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do Boletim
BOLETIM SBNp
Gestão 2011-2013 -Edição Janeiro 2013
Editorial
Nesta edição:
Texto Inicial
Psicocirurgia: Alvos Cirúrgicos e Indicações Clínicas
Queridos associados da SBNp,
Nesse novo ano que se inicia, gostaríamos de desejar um ano repleto de felicidades e anunciar que neste ano de 2013 teremos muitos eventos no Brasil todo relacionados a neuropsicologia! Aguardem!!!
Nessa edição contamos com um texto inicial de autoria dos pesquisadores do InsEntrevista do mês
Profa Dra. Maria de Lourdes Merighi Tabaquim
tituto D´Or do Rio de Janeiro, Ricardo de Oliveira Souza, Flávia Miele, Gabriel
Coutinho e Paulo Mattos, abordando a temática da psicocirurgia.
Temos também a brilhante entrevista que a Dra. Maria de Lourdes Merighi Tabaquim cedeu para o Boletim da SBNp, falando um pouco sobre sua trajetória no
Relato de pesquisa
Desempenho de estudantes
universitários em testes
matutinos e vespertinos
para avaliação da memória
campo da neuropsicologia.
O relato de pesquisa fica por conta das pesquisadoras da UNICAMP Grazielle de
Sousa e Elenice Ferrari, abordando o desempenho de universitários na avaliação
da memória.
NEUROeventos
World Congress on Brain,
Behavior and Emotions
Além disso, temos as informações de alguns eventos na área como o World
Congress on Brain, Behavior and Emotions que ocorrerá em São Paulo, bem como o Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas que será realizado em Ribeirão
Preto.
Congresso Brasileiro de
Terapias Cognitivas
Para finalizar, temos ainda o prazer de apresentar a mais nova representante regional da SBNp no Piauí: Inda Lages!
Notícia
Equipe editorial da SBNp!
Nova representante regional
da SBNp no Piauí!
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
Psicocirurgia: Alvos Cirúrgicos e Indicações Clínicas*
(Valenstein, 1986), sua promessa
original sobreviveu às críticas,
constituindo, atualmente, modalidade terapêutica válida (Mashour
e col., 2005; Robison e col.,
2012). No entanto, sua preservação de validade e eficácia depende da observação de alguns pontos a serem discutidos a seguir:
(a) técnica e alvos cirúrgicos, (b)
indicação e seleção de candidatos, (c) preparo do paciente e
acompanhamento pós-cirúrgico, e
(d) fundamentos teóricos (Figura
1).
Poucos temas em medicina se
revelam tão polêmicos como a
psicocirurgia* (Marino Jr. & Cosgrove, 1997) — a manipulação
cirúrgica do tecido nervoso com
o objetivo de modificar um sintoma psicopatológico classificado
no DSM-IV (Feldman e col.,
2001). Depois de quase meio
século em ostracismo, a psicocirurgia constitui hoje modalidade
terapêutica em via de aperfeiçoamento ao lado das outras três
modalidades do que veio a ser
conhecido como “neurocirurgia
funcional”: a cirurgia para dor,
epilepsia, e movimentos involuntários anormais.
I. Técnica e alvos cirúrgicos
O renascimento da psicocirurgia se deveu a dois fatores. Em
primeiro lugar, à constatação de
que o sucesso da farmacoterapia
no tratamento das doenças mentais revelava limitado. Em todo o
mundo, milhões de pessoas com
distúrbios refratários ou resisten-
Originada de uma sucessão
de equívocos conceituais inflamados por acirradas disputas
pessoais que acabaram por
confundir seus propósitos e produzir
alguns
exageros
tes ao tratamento medicamentoso continuavam sem solução.
