James Lovelock
Transcrição
James Lovelock
8 Gaia James Lovelock 1ª edição Gaia: a new look at life on earth Oxford University Press, 1979 168 p. (capa dura) 978‑0192860309 Edição atual Gaia: a new look at life on earth Oxford University Press, 2000 176 p. (brochura) 978‑0192862181 Ideias‑chave uu uu uu uu uu A biosfera, a atmosfera, os oceanos e o solo da Terra formam um sistema autorregulador com capacidade para manter o planeta sadio por meio do controle do ambiente químico e físico. Esse sistema autorregulador, que age como um organismo vivo, é chamado de Gaia, em referência à deusa grega da Terra. Gaia é dinâmica, ela age como sistema de realimentação ou sistema cibernético que busca o conjunto ideal de condições para a vida neste planeta. O postulado de Gaia é uma teoria ou hipótese que fornece suporte científico para a interconectividade da vida na Terra. Uma vez que Gaia responde a influências externas, pode‑se dizer que incorpora uma forma de inteligência. GAIA Sinopse Gaia, escrito em estilo que combina pesquisa científica e metafísica reflexiva, é a elaboração de uma teoria ou hipótese concebida por Lovelock, junto com Lynn Margulis. Basi camente, sustenta que as condições físicas e químicas da face da Terra, da atmosfera e dos oceanos têm sido, e ainda são, ade quadas e confortáveis à presença da vida em si. Tal hipótese contrapõe‑se à sabedoria convencional, segunda a qual a vida adaptou ‑se às condições do planeta conforme ela, vida, e as condições do planeta evoluíram por caminhos distintos. Lovelock chamou sua teoria de “Hipótese Gaia” – em homenagem à deusa grega Terra –, seguindo a sugestão de William Golding, autor de O senhor das moscas e seu amigo. A teoria teve como raízes científicas um tra balho realizado por Lovelock para a Nasa, em que tenta “provar” a existência de vida em Marte. Para ajudar a ilustrar suas desco bertas, desenvolveu “Daisyworld” (“O mundo das margaridas”), uma “drástica simplifi cação” computadorizada da Hipótese Gaia. Daisyworld é um planeta hipotético, habitado apenas por margaridas claras e escuras. As duas espécies involuntariamente contribuem para manter a temperatura do planeta mais constante do que seria de outra forma. Lovelock explica que a Terra, diferentemente de Marte, está em constante estado de fluxo ou trocas químicas. Apesar dessas flutuações, vemos que determinadas condições globais permanecem razoavelmente constantes. Por exemplo, a temperatura da superfície da Terra mantém‑se constante apesar do aumento da energia fornecida pelo Sol. Do mesmo modo, continua constante a composição da atmosfera, embora devesse ser instável, como também é constante a salinidade do oceano. Lovelock conclui que a biosfera deve ininterruptamente modular a composição química, temperatura, pH e outros atributos do sistema terrestre, de modo a manter as condições para que a vida floresça. Lovelock chama Gaia de sistema fisiológico, porque ele tem o objetivo inconsciente de regular o clima e a química para mantê‑los em um nível confortável à vida. O termo científico desse fenômeno é “homeostase”, que significa “manutenção de condições relativamente estáveis por controle ativo”. Segundo esse sistema, algumas funções reguladoras são mais importantes do que outras, ou, para usar a metáfora do corpo, “Gaia tem órgãos vitais em seu sistema interno, assim como supérfluos e redundantes em seu sistema periférico”. Portanto, nosso impacto sobre o planeta pode depender enormemente não apenas do que fazemos, mas de onde fazemos. Outro aspecto básico do sistema é a maneira como ele reage a mudanças. A força dos ciclos de realimentação e a escala de tempo de mudança são fatores importantes. Por exemplo, a regulação do oxigênio tem escala de tempo medida em milhares de anos. Tais processos, lentos, dão alertas mínimos de tendências indesejáveis. No momento em que se perceber que nem tudo está bem e se empreender uma ação, a trava da inércia tornará as coisas piores antes que uma melhoria igualmente lenta possa ocorrer. Lovelock conclui que a Hipótese Gaia “é uma alternativa para a visão pessimista que enxerga a natureza como força primitiva a ser subjugada e conquistada. É também uma alternativa à imagem, igualmente depressiva, de que nosso planeta é como uma espaçonave demente, viajando eternamente, sem direção ou objetivo, em volta de uma órbita do Sol”. 51 52 Tópicos do livro • Seria demais sugerir que pudéssemos reconhecer... a beleza e a adequação de um ambiente criado por um conjunto de criaturas? • Se Gaia existe, o relacionamento entre ela e o homem, uma espécie animal dominante no complexo sistema vivo, e a possível mudança de equilíbrio de forças entre eles são questões de importância óbvia. • Todo o espectro de matéria viva da Terra, das baleias aos vírus e dos carvalhos às algas, poderia ser considerado uma única entidade viva, capaz de manipular a atmosfera da Terra para se adaptar às suas necessidades globais, por ser dotado de faculdades e poderes além daqueles das partes que o constituem. • Do jeito que as coisas estão, a ignorância sobre as possíveis consequências de nossas ações é tão grande que as previsões proveitosas sobre o futuro são quase rejeitadas. • Segundo a Hipótese Gaia, somos partes de um todo maior. Nosso destino não depende somente do que fazemos para nós mesmos, mas também do que fazemos para Gaia, como um todo. Se nós a colocarmos em perigo, ela nos descartará em benefício de algo ainda mais valioso – a própria vida (de uma palestra de Vaclav Havel, ex‑presidente da República Tcheca, ao receber a Medalha presidencial da Liberdade, do governo dos Estados Unidos, em julho de 1994). Sobre o