Mensageiro Janeiro 2015

Transcrição

Mensageiro Janeiro 2015
MENSAGEIRO
DO CORAÇÃO DE JESUS
Cristãos:
da divisão à
unidade
possível
pág. 13
“Ninguém ama
o que não
conhece...”
pág. 8
AS RELIGIÕES E A PAZ
JANEIRO | 2015
abertura
MENSAGEIRO
DO CORAÇÃO DE JESUS
Evangelho Diário 2015
Um livro que permite a leitura diária do Evangelho,
seguindo o ritmo do calendário litúrgico. Propõe-se,
para cada dia do ano, a passagem do Evangelho lida
na Eucaristia desse dia, acompanhada de uma breve
meditação/oração. São ainda indicadas as outras
leituras bíblicas proclamadas na Eucaristia, bem
como os santos celebrados ao longo do ano.
Formato: 10,5x14,8 cm; Páginas: 344;
Preço: 3,50€; Portugal: 4,20€; Europa: 6,50€; Fora da
Começa assim a tua oração
Elias couto
Uma selecção das introduções às orações dos
primeiros três anos do Passo-a-Rezar. Uma proposta
que pode ajudar o leitor a crescer no desejo de se
deixar encontrar por Deus, na oração, e começar a
rezar. O que virá depois, só Deus sabe e cada um
poderá dizer.
Formato: 9x14 cm; Páginas: 416;
Preço: 10,00€; Portugal: 10,70€; Europa: 13,00€; Fora da
Europa: 15,40€ (Portes de Correio incluídos nos preços).
Falar com o coração
Carlo maria martini
Uma síntese editada das perguntas colocadas pelos
leitores do jornal italiano Corriere della Sera, às quais
o Cardeal Carlo Maria Martini respondeu ao longo de
três anos. As suas respostas revelam-no
profundamente atento aos outros, disponível para
escutar e responder, mesmo quando o interlocutor é
impertinente, provocador ou desagradável.
Janeiro 2015
Ano CXL n.º 1
Director
António Valério, s.j.
Administração
Rua S. Barnabé, 32
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Geral: Revistas: Fax:
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Arte
Francisca Cardoso (projecto gráfico)
Paginação
Editorial A. O.
Impressão e acabamentos
Empresa Diário do Minho, Lda.
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4710-306 BRAGA
Contr. nº 504 443 135
Redacção, Edição e Propriedade
Secretariado Nacional do Apostolado da Oração
Província Portuguesa da Companhia de Jesus
(Pessoa Colectiva Religiosa – N. I. F. 500 825 343)
Depósito Legal 11.762/86
ISSN 0874-4955
Isento de Registo na ERC, ao abrigo do Decre­to
Regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 a
Tiragem: 9.000 exemplares
ASSINATURA PARA 2015
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(incluindo as Regiões Autónomas): 14,00€
Europa: 15,40€ (Portes de Correio incluídos nos preços).
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Secretariado Nacional do A.O. – Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 Braga
riquíssima
SUMÁRIO
abertura ........................................................................ 1
Uma história riquíssima - P. António Valério, s.j.
intenções do papa....................................................... 2
António Coelho, s.j.
destaque ........................................................................ 4
“Se mudamos o homem, podemos mudar o mundo”
Entrevista a Andrea Riccardi
tirar a bíblia da estante......................................... 7
A Bíblia: que história é esta?
Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.
informar............................................................................ 8
“Ninguém ama o que não conhece...” - Paulo Nogueira
ano da vida consagrada....................................... 10
A Ordem Beneditina - Paulino L. de Castro, osb
opinião........................................................................... 12
Num bairro antigo de Lisboa - Isabel Figueiredo
dossier........................................................................... 13
Cristãos: Da divisão à unidade possível
João Duque / Elias Couto
viver o ao...................................................................... 22
A actualidade do Apostolado da Oração
António Valério, s.j.
Portugal (2 anos): 27,00€
Europa: 20,00€
25,00 Fr. Suíços
Fora da Europa: 26,00€
40,00 USD
40,00 CAD
Preço por exemplar: 1,30€
reunião de grupo....................................................... 23
Esquema da reunião de grupo - Manuel Morujão, s.j.
Para pagar a sua assinatura por transferência
bancária:
De Portugal:
NIB – 0033 0000 0000 5717 13255
(Millennium.BCP – Braga);
Do Estrangeiro:
IBAN – PT50 – 0033 0000 0000 5717 13255 Swift/
Bic: BCOMPTPL (Millennium.BCP – Braga).
à conversa com... ..................................................... 32
David Dinis, Director do Observador
Formato: 13,5x21 cm; Páginas: 136;
Preço: 10,00€; Portugal: 10,70€; Europa: 13,00€; Fora da
uma história
1ª Sexta-feira............................................................... 24
Oração pela Paz - Dário Pedroso, s.j.
notícias ........................................................................ 26
Elisabete Carvalho
Fotos
Capa: © Lusa/EPA/Jim Hollander; págs. 4 a 6: © Comunidade de Santo Egídio;
pág. 9: © Lusa/EPA/Peter Schneider; págs. 10-11: © Abadia de Montserrat; pág.
19: © Lusa/EPA/Ben Gershon/Israeli Government Press; pág. 28: © Lusa/EPA/
Alessandro Di Meo; pág. 29: © Lusa/EPA/Alessandro Di Meo; pág. 31 © Dollar
Photo Club; Arquivos A.O.
P. António Valério, s.j.
Neste ano de 2015, a Revista Mensageiro do Coração de Jesus entra no seu 140º ano de publicação.
Olhando para trás, ficamos impressionados com
o percurso desta revista, que foi atravessando a
história deste quase século e meio. O Mensageiro
teve leitores que assistiram ao fim da Monarquia
e à instauração da República, viveram o presente
das aparições de Fátima, passaram por duas
Guerras Mundiais, assistiram ao tempo do Concílio Vaticano II, da guerra colonial e da revolução
de 1974 e às grandes mudanças culturais e técnicas das últimas décadas.
Em cada uma destas épocas, fez o esforço de
ir adaptando as suas propostas ao que seriam
as questões fundamentais de cada tempo, num
desejo de manter vivo e activo o Apostolado da
Oração, mesmo em circunstâncias adversas. A
longevidade desta publicação atesta o seu êxito e
o interesse que foi mantendo e continua a manter.
Nos dias de hoje são colocados novos desafios
aos cristãos e, consequentemente, ao Apostolado
da Oração. A situação eclesial, marcada por um
contexto cultural em que a religião parece perder
impacto na sociedade; a existência de novos estilos de vida, marcados por ritmos exigentes de trabalho; as inseguranças próprias de uma época de
crise económica e social; os novos habitats das pessoas, em particular o grande continente digital...
Tudo isto fez com que a Equipa do Secretariado
Nacional do Apostolado da Oração tomasse a
decisão de, como é sua tradição, adaptar as propostas do Mensageiro às inquietações e questões
dos seus leitores. Esperamos, assim, que este
Mensageiro renovado seja uma ajuda para viver a
fé nos fascinantes desafios do nosso tempo.
intenções do papa
POR António Coelho, s.j.
juntos pela paz
A paz só poderá ser uma realidade quando
os membros das várias confissões religiosas e
todos os homens de boa vontade trabalharem
por alcançá-la.
Uma primeira dificuldade surge pelo facto de
muitas religiões não reconhecerem nem aceitarem a
pluralidade, arrogando-se o direito de possuírem a
única verdade, em vez de aceitar e reconhecer a
verdade que se dá também nas outras religiões.
Temos que acreditar que as diferenças vêm de
Deus. É Ele quem cria a singularidade que nos faz
diferentes uns dos outros. As diferenças são, portanto, um facto com o qual devemos aprender a
conviver. A colaboração para alcançar a paz, dentro das diferenças de que falamos, faz recordar a
todos esta realidade que nos fala da imensidão de
Deus que o entendimento humano nunca poderá
compreender totalmente.
Contudo, a experiência ensina-nos que podemos e devemos ultrapassar, a pouco e pouco, a
rigidez dentro da própria realidade e trabalhar em
projectos concretos, em vez de ocupar-se em diálogos intelectuais e debates de nível teológico.
Na verdade, verificamos que, em muitas partes,
grupos de pessoas de diferentes religiões trabalham juntas para ajudar as vítimas da violência,
4 | Mensageiro
Intenção Universal
Para que AS PESSOAS DE DIFERENTES
TRADIÇÕES RELIGIOSAS E TODOS
OS HOMENS DE BOA VONTADE
COLABOREM NA PROMOÇÃO DA PAZ
deixando de lado aquilo que as divide. Unem-se
também para se opor à violência, independentemente das suas crenças. Isto porque sabem que
combater a violência é um dever de todas as pessoas das diversas religiões.
A Igreja foi enviada ao mundo com o propósito
de estar aberta à colaboração com outras religiões e tradições religiosas, trabalhando juntas
pela paz.
É nisto que devemos meditar este mês, num
mundo marcado pela violência e por guerras,
tantas delas esquecidas, mas que nem por isso
são menos reais. As guerras e a violência, em vez
de diminuírem, aumentam cada dia, de novas
maneiras, cada vez mais sofisticadas. Compete a
todos nós trabalhar pela paz, por todos os meios que
estiverem nas nossas mãos.
os consagrados
ao serviço dos outros
A Igreja Católica está a viver o Ano da Vida Consagrada, convocado pelo Papa Francisco. Começou a 30 de Novembro e termina a 2 de Fevereiro
de 2016. O objectivo desta iniciativa é ajudar
todos os fiéis a tomar consciência da importância
da vida consagrada na missão da Igreja.
A entrega aos outros deve ser realizada por todos
os baptizados, porque estamos consagrados a
Deus, precisamente pelo baptismo. Todos estamos chamados a oferecer-nos ao Pai com Jesus e
como Jesus, fazendo da nossa vida um dom generoso na família, no trabalho, no serviço da Igreja e
nas obras de misericórdia.
Mas esta entrega deve ser levada a cabo de um modo
particular pelos religiosos e leigos consagrados que,
com a profissão dos votos, pertencem a Deus de
um modo pleno e exclusivo. Esta pertença única
ao Senhor permite a quem a vive de uma maneira
autêntica dar um testemunho especial do Evangelho do Reino de Deus. Totalmente entregues
a Deus, estão também totalmente entregues aos
irmãos, para levar a luz de Cristo onde as trevas
são mais densas e para difundir a esperança nos
corações desanimados.
