parche hemático
Transcrição
parche hemático
Ieda Paula Kaiut Utilização do amniopatch para o tratamento de rupturas iatrogênicas de membranas São Paulo, 2012 Utilização do amniopatch para o tratamento de rupturas iatrogênicas de membranas Aluna: Ieda Paula Kaiut Orientador: Dr. Roberto Cardoso Coordenador: Dr. Eduardo Valente Isfer Trabalho apresentando como conclusão de curso de pós-graduação em Medicina Fetal. São Paulo, 2012 Dedico esta monografia de conclusão da pós-graduação aos meus familiares, amigos e mestres que de muitas formas me incentivaram para que fosse possível a concretização deste trabalho. RESUMO A membrana fetal é formada pelas camadas amniótica e córiodecidual. A sua manutenção durante a gestação é importante para manter o líquido amniótico, a homeostase e a defesa contra infecções ascendentes. A ruptura prematura pode ser espontânea ou iatrogênica e é definida como a ruptura da membrana que ocorre antes do início do trabalho de parto, independentemente da idade gestacional. Com o avanço dos estudos ultrassonográficos e dos programas de rastreamento de anomalias fetais, ocorreu um aumento dos procedimentos invasivos e conseqüentemente, o de rupturas iatrogênicas principalmente em idades gestacionais mais precoces. A técnica do amniopatch tem revelado-se uma opção de tratamento efetiva para o selamento das membranas, com resultados positivos em até dois terços dos pacientes e é uma esperança para a redução da morbidade e mortalidade materno-fetais devido a amniorrexe prematura. ABSTRACT The fetal membrane comprises two layers: amniotic and córiodecidual. Its maintenance during pregnancy is important to keep the amniotic fluid, the homeostasis and defense against ascending infections. The premature rupture may be spontaneous or iatrogenic and it is defined as the rupture of the membrane which occurs before the labor beggins, regardless of gestational age. The advances in ultrasonografies studies and ultrasound screening of fetal abnormalities, causes an increase of invasive procedures and therefore, the iatrogenic breaks mainly in earlier gestational ages. The amniopatch technique has revealed itselves an effective treatment option for the sealing of the membranes, with positive results in up to two thirds of patients and is a hope for the reduction of morbidity and mortality due to maternal-fetal premature rupture of membranes. SUMÁRIO 1. Introdução p.1 2. Incidência p.2 3. Etiopatogenia p.4 4. Quadro clinico p.7 5. Diagnóstico p.8 6. Diagnóstico diferencial p.9 7. Conduta p.10 7.1 Corticóide p.12 7.2. Antibióticos p.13 8. Capacidade de regeneração das membranas fetais p.16 9. Terapias experimentais p.18 10. Amniopatch p.20 10.1 Protocolo p.26 11. Conclusão p.29 12. Referências bibliográficas p.30 1. INTRODUÇÃO A ruptura prematura das membranas (RPM), também conhecida como amniorrexe, é definida como a ruptura amniocorial que ocorre antes do início do trabalho de parto, independentemente da idade gestacional. (Freitas, 2006) (Jazayeri, 2011). Ela pode ser espontânea ou iatrogênica, ou seja, secundária a um procedimento invasivo, como biópsia de vilo corial, amniocentese ou fetoscopia. Os números de procedimentos invasivos com a finalidade diagnóstica e terapêutica têm aumentado, não apenas pela idade materna avançada, mas devido a programas de rastreamento de cromossomopatias. (Lewi, 2004) Em conseqüência, aumentou o número de pacientes com ruptura iatrogênica ocorrendo, em geral, numa fase muito precoce da gestação e elevando os riscos maternos e fetais. (Quintero, 1999) 2. INCIDÊNCIA Esta complicação ocorre entre 1 a 4 % de todas as gestações. Quanto mais precoce a ruptura, piores os resultados perinatais. Muitas crianças que sobrevivem apresentam lesões permanentes devido à prematuridade. (Devlieger, 2006) A ruptura espontânea ocorre em cerca de 3% de todas as gestações, sendo responsável por 30% dos partos prematuros e elevando a mortalidade perinatal, devido principalmente a prematuridade, síndrome do distress respiratório, sepse, hipoplasia pulmonar e prolapso de cordão. (Medina, 2006) Quando ocorre no segundo trimestre chega a ter uma mortalidade perinatal de 60%, dos quais um terço corresponde a óbito fetal intra-uterino. (Ferianec, 2011) A ruptura iatrogênica (RPMI) ocorre em 1 a 2% após amniocentese, 3 a 5 % após fetoscopia diagnóstica e de 5 a 8 % após fetoscopia cirúrgica. Para procedimentos fetoscópicos mais complexos como ligação de cordão umbilical e oclusão traqueal o risco é cerca de 30 e 50%, respectivamente. (Lewi, 2004) Após os procedimentos invasivos, a membrana tende a selar espontaneamente. Quando isso não ocorre, as conseqüências são mais graves devido à precocidade da lesão. A mortalidade perinatal com a conduta expectante chega a 60%, 1/3 desses fetos vão à óbito intra-útero, a hipoplasia pulmonar ocorre em 50% dos casos com diagnóstico antes da 19ª semana e as seqüelas pós-natal dos fetos que sobrevivem incluem paralisia cerebral, doenças pulmonares crônicas e cegueiras. (Quintero, 2003) Na ruptura iatrogênica o pertuito está localizado na parede anterior e na espontânea o local da lesão é na porção caudal do saco gestacional, próximo ao orifício cervical interno. (Biagio, 2004) 3. ETIOPATOGENIA A membrana fetal é formada por duas camadas: amniótica e córiodecidual. A segunda é celular e mais espessa que a amniótica. A camada