Tishri / Cheshvan 5776
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Tishri / Cheshvan 5776 1 Nº 140 Capa: Nesta Edição Shaná Tová Comemorando I, pág. 14. Expediente A revista Nascente é um órgão bimestral de divulgação da Congregação Mekor Haim. Rua São Vicente de Paulo, 276 CEP 01229-010 - São Paulo - SP Tel.: 11 3822-1416 / 3660-0400 Fax: 11 3660-0404 e-mail: [email protected] 52 Variedades II “Maravilhoso Mundo Animal” supervisão: Rabino Isaac Dichi diretor de redação: Saul Menaged colaboraram nesta edição: Ivo e Geni Koschland e Silvia Boklis projeto gráfico e editoração: Equipe Nascente editora: Maguen Avraham tiragem: 11.000 exemplares O conteúdo dos anúncios e os conceitos emitidos nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da diretoria da Congregação Mekor Haim ou de seus associados. Os produtos e estabelecimentos casher anunciados não são de responsabilidade da Revista Nascente. Cabe aos leitores indagar sobre a supervisão rabínica. A Nascente contém termos sagrados. Por favor, trate-a com respeito. 10 12 Dinheiro em Xeque “Lixo”. A lei judaica sobre casos monetários polêmicos do dia a dia. 14 Comemorando I O Kidush e os costumes das refeições das duas noites de Rosh Hashaná em hebraico, com tradução e transliteração. 70 De Criança para Criança “O Amigo da Mercearia”. Chayim Walder 18 30 66 “Conselho de Mulher”. “Guemach de Roupas”. Datas e horários judaicos, parashiyot e haftarot para os meses de tishri e cheshvan. Comemorando II Rabino I. Dichi Congregação Datas & Dados Tishri / Cheshvan 5776 38 Nossa Gente Acontecimentos que foram destaques na comunidade. 26 56 20 “A Alegria de Sucot”. R. Joseph Chouveke “Cheques Pré-datados”. R. Yochanan David “Uma Delícia! – da Árvore ao Paladar”. Comemorando III 65 63 62 “Os Trabalhos Proibidos no Yom Tov”. Rabino I. Dichi “Yom Kipur – o Verdadeiro Enfoque”. Rabino Zvi Miller “Pensamentos”. Leis e Costumes Mussar Tishri / Cheshvan 5776 Variedades I Comemorando IV Pensando Bem I 51 24 32 60 “Como Uma Montanha!”. “Questões de Lógica”. Rabino Mordechay Neugröschal “Recuperar os Dias Perdidos”. Rabino I. Dichi Pensando Bem II Visão Judaica I “O Dia Seguinte ao Yom Kipur – Um Dia Especial”. Rabino I. Dichi Visão Judaica II Visão Judaica III 11 Dinheiro em Xeque O Lixo Todas as dúvidas e divergências monetárias de nossos dias podem ser encontradas em nossos livros sagrados! Certo 12 dia Efráyim estava descendo as escadas de seu prédio, quando percebeu que havia um saco de lixo colocado junto à porta de seu vizinho do andar de baixo, Yehudá. dar seu vizinho, Efráyim pegou o saco de lixo de Yehudá e levou-o até a lixeira coletiva. Após realizar a boa ação, Efráyim ficou muito contente por ter ajudado alguém. Após algumas horas, a esposa de Yehudá Naquele prédio não havia faxineiros contra- percebeu que seu valiosíssimo anel de brilhantes, tados para retirar o lixo de cada apartamento. não estava no seu dedo. Em poucos segundos O combinado entre os condôminos era que cada lembrou-se que havia retirado o anel da mão um deveria levar seus sacos de lixo até uma li- antes de fazer netilat yadáyim e colocado-o em xeira coletiva na entrada do edifício. cima da mesa onde fizeram a refeição. Yehudá, Efráyim logo imaginou que Yehudá estava que havia retirado a toalha plástica descartável muito ocupado para levar seu lixo até a lixeira. que cobria a mesa, não se dera conta do anel Com a intenção de realizar uma boa ação e aju- entre tantos pratos descartáveis e jogara tudo Tishri / Cheshvan 5776 Dinheiro em Xeque Yehudá ficou furioso com Efráyim não é o lugar de guardar-se diamantes, e exigiu que ele lhe pagasse o valor do e o dono falhou ao deixá-los lá. Sobre precioso anel, alegando que Efráyim este caso, o Aruch Hashulchan (388, 5) não tinha o direito de mexer no seu acrescenta que se o dano foi causado sem saco de lixo. querer, segundo todas as opiniões o sujei- Efráyim, por sua vez, defendeu- to está isento de pagar pelo dano. -se dizendo que, apesar de acreditar Portanto, no nosso caso, mesmo que havia um anel dentro do saco, não que Efráyim tenha acreditado no que poderia ter imaginado isso, e que sua Yehudá disse, ele não tinha nenhuma intenção foi apenas a de ajudar... obrigação de adivinhar que havia um Quem está com a razão? Efráyim precisa pagar o valor do anel para Yehudá? anel de brilhantes num saco de lixo. Sendo assim, está isento de pagar. Além do mais, como poderia Yehudá jurar que dentro do saco de lixo ha- O veredicto via um anel de brilhantes, se ele apenas Parece que Efráyim está isento de supunha isso, sem ter certeza absoluta? pagar a Yehudá por vários motivos: Pode-se dizer também que Efráyim, Está escrito no Shulchan Aruch ao jogar o saco na lixeira, não cometeu (Chôshen Mishpat 388, 1) que se alguém um dano direto, já que apenas colocou danifica algo de outra pessoa e não sabe o saco na lixeira pública e o caminhão o que danificou, o dono do objeto que- é que retirou-o de lá. Portanto, o que brado diz o que havia, sob juramento, e Efráyim fez foi um ato indireto e não um é ressarcido por quem o danificou. dano “com as próprias mãos”. Há au- Suponhamos o seguinte exemplo toridades rabínicas que isentam um in- desta lei: digamos que um indivíduo divíduo de pagar por cometer um dano pegou a carteira de outra pessoa e indireto e sem intenção – e muito mais queimou-a ou jogou-a no mar. O dono no nosso caso, em que Efráyim teve a da carteira afirma que nela havia mil intenção de fazer um bem para Yehudá. no saco de lixo, colocando-o depois do dólares. O indivíduo que a pegou diz Uma última consideração, ainda, é lado de fora do apartamento, ao lado que não sabia o que ela continha. Neste que Yehudá não