comunidades de aprendizagem na educação de jovens e adultos
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COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FORMAÇÃO PERMANENTE DO PROFESSORADO Daniela Mara Gouvêa Bellini Universidade Federal de São Carlos – UFSCar [email protected] Alexandre Monte EMEB “Arthur Natalino Deriggi” [email protected] Modalidade: Relato de Experiência Eixo 5 - Saberes construídos na formação de formadores (as) RESUMO Este trabalho tem como objetivo relatar a importância da formação continuada do professorado dentro do projeto Comunidades de Aprendizagem na modalidade de EJA de uma escola municipal do interior paulista. Inicialmente, conceituaremos a Aprendizagem Dialógica e seus princípios, fundamentada na teoria da Ação Comunicativa de Habermas e na teoria da Ação Dialógica de Paulo Freire. Em seguida, explicaremos o que é uma Comunidade de Aprendizagem. Posteriormente, descreveremos a experiência da formação dos (as) professores (as) na escola em questão. Por fim, discutiremos as mudanças e possíveis resultados no âmbito escolar em relação à formação do professorado na Comunidade de Aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE Comunidades de Aprendizagem, Tertúlia Pedagógica Dialógica, Atividades Educativas de Êxito, Formação de Professores. 1. INTRODUÇÃO O presente relato tem como objetivo discutir o processo formativo dos (as) professores (as) que buscam máxima aprendizagem dos estudantes, utilizando as bases teóricas e metodológicas de uma Comunidade de Aprendizagem (CdA), bem como o desenvolvimento das Atividades Educativas de Êxito (AEEs) para aprimorá-las. Este relato de experiência é parte do projeto “Comunidades de Aprendizagem” que é desenvolvido na Escola Municipal de Educação Básica “Arthur Natalino Deriggi”, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), no período noturno. Primeiramente, conceituaremos com embasamento teórico a Aprendizagem Dialógica e seus princípios, e também Comunidades de Aprendizagem. Depois, abordaremos o conceito de tertúlias pedagógicas dialógicas, demonstrando a importância da formação do professorado para aplicar as Atividades de Êxito reconhecidas pela comunidade científica internacional. Em seguida, remeteremos à experiência vivenciada pelo professorado na Educação de Jovens e Adultos e como ocorre a formação dos professores na escola. Por fim, nos dedicaremos às nossas considerações finais, demonstrando o impacto de uma formação de qualidade do professorado nas atividades que estão ocorrendo na escola. 2. APRENDIZAGEM DIALÓGICA Nesta seção, explicitaremos o conceito de Aprendizagem Dialógica e sua fundamentação teórica. Este conceito foi elaborado por Ramón Flecha, sendo a base teórica metodológica de Comunidades de Aprendizagem, elaborada pelo Centro Especial de Investigação em Teorias e Práticas Superadoras de Desigualdade (CREA)¹ da Universidade de Barcelona, na Espanha. No Brasil, estes conceitos foram desenvolvidos e aplicados pelo Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE)², da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Flecha (1997) evidencia em sua obra que a Aprendizagem Dialógica nasce a partir da teoria da Ação Comunicativa elaborada por Jünger Habermas e da teoria da Ação Dialógica de Paulo Freire, composta pela educação, o diálogo igualitário e a comunicação como princípios para superação das desigualdades sociais. Jünger Habermas (2001), conceitua em sua obra “Teoria de la Acción Comunicativa” o mundo da vida argumentando que todas as pessoas são capazes de linguagem e ação, permitindo interagir e chegar a acordos. Ou seja, a partir de conhecimentos adquiridos e das experiências vivenciadas em comum, é permitido por um processo de interação que os indivíduos comuniquem entre si, alcançando um entendimento em comum e coordenar suas ações no mundo. Paulo Freire (2005) fundamenta a Teoria da Ação Dialógica significando um diálogo entre iguais que implica elementos como a fé, o amor e a confiança, não caindo na ingenuidade ou no idealismo subjetivista. Então, a Ação Dialógica implica