Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações
Transcrição
Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações
8º Encontro da ABCP 01 a 04 de Agosto Gramado, RS Área Temática 04 – Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais A Ciência Política Vai a Escola Autor: Henrique Augusto Torres Simplício - Universidade Federal de Viçosa (UFV) Co-autor: Ana Paula Guedes Henrique – Universidade Federal de Viçosa (UFV) Orientador: Diogo Torino de Sousa – Universidade Federal de Viçosa Resumo A reintrodução da Sociologia como disciplina obrigatória no ensino médio, trouxe consigo a discussão sobre o ensino de Ciências Sociais, envolvendo os seus campos de conhecimento e diálogos possíveis. Dessa forma, a Ciência Política passou a constituir matéria presente no ambiente escolar, conforme expresso nos documentos oficiais (PCN; OCN). Com intuito de fornecer material didático apropriado para ensino da disciplina, assim como subsidiar os professores no que se refere ao conteúdo dado em sala de aula, o Ministério da Educação lançou o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2012). O presente trabalho pretende analisar o trato dado aos conteúdos, metodologia, atividades e dinâmicas específicas da Ciência Política nos livros selecionados pelo programa, discutindo como esse campo do conhecimento tem sido lecionado na escola básica e sua possível conexão com a pesquisa acadêmica. Tal empreendimento só foi possível pelo apoio da Fundação do Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Introdução O debate envolvendo a reintrodução da Sociologia enquanto disciplina obrigatória no Ensino Médio sobrevém no Brasil desde os anos 70, até os dias atuais. Nesse cenário, a intermitência da disciplina no currículo da educação básica sempre foi uma realidade do ensino das Ciências Sociais. No ano de 2008 o Senado aprovou a resolução que incluía a Sociologia enquanto disciplina obrigatória no Ensino Médio. Esse momento foi considerado, por boa parte dos profissionais das Ciências Sociais, uma conquista, uma vez que, este campo poderia emergir no contexto escolar a partir da Sociologia atuando enquanto uma disciplina capaz de conectar os mais diversos campos de conhecimento, bem como guiar os estudantes para o desenvolvimento de uma “imaginação sociológica”, tal como elaborada por Charles Wright Mills. Segundo o autor, a imaginação sociológica consistiria no reconhecimento da biografia do indivíduo atrelada aos processos sociais históricos no qual sua vida está relacionada. Outra contribuição da Sociologia seria estimular a “desnaturalização”, o que permitiria ao indivíduo relacionar os processos sociais enquanto construídos socialmente, ou seja, o entendimento de que concepções de uma sociedade, seu modo de organização e a forma que ela própria se observa não seriam inatas, mas sim vinculadas a inúmeros processos que a compõe. Posterior à aprovação da lei, alguns obstáculos surgiram durante o processo de solidificação da Sociologia no contexto escolar, uma vez que esta, por vezes, não compartilhava entre o ambiente escolar o título de disciplina científica tão relevante quanto às outras já consolidadas. Corroborando esses argumentos podese citar a baixa oferta de profissionais licenciados, bem como a falta de material didático específico, como agravantes da situação na qual se instaurava as Ciências Sociais voltada para Educação Básica. Diante disso, deu-se logo no início um processo de coordenação e amadurecimento da produção intelectual voltada para o ensino de Sociologia. No qual o governo expediu documentos dando certo direcionamento aos professores e professoras da área, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documento que articula temas e metodologias com o contexto social, político e econômico do Brasil e dos estudantes. O referido documento exalta a importância da Sociologia enquanto elemento capital para o processo de compreensão das relações sociais, assim como no desenvolvimento da cidadania. Ao falar de cidadania ele perpassa diversos temas como Estado, Direitos do sujeito inserido em sociedade, sistema político, ou seja, temas comuns à Ciência Política. Demonstrando, assim, que a interlocução das três áreas que compõe as Ciências Sociais está entre uma das premissas na constituição da disciplina. Ainda no que diz respeito aos documentos oficiais que oferecem embasamento à disciplina, tem-se o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), este se classifica como um edital onde são elencados critérios de avaliação das obras didáticas, assegurando a qualidade e competência destas obras, qualificando, assim, sua aprovação ou não, enquanto livro didático de referência na educação pública. A escolha pelo PNLD como objeto de estudo desse artigo se deve, então, ao fato desse documento oficial, expedido pelo Governo Federal se constituir como principal fermenta de guia para a seleção dos livros didáticos. Estes, por sua vez, se efetivarão, se aprovados, como parte do cotidiano do aluno que entrará em contato com as Ciências Sociais, e em consequência disso com a Ciência Política, no decorrer de sua formação escolar. Nesse sentido, o presente artigo tem por proposta a tentativa de promover uma análise dos conteúdos de Ciência Política contidos nos livros de Sociologia aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do ano de 2012. O documento analisado seleciona três dimensões nas quais o livro didático atuará no contexto da Educação Básica pública, a saber, a didático-pedagógica, a política e a social. A didático-pedagógica se caracteriza pela tentativa de promover nos alunos uma visão desnaturalizada acerca da sociedade na qual estão inseridos, bem como a de se desenvolver a imaginação sociológica, através dos levantamentos e questões trabalhadas no livro e transpostas para a realidade docente. A dimensão social reside no fato do livro didático ser um bem cultural disponível à todos estudantes da rede pública. Já no plano político, o livro didático se insere como uma tentativa de se elevar a qualidade de ensino das escolas públicas. Nesta conjuntura o PNLD elege enquanto premissas fundamentais para que o livro possa ser distribuído nas escolas da educação básica os seguintes pontos: “1 .Assegurar a presença das contribuições das três áreas que compõem as Ciências Sociais: Antropologia; Ciência Política e Sociologia; 2. Garantir que as Ciências Sociais se apresentem nas páginas do livro como um campo científico rigoroso, composto por estudos clássicos e recentes e por diferenças teóricas, metodológicas e temáticas. 