tinha direito de deixar da porta de casa. caso, o dono da carteira faz um jura- um saco de lixo na escadaria do prédio, Quando entenderam o que havia mento, afirmando que nela havia mil e Efráyim fez o correto, tirando-o de lá. acontecido, os dois correram para a dólares, e o indivíduo que a destruiu Sendo assim, por todas estas consi- porta de entrada para resgatar o lixo precisa pagar para ele os mil dólares. e o anel. O caso do anel no lixo, entretanto, Ao abrirem a porta de casa, perce- não se parece com este exemplo da car- beram que o saco de lixo havia sumi- teira com dinheiro, mas sim com outro do. Correram para a lixeira na frente exemplo: digamos que um indivíduo do prédio, porém era tarde demais... pegou uma caixa de bombons de outra o caminhão já havia recolhido o lixo pessoa e queimou-a ou jogou-a no mar. O dali. Efráyim, que estava por perto e dono da caixa afirma que dentro dela ha- percebeu o desespero do casal, pergun- via diamantes. O dono da caixa de bom- tou o que havia acontecido. Eles conta- bons não é acreditado, mesmo se jurar. ram-lhe o motivo de sua infelicidade. Neste caso, o Remá afirma no Shulchan Efráyim colocou suas mãos na cabeça Aruch que há quem diga que, inclusive totalmente abatido e disse que havia se havia testemunhas dizendo haver dia- sido ele quem jogou o saco na lixeira, mantes na caixa, o sujeito que causou o com a melhor das intenções... dano está isento de pagar – porque lá Tishri / Cheshvan 5776 derações, concluímos que Efráyim está isento de pagar a Yehudá. Do semanário “Guefilte-mail” ([email protected]). Traduzido de aula ministrada pelo Rav Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita Os esclarecimentos dos casos estudados no Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe omitido ou acrescentado pode alterar a sentença para o outro extremo. Estas respostas não devem ser utilizadas na prática sem o parecer de um rabino com grande experiência no assunto. 13 Comemorando II Conselho de Mulher Conforme explicam nossos sábios, o verdadeiro valor do cumprimento das mitsvot está diretamente relacionado com a alegria e a satisfação com a qual as realizamos. Rabino I. Dichi 18 Tishri / Cheshvan 5776 Comemorando II ram se ele nunca pensara em mudar-se novamente para Vilna, para estar mais próximo do Gaon Rabi Eliyáhu. Rabi Avraham respondeu que, de fato, em certa oportunidade conversara com sua esposa a este respeito, mas que ela preferia não se mudar. Então estas pessoas foram perguntar para a esposa do Rabi Avraham qual o motivo para ela não querer se mudar para Vilna. A Rabanit Hinda Ragoler contou-lhes que alguns anos antes, quando já estavam próximos os dias da festa de Sucot, seu marido ainda não tinha conseguido comprar um etrog e estava muito preocupado. Percebendo que talvez eles não conseguissem a quantia necessária para cumprir a mitsvá, a rabanit teve uma idéia e aconselhou seu marido. Ela disse ao sábio que a casa na qual eles moravam era muito grande, que eles já estavam ficando velhos e que não precisavam de uma casa tão grande. Ela lhe disse que seria melhor vender a casa e comprar uma menor. Assim, com a diferença dos valores, certamente poderiam comprar um belo etrog. Rabi Avraham aceitou o conselho da rabanit e pôde, dessa forma, cumprir a mitsvá de arbaát haminim, as quatro espécies. A rabanit continuou contando que, desde aquele ano, cada vez que ela passava em frente à sua antiga casa, No ela sentia uma enorme satisfação – a século XVIII, vivia numa pequena cidade próxima à cidade de Vilna, na Lituânia, um grande sábio chamado Rabi Avraham Ragoler ben Shelomô (1722–1804). Rabi Avraham era irmão do famoso sábio Rabi Eliyáhu, o Gaon de Vilna. virtudes daqueles que se ocupam com satisfação de lembrar-se de que ela o estudo da Torá. Apesar de explicar aconselhara seu marido de forma a em detalhes os preceitos do estudo da proporcionar-lhe o cumprimento de Torá, ele ressalta que “não é suficiente uma mitsvá da Torá. Esta satisfação apenas estudar o texto superficialmen- ela não teria na cidade de Vilna. Rabi Avraham nasceu em Vilna, manuscrito um comentário cabalístico mas mudou-se para uma cidade pró- sobre o Tratado de Meguilá, bem como xima, chamada Ragola, e ficou conhe- um comentário sobre Meguilat Ester. te, mas também é essencial concretizá-lo na prática.” Ele também deixou em * * * No futuro, quando Hashem avaliar nossos atos, além da recompensa As viagens de Rabi Avraham para por cada detalhe de nossas mitsvot, visitar seu irmão na cidade de Vilna receberemos uma grande recompensa Rabi Avraham é o autor da famosa eram frequentes. Em uma destas via- pela satisfação que acompanhou cada obra Maalot Hatorá (1828), que trata das gens, algumas pessoas lhe pergunta- mitsvá. cido como “Rabi Avraham Ragoler” ou simplesmente “O Chassid”. Tishri / Cheshvan 5776 19 Variedades I UMA DELÍCIA! DA ÁRVORE AO PALADAR É quase impossível encontrar alguém que resista a um bom chocolate. No entanto, você sabe de onde ele é extraído e como é produzido? Confira o "passo a passo" a seguir e aprenda um pouco mais sobre essa deliciosa iguaria! Variedades I 1 Para obter-se um bom chocolate, é imprescindível que os frutos do cacau sejam de boa qualidade. O cacaueiro precisa estar em ambiente quente, úmido e protegido contra o sol e o vento. 2 Tishri / Cheshvan 5776 Após a colheita do cacau, as sementes passam por um processo de secagem para depois serem torradas e, por fim, moídas. Metade do composto resultante se transforma na manteiga de cacau, enquanto o restante segue no processo da produção do chocolate. 