amniótica é mais resistente, avascular, composta por várias subcamadas e corresponde a 20% da espessura da membrana. A subcamada mais próxima do feto é composta por células epiteliais com colágeno tipo III e IV e glicoproteínas formando a membrana basal posterior, a qual é mais compacta e constituída por células mesenquimais, fibroblastos, colágeno tipo I e III, resultando numa estrutura fibrosa do âmnio que mantém a integridade estrutural da membrana. A camada subseqüente é esponjosa, composta por proteinoglicanos, glicoproteínas e uma malha de colágeno tipo III que separa o âmnio do córion. A camada coriônica contém tecido conectivo, citotrofoblasto e é firmemente aderida a decídua materna, formando a camada córiodecidual. (Joyce, 2009) A permanência da membrana fetal intacta durante a gestação é importante para manter o espaço fetal preenchido pelo líquido amniótico facilitando a mobilidade fetal, protegendo-o de traumas externos, mantendo a homeostase e a defesa contra infecções ascendentes. (Devlieger, 2006) É importante salientar que a ruptura da membrana durante a evolução natural do trabalho de parto faz parte de um evento fisiológico, com mecanismos ainda desconhecidos. (Joyce, 2009) El Khwad et.al., em 2005, demonstraram que ocorrem alterações bioquímicas e histológicas numa zona de fraqueza localizada próximo ao orifício cervical durante o trabalho de parto a termo, levando ao aumento da atividade das metaloproteinases, apoptose celular e fatores mecânicos que deformam e degradam o colágeno e cursam com a ruptura programada para a evolução do parto. A ruptura prematura espontânea está associada a vários fatores, incluindo infecção local, operações genitais prévias, incompetência istmo cervical, gestação gemelar, oligodrâmnio, hemorragias anteparto, adolescência, apresentação pélvica e tabagismo. (Akierman,1988) (Poma, 1996) (Cunningham, 2001) (Jazayeri, 2011) A infecção local é a hipótese mais associada à amniorrexe, porém a literatura atual deixa a entender que a infecção não seja a causa da ruptura e sim uma resposta inflamatória subseqüente, relacionada á cicatrização da ferida. Estudos têm relatado aumento dos níveis de genes, proteínas e ativação das metaloproteinases nas membranas fetais após a RPM, ficando a dúvida se o aumento desses genes está relacionado à resposta cicatricial ou se pode ser a causa da ruptura. Alguns pesquisadores sugerem até que a evidência de infecção dentro de 12 horas após a ruptura da membrana, está relacionada à infecção prévia, enquanto que as detectadas após 72 horas associam-se a infecções secundárias à amniorrexe. (Poma,1996) Devlieger, 2006 refere que as infecções crônicas aumentam a produção de hormônios e citoquinas no útero, membranas e placenta, o qual resulta em contrações prematuras, enfraquecimento da membrana e RPM. As propriedades biológicas da interleucina-1 (IL1) incluem indução da atividade da colagenase e a indução da biossíntese das prostaglandinas, produção de colagenase e estromelisina em células coriônicas, o que resulta no adelgaçamento das membranas e as interleucinas induzem a produção e secreção de prostaglandinas, mediando o trabalho de parto pré-termo. (Freitas, 2006) Fato esclarecido é que a perda generalizada de colágeno na membrana fetal associa-se a um curto período entre a ruptura da membrana e o parto. Além do fator infeccioso, outras hipóteses sugeridas são a deficiência de vitamina C, a qual desempenha um papel na RPM porque o acido ascórbico tem função na biossíntese de colágeno e de resposta imunológica à infecção e o estress materno alterando o sistema autócrino e parácrino que controlam o trabalho de parto. (Devlieger, 2006) O fator causal na ruptura iatrogênica é a introdução de agulha, na amniocentese e biópsia de vilo corial ou de cateteres na fetoscopia. 4. QUADRO CLÍNICO Baseia-se na história clínica e na visualização de líquido amniótico (LA) saindo pelo orifício cervical externo. Em alguns casos a perda de líquido é rápida, podendo-se observar a diminuição do abdome materno, facilitando a palpação das partes fetais. Nos casos de corioamnionite, pode-se identificar febre, taquicardia, excitabilidade uterina aumentada e até secreção purulenta saindo pelo orifício cervical interno. (Freitas, 2006) (Jazayeri, 2011) 5. DIAGNÓSTICO Na maioria dos casos de ruptura de membranas ovulares, o diagnóstico é sugerido pela anamnese e confirmado pelo exame especular. Quando a perda de líquido ocorre após um procedimento invasivo, a história clínica auxilia no diagnóstico. Em alguns casos, entretanto, há necessidade de exames complementares, com avaliação do pH vaginal, teste da cristalização, citologia, presença de gordura ou pêlos fetais, presença do fosfatil-glicerol, alfafetoproteína e prolactina. A amnioinfusão via abdominal de soro fisiológico na cavidade ovular e, posteriormente, o escoamento do mesmo pela vagina, confirma que a membrana corioamniótica está rota. (Isfer, 1996) (Gaucherand, 1994). A avaliação especular deve ser realizada com espéculo esterilizado e a visualização direta da saída do líquido amniótico pelo orifício cervical externo. (Medina, 2006) A ultrassonografia não é um método específico para o diagnóstico de RPM, porém pode quantificar a redução volumétrica do líquido, avaliar as membranas para descartar áreas de descolamentos e observar a vitalidade fetal. (Isfer, 2006) 6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A RPM tem como principal diagnóstico diferencial o oligodrâmnio por insuficiência placentária ou malformações fetais. 