3. Permitir, por meio de mediação didática exitosa, que o aluno desenvolva uma perspectiva analítica acerca do mundo social. 4. “Servir como uma ferramenta de auxílio ao trabalho docente, preservandolhe a autonomia.” (PNLD,2011 p.8) Após seleção e análise segundo seus critérios, o Programa Nacional do Livro Didático aprovou os seguintes livros para circulação: “A Sociologia para o Ensino Médio”, do autor Nelson Dácio Tomazi, publicado pela editora Saraiva; e o livro “Tempos Modernos Tempos de Sociologia”, escrito pelas autoras Helena Bomeny, Bianca Freyre-Medeiros, Raquel Balmant Emerique e Julia O’Donnell, publicado pela Editora do Brasil. Segundo o PNLD, um dos fatores que seriam necessários para seleção dos livros didáticos seria a presença da Ciência Política observando a constância, contemporaneidade e rigor teórico destinado aos seus temas específicos. Com intuito de analisar como tal área estaria sendo abordada no Ensino Médio, a partir da análise dos livros didáticos autorizados pelo Ministério da Educação e levando-se em conta o conteúdo, o presente artigo tem por objetivo analisar tais livros descrevendo sua abordagem, apresentando sugestões e, por fim, tecendo uma análise tendo por enfoque uma possível conexão com a pesquisa acadêmica. Tal empreendimento foi dado como necessário considerando que tais livros serão adotados em diversas escolas públicas e particulares, atuando como o instrumento capaz de desenvolver certa percepção nos estudantes quanto a diferentes temas, introduzindo conceitos e colaborando para a formação de opinião de diversos estudantes do país, frente à temas que estão intimamente ligados à sua vida em sociedade e à constituição da mesma. Análise dos Livros Didáticos “Tempos Modernos, Tempos de Sociologia” Descrição Geral do Livro Escrito pelas autoras Helena Bomeny, Bianca Freyre-Medeiros, Raquel Balmant Emerique e Julia O’Donnell, o livro “Tempos Modernos, Tempos de Sociologia” é dividido em três partes contendo, ao longo de toda obra, vinte capítulos. O livro possui 280 páginas incluindo uma parte com verbetes explicativos de conceitos, referências bibliográficas e fotos ilustrativas. Ao longo da obra é possível notar uma linguagem bastante fluida e contínua, utilizando freqüentemente o encadeamento de ideias, temas e conceitos. Fazendo uso de exemplos com situações cotidianas e contextos históricos e associando-os uns com os outros, permitindo, assim, uma compreensão mais facilitada dos diferentes temas expostos ao longo do livro. Um exemplo patente, que pode ser citado, concerne ao filme “Tempos Modernos” (Modern Times), dirigido e protagonizado pelo ator e diretor Charlis Chaplin em 1936. O filme aparece ao longo de todo o livro, servindo em alguns capítulos como ponto de partida para a explicação dos conceitos apresentados. Ao final de cada capítulo, é destinada uma parte contendo um resumo geral do que foi abordado e uma outra destinada a exercícios para verificação do conhecimento dos estudantes. Os exercícios apresentam-se em forma de questões discursivas e de múltipla escolha, sendo elaborados pelos próprios autores do livro ou retirados das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O conteúdo de Ciência Política não é tratado em uma área à parte do livro, ou seja, uma área específica em que se apresenta todo conteúdo que se refere ao campo, embora seja possível notar o tratamento de alguns capítulos com maior abordagem no que concernem as temáticas mais específicas à Ciência Política. O seu conteúdo é dissecado ao longo dos capítulos podendose verificar que, embora o autor elabore diferentes temáticas nos capítulos, cada um destes tem por ventura algum ponto que se possa aludir como concernente à Ciência Política. Neste artigo serão focados os capítulos que tratam com preponderância os temas da Ciência Política. Nestes termos, serão analisados neste livro os seguintes capítulos: 6 – Trabalhador uniu-vos! 7 Liberdade ou Segurança, 8 – As muitas faces do poder, 17 Participação Política, Direitos e Democracia, 18 Violência Crime e Justiça no Brasil e 20 Interpretando o Brasil. A escolha destes capítulos foi pautada por estes apresentaram maior aproximação e diálogo patentes com a Ciência Política, seja através de exemplos, analogias, conceitos e exercícios. Ao longo do capítulo 6 as autoras fazem uma análise da sociedade através do pensamento do filósofo alemão Karl Marx. Nesta parte, o livro, baseando-se no autor, ressalta uma estrutura em que a história se apresentaria por uma história de luta de classes, observando noções de prática e ação política quanto à organização do proletariado enquanto agentes que permitiriam mudanças na sociedade através da revolução. São apresentados alguns conceitos ao longo do livro como comunismo, ideologia, socialismo, proletariado e burguesia. A contextualização histórica para explicação do pensamento do autor é