Tishri / Cheshvan 5776

Transcrição

Tishri / Cheshvan 5776
Tishri / Cheshvan 5776
1
Nº 140
Capa:
Nesta Edição
Shaná Tová
Comemorando I,
pág. 14.
Expediente
A revista Nascente
é um órgão bimestral de divulgação da
Congregação Mekor Haim.
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52
Variedades II
“Maravilhoso
Mundo Animal”
supervisão: Rabino Isaac Dichi
diretor de redação: Saul Menaged
colaboraram nesta edição:
Ivo e Geni Koschland
e Silvia Boklis
projeto gráfico e editoração: Equipe Nascente
editora: Maguen Avraham
tiragem: 11.000 exemplares
O conteúdo dos anúncios
e os conceitos emitidos nos artigos
assinados são de inteira responsa­bilidade
de seus autores, não representando,
necessariamente, a opinião da diretoria da
Congregação Mekor Haim ou
de seus associados.
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anunciados não são de responsabilidade da
Revista Nascente. Cabe aos leitores indagar
sobre a supervisão rabínica.
A Nascente contém termos sagrados.
Por favor, trate-a com respeito.
10
12
Dinheiro em Xeque
“Lixo”.
A lei judaica sobre casos
monetários polêmicos
do dia a dia.
14
Comemorando I
O Kidush e os costumes das refeições
das duas noites de
Rosh Hashaná em
hebraico, com tradução e transliteração.
70
De Criança
para Criança
“O Amigo da Mercearia”.
Chayim Walder
18
30
66
“Conselho de Mulher”.
“Guemach de
Roupas”.
Datas e horários
judaicos, parashiyot
e haftarot para os
meses de tishri e
cheshvan.
Comemorando II
Rabino I. Dichi
Congregação
Datas & Dados
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38
Nossa Gente
Acontecimentos que
foram destaques na
comunidade.
26
56
20
“A Alegria de Sucot”.
R. Joseph Chouveke
“Cheques Pré-datados”.
R. Yochanan David
“Uma Delícia! – da
Árvore ao Paladar”.
Comemorando III
65
63
62
“Os Trabalhos Proibidos no Yom Tov”.
Rabino I. Dichi
“Yom Kipur – o
Verdadeiro
Enfoque”.
Rabino Zvi Miller
“Pensamentos”.
Leis e
Costumes
Mussar
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Variedades I
Comemorando IV
Pensando
Bem I
51 24
32
60
“Como Uma
Montanha!”.
“Questões de Lógica”.
Rabino Mordechay
Neugröschal
“Recuperar os
Dias Perdidos”.
Rabino I. Dichi
Pensando
Bem II
Visão
Judaica I
“O Dia Seguinte
ao Yom Kipur –
Um Dia Especial”.
Rabino I. Dichi
Visão
Judaica II
Visão
Judaica III
11
Dinheiro em Xeque
O Lixo
Todas as dúvidas e divergências monetárias de nossos
dias podem ser encontradas em nossos livros sagrados!
Certo
12
dia Efráyim estava descendo as escadas de seu prédio, quando percebeu que havia um saco de
lixo colocado junto à porta de seu vizinho
do andar de baixo, Yehudá.
dar seu vizinho, Efráyim pegou o saco de lixo
de Yehudá e levou-o até a lixeira coletiva. Após
realizar a boa ação, Efráyim ficou muito contente
por ter ajudado alguém.
Após algumas horas, a esposa de Yehudá
Naquele prédio não havia faxineiros contra-
percebeu que seu valiosíssimo anel de brilhantes,
tados para retirar o lixo de cada apartamento.
não estava no seu dedo. Em poucos segundos
O combinado entre os condôminos era que cada
lembrou-se que havia retirado o anel da mão
um deveria levar seus sacos de lixo até uma li-
antes de fazer netilat yadáyim e colocado-o em
xeira coletiva na entrada do edifício.
cima da mesa onde fizeram a refeição. Yehudá,
Efráyim logo imaginou que Yehudá estava
que havia retirado a toalha plástica descartável
muito ocupado para levar seu lixo até a lixeira.
que cobria a mesa, não se dera conta do anel
Com a intenção de realizar uma boa ação e aju-
entre tantos pratos descartáveis e jogara tudo
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Dinheiro em Xeque
Yehudá ficou furioso com Efráyim
não é o lugar de guardar-se diamantes,
e exigiu que ele lhe pagasse o valor do
e o dono falhou ao deixá-los lá. Sobre
precioso anel, alegando que Efráyim
este caso, o Aruch Hashulchan (388, 5)
não tinha o direito de mexer no seu
acrescenta que se o dano foi causado sem
saco de lixo.
querer, segundo todas as opiniões o sujei-
Efráyim, por sua vez, defendeu-
to está isento de pagar pelo dano.
-se dizendo que, apesar de acreditar
Portanto, no nosso caso, mesmo
que havia um anel dentro do saco, não
que Efráyim tenha acreditado no que
poderia ter imaginado isso, e que sua
Yehudá disse, ele não tinha nenhuma
intenção foi apenas a de ajudar...
obrigação de adivinhar que havia um
Quem está com a razão? Efráyim
precisa pagar o valor do anel para
Yehudá?
anel de brilhantes num saco de lixo.
Sendo assim, está isento de pagar.
Além do mais, como poderia Yehudá jurar que dentro do saco de lixo ha-
O veredicto
via um anel de brilhantes, se ele apenas
Parece que Efráyim está isento de
supunha isso, sem ter certeza absoluta?
pagar a Yehudá por vários motivos:
Pode-se dizer também que Efráyim,
Está escrito no Shulchan Aruch
ao jogar o saco na lixeira, não cometeu
(Chôshen Mishpat 388, 1) que se alguém
um dano direto, já que apenas colocou
danifica algo de outra pessoa e não sabe
o saco na lixeira pública e o caminhão
o que danificou, o dono do objeto que-
é que retirou-o de lá. Portanto, o que
brado diz o que havia, sob juramento, e
Efráyim fez foi um ato indireto e não um
é ressarcido por quem o danificou.
dano “com as próprias mãos”. Há au-
Suponhamos o seguinte exemplo
toridades rabínicas que isentam um in-
desta lei: digamos que um indivíduo
divíduo de pagar por cometer um dano
pegou a carteira de outra pessoa e
indireto e sem intenção – e muito mais
queimou-a ou jogou-a no mar. O dono
no nosso caso, em que Efráyim teve a
da carteira afirma que nela havia mil
intenção de fazer um bem para Yehudá.
no saco de lixo, colocando-o depois do
dólares. O indivíduo que a pegou diz
Uma última consideração, ainda, é
lado de fora do apartamento, ao lado
que não sabia o que ela continha. Neste
que Yehudá não tinha direito de deixar
da porta de casa.
caso, o dono da carteira faz um jura-
um saco de lixo na escadaria do prédio,
Quando entenderam o que havia
mento, afirmando que nela havia mil
e Efráyim fez o correto, tirando-o de lá.
acontecido, os dois correram para a
dólares, e o indivíduo que a destruiu
Sendo assim, por todas estas consi-
porta de entrada para resgatar o lixo
precisa pagar para ele os mil dólares.
e o anel.