Estudos clínicos em amostras
populacionais demonstram que
número significativo de indivíduos tratados adequadamente
não apresenta melhora significativa ou remissão completa (caso
da depressão e do TOC) ou então não há demonstração de
graus significativos de eficiência
apesar de existir eficácia medicamentosa em estudos controlados
(caso da esquizofrenia). O segundo fator deveu-se à introdução
de
técnica
moderna
(estereotaxia) (Hassler & Riechert, 1955) que aumentou a precisão do alcance dos alvos cirúrgicos e reduziu a milímetros cúbicos o volume de tecido nervoso
excisado ou estimulado. Cinco
alvos estereotáticos principais
são hoje reconhecidos (Figura 2)
(Ovsiew & Frim, 1997):
Figura 1. Afiliações Teóricas e Práticas da Psicocirurgia
Movimentos involuntários anormais
↑
Dor ← Neurocirurgia Funcional → Epilepsia
↓
Psicocirurgia


Estimulação
Ablativa

(“marcapasso”)

Técnica operatória e alvos cirúrgicos
Indicações e seleção dos candidatos
Cuidados pré e pós-operatórios
Fundamentos teóricos
*Este artigo é transcrição de parte da exposição oral de um dos autores (ROS) durante a Jornada da Rede D'Or-São Luis, em (mês) de 2012, no Rio de Janeiro.
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Continua
Boletim SBNp—Janeiro—2013
Por: Ricardo de Oliveira Souza, Flávia Miele, Gabriel Coutinho, Paulo Mattos
dos hemisférios cerebrais nos
três planos do espaço para indicar a posição aproximada dos
alvos estereotáticos na ordem
em que foram listados na Seção
1. O item 4 da Seção 1 não está
representado porque consiste na
combinação de 1 e 3. A hipotalamotomia posteromedial é representada apenas em plano parassagital para indicar o triângulo de
Sano
I.
O feixe do cíngulo, interrompido pela cingulotomia anterior, que alveja a
substância branca subjacente ao córtex do terço
anterior do giro do cíngulo (Fulton, 1951).
II.
O braço anterior da cápsula interna, alvejado pela capsulotomia anterior
(Talairach, 1949).
III.
A substância branca subjacente à cabeça do núcleo caudado, alvejada
pela fasciculotomia subcaudada (Knight, 1969).
IV.
V.
O feixe do cíngulo (item
1) e a substância branca
subcaudada (item 3), alvejados no mesmo procedimento,
denominado
“leucotomia
límbica” (Kelly e col., 1973).
O hipotálamo posteromedial (Sano, 1966).
Em pacientes cooperativos,
a cirurgia é realizada sob anestesia local e sedação leve, em
regiões bilaterais e aproximadamente simétricas dos hemisférios cerebrais, no mesmo ato
cirúrgico ou com intervalo menor que um mês. Não há acordo
quanto ao alvo estereotático
mais eficaz para cada sintoma
particular. Embora de considerável importância prática e teórica, a
escolha dos alvos continua dependendo de preferências pessoais
de psiquiatras e cirurgiões, disponibilidade de recursos locais, e
inclinações teóricas das diferentes
equipes. No momento, considerase que os alvos sejam igualmente
eficazes e inespecíficos em relação aos objetivos terapêuticos
individuais. Esta, todavia, constitui
fronteira pouco ou nada explorada, que requer exame sistemático
intensivo.
tes com esquizofrenia ou com retardo mental. A finalidade terapêutica é a mesma nas duas situações — o controle da agressividade. Não faz sentido, portanto, falar
de “psicocirurgia para esquizofrenia” ou “para distúrbio obsessivocompulsivo”. As seguintes características parecem antecipar bom
resultado:

Doença crônica com os
seguintes
sintomas-alvo:
ansiedade, depressão, obsessões, compulsões, e
tiques na síndrome de Tourette.

Personalidade
normal.

Incapacitação social e ocupacional de, pelo menos,
dois anos.

Documentação de refratariedade à (i) farmacoterapia,
(ii) psicoterapia, e (iii) a
ECT, em doses e duração
adequadas.

