dimensões da cultura (hofstede)
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dimensões da cultura (hofstede)
CRANBERRY TOOLBOX : DIMENSÕES DA CULTURA (HOFSTEDE) EM POUCAS PALAVRAS Geert Hofstede Geert Hofstede é um psicólogo social holandês que desenvolveu um modelo explicativo das culturas nacionais baseado em seis dimensões. Estas seis dimensões permitemnos explicar as diferenças entre as várias culturas nacionais, a compreender as “chaves culturais” dos nossos interlocutores e a interpretar corretamente o seu discurso, os seus atos e as suas intenções. Numa palavra, a interagir mais eficazmente em ambientes multiculturais – uma competência cada vez mais valiosa num mundo cada vez mais globalizado. A FERRAMENTA E O SEU CONTEXTO A globalização económica, política e social teve como consequência expor um número crescente dos cidadãos de cada país ao contacto e ao relacionamento com indivíduos com culturas diferentes das suas. Estas diferenças culturais dão origem a consideráveis ineficiências na comunicação e na colaboração entre pessoas de países diferentes, são fonte de perplexidade nas pessoas envolvidas e de ambiguidade e incerteza nas decisões e de falhas nos resultados do trabalho conjunto. A “competência intercultural” é, por isso, uma aptidão cada vez mais valiosa nos dias de hoje, ao ajudar a compreender as “chaves culturais” dos nossos interlocutores e a interpretar corretamente o seu discurso, os seus atos e as suas intenções. Vários autores estudaram as diferenças entre as culturas nacionais e propuseram modelos para a sua interpretação. Destes modelos, o mais conhecido e utilizado é sem dúvida o de Hofstede, que descreve as culturas nacionais por meio de seis dimensões. Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 1 A ORIGEM DAS DIMENSÕES DA CULTURA DE HOFSTEDE Geert Hofstede é um psicólogo social holandês e antigo colaborador da IBM (onde trabalhou na área de gestão de recursos humanos) que desenvolveu um modelo explicativo das diferenças culturais com base na análise das diferentes culturas dos vários países onde aquela multinacional estava implantada. Envolvido na aplicação de inquéritos de opinião aos colaboradores de todos esses países, Hofstede apercebeu-se da existência de diferenças significativas entre os valores fundamentais subjacentes às respetivas culturas. A partir da análise de inquéritos realizados num primeiro grupo de 40 países, Hofstede agrupou inicialmente esses valores em quatro dimensões: 1. 2. 3. 4. Distância do poder (PDI, do em inglês power distance) Individualismo vs coletivismo (IDV) Masculinidade vs feminilidade (MAS) Evitação da incerteza (UAV, do inglês uncertainty avoidance) Em estudos subsequentes, e em resultado da realização dos inquéritos a um número crescente de países – nomeadamente da Ásia Oriental – à medida que a rede de subsidiárias da IBM se expandia, Hoftede e os seus colaboradores foram obrigados a acrescentar mais duas dimensões ao modelo, para dar conta de diferenças que as anteriores quatro não conseguiam explicar: Figura 1 Geert Hofstede Distância de poder Individualismo vs. coletivismo 5. Orientação para o longo prazo (LTO, do inglês long-term orientation) 6. Fruição imediata vs adiamento (IVR, do inglês indulgence versus restraint) Estas seis dimensões correspondem ao modo como cada cultura lida com outros tantos problemas essenciais: 1. Distância do poder Relação com a desigualdade 2. Individualismo vs coletivismo Dependência dos outros 3. Masculinidade vs feminilidade Afetividade dos sexos 4. Evitação da incerteza Relação com o desconhecido 5. Orientação para o longo prazo Relação com o tempo 6. Fruição imediata vs adiamento Resposta aos impulsos naturais Fruição imediata vs. contenção Diferenças culturais Orientação de longo prazo Masculinidade vs. feminilidade Evitação da incerteza Figura 2 As seis dimensões da cultura segundo Hofstede Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 2 AS SEIS DIMENSÕES EM DETALHE Estas duas tabelas contêm uma descrição sucinta de cada uma das seis dimensões, para facilitar a sua compreensão. PDI Distância do poder Grau em que os membros menos poderosos de uma organização (p.ex. a família) aceitam e