O caso do anel no lixo, entretanto,
Ao abrirem a porta de casa, perce-
não se parece com este exemplo da car-
beram que o saco de lixo havia sumi-
teira com dinheiro, mas sim com outro
do. Correram para a lixeira na frente
exemplo: digamos que um indivíduo
do prédio, porém era tarde demais...
pegou uma caixa de bombons de outra
o caminhão já havia recolhido o lixo
pessoa e queimou-a ou jogou-a no mar. O
dali. Efráyim, que estava por perto e
dono da caixa afirma que dentro dela ha-
percebeu o desespero do casal, pergun-
via diamantes. O dono da caixa de bom-
tou o que havia acontecido. Eles conta-
bons não é acreditado, mesmo se jurar.
ram-lhe o motivo de sua infelicidade.
Neste caso, o Remá afirma no Shulchan
Efráyim colocou suas mãos na cabeça
Aruch que há quem diga que, inclusive
totalmente abatido e disse que havia
se havia testemunhas dizendo haver dia-
sido ele quem jogou o saco na lixeira,
mantes na caixa, o sujeito que causou o
com a melhor das intenções...
dano está isento de pagar – porque lá
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derações, concluímos que Efráyim está
isento de pagar a Yehudá.
Do semanário “Guefilte-mail”
([email protected]).
Traduzido de aula ministrada pelo Rav
Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita
Os esclarecimentos dos casos estudados no
Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe
omitido ou acrescentado pode alterar a sentença para o outro extremo. Estas respostas
não devem ser utilizadas na prática sem o
parecer de um rabino com grande
experiência no assunto.
13
Comemorando II
Conselho de Mulher
Conforme explicam nossos sábios, o verdadeiro valor do
cumprimento das mitsvot está diretamente relacionado
com a alegria e a satisfação com a qual as realizamos.
Rabino I. Dichi
18
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Comemorando II
ram se ele nunca pensara em mudar-se novamente para Vilna, para estar
mais próximo do Gaon Rabi Eliyáhu.
Rabi Avraham respondeu que, de
fato, em certa oportunidade conversara
com sua esposa a este respeito, mas que
ela preferia não se mudar. Então estas
pessoas foram perguntar para a esposa
do Rabi Avraham qual o motivo para ela
não querer se mudar para Vilna.
A Rabanit Hinda Ragoler contou-lhes
que alguns anos antes, quando já estavam próximos os dias da festa de Sucot,
seu marido ainda não tinha conseguido
comprar um etrog e estava muito preocupado. Percebendo que talvez eles
não conseguissem a quantia necessária
para cumprir a mitsvá, a rabanit teve
uma idéia e aconselhou seu marido. Ela
disse ao sábio que a casa na qual eles
moravam era muito grande, que eles já
estavam ficando velhos e que não precisavam de uma casa tão grande. Ela lhe
disse que seria melhor vender a casa e
comprar uma menor. Assim, com a diferença dos valores, certamente poderiam
comprar um belo etrog. Rabi Avraham
aceitou o conselho da rabanit e pôde,
dessa forma, cumprir a mitsvá de arbaát
haminim, as quatro espécies.
A rabanit continuou contando que,
desde aquele ano, cada vez que ela
passava em frente à sua antiga casa,
No
ela sentia uma enorme satisfação – a
século XVIII, vivia numa
pequena cidade próxima
à cidade de Vilna, na Lituânia, um
grande sábio chamado Rabi Avraham
Ragoler ben Shelomô (1722–1804).
Rabi Avraham era irmão do famoso
sábio Rabi Eliyáhu, o Gaon de Vilna.
virtudes daqueles que se ocupam com
satisfação de lembrar-se de que ela
o estudo da Torá. Apesar de explicar
aconselhara seu marido de forma a
em detalhes os preceitos do estudo da
proporcionar-lhe o cumprimento de
Torá, ele ressalta que “não é suficiente
uma mitsvá da Torá. Esta satisfação
apenas estudar o texto superficialmen-
ela não teria na cidade de Vilna.
Rabi Avraham nasceu em Vilna,
manuscrito um comentário cabalístico
mas mudou-se para uma cidade pró-
sobre o Tratado de Meguilá, bem como
xima, chamada Ragola, e ficou conhe-
um comentário sobre Meguilat Ester.
te, mas também é essencial concretizá-lo na prática.” Ele também deixou em
* * *
No futuro, quando Hashem avaliar nossos atos, além da recompensa
As viagens de Rabi Avraham para
por cada detalhe de nossas mitsvot,
visitar seu irmão na cidade de Vilna
receberemos uma grande recompensa
Rabi Avraham é o autor da famosa
eram frequentes. Em uma destas via-
pela satisfação que acompanhou cada
obra Maalot Hatorá (1828), que trata das
gens, algumas pessoas lhe pergunta-
mitsvá.
cido como “Rabi Avraham Ragoler” ou
simplesmente “O Chassid”.
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19
Variedades I
UMA DELÍCIA!
DA ÁRVORE AO PALADAR
É quase impossível encontrar alguém que resista a um bom
chocolate. No entanto, você sabe de onde ele é extraído e como
é produzido? Confira o "passo a passo" a seguir e aprenda um
pouco mais sobre essa deliciosa iguaria!
Variedades I
1
Para obter-se um
bom chocolate,
é imprescindível
que os frutos do
cacau sejam de
boa qualidade. O
cacaueiro precisa
estar em ambiente
quente, úmido e
protegido contra o
sol e o vento.
