemas e pedidos de reserva de matrícula para os próximos cursos, que começam em março de 2009. Opinião semelhante tem o coordenador de cursos de pós-graduação e gestão da Faculdade Trevisan, Olavo Henrique Furtado. Para ele, o aumento pelo interesse se explica pelo apelo psicológico que a turbulência financeira causa em empresários e gestores, mas a procura por qualificação ainda ocorre mais lentamente no Brasil do que em outros países. “A crise aqui não chegou ao mesmo porte do que chegou nos Estados Unidos”, explica. Segundo os dois coordenadores, outra maneira de avaliar o impacto das turbulências financeiras sobre o mercado de qualificação profissional são os pedidos para abordar assuntos que tenham relação com a crise Foco amplo Na Trevisan, os tópicos são abordados de maneira diferenciada em cada curso, mas não houve uma remodelação dos currículos somente para atender esses conteúdos. “Não é a crise que determina o que ensinar, mas sim que sociedade você tem hoje e como você vai se qualificar para ela. O foco é mais amplo”, afirma Furtado. Segundo o coordenador, a escola tem a visão de formar recursos humanos preparados não apenas para gerenciar uma crise, mas para sobreviver às mudanças por que passa a sociedade constantemente. Mesmo sem um foco específico no gerenciamento da atual crise financeira, quem está saindo de um MBA neste momento sente-se mais preparado para planejar as atividades profissionais. É o caso do engenheiro químico Leonardo Paes Rangel, da ESSS, empresa que desenvolve softwares e serviços de alta tecnologia, com sedes em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Ao longo da carreira, Rangel investiu em uma formação técnica, o que o levou ao título de doutor em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo, com especialização na área de combustão. Sua atuação profissional, no entanto, estava mais ligada ao gerenciamento de processos do que à sua execução. Faltava-lhe uma formação nessa área. Durante o MBA em Gerenciamento de Projetos, pela FGV, realizado entre 2006 e 2008, Rangel aprendeu a importância da comunicação constante entre a equipe e da renegociação de prazos e custos após cada etapa de execução de um projeto, para aumentar sua produtividade. A crise financeira teve um impacto que varia entre 20% a 30% do trabalho da empresa, que possui forte atuação no setor petrolífero. “Mas a forma como decidimos gerenciar nossos projetos fez com que nossos custos fossem mitigados”, afirma. A experiência do MBA rendeu ainda uma promoção a Rangel, de coordenador a gerente de serviços técnicos da ESSS, que custeou a maior parte do valor do MBA, orçado em R$ 17 mil. Divulgação em sala de aula. “É obrigação da escola. No curso de Gestão Empresarial, por exemplo, quem vai trabalhar a parte de finanças já está reservando um trecho da aula para sair da ementa da disciplina e conversar sobre a crise com os alunos”, explica Ana Lígia, da FGV. Furtado, da Trevisan: turbulência financeira tem apelo psicológico sobre empresários e gestores Orientação gratuita Pensando nos empresários que têm dúvidas sobre as melhores alternativas para lidar com as conseqüências mais significativas da crise financeira, entre elas a redução do crédito e queda das vendas, o núcleo de Orientação Profissional do Sebrae São Paulo elaborou a cartilha Como Agir na Crise, disponível para download no site www.sebraesp.com.br. Estruturado em capítulos, o material é focado em micro e pequenas empresas, mas também oferece dicas para organizações de grande porte. O conteúdo é atualizado sistematicamente, conforme surgem novas notícias sobre a crise. “Das 600 pessoas que atendemos diariamente, cerca de 70% buscam orientações em dois grandes processos: vendas e área financeira. De alguma forma, a crise afetará, se vier de forma mais pesada, essas duas áreas. Mas não há desespero e sim investigação sobre aonde as coisas podem chegar”, explica o gerente do núcleo de Orientação Profissional do Sebrae, Antonio Carlos de Matos. Entre as dicas da cartilha está o incentivo a formas alternativas de