em ter fé nos homens e utilizar a palavra verdadeira. Os autores Aubert et al (2008) argumentam que a Aprendizagem Dialógica é uma concepção comunicativa de educação, um passo à frente das outras concepções educacionais criadas para a sociedade industrial. Sua base teórica é fundamentada em diferentes áreas como a pedagogia, a psicologia, a filosofia, a economia, a sociologia e a política. Nestas bases teóricas, contamos com os fundamentos teóricos de Freire, Mead, Vygotsky, Habermas, Sem, Beck e Chomsky, que tomam o diálogo, nas relações interpessoais e no âmbito da vida social, como base do desenvolvimento pessoal e de transformação social. Mello, Braga e Gabassa (2012, p. 43) explicitam que “a aprendizagem dialógica é um conceito que diz respeito a uma maneira de conceber a aprendizagem e as interações. É formada por princípios que se articulam nas formulações teóricas para permitir descrever o que, na prática, se dá como uma unidade”. Para que haja a Aprendizagem Dialógica, é necessário o exercício dos seus sete princípios encontrados nas obras de Flecha (1997), Saso et al (2002), Aubert et al (2008) e Mello, Braga e Gabassa (2012): 1.Diálogo igualitário: um diálogo é igualitário quando todas as pessoas, independentemente de gênero, grau de escolaridade, classe social, idade, etc., têm o direito de falar e de ser ouvida, levando em consideração os argumentos e não a posição de poder. Este princípio é composto principalmente pelo conceito de diálogo de Paulo Freire e da ação comunicativa, de Habermas. 2.Inteligência cultural: é a experiência de vida adquirida pelas interações dentro da cultura ou grupos em que as pessoas estão inseridas. Além disso, entende-se que todas as pessoas têm capacidade de aprender e transferir novos conhecimentos, científico ou não científico. 3.Transformação: este princípio é articulado aos dois primeiros, pois, ao se colocar em diálogo igualitário com a compreensão de que todas as pessoas têm inteligência cultural, o entorno se transforma com novas possibilidades e ações. 4.Dimensão instrumental: entende-se como o conhecimento científico, que é fundamental para a proteção social. 5.Criação de sentido: dar sentido a nossa vida dentro do contexto histórico atual, conectando todos os princípios já explicados. 6.Solidariedade: reflexão e ação junto ao coletivo de pertencimento para a superação da exclusão social. Sem a solidariedade não há diálogo. 7.Igualdade de diferenças: é ter o direito de ser diferente e ter igualdade de direitos independentemente de gênero, sexualidade, grau de escolaridade, classe social, idade, etc. Todos estes princípios teóricos e práticos são bases para o desenvolvimento de uma Comunidade de Aprendizagem. 3. COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM Nesta seção, explicaremos o que é Comunidades de Aprendizagem (CdA) e as Atividades Educativas de Êxito (AEEs), que são identificadas e analisadas pelo projeto INCLUD-ED (2009). Segundo Palomar e Garcia (2010), CdA é uma resposta eficiente para as mudanças sociais e educativas que estamos vivenciando na Sociedade da Informação, a qual as tecnologias e a rapidez de circulação da informação passam a fazer parte do nosso cotidiano. Essa rápida mudança e a diversidade própria dos seres humanos estão transformando o processo de ensino e aprendizagem, exigindo relações mais igualitárias. Saso et al (2002) argumentam que a proposta de CdA é uma resposta educativa e igualitária para que todas as pessoas tenham acesso a educação de qualidade na sociedade em que vivemos. Aubert et al (2014) explica que AEEs são aquelas que buscam a transformação social e contribuem para a superação do fracasso escolar. Sendo que estas atividades são identificadas e analisadas pelo INCLUD-ED (2009), considerado uma das melhores investigações científicas em Ciências Sociais pela Comissão Europeia. A Aprendizagem Dialógica e seus princípios são bases de CdA e suas AEEs, focando uma educação de qualidade e máxima aprendizagem dos sujeitos. A escola passa a ter êxito em todas as suas ações e deixa de ser um espaço exclusão social. Para