As pessoas consagradas são sinais de Deus nos
diversos ambientes de vida, são fermento para o
Intenção pela evangelização
Para que, NESTE ANO DEDICADO À
VIDA CONSAGRADA, AS CONSAGRADAS
E OS CONSAGRADOS DESCUBRAM A
ALEGRIA DE SEGUIR A CRISTO E SE
DEDIQUEM ZELOSAMENTE AO SERVIÇO
DOS POBRES
crescimento de uma sociedade mais justa e fraterna, são profecia da partilha com os pequenos e
os pobres.
A vida consagrada, assim vivida e entendida,
apresenta-se como um dom de Deus, um dom
de Deus à sua Igreja, um dom de Deus ao seu povo.
Existe uma grande necessidade desta presença,
que reforça e renova o compromisso na difusão
do Evangelho, da educação cristã, da caridade
para com os mais necessitados. Os consagrados
são o testemunho de que Deus é bom e misericordioso.
Neste mês, tomemos muito a sério o apelo do
Papa, a fim de que este primeiro impulso se prolongue por todo este ano.
Janeiro 2015 | 5
destaque
“Se mudamos o homem,
podemos mudar o mundo”
Entrevista a Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio
Há 46 anos, Andrea Riccardi, na altura um jovem
estudante, decidiu, juntamente com alguns amigos, levar o Evangelho à prática e desenvolver
acções concretas a favor dos mais desfavorecidos. O que o levou a tomar esta iniciativa?
A comunidade de Santo Egídio nasceu em
1968, entre os estudantes de um liceu romano.
1968 foi um ano particular. No mundo juvenil
respirava-se um ar de mudança, entrevia-se a
possibilidade de mudar o mundo e, junto a isto,
havia um outro ambiente que se respirava, o do
Concílio Vaticano II, do renovamento em curso
na Igreja Católica. Neste clima nasceu a Comunidade. Mas o incentivo à mudança poderia ter
sucesso apenas se partisse da mudança pessoal.
Com simplicidade, mas com convicção, pensava: se mudamos o homem, podemos mudar o
mundo. Apenas homens novos poderão criar um
mundo novo. Por isso, confiámo-nos à Palavra de
Deus e começámos a segui-la, tentando pô-la em
prática, frequentando o mundo da periferia de
Roma, entre os pobres. Assim, os pobres foram,
desde o início, os nossos companheiros, os nossos amigos, parte da nossa família.
Foram sempre bem aceites pela sociedade e
pela Igreja?
O encontro com os pobres e o desejo de comunicar o Evangelho fez-nos sempre viver uma
dimensão ampla, uma visão alargada, aberta ao
mundo. Encontrar os outros, falar, dialogar, a
amizade são traços decisivos do nosso modo de
ser. Em Maio de 1986, o Pontifício Conselho dos
Leigos reconheceu a Comunidade de Santo Egídio
como uma «Associação Pública de Leigos». Um
reconhecimento que deu carácter oficial a uma
presença de já quase 20 anos dentro da Igreja.
6 | Mensageiro
Sobre
Andrea
Riccardi
Ceia de Natal na igreja de Santa Maria in Trastevere.
• Nasceu em Roma, em 1950.
• Em 1968, fundou a Comunidade de Santo Egídio,
que dirigiu até 1990.
• É formado em História Moderna. É historiador
e académico. A sua investigação incide sobre a
Igreja Moderna e Contemporânea e o fenómeno
religioso.
• Entre 16 de Novembro de 2011 e 27 Abril de 2013,
fez parte do governo italiano, enquanto ministro
para a Cooperação Internacional e Integração.
• Recebeu vários doutoramentos Honoris Causa de
universidades de diversos países.
• Recebeu o prémio Carlos Magno, atribuído a
pessoas que se destacam na promoção da unidade da Europa e na difusão da cultura da paz
e do diálogo.
Nos anos 70 e 80, a Comunidade expandiu-se
consideravelmente. Primeiro para outras cidades
italianas, depois um pouco por todo o mundo. O
que determinou o crescimento e a internacionalização de um pequeno projecto que nasceu num
bairro italiano e hoje tem 50 mil leigos em mais
de 70 países?
No início da nossa história não pensávamos em
criar comunidades fora de Roma: a nossa escolha
era edificar a Comunidade na Igreja local de Roma.
Diria que foram a vontade de anunciar o Evangelho e a amizade com os pobres que nos levaram
a olhar para além da nossa cidade, para a Itália e
para o mundo. As nossas Comunidades fora de
Roma nasceram sempre de um encontro pessoal
com alguém que queria viver no espírito da nossa
Comunidade, a centralidade do Evangelho e o serviço aos pobres. Assim, com o passar dos anos,
nasceram comunidades fora de Roma, primeiro
em Itália e depois em todo o mundo. Hoje, estamos presentes em mais de 70 países, em todos os
continentes. Formamos assim uma fraternidade
de Comunidades que em Roma tem o seu ponto
de unidade. Sejam grandes ou pequenas, todas as
nossas Comunidades rezam e servem os pobres,
sentindo-se parte de uma família sem fronteiras.
Para além do serviço aos mais desfavorecidos
(pobres, doentes, imigrantes, presidiários, etc.),
uma das principais vertentes da Comunidade é a
defesa da paz e dignidade humana e a promoção
do diálogo inter-religioso. Que projectos têm sido
desenvolvidos neste âmbito? Em que países?
A escuta do Evangelho e o encontro com os
homens fizeram amadurecer em nós a vocação
para o diálogo, para a paz. O trabalho pela paz e o
diálogo é certamente uma componente essencial
do espírito de Santo Egídio. Graças à mediação
da Comunidade, a 4 de Outubro de 1992, é assinado em Roma o acordo de paz entre o governo
moçambicano e a guerrilha, que punha fim a uma
guerra que durou 16 anos, com um milhão e meio
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de mortos. Às vezes, perguntam-nos, como então
fez uma jornalista do Washington Post: «Quando
é que deixastes a assistência aos pobres e vos
lançastes na diplomacia?». Mas o trabalho pela
paz não é diferente do trabalho pelos pobres,
pelo contrário, nasce precisamente do empenho
pelos pobres porque a guerra é a mãe de todas as
pobrezas. O nosso trabalho pela paz não criou um
Santo Egídio «diplomático», o trabalho pela paz
começou ajudando os pobres em Moçambique,
onde tudo estava bloqueado pela guerra. O caso
de Moçambique fez-nos intuir que os cristãos
têm uma grande força de paz. Pode dizer-se que,
depois de 1989, todos podem fazer a guerra, qualquer grupo, etnia, máfia pode pegar nas armas e
fazer a guerra. Mas também é verdade que todos
podem fazer mais pela paz e trabalhar mais pela
paz. A nossa experiência fez-nos descobrir que
tínhamos recursos de paz.
tirar a bíblia da estante
A Bíblia: que história é esta?
Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.
De que forma as diferentes religiões podem dar
um contributo para a paz?
O tema da paz hoje é central e sê-lo-á cada vez
mais na vida das comunidades cristãs e dos crentes de todas as religiões. A guerra voltou ao território europeu, entre a Rússia e a Ucrânia. A Síria é
afectada por uma guerra dilacerante e desumana.
O Papa Francisco falou dos conflitos contemporâneos quase como uma terceira guerra mundial,
mas aos bocados ou por capítulos. Neste cenário,
é lícito perguntar-se: a paz representa o nosso
futuro? O que podemos fazer pela paz? Acreditamos que as religiões podem trabalhar pela paz e
pela convivência. O diálogo entre as religiões é uma
resposta adequada para viver juntos em regiões e
cidades, cada vez mais complexas, etnicamente e
religiosamente. É uma prática quotidiana, que se
torna proposta e cultura. É o caminho do «Espírito de Assis», do primeiro grande encontro entre
as religiões, convocado em 1986, na cidade de São
Francisco, por João Paulo II, ainda no tempo da
Guerra Fria. A Comunidade de Santo Egídio continuou este caminho desde 1986, ano após ano, reunindo pessoas das várias religiões, e pessoas sem
religião, para trabalhar nesta delicada fronteira,
espiritual, mas concreta.
Igreja de Santo Egídio.
as religiões devem resistir, mas devem voltar à
sua profunda força de paz. A força do «Espírito de
Assis» está em confirmar que não existe guerra
e violência em nome de Deus: dizemo-lo dentro
das próprias tradições religiosas, advertindo que
a violência em nome de Deus é uma blasfémia.
O nome Comunidade de Santo Egídio, mesmo
fazendo referência a uma localidade italiana,
funciona como marca fora de portas?
Como se lida com uma guerra alicerçada em
O Papa Francisco, visitando a nossa comunidade
fundamentalismos religiosos?
em Junho passado, disse-nos que Oração, Pobres
e Paz são os traços fundamentais da vocação da
As religiões, por vezes, são atraídas pelo culto Comunidade. É uma bela definição daquilo que
da violência, capazes de solicitar um fanatismo somos e queremos ser. Mas não é um traço apesimplificador e desumano. Diante disto, não só nas romano ou italiano, é um traço universal.
8 | Mensageiro
Conhecemos decerto pessoas que num
momento de generosidade decidiram começar
a ler a Bíblia... a maioria não durou muito neste
propósito, por não entender o que estava a ler!
Pressentimos que a leitura bíblica é essencial,
mas sentimo-nos muito longe desta história...
Contudo, sabemos mais sobre a Bíblia e suas histórias do que pensamos! A Escritura está omnipresente no nosso modo de falar e de entender o
mundo. Quando dizemos de um amigo que teve
uma “paciência de Job” ao ter sido feito “bode
expiatório” de uma injustiça, mesmo estando em
“ano sabático” - ou quando nos queixamos das
chuvas “diluvianas” de ontem - citámos quatro
vezes o Antigo Testamento sem dar conta disso.
Não é por isso estranho que alguém se tenha
referido à Bíblia como o “Grande Código” a partir
do qual se pode entender a cultura ocidental.
Há algum modo simples de entender o essencial
da Sagrada Escritura? Antes de mais, há que ter a
noção que a Bíblia não é um livro, mas uma biblioteca cujos livros focam os diferentes aspectos da
relação entre Deus e o seu povo, ao longo de uma
“História de Salvação”. Comecemos pelo Antigo
Testamento, confiando que se todas as histórias
têm uma lógica, o mesmo acontecerá com estas!
Ao arrumar estes 46 livros em “prateleiras” chamadas géneros literários, vamos encontrando
um fio condutor que nos ajuda a entender esta
história. No entanto, só conseguiremos entender
a lógica desta história se acolhermos a sua razão
teo-lógica: há coisas essenciais sobre a vida que
o Deus-Amor nos quer revelar, pois escapam à
nossa capacidade de intuir, investigar ou decidir!