Idade e sexo não constituem contraindicações absolutas.
premórbida
2 Indicação e seleção de candidatos
3
Cuidados
operatórios
Ao contrário da prática indiscriminada da lobotomia frontal nos
tempos que precederam a introdução da estereotaxia e de instrumentos diagnósticos confiáveis
(Valenstein, 1986), sabemos hoje
que o sucesso da psicocirurgia
depende, em grande parte, à seleção de pacientes com maior probabilidade de resposta terapêutica. A intervenção cirúrgica se destina ao controle de sintomas específicos e não, como habitualmente
se pensa(va), de diagnósticos categóricos (van Praag, 1990). Por
exemplo, a hipotalamotomia posterior pode ser indicada para controlar a agressividade de pacien-
Uma vez estabelecido o benefício potencial da cirurgia para
determinado candidato, deve-se
ter em mente os seguintes pontos
na condução de cada caso
(Conselho Federal de Medicina,
Resolução №1408/94; Miguel e
col., 2004):
pré
e
pós-

Consentimento informado
por escrito do paciente ou
responsável legal.

Ao psiquiatra cabe a indicação da cirurgia e o acompanhamento pós-cirúrgico.
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Boletim SBNp—Janeiro—2013
Figura 2. Cortes esquemáticos
4
Revisão dos registros
médicos, exames neuropsiquiátrico e neuropsicológico, e Ressonância
Magnética cerebral. Um
dos propósitos desta avaliação é a aplicação de
medidas semiquantitativas que permitam estimar
uma linha mais ou menos
estável de gravidade dos
sintomas-alvo para comparações subsequentes.
Além disso, estes resultados informam o nível de
funcionamento cognitivo
global (ex. QI) e domínioespecífico (ex. funções
executivas), bem como o
tipo de personalidade de
cada paciente, idealmente com referência às cinco dimensões básicas da
personalidade.
de atividade dos núcleos da base
se traduz pelo aumento do consumo regional de glicose, principal
preditor de sucesso cirúrgico
(Berti e col., 2011). Nos termos
jacksonianos clássicos, a rigidez e
a acinesia na Doença de Parkinson são sintomas positivos que
resultam
da
desinibição
(“liberação”) das projeções pálidotalâmicas devido, em última análise, à degeneração das projeções
nigroestriadas (Martin, 1959). A
ablação ou estimulação posterolateral do globo pálido reduz a atividade pálido-talâmica e restabelece o delicado equilíbrio na região.
Fundamentos teóricos
Ao contrário da cirurgia
funcional para epilepsia, dor, ou
para movimentos involuntários
anormais, o flanco vulnerável da
psicocirurgia reside em seus
pressupostos teóricos. Esta lacuna, antiga como a própria
ideia da “cirurgia da mente” (Freeman & Watts 1937; Moniz, 1936), se deve à dificuldade
de encontrarmos explicações
fisiopatológicas ou anatômicas
plausíveis para seu sucesso ou
fracasso em casos individuais.
Considere-se, por exemplo, a
ablação da divisão posteroventral do globo pálido para tratamento da Doença de Parkinson
(Svennilson e col., 1960). Os
sintomas mais incapacitantes —
a rigidez e a acinesia — resultam da hiperatividade dos núcleos da base causada pela
degeneração da via dopaminérgica nigroestriada. Este excesso
Dificilmente conseguimos justificar a psicocirurgia por raciocínio
análogo (Rauch, 2003). O apelo a
sistemas cerebrais aparentemente
válidos na ocasião em que são
formulados acabam por se revelar
infundados em curto-prazo. Vejam
-se, a título de ilustração, os pressupostos que fundamentaram as
cirurgias pioneiras, como as de
Moniz (1936) e Freeman (1937),
que hoje nos parecem ingênuos.
Por exemplo, o apelo ao “sistema
límbico” para justificar a escolha
de determinados alvos estereotáticos (Kelly, 1973) torna-se fútil a
partir do momento em que se demonstra a falsidade do próprio
conceito de sistema límbico
(Heimer, 2008). Em outras palavras, até o momento, a tentativa
de reduzir sintomas psicopatológicos à expressão de sintomas positivos ou negativos não logrou êxito. Não obstante, a psicocirurgia
frequentemente dá certo. E este
fulcro, puramente pragmático,
continua sendo a principal justificativa para sua realização e aprimoramento. Os leitores interessados nas estatísticas de resultados
encontrarão material abundante
em publicações recentes (Luigjes
e col., 2012).
