Equipamentos e doenças laborais dos pescadores artesanais da
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Equipamentos e doenças laborais dos pescadores artesanais da
ISSN: 2317-1308 Equipamentos e doenças laborais dos pescadores artesanais da estação ecológica Juréia-Itatins (SP) Rosane Aparecida Doimo¹; Walter Barrella¹²; André Luiz Rodrigues Mello¹; Milena Ramires¹² ¹Programa de Pós Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos, Universidade Santa Cecília – UNISANTA, Santos. São Paulo, SP –Brasil ²FIFO – Fisheries and Food Institute/ UNISANTA A pesca artesanal é uma das atividades cujas condições de trabalho são ainda precárias. Esta atividade encontra-se no CNAE representada com o grau de risco médio (GR-3), onde os pescadores são trabalhadores informais com responsabilidade própria do uso de Equipamentos de Poteção Individuais (EPIs). Neste estudo foram analisados os casos de 10 pescadores artesanais que atuam na área da Estação Ecológica JuréiaItatins, no Bairro do Guaraú, Peruíbe (SP). Destes a maioria não fazem uso de EPI’s e não associam as patologias existentes com a sua atividade laborativa. Alguns pescadores já ouviram falar de EPI’s, porém durante as atividades da pesca o uso não é feito por atrapalhar e não resistir a realização da tarefa, exemplo disso são os catadores de ostras. Estas informações podem indicar a falta de familiaridade com os EPI’s apropriados para cada atividade sendo assim, necessárias medidas de conscientização e orientação quanto ao uso correto dos equipamentos. Palavras chave: Equipamentos de proteção individual e coletivo. Acidentes de trabalho. Doenças ocupacionais. Equipment and occupational diseases of fishermen of ecological station Juréia-Itatins (SP) The artisanal fishery is an activity whose working conditions are still precarious. This activity is represented at the National Classification of Economic Activities (NCEA) with medium-risk (GR-3), where fishermen are informal workers with the responsibility of using their own Individual Protection Equipment (IPEs). This study analyzed the cases of 10 artisanal fishermen who work in the area of the Ecological Station JuréiaItatins, in the neighborhood of Guaraú, Peruíbe (SP). Most of them do not make use of the IPEs, and do not associate the existing pathologies with their labor activities. Some fishermen have heard about the IPEs, but during the fishing activities the usage of this kind of equipment is not done as they disrupt and do not resist to the task performance either, an example of this is related to the oyster pickers. This information may indicate a lack of familiarity with the appropriate IPEs for each activity, so arrangements of awareness and guidance on the correct use of the equipment are necessary. Keywords Individual and collective protective equipment. Work accidents. Occupational diseases. UNISANTA Law and Social Science – p. 7 - 11; Vol. 1, nº 1 (2012) Página 7 ISSN: 2317-1308 INTRODUÇÃO A atividade informal de pesca apresenta uma situação de extrema precariedade, deixando os pescadores totalmente desprotegidos. Eles estão sujeitos a riscos de acidentes e doenças, devido ao grande esforço físico, variações climáticas e contato com agentes patológicos num ambiente sem saneamento (RAMALHO e ARROCHELLAS, 2004). A importância dos estudos na área de segurança do trabalho dos pescadores reforça o desejo de que seus resultados possam refletir benefícios aos trabalhadores, auxiliando no planejamento de políticas voltadas para o setor da pesca artesanal (ROSA e MATTOS, 2010). Dentre os poucos estudos desenvolvidos no Brasil sobre aspectos relacionados à segurança e saúde do pescador artesanal destacam-se o de Tomanik e Bercini (2001) sobre as mulheres de pescadores, de Barbosa(2004) realizado em Itaipu –RJ, trata das alterações sócio ambientais e qualidade de vida usando formas empíricas e Dall’oca (2004) ambos com pescadores do Mato Grosso do Sul e, de Garrone Neto et al. (2005) realizado no médio rio Araguaia, em Tocantins que revela um grande número de acidentes de trabalho com pescadores, comparado aos trabalhadores da área urbana. Em vista disto, a FUNDACENTRO, através do programa ACQUA FORUM, Programa Nacional de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalhadores nas Atividades de Pesca e Mergulho Profissional, desenvolve em 7 estados brasileiros ações educativas, preventivas e levantamento de dados sobre as condições de segurança e saúde dos trabalhadores, com ênfase nos riscos e nas doenças presentes nessas atividades (GONÇALVES, NOGUEIRA, BRASIL, 2008 ). Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a pesca artesanal expõe os pescadores a riscos de acidentes variados, que podem ser reunidos em grupos como: ergonômicos (problemas de postura), naturais (incidência de sol na pele e olhos, friagem, ventos frios, ondas fortes), físicos (lesões nas mãos e nos pés), químicos (contato com secreções venenosas ou de substâncias químicas) e biológicos (contato com algas e coliformes fecais). Para evitar estes riscos existem os equipamentos de proteção individual (EPIs) que é definido como todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado a proteção contra riscos capazes de ameaçar a sua segurança e a sua saúde (NR6 – Segurança e Medicina do Trabalho- 10ª Edição – 2012). Na população de pescadores o uso de EPI’s é um recurso pouco explorado. A bibliografia sobre o assunto é muito escassa, além de não existir fiscalização de nenhuma instituição pública quanto ao uso destes equipamentos deixando a responsabilidade para o próprio pescador. O CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas classifica o Código A – 03 (Pesca e Aquicultura) com grau de risco médio (GR-3). No caso de pescadores artesanais, onde dificilmente possuem relação de empregador/empregado o uso de EPI’s é total responsabilidade própria. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo verificar se os pescadores do Bairro Guaraú, residentes na Estação Ecológica de Juréia-Itatins conhecem e fazem uso dos EPI’s. METODOLOGIA Observar e avaliar o uso e a frequência do uso de EPI’s e abstrair os motivos da sua aplicação para a redução dos danos profissionais e ocupacionais, incluindo os Acidentes de Trabalho e de Doenças Profissionais e do Trabalho. Através de observações das atividades dos pescadores, verificou-se o a frequência do uso dos EPIs, UNISANTA Law and Social Science – p. 7 - 11; Vol. 1, nº 1 (2012) Página 8 ISSN: 2317-1308 bem como as sua atividades laborais na jornada de trabalho e outras atividades laborativas comitantes, além de pontuar os pontos positivos na redução dos Acidentes ou Doenças quer seja social ou profissional. RESULTADOS Foram observados 10 pescadores artesanais com idades entre 25 e 84 anos de idade. A maioria (90%) desconhece o uso de equipamentos de proteção individual e coletiva (EPI’s e EPC’s). Apenas 1% conhece o uso de EPI’s por trabalhar de guarda vida na temporada, 3% fazem uso de botas. Todos os pescadores (100%) carregam os coletes salva vidas nas embarcações, mas somente 80% o utilizam. Observou-se também que em todos os casos, os pescadores não fazem exames ocupacionais e apresentaram lesões produzidas ao longo dos anos oriundos da pesca, como feridas cicatrizadas, bronzeamento excessivo de pele. Em todos os casos apresentaram lesões oculares causadas pelo reflexo do Sol no Mar. Noventa por cento (90%) dos pescadores apresentavam dermatoses na região das mãos devido à manipulação de pescado (peixes, crustáceos e moluscos) sem fazer uso de luvas. Este pescado é normalmente destinado ao consumo da comunidade visitante (turistas), colocando em riscos os consumidores do produto. Finalmente verificou-se que os pescadores desconhecem as leis e as normas que pregam a obrigatoriedade o uso de EPI’s. DISCUSSÃO Os resultados deste estudo pontuam inúmeras lesões apresentadas ao longo dos anos oriundos da pesca. A maioria dos pescadores ignora o uso de EPI’s e não associa as patologias existentes com a sua atividade laborativa. Alguns pescadores sinalizaram que o uso de luvas atrapalha e que tais equipamentos não resistem a atividades da pesca ,exemplo disso são os catadores de ostras. Bezerra (2002) verificou que os pescadores de Belém do Pará, apresentaram mais problemas psiquiátricos e de consumo de álcool e tabaco que outros moradores do mesmo local. Segundo o autor, a maior parte desses problemas está relacionada com a baixa remuneração e com as condições de trabalho oferecidas pela atividade. Os pescadores analisados nesse trabalho também consomem álcool em excesso e relacionam isto à falta de opção de lazer na região e à baixa remumeração. Frajo et al. (2007) posicionam-se quanto à necessidade de prevenção primária dos trabalhadores contra os efeitos dos raios ultravioletas, especialmente naqueles trabalhadores de pele menos pigmentada. Os pescadores analisados nesse trabalho não consideraram as lesões cutâneas, mas em todos eles foi observado o aumento da pigmentação decorrente do Sol. Estudo de coorte realizado Rios Antoniel et al. (2011), com pescadores da Espanha, relatou que as maiores queixas envolveram o sistema musculoesquelético, doenças respiratórias, doenças do sistema digestivo e olhos, além de problemas auditivos. Os pescadores da EEJI também apresentaram fortes dores musculares em região dos ombros e problemas de visão. No estudo realizado por Rosa & Mattos (2010) verificaram que 46% de pescadores e 20% dos catadores de caranguejos da Baía de Guanabara faziam uso de EPI’s, diferente da população de pescadores da EEJI, cuja grande maioria não sabia o que era EPI e tão pouco fazia uso desses equipamentos. UNISANTA Law and Social Science – p. 7 - 11; Vol. 1, nº 1 (2012) Página 9 ISSN: 2317-1308 A precariedade da legislação trabalhista e a realização de pesca ainda de modo artesanal são citadas como alguns dos problemas que podem interferir na condição de vida e de saúde dos trabalhadores, especificamente com relação aos pescadores do Brasil (ROSA & MATTOS, 2010). Os pescadores do Guaraú também ignoram leis para prevenção a saúde, bem como a existência das Normas Regulamentadoras (NR 6) lei que obriga o uso de EPI’s para proteção de acidentes e doenças profissionais e do trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Sônia R.C.S. Identidade social e dores da alma em pescadores artesanais em Itaipu, RJ. Ambiente & Sociedade. Volume VII. Nº. 1 jan./jun. 2004. BEZERRA B. Distúrbios psiquiátricos em pescadores da Amazônia. Jornal da Paulista 2002; 168:1-2. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. 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