bastante utilizada ressaltando com enorme constância as condições da Revolução Industrial no Século XVIII e governos que segundo o apresentado, poderiam se caracterizar enquanto governos comunistas. Ao longo do capítulo também é possível notar que algumas noções apresentadas não seguem unicamente o pensamento do autor para explicação dos conceitos. Como, por exemplo, pode-se citar as noções de Socialismo e Comunismo, ambas alocadas em trechos a parte: “O Socialismo é um sistema político econômico que foi idealizado no século XIX em contraposição ao liberalismo e ao capitalismo. Concebido em reação às condições dos trabalhadores – salários baixos jornadas de trabalho abusivas etc. – esse modelo de organização social veio propor a extinção da propriedade privada dos meios de produção, a tomada do poder por parte do proletariado, o controle do Estado e a divisão igualitária de renda....p.63 “O Primeiro país a implantar o socialismo foi a Rússia, quando a Revolução de 1917 depôs o governo monarquista. Após a Segunda Guerra Mundial, o regime socialista foi introduzido em países do Leste Europeu, e a partir de então foi adotado por outras nações em diferentes lugares do mundo, como China, Cuba, alguns países africanos e outros do Sudeste Asiático. Embora o socialismo hoje em dia exista em poucos países como Cuba, China, Vietnã Líbia, Coréia do Norte e Laos – alguns governos se declararam socialistas por aderirem a determinadas posições em termos de política econômica e social é o caso dos governos de Hugo Chavez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia.” (GARCHET, MEDEIROS, 2010:64) Como apresentado logo acima é possível perceber que a autora não se prende somente à conjuntura da análise de Marx, transpondo o conceito de socialismo para interpretação de outros autores como a relação da doutrina socialista aos governos da Rússia, Cuba dentre outros. Em linhas gerais, este capítulo ressalta predominantemente a necessidade da ação política pela classe proletária enquanto ferramenta de supressão das desigualdades, segundo pensamento de Marx. Assim, é possível afirmar que a idéia de ação política, organização e mobilização política estão presentes neste capítulo. Tal pressuposto adequa-se segundo as diretrizes e os pré-requisitos de determinados Estados como o CBC de ensino e aprendizagem do Estado de Minas Gerais. O capítulo 7 (“Liberdade ou segurança?”) tem por ponto central as análises de democracia e liberdade do pensador francês Alexis de Tocqueville. Nessa parte, o livro apresenta o contexto da revolução Francesa e suas implicações levando-se em conta o denominado “Período do Terror” sob comando de Robespierre. Neste contexto, são colocadas as tensões entre democracia e liberdade apresentando os conflitos entre ambas segundo o pensamento do autor. “O que mais impressionou Tocqueville em relação à Revolução Francesa foi a violência em que ela se deu. Por que uma revolução que defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade levou ao Terror?. Lutar pelo ideal de igualdade pode levar à violência? O desejo de Liberdade pode resultar no seu contrário? Em que condições a luta pela liberdade e a igualdade leva a sua violência e sua tirania?... (GARCHET, MEDEIROS, 2010:73) Ao expor o “dilema tocquevilliano” o livro apresenta situações interpretando como a democracia e liberdade podem ser antagônicas. Assim, apresenta que a existência de uma pode minar a atuação da outra levantando questões como “até que ponto a democracia – que por vezes é associada neste capítulo a igualdade – ou em nome dela, pode-se desencadear transformações que minem a liberdade”, e qual o alcance máximo da liberdade desencadeando medidas antidemocráticas. A partir da análise, é possível afirmar que neste capítulo o tema central exposto pelo livre é o diálogo entre liberdade e igualdade. O capítulo 8 “As muitas faces do poder”, apresenta uma investigação sobre os processos de dominação e disciplina que visam controle da sociedade. Como principal autor para análise foi utilizado pelo livro o pensador francês Michel Foucault. Neste capítulo são apresentados processos de dominação nas sociedades pautados no modo de como essas próprias sociedades concebiam suas instituições, leis e o próprio saber científico. A idéia de normalidade e anormalidade é situada enquanto um método que exercia influência quanto o que vinha a ser tratado como certo e errado, exercendo influência tal como poder sobre os indivíduos. Dessa forma, é feita uma análise de como os princípios da medicina, educação e das instituições em geral foram alteradas ao longo dos tempos. Neste Capítulo é possível notar como ponto de forte recorrência em torno da análise a noção de poder inserido nas diferentes esferas. O Capítulo 17 possui por título a “Participação política direitos e democracia”, neste trecho são apresentados diversos pontos que permeiam o campo da Ciência Política. São abordadas as concepções de cidadania, direitos, deveres, liberdade de voto, formação de novas formas de socialização em locais em que o Estado não possui atuação de maneira efetiva e um aparato histórico apresentando as diferentes constituições no Brasil e os processos de mudanças que estas passaram. O livro trata a concepção de cidadania e democracia como pontos não inatos na sociedade, que dependeram de processos históricos ligados à ação dos indivíduos. Ao citar Elisa Reis, por exemplo, o livro traz a cidadania enquanto a iniciativa para participação nos bens que a sociedade produziu. É ainda apresentado que tal a noção foi reforçada a partir da concepção de cidade. Nestes termos a atuação na esfera política não poderia ser algo inato ou inerente à vida em sociedade, mas algo que depende do modo de atuação