a sociolinguística aplicada ao ensino: como os docentes vêem as
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a sociolinguística aplicada ao ensino: como os docentes vêem as
Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES A SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO: COMO OS DOCENTES VÊEM AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS? Silvio Nunes da Silva Júnior (UNEAL) 1 [email protected] Fernando Augusto de Lima Oliveira (PPGLL-UFAL/UNEAL/UPE)2 [email protected] RESUMO: O presente artigo objetiva discutir sobre a sociolinguística aplicada ao ensino, tendo como objeto de estudo as concepções de professores sobre a utilização das variantes linguísticas do português brasileiro no âmbito educacional. A sociolinguística busca investigar o fenômeno das variações linguísticas em todas as suas particularidades, aplicando suas teorias à heterogeneidade da língua, mostrando que a mesma está em constante evolução e modificação. Ancoro a discussão deste trabalho nas teorias de Labov (2008), em um confronto inicial com Saussure (2006). Em teóricos da pesquisa Sociolinguística Variacionista, como: Tagliamonte (2006); Molica e Braga (2004); Salomão (2011); e Oliveira, Silva e Paula (2013), da Sociolinguística educacional: Bortoni-Ricardo (2004); Coan e Ko Freitag (2010); e Oliveira e Cyranka (2013), como também da Variação Linguística da Língua Portuguesa: Bagno (2001, 1999); e Beline (2004), além dos PCN’s (1998). Nesse sentido, percebe-se que os docentes dos dias atuais estão cada vez mais compreensíveis no que diz respeito à utilização das variantes linguísticas em sala de aula. Dessa forma, as práticas de preconceito linguístico estão diminuindo em grande escala, e o mais favorável de constatar nessa pesquisa, é que o primeiro âmbito em que a prática está acabando, é, justamente o âmbito educacional. PALAVRAS - CHAVE: Variações Linguísticas; Ensino; Professores. ABSTRACT: This article aims to discuss the sociolinguistics applied to education, with the object of study teachers' conceptions about the use of linguistic variants of Brazilian Portuguese in the educational field. The sociolinguistics investigates the phenomenon of linguistic variations in all its particulars, applying his theories to the heterogeneity of language, showing that it is constantly evolving and changing. Anchors the discussion of this work on the theories of Labov (2008), in an initial confrontation with Saussure (2006). In theoretical research variational sociolinguistics, as Tagliamonte (2006); Molica and Braga (2004); Solomon (2011); and Oliveira, Silva and Paula (2013), the educational Sociolinguistics: Bortoni-Ricardo (2004); Ko Coan and Freitag (2010); and Oliveira and Cyranka (2013), as well as variation of Portuguese Linguistics: Bagno (2001, 1999); and Beline (2004), and the NCP's (1998). In this sense, it is noticed that teachers of today are increasingly understandable as regards the use of linguistic variants in the classroom. Thus, linguistic prejudice practices are declining in large scale, and the most favorable note of this research, is the first area in which the practice is running out, is precisely the educational field. KEYWORDS: Linguistic Variation; Education; Teachers. 1 Graduando do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Palmeira dos Índios - AL. [email protected]. 2 Mestre e Doutorando em Letras e Linguística pelo PPGLL/UFAL; Professor Substituto da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Professor Assistente da Universidade de Pernambuco – UPE. [email protected] 29 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Introdução No âmbito educacional, ainda é viva a antiga tradição de que não utilizar o que rege a gramática normativa está errado. Diante desse fato, a linguística como uma área abrangente, que abre espaço para diversas concepções de língua e fala existentes, defende em uma de suas linhas de pesquisa, a abolição da concepção de que o falante é obrigatoriamente levado a utilizar o que rege a gramática normativa. A linguística propriamente dita como ciência que estuda a língua, busca desvendar o que norteia os fenômenos da língua, em suas diversas particularidades. Partindo para um contexto histórico, lembra-se do conceito de língua para Saussure. No que diz respeito ao Curso de Linguística Geral, sobre os conceitos de homogeneidade da língua, vê-se que para Ferdinand Saussure a língua não pode ser modificada, e tudo o que a norteia diz respeito a existência de um “significado”, e de um “significante”, ou seja, um conceito pertinente a uma imagem acústica, dessa maneira, “o laço que une o significante e o significado é arbitrário” (SAUSSURE, 