21 Variedades I 3 O resultado da moagem pode virar o nosso tão amado chocolate ou, ainda, chocolate em pó. Para a versão ao leite, acrescenta-se açúcar cristal, manteiga de cacau e leite. Para o chocolate amargo é a mesma mistura, mas sem leite e com menos açúcar. O chocolate branco é um caso especial. Ele não é feito com a semente do cacau, mas apenas com manteiga de cacau, leite e açúcar. 4 22 Estamos chegando ao final do processo! Aqui, já temos o chocolate quase pronto, precisando apenas ser refinado, para retirar os pequenos grãos e cristais de açúcar, e misturado a outros ingredientes que darão durabilidade, aparência e sabor mais acentuados. Tishri / Cheshvan 5776 Variedades I 5 Para finalizar, o chocolate passa por uma rápida troca de temperaturas, até assumir a forma sólida. Esse processo é bastante minucioso, já que influencia bastante no aspecto final do produto. Depois disso, vem a moldagem. CURIOSIDADES Na Suíça, a média de consumo de chocolate anual por pessoa é de impressionantes 10kg. O Brasil é o sexto no planeta, com “apenas” 2kg por pessoa. O maior produtor de cacau do mundo é a Costa do Marfim, com aproximadamente 32% da produção mundial. Segundo alguns estudos, os grãos do cacau possuem uma substância antioxidante capaz de prevenir alguns tipos de câncer. E o resultado final é o delicioso chocolate que todos nós apreciamos! Tishri / Cheshvan 5776 23 Comemorando III 26 Tishri / Cheshvan 5776 Comemorando III A Alegria de Sucot Muitos sábios já discorreram sobre a clássica pergunta: “Por que a Torá ordenou que comemorássemos a festa de Sucot no mês de tishri?”. Este enfoque sobre a alegria de Sucot é uma lição de vida para ricos e pobres! R. Joseph Chouveke As cabanas que montamos durante os dias de Sucot lembram as cabanas nas quais nossos antepassados viveram durante os anos que passaram no deserto. Fazem alusão também às sete nuvens que protegiam o povo durante todos os quarenta anos da travessia. Sendo assim, a festa de Sucot não está relacionada diretamente com uma data específica. Entretanto, pela lógica, o período mais adequado para comemorar a proteção Divina durante a travessia do deserto talvez devesse ser próximo da data da Saída do Egito, no mês de nissan. Segundo consta no “Tur”, caso comemorássemos Sucot no mês de nissan, o mês da primavera em Israel, poderia haver quem alegasse que estamos vivendo em cabanas por ser algo prazeroso durante o clima agradável da primavera, e não por estarmos obedecendo um preceito Divino. Esta alegação não cabe no mês de tishri, quando o único motivo para construirmos cabanas é a obediência a uma vontade Divina. Em Sucot também devemos cumprir o preceito de “alegrarmo-nos perante D’us”. Conforme explicam nossos sábios, a verdadeira alegria só pode ser alcançada quando a pessoa está livre dos pecados. Este é outro motivo para comemorar Sucot no mês de tishri, depois de Yom Kipur, quando as pessoas já fizeram teshuvá e foram perdoadas no Tishri / Cheshvan 5776 27 Comemorando III julgamento celestial. Administração de Condomínios Administração de Carteiras de Locação Locação e Vendas Garanta uma elevação na qualidade e redução nas despesas da administração de seu condomínio! Shaná Tová Av. Cásper Líbero 58/12ºand. (11) 3228-4455 www.admparis.com.br 28 sentimento de orgulho e arrogância no Portanto, esta é a época mais pro- coração dos homens. O homem pode pícia do ano para comemorar a festa olhar para sua colheita armazenada de Sucot e para atingir a alegria exi- e imaginar que sua capacidade e sua gida pela Torá. força foram os causadores de seu su- Os tsadikim atingem o nível máxi- cesso, esquecendo-se de que tudo pro- mo de alegria, denominado de “simchá vém de D’us e de Sua enorme bondade. Bashem” – a alegria em D’us. Ou seja, a Com estes sentimentos seria im- própria crença e confiança na existên- possível alcançar a alegria exigida cia de D’us é o motivo de sua alegria, pela Torá. Assim, para evitar esta independente de todas as bondades situação, é ordenado ao homem sair realizadas por Ele. de sua casa e ir viver em uma habi- Ainda assim, em Sucot, por meio tação frágil e provisória. Nesta situa- do reconhecimento das bondades de ção, ele imediatamente se lembra que D’us podemos atingir um elevado nível este mundo também é algo provisório; de alegria. Mas como podemos chegar além disso, que sua situação é frágil e a este nível? Quais devem ser nossos depende exclusivamente da proteção pensamentos e o enfoque sobre nossas Divina. Ele percebe que tudo o que vidas que nos levem a esta situação? possui é um grande presente de D’us. A festa de Sucot é comemorada Ao afastar os sentimentos de or- após o recolhimento da produção gulho e despertar a humildade e o re- agrícola. Por isso, Sucot também é conhecimento de que depende exclu- chamada de Chag Haassif – Festa da sivamente de D’us, subjuga-se à Sua Colheita. Analisemos dois casos opos- vontade, fortalecendo a confiança e a tos para responder às questões pro- fé em D’us. Tudo isso leva a uma gran- postas. Por um lado tratemos de uma de aproximação ao Todo-Poderoso e, pessoa que teve um bom ano e pode consequentemente, a uma enorme fe- desfrutar de uma boa colheita. Por licidade. outro, de alguém que passou um ano Assim é que o indivíduo abastado com muitos problemas e dificuldades atinge a verdadeira alegria de Sucot. financeiras, e não tem motivos para Mas, e no caso de alguém que não se orgulhar. possui bens? Este indivíduo não pode Nesta época, quando toda a pro- reconhecer que D’us lhe outorgou um dução já está armazenada, é a ocasião grande presente. Ele nem tem motivos mais propícia para que se desperte um para se orgulhar ou para ser arrogan- Tishri / Cheshvan 5776 Comemorando III te! Qual a lição da Sucá e como esta do, entendendo que a alma deveria ser