A despeito da dificuldade de
criarmos modelos psicopatológicos que obedeçam à formulação
jacksoniana de sintomas positivos
e negativos, tentativas neste sentido indicam que tal seja possível
no que diz respeito, por exemplo,
à agressividade, ansiedade, depressão, obsessões e compulsões
(Berrios, 1985). Uma das investigações mais interessantes replicou as lesões infligidas pela capsulotomia anterior, pela cingulotomia e pela fasciculotomia subcaudada, em um cérebro estatisticamente normatizado, verificando
uma região comum correspondendo ao feixe medial do prosencéfalo (Schoene-Bake e col., 2010).
Se estes resultados forem confirmados por estudos independentes, poderemos estar, pela primeira vez, ante uma explicação robusta para a maioria das psicocirurgias convencionais e estereotáticas. O feixe medial do prosencéfalo compreende um sistema bidirecional e quimicamente heterogêneo de fibras de diferentes diâmetros e mielinização que se estendem da área tegmental ventral à
região septal ao longo do hipotálamo lateral, estabelecendo, no trajeto, conexões locais e à distância
entre as estruturas subcomissurais da base do cérebro, como o
núcleo accumbens e a área préóptica (Nauta & Domesick, 1981).
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Boletim SBNp—Janeiro—2013

Os avanços tecnológicos contemporâneos propiciarão crescimento sem precedentes da psicocirurgia, tanto em aperfeiçoamento técnico como na diversificação de indicações (Vilela Filho
e col., 2011). Por exemplo, das
muitas indicações potenciais,
pelo menos os seguintes deverão ter impacto mensurável nos
próximos anos — alguns sintomas cardinais do alcoolismo e de
outras dependências químicas
(essencialmente, a “fissura”)
(Stelten e col., 2008), da obesidade mórbida (Sankar e col.,
2012) e dos transtornos alimentares (Zamboni e col., 1995), e
da psicopatia (Schvarcz e col.,
1972). Outra área de incerteza
compreende a vantagem relativa
das técnicas de ablação e de
estimulação cerebral através de
eletrodo profundo, popularmente
conhecido como “marcapasso
cerebral” (Holtzheimer e col.,
2012). Além disso, precisamos
consenso quanto a resposta mínima para cada sintoma-alvo ou
grupo de sintomas, à semelhança do que já ocorre em farmacoterapia — por exemplo, qual o
percentual de resposta mínima a
ser considerado “sucesso” em
um caso de compulsões graves?
20% na Escala de Y-BOCS? Em
nossa opinião, qualquer resposta
a esta pergunta deve obrigatoriamente levar em conta alguma
medida de qualidade de vida
cotidiana, como a Escala de
Ajuste Social (Gorenstein e col.,
2000) ou a Escala SócioOcupacional Global (Hilsenroth e
col., 2000). Finalmente, não devemos valorizar demais os efeitos de curto-prazo da intervenção, favoráveis ou não. A nosso
ver, apenas ao fim de dois anos
poderemos ter clareza dos resultados. Acompanhamentos regulares neste período serão essenciais para estabelecer o grau de
benefício real e sua estabilidade
de longo-prazo.
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Profa Dra. Maria de Lourdes Merighi Tabaquim
SBNp: Profa, primeiramente a
SBNp agradece sua entrevista
para o Boletim, e para que os leitores conheçam um pouco mais
da sua trajetória, gostaríamos de
saber como foi o caminho para a
sua formação em Neuropsicologia.
Maria de Lourdes: Desde a minha
pós-graduação no Programa de
Mestrado em Educação Especial na
Universidade Federal de São Carlos, me inquietavam questões sobre
os fatores etiológicos do desenvolvimento cognitivo e os complexos
mecanismos responsáveis pelo
aprendizado acadêmico da criança
na fase de escolarização fundamental, especialmente da leitura e escrita. Foi durante um dos eventos promovidos pela ABENEPI – Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, que tive o feliz contato com a Profª Drª Maria Valeriana
Leme de Moura-Ribeiro, renomada
Neurologista Infantil, e que incentivou o meu doutorado na Faculdade
de Ciências Médicas/Unicamp, junto
à orientação da Profª Drª Sylvia Maria Ciasca, neuropsicóloga reconhecida e pesquisadora sobre funções
corticais em crianças com distúrbios
de aprendizagem, autismo e transtornos da atenção. Passei a fazer
parte do seu Grupo de Pesquisa
(CNPq) em Neurodesenvolvimento,
escolaridade e aprendizagem, onde
me mantenho integrada, como pesquisadora, até hoje. Durante o Doutorado e Pós-Doutorado desenvolvi
pesquisas na linha da avaliação
neuropsicológica, buscando a compreensão das relações corticais e
do comportamento da criança com
dificuldades no desenvolvimento de
habilidades cognitivas relacionadas
à atenção, percepção, memória,
linguagem e integração visomotora.
