o que as lideranças brasileiras pensam sobre mudanças climáticas

Transcrição

o que as lideranças brasileiras pensam sobre mudanças climáticas
ISER
INSTITUTO DE ESTUDOS DA RELIGIÃO
PESQUISA:
O QUE AS LIDERANÇAS BRASILEIRAS PENSAM
SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS
E O ENGAJAMENTO DO BRASIL
RELATÓRIO FINAL
(2008)
ÍNDICE
Apresentação
Introdução
Resumo das conclusões
Posicionando os setores
Presentation
Introduction
Summary of the results
Positioning the sectors
Metodologia
Resultados da pesquisa
Leitura dos dados resultantes das questões estruturadas
Análises setoriais
Mídia
Parlamentares
Sociedade civil e ONGs
Empresários
Cientistas
Governo
Comentários Finais
Equipe técnica
Nota técnica
Anexos
Anexo I
Anexo II
Anexo III
3
4
5
9
12
13
14
18
20
30
31
52
53
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280
281
282
290
294
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APRESENTAÇÃO
Este relatório apresenta os resultados finais da “Pesquisa de Opinião sobre Mudanças Climáticas
no Brasil”, realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) com o apoio da Embaixada
Britânica no Brasil.
A pesquisa teve como objetivo geral coletar e sistematizar opiniões de pessoas influentes (keyinfluencers) de sete setores da sociedade: mídia, parlamento, sociedade civil, organizações nãogovernamentais, universidades e institutos de pesquisa, empresariado e agências governamentais
sobre o tema das mudanças climáticas.
A pesquisa pode ser definida como um estudo de percepção: explora o nível de informação e de
engajamento e as visões dominantes de 210 lideranças (30 em cada segmento selecionado) sobre
o tema das mudanças climáticas e outros tópicos relacionados. Deste modo, pretende indicar
diretrizes para o desenvolvimento de programas de ação que possam vir a ser desenvolvidos no
Brasil.
De natureza predominantemente qualitativa, a pesquisa usou a técnica da entrevista em
profundidade com roteiro semi-estruturado. Cada entrevista presencial durou cerca de 50 minutos.
A sondagem foi realizada em várias cidades e capitais do Brasil entre janeiro e maio de 2008.
A primeira parte do relatório traz uma síntese analítica que contém uma comparação dos setores
estudados e destaca os resultados da sondagem; a segunda introduz cada setor com um resumo e
procede a análises detidas sobre cada um deles; a terceira e última parte traz as conclusões gerais
do estudo.
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INTRODUÇÃO
Os objetivos da pesquisa foram indagar, sistematizar e organizar informações e opiniões fornecidas
pelos formadores de opinião entrevistados, buscando:
1) Aprender mais sobre os formadores de opinião como um todo, incluindo suas percepções sobre
as oportunidades, adequações e restrições impostas pelas mudanças climáticas ao desenvolvimento
nacional;
2) Compreender o engajamento pessoal e institucional no combate às mudanças climáticas por parte
de pessoas reconhecidas como lideranças, bem como suas percepções no que concerne às
responsabilidades, barreiras e oportunidades para lidar com o assunto;
3) Obter informações complementares sobre as preocupações, esperanças e propostas que possam
vir a subsidiar programas de ação, projetos e políticas públicas sobre mudanças climáticas no país.
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RESUMO DAS CONCLUSÕES
Uma importante conclusão do estudo é a de que o tema das mudanças climáticas está na agenda dos
atores sociais e governamentais. Nenhum dos sete setores selecionados (cientistas, empresários,
sociedade civil, ONGs, mídia, governo e parlamentares) nega a alta relevância do tema ou avalia que
o fenômeno das mudanças climáticas não deva ser tratado como uma das questões mais importantes
e estratégicas do nosso tempo.
A problemática entra em pauta a partir dos anos 90 e ganha mais força e consistência nos últimos
cinco anos. A consciência recente de que o “aquecimento global” e os “gases do efeito estufa” (na
terminologia da época) estavam indicando mudanças drásticas no regime climático do planeta
começou com a Rio-92. Para a maioria, foi a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
da ONU, realizada no Rio de Janeiro, que pautou o Brasil, signatário da Convenção do Clima e do
Protocolo de Kyoto desde a primeira hora. Entretanto, admitem que foram, na seqüência, o relatório
Stern (2006), o relatório do IPCC (2007) e o documentário Uma verdade inconveniente, de Al Gore,
amplamente divulgado no Brasil, que chamaram a atenção para um fato que poucos contestam: o
fenômeno das mudanças climáticas já se faz sentir, não é um problema distante do mundo de hoje e
da geração atual. Por conseguinte, todas as sociedades têm que cooperar e encontrar um modelo de
governabilidade para lidar com a questão.
A maneira como cada segmento da sociedade brasileira lida com o tema está relacionada a vários
fatores, como a natureza do próprio segmento (mais ou menos informado), sua proximidade em
relação aos temas e assuntos pertinentes (mais ou menos orgânico), a formação e inserção do
próprio entrevistado (mais ou menos especializado) e a importância atribuída ao tema por cada uma
das 210 lideranças entrevistadas.
Além do interesse ou trajetória estritamente profissional, quase todos disseram estar preocupados
como indivíduos e cidadãos. Encontramos em todos os setores uma presença expressiva de opiniões
balizadas, razoável domínio sobre o tema e uma grande motivação para aprender mais.
As principais conclusões, orientadas pela lista dos principais tópicos pesquisados, são as
seguintes:
A maioria absoluta dos entrevistados concorda com a visão científica de que o impacto das
mudanças climáticas será grande e afetará todos, especialmente a população pobre.
i. O divisor de águas na formação de uma opinião consistente sobre o assunto foram os
dados do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, 2007, amplamente divulgados pela internet e pela mídia, além de analisados
em diversos fóruns. Para os entrevistados, o conjunto de evidências de que o clima do
planeta está mudando é consistente e não se pode mais ignorar as possíveis conseqüências
desse fato para a economia e os processos de desenvolvimento em curso.
ii. A quase totalidade dos entrevistados nomeia o fenômeno de “aquecimento global” ou de
“mudança climática”. Praticamente nenhum entrevistado referiu-se à problemática da
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"segurança climática" (climate security), terminologia comum nos Estados Unidos e na
Europa.
iii. As lideranças consideram que ainda conhecem pouco o tema das mudanças climáticas e a
maioria se considera altamente motivada a aprender mais sobre a problemática.
iv. A maioria dos entrevistados considera que o tema das mudanças climáticas é muito
importante para seu setor ou área de atuação, podendo afetar políticas, consumo e
negócios. Acreditam que a tendência será regular as atividades emissoras e se preocupam
com o impacto desse tipo de medida sobre a competitividade econômica dos produtos
brasileiros e com o rebatimento nas políticas praticadas de preço. A opinião geral é a de
que a “transição energética tem um custo” e não se sabe ainda quem pagará a conta.
v. Os líderes apontam que entre os maiores desafios dos próximos 20 anos, tanto para a
humanidade quanto para o Brasil, o protagonismo cabe às questões ambientais e às
questões sociais. Em sua opinião, não é possível separá-las, pois a pobreza leva a práticas
predatórias. Sobre o enfrentamento das questões ambientais, destacaram o problema das
mudanças climáticas e a necessidade de conservar os recursos hídricos; no enfrentamento
das questões sociais, destacaram a necessidade de combater a pobreza e reduzir as
desigualdades.
vi. Em todos os setores ouvimos críticas ao atual modelo de desenvolvimento, tido como
insustentável, principalmente pelo fato de ser baseado em “combustíveis fósseis”.
Também foi amplamente criticado o atual modelo de consumo, inspirado no “modelo
americano”: para os entrevistados, rever padrões de produção e consumo é uma questão
que não pode ser mais adiada se nós, como civilização, decidirmos enfrentar seriamente o
desafio das mudanças climáticas.
vii. Para todos os setores, o maior responsável pelo agravamento das mudanças climáticas é o
binômio desmatamento/queimadas. Em segundo lugar, destacaram as fontes veiculares e
criticaram o modelo rodoviarista adotado pelo país nas décadas de 1960 e 1970. Como
terceiro fator mais importante, mencionaram as atividades industriais, destacando como
vilões as indústrias petroleira, mineradora e química, bem como o agronegócio.
viii. Para a maioria absoluta, a responsabilidade do Brasil perante o mundo no combate às
mudanças climáticas pode ser resumida em quatro ações: 1) conter o desmatamento da
Amazônia; 2) rever a matriz de transportes; 3) não sujar a matriz energética brasileira,
considerada limpa em comparação aos demais países; e 4) desenvolver os
biocombustíveis, o que pode ser uma “grande contribuição” para a transição energética
que os países devem enfrentar nas próximas décadas.
ix. Apenas uma minoria, no entanto presente em todos os setores pesquisados, considera que
o Brasil não deve ceder a imposições vindas de fora, e que o momento é de negociar
vantagens para o país, pois preservar a Amazônia “custa caro”. Para esses, o Brasil tem
direito a se desenvolver e, assim como a China e a Índia, não pode pagar o preço que
desejam os países desenvolvidos, que usaram perdulariamente seus recursos no passado.
Em outras palavras, para essa minoria o Brasil deve receber recursos para preservar a
Amazônia.
x. Quase todos os entrevistados se mostraram preocupados com o futuro da Amazônia,
enxergando nela nosso problema e solução. Conter o desmatamento é um problema, pois
significa mudar o modelo de uso do solo na região, tida como enorme e diversa. Segundo
eles, a Amazônia não é somente importante para o mundo, mas também para o Brasil; a
questão é provar para os agentes econômicos que a floresta vale mais em pé do que
derrubada para produzir madeira, gado ou soja.
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xi. A maioria absoluta dos entrevistados declarou ser possível compatibilizar crescimento
econômico e redução de emissões, ou seja, não agravar ainda mais o fenômeno das
mudanças climáticas. Contudo, afirmam que é esse o desafio amazônico, e que a solução
dos transportes, principalmente nas grandes cidades, será decisiva. As indústrias de um
modo geral acabarão se adequando às normas, mesmo porque isso se tornou uma questão
de competitividade, e o mercado de crédito de carbono deverá oferecer os instrumentos
para isso. Com o esgotamento dos mecanismos criados pelo Protocolo de Kyoto, surgirá
uma nova geração de instrumentos e o mercado deverá responder rapidamente.
xii. Uma minoria, contudo, também presente em todos os setores, mostrou-se cética quanto à
possibilidade de compatibilização: para eles, o problema está no próprio modelo de
desenvolvimento, ainda baseado em combustíveis fósseis. A transição energética, dizem,
não se faz do dia para noite, e esbarra além disso nos fortes interesses econômicos das
petroleiras e associados. Lembraram também que o modelo de consumo adotado pela
maioria dos países é insustentável e que não há sinais de que os países que têm consumo
alto de energia per capita (caso dos EUA, por exemplo) estejam dispostos a sacrifícios.
xiii. Para parte expressiva dos entrevistados, os biocombustíveis são uma “janela de
oportunidades” para o Brasil, desde que os parâmetros dessa produção sejam regulados a
partir de um marco de sustentabilidade. Os entrevistados falam entusiasticamente da
chance que o Brasil tem de contribuir para o mundo, não só com o etanol, mas com uma
economia de biomassa de baixo carbono. Para esses entusiastas, o Brasil tem território,
tem tecnologia e tem o apoio de suas elites. Eles criticam, no entanto, o modelo de
“agricultura familiar”, afirmando que, para ser a maior economia de biocombustíveis do
mundo, o Brasil precisa de escala, e não de projeto social com assentados da reforma
agrária.
xiv. Em sua maioria, os entrevistados se declararam não especialistas, mas disseram
acompanhar a discussão internacional, realizada de dois em dois anos pelos paísesmembros da ONU nas reuniões da Conferência das Partes (COP). As principais fontes
desse acompanhamento são a internet, os jornais impressos e os noticiários televisivos.
Muitos declararam que lêem revistas especializadas e documentos disponíveis na internet.
Uma minoria acompanha bem de perto na qualidade de negociadores, consultores ou
membros das delegações brasileiras. Para essa minoria mais especializada, as opiniões
estão divididas entre um grupo que considera o Brasil pouco engajado, atuando
equivocadamente, e outro que acredita que o Brasil está bem, tem a matriz limpa e o
etanol, e que a Amazônia é o único problema real.
xv. Entre os que acompanham de perto a batalha das negociações nos encontros preparatórios
e oficiais, a maioria criticou a posição dos Estados Unidos, classificando como erro
histórico o não-alinhamento ao Protocolo de Kyoto, desde 1997. Acreditam que essa
posição deverá mudar com o resultado das atuais eleições presidenciais no país e que o
grande problema será a China, por ser uma grande potência com um modelo de produção
sujo (baseado em carvão).
xvi. Apenas uma minoria disse ter acompanhado a Conferência de Bali e manifestou descrença
na agilidade desse tipo de reunião, afirmando que os mecanismos são “velhos” e
“inoperantes” para as necessidades urgentes que a questão climática impõe ao mundo.
Uma parte expressiva, no entanto, incluindo os que não acompanharam, declarou que
apesar de tudo houve avanços e que a agenda está estabelecida para 2009. Para esses
otimistas, há grande desigualdade na esfera internacional e a saída é negociar, pois o
fenômeno das mudanças climáticas terá impacto diferente em cada país. Segundo eles, as
responsabilidades são “comuns, mas diferenciadas”.
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xvii. Para uma parte significativa dos entrevistados, mais de dois terços, o Brasil tem
desperdiçado a chance de liderar uma iniciativa relevante, tornando-se líder dos países
emergentes. O país tem perfeitas condições para isso, pois é uma “potência ambiental”. A
maioria desconhece a proposta que a diplomacia brasileira apresentou em Bali,
denominada “desmatamento evitado”. Quem disse conhecer Bali criticou as resoluções da
Conferência, consideradas de difícil operacionalização; mesmo aqueles que simpatizam
com a proposta consideram necessário aprimorá-la;
xviii. A totalidade dos entrevistados considera que a Europa está na vanguarda no que se refere
às metas de redução e de programas de adaptação e mitigação, mas a maioria não sabe
citar os programas específicos ou não conhece detalhes. Os países mais citados foram
Alemanha, Holanda e Dinamarca; os mais criticados foram EUA, Rússia e China;
xix. Para a maioria absoluta dos entrevistados, quem deve liderar o processo de engajamento
do Brasil, dentro e fora do país, é o governo. Trata-se de uma “tarefa de Estado”,
disseram. Se o governo mostrar à sociedade que está levando o assunto a sério, os demais
atores tendem a se engajar. Pela ordem, além do próprio governo foram citados o
empresariado, a sociedade civil e a mídia. Também foi dito que o país precisa de um
projeto de desenvolvimento tecnológico voltado para a produção de energias limpas. O
governo poderia sinalizar suas intenções aprovando uma política nacional do clima e
discutindo a sua implementação com todos os setores.
xx. A maioria dos entrevistados mostrou-se pessoalmente sensibilizada com os possíveis
efeitos e cenários sombrios que a questão das mudanças climáticas coloca. Acreditam ser
este “o maior desafio de todos os tempos” e se mostram preocupados como pessoas,
profissionais e líderes que devem tomar decisões. Recusam, contudo, o tom “apocalíptico”
ou catastrofista que costuma imperar no noticiário e em fóruns mais militantes. Acreditam
que a “pedagogia do medo” pode ser paralisante ou provocar atitudes como a do homem
que, ao receber a notícia do fim do mundo, torna-se um hedonista.
xxi. Finalmente, as lideranças ouvidas consideram que a humanidade já teve desafios
importantes em outros momentos da história e que a cooperação para enfrentar o
agravamento climático deverá acontecer em breve. Embora reconheçam que não há base
científica e tecnológica para lidar com toda a complexidade do fenômeno das mudanças
climáticas, mostram-se otimistas quanto às possibilidades de reversão do fenômeno. Parte
dos entrevistados, também uma minoria presente em todos os segmentos, mencionou a
necessidade de consolidar uma base ética e de invocar não só as forças econômicas, mas
também as energias espirituais da humanidade, pois estamos sem dúvida em um período
crítico da história para os seres humanos e o planeta.
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POSICIONANDO OS SETORES
Em termos de suas opiniões sobre o tema das mudanças climáticas, os setores selecionados se
dividem em dois grupos distintos: um constituído pelos indivíduos mais informados e engajados;
e outro mais reticente, com menos informação ou com outras prioridades declaradas. Entretanto,
em cada setor, observou-se a consciência de seu papel e de sua contribuição específica para a
constelação dos esforços que o Brasil deve empreender.
Em termos de uma consciência e engajamentos mais consistentes, verificamos que o setor com um
posicionamento mais franco é o representado pelos parlamentares. Os entrevistados deste setor
admite que ainda não dá a devida importância à questão climática. Para os parlamentares, isso se
deve ao fato de que o executivo ainda não se definiu. Para eles, sem sociedade e sem governo, o
parlamento pouco pode fazer.
Logo em seguida temos a mídia. Embora os profissionais de comunicação reconheçam ter o papel
de formar opinião e de conscientizar, eles não são produtores de informação, mas comunicadores;
são como caixas de ressonância. Além disso, são reféns da lógica do noticiário, que se alimenta de
novidades e de eventos dramáticos. Ainda assim, a maioria dos entrevistados se sente pessoalmente
mobilizada e acredita que a problemática vem conquistando cada vez mais espaço no setor,
tendência que deve perdurar. Acreditam ainda que, assim como surgiu um jornalismo especializado
nas questões ambientais, o mesmo deverá ocorrer com o tema das mudanças climáticas.
Em terceiro lugar estão, consideradas conjuntamente, as ONGs e as associações do terceiro setor
– isto é, as organizações de corte mais militante junto com aquelas de representação empresarial.
Como já era previsível, neste segmento encontramos uma enorme heterogeneidade de perfis de
atuação e engajamento. O primeira aspecto a sublinhar é que não são muitas as organizações que
lidam sistematicamente com o tema das mudanças climáticas ou se apresentam como
especializadas. O segundo é que os diferentes registros ideológicos, ou recortes da questão,
pulverizam os esforços e não se pode dizer que há uma atuação forte, em rede temática.
Ainda assim, pela força do papel militante e das convicções apresentadas, o setor traz
interessantes argumentos sobre a segurança climática do planeta e sobre os desafios da
sustentabilidade. Para os entrevistados desse segmento, é o desenvolvimento sustentável que trará
as soluções de médio e longo prazos para os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Estão
nesse setor os depoimentos mais pessimistas e mais críticos. No entanto, é também nesse setor
que se apresentam os esforços mais engajados no sentido de promover as chamadas energias
limpas, associando processos tecnológicos de escala ou alternativos a projetos de inclusão social.
Em quarto lugar, na direção do menos para o mais consistente em informação e engajamento (não
necessariamente de influência), está o setor empresarial. A contribuição específica desse setor é
analisar os custos da transição energética, o custo em investimentos e competitividade dos
negócios e produtos brasileiros e sugerir os instrumentos legais e financeiros adequados.
O empresariado ouvido na amostra tem plena consciência de seu papel, pois, no limite, o
fenômeno das mudanças climáticas desafia os setores econômicos a se adaptarem à nova matriz
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(menos intensiva em energia e menos emissora de gases do efeito estufa). Esse setor entende que,
sem sua participação, não é possível mudar os padrões de produção e consumo. Eles reconhecem
que o problema é mundial e que regulações e adaptações não podem ser iniciativas individuais;
para surtirem efeito, precisam partir de um setor inteiro e ter impacto local, nacional e global.
Esse setor é o que mais levanta dúvidas sobre a adoção, pelo Brasil, de metas de redução de
emissões. Naturalmente, essas dúvidas têm por base o receio de perder competitividade.
Em quinto lugar, como um dos setores mais orgânicos e bem informados, identificamos os
agentes governamentais, distribuídos em ministérios e posições que têm o poder de formular e
tomar decisões. Esse setor concorda com a posição manifestada pelos demais de que o governo
deve liderar o processo de articulação e formação de consenso, capaz de engajar a sociedade
brasileira de um modo mais significativo no combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Embora componham o aparelho estatal, criticam fortemente a morosidade com que o próprio
governo vem atuando na questão, falsamente dividido entre o dilema do crescimento e o dilema
da preservação da Amazônia.
O segmento governamental é o que mais insiste na percepção de que há uma ênfase excessiva na
Amazônia, e o mais otimista, depois dos empresários, no que se refere à oportunidade do Brasil
de ser o maior produtor de biocombustíveis do mundo. Esse setor foi o mais crítico do problema
dos transportes, considerado estrutural, mas fortemente ancorado em interesses econômicos
difíceis de reverter. Para esse setor, o verdadeiro problema está nas cidades, no padrão de
organização e consumo, na indústria automobilística e na matriz de transportes adotada pelo
Brasil. O setor acredita que em breve será editada, por iniciativa do governo, uma política
nacional do clima, e que sua regulação e implementação revelará até que ponto a sociedade
brasileira está disposta a mudar seus hábitos.
Por fim, percebemos o setor científico como o mais consistente e preocupado. Isso se deve em
parte à natureza do setor, que possui informação altamente qualificada, e em parte às
características dos amostrados, todos cientistas ou pesquisadores que ocupam posições
estratégicas ligadas direta ou indiretamente à questão. Como era de se esperar, o setor científico
sabe da sua importância como fonte de conhecimento e validação das teses que vêm sendo
difundidas sobre mudanças climáticas. Ainda assim, e embora tenham reafirmando a importância
e gravidade do tema, não se consideram pessimistas. Acham que o país está equipado, tem
técnicos e cientistas preparados para lidar com os problemas mais emergenciais. Ressentem-se,
contudo, da falta de uma política de desenvolvimento científico e tecnológico que expresse a
preocupação com o tema das mudanças climáticas. Lembram que doutores e pesquisadores
precisam de tempo para completar sua formação e começar a aplicar seus conhecimentos.
De um modo geral, os cientistas e pesquisadores amostrados são entusiastas da possibilidade de o
Brasil vir a se tornar um grande produtor de biomassa e de biocombustíveis. Eles são os mais
fortes defensores do Brasil como potência ambiental. Para eles, o país tem território e
biodiversidade suficientes para despontar como uma grande economia de baixo carbono. É
preciso, contudo, valorizar a biodiversidade e traduzi-la em produção não só de commodities
ambientais, mas também em biotecnologia de alto valor agregado. O sonho do setor é colocar sua
base de conhecimento a serviço de um modelo de desenvolvimento sustentável que consideram
viável e possível para o país.
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Parlamento
(-)
Mídia
ONGs
Empresários
Técnicos gov.
Cientistas
(+)
(O diagrama mostra a gradação, de menos para mais, da consistência encontrada nos setores.)
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PRESENTATION
This report presents the results of the “Opinion Poll on Climate Change in Brazil”, developed by the
Institute of Religious Studies (ISER) with the support of the British Embassy in Brazil.
The general purpose of the poll was to collect and systematise opinions of key influencers from
seven sectors of society: media, parliament, civil society, non-governmental organizations,
universities and research institutes, the business sector and government agencies.
The research can be described as a study of perception: it explores the level of information and
engagement, as well as the prevailing perceptions of 210 leaders (30 in each selected segment) on
climate change and other related issues. It also indicates directions for potential programs and plans
of action that might be developed in Brazil.
The poll is predominantly qualitative. The researchers have used the in-depth interviewing
technique with a semi-structured script. Each personal interview was about 50 minutes long.
The study was carried out in several towns and cities in Brazil between January and May 2008.
The first part of the report offers an analytical summary, comparing the seven sectors and
highlighting the survey results; the second part comprises separate analysis of the sectors, each one
introduced by a summary; the third part addresses the general conclusions of the study, followed by
a technical comment on the methodology and the procedures adopted.
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INTRODUCTION
The objectives of the study were to inquire, systematise and organise information and opinions
obtained from the interviewed key influencers in order to:
1) Learn more about the overall group of key-influencers, including their understanding of the
opportunities, adaptations and restraints imposed by climate change on the country’s development;
2) Understand the personal and institutional involvement of people recognised as influencers to
combat climate change, and their perceptions of the responsibilities, barriers and opportunities to
deal with the subject;
3) Obtain supplementary information about concerns, hopes and proposals that may support
programmes, projects and policies on climate change in the country.
The topics addressed by the poll were the following:
•
Major challenges of humanity and Brazil in the next 20 years;
•
Major environmental challenges in the next 20 years (worldwide and Brazil);
•
Degree of concern and gravity attributed to the problem of climate change;
•
Knowledge of the topic and the causes and effects involved;
•
Opinion about the impact of climate change on the economy and prospects of
socioeconomic development;
•
Opinion about the impact of climate change on the interviewee’s work sector;
•
Brazil’s responsibilities towards the world;
•
Contribution of sectors and players to reduce emissions;
•
The importance of renewable energies (discussion on the energy matrix);
•
Identification of key-influencers and the role of individuals in furthering consciousness and
mitigation;
•
Knowledge of mitigation/adaptation actions and programmes at home and abroad;
•
Knowledge of how the subject is addressed abroad.
13
SUMMARY OF THE RESULTS
A major conclusion of the study is that climate change has been placed on the agenda of social and
government players. No sector among the selected seven (scientists, business sector, NGOs, civil
society, media, government and members of parliament) denied the utmost importance of the topic
or affirmed that the phenomenon of climate change must not be addressed as one of the most
important and strategic issues of our time. The problem emerged in the 1990s and even more
consistently in the past five years. The recent consciousness that “global warming” and “greenhouse
gases” (expressions used at that time) have been showing drastic change in the climate system of
the planet began with Rio-92. The majority considers that it was the UN Conference on
Environment and Development, held in Rio de Janeiro, which put Brazil on the map right from the
start as signatory to the Climate Convention and Kyoto Protocol. They do, however, admit that the
Stern Report (2006), the IPCC Report (2007) and Al Gore's documentary An Inconvenient Truth,
widely publicized in Brazil, were decisive to shape a perception that few contest: that the
phenomenon of climate change is now felt to be not so distant a problem to the current generation.
Consequently, all societies need to cooperate and find a model of governability to deal with the
question.
The way each segment of Brazilian society deals with the matter depends on various factors, such
as the nature of the segment itself (with more or less information), its familiarity with related topics
and subjects (organic to a greater or lesser degree); the interviewee’s own background and insertion
(more or less experienced) and on the topic’s importance to each of the 210 leaders interviewed.
Almost all of them claimed to be concerned beyond their professional interest or career, as
individuals and citizens. We find a strong presence of supported opinions, reasonable command of
the topic and keen motivation to learn more in every sector.
The main conclusions, guided by the list of principal topics studied, are as follows:
i. The absolute majority of the interviewees agree with the scientific view that climate change
will have a strong impact and will affect everyone, especially the poor population.
ii. The watershed in forming a strong opinion on the matter was the data brought by the latest
IPCC Report (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007), widely reported by the
media and the internet, whose data were analysed at various forums. The interviewees said
that the overall evidence of the planet’s climate change is consistent and they can no longer
ignore the possible effects that it has on the economy and the development processes in
progress.
iii. Nearly all interviewees name the phenomenon "global warming" or "climate change".
Practically none of them referred to the problem as "climate security", the most common
terminology in the United States and Europe.
iv. Leaders believe that they still have little information about the question of climate change
and most consider themselves highly motivated to learn more about the problem.
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v. Most of the interviewees believe that climate change is a major problem for their sector or
working area, and that it may affect policies, consumption and business. They believe the
tendency will be to regulate activities with emissions, and they are concerned with the impact
of this type of measure on the economic competitiveness of Brazilian goods, as well as with
the kickback on adopted price policies. The general opinion is that “energy transition has a
price”, and no one knows who will pay the bill.
vi. Influencers mention that the key challenge for humanity and Brazil in the next 20 years is to
address the environmental and social issues at the same time. In their opinion, it is impossible
to dissociate them, since poverty leads to predatory practices. When addressing the
environmental issues, the most cited aspects are climate change and the need to protect water
resources; when addressing social questions, the prime need is to fight against poverty and
reduce inequalities.
vii. In every sector, we have heard criticism against the current development model, considered
unsustainable, mostly because it is “fossil fuel” based. The current consumer model, inspired
on the “American model”, was also widely criticised; the interviewees consider that reviewing
production and consumer standards is an issue that can no longer be postponed if we, as a
civilization, really decide to face the challenge of climate change.
viii. All sectors consider that the deforestation/burnings binomial is mostly responsible for the
increasing climate change. Secondly, they pointed to vehicle sources and criticised the
highway model adopted by Brazil in the 1960s and 1970s. Thirdly, they mentioned industrial
activities, pointing to such “villains” as the oil, mining and chemical industries, as well as
agribusiness.
ix. The absolute majority believes that Brazil’s responsibility towards the world to combat climate
change is concentrated in four actions: 1) to curb Amazon deforestation; 2) to reconsider the
transport matrix; 3) not to stain the Brazilian energy matrix, which is considered clean compared
to other countries; and 4) to develop biofuels, which may be a “valuable contribution” to the
energy transition the countries shall face in the next few decades.
x. Only a minority in all sectors surveyed considers that Brazil should not yield to impositions
from outside, and that the moment is now to negotiate benefits for the country, since
preserving the Amazon “is costly”. They believe that Brazil has the right to develop itself,
and, like China and India, should not pay the price demanded by the developed countries,
which squandered their own resources in the past. In other words, they believe that Brazil
must receive resources to protect the Amazon.
xi. Practically every interviewee was concerned with the future of the Amazon, where they
discern our “problem and solution”. Curbing deforestation is a problem, since it means
changing the land use model in the region, considered vast and diverse. They believe the
Amazon is not only important for the world, but also for Brazil; the question is to prove to
the economic agents that the forest is worth more standing than felled to produce timber,
cattle or soybean.
xii. The absolute majority of the interviewees stated that it is possible to combine economic
growth with reducing emissions, i.e. that it is possible not to worsen climate change even
further. However, they do say that the Amazon transportation challenge and solution will set
the pace, especially in the large cities. Industries in general will eventually adapt to the
regulations, because of the growing importance of the issue to competitiveness; the carbon
credit market shall offer instruments to do so. With the exhaustion of the mechanisms created
by the Kyoto Protocol, a new generation of instruments should emerge and the market will
probably be quick to respond.
15
xiii. A minority, however, also in every sector, was doubtful about the combination. They
believe that the problem lies in the development model, still based on fossil fuels: the energy
transition does not happen overnight; moreover, it goes against the strong economic
interests of the oil companies and their associates; they also mentioned that the consumer
model adopted by most countries is unsustainable, and that there is no sign that the countries
with a high per capita energy consumption, such as the USA, are willing to make the
sacrifice.
xiv. In the opinion of most interviewees, biofuels are a “window of opportunities” for Brazil, as
long as its production parameters are regulated within a sustainability benchmark. The
interviewees talk enthusiastically about Brazil’s chance to contribute to the world, not only
with ethanol but also with a “low carbon biomass economy”. These enthusiasts believe that
Brazil has land, technology and the support of its elites. Nevertheless, they criticize the
“family agriculture” model; for them, in order to become the largest biofuel economy, the
country needs scale, and not a “social project” with land reform settlers.
xv. Most interviewees claimed not to be “specialists”, but they did say they accompanied the
international discussion held by the UN member countries during the meetings of the
Conference of the Parties (COP) every two years. The main sources of this follow-up are the
internet, newspapers and television news broadcasts. Many claim to read specialised journals
and publications and also documents provided by the internet. A minority accompanies COP
very closely as negotiators, consultants or members of the Brazilian delegations. The opinions
of this more specialized minority are divided between a group that considers Brazil to be little
involved, acting wrongly, and another that thinks Brazil is well, has ethanol and a clean
matrix, and Amazon is the one and only real problem we should deal with.
xvi. The majority of those who closely accompany the battle of the negotiations at the preparatory
and official meetings criticised the attitude of the USA, rating the non-alignment to the Kyoto
Protocol since 1997 as an “historical faux pas”. They believe that this attitude could change
with the new US elections and that the major problem will be China, since it is a major power
with a dirty production model (coal-based).
xvii. Only a small minority said that they had accompanied the Bali Conference and expressed
disbelief in the efficiency of this kind of meeting, saying that the mechanisms are “old” and
“inoperative” for the pressing needs of the climate issue for the world. A large number,
however, said that, nevertheless, “there has been progress” and that the agenda is set for 2009.
The rest consider that there is a high degree of inequality among the countries and it is
necessary to negotiate, since the phenomenon of climate change will affect each country
differently. They think the responsibilities are “mutual, but differentiated”.
xviii. For a large number of the interviewees, Brazil has been wrongly ignoring the chance of
leading an important project, becoming a leader among the emerging countries. The country
has perfect conditions to do so, since it is an “environmental power”. The majority are
unaware of the proposal that Brazilian diplomacy presented in Bali on avoided deforestation,
and whoever said they were aware criticised the proposal by considering it difficult to put into
practice; even those who were in favour of the proposal consider that there is need to enhance
it.
xix. All interviewees consider that Europe is in the forefront in terms of reduction goals and
adaptation and mitigation programmes, but most could not name or provide details about the
programmes. Individually, the countries most mentioned were Germany, Holland and
Denmark; the most criticized were the China, Russia and the USA.
xx. The absolute majority of the interviewees believe that the leadership of Brazil's engagement
process at home and abroad should be taken over by the government. This is an “affair of
16
state”, they said. Once the government shows signs to society that it is taking the matter
seriously, the other players tend to get involved. The government sector was followed by the
business sector, civil society and the media, in that order. They also said that the country
needs a technological development project focusing on the production of clean energies. What
the government must do to show its intentions is to approve a national policy on climate and
discuss its implementation with all sectors.
xxi. Most interviewees seemed personally worried about the possible outcomes and dismal
scenarios raised by the question of climate change. They believe that it is “the greatest
challenge ever” and are concerned as individuals, professionals and decision-making leaders.
Nevertheless, they reject the “apocalyptic” or catastrophic tone that usually prevails in the
headlines or in the more militant forums. They believe that the “pedagogy of fear” is
paralysing or may lead to unpredictable attitudes such as that of the man who becomes a
hedonist, believing the end of the world is at hand.
xxii. Lastly, the key influencers interviewed consider that humanity has already faced other
tremendous challenges in the past and that cooperation against climate change should be just
round the corner. Although they acknowledge that there is no scientific and technological
basis for dealing with all the complexity of the climate change phenomenon, they are
optimistic towards the possibility of “reversing the phenomenon”. Some of the interviewees,
also in every sector but fewer in number, talked about the need to consolidate an ethical base
and call upon not only economic forces but also the spiritual energies of humankind, since we
are undoubtedly living in one of the most critical periods in the history of the planet and
humankind.
17
POSITIONING THE SECTORS
The selected sectors are divided, in terms of their opinions on climate change, in two distinct
groups: one consisting of more informed and involved individuals, and the other one more
reticent, with less information or with other stated priorities.
In each sector, however, there was awareness of “their role” and their specific contribution within
the constellation of efforts Brazil must make.
In terms of consciousness and the most consistent engagement, we found the representatives of
the parliament sector to be in the weakest position. The parliamentarians admit that they still do
not give due importance to the climate issue. They believe that this is because the Executive has
not yet taken a stance. They consider that “without society and government, parliament can do
very little”.
Media follows closely in their wake. Although the communication professionals acknowledge their
role in forming opinions and encouraging consciousness, they are communicators, an echo
chamber, rather than information producers. Moreover, they are hostage to the logic of news, which
feeds on novelty and sensational events. Even so, most interviewees personally feel mobilised and
believe that the problem is being given increasing space in the sector, a trend that should last. They
also believe that, just as specialised journalism emerged on environmental questions, the same
should occur with climate change.
The NGOs and third sector associations together come in third place. In these segments, we find a
huge heterogeneity of active and engaged profiles. They range from represented professional
associations or consulting firms to militant organisations active in the climate change issue. The
first thing to note is that there are not many organizations addressing the topic systematically, or
that are specialized in it. Secondly, the different ideological perspectives shift the focus of
attention, and it seems that there is no close thematic networking. Nevertheless, through the force
of the militant role and stated convictions, the sector offers interesting arguments about the
planet’s climate security and challenges of sustainability. The opinion of this sector is that
sustainable development will bring mid and long term solutions for the challenges raised by
climate change. This sector has the most pessimistic and most critical opinions. However, this
sector also shows the most institutionalised efforts to promote the so-called clean energies,
associating technological progress of large scale or alternatives with processes of social inclusion.
In this scale from the least to the most consistent in terms of information and engagement (not
necessarily influence), the business sector comes in fourth place. This sector’s specific
contribution is to analyse the costs of energy transition, the cost in terms of investments and
competitiveness of business and Brazilian goods, and suggest compatible legal and financial
instruments. The interviewees from the business sector in the poll are fully aware of their role,
since the borderline is that the climate change phenomenon challenges the economic sectors to
adapt to the new matrix (less energy-intensive and with fewer greenhouse gas emissions). This
sector believes that there is no change in production and consumer patterns without the sector’s
participation. They recognize that this is a worldwide problem and that regulations and
18
adaptations cannot be individual initiatives. To be effective, these initiatives have to be set up by
an entire sector and have local, national and global impact. This sector raises doubts about the
benefits of Brazil's adoption of goals to reduce emissions. Of course, these doubts are based on
reluctance to lose competitiveness.
In fifth place, we found the government agents to be one of the most organic and best-informed
sectors. Distributed throughout ministries and positions and having the power to formulate and
take decisions, this sector agrees with the view expressed by the others that the government must
lead the coordination process, forming a consensus that can engage the Brazilian society more
strongly against the effects of climate change. Although they are part of the state apparatus, they
fiercely criticise the slowness with which the government has been addressing the issue,
mistakenly divided between the “dilemma of growth” and the “dilemma of preserving the
Amazon rainforest”. This sector is the most insistent on perceiving that there is too strong a focus
on the Amazon, and is it also the most optimistic, right after the business sector, about Brazil’s
opportunity to be the largest biofuel producer in the world. This sector was the most critical
regarding the question of transportation that it considers structural, firmly anchored in stubborn
economic interests. In the opinion of this sector, the real problem lies in the towns, organisation
and consumer pattern, the car industry and transport matrix adopted by Brazil. The sector believes
that the government, on its own initiative, will soon announce a national climate policy, and then
we will see in its provisions and implementation to what extent Brazilian society is willing to
make the sacrifice.
At last, the scientific sector appears as the most consistent and concerned. This is in part due to the
very nature of the sector, which not only has highly qualified information, and in part to the
peculiarities of the interviewees: all are scientists or researchers that directly or indirectly work with
the issue, occupying strategic positions. As was to be expected, the scientific sector is aware of its
own importance as a source of knowledge and validation of the theories published on climate
change. Even so, although they have reaffirmed the importance and gravity of the topic, they do not
consider themselves pessimistic. They believe that the country is equipped, has a technical body
and enough scientists to be able to deal with the most pressing problems. They resent, however, the
lack of a scientific and technological development policy that expresses concern with climate
change. They recall that specialists and researchers need time to learn and apply their knowledge. In
general, the interviewed scientists and researchers are enthusiastic about the possibility of Brazil
becoming a major biomass and biofuel producer. They are the strongest champions of Brazil as an
“environmental power”. They consider that it has enough land and biodiversity to become a major
low-carbon economy. We need, however, to value biodiversity and translate it not only into
production of environmental commodities, but also into high value-added biotechnology. The sector
dreams of putting its knowledge base at the service of a sustainable development model that they
find feasible and possible for the country.
Parliament
members
(-)
Media
professionals
NGO activists
Businessmen
Government
managers
Scientific
sector
(+)
(The diagram above shows the information and engagement level found amongst all surveyed
sectors.)
19
METODOLOGIA
1. ABORDAGEM CONCEITUAL E CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA
A pesquisa mescla aspectos qualitativos e quantitativos. O roteiro, que pode ser conhecido no
Anexo I, combina perguntas estruturadas e abertas. A técnica empregada foi a da entrevista em
profundidade, adequada aos estudos de percepção.
Foram realizadas 210 entrevistas presenciais com um conjunto de pessoas previamente classificadas
como influentes. O conceito de influência adotado baseia-se na premissa de que determinadas
pessoas são formadoras de opinião, influenciando opiniões e comportamentos no âmbito de sua
comunidade, de sua empresa ou organização, ou ainda em relação à opinião pública.
Em geral, as características de um formador de opinião estão relacionadas a fatores como
informação, poder e prestígio e são determinadas pela posição ou função que ele detém na escala
social ou profissional. Em muitos casos, o formador de opinião alcança esse status a partir de
características pessoais, tais como carisma e capacidade de liderar comprovada.
No caso desta pesquisa, as pessoas selecionadas para compor a amostra são elas mesmas influentes
(líderes reconhecidos em sua área de atuação) e/ou ocupam posições de destaque em organizações
consideradas estratégicas para os temas pesquisados.
A escolha dos nomes partiu de um conjunto inicial de pessoas identificadas em cada setor e foi
acrescida de indicações solicitadas aos entrevistados.
Buscou-se, portanto, entrevistar homens e mulheres que ocupam lugar de destaque nas empresas,
nas organizações e postos de agências governamentais, assim como acadêmicos e profissionais de
mídia com trajetórias consolidadas.
Na pré-seleção dos nomes, procurou-se não incluir pessoas que são líderes no campo da
sustentabilidade ou que atuam na esfera de influência dos ambientalistas com posições já firmadas
no tema das mudanças climáticas. Este procedimento teve como finalidade evitar um viés.
A pesquisa é de abrangência nacional, uma vez que entrevistou pessoas em todas as regiões
brasileiras. As entrevistas duraram em média 50 minutos e foram gravadas, transcritas e editadas
para fins de análise de seu conteúdo.
20
2. CONTEÚDO
O conteúdo geral versou sobre o conhecimento dos entrevistados sobre mudanças climáticas, seu
posicionamento diante da gravidade da questão e as relações da problemática com as questões do
desenvolvimento e da governabilidade global.
O roteiro contemplou os seguintes tópicos de interesse:
Os tópicos explorados pela pesquisa foram os seguintes:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Principais desafios do Brasil e da humanidade nos próximos 20 anos;
Principais desafios ambientais do Brasil e do mundo nos próximos 20 anos ;
Grau de preocupação e opinião sobre a gravidade ao problema das mudanças climáticas;
Conhecimento da questão e das causas e efeitos envolvidos;
Impacto das mudanças climáticas na economia e nas perspectivas de desenvolvimento
socioeconômico;
Impacto das mudanças climáticas no setor de atuação do entrevistado;
Responsabilidades do Brasil perante o mundo;
Contribuição dos setores e atores para a redução de emissões;
Importância das energias renováveis e discussão sobre a matriz energética;
Atores-chave e o papel dos indivíduos na promoção da consciência e da mitigação;
Conhecimento de ações e programas nacionais e internacionais de mitigação/adaptação;
Conhecimento do tratamento da temática no âmbito internacional.
21
3. UNIVERSO DA PESQUISA E AMOSTRAGEM
Sete segmentos foram definidos como universo da pesquisa: organizações governamentais,
organizações não-governamentais, parlamento (Câmara, Senado e Assembléias Legislativas),
empresários, sociedade civil, imprensa e academia/cientistas. A seleção dos entrevistados levou em
conta, além do critério do segmento, cinco recortes: economia; agricultura; energia;
desenvolvimento socioeconômico e uso da terra. Preferencialmente, cada entrevistado deveria falar
sobre um desses campos.
Ao todo foram realizadas 210 entrevistas, conforme mostra o quadro a seguir, discriminando os
setores e áreas de interesse:
Número de entrevistas realizadas por segmento e área de interesse
Setor
Área de interesse
Economi Agricultur Energia
a
a
Des.
Socioec.
Uso da
terra
Total de
entrevistas
Governamental
6
6
6
6
6
30
ONGs
6
6
6
6
6
30
Empresarial
6
6
6
6
6
30
Sociedade civil
6
6
6
6
6
30
Mídia
6
6
6
6
6
30
Científico/acadêmi
6
6
6
6
6
30
Parlamentar
6
6
6
6
6
30
TOTAL GERAL
42
42
42
42
42
210
4. PERFIL DA AMOSTRA SEGUNDO O POTENCIAL DE INFLUÊNCIA
O perfil da amostra tem a seguinte conformação: homens e mulheres com alta escolaridade,
residentes nas principais capitais do país, consideradas formadoras de opinião. São em geral
profissionais e empresários que estão no topo de sua carreira, cujas opiniões e ações fazem
diferença em seu Estado e em seu setor de atuação ou âmbito temático. Ao todo foram entrevistadas
210 pessoas em 11 Estados brasileiros, entre os meses de janeiro e maio. A lista completa de
entrevistados consta do Anexo II.
4.1. QUEM É MAIS INFLUENTE?
Com o objetivo de se determinar o potencial de influência, a todos os entrevistados foi atribuído
“nível de influência 1” (pois o foco da pesquisa são os formadores de opinião). Após a realização
das entrevistas, a amostra foi redistribuída, incluindo mais duas categorias: “nível de influência 2” e
“nível de influência 3”.
22
Os dois gradientes adicionados visaram categorizar os entrevistados segundo seu potencial para
exercer influência efetiva e ampliar a preocupação com as mudanças climáticas, bem como gerar
ações pertinentes.
Estar no “nível 1 de influência” significa ser apenas influente. Determinou a redistribuição para o
“nível 2 de influência” a combinação entre o entrevistado se declarar muito motivado a
compreender mais o fenômeno das mudanças climáticas e atribuir muita importância ao tema. Estar
no “nível 2 de influência” significa ser muito influente para os objetivos de disseminação e
ampliação do conhecimento sobre mudança climática.
Determinou a redistribuição para o “nível de influência 3” uma combinação entre o entrevistado se
declarar muito motivado a compreender o tema, atribuir muita importância ao tema e ainda
demonstrar conhecimento relevante sobre as questões relativas ao fenômeno, bem como sobre sua
interface com o seu setor de atuação. Estar no “nível 3 de influência” significa ser altamente
influente para os objetivos de disseminação e ação.
Permaneceram com “nível de influência 1” aqueles que, além de demonstrar informação
insuficiente, se mostraram menos motivados ou pouco interessados em aprofundar seus
conhecimentos.
A distribuição que resultou da adoção desses gradientes está representada no seguinte quadro:
Distribuição dos entrevistados por influência
Influência
N
%
1
7
3,3
2
164
78,1
3
39
18,6
Total
210
100
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
4.2. QUEM TEM MAIS PODER?
O nível de poder foi estabelecido de acordo com a relevância da instituição, o cargo que os
entrevistados ocupam e o poder que exercem ou podem exercer nos processos decisórios de suas
organizações.
O primeiro nível de poder – “nível 1” é atribuído pela posição estratégica da organização e/ou
instituição a que o entrevistado pertence. (Um ministério é uma agência estratégica; já a gradação
de um canal de televisão dependerá de sua posição no ranking dos canais televisivos e de seu
público.)
O “nível de poder 2” é atribuído pelo cargo que o entrevistado ocupa. Se ele é um presidente de
empresa, isso é mais estratégico do que, por exemplo, um cargo médio ou de segundo escalão. Um
repórter que cumpre uma pauta é menos importante que um editor-chefe.
O nível de poder 3 é atribuído aos entrevistados que têm o poder de decidir sobre mudanças ou
sobre a adoção de focos específicos em suas empresas, organizações, políticas, pesquisas, fatos
jornalísticos etc.
23
Distribuição dos entrevistados por poder
Poder
N
%
1
10
4,8
2
106
50,5
3
94
44,8
Total
210
100
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
4.3. INFLUÊNCIA POTENCIAL DOS ENTREVISTADOS
O real potencial de influência de cada entrevistado resulta, portanto, do cruzamento de seu nível de
influência com seu nível de poder. O potencial de influência, para efeito de classificação, está
subdividido em três categorias, como segue:
Têm baixo potencial de influência aqueles entrevistados que combinam o fato de estarem em
organizações e/ou instituições que foram classificadas no “nível 1 de poder” e que ocupam cargos
de segundo ou terceiro escalão, e que ainda não têm poder de decisão, além de não se mostrarem
motivados.
Têm médio potencial de influência os entrevistados que, apesar de se mostrarem motivados, não
estão em organizações estratégicas, não têm poder ou não participam dos processos decisórios; e,
inversamente, os que têm poder de fato, ocupam cargos importantes em instituições relevantes, mas
não atribuem importância ao tema e tampouco estão interessados em aprender mais.
Têm alto potencial de influência os indivíduos que são motivados, estão em uma
organização/instituição estratégica, ocupam cargos de mando e têm poder de decisão para alterar
processos e influenciar o setor.
Os quadros abaixo simulam o exercício e nos dão o resultado final:
Critérios para classificação
da influência potencial
Influência
Poder
Influência nível 1 com
poder nível 1
baixa
baixo
Influência nível 1 com
poder nível 2
baixa
baixo
Influência nível 2 com
poder nível 1
média
baixa
Influência nível 2com
poder nível 2
média
média
Influência nível 2 com
poder nível 3
média
alta
Influência nível 3 com
poder nível 2
alta
média
Influência nível 3 com
poder nível 3
alta
alta
24
Cruzamento poder x influência
Influência
1
2
3
Poder
2
7
90
9
1
0
10
0
3
0
64
30
Distribuição de entrevistados por influência potencial
Influência potencial
N
%
1- baixa
17
8,0
2 - média
163
78,0
3 - alta
30
14,0
Total
210
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
100
Como se pode verificar, nossa amostra é composta de uma maioria de lideranças que têm um médio
potencial de influência: 163 entrevistados estão classificados nesta categoria, ou seja, 78% da
amostra. Mas também temos um significativo conjunto de alta influência, 30 entrevistados,
compondo 14% da amostra. Uma minoria, apenas 17 entrevistados, ou 8% da amostra apresentam
um perfil de baixa influência.
Distribuição dos entrevistados por poder, influência e influência potencial
180
160
140
120
1
100
2
80
3
60
40
20
0
Poder
Influência
Influência potencial
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
25
5. PERFIL DETALHADO DA AMOSTRA
5.1. ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA DO ESTUDO
Como ja era previsível (sobretudo por ser Brasília a cidade onde se concentram os parlamentares e
executivos do governo, bem como as principais associações empresariais), as entrevistas se
concentraram nas regiões Sudeste (46%) e Centro-Oeste (29%), como mostra o gráfico abaixo:
Entrevistas por região
120
97
100
80
60
60
40
20
18
17
18
N
NE
S
0
CO
SE
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Os Estados com maior ocorrência de entrevistas foram Distrito Federal (27%), São Paulo (27%) e
Rio de Janeiro (14%):
26
Entrevistas por Estado
SP
27%
DF
30%
AM
3%
RJ
14%
PA
5%
MG
5%
SC
5%
PE
RS PR 7%
2%1%
CE
1%
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Mais da metade dos entrevistados é natural da região Sudeste: 26% de São Paulo, 13% do Rio de
Janeiro e 10% de Minas Gerais. Outros 17% são naturais da região Sul e 15% da região Nordeste. A
amostra ainda contou com 8% de entrevistados estrangeiros residentes no Brasil.
Entrevistados por naturalidade
60
54
50
40
28
30
21
20
17
17
16
10
10
9
7
4
4
4
3
3
2
2
2
2
1
1
1
1
1
PI
SE
M
A
AL
AC
M
T
M
S
F
G
O
D
PB
E
C
ES
BA
AM
PA
PR
S
SC
R
P
pa E
ís
es
s
O
ut
ro
J
M
G
R
SP
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
27
5.2. SEXO E IDADE
Os entrevistados foram, em sua grande maioria, homens (84%), como mostra a figura abaixo. Essa
disparidade de gênero é explicada pelos critérios da seleção e pela intencionalidade da amostra, que
privilegiou altos cargos e ocupantes de posições estratégicas.
Entrevistados por sexo
Feminino
16%
Masculino
84%
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
A maioria dos entrevistados (70%) têm entre 40 e 59 anos. Essa parece ser a faixa na qual os
indivíduos alcançam maior poder e influência (critérios da amostra). A faixa entre 50 e 59 anos é a
mais representada: 42% da amostra. Outros 28% dos entrevistados têm entre 40 e 49 anos, e apenas
10% se incluem na faixa entre 27 e 39 anos, como se vê no gráfico a seguir:
Entrevistados por faixa etária
100
89
90
80
70
60
58
50
40
30
20
34
21
8
10
0
27 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos
70 anos e
mais
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
28
5.3. ESCOLARIDADE
O nível de escolaridade dos entrevistados é bastante alto, o que era esperado. A maioria (54%) tem
o ensino superior completo. Outra grande parte (43%), quase metade, é pós-graduada: tem mestrado
(17%), doutorado (18%) ou ainda pós-doutorado (8%), como mostra a figura abaixo.
Entrevistados por escolaridade
Mestrado
17%
Doutorado
18%
Pós-doutorado
8%
Ensino Superior
Completo
54%
Ensino Médio
Incompleto /Ensino
Médio Completo
2%
Ensino Superior
Incompleto
1%
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
29
RESULTADOS DA PESQUISA
30
LEITURA DOS DADOS RESULTANTES DAS QUESTÕES ESTRUTURADAS
INTRODUÇÃO
O roteiro aplicado nas entrevistas contemplou nove questões estruturadas.
Os tópicos seguintes fornecem os resultados obtidos nas tabulações acrescidos dos comentários
pertinentes.
MAIORIA CONCORDA COM A VISÃO CIENTÍFICA DE QUE O IMPACTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS SERÁ GRANDE E AFETARÁ TODO O MUNDO
Como podemos ver na tabela e no gráfico abaixo, 52,9% dos entrevistados concordam fortemente
com a proposição científica de que as mudanças climáticas afetarão todas as sociedades humanas.
Se somarmos os que concordam fortemente com aqueles que apenas “concordam”, temos a maioria
absoluta de 94% dos entrevistados com essa convicção contra uma minoria de 1% que discordam e
3, 8% que afirmam não possuir informação suficiente para ter uma opinião. Assim, 199
entrevistados contra 11 acreditam na gravidade do fenômeno das mudanças climáticas.
Cientistas sustentam que o fenômeno das mudanças climáticas causará grande impacto na vida de
todas as sociedades humanas. O(A) senhor(a) concorda com essa visão?
N
%
Concorda fortemente
111
52,9
Concorda
88
41,9
Discorda
3
1,4
Não tem informação
8
3,8
Total
210
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
100,0
31
Cientistas sustentam que o fenômeno das mudanças climáticas causará grande impacto na vida de
todas as sociedades humanas. O(A) senhor(a) concorda com essa visão?
120
111
100
88
80
60
40
20
8
3
0
Concorda fortemente
Concorda
Discorda
Não tem informação
suficiente
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
MAIORIA CONSIDERA QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CONSTITUEM
PROBLEMÁTICA MUITO IMPORTANTE PARA SEU SETOR OU ÁREA DE ATUAÇÃO
Apenas uma minoria, 9 entrevistados em 210, constituindo 4% da amostra, afirmou que as
mudanças climáticas não têm importância para o seu setor ou área de atuação. A maioria dos
entrevistados declarou ser muito importante (77,5%) ou importante (18,2%). A ênfase no “muito
importante”, entre três opções, revela a preocupação das lideranças e sua visão de que o fenômeno
terá impacto em sua atividade ou área de atuação.
Essa problemática é, para o seu setor ou área de atuação:
N
%
Muito importante
162
77,5
Importante
38
18,2
Pouco importante
9
4,3
Total
209
100,0
Não opinou
1
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
32
Essa problemática é, para o seu setor ou área de atuação:
180
162
160
140
120
100
80
60
38
40
9
20
1
0
Muito importante
Importante
Pouco importante
Não opinou
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Observamos que, ao distribuir os entrevistados por setor, mantém-se a tendência da maioria dos
setores de atribuir alta importância ao tema: o menor número de respostas “muito importante” está
no setor parlamentar, com apenas 17 menções, e os maiores estão nas ONGs e empresas, com 27 e
25 menções, respectivamente.
Importância do tema para o setor de atuação, por setor
Setor
Importânci
a
Científic Congress Empresa
o
o
Governo
Mídia
ONGs
Socieda
de Civil
Muito
importante
27
17
25
20
22
27
24
Importante
3
11
3
9
6
2
4
2
2
1
1
1
2
30
30
30
29
30
30
Pouco
importante
Total
30
Não opinou
1
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
33
Importância do tema para o setor de atuação, por setor
30
25
20
Muito importante
15
Importante
Pouco importante
10
5
0
Científico
Congresso
Empresa
Governo
Mídia
ONG
Sociedade
Civil
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
LIDERANÇAS CONSIDERAM QUE AINDA CONHECEM POUCO O TEMA DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Indagados sobre como consideravam seu conhecimento sobre as mudanças climáticas, a maioria
(43%) disse estar explorando ou conhecer pouco. Uma terça parte (32,5%) disse ter um
conhecimento bom, mas incompleto, e apenas 25%, um quarto da amostra, alegou ter um
conhecimento abrangente. A resposta predominante leva à conclusão de que é necessário e oportuno
empreender ações de comunicação que visem melhorar esse conhecimento entre as nossas
lideranças.
Quando elencaram as fontes de informação mais utilizadas (apenas uma minoria o fez), seminários,
palestras, simpósios e debates foram citados como principais fontes. A segunda fonte de informação
mais citada foi a televisão. Em 210 entrevistas, o livro Uma verdade inconveniente, de Al Gore, foi
mencionado por 10 entrevistados.
Outras menções menos freqüentes foram feitas às seguintes obras: Os senhores do clima, de Tim
Flannery; Colapso, de Jared Diamond; Eco-economy, de Lester Brown; Cool it, de Bjørn Lomborg;
Climate change, de Robert Henson, Um sopro de destruição, de José Augusto Pádua; e A Terra
gasta: a questão do meio ambiente, de Luis Paulo de Menezes. Alguns entrevistados indicaram as
obras completas de autores como James Lovelock e José Marenga. Outros se referiram a
publicações editadas pela Embrapa e revistas científicas internacionais.
34
Você considera que o seu conhecimento sobre as mudanças climáticas é
N
%
Bastante abrangente
52
24,9
Bom, mas incompleto
68
32,5
Está explorando e
78
37,3
Conhece pouco
11
5,3
Total
209
100,0
Não opinou
1
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Você considera que o seu conhecimento sobre as mudanças climáticas é:
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
78
68
52
11
1
Bastante
abrangente
Bom, mas
incompleto
Está
explorando e
aprendendo
mais
Conhece
pouco
Não opinou
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/20080)
Quando distribuímos os resultados por setor, novamente chama a atenção o fato de que apenas um
dos parlamentares declarou ter conhecimento abrangente. É também neste setor que temos o maior
número dos que se auto-classificaram como “exploradores”. Se somarmos o conhecimento bastante
abrangente com o bom, mas incompleto, temos que o setor que se apresentou mais consistente é o
científico, seguido do empresariado e do governo.
35
Nível de conhecimento por setor
Setor
Científico Congresso Empresa Govern
Nível de
o
conheciment
Mídia
ONG
Sociedad
e Civil
Bastante
abrangente
10
1
8
9
6
10
8
Bom, mas
incompleto
12
9
13
9
8
6
11
Está
explorando
8
18
9
8
14
12
9
4
2
2
2
30
30
30
30
Conhece
pouco
1
Não
informou
1
Total
30
30
30
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Nível de conhecimento por setor
20
18
16
14
Bastante abrangente
12
Bom, mas incompleto
10
Está explorando
8
Conhece pouco
6
4
2
l
da
de
C
ivi
G
So
cie
O
N
a
íd
i
M
G
ov
er
no
pr
es
a
Em
Co
ng
re
ss
o
Ci
e
nt
íf i
co
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
36
Fontes de informação:
Menções
Seminários/ Simpósios/
Comunicações/ Convenções/
Encontros/ Debates
N
16
TV
6
Relatórios do IPCC
3
Sites
2
Revistas especializadas
2
Radio
1
Filmes
1
The Economist
1
Telejornal/noticias em geral
1
Documentos de bancos
1
Materiais de entidades parceiras
1
Artigos acadêmicos
1
Newsletter online
1
Todas as opções
3
Outros
2
Total
42
Não se aplica
168
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
37
MAIORIA SE CONSIDERA ALTAMENTE MOTIVADA A APRENDER MAIS SOBRE
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Convidados a se posicionar diante de três opções, com relação à motivação, a maioria dos
entrevistados se auto-classificou como “altamente motivada a aprender mais” (72,6%). Um quarto
da amostra, no entanto, afirma ter interesse mas estar investindo em temas mais importantes no
momento (25,0%). Somente um entrevistado afirmou não ter interesse no assunto e dois não
quiseram opinar nessa questão, o que nos leva apreender da recusa a falta de interessa.
Em que posição o(a) senhor(a) se veria nas quatro que vou citar?
N
%
Altamente motivada
151
72,6
Interessada, mas há outros
temas mais importantes
52
25,0
Somente interessada, sem
intenção de aprofundar
4
1,9
Desinteressada
1
0,5
Total
208
100,0
Não opinou
2
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Nível de motivação para aprender sobre as mudanças climáticas
160
151
140
120
100
80
52
60
40
20
4
1
2
0
Altamente
motivada
Interessada, mas
Somente
Desinteressada
há outros temas interessada, sem
mais importantes
intenção de
aprofundar
Não opinou
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
38
Distribuída a amostra por setor, vemos que há alta motivação por parte de todos os setores de
compreender melhor o tema das mudanças climáticas, com menor destaque para o Congresso e
maior destaque para o setor científico e as empresas.
Motivação por setor
Setor
Motivação
Científico Congress Empresa Governo Mídia
o
Altamente
motivada
Interessada, mas
há outros temas
mais importantes
Sociedad
e Civil
26
18
25
21
18
20
23
4
11
5
8
9
8
7
2
1
Somente
interessada
1
Desinteressada
1
Não opinou
Total
ONG
30
30
30
1
1
30
30
30
30
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Nível de motivação por setor
39
30
25
Altamente motivada
20
Interessada, mas há outros temas
mais importantes
15
Somente interessada, sem
intenção de aprofundar
10
Desinteressada
5
l
da
de
C
ivi
G
So
cie
O
N
a
íd
i
M
G
ov
er
no
pr
es
a
Em
Ci
e
nt
ífi
co
Co
ng
re
ss
o
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
LÍDERES APONTAM QUE O MAIOR DESAFIO A SER ENFRENTADO NOS
PRÓXIMOS 20 ANOS, TANTO PELA HUMANIDADE COMO PELO BRASIL, ESTÁ NO
ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS, COM DESTAQUE PARA AS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Perguntados sobre “o maior desafio” a ser enfrentado pela humanidade estimando um período
próximo de 20 anos, os entrevistados discorreram livremente, pois tratava-se de uma pergunta
aberta.
Agrupadas as respostas por campo temático, verificou-se que a maioria das questões citadas
pertence à esfera ambiental (55%). 25% dos problemas citados são da esfera socioeconômica e 18%
foram classificados como culturais. Entre os problemas ambientais mais destacados, o mais
mencionado foi o fenômeno das mudanças climáticas.
40
Qual o maior desafio da humanidade? (respostas múltiplas – até 3 respostas)
Campo temático
N
Ambiental*
159
Socioeconômico**
72
Cultural***
53
Outros
6
Total
289
Não opinou
1
* Campo ambiental: mudanças climáticas/aquecimento global, sustentabilidade, desenvolvimento
sustentável com inclusão social, desenvolvimento econômico, social e ambiental equilibrado, questões
ambientais, destruição ambiental, preservação ambiental, água, saneamento básico, energia, mudar/reduzir
o padrão de consumo e produção, compatibilizar desenvolvimento e conservação, equilibrar crescimento e
recursos naturais, reduzir a emissão de gases, lidar com os limites do planeta, manter o planeta vivo, cuidar
melhor do planeta, biodiversidade, conservar a floresta Amazônica.
** Campo socioeconômico: desigualdade social, distribuição e geração de renda, problemas sociais,
pobreza, fome, produção de alimentos, aumento da eficiência agrícola, combate às doenças, epidemia,
saúde, mudar o modelo econômico-tecnológico, reverter o modelo de desenvolvimento, desequilíbrio do
modelo de desenvolvimento, inclusão social, transformação do Brasil em país desenvolvido.
*** Campo cultural: corrupção, educação, consciência, sobrevivência humana, mitigação e adaptação,
mudança do modo de vida, valores, hábitos, comportamento, religião, fanatismo, misticismo religioso,
terrorismo, violência, solidariedade e diálogo, construção de um mundo de paz, migração, diferenças
étnicas.
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
41
Qual o maior desafio da humanidade?
Âmbito
Cultural*
18%
Outros
2%
Âmbito SócioEconômico*
25%
Âmbito
Ambiental*
55%
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Qual o maior desafio da humanidade? (Seleção de problemas a partir de 10 citações.)
Desafio
N
Mudanças climáticas/aquecimento global
36
Questões ambientais/destruição
ambiental/preservação ambiental
24
Sustentabilidade/Desenvolvimento sustentável com
inclusão social/Desenvolvimento ambiental e
socioeconômico equilibrado
23
Desigualdade social/Distribuição e geração de
renda/Problemas sociais
23
Água (carência de água potável)
22
Pobreza/fome/combate às doenças/epidemia/saúde
19
Energia
17
Alimentos/produção de alimentos/aumento da
eficiência agrícola
14
Outros/corrupção
12
Modificar modelo econômico-tecnológico/Mudança
do modelo/Reverter modelo de
desenvolvimento/Desequilíbrio do modelo de
desenvolvimento
10
42
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Os 10 mais citados dentre os maiores desafios da humanidade:
40
36
35
30
24
25
23
23
22
19
20
17
14
15
12
10
10
5
Modificar modelo
econômico-tecnológico
e de desenvolvimento
Outros
Alimentos
Energia
Pobreza
Água (carência de água
potável)
Problemas sociais
Sustentabilidade
Questões ambientais
Mudanças
climáticas/aquecimento
global
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
No caso do desafio do Brasil, os entrevistados aumentam o percentual de desafios que estão no
âmbito socioeconômico (44,2%) e diminuem a relevância dos problemas ambientais em
comparação com a dimensão “humanidade”. Mas ainda assim, 60,8% das respostas agrupadas
apontam problemas ambientais como o maior desafio do Brasil nos próximos 20 anos.
Os problemas socioeconômicos mais destacados foram: desigualdade, má distribuição de renda, e
problemas sociais como pobreza e fome.
Qual o maior desafio do Brasil? (respostas múltiplas agrupadas)
Campo temático
N
Ambiental*
121
Socioeconômico**
88
Cultural***
62
Total
271
Não opinou
11
* Campo ambiental: mudanças climáticas/aquecimento global, sustentabilidade, desenvolvimento
sustentável com inclusão social, desenvolvimento econômico, social e ambiental equilibrado, conservar a
43
floresta Amazônica, queimadas e desmatamento da Amazônia, questões ambientais, destruição ambiental,
preservação ambiental, energia, água, preservar recursos naturais, reduzir emissão de gases, mudança de
padrão de consumo e produção, compatibilizar desenvolvimento com conservação, equilíbrio crescimento x
recursos naturais, sobrevivência humana, mitigação e adaptação, reduzir crescimento populacional,
biodiversidade, lidar com limites do planeta, manter o planeta vivo, cuidar melhor do planeta, saneamento
básico
** Campo socioeconômico: desigualdade social, distribuição e geração de renda, problemas sociais,
pobreza, fome, alimentos, produção de alimentos, aumento da eficiência agrícola, combate às doenças,
epidemia, saúde, modificar modelo econômico-tecnológico, reverter modelo de desenvolvimento,
desequilíbrio do modelo de desenvolvimento, inclusão social, desemprego, gerar emprego, transformação
do Brasil em país desenvolvido
*** Campo cultural: corrupção, educação, consciência, questão política, amadurecimento das instituições
políticas, moralização política, falta de controle, monitoramento, gestão, mudança do modo de vida,
comportamento, sobrevivência humana, mudança do modo de vida, valores, hábitos, religião, fanatismo,
misticismo religioso, terrorismo, violência, infra-estrutura, impunidade, domar capitalismo selvagem,
sociedade democrática, compreensão da visão histórica do mundo, solidariedade e diálogo, construção de
um mundo de paz, migração, diferenças étnicas.
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Qual o maior desafio do Brasil?
Âmbito
Cultural
23%
Âmbito
Ambiental
45%
Âmbito SócioEconômico
32%
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
44
Os mais citados dentre os maiores desafios do Brasil (a partir de 10 citações)
Desafio
N
Desigualdade social/Distribuição e geração de renda/Problemas
sociais
Educação/Consciência/Educação ambiental
42
28
Sustentabilidade/Desenvolvimento sustentável com inclusão
social/Desenvolvimento ambiental e socioeconômico equilibrado
22
Conservar a floresta amazônica/queimadas e desmatamento da
Amazônia
20
Pobreza/fome
18
Questões ambientais/destruição ambiental/preservação
ambiental
Mudanças climáticas/aquecimento global
16
12
Energia
10
Água
10
Outros (domar capitalismo selvagem/sociedade
democrática/compreensão da visão histórica do mundo)
10
Brasil: transformação em país desenvolvido/crescimento
econômico/Importância do país na apresentação de soluções
10
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Os mais citados dentre os maiores desafios do Brasil (a partir de 10 citações):
42
45
40
35
28
30
22
25
20
18
20
16
12
15
10
10
10
10
10
5
0
Pr
l
ob
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g
lva
p
er
em
s
aí
se
de
n
d
lvi
vo
o
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
45
LIDERANÇAS APONTARAM ÁGUA COMO O PRINCIPAL DESAFIO AMBIENTAL E
MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM SEGUNDO LUGAR
Em uma pergunta que permitia que cada entrevistado citasse até três problemas, o problema dos
recursos hídricos foi o mais destacado, com 33 menções. As mudanças climáticas vieram em
seguida, com 30 menções, como mostra o quadro abaixo. As demais citações estão pulverizadas
numa série de outros problemas envolvendo a Amazônia e a questão das energias, alcançando
respectivamente, 23 e 17 menções.
Os mais citados dentre os maiores desafios ambientais (a partir de 7 citações)
Água/Água potável/Rios poluídos/Recursos hídricos
33
Mudanças climáticas/Aquecimento global
30
Amazônia/Preservação da Amazônia/Desmatamento
23
Fontes alternativas de energia/Energia
17
Redução da emissão de gases/cotas de diminuição do
dióxido de carbono
13
Compatibilizar desenvolvimento com
conservação/conservação e distribuição de riquezas
7
Desenvolvimento sustentável/Melhoria econômica e social
com desenvolvimento sustentável
7
Agricultura sustentável/Sustentabilidade do sistema produtivo
7
Mudança do padrão de consumo/Mudança de estilo de vida
7
Problemas ambientais/Reverter quadro
ambiental/Degradação ambiental
7
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
46
Os mais citados dentre os maiores desafios ambientais (a partir de 7 citações)
35
33
30
30
25
23
20
17
15
7
7
7
7
7
Desenvolvimento sustentável
Agricultura
sustentável/Sustentabilidade
do sistema produtivo
Mudança do padrão de
consumo/Mudança de estilo
de vida
Problemas
ambientais/Reverter quadro
ambiental/Degradação
10
Compatibilizar
desenvolvimento com
conservação
13
5
Redução da emissão de
gases
Energia
Amazônia
Mudanças
climáticas/Aquecimento
global
Recursos hídricos
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Se fizermos uma seleção de todas as questões relacionadas às mudanças climáticas (por exemplo, a
preservação da Amazônia, a energia etc.), veremos que a relevância desse tema aumenta
significativamente o gráfico a seguir.
47
Freqüência de menções a assuntos relacionados às mudanças
climáticas como maior desafio ambiental
mudanças climáticas, aquecimento global
30
Amazônia, preservação da Amazônia,
desmatamento
23
fontes alternativas de energia/energia
17
redução da emissão de gases, cotas de
diminuição do dióxido de carbono
12
agricultura sustentável, sustentabilidade do
sistema produtivo
7
mudança no padrão de consumo,
mudanças do estilo de vida
7
desarborização do mundo, recomposição
da cobertura vegetal, biodiversidade
3
0
5
10
15
20
25
30
35
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
48
PARA LÍDERES, TRANSPORTE, DESMATAMENTO E ATIVIDADES DO
AGRONEGÓCIO SÃO OS PROCESSOS QUE MAIS EMITEM GASES DO EFEITO
ESTUFA
Convidados a citar as três atividades que mais emitem gases que afetam a mudança do clima, os
entrevistados destacaram, em primeiro lugar, o desmatamento. Em segundo lugar, empatados, o
transporte e a agricultura/agronegócio. Mas, se considerarmos a freqüência de citações (isto é, a
soma de citações em primeiro, segundo e terceiro lugar), temos que o transporte é a principal
preocupação entre as verificadas na totalidade da amostra: 76 citações, contra 71 citações sobre o
desmatamento. Se considerarmos ainda que agricultura e agronegócio podem ser somados, temos,
em terceiro lugar, 56 citações atribuídas a estas atividades.
A seguir mostramos um quadro com os dados coletados e um gráfico representando as atividades
mais citadas em primeiro (1 - azul), segundo (2 – magenta) e terceiro (3 – amarelo) lugar.
Atividades econômicas no Brasil que mais contribuem com emissões, por ordem de importância
Atividades
Citado em
primeiro lugar
Citado em
segundo lugar
Citado em
terceiro lugar
Desmatamento
48
17
6
Transporte
18
33
25
Agricultura
18
13
9
Agronegócio
13
2
1
Queimadas
12
11
4
Agropecuária
12
8
5
Indústria
11
21
20
Não respondeu
11
20
37
Pecuária
10
9
5
Queima de combustíveis
8
5
8
Indústria Madeireira
7
10
1
Matriz Energética
6
5
22
Indústria Automobilística
6
4
5
Indústria Siderúrgica
4
6
4
Indústria Petroquímica
3
2
4
Indústria Química
3
2
0
Exploração mineral
2
7
3
2
6
4
Outros
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
49
Atividades econômicas no Brasil que mais contribuem em emissões, por ordem de importância
60
50
40
1
30
2
20
3
10
D
es
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In
dú tro rgic
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Q ic
M uím a
in
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ad
or
a
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
Para melhor entender o quadro e o gráfico acima, devemos no entanto considerar o total de menções
por setor. Neste caso, verificamos que o setor industrial recebe 151 menções (considerando o
primeiro, o segundo e o terceiro lugares); o desmatamento empata com o agronegócio em segundo
lugar, com 111 menções cada um, enquanto o transporte cai para o terceiro lugar, com 76 menções.
50
A ATIVIDADE INDUSTRIAL É RECONHECIDA COMO GRANDE EMISSORA DE
GASES DO EFEITO ESTUFA, COM DESTAQUE PARA AS MADEIREIRAS E
PETROLÍFERAS
Agrupando todas as citações sobre a indústria, temos 151 menções. Quando o setor aparece
especificado, vemos que os principais destaques são dados às indústrias madeireira, petrolífera,
siderúrgica e automotiva.
Que indústrias no Brasil têm mais impacto, por ordem de importância, sobre o fenômeno do
agravamento das mudanças climáticas?
Tipo de indústria
N
não específica
52
madeireira
22
petrolífera
18
siderúrgica/metalúrgica
17
automotiva
14
mineradora
13
construção civil
7
química
5
transformação
3
Total
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
151
Atividades industriais que emitem mais gases de efeito estufa
60
52
50
40
30
22
18
20
17
14
13
7
10
5
3
qu
im
tr a
íc
a
ns
fo
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çã
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m
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er
a
ira
pe
ad
ei
re
m
o
es
pe
cí
fic
a
0
(Fonte: Trabalho de campo janeiro-maio/2008)
51
ANÁLISES SETORIAIS
INTRODUÇÃO
Esta parte do relatório apresenta a análise das entrevistas por setor – mídia, parlamento (Câmara,
Senado e Assembléias Legislativas), ONG/sociedade civil, empresarial, científico e governamental.
Nota-se que as entrevistas de representantes de ONGs e entidades da sociedade civil, nessa análise,
foram agrupadas, pois não apresentam posicionamentos distintos e, juntas, representam as opiniões
e os posicionamentos do chamado terceiro setor.
As análises setoriais estão organizadas em quatro partes: a primeira apresenta um resumo dos
principais pontos levantados na amostra; a segunda tece comentários sobre as 18 questões principais
listadas abaixo, ilustrando-as com trechos das entrevistas; a terceira sintetiza as conclusões de cada
setor; e a quarta traça o perfil dos entrevistados de cada setor.
Questões levantadas (tópicos):
1. Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
2. Qual o seu nível de conhecimento sobre o tema?
3. Qual o seu nível de motivação para aprender mais sobre a temática do clima?
4. Qual o maior desafio da humanidade para os próximos 20 anos?
5. Qual o maior desafio do Brasil para os próximos 20 anos? Qual o maior desafio ambiental
para os próximos 20 anos?
6. Qual o impacto das mudanças climáticas sobre as civilizações atuais?
7. Como avalia a importância do tema das mudanças climáticas para o seu setor?
8. Em que medida as metas de redução das emissões afetarão as suas atividades?
9. Que barreiras identifica para o enfrentamento das mudanças climáticas?
10. Que incentivos identifica para o enfrentamento das questões climáticas;
11. Quais os atores com maior responsabilidade no enfrentamento das mudanças climáticas?
12. Como as mudanças climáticas estão sendo tratadas no âmbito internacional?
13. Qual o seu nível de conhecimento e opinião sobre a proposta de "desmatamento evitado"?
14. Qual o seu nível de conhecimento e opinião sobre a Conferência de Bali?
15. Qual a responsabilidade do Brasil frente às questões climáticas?
16. Qual a importância das ações individuais?
17. Quais as atividades econômicas que mais contribuem para as emissões?
18. Como compatibilizar desenvolvimento e enfrentamento das mudanças climáticas?
Ao final da análise, incluímos uma tabela-resumo dos 18 tópicos abordados nas análises setoriais. O
objetivo da tabela é permitir que o leitor compare as principais posições cruzando todos os setores.
52
MÍDIA
RESUMO
A seleção da amostragem do segmento mídia privilegiou jornalistas e comunicadores da grande
imprensa falada, escrita e televisiva. Procurou-se entrevistar profissionais com carreiras
consolidadas e com projeção nacional, regional ou local. Foram ouvidos editores e redatores-chefes,
colunistas de jornais diários e repórteres dos principais jornais televisivos transmitidos em cadeia
nacional.
O setor se apresenta como “generalista”. Frases como: “somos os artesãos da informação”, “a
informação chega bruta, complicada, e a gente dá a ela uma forma de notícia, de modo a comunicar
melhor”, somos o “ventríloquo da sociedade”, ou ainda “somos o intermediário” entre a informação
científica, técnica ou política e o “cidadão comum”. “Somos canais, e não produtores de
informação” é a visão que predomina no setor, mostrando que ele encara o seu possível
protagonismo apenas como “poder de comunicar”, mas não de produzir informação. Os
comunicadores seriam magos da forma, e não do conteúdo em si.
Entretanto, além da profissão que exercem, os entrevistados se declararam, em sua grande maioria,
“cidadãos preocupados com o mundo à nossa volta”. Portanto muitas das opiniões não foram
“profissionais” (segundo suas próprias palavras), mas de brasileiros que se preocupam com o país e
com o mundo.
Em geral, mostraram interesse e um razoável domínio sobre os assuntos em pauta na entrevista,
especialmente quando as questões demandavam um conhecimento mais técnico ou complexo.
Reconhecem que as questões ambientais, e em particular o tema das mudanças climáticas,
ganharam as manchetes da mídia, e que essa tendência, que começou há pouco mais de 2 anos,
deverá perdurar, embora “nunca se saiba”, e citam o evento de 11 de setembro, nos Estados Unidos,
quando as torres gêmeas foram destruídas por um comando terrorista. Quando esse tipo de evento
acontece, passa-se um tempo capturado por novos dramas: “pode ser o terrorismo, pode ser a morte
da Lady Di” ou da “menina Isabella” (referindo-se a fato recente que comoveu o país); a mídia tem
um compromisso com o dia-a-dia das pessoas, os dramas, e as expectativas são variados. Mas,
como tendência, as “mudanças climáticas vieram para ficar”.
Também chamam atenção para o fato de que novos temas atraem novos talentos e, assim como se
formou no país um jornalismo científico e depois especializado em questões ambientais, em breve
teremos um jornalismo especializado em mudanças climáticas. Para os entrevistados, é uma questão
de tempo e de “institucionalização do tema”.
Acham que o assunto ganhou, na imprensa internacional e na brasileira, cores e tintas dramáticas,
por demais catastrofistas. Para eles, a era idílica do meio ambiente, quando dominavam as imagens
de natureza esplêndida e selvagem – típicas do Discovery Channel e National Geographic – está
acabando para o espectador ou para o cidadão comum. As imagens são agora cada vez mais
associadas a desastres, degradação e colapso. Um dos entrevistados lembrou o drama recente vivido
pela cidade de Nápoles, “afogada no seu próprio lixo, entrando sem mais nem menos em nossas
casas na hora do jantar”.
Para eles, “o catastrofismo rende manchetes” e é mais fácil de comunicar, pois pega o cidadão “pelo
estômago, não é aí que reside o cerne das emoções?”, indaga um redator-chefe do maior canal de
televisão brasileira. Mas há dúvidas, manifestadas pelos próprios entrevistados, quanto ao resultado
positivo desse tipo de conscientização. “O medo pode paralisar”, observa o mesmo autor da
pergunta.
53
Segundo os entrevistados desse setor, os dois maiores desafios da humanidade nos próximos 20
anos serão enfrentar os efeitos das mudanças climáticas e distribuir melhor a renda, diminuindo a
pobreza e a desigualdade. São os mesmos desafios do Brasil.
Em termos de desafio ambiental especifico, citaram em primeiro lugar mudanças climáticas, com
destaque para a necessidade de preservar a Amazônia. Em segundo, manifestaram forte
preocupação com a água e a “proteção da natureza” de um modo geral. O vocábulo
“sustentabilidade” foi largamente empregado por todos eles, que dominam o famoso triângulo
virtuoso: desenvolvimento econômico equilibrado com o desenvolvimento social e a
responsabilidade ambiental.
Metade dos entrevistados discorreu com desenvoltura sobre a necessidade de promover o
desenvolvimento sustentável como a única via que pode levar à redução da emissão de gases do
efeito estufa, bem como a uma boa qualidade de vida para a humanidade nas décadas futuras.
A totalidade dos entrevistados concorda com a tese de que o impacto das mudanças climáticas nas
sociedades humanas será enorme. No entanto, poucos possuem uma visão catastrofista acerca do
futuro da humanidade.
Para que o tema das mudanças climáticas possa ser adequadamente percebido e enfrentado por
quem decide, o setor considera que o Estado deve se engajar. Enquanto isso não acontece,
prevalecerão interesses comerciais e financeiros, além da falta de consciência da população em
geral. Em sua opinião, se o Estado se engaja a sociedade se engaja também, e então a mídia faz o
seu papel: atuar como uma caixa de ressonância.
Segundo os profissionais ouvidos, o melhor meio de convencer as empresas, o setor privado, é a
regulação e a legislação, mas a esfera pública precisa de outras ferramentas. A sociedade em geral
precisa de informação qualificada e muita educação ambiental. Aí a mídia pode ajudar: este é um
dos principais nichos para que os meios de comunicação possam atuar como “agente dinamizador”
dessa conscientização. A maioria considera que o “engajamento individual” é importante, mas não
suficiente para alterar padrões coletivos de comportamento.
Parte expressiva dos entrevistados, cerca de dois terços, considera que as questões relacionadas às
mudanças climáticas vêm sendo tratadas no âmbito internacional “com muito discurso e pouca ação
efetiva”, além de uma parcela de negligência por parte dos maiores emissores, intolerável diante da
gravidade do problema. Os Estados Unidos foram muito criticados; a China foi por diversas vezes
lembrada como “uma incógnita”, “um país que assusta” por ser um dos maiores emissores e por ter
uma matriz de energia suja (a carvão).
Como os maiores emissores também são os que detêm o poder político mundial, o cenário é de
incerteza sobre “se teremos tempo”. Tempo, aqui, é entendido como tempo para nos adaptarmos e
iniciarmos os programas de mitigação; quase sempre, o “tempo” mencionado pelos entrevistados se
refere à capacidade de reverter o fenômeno das mudanças climáticas ou impedir que se agrave ainda
mais.
Um terço da amostra está convencida de que a equação do tempo não está resolvida, e que
caminhamos para uma situação caótica, na qual será muito mais difícil estabelecer “uma negociação
saudável”.
Quando se trata de citar programas concretos, o setor só é capaz de mencionar uns poucos. Referese genericamente aos programas de “crédito de carbono” do “MDL” (mecanismo de
desenvolvimento limpo), solução que emerge no âmbito do Protocolo de Kyoto.
54
A proposta do desmatamento evitado é desconhecida pela maioria. Aqueles que ouviram falar
demonstram certa descrença em relação à sua possível implementação ou mesmo eficácia,
considerando, no entanto, que foi melhor o Brasil ter levado “alguma proposta”.
Os entrevistados consideram que os transportes e o desmatamento/queimadas são as atividades que
mais contribuem para as emissões. Indústria, agricultura e pecuária também foram destacadas.
A grande responsabilidade brasileira perante o mundo é “deter o desmatamento e as queimadas”, e
não só na Amazônia, dizem nossos entrevistados; em segundo lugar, é importante controlar as
emissões por veículos automotores; em terceiro, investir em energias limpas.
Finalmente, perguntados sobre a possibilidade de compatibilizar crescimento e desenvolvimento
econômico com políticas de enfrentamento das mudanças climáticas, a maioria declarou ser
possível; ademais, não haveria outra escolha para o Brasil, que precisa “tirar milhões da pobreza”.
Embora não existam incompatibilidades, a tarefa não é fácil: a transição a ser efetuada de uma
economia baseada em combustíveis fósseis e abundância de recursos para a nova economia, de
menos intensiva em energia e emissões, tem primeiro que encontrar uma forma de traduzir o futuro
marco regulatório em oportunidades de negócios e permitir que o mercado entre com força nessa
questão.
A receita, para eles, é misturar eficiência energética com redução das emissões, desenvolvendo aos
poucos uma economia de baixo carbono que não deprima os setores mais competitivos da economia
brasileira atual.
Os entrevistados afirmaram que o Brasil, se comparado a outros países, tem capital ambiental e
possibilidades de desenvolver essa nova economia e, com isso, exportar um novo paradigma, o
que seria uma enorme contribuição. O futuro pode ser complicado, mas não é desesperador.
55
ANÁLISE DETALHADA
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
A primeira vez
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da
5
Na década de Na década de De 2000 para
10
8
2
NS/R
TOTAL
5
30
Embora houvesse certa imprecisão inicial nas respostas, a maioria afirmou ter entrado em contato
com o tema pela primeira vez entre os anos 80 e 90 (18), e outros 5 entrevistados declararam tê-lo
feito “antes dessa época”. Para estes últimos, a lembrança se perde em memórias sobre notícias a
respeito da “a elevação do mar”, da “poluição urbana” e da poluição provocada pela queima dos
combustíveis fósseis, e os gases que provocavam o buraco na camada de ozônio:
“Há muito tempo que se ouve falar da elevação do nível do mar, há muito tempo que se
fala sobre a grande poluição provocada pelo carvão, pelas usinas geradoras de energia a
carvão. Há muito tempo que se estuda até possíveis danos à saúde das pessoas que possam
morar embaixo de linhas de transmissão de energia elétrica. O índice de poluição urbana
pelo mau funcionamento dos motores a diesel, a poluição nas margens das estradas, os
danos à saúde dos trabalhadores das empresas, como o caso de Cubatão, que no Brasil é
um exemplo.” (MÍDIA, A.D., 63, JORNALISTA)
“Algumas publicações da ONU no final dos anos 1970, 80 já falavam nessa questão. Mas
não tinham esse foco, falavam dos gases que estavam criando o buraco de ozônio, acho
que anterior a isso. Já se falava nessa possibilidade. Eu me lembro, por exemplo, ter de
estudado um pouco de História, e sempre se dizia que a Revolução Industrial foi
responsável pelo aquecimento da temperatura média do planeta com a queima de
combustíveis e etc.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
“Eu me lembro claramente da primeira vez em que eu me preocupei com isso aos 17, 18
anos, quando eu fui a uma praia em Pernambuco — se eu não me engano, Marinha
Farinha — e vi o mar avançando sobre as casas. (...) Foi a primeira vez em que eu
comecei a ver os efeitos da natureza ganhando do ser humano. E de lá para cá eu nunca
deixei mais de prestar atenção nisso.” (MÍDIA, L.H.Y., 49, JORNALISTA)
“Foi na revista Super Interessante que minha mãe assinava e na verdade foi quando se começou a
falar do efeito estufa, a primeira coisa com esse papo de mudança climática (...). Segunda metade
da década de 80. Quando comecei a ouvir falar de AIDS em 86, quando as desgraças todas
estavam chegando juntas.” (MÍDIA, P.C., 31, JORNALISTA)
Rio-92 foi divisor de águas
Mas foi a partir da Rio-92, que muitos entrevistados chamam de “Eco-92”, que a maioria tomou
conhecimento profissional do tema:
“Do ponto de vista científico, como catástrofe... Não sei, mas como risco, como um perigo,
acho que de uns dez anos para cá...” (MÍDIA, L.H.Y., 48, JORNALISTA)
56
“Eu sei que foi a partir daí que eu tomei uma certa consciência. Foi a partir da ECO 92
que eu comecei a ler sobre o assunto. Então, já faz um bom tempo.” (MÍDIA, A.C., 48,
JORNALISTA)
Para uma das entrevistadas, colunista de grande projeção que vem cada vez mais se ocupando de
questões ambientais em suas colunas, “a discussão era ainda ingênua na época da Rio-92”:
“Em 92 a discussão era ainda muito mais ingênua. A Rio-92 ainda tinha um discurso para
o grande público, leigo como eu, a idéia da preservação. Eu acho que é mais para o fim
da década de 90 que fica claro que a coisa tinha evoluído muito mais do que eu
imaginava. Portanto, a questão não era como preservar, mas como reduzir esse dano.
Essa consciência não havia na época.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
O IPCC fez a diferença
Outros dois jornalistas revelaram que foi com os relatórios periódicos do IPCC que a mídia
começou a formar uma opinião a respeito do assunto. É quando ele “deixa de ser papo de
ambientalista” para virar coisa séria, de cientista, chefe de Estado, de pessoas “do naipe do Al
Gore”:
“Foi quando foi divulgado aquele grande relatório do aquecimento global que eu entrei
no assunto: 2001, 2002, o primeiro grande painel, se não me engano, foi quando o assunto
estourou na mídia. (...) Quando falavam em efeito estufa, eu só pensava: o planeta está
esquentando. Mas com os relatórios eu entendi a complexidade da coisa, o acúmulo dos
gases, as fontes de emissão, as conseqüências, e, sobretudo a questão do tempo, da
iminência da coisa, isso foi aí pelo ano 2002.” (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Maioria considera que conhece bem o tema, mas precisa aprender mais
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante abrangente Bom, mas incompleto
6
8
Está explorando e
aprendendo mais
Conhece pouco
TOTAL
14
2
30
Entre os que dizem precisar aprender mais, o argumento é o de que não detêm conhecimento
científico ou técnico, não são “estudiosos”:
“Eu não tenho nenhuma pretensão de entender cientificamente esse assunto. (...) Eu sei
que a Amazônia está sendo destruída e que a capacidade humana de interromper esse
processo não me parece estabelecida... Eu acho que eu tenho um bom nível de
conhecimento, eu não tenho técnico. O que significa o aumento [de um centímetro no
nível] do mar eu não sei. Eu sei que lá em Atafona as casas estão sendo invadidas, que
ilhas desaparecerão, vai haver salinização de lençóis, é isso.” (MÍDIA, R.B., 55,
JORNALISTA)
“Eu me informo lendo na internet, vendo jornais. Mas eu não saio daqui, compro um livro
sobre o assunto e vou para casa ler.” (MÍDIA, A.L., 50, JORNALISTA)
57
“Não sou um estudioso, mas me considero, pela minha vida de jornalista, um homem
informado e uma pessoa responsável. Quem não se preocupa hoje com a questão
ambiental, seja médico, engenheiro, advogado, agricultor, cientista, é um irresponsável,
porque é evidente que aí está o aquecimento global e aí está a China poluidora, a América
poluidora e um mundo absolutamente indefeso.” (MÍDIA, A.D., 63, JORNALISTA)
Saber se catástrofe é verdadeira leva a desejo de aprender mais
Embora tenham firmado posição contra o tom catastrofista que estaria imperando no tratamento da
questão – como se a própria mídia não contribuísse para isso –, paradoxalmente, em suas
declarações, os entrevistados afirmam que buscam fazer mais leituras e obter mais informações para
saber se “a catástrofe é mesmo iminente”:
“Não tenho um conhecimento gigantesco, quero conhecer mais, então eu procuro me
interessar sobre o assunto. Claro que com algum ceticismo quando vejo esse prognóstico
de filme-catástrofe. Então por isso que eu estou me informando, para não ficar desligado
nem paralisado pelo terror, pelo apocalipse.” (MÍDIA, L.S., 34, JORNALISTA)
“Tenho muitas informações, mas estou procurando me informar cada vez mais porque,
como disse, a ameaça é muito grave, a ameaça é para amanhã, a ameaça é já, e nós não
temos ainda uma consciência plena a respeito desses riscos de mudanças climáticas.”
(MÍDIA, M.P., 61, JORNALISTA)
“Estou aprendendo mais, pois a cada dia aparecem mais conseqüências dessas mudanças.