que isso ocorra, existem as AEEs que são próprias de CdA: tertúlia dialógica, biblioteca tutorada, grupos interativos, participação educativa da comunidade e formação de familiares. Dentre todas, especificaremos as AEEs implementadas e realizadas com sucesso na escola deste relato: as tertúlias literárias dialógicas e os grupos interativos. Marigo et al (2010, p. 7) explicitam que os grupos interativos “é uma atividade realizada em sala de aula, uma vez na semana, com a duração de 1h30 em média, coordenada pelo(a) professor(a), com apoio de pessoas voluntárias. O objetivo é reforçar o conteúdo e acelerar a aprendizagem”. A tertúlia literária dialógica é a “leitura dialógica de livros da literatura consagrada (geralmente intitulada de literatura clássica universal), com a mediação de uma pessoa, apoiada por outra, cuja função é garantir que as relações se estabeleçam com base na aprendizagem dialógica” (MARIGO et al, 2010). Para um bom desempenho destas atividades se faz necessário a formação da coordenação da escola, dos (as) estudantes, da comunidade do entorno, do voluntariado e do professorado que as aplicará. Portanto, o professorado necessariamente precisa estar em formação permanente, e as tertúlias pedagógicas dialógicas, que serão explicadas no próximo item deste relato, são fundamentais para este processo de ensino e aprendizagem em CdA. 4. TERTÚLIAS PEDAGÓGICAS DIALÓGICAS Para Aubert et al (2008), existem resistências às novas concepções de aprendizagem por parte do professorado, que se utilizam de teorias que já estão superadas e não contribuem para a geração de melhoria na aprendizagem dos estudantes. Ressaltam, também, que a falta de compromisso científico dos (as) formadores (as) do professorado pode acarretar consequências negativas no processo de aprendizagem dos estudantes. Portanto, “uma atitude responsável e comprometida com a verdade, das e dos autênticos intelectuais (Chomsky, 2001), transmite ao professorado a necessidade de um funcionamento científico e crítico na educação” (2008, p. 26). A tertúlia pedagógica dialógica é uma atividade educativa de êxito permeada pelos princípios da Aprendizagem Dialógica, já explicados anteriormente, que tem como objetivo alavancar a aprendizagem de todas as pessoas envolvidas no âmbito de Comunidades de Aprendizagem, ou seja, aprofundar os conhecimentos teóricos dos professores. Então, a tertúlia pedagógica dialógica tem como objetivo central a melhoria da base teórica dos professores, o que torna necessária a escolha criteriosa dos livros e autores que serão estudados coletivamente (Instituto Natura, 2014). Mais especificamente, a tertúlia pedagógica dialógica pretende: 1. “Aproximar professores do saber científico na área da educação, garantindo o acesso às fontes originais. 2. Incentivar o diálogo igualitário entre os professores, de modo que possam emitir suas opiniões com argumentos pautados em bases científicas relevantes para a área. O conhecimento se constrói na interação entre os professores. 3. Planejar os encontros de formação de acordo com as necessidades e possibilidades de cada escola. O importante é garantir que os professores conheçam os fundamentos das Atuações Educativas de Êxito e o funcionamento de cada uma delas. 4. Compreender que a formação é um processo contínuo, que deve ser conduzido pela própria equipe da escola, visando criar uma cultura de autoformação. 5. Realizar encontros para ampliar os conhecimentos dos educadores interessados, por meio da leitura e análise conjunta de algum texto relevante na história da educação.” (INSTITUTO NATURA, 2014) Sendo assim, as tertúlias pedagógicas dialógicas têm a finalidade de aprofundar a base teórica, conseguindo bons resultados na formação. Dessa forma, os (as) professores (as) aprendem e compartilham conhecimentos, focando a máxima aprendizagem dos estudantes. González et al (2012) argumentam que as tertúlias pedagógicas dialógicas permitem a construção coletiva do conhecimento, aprofundando os aspectos teóricos em relação à prática e às vivências. 5. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA Apresentamos neste relato aspectos do processo formativo de professores/as que atuam na Educação de Jovens e Adultos da escola municipal Arthur Natalino Deriggi, localizada na periferia da cidade de São Carlos/SP, entre os bairros Cidade Aracy II e Antenor Garcia. No período diurno, a escola atende alunos/as do primeiro ao quinto ano no ensino regular. No período noturno, a escola oferece a Educação de Jovens a Adultos. Atualmente, a EJA conta com duas salas do Ciclo I e quatro salas com os anos finais do Ensino Fundamental (6º, 7º, 8º e 9º ano), com cerca de 200 estudantes distribuídos nas salas mencionadas. Desde 2011, a EJA da escola Arthur Natalino Deriggi se transformou numa CdA. Seguindo os sete princípios da Aprendizagem Dialógica (diálogo igualitário, inteligência cultural, transformação, dimensão instrumental, criação de sentido, solidariedade e igualdade de diferenças) e, sabendo da importância da formação continuada, a equipe gestora e os professores da EJA da referida escola vêm transformando as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs) e as AEEs em momentos importantes de formação e autoformação. A EJA conta com sete professores efetivos, sendo que dois fazem parte da equipe gestora, e sete professores contratados. O principal objetivo do processo formativo do presente relato foi entender as bases teóricas e metodológicas de uma Comunidade de Aprendizagem, bem como o desenvolvimento das Atividades Educativas de Êxito para aprimorá-las. Em depoimentos, os professores demonstram grande satisfação com as formações: “(...) as formações foram e são importantes. Eu entrei na escola o ano passado e tinha pouco conhecimento sobre Comunidades de Aprendizagem. Com as formações nas HTPCs e com a participação do NIASE, fui conhecendo como funcionava realmente uma Comunidade de Aprendizagem. Foram importantes para que eu conseguisse entender o funcionamento e realizar as atividades dentro dessa proposta.” (professor da escola) “(...) as formações foram muito relevantes para o melhor desenvolvimento das atividades... A gente conseguia visualizar a questão da teoria com a prática... A nossa escola se encontrou a partir do momento que uniu a teoria com a prática.” (professora da escola) As leituras pedagógicas sempre foram utilizadas como metodologia nos estudos dos textos sobre Educação de Pessoas Jovens e Adultas, CdA, Aprendizagem Dialógica e AEEs. Vale lembrar que, antes de a escola se transformar em CdA, vários professores já tinham tido contato com as ideias de CdA por meio da UFSCar. Assim, não podemos deixar de destacar o importante papel do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Em 2005, por exemplo, oito professores participaram do II Congresso Regional de Educação de Pessoas Adultas (CREPA) e I Congresso de Participantes da Educação de Pessoas Adultas (ConPar). Deles, hoje, apenas duas professoras não trabalham mais na escola. No ano seguinte, em 2006, alguns professores participaram do projeto de extensão “ACIEPE: Aprendizagem Dialógica na Educação de Pessoas Jovens e Adultas”. Em 2010/2011, dois professores que ainda atuam na escola realizaram o Curso de Especialização em Educação de Pessoas Jovens e Adultas, também oferecido pelo NIASE/UFSCar, além da participação nos encontros de CdA. Esses primeiros contato s foram decisivos para os professores decidirem pela transformação da escola em CdA e pela formação continuada. A parceria com o NIASE da UFSCar, as leituras pedagógicas realizadas nas HTPCs e as AEEs, como é o caso das tertúlias pedagógicas dialógicas, têm ajudado os docentes a refletir de maneira significativa sobre os processos de ensino e aprendizagem, de participação e de democracia na escola. Nas leituras pedagógicas, a coordenação providencia o texto que será estudado nas HTPCs. A escolha do texto é pautada tendo em vista a necessidade de formação do grupo. São textos teóricos relevantes, publicados em revistas especializadas. Sempre em uma tertúlia dialógica há uma pessoa moderadora que é responsável por organizar as falas por meio da aprendizagem