2
Tishri / Cheshvan 5776
Após a colheita do cacau, as sementes
passam por um processo de secagem
para depois serem torradas e, por fim,
moídas. Metade do composto resultante
se transforma na manteiga de cacau,
enquanto o restante segue no processo
da produção do chocolate.
21
Variedades I
3
O resultado da moagem pode virar o nosso tão amado chocolate ou, ainda, chocolate
em pó. Para a versão ao leite, acrescenta-se açúcar cristal, manteiga de cacau e leite.
Para o chocolate amargo é a mesma mistura, mas sem leite e com menos açúcar. O
chocolate branco é um caso especial. Ele não é feito com a semente do cacau, mas
apenas com manteiga de cacau, leite e açúcar.
4
22
Estamos chegando ao final
do processo! Aqui, já temos o
chocolate quase pronto, precisando apenas ser refinado,
para retirar os pequenos grãos
e cristais de açúcar, e misturado
a outros ingredientes que darão
durabilidade, aparência e sabor
mais acentuados.
Tishri / Cheshvan 5776
Variedades I
5
Para finalizar, o chocolate passa por uma rápida
troca de temperaturas, até
assumir a forma sólida.
Esse processo é bastante
minucioso, já que influencia bastante no aspecto
final do produto. Depois
disso, vem a moldagem.
CURIOSIDADES
Na Suíça, a média de
consumo de chocolate
anual por pessoa é de
impressionantes 10kg.
O Brasil é o sexto no
planeta, com “apenas”
2kg por pessoa.
O maior produtor de
cacau do mundo é a
Costa do Marfim, com
aproximadamente 32%
da produção mundial.
Segundo alguns estudos, os grãos do cacau
possuem uma substância antioxidante capaz
de prevenir alguns tipos de câncer.
E o resultado final é o delicioso chocolate que
todos nós apreciamos!
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23
Comemorando III
26
Tishri / Cheshvan 5776
Comemorando III
A Alegria
de Sucot
Muitos sábios já discorreram sobre
a clássica pergunta: “Por que a Torá
ordenou que comemorássemos a
festa de Sucot no mês de tishri?”.
Este enfoque sobre a alegria de Sucot
é uma lição de vida para ricos e
pobres!
R. Joseph Chouveke
As
cabanas que montamos durante os dias de
Sucot lembram as cabanas nas quais nossos
antepassados viveram durante os anos que passaram
no deserto. Fazem alusão também às sete nuvens que
protegiam o povo durante todos os quarenta anos da
travessia. Sendo assim, a festa de Sucot não está relacionada diretamente com uma data específica. Entretanto, pela lógica, o período mais adequado para
comemorar a proteção Divina durante a travessia do
deserto talvez devesse ser próximo da data da Saída do
Egito, no mês de nissan.
Segundo consta no “Tur”, caso comemorássemos Sucot
no mês de nissan, o mês da primavera em Israel, poderia
haver quem alegasse que estamos vivendo em cabanas por
ser algo prazeroso durante o clima agradável da primavera,
e não por estarmos obedecendo um preceito Divino. Esta alegação não cabe no mês de tishri, quando o único motivo para
construirmos cabanas é a obediência a uma vontade Divina.
Em Sucot também devemos cumprir o preceito de “alegrarmo-nos perante D’us”. Conforme explicam nossos sábios, a verdadeira alegria só pode ser alcançada quando
a pessoa está livre dos pecados. Este é outro motivo para
comemorar Sucot no mês de tishri, depois de Yom Kipur,
quando as pessoas já fizeram teshuvá e foram perdoadas no
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27
Comemorando III
julgamento celestial.
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28
sentimento de orgulho e arrogância no
Portanto, esta é a época mais pro-
coração dos homens. O homem pode
pícia do ano para comemorar a festa
olhar para sua colheita armazenada
de Sucot e para atingir a alegria exi-
e imaginar que sua capacidade e sua
gida pela Torá.
força foram os causadores de seu su-
Os tsadikim atingem o nível máxi-
cesso, esquecendo-se de que tudo pro-
mo de alegria, denominado de “simchá
vém de D’us e de Sua enorme bondade.
Bashem” – a alegria em D’us. Ou seja, a
Com estes sentimentos seria im-
própria crença e confiança na existên-
possível alcançar a alegria exigida
cia de D’us é o motivo de sua alegria,
pela Torá. Assim, para evitar esta
independente de todas as bondades
situação, é ordenado ao homem sair
realizadas por Ele.
de sua casa e ir viver em uma habi-
Ainda assim, em Sucot, por meio
tação frágil e provisória. Nesta situa-
do reconhecimento das bondades de
ção, ele imediatamente se lembra que
D’us podemos atingir um elevado nível
este mundo também é algo provisório;
de alegria. Mas como podemos chegar
além disso, que sua situação é frágil e
a este nível? Quais devem ser nossos
depende exclusivamente da proteção
pensamentos e o enfoque sobre nossas
Divina. Ele percebe que tudo o que
vidas que nos levem a esta situação?
possui é um grande presente de D’us.
A festa de Sucot é comemorada
Ao afastar os sentimentos de or-
após o recolhimento da produção
gulho e despertar a humildade e o re-
agrícola. Por isso, Sucot também é
conhecimento de que depende exclu-
chamada de Chag Haassif – Festa da
sivamente de D’us, subjuga-se à Sua
Colheita. Analisemos dois casos opos-
vontade, fortalecendo a confiança e a
tos para responder às questões pro-
fé em D’us. Tudo isso leva a uma gran-
postas. Por um lado tratemos de uma
de aproximação ao Todo-Poderoso e,
pessoa que teve um bom ano e pode
consequentemente, a uma enorme fe-
desfrutar de uma boa colheita. Por
licidade.
outro, de alguém que passou um ano
Assim é que o indivíduo abastado
com muitos problemas e dificuldades
atinge a verdadeira alegria de Sucot.
financeiras, e não tem motivos para
Mas, e no caso de alguém que não
se orgulhar.
possui bens? Este indivíduo não pode
Nesta época, quando toda a pro-
reconhecer que D’us lhe outorgou um
dução já está armazenada, é a ocasião
grande presente. Ele nem tem motivos
mais propícia para que se desperte um
para se orgulhar ou para ser arrogan-
Tishri / Cheshvan 5776
Comemorando III
te! Qual a lição da Sucá e como esta
do, entendendo que a alma deveria ser
pessoa pode chegar a alegrar-se nesta
uma pessoa rica novamente e, ainda
época?
assim, vencer o teste, sendo humilde,
Para responder a estas perguntas,
bondosa e cumpridora das mitsvot.
o grande sábio Chafets Chayim (Rav
“Ao ouvir este parecer a alma ficou
Yisrael Meir Hacohen, 1838–1933) traz
desesperada. Ela continuou suplican-
a seguinte parábola:
do para que a Vontade Divina decre-
“Havia um homem muito rico
tasse uma vida pobre. Dessa maneira,
que, após seus anos neste mundo, foi
ela poderia mais facilmente corrigir
julgado no Tribunal Celestial. No jul-
suas falhas anteriores e, finalmente,
gamento, foi decidido que esta alma
receber sua verdadeira recompensa
ainda não poderia ser aceita no Gan
depois de uma vida honrada.”