SBNp: Atualmente Profa, qual sua
atuação na Neuropsicologia?
Maria de Lourdes: Oriento uma
equipe interdisciplinar em Neuropsicologia, desde profissionais, residentes da área de Psicologia, estudantes
de graduação e pós-graduação, na
realização de avaliações diagnósticas
e adoções de programas de remediação neuropsicológica em crianças e
adolescentes. Sou responsável pela
disciplina de Desenvolvimento no
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde: síndromes de anomalias craniofaciais, com o objetivo
na formação preliminar de bases
neuropsicológicas que subsidiem a
atuação clínica do residente. No âmbito da pesquisa, a neuropsicologia é
parte da avaliação e intervenção de
pacientes com transtornos no desenvolvimento, aprendizado e comportamento.
SBNp: Qual sua linha de pesquisa,
trabalho e filiação?
Maria de Lourdes: Na Clínica de
Fonoaudiologia da FOB-USP, desenvolvo, junto à minha equipe, estudos
clínicos sobre neurodesenvolvimento
na linha de pesquisa em avaliação e
reabilitação neuropsicológica, com a
interface saúde e educação. Visamos
a compreensão dos problemas da
aprendizagem vivenciados pela criança e adolescente no âmbito escolar e
o desenvolvimento de programas de
remediação, mais focados e intensificados na reabilitação de habilidades
neuropsicológicas. Além das crianças
encaminhadas pela escola e área
médica, com queixa na atenção, hiperatividade e na aquisição de competências acadêmicas, a população
com fissura e anomalias craniofaciais tem, atualmente, direcionado
nosso interesse na busca para
ampliar o campo de respostas
sobre o neurodesenvolvimento e
os processos da aprendizagem,
decorrentes ou que cursam à condição congênita da malformação.
No Hospital de Reabilitação de
Anomalias Craniofaciais da USP
Bauru, contamos com a parceria
de áreas conjugadas, especialmente a Fonoaudiologia, Neurologia e Genética, e mais recentemente, temos investido na avaliação de determinantes cognitivos
atencionais fenotípicos de crianças com fissura labiopalatina correlacionados a determinantes genéticos.
SBNp: Em relação ao seu Grupo de Pesquisa (GEP), como ele
é formado?
Maria de Lourdes: Temos encontros mensais de estudo, com
cronograma de atividades temáticas, apresentadas e discutidas
pelos integrantes do próprio grupo, relacionadas à neuropsicologia e síndromes/anomalias craniofaciais. Por ser um grupo interdisciplinar, com a participação de
diferentes áreas, tais como a Psicologia, Fonoaudiologia, Enfermagem, Genética e Assistência Social, temos projetos em avaliação e
reabilitação neuropsicológica, envolvendo aspectos cognitivos, genéticos, psicossociais e da comunicação, na investigação sobre o
neurodesenvolvimento. As anomalias craniofaciais e as alterações na aprendizagem têm sido o
nosso objeto de estudo de maior
interesse.
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Continua
Boletim SBNp—Janeiro—2013
Por: Ana Paula Gasparotto Paleari
Maria de Lourdes: Percebo um
avanço cada vez maior na demanda
de cursos de capacitação profissional, nessa área, assim como, a ampliação de grupos de pesquisa reconhecidos por instituições e órgãos
de fomento. Tenho visto um crescente de apresentações em eventos
da área, o que me sugere um contingente de pessoas interessadas,
estudando e aprendendo neuropsicologia. Vejo também a valorização
sobre os pareceres diagnósticos
como contribuição significativa na
análise e evolução de caso clínico,
tanto de profissionais de áreas afins
quanto da própria família.