No pentateuco (os cinco primeiros livros) Israel,
reconhece Deus como o seu criador e como aquele
que lhe propõe uma aliança. Deus está atento à
sorte do seu povo e manifesta-Se como libertador. A aliança especifica-se então numa lei e na
promessa de uma terra de abundância. Os livros
“históricos” e proféticos falam-nos da entrada na
terra prometida: o sinal da realização da promessa
divina. Israel começa a sua história como povo,
uma história narrada ao longo de vários livros.
Sucedem-se líderes carismáticos e reis que vão
conduzindo o povo na fidelidade – ou infidelidade – à
lei de Deus e à sua aliança. Vão surgindo também
profetas: homens e mulheres que, através de
gestos e palavras, anunciam a Palavra de Deus
denunciam as injustiças e infidelidades do povo e
dos seus líderes. A história da relação entre Deus
e o seu povo dá origem a uma série de orações (os
salmos), máximas, poemas e narrativas (a literatura sapiencial) que condensam a espiritualidade
de Israel, a sua sabedoria de vida. Neste ponto da
história estamos já muito próximos de um acontecimento que dará pleno sentido – e uma nova
luz – a todo este caminho: o nascimento de Jesus.
Janeiro 2015 | 9
INformar
“Ninguém ama
o que não conhece...”
Paulo Nogueira
A Humanidade vive submersa num mundo que
a afoga em informação. Nunca na história do
Homem esteve disponível tanta informação, ao
alcance de tantas pessoas e de forma tão acessível e barata. É uma verdadeira overdose informativa, de todos os tipos e conteúdos, que inunda as
mentes mas sem um contexto, uma lógica, um fio
condutor, que confunde mais do que esclarece e
deseduca mais do que educa.
Neste cenário de abundância de informação, o
conhecimento esclarecido da fé é, cada vez mais,
um imperativo.
Deus pede-me que transforme o mundo num
mundo melhor. Como? Em que terrenos, dentro de mim, vou enraizar esse desígnio de Deus?
Deus dá-me, no Evangelho, o testemunho do seu
Filho para que eu possa seguir os caminhos da
salvação. Mas como posso amar e viver esses
caminhos se, muitas vezes, nem os conheço? E
se não os conheço, não os compreendo na sua
dimensão maior.
Só posso mudar o mundo se conhecer as suas
luzes e as suas sombras, se estiver inserido na
sua cultura e na sua história. Para ser a presença
de Cristo nesse mundo, ser a presença da Igreja
na sociedade é preciso muito mais do que apresentar apenas o título de cristão. A fé é um testemunho de vida capaz de transformar, mesmo
que de forma singela, o que acontece ao nosso
redor. Ser Igreja no mundo é viver intensamente
o Evangelho, é seguir a Cristo e ser capaz de anunciá-Lo. É ter convicção, demonstrá-la com a vida.
10 | Mensageiro
Por isso, a formação e o conhecimento vão muito
além de estudar, ler ou ouvir. A formação e o
conhecimento pressupõem experiência de vida,
experiência comunitária, experiência de amor a
Deus e ao próximo, experiência de Igreja. O verdadeiro sentido dessas vivências é obra, em primeiro lugar, da nossa fé, mas solidificada por um
conhecimento das realidades de Deus. Por isso,
o cristão leigo, mais do que nunca, precisa de ter
também conhecimentos pastorais, bíblicos, teológicos, filosóficos e éticos. Ou seja, tem que saber
qual é a sua espiritualidade cristã. Caso contrário,
corre o risco de ter uma prática de vida incoerente
com os valores da verdade evangélica. Ninguém
ama aquilo que não conhece.
É verdade que não se nasce cristão. A iniciação
ao Cristianismo supõe que tenha havido algum
contacto com a proposta cristã e com Jesus e que
esse contacto tenha despertado não só um interesse por conhecê-Lo melhor, mas também uma
fé inicial.
O despertar dessa fé inicial em Jesus Cristo parte,
em muitos casos, do ambiente familiar.
A formação da fé deve levar a transformar essa
fé inicial numa fé adulta, mais madura e consciente, que compromete e se torna consequente
na vida de cada um.
A catequese é a forma por excelência para iniciar
esse caminho de maturidade religiosa mas, infelizmente, um processo de iniciação torna-se, em
muitos casos, um processo de conclusão. Ou seja,
o sacramento da confirmação marca também
para muitos jovens o fim da prática religiosa e,
talvez também, da fé cristã.
A fé alimenta-se com a vivência do Evangelho
mas de forma esclarecida, conhecedora dos valores e dos princípios que Jesus pediu que seguíssemos. A procura do saber, a procura da formação
é um caminho comunitário de fé que reforça o
nosso amor a Jesus. Investir em cursos, palestras
ou encontros proporciona que se vá construindo a
formação, despertando em nós o desejo de continuar inserido na vida da Igreja e de levar o anúncio do Evangelho. Para além do mais, não somos
tão ricos que não tenhamos nada a receber dos
outros. Aproximo-me mais de Cristo à medida
que melhor O conheço.
Para dar uma reposta aos questionamentos com
que me defronto diariamente, faz-se necessário
ser adulto na fé.
E ser adulto na fé é ir ao encontro do crescimento
e amadurecimento de uma visão de fé, de Igreja,
de religião e até mesmo de mundo. Caso contrário, estou a viver uma fé meramente emocional,
epidérmica, ritual. Uma fé que tanto poderia ser
esta como outra qualquer. Mas no pólo oposto,
também não posso transformar-me num tecnocrata da fé. A sabedoria está no equilíbrio do que
sentimos e do que sabemos e na simbiose entre
essas duas realidades. Só sentimento é pouco…
Jesus também conhecia as leis do seu povo. Quantas vezes O encontraram a falar sobre a palavra do
Pai e a deslumbrar quem O ouvia pelos conhecimentos que demonstrava? Mas também chamou
hipócritas aos Doutores da Lei e aos fariseus, à fé
sem obras.
Para aliviar um pouco o discurso, conto aqui
o episódio da mãe ignorante, mas amorosa: ela
alimentava os filhos com uma dieta baseada em
carne, porque acreditava que carne era o melhor
tipo de alimento. Um dia, depois de ler um guia
de nutrição, começa a comprar uma mistura
de todos os tipos de comida para os seus filhos.
Como resultado, os filhos tornam-se mais saudáveis. Pergunta: esta mãe amava mais os seus
filhos antes ou depois de ter adquirido esse
conhecimento? Não terão dificuldade em dizer
que os amava da mesma forma, contudo, até
adquirir o conhecimento, o seu amor era infrutífero, até mesmo contra-produtivo. Conhecimento
que é verdadeiro permite que o amor desabroche
em bons frutos.
Na procura de uma fé vivida com verdade, a formação e o investimento pessoal no conhecimento
de Deus e da dimensão religiosa são decisivos, até
porque ninguém ama aquilo que não conhece.
Janeiro 2015 | 11
ano da vida consagrada
a ordem beneditina
Paulino L. de Castro, osb
O monaquismo beneditino não é mais do que a
simples vida cristã, porém vivida em condições que
favorecem a experiência de Deus.
A missão fundamental do monge que se refugia
no mosteiro é a busca de Deus, viver para Ele e dar
testemunho da sua transcendência.
Muito poucos são os homens, conscientemente
instrumentalizados por Deus, que, na sua humildade, se dão conta do papel a que são chamados,
para desempenharem acções de relevo. Bento
de Núrsia foi um dos que Deus escolheu e chamou para fazer no monaquismo a síntese que a
experiência e doutrinação de séculos lentamente
haviam preparado. Fê-lo através de um código
escrito, regulador da vida dos monges, nos mosteiros, a que chamamos Regra dos Monges.
Na regra que escreveu, Bento encara a ascese
cristã como uma luta. Admite o duelo da vida
eremítica, mas prefere a batalha da vida cenobítica. Embora pessoalmente tenha começado pelo
ermo e terminado no cenóbio, acha que a ordem
inversa é que está certa.
O monaquismo beneditino é, pois, um monaquismo cenobítico, isto é, vivido em mosteiro, e
a Regra que S. Bento escreveu para ele não é um
regulamento elaborado em gabinete; é o fruto de
uma experiência em que se ordena a vida do mosteiro e o relacionamento dos monges, entre si, no
seio da família espiritual que constituem. E de tal
modo foi a codificação de uma experiência vivida,
que o Papa S. Gregório Magno, referindo-se nos
seus “Diálogos” à vida do Patriarca, pôde dizer:
“Bento não soube ensinar diferente do que viveu”.
O monaquismo beneditino não é mais do que
a simples vida cristã, porém vivida em condições que favorecem a experiência de Deus. A
missão fundamental do monge que se refugia no
mosteiro é a busca de Deus, viver para Ele e dar
testemunho da sua transcendência. E esta busca
de Deus realiza-se através de três formas de vida,
actividades fundamentais na vida do monge:
“Opus Dei”, “Lectio Divina” e Trabalho Manual.
O axioma Ora et Labora (reza e trabalha), atribuído a Pascásio Radbert, abade beneditino do
século X, exprime uma verdade fundamental
sobre a forma do monaquismo que leva o nome
de Bento. Há um equilíbrio entre a oração e o trabalho, entre actividades propriamente espirituais
e as tarefas ordinárias que fazem parte da vida
quotidiana, entre o interior e o exterior, a contemplação e a acção. O Ofício Divino (Opus Dei),
bem como a Lectio Divina, estão associados de tal
maneira às restantes actividades da vida do mosteiro que, no dia a dia do monge, resulta um total
e perfeito equilíbrio.
As linhas fundamentais da espiritualidade beneditina são, necessariamente, baseadas na “Regula
Monachorum”, regra que S. Bento escreveu para
regular a vida dos seus monges. E é dessa espiritualidade vivida nos mosteiros e que, desde
os alvores da Idade Média, irradiou por toda a
Europa, que o Papa Pio XII nos dá conta, quando,
em 1947 e através da encíclica “Fulgens radiatur”,
declara, pública e oficialmente, que S. Bento é o
Pai da Europa.
Para o Sumo Pontífice, Bento de Núrsia resplandece como um astro na cerração da noite europeia do seu tempo, sendo, duplamente, Bento de
graça e de nome (no dizer de S. Gregório Magno).
Pode assim afirmar-se, não traindo a história
dos homens, que, ao desmoronar-se o Império
Romano e ao surgirem as invasões dos bárbaros,
foi providencial a aparição da Ordem Beneditina
e de seus florentíssimos mosteiros, levando às
populações pacíficas a luz da verdade e da moral
cristã. Podemos realmente dizer que nenhum
povo há que se não orgulhe do apostolado dos
monges, os não considere como glória nacional e
como os ilustres iniciadores da sua cultura.