Êden; não poderia desfrutar do enor-
O Chafets Chayim conclui dizen-
me prazer da proximidade de D’us
do, então: “Quem sabe se a pessoa que
sem antes retornar à Terra no corpo
passou por dificuldades durante todo
de outra pessoa para corrigir algumas
o ano não possui uma alma na mesma
falhas que cometera durante sua vida
situação que a citada?”.
anterior.
Esta pessoa, então, deve sair de
“Ao ouvir a sentença, a alma ale-
sua casa e ir viver em uma habitação
gou que se comportara de forma ar-
frágil e provisória durante os dias
rogante, desprezando e humilhando
da festa de Sucot. Nesta situação, ela
outras pessoas, por ter sido uma pes-
também se lembrará que este mundo
soa muito rica. O teste de ter muito
é algo provisório; além disso, percebe-
dinheiro tinha sido muito grande e ela
rá que sua situação é frágil, mas que
não conseguira praticar muitas mits-
está sob a proteção do Todo-Poderoso,
vot por causa disso. Assim, ela pediu
que faz tudo para o bem das pessoas.
que na próxima vida não fosse rica,
Com estes pensamentos, fortalece sua
pois suas chances de corrigir seus pe-
confiança e a fé em D’us. Isso a leva a
cados seriam muito maiores.
uma grande aproximação ao Todo-Po-
“No entanto, o categor – o anjo promotor – não concordou com o seu pedi-
Tishri / Cheshvan 5776
A Esquina Israelense
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deroso e, consequentemente, a uma
enorme felicidade!
29
Pensando Bem II
Como Uma Montanha!
O seu Yêtser Hará lhe parece como uma enorme
montanha ou como um fino fio de cabelo?
No
tratado de Sucá (52a), a Guemará explica em nome de Rabi
Yehudá que, no futuro, o Todo-Poderoso
fará shechitá no Yêtser Hará, a má inclinação, na presença dos justos e dos perversos. Aos justos, o Yêtser Hará parecerá
uma enorme montanha (que dificilmente
pode ser escalada) e aos perversos, parecerá um fio de cabelo (que pode ser facilmente rompido).
Os justos chorarão, dizendo: “Como fomos
Por que o Yêtser Hará parecerá diferente
para os justos e para os perversos?
Para os justos, que constantemente dominam sua má inclinação, o Yêtser Hará sempre renova seus ataques com redobrado vigor.
Portanto, ele se desenvolve em uma força formidável que, ainda assim, é superada. Mas os
perversos cedem a uma tentação mínima. Portanto, sua má inclinação nunca se desenvolve
em nada mais do que um leve impulso, ao qual,
mesmo assim, eles sucumbem.
capazes de sobrepujar tão alta montanha?” e os
perversos chorarão, dizendo: “Como não fomos
capazes de superar esse fio de cabelo?”.
Tishri / Cheshvan 5776
Rif e Gueon Yaacov para o En Yaacov; Chatam Sofer;
Sefat Emet; Michtav Meeliyáhu
51
Variedades II
A intervenção direta de um Autor do Universo
pode ser constatada na imensidão das galáxias,
na perfeição do corpo humano, na maravilhosa
diversidade da botânica e na observação do
extraordinário e impressionante
MUNDO
EXÓTICO
ANIMAL
Você muito provavelmente já
ouviu falar do tigre branco,
considerado por muitos como
o animal mais belo de toda a
natureza. O que poucos sabem
é que a sua coloração não é
causada por albinismo ou por
uma subespécie, mas por uma
falha genética restrita aos
tigres-de-bengala, que acomete
apenas um a cada 10.000
animais.
CROCODILO
VS. LEÕES
O leão da foto ao lado entrou
em uma briga das boas com um
imenso crocodilo. O motivo?
Disputar uma enorme carcaça de
elefante que estava às margens
do rio.
Percebendo que levaria a pior, o
felino foi obrigado a pedir ajuda
para o restante de sua manada.
No fim das contas, a união fez a
força e o crocodilo foi obrigado
a debandar, deixando a farta
refeição para trás.
Não, não se trata de um novo
tipo de anfíbio! O que vemos
na foto ao lado é um sapo-boi
com um morcego na boca!
A foto foi tirada no Parque
Nacional Amotape, na
Amazônia peruana.
Segundo funcionários do
local, o sapo acabou cuspindo
o morcego, que conseguiu
escapar com vida. Será que
faltou tempero?
POSANDO
ALMOÇO
Variedades II
O que você faria se um
tubarão branco de 4,5
metros aparecesse diante
de você? O fotógrafo
australiano Dave
Riggs demonstrou uma
impressionante frieza ao
manter sua câmera em
riste, tudo para registrar o
sorriso da fera ao lado.
Segundo o fotógrafo, o
peixão estava “tranquilo”
e não esboçou nenhuma
reação agressiva durante as
fotos.
A cena ao lado parece bastante
amigável, com um esquilo
pegando uma “caroninha” nas
costas de um picapau. Contudo,
segundo Martin Le-May, autor da
foto, a realidade é um pouquinho
mais brutal: o pássaro levantou
vôo em desespero, tentando
escapar do mamífero que buscava
uma deliciosa refeição!
FILHOTE
carona
Variedades II
A cena ao lado registra uma
briga violenta entre dois
hipopótamos machos adultos,
mas que acabou sobrando
para um pequeno filhote com
apenas cinco dias de vida.
Essa não é a forma tradicional
de lutar desses bichos, que
geralmente apostam em suas
enormes presas frontais para
vencer seus adversários (como
na foto abaixo).
Infelizmente o filhotinho
acabou não resistindo aos
ferimentos.