financiamento de capital de giro, uma vez que o crédito está mais escasso nos bancos. “O próprio fornecedor pode oferecer esse capital, na medida em que parcela as compras, em lotes menores, mais freqüentes, com pagamentos mais bem distribuídos. O cliente também pode ser um ótimo fornecedor de crédito, na medida em que a empresa pode melhorar as vendas à vista", explica. Ao final da cartilha, uma dica serve de estímulo a profissionais e empresas: “Fique atento às novas oportunidades, elas sempre surgem em momentos de crise”. Locus • Janeiro 2009 41 a p o i o Parceiro de longa data Ao completar dois séculos de história, Banco do Brasil consolida-se entre os principais apoiadores do empreendedorismo inovador no país E nquanto as tropas de Napoleão invadiam a Península Ibérica, em 1808, a Família Real portuguesa fugia para o Brasil, onde viraria de pernas para o ar o cotidiano da então colônia. A fim de legitimar a fuga e a transferência da capital do império para o Rio de Janeiro, D. João VI estabeleceu uma série de medidas que acabaram por ampliar a autonomia em território brasileiro. Uma delas foi a criação do Banco do Brasil, que no ano passado comemorou 200 anos, figurando entre as mais fortes marcas da economia brasileira. Com a experiência de ser a primeira instituição bancária do país, o BB investe hoje em empreendedorismo por meio de várias ações, sendo uma delas o apoio a Arranjos Produtivos Locais (APLs) – grupo de empresas que compartilha experiências e desenvolve ações conjuntas. Exemplos de APLs que receberam incentivo do Banco do Brasil são o Porto Digital em Recife (PE), o pólo de Tecnologia da Informação de Santa Rita do Sapucaí (MG), o APL de turismo de Florianópolis (SC) e o de calçados de Franca (SP). “O banco apóia um conjunto de empresas para que elas se desenvolvam e façam crescer a região em que atuam, como um todo”, explica o gerente de divisão da Diretoria de Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil, Jonatas Ramalho. São 174 APLs em todo o país – sendo oito deles de tecnologia – que englobam 12 mil empreendimentos. O volume de crédito concedido pelo BB a essas organizações nos últimos anos já chega a R$ 1,25 bilhão. Para apoiar o empreendedorismo inovador, o BB assinou, em agosto de 2006, um protocolo de intenções com a Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), com o objetivo de desenvolver ações conjuntas em favor das empresas incubadas e facilitar seu acesso ao crédito. De quebra, o protocolo ajuda a Fatos históricos 1808 – D. João VI assina o Alvará Real, que, entre outras medidas, cria o Banco do Brasil. 1829 – Falido, o Banco do Brasil é liquidado por lei. 1800 1850 1853 – O Banco do Brasil é recriado, após a fusão entre o Banco do Comércio do Rio de Janeiro e um banco particular fundado dois anos antes pelo Visconde de Mauá. 42 Locus • Janeiro 2009 1906 – Início das negociações de ações ordinárias do BB na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. 1953 – Criada a carteira de Comércio Exterior (Cacex). 1900 1969 – Realizado primeiro concurso aberto também às mulheres. Lançamento do primeiro cheque especial do mercado. 1986 – BB deixa de ter autoridade monetária e passa a competir no mercado financeiro. 1995 – Reforma estatutária transforma BB em conglomerado financeiro, mantendo sua função oficial de dar suporte às políticas governamentais, mediante atendimento prioritário ao setor exportador, à agricultura e às micro e pequenas empresas. 1950 2000 2000 – O Banco se prepara para aderir ao Novo Mercado da Bovespa. 