É ainda um assunto tratado superficialmente na mídia, carregado nas tintas, anunciando
catástrofes. A ênfase devia ser no que fazer: reduzir consumo! Estou comprando livros,
quase tudo o que se escreve é novo.” (MÍDIA, J.L.D., 50, JORNALISTA)
3. GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Maioria se sente altamente mobilizada pelo tema
Como se sente em relação ao tema:
Altamente
motivada
Motivada, mas tem
outros assuntos
mais importantes
Apenas
interessada
Não opinou
TOTAL
18
9
2
1
30
A maioria, 18 entrevistados, se declarou “altamente motivada” a aprender mais; 9 disseram ter
outros temas mais importantes no momento para se ocupar. No entanto, a maioria admitiu que “este
é um tema que mobiliza”. A natureza da mobilização é a preocupação com o futuro da espécie
humana (das gerações futuras) e do planeta:
“Sou um ser humano preocupado com o futuro do planeta onde moro e também com as
gerações por vir, me preocupo se elas vão continuar usufruindo.” (MÍDIA, R.M., 48,
JORNALISTA)
58
“Sobrevivência da humanidade, sobrevivência da espécie. E também o meu trabalho
profissional.” (MÍDIA, M.P., 61, JORNALISTA)
“Não vou a seminários sobre isso, mas o tema me emociona, me mobiliza. Emocional e
intelectualmente. É o nosso futuro, né?” (MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
“Eu sou um habitante da Terra. Na minha leitura, nos meus livros, é o meu principal foco
de interesse, na minha vida privada.” (MÍDIA, L.M., 34, JORNALISTA)
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Mudanças climáticas e combater o binômio fome/pobreza são prioridades
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Meio ambiente/
Pobreza/ Fome/
Mudanças no padrão
Água/ Aquecimento Distribuição de Renda/
de consumo
Global / Mudança
Desigualdade Social
Climática
15
13
1
Exploração
inteligente dos
recursos naturais
TOTAL
1
30
Perguntados sobre o maior desafio que a humanidade vai enfrentar nos próximos 20 anos, os
entrevistados se dividiram: 15 responderam não ter dúvidas de que devem ser as mudanças
climáticas e 13 disseram que será erradicar a fome e a pobreza. Um ainda mencionou “mudar o
padrão de consumo”, e um segundo “mudar a nossa maneira de explorar os recursos naturais”.
Claramente, a maioria se referiu as questões ambientais, o que é surpreendente para um setor que
recebe e transforma milhares de informações em suas mãos todos os dias.
Vejamos alguns dos argumentos daqueles que mencionaram mudanças climáticas:
“O século XXI vai ser o contrário do anterior, vai ser marcado por determinantes físicos
das grandes mudanças; estas vão ser basicamente determinadas pelo esforço da
humanidade em mitigar e se adaptar às mudanças climáticas. Então, o desafio central é
basicamente incorporar a mitigação e adaptação das mudanças climáticas no núcleo das
atividades humanas e aí, obviamente, todas as decisões políticas, econômicas e sociais
terão que passar a contemplar esse desafio climático.” (MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
Nas duas falas abaixo emerge claramente o sentimento de que o desafio existe, mas “não sabemos
como fazer”. A humanidade não tem ainda a receita, o caminho:
“Acho que o desafio é o mesmo de hoje: o esgotamento do planeta como moradia, como
fonte de alimentos e abrigo. Mais do que qualquer outro problema, alguns me parecem
que ficam além da possibilidade tecnológica de solução.” (MÍDIA, R.B., 55,
JORNALISTA)
“Acho que o grande desafio da humanidade, não nos 20, mas nos próximos 50 anos é
estabilizar as emissões de CO2. (...) Acho que é o maior desafio coletivo que a humanidade
já teve que enfrentar.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
“Eu acho que aquecimento global é o problema central porque já estão lançadas as bases
para que o mundo venha a aquecer nas próximas décadas. Contornar, enfrentar esse
problema exige uma cooperação multinacional que o mundo não está acostumado a ter. É
um problema difícil e um problema urgente.” (MÍDIA, M.S., 49, JORNALISTA)
59
Além disso, como o depoimento abaixo deixa claro, falamos uma coisa e fazemos outra. Ao mesmo
tempo em que pedimos à sociedade engajamento, o consumismo “anda solto”:
“O principal desafio talvez seja o ecológico, seja o desafio de tentar cuidar melhor do
planeta porque daqui a pouco o planeta vai entrar em colapso, esse é o grande problema.
(...) Esse é o grande desafio mundial, na medida em que temos um número considerável de
megalópoles e essas megalópoles são centros de transferência de consumo de energia e
essas energias utilizadas, além de elas não serem renováveis ao infinito. Uma série de
problemas encadeados que têm a ver com o meio ambiente (...)” (MÍDIA, J.S., 46,
JORNALISTA)
“Eu acho que agora que está caindo a ficha de tudo o que no passado a gente fez, de
destruir a natureza, essa coisa da água, do clima, do aquecimento global. Porque não é
uma história que estão contando, a gente está vendo as coisas acontecendo, então o maior
desafio é tentar reverter isso, principalmente para amenizar os efeitos para os países mais
pobres.” (MÍDIA, A.L., 50, JORNALISTA)
Água preocupa
Muitos entrevistados tiveram dificuldade de citar um só desafio. Os que optaram por falar de
meio ambiente, apontaram em primeiro lugar mudanças climáticas e em segundo água:
“Eu penso que seja não só a questão das mudanças climáticas, mas principalmente a
geração de energia limpa e a manutenção dos mananciais de água doce no mundo.”
(MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
“É a água. Ah, eu não tenho dúvidas que é a água. Eu fico boba porque a situação de São
Paulo é dramática. A maior cidade do país, com mais de 10 milhões de habitantes e nós
não temos água aqui dentro. Nós temos a Guarapiranga, que serve a 40% da população,
se a gente perder a Guarapiranga nós estamos fritos e não se fala nisso.” (MÍDIA, N.D.,
56, JORNALISTA)
Cidades e o “caos do transporte urbano” são mencionados
Também não deixaram de mencionar os problemas urbanos, “o caos do transporte”. Percebe-se a
preocupação com “um discurso que não está se traduzindo em prática”:
“Eu acho que são vários os desafios. Eu vejo que a humanidade está caminhando cada vez
mais rápido e degradando cada vez mais rápido. A questão do meio ambiente é a questão
que mais me preocupa, com certeza. É porque, ao mesmo tempo em que você incentiva
todo um aumento de produção, um aumento de consumo, isso tudo está batendo
diretamente com o planeta. (...) eu não vejo realmente um interesse real de colocar em
prática o discurso. (...) Toda uma cadeia não é pensada globalmente. Então não consigo
entender como países como os Estados Unidos, Rússia, Brasil, todos os países
praticamente, todos falando em desenvolvimento sustentável... Mas o que vemos é um
consumismo louco nas cidades, em todo o mundo sendo incentivado.” (MÍDIA, L.H.J., 49,
JORNALISTA)
Para aqueles que optaram pelos problemas sociais, também foi difícil ficar só com a pobreza ou a
fome. Acabaram por mencionar uma somatória de outras questões que ajudam a agravar o cenário
futuro:
“Acho que o primeiro desafio é o de sempre, não houve ainda uma mudança no perfil da
economia que a torne capaz de contemplar uma maioria da população, esse é um
problema eterno. E, em segundo lugar, este que surgiu agora, no final do século passado,
60
problema novo, que é o próprio planeta. Se esse não for resolvido ninguém sobrevive.
Acho que é o da sobrevivência mesmo, da sobrevivência do planeta.” (MÍDIA, L.A.N., 48,
JORNALISTA)
“Eu acho que o maior desafio que a humanidade vai enfrentar vai ser incluir nas
condições dignas de vida o resto da população atualmente excluída. Isso no mundo e no
Brasil. Cercar os países de muros, de restrições, não vai adiantar quando todo mundo
estiver desesperado. A severidade climática com a severidade da pobreza é pior do que
uma bomba nuclear.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
“Pensando na sustentabilidade, acho que o maior problema da humanidade é a pobreza.
Por quê? Porque a pobreza traz diversas outras questões, diversos problemas nascem de
se ter pessoas com necessidade. Enquanto você tiver pessoas pobres, isso é sinônimo de
problema de educação, problema de maltratar sua água (...). Honestamente, o nosso
desafio é conseguir economicamente eliminar a pobreza e fazer isso de maneira que a
gente não se elimine.” (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
Entre frases como “a pobreza tem um efeito deletério”, “ela afeta o meio ambiente negativamente”,
“a sustentabilidade passa por resolver o problema humano”, este parece definitivamente ser o
desafio mais importante que a humanidade e o Brasil enfrentarão, para parte expressiva dos nossos
entrevistados:
“Que ninguém vá dormir com fome na face da Terra. Acho que esse é o maior desafio. O
segundo maior desafio talvez venha a ser que ninguém durma ao relento na face da Terra.
O terceiro, que ninguém deixe de ter a oportunidade de ir à escola.” (MÍDIA, J.K., 58,
JORNALISTA)
Desafio da humanidade é sobreviver em ambiente hostil
Alguns entrevistados não se sentiram confortáveis em ter que apontar apenas um desafio. Outros
alertaram para o fato de que é preciso evitar posições radicais que separem os que têm visão social
de um lado e os que são ambientalistas. Lembram que a sustentabilidade passa pela redução da
miséria, que está na raiz do conceito, e que é desejável evitar um discurso radical:
“O desafio da humanidade é sobreviver nesse ambiente hostil. Ah, eu acho que são vários
os desafios, e temos que dar conta do conjunto: sobreviver, manter as condições, melhorar
as condições de vida, eu acho que é o grande desafio. Em segundo lugar, é viver num
ambiente mais saudável, mais equilibrado, crescimento econômico sustentável:
preservação do meio ambiente, controle das emissões, é uma agenda.” (MÍDIA, G.V., 55,
JORNALISTA)
“É acabar com esse maniqueísmo, radicalismo que divide a humanidade cada vez mais.
Cada um acha que é o dono da verdade. Acha que tem as respostas para todas as
perguntas. Isso é muito ruim, porque ninguém é dono da verdade. Você não encontra a
verdade num livro só de jeito nenhum. Nem o Alcorão, nem a bíblia, nem no Machado de
Assis. A verdade está no conjunto.
Claro que têm muitos males: o aquecimento global, a pobreza que está aumentando.
Quando eu estava no ginásio, dizia-se que a humanidade tinha dois bilhões de habitantes.
Sessenta anos depois tem seis bilhões. E comida para toda essa gente? A miséria está
aumentando violentamente no planeta.
E aí vem essa divisão ideológica catastrófica que é de um lado o capitalismo – como eles
dizem, o mercado tem respostas para todas as perguntas – e do outro os radicais, seja de
61
esquerda, direita, os fundamentalistas que acham que tem que ser no pau, o que também
não dá.
Então nós estamos cada vez mais caminhando para um mundo maniqueísta, divididos em
emissores e não emissores, em consumistas e não consumistas, em capitalistas e
socialistas, então é sempre a mesma droga, né? No Brasil, então, nem se fala: é torneiro
mecânico de um lado e sociólogo do outro.” (MÍDIA, C.C., 70, JORNALISTA)
Para o mesmo jornalista, os problemas que devemos enfrentar nas duas próximas décadas não são
“isso ou aquilo”: tudo é sistêmico, têm efeitos em cadeia e o mundo precisa aprender a cooperar:
“... temos que evitar que o velho modelito do conflito, da guerra à la Bush seja o modelo
catastrófico a ser utilizado. Isso detonaria tudo.” (MÍDIA, C.C., 70, JORNALISTA)
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Distribuir renda é o desafio eterno do Brasil
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Distribuição de
Estratégias de
Meio Ambiente/
Preservação da
Renda/ Fome/
Educação
Desenvolv./
Mudanças
Amazônia
Oportunidade
Sustentabilidade
climáticas
para todos
8
7
5
5
3
Política/
Violência/
Drogas
2
TOTAL
30
As opções de resposta nesta pergunta, que pedia aos entrevistados que mencionassem apenas um
problema, foram pulverizadas em seis diferentes tipos de problemas. Os mais citados foram, pela
ordem: distribuir renda, mudanças climáticas e, empatados em terceiro lugar, educação e
preservação da Amazônia.
O raciocínio sobre a necessidade de distribuir renda e combater as desigualdades já havia sido
explorado na questão anterior, e os nossos entrevistados insistem que essa não é uma questão só do
Brasil. Quando querem citar um exemplo extremo, mencionam a África.
“É o desafio de sempre: a desigualdade social é o eterno, essa disparidade brutal entre
ricos, pobres, remediados e gente que está na mais absoluta miséria, sem acesso a nada,
nem à dignidade humana.” (MÍDIA, L.S., 34, JORNALISTA)
“É crescer horizontalmente, com oportunidade para todos. Não é crescer dando esmola,
bolsa família e aí fica todo mundo feliz e quem não tinha emprego ganha o Bolsa Família,
cesta básica e viva o Brasil e viva o Lula. Não é por aí que nós vamos chegar lá.
E também não é pela forma de que se dane todo mundo, a vida é uma grande competição.
Quem não tiver condições de competir se lasca. Não, meu Deus do céu. Todo mundo tem
direito de pelo menos um trabalho, a uma habitação, a alimentação, mesmo pequena,
mesmo ainda tímidos. (...) Esse é o grande problema no meu entender.” (MÍDIA, C.C., 70,
JORNALISTA)
62
Bolsa família não resolve
A necessidade de combater a pobreza, na opinião dos entrevistados, não está sendo atendida pelos
programas atuais do governo brasileiro. São muitas as críticas ao “Bolsa Família” (programa de
complemento de renda direcionado à população pobre):
“O presidente Lula esteve em Gana e ele foi inaugurar oficialmente, abrir um novo
escritório da Embrapa em Gana, com o objetivo de levar tecnologia de agricultura do
Brasil para os países africanos. Então o que ele está fazendo lá? Ele está ensinando as
pessoas a pescar, levando tecnologia para que essas pessoas possam plantar cana,
desenvolver seu potencial agrícola, além de produzir o tal do biocombustível, para que
elas possam produzir comida, alimentos...
E aí eu paro para pensar: e aqui no nosso Norte, Nordeste? Por que não tem um empenho
grande como esse? Por que temos que dar Bolsa Família, Bolsa Alimentação, Bolsa Gás,
bolsa não sei o que? Você está dando peixe. Eu acho que no Brasil o grande desafio é
você tirar as pessoas, principalmente do Norte e Nordeste, não digo todas, mas boa parte,
desse estado de letargia. Porque elas estão ali. As coisas vêm. Não que elas não tenham
uma vida sofrida, mas não é o caminho.” (MÍDIA, E.P., 49, JORNALISTA)
Como reduzir a pobreza e as desigualdades? Quando nossos entrevistados usam a expressão “o de
sempre”, “o mesmo desafio”, querem dizer que se trata de um desafio histórico. Por que o Brasil
ainda não conseguiu, apesar de sua economia respeitável, dar conta do problema?
“Tem vários mecanismos, vários [para reduzir pobreza]. É você criar mais oportunidade
para emprego; geração de renda; educar a população; tem a infra-estrutura; levar
informação às pessoas; cidadania, justiça; justiça sob o ponto de vista de Estado, na
questão jurídica; melhor organização da sociedade; manter a democracia.” (MÍDIA,
G.V., 55, JORNALISTA)
O Brasil precisa crescer economicamente, gerar riqueza e oportunidade de emprego e renda:
“O maior desafio do Brasil, na minha opinião, vai ser se consolidar como uma das
grandes economias do planeta. E, além disso, no campo econômico, no campo social, vai
ser desenvolver a cidadania e permitir que as pessoas possam chegar a um nível
desenvolvimento educacional e cultural melhor do que elas têm hoje.” (MÍDIA, H.B., 57,
JORNALISTA)
“O desafio do Brasil é mudar de patamar, passar de um país pequeno para grande, no
sentido de um país que é capaz de gerar riqueza e conhecimento e, com isso, capaz de
lutar contra seus problemas. (...) Acho que o Brasil tem um desafio cultural muito grande.
A gente tem que enfrentar a questão de que muita gente no país não valoriza diversos
princípios que são essenciais para o país fazer essa transição. (...) Claro, a gente precisa
formar mão de obra especializada no sentido de crescer economicamente, mas a gente
precisa também investir na formação cultural do brasileiro.” (MÍDIA, S.G., 30,
JORNALISTA)
O Brasil precisa educar sua população
O Brasil precisa educar sua população. Os objetivos desses esforços são, em primeiro lugar,
qualificar mão-de-obra para poder realizar a mudança cultural necessária à transição econômica –
de país emergente para país desenvolvido:
“Educação, totalmente. A gente pode viver um apagão de gente, falta de mão-de-obra
capacitada, falta de gente preparada para viver o país, para tocar o país, porque o mundo
63
está se encaminhando economicamente e tecnologicamente e socialmente para diferenciar
nações pelo grau de preparo que os seus habitantes têm.” (MÍDIA, A.M., 39,
JORNALISTA)
“O Brasil precisa é entender que educação, ciência e tecnologia são as únicas coisas que
podem fazer este país se desenvolver. Não tem nada, não tem parque, não tem segredo
econômico, taxa Selic, sem investimento realmente na educação, ciência e tecnologia.”
(MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
Além da questão do desenvolvimento e da competitividade, a educação é decisiva para a
preservação do meio ambiente:
“Acredito que só a educação do povo poderá gerar ações que contribuirão para o meio
ambiente.” (MÍDIA, J.L.D., 50, JORNALISTA)
“O Brasil tem que desenvolver na área educacional uma competência da sua população
mais carente em relação a essa necessidade de manutenção dos mananciais, porque não
se pode culpar as pessoas pelo que elas fazem, se a ignorância for maior que seu
conhecimento. Então, cabe às autoridades dar educação, principalmente, muito mais do
que fiscalização do meio ambiente, porque quando você fiscaliza é sinal de que já
aconteceu. A prevenção é educação.” (MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
Mudanças climáticas: o tempo da prevenção já passou
Com relação ao tema das mudanças climáticas, vários entrevistados, quando se manifestaram na
pergunta sobre “desafio da humanidade”, já tinham dito “também do Brasil”. Podemos dizer que há
entre os amostrados uma clara consciência de que este é um desafio importante par todos os países,
inclusive o Brasil.
O enfoque adicional aqui, quando se trata de pensar os efeitos do fenômeno sobre o Brasil, é que os
“efeitos vão recair sobre os mais pobres”, e isso leva os nossos entrevistados a prever uma situação
difícil para grande parte da população. Para eles, o tempo de um debate “mais conceitual” já passou.
Trata-se de arregaçar as mangas e preparar a população para o que virá:
“O tempo para um debate mais conceitual já passou: vai ser um problema físico, as
manifestações daqui para frente, vão ficar cada vez mais claras; são modificações de
mudanças climáticas e vão produzir efeitos severos. Naturalmente os pobres sofrerão
mais. Uma coisa que poderia acontecer em larga escala é melhorar, por exemplo, nossa
defesa civil. Somos tradicionalmente um país sem grandes tradições de ventos extremos, a
não ser as enchentes. Precisamos melhorar essa capacidade.” (MÍDIA, S.A., 57,
JORNALISTA-3)
“Você tem desafios temporais... O desafio da miséria, violência, saúde pública, educação
e tudo mais. Mas esses eu diria que são sanáveis: você faz uma mega revolução, muda lá a
relação da sociedade com as coisas e de certa maneira resolve. Ou pelo menos abre uma
perspectiva de solução dentro de um prazo visível. Mas o desafio ambiental eu acho que já
escapou da capacidade humana de interferir de forma a reverter. (...)
A questão é saber se o mundo que restará dessas transformações será um mundo que nós
poderemos chamar de habitável. Que tipo de conseqüência há de vir dessa transformação
do planeta, ou de alguma coisa que a gente não sabe ainda o que é, é o que eu acho que é
impossível prever.
64
Pensando no Brasil, o que não podemos fazer é esperar pela desgraça: temos que mapear
as áreas que serão mais atingidas, pelo menos no curto prazo, e trabalhar para minorar,
trabalhar para a população se conscientizar (...)
Não é um processo que você possa falar de uma forma radical de intervenção na história,
que revolucionariamente você possa modificar. Uma revolução não reconstitui Jequitibá.”
(MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
A Amazônia e o aquecimento global são os desafios ambientais do Brasil para os próximos 20
anos
Qual será o maior desafio ambiental do Brasil nos próximos 20 anos?
Preservação Aquecimento
Promover
Água
Garantir que o
Saneada Amazônia
global
sustentabiplaneta
mento
lidade
continue
funcionando
8
5
4
4
3
3
Geração de
energias
limpas
Manejo dos
recursos
naturais
TOTAL
2
1
30
Vimos que a Amazônia foi citada por 5 dos nossos entrevistados como um dos maiores “desafios do
Brasil”. Isso se repete, agora com 8 citações, em relação “ao maior desafio ambiental” que teremos
que enfrentar nos próximos 20 anos. Neste caso, foi o item individualmente mais citado, uma vez
que as demais respostas foram diversificadas e se dirigiram a outros focos.
Se juntarmos os respondentes que indicaram o “aquecimento global”, a “necessidade de controlar
emissões” e “gerar energias limpas”, temos como segundo maior desafio a questão das mudanças
climáticas.
Promover a sustentabilidade, de um modo geral, e cuidar da água vieram em terceiro, com quatro
menções cada uma. Depois, com menções mais diversificadas, foram lembrados o binômio
saneamento/lixo e a gestão sustentável dos recursos naturais.
A Amazônia está sendo destruída diante dos nossos olhos
Para alguns dos entrevistados que responderam ser a Amazônia um dos maiores desafios do Brasil,
parece que estamos fazendo um esforço para destruir, e não para preservar:
“O grande problema do Brasil, a meu ver, é preservar Amazônia, e o Brasil não está
fazendo nada nesse sentido. Ao contrário, a meu ver, o Brasil esta fazendo um esforço
danado para destruir a Amazônia, e se continuar assim vai conseguir. (...) O Brasil
precisa dar um salto no sentido não só de crescer, avançar economicamente, incorporar
boa parte da população ainda em situação precária, mas de fazer isso preservando o meio
ambiente.” (MÍDIA,J.M.,46, JORNALISTA)
Para um entrevistado, além de agravar o problema do aquecimento global, o desmatamento da
Amazônia é “criminoso” e não traz nenhum desenvolvimento para o Brasil:
“Acho que o desafio ambiental para a humanidade é o aquecimento global, e o desafio
para o Brasil é, obviamente, resolver a questão do desmatamento na Amazônia, que além
de agravar o aquecimento global não traz desenvolvimento nenhum para o Brasil. Pelo
menos metade do desmatamento é simplesmente criminoso, então ninguém ganha com
isso. O país não ganha divisas, não ganha impostos, não ganha absolutamente nada com o
65
desmatamento.
JORNALISTA)
Pelo
contrário,
perde
capital
ambiental.”
(MÍDIA,
C.A.,
32,
O Brasil precisa das riquezas da Amazônia
Mas as razões para não desmatar a Amazônia estão na esperança de que possamos aproveitar as
riquezas que lá existem e as vantagens de ter a floresta preservada.
“(o desafio) é preservar o verde que ainda sobrou. Eu acho que vai ser a grande moeda do
Brasil, porque é uma coisa que existe cada vez menos no planeta e a gente tem a Amazônia
que é o pulmão mesmo. Se o Brasil souber administrar isso acho que até pode se dar bem
com isso, acho que pode trazer divisas (...)” (MÍDIA, M.S., 46 JORNALISTA)
“É manter a Amazônia e o Pantanal (...). Mas não é manter a Amazônia como se fosse um
grande jardim botânico ou zoológico, à disposição dos estrangeiros, ONGs que estão de
olho na Amazônia para preservar a floresta intocada. Não, estou de olho porque lá tem
riquezas que o Brasil não consegue explorar ordenadamente. O futuro do planeta está lá.
(...)
É um horror o que esses madeireiros fazem indiscriminadamente. Cortam árvore para
burro. Agora para onde é que vão essas árvores? (...) Tudo o que a gente precisava mesmo
era de tempo e vontade política para ordenar o desenvolvimento da Amazônia, acabar
com os excessos. Botar na cadeia quem fica cortando árvores à toa aí. Mas vamos utilizar
bem a Amazônia.” (MÍDIA,C.C.,70, JORNALISTA)
Além da vontade política de explorar a Amazônia ordenadamente, um dos entrevistados lembra que
para manter a floresta em pé é preciso oferecer alternativas econômicas a quem está lá:
“Como a gente vai fazer para levar formação cultural para as pessoas da Amazônia sem
levar um desenvolvimento econômico? (...) Não vamos convencer o cara a não derrubar
árvore falando ‘Por favor, não derrube árvore’. A gente tem que, no mínimo, fornecer uma
alternativa econômica, que não seja destrutiva para aquele ambiente.” (MÍDIA, S.G., 30,
JORNALISTA)
Saneamento e água também foram destacados
Do mesmo modo como aconteceu na questão sobre o desafio da humanidade, alguns entrevistados
não conseguiram optar por um desafio ambiental principal:
“Eu acho que é uma cruza de saneamento com Amazônia. (...) Tudo que se fizer nessa
direção está ótimo, porém, no meu entendimento, junto vem o saneamento e o saneamento
não está na agenda internacional nem nacional para valer.” (MÍDIA, E.G., 64,
JORNALISTA)
“São mudanças climáticas e água, sem dúvida esses dois.” (MÍDIA, A.D., 63,
JORNALISTA)
“Isoladamente, talvez a questão da água e o aquecimento global, isoladamente falando.”
(MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
“São vários desafios, desde os poluentes que a gente solta nas nossas máquinas
maravilhosas que congestionam o trânsito da cidade até esta coisa selvagem que é a
desarborização do mundo, da Amazônia”. (MÍDIA, J.K., 58, JORNALISTA)
Vimos também, nas falas acima, a importância atribuída à necessidade de conservar a água,
preocupação bastante presente nas entrevistas de um modo geral. Se somarmos as pessoas que
66
citaram “água” como o maior desafio ambiental com aqueles que a citaram em segundo lugar,
temos mais de 6 citações.
Sustentabilidade é a maneira de resolver
Por fim, neste tópico sobre desafios, devemos destacar as falas que indicam a necessidade de
promover a sustentabilidade ou o desenvolvimento sustentável, a maneira correta e mais sistêmica
de enquadrar todos os problemas citados:
“Eu diria que o desafio do Brasil, para resumir, é sustentabilidade. A gente ainda tem uma
riqueza enorme de recursos humanos, naturais e materiais. A gente tem que conseguir
explorar isso de maneira sustentável.” (MÍDIA, P.C., 31,JORNALISTA)
“Eu acho que é exatamente isso, a tal da sustentabilidade. (...) Manter o sistema
capitalista que de certa forma está globalizado, mas colocá-lo dentro de uma lógica de
responsabilidade ambiental, climática, o que não é fácil... continuar produzindo com o
menor impacto possível para o meio ambiente, esse me parece ser o desafio ambiental
mais importante.” (MÍDIA, M.S., 46, JORNALISTA)
“O maior desafio ambiental na minha opinião, seria tentar desenvolver uma sociedade
auto-sustentável em termos ambientais, ou seja, da gente se empenhar o mais possível na
reciclagem de tudo o que a gente pode reciclar, procurar preservar tudo aquilo que a
gente pode preservar, e procurar entender que todas as coisas que nós possuímos são
finitas.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Maioria concorda que as mudanças climáticas terão forte impacto nas sociedades humanas
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concorda fortemente
Concorda
Não concorda nem
discorda
Não sabe / não
respondeu
TOTAL
14
14
1
1
30
Essa posição fica clara quando analisamos as respostas dos entrevistados:
“Concordo fortemente com esta afirmativa, pois estou sempre noticiando grandes
catástrofes. Só não vê quem não quer, que tudo está mudando a nossa volta.” (MÍDIA
,J.L.D., 50, JORNALISTA)
“Vai causar grande impacto. Tanto é que a ONU já discute inclusive mitigação, essas
coisas, não apenas como reverter o processo. A história das ilhas é a mais obvia. Se subir
o mar um metro desaparece metade daquelas nações insulares do pacífico, Palau etc.”
(MÍDIA, P.C., 31, JORNALISTA)
Maior preocupação é com populações pobres
A maioria, além de concordar, qualificou suas opiniões. Como já foi dito, a preocupação maior é
com o impacto sobre as populações pobres:
67
“Eu concordo com qualificantes: eu acho que as populações endinheiradas vão gastar um
monte de dinheiro para se adaptar, mas vão se adaptar. (...) Populações que são
vulneráveis à pobreza, à fome, a doenças, essas vão sofrer muito com o aquecimento
global, porque a situação já está como fio da navalha, tudo o que você não precisa é de
mais um problema ambiental para jogar essa gente pobre no buraco.”
O mesmo entrevistado parece conhecer a geografia das mudanças climáticas:
“(...) Então eu acho que há impactos e impactos, por exemplo, o pessoal do Canadá está
muito feliz com essa história, porque eles podem aumentar a área agrícola deles e
diminuir o consumo de energia e os gastos por conta do frio que eles têm: 7 meses por
ano. (...) Agora só no Sudeste asiático, nos deltas, nos mega deltas da Ásia, nas zonas
áridas da China e da Índia, e no Nordeste brasileiro tem tudo armado para um desastre.”
(MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
Jornalistas manifestam “incerteza quanto ao amanhã”
Embora insistam que não possuem uma visão fatalista, catastrofista, os entrevistados falam de sua
incerteza quanto ao amanhã com angústia. Como será o mundo dos nossos netos, não se pode
prever:
“Concordo fortemente, veja bem, eu não sou catastrofista. (...) Eu acho que a gente não
pode entrar na paranóia, não pode entrar também no desconhecimento e minimização dos
problemas que estão postos para humanidade de coisas que ela mesma vem fazendo há
muito tempo (...) Eu sei que a minha geração não vai morrer amanhã, mas e a da minha
neta? Não tenho essa certeza. Eu estou fazendo o mundo para minha neta, não para mim.
Eu acho que a despreocupação com isso é criminosa.” (MÍDIA,J.K., 58, JORNALISTA)
Em várias entrevistas, frases como “não podemos ser paranóicos”, “devemos evitar o
catastrofismo”, “há exageros no tratamento do tema” aparecem, mas nenhuma argumentação
procura descredibilizar a tese de que as mudanças climáticas causarão impacto dramático sobre as
sociedades humanas:
“Quando eu leio nos jornais e nas revistas umas previsões muito catastróficas, eu tento
colocar um pé atrás e pensar, comparar informações. Tem muita informação
sensacionalista misturada com informação séria. Eu mesmo fiz uma entrevista com um
pesquisador britânico que falava que, em 2040, 80% da população da Terra vai ter
desaparecido. Eu sou um pouco cético quanto a esse tipo de visão apocalíptica, mas eu
acho que mudanças climáticas é a questão das próximas décadas.” (MÍDIA, L.S., 34,
JORNALISTA)
“Concordo, sei que existem controvérsias, alguns cientistas dizem que isso tudo é
exagerado, que estão fazendo terrorismo e que ainda não é possível realmente tirar
conclusões mais firmes, mais conseqüentes. Eu digo que é praticamente impossível que
se mexa na natureza como estamos mexendo sem que isso tenha conseqüência. (...)
É impossível não ter impacto sobre o meio ambiente, não só do continente, como
certamente do mundo, vai ter impacto, impacto de toda ordem: espécies que desaparecem,
impacto no sentido, por exemplo, de rio, de água potável, até impacto no sentido de
produção de oxigênio, uma série de impactos.” (MÍDIA,J.M., 46, JORNALISTA)
Uma voz discordante
Somente um entrevistado, colunista de economia de um importante jornal diário, televisivo, disse
não concordar nem discordar e apresentou a seguinte argumentação:
68
“Eu acho que é uma questão polêmica. É muito difícil você mensurar os efeitos e
relacioná-los realmente às mudanças climáticas... Claro que agressão ao meio ambiente a
gente tem que evitar de várias maneiras. Não faz sentido queimar a floresta amazônica,
você continuar queimando diesel com altos teores de enxofre. (...)
Mas esse processo de aquecimento global, se ele já está provocando de imediato a
elevação dos mares, isso aí é uma coisa ainda difícil de você provar no meio científico.”
(MÍDIA, G.V., 55, JORNALISTA)
Ainda assim, o mesmo jornalista completou seu raciocínio dizendo que a falta de uma metodologia
“cem por cento efetiva” não é desculpa para deixar de prevenir maiores desastres.
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
O papel da mídia
Importância do tema em seu setor de atuação:
muito importante
importante
pouco importante
não respondeu
total
22
6
1
1
30
Perguntados se o tema das mudanças climáticas era importante para o seu setor de atuação, os
entrevistados responderam, em sua maioria, que “sim, é muito importante”.
Começando pelo próprio negócio
A natureza dessa importância foi qualificada de diferentes maneiras. Houve referências à
necessidade de usar papel reciclado, de contabilizar as emissões do processo de impressão de
revistas, jornais etc.:
“Do ponto de vista do negócio de fazer revista, a gente tem um desafio muito grande pela
frente. Será que um dia as pessoas vão começar a questionar que isso é desnecessário, a
gente esta fazendo uma agressão ao meio ambiente imprimindo uma revista?
Eu não concordo muito que a solução seria interromper todos os nossos processos, eu
acho que a gente tem que buscar maneiras de fazer isso aqui, sem agredir, de fazer
revista, imprimir jornal, agredindo cada vez menos o meio ambiente, fazer de maneira
sustentável, preocupado com todas as etapas do processo, desde o que a gente faz na
redação (...) até a qualidade da água que a nossa gráfica vai despejar na rede de esgoto,
depois de passar por todos os processos químicos na impressão. Eu acho que atacar todas
essas frentes é importante.” (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
Um entrevistado citou um exemplo concreto:
“A National Geographic tem uma preocupação antiga, desde a sua fundação, em 1888,
com a questão do ambiente, mas isso se radicalizou de um ano para cá, mudou até a
missão da revista, a missão expressa da revista que era o mundo selvagem, mudou para
inspirar pessoas a cuidar do planeta. (...) Passou a ter uma preocupação desde sua
69
própria feitura, com papel, tinta, esse tipo de coisa, até o patrocínio de pesquisas.”
(MÍDIA, M.S., 49, JORNALISTA)
Formando opinião
Mas o maior impacto, para a maioria, é no conteúdo da notícia, na capacidade que os profissionais
de mídia têm de informar e formar opinião:
“O maior impacto é na veracidade da notícia, a informação de qualidade. (...) Eu acho
que o papel do jornalismo é ouvir mais as pessoas, seja o buraco grande ou pequeno, dar
voz a diferentes visões, enriquecer a opinião, dar a informação relevante, para que as
pessoas possam se posicionar.” (MÍDIA, A.L., 45, JORNALISTA)
“A gente tem o papel de formador de opinião. A informação de boa qualidade é primeiro
importante para nós como pessoas, e depois para passarmos para o nosso público.”
(MÍDIA, L.H.Y., 49, JORNALISTA)
Estabelecendo correlações
A maioria absoluta dos nossos entrevistados não é especializada em meio ambiente ou temas
correlatos. Ainda assim, declararam que adquirir informação abrangente sobre um tema tão
mobilizador como esse possibilita o estabelecimento de correlações com cada especialidade:
“Eu cubro de tudo, então é importante aos poucos ver que um tema como mudança
climática tem a ver com tudo, com consumo, com esporte, com lazer. É bacana ver que
todas as coisas têm a ver, aí a gente vê que pode contribuir, mesmo não sendo repórter
especializado.” (MÍDIA, E.P., 49, JORNALISTA)
“Eu cuido de esporte e esporte devia ser sinônimo de saúde. (...) Estamos vendo que o
principal maratonista do mundo não vai para Pequim porque ele tem problemas
pulmonares, ele é asmático e ele diz que não suportará correr 40km na poluída cidade de
Pequim. Veja você a que ponto as coisas chegam.” (MÍDIA, J.K., 58, JORNALISTA)
Agentes de conscientização
Tudo o que diz respeito à mudança de hábitos e de postura, voltado para a transformação da cultura,
tem a ver com a mídia, dizem nossos entrevistados. A mídia é sem dúvida um veículo de
conscientização:
“O aumento da temperatura no planeta demanda mudança de hábito, mudanças de
cultura, de aproveitamento de solo, de agricultura, de tudo isso. E isso toca no dia-a-dia
das pessoas. Então, sim, é um assunto importante e afeta profundamente o nosso trabalho.
E nosso trabalho, se bem feito, pode mudar a vida das pessoas, prepará-las, incentivá-las
a mudar.” (MÍDIA, R.M., 65, JORNALISTA)
“Acho que a mídia, de maneira geral, tem feito um esforço positivo no sentido de dizer que
se precisa fazer alguma coisa. Em relação à mídia, sempre é muito curioso, porque a
mídia trata de todas as coisas ruins, conscientiza, mas acho que o discurso da mídia é no
sentido de preservação do planeta, de conscientização, de adoção de uma agenda
ecológica positiva e tudo mais. (...) A mídia vem fazendo razoavelmente seu trabalho. Não
faz melhor porque a própria cultura da sustentabilidade ainda é incipiente.” (MÍDIA,
J.M., 46, JORNALISTA)
70
Mudança climática vem ganhando cada vez mais espaço na mídia
Quanto ao espaço ocupado pelo tema das mudanças climáticas na mídia, os entrevistados se
dividiram. A maior parte acha que o assunto vem ganhando cada vez mais espaço, e uma minoria
acha que o espaço ainda não faz jus à sua importância.
Para aqueles que pensam que o tema ainda não ocupa o merecido destaque na imprensa, o
argumento é que se trata de uma consciência recente:
“Eu acho que a sociedade brasileira está começando a descobrir a questão climática e
ambiental de um modo geral, muito recentemente. Você tem pouquíssimas pessoas que
atuam nessa área, eu diria que tem uma meia dúzia que de fato atuam nessa área. O resto
dos cientistas políticos brasileiros ainda está voltado para as questões tradicionais da
ciência política: partidos, eleições, democracia. (...)
Eu acho que é possível que a participação mais intensa seja a dos cientistas sociais, talvez
no âmbito da SBPC, que é um fórum, evidentemente porque agrega ciências que são
centrais nas questões climáticas. Mesmo o jornalismo de ciência, que é muito
especializado e conta com profissionais muito bons, não dá muito destaque ao tema.”
(MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
Muitos entrevistados acham que há um interesse crescente, e que o assunto ganha cada vez mais
espaço. Primeiro pela própria natureza do assunto, que é tratado com dramaticidade, e depois por
ações que potencializaram o conteúdo noticioso, tais como o documentário de Al Gore e a
repercussão que conquistou na mídia brasileira:
“Veio num crescendo, na minha opinião, desde o começo do ano 2000 até 2007, numa
progressão, onde se começou a falar mais no assunto, a se ler mais coisas. Aí teve o
documentário do Al Gore em 2006, que eu acho que ali foi o auge da exploração da mídia
com os assuntos do meio ambiente. E, por coincidência, também com o tsunami, o Katrina
e outros desastres, foi fácil estabelecer um link. Então o assunto foi muito explorado... Eu
acho que ali foi o momento em que se falou mais de meio ambiente, e aí acho que
estabilizou o assunto de um tempo para cá...” (MÍDIA, M.S., 46, JORNALISTA)
Enfoque sensacionalista é inevitável
Devido à ocorrência do tsunami e do Katrina, diz o mesmo entrevistado, parte da mídia tratou do
assunto de forma séria e parte de forma sensacionalista. Mas isto é inevitável:
“Explorou-se o tema de forma um pouco sensacionalista, partes da mídia de forma séria,
informando mesmo os efeitos do aquecimento global, mas acho que agora deu uma
estabilizada.” (MÍDIA,M.S., 46, JORNALISTA)
“O assunto claramente está crescendo na imprensa e esse ano no “Faz Diferença“ do O
Globo [jornal impresso], que é um prêmio dado todo ano, a gente deu um prêmio para um
climatologista, o Carlos Nobre, e um para o Sebastião Salgado, não por causa do trabalho
dele de fotógrafo que é admirável, mas principalmente pelo trabalho de reconstituição da
Mata Atlântica na região onde ele nasceu. Então a questão de meio ambiente está
invadindo a pauta, já tem editorias e cada vez mais vejo se formando especialistas. (...)
A imprensa brasileira começa a olhar para a Amazônia querendo ir lá e entender o que é
isso. O que é Rondonópolis, o que é Paragominas? Passa a ter existência real, não é só
uma coisa distante, um tapete verde distante que de repente tem lá uma queimada, eu faço
uma matéria. Começa a se criar uma intimidade com a agenda da Amazônia. Se eu falasse
71
três anos atrás assim, da Terra do Meio, no “Bom Dia Brasil”... Terra do Meio, o que é
isso? É alguma coisa sobre o Senhor dos Anéis? (...)” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
Mídia está sensibilizada
Dois entrevistados chamaram a atenção para o fato de que a mídia nunca esteve tão sensibilizada e
que os temas ambientais já vinham crescendo em importância na pauta dos meios de comunicação:
“Nunca a mídia esteve tão sensibilizada como agora. E quando falo mídia eu quero falar
também dos sites alternativos, dos jornais alternativos, dos blogs que você tem hoje. Hoje,
você está sendo bombardeado de todos os lados, não tem como você escapar.” (MÍDIA,
H.B., 57, JORNALISTA)
“Todo mês a gente fala alguma coisa relacionada ao desenvolvimento sustentável. Está na
pauta, todas as matérias tocam nesses pontos de uso de energia inteligente. Esse tempo,
nós fizemos uma capa sobre moda, mas que não era (...) o que está na moda hoje. É usar
tecidos sustentáveis, não consumir todas as coleções a cada temporada, comprar milhões
de coisas, trocar o guarda-roupa, mas então destinar a bazar de caridade, fazer bazar de
troca. Então mesmo em conteúdos aparentemente mais fúteis, como a moda, a gente tem
essa preocupação de ter esse horizonte da sustentabilidade, de não exaurir os recursos.
Esse tipo de questão é central para nós.” (MÍDIA, L.S., 34, JORNALISTA)
“Eu acho que é da natureza da mídia, porque é da natureza das pessoas, digamos assim,
cobrir coisas que têm forte impacto. (...) Pode ser até bem alarmante, em determinados
momentos; se tiver uma tendência jornalística mais sensacionalista, você pode usar isso
de uma forma: ‘O mundo vai acabar’. Mas, de uma maneira geral, eu acho que a
imprensa dá cobertura disso de forma muito séria, chamando atenção para o debate. Isso
é tema hoje no mundo acadêmico. Qualquer cidadão mais esclarecido hoje, você fala de
aquecimento global, está atento... A questão são as massas e com elas é só televisão, nem
jornal adianta.” (MÍDIA, G.V., 55, JORNALISTA)
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
Maioria não sabe como as metas de redução podem afetar sua atividade
A maioria dos entrevistados disse não saber exatamente como a adoção de metas de redução pode
afetar a sua atividade. Os que responderam “sim” alinharam razões como “todo jornal precisa de
árvores, se a celulose vem de madeira certificada ou não, não se sabe”, ou “para transportar jornais e
revistas, usamos transporte”. Um repórter chegou mesmo a dizer:
“Sim, porque eu trabalho com o carro o dia inteiro na rua. Pode começar por aí, eu acho
que sim.” (MÍDIA,C.F.,27, JORNALISTA)
Mas dois entrevistados mencionaram o “imposto de carbono” como uma medida, uma taxação que
sem dúvida terá conseqüências tanto para o empresário do setor quanto para o consumidor de
jornais e revistas:
“Eu acredito que muito em breve vamos enfrentar um imposto de carbono, sem dúvida
isso vai afetar. Não sei de que maneira ainda, uma vez que o imposto não foi aplicado, leio
alguma coisa sobre isso, as idéias de se cobrar um imposto sobre emissões são muito
interessantes, mas parece que aplicação talvez não dê tão certo, não surta os efeitos
necessários. (...)
Eu acho que o imposto de carbono realmente faz sentido: vamos encarecer a coisa de uma
maneira que fique mais barato fazer um processo ecológico. Acho que, na prática, o que
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pode acontecer é todas as empresas embutirem o imposto, repassando o mesmo para o
consumidor, aí, com o tempo a medida vira paliativa, ela acabou não gerando fruto.
Tenho certeza de que vai causar impactos, não tenho certeza sobre quais seriam, não me
considero suficientemente informado em economia, tributação, para entender quais seriam
todas as conseqüências a longo prazo.” (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
“Afetaria sim, por causa do transporte. A gente já fez inclusive cálculo de emissões de
carbono para compensá-las, já temos um programa. A gente faz nossas emissões e
compensa o carbono delas, então a gente sabe quanto carbono a gente emite por edição e
o custo maior está no transporte, na distribuição, nos caminhões que distribuem as
revistas.” (MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
Mas fica claro que não há uma idéia formada sobre como as metas de redução poderão afetar o setor
além dos depoimentos acima. As declarações abaixo mostram a fraqueza dos argumentos, o pouco
domínio do assunto:
“Profissionalmente não, mas o problema não é minha atividade, o problema é a minha
preocupação, é a minha visão de cidadania de proteção da sociedade, de oferecer para os
meus filhos, para os meus netos e para as novas gerações uma sociedade melhor do que
esta que nós temos hoje”. MÍDIA, M.P., 61, JORNALISTA)
“Não creio que vá afetar. Talvez, de uma maneira muito remota, sei lá, as pessoas
tivessem que viajar menos. Os aviões também são agentes causadores de prejuízo ao meio
ambiente e talvez fosse interessante ter menos gente viajando. Quem sabe isso traria
algum tipo de problema para o jornalista na medida em que ele teria mais dificuldade de
viajar. Mas não creio, seria muito remota.” (MÍDIA,J.M.,46, JORNALISTA)
“Não sei, eu acho muito difícil. Nesse nosso tempo, papel já esta sendo relativizado, tem
reciclados, compensações, a imprensa virtual. O que a gente produz é conteúdo,
informação, então se não for papel daqui a 20 anos, vai ser na internet.” (MÍDIA, L.S.,34,
JORNALISTA)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
A grande barreira para enfrentar mudanças climáticas ainda é econômica
Seja porque os “interesses capitalistas” se contrapõem aos “interesses ambientais”, seja porque
“ninguém quer pagar” a conta de preservar o meio ambiente, seja porque as grandes corporações
“seriam prejudicadas com uma transição rápida”, para os nossos entrevistados sãos os fatores
econômicos os entraves que devem ser enfrentados, se for desejável levar a cabo uma política do
clima global com a devida firmeza que o tema, pela sua urgência, reconhecida por todos, merece.
Examinemos os argumentos:
Quem paga a conta?
Cuidar do meio ambiente, prevenir desastres, tudo isto custa caro. Aqui, a idéia chave é a de que
uma política climática é “economicamente inviável” porque ainda há fontes de financiamento
disponíveis para ela:
“Quando você vai ver, economicamente ainda é inviável, ainda é muito caro. Isso eu acho
que é uma grande barreira ainda. Preservar também custa caro. Tudo isso envolve muita
grana e isso tem que ser colocado como prioridade para realmente investirem nisso. No
momento, o governo brasileiro raciocina assim: se o mundo inteiro quer a Amazônia de
pé, tem que pagar por isso. Mas parece que o mundo cobra isso do Brasil, e aí o nosso
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presidente diz que a prioridade é combater a pobreza, que não há dinheiro para tudo... Eu
acho que todo mundo está convencido de que é importante, mas não sabe de onde sairá o
dinheiro.” (MÍDIA, A.L.,45, JORNALISTA)
“Tem um custo inicial na transição energética. Hoje nem Bush nega mais o problema.
Agora, as pessoas estão negando é a solução do problema... É uma tragédia, um problema
sério, mas nós não podemos nos apressar porque, afinal de contas, nós temos uma
economia, eleições, nós temos, enfim... A gente não pode colocar o carro na frente dos
bois. Ainda existe uma realidade econômica que não pode ser afetada muito
negativamente por essa transição energética que precisa ser feita. Porque sem dúvida a
economia será afetada em um primeiro momento, embora no médio e longo prazo todo
mundo só tenha a ganhar com isso. Mas esse custo inicial é um problema.” (MÍDIA, C.A.,
32, JORNALISTA)
Interesses das grandes corporações atrapalham
“Para alguns entrevistados, no entanto, não se trata de o país não ter poupança para cuidar da
Amazônia ou para investir em energias limpas; trata-se sim “dos interesses e do poder das
corporações”:
“São sempre os impedimentos econômicos. São sempre os interesses maiores das grandes
corporações, multinacionais, que no fundo, no fundo são as que nos governam hoje, muito
mais do que aqueles representantes que a gente geralmente supôs ter elegido. E a gente vê
cada vez mais isso até quando a gente se surpreende negativamente com figuras que você
elege em nome de certas idéias, e que ao chegar ao poder abdicam dessas idéias em 48
horas. Em nome do pragmatismo. Você acha que uma Petrobras vai concordar com uma
taxação da gasolina ou do diesel? Que uma Shell vai concordar com metas de redução?
As grandes corporações sabem que deverão fazer uma transição, mas no tempo delas.
Assim é que é.” (MÍDIA, J.K.,58, JORNALISTA)
“Para mim os grandes impedimentos são as corporações. (...) Então vai ser mais caro, eu
não vou instalar um filtro de poluição na minha fábrica porque eu não quero gastar
dinheiro. Então o que eu faço? Eu internalizo esse gás. Eu não estou pagando, eu vou
jogar veneno na atmosfera. Quem vai pagar? A sociedade em geral. Gente que está
ficando mais doente. Isso é o que eles chamam de externalidade. Você pega a população e,
para maximizar os seus lucros, externaliza todos os seus custos.” (MÍDIA, P.C., 31,
JORNALISTA)
Mesmo quando descem do nível abstrato das “grandes corporações” para os empresários
predadores, por exemplo, da Amazônia, o principal entrave é sempre de ordem econômica, “que é
sempre pior na lógica do curto prazo”:
“A principal barreira é de ordem econômica. Aqueles que querem ganhar dinheiro a
qualquer custo, por exemplo, o caso de exploradoras de madeira na Amazônia, querem
ganhar o dinheiro imediato, fácil, eles não estão pensando no futuro, nem daqui a cinco
anos, dez anos, nem daqui um ano. É aqui e agora. O principal oponente é a ganância
daqueles que querem ganhar dinheiro mais rápido.” (MÍDIA, J.M., 46, JORNALISTA)
“Uma barreira que eu vejo é a equação econômica. Quer dizer, o sujeito que derruba uma
mata na região Centro-Oeste e planta soja, ele, pelo menos momentaneamente, acredita
que está gerando progresso.” (MÍDIA, E.G.,64, JORNALISTA)
“Sempre interesses econômicos. É o que rege o mundo, não é? Eu acho que enquanto não
mudar um pouco esse pensamento, enquanto não mudar esse jeito de levar o mundo: a
economia mandando em tudo impondo a filosofia de vida, de como é que se vive, eu acho
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difícil que a gente pense diferente, que o mundo pense diferente.” (MÍDIA, N.O., 61,
JORNALISTA)
Posição dos Estados Unidos e “modelo americano” são barreiras
Os entrevistados acreditam que para onde a “águia americana voar”, voará o resto do mundo.
Enquanto os Estados Unidos mantêm uma posição reticente, criam condições para que outros
grandes emissores ajam sem grandes compromissos. O raciocínio é o seguinte: se “eles não estão
dispostos a se sacrificar, por que nós?”:
“Acredito que sem a adesão americana nenhum programa terá sucesso.” (MÍDIA, J.L.D.,
50, JORNALISTA)
“Eu acho que a maior resistência é por parte dos Estados Unidos; temem que esse tipo de
restrição possa diminuir demais o crescimento econômico, sua base industrial. Nos
Estados Unidos a cada dois habitantes existe um carro; imagina se você começa a dizer:
’Lamento, mas agora vai ser para cada cinco um carro’, imagina o impacto que isso tem
na vida dos norte-americanos. Eu acho que o mundo ainda discute isso de uma maneira
cautelosa; talvez preocupado em fazer alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, temendo
conseqüências das medidas. (...) A questão é como administrar as expectativas de consumo
do modelo americano.” (MÍDIA, G.V., 55, JORNALISTA)
“Os Estados Unidos poderiam liderar uma economia de baixo carbono e criar as
condições tecnológicas para essa transição. (...) A Europa sozinha não pode dar o tom.
Países como China, Brasil, Índia, estão aguardando a política americana. Se os ventos
mudarem com Obama, talvez estejam criadas as condições para sair do discurso, criando
um sentimento de urgência que absolutamente não tem eco nos Estados Unidos.” (MÍDIA,
S.A., 57, JORNALISTA)
A China na berlinda
Além dos Estados Unidos, a China também é citada como uma barreira para que os demais países
se alinhem em uma atitude mais responsável diante do desafio climático:
“Os Estados Unidos do Bush são uma perda de tempo, a gente perdeu muito tempo nesses
oito anos. E a China é uma coisa assustadora, a maneira com que está lidando com a
questão, porque o modelo de desenvolvimento dela é completamente suicida para nós e
para eles.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
“Uma clara barreira é a maior economia do planeta ter um governo que nega o problema,
a existência do problema oficialmente. (...) Mas os Estados Unidos são os Estados Unidos.
Enquanto ele não entra para valer na discussão, no mecanismo de desenvolvimento limpo,
não entra no Protocolo de Kyoto.
Primeiro é desculpa para todos os que não querem fazer algo, e segundo fica realmente
irracional. Se dos dois maiores emissores um não entrar por causa do governo, o outro
porque é um país em desenvolvimento e tem o direito de poluir, então nós estamos
conversando sobre o que aqui? A grande barreira tem nome: Estados Unidos e China.”
(MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
“A China inteira que funciona ainda a carvão e os Estados Unidos que não querem nem
saber. É o pior entrave. Primeiro eu acho que é a China, o pior, e depois eu acho que são
os Estados Unidos... Porque um bilhão de pessoas, como é que você faz? O país
funcionando a carvão? Eu acho que são desafios muito grandes, são coisas muito difíceis
de resolver.” (MÍDIA, N.O., 61, JORNALISTA)
75
Falta vontade política
Nas várias declarações a seguir, o raciocínio dos entrevistados converge para a visão de que o
governo brasileiro não está empenhado em mudar a política de ocupação na Amazônia, isto é, não
quer pagar “o preço político” de fazê-lo. Entre “planejamento e crescimento”, o governo optou por
crescimento, sem medir as conseqüências de longo prazo. A maioria mostra-se desanimada com o
que está acontecendo na Amazônia e acredita que falta vontade política do governo e que as ações
são eleitoreiras:
“A falta de vontade de fazer um planejamento coletivo para enfrentar isso, dos
governantes, que entre crescimento e planejamento com crescimento, estão preferindo o
crescimento.” (MÍDIA, L.A.N., 48, JORNALISTA)
“Não existe vontade política. Pelo contrário, existe negligência com o assunto, não há
interesse real de transformar o potencial que temos numa indústria do turismo de uma
forma inteligente, até para atrair divisas. Não há vontade política. O que existe é um
interesse eleitoral e a Amazônia é até usada como moeda de troca nesse processo.
Interesse real eu não vejo.” (MÍDIA, M.S., 46, JORNALISTA)
“Não vejo barreira nenhuma a não ser falta de vontade política. Não vejo barreiras, não
vejo nenhuma resistência a isso. O Brasil é signatário do Protocolo de Kyoto e está em
todos os fóruns internacionais discutindo essa questão. E a defesa do meio ambiente é uma
bandeira do Brasil sim.
Então, eu acho que a mudança climática também. Eu não vejo barreira institucional, eu
vejo barreira do ponto de vista prático, ou seja, ir da palavra à ação vai demorar muito
ainda, porque os atores não estão prontos. O governo brasileiro ainda não conseguiu
unificar uma ação, é só ver o caso das hidrelétricas, do São Francisco e tantos outros
casos.” (MÍDIA, R.M., 65, JORNALISTA)
“Conter a expansão das nossas emissões implicaria mudar a política de ocupação da
Amazônia. Eu não vejo o governo sinceramente empenhado nisso. É um preço político
muito alto que se paga para isso. (...) Você vai ter que mexer no setor de pecuária, de
agricultura, que politicamente anda delicado. É complicado.” (MÍDIA, A.M., 39,
JORNALISTA)
“As barreiras são muitas, mas a maior é que o próprio governo ainda não se mexeu, é só
olhar para o que está acontecendo com a Amazônia, porque o Estado não está presente na
região da Amazônia e a ausência do Estado faz com que aquilo seja uma terra de
ninguém. As pessoas invadem, grilam etc. Falta de cidadania, de educação, de cultura das
populações locais, que muitas vezes, até por ignorância e para poder viver, são capazes de
ajudar a derrubar tudo lá. E não compreendem que a mata de pé seja melhor para a
convivência deles.” (MÍDIA, H. B.,57, JORNALISTA)
O território é grande e nossa fiscalização é frágil
Um único entrevistado disse não acreditar na falta de empenho do governo. Para ele a questão é outra.
O Brasil tem dimensões continentais, o território da Amazônia é enorme e o nosso sistema de
fiscalização é frágil. Some-se a isso a ignorância da população local:
“Eu acho que a maior barreira para dar um jeito é a extensão do nosso país, pois é um
continente (...), aliada a dois fatores importantes: a questão da nossa estrutura
governamental, especialmente de fiscalização ainda muito frágil; também a falta de
educação para essas questões de grande parte da população brasileira, e infelizmente de
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uma certa cultura de aceitação, de que as coisas são assim mesmo, de uma certa
acomodação.” (MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
Padrão de consumo também é identificado como entrave
Três entrevistados lembraram que o atual “modelo de desenvolvimento” é um entrave, pois dele
deriva o padrão consumista, intensivo em energia, sintetizado na seguinte expressão: “quanto mais
carro produzir e vender, melhor”:
“Vou voltar à minha tecla: consumo desenfreado e a idéia das pessoas de que a melhor
coisa do mundo é você consumir e gastar mais energia.” (MÍDIA, P.C., 31, JORNALISTA)
“Muitas coisas já foram feitas em termos de melhorar os padrões de produção; eu tenho
acompanhado avanços, mas ninguém toca no raio do consumo. Será que ninguém percebe
que não dá para todo mundo ter carro?” (MÍDIA, R.M., 65, JORNALISTA)
“Acho que é todo um modelo de consumo e de vida baseado no desperdício. É ainda o
modelo de desenvolvimento que não levava isso em conta; a idéia era mesmo desmatar a
Amazônia, era desenvolver a Amazônia como foi desenvolvido o Sudeste do Brasil, pondo
a Mata Atlântica abaixo. O modelo ‘quanto mais carro produzir e vender, melhor’, ainda
é o modelo, então é difícil, estamos todos em um Titanic que é difícil mudar.” (MÍDIA,
M.S., 49, JORNALISTA)
Barreiras “culturais” também são mencionadas
Por fim, uma das barreiras estaria nas próprias características culturais do povo brasileiro.
Falta de educação, “certa cultura de aceitação, acomodação” (trecho acima reproduzido), falta de
engajamento e ignorância são alguns dos nomes os entrevistados usaram para dizer que uma forte
barreira para enfrentarmos os desafios impostos pelas mudanças climáticas é a nossa própria
população, por eles identificada como “massas pouco esclarecidas” ou “pobres que precisam comer,
e para eles pouco importa a floresta em pé” etc.:
“(...) Então a primeira questão é a falta de engajamento popular, e eu vejo que a pobreza
é uma dificuldade. O tipo de engajamento que a gente precisa é mais fácil nas sociedades
esclarecidas, nas sociedades educadas. Só que hoje essas sociedades têm cada vez menos
gente. Onde é que mais cresce a população? Nas sociedades mais pobres, então como
você fica? Como você vai produzir o engajamento das pessoas se tem aquelas que não
possuem senso de coletivo, como a gente tem no Brasil?” (MÍDIA, S.G., 30,
JORNALISTA)
“(...) também a falta de educação para essas questões de grande parte da população
brasileira, e infelizmente de uma certa cultura de aceitação, de que as coisas são assim
mesmo, de uma certa acomodação.” (MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
Taxar emissões e conscientizar a população são os melhores incentivos
Perguntados sobre que medidas e incentivos poderiam funcionar para que os atores se dispusessem
a um maior engajamento no combate às mudanças climáticas, os entrevistados se dividiram em duas
tendências majoritárias. A primeira, com 9 menções, pensa que “emitir carbono tem que se tornar
uma coisa cara”:
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“Acho que vamos ter que tornar a emissão de carbono cara, acho que é o que vai
funcionar. Temos que tornar mais caro você não emitir carbono do que emitir carbono. É
só a partir daí que vai funcionar.” (MÍDIA, M.S., 49, JORNALISTA)
Igual número (9 menções) considerou que o melhor incentivo é conscientizar os setores produtivos
e a população em geral, provocando reações proativas no consumidor:
“Acho que é conscientizar, talvez seja utópico, mas informar cada vez mais a população e
a população bem informada, cobrar dos governos, das corporações.” (MÍDIA, LEANDRO
SARMATZ, 34, JORNALISTA)
“As pessoas não vão andar de bicicleta, mas elas vão comprar um carro a álcool, então o
que a gente tem que fazer é oferecer carro a álcool para elas e informá-las o quanto estão
contribuindo para o planeta, para o país ao fazer isso (...) o que você deveria estar
buscando, o foco, na minha opinião, é criar um mercado de baixo carbono, mas para isso
as pessoas têm que entender por que deverão pagar certos produtos mais caros que outros
e aceitar fazer sacrifícios, mas isso só conscientizando...” (MÍDIA, S.G., 30,
JORNALISTA)
“Acho que só tem um incentivo efetivo: que as pessoas tenham consciência disso, quer
dizer: você vai viver melhor, o seu filho vai viver melhor. A preocupação com o próprio
meio ambiente. Acho que não precisa você dar dinheiro, inventar facilidades ou isentar de
imposto. As pessoas têm que ter consciência. Por que você limpa e lava a sua casa? Não é
para você viver melhor? Você não come e toma banho para viver melhor?” (MÍDIA, E.P.,
49, JORNALISTA)
Cinco entrevistados acham que se deve criar um “mercado interno” de crédito de carbono:
“Eu acho que o crédito de carbono é uma coisa boa, não conheço o suficiente, mas acho
que é uma boa experiência e que junta a emissão de carbono com a vontade das pessoas
de compensar de alguma maneira.” (MÍDIA, E.G., 64, JORNALISTA)
“Criar um sistema de créditos de carbono que incluísse os Estados e municípios, um
programa federal que contemplasse toda a federação. Aí cada Estado e cada município
teriam um sistema para beneficiar as empresas, sei lá, tinha que ser alguma coisa que
mexesse com o mercado e com a política institucional de todos os Estados, se não, não
teria um impacto significativo.” (MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
Este sistema, na visão deste último entrevistado, poderia ser estendido aos cidadãos, e não
somente às pessoas jurídicas:
“Créditos especiais para pessoas físicas, para que tomassem iniciativas. Através do BB e
da Caixa Econômica Federal, poderia, por exemplo, facilitar a aquisição de energia solar,
de bens com eficiência energética... Eu vejo, por exemplo, que é cada vez maior o número
de casas que buscam energia solar e muitas delas inclusive buscando tecnologia caseira.
Aqui no Sul de Santa Catarina, em Tubarão, tem um senhor que desenvolveu um
aquecedor de água usando garrafas pet de dois litros e caixinhas de leite, a parte interna
dessas caixas de leite, e funciona perfeitamente bem. (...)” (MÍDIA, M.M., 56,
JORNALISTA)
Outra sugestão, mencionada por três entrevistados, foi a criação de incentivos fiscais para indústrias
e produtos não poluentes.”:
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“Podia dar incentivo fiscal, por exemplo, para as indústrias. O governo podia incentivar,
não cobrar impostos de determinados produtos para que eles substituíssem outros que não
contribuem para o bem do planeta.” (MÍDIA, A.L.,45, JORNALISTA)
Mas três outros entrevistados acreditam que todas as empresas devem ser obrigadas a fazer
“inventário” e as que mais emitem devem ter um programa de redução que leve à punição em
caso de não-cumprimento. O que as empresas precisam é de “desincentivo para poluir”, segundo
um deles:
“Infelizmente a mentalidade do brasileiro ainda funciona só com mexer no bolso. Mais do
que incentivo tinha que ter punição. Porque aí sim as pessoas iriam se sensibilizar e
começar a refletir realmente.” (MÍDIA, C.F., 27, JORNALISTA)
“Eu não sei se incentivo, eu acho que tinha que ser feito é um desincentivo, o governo
tinha que desestimular a pecuária em área de floresta. Essas medidas de contenção de
crédito para desmatador, o governo acabou de baixar. Se elas surtirem efeito, vai ser uma
enorme contribuição. Então você não precisa incentivar nada, você precisa proibir, fazer
os caras se enquadrarem.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
O terceiro entrevistado dessa corrente completa:
“Legislação adequada e ordenamento territorial: aumentar o plantio de árvore, nós temos
território, reservas naturais grandes... E fazer um zoneamento ecológico, por exemplo,
começando por ordenar o plantio de soja. Isso é uma saída inteligente para essa questão:
fazer certo zoneamento agrícola, ou seja, soja plantada a partir desse paralelo tal, ela
passa a ser condenada pelo próprio país; ela é taxada, ela paga um imposto exorbitante,
coisas desse tipo, que evitem que a agricultura avance sobre áreas que a gente não
deseja.” (MÍDIA, G.V., 55, JORNALISTA)
Outra sugestão foi a de se aumentar os investimentos na recuperação do meio ambiente e apresentar
uma agenda de desenvolvimento de baixo carbono, ancorada em uma política nacional do clima
(duas menções). Isso teria um efeito de sinalizar claramente quais são as regras do jogo. Na opinião
desses dois entrevistados, o próprio mercado reage quando a legislação é clara e os mecanismos de
financiamento para a conversão em produção menos poluente ficam definidos:
“O próprio mercado tende a criar barreiras contra os chamados poluentes, os emissores.
(...) Então, por exemplo, você usar coisas com madeira não-certificada, o passo para isso
é diminuir, chegar a um ponto que só mesmo produtor ilegal vai usar madeira nãocertificada.
Segundo, o caso da indústria em si já virou até um instrumento de marketing: quanto mais
sustentável é o seu produto, mais você divulga isso, como uma responsabilidade social
também. (...)
Quer dizer, então o próprio mercado está agindo para que você aumente o número de
empresas que ajam responsavelmente em relação ao meio ambiente, o ambiente social. O
mesmo vai acontecer com o carbono. Vai ser um fator de competitividade. Eu vejo mais
dificuldade é no setor público.” (MÍDIA, G.V., 55, JORNALISTA)
“Falta uma política brasileira, nacional, que diga claramente qual é o programa. Não dá
para ficar passivo. O incentivo é o governo se engajar, colocar para funcionar uma forçatarefa e fazer aprovar uma lei no Congresso que possa coibir, por exemplo, licenciamento
de usinas a carvão, coisa que estão fazendo por aí...” (MÍDIA, S.A., 57, JORNALSITA)
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Por fim, diz um entrevistado, deve-se investir em transporte público sustentável, baseado em
biocombustíveis, nas grandes cidades. Seria uma maneira de convencer as pessoas a abdicar do
veículo individual:
“Poderiam ser criados incentivos de várias ordens que dependem de investimento e de
mudança de mentalidade, por exemplo, devia se incentivar cada indivíduo a usar
transporte coletivo, mas para isso precisa ter transporte coletivo bom, que o sujeito se
sinta realmente motivado a deixar o carro em casa e pegar o metrô. E mudar a matriz
energética do transporte coletivo também, né?” (MÍDIA, J.M., 46, JORNALISTA)
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
O governo é quem deve liderar
Vinte e quatro entrevistados apontaram o governo como o ator que deve ser mais engajado no
processo de enfrentamento das mudanças climáticas, bem como o líder da nação na busca de um
desempenho responsável nas questões climáticas. Em segundo lugar ficaram, empatados, as
empresas e os meios de comunicação (com sete menções cada um). Apenas dois entrevistados
fizeram referência à sociedade “em segundo lugar”.
Embora acreditem que é o setor produtivo que tem a “responsabilidade ética e moral” de reduzir as
emissões, a opinião dominante é a de que é o governo que tem que fazer o seu papel primeiro,
criando os marcos legais:
“Nenhum ator é mais importante que o governo, pois, sem governo, nenhuma ação seria
possível; a mídia, por exemplo, onde eu atuo, não é tão importante quanto o governo, pois
ela não tem o poder de decidir e implementar políticas; seu papel fundamental é na
formação dos cidadãos e na difusão de informações a respeito desses assuntos.” (MÍDIA,
W.B., 44, JORNALISTA)
“É o governo, porque se você ficar cobrando isso das pessoas elas não vão se engajar, e
por mais que eu ache que a culpa não é do governo, se este não fizer, ninguém vai fazer, é
uma visão pragmática. (...) As empresas têm uma responsabilidade ética e moral de fazer
isso? Têm. Já sabemos que a questão é de vida e de morte, mas eu não posso apostar que
as empresas vão fazer isso. Então não dá para contar com elas. Tem que ser o governo a
dar o primeiro passo, a liderar a mudança”. (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
“É o governo através de programas e projetos federais, e medidas socioeducativas,
campanhas ampliando a informação, criação de novos projetos de lei voltados para essa
questão ambiental e até mesmo com penalidades, com multas mais severas; a iniciativa
privada fazendo seu dever de casa, apoiando e mesmo patrocinando ações de ONGs e até
de pessoas físicas que tenham essa concepção, essa preocupação de melhorar essa
questão ambiental; e nós com coisas pequenas no dia-a-dia. Cabe a cada um de nós fazer
diferença.” (MÍDIA, C.F., 27, JORNALISTA)
Todas as instâncias de governo devem atuar
Para três entrevistados, o engajamento não deve ser cobrado somente do governo federal. Todas as
esferas têm o seu papel e devem atuar de maneira coordenada:
“Todos os governos, claro. Quando eu falo, não é só o governo federal, é o governo da
Amazônia, de São Paulo, do Rio de Janeiro, todos os que são emissores e possuem
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grandes mercados consumidores da madeira que se tira de lá. E tem que ter poder polícial
atuando, até as forças armadas...
Então as instâncias federais e estaduais deveriam trabalhar em conjunto montando os
mecanismos de coibir todo comércio de produtos ilegais. A Amazônia é destruída para nós
mesmos. É um mito dizer que a madeira sai daqui para o exterior. É tudo consumido no
Rio, em São Paulo, no sul do país. (...) Depois do governo, o empresariado, é claro...
Então acho que o empresário deveria assumir a liderança porque, na verdade, o que está
em jogo é o mercado para ele. (...) Dentro da cadeia produtiva tem que acontecer esse
conflito, o bom conflito, o bom combate para isolar quem se comporta de maneira
inadequada.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
Parceria com as empresas
Para os entrevistados que apontaram a importância das empresas, elas teriam peso tanto político
quanto econômico. Além disso, como as mudanças climáticas fazem parte de uma agenda global,
mais do que os governos nacionais, as empresas têm um papel que não se pode subestimar:
“Eu acho que você tem dois atores chaves, dadas as condições inclusive da história
política brasileira. Tem de um lado os atores políticos e estatais; sem o concurso deles é
quase impossível fazer qualquer coisa no Brasil, porque o Estado é muito poderoso. (...)
Do outro lado temos o setor privado brasileiro, que se acostumou por longo tempo a dizer
o seguinte: eu só faço aquilo que o Estado manda e, na ausência da ordem estatal, eu
desconsidero. (...)
Então o setor privado brasileiro tem que constituir lideranças que comecem a defender a
tese de que o aquecimento global vai obrigar as empresas a irem em outro compasso, além
daquilo que lhes é pedido. O engajamento desse setor é crucial para essa história
avançar.” (MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
“Olha, eu acho que são as empresas. O governo é óbvio, mas é quase tão importante as
empresas se convencerem, as principais empresas, as maiores empresas, no mundo inteiro
e no Brasil. Com algumas exceções, é claro, em geral as empresas têm influência e
credibilidade, afinal são elas que movem a economia e influenciam inclusive o
consumidor. Acho que o aparelho de Estado, legislação, de uma maneira geral, tem o seu
papel. Também uma ou outra coisa, a mídia, eu acho que a mídia tem o seu papel, mas
menos importante que os dois atores que citei: governo e empresários.” (MÍDIA, G.V., 55,
JORNALISTA)
Consenso se faz de baixo para cima
Para quem mencionou a sociedade, o cidadão comum, como ator importante, o argumento é o de
que um “consenso se forma de baixo para cima”, e não o inverso:
“Eu acho que o principal ator seria o cidadão. Não adianta ONG, não adianta o governo,
não adianta Ibama, não adianta nada se você não motivar o cidadão. Eu acredito que as
mudanças começam de baixo para cima e não de cima para baixo. (...) Nós estamos
transferindo isso pros cargos eletivos e tal, apostando que eles vão mudar, e não mudam.
Não mudam porque nós os colocamos lá e nós não acompanhamos o que eles fazem, não
fiscalizam nada. Então o grande ator é o cidadão.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
Houve quem apontasse que o ator mais importante é o próprio indivíduo:
“Para alguém de imaginação que um dia acreditou no homem novo, eu gostaria de insistir
com você que só tem uma mobilização possível que é a conscientização de cada indivíduo,
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que isso é necessário. É acreditar minimamente que as pessoas possam ter consciência de
que isso é necessário, de que isso vai depender de cada uma delas.” (MÍDIA, J.K., 58,
JORNALISTA)
Todos devem se engajar
Por fim, um entrevistado disse que é a ação orgânica de todos os atores que vai fazer a sociedade
tomar uma direção diferente da atual. Ele inclusive antecipa a emergência de uma “cidadania
planetária”:
“Acho que o governo federal e a sociedade civil, desde o cidadão comum, a imprensa e as
empresas. (...) Acho que é uma ação conjunta, orgânica que vai fazer diferença. Enquanto
atores isolados estiverem dando o tom não vai adiantar. Acho que tem uma cidadania
planetária aí se formando, é algo que vai transcender a coisa do país.” (MÍDIA, L.S., 34,
JORNALISTA)
“O governo, sobretudo e em primeiro lugar, porque o governo tem um papel central,
fundamental porque tem o poder de policia. Acho que vamos ter que usar do poder de
policia no sentido mais abrangente do governo para acabar com o desmatamento da
Amazônia. Depois do governo, todos nós, empresas, ONGS, cidadãos comum, civis, tudo.”
(MÍDIA, M.S., 49, JORNALISTA)
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
Os países não sabem ainda como enfrentar as mudanças climáticas
Para os jornalistas e profissionais de mídia ouvidos, o que se vê na esfera internacional é “muito
discurso e pouca ação”:
“Muita notícia, muito discurso, muita entrevista e zero de ação. Esta aí o Protocolo de
Kyoto que não deixa mentir. Após quase 15 anos, caducou sem ter sido implementado
direito. Com a recusa dos Estados Unidos de ratificá-los perdeu força, não cumpriu seu
papel. A questão chave agora é o biodiesel, e a competição pela liderança na produção
desse tipo de combustível. (...) A questão chave é o tipo de energia que se vai usar daqui
para frente e reduzir emissões... Como fazer isso sem causar colapso nas economias,
ninguém ainda sabe.” (MÍDIA, A.D., 63, JORNALISTA)
Um deles foi enfático ao afirmar que, para compreender como a questão está sendo tratada na esfera
internacional, é preciso regionalizar a análise:
“Em algumas regiões do mundo se dá muita importância para isso, em outras pouca
importância e em outras nenhuma. Então, eu creio que é preciso regionalizar a
importância do tema. Nos Estados Unidos é apenas importante, na Europa é muito
importante, no Japão é muito importante, mas, se você pega o Brasil é mais ou menos
importante, na África não tem importância nenhuma, na Ásia eu diria que, salvo alguns
lugares, também não tem importância nenhuma.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
Bonzinhos e malvados
Para 11 entrevistados, portanto mais de um terço dos ouvidos na sondagem, há claramente “dois
partidos” na questão climática: os que não querem fazer sacrifícios e os que não têm escolha; estes
se passam por “bonzinhos”, aqueles são vistos como “malvados”:
“O mundo se divide entre os bonzinhos que falam, discutem e recriminam as emissões de
dióxido de carbono, que participam de reuniões etc., e os malvados, os Estados Unidos, a
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China e a Rússia, que têm altas emissões e que não assinam nenhum tratado de redução
das emissões. Mas, na realidade, muito alarde é feito e pouca ação implementada.”
(MÍDIA, W.B., 44, JORNALISTA)
“Mais ou mais ou menos como o lobo tratava o cordeiro. A grande potência mundial que
são os Estados Unidos não dá bola para isso. Façam o que eu digo, mas não façam o que
eu faço. Então as grandes potências anulam qualquer esforço dos demais.” (MÍDIA, C.C.,
70, JORNALISTA)
Lentidão e falta de ações concretas
Muitos entrevistados dizem sentir angústia, pois, “se o problema é tão grave quanto alardeiam”, as
ações estão lentas demais. Falta mais empenho, mais ações concretas, palpáveis:
“Acho que se está discutindo muito. Está se falando muito, coisa que até há uns cinco, seis
anos atrás não era tão forte, mas acho que as decisões ainda estão muito lerdas, estão
muito devagar, acho que precisariam ser mais incisivos nessa questão.” (MÍDIA, A.C., 48,
JORNALISTA)
Este segundo entrevistado observa que “há uma escolha civilizatória” envolvida no processo de
decisão que precisa ser feita:
“Em termos de exposição na mídia acho que está bom, o tema está muito na mídia.
Em termos de ação está ruim, vejo muito poucas ações concretas de diminuição e acho
que a gente anda focado demais na questão de emissão de gases. Acho que a questão é
muito maior do que o aquecimento global. (...)
É uma questão de escolha civilizatória, de como a gente se vê como espécie. Somos tão
predadores que não conseguiremos nos descolar dessa natureza nem mesmo diante dos
impasses colocados pelo aquecimento global?
E completa, citando uma ação concreta que considera “uma contribuição do Brasil”:
(...) Precisamos de mais ação, tecnologias menos agressivas. Eu acredito, por exemplo,
que a maior contribuição que o Brasil deu ao aquecimento global foi inventar o carro flex.
Mas essa foi uma ação indireta, não governamental. Eu acho que os governos deveriam
estar investindo pesado nesse tipo de iniciativa, em tecnologias menos agressivas, talvez
mais do que em impostos sobre o carbono, por exemplo.” (MÍDIA, S.G., 30,
JORNALISTA)
A preocupação não tem sido compatível com o grau de ação
Os depoimentos abaixo seguem a mesma linha de argumentação:
“A taxa de preocupação é muito maior do que a de ação e a taxa de ação é muito maior
do que a taxa de efeito. Você tem então três fatores desconexos. A preocupação não está
compatível com o grau de ação.
O grau de ação não é compatível com o grau de efeito, até porque fenômenos naturais
interferem para que os efeitos sejam muito graduais depois que ação é deflagrada. O
mundo ainda não experimentou o cenário mais dramático, então se faz especulações, e aí
uns acreditam que a coisa é para amanhã, outros que vai demorar uns anos, que dá para
fazer uma 10 reuniões de Bali...
O mesmo entrevistado afirma que o dilema se resume à seguinte pergunta: “quanto eu tenho ainda o
direito de desenvolver, crescer ou manter a minha economia no quadro do velho modelo”?
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(...) Há uma discussão, um dilema muito grande nos países em desenvolvimento entre o
quanto eu tenho direito a desenvolver em detrimento daquilo que me pedem para
preservar. Esse é um dilema que está em dois terços, três quartos do planeta. Rússia,
China, Brasil, Índia, toda a América do Sul, toda a Ásia.
Quem não está vivendo esse dilema é porque já fez isso no passado sem vivê-lo, dizimou as
suas reservas naturais, até porque não havia essa discussão: a Europa como um todo e os
Estados Unidos.” (MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
Europa tem atitude mais moderna
Enquanto as menções à posição americana nas discussões sobre emissões são fortemente criticadas,
a Europa é vista como “vanguarda” no enfrentamento das mudanças climáticas. Embora poucos
façam menção a países individuais, a Europa estaria “fazendo a sua parte”:
“Tem países que levam isso a sério, por uma questão que eles acreditam estratégica, tanto
de redução de danos atuais e futuros quanto de competitividade industrial. A Europa é o
melhor exemplo. Ela, sob um comando mais unificado devido à União Européia, está
limpando seu parque industrial e energético desde a crise do petróleo de 70, e se
desenvolveu bastante nessa área de tecnologia limpa. Então, eles querem garantir que
seus esforços não serão inúteis...
Para o autor desta afirmação, a Europa está enfrentando de forma mais competitiva que os Estados
Unidos a questão do baixo carbono, e a velha disputa entre potências vai se repetir no quadro da
“segurança climática”:
“(...) se tem claramente um grupo de países que têm a ganhar economicamente com
medidas de redução de emissões é a Europa. Os Estados Unidos têm muito a ganhar
também, mas eles têm indústria mais suja, menos eficiente, mais pautada pelo desperdício
e pela abundância de petróleo...
Não falta petróleo... Lá eles simplesmente invadem um país no Oriente Médio, conseguem
o petróleo deles, é diferente da Europa, e então para o governo americano até agora não
há interesse, como todos sabemos, em reduzir emissões.” (MÍDIA, C.A., 32,
JORNALISTA)
Este segundo entrevistado destaca o caso da Alemanha:
“Eu acho que a Europa como um todo tem uma atitude mais moderna. A Alemanha tem
feito um esforço importante. Países pequenos fazem coisas interessantes, mas a Alemanha
é uma grande economia, exportadora de tecnologia, então ela é relevante.
Eu acho que ela está fazendo o esforço de mudar a matriz energética, de investir em fontes
realmente alternativas e de lutar contra as emissões de suas empresas. No contexto
europeu, claramente os exemplos são Alemanha e Holanda, mas eu destaco a Alemanha
pela sua importância geopolítica.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
O Brasil poderia exercer um papel de liderança no bloco dos países emergentes
Para renomada jornalista, especialista em questões econômicas e políticas, o Brasil tem assumido
uma postura “velha, diplomaticamente falando” e está perdendo a chance de ser uma nação líder:
“Eu acho que o Brasil tem uma posição velha diplomática, tem uma visão norte e sul do
problema, quando o problema não é mais norte e sul. (...) Ela deixa de colaborar, ter
liderança, ela apequena o nosso papel que poderia ser muito maior dadas as virtudes
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ambientais que nós temos diante de um mundo que já destruiu suas florestas naturais, que
não tem uma solução vegetal para o combustível dos carros.
A gente poderia ter uma dianteira maior nisso se a gente tivesse uma visão mais ousada na
diplomacia. Eu acho o Brasil equivocado. Acho equivocado quando defende que os países
em desenvolvimento têm o momento deles.” (MÍDIA, M.L.,54, JORNALISTA)
Há avanços, apesar de tudo
Embora tenham sido poucos na amostra, apenas três, esses entrevistados têm uma visão menos
crítica a respeito dos demais países, com exceção dos Estados Unidos e da China, considerando que
“há avanços”:
“Se você tirar a China e os Estados Unidos, os outros grandes países emissores me parece
que têm tido uma postura pró-ativa, a partir do Protocolo de Kyoto, estabelecendo um
percentual de redução até um determinado ano. A maioria desses países tem conseguido
investir na transição sem traumas. O próprio Brasil, apesar de ainda ter alguma
dificuldade em estabelecer voluntariamente metas de redução, vai estar em uma outra
faixa de diminuição brevemente.
Não tem como ser diferente. Eu acredito que a humanidade se já deu conta do problema,
ainda que com um certo atraso, da importância e necessidade da redução dessas
emissões.” (MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
“As sociedades em vários níveis estão se movimentando, ou seja, empresários estão
começando a entender que isso vai ser uma coisa inevitável, alguns estão começando a
acreditar que dá para ganhar dinheiro com isso, outros acham que não, mas é inevitável.
A comunidade científica tem um peso muito grande hoje em dia, porque ela já consegue
mostrar muito claramente o preço que se paga por não fazer nada. Você tem uma pressão
popular razoável, pois a consciência é recente.
Eu fui nos últimos encontros em Bali, por exemplo, claramente você tinha uma pressão
pública em geral para que o mundo se organize de alguma maneira para controlar isso.
As coisas estão caminhando e a gente está nesse ponto, de assumir um a posição mais
firme.” (MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
"DESMATAMENTO EVITADO"
Proposta precisa ser mais efetiva
No que se refere à proposta de “desmatamento evitado” que o Brasil levou para a última reunião de
Bali, metade dos entrevistados disse não conhecer e oito disseram não lembrar em detalhes seu
conteúdo.
O restante emitiu opiniões diversas, mas predominou o ceticismo em relação à sua “eficácia”:
“Acho que essas propostas que o Brasil faz ficam muito mais no campo teórico do que no
campo prático. Há uma coisa virtuosa que é envolver a iniciativa privada na conservação
das florestas etc. Mas acho que isso é como se nós quiséssemos aprender a fazer a raiz
quadrada sem tabuada. Nós temos que fazer a nossa tabuada, que é impedir a progressão
do desmatamento e da derrubada.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
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O próprio governo não gosta da proposta
Para um dos entrevistados que mostrou ter conhecimento técnico da proposta, ela não foi discutida
adequadamente nem mesmo entre os membros do governo, e, além disso, é difícil de implementar:
“Se você chamar isso que foi proposto de desmatamento evitado o pessoal do governo vai
te bater. Eles não querem ouvir de desmatamento evitado, eles chamam de redução
compensada da taxa de desmatamento. (...)
Em primeiro lugar, com quem foi discutida essa proposta? O pessoal do Ibama odeia, não
tem como implementar.
Arbitrariamente escolhem uma taxa que é bem alta, 10, 11 mil quilômetros quadrados
como sua meta e dizem que as pessoas, quem quiser pode contribuir voluntariamente com
o fundo para ajudar o Brasil a reduzir essa taxa abaixo do limite altíssimo, e a única coisa
que você dá em troca é um diploma para quem botar dinheiro no seu fundo?
Enfim, pode ser que aconteça, mas eu não vejo isso indo muito longe sem um mecanismo
de mercado pelo qual as pessoas ganham alguma coisa para contribuir com essa
redução.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
O Brasil precisa de recursos para proteger a Amazônia
Para um dos entrevistados, o Brasil precisaria ter algo para pôr na mesa, pois a verdade é que
conservar custa caro e é preciso encontrar formas de financiar o custo da conservação:
“Temos que ter uma solução diplomática, econômico-financeira para nos financiar a
proteção da Amazônia. Custa caro proteger a Amazônia. Mas todo o raciocínio do
governo é ruim. (...)
Nós estamos apenas em um momento de queda do desmatamento que pode ser véspera de
uma nova onda de alta. Até porque nada mudou radicalmente.
Então, discutir algum mecanismo que dê valor à proteção da floresta, para que a gente
financie a proteção da floresta, é crucial. Custa muito caro, ela é muito grande: são 25 mil
homens do exército lá e eles não sabem o que fazer, ficam batendo cabeça. (...)
O fato é que aos trancos e barrancos protegemos 80% da floresta. Outros não
conseguiram.
Mas o que temos é frágil, a estrutura de proteção precisa melhorar. Essa idéia
apresentada pelo governo brasileiro em Bali é a seguinte: criar um fundo, eu deixei de
desmatar, portanto deixei de emitir. É uma coisa assim: eu deixei de desmatar, o meu
vizinho também; então, por favor, você me dá dinheiro.
Eu não compro muito essa lógica. A gente tinha que ser mais criativo do que isso e tentar
explicar que a gente precisa de financiamento mesmo, porque é um trabalho que demanda
recursos.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
Há um foco excessivo na Amazônia, podemos ter outras contribuições
Finalmente, outro entrevistado, que não demonstrou conhecer muito bem a proposta do
desmatamento evitado, disse que há um foco excessivo na Amazônia, e que o governo perde uma
enorme “janela de oportunidades” em não priorizar a produção de biocombustíveis:
“Desmatamento evitado pode ser uma parte do processo de zerar o desmatamento, reduzir
emissões. Eu acho que a gente consegue em cinco anos chegar bem perto do zero, as
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emissões brasileiras vêm caindo muito. (...) O Brasil tem uma enorme janela de
oportunidades porque tem capacidade de fazer biocombustível de segunda geração. (...)
Podemos melhorar nossa matriz energética, que ainda é altamente limpa, e nós podemos
mantê-la assim. Temos muito espaço para fazer energia solar, eólica e complementar com
biocombustíveis. (...) O Brasil tem tudo para ser uma das potências mundiais da
bioeconomia do século XXI. Podemos contribuir muito para uma economia mundial de
baixo carbono.” (MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
14. CONFERÊNCIA DE BALI
Pouca repercussão
A maioria afirmou não ter acompanhado. Onze entrevistados declararam que só conhecem o que eles
próprios noticiaram ou que acompanharam apenas pelo jornais, ou ainda se queixaram da quantidade
de material que é preciso ler para se manter informado. Nesse grupo, alguns adotam uma perspectiva
otimista, concluindo que “houve avanços”, e outros se manifestam descrentes de “reuniões como
essas”.
Em geral, a visão otimista baseia-se na idéia de que não há outra via que não a negociação
exaustiva, e que a questão é complexa:
“Ainda que alguns achem que a reunião não foi muito conclusiva e que a maior parte dos
países aproveitou para fazer marketing, eu acho que sempre é um avanço, porque você
chama a atenção da opinião pública mundial.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
“Para o que ela se propôs, ela teve um excelente resultado. Ela não fechou nenhuma porta
e as negociações continuam; e o mundo tem mais dois anos, um ano e tanto para produzir
um acordo que substitua Kyoto depois de 2012. Agora, esta longe de ser uma negociação
de algo que posso resolver definitivamente o problema.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
“Muito bom, porque se definiu melhor a agenda. (...) Muita gente saiu de lá tendo a
impressão que saiu sem nada na mão, mas é porque tinham criado falsas expectativas, de
sair de lá com um acordo, ninguém entrou naquela conferência para sair com um acordo.
É um processo que leva no mínimo mais uns dois anos. Foi muito bom porque ali algumas
coisas foram mostradas claramente: vamos trabalhar com a perspectiva lançada pela
União Européia de reduzir 40% das emissões até 2050. Vamos trabalhar com a
perspectiva de remunerar países e ricos em florestas que reduzirem o seu desmatamento,
então foi muito bom para dizer qual é a agenda. A discussão está encaminhada.” (MÍDIA,
A.M., 39, JORNALISTA)
Para os pessimistas, que disseram considerar que Bali teve “resultados fracos”, os argumentos
giram em torno da idéia de que essas reuniões são caras, lentas e burocráticas, e que seus frutos
decepcionam:
“Eu tenho uma certa descrença em relação a essas conferências. Quando eu vejo a Rio
92, acho que Bali, depois do último IPCC, tinha que ter mais impacto. (...) Sei que vários
países, individualmente, estão fazendo alguma coisa, ou estão seguindo uma norma, ou
estão buscando soluções. (...) Mas quando chega numa reunião dessa não há união, então
ficamos desanimados. Falam que dois anos é pouco, mas será que podemos esperar mais
dois anos?” (MÍDIA, L.H.Y., 49, JORNALISTA)
“Foi uma reunião que terminou muito pobre, perto do que poderia ser se tivesse algum
avanço mais significativo. Mas é isso, quando você tem muitos grupos de veto é muito
difícil para você chegar a uma posição satisfatória, é muito difícil, senão impossível. Eu
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vejo como uma luzinha muito tênue, que foi possível com muito esforço, teve uma certa
entropia, gastou-se uma enorme energia política para obter um pequeno beneficio de
avanço, que foi evitar que o Protocolo de Kyoto deixasse de vigorar diplomaticamente, e
que a gente voltasse ao quadro da convenção do clima que não tem nem o que o Protocolo
de Kyoto tinha. (MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
“O que resultou de Bali concretamente? Que jequitibá deixou de ser derrubado? Que
mico não foi extinto? Que planta não foi queimada? (...) O mundo, os Estados estão muito
preocupados em discutir e talvez impotentes ou desinteressados em agir. Eu acho que
algumas coisas básicas sobre o clima já são tão consensuais, tão claras, que já poderiam
ter ações globais e de Estado mais afirmativas. (...) Você tem três estágios: a
preocupação, a ação e o efeito da ação, muitos distantes entre si. Bali não acrescentou
nada: saímos de lá com uma agenda, o que vai acontecer em 2 anos ninguém sabe.”
(MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
A primeira responsabilidade do Brasil para com o mundo é conservar a Amazônia
Nada menos que 18 entrevistados (quase dois terços da amostra do setor) consideram que a maior
responsabilidade brasileira é cuidar da Amazônia, impedir sua destruição “da maneira estúpida”
como vem ocorrendo. Segundo nossos entrevistados, o atual desmatamento da Amazônia e as
queimadas não trazem desenvolvimento nem para a região, nem para o Brasil, e muito menos para o
planeta. O segundo lugar coube às reformas na matriz de transportes. Aumentar a utilização de
energias renováveis ficou em terceiro lugar. Neste último quesito, abrem um largo parêntese para
discorrer sobre etanol e biocombustíveis.
De certo modo, a declaração abaixo resume o ponto de vista da maioria dos entrevistados, no
sentido de que, para eles, há uma grande “obrigação” de conservar a Amazônia, mas isso não nos
exime das “pequenas contribuições”, da procura incansável por adotar padrões mais compatíveis
com o desafio do clima:
“Temos que controlar a queimada na Amazônia, esse é o grande ponto. É daí que vem a
nossa contribuição. (...) Mas isso não nos impede, não nos desobriga das pequenas
contribuições, de trocar o papel, de produzir uma gasolina com menos chumbo, trocar a
frota para etanol e coisas assim. (....) A começar com o número de carros em São Paulo,
que é um grande emissor de CO2, a gente sabe disso.
Não é o principal causador de CO2, do efeito estufa; no Brasil a principal fonte de
emissão não vem dos carros, mas eles estão jogando gás carbônico na atmosfera e, além
disso, tornando a vida das pessoas absolutamente infernal. Tem sentido?
A gente já tem tecnologia para isso não acontecer, a gente tem tecnologia para isso, como
é que a gente vai fazer para eles não jogarem?” (MÍDIA, S.G., 30, JORNALISTA)
Para alguns dos entrevistados, basta ao Brasil sair do “ranking de maiores emissores” e conservar
seu capital ambiental. Desse modo, o país se alçaria a uma posição confortável para trabalhar pela
sustentabilidade sem tanto “constrangimento político”:
“Eu acho que a primeira responsabilidade do Brasil é sair do ranking de um dos quatro
maiores emissores de carbono. Porque se ele sai disso, simultaneamente ele salva a
floresta, porque a queimada da floresta é que nos coloca nessa posição. Então, eu acho
que nós, assim que impedirmos a queimada da floresta, nós saímos desse ranking e
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seguramos o nosso capital. As pessoas têm que entender que a floresta amazônica é um
grande capital e não um ferro-velho de que nós temos que nos livrar. Pelo contrário.”
(MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
“Eu acho que, enquanto a gente não tiver uma política pública para ao Amazônia, a gente
vai contribuir demais com o aquecimento global, e acho que o brasileiro ainda não tomou
consciência disso: ele ainda não sabe, ele não tem informação, a informação, quando ela
aparece, ela é muito escamoteada, ou complexa demais. Se cuidarmos da Amazônia,
vamos nos livrar do constrangimento político e fazer um bem enorme ao país e ao orgulho
do brasileiro (...).” (MÍDIA, A.C., 48, JORNALISTA)
Um jornalista diz que é preciso cuidar da tendência, pois nos últimos anos nossas emissões
cresceram e, infelizmente, as emissões não estão gerando riqueza. Trata-se, portanto, de uma
tendência perversa:
“O Brasil precisa reduzir a zero o desmatamento ilegal na Amazônia, porque mais de 70%
das nossas emissões vêm do desmatamento e, além disso, 50% é desmatamento criminoso.