Abadia de Montserrat (Espanha).
12 | Mensageiro
Janeiro 2015 | 13
opinião
num bairro
antigo de lisboa
Isabel Figueiredo
Tenho uma amiga que vive num bairro antigo
de Lisboa. O prédio tem azulejos na fachada e
uma porta estreita, que durante muitos anos
foi de madeira maciça mas agora tem a limpeza e o brilho das imitações. Na penumbra de
uma pequena entrada, vê-se uma escada, ainda
encerada, com um corrimão que ajuda a subir os
degraus já gastos. Há um certo silêncio naquela
escada e a campainha é estridente, mesmo que
tocada por breves segundos.
Quando nos abre a porta, entra-se numa sala
cheia de luz, com sofás fora de moda mas confortáveis. Mesas e mesinhas, muitas fotografias,
livros espalhados por todo o lado. Uma televisão
enorme lembra outros tempos, quando viam as
notícias em casal e conversavam sobre poetas e
filhos e viagens e amigos e desconhecidos.
Vive sozinha. Mas mantém alguns hábitos que
lhe permitem continuar activa, presente no meio
de tantas ausências. Um dos hábitos que permanece, no início de cada ano, é o de passar a limpo
as datas de aniversário de todos os amigos. Senta-se no sofá, puxa para si uma pequena mesa e
vai escrevendo, lentamente, nomes e datas, num
caderno de páginas em branco.
Mas se as datas são as mesmas e os amigos também… porque não manter a mesma agenda de
ano para ano? Pressinto que esta é a pergunta
da superficialidade, de todos os que gastamos
a vida a tentar rentabilizar o tempo. Porque em
cada nome que se escreve é uma amizade que
se visita. Em cada data, uma memória. E esta
14 | Mensageiro
repetição cadenciada, feita com o cuidado da
escrita, é para mim uma lição de vida. Porque
me lembra a importância de recomeçar, refazer,
reconstruir. Porque me lembra a importância
dos afectos e das memórias. Porque me lembra a
solidão de tantos.
Neste mês de Janeiro, sinto-me sempre agradecida por esta amiga, que naquela sala gasta
tempo a escrever nomes e datas. Para não
esquecer uma palavra, um sorriso ou uma gargalhada que irão certamente tornar mais felizes
tantos dias de tantas vidas. Lembrei-me desta
história, quando me sentei ao computador para
escrever este primeiro texto, num Mensageiro
renovado e cheio de memórias. Um Mensageiro
refeito e cheio de afectos, de quem escreve e de
quem lê. Reconstruído sobre a firmeza do passado, mas capaz do alcance desconhecido do
futuro. E também me sinto agradecida por fazer
parte deste presente.
Porque em cada nome que se
escreve é uma amizade que se
visita. Em cada data, uma memória.
E esta repetição cadenciada, feita
com o cuidado da escrita, é para
mim uma lição de vida.
Cristãos:
da divisão à
unidade possível
João Duque / Elias Couto
MENSAGEIRO | DOSSIER 1
Janeiro 2015 | 15
As divisões
Nos primeiros séculos
Durante os séculos IV e V, algumas Igrejas locais
não aceitaram certas definições dogmáticas,
sobretudo as formuladas nos Concílios de Éfeso e
Calcedónia, a propósito do modo como convivem,
em Jesus Cristo, as naturezas humana e divina,
seja porque defendiam a separação dessas naturezas (nestorianismo), seja porque defendiam a
existência de uma só natureza em Cristo, nem
divina nem humana (monofisismo).
Estas Igrejas iniciaram então um percurso histórico separado do resto das Igrejas. Denominadas
genericamente orientais antigas, ainda continuam
vivas, com mais de 20 milhões de fiéis, distribuídos
pelas Igrejas (Ortodoxas) Arménia, Síria (Patriarcado de Antioquia), Copta (Patriarcado de Alexandria) e da Etiópia. Esta última é a mais numerosa.
Por seu turno, a Igreja Síria estendeu a sua influência à Índia, sobretudo sobre a denominada Igreja
Malabar, que os portugueses viriam a encontrar
quando chegaram à Índia, nos séculos XV-XVI.
Actualmente, apesar de não haver comunhão
plena, estas Igrejas estão muito próximas entre si e
em relação à Igreja Católica Romana.
Ocidente e Oriente
Entre meados do séc. XI e inícios do séc. XIII,
teve lugar a grande ruptura entre o Oriente e o
Ocidente cristãos. Os diferentes contextos culturais entre Oriente e Ocidente – agravados com o
peso do império Romano – que originaram também leituras teológicas diversas e que, muitas
vezes, estiveram acompanhados por tensões de
supremacia política, criaram conflitos entre as
Igrejas orientais, com sede em Constantinopla, e
a Igreja ocidental, com sede em Roma.
Esses conflitos tiveram o seu desfecho em
1204, quando a Igreja de Constantinopla – então
saqueada por cruzados – declarou herege a Igreja
de Roma, por discordâncias relacionadas com
a formulação do credo cristão. Mas já antes,
em 1054, Roma tinha excomungado o Patriarca
Miguel Cerulário, de Constantinopla, devido a
16 | Mensageiro
Ecumenismo é um termo que adquiriu, no último
século, o significado de processo de aproximação entre as diversas Igrejas cristãs separadas,
numa relação que pode ir de um convívio muito
ténue até à consciência viva e prática de pertença
a uma única Igreja. Nesse processo, há tradições cristãs mais envolvidas e mais entusiastas
e outras menos. A Igreja Católica Romana – ou
seja, o conjunto das Igrejas locais em explícita
e assumida comunhão com o bispo de Roma –
tendo inicialmente uma posição céptica e depois
moderada, em relação a este processo, assumiu-o plenamente como seu e é uma das tradições cristãs mais envolvida.
1999
desentendimentos mais culturais e políticos do
que religiosos entre as autoridades religiosas de
Constantinopla e as de Roma.
Estas duas metades do Cristianismo seguiram
caminhos autónomos durante todo o segundo
milénio. E as actuais aproximações (nomeadamente com a anulação da excomunhão e declaração de heresia), estão ainda muito marcadas por
profundas tensões culturais, políticas e históricas.
O protestantismo
Os vários movimentos que ficaram conhecidos
como Reforma protestante e dividiram a cristandade do Ocidente europeu tiveram a sua origem
no séc. XVI. Também neste caso, os factores são
muito diversificados e complexos. Em primeiro
lugar, o peso centralista da Igreja de Roma era
notório. Isso reflectia-se não apenas sobre a vida
religiosa do fiéis, mas também sobre a vida política dos povos. Ora, estando a desenvolver-se
movimentos de autonomia nacional de alguns
povos – sobretudo no centro da Europa – é fácil
compreender em que medida os factores religiosos podem ajudar os desejos políticos. A par disto
tudo, acentuava-se a consciência de um ambiente
corrupto à volta do poder romano, que despertou
movimentos reformadores da Igreja.
As legítimas propostas de reforma surgidas no
séc. XVI poderiam ter-se mantido no interior da
mesma Igreja, não fossem razões políticas (como
no caso claro de Henrique VIII, na Inglaterra) e
razões culturais e nacionais (como no caso das
Igrejas Luteranas, na Alemanha). O certo é que, na
conjugação de todos esses factores e no início de uma época
que iria colocar fortemente em questão o estatuto da Igreja na
Europa – a época denominada modernidade ou iluminismo – a
separação foi inevitável, com os conflitos daí resultantes e que
tão fortemente marcaram a história europeia. Esses conflitos –
denominados guerras de religião – viriam mesmo a descredibilizar socialmente o Cristianismo, a ponto de se chegar a conceber
que o único caminho para a paz na Europa seria a supressão das
religiões – o que, aliás, se veio a revelar falso, como provaram a
duas grandes guerras do séc. XX e as ditaduras do Leste.
As Igrejas saídas da Reforma protestante
O mapa das divisões
De tradição Católica Romana
De tradição Anglicana
De tradição Luterana
De tradição Calvinista
De tradição Ortodoxa
Países de maioria Muçulmana
A separação da Inglaterra, originando uma Igreja nacional, dirigida pelo monarca (precisamente a Igreja de Inglaterra), foi talvez a que mais claramente manifestou a tensão entre o poder
nacional e o poder romano. As suas aplicações teológicas ou disciplinares – como no caso do direito matrimonial – são manifestações dessa tensão de fundo. Com esta separação deu-se um
primeiro grande golpe no interior da Igreja do Ocidente.
Janeiro 2015 | 17
Cristianismo
vOCABULÁRIO
Calvinismo: movimento de reforma da douséc. IV
copTas
católicos romanos
arménios
etíopes
ortodoxos gregos
1054
trina cristã iniciado por João Calvino, que teria
a sua base na cidade de Genebra, Suíça. A partir de 1541, Calvino estabeleceu-se nesta cidade
e promoveu a sua visão da reforma da Igreja, que
ganharia seguidores em vários países.
Concílio de Calcedónia: reunião dos bispos
cristãos, no ano 451, na cidade de Calcedónia,
situada na região da Bítinia, perto de Constantinopla (Istambul, na actual Turquia).
Igreja anglicana: é a Igreja de Inglaterra, sepa-
rada de Roma em 1534 por decisão do rei Henrique VIII. A Igreja anglicana está sob a autoridade
última do monarca inglês.
protestantes
evangÉlicos
1517
1534
luteranos
anglicanos
metodistas
1541
calvinistas
presbiterianos
....
as divisões entre os cristãos, desde o séc. IV até ao séc. XIx, deram
origem A uma grande diversidade de Igrejas e comunidades eclesiais,
como o esquema acima testemunha de modo muito parcial.
No mundo germânico, a questão é mais complexa. Juntando vontades crescentes de autonomia nacional e cultural com certos extremos da
imposição romana e certas formas equívocas de
interpretação teológica, o movimento reformador impulsionado por Lutero – e que teve outros
focos, para além dele – ganhou corpo consistente
e conseguiu grande apoio político e da população. Iniciou-se, assim, uma das mais significativas divisões do Ocidente cristão, que acarretou
consigo não apenas a construção de estruturas
diferentes, mas mesmo modos de interpretação
18 | Mensageiro
teológica significativamente diversos e mesmo controversos.
