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comportamento MÃE, posso dormir com você? O recém-nascido chora durante a noite, a criança acorda de madrugada com medo… Inevitável pensar se não é o caso de colocar o filho na cama junto e voltar rápido ao sono. Veja as diversas formas como as famílias lidam com esse tipo de situação Por MARIANA MEIRA, filha de Marisa e Celso 42 | pais & filhos 532_m DORMIR NA CAMA DOS PAIS CL.indd 42 30/06/2014 11:49:44 S abe aquela frase que todo mundo repete “depois que você tiver um filho, nunca mais vai dormir direito”? Pois é, pode ser verdade de formas diversas ao longo da vida. Quando o bebê nasce, demora para ele entender o que é dia e o que é noite, entrar no ritmo da casa e ficar satisfeito por mais de três horas. Depois que cresce, descobre que do quarto dele até o seu é só um pulo – e vira e mexe vai lá se enfiar no meio da cama. A criança tem medos e se sente mais segura perto dos pais, que, por seu lado, ficam cheios de pena, culpa, sono e vontade de resolver logo. Cada família vai se virar de um jeito – como dá. Seja assumindo que dorme junto com as crianças mesmo, seja levando-as de volta noite após noite. Há prós e contras de ambas as estratégias – veja como funciona melhor na sua casa. Quem não chora, não mama Recém-nascido vive em um acorda e dorme... Quando ele acorda, chora e, em um instante, a mãe também desperta. Para facilitar o sono entrecortado na madrugada afora, é comum a opção de deixar o bebê ao lado da cama dos pais, em um berço, carrinho ou moisés, até que se faça a transição para o quarto dele. “A mãe fica esgotada nos primeiros dias, e ter o bebê por perto facilita as mamadas noturnas”, justifica a psicoterapeuta Fernanda de Camargo Vianna, mãe de Sophia. A transição para o quarto do bebê pode ser feita com “Quando o Bruno calma, quando ele já dorme perínasceu, eu e meu odos maiores, o que acontece em marido optamos geral antes dos 6 meses. por deixá-lo dormir Alguns pais escolhem colocar o à noite no carrinho recém-nascido dormindo na mesma ao lado da minha cama que eles. Segundo a Associacama. Achamos ção Americana de Pediatria, conque ali ele ficaria tudo, o hábito traz consigo risco de mais confortável e sufocamento. “O risco é maior em ao mesmo tempo bebês menores de 6 meses”, diz o próximo da gente. pediatra Francisco Lembo Neto, pai Fizemos assim até ele de Gabriel, Bruno, Victor e Danilo. ter quase 2 meses. Depois de passada essa idade, O processo de a preocupação é com a respiração transição para dos pais sobre o bebê. “Exalar o ele dormir no ar perto do filho durante a noite quartinho foi feito aos toda facilita a transmissão de dopoucos. Hoje não enças respiratórias”, explica. Pais temos o hábito de fumantes? Alerta vermelho, prindeixá-lo dormir com cipalmente se as crianças tiverem a gente na cama.” bronquite ou asma. Ana Baula Balog, publicitária, mãe de Bruno julho 2014 | 532_m DORMIR NA CAMA DOS PAIS CL.indd 43 43 30/06/2014 11:49:46 comportamento “A Flora tem 2 anos e meio e dorme em um berço no quarto dela. Agora vai para uma cama e pode querer ir para o nosso quarto à noite. Mas eu e minha esposa achamos que a privacidade deve ser mantida. O casal precisa se manter como casal, e não só como pai e mãe. Vamos conversar com ela e levá-la de volta quantas vezes for preciso, até ela perceber. Claro, haverá exceções e a porta ficará sempre encostada, mas dormir na nossa cama não será um hábito.” João Correia, pai de Flora No fundo, muita coisa é questão de bom senso. Faz parte da função do pai e da mãe ponderar o quanto ter o filho por perto – até compartilhando a cama – é bom para ele e para os pais, e o momento certo de fazer a separação. “Temos que escapar do certo e errado e pensar na postura e na opção dos pais perante a situação”, diz a psicoterapeuta Fernanda Vianna. Em algumas famílias, dormir com o filho é a melhor opção e todo mundo vive bem assim. “Eu trazia a Maria Eduarda para a minha cama. É mais prático e eu sentia que ela ficava mais segura”, conta a mãe, a secretária Fernanda Mônico. Caso a opção seja dormir todo mundo junto mesmo, o pediatra Franciso sugere que a cama seja maior e o quarto, arejado, para que o ar circule bem. Tem um monstro no meu quarto Pesadelo, xixi na cama, medo do que tem dentro do armário, saudade da mãe, chegada de um irmão... Quando chega a madrugada, são muitos os motivos que levam a criança a buscar a segurança dos pais – no quarto ao lado! Segundo a psicóloga Christine Bruder, mãe de Paulo e Isabela, devolver a criança para o quarto dela pode ser mais trabalhoso, mas, a longo prazo, dá mais confiança e autonomia tanto para ela quanto para os pais. “Eles devem acalmá-la e dizer que está segura”, orienta. Embora possa fazer parte do desenvolvimento um período de medos noturnos, é importante enten- der o que pode estar acontecendo. “É preciso analisar o que está passando pela cabeça dela”, diz Fernanda Vianna. Segundo ela, procurar ajuda