Então o Brasil já faria muito se fizesse cumprir a lei no seu território, coisa que não faz.
Agora precisamos prestar atenção nos seguinte: o Brasil tem crescido muito, as emissões
brasileiras nos últimos dez anos cresceram acima do PIB, então o Brasil está poluindo
mais que gerando riqueza, mesmo no setor florestal.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
O raciocínio de que o Brasil não explora a Amazônia de uma forma inteligente é amplamente
ecoado pela maioria dos entrevistados:
“O Brasil tem responsabilidade porque é um país muito grande e é ambientalmente um
país muito importante. A gente tem uma matriz energética maravilhosa e as nossas
emissões se dão por desmatamento, o que não é uma vantagem para a gente. Então,
reduzir o desmatamento seria vantagem para a gente, independentemente do aquecimento
global, que desmatamento hoje é destruição de um recurso natural muito precioso para
gente. A gente tem floresta que poderia produzir madeira tropical, que é um produto caro,
valorizado. A gente simplesmente permite que essa floresta seja destruída e não
aproveitada de forma inteligente. (MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
Como mencionamos no parágrafo inicial, depois da floresta as menções à emissão derivada de
carros também foram enfáticas e possuem basicamente dois argumentos: reduzir a quantidade de
chumbo na composição da gasolina e ofertar transporte público não poluente (metrô e trens):
“As responsabilidades seriam, em poucas palavras, controlar as queimadas, as
derrubadas de florestas e controlar a emissão derivada dos meios de transporte.” (MÍDIA,
W.B., 44, JORNALISTA)
“A primeira coisa, e eu acho que é uma coisa relativamente fácil, mas que afetaria boa
parte da população, é a questão dos carros, porque a gente sabe que eles são grandes
responsáveis, depois das queimadas. (...)” (MÍDIA, C.F., 27, JORNALISTA)
“(...) O Brasil podia fazer várias coisas, a começar, por exemplo, por conseguir regular de
forma eficaz toda sua frota de carros. Nossos carros são ainda muito poluentes. (...) O
Brasil deveria, como qualquer outra grande cidade, ou grande país, investir em
transportes públicos com energia não poluentes. Por exemplo, cidades como São Paulo,
Rio de Janeiro, Porto Alegre deveriam ter dez, quinze, vinte, linhas de metrô. (...) O trem
que é menos poluente é menos perigoso, praticamente todo o transporte de carga no Brasil
poderia ser feito de trem.” (MÍDIA, J.M., 46, JORNALISTA)
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Dois entrevistados mencionaram a necessidade de disciplinar a agricultura, pois “o desmatamento e
as queimadas não ocorrem sozinhos”. Para este entrevistado há um foco excessivo nas madeireiras e
faz-se “vistas grossas” para o avanço da soja e da pecuária na Amazônia e no Pantanal brasileiro:
“Acho que devemos olhar a questão da agricultura também, acho que tem uma região
muito grande do Brasil que está começando a ser explorada para pecuária e agricultura:
o madeireiro está interessado em cortar e vender, quem queima é o agricultor para
plantar ou o pecuarista. (...) Nessa questão da responsabilidade do Brasil, é o corte das
florestas e queimadas e controlar o avanço da fronteira agrícola, uma coisa não dá para
separar da outra.” (MÍDIA,R.M., 48, JORNALISTA)
Somente um entrevistado disse que “o Brasil já vem contribuindo”:
“Olha, se a gente for comparar, eu acho que a gente está contribuindo bem. Eu acho que a
gente tem a questão do desmatamento, das represas que geram grandes impactos
ambientais, inclusive geram gases na fase inicial, quando cobrem massas florestais. Mas o
debate existe, vamos cumprir nossas obrigações dentro de um quadro complexo em que
vivemos uma espécie de demanda reprimida por crescimento. Não temos dinheiro para
fazer tudo rápido, ninguém tem, talvez aos países ricos. Eu acho que o Brasil não está
indo mal.” (MÍDIA,P.C., 31, JORNALISTA)
Um entrevistado diz que se conseguirmos explorar a Amazônia sem derrubá-la e se nos tornarmos um
grande produtor de energia limpa, teremos feito a nossa parte. Para este entrevistado, tirando a
Amazônia, nossa “contribuição negativa” para o aquecimento é “mínima”:
“É cuidar da Amazônia. Cuidar bem, ver como que ela pode ser explorada de um jeito
legal, porque o impacto do Brasil nesse processo é irrisório; basta comparar o nosso
impacto com o impacto industrial americano, por exemplo. Nós emitimos muito menos do
que a América e muito menos do que a China. Nossa participação no que seria nossa
interferência nas mudanças climáticas é mínima.” (MÍDIA, M.S., 46, JORNALISTA)
Mas essa não é a opinião da maioria, que pensa ser o Brasil um importante interlocutor entre as
autoridades mundiais, uma das maiores “potências ambientais do mundo”. Esse fato, por si, é
suficiente para não cairmos nos discurso fácil da “soberania” brasileira. A opinião dominante é a de
que o Brasil não pode usar o discurso “pseudo-nacionalista” de “eles (os países ricos) destruíram
suas florestas e agora chegou a nossa vez”:
O Brasil tem não só a responsabilidade de país emergente de lutar por tudo aquilo que
for, digamos, vanguarda no movimento mundial, como o Brasil abriga a floresta
amazônica. E tem que tratá-la sem abdicar da sua soberania, mas também sem discurso
nacionalista idiota de fechar os olhos para os crimes ambientais que se cometem na
Amazônia.” (MÍDIA, J.K., 58, JORNALISTA)
“Eu acho que o Brasil está vivendo um momento muito ruim nesse aspecto. Porque reúne
todos os direitos históricos de expor seu território, suas ambições e tal. Mas o contexto
planetário não permite qualquer tipo de egoísmo nacionalista... 'Vocês destruíram a sua
floresta e eu também vou destruir a minha': esse tipo de atitude expressa ignorância,
mediocridade e ambição suicida.” (MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
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16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
As pessoas precisam sentir que fazem sua parte
O setor acredita fortemente que “ações individuais” fazem diferença: dois terços dos entrevistados
responderam positivamente a essa idéia. Contudo oito, quase um terço, mostraram-se céticos.
Vejamos seus argumentos:
Alguns entrevistados criticaram a forma demasiado dramática com que o tema é tratado, afirmando
que deixa “todo mundo paralisado de medo”. Para eles, a sustentabilidade é uma necessidade
histórica e o aquecimento global é apenas o fator que veio para “acelerar nossas decisões”. Nesse
sentido, cada um precisa continuar a carregar sua “canequinha” para diminuir os plásticos, comprar
carros menos poluentes, boicotar produtos de empresas emissoras, ou seja, está na esfera de cada
um ajudar como pode.
Outro argumento usado é o de que as ações individuais são educativas e “cada indivíduo é um
formador de opinião”, ainda que o seja apenas no âmbito da sua família, da sua comunidade de
amigos ou de colegas de profissão. “Nenhum ser vive isolado”, diz uma jornalista:
“Claro que poderia fazer diferença se tivéssemos os indivíduos mais conscientes. Todo
mundo com a sua canequinha para diminuir os plásticos. Eu acho que sim. Eu acho que
tem que ter uma coisa educativa para as pessoas poderem ter as suas iniciativas
individuais. Além disso, as pessoas não vivem isoladas, tudo tem um efeito sobre o
entorno.” (MÍDIA, A.L., 45, JORNALISTA)
“Eu acho muito fácil, muito cômodo dizer que o problema é do governo e das autoridades
mundiais. E nós, cara pálida? Vamos continuar comprando carrões e engarrafando o
trânsito? Não vamos nos perguntar sobre quanto de água, de energia cada carro custa
para ser produzido? Tem um papel ali, para o cidadão, para o consumidor, que é
fundamental...
Ser politicamente correto é chato
Para este mesmo entrevistado, o problema é o excesso de cobrança, de patrulha nos hábitos
individuais. As pessoas se sentem desconfortáveis “acham uma chatice” ser politicamente corretas o
tempo todo:
“... acredito que é importante mudar o espírito das pessoas para querer agir de modo
diferente. Atualmente está sendo encarado por muita gente como um assunto, uma
obrigação chata que te impede de fazer o que tem vontade de fazer, que é andar de carro,
comer carne, jogar lixo na rua. (...) Temos capacidade de resolver, não é difícil, e isso
pode até ser muito divertido, o indivíduo contribui com essa boa vontade, então vamos
parar de andar de carro, vamos achar um outro meio, vamos andar de bicicleta, de
ônibus, isso não precisa ser chato.” (MÍDIA, M.S., 49, JORNALISTA)
Pequenas ações fazem muita diferença
Um dos entrevistados insiste que pequenas ações individuais, se somadas, farão grande diferença,
principalmente se forem voltadas para o uso responsável do carro:
“Coisas pequenas, o cuidado com o lixo, porque a gente sabe que a gente gera muito lixo.
A coisa do carro principalmente, pelo menos, se não tiver como poupar o carro, ter uma
revisão para saber dos níveis de poluição que aquele carro está emitindo. Quase 80% da
população brasileira vive em cidades e se torna cada vez mais dependente do carro
individual, isso é uma loucura. Pressionar as montadoras para fazer carros mais
91
econômicos, pode ser uma política pública, mas pode também partir do indivíduo...”
(MÍDIA, C.F., 27, JORNALISTA)
O coletivo é constituído de indivíduos
Por fim, entre os que se manifestaram positivamente em relação à ação individual, surgiu o
argumento de que o coletivo é formado por indivíduos, e que há uma interação entre um e outro.
Além disso, “a opinião pública” é feita de líderes e consumidores, e indivíduos que agem de
maneira a despertar simpatia ou chamar atenção para uma causa:
“Eu acho que a participação individual é muito importante em dois aspectos: primeiro, as
pessoas precisam se dar conta de que não existe uma entidade chamada povo, opinião
pública ou mercado consumidor. Isso é um coletivo, é um somatório de ações individuais.
(...) Então é importante que as pessoas comecem a tomar a decisão de mudar, e isso vai
produzir um volume e também uma nova qualidade na cidadania. (...) Começa a se criar
um processo interno, no país, um processo da cidadania interna, de que as empresas
precisam ser mais responsáveis socialmente do que são, ou, por exemplo, se são pessoas
que estão na área do Ministério Público, professores etc., eles começam a formar opinião
em seus núcleos. Então as pessoas têm muita importância”. (MÍDIA, S.A., 57,
JORNALISTA)
“Se você não tiver um compromisso individual, você não tem o coletivo.” (MÍDIA, L.H.Y.,
49, JORNALISTA)
A cidadania do consumidor não pode ser desprezada
Uma entrevistada alerta para o fato de que o consumidor é um cidadão que pode fazer escolhas mais
favoráveis ao planeta em seu dia-a-dia.
Mas a escolha de produtos está condicionada à existência de um mercado que informe o grau de
poluição, de emissão, de aditivos químicos. Isso significa que o governo deve avançar na
rotulagem, e o consumidor nas escolhas:
“Eu acredito na ação individual, acho que pode produzir contágio e acho que é uma parte
do processo. Não acho que só com leis e regulações a coisa vai acontecer, se as pessoas
não estão realmente envolvidas.
O consumidor tem que ter a informação para poder decidir, e ele não está tendo essa
informação. Os produtos brasileiros não vêm com as classificações. Eu queria comer uma
carne que viesse escrita, eu pago o dobro, se ela vier escrita: livre de trabalho escravo e
desmatamento da Amazônia. (...) Então, na verdade, nós temos um grande potencial de
ação individual que não está sendo utilizado, porque o consumidor não tem a ferramenta
para tomar a decisão.
Eu vi o que é o poder do consumidor na estabilização. O consumidor decidia quem ficava
ou saía do mercado. (...) Eu vi marca líder que perdia em um mês 30% e aí teve que mudar
o preço e reconquistar o consumidor. (...) Eu gostaria que essa arma estivesse agora na
mão do consumidor brasileiro para poder escolher que tipo de país ele quer, que tipo de
produção. (...) Hoje nós não temos esse mecanismo.” (MÍDIA, M.L., 54, JORNALISTA)
Os indivíduos não têm o impacto das indústrias
Para aqueles que se mostram céticos no que se refere ao alcance da contribuição individual, a
questão não é que o cidadão não deva fazer sua parte, economizar água, energia, separar o lixo etc.,
mas sim o fato de que a gravidade da questão do aquecimento global pede uma ação de
envergadura. Segundo a entrevistada abaixo, “precisamos de um choque de regulação”:
92
“O indivíduo não é tão importante, não é tão responsável pela poluição quanto as
indústrias, a produção em si. Acho que as pessoas, por uma questão de respeito ao meio
ambiente, de respeito ao planeta, é claro que podem ajudar, e devem, mas diante da
urgência da questão nós estamos precisando de um choque de regulamentação, e essa é
tarefa de governo.” (MÍDIA, R.M., 48, JORNALISTA)
Outros acrescentaram o argumento de que a ação tem que ser coletiva e “as ações individuais não se
sustentam”:
“A ação tem que ser coletiva.” (MÍDIA, H.B., 57, JORNALISTA)
“A ação individual é importante para a pessoa ter a consciência daquilo, mas,
individualmente, uma ação como essa não se sustenta. Vamos usar o exemplo do lixo, uma
coisa simples como reciclar lixo, que inclusive é economicamente possível. A gente separa
em casa, mas a ação é simbólica, não tem continuidade lá na ponta, o caminhão da
prefeitura ou de uma terceirizada mafiosa vai lá e mistura tudo. Então as ações dependem
de um engajamento conjunto: empresas, governo, país.” (MÍDIA, L.S., 34, JORNALISTA)
“Não acredito na ação individual. Qualquer coisa que você faça voluntariamente é pouco
e não vai ajudar a resolver o problema. Dito isso, acho que mudanças de estilo de vida
foram apontadas como necessárias pelo IPCC como uma coisa importante que, enfim,
podem dar uma contribuição.
Eu, por exemplo, parei de comer carne porque eu não sei de onde vem a carne que eu
como, você vai ao supermercado e você não sabe se a carne que você está comprando vem
de Goiás ou do Pará. (...) Eu acredito que as pessoas precisem mudar seu padrão de
consumo, mas eu tenho dúvidas sobre o peso da mudança individual na resolução do
problema.” (MÍDIA, C.A., 32, JORNALISTA)
Finalmente, temos dois argumentos: o primeiro é o de que o povo não é educado e não está ainda
suficientemente conscientizado. O outro argumento é o de que o indivíduo pode, é claro, fazer
diferença, mas é uma diferença pequena diante do desafio a ser enfrentado. Portanto, é melhor
apostar nas “formas de organização da sociedade”:
“Não acredito. O povo não está educado para isso.” (MÍDIA, J.L.D., 50, JORNALISTA)
“Eu acho que o indivíduo existe e o indivíduo faz diferença e o indivíduo faz história. Mas
esse indivíduo sozinho pode pouco. E eu acredito nas formas de organização da
sociedade.” (MÍDIA, JK.,58, JORNALISTA)
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
Atividades que mais contribuem para emissões são desmatamento e transportes
Numa questão que permitia respostas múltiplas, mas que pedia para classificar as respostas por
ordem de importância, o setor repetiu o argumento de que a atividade que mais contribui para as
emissões é o binômio desmatamento/queimadas, atividades empreendidas para cortar madeira, para
a agricultura (24 menções) ou para a pecuária (7 menções). Em segundo lugar veio o setor de
transporte, com 17 menções. A seguir foi citado, com seis menções, o setor petroleiro; depois, com
menos de cinco menções cada um, as siderúrgicas, as mineradoras e a indústria química.
Os vilões são primeiro os que contribuem para o desmatamento
“Primeiro, sem dúvida nenhuma são as atividades econômicas, se é que podemos chamar
assim, pois uma parte delas é claramente ilegal, é economia do crime, as que envolvem
93
diretamente o desmatamento. Além das mais óbvias, que são o corte de madeira e a
derrubada para colocar boi ou soja, temos a mineração, que também derruba grandes
áreas, o setor de energia...
Não só o desmatamento, mas a agressão direta ao meio ambiente. (...) Mas eu acho que
primeiro é uma atividade que acaba afetando diretamente a manutenção do que temos
estabelecido como flora e fauna, necessárias à manutenção de um ecossistema, e não falo
só da Amazônia: me preocupa também o Pantanal e o cerrado do qual ninguém fala.”
(MÍDIA, M.M., 56, JORNALISTA)
As madeireiras
“Da produção de madeira que vem da Amazônia, calcula-se que mais da metade é ilegal:
15 a 20%. E da madeira que sai da Amazônia e vem para São Paulo, o maior consumidor
de madeira tropical é São Paulo. Isso no caso brasileiro, porque o Brasil tem essa
especificidade. E o restante? Todo mundo que está comprando madeira não certificada
pode estar contribuindo para o desmatamento e para as emissões. Se eu fosse o governo,
elegeria como primeiro foco as madeireiras. Ali quase tudo é criminoso, fora da lei ou
feito com a leniência do Ibama.” (MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
A pecuária
“A pecuária em relação à Amazônia é altamente agressiva porque precisa derrubar mata
constantemente para aumentar as pastagens.” (MÍDIA, J.M., 46, JORNALISTA)
“A expansão da pecuária está ocorrendo em área de desmatamento, às custas do
desmatamento, então, hoje madeireira e pecuária são os setores que mais impactam.”
(MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
A agricultura
“A agricultura brasileira é feita de uma maneira muito hostil, prejudicial à necessidade
que temos de reduzir o aquecimento global, necessidade de reduzir as emissões de gases
de efeito estufa, porque mesmo quando você não está fazendo desmatamento, ainda assim
se usa muita queimada, muito trator e máquina agrícola a diesel e se revolve muito o solo
para plantar...
E quando se usa a técnica direta de plantio, essa mexida no solo já emite muito metano e
gases que estão presos na terra, e isso faz com que a agricultura brasileira seja uma
emissora muito forte.” (MÍDIA, S.A., 57, JORNALISTA)
“A própria agricultura de determinados tipos de cultivo pode ser muito nociva. A
monocultura tem essa tendência, destrói tudo no seu caminho, ela é, digamos assim,
invasiva. A monocultura, seja da soja, do eucalipto ou da cana, por natureza, que toma
todo o terreno, todo espaço, ela muda o ambiente, e tudo que está no entorno vai
desaparecendo.” (MÍDIA, J.M., 46, JORNALISTA)
Investir num transporte público de qualidade e menos poluente é sugestão já mencionada em outras
partes do relatório. As declarações selecionadas abaixo expõem o problema das grandes cidades
brasileiras:
“O transporte é um grande problema: necessário investir em transporte público de
qualidade. Hoje os preços dos automóveis estão muito acessíveis à população em geral e o
número de veículos está crescendo cada vez mais. Mas como dizer àqueles que estão
comprando carros para não o fazerem se não há alternativa para oferecer? O que é o
94
transporte público hoje em dia? As pessoas ficam 3 a 4 horas no trânsito. Isso não é
vida!” (MÍDIA, J.L.D., 50, JORNALISTA)
“Aqui em Belo Horizonte, hoje foi manchete de um jornal, que a gente está chegando no
limite da frota de veículos, e ninguém está falando de emissões, de gases poluentes e tal.
Eu não sei qual vai ser a saída. Porque a cada dia as pessoas estão tendo mais acesso a
esse tipo de meio de transporte, está sendo mais facilitado, não vejo a tendência
diminuir.” (MÍDIA, C.F., 27, JORNALISTA)
“São Paulo tem dez milhões de habitantes e cinco milhões e oitocentos mil carros e
entram em média 500 mil carros por dia na cidade jogando gás carbônico o dia inteiro na
atmosfera. (MÍDIA, L.A.N., 48, JORNALISTA)
“No Brasil hoje transportamos carga de grandes volumes e em grandes distâncias com o
caminhão e isso só poderia se feito em ferrovias ou navios. Os transportes de passageiros
no Brasil é um transporte muito pouco racionalizado, que emite uma quantidade bastante
alta. Na verdade, o Brasil emite por passageiro transportado e por tonelada de carga
transportada, entre três e quatro vezes mais que os Estados Unidos.” (MÍDIA, S.A., 57,
JORNALISTA)
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maioria considera ser possível compatibilizar desenvolvimento com redução de emissões
A maioria absoluta disse ser possível compatibilizar o desenvolvimento com a redução de emissões.
Nove entrevistados, quase um terço, alertaram que não sem “ressalvas”, “cuidados”, deixando claro
que não se trata de reeditar “o velho modelo”, que segundo eles tem em sua “natureza” a lógica do
curto prazo e a gratuidade e infinitude dos recursos naturais. Como veremos a seguir, não é a isso
que nossos entrevistados se referem.
Rejeição do modelo chinês
Nossos entrevistados insistiram que a compatibilização não se dará operando um modelo como
o chinês, em que a inclusão vem pelo consumo fácil de produtos baratos, mas com alto custo
ambiental:
“Ao investir em filtros, energias limpas, no reflorestamento, você está desenvolvendo
economicamente, só que uma economia nova, de baixo carbono, você está gerando
riqueza sim, você está criando empregos, você está fazendo circular a riqueza. É apenas
um redirecionamento do investimento e isso é fundamental que seja feito, mas a nível
mundial. Você não pode permitir que hoje a segunda economia do mundo, que é a China,
produza produtos baratos, mas às custas da poluição e da devastação ambiental.”
(MÍDIA, A.D., 63, JORNALISTA)
“Dá sim, claro que é uma outra escala, mas, por exemplo, outros países, Suécia,
Dinamarca são países que cresceram, são países que têm justiça social e uma certa
igualdade social e que têm consciência ecológica e um respeito pela natureza arraigado
na população. (...) São realidades diferentes, mas acho que com informação, com
educação e com um pouco mais de justiça social, acho que esse tipo de objetivo é
perfeitamente realizável.” (MÍDIA, L.S., 34, JORNALISTA)
95
Desenvolver e proteger o meio ambiente são agendas convergentes
Alguns entrevistados acreditam que as agendas são “coincidentes”: desenvolver não exclui a
possibilidade de ser mais socialmente justo e ecologicamente responsável. Pelo contrário, os dois
projetos são convergentes:
“Essas agendas são coincidentes. (...) Eu quero, do ponto de vista de melhorar o
desenvolvimento econômico, mais gente no mercado de consumo, ou seja, um projeto de
desenvolvimento mais inclusivo. Só que deve ser um consumo diferente. Um consumo mais
informado. Não tem como falar para as pessoas não consumirem energia, mas ela vai ter
que pagar mais caro, vai ter que ser energia solar, eólica, ou uma coisa mista... A
realidade da economia vai mudar, mas eu acho que dá para compatibilizar sim. (...)
Se o país investir em eólica, solar, biomassa e também hidrelétrica, ele terá quatro fontes
para oferecer. Todas elas são renováveis. (...) Não é uma matriz que possa preocupar
nosso futuro, ainda mais que a via dos biocombustíveis está crescendo como uma
alternativa viável. (...)
Se eu faço um desenvolvimento sustentável, ou seja, se eu estabeleço que não pode criar
boi na Amazônia ou as áreas de florestas, se eu consigo conter e impedir isso aí; se eu
conseguir estabelecer uma produção de carne, soja, açúcar, commodities, nós somos
muito bons nisso; se eu consigo fazer tudo isso respeitando o meio ambiente, eu não
enfrentarei barreiras verdes ao meu produto, o meu produto vai entrar melhor nos
mercados. Em tudo que eu olho eu vejo coincidência, eu não vejo conflito.” (MÍDIA, M.L.,
54, JORNALISTA)
Não desenvolver é imoral
Mesmo os que responderam com reticências crêem que “não se pode escolher o não
desenvolvimento”, opção considerada “imoral”:
“Eu acho que dá. Claro, tem que dar. Não é possível, não é? Tem que dar. Eu não sei
como, mas tem que dar. Não desenvolver, condenar o país a manter populações em
pobreza é imoral.” (MÍDIA, N.O., 61, JORNALISTA)
“Honestamente, acho bobagem qualquer proposta de que precisamos conter o
crescimento econômico; a gente precisa crescer economicamente, porque se a gente não
crescer, primeiro que eu acho que você não pode castigar as pessoas a viver na pobreza,
isso aí é idéia de quem é rico, não o pobre, que está a fim de não ficar pobre para conter o
aquecimento global.
E segundo que os danos são maiores, o dano de manter essas pessoas, elas vão cortar
árvores. Por serem pobres, vão usar até exaurir os recursos que elas têm da terra. A gente
não tem outra opção, não é se dá ou se não dá. Precisamos é, a partir do momento em que
a gente precisar, desenvolver essas políticas.” (MÍDIA,S.G.,30, JORNALISTA)
Desenvolver o Brasil não só é possível como “inevitável”
Mais do que possível, nossos entrevistados consideram que, para o bem do Brasil e do planeta, o
país precisa se desenvolver:
Possível não é um horizonte, vai ser inevitável. (...) Se a gente não fizer isso não vai ter
desenvolvimento nem mitigação de mudanças climáticas, os custos ambientais serão
altíssimos. A gente vai começar a ter impactos muito sérios. Não na nossa geração, mas
daqui a 50, 60 anos em diante, a gente vai ter impactos tão sérios, não vai ser possível
trabalhar sem isso. Então, vai ser uma coisa inevitável.” (MÍDIA, A.M., 39, JORNALISTA)
96
Brasil pode desenvolver economia “conservacionista”
Os mais otimistas afirmam que não só o país deverá desenvolver, como é um dos mais bem
“aparelhados” para desenvolver a nova economia conservacionista, de baixo carbono:
“Completamente possível, completamente; não vejo nenhum impedimento a não ser a
burrice, a falta de estratégia... Ao contrário, eu acho que o desenvolvimento econômico,
daqui para frente, tende a ser conservacionista, qualquer que seja o país, e nesse aspecto
o Brasil está bem porque tem abundância de recursos naturais. Os processos, de uma
maneira, indicam necessidade de eficiência energética, é consumir menos energia,
produzir uma geladeira que funciona com menos energia, entendeu? E assim por diante.
Carros que tenham menos emissão, causem menos danos à natureza.” (MÍDIA, G.V., 55,
JORNALISTA)
“Esse é o X e o Y da questão, é preciso crescer, mas crescer bem, crescer limpo, de uma
outra maneira, não é mais possível crescer como cresceram os países europeus, como
cresceu os Estados Unidos. (...) Agora precisa compatibilizar crescimento com defesa do
meio ambiente. (...) Não adianta vender madeira o tempo inteiro, depois não ter mais
madeira na Amazônia, é um crescimento que vai se esfarelar rapidamente. Precisa de
cálculo, crescimento auto-sustentável, essas coisas assim. Como é que faz é um pouco
mais complicado para a minha competência, mas eu acho que não pode ser fazendo PACs
[referência ao Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal].” (MÍDIA,
J.M., 46, JORNALISTA)
Os poucos entrevistados que se apresentaram como mais reticentes nas respostas apontam que
compatibilizar é, sim, possível; o problema é como:
“É um casamento complicado, eu acho que para levar a sério teríamos que crescer num
ritmo monitorado, e isso não está na pauta no momento, retardaria muito o
desenvolvimento porque para a gente reduzir as emissões, enfim, cuidar da preservação
do meio ambiente, custa muito dinheiro. Vai ter muito momento em que uma coisa vai
bater de frente com a outra, mas eu acho que é possível isso acontecer, só que o
desenvolvimento vai ter que reduzir a marcha.” (MÍDIA, A.L., 45, JORNALISTA)
Para terminar, um entrevistado, colunista da grande imprensa e que domina os três meios, rádio,
televisão e jornal, faz uma reflexão otimista, afirmando que o ser humano sempre soube responder
aos desafios de sua sobrevivência e que agora não será diferente. Nesse contexto os brasileiros farão
sua parte, e nossa curta história de 500 anos mostra que somos criativos, um povo que responde
bem aos desafios:
“Nós [seres humanos] vivemos em grandes aglomerados, estamos no topo da cadeia
alimentar, sabemos transformar pedra em televisão, areia em comida, óleo fóssil em
energia. Então nós demandaremos muitos recursos naturais sim. (...)
Agora temos tecnologia e o aquecimento global é um alerta para que tomemos consciência
de que o modelo se esgotou. O mundo pode parar de destruir as florestas. Se houver uma
postura de Estado coletiva, resolve isso em pouco tempo...
Usa força porque é preciso coibir os abusos, então o poder de polícia tem que funcionar.
E usar planejamento... Quantos brasileiros vivem da destruição, da derrubada? Qual é o
tamanho dessa economia? Vamos planejar sua substituição.
(...) O mundo tem que sair da equação econômica e ir para a ambiental; mas toda
equação ambiental é também subordinada a uma equação econômica. Por quê? Porque
todas as iniciativas de mitigação, substituição de tecnologias, custa dinheiro...
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Não acredito que alguém ache razoável acumular vários trilhões de dólares para
morremos sorridentemente por falta de oxigênio ou atolados na neve, ou na fúria de um
furacão. Isso não faz sentido...
O mesmo entrevistado conclui expressando uma idéia que foi exaustivamente apresentada nas
entrevistas:
O Brasil tem capital ambiental, tem forças progressistas, tem um ambientalismo forte, até
um pouco radical demais. Não tem um Al Gore, mas quem sabe nosso próximo presidente
seja um?
Sem brincadeiras, acho que temos todas as condições... Definitivamente não somos nem
bandidos nem coitadinhos.” (MÍDIA, R.B., 55, JORNALISTA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor define-se como generalista e praticamente nenhum profissional ouvido na pesquisa pode ser
considerado, a rigor, especialista no tema. Ainda assim, mostrou-se de um modo geral preocupado e
propenso ao otimismo, otimismo este baseado na crença fundamental de que a humanidade
encontrará uma saída e de que a ciência, em grande medida, fornecerá as bases tecnológicas
necessárias para tanto.
Como brasileiros e como jornalistas, os entrevistados desse setor se sentem motivados e declararam
estar dispostos a um maior engajamento.
Estão em fase, como eles mesmos dizem, de “aprender mais”. Procuram ler livros, pesquisar na
internet e, pela natureza de seu trabalho, ficam atentos ao noticiário internacional. Consideram que
o papel mais importante a ser desempenhado pelo setor é o de veicular informação de qualidade e
contribuir para a conscientização e para o processo de decisão tanto individual quanto coletivo.
Para eles, é o governo quem deve liderar o processo de engajamento da sociedade. Consideram
ainda que o tema das mudanças climáticas está ganhando um espaço cada vez maior na mídia,
tendência que acreditam deva perdurar e ganhar mais densidade nos próximos anos.
98
PERFIL DO SETOR
Como era de se esperar todos os entrevistados neste setor são profissionais dos meios de
comunicação. A amostra abrange diversas áreas do jornalismo áudio-visual e impresso: foram
entrevistados 9 jornalistas, 6 editores, 5 colunistas, 4 repórteres e 2 redatores-chefes, além de uma
supervisora de telejornais, um diretor, um âncora e um gerente de jornalismo, como se pode ver na
tabela abaixo:
Cargo
Cargo
Freq.
Jornalista
9
Editor
6
Colunista
5
Repórter
4
Redator-chefe
2
Supervisora de telejornais
1
Diretor
1
Âncora
1
Gerente de jornalismo
1
Total
30
A maioria dos entrevistados do setor mídia é do sexo masculino (22).
Sexo
M
F
Total
22
8
30
Quase dois terços dos entrevistados estão na faixa dos 40-59 anos. Os demais têm entre 30-39 anos
(5), 60-69 anos (4), e somente um em cada uma das faixas etárias restantes, 26-29 e 70-79 anos.
Idade
26-29
30-39
40-49
50-59
60-69
70-79
Total
5
10
9
4
1
30
1
Dois terços dos entrevistados são naturais de São Paulo. Os demais são de Minas Gerais (7), Rio de
Janeiro (5), Rio Grande do Sul (4), Bahia (1) e Santa Catarina (1). Dois entrevistados são
estrangeiros.
Naturalidade
SP
MG
RJ
RS
Ext.
BA
SC
Total
10
7
5
4
2
1
1
30
99
26 dos 30 entrevistados possuem curso superior completo e somente 3 são pós-graduados.
Escolaridade
Superior
Mestrado
Doutorado
26
1
2
Ensino médio
incompleto
1
TOTAL
30
100
PARLAMENTARES
RESUMO
As 30 entrevistas realizadas com representantes do poder legislativo brasileiro privilegiaram o
Congresso Nacional, ouvindo 20 deputados federais e quatro senadores. Também foram incluídos
na amostra seis deputados estaduais. Procurou-se não entrevistar somente integrantes da chamada
“frente parlamentar verde”, claramente simpática às questões ambientais. Nos Estados, buscou-se
entrevistar parlamentares envolvidos com comissões de mudanças climáticas ou energia, ou ainda
envolvidos com políticas de desenvolvimento rural.
O resumo a seguir organiza as principais opiniões expressas pelo setor.
“Como o governo não tem manifestado nenhum interesse em engajar-se mais a fundo nas questões
de mudanças climática, nós aqui sofremos muito os reflexos desta inapetência.”
A declaração acima, de autoria de um parlamentar que integra a Comissão Mista de Mudanças
Climáticas da Câmara dos Deputados, traduz o posicionamento dos entrevistados em relação à
atuação do parlamento nessa questão: sem o apoio do governo federal, há muito pouco o que fazer
em relação ao assunto. É da natureza do poder legislativo reagir a iniciativas seja do executivo, seja
da sociedade. Como o tema das mudanças climáticas não está “nem com o povo nem no coração do
governo”, o legislativo se ocupa de outras pautas.
Além de exercer um papel de “negociador dos interesse da população” e de ratificador de decisões
que já obtiveram consenso, os parlamentares acreditam que é difícil um tema tão novo e complexo
superar a morosidade própria dos procedimentos de análise e decisão que caracterizam a Câmara e
o Senado.
Para o setor, assim como a problemática ambiental, as mudanças climáticas têm uma relevância
“transversal”, ou seja, dizem respeito a uma série de atividades cujos problemas estão distribuídos
em outras comissões como as responsáveis por temas como energia, infra-estrutura, transportes
etc.
Apesar da reconhecida importância da problemática ambiental, os parlamentares admitem que são
poucos os parlamentares que estão dedicados a ela: “são uns três ou quatro”. Citaram de pronto o
deputado José Sarney Filho, o deputado Fernando Gabeira e a ex-ministra, agora de volta ao
Senado, Marina Silva.
Contudo, a grande maioria reconhece que a questão é estratégica para o Brasil e para o mundo. Os
parlamentares sabem que o poder legislativo deverá atuar na regulamentação brevemente e se
declaram altamente motivados a “aprender mais”.
Para os parlamentares ouvidos na pesquisa, o desafio mais importante no mundo hoje e nos
próximos 20 anos é conseguir ter eficácia nas políticas de combate à pobreza e à redução das
desigualdades sociais. Já no Brasil, o maior desafio se traduz no termo sustentabilidade, uma
combinação de políticas sociais e ambientais bem equilibradas.
Para eles, as responsabilidades do Brasil em relação às mudanças climáticas são preservar a
Amazônia e assumir a condição de país líder na geração de energia limpa. Com relação à Amazônia
são simpáticos ao estabelecimento de metas de redução de desmatamento e ao endurecimento na
fiscalização. Para eles, madeireiras ilegais e outras formas de predação do território amazônico têm
que ser combatidas, ainda que seja necessário envolver as forças de segurança nacional.
101
O setor entende que as emissões brasileiras têm três principais fontes: o desmatamento e as
queimadas provocados pela expansão da atividade agropecuária, as emissões veiculares
provenientes de um sistema de transportes ineficiente e a queima de combustíveis fósseis,
amplamente utilizados na atividade industrial de um modo geral.
As principais barreiras para enfrentar o desafio de reduzir as emissões são de ordem econômica e
ideológica. Não é um problema exclusivamente brasileiro, mas mundial, e “ninguém tem a receita”.
Para os parlamentares, os países da Europa, que estão mais avançados em programas de redução,
gastaram milhões em tecnologias de conversão. O Brasil não tem esse dinheiro, e mesmo os
Estados Unidos, que são a maior potência do mundo, não aceitam sacrifícios. A Amazônia é uma
questão urgente. Manter a matriz energética limpa é um interesse do Brasil, mas o resto se fará em
um ritmo que não comprometa o desenvolvimento, alerta o setor.
Ao governo federal, como vimos, é atribuída a principal responsabilidade de tomar a dianteira na
formulação de políticas direcionadas às mudanças climáticas. Os outros atores da sociedade
também são importantes, mas vêm em segundo plano, como suporte às ações governamentais.
Chamam atenção para o fato de que o país é uma federação, sendo necessário engajar os Estados e
municípios.
As principais propostas do setor parlamentar giraram em torno da educação e do desenvolvimento
tecnológico voltado para as mudanças climáticas como formas de criar uma base de sustentação
para enfrentar os problemas decorrentes das mudanças climáticas. Propostas como o incremento da
fiscalização, a criação de fundos especiais, a criação de uma política nacional, a inspeção veicular e
a criação de lei específica que obrigue os agentes econômicos a inventariar suas emissões foram
citadas.
Os entrevistados não demonstraram conhecer programas nacionais que visam implementar ações de
adaptação ou mitigação. Citaram genericamente os programas de crédito de carbono, que estariam
sendo desenvolvidos por empresas. Mas muitos admitiram ter feito viagens para conhecer
programas internacionais e mencionaram ações exemplares em curso em países europeus,
principalmente.
A proposta brasileira de desmatamento evitado é pouco conhecida e, quando mencionada, admite-se
a necessidade de uma revisão para que ela de fato funcione. A Conferência de Bali e os demais
foros internacionais foram criticadas como ineficientes, mas uma minoria demonstrou possuir um
conhecimento mais aprofundado.
O indivíduo, para os entrevistados deste setor, tem um papel importante a cumprir: é através de
atitudes no plano individual que se atinge o plano coletivo. Foram citadas pelos parlamentares,
como ações relevantes por parte dos indivíduos a redução do padrão de consumo, a diminuição do
uso de recursos não renováveis, a conservação de energia, a redução do uso de produtos de pequena
vida útil, a reciclagem e o uso de transporte coletivo. No entanto, enfatizam, a ação individual só
tem um real efeito quando se multiplica e se espalha pela sociedade.
O parlamento está atento, mas admite que o tema das mudanças climáticas ainda não entrou pela
porta da frente, nem está presente nas comissões mais importantes.
102
ANÁLISE DETALHADA
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
A década de 90 como um marco histórico
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da década
de 1980
Na década de
1980
Na década de
1990
De 2000 para cá
Não respondeu
TOTAL
2
1
16
2
9
30
A amostra deste setor comprova que o assunto das mudanças climáticas é recente na pauta dos
entrevistados. A década de 1990 foi a mais citada (16 vezes) por ter sido um marco na divulgação
da problemática das mudanças climáticas, principalmente devido à Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), sediada no Rio de Janeiro, e ao Protocolo de
Kyoto, assinado em 1997. Apenas 3 entrevistados disseram ter ouvido falar nesse assunto antes dos
anos 90; outros 2, somente desde 2000 para cá.
“Há vários anos. A questão do meio ambiente, porque fui professor universitário e essa
discussão da questão ecológica, das mudanças climáticas, da ameaça do planeta que está
ocorrendo. Eu conheço esse assunto pelo menos do final dos anos setenta, inicio dos anos
oitenta.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
“Eu, já como parlamentar, principalmente na ECO em 92 no Rio de Janeiro, estive lá
representando o Congresso, foi onde eu tive a oportunidade de ouvir mais a palavra dos
cientistas. Ouvi palestras e tal, foi o momento de maior debate que eu tive oportunidade de
participar.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, W.F., 50, MÉDICO VETERINÁRIO)
“Eu comecei a ter acesso às informações, por leitura de revistas como a Carta Capital e
uma edição da revista Caros Amigos de 2005 (...), e essa edição representou, para mim,
como um chamamento. Eu já tinha lido alguma coisa a respeito, mas não tinha, como se
diz, ainda caído a ficha. Para mim era ainda algo teórico. (...)
A coisa chegou, não é algo muito distante, e temos que enfrentar já. Eu não tinha ainda
esta percepção, e depois isso foi reforçado mais recentemente com a publicação de todos
os trabalhos da ONU, com o filme do Al Gore e todo esse trabalho aí, um conjunto de
coisas que a gente está acompanhando.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 58,
ADVOGADO).
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Parlamentares estão em estágio inicial de conhecimento sobre o tema
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante
abrangente
Bom, mas
incompleto
Está explorando e
aprendendo mais
Conhece pouco
Não respondeu
1
9
18
1
1
TOTAL
30
103
Esse setor é composto principalmente por pessoas que ainda estão em um estágio inicial de
conhecimento sobre as mudanças climáticas: quase dois terços dos entrevistados (18) declarou estar
explorando e aprendendo mais. Os parlamentares que afirmaram ter um conhecimento bom, mas
incompleto, estão cônscios de que em geral esse conhecimento é principalmente sobre os aspectos
políticos da questão, e não um conhecimento técnico ou científico aprofundado.
“Estou explorando e aprendendo mais como lição de casa todo dia.” (PARLAMENTAR,
ENERGIA, J.C.A., 60, ENGENHEIRO)
“Estou
aprendendo,
é
um
aprendizado
permanente.”
(CONGRESSO,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.C., 54, SOCIOLOGO)
“Acho que do ponto de vista de minha atuação política no cenário em que eu atuo, ele é
bom, mas incompleto. Eu não sou cientista, sou político, leio, procuro ler, mas
evidentemente é incompleto. (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 49,
ADVOGADO)
O único entrevistado que considera seu conhecimento abrangente reconhece a necessidade de
aprender mais sobre os vários temas relacionados às mudanças climáticas.
“Eu acho primeiro, ele é abrangente, mas ele é pouco, e eu estou aprendendo mais. Ou
seja, ele não é restrito, mas é que eu não sou um especialista de uma emissão de gás, por
exemplo... Eu tenho estudado muito o impacto sobre as águas, os rios, a necessidade de
você recuperá-los, não contaminar os lençóis freáticos, aproveitar melhor tudo isso e tal...
Tenho estudado muito a parte das chuvas, que é quem garante, na verdade, a produção e
essa coisa toda da produtividade, do alimento; está tudo muito diretamente ligado.Tenho
visto a importância que têm tanto o Pólo Antártico quanto, na verdade, a floresta
amazônica, para a estabilidade dos regimes e dos períodos de chuva, da formação de
chuvas, no nosso país...
Tenho estudado, através dos transgênicos, que impacto a gente pode ter ou não também na
saúde, no meio ambiente. Eu me considero uma pessoa que conhece um pouco de muita
coisa, mas eu acho que é preciso continuar estudando cada vez mais...” (CONGRESSO,
ENERGIA, J.S., 51, ENGENHEIRO)
3. GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Alto nível de interesse e preocupação
Como se sente em relação ao tema:
Altamente motivado
Motivado, mas tem outros
assuntos mais importantes
Apenas interessado
TOTAL
18
11
1
30
O interesse dos parlamentares sobre o assunto é bastante elevado: metade dos entrevistados disse
ser altamente motivada pelo tema, como mostra o quadro acima.
“Eu me interesso muito pelo assunto. Eu procuro me atualizar constantemente...”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, J.A.T., 43, HISTORIADOR,)
104
“Altamente motivado. Exatamente a preocupação com as gerações futuras. Eu acho que
exercendo um cargo público eu tenho que ter necessariamente uma preocupação muito
grande com o mundo que nós vamos deixar depois que sairmos da vida pública, se nós
conseguirmos avançar de alguma forma e dermos mais qualidade de vida para as pessoas
que vão ficar. Então eu me sinto muito motivado com isso.”(PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, N.M., 43, MÉDICO)
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Os maiores desafios da humanidade são relacionados à desigualdade social
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Questões sociais Mudanças climáticas Questões ambientais Desenvolvimento
Outros
Sustentável
10
6
6
5
3
TOTAL
30
Para um terço dos entrevistados, os maiores desafios da humanidade provêm das questões sociais:
desigualdade, distribuição de renda, e inclusão.
“[O desafio da humanidade] vai ser como garantir o desenvolvimento, como garantir a
repartição desse desenvolvimento para todos, povos e pessoas, países e pessoas, sem o
menor impacto social possível... sem destruir o meio ambiente, como compatibilizar a
necessidade de recursos naturais, a necessidade de água, as necessidades energéticas com
os desafios do crescimento, do crescimento populacional, do desenvolvimento econômico e
da repartição desses benefícios para o conjunto da população.” (PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO, R.R., 49, HISTORIADOR)
“Como conciliar os dois interesses: o econômico [e o] das populações. Como sobreviver e
aumentar a renda, obviamente tendo paradigmas que não sejam aqueles do desperdício,
da quantidade de consumo de massa, senão vamos ficar na miséria, que também é um
grande componente destruidor: os lixos, os resíduos sólidos das cidades, da derrubada da
floresta para plantar cultura de subsistência, falta de conhecimento.
[A falta de] acesso ao conhecimento, acesso às tecnologias, apreensíveis por parte dos
povos que vivem na Amazônia, acaba levando também à destruição, não intencional, mas
à destruição pela sobrevivência, então o combate à miséria é necessário que se faça, a
renda tem que aumentar para que a conseqüência seja essa elevação de vida. Então esse é
o desafio: como considerar isso tudo.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.V., 51,
ENGENHEIRO)
“Eu acho que a humanidade enfrenta o tema da igualdade de oportunidades. As
desigualdades sociais são muito importantes e eu acho que o tema da inclusão social é um
tema importante no contexto global.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, P.T., 61,
ADVOGADO)
Apenas 6 entrevistados mencionaram diretamente as mudanças climáticas como desafio principal.
Outros poucos citaram a questão das águas e da escassez de recursos naturais. Algumas dessas
observações estão selecionadas abaixo:
105
“São dois [os desafios que a humanidade vai enfrentar]: resolver o problema do
aquecimento global e o problema da escassez.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO,
A.C.M.T., 61, ENGENHEIRO)
“Eu acho que já está enfrentando: o aquecimento global, a elevação do nível dos oceanos,
as geleiras se desprendendo, enfim... Lá vem secando, a Amazônia, você vê... Eu acho que
é o clima, realmente.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, M.M., JORNALISTA)
“O primeiro é não deixar que o planeta aqueça.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, C.B., 54, ENGENHEIRO MECÂNICO)
“As informações não são semelhantes, nem a do Al Gore, nem a do Besserman, parece que
o grande desafio que vem por aí vai ser a água. A água vai ser um liquido literalmente
precioso, é a impressão que eu tenho haja vista que as alterações meteorológicas que você
já consegue registrar, inclusive no seu dia-a-dia. (...)
Por alguma razão os lençóis freáticos não estão respondendo a esse rodízio das estações
que no Brasil não são tão significativas. Mas a gente vê isso aqui no Sudeste de maneira
clara. No ano passado nós tivemos um inverno – vou falar especificamente de Petrópolis –
cinco meses sem cair uma única gota, nem sereno caiu, nada.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.N., 59, ADVOGADO)
Uma entrevistada aponta ainda a interconexão entre as mudanças climáticas e outros temas
ambientais e sociais:
“Eu entendo que essa questão ambiental vai ter como uma teia, o centro é a questão
ambiental, e dessa teia vão sair várias problemáticas: a questão climática, a questão das
águas, a questão da alimentação... Eu acho que uma coisa vai gerando a outra.”
(PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.G., 32, ECONOMISTA)
Apesar de as mudanças climáticas serem amplamente reconhecidas como um desafio, um
entrevistado observa que elas não são percebidas da mesma forma pela maioria da população
mundial, que não dá ao assunto a devida importância:
“O pessoal só começou a acordar quando começou a morrer pessoas, aí entraram em
pânico. O que acontece é que a mudança ambiental é tão distante para a maioria
esmagadora das pessoas que esse assunto de tempo é temporal, a Antártida está
degelando e depois do ano 2073, ele vê isso de maneira tão distante, é igual às manchas
solares, comentaram sobre as manchas solares, mas é tão distante, não só sob o ponto de
vista de distância propriamente dita, mas de tempo.
Então são coisas que não pertencem ao cotidiano dele, então acham “ah quando
acontecer isso, eu já morri”, já cansei de ouvir essa frase. Então o que acontece é que não
existe nenhuma preocupação imediata da maioria esmagadora, e nós estamos falando de
seis bilhões de pessoas hoje no mundo.
Talvez um milhão, dois milhões, talvez cinco milhões de pessoas estejam verdadeiramente
preocupadas em reciclar lixo, proteção ao meio ambiente e olhe lá, não acredito que haja
mais do que isso.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.N.,
59, ADVOGADO)
106
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Para o Brasil, o desafio é a sustentabilidade
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Questões
DesenvolviQuestões
Crescimento
Mudanças
sociais
mento
ambientais
climáticas
Sustentável
10
7
3
3
2
Outros
TOTAL
5
30
Para os entrevistados deste setor, no Brasil o grande desafio seria combinar a diminuição das
desigualdades sociais com a preservação do meio ambiente, o que se traduz em sustentabilidade,
conforme indicam as falas abaixo:
“Sustentabilidade. Acho que é essa palavra. Equilíbrio social e sustentabilidade. No Brasil
principalmente, porque tem uma responsabilidade no equilíbrio ambiental por conta da
Amazônia e por conta da água doce, de uma série de pontos é que fazem do Brasil um país
que vai ter que crescer numa realidade diferente da dos outros países que cresceram.
A nós, não é dada a mesma oportunidade de crescer como crescer as outras potências, nós
só temos condições de crescer com sustentabilidade, por isso que a gente tem que
mensurar certo valor a questão da preservação para equilibrar a necessidade da nossa de
renda e de estrutura e, ao mesmo tempo, oferecer ao mundo equilíbrio ambiental e dar
nossa contribuição.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“O principal desafio nos próximos 20 anos do Brasil está relacionado à continuidade do
seu crescimento com sustentabilidade, manutenção da democracia e inclusão social dos
milhões que permanecem excluídos da geração e do consumo de riquezas. São velhos
problemas que continuam a nos desafiar.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.J., 56,
CONSULTOR)
“Em primeiro lugar a sustentabilidade do crescimento e em segundo lugar a inclusão
social. Portanto esses dois estão vinculados a um modelo de desenvolvimento, e esse é o
primeiro tema: modelo de desenvolvimento. O segundo tema, também a questão ambiental,
a preservação da Amazônia, liberdade sobre fontes renováveis de energia,
sustentabilidade das cidades, acho que esses dois temas: modelo de desenvolvimento e a
questão ambiental.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, P.T., 61, ADVOGADO)
E as questões sociais, notadamente a desigualdade social, são as mais importantes para o Brasil:
“Diminuir ainda mais fortemente a questão da desigualdade social. Esse poço entre os
mais ricos e os mais pobres no Brasil é um desafio que precisamos resolver muito
aceleradamente para o bem dos mais ricos e para o bem dos mais pobres.”
(PARLAMENTAR, ENERGIA, J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
“Eu acho que o grande desafio do Brasil é você diminuir as desigualdades sociais. Porque
até em termos de opções de alimento para o Brasil nós não temos tantos problemas. Nós
temos um país que tem um potencial de produção de alimentos enorme, temos também na
questão ambiental uma biodiversidade enorme, eu acho que [o que] vai poder degradar
mais o meio ambiente no Brasil não são os brasileiros, é a própria questão do
aquecimento global, a emissão de carbono lá fora, que certamente interferirá
internamente aqui na nossa biodiversidade. Então, nós temos aqui o desafio mais social da
107
gente, poder diminuir as desigualdades sociais do nosso país.” (PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO, H.P., 52, ECONOMISTA)
O maior desafio ambiental são as mudanças climáticas
Maior desafio ambiental
Mudanças
Questões ambientais Desenvolvimento
climáticas
sustentável
10
7
7
Crescimento
Outros
TOTAL
1
5
30
Um terço dos entrevistados deste setor afirmou que as mudanças climáticas são o maior desafio
ambiental a se enfrentar nas próximas décadas; como desafios ambientais no Brasil, sobressaíramse também a preservação da Amazônia e o desenvolvimento sustentável.
“O Brasil teria que assumir o seu papel e aí eu colocaria nos próximos vinte anos como
exemplo de redução de dióxido de carbono, estabelecendo como país em
desenvolvimento.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, S.J.G., 65, FÍSICO)
“Reduzir drasticamente os níveis de emissões.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47,
ENGENHEIRO FLORESTAL)
“Hoje a questão do aquecimento global já não é mais uma falácia dos ambientalistas.
Hoje é uma comprovação científica e acredito que o mundo tem que voltar exatamente
para buscar um desenvolvimento sustentável, para propiciar que as futuras gerações
tenham condições de sobrevivência no planeta.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, W.F.,
50, MÉDICO VETERINÁRIO)
Amazônia
“No Brasil é mapear a Amazônia e usá-la sem destruí-la, esse é o grande desafio.”
(PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO,
C.B.,
54,
ENGENHEIRO MECÂNICO)
“No caso especifico do Brasil, neste caso será a floresta Amazônica, isto está claro, até
porque a questão do desmatamento passou a ser um problema grave. O Brasil é o
primeiro país em desmatamento, com a Indonésia em segundo.” (PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO, R.M., 37, ECONOMISTA)
Desenvolvimento sustentável
“Certamente é o que está colocado, de que forma nós vamos, no entender de que cada um
tem que colaborar para que o mundo possa se desenvolver de uma forma sustentável,
principalmente no caso das grandes cidades, ter condições de fazer essa integração de
desenvolvimento e a preservação.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.M., 37,
ECONOMISTA).
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Nenhum entrevistado do setor discorda sobre o grande impacto das mudanças climáticas
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concorda fortemente
Concorda
TOTAL
12
18
30
108
Todos os entrevistados deste setor afirmaram concordar com a possibilidade de as mudanças
climáticas causarem danos graves às sociedades. 12 entrevistados concordaram fortemente com essa
afirmação; 18 apenas concordaram.
Algumas falas abaixo ilustram esse posicionamento:
“Concordo fortemente, não tenho nenhuma dúvida sobre o ponto de vista de que está
havendo mudanças climáticas e que elas são impactantes, que são onerosas para todos,
sobretudo para os mais pobres, porque as sociedades mais desenvolvidas conseguem ter
cidades abaixo do nível do mar.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, J.C.A., 60,
ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Concordo perfeitamente, eu acho que as mudanças climáticas têm provocado essas
catástrofes. E isso é muito claro, a cada ano, a cada década, as catástrofes são mais
constantes. Se você desmata, você aumenta a temperatura, desequilibra o meio ambiente,
você aumenta as enchentes, temporais e de repente falta água. (...) Então eu acho que isso
está comprovado, é uma coisa que você vê a olho nu, não precisa ser cientista. Mas o
cientista também tem todos os dados, créditos mostrados aí para a população.”
(PARLAMENTAR, ECONOMIA, W.F., 50, MÉDICO VETERINÁRIO)
“Concordo [que as mudanças climáticas poderão causar impactos às sociedades], do ponto
de vista de que as mudanças climáticas são um custo intergeracional. Nós não temos
exatamente uma responsabilidade direta pelo que aconteceu, porque isso é resultado de
outras gerações, de foco no desenvolvimento no mundo inteiro.
Nós não vamos exatamente viver benefícios da reversão do quadro, porque nós não vamos
estar aqui quando isso acontecer, mas nós somos responsáveis pelas próximas gerações.
Então, é uma geração que precisa se convencer e abrir mão disso, que dizer, a gente não
vai conseguir resolver o problema para gente,
(...) Estamos pagando um preço de gerações atrás, de outras gerações, e vamos tentar
consertar a vida das gerações adiante, então, é um dilema dessa geração que precisa ser a
encarado do ponto de vista de quem a gente quer, de que mundo a gente quer deixar para
frente.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
7.IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
Morosidade e superficialidade
Importância do tema em seu setor de atuação:
Muito importante
Importante
Pouco importante
TOTAL
17
11
2
30
Apesar da reconhecida importância e urgência de se tratar das mudanças climáticas, a grande
maioria dos entrevistados afirmou que o assunto não vem sendo tratado propriamente na esfera
109
legislativa. Três entrevistados foram enfáticos em afirmar que a atuação parlamentar nesse sentido é
quase nula:
“Muito pouca a atuação no parlamento, na verdade os projetos aqui andam muito
devagar, como em grande parte dos países do mundo. O parlamento só anda quando há
uma forte pressão da situação do próprio majoritário, como o governo, que não tem
nenhum interesse em se aprofundar nas questões de mudanças climática, questões
ambientais. Nós aqui sofremos muito os reflexos desta inapetência administrativa
governamental do poder executivo federal.
É um tema em que a importância foi dada do ponto de vista da retórica, mas na verdade
os projetos aqui andam muito lentamente. (...) Fez um seminário, promoveu uma viagem
de quatro deputados até a Inglaterra e só isso. Amanhã nós vamos fazer um debate sobre a
devastação da Amazônia, amanhã vai ser interessante.” (PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO, A.C.M.T., 61, ENGENHEIRO)
“Eu diria que essa preocupação é muito espasmódica em função da relevância que a
mídia dá, quando o assunto sai da mídia a tendência é que os deputados acabem se
preocupando mais com assuntos mais dos seus dia-a-dias, ligados às suas bases mais
diretamente.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.R., 49, HISTORIADOR)
“Eu acho que ainda tem pouca importância, o ser humano de um modo geral quer cuidar
da sua sobrevivência imediata sem se preocupar muito com as futuras gerações. É de
pouca importância dado a importância que é o caso.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA,
W.F., 50, MÉDICO VETERINÁRIO).
Outros disseram que este tema está sendo discutido de forma superficial, nunca como prioridade.
Apontam dificuldades no processo de tomada de decisão, tendo em vista o assunto ser ainda
controverso e repleto de incertezas.
“Como em todo lugar do mundo, está tentando compreender o que é possível fazer, o que
está à disposição do homem para fazer enquanto regulador, legislador, que tipo de
ambiente a gente precisa criar para fazer das medidas mitigatórias, uma realidade.”
(PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“Está sendo tratado, está na pauta, é um tema até agora de muito mais preocupação do
que de ação, não só no parlamento, mas também nos governos, não é um tema de governo
central, só de governo de união, mas de todos os governos, as pessoas, mas é um tema em
que uns resultados são resultados a médio e longo prazo, as pessoas debatem muito, mas
agem pouco, tem grande preocupação, mas tem pouca ação, e a gente observa isso não só
no Brasil, mas nas próprias Conferências da Partes que tratam do tema. Os países estão
muito preocupados, mas, na hora de chegar e atingir de fato as metas, há uma grande
dificuldade de conseguir um consenso em torno disso, porque muita gente quer discursar,
mas pouca gente quer agir com relação ao tema.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C.,
47, ENGENHEIRO FLORESTAL)
“O Congresso Nacional é muito dividido, e eu acho que o Congresso Nacional sozinho
também não vai se sensibilizar com diferentes problemas comerciais internacionais que
existem.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, J.S., 51, ENGENHEIRO ELÉTRICO).
110
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
A grande maioria dos entrevistados declarou que o estabelecimento de metas de redução, embora
não afete o setor legislativo, vai implicar em muita discussão no parlamento, pois muitos setores da
sociedade tenderão a discordar ou desejar exercer influência:
“Olha, a questão não é afetar, é discutir, não é?” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO,
M.T.M.S., 49, JORNALISTA)
“É uma variável importante na definição das políticas, acredito que vá gerar muita
discussão.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, J.E.V.R., 58, ARQUITETO)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Interesses econômicos e conservadorismo dificultam o enfrentamento
As barreiras para enfrentar as mudanças climáticas segundo os entrevistados giram em torno dos
interesses econômicos e do conservadorismo em relação aos modos de produção que ignoram as
questões climáticas. Também foram mencionadas a falta de educação ambiental, a incompetência
do poder público e a desinformação sobre o assunto.
A barreira econômica
O modelo econômico atual, na opinião de alguns entrevistados, parece não colaborar com os
esforços para enfrentar as mudanças climáticas. Seja pela diminuição do lucro, seja pela perda de
competitividade, o valor econômico pesa muito na hora de se adequar ao padrão de baixas
emissões.
“As forças do
ENGENHEIRO)
mercado.”
(PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO,
A.C.M.T.,
61,
“Barreiras desde o uso de determinadas restrições, que têm mais caráter econômico do
que ecológico, desde imposição de restrições que não levem em conta a compensação para
o serviço ambiental que o país presta, então você tem uma série de armadilhas aí.
Quando, por exemplo, você discute no exterior a questão do etanol, as informações são
totalmente equivocadas sobre a possibilidade de o Brasil produzir etanol na Amazônia, e
isso quem conhece sabe — não é possível a curto prazo.
Mas isso pode servir de desculpa para evitar uma série de investimentos de possibilidades
para o país crescer um pouco mais do que está crescendo. Então, o Brasil tem uma guerra
diplomática e precisa ter uma atitude independente, altiva, em relação a esses
questionamentos, porque tem um viés econômico também por trás de toda a medida mal
calculada.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“É sempre econômico, o lucro, ele tem a prevalência, a economia tem a prevalência sobre
o meio ambiente, sempre foi assim e continua sendo assim.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.N., 59, ADVOGADO)
A barreira ideológica
Outro entrave à ação em relação às mudanças climáticas é de ordem ideológica. A mudança de
paradigma para um modelo mais limpo esbarra com a resistência, o preconceito e a desinformação
de alguns atores à frente do processo de tomada de decisão.
111
“Informação é o maior obstáculo, informação, conseqüentemente a desinformação, a falta
de informação e a desinformação. As pessoas aceitam que a ministra da Casa Civil desafie
e até, de certa forma, desqualifique as pessoas que estão defendendo a questão ambiental,
porque ela é a grande defensora da produção de eletricidade a qualquer custo. No Brasil
esse é um problema, no mundo inteiro.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, J.C.A., 60,
ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Pré-concepção de idéias, que resista a qualquer tipo de cooperação, ter
fundamentalismo ambiental, fundamentalismo econômico, são barreiras em que pedem
uma discussão racional.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.V., 51, ENGENHEIRO)
“Então, nós temos estes três fatores: a falta de educação ambiental, excesso de ganância
dos empresários e uma estrutura econômica e política que foi criada e que é forte, ela
existe em função de outros paradigmas, mas agora ela precisa ser transformada.”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
“Eu acho que a limitação número um, vou voltar a dizer, é a vontade política de [fazer]
acontecer. Falo vontade política, mas falo vontade do político; político [somos] todos nós,
como cidadãos. Vontade de tomar uma atitude. É muito fácil reclamar, mas eu acho que o
ponto número um é vontade.
Segundo, conhecimento. Para ter vontade, tem que saber, se vai brigar, por que razão?
Tem que ter argumento, né? Então, falta conhecimento também da população, de uma
forma geral, para saber de que forma ela vai brigar, e por que é que ela vai brigar, e por
quem ela vai brigar.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, P.B., 43, JORNALISTA)
O sentimento de não urgência
Além da desinformação e dos posicionamentos ideológicos que constituem obstáculos à ação, há
também aqueles que pensam que o problema das mudanças climáticas não é tão urgente assim. A
falta de perspectiva em relação aos problemas concretos não favorece uma postura mais engajada,
pró-ativa.
“Em primeiro lugar, um sentimento de não-urgência. As pessoas, cotidianamente, acham
que isso é algo que – pelo menos no Brasil, né? – vai acontecer muito para lá, adiante;
isso não entra na ordem das preocupações cotidianas. Em segundo lugar, as pessoas
acham – no Brasil, a que eu estou me referindo sempre – não há consciência que o
fenômeno vai nos alcançar, e que ele nos vai alcançar de uma maneira grave; isso é uma
coisa bastante distante. E o reflexo disso [é que] o próprio governo tem outros temas mais
urgentes; não é algo que convoque o governo como um todo para o enfrentamento disso.
Na verdade, tem uma postura de empurrar com a barriga a solução desses problemas.”
(PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.J., 56, CONSULTOR)
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
Propostas do setor
Foram identificadas, nas 30 entrevistas, cerca de 10 propostas de ação genéricas em relação às
mudanças climáticas que incluem conscientização ambiental, programas de cooperação
internacional e linhas de financiamento
“A mudança comportamental (...) enxerga as interdependências, e eu começo a fazer
pressão junto às empresas, que passam a ser empresas sustentáveis, mais a somatórias das
112
ações das empresas. Ela é insuficiente para resolver essa encrenca brutal em que nos
metemos das mudanças climáticas.
[Mas] eu preciso da ação do governo, eu preciso de pressão do governo atuando nas três
linhas que existe até hoje tomando o controle, leis de incentivos e medidas híbridas que
inventarão. Eu preciso ter medidas compulsórias de caráter internacional, seguidas por
todos os países de uma forma obrigatória, se eu não conseguir mudar esta situação ficar
no âmbito da voluntariedade. Eu duvido que a solidariedade planetária seja suficiente
para resolver o problema.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, A.C.M.T., 61,
ENGENHEIRO)
“Hoje você tem linhas de financiamento, você tem programas de cooperação
internacional, você tem organizações não-governamentais com apoio de outros países
desenvolvendo projetos de fonte renováveis de energia, você precisa organizar isso e se
direcionar melhor numa outra proporção.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41,
EMPRESÁRIO)
“Na questão da Amazônia, acho que tem que ter um pacto internacional, nós temos que
encontrar uma forma de melhorar a qualidade de vida, dar qualidade de vida, sobretudo
aos habitantes da floresta, às pessoas que moram na região para que se possa preservar a
floresta. (...) Nós temos que buscar um pacto internacional que traga qualidade de vida
sustentável para os habitantes da floresta, sobretudo para o país.” (PARLAMENTAR,
ENERGIA, J.C.A., 60, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
Outras oito propostas mais específicas encontram-se listadas abaixo:
Atribuir valores à floresta em pé
“Por que a pessoa derruba floresta para substituir aquela floresta por uma pastagem ou
uma agricultura? Porque ele economicamente acredita que da agricultura ou pastagem
ele consegue aferir alguma coisa a mais do que da floresta. Então, você veja bem, ele
deveria atribuir valores, valor à floresta, o valor ao cerrado, pagar por serviços
ambientais, aí a pessoa não se sentiria estimulado a substituir as árvores por pastagens ou
por agricultura. É uma coisa simples que eu falo. Tem muito discurso com pouca ação
prática.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, H.P., 52, ECONOMISTA)
Política nacional de criação de fundações municipais de meio ambiente
“Incentivo de uma política nacional de criação, em cada município, de uma fundação
municipal de meio ambiente.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, S.J.G., 65, FÍSICO)
Implementar inspeção veicular
“Considerando os principais emissores, você teria que, por exemplo, no âmbito das
cidades, aplicar a inspeção veicular de forma rotineira e periódica pelas prefeituras, de
formas progressivamente mais rígidas, as leis que dizem respeito à emissão de gases.”
(PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.J., 56, CONSULTOR)
Criação de um fundo de compensação
“Você teria que criar um fundo a exemplo do que no passado foi pensado como GEF —
Global Environmental Facility, que resultou da Eco-92, e que nunca foi realizado. (...)
Você tem que criar um fundo de compensação para a prática da utilização do desmate da
madeira de forma sustentável, de acordo com o plano de manejo, aquilo que você não tem;
enfim, você tinha que ter uma alternativa, está certo, a essa maneira em que a população
113
ribeirinha e outras populações, ela termina, até por questão de pobreza, entrando nesse
ciclo.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.J., 56, CONSULTOR)
Isenção fiscal
“As pessoas têm que sentir isso no bolso, então de repente se você desse algum tipo de
isenção, algum tipo de incentivo a essas pessoas, ou de alguma forma recolhessem bônus
que viessem a se transformar em alguma coisa, acho que isso seria um grande incentivo,
um grande passo, já que pela conscientização que também é válida, a educação e a
conscientização eu acho que na verdade é o maior resultado; quando você toma
consciência da situação você vai querer pagar para contribuir.
Você não vai ter que ser incentivado a isso, você vai querer pagar para contribuir. Mas
até que se chegue a esse estágio, já que a gente precisa acelerar, já que parece que as
coisas estão andando mais rápido do que o imaginado, eu acho que um tipo de incentivos
como isenções fiscais.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.G., 32, ECONOMISTA)
Lei de crimes ambientais
“Eu acho que uma coisa é muito importante aqui, e eu até fui relatora de um projeto de
lei, logo na minha chegada aqui: são os crimes ambientais. Tem que constar do Código
Penal; é prisão com reclusão. Eu defendi e consegui aprovar meu relatório, sabe?(...) Aí,
quando eu coloquei a pena mínima de seis anos de reclusão, o cara pulou: “Está maluca?
Se homicídio que é homicídio, a pena mínima é de seis anos, como é que você quer
começar um crime ambiental com seis anos?” Eu falei assim: “Mas o crime ambiental;
homicídio mata uma pessoa; crime ambiental mata um monte delas de uma vez só.”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, M.M., JORNALISTA)
Educação ambiental
“Os governos precisam gastar mais e melhor, precisam investir mais do que seu próprio
discurso, na educação ambiental, usando mais as publicidades de governo, trabalhando
mais a transversalidade dentro das escolas e promovendo a educação ambiental, as
discussões, em todos os fóruns possíveis da sociedade, numa Associação de Pais e
Mestres, num Conselho Comunitário, num Conselho de Direitos Humanos, nós temos que
integrar o foco ambiental a todas as políticas públicas. Os governos precisam fazer isso e
a sociedade precisa cobrar e participar desse processo.” (PARLAMENTAR, USO DO
SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
Transferência de tecnologia
“Em contrapartida, nós precisamos desenvolver tecnologia, trazer tecnologia dos países
desenvolvidos para cá, porque nós estamos em um nível de desenvolvimento muito
grande.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47, ENGENHEIRO FLORESTAL).
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
O governo é o principal ator
Segundo os entrevistados, a responsabilidade de lidar com as mudanças climáticas é compartilhada
entre diversos atores, mas é principalmente do governo, em seus diversos níveis (15 citações). No
entanto, é enfatizada a necessidade de articulação e educação de toda a sociedade para resultados
eficientes. Surge aqui também a importância do engajamento dos jovens e dos meios de
114
comunicação como impulsionadores de uma mudança social que leve em conta as questões
climáticas.
“Você ter uma articulação: Estado brasileiro, Estado federativo, entre União, Estado e
município. E todos estarem com o combate às emissões de maneira articulada. (...) Resta
mesmo o Ibama fazer isso, [para que] então você não tenha descontinuidade no processo
de controle de combate às emissões ambientais.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.V., 51,
ENGENHEIRO)
“É claro que os governos têm a responsabilidade como gestores da coisa pública. Os
governos, as três instâncias da União, Estado e município.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S., 54, SOCIÓLOGO)
“Bem, acho que a responsabilidade aí também é compartilhada, porque a administração
pública tem um papel, o governo brasileiro e o Congresso Nacional, eles precisam adotar
uma política nacional sobre mudanças climáticas, temos que ter uma diretriz.
Nós não temos ainda, não adianta discutir. Nós estamos discutindo aqui, no Congresso
tem uma comissão nossa discutindo, mas são responsabilidades, nós temos que ter uma
política. (...) Então a administração pública tem que ser propositiva, e tem que tomar
iniciativa com relação ao tema.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47,
ENGENHEIRO FLORESTAL)
Em segundo lugar os entrevistados deste setor citaram a responsabilidade dos empresários e da
sociedade civil:
“O empresariado, os capitalistas que interferem nisso e a população nas suas diversas
formas de organização.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, J.E.R., 58, ARQUITETO)
“No Brasil são os proprietários de terra que desmatam e queimam e precisavam se
comprometer com o fim da queimada e do desmatamento [e o setor].” (PARLAMENTAR,
ECONOMIA, P.T., 61, ADVOGADO)
“Naturalmente que as pessoas mais esclarecidas, com mais anos de escolaridade, elas têm
muito mais facilidade de compreensão dos distúrbios climáticos que estamos vivendo. (...)
O sistema produtivo tem que participar dessa discussão, sistema de trabalhadores.”
(PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, N.M., 43, MÉDICO)
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
EUA e China atrapalham tomada de decisão no âmbito internacional
Todas as entrevistas desse setor refletem que há ainda muito o que fazer no âmbito internacional em
relação às mudanças climáticas. Muito ainda atreladas às questões políticas, as ações efetivas são
identificadas somente em alguns países da União Européia, entre eles a Inglaterra e a Alemanha.
Os EUA e a China são vistos como os maiores empecilhos para políticas de redução das emissões
de gases de efeito estufa, ainda que alguns reconheçam avanço relativo por parte do primeiro.
Nessas falas, nota-se certa descrença em relação às ações isoladas dos países, como se não fossem
resultar em muitos benefícios a longo prazo. A importância da ação conjunta dos países é enfatizada
por quase todos os entrevistados.
“Já os Estados Unidos têm o papel de não assumir redução, em caráter voluntário,
avançou um pouco agora em Bali, mas é difícil resolver esse problema sem uma
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compreensão maior de uma potência como são os EUA.” (PARLAMENTAR, ENERGIA,
E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“[O tratamento do tema no âmbito internacional se dá] ainda com timidez, embora com
avanços importantes, mas a gente tem ainda os EUA e a China, os maiores emissores, que
deveriam ser teoricamente os maiores interessados, e a gente percebe que estão a
reboque. Eu espero que a próxima administração dos EUA tenha uma postura bem
diferente. Me parece que pelo menos vai ser melhor que a do Bush, seja qual for um dos
três, o vencedor. Até mesmo o candidato republicano é um pouco mais avançado que o
atual presidente. Nós não temos uma situação melhor por causa destes dois países.”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
“Nada adianta o Brasil acabar o desmatamento da Amazônia ou reduzir drasticamente
suas emissões e os Estados Unidos a China e outros países continuarem aumentando, esse
é um acordo que tem que ser global, e aí você tem dificuldades grandes, sobretudo duas,
uma nos Estados Unidos, que se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto, que tem toda a
sua economia montada em base energética de origem fóssil, que tem uma postura muito
arrogante com os demais países, e a China, por outro lado, que vem experimentando
índices de crescimento bastante grande, um pais extremamente populoso, grande parte
dessa população ainda em condições econômicas bastante precárias e que também toda
sua economia baseada em origem fóssil.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.R., 49,
HISTORIADOR)
“Eu percebo que alguns países importantes, como os Estados Unidos, a China e outros,
ainda têm tratado isso como segundo plano, sempre depois da sua economia, do seu índice
de desenvolvimento. É uma pena. Então, eu vejo que alguns países começam a tratar com
mais dedicação, e outros menos, e às vezes até se escondendo atrás da falta de justificativa
técnica. É um absurdo. São países que gastam milhões de dólares na guerra e em alguma
coisa, e não estão gastando nada similar, na verdade, com estudo que poderia ser para
nos ajudar a ter certeza ou não. Então, ainda é muito preocupante. Mesmo que grande
parte dos países estejam discutindo, não está sendo dada a importância adequada, e
alguns países ainda tratam um tema de tão importância como segundo ou terceiro plano.”
(PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, J.S., 51, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
Os bons exemplos: Inglaterra, Alemanha, Suécia, Noruega
“Eu acho que a Inglaterra faz um trabalho consistente e a formulação política com um
componente ambiental já tem um peso diferenciado nas ações do primeiro-ministro e de
toda a diplomacia britânica. Então, ela já atuou muito fortemente nisso, mesmo que isso
ainda tenha certa incoerência com o relacionamento bilateral, o relacionamento com
outras potências, nos outros países, como é o caso da China, da Índia.” (PARLAMENTAR,
ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“A redução das emissões na Inglaterra nos últimos anos. A Inglaterra conseguiu um
crescimento reduzindo as emissões em 14%. Da mesma forma a Alemanha tem conseguido
reduzir as emissões, a Suécia também está em processo de crescimento com redução das
emissões. Alguns países nórdicos, a Inglaterra e a Alemanha já conseguem crescer e
reduzir essas emissões. São projetos em processos vitoriosos que podem evidentemente
ficar mais importantes na medida em que se desenvolve cientificamente, que a sociedade
se organize. Mas a premissa é a de que é preciso crescer reduzindo as emissões.”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, F.G., 67, JORNALISTA)
“Conheço [programas internacionais de redução das emissões], eu estive inclusive com a
embaixadora da Noruega. A Noruega colocou o desafio de até 1920 ter carbono neutro,
116
carbono zero. Então é um país altamente desenvolvido com um número de consciência da
população muito elevado e dá um exemplo comum de que, se a gente colocar como regra
não apenas reduzir 5%, como vários países europeus vão reduzir até 5% até 1920, mas
zerar as suas emissões, ou seja, através de crédito de carbono de outros países emergentes
e tal, neutralizar as emissões que ela hoje emana...” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S., 54, SOCIÓLOGO)
Um exemplo de boa prática no Brasil
“Um dos grandes programas que eu conheço, e que acho fantástico, é um programa que
vem sendo desenvolvido há alguns anos, e de forma pioneira, aqui em Minas Gerais, pelo
Grupo Plantar. Que tem hoje, seguramente, o maior e melhor viveiro de mudas de
eucalipto do Brasil. E que tem hoje tido muito mais sucesso financeiro com crédito de
carbono do que propriamente com suas atividades siderúrgicas. Eu vejo com muita
simpatia as iniciativas dessa natureza. A gente começa a ver também outras iniciativas
começarem a acontecer, inclusive em parceria com produtores, como é o caso do
programa Fazendeiro Florestal, patrocinado pelo grupo Arcelor Mittal. Eu vejo tudo isso
com muita simpatia.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO,
N.M., 43, MÉDICO)
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
"DESMATAMENTO EVITADO"
Proposta é pouco conhecida
Um dos assuntos abordados no âmbito internacional é a proposta brasileira de desmatamento
evitado. A maior parte dos entrevistados desconhece a proposta, ou ouviu falar dela somente de
modo superficial. Os poucos (4) que a conhecem consideram a proposta positiva, mas admitem que
ela precisa ser aprimorada. Uma das grandes preocupações é com a necessidade de um mecanismo
de compensação às populações que dependem economicamente da atividade de extração de
madeira, para que a proposta seja eficaz.
“Eu acho a proposta boa. Como eu disse no inicio, se você quiser preservar uma área tem
que dar condições de sobrevivência às pessoas que moram lá. Não pode pegar as pessoas
que estão lá e trazer para Brasília, São Paulo, Espírito Santo, ou Rio de Janeiro, tem que
dar condições de sobrevivência. (...) Eu acho que é muito adequado termos um fundo que
possa ajudar a implantar projetos de desenvolvimento sustentável nas comunidades que
moram na Amazônia, então, se você consegue evitar o desmatamento com a adoção de
políticas, tem que financiar. Eu acho que os países que hoje já não têm mais suas florestas
podem colaborar, os países que têm condições de colaborar podem colaborar para que o
Brasil adote essas políticas.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47, ENGENHEIRO
FLORESTAL)
“Com relação à questão das matas, da preservação, da manutenção das nossas árvores
em pé, tem aí o grande projeto que está emergindo, há quase dois anos, já sendo discutido,
e ainda tem que avançar muito para ser aperfeiçoado, que é o do desmatamento evitado. É
da mais alta relevância às nossas populações pobres ribeirinhas, indígenas etc.; elas
precisam desse tipo de apoio; elas vão segurar as nossas árvores em pé; elas vão manter
as nossas árvores em pé. Mas elas precisam ter condições de vida melhor porque daí a
árvore fica em pé. Porque se elas não tiverem condições de vida, elas vão derrubar a
árvore, nem que seja escondido, de qualquer jeito.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, S.S., 59, CIENTISTA SOCIAL)
117
14.CONFERÊNCIA DE BALI
A ineficiência de Bali
Na maioria dos casos, os entrevistados taxaram a Conferência de Bali (dezembro de 2007) como
ineficiente — uma grande comoção para poucos resultados visíveis.
“Na verdade, hoje, até por uma questão lógica de realidades diferentes, de lugares
diferentes no mundo, hoje o mundo meio que perdeu o sentido daquelas super
conferências, super encontros, que não levam em conta a agilidade do mundo atual, a
necessidade de direcionar esforços, outros tipos e atividade. Na verdade, 50% do que foi
discutido lá poderia ser discutido em troca de e-mails, e todo mundo com a mão na massa.
Então você não precisa reunir 50 mil pessoas para saber que 25 decidem. Você tinha que
formular para essas 25 decidirem. O modelo para mim está ultrapassado.”
(PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“O que o Brasil fez em Bali é algo completamente diferente, é uma proposta de
voluntários e vender diplominhas para ONGs colocarem na parede, empresas colocarem
na parede para mostrar o bom comportamento, algo voluntário que não deveria nem ser
feito numa reunião de Bali, que reuniu duzentos países com um custo tão grande para
definir uma convenção, definir medidas compulsórias, leis internacionais, e não para ficar
mostrando aquilo que cada pais fez de voluntariamente ou ainda o que pretende vir a fazer
o que ainda e pior. (...) O que se obteve em Bali já se esperava — o resultado não é
nenhum mapa do caminho, é um mero calendário de reuniões para chegar a alguma
coisa.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, A.C.M.T., 61, ENGENHEIRO)
“Aí é que me preocupa. (...) A conferência na parte física foi um sucesso, mentes
brilhantes passaram por lá, idéias inovadoras, idéias que muito contribuíram, mas por
enquanto idéias que estão no papel, então o resultado prático dessa conferência ainda não
foi apreciado, nós ainda não tivemos oportunidade de vermos esse resultado prático,
resultado prático que nós estamos esperando, que é o que vai fazer a diferença na
verdade.” (PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.G., 32, ECONOMISTA)
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
Um país, muitos deveres
A questão sobre as responsabilidades do Brasil em um programa mundial de redução das emissões
de gases de efeito estufa suscitou uma vasta gama de opiniões dos entrevistados. Os argumentos
tangenciam a retomada de liderança por parte do país em relação aos compromissos e metas de
redução de emissão de gases de efeito estufa, a importância da contenção do desmatamento, o
incentivo à produção de biocombustíveis e o investimento em ciência e tecnologia. A situação do
Brasil se diferencia da dos demais países: o calcanhar de Aquiles brasileiro ainda é achar
alternativas econômicas para as populações que dependem da exploração dos recursos naturais na
ilegalidade, prevenindo o desmatamento irregular.
As responsabilidades mencionadas dizem respeito à preservação da Amazônia, estabelecimento de
metas, fiscalização, liderança brasileira e preservação da matriz energética.
118
Preservação da Amazônia
A maior missão do Brasil no que tange ao enfrentamento das mudanças climáticas é a preservação
da Amazônia e de outras florestas no país, pois o desmatamento e as queimadas são nossos maiores
emissores de gases de efeito estufa, dada a nossa matriz energética essencialmente “limpa”.
“Combater o desmatamento, hoje nossa missão é o desmatamento, a emissão de gases que
causam o efeito estufa. Também reconhecendo que as cidades, as megalópoles brasileiras,
[deveriam ter] tipo consumo racional.
Tem dados ambientais a serem tomados, no tocante ao lixo de resíduos sólidos, sua
emissão de metano, mais racional, investir mais na hidroplicidade e no uso racional das
riquezas dos rios, o pais ter uma matriz energética limpa, continuar investindo em
pesquisa para usar os potenciais da Amazônia corretamente.
[A] primeira hidrelétrica da Amazônia com a concepção de sustentabilidade, que esse
processo seja estendido para outras potências hidráulicas existentes, então fazer o dever
de casa.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.V., 51, ENGENHEIRO)
“O Brasil tem que combater o desmatamento não apenas na Amazônia, mas na floresta
Atlântica, mas combater o desmatamento e criando alternativas para as populações que já
residem nessas regiões. Você não pode simplesmente, expulsar essas pessoas que vivem na
região amazônica, e que dependem da floresta, como habitat para sobreviver, você tem
que conduzi-las para um manejo sustentável sempre que possível.” (PARLAMENTAR,
USO DO SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
“Para o Brasil é muito mais fácil do que para outros países se adaptar a uma economia
neutra em carbono ou com baixas emissões em carbono, porque nossa matriz energética já
é de origem limpa, o nosso grande desafio hoje é como utilizar, como desenvolver
conhecimento para explorar de forma sustentável a floresta em pé, para reduzir nossas
emissões e aproveitar toda a biodiversidade que tem nela.” (PARLAMENTAR,
AGRONEGÓCIO, R.R., 49, HISTORIADOR)
Estabelecer metas
Falou-se muito também na importância do estabelecimento de metas e medições das nossas
emissões (chamadas inventários) para que se possa então prosseguir com projetos concretos de
efeitos mensuráveis.
“Então nós caminhamos por esse ponto e agora estamos trabalhando aparentemente já
com foco nos projetos que consideramos fundamentais. Um deles é o inventário.
Determinar uma responsabilidade do governo e fazer um inventário das emissões e
apresentar o resultado de ano em ano, de dois em dois anos de acordo com a
possibilidade.
Vai ser muito difícil você definir uma política de mudanças climáticas no Brasil se você
não tem um inventário, se você não sabe se as poluições estão aumentando ou diminuindo.
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, F.G., 67, JORNALISTA)
“Acho que temos que ter metas, não é porque somos um país em desenvolvimento que a
gente deva dizer que isso é uma questão dos países desenvolvidos. Nós devemos preservar
o que temos, devemos incorporar a preocupação ambiental em todos os projetos de
desenvolvimento. Para mim é uma questão fundamental. Em minha opinião, nós, no
Brasil, somos tão responsáveis como qualquer chinês, qualquer americano, qualquer
alemão.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
119
“Bem, a primeira delas é essa coisa de você definir as metodologias e os indicadores para
ter e dar transparência e permitir que a sociedade realmente acompanhe esse andamento.
No Brasil, eu acho que tem que ser isso, e aí o governo tem que fiscalizar.”
(PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, J.S., 51, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
Fiscalizar é preciso
“Eu não posso concordar com a atividade madeireira inconcebível, ridícula, como vem
acontecendo, sem uma fiscalização. Defendo inclusive a presença da Força de Segurança
Nacional, uma presença contínua dessa Força Nacional na Amazônia, para evitar que os
madeireiros saqueiem a Amazônia, como têm feito nos últimos anos.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, N.M., 43, MÉDICO)
“Mas precisamos ainda de fiscalização, precisamos de controle, e a fiscalização punitiva
sozinha não resolve o problema. (...) O que nós precisamos é de projetos que venham a
ajudar as pessoas que estão passando necessidade lá muito longe e que vão derrubar uma,
duas, três árvores para tirar sua sobrevivência; que elas sintam que são co-responsáveis e
que não precisam derrubar essas duas, três árvores; e que elas terão a condição de vida
com dignidade.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, S.S.,
59, CIENTISTA SOCIAL)
O Brasil deveria reassumir posição de liderança
“O Brasil deveria reassumir a posição de liderança que teve em 1992 e 1997, usar o seu
peso especifico no grupo que ele formou nos países em desenvolvimento e postura que
todos os países do mundo assuma, compromissos, assumam metas de redução ainda que
metas diferenciadas, se temos hoje um diagnostico mostrando que são doze os grandes
emissores responsáveis por mais de 80% [das emissões].
Eu não vou conseguir resultados palpáveis se só a metade deles que são os países
desenvolvidos se responsabilizarem por reduções de metas, a ladainha das metas comuns,
porém diferenciadas. e ponto final. Ela pode ser uma meta, pode ser uma proposta correta
do ponto de vista de um acerto de contas com o passado, mas ela é absolutamente caolha,
cega, ela é catarata se nós observamos que ela não vê os grandes poluidores do presente,
que nós vamos conseguir reduzir em 25% no mínimo até 2020, e em 50% no mínimo a
emissão de gases do efeito estufa até 2050 em relação aos níveis de 1990 se não tiver a
colaboração de todos.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, A.C.M.T., 61,
ENGENHEIRO)
Manter limpa a matriz energética brasileira
“Acho que o Brasil, naquilo que ele consegue fazer, como um país ainda em
desenvolvimento, com todas as diferenças sociais que a gente tem, pelo menos temos um
programa de biocombustível em andamento com todas as imperfeições que o programa
possa ter, mas pelo menos é um esforço nesse sentido de tentar reduzir. Nós temos um
potencial de energia hidráulica, que poderia ser melhor aperfeiçoado, otimizado ainda,
quando você fala de fazer energia a partir das nossas hidroelétricas, ainda tem um
componente ambiental muito forte.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, H.P., 52,
ECONOMISTA)
“Eu acho que temos de preservar a nossa matriz energética limpa. Cada vez mais, hoje, a
gente vê à exaustão as grandes represas como modelo de geração de energia, energia das
hidrelétricas, então os impactos ambientais que provocam, acabam levando a dificuldades
de licenças ambientais para construção de grandes projetos.
120
Então, temos hoje pequenas centrais hidrelétricas sendo construídas, mas a necessidade, a
demanda por mais energia está levando a uma situação de buscar, e o Brasil tem lançado
mão disso, energia termonuclear, ou seja, energia produzida através da queima de
derivados de petróleo.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO,
A.S., 54, SOCIÓLOGO)
16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
Pequenos atos fazem diferença
Todos os entrevistados deste setor disseram considerar a ação individual parte do processo de
redução de emissões. A ação individual está muito atrelada a pequenas ações que levem a um novo
modo de vida, com a racionalização do uso dos recursos e a adoção de mudanças nos padrões de
consumo.
A diferença ocorrerá nos pequenos atos, como trocar de carro ou usar transporte coletivo:
“Eu acho que, individualmente, é muito importante a atitude que cada um vai fazer, eu
vendi um carro a gasolina e comprei um carro a álcool, ainda que haja muita celeuma
sobre a cana, ainda eu acho melhor ter um carro com etanol, que de qualquer modo a
cana cresce e ela seqüestra carbono, e a gasolina só emana o carbono. A gente tem sim
cada atitude individual faz a diferença, pode até ser insuficiente do ponto de vista de
resultado de curto prazo, mas faz a diferença em longo prazo.” (PARLAMENTAR, USO
DO SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
“Primeiro você procurar usar o transporte coletivo em sua cidade, lutar para que em sua
cidade haja um transporte que limite dióxido de carbono, como o metrô, como de
superfície, ônibus elétrico.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, S.J.G., 65, FÍSICO)
Ações domésticas, como tomar banhos mais curtos, substituir as sacolas plásticas nos
supermercados por sacolas reutilizáveis também foram citadas.
“Como eu falei, o simples ato de você tomar um banho tentando reduzir o que você
consome de água, a torneira que você abre para escovar seus dentes você abrindo só no
momento que você precisa efetivamente da água, o lixo que você joga na rua...
Plástico que hoje é um inferno, você vai ao supermercado é sacolinha de plástico para
tudo que é lado, e você vê hoje grandes lixões para tudo que é lado deste país. Eu acho
que é do berço, tem que começar do berço uma campanha maciça.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S., 54, SOCIÓLOGO)
“Você usar sacolas que sejam biodegradáveis. Então quer dizer, ter várias atitudes para
você transmitir através da discussão, conhecimento, alertar o mundo no que você falar aos
seus filhos, à família, você tem tantas tarefas importantes, que basta seguir corretamente,
que você vai ver como contribuir muito para o não aquecimento global.”
(PARLAMENTAR, ENERGIA, S.J.G., 65, FÍSICO)
As mudanças nos padrões de consumo seriam uma via de propagar ações maiores, coletivas.
“Nós somos induzidos ao consumo. Temos muito mais roupas do que a gente precisa,
temos muito mais comida, a gente que eu digo é quem tem condições de comprar, tem mais
comida do que precisa, gasta muito mais do que precisa e cada gasto nosso é um gasto de
energia, e quando você gasta energia você está de alguma forma consumindo recurso
natural.
121
Então, a mudança no consumo, ela é fundamental, a mudança no comportamento é
fundamental, como eu disse, as pessoas têm que passar a cobrar a origem do que estão
consumindo, passar a cobrar a origem, passar a saber se aquilo que eles estão comprando
em uma loja, qual a origem, se tem certificado desse produto ou não tem, se vem da
extração sustentável de uma floresta, se tem origem adequada ambientalmente.
Acho que as grandes mudanças que aconteceram no mundo só aconteceram porque
alguém, ou algumas pessoas começaram a verificar que a sua ação poderia ser uma ação
de modificar a realidade. Uma ação demonstrativa, de cobrança, o caminho é por aí.”
(PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47, ENGENHEIRO FLORESTAL)
Dois entrevistados crêem que um conjunto de ações individuais pode ser ainda mais significativo
que políticas de Estado ou leis não respeitadas.
“Eu sou absolutamente convicto de que você é informado a economizar energia, não jogar
lixo nas ruas, você fazer coleta coletiva de lixo, você não desfilar em dia de domingo em
carrões lindos queimando petróleo à vontade. Todos têm um efeito bastante significativo,
se todos resolvessem fazer isso, era mais do que qualquer política de Estado.”
(PARLAMENTAR, ENERGIA, J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
“Eu acho que precisamos de políticas públicas que viabilizem isso, mas a ação individual,
eu diria que é mais importante até do que a política. A gente vê um monte de lei aí, que
existem e que não são respeitadas, então é melhor que haja a conscientização individual,
que aí estaria sendo respeitada, do que uma lei que não seja respeitada.”
(PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.G., 32, ECONOMISTA)
O problema da ação individual no Brasil seria o baixo nível educacional da população. Sem
educação, as ações individuais não são capazes de levar a um bem coletivo, ainda que possam ser
benéficas em pequena escala ou, como disse um entrevistado, deixar a pessoa “com a consciência
tranqüila”.
“A ação individual faz a diferença, porque ela está nessa parte da motivação, da ciência e
das coisas. Eu acho que o Brasil tem uma coisa limitada na ação individual. Ela faz a
diferença muito num país europeu, onde 70%, 80%, 90% das pessoas têm o curso básico,
médio formado; aí a gente dá uma motivação pessoal mais forte. É difícil, para o Brasil,
em que as pessoas que pegam o lixo e jogam da janela do seu carro, querer preservar uma
árvore; ele [o brasileiro] quebra um galho por distração, por brincadeira.