Comemorando IV
Cheques Pré-datados
Uns vinte anos atrás, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, um
comerciante amigo meu, chamado Pinchas, dirigiu-se a mim
com um pedido incomum: levar comigo à feira de arbaát
haminim um novo imigrante russo chamado Avrasha. A feira
de arbaát haminim, as quatro espécies de Sucot, abre logo
depois de Yom Kipur e lá se pode escolher entre diversas
qualidades de lulavim, etroguim, aravot e hadassim.
R. Yochanan David Salomon
56
Tishri / Cheshvan 5776
Comemorando IV
Naquele
ano, o senhor Pinchas pediu que eu ajudasse Avrasha
a comprar as quatro espécies, explicando para ele a diferença entre
as diversas qualidades oferecidas na
feira. Logo esclareci ao meu amigo
que eu não conhecia sequer uma
única palavra em russo. Mas ele
me garantiu que Avrasha entendia
muito bem hebraico e não haveria
nenhuma dificuldade de comunicação com ele.
recia muito com o personagem que
nomia em Israel parecia-lhe espeta-
imaginei.
cular e ele contou com muito entu-
Caminhamos em direção à feira
siasmo suas descobertas:
batendo um papo amigável. O hebraico
– O conceito de compras que en-
dele realmente era muito bom para
contrei aqui em Israel – disse Avraham
um imigrante russo. Primeiro, ele foi
– é totalmente novo para mim e muito
insistente em afirmar que seu nome de
diferente daquilo que eu estava acos-
agora em diante era Avraham, e não
tumado na Rússia. Lá você não diz:
queria mais ser chamado por nenhum
“Eu vou sair para comprar algo”, mas
outro nome.
sim: “Eu vou sair para conseguir algo”.
Avraham era muito extrovertido
Você não vai para uma loja comprar
e contou-me, muito à vontade, sobre
aquilo que deseja, pois ninguém ga-
seus sentimentos e aventuras naque-
rante que a mercadoria que você pre-
Marquei a hora e o local do encon-
las oito primeiras semanas suas em
cisa estará disponível. Lá, é muita sor-
tro para depois de Yom Kipur e ano-
Israel. Ele estava muito surpreso em
te encontrar uma loja que tenha para
tei o compromisso em minha agenda.
conhecer um pouco de judaísmo, que
vender exatamente aquilo que você
No dia combinado, esperei Avrasha
na Rússia era totalmente estranho
quer comprar. Mas a grande oferta de
no ponto de ônibus e, assim que ele
para ele. Avraham não sabia quase
mercadorias aqui em Israel não é o
chegou, apresentamo-nos. Ele se pa-
nada sobre yahadut. Também a eco-
que me deixou mais surpreso. Na Rús-
Tishri / Cheshvan 5776
57
Comemorando IV
sia não podemos sair para as compras
nha no meu bolso, ou no banco, nem
vida, saúde do corpo e da mente, além
sem levar dinheiro no bolso. Quando
a metade do que custava a máquina.
de pedir sucesso em todas as coisas
você está na loja, você vale exatamente
Foi aí que eu descobri a maior sur-
simples do dia-a-dia. Então comecei
quanto dinheiro tem no bolso!
presa: o cheque pré-datado! Ou seja,
a entender como minha situação era
– Um momento! – eu exclamei – e
uma ordem por escrito para o banco
de penúria. Com o que eu pagaria por
se você tiver um talão de cheques?
pagar à loja numa data posterior à
todas essas coisas boas que pediria
Isso não serve? O dinheiro precisa
da assinatura. Isso para mim é uma
para o ano todo? Eu não coloquei em
obrigatoriamente estar em seu bolso?
invenção fantástica! Você não tem
toda minha vida nem cem vezes os te-
Qual o problema de o dinheiro estar
dinheiro consigo, também não tem
filin. O que estou dizendo! Nem mesmo
no banco?
nada no banco e, ainda assim, caso
cinquenta! Talvez quinze ou vinte ve-
Reagindo à minha ingênua indaga-
tenha condições de obter dinheiro no
zes... E também ainda não conheço a
ção, Avrasha – digo – Avraham parou
futuro, recebe imediatamente uma
maioria das leis sobre como cumprir
de andar e olhou-me com certo ar de
máquina de lavar baseado numa assi-
o Shabat...
zombaria, contendo-se para não rir.
natura que garante um dinheiro que
– Na véspera de Yom Kipur – pros-
– Banco?! Cheques?! O que é isso
você ainda não ganhou... Você per-
seguiu Avraham com ar de tristeza –
camarada? – ele disse. – Na Rússia
cebe que coisa fenomenal?! Comprar
eu estava na mesma situação que na
não se sabe o que é isso! Quando eu
sem dinheiro!...
loja da máquina de lavar. Eu me sentia
morava lá, ouvi dizer que em outros
A esta altura, eu já tinha parado
um imigrante russo numa grande loja,
lugares as pessoas deixavam seu di-
de me impressionar com as emoções
escolhendo uma grande geladeira, um
nheiro no banco e pagavam com “che-
de Avraham. Preparei-me para ou-
freezer moderno, uma máquina de la-
ques”. Mas eu não acreditei muito. Só
vir que foi uma aventura andar de
var, outra de secar, uma lavadora de
quando cheguei aqui, percebi de fato
ônibus de dois andares e coisas do
pratos, dois condicionadores de ar,
que qualquer pessoa simples pode
gênero. Mas, devo confessar, a con-
um forno, um fogão e outros eletro-
fazer isso. Até eu abri uma conta no
tinuação de seu relato realmente me
domésticos. E era como se eu tivesse
banco! Se bem que muito dinheiro
emocionou.
apenas uns trocados que mal davam
não pude depositar... – acrescentou
com ironia.
– Vejo que você não está muito impressionado com minhas palavras – dis-
para pagar a passagem de ônibus de
volta para casa...