7. CONDUTA A conduta inicial é a internação hospitalar e a determinação de fatores que conduzirão cada caso, como a idade gestacional, infecção intra-uterina, vitalidade fetal e trabalho de parto ativo. Na evidência de taquicardia materna e fetal, hipertermia, hipertonia uterina e odor fétido do líquido amniótico, o diagnóstico de corioamnionite deve ser considerado. Parâmetros laboratoriais como hemogramas com contagem de leucócitos e hemossedimentação são afetados pela gestação e o trabalho de parto. O desvio à esquerda no leucograma e a presença de granulações tóxicas nos neutrófilos são indicadores sugestivos, mas em geral, não estão presentes nos estágios iniciais de infecção. (Viçosa et.al, 1986) Segundo Popowski e colaboradores, 2011, que realizaram um estudo prospectivo, com 399 pacientes com RPM, o aumento dos níveis da proteína C reativa é o marcador com maior acurácia de infecção neonatal, com sensibilidade maior que 90%. A ultrassonografia deve ser realizada para confirmar a idade gestacional, apresentação, avaliação do peso, da anatomia e da vitalidade fetal e a mensuração do índice de líquido amniótico. Perante uma conduta expectante deve ser utilizada periódicamente para a avaliação do bem estar fetal. (Jazayeri, 2011) As condições maternas são os principais parâmetros para a indicação do momento do parto. Se não houver evidências de infecções ou instabilidade materna devido às complicações pela amniorrexe, como sangramento, a conduta expectatnte pode ser considerada. (Jazayeri, 2011) Com idade gestacional maior que 34 semanas a maioria dos fetos tem maturidade pulmonar e a infecção assume o principal papel na mortalidade materna e fetal. A gestação não deve ser postergada. (Freitas, 2006) Com idade gestacional entre 24 e 34 semanas se a paciente não está em trabalho de parto, não tem evidências clínicas de infecção e não apresenta alterações compatíveis com sofrimento fetal, deve-se optar por uma conduta conservadora, pois a síndrome da angústia respiratória é a principal contribuinte para a morbidade e mortalidade perinatal. (Freitas, 2006) (Akierman, 1988) Cuidado maior deve ser tomado com gestação menor que 32 semanas devido à maior morbimortalidade. Sempre que possível procurar levar a gestação até pelo menos 34 semanas. (Medina, 2006) Com idade gestacional menor que 24 semanas na ausência de infecção e trabalho de parto ativo e com boa vitalidade fetal, a conduta é expectante, com controle ambulatorial semanal e suporte psicológico. (Jazayeri, 2011) Segundo Hadi, 1994, a sobrevida dos fetos que nascem com menos de 26 é de 6,7%. Com o manejo conservador, a sobrevida neonatal fica entre 22 e 63% e a incidência de corioamnionite, entre 25 a 46%. O desenvolvimento neonatal é normal em 40 a 70% depois de um ano de seguimento. A RPM com menos de 26 semanas eleva o risco de hipoplasia pulmonar e deformidades ósseas correlacionadas com a idade em que ocorreu a ruptura e com a presença de oligodrâmnio em ecografias seriadas. (Isfer, 2006) 7.1 CORTICÓIDE Não está claro se os corticoesteróides elevam o risco de infecções maternofetais. No entanto, o risco de morte por prematuridade é muito maior que o risco de infecção. Em 1995 um consenso sobre o uso de corticoesteróides antenatais para a maturação pulmonar em fetos prematuros (NHI Consensus Conference, 1995) concluiu que a terapêutica antenatal com corticoesteróides para a maturação pulmonar, reduz a mortalidade, a síndrome da angústia respiratória e a hemorragia intraventricular em fetos prematuros. (Freitas, 2006)(Jazayeri, 2011) O uso do corticóide é recomendado para gestações entre 24 e 34 semanas com risco de parto prematuro dentro de sete dias. A dose recomendada é de duas doses de 12 mg de betametasona por via intramuscular, com intervalo de 24 horas, ou quatro doses de 6 mg de dexametasona por via intramuscular, com intervalo de 12 horas. (Jazayeri, 2011) As repetições de doses semanais não melhoram os resultados perinatais. (Medina, 2006) Song et. al. realizaram um estudo retrospectivo com 59 gestantes e refere que não foram observados benefícios no uso do corticóide entre 24 a 28 semanas, mas que melhora a morbidade e mortalidade quando utilizado acima de 28 semanas. 7.2 ANTIBIÓTICO Segundo o Centro Latinoamericano de Perinatologia y desarrollo humano, 2001, não há evidências para recomendar o uso rotineiro de profilaxia com antibióticos na RPM, com o objetivo de diminuir o risco da infecção materna e neonatal. Porém, em uma meta análise de 12 estudos comparando placebo com antibióticoterapia, observaram que o antibiótico prolonga a gestação, reduz a endometrite pós-parto, a corioamnionite, a sepse, a pneumonia neonatal e a hemorragia intracraniana. (Medina, 2006) (Song, 2005) Baseado em evidências atuais, o NICHD-MFMU (National Institute of Child Health and Human Development) propôs o uso de antibióticos por sete dias para pacientes com RPM com indicação de conduta expectante. Se o paciente já está em uso de terapia prévia, por exemplo, tratando uma infecção urinária com cefalosporina, o tratamento duplo deve ser evitado. (Medina, 2006) (Jazayeri, 2011) O NICHD recomenda o uso endovenoso, por 48 horas, de ampicilina 2 gramas