DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA
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DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA (Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS Anita Schmidek Orientador: Prof. Dr. Kleber T. de Resende Prof. Ariosvaldo N. Medeiros JABOTICABAL –SP 10 Semestre – 1999 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA (Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS Anita Schmidek Orientador: Prof. Dr. Kleber T. de Resende Prof. Ariosvaldo N. Medeiros Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP, Campus de Jaboticabal, para graduação em ZOOTECNIA. JABOTICABAL –SP 10 Semestre – 1999 3 DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Título do trabalho: DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA (Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS . Autora: Anita Schmidek Orientadores: Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende Prof. Ariosvaldo Nunes Medeiros Número de Créditos: Aprovado e corrigido de acordo com a Banca Examinadora. Banca Examinadora: __________________________________ Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende - Orientador - _______________________________ Prof. Ariosvaldo N. Medeiros - Membro da Banca - _____________________________ Prof. Dr. Roque Takahashi - Membro da Banca - Data da realização: Aprovado em Reunião do Conselho do Departamento de Zootecnia em / / . _________________________________________ Prof. Dr. - Chefe do Depto. de Zootecnia- 4 ÍNDICE ágina 1. INTRODUÇÃO............................................................................... 6 2. REVISÃO DE LITERATURA.......................................................... 9 2.1 Características gerais e produtivas da amoreira........................ 9 2.2 Composição química da amoreira.............................................. 11 2.3 Particularidades na utilização da amoreira................................ 15 2.4 Otimização no uso da amoreira................................................. 18 2.5 Valor nutricional da amoreira..................................................... 21 2.6 Fatores que interferem na estimativa da degradação da amoreira..................................................................................... 22 2.7 Degradabilidade da amoreira.................................................... 23 3. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 28 3.1 Local.......................................................................................... 28 3.2 Animais e manejo...................................................................... 29 3.3 Dieta e tratamentos................................................................... 29 3.4 Cultivo, corte e preparação do feno da amoreira...................... 30 3.5 Material incubado...................................................................... 31 3.6 Período pré-experimental.......................................................... 31 3.7 Procedimentos para incubação................................................. 31 3.8 Análises laboratoriais................................................................ 33 3.9 Equações e parâmetros avaliados............................................ 33 5 3.10 Análise estatísticas e delineamento experimental................... 34 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................... 36 4.1 Composição química e bromatológica...................................... 36 4.2 Degradabilidade das frações..................................................... 42 4.2.1 Degradabilidade da matéria seca......................................... 42 4.2.2 Degradabilidade da proteína bruta....................................... 48 4.2.3 Degradabilidade da fibra em detergente neutro................... 54 5.CONCLUSÕES............................................................................... 60 6. RESUMO........................................................................................ 62 7.SUMMARY...................................................................................... 63 8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................... 65 6 1. INTRODUÇÃO Com as mudanças ocorridas nas últimas décadas, o setor agropecuário tem procurado cada vez mais otimizar a produção, o que se consegue à medida que se reduz o seu tempo e custo. Porém, para se obter uma maior produtividade, em especial no sistema pecuário, há necessidade de se oferecer aos animais alimentos de alta qualidade, o que, de modo geral, implica em altos custos. No intuito de minimizar estes problemas, buscam-se alternativas, sendo uma delas a pesquisa de novas fontes alimentares. Neste sentido, nos últimos anos, vêm-se desenvolvendo pesquisas na FCAV-UNESP, com o objetivo de estudar a possibilidade de utilização da amoreira (Morus alba L.), como fonte alimentar para caprinos, em virtude de seu bom valor nutricional, com elevado teor protéico e baixo custo, visto que tem grande produção de massa verde (5 ton. de folhas/ha/corte (Takahashi 7 1984, citado por SABINO JUNIOR et al., 1997), podendo-se efetuar vários cortes ao longo do ano (a cada 3 meses) e excelente aceitabilidade pelos animais. Aliado a isto, a amoreira ainda se caracteriza por ser uma planta rústica, perene, precoce, vegetando bem em quase todos os tipos de solo, exceto os alagadiços. Outra grande vantagem, é o fato de apresentar alta produção por todo o ano, inclusive na época seca do ano (SABINO JUNIOR et al., 1997), sendo este um dos principais problemas da maioria das forrageiras utilizadas na pecuária nacional. Torna-se imperativo estudar o valor nutritivo dos diversos cultivares de amoreira, desde a sua composição em nutrientes até a sua degradação. A estimativa da degradabilidade possibilita determinar a velocidade de degradação da proteína de forragens e de suplementos protéicos. Com este método, um número variável de bolsas é incubado no rúmen durante diferentes períodos de tempo, de tal forma que se possibilita conhecer o ritmo de degradação, através da taxa de desaparecimento do material incubado em função do tempo (ORSKOV, 1988). Com relação aos animais alvo do presente estudo, os caprinos, são pequenos ruminantes, que apresentam uma grande flexibilidade alimentar, tendo preferência por consumir dicotiledôneas herbáceas, brotos e folhas de árvores e arbustos, diferenciando-se de outros ruminantes domésticos, que têm preferência por gramíneas. O objetivo do presente trabalho foi determinar, a partir do valor nutritivo dos cultivares Miura (M), FM Shima Miura (SH) e FM 86 (FM), a degradação ruminal da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro 8 (FDN), através da técnica da degradabilidade in situ, e assim avaliar a eficiência de utilização dos cultivares de amoreira. 9 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Características gerais e produtivas da amoreira Segundo TAKAHASHI (1988), a amoreira pertence à família Moraceae, ao gênero Morus e compreende as seguintes espécies: Morus alba L, Morus lhou Koidz, Morus bombycis Koidz, Morus nigra L. e Morus rubra L., das quais destaca-se principalmente a primeira, conhecida também como amoreira branca. É classificada como sendo uma planta perene, rústica, com facilidade de adaptação a diversos tipos de solos, preferindo os mais férteis, aerados e com pH em torno de 6,5. Suas raízes atingem profundidades consideráveis, alcançando água em camadas subsuperficiais, mesmo na estação seca, permitindo que sua produção não sofra decréscimo acentuado nessa época do 10 ano. Estudo realizado por CARNAZ (1992) estimou a produção da amoreira da ordem de 60% no período das águas e 40% no período das secas, demonstrando uma superioridade de produção quanto ao período seco em comparação com a maior parte das plantas forrageiras conhecidas. Dentre os diversos cultivares existentes no Brasil, destacam-se entre as mais cultivadas a variedade Miura e os híbridos FM 86 e Shima Miura. Suas principais características, segundo BRAZÃO (1992), além de apresentarem precocidade vegetativa, folhas de boa qualidade, e propagação por estaquia, são: Miura – Considerada como uma das melhores variedades entre as cultivadas. A inclusão desta como variedade é justificada pelo fato de sua utilização como planta feminina na constituição dos híbridos estudados. FM 86 – Cruzamento efetuado em Bastos - SP em 1976, selecionando entre 360 descendentes, provenientes de um cruzamento entre as variedades Nezumigaezi (masculina) e Miura (feminina). Shima Miura – Cruzamento efetuado em São José do Rio Preto - SP em 1984, selecionando entre 150 descendentes, proveniente de um cruzamento entre as variedades Shimaguwa (masculina) e Miura (feminina). BAFFI (1992), utilizando o cultivar Yamada em 4 diferentes idades de crescimento (45, 60, 75 e 90 dias), concluiu que a maior produção de MS e MS digestível da folha se verificava aos 90 dias de crescimento, e estimou a produção anual como 8,3 ton de MS de caule e folhas/ ha/ ano, e chegou à conclusão de que, pelo fato da amoreira apresentar alto teor de proteína e alta produção de MS, quando comparado com leguminosas, além da ótima 11 aceitabilidade pelos caprinos, constitui excelente alternativa de volumoso para estes. BRAZÃO (1992), estimou a produção de MS em idades de crescimento de 45 e 90 dias para os cultivares FM86 e Shima Miura e obteve, respectivamente, 2,70 e 7,05 ton / ha/ ano e 3,52 e 6,22 ton/ ha/ ano de MS nas folhas para as referidas idades. HARA (1993) estimou a produção anual de 5 cultivares de amoreira (Korin, Calabresa, FM 86, Shima Miura e Miura) em 4 idades de crescimento (45, 60, 75 e 90 dias), comparando a produção nas águas e na seca e concluiu que, quando comparado com as leguminosas, os cultivares estudados apresentaram alta produção anual de MS. O cultivar Shima Miura obteve superioridade significativa para produção de MS, mas para porcentagem de PB nas folhas, não foram encontradas diferenças significativas. Porém, levando em conta a maior produção de MS, este cultivar também deve apresentar uma maior produção de PB, em quantidade. 