dos atores sua organização, e a própria maneira que estes se concebem. Ao tentar demonstrar a ação enquanto pertencente ao sistema democrático, o livro apresenta uma pesquisa realizada por José Murilo de Carvalho na região metropolitana do Rio de Janeiro e discute a desconfiança das pessoas quanto ao modo de determinadas instituições como, por exemplo, a justiça ou a efetividade da atuação da polícia. Desta forma, as concepções ajudariam a explicar o modo de atuação da sociedade enquanto sua concepção de cidadania. No capítulo 18 é tratado o tema da “Violência, crime e justiça no Brasil”. O capítulo trata a concepção do Estado para Weber enquanto a instituição que tem o monopólio do uso da força assim como da violência. Tal monopólio é apresentado como coerente considerando a crença na validade das leis tal como das instituições que provêm de um Estado democrático de direito. Nesta parte são ainda levantados fatores que poderiam desencadear a violência, resultando a ineficácia do Estado na resolução dos mesmos, o que pode abrir precedentes para a formação de uma sociabilidade pautada na violência, tal como o aparecimento de poderes paralelos como as milícias. O capítulo apresenta a definição de Constituição enquanto uma norma que atua enquanto um guia daquilo que é ou não permitido realizar dentro de um país, demonstrando como aos indivíduos poderiam agir coletivamente, como se organizaria um Estado, e o que é uma nação: “A Constituição é a Carta Magna de um País. Estão ali descritos todos os procedimentos, regras normas, autorizações e proibições pelos quais se guiam o Estado e sua população:como se organiza o governo, como os governantes são eleitos, como deve funcionar o sistema educacional, de que maneira o grupos e associações podem se expressar coletivamente, como trabalho deve ser remunerado, que direitos e deveres os indivíduos têm – enfim, em cada um de seus capítulos, encontramos um mapa que nos orienta sobre o que podemos e o que devemos fazer, ou o que não podemos ou não devemos fazer (GARCHET, MEDEIROS, 2010:206) Desta forma, é apresentada uma ideia de constituição enquanto um campo que expõe todo o modo de funcionamento de uma sociedade apresentando tudo aquilo que é ou não permitido. Segundo elaborado pelas autoras, a constituição variaria de país para país sendo fruto dos diferentes contextos. O Capítulo 20 com o título “Interpretando o Brasil”, apresenta o modo como foi pensado o país por diferentes autores como Roberto Da Matta, Sérgio Buarque de Holanda e Oliveira Vianna. Tal reflexão é relacionada à perspectiva de como funciona opera a sociedade no país a partir dos costumes e hábitos da população, e a dicotomia entre a esfera pública e privada, além do seu impacto nas diferentes instituições. “Sociologia para o Ensino Médio” – Nelson Dacio Tomazi O livro de Nelson Tomazi também foi um dos dois livros que obtiveram a aprovação do PNLD, atendendo, assim, segundo o próprio PNLD, as premissas elencadas no documento citadas anteriormente. A obra possui 256 páginas, dividida em sete unidades: “A Unidade 1, intitulada “A sociedade dos indivíduos”, compreende três capítulos dedicados à análise da relação entre indivíduo e sociedade. A Unidade 2, intitulada “Trabalho e sociedade”, é composta também por três capítulos que discutem as formas de organização do trabalho em diferentes épocas e sociedades, dando obviamente especial acento ao fenômeno na sociedade capitalista. A unidade 3 denominada “Estrutura social e desigualdades” dedica-se à discussão sobre modalidades de estratificação e desigualdade social e subdivide-se em três capítulos. A Unidade 4 intitulada “Poder, política e estado”, é a mais extensa, dividida em quatro capítulos. A Unidade 5 intitula-se “Direitos, cidadania e movimentos sociais”. Divide-se em quatro capítulos que, em certa medida, dão prosseguimento à discussão da unidade anterior. A Unidade 6 volta-se para o tema “Cultura e ideologia”, dedicando-se à reflexão sobre esses termo e o fenômeno da indústria cultural. Divide-se em três capítulos. A unidade7, “Mudança e transformação social”, divide-se em três capítulos e aborda a contribuição dos clássicos e contemporâneos para a compreensão da mudança social”. (PNLD, p.22, 2011) É possível ressaltar que na composição do livro as unidades 4 e 5 contemplam temas específicos da Ciência Política, tratando de assuntos como direito, cidadania e participação política, temas estes apontados pelo documento Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como essenciais para o ensino de Sociologia, contribuindo para a formação do cidadão crítico e consciente do seu papel na vida social. Essa característica do livro de Tomazzi ultrapassa alguns limites presentes no livro “Tempos Modernos, Tempos de Sociologia”, uma vez que, na obra de Bomeny e Freyre-Medeiros, os objetos característicos da Ciência Política ficam condensados em alguns capítulos, não em Unidades, como é o caso da obra de Tomazi. Nesse sentido, as autoras do livro “Tempos Modernos...” tratam, na maioria das vezes, a Ciência Política no decorrer da obra, sendo que a tais abordagens ficam implícitas em capítulos diversos, proporcionando, por vezes, uma apresentação pouco aprofundada dos temas específicos da área. Destrinchando o Livro de Tomazi, no que diz respeitos às unidades onde os objetos de análise típicos da Ciência Política estão mais presentes, tal artigo se encarregará de examinar cada capítulo dessas unidades. A unidade 4, intitulada “Poder, Política e Estado”, aborda em seu primeiro capítulo, cujo o título já diz “Como surgiu o Estado Moderno”. Nesse momento são trabalhadas as formas de Estado que emergiram desde o Estado Absolutista até o Estado Neoliberal. Ao falar de Estado