Quer dizer, aí é o que eu te falei da educação: se o Brasil não investir realmente na
educação, não aumentar o nível médio educacional do seu povo, o impacto que tem na
ação individual é irrelevante, é realmente pequeno; ele é importante, mas ele não é
impactante.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, J.S., 51, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Gastar menos água na hora de tomar banho, usar menos sacos de plástico quando fosse
ao mercado, usar menos automóvel e, quando usar, não andar no carro vazio. Plantar
árvores, você pode plantar árvores, você pode plantar árvores sozinho, não tem problema
não. São coisas que pessoalmente você pode fazer. Agora, essas coisas pessoais não vão
mudar a realidade totalmente, mas com a contribuição que você dá, pelo menos vai deixar
você com a consciência tranqüila.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, C.B., 54, ENGENHEIRO MECÂNICO)
122
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
O que mais preocupa é o desmatamento
Convidados a elencar as atividades que mais contribuem para as emissões de gases de efeito estufa
no Brasil, os entrevistados mencionam o desmatamento da Amazônia e as queimadas, em primeiro
lugar; em segundo, a matriz energética (que, embora ainda seja “limpa”, caso das hidrelétricas, está
começando a ficar “suja” devido ao uso das termoelétricas); em terceiro lugar, mencionaram as
emissões veiculares, devido ao arcaísmo do sistema de transporte de carga e urbano.
Expansão da fronteira agrícola
“Com relação às mudanças climáticas, a atividade mais impactante é a atividade de
extração ilegal da madeira, então aí relacionado ao tema estão as madeireiras, estão
atividades da agricultura, ampliação ou novas fronteiras agrícolas, a extração ilegal de
madeira é a primeira atividade que mais impacta na questão das mudanças climáticas.”
(PARLAMENTAR, ECONOMIA, R.C., 47, ENGENHEIRO FLORESTAL)
“A exploração agro-pecuária das fronteiras agrícolas e devastando as matas e as
vegetações originais, particularmente no Serrado e na Amazônia, já fez isso na Mata
Atlântica e hoje faz no Serrado e na Amazônia.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO,
J.E.R., 58, ARQUITETO)
“O Brasil tem falhado na questão da preservação da floresta e visto errado. Quando nós
falamos dos nossos dramas nós não podemos pensar na Amazônia e esquecermos, por
exemplo, o cerrado que vem sendo engolido literalmente pelo avanço da fronteira
agrícola, pela devastação que vai sendo imposta pelo agronegócio.
Então, por mais que se tenha aprimorado os mecanismos, por mais que tenhamos hoje à
disposição satélite, sistema integrado de monitoramento da Amazônia, com satélites,
aeronaves, enfim, com a parafernália tecnológica, mas o fato é que a cada ano, a cada
relatório final produzido pelos institutos sérios que nós temos, como o INPE, como o
IPAM, enfim, nós vemos que a devastação continua.” (PARLAMENTAR,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S., 54, SOCIÓLOGO)
“[A nossa grande emissão tem derivado] das queimadas provenientes do avanço da
fronteira agrícola na Amazônia. Então as queimadas são o grande contribuinte.”
(PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S., 54, SOCIÓLOGO)
“No caso brasileiro é a queimada, essa técnica de queimada que se dá na Amazônia, a
ação especial no território Amazônico, da forma que foi feita na década de 50, 60 quando
a floresta era um empecilho ao desenvolvimento, a acelerada da região, houve a
monocultura exportadora que foi implementada, não respeitando a sua riqueza de
biodiversidade levou a essa aceleramento do desmatamento, então isso contribui com as
alternativas econômicas e produtivas.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.V., 51,
ENGENHEIRO)
Emissões veiculares
“Bom, eu acho que a gente poderia melhorar muito a qualidade das emissões oriundas de
veículos, por exemplo. O sistema veicular do país, ele sempre foi ligado ao lobby de
setores isolados, mas há hoje uma necessidade premente de um sistema para aferir a
emissão de gases no trânsito brasileiro hoje, ainda é uma coisa muito arcaica, acho que
tem que ter um investimento pesado nisso, na melhoria da qualidade do transporte urbano,
e isso pode ser melhorado com a implementação de transporte de massa e qualidade e
123
com a inspeção veicular, por exemplo.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41,
EMPRESÁRIO)
“No Brasil a questão da ausência, nas grandes cidades, de transporte de massa. Esta é
uma questão cada vez mais grave. O transporte nas grandes cidades é cada vez mais feito
em cima de automóveis, muito embora parte do Brasil seja feito de álcool, que é muito
poluente. Isso é uma questão absolutamente importante.” (PARLAMENTAR, ENERGIA,
J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
O paradoxo do combustível
A declaração abaixo resume bem a natureza da preocupação de muitos entrevistados: que a
descoberta de novos poços de petróleo pressione o uso mais amplo desse combustível, arrefecendo
o investimento em outras fontes energéticas e, ao mesmo tempo, a expansão desenfreada dos
biocombustíveis na busca de combustíveis mais “limpos” expanda a fronteira agrícola, causando
ainda mais desmatamento e queimadas.
“A questão do petróleo. Acho que o fato de, uma contradição, ao mesmo tempo em que a
gente, com uma grande possibilidade econômica com a descoberta de grandes poços de
petróleo, é claro que a colocação desse petróleo a preços cada vez maiores no mercado
internacional é cada vez mais atrativa, e isso pode se transformar também em um
agravante, não apenas no plano local, mas também no plano mundial na utilização de
combustíveis fosseis.
Eu temo muito que com a descoberta dessas reservas o interesse do Brasil pelo
desenvolvimento em tecnologias de biocombustíveis no Brasil reaqueça, essa é uma
preocupação que eu tenho. (...)
Terceiro, seria o avanço indiscriminado do etanol, por incrível que pareça, porque,
primeiro: com a questão de reduzir biodiversidade e depois fazer com que o avanço sem
planejamento do etanol possa avançar sobre novas áreas de cerrado, possa fazer
movimento em relação à pecuária que acaba pressionando o sul do Pará e aumentando o
arco de desmatamento.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, R.R., 49, HISTORIADOR)
Indústria
“E aí nós temos a indústria da habitação e todas as questões associadas à nossa matriz
energética, nossa produção de energia que exige grande discussão cientifica, política, se
nós produzimos alumínio, a que custo produzimos, a que custo ambiental, e temos que ir
muito a fundo nisso tudo.” (PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 58,
ADVOGADO)
“Eu acho que é a indústria petroquímica ou coisa parecida, eu acho que o próprio
combustível fóssil, o petróleo e tudo mais, e as cidades, a população urbana. Que a
questão sempre é voltada para a população rural, mas, os mais poluidores são as
populações urbanas.” (PARLAMENTAR, AGRONEGÓCIO, H.P., 52, ECONOMISTA)
“A questão da indústria, da própria indústria. Que é a questão da emissão de fluentes.
Muitas indústrias médias e até grandes não têm tratamento de efluentes ainda, mas os
órgãos ambientais estão atuando junto a esse setor.” (PARLAMENTAR, ENERGIA,
S.J.G., 65, FÍSICO)
124
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
É possível, mas requer planejamento
Compatibilizar o desenvolvimento social e econômico com o enfrentamento das mudanças
climáticas, na opinião dos entrevistados deste setor, é possível, e se obtém principalmente através
do conhecimento, de pesquisas e do desenvolvimento tecnológico, que definirão qual o modelo de
desenvolvimento que o país quer traçar.
“Com inteligência, criatividade e formando valor daquilo que a gente tem para oferecer;
que é um país com equilíbrio ambiental, uma capacidade de produzir com melhor
qualidade, práticas ambientais que estimulem um mercado verde, um diferencial, o país
precisa achar essa solução.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, E.G., 41, EMPRESÁRIO)
“Então, eu entendo é que investir maciçamente em educação ambiental, ciência e
tecnologia e na promoção da conversão tecnológica da sustentabilidade em todos os
parâmetros, na agricultura, na pecuária, e tal. Ter um grande programa de investimento
que contemple todos estes princípios culturais da economia e que dê aos empresários a
motivação da conversão de suas indústrias.
E o Brasil, ao fazer isso, ganha um crédito maior, evitar o desmatamento da Amazônia,
mudar as suas matrizes de produção, melhorar a sua matriz energética e lutar com a
Europa e outros países do mundo para termos as barreiras ecológicas, tarifar
ecologicamente os produtos que são produzidos com forte prejuízo ambiental.”
(PARLAMENTAR, USO DO SOLO, L.C.A.N., 58, ADVOGADO)
“Acho que nós temos tecnologia para isso. Você fazer projetos com responsabilidade
ambiental, é uma questão de custar mais caro. Por isso que acho que o governo tem que se
empenhar e bancar os custos de verba adicional e fazer projetos que não sejam
poluidores. Existe uma forma de você crescer não ligando para o meio ambiente, é mais
barato. Existe forma de você crescer olhando o meio ambiente, é mais caro e, portanto
alguém tem que pagar essa diferença. A sociedade através do Estado deveria ou deve
pagar.” (PARLAMENTAR, ENERGIA, J.M., 54, ECONOMISTA INDUSTRIAL)
“É totalmente possível [compatibilizar desenvolvimento com o enfrentamento das
mudanças climáticas], desde que exista uma política pública consistente, discutida. Se nós
fizermos canais de fomento, canais de financiamento, para darmos ao empreendedor a
possibilidade de estar competindo com seus setores, seja aqui, seja no exterior, e ao
mesmo tempo se utilizando dessa mudança comportamental, que é necessária para
mudarmos a forma de entender o mundo daqui para frente, e pudermos nos adaptar a essa
nova situação e estarmos atacando direta e indiretamente as mudanças climáticas.
Se o governo tiver essa capacidade de discutir essas questões, de fazer o enfretamento
dessas questões junto com a sociedade civil organizada, com setores envolvidos, eu acho
que nós podemos avançar muito, porque somos um país continental, temos bacias
hidrográficas extremamente importantes.” (PARLAMENTAR, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, N.M., 43, MÉDICO)
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este setor, como a mídia, também se considera generalista, cuidando de uma pauta ampla e em
geral contando com “assessores” ou “peritos técnicos” para questões mais complexas, como a do
clima, por exemplo.
Apesar de reconhecer que a temática das mudanças climáticas será um problema cada vez mais
crítico para a sociedade brasileira e mundial, o poder legislativo brasileiro não a vem tratando com a
devida importância.
Segundo os parlamentares ouvidos, existem, no momento, outros problemas mais importantes em
pauta, e o lobby de alguns setores não permite a tramitação de medidas ligadas ao tema com mais
rapidez e objetividade. Apesar da morosidade e superficialidade com que o tema ainda é tratado no
Congresso e nas Assembléias Legislativas Estaduais, aos poucos os parlamentares estão se
familiarizando com o assunto, principalmente desde o advento da Comissão Mista das Mudanças
Climáticas da Câmara dos Deputados e da criação dos fóruns estaduais de mudanças climáticas
(criados em São Paulo, Minas e Bahia).
Ao admitir que o tema das mudanças climáticas não está entre as prioridades do legislativo,
atribuem o fato à falta de ânimo do governo federal para lidar mais seriamente com o tema, bem
como à ausência de uma preocupação expressa da sociedade.
Sem o executivo e sem a sociedade, o Congresso tem muito pouco a fazer, dizem. Em certos nichos,
porém, especialmente naqueles em que os ambientalistas transitam com mais desembaraço (e citam
a Frente Parlamentar Verde), vai surgindo um interesse maior. Segundo este setor, o tema não
chegou ainda ao “coração do Congresso”.
126
PERFIL DO SETOR
Esta análise se baseia em 30 entrevistas realizadas com representantes do poder legislativo
brasileiro, composto por deputados estaduais, federais e senadores. Entre os parlamentares
selecionados, predominam os deputados federais (20), conforme mostra a tabela abaixo:
Ocupação
Deputado Estadual
Deputado Federal
Senador
Total
20
4
30
6
87% dos entrevistados são do sexo masculino.
Sexo
M
F
Total
26
4
30
A maior parte dos entrevistados (14) tem entre 50-59 anos. Outros 9 situam-se na faixa entre 40 e
49 anos, 5 entre 60 e 69 anos, e somente 2 entre 30 e 39 anos.
Faixa etária
30-39
2
40-49
50-59
60-69
Total
9
14
5
30
A amostra deste setor inclui entrevistados naturais de 14 Estados brasileiros e um país estrangeiro.
Metade dos entrevistados é natural da região Sudeste. A segunda grande região mais representada é
a Nordeste, com 7 entrevistados.
Naturalidade
RJ MG
SP
6
4
ES
RS
PE
MT
BA
AM
PR
SC
PI
SE
PB
Ext
Tot
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
30
3
25 de 30 entrevistados do setor possuem curso superior completo e somente 3 são pós-graduados.
Escolaridade
Superior
Superior
completo.
incompleto
25
1
Mestrado
Pós
Ensino
Médio
TOTAL
1
2
1
30
Os entrevistados deste setor são formados em diversas profissões, as mais representativas sendo
engenharia (6) e jornalismo (5).
127
Formação
Formação
Freq.
Engenheiro
6
Jornalista
5
Advogado
3
Historiador
3
Economista
3
Sociólogo
1
Arquiteto
1
Médico
1
Físico
1
Cientista Social
1
Geógrafo
1
Médico Veterinário
1
Não declarou
3
Total
30
128
SOCIEDADE CIVIL E ONGS
RESUMO
A presente análise contempla dois setores representados na pesquisa: sociedade civil e ONGs. Como
não houve dissidência de informação entre os representantes das instituições que compuseram essas
amostras, e dado que ambos os setores representam entidades do chamado terceiro setor, a amostra
foi unificada, considerando um total de 60 entrevistados pertencentes a diferentes áreas e
especialidades.
A área mais representada foi a social, com 18 entrevistados, seguida da empresarial (13), ambiental
(11) e agrícola (8). Também foram representadas instituições que atuam no campo religioso, em
assessoria técnico-científica, econômica e energias renováveis.
Embora a amostra tenha sido composta por um bom número de representantes ligados ao setor
empresarial, a análise não identificou dissonâncias entre seus posicionamentos e os dos demais
entrevistados do terceiro setor. Nota-se que, no que tange à temática das mudanças climáticas, as
opiniões e os posicionamentos dos entrevistados são muitas vezes pessoais e não se diferenciam
significativamente, de acordo com o pertencimento a esta ou àquela entidade ou área de atuação.
Com exceção de um número residual de organizações mais radicais, as opiniões encontradas
guardam mais semelhanças do que diferenças entre elas.
O tema das mudanças climáticas mobiliza suas lideranças e faz com que, no momento, várias
organizações estejam aprofundando seu engajamento. As organizações procuram trabalhar de forma
independente a fim de manter a liberdade de ação. Em geral, faltam recursos para programas mais
ambiciosos.
Entre os 60 representantes da sociedade civil e de ONGs, ao menos 10 têm programas já iniciados,
a maioria na área de energia ou eficiência energética. Três estão envolvidos em projetos que têm
componentes de “segurança climática” (conceito ainda pouco assimilado, dizem), outros dois
tentam implementar programas que combinem produção de biomassa e agricultura familiar. Os
demais fazem “campanhas”, e a mais citada é a “campanha do clima” do Greenpeace Brasil, que
está mapeando o potencial de energias renováveis no Brasil, com ênfase nos tipos eólico e solar.
As múltiplas abordagens possíveis das questões climáticas oferecem, na visão das organizações do
terceiro setor, uma ampla gama de oportunidades. As áreas melhor identificadas pela pesquisa são
energia, agronegócio, desenvolvimento rural, desenvolvimento social etc. Em outras palavras, não
há um campo da sustentabilidade socioambiental em que não haja uma organização social, ou um
conjunto delas, atuando no nível político ou “na base” (grassroots).
O que mais chama a atenção nesse setor é a solidez do quadro de referências a partir do qual atua: o
discurso dominante é ancorado conceitualmente nas premissas do desenvolvimento sustentável. A
todo momento, lembram que não é possível “separar as questões sociais das ambientais”, tampouco
tratar de “mudanças climáticas” sem mudar o modelo de desenvolvimento.
Para esse setor, “somos uma cobra comendo o próprio rabo”, pois é o modelo de desenvolvimento
que operamos, altamente consumidor de energia fóssil e emissor de gases do efeito estufa, que
agrava o fenômeno das mudanças climáticas.
De um modo geral, o terceiro setor mostra-se bem informado no que diz respeito às questões
pertinentes ao debate sobre as mudanças climáticas. Em mais de dois terços da amostra, percebe-se
um declarado engajamento por motivos profissionais ou “de militância”.
129
Para a maior parte dos entrevistados, o tema das mudanças climáticas só entrou na agenda na época
da Eco-92. Naquele momento, a palavra mágica era “sustentabilidade”. Era a bandeira branca em
um mundo que destruía as suas próprias condições de vida. Embora já se falasse nos “gases do
efeito estufa” e no “buraco na camada de ozônio”, a união das organizações era em torno do ideal
de deter a destruição dos ecossistemas naturais.
A visão de que alguma coisa a mais nos assombrava, diz uma liderança que abraçou a construção de
uma rede social do clima no início dos anos 90, só ganhou força em 1997, quando o Protocolo de
Kyoto foi ratificado pela maioria dos países. É portanto um tema novo, sobre o qual “há muito a
aprender”.
Para os entrevistados, mudanças climáticas está entre os principais desafios que a humanidade terá
que enfrentar nos próximos 20 anos. As lideranças de ONGs entrevistadas declararam-se
“otimistas-realistas”: acreditam no poder transformador das idéias e também no “empurrão” que a
questão climática vai dar na civilização atual. Mas também acreditam que há um longo caminho a
percorrer. Em outras palavras, crêem que a mudança se dará com sofrimento. Dificilmente as forças
econômicas (expressão para nomear o poder das grandes corporações) serão convencidas sem
“desastres” de grandes proporções.
Seja no plano individual, seja no coletivo, o discurso dominante entre os entrevistados que
representam a sociedade civil e as ONGs privilegia a necessidade de “repensar o modelo de
desenvolvimento”. Um dos maiores desafios para a humanidade é a própria mudança do atual
modelo de produção e consumo, associada à diminuição das desigualdades sociais.
A quase totalidade das lideranças entrevistadas concorda que as mudanças climáticas causarão forte
impacto, podendo tornar severas as condições para as populações pobres do planeta. Um terço da
amostra soube discorrer sobre as possíveis conseqüências para o Brasil. Mencionaram a
“savanização” da Amazônia, o avanço da desertificação, além do perigo do avanço do mar nas
cidades costeiras. Reconhecem, em linhas gerais, que o regime climático mudará drasticamente.
Com relação ao maior desafio do Brasil, para o mesmo período, foram citadas a conservação da
Amazônia e a redução das desigualdades. Não é possível separar as duas questões. Quem defende
uma Amazônia sem gente, ou só como parques ou unidades de conservação, mostra sua ignorância
em relação às propostas do desenvolvimento sustentável. É na Amazônia que está a chance do Brasil
mostrar que é possível desenvolver sem destruir.
Devido à importância dos “serviços ambientais” que a Amazônia presta não somente para o Brasil,
mas para o mundo como um todo, nossa responsabilidade maior é preservá-la, reduzindo o
desmatamento e realizando um “ordenamento territorial” que impeça o avanço da fronteira agrícola
sobre áreas de mata nativa.
A principal barreira identificada pelo setor para o país e o mundo se engajarem com mais firmeza
no combate às mudanças climáticas são de ordem econômica: os entrevistados parecem concordar
que, enquanto as políticas de redução não se traduzirem em oportunidade de negócios, poucas
iniciativas terão sucesso. O que se vê, dizem os entrevistados, são “ações exemplares”,
demonstrativas. Ainda não há uma política consistente, nem no nível global, nem no nível nacional.
Além das barreiras econômicas, as barreiras “ideológicas” também foram apontadas como
obstáculos a uma ação mais abrangente para o combate das mudanças climáticas, tanto no Brasil
como no âmbito internacional. Os entrevistados avaliam que há um grande desconhecimento por
parte da população, não só do Brasil.
O governo é o maior responsável, acreditam, por implantar políticas em relação às mudanças
climáticas, e não está fazendo o seu papel. Naturalmente os empresários e a sociedade civil devem
130
se engajar, pois todos devem fazer a sua parte. Contudo, o governo federal precisa liderar o país em
direção a um programa consistente de redução de emissões.
Um programa de reduções não prejudicará o Brasil, diz o setor, pois temos comparativamente
uma matriz limpa e podemos expandir a produção de energias limpas. Conter o desmatamento e
as queimadas já é suficiente para conquistar crédito. É absolutamente possível, no quadro atual ou
em um cenário em que adotemos um programa de redução de emissões, dar continuidade ao
desenvolvimento. A possibilidade da ampliação do comércio de crédito carbono seria uma boa
conseqüência advinda da regulação, inclusive para os programas de reflorestamento.
Quanto às responsabilidades do Brasil perante o mundo, a maior parte dos entrevistados afirma
que a principal é enfrentar questões da Amazônia. Citaram ainda a diminuição de emissões de
gases por outras fontes, como o da frota veicular nas cidades. Além de deter o desmatamento, o
Brasil deve investir em energias limpas e em programas de eficiência energética.
Os entrevistados pareceram bastante descrentes em relação ao processo de discussão das mudanças
climáticas no âmbito internacional. Para eles, o que se vê é muito discurso e pouca ação. Segundo
disseram, as questões climáticas estão claramente sendo tratadas de forma desigual pelos países:
apenas alguns países estão tomando providências sérias e assumindo responsabilidades com afinco,
como é o caso da Alemanha e da Inglaterra, que foram exemplos citados. Os países mais criticados
foram os Estados Unidos e a China. Aquele por se recusar a assumir o papel que lhe cabe como
uma das nações mais fortes do mundo, e o segundo pelo “perigo” que representa para a
sustentabilidade. Além disso, disse um dos entrevistados, “negociação internacional é que nem
tabuleiro de xadrez, está todo mundo esperando o que os Estados Unidos e a China vão fazer”. Os
países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil não estão obrigados, pelo Protocolo de
Kyoto, a programas de mitigação e não colaboram nem de forma espontânea para reduzir as
emissões.
A proposta brasileira de desmatamento evitado é amplamente conhecida neste setor, e apreciada,
mas precisa ser, na opinião do setor, mais bem elaborada para que surta o efeito esperado de conter
o desmatamento da Amazônia, que é tida, como já se falou, como a maior responsabilidade do
Brasil num programa mundial de redução das emissões. No entanto, essa proposta de desmatamento
evitado apresentada pelo governo brasileiro na Convenção do Clima, em Bali, é polêmica para o
setor, pois “se implementada, só resolve a Amazônia, e o resto?”
Quanto aos resultados da Conferência de Bali, as avaliações dos entrevistados divergiram bastante.
Há quem os considere “bons”, “tímidos”, “fracos” e “relativos”. “Tímidos” foi a resposta mais
recorrente.
A maioria absoluta dos entrevistados afirma que o tema é “muito importante” para os segmentos
nos quais atuam. Pensam que as questões do clima devem, sim, ser levadas em conta por ONGs,
empresas e todos os segmentos sociais. As ações individuais também são importantes, pois, em sua
visão, “nas sociedades atuais os indivíduos têm muito poder”, e citam casos como o da “irmã
Dorothy” (assassinada por ferir interesses de posseiros no Norte do país), de Chico Mendes e
outros.
As ações individuais foram muito valorizadas. Para o setor, “tudo começa no indivíduo”, que tem
um importante papel transformador. Segundo eles, o Brasil está precisando de exemplos.
131
ANÁLISE DETALHADA
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
O despertar para a temática nos anos 90
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da Na década de Na década de De 2000 para Não lembra
Não
década de 80
80
90
cá
respondeu
4
6
31
8
2
9
TOTAL
60
Metade dos entrevistados disse ter ouvido falar em mudanças climáticas pela primeira vez na
década de 90, com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a
Eco-92, no Rio de Janeiro.
“Praticamente nós [do FBDS] fomos criadores do conceito de mudanças climáticas. Eu
fui um dos formatadores, um dos participantes da Conferência de 92, quando esse assunto
foi inicialmente tratado de forma global, quando foi aprovado o chamado joint
implementation, que foi o primeiro esforço voluntário para determinar os limites das
emissões para o ano de 2000, que deveriam ser abaixo daquelas de 1990.” (SOCIEDADE
CIVIL, USO DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
“Eu, particularmente só ouvi na época da Rio-92, quando foi proposto. (...) Mas acho
realmente que o assunto só entrou na pauta do público em geral dois anos atrás, no
máximo, talvez um pouco antes. (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO,
A.R., 40, JORNALISTA)
Mesmo quem já tinha ouvido falar no tema reconhece que ele só ganhou projeção de uns anos para
cá:
“Esse é um tema que já se vem trabalhando há muito tempo. Há pelo menos uns 15 anos
que eu escuto falar de mudanças climáticas, mas nunca ganhou a devida atenção; aí eu
acho que, de uns dois anos para cá, quando começou essa história do painel
intergovernamental, foi que eu fui tocado por informações e percebi a gravidade do
problema, de dois anos para cá que eu fui percebendo.” (ONG, USO DO SOLO, M.M., 58,
MÉDICO)
“Nos últimos 4, 5 anos essa discussão ficou mais forte, nacional e internacionalmente.
Mas, desde a Rio 92, eu já escutava alguma coisa sobre mudanças climáticas.” (ONG,
USO DO SOLO, J.B.S.M., 31, FUNC. PÚBLICO)
Parte menor dos entrevistados (6) disse ter ouvido falar neste tema na década de 80 ou antes.
Alguns ainda ressaltam que havia uma leve diferença de terminologia, que até certa época se usava
mais a expressão “aquecimento global”, e que posteriormente “mudanças climáticas” tornou-se
mais comum.
“[Ouvi falar em mudanças climáticas] em 1978 num congresso de mudanças climáticas em
Toronto, quando um dos debates sobre mudanças climáticas e o que ocorreria no final do
ano 2000, qual era a expectativa em 78 para alteração climática no ano 2000, na época
foi uma belíssima reunião que se dedicava a essa parte de mudanças climáticas, isso no
Canadá.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65, METEOROLOGISTA)
132
“No começo, não se falava em mudanças climáticas, se falava em aquecimento global, mas
vamos dizer que a mudança climática veio depois. O conceito eu ouvi falar em 1981 pela
palestra de um cientista inglês. Nessa época, ainda era aquecimento global.”
(SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.S., 46, JORNALISTA)
Fica claro que a terminologia relacionada ao aquecimento global ou mudanças climáticas foi sendo
aprimorada e incorporada a novos discursos recentemente, como, por exemplo, o debate sobre sua
origem antrópica ou não.
“Com essa conotação atual foram recentes, mas por exemplo, o caso da seca teve um
período que uma vez a gente enfrentou em termos mundiais, a seca foi generalizada e
muitos países tiveram esse processo e eu, já na época, tive um conhecimento e isso já faz
mais de dez anos que era um estudo da ação do homem e a seca que era muito
interessante, era mudança climática nesse sentido da curiosidade da UVA, não desse
moderno que afeta o nível do mar, as geleiras etc., então há mais de dez anos eu já ouvi
falar nisso, nessa outra conotação.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, P.I.C., 42,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
Oito entrevistados só ouviram falar em mudanças climáticas pela primeira vez a partir do ano
2000:
“A primeira vez em que ouvi falar não lembro, mas só comecei a pensar nisso há uns
cinco anos, não sei se foi a primeira vez em que ouvi, mas começamos a discutir isso há 5
anos e aí passei a acompanhar.” (ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENGENHEIRO
AMBIENTAL).
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Há sempre mais para aprender
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante
Bom, mas
Está explorando e
abrangente
incompleto
aprendendo mais
18
17
21
Conhece pouco
Total
4
60
Pouco mais da metade dos entrevistados classificou seu conhecimento como bastante abrangente ou
bom, mas incompleto. No entanto, notou-se que mesmo aqueles que possuem grande conhecimento
sobre o assunto afirmaram estar explorando e aprendendo mais, pois nessa temática há sempre o
que aprender e novidades aparecem diariamente.
“Está entre bom, mas incompleto e bastante abrangente. Eu já tenho trabalhado com essa
questão desde 95 e já tive a oportunidade de participar em muitos eventos no Brasil. É
mais para bastante abrangente. Agora a gente sempre tem coisas a aprender não é?”
(SOCIEDADE CIVIL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.F., 36,
ENGENHEIRO FLORESTAL)
“O conhecimento que tenho não é o suficiente, estou procurando aprender, mas considero
que tenho um bom conhecimento dessa questão do seqüestro de carbono, do aquecimento,
tudo isso. (...) Eu estou buscando explorar e aprender, aqui na frente da AIMEX,
acompanhei todos aqueles processos de discussão ainda do Protocolo de Kyoto em 1997,
quando isso surgiu pela primeira vez tivemos reuniões aqui em Belém, com empresas
voltadas para esta questão seqüestro de carbono, me interei bastante deste assunto e
133
tivemos reunião com o próprio governo passado aqui no Estado do Pará, inclusive
mandou buscar um especialista para discutir as possibilidades das empresas investirem
em reflorestamento com o propósito de vender créditos de carbono na bolsa de Chicago,
enfim acompanhei todo este processo.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, G.S.C., 52,
ENGENHEIRO FLORESTAL)
Mais de um terço das lideranças entrevistadas (21) declarou “estar explorando” e, portanto, no
estágio de “aprender mais”. Os entrevistados declaram que o fato de seus conhecimentos serem
incompletos e necessitarem de mais aprofundamento se deve à complexidade do assunto e ao fato
de ainda ser relativamente novo para alguns. Além disso, a cada reunião da Convenção das Partes
são divulgados novos documentos. Outro argumento é que o tema permite que você se especialize
em uma questão correlata:
“Meu conhecimento é bom, mas incompleto, pela seguinte razão: porque o tema é
complexo; então a gente é obrigado a fazer um corte nele, quer dizer, eu procuro olhar a
mudança climática de um ponto de vista da agricultura, então, nesse ponto ele é muito
bom. Mas ele é incompleto, porque não é suficiente.” (ONG, ECONOMIA, A.N., 35,
ECONOMISTA)
“Eu acho que eu estou explorando e buscando entender mais. A cada dia vem uma
novidade, a cada dia tem uma coisa nova... Nem mesmo os grandes cientistas dominam
todos os aspectos.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32,
ARQUITETO)
3. GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Tema mobiliza e sensibiliza
Como se sente em relação ao tema:
Altamente motivado Interessado, com Apenas interessado,
outros temas mais
sem intenção de
importantes no
aprofundar
momento
43
15
1
Desinteressado
Total
1
60
Verificou-se que é alto o grau de interesse dos entrevistados pela problemática das mudanças
climáticas. Bem mais da metade dos entrevistados (43) afirmou que o tema está entre suas
prioridades. Contudo, para um quarto deles (15), o assunto “sensibiliza” e é de grande importância,
mas no momento existem outras prioridades.
“Para mim é mais aquela idéia, eu estou interessado mas esse tema anda junto com outro,
no caso é a conservação da água.” (ONG, ECONÔMIA, A.N., 35, ECONOMISTA)
“Eu ficaria entre altamente motivado e motivado, mas com outro tema mais importante no
momento, pelo seguinte: para mim o grande problema ambiental no Brasil é perda dos
ecossistemas naturais; mudanças climáticas, para mim, é uma conseqüência do processo
de perda dos ecossistemas naturais; então, eu sou uma pessoa altamente motivada para
entender do assunto das mudanças climáticas, mas eu acho que a mudança climática não
é o grande tema. O grande tema é perda de biodiversidade.” (ONG, USO DO SOLO,
J.M.C.S., 42, BIÓLOGO)
134
A natureza da motivação é muito diversificada: os entrevistados sentem-se motivados por
preocuparem-se com a natureza, por preocuparem-se com os netos ou “gerações futuras”, ou
mesmo porque possuem motivações profissionais:
“Altamente interessado porque nossa missão é a conservação, então, realmente entender a
questão climática é fundamental para a própria conservação das espécies e da
biodiversidade, da natureza em si; é muito importante para garantirmos um mundo seguro
para as gerações futuras.” (ONG, USO DO SOLO, I.S.T., 48, ENG. FLORESTAL)
“A natureza deve ser preservada, não é? O homem é o centro da natureza e ele deve
respeitar. Ela torna todos os seres interdependentes. Ela favorece a qualidade de vida ou
então a destruição. É muito importante que a gente preserve toda a natureza e que cada
família preserve e que plante árvores, que ensine as crianças desde cedo a cuidarem da
água. Eu tenho 10 netos e eu digo assim, quando se escova os dentes, é melhor pegar um
copo do que ficar soltando a torneira o tempo todo. Tem que realmente, desde as pequenas
coisas, os gestos de respeito aos bens da natureza.” (SOCIEDADE CIVIL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, Z.A., 73, MÉDICA PEDIATRA)
“Minha motivação é profissional. Eu trabalho com essa questão, relação indústria- meio
ambiente, então eu tenho uma motivação profissional, além de uma motivação como
cidadã. Eu quero entregar um mundo melhor para os meus netos.” (SOCIEDADE CIVIL,
ECONOMIA, P.H.G.B., 53, ENGENHEIRA CIVIL)
Outros apontam para a curiosidade suscitada pela observação de primeira mão das alterações
climáticas.
“Ela [a motivação] vem naturalmente da nossa perspectiva de vida, de qualidade de vida,
então quando você observa no dia-a-dia as praias de uma ilha como a de Florianópolis,
sendo ameaçada na faixa de areia, diminuindo a faixa de areia, quando você observa o
calor excessivo ou você observa chuvas atípicas, vendavais, você começa a se perguntar:
o que é isso? Quando você vê as abelhas ameaçadas de desaparecerem em umas regiões,
isso tudo chama atenção e motiva a você buscar um conhecimento que dê conta disso.”
(SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, W.S., 54, FILÓSOFO)
Apenas um dos entrevistados, membro de uma ONG de desenvolvimento social, declarou não se
sentir motivado em relação ao assunto.
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Os maiores desafios para a humanidade são as mudanças climáticas e diminuição da
desigualdade
135
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Mudanças climáticas
13
Diminuir as desigualdades
sociais/Questões sociais
11
Mudanças no modelo econômico,
mudanças de paradigmas no consumo
8
Questões Ambientais
7
Utilização dos recursos naturais
Desenvolvimento Sustentável
Produção de alimentos
Energia
Outros
4
4
3
2
8
Os entrevistados, ao responderem à pergunta sobre qual será o maior desafio da humanidade para os
próximos 20 anos, deram uma ou mais respostas.
Como maiores desafios para a humanidade foram citadas as mudanças climáticas, a desigualdade
social, a questão da água, o acesso a alimentos e a questão energética. Em termos mais amplos, foi
apontada a sustentabilidade em seus aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais. Outro
desafio muito mencionado é o modelo de desenvolvimento econômico atual, baseado no
“capitalismo selvagem”.
Mudanças climáticas
Treze entrevistados sustentam que o maior desafio ambiental para a humanidade nos próximos 20
anos será tratar dos assuntos relativos às mudanças climáticas, ainda que não se saiba efetivamente
qual o tamanho do problema a ser enfrentado e de que forma deverá ser feito esse enfrentamento:
“Como humanidade, eu acho que é realmente o aquecimento global e suas conseqüências,
o que vai acontecer com a água, como é que vão mudar a matriz energética, encontrar um
mecanismo de restabelecer uma ordem normal menos assimétrica e que seja aceita.”
(SOCIEDADE CIVIL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, F.H.C., 76,
SOCIÓLOGO)
“Eu acho que é o aquecimento global... Primeiro que falta avaliar todas as variáveis, tem
tudo para ser feito, a gente não sabe ainda quais são as opções, não se sabe, de fato, o que
existe de problema.” (ONG, ECONÔMIA, M.A.F., 48, ENG. AGRÔNOMO)
“A humanidade ainda não sacou que tem uma encrenca enorme e é provável que não
tenhamos muitos mecanismos para trabalhar isso em nível de governo, mesmo em nível de
136
tecnologia, de criar mecanismos mais duradouros mais perenes de lidar com o
aquecimento global.” (ONG, ECONÔMIA, M.A.F., 48, ENG. AGRÔNOMO)
Desigualdades
Diminuir as desigualdades sociais foi o segundo desafio mais lembrando pelos entrevistados:
“Eu acho que não é um desafio desses 20 anos, mas um desafio permanente. Quando a
gente aumenta a riqueza, melhora a tecnologia do planeta, o desafio é enfrentar a
desigualdade. As desigualdades são cada vez maiores, são cada vez mais presentes. Não
digo nem eliminar a desigualdade, mas tentar reduzir essa desigualdade que cada vez
cresce mais.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32,
ARQUITETO)
“Eu acho que é o desafio da desigualdade que está localizado em várias áreas, e o acesso
a todos, acesso aos bens e recursos naturais. Essas questões estão diretamente
relacionadas entre si. A gente está falando do acesso à renda e aos recursos naturais.”
(ONG, AGRONEGÓCIO, M.G.A., 45, AGRÔNOMA)
Mudar o modelo econômico e padrões de consumo
Outro desafio é enfrentar o “capitalismo selvagem” que induz ao consumo desenfreado e à produção
intensiva em energia. Este modelo é, segundo eles, insustentável. Se o padrão de consumo atual
persistir, os riscos de esgotamento dos recursos naturais serão muito grandes, bem como as
desigualdades sociais serão potencializadas:
“Esse é o grande desafio, uma mudança no paradigma de crescimento econômico e tudo o
que diz respeito tanto às maneiras de produção quanto às maneiras de consumo...” (ONG,
ECONOMIA, A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“Eu acho que deve entrar muito forte a questão da mudança de hábitos de consumo da
sociedade, tanto individualmente quanto coletivamente. É muito fácil a gente falar em
economizar água, economizar recursos naturais, economizar energia. Mas e aí como você
fazer isso? Como quebrar esse paradigma e promover a mudança de hábitos?” (ONG,
ENERGIA, M.A.Z., 42, ENG. PRODUÇÃO)
“O fenômeno tem a ver com o padrão de consumo e de produção, o uso intenso de
energia, o desperdício inclusive grande que se tem de energia... Acho que esta é a
questão.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64, FÍSICO)
“Bom, o que mais contribui é o modelo econômico. Eu acho inclusive que mudanças
climáticas não é um tema ambiental, mudanças climáticas é um tema econômico. Então, o
que contribui é o modelo econômico e, enquanto ele não for profundamente modificado,
seja na linha do consumo responsável, seja na linha de uma produção responsável, e não
houver uma reformulação muito incisiva nessa troca de consumo, mudar de consumo, de
serviço, acho que isso não tem uma solução. Então, necessita de uma solução grave, uma
revisão do capitalismo enquanto não é tarde.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA,
P.H.G.B., 53, ENGENHEIRA CIVIL)
Água
“Sem dúvida alguma, o primeiro item que a gente tem que pensar seriamente é a parte de
hidrografia e hidrologia, o consumo de água. Nós temos que decidir quem vai usar a água,
se o animal, o ser humano ou a agricultura, nós vamos irrigar ou beber água, havendo
uma comprovação daqui a vinte, trinta anos certamente a água vai ser um problema
fundamental, e isso induz ao outro problema, por exemplo, um problema social em busca
137
de água. Você pode ter grandes migrações internas, porque certamente a agricultura vai
ter uma migração e essa migração é que tem preocupado a gente nesse aspecto humano.”
(SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65, METEOROLOGISTA)
“É a falta de água para humanidade, a água vem sendo utilizada como se ela fosse um
recurso infinito e na verdade ela não é, é finito, e a distribuição da água não é feita de
acordo com a distribuição da população, das necessidades. Ela existe mais onde a
demanda é menor, então ela existe em outros pontos onde a demanda é grande em alguns
países, então a questão da água leva à questão do meio ambiente, então acaba que o
grande problema é para o meio ambiente o meio ambiente acaba sendo o cenário de todas
essas questões.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.C.G., 66, ENGENHEIRO
ELÉTRICO)
Acesso à alimentação
Como produzir alimentos para atender às necessidades mundiais também é um desafio para a
humanidade, conforme apontaram alguns entrevistados. Com a questão climática, “não basta
produzir alimentos”: teremos que produzi-los de forma sustentável, mantendo os recursos naturais e
explorando a produtividade sem degradar os solos:
“Hoje, quando se fala em segurança alimentar, nosso grande desafio não é mais a
produção de quantidade de alimentos, ou volume de alimentos. Nós estamos
principalmente preocupados com a segurança do ponto de vista daquilo que nós
construímos, em relação a quanto isto impacta o meio ambiente; quanto isto consome de
recursos naturais, ou deixa de consumir; e qual é a segurança que o consumidor pode ter
ao consumir o produto...
Então, o desafio é esse: é produzir sem degradar o estoque de recursos naturais
necessários à produção de alimentos para que as futuras gerações possam ter as mesmas
condições de satisfazer suas necessidades, como nós estamos tendo.” (ONG,
AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
“Eu acho que em agricultura a gente tem grandes desafios. Acho que o mais importante é
a gente fazer uma agricultura que demande menos terra, ou seja, que a gente consiga
produzir mais usando cada vez menos terras ou podendo abrir mão da necessidade de
aumentar a área cultivada.” (ONG, ECONOMIA, A.N., 35, ECONOMISTA)
“Eu acho que o principal desafio é a fome. Nós temos áreas suficientes para alimentar
toda a nossa população, mas a gente precisa ter políticas que prevejam a ocupação do
território de forma igual, de convivência com o semi-árido. (...) A fome é um desafio
imenso, monumental...” (ONG, AGRONEGÓCIO, M.G.A., 45, AGRÔNOMA)
Energia
“Então, eu acho que o grande desafio vai ser tecnologicamente equacionar o problema da
energia no país, no mundo; então hoje nitidamente a gente nota que todo o gargalo que
existe no mundo é o gargalo de energia. Você vê, talvez a gente tenha em seguida o
problema de água, por exemplo: mas se nós pensarmos que se tiver energia abundante,
você tira a água do mar com facilidade, você dessaliniza, transforma a água do mar em
água potável, você vê que o problema de água [inexiste]. Nós temos uma fonte de água
enorme que são os oceanos, cobrem dois terços da terra, da superfície do globo. Então eu
acho que a obtenção de energia barata, limpa etc., vai ser o grande desafio.”
(SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, M.M., 63, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
138
Uso do solo
“[Esse desafio é tanto econômico como ambiental] porque, na verdade, a questão da
agricultura talvez seja, das atividades humanas, a que tem maior quantidade de interfaces
em questões ambientais, tanto direta como indiretamente. A agricultura se faz em áreas
que foram de cobertura vegetal natural. Você não faz agricultura dentro de uma fábrica,
em terrenos, solo, água, territórios que foram em algum momento cobertos por florestas
ou outro tipo de vegetação.” (...)
[A área de agricultura que mais emite] é a parte agrícola propriamente dita, o
desmatamento é um dos impactos, mas o próprio uso, o próprio manejo de solo é emissor
de gás, o uso dos produtos químicos na agricultura tem efeitos pesados na emissão de
gases do efeito estufa e aí as outras coisas, especificas do uso de combustíveis, emissões,
CO2 etc.” (SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO, J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA)
“Bem, a minha área é a área florestal e rural. Então, considerando essa área,
principalmente o setor madeireiro, temos o grande desafio de utilizar os nossos recursos
florestais e os nossos recursos ambientais de forma sustentável. (...) Qual é o nosso
desafio? É estancar esse processo [do avanço da fronteira agrícola] aqui na Amazônia e
mostrar que na Amazônia nós temos que trabalhar sobre o modelo do desenvolvimento
sustentável mediante a exploração madeireira.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO,
G.S.C., 52, ENGENHEIRO FLORESTAL)
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS E MAIOR DESAFIO
AMBIENTAL PARA OS PRÓXIMOS ANOS
Desigualdade social novamente citada
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Questões
Questões
Mudanças
Des.
Agriculsociais
ambientais
climáticas
sustentável
tura
24
12
6
5
3
Outros
10
Total
60
As lideranças ouvidas em respostas espontâneas apontaram como principal desafio brasileiro
“diminuir as desigualdades sociais”. Em segundo lugar foi citada a preservação dos recursos
naturais, com destaque para os recursos hídricos e para a necessidade de “conservar a Amazônia”.
As mudanças climáticas também foram citadas por 6 entrevistados, bem como o “desenvolvimento
sustentável”.
Mais de um terço declara que diminuir desigualdades sociais é a grande tarefa dos brasileiros para
os próximos anos:
“No Brasil você vê o seguinte: o nosso bolo econômico é grande, mas quando você vai
dividir pela nossa população ele se torna pequeno. Então, eu acho que o Brasil tem um
grande desafio político, uma decisão de eliminar a pobreza, ter um controle de saúde
pública. O Brasil tem muitos problemas nessa área, nós não podemos continuar com essa
desigualdade social. Não me conformo do país ter essa visão ainda desenvolvimentista
sem cuidar dessas coisas básicas.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, M.M., 63,
ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“...por exemplo, a região Nordeste é a região que tem um terço da população brasileira,
com desigualdades históricas e a gente destaca aqui a região Norte, onde está a
139
Amazônia, que é destaque no mundo todo.” (ONG, AGRONEGÓCIO, M.G.A., 45,
AGRÔNOMA)
“Do Brasil temos as questões mais domésticas brasileiras: a nossa sociedade é muito
desigual, perto de outros países. Então, eu acho que o maior desafio do Brasil é tornar o
Brasil menos desigual, fazer com que a diferença entre os muito ricos e muito pobres
diminua tremendamente.”(ONG, ECONÔMIA, A.N., 35, ECONOMISTA)
Considerada tão importante quanto a questão da desigualdade, aparece a necessidade de promover o
desenvolvimento “de forma sustentável”, mostrando que desenvolver e diminuir as desigualdades
sociais são faces de uma mesma moeda:
“Eu acho que o desafio é consolidar o processo de distribuição de renda, de melhorias de
acesso da maior parte da população aos benefícios que a civilização ocidental trouxe;
então, distribuição de renda e poder e transformar essa distribuição em uma oportunidade
de sustentabilidade. Não é ligar a questão do progresso material com a questão da
sustentabilidade ambiental só. Incluiria também outra cosia que é bem particular, que é
uma transformação de pensamento e até do espírito.” (ONG, ENERGIA, P.D.R.M., 49,
GEÓGRAFO)
“O Brasil tem que atingir um desenvolvimento socioeconômico na forma mais sustentável
e pressupõe-se também uma distribuição de renda numa sociedade mais eqüitativa. E o
Brasil é um país extremamente desigual, nós temos favelados ou a pessoa que no meio
rural vive na miséria absoluta, e tem a opulência de milionários, bilionários, isso também
é uma pirâmide social que é muito injusta, então, para mim, o desafio é construir um novo
modelo que seja sustentável, com distribuição de renda, e que ele seja sustentável,
portanto pressupõe-se uma mudança de modelo tecnológico.” (SOCIEDADE CIVIL, USO
DO SOLO, P.I.C., 42, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
A necessidade de melhorar a educação foi citada por dois entrevistados como o maior desafio:
“O maior desafio do Brasil é a educação (...). Um país cujo cancro é a educação. Você
não tem educação adequada, as pessoas não se interessam por educação. Não estou
falando de segmentos pequenos específicos, estou falando dos cento oitenta milhões de
habitantes do país.” (ONG, ECONOMIA, A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“Olha, eu vou pegar uma questão que para o Brasil é muito decisiva. Eu acho que a gente
precisa ter uma reforma política séria e a gente precisa é de um processo educativo de
melhor qualidade, ou seja, focar mais o ensino básico; a qualidade do ensino ainda é
precária...” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53,
SOCIÓLOGO)
A água nossa de cada dia
Como vimos, à preocupação com um manejo adequado dos recursos naturais como um todo somase à preocupação específica com a água:
“(...) nós temos nossas situações de crise. Quer dizer, você tem uma situação em São
Paulo que é uma cidade que não consegue se olhar com uma visão, digamos, mais
ambiental de maior cuidado de mananciais da sua cidade. Quer dizer, tem uma crise de
ocupação da região de mananciais e as pessoas não conseguem associar uma coisa a
outra. Parece que a água vem da torneira mesmo, brota dali e pronto.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.R., 40, JORNALISTA)
140
“Eu ando muito assustado, com a questão hídrica no Brasil. O Brasil tem um campo
privilegiadíssimo de campo hídrico, mas a degradação dos rios, a falta de cuidados com
os rios me deixa muito assustado. Acho que notoriamente o fato volta mais para o semiárido. Há indicadores de que o semi-árido está se transformando em áreas
desertificadas...” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53,
SOCIÓLOGO)
S.O.S. Amazônia
Doze (12) entrevistados citaram como principal desafio do Brasil nas próximas duas décadas a
proteção da Amazônia. Se contarmos, contudo, aqueles que também a ela se referiram quando
falaram de mudanças climáticas, temos 18 citações, mostrando a preocupação das lideranças de
ONGs e da sociedade civil com esse bioma. A visão geral, comunicada em inúmeras entrevistas, é a
de que está acontecendo um “verdadeiro desastre” na região, e a Amazônia precisa de um “choque
de gestão sustentável”:
“É a Amazônia, o desmatamento da Amazônia, a questão da Amazônia. O Brasil precisa
equacionar, precisa saber o que vai fazer com aquilo, precisa de um verdadeiro choque de
gestão, botar para a frente os quilos de planos sustentáveis que já foram desenhados... Ou
sempre vai predominar um discurso sensacionalista, um discurso mais desenvolvimentista
e às vezes a gente acaba não tendo bom senso...” (ONG, ECONOMIA, M.A.F., 48, ENG.
AGRÔNOMO)
“São sem dúvida as várias questões da Amazônia como as terras, como as madeiras, como
os rios, como as riquezas minerais, o contrabando. (...) Se não houver uma revolução para
a proteção da Amazônia, nós iremos destruir esse patrimônio e, com ele, dezenas de povos
indígenas poderão morrer novamente num outro genocídio, como na colonização. (...)”
(ONG, USO DO SOLO, J.B.S.M., 31, FUNC. PÚBLICO)
“Um é você evitar o desmatamento da Amazônia, iniciar um projeto, como já existem mais
de 600 mil km² desmatados na Amazônia, de 1970 até agora, que é uma área do tamanho
da França, é você realmente procurar reflorestar com um reflorestamento ecológico e
também econômico.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S., 74, AGRÔNOMO)
“No Brasil, cada vez mais isso se acentua pelos dois vetores. Um, a queimada e a
destruição dos recursos naturais da Amazônia, que transformaram o Brasil de décimo
sétimo emissor em quarto emissor do planeta.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO,
I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
É preciso atuar nas causas e conseqüências das mudanças climáticas
Seis (6) entrevistados citaram como maior desafio do Brasil atuar sobre as causas e as
conseqüências das mudanças climáticas. Em relação às causas, citaram a necessidade de “reduzir as
emissões dos gases do efeito estufa”. Além da Amazônia, amplamente citada como emissora “por
causa das queimadas”, as outras menções foram aos veículos automotores e à importância do uso de
energia limpa para reduzir as emissões:
“Acho que no Brasil o grande desafio vai ser diminuir as emissões de CO2 dos veículos...
Temos uma frota enorme de caminhões, carros nas cidades, tratores, enfim, tudo aqui é
movido a combustível fóssil, a participação do etanol é ainda pequena, e a gente esquece
que o etanol também emite... Acho que o principal desafio nosso hoje em dia são as
queimadas que precisamos diminuir, depois tentar retirar essas emissões de carbono
através da eficiência energética.” (ONG, ENERGIA, L.F.L.P., 38, ENG. ELÉTRICO)
141
“E outro desafio que eu acho que é importante é o desafio que nós estamos enfrentando
aqui, estamos trabalhando nele, é você encontrar formas de produção de energia que
sejam limpas no que diz respeito às emissões de CO2, ou que você utilize fontes de energia
que permitam uma série de compensações.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S.,
74, AGRÔNOMO)
“E agora, com a incapacidade governamental de um planejamento de prazo longo, a
substituição da demanda de energia limpa por uma energia termoelétrica e, pior ainda,
uma energia termoelétrica baseada em carvão. Carvão importado, carvão nacional, não
tem importância, todos eles nos farão dependentes de uma situação global que se desenha
altamente punitiva para países emissores.
Então, eu não estou vendo claro que a consciência governamental está nos levando para
uma situação melhor, porque se a demanda de energia para crescimento é cada vez maior,
e isso não foi planejado, as soluções já existentes em que o Brasil seria pujante na
apresentação dessas opções, tais como biomassa e várias outras, solar, eólica, não estão
sendo adequadamente tratadas. Então, eu acho que o Brasil está numa posição de saber
fazer, mas não fazer.” (I.K., 60, SOCIEDADE CIVIL, SOCIEDADE CIVIL, USO DO
SOLO).
Alguns entrevistados discorreram sobre as conseqüências e sobre a necessidade de promover
programas de mitigação. Escolhemos a declaração a seguir por ser a mais elaborada:
“Acho que o grande desafio mundial, e também brasileiro, é a questão do clima, das
mudanças climáticas, sem dúvida nenhuma do aquecimento global e as conseqüências...
Esse é um tema que implica mudanças, efeitos em cadeia, em todo o resto: compromete
seriamente a questão hídrica, compromete seriamente a manutenção da biodiversidade e
ele vai comprometer a questão dos assentos humanos...
Pouca gente fala nisso, mas o aquecimento global, as mudanças climáticas vão provocar
uma grande migração humana e das demais espécies vivas, mobilidade nos ecossistemas,
nos regimes de chuvas, uma migração sistêmica, no mundo todo, que pode ser
catastrófica, pode acentuar muito o problema da pobreza, da violência, da doença.
Acho que é um desafio imenso que as pessoas não têm encarado com a devida seriedade.
Não escuto nada sobre mitigação no Brasil, nadinha, só de redução de emissões, e esse é
só um lado da questão.” (ONG, ECONOMIA, A.N., 35, ECONOMISTA)
Mudanças climáticas realmente preocupam
Qual será o maior desafio ambiental do Brasil nos próximos 20 anos?
Mudanças
Questões
Des. sust.
Energia
Questões sociais
climáticas
ambientais
16
16
12
5
3
Outros
TOTAL
8
60
Com relação ao maior desafio ambiental para a humanidade nos próximos 20 anos, praticamente
um terço dos entrevistados sustentam que será tratar dos assuntos relativos às mudanças
climáticas. Em seguida foram citadas outras questões ambientais (16 citações), com destaque para a
questão hídrica.
142
“Sem dúvida nenhuma as mudanças climáticas. (ONG, ENERGIA, L.F.L.P., 38, ENG.
ELÉTRICO)
“A área ambiental é um grande desafio e dentro dela tem vários problemas a enfrentar,
mas eu acho que as mudanças climáticas realmente são questões que já estão e vão estar
cada vez mais nos noticiários, e os problemas afetados por isso também vão despontar.
Junto disso é que a gente vai ter problemas que vão impactar diretamente os
comportamentos humanos, alimentação, abrigo, proteção e doenças.” (SOCIEDADE
CIVIL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.F., 36, ENGENHEIRO
FLORESTAL)
“O visível já imediatamente configurado pela ciência e que não há mais dúvida alguma
está nas mudanças climáticas oriundas da matriz energética.” (SOCIEDADE CIVIL, USO
DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
Recursos hídricos e as lições da história
“O grande desafio é a água e a administração da água, quer dizer, eu citei recentemente a
Jordânia, um país que não tem praticamente água. O rio Jordão, cuja imagem que temos é
a de um rio caudaloso, viabilizou aquelas populações todas que se instalaram ali e onde
hoje é Gaza, Israel, Líbano e Jordânia, e à medida que foram queimando as florestas, até
por guerras, foram reduzindo a disponibilidade de água a níveis mínimos. Eu acho que
isso está acontecendo também em outros países, por exemplo na Austrália.”
(SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO, M.V.P.M., 58, ECONOMISTA)
O uso sustentável dos recursos naturais foi lembrado como um importante desafio ambiental a ser
enfrentado pela humanidade nos próximos 20 anos:
“É se organizar por volta dos temas da utilização dos recursos naturais...” (ONG, USO
DO SOLO, I.S.T., 48, ENG. FLORESTAL)
“É exatamente como garantir a conservação da biodiversidade e todos os serviços
ambientais que são gerados a partir dessa biodiversidade; como conciliar conservação da
biodiversidade com o desenvolvimento social e econômico da humanidade...” (IDEM)
Um entrevistado sustenta ainda que o movimento de crescimento das populações tem se dado no
sentido contrário ao desenvolvimento sustentável:
“...até hoje o movimento tem sido principalmente da população humana crescer e usar de
forma descontrolada os recursos naturais. Hoje nós estamos vendo que isso não é o
caminho correto. Se nós continuarmos na mesma marcha pode ser que a nossa espécie se
extinga por falta de recursos naturais.” (ONG, USO DO SOLO, J.M.C.S., 42, BIÓLOGO)
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Discordância quanto à intensidade do impacto
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concordam
fortemente
Concorda
Discorda
Não tem informação
suficiente
Não respondeu
TOTAL
29
25
1
1
4
60
143
A quase totalidade dos entrevistados (54 em 60) concorda que as mudanças climáticas poderão
afetar todas as sociedades humanas.
A divergência está nas visões sobre a intensidade do impacto: enquanto 29 concordam fortemente
que os impactos serão graves, 25 preferiram apenas concordar, com ressalvas.
Os que concordam fortemente o fazem devido às evidências fornecidas pelos cientistas e aos
fenômenos extremos estão se multiplicando no mundo:
“Eu concordo fortemente, pois não há mais dúvidas por parte da ciência... Há fortes
evidências de que o Katrina e as enchentes na Índia já são manifestações de severidades
climáticas. (...) Uma vez que boa parte da população mora no litoral, boa parte da
população do mundo está nos litorais e elas serão impactadas... Algumas culturas vão ter
que deslocar de seus territórios, e isso vai afetar a cultura de uma região inteira.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32, ARQUITETO)
“Eu concordo fortemente que haverá impactos nas populações. Muitas populações vivem
do meio ambiente, as pescadoras e os pescadores, por exemplo, haverá um impacto
grande. Se você tem hoje um lago, um açude, e se ele secar, você não vai ter como
sobreviver. As pessoas pensam que as mudanças climáticas são uma coisa que vai
acontecer com as geleiras por causa da imprensa. Há uma necessidade de informar que a
coisa vai acontecer aqui mesmo, no nosso litoral, que a Amazônia pode virar um cerrado
pobre, enfim falta informação de como vai impactar o Brasil.” (ONG, AGRONEGÓCIO,
M.G.A., 45, AGRÔNOMA)
“Eu concordo, eu acho que a ciência, inclusive, custou muito para poder ser realmente,
vir a ser pública, porque é claro que isso implica questionar muitos interesses, e
certamente concordo e acho que hoje, no momento que nós vivemos, é muito importante
que as pessoas compreendam a complexidade do desafio que nós temos. A opinião de
alguns é real. Todo mundo está vendo e a ciência explica.” (SOCIEDADE CIVIL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, T.C., 51, JORNALISTA)
Até argumentos espirituais foram invocados por um representante de organização indígena:
“Concordo fortemente porque já havíamos alertado há muitos e muitos anos para esse
problema grave que vai afetar toda a humanidade. A Amazônia, assim como outras
florestas tropicais, como outras questões da natureza, são questões sagradas. Nós
analisamos a partir de dados científicos, mas também analisamos a partir da nossa
espiritualidade. Nossos lideres espirituais nos alertaram há muito tempo que isso podia
ocorrer. (...)”
Nossos pajés, inclusive um deles o Davi Capinana, já diziam alguns anos antes de
saírem pesquisas que haveria um grande buraco no céu que cairia sobre a Terra, que
isso iria trazer a destruição da humanidade e que nós precisávamos trabalhar bastante
para que isso não viesse a acontecer.” (ONG, USO DO SOLO, J.B.S.)
Outro grupo de entrevistados concorda, mas apresenta dúvidas quanto à intensidade real dos
impactos. Eles alegam que “não há precisão nos dados, são hipóteses”, há imprecisão nas
estimativas, “não temos metodologias, temos projeções”, ou ainda que “há um clima de terror nas
notícias”:
“Eu concordo, mas não sei se colocaria fortemente… É que a gente não sabe se a
temperatura em 30 anos vai subir 3 graus, eu acho que sim, mas e se ela não subir? Só
subir só meio? Há muita imprecisão nas estimativas...” (ONG, ECONOMIA, A.N., 35,
ECONOMISTA)
144
“Eu concordo, mas eu acho que ela pode ser tão gradativa que a gente pode não saber
direito causa e conseqüência. Tem previsões de várias alterações devido à mudança
climática, temos fortes indícios, mas não temos cem por cento de certeza do que vai gerar;
vão acontecer várias coisas, mas isso vai ser gradativo e talvez não dê para saber direito
o que é o quê.” (ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
Nesse grupo também obtivemos os depoimentos mais otimistas, que não vêem no Brasil do futuro
um cenário sombrio:
“Eu analiso mais o lado agrícola. O outro lado eu não saberia dizer, se vai haver
inundações, elevação do nível do mar etc., eu não saberia dizer. A produção agrícola
depende de luz, calor e chuva. Eu pessoalmente não acredito que haja, no caso do Brasil,
grandes mudanças em relação à chuva. (...) Calor, um pouco mais? As plantas precisam
de calor para crescer. Luz, não vejo que vai mudar muito ao nível de horas de sol que nós
temos. Inicialmente não vejo motivos de nós termos mudanças que nos prejudiquem, de
modo que me faz crer que nós vamos ter um papel único na humanidade para prover
alimentos, fibras e biocombustível.”(ONG, AGRONEGÓCIO, F.P.C.F., 93, ENG.
AGRÔNOMO)
Para o mesmo entrevistado, os efeitos das mudanças climáticas poderão ser benéficos para alguns
países:
“Por exemplo, na Islândia o aquecimento está colocando em produção áreas de solo
cobertas de gelo, que se descobriram de gelo e podem ser plantadas... (ONG,
AGRONEGÓCIO, F.P.C.F., 93, ENG. AGRÔNOMO)
Apenas um entrevistado discorda que as mudanças climáticas poderão causar danos às sociedade, e
justifica seu posicionamento alinhando-se com uma corrente neomalthusiana que acredita na
adaptação tecnológica como solução de possíveis ameaças ambientais.
“Olha, eu não tenho informação suficiente, eu escuto de tudo, eu escuto uma corrente que
eu chamo de neomalthusiana, porque Malthus foi aquele que no século XVIII fez um livro
declarando que, se a população do mundo continuasse a crescer, todo mundo ia morrer de
fome em poucos anos. Esse é o Malthus, neomalthusianos formam essa [visão]. Eu acho
que há consistência técnica em algumas dessas afirmações, mas eu não chego aos
extremos porque acredito muito na tecnologia. (...) Então eu creio que é uma associação
de mais cuidados ambientais, com mais avanço tecnológico, que vai permitir ao mundo
continuar crescendo e alimentando suas populações.” (SOCIEDADE CIVIL,
AGRONEGÓCIO, M.V.P.M., 68, ECONOMISTA)
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
Temática é considerada muito importante
Importância do tema em seu setor de atuação:
Muito importante
Importante
Pouco importante
51
6
3
TOTAL
60
145
Solicitados a apontar o grau de importância do tema das mudanças climáticas para o setor em que
atuam, mais de dois terços dos entrevistados (51) o classificaram como “muito importante”; seis o
classificaram como “importante” e apenas três responderam que o tema é “pouco importante”:
A quase totalidade dos entrevistados desse setor (51 em 60) afirmou considerar a temática das
mudanças climáticas importante ou muito importante para o seu setor de atuação. Entre os
entrevistados que consideram o tema “muito importante” para seu setor de atuação, alguns estão
envolvidos com atividades relacionadas diretamente à questão do clima:
“É muito importante, porque trabalhamos com o desenvolvimento de energias limpas e
com eficiência. A energia brasileira é praticamente hidrelétrica. A parte hidráulica e
nossos rios está acabando, o potencial dos rios, a gente vai acabar passando para a parte
térmica. Ou seja, mais emissões no planeta, no país. A eficiência energética está
diretamente ligada às questões das emissões.” (ONG, ENERGIA, L.F.L.P., 38, ENG.
ELÉTRICO)
“Olha, ela é muito importante. (...) A missão da nossa organização é contribuir para a
sobrevivência autônoma das comunidades, contribuir com as estabilidades, com a questão
da convivência no semi-árido e essa coisa toda. E, por tudo o que a gente tem visto, o
semi-árido será uma das regiões mais afetadas com as mudanças climáticas.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53, SOCIÓLOGO)
A área de atuação ligada à geração de energia vê uma oportunidade para novos negócios de energias
alternativas, como viabilizar energias outrora antieconômicas.
“Sim, fazendo prevalecer a regulação, tecnologias que outrora eram consideradas
antieconômicas, ou seja, eram condenadas apenas por custos, passam a receber maior
apoio ou maior abertura por conta de subsídios. Antigamente, quando se comparavam
dois ciclos de produção de energia de conversão, você jamais faria sobre hipótese de
flexiadores, e hoje flexiadores é uma realidade. Você computa favorável não à sua idéia,
ao seu trabalho, à sua concepção e à sua tecnologia.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA,
S.C., 59, ENGENHEIRO MECÂNICO)
Também na área de agricultura a questão climática oferece novos horizontes, com a aceleração do
processo de certificação e a redução do uso de insumos derivados do petróleo. Ela pode também
afetar negativamente, alterando o clima e o regime de chuvas.
“O tema mudança climática agindo diretamente no setor, não só em relação a isso como
também traz, acelera a questão da necessidade dos processos de certificação, ou seja, a
necessidade que temos de cadeia limpa de produção. O consumidor lá fora compra um
quilo de carne e vai dizer: essa carne veio lá do Brasil e veio lá do Estado tal que tem uma
propriedade que esta lá certificada.
Nós estamos entrando na era da certificação e da rastreabilidade que a informática e a
globalização nos permitem. Traz ao setor uma necessidade premente de que o setor se
adapte as questões conjunturais globais de mercado, e essa adaptação tem como requisito
as questões de ordem ambiental. Nós temos que fazer esses ajustes.” (SOCIEDADE
CIVIL, AGRONEGÓCIO, R.J., 42, ECONOMISTA)
“[As mudanças climáticas para a agricultura podem] até ser positivas, porque a nossa
estratégia tecnológica, a nossa estratégia de sistema produtivo já é muito próxima de
reduzir o consumo de insumos de derivados de petróleo. Usa fontes alternativas de
energia. Não afeta porque nós já trabalhamos nesse sentido. Ela pode até reforçar, pode
146
até trazer recursos adicionais, como por exemplo o seqüestro de carbono, incentivos e
políticas que estimulem, mas isso não afetaria negativamente no sentido de que 'olha, nós
fazemos tal coisa e temos que deixar de fazer'. E nos afetaria negativamente com impactos
de mudanças, no sentido de alterar clima, regime de chuvas, isso vai afetar fortemente a
agricultura.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, P.I.C., 42, ENGENHEIRO
AGRÔNOMO)
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
Regulação pode trazer impactos negativos e positivos
Com relação à regulação das emissões de gases do efeito estufa, quase um terço dos entrevistados
declaram que ela afetaria suas atividades profissionais, mas positivamente, pois ampliaria as
possibilidades de negociar créditos de carbono. Isso seria bom para as ONGs, para o governo e para
a sociedade de um modo geral. Quanto às empresas, na opinião das lideranças entrevistadas, muitas
já estão se antecipando e fazendo seus inventários.
Entre os argumentos positivos, está o de que a regulação pode representar oportunidades para um
crescimento sustentável:
“Com as metas de redução, teríamos uma corrida das empresas para entrarem em
conformidade. Isso aceleraria enormemente os processos de certificação, e outros
mecanismos, pois com certeza os bancos aumentariam créditos para isso, seria uma coisa
muito boa para o Brasil.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, M.D., 52,
GEÓGRAFO)
Ampliar o mercado de crédito de carbono seria outro efeito positivo:
“O Brasil não tem metas específicas de redução... Mas ele, sob o Protocolo de Kyoto, tem
oportunidade de se ver livre do limite dos ajustes necessários dos países desenvolvidos.
Então a questão, por exemplo, dos créditos de carbono – que é uma conseqüência desse
processo – nos afetam por enquanto positivamente. (...) Nós já consideramos a
possibilidade de vender créditos de carbono como uma fonte de renda...” (ONG,
AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
“No caso do reflorestamento, o mercado de créditos de carbono é essencial; no caso da
Mata Atlântica, que hoje só tem 7% da floresta, e grande parte das espécies ameaçada de
extinção no Brasil, estão concentradas na Mata Atlântica. Então o reflorestamento é uma
grande oportunidade de transformar a Mata Atlântica via pagamento por carbono
seqüestrado...” (ONG, USO DO SOLO, J.M.C.S., 42, BIÓLOGO)
Já com relação à agricultura, a regulação das emissões não é consenso entre nossos entrevistados.
Os seguintes depoimentos mostram que a regulação impactaria negativamente este setor de
atividade:
“Interfere diretamente na vida dos agricultores com quem eu convivo. Alguns impactos de
decisões internacionais os atingem diretamente. E é claro que um impacto na vida deles
vai interferir na minha ação junto a eles.” (ONG, AGRONEGÓCIO, M.G.A., 45,
AGRÔNOMA)
“A regulação pode afetar a competitividade. Conheço a produção de flores e de alguns
legumes, em estufa, onde todos os dias se injeta gás carbônico para incentivar a produção,
de modo que as plantas precisam de gás carbônico, e o fato de subir um pouquinho mais,
147
a diferença é mínima. Sob o aspecto humano, o gás carbônico não é um veneno, você está
respirando 4, 5% de gás carbônico, e se aumentar de 5% para 5,1% não vai fazer
diferença.” (ONG, AGRONEGÓCIO, F.P.C., 93, APOSENTADO)
Algumas lideranças afirmam que, em suas atividades, a regulação não seria sentida, ou o seria
apenas indiretamente:
“Afeta, acho que vai afetar a atividade de todo mundo, especialmente porque vai interferir
na mobilidade, não e? Viagens, carros aviões, acho que a mobilidade, se você tem meta de
redução, vai atingir a mobilidade de todo mundo.” (ONG, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, M.D., 52, JORNALISTA)
“Afetar a atividade não, porque não temos uma atividade produtiva tipo industrial, em que
isso possa gerar uma descontinuidade na produção. Eu acredito que é uma questão muito
mais de afetar a vida no planeta. Claro que, se essa pergunta for endereçada para um
determinado setor da economia, com certeza a resposta será outra. (ONG, ENERGIA,
M.P., 58, ENG. MECÂNICO)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Falta de recursos, de educação e de consciência
Barreiras econômicas e financeiras (falta de recursos) são, juntamente com falta a de educação e
consciência, as duas dificuldades mais citadas pelos entrevistados para o enfrentamento das
questões do clima. Também foram amplamente citados a falta de “vontade política” e o modelo de
produção e consumo.
A declaração abaixo resume bem as razões da dificuldade do engajamento dos atores, que, além de
passar pela questão econômica, também esbarra em obstáculos políticos e tecnológicos:
“Você tem barreiras de diversas ordens: você tem barreiras políticas no sentido de que os
compromissos no âmbito da Convenção de Mudanças Climáticas precisam ser apoiados
por todos os países, e portanto como os interesses são muito distintos entre os países pelo
porte, pela região, pela situação geográfica etc., você tem dificuldade de construir
consciências que falam mais rápido, as consciências são muito lentas.
Você tem dificuldades econômicas porque os agentes econômicos invertem e têm os custos
já realizados, e eles têm que depreciar esses custos, então existe um tempo econômico
para a depreciação dos investimentos. Isso faz também com que você não tenha tanta
agilidade assim para modificar a estrutura produtiva.
Você tem limitações tecnológicas, tem muitos casos que você quer fazer, gostaria de ter
uma determinada tecnologia, por exemplo, um carro usar célula combustível, que usa o
hidrogênio como combustível que é uma tecnologia extremamente limpa, mas que você
não tem hoje como representar isso, porque você tem barreira tecnológica. Eu chamaria a
atenção para as principais, que na minha opinião são essas. Políticas, econômicas e
tecnológicas.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, M.M., 47, ECONOMISTA)
Dói no bolso
O entrave econômico é o mais forte. Os interesses das nações mais ricas e poderosas ou de grupos
econômicos específicos impedem que ações mitigadoras sejam efetivamente implementadas. A
148
diminuição do lucro, a perda de competitividade e o prejuízo são algumas das conseqüências
temíveis:
“As barreiras econômicas para mim são as principais, no mundo inteiro, por causa do
modelo que é capitalista e precisa, para funcionar, do combustível fóssil. Fala-se muito no
combustível do próximo século, o hidrogênio, mas por enquanto mata-se pelo petróleo.”
(ONG, ENERGIA, R.B., 56, ENGENHEIRO HIDRÁULICO)
“Eu acho que tem o fator da economia, tudo esbarra na economia. Se você não reprime,
todo mundo alega que não se fazem ações contra as madeireiras, mas se você faz, aí você
tem problemas com a população, queda de emprego, muitas cidades podem colapsar...
Veja as fábricas de automóvel, saíram de São Bernardo e deixaram um rastro de
desemprego para trás... Não é fácil mudar. (...) Ainda estamos naquela de ter de provar
que é possível gerar riqueza sem estar destruindo o ambiente.” (ONG, USO DO SOLO,
O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
“A gente lê muito que as principais resistências que os países têm são no que se refere à
parte econômica, alegando que essas questões ambientais vão acabar afetando direta ou
indiretamente a sua atividade econômica. Um dos que mais defendem isso é o Estados
Unidos, pela quantidade de carros que tem, ou seja isso vai acabar de qualquer forma,
queira ou não queira, isso vai afetar a sociedade civil, a economia dos países. Eu acho
que é isso que faz com que os países fiquem com muito discurso e pouca ação.”
(SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, G.S.C., 52, ENGENHEIRO FLORESTAL)
“Na maior parte dos casos isso esbarra sobretudo em setores de maior competitividade,
com o fato de que quem fizer isso, quer dizer, ele está perdendo de alguma forma a
competitividade, a competição você tende a dificultar, a adoção destas medidas
mitigadoras, apenas por uma iniciativa individual de um ou outro empresário. (...) Um
custo maior, uma rentabilidade menor, as práticas predatórias são desgraçadamente, elas
têm um efeito econômico de curto prazo, mas positivo” . (SOCIEDADE CIVIL,
AGRONEGÓCIO, J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA)
Politicagem
O impasse político como um entrave para enfrentar as mudanças climáticas foi bastante
mencionado nas entrevistas. A falta de motivação política pelas mudanças climáticas, aliada aos
interesses particulares dos setores produtivos, criam um obstáculo grande no momento da tomada
de decisão por parte de atores influentes.
“Interesses particulares políticos, intelectuais, egoístas, falta de motivação por falta de
visão prospectiva, por aí.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA
SOCIAL)
“Como fatores limitantes, devo dizer que a presença de forte lobby que depende de um
modelo construído em cima da indústria dos fósseis e embora esse mesmo lobby esteja
olhando em outros setores para o seu próprio futuro, mas ainda hoje domina a agenda dos
políticos, a gente vê, no Brasil certo incentivo para aumentar carros, então isso domina
ainda a agenda das políticas públicas, então esse é o maior destaque.” (SOCIEDADE
CIVIL, ECONOMIA, R.S., 46, JORNALISTA)
“Eu acho que o que falta é vontade política para tentar de verdade, coibir de verdade os
privilégios locais que existem nessa questão, e tudo para que o desmatamento seja zero no
país, zero.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, M.G., 49, ECONOMISTA)
149
Educação
As declarações abaixo mostram o posicionamento de dois entrevistados em relação à barreira
imposta pela falta de educação – tanto formal quanto informal – no Brasil. Um dos entrevistados
também aponta a questão cultural de o Brasil se ver como um país subdesenvolvido como um
problema.
“A educação científica, que no Brasil é extremamente deficitária, em conseqüência, a
educação da classe política, principalmente porque o Brasil não se cerca de cientistas
para sequer discutir questões relacionadas ao clima e à energia. Porque você vê no Brasil
o seguinte: o Ministério de Energia, que é dirigido por pessoas de talento, pode até ser,
não sei, no entanto os comitês e as sessões não têm nenhuma relação com a comunidade
cientifica da base, diferentemente de qualquer país desenvolvido.” (SOCIEDADE CIVIL,
ENERGIA, S.C., 59, ENGENHEIRO MECÂNICO)
“Nos países não desenvolvidos, ditos em desenvolvimento, eu diria que a ignorância é o
fator fundamental... A falta de leitura, a falta de entendimento, a reação que determinados
setores empresariais fazem, por exemplo, à questão das mudanças climáticas. (...) Quando
analisamos essa situação, eu diria que em países como o Brasil é a falta de educação e a
ignorância. Talvez seja um dos sintomas em que a Europa esteja na frente, onde a cultura
tem um grau de valorização diferenciado.” (SOCIEDADE CIVIL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, M.M., 51, ENGENHEIRO FLORESTAL)
“É uma questão cultural e de auto-percepção. O Brasil sempre se vê como país
subdesenvolvido e aí cai nessa coisa. E também tem setores da economia que aproveitam
isso, porque não querem investir nas emissões. Então, eu acho que a barreira brasileira é
cultural.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, C.W., 47, CIENTISTA POLÍTICA)
A falta de conscientização e educação ambiental não permite que as populações mundiais mudem
paradigmas importantes que poderiam ajudar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, tais
como o estilo de vida e os hábitos de consumo:
“Sem conscientização não se muda mentalidade. Eu acho que é a mudança de
comportamento que está faltando. (...) Por exemplo, o pequeno produtor, o fazendeiro que
derruba: que fatores afetam essas decisões no dia-a-dia? Isso tem que ser trabalhado e
mudado... Se, atualmente, o seu maior interesse é derrubar para plantar ou colocar boi,
plantar pasto, então obviamente ele vai fazer isso porque essa é a visão que ele tem do seu
futuro, então isso tem que ser trabalhado porque o ser humano tem a tendência da visão
de curto prazo...” (ONG,USO DO SOLO, I.S.T., 48, ENG. FLORESTAL)
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
A vantagem brasileira
A vantagem brasileira em relação à redução das emissões foi lembrada por alguns entrevistados. Ela
é fundamentada no fato de termos flexibilidade na nossa matriz energética, em podermos conter a
principal fonte de emissão e de termos uma rica biodiversidade.
A flexibilidade da matriz de energia
“O Brasil teria como fazer isso de maneira mais fácil do que outros países por ter mais
flexibilidade em relação à matriz de seu desenvolvimento, países que têm uma matriz
150
muito definida, muito avançada no seu desenvolvimento tendem a ter mais dificuldade
para alterá-la.
Então o Brasil teria um potencial maior nesse sentido, por exemplo, dizer que o Brasil
ainda tem que oferecer acesso a determinados serviços ou bens a grande parte da
população e tem a opção de fazer isso já a partir de uma dimensão da sustentabilidade,
enquanto quem já o fez tem mais dificuldade para alterar porque o padrão já atingiu todo
mundo.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.S., 46, JORNALISTA)
Fonte emissora concentrada
Outra vantagem brasileira é que a maior concentração das nossas emissões está no desmatamento,
que pode ser reduzido facilmente por não ser decorrente de nenhuma atividade macroeconômica
que possa prejudicar a economia do país e sim estar baseada na exploração local que beneficia uma
mínima parcela da população.
“Brasil é dos poucos países que podem se dar ao luxo de reduzir as suas emissões sem
afetar o desenvolvimento. Por quê? Porque no Brasil a grande fonte de emissões é o
desmatamento da Amazônia, do cerrado e das florestas, mas o principal ainda é a
Amazônia e o cerrado e como não há, como o Brasil é muito grande, não há mais
necessidade de desmatar. (...) É aí que a gente tem que atuar: se nós reduzirmos o
desmatamento para números muito baixos a emissão brasileira cai 60%, 70%, quer dizer
nós já teríamos conseguido o compromisso que os países desenvolvidos têm uma enorme
dificuldade de cumprir e sobraria uma margem pro Brasil aumentar suas emissões de
outros setores que são muito associados com o país que sai do estágio de pobreza e passa
a ser um país vamos dizer assim desenvolvido (...)” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO,
C.N., 56, METEOROLOGISTA)
Biodiversidade e a promessa da biotecnologia
Outro ponto alto do Brasil é a biodiversidade brasileira, que, se trabalhada na indústria de
tecnologia de alta capacitação, pode se tornar a base produtiva importante e substituir a atual,
sustentada pelas commodities, que são extremamente danosas ao meio ambiente.
“Aproveitando a biodiversidade brasileira, investindo muito mais em indústria de
tecnologia de alta capacitação do que em indústrias exportadoras de commodities.”
(SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, P.H.G.B., 53, ENGENHEIRA CIVIL)
Minoria vê contradição entre conter o desmatamento e incentivar a expansão agrícola
Para três entrevistados, há uma dicotomia tanto no discurso quanto na prática dos tomadores de
decisão no Brasil. Fala-se ao mesmo tempo em combater o desmatamento e em ampliar a produção
agrícola exportadora, aquela que mais demanda recursos naturais como solo e água. Expandir
significa hoje avançar a fronteira agrícola em direção ao Pantanal e à Amazônia:
“...O Brasil é meio esquizofrênico, porque ao mesmo tempo em que ele faz uma grande
política contra o desmatamento, por outro lado tem aí o Banco do Brasil, Caixa
Econômica, BNDES financiando abertura de áreas na Amazônia, uma coisa que a gente
não consegue entender.
Acho que tem que ter essa política de incentivo quase que recompensando aqueles que
fazem direito, que trabalham respeitando as leis ambientais, as normas ambientais e
punindo ou pelo menos não privilegiando aqueles que estão agindo errado, isso só no
campo dos incentivos e criando condicionantes para o crédito.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, M.D., 52, JORNALISTA)
151
Propostas do setor
A maior parte dos entrevistados limitou-se a responder genericamente quando solicitados a arrolar
propostas. Alguns, porém, fizeram sugestões específicas. Listamos a seguir as mais significativas:
Moratória contra o desmatamento
“Incentivar o uso dessas terras para não desmatar, diminuir o desmatamento. Ou, eu já
falei uma vez, eu acho que o Brasil devia ter uma moratória contra o desmatamento.”
(SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S., 74, AGRÔNOMO)
Reduzir impostos para energias alternativas
“Eu acho que tem muitos incentivos. Na questão de imposto poderia ser muito importante
você reduzir imposto sobre algumas energias alternativas como aquelas que usam energia
solar, eólica, por exemplo. A gente poderia investir em novas tecnologias, não só para uso
no Brasil, mas também como negócio. O produtor de biodiesel ou de álcool daria muito
mais recursos e geraria muito mais emprego e renda se a gente tivesse investido em
tecnologia de ponta de outras energias. Fazer turbinas eólicas.” (SOCIEDADE CIVIL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.F., 36, ENGENHEIRO FLORESTAL)
Reforma tributária que leve em conta os produtos ambientalmente “amigáveis”
“Eu acho que nós estamos num momento muito propício para fazer isso [incentivar ações
de enfrentamento das mudanças climáticas]. Nós estamos em vias de ter uma reforma
tributária, o que toca no padrão de desenvolvimento, o que direciona o padrão de
produção e o lucro. (...) Então eu acho que as preocupações ambientais devem influenciar
cada vez mais a política tributária, que é a forma ou talvez uma das formas mais eficazes
de você encorajar produtos que têm menor impacto ambiental ou desencorajar produtos
que têm alto impacto ambiental.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.F.C., 55,
ECONOMISTA)
Valorizar a floresta em pé e os serviços ambientais
“Se o desmatamento é o problema, então vamos dar valor à floresta inteira (...) sim,
porque normalmente o desmatamento, a retirada da floresta é por razão econômica, seja
pasto, colocar boi ou seja outro, normalmente agricultura não é; então vamos valorar a
floresta inteira, vamos pagar pelos serviços ambientais, vamos manter a floresta em pé...”
(ONG, USO DO SOLO, I.S.T., 48, ENG. FLORESTAL)
“Eu acho que a solução é a valorização dos serviços ambientais. A gente precisa
realmente criar um mecanismo forte para aqueles que preservem, conservem suas
florestas, preservem e conservem seus recursos florestais; que eles sejam premiados, e não
punidos. Eu acho que o meio de se conseguir isso é através do incentivo financeiro para a
conservação dessas áreas.” (ONG, ENERGIA, M.A.Z., 42, ENG. PRODUÇÃO)
Movimento dos consumidores
“Vamos supor que você tenha uma campanha significativa a respeito do uso de
determinados produtos químicos na agricultura que tenham um grande impacto na saúde
ou no aquecimento global, ou coisa que o valha, e os consumidores resolvam que não vão
comprar produtos que sejam fabricados ou que sejam produzidos de tal, ou tal forma...
Por exemplo, a questão dos transgênicos, que não tem a ver necessariamente com a
questão do efeito estufa, embora indiretamente tenha, existe uma regulamentação no
Brasil, que para a defesa do consumidor, para ele poder ter a opção de consumir ou não
152
os transgênicos, tem que saber se o produto possui ou não, é uma regra, é uma lei, um
decreto que diz que todos os produtos tem um Tzinho ou não, indicando que tem
transgênicos. Você já viu algum? Não, esta lei não é aplicada. Esse é um problema, tem
que ter uma regulamentação, para ter fiscalização. (...)
Poderia vir de movimento de consumidores, certamente; no resto do mundo, na Europa em
particular, isto tem um efeito muito grande, muito significativo porque isto é
suficientemente forte para ter marcas na política pública, quer dizer obriga os Estados e a
União Européia a reagir a determinado tipo de impulso de consciência tomado pela
sociedade e aí obriga também a fiscalização, o que permite que o consumidor faça a sua
opção. Isto em geral tem efeito sobre como os industriais, os empresários se comportam.”
(SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO, J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA)
Fiscalização, bloqueio e punição das atividades ilegais
“Não há outra solução que não seja uma fiscalização rigorosa, ostensiva. Já os satélites
estão dando um panorama muito claro de que as taxas do desmatamento voltaram a subir.
O que precisa agora é uma fiscalização ostensiva, precisa uma ação no campo, precisa
deter, impedir que se desmate ilegalmente com a presença muito forte dos órgão de
fiscalização de todas as polícias, exército, órgãos estaduais, órgãos federais. O Ministério
Público precisa congelar a atividade ilegal do desmatamento nos próximos meses, eu diria
até nos próximos anos. (...)
Então é isso, são as 3 escalas, curtíssimo prazo, meses e anos, fiscalização ostensiva, um
bloqueio às atividades criminosas; a médio prazo é a cadeia produtiva, rigor muito grande
na cadeia produtiva; a longo só mesmo dando valor econômico para a floresta em pé.”
(SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, C.N., 56, METEOROLOGISTA)
Orientação técnica ao agricultor
“(...) se você criasse um sistema de orientação técnica no país como nós tivemos nos
últimos trinta anos onde você ensinasse o agricultor, orientasse o agricultor a desenvolver
uma agricultura tecnológica uma agricultura onde se abordasse, por exemplo, um sistema
agropastoril, floresta integrada com pastagem, integrado com agricultura, isso certamente
levaria o país e a agricultura a racionalizar de maneira muito intensa a produção de CO2,
então a integração pecuária já seria uma forma de você minimizar a produção do efeito de
CO2. Se você usar padrões de plantio, chamado de padrão de plantio direto na
agricultura, é sabido que é uma forma de você economizar carbono.” (SOCIEDADE
CIVIL, ENERGIA, H.S., 65, METEOROLOGISTA)
Crédito de carbono
“Todos os incentivos têm sido tentados. O próprio crédito, a alocação de valor a papéis de
redução de emissão. É uma tentativa.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64,
FÍSICO)
Agroecologia
“Agroecologia, agricultura ecológica é uma solução certamente, para esse conjunto de
problemas você consegue ter esse sistema, você usa uma quantidade muito pequena de
qualquer tipo, primeiro ao recompor em parte, ela recompõem em parte a cultura vegetal
e, portanto ela já tem uma atividade de reabsorção de carbono, ela não usa os produtos de
grande efeito, aliás muito maiores que o CO2, o óxido do nitrato, que é feito da
decomposição nitrogenados, tem um efeito de até mais que 300 vezes maior que o CO2,
embora as quantidades emitidas forem menores, o efeito é infinitamente maior. Então, por
153
não ter esse tipo de uso de insumos, porque a agricultura ecológica tem o fator que ela
emite pouco, mas absorve mais, pelo tipo de práticas que desenvolve...” (SOCIEDADE
CIVIL, AGRONEGÓCIO, J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA)
Eficiência energética na produção
“Todo mundo tem geladeira, televisão e outros aparelhos em casa, lâmpadas etc. Acho
que comprar produtos que gastem menos energia deveria ter um incentivo... além do
benefício financeiro imediato acho que a medida teria um efeito educativo. Ouvi dizer que
uma famosa marca de geladeiras estaria distribuindo esse tipo de produto, mais eficiente,
nas camadas pobres que são justamente aquelas que precisam fazer economia. Esse tipo
de programa eu acho que ajuda.”
“Um dos causadores do efeito estufa são as hidroelétricas, porque quando você barra um
rio ele inunda áreas que tem matas e tal (...) uma solução é você começar a utilizar a
energia eólica e solar em larga escala, dar incentivo para isso, diminuir ICMS das
empresas, para os prédios que quiserem usar energia solar diminuir IPTU, estar pensando
em coisas desse tipo.” (ONG, USO DO SOLO, M.M., 58, MÉDICO)
“Os principais incentivos dizem respeito um lado o mundo do consumo e do outro lado o
mundo da redução. Do lado do mundo do consumo está principalmente relacionado com
eficiência energética, investimento de eficiência energética, seja para empresa, seja
consumidores individuais e do lado da produção esta relacionada também da eficiência.
No sentido da redução das perdas tanto na produção como no transporte da energia, ou
seja, fazer contratos que maximizem o interesse das geradoras ou distribuidoras, em
aproveitar aquilo que é produzido e não contratos que como hoje as estimulam a não se
tornar eficientes, e para gerar e colocar no mercado tecnologias que permitam reduzir o
consumo ou aumentar a eficiência dos processos combustíveis em geral.” (SOCIEDADE
CIVIL, ECONOMIA, R.S., 46, JORNALISTA)
Educação ambiental
“Eu acho que o principal incentivo é a educação. Eu acho que as mudanças e práticas
individuais é que vão fazer as mudanças sociais, políticas e econômicas acontecer. E eu
acho que a educação seria o ponto para começar essa conversa.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32, ARQUITETO)
“Eu diria que é ter um baita investimento maciço em educação e que essa questão
ambiental fosse abordada com muita ênfase (...). A população brasileira ainda é muito
vinculada à questão ambiental, por laços familiares, laços de criação muito vinculados
com a questão da qualidade de vida. Então você pode transformar esse potencial num
maciço projeto de educação e de mudança de mentalidade para adotar um modelo
econômico menos impactante e mais sustentável.” (ONG, ENERGIA, P.D.R.M., 49,
GEÓGRAFO)
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Governo é o ator principal
O governo foi citado por metade dos entrevistados como ator mais importante para mobilizar ações
em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas. Para os entrevistados, é do governo a
responsabilidade de liderar o processo de engajamento nessa questão, o que não exclui outras
154
responsabilidades e outras iniciativas. Mas nenhuma ação terá impacto sem a presença do governo.
O Brasil, dizem, é muito grande e muito diverso. Só uma força organizadora como a do governo
poderia causar o impacto desejado. Além disso, o poder de polícia e de fiscalização cabe a ele:
“Primeiro lugar, você tem que ter uma posição de governo. O governo tem uma posição e
coloca as diretrizes gerais. Governo federal, estadual e até municipal. Tem que chegar ao
nível municipal para que ele funcione.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S., 74,
AGRÔNOMO)
“Eu não tenho dúvida alguma o governo... quem resolve um problema desse tamanho é
alguém desse tamanho que é o governo, então o governo tem que tomar conta da queima
indiscriminada da floresta amazônica, não é índio, ou o agricultor que está invadindo com
o pasto que vai resolver o problema, ele nem sabe disso, ele taca fogo nas árvores e diz
que se dane.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65, METEOROLOGISTA).
“...Obviamente, o governo e principalmente o Ministério do Meio Ambiente junto com o
Ministério das Minas e Energia e Agricultura. Eu daria a bola para os três, e tem também
o da infra-estrutura...” (ONG, USO DO SOLO, I.S.T., 48, ENG. FLORESTAL)
Em segundo lugar foi citado o empresariado, ou as “lideranças econômicas”, que tem o poder de
influenciar a cadeia produtiva e os consumidores:
“As lideranças econômicas. Exige planejamento, principalmente, no sentido de criar,
desenvolver e fomentar políticas públicas de desenvolvimento mais responsável. Então são
os principais atores.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, P.H.G.B., 53, ENGENHEIRA
CIVIL)
“As empresas direta ou indiretamente estão sendo forçadas pelo próprio mercado de
tomar atitudes. Hoje em dia, para você exportar alguma coisa, se o cara tiver uma dúvida
lá ou é mudança climática, ou não está tendo impacto socioeconômico, ou socioeconômico
e ambiental, você tem problemas no mercado. Então as empresas, as grandes empresas
exportadoras estão preocupadas com o assunto. Mas, de uma maneira geral, a pequena e
média empresa não está. Isso, às vezes, pode representar um pequeno custo no tratamento
dos resíduos, está certo ou nos investimentos e normalmente não tem investimento para
fazer.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S., 74, AGRÔNOMO)
Em terceiro lugar foi destacada a idéia de que a sociedade inteira precisa se mobilizar, liderada pelo
governo, e não isolar a questão das mudanças climáticas dos outros problemas sociais como a
pobreza e a violência.
“O governo regulamentar; as empresas buscarem outros caminhos de realização do lucro
e da produção; e os consumidores, em geral, procurarem pressionar, nesta direção, e
discutirem, como cidadãos, como membro da comunidade, da sociedade civil, adepto de
alguma corrente política. Esse problema da mudança climática, junto com os outros. Eu
acho que é impossível isolá-lo.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64, FÍSICO)
“A natureza de todo o desafio é difícil de você enfrentar se não tiver uma sociedade inteira
mobilizada em cima de disso, esse é um desafio setorial e de abrangência em todos os
órgãos da cadeia do consumo, produção, financiamento, políticas públicas então é difícil
escolher alguns que sejam mais importantes.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.S.,
46, JORNALISTA).
“Bom, o meio ambiente interessa a toda sociedade: todos têm responsabilidade, agentes
públicos e privados. Então significa que quem vai usar recursos naturais para desenvolver
suas atividades econômicas tem que tratá-los como algo que não lhe pertencem,
155
privadamente. O que quero dizer com isto, é que vai sempre caber à sociedade (...)
representada pelos governantes, e pelos poderes constituídos, buscar caminhos para que
aquilo que ela entender que seja sustentável, seja de fato aplicado.” (ONG,
AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
Também foram citados genericamente segmentos que atuam na sociedade civil, como a mídia, a
igreja e as universidades.