2.2 Composição química da amoreira Na análise bromatológica dos alimentos, a MS é desdobrada em Cinzas e MO, esta, dividida em PB, EE, FB e ENN. Entretanto, modernamente preferese desdobrar a MO das forrageiras destinadas à alimentação dos ruminantes em parede celular e conteúdo celular (CC). A primeira fração representa a fração fibrosa e menos digestível, sendo constituída de celulose, hemicelulose, lignina e cutina, enquanto o CC, incluindo açúcares, lipídeos e vitaminas são 12 consideradas como 100% digestível (GOMIDE e QUEIROZ, 1993). Outra alteração diz respeito à fração FB, que hoje em dia é menos utilizada em análises bromatológicas e químicas que a fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), bem como as frações celulose, hemicelulose e lignina. A FDN compreende as frações celulose, hemicelulose, lignina e N-FDN, e a FDA, celulose, lignina e N-FDA. As leguminosas, assim como a amoreira (Morus alba L.), distinguem-se das gramíneas por apresentarem maiores teores de PB e Ca, menores valores de parede celular, bem como menos intensa variação em sua composição química e digestibilidade com o avanço de seu estádio de desenvolvimento (GOMIDE e QUEIROZ, 1993). Outra vantagem da amoreira, conforme estudo de BASAGLIA (1993), é que, ao contrário de outras forrageiras, onde, com o avançar da idade, ocorre uma diminuição no coeficiente de digestibilidade, resultado do aumento do teor de carboidratos estruturais (CE) que influenciam negativamente a eficiência de utilização dos alimentos, com a amoreira não ocorreu aumento tão grande dos CE, nem redução das frações mais digestíveis, e assim não houve queda tão acentuada na digestibilidade da MS. Para a digestibilidade da PB, apesar de reportada queda com o avançar da idade, em função do maior teor de constituintes da parede celular, esta não foi tão acentuada, como em outras espécies forrageiras, pois seus teores de fibra não se elevam tanto com o avançar da idade. Foi encontrado, também, valor biológico alto (média de 13 99,85) para a proteína, indicando um balanceamento satisfatório da proteína da amoreira em termos de aminoácidos. BRAZÃO (1992), avaliando a curva de crescimento de 5 cultivares de amoreira em 2 períodos, concluiu que a maior porcentagem de MS era obtida com o corte aos 90 dias. BAFFI (1992), avaliando a composição de folhas do cultivar Yamada, aos 90 dias, encontrou as porcentagens de MS, PB, digestibilidade in vitro da MS e da PB, como sendo 23,80%, 22,85%, 78,90% e 85,96%, respectivamente. Estudando a composição bromatológica de diversos cultivares de amoreira, BRAZÃO (1992) verificou acréscimo no teor de MS e FDN e diminuição no teor de PB com o crescimento da planta, verificando diferenças significativas quanto ao percentual de PB e FDN entre os cultivares, e maior produção de MS de folhas e caule para Shima Miura quando comparado às demais. Avaliando a composição das folhas aos 90 dias, obteve como média dos dois períodos, para os cultivares Miura, Shima Miura e FM86, respectivamente, 25,88%, 23,61% e 23,53% de MS; 24,26%, 22,97% e 22,71% de PB; e 27,69%, 27,63% e 29,27% de FDN. Com relação à composição bromatológica do cultivar Yamada, MAGÁRIO (1993) encontrou os seguintes valores médios para fração folha: 23% MS, 24,2% PB, 30,4% FDN, 10,8% Matéria mineral (Mm). Entretanto, DESHMUKH et al. (1993), em trabalho com coelhos, concluíram que o melhor cultivar, em relação à produção total de MS foi o híbrido Shima Miura. 14 Avaliando os cultivares de amoreira Shima Miura e FM86 para uso por caprinos, DORIGAN (1993), obteve, para a fração folha aos 90 dias, respectivamente, 22,06% e 21,09% de PB; 22,19% e 25,11% de FDN; 18,97% e 18,62% de FDA; e 69,79% e 72,29% de coeficiente de digestibilidade (CD) da PB. BASAGLIA (1993), comparando também os cultivares Shima Miura e FM86, para a mesma espécie, obteve a seguinte composição, para folhas aos 90 dias: 70,83% e 71,38% de MS digestível, 22,60% e 21,09% de PB, 15,05% e 13,33% de PD, 15,05% e 13,31% de PM, 70,83% e 71,38% de CDMS, e 75,60% e 71,54% de CDPB, respectivamente. HARA (1993), em trabalho que comparou diversos cultivares de amoreira, em dois períodos (águas e seca), obteve para a fração folha aos 90 dias, respectivamente para os cultivares Miura, Shima Miura e FM86, 23,85%, 21,89% e 22,31% de MS; 26,59%, 24,80%, 24,92% de PB; 67,96%, 70,49% e 70,24% de CDMS; e 61,12%, 61,38%; e 61,07% de CDPB. Estudando a composição química da amoreira e seu valor nutricional para ovinos, na Itália, CASOLI et al. (1986) obtiveram os seguintes valores, para MO 83,38%, PB 9,51%, FB 10,86%, CDMS 60,35%, CDPB 56,96%, CDFB 64,27% e ED 10,58MJ/ kg. Em trabalho sobre a utilização de folhas de amoreira como único alimento para coelhos adultos, DESHMUKH et al. (1993) obtiveram a seguinte composição bromatológica: 22,13% PB; 5,9% FB; 36,35% FDN; 31,52% FDA; e 3,9% EE e concluíram que as folhas forneceram nutrientes suficientes à manutenção. 15 Comparando o valor nutritivo do feno de soja perene (Glicyne wrighti Verdec) e amoreira, CARREGAL e TAKAHASHI (1983) chegaram à conclusão que o feno de amoreira tem valor nutritivo superior ao feno de soja. Machado 1989, citado por SABINO JUNIOR (1996), avaliando o valor alimentício das folhas de amoreira, realizou análises comparativas e verificou que esta fração da planta contém maior quantidade de proteína, o dobro de hidratos de carbono, mais elementos minerais e menos celulose do que a folha de alfafa. A análise dos dados revelou que a amoreira, quando comparada com outras plantas forrageiras (alfafa, soja e erva de pasto), apresentou superioridade em tudo aquilo que constitui fração digestível, com menor teor de frações menos aproveitáveis, como a celulose, por exemplo. Segundo DORIGAN (1993), avaliando os cultivares FM86 e Shima Miura, estas sofreram pequeno decréscimo no conteúdo celular e somente pequena elevação da fração fibrosa com o desenvolvimento, quando comparado com guandu, soja perene e aveia. 2.3 Particularidades na utilização da amoreira Quando analisa-se a amoreira sob seu aspecto químico e de degradabilidade, vê-se que possui altas proporções protéicas, que por sua vez possuem alta degradabilidade. Estes são pontos muito positivos. Porém, há outros pontos que influenciam no aproveitamento do alimento pelo animal, como por exemplo a disponibilidade de carboidratos da dieta, a relação 16 energia: proteína dos alimentos, bem como fatores antinutricionais. Estes pontos, entre outros, serão comentados a seguir. Mc Donald 1948, citado por BATISTA (1996) verificou que a maior parte da proteína do alimento era convertida em amônia no rúmen e que a quantidade de amônia ali produzida dependia da proteína ingerida e dos carboidratos disponíveis. De acordo com ANDRIGUETTO et al. (1983), a intensidade de produção de proteínas microbianas, a nível de rúmen, está estreitamente ligada à degradação das mesmas pelos microorganismos. Segundo Cotta e Hespell 1986, citados por TEIXEIRA (1996), o principal destino dos aminoácidos derivados da degradação da proteína no rúmen parece ser a fermentação a AGVs, CO2, NH4 e CH4. Segundo BATISTA (1996), a eficiência de síntese microbiana em ovinos apresenta-se bem variável e é afetada principalmente pela quantidade de energia e compostos nitrogenados dos alimentos ou dietas. Os microorganismos ruminais sintetizam suas proteínas a partir da amônia e dos aminoácidos liberados no rúmen pela degradação da proteína dietética e da amônia salivar. De acordo com BATISTA (1996), em animais de alta produção, nos quais as necessidades protéicas são altas, parte da proteína dietética pode ser perdida, se houver excessiva degradação desta no rúmen. Além do nitrogênio disponível, o fator mais importante a afetar o crescimento microbiano é a quantidade de MO fermentável. Deste modo, a relação energia: proteína é extremamente importante para o metabolismo 17 microbiano, não somente no aspecto quantitativo, mas, principalmente, na interação entre a taxa de degradação da proteína e da energia. Tanto em estudos in vitro como in vivo têm-se verificado aumento na eficiência de síntese microbiana com aumento na taxa de passagem de líquidos e sólidos. De acordo com TEIXEIRA (1996), a síntese de proteína microbiana ocorre em ambiente claramente limitado pela energia. Isto pode ser crítico no caso de uma alimentação exclusiva de amoreira, visto que tem, de acordo com a literatura, proporções inadequadas de energia, ainda mais levando-se em conta que grande parte da proteína do alimento (que no caso da amoreira é bastante elevada) é convertida em amônia, e que sua utilização está relacionada ao nível de energia e de carboidratos da dieta. A carência de amônia no rúmen pode limitar o crescimento microbiano, mas quando a taxa de produção de amônia excede às necessidades microbianas, o excesso é absorvido através do epitélio ruminal, indo, via sangue, ao fígado, onde é convertido em uréia. Uma fração desta pode ser reciclada, voltando ao rúmen através da