Algo semelhante aconteceu com o impulso dado
por Calvino, em Genebra, através da pregação
e sobretudo da publicação do livro A Instituição
Cristã. Se Lutero estava muito ligado ao mundo
germânico, transformando a sua reforma num
fenómeno essencialmente alemão, estendido
para norte, Calvino tem pretensões mais universais, mais fortemente teológicas, pelo que terá
maior eco pelo mundo fora, para além dos limites
da Suíça francófona.
Igrejas evangélicas: o movimento evangélico
surgiu no seio do protestantismo, mas não se identifica com as Igrejas tradicionais da Reforma. As
comunidades evangélicas, profundamente autónomas, tiveram um grande desenvolvimento nos
Estados Unidos da América, nos séculos XVIII e
XIX. Hoje, constituem uma influência poderosa no
panorama religioso do Estados Unidos e aumentam
continuamente os seus fiéis, sobretudo na América
Latina, de tradição católica, na África e na Ásia.
Igrejas luteranas: resultam do movimento de
reforma da Igreja Católica iniciado pelo monge
alemão Martinho Lutero. Como data de referência
desta separação pode indicar-se 1517, ano em que
Lutero publicou as suas 95 teses contra a doutrina
católica das indulgências.
Monofisismo: palavra de origem grega que significa “uma só natureza”.
Nestorianismo: doutrina defendida pelo presbítero cristão Nestório, segundo o qual Jesus tinha
duas naturezas, totalmente distintas: a divina e
a humana.
Patriarca: bispo que preside a uma Igreja, habitualmente de tipo nacional, na tradição ortodoxa.
Janeiro 2015 | 19
O movimento
ecuménico
O Conselho Ecuménico das Igrejas
Nos finais do séc. XIX começaram as movimentações mais significativas na tentativa de trazer
as várias Igrejas cristãs à unidade. Foram sobretudo certos movimentos juvenis que deram origem a este novo espírito, entre confissões não
católicas, com preponderância das originadas
ou pertencentes à comunhão anglicana. Para
além disso, em 1867 iniciaram-se as conferências dos bispos de comunhão Anglicana; em
1905, criou-se a Aliança Baptista Mundial; em
1908, iniciou-se a semana de oração pela unidade dos cristãos. Mas foi sobretudo a consciência missionária que despoletou o movimento
ecuménico propriamente dito. Foi precisamente com a conferência missionária mundial
em Edimburgo, em 1910, que se iniciou o que
pode considerar-se ecumenismo moderno.
Em 1948, teve lugar em Amesterdão (Holanda)
uma assembleia mundial de Igrejas protestantes que deu origem ao Conselho Ecuménico
(ou Mundial) das Igrejas. Este Conselho não é
uma Super-Igreja, mas é constituído por uma
comunhão de Igrejas, ou «associação fraterna
de Igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo
como Deus e Salvador segundo as Escrituras,
e procuram responder juntas à sua comum
vocação, apenas para glória de Deus Pai, Filho
e Espírito Santo» (Constituição do CEI, I).
A Igreja Católica nunca pertenceu ao CEI. Inicialmente, porque não aderiu oficialmente ao
movimento ecuménico; mais tarde, por considerar que a compreensão que tem de si mesma,
como Igreja universal (não necessariamente a
única verdadeira) não é compaginável com a
pertença a um grupo de Igrejas «parciais»; por
último, por razões práticas, pois iria, com os seus
quase mil milhões de membros, desequilibrar os
400 milhões de membros das outras Igrejas.
20 | Mensageiro
vOCABULÁRIO
Ecumenismo: termo com origem na língua grega
(oikouméne = toda a terra habitada). No contexto
do Cristianismo, designa o empenho de várias
Igrejas em progredirem na superação das causas
que levaram à separação das mesmas.
Movimento ecuménico: tem a sua origem nos
ambientes protestantes. A Igreja Católica não se
envolveu nas iniciativas ecuménicas, de modo
oficial, senão em 1960, data da criação, pelo Papa
João XXIII, do Secretariado para a Unidade dos
Cristãos. O Concílio Vaticano II, com o Decreto
sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, aprovado em 1964, marcou o compromisso definitivo
da Igreja Católica com o ecumenismo.
Oitavário de oração pela unidade dos cristãos: surgiu em 1908, por iniciativa de Thomas
Watson, um convertido do anglicanismo ao catolicismo, que propôs a vários grupos de cristãos
rezar pela unidade, entre os dias 18 de Janeiro
(Festa da Cátedra de S. Pedro) e 25 de Janeiro (Festa
da Conversão de S. Paulo). A partir dos anos 60
do séc. XX, passou a haver um subsídio comum
para este oitavário, elaborado com a colaboração
da Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial das Igrejas e do Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidade dos Cristãos. Nas palavras
do P. Paul Couturier (1881-1953), esta semana de
oração não pretende antecipar uma unidade institucional, mas antes rezar pela unidade plena,
que ultrapassa as limitações históricas e eclesiais
e que «será como Deus quer, quando Ele quiser e
através dos meios que Ele escolher».
O Papa Francisco com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.
A Igreja Católica e o ecumenismo
A primeira metade do séc. XX foi palco de fortes transformações e iniciativas, no interior da
Igreja Católica romana, o que conduziu ao Concílio Vaticano II. O papa João XXIII criou, em 1960,
o Secretariado para a Unidade dos Cristãos (mais
tarde Conselho Pontifício para a Promoção da
Unidade), que está na origem do documento conciliar Unitatis redintegratio, o qual pode ser considerado a Magna Carta do ecumenismo, em perspectiva católica.
Estes documento começa com a definição
dos princípios católicos do ecumenismo, para
depois referir várias práticas, para aplicação dos
mesmos. Depois, aborda especificamente a relação com as Igrejas do Oriente e as do Ocidente.
O Conselho Pontifício encarregou-se, posteriormente, de levar a efeito importantes iniciativas,
como a publicação do Directório Ecuménico, a
elaboração de vários documentos conjuntos com
outras confissões, a participação, como observadores, no Conselho Ecuménico das Igrejas, etc. A
Encíclica de João Paulo II Ut Unum sint veio confirmar e reforçar o empenho da Igreja Católica
neste movimento, que busca a unidade de todos
os cristãos.
Janeiro 2015 | 21
O presente
e o futuro
LIVRARIA
Do entusiasmo à crise
Nascemos e
jamais morreremos
Na transição do séc. XIX para o séc. XX, para muitas Igrejas não católicas, e com o Concílio Vaticano II, para a Igreja Católica, manifestou-se um
especial entusiasmo pelo movimento ecuménico, acompanhado muitas
vezes pela convicção de que estaria para breve a real unidade de todos os
cristãos. Embora correspondendo a visões diversas dessa unidade, ela era
perseguida como alvo próximo.
Com o desenrolar das décadas, verificou-se que a unidade plena não se
atingia, como se esperava; e foi-se ganhando consciência de fortes dificuldades nesse caminho. Essas dificuldades são de ordem prática, histórica
e cultural (como sobretudo acontece na relação com as Igrejas do Oriente)
ou de ordem disciplinar (como acontece na relação com muitas Igrejas
protestantes) ou mesmo de ordem teológica (sobretudo em relação a grupos cristãos menos organizados).
Chiara Corbella Petrillo morreu com
28 anos, em Junho de 2012, vítima
de cancro, por ter posto a vida da
criança que trazia no ventre à
frente da sua. Antes do nascimento
deste filho, Francesco, em Maio
de 2011, já Chiara e o seu marido
Enrico tinham acompanhado no
seu nascimento para o Céu os seus
dois primeiros filhos, Maria Grazia
Letizia, nascida em 2009, e Davide
Giovanni, em 2010.
Modelos de unidade
A unidade possível entre todos os cristãos terá que ser uma unidade na
diversidade – como acontece, aliás, já no interior de cada Igreja cristã. Partindo de uma profissão de fé comum, no que toca ao essencial – mesmo
que aí já possam ser aceitáveis algumas diversidades de formulação – há
que avaliar até onde vai a possibilidade de diversidade, que não afecte a
possibilidade de todos se sentirem membros da mesma Igreja. Em certos aspectos – como os que respeitam às tradições rituais ou às diversas
práticas disciplinares – essa unidade na diversidade parece ser possível,
embora não seja fácil (pensemos em ritos litúrgicos diferentes, ou na prática do celibato para os ministérios ordenados, por exemplo).
Nas perspectivas teológicas de fundo – como relativamente àquilo que
constitui uma Igreja verdadeira – ou em certas aplicações éticas, a diversidade implicará sempre tensão, impossibilitando muitas vezes a realização concreta da unidade. Até que ponto são aceitáveis essas diversidades,
é assunto que precisa de ser ainda muito desenvolvido. Para já, há um
princípio indiscutível: mesmo no desacordo quanto ao conteúdo, o respeito mútuo é algo que não pode ser colocado em causa.
Nascemos e Jamais Morreremos
é a narrativa emocionada desta
vida desconcertante, feita por
dois amigos íntimos do casal
Petrillo. Uma narrativa que
coloca em primeiro plano o testemunho dos Petrillo, um testemunho de alegria, paz e serenidade no meio dos maiores
sofrimentos, fruto de uma inabalável confiança em Deus e nos
caminhos que é possível percorrer a seu lado. Caminhos feitos
de “pequenos passos possíveis”,
nas palavras de Chiara, passos
quotidianos, um de cada vez,
mas que levam longe.
O serviço à unidade
Em todo este processo, ressalta a questão da referência visível, histórica
e encarnada desta unidade na diversidade. Cada vez se manifesta mais a
necessidade de um ministério da unidade, para evitar que essa unidade
seja mera teoria ou mero ente espiritual, e para evitar a fragmentação
– que não pode ser confundida com a verdadeira unidade na diferença,
pois esta pressupõe relação. O ministério da unidade terá que ser, precisamente, o ministério da relação, para possibilitar a unidade, sem a transformar em anulação uniforme das diferenças. Poderá o bispo de Roma vir
a desempenhar essa tarefa, para todos? Talvez uma parte do futuro do
ecumenismo passe por esta questão difícil, mas inevitável.
22 | Mensageiro
Formato: 14,8x22 cm;
Páginas: 176;
Preço: 12,00€; Portugal: 12,70€;
Europa: 15,00€; Fora da Europa: 17,40€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
Pedidos: www.livraria.apostoladodaoracao.pt/; [email protected];
Secretariado Nacional do A.O. – Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 Braga
Janeiro 2015 | 23
viver o AO
reunião de grupo
A actualidade do
Apostolado da Oração
António Valério, s.j.
Nesta secção, apresentamos este espaço dedicado ao aprofundamento de aspectos relacionados com o Apostolado da Oração e a sua proposta.