2003 – Sustentabilidade entra na pauta das decisões estratégicas do BB. 2008 – Banco do Brasil comemora 200 anos. Tratamento especial Outro projeto em andamento diz respeito à forma de negociar com as empresas inovadoras. Isso por que trata-se de empreendimentos diferentes: muitas vezes se resumem a um computador, uma pessoa extremamente capacitada e uma boa idéia. Por isso, o financiamento de uma empresa inovadora é diferente do de uma tradicional. “Se você consegue olhar essas empresas de forma diferenciada, você pode atendê-las melhor”, completa Ramalho. O plano do banco é desenvolver uma metodologia de crédito diferenciada para esse tipo de negócio e que possa ser disponibilizada em todas as agências. Quem trata do apoio ao empreendedorismo e à inovação das micro e pequenas empresas no Banco do Brasil é a Diretoria de MPE, da qual Ramalho faz parte. Criada em 2004, a diretoria consolida uma parceria que começou há dois séculos. “A história do empreendedorismo no Brasil pode ser contada através da história do banco”, afirma Glauco Cavalcante Lima, diretor de estratégia e organização do BB. Logo que foi criado por D. João VI, o Banco do Brasil funcionava como autoridade monetária – era o Banco Central da época. Na primeira fase da instituição, que vai até 1908, a grande ação do BB foi ajudar a minimizar o choque econômico causado pela libertação dos escravos com a Lei Áurea, de 1888. O banco criou uma linha de crédito especial, que permitia aos agroempresários continuarem sua produção utilizando a mão-de-obra assalariada dos imigrantes. A partir de 1908, com a consolidação do banco e do próprio país, ambos se expandiram. A rede de agências se espalhou pelo interior, em lugares onde a economia brasileira se desenvolvia. A primeira fábrica de calçados do Rio Grande do Sul, por exemplo, foi inaugurada em 1906 e quatro anos depois o BB instalava sua primeira agência no estado. Em 1936 foi criada a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, que financiava a aquisição de maquinário, custeava safras e entressafras, sementes e adubos, a melhoria dos rebanhos, além de matéria-prima e reequipamento industrial. A partir de 1964, o Banco do Brasil deixou de ser autoridade monetária e entrou no mercado de varejo. Nos últimos anos, o investimento em empreendedorismo tem se intensificado. Exemplo disso foi o Programa Brasil Empreendedor, de 1999, criado pelo governo federal e cuja operacionalização ficava a cargo do banco. Foram criadas 51 Salas do Empreendedor para prestar atendimento especializado, além da própria rede de agências, a fim de fortalecer as MPEs e empresários informais por meio de capacitação gerencial e tecnológica, concessão de crédito e assessoria técnica. Para Glauco Cavalcante Lima, o segredo da longevidade do Banco do Brasil é uma atitude bastante comum entre empresas centenárias: não se abater diante de dificuldades. “O que o banco tem é a capacidade de crescer toda vez que está diante deles”, garante. Boa notícia em tempos de crise. Jorge Diehl estreitar o relacionamento entre banco, incubadora e empresa incubada. Para isso, o BB indicou agências de referência para informar os empreendedores sobre as linhas de financiamento e os aspectos burocráticos do negócio. Em Brasília, os técnicos do BB também realizaram ações intensivas de visitas a incubadoras e palestras. Como resultado, conforme Jonatas Ramalho, cerca de 99% das empresas incubadas da cidade têm acesso às linhas de financiamento do banco. Os mesmos encontros aconteceram, embora de forma menos intensa, em outros estados, e o plano é continuar em 2009 o trabalho iniciado em Brasília. “Queremos replicar a experiência de modo que esse protocolo tenha uma efetividade maior, pois os resultados foram extremamente favoráveis”, afirma Ramalho. Ramalho, do BB: olhar diferenciado para empresas inovadoras Locus • Janeiro 2009 43 e d u c a ç ã o Ponte em construção NITs crescem nas instituições de pesquisa, contribuem para a transferência de conhecimento e demandam novo perfil de profissional: o gestor da inovação Capacitação promovida pela Inova, da Unicamp: necessidade de formar gestores 44 Locus • Janeiro 2009 U ma chamada pública da Finep, realizada no último mês de outubro, atraiu cerca de 160 instituições de ciência e tecnologia que querem estabelecer ou consolidar Núcleos de Inovação Tecnológica, os chamados NITs, mecanismos determinados pela Lei da Inovação para funcionarem como gestores das práticas inovadoras em universidades e institutos de pesquisa. O número, expressivo para o cenário nacional, ganha mais relevância