saliva, sendo que a maior parte é usualmente perdida através da urina. ANDRIGUETTO et al. (1983) descrevem os efeitos resultantes de um excesso de proteínas, afirmando que a administração de rações que contenham altas proporções de proteína, além de acarretar em uma sobrecarga ao fígado e rins, que necessitam eliminar o nitrogênio em excesso, já que este excesso não poderá ser armazenado, não trazem aumentos na produção que justifiquem a sua economicidade. Este fenômeno também é 18 descrito por TEIXEIRA (1996), afirmando que o excesso de nitrogênio não protéico, ou proteína altamente solúvel (como parece ser o caso da amoreira) pode produzir toxicidade por amônia. Segundo VALADARES et al. (1997), a amônia, originada principalmente da fermentação do alimento no rúmen, de células lisadas e da uréia reciclada e dietética, penetra na célula microbiana por difusão passiva. A absorção da amônia através da parede do rúmen é a rota principal para a amônia que não é assimilada pelos microorganismos (citado por NOLAN, 1993). Uma das formas de se verificar um excesso de proteína, segundo VALADARES et al. (1997), seria o acompanhamento do nível plasmático de uréia, que mostrou afetar linearmente este parâmetro, onde, no caso de novilhos, o limite a partir do qual estariam ocorrendo perdas de N estaria entre 13,5 e 15,5 mg N-uréia/ dl de plasma. Além disso, parece haver a presença de fatores antinutricionais na amoreira, que ainda não foram identificados. Este efeito foi observado em caprinos alimentados com dietas compostas exclusivamente ou com altas proporções de amoreira, porém, faltam estudos mais aprofundados sobre o tema (SABINO JR., 1996). 2.4 Otimização no uso da amoreira Segundo TEIXEIRA (1996), em trabalho com ovinos, muito da proteína ingerida pelos mesmos é degradada no rúmen por ação dos microorganismos ali presentes, gerando grandes quantidades de amônia. Parte desta é utilizada 19 para a síntese microbiana, mas uma grande proporção é, usualmente, perdida. Estas perdas podem ser minimizadas, se a taxa de fermentação dos carboidratos degradáveis no rúmen for devidamente sincronizada com a taxa de degradação da proteína. Além disto, a energia fornecida pelos glicídios (açúcares, amidos, celuloses, gomas e substâncias afins), uma vez degradados no rúmen, pode apresentar perdas, principalmente pelos gases produzidos, onde 6 a 8 % da EB (energia bruta) é perdida na forma de metano, como descrito por ANDRIGUETTO et al. (1983). A otimização do nitrogênio dietético pelos ruminantes inicia com a formulação da dieta, especialmente visando sua composição em termos de nitrogênio, energia e outros nutrientes, além do comportamento da dieta no trato digestivo do animal. Um exemplo muito didático é apresentado por TEIXEIRA (1996), adaptado de Russel (1992): 20 Exemplo hipotético mostrando o impacto potencial das taxas de fermentação de carboidratos e proteínas, sobre as perdas de amônia. Item A B C Prot. dietética/proteína + carboidratos (%)a 14 14 14 Taxa de diluição (%/h)b 10 10 10 Taxa de degradação de carboidratos (%/h) 10 25 10 Taxa de degradação de proteína (%/h) 40 40 5 Proteína ruminal/carboidratos (%)c 21 15 5 Perdas proteína ruminal (%)d 27 5 2 a Baseado na matéria orgânica potencialmente digestível no rúmen. Não inclui gordura ou cinzas. b Assume uma taxa de diluição geral de 10% e não separa sólidos e líquido. c Relação de proteína para carboidratos que são segregados no rúmen. d Assume que todo excesso de proteína (acima de 14%) foi convertido em amônia. No caso A, a dieta contém 14 % de proteína bruta, mas a fração protéica apresenta uma taxa de degradação muito mais rápida que a fração carboidrato. Com base nas taxas de diluição e de degradação ruminal, 21 % de MO degradada no rúmen pode ser proteína. Uma vez que este percentual excede às necessidades e nitrogênio da microflora ruminal (14 % de MO fermentáveis na forma de proteína), grandes quantidades de amônia acumulam-se no rúmen. Então, mesmo que a dieta pareça adequada em proteína dietética (14 %), o animal estará deficiente em aminoácidos. No caso B, a dieta também contém 14 % de proteína, mas a taxa de fermentação dos carboidratos é consideravelmente mais rápida (25 %/h versus 10%/h). Uma grande fração da proteína dietética é ainda degradada no rúmen, sendo que neste caso muito do nitrogênio é utilizado na síntese de proteína microbiana e as perdas ruminais de amônia são grandemente reduzidas (somente 5 %). No caso C, a taxa de fermentação dos carboidratos é lenta, mas uma fonte de 21 proteína de degradação lenta foi melhor balanceada e somente uma pequena fração da proteína é perdida como amônia ruminal. A relação energia: proteína pode ser alterada pelo tipo de carboidrato ou pela proporção de concentrado da dieta (Hart e Orskov 1979, citado por BATISTA, 1996). Estas correções em termos de concentrados na dieta, também foram sugeridos por outros autores, como VASCONCELOS (1994). 2.5 Valor nutricional da amoreira PRASAD e REDDY (1991) avaliando o valor nutritivo de folhas de amoreira para ovinos e caprinos, obtiveram ingestão de MS da ordem de 3,55% do peso vivo para caprinos, correspondendo a 146% do requerimento, além disso, digestibilidade da PB e FB, e o balanço de N foram significativamente superiores para os caprinos, com 12,23% PB digestível e 70% de NDT. GONZALES et al. (1996), comparando o ganho em peso de bovinos de corte recebendo silagem de amoreira e folhas frescas da mesma como suplemento à dieta básica, somente Pennisetum purpureum, observaram um ganho de peso maior (601 vs. 117 g/ animal com silagem e 954 vs 39 g/ animal com folhas frescas), bem como maior ingestão de matéria seca (IMS) para a primeira dieta, e concluíram que amoreira fresca é um bom alimento para o gado de produção e que sua silagem pode seguramente ser utilizada na época seca do ano. 22 Trabalhando com ovinos, RAO et al. (1996) avaliaram 2 dietas isonitrogênicas, ambas com 40% de folhas secas de “neem” (Azadirachta indica) ou amoreira, e concluíram que, com exceção do EE, a digestibilidade dos outros nutrientes foi maior para a amoreira, o que resultou numa maior ingestão (P< 0,05) de NDT, utilização de N e valor nutritivo do alimento. PRASAD et al. (1995), avaliando o efeito da suplementação de feno de amoreira para ovelhas gestantes, utilizaram 3 dietas: sorgo picado ad libtum + 350g concentrado; palha de sorgo e feno de amoreira picados (2:1) + 250g concentrado; e palha de sorgo e feno de amoreira picados (1:1) + 100g concentrado, de modo a atender o requerimento protéico, e concluíram que a IMS foi comparável para todas as dietas e que a digestibilidade dos nutrientes foi semelhante exceto para EE, que decresceu (P<0,01) como aumento da porcentagem de feno de amoreira. O peso ao nascer dos cordeiros dos três grupos também foi semelhante. 2.6 Fatores que interferem na estimativa da degradação da amoreira No estudo da degradação dos alimentos, algumas variáveis podem interferir na degradabilidade e na estimação da mesma, como por exemplo a variação individual na capacidade de degradação dos alimentos (efeito animal), a alimentação utilizada pelo animal (nível de fibra e de concentrado), o tipo de alimento a ser avaliado (velocidade de degradação, porcentagem solúvel), a taxa de passagem do alimento (kp), o nível de produção animal, o 23 tamanho dos poros do saco, tamanho do saco, quantidade de amostras utilizadas, intervalos de tempo utilizados. Segundo ORSKOV (1988), há algumas recomendações, visando minimizar os efeitos citados acima, que se referem ao material dos sacos (devendo ser de fibra sintética – totalmente resistente à degradação microbiana), tamanho da malha do tecido (20 a 40 µm), tamanho da bolsa (aproximadamente 14 x 9 cm) e quantidade de amostra (3 a 5 g de MS). 2.7 Degradabilidade da amoreira A degradabilidade é uma forma indireta de se avaliar a digestibilidade in vivo dos alimentos, sendo uma das mensurações mais condizentes com a realidade, em comparação com as técnicas existentes. Nesta técnica, utilizam-se animais fistulados no rúmen, portando cânula, onde são introduzidas bolsas de nylon com o material a ser avaliado e deixadas por períodos de tempo pré determinados. Com as bolsas de nylon se mede o desaparecimento do alimento, e se supõe que este desaparecimento seja sinônimo de degradação (ORSKOV, 1988). MAKKAR et al. (1989) em trabalho sobre a relação da degradabilidade ruminal com colonização microbiana, constituintes de parede celular e níveis de tanino em folhas de 10 espécies arbóreas, entre elas a amoreira, observaram que a degradabilidade dela foi a segunda mais alta (perda de MS = 0,71) e que seu nível de tanino era baixo (4,00mg/ g). 