É pensada para as pessoas que pertencem aos
grupos do AO, mas também para os interessados em conhecer melhor esta proposta e as suas
linhas de fundo.
Este artigo pretende dar uma contextualização
daquilo que se seguirá nos próximos números da
Revista. Como foi sendo referido, o Apostolado
da Oração está em pleno andamento da sua fase
de Recriação. Ao longo dos seus quase 170 anos,
esta obra da Santa Sé, confiada à Companhia de
Jesus, que tem como principal missão a promoção da oração e da vida espiritual dos cristãos, foi
adaptando as suas propostas aos vários contextos,
para ajudar as pessoas a ter com Deus uma relação simples e quotidiana, que implicasse a vida,
nas decisões de cada dia, e mantendo um vínculo
especial com o Santo Padre, o qual confia ao AO,
mensalmente, as suas intenções de oração.
Face às dificuldades sentidas em todo o mundo
em actualizar a sua proposta de acordo com as
sensibilidades e inquietações dos dias de hoje,
o máximo responsável do AO, o Padre Geral dos
24 | Mensageiro
Jesuítas, Adolfo Nicolás, pediu aos Secretariados
Nacionais de todo o mundo que pusessem em
marcha o processo de recriação. Foram quatro
anos de intenso trabalho e diálogo, que resultaram no Documento de Recriação, entregue ao
Santo Padre e finalmente aprovado por ele no
Verão de 2014.
O Papa Francisco mostrou um grande interesse
por todo este processo, acompanhando-o pessoalmente e fazendo ainda algumas observações
muito concretas ao Documento apresentado. O
fim deste processo foi marcado, assim, por uma
experiência de grande união com o Santo Padre,
fazendo crescer ainda mais o desejo de servir a
Igreja através desta proposta.
Nos próximos artigos daremos início, então,
à explicitação de alguns temas próprios do AO,
como a sua definição, a sua prática, as intenções
do Papa e suas implicações na vida, as bases da
sua espiritualidade, etc. Convidamos os nossos leitores a acompanharem com atenção esta secção,
fundamental para animar o nosso coração neste
modo de vida em Igreja, aberto às grandes questões do mundo.
Esquema de reunião de grupo
Manuel Morujão, s.j.
Para além da vivência pessoal do espírito do diferentes tradições religiosas e todos os homens
Apostolado da Oração, muito ajuda participar na de boa vontade colaborem na promoção da paz».
A intenção pela evangelização recorda-nos a vida
habitual reunião mensal. Esta serve como:
consagrada: «Para que, neste ano dedicado à vida
– estímulo mútuo para viver a vocação cristã no consagrada, as consagradas e os consagrados descubram a alegria de seguir a Cristo e se dediquem
concreto do dia-a-dia;
zelosamente ao serviço dos pobres».
– aprofundamento de um tema, normalmente
as intenções do Papa, sucessor do apóstolo Pedro,
2ª Parte
para cada mês: «Tu és Pedro e sobre esta pedra
Os grupos do AO são grupos de oração e de acção
edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18);
Reservar um tempo para partilhar o que os mem– partilha de vivências e experiências de quem bros do AO poderão fazer na linha do que pede
procura pôr em prática o seu seguimento de o Papa Francisco para serem promotores da paz,
Cristo na vida quotidiana: «Sereis minhas teste- por exemplo, respondendo a estas perguntas:
munhas… até aos confins do mundo» (Act 1, 8);
– Que poderemos fazer para que nas nossas famí– oração em comum: «onde estiverem dois ou lias, comunidades, paróquias, se viva sempre
três reunidos em meu nome, Eu estarei no meio mais em clima de paz e concórdia?
deles» (Mt 18, 20).
– Como ultrapassar os naturais conflitos para
Oração inicial – Oração do Oferecimento
viver a felicidade da paz: «Bem-aventurados os
(com a fórmula tradicional ou com outra)
construtores da paz porque serão chamados
filhos de Deus»?
1ª Parte
Intenções do Papa para o mês de Janeiro
3ª Parte
Assuntos práticos do grupo do AO
O Responsável, ou outra pessoa do grupo, poderá
fazer uma apresentação de uma ou das duas Terminar com uma leitura da Palavra de Deus
intenções do Papa Francisco. A intenção universal (por exemplo, o Evangelho do domingo seguinte
fala da promoção da paz: «Para que as pessoas de à reunião) e com uma oração.
Janeiro 2015 | 25
1ª Sexta-feira
Oração pela Paz
Dário Pedroso, s.j.
3 – Mundo em destruição
Ainda a celebrar o Tempo do Natal, dando particular importância ao Dia
Mundial da Paz, tendo presente Jesus como Príncipe da Paz, vamos orar, em
comunhão com o Papa Francisco, celebrando em comum a nossa oração.
Com Maria, a Senhora e Rainha da Paz, vamos passar as contas do nosso
terço, meditando e rezando, em comunhão de Igreja, com milhões de cristãos que rezam unidos ao Papa e pelas suas intenções.
Parece que não há canto do mundo onde não exista falta de paz e de harmonia, desde a violência doméstica, aos crimes, aos atentados, às bombas,
aos desertos sem amor, sem pão, sem carinho, sem paz. O mundo vive em
conflito destruidor e homicida. Esta situação gera fome, injustiça e morte.
Quanto sofrimento e quanto sangue derramado! Que Maria, a Mãe da Paz, a
Mãe da Humanidade nos alcance a graça de vivermos em paz e colaborarmos na sua construção. Rezemos o terceiro mistério...
1 – Jesus, Príncipe da Paz
4 – Promoção activa
Fixemos o olhar em Jesus, o Menino que nos nasceu e veio para estabelecer a Paz, para ser a nossa Paz, Aquele a Quem o profeta chamou o Príncipe da Paz. O mundo precisa d’Ele, precisa que Ele entre nos corações, nas
famílias, nas estruturas da sociedade, para que haja menos guerra, menos
ódio, menos vingança, menos sangue derramado, menos vidas ceifadas e
famílias desfeitas. Que Ele nos alcance a verdadeira Paz. Rezemos o primeiro mistério...
Todos podemos fazer muito pela Paz. Todos temos que colaborar com
o dom de Deus para construir paz. E tudo começa no nosso coração. É no
santuário do nosso coração que tem de haver paz que depois se semeia
à nossa volta. Jesus, cujo Coração é a fonte da paz e da comunhão, quer
transformar os nossos corações e fazer-nos promotores da paz. Metamo-nos no seu Coração e sejamos fonte de paz para os outros. Rezemos o
quarto mistério...
2 – Paz, construção dos homens
5 – Unidos ao Papa
A paz é dom de Deus, dom do Coração de Cristo, Rei do Universo. Mas o
Evangelho proclama «bem-aventurados» os que a constroem, por isso ela
tem de ser também construção dos homens. A Intenção do Santo Padre
pede que as pessoas de diferentes tradições religiosas e todos os homens
de boa vontade colaborem, construam caminhos de paz e de comunhão
para que o mundo viva em mais concórdia e unidade. Oxalá este desejo se
realize. Rezemos o segundo mistério...
Somos milhões de pessoas a rezar, cada mês, unidas ao Papa e pelas suas
intenções. Temos aqui um pilar magnífico da vida e da espiritualidade do
Apostolado da Oração. Este mês foi a promoção da paz que nos juntou em
oração. Estar em comunhão com o Papa e rezar pelas suas intenções é sentir-se cada vez mais Igreja, mais comprometidos com a nossa Mãe Igreja e
com o Papa que, em nome de Jesus, a governa. Rezemos o quinto mistério...
26 | Mensageiro
Janeiro 2015 | 27
Encontro Diocesano no Porto reuniu 350 pessoas
notícias
ao é NOTÍCIA
Milhares descarregam app Click To Pray
Cerca de 350 pessoas de várias paróquias da diocese do Porto participaram no Encontro Diocesano
do Apostolado da Oração, que decorreu no dia 15
de Novembro, na Casa Diocesana do Vilar.
O encontro foi organizado pelo Director Diocesano, Cónego João da Silva Peixoto, e pela sua
Equipa Diocesana, que tem como responsável a
Irmã Alexandrina Dutra, da Comunidade do Bom
Pastor, em Ermesinde, onde estão os restos mortais da Beata Maria do Divino Coração.
Integrado no programa do Bispo Diocesano para
a Diocese do Porto, o encontro, cujas conferências
estiveram a cargo do P. Dário Pedroso, s.j., teve
como tema a Exortação Apostólica «A Alegria
do Evangelho», como missão do Apostolado
da Oração.
Depois da palavra introdutória do Director Diocesano, o P. Dário fez duas exposições durante a
manhã, seguidas de um tempo forte e longo de
Adoração a Jesus Eucaristia. Pelas 14h30, depois
da bênção do Santíssimo, houve uma terceira
palestra, encerrando-se o Encontro com a celebração da Eucaristia vespertina.
Curso de Introdução à Oração decorreu em Fátima
Nas primeiras 24 horas de utilização, mil 800
pessoas descarregaram a aplicação para Android
e 2 mil 100 para IOS (Iphone) do Click To Pray. O
site teve 40 mil acessos e mais de 11 mil visitantes
únicos. Entretanto, a página de facebook registou
quase 1300 gostos. O público principal alcançado,
que acedeu a estas plataformas, está entre os 18
e os 34 anos.
Os downloads e visitas ao site e facebook têm-se
multiplicado de forma espantosa nestes primeiros dois meses, fazendo desta nova plataforma do
Apostolado da Oração um verdadeiro sucesso de
vivência da fé nos meios digitais.
A apresentação do Click To Pray aconteceu no
dia 21 de Novembro, na Capela do Carmelo de
São José, em Fátima, no âmbito das Jornadas Práticas sobre Comunicação Digital. O evento mereceu a participação de mais de cem pessoas, entre
28 | Mensageiro
estudantes, profissionais de comunicação social,
sacerdotes e leigos ligados a projectos nesta área.
E o que é o Click To Pray? É uma plataforma
multicanal que disponibiliza propostas de oração simples e breves, para três momentos do dia,
durante os 365 dias do ano. Apresenta também
as intenções que o Papa Francisco confia mensalmente ao AO e a todos os cristãos.
O objectivo é utilizar as novas tecnologias para
levar a oração aos espaços quotidianos, enquadrá-la no ritmo de vida de cada um e, desta
forma, criar uma atitude de disponibilidade para
fazer aquilo que Deus pede a cada dia, tendo em
conta que “cada dia é diferente”.
O Click To Pray é também uma rede social de
oração, que permite colocar num mural as intenções de oração de cada um e rezar pelas intenções dos outros utilizadores.