2006, p.81). Nesse sentido, o mestre genebrino, caracteriza a língua como homogênea, ou seja, nunca poderá ser modificada, nem com o passar do tempo, nem, muito menos mediante as manifestações culturais ou geográficas que possam existir. Discordando de maneira em que haja um confronto direto de concepções, Willian Labov difere do pensamento de Saussure, afirmando que a língua é heterogênea e sujeita a mudanças históricas, geográficas e socioculturais. Da maneira em que Labov faz uma interface de língua com cultura, surge a Sociolinguística, como a teoria da variação linguística, nesse contexto língua e cultura caminham lado a lado para desenvolver teorias que proporcionem prestígio para essa linha de pesquisa. Nesse sentido, Labov mostra que existem diversas variações linguísticas que são visíveis na sociedade, onde uma em especial ganha prestígio social, 30 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES sendo considerada norma padrão, e algumas outras, ficam aleatórias, sendo consideradas como variantes linguísticas de menos prestígio, ou normas-não-padrão. A variação de prestígio social, diz respeito às diretrizes atribuídas pela gramática normativa, onde o jeito de “falar certo”, diz respeito ao cumprimento das regras atribuídas na mesma, constituindo uma norma padrão. Mediante o que defende a concepção da Sociolinguística, é viável destacar a importância dada em sala de aula à norma padrão da língua, neste caso, a língua portuguesa. Dessa maneira, impõe-se o contexto educacional, enfatizando a utilização das variações linguísticas em sala de aula. É necessário evidenciar que se o docente for de acordo com essa concepção, acaba havendo direta ou indiretamente a prática do preconceito linguístico em sala de aula, pois, o aluno vivencia uma realidade linguística diferente da que ver na escola com as regras da gramática normativa, por esse motivo utiliza as variantes de sua região em qualquer âmbito inclusive o escolar. Dessa maneira, o professor deve atuar como regente e mediador, respeitando as variantes que seus alunos utilizam, havendo assim, um comprometimento mais eficaz do aluno com a escola, e principalmente com o professor. Portando, este trabalho evidencia discutir sobre a variação linguística educacional. O aparato metodológico constitui-se por concepções de professores sobre a utilização das variações linguísticas em sala de aula, e o que as mesmas implicam na relação professor-aluno, visando também mostrar como os professores vêem as variações, e se têm conhecimento sobre a teoria sociolinguística. Diante disso, pode-se destacar a grande expansão que os estudos sociolinguísticos vêm tendo inclusive no âmbito escolar. Isto se caracteriza pela análise de dados positiva, onde foi possível constatar que a maioria dos docentes entrevistados, entendem as variações linguísticas e possuem uma aceitação para com isso na sala de aula em que são regentes. Concretizando assim, uma realidade linguística muito mais voltada a inclusão, banindo aos poucos a prática do preconceito linguístico. 31 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Dos primórdios linguísticos à sociolinguística educacional A linguística em sua origem inicia-se com os estudos de Ferdinand Saussure que professava o Curso de Linguística Geral na Universidade de Genebra – Suíça, este foi o principal estudioso da área, que com sua grande influência e foco nos estudos linguísticos, inquietou seus alunos do curso, a ponto que os mesmos empregaram as concepções de Saussure em uma obra póstuma legitimada “Curso de Linguística Geral” lançado em 1916, após a sua morte. No que diz respeito aos conceitos de língua para Saussure, tem-se uma concepção polêmica que até os dias atuais é alvo de muitas discussões nos estudos linguísticos do mundo inteiro. Saussure volta seus estudos para a língua em perspectivas gerais de uso, e depois de vários anos dedicando-se a essa área, define com clareza a língua como homogênea, ou seja, não possui nenhuma e qualquer maneira de ser modificada ou alterada. Voltando ao foco principal que é a linguística, destaco que a área propõe estudar a linguagem humana em seus diversos dimensionamentos, sejam eles voltados às linguagens verbal, não-verbal e mista. Nesse sentido, percebe-se e pode-se afirmar que a linguística é a ciência da linguagem, e como toda ciência, está apta a novos olhares e concepções. Considerando a concepção de Saussure, o conceito de língua como homogênea acaba afetando aspectos sociais que existem na linguagem humana. É do saber de todos que estão em constantes ocorrências processos de particularidades de determinada língua, seja ela portuguesa, inglesa, espanhola, francesa e etc. Dessa maneira, cada região de determinada sociedade, falante de determinada língua têm suas particularidades linguísticas, que quando se encontram com as concepções de Saussure acabam sendo alvo de muitas discussões e polêmicas nos estudos da língua. 