24 WEAKLEY et al. (1983)verificaram, em vacas recebendo rações com 25, 40, 60 ou 80%de feno de alfafa, uma maior degradação do farelo de soja, quando a ração era composta de 80% de feno, indicando um sinergismo entre o alimento volumoso e o concentrado, fator este que pode levar à alterações em valores de degradabilidade. Estes autores sugerem que, além do efeito sobre a população microbiana no rúmen, fatores físicos associados à dieta contribuem para aumentar a degradação , quando a mesma contém alta porcentagem de volumoso. A estimativa da degradabilidade pode ser subdividida em degradabilidade potencial (DP) e efetiva (DE), sendo a primeira a degradabilidade máxima alcançada pelo alimento ao permanecer no rúmen por determinado período de tempo, levando em conta uma fração rapidamente solúvel ( “A” ) e outra degradável ao longo do tempo ( “B” ), que é dependente de “c”, constante do ritmo (taxa) de degradação microbiana, que esta fração será degradada por hora, podendo ser estimada através da fórmula: DP = a + b (1 –e-ct) A efetiva, além destas frações, leva também em conta o percurso normal do alimento pelo trato gastrointestinal (taxa de passagem), e pode ser estimada pela seguinte fórmula: DE = a+ (bc) / (c+k), onde k é a taxa de passagem do alimento contido no rúmen, que é dependente do nível de produção animal, da ingestão voluntária de MS, do teor de fibra e do tamanho das partículas do alimento, (ORSKOV, 1988). O consumo voluntário de MS, segundo Van Soest 1965, 25 citado por GOMIDE e QUEIROZ (1993), para forrageiras, guarda estreita e positiva relação com sua digestibilidade e teor protéico do alimento. O conhecimento da degradabilidade efetiva e da taxa de degradação dos alimentos utilizados, aliado a dados de composição química, permitem o cálculo de uma ração mais adequada. Para a fração proteína de determinado alimento, conhecendo-se sua degradabilidade no rúmen, permite formular rações na base de proteína degradada no rúmen (PDR) e proteína não degradada no rúmen (PNDR), que atendem às exigências de compostos nitrogenados dos microorganismos e do animal, podendo deste modo proporcionar uma produção mais eficiente. SINGH et al. (1989) determinaram a degradação ruminal da amoreira pelo método in situ, obtendo os valores 49,4% para degradação efetiva e 0,044 para taxa de degradação, utilizando plantas em estágio vegetativo bastante avançado. LORENZI et al. (1992), comparando diferentes técnicas para avaliação da digestibilidade da MS e MO concluíram que na técnica in situ constatou-se boa repetibilidade entre os animais fistulados, que a repetibilidade da técnica in situ foi satisfatória, e o período de fermentação no rúmen de 48 horas foi o mais indicado para o estudo da digestibilidade da MS e MO. Os valores de digestibilidade in situ apresentaram altas correlações com a digestibilidade in vitro, permitindo razoável estimativa da digestibilidade da MS e MO. Avaliando taxas de desaparecimento para forragens, o percentual de N residual e MS, às 2, 12, 24, 36 e 48 horas de incubação, utilizando a técnica in situ em ovinos, NOCEK et al., (1979) encontraram que as taxas de 26 desaparecimento de 2 horas variaram de 0,279 a 0,029 para N e de 0,259 a 0,023 para MS. Estes autores consideraram também, a possibilidade de uma ação abrasiva entre o material fibroso da digesta ruminal com a superfície do saco. Esta ação abrasiva, associada aos movimentos dos sacos, sob pressão, agiriam na desobstrução contínua do material acumulado nos poros, constituído de partículas do conteúdo fibroso e de limo bacteriano. VASCONCELOS (1994), avaliando a degradação ruminal in situ da MS, PB e FDN de dois cultivares de amoreira (FM Shima Miura e FM 86), em duas idades de corte (45 e 90 dias) e em 6 tempos de incubação (0, 6, 12, 24, 36 e 48 horas) no rúmen, encontrou que tanto para MS como a PB e FDN, a taxa de degradação foi elevada. Esta taxa, tanto potencial como efetiva, para MS e PB, não diferiu significativamente entre os cultivares. Encontrou os seguintes valores para degradabilidades potencial e efetiva, respectivamente: 92,01 e 73,6% para MS, 96,7 e 71,1% para PB não estimando para FDN. Para MS, a degradação às 6 e 12 horas foi de 58,4 e 78,1%, respectivamente, correspondendo a 67,76 e 86,77% da degradação total. Para a PB, a influência do tempo de incubação na degradação ocorreu apenas nas primeiras 24 horas de incubação. Os valores de degradação às 6 e 12 horas de incubação foram 44,4 e 72,8%, respectivamente, correspondendo a 52,32 e 80,56% da degradação total. Para FDN, verificou diferenças significativas na degradabilidade, entre os cultivares, com maior valor para o cultivar FM 86. As degradações da FDN às 6 e 24 horas foram de 28,5 e 52,6%, representando, respectivamente 39,47 e 82,87% do total degradado. Concluiu que os 27 cultivares de amoreira estudados foram rapidamente degradados no rúmen e apresentaram elevada taxa de degradação ruminal da MS, PB e FDN. HARA (1993) e BASAGLIA (1993) também não verificaram diferenças significativas na digestibilidade da PB de cultivares de amoreira, usando métodos in vitro e in vivo, respectivamente. WEAKELEY et al.. (1983) verificaram, em vacas que receberam rações com 25, 40, 60, ou 80% de feno de alfafa, uma maior degradação do farelo de soja, quando a ração era composta de 80% de feno, indicando um sinergismo entre o alimento volumoso e o concentrado, fator este que pode levar ‘a alteração em valores de degradabilidade. Estes autores sugerem que, além do efeito sobre a população microbiana no rúmen, fatores físicos associados à dieta contribuem para aumentar a degradação, quando a mesma contém alta porcentagem de volumoso. Os dados apresentados neste item podem ser encontrados na Tabela A1 e A2 do Apêndice. 28 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Local O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal – UNESP. A Universidade encontra-se à altitude de 614 m, latitude -48017’9,3” e longitude -21014’4,9”, apresentando clima subtropical, temperatura média anual de 200C e precipitação pluviométrica média anual de 1400 mm. 29 3.2 Animais e manejo Foram utilizados 5 caprinos da raça Saanen, machos, castrados, com média de 65 Kg de peso vivo e 2 anos de idade, portando cânula ruminal. Os animais foram mantidos em regime de confinamento, em baia coletiva, com dimensões de 7,5 x 4 m, ripado com cobertura de 2,5 x 4 m e solário cimentado de 5 x 4 m, possuindo cocho e bebedouro. Foi realizada a everminação dos animais, aplicação de vitamina ADE (3 ml/ animal) e casqueamento. 3.3 Dieta e tratamentos A alimentação foi dividida em 2 refeições diárias, às 8:00 e 16:00 h, consistindo de 300 g de concentrado protéico mineralizado, fenos de Tifton-86 e de amoreira e água, ad libitum, cujas composições médias encontram-se na Tabela 1. Tabela 1 – Composição química da dieta experimental, com base na Matéria Seca. MS (%) PB (%) FDN (%) MO (%) Cinzas (%) Concentrado 87,62 21,21 24,58 91,56 8,44 Feno Tifton 85,18 9,61 85,61 92,19 7,81 Feno Amoreira 69,53 15,61 39,11 90,62 9,38 O concentrado apresentava a seguinte composição, em termos de ingredientes: 30 No presente trabalho foram utilizadas a variedade Miura e os híbridos FM 86 e Shima Miura, caracterizando três tratamentos. 3.4 Cultivo, corte e preparação do feno da amoreira As amoreiras utilizadas para o experimento tinham 9 anos de implantação, plantadas em espaçamento de 3 m entre linhas e 0,6 m entre plantas. Foi realizado um corte de uniformização no amoreiral em outubro de 1997. Após 90 dias realizou-se a colheita dos ramos de amoreira. Coletados os ramos, procedeu-se à desfolhagem, de onde se aproveitou as folhas (limbo e pecíolo) e a parte apical da planta, sendo em seguida embalados em sacos plásticos e acondicionados em refrigerador, para posterior incubação. Para a confecção do feno de amoreira utilizaram-se ramas de amoreira com 90 dias de crescimento. Triturou-se as ramas em picadeira de forragens, sendo o material (folhas e caule), em seguida, colocado sobre lona plástica, espalhado e deixado ao sol para secar, sendo revirado periodicamente, para que não houvesse fermentação do material. Ao final do dia, ou quando havia chuva, o material era recolhido para galpão coberto, sendo colocado para secar novamente no dia seguinte. Este procedimento foi repetido por 5 dias, quando o mesmo encontrava-se seco, sendo então ensacado. 31 3.5 Material incubado O material a ser incubado foi inicialmente macerado com maçante de madeira, a fim de aproximar as características do material experimental com o que seria ingerido pelo animal, após ter passado por mastigação, sobre lona plástica, tendo-se o cuidado de evitar perdas de conteúdo celular. A aparência do mesmo era de um verde bem escuro, formando uma massa uniforme que permanecia agregada, sem haver presença de líquido. O tamanho das partículas era de cerca de 3 mm. 3.6 Período pré-experimental Adotou-se um período de adaptação de 21 dias, no qual forneceu-se alimento do mesmo tipo que seria avaliado no experimento (amoreira), procedimento destinado `a adaptação da flora ruminal ao material a ser testado. 3.7 Procedimentos para incubação Para a avaliação da degradabilidade do material, foram utilizados sacos de Nylon (40 µm), com dimensões de 14 x 7 cm, para onde se transferiu cerca de 10 g do material macerado (em torno de 5 g de MS), sendo então fechado com elástico e guardado em refrigerador até o momento da incubação. 32 Faltando uma hora para a incubação, os sacos a serem incubados foram postos de molho em água, afim de umedecer o material e retirar o ar presente nos sacos, facilitando, desta forma o deslocamento dos sacos para o fundo do rúmen. Foi utilizada uma corrente de ferro disposta de forma triangular (20 x 20 x 20 cm) de 20 cm e 240 g, à qual foram fixados os sacos, através de mosquetões. Prendeu-se também à corrente uma corda fina, que possuía na extremidade um pequeno cano de PVC de tamanho maior que o diâmetro da cânula, cuja finalidade era evitar que a corrente se “perdesse” no rúmen. Aproximadamente na metade da corda, foi colocado um girador para que a corrente com os saquinhos tivessem maior liberdade de movimento dentro do rúmen. Após 6, 12, 24, 48 e 96 horas de incubação os sacos foram retirados, tomando-se cuidado para evitar a perda de conteúdo ruminal, e submergidos imediatamente em água fria, para interrupção da atividade microbiana. Em seguida foram lavados em água corrente até que o líquido proveniente da lavagem saísse completamente límpido, indicando que todo material solúvel tinha sido eliminado, sendo em seguida retirado o excesso de água e postos para secar em estufa a 55ºC, por um período mínimo de 72 horas (pré secagem). Para se determinar o tempo 0, ou seja, a fração solúvel, colocou-se os sacos com amostras em balde com água, de modo que ficassem submersos, por 1 hora. Após este período, foram lavados e postos para secar do mesmo modo como os outros sacos. 