de 6/6 horas e eritromicina 250 mg de 6/6 horas, seguido de 250 mg de amoxicilina de 8/8 horas, via oral e 333mg de eritromicina de 8/8h, via oral até completar 7 dias de tratamento. (Medina, 2006) (Jazayeri, 2011) O risco de sepse materno-fetal aumenta com o período de latência e a infecção pelo estreptococco do grupo B e o oligodrâmnio. A quimioprofilaxia tem reduzido a corioamnionite e a sepse neonatal. (Akierman, 1988) Guidelines do CDC (Center for Disease Control and Prevention) recomendam que mulheres com RPM que não estão em trabalho de parto devem receber profilaxia por 48 horas para o estreptoccoco do grupo B. Medina, 2006 compilou as principais recomendações na conduta de pacientes com rotura prematura das membranas. (tabela 1) Classificaçã o de RECOMENDAÇÃO CLÍNICA evidência Antibióticos podem ser administrados para pacientes com RPM porque prolongam o período de latência e melhoram os resultados. A Corticóides devem ser usados entre 24 e 34 semanas de gestação em pacientes com RPM porque diminuem o risco de hemorragia intraventricular, síndrome do distress respiratório e enterocolite necrotizante. A Os médicos devem evitar o toque vagina, pois diminui o período de latência. É preferido o exame especular. A Longos períodos de tocólise não são indicados para pacientes com RPM. Entretanto, um curto período pode auxiliar para a administração de corticóide, antibiótico e se necessário o transporte materno para centro de referência. C Múltiplas doses de corticóide ou uso após 34 semanas não é recomendado. Medina, Am Fam Physician, 2006 (tabela 1) Classificação de evidência: (www.aafp.org/afpsort.xml) B A – consistente, boa qualidade de pacientes, evidencias orientadas. B – inconsistente ou limitada qualidade de pacientes, evidencias orientadas. C – consenso, evidências orientadas pela doença, prática usual ou relato de casos. 8. CAPACIDADE DE REGENERAÇÃO DAS MEMBRANAS FETAIS A evidência clínica sobre o potencial de cura das membranas fetais é amplamente relacionado com ruptura após a amniocentes, na maioria dos casos a amniorrexe é auto-limitada em até 2 semanas. Isto sugere que as membranas fetais têm a capacidade para selar um defeito criado ou até os que ocorrem espontaneamente. (Deprest, 2011) Gratacos, 2006 refere que as membranas poderiam cicatrizar pela retração, deslizamento e contração. Ou em vez de uma cura envolvendo mecanismo de membranas ocorre cicatrização na camadas do miométrio e decidual do útero. A reparação da membrana após a ruptura iatrogênica é possível graças à capacidade regenerativa das células amnióticas, porém são menos eficientes que num endotélio mais vascularizado onde a ativação das plaquetas sobre o dano tecidual forma uma rede de depósito de fibrina que guia os amniócitos e fibroblastos para fechar a lesão. Uma pobre vascularização da membrana pode deixar o procedimento inefetivo, especialmente nos casos que após a punção o âmnio destaca-se do córion, resultando na redução das plaquetas e dos fatores de coagulação da corrente sanguínea. Em casos de descolamento do córion e do âmnio são extremamente raros os casos de reparação espontânea e resultam em geral em infecções ascendentes. (Biagio, 2004) Em estudos in vitro, Quintero, 1996, realizou microcortes em uma camada celular de uma linhagem células derivada do âmnio e observou que houve reparo do defeito em um período de 24 horas. Devlieger, 2002, utilizando uma linhagem celular semelhante observou que esta cicatrização foi estimulada pelo aumento dos níveis de fator de crescimento epidérmico e fator de crescimento insulino-like -1 no meio de cultura. A capacidade de regeneração dos amniócitos foi inversamente proporcional à idade gestacional. Quanto menor a idade gestacional maior o poder de regeneração. O primeiro modelo animal que foi utilizado para estudar a resposta de cura de feridas na membrana fetal foram os ratos. As membranas fetais foram perfuradas com uma agulha muito fina e examinadas macro e microsocopicamente. Houve uma redução significativa no tamanho da lesão ao longo tempo, principalmente por causa da contração da ferida. Em um modelo de coelho a RPM iatrogênica foi restaurada em 40% do coelhos após 1 semana. Observaram-se aumento nos níveis de metaloproteinases 2 e 9 e inibidores de tecidos das metaloproteinases no líquido amniótico 1 semana após a ruptura, o que sugere um mecanismo fetal ativo de remodelação membrana que envolve a colagenase. (Devlieger, 2007) 9. TERAPIAS EXPERIMENTAIS A primeira proposta de um método para reparar a membrana data de 1869 com Baumgarten e foi baseada na instilação transcervical de fibrina. Selantes teciduais têm sido usados desde o início de 1900 para uma variedade de propósitos, mas tornaram-se particularmente importante na manutenção da hemostase cirúrgica e para estimular a cicatrização tecidual. Em 1979, Genz et al relatou 2 casos de selamento com fibrina em mulheres com RPM. Testes, in vitro, mostraram que a cola de fibrina pode aumentar a resistência a tração, o que pode melhorar a integridade funcional e estrutural em roturas iatrogênicas. (Devlieger, 2007) Um tratamento paliativo proposto para a manutenção do líquido amniótico e prevenir a hipoplasia pulmonar é a infusão de solução salina (amnioinfusão) repetida em intervalos regulares, mas é um procedimento com alto risco para infecção (Biagio, 2004) e outro é a administração