esperam que o poder seja distribuído de forma desigual. Este distanciamento reflete o nível de desigualdade aceite por uma sociedade, tanto por parte dos líderes como dos seguidores. UAV Evitação da incerteza Grau de tolerância à incerteza e ambiguidade, maior ou menor desconforto que os indivíduos sentem perante situações pouco estruturadas. As sociedades que evitam a incerteza dotam-se de regras e leis rígidas. As que aceitam a incerteza são mais pluralistas e toleram melhor as diferenças de opinião. IDV Individualismo vs coletivismo É o grau em que os indivíduos se integram em grupos. Nas sociedades individualistas, cada um deve saber tomar conta de si e da sua família nuclear. Nas sociedades colectivistas, os indivíduos integram-se desde que nascem em colectivos coesos e fortes (p.ex. família alargada, clã) cujos membros olham uns pelos outros em troca de lealdade inquestionável. LTO Orientação para o longo prazo Preferência de uma sociedade por valores relacionados com presente e o imobilismo (“virtudes imediatas” como a estabilidade, a harmonia, o apreço das tradições) ou pelo futuro e a evolução (“virtudes progressivas” como a poupança e a perseverança). IVR Fruição imediata Grau em que cada membro da sociedade tenta controlar vs contenção seus desejos e impulsos. As sociedades de fruição tendem a permitir a satisfação relativamente livre e imediata dos desejos humanos básicos e naturais relacionados com aproveitar a vida e divertindo-se; as sociedades contidas têm a convicção de que tal gratificação deve ser controlada e regulada por normas rígidas. MAS Masculinidade vs feminilidade Traduz a distribuição de papéis entre os sexos. Os valores das mulheres diferem pouco entre países, ao contrário dos dos homens. Nos países “femininos”, os homens tendem a ser menos competitivos e assertivos e a ter valores mais próximos dos das mulheres, centrados para a atenção aos outros e o afecto. Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 3 EXPLORAÇÃO DAS DIFERENÇAS CULTURAIS As seis tabelas desta página e da seguinte estabelecem o contraste entre o grau mais elevado e o grau mais baixo de cada uma das seis dimensões. DISTÂNCIA DO PODER MASCULINIDADE VS FEMINILIDADE ALTA BAIXA Organizações hierarquizadas Hierarquia representa desigualdade fundamental entre classes profissionais Hierarquia amada ou odiada: dependência ou contra-dependência Leques salariais amplos Pais ensinam obediência, e esperam respeito Professores esperam deter a iniciativa Professores são especialistas que transmitem verdades impessoais (“verdade”) Centralização popular, privilégios bem aceites Organizações achatadas Hierarquia representa conveniência de distribuição de papéis Menor dependência hierárquica, sentimentos menos polarizados Leques salariais estreitos Relações igualitárias entre pais e filhos Professores esperam iniciativa dos alunos Professores são mestres que transmitem sabedoria pessoal (“virtude”) Desentralização popular, privilégios mal vistos MASCULINIDADE Valores dominantes: progresso e êxito material Os homens devem ser assertivos, ambiciosos, e fortes As mulheres devem ser meigas e preocupar-se com as relações e afectos Simpatia pelos fortes Viver para trabalhar Gestores são decisivos e assertivos Ênfase na equidade, competição entre colegas e desempenho Resolução de conflitos por vitória de uma das partes INDIVIDUALISMO VS COLETIVISMO FEMINILIDADE Valores dominantes: bem-estar, atenção aos outros, protecção Homens e mulheres devem ser contidos e modestos Homens e mulheres devem ser meigos e preocupar-se com relações e afectos Simpatia pelos fracos Trabalhar para viver Gestores usam intuição e procuram consensos Ênfase na igualdade, solidariedade e qualidade de vida no trabalho Resolução de conflitos por negociação e compromisso EVITAÇÃO DA INCERTEZA INDIVDUALISMO COLETIVISMO ALTA BAIXA Indentidade baseada no indivíduo As crianças são educadas para a autonomia Franqueza = honestidade; confrontações devem ser assumidas Relação empregador-empregado é um contrato baseado em vantagens mútuas A contratação e a promoção baseiam-se exclusivamente em regras e na competência Gestão = gestão dos indivíduos Tarefas prevalecem sobre relações