“A educação em massa nos meios de comunicação, mídia em geral, TV, rádio, escolas,
igrejas, e todos os atores de grande capilaridade deveriam ser envolvidos com programas
e incentivados, para que realmente trabalhassem para haver maior informação e
motivação. Agora para que a prática aconteça além de informação e motivação, nós temos
que educar muito o povo para que ele seja participante, denuncie e ajude a preservar o
meio ambiente.” (SOCIEDADE CIVIL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO,
Z.A., 73, MÉDICA PEDIATRA)
“Certamente as universidades, o centro de pesquisas tanto como fornecedor de
informações, como de propostas alternativas. Essas informações de novo aí, a sociedade
civil organizada se aproprie um tanto dessa informação e pressione, nesse sentido, as
empresas com o uso dessas tecnologias. O Estado tem um papel fundamental, mas ele vai
ser o resultado dessa pressão em cima dele.” (SOCIEDADE CIVIL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, O.G., 64, ENGENHEIRO ELÉTRICO).
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
Muita palha, pouco trigo
Mais da metade dos entrevistados declarou considerar moroso o tratamento das mudanças climáticas
no âmbito internacional, principalmente tendo em vista a urgência do assunto. Para eles, há grande
assimetria no engajamento dos países e em sua disposição de colaborar com as negociações em
andamento, sobretudo no âmbito da Convenção das Partes e do Protocolo de Kyoto.
Fala-se em muito discurso e pouca prática por parte dos países que deveriam estar liderando essa
discussão. Os entrevistados mencionaram a lentidão, a omissão americana e a postura mais ativa do
bloco europeu como exemplos dos diferentes posicionamentos. Para mais de um terço dos
entrevistados, há muito debate e pouca ação:
Abaixo temos declarações que exemplificam a decepção dos entrevistados:
“Pelo o que tenho acompanhado na imprensa, o que dá para notar é que tem muito
discurso e pouco comprometimento dos países com essa causa do aquecimento. Vemos
muito discurso, como na reunião de Bali, mas pouco resultado prático.” (SOCIEDADE
CIVIL, USO DO SOLO, G.S.C., 52, ENGENHEIRO FLORESTAL)
“De forma tímida, inadequada e com uma visão particularizada e de pequenos interesses
nacionais, sobretudo a partir dos grandes emissores europeus e americanos.”
(SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
“[O tratamento das questões climáticas no âmbito internacional] vai mal. Porque ela tem
aumentado muito e os países do Anexo 1, da Convenção do Clima, que são os países ricos
e ex-comunistas. Os ex-comunistas, devido ao colapso econômico, diminuíram suas
emissões. Mas os países desenvolvidos não. Com exceção, praticamente, restrita ao Reino
Unido e a Alemanha, por fatores aleatórios.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64,
FÍSICO)
156
“É muito tímida, chega até a ser ridícula. É muito discurso e pouca ação. O Protocolo de
Kyoto, que por si não resolveria nada, o Protocolo de Kyoto não é uma revolução: ele não
é regulamentado para uma posição assim como a dos Estados Unidos. Você tem
dificuldade na pratica (...).” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, P.I.C., 42,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
Omissão americana é lamentada
Os EUA são citados como o país mais omisso, porque “com o seu poderio econômico e político”
poderia já ter mudado os destinos da humanidade no planeta, se tivesse adotado uma atitude menos
egoísta:
“ (...) Os Estados Unidos são um dos maiores produtores de CO2, e é o [país] mais
refratário...” (ONG, ECONOMIA, A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“Até onde eu possa acompanhar não avançou muito. Eu acho que até a objeção de alguns
países têm um peso muito grande, como os dos EUA, e essa é uma das angústias...” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53, SOCIÓLOGO)
“(...) Os Estados Unidos não estão preocupados, eles estão agindo com
irresponsabilidade, quer dizer, literalmente talvez o termo não seja irresponsabilidade,
seja leviano, egoísta... Eu tinha grande admiração pela democracia americana, mas agora
eu penso para que serve essa democracia se não é capaz de ver que estamos indo em uma
rota suicida?” (ONG, ENERGIA, R.B., 56, ENG. HIDRÁULICO)
China e Índia vão aumentar as emissões
O setor considera que tanto a China quanto a Índia vão aumentar as emissões. Talvez também o
Brasil, mas não se tem certeza, pois um a redução do desmatamento na Amazônia pode nos deixar
em uma situação ainda confortável por muitos anos:
“A China e a Índia pelo estágio de evolução de desenvolvimento econômico, são países
que vão ser emissores fortemente, já são e serão ainda por algum tempo; eles estão
esperando para ver os que os EUA e a Rússia farão, não têm ainda uma política muito
clara por parte do governo.” (ONG, ECONOMIA, A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“Você tem de um lado os países emergentes, que são aqueles que estão crescendo, China e
Índia, também o Brasil, mas a gente cresce com taxas menores, e você tem países ricos
que não querem mexer uma palha... fica difícil. Pelo grau de desenvolvimento a África não
conta, e a Ásia, bem tem o Japão que não possui combustíveis fósseis e também é um país
pequeno (...). Sem dúvida, o grupo europeu é o que está à frente.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.R., 40, JORNALISTA)
Europa à frente
A União Européia, mais do que qualquer país individual, é reconhecida pelo setor como a que mais
tem se esforçado para tirar a questão climática do discurso e transformá-la em prática:
“Eu vejo que na Europa eles têm um debate bastante avançado, e que interfere
diretamente em tudo o que é política que está sendo desenvolvida no mundo hoje, políticas
de energia, política de alimentos...” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO,
A.S.P.R., 32, ARQUITETO)
“Nós temos, basicamente os europeus, que aderiram ao Protocolo de Kyoto – que
manifestaram, portanto, uma clara intenção de ajustar o seu sistema de produção para
157
reduzir até 2012 uma média aí de 5%, 5,5% das suas emissões...” (ONG,
AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
“Olhe, eu acho que só a sociedade européia se engajou realmente e também os governos
europeus de uma forma geral, você tem uma postura avançada, propositiva...” (ONG,
ENERGIA, R.B., 56, ENG. HIDRÁULICO)
Brasil age timidamente
Entre os entrevistados que fizeram referência mais direta à postura do Brasil nas negociações
internacionais no âmbito da Convenção e do Protocolo de Kyoto, a maioria emitiu a opinião de que
o Brasil está agindo de forma tímida e está aquém da sua capacidade de liderança:
“Eu acho que o Brasil tem sido um bocado omisso internacionalmente... E naquela lógica,
apesar de ser um dos quatro ou cinco maiores poluidores do mundo, segundo o IPCC, ele
não propõe redução de emissão por que é um país emergente, em desenvolvimento. Então,
ele se esquiva dizendo: mas eu sou um país em desenvolvimento... eu posso ainda poluir
um pouquinho mais. Então, isso é uma omissão drástica, não se envolver diretamente na
solução do problema.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R.)
“Existe um principio no Protocolo de Kyoto chamado responsabilidade comum e
responsabilidade diferenciada, o que quer dizer: a responsabilidade de redução de
emissões pode ser comum para humanidade mas é diferenciada entre os países; claro,
porque tem grandes emissores e pequenos...
... só que hoje se confunde responsabilidade comum porém diferenciada, com falta de
responsabilidade. É o caso do Brasil, lamentavelmente. Então eu acho que a gente tem
uma responsabilidade enorme e o que a gente faz hoje é o jogo dos países sujos, ao lado
da Índia, da China, quando a gente podia estar fazendo um tipo de desenvolvimento
diferente, como mostrar que o século XXI está diferente, a gente ta fazendo o jogo do
desmatamento da Amazônia, plantando soja, fazendo um jogo meio besta, burro. A gente
podia estar sendo líder no mundo em uma série de coisas...” (ONG, ECONOMIA, M.A.F.).
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
“DESMATAMENTO EVITADO”
Nível de conhecimento sobre a proposta varia
A proposta de desmatamento evitado é conhecida, mas para muitos dos entrevistados esse
conhecimento é apenas superficial. Alguns dos pesquisados afirmam conhecer “de ouvir falar” a
proposta apresentada pelo governo brasileiro na Conferência de Bali. Poucos souberam discorrer
sobre ela:
“Conheço muito superficialmente, não tenho opinião a respeito.” (ONG, ECONOMIA,
A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“Conheço assim, por cima, acho até que é uma obrigação do país. É estranho você trocar
uma coisa que é a tua obrigação, que é cuidar da tua biodiversidade em prol de
recompensas, mas se “colar” é uma coisa boa; só não sei se os outros vão cair nessa
conversa. (...) Veja bem, eu não conheço especificamente.” (ONG, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53, SOCIÓLOGO)
A afirmação abaixo explica como funcionaria essa proposta:
158
“Uma das coisas mais importantes que o Brasil pode fazer proximamente é avançar com o
projeto de desmatamento evitado. (...) Os serviços que a floresta presta se, de um lado, são
as suas matérias primas óbvias tais como madeira, os outros serviços ambientais que a
floresta presta não são contabilizados.
Quais são esses serviços? Esses serviços vão dos produtos não madeiráveis, tais como
óleos, frutos, essências etc., os produtos ambientais propriamente ditos, tais sejam a
capacidade da floresta de manter o equilíbrio entre emissões e absorção de carbono, de
um lado, e do outro lado os equilíbrios meteorológicos com relação à manutenção de
clima.
Exemplo: quer dizer, hoje, a rápida evaporação da área amazônica, é aquela que mantém
o sistema de chuvas que temperam e produzem o concerto hidrológico, que nos dá as
condições de um ecossistema equilibrado. Se você desmata, esse serviço desaparece.
Então, o que é o desmatamento evitado? É aquele que fará com que esses serviços não
madeiráveis de uma floresta, sobretudo as florestas tropicais, seja contabilizado, tenha um
valor. Com esse, então, valor haveria um mercado pelo qual esses recursos em boa parte
voltariam a ser utilizados na manutenção, não apenas do ecossistema, mas também das
populações locais.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
Não há consenso entre alguns dos entrevistados sobre a viabilidade da proposta, uns entendendo
que não há condições operacionais nem financeiras para sua implementação, outros acreditando
que, com pequenos ajustes, ela poderá ser viabilizada.
O primeiro grupo, dos críticos, considera necessário um projeto financeiro mais elaborado:
“Eu estava lá vendo a ministra apresentar. A proposta é ingênua, muito ingênua. É uma
proposta que me parece bastante carente de mecanismos financeiros, se você quer
trabalhar com desmatamento evitado, se você quer evitar desmatamento você tem que dar
sistemas de compensação para as pessoas evitarem o desmatamento. As pessoas não
desmatam a Amazônia porque elas odeiam a Amazônia, elas não chegam lá e derrubam
uma árvore porque ela odeia uma árvore, mas porque elas não têm uma outra forma de
vida. Então acho que você tem que buscar uma forma de compensação financeira pro
desmatamento evitado que hoje não existe.” (ONG, ECONÔMIA, M.A.F., 48, ENG.
AGRÔNOMO)
“Compensação pelo desmatamento evitado é uma boa idéia. O problema das dificuldades
das barreiras que ela encontra é a fonte de recursos para financiá-la e, também, a idéia de
que deve ser colocado no mercado, a floresta. O Brasil advoga que não, devia ter uma
compensação de política publica. Eu concordo com a posição brasileira que deve ser
política pública.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64, FÍSICO)
Também consideram que não está em conformidade com o Protocolo de Kyoto:
“Eu até acompanhei um pouco...Só que o desmatamento evitado não preenche os
requisitos do Protocolo de Kyoto – pelo menos é a minha percepção, posso estar
equivocado –, porque quando você quer benefícios ambientais, reclamar e ser restituído,
pelos benefícios ambientais que você produz, você teria que atuar não sobre novos
impactos, que vai gerar no futuro, mas sobre impactos que estão sendo evitados, que estão
sendo mitigados e que estão existindo.
Você não poderia reclamar um crédito de carbono sobre o impacto que você ainda vai
gerar. A rigor, é só não fazer aquela atividade que você já estaria evitando o impacto...a
rigor, a mata está lá.” (ONG, AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
159
O segundo grupo, otimista, acha que a proposta é uma excelente oportunidade para o Brasil:
“Eu acho que é uma grande oportunidade para o Brasil e o mundo, a gente conseguir
viabilizar, diminuir emissão de gases de efeito estufa e viabilizar projetos de conservação
na Amazônia. Você vai aliar a parte econômica, pagamento por serviços ecológicos para
determinadas áreas. Então eu acho que é super importante uma proposta que vai
viabilizar um monte de coisas, mas de novo, para que seja sério, tem que ter uma ação do
governo mais pesada, se não nós caímos em descrédito rápido, e acaba perdendo uma
oportunidade rara para o país. E não tem duas oportunidades: você tem uma e não vai ter
a segunda.” (ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
Alguns dos entrevistados gostam da proposta, mas acham que ainda precisa ser aprimorada para que
funcione eficientemente.
“Eu acho que é cheia de boas intenções. As questões aqui no Brasil, para você lidar com
desmatamento, têm menos a ver com o sistema legislativo porque, por um lado, favorecer
o ponto de vista de políticas e o sistema de incentivos, práticas que sejam mais
conservadoras, como ter um sistema de punição, um sistema efetivo de vigilância e
fiscalização, quer dizer punição para aqueles que têm praticas destruidoras. Como aqui
ninguém fiscaliza coisa nenhuma, você pode fazer quantas políticas quiser, porque a
probabilidade de ter efeito é muito pequena.” (SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO,
J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA)
14. CONFERÊNCIA DE BALI
Muita discussão e pouco avanço
Há, ainda, desconfiança em relação à efetividade das reuniões para discutir políticas com relação às
mudanças climáticas no âmbito internacional. Muito pouco avanço e alguns entraves, como a
situação dos Estados Unidos, são algumas das opiniões mais freqüentes. Grande parte desses
entrevistados não ficou satisfeita com os resultados. Seis consideraram que “houve avanços”, e o
restante relativizou os resultados, considerando que “essas reuniões são assim mesmo”.
Mudança de posição dos EUA traz esperança
Poucos (6) vêem algum avanço e apontam os resultados positivos. Os que reconheceram avanços
citaram a mudança de posição dos EUA, tida agora como mais flexível, a agenda de discussão que
está proposta para até 2012 e a atitude pró-ativa do Brasil ao apresentar a proposta do
desmatamento evitado:
“Eu vejo de forma muito positiva; o esforço, na minha opinião, nessa Convenção do Clima
de Bali, foi manter os Estados Unidos no jogo, dentro de uma perspectiva de uma
mudança de posicionamento futura dos Estados Unidos com o novo governo que será
eleito neste ano.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, M.M., 47, ECONOMISTA)
“Havia uma expectativa muito grande em torno dela. Aqui no Brasil a gente comemorou
pouco os resultados. É obvio que poderíamos ter progressos maiores, mas o mapa do
caminho por si só já foi um passo muito importante. Nos 45 do segundo tempo a mudança
da posição americana foi muito importante, ainda mais num ano que a gente tem agora de
sucessão
política
lá.
Abre
boas
perspectivas.”
(SOCIEDADE
CIVIL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.F., 36, ENGENHEIRO FLORESTAL)
160
“(...) Teve alguns avanços que a meu ver é aumentar as informações sobre o papel do
Brasil para que o governo brasileiro assuma compromisso mais forte no que se refere ao
combate do efeito estufa.” (ONG, USO DO SOLO, M.D.R., 59, CIENTISTA POLÍTICA)
Próximas eleições americanas criam expectativa positiva
Os entrevistados parecem acreditar firmemente que com a eleição de um novo presidente, seja ele
republicano ou democrata, os EUA devam assumir uma postura mais pró-ativa:
“A boa nova é sobre a posição dos Estados Unidos, que não queria assinar os
compromisso e, no final, ele topa conversar sobre isso. Acho que agora, com a mudança
de liderança dos Estados Unidos vai ajudar bastante nisso. A era Bush vai ficar para trás
mesmo que entre alguém do partido republicano... O país chave para isso [liderar
movimentos mitigatórios] são os Estados Unidos.” (ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43,
ENG. AMBIENTAL)
Argumentos dos descontentes
Outros entrevistados apontaram as falhas desses encontros internacionais: o predomínio do discurso
político sobre o técnico, a falta de inovação e a insuficiência das propostas diante do tamanho do
problema:
“Essas reuniões, na realidade, não são reuniões técnicas, são reuniões muito mais
políticas do que técnicas, então, na prática, eu não acredito que a gente tenha grandes
resultados derivados dessas reuniões. A própria reunião do IPCC em fevereiro, orientou e
concluiu que nós somos os culpados em noventa e cinco por cento dos casos isso é tudo, e
infelizmente não existe um poder de decisão que você vá falar para os países poluentes
que tem formas de você evitar a poluição sem perder economicamente tempo.”
(SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65, METEOROLOGISTA)
“Bali para mim não surpreendeu, Bali confirmou que a comunidade internacional não
está pronta para assumir as responsabilidades, que a problemática apresenta do ônus que
é gerado por esse processo não está resolvida e em cima dessa ambigüidade de quem vai
pagar a conta, vai se adiantar qualquer decisão até que o outro aceite, ou até que o outro
resolva pagar e Bali foi mais uma etapa desse processo, ou da diplomacia e mostrou que
está refém de uma série de relações comerciais e de uma incapacidade de negociação das
relações comerciais.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.S., 46, JORNALISTA).
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
Conter queimadas e manter matriz energética limpa
Metade dos entrevistados respondeu que as principais responsabilidades do Brasil num programa
mundial de redução de emissão de gases de efeito estufa seria controlar as queimadas e o
desmatamento e fazer uma boa gestão da Amazônia, confirmando a percepção de que a Amazônia
ocupa um lugar privilegiado na preocupação das lideranças do setor. Muitas das menções às
queimadas associam-nas ao uso na lavoura, principalmente de soja e cana. Manter a matriz
energética limpa e ingressar em responsabilidades internacionais também figurou entre as respostas.
A responsabilidade do Brasil, portanto, passa também pela necessidade de tomar uma nova postura
frente aos problemas climáticos e ambientais. Como expressa a declaração abaixo, o país precisa
assumir um compromisso mais sério e não se conformar com o pensamento de que países em
desenvolvimento não têm responsabilidades.
161
“Eu acho que o Brasil deveria se considerar um Anexo 1. Parar com esse papo de dizer
“não preciso fazer nada”. Tem que ser um pouco mais maduro e parar com esse papo de
que precisamos crescer. O Brasil já é mais maduro do que isso. Se a gente fosse a China
ou Índia talvez.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, C.W., 47, CIENTISTA POLÍTICA)
O controle efetivo do Brasil sobre a Amazônia daria maior credibilidade ao país frente às
comunidades internacionais:
“Acho que o papel principal do Brasil é ter governança sobre a Amazônia. Uma vez que
tenha governança até aumenta o poder de pressão de se tornar um líder, que já é, mas um
líder mais forte. Se você mostra que você tem poder, pode favorecer o mercado de
carbono, favorecer todos esses processos de sustentabilidade.” (ONG, USO DO SOLO,
O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
Não basta proteger: é preciso compreender a Amazônia
Para boa parte dos entrevistados, a Amazônia além de grande é diversa, e um dos erros é “pensar
que ela é uma coisa só, só floresta, não é”. Para os nossos entrevistados, a Amazônia tem a maior
bacia hidrográfica do Brasil, o maior número de nações indígenas, tem minérios e outra riquezas
importantes para o desenvolvimento da própria região e do Brasil. Sem falar na riqueza da sua
biodiversidade pouco conhecida:
“Depois de anos e anos de pesquisa nós conseguimos compreender melhor como é que se
dá o processo de formação da biodiversidade da Amazônia; antes, se imaginava que a
biodiversidade da Amazônia era distribuída de forma homogênea na região e hoje a gente
sabe que não é. Que cada setor da Amazônia tem seu conjunto de espécies único e isso é
extremamente importante...
Também com base nos estudos feitos no campo e mais os estudos moleculares nós
começamos a perceber que a biodiversidade amazônica é muito mais antiga do que se
pensava até a década de 70, ou 80. Imaginava-se que a grande maioria das espécies tinha
surgido ha 18, 20 mil anos atrás mas esses estudos mostram que não, que as espécies são
muito mais antigas, talvez de 2 a 3 milhões de anos. Elas se originaram num período muito
mais antigo do que se pensava (...) É que se, realmente a gente quiser proteger de forma
efetiva a biodiversidade regional, nós temos que entender muito bem a distribuição dessas
espécies e a compreensão da distribuição dessas espécies é um desafio constante.” (ONG,
USO DO SOLO, J.M.C.S., 42, BIÓLOGO)
Além disso, nos chama a atenção o mesmo entrevistado, a exploração sustentável da biodiversidade
pode ser uma saída economicamente viável para a região:
“Então, se a comunidade internacional reconhecer que as florestas fazem a ligação entre
mudanças climáticas e conservação da biodiversidade, eu acho que nós teríamos pela
primeira vez um mecanismo financeiro muito forte (...) eu acho que pela primeira vez o
Brasil está vislumbrando a necessidade, a possibilidade de que a comunidade financeira
internacional, a comunidade global possa fazer um investimento concreto em conservação
por causa desse receio das mudanças climáticas.” (ONG, USO DO SOLO, J.M.C.S., 42,
BIÓLOGO)
Conservar e preservar são conceitos diferentes
Os conceitos de preservação e conservação são distintos, conforme nos explica um dos pesquisados:
“Preservação seria uma conservação mais antiga, preservação é a linha das pessoas que
acham que tem que ser tudo parque, você fecha uma área e ninguém entra, nada é
162
permitido, você não pode usar, você não pode tirar nada, não pode ter gente morando,
não pode ter visitação é uma área restrita, são santuários.
Conservação já é uma coisa mais dinâmica, você pode interferir, vai ter áreas, por
exemplo em algumas unidades de conservação de uso absolutamente restrito ou não, e
outras que você vai ter atividade, você vai ter um mosaico de coisas é uma coisa moderna
com um pensamento muito mais moderno, muito mais dinâmico, você pode interferir.
Acabou aquela coisa romântica, a natureza é bonitinha, é bonitinha, mas para quando
você está na cidade; quando está no mato você também quer ter energia, água, todo
conforto.” (ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
A tese do “desmatamento zero”
A questão do desmatamento e das queimadas devem ser enfrentadas a todo custo, não só porque ele
é a maior causa de emissões de CO2, mas também porque impedi-lo é uma forma de conservar a
biodiversidade. Alguns entrevistados falam em “desmatamento zero”:
“Como grande parte das nossas emissões é por causa do desmatamento, das queimadas, a
principal responsabilidade do Brasil é justamente o desmatamento zero que também evita
a perda da biodiversidade. Daqui em diante, essa é a grande contribuição que o Brasil
pode fazer.” (ONG, USO DO SOLO, J.M.C.S., 42, BIÓLOGO)
“Nós somos, hoje, o quarto ou quinto maior produtor de CO2 do mundo, porque nós
queimamos florestas de uma maneira indiscriminada, não que queimar floresta seja
pecado, pecado é você queimar floresta de maneira indiscriminada, como está sendo feito
no país, desde que se racionalize as atividades de exploração de madeira, da agricultura
da pastagem, da soja, que tendem a avançar para a Amazônia de maneira indiscriminada,
então isso poderia ser contido de uma maneira bastante clara, é o que esta sendo pensado
atualmente, mas de qualquer maneira nós somos os culpados, porque agimos de forma
indiscriminada da flora vegetal.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65,
METEOROLOGISTA)
“Eu acho que o primeiro deles é evitar o desmatamento e implementar reflorestamento.
Quer sejam reflorestamentos econômicos, está certo, quer sejam reflorestamentos de
preservação da própria fauna e flora.” (SOCIEDADE CIVIL, USO DO SOLO, E.S., 74,
AGRÔNOMO)
Queimar é “natural”
Temos, entretanto, dois entrevistados que discordam que as queimadas na Amazônia devam ser
erradicadas, pois o fogo é um elemento natural. Reproduzimos aqui os trechos em que exprimem
seu ponto de vista:
“A mata existe há milhares de anos e uma parte de carbono é liberada, realmente
queimando-se a floresta para deixar entrar luz. Ninguém queima a floresta por esporte,
custa dinheiro, ninguém gasta dinheiro para brincadeira. Queima a floresta para deixar
entrar luz ou para fazer pastagem ou mais tarde agricultura.
Isso custa dinheiro. O sujeito não vai lá, dá um assoprão e derruba a floresta, não; ele tira
o dinheiro do banco dele, pega o cheque, paga, paga para a derrubada.
O assunto floresta é muito mal estudado, porque ninguém contabiliza a retenção de
carbono pelas plantas que substituem a floresta.
163
Você tira a floresta, queima, libera carbono; você planta, aquelas plantas retraem,
seqüestram uma boa parte, não toda. Mas eu diria que essa parte que e liberada é
pequena comparando com a queima dos fósseis.” (ONG, AGRONEGÓCIO, F.P.C.F., 93,
ENG. AGRÔNOMO)
“Todo o meu trabalho é fundamentado em pesquisa de campo, vou muito para ver, medir
as coisas, e meus resultados mostram uma coisa mais otimista, os animais tem muito mais
adaptação, aos novos cenários que a gente esperava. Você tem o impacto? Tem, mas isso
não é tão negativo como a gente esperava, as previsões eram muito pessimista. E em curto
para médio prazo a gente vai conseguir avançar um pouco mais nisso para ver como a
gente pode fechar este pacote, social, econômico e ambiental (...)
O fogo não é tão prejudicial à fauna. A exploração madeireira, se você fizer com cuidado,
você está mantendo a biodiversidade.
Caça, conforme você faz também não tem problema.
Fazenda de soja? É possível ter fazenda de soja e ter biodiversidade no mesmo lugar:
então eu acho que é uma coisa muito mas otimista do que o cenário que tem se mostrado.”
(ONG, USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
Mexer na matriz de transportes
Além da Amazônia, controlar as emissões das fontes veiculares automotoras também apareceu
fortemente nas entrevistas desse setor como uma obrigação do Brasil:
“Primeira responsabilidade do Brasil é controlar o aumento de suas emissões, ou seja, se
nós hoje não somos os principais emissores, nós temos que cuidar para não vir a sê-lo.”
(ONG, AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
“Hoje, no Brasil, o produto interno bruto é medido pelo aumento de vendas dos veículos o
que significa queima de combustíveis fosseis. O Brasil tem uma malha rodoviária imensa.
Então as autoridades deveriam primeiro repensar esse tipo de pilar da economia
brasileira, o que a queima de combustíveis fosseis representa.” (ONG, USO DO SOLO,
M.D.R., 59, CIENTISTA POLÍTICA)
“O Brasil tem também que cuidar da questão da frota de veículos, apesar de termos o
álcool, o carro hídrico, nós temos ainda uma emissão por veículos nas grandes cidades
muito grande, acho que a gente precisa fazer nossa lição de casa no sentido de ter um
sistema transporte mais eficiente, transporte público, porque o sistema de transporte no
Brasil é absurdamente ultrapassado — o carro individual. Então é isso, atuar nesse
sentido de melhorar o transporte publico, substituir o máximo que nós pudermos o
combustível
fóssil
por
biocombustível.”
(ONG,
DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, M.D., 52, JORNALISTA)
Incentivar as energias limpas
O incentivo ao uso de energias limpas e a eficiência energética também foram citados como
responsabilidade do Brasil no enfrentamento das mudanças climáticas:
“Nós temos aqui, principalmente no Nordeste, uma quantidade de ventos enorme e a gente
podia ter plantas eólicas, geradoras de energia. Nós temos uma quantidade de luz solar
também enorme que a gente poderia usar. Só no Brasil tem essa história de chuveiro
elétrico, 6% da energia produzida no Brasil é para chuveiro elétrico.” (ONG, USO DO
SOLO, M.M., 58, MÉDICO)
164
“A nossa responsabilidade, evidente, é a de todo o mundo. No nosso caso, aqui nós temos
tido esse tipo de preocupação, aliás, o governo tem tido. Se você pega uma matriz como a
nossa, é uma matriz pensada no sentido de evitar ao máximo a poluição, tanto que nós
temos contratado muitos técnicos, mas não tivemos resultado nisso. Lamentavelmente,
estamos vivendo um momento circunstancialmente infeliz.
O governo mudou, em 96 houve um fracasso, porque nós tivemos um racionamento muito
grande, e com isso nos estamos vivendo agora uma barriga no processo, mas eu acho que
em pouco tempo a gente dá a volta por cima e o Brasil volta na questão energética,
especialmente na questão especifica de meio ambiente, ele volta a cumprir um papel digno
de nota.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.C.G., 66, ENGENHEIRO ELÉTRICO).
16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
Em casa, no trabalho, na sociedade
Na questão sobre a importância das ações individuais, houve quase unanimidadade entre os
entrevistados: nada menos que 53 deles declararam que ações as individuais são, sim, importantes
no enfrentamento das questões climáticas. Apenas dois dos entrevistados não compartilham da
opinião da maioria, acreditando que as ações individuais “ajudam, mas não resolvem”.
Diversas são as formas com que os indivíduos podem vir a colaborar nas questões climáticas, seja
praticando um consumo consciente, seja exercendo o poder de influenciar. Essa influência pode ser
exercida na família, entre os amigos, colegas de trabalho e, se o indivíduo é formador de opinião,
junto à própria sociedade:
“Eu acho que você chegar num nível da conscientização pessoal, individual, seria o ideal.
Por que se você viver num regime democrático e os indivíduos perfeitamente esclarecidos
disso eles vão saber escolher que política a ser estabelecida. (...)” (SOCIEDADE CIVIL,
USO DO SOLO, E.S., 74, AGRÔNOMO)
“Eu acho que começa pela ação individual, passa pela ação coletiva e transborda para
todos os modelos de governança pública e privada. Economia de energia doméstica,
mudanças na construção civil de casas que passa porque a água quente, por exemplo,
possa ser através da energia solar e não elétrica. Tem uma série de pequenos dados que
com o comportamento de quem tem consciência desse problema.” (SOCIEDADE CIVIL,
USO DO SOLO, I.K., 60, CIENTISTA SOCIAL)
O poder dos consumidores
A criação de uma massa de consumidores que influencie um novo modelo de comportamento
quanto ao consumo, o chamado “consumo consciente”, foi destacado:
“[A ação individual] pode [ajudar], eu só acho que certamente se você consegue criar, um
movimento, não um só individuo, mas se você tem uma massa de consumidores capazes de
adotar práticas que influenciem a própria oferta de serviços de produtos de tal forma que
contemplem este impacto, você vai ter resultados, embora eu ache essas coisas pouco
significativas para o tamanho do problema.” (SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO,
J.M.V D.W., 61, ECONOMISTA).
“Claro que ações individuais podem ajudar na mitigação dos efeitos das mudanças
climáticas... resumindo, a nossa economia é baseada no uso de recursos naturais, através
dos produtos finais que chegam à mão do consumidor e o desperdício vai indo, vai indo, a
mídia estimula, quanto mais desperdício, mais se vende, quanto mais se vende, mais se
165
demanda a fabricação, quanto mais se demanda a fabricação, mais extrações de recursos
naturais ou seja água, energia, petróleo...
Então as mudanças das pessoas como consumidores, na verdade, se isso acontecesse seria
uma coisa mais rápida que forçaria o mundo a pensar sobre o efeito estufa, reduzindo o
seu consumo, isso giraria para traz no ciclo de vida dos produtos, uma mudança
assustadora mas esta mudança passa por questões complexas e ela é vencida por um
modelo de produção e de consumo estimulado no dia-a-dia pelo marketing e a
propaganda.” (ONG, USO DO SOLO, M.D.R., 59, CIENTISTA POLÍTICA)
Atitude faz diferença
O indivíduo também pode servir como exemplo para a sociedade e, aliado ao poder de liderança,
pode transformar atitudes de seus seguidores:
“A atitude individual serve para derrubar certos tabus e liderar o efeito demonstrativo,
geralmente quem toma atitudes de vanguarda são pessoas que têm algum tipo de
liderança. Essas pessoas são as que têm mais chances de usar as suas atitudes para que
haja um efeito (...), por natureza elas são mais ousadas, portanto a atitude individual, para
mim, é determinante.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.F.C., 55, ECONOMISTA)
Consumir somente o necessário
E, finalmente, um entrevistado ressaltou que, se cada indivíduo não consumir mais do que o
necessário, o resultado pode ser muito grande:
“Eu acho que essa educação individual para reduzir o consumo lembra o discurso agora
do Walt Disney no Menino Mogli. O urso canta junto com o Mogli e repete “não mais que
o necessário”, e aí ele faz o discurso dizendo que “mais que o necessário é demais”, ou
seja, aquela visão de que você deve procurar administrar, viver com o mínimo necessário.
(...)
Aí eu reporto a pessoas como o Imperador Augusto: a história diz que Augusto recusava
tudo a mais além do que ele precisava para viver, comer era o mínimo, repousava ao
máximo para poder governar, as roupas eram tecidas em casa. Ele se recusava a comprar
um linho ou uma seda, ou um produto luxuoso que viesse de outros países, dourado,
Augusto nunca se vestiu de dourado.
Segundo contam os historiadores, a presença de Augusto chocava Pilatos, simplicidade
nas vestimentas. E eu digo que bom seria se tivéssemos alguns Augustos.” (SOCIEDADE
CIVIL, ENERGIA, S.C., 59, ENGENHEIRO MECÂNICO).
Uma multa individual muda pouco
Mas ouvimos duas opiniões que relativizam o poder da ação individual. Na opinião desses
entrevistados, ação individual é pouco expressiva diante da magnitude do problema:
“Não creio que somente uma luta individual vá mudar a situação da Amazônia, está aí o
exemplo do Chico Mendes. Chico Mendes lutou sozinho, mas Chico Mendes deixou vários
Chico Mendes. Eu sou um deles. Nós não precisamos de heróis na Amazônia. Nós
precisamos de uma ação coletiva do governo, dos cientistas, da comunidade internacional,
e da própria conscientização dos grandes empresários para parar essa destruição.”
(ONG, USO DO SOLO, J.B.S.M., 31, FUNC. PÚBLICO)
166
“Por exemplo, eu tenho procurado, eu e minha mulher, levar nossa sacola de pano no
supermercado, entendeu… Mas, só com esse gesto é quase impossível você reduzir a
demanda por plástico. A gente não compra em hipótese nenhuma água em garrafa PET, a
gente não compra mas a consciência de um é anulada pela não consciência de outro.
Então, isso sempre vai acontecer. Acho que a gente tem que ir pela definição de regras, do
que é certo e do que é errado. A gente tem que definir convenções, a gente tem que seguir
isso ou aquilo e tem que fazer com que a sociedade vá gradualmente entendendo, mas o
que resolve mesmo é política pública.” (ONG, ECONÔMIA, A.N., 35, ECONOMISTA)
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
A atividade agrícola em primeiro lugar
Para a maior parte dos entrevistados deste setor, a mudança no uso do solo, o setor industrial
baseado em combustíveis fósseis, o transporte de carga e urbano, a atividade agropecuária e,
finalmente, o modelo econômico capitalista figuram entre as atividades que mais contribuem para a
emissão de CO2 e outros gases de efeito estufa.
“Certamente a agricultura é uma, porque não só os sistemas agrícolas já implantados têm
um efeito contínuo na produção de gases de efeito estufa. Como nós estamos num processo
de expansão da fronteira agrícola, nós temos um duplo efeito, não só você desmata, o que
tem um efeito sobre o efeito estufa como também você implanta o sistema de produção que
também vai ter efeitos.” (SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO, J.M.V D.W., 61,
ECONOMISTA)
“A produção agropecuária da forma como esta é concebida, com a utilização de agro
químicos, com a utilização dos desmatamentos, com a utilização com a queima da cana,
queima das matas, a queima da vegetação para produção de pastos para alimentar os
rebanhos.” (SOCIEDADE CIVIL, AGRONEGÓCIO, F.M.L., 55, AGRICULTOR)
“Eu acho que é a produção de soja e gado, o agronegócio como um todo.” (ONG,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32, ARQUITETO)
“Eu vou dizer, uma delas é a agricultura, tanto no agronegócio, como na agricultura
tradicional de queimadas, que todas as duas têm uma contribuição muito negativa.”
(ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.A.B.F., 53, SOCIÓLOGO)
Frota de veículos é o segundo vilão
Na opinião dos entrevistados, as emissões causadas pelas fontes veiculares, é o segundo grande
vilão na questão das emissões dos gases do efeito estufa. Por diversas vezes, os entrevistados, citam
a malha rodoviária brasileira como ultrapassada e ineficiente:
“(...) eu diria que é o nosso sistema de transporte – que é o maior emissor – o sistema de
transporte ultrapassado. Nós poderíamos ganhar muito dinheiro se usássemos melhor os
nossos recursos, de ferrovias, de hidrovias, transporte marítimo etc.” (ONG,
AGRONEGÓCIO, A.S., 57, ECONOMISTA)
“(...) o desmatamento é uma coisa que contribui, mas eu acho que as emissões de gases
por todos os veículos, tanto na produção industrial, tanto na própria vida humana
civilizada é o fator que mais contribui.” (ONG, ECONOMIA, A.M.S., 44, SOCIÓLOGA)
“É a questão da utilização dos combustíveis fósseis, seja por meio de veículos ou por
outros meios. Nós estamos tendo um crescimento da nossa frota de veículos assustador,
167
em termos de produção e de venda. Então isso faz com que também essas emissões, elas
aumentem.” (ONG, ENERGIA, M.A.Z., 42, ENG. PRODUÇÃO)
Atividade industrial é identificada como grande emissora
As indústrias foram bastante citadas. O processo produtivo, utilizando-se de energia fósseis,
contribui em larga escala para as emissões. As indústrias mais citadas foram as petroleiras, as
metalúrgicas, as mineradoras, as químicas, as petroquímicas e as de alumínio. As indústrias
automobilísticas foram citadas por incentivar o aumento no uso da frota veicular.
“Eu continuo achando que o setor industrial, principalmente da indústria química, é um
dos mais impactantes e aí vem a química, não somente da área da petroquímica, mas na
área de outros produtos como o ferro, de outros produtos derivados da pedra, da própria
água, acho que um dos setores que impacta.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, H.S., 65,
METEOROLOGISTA)
“Eu acho que o grande vilão continua sendo a indústria automobilística e o lucro que está
por traz disso, é a indústria armamentista tem ligações, na verdade passa a ser uma coisa
só, então aí está o grande vilão.” (SOCIEDADE CIVIL, ECONOMIA, R.F.C., 55,
ECONOMISTA)
“Mineração, as mineradoras. Acho que é visível o impacto delas. Eu acho também que as
que atuam com florestas, eucalipto, produção de papel, celulose. E o petróleo, é claro. São
realmente as mais impactantes.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, M.G., 49,
ECONOMISTA)
“Ah, é o alumínio, uma só. Porque se você olhar, eu tenho dados muito interessantes, uma
hidrelétrica você desmata uma vez só. Então as 30 maiores hidrelétricas do Brasil, elas
desmataram 10% do que foi desmatado nos últimos 10 anos para o alumínio.”
(SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, M.M., 63, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Desenvolvimento não é crescimento
Mais de dois terços dos pesquisados garantem que é possível sim, produzir desenvolvimento
econômico de forma sustentável, fazendo uso dos recursos naturais de forma a garantir condições
de vida saudável para as futuras gerações. Contudo, desenvolvimento e crescimento são dois
conceitos diferentes. A diferença estaria em que desenvolver é melhorar a qualidade de vida.
Crescer é fazer a economia crescer percentualmente sem se perguntar sobre que tipo de
desenvolvimento está ocorrendo:
“O que é desenvolvimento sustentável? Não é uma negação do desenvolvimento, tem que
ter desenvolvimento econômico, tem que ter desenvolvimento social, mas tem que ter
prudência ecológica. Desenvolvimento sustentável é socialmente justo, economicamente
viável e ecologicamente responsável. Naturalmente estou falando de outro modelo, certo?
Não deste que está aí, neste modelo onde vender carro, PIB a base de carro é que vale,
neste eu não acredito.” (ONG, ENERGIA, R.B., 56)
168
Selecionamos a seguir vários depoimentos que repetem o mesmo raciocínio: no modelo atual,
desenvolvimento e enfrentamento das mudanças climáticas são incompatíveis. No “novo modelo”,
porém, que para muitos é emergente, não há incompatibilidades:
“Hoje tem mais celulares no Brasil que vasos sanitários... A família não quer pagar uma
faculdade mas tem um carro na porta... Eu acho que o desenvolvimento que eu desejo para
o meu país é incompatível com o que este que está aí, e este que está aí vai agravar o
fenômeno das mudanças climáticas, não tenho dúvida.” (ONG, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, A.S.P.R., 32, ARQUITETO)
“Se falamos desse modelo consumista de desenvolvimento econômico, o peso da palavra
desenvolvimento está mal utilizado, não é desenvolvimento. Desenvolvimento, penso, numa
palavra positiva, de avanço, não de retrocesso. Isso de certa maneira é um retrocesso e
tem a ver um pouco com uma visão talvez velha do que era, do que se aspirava antes, nos
anos oitenta.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, C.C., 59,
EPIDEMOLOGISTA)
Na visão desses setores, o modelo econômico vigente hoje no país não é sustentável. Alguns
entrevistados apontam que não é impossível compatibilizar o desenvolvimento com o
enfrentamento das mudanças climáticas: a questão é que o Brasil tem um modelo de
desenvolvimento baseado no consumo desenfreado, muito inspirado nos Estados Unidos. Então
essa combinação do desenvolvimento com a redução das emissões é possível, mas requer uma
mudança de paradigma. Não é possível mais desenvolvimento sem comprometer o ambiente, sem
pensar em como trabalhar para reverter o fenômeno das mudanças climáticas:
“Essa perspectiva do crescimento em cima do consumo, como a única forma de gerar
benefício para a população é suicida, porque ela vai nos colocando no fundo do poço da
crise ambiental. Ela acelera a crise ambiental e climática. Então se a gente não tiver
condição de repensar o que a gente considera como desenvolvimento no país e ter outros
indicadores de desenvolvimento e outras formas de melhorar qualidade de vida das
pessoas, que não seja garantindo que elas tenham que ampliar a sua forma de consumo, é
um processo de aceleração do fim. Aceleração do crescimento no modelo atual, é a
aceleração do fim.” (ONG, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.R., 40,
JORNALISTA)
“Isso não é impossível. É claro que um país, como o Brasil, se coloca num contexto
mundial e, neste contexto, o desenvolvimento está associado a um consumo grande de
energia. Esse é o problema e, como eu digo, os fabricantes de automóveis, de
equipamentos são mundiais.
E mesmo o comportamento do mercado brasileiro, principalmente classe média, não é
diferente do mercado dos Estados Unidos. É diferente, mas não quantitativamente. Buscase um mesmo tipo de padrão de vida e não se consegue porque os outros são muito mais
ricos.
E mesmo para a população em geral, a expectativa, que é transmitida biologicamente,
pelo marketing, pelas empresas de venda de coisas, é também um consumo nesse padrão
nas famílias, mesmo mais pobres, têm intenção de ter o padrão de consumo. Isso é muito
complicado.
Acho que este é um obstáculo enorme. O Brasil não escapa disso, está dentro do mesmo
contexto.” (SOCIEDADE CIVIL, ENERGIA, L.P.R., 64, FÍSICO)
169
Desenvolver diferente
Os entrevistados sugerem uma série de iniciativas que poderiam incrementar um desenvolvimento
diferente. Sem dúvida nenhuma, nesse cardápio está o incentivo para a produção de energias limpas
ou menos impactantes. Além da sugestão de aumentar o parque eólico e solar, ou mesmo a
produção de biomassa, as soluções passam por “unir problema e solução”, dizem dois entrevistados,
citando o exemplo do manejo sustentável do lixo produzido nas cidades:
“Vou dar um exemplo simples, por exemplo, a questão do lixo. O lixo é um dos grandes
emissores de gás metano, que é um gás muito forte, muito potente que colabora bastante
para o aquecimento global. A questão do lixo, se nós tivermos uma destinação, se nós
tivermos mais programas de coleta seletiva, reciclagem de reuso e etc., você gera um
monte de empregos, e você gera empregos em um setor para uma determinada população
que
normalmente
não
acha
emprego.”
(ONG,
DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, M.D., 52, JORNALISTA)
“Toda cidade produz lixo orgânico na faixa de 55%, 50%. Lixo orgânico é degradável,
então, você tem um potencial enorme de produção de gás e esse gás pode ser utilizado,
seja na indústria ou nos veículos, caminhões e mais, isso já acontece em alguns lugares.
Isso significa que todo aquele gás que iria para atmosfera sob a forma de metano através
dos aterros sanitários corretos ou dos lixões tanto faz, esse gás é produzido, ele passa a
ser encapsulado e utilizado para atividade produtiva. (...)
E ao mesmo tempo você não queimou, você substitui. Então você tem um potencial
monstruoso de produção de gás se você considerar as cidades de médio e grande porte,
não vamos pensar nem nas pequenas de 50.000 habitantes em diante.” (ONG, ENERGIA,
R.B., 56, ENG. HIDRÁULICO)
Alguns justificaram suas respostas com exemplos de meios de produção tais como a agroecologia, o
plantio direto ou o desenvolvimento de tecnologia. Outros enfatizaram a vantagem que o Brasil tem
nesse quesito relativamente aos outros países em desenvolvimento, por ter uma matriz energética
“limpa”. O que restaria mesmo ao Brasil seria combater as emissões provenientes das mudanças no
uso do solo.
As lideranças entrevistadas sustentam que é essencial unir políticas de desenvolvimento com políticas
sociais e ambientais. Enquanto o tema das mudanças climáticas for responsabilidade de dois
ministérios que não dialogam com as políticas econômicas, será difícil:
“Eu acho que deveria ser um tema só, um tema da política de desenvolvimento econômico
e socioambiental. Acho que o fato disso [mudanças climáticas] estar entre o Ministério de
Ciência e Tecnologia e Ministério do Meio Ambiente já é um problema, já torna a questão
ambiental uma coisa marginal e já enfraquece a possibilidade dela ser uma discussão
levada a sério, na raiz do problema como deveria estar. Acho que esse é o grande
problema, esse modelo estrutural que a gente tem de política do meio ambiente...”
(ONG,DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, A.R., 40, JORNALISTA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ambos os setores – ONGs e sociedade civil – são marcados por forte heterogeneidade, mas
revelaram que há muito consenso em suas opiniões. Os mais importantes são em relação à
responsabilidade do Brasil de cuidar da Amazônia e de promover políticas públicas, principalmente
na área de energia, que possam colocar o país em situação mais confortável diante da cobrança
internacional.
170
Os membros desse setor podem ser caracterizados como moderadamente críticos do “modelo
capitalista de produção e consumo” e das desigualdades políticas e econômicas que dividem o
mundo entre Norte e Sul, entre países ricos e pobres, com exceção de algumas poucas organizações
de perfil político mais radical presentes na amostra. Talvez por incluir muitas associações
empresariais, a sondagem não revelou posições muito radicalizadas contra o setor privado ou as
“forças de mercado”.
Apesar das cores e tintas políticas variadas, há portanto mais consensos do que dissensos neste setor
em relação às questões que cercam a discussão sobre o problema das mudanças climáticas. Os
entrevistados consideram que as mudanças climáticas tornaram-se uma questão crucial que não
pode ser ignorada por nenhuma política setorial: seja no combate ao desmatamento na Amazônia,
seja repensando a matriz energética ou a destinação do lixo produzido nas grandes cidades. A
preocupação de fundo deve ser como reduzir emissões ou diminuir os efeitos das mudanças
climáticas.
Os entrevistados deste setor se mostraram fortemente interessados e mobilizados pelo tema das
mudanças climáticas, pois acreditam que elas afetarão mais as populações pobres e países como o
Brasil, que fizeram a ocupação do território ao longo da costa e dos grandes rios.
Faz parte da “competência política” dessas lideranças estarem sintonizadas com os temas mais
importantes da pauta política, social e ambiental. Esses setores são os que mais enfatizam em seu
discurso a necessidade de promover um desenvolvimento “socialmente justo e ecologicamente
responsável”.
Os representantes da sociedade civil e das ONGs se mostraram bastante otimistas quanto ao poder
das ações individuais, embora não se distingam dos demais ao considerar que cabe ao Estado
brasileiro a responsabilidade de liderar um processo de maior engajamento do país no combate ao
agravamento das mudanças climáticas.
171
PERFIL DO SETOR
Nas ONGs e na sociedade civil, unificadas nessa análise, predominaram representantes de entidades
da área social (18 entrevistados). Representantes de entidades empresariais como fundações,
associações, federações ou confederações figuram em segundo lugar com 13 entrevistados. Em
terceiro e quarto lugar vêm as instituições das áreas ambiental e agrícola, com 11 e 8 entrevistados,
respectivamente. Os demais entrevistados se pulverizam entre entidades ligadas ao
desenvolvimento da ciência (4), economia (3), religião (2) e energia (1).
Área de atuação
Área de atuação
Social
Empresarial
Ambiental
Agricultura
Ciência
Economia
Religião
Energia
Total
Total
18
13
11
8
4
3
2
1
60
Dos 60 entrevistados, 48 são homens e 12 mulheres.
Sexo
M
F
Total
48
12
60
Mais de dois terços dos entrevistados pertence à faixa etária entre 40 e 69 anos. Outros 5
entrevistados têm entre 30 e 39 anos, e 4 têm acima de 70 anos. A distribuição dos entrevistados por
faixa etária está representada no quadro a seguir:
Faixa etária
30-39
40-49
6
19
50-59
21
60-69
10
80 ou +
4
Total
60
Este setor foi o que apresentou mais estrangeiros na amostra: 8, entre 60 entrevistados.
Entrevistados naturais da região Sudeste compõem mais de um terço da amostra. A segunda região
mais representada é a Sul, com 14 entrevistados. Os demais entrevistados são das regiões CentroOeste, Nordeste e Norte.
Naturalidade
172
SP
11
RJ
7
SC
7
PR
4
RS
3
MG
4
GO
2
AM
1
ES
1
MS
1
PA
3
CE
1
MA
1
PE
6
Ext.
8
Tot.
60
A amostra deste setor é composta por profissionais de alta formação acadêmica: metade possui
superior completo, 8 são mestres, 14 doutores, 3 pós-doutores e 8 completaram algum tipo de pósgraduação lato sensu. Apenas 3 não possuíam curso superior completo na ocasião da entrevista.
Escolaridade
Superior
30
Mestrado
8
Doutorado
16
Pós
4
Ensino Médio
1
Superior incomp.
1
TOTAL
60
Os entrevistados deste setor são formados em profissões diversas. As profissões mais representadas
são engenharia (18) e economia (11), que juntas representam quase metade da amostra. As demais
profissões são menos freqüentes, como se pode verificar pela tabela abaixo.
Formação
Engenheiro
Economista
Jornalista
18
11
4
Meteorologista
Médico
Filósofo
Matemático
Sociólogo
2
2
2
1
3
Cientista social
Agricultor
Agrônomo
1
1
2
Cientista política
Advogado
2
1
Funcionário Público
Arquiteto
1
1
Epidemiologista
1
Administrador
Físico
Geógrafo
Biólogo
Psicólogo
Total
1
1
1
1
1
60
173
EMPRESÁRIOS
RESUMO
Foram entrevistados donos do próprio negócio, presidentes de empresas multinacionais e nacionais
e executivos envolvidos na alta gerência de empreendimentos em vários ramos de negócios. Estão
presentes na amostra representantes do setor do agronegócio, incluindo soja e pecuária, de empresas
de energia e de mineração, entre outros.
“O fenômeno das mudanças climáticas é um fenômeno relacionado ao modelo econômico
perdulário que usa recurso natural como se fosse algo gratuito”: esta declaração, de autoria de um
dos empresários entrevistados, bem poderia ser atribuída a um ambientalista, e mostra que a
associação entre o fenômeno das mudanças climáticas e o modelo de desenvolvimento econômico
atualmente em vigor é clara e bastante presente no discurso do setor amostrado na pesquisa.
Os entrevistados foram veementes em afirmar que o modelo de desenvolvimento e de consumo
modernos são os dois principais vetores que colaboram para a situação atual do clima. Mudar isso é
um dos desafios mais importantes da humanidade.
Para os empresários ouvidos na pesquisa, 30 ao todo, a temática ambiental, e a das mudanças
climáticas em particular, vem ganhando cada vez mais espaço na agenda nacional e internacional,
assim como nos discursos e nas ações do próprio empresariado brasileiro que na sua visão “tem
muito a contribuir”.
A maioria apresenta um bom conhecimento das questões ligadas ao meio ambiente e às mudanças
climáticas. A motivação para aprender mais sobre mudanças climáticas é bastante elevada.
Contudo, entendem que o mesmo não acontece com a população brasileira de um modo geral, nem
com os demais setores. Conscientizar os demais atores sociais, segundo eles, “é tarefa do Estado
brasileiro”.
A maioria absoluta dos 30 entrevistados considera que a temática é de vital importância e acredita
fortemente na tese do agravamento do fenômeno das mudanças climáticas, recentemente
divulgada pelos relatórios Stern e do IPCC, amplamente citados. Também acredita que os
impactos sobre as sociedades humanas, e em especial sobre as economias nacional e mundial,
serão significativos no médio e longo prazos. Encaram o assunto com seriedade e preocupação.
Apenas uma minoria aproveitou para criticar o “catastrofismo” dos ambientalistas e o
sensacionalismo da mídia, bem como para relativizar a importância da problemática. Seus
argumentos, no entanto, são fracos e não possuem os elementos de análise que a maioria apresenta.
Podem, portanto, ser considerados residuais na amostra.
O setor, de um modo geral, independentemente do ramo de negócio ou atividade, está consciente de
que o empresariado deverá levar em consideração que um programa de redução de emissões
individual (de cada setor e/ou empresa) e coletivo é absolutamente indispensável. Como isso afetará
a competitividade de cada setor é ainda um cálculo a fazer. Para eles, quem se adiantar estará se
colocando melhor no mercado de uma economia de baixo carbono, que será a nova economia.
Lamentam o fato de que o Brasil não tenha ainda uma política nacional do clima. Sem isso, os
empresários não têm parâmetros para priorizar investimentos nem trabalhar para a conformidade.
Com relação às responsabilidades internacionais do Brasil, há uma divisão de opiniões. Uma minoria
acha que o Brasil deve adiantar-se e assumir a liderança, propondo metas de redução. A maioria não
174
concorda com isso: embora reconheçam que o Brasil “deve fazer a sua parte”, este grupo de
entrevistados acredita que cabe aos países de economia desenvolvida fazer os maiores sacrifícios.
Acreditam que não é justo nem ético pedir ao Brasil que sacrifique o seu desenvolvimento.
Ressaltaram que a responsabilidade pela situação atual do clima no planeta é dos países de
economia desenvolvida que traçaram um modelo econômico de estímulo ao consumo insustentável
e demonstram desconforto “quando nações que já consumiram de forma muito irresponsável seus
recursos naturais se sentem no direito de ditar as regras de como deve ser agora o consumo do
chinês, do indiano e do brasileiro”. Segundo esses empresários, os EUA cometeram um erro
histórico não ratificando o Protocolo de Kyoto anos atrás, e agora temos a China e a Índia
reticentes. Por que o Brasil deve tomar a dianteira?
Para eles, o Brasil deve tirar vantagens econômicas dos acordos internacionais. Manter a floresta em
pé e manter a matriz energética limpa custam dinheiro, e uma regulação impositiva só aumentará as
desigualdades sociais e econômicas globais.
A “parte do Brasil”, de acordo com a maioria, é controlar o desmatamento e as queimadas na
Amazônia: para o setor empresarial, falar de emissões no Brasil é principalmente falar de
Amazônia, “não dá para separar uma coisa da outra”. As demais fontes de emissão citadas são o
transporte e a indústria, com destaque para o agronegócio.
Muitos empresários mencionaram sua preocupação com a competitividade de seus negócios,
manifestando receio de que o comércio internacional seja profundamente afetado pelas barreiras e
tarifas não alfandegárias “em nome do problema climático”.
Não se apresentando como um setor que adota o discurso catastrófico, os empresários não são
pessimistas e acreditam que uma política de mitigação dos impactos das mudanças climáticas
surgirá rapidamente, e que o setor empresarial estará apto para dela participar.
175
ANÁLISE DETALHADA
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
Uma consciência recente
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da década
Na década de
Na década de
De 2000 para cá
de 1980
1980
1990
2
5
12
Não responderam
TOTAL
4
30
7
Como mostra o quadro acima, a maioria dos entrevistados neste setor tomou conhecimento da
problemática há menos de 20 anos, com 12 entrevistados declarando que foi na década de 90 e 7 a
partir de 2000. A maioria admite ter um conhecimento “bom”, mas incompleto sobre o assunto e se
declara altamente motivada a “aprender mais”.
Para quase totalidade da amostra, as mudanças climáticas deixaram de ser um problema acadêmico
ou de governo. Quem, no mundo empresarial, não prestar atenção ao assunto estará “morto” no
mercado em poucos anos:
“Hoje não é mais uma questão restrita ao universo acadêmico ou ao ambiente
governamental. O empresariado do mundo inteiro tem uma mudança de postura muito
grande, porque eles sabem que é uma questão de sobrevivência econômica também.
Foram feitas várias avaliações dos impactos na economia mundial destas mudanças
climáticas e todas as avaliações são bastante pessimistas em relação ao dano que isto
pode causar na atividade econômica do planeta de uma maneira geral.” (EMPRESARIAL,
ENERGIA, H.P., 54, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Empresários declaram conhecer bem o assunto
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante abrangente Bom, mas incompleto. Está explorando e
aprendendo mais
8
13
9
TOTAL
30
Mais de dois terços dos entrevistados desse setor consideram seu conhecimento “bastante
abrangente” ou “bom, mas incompleto”. Outros 9 entrevistados declararam estar explorando e
aprendendo mais. Conclui-se claramente que os entrevistados consideram seus conhecimentos
satisfatórios, mas que o assunto não se esgota por ser tão atual e dinâmico, e por isso reconhecem a
necessidade de uma constante “reciclagem”.
“O meu conhecimento, eu diria que é a primeira e a segunda alternativa, bastante
abrangente mais incompleto, seria impossível, uma estupidez intelectual, achar que você
tem um conhecimento ou uma ótima visão do todo, cada descoberta é uma descoberta.”
(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, L.T., 58, SOCIOLOGA)
“Eu diria que eu estou explorando e aprendendo mais, a gente está sempre aprendendo
mais.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, H.P., 54, ENG. ELÉTRICO E AMBIENTAL)
176
“Olha, vou te dizer uma coisa, toda vez que eu assisto a uma palestra, um programa de
televisão ou que leio algum livro eu aprendo alguma coisa sobre mudança climática.
Então eu acho que sou uma aluna nesse campo. É bom, mas incompleto.”
(EMPRESARIAL, ECONOMIA, C.C., 43, ENGENHEIRA E ADVOGADA)
3.GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Maioria se sente altamente motivada
Como se sente em relação ao tema:
Altamente motivado
Motivado, mas tem outros
assuntos mais importantes
25
5
TOTAL
30
A maior parte dos entrevistados, 25 de 30, afirma possuir um alto nível de motivação relativo ao
tema “mudanças climáticas”:
“Eu sou altamente motivado por esse assunto que faz parte aqui do meu setor, o
agronegócio.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, I.W., 54, ENG. AGRÔNOMO)
“Uma pessoa altamente motivada a entender do assunto, a aprender sempre mais. Eu
sempre gostei dessa área ambiental. (EMPRESARIAL, ENERGIA, J.C.G.M., 52, ENG. DE
PRODUÇÃO)
“Eu me considero uma pessoa altamente motivada a entender do assunto. Eu sinto isso
porque como eu participo de estudos de energia, inclusive de fontes alternativas, sei da
viabilidade que existe na substituição de energia de fontes procedentes de fósseis por
energia de fontes alternativas que hoje já são bastante conhecidas e possíveis de serem
fabricadas.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, J.A., 54, ENG. DE PRODUÇÃO)
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Pobreza e crescimento populacional destacados como maiores desafios
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Distribuição de renda /
Desenvolvimento sustentável / Enfrentamento das questões
desafios sociais / produção Preservação recursos naturais
climáticas
de alimentos
18
5
4
Outros
TOTAL
3
30
Para a maioria absoluta dos entrevistados, o combate à pobreza, desigualdade social, à fome e ao
próprio crescimento populacional – que aumenta a demanda sobre o consumo de recursos e bens
de um modo geral – constituem o grande desafio da humanidade nas próximas décadas:
“É alimentar e dar condições de vida para um monte de gente que está nascendo, acho
que o mundo está muito cheio.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
“Dos 10 maiores problemas da humanidade nos próximos 50 anos, 5 serão resolvidos pela
agricultura: alimentação, fome... energia, água e a pobreza. Outro desafio é o tema da
saúde... esses são os grandes problemas... os demais temas são, digamos assim, políticos
como o terrorismo e tal...” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.R., 65, ENGENHEIRO
AGRÔNOMO)
177
Mas a problemática ambiental não está ausente na maioria das falas: menções ao colapso dos
recursos hídricos, à falta de saneamento básico e ao assustador padrão de consumo são abundantes
nas argumentações:
“Eu acho que o maior desafio da humanidade para os próximos 20 anos vai ser trazer
grandes massas da população, que vivem em situação de baixa renda, poucas
oportunidades, com baixos níveis de saúde, para níveis de países mais elevados, com
indicadores mais elevados sem causar uma tragédia ambiental. São todos os indicadores
que denotam uma melhoria de qualidade de vida. Então, você tem renda, educação, saúde,
quer dizer, o acesso a mais oportunidade trazendo mais renda com mais educação e mais
saúde para uma grande massa de pessoas na humanidade. Essa massa coloca, sem dúvida
nenhuma, uma pressão maior sobre os ecossistemas, sobre os recursos naturais.”
(EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, M.B., 52, ENGENHEIRO
DE PRODUÇÃO)
“Acho que o grande desafio que nós já estamos vivendo, esse grande desafio é o impacto
desse contingente humano que está vindo com padrões de consumo semelhantes ao que se
tem no Ocidente. Americano tem um carro, um, dois, três carros, consome energia para
burro tem cinco, seis televisões em casa, enfim, esse padrão está sendo, de certa forma,
espalhado pelo mundo, então você não pode chegar agora pro chinês ou pro indiano, ou
pro brasileiro e dizer, não, agora, daqui para frente o jogo é diferente.” (EMPRESARIAL,
ECONOMIA, J.C.M., 58, ECONOMISTA).
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Distribuir renda e melhorar a educação
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Distribuição de renda
Educação
Mudar modelo de consumo
11
5
3
Outros
11
TOTAL
30
Segundo a maior parte dos entrevistados do setor, a questão de distribuição de renda e a melhora da
qualidade da educação, tornando-a acessível a todos, são nossos maiores desafios para os próximos
20 anos.
“Agora tem, no caso do Brasil, um problema crasso que é a distribuição de renda. E que
também vai ser certamente potencializada com o problema do aquecimento global. Os
sessenta por cento da população que têm precário acesso ás utilidades da sociedade
moderna vão ficar mais precarizados ainda porque o aquecimento global vai estratificar
ainda mais. Seguramente, seguramente. Quem tem vai se defender melhor.”
(EMPRESARIAL,
DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO,
L.G.,
47,
PUBLICITÁRIO)
“Acho que tem um desafio assim para ontem que é a pobreza. Por isso que eu não
colocaria que mudanças climáticas é um tema fundamental, básico e pobreza tem tudo a
ver com mudanças climáticas. As pessoas hoje vivem nas cidades. A população é urbana
no mundo, a nível mundial e a capacidade das pessoas viverem na cidade é diretamente
proporcional a essa capacidade de melhorar o nível de renda, o nível de vida das pessoas.
A pobreza hoje é o nosso maior entrave para viver.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, C.C.,
43, ENGENHEIRA)
“Educação é o grande desafio. Você muda a sociedade quando você põe todos para
mudar, e você põe todos para mudar na educação. A educação leva à preservação
178
ambiental, leva à ética e leva ao melhor entendimento e à inclusão de todos. Hoje os
nossos filhos são muito melhores do que nós em termos de incluir as diferenças, mas ainda
há muito por fazer.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, M.G.A., 53, ENGENHEIRO QUÍMICO)
“A educação tem um papel importantíssimo nisso tudo. A educação, não digo só da
universidade, mas digo desde criança como a gente pode criar uma geração que venha a
ter respeito por isso (...) acredito que a escola e a universidade têm um papel
importantíssimo nessa mudança. Não na mudança climática, mas na mudança de
comportamento da sociedade toda. Essa é uma coisa que eu considero bastante
importante.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, F.V., 52,
ENGENHEIRO)
Mudar o modelo é um dos grandes desafios
Além das respostas nomeando problemáticas específicas, com a predominância dos temas
socioambientais, muitos entrevistados responderam que o maior desafio, tanto da humanidade como
brasileiro, é “mudar o modelo”, considerado perdulário, predatório, insustentável:
“Olha, a questão do uso dos recursos naturais de forma dispendiosa, de forma irracional,
provoca efeitos diretos no meio ambiente e é uma relação de causa-efeito inquestionável.
Esse mal gera outros males ambientais. Por exemplo, o tamanho do lixo que circula nos
oceanos. A massa de lixo flutuando circunscrito na mesma região de paralelos acima do
trópico de câncer é quase duas vezes o tamanho dos EUA, só no Pacífico. Quer dizer, a
quantidade de resíduos, de lixo que a humanidade está produzindo é enorme e a terra não
está conseguindo condições de processar, de absorver.” (EMPRESARIAL, ENERGIA,
F.M., 60, GEOFÍSICO)
“O fator primordial no agravamento da mudança do clima é o padrão de
desenvolvimento, entenda-se por isso os padrões de produção e consumo, que as
sociedades criaram nos últimos cento e cinqüenta anos. Então, é importante que haja uma
série de políticas, não só do ponto de vista econômico, mas que também trate dos impactos
sociais e das relações políticas por trás disso.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.N.,
29, RELAÇÕES INTERNACIONAIS)
Água é o maior desafio ambiental
Qual será o maior desafio ambiental do Brasil nos próximos 20 anos?
Preservar e recuperar
Desenvolvimento Enfrentamento das questões Outros
recursos hídricos
sustentável
climáticas
8
7
6
4
Não
responderam
5
TOTAL
30
Quando perguntados especificamente sobre o problema ambiental mais grave a ser enfrentado nos
próximos 20 anos, um problema específico se destaca: a água “sem a qual a gente morre”. Em
seguida, aparece “implementar o desenvolvimento sustentável”:
“Água, é claro, veja bem, porque sem ela o cara morre... tudo é um ciclo, existe água,
porque existe floresta...mas o grande desafio é mudança de cabeça... tudo isso tem se
existir agentes transformadores para fazer isso, eu volto a falar, falo 10 vezes, não existe
nada, sem ter o homem gerindo, cuidando, vai ter água se a gente se preocupar com a
água.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, M.G.A., 53, ENGENHEIRO QUÍMICO)
“E se não tiver uma gestão responsável, ética e honesta em mais 20 anos a gente vai ter
problema de água, mas com certeza também vai ter problema de ar e isso vai agravar
179
bastante as mudanças climáticas.” (EMPRESARIAL,
SOCIOECONÔMICO, F.V., 52, ENGENHEIRO)
DESENVOLVIMENTO
“Eu acho que o grande desafio, no Brasil, é produzir com sustentabilidade. E com
sustentabilidade não pode ser apenas um assunto ambiental. Implica no econômico, no
social... Então, o balanço entre o Econômico, o Social e o Ambiental é o desafio do
Brasil.”(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.R., 65, ENG. AGRÔNOMO)
O percentual de respostas diretas mencionando “mudanças climáticas” ou “aquecimento da Terra” é
expressivo, bem como fatores a eles relacionados:
“Acho que para mim são três: é a manutenção das florestas, a disponibilidade de água de
boa qualidade e é o clima. Esses são os três desafios. Agora, tem uma questão que é meio
transversal a todas elas, que é a questão energética porque o assunto da energia, quer
dizer, para esse grande afluxo de crescimento, de melhor qualidade de vida você precisa
de energia. A energia passa pela questão da terra, passa pela questão do clima, passa pela
questão da água. (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, M.B.,
52, ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO)
“Eu não tenho dúvida que são as mudanças climáticas. Não existe um problema, em
minha opinião, mais global do que a mudança do clima. Ela afeta todo mundo, todo
mundo tem a sua parcela de responsabilidade apesar de que ela é diferente por cada
histórico e cada situação específica de país e também de nível pessoal, mas todos nós
somos responsáveis e todos nós sentiremos os impactos, uns mais outros menos...
Você pode ter pressões migratórias, por exemplo, pressões de falta de água em algum
lugar, de seca, de mudanças abruptas das condições sanitárias inclusive, por causa do
deslocamento de espécies, pragas etc. Isso pode desandar inclusive questões de conflito.
Então, por esse apelo, não só social, econômico e ambiental, mas também em termos de
segurança, é que eu acho que é o problema mais grave que a comunidade sente de uma
maneira coletiva.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.N., 29, RELAÇÕES
INTERNACIONAIS).
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Apenas minoria discorda sobre o grande impacto das mudanças climáticas
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concorda fortemente
Concorda
Discorda
Não respondeu
TOTAL
16
9
2
3
30
Apenas 2 (dois) entrevistados afirmaram discordar da tese de que as mudanças climáticas causarão
grande impacto nas sociedades humanas, contra 19 que acreditam “fortemente”.
O argumento para discordar é baseado na idéia de que as atividades humanas apenas participam,
mas não são a causa principal que agrava o fenômeno:
“Tem uma corrente de cientistas que diz que efetivamente o aquecimento global existe em
função da atividade humana, o próprio IPCC. Tem uma outra corrente de cientistas
renomadíssimos que entende que a atividade humana participa, mas não é tudo isto que se
anuncia, é muito menos e que a própria radiação solar faz acontecer muito do que acaba
180
gerando o aquecimento global. E claro, a atividade humana participa aí com 20, 30%
mas, não com 80% como se anuncia.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, V.H.K., 58,
ADVOGADO)
“Os nossos cálculos de mudanças climáticas foram feitos em cima da realidade
australiana e não da realidade brasileira e querem que eu acredite. São dois ecossistemas
absolutamente diferentes. Enquanto a Austrália não tem água e já tem uma parte seca que
eles têm de canalizar para beber água, no Brasil eu tenho uma Bacia Hidrográfica, é um
espanto quando se olha um Atlas hidrográfico brasileiro, dá impressão que não se tem
espaço para caminhar, só tem rio! Então, são duas realidades totalmente diferentes e nós
usamos a mensuração australiana.” (IDEM)
“Sempre tem aqueles catastrofistas de plantão: o mundo vai acabar, a religião diz que vai
acabar o mundo... eu acho que um terço é uma preocupação razoável, um terço é
sacanagem e outro terço é falta do que fazer... eu acho que a questão ambiental está super
dimensionada. Nós sempre resolvemos os problemas..., eu já ouvi que o mundo ia acabar
por causa de AIDS, por causa de frio em 1975, agora diz que é por causa de calor e eu
vejo atrás disso também um forte interesse comercial por parte de alguns países,
principalmente na Europa, e por parte de políticos e outros que são eminentemente anticapitalistas e anti-desenvolvimentistas.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, L.S.H., 77,
CAFEICULTOR)
A afirmação a seguir expressa a visão compartilhada pela maioria dos que disseram concordar com
convicção:
“Concordo fortemente, esse é exatamente o principal desafio que a humanidade está
encontrando. É um assunto um pouco técnico, um pouco complexo, mas vamos lá:
primeiro temos a questão da distribuição de água na Terra, quer dizer, a distribuição de
água vai mudar, já está mudando na verdade, então, os rios, por exemplo, que hoje têm
uma certa vazão e correm dentro de uma certa situação geográfica vão ter um
deslocamento. A questão da disponibilidade então para populações que hoje estão
estabelecidas nos lugares onde tem água disponível, vai mudar dramaticamente: não vai
ter água disponível mais nesses lugares, então já temos um problema aí.
A segunda questão é a questão da agricultura, quer dizer, as áreas agriculturáveis estão
mudando de lugar, seja por causa de temperatura seja por regime de chuvas. Então a
agricultura está relacionada com a produção de alimentos. As duas questões agora se
cruzam e essas pessoas que não vão ser atendidas por disponibilidade de água poderão
também ser afetadas por indisponibilidade de alimentos.
Aí nós vamos ter um problema de deslocamento de população. E toda questão vai ter
desdobramentos políticos porque o clima não conhece fronteira políticas entre os países,
certo? Então as pessoas vão ter uma tendência de fluxos migratórios que vão para além
das regiões internas dos países, irão de um país para o outro.
Então é isso, uma mudança brusca de situação e uma questão geopolítica que acaba
resultando...” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, R.G.N.,
51, ENGENHEIRO)
A gravidade do problema não deve levar ao fatalismo
Embora reconheçam a gravidade do fenômeno das mudanças climáticas, os empresários ouvidos se
recusam a compartilhar de uma visão fatalista. Acreditam que há enormes desafios a enfrentar e que
a redução de emissões não é um problema ambiental clássico, porque não se trata de promover a
181
conservação dos recursos nem o gerenciamento de resíduos, mas uma mudança estrutural. Daí a
necessidade de uma política “que é maior do que a política ambiental”:
“Política de mudança climática não é uma política ambiental comum, primeira coisa
importante. A questão ambiental na mudança climática é apenas o impacto final, certo?
Então a política de mudança climática, como eu estava falando, ela é uma política
econômica, ela é uma política habitacional, é uma política urbana, é uma política de
infra-estrutura e logística, de transportes, certo?
Então é pensar tudo isso sob uma nova ótica, uma nova forma de se usar energia, em que
você tem, por exemplo, que considerar a geração de energia mais próxima do local de
consumo para evitar menos perdas, que você tenha que racionalizar transportes, que você
tenha, enfim, que utilizar menos recursos naturais para fazer o que você faz. Dar
destinação aos resíduos mais adequada, gerar processos mais sinérgicos que utilizem
esses resíduos...
Então eu acho que é um impacto muito grande, exige uma política de mudança climática.
Ela é como se fosse um termômetro de um novo modelo de desenvolvimento.”
(EMPRESARIAL, USO DO SOLO, V.F., 51, GEÓLOGO)
“É uma questão que extrapola a questão ambientalista, é uma questão que está
relacionada com a nossa sobrevivência nesse planeta, manter nossa sobrevivência viável e
garantir que ela seja viável para o futuro.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, J.A.R., 54, QUÍMICO INDUSTRIAL).
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
Maioria considera o tema estratégico para os negócios
Importância do tema em seu setor de atuação:
Muito importante
Importante
25
3
Pouco importante
TOTAL
2
30
A quase totalidade dos entrevistados, 25 em 30, avaliou como muito importante a questão das
mudanças climáticas na sua área de atuação, reconhecendo que a regulação futura, previsível,
deverá afetar todos os negócios. O principal fator, segundo a maioria, é o fato de que a economia é
ainda baseada na matriz dos combustíveis fósseis. Isso obrigaria quase todos a um programa de
redução de emissões.
Sem dúvida alguma, reconhecem, a questão das mudanças climáticas não é só ética, mas
econômica. Para muitos negócios, inclusive, passou a ser questão extremamente estratégica, e
mesmo de sobrevivência:
“A questão dos biocombustíveis passou a ser estratégica dentro do campo das energias
renováveis. Porque além do ganho ambiental, das emissões, tem a questão social. O
Nordeste do Brasil é muito sensível às alterações de clima, ano chove, ano não.
Nós estamos, portanto, investindo para procurar uma melhor estabilidade, inclusive, nós
temos alguns convênios com Universidade Federal Rural de Pernambuco, a UFRPE, que
integra uma rede inter-universitária do país para que a gente desenvolva um trabalho de
buscar variedades de canas mais resistente às pragas, evitando tanto produto químico.
182
A gente tem essa consciência de melhorar a produtividade a partir de um cultivar que use
menos produtos químicos. Isso certamente vai beneficiar o meio ambiente, quer dizer, há
uma consciência e também uma atitude prática.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO,
R.C., 49, ADVOGADO)
Você pode ter perdedores e ganhadores dependendo da competição de cada setor, de
cada empresa.
Na minha, especificamente, isso já está sendo visto como uma oportunidade. Então, como
nós iniciamos esse processo de ajuste, inclusive estimulados pelo Protocolo de Kyoto,
desde 2005.
Nós desenvolvemos um projeto, aprovado pelo Banco Mundial, justamente para
propiciar o uso de carvão vegetal renovável, proveniente de florestas plantadas para a
siderurgia. Então, para a gente isso não vai ser mais uma ameaça, pelo menos no curto
prazo, porque nós nos antecipamos a esta barreira, cientes de que ela ocorreria.
Hoje em dia temos até um crédito para vender no mercado. Então, quer dizer, a história se
transformou em oportunidade.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.N., 29, RELAÇÕES
INTERNACIONAIS)
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
Adotar metas de redução de emissões assusta empresários
A maioria dos entrevistados se diz contrária à adoção de um programa de metas de redução por
parte do Brasil. Acham que o país tem responsabilidades sim, mas diferenciadas, e que a adoção de
metas de redução afetaria gravemente a competitividade do Brasil:
“Eu acho que todos nós seríamos afetados porque nós provavelmente teríamos taxações,
provavelmente teríamos metas setoriais que limitariam muito a nossa capacidade de
competir no mercado internacional e não necessariamente conseguiríamos dar a mesma
contribuição do que se nós não tivéssemos metas... O país tendo que cumprir metas
passaria a demandar isso dos setores mais promissores, o nosso é um deles, e você
perderia muito da competitividade, da possibilidade e não contribuiria, a meu ver, para
mitigação do efeito global.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, V.F., 51, GEÓLOGO)
“Caso isso aconteça o efeito é de redução de competitividade, não há dúvida.
Existem outras questões, o processo de discussão que começou em Bali é para definir
quem deve reduzir o quê. Para mim não há dúvida que o problema é conjunto, as
responsabilidades são conjuntas, mas diferenciadas.
Eu não tenho dúvida de que a questão da responsabilidade de um país como o Brasil são
diferentes de países como Estados Unidos, outros países da Europa etc. e tal, por um
motivo simples:
a vida útil do gás, de qualquer gás do efeito estufa, é de cerca de 30 a 50 anos, portanto, o
que nós estamos vivendo hoje como problema e que vai durar mais 30, 50 anos,
acontecerá independentemente do que se fizer a partir de agora, não é uma causa
brasileira.
183
O que não quer dizer que você não tenha que tomar ações de mitigação, ações... o fato de
eu não ter metas não significa que eu não tenha responsabilidade, elas são
compartilhadas, mas há uma tendência a simplificar responsabilidades.
Isso eu acho perigoso, se você olhar as emissões, por exemplo, da China que é a grande
vilã no momento, vai passar os EUA, se você olhar as emissões per capita da China, você
vai ver que a situação é absolutamente distinta da situação americana...
Se você estabelecer metas que sejam draconianas para um país, você está ferindo o
próprio conceito, o próprio conceito de sustentabilidade, acho perigoso pessoalmente
restringir a discussão apenas à questão de metas ou não-metas e é exatamente isso que
Bali não fez” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.M., 46, ENGENHEIRO DE
PRODUÇÃO)
Alguns poucos privilegiados nesta amostra não temem metas de redução porque, segundo dizem, se
anteciparam e estão à frente:
“Não tememos porque estamos anos luz na frente. Para você ter uma idéia do total de
energia que a gente usa no negócio todo, quando eu falo negócio todo, é desde a produção
lá do fumo até a entrega do cigarro no varejo que a pessoa vai comprar, o carro que
transporta, tudo.
Se eu pegar toda energia que eu gasto desde o início até o final é algo de 80% renováveis.
Ela já é sustentada pelo que a gente vem fazendo ao longo do tempo. Nós não vamos ter
grande impacto em termos de restrição nenhuma porque, na verdade, nós já alcançamos
esse patamar, nós já estamos muito a frente.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, J.A., 54,
QUÍMICO INDUSTRIAL)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Dificuldades e limites
Ganância, ambição desmedida, “capitalismo desenfreado”, lógica de curto prazo e uma espécie de
falta de fé nas políticas em vigor povoam as falas dos nossos entrevistados, que mencionam uma
“cultura que não ajuda”, onde não há coerência metodológica, “direção”.
Foi largamente mencionada a incapacidade de planejar e implementar planos estratégicos. Em
termos mais objetivos, as dificuldades são de três ordens.
A sociedade inteira funciona contra a redução de emissões
Esse raciocínio se refere sobretudo à natureza do modelo de produção e consumo e ao aumento da
demanda por energia, claramente presente em países como China, Índia e Brasil:
“O que pode agravar o fenômeno das mudanças climáticas? Bom, a resposta técnica
seria, de imediato, o aumento das emissões dos gases que causam o efeito estufa, resposta
óbvia. Mas a gente tem que olhar o que está por trás disso, o que gera essas emissões. E,
na verdade, o que gera essas emissões são padrões de desenvolvimento que a sociedade
criou ao longo dos últimos dois séculos, principalmente a partir da revolução industrial.
“Esse modelo de desenvolvimento está muito relacionado aos padrões de produção e
consumo. Não se trata das emissões da indústria. As pessoas às vezes imaginam que as
emissões só ocorrem na indústria. Não, na verdade, é na sociedade inteira. Transporte,
184
desmatamento, até mesmo em alguns serviços. Mas é, sobretudo, na demanda energética
que está o problema. (...)
Aqui no Brasil a gente está caminhando para o padrão de consumo de energia mais ligado
ao americano, e aí temos a história das emissões do chinês e do americano; bom, a China
e os EUA emitem a mesma coisa, só que o chinês é de 3 toneladas por habitante por ano e
o americano é de 19 tonelada por ano. Então que padrão de consumo é este? Acho que
esta discussão não está sendo feita... Fala-se da produção, da qualidade da energia
produzida, mas e a demanda?” (EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
“Talvez a principal barreira ou dificuldade para reduzirmos emissões seja o paradigma
que a humanidade adotou, adotou um modo de viver que depende da queima de
combustíveis fósseis e de carvão, e isso é uma coisa de natureza cultural e muito
arraigada, então para mudar isso, é preciso fazer essa transformação na cabeça das
pessoas, convencê-las a mudarem o seu modo de vida de maneira a reduzir a dependência
dessas questões. A outra barreira são os interesses econômicos que já estão estabelecidos
em cima disso. Então você tem as pessoas que têm que mudar de cabeça e é difícil mudar
porque todo mundo tem que mudar de cabeça, certo? E o outro são interesses econômicos
que vão evidentemente se desfazer em função disso. Ainda vão surgir outros novos, mas as
duas barreiras mais fortes são essas.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, R.G.N., 51, ENGENHEIRO).
O modelo adotado de transporte e de mobilidade é “pré-histórico”
A crítica aqui é ao modelo rodoviarista adotado pelo Brasil a partir dos ano 60, considerado
devorador de óleo diesel, identificado com a idéia de “carregar tudo nas costas de um caminhão”. O
sistema de transporte urbano também foi criticado por sua natureza irracional, pré-histórica:
“Nosso transporte de carga, é o mais energivo [intensivo em energia] do planeta,
transportamos tudo nas costas de um caminhão, nós praticamente... nossa rede de
ferrovias é ridícula, não temos uma navegação de cabotagem, nem fluvial, nada.
É ridículo o que a gente tem: sistemas de transporte específicos como a ferrovia da Vale
do Rio Doce, coisas assim, mas ligadas a uma empresa; mas o resto é vergonhoso, o
sistema de transporte que temos é extremamente devorador de óleo diesel, e junto com
isso, o transporte urbano é pré-histórico, os nossos ônibus são paleontológicos, nosso
sistema de distribuição da malha de transporte urbano é uma vergonha, você concebe
ficar parado numa esquina da Copacabana e passarem 30 linhas de ônibus diferentes,
todas indo para o centro da cidade
E cada uma com meia dúzia de passageiros? Num ônibus da pior qualidade, nem um
pouquinho eficiente, tudo montado em cima de óleo diesel; nós temos minúsculas redes de
metrô, alguns trens urbanos, não temos bondes ou sistema de VLT, enfim nosso sistema de
transporte, é uma contribuição pesadíssima.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, H.P., 54,
ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Você está vendo a solução e eu estou vendo o problema. Ninguém está avaliando o que
significa este ufanismo de dizer que a indústria brasileira está produzindo X de carros, o
que significa 1000 carros/dia sendo emplacados em S. Paulo e Rio? Ninguém discute isto,
então este é um problema, o ordenamento urbano, a ocupação do solo, do rodoviarismo,
isto é dramático. Vamos analisar o custo de um engarrafamento, custo econômico, custo
stress de uma pessoa, compromisso que você perde, a irritação de uma pessoa, sem contar
185
a poluição ambiental, não tem ninguém calculando isso para a sociedade.”
(EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
Incapacidade de planejar e gerenciar a implementação de planos estratégicos
Vários entrevistados citaram que há mais de uma década se fala em uma “Amazônia sustentável”,
sem que nenhum plano tenha sido implementado de forma coerente. O que se viu foi ambientalistas
insistindo em reservas extrativistas e empresários insistindo em continuar um modelo predatório,
lucrativo a curto prazo.
Sobre essa incapacidade de planejar, foi citada, por exemplo, a falta de método:
“O que falta é método, falta transparência, falta objetividade em quem tem que fazer a
aplicação das leis (de regulação) nos órgãos ambientais. Acho que este é o problema. O
problema do entrave ambiental não é pela questão ambiental. O entrave ambiental, e
estou falando de uma maneira geral, petróleo, energia em geral, é uma falta de coerência,
falta de metodologia, falta de conhecimento específico. Este é o problema... os órgãos
ambientais são extremamente limitados em termos de planejamento e aplicação das leis.”
(EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
Fala-se muito em zoneamento para a soja, para o boi. Instalou-se uma “histeria” em torno dos
biocombustíveis, mas e as madeireiras? A pergunta é de um representante do setor do agronegócio.
Elas agiram impunemente por mais de 10 anos, criando uma riqueza espúria, e agora o agronegócio
é que está sendo demonizado.
O trecho selecionado abaixo dá uma idéia de como os empresários do agronegócio vêem, por
exemplo, o que chamam de falta de coerência metodológica e falta de capacidade de
gerenciamento:
“O empecilho é ausência de planejamento. Veja bem: na década de 1960, o Brasil teve
que enfrentar um problema muito sério que foi a baixa qualidade da lavoura de café e no
momento em que o café ainda representava sei lá, 80% ou 75% da pauta de exportações
do Brasil.
Atacou-se o problema erradicando os cafezais improdutivos, não houve outro jeito. Por
quê? Tinha que concentrar a produção nos cafezais que produziam café de boa qualidade.
A teoria está certa. A implementação foi um desastre, porque substituíram os cafezais
erradicados por pastagens.
Então, nas regiões como sul de Minas, o leste de Minas, regiões montanhosas, botar o
gado para pisotear o morro já degradado. Fábrica de deserto! Ou seja, a idéia original
era muito boa, a implementação foi desastrosa.
A única coisa que resolve essas disputas, esses impasses com relação ao agronegócio e o
imperativo de não desmatar, é um bom projeto, com uma agenda de implementação bem
feita (...) É o governo que tem que liderar essa coisa.
O plano de implementação, ninguém quer gastar tempo com ele. Plano de implementação
é que é a coisa importante. Eu conheço alguns exemplos de projetos bem concebidos e
magnificamente bem implementados: o plano de fruticultura no Vale do São Francisco...
Na área agropecuária, nós temos a ventura de termos um órgão como a Embrapa, um
órgão científico, sério, um dos melhores que há no mundo, dos mais capacitados. Agora,
enquanto ficar na mão dos políticos, Ibama, Incra, não sei o que, então, não vai a lugar
nenhum!” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, C.S., 69, CONSULTOR)
186
Para o agronegócio o problema está nos setores industrial e energético
Para os empresários do agronegócio ouvidos na pesquisa, as barreiras à adoção de um programa
consistente de redução de emissões não estão no seu setor:
“As barreiras agrícolas são mais fáceis de remover. As maiores barreiras estão na área
industrial e na área energética. É preciso um entendimento maior das fontes de energia do
mundo. A questão do carvão precisa ser encarada com mais responsabilidade, a gente vê
grandes empresas que operam nesse ramo de combustíveis falando como se existisse
algum mérito, como se houvesse hipocrisia nesse mercado, mas o consumidor não é bobo.
Então, é preciso encarar essa questão com mais seriedade e com maior nível de
investimento nas energias limpas, nas energias alternativas, nas energias fotovoltaicas,
solar, eólica, o biodiesel... tem várias fontes. Pode ser o hidrogênio, sem dúvida alguma. A
era do hidrocarboneto vai conviver de forma mais forte com as energias renováveis.”
(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.C., 49, ADVOGADO)
Mas como os outros vêem o agronegócio?
Em contrapartida, alguns empresários de outros setores apontaram o agronegócio como uma
potencial ameaça:
“[O agronegócio] tem importância tanto no bem se for pensar do lado da geração dos
novos combustíveis renováveis, quanto para o mal na pecuária que tem o gado ou
devastação, remoção da camada da Amazônia para plantio da soja, então pro bem ou pro
mal o agronegócio está na frente. Se você pensar no biodiesel, no álcool é pro bem, se
você for desflorestamento para entrada de agropecuária que também faz parte já do
negócio naquela região é pro mal. Então o agronegócio para mim é o primeiro [dos
setores que mais emitem]” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, J.C.M., 58, ECONOMISTA)
“A agricultura que também é a grande menina dos olhos do governo brasileiro, mas que
devasta demais. Hoje é o grande responsável pelo desmatamento nas nossas florestas para
colocar mais bois e ainda com a história de geração de energia que é uma boa conversa
que está aí. Gerar energia de biodiesel, do álcool e tudo o em nome dessa coisa de
geração de energia, eles têm realmente feito um grande estrago no meio ambiente e com
emissões significativas para a atmosfera.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, F.V., 52, ENGENHEIRO).
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
Em 30 entrevistas, foram mapeadas cerca de 10 propostas em torno das quais quase todos
convergiram.
Algumas são de cunho genérico ou de esfera global, tais como “fazer uma campanha de
conscientização mundial para reduzir e mudar padrões de consumo”, esforço que deveria incluir a
ONU e as organizações globais. Também se mencionou a criação de uma “CPMF mundial”, como
um grande fundo para salvar o planeta.
Concatenar ações, unir esforços, irradiar a idéia de sustentabilidade via educação ambiental e
combater o discurso fragmentado é uma proposta presente em várias entrevistas:
“Primeiro fiscalização, é óbvio, é um incentivo para acabar com a predação. Em segundo,
políticas de estímulo à energias alternativas. Não sei, energia, culturas renováveis, mais
187
alternativas; exploração racional dos recursos naturais; regulamentações mais modernas;
botar esse tema na programação curricular no PCN — Programa Curricular Nacional.
Tornar nas escolas públicas essa discussão obrigatória, a conscientização da educação
ambiental, os efeitos dela. Tem algumas ações, em diversos campos, que podem ser
tomadas de uma maneira concatenada, aí seriam, em muito, potencializadas.”
(EMPRESARIAL,
DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO,
L.G.,
47,
PUBLICITÁRIO)
Em termos mais específicos, eis as propostas mencionadas:
Ajustar tributação para biocombustíveis
“Nós, do setor do agronegócio, temos desincentivo, porque o regime tributário do governo
brasileiro colocou como eixo do seu programa a produção de biodiesel no Nordeste
brasileiro, vinculado à agricultura familiar que tem vantagens tributárias. Por outro lado,
o biodiesel de soja, feito no Sudeste, no Centro-Oeste brasileiro tem uma penalização: tem
mais tributo que a soja para outros usos. Então tem uma irracionalidade tributária que
precisa ser corrigida.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, I.W., 54, ENGENHEIRO
AGRÔNOMO)
Fundo Nacional de Compensações
“O grande ponto é o seguinte, qualquer interferência no meio ambiente, tem dano
ambiental, isto não tem por onde. Então, você tem que ter um bom processo de
compensação, de mitigação. Nós, por exemplo, precisamos de energia elétrica do rio
Madeira e não tem jeito, vamos fazer uma devastação lá. A hidroelétrica vai devastar a
área. Então, você tem que compensar. O grande problema é que não sei se as
compensações são justas, não sei se elas são visíveis, o problema é que todo mundo acha
que não está sendo feita uma compensação.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, M.G.A., 53,
ENGENHEIRO QUÍMICO)
Rediscutir o modelo rodoviarista brasileiro
“Tem que ter políticas claras: penalizar o que polui e beneficiar o que não polui.
Transportes: você subsidiar transporte urbano, de massa e penalizar o automóvel, é
imperativo. Mas o que você vê é o contrário. Veja o caso da Prefeitura do Rio de Janeiro,
ela está fazendo um estacionamento subterrâneo no centro da cidade, isto é criminoso. É
antítese de tudo que se está fazendo minimamente no mundo. É isto que a Prefeitura está
fazendo no Rio, dizendo: “Venha de carro para a cidade”. Vai fazer em Ipanema um
monte de estacionamento, já não se anda mais, polui, e ele está fazendo ao contrário.”
(EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
Avançar nos processos de certificação
“Eu acho que o mercado nacional e internacional pode exercer um papel disciplinador
nessa questão, por exemplo, poderia haver reduções de tarifas de exportação, impostos de
importação reduzidos para produtos que são ambientalmente corretos e que tem
certificações de origem, atestadas por empresas com idoneidade, certificadoras
internacionais, que atestem que são produtos clean, produtos dentro dos conceitos político
e ambientalmente corretos.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.C., 49, ADVOGADO)
Tornar mais acessível o que é ambientalmente mais indicado
“O que funciona é o sinal econômico. O grande desafio é o de tornar mais acessível o que
é ambientalmente mais indicado... Então, é o que eu estava falando antes, dessas fontes de
188
energia renovável, aquela que eu acho que poderia ser usada mais rapidamente, com mais
eficiência, com custos competitivos, é a biomassa de bagaço de cana...” (EMPRESARIAL,
ENERGIA, D.Z., 58, ECONOMISTA)
Investir em novas tecnologias
“Seria muito importante apoiar, criar incentivos para pesquisa e desenvolvimento,
fortalecer quem fica no campo de desenvolvimento de tecnologias... Quer dizer, hoje uma
pessoa ou empresa que se dedique ao desenvolvimento de uma tecnologia nova, que ajude
nessa área da sustentabilidade, ela tem relativamente poucos incentivos... Falta um
programa nacional de tecnologias sustentáveis, não são oferecidos incentivos, e o Brasil
fica no papel de se satisfazer em ser um produtor de commodities ambientais, mas a
tecnologia?” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, R.G.N., 51,
ENGENHEIRO)
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Governo deve liderar o processo
À indagação sobre quais agentes, atores, deveriam tomar à frente, ou seja, liderar o processo de
planejar e implementar programas de redução de emissões e mitigações dos efeitos do agravamento
das mudanças climáticas, o governo (Estado brasileiro) foi citado pela maioria dos entrevistados
como o principal ator, como protagonista:
“Só a vontade governamental política séria consegue enfrentar isso, porque o cidadão
comum não consente.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, C.S., 69, CONSULTOR)
“Bem público tem que ser tratado pelo governo junto com o setor privado e a sociedade
civil, mas é o governo que tem que tomar a liderança.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO,
F.N., 29, RELAÇÕES INTERNACIONAIS)
É interessante notar que por governo, em geral, se entende a esfera federal. No entanto, alguns atores
empresariais também se referiram à importância da ação por parte dos governos locais, isto é, das
prefeituras. Segundo os nossos entrevistados, sem a sua colaboração “nada acontece”. Enquanto a
prefeitura assume aqui um papel decisivo, estranhamente a esfera estadual está completamente
ausente das considerações:
“As prefeituras, sobretudo as prefeituras. Eu entendo que o governo federal tem que ter
uma atuação compartilhada, e tem que delegar às prefeituras esses programas e essas
ações. As coisas nascem nas prefeituras, os lixões das prefeituras estão bastante fora do
padrão, tem muito erro aí, muita gente se aproveitando de uma coisa que não pode ser,
que é um absurdo.
[A implementação de] programas de eficiência energética nas prefeituras seria uma
contribuição importante.
Eu acho que as prefeituras têm que ter uma forte auditoria, elas deveriam de ser punidas e
só deveriam receber dinheiro do governo federal se fossem certificadas, se atendessem a
certos requisitos.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.C., 49, ADVOGADO)
“Temos um foco muito grande na questão da reciclagem, fomos o primeiro banco a adotar
o papel reciclado em larga escala e temos hoje uma coleta seletiva na organização em
92% das agências, com certificação dos processos, garantias, é o único programa de
189
cunho nacional efetivamente funcionando, a duras penas, com muita, muita, muita
dificuldade, porque há municípios que não têm interesse nenhum em fazer coleta seletiva.
Dos 5564 seguramente 40% ou 45% dos municípios não querem ouvir falar em coleta
seletiva...
Então, luta-se com muita dificuldade... os prefeitos não querem fazer parcerias, enfim
temos 19 projetos que não andam melhor porque as prefeituras não têm interesse em
colaborar. Nosso programa de reciclagem é focado no terceiro R, notadamente redução
que é o R mais importante. O nosso programa papa-pilhas é um sucesso de marketing,
todo mundo acha importante, mas as prefeituras não querem nem saber...acho que falta
uma política de indução, na ponta.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, V.H.K., 58,
ADVOGADO)
“A gente tem uma deficiência, por exemplo, nos municípios. Os municípios não têm o
esgoto, eles não têm tratamento adequado nos rios... Eu diria que os municípios e as
cidades precisam ter uma consciência mais evoluída. O segmento privado, como ele é
muito patrulhado, inclusive pelo Ibama e pelos órgãos de gestão ambiental, eu acho que
avançou muito. Era importante que os municípios, que os Estados e os municípios,
também atuassem assim de forma mais pró-ativa...
A gente faz cultura irrigada, mas a irrigação não resolve todos os problemas. A gente tem
que mostrar que a irrigação tem que ser ajudada pelas chuvas, pelo regime hídrico. E
para isso é muito importante existir investimento de recuperação das matas ciliares dos
rios e haver uma colaboração dos municípios, da sociedade como um todo...”
(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.C., 49, ADVOGADO)
A idéia central é a de que o governo conduza em parcerias, principalmente com o setor empresarial,
o processo de mitigação. Os outros atores vão juntos.
“Não é governo que toma essa decisão, são as pessoas. E acho que os governos têm
papéis importantes e incentivadores; os governos são o motor de arranque, o motor de
partida, mas o motor que move o trator é o povo, é a gente.” (EMPRESARIAL,
AGRONEGÓCIO, M.L., 49, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS)
“Eu acho que são os atores que estão emitindo e liderados pelo governo. Eu acho que
como o assunto tem uma grande oportunidade para o Brasil, eu estou falando no Brasil
especificamente, e ele tem a capacidade de moldar vários setores no Brasil. Eu acho que
um grande fórum, uma grande discussão liderada pelo governo, com alguém com uma
capacidade e competência altamente reconhecida podia fazer uma diferença, pode fazer
uma diferença.
Mas aí ele vai ter que chamar todo mundo, não é? Vai ter que chamar a indústria, vai ter
que chamar os cientistas, vai ter que chamar os ambientalistas, o pessoal da floresta, o
pessoal do etanol. Vai ter que botar todo mundo na mesa e talvez entendendo o ciclo
energético todo, achar um novo arranjo, um novo caminhar.” (EMPRESARIAL,
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, M.B., 52, ENGENHEIRO DE
PRODUÇÃO)
Em segundo lugar, os empresários
“O empresariado também [tem responsabilidades], você não pode fugir da tua
responsabilidade, suas atribuições. Não adianta nada o governo criar regras se os caras
[os empresários] não seguem a regra ou não atentam para essa necessidade.”
(EMPRESARIAL, ECONOMIA, J.C.M., 58, ECONOMISTA)
190
“Hoje não é mais uma questão restrita ao universo acadêmico ou ao ambiente
governamental, mas o empresariado do mundo inteiro já tem uma mudança de postura
muito grande, porque eles sabem que é uma questão de sobrevivência econômica também,
já foram feitas várias avaliações dos impactos na economia mundial destas mudanças
climáticas e todas as avaliações são bastante pessimistas em relação ao dano que isto
pode causar na atividade econômica do planeta de uma maneira geral. (EMPRESARIAL,
ENERGIA, H.P., 54, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
E, em terceiro, a sociedade
“Eu penso que a sociedade. Somos muitos infantis e irresponsáveis de pensarmos que a
responsabilidade é só dos governos e das empresas. Eu acho que a responsabilidade
maior é nossa de reagirmos, mobilizarmos e exigirmos políticas públicas que contemplem
essa questão.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, F.M., 60, GEÓLOGO)
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
EUA duramente criticados
Poucos empresários declararam estar acompanhando a discussão no nível internacional além do que
lêem nos jornais ou vêem no noticiário da televisão. Os empresários entrevistados que
demonstraram um maior conhecimento criticaram, como outros setores o fizeram, a posição dos
Estados Unidos (em não assinar o Protocolo de Kyoto) e reclamaram da falta de ações mais
concretas:
“A grande mudança vai ocorrer quando os Estados Unidos começar a levar a sério.
Enquanto os Estados Unidos, o maior poluidor do planeta, não tomar uma atitude
concreta de decidir reduzir os gases de efeito estufa, eu acho muito complicado. A China,
também, era tratada como emergente e hoje já polui tanto quanto os Estados Unidos.
(EMPRESARIAL, USO DO SOLO, J.P., 38, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS)
“...o que incomoda é a posição dos EUA, como um país tão relevante que é, trata tão mal
a questão? (...) Ele é o maior poluidor. O fato dele não assinar o acordo de Kyoto, é um
mal exemplo e não só não assina, como não dá uma alternativa. Como esse cara acha que
isso não é importante? (EMPRESARIAL, ECONOMIA, M.G.A., 53, ENG. QUIMICO)
“Acho que não se evoluiu muito, infelizmente, mais uma vez a posição de alguns países
como os EUA, atrapalhou bastante. Acho que para mim, a grande evolução foi a adesão
da Austrália ( ao Protocolo de Kyoto), que tinha uma posição muito alinhada com os EUA
e desvirtuou. Os EUA chegaram com um discurso um pouco diferente, mas de concreto
não apresentaram nada e você considerando, vamos dizer, o peso que o mercado norteamericano tem nesta história, é claro que a gente não vai deixar de fazer só porque eles
não fazem, mas, primeiro é um grande desmotivador e segundo, por mais que a gente faça
tudo que a gente tem que fazer, se eles não fizerem a parte deles, o desastre vai acontecer
de qualquer jeito. (EMPRESARIAL, ENERGIA, H.P., 54, ENG. ELÉTRICO E
AMBIENTAL))
“Eu vejo isso como uma conversa muito política e de pouca ação. Eu acho que a grande
massa mundial ainda ta falando nisso a nível de liderança mas praticando pouco, a
começar pelos Estados Unidos. Ele participa e vêm e tal, conversa, vê os impactos, mas
não age.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, M.L., 49, ADMINISTRADOR DE
EMPRESAS)
191
Empresários estão se engajando no mundo inteiro
Para uma boa parte, as evidências visíveis de que o clima do planeta está mudando estimularam
uma evolução no debate nos últimos cinco anos, e a questão não está sendo levada a sério somente
por acadêmicos ou por governos; empresários no mundo inteiro estão se envolvendo cada vez mais
nas discussões que a questão suscita:
“Hoje não é mais uma questão restrita ao universo acadêmico ou ao ambiente
governamental, mas o empresariado do mundo inteiro já tem uma mudança de postura
muito grande, porque eles sabem que é uma questão de sobrevivência econômica também.
Já foram feitas várias avaliações dos impactos na economia mundial destas mudanças
climáticas e todas as avaliações são bastante pessimistas em relação ao dano que isto
pode causar na atividade econômica do planeta de uma maneira geral. (EMPRESARIAL,
ENERGIA, H.P., 54, ENG. ELÉTRICO E AMBIENTAL)
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
"DESMATAMENTO EVITADO"
Maior parte dos entrevistados desconhece a proposta
A proposta de desmatamento evitado, apresentada pelo governo brasileiro na 13ª Conferência das
Partes da Convenção do Clima, realizada em Bali, não é conhecida pela grande maioria dos
entrevistados. Apenas um terço dos entrevistados tem opinião a respeito dessa proposta,
considerando-a em geral uma boa iniciativa, embora polêmica:
“Sim, conheço. A gente fala muito em desmatamento evitado. Eu acredito muito mais no
desmatamento evitado até do que na recuperação de áreas degradadas, principalmente no
Brasil, porque nós ainda temos boas áreas conservadas e que estão caindo muito
rapidamente. Então assegurar que essas áreas permaneçam intocadas e que esse carbono
fique ali. (...) É muito mais objetivo do que recuperar áreas. (EMPRESARIAL, USO DO
SOLO, G.G., 38, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS)
“É uma proposta boa, mas ainda não tem a consistência que ela precisa ter, certo?
Porque o desmatamento evitado é quanto que o proprietário vai receber por aquele
hectare que ele (não) desmatou. Ele tem que receber algo que seja maior do que ele
receberia se ele desmatasse e plantasse soja ou gado ali, ou criasse gado ali. Então isso
tem que ser uma política forte, clara, bem definida.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, V.F.,
51, GEÓLOGO)
“Eu acho que é muito interessante, mais é feio dizer 'me dá um dinheiro aí pra eu não
desmatar', que isso é um pouco 'você paga para eu não desmatar' (...)” (EMPRESARIAL,
AGRONEGÓCIO, L.T., 58, SOCIOLOGA)
“Acho boa, uma proposta importante, acho que pode ser por aí, acho que pode ser eficaz.
O problema é que os países querem permissão para poluir, eles preferem pagar pelo
desmatamento e continuar poluindo lá fora.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, C.P.C.,
31, ENG. ELETRICISTA E AMBIENTAL)
14. CONFERÊNCIA DE BALI
Resultado positivo
192
Menos da metade dos entrevistados opinou sobre os resultados da 13ª Conferência das Partes da
Convenção do Clima, realizada em Bali.
Dentre esses, prevaleceu a idéia de que os resultados foram positivos:
“Eu acho que do ponto de vista geral ela foi um avanço no sentido de no sentido de dizer
para o mundo que nós temos que caminhar mais e melhor e mais rápido nessa direção,
então o essencial é no ponto de vista da mobilização em torno da causa.”
(EMPRESARIAL – AGRONEGÓCIO, I.W., 54 , ENG.AGRÔNOMO)
“Bali foi resultado muito positivo, houve um reconhecimento de que as responsabilidades
são comuns, mas diferenciadas. Não foi imposto naquele momento metas para países em
desenvolvimento, foi aceito que os países em desenvolvimento vão ter, no futuro, que
aceitar metas...” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.M., 46,ENG. DE PRODUÇÃO)
Nem todos ficaram contentes
Dois entrevistados se queixam dos resultados da conferência, um dizendo que ela foi “confusa” e
outro que ela não foi satisfatória para quem esperava ver resultados concretos; ela apenas sinalizou
a continuação das “negociações”.
“Eu achei um pouco confuso o resultado da conferência. Esperava, sinceramente, talvez
mais publicidade, mais transparência no que foi discutido, mas eu achei a coisa um pouco
confusa.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, G.G., 38, ADMINISTRADOR DE
EMPRESAS)
“A convenção de Bali é nada se você for realmente realista. Em Bali as pessoas
concluíram que vão concluir uma negociação, é isso. Ou seja, nos combinamos que nos
vamos combinar foi exatamente isso que aconteceu...” (EMPRESARIAL,
AGRONEGÓCIO, L.T., 58, SOCIOLOGA)
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
Essa discussão adquiriu, neste setor, uma complexidade relacionada não só à visão sobre as
responsabilidades o Brasil na redução das emissões, mas também uma visão sobre o próprio país,
sobre o seu desenvolvimento e o papel que ele deve assumir como ator continental e global.
Nenhum entrevistado argumentou contra as responsabilidades do Brasil, mas dois enfatizaram a
necessidade de evitar a emotividade nessa discussão:
“(o papel do Brasil é) evitar que a discussão seja emocional, manter a discussão em um
ponto de vista técnico.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, L.S.H., 77, CAFEICULTOR)
“O Brasil tem uma responsabilidade muito grande na questão da Amazônia, que não pode
ser misturado com passionalidade. Tem que ter um projeto que contemple a questão
econômica, comercial. Temos sim uma grande responsabilidade em relação à Amazônia,
mas não se pode culpar o agronegócio. Há muitas Amazônias e nelas cabem todas as
atividades.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.R., 65, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
O protagonismo da Amazônia
Nas entrevistas com os empresários, o tópico da redução de emissões e da responsabilidade
climática evocava imediatamente a questão da conservação da Amazônia. Isso indica que, para esse
setor, os dois temas estão necessariamente relacionados.
193
“Eu acho que o Brasil tem um compromisso muito grande em implantar políticas públicas
que equacionem o problema do desmatamento, principalmente da Amazônia. Políticas
públicas essas que precisam entender a dinâmica, claramente a dinâmica do
desmatamento, como ela se dá, onde está aquele que promove o desmatamento, aquele que
acende o fogo. E fazer com que esse, bem como o proprietário rural, tenha uma percepção
de valor da biodiversidade que ele tem. E que sejam até remunerados por isso... Porque
setenta e cinco por cento das emissões do Brasil derivam de queimadas. Então nós
precisamos ter um foco muito forte nisso e entender que necessita haver remuneração do
proprietário rural que preserva floresta e biodiversidade.” (EMPRESARIAL, USO DO
SOLO, V.F., 51, GEÓLOGO)
Todos, sem exceção, reconhecem a necessidade de evitar o desmatamento da Amazônia e se
referem à maneira como os recursos naturais florestais estão sendo utilizados como um “modelo
burro”, ineficiente:
“Políticas, eu acho que faltam políticas públicas bem definidas, tomar uma posição mais
firme em relação à Amazônia. Não é ficar combatendo madeirinhas ilegais em alguns
pontos, colocando isso no jornal nacional e aí o problema da Amazônia não é Tailândia
ou um município ou outro. Você tem que ter um programa muito serio, um investimento
pesado.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, J.P., 38, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS)
O Brasil deve assumir um papel de liderança
“O Brasil é o líder da América e tem que ter atitude. Que é difícil é, hoje em dia a gente
até vive um bom momento, mas falta comando, o esquema político atual é muita conversa,
compartilhar tudo, eu até acho bom. Mas uma hora alguém tem que falar que a
responsabilidade é sua, a estrutura de responsabilidade tem que funcionar. Então, por
exemplo, a Marina da Silva, ministra do Meio Ambiente, eu não sei se ela tem tanta
autoridade hoje.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, M.G.A., 53, ENGENHEIRO QUÍMICO)
“Preocupa-me uma posição de mero espectador. Em minha opinião o Brasil deveria ter,
em alguns sentidos já tem, uma posição mais ativa nesse âmbito, deveria assumir papel de
líder.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO, F.F., 56,
ADMINISTRADOR DE EMPRESAS)
O desenvolvimento sustentável da Amazônia é possível
“[os incentivos] têm que vir do orçamento público e uma parte pode vir do setor primário,
quer dizer, não vejo razão histórica e econômica para internacionalização da Amazônia,
que é um debate que se tem por aí, eu acho que se a gente tiver um orçamento público,
uma organização pública adequada e se nós tivermos incentivos para a exploração
sustentável desses recursos naturais, especialmente da Amazônia, pode ser da mata
atlântica e de outras biomas brasileiros, nós estaríamos fazendo aí um casamento de
interesses entre o capital e o meio ambiente, é preferível ter o legal que ter programas de
incentivo que facilitem a exploração dos recursos farmacêuticos, alimentares, que tem
nessas nossas florestas, do que assistir a pirataria.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO,
I.W., 54, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
“Então, se isso realmente não for controlado de uma forma política sustentada, se fala
muito em sustentabilidade, mas não se formula nada sustentável em longo prazo. Quer
dizer, podemos produzir mais alimentos, aumentar a produtividade agrícola sem avançar
na floresta, sem avançar na Amazônia. É o grande desafio do país hoje, se não fizermos
isso todo mundo vai sofrer conseqüências. (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.M., 46,
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO)
194
As responsabilidades não são só do Brasil
“A responsabilidade do Brasil é igual à de qualquer outro país, eu acho que é menos do
que os países do Anexo 1, porque os países do Anexo 1 já destruíram tudo e agora querem
que todo mundo trabalhe igual e não dá para ser assim. Eu acho que quem destruiu tudo
tem um direito maior, porque como eu falei para você, não se consegue implantar nada
sem causar alguma modificação ambiental, então você tem que causar alguma
modificação ambiental.” (EMPRESARIAL, ECONOMIA, J.C.M., 58, ECONOMISTA)
“De alguma forma o Brasil tem responsabilidades e etc., mas eu acredito que em relação
ao mundo, pelo fato de haver uma divisão histórica, cultural, econômica entre países mais
desenvolvidos e países menos desenvolvidos, é muito importante que haja um equilíbrio no
tratamento deste problema.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.N., 29, RELAÇÕES
INTERNACIONAIS)
Falta política estratégica
“Eu acho que a gente não tem claramente uma política integrada dessa questão associada
às conseqüências das mudanças climáticas.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, D.Z., 58,
ECONOMISTA)
“Nosso horizonte é muito promissor para que a riqueza reine no país. Tudo isso depende
de um conjunto grande de dificuldades ligadas à política estratégica que atualmente não
existe, que incorpore uma política de renda para o campo, que não existe, que incorpore
toda a logística e infra-estrutura que é um desastre, caótico no país” e, evidentemente, tem
de ser considerado o problema ambiental nesse cenário (...) tem de ir buscando o bom
senso e o equilíbrio... me perguntam se o desmatamento da Amazônia é por causa da soja.
Não. O desmatamento se dá por causa das madeireiras. Depois da terra desocupada, vem
o pasto e depois vem a soja... Ninguém vai derrubar árvores para plantar cana na
Amazônia...e se fizer é errado porque é uma estupidez econômica e agronômica.”
(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, R.R., 65, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
“Precisa ter uma política racional no avanço da fronteira agrícola, avançar numa política
para estruturar a de produção de alimentos e reduzir, estabelecer metas efetivas de
redução do desmatamento.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, F.M., 46, ENGENHEIRO
DE PRODUÇÃO)
“Cinqüenta por cento das emissões vem do desmatamento, então é tomarmos medidas
para redução do desmatamento, porém temos que fazer análise de quanto a gente quer de
desmatamento e acho que isso ninguém faz. A gente só quer reduzir, mas não se fala o
quanto a gente ainda quer desmatar. O problema é que todo mundo fala para não
desmatar mas todo mundo desmata, se você compra um sítio todo mundo desmata para
criar sua vaquinha, ter área para correr com seu cavalo nesse caso quer lazer e no caso
do produtor como é que ele vai fazer para sobreviver com a floresta em pé, ninguém quer
pagar caro para ter uma cadeira de madeira sustentável, vai se comprar uma cadeira
típica do produto chinês, por isso que a China polui porque todo mundo quer um produto
barato e polui lá.” (EMPRESARIAL, USO DO SOLO, C.C., 31, ENGENHEIRO)
195
16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
O indivíduo pode fazer alguma coisa?
Para um pouco mais da metade dos entrevistados (16), os indivíduos podem, sim, contribuir com
suas ações e iniciativas neste momento dramático em que o agravamento do fenômeno das
mudanças climáticas é inequívoco e seus efeitos já se fazem sentir. Cinco dos entrevistados
consideraram que não, pois as ações de mitigação que podem fazer diferença estão nas mãos de
entes coletivos, como o governo e o empresariado, que deveriam trabalhar em parceria.
Alguns, ao discorrer sobre a importância do papel individual, destacaram o impacto de líderes como
Al Gore. Para nossos entrevistados, são esses indivíduos – líderes em suas áreas de atuação – os que
mais podem ter impacto, pois o cidadão comum ainda não tem informação suficiente para, por
exemplo, redirecionar seu consumo de uma maneira informada. Muitas ações têm efeito simbólico,
mas não existem ainda ações efetivas por parte dos indivíduos.
Descolada da figura do líder, a ação individual é vista sobretudo como uma “atitude” de consumo
consciente.
A conscientização para essa atitude começa em casa, na família, para depois ecoar nas empresas e
nos espaços coletivos:
“Eu já falei, acho que o governo é o resultado do coletivo, e não vice-versa. Cada
indivíduo tem que mudar. (...) O governo pode acelerar algumas coisas, o próprio
biodiesel o governo está com esse plano aí de formar uma indústria brasileira de biodiesel
como fez com o álcool. Na época, ele subsidiava o álcool para gerar uma massa crítica de
produtores. Agora, está fazendo isso com o biodiesel, então o governo pode estruturar
melhor essas questões e ao fazer isso, alia uma opção ambiental a uma opção econômica,
o que facilita para o consumidor...
Toda ação, antes de ser coletiva, partiu de indivíduos. Eu acredito que não existe uma
ação, qualquer ação empresarial convincente e conveniente, se não houver uma ação
pessoal... evolução pessoal começa em casa, na pessoa física, na família. Se não houver
isso em casa, ele não fará na empresa. Essa experiência eu trago já de muito tempo.
Então, eu tenho uma preocupação muito grande das pessoas aqui levarem isso para casa,
pro seio da família. Eu tenho filho de oito anos, que tem isso dentro dele hoje como tem a
sua agenda, sua caneta, os seus desenhos, de dizer pras pessoas onde que deve colocar
aquela garrafinha de pet, como aconteceu no outro dia no shopping, ele me dizer na cara
que eu deixei papel na mesa e ele me disse ‘Tu és responsável pelo lixo que tu geras. Não
vai levar esse lixo pro lugar certo?’, é isso. Começa por lá.” (EMPRESARIAL, ENERGIA,
F.M., 60, GEOFÍSICO)
A questão do consumo consciente também foi lembrada: estaria na esfera de cada cidadãoconsumidor decidir sobre que carro utilizar, que tipo de programa individual de redução de energia
implementar etc.
Mas, neste caso, seriam mais estruturantes e eficazes os programas casados, onde o poder público
faz a sua parte e a população responde de maneira adequada:
“Uma política que podia casar o poder público com a resposta do cidadão seria o
transporte, um gerador de emissões significativo... A gente estava falando também na
própria empresa onde a gente trabalha, quando vai trabalhar, ninguém quer ir pro
trabalho junto com ninguém. Não se usa transporte solidário, pois transporte público é
196
muito ruim no Brasil, o transporte coletivo no Nordeste então é péssimo. E ainda tem o
cara que passa fome, mas anda num carrão!
Não existe um transporte solidário, não tem transporte da empresa para levar os
funcionários e tem isso nas nossas obras, se você pegar, tem cinco engenheiros
trabalhando na mesma obra e morando na mesma casa. Mas todo mundo vai no seu carro,
vai para obra e volta de tarde, cada um no seu carro. Todo mundo faz aquela passeata de
carro, sai todo mundo na mesma hora, é uma coisa desenfreada mesmo. Isso podia mudar
com uma política nacional de transporte.” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, F.V., 52, ENGENHEIRO)
“Entendo a conservação de energia em dois paradigmas ou em duas perspectivas: a
perspectiva da eficiência e a perspectiva da redução da intensidade energética. É uma
coisa meio estranha, porque nós trabalhamos nessa orientação de que é mais importante
para o país reduzir sua intensidade energética de forma global, produzir mais energia,
onde eficiência energética é apenas um dos elementos, entre outros elementos, dos quais
os mais importante seria a questão do hábito e atitude do consumidor, as escolhas do
consumidor, tá certo?
A nossa visão é bastante ampla, no sentido de que não adianta abordarmos a questão da
mudança climática só do ponto de vista da eficiência energética. Temos que atuar
fortemente numa perspectiva econômica, induzindo novas atitudes, novos padrões de
consumo e de comportamento do consumidor, do usuário final de energia.”
(EMPRESARIAL, ENERGIA, F.M., 60, GEOFÍSICO)
O que poderia fazer diferença, mas ainda é raro em nosso país, seria uma espécie de vigilância, por
parte da população e da opinião pública, sinalizando para os governantes e empresários a
necessidade de serem mais responsáveis. Mas ainda estamos longe disso.
Para o empresariado aqui amostrado, os cidadãos comuns são bombardeados por informações
contraditórias da mídia, que atribui o mesmo peso a comer menos carne, reciclar vidros e reduzir o
consumo de energia. Não há uma escala de prioridades que possa guiar o cidadão comum.
Todas as ações “ambientalmente corretas” têm um valor de “exemplo”, são educativas, para os
nossos entrevistados. Entretanto, o fenômeno das mudanças climáticas está exigindo políticas
governamentais mais concatenadas e estruturantes:
“Na minha visão, o papel indutor cabe primeiro ao governo federal, envolvendo os
Ministérios das Minas e Energias, do Meio Ambiente, das Cidades, da Agricultura, os
diversos órgãos estaduais, municipais. Depois, em segundo, o empresariado também, você
não pode fugir da sua responsabilidade, suas atribuições. (...)
Por último, eu acho que é a população de uma maneira geral, então os três segmentos têm
que trabalhar com o mesmo propósito... que cada um, em casa mesmo, você está
escovando o dente, deixando a bica ligada, deixando a luz, eu to falando isso porque
acontece na minha casa também, eu tento evitar mas não é tão fácil assim.”
(EMPRESARIAL, ECONOMIA, J.C.M., 58, ECONOMISTA).
197
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
Desmatamento, novamente
Nesta questão, de respostas múltiplas, os entrevistados apontaram como principais responsáveis
pelas emissões a agricultura, responsabilizada pelo desmatamento (avanço da fronteira agrícola e
queimadas), e a atividade industrial de um modo geral:
“Desmatamento, porque a grande contribuição está no desmatamento. É, eu combateria
desmatamento, que tem que ser combatido com a formação de uma política agrícola mais
consistente e estruturada. Não se pode deixar do jeito que está.” (EMPRESARIAL,
ENERGIA, F.M., 60, GEOFISICO)
“Há o grande problema é o uso do solo é o avanço da agricultura, porque o avanço da
agricultura pode ter um efeito no desmatamento e isso é grave porque o desmatamento é o
maior emissor brasileiro.” (EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, L.T., 58, SOCIOLOGA)
“Eu acho que a indústria como um todo desde a indústria de serraria e todo tipo de
indústria, de cimento, de alumínio, siderúrgicas, todo o tipo de indústria. Todas são bem
poluentes. Segundo, o transporte também. O transporte brasileiro que é uma coisa louca,
quase totalmente rodoviário e polui bastante...” (EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO, F.R.V.B., 52, ENG. CIVIL)
“Eu cito as siderúrgicas, que necessitam desmatar para ter o carvão vegetal na sua
redução de carbono. Esse é um problema gravíssimo. É preciso incentivar essas
siderúrgicas para que elas tenham as suas próprias matas sustentáveis....”
(EMPRESARIAL, ENERGIA, J.A.D., 58, ENG. PRODUÇÃO)
“A indústria da transformação, a siderurgia, a química, a petroquímica, chama-se
indústria da transformação; a indústria de papel celulose e geração de energia mesmo.”
(EMPRESARIAL, ECONOMIA, V.F., 51, GEÓLOGO)
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Desenvolver sem destruir é crença unânime
A totalidade dos entrevistados do setor empresarial acredita que é possível compatibilizar
desenvolvimento com o enfrentamento das questões climáticas:
“O desenvolvimento sustentável passa necessariamente pelo desenvolvimento econômico
ou ao contrário, o desenvolvimento econômico passa necessariamente pelo envolvimento
sustentável, ou como quiser.” (EMPRESARIAL, ECONÔMICO, V.H.K., 58, ADVOGADO)
Mas, para que esse “casamento” ocorra, é preciso envolver o setor econômico. O argumento do
empresário abaixo questiona a localização do tema no Ministério do Meio Ambiente, sugerindo que
ele seja incorporado à agenda dos ministérios que realmente decidem sobre os processos de
desenvolvimento econômico:
“Na realidade, mudança climática no Brasil está com o viés errado. Ela está lá no MMA,
ela está na Secretaria de Mudança Climática, porque o pessoal está achando que isso é
problema de meio ambiente. E isso não é problema só de meio ambiente, é uma
conseqüência ambiental de um problema econômico. Então, eu acho que isso aí deveria
estar numa área de ciência e tecnologia, está certo? Tendo a atuação das áreas de meio
ambiente junto com a de desenvolvimento econômico, com as áreas de desenvolvimento
198
social, em que você pense, por exemplo, em bolsa família voltado para a questão do uso
adequado da terra, ou dos recursos naturais. Então você não faz isso sem ter uma área
econômica envolvida, uma área de planejamento, pensar na área de logística sem ter uma
área de transporte. Enfim, isso é algo que é integrador dos temas.” (EMPRESARIAL,
ECONOMIA, V.F., 51, GEÓLOGO)
Deus é brasileiro
Dois entrevistados apontam as vantagens brasileiras, projetando um cenário favorável ao
desenvolvimento com responsabilidade ambiental. Destacam a grande disponibilidade de terras e a
oportunidade de investir em energias renováveis:
“Completamente, no caso brasileiro completamente. O Brasil é o país que tem mais
possibilidade de fazer isso com facilidade, porque Deus é brasileiro. (...) No Brasil a gente
parte de uma base de onde mais de uma metade de toda energia consumida no país é
renovável e isso é um diamante, então na verdade a gente precisa só capitalizar isso,
otimizar isso (...)”(EMPRESARIAL, AGRONEGÓCIO, L.T., 58, SOCIOLOGA)
“Eu acho que o Brasil é um dos poucos países no mundo que tem a oportunidade de ter
um desenvolvimento sustentável. Com uma população pequena em relação ao seu
território, totalmente controlada, uma agricultura que pode muito bem ser feita com as
terras já disponíveis, sem necessidade de mais desmatamento, é um país com muitas
chances.” (EMPRESARIAL, ENERGIA, J.A.D., 58, ENG. PRODUÇÃO)
“Eu acho que o Brasil está fazendo isso de uma maneira muito sólida e substanciada né?
Esses projetos cada vez maiores, o desenvolvimento cada vez maior do álcool que o
governo está dando prioridade de uma maneira geral e do biodiesel, da geração do
biocombustível, de biodiesel, essa geração mais sustentável... O Brasil está crescendo de
maneira sustentável, evitando o aumento da poluição, por exemplo...” (EMPRESARIAL,
ENERGIA, J.C.G.M., 52, ENG. PRODUÇÃO)
Como vimos, nosso empresariado é otimista quanto à possibilidade de desenvolver o país sem
destruir a natureza, considerando que o enfrentamento das mudanças climáticas pode abrir um leque
de oportunidades de negócios:
“É possível, é possível, a partir do momento que todas essas externalidades começam a ter
um custo e passam a ser um risco para o negócio, as empresas desenvolvem soluções.
Tanto soluções tecnológicas quanto soluções de mudanças, reconfigurando seus negócios.
Por outro lado, eu acho que evitar o desmatamento, ou evitar as emissões vai abrir um
amplo campo de negócios também. Já tem um monte de gente trabalhando nisso.”
(EMPRESARIAL, DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÕMICO, M.B., 52, ENG. DE
PRODUÇÃO)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor empresarial aqui amostrado, com um número considerável de representantes de atividades
relacionadas ao agronegócio e à energia, está ciente da sua responsabilidade perante a sociedade no
que tange às mudanças climáticas.
Acreditam que o empresariado tem muito a contribuir, mas demonstram forte preocupação com a
possibilidade de perda de lucro ou diminuição da competitividade dos seus negócios ou do Brasil,
caso as políticas de redução não sejam bem planejadas e bem implementadas.
199
No limite, reconhecem que o “desenvolvimento sustentável”, conceito ao qual se remetem,
insistindo na “sustentabilidade econômica” das medidas, só será alcançado se houver uma mudança
gradual no paradigma de produção e consumo.
Esse problema (mudança de paradigma) é visto como um problema global, não só do Brasil. O
último relatório do IPCC (2007) previu um horizonte menor de tempo para que os países formulem
políticas mais eficientes de combate às mudanças climáticas.
Eles sabem que essas políticas devem afetar o setor produtivo. Estão, até certo ponto, ansiosos para
que as políticas sejam definidas “o quanto antes”, pois consideram que haverá um custo envolvido
na transição do uso de combustíveis fósseis para outros tipos de energia.
Desse cenário, de restrições ao uso dos combustíveis fósseis e de taxação de emissões, emerge a
necessidade de investir em novas tecnologias e ampliar a oferta de energia limpa. Em outras
palavras, para o empresariado, falar de mudanças climáticas hoje é discutir a matriz energética
brasileira e o modelo de transição.
Para os empresários, falta liderança, tanto interna (do Brasil) quanto externa, para que as medidas
sejam mais rápidas e efetivas. A queixa do empresariado é a de que não há, ainda, uma política
nacional do clima; faltam, portanto, diretrizes que possam melhor orientar o setor sobre os
programas e ações prioritários.
200
PERFIL DO SETOR
Os entrevistados deste setor ocupam cargos de alto escalão nas empresas às quais pertencem. Mais
de um terço dos entrevistados (11) desse setor ocupam cargos de direção. Outros 8 são presidentes,
e 7 gerentes. A tabela abaixo discrimina os cargos de todos os empresários da amostra:
Cargo
Cargo
Freq.
Diretor
11
Presidente
8
Gerente
7
Conselheiro
2
Chefe de divisão
1
Consultor
1
Total
30
A amostra do setor empresarial, como nos demais setores, teve uma altíssima concentração do sexo
masculino (28).
Sexo
M
F
Total
28
2
30
Os entrevistados na faixa etária entre 50 e 59 anos representam mais de metade da amostra. Apenas
um entrevistado estava na faixa dos 20 e outro, na faixa dos 70.
Idade
20-29
1
30-39
40-49
50-59
60-69
70 ou +
Total
3
5
16
4
1
30
Mais de dois terços da amostra são naturais da região Sudeste: 10 de São Paulo, 8 do Rio de
Janeiro, 3 de Minas Gerais e 1 do Espírito Santo. A segunda grande região mais representada é a
Nordeste, com 4 entrevistados, seguida da Sul, com 4 entrevistados. Um dos entrevistados desse
setor é estrangeiro.
Naturalidade
RJ
SP
10
MG
PE
PR
PB
ES
RS
EXT
Total
3
3
2
1
1
1
1
30
8
No que tange à escolaridade dos entrevistados, apenas dois não concluíram o ensino médio. Quase
dois terços têm nível superior completo, 4 têm algum tipo de pós-graduação lato sensu, 3 têm
mestrados, 2 são doutores e um é pós-doutor.
Escolaridade
Ensino Médio
Superior
Pós
Mestrado
Doutorado
Pós-doutorado
TOTAL
2
18
4
3
2
1
30
Os entrevistados deste setor são formados em profissões diversas. A profissão mais representada é
engenharia, com 13 entrevistados. A segunda profissão mais recorrente foi administração, com 4
entrevistados. O restante da amostra é pulverizado em outras profissões, como mostra a tabela
abaixo:
201
Formação
Formação
Freq.
Engenheiro
13
Administrador
4
Economista
2
Advogado
2
Consultor
1
Assessor
1
Relações públicas
1
Geofísico
1
Químico industrial
1
Sociólogo
1
Publicitário
1
Cafeicultor
1
Geólogo
1
Total
30
202
CIENTISTAS
RESUMO
Uma série de informações coletadas ao longo das entrevistas com cientistas nos permite formar uma
visão bastante abrangente de como o setor científico está atuando no país: suas conquistas,
limitações e perspectivas em relação à problemática das mudanças climáticas.
Diferentemente dos demais, esse setor lida com questões e temas que visam aumentar o
conhecimento do problema no país, através do desenvolvimento de pesquisas e estudos nas diversas
especialidades e disciplinas a ele relacionadas. Muitos fazem parte de comissões e centros
especialmente dedicados à questão climática, como os fóruns nacional e estaduais do clima.
Para esse tipo de entrevistado, o fenômeno das mudanças climáticas não é somente uma matéria de
opinião, mas objeto de suas pesquisas e estudos, seu dilema intelectual ou esforço cotidiano.
Através de procedimentos próprios, investigam as causas e os efeitos do fenômeno, compartilham
seus estudos e angústias com seus pares dentro e fora do país e, através da publicação de relatórios
e artigos, tornam o assunto mais conhecido no mundo leigo, não especializado, da opinião pública.
Cabe aos cientistas apontar os caminhos mais prováveis e viáveis de como lidar com o fenômeno
das mudanças climáticas.
Eles são, em certa medida, o nosso “oráculo”: é do mundo da ciência que a maioria de nós
considera que virão as “respostas” aos desafios do nosso tempo.
Os cientistas entrevistados demonstraram confiar plenamente nos prognósticos e resultados das
ciências a que se dedicam. Em relação ao tema das mudanças climáticas, o cidadão e o cientista
tornam-se um só em termos das opiniões que manifestam.
Todos, sem exceção, acreditam que o fenômeno existe, é grave e que serão dramáticas as suas
conseqüências para a humanidade.
Ele pode, conforme disseram, ser revertido: a solução passa necessariamente por um esforço global,
por atitudes firmes e cooperativas nos níveis multinacional, multisetorial e multidisciplinar.
Segundo os entrevistados, o Brasil tem um setor científico bem preparado e equipado. O que falta é
uma política nacional do clima que possa embasar um bom programa científico e tecnológico. A
disposição para formular esse projeto existe, “mas ainda não chegamos lá”.
Na opinião dos entrevistados, falta liderança, sobretudo por parte do governo, que deveria estar se
ocupando de políticas indutoras e sinalizando para os demais atores, empresas e sociedade civil, que
todos devem fazer a sua parte.
Consideram, ainda, que o Brasil tem por responsabilidade conter o desmatamento e reduzir as
emissões.
A Amazônia é problema e solução. Embora não reconheçam uma ação eficaz, uma “ação de
governo”, para deter o desmatamento, é da Amazônia que virá o desenvolvimento sustentável, pois
é lá que existem recursos abundantes para promover esse processo. Toda a questão reside em
convencer a sociedade – através de ações concretas e de sinais econômicos vigorosos – de que a
floresta vale mais em pé.
203
Nossa matriz energética pode ser salva se avançarmos em regulações, se isso não ocorrer, dizem os
cientistas, a tendência para sujar a matriz já existe e deve se expandir nos próximos anos.
Estaremos, então, na “contramão da história”.
Para o setor, os principais entraves ou barreiras para combater efetivamente o fenômeno e chegar à
sua reversão não estão nos limites da ciência, pois estes poderão ser expandidos rapidamente com
investimentos em pesquisas e tecnologias.
Os principais entraves estão no próprio modelo de vida, comportamento e consumo, que é
predatório e resistente a mudanças, pois “ninguém está disposto a se sacrificar e reduzir o conforto
que a sociedade do consumo proporciona”.
Os cientistas também identificam que os países desenvolvidos têm dificuldades de assumir metas
rigorosas por razões econômicas: os interesses econômicos estão majoritariamente ancorados na
base energética fóssil e os custos da transição são altos.
Falta ainda uma instituição ou um modelo sistêmico de ação global, de cooperação, que tire os países
de seus marcos e interesses individuais e os coloque para cooperar efetivamente. Um dos
entrevistados chegou a mencionar que falta “um plano Marshall” para a questão das mudanças
climáticas.
Para eles, os limites de uma sociedade e de uma economia baseadas em combustíveis fósseis estão
dados. Ademais, o problema não é somente a esgotabilidade desse tipo de recursos, o que já era
sabido, mas a ecologia do planeta. Ignorar esse fato é caminhar, rápida ou vagarosamente, para o
desastre. As iniciativas para a conversão do modelo precisam ser tomadas agora: a economia de
baixo carbono precisa florescer, afirmam.
Nesse novo cenário, diz um cientista que já ocupou a pasta de ministro por três vezes, “se o Brasil
detiver a destruição da Amazônia, mantiver sua matriz energética limpa e produzir biomassa em
bases sustentáveis, aí então o futuro do país será brilhante”.
204
ANÁLISE DETALHADA
A certeza científica
Sabemos que durante muitos anos várias correntes, dentro do próprio mundo científico,
contribuíram para a controvérsia sobre se o clima estava “esquentando” ou “esfriando”, se os
aumentos de temperatura observados nas últimas décadas eram devidos ao aquecimento global, por
uma simples questão de “variabilidade climática”, ou como causa direta das atividades humanas que
jogam na atmosfera todos os dias toneladas dos gases do “efeito estufa”: dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), perfluorcarbonetos (PFCs) e vapor d’água.
Em 2008, ano da nossa sondagem, esta é uma questão aparentemente superada para a maioria
dos nossos entrevistados. Estamos na era da certeza científica sobre o agravamento do
fenômeno das mudanças climáticas, e da certeza de que as atividades humanas têm um
importante papel nesse processo, se não o principal.
A questão da dúvida, portanto, não está presente entre os amostrados como falta de evidências. Se
alguma incerteza há, ela se dá em outro nível, relacionada aos “modelos” utilizados para medir e
interpretar os dados, e sobre a possibilidade ou não de reversão do processo.
As declarações abaixo demonstram, de um lado, que o IPPC cumpriu o seu papel gerador de
consenso e, de outro, que a questão agora gira em torno das possibilidades de mitigação e reversão:
“Começaram a surgir uma série de trabalhos e nós ficamos absolutamente convencidos de
que os modelos do IPCC são modelos seríssimos e estão nos alertando para coisa
importantíssima que devem ser levadas em conta levadas daqui para frente.”
(CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“O IPCC e outros órgãos reconheceram que o clima realmente está mudando, a uma
velocidade inicialmente devagar mas agora, ao que parece, devido às últimas medições e
ao aperfeiçoamento dos modelos, parece que essa mudança está sendo bastante rápida...
O medo da comunidade cientifica e modeladoras de movimentos atmosféricos, é que a
gente chegue ao ponto de não retorno, quer dizer depois de ultrapassada certa curva, não
tem mais o que fazer, não interessa mais, vai para um outro ponto de equilíbrio; o clima
vai ser definitivamente diferente daquele clima que nós conhecíamos até agora.
Então isso aqui pode ser alguns graus de temperatura a mais, ou distribuição de chuvas
diferente pelo mundo e também acontecimento de fortes ventos como tempestades
tropicais, ou então chuvas fortes, frios fortes, nevascas fortes, coisas deste tipo, eventos
extremos.
Então, antes de chegar nesse ponto de não retorno, temos que fazer alguma coisa...
O mesmo cientista chama atenção para o fato de que o mundo científico tem seus limites; a partir do
consenso, a sociedade precisa se mover na direção que deseja:
Isso é um desafio no mundo inteiro, não tão somente da comunidade cientifica, porque a
comunidade cientifica só indica possibilidades. A partir daí, naturalmente, são os
políticos, os engenheiros, outros profissionais, economistas, enfim, todo mundo tem que
trabalhar em cima da possibilidade para não chegarmos no ponto do não retorno.
(CIENTÍFICO, USO DO SOLO, P.S., 65, METEOROLOGISTA)
205
A ciência precisa de liberdade
Mas alguns cientistas manifestam desconforto com o fato de que a mídia e a publicidade induzem à
percepção de que a certeza científica é isenta de controvérsias. Para os cientistas, a objetividade da
ciência é mal compreendida e muitas vezes confundida com uma verdade absoluta que deverá levar
a resultados absolutamente certos. Não é assim:
“É importante que as pessoas saibam que a ciência não é tão objetiva, que ela também
induz a erros. Muitas vezes os resultados esperados não se concretizam, então, eu acho
que a gente deveria continuar a pesquisa, mas essa publicidade com relação a mudanças
climáticas que é feita, para mim é bastante negativa, eu não gosto do jeito que a coisa é
vendida. Tem mais, do ponto de vista da ciência, é bom que a ciência tenha dicotomias.
Tem uns que apóiam um lado e outros apóiam outro; a ciência perde quando você não
pode fazer trafegar livremente as idéias, de certa forma as idéias estão sendo patrulhadas.
Alguns que são contra, são discriminados.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, A.M.D.A.Jr.,
52, METEOROLOGISTA)
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
Preocupação com a mudança do clima é antiga: longa história
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da
Na década de 80 Na década de 90
De 2000
Não citou ano
década de 80
para cá
6
10
8
2
4
TOTAL
30
Um renomado cientista explica que a preocupação com o fenômeno das mudanças climáticas tem
uma longa história, quando no século XIX já havia sido estabelecida uma relação entre o
esquentamento do planeta e os gases emitidos pela queima de carvão, principal fonte de energia da
época:
“Primeiro, foi em 1896: o mesmo químico sueco que descobriu o PH também calculou
quanto devia estar esquentando o planeta. Não tinha computador nem nada, obviamente,
então era um cálculo muito simples, de quanto gás carbônico estava sendo emitido com
toda a queima de carvão na época, usado como principal fonte de energia, e quanto isso
deve estar aumentando a temperatura do planeta... A essência do calculo estava certa, a
propriedade desse gás de reter o calor e não deixar escapar para o espaço, é mais ou
menos a mesma coisa que a gente entende hoje.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, P.M.F.,
60, ECÓLOGO)
Anos 80 e 90
O assunto se torna sistêmico na agenda dos cientistas entre os anos 80 e 90.
Ainda assim, o tema das mudanças climáticas foi sendo construído em seus elementos mais
contemporâneos depois de um período em que os cientistas basicamente se dividiam em
correntes/estudos em torno de uma série de questões associadas: efeito estufa (estabelecimento do
“core” de gases mais relevantes; depleção da camada de ozônio pelos CFCs (clorofluorcarbonetos);
variabilidade climática, que basicamente estuda a história natural do clima no planeta Terra, com
suas evoluções e fases de resfriamento e esquentamento; e, por fim, “mudanças climáticas”,
associando o “efeito estufa” à mudança drástica do clima:
206
“Vinte e cinco anos, trinta anos, já estava sendo falada e também muitas pessoas
confundiam entre as duas frases, variabilidade climáticas e mudanças climáticas. Na
prática, variabilidade climática é verificar a variação da quantidade de chuva; a de um
ano não é igual à quantidade de chuva do outro ano e depôs, no terceiro ano é um pouco
diferente; então quer dizer nunca é igual e se fosse igual não precisava de
meteorologistas; o papel de quem estuda a variabilidade é verificar se a série histórica
indica uma tendência fora da curva... então, com esta variabilidade que existe, os
cientistas pensaram inicialmente que fosse alguma oscilação natural, cíclica, que o clima
voltaria para a sua situação normal depois de passado algum tempo.
O homem já estudou, já sabe das eras glaciais, das eras glaciais pequenas e grandes,
então ele pensava: isso é uma oscilação e depois passa, mas de repente o que diferencia
agora o acontecimento dos últimos vinte, trinta a quarenta anos para aquelas eras glaciais
é a quantidade de gás carbônico e outros gases que são jogados na atmosfera.”
(CIENTÍFICO, USO DO SOLO, P.S., 65, METEOROLOGISTA)
O início da década de 80 parece ter sido decisivo para os cientistas amostrados. Antes desse
período, o problema parecia estar confinado a algumas especialidades científicas:
“Foi na década de oitenta, mais precisamente em 1983 ou 84. Mudança climática tinha
muito a ver com a variabilidade natural do clima, inclusive em 1982, 1983, nós passamos
por um “El Niño” muito forte no Brasil; naquela época nós tivemos grandes problemas de
inundações em Tubarão, em Santa Catarina. Mas, nessa época, eu já tinha lido alguns
textos que falavam dos problemas que o aumento da concentração de gases do efeito
estufa poderia trazer para o clima ou já estariam trazendo, só que nós não dávamos tanta
importância, não enxergávamos o tamanho do problema.” (CIENTÍFICO, USO DO
SOLO, A.O.M., 47, FÍSICO)
“Durante muito tempo, mudanças climáticas não estava no nosso vocabulário. Tratava-se
somente de alguns aspectos das mudanças climáticas, mas não havia sido recomendado
um foco... até o momento em que a ficha caiu: não vai dar para imaginar ou planejar uma
agricultura daqui a 40 ou 50 anos, ou uma produção animal para uma sustentabilidade
alimentar, sem nos prepararmos para questões sobre as mudanças climáticas. Obviamente
que isso é um tema amplo, que vai de acordo com a coletividade, e que não é trivial. Por
muito tempo muita gente duvidou achando que não estavam ocorrendo as mudanças,
porque alguns modelos indicavam e outros não.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO,
J.G.E., 51, AGRÔNOMO)
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Alto nível de conhecimento
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante abrangente
Bom, mas
Está explorando e aprendendo
incompleto
mais
10
12
8
TOTAL
30
É consenso entre os entrevistados que o assunto é fascinante e envolvente, pois em última análise se
trata do destino das atuais civilizações no planeta.
207
Embora dez cientistas tenham declarado que o seu conhecimento atual é “bastante abrangente”, a
maioria absoluta, dois terços da amostra, disse ter um bom conhecimento, mas estar em processo de
“explorar mais”. Mas aqui é preciso realmente relativizar as respostas, uma vez que é próprio da
atividade científica estar sempre avançando em seus conhecimentos.
Tema integra atividades do dia-a-dia dos entrevistados
“Acho que é um conhecimento abrangente. Tema que está na minha leitura diária, mas é
um tema em que você está sempre descobrindo nuances.” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“Bastante abrangente. Eu acho que me situo na cauda superior da distribuição. Sou uma
pessoa que tem acompanhado o assunto já, digamos, há uns 18 anos...” (CIENTÍFICO,
ECONOMIA, E.R., 60, ECONOMISTA)
Sempre se pode aprender mais
“Bom, mas incompleto. Eu preciso estudar mais, eu nunca assumo a posição de que sei
tudo. A cada dia que passa eu aprendo mais ainda, está faltando muita coisa.”
(CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“Eu diria que é bastante abrangente, mas eu ficaria entre o um e o dois, porque sempre
acho que tem alguma coisa para conhecer, sempre acho que está incompleto. Você precisa
ir atrás, entender que a coisa esta acontecendo.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, C.B., 55,
ENG. ELÉTRICO)
“É bom, mas tem lacunas que certamente eu precisaria preencher.” (CIENTÍFICO, USO
DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
3. GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Cientistas são altamente motivados pelo tema
Como se sente em relação ao tema:
Altamente
Interessado em outros temas mais
motivado
importantes no momento
26
4
TOTAL
30
O mundo científico, segundo eles próprios, é cada vez mais especializado: “não dá para um
indivíduo ser apenas um opinador”. Quando declaram uma opinião, ela é normalmente embasada
em alguma evidência encontrada em seus próprios estudos ou de pares com alta credibilidade.
Por isso, quanto à motivação, foi bastante surpreendente que quase a totalidade, 26 de 30, tenha se
declarado altamente motivada a aprender mais, enquanto 4 declararam estar ocupados com outras
problemáticas.
“Altamente motivada, hoje eu vejo que nos próximos dez anos não vou trabalhar em outra
coisa.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“Eu fico na primeira, altamente motivado. Eu tenho interesse. Eu diria que nos últimos
anos eu aprendi muito sobre esse tema e ele realmente é fascinante e muito importante, eu
208
diria vital para nossa própria sobrevivência agora. Portanto, tenho sempre interesse em
aprender mais.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
Mesmo coadjuvante, o tema está sempre presente na agenda científica
“Eu diria interessado. Tenho outros temas importantes, mas não outros temas mais
importantes, e sim tão importantes quanto.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, B.B.Jr., 50,
ENG. CIVIL)
“Interessado, mas tenho outros temas mais importantes no momento, e que dão
conseqüência inclusive a ele.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, F.L., 69,
ADVOGADO)
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Mudança da matriz energética e redução da pobreza
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Diminuir as desigualdades sociais
Diminuir o consumo de bens
Mudanças urgentes na matriz
industrializados
energética mundial com redução (distribuição de renda, diferenças
raciais e culturais)
de emissão de CO2.
13
8
6
Computadas todas as alternativas citadas espontaneamente pela totalidade dos entrevistados,
verificou-se que há quase uma equivalência entre os desafios propostos pelas questões climática e
social, o que é bastante surpreendente nesse estrato, onde costumam prevalecer as visões científicas
e técnicas dos problemas.
Associando todos os que responderam “diminuir as emissões”, “mudar a matriz energética” e
“conservar as florestas”, temos mais da metade da amostra; o restante mencionou problemas de
ordem social ou cultural: diminuir as desigualdades, redistribuir renda, acabar com as diferenças e
reduzir o consumo.
Se avançarmos no raciocínio de que diminuir o consumo, significa, ao fim e ao cabo, reduzir o
consumo energético, podemos concluir que as questões que estão na pauta climática foram as mais
apontadas.
Agir diferente, mudar o modelo
Para os cientistas ouvidos, a questão é, antes de tudo, de entendimento sobre a questão planetária, de
saber o que está em jogo, se destruir nossas condições de vida ou construir uma nova alternativa.
“O maior desafio para a humanidade é convencer todos os governos, convencer todos os
setores da sociedade, para que eles adotem maneiras diferentes para não prejudicar ainda
mais o nosso clima da Terra...
Eu acho que, se nós somos a espécie mais inteligente desta biosfera, então não podemos
estragá-la de repente. Toda essa biosfera que levou talvez milhões, talvez bilhões de anos
para evoluir e chegar a este ponto, agora para estragar é muito fácil, não precisa de
séculos, não precisa de milênios. Para chegar neste ponto de evolução foram precisos
milhões e milhões de anos, mas para chegar numa destruição é rápido. Essa é a diferença
realmente entre construção e destruição.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, P.S., 65,
METEOROLOGISTA)
209
A necessidade de mudar o modelo de vida que adotamos, altamente intensivo em energia baseada
nos combustíveis fósseis, é imperativa. O desafio, portanto, é mudar os valores e o modelo de
desenvolvimento socioeconômico vigente, baseado em alto consumo de bens, alimentos e energia:
“Temos que mudar o padrão de vida. Ou mudamos o nosso modelo de vida, ou nós
estamos condenados. Qual é aspiração do mundo subdesenvolvido? Ser igual ao mundo
desenvolvido. O Brasil é mestre nisso. Ah, o primeiro mundo! Vai lá ver o primeiro
mundo. O modelo do primeiro mundo é um modelo de conforto e de gasto de energia
negativo...
Você tem quatrocentos milhões de pessoas que vivem no primeiro mundo -- Europa e
Estados Unidos -- que emitem CO2 demais, que emitem um desequilíbrio total em
alimentação, comem muito mais do que precisam... Não tem energia no mundo que
suporte isso, não tem água no mundo que suporte isso. Nós temos que mudar o nosso
modelo, o modelo que o homem adotou depois do inicio do século XIX é um modelo que foi
muito bom nos primeiros cinqüenta anos, mas hoje ele precisa ser repensado. Nós não
podemos continuar vivendo desse jeito, não dá. O grande desafio é mudar os nossos
valores. Isso não é um discurso ambientalista não, é discurso de sobrevivência. Nós temos
que mudar os nossos valores.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“O problema das mudanças climáticas é decorrente, na minha visão, da natureza que
caracteriza a produção humana nos últimos dois séculos, de um produtivismo, uma ênfase
exacerbada na produção de bens e serviços com enormes custos ambientais. E veja que a
questão ambiental só começou a ganhar força nos últimos anos. Fala-se muito em como
lidar com as conseqüências, mas não se tem pensado como mudar o modelo com a devida
urgência que a questão climática está impondo.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, C.B., 55,
ENG. ELÉTRICO)
A idéia de que não é possível estender a toda a humanidade o atual padrão de consumo que vigora
nos países desenvolvidos é largamente citada e parece ser um consenso indiscutível. O mesmo se dá
com relação à necessidade urgente de mudar a matriz energética:
“Existem sim vários programas de substituição de matriz energética ou de diversificação
da matriz energética, e estão em andamento e em diferentes países. Até países que
atualmente são considerados grandes poluidores, como a China, estão fazendo programas
dessa natureza. A China está desenvolvendo novos painéis solares, está desenvolvendo
uma série de outras tecnologias que a médio prazo têm o potencial de fazer diminuir as
emissões por queima de combustíveis fósseis. (...)
Outros países, na Europa, por exemplo, no Reino Unido, na Alemanha, principalmente
esses, Holanda, estão substituindo ativamente a sua matriz energética, estão partindo
mesmo para outras alternativas – biomassa, eólica, uma série de alternativas – para
mexer na matriz energética. O grande problema é a queima de combustíveis fósseis, que
está ligada à matriz energética, e há vários países, sim, atuando, fazendo programas
quanto a essa parte de mitigação.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT.
FLORESTAL)
A questão climática antecipa disputas políticas de grande monta
Além de constituir, por si só, um desafio “nunca antes enfrentado pela humanidade”, a questão
climática engloba outras questões complexas, que estão na esfera humana, tais como as maneiras de
tomar decisões e implementar mudanças. Os cientistas ouvidos apontam a necessidade de cooperar,
mas acrescentam que não temos ainda um modelo bem sucedido de cooperação, e nos alertam para
210
o possível acirramento em torno da posse e controle dos recursos, principalmente das fontes de
energia fósseis, que são ainda “o motor da nossa civilização”:
“Ele [problema das mudanças climáticas] exige um grau de cooperação entre países e
setores que a gente nunca experimentou em nossa história...” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“(...) se esse modelo de civilização americana for amplamente adotado, o que vai
acontecer é que haverá uma disputa enorme por acesso aos combustíveis fósseis, que são
o motor do tipo de civilização que nós temos. Além de provocar problemas ambientais
muito sérios, está dado um impasse: não há simplesmente combustíveis fósseis em
quantidade suficiente para atender esse tipo de demanda, então vai ser preciso procurar
alternativas, e é na procura dessas alternativas que eu trabalho no momento.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
Conservar água e florestas também é desafio mundial
Além das fartas menções ao problema energético, os cientistas também mencionaram, como desafio
mundial, a conservação da água e das florestas; não somente as brasileiras, mas também as
asiáticas:
“O Brasil é um pais chave, porque tem grande emissão com o desmatamento. E a floresta,
a maior parte da floresta, ainda está lá em pé. Uma parte é derrubada todo ano, mas o
grosso está lá... É diferente dos outros paises tropicais. A Indonésia, por exemplo, tem um
desmatamento igual ou maior que o Brasil, só que a floresta está acabando, quase já
acabou.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, P.M.F., 60, ECÓLOGO)
Nenhum recurso é inesgotável
Mas, pelo caráter incisivo das afirmações, percebe-se que a questão chave não é somente como a
humanidade lidará com as conseqüências do modelo de produção e consumo que nos levou a
acelerar o problema das mudanças climáticas. Uma questão maior, de fundo, é como a humanidade
lidará com o fato de que não existe nenhum recurso inesgotável, nem mesmo o ar ou a água, como
acreditávamos:
“Eu tenho 55 anos, a minha geração estudou no livro chamado O mundo em que vivemos,
que era um supra-sumo da geografia, e dizia: ‘água, uma fonte inesgotável’. E a primeira
gravura que tinha no livro era o ciclo da água, dizendo que ela era renovada e purificada
pela chuva. Então, ela jamais acabaria. O grande desafio para mim não é lidar com as
conseqüências do nosso padrão de produção e consumo. O grande desafio é como a
humanidade vai enxergar daqui para frente que não há uma inesgotabilidade garantida de
nenhum recurso, e que somos todos, sem exceção embora em diferentes graus,
poluidores.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, L.B., 53, MÉDICO)
Problemas sociais preocupam
Quase um terço dos nossos cientistas manifestaram grande preocupação com os problemas sociais
e apontaram-nos como o grande desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos:
“O grande desafio é o lado social humano e, em minha opinião, por mais que a gente
possa degradar o meio ambiente, se a gente tem um entendimento social, a gente consegue
contornar todos os outros aspectos. (...) Então, eu não tenho que pensar no que é bom
para mim. Eu tenho que pensar no que é bom para a comunidade e trabalhar dessa
maneira... Então, nesses próximos anos, a gente tem que trabalhar muito é no lado social
211
humano, de respeito ao próximo. O resto é conseqüência.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA,
B.B.Jr., 50, ENG. CIVIL)
Por questão social, entendem uma melhor distribuição de renda, a redução das desigualdades sociais
e a diminuição da discriminação social, religiosa e racial:
“Eu acho que [o desfio mundial] é o aumento da pobreza, da desigualdade, da
intolerância racial étnica e com certeza o agravamento da crise ambiental...
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA SOCIAL)
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Reduzir desigualdades e garantir abastecimento de água
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Melhor uso da água e dos recursos naturais
10
Diminuir as desigualdades sociais
10
Diminuir, controlar ou extinguir o desatamento na Amazônia; recuperar áreas
9
Diminuir emissão de gases / combate ao aquecimento global
4
Formação de mestres e doutores
4
Saneamento básico
2
Melhorar a educação formal e ambiental
2
Perguntados sobre o principal desafio do Brasil, e depois sobre o principal desafio ambiental do
país nos próximos 20 anos, os cientistas mencionaram, sem titubear, a questão social e os recursos
hídricos, seguidos da necessidade de um melhor uso dos recursos naturais. Em seguida veio a
Amazônia, com citações que contemplam diferentes abordagens. Também foi mencionado por
quatro cientistas que o principal desafio do país é diminuir as emissões. Somente dois cientistas
mencionaram que fornecer saneamento é o principal desafio.
Redução das desigualdades
“(...) nós temos um problema sério de distribuição de renda, um problema sério de
educação. Enquanto esses problemas não forem resolvidos, nós não vamos conseguir
colocar nas cabeças das populações pobres, menos favorecidas, que precisam mudar de
vida. Em uma escala menor, eles querem ser iguais aos ricos. Os ricos estão fazendo
besteira, eles têm que mudar o padrão.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50,
HIDRÓLOGO)
“A maneira mais fácil das pessoas pobres acumularem bens é ter filhos, e ter os filhos
ocupando, se apropriando de recursos naturais. Então, quer dizer, esse é o desafio
fundamental, e isso traz algumas conseqüências e incômodos do ponto de vista das
bandeiras ecológicas brasileiras, certo?” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, E.R., 60,
ECONOMISTA)
S.O.S. recursos hídricos
“O grande desafio é a água, eu não tenho dúvida disso, a água, você já vê na Europa,
hoje, em alguns países, a reciclagem, três, quatro, cinco vezes. Nos Estados Unidos não
chegou ainda nesse nível. No Brasil é um desperdício extraordinário, um país abençoado
212
por Deus na questão da água e nós não tomamos o devido cuidado com isso. E isso está
intimamente relacionado com temperatura. Se nós não conseguirmos reverter o quadro de
desperdício de água, nós vamos ter problemas.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A.,
50, HIDRÓLOGO)
Amazônia como problema e solução
“Eu quero ver como é que a Amazônia pode ser parte da solução e não do problema.
Agora, ela é parte do problema, porque ela está desmatando, emitindo CO2, ela está
contribuindo com a mudança climática. Se o desmatamento na Amazônia cessa, ou é
reduzido num nível tolerável e a Amazônia vira também um celeiro de reflorestamento, de
negócios que fixam carbono, a Amazônia faz parte da solução do mundo. Essa transição
de sair da linha do problema para a linha de solução é um desafio...
Se a Amazônia entrar em colapso, o planeta entra em colapso, porque a quantidade de
carbono que a Amazônia detém no solo e acima do solo é monumental. Se ela faz o seu
dever de casa e cria uma agenda sustentável, vai estar perto da solução. Tem escala
planetária. Qualquer coisa que a afeta, afeta o planeta para pior ou melhor. Então, estar
aqui na Amazônia é estar no centro nervoso desse debate de mudanças climáticas.”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“No Brasil, eu acho que nós temos grandes desafios nos próximos 20 anos. Um é, de fato,
fazer uma política mais integrada e muito melhor elaborada, que mantenha a Amazônia
numa condição bem razoável de preservação ou de conservação, ligada a um
desenvolvimento racional. E no caso da Amazônia eu diria que o desenvolvimento
racional precisaria ser de fato perseguido, para evitar que se continue derrubando
florestas. Seria desenvolver grandemente o potencial de uso da biodiversidade, o potencial
tecnológico que a biodiversidade tem e no qual se tem investido muito pouco; muito pouco
tem sido feito.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Cientistas concordam, com ressalvas
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concorda
Concorda
Não respondeu
TOTAL
fortemente
19
7
4
30
A maioria absoluta, quase dois terços dos entrevistados, concorda “fortemente” com a afirmação de
que as mudanças climáticas causarão grandes impactos. Sete entrevistados disseram apenas
“concordar”. Já entenderemos a diferença de intensidade:
“Eu concordo que afetará, concordo. Não vou dizer que concordo fortemente. Concordo
que afetará as sociedades em geral, porque se trata de um processo global. Agora, não dá
para dimensionar, não temos ainda como dimensionar quanto seremos afetados.”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA SOCIAL)
“Eu concordo bastante. Vai haver isso. Mesmo porque a gente não sabe, com segurança,
se vai haver impactos positivos ou negativos, depende. Nós não sabemos ainda precisar
onde os impactos serão positivos, porque essa mudança do clima pode favorecer algumas
213
regiões e pode prejudicar muito outras. Então, é esse balanço que ainda é difícil de fazer.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, G.J., 52, ENG. ELÉTRICO)
Os cientistas que concordam fortemente fazem alusão aos relatórios do IPCC e também aos
indicadores que têm sido publicados. Segundo eles, já é possível dimensionar os efeitos das
mudanças climáticas, e esses efeitos serão dramáticos, sobretudo entre as populações mais pobres
do planeta:
“Concordo fortemente. Eu tenho indicadores, já medi. Tenho indicadores no Brasil que
mostram claramente isso, e o impacto vai ser principalmente nas populações pobres.”
(CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“Bem, eu trabalho em um projeto que lida bastante com isso [mudanças climáticas], e pelo
meu conhecimento eu diria que concordo fortemente, embora eu reconheça que exista um
ou outro exagero, uma ou outra previsão que é claramente exagerada. Mas, tirando os
exageros, a situação é realmente muito séria...” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L.,
58, CIENT. FLORESTAL)
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
Importância do tema para o setor é inquestionável
Importância do tema em seu setor de atuação:
Importante
Muito importante
27
3
TOTAL
30
Praticamente todos os entrevistados estudam, pesquisam ou participam de comissões, grupos de
trabalho ou projetos em que o tema está presente. Por isso, a maioria atribuiu importância máxima
ao tema, como podemos ver na tabela acima.
O impacto mais imediato do crescimento da importância do tema no setor científico foi o surgimento
de mais recursos e mais oportunidades para os cientistas que têm carreiras em áreas relacionadas aos
temas das mudanças climáticas. Cresceu a procura por áreas científicas como clima, energia, química
de gases e fisioquímica em geral. Para os cientistas entrevistados, o maior impacto se dará na
ampliação das especialidades científicas e na área tecnológica. Proliferam, nos últimos anos, a
criação de novos centros e grupos de pesquisas:
“Eu acho que houve muito avanço da pesquisa. Se eu falo da pesquisa, eu acho que houve
muito avanço da pesquisa na área ambiental. Hoje [os pesquisadores] estão com um
conhecimento muito maior da região amazônica, na produção tanto da área das ciências
sociais como da área das ciências naturais...” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA SOCIAL)
“Se nós olhássemos 10 anos atrás, quase 100% da nossa busca de cooperação era como
receptor de tecnologia. (...) Agora a EMBRAPA está com clareza de que a nossa relação
com países desenvolvidos, tanto EUA quanto Europa, e também alguns países asiáticos, é
de um outro tipo de parceria, que é a que chamamos de laboratórios remotos, Labex
[laboratórios no exterior]...” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, T.D.A.S., 58, BIÓLOGA)
Segundo nossos entrevistados, assim que uma política nacional do clima for elaborada, a tendência
é que haja uma correspondência de programas na área científica e tecnológica. Nesse sentido, a
formação de doutores e especialistas é uma necessidade e uma oportunidade para quem está
investindo em carreiras científicas:
214
“(...) temos o outro grande desafio, que é a formação de uma quantidade muito maior de
mestres e doutores capazes de lidar com esses problemas. Nós temos um direcionamento,
não muito bom ainda, de formação de pessoal para essa parte de gestão ambiental, de
engenharia ambiental, de fazer e produzir realmente ações que vão nessa direção.”
(CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
Cientistas são favoráveis à adoção de um programa de metas
A grande maioria dos entrevistados declarou que a regulamentação e a adoção de um programa de
metas afetaria positivamente tanto o seu setor quanto a sociedade brasileira.
Com relação aos benefícios que poderia trazer ao setor, o destaque está na ampliação do mercado de
trabalho e no desenvolvimento de metodologias e de pesquisas:
“Afetaria positivamente, porque criaria um mercado de serviços para organizações e
profissionais que trabalham nesse monitoramento, desenvolvendo metodologias e tal.”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“Eu acho extremamente importante ter um programa de redução de emissões com metas e
tudo, principalmente para países tropicais como o nosso, em desenvolvimento, e que tem
uma forte dependência da produção agrícola. Vai ser uma questão crucial; pode parecer
uma ameaça no início, assustar, mas se for bem tratado, com bastante equilíbrio e bom
senso, é uma das maiores oportunidades que o Brasil pode ter.” (CIENTÍFICO,
AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
Os argumentos mais utilizados são os de que um programa de redução pode trazer foco, incentivar a
pesquisa e ainda funcionar como um impeditivo à expansão da tendência, já observável, de sujar a
nossa matriz energética:
“Acho que a regulação afeta sim, mas de uma forma positiva. Quando você tem metas,
você tem foco, e também pode elaborar melhor um programa de compensações. As regras
ficam claras e você então sabe como reduzir, tem como medir, enfim, as metas nos
obrigam a melhorar os instrumentos de controle... Nós temos que reduzir as emissões
através de biodiesel ou através de etanol, que é uma maneira para reduzir o CO2. Com a
regulação, você gera uma produção de cana mais eficiente, um etanol de melhor
qualidade...
(...) além disso, a cana é um exemplo de possíveis plantas melhoradas, como a planta
chamada C4, de excelente captação de CO2. Ela, por si só, já é uma planta também de
captação e você aproveita, além do etanol que é produzido, toda a palhada daquela
cultura para bioenergia, para gerar termoeletricidade. É uma cultura que pode ser usada
para reduzir a emissão de CO2. Assim como esse exemplo, temos outros, como o eucalipto
e a seringueira, mas o potencial da cana é muito grande.” (CIENTÍFICO,
AGRONEGÓCIO, A.B.F.O., 49, ENTOMÓLOGO)
“Um programa de metas de redução no cenário Brasil eu acho que tem um impacto menor
do que no cenário mundo, porque a matriz energética brasileira é peculiar... Avaliando o
impacto de possíveis restrições de emissão, dentro da forma como a nossa matriz é
montada hoje, não vejo problemas, mas a tendência de sujar a nossa matriz é grande, nós
já estamos sujando a matriz... Isso é paradoxal, é como se estivéssemos na contramão da
215
história. Enquanto todo mundo fala: eu quero limpar a minha matriz, nós estamos sujando
a nossa... É por isso que é importante assumir metas de redução, para evitar sujar
demais...” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, M.A.S., ENG. ELÉTRICO)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Principais barreiras são falta de consciência e interesses econômicos
Os entrevistados tiveram liberdade para discorrer sobre qualquer tipo de entrave que julgassem
apropriado comentar. Houve, então, um amplo leque de respostas. Entre os diversos entraves
citados, destacam-se os interesses econômicos fortemente assentados em uso de energia fóssil,
principalmente nos países desenvolvidos, mencionados por nove entrevistados:
“Olha, o que tem conduzido as reuniões, no meu modo de ver, são os interesses
econômicos. Você vê os Estados Unidos, por exemplo, eles sabem da necessidade,
precisam evitar a poluição, as emissões, mas o problema da economia [é que] os grandes
grupos não deixam. Nem participaram dos acordos internacionais.” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, F.L., 69, ADVOGADO)
“(...) o que vale mais é o interesse. Veja só, a indústria bélica, de uma maneira geral, tem
um interesse muito maior do que essa questão ambiental. [Essas empresas] mantêm suas
posições, atingiram este status de empresas muito poderosas e na realidade se esta
questão [climática] for um entrave para elas, elas superam de qualquer maneira, usam seu
poder, sua influência, sua maneira de reagir ao parlamento, governantes, [usam] toda
forma de pressão para fazer valer seus direitos. Acho que as grandes corporações nessa
área bélica, que é a indústria da guerra e a indústria petrolífera, são corporações
invencíveis. (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.U.D., 51, ENG. NUCLEAR)
Além, disso foi muito lembrada a atitude dos Estados Unidos, que não se dispuseram a ratificar o
Protocolo de Kyoto, reforçando uma atitude de resistência por parte dos países emergentes como
Brasil, China e Índia:
“Acho que o fato dos EUA estarem se esquivando de certa maneira de assumir
compromissos tem dificultado, ou pelo menos tem servido de desculpa para outros ficarem
na defensiva, inclusive o Brasil. O Brasil sempre ficou um pouco na defensiva com relação
ao desflorestamento, o nosso maior problema nesse caso.” (CIENTÍFICO, USO DO
SOLO, A.O.M., 47,FÍSICO)
Quatro entrevistados citaram, ainda, barreiras diplomáticas e questões geopolíticas:
“Acho que a barreira se dá no plano internacional de negociação, acho que é isso... [Não
há negociação com] os maiores emissores, exatamente, que não querem abrir mão de suas
metas e comprometer seu desenvolvimento econômico.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO,
N.M.S., 51, ENTOMÓLOGO)
Também a falta de consciência, tanto por parte das elites e governos como por parte da população,
“que desconhecem o tema, sua complexidade” e não compreendem o “desastre que pode significar
continuar a praticar o modelo atual de produção e consumo”, foi mencionada por cinco
entrevistados:
“Um entrave, sem dúvida, é a falta de conhecimento ainda generalizada, claro. Nos dois
últimos anos temos conseguido avançar um pouco, o tema das mudanças climáticas
ganhou uma visibilidade maior. Essa falta de conhecimento, de consciência do problema,
216
leva a que o indivíduo, os grupos, as empresas continuem a reagir com as mesmas
práticas. Fala-se muito, mas a prática continua a mesma, então eu acho que muito
investimento ainda é necessário para poder romper esse entrave: mais educação
ambiental, mais debate na sociedade, mais produção e difusão de conhecimento por vários
canais.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA SOCIAL)
O assunto é bastante comentado, mas ele vem acompanhado de muitos mitos e inverdades. Por ser
relativamente novo na agenda e na mídia, há dificuldades em “separar o joio do trigo”. Publica-se
muitas inverdades ou verdades apenas parciais:
“... se foi positivo o tema ir para mídia, a maneira como ele aparece é confusa, confusa
até para quem lida com a temática ambiental, que tem um certo instrumental. Imagine
para a sociedade como um todo. Por outro lado, é uma sociedade que não está sendo
preparada para lidar com esse tipo de informação, e então fica confusa. Ou se tem uma
visão apocalíptica ou uma visão de que ‘é besteira, nada vai acontecer, já fizeram alarde
antes e não deu em nada’...” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 41,
GEOGRAFA)
Em termos culturais, a questão ambiental só ganhou destaque há poucos anos e somente há pouco
tempo as escolas e universidades passaram a abordar o tema, e ainda assim inserido em outras
disciplinas.
Na opinião de nossos cientistas, é preciso incrementar as ações de informação e educação em
relação ao tema das mudanças climáticas, aumentando a incidência de educação ambiental com esse
foco:
“Em primeiro lugar, eu acho que é a necessidade de uma conscientização da sociedade
como um todo. Eu acho que a imprensa vem fazendo um bom trabalho nesse sentido, mas
ainda existem resistências, dúvidas dos agentes, dos atores que de fato atuam contribuindo
para o aquecimento global.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, J.A.G.Y., 58, CIENTISTAS
FLORESTAL)
Com três menções cada uma, ainda foram citados a falta de políticas públicas com foco em questões
climáticas e a falta de pesquisas e investimentos em novas tecnologias:
“(...) o governo deveria despender de um quadro técnico mais preparado e de uma
atividade jurídica do ponto de vista punitivo. Porque o que nós temos, é que a gente
detecta o problema, mas esse problema não trás conseqüências, de tal maneira que o
infrator entende que o mal compensa... E nesse sentido [são necessárias] ações de maior
envergadura, envolvendo um quadro técnico, a força policial, envolvendo o poder público
na efetiva punição no caso da infração.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, J.K.,
53, HISTORIADOR)
“(...) mas eu acho que um dos impasses é realmente [falta de incentivos à] a produção de
conhecimento. ” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA
SOCIAL)
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
Cientistas sugerem incentivos para o setor e para a sociedade
Os investimentos em pesquisa e tecnologia foram apontados como importantes incentivos ao
enfrentamento das questões climáticas:
217
“É preciso fazer grandes investimentos em novas tecnologias, tecnologias que sirvam para
explorar sustentavelmente nossa biodiversidade, gerando produtos na área alimentar, na
área de cosméticos, ou mesmo de energia, produtos medicinais que façam a floresta em pé
render economicamente. Isso não se faz de uma hora para outra. Envolve a iniciativa
privada, envolve institutos de pesquisa, cientistas, engenheiros, os governos, não sei
quando isso vai acontecer.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, A.O.M., 47,FÍSICO)
“Eu acredito que um país é forte na medida em que ele é competente em pesquisa e
ciência, nunca perdendo de vista aquela ciência básica, mas sempre procurando ter
aplicações da ciência básica para o cotidiano, e isso são tecnologia e conhecimento. Eu
acho que o nosso país deve caminhar por aí. Sempre que possível, investir em soluções
cientificas e tecnológicas. (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, A.M.D.A.Jr., 52,
METEOROLOGISTA)
Oito dos cientistas entrevistados sugerem que o investimento em pesquisas e novas tecnologias, a
serem aplicadas nos diferentes segmentos da economia, é a melhor forma de incentivar o
enfrentamento das questões climáticas.
“Eu acho que o investimento em ciência e tecnologia, nessa área, tem que ser vultoso. Eu
acho que nós temos muito pouca coisa. O respaldo que nós temos, por exemplo, do INPE, é
enorme, mas [nós não temos] pesquisas, não temos recursos suficientes para produzir
conhecimento.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA
SOCIAL)
Outros quatro entrevistados apontaram como incentivo importante um investimento maior em
educação formal e educação ambiental, como estratégia para despertar, junto à população em geral,
uma melhor compreensão da problemática, aumentando dessa forma a conscientização acerca de
sua seriedade e aceitação em relação dos sacrifícios que deveremos fazer num futuro próximo:
“Eu penso que são questões diretamente relacionadas à educação ambiental. Então não
tanto o combate de sintomas, mas uma educação que vise uma conscientização...”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, J.K., 53, HISTORIADOR)
Uma presença mais clara e firme do Estado, regulando as atividades econômicas e suas próprias
atividades, poderia funcionar também como incentivo, pois sinalizaria para a sociedade que há um
esforço sendo feito, o que poderia ampliar o engajamento de todos os setores:
“Elas [atividades que mitigam] deveriam ter um tratamento em certa medida diferenciado;
deveriam ser estimuladas, e estímulos podem ser fiscais, isenção de imposto de renda,
reduzindo taxas, por exemplo, de juros de mercado ou criando bonificações. Qualquer
mecanismo que pudesse estimular as atividades que trabalham com responsabilidade
social ou responsabilidade ambiental e com a questão da sustentabilidade. Eu acho que é
fundamental que as entidades públicas sejam entidades de créditos, [e que] os próprios
governos, atuando, criem estímulos ou bonificações que venham a estimular essas
atividades.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, J.A.G.Y., 58, CIENTISTAS FLORESTAL)
Também seria importante intensificar os programas de crédito de carbono:
“Uma política que deveria ter sido incrementada é a política de credito de carbono, onde
o mundo passa a comprar... Vamos supor, há o país que desmatou, e o que ele tem que
fazer é o reflorestamento de vinte por cento de uma área. Tudo bem se ele não tem um
lugar lá, ele pode fazer em outro país.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, A.B.F., 49,
ENTOMÓLOGO)
218
Uma ONU para cuidar do aquecimento global
Para um dos cientistas entrevistados, falta uma ação sistêmica e eficiente no enfrentamento das
mudanças climáticas. Por isso, sugere a criação de uma ONU “ambiental”, voltada exclusivamente
para regular e monitorar essa questão. Segundo ele, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) estão
perdidos em milhares de programas sem a significância global do problema das mudanças
climáticas:
“Uma ONU ambiental devia ser criada, que tenha como orçamento uma coisa equivalente
ao modelo Plano Marshall, porque se for uma ONU ambiental com o orçamento atual de
organismos como PNUD, PNUMA, com o engessamento da ONU, com a burocracia da
ONU, com a lentidão de tomarem decisões, não dá conta.
Se não criar um organismo planetário com essa agenda, nós não vamos resolver os
problemas dos países individualmente, até porque o problema se estende em tempos muito
lentos, por meio de acordos que são impedidos de funcionar justamente pela lógica dos
países que deveriam estar fazendo seu dever de casa... .
Sem um acordo político mínimo, enquanto o cidadão não perceber que isso é um problema
sistêmico e que exige uma ação planetária, não vamos conseguir reverter nada do que está
colocado para nós.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
Várias vezes o autor da idéia insiste em que o Plano Marshall foi vitorioso e reconstruiu em 30 anos
uma Europa arrasada. Por que não fazer o mesmo e impedir a destruição que as sociedades humanas
vão enfrentar em poucas décadas?
“É como se a gente estivesse diante de uma guerra, e precisa sair dessa guerra com um
plano vigoroso de investimento.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42,
AGRÔNOMO).
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
Para cientistas, falta liderança e engajamento dos governos
Perguntados sobre que atores deveriam ser engajados para que se consiga um esforço mais eficiente
no enfrentamento do fenômeno das mudanças climáticas, metade da nossa amostra, 15 entrevistados
responderam enfaticamente que não há, nos governos federal, estaduais e municipais, uma liderança
conduzindo o país nessa questão:
“No estágio em que estamos hoje, temos que passar por regulamentação. O principal ator
é o governo. (...) Hoje você tem que ter o governo incentivando políticas, o governo tem
que ser o regulador, o formulador de uma política de agricultura limpa, política de um
transporte coletivo energeticamente responsável, política de geração de energia menos
dependente do petróleo, política de redução do desmatamento. O grande ator hoje é o
governo.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
“No caso do desmatamento, o fator de maior pressão [quanto às emissões] é o Ministério
do Meio Ambiente e o da Agricultura. Esses dois ministérios vêem o problema de uma
situação totalmente oposta, quer dizer, o Ministério do Meio Ambiente tem uma visão
conservacionista e o Ministério da Agricultura tem uma visão de desbravamento e de
expansão da cultura da soja. Falta consenso, ação integrada e sobretudo uma liderança.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
219
Notadamente, vemos que, para os entrevistados, devem partir do setor governamental as ações
indutoras mais fortes. Em geral, os entrevistados fizeram referência à escassez de políticas públicas
que levem a ações efetivas, capazes de produzir resultados palpáveis no que diz respeito às questões
do clima:
“Bom, eu acho que primeiro nós não podemos prescindir da forte participação
governamental. Então, deveria ter uma agência governamental ocupada em traçar essas
políticas e colocá-las em prática... Efetivamente em prática, ou seja, ter a
responsabilidade de fazer acontecer. E ela seria um elemento articulador de outros
segmentos nacionais. (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, M.A.S., ENG. ELÉTRICO)
Com três menções cada um, a seguir foram citados o setor privado, as empresas e a sociedade civil.
Os empresários do setor de mineração, do setor energético e do agronegócio devem assumir
responsabilidades, segundo o grupo de entrevistados, “porque são os que, com suas atividades, mais
contribuem para o agravamento da questão”:
“Empresários. Empresários que eu digo, por exemplo, fazendeiros, não precisa ser uma
empresa formal, formalizada.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55,
CIENTISTA SOCIAL)
“O empresariado tem que ser, quer dizer, as empresas têm que ser chamadas a colaborar,
elas são atores importantíssimos nesse processo, não é? (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO,
M.A.S., ENG. ELÉTRICO)
Mas o empresariado também deve pressionar o governo:
“[os empresários] vão ter que fazer pressão no próprio governo para que ele crie ambiente
de negócio. Porque não adianta uma empresa fazer isso e aquilo se o seu concorrente não
faz. É uma questão de vantagens e desvantagens competitivas. Então você precisa de
alguns marcos regulatórios, como a Europa fez. A Europa estabeleceu, por exemplo,
redução no continente de 20% de emissões. Isso obrigou toda a indústria, a economia, a se
mover nessa direção. (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
A sociedade civil deve também participar ativamente, de forma a cobrar de seus governos ações
mitigatórias. Segundo os entrevistados, a cobrança deve se manifestar sob diversas formas: no voto,
no apoio às ONGs e até através da mídia:
“Eu acho que a sociedade civil organizada tem a maior força de ação para assumir esse
papel. (...) A sociedade, e eu justifico o porquê: é ela, na verdade, que tem um poder muito
maior que o de todos, que o do próprio governo, que é quem compra, né? Então a gente
sabe, tem exemplos claros aí, o que significa quando uma sociedade faz um boicote a um
determinado produto? (...) Eu acho que os atores são a sociedade civil organizada e
pressionando em relação ao tema...”(CIENTÍFICO, USO DO SOLO, J.A.G.Y., 58,
CIENTISTA FLORESTAL)
Um dos entrevistados citou a igreja como um ator que poderá ajudar na conscientização da
população, uma vez que tem penetração em todo o território nacional e tem poder de influencia
entre seus fiéis:
“Aqui no Brasil temos setores importantes além da sociedade, da mídia, há outros como
as igrejas, que atuam muito em pequenas comunidades, as mais distantes, onde a imprensa
às vezes não chega, porque quando a gente fala imprensa, só tem impacto nos grandes
setores urbanos, uma força somente nos setores mais escolarizados, mais dinâmicos ...
220
(...) Nas pequenas comunidades, e este país é grande, temos outros agentes para veicular
esse tipo de informação, para introduzir nas práticas de trabalho e nas comunidades
novas idéias, novas tecnologias, a educação e a igreja, suas duas forças, duas formas
muito chave... Eu acredito que as igrejas de uma maneira geral, em nosso país, da forma
como elas estão organizadas, chegam nas comunidades, podem exercer um papel, ser um
agente muito importante.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.U.D., 51, ENG. NUCLEAR)
E, naturalmente, alguns afirmaram que “todos os setores devem ser engajados”, pois cada qual tem
o seu papel:
“Todos os setores. Cada um dos setores, porque existem figuras que se sobressaem em
seus diversos setores, no setor industrial, no setor político, e esses eles podem comandar.”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, F.L., 69, ADVOGADO)
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
A dimensão internacional
Muita discussão e pouca ação, eis é a conclusão da maioria dos cientistas ouvidos:
“Há pouco empenho na busca de soluções. Acho que a Europa colocar uma meta de
redução de emissões de vinte, vinte e cinco por cento é uma boa idéia, mas enquanto os
Estados Unidos não se definirem claramente, a coisa fica muito sujeita à discussão. Muita
discussão e pouca ação. Muitos acordos internacionais e pouca ação. (...) Pouca coisa
está sendo feita, e [nem] de longe está à altura dos desafios que o problema das mudanças
coloca.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
Mas há quem no conjunto discorde, dizendo que as negociações são ativas, embora essa seja uma
posição minoritária:
“No âmbito internacional existem negociações muito ativas e polêmicas, porque os
principais emissores são os Estados Unidos e a China. Ambos emitem aproximadamente a
mesma quantidade. Cada um deles emite aproximadamente 25% do total, então a China e
os Estados Unidos juntos representam 50% do total.
Não pela mesma razão, mas ambos são contrários às metas obrigatórias de redução, o que
envenena completamente qualquer negociação internacional.
Mas existe uma grande pressão para que eles cheguem a um acordo, e essas negociações
estão ocorrendo todos os anos. Existem megaconferências das Nações Unidas para
discutir esse assunto.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
A aceitação de que as mudanças climáticas são uma realidade é o único ponto em comum nas
comunidades internacionais, dizem os entrevistados. As formas como as comunidades
internacionais tratam da problemática diferem fortemente entre si:
“Temos posições distintas dos EUA, da Europa, do Japão, da Rússia, digamos assim, são
os grandes posicionamentos, e países como o Brasil, China, Índia e etc.
Fundamentalmente, eu acho que essas posições são orientadas pelos problemas
energéticos de cada um, de cada região. A Europa, por uma questão de carência de fontes
energéticas, tem que necessariamente elevar os preços, e ela vai ter que se adaptar a um
mundo de pouca energia, porque ela não tem petróleo e o carvão se esgotou. (...) Por isso
adotam posturas mais radicais.
221
Os EUA têm fontes energéticas, controlam militar e politicamente as fontes energéticas
(...) e portanto tendem a ter uma posição mais liberal, digamos assim, mais irresponsável.
Essa é a minha perspectiva, certo?”
O mesmo entrevistado continua sua análise do cenário internacional:
(...) A Rússia, naturalmente, por questões de desmoronamento da União Soviética, ficou,
no contexto de Kyoto, com excesso de capacidade, e então pode adotar uma postura menos
radical. Já o Japão ficou muito ambíguo, porque é um país muito pobre de recursos
naturais, muito pobre de recursos energéticos...
A China, obviamente, tem uma postura radical de não negociação, e vai continuar a ter, o
que representa um desafio diplomático para todos nós. Ela tem uma matriz energética
bastante maléfica, digamos assim, do ponto de vista de aquecimento global, porque está
baseada no carvão...”
E finaliza observando que o problema é que não dispomos de um modelo pós-Kyoto para enquadrar
os países:
O embate que eu vejo está colocado dentro dos termos do Kyoto, quer dizer, o que está
sendo discutido é Kyoto. Ainda não temos nenhum modelo pós-Kyoto para que possamos
avançar.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, E.R., 60, ECONOMISTA)
A União Européia está à frente em todos os campos: tanto nos investimentos em pesquisa e
tecnologia quanto nas ações de seu empresariado. O mesmo se dá na postura ambiental de suas
populações:
“(...) há alguns países europeus, que parecem estar levando muito a sério essa questão,
estabelecendo metas, metas de redução, metas de substituição de fontes de energia mais
avançadas e com maior exigência do que os protocolos internacionais de fato exigem.”
(CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
“Então, temos países que estão vendo isso com mais ênfase, e aí são mais alguns países da
Europa que estão conseguindo fazer isso mais rapidamente. Alemanha, Dinamarca, são
alguns exemplos...” (CIENTÍFICO, ENERGIA, G.J., 52, ENG. ELÉTRICO)
Os países em desenvolvimento, agora chamados de “emergentes”, como Índia, China e Brasil,
precisam encontrar um difícil equilíbrio entre continuar o seu desenvolvimento e compatibilizar as
bases desse crescimento com as exigências ambientais e as do aquecimento global.
Em termos concretos, dizem, as ações desses países, incluindo o Brasil, têm sido lentas e tímidas na
implantação de políticas ambientais consistentes:
“A participação do Brasil, a meu ver, é marginal e de modo geral tende a tirar as
casquinhas do fogo para a China. O Brasil não é uma emissão insignificante de gás que
provoca efeito estufa devido ao que está ocorrendo na Amazônia. Não é um grande
emissor, mas não é um emissor desprezível. Mas, basicamente, ele segue as posições da
China com base em uma retórica nacionalista que é completamente absurda.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
Posição americana é indefensável
Embora alguns entrevistados tenham mencionado a atitude positiva de alguns Estados
americanos, como a Califórnia, por exemplo, que aderiu a um programa de reduções, eles
consideram que a política americana para o aquecimento do planeta é no mínimo desanimadora,
indefensável para uma país-líder de tamanha importância para a estabilidade global:
222
“Acho que o fato de os EUA estarem se esquivando de assumir compromissos tem
dificultado, ou pelo menos tem servido de desculpa para outros ficarem na defensiva,
inclusive o Brasil.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, A.O.M., 47, FÍSICO)
Atribuem essa atitude à falta de visão, ao egocentrismo de um país que deseja manter seus níveis de
crescimento a qualquer preço.
Os entrevistados sentem-se esperançosos de que o próximo governo americano, seja ele democrata
ou republicano, adotará uma postura mais cooperativa, abrindo espaço para uma discussão mais
ampla sobre as ações necessárias:
“Os EUA também não querem fazer muito neste momento, mas também não querem
aparecer como vilão planetário. Acredito que eles mudarão de posição e as próximas
eleições
serão
fundamentais
na
nova
postura.”