32 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Após a publicação do Curso de Linguística Geral, uma das concepções que mais vem causando discussões acerca das concepções de língua é a de Labov, mas precisamente um dos maiores estudiosos da sociolinguística. Discordando de forma esquematizada e em parte convincente da concepção de Saussure em sua obra póstuma, Labov por sua vez acredita que a língua provém de uma heterogeneidade, ou seja, pode ser mudada com o avanço da sociedade em constante movimento. Assim como afirma Coan & Ko Freitag “A língua é vista pelos sociolinguistas como dotada de “heterogeneidade sistemática”, fator importante na identificação de grupos e na demarcação de diferenças sociais na comunidade” (2010, p. 175). Nesse sentido, a Sociolinguística visa defender uma concepção inversa a Saussure, e hoje é uma das áreas de pesquisa na linguística com muito prestígio em seus resultados, buscando sempre engrandecer e expandir seus estudos, como também, busca convencer novos pesquisadores a seguirem essa perspectiva em suas trajetórias nos estudos linguísticos. Em linhas gerais, a sociolinguística estuda a língua, a cultura e a sociedade, no sentido em que língua e sociedade se inter-relacionam. Para especificar com mais ênfase os verdadeiros objetos de estudos sociolinguísticos, destaco a concepção de Molica (2004, p. 10), que visa explicar um dos olhares para a Sociolinguística. A sociolinguística considera em especial como objeto de estudo exatamente a variação, entendendo-a como um princípio geral e universal de ser descrita e analisada cientificamente. Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas por fatores estruturais e sociais. [...] Quando Mollica apresenta a os fatores estruturais e sociais, adentram nessa concepção as diversas maneiras em que a variação é considerada alvo de mudança linguística, pois, a mudança linguística pode acontecer por alguns fatores que a 33 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES determinam, sejam eles fatores históricos, geográficos e culturais, de maneira geral, “fatores sociais”. Nos vários olhares dos linguistas para a língua como fator social, desde o pensamento de Labov, afirmando que “Todo linguista reconhece que a língua é um fato social, mas nem todos dão a mesma ênfase a esse fato” (2008, p. 303), ou seja, todos os linguistas vêem a língua como social, mas, buscam em seus estudos descreverem teorias sobre o que realmente são seus objetos específicos de pesquisa, não demonstrando suas concepções sobre a língua em geral. Partindo do princípio fonológico, a variação linguística é vista de maneira peculiar, e definida a partir de algumas regras imprescindíveis. De acordo com BortoniRicardo (2004, p. 79) “As principais regras fonológicas de variação no português brasileiro ocorrem na posição pós vocálica na sílaba”. A perspectiva fonológica, além de apresentada em um ponto de vista sociolinguístico, também é explicita por Saussure em sua obra, quando o genebriano afirma que a para o estudo da língua acontecer de forma que a escrita seja substituída pelo pensamento, teria que “[...] substituir, de imediato, o artificial pelo natural; isso, porém é impossível enquanto não tenham sido estudados os sons da língua; pois, separadas de seus signos gráficos, eles representam apenas noções vagas [...]” (2006, p. 42). Dessa maneira, percebe-se que para Saussure a variação é inexistente, porém, para chegar nessa definição, o mestre genebriano analisou a língua de forma geral e abrangente, passando e explicando cada aspecto que pode alterar as concepções de vários pesquisadores da área. De modo que uma variação linguística é descoberta no decorrer das pesquisas, a mesma emprega-se ao plural “variável linguística”, assim como apresenta Salomão (2011, p. 191). O conjunto das variantes é denominado “variável linguística”, ou seja, a forma, o traço ou construção linguística que é o próprio fenômeno variável tomado como objeto de estudo pelo investigador. A sociolinguística entende que o emprego das variantes não é aleatório, 34 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES mas influenciado por grupos de fatores de natureza social (internos à língua) ou estrutural (externos à língua) [...] No português brasileiro, as variantes linguísticas são vistas ao comparar-se os modos de utilizar a língua nos dias atuais, com o modo de falar na época do