Identidade indissociável do grupo de pertença As crianças são educadas para a interdependência Harmonia prevalece sobre franqueza; confrontações devem ser evitadas Relação empregador-empregado é uma questão moral, como um laço familiar A contratação e a promoção têm em conta o contexto do indivíduo e o seu grupo de pertença Gestão = gestão dos grupos Relações prevalecem sobre tarefas A incerteza é uma ameaça continuada que tem de ser combatida Regras estritas para as crianças para o que é sujo, inseguro ou proibido (superprotecção) Alunos confortáveis com aprendizagens estruturadas; valorizam as respostas certas Professores devem ter todas as respostas Regras ditadas por razões emocionais, mesmo se nunca funcionarem Rigor e pontualidade naturais Necessidade emocional de sobre-esforço Supressão das ideias heterodoxas A incerteza faz parte da vida, e cada dia é um novo dia Regras permissivas para as crianças quanto ao que é sujo, inseguro ou proibido Alunos confortáveis com aprendizagens abertas; valorizam bons debates Professores podem admitir que não sabem Não deve haver mais regras do que as estritamente necessárias Rigor e pontualidade aprendidos Esforço extra só quando necessário Tolerância para com ideias heterodoxas Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 4 ORIENTAÇÃO DE LONGO PRAZO LONGO PRAZO FRUIÇÃO IMEDIATA VS ADIAMENTO CURTO PRAZO Adaptação das tradições ao contexto hodierno Respeito pelas obrigações sociais e decorrentes do estatuto dentro de limites Parcimónia, sobriedade, austeridade Taxa de poupança elevada, fundos disponíveis para investimento Perseverança rumo a resultados lentos Preocupação em respeitar as exigências da Virtude (“fazer o bem”) Respeito pelas tradições Respeito pelas obrigações sociais e decorrentes do estatuto sem olhar a meios Pressão social para manter a paridade de consumo dentro da mesma classe social Taxa de poupança baixa ou negativa, endividamento Expectativa de resultados rápidos Preocupação em ser detentor da Verdade (“estar certo”) ADIAMENTO FRUIÇÃO IMEDIATA Gratificação reprimida e regulada. Comportamento controlado. Expectativa de recompensa (material) por um trabalho bem feito. Propensão para sentir-se vítima de injustiça. Comparação os outros. Elevada importância atribuída aos símbolos de estatuto: empresa, automóvel, telemóvel, relógio. Satisfação livre das necessidades. Comportamento espontâneo e sem restrições. Dificuldade de motivação a partir de recompensas materiais. Apreciação do momento presente. Despreocupação em relação àquilo que os outros fazem. Bens materiais servem para satisfazer necessidades, e não para conferir estatuto. EXEMPLOS – COMPARAÇÃO DE PORTUGAL COM ALGUNS PAÍSES EMIRATOS ÁRABES UNIDOS CHINA IRLANDA Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 ALEMANHA 5 APLICAÇÕES Compreender as diferenças entre as várias culturas nacionais – ou, por outras palavras, as razões pelas quais os naturais desses países se comportam de maneira diferente – permite-nos interpretar corretamente determinadas atitudes e reações que constrastam com as que poderíamos esperar à luz dos nossos próprios padrões culturais. Tomar consciência dessas diferenças e reconhecê-las quando as presenciamos é uma condição indispensável para aprendermos a interagir de forma mais eficaz em ambientes multiculturais – uma competência cada vez mais valiosa num mundo cada vez mais globalizado. Com efeito, a probabilidade de termos relações profissionais ou sociais com pessoas de outros países e culturas é cada vez maior. A globalização significa mais clientes, parceiros e fornecedores estrangeiros, e também mais colaboradores recrutados por todo o mundo. Esta tendência faz crescer o risco de choque cultural, de falhas de comunicação e de mal entendidos. O modelo de Hofstede e conhecimento da pontuação, em cada uma das dimensões, dos países envolvidos na relação, pode ajudar a evitar esses atritos e a contribuir para um melhor entendimento com os nossos interlocutores. Contudo, é importante não esquecer que o modelo de Hofstede não é um livro de receitas para a interação intercultural; apenas ajuda a compreender e a interpretar certos comportamentos. Figura 3 A competência