de vasopressina para aumentar a diurese fetal. (Lewi, 2003) O uso do laser (Nd: YAG), in vitro, obteve sucesso e a soldadura ocorreu com 1 a 7 W de energia, porém a padronização da soldagem a laser é difícil porque a eficácia depende da temperatura em que o tecido é atingido e isto é imprevisível devido a variações dos tecidos locais que incluem condutividade térmica e absorção. Em um estudo com coelhos submetidos à laparoscopia, foi usado Biosis (pequena submucosa intestinal; Cook Ob/Gyn, Spencer, IN) soldado à laser (Nd:YAG) na borda do âmnio e foi observado o crescimento do enxerto. (Devlieger, 2007) Outros tratamentos estudados in vitro foram a sutura com prolene 6.0 que não foi eficaz e hidrogel (Synthaseal - (Promethean Surgical Devices, Mendon, MA) que trata-se de um componente sintético que infiltra o tecido e forma um hidrogel biocompatível. Este mostrou compressão e contração do tecido e um esmagamento das células da camada coriônica. (Devlieger, 2007) Em estudos com animais, um da Nova Zelândia com coelhos submetidos à laparoscopia foi usado Biosis (pequena submucosa intestinal; Cook Ob/Gyn, Spencer, IN) soldado à laser (Nd:YAG) na borda do âmnio e foi observado o crescimento do enxerto. Outro estudo, também com coelhos foi realizado pós fetoscopia utilizando 0,3 ml de Matrix (Matrigel; BD Labware, Bedford, MA) ou um tampão de colágeno (Colgen; International Phar, Paris, France). O uso do tampão de colágeno e a sutura miometrial resultaram em uma restauração da membrana a termo em 82% dos casos, comparado com 40% sem o selamento. Villoria, 2010, descreve um caso de RPM espontânea em uma paciente com 24 semanas tratada com infusão de 10 a 15 ml de sangue autólogo no canal cervical pela via transvaginal, formando um tampão hemático. A gestação evolui até 35 semanas com recuperação do líquido amniótico. Diversas pesquisas com os mais variados materiais têm sido realizadas na tentativa de corrigir a ruptura iatrogênica. O amniopatch é uma técnica simples eque tem demonstrado resultados positivos em cerca de 2/3 dos pacientes. (Deprest, 2011) 10. AMNIOPATCH Em 1996, Quintero propôs a infusão intra-amniótica de um concentrado de plaquetas na tentativa de selar a solução de continuidade do saco gestacional, produzida durante uma fetoscopia para amarrar o cordão umbilical de um feto acárdico. Essa idéia partiu do blood-patch, descrito por Gormaley em 1960 para o tratamento de cefaléia pós-raquianestesia. (QUINTERO 2003) A técnica baseia-se na capacidade das plaquetas de se depositarem no local da injúria e formar um coágulo com o crioprecipitado. (QUINTERO 2003) A infusão de concentrado de plaquetas e crioprecipitados contendo fibrinogênio, fibronectina, fatores de crescimento PDGF, TGF-β, fator de Von Willebrand, fator VIII e fator XIII em altas concentrações restauram o local da punção mais efetivamente. (Biagio, 2004) O mecanismo de ação consiste na aderência plaquetária na lesão amniótica, ativando os fatores de coagulação e agregando-se para formar um tampão que é estabilizado pelo crioprecipitado. Após a trombina é ativada e converte fibrinogênio em fibrina, formando um coágulo branco. As plaquetas ativam fatores de crescimento e quimiotáticos que estimulam a cicatrização da lesão. O tampão de plaquetas persiste por um tempo médio e 7 semanas na lesão e promove um selamento efetivo da membrana. Observou-se que plaquetas sozinhas não são eficientes. (Deprest, 2011) Biagio, 2004, acompanhou 5 pacientes com amniorrexe entre 17 e 23 semanas, sendo três casos com ruptura após amniocentese e dois espontâneas. Resultados após 7dias do amniopatch foram fechamento da ruptura e restauração do volume normal do líquido amniótico em 2 casos, um terminando em parto normal com 41 semanas (ruptura iatrogênica) e outro com cesareana com 27 semanas. Nos outros 3 casos o fechamento do saco gestacional foi incompleto, um nasceu com 32 semanas ( ruptura iatrogênica) de parto cesareana, outro foi necessário a aplicação de mais um amniopatch e a gravidez foi concluída com 26 semanas com parto cesareana e a última pediu alta hospitalar e teve um aborto em outro hospital três semanas depois. O seguimento neonatal foi favorável em três casos (41, 32 e 27 semanas) e desfavorável em 1 caso que evoluiu com hemorragia cerebral. (Biagio, 2004) Ferianec, 2011 apresentou o caso de uma paciente com ruptura espontânea na 19ª semana e ultrassonografia com anidramnia. O amniopatch foi aplicado com 21 semanas e 1 dia e após 3 dias o volume do líquido amniótico estava normal. 22 dias após o procedimento a paciente voltou a ter perda líquida, com oligodramnia. A gestação terminou com 33 semanas por cesareana e a criança teve um desenvolvimento dentro da normalidade. Cobo, et. al., 2007, realizou amniopatch em 5 gestantes entre 12 e 18 semanas que tiveram ruptura de membrana após a biópsia de vilo corial, com severa perda de líquido, resultando na restauração do líquido amniótico em todos os casos, porém em 4 dos 5 casos houve óbito fetal intra-uterino. Quintero, 2003, apresentou uma série de 28 pacientes tratadas com amniopatch, com uma média de idade de 19,3 semanas. A média da idade gestacional do parto nas que não tiveram óbito intra-útero foi de 33,4 semanas. A amniocentese terapêutica ou genética foi responsável pela PROM em 10 das 28 pacientes (35,7%). Um dos casos foi causado por biópsia