quando comparado com o edital anterior de submissão de projetos de NITs. Ainda no rastro da recém-regulamentada legislação, em 2006 a chamada atendeu apenas 40 projetos. No resultado desta última, espera-se que pelo menos 100 propostas sejam contempladas. O crescimento verificado entre os dois editais demonstra a disseminação dos Núcleos de Inovação Tecnológica e, para além dos números, seus avanços em outros pontos. Em 2006, os R$ 8 milhões ofertados tiveram como destino quase exclusivamente instituições públicas, principalmente universidades federais. Em 2008, como explica o chefe do Departamento de Instituições de Pesquisa da Finep, Edgar Rocca, a chamada passou a contemplar, além das universidades públicas, as privadas sem fins lucrativos, sendo que se pretende também apoiar iniciativas de institutos de pesquisa. Além disso, os recursos, agora no volume de R$ 10 milhões, passarão a ser divididos em Fotos: divulgação J oão Werner G rando duas linhas temáticas: uma para NITs consolidados avançarem em suas atividades e a outra para estruturação de novos núcleos por meio de redes estaduais e regionais. Do total dos recursos, 30% deve ser aplicado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Crescimento acelerado Esse avanço é atribuído, em grande parte, a projetos de disseminação e organização do setor iniciados logo após a regulamentação da Lei da Inovação. Entre eles, estão as ações de capacitação de recursos humanos realizadas pelo Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) e o projeto InovaNIT, realizado pela Agência Inova, que funciona como NIT na Unicamp. Nessa parceria, que teve o apoio da Finep com R$ 1,15 milhão, são realizados cursos para capacitar as instituições a criarem seus núcleos. Os treinamentos chegaram a todos as regiões do país, tendo atendido, conforme números da InovaNIT, 175 instituições entre agosto de 2007 e setembro de 2008. O crescimento da representatividade do Fortec, de acordo com sua coordenadora nacional, Elizabeth Ritter, é demonstrado pelo número de afiliados. Dos menos de 30, na época de criação do fórum, somam-se agora 134 instituições. “Da mesma forma, os resultados alcançados pelos NITs têm se ampliado de forma expressiva. Basta analisar os dados divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2006, o total dos valores auferidos pelas ICTs em royalties, por meio de contratos de transferência de tecnologia ou de licenciamento de patentes, com ou sem exclusividade, foram de R$ 810 mil. Em 2007, esses valores chegaram a quase R$ 5 milhões”. Para 2009, os cursos do InovaNIT devem passar a ser oferecidos por meio da tecnologia de ensino a distância. O convê6% 24% nio com a Finep, com duração de dois anos, esgotará seu prazo nos próximos meses, mas há negociações para que seja prorrogado. “Não há treinamentos semelhantes, por isso, a demanda continua crescente”, ressalta a gerente do projeto InovaNIT, Patricia de Toledo. Como indica Elizabeth, os cursos são imprescindíveis especialmente tendo em vista que a falta de recursos humanos capacitados configura-se como principal desafio na implantação dos NITs. “Além de serem em número insuficiente no mercado, uma vez que não há formação específica para profissionais especializados em gestão da inovação, há uma dificuldade de absorção desses profissionais pelas ICTs. Principalmente nas ICTs públicas, em que a contratação precisa ser feita por concurso, e, além disso, precisa haver uma alocação de vagas específicas para os NITs. Então, a maioria deles tem desenvolvido suas atividades com pessoal temporário, como bolsistas contratados por meio de projetos apoiados por agências de fomento. Aí cria-se um círculo vicioso na retenção de equipes: depois de qualificados os profissionais, termina a vigência da bolsa e as ICTs não dispõem de mecanismos para retê-los.” Elizabeth, do Fortec: resultados alcançados pelos NITs são favoráveis Natureza das instituições com NIT 6% 24% 48% 22% 6% 6% Fonte: Fortec 6% 24% 24% Locus • Janeiro 2009 48% 24% 48% 45 e d u c a ç ã o Royalties gerados pelos NITs