Apresentar ferramentas muito práticas para a
oração quotidiana, fazendo com que as pessoas,
nos seus contextos e ritmos diários, possam
encontrar sempre modos de rezar foi o objectivo
do Curso de Introdução à Oração, que decorreu de
7 a 9 de Novembro, em Fátima, na Domus Carmeli.
O curso, orientado pelo P. António Valério, s.j.,
destinou-se a pessoas que pertencem ao Apostolado da Oração, mas aberto a outros interessados.
Para além de abordagens mais «teóricas» sobre
a oração, o curso incidiu sobre os diversos modos
de orar, o que se pode fazer durante um tempo de
oração, para além de exercícios práticos de oração individual e em grupo. O facto de não ser um No final, a alegria e o desejo de encontrar Jesus
grupo muito numeroso ajudou a que se pudesse no dia-a-dia foram os sentimentos comuns a
dar muito tempo a questões práticas, partilhas e todos os participantes, que afirmavam que este
trocas de opiniões, o que tornou esta experiência tipo de iniciativas deveria acontecer mais vezes.
muito enriquecedora.
Paróquia de S. Francisco Xavier impulsiona grupo do AO
A paróquia de S. Francisco Xavier, em Setúbal,
promoveu, no dia 8 de Novembro, por iniciativa do pároco, Padre Hermínio Vitorino, s.j., um
encontro para tentar renovar e impulsionar o
Apostolado da Oração.
O encontro, que contou com uma boa presença de
leigos, foi orientado pelo P. Dário Pedroso, s.j., agora
a viver na Charneca da Caparica, na Comunidade
da Companhia de Jesus que tem a seu cargo quatro paróquias na Vigararia de Almada.
Esta reunião foi determinante para ajudar os leigos a entrar mais na espiritualidade e na organização do Apostolado da Oração. Foi uma pequena
semente da qual se espera, pela graça do Coração
de Jesus e pelo dinamismo do pároco e dos leigos
empenhados, um maior crescimento.
Janeiro 2015 | 29
NOTÍCIAS
igreja é NOTÍCIA
Papa foi à Turquia insistir na paz e diálogo inter-religioso
Oriente, onde a «situação humanitária é angustiante». Francisco lembrou particularmente as
crianças, o sofrimento de tantas mães, os idosos
e os deslocados e refugiados que sofrem «violências de todo o género» por causa «de um grupo
extremista e fundamentalista».
O Bispo de Roma defendeu que «a denúncia
deve ser acompanhada pelo trabalho comum
para se encontrarem soluções adequadas», o que
«requer a colaboração de todas as partes: governos, líderes políticos e religiosos, representantes
da sociedade civil e todos os homens e mulheres
de boa vontade».
Ainda em Ancara, Francisco visitou o Mausoléu
de Ataturk, fundador da República da Turquia. No
dia seguinte, 29 de Novembro, o Sumo Pontífice
da Igreja Católica voou para Istambul, cumprindo
assim a agenda oficial que contemplava passagens pelo Museu de Santa Sofia e a Mesquita Azul,
onde, tal como Bento XVI, em 2006, se descalçou
e se manteve em adoração silenciosa, virado para
Meca. A seguir, Francisco celebrou Missa na Catedral Católica do Espírito Santo, participou numa
oração ecuménica na Igreja Patriarcal de São
Jorge e, no final, manteve um encontro privado
com o Patriarca Ecuménico de Constantinopla,
Bartolomeu I.
Comunhão «plena»
entre católicos e ortodoxos
Celebração da Missa na Catedral Católica do Espírito Santo, em Istambul.
O Papa não se cansa de apelar e envidar esforços a favor da paz, do diálogo e da tolerância. Na
viagem de três dias – 28, 29 e 30 de Novembro
– que realizou à Turquia, Francisco mostrou-se
preocupado com o diálogo inter-cultural e inter-religioso e com a «situação verdadeiramente
trágica» no Médio Oriente, sobretudo no Iraque
e na Síria.
Logo no primeiro dia, 28 de Novembro, em
Ancara, no encontro com as autoridades locais,
entre as quais o presidente Erdogan, o Santo Padre
condenou o fanatismo e o fundamentalismo
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religiosos. «Ao fanatismo e ao fundamentalismo,
às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações é preciso contrapor a solidariedade de todos os crentes – que tenha como
pilares o respeito pela vida humana, pela liberdade religiosa, que é liberdade do culto e liberdade de viver segundo a ética religiosa», sustentou, lembrando que «têm necessidade disto, com
particular urgência, os povos e os Estados do
Médio Oriente».
No encontro com o responsável pelos Assuntos Religiosos, o Papa voltou a falar do Médio
O último dia de viagem, 30 de Novembro, começou com a Divina Liturgia na Igreja Patriarcal de
São Jorge, na Memória do Apóstolo Santo André,
irmão de São Pedro, patrono do Patriarcado Ecuménico. Durante a celebração e perante o Patriarca
Bartolomeu I, o Papa condenou o «pecado gravíssimo» da guerra, lembrando as vítimas da «guerra
atroz e desumana» nos países vizinhos, e a importância de um caminho de comunhão plena entre
católicos e ortodoxos que favoreça a paz.
«A voz das vítimas dos conflitos impele-nos a
avançar apressadamente no caminho de reconciliação e comunhão entre católicos e ortodoxos»,
sublinhou, depois de ter adiantado que católicos e
ortodoxos se encontram a «caminho para a plena
comunhão», após 960 anos de separação.
A este respeito, o Pontífice disse ainda que «há
sinais eloquentes» de uma unidade «real, embora
ainda parcial». Francisco referiu que a «Igreja
Papa quer comunhão plena entre católicos e ortodoxos.
Católica não tem intenção de impor qualquer exigência, excepto a da profissão da fé comum».
Enquanto líder da Igreja Católica, Francisco
garantiu que está disposto a encontrar, «à luz do
ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milénio, as modalidades pelas quais garantir
a necessária unidade nas circunstâncias actuais».
Em seu entender, católicos e ortodoxos têm de
estar juntos para superar as «causas estruturais
da pobreza, desigualdade, falta de um trabalho
digno, de terra e de casa, a negação dos direitos
sociais e laborais», entre tantos outros males que
afligem o mundo.
O Papa aproveitou para elogiar o «riquíssimo
património das Igrejas do Oriente», observando
que o restabelecimento da plena comunhão «não
significa submissão de um ao outro nem absorção,
mas sim acolhimento de todos os dons que Deus
deu a cada um».
Janeiro 2015 | 31
O discurso do Patriarca Ecuménico realçou, por
sua vez, os desafios levantados às Igrejas cristãs
pelas guerras, «muitas vezes até em nome de
Deus», da distribuição injusta dos recursos e da
crise ecológica. No final da Divina Liturgia, teve
lugar uma bênção ecuménica e a assinatura de
uma Declaração Conjunta.
Antes do regresso a Roma, o Pontífice reuniu-se
com jovens refugiados assistidos pela Comunidade Salesiana na Turquia e lamentou as «condições intoleráveis» em que estas populações
vivem. Francisco apelou, por isso, a uma «maior
convergência internacional» para resolver os
conflitos que atingem as terras de origem destes
jovens, maioritariamente sírios e iraquianos, mas
também de outros países, incluindo africanos.
«Encorajo quantos estão a trabalhar generosa
e lealmente pela justiça e a paz que não desanimem. Faço um apelo aos líderes políticos para
terem em conta que a grande maioria das suas
populações aspira pela paz, embora às vezes já
não tenha força nem voz para a pedir», prosseguiu o Papa, que terminou o último discurso
desta viagem com uma palavra de esperança
aos jovens, desejando que continuem a acreditar
num «futuro melhor».
Já no avião de regresso a Itália, Francisco confessou que gostava muito de ir ao Iraque e que
falou a este propósito com o Patriarca Sako. No
entanto, as questões de segurança sobrepõem-se
à sua vontade pessoal. Se, «neste momento, fosse
lá, criaria um problema de segurança bastante
sério às autoridades», declarou.
Na habitual conversa com os jornalistas a bordo,
o Papa revelou que, no encontro com o presidente turco, sugeriu que todos os líderes políticos, intelectuais e religiosos muçulmanos condenem o terrorismo e expliquem que o Corão não é
sinónimo de guerra e terror.
Dificuldades e indefinições afectam famílias
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considera que há uma «indefinição cultural e até legal» que afecta as famílias.
D. Manuel Clemente, que participou no recente
Sínodo extraordinário dos Bispos sobre a família,
no Vaticano (5-19 de Outubro de 2014), diz que,
«se, por um lado, as dificuldades económicas e
até a indefinição cultural atingem hoje as famílias, fragilizando a sua constituição e manutenção, por outro, elas revelam-se em muitos casos
como único sustentáculo de tantas existências e
subsistências pessoais que não encontram outro
ponto de apoio material e afectivo».
O Patriarca de Lisboa pronunciou-se sobre o
assunto na sessão de abertura da última Assembleia Plenária da CEP, que decorreu em Fátima.
D. Manuel Clemente sustentou que, apesar das
dificuldades, a família tem «uma inegável força
intrínseca que só espera o reconhecimento
público equivalente», em «benefício de todos».
A família, «idêntica no essencial da complementaridade homem-mulher, geradora de vida; e no
actual contexto, que a torna mais nuclear, urbana,
móvel e dispersa», evidencia-se como base inultrapassável da solidariedade geral», referiu ainda.
32 | Mensageiro
Segundo D. Manuel Clemente, a questão dos
«divorciados recasados e a respectiva relação com
os sacramentos» foi tratada pelos media «com
alguma desproporção» em relação ao lugar que
este ponto «realmente teve no decurso do sínodo»
de Outubro. Este é um ponto que continuará a ser
reflectido até ao sínodo que acontece este ano.
O Patriarca de Lisboa revelou que, durante o
Sínodo, «insistiu-se sobretudo no reconhecimento do lugar que [os divorciados recasados],
sendo baptizados, continuam a ter na Igreja e no
acompanhamento que merecem». E, neste contexto, D. Manuel Clemente afirmou que, da parte
da CEP, a disponibilidade para reforçar a atenção
à família «é total e demonstrada».
A reflexão sobre a realidade familiar foi um dos
principais temas em análise ao longo dos três dias
desta assembleia plenária e será um dos temas
de reflexão e debate nos próximos encontros,
dada a necessidade de se fazer um estudo «muito
aprofundado e continuado» sobre a temática, tal
como o Papa pediu, referiu D. Manuel Clemente,
no final dos trabalhos.