(CIENTÍFICO,
DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“(...) É possível até que os EUA, que estão vivendo agora um processo eleitoral, retomem
esta questão [Kyoto] pela cobrança da própria sociedade americana, que não pode
continuar sendo a sociedade perdulária de energia, a maior dissipadora de energia e a
maior emissora de gases poluentes. (...) Os governantes, principalmente o presidente
Bush, não têm essa preocupação com o tratado de Kyoto, que controlava essa emissão de
gases.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.U.D., 51, ENG. NUCLEAR)
China preocupa
Como vimos acima, a China foi mencionada diversas vezes como um país que, depois dos EUA,
será o fiel da balança na questão das mudanças climáticas. Segundo uma visão alarmista, a China
estaria licenciando “uma termoelétrica a carvão por semana”, e manter seus níveis de crescimento
com esse custo energético para o planeta não aponta um horizonte promissor:
“Cobram do Brasil, mas não há, por exemplo, mecanismos eficientes para que a China
reveja o modelo dela... Tem um dado que preciso verificar, assustador: a China estaria
criando uma usina termoelétrica por semana. Isso é altamente impactante, joga CO2
direto na atmosfera. Tem que reverter isso, acho que a discussão está muito tímida no
nível internacional. (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
"DESMATAMENTO EVITADO"
Discordâncias sobre a eficácia da proposta
O Brasil apresentou, na 13ª Conferência das Partes (COP) da Convenção do Clima, realizada em
Bali, uma proposta de desmatamento evitado. Perguntamos aos entrevistados se conheciam essa
proposta e qual sua opinião sobre ela.
A metade (15) dos cientistas ouvidos declarou conhecer; a outra metade não opinou (4) ou disse não
conhecer (11).
Entre os cientistas que opinaram a respeito encontramos, em geral, opiniões não tão otimistas:
“Eu acho que essa proposta, isoladamente, não vai pegar, porque vai exigir mudança de
comportamento, mas ela é um passo para mostrar que as externalidades ambientais
podem ser convertidas em um ativo para quem está mantendo a floresta em pé. Não deixa
de ser um ponto de partida.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, W.A., 44, BIÓLOGO)
223
“Conheço, acho que foi uma proposta ambiciosa que o Brasil apresentou, mas não
entusiasmou a ninguém. Uma proposta de desmatamento, estabelecendo ainda um limite
de desmatamento permitido, é quase como aceitar um crime, porque o desmatamento é
contra a lei no código florestal. (...) Eu acho que a proposta do Brasil devia ser de
desmatamento zero. Não vamos desmatar mais nada.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, S.T.C.,
60, ENG. QUÍMICA)
“É uma proposta que precisa ter uma discussão ampliada para que possa ser incorporada
na própria sociedade, para que a sociedade possa tirar proveito, mas é preciso que os
outros países também se conscientizem de que salvar a Amazônia também precisa de uma
boa vontade do ponto de vista econômico; não é só exigir, é também compensar o Brasil,
os proprietários da biodiversidade conservada.
Quanto que eu ganho para conservar? Eu não tenho nada, eu tenho as minhas atividades
econômicas que me permitem desmatar, mas quanto eu recebo para manter uma floresta
em pé?O mecanismo sugerido pelo Brasil pode ter imperfeições, mas é preciso considerar
coisas parecidas com isso. Enfim, assim como se investe na produção, deve-se investir
também na conservação?” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, J.A.G.Y., 58, CIENTISTA
FLORESTAL)
Para um renomado cientista, que já ocupou por duas vezes o cargo de ministro e secretário de
Estado, a proposta é mal formulada e corresponde mais ao sentimento do que à razão. Eis a sua
crítica:
“Mal formulada, é uma proposta que corresponde muito mais a sentimentos do que à
razão. Quer dizer, o Brasil fez uma proposta que se baseia na filantropia internacional, ou
seja, o desmatamento evitado. Seria evitado o desmatamento em troca de doações que
governos e entidades privadas fariam para um fundo de desenvolvimento. Isso não existe,
filantropia é algo que não existe no nível de alguns milhões de dólares. Quando se fala em
evitar o desmatamento da Amazônia, o tipo de recursos necessários são bilhões de dólares
e não creio que exista experiência prévia nenhuma de filantropia nessa escala.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
O ceticismo em relação à proposta deve-se principalmente à sua difícil operacionalização. Quem
controlará? De que forma? Como o dinheiro será repassado aos interessados? Haverá seriedade e
transparência na gestão dos recursos? As declarações selecionadas abaixo refletem as dúvidas dos
entrevistados:
“É a primeira vez em que o Brasil apresenta uma proposta, e isso já é por si alentador.
(...) Mas ela tem algumas dificuldades. Uma delas é que não sinaliza como os recursos
serão distribuídos. Eventualmente, com esse fundo arrecadado, quem vai ser beneficiado?
Não pode ser só o governo. Tem que ser de fato o proprietário, a comunidade lá na ponta.
Então, a imprecisão do mecanismo de distribuição do que pode ser arrecadado é um
grande problema e com certeza inibe esse fundo que o Brasil está propondo.
A segunda dificuldade é um mecanismo que ficou muito brasileiro. Precisa-se de um que
funcione no mundo inteiro. Porque aí os outros países vão falar: pode funcionar, mas não
só no Brasil. Quero que funcione na Costa Rica, Nova Guiné. Então isso dificulta muito o
mecanismo proposto pelo Brasil.
Mas mesmo com imperfeições, acho que deveria ser testado... No entanto, parece que não
decolou, pelo menos não apareceu ninguém dizendo 'vamos apostar nisso'...
Quer dizer, a proposta do Brasil está na mesa, não pode ser descartada, pode até ser
aperfeiçoada... A expectativa do governo era de que aparecessem pessoas que dariam 100
224
milhões, e não apareceu ninguém até agora. Então, a proposta não foi sedutora o
suficiente para os compradores, mas não conheço os detalhes.” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“Eu acho que a proposta do desmatamento evitado é um problema sério. Porque,
primeiro, você precisa determinar o que ocorreria naturalmente, a partir do que você
mediria o que foi evitado. É uma questão complicadíssima de projeção, que vai ser
colocada. (...)
De que maneira você vai conseguir implementar isso em um nível micro também não é
simples, por mais que você determine qual será a meta no nível nacional, certo? Teremos
que conseguir passar isso para o madeireiro na Amazônia, e aí é outra conversa,
totalmente diversa.
A quem que você vai pagar e como é que você vai garantir a perpetuidade desse
desmatamento evitado. Porque um outro indivíduo pode vir e desmatar, posteriormente,
você entende?
Então, amarrar todos esses compromissos não é um mecanismo muito simples. São
contratos futuros que você está assumindo.
Existe um problema de soberania também: é que os recursos, de certa maneira, serão
entregues e imobilizados por um governo internacional. Colocam-se problemas de
soberanias que não são problemas ilegítimos não.
Mas, para esse cientista que levanta tantas dúvidas sobre o mecanismo proposto pelo Brasil em
Bali, a questão mais séria diz respeito ao futuro do que está sendo vendido, o futuro da própria
Amazônia, que é incerto. Vejamos seus argumentos:
Existe um outro problema mais sério ainda, que as pessoas não levam em consideração. É
que, se acontecer o que os cientistas predizem com grande alarde, se o aquecimento seguir
seu curso, a Amazônia deixará de ser essa floresta que conhecemos; haverá uma
savanização de toda aquela região...
A savanização da Amazônia significa o seguinte: que aquilo que foi vetado, impedido de
desmatar, vai ser de qualquer jeito destruído. Então o que você está comprando quando
está comprando desmatamento evitado?
A Amazônia vai continuar a ser o que é. Somente se as políticas de combate ao
aquecimento global derem certo... Só teremos desmatamento evitado porque aí não houve
aquecimento global, então houve um desmatamento que foi evitado e que contribuiu para
que não houvesse desmatamento global. Caso contrário, é uma conversa absolutamente
sem sentido. Quer dizer, não adianta o Brasil fazer tudo certo se os EUA não fizerem. A
Amazônia vai desaparecer de qualquer jeito, segundo os próprios cientistas, se as ações
não forem concatenadas.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, E.R., 60, ECONOMISTA)
14. CONFERÊNCIA DE BALI
Ecos de uma conferência
Praticamente todos os entrevistados que opinaram sobre a Conferência de Bali compartilham a
opinião de que os resultados foram regulares ou fracos. Tivemos 14 entrevistados nessa categoria.
Apenas 3 consideraram os resultados bons e 13 não se manifestaram, dizendo não ter participado, e
só terem acompanhado pela imprensa, pela internet.
225
Falta de liderança, resultados que não se traduziram efetivamente em ações, ficando apenas na
intenção, e a posição americana de não adesão aos programas internacionais foram os principais
motivos para a insatisfação geral sentida no meio científico e acadêmico:
“Acho que a gente precisaria de muito mais liderança, rapidez, menos timidez, decisões
fortes para fazer essa transição de um padrão, isso no campo da energia, de um padrão de
consumo de energia, para outro. Na minha perspectiva, os avanços são modestos. Acho
que precisamos assumir metas, prazos mais rigorosos, talvez até ambiciosos, mas que
valeria a pena tentar, mobilizar mais o governo para enfrentar isso de uma maneira um
pouco mais impopular num curto prazo, mas eu acho que é importante. Meu
desapontamento é mais nessa área: uma ausência de grandes lideranças assumindo
compromissos mais ambiciosos e em prazos mais curtos.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, G.J.,
52, ENG. ELÉTRICO)
“Resultados sofríveis: Bali quase foi um fracasso total. Ela só não foi um fracasso total
porque Bali diz o seguinte: vamos nos reunir de dois a dois. Vamos deixar que alguns
assuntos entrem. Vamos trabalhar minimamente nisso, para que daqui a dois anos a gente
converse. Isso foi uma vitória. O fato de florestas tropicais terem entrado para ser
conservadas é, talvez, nesse mundo complicado, um avanço.” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“Houve recentemente uma conferência em Bali que basicamente tomou a seguinte
decisão: dentro de dois anos, esses dois países [EUA e China], e os outros evidentemente,
terão que chegar a um acordo, e há uma certa expectativa de que efetivamente se consiga
chegar a um acordo dentro de dois anos. (...) Os resultados não foram bons. A única coisa
que a Conferência de Bali estabeleceu foi cronograma de reuniões... Teremos que esperar
para fins de 2009 a conclusão dessas negociações.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80,
FÍSICO NUCLEAR)
Para três entrevistados, os resultados de Bali foram os “esperados”, pois não existem mecanismos
multilaterais que possam enquadrar os países sem longas negociações. Vivemos um mundo em que
a geopolítica é complexa e não se pode atribuir responsabilidades de modo autoritário:
“Acho que o resultado de Bali foi o esperado para o padrão de dificuldades, ou seja, não
foi, como muitos idealistas esperam, um momento de inspiração planetária em que aqueles
diplomatas de carreira que estão acostumados com discussões complicadíssimas foram
tocados pela magia de um discurso unificado...
O mesmo entrevistado nos oferece uma perspectiva interessante para entendermos o que estava em
jogo em Bali e aponta o que é, para ele, a essência do desapontamento sentido por todos: “o
mecanismo é lento em relação ao tamanho do desafio e à urgência que temos”:
“Eu acho que havia três coisas em Bali: a) avançar muito, que era o desejável e não
aconteceu; b) não fazer nada, que seria um fracasso completo, mas isso poderia
representar um constrangimento tão grande que forçaria também um outro mecanismo; ou
c) aquilo que foi obtido: deixar a porta aberta para o debate e nos reunirmos novamente
daqui a dois anos.
Qualquer cenário, mesmo o cenário em que acordos fossem mais vigorosos do que o
esperado, ainda assim seria muito pouco para o tamanho do problema. A resposta de Bali
foi muito tímida diante do tamanho do desafio.
Eu estou com muitas dúvidas [quanto a] esses mecanismos laterais, típicos da ONU, para
lidar com esse tipo de problema. Reunir-se de dois em dois anos, três em três anos, com
esse tipo de avanço... Nós vamos ser engolidos pelo problema. Já estamos sendo.
226
Tem gente lá muito boa: os negociadores saíram de lá razoavelmente felizes diante da
catástrofe que poderia ser, mas eu acho que é uma área onde a gente não pode ser
modesto. O problema não é modesto. É gigantesco. (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
Para outro cientista, presente à Conferência, a boa notícia foi a adesão do Canadá e da Austrália ao
Protocolo de Kyoto, o que deixa os EUA cada vez mais isolados:
“A Conferência, nas últimas edições, tem se repetido nas dificuldades de entendimento. A
de Bali é conseqüência das últimas, não teve grandes novidades. O que foi importante foi
a decisão da Austrália e a decisão do Canadá de assinar o Protocolo de Kyoto. Isso
acabou deixando os Estados Unidos sozinho na discussão. (...)
Essa, na minha opinião, foi a contribuição mais importante da Conferência, porque ela
acabou fazendo com que a posição americana ficasse em uma situação cada vez mais
difícil, embora a gente conheça as dificuldades da administração Bush, mas o modo de
vida americano é um limitador, e ele efetivamente é referência internacional, ele precisa
ser modificado.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, C.B., 55, ENG. ELÉTRICO)
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
As responsabilidades do Brasil são conservar Amazônia e não sujar a matriz energética
Com relação às responsabilidades do Brasil no esforço global de combate ao agravamento do
fenômeno das mudanças climáticas, todos os entrevistados entendem que todos os países têm
responsabilidades, mas que elas são diferenciadas, não entre países ricos e países pobres – esse tipo
de raciocínio é maniqueísta e simplista –, mas porque cada país tem características naturais
diversas, sistemas econômicos distintos e necessidades também distintas em termos energéticos.
Mas eles concordam que o Brasil não é um emissor desprezível e tem um papel chave em qualquer
que seja a solução global:
“O Brasil está no centro do debate. Quer dizer, o Brasil, a China, a Índia, os EUA, a
Rússia. Esses são os cinco países que estão no alvo. Ninguém está olhando a Bolívia ou a
Venezuela. O Brasil está no alvo. O Brasil é América Latina, e América Latina, em termos
ambientais, é Brasil e México... O Brasil reconhece isso e a postura mudou um pouco, mas
a postura do Itamaraty é muito refratária a um compromisso maior... Nós ficamos no
papel desagradável de espectadores, vendo como vai evoluir a coisa, sem nos
prevenirmos, sem termos uma estratégia, o que não é bom.” (CIENTÍFICO, DES.
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
14 entrevistados disseram que “conservar a Amazônia, manter a floresta em pé” é a nossa principal
responsabilidade:
“O problema do Brasil é a Amazônia. O Brasil não consegue saber o que vai fazer com a
Amazônia e a Amazônia tem, então, um passivo ambiental enorme. Brasília está muito
distante da Amazônia. Embora você tenha, em Brasília, pessoas com a intenção boa,
desejando fazer a coisa certa... Acredito que estão virando a noite para fazer algo certo,
mas não é suficiente. A Amazônia é muito grande e, para qualquer município da
Amazônia, é como se Brasília fosse outro planeta. A Amazônia tem sido um problema para
a imagem do Brasil, porque aumenta a emissão e o Brasil não sabe o que fazer com a
Amazônia concretamente.´ (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42,
AGRÔNOMO)
227
Outros 11 mencionaram a necessidade de realizar um planejamento energético que não nos leve a
sujar nossa matriz. Para eles, temos uma matriz limpa e devemos mantê-la assim:
“A grande contribuição que o Brasil vem dando é a sua própria matriz energética; se nós
analisarmos, 90% da nossa matriz energética provêm da hidroeletricidade. O Brasil dá
uma contribuição fantástica.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, N.M.S., 51)
“No Brasil, temos uma matriz energética limpa, se tomamos como referência a matriz
energética mundial. Temos uma presença muito forte do álcool, do etanol, e qualquer
aumento vai ser pouco significativo em relação ao contexto atual. O próprio
biocombustível, de uma forma geral o biodiesel, também vai promover uma mudança, uma
alteração pequena, puramente em função dos programas de governo. Estamos com dois
por cento obrigatório do biodiesel, cinco por cento a partir de 2012; essas condições são
escalas pouco significativas e uma participação da energia hidráulica na matriz
energética também é importante. Nosso problema é evitar o licenciamento de
termoelétricas a carvão, ainda que seja de carvão renovável, vegetal.” (CIENTÍFICO,
ENERGIA, C.B., 55, ENG. ELÉTRICO)
Os demais fizeram menção conjunta à Amazônia e ao desenvolvimento dos biocombustíveis, para o
qual estaríamos “naturalmente vocacionados, desde o sucesso do etanol da cana”:
“O Brasil também tem um histórico favorável, especialmente na área de biomassa e de ter
sido capaz de criar um mercado grande para um novo combustível. Então, são questões
que o país tem e pode capitalizar muito em cima delas. Como transferir esse tipo de
experiência para outros lugares, para outras regiões, e mesmo a questão de tecnologias?
Então, acho que tem um papel importante nessa área de fontes renováveis, especialmente
biocombustíveis, e não só da tecnologia, mas também de instrumentos de criação de
mercado, de saber como colocar esse tipo de tecnologia numa escala grande.”
(CIENTÍFICO, ENERGIA, G.J., 52, ENG. ELÉTRICO)
Não sujar a matriz significa desenvolver rapidamente uma outra fonte energética. O biocombustível
aparece como a solução mais simples: temos terras, tecnologia e a experiência anterior com a cana.
Ainda assim, é preciso planejar para que o efeito não seja perverso, inverso ao esperado:
“O biocombustível pode ser solução, mas depende da forma como você faz. Se ele está
sendo feito para empurrar a pecuária para a Amazônia, para a pecuária derrubar a
floresta, isso terá um efeito dominó, aí não é um bom negócio. Então algumas dessas
idéias são interessantes, mas o diabo mora nos detalhes. É preciso ver os detalhes, quem é
beneficiado, qual é o mecanismo de acompanhamento, qual é a dissonância. Ou seja,
realmente eu estou solucionando, ou eu estou removendo o problema de um ponto para o
outro?” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
“Se fosse adotado um programa de redução, isso causaria um enorme impacto, a meu ver
positivo. Por exemplo, as autoridades governamentais dariam muito mais ênfase às
energia renováveis do que estão dando hoje. Se a gente olhar a matriz energética nacional
hoje, se verifica que o Brasil tem uma matriz energética boa, porque a energia elétrica é
gerada por meio de hidroeletricidade. Mas as outras energias renováveis, que são as
energias dos ventos, a captação direta da energia solar, tanto para calor quanto para
eletricidade, ou a essência energética, que são praticamente desconsideradas do
planejamento governamental... A fixação de metas evidentemente mudaria essas
prioridades.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
Para quase metade da amostra, o Brasil é sem dúvida alguma uma potência ambiental, e sua grande
contribuição é exercer uma boa gestão da floresta amazônica:
228
“O desmatamento não gera riqueza, o desmatamento destrói as bases culturais da região.
Já tem desmatamento demais.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, A.V., 42,
AGRÔNOMO)
16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
Ações individuais com ações estruturais
A quase totalidade dos entrevistados (25) acredita que os indivíduos fazem diferença e que o seu
engajamento nas questões climáticas é importante.
Sugeriram que mudanças de comportamento e nos hábitos de consumo, maior responsabilidade na
escolha de candidatos e cobrança da presença dos órgãos públicos nas questões ambientais são
atitudes individuais importantes, seja para fazer avançar a mudança de cultura, seja para promover o
novo pacto necessário para o desafio global das mudanças climáticas.
Um dos entrevistados lembrou que é um perigo ficar apenas na visão macro dos problemas. Quem
se ocupa da dimensão micro?
“É o começo, é como eu digo, tudo começa na família: é a célula mínima da sociedade;
sem mudar a família você não muda uma sociedade por cima; você muda uma sociedade
através da sua menor célula . Eu acho que sim, que as ações individuais podem ajudar
muito.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, B.B.Jr, 50, ENG. CIVIL)
“Quem convence o vizinho, o sindicato dele? O indivíduo é um elemento importante, não
somente na reforma de si mesmo, quando ele então funciona como um exemplo, mas
normalmente o indivíduo age no seu entorno. (...) eu acho que a história do
comportamento individual influencia no comportamento corporativo e depois no
comportamento público. As coisas estão interligadas. O desafio do indivíduo é acelerar
esse comportamento pró-ativo, responsável.” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO,
A.V., 42, AGRÔNOMO)
Rever hábitos de consumo, preferir o produto que tenha o selo verde, diminuir o uso do ar
condicionado, diminuir o uso do plástico e usar carro movido a biocombustível são algumas das
contribuições individuais mencionadas pelos entrevistados para a mitigação dos efeitos das
mudanças climáticas.
Eles destacaram, entretanto, que educação formal e ambiental é condição imperativa para que o
individuo consiga agir em seu benefício próprio e em benefício da sociedade que o abriga:
“Eu acho que ajuda, porém a magnitude do problema é tamanha que é preciso um
engajamento forte dos governos. Só as atitudes individuais eu acho que acaba sendo meio
inócuo. É importante essa posição individual, mas acho que é preciso programas especiais
dos governos, muita educação ambiental, muita formação direcionada à redução do
consumo, das emissões.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, S.T.C., 60, ENG. QUÍMICA)
Tivemos um único entrevistado, renomado cientista, que afirmou não acreditar em ações individuais
como forma eficiente de mitigar as emissões:
O que é preciso são medidas estruturais. Ações individuais só funcionam em época de
crise. Em 2001, quando houve uma falta de energia, a população se mobilizou e tomou
providências, né?
É como o cristianismo, levou 300 anos para implantar... Quer dizer, você quer mudar as
pessoas por dentro, né? Demora.
229
Eu acho que certamente não é uma estratégia. Seguramente, não vai dar tempo. Estamos
enfrentando um problema cuja escala de tempo é a de uma vida humana: 40, 50 anos e
conquistar, reformar as pessoas por dentro para que elas não comam tanta carne, não
tenham tantos automóveis etc., vai levar mais tempo do que isso.” (CIENTÍFICO,
ENERGIA, J.G., 80, FÍSICO NUCLEAR)
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
Ações e atividades que mais contribuem para emissões
Para os nossos cientistas, são o “consumo exacerbado de bens e serviços” e “a queima de
combustíveis fósseis” os responsáveis pelo agravamento do fenômeno das mudanças climáticas.
Ambos os fatores estão disseminados por todas as atividades e são inerentes ao modelo atual de
desenvolvimento adotado pela maioria dos países do Ocidente: dois terços da nossa amostra
mencionaram esses fatores.
Entre as atividades econômicas, as emissões oriundas da atividade industrial e dos transportes são
as principais para os cientistas ouvidos:
“Aí é uma questão de teste. Temos um inventário das emissões de efeito de gás estufa que
é publicado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e efetivamente é o transporte e o
setor industrial. (...)” (CIENTÍFICO, ENERGIA, C.B., 55, ENG. ELÉTRICO)
“Seria a atividade industrial, que lança mais gases, principalmente a indústria
automobilística.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, J.U.D., 51, ENG. NUCLEAR)
Em terceiro lugar, o agronegócio:
“Eu acho que o Brasil por ser um país ainda muito ligado ao setor primário. Eu diria ser
a atividade agrícola, a agropecuária, porque a agropecuária no nosso caso tem um peso
muito grande...” (CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 41, GEOGRAFA)
“Infelizmente a minha querida agricultura vai estar nessa aí. Como atividade produtiva
ela fica no olho do furacão...” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, G.D., 64, ECONOMISTA)
O desmatamento e as queimadas apareceram em quarto, mencionados por quatro entrevistados. De
acordo com um deles, isso se deve ao fato de que conter o desmatamento é uma questão de política
e fiscalização. Já a matriz energética industrial e de transportes exige ações estruturais de alto custo.
Um dos entrevistados, renomada consultora do governo na área climática, questiona a imagem de
que a floresta é a vilã das emissões:
“Há um erro aí muito comum, inclusive na literatura leiga, que diz que desflorestamento
nos trópicos é responsável por 20 ou 30% das emissões. Não é. É 9%. É 9%. E não estou
dizendo que é muito ou que é pouco. É 9. É 9 e não 20%.
Porque historicamente, esses números não foram levantados de uma forma objetiva.
Foram levantados pelas estatísticas aí, mantidas pelos governos dos paises tropicais. E
essas estatísticas são de má qualidade.
É uma questão de metodologia: o pessoal mistura a pesquisa de campo em áreas onde tem
floresta, cujo caso você teria talvez 80, 90 toneladas de carbono por hectare, com mato
mais ralo, uma savana, onde talvez você tenha 10 ou 20 toneladas de carbono por hectare.
E aí você pega a área de expansão da agricultura e multiplica pela quantidade de carbono
230
por hectare das florestas, aí o número dá errado.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, S.T.C., 60,
ENG. QUÍMICA)
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
É possível compatibilizar desenvolvimento e responsabilidade climática
Embora tenham apontado, em outros momentos da pesquisa, o “modelo” de desenvolvimento como
estruturalmente condenado, por induzir ao consumo exarcebado e ser ainda totalmente ancorado na
queima de combustíveis fósseis, quando perguntados se é possível compatibilizar metas de
desenvolvimento com metas de redução climática, 21 deles disseram responderam que sim, o que
nos pareceu surpreendente.
Ainda que algumas ressalvas tenham sido feitas por parte de uns poucos, como a de que é “difícil,
mas possível”, ou “não sei responder”, fica a certeza de que, para os cientistas ouvidos, é possível
promover simultaneamente o desenvolvimento e a sustentabilidade.
Examinemos as declarações. A primeira delas alude a uma “profissão de fé”, acreditar que o
equilíbrio entre desenvolver e preservar é possível:
“Essa é a nossa profissão de fé: buscar o equilíbrio [entre desenvolvimento e preservação]
é dizer ‘olha eu tenho que trabalhar, eu tenho que explorar as minhas riquezas minerais,
porque tenho que sobreviver ou vou morrer de fome’. É esse equilíbrio que a gente tem
que tentar buscar, esse é o grande desafio, a grande responsabilidade da gente. Não pode
parar o desenvolvimento, a gente quer continuar comendo, a gente tem que continuar
crescendo mas não pode destruir. Temos que buscar o equilíbrio. Exatamente como, não
há respostas satisfatórias em nenhum lugar do mundo ainda. Mas e daí? Quando a
revolução industrial começou na Inglaterra, ninguém sabia também no que ia dar. Cem
anos depois, toda a Europa já era industrializada.” (CIENTÍFICO, ECONOMIA, B.B.Jr.,
50, ENG. CIVIL)
Uma cientista menciona um instrumento concreto, o zoneamento econômico-ecológico, sugerindo
que a partir de um correto ordenamento territorial é possível promover o desenvolvimento na
Amazônia:
“Acabamos de concluir um relatório enorme sobre o zoneamento ecológico-econômico da
BR163 (Amazônia). Pensar o território com uma área de intensa produção de gado, de
agronegócio nem tanto, não é muito nessa área, a não ser mais para cima, em Santarém,
onde há terra, mas é uma área de exploração madeireira, exploração mineral. Então,
pensar um programa de desenvolvimento sustentável que respeite um ordenamento
territorial, que priorize o aproveitamento das áreas, que verticalize a produção, o uso
desses recursos como, por exemplo, a madeira, derivados da pecuária, a cadeia leiteira.
Então, desenvolver a economia, gerar empregos, gerar pequenos empreendimentos,
médios empreendimentos, é possível, dentro de uma perspectiva de sustentabilidade.”
(CIENTÍFICO, DES. SOCIOECONÔMICO, E.R.C., 55, CIENTISTA SOCIAL)
Conter o desmatamento da Amazônia não impediria o crescimento econômico da região, visto que o
desmatamento não contribui para desenvolvimento. Afirmar que o controle das emissões prejudica
o nosso desenvolvimento é uma “falácia”:
“É uma falácia você dizer que o controle de emissões no Brasil prejudica o
desenvolvimento. Faça-me o favor! Na pátria dos biocombustíveis renováveis isto não é
231
verdade. Pelo menos nesse setor de energia isso não é verdade. A produção de
biocombustíveis renováveis – seja etanol, biodiesel, carvão vegetal renováveis, ou seja, de
eucalipto plantado, tudo isso em áreas sem desmatar a Amazônia - isso é ótimo para o
Brasil e totalmente possível. Gera emprego em lugares onde não há emprego.
O pessoal planta eucalipto no vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, uma das
áreas mais pobres do Brasil. E ela é pobre não por acaso. Ela é pobre porque não dá nada
lá. Só dá pedra no chão. No sertão, você consegue plantar eucalipto lá. Você gera
emprego. O pessoal há séculos não tem emprego. O solo é ruim. O clima é ruim. Falta
água. Falta tudo, né? Então você gera emprego, quer dizer, é bom socialmente.
Não é emprego aqui na Avenida Paulista. Você gera emprego onde precisa. Lá nos
rincões, no grande sertão, como diria o Guimarães Rosa. É bom para combater a pobreza.
Eu vejo que não há nenhum problema de compatibilização entre desenvolvimento e gestão
ambiental responsável.” (CIENTÍFICO, ENERGIA, S.T.C., 60, ENG. QUÍMICA)
Os entrevistados sugerem diversas formas de como fazer essa compatibilização, e todas elas passam
pela sustentabilidade: “não há outra escolha”. Mas lembram que certas decisões “tomadas no
passado”, tais como adotar o modelo rodoviarista, precisam ser revistas:
“Claro, claro que dá. O Ministério da Agricultura inclusive tem discutido isso... E é
perfeitamente possível, resgatando outras políticas de desenvolvimento que foram feitas no
passado, resgatando melhoria para o homem do campo, para incentivar a produção
agrícola. Pode ter uma produção agrícola mais limpa, a própria pecuária, tudo isso está
sendo discutido. Agora, não é um setor apenas. Em 1956 o Brasil tomou uma decisão de
que o transporte seria rodoviário, encheram o país de estrada. Ótimo, foi muito bom, o
país cresceu e abandonamos as ferrovias. Hoje nós estamos percebendo que precisamos
de ferrovias.” (CIENTÍFICO, AGRONEGÓCIO, E.A., 50, HIDRÓLOGO)
Os cientistas entrevistados defendem que o Brasil é o país que tem mais condições de gerir um
desenvolvimento sustentável, pois tem um grande território com diversidade de recursos naturais,
além de uma economia estável.
Por fim, acreditam que a Amazônia é uma importante peça no jogo do desenvolvimento. Conservála é diferente de preservá-la:
“Preservação seria uma conservação mais antiga, que prega uma linha de ação que
deseja ver a Amazônia como um santuário, um lugar onde nada é permitido. Isso está
superado: conservação já é coisa mais dinâmica. Você pode interferir, vai ter áreas, por
exemplo, em algumas unidades de conservação de uso absolutamente restrito ou não, e
outras em que você vai ter atividade. Você vai ter um mosaico de coisas, é uma coisa
moderna com um pensamento muito mais moderno, muito mais dinâmico. Você pode
interferir. Acho que acabou aquela coisa romântica [de que] a natureza é bonitinha
quando você está na cidade, mas quando está no mato você quer ter energia, água, todo o
conforto.” (CIENTÍFICO- USO DO SOLO, O.C.J., 43, ENG. AMBIENTAL)
A Amazônia contém imensas riquezas, não só florestais, mas também minerais. Sua biodiversidade
é ainda pouco conhecida e pouco explorada:
“Não tem saída para a Amazônia sem o mercado, sem a economia, sem o desenvolvimento.
Não é qualquer mercado, não é qualquer desenvolvimento, mas a região precisa de geração
de emprego e renda; então, sem uma economia de mercado vigorosa, que valorize as
florestas, os ativos da natureza, que a gente está discutindo agora, serviços ambientais,
produtos da floresta com alto valor agregado, não tem saída para a Amazônia. Não tem
saída para a Amazônia que não passe por um desenvolvimento rigoroso com base na
232
floresta, e não tratando a floresta como
SOCIOECONÔMICO, A.V., 42, AGRÔNOMO)
inimiga.”
(CIENTÍFICO,
DES.
“A vocação da Amazônia, é uma vocação florestal. É o lugar para ter árvores. Então,
teria que ter uma economia baseada em árvores, produzir madeira de maneira racional,
de uma maneira correta, e isso geraria muita riqueza para o país. Madeira está valendo
ouro.
Ao mesmo tempo, se tem uma biodiversidade imensa na Amazônia, teria que ter excelentes
centros de aproveitamento da biodiversidade, biotecnologia baseada em recursos
naturais, especialmente em plantas. Nós exploramos pouquíssimo disso até hoje. Ou seja,
não ficaríamos na miséria por manter a floresta em pé. Talvez ao contrário, ganharíamos
muito como ganham os países da Escandinávia, que têm 70%, 80% do seu território
coberto de florestas que eles plantaram e estão entre os maiores exportadores de madeira
do mundo, e estão entre os países que têm o maior nível de vida do mundo. Portanto,
floresta não é sinônimo de pobreza. Se for bem usada, bem explorada, pode exatamente
ser o contrário.” (CIENTÍFICO, USO DO SOLO, F.J.L., 58, CIENT. FLORESTAL)
Para os nossos cientistas, até mesmo biodiesel pode ser produzido na Amazônia:
“Na Amazônia você tem muitas folhas oleaginosas, e estas podem ser exploradas para
produzir óleos vegetais, que podem ser transformados em biodiesel. Com isso, [é possível]
diminuir o uso de óleo diesel, óleo combustível, derivados do petróleo que emitem gases
no efeito estufa, certo?
Não é que usando biomassa você não vai emitir CO2: você emite. A questão é que você
considera essa emissão como nula na medida em que a biomassa absorve, na fase de
crescimento, essa mesma quantidade de CO2...
Bom, na Amazônia, concretamente, você tem cerca de 70 milhões de hectares já
desmatados ao longo de muito tempo e por diferentes atividades econômicas. Essas
regiões podem ser reflorestadas com espécies nativas da Amazônia, mas aí você tem que
ter um estudo maior, um conhecimento técnico mais preciso. Uma espécie que não é
amazônica, mas que se adapta muito bem às condições da Amazônia é o dendê, que pode
servir como espécie para reflorestamento, mas a lei atualmente não permite, sendo ela não
amazônica. Mas isso pode ser visto, de forma que essa área toda possa ser reflorestada e,
com isso, captar mais CO2, e com o óleo de dendê fazer biodiesel, usar energeticamente,
evitando consumir derivados do petróleo. Ou seja, soluções existem, é preciso pensar em
opções que aproveitem as características florestais da região.
A Embrapa estima que 1 milhão de hectares são queimados, desmatados anualmente por
causa dessa agricultura primitiva. São pequenos espaços mas, se somados, são uma grande
coisa, né? E se você for ver o modo de vida deles, ver o que é essa atividade, a queimada
para a plantação de mandioca, para a produção de farinha, o que isso muda na vida deles?
Então, essas plantações de floresta visando exploração de óleo e outros produtos da floresta
dariam empregos e poderiam evitar esse tipo de queimadas.” (CIENTÍFICO, ENERGIA,
O.C.S., 48, GEÓLOGO)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor científico foi o que mais revelou domínio sobre as causas e conseqüências das mudanças
climáticas. Mostrou-se também o mais bem informado sobre como o Brasil vem conduzindo a
questão nos diversos fóruns nacionais e internacionais.
233
Para o setor, as evidências apontadas pelos últimos relatórios divulgados já fornecem uma base
suficiente para que o governo e os demais tomadores de decisão dos setores público e privado
formulem políticas de redução das emissões.
Quanto à questão da “certeza científica”, os entrevistados insistem que “há base científica”
consistente sobre a qual agir; no entanto, frisam que a ciência precisa de liberdade e que é próprio
do meio científico buscar novas teorias, refutar teses e buscar a precisão que ainda não se tem em
vários conteúdos.
O importante é não usar a tese da “controvérsia científica” (que sempre haverá no meio acadêmico)
como álibi para a negligência e a inação nesse momento em que há tanto em jogo, talvez a
sobrevivência da própria espécie humana.
Para o segmento científico brasileiro, o Brasil tem território, recursos de biodiversidade e economia
capazes de sustentar um novo modelo de desenvolvimento. Tem, além disso, base tecnológica
avançada nas questões da sustentabilidade e poderá melhorá-la ainda mais, desde que seja
formulada uma política nacional do clima que oriente os investimentos em ciência e tecnologia.
Em geral, os cientistas mostram-se entusiasmados com a possibilidade de que o Brasil se torne um
grande produtor de energias limpas. Além disso, para eles, a Amazônia é simultaneamente nosso
problema e nossa solução: ela é “o ouro verde do Brasil”.
234
PERFIL DO SETOR
Mais de dois terços da amostra do setor científico são coordenadores, chefes de pesquisa,
professores e pesquisadores. Outros entrevistados ocupam cargos de diretoria, presidência, reitoria
ou secretaria executiva.
Cargo
Cargo
Freq.
Coordenador
6
Chefe de pesquisa
6
Professor
5
Pesquisador
5
Diretor
3
Presidente
3
Reitor
1
Secretário executivo
1
Total
30
Dos 30 entrevistados, a predominância foi de homens (26).
Sexo
M
F
TOTAL
26
4
30
A faixa etária predominante é entre 51 e 60 anos, com 14 entrevistados, seguida da faixa entre 41 e
50, com 10 entrevistados. Nota-se, portanto, que a grande maioria dos entrevistados concentra-se na
faixa etária entre os 41 e 60 anos.
Faixa etária
41-50
10
51-60
61-70
Acima de 71
Não respondeu
TOTAL
14
4
1
1
30
Um terço dos entrevistados dessa amostra são naturais da região Sudeste. A segunda região mais
representada é a Nordeste, com 7 entrevistados. A região Norte vem em seguida, com 6
entrevistados, e a região Sul com 4. A amostra ainda incluiu 2 entrevistados estrangeiros.
Naturalidade
PA
SP
8
5
PE
RS
PB
MG
AM
PR
RJ
SC
N/R
Ext.
TOTAL
5
2
2
1
1
1
1
1
1
2
30
O grau de escolaridade é altíssimo entre os entrevistados, sendo 18 doutores, 5 pós-graduados, 4
graduados e 3 doutores:
235
Escolaridade
Doutorado
18
Pós
Graduado
Pós Doutorado
Total
5
4
3
30
Os entrevistados deste setor são formados em profissões diversas. As profissões mais representadas
são engenharia (9), biologia (5), física (4), ecologia (3) e economia (3). Os demais entrevistados se
dividem em outras áreas de especialidade, como mostra a tabela abaixo:
Formação
Formação
Freq.
Engenharia
9
Biologia
5
Física
4
Ecologia
3
Economia
3
Medicina
2
Geologia
1
Sociologia
1
Direito
1
História
1
Total
30
236
GOVERNO
RESUMO
Para a análise do setor governamental, contemplamos gestores e técnicos das esferas federal e
estadual, situados, em geral, no chamado alto escalão, isto é, nos cargos e posições onde estão os
tomadores de decisão, os formuladores e os executores de políticas públicas.
No conjunto das entrevistas, percebe-se um alto nível de conhecimento sobre as questões
ambientais e de sustentabilidade. Por outro lado, não é possível afirmar que o domínio do tema das
mudanças climáticas seja uma regra.
Contudo, independentemente do grau de conhecimento, todos manifestaram preocupação pessoal
com o tema proposto. E o setor como um todo demonstra estar num movimento crescente de busca
por maior compreensão e de envolvimento na elaboração de políticas, programas e projetos
relacionados direta ou indiretamente ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Os entrevistados evitaram adotar uma visão catastrofista e acreditam fortemente na possibilidade de
reversão do fenômeno através de medidas de prevenção e mitigação. Sabem que cabe ao setor o
protagonismo e estão convictos de que a esfera governamental é a instância que deve ter o papel de
liderar, em nível nacional, uma grande articulação que vise colocar o país em um esforço mais
significativo no enfrentamento da questão.
A pauta desse setor, no que tange às questões relacionadas às mudanças climáticas, é extensa e
complexa: abrange desde a discussão sobre modelos de produção e consumo, regulação e legislação,
até propostas de como promover o desenvolvimento de novas tecnologias capazes de responder aos
desafios. Esses assuntos são, naturalmente, parte das discussões em torno da Amazônia, da nossa
matriz energética, da agricultura sustentável e dos biocombustíveis.
“O governo está em tudo” no Brasil, segundo um deles. E, “se não está, o povo não leva a
sério”.
A posição brasileira nas rodadas de negociação internacional e o tema da governança são
fundamentais para o setor, que participa ativamente de cada impasse, de cada avanço obtido nos
encontros no âmbito da Convenção do Clima, que ocorrem de dois em dois anos.
Eles sabem que o tema tem uma ressonância interna e externa e que, a despeito de ser global, o
enfrentamento das mudanças climáticas passa por clivagens muito diferentes nos diversos países. O
fato de o Brasil “estar na lista dos 10 maiores emissores”, na quarta posição, por conta das
queimadas na Amazônia, é desconfortável.
Esses representantes do governo brasileiro, em qualquer das áreas abordadas – energia, economia,
uso do solo, agronegócios e desenvolvimento socioeconômico – reconhecem a importância crucial
do problema das mudanças climáticas e acenam com um leque amplo de propostas para
diminuirmos nossas emissões.
Surpreendentemente, os gestores e técnicos ouvidos têm uma postura aberta, pouco estadista,
associando muitas das soluções ao ingresso das forças de mercado.
Para os entrevistados, as questões climáticas e sociais são os maiores desafios da humanidade. Entre
as questões sociais, destacaram a pobreza e a falta de eqüidade. Entre os desafios ambientais, a
questão mais citada foi a dos recursos hídricos e, em segundo lugar, o “aquecimento global”.
237
Entre os desafios especificamente brasileiros, os mais significativos, para o setor, são de ordem
social, e combater a desigualdade seria uma “prioridade máxima”. Entre as questões ambientais,
nossos maiores desafios são evitar o desmatamento, cuidar da água e poupar os solos.
Outro desafio mencionado diz respeito à matriz energética. Para o setor, há uma demanda crescente
por energia, e o governo vai ceder à pressão. O setor considera que será bastante difícil não sujar a
matriz. Os licenciamentos recentes de termoelétricas e os novos campos de petróleo descobertos
pela Petrobras colocam à disposição uma energia barata, “a não ser que as emissões sejam taxadas”.
Mas, para os nossos entrevistados, uma política nacional de taxação só virá depois de muita “queda
de braço entre o executivo e o Congresso”.
Para os entrevistados, o maior desafio “de longo prazo”, para além dos 20 anos que a pesquisa
colocou como horizonte, é trilhar os caminhos para chegar ao desenvolvimento sustentável, ou seja,
promover o desenvolvimento ancorado na base triangular: social, ambiental e econômica.
A importância das mudanças climáticas para o setor governamental é evidente: são eles os
negociadores nos fóruns internacionais, e são também eles os formuladores das políticas e
programas hoje existentes, embrionários em sua maioria, como admitem.
As maiores barreiras identificadas para enfrentar as mudanças climáticas são econômicas: a
insegurança suscitada por um tema novo, ainda em estudo, acaba afastando possíveis investimentos.
“Os negócios dependem das políticas, e ainda não temos políticas maduras, consistentes”, observa
um técnico do Ministério de Ciência e Tecnologia, e que expressa bem a opinião do setor. Em
outras palavras, faltam diretrizes que possam orientar investimentos de longo prazo.
Os entrevistados citaram vários projetos já implantados, que levam em consideração a redução das
emissões: PRONAF, PROINFA, PROCEL, o plantio direto, o programa de reflorestamento Plantar,
o programa brasileiro de biodiesel e, mais recentemente, o programa Territórios da Cidadania, do
governo federal.
Outros projetos estão a caminho, “é só uma questão de tempo, de amadurecimento”. Acreditam que
em breve o governo dará melhor formulação à proposta do desmatamento evitado e reduzirá tarifas
para a biomassa do bagaço de cana, além de ampliar o crédito para a produção de biocombustíveis
na agricultura familiar.
O setor governamental está plenamente consciente de que cabe ao governo o protagonismo no
esforço nacional para a redução das emissões. Ressaltaram também a importância do empresariado:
“Nós fomentamos, mas os empresários é que sabem do negócio.”
Segundo eles, para engajar a sociedade é necessário conscientizar a mídia de seu papel, diminuir o
tom catastrófico “que não constrói” e incorporar nas grades curriculares as questões climáticas
como tema central da sustentabilidade.
A ação individual é muito importante, segundo os entrevistados, como promotora de uma nova
consciência e como incubadora de movimentos sociais mais amplos.
O setor acompanha as discussões internacionais e foi, entre todos, o que mais positivamente avaliou
a Conferência de Bali. Acreditam que os Estados Unidos mudaram de postura e ressaltam a
liderança européia em programas de redução. Para eles, o Brasil dará sua contribuição e 2009 será
um ano decisivo para a agenda do clima.
A proposta de desmatamento evitado é conhecida em detalhe somente pelos entrevistados que lidam
diretamente com o assunto das mudanças climáticas no seu dia-a-dia. De modo geral é apreciada,
mas os entrevistados reconhecem que requer ajustes, por apresentar muitas ambigüidades quanto
aos seus objetivos.
238
A principal responsabilidade atribuída ao Brasil pelo setor no que tange às mudanças climáticas é a
redução do desmatamento. Urge uma tomada de posição mais dura e inibidora desta prática por
parte do governo. Além da Amazônia, devemos cuidar do nosso modelo de transportes e da nossa
matriz energética.
Ao discorrer sobre o cenário futuro, consideraram que o Brasil tem muitas vantagens comparativas:
a matriz energética predominantemente limpa, à base de recursos hídricos, a larga difusão dos
veículos flex e o alto desenvolvimento em pesquisa de energias alternativas, como biodiesel, etanol
e biomassa. E temos ainda território, de modo que podemos expandir nossa fronteira agrícola sem
ameaçar a floresta, que tem um valor incalculável. A Amazônia é o nosso “ouro verde”, vaticinou
um importante gestor da área de recursos hídricos.
O setor governamental revelou-se um dos mais otimistas. “Recursos nós temos”, o que estamos
precisando é de um “choque de gestão”.
239
ANÁLISE DETALHADA
1. QUANDO OUVIRAM FALAR EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS PELA PRIMEIRA VEZ
Tema surgiu no Brasil com “cidades sustentáveis”, mas Rio-92 o colocou na agenda
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez?
Antes da década de 80
Na década de 80 Na década de 90 De 2000 para cá
3
5
12
3
Não respondeu
TOTAL
7
30
Quase um terço dos entrevistados afirmaram ter ouvido falar no problema do clima pela primeira
vez na década de 80 ou antes. O debate ainda não tinha a configuração atual, mas já se falava no
esquentamento do planeta e nos “gases estufa”. Essa entrada se deu via discussão do “ar nas
cidades”, e o contexto era “cidades sustentáveis”, com mais urbanistas preocupados com a
qualidade do ar do que ambientalistas ou líderes mundiais.
Mas o tema só entrou na pauta dos gestores e técnicos governamentais, ocupados com questões
ambientais ou de sustentabilidade, a partir da Rio-92, quando a Convenção do Clima criou uma
agenda de discussão. E foi a partir daí, com todo o histórico de tentativas de fazer os Estados
Unidos aderirem ao Protocolo de Kyoto, que o “problema das emissões” passou a freqüentar as
agendas do setor. No Brasil, afirma uma técnica da secretaria de Estado do Rio de Janeiro, que já
ocupou alto cargo no Ministério do Meio Ambiente: “o tema só esquentou nos anos 90”. Segundo
um técnico do Ministério de Ciência e Tecnologia que virou, no Brasil, o ponto focal da
Convenção, “só entramos mesmo no problema quando tivemos que realizar o primeiro inventário
de emissões, isso foi em 1994”:
As falas a seguir recuperam esse “encontro com o tema” nas décadas de 80 e 90:
“Na década de 80, eu era servidor federal na prefeitura municipal de Porto Alegre e a
gente já trabalhava muito com a idéia de uma cidade sustentável. Nós começamos, então,
um tipo de experiência com coleta de lixo, separação de lixo, ainda na década de 80,
exatamente quando começaram os seminários preparatórios à Rio92. Foi ali que começou
a preocupação com os impactos das emissões, das incineradoras e os gases do efeito
estufa... Ali começou o debate sobre a não adoção de políticas que poderiam ter impacto
não só no local, mas, como elas contribuem, somando-se a várias outras iniciativas, com
efeitos positivos ou perversos (...), para o conjunto do clima.” (GOVERNAMENTAL,
AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
“Desde 1992 que se discute. No caso era ainda efeito estufa. Basicamente se começou na
época do Eco-92. Antes disso já se discutia também, mas eram discussões sobre microclima, sobre cidades como México, São Paulo, que precisavam fazer monitoramento do ar.
Então, era uma coisa mais restrita, mais especializada, enfim, desde os tempos de estudos
sobre urbanismo, como a transformação do espaço urbano contribuía para as mudanças
do clima, da temperatura, enfim, isso é conhecido há muito tempo, mas não com a
dimensão atual, acho que o primeiro divisor de águas foi a ECO.” (GOVERNAMENTAL,
DES. SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
“Foi na Câmara dos Deputados, em um seminário, na década de 90, antes disso quando
fiz mestrado, aí li alguns textos a respeito, apesar de não ser minha área de especialidade,
mas foi a primeira vez em que ouvi sobre o Protocolo de Kyoto, efeito estufa, entre 95 e
99.” (GOVERNAMENTAL,USO DO SOLO, C.S., 35, ECONOMISTA)
240
“Eu entro nessa discussão pelo setor energético. Em 94, com o compromisso do Brasil de
preparar o inventário, o primeiro inventário.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, J.M.,
60, AGRÔNOMO)
Pelos depoimentos de nossos entrevistados, verificamos que a problemática viveu três diferentes
momentos: na década de 1980, marcado por um aparecimento precoce, ligado à agenda das cidades;
na década de 90, já no contexto das discussões do clima; e em 2007 com a ressonância na mídia
global do relatório Stern.
Mas para um dos nossos entrevistados, o fenômeno El Niño colocou pela primeira vez o tema na
mídia, explorando a possibilidade de catástrofes iminentes:
“No Brasil, enquanto fenômeno, ele apareceu com o surgimento na imprensa dos artigos
sobre El Niño e La Niña, e foi bastante objetivo na abordagem, mostrando como a
mudança do clima estava tornando esses fenômenos cíclicos cada vez mais severos e
imprevisíveis. E a tradução disso, em uma mudança na expectativa de produção agrícola,
na expectativa de segurança mesmo das populações e isso foi bastante trabalhado,
traduzido na nossa realidade, e isso há mais de dez anos. (...)
O que acho novidade no processo atual é o enfoque na questão das emissões, dos efeitos,
de uma forma mais iminente, produzindo efeitos diretos muito de curto prazo, embora eu
considere que esse é um dos aspectos que, no senso comum, estão sendo mal
compreendidos. Eu acho que o senso comum tem traduzido isso como iminência de uma
catástrofe.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA,M.C., 50, ADMINISTRADORA)
2. NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE O TEMA
Técnicos e gestores alegam ter bom conhecimento e sentir-se altamente motivados a aprender
mais
Seu conhecimento sobre mudanças climáticas é:
Bastante abrangente
Bom, mas incompleto.
Está explorando e
aprendendo mais
10
12
8
Mais de dois terços dos amostrados (22 entrevistados) declararam ter conhecimento “bastante
abrangente” ou “bom, mas incompleto” sobre mudanças climáticas. Oito outros posicionaram-se
como “procurando aprender mais”.
“Meu conhecimento eu acho que é o suficiente para perceber que o assunto é sério,
absolutamente grave e urgente e que todos os setores têm que fazer algo.”
(GOVERNAMENTAL, ENERGIA, H.L., 69, ENG. ELÉTRICO)
“Bom mas incompleto. É Claro! Eu acompanho, mas eu não sou um técnico da área.”
(GOVERNO, AGRONEGÓCIO, W.G.R., 65, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E
ECONOMISTA)
“Eu diria que o meio científico ainda está no meio do processo de construção, de
informações, indicadores, modelos de simulação de alterações climáticas, que ainda não
são capazes de nos dar certezas das mudanças ou principalmente sobre a escala das
mudanças ou a escala dos efeitos. Portanto, eu acho que esse é um tema que teremos
241
inevitavelmente que continuar muito a estudar, muito a continuar pesquisando e muito a
aprender.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, W.G. O, 40, GEÓLOGO)
“Eu acho que estou estudando e aprendendo mais, mas eu ainda tenho muito para
aprender.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, M.V.F.B., 53, ADMINISTRADOR
DE EMPERSAS)
3. GRAU DE MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MAIS SOBRE A TEMÁTICA DO CLIMA
Governantes têm alta motivação para aprender sobre o tema
Como se sente em relação ao tema:
Motivado, mas tem outros
Altamente motivado
assuntos mais importantes
21
Não opinou
TOTAL
2
30
8
Em sua maioria, os entrevistados declararam sentir-se “altamente motivados” a compreender ou
tratar do tema das mudanças climáticas. Nenhum deles se declarou desinteressado, mas oito
disseram estar envolvidos com outros temas “mais importantes no momento”.
“Altamente motivado, até por obrigação de ofício.” (GOVERNAMENTAL, USO DO
SOLO, W.G.R., 40, GEÓLOGO)
“Altamente motivada, não tenho outra palavra, até pela própria característica da função
que eu exerço.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, T.K., 56, MATEMÁTICA)
“Eu acho que eu sou o primeiro, porque eu vivo disso, eu vivo de agricultura; vamos
dizer, dentro das limitações de tempo, eu sou muito interessado no assunto e estou numa
função, hoje, de tomador de decisões ligadas a esse tema, e eu não perco oportunidades
para evoluir nisso.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, M.V.F.B., 53 ,
ADMINISTRADOR DE EMPERSAS)
O tema agrada mesmo aqueles que não lidam diretamente com o assunto
“Eu tenho outros temas mais importantes, mas considero esse um dos mais importantes
que existem. Eu não sou assim um ambientalista no sentido de cuidar disso
profissionalmente. Cuido profissionalmente de outras coisas, mas considero isso uma
questão chave, uma questão fundamental.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, H.L., 69,
ENG. ELÉTRICO)
4. MAIOR DESAFIO DA HUMANIDADE PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
As mudanças climáticas e as questões sociais
Qual o maior desafio que a humanidade enfrentará nos próximos 20 anos?
Questões
Sociais
Mudanças
climáticas
Questões
ambientais
Desenvolviment
o Sustentável
Energia
TOTAL
7
7
7
6
3
30
242
Tanto as mudanças climáticas como as questões sociais foram citadas por 7 entrevistados como
maior desafio da humanidade. Como questões sociais, a desigualdade é a mais citada, além da fome
e da pobreza. As questões ambientais como água, desmatamento e recursos naturais vêm em
terceiro lugar. As soluções propostas giram em torno da busca da sustentabilidade e da mudança
dos padrões de consumo e modelo de desenvolvimento.
O aquecimento global altera a importância da dimensão histórica da humanidade
“A conseqüência disso, na forma mais radical do problema, são as mudanças climáticas...
E as respostas, as soluções para evitar isso, não estão acontecendo nem na velocidade,
nem na intensidade com que o tema se coloca. Então, é um momento crítico nesse sentido.
Porém, é uma grande oportunidade, porque finalmente a questão ambiental não se coloca
mais numa situação onde ela deveria ser enfrentada. Ela deverá ser enfrentada. Está claro
que se eu não enfrentar isso, eu não tenho solução. Então, embora essa ficha não tenha
caído ainda para todo mundo, ela está caindo a cada dia que passa.”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C., 51, BIÓLOGO)
Interlocução, diálogo e consenso para combater desigualdades
O problema da eqüidade, do acesso à alimentação e da fome figuraram entres os desafios mais
críticos para a humanidade.
“Incluir os que não estão incluídos, os pobres no Brasil, na América Latina, eles são
muitos, estão no campo, então o grande desafio é dar mais equidade, tratamento que
inclua essas pessoas e inclua em todos os sentidos: eles têm pouco acesso a educação,
pouco acesso aos serviços de saúde, e todos os demais serviços, não é? A grande
dificuldade de desenvolvimento, eu falei de extensão rural, mas aquilo que vem antes, que
é a informação básica, a educação básica, a informação dos agricultores, o trabalho de
apoio de infra-estrutura, de saneamento, de estradas, de comunicação, em grande parte
das comunidades rurais ainda não chegou, e é ali que está concentrada a pobreza, então,
há de fazer um programa de inclusão dos grandes excluídos, esse é o grande desafio.”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, J.G., 57, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
“O grande desafio da humanidade para as próximas gerações é, de um lado, estabelecer
uma situação de interlocução, de diálogo que compreenda, que consiga promover a
tolerância, o respeito, as diferenças, e ao mesmo tempo combater as desigualdades e a
inclusão, que eu acho que são as questões que marcam nosso planeta e a humanidade do
ponto de vista histórico nesse período.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA,M.C., 50,
ADMINISTRADORA)
Alimentar e educar milhões para uma melhor qualidade de vida futura
“Tentar resolver a questão da alimentação. Eu acho que esse já é de algum tempo. Acho
que nesses próximos 20 anos é claro, sem perder a perspectiva de outro. A questão da
desigualdade, social, no fundo reflete nisso, a questão da educação. Se você não resolve as
suas questões básicas, e a alimentação é questão básica, acho que fica difícil resolver as
outras questões.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, A.G., 52, ENGENHEIRO)
“É você fazer com que a gente tenha uma melhor qualidade de vida, de forma distribuída,
de forma mais justa com toda a sociedade e ao mesmo tempo não prejudicar as gerações
futuras para que elas possam, também, ter a mesma qualidade de vida. Ou melhor, se
Deus quiser, essa é a grande meta, é você conseguir distribuir condições de vida, de forma
justa e que isso não prejudique as gerações futuras e faça com que elas tenham, na
verdade, condições de cada vez evoluir mais, socialmente, culturalmente e assim por
243
diante, economicamente.”
ECONOMISTA)
(GOVERNAMENTAL,
USO
DO
SOLO,
C.S.,
35,
Garantir as reservas de água
“Eu acho que a água certamente será um deles. Acho que o desafio da humanidade é
combater a escassez dos elementos naturais, a água talvez seja um dos principais deles,
assim também como a degradação de solo. Estamos falando da questão da poluição, ou
seja, da indisponibilidade de determinados recursos em função dos processos poluidores
da sociedade industrial e da perda de biodiversidade, acho que talvez esse seja um dos
principais fatores a nos afetar, independentemente ou não das mudanças climáticas, acho
até que essas mudanças podem vir adicionalmente a isso, mas o processo de exaurimento,
ele já esta se dando independentemente de qualquer outra novidade.”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
“O problema de aquecimento da terra, do buraco de ozônio, um fator, e um grande que a
gente usa e abusa e não pensa como usar, é a água. A água é um grande problema, e o
país é gratificado com isso, o Brasil, tem muita água. Mas também, é finita. Se a gente não
cuidar daquilo que a gente tem hoje, acaba rapidinho.” (GOVERNAMENTAL, DES.
SOCIOECONÔMICO, J.C., 43, ECONOMISTA)
Sustentabilidade
“Desafio é a sustentabilidade, porque hoje você tem o uso de recursos do planeta muito
acima da sua capacidade de suporte. Isso aí é o caminho da inviabilidade. A sociedade
humana, se continuar nesse caminho, para mim é suicida, porque ela vai tornar a vida no
planeta cada vez mais difícil em função da questão da indisponibilidade de água, da
questão global, da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. E a gente
desenvolveu uma forma de ver que foi estruturada com a idéia de que tudo é inesgotável.
As relações de produção e consumo, como estão estabelecidas, elas não são sustentáveis,
isso aí é uma coisa clara.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, M.B.P., FUNCIONÁRIO
PÚBLICO)
Mudanças no padrão de consumo
“Eu sou otimista quanto ao futuro. Eu acho que o maior desafio não é a gestão dos limites
dos recursos naturais. Estes talvez sejam o sinal pelo qual nos vamos enfrentar o nosso
maior desafio, que é mudar o padrão de consumo. É mais fácil mudar instituições do que
mudar padrões de consumo. É mais fácil recriar modelos de organização social e de
representação social e, portanto, reformatar as instituições, e aqui eu penso muito
fortemente na questão de refundar a democracia, e ainda acho que ainda é o elemento
central dos desafios dos próximos anos. (...)
Se todos quiserem ter um padrão de renda e consumo europeu e americano o mundo não
agüenta. Talvez seja assim que se coloca em questão o problema quando ele emerge no
mundo, na China e nos países grandes, como o Brasil, ao padrão de consumo grande. Aí o
que acontece? Eu diria que a questão, menos que redistribuir, é saber que economia que a
sociedade quer.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57, ENGENHEIRO
AGRÔNOMO)
Questionar o próprio modelo
“Eu acho que a questão climática coloca em xeque o modelo de desenvolvimento, o
modelo de crescimento econômico adotado pela humanidade a partir da Revolução
Industrial, e que chegou num ponto crítico com essa questão do aquecimento global.
244
Quando o tema emergiu nos anos 80, se achava que era maluquice de cientista, mas
agora, nos últimos dois anos, se tem visto que não, que é um problema sério. Agora mesmo
nos EUA, aqueles furacões com força potencializada; aqui no Brasil é muito clara essa
questão das enxurradas, as chuvas fortes, cada vez mais freqüentes, e que são fenômenos
claros, de acordo com os cientistas, do aquecimento global...
Então, isso impacta, como sempre impactou, muito mais fortemente na população pobre,
não é? Quer dizer, quem sofre mesmo com essas enxurradas, com esses transtornos, é
justamente a parcela da população mais carente, que vive na periferia, sem infra-estrutura
adequada.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
5. MAIOR DESAFIO DO BRASIL PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
Desigualdade é o grande desafio brasileiro
Qual o maior desafio que o Brasil enfrentará nos próximos 20 anos?
Questões
Desenvolvimento
Questões
Mudanças
Energia
sociais
Sustentável
Ambientais
climáticas
13
7
4
3
2
Outros
TOTAL
1
30
Um terço dos entrevistados no setor governamental apontaram, como maior desafio para o Brasil,
as questões sociais. As questões ambientais também são importantes e figuram em segundo lugar.
Alguns associam-na ao desafio do Brasil a sustentabilidade.
“(...) é exatamente equilibrar a relação entre o crescimento econômico, não o
desenvolvimento, o crescimento econômico e o desenvolvimento humano. E aí você passa
por todas as linhas de crescimento e desenvolvimento da sociedade, seja na área social,
ambiental, você distribuir a riqueza de forma mais justa, a hora em que você conseguir
quebrar esse eixo, essa espiral que nós temos hoje no Brasil, de o rico cada vez mais rico e
o pobre cada vez mais pobre, a gente consiga um maior equilíbrio e, aí sim, conseguir
pensar em coisas que são necessárias à sociedade moderna, como também a própria
questão de encontrar o equilíbrio do homem no meio que ele vive.”
(GOVERNAMENTAL,USO DO SOLO, C.S., 35, ECONOMISTA)
“Eu acho que o grande desafio brasileiro é reduzir as desigualdades. Acho que a síntese é
essa. Acho que o Brasil é um país com um enorme potencial. Eu particularmente não me
conformo com um país que tem um potencial tão grande quanto o Brasil ainda ter essas
enormes desigualdades sociais, que se refletem nas condições de habitação, de
alimentação, saúde e educação. Acho que o grande desafio brasileiro é construir uma
sociedade menos desigual.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, L.C.P., 65,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
Questões estruturais também foram mencionadas, como educação, segurança e a questão
institucional.
“Eu acho que o povo brasileiro tem um grau de entendimento muito próprio, mas o grande
desafio brasileiro, na minha opinião, é vencer aspectos educacionais e de segurança.”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
“No Brasil, também é o principal, eu acho que no Brasil existe um desafio, que é antigo,
mas que é um desafio de concertação política e é um desafio de nível mundial, porque nós
temos nossas instituições e elas estão atrasadas com relação às necessidades atuais.
Então, isso é um desafio que está ligado ao outro. Talvez esse seja mais importante que as
245
mudanças climáticas, porque isso tem a ver com governança mundial. Essas novas
instituições são muito difíceis de serem realizadas, talvez mais difíceis do que fazer um
plano de mitigação razoável sobre mudanças climáticas. Eu acho que são esses dois os
principais desafios para as próximas décadas.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO,
F.B., 50, ECONOMISTA)
O calcanhar de Aquiles ambiental brasileiro é o desmatamento
O principal desafio ambiental brasileiro é controlar o desmatamento, dado que o Brasil figura entre
os maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa, justamente devido à alteração no uso do
solo. O desmatamento, como um entrevistado ressalta, é uma atividade perversa: beneficia poucos e
prejudica milhões, quiçá o mundo todo.
“A grande emissão do Brasil é o desmatamento. Então, o grande desafio do Brasil é como
parar as emissões por desmatamento, que, na verdade, é um problema, na minha visão,
maior do que o que o governo tem colocado. O Ministério do Meio Ambiente, não é o
governo, tem colocado, porque eles partem da hipótese que é equivocada, que você
controla o desmatamento. E, na verdade, é um processo difícil de controlar, porque é um
processo, se você olhar a Europa e a América do Norte, todos eles passaram por esse
processo. É um processo associado ao desenvolvimento, daí à ocupação do solo... Isso não
quer dizer que a gente deva repetir o que os países desenvolvidos fizeram, mas é um
processo difícil, complexo, e acho que não é a solução mais ideal.” (GOVERNAMENTAL,
ECONOMIA, J.M., 60, AGRÔNOMO)
“(...) Agora, por outro lado, tem dificuldades dramáticas, tem o processo de desmatamento
que, apesar do esforço enorme, apesar das reduções constantes nos últimos três anos,
ainda atinge patamares absurdos, o que é uma desvantagem enorme, pois coloca o Brasil
como grande emissor para uma atividade que é condenada no próprio país. Quer dizer,
nós não somos grandes emissores para produzir energia, o que beneficia a todos – mas
não que isso justifique. Mas somos grandes emissores por uma atividade de desmatamento
que é condenável no país, que beneficia uma minoria e gera dano para uma grande
maioria.” (GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
Preservar os recursos naturais
“Acho que isso inclui exatamente isso: água, biodiversidade. Recursos naturais de uma
maneira geral. Água e biodiversidade despontam mais preocupantes (...). A água é um
elemento vital para qualquer atividade do ser humano; a biodiversidade se corre o risco
de perder antes mesmo de conhecer seu potencial de utilização.” (GOVERNAMENTAL,
DES. SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
O Brasil tem um gargalo estrutural
“No Brasil, é a questão de energia. Então, tem a questão da alimentação, saneamento,
educação, transporte, quer dizer, infra-estrutura, transporte especialmente.”
(GOVERNAMENTAL, ENERGIA, A.G., 52, ENGENHEIRO)
Em busca da sustentabilidade
“É... O grande futuro desafio do Brasil é, exatamente, acelerar esse processo que se
iniciou de um crescimento sustentável, com redução da desigualdade e que esse
crescimento sustentável, com redução da desigualdade, dialogue com as questões
ambientais, dialogue com a conservação e preservação da nossa biodiversidade, que
transforma o Brasil num país único... nesse novo milênio, do ponto de vista de poder, é
transformar os seus recursos naturais num potencial de crescimento numa referência
246
diferenciada de crescimento e desenvolvimento.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO,
C.G.G., 3, ECONOMISTA)
“Acho que no Brasil essa questão que diz respeito a esse aspecto histórico e filosófico,
também esta colocado, agora para que a gente materialize esses objetivos [temos], um
desafio muito grande em relação a... constituir uma base econômica, social, política de
valores para assentar um projeto nacional e esse projeto nacional, ele inclui tanto os
aspectos do relacionamento político, na sociedade, os aspectos da cidadania, enfim, como
os aspectos objetivos, da inclusão social. Para mim, essa é a questão mais importante
para o nosso país.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA,M.C., 50, ADMINISTRADORA)
Consolidar as instituições é um bom começo
“Então, eu diria que o desafio dos próximos anos será, de fato, consolidar as instituições,
sejam da esfera publica governamental, seja da sociedade civil, no sentido de assegurar o
efetivo controle ambiental, efetiva construção de uma sociedade saudável.”
(GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
O discurso da sustentabilidade prevalece quando o assunto é desafio ambiental
Maiores desafios ambientais
Desenv.
Mudanças
sustentável
climáticas
10
6
Questões
ambientais
Energia
Questões
sociais
Outros
TOTAL
5
3
1
5
30
A preocupação com o meio ambiente é uma realidade e as perspectivas futuras quanto aos desafios
apresentados, apontam caminhos na busca por uma sustentabilidade que associa os temas
ambientais com o enfrentamento da pobreza. 10 entrevistados citaram o desenvolvimento
sustentável ou sustentabilidade e 6, as mudanças climáticas, como o maior desafio ambiental para as
próximas décadas.
“Bom, nós temos diferentes elementos, acho que, inclusive, o nosso debate, ele não
observa essas diferenças (crescimento e desenvolvimento), principalmente, relacionadas
aos impactos, vamos pegar um caso específico da Amazônia, e algumas entidades tratam,
por exemplo, a presença de populações na Amazônia como tivesse o mesmo impacto de
grande projetos.
Acho que um equívoco brutal, dificulta o debate, atrapalha debate, e o que a gente tem que
conseguir a ter mais clareza de quem são os reais impactantes e, um processo cada vez
mais contínuo de conscientização e preparação técnica, tecnológicas, na perspectiva
exatamente desse conceito desse desenvolvimento do que nós queremos avançar .
Especialmente, por exemplo, na Agricultura Familiar na Reforma Agrária, nós temos
muito que acumular nesses sentido, mas acho que construímos bons sinais, boas
iniciativas, que nos permitam o aumento da produtividade, não esteja desconectados da
conservação dos recursos naturais, que é o conceito fundamental da sustentabilidade.”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
“Então, para mim as questões ambientais, elas estão dentro desses enfoques de valores, de
conceber a inclusão social, de conceber os aspetos da sustentabilidade, em relação aos
recursos naturais, enfim, para mim, esses desafios estão dentro desse conceito que eu já
coloquei. Inclusive os desafios ambientais.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, M.C., 50,
ADMINISTRADORA)
247
Quem paga a conta?
Na opinião de alguns entrevistados, além das instabilidades meteorológicas e eventos naturais
incomuns, as mudanças climáticas podem ter um efeito devastador nas sociedades humanas,
principalmente aqueles mais pobres, que não têm a capacidade de adaptar às novas condições
climáticas. Então, as emissões provocadas por países desenvolvidos podem acabar por prejudicar
mais aqueles em desenvolvimento.
“Mudança climática... da incerteza que ela traz.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, I.T.,
47, BIÓLOGA)
“Eu acho que grande desafio é a contenção da poluição, da emissão de gases, pela
indústria do primeiro mundo. Não há dúvida de que a questão ambiental é gerada pelo
progresso no primeiro mundo. A Inglaterra no século XIX, os Estados Unidos, no início
dos séculos XIX e XX, a Inglaterra no século XVIII, enfim…
E é natural, que aquilo que se fez de destrutivo ao lado do progresso econômico com a
Revolução Industrial, com industrialização acelerada, com o desmatamento generalizado
nos países do primeiro mundo, acaba sobrando uma conta para o mundo em
desenvolvimento, quer dizer, o que eles nos cobram hoje, eles não fizeram na sua própria
existência.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, W.R. 65, ECONOMISTA).
6. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE AS CIVILIZAÇÕES ATUAIS
Não é hora de alimentar com dúvidas a não-ação
As mudanças climáticas terão impacto nas sociedades humanas.
Concorda fortemente
Concorda
Discorda
Não tem informação
9
16
2
3
TOTAL
30
A maioria dos entrevistados concorda que haverá impactos nas sociedades humanas e não levanta
dúvidas sobre a gravidade do fenômeno. Mas 16 (mais da metade) escolheram a alternativa
“concordo”, enquanto nove (menos de um terço) optaram por “concordo fortemente”, mostrando
que há zonas a serem melhor entendidas na hesitação ou reticências. As falas abaixo apresentam um
leque de ponderações que nos ajudam a entender a natureza das dúvidas expressadas:
“Concordo que o fenômeno é grave e causará impactos... Agora, por outro lado, um
tempo atrás eu li um artigo de um físico, que inclusive foi reitor da UnB, o Azevedo,
justamente falando que não existe nenhuma evidência científica de que o aquecimento
levará a mudanças irreversíveis. Na verdade, o que estaria se passando é um ciclo que
ocorre a cada, sei lá, dois mil anos, e a gente está agora justamente nesse ciclo de
aquecimento. Depois as coisas podem mudar e vir novamente uma onda de resfriamento.
Então, eu acho que as pesquisas continuam, não há graus de certeza sobre as causas, eu
sou cauteloso...” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
“Olha, eu concordo, vai ter impacto sim, mas acho só que às vezes as pessoas exageram
sobre o que causa esses efeitos. Tem coisas que são causadas pelo homem e outras não
são; historicamente, a terra passa por ciclos de mudanças climáticas nem sempre
causados pela devastação, tem outros fatores que acabam causando...
Não sou um profissional dessa área, não sei descrever, mas acho que isso tem que ser
estudado por quem tem conhecimento e tem desconhecimento, e os políticos têm que saber
encarar essas coisas com muita responsabilidade e não apenas politicamente, porque não
248
é questão de ser só politicamente correto, é de realmente buscar um futuro sustentável,
porque estaremos colocando o mundo em risco.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO,
M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
Como vimos, o cerne da dúvida está em aceitar que são os seres humanos os causadores do
agravamento do fenômeno das mudanças climáticas.
Selecionamos mais duas declarações que afirmam ser irrelevante do ponto de vista político
considerar essas dúvidas, uma vez que o “custo social” e “civilizacional” pode ser alto. Para dois
gestores, deve-se adotar o princípio de precaução: não é hora para alimentar a inação com dúvidas:
“Esse assunto é extremamente controverso. O que a gente escuta é que estamos
experimentando um período de aquecimento global, e que isso é proveniente das
atividades humanas ou não. Eu tenho uma forte desconfiança de que é. Eu aceito as
conclusões do relatório da ONU... A minha visão pessoal, a minha crença é a de que a
atividade humana faz sim parte desse processo e, por princípio de precaução, temos que
tomar as atitudes, uma providência para que isso não se agudize nos próximos anos.”
(GOVERNAMENTAL, DES.SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
“Não há duvida que causará impactos, alguns previsíveis e outros não. Eu, enquanto
representante do governo, não tenho sequer o direito de pôr em dúvida isso. Eu tenho que
agir da forma mais enérgica possível para trabalhar nas duas frentes, não é? Na
mitigação dos efeitos e na adaptação, onde podemos já nos antecipar às conseqüências
que virão de forma a preparar a sociedade, populações, mesmo ecossistemas e ambientes
vulneráveis.” (GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
Catastrofismo não ajuda
O setor, de uma forma geral, rejeita o “catastrofismo” (palavra bastante utilizada pelos nossos
entrevistados) que parece imperar no modo como o fenômeno tem sido apresentado à sociedade.
Nas afirmações abaixo, observa-se que os entrevistados acreditam na gravidade do impacto, mas
têm uma série de dúvidas quanto às possíveis causas e efeitos do fenômeno:
“Eu não gosto muito da estratégia catastrófica que foi adotada nos últimos anos sobre as
mudanças climáticas, mas eu tenho de reconhecer que ela tem gerado algum benefício do
ponto de vista da sustentabilidade. Eu acho que o debate da Eco-92 em torno da Agenda
21 foi insuficiente para conquistar os corações daqueles que precisam se convencer de que
o paradigma industrial e de crescimento econômico baseado no padrão de consumo que
temos hoje não vai se sustentar em um mundo que não tem mais abundância de recursos
naturais.
Mas tenho medo de que, mais uma vez, estejamos entrando numa rota dominada pelas
ciências positivas, onde a ciência, e não a ética dá a palavra final. Ou seja, a catástrofe
virá porque os cientistas proclamam...
(...) Eu acho que é de bom tom, para aqueles que militam em políticas públicas de
governo, estar sempre com um pé na academia e outro no setor púbico, ficar com o pé no
chão, não partir para essa visão terrorista do meio ambiente, pois isso gera um stress
desnecessário... As pessoas desejam coisas razoáveis e não coisas extremas. (...)”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
”Os exageros, o tom catastrófico cansa, deixa as pessoas paralisadas de medo. Além
disso, podem levar à atitude egoísta e totalmente indesejável em que o fulano pode pensar
‘Ah deixa eu aproveitar, comprar carro, consumir, são os últimos dias de Pompéia’. Pode
249
ter até exercido um papel, mas devemos nos afastar desse clima de apocalipse que a mídia
vem imprimindo [ao debate].” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, I.T.,47, BIÓLOGA).
7. IMPORTÂNCIA DO TEMA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O SETOR
A importância do tema cresceu nos últimos cinco anos e está na agenda pública
Importância do tema em seu setor de atuação:
Importante
Muito importante
20
9
Pouco importante
TOTAL
1
30
Praticamente todos afirmaram que o tema das mudanças climáticas é “muito importante” ou
“importante” dentro das agendas do governo e de seu setor específico de atuação.
Independentemente da área selecionada para a sondagem, (energia, agronegócios, desenvolvimento
socioeconômico, economia e uso do solo) as respostas foram enfáticas no sentido de afirmar a
relevância do tema:
“Não tem como questionar, nas pautas dos parlamentares, nas pautas acadêmicas, em
tudo, não tem mais jeito, mudanças climáticas entrou de uma forma muito significativa,
porque o brasileiro assimila estas coisas com uma rapidez enorme.”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, T.K., 56, MATEMÁTICA)
“De uma forma geral, eu diria que nestes últimos cinco anos, cresceu de uma forma
bastante significativa a importância desse tema, tanto na área ambiental quanto fora dela,
pois é uma questão que extrapola a agenda ambiental tradicional... Ao mesmo tempo há
uma maior capacidade dentro do próprio aparelho de Estado, da esfera governamental,
seja governo federal ou estadual, sejam os governos municipais, houve um avanço
institucional bastante significativo no sentido da estruturação das secretarias estaduais,
no sentido da criação e fortalecimento de secretarias municipais. (...)
As mudanças climáticas têm um rebatimento direto nisso tudo, nas dinâmicas de
crescimento, pois em geral o modelo de desenvolvimento ainda é calcado em atividades
fortemente impactantes. Por exemplo, fala-se muito de biocombustíveis, mas o que está
ocorrendo na realidade, agora mesmo, é o licenciamento de uma porção de usinas
hidrelétricas e termoelétricas. Tudo isso nos remete à discussão sobre emissões, sobre
qual o modelo de desenvolvimento.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O.,
40,GEÓGRAFO)
Para alguns entrevistados, porém, a problemática não alcançou ainda “a devida importância”:
“A problemática ainda é tratada com incipiência, não com a importância que ela deveria
ter, até porque ainda não foi concebida uma política, não foi definido qual o
comportamento do governo com relação a ela, então nós estamos na fase de discussão e
debate, e não ainda na fase de uma elaboração de condutas. Mas nós devemos, em um
curto espaço de tempo, tratar esse assunto com maior seriedade. É que no dia-a-dia
acabam surgindo outras coisas...” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, C.S., 35,
ECONOMISTA)
“Eu acho que a mudança do clima é um dos temas mais importantes para nós, falando sob
o ponto de vista de um desafio global, porque eu acho que esta é a grande questão, ou
seja, as questões pontuais eu acho importantes, mas por serem pontuais, elas talvez
tenham um tratamento mais fácil, porque você tem um campo de ação muito mais
250
delimitado. Na minha opinião, o tema ainda não foi abraçado pelos demais setores da
sociedade com a devida seriedade que ele demanda... Talvez pela complexidade, talvez
porque não seja fácil para alguns setores identificar que ações devem ser desenhadas para
reduzir emissões ou mitigar os efeitos que estão sendo anunciados...
O mesmo se dá entre os países-membros da Convenção Quadro do Clima, quase 200.
Quando você está falando de uma temática global, você está imaginando um processo de
negociação e de consenso entre quase 200 países, o que nos traz uma dificuldade de
chegar a um acordo.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, T.K., 56, MATEMÁTICA)
A mesma autora dessa afirmação, experiente negociadora, membro da delegação brasileira na
Convenção, completa seu pensamento afirmando que há um hiato entre a urgência que a ciência tem
apontado e a resposta dos países:
“(...) há um conflito entre o que a ciência tem apontado, ou seja, a urgência que a ciência
tem apontado para a questão da mudança do clima, a necessidade de ações bastante
abrangentes de mitigação e a nossa capacidade de resposta.” (GOVERNAMENTAL,
ECONOMIA, T.K., 56, MATEMÁTICA)
8. EM QUE MEDIDA AS METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES AFETARÃO AS
ATIVIDADES DOS ENTREVISTADOS
Metas de redução das emissões afetarão atividades relacionadas ao uso do solo, agronegócio e
energia
As três declarações abaixo são de entrevistados que têm posições no governo relacionadas a setores
como uso do solo, agronegócio e energia, e afirmam que esses setores sofrerão, sim, impactos com
as metas de redução.
“Com certeza. No caso da secretaria, uma delas é a imposição de novas regras a
processos de licenciamento [ambiental]. No caso da região amazônica em particular,
metas relacionadas à questão do desmatamento.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO,
W.G.R., 40, GEÓLOGO)
“[Afetarão] muito, nós precisamos do programa para apoiar os agricultores que
preservem, que façam uma agricultura agroecológica. Já temos muitos ingressando
nisso...” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, J.L.G., 57, ENG. AGRÔNOMO)
“Poderia sim [ter impacto], lógico, sem dúvida, e é nesse sentido que a diversificação da
matriz energética é conseqüência disso, aqui no Brasil.” (GOVERNAMENTAL,
ENERGIA, H.L., 69, ENG. ELÉTRICO)
9. BARREIRAS IDENTIFICADAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
Dificuldades para lidar com o tema
Todos afirmaram que os fatores econômicos são as maiores barreiras para um efetivo
comprometimento com a questão das mudanças climáticas pelo governo e pela sociedade de um
modo geral. Muito associada à questão política internacional, a questão apresenta a
imprescindibilidade de rever paradigmas de desenvolvimento dominantes no presente, como o
americano e o europeu.
251
“São as econômicas, o dinheiro fala mais alto. Então, os EUA, a Europa, ainda
representam barreiras maiores. Para nós, por outro lado, também são as [barreiras]
econômicas, porque acaba tendo outras prioridades para desenvolver. Eu diria que a
principal barreira é a econômica. Antigamente talvez fosse correto dizer que a principal
barreira era o desconhecimento, mas não é mais, o mundo inteiro já conhece.”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
“Eu diria que nós já tivemos muitas barreiras, muitos impedimentos do ponto de vista
institucional, de fragmentação de políticas públicas e iniciativas de enfrentar esse tema.
Eu diria que continuamos tendo alguns destes problemas e temos um agravante a mais,
hoje, que é o deslumbre pelo crescimento econômico.” (GOVERNAMENTAL, USO DO
SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
“Eu acho que o grande impedimento é você colocar em xeque todo padrão de
desenvolvimento, de crescimento econômico que se tem até hoje; a questão do estilo dos
países desenvolvidos, como os EUA, Japão, e a própria Europa. Eles cresceram dentro de
um modelo, de um perfil de crescimento econômico baseado em poluição, e para você
reverter isso é caro. A própria questão do petróleo, toda uma civilização montada em
função do petróleo. Para você reverter isso demora gerações...” (GOVERNAMENTAL,
ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
“Olha, acho que no âmbito mundial, principalmente a postura dos países mais poluidores,
principalmente em não fazer uma crítica inteira ou uma autocrítica inteira do que vêm
fazendo até então - isso, é claro, é o caso dos EUA. Os EUA virou a maior potência
mundial, e deixou um rastro de degradação ambiental e social, brutal. É disso que nós
estamos falando, ou seja, se exige um padrão agora para nações que não tiveram essa
mesma oportunidade anterior, e os países que chegaram nessa condição não fazem a
autocrítica necessária e as revisões. O primeiro elemento é esse. Acho que em segundo,
dentro do conjunto das nações, nós temos uma correlação de forças que resistem ainda a
esse ideal. Vamos perdendo cada vez menos força, mas vamos perdendo.”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
Além da questão econômica, um entrevistado apontou para uma outra barreira que chamou de
“fundamentalismo ambiental”:
“Eu acho que nós temos um terceiro elemento que na minha opinião não ajuda, que é um
tal de fundamentalismo ambientalista. Que desconecta [os problemas] de um conjunto de
uma realidade social, de um contexto social, e acha que à força vai resolver a questão
ambiental. Independentemente de que as pessoas estejam passando fome ou não, aí
voltamos o caso da Amazônia. Acho que a tese de que a Amazônia é uma redoma, de que
não existe ninguém na floresta e não sei o que mais, é uma realidade de quem ignora ou
de quem quer fazer a propaganda e quer se manter com seus financiamentos, para ficar
fazendo mídia no mundo. Esse aspecto também não contribui para a gente poder enfrentar
o tema com racionalidade... Eu acho que tem setores ambientalistas que perderam uma
noção de quem pode ser seus aliados, o processo histórico de responsabilidade sobre o
planeta e tal, acho isso muito ruim.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37,
ECONOMISTA)
Alguns entrevistados mencionam como barreira para o enfrentamento das mudanças climáticas o
próprio discurso catastrófico que se constrói em torno do tema. Reclama-se muito também da
desinformação que nutre esse tipo de notícia, por exemplo, sobre a má atuação do governo em
relação às mudanças climáticas. E essa crítica recai principalmente nos ombros da mídia, que é
acusada de usar esse tipo de notícia para atrair atenção da população.
252
“Então o cenário. Eles são um pano de fundo de pior caso e a gente trabalha contra esse
pano de fundo. A população e a imprensa não entendem isso. Ela, a imprensa, acha que,
primeiro, nós não estamos fazendo nada, porque ela não entende o que está sendo feito
pela complexidade do assunto. E depois ela não entende que os cenários são cenários de
pior caso, que a gente está trabalhando contra eles. Eles acham que isso são previsões,
que isso vai acontecer no futuro. E os cenários são para 2100, não são para amanhã. A
imprensa passa uma mensagem de que isso vai acontecer amanhã. E um absurdo.”
“(...) a imprensa fala o que ela escuta de fora, o que ela entende, mas não procura o
governo para ter uma visão independente. Então acaba expressando opiniões
equivocadas. “(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, J.M., 60, AGRÔNOMO)
“(...) eu acho que essas são questões que a gente tem que responder, que não estão
respondidas e que a orientação dada hoje pelos setores que estão levantando o problema
da iminência das mudanças climáticas com relação a emissões não contemplam. Não
contemplam uma visão nacional, não contemplam os aspectos de soberania das decisões e,
enfim, fazem uma simplificação que não é por desconhecimento, ela é orientada
politicamente, essa é a minha opinião.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA,M.C., 50,
ADMINISTRADORA).
10. INCENTIVOS IDENTIFICADOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES
CLIMÁTICAS
Propostas do setor
Os entrevistados citaram uma gama de propostas que poderiam ser adotadas como medidas de
adaptação e/ou mitigação das mudanças climáticas no Brasil. Onze propostas encontram-se listadas
e ilustradas abaixo com falas dos entrevistados.
Desmatamento evitado
“(...) você tem uma realidade social, principalmente na Amazônia, uma realidade social
[em que] nós temos lá as maiores jazidas de recursos naturais não renováveis, os minérios
que dão todo o suporte, por exemplo, para o crescimento chinês; e junto a isso, em que por
conseqüência o crescimento chinês sustenta o crescimento americano. Então essas coisas
todas têm conexão, então isto, por exemplo, dada as diferentes realidades que nós temos,
no nosso mundo rural, há um deslocamento, uma migração populacional para a Amazônia
muito significativa, buscando oportunidades, e que nesse sentido, como essas
oportunidades, vão aparecendo na mesma intensidade do que se propala, essas famílias
vão buscando formas de sobrevivência. Então, essa é uma realidade que a gente enfrenta
na Amazônia...
Então, o plano de desmatamento [evitado], a proposta que o governo brasileiro vem
trabalhando, que o Ministério da Meio Ambiente vem trabalhando, ela dialoga muito com
esses conceitos. E eu acho que nessa perspectiva, esses conceitos, que obviamente exigem
aperfeiçoamentos na estratégia operacional, no entendimento e estão abertos para esse
tipo de aperfeiçoamento, mas acho que o conceito é um conceito razoável para nós
enfrentarmos o tema da complexidade que ele tem. Quando falamos na Amazônia, falamos
em mais de 50% do território brasileiro. Quando estamos falando da Amazônia, estamos
falando de 30% da população rural do país. Quando falamos da Amazônia, estamos
falando de uma realidade diferente.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 3,
ECONOMISTA)
253
Redução de tarifas para biomassa do bagaço da cana
“A própria questão da energia produzida pela queima do bagaço. Hoje são alternativas
que não podemos tratar simplesmente no grau de competitividade. Nada será mais barato
que isso. Então, preocupados com a tarifa, o que é correto, nós temos que trabalhar para
que a tarifa seja acessível para a população brasileira, para universalizar o acesso à
energia elétrica, mas isso não pode ser desculpa para deixar de investir, estimular
fortemente as energias alternativas renováveis, que são mais caras no primeiro momento.
Aliás, é o investimento nelas o que as tornará competitivas em relação a outras
alternativas. Então, o incentivo ao uso de energias alternativas tem que ser muito
ampliado. Nós temos que ter muitos recursos públicos nessa área para que ela venha
ganhar escala, e aí ela ganha uma dimensão e uma iconicidade próprias que a tornam
viável comparada com alternativas como a energia hidrelétrica, por exemplo.”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C., 51, BIÓLOGO)
Eficiência energética
“Tem um papel importante tanto pelo fato de que em geral a eficiência energética
representa o melhor uso dos insumos, dos recursos de geração energética, e representa
também patamares técnicos de segurança para a população e no Brasil. Nós temos ainda
um programa de eficiência energética tênue que poderia ter tido uma concepção mais
aprofundada e poderia ser expandido tanto tecnologicamente como do ponto de vista de
adoção de hábitos de consumo. Esses dois aspectos tranqüilamente nós temos capacidade
[de desenvolver] e poderemos avançar muito ainda.” (GOVERNAMENTAL,
ENERGIA,M.C., 50, ADMINISTRADORA)
Adoção de projetos de biocombustíveis na agricultura familiar
“Nós estamos fazendo exatamente um estudo. O NEAD está desenvolvendo dois estudos na
linha de impacto sociais da adoção, não só em especial do biodiesel, mas relacionado a
cana-de-açúcar... Então, acho que à partir desse estudo nós vamos ter condições mais
precisas de poder adotar. Na questão especificamente do biodiesel, (...) eu vivi uma
experiência que nós ajudamos a implementar no Pará, a partir do óleo de palma, a partir
da questão da convivência da agricultura familiar, evitando que se transforme numa
monocultura. Eu acho que nós temos experiências interessantes que podem nos permitir
não a forçar uma entrada de uma planta exótica, dentro de um ecossistema para gerar
biocombustível, o biodiesel ou o etanol.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO,
C.G.G., 37, ECONOMISTA)
Melhorar o transporte público
“O Brasil não tem explorado, infelizmente, até porque faz parte da cultura nas grandes
cidades, o uso mais eficiente do transporte público. Nós somos muito ruins no transporte
público, se você vê alguém de bicicleta indo para o trabalho você não tem uma visão
muito positiva, sempre associa o individuo a não ter dinheiro para ter um carro, não ter
dinheiro para o transporte e essas coisas culturais que têm que ser quebradas ao longo do
tempo, e fazer como na Europa, [onde] o uso da bicicleta é vista como uma coisa muito
positiva, todo mundo usa... Mas a gente tem que melhorar significativamente o nosso
transporte ferroviário, o nosso transporte rodoviário, são coisas que o país poderia e teria
que investir, e traria uma contribuição significativa em termos de emissões.”
(GOVERNAMENTAL,ECONOMIA, T.K., 56, MATEMÁTICA)
254
Medidas regulatórias e construção de indicadores a longo prazo
“Nesse sentido a combinação das medidas regulatórias e das medidas de incentivo, você
vai poder constituir indicadores ao longo do tempo que vão permitir ter uma noção de se a
política está correta ou não, se a política está equivocada ou ela não apresenta resultados.
E para mim o terceiro aspecto fundamental, é o controle social. Nós temos cada vez mais a
sociedade acompanhando, entendendo como é que funciona, estabelecendo uma
consciência crítica e racional sobre os temas. A imprensa tem um papel importante; os
mecanismos de controle social que o governo possa a vir a criar, a criação de conselhos
colegiados, a internet têm um papel importante nesse sentido. Eu acho que são formas de
criar mecanismos que não só incentivem a produção, mas gerem retorno efetivo, e que a
sociedade saiba o que está sendo feito.” (GOVERNAMENTAL,AGRONEGÓCIO, C.G.G.,
3, ECONOMISTA)
Incentivos financeiros
“A gente tem várias. Como eu acredito em incentivo econômico, em subsídios, acredito
também em instrumentos econômicos para manter o controle de mercado, sejam eles
ambientais ou não. Eu acho que uma política mais acertada é, ao invés de proibir emissão
de dióxido em alguns produtos ou coisa assim, eu sou mais favorável a que aqueles que
poluam menos sejam incentivados e aqueles que poluam mais sejam sobretaxados, como
você faz com o cigarro, por exemplo: se você quer consumir cigarro o problema é seu. Nós
estamos alertando, então em cada preço você vai pagar o triplo, o quádruplo de imposto, e
aqueles que quiserem consumir isso vão ter que estar, vamos dizer assim, aptos a pagar o
preço para consumir aquilo, porque aquele dinheiro recolhido vai ser para políticas que
mitiguem o efeito daquele mal. Eu acredito que é por aí.” (GOVERNAMENTAL, USO DO
SOLO, C.S., 35, ECONOMISTA)
Recursos para fiscalização
“Eu acho que esses incentivos já existem. Toda a gama de incentivos que tem aí a essa
mudança de utilização de energéticos, todas elas estão sendo incentivadas, então os
incentivos já existem nós temos é que ver o resultado. Agora, o que talvez esteja faltando e
isso também depende de recursos, recursos humanos e financeiros, e para o
acompanhamento e a fiscalização. Mesmo assim, nós temos acompanhamento, em termos
de Brasil, acompanhamento até tecnologicamente avançado, via satélite, e que dá pelo
menos uma série de informações que permitem ao governo adotar as suas providências.
Agora, o problema é que o país é de dimensões continentais. Isto e um continente, não se
compara com outros países; a nossa Amazônia ocupa mais de 50% do território nacional.