33 Após o período de pré-secagem, o material dos sacos foi pesado, a fim de se determinar a diferença de peso com o material original. Sendo então moído em moinho de facas, para posteriormente efetuar-se a análise bromatológica do mesmo. Esta análise estendeu-se também ao material antes de ser submetido à incubação. 3.8 Análises laboratoriais Foram efetuadas análises dos alimentos que compunham a dieta dos animais, como também do material sujeito à degradação, antes e após a incubação, onde se avaliou os teores de Matéria Seca, Proteína Bruta, Fibra em Detergente Neutro (SILVA, 1981) para todas as amostras, sendo que para os alimentos também foram efetuadas análises de Matéria Orgânica, Matéria Mineral, Extrato Etéreo, Fibra em Detergente Ácido e Nitrogênio da FDN e FDA, também de acordo com SILVA (1981). 3.9 Equações e parâmetros avaliados No presente experimento, com a finalidade de se avaliar a curva de degradação da amoreira em caprinos, e assim poder estimar seu potencial nutricional, foram avaliados os seguintes parâmetros: MS, PB e FDN, nos alimentos fornecidos e nas frações degradadas, assim como a taxa de desaparecimento, o potencial de degradação e a degradação efetiva, que leva em conta a taxa de passagem do conteúdo ruminal do material avaliado. 34 Para a determinação da porcentagem de MS utilizaram-se as equações a seguir: % ASA = peso do material pré seco x 100 peso do material verde % ASE = peso da amostra seca x 100 , peso da amostra % MS = ASA x ASE . 100 A PB foi estimada a partir da seguinte equação: % PB = % N x 6.25 A taxa de degradação foi calculada de acordo com a equação: % Degradação = Material Incubado (g) – Material Residual (g) x 100 Material Incubado(g) No cálculo das degradabilidades potencial e efetiva, utilizaram-se as seguintes fórmulas, respectivamente: DP = a + b (1 - e -ct ) DE = a + (bc / c + k ) 3.10 Análise estatísticas e delineamento experimental Adotou-se um delineamento em blocos casualizados com parcela subdividida, com 3 tratamentos (cultivares de amoreira), 5 repetições/ blocos (animais) e 5 parcelas (tempos de incubação). Sobre os resultados efetuou-se análise de variância e teste de média (Tukey 5%). Utilizando o SAS estimou-se a significância das variações dos dados obtidos e de suas interações. 35 Para as análises, optou-se por não utilizar o tempo de 96 horas, visto que o mesmo não seguiu a tendência de degradação, que era crescente, ao contrário, observou-se maior quantidade de material nas bolsas incubadas por 96 horas do que nas incubadas por 48 horas, indicando que houve alguma interferência, possivelmente um refluxo bacteriano no período, e que a degradação máxima havia ocorrido no período anterior, ou seja, 48 horas, em cima do qual calculou-se a degradabilidade efetiva. O esquema de análise de variância utilizado neste experimento foi o seguinte: Causas de Variação GL Animais (bloco) 4 Tempos de incubação 4 erro (a) 16 Subtotal 24 Cultivares 2 Cultivares x Tempo de incubação 8 erro (b) 56 Total 74 36 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Composição química e bromatológica A composição química é o ponto de partida para se determinar o valor nutritivo de um alimento, avaliando-se sua proporção aproveitável (MO, PB, EE, energia) e a menos aproveitável (FB ou FDN, FDA, celulose, hemicelulose, lignina). A partir daí, pode-se estudar o aproveitamento destas frações pelo animal (digestibilidade), bem como, no caso de ruminantes, pelos microorganismos ruminais (degradabilidade). Na tabela 2 encontram-se descritas médias obtidas para a composição química do material a ser incubado, referente aos cultivares Miura, Shima Miura e FM 86. 37 Tabela 2. Composição química das cultivares estudadas, com base na MS (%). Cultivar Miura Shima Miura FM 86 Média MS 24,58 a 25,28 a 24,45 a 24,77 MO 90,95 a 89,81 b 89,99 b 90,25 PB 23,61 a 22,74 a 21,67 a 22,68 EE 2,06 a 2,08 a 2,08 a 2,08 NDT* 82,91 a 77,82 b 79,52 b 80,08 ED** 3,62 a 3,47 b 3,51 b 3,53 FDN 39,28 a 36,59 a 31,24 b 35,70 FDA 17,24 b 21,70 a 20,21 a 19,72 Hemicelulose*** 22,04 a 14,89 b 11,02 c 15,99 N-FDN (% PB) 18,75 a 19,59 a 17,69 b 18,68 N-FDA (% PB) 5,83 a 5,05 a 4,61 a 5,16 MM 9,05 b 10,19 a 10,01 a 9,75 *Calculado a partir da equação NDT = 102,56 – (% FDA x 1,140), proposta por Raffler e Sotter 1975, citado pelo NRC (1989). **(Mcal/ kg MS); calculado a partir da equação 1 kg NDT = 4,409 Mcal ED. ***Hemicelulose = FDN - FDA. Avaliando-se as análises químicas e bromatológicas dos três cultivares estudados, percebe-se grande semelhança NO TOCANTE À ms. Já com relação à MO, o cultivar Miura foi superior (P < 0,05) aos demais cultivares, sendo este também diferente significativamente dos demais em termos de MM, porém, tendo os menores valores. 38 Entretanto, os valores de MO, apesar da diferença entre cultivares, é elevada para todos (90,2% como média, 89,8% para Shima Miura, o mais baixo), indicando bom potencial de aproveitamento. Os valores obtidos no presente trabalho estão de acordo com os encontrados na literatura, como BRAZÃO (1992), BAFFI (1992) e HARA (1993) para MS: 24,3%, 23,8% e 22,7%, respectivamente, SABINO JR. (1996) para MO (93,0%) e MAGÁRIO (1993) para MM (10,8%). Entretanto diferem dos valores obtidos por SINGH et al. (1984), PRASAD e REDDY (1991) e SABINO JR. (1996) para MS (38,0%; 30,1% e 31,4%), sendo justificados para os dois primeiros por utilizarem plantas mais maduras, e o último por ser representado por caules, além das folhas. CASOLI et al. (1986) obteve valor inferior para MO (83,4%) e DESHMUK e PATHAK (1989) e PRASAD e REDDY (1991), valores superiores para MM, devendo-se, provavelmente à maior idade das plantas, quando comparado às do presente trabalho. Com relação aos constituintes da parede celular, houve semelhança (P > 0,05) com relação à PB e ao EE. Porém, com relação ao NDT e à ED, o cultivar Miura foi superior (P< 0,05). Esta superioridade talvez tenha relação com o menor percentual de FDA encontrado neste cultivar, uma vez que estes dois parâmetros foram estimados à partir da FDA. Todavia esta superioridade faz concordância com a superioridade do cultivar em questão para MO, indicando ser mais aproveitáveis suas frações estudadas. Chamam a atenção os altos valores de proteína (22,7%), NDT (80,1%) e ED (3,53 Mcal/ kg MS) encontrados na amoreira, evidenciando um alimento de valor nutricional elevado, tendo sido encontrados poucos alimentos 39 comparáveis na literatura, como foi o caso da alfafa, forragem de reconhecido valor nutricional. Entretanto, os valores obtidos para o extrato etéreo se destacam por serem baixos (2,1%). Esta elevada percentagem de PB fica evidenciada quando comparamos os teores da amoreira com percentuais de PB de outros alimentos utilizados na alimentação animal (ver tabela A3, apêndice), onde perde apenas para o farelo de soja (39% PB), ficando equiparada, com ligeira vantagem em relação à alfafa (22% alfafa verde e 17% feno de alfafa). Entretanto, os valores de ED estimados, apesar de serem representativos, não conseguem fornecer uma relação energia: proteína adequada, de acordo com as recomendações do NRC (1989) para caprinos (32 g PB: 1 Mcal ED), ficando esta relação, no presente trabalho, com média de 63,8 g PB/ Mcal ED (ver tabela A4, no apêndice, onde se compara a relação de outros alimentos). Isto tem maior importância quando se pensa no uso da amoreira como alimento exclusivo, ou em proporções inadequadas com outros alimentos, tendendo a fornecer, desta forma, uma dieta desbalanceada aos animais, podendo acarretar em prejuízos orgânicos (crescimento, ganho de peso, etc.) e econômicos. Isto talvez seja ilustrado ao analisarmos o trabalho de SABINO JUNIOR (1996), onde estuda a digestibilidade in vivo e a seletividade em caprinos, em que a alimentação dos mesmos era composta exclusivamente por amoreira (que conteve proporções de PB inferiores a este trabalho, 15,8%). Através dos dados de consumo diário de proteína (640 g PB/ dia) e do PV dos animais (média de 15 kg), chega-se a dados impressionantes, tendo, para animais de 40 alto nível de produção (150 g GPV/ dia), 50% de excesso de proteína, e no caso de animais em manutenção, 215%, com base nas recomendações do NRC (1989). Os valores de PB encontrados estão de acordo com os obtidos por DORIGAN (1993), BASAGLIA, (1993), BRAZÃO (1992), BAFFI (1992) , entre outros (ver tabela A1), enquanto alguns autores, como SINGH et al. (1984), CASOLI et al. (1986) e RAO et al. (1996) obtiveram valores inferiores, sendo devido, também, à maior idade. Sobre o EE, os dados encontrados na literatura foram superiores aos obtidos no presente trabalho, ao passo que valores referentes ao NDT foram inferiores (SINGH et al. (1984), PRASAD e REDDY (1991), SABINO JUNIOR (1996) e RAO et al. (1996)), provavelmente em virtude da maior idade das amoreiras, e no caso do último autor, por incluir caules, além das folhas. O parâmetro ED encontrado neste trabalho foi superior ao encontrado na literatura (2,53 Mcal, CASOLI et al. (1986)), porém, novamente, em função da