de vilo corial (BVC) e os demais por fetoscopia operatória. A oclusão das membranas ocorreu em 19 das 28 pacientes tratadas (67,9%). Dentre as tratadas, 11 tiveram grande descolamento de membrana sem exteriorização de líquido. O descolamento das membranas se deu pelo escapamento do líquido pelo orifício da membrana, causando a dissecção da cavidade coriônica. Neste grupo somente o córion impedia a saída do líquido pela vagina. Das 11 tratadas, o amniopatch obteve sucesso em 07 (63,6%). Grande perda de líquido decorrente de BVC, amniocentese ou fetoscopia ocorreu em 17 pacientes. A oclusão da cavidade ocorreu em 12 (70,6%) e a morte intrauterina ou a perda da gestação ocorreu em 04 das 17 tratadas. A primeira delas ocorreu provavelmente pela grande infusão de plaquetas. As demais ocorreram por incompetência cervical associada à Síndrome da Transfusão Feto-Fetal, obstrução vesical e amniotite grave (com histerectomia). A taxa de sucesso nas pacientes com grande perda de líquido foi de 10 em 17 (58,8%). Mandelbrot, 2008 relata o caso de uma paciente de 39 anos, com RPM após amniocentese genética, com agulha de 20 gauge e idade gestacional de 15 semanas e 2 dias. Ao ultrassom evidenciou-se oligodrâmnio e separação âmniocoriônica. Não havia sinais de contração ou infecção. Após 2 dias a paciente estava em anidramnia e em 2 semanas não houve melhora. O cariótipo foi normal e após aconselhamento a paciente optou pelo aminopatch com plaquetas autólogas. A amniocentese foi realizada com 18 semanas com infusão de 10 ml de soro fisiológico, 30 ml de concentrado de palquetas e 20 ml de crioprecipitado. Parte do injetado foi para o espaço extra-amniótico. O coração fetal permaneceu normal. Espiramicina e progesterona foram usadas por 1 semana. Quatro dias depois o volume do líquido estava normal e a separação âmnio-coriônica havia desaparecido. A gestação evolui até 38 semanas com parto normal e peso de 3500g. A placenta e as membranas estavam macroscopicamente normais. (Mandelbrot, 2008) Desde 1996, quando Quintero descreveu o procedimento, outros 35 casos foram publicados com RPMI, 21 de gestações únicas, 9 seguimento de amniocentese, 5 de biópsia de vilo corial e 7 de fetoscopia. O resultado foi favorável em quase metade dos casos. Nos defeitos espontâneos a efetividade do tratamento com amniopatch foi menor, porque a lesão é maior, mais próxima ao orifício cervical interno e a infecção é mais comum. (Mandelbrot, 2008) Deprest et.al., 2011, compilou os trabalhos utilizando a infusão de plaquetas e crioprecipitados. O amniopatch foi realizado em 17 casos de ruptura iatrogênica de membrana após fetoscopia, com 11 fetos vivos ao nascimento (65%), em 19 casos após amniocentese ou a biópsia de vilo corial, com 13 fetos vivos (66%). Em ambas as séries ocorreram 6 óbitos fetais intra-uterinos (17%) e 3 gestações terminaram em aborto. (tabelas 2 e 3) A tabela 4 mostra a utilização do amniop em doze pacientes com descolamento entre as membranas âmnio-coriais. Dez casos ocorreram após fetoscopia para tratamento a laser, com sucesso em 80% dos casos. Tabela 2 - AMNIOPATCH APÓS FETOSCOPIA N AUTOR/ DATA 1 Quintero et. al. (1996) 2 3 4 5 6 Quintero et. al. (1999) / Quintero (2001) (2003) IG RESULTADO DA GESTAÇÃO PARTO INDICAÇÃO ligação de cordão – TRAP 20 Vivo e bem 37 ligação de cordão – anencefalia biópsia de pele 16 18 33 19 cistoscopia fetal cistoscopia fetal 17 18 Vivo e bem OFIU anidramnia e término da gestação OFIU término da gestação aborto 22 Vivo e bem 33 aborto dupla sobrevida/ vivos e bem dupla sobrevida/ vivos e bem dupla sobrevida/ vivos e bem 21 Vivo e bem um feto vivo e bem um feto vivo e bem dupla sobrevida/ vivos e bem um feto vivo e bem 31 cistoscopia fetal 20 transfusão feto7 fetal – laser 17 transfusão feto8 fetal – laser 21 transfusão feto9 fetal – laser 18 transfusão feto10 fetal – laser 18 transfusão feto11 fetal – laser 21 transfusão feto12 fetal – laser N.A. oclusão cordão – 13 Lewi et.al.(2004) TRAP 18 transfusão feto14 fetal – laser 23 transfusão feto15 Pathak et.al. (2010) fetal – laser 18 transfusão feto16 fetal – laser 23 transfusão feto17 fetal – laser 23/25 Deprest et. al., Prenatal Diagn, 2011 20 19 21 31 36 34 30 38 37 30 Tabela 3 - AMNIOPATCH APÓS AMNIOCENTESE, BIÓPISIA DE VILO CORIAL OU OUTRO PROCEDIMENTO COM AGULHA. N AUTOR/ DATA 1 Sener et.al. (1997) INDICAÇÃO amniocentese genética Quintero et. al. (1999), Quintero (2001, 2003) amniocentese genética 2 3 4 amniocentese genética amniocentese genética biópsia de vilo corial (caso22) 5 6 7 8 9 Young et. al. (2000)b 10 Contino (2004)a 11 12 13 14 Sipurzynski-Budrass (2006) teratoma (caso 20) amniocentese genética amniocentese genética amniocentese genética amniocentese genética amniocentese genética biópsia de vilo corial IG RESULTADO DA GESTAÇÃO PARTO 16 vivo e bem 37 16 16/17 16 vivo e bem OFIU vivo e bem 37 19 35 19 vivo e bem 41 20 aborto 21 13 38 27 vivo e bem vivo e necrose retal 20 vivo e bem 32 19 vivo e bem 32 17 vivo e bem vivo e hemorragia cerebral 41 36 19 30 21 biópsia de vilo corial 12 16 biópsia de vilo corial 13 17 biópsia de vilo corial 16 biópsia de vilo corial Mandelbrot et. al. amniocentese 19 (2009) genética Deprest et. al., Prenatal Diagn, 2011 16 vivo e bem RPM tardia término da gestação OFIU - em 1 semana OFIU - em 5 semana OFIU - em 1 semana 18 vivo e bem 15 Cobo et. al. (2007) 18 16 18 