divulgação Fonte: Fortec, 2008 Patricia, do InovaNIT: núcleos devem respeitar diferenças entre ICT e mercado A Agência Inova, da Unicamp, foi escolhida para realizar o trabalho de capacitação justamente por ter conseguido superar essas dificuldades e ter se tornado referência. Criada em 2003, antes da Lei da Inovação, ela foi estabelecida para consolidar uma política institucional de gestão, proteção e transferência do conhecimento desenvolvida desde 1989. Atualmente, atividades desse NIT abrangem desde a gestão da Propriedade Intelectual até o empreendedorismo tecnológico, por meio, por exemplo, da sua incubadora Incamp. Bom exemplo Outra característica importante é a revisão anual da gestão estratégica da agência, na qual se monitora seu desempenho, se analisa o ambiente em que atua e se identificam oportunidades. Esses resultados indicam progressos para a universidade, que concentra 15% da pesquisa do país e tem o maior número de licenciamentos de tecnologia. Antes da criação da Inova, a Unicamp possuía seis contratos de licenciamento vigentes, sendo que depois, até final de 2007, somavam-se 40. As 46 Locus • Janeiro 2009 patentes depositadas durante todos os anos pré-agência chegavam a 255, número superado em apenas quatro anos de atuação da Inova. Especialistas do setor concordam que o desempenho positivo desse e de outros NITs baseia-se em sua capacidade de interagir, ao mesmo tempo, com a instituição de pesquisa e a iniciativa privada. Cada um, porém, acha sua maneira para explicar como os núcleos devem fazer a ligação entre esses dois mundos. Rocca, da Finep, recorre à metáfora das antenas. “Os núcleos devem ter o perfil de aproximar a instituição das empresas. Tem que ser como uma antena dentro e fora da instituição. Dentro, captando as potencialidades dos cientistas. E fora buscando saber o que as empresas demandam.” Na explicação de Patricia, do InovaNIT, tratam-se de “mundos distintos com objetivos conflitantes”. “Os NITs têm que saber respeitar esses dois mundos. De um lado há as instituições, que pregam a liberdade de pesquisa, a difusão do conhecimento e resultados em longo prazo. Do outro, as empresas exigindo sigilo e prazos apertados. Na medida em que se conseguir fazer esses dois mundos convergirem, a sociedade ganha”. c r i a t i v i d a d e Moda que vem das águas Empreendedores do Pará reaproveitam o couro de peixe para a produção de bolsas, sapatos e acessórios. Produção sustentável atrai clientes C cializou no reaproveitamento da pele do peixe, em uma viagem à Alemanha. Ao colocar a empresa à venda, algum tempo depois, a beleza das peças encantou uma empreendedora de Belém. “Como estava aposentada e achei o trabalho maravilhoso, me dispus a fazê-lo em sociedade com meu filho e minha nora”, relembra Marta Beatriz Costa e Silva, uma das atuais sócias da marca. Apesar de o negócio estar em fase de evolução – conta com poucos funcionários e não possui filial –, a marca de inovação e criatividade indica bons momentos pela frente. Segundo Marta, vendedores autônomos do Rio de Janeiro, de Brasília, Presidente Prudente, Goiânia e Macapá já comercializam suas bolsas, sapatos e aces- A manda M iranda Divulgação ores vibrantes e produtos que chamam a atenção pela beleza e criatividade. A descrição poderia estar presente em qualquer catálogo de moda nacional ou internacional, mas a inovação de empresários de uma marca de bolsas, sapatos e acessórios do Pará aliou essas características ao cuidado ambiental, originando um produto exótico que deixaria qualquer grande designer ou estilista admirado. A principal matéria-prima da Fora d’Água, cujo trabalho é basicamente artesanal, é o couro de peixe. O que seria lixo orgânico é totalmente reaproveitado, transformando-se em peça exclusiva, diferenciada e, claro, sem odor. A idéia virou negócio há cinco anos, quando o antigo proprietário da empresa se espe- Fabricação artesanal dá origem a peças exclusivas Locus • Janeiro 2009 47 FOTOS: Divulgação Produtos da Fora d’Água: matéria orgânica transformada sórios para o resto do país. A