Absolutista ele aborda o seu surgimento vinculado às transformações sociais e políticas que se davam na Europa a partir do século XIV. Perpassando pela constituição do Liberalismo Clássico, este, por sua vez, se revelava contrário aos preceitos fundamentais do absolutismo, já que visava a não intervenção do estado nas atividades de mercado e a separação entre público e privado. Enquanto direitos individuais, o livro ressalta a liberdade e individualidade pregadas pelo Liberalismo. A obra de Tomazi parte do crescimento acelerado da economia europeia e a busca por novos mercados entre os países Europeus como consequência da primeira Guerra Mundial, e com destruição deflagrada com o conflito. Ao final da Guerra o Liberalismo ruiu, dando espaço para o surgimento dos estados Nacionais - o Estado Soviético e os Estados pautados pelo fascismo e o Estado de Bemestar-social. Explicitando, ao final, como se deu a ruína tanto do Estado Facista quanto do Soviético. No que concerne ao surgimento do Estado de Bem - Estar Social, o texto o caracteriza por um estado típico de países capitalistas, no qual há uma tentativa de se constituir um modelo de organização política que responde às demandas da burguesia, bem como às necessidades da população. Este política estatal esteve presente nos EUA e em grande parte da Europa até a década de 70. No entanto, após a crise do petróleo houve uma necessidade de transformação dos preceitos do regime capitalista frente aos novos desafios instaurados. Nesse contexto, o liberalismo reaparece, com uma nova roupagem, mas baseado nos mesmos preceitos: mínima intervenção do Estado tanto no mercado, quanto na concessão de serviços públicos. Este modelo ficou conhecido como “Estado mínimo”. Nesse contexto, o livro elucida as privatizações e a intervenção cada vez mais crescente das grandes corporações no governo como exemplo. Tecendo uma análise mais profunda acerca dos temas levantados nesse capítulo, que trata das formas de organização do poder público, é notável a capacidade do autor de relacionar fatos históricos com transformações sociais e políticas, utilizando uma linguagem acessível, mas nem por isso simplificada. No entanto, para o presente artigo, há algumas lacunas no seu viés de pensamento. O texto, por exemplo, não elucida as bases da construção do Estado, ou de qualquer organização política, bem como da sociedade civil. Deixando de lado, assim, elementos relacionados à necessidade de se constituir um poder que garanta a vida em coletividade e, portanto, abordando o Estado como uma algo natural, que precede o homem, não o contrário. Na concepção deste artigo, poderia se suprir essa lacuna, valendo-se do “Contrato Social” de Rousseau. Não obstante, ao trabalhar a noção de Estado Mínimo nos anos 70 ele não traz a discussão para os dias atuais, quando governos tidos como de esquerda assumem o poder em países da América Latina. Governos esses que levantam uma bandeira contrária à ideia de Estado Mínimo, em oposição aos ideais neoliberais onde o governo se isenta do papel de garantidor de direitos. No capítulo 11 dessa mesma unidade, intitulado “O poder e o Estado”, o autor aborda as teorias Sociológicas clássicas sobre o Estado, focando em Marx, Durkheim e Weber. Ao fazer isso, o autor não só aborda as reflexões desses clássicos das Ciências Sociais, como também ambientaliza o leitor no que diz respeito ao contexto que as questões levantadas sobre o Estado foram elaboradas. No entanto, o Tomazi deixa de trabalhar temas, talvez por sua complexidade, que para o presente artigo poderia elucidar com mais rigor as partes constituintes do poder Estatal. Como a noção de Aparelho Ideológico de Estado, objeto de estudo de autores reconhecidos nas Ciências Sociais, como Antônio Gramsci e Louis Althusser. No decorrer do texto é possível notar a prevalência da noção de Estad,o corroborado pelo uso da força, deixando de lado, na maior parte das vezes, a repressão simbólica disseminada no seio da sociedade. Ainda nesse capítulo, o autor trata de “Democracia, representações e partidos políticos”, dissertando inicialmente sobre as bases nas quais a democracia representativa se consolidou. Nesse sentido, o autor aborda o surgimento dos partidos políticos enquanto uma demanda da sociedade que não detinha participação política no Parlamento, e em consequência disso se organizou em grupos políticos que começaram a lutar por suas demandas. Corroborando seu argumento, o Nelson Tomazi apresenta ao leitor Claude Lefort, autor de A invenção democrática (1983), obra na qual Lefort insurge com o argumento de que a democracia, tal como se concebe na atualidade, não é uma criação da burguesia, uma vez que esta sempre procurou limitar a concessão de direitos, bem como impedir o sufrágio universal. Com isso, o autor conclui que a democracia representativa se sucedeu a partir de demandas por participação política das classes até então, segregadas política e socialmente. Embora o autor se refira à democracia enquanto um regime político legítimo, ao final Tomazzi aborda uma série de riscos que comprometem a eficácia do regime democrático, assim como a sua credibilidade entre a população, como a corrupção, a desigualdade e a demagogia existente nos programas dos partidos políticos que, por vezes, não são consolidados quando estes alcançam o poder. Ao final deste capítulo, Tomazi trabalha outras noções de controle sobre os indivíduos que vão para além do poder emanado pelo Estado, como a sociedade disciplinar, destacando Michel Foucault enquanto principal pensador dessa vertente. Nesse momento ele polariza as discussões, afirmando ser esta outra forma de analisar as questões de poder, destacando, assim, questões que envolvem relações de poder