– Mas aqui em Israel vi muito mais
se Avraham. – Mas eu devo a minha vida
– Você consegue imaginar como eu
ainda! – continuou Avraham mais en-
a esta invenção, o cheque pré-datado.
me senti? – perguntou o imigrante um
tusiasmado. – Vi com meus próprios
Deixe-me explicar. Somente há poucas
tanto emocionado. – À medida que nos
olhos como as pessoas se aproximam
semanas, próximo de Rosh Hashaná, que
aproximávamos de Yom Kipur, esse
de uma parede e retiram dinheiro
comecei a conhecer o judaísmo. Ao apro-
sentimento ficava mais forte em mim.
dela! Isso sim foi uma surpresa e tan-
ximarmo-nos de Yom Kipur, disseram-
– Em Yom Kipur eu faria uma
to! Na Rússia nunca tinha ouvido falar
-me que aquele seria o último dos dez
extensa lista de pedidos – disse ele
disso!
dias de penitência, no qual D’us carimba
abrindo os braços – os melhores pos-
Eu não conseguia esconder meu
decretos sobre tudo o que irá acontecer a
síveis! Pois eu, logicamente, não me
sorriso pela expressão infantil de
cada pessoa durante o ano que se inicia.
satisfaria com uma saúde do tipo B
Avraham diante de fatos tão corriquei-
Essa seria a oportunidade de pedir tudo
ou C! Pensei então: Como pagarei por
ros para mim. A emoção de Avraham
o que é possível. Então, pensei comigo:
tudo isso?! Todas as mitsvot que fiz em
não terminou com o dinheiro que sai
tenho muita coisa para pedir a D’us para
minha vida, ou seja, desde que desco-
da parede. Ele ainda continuou:
este ano. Preciso de sustento, de uma boa
bri o judaísmo nas últimas semanas, e
– Mas ainda não lhe contei a gran-
casa, de uma boa vizinhança onde possa
toda a Torá que estudei neste período,
de surpresa. A maior de todas! Eu
estudar Torá, viver como um judeu pra-
tudo isso mal dá para encher um pe-
entrei numa loja para comprar uma
ticante e continuar avançando no cami-
queno saquinho. Como seria possível
máquina de lavar roupas. Escolhi
nho que escolhi recentemente.
pagar com isso uma compra gigante
uma máquina moderna, mas ela não
– Conforme nos aproximávamos
como a que pediria para o ano novo?
era barata. Meu coração começou a
de Yom Kipur – continuou Avraham –
Esses pensamentos me deixaram an-
bater mais rápido porque eu não ti-
entendi que precisávamos pedir a D’us
gustiado.
58
Tishri / Cheshvan 5776
Comemorando IV
– Então – continuou Avrasha em
por que cantar? Por que pedir favores
ria diariamente todas as mitsvot que
um tom mais sereno – num dos dez
a D’us? Definitivamente, a frase não
conheço. Estes foram meus pagamen-
dias de penitência descobri a resposta
fazia sentido: “Dá-nos Tua graça pois
tos pré-datados pela “mercadoria” que
que me aliviou e me deu grande âni-
não temos boas ações?!...”. Ao longo
pedi, pelos bons decretos que D’us cer-
mo. E tinha tudo a ver com a compra
do texto de “Avínu Malkênu” pedimos
tamente determinou para mim. Ago-
da máquina de lavar!
salvação, sustento, perdão, cura, ele-
ra, estou indo com você comprar as
A esta altura do relato de Avraham,
vação do povo, fartura, vida boa...
quatro espécies de Sucot para cumprir
eu já estava totalmente envolvido com
Quando chegamos no final, quando
pela primeira vez na vida um preceito
suas emoções. Mas o que teria a ver a
seria a hora de efetuar o “pagamento”
que há duas semanas eu nem tinha
máquina de lavar com os pedidos de
para D’us, revela-se que “não temos
conhecimento. Quando realizar esta
Yom Kipur? Então tudo ficou explicado
atos”, ou seja, não temos com o que
mitsvá, estarei cumprindo minha pro-
com a conclusão da sua história.
pagar! Então por que cantar?
messa e saldando a dívida que adquiri
– Naquele dia, no final da reza da
– É aí que entra a grande inven-
em Yom Kipur. Apresentei mais de tre-
manhã – explicou Avraham – todos na
ção da economia ocidental! – excla-
zentos cheques pré-datados em Yom
sinagoga recitaram o “Avínu Malkênu”,
mou Avraham rindo de satisfação. –
Kipur. Um cheque para cada dia do
uma oração especialmente proferida
Quem disse que eu só posso pagar com
ano. Prometi honrá-los, e agora estou
nos dez dias de penitência, e cantaram
dinheiro à vista? Eu também posso
pagando uma parte do cheque de hoje.
em coro a última frase. A música di-
pagar com cheques pré-datados! No
– Agora diga-me, camarada Pin-
zia o seguinte: “Nosso Pai, nosso Rei,
dia de Yom Kipur garanti a D’us que
chas: receber a mercadoria imedia-
dá-nos Tua graça e atende-nos, pois
toda lei que estudasse durante o ano,
tamente e pagar parceladamente
não temos (bons) atos.” Isso foi muito
cada mitsvá ou halachá que chegasse
durante um ano, com um capital que
estranho para mim. Se nós confessa-
ao meu conhecimento, cumpriria com
ainda não adquiri, isto não é uma
mos que não realizamos boas ações,
fidelidade e dedicação, e que realiza-
grande invenção?
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Tishri / Cheshvan 5776
59
Visão Judaica III
Recuperar os
Dias Perdidos
Segundo o Zôhar, quando alguém peca
perante o Criador num determinado dia,
este dia fica afastado do grupo até que a
pessoa faça teshuvá e recupere-o.
Rabino I. Dichi
Em
60
Hilchot Teshuvá (cap. 2, par.
6), Rambam escreve que, apesar de a teshuvá (o arrependimento) e a
tsedacá (a caridade) serem adequadas todos os dias, nos Assêret Yemê Teshuvá – os
Dez Dias de Penitência de Rosh Hashaná
a Yom Kipur – elas são mais aceitas pelo
Criador, conforme o versículo (Yeshayá
55:6): “Dirshu Hashem behimatseô, keraúhu bihyotô carov – Buscai o Criador
onde Ele Se encontrar, invocai-O quando
está próximo”.
zt”l e do Ari Hacadosh zt”l), consta que estes
Vejamos por que estes dias são mais propí-
toda a Criação estaria comprometida, uma vez
cios para a teshuvá. No capítulo quinze do livro
que o ser humano possui o mau instinto que o
Bêt Elokim, de autoria do Rabino Yossef Ma-
incita a pecar. Com o decorrer do tempo, o mal
trani zt”l (contemporâneo do Rabi Yossef Caro
cresceria a tal ponto que D’us teria de destruir
dias estão vinculados à Criação do Universo: a
Criação teve início no dia 25 de elul e o homem
foi criado em Rosh Hashaná.