diferença de idade das plantas estudadas. Comparando, por sua vez, com a ED de outros alimentos (tabela A3), percebese que, de acordo com a ED estimada no presente trabalho, que a amoreira possui valores significativos, sendo superior à alfafa verde (2,90 Mcal), ficando próximo de alimentos nobres, como o farelo de soja (3,66 Mcal) e o milho (3,85 Mcal). Com relação aos constituintes da parede celular (FDA, FDN, Hem, NFDN e N-FDA), com exceção do N-FDA, todos apresentaram diferenças estatísticas (P < 0,05). O FDN mostrou-se elevado (35,7%), havendo em menor quantidade no cultivar FM86. Para o parâmetro FDA, o cultivar Miura 41 teve valores significativamente menores (17,2%), o que é uma vantagem, do ponto de vista nutricional. Com relação à hemicelulose, todos diferiram estatisticamente (p < 0,05) entre si, apresentando o cultivar Miura os maiores valores (22,0%) e o FM86 os menores (11,0%). O N-FDN foi inferior (P < 0,05) para o cultivar FM86 (4,6%). Os valores de FDN obtidos são superiores aos encontrados pelos autores trabalhando com folhas de amoreira, 90dias de crescimento (26,4%, em média), (ver tabela A1), estando próximo aos valores obtidos em trabalhos com a amoreira mais madura (37,5%, média). Foi observado menor valor de FDN pelos autores BRAZÃO (1992) (28,2%) e DORIGAN (1993) (23,6%), utilizando os mesmos cultivares e a mesma data de corte do presente trabalho. A explicação talvez se deva à época do ano em que os experimentos foram conduzidos, podendo, assim, plantas com o mesmo tempo de crescimento, ter um desenvolvimento desigual em função da pluviosidade e/ ou outros fatores ambientais que tenham diferenciado nos dois experimentos deste. Por outro lado, o FDA está em concordância com os primeiros (18,8%, média), sendo a deste trabalho um pouco inferior, e bastante inferior quando comparada aos valores da amoreira madura (30,7%, média). Não foram encontrados valores de N-FDN e N-FDA na literatura pesquisada. Embora o cultivar Miura tenha demonstrado certa superioridade pela composição química, em relação aos outros dois cultivares estudados, este não deve ser suficiente para indicá-la como tal, uma vez que há cultivares (como Shima Miura) que se sobressaem em termos de massa verde produzida 42 por área, necessitando de estudos mais minuciosos para pode-se definir tal superioridade, em termos de custo/ benefício. 4.2 Degradabilidade das frações o estudo da degradação dos alimentos pelo método in situ, permite estimar o fracionamento da digestão em ruminantes, sendo os valores obtidos empregados na formulação de rações. Originalmente desenvolvido para avaliar a digestão ruminal de proteínas, atualmente emprega-se também para outros componentes do alimento (NOCEK, 1997). 4.2.1 Degradabilidade da matéria seca Os valores de degradação da MS dos três cultivares estudados, nos diferentes tempos de incubação são apresentados na Tabela 3. 43 Tabela 3. Degradação da MS (%) dos cultivares estudados, em função do tempo de incubação. Tempo Cultivar Média Miura Shima Miura FM 86 6 52,22 54,82 56,70 54,58 C 12 81,66 78,81 80,31 80,26 B 24 91,80 89,07 91,48 90,78 A 48 93,25 93,24 93,03 93,17 A 79,73 a 78,99 a Média C.V. % 80,38 a 3,61 Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). Não houve diferenças estatísticas entre os cultivares estudados (P > 0,05), com relação à degradação da MS. Estes resultados estão de acordo com HARA (1993), BASAGLIA (1993) e VASCONCELOS (1994) que usaram respectivamente os métodos in vitro, in vivo e in situ. Para a variável tempo de incubação, como já era esperado, observou-se diferenças estatísticas (P < 0,05). A degradação às 6 e 12 horas foi de 54,6% e 80,3%, respectivamente, correspondendo a 58,6% e 86,1% da degradação total como pode ser visto na tabela A3 do apêndice, ao passo que os dois tempos de incubação posteriores (24 e 48 horas) foram responsáveis, em conjunto, por apenas 14,2% do total degradado. Deve ser chamado à atenção, ainda, que dos 58,6% de degradação para o tempo 6, mencionado acima, 31,4% correspondem à fração solúvel, ou tempo zero, como pode ser visto na Tabela 3. Analisando a Tabela 3 e a Figura 1, pode-se perceber o grande potencial de degradação microbiana da amoreira, tendo uma velocidade maior nas primeiras horas (6 e 44 12 horas), havendo em seguida uma estabilização na velocidade de degradação, não se encontrando, inclusive, diferenças estatísticas (P > 0,05) entre os últimos tempos (24 e 48 horas). Isto mostra a grande porcentagem da fração degradável pelos microorganismos do rúmen, e com isto, o grande potencial alimentício da amoreira para ruminantes e herbívoros. O mesmo padrão de significação estatística encontrada neste trabalho, ou seja, diferenças nas horas 6 e 12 e não nas demais, foi observado também por VASCONCELOS (1994) (tabela A2, apêndice). A seguir é apresentada a curva de degradação da MS, onde pode-se ver mais claramente o comportamento de degradação da mesma. 120 y = 17,374Ln(x) + 30,684 R 2 = 0,9499 Degradação (%) 100 80 60 40 20 0 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 Tempo de incubação (h) Figura 1. Curva de degradação da MS da amoreira, em função do tempo de incubação. Chama a atenção a grande degradação nas primeiras horas, bem como a degradação quase completa (93%) do material ao término do período (48 horas). 45 Estes altos valores de degradação podem ter relação (além da composição da amoreira) com a quantidade/ proporção de volumoso ingerido pelos animais, como base de sua alimentação, como citado por GANAV et al. (1979), porém utilizando dieta exclusiva de volumoso, onde esta promoveria um incremento na atividade celulolítica dos microorganismos, uma vez que a dieta é o principal determinante da quantidade e tipos de microorganismos no rúmen. Além da dieta, outro fator a interferir na síntese e atividade microbiana, segundo ANDRIGUETTO et al. (1983), a nível de rúmen, é a degradação da proteína pelos mesmos. No cálculo da degradabilidade potencial, leva-se em conta a proporção das frações solúvel, degradável e taxa de degradação por hora, que podem ser analisadas na Tabela 4, bem como a fração indegradável pelos microorganismos. Tabela 4 – Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ), indegradável ( I ) e taxa de degradação ( c ) da MS dos cultivares estudados. Cultivar M SHM FM86 média A (%) 33,97 29,25 30,99 31,40 B (%) 59,37 63,99 62,03 61,79 I (%) 6,75 6,76 6,97 6,83 c (%/ h) 0,16 0,13 0,16 0,15 Percebe-se que há um percentual relativamente alto de material solúvel, 31,4 %. Porém, a maioria (61,8 %) representa o material degradável pela ação 46 microbiana. Aliado a isto, nota-se a pequena porção indegradável (6,8%). A taxa de degradação por hora foi de 0,15%. Os valores obtidos neste trabalho estão de acordo com os valores obtidos por VASCONCELOS (1994), que obteve 31,1%, 60,9% e 0,12% para as frações A, B e c, respectivamente. Porém, para o coeficiente c, o valor obtido no presente trabalho ficou mais próximo aos dados encontrado pelo autor para plantas com 45 dias de crescimento (0,16%), tendo sido detectada diferença significativa entre as duas datas de corte. Com relação aos dados obtidos por SINGH et al. (1989), há uma certa semelhança com a fração B (77,6%), sendo esta, entretanto, mais elevada. Porém, o valor obtido para a fração A é espantosamente menor (0,02%), assim como o coeficiente c (0,044%/ h), sendo que a fração I é também bastante superior (22,4%) à obtida no presente trabalho. estas diferenças talvez tenham relação com a maior maturidade das amoreiras estudadas por estes autores, tendo então o material maior teor de fibra (o que explicaria a maior porção destinada à ação dos microorganismos, a menor taxa de degradação por hora e a menor solubilidade). Afim de se alcançar uma visão mais acurada do potencial de degradação da amoreira, pode-se observar na Tabela 5 os valores das degradabilidades potencial e efetiva. 47 Tabela 5. Degradabilidade potencial e efetiva da MS dos cultivares estudados.* Cultivar Miura Deg. Pot. Shima Miura FM 86 Média C.V. % 93,26 97,19 86,65 92,37 1,58 kp 0,02 86,44 83,98 85,76 85,39 2,63 kp 0,05 78,71 74,48 77,62 76,94 4,58 kp 0,08 72,99 67,91 71,62 70,84 5,71 Deg. Efet. * Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). kp = taxa de passagem. Percebe-se, mais uma vez, o grande potencial de degradação, chegando no caso da Shima Miura muito próximo ao máximo (97,2%) e, notando-se a ausência de diferenças estatísticas entre os cultivares, pode-se dizer que todos demonstraram boas qualidades com relação à degradação. Neste experimento não se avaliou a taxa de passagem do material, mas sabendo-se que o mesmo era composto apenas pelas partes mais tenras da planta (folhas e parte apical dos ramos), a DE aplicável no caso deve estar próximo a 0,05 e 0,08. Foram encontrados valores muito satisfatórios para as degradabilidades potencial (92,4%) e efetiva (76,9 a 70,8%, dependendo do kp). Lembrando que, segundo o ARC (1984), para manutenção, a kp é de 2% e para alta produção é de 8%, pode-se supor um bom potencial de "nível de produção" da amoreira. 