também é válido se os pais não conseguirem decifrar sozinhos. Na madrugada, as opções são variadas: a família pode escolher deixar o filho dormir junto na cama, ou levá-lo de volta. Dá pra acalmá-lo ainda na cama dos pais e carregá-lo para o quarto dele depois, ou levá-lo direto, explicando que ele está seguro ao lado dos pais, e até contar uma historinha se for o caso. Mas sem pânico: tudo isso costuma passar naturalmente e não é tão preocupante assim. “Os pais ficam com medo de estarem criando algum tipo de comportamento viciante. Existem momentos em que a criança precisa ser atendida mesmo, mas uma hora ela vai querer ir dormir sozinha”, tranquiliza Christine. Juntos por opção Tamara Hiller, uma parteira nascida na Alemanha, notava que as mães que atendia estavam sempre cansadas e estressadas por levantar tantas vezes à noite. Desde então, sugere a cama compartilhada e hoje pratica isso com a filha, Sun. “Quando o bebê acorda, espera que a mãe esteja ali. É “O Lucas tem 3 anos ancestral: ambos e meio e todas as precisam ficar colamadrugadas, por dos e não é seguro volta da 1h, vai para a estar sozinho. Ele nossa cama, sempre entra em pânico e falando que está com chora ainda mais”, medo. Sei que ele faz justifica Tamara. isso porque eu e meu É que ela demarido permitimos que fende a “criação ele fique conosco, e com apego”, do in- A psicóloga Christine Bruder propõe estas questões quando os filhos começam a dormir na cama do casal: 1. Quando a criança vem para a minha cama, a necessidade é dela ou minha? 2. Que questão meu filho tem para querer dormir comigo? Aconteceu algo perturbador? 3. Qual a melhor maneira de eu cuidar disso: no quarto dela ou no meu? fazemos isso por três motivos: adoramos dormir com ele, temos dó da carinha que ele faz e acordo 5h todos os dias para trabalhar (portanto estou sempre muito cansada!). Todos me criticam quando conto. Mas quando olho para o Lucas e vejo quanto cresce rápido, penso: ‘Deixa eu aproveitar’.” Kátia Dezotti, mãe de Lucas 44 | pais & filhos 532_m DORMIR NA CAMA DOS PAIS CL.indd 44 30/06/2014 11:49:51 “Quando o Bernardo tinha 4 meses, eu estava muito cansada pela rotina. Uma noite eu contei: ele acordou literalmente vinte vezes. Nesse dia decidi colocá-lo para dormir de vez na cama conosco. Para mim não é problema. Foi a melhor escolha que eu fiz. É bom para o meu descanso, pois ele precisava de uma mãe bem para cuidar dele. E descobrimos um vínculo gostoso. Eu descanso melhor e, se ele acorda assustado, estou do lado. Estamos amando.” glês “attachment parenting”, um movimento que ganhou nome e força com o pediatra americano William Sears na década de 90. Compartilhar a cama é um dos princípios, além de amamentar em livre demanda e carregar o bebê com o auxílio do sling. Ela fala sobre tudo isso em seu blog, o Slingando, que criou quando veio morar no Brasil. Sobre risco de sufocamento ou dependência emocional da criança? Ela não acha que isso realmente seja um problema e garante que há evidências científicas Nanda Olegário, de que a cama compartimãe de Bernardo lhada é saudável. Cita, por exemplo, uma pesquisa do médico americano David Waynforth, que aponta que dormir na cama com os pais diminui no corpo do bebê os níveis de cortisol, hormônio do stress, fazendo com que ele chore menos e fique menos irritado. Na casa de Tamara, a cama fica encostada na parede, e Sun fica sempre nesse canto ou entre os pais. “Me sinto mais no controle. Posso checar durante a noite se ela está com os pés frios, por exemplo”, conta. Ela acha que a cama compartilhada não “vicia” a criança. Pelo contrário: ela dá o passo da independência sozinha. “Ficando mais equilibrada e feliz na segurança da família, a criança tem a necessidade satisfeita e se solta na idade que considerar certa”, acredita ela. Em muitas culturas, é natural que a família durma reunida. Isso pode funcionar para você ou não – depende de muitos fatores, entre eles a maneira como o casal se relaciona. Qualquer que seja a escolha, o importante é que todos durmam bem. & Quando o buraco é mais embaixo O casal não anda se relacionando muito bem e a criança ganha cada vez mais espaço na cama. Xi, pode ser uma furada. “Muitas vezes o filho entra para proteger o casamento e tapar buracos na relação conjugal. Aí o hábito de dormir junto acaba encobrindo questões importantes, mesmo sem o casal perceber”, aponta Fernanda. Se for o caso, pode ser indicado buscar a orientação de um psicólogo. Consultoria christine Bruder, mãe de Paulo e Isabella, é psicóloga e psicanalista do Primetime Child Development; Fernanda de Camargo Vianna, mãe de Sophia, é psicoterapeuta e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital e Maternidade São Luiz; Francisco Lembo Neto, pai de Gabriel, Bruno, Victor e Danilo, é coordenador da Pediatria do Hospital Samaritano julho 2014 | 532_m DORMIR NA CAMA DOS PAIS CL.indd 45 45 30/06/2014 11:49:56
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