descobrimento. Esse fenômeno não acontece apenas na língua portuguesa, mas, também, em outras línguas, assim como Belline afirma. Em sentido bastante amplo, podemos de início pensar em diferentes línguas que existem no mundo. Falamos português no Brasil. Praticamente com qualquer região de fronteira em que estejamos em nosso país, sabemos que do outro lado falam outra língua – o espanhol. Sabemos também que dentro de nosso país ainda há indígenas que se comunicam, quando estão em suas aldeias, em suas línguas, e não em Português. (BELINE, 2007, p. 121) Dessa maneira, percebe-se que o estudo da língua tem se expandido, pois como afirma Baylon à língua “engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da linguagem em seu contexto social” (1991 apud MONTEIRO, 2000, p. 26). Nesse sentido, destaco alguns avanços históricos que acabaram modificando o modo de falar do português, um deles é a adaptação do modo de falar da civilização na época do descobrimento, onde tendo em vista o domínio de Portugal no Brasil, trazendo com os colonizadores o idioma citado. Apesar da grande influência formal adotada pelos jesuítas, os habitantes do Brasil daquela época foram adotando com suas peculiaridades um português próprio, ou seja, um português brasileiro, que vem sofrendo modificações sociais ao decorrer dos séculos. Levando a visão sociolinguística para o contexto educacional, vale ressaltar que de um modo tradicional de ver a sala de aula em seus dimensionamentos no que diz respeito à relação professor-aluno, a escola é um âmbito formal em que o professor deve ensinar os alunos que ali se situam o modo culto e formal de utilizar a língua. O que alguns desses docentes não têm conhecimento suficiente para entender sobre as 35 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES variações, o que fazem muitos deles descriminarem as mesmas, é que a norma padrão culta da língua já foi alvo da variação. Em uma interface entre a sociolinguística e o ensino de língua portuguesa, faz-se mister destacar que com a ênfase dada pelo professor de língua portuguesa à utilização da norma padrão e/ou culta da língua, acarreta ao âmbito educacional a prática do tão falado preconceito linguístico. Para Bagno (1999, p.40) O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola – gramática - dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada”, feia, estropiada, rudimentar, deficiente, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”. Parafraseando a concepção de Bagno com as informações sociolinguísticas supracitadas no que diz respeito a essa discussão, é viável ressaltar que o preconceito linguístico volta-se constantemente às concepções de língua para Saussure. Ora, se a língua é homogenia e insubstituível, sem nenhuma e qualquer probabilidade de ser modificada, os falantes que a utilizam as variações, automaticamente serão considerados “errôneos” para com esse uso. Essa concepção pode ser considerada preconceituosa ou descriminante, mas, a mesma só é exposta em uma tentativa de exemplificar o que foi explicitado anteriormente. Na medida em que os anos passam e a sociolinguística vai avançando na perspectiva linguística, as concepções atreladas a ela devem ser trabalhadas em sala de aula, expondo aos alunos essa realidade, em uma tentativa de aprimorar o senso crítico dos mesmos, visando mostrar aos falantes da norma não-culta, que os mesmos não estão errados ao utilizá-la. Essa prática seria imprescindível para banir o olhar discriminatório da língua. Assim como afirma Oliveira e Cyranka 36 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES O trabalho reflexivo com a Sociolinguística na sala de aula pode contribuir para reduzir esse olhar discriminatório sobre a língua, que inclusive já é considerado por muitos um pensamento ultrapassado. Trata-se, porém, de um fato real, concreto e vivido na pele por cidadãos que pertencem a camadas menos privilegiadas socioeconomicamente e cuja linguagem é, muitas vezes, considerada inferior, pobre, de baixo nível, assim como também o é a cultura de quem a emprega. (2013, p. 77) Nesse contexto, é válido destacar que alguns dos docentes de língua portuguesa, estão aos poucos dimensionando o que ainda hoje é alvo de preconceito, para uma realização normal dentro dos padrões de fala do português brasileiro. Essa medida acaba sendo tomada, pelo fato de que os professores tiveram uma tomada de consciência ao ver que toda maneira de falar e utilizar a língua, são variações que estão em constante modificação. Visando aprofundar o que já foi citado, viso ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais explicam de forma legitimada por lei para o ensino de língua portuguesa, destaca