pessoa pode chegar a alegrar-se nesta uma pessoa rica novamente e, ainda época? assim, vencer o teste, sendo humilde, Para responder a estas perguntas, bondosa e cumpridora das mitsvot. o grande sábio Chafets Chayim (Rav “Ao ouvir este parecer a alma ficou Yisrael Meir Hacohen, 1838–1933) traz desesperada. Ela continuou suplican- a seguinte parábola: do para que a Vontade Divina decre- “Havia um homem muito rico tasse uma vida pobre. Dessa maneira, que, após seus anos neste mundo, foi ela poderia mais facilmente corrigir julgado no Tribunal Celestial. No jul- suas falhas anteriores e, finalmente, gamento, foi decidido que esta alma receber sua verdadeira recompensa ainda não poderia ser aceita no Gan depois de uma vida honrada.” Êden; não poderia desfrutar do enor- O Chafets Chayim conclui dizen- me prazer da proximidade de D’us do, então: “Quem sabe se a pessoa que sem antes retornar à Terra no corpo passou por dificuldades durante todo de outra pessoa para corrigir algumas o ano não possui uma alma na mesma falhas que cometera durante sua vida situação que a citada?”. anterior. Esta pessoa, então, deve sair de “Ao ouvir a sentença, a alma ale- sua casa e ir viver em uma habitação gou que se comportara de forma ar- frágil e provisória durante os dias rogante, desprezando e humilhando da festa de Sucot. Nesta situação, ela outras pessoas, por ter sido uma pes- também se lembrará que este mundo soa muito rica. O teste de ter muito é algo provisório; além disso, percebe- dinheiro tinha sido muito grande e ela rá que sua situação é frágil, mas que não conseguira praticar muitas mits- está sob a proteção do Todo-Poderoso, vot por causa disso. Assim, ela pediu que faz tudo para o bem das pessoas. que na próxima vida não fosse rica, Com estes pensamentos, fortalece sua pois suas chances de corrigir seus pe- confiança e a fé em D’us. Isso a leva a cados seriam muito maiores. uma grande aproximação ao Todo-Po- “No entanto, o categor – o anjo promotor – não concordou com o seu pedi- Tishri / Cheshvan 5776 A Esquina Israelense em Higienópolis Almoço executivo todos os dias! Shaná Tová! HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: DOMINGO A QUINTA 12h às 22h SEXTA-FEIRA 12h ÀS 15h Sob rigorosa supervisão do Rabino Y. D. Horowitz Shlita Alameda Barros, 782 Tel: 3668.5424/3315.9400 deroso e, consequentemente, a uma enorme felicidade! 29 Pensando Bem II Como Uma Montanha! O seu Yêtser Hará lhe parece como uma enorme montanha ou como um fino fio de cabelo? No tratado de Sucá (52a), a Guemará explica em nome de Rabi Yehudá que, no futuro, o Todo-Poderoso fará shechitá no Yêtser Hará, a má inclinação, na presença dos justos e dos perversos. Aos justos, o Yêtser Hará parecerá uma enorme montanha (que dificilmente pode ser escalada) e aos perversos, parecerá um fio de cabelo (que pode ser facilmente rompido). Os justos chorarão, dizendo: “Como fomos Por que o Yêtser Hará parecerá diferente para os justos e para os perversos? Para os justos, que constantemente dominam sua má inclinação, o Yêtser Hará sempre renova seus ataques com redobrado vigor. Portanto, ele se desenvolve em uma força formidável que, ainda assim, é superada. Mas os perversos cedem a uma tentação mínima. Portanto, sua má inclinação nunca se desenvolve em nada mais do que um leve impulso, ao qual, mesmo assim, eles sucumbem. capazes de sobrepujar tão alta montanha?” e os perversos chorarão, dizendo: “Como não fomos capazes de superar esse fio de cabelo?”. Tishri / Cheshvan 5776 Rif e Gueon Yaacov para o En Yaacov; Chatam Sofer; Sefat Emet; Michtav Meeliyáhu 51 Variedades II A intervenção direta de um Autor do Universo pode ser constatada na imensidão das galáxias, na perfeição do corpo humano, na maravilhosa diversidade da botânica e na observação do extraordinário e impressionante MUNDO EXÓTICO ANIMAL Você muito provavelmente já ouviu falar do tigre branco, considerado por muitos como o animal mais belo de toda a natureza. O que poucos sabem é que a sua coloração não é causada por albinismo ou por uma subespécie, mas por uma falha genética restrita aos tigres-de-bengala, que acomete apenas um a cada 10.000 animais. CROCODILO VS. LEÕES O leão da foto ao lado entrou em uma briga das boas com um imenso crocodilo. O motivo? Disputar uma enorme carcaça de elefante que estava às margens do rio. Percebendo que levaria a pior, o felino foi obrigado a pedir ajuda para o restante de sua manada. No fim das contas, a união fez a força e o crocodilo foi obrigado a debandar, deixando a farta refeição para trás. Não, não se trata de um novo tipo de anfíbio! O que vemos na foto ao lado é um sapo-boi com um morcego na boca! A foto foi tirada no Parque Nacional Amotape, na Amazônia peruana. Segundo funcionários do local, o sapo acabou cuspindo o morcego, que conseguiu escapar com vida. Será que faltou tempero? POSANDO ALMOÇO Variedades II O que você faria se um tubarão branco de 4,5 metros aparecesse diante de você? O fotógrafo australiano Dave Riggs demonstrou uma impressionante frieza ao manter sua câmera em riste, tudo para registrar o sorriso da fera ao lado. Segundo o fotógrafo, o peixão estava “tranquilo” e não esboçou nenhuma reação agressiva durante as fotos. A cena ao lado parece bastante amigável, com um esquilo pegando uma “caroninha” nas costas de um picapau. Contudo, segundo Martin Le-May, autor da foto, a realidade é um pouquinho mais brutal: o pássaro levantou vôo em desespero, tentando escapar do mamífero que buscava uma deliciosa refeição! FILHOTE carona Variedades II A cena ao lado registra uma briga violenta entre dois hipopótamos machos adultos, mas que acabou sobrando para um pequeno filhote com apenas cinco