No entanto, reconheço que há
ainda muito desconhecimento por
parte de pesquisadores, médicos e
não médicos, que veem na neuropsicologia somente indicações no
plano da função intelectual, e não
como um processo de investigação
sobre competências atencionais, da
memória, gnosias, linguagem, praxias e funções executivas.
Um aspecto importante a considerar é a discussão sobre o exercício da neuropsicologia por profissionais de outras áreas, sob a alegação de que seu conhecimento é
multidisciplinar. É preciso esclarecer
que a prática da Neuropsicologia
compete ao profissional com formação específica, numa especialidade
da Psicologia, pois, embora o conhecimento venha de múltiplas
áreas, a prática compete ao neuropsicólogo, profissional este qualificado na sua formação de origem.
Outro aspecto importante é a carência de baterias fixas, padronizadas
para a população brasileira, o que
remete muitas vezes, à utilização
instrumental estrangeira, de forma
equivocada. É preciso compreender
ainda que, embora sejam utilizados
testes clínicos da Psicologia, eles
não são testes neuropsicológicos,
mas é a análise interpretativa dos
mesmos que conduz a resultados
neuropsicológicos, e isso exige formação e domínio profissional.
exercício de boa qualidade.
Vejo ainda, que, profissionais de Psicologia despreparados, utilizam mecanicamente os testes da área, corrigem conforme as normas do instrumento e expressam pareceres com a
nominação “Avaliação Neuropsicológica”, evidenciando a falta de domínio do método neuropsicológico na
análise das funções corticais superiores. Trata-se de uma postura ética
saber que os procedimentos diagnósticos e terapêuticos precisam ser fundamentados com base em evidências, o que remete à validação do
instrumento, para o qual tenha um
referencial normativo que reconheça
a validade do constructo e a fidedignidade estabelecida. A Neuropsicologia tem sido alvo de crescente interesse e demanda pelos serviços, mas
é preciso que o profissional tenha
domínio e formação para o emprego
da avaliação neuropsicológica de
qualidade, que, vejo, cada vez mais,
um crescente sobre o nível de exigência da comunidade científica e em
geral.
Maria de Lourdes: Eu poderia dizer
que entenda o que é uma avaliação
neuropsicológica e o que ela pode
contribuir na condução do tratamento
do paciente. Os conceitos e ideias
propostos pelo grande Luria, penso,
é o ponto de partida para a compreensão do dinamismo cerebral. A literatura também tem descrito e discutido casos interessantes de experiências raras e até mais comuns, que
favorecem a oportunidade para o
aprendizado.
SBNp: Qual conselho você daria
para alguém que está iniciando na
neuropsicologia?
Boletim SBNp—Janeiro—2013
SBNp: Profa, qual a sua visão
sobre a Neuropsicologia brasileira atual e as suas perspectivas?
Para finalizar, gostaria de enfatizar
que vivemos num momento onde o
trabalho interdisciplinar reconhecidamente favorece o crescimento profissional. Nenhuma área é dispensável
e nenhuma por si só se basta quando pensamos em saúde e educação.
Portanto, é necessário o investimento contínuo na formação especializada, a apropriação do conhecimento
específico, a busca por equipes produtivas com identidade e propósitos
definidos.
SBNp: Como você concilia sua
área de formação com a prática
clínica e acadêmica em neuropsicologia?
Maria de Lourdes: Como docente
em dedicação integral na universidade pública, tenho que me organizar
para responder às diferentes demandas: preparar e ministrar aulas, orientar e dar suporte ao aluno de graduação e pós-graduação para o seu desenvolvimento acadêmico, desenvolver projetos de pesquisa e extensão,
investir ostensivamente na produção
intelectual e participar em eventos da
área visando levar à comunidade científica o conhecimento produzido.
Todo este propósito precisa estar
vinculado à constante atualização na
área da neuropsicologia para um
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
Maria de Lourdes Merighi Tabaquim
Docente do Curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Odontologia de Bauru da
Universidade de São Paulo (FOB-USP) e
do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo. É lider do GEP –
Grupo de Estudo e Pesquisa em desenvolvimento Humano, Fissura e Anomalias Craniofaciais, reconhecido pelo CNPq.