48 Os dados referentes à DP obtidos no presente trabalho são muito próximos aos obtidos por VASCONCELOS (1994), aos 90 dias de corte – 92,0%, bem como os referentes à DE, (73,5%), situando-se entre as taxas de passagem de 5 e 8%. Com relação à DE obtida por SINGH et al. (1989), de 49,4%, que é bastante inferior à encontrada neste trabalho, pode ser explicada pela maior maturidade do material estudado por estes autores, ou, quem sabe, também por diferenças entre cultivares. Comparando-se os valores de degradação da MS encontrados para amoreira e com os encontrados para feno de alfafa, nota-se a superioridade da primeira, segundo dados de OLUBOBOKUN et al. (1990), trabalhando com os mesmos tempos de incubação (6, 12, 24 e 48 horas) (ver Tabela A no apêndice) e de LORENZI et al. (1992), que obteve 76,99% de degradação com 72 horas de incubação no rúmen. Talvez esta inferioridade da alfafa tenha relação com a forma de apresentação (feno). Porém, comparando-se os valores de FDN das duas espécies, percebe-se que é bastante semelhante, indicando ser realmente a amoreira superior, sob este ponto de vista. 4.2.2 Degradabilidade da proteína bruta O comportamento de degradação da PB dos cultivares estudados, em função dos tempos de incubação pode ser visualizado na Tabela 6: 49 Tabela 6. Coeficiente de degradação da PB dos cultivares estudados, em função do tempo de incubação. Tempo Cultivar Miura Shima Miura FM 86 Média 6 50,66 49,83 50,90 50,46 C 12 84,06 79,97 83,08 82,37 B 24 94,87 89,99 94,66 93,17 A 48 97,31 97,02 96,23 96,85 A 81,73 a 79,20 a 81,22 a Média C.V. % 5,27 Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). Não foram encontradas diferenças significativas (P > 0,05) entre os cultivares, e sim para os tempos de incubação, havendo diferenças nas duas primeiras horas (6 e 12 h) e não nas outras duas (24 e 48 h), indicando ter havido diminuição significativa na velocidade de degradação nos tempos de incubação 24 e 48 horas. A degradação às 6 e 12 horas foi de 50,5% e 82,4%, respectivamente, correspondendo a 52,1% e 85,1% da degradação total, enquanto os dois tempos restantes (24 e 48 horas) foram responsáveis, em conjunto, por 15,1% do total degradado, mostrando a rápida degradação do material estudado. Cabe ressaltar, que dos 50,5% desaparecidos no tempo 6, 17,7% correspondem à fração solúvel em água, sendo o restante realmente devidos à ação microbiana. Outro dado a ser destacado é o quase total degradação da PB (96,9%) ao término da incubação (48 horas), indicando o grande potencial de aproveitamento da proteína desta planta, já possuidora de elevados 50 percentuais de proteína quando in natura, ao compará-la com outras plantas utilizadas como alimento para ruminantes. A ausência de diferenças significativas entre os cultivares para a degradação da PB também foi observada por VASCONCELOS (1994), assim como para a digestibilidade in vitro e in vivo, por HARA (1993) e BASAGLIA (1993), respectivamente. O padrão de degradação descrito acima concorda com os dados obtidos por VASCONCELOS (1994) para amoreira (embora ligeiramente inferiores), que obteve 44,4% e 72,8% de degradação às 6 e 12 horas, respectivamente, que corresponderam a 52,3% e 80,6% da degradação total, ressaltando a rápida degradação do material, ilustrando que apenas 5,8% do material ficou sujeito à degradação à partir do tempo de incubação 24 horas. Este padrão de comportamento pode ser observado na Figura 2, que mostra a curva de degradação da PB para os cultivares estudados. Degradação (%) 120 y = 22,363Ln(x) + 17,953 R 2 = 0,9485 100 80 60 40 20 0 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 Tempo de incubação (h) Figura 2. Curva de degradação da PB de amoreira. 51 Pode-se perceber a alta velocidade de degradação inicial, bem como também a elevada degradação final (96,8 %), indicando que praticamente toda a proteína contida no alimento (amoreira) tenha sido degradada em outros produtos, como proteína microbiana e amônia, entre outros, não podendo-se predizer, entretanto, seu aproveitamento, visto que sofre influência de vários fatores, como o valor biológico da amoreira para a espécie animal, o nível de carboidratos da dieta, o nível de produção animal, entre outros. A cinética de degradação da PB para os 3 cultivares de amoreira estudados estão demonstradas na Tabela 7. Tabela 7– Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ), indegradável ( I ) e taxa de degradação ( c ) da PB dos cultivares estudados. Cultivar M SHM FM86 média A (%) 24,30 11,29 17,38 17,66 B (%) 73,31 85,73 78,85 79,30 I (%) 2,69 2,98 3,77 3,15 c ( /%) 0,18 0,14 0,16 0,16 Percebe-se, no caso da proteína, uma menor porcentagem da fração A, solúvel, (17,7%) em relação à fração degradável, ou B (79,3%), bem como pequena fração indegradável (3,2%), indicando haver uma grande interferência dos microorganismos na degradação da PB. Chama a atenção este mínimo valor indegradável, mostrando, mais uma vez, o grande potencial de aproveitamento da amoreira. 52 Os dados encontrados na literatura (VASCONCELOS, 1994) condizem com os resultados obtidos, exceto para o coeficiente “c”, o qual é superior ao encontrado no presente trabalho (0,10 vs. 0,16). Já os valores encontrados por SINGH et al. (1989), diferem bastante, principalmente com relação ao coeficiente “c”, cuja taxa encontrada foi de 0,04, diferença justificada pela maior idade do material avaliado por estes autores. Comparando a cinética de degradação das frações da amoreira com a obtida em outros alimentos protéicos (tabela A2, apêndice), quais sejam soja integral, farelo de soja (FS), de carne e de algodão, nota-se uma grande semelhança ao comportamento do FS, embora este com maior porcentagem indegradável e maior taxa de degradação por hora. Isto talvez se explique pelo fato da amoreira conter maior proporção de fibra, o que pode reduzir a taxa de passagem. Na Tabela 8 são apresentados os dados referentes às degradabilidades potencial e efetiva da PB. 53 Tabela 8. Degradabilidade potencial e efetiva da PB dos cultivares estudados. Cultivar Miura Deg. Pot. Shima Miura FM 86 Média C.V. % 92,67 95,81 83,54 90,67 2,22 kp 0,02 89,26 84,34 87,49 87,03 4,71 kp 0,05 80,23 71,69 77,53 76,48 8,33 kp 0,08 72,71 63,0 70,07 68,61 10,92 Deg. Efet. * Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). kp = taxa de passagem. Não houve, para as degradabilidades potencial e efetiva da PB, diferenças estatísticas entre os cultivares. Pode-se observar, mais uma vez, altos valores de degradabilidade para PB. Os valores obtidos no presente trabalho estão consistentes aos encontrados por VASCONCELOS (1994), (96,7 para DP 71,1 para DE, com kp = 4,4%). A ligeira superioridade do valor obtido pela autora para DP deve-se, provavelmente, ao menor coeficiente “c” encontrado em seu trabalho, ficando o material, deste modo, sujeito à degradação no rúmen por um tempo maior. Os valores de DE aproximam-se aos obtidos no presente trabalho com kp de 5%, taxa próxima à obtida pela autora. Os dados apresentados por SINGH et al. (1989) são bastante inferiores, porém o material avaliado era mais maduro, como pode-se ver na Tabela A2 no apêndice. 54 Comparando-se os dados encontrados neste trabalho para DP e DE e comparando-os com os encontrados para o CD da PB, obtidos pelos métodos in vivo e in vitro por HARA (1993) e BASAGLIA (1993), respectivamente, como pode ser visto na Tabela A1 do apêndice, percebe-se valores bastante inferiores para DP, ao passo que para DE, de modo geral, os dados aproximam-se dos encontrados no presente trabalho, para as três taxas de passagem calculadas, havendo algumas inferiores, que se devem, provavelmente, à maior idade do material avaliado. 4.2.3 Degradabilidade da fibra em detergente neutro A Tabela 9 mostra os valores de degradação da FDN dos três cultivares estudados, em função dos tempos de incubação. 55 Tabela 9. Coeficiente de degradação (%) da FDN dos cultivares estudados em função do tempo de incubação. Tempo Cultivar Miura Média Shima Miura FM 86 Média 6 34,22 27,02 27,70 29,65 C 12 71,43 61,61 63,26 65,43 B 24 83,81 76,76 79,70 80,09 A 48 86,78 84,88 83,40 85,02 A 69,06 a 62,57 b 63,52 b C.V. % 6,84 Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). O parâmetro de avaliação FDN foi o único em que foram encontradas diferenças estatísticas entre os cultivares, onde o Miura foi superior aos demais (P < 0,05). Isto é interessante pelo fato de, na composição química, estar no grupo que diferiu estatisticamente, para mais, no percentual de FDN (numericamente foi o mais elevado), e, depois do material ser exposto à degradação microbiana, este cultivar ser estatisticamente (P < 0,05) o mais degradado. Esta maior taxa de degradação do Miura indica a possibilidade das fibras deste cultivar permitirem uma melhor ação aos microorganismos ruminais, por questões químicas, físicas ou outras, apesar deste cultivar possuir maior percentual de FDN que os demais. O que talvez possa explicar esta superioridade tem relação com os teores de FDA que, (mesmo não significativamente) numericamente, são menores quando comparados aos demais cultivares, indicando também menores teores de fibra indisponível (indegradável). Esta relação pode ser percebida analisando-se a Tabela 10, 56 que é apresentada posteriormente, onde percebe-se o menor percentual da fração indegradável do cultivar Miura, quando em comparação aos demais. Porém, os tempos de incubação mantiveram a mesma tendência observados para MS e PB, ou seja, maior velocidade de degradação nos dois primeiros tempos (6 e 24 horas) e redução da velocidade nos dois últimos (24 e 48 horas), sendo estes últimos, porém, responsáveis por razoável parcela da degradação (35,8%), em conjunto, como pode ser melhor visualizado observando-se a Figura 3, que representa a curva de degradação da FDN. Analisando a Tabela 9 e Figura 3, pode-se observar também a grande proporção de fibra degradada, restando, após 48 horas de incubação, apenas 15% da fibra incubada, que não foi degradada pelos microorganismos. As degradações médias da FDN às 6 e 12 horas de incubação foram de 29,7% e 65,4%, respectivamente, representando 34,8% e 76,9% do total degradado (ver Tabela A3 no apêndice). 