intercultural é especialmente valiosa para os gestores internacionais e os trabalhadores expatriados, mas é útil para todos aqueles que têm de relacionar-se com clientes, fornecedores, ou parceiros de negócio de outros países. LIMITAÇÕES E OUTRAS CONSIDERAÇÕES À medida que a globalização se acentua, as diferenças culturais entre os diferentes países vão-se esbatendo, sobretudo no seio da “classe profissional global” que é justamente a mais exposta às interações interculturais. Por outro lado, o modelo de Hofstede sofre do “pecado original” de considerar que as fronteiras nacionais são também fronteiras culturais; ora, como sabemos, isto não corresponde à verdade: não só determinados países são suficientemente extensos e diversificados para abrangerem várias culturas étnicas ou regionais (por vezes muito diferentes) no interior das suas fronteiras como, noutros países, as fronteiras foram traçadas de forma artificial, juntando no mesmo estado populações com culturas distintas e deixando outras, dotadas de unidade cultural, de ambos os lados da fronteira. PODE NÃO PODE Tomar consciência de que as ações e reações de pessoas de outros países podem ser inesperadas e completamente diferentes daquilo a que estamos habituados. Interpretar esses comportamentos à luz das diferenças nas dimensões de cultura. Basear-se acriticamente na informação obtida por meio das dimensões culturais para conduzir a relação, pois cada indivíduo tem a sua especificidade e pode ser muito diferente do seu “padrão” nacional Usar o modelo como chave para interpretar culturas organizacionais. Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 6 Nestes casos, não tem grande significado falar de uma “cultura nacional” cujas pontuações em cada dimensão correspondam à média dos diferentes grupos culturais. Além disso, as pontuações nas seis dimensões representam as grandes tendências e, mesmo num país culturalmente homogéneo, no plano individual as pessoas podem ser muito diferentes umas das outras. Tipicamente, as diferenças entre duas pessoas de um mesmo grupo podem ser maiores do que a “diferença média“ entre dois grupos. A Cranberry ABC tem experiência em projetos de comunicação intercultural, gestão de equipas interculturais e gestão de expatriados. Consulte-nos! Por fim, como o próprio Hofstede deixa muito claro, as culturas organizacionais não podem ser postas no mesmo plano que as culturas nacionais, e as dimensões destas últimas não são aplicáveis às primeiras. As culturas organizacionais diferem sobretudo ao nível de certos artefactos como símbolos, heróis e rituais; estes são mais superficiais e podem ser muito mais facilmente aprendidos e esquecidos do que os valores nucleares das culturas nacionais. As culturas nacionais pertencem ao domínio da antropologia, as culturas organizacionais ao da sociologia. Gerir uma organização multinacional significa lidar ao mesmo tempo com diferenças entre culturas organizacionais e nacionais. As culturas organizacionais podem até certo ponto ser geridas, enquanto as culturas nacionais são um dado para a gestão; uma mesma cultura organizacional transfronteiriça é a cola que mantém coesas as organizações multinacionais. Para esclarecimentos adicionais, contactar por favor REFERÊNCIAS João Paulo Feijoo Hofstede, G. (2001). Culture’s Consequences: Comparing values, behaviours, institutions and organisations across nations. Thousand Oaks, CA: Sage Publications. Rua de Santa Marta, 43 E/F – 4º andar D Hofstede, G. (1991). Cultures and Organisations: Software of the mind. London: McGraw-Hill. +351 210 161 790 (w) Para se manter a par da investigação conduzida por Geert Hofstede e a sua equipa, visite o seu site académico em http://www.geerthofstede.nl. +351 969 032 280 (m) Para consultar as pontuações nas várias dimensões para mais de uma centena de países, e mesmo para obter a sua pontuação pessoal, consulte o site comercial do Hofstede Centre em http://geert-hofstede.com/countries.html 1150-293 Lisboa +351 210 162 292 (w) [email protected] Rua de Santa Marta 43 E/F – 4º D – 1050-293 LISBOA ✱ www.cranberryabc.com ✱ [email protected] ✱ Telef.: +351 210 161 790 7
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