peculiaridade e o apelo ecológico da Fora d’Água também levaram o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o governo do Pará a incentivarem os empreendedores a participar de uma feira na França. “Fizemos, na época, boas vendas e estamos aguardando retorno dessa visita. No momento, temos uma pequena representação em Lyon”, conta Marta. A empresa não revela dados sobre faturamento, mas como o trabalho é artesanal a produção acaba sendo limitada. Isso não impede que novos funcionários sejam contratados à medida que os pedidos aumentem. De acordo com a empresária, a Fora d’Água dispõe inclusive de uma cen- 48 Locus • Janeiro 2009 tral de cadastros, com nomes de profissionais qualificados que já executaram trabalhos para a marca. Além da beleza dos produtos, é a preocupação com a sustentabilidade que fascina os apreciadores da Fora d’Água. O couro do peixe é comprado dos pescadores locais, gerando mais renda para trabalhadores e, em conseqüência, o desenvolvimento regional. Ao invés de lixo, o que se vê é um catálogo de aguçar o instinto consumista de qualquer um. Tudo ecologicamente correto. “O que é novo e curioso desperta desejos. Na moda, as coisas não deixam de ser assim também”, destaca a empresária, que já contabiliza os lucros de valorizar a arte e a cultura locais. CULTURA r u n o M o r e s c h i B Gomorra C i n e m a Direção: Matteo Garrone. Ano: 2008. Com Salvatore Abruzzese, Simone Sacchettino e Salvatore Ruocco. Aclamado pela crítica e premiado no Festival de Cannes, Gomorra já é chamado de Cidade de Deus italiano. Em vez da favela carioca, o foco está na máfia da organização Camorra, que mata mais do que qualquer outra milícia européia – desde 1992, estima-se que 3,1 mil pessoas já morreram. Numa fotografia propositadamente suja e edição frenética tal qual o filme brasileiro de Fernando Meirelles, o diretor Matteo Garrone mostra como a máfia está intimamente ligada a atividades tão diversas quanto o controle do lixo e o luxo da indústria da moda. Quando o filme termina a sensação é de desesperança. Repare na ótima interpretação dos atores, que criam a aura de extremo realismo na produção. E X POSIÇ Ã O Um mundo a perder de vista - Guignard Fundação Iberê Camargo. Avenida Padre Cacique, 2.000. Porto Alegre (RS). De terça a sexta, das 10h às 19h. Quintas até as 21h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca. Gomorra – A história real de um jornalista infiltrado na violenta máfia napolitana l e i t u r a Autor: Roberto Saviano. Editora Bertrand Brasil. 350 páginas. O filme Gomorra é baseado numa obra literária de mesmo nome escrita pelo escritor e jornalista Roberto Saviano. Por mais de cinco anos, ele mergulhou nos meandros da máfia para escrever o livro. A prova de que o assunto não é brincadeira: até hoje, Saviano vive sob escolta policial em local desconhecido. A Camorra já afirmou mais de uma vez que iria assassiná-lo antes do fim de 2009. Nas páginas do livro a descrição substitui análises profundas que certamente tirariam o impacto das denúncias da obra. De tempos em tempos, artistas antes considerados apenas mais um nome dentro de um amplo movimento artístico recebem novos estudos, mostras individuais até que suas características os tornam pintores cujo trabalho sustenta-se por si só. É o que está acontecendo com Alberto da Veiga Guignard, o brasileiro que nasceu em Nova Friburgo e foi estudar em Munique e Florença. Em Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo faz uma retrospectiva das pinturas de Guignard com preciosidades como as duas telas Noite de São João, cedidas pelo Museu da Arte Moderna de Nova Iorque. Aproveite a visita e veja também na Fundação o trabalho de três artistas contemporâneos gaúchos. As obras de Elaine Tedesco, Karin Lambrecht e Lucia Koch espalham-se pelo quarto andar e pelas janelas e rampas do local. Assista Família Soprano. Acaba de ser lançada uma caixa com seis temporadas da série de TV que conta a história de um mafioso ítaloamericano que tenta se livrar de freqüentes ataques de pânico. Im p e r a t i v o Ouça Fleet