que os alunos que devem escolher sua própria forma de falar, pois isso diz respeito à escolha de cada indivíduo, isso irá proporcioná-lo um livre arbítrio de adaptar-se às situações comunicativas na sociedade. No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falarem certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-lo saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa... a questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem. (BRASIL, 1998, p. 31). O aluno em seu papel de sujeito apto a escolher sua própria maneira de utilizar sua língua materna, acaba por ter um novo olhar para com a escola, pois, da maneira em 37 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES que o discente ver a escola como um âmbito de aprendizagem e troca satisfatória de conhecimento, onde o professor como agente transformador não vai opinar no seu modo de falar, isto servirá como elemento motivador, e poderá diminuir em grande escala a evasão escolar, que em sua maioria de ocorrências é pela prática de preconceito na escola, ou seja, juízos pré-concebidos ocorridos dentro do âmbito escolar. Os PCNs que em uma visão sociolinguística buscam desmembrar o preconceito linguístico, dessa forma apresentam alguns critérios que merecem destaque por envolverem as linhas teóricas que ancoram esse trabalho. Disseminam que o âmbito escolar deve desenvolver atitudes de: repúdio às injustiças, respeito ao outro e valorização da pluralidade sociocultural, onde para isso devem-se utilizar diversas fontes de informação, diferentes linguagens, e dentre outros. Dessa forma, a linha teórica da sociolinguística variacionista não busca enfrentar brutalmente as concepções de Saussure, mas, visa contribuir significativamente para banir o preconceito linguístico e legitimar em todo mundo que as variações linguísticas são normais, eventuais e aptas à transformações sociais ao longo dos anos. Procedimentos metodológicos da pesquisa Esta pesquisa está inserida na perspectiva educacional da pesquisa sociolinguística, embasando-se no que diz Bortoni-Ricardo, que a variação linguística que conduz ao preconceito linguístico em sala de aula inicia-se quando “[...] o aluno usa flagrantemente uma regra não padrão e o professor intervém, fornecendo a variante padrão, que as duas variedades se justapõe em sala de aula” (2004, p. 37). Nesse sentido, o objetivo dos estudos da sociolinguística educacional é justamente discutir a variação e mudança linguística em sala de aula, destacando desde a tipologia das variações, até o preconceito linguístico praticado contra os falantes das variantes linguísticas de menos prestígio social, principalmente na relação professoraluno. 38 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Dessa maneira, vale ressaltar o trecho em que Tagliamonte destaca que a “[...] sociolinguística variacionista evoluiu ao longo dos últimos quase quatro décadas como uma disciplina que integra os aspectos sociais e linguísticos na língua”. (TAGLIAMONTE, 2006, p. 4, Tradução nossa). Nesse enfoque, percebe-se que da maneira em que a linguística estuda os aspectos sociais e linguísticos da língua, e o âmbito escolar comporta em sua estrutura o professor e o aluno que são alvo principal desse estudo, vê-se que é na escola que os falantes dos vários lugares de determinada região convivem juntos, diante disso, o âmbito escolar é um dos lugares mais prováveis para a criação das variantes linguísticas de qualquer idioma. Vê-se que a “[...] língua falada por qualquer comunidade é passível de variação, portanto a língua é representada por um conjunto de variáveis linguísticas que pode ser expresso por duas ou mais variantes” (OLIVEIRA; SILVA; PAULA, 2013, p. 252), nesse sentido, destaco que as comunidades que adquirem suas variantes estão em constantes modificações, desse modo, as escolas pertinentes a estas comunidades estão aptas a acomodar esses falantes, e com a utilização da sociolinguística educacional, os alunos que utilizam as variações terão consciência de que não falam errado, mas sim, utiliza uma das diversas variações. Diante das concepções citadas no decorrer dessa discussão, proponho analisar as concepções de professores atuantes no primeiro ciclo do ensino básico, mas precisamente na primeira fase do ensino fundamental, onde a presença das variantes linguísticas é mais constante, pelo fato de que os alunos que ali se situam estão na faixa etária máxima de aproximadamente 13 anos, estando nessa fase em um letramento em fase de aprendizagem, em um meio social que possui seu próprio modo de utilizar a língua materna. O desenvolvimento da pesquisa situa-se de maneira direta ou indireta no que diz