dias de vida. Essa não é a forma tradicional de lutar desses bichos, que geralmente apostam em suas enormes presas frontais para vencer seus adversários (como na foto abaixo). Infelizmente o filhotinho acabou não resistindo aos ferimentos. Comemorando IV Cheques Pré-datados Uns vinte anos atrás, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, um comerciante amigo meu, chamado Pinchas, dirigiu-se a mim com um pedido incomum: levar comigo à feira de arbaát haminim um novo imigrante russo chamado Avrasha. A feira de arbaát haminim, as quatro espécies de Sucot, abre logo depois de Yom Kipur e lá se pode escolher entre diversas qualidades de lulavim, etroguim, aravot e hadassim. R. Yochanan David Salomon 56 Tishri / Cheshvan 5776 Comemorando IV Naquele ano, o senhor Pinchas pediu que eu ajudasse Avrasha a comprar as quatro espécies, explicando para ele a diferença entre as diversas qualidades oferecidas na feira. Logo esclareci ao meu amigo que eu não conhecia sequer uma única palavra em russo. Mas ele me garantiu que Avrasha entendia muito bem hebraico e não haveria nenhuma dificuldade de comunicação com ele. recia muito com o personagem que nomia em Israel parecia-lhe espeta- imaginei. cular e ele contou com muito entu- Caminhamos em direção à feira siasmo suas descobertas: batendo um papo amigável. O hebraico – O conceito de compras que en- dele realmente era muito bom para contrei aqui em Israel – disse Avraham um imigrante russo. Primeiro, ele foi – é totalmente novo para mim e muito insistente em afirmar que seu nome de diferente daquilo que eu estava acos- agora em diante era Avraham, e não tumado na Rússia. Lá você não diz: queria mais ser chamado por nenhum “Eu vou sair para comprar algo”, mas outro nome. sim: “Eu vou sair para conseguir algo”. Avraham era muito extrovertido Você não vai para uma loja comprar e contou-me, muito à vontade, sobre aquilo que deseja, pois ninguém ga- seus sentimentos e aventuras naque- rante que a mercadoria que você pre- Marquei a hora e o local do encon- las oito primeiras semanas suas em cisa estará disponível. Lá, é muita sor- tro para depois de Yom Kipur e ano- Israel. Ele estava muito surpreso em te encontrar uma loja que tenha para tei o compromisso em minha agenda. conhecer um pouco de judaísmo, que vender exatamente aquilo que você No dia combinado, esperei Avrasha na Rússia era totalmente estranho quer comprar. Mas a grande oferta de no ponto de ônibus e, assim que ele para ele. Avraham não sabia quase mercadorias aqui em Israel não é o chegou, apresentamo-nos. Ele se pa- nada sobre yahadut. Também a eco- que me deixou mais surpreso. Na Rús- Tishri / Cheshvan 5776 57 Comemorando IV sia não podemos sair para as compras nha no meu bolso, ou no banco, nem vida, saúde do corpo e da mente, além sem levar dinheiro no bolso. Quando a metade do que custava a máquina. de pedir sucesso em todas as coisas você está na loja, você vale exatamente Foi aí que eu descobri a maior sur- simples do dia-a-dia. Então comecei quanto dinheiro tem no bolso! presa: o cheque pré-datado! Ou seja, a entender como minha situação era – Um momento! – eu exclamei – e uma ordem por escrito para o banco de penúria. Com o que eu pagaria por se você tiver um talão de cheques? pagar à loja numa data posterior à todas essas coisas boas que pediria Isso não serve? O dinheiro precisa da assinatura. Isso para mim é uma para o ano todo? Eu não coloquei em obrigatoriamente estar em seu bolso? invenção fantástica! Você não tem toda minha vida nem cem vezes os te- Qual o problema de o dinheiro estar dinheiro consigo, também não tem filin. O que estou dizendo! Nem mesmo no banco? nada no banco e, ainda assim, caso cinquenta! Talvez quinze ou vinte ve- Reagindo à minha ingênua indaga- tenha condições de obter dinheiro no zes... E também ainda não conheço a ção, Avrasha – digo – Avraham parou futuro, recebe imediatamente uma maioria das leis sobre como cumprir de andar e olhou-me com certo ar de máquina de lavar baseado numa assi- o Shabat... zombaria, contendo-se para não rir. natura que garante um dinheiro que – Na véspera de Yom Kipur – pros- – Banco?! Cheques?! O que é isso você ainda não ganhou... Você per- seguiu Avraham com ar de tristeza – camarada? – ele disse. – Na Rússia cebe que coisa fenomenal?! Comprar eu estava na mesma situação que na não se sabe o que é isso! Quando eu sem dinheiro!... loja da máquina de lavar. Eu me sentia morava lá, ouvi dizer que em outros A esta altura, eu já tinha parado um imigrante russo numa grande loja, lugares as pessoas deixavam seu di- de me impressionar com as emoções escolhendo uma grande geladeira, um nheiro no banco e pagavam com “che- de Avraham. Preparei-me para ou- freezer moderno, uma máquina de la- ques”. Mas eu não acreditei muito. Só vir que foi uma aventura andar de var, outra de secar, uma lavadora de quando cheguei aqui, percebi de fato ônibus de dois andares e coisas do pratos, dois condicionadores de ar, que qualquer pessoa simples pode gênero. Mas, devo confessar, a con- um forno, um fogão e outros eletro- fazer isso. Até eu abri uma conta no tinuação de seu relato realmente me domésticos. E era como se eu tivesse banco! Se bem que muito dinheiro emocionou. apenas uns trocados que mal davam não pude depositar... – acrescentou com ironia. – Vejo que você não está muito impressionado com minhas palavras – dis- para pagar a passagem de ônibus de volta para casa... – Mas aqui em Israel vi muito mais se Avraham. – Mas eu devo a minha vida – Você consegue imaginar como eu ainda! – continuou Avraham mais en- a esta invenção, o cheque pré-datado. me senti? – perguntou o imigrante um tusiasmado. – Vi com meus próprios