Ana Paula Gasparotto Paleari
Atualmente é mestranda em Ciências pelo
Programa de Fonoaudiologia pela USP/
Baruru, Psicóloga Clínica e Psicóloga da
Desempenho de estudantes universitários em testes matutinos e
vespertinos para avaliação da memória
As investigações quanto à ocorrência de variação rítmica da memória sugerem um efeito do horário do dia sobre os processos de
codificação e evocação de informações. Além disso, os dados
indicam a influência de fatores
extrínsecos (tipo da tarefa e domínio cognitivo avaliado) e intrínsecos (tipo cronobiológico, qualidade
do sono e estado de estresse, humor e ansiedade) sobre a capacidade de aprendizagem e memória
(Carrier e Monk, 2000; Schmidt et
al., 2007).
Neste contexto, minha pesquisa
de mestrado, realizada sob a orientação da Profa. Dra. Elenice A.
de Moraes Ferrari, teve como objetivo investigar se o desempenho
de estudantes universitários, em
testes de memória episódica e
operacional, varia em função do
horário e do intervalo de tempo em
que são realizados os testes de
evocação.
Inicialmente, foi realizada uma
avaliação do tipo cronobiológico
de uma amostra de 396 universitários. Os resultados evidenciaram
uma maior proporção de indivíduos classificados como cronotipo
intermediário (59%), seguido dos
vespertinos (35%) e matutinos
(6%); concordando com dados
descritos para a população brasileira (Benedito-Silva et al., 1990).
A avaliação do desempenho nos
testes de memória foi realizada
em uma amostra de 43 alunos,
classificados como intermediários,
que foram distribuídos em quatro
grupos de acordo com os horários
(manhã ou noite) e os intervalos
(12 horas ou 24 horas) entre as
sessões de teste imediato e tardio.
Para avaliação da memória episódica e operacional foram utilizados:
Teste de Aprendizagem
Referências
Auditivo Verbal de Rey (TAAVR),
Teste de Memória Lógica (TML),
Teste de Extensão de Dígitos e
Blocos de Corsi. Além dos testes
de memória, também foram avaliados: o ciclo vigília-sono dos estudantes, ritmo da temperatura de
punho e ritmo da
Carrier, J. e Monk, T. H. (2000).
Circadian rhythms of performance: new
trends. Chronobiology International, 17
(6), 719-732.
Boletim SBNp—Janeiro—2013
Por: Grazielle A. Fraga de Sousa & Elenice Aparecida de Moraes Ferrari
Benedito-Silva, A. A.; MennaBarreto, L.; Marques, N.; Tenreiro, S.
(1990). A selfassesment questionnaire
for the determination of morningnesseveningness types in
Brazil. Progress in Clinical Biological
Research, 341B, 89-98.
Schmidt, C.; Collette, F.; Cajochen,
C.; Peigneux, P. (2007). A time to think:
Circadian rhythms in human cognition.
Cognitive Neuropsychology, 24(7), 755789.
atividade motora, percepção de
estresse, estado de humor e ansiedade. A análise estatística não indicou efeito do horário ou do intervalo entre as sessões sobre o desempenho nos testes de memória episódica e operacional. No entanto,
foi observada uma correlação positiva entre o tempo de sono (global
e anterior à sessão de teste imediato) e o desempenho no teste tardio
do TAAVR e TML, sugerindo uma
relação entre a memória episódica
e a duração do sono dos estudantes. Os grupos não diferiram
quanto ao estado de humor, índice
de estresse percebido e características de ansiedade.
Estes resultados contribuem para o
conhecimento sobre a variação do
desempenho cognitivo durante a
fase de vigília, indicando a necessidade de novas pesquisas sobre o
papel do cronotipo como modulador da memória.
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
Grazielle A. Fraga de Sousa
Mestre em Biologia Funcional e Molecular pelo IB/UNICAMP.
Professora Auxiliar da Universidade
São Francisco/Bragança Paulista.
Professora Convidada de Cursos de
Especialização da Extecamp/
UNICAMP
.