autor James Lovelock é cientista indepen dente, ambientalista, escritor, pesquisador e personagem influente da história do movimento ambientalista. Lovelock nasceu em 26 de julho de 1919, em Letchworth Garden City, no Reino Unido. Formou‑se em química pela Universidade de Manchester em 1941 e, em 1948, recebeu um PhD em medicina pela London School of Hygiene and Tropical Medicine. Em 1959, recebeu o título de doutor em ciências (DSc) em biofísica da Universidade de Londres. Nos Estados Unidos, lecionou na Universidade de Yale, na Baylor University College of Medicine e na Uni- versidade de Harvard. Foi também agraciado com diversos títulos doctor honoris causa por diversas universidades de todo o mundo. Entre os primeiros trabalhos científicos de Lovelock está o realizado para o Jet Propulsion Laboratory on Lunar and Planetary Research. Desde 1964, dirige um laboratório científico independente, embora continue associado à academia, como professor convidado, primeiro na Universidade de Houston e, depois, na Universidade de Reading, no Reino Unido. É membro da Marine Biological Association, de Plymouth (desde 1982), inicialmente como conselheiro e, de 1986 a 1990, como presidente. GAIA College, da Universidade de Oxford, tendo sido condecorado com o título de “Comendador da Ordem do Império Britânico” em 1990. © Bruno Comby / EFN – Environmentalists For Nuclear Energy: www.ecolo.org Lovelock tornou‑se mais célebre como criador da Hipótese Gaia (atualmente Teoria Gaia), tendo escrito cinco livros sobre o assunto. Atualmente é professor convidado do Green Em suas próprias palavras (entrevista de 2008) Reflexões sobre o livro O papel dos negócios Os modelos que construí e a história da Terra sugerem enfaticamente que Gaia deve ser considerada um sistema vivo. Sei que os biólogos odeiam essa ideia, assim como os cientistas, mas é uma boa metáfora para se empregar em relação à Terra. Acho que desde Karl Marx [...] temos essa ideia de que podemos culpar a indústria por todos os nossos problemas. [A Terra é] um sistema que sempre se aperfeiçoa em habitabilidade ou, se preferir, em sustentabilidade. A Teoria Gaia passou por mais de dez testes e todos eles foram considerados positivos ou sem falsificação. Inclinamo‑nos a esquecer que não são as empresas de petróleo que dirigem nossos carros; somos nós que os dirigimos e queimamos combustível. Não precisamos fazê‑lo, e é ingênuo colocar toda a culpa na indústria por lucrar com a venda de petróleo. Toda a sociedade faz parte do jogo, e escolher atacar a indústria é completamente equivocado. 53 54 Olhando para o futuro Coisas vivas, quando ameaçadas ou submetidas à tensão, inicialmente resistem, e é o que o sistema [Terra] vem fazendo há um bom tempo. Desde quando começamos a emitir gás e devastar florestas, destruindo os ecossistemas, a temperatura não mudou, a atmosfera não mudou – tudo ficou sob controle pelo sistema. Mas em algum momento por volta de 1900 começamos a ultrapassar os limites. Então, agora, o sistema está fazendo a outra coisa que os seres vivos fazem: fugir para um local seguro que conhece. E o local seguro, em que já esteve muitas vezes antes, é o do regime quente, onde as temperaturas globais são entre 5 e 6 graus mais elevadas do que atualmente, em todo o planeta. É um planeta muito quente e seco. Ainda haverá oásis… mas não aguentarão algo como a população atual. Muito me admiraria se pudesse aguentar 1 bilhão [de pessoas]; penso que 500 milhões seria o mais provável. A única oportunidade que temos de reverter o aquecimento global é tornar Gaia nossa aliada. Todos os anos o sistema terrestre sequestra 550 gigatoneladas de dióxido de carbono pela fotossíntese, por todas as plantas. É uma quantidade gigantesca, se comparada às emissões que estamos provocando, de 30 gigatoneladas. Assim, como podemos pedir ao sistema que nos ajude um pouco? Tudo o que temos a fazer é, por exemplo, pegar todo o resíduo agrícola e transformá‑lo em carvão. Se pudéssemos pegar 20% do total de fotossintetizados que estão sendo usados e enterrá‑los como carvão no solo e no fundo do oceano em fazendas de algas, estaríamos então retirando algo da ordem de 110 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano. Ora, isso é muito mais do que nossas emissões e o suficiente para começar a baixar o efeito estufa a níveis mais razoáveis. Portanto, há uma saída. Existe algo que podemos fazer. Outros livros Mais informações The ages of Gaia: a biography of our living earth (W. W. Norton, 1988). Website de James Lovelock: www.ecolo.org/lovelock Gaia: the practical science of planetary medicine (Gaia Books, 2000). Homage to Gaia: the life of an independent scientist (Oxford University Press, 2000). The revenge of Gaia: why the earth is fighting back – and how we can still save humanity (Basic Books, 2006).
Documentos relacionados
Teoria de Gaia e a preservação do meio ambiente
incandescente. Começa onde as rochas crustais encontram o magma do interior quente da Terra, uns 160 quilômetros abaixo da superfície, e avança outros 160 quilômetros para fora através do oceano e ...
Leia maisA Teoria Gaia é um conteúdo legítimo no ensino médio de Ciências?
A estabilidade da temperatura do planeta Terra também chamou a atenção de Lovelock, na medida em que, enquanto estudos astronômicos mostram que a luminosidade do sol sofreu um aumento de 25% desde ...
Leia maisgaia, teleologia e função - Genética e Biologia Evolutiva
da Terra como um superorganismo, uma decorrência inevitável da idéia – bastante controversa – de que a Terra é um ser vivo (uma análise dessa idéia é encontrada em LIMA-TAVARES e EL-HANI, 2001; LIM...
Leia mais