Deixe-me explicar. Somente há poucas tanto emocionado. – À medida que nos olhos como as pessoas se aproximam semanas, próximo de Rosh Hashaná, que aproximávamos de Yom Kipur, esse de uma parede e retiram dinheiro comecei a conhecer o judaísmo. Ao apro- sentimento ficava mais forte em mim. dela! Isso sim foi uma surpresa e tan- ximarmo-nos de Yom Kipur, disseram- – Em Yom Kipur eu faria uma to! Na Rússia nunca tinha ouvido falar -me que aquele seria o último dos dez extensa lista de pedidos – disse ele disso! dias de penitência, no qual D’us carimba abrindo os braços – os melhores pos- Eu não conseguia esconder meu decretos sobre tudo o que irá acontecer a síveis! Pois eu, logicamente, não me sorriso pela expressão infantil de cada pessoa durante o ano que se inicia. satisfaria com uma saúde do tipo B Avraham diante de fatos tão corriquei- Essa seria a oportunidade de pedir tudo ou C! Pensei então: Como pagarei por ros para mim. A emoção de Avraham o que é possível. Então, pensei comigo: tudo isso?! Todas as mitsvot que fiz em não terminou com o dinheiro que sai tenho muita coisa para pedir a D’us para minha vida, ou seja, desde que desco- da parede. Ele ainda continuou: este ano. Preciso de sustento, de uma boa bri o judaísmo nas últimas semanas, e – Mas ainda não lhe contei a gran- casa, de uma boa vizinhança onde possa toda a Torá que estudei neste período, de surpresa. A maior de todas! Eu estudar Torá, viver como um judeu pra- tudo isso mal dá para encher um pe- entrei numa loja para comprar uma ticante e continuar avançando no cami- queno saquinho. Como seria possível máquina de lavar roupas. Escolhi nho que escolhi recentemente. pagar com isso uma compra gigante uma máquina moderna, mas ela não – Conforme nos aproximávamos como a que pediria para o ano novo? era barata. Meu coração começou a de Yom Kipur – continuou Avraham – Esses pensamentos me deixaram an- bater mais rápido porque eu não ti- entendi que precisávamos pedir a D’us gustiado. 58 Tishri / Cheshvan 5776 Comemorando IV – Então – continuou Avrasha em por que cantar? Por que pedir favores ria diariamente todas as mitsvot que um tom mais sereno – num dos dez a D’us? Definitivamente, a frase não conheço. Estes foram meus pagamen- dias de penitência descobri a resposta fazia sentido: “Dá-nos Tua graça pois tos pré-datados pela “mercadoria” que que me aliviou e me deu grande âni- não temos boas ações?!...”. Ao longo pedi, pelos bons decretos que D’us cer- mo. E tinha tudo a ver com a compra do texto de “Avínu Malkênu” pedimos tamente determinou para mim. Ago- da máquina de lavar! salvação, sustento, perdão, cura, ele- ra, estou indo com você comprar as A esta altura do relato de Avraham, vação do povo, fartura, vida boa... quatro espécies de Sucot para cumprir eu já estava totalmente envolvido com Quando chegamos no final, quando pela primeira vez na vida um preceito suas emoções. Mas o que teria a ver a seria a hora de efetuar o “pagamento” que há duas semanas eu nem tinha máquina de lavar com os pedidos de para D’us, revela-se que “não temos conhecimento. Quando realizar esta Yom Kipur? Então tudo ficou explicado atos”, ou seja, não temos com o que mitsvá, estarei cumprindo minha pro- com a conclusão da sua história. pagar! Então por que cantar? messa e saldando a dívida que adquiri – Naquele dia, no final da reza da – É aí que entra a grande inven- em Yom Kipur. Apresentei mais de tre- manhã – explicou Avraham – todos na ção da economia ocidental! – excla- zentos cheques pré-datados em Yom sinagoga recitaram o “Avínu Malkênu”, mou Avraham rindo de satisfação. – Kipur. Um cheque para cada dia do uma oração especialmente proferida Quem disse que eu só posso pagar com ano. Prometi honrá-los, e agora estou nos dez dias de penitência, e cantaram dinheiro à vista? Eu também posso pagando uma parte do cheque de hoje. em coro a última frase. A música di- pagar com cheques pré-datados! No – Agora diga-me, camarada Pin- zia o seguinte: “Nosso Pai, nosso Rei, dia de Yom Kipur garanti a D’us que chas: receber a mercadoria imedia- dá-nos Tua graça e atende-nos, pois toda lei que estudasse durante o ano, tamente e pagar parceladamente não temos (bons) atos.” Isso foi muito cada mitsvá ou halachá que chegasse durante um ano, com um capital que estranho para mim. Se nós confessa- ao meu conhecimento, cumpriria com ainda não adquiri, isto não é uma mos que não realizamos boas ações, fidelidade e dedicação, e que realiza- grande invenção? Faça seu site conosco! Equipe especializada em desenvolvimento de sistemas web (CRM, ERP, CMS) Criação de sites e portais personalizados Fone: 11 3822-1416 [email protected] Tishri / Cheshvan 5776 59 Visão Judaica III Recuperar os Dias Perdidos Segundo o Zôhar, quando alguém peca perante o Criador num determinado dia, este dia fica afastado do grupo até que a pessoa faça teshuvá e recupere-o. Rabino I. Dichi Em 60 Hilchot Teshuvá (cap. 2, par. 6), Rambam escreve que, apesar de a teshuvá (o arrependimento) e a tsedacá (a caridade) serem adequadas todos os dias, nos Assêret Yemê Teshuvá – os Dez Dias de Penitência de Rosh Hashaná a Yom Kipur – elas são mais aceitas pelo Criador, conforme o versículo (Yeshayá 55:6): “Dirshu Hashem behimatseô, keraúhu bihyotô carov – Buscai o Criador onde Ele Se encontrar, invocai-O quando está próximo”. zt”l e do Ari Hacadosh zt”l), consta que estes Vejamos por que estes dias são mais propí- toda a Criação estaria comprometida, uma vez cios para a teshuvá. No capítulo quinze do livro que o ser humano possui o mau instinto que o Bêt Elokim, de autoria do Rabino Yossef Ma- incita a pecar. Com o decorrer do tempo, o mal trani zt”l (contemporâneo do Rabi Yossef