presentes no cotidiano, através das instituições e práticas sociais convencionais. O terceiro capítulo dessa unidade traz a questão das relações de poder para o contexto brasileiro. “Poder, política e Estado”, capítulo 12, faz um apanhado geral das formas de organização política perpassando os tempos de Colonialismo, quando era Portugal o soberano nas decisões aqui tomadas, chegando até a era Collor, onde se instaurava no país o modelo de estado liberal democrático. Entre esses dois momentos históricos, o texto disserta sobre os avanços e retrocessos do Brasil, até alcançar um modelo de governo relativamente democrático. É possível concluir que este capítulo se atenta aos fatos históricos para alcançar a complexidade das transformações políticas, o que não é visto como um aspecto negativo por esse artigo, uma vez que, ao lançar mão de métodos historiográficos, o texto facilita a compreensão do leitor. No entanto, em alguns momentos de transição entre períodos de capital importância para o entendimento das relações de poder existentes no Brasil dos dias de hoje, a análise política dos fatos é preterida frente aos dados históricos. Algumas análises, um tanto mais aprofundadas a respeito da consolidação da democracia no Brasil, são deixadas de lado. Corroborando essa ideia pode-se citar o período que marcou o governo João Gourlart e o Golpe de 64. O livro de Tomazi explica os referidos momentos como uma consequência da ambição dos militares e cita a versão dos próprios, a qual justificava o golpe pela ameaça comunista. Para o presente artigo, alguns posicionamentos no que se refere às questões políticas que favoreceram a deflagração do golpe de 64 poderiam ser explicitados no livro. Wanderley Guilherme dos Santos, em “O Cálculo do Conflito”, interpreta o cenário político da época como de grande instabilidade e “imobilismo político”, no qual os partidos vigentes não conseguiam transformar as suas preferências políticas em projetos de fato. Não obstante, ainda há um cenário econômico em crise, alta da inflação. Mas justificar o golpe em cima disso, para o presente artigo, suprime suas causas políticas, de cunho interno que aconteciam no seio do poder estatal. No geral, esse capítulo aborda as diversas feições políticas já vivenciadas no Brasil, tratando das suas especificidades e dos seus contextos. Trabalhando a questão da escravidão enquanto uma contradição de uma monarquia liberal, chegando a um governo ditatorial pautado pela supressão de direitos. O desfecho do capítulo se dá com a Constituição de 1988, na qual se instaura um governo neoliberal no país, que para Nelson Tomazi só trouxe prejuízos, sem nunca chegar a ser um estado de bem-estar social. Fechando essa quarta unidade, tem-se o último capítulo cujo título é “A democracia no Brasil”, fazendo um apanhado geral sobre o desenvolvimento da democracia no país. Nesse capítulo o autor trabalha a descrença do povo na política, descrença essa pautada pelos constantes escândalos envolvendo corrupção. Citando o sociólogo Rudá Ricci, Tomazzi afirma que os partidos atualmente se transformaram em grandes máquinas empresariais, envoltos em estratégias de marketing extremamente avançadas. Para ele os partidos perderam sua capacidade de polarizar a sociedade, não deixando claro as suas diferenças em seus discursos. Nessa direção, o que se vê na política hoje são grupos de interesses (ruralistas, evangélicos, nordestinos, etc). E nesse contexto as instituições políticas locais, como a câmara de vereadores, ainda são alvo de pouca credibilidade. Portanto, para ele a democracia representativa no Brasil ainda é vista como sinônimo de corrupção, clientelismo e conchavos. Dessa forma, pode-se perceber como o texto relaciona o poder público na concessão de direitos privados. Nesse capítulo é possível notar, na concepção desse artigo, a supressão de um fato histórico emblemático para o Brasil: o Impeachment de Collor, marco para a democracia Brasileira. Pode-se afirmar que este fato seja um marco para a democracia brasileira uma vez que diz respeito a uma enorme manifestação popular de uma sociedade que passou anos calada pela ditadura. Ou ainda pode-se afirma-lo pautado na ideia de garantia de funcionamento do legislativo equilibrando o forte poder do Executivo, uma vez que uma decisão tomada no Senado colaborou fortemente para a derrubada do então presidente Collor. Pautar a democracia brasileira por um sistema de defesa de interesses privados, como é apresentado diversas vezes na obra de Tomazi, pode ser um equívoco, já que, por vezes, é a concessão de direitos a uma classe dirigente a responsável por garantir o funcionamento da democracia, evitando cenários “paralisia decisória”, tal como apontado por Wanderley Guilherme dos Santos. Para ilustrar essa forma de funcionamento da democracia Brasileira, o cientista político Sérgio Abranches, em 1988, cunhou a expressão “presidencialismo de coalizão”. Conceito recorrente nas discussões acadêmica, e que para este artigo poderia estar presente nos livros de Ensino Médio de Sociologia. Uma vez que explana a realidade em que está inserida a Democracia no Brasil, caracterizada por um Executivo forte que para exercer seu poder tem que conquistar uma base aliada no senado e congresso: “Ao tomar posse o presidente forma- se o governo à maneira de um primeiro-ministro, isto é, distribui ministérios – pasta – para partidos dispostos a apoiá-lo e assegura assim a formação de uma maioria parlamentar. Formando o governo, portanto, benefícios políticos das mais diversas ordens- influência sobre política, cargos, nomeações de parentes, sinecuras, prestígio etc. – são distribuídos aos membros da coalizão partidária que participa do governo. Em troca, o