O Criador do Universo sabe que o homem
é passível de erros e que peca. Portanto, com
sua rachmanut (misericórdia) criou a possibilidade do arrependimento. No Talmud (Pessachim, 54) consta que a teshuvá é um dos sete
elementos que foram criados antes mesmo da
Criação do mundo.
Se D’us não tivesse instituído a teshuvá,
Tishri / Cheshvan 5776
Visão Judaica III
o mundo. Por isso, o Criador instituiu
as mitsvot.
a teshuvá, que é a possibilidade que
O livro Mishnat Rabi Aharon (vol.
o ser humano tem de se recuperar e
2, pág. 221) cita uma passagem do
abrir, a cada ano, uma nova página
Zôhar Hacadosh, segundo a qual, to-
em sua vida, visando o bem.
dos os dias da vida do indivíduo, a
Já que Rosh Hashaná é o Yom Ha-
partir de seu nascimento, formam um
din – o Dia do Julgamento – não se-
grupo unido, e que cada dia adverte a
ria coerente que este fosse escolhido
pessoa de uma forma exclusiva. Quan-
como o dia em que os pecados do ser
do, num determinado dia, o indivíduo
humano fossem totalmente anulados.
peca perante o Criador, este dia, en-
Por isso, o Todo-Poderoso prolongou os
vergonhado, isola-se do grupo e ele
dias de teshuvá até Yom Kipur, dando
próprio testemunha sobre os pecados
assim um prazo de dez dias ao ho-
da pessoa. Este dia fica afastado do
mem, para que se recupere de even-
grupo até que a pessoa faça teshuvá
tuais irregularidades e pecados que
e recupere-o. Quando o indivíduo se
tenha cometido durante o ano. Então,
recupera do mal que cometeu, este dia
no dia de Yom Kipur, o Todo-Poderoso
volta a unir-se ao grupo dos dias da
age com misericórdia, procurando as
sua vida.
mitsvot que o indivíduo fez para poder
recompensá-lo.
Deste relato do Zôhar, percebemos
a importância de cada dia em particu-
Consta nos livros sagrados, que os
lar. Nem sequer um dia pode ser des-
sete dias entre Rosh Hashaná e Yom
prezado, deixando-se de cumprir as
Kipur correspondem a cada um dos
mitsvot, pois os atos irregulares nele
sete dias de cada semana do ano que
cometidos comprometem-no espiritu-
passou. Durante esses sete dias temos,
almente e isolam-no do grupo.
então, a possibilidade de recuperar-
É por isso que o Criador nos deu
mo-nos de todas as irregularidades
os dias de teshuvá – para nos recu-
que cometemos em todos os dias do
perarmos, reagrupando os dias do
ano.
ano com eventuais falhas. É de suma
No Talmud (Macot, 22) consta,
importância que saibamos aprovei-
também, que as 365 mitsvot lô taassê
tá-los, não os desperdiçando e pre-
(mandamentos proibitivos) correspon-
enchendo-os com Torá e mitsvot, pois
dem aos 365 dias do ano. Sobre isso,
além de recuperarmos o passado,
Rashi acrescenta que cada dia do ano
angariamos energias para o ano que
adverte o indivíduo a não transgredir
está por vir.
Tishri / Cheshvan 5776
61
Pensando Bem I
Pensamentos
É mais valente quem conquista a si mesmo
do que quem vence cem batalhas.
Difícil é ganhar um amigo em um dia;
fácil é perdê-lo em um minuto.
Para que conquistar a Lua e os planetas
sem se importar com a Terra?
A melhor forma de vencer uma discussão é evitá-la.
Você está vivo porque ainda espera-se algo de você.
Quando procurar por defeitos, use um espelho,
não um telescópio!
O ontem é história, o amanhã é um mistério,
o hoje é uma dádiva...
e por isso é chamado de presente!
Cuide para que suas palavras sejam doces,
nunca se sabe quando terá de tornar a engoli-las.
62
Tishri / Cheshvan 5776
Mussar
Yom Kipur
O Verdadeiro Enfoque
Seu crescimento pessoal depende dos maravilhosos
ensinamentos do mussar.
Rabino Zvi Miller
Yom Kipur
como a alvorada e sua cura brotará rapida-
O Profeta Yeshayá (58:5) – falando em nome
mente (ibid. 58:8)”.
do Todo-Poderoso – repreendeu o Povo de Isra-
Na Torá (Vayicrá 23:32) consta o seguinte
el por estarem desanimados em Yom Kipur: “É
versículo sobre Yom Kipur: “Betish’á lachô-
melancólico assim o jejum que Eu escolhi? É o
desh baêrev, meêrev ad êrev tishbetu shaba-
propósito do dia que a pessoa meramente se
techem”. Neste versículo, a Torá escreve que
aflija? Deve ela inclinar sua cabeça como um
Yom Kipur começa no dia 9 do mês de tishri,
junco e estender uma veste de remorso e cinzas
apesar de que sua real observância é no dia
sob seus pés?”.
seguinte, dia 10 de tishri. Qual a razão disto?
Por que o profeta repreendeu o comporta-
Ao associar o dia anterior (nove) ao dia de Yom
mento do povo em Yom Kipur? Yom Kipur é um
Kipur (o dia dez de tishri), a Torá nos ensina
dia de julgamento, arrependimento e jejum.
que quem participa de uma refeição festiva no
Sendo assim, o foco principal do dia não é re-
nono dia é considerado como se tivesse jejuado
fletir sobre nossos erros e deficiências e sentir
em ambos os dias: no nono e o décimo. Seu
uma sensação de desânimo e melancolia?
mérito é, portanto, dobrado!
No versículo seguinte (58:6) o Navi Yeshayá
No mesmo sentido da profecia de Yeshayá,
explica qual o verdadeiro propósito de Yom Ki-
este versículo ensina que Yom Kipur é um
pur e o que deveria acontecer neste dia tão es-
momento de alegria e celebração, pois não há
pecial do ano: “Não! O propósito deste jejum é
maior felicidade do que obter-se perdão e re-
soltar os grilhões da perversidade, desfazer os
denção por equívocos do passado.
laços do jugo, deixar que os oprimidos saiam
livres e anular toda perversão”.