dialógica e favorecer a participação igualitária de todos/as. Geralmente, nas leituras pedagógicas da escola Deriggi, esse papel é da coordenação. A partir da leitura realizada nos encontros, os docentes participantes destacam algum parágrafo ou trecho do texto lido, para comentar, dialogar, refletir ou tirar dúvidas com o grupo. Muitas vezes, após a participação de um professor, outro membro do grupo também deseja comentar o destaque ou a ideia colocada, potencializando, assim, a formação dos professores nas bases científicas e teóricas. É importante lembrar que é uma atividade que segue os sete princípios da Aprendizagem Dialógica, promovendo a construção coletiva de significados e conhecimentos numa relação igualitária e solidária. O depoimento abaixo revela essa perspectiva: “Dificilmente a gente encontra essa forma de HTPC em outras escolas. E é muito importante, porque a gente sempre está aprendendo coisas novas. Trabalhando em conjunto, o nosso trabalho enriquece...” (professor da escola) Além das indicações de leitura do NIASE, vários textos estudados foram indicações dos próprios docentes. Para aprofundar as reflexões sobre as Atuações Educativas de Êxito, os professores estudaram artigos sobre tertúlias literárias dialógicas e um documento sobre CdA elaborado pela Universidade de Barcelona. Esse documento apresenta uma série de informações gerais sobre o projeto, além de apresentar todas as AEEs acompanhadas de um quadro comparativo no qual se identifica o que são e o que não são estas atuações. O documento foi muito discutido pelo grupo e esclareceu muitas dúvidas. Mesmo com as leituras pedagógicas, o grupo, em vários momentos, sentia a necessidade de elucidar dúvidas com membros do NIASE. A equipe gestora entrava em contato e, prontamente, membros do núcleo participavam nas HTPCs. Uma estratégia formativa utilizada pelo NIASE foi a modelização. Ainda surgiam dúvidas, por exemplo, em relação ao papel do/a moderador/a em uma tertúlia literária dialógica diante de determinadas colocações e atitudes dos/as estudantes participantes. O NIASE foi até a escola e realizou com o grupo de professores uma tertúlia literária dialógica com o conto “O abutre” de Franz Kafka. Vivenciando a tertúlia, os docentes esclareciam as dúvidas e aprimoravam a atividade educativa de êxito que já estava ocorrendo na escola. O mesmo ocorreu em relação aos grupos interativos. Alguns professores apresentavam dificuldades com os voluntários. Mesmo com a leitura dos textos teóricos, a função dos voluntários ainda gerava controvérsia. Assim, o NIASE preparou uma oficina com vivência de grupos interativos com os professores juntamente com os voluntários. Na vivência, os/as estagiários/as do Curso de Pedagogia da UFSCar foram os/as voluntários/as. Dessa forma, todos/as iam aprendendo e adquirindo conhecimento no processo formativo de vivenciar a atividade educativa de êxito. Assim como as tertúlias literárias dialógicas, os grupos interativos também já estavam acontecendo na escola. A solidariedade e o trabalho colaborativo é muito presente entre os professores e a equipe gestora. O professor que já apresentava conhecimentos sobre tertúlias literárias dialógicas caminhava junto com a professora de Língua Portuguesa que implementou a atividade de êxito em todas as turmas dos anos finais do Ensino Fundamental (6º, 7º, 8º e 9º ano). Dessa forma, eles iam adquirindo mais confiança. Após as tertúlias, os professores sempre dialogavam, compartilhando sentimentos e experiências. A professora de Matemática, experiente com os grupos interativos, auxiliava os demais professores que queriam colocar a atividade de êxito em prática. Ela ajudava os professores a organizar os grupos interativos e a preparar as atividades, explicando a importância do planejamento e da divisão da turma em grupos heterogêneos. Nesse processo de formação e reflexão continuada, havia sempre o compartilhamento de saberes e experiências, como ilustram os depoimentos a seguir: “Esse trabalho em conjunto é muito importante... Muitas vezes o trabalho do professor é muito