28 26 30 a – incluído 2 casos de RPM espontânea. b – usado uma mistura de plaquetas, colágeno microfibrilar e cola de fibrina. Tabela 4 – AMNIOPATCH EM DESCOLAMENTO DE MEMBRANAS n AUTOR INDICAÇÃO IG 1 Quintero Transfusão feto-fetal - 21 (2003) laser RESULTADO PARTO Dupla sobrevida / vivos e bem 33 2 Transfusão feto-fetal - 22 amniodrenagem Duplo óbito neonatal 29 3 Transfusão feto-fetal - 18 laser Dupla sobrevida / vivos e bem 34 4 Transfusão feto-fetal - 17 1 óbito fetal intra-uterino e amniodrenagem 1 vivo e bem 24 5 Transfusão feto-fetal - 26 laser Dupla sobrevida / vivos e bem 33 6 Transfusão feto-fetal - 16 laser Término da gestação 20 7 Transfusão feto-fetal - 20 laser Dupla sobrevida / vivos e bem 34 8 Transfusão feto-fetal - 22 laser Única sobrevida / sepse neonatal 30 9 Transfusão feto-fetal - 22 laser Única sobrevida / vivo e bem 34 10 Transfusão feto-fetal - 19 laser Dupla sobrevida / vivos e bem 31 Única sobrevida / vivo e bem 29 Abortamento 21 11 12 Banda amniótica 23 Amniocentese genética 20 Deprest et. al., Prenatal Daign, 2011 10.1. PROTOCOLO PARA A REALIZAÇÃO DO AMNIOPATCH O Centro de Terapia Fetal do Memorial Hospital Jackson Health System desenvolveu um protocolo baseado nos trabalhos de Quintero, et. al. (1996, 1999, 1998) e de Mendoza et. al. (1999). Critérios de inclusão: Os pacientes que podem ser incluído para o tratamento: - idade gestacional maior que 16 semanas. - rupturas iatrogênicas ou descolamento âmnio-corial que não selaram espontaneamente. Critério de exclusão: - sinais de trabalho de parto ativo ou contrações uterinas. - pacientes que forma submetidas ao toque ou a ultrassonografia endovaginal. - sinais de infecções como febre, amolecimento uterino, cheiro forte no líquido amniótico ou taquicardia fetal. - cariótipo alterado. - sinais de malformações fetais ao ultrassom. - circlagem uterina. - biópsia de vilo corial prévia nesta gestação. - malformações ou fibroses uterinas. - líquido amniótico escuro, com sinais de sangramentos prévios. Procedimento: A paciente deve ser internada e o amniopatch é realizado na sala de parto. Após assepsia e antissepsia, uma agulha é inserida no abdome materno, guiado pelo ultrassom, até chegar à cavidade amniótica. Depois, uma pequena quantidade líquido é colhida e enviada para o laboratório para checar a possibilidade de infecção. Então é injetado o concentrado de plaquetas e o crioprecipitado. Possíveis complicações do método: - A agulha pode puncionar intestino, bexiga ou vasos da pelve materna ou causar alguma injuria fetal. Esse risco diminui com a orientação pelo ultrassonografia. - Existe um risco potencial de infecção. Isto é prevenido usando uma técnica estéril na amniocentese. Porém, a infecção pode estar relacionada à infecção ascendente pela própria ruptura da bolsa. - Ocasionalmente, as paciente podem desencadear trabalho de parto após o procedimento. - Existe um pequeno risco de adquirir infecção pela transfusão das plaquetas e do crioprecipitado, porém com transfusão autóloga e os cuidados de triagem do banco de sangue, a chance de infeccção é minimalizada. - Já ocorreram óbitos fetais devido a uma injeção de uma grande quantidade de plaquetas, que alteram a pressão arterial e a freqüência cardíaca fetal. Biagio, 2004, acompanhou cinco casos de amniorrexe prematura entre 17 e 23 semanas com pacientes enquadravam-se no protocolo acima descrito e descreveu sua conduta. Optaram pela transfusão autóloga, sendo colhido 350 a 400 ml de sangue, separados em 4 bolsas de acordo com protocolos autotransfusionais, sendo reinfundido os eritrócitos autólogos. A amniocentese foi realizada com uma agulha de 22 gauge, sendo infundido, por um cateter de 3 vias, 30 ml de plaquetas, 20 ml de crioprecipitado e 20 ml de soro fisiológico, numa temperatura de 37°C. Primeiro injetou-se 5 ml de solução salina para criar uma bolsa na qual foram infundidas as plaquetas e depois o crioprecipitado. Lembrando que não é preciso injetar no local da ruptura. O seguimento foi com repouso no leito, antibióticoterapia contínua, se necessário, miorrelaxantes e tocolíticos. A primeira semana foi monitorada com ultrassom para avaliação do bem estar fetal, descarga e cultura vaginal devido a possibilidade de infecção. A técnica é simples e não requer conhecimento do local exato do defeito. Entretanto a dose de plaqueta e crioprecipitado precisam ser estabelecidos. (Quintero, 1999) Severa bradicardia e hipotensão têm sido observadas após a transfusão de plaquetas, isto sugere uma mudança hemodinâmica resultante da ativação plaquetária e que pode levar ao óbito fetal. (Devlieger, 2007) 11. CONCLUSÃO A rotura prematura das membranas é uma condição que cursa com altos índices de morbidade e mortalidade maternos e infantis. Existem poucos casos descritos na literatura, porém algumas considerações podem ser feitas a respeito do uso do amniopatch nas rupturas prematuras iatrogênicas. A técnica é simples, não requer conhecimento do local exato do defeito tem demonstrado ser efetiva para o selamento da membrana, facilitando o processo fisiológico e prolongando significativamente a gravidez. A ruptura espontânea, por outro lado é quase sempre o resultado final de um processo infeccioso e a abordagem com amniopatch pode falhar. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Poma PA, Premature rupture of membranes. J Natl Med Assoc 1996; 88:27-32. 