O World Congress on Brain, Behavior
and Emotions foi inicialmente realizado
no sul do Brasil durante oito anos e hoje
atingiu uma magnitude global. Terá a
sua nona edição realizada em São Paulo e a décima em Montreal, Canadá . Em
quatro dias, reúne os mais importantes
nomes das áreas envolvidas nas relações
entre mente e cérebro, um público de
3000 pessoas, proporcionando um debate
sobre notícias, controvérsias e tecnologias, sendo assim, um grande instrumento
p a ra
a
a t u a l i za ç ã o
c i e n tí f i c a .
World Congress on Brain, Behavior and
Emotions
Para mais informações, acesse:
http://www.wcbbe.com/
LOCAL: Centro de Convenções Frei Caneca - São Paulo/SP
DATAS:
26/06/2013
a
29/06/2013
O Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas é o principal evento da área de Terapias
Cognitivas no Brasil, e nesta nona edição tem
como tema “Terapias Cognitivas: da pesquisa à
prática”. Como a diretriz da presente gestão da
FBTC é a integração entre diferentes saberes e
diferentes grupos que atuam nas terapias cognitivas e áreas afins, as interfaces entre a pesquisa e a prática receberão atenção especial neste
congresso. Diversos convidados nacionais e
internacionais estão confirmando sua presença
e será possível acompanhar estas confirmações
via atualização neste site.
LOCAL: Centro de Convenções de Ribeirão
Preto – SP.
DATA: 10 a 13 de abril de 2013
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
A
SBNp tem o prazer
em apresentar aos associados a nova representante regional do
estado do Piauí, Inda
Lages (foto ao lado).
na área de Psicologia na função de
Acompanhante Terapêutico e ministra
cursos e palestras em neurociências.
Inda Possui graduação
em Psicologia pela Faculdade Integral Diferencial (2011). Atualmente está cursando pós-graduação em Neuropsicologia no Centro Universitário Unichristus (CE) e especialização em Docência do
Ensino Superior pela Faculdade FAP
(Faculdade do Piauí). Inda possui experiência
Inda Lages
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp)
GESTÃO 2011-2013
Presidente:
Representações Regionais:
Giuliano Ginani (York-UK)
Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MGUFMG)
Alagoas: Katiúscia Karine Martins da
Silva
Jessica Fernanda (RO)
Vice-Presidente:
Bahia: Tuti Cabuçu
Juliana Burges Sbicigo (RS)
Lúcia Iracema Zanotto Mendonça (SPPUC-SP;USP)
Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade
Maicon Albuquerque (MG)
Centro Oeste: Leonardo Caixeta
Marcus Vinicius Costa Alves (SP)
Secretário:
Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula
Ricardo Franco de Lima (SP)
Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP)
Paraíba: Bernardino Calvo
Sabrina Magalhães (PR)
Tesoureira:
Paraná: Amer Cavalheiro Handan
Thiago S. Rivero (SP)
Deborah Azambuja (SP)
Pernambuco: Lara Sá Leitão
Secretária Geral:
Piauí: Inda Lages
Camila Santos Batista (SP)
Rio de Janeiro: Flávia Miele
Tesoureira Geral:
Rio Grande do Norte: Katie Almondes
Eliane Fazion dos Santos (SP)
Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonseca
Conselho Deliberativo:
Santa Catarina: Rachel SchlindweinZanini.
Daniel Fuentes (SP-USP)
Jerusa Fumagalli
UFRGS)
de
Salles
(RS-
Jonas Jardim de Paula (MG)
São Paulo: Juliana Góis
Paulo Mattos (RJ-UFRJ)
Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG)
Equipe do Boletim SBNp:
Coordenadora:
Conselho Fiscal:
Carina Chaubet D’Alcante (SP-USP)
Cristina Yumi N.
Coordenadora)
Gabriel C. Coutinho
D`OR)
Alexandre Nobre (RS)
(RJ–
Neander Abreu (BA-UFBA)
Instituto
Sediyama
(MG—
Carina Chaubet D’Alcante (SP)
Gabriel Coutinho (RH)
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
Tel: 0xx(11) 3031-8294
Fax: 0xx(11) 3031-8294
Email: [email protected]