os PCN’s “Ao professor cabe planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno, procurando garantir aprendizagem efetiva” (BRASIL, 1998, p. 22), tendo essa tarefa tão importante, o professor deve assegurar o aluno de que a escola não é um âmbito de 39 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES nenhuma tipologia de preconceito, muito menos de preconceito linguístico, pois esse não subestima apenas a capacidade daquele aluno de utilizar a língua, mas, também, de toda comunidade falante que convive com aquele indivíduo na sociedade. Dessa maneira ancoro esse pensamento no que diz Perini (1999, p.13) Qualquer falante de português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento. E esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar. A maneira geral, vale ressaltar que todo e qualquer modo que o indivíduo utiliza para se expressar deve ser considerado, pois, o mesmo desde o modo de andar, até o de falar, diz respeito à escolha de cada pessoa. A realidade é que muitas pessoas, independentemente da posição social acredita que a fala não se encaixa no termo “liberdade de expressão”. Esse termo é muito pouco utilizado quando se trata de preconceito linguístico, destaco que isso ocorre pelo mesmo motivo que foi citado anteriormente. Nesse contexto, essa pesquisa visa esclarecer o que os professores tem em mente sobre a utilização das variações em sala de aula. Se é normal? Como eles reagem? E dentre outros questionamentos apresentados na coleta de dados. Dessa maneira, banindo do âmbito escolar a prática de “[...] menosprezar, rebaixar, ridicularizar a língua ou a variedade da língua empregada por um ser humano equivale a menosprezá-lo, rebaixá-lo enquanto ser humano” (BAGNO, 2001, p.36), pretende-se expor que os docentes de atualmente, pelo menos em grande parte, sabem encarar de maneira significativa as variedades linguísticas da língua portuguesa, tendo assim, um conhecimento linguístico suficiente para lidar com os alunos em fase de aprendizagem. 40 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Descrição e análise dos dados O corpus dessa pesquisa é constituído por um questionário que tratava de maneira geral, em saber como os docentes do ensino fundamental vêem as variações linguísticas e encaram com as variantes na fala dos seus alunos. Embasando-se no pensamento de Guy; Zilles, “Outra prática comum é o pesquisador apresentar, também, antes da discussão detalhada dos resultados” (2007, p. 208). Nesse sentido, serão apresentados os gráficos, seguidos de suas devidas descrições. Para a coleta de dados, optou-se por analisar informações oriundas da colaboração de 12 professores efetivos da rede municipal do município de Maribondo – AL, atuantes numa mesma escola de ensino fundamental 1. A escolaridade dos docentes diz respeito a cinco especialistas, quatro graduados e três com magistério (nível médio). Os professores que ainda não possuem graduação estão concluindo seus respectivos cursos. Ambas as formações estão ligadas a questões pedagógicas voltas às séries iniciais do ensino fundamental. O questionário continha cinco perguntas, onde para facilitar a análise de dados eram respondidas apenas por SIM ou NÃO. Para a exposição dos dados coletados, apresento a seguir os resultados em forma de gráficos, acompanhados pelas perguntas feitas aos docentes que contribuíram com a pesquisa. Primeiramente, questiona-se aos docentes da seguinte maneira: Você conhece a teoria linguística que se predispõe a estudar as variações da língua? Após a análise dos dados, constatou-se o seguinte resultado. 41 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES SIM 8% NÃO 92% Percebe-se que como os docentes possuem uma formação muito voltada à história da educação no que diz respeito à educação infantil e o ensino fundamental. Tiveram uma visão básica sobre o ensino de língua portuguesa. Por esse motivo, não entendem a linha teórica de pesquisa sociolinguística. O segundo questionamento foi o seguinte: Ao presenciar um aluno pronunciando uma determinada palavra de forma que não esteja dentro do “padrão” da língua, você o corrige rigorosamente? O gráfico a seguir apresenta os resultados. SIM 25% NÃO 75% Diante dos resultados, percebe-se que alguns professores ainda adotam a maneira tradicional de utilizar a língua, insistindo em que tem que falar “certo”, perante a gramática normativa. Já outros docentes, neste caso a maioria, reage normalmente 42 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES com essa realidade, pois, o nível de instrução e senso crítico está em um patamar mais elevado, fazendo com que o professor saiba disseminar que este modo de utilizar a língua