Foxes. Nos jornais Independent e New York Times, na revista Rolling Stone, a maioria das listas dos melhores discos de 2008 elegeu, se não em primeiro, pelo menos entre os 10 melhores, o CD de estréia lançado por essa banda de Seattle que mistura pop com elementos de jazz. Locus • Janeiro 2009 49 o p i n i ã Divulgação Uma história inspiradora T Mauricio Guedes* *Mauricio Guedes é diretor da Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ e do Parque Tecnológico da universidade. Atual vice-presidente da International Association of Science Parks (IASP), está deixando a presidência do Conselho Editorial da Locus e passa a colaborar com a seção Opinião a partir desta edição. 50 o Locus • Janeiro 2009 oda virada de ano sugere balanços e reflexões. É difícil lembrar um Ano Novo mais conturbado e, por isso mesmo, mais inspirador: crise mundial e com passaporte americano, fraude mundial e também com passaporte americano, velhos conflitos e novas guerras, novo (e surpreendente) presidente nos Estados Unidos e, finalmente, o todo-poderoso mercado voltando a ser questionado e fazendo com que políticas públicas para dominar suas forças sejam acionadas em escala global. Tantos fatos mexem com as cabeças que tentam pensar e construir o futuro, em todo o mundo. No Brasil, temos um motivo a mais que torna este momento especialmente importante: acabam de tomar posse 5.563 novos prefeitos no país, que, ao lado dos mais de 50 mil vereadores eleitos em outubro passado, vão conduzir as cidades onde vivemos pelos próximos quatro anos. É curioso o fato de que o desenvolvimento econômico seja um tema tão pouco debatido nas eleições municipais. Afinal, é nas cidades que a capacidade empreendedora de uma sociedade se constrói, a partir das pessoas, do ambiente, da cultura, das políticas públicas, das entidades e das empresas. Neste momento, vale a pena relembrar a história de um prefeito especial. Paulo Frederico Toledo, falecido precocemente em 1998, administrou a cidade de Santa Rita do Sapucaí, no interior de Minas Gerais, em meados da década de 1980. Fui apresentado ao Paulinho Dentista, como era conhecido, naquela época. Santa Rita tinha cerca de 30 mil habitantes e o Vale da Eletrônica, que hoje conta com mais de uma centena de empresas do setor, empregando cerca de 7 mil pessoas , dava seus primeiros passos. Foi o próprio Paulinho, com seu jeito de falar deliciosamente mineiro, que me contou como surgiu a idéia. Ao planejar sua campanha eleitoral, o grupo que o apoiava se reuniu – segundo ele em um bar – para avaliar o que a cidade tinha de especial e que ainda não havia sido plenamente explorado. Obviamente chegaram à Escola Técnica de Eletrônica (ETE), criada em 1959 pela lendária Sinhá Moreira, e ao Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), fundado em 1965. Recém-eleito, cidade pequena, o Paulinho Dentista era assediado por muita gente que lhe pedia um emprego. A todos, respondia: “Emprego eu não tenho, mas se você criar uma empresa de eletrônica, a prefeitura paga o seu aluguel por dois anos.” E assim, desse jeito simples, nascia um projeto que mudaria os rumos da cidade nas década seguintes. Santa Rita encontrava uma importante vocação econômica, colhendo os frutos do sonho de visionários que criaram naquela pequena cidade a primeira escola técnica de eletrônica da América Latina. Reencontrei Paulinho Toledo, não mais prefeito, mas ainda dentista, em meados dos anos 90. Não sei como ele soube que eu, na época presidente da Anprotec, estava na cidade e foi me encontrar no Inatel. Vestindo seu jaleco branco, me contou que estava fazendo mestrado. Eu perguntei em que área. Ele, surpreso com a pergunta óbvia, respondeu: “Ora, em eletrônica, claro”! Essa é uma das lições deixadas por Paulinho e que pode servir como inspiração àqueles que estão assumindo o comando de nossos municípios. Um prefeito com capacidade empreendedora, olhar no futuro e pés no chão pode escalar o mundo acadêmico local para protagonizar uma história de sucesso que ficará marcada por transformar o futuro da cidade.