individual. Mas quando a gente consegue trabalhar em conjunto, a gente consegue fazer muita coisa bem melhor...” (professor da escola) “Essas formações têm enriquecido muito o meu trabalho e, acredito, que o dos outros professores também. Porque nós nunca sabemos tudo... As parcerias acabam ajudando muito na nossa prática, em todos os sentidos... Nós, seres humanos, sempre estamos aprendendo... Eu tenho notado diferença na minha prática...” (professora da escola) 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EMEB Arthur Natalino Deriggi, da cidade de São Carlos/SP, se transformar numa Comunidade de Aprendizagem, a equipe gestora e os professores da EJA descritos neste relato vêm transformando as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs) e as Atividades Educativas de Êxito (AEEs), como as tertúlias dialógicas e os grupos interativos, em espaços importantes de autoformação e formação permanente. Os docentes da escola têm utilizado esses espaços para refletir, dialogar, estudar e analisar suas práticas educativas, entendendo, assim, as bases teóricas e metodológicas de uma CdA e aprimorando as AEEs. A parceria com o Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem sido muito importante nesse processo formativo. Em 2014, as tertúlias literárias dialógicas e os grupos interativos aconteceram, em todas as turmas, do início ao final do ano letivo. Fica evidente o entusiasmo dos professores e dos estudantes e uma melhora nas interações. Alguns professores, que no início demonstraram certa resistência, acabaram, pelas comprovações e evidências, adotando as AEEs. Nesse processo de construção coletiva, o trabalho colaborativo e a reflexão permanente entre os pares estão presentes no dia a dia da escola. O grupo sempre procura colocar em prática os sete princípios da Aprendizagem Dialógica. Percebemos que a equipe escolar acredita, de fato, que CdA é um modelo que pode apoiar a aprendizagem de todos os estudantes e, ao mesmo tempo, melhorar o clima de convívio. Dessa forma, todos reconhecem a importância da formação continuada dentro do projeto CdA. Por fim, terminamos este relato reforçando a importância do aprender e do ensinar com as palavras de Paulo Freire: É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar. [...] É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão de anticientífico. É preciso ousar para dizer, cientificamente e não bla-bla-blantemente, que estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais com, esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional. É preciso ousar para ficar ou permanecer ensinando por longo tempo nas condições que conhecemos, mal pagos, desrespeitados e resistindo ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É preciso ousar, aprender a ousar, para dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente. É preciso ousar para continuar quando às vezes se pode deixar de fazê-la, com vantagens materiais. (FREIRE, 1997, p. 8) NOTAS 1 O CREA é um grupo de pesquisa, localizado no Parque Científico de Barcelona, fundado por Ramón Flecha, em setembro de 1991. Maiores informações no site: http://creaub.info/cat/ ² Maiores informações no site: http://www.niase.ufscar.br/ REFERÊNCIAS AUBERT, A.; BISKARRA, M.; CALVO, J. Actuaciones educativas de éxito desde la Educación Física: Educative actions for success in Physical Education. Retos. Nuevas tendencias en Educación Física, Deporte y Recreación. nº 25, 2014. P.144-148 AUBERT et al. Aprendizaje dialógico em la Sociedade de la Información. Barcelona: Editorial Hypatia, 2008. 258p. FREIRE, P. À Sombra Desta Mangueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 10 ed. 2012. 224p. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 45 ed. 2005. 213p. FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’Água. 1997. FLECHA, R. Compartiendo palabras: el aprendizaje de las personas adultas a través del diálogo. Barcelona: Paidós, 1997. GÓMEZ et al. De las experiencias de Comunidades de Aprendizaje a las políticas basadas en sus êxitos. 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