O presidente da CEP notou que «há uma
enorme constelação de problemáticas, antigas e
modernas», em relação à família, nomeadamente
«uma indefinição prática sobre o que cada um
entende como família».
D. Manuel Clemente entende que a Igreja é chamada a dar atenção aos casos que «contradizem
a proposta cristã sobre a família» e que o discurso
da Igreja Católica precisa de ser «esclarecido,
aprofundado» e «afirmado em constraste com
outras vivências familiares e parafamiliares».
Segundo o Patriarca de Lisboa, «na prática eclesial, tem-se caminhado muito no sentido de uma
maior atenção e na resolução possível dos problemas que se põem», como, por exemplo, no caso
dos processos de nulidade do matrimónio.
Ismael Marta é novo director do Secretariado da CEP
Ismael José Mendes Marta é o novo director
do Secretariado Geral da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP). «Uma dupla novidade, por ser
leigo e ser jovem», e «uma vantagem», dado o
seu «dinamismo, competência e discrição», diz o
secretário da CEP, padre Manuel Barbosa.
O padre Manuel Barbosa explica que habitualmente a escolha do director do Secretariado
Geral da CEP «tem sido um padre», mas nem
o «regulamento» nem os «estatutos» indicam
essa obrigação.
Houve uma proposta para ser uma pessoa «qualificada neste tipo de trabalho» e coincidiu em
ser um leigo «com experiência» para «coadjuvar
o secretário da CEP», adiantou ainda o sacerdote.
Segundo Ismael José Mendes Marta, as suas
funções, para além da «coordenação» inerente
ao «serviço do Secretariado Geral», incluem também, sempre que «for útil e necessário», a assessoria do secretário-geral da CEP.
Para Ismael Marta, é «uma realidade nova»,
«uma oportunidade de crescimento e sobretudo
de fascínio por estar tão perto e trabalhar num
serviço da Igreja».
A escolha de um leigo para director do Secretariado Geral da CEP, na opinião do próprio, é «sempre muito bom», no sentido de aproximar os leigos da realidade da Igreja.
Elisabete Carvalho
Fontes: Ecclesia / Renascença / www.vatican.va
Janeiro 2015 | 33
ACTIVIDADES INACIANAS
à conversa com...
Em Soutelo (Vila Verde): CEC – Casa da Torre
Av. dos Viscondes da Torre, 80 – 4730‑570 SOUTELO – Tel. 253 310 400; Fax: 253 310 401; E‑mail: [email protected]
05-13 Jan.
05 Jan.-05 Fev. 08-11 Jan.
08-11 Jan. 11 Jan. 15-18 Jan.
22-25 Jan.
David Dinis
Director do Observador
David Dinis, jornalista, editor de política, grande repórter e editor executivo, é
agora um dos principais rostos de uma nova marca de informação, diferenciadora
e que já se tornou uma referência – o Observador. Este era o desafio que faltava na
sua carreira?
Os desafios faltam sempre, mas têm de estar dentro de nós. O Observador é o projecto mais aliciante que já abracei, isso posso dizer-lhe. Pelo risco de entrar num
mercado difícil, pelas múltiplas possibilidades de inovar e trazer algo de novo, pela
aprendizagem contínua que me (que nos) dá. Também pela hipótese única de dirigir uma equipa maravilhosa e um projecto que tem um contacto muito próximo
– e muito singular – com os nossos leitores. É um prazer muitas vezes superior ao
esforço que exige.
É co-autor de “Resgatados – os bastidores da ajuda financeira a Portugal”. O que o
levou a escrever este livro?
A percepção de que aqueles dias do resgate financeiro (os que o antecederam e os
que se lhe seguiram) precisavam de ficar escritos para que alguém no futuro tivesse
um registo. E a percepção também de que nestes dias muito complexos as pessoas
precisam de ter contexto para saber o que pensar sobre o que se passa. Independentemente do seu posicionamento político.
Neste início de ano, o que perspectiva para os media em Portugal?
Uma evolução, no sentido de aproximação ao leitor, de aprofundamento dos temas,
de estabilização de um sector que precisa de outra tranquilidade para fazer bem
o seu papel. Estamos a entrar num ano muito importante, com várias eleições. E
nestes dias é ainda mais importante o papel dos media, para que todos tenham os
instrumentos para decidir pela sua própria cabeça.
Quem é David Dinis, o homem para além do jornalista?
Pai de duas filhas lindas, casado e feliz com uma mulher que me apoia, que me
acompanha, e a quem tento dar o que merecem. Serei, talvez, persistente, confiante. Amável, espero, porque isso deve ser o que junta a civilização. Assim creio.
A fé tem importância na sua vida?
Muita. Em Deus e no que Ele nos deu para sermos felizes e fazermos os outros felizes.
34 | Mensageiro
Janeiro / Fevereiro
Exercícios Espirituais – P. Luís Maria da Providência
Exercícios Espirituais – P. Gonçalo Eiró
Exercícios Espirituais – “Ao 3º dia... para ver mais claro, mais fundo” – Mariana Abranches Pinto
Exercícios Espirituais – P. José Frazão Correia
Exercícios Espirituais na “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)
Exercícios Espirituais – P. José Eduardo Lima [Inscrições no CREU-IL]
Exercícios Espirituais – P. José Carlos Belchior
02-10 Fev. Exercícios Espirituais – P. Dário Pedroso
05-08 Fev. Exercícios Espirituais – P. Miguel Almeida
08 Fev. Exercícios Espirituais na “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)
11-18 Fev. Exercícios Espirituais – P. António Vaz Pinto
12-15 Fev. Exercícios Espirituais Temáticos: “Conhecer” – P. Sérgio Diz Nunes
13-18 Fev. Exercícios Espirituais – Alzira Fernandes
19-22 Fev. Exercícios Espirituais “pé-descalço” (Leigos para o Desenvolvimento) – P. José Eduardo Lima [Inscrições no CREU-IL]
20-22 Fev. Relações Humanas – Comunicação Interpessoal – P. Alberto Brito
26 Fev.-01 Mar. Exercícios Espirituais (para CVX) – P. Vasco Pinto de Magalhães [Inscrições no CREU-IL]
27 Fev.-01 Mar. “VivàMissa” – Para compreender e poder viver melhor a Missa – P. Gonçalo Eiró
28 Fev.-01 Mar. Fim-de-Semana para Noivos – P. Miguel Almeida e grupo de casais
No Porto: CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola
R. Oliveira Monteiro, 562 – 4050-440 PORTO– Tel.: 226 061 410; E-mail: [email protected]
15-18 Jan. 23-25 Jan. Exercícios Espirituais – P. José Eduardo
CaFé – Curso de Aprofundamento da Fé – P. Filipe e P. Carlos
14 Fev. 18 Fev. 24 Fev. 27 Fev.-01 Mar.
Linha vermelha – Encontro/Bênção dos Namorados
Plano Espiritual de Quaresma I
Plano Espiritual de Quaresma II
Fim-de-Semana Animadores
Em Coimbra: CUMN – Centro Universitário Manuel da Nóbrega
R. José Falcão, 4 – 3000-233 COIMBRA – Tel. 239 829 712; E-mail: [email protected]
13 Jan. 27 Jan. 29 Jan.-01 Fev. Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)
Rezar com os ícones – P. José Carlos Belchior
Exercícios Espírituais (na Costa Nova) – P. Nuno Branco
07-14 Fev. Missões Universitárias (com a Missão País)
10 Fev. Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)
27 Fev.-01 Mar. Eneagrama – Clara e João Pedro Tavares
Em Lisboa: CUPAV – Centro Universitário Padre António Vieira
Estrada da Torre, 26 – 1769-014 LISBOA – Tel. 217 590 516; E‑mail: [email protected]
23-25 Jan. 24 Jan. 30 Jan.-01 Fev. CaFé – P. Carlos Azevedo Mendes e P. Nuno Tovar de Lemos
Reciclagem de casais (até 10 anos de casados)
Curso de eneagrama para casais e/ou namorados (dos 22 aos 40 anos) – Clara e João Pedro Tavares
06-08 Fev. 12-18 Fev. 25 Fev. Fim-de-Semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais
Exercícios Espirituais (em Palmela) – P. Carlos Azevedo Mendes
Plano Espiritual de Quaresma I
No Rodízio – Casa de Exercícios de Santo Inácio
Estrada do Rodízio, 124 – 2705-335 COLARES – Tel. 219 289 020; Fax: 219 289 026; E‑mail: [email protected]
26 Dez.-01 Jan. 10 Jan. 15-18 Jan. 15-18 Jan. 15-18 Jan. 15-18 Jan. 30 Jan.-01 Fev. 31 Jan.-01 Fev. Exercícios Espirituais – P. Hermínio Rico
Educação da Interioridade das Crianças (dos 6 aos 10 anos) – Ir. Maria Emília Nabuco, RSD
Exercícios Espirituais – P. António Júlio Trigueiros
Exercícios Espirituais – P. António Vaz Pinto [Inscrições no CUPAV]
Exercícios Espirituais – P. Mário Garcia
Exercícios Espirituais Temáticos: “Conhecer” – P. Sérgio Diz Nunes
Curso Intensivo de Fé – P. Hermínio Rico
Fim-de-Semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais
13-17 Fev. 13-20 Fev. 20-22 Fev. 21 Fev. 22 Fev. Exercícios Espirituais – P. Mário Garcia
Exercícios Espirituais – P. José Carlos Belchior
Desafio do Meio da Vida – P. Vasco Pinto de Magalhães
Retiro de Quaresma – P. Nuno Tovar de Lemos e P. João Goulão
Retiro de Quaresma – P. Nuno Tovar de Lemos e P. João Goulão
Janeiro 2015 | 35
No mundo e nas sociedades existe pouca paz, também porque
falta diálogo e há dificuldade de sair do horizonte limitado dos
próprios interesses, para se abrir a um confronto verdadeiro
e sincero. Para que haja paz é preciso um diálogo persistente,
paciente, forte e inteligente, com o qual nada está perdido. O
diálogo pode vencer a guerra. O diálogo faz viver juntas pessoas de diferentes gerações, que muitas vezes se ignoram umas
às outras; faz viver juntos cidadãos de diversas proveniências
étnicas, de várias convicções. O diálogo é o caminho da paz,
porque favorece o entendimento, a harmonia, a concórdia e a
paz. Por isso, é vital que cresça, que se dilate no meio de pessoas de todas as condições e convicções, como uma rede que
protege o mundo e os mais frágeis.
Papa Francisco,
no Encontro Internacional para a Paz,
organizado pela Comunidade de Santo Egídio,