120 y = 26,081Ln(x) - 8,7991 R 2 = 0,8698 Degradação (%) 100 80 60 40 20 0 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 Tempo de incubação (h) Figura 3. Curva de degradação da FDN de amoreira. 57 Os valores obtidos neste trabalho são semelhantes aos valores encontrados por VASCONCELOS (1994) (28,5% e 52,6% nas 6 e 24 h de incubação, respectivamente) e totalizando 83,4% da degradação da FDN. Os valores do presente trabalho, em comparação aos dados encontrados por OLUBOBOKUN et al. (1990) para a alfafa, cuja degradação com 96 horas de incubação foi de 58,2%. SINGH et al. (1989), trabalhando com amoreira, obteve a degradação máxima às 96 horas, com 34,4% de degradação, valor próximo ao percentual obtido às 6 horas de incubação no presente trabalho. VASCONCELOS (1994) justifica estas diferenças pelas diferentes porcentagens de FDA e lignina, 28,1% e 10,8%, respectivamente obtidos por SINGH et al. (1989) quando em comparação aos encontrados em seu trabalho, 18,8% e 6,1%, respectivamente. A seguir é apresentada a Tabela 10, que se refere às frações passíveis de degradação ou não, que posteriormente serão utilizadas na estimação da DP e DE. Tabela 10 – Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ), indegradável ( I ) e taxa de degradação ( c ) da FDN dos cultivares estudados. Cultivar M SHM FM86 média A (%) 0,00 0,00 0,00 0,00 B (%) 86,78 84,88 83,40 85,02 I (%) 13,22 15,12 16,60 14,98 c (%/ h) 0,17 0,12 0,14 0,14 58 O parâmetro FDN não possui fração A em virtude do mesmo ser insolúvel em água, dependendo exclusivamente da ação bacteriana para haver desaparecimento de material dos sacos. Analisando-se a fração B dos três parâmetros avaliados (MS, PB e FDN), observa-se que a maior é o da FDN, indicando ser o parâmetro avaliado que maior influência da degradação microbiana teve, obtendo, apesar da ausência de porções solúveis, altos valores de degradação final (85%). A seguir é apresentada a Tabela 11, que faz referência às degradabilidades potencial e efetiva da FDN dos cultivares estudados. Tabela 11. Degradabilidade potencial e efetiva da FDN dos cultivares estudadas. Cultivar Miura Deg. Pot. Shima Miura FM 86 Média C.V. % 92,95 96,18 83,18 90,77 3,07 kp 0,02 76,82 71,34 72,63 73,60 5,19 kp 0,05 65,69 58,08 60,95 61,57 9,60 kp 0,08 57,47 49,20 52,57 53,08 12,69 Deg. Efet. * Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P > 0,05). kp = taxa de passagem. A diferença estatística observada na tabela anterior não se manteve para as degradabilidades potencial e efetiva, como pode ser observado na tabela 11. 59 A análise estatística apresentada neste trabalho diferiu dos dados encontrados na literatura, como VASCONCELOS (1994) e DORIGAN (1993) utilizando, respectivamente, os métodos in situ e in vivo, onde foram encontradas diferenças significativas para o cultivar FM86, que obteve os valores mais altos. Comparando os dados obtidos com CDs de FDN encontrados na literatura (ver tabela A2 no apêndice) nota-se a semelhança do valor encontrado por SABINO JUNIOR (1996) com a DP do presente trabalho e semelhança com a DE - 0,02 encontrada e os dados relativos ao CDFDN obtidos por DORIGAN (1993). Como alternativas de utilização da amoreira para o consumo animal, poderia ser utilizada como banco de proteína direto no campo (inconveniente, porcentagem de perdas), como suplemento protéico, colhida e oferecida em ramas ou picada, no cocho, feno das folhas ou folhas e caule, silagem (havendo necessidade de maiores estudos, visto que provavelmente, à semelhança de leguminosas, deva apresentar alguns inconvenientes na fermentação). Do ponto de vista de combinação da amoreira com outras forrageiras para alimentação animal, em virtude de complementariedade de nutrientes e custo de produção, que talvez seja interessante estudar, seja a cana de açúcar, uma vez que é extremamente pobre em PB e rica em energia e fibra. 60 5. CONCLUSÕES Os valores obtidos para as variáveis estudadas neste trabalho permitem concluir que: *Com respeito à composição química, que a amoreira é uma planta com elevado valor nutricional, que, apesar de diferenças entre os cultivares (P < 0.05), possui significantes proporções de MO, PB, NDT, ED e FDN, porém, com baixo EE, para todos os cultivares. *sobre a degradação, observou-se taxas elevadas para todos os parâmetros avaliados (MS, PB e FDN), chegando, no caso da PB, quase ao máximo de degradação, em 48 horas, podendo-se concluir que a amoreira permite excelente desempenho aos microorganismos ruminais, não podendose inferir, entretanto, sobre a utilização desta grande proporção de material degradado, não havendo diferenças entre os cultivares (P < 0.05). 61 *sobre as frações, conclui-se que a MS e a PB têm considerável fração solúvel (A), porém os três parâmetros possuem apreciável proporção de material insolúvel degradável (B), baixas porcentagens de fração indegradável (I), destacando-se entre os parâmetros a PB, sendo praticamente insignificante sua fração indegradável. *sobre a DP conclui-se que possui elevado valor, para todos os parâmetros, não havendo diferenças entre os cultivares (P < 0.05), e sobre a DE, que também possui elevados valores, que a taxa de passagem deve estar entre 5 e 8 %, tendo havido diferença significativa apenaspara o parâmetro FDN, apresentando o cultivar FM86 a menor degradabilidade. *A amoreira é uma planta de grande potencial de alimentação para caprinos, visto que esta é muito apetecível a eles e que possui qualidades de produção e, principalmente, nutritivas, que a destacam dentre várias forrageiras de qualidade, podendo ser considerada, segundo os dados do presente trabalho, como volumoso protéico, visto que tem mais de 18% de fibra e mais de 20% de PB. Esta alta proporção de proteína, bem como os elevadosníveis de degradação da mesma são muito positivos, porém podem requerer certa atenção no sentido do aproveitamento desta proteína pelos animais. Outro aspecto a ser levado em conta é a utilização deste alimento com exclusividade, visto que aparentemente possui relação energia: proteína inadequada, não sendo recomendável utilizá-la com exclusividade, necessitando de estudos sobre as espécies a serem utilizadas com a amoreira, bem como suas proporções. Uma espécie que talvez mereça atenção, no caso, 62 é a cana de açúcar, visto que, em relação à amoreira, são bastante complementares, além de econômica do ponto de vista de produção. Estudos também serão necessários afim de se determinar a melhor forma de utilização da amoreira, desde o melhor espaçmento para plantá-la, até a forma como será oferecida aos animais: verde no campo, no cocho, em ramas, triturada, só folhas, em forma de feno, silagem, etc. 63 6. RESUMO O trabalho foi conduzido no Setor de Caprinocultura – UNESP/ Jaboticabal durante o período de 17 a 26 de fevereiro de 1998, com o objetivo de avaliar a degradabilidade de três cultivares de amoreira (Miura, Shima Miura e FM86) em caprinos. Foram utilizados 5 animais Saanen canulados no rúmen, e 5 tempos de incubação (6, 12, 24, 48 e 96 h), além da fração solúvel, determinada em água. As amostras foram incubadas no rúmen e retiradas após respectivos períodos de tempo, de modo que ficassem sujeitos à degradação microbiana. O material remanescente nas bolsas foi submetido à análises, bem como os alimentos destinados à dieta dos animais, que consistiram de MS, PB, FDN, para todos, além de MO, Mm, EE, NDT e ED FDA, N-FDN e N-FDA para os alimentos fornecidos. A partir do material experimental, avaliou-se a 64 degradabilidade do mesmo, através da taxa de desaparecimento de material das bolsas e equações, como para DP e DE. De acordo comas análises realizadas, destacamos os principais valores médios encontrados para amoreira, em relação à composição química, com 90,3% de MO, 22,7% de PB, 2,1% de EE, 80,1% de NDT, 3,53 Mcal de ED, 35,7% de FDN, 19,7% de FDA, 16,0% de Hem, 18,7% N-FDN (% PB), 5,2% NFDA (% PB) e 9,8% de MM, à degradação, com 93,2%, 96,8% e 85,0% de degradação em 48 horas, para MS, PB e FDN, respectivamente. Com respeito às frações A, B, I e C, foram de 31,4%, 61,8%, 6,8% e 0,15 para MS, 17,7%, 79,3%, 3,15% e 0,16 para PB e 0,0%, 85,0%, 15,0% e 0,14 para FDN. As degradabilidades potenciais e efetivas foram de 92,4% e 77,0% para MS, 90,7% e 76,5% para PB e 90,8% e 61,6% para FDN. Pelos resultados obtidos não foram detectadas grandes diferenças entre os cultivares estudados e para os parâmetros avaliados (embora dados da literatura façam referência à maior produção por ha de Shima Miura, podendo esta proporcionar maior produtividade), podendo-se concluir que a amoreira é uma planta com grande potencial alimentar para caprinos, principalmente em função de suas altas proporções em PB, bem como a alta degradabilidade da mesma. Por outro lado, parece haver proporções bastante reduzidas de energia, indicando que a suplementação com outros alimentos, principalmente energéticos, podem ser necessários, de modo a promover um balanceamento adequado e sejam minimizadas perdas, principalmente protéicas. 65 7. SUMMARY 66 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIGUETTO, J. M. et al. Nutrição Animal: as bases da nutrição animal. 4a Edição. São Paulo: Nobel. v 1. 1983. ANDRIGUETTO, J. M. et al. Nutrição Animal: alimentação animal. 4a Edição. São Paulo: Nobel. v 2. 1983. BAFFI, M.H. 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