2. Quintero RA, Morales WJ, Kalter CS, Allen M, Mendonza G, Angel JL, Romero R, Transabdominal intra-amniotic endoscopic assessmente of previable premature rupture of membranes. Am J Obstet Gynecol 1998; jul; 179(1):71-6. 3. Quintero RA, Morales WJ, Allen M, Bornick PW, Arroyo J, LeParc G, Treatment of iatrogenic previable premature rupture of membranes with intra-amniotic injection of platelets and cryoprecipitate (amniopatch): preliminary experience. Am J Obstet Gynecol 1999 sep; 181(3):744-9. 4. Akierman A, Iwanicki S, Premature rupture of the membranes: Combined Obstetric and Neonatal Management. Can Fam Physician 1988; 34:2031-34. 5. O’Brien JM, Mercer BM, Barton JR, Milligan DA, An in vitro model and case report that used gelatin sponge to restore amniotic fluid volume after spontaneous premature of the membranes. Am J Obstet Gynecol 2001 nov; 185(5):1094-7. 6. Quintero RA, Treatment of previable premature ruptured membranes. Clin Perinatal 2003; 30:573-89. 7. Contino B, Armellino F, Brokaj L, Patroncini S, Amniopatch, a repairing technique for premature rupture of amniotic membranes in second trimester. Acta Bio Medica Ateneo Parmense 2004; 75; suppl. 1:27-30. 8. Song GA, Han MS, Effect of antenatal corticosteroid and antibiotics in pregnancies complicated by premature rupture of membrane between 24 and 28 weeks of gestation. J Korean Med Sci 2005; 20: 88-92. 9. Devlieger R, Millar LK, Bryant-Greenwood G, Lewi L, Deprest JA, Fetal Membrane healing after spontaneous and iatrogenic membrane rupture: A rewiew of current evidence. Am J Obstet Gynecol 2006 december; 195(6):1512-1520. 10. Medina TM, Hill A, Preterm rupture of membranes: Diagnosis and Management. Am Fam Physician 2006 feb; 15;73(4):659-664. 11. Cobo T, Borrel A, Fortuny A, Hernández S, Pérez M, Palacio M, Pereira A, Coll O, Treatment with amniopatch of premature rupture of membranes after first-trimester chorionic villus sampling. Prenatal Diagn 2007 nov; 27(11):1024-7. 12. Mandelbrot L, Bourguignat L, Mellouhi IS, Gavard L, Morin F, Bierling P, Treatment by autologous amniopatch of premature rupture of membranes following mid-trimester amniocentesis. Ultrasound Obstet Gynecol 2008; published online in Wiley InterScience (www.interscience.wiley.com). 13. Joyce EM, Moore JJ, Sacks MS, Biomechanics of the fetal membrane prior to mechanical failure: Rewiew and implications. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 2009 may; 144(suppl 1): S121-S127. 14. Rodríguez-Villoria RE, Cadena LF, Zeppenfeldt ME, Rotura prematura de membranas ovulares: tratamiento con parche hemático transvaginal endocervical autólogo. Presentación de um caso. Ver Obstetric Ginecol Venez 2010; 70(3):206211. 15. Popowski T, Goffinet, Maillard F, Schmitz T, Leroy S, Kayem G, Maternal markers for detecting early-onset neonatal infection and chorioamnionitis in cases of premature rupture of membranes at or after 34 weeks of gestation: a two-center prospective study. BMC Pregnancy and Childbirth 2011; 11:26; http://www.biomedcentral.com/1471-2393/11/26 16. Ferianec V, Krizko MJ, Papcun P, Svitekova K, Cizmar B, Holly I, Holoman K, Amniopatch – possibility of successful treatmentof spontaneous preaviable rupture of membranes in the second trimester of pregnancy by transabdominal intraamniotic application of platelets and cryoprecipitate. Neuro Endocrinol Lett 2011; 32:449-52. 17. Lewi L, Van Schoubroeck D, Van Ranst M, Bries G, Emonds MP, Arabin B, Welch R, Deprest J, Successful patchingof iatrogenic rupture of the fetal membranes. Placenta 2004; 25:352-356. 18. Quintero RA, Kontopoulos EV, Chmait R, Bornick PW, Allen M, Management of twin-twin transfusion syndrome in pregnancies with iatrogenic detachment of membranes following therapeutic amniocentesis and the role of interim amniopatch. Ultrassound Obstet Ginecol 2005; 26: 628-633. 19. Deprest J, Emonds MP, Richter J, DeKoninck P, Van Mieghem T, Van Schoubroeck D, Devlieger R, Catte LD, Lewi L, Amniopatch for iatrogenic rupture of the fetal membranes. Prenatal Diagn 2011; 31:661-666. 20. Viçosa AM, Jiménez MF, Manejo do paciente com ruptura prematura das membranas. AMRIGS 1986; 30(4): 263-268. 21. Jazayeri A, Premature rupture of membranes. Medscape reference 2011, jun. http://emedicine.medscape.com/article/261137-overview 22. El Khwad M, Stetzer B, Moore RM, Kumar D, Mercer B, Arikat S, Redline RW, Mansour JM, Moore JJ. The human fetal membranes have a weak zone overlying the lower uterine pole and cervix before onset of labor. Biology of Reproduction 2005; 72:720-726. 23. Hadi HA, et. al. Premature rupture of the membranes between 20 and 25 week’sgestation: role of amniotic fluid volume in perinatal outcome. Am J Obstet Gynecol 1994; 170 (4): 1139-1144. 24. . Centro Latinoamericano de Perinatologia y Desarrollo Humano. Guía clínico Antibióticos de amplio espectro en El parto pretérmino espontáneo: la investigación clínica aleatorizada. Disponível em: http://www.clap.ops- oms.org/web_2005/BOLETINES%20Y%20NOVEDADES/NOVEDADES/Noved07.pdf, maio 2001 25. Freitas F, Acetta SG, Jiménez MF, Ruptura prematura de membranas, In: Freitas, Rotinas em obstetrícia. Porto Alegre, Ed. Artmed, 2006, p. 97-104. 26. Isfer EV, Saito M, Hashimoto D, Rozas A, Porto AGM, Amnioinfusão, In: Isfer, Medicina Fetal Diagnóstico pré-natal e conduta. São Paulo, Ed. Revinter, 1996, p.469-482.