materna, não passa de uma das variantes linguísticas que a língua possui. Embasando-se no que foi discutido sobre a variação linguística no decorrer deste trabalho, questiona-se: Você no seu papel de professor se na obrigação de ensinar aos alunos a utilizar a língua materna, respeitando as diretrizes atribuídas pela gramática normativa? Dessa maneira, os resultados obtidos constam no gráfico abaixo. NÃO 42% SIM 58% Diante disso, percebe-se que os professores dividem suas concepções apesar de trabalharem na mesma instituição, possuem olhares diferentes para suas obrigações na prática docente. Isso acarreta a levar-se a um pensamento positivo nos estudos sociolinguísticos, pois, os professores estão mais passíveis a questão da mudança de concepções acerca da variação linguística em sala de aula. Nesse contexto, buscou-se fazer não somente um questionamento, mas, também, informar os docentes sobre a sociolinguística, da seguinte maneira: A teoria da variação linguística advém da linha sociolinguística, desse modo, busca mostrar aos que se deparam com essa teoria, que as variações não são erradas, mas sim, são particularidades especiais de determinada região. Na região em que a escola que você trabalha está situada, existe algum tipo de variedade linguística própria? 43 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES NÃO 17% SIM 83% Dessa maneira, os professores perceberam que eles próprios podem identificar as variantes linguísticas das suas próprias regiões, isso possibilita que os docentes identifiquem e lidem de maneira mais passiva com as variações linguísticas utilizadas pelos alunos em sala de aula. Por fim, visou-se abranger de uma maneira geral tudo o que foi mencionado, de maneira que os professores não se sintam obrigatoriamente levados a concordar com a concepção do pesquisador. O questionamento foi o seguinte: No ensino de língua portuguesa, onde quase tudo está voltado para o ensino da gramática normativa, a qual condena as variações linguísticas como erradas, e com a grande expansão que as variações estão tendo. É cabível refletir o modo tradicionalista que a gramática normativa expõe em relação às variações? NÃO 0% SIM 100% 44 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Diante do exposto, é válido ressaltar que mediante as poucas perguntas que continham no questionário, os professores acabaram entendendo de maneira mais específica qual é realmente o sentido dos estudos sociolinguísticos. O resultado apontado no gráfico acima apresenta que o entendimento atingiu 100% dos docentes colaboradores, fazendo com que todos concordassem que esses estudos devem ser aprofundados e cada vez mais abrangidos nos estudos da área. Considerações finais Compreendo a linguística como um campo multifacetado, ou seja, abrange diversas linhas dando espaço a constantes novas teorias. Propus nesse artigo, embasando-me nas teorias históricas e atuais da linguística, fazer com que fique claro que na linguística, um estudo, mesmo causador de confronto, complementa a discussão do outro, e assim sucessivamente. Visto que as concepções de Saussure foram expostas no Curso de Linguística Geral há muitos anos, percebo que até hoje essas concepções servem como base para qualquer estudo linguístico, até mesmo para linhas teóricas que diferem e confrontam o que diz respeito às teorias linguísticas Saussurianas. No que diz respeito à Sociolinguística Educacional, percebe-se que a teoria da variação linguística quando posta em prática nas análises das concepções, é viável ressaltar que não tem âmbito mais proveitoso para a realização de tal pesquisa sociolinguística, do que a escola. É nesse âmbito que diversas variações linguísticas caminham juntas, lugar onde pessoas de comunidades diferentes trocam conhecimentos e aprendem juntas o que é passado pelo docente em sala de aula. Dessa maneira, cabe ao professor ter um olhar mais sensível para essa realidade, e a partir daí, modificar a realidade linguística brasileira. 45 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Por isso, foi realizada a referida pesquisa, pois, os conceitos de que os pensamentos dos professores atuais são diferentes precisam ser mostrados em prática, e na prática, é possível ter resultados satisfatórios e eficazes, mostrando que toda a teoria quando posta em prática é verídica. Neste sentido, perseverando novos estudos na sociolinguística educacional, viso destacar que a linguística é um mundo, um mundo abrangente e aberto para novas pesquisas, novos olhares, e novas perspectivas, e a sociolinguística está aí, pronta para ser desbravada cada vez mais. Referências BAGNO, Marcos. 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