executivo espera os votos que necessita no Parlamento, ameaçando e, se necessário, punindo com a perda de benefícios recebidos aqueles que não apoiarem a coalizão” (LIMOLIMONGI; FIGUEREDO,1998: 98) Para o presente artigo tal idéia poderia ser elucidada nos livros didáticos, a fim de ambientalizar os alunos e alunas do Ensino Médio no que diz respeito às formas de organização da política no Brasil, ultrapassando às ideias do senso-comum, que explica a concessão de benefícios e postos no governo, na maioria das vezes pautados pela corrupção, clientelismo e má índole. Vale ressaltar que este artigo não tem a intenção de “desculpar” atos de corrupção, mas, sim, acredita que se faz necessário mostrar aos alunos e futuros eleitores como realmente funciona a democracia no Brasil. A Unidade 5 – “Direitos, cidadania e movimentos sociais” aborda a questão da cidadania enquanto um processo pautado nas ações dos indivíduos lutando por seus direitos, através de movimentos sociais demandando do aparato público seus interesses. Para tanto, Tomazzi, no primeiro capítulo da unidade intitulado “Direitos e Cidadania”, traz a tona um histórico de leis, que vão desde a Idade Antiga, visando garantir direitos, até a discussão atual que aborda a conquista de direitos humanos, legitimados por normas institucionalizadas. No decorrer do capítulo, a questão dos direitos que envolvem a cidadania é recorrente, designando as conquistas obtidas pelos movimentos sociais no século XVIII como fundamentais para a constituição da cidadania tal qual se percebe hoje. Dessa forma, ele elenca os direitos básicos do cidadão, como o direito à vida, o direito de ir e vir entre outros. Nesse momento, o autor insurge com a questão dos direitos básicos ainda não constituídos em boa parte da humanidade. O autor de a “Sociologia no Ensino Médio” responde a esse questionamento afirmando que a luta por direitos nunca deve ser estática, mas deve haver uma luta constante por sua manutenção e vigência, cotidianamente. É perceptível notar a aproximação deste capítulo com temas elencados nos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN, documento que trata a Sociologia como uma disciplina capaz de desenvolver um olhar crítico nos estudantes, bem como contribuir para a formação de um sujeito cidadão. O capítulo posterior a esse trabalha a questão dos movimentos sociais enquanto ações coletivas, ambicionado algum tipo de transformação. Para ele os esses movimentos são sempre confrontos políticos, uma vez que, na maioria das vezes estabelece relações com o Estado, ou contra, ou em parceria a este. Mesmo que algum movimento não exerça uma ação diretamente voltada para o poder público, ele visa alguma transformação no que se refere ao reconhecimento da diferença, ambicionando uma mudança nos padrões morais vigentes. A partir disso o texto segue abordando diversos movimentos sociais contemporâneos, que vão desde movimentos grevistas até movimentos em prol do respeito à diversidade sexual. Ao final da Unidade, Nelson Tomazi aborda a questão da cidadania e os movimentos sociais no Brasil. Nesse momento ele levanta uma questão comumente vista em trabalhos de Ciência Política acadêmicos, como o conceito de “cidadania regulada”. Nesse sentido, ele aborda a supervisão do Estado nos sindicatos, comum na Era Vargas, quando esses movimentos só recebiam algum tipo de proteção do Estado se estivessem reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e colaborassem com o Estado, perdendo assim sua liberdade de ação. O texto também trata das formas de opressão à cidadania no regime militar, quando os direitos civis básicos foram sumariamente violados pelo poder público. No que concerne à cidadania hoje, o capítulo em questão estabelece a Constituição de 1988 como marco para a constituição dos direitos no Brasil. Nesse momento, as propostas de direitos civis, sociais, políticos e humanos foram garantidas por lei. No entanto, Tomazi afirma que ainda há um longo caminho a percorrer para que esses direitos sejam alcançados de fato pela população brasileira. No que diz respeito aos exercícios presentes no livro, estes estão presentes ao final de cada unidade. Pode-se perceber que o autor prepara atividades que alcançam temas recorrentes em todos os capítulos anteriores. No entanto, ao traçar uma comparação com o livro Tempos Modernos, Tempos de Sociologia, é possível notar que o segundo traz um maior número de exercícios, pois ao final de cada capítulo há uma lista de atividades, e não no fim de cada Unidade como no livro de Tomazi. Não obstante, as autoras também apresentam exercícios mais diversos, não só com questões discursivas, como na obra de Nelson Tomazi, mas também objetivas, trazendo também questões do ENEM, processo seletivo hoje que está presente em grande parte das Universidades Federais do país. Também é possível notar grau de aprofundamento nos exercícios do livro Tempos Modernos. O que foi curioso, uma vez que, a partir de uma análise minuciosa dos livros, é perceptível a maior atenção destinada a assuntos da Ciência Política no livro de Nelson Dacio Tomazi. No entanto, seus exercícios se mostraram um tanto superficiais. Conclusão A partir da análise empreendida foi possível notar que os livros aprovados pelo PNLD, Tempos Modernos, Tempos de Sociologia e Sociologia para o Ensino Médio, abordam como temas principais: as Formas de organização do Estado, Cidadania, Poder e Participação Política, Liberdade e Democracia. Segundo o PNLD, os conteúdos de Ciência Política são indispensáveis na constituição do livro didático de Sociologia. Entretanto, segundo o próprio programa, o espaço destinado à temas específicos da área ainda se apresenta relativamente limitado. Após minuciosa análise