Então realmente são muito difíceis, as dificuldades são imensas por causa das dimensões,
e [há também] a falta de logística para fazer toda a fiscalização e um acompanhamento
compatível com a sua necessidade.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, D.B.M., 65,
ECONOMISTA)
Obrigar produção de renováveis proporcional à produção de não renováveis
“Para cada um... Se você colocar cem você tem mil... Não cem você tem que gerar... Não,
para cada mil megawatts você gera quinze megawatts renováveis. É um fator de conversão
que eu não sei te informar agora... O cara é obrigado a investir nisso. Ele não vai pagar:
ele vai ter que investir numa planta de renováveis, entendeu? Se ele vai contratar alguém
para construir uma planta e gerar eólica de quinze megawatts, supondo aqui, o problema
é dele.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, I.T.,47, BIÓLOGA)
255
Remuneração por serviços ambientais
“A remuneração por serviços ambientais há de se criar uma fórmula para remunerar
aqueles que preservam as áreas de preservação permanente, que observam a área de
reserva legal e que fazem uma agricultura sustentável, ecológica que preservem uma
floresta não é?” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, J.G., 57, ENGENHEIRO
AGRÔNOMO)
Punição
“A gente trabalha para ter políticas que sejam políticas de incentivo a você fazer mais,
não políticas de assustar ou de punir. Há uma mentalidade, e isso está se propagando aqui
no Brasil, de que o Brasil tem que ter metas, o Brasil tem que punir tem que ter
sofrimento. Eu acho que não é por aí. Eu acho que você tem que mobilizar as pessoas,
fazer com que elas entendam, e entendam que o problema é um problema de aquecimento
gradual, que você tem tempo para combater esse problema, e você tem que fazer, desde já,
ações e criar incentivos para que essas ações ocorram; mas não assustar a população do
jeito como está sendo feito pela imprensa e pela opinião pública.” (GOVERNAMENTAL,
ECONOMIA, J.M., 60, AGRÔNOMO).
11. ATORES COM MAIOR RESPONSABILIDADE NO ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
Eles mesmos, governantes, são a salvação da lavoura
Na opinião de 25 entrevistados cabe ao governo a maior parcela de responsabilidade, mas ele não
pode ser a única solução diante da escala do desafio. Todos os atores da sociedade foram citados:
empresários, sociedade civil, políticos e a população precisam estar juntos para lidar com o
problema. A mídia foi citada somente por um entrevistado.
Governo
“A gente sempre tem uma tendência a achar que o governo tem que fazer tudo. Em
algumas áreas o governo tem mesmo que fazer uma boa parte, acho que a esfera
governamental tem um papel fundamental seja na regulação, no controle e no fomento a
políticas públicas adequadas. O que a gente percebe ainda são as políticas públicas
incongruentes, em que falta integração, e o setor empresarial.” (GOVERNAMENTAL,
USO DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO).
“(...) eu acho que o governo tem uma responsabilidade muito grande porque cabe a ele
fazer a política, as políticas públicas. A indústria também. Ela tem que se adaptar e ter
uma boa vontade e consciência da questão ambiental e isso indica que tem que usar
práticas menos poluentes, investir em maquinário mais moderno e menos poluente etc. E
os cidadãos também, no sentido de ter educação, no sentido crítico de cobrança que isso
seja aplicado etc.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
“Nós temos três ministérios que têm responsabilidade direta sobre isso: o Ministério do
Meio Ambiente, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário,
que é o MDA. Esses três têm responsabilidade direta, em minha opinião, com o mesmo
nível de responsabilidades, embora o MMA seja o principal encarregado. Mas estes três
ministérios tem essa responsabilidade, em termos institucionais seriam estes três. O
próprio empresário tem também, e eu colocaria um quarto ministério, que é o Ministério
da Educação.” (GOVERNAMENTAL,AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
256
Outros atores
“A indústria, os grandes industriais, os grandes banqueiros, ou seja, os detentores do
grande capital, os políticos, podem começar a pensar nisso. Os grandes cientistas têm que
parar de pensar apenas nas suas publicações internacionais, nos seus conceitos no CNPq
e parar de brigar dentro da academia por besteira e começar realmente a estudar as
questões do país a fundo, para poder apresentar propostas decentes, conhecimento básico
para a tomada de decisões. Os grandes desportistas, sei lá quem forma a opinião.”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.R.L., 45, FÍSICO)
“A indústria também. Ela tem que se adaptar e ter uma boa vontade e consciência da
questão ambiental, e isso indica que tem que usar práticas menos poluentes, investir em
maquinário mais moderno e menos poluente etc. E os cidadãos também, no sentido de ter
educação, no sentido crítico de cobrança de que isso seja aplicado etc.”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
Mudanças climáticas como um desafio social e cultural
“Olha, mudanças climáticas constituem um desafio social, não é um problema do
governo... Passa, portanto, necessariamente por revisão de padrão de produção e
consumo. Isso não é feito por decreto, não é feito por lei, nem com o exército na rua; isso
é feito por opção, então envolve um debate, uma conscientização, um envolvimento da
sociedade de forma objetiva. Depois você tem os setores econômicos, que são os que
operam a lógica econômica e que precisam incorporar de forma objetiva padrões
diferenciados tanto de emissões quanto de consumo para enfrentar o problema; você tem
os governos que têm o papel de liderar e coordenar processos que levem às soluções. O
governo tem o poder executivo, legislativo e judiciário, então é na verdade algo que
exigirá uma ação... Não existe nenhum setor que tenha mais atribuições, na minha
opinião, do que outro. Não dependerá do governo definir normas, dependerá do governo
liderar processos. Mas não só o governo, esses processos não são processos de governo,
são processos de governança, e o processo de governança é coletivo. Onde o governo tem
uma parte, a sociedade tem outra, os setores econômicos têm outra...”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
“Então isso é a cultura que pode fazer, isso é a internet que pode fazer, isso é a mídia, os
artistas, é a sociedade organizada.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
12. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
O bom exemplo europeu
A percepção geral é de que muito pouco tem sido feito pelos países para enfrentar as mudanças
climáticas. Poucos conhecem planos ou programas internacionais que visam à diminuição das
emissões de CO2. As maiores referências, principalmente no que tange à redução de emissões, vão
para a Europa, em especial Inglaterra, Alemanha, França e Noruega. Por outro lado, quando querem
se referir à continuidade dos níveis de emissões, países como a China e Estados Unidos são sempre
citados. Uma constante é a crítica à posição de negativa dos Estados Unidos perante o Protocolo de
Kyoto: tornou-se lugar-comum atribuir culpa à posição norte-americana. Também foi lembrado o
exemplo de alguns programas em andamento no Brasil.
“Hoje você tem iniciativas de alguns países que estão enfrentando isso, países como a
Alemanha, que vêm enfrentando e assumindo um compromisso cada vez mais intenso,
257
agora a União Européia também buscando soluções regionais e compromissos fortes,
embora haja diferenças entre ações de países dentro da própria União Européia, mas no
conjunto assumindo metas bastante rigorosa. Mas muito aquém do necessário, não é?”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
“Bom, com menos responsabilidade do que eu gostaria por parte dos paises
desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, com menos responsabilidade. Mas vem
sendo tratada nos principais fóruns internacionais, e então há uma discussão política
internacional sobre o assunto e isso é bom. Gostaria que avançassem mais rápido, que
estivessem mais abertos à agroenergia, ao biocombustível como formas de minimizar,
mitigar esses problemas, mas infelizmente a questão econômica acaba pesando muito.”
(GOVERNAMENTAL,AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
O mau exemplo americano e chinês
“Como se sabe, com barreiras muito grandes, e em particular a barreira americana. Eu
acho um despropósito os Estados Unidos, país que mais polui e se recusa a dividir com os
demais a despoluição... Como eu creio que essa fase está passando nos Estados Unidos, eu
imagino que a curto prazo haverá outra postura dos Estados Unidos. A China, que
também tem uma dívida em relação a isso, mas a atitude é diferente. Eu conheço
razoavelmente bem a China e é o primeiro país em desenvolvimento, não é um país
desenvolvido, é um país com setores, rincões bastante atrasados, e o que eles estão
fazendo é um esforço de ultrapassar certos atrasos.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA,
H.L., 69, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Eu vejo com muita satisfação por um lado e tristeza pelo outro, porque na verdade o
grande problema China – EUA, particularmente até a Rússia andou dobrando um pouco
algumas posições, mas particularmente EUA e China ainda estão muito reticentes e têm
problemas muito sérios se forem restringir ou seguir determinadas condutas. Ao mesmo
tempo, eu acho que mais cedo ou mais tarde serão forçados a isso, apesar de hoje, por
exemplo, você ter todo um poder militar bélico por trás [que] esconde uma série de
coisas.” (GOVERNAMENTAL,USO DO SOLO, C.S., 35, ECONOMISTA)
As iniciativas brasileiras
“O Brasil tem uma experiência importante. Agora, esse trabalho aqui no país é muito
pequeno, muito concentrado em algumas grandes empresas, estão sempre voltados à
questão da rentabilidade, ou seja, não há uma difusão da tecnologia, nem se procura
trabalhar com alguns setores mais inovadores, por exemplo, a questão de sustentabilidade
de florestas etc., Isso ainda não chegou ao Brasil. É ainda muito centrado na questão
financeira, muito vinculado a esses lixões que não têm absolutamente nenhuma
tecnologia; o máximo que se faz é “tacar” um cano e botar fogo no metano. Então, para
nós aqui no Brasil, apesar de haver vários projetos sendo desenvolvidos, esses projetos
são de baixo teor tecnológico. Então esse mecanismo trouxe pouco crescimento
tecnológico, pouco repasse de tecnologia.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49,
ECONOMISTA)
“Acho que no Brasil, nós estamos fazendo esforços importantes. A ministra Marina vem
conduzindo nesse sentido e nós vamos trabalhando, o governo tende aí, no próximo
período, a lançar uma política focada principalmente nas mudanças climáticas,. O MDA
está fazendo parte desse grupo, que está começando a debater esse tema dentro do
governo. Agora, obviamente não é justo que se cobre de nações em desenvolvimento uma
postura, enquanto que, nações mais desenvolvidas não assumem de uma forma mais
contundente.
258
Acho que o exemplo da Austrália, recentemente, é muito importante. Quer dizer, a
Austrália é um país que sempre resistiu ao Protocolo de Kyoto, arca com suas mudanças
climáticas e agora o novo governo da Austrália sinaliza exatamente um outro sentido. E
isso nos anima muito do ponto de vista das posturas das nações, respeitadas na sua
questão de soberania nacional, mas a preocupação que elas têm é [com a] preservação do
planeta.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
13. NÍVEL DE CONHECIMENTO E OPINIÃO SOBRE A PROPOSTA DE
"DESMATAMENTO EVITADO"
Poucos conhecem a proposta do desmatamento evitado
A proposta de desmatamento evitado ainda não é uma proposta de conhecimento geral, mesmo
dentro do governo. A grande maioria associa essa proposta à idéia de manter a floresta em pé para,
em seguida, tecer comentários sobre a complexidade da Amazônia. Na verdade, apenas aqueles que
estão mais ligados à questão das mudanças climáticas – cinco entre os 30 entrevistados –
demonstram conhecimento do assunto e são da opinião de que a proposta ainda precisa ser melhor
formulada para ter o resultado que dela se espera.
“(...) a eventual emissão de bônus ou a conversão desse desmatamento evitado em
recursos financeiros para apoiar projetos não pode ser tratada novamente como a criação
de mais um imposto federal, a depender da boa vontade do governante da hora para
distribuir isto em cotas para os entes abaixo, na escala federativa, se é que se poderia dar
este tratamento equivocado à relação federativa.
Acho que a proposta brasileira apresentada em Bali tem um mérito importante de buscar
mecanismos e criar esforços para a gente chegar ao bioma inteiro, mas falta ainda nós
pactuarmos e construirmos instrumentos de execução de projetos dos recursos advindos
do desmatamento, para que de fato sejam capazes de cumprir a promessa de reduzir o
desmatamento.
(...) Apresentou-se uma solução muito simplista, de meramente emitir bônus, captar como
fundo e esse fundo distribuir por edital. Acho que isso é pouco para ser capaz de
responder ao desafio de mobilizar a sociedade no sentido mais amplo de enfrentar o tema
e assegurar o cumprimento da meta de redução.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO,
V.O., 40, GEÓGRAFO)
Um entrevistado ressalta que a proposta de desmatamento evitado serve a um propósito: evitar
queimadas. Já no que tange ao seqüestro de carbono da atmosfera para justificar a emissão de outros
países, a proposta não faria sentido, porque uma floresta já constituída não seqüestra tanto carbono
para ser considerada um mecanismo de desenvolvimento limpo.
“Eu tenho uma dificuldade teórica com esse assunto. Veja bem, dentro da lógica
matemática de emissão zero o MDL diz que, se nós avançamos por duas retas com o
seqüestro de carbono, isso permite um certificado que outros países podem emitir.
Portanto, a soma seria zero para você. Emite mais num lugar, mas você compensa com o
seqüestro do outro.
Pelos dados que a gente tem, uma floresta em pé e em equilíbrio não seqüestra carbono,
ou seja, o seqüestro se dá num nível muito inferior. Então a manutenção dessa floresta
como aval para outros países emitirem não faz sentido e nós não estaremos fechando essa
conta.
259
Agora, faz sentido manter essas florestas e evitar essas queimadas. Aí sim é algo em que o
Brasil está buscando uma cooperação mundial que faça com que a floresta em pé tenha
um valor econômico de ressarcimento que lhe permita ações internas de atenuação desse
problema. Nesse sentido ele faz todo um esforço.
Agora ele não se insere nessa conta de que, portanto, alguém pode emitir mais porque a
nossa floresta está em pé, isso não é aceitável.” (GOVERNAMENTAL, DES.
SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
14. CONFERÊNCIA DE BALI
Somente aqueles diretamente envolvidos com a Conferência têm opiniões contundentes
Os resultados de Bali são pouco conhecidos por quem não está envolvido diretamente com os
debates relativos às mudanças climáticas; estes ainda expressam frustração em relação à
conferência, pois ela não trouxe nenhuma meta objetiva de redução das emissões.
Já na visão daqueles que efetivamente participam e acompanham as discussões, a Conferência do
Clima em Bali foi positiva, sobretudo no que concerne aos avanços das negociações internacionais
na busca de uma agenda de compromissos.
Esses avanços são especialmente valorizados quando se reconhece o grande esforço necessário para
promover essas negociações e, como um entrevistado aponta, o consenso entre visões e realidades
tão diferentes dos tantos países envolvidos.
“Então a negociação em Bali é necessariamente difícil por causa disso, porque os países
olham o que o IPCC está falando, numa visão baseada nos nossos conhecimentos, que são
necessariamente diferentes. A gente pensa em floresta, e a Arábia Saudita não sabe o que
que é floresta, é um deserto. (...)
O que você busca em Bali é como você mantém essas visões diferentes dentro de um
consenso, que leve para um objetivo comum para todos de tentar atenuar o problema
gradualmente, mas seguramente ao longo do tempo.
Então, o fato de a gente ter conseguido sair com um cronograma de trabalho. Claro que,
para a imprensa, de novo, com a visão de que o problema vai acontecer amanhã, e você
tem que fazer tudo e resolver amanhã, foi um horror, um fracasso. Mas [existe outra] visão
de que o problema é de 2100 e que você está trabalhando desde já para evitar que isso
aconteça.
O fato de você ter um programa de trabalho para os próximos dois anos, para aprofundar
a ação, é extremamente positivo. E que todos os países estejam envolvidos nessa
negociação é mais positivo ainda. Inclusive, agora, os EUA. Então, eu acho que o
problema vai ter um sucesso por isso. Claro que não é um sucesso do ponto de vista da
imprensa, porque não tem metas. Tem que ter dor, tem que ter sofrimento. Lá ninguém
está discutindo isso.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, J.M., 60, AGRÔNOMO)
“(...) quando o Brasil saiu daqui para Bali, saiu com duas expectativas principais: uma,
era com relação a ter, em Bali, a definição de um roteiro que permita que a gente, até
2009, discuta o que vai ser o pós-2012.
Então, saímos daqui com expectativa de que se isso acontecesse, se esse roteiro de Bali
saísse, já dando as diretrizes, o arcabouço para que nós, dentro do processo de
260
negociação formal, possamos construir a base do pós 2012, até 2009, já seria, para nós,
fantástico..
E a outra questão era a gente ter uma decisão com relação à temática de redução de
emissões por desmatamento em Bali, que a Convenção previa que deveria ser terminada
em Bali com uma decisão. Então, as duas questões eram muito prioritárias para o Brasil
e, na nossa visão, o encaminhamento desses dois temas, em Bali, daria uma maior ou
menor percepção de sucesso.
Ambos os temas tiveram uma decisão em Bali, o que não foi fácil com nenhum dos dois,
mas efetivamente saímos de Bali com uma decisão tomada, tanto no roteiro a ser seguido,
que não necessariamente será, mas foi o roteiro mais ambicioso, o mais encorajador que
poderíamos ter, mas saímos, quanto com o acordo de todos, inclusive os EUA, certo?
E saímos com uma decisão das florestas também. Então, para mim, Bali deu inicio, nas
nossas expectativas de negociadores e de pessoas que sabem como é que a dinâmica de
negociação se dá. Nós achamos que os resultados foram positivos, pois nos dão a
indicação de uma forma de operar nos próximos 24 meses, até chegarmos a dezembro de
2009. E é interessante também, porque a presidência dessa discussão, desse grupo que se
constituiu para discutir então o pós 2012, ela ficou a cargo do Brasil, na figura do
ministro Luiz Figueiredo, do Itamaraty.
Então, o Brasil vai estar à frente deste processo de negociação formal, na constituição
deste grupo.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA,T.K., 56, MATEMÁTICA)
“A percepção de Bali depende da expectativa anterior que se tinha. Então, o resultado não
é melhor ou pior do que vai acontecer no futuro, mas ele foi melhor ou pior para as
pessoas, dependendo da expectativa que tinham.
Quem tinha expectativas realistas, base nos cenários que tinham, em geral tem uma
opinião de que Bali foi um avanço importante. Eu estou nesse grupo. Quem
acompanhou, nos dois últimos anos, o que estava acontecendo no debate, (...) era para
ser um fracasso total – a lógica era de que não ia ter, não era para ter um acordo. E os
muito otimistas, ou porque não estavam querendo ser realistas, podem ter sido
decepcionados. O primeiro avanço, três coisas que eu acho que são chaves:
Primeiro, é que o que importa é que ele foi assumido com uma sinalização de que teremos
que ter metas... Uma meta, uma visão de onde a gente quer chegar, mais agressiva com os
EUA, assim on board, e numa situação em que ele não tem qualquer outra alternativa que
não seja entrar para valer no sistema.
Segundo, os países, digamos, emergentes, que são a grande preocupação atual (leia-se
China e Índia nesse caso, porque o Brasil sustentou uma posição neutra, naturalmente,
durante a reunião); e China e Índia toparam que nós devemos ter também
responsabilidades, ainda que não seja obrigatória e tal, mas vai ter, então ela vai se
tornar algo mais forte. Essas duas convergências são importantes. Principalmente são
mais agressivas e tal, e porque não tinha mais condições de fazer, mas nós vamos chegar
nesse caminho.
E o terceiro tema é que floresta entrou de volta para este debate, como floresta e não
como o debate sobre desmatamento, que eu acho que seria muito equivocado. Então, eu
acho que esses três aspectos eles, digamos, deram um novo fôlego para esse debate .
Mas a solução real do campo vai acontecer por outros acordos que vão acontecer em
torno disso, acho que iniciativas outras que vão acontecer, com os países líderes e coisas
261
assim. É fundamental o processo multilateral, porque ele mantém, porque ele vai
evoluindo, o conjunto da sociedade para, em estágios diferentes, ainda que são muito mais
lentos do que a gente pode fazer.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, T.A., 35,
ENGENHEIRO)
“(...) A dificuldade, o dilema, o fascínio dessa negociação é que ela tem que ser consenso.
Então, eu não tenho como convencer na força, tem que convencer no argumento, na
política, até no constrangimento. Mas eu tenho que convencer, não é? Então, são
processos muito doloridos, demorados, irritantes para quem quer resultado, como a gente.
Mas havia, ali, um risco de, de fato, colapsar o sistema, por essa posição quase que
intransigente de alguns países decisivos, de que não queriam entrar na agenda, mas
também por um movimento que começava a se esboçar, de se criar um processo paralelo
liderado pelos EUA, que queria abrir uma discussão envolvendo os maiores emissores e
criar um processo em paralelo.
Então, havia dois movimentos ali muito complicados: uma dificuldade enorme da
Convenção de evoluir e um movimento querendo descolar, levando esse debate para fora
do multilateralismo, o que seria uma tragédia. E Bali, na minha visão, apesar de tudo foi
capaz de reverter isso; ela matou as iniciativas bilaterais, tanto que a reunião que ocorreu
liderada pelos EUA no Havaí foi uma boa reunião, não é? Uma surpresa para todo
mundo...” (GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
15. RESPONSABILIDADE DO BRASIL DIANTE DAS QUESTÕES CLIMÁTICAS
Reduzir o desmatamento é a principal responsabilidade brasileira
Sem dúvida alguma, o desmatamento é visto como o maior problema brasileiro, e seu combate
através de medidas regulatórias é a nossa grande responsabilidade no cenário internacional. O Brasil
pode desempenhar outro papel importante: por ser líder em tecnologias de combustíveis renováveis
e possuir grandes quantidades de recursos naturais, pode criar alianças frutíferas com outros países
do “Sul”.
Outras responsabilidades mais pontuais envolvem reduzir as emissões provenientes da matriz
energética e dos sistemas saneamento.
Um entrevistado, entretanto, adverte que as responsabilidades do Brasil não são tão grandes quanto
as dos países desenvolvidos fato este que, segundo ele, é constantemente destorcido pelos interesses
políticos de veículos de mídia internacionais.
Desmatamento
“Acho que primeiro cabe ao Brasil mesmo, não querendo assumir a postura do governo
brasileiro, de responsabilidade solidária com o planeta, mas historicamente definido como
um país que tem uma responsabilidade menor em relação às emissões históricas. Portanto,
é cobrada a diferenciação das responsabilidades: todos somos responsáveis, mas
diferentemente responsáveis;
(...) O combate ao desmatamento, sobretudo na Amazônia, talvez seja a ação de maior
fôlego para redução das emissões, porque o desmatamento e a conversão de florestas no
Brasil correspondem, hoje, seguramente a mais de 30% das nossas emissões internas.”
(GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
262
“É, o Brasil precisa assumir isso como uma diretriz clara. Na realidade, a Convenção de
Mudanças Climáticas, ao aprovar o princípio das responsabilidades comuns, porém
diferenciadas, criou esse princípio, que foi mal utilizado. Esse princípio prevê que todo
mundo tem responsabilidade e todo mundo tem que reduzir; uns mais que outros em
função da contribuição histórica.
Tudo bem, ele é um princípio que não pode ser considerado inaceitável e incorreto.
Porém, o nosso problema não é mais saber quem emitiu mais, quem emitiu menos. O nosso
problema é a sobrevivência da humanidade. Então, esse princípio, esse mecanismo, jogou
países em desenvolvimento como o Brasil, que tem um peso importante, China e Índia, que
têm um peso monumental, África do Sul etc., num processo de negar...
Embora sem negar explicitamente a responsabilidade, na prática, sem assumir
responsabilidade. Então, o Brasil precisa sair dessa, mesmo porque o Brasil tem bons
resultados. O Brasil tem processos positivos, ele tem uma matriz energética limpa, tem a
questão dos biocombustíveis, que constituem uma alternativa caso a gente consiga
efetivamente garantir a expansão em bases socioambientais adequadas. O esforço na
redução do desmatamento, se a gente avançar de forma firme numa redução expressiva, é
uma enorme contribuição.
Então, o Brasil tem uma situação muito positiva porque, na realidade, pode reduzir a sua
emissão sem comprometer decisões que ele já tomou, ou seja, o Brasil já tomou a decisão
que não quer desmatamento. Essa decisão foi tomada pela sociedade brasileira, foi
manifestada permanentemente. Essa decisão foi tomada pelo governo brasileiro e pelo
setor empresarial esclarecido.
Então, o desmatamento é algo que o Brasil reconhece como um equívoco que ele tem que
eliminar. Se nós eliminarmos o desmatamento, nós passaremos a uma posição muito
confortável em termos de emissão; nós cairemos lá para baixo.” (GOVERNAMENTAL,
DES. SOCIOECONÔMICO, J.P.C. 51, BIÓLOGO)
“Acho que deveríamos investir no controle do desmatamento, fortemente, e devemos fazer
isso por conta própria, eu sou meio contrário a interferência internacional a esse respeito,
até porque eles não são um bom exemplo e aturar palpite de mau exemplo é dose. A
responsabilidade é nossa, o governo tem essa responsabilidade e deveríamos estar
encarando isso com firmeza, acho até que estamos, o Ministério do Meio Ambiente, o
Congresso.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53, ADMINISTRADOR)
Cooperação Sul-Sul
“Em primeiro lugar, eu acho que não pode o Brasil ser tratado numa lógica de uma área
internacionalizada, e aqui estamos falando especificamente da Amazônia, onde querem
imputar restrições sem conhecer as condicionantes, sem saber de todos os fatores
restritivos históricos.
Por outro lado, o Brasil tem sinalizado, em diversas manifestações, em diversas atitudes, a
sua preocupação em não só, ser protagonista do tema, mas fazer a sua parte. Então,
quando o Brasil se preocupa em estabelecer uma Política Nacional em relação às
mudanças climáticas, quando já vinha adotando medidas restritivas importantes, na
questão do desmatamento, seja aumentar ou aperfeiçoar os mecanismos que o CONAMA
estabelece na questão de licenciamento ambiental, eu acho que são sinais importantes e
relevantes que tem que ser observados.
Eu acho que nesse sentido o Brasil dá um bom exemplo, que pode ser usado como
referência importante. Além disso, acho que o Brasil tem feito algo muito importante, que
263
é poder dialogar com outras nações que se enquadram e que estão nesse mesmo patamar
que o Brasil e todo o esforço do governo brasileiro tem feito em relação à África, por
exemplo, ela nos permite estabelecer e construir novos paradigmas de produção e de
crescimento econômico, já dialogando com essa questão da conservação da
biodiversidade.
A África também é riquíssima nesses aspectos da questão dos recursos naturais, sejam
renováveis ou não renováveis; e eu acho que o Brasil pode, nessa interlocução Sul-Sul, ir
deixando cada vez mais claro aos demais países quem está fazendo a sua tarefa de casa, e,
na minha opinião, vem fazendo de alguma forma, dadas todas condicionantes e restrições
que tem.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 3, ECONOMISTA)
“Para você criar mecanismos que realmente dêem impactos. E uma outra coisa que o
governo brasileiro é contra, mas eu particularmente sou a favor, é de que os países em
desenvolvimento também tenham metas. Porque hoje os países em desenvolvimento, como
China, Índia e Brasil, têm um grande potencial de poluição.
Então, por exemplo, se China e Índia tiverem o padrão que estão buscando, um padrão de
desenvolvimento dos EUA e da Europa, a gente está “lascado”. É por isso que a gente,
também, tem que se comprometer com metas, com mecanismos limpos etc. Nesse aspecto,
o Brasil deu até um passo importante na questão de biocombustível.
O Brasil tem grandes vantagens: tem uma matriz energética muito limpa, baseada
principalmente em hidrelétricas, tem estoque de petróleo grande, os biocombustíveis, os
carros flex... Então, isso tem um impacto, pelo menos um efeito demonstrativo
importante.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
Outras responsabilidades: fontes renováveis de energia, transporte coletivo, valorizar a floresta
em pé, reduzir emissão dos lixões, otimizar o uso de recursos hídricos...
“Em segundo [lugar], ampliar a produção de combustíveis de fontes renováveis, a partir
de sistemas de produção que sejam sustentáveis do ponto de vista ambiental e social e, em
terceiro, fazendo um grande programa de reflorestamento capaz de seqüestrar volumes
expressivos de gás carbônico, retirar da atmosfera volumes expressivos de gases que
causam o efeito estufa.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.V., 47, ENGENHARIA
FLORESTAL)
“Bom, eu acho que, no mínimo, privilegiar o transporte coletivo, ao invés do individual.
Brasília, por exemplo, é uma cidade em que o transporte é muito individualista. E isso se
faz basicamente por quê? Para mim, que moro perto, relativamente perto, é muito mais
barato vir de carro e sozinho do que se eu pegasse um ônibus. Então, isso do ponto de
vista ambiental é um absurdo. Teria que ter algo para fazer você pensar duas vezes: ir de
carro para o trabalho é muito caro. E aqui em Brasília, você conhece, não é? O
engarrafamento está ficando impossível, e isso aconteceu nos últimos dez anos.
Outra questão é a da Amazônia; eu acho que teria que ter uma política bastante rigorosa
na questão da preservação, na questão de você criar mecanismos de autosustentabilidade; não deixar a região à mingua. Você tentar valorar, dar valor à mata em
pé....
Desenvolver tecnologia para esses lixões, que são os grande emissores de metano, e as
questões de dejetos suínos de empresas.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49,
ECONOMISTA)
264
“É que recursos hídricos é uma espécie de área de conforto no que se refere ao exame
dessa questão, porque, qualquer que seja a constatação, há evidências de mudanças
climáticas, há indícios fortes de que essas mudanças decorram das atividades humanas. É
importante se conhecer o cenário em que se trabalha. Mesmo que o cenário fosse o
oposto, o nosso papel seria sempre o mesmo: observar a natureza na verdade. Observar e
medir esses recursos hídricos para reforçar essas diferenças, esse é nosso papel
primordial; monitorar chuvas e vazões, estabelecendo hipóteses reforçando linhas de
pensamento presentes nas discussões.” (GOVERNAMENTAL, DES.SOCIOECONÔMICO,
B.P., 58, ENGENHEIRO)
Mas a responsabilidade do Brasil não é tão grande assim...
“O Brasil tem uma responsabilidade muito pequena, porque a responsabilidade não é a
emissão atual. Esse é um outro equívoco que as pessoas, aqui no Brasil, repetem muito. A
responsabilidade pela mudança do clima, aí é a complexidade do tema. O que faz o
aquecimento global, na verdade, a emissão se acumula na atmosfera, as moléculas ficam
na atmosfera durante muito tempo.
Então, é diferente de poluição local... O que nós estamos discutindo, hoje, é tudo que foi
feito desde a Revolução Industrial. O que nós estamos fazendo, hoje, vai ter implicações
para as sociedades futuras. Então, a responsabilidade não é a emissão anual.
A imprensa associa, por causa da poluição local, a responsabilidade à emissão. No caso
do efeito estufa, não. Você tem que fazer o cálculo dessa acumulação. O que é que você fez
há 200 anos atrás, desde a Revolução Industrial, o que isso gerou de concentração e qual
o dano que isso está causando agora e para o futuro? Então você vê que é difícil.
A imprensa e alguns países tendem a querer colocar a responsabilidade no Brasil pela
emissão atual, porque a nossa emissão é alta. O que a gente fala é, olha, cuidado, porque
a responsabilidade não é pela emissão. A responsabilidade é pelo que eu contribuí para
aumentar a temperatura ou o que eu contribuí para aumentar a concentração.
E o quê as pessoas não entendem é isso, por causa disso. Nós contribuímos muito pouco,
porque o nosso processo de desenvolvimento é recente. A industrialização no Brasil
começa mais rigorosamente desde 1950, e mesmo o desmatamento começa em 1970. Se
você comparar com a Europa, o desmatamento da Europa é no século XV, no século XVI,
XVII. Dos EUA, no século XVIII. Então, eles contribuíram muito mais.”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, J.M., 60, AGRÔNOMO)
Devemos exportar a experiência brasileira...
O Brasil é exaltado por alguns como um exemplo, um país capaz de mostrar ao mundo técnicas
capazes de diminuir as emissões sem afetar o desenvolvimento. Afinal de contas, o Brasil ainda
possui muitos recursos que os países desenvolvidos já esgotaram há muito tempo, e o país pode usálos a seu favor.
“O Brasil protagoniza, em temos de políticas ambientais e setoriais. Temos sido marcados
por sermos uma nação que ainda pode oferecer ao mundo algumas coisas que o mundo
não consegue mais ter, nós temos ainda, apesar de todos os problemas de preservação ou
conservação de nossas florestas, nossos rios, nós ainda temos os rios, temos as florestas,
que alguns lugares do mundo já não têm mais, então, apesar de sermos acusados de
muitas coisas, eu acho que não estamos em situação de ficar calados, porque eles já
fizeram piores, agiram de forma pior e, claro, agora querem evitar que a gente faça, mas
ou a gente assume um papel de protagonista ou vamos ficar levados a decisão alheia, e
nesse ponto eu acho que, desde o inicio da década de 90, o Brasil vem se preocupando em
265
tentar participar de forma efetiva dos fóruns internacionais, porque a gente cuida do meio
ambiente, e nessa área, particularmente efeitos climáticos, está na hora de cair de cabeça
e tomar a frente, e com a capacidade que a gente tem, criatividade que o povo brasileiro
tem, procurar soluções mais reais, e menos assim.” (GOVERNAMENTAL,USO DO SOLO,
C.S., 35, ECONOMISTA)
“No Brasil é uma coisa assim extraordinária, é o único país do mundo que vende álcool
nos postos de gasolina como combustível sozinho e é o único que mistura com a gasolina
na proporção de 25%, quer dizer, tudo isso é um combustível renovável, é um combustível
de origem vegetal. Precisamos trabalhar por isso aí.
O que não podemos é não ter a pretensão de exportar a experiência. Certo discurso que
existe por aí afora, que a produção do etanol termina prejudicando as áreas de produção
de produtos hortigranjeiros, não é verdade para o caso brasileiro, mas é verdade para o
caso deles, para o caso dos Estados Unidos, por exemplo; para produzir o milho, eles
fazem o álcool na base do milho. Não é o nosso caso, nosso caso é bastante diferente, essa
é uma coisa em que nós podemos avançar mais. Eu acho que outro problema é de ter uma
posição ofensiva de liderança no fórum internacional defendendo esse tipo de
comportamento.” (GOVERNAMENTAL, ENERGIA, H.L., 69, ENGENHEIRO ELÉTRICO)
“Eu acho que o Brasil tem tido iniciativas bastante importantes, tem um imenso campo
para avançar nesse tema de contribuição com as reduções. Uma delas, obviamente, tem
sido o esforço de explorar novas matrizes energéticas, o próprio biocombustível, com
todos os problemas associados que tem no campo social, fundiário ou outros, e o Brasil
tem que encontrar meios de enfrentar estes riscos, agora obviamente uma matriz
energética renovável como o Brasil já avançou bastante significativo, pode ser
importante.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O., 40,GEÓGRAFO)
“Eu acho que o Brasil pode ser um laboratório de uma nova sociedade por diversas
razões. Primeiro porque somos uma sociedade plural, étnica e culturalmente. Somos
também uma sociedade cujas as perdas materiais, por manter a sociedade em um padrão
típico de consumo, são clássicas de um capitalismo do fim do século passado, século XX.
[Reverter] isso nos custaria menos.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
16. IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
A ação individual é de extrema importância
Apenas um entrevistado afirmou não acreditar no potencial das ações individuais como elemento
importante na transformações de hábitos para o enfrentamento das mudanças climáticas.
“Não, eu não acredito nisso não. Eu acho que ações voluntárias são importantes, têm uma
escala e tal, mas, temos vários exemplos onde não tem um esforço de coordenação de
iniciativas, você não tem uma pactuação consistente, coerente, seja em âmbito planetário,
seja em âmbito nacional. É muito difícil que aquele seu esforço individual tenha
efetividade. Ele pode funcionar como um bom exemplo para aparecer numa televisão...”
(GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
Os demais entrevistados concordam que a ação individual tem um efeito demonstrativo e contribui
para a mudança de comportamentos e de “consciência” em escala mais ampla.
266
“(...) O grande desafio futuro da humanidade vai ser mudar o seu padrão de produção e
consumo, quer dizer, o padrão que o planeta aborda hoje, tem visivelmente um horizonte
de curto prazo. E o principal elemento para tencionar a mudança no padrão de produção,
é mudar o padrão de consumo.
E isso é uma ação que depende de cada individuo, claro. Ela é motivada pela coletividade,
ela pode ser acelerada por ações coletivas, agora, só alcança a efetividade quando
adotada individualmente.
Esse é um primeiro grande desafio, de criar um processo onde cada um de nós, seja a
partir de sua ação pública, seja a partir da ação do cotidiano da sua vida privada, adotar
um modo de vida e um modo de se relacionar com o meio que seja menos indutor de
consumo, de combustíveis fósseis, por exemplo, menos emissor, menos degradador.”
(GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
“Eu acho que elas podem ser muito importantes, principalmente se elas tiverem a
legitimidade de corresponderem a setores sociais que não estão sendo ouvidos. Então, eu
acho que esse é um aspecto importante.
E outro aspecto importante desse papel individual é o papel do gestor. É indiscutível que
os gestores públicos no país têm uma capacidade importante de curto prazo de interferir
sobre decisões, então eu acredito que é importante também que exista, digamos assim, um
setor que acaba sendo privilegiado nas decisões de importância para o tema.
Então, sem dúvida, a sua boa ou má condução é de grande repercussão”.
(GOVERNAMENTAL, ENERGIA, M.C., 50, ADMINISTRADORA)
“Elas têm [importância], não pelo que elas fazem, mas elas têm pelo que elas conseguem
mudar de consciência. Eu acho, por exemplo, que cuidar de lixo seletivo, cuidar de um
nível de consumo individual que prescinda de insumos que são decorrentes desse processo
industrial todo, tanto a dona de casa que vai fazer compras e abre mão do saquinho de
plástico e leva sua sacola e traz, em tudo isso o impacto direto é quase nulo. No entanto, o
impacto na consciência e na formação de opinião eu acho que é relevante, porque é a
única forma da gente atingir os nossos dirigentes e conseguir mudar as escalas de
intervenção do poder público, então é um trabalho de formiguinha, que mesmo sendo sem
importância é transformador a longo prazo.” (GOVERNAMENTAL, DES.
SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
17. ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE MAIS CONTRIBUEM PARA AS EMISSÕES
Agropecuária é a que mais contribui para as emissões
As entrevistas ressaltaram um conjunto de atividades que mais contribuem para as emissões de
gases de efeito estufa no Brasil.
Em primeiro lugar, isolada, situa-se a expansão da atividade agrícola, que provoca desmatamento e
queimadas. Em segundo lugar vem a preocupação com o setor secundário de produção industrial e
energética com recursos não renováveis. Em terceiro lugar, figurou uma preocupação com a questão
urbana, não só pela matriz de transportes, mas pela lógica de consumo que ela promove. Alguns
entrevistados também citaram o padrão de desenvolvimento atual como o maior problema para as
emissões de gases de efeito estufa.
267
Expansão da fronteira agrícola
“O desmatamento, que é resultado da expansão da fronteira agropecuária. A indústria
automobilística... Não é a indústria automobilística, na verdade: é o transporte, a opção
do transporte. A opção permanente e continuada de transporte individual em vez de
coletivo. Esse é o segundo fator dramático. E o consumo de energia elétrica sem políticas
de conservação da energia elétrica.” (GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO,
J.P.C. 51, BIÓLOGO)
“Bom, o primeiro, aqui no Brasil, é a questão da queimada. Talvez a questão da poluição
dos grandes centros, como São Paulo e Rio. E qual outra? Bom, essa questão seria a da
poluição por área, e a outra a poluição industrial.” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA,
C.L., 49, ECONOMISTA)
“O desmatamento, a agropecuária, o transporte e a gestão pública inadequada, ou seja, o
governo que não deixa de ser o setor, assim como a agropecuária, que seu comportamento
tem reflexo, assim como os transportes, a estruturação estatal se reflete, o setor publico
federal e estadual não estão prontos, preparados para o enfrentamento daquela situação.”
(GOVERNAMENTAL, DES. SOCIOECONÔMICO, A.G.J., 52, ENGENHEIRO
FLORESTAL)
“Se a gente for considerar o desmatamento como a ação que mais gera emissões, não tem
como a gente escapar do agronegócio, agro pecuária, como a atividade, que, com todas as
ressalvas que se possa fazer, que segmentos do agronegócio diretamente não tenham a ver
com isso, é o motor da agro economia do pais que empurra uma atividade menos rentável
para a fronteira. Então, uma hora é a soja, outra hora é a cana, é o biocombustível, mas o
que a gente assiste historicamente, no meio rural brasileiro, é que as atividades de menor
rentabilidade estão sempre sendo empurradas para a fronteira e esse processo de
expansão ou tensão, das atividades de menor rentabilidade são feitas pelas atividades de
maior rentabilidade.” (GOVERNAMENTAL, USO DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
Uso industrial e energético de recursos não renováveis
“Evidentemente que é energia, a matriz energética, ela é um fenômeno que, no caso do
Brasil, lamentavelmente, nós estamos caminhando para uma matriz térmica, ao invés de
ser uma matriz hídrica. Mas o que mais me preocupa sobre esse tema, além desse aspecto
lamentável, é o fato de não termos ainda na agenda, com a mesma força que deveríamos
ter, duas iniciativas nesse campo temático da energia: o primeiro, a questão das energias
alternativas, [e depois a] racionalização energética. Então penso isso.”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57, ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
“(...) Recursos naturais não renováveis, principalmente minério, a questão da indústria de
transformação em alguns setores específicos, elas têm impacto.” (GOVERNAMENTAL,
AGRONEGÓCIO, C.G.G., 37, ECONOMISTA)
A questão urbana
“Eu vou falar das cidades. Eu acho que é preciso rever as cidades, as cidades, a
concentração urbana. O adensamento urbano do meu ponto de vista é crítico, do ponto de
vista de mudanças climáticas....” (GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, A.P., 57,
ENGENHEIRO AGRÔNOMO)
“Você tem um outro tipo de impacto, por exemplo, nos serviços, que não é o serviço em si,
mas um conjunto de como [os serviços] estão organizados nos centros urbanos... Quer
dizer, hoje a forma como a gente trabalha é [com] muito papel, então isso tem de fato
268
gerado um impacto muito significativo.” (GOVERNAMENTAL, AGRONEGÓCIO, C.G.G.,
37, ECONOMISTA)
Estilo de desenvolvimento e padrão de consumo
“Acho que é o nosso estilo de desenvolvimento, é a dificuldade que as nações
historicamente tiveram de distribuir as suas riquezas, a cultura do desperdício, a cultura
gerada nos países mais ricos, mas disseminada, hoje, para todo o mundo, uma cultura de
obter coisas com muita rapidez, com grande gasto de energia, em detrimento de
tecnologias mais racionais, ainda que isso retarde um pouco o resultado. Então, essa é a
minha visão, a questão principal e mais grave desse processo todo, é algo que tende a
acelerar e tornar mais aguda qualquer das nossas preocupações.” (GOVERNAMENTAL,
DES.SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
“Eu diria que a raiz é o atual modelo de produção e consumo, que é fortemente
demandador de recursos naturais e altamente emissor de gases de efeito estufa. Então esse
é o núcleo, e é aí que temos de criar capacidade de intervir.” (GOVERNAMENTAL, USO
DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
18. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E ENFRENTAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
É a vontade política que possibilita compatibilizar desenvolvimento e enfrentamento das
mudanças climáticas
Todos afirmam que é possível compatibilizar desenvolvimento e reduzir as emissões,
principalmente no Brasil. Apesar de não proporem uma “fórmula”, os entrevistados do setor
governamental acreditam que ela pode ser promovida por planejamento e metas promovidos por
políticas públicas. Mas, para que isso ocorra, é necessário romper com o status quo, com os padrões
atuais de desenvolvimento.
“O que faz falta é uma transformação de políticas públicas que, por um lado impeça o
desmatamento daqueles parâmetros de comando e controle de fiscalização de coibição, e
por outro gere oportunidades de desenvolvimento com floresta em pé ou corte seletivo,
com aproveitamento dessa massa florestal de maneira mais coerente e diferente da forma
como o empresariado tradicional brasileiro está acostumado a lidar. É uma
transformação difícil, cara e que implica numa vontade política muito grande, que não
esta presente.
Porque se você verificar as lideranças políticas das regiões florestadas, elas são
extremamente atrasadas nesse sentido. Elas lutam é pela manutenção desse status quo, o
mesmo processo, porque entendem que essa é a via de desenvolvimento. Então, tem que
abrir espaço para algo novo que não é conhecido no detalhe. Tem que haver uma grande
vontade política para pactuar com diferentes setores. A realização disso ainda não está
presente nos elementos para isso; é meio desalentador.” (GOVERNAMENTAL,
DES.SOCIOECONÔMICO, B.P., 58, ENGENHEIRO)
“(...) transformar o tema das mudanças climáticas num tema central da agenda,
precisamos fazer com que o tema das mudanças climáticas globais e, portanto, em ultima
escala, a manutenção da vida no planeta e sua qualidade de vida, esteja como tema vital
em qualquer agenda de desenvolvimento que se vá discutir.” (GOVERNAMENTAL, USO
DO SOLO, V.O., 40, GEÓGRAFO)
269
“Então, acho que temos como corresponder a esses desafios, muitas vezes falta o
enfrentamento político, a consciência dessa necessidade, a priorização do tempo. Aqui, a
gente prioriza, mas aqui é a nossa área. A própria razão da existência da agroenergia
implica que a gente tem que ter um conhecimento maior para esse respeito. Mas eu acho
perfeitamente possível, e deve ser ponto de determinação dos poderes políticos mais
elevados, que a gente execute isso.” (GOVERNAMENTAL,AGRONEGÓCIO, M.V.B., 53,
ADMINISTRADOR)
“Em todos esses temas eu acho que o governo sempre está por trás, no sentido de
viabilizar e criar políticas para tentar viabilizar esse tipo de movimento. O Brasil, eu
acho, é o grande país para dar exemplo nesse processo. Tentar substituir paulatinamente e
tornar viável economicamente outras formas de combustível, tipo biocombustível,
biodiesel, essas coisas, que são menos poluentes e que já são viáveis.”
(GOVERNAMENTAL, ECONOMIA, C.L., 49, ECONOMISTA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os entrevistados deste setor, uma expressiva parte atuante na esfera federal, consideram as
mudanças climáticas um assunto chave na pauta governamental.
O setor, de um modo geral, mostrou-se interessado, além de revelar um bom domínio dos assuntos,
tanto do ponto de vista técnico quanto político, pois muitos dos entrevistados são coordenadores ou
membros de comissões de alto nível nos Ministérios de Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia,
ou ainda no Itamaraty.
As lideranças deste setor reconhecem que cabe a eles próprios sugerir ao executivo (Presidência e
Casa Civil) medidas fundamentais (e rápidas) para mitigação e adaptação, propondo as bases de
formulação de uma política nacional do clima. No âmbito internacional, admitem, há muitos
interesses em jogo, cabendo ao Itamaraty defender os interesses do Brasil.
Para o setor, muitas das posições internacionais ocultam interesses comerciais e de influência
geopolítica. Eles também entendem que as responsabilidades no enfrentamento das mudanças
climáticas são comuns, mas diferenciadas. O Brasil é reconhecido como “potência ambiental” de
primeira grandeza e importante ator no cenário internacional.
Com bastante freqüência se observou que o Brasil precisa de recursos para proteger a Amazônia, e
que os países ricos devem pagar pelos serviços ambientais ofertados por esse importante bioma.
É o setor menos crítico do posicionamento do Brasil nas conferências internacionais do clima,
bem como o mais otimista com relação às potencialidades do Brasil e à possibilidade de que o
país se torne uma grande potência em produção de energias limpas (etanol de cana e produção de
biomassa de origens diversas).
270
PERFIL DO SETOR
Os gestores federais são maioria (23), seguidos dos da área estadual (7). No âmbito nacional, a
grande maioria é composta por coordenadores de programas ministeriais e secretários nacionais de
políticas setoriais. Na esfera estadual, três são secretários estaduais de meio ambiente.
CARGOS
FREQ.
Coordenadores de políticas e programas setoriais dos
ministérios
6
Secretário nacional de políticas setoriais
6
Diretor-geral de agência nacional
2
Presidente de companhia nacional
1
Presidente de agência nacional
1
Presidente de companhia nacional
1
Diretor nacional de competitividade industrial
1
Coordenador de agropecuária de órgão federal
1
Diretor de empresa estatal
1
Coordenador de agropecuária (federal)
1
Vice-presidente de agronegócios
1
Diretor do programa de agricultura familiar
1
Secretário estadual de meio ambiente
3
Subsecretária estadual de planejamento de política
1
Superintendente de agência regional
1
Diretor de agência estadual
1
Presidente de banco estadual
1
Nível
federal
Nível
estadual
Total
60
A amostra do setor governamental retratou a predominância de homens na ocupação de cargos de
alto escalão. Apenas três mulheres participaram da pesquisa.
Sexo
M
F
Total
27
3
30
A metade dos entrevistados tem entre 50 e 59 anos. Outros 7 entrevistados têm entre 40 e 49. Cinco
estão na faixa de 60 a 69 anos e três na faixa de 30 a 39 anos.
Faixa etária
30-39
3
40-49
50-59
60-69
Total
7
15
5
30
271
Quase metade dos entrevistados deste setor é natural da região Sudeste. A segunda grande região
mais representada é a Nordeste, com 5 entrevistados, seguida da Sul, com 4 entrevistados. Os
demais são da região Centro-Oeste (3) e Norte (1). Três deles são estrangeiros.
Naturalidade
RS
SP
9
4
RJ
MG
CE
DF
PE
AC
BA
MS
AM
Ext.
Total
3
2
2
2
1
1
1
1
1
3
30
O setor a apresenta um alto grau de qualificação profissional: 8 são doutores, 7 mestres, 5 pósgraduados e 10 possuem superior completo.
Escolaridade
Superior
10
Pós
Mestrado
Doutorado
TOTAL
5
7
8
30
Os entrevistados deste setor são formados em diversas profissões. A profissão mais representada é
engenharia (12), seguida por economia (8).
Formação
Formação
Freq.
Engenharia
12
Economia
8
Administrador
2
Biólogo
2
Hidrólogo
1
Matemática
1
Geógrafo
1
Funcionário público
1
Sociologia
1
Biólogo
1
Total
30
272
COMENTÁRIOS FINAIS
Comparando os sete setores selecionados, verificamos que as opiniões são, em geral, razoavelmente
semelhantes, tanto no tocante ao posicionamento político dos entrevistados quanto no que se refere
à sua argumentação sobre o tema das mudanças climáticas. Naturalmente, dentro de cada setor, os
grupos de opinião manifestam suas diferenças. Na amostra como um todo, é residual o número
daqueles que se manifestaram com desinteresse em relação à questão das mudanças climáticas,
considerada altamente relevante pela maioria absoluta dos entrevistados para os destinos do país e
do mundo. Para essa maioria, trata-se de uma das mais cruciais questões contemporâneas.
Chama a atenção o fato de que, à exceção dos setores científico e governamental, que demonstram
uma familiaridade maior com a problemática, para os demais setores trata-se de uma questão
relativamente nova, mas enormemente mobilizadora.
Esse caráter mobilizador se deve ao fato de que a questão coloca em xeque a maneira como nossa
sociedade tem se organizado para promover o bem-estar e a prosperidade. O dilema impõe a
transição para um novo modelo civilizacional. Esse novo modelo é genericamente chamado de
“desenvolvimento sustentável” pela maioria.
Independentemente da posição política ou do setor, a questão climática está envolta por uma
dramaticidade que toca cada um dos ouvidos na pesquisa.
Cada setor traz, contudo, uma contribuição especial, que está relacionada à sua cultura setorial e aos
traços peculiares ao papel de cada setor na sociedade. A seguir, resumimos essas especificidades.
MÍDIA
O setor define-se como generalista e praticamente nenhum profissional ouvido na pesquisa pode ser
considerado, a rigor, especialista no tema. Ainda assim, mostrou-se de um modo geral preocupado e
propenso ao otimismo, otimismo este baseado na crença fundamental de que a humanidade
encontrará uma saída e de que a ciência, em grande medida, fornecerá as bases tecnológicas
necessárias para tanto.
Como brasileiros e como jornalistas, os entrevistados desse setor se sentem motivados e declararam
estar dispostos a um maior engajamento.
Estão em fase, como eles mesmos dizem, de “aprender mais”. Procuram ler livros, pesquisar na
internet e, pela natureza de seu trabalho, ficam atentos ao noticiário internacional. Consideram que
o papel mais importante a ser desempenhado pelo setor é o de veicular informação de qualidade e
contribuir para a conscientização e para o processo de decisão tanto individual quanto coletivo.
Para eles, é o governo quem deve liderar o processo de engajamento da sociedade. Consideram
ainda que o tema das mudanças climáticas está ganhando um espaço cada vez maior na mídia,
tendência que acreditam deva perdurar e ganhar mais densidade nos próximos anos.
273
CONGRESSO
Este setor, como a mídia, também se considera generalista, cuidando de uma pauta ampla e em
geral contando com “assessores” ou “peritos técnicos” para questões mais complexas, como a do
clima, por exemplo.
Apesar de reconhecer que a temática das mudanças climáticas será um problema cada vez mais
crítico para a sociedade brasileira e mundial, o poder legislativo brasileiro não a vem tratando com a
devida importância.
Segundo os parlamentares ouvidos, existem, no momento, outros problemas mais importantes em
pauta, e o lobby de alguns setores não permite a tramitação de medidas ligadas ao tema com mais
rapidez e objetividade. Apesar da morosidade e superficialidade com que o tema ainda é tratado no
Congresso e nas Assembléias Legislativas Estaduais, aos poucos os parlamentares estão se
familiarizando com o assunto, principalmente desde o advento da Comissão Mista das Mudanças
Climáticas da Câmara dos Deputados e da criação dos fóruns estaduais de mudanças climáticas
(criados em São Paulo, Minas e Bahia).
Ao admitir que o tema das mudanças climáticas não está entre as prioridades do legislativo,
atribuem o fato à falta de ânimo do governo federal para lidar mais seriamente com o tema, bem
como à ausência de uma preocupação expressa da sociedade.
Sem o executivo e sem a sociedade, o Congresso tem muito pouco a fazer, dizem. Em certos nichos,
porém, especialmente naqueles em que os ambientalistas transitam com mais desembaraço (e citam
a Frente Parlamentar Verde), vai surgindo um interesse maior. Segundo este setor, o tema não
chegou ainda ao “coração do Congresso”.
SOCIEDADE CIVIL/ONGS
Ambos os setores – ONGs e sociedade civil – são marcados por forte heterogeneidade, mas
revelaram que há muito consenso em suas opiniões. Os mais importantes são em relação à
responsabilidade do Brasil de cuidar da Amazônia e de promover políticas públicas, principalmente
na área de energia, que possam colocar o país em situação mais confortável diante da cobrança
internacional.
Os membros desse setor podem ser caracterizados como moderadamente críticos do “modelo
capitalista de produção e consumo” e das desigualdades políticas e econômicas que dividem o
mundo entre Norte e Sul, entre países ricos e pobres, com exceção de algumas poucas organizações
de perfil político mais radical presentes na amostra. Talvez por incluir muitas associações
empresariais, a sondagem não revelou posições muito radicalizadas contra o setor privado ou as
“forças de mercado”.
Apesar das cores e tintas políticas variadas, há portanto mais consensos do que dissensos neste setor
em relação às questões que cercam a discussão sobre o problema das mudanças climáticas. Os
entrevistados consideram que as mudanças climáticas tornaram-se uma questão crucial que não
pode ser ignorada por nenhuma política setorial: seja no combate ao desmatamento na Amazônia,
seja repensando a matriz energética ou a destinação do lixo produzido nas grandes cidades. A
preocupação de fundo deve ser como reduzir emissões ou diminuir os efeitos das mudanças
climáticas.
Os entrevistados deste setor se mostraram fortemente interessados e mobilizados pelo tema das
mudanças climáticas, pois acreditam que elas afetarão mais as populações pobres e países como o
Brasil, que fizeram a ocupação do território ao longo da costa e dos grandes rios.
274
Faz parte da “competência política” dessas lideranças estarem sintonizadas com os temas mais
importantes da pauta política, social e ambiental. Esses setores são os que mais enfatizam em seu
discurso a necessidade de promover um desenvolvimento “socialmente justo e ecologicamente
responsável”.
Os representantes da sociedade civil e das ONGs se mostraram bastante otimistas quanto ao poder
das ações individuais, embora não se distingam dos demais ao considerar que cabe ao Estado
brasileiro a responsabilidade de liderar um processo de maior engajamento do país no combate ao
agravamento das mudanças climáticas.
EMPRESARIAL
O setor empresarial aqui amostrado, com um número considerável de representantes de atividades
relacionadas ao agronegócio e à energia, está ciente da sua responsabilidade perante a sociedade no
que tange às mudanças climáticas.
Acreditam que o empresariado tem muito a contribuir, mas demonstram forte preocupação com a
possibilidade de perda de lucro ou diminuição da competitividade dos seus negócios ou do Brasil,
caso as políticas de redução não sejam bem planejadas e bem implementadas.
No limite, reconhecem que o “desenvolvimento sustentável”, conceito ao qual se remetem,
insistindo na “sustentabilidade econômica” das medidas, só será alcançado se houver uma mudança
gradual no paradigma de produção e consumo.
Esse problema (mudança de paradigma) é visto como um problema global, não só do Brasil. O
último relatório do IPCC (2007) previu um horizonte menor de tempo para que os países formulem
políticas mais eficientes de combate às mudanças climáticas.
Eles sabem que essas políticas devem afetar o setor produtivo. Estão, até certo ponto, ansiosos para
que as políticas sejam definidas “o quanto antes”, pois consideram que haverá um custo envolvido
na transição do uso de combustíveis fósseis para outros tipos de energia.
Desse cenário, de restrições ao uso dos combustíveis fósseis e de taxação de emissões, emerge a
necessidade de investir em novas tecnologias e ampliar a oferta de energia limpa. Em outras
palavras, para o empresariado, falar de mudanças climáticas hoje é discutir a matriz energética
brasileira e o modelo de transição.
Para os empresários, falta liderança, tanto interna (do Brasil) quanto externa, para que as medidas
sejam mais rápidas e efetivas. A queixa do empresariado é a de que não há, ainda, uma política
nacional do clima; faltam, portanto, diretrizes que possam melhor orientar o setor sobre os
programas e ações prioritários.
CIENTÍFICO
O setor científico foi o que mais revelou domínio sobre as causas e conseqüências das mudanças
climáticas. Mostrou-se também o mais bem informado sobre como o Brasil vem conduzindo a
questão nos diversos fóruns nacionais e internacionais.
Para o setor, as evidências apontadas pelos últimos relatórios divulgados já fornecem uma base
suficiente para que o governo e os demais tomadores de decisão dos setores público e privado
formulem políticas de redução das emissões.
275
Quanto à questão da “certeza científica”, os entrevistados insistem que “há base científica”
consistente sobre a qual agir; no entanto, frisam que a ciência precisa de liberdade e que é próprio
do meio científico buscar novas teorias, refutar teses e buscar a precisão que ainda não se tem em
vários conteúdos.
O importante é não usar a tese da “controvérsia científica” (que sempre haverá no meio acadêmico)
como álibi para a negligência e a inação nesse momento em que há tanto em jogo, talvez a
sobrevivência da própria espécie humana.
Para o segmento científico brasileiro, o Brasil tem território, recursos de biodiversidade e economia
capazes de sustentar um novo modelo de desenvolvimento. Tem, além disso, base tecnológica
avançada nas questões da sustentabilidade e poderá melhorá-la ainda mais, desde que seja
formulada uma política nacional do clima que oriente os investimentos em ciência e tecnologia.
Em geral, os cientistas mostram-se entusiasmados com a possibilidade de que o Brasil se torne um
grande produtor de energias limpas. Além disso, para eles, a Amazônia é simultaneamente nosso
problema e nossa solução: ela é “o ouro verde do Brasil”.
GOVERNAMENTAL
Os entrevistados deste setor, uma expressiva parte atuante na esfera federal, consideram as
mudanças climáticas um assunto chave na pauta governamental.
O setor, de um modo geral, mostrou-se interessado, além de revelar um bom domínio dos assuntos,
tanto do ponto de vista técnico quanto político, pois muitos dos entrevistados são coordenadores ou
membros de comissões de alto nível nos Ministérios de Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia,
ou ainda no Itamaraty.
As lideranças deste setor reconhecem que cabe a eles próprios sugerir ao executivo (Presidência e
Casa Civil) medidas fundamentais (e rápidas) para mitigação e adaptação, propondo as bases de
formulação de uma política nacional do clima. No âmbito internacional, admitem, há muitos
interesses em jogo, cabendo ao Itamaraty defender os interesses do Brasil.
Para o setor, muitas das posições internacionais ocultam interesses comerciais e de influência
geopolítica. Eles também entendem que as responsabilidades no enfrentamento das mudanças
climáticas são comuns, mas diferenciadas. O Brasil é reconhecido como “potência ambiental” de
primeira grandeza e importante ator no cenário internacional.
Com bastante freqüência se observou que o Brasil precisa de recursos para proteger a Amazônia, e
que os países ricos devem pagar pelos serviços ambientais ofertados por esse importante bioma.
É o setor menos crítico do posicionamento do Brasil nas conferências internacionais do clima,
bem como o mais otimista com relação às potencialidades do Brasil e à possibilidade de que o
país se torne uma grande potência em produção de energias limpas (etanol de cana e produção de
biomassa de origens diversas).
276
TABELA-RESUMO DE TODAS AS ANÁLISE SETORIAIS
A tabela a seguir resume os resultados das análise setoriais para cada um dos 18 tópicos abordados,
permitindo uma leitura transversal das respostas mais freqüentes. Nota-se claramente a
heterogeneidade das respostas e posicionamentos – estão marcadas em laranja as respostas mais
freqüentes em todos os setores; e em amarelo quando houve 2 tipos de respostas mais freqüentes. A
única resposta que não pôde ser agrupada foi a visão dos entrevistados sobre a Conferência do
Clima em Bali já que os posicionamentos dos setores foram bem variados.
277
Nº TÓPICO
1
2
Quando ouviram falar em
Mudanças Climáticas pela
primeira vez
CONGRESSO
ONG/SOCIEDADE CIVIL EMPRESARIOS
CIENTISTAS
(16) na decada de (31) na decada de 90
(12) na decada de 90 (10) na decada de 80
90
MÍDIA
(10) na decada de 80
(14)
Explorando
Nível
de
conhecimento aprendendo mais
sobre o tema
3
(18)
Nível de motivação para motivada
aprender mais sobre a
temática do clima
4
Maior
desafio
humanidade
para
próximos 20 anos
e (18) Explorando
aprendendo mais
Altamente (18)
motivada
Preservação
Amazônia
5
da
Maior
desafio
ambiental
para os próximos 20 anos
7
8
9
e (13)
Bom
incompleto
Altamente (43) Altamente motivada
Mudanças
climáticas/desigualdades
sociais;
mudanças
no
modelo
econômico;
questões ambientais
Sustentabilidade:
Desigualdade/questões
equilibrio
entre sociais/manejo
questões sociais e sustentável
recursos
ambientais
naturais/conservação da
Amazônia e controle do
desmatamento
Mudanças climáticas Mudanças
climáticas/questões
hídricas
Questões
sociais:
Meio
da ambiente;água;aqueci desigualdade,
de
os mento global;mudança distribuição
renda, e inclusão.
climática
Distribuição
de
renda/fome/oportunida
para
Maior desafio do Brasil de
para os próximos 20 anos todos/cuidados com o
meio ambiente
6
e (21)
Explorando
aprendendo mais
(14)
concordam
Impacto das MC sobre as
fortemente;
(14)
civilizações atuais
concordam
Importância
do
tema (22) muito importante
Mudanças Climáticas para
o setor
Quanto
as
metas
de Maioria não sabe
redução
das
emissões
afetarão as atividades dos
entrevistados
1)
Econômica
2)
Barreiras identificadas para vontade política
o
enfrentamento
das
Mudanças Climáticas
(18) concordam
(17)
importante
(29)
fortemente
1)
Econômica
Ideológicas
Afetaria,
ampliaria
possibilidades
de
negociar
créditos
de
carbono
2) 1) Econômica 2) falta de
educação
Taxar
emissões; Educação;
Moratória
contra
conscientizar
investimento
em desmatamento;
reduzir
populações.
desenvolvimento
impostos
de
energias
Incentivos
identificados
tecnológico
alternativas;
reforma
10 para o enfrentamento às
tributária que leve em
questões climáticas
conta
produtos
ecológicos; valoração da
floresta em pé
Governo
2) 1)
Governo
2) 1) Governo 2) Empresas
Atores
com
maior 1)
Empresas
responsabilidade
no Empresas
11
enfrentamento
das
Mudanças Climáticas.
1) Pouca ação. 2) 1) Pouca ação. 2) 1) Muito discurso, pouca
Críticas aos EUA
Críticas aos EUA e prática;
2)
Omissão
China
americana;
3)
Mudanças Climáticas no
12
preocupação com Índia e
âmbito internacional
China; 4) Europa está à
frente;
5)
Brasil
age
timidamente
maioria
conhece
Nível de conhecimento e Maioria não conhece Maioria não conhece A
ou conhece pouco
superficialmente, poucos
opinião sobre a proposta ou conhece pouco
13
a
conhecem
em
de
"desmatamento
profundidade
evitado."
14
Convenção
Bali
do
Clima
Altamente (26)
motivada
Distribuição
de
renda/
desafios
sociais/produção de
alimentos
mas (9)
bastante
abrangente; (9) bom
mas incompleto
Altamente (21)
motivada
Mudanças urgentes na Questões sociais
matriz
energética
mundial com redução
de emissão de CO2
Distribuição de renda Melhor uso da água e
/educação
dos recursos naturais
/diminuir
as
desigualdades sociais
Preservar
recuperar
hídricos
Altamente
Combater
as
desigualdades sociais
e a pobreza; cuidar
da infra-estrutura e da
educação
e Melhor uso da água e Desenvolvimento
recursos dos recursos naturais sustentável
(associação
de
questões sociais com
preocupação com o
meio ambiente)
concordam (16)
concordam (19)
concordam (16) concordam
fortemente
fortemente
muito (51) muito importante
Não afetaria
(25)
motivada
mas (12)
Bom
incompleto
GOVERNO
(12) na decada de 90
Maioria
não Resultado ineficiente Desconfiância em relação
acompanhou ou sabe
à
eficácia
dessas
pouco
reuniões; grande parte
em
insatisfeita
com
os
resultados; poucos vêm
avanços significativos
1)
Conservar
a 1)
Conservar
a 1) controlar queimadas e
Responsabilidade do Brasil Amazônia; Melhorar a Amazônia;
desmatamento; 2) manter
Estabelecer metas p/ matriz energética limpa
15 frente
às
questões matriz de transporte
emissões
climáticas
(25) muito importante (27) muito importante
(20) muito importante
Afetaria
negativamente.
contrários
Maioria
aprova Aferaria
atividades
São regulação.
Afetaria relacionadas aos seus
positivamente.
setores de atuação no
governo
1)
Modelo
de 1)
Interesses 1)
fatores
produção e consumo econômicos
econômicos
Investimento
em Investimento
eficiencia energética; pesquisas
e
reforma
tributária; tecnologias
crédito
rural;
investimento
em
tecnologia
1)
Governo
Empresas
2) 1)
Governo
Empresas
em Incentivo
ao
bionovas combustível;
investimento
em
eficiência energética
2) 1)
Governo
Empresas
2)
1) Críticas aos EUA e 1) Muita discussão e Muito pouco tem sido
China 2) Pouca ação. pouca ação.
feito
conhece. Maioria não conhece
Maioria não conhece Metade
ou conhece pouco
Opiniões não otimistas ou conhece pouco
Maioria
não
se Maioria
posicionou.
Minoria Resultados
acha que resultados ou fracos.
foram bons
conhece. Conhecem
poucoregulares sensação
de
frustação. Para os que
participaram
houve
progressos
1)
Conservar
a
Amazônia; 2) Brasil
deve assumir papel
de liderança
1)
Conservar
a 1)Conter
Amazônia
2) desmatamento
conservar
a
matriz
energética brasileira.
Todos opinaram que Quase todos exaltam a
ações
individuais importância das ações
fazem sim diferença individuais
quando
se
multiplicam
pela
sociedade
Mais
da
metade
opinou
que
ações
individuais fazem sim
diferença.
Atitudes
educam
e
são
disseminadas
na
sociedade.
Maioria
absoluta
considera
engajamento pessoal
importantíssimo.
Mudanças de hábitos,
responsabilidade
no
votar
fazem
a
diferença
positivamente.
Maioria
absoluta
considera
engajamento pessoal
importantíssimo
contribuindo para a
mudança
de
comportamentos e de
“consciência”
em
escala mais ampla.
1)
1)Expansão
da 1) Atividade agrícola; 2)
desmatamento/queima fronteira
agrícola transporte; 3) indústrias
causando
o
Atividades econômicas que da; 2) transporte
desmatamento
17 mais contribuem para as
2)Emissões
emissões
veiculares
1)siderurgia,
agricultura e pecuária
como
causa
do
desmatamento
2)
Indústrias
e
transporte
1) Modelo econômico consumo
e
atividades
que
queimam
combustíveis fósseis.
1)Expansão
da
fronteira
agrícola
causando
o
desmatamento
2)Produção industrial
e energética
Desenvolver
e
enfrentar
as
mudanças climáticas
é possível desde que
seja tratada por todos
os
setores
governamentais
e
sociais
e
com
mudança
de
paradigma
de
produção e consumo.
Desenvolver
e
enfrentar
as
mudanças climáticas é
possível,
com
ressalvas no padrão
de consumo
Desenvolver
e
enfrentar
as
mudanças climáticas
é
possível,
com
ressalvas no padrão
de consumo
16
18
Importância
individuais
das
Compatibilização
desenvolvimento
enfrentamento
mudanças climáticas
ações
Maioria
opinou
que
ações
individuais
fazem sim diferença.
Atitude é uma forma
de educação
Desenvolver
e
enfrentar
as
mudanças climáticas é
possível,
com
entre
mudança no padrão
e de consumo
das
Desenvolver
e
enfrentar
as
mudanças climáticas
é possível, através
do
‘conhecimento’,
de
pesquisa
e
desenvolvimento
tecnológico,
Desenvolver e enfrentar
as mudanças climáticas é
possível, desde que se
estabeleça
um
novo
modelo
a
seguir;
é
possivel
desenvolver
diferente
278
EQUIPE TÉCNICA
COORDENAÇÃO GERAL E ANÁLISE
Samyra Crespo
ASSISTENTES DE COORDENAÇÃO
Maria Rita Villela
Marcelo Nascimento
Maria Alice Falacio
PESQUISADORAS E ASSISTENTES DE ANÁLISE
Laila Mendes
Vera Lúcia Nascimento
Elisabete Meireles
Christina Vital
Maria Rita Villela
ENTREVISTADORES
Laila Mendes (Brasília)
Lívia Sales (Brasília)
Vera Lúcia Nascimento (São Paulo)
Maria Rita Villela (Rio de Janeiro)
Alexandre Acampora (região Norte)
Maluh Barciotte (São Paulo)
Aline Almeida (região Nordeste)
Jaqueline Nogueira (Minas Gerais)
Eduardo Campos (região Sul)
Fernanda Tussi (região Sul)
Neyla Vaserstein Jacobovscz (região Sul)
279
NOTA TÉCNICA
Esta nota visa esclarecer as convenções utilizadas para a identificação das declarações dos
entrevistados, citadas sempre entre aspas e formatadas com recuo, em itálico e na cor verde.
Os trechos transcritos reproduzem fielmente o conteúdo das opiniões expressas nas entrevistas
gravadas e transcritas no decurso da pesquisa. Alguns deles foram editados com o objetivo de
adequá-los à forma escrita, nunca, porém, alterando seu sentido.
Sempre que uma citação vem precedida de reticências, isso significa que ela foi condensada para
um encaixe mais objetivo, feito, naturalmente, sem interromper a linha de raciocínio.
Sempre que uma citação vem precedida de reticências entre parênteses – (...) –, isso significa que a
fala foi editada, agrupando trechos da mesma entrevista de modo a conferir mais densidade ao
pensamento expresso pelo entrevistado no tópico destacado.
Após cada declaração, há uma identificação entre parênteses contendo o setor, a área temática a que
pertence o entrevistado, suas iniciais, idade e profissão.
280
ANEXOS
281
ANEXO I
LISTA DE ENTREVISTADOS
Segue abaixo a lista de entrevistados por setor. Em anexo seguem os resumos
bibliográficos dos entrevistados por ordem alfabética.
CIENTÍFICO
Adalberto Veríssimo
Instituto de Pesquisas do Homem da Amazônia
Antonio Batista Filho
Instituto Biológico
Antonio Ocimar Manzi
LBA/INPA
Béda Barkokébas Junior
Universidade de Pernambuco
Celio Bermann
USP
Edna Ramos de Castro
UFPA
Edneida Rebelo Cavalcanti
FUNDAJ
Eduardo Assad
EMBRAPA
Eustáquio Reis
IPEA
Fernando Lyra
FUNDAJ
Flavio Jesus Luizão
LBA
Gilberto Jannuzzi
UNICAMP
Guilherme Dias
USP
João Klug
Núcleo de Pesquisa de Migração e Meio Ambiente
Jorge Alberto Gazel Yared
EMBRAPA Amazônia Oriental
José Geraldo Eugênio
EMBRAPA
José Goldemberg
Comissão Especial de Bioenergia – SP
José Ubiratan Delgado
IRD
Lúcio Botelho
UFSC
Luiz Gylvan Meira Filho
IEA/USP
Marcio Pochmann
IPEA
Marco Antonio Saidel
GEPEA/POLI/USP
Neliton Marques da Silva
IPAAM
Orlando Cristiano da Silva
CENBIO- Instituto de Eletrotecnica e Energia/
IEE - USP
282
Paulo Saldiva
Lab Poluição/FMUSP
Prakki Satyamurty
INPE/INPA
Rommel Benício Costa da Silva
Museu Emílio Goeldi
Suani Teixeira Coelho
IEE/USP
Tatiana Deane de Abreu Sá
EMBRAPA
Weber Amaral
Pólo Nacional de Biocombustíveis ESALQ/USP
CONGRESSO
Antônio Carlos Mendes Thame
PSDB / SP
Câmara dos Deputados
Atila Nunes Pereira Filho
DEM / RJ
Assembléia Legislativa
Augusto Silveira de Carvalho
PPS / DF
Câmara dos Deputados
Ciro Gomes
PSB / CE
Câmara dos Deputados
Cristovam Buarque
PDT / DF
Senado Federal
Eduardo Gomes
PSDB / TO
Câmara dos Deputados
Eduardo Valverde
PT / RO
Câmara dos Deputados
Elvino Bohn Gass
PT / RS
Assembléia Legislativa
Fernando Gabeira
PV / RJ
Câmara dos Deputados
Homero Pereira
PR / MT
Câmara dos Deputados
Jilmar Tatto
PT / SP
Câmara dos Deputados
João da Silva Maia
PR / RN
Câmara dos Deputados
José Carlos Aleluia
DEM / BA
Câmera dos Deputados
José Eduardo Vieira Ribeiro
PT / BA
Câmara dos Deputados
Julio Semeghini
PSDB / SP
Câmara dos Deputados
Luiz Castro Andrade Neto
PPS / AM
Assembléia Legislativa
Marina Terra Maggessi de Souza
PPS / RJ
Câmara dos Deputados
Neider Moreira
PPS / MG
Assembléia Legislativa
Paulo Roberto Dornelles Borges
DEM / RS
Assembléia Legislativa
Paulo Teixeira
PT / SP
Câmara dos Deputados
Raul Belens Jungmann Pinto
PPS / PE
Câmara dos Deputados
Rebecca Martins Garcia
PP / AM
Câmara dos Deputados
Renato Casagrande
PSB / ES
Senado Federal
Rita Camata
PMDB / ES
Câmara dos Deputados
283
Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia DEM / RJ
Câmara dos Deputados
Rodrigo Rollemberg
PSB / DF
Câmara dos Deputados
Sérgio José Grando
PPS / RS
Assembléia Legislativa
Serys Slhessarenko
PT / MT
Senado Federal
Sibá Machado
PT / AC
Senado Federal
Wellington Fagundes
PR / MT
Câmara dos Deputados
EMPRESARIAL
Carlos Salles
Tormes Consultoria
Celina Carpi
Grupo Libra
Christiano Pires de Campos
CENPES/Petrobras
David Zylbersztajn
DZ Negócios com Energia
Fabio Nogueira de Avelar Marques Plantar S/A
Fábio Romero Virgolino Barros
Construtora Queiroz Galvão
Flavia Moraes
Phillips do Brasil
Flavio Montenegro
VALE
Franklin Feder
ALCOA
Frederico Marinho
CONPET/Petrobras
Giem Guimarães
Grupo Positivo
Hamilton Pollis
Eletrobrás
Hermes Jorge Chipp
Operador Nacional do Sistema Elétrico
Ivan Wedekin
Bolsa de Mercadorias & Futuros
João Antonio Prestes
Grupo ORSA
Jorge Augusto Rodrigues
Souza Cruz
José Arnaldo Delgado
Queiroz Galvão
José Carlos Gameiro Miragaya
PETROBRAS
José Carlos Martins
VALE
Laura Tetti
Consultoria Laura Tetti
Leonardo Gloor
Arcelor Mittal Brasil
Luiz Suplicy Hafers
Conselho Nacional do Café
Márcio Lopes de Freitas
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)
Matheus Guimarães Antunes
SIMASA
284
Mauricio Born
ALCOA
Renato Augusto Pontes Cunha
SINDAÇUCAR
Ricardo Gustav Neuding
ATA
Roberto Rodrigues
FIESP
Victor Hugo Kamphorst
ABN AMRO Bank
Vitor Feitosa
SAMARCO
GOVERNAMENTAL
Aloysio Gonçalves Costa Junior
Secretaria de Meio Ambiente de Pernambuco
Amílcar Guerreiro
EPE
Ariel Pares
Ministério de Planejamento de Longo Prazo
Bruno Pagnoccheschi
ANA
Carlos Eduardo Lampert Costa
Ministério do Planejamento
Carlos Mário Guedes de Guedes
NEAD/MDA
Christian Perellier Schneider
Ministério da Integração
Djalma Bezerra de Mello
Agencia de Desenvolvimento da Amazônia
Edilson Guimarães
Ministério da Agricultura
Flavio Bolliger
IBGE
Haroldo Lima
ANP
Izabella Mônica Teixeira
Secretaria do Ambiente do Estado do RJ
Jerson Kelman
ANEEL
João Luiz Guadagnin
Ministério da Agricultura
João Paulo Capobianco
Ministério do Meio Ambiente
Jomilton Costa
Ministério da Saúde
José Miguez
Ministério da Ciência e Tecnologia
José Roberto de Lima
Ministério do Meio Ambiente
José Sydrião de Alencar Júnior
ETENE
Luis Carlos Guedes Pinto
Banco do Brasil
Manoel Vicente Fernandes Bertone Ministério de Agricultura e Pecuária
Márcia Camargo
Ministério das Minas e Energia
Marcos Otávio Bezerra Prates
Ministério de Desenvolvimento Ind. E Comércio
Robert Smith
Banco do Nordeste
285
Ronaldo Jucá
CHESF
Tasso Resende de Azevedo
Ministério do Meio Ambiente
Thelma Krug
Secretaria de Mudanças Climáticas/MMA
Valmir Gaisrael Ortega
Secretaria de Meio Ambiente do Pará
Virgilio Maurício Vianna
Secretária de Meio Ambiente do Amazonas
Wagner Gonçalves Rossi
CONAB
MÍDIA
Alexandre Mansur
Revista Exame
Angela Crespo
Jornal da Tarde
Angela Lindenberg
TV Globo
Aristoteles Drummond
Aristoteles Drummond Consultoria
Carlos Chagas
SBT
Claudia Ribeiro
Rádio Globo
Claudio Angelo
Folha de São Paulo
Eleonora Pascoal
Band
Elio Gaspari
Folha de São Paulo
George Vidor
O Globo
Herodoto Barbeiro
TV Cultura
José Luis Datena
Band
Juca Kfouri
Folha de São Paulo
Juremir Machado da Silva
Correio do Povo
Leandro Sarmatz
Vida Simples
Luis Antônio Novaes
O Globo
Luiz Henrique Yagelovic
Sistema Globo de Rádio/CBN
Marcelo Sirangelo
TV Cultura
Mario Motta
Grupo RBS
Matthew Shirts
National Geographic Brasil
Miriam Leitão
O Globo
Moacir Pereira
Diário Catarinense
Neide Duarte
Rede Globo
Paulo Cabral
Band
286
Renato Machado
TV Globo
Ricardo Boechat
Band
Rosane Marchetti
RBS
Sérgio Abranches
CBN
Sergio Gwercman
Superinteressante
William Bonner
TV Globo
SOCIEDADE CIVIL/ONG
Alexandre Sávio Pereira Ramos
FASE
Ana Maria Schindler
ASHOKA
Andre Nassar
ICONE
André Rocha Ferreti
Fundação O Boticário
André Urani
IETS
Arnulfo Alves Barbosa Filho
Diaconia
Carlos Covalan
OPAS/NOS
Carlos Nobre Grupo
IAG do Prg. Piloto PPG7
Chrsitopher Wells
FEBRABAN
Claudio Weber Abramo
Transparência Brasil
Cleia Anice da Mota Porto
CONTAG
Enéas Salatti
FBDS
Fernando Henrique Cardoso
Instituto Fernando Henrique Cardoso
Fernando Penteado Cardoso Filho AGRISUS
Francisco Miguel de Lucena
FeTRAF
Guilherme dos Santos Carvalho
AIMEX-PA
Hilton Silveira Pinto
FCO
Ian Samuel Thompson
TNC
Israel Klabin
FBDS
Jean Mark Von Der Weid
AS-PTA
Jecinaldo Barbosa Saterê Mawé
COIAB
José Aldo dos Santos
Centro Sabiá
José Maria Cardoso da Silva
CI
287
Lucia Ortiz
FBOMS- GT Energia
Luis Carlos Guimarães
ABRADEE
Luis Felipe Lacerda Pacheco
IBAM
Luiz Pinguelli Rosa
Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
Marcelo Mezel
Sociedade de Nordestina de Ecologia
Marco Antonio Fujihara
Instituto Totum
Marco Antonio Raupp
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Marco Aurélio Ziliotto
Ecoclima
Marcus Vinicius Pratini de Moraes Associação Brasileira de Exportadores de Carne
Bovina
Maria Alice Setubal
CENPEC
Maria Dalce Ricas
AMDA
Marilena Lazzarini
IDEC
Marina Freitas Grossi
CEBDS
Mário Menel
ABIAPE
Marli Gondim de Araújo
CEDS Pernambuco
Mauricio Mendonça
CNI
Mauro Passos
IDEAL
Miguel Sedediuk Milano
AVINA
Miriam Dualibi
Ecoar para Cidadania
Oded Grajew
Instituto Ethos
Oswaldo de Carvalho Junior
IPAM
Patrícia Helena G. Boson
FIEMG
Paulo Dimas Rocha Menezes
Instituto Cidades
Pedro Ivan Christoffoli
MST
Peter May
Rede Brasileira Agroflorestal
Renault de Freitas Castro
ABRALATAS
Ricardo Braga
SNE/UFPE
Roberto Smeraldi
Amigos da Terra/Projeto Ecofinances
Rodrigo Justus de Brito
CNA
Sérgio Colle
LABSOLAR
288
Teófilo Artur de S. Cavalcante Neto VivaCred
Thais Corral
REDEH
Valério Turnês
Acolhida na Colônia
Wilson Schmidt
AGRECO
Zilda Arns Neumann
CEDS
289
ANEXO II
ROTEIRO DE ENTREVISTA
A entrevista contém três blocos gerais e um específico (direcionado ao segmento social específico a
que pertence o entrevistado) e foi estimada para durar 1 hora.
As questões estão classificadas como P1 (prioritárias) ou P2 (prosseguir somente se o tempo não
estiver esgotado).
I. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS (2 QUESTÕES)
O Sr. poderia nos falar resumidamente sobre sua trajetória profissional? (Se o entrevistado não
citar, perguntar sobre formação e grau de instrução – perguntando: mas que universidade o sr.
cursou? Lembrar que nos casos dos representantes do setor social, é comum as pessoas não
serem formadas.)
Agora, nós gostaríamos que o Sr. (Sra.) fizesse uma apreciação geral sobre o seu setor e área de
atuação (Se o entrevistado se alongar, pedir que a apreciação seja dos anos mais recentes – 5
anos por ex.)
II. QUESTÕES GERAIS
II.1 – A visão geral do entrevistado sobre o problema (1 a 10 = P1 – aplicação obrigatória)
Na sua opinião, qual é o principal desafio que a humanidade vai enfrentar nos próximos 20 anos?
(Se já falar em Brasil, ir para pergunta 3.)
E no Brasil, qual será o maior desafio nos próximos 20 anos? (Depois das perguntas 1 e 2, se o
assunto mudanças climáticas não sair espontaneamente, ir para 3, se não, pular para 4)
Qual será o maior desafio ambiental nos próximos 20 anos?
Cientistas sustentam que o fenômeno das mudanças climáticas causará grande impacto na vida de
todas as sociedades humanas. O(A) senhor(a) concorda com essa visão? (assinalar 1 opção)
(a) concorda fortemente
(b) concorda
(c) discorda
(d) não tem informação ou opinião suficiente
Na sua opinião, o que mais contribui para agravar o fenômeno das mudanças climáticas e suas
conseqüências?
Você considera que o seu conhecimento sobre as mudanças climáticas é
(assinalar 1 opção)
(a) bastante abrangente
(b) bom, mas incompleto
(c) está explorando e aprendendo mais
(d) conhece pouco
(e) inexistente (neste caso, devemos interromper a entrevista)
290
Em que posição o(a) senhor(a) se veria nas quatro que vou citar? (assinalar a
opção escolhida)
(a) uma pessoa altamente motivada a entender do assunto (neste caso, perguntar sobre a natureza
da motivação)
(b) interessado(a), mas tem outros temas que considera mais importantes no momento
(c) apenas interessado(a), mas sem intenção de aprofundar
(d) desinteressado(a)
Quando ouviu falar em mudanças climáticas pela primeira vez? (a idéia aqui é localizar no tempo,
ano se possível)
Essa problemática é, para o seu setor ou área de atuação: (assinalar a opção escolhida)
(a) muito importante
(b) importante
(c) pouco importante
No seu setor de atuação, a regulação relacionada às metas de redução de emissão de gases de efeito
estufa afetaria a sua atividade? (Em caso positivo, continuar.) De que maneira?
(Quando terminar esse primeiro conjunto, iniciar o bloco específico. Se o entrevistado já tiver
“coberto” as questões ao discorrer sobre o seu setor, entrar direto no bloco seguinte.)
II.2 – A problemática no nível internacional (11 a 16 = P1 aplicação obrigatória)
Na sua opinião, como vem sendo tratada a necessidade de diminuir as emissões de dióxido de
carbono na atmosfera no âmbito internacional?
O(A) senhor(a) conhece algum programa internacional ou nacional, em andamento, que vise mitigar
os efeitos das mudanças climáticas?
Quais são, na sua opinião, as principais responsabilidades do Brasil no programa mundial de
redução das emissões?
Que barreiras (limitações, impedimentos) o Sr. (Sra.) identifica para o enfrentamento das questões
climáticas?
Na sua opinião, que incentivos poderiam ser criados para melhorar nossa contribuição (brasileira) à
redução de emissões de gases de efeito estufa?
O(A) senhor(a) conhece a proposta de desmatamento evitado apresentada pelo governo brasileiro na
Convenção do Clima? (Caso positivo, continuar.) Qual é a sua opinião sobre ela?
(P2 – aplicação condicionada) Como o(a) senhor(a) vê os resultados da recém terminada
Conferência do Clima em Bali? (Para aqueles que mostram conhecimento amplo e/ou detalhado
da problemática.)
II.3 – Brasil
Como compatibilizar as o desenvolvimento com o enfrentamento das mudanças climáticas?
Na sua opinião, quais atividades econômicas no Brasil têm mais impacto, por ordem de
importância, sobre o fenômeno do agravamento das mudanças climáticas? (solicitar 3 e anotar a
ordem)
1)_________________; 2)_________________; 3) ___________________
291
Quais são os atores que devem assumir maior responsabilidade em programas e medidas para
mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no Brasil? (solicitar que cite algumas ações
prioritárias para um maior engajamento desses atores)
III. QUESTÕES FINAIS
A ação individual pode ajudar a enfrentar as mudanças climáticas? (Caso a resposta seja positiva:
Como? – e que atitudes ou hábitos devem ser adotados por pessoas como o senhor (ou sra.) por
exemplo?
Que fontes de informação o(a) senhor(a) costuma utilizar para ficar melhor informado sobre este
assunto? (escolher 3 principais)
(a) livros em português/traduzidos (peça para citar 1)
(b) livros em língua estrangeira
(c) artigos em jornais impressos
(d) artigos acadêmicos
(e) revistas especializadas
(f) newsletter on-line
(g) documentos disponíveis na internet
(h) sites
Agradecer e finalizar: Na sua opinião, quem poderia contribuir com essa pesquisa sobre percepção
das mudanças climáticas? (pedir para citar 3 nomes no Brasil – se a pessoa for simpática a essa
abordagem, ver se pode fornecer e-mail ou telefone)
IV. QUESTÕES COMPLEMENTARES POR ÁREA TEMÁTICA
IV.1 – Agronegócio
O(A) senhor(a) acha que as mudanças climáticas poderão ter impacto sobre a agricultura, a criação
de gado ou a agro-indústria? (Entrevistador: caso a resposta seja positiva, continuar.) De que
maneira?
(Somente considerar essa questão caso a resposta anterior tenha sido positiva.) Existem medidas
que podem ser tomadas para diminuir esses impactos setoriais?
O(A) senhor(a) acha que existe relação entre a produção de biocombustíveis e as mudanças
climáticas?
IV.2 - Desenvolvimento socioeconômico
Na sua opinião, as mudanças climáticas poderão trazer impactos ao desenvolvimento social? (Se
sim, explorar impactos positivos e/ou negativos, de curto e longo prazos).
Quais populações o(a) senhor(a) considera que estariam mais vulneráveis com o aumento das
eventuais catástrofes ligadas às mudanças do clima no Brasil? Por que?
Políticas de mudanças climáticas devem ser incorporadas às de desenvolvimento social ou trata-se
de duas questões de natureza e objetivos distintos?
IV.3 – Energia
As mudanças climáticas poderão causar algum impacto na matriz energética brasileira?
A eficiência energética tem papel no combate às mudanças climáticas?
292
O(A) senhor(a) conhece programas governamentais e privados de eficiência energética e uso de
energias renováveis? (Caso a resposta for afirmativa, continuar) Como avalia tais iniciativas?
293
ANEXO III
GLOSSÁRIO DAS SIGLAS
ABIAPE – Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia
ABRADEE – Associação Brasileira de Distribuição de Energia Elétrica
ABRALATAS – Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade
ADA – Agência de Desenvolvimento da Amazônia
AGRECO – Associação dos Agricultores Ecológico das Encostas da Serra Geral
AIMEX-PA – Associação da Industrias de Madeira do Estado do Pará
ALCOA – Alcoa Alumínio S.A
AM – Amazonas
AMDA – Associação Mineira de Defesa do Ambiente
ANA – Agência Nacional de Águas
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
ATA – Ativos Técnicos e Ambientalistas
AVINA – Fundação Brasil Cidadão para a Educação, Cultura e Tecnologia
BAND TV – Rede Bandeirantes de Televisão
BSB – Brasília
CBN – Sistema Globo de Rádio
CE – Ceará
CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEDES – Conselho Estadual de Desenvolvimento Social
CENBIO – Centro Nacional em Referência da Biomassa
CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobras
CEPA – Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada- SP
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco
CI – Conservation International
294
CIOAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
CNA – Confederação Nacional de Agricultura
CNI – Confederação Nacional das Indústrias
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
CONPET – Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do
Gás Natural
CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
COP – Conference of the Parties (Conferência das Partes)
DF – Distrito Federal
DZ Negócios e Engenharia – David Zylbertajn
EE – Efeito estufa
ELETROBRAS – Centrais Elétricas Brasileira S. A.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPE – Empresa de Pesquisa Energética
ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
ETENE – Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste
EUA – Estados Unidos da América
FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social Educacional
FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
FBOMS – Fórum Brasileiro de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
FCO – British Foreign Commonwealth Office
FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos
FECOMERCIO/RJ – Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro
FETRAF – Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar
FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais
FIESP – Federação das Industrias do Estado de São Paulo
FUNDAÇÃO AGRISUS – Agricultura Sustentável
FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco
GEPEA– Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação
Elétricas
POLI – Escola Politécnica
295
GRUPO ORSA – Grupo de Empresas Brasileiras do Setor de Madeira e Celulose
GRUPO RBS – Grupo de comunicação multimídia que opera no Rio Grande do Sul e
Santa Catarina
IAG – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICONE – Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais
IDEAL- Instituto IDEAL
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IEA/USP – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo
IEE/USP – Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo
IETS – Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade
IMAZOM – Instituto de Pesquisas do Homem da Amazônia - PA
INPA – Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPAAM – Instituto de Proteção ambiental do Estado do Amazonas
IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPCC – International Panel on Climate Change
IRD – Laboratório Nacional de Metrologia e Radiação Ionizantes *
ISA – Instituto Socioambiental – DF
ISER – Instituto de Estudos da Religião
LABSOLAR/UFSC – Laboratório de Energia Solar da Universidade do Estado de Santa
Catarina
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (Large Scale
Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazônia)
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MC – Mudanças climáticas
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário
MDIC – Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
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MG – Minas Gerais
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MME – Ministério das Minas e Energia
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
NEAD – Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
OCB – Organização das Cooperativas do Brasil
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – Organização não-governamental
ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico
OPAS– Organização Pan-Americana de Saúde
PA- Pará
PE – Pernambuco
PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S. A.
PPG7 – Programa Piloto para a Proteção de Florestas Tropicais do Brasil
PPS – Partido Popular Socialista
PR – Paraná
PT – Partido dos Trabalhadores
PV – Partido Verde
REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano
RJ – Rio de Janeiro
RS – Rio Grande do Sul
SAMARCO – Samarco Mineração S .A.
SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SBT – Sistema Brasileiro de Televisão
SC – Santa Catarina
SIMASA – Siderurgia do Grupo Queiroz Galvão, em operação no Maranhão
SINDAÇUCAR – Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool
SNE – Sociedade Nordestina Ecológica
SP – São Paulo
TNC – The Nature Conservancy do Brasil
UFPA – Universidade Federal do Pará
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UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNFCCC – Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima
USP – Universidade de São Paulo
VALE – Companhia Vale do Rio Doce
VIVA CRED – É um projeto da organização não-governamental Viva Rio, na área de
geração de renda e ocupação.
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