Caro cresceria a tal ponto que D’us teria de destruir dias estão vinculados à Criação do Universo: a Criação teve início no dia 25 de elul e o homem foi criado em Rosh Hashaná. O Criador do Universo sabe que o homem é passível de erros e que peca. Portanto, com sua rachmanut (misericórdia) criou a possibilidade do arrependimento. No Talmud (Pessachim, 54) consta que a teshuvá é um dos sete elementos que foram criados antes mesmo da Criação do mundo. Se D’us não tivesse instituído a teshuvá, Tishri / Cheshvan 5776 Visão Judaica III o mundo. Por isso, o Criador instituiu as mitsvot. a teshuvá, que é a possibilidade que O livro Mishnat Rabi Aharon (vol. o ser humano tem de se recuperar e 2, pág. 221) cita uma passagem do abrir, a cada ano, uma nova página Zôhar Hacadosh, segundo a qual, to- em sua vida, visando o bem. dos os dias da vida do indivíduo, a Já que Rosh Hashaná é o Yom Ha- partir de seu nascimento, formam um din – o Dia do Julgamento – não se- grupo unido, e que cada dia adverte a ria coerente que este fosse escolhido pessoa de uma forma exclusiva. Quan- como o dia em que os pecados do ser do, num determinado dia, o indivíduo humano fossem totalmente anulados. peca perante o Criador, este dia, en- Por isso, o Todo-Poderoso prolongou os vergonhado, isola-se do grupo e ele dias de teshuvá até Yom Kipur, dando próprio testemunha sobre os pecados assim um prazo de dez dias ao ho- da pessoa. Este dia fica afastado do mem, para que se recupere de even- grupo até que a pessoa faça teshuvá tuais irregularidades e pecados que e recupere-o. Quando o indivíduo se tenha cometido durante o ano. Então, recupera do mal que cometeu, este dia no dia de Yom Kipur, o Todo-Poderoso volta a unir-se ao grupo dos dias da age com misericórdia, procurando as sua vida. mitsvot que o indivíduo fez para poder recompensá-lo. Deste relato do Zôhar, percebemos a importância de cada dia em particu- Consta nos livros sagrados, que os lar. Nem sequer um dia pode ser des- sete dias entre Rosh Hashaná e Yom prezado, deixando-se de cumprir as Kipur correspondem a cada um dos mitsvot, pois os atos irregulares nele sete dias de cada semana do ano que cometidos comprometem-no espiritu- passou. Durante esses sete dias temos, almente e isolam-no do grupo. então, a possibilidade de recuperar- É por isso que o Criador nos deu mo-nos de todas as irregularidades os dias de teshuvá – para nos recu- que cometemos em todos os dias do perarmos, reagrupando os dias do ano. ano com eventuais falhas. É de suma No Talmud (Macot, 22) consta, importância que saibamos aprovei- também, que as 365 mitsvot lô taassê tá-los, não os desperdiçando e pre- (mandamentos proibitivos) correspon- enchendo-os com Torá e mitsvot, pois dem aos 365 dias do ano. Sobre isso, além de recuperarmos o passado, Rashi acrescenta que cada dia do ano angariamos energias para o ano que adverte o indivíduo a não transgredir está por vir. Tishri / Cheshvan 5776 61 Pensando Bem I Pensamentos É mais valente quem conquista a si mesmo do que quem vence cem batalhas. Difícil é ganhar um amigo em um dia; fácil é perdê-lo em um minuto. Para que conquistar a Lua e os planetas sem se importar com a Terra? A melhor forma de vencer uma discussão é evitá-la. Você está vivo porque ainda espera-se algo de você. Quando procurar por defeitos, use um espelho, não um telescópio! O ontem é história, o amanhã é um mistério, o hoje é uma dádiva... e por isso é chamado de presente! Cuide para que suas palavras sejam doces, nunca se sabe quando terá de tornar a engoli-las. 62 Tishri / Cheshvan 5776 Mussar Yom Kipur O Verdadeiro Enfoque Seu crescimento pessoal depende dos maravilhosos ensinamentos do mussar. Rabino Zvi Miller Yom Kipur como a alvorada e sua cura brotará rapida- O Profeta Yeshayá (58:5) – falando em nome mente (ibid. 58:8)”. do Todo-Poderoso – repreendeu o Povo de Isra- Na Torá (Vayicrá 23:32) consta o seguinte el por estarem desanimados em Yom Kipur: “É versículo sobre Yom Kipur: “Betish’á lachô- melancólico assim o jejum que Eu escolhi? É o desh baêrev, meêrev ad êrev tishbetu shaba- propósito do dia que a pessoa meramente se techem”. Neste versículo, a Torá escreve que aflija? Deve ela inclinar sua cabeça como um Yom Kipur começa no dia 9 do mês de tishri, junco e estender uma veste de remorso e cinzas apesar de que sua real observância é no dia sob seus pés?”. seguinte, dia 10 de tishri. Qual a razão disto? Por que o profeta repreendeu o comporta- Ao associar o dia anterior (nove) ao dia de Yom mento do povo em Yom Kipur? Yom Kipur é um Kipur (o dia dez de tishri), a Torá nos ensina dia de julgamento, arrependimento e jejum. que quem participa de uma refeição festiva no Sendo assim, o foco principal do dia não é re- nono dia é considerado como se tivesse jejuado fletir sobre nossos erros e deficiências e sentir em ambos os dias: no nono e o décimo. Seu uma sensação de desânimo e melancolia? mérito é, portanto, dobrado! No versículo seguinte (58:6) o Navi Yeshayá No mesmo sentido da profecia de Yeshayá, explica qual o verdadeiro propósito de Yom Ki- este versículo ensina que Yom Kipur é um pur e o que deveria acontecer neste dia tão es- momento de alegria e celebração, pois não há pecial do ano: “Não! O propósito deste jejum é maior felicidade do que obter-se perdão e re- soltar os grilhões da perversidade, desfazer os denção por equívocos do passado. laços do jugo, deixar que os oprimidos saiam livres e anular toda perversão”. Todo o objetivo do arrependimento e de servir a D’us é chegarmos à verdadeira alegria Yom Kipur é um momento de libertação. e ao verdadeiro prazer. É certo que alguns Ele nos proporciona a oportunidade de li- aspectos da nossa