dos livros aprovados pelo Guia Didático, percebeu-se que por mais que os assuntos relacionados à Ciência Política sejam dissecados em diferentes partes no decorrer do livro, a constância e aprofundamento das abordagens se mostraram um tanto restritas. Ocorrência agravante dessa situação reside no fato da disciplina de Sociologia contar com uma carga-horária reduzida comparada a outras disciplinas. O que necessariamente faz com que seu conteúdo tenha que ser adaptado para uma menor quantidade de aulas. Em Minas Gerais, por exemplo, grande parte das escolas possuem a carga horária semanal da disciplina de uma hora aula por semana, o que pode inviabilizar o aumento do tempo designado a tratar de assuntos típicos da Ciência Política. Outro fator que deve ser colocado em questão, consiste no fato de que, ao se fazer uma breve análise dos temas estudados ao longo do campo acadêmico, é possível notar alguma distância da produção dentro dos limites da universidade com o enfoque abordado nos livros de Ensino Médio, aprovados pelo PNLD, mais especificamente, os capítulos relacionados à Ciência Política. Por mais que exista semelhança quanto aos temas que a área trabalhe com boa parte nos livros didáticos, a forma de abordagem da ciência política na universidade ainda diverge muito quanto aos conceitos trabalhados, o contexto, e principalmente quanto ao recorte da configuração dos atores que envolvam a esfera pública, a concepção horizontal de política permitindo criação de “novos mundos” e as relações de poder. É válido ressaltar que se deve ter de uma diferença de aprofundamento entre Ensino Básico e a Academia, adequado também lembrar que parte dos documentos que norteiam a Sociologia no Ensino Médio como a Lei de Diretrizes e Bases e o PNLD exigem, ainda, apenas panorama geral do conteúdo de política, dada a conjuntura da disciplina de Sociologia. Entretanto, é preciso ressaltar que, caso se conceba o conhecimento da Ciência Política como um meio importante para análise da sociedade, vindo a contribuir para a formação dos indivíduos, enquanto um campo de saber que pode exercer um papel benéfico na educação Básica, é válido o argumento de que a aproximação entre os temas da Educação Básica com a Academia, assim como dos temas tratados no campo acadêmico com o ensino dado na escola pelo Ensino Médio, soam necessárias. Tendo por modelo de análise os temas das Mesas Redondas e das Áreas temáticas que serão realizadas no oitavo encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), em 2012, é possível notar que a maioria destas apresenta uma constância de temas bastante distintos das que são apresentadas pelos livros do Programa Nacional do Livro Didático. Ao Analisar os temas recorrentes na ABCP é possível notar assuntos praticamente isentos de menção no Ensino Básico como o das relações Internacionais, Teoria Elitista, e uma análise de política comparada. Exemplificando essa situação, o presente artigo valer-se-á da programação das mesas-redondas da ABCP, maior congresso de Ciência Política nacional: • A China: Grande potência do Séc. XXI? • A Ciência Política e as Relações Internacionais em revista: um debate sobre publicação e periódicos científicos; • Eleições nos EUA • Robert Michels: 100 anos da lei de ferro da oligarquia; • Elites, Processos de politização e redefinições de fronteiras da política • Internet e Poder Local • Balanço da pesquisa em política comparada na América Latina • Um diálogo entre continentes: democracias distintas e desafios comuns? Embora seja válido ressaltar que, enquanto presente no Ensino Médio, a disciplina de Ciência Política faz parte da disciplina de Sociologia, estando a pouco inserida no contexto escolar como disciplina obrigatória. Por meio da análise dos livros didáticos, da vivência acadêmica e dos temas abordados na ABCP, é perceptível notar uma lacuna separando a Academia e a Educação Básica. Os trabalhos referentes à Ciência Política correspondem aos mais diversos assuntos, dialogando diretamente com as transformações políticas e sociais equacionadas na sociedade civil e no poder público. Entretanto, para o presente artigo é extremamente proveitoso que a Educação Básica estabeleça um diálogo direto com as produções intelectuais mais recentes. Sendo essa apropriação da pesquisa acadêmica para os livros didáticos construída com rigor teórico e atento as demandas e especificidades dos estudantes do Ensino Médio. Dessa forma não se perderia a qualidade acadêmica e se alcançaria um aprofundamento da disciplina em sala de aula e no cotidiano escolar. Referências Bibliográficas: ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998 LIMONGI, Fernando; FIGUEREDO, Argelina, Bases Institucionais do presidencialismo de coalizão, - Lua Nova, 1998 - SciELO Brasil. GARCHET, Helena Maria Bomeny; MEDEIROS Bianca Stella Pinheiro de Freire, Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. 1ed. Editora do Brasil, 2010. TOMAZI, Nelson Dacio, Sociologia para o ensino médio. 1.ed. São Paulo: Atual,2007. ROSSEAU, Jean-Jecques, Do contrato Social. Ed. Ridento Castigat Mores. SANTOS, Wanderley Guilherme dos, O cálculo do conflito. Ed. UFMG, 2003 Guia de livros didáticos : PNLD 2012 : Sociologia. – Brasília : Ministério da Educação, Secretariade Educação Básica, 2011 Sociologia: ensino médio / Coordenação Amaury César Moraes. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. 304 p.: il. (Coleção Explorando o Ensino; v. 15) Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN- Ensino Médio; Ministério da Educação, Brasília 2002 Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ministério da Educação, Brasília, 2006 Currículos Básicos Comum – CBC – Sociologia, Secretaria do Estado de Minas gerais, 2006