Todo o objetivo do arrependimento e de
servir a D’us é chegarmos à verdadeira alegria
Yom Kipur é um momento de libertação.
e ao verdadeiro prazer. É certo que alguns
Ele nos proporciona a oportunidade de li-
aspectos da nossa observância do Yom Kipur
vrarmo-nos da negatividade e do egoísmo. Se
evocam remorso – porém eles são um meio, e
abrirmos nossos corações ao poder do Yom
não um fim em si.
Kipur e preenchermos nossas almas com bon-
Por meio da compreensão adequada e do
dade e benevolência, “então sua luz irromperá
cumprimento do procedimento de Yom Kipur
Tishri / Cheshvan 5776
63
Mussar
nossos espíritos são purificados, nos-
com os pedidos do anfitrião e, por
Em resposta a esta situação, na
sas almas elevadas e nossos corações
outro, recusar sua exigência de sair
qual a pessoa pode entrar em deses-
abastecidos da mais pura e verdadei-
de sua casa?
pero, a Torá nos diz: “Não dê ouvidos
ra alegria!
Baseado no livro Or Hatsafun
do Rabino Natan Tsvi Finkel
(Lituânia, 1849–1927)
Teshuvá
O grande cabalista, Rabino Moshê
ao Anfitrião!”, significando: não in-
Cordovero, iluminou-nos com o signi-
terprete as suas dificuldades em ar-
ficado desta curiosa declaração do
repender-se e voltar ao bom caminho
Talmud. Ele explicou que esta passa-
como sendo um sinal de que o Todo-
gem é uma parábola, na qual o anfi-
-Poderoso o rejeitou. Pelo contrário,
trião representa D’us e o convidado
fique tranquilo, pois Ele é misericor-
representa os seres humanos.
dioso e sempre demonstra compaixão
O Talmud (Massêchet Pessachim
Os indivíduos devem sempre fazer
66b) nos ensina que um convidado
tudo o que o Anfitrião solicitar. Entre-
deve demonstrar cortesia, fazendo o
tanto, há vezes em que a pessoa sin-
Se algum desafio nos está mui-
que o anfitrião lhe solicitar e comen-
ceramente se dedica a arrepender-se
to difícil, não desistamos, pois D’us
do os alimentos que seu anfitrião lhe
e retornar ao bom caminho, porém
nunca desiste de nós. Isto é especial-
servir. Entretanto, existe uma situ-
todas as suas tentativas parecem dar
mente válido em Yom Kipur, como nos
ação na qual o Talmud nos diz para
em nada. É como se os Céus estives-
ensinou o Rei David: “Procure o Todo-
não obedecermos o anfitrião: se ele
sem rechaçando os seus esforços.
-Poderoso quando Ele está presente,
disser ao convidado para que se re-
Num caso assim, a pessoa poderia
reze a Ele quando está mais próximo”.
tire, que vá embora, o convidado não
entender os eventos como sendo uma
lhe deve dar ouvidos!
mensagem Divina dizendo: “Saia de
Por que a Torá nos diz, por um
lado, para concordar polidamente
e amor por todas as pessoas que querem se aproximar Dele.
Baseado nos ensinamentos do
Rabino Moshê Cordovero
(Israel, 1522–1570)
Minha casa. Eu não aceito que você
volte a Mim!”.
Daf Hayomi
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64
Tishri / Cheshvan 5776
Leis e Costumes
Os Trabalhos
Proibidos no Yom Tov
Yamim tovim (plural de yom tov) são dias festivos
no calendário judaico, nos quais a Torá ordena leis
especiais de comportamento.
Rabino I. Dichi
As
leis tratadas aqui são alusivas
aos seguintes dias do ano (fora de
Êrets Yisrael): dois dias de Rosh Hashaná
(inclusive em Êrets Yisrael comemora-se
dois dias de Rosh Hashaná), dois primeiros dias de Sucot, dois dias de Shemini Atsêret (o segundo dia de Shemini Atsêret é
Simchat Torá) dois dias de Pêssach e dois
dias de Shavuot. O dia de Yom Kipur possui
leis iguais às de Shabat e outras específicas do dia.
no yom tov para o preparo da comida são aqueles
que figuram a partir de “halásh” (amassar), inclusive este. Assim, continuam proibidos os trabalhos
de ceifar, moer, colher, espremer, etc., mesmo sendo estes trabalhos relativos ao preparo da comida.
Cozinhar
Existe uma divergência entre os legisladores
se é permitido cozinhar no yom tov um alimento
que, se fosse cozido na véspera, não teria seu gosto
alterado no yom tov. Há quem sustente que tais alimentos devem ser preparados na véspera e assim
Quais os trabalhos proibidos
devemos fazer. Contudo, se um desses alimentos
Toda a melachá (trabalho) ou tirchá (esforço)
não foi preparado na véspera, por esquecimento
que é proibida no Shabat, quer seja uma proibição
ou por falta de tempo, é permitido prepará-lo de
da Torá, quer de nossos sábios, é proibida no yom
uma forma diferente da habitual. Porém, se por
tov, com as seguintes exceções: alguns itens no
motivo de força maior, a pessoa estava completa-
preparo da comida (vide adiante), pois na Torá está
mente impossibilitada de preparar a comida na
escrito (Shemot 12:16): “Apenas aquilo que é para
véspera, ou no caso de inesperadamente virem
comer para toda pessoa, somente isso será feito
convidados para a refeição de yom tov, é permitido
para vós”, passar fogo (mas não criar um fogo novo)
cozinhar de forma habitual.
e transportar objetos (com algumas restrições).
É evidente que é proibido o uso de aparelhos
elétricos, mesmo que para o preparo da comida.
Exemplos de alimentos que podem ser preparados na véspera sem que o seu gosto se altere: bolo,
gelatina, pudim, compota e massa de macarrão.
Da mesma forma que no Shabat, tudo aquilo
Alimentos que têm seu gosto alterado, mesmo
que é proibido que nós façamos no yom tov, tam-
que em parte, se preparados na véspera, podem
bém é proibido pedir a um não judeu que o faça.
ser preparados no yom tov. Exemplos: salada de
verduras, salada de ovos, pão, arroz e cozidos
Preparo da comida
em geral.
São 39 os trabalhos proibidos no Shabat. A
lista destas proibições é trazida na mishná (Massêchet Shabat, cap. 7). Na sequência dos 39 trabalhos proibidos no Shabat, os que foram permitidos
Tishri / Cheshvan 5776
Do livro “Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot”.
Todas as fontes pesquisadas são citadas
na referida obra.
65