observância do Yom Kipur vrarmo-nos da negatividade e do egoísmo. Se evocam remorso – porém eles são um meio, e abrirmos nossos corações ao poder do Yom não um fim em si. Kipur e preenchermos nossas almas com bon- Por meio da compreensão adequada e do dade e benevolência, “então sua luz irromperá cumprimento do procedimento de Yom Kipur Tishri / Cheshvan 5776 63 Mussar nossos espíritos são purificados, nos- com os pedidos do anfitrião e, por Em resposta a esta situação, na sas almas elevadas e nossos corações outro, recusar sua exigência de sair qual a pessoa pode entrar em deses- abastecidos da mais pura e verdadei- de sua casa? pero, a Torá nos diz: “Não dê ouvidos ra alegria! Baseado no livro Or Hatsafun do Rabino Natan Tsvi Finkel (Lituânia, 1849–1927) Teshuvá O grande cabalista, Rabino Moshê ao Anfitrião!”, significando: não in- Cordovero, iluminou-nos com o signi- terprete as suas dificuldades em ar- ficado desta curiosa declaração do repender-se e voltar ao bom caminho Talmud. Ele explicou que esta passa- como sendo um sinal de que o Todo- gem é uma parábola, na qual o anfi- -Poderoso o rejeitou. Pelo contrário, trião representa D’us e o convidado fique tranquilo, pois Ele é misericor- representa os seres humanos. dioso e sempre demonstra compaixão O Talmud (Massêchet Pessachim Os indivíduos devem sempre fazer 66b) nos ensina que um convidado tudo o que o Anfitrião solicitar. Entre- deve demonstrar cortesia, fazendo o tanto, há vezes em que a pessoa sin- Se algum desafio nos está mui- que o anfitrião lhe solicitar e comen- ceramente se dedica a arrepender-se to difícil, não desistamos, pois D’us do os alimentos que seu anfitrião lhe e retornar ao bom caminho, porém nunca desiste de nós. Isto é especial- servir. Entretanto, existe uma situ- todas as suas tentativas parecem dar mente válido em Yom Kipur, como nos ação na qual o Talmud nos diz para em nada. É como se os Céus estives- ensinou o Rei David: “Procure o Todo- não obedecermos o anfitrião: se ele sem rechaçando os seus esforços. -Poderoso quando Ele está presente, disser ao convidado para que se re- Num caso assim, a pessoa poderia reze a Ele quando está mais próximo”. tire, que vá embora, o convidado não entender os eventos como sendo uma lhe deve dar ouvidos! mensagem Divina dizendo: “Saia de Por que a Torá nos diz, por um lado, para concordar polidamente e amor por todas as pessoas que querem se aproximar Dele. Baseado nos ensinamentos do Rabino Moshê Cordovero (Israel, 1522–1570) Minha casa. Eu não aceito que você volte a Mim!”. Daf Hayomi Acompanhe as aulas diárias de Guemará no Portal Judaico Brasileiro www.revistanascente.com.br Mais de 1.000 aulas publicadas! 64 Tishri / Cheshvan 5776 Leis e Costumes Os Trabalhos Proibidos no Yom Tov Yamim tovim (plural de yom tov) são dias festivos no calendário judaico, nos quais a Torá ordena leis especiais de comportamento. Rabino I. Dichi As leis tratadas aqui são alusivas aos seguintes dias do ano (fora de Êrets Yisrael): dois dias de Rosh Hashaná (inclusive em Êrets Yisrael comemora-se dois dias de Rosh Hashaná), dois primeiros dias de Sucot, dois dias de Shemini Atsêret (o segundo dia de Shemini Atsêret é Simchat Torá) dois dias de Pêssach e dois dias de Shavuot. O dia de Yom Kipur possui leis iguais às de Shabat e outras específicas do dia. no yom tov para o preparo da comida são aqueles que figuram a partir de “halásh” (amassar), inclusive este. Assim, continuam proibidos os trabalhos de ceifar, moer, colher, espremer, etc., mesmo sendo estes trabalhos relativos ao preparo da comida. Cozinhar Existe uma divergência entre os legisladores se é permitido cozinhar no yom tov um alimento que, se fosse cozido na véspera, não teria seu gosto alterado no yom tov. Há quem sustente que tais alimentos devem ser preparados na véspera e assim Quais os trabalhos proibidos devemos fazer. Contudo, se um desses alimentos Toda a melachá (trabalho) ou tirchá (esforço) não foi preparado na véspera, por esquecimento que é proibida no Shabat, quer seja uma proibição ou por falta de tempo, é permitido prepará-lo de da Torá, quer de nossos sábios, é proibida no yom uma forma diferente da habitual. Porém, se por tov, com as seguintes exceções: alguns itens no motivo de força maior, a pessoa estava completa- preparo da comida (vide adiante), pois na Torá está mente impossibilitada de preparar a comida na escrito (Shemot 12:16): “Apenas aquilo que é para véspera, ou no caso de inesperadamente virem comer para toda pessoa, somente isso será feito convidados para a refeição de yom tov, é permitido para vós”, passar fogo (mas não criar um fogo novo) cozinhar de forma habitual. e transportar objetos (com algumas restrições). É evidente que é proibido o uso de aparelhos elétricos, mesmo que para o preparo da comida. Exemplos de alimentos que podem ser preparados na véspera sem que o seu gosto se altere: bolo, gelatina, pudim, compota e massa de macarrão. Da mesma forma que no Shabat, tudo aquilo Alimentos que têm seu gosto alterado, mesmo que é proibido que nós façamos no yom tov, tam- que em parte, se preparados na véspera, podem bém é proibido pedir a um não judeu que o faça. ser preparados no yom tov. Exemplos: salada de verduras, salada de ovos, pão, arroz e cozidos Preparo da comida em geral. São 39 os trabalhos proibidos no Shabat. A lista destas proibições é trazida na mishná (Massêchet Shabat, cap. 7). Na sequência dos 39 trabalhos proibidos no Shabat, os que foram permitidos Tishri / Cheshvan 5776 Do livro “Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot”. Todas as fontes pesquisadas são citadas na referida obra. 65
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