Obesidade e Anemia Carencial na Adolescência
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Obesidade e Anemia Carencial na Adolescência
INSTITUTO DANONE O BESIDAD E E A NEM IA C ARENCIAL NA A DO LESCÊNCIA SIMPÓSIO INSTITUTO DANONE O Instituto Danone, entidade sem fins lucrativos e independente em relação à Danone S.A., tem por objetivo básico estimular a relação entre os pesquisadores e os profissionais das áreas de alimentação, nutrição, saúde e educação e, por intermédio destes, o grande público. O Instituto Danone tem, assim, por objetivo último, o de contribuir com a melhoria da qualidade da alimentação de toda a população. Dentre suas características, destacamos sua multidisciplinariedade e a pertinência de suas ações à realidade brasileira. A relação entre alimentação, nutrição e saúde é entendida em sentido amplo, envolvendo os aspectos sócio-econômico-educacionais. O primeiro Instituto Danone foi criado na França em 1991. A partir desta data, catorze outros Institutos foram criados: Alemanha, Bélgica, Espanha, Estados Unidos, Itália, Polônia, República Checa, Brasil, Canadá, China, Japão, México e Israel. O Instituto Danone foi criado no Brasil em junho de 1997 e reúne nomes de notória contribuição às áreas afins a seus objetivos, bem como colaboradores da Danone S.A. e conta em sua estrutura com dois órgão executivos: um Comitê Diretivo, com oito membros, e um Conselho Científico, com doze membros. COMITÊ DIRETIVO Presidente Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira, Nutrologia - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Vice-Presidentes Prof. Dr. Joel Alves Lamounier, Pediatria Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Gioji Okuhara, Direção Geral - Danone S.A. Membros Prof. Dr. Joel Alves Lamounier, Pediatria Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Profª. Dra. Emília Addison Machado Moreira, Nutrição - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Dra. Marília Regini Nutti, Engenharia de AlimentosEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Rio de Janeiro. Diretores Profª. Dra. Emília Addison Machado Moreira, Nutrição - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Mariela W. Berezovsky, Bioquímica - Danone S.A. Dra. Marília Regini Nutti, Engenharia de Alimentos - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Rio de Janeiro. Profª. Dra. Ana Marlúcia de Oliveira Assis, Nutrição Universidade Federal da Bahia, Salvador. Mariela W. Berezovsky, Bioquímica - Danone S.A. Tesoureiro Milad Mirkhan, Economia - Danone S.A. Secretário Geral Onofre Portella, Economia - Danone S.A CONSELHO CIENTÍFICO Presidente Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira, Nutrologia Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Dra. Sonia Rocha, Economia - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, Rio de Janeiro. Profª. Dra. Selma F. C. da Cunha, Nutrição Clínica Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba. Profª Dra. Rosa Wanda Diez Garcia, Nutrição Pontifícia Universidade Católica, Campinas. Profª. Dra. Denise Coitinho - Ministério da Saúde, Brasília. Prof. Dr. José G. Dórea, Bioquímica Universidade de Brasília, Brasília. Onofre Portella, Economia - Danone S.A COORDENAÇÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira Prof. Dr. Joel Alves Lamounier Profa. Dra. Ana Marlúcia O. de Assis Mariela Weingarten Berezovsky Onofre Alves Portella Jr. CATALOGAÇÃO NA FONTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO 012 Obesidade e anemia carencial na adolescência : simpósio. - São Paulo : Instituto Danone, 2000. 270p. : il.; 26 cm. ISBN 85-87923-02-1 1. Obesidade. 2. Anemia - Aspectos nutricionais. 3. Adolescentes - Saúde e higiene. I. Instituto Danone. CDD-616.398 INSTITUTO DANONE AV. MARIA COELHO DE AGUIAR, 215 BLOCO D 8O ANDAR 05804-900 SÃO PAULO SP TEL.: (11) 3741-9239 FAX: (11) 3741-9157 E-MAIL: [email protected] PREFÁCIO M ais uma vez o Instituto Danone do Brasil, entidade civil sem fins lucrativos e que tem como objetivo informar o público leigo e profissional sobre alimentação e nutrição, especializar e formar recursos humanos, implementar programas práticos relacionados à área, vem trazer aos interessados os anais do seu último simpósio sobre obesidade e anemia carencial na adolescência, que foi realizado nos dias 8 e 9 de Junho de 2000 em Salvador, Bahia. O nosso Instituto faz parte de um grupo mundial de outras organizações semelhantes que existem em 14 países: Canadá, Estados Unidos, México, Brasil, Espanha, Itália, Israel, China, República Checa, Japão, Polônia, Alemanha, Bélgica e França e que têm como objetivo comum identificar o papel que a alimentação e a boa nutrição têm na vida humana. Salientam também o valor da alimentação/nutrição no desenvolvimento físico e mental das crianças, na saúde física e social da comunidade, na capacidade de trabalho dos adultos, enfim, na qualidade de vida dos indivíduos e dos países de um modo geral. Algumas vezes os Institutos agem em conjunto, mas na maioria delas, têm suas ações propostas, selecionadas e implementadas de acordo com os problemas e/ou necessidades locais de cada um dos países membros. Compõe a nossa estrutura, um Conselho Científico e uma Diretoria Executiva, cujos componentes exercem suas atividades em caráter pessoal/profissional. O Instituto procura estabelecer uma ligação entre os educadores, os pesquisadores e outras pessoas interessadas, envolvidos em estudos de alimentos, alimentação e nutrição, incluindo as indústrias e empresas que desenvolvem atividades relacionadas, direta ou indiretamente, à área de alimentos. Essas ações incluem apoio e recursos para pesquisas, treinamento, bolsas, prêmios, reuniões, seminários, etc. Todas essas atividades são realizadas dentro dos mais estritos princípios éticos-científicos e sem qualquer informação ou objetivo comercial. Assinalamos a seguir alguns dos projetos e programas já desenvolvidos, nos últimos anos, pelo nosso Instituto Danone: I - Reuniões científicas com publicações de anais (disponíveis aos interessados) A idéia básica destas reuniões não é somente a realização do encontro científico e a publicação dos anais, mas o aspecto inovativo e importante é a continuidade de trabalho e atividades no assunto abordado, transferindo os conhecimentos disponíveis para utilização e benefício prático das pessoas da comunidade. Reuniões já realizadas: a) Grupo de trabalho (workshop): Alimentação equilibrada para a população brasileira, 15 e 16 de maio de 1998, em Florianópolis, Santa Catarina. Coordenação Científica: Profa. Emília Addison Machado Moreira. Este programa está tendo continuidade através do desenvolvimento de normas e guias da boa alimentação que serão distribuídos em caráter nacional; b) Simpósio: Consumo alimentar: as grandes bases de Informação, 31 de maio e 1o de junho de 1999, no Rio de Janeiro. Coordenação Científica: Dra. Sônia Rocha; c) Simpósio: Obesidade e Anemia Carencial na Adolescência, 8 e 9 de junho de 2000, Salvador, Bahia. Coordenação Científica: Prof. Joel Alves Lamounier e Profª. Dra. Ana Marlúcia Oliveira Assis. II - Programa de Incentivo à Pesquisa, Ensino e Serviços à Comunidade O objetivo deste programa é premiar, cada 2 anos, as mais importantes teses de doutoramento apresentadas nos últimos 2 anos nas áreas de alimentação e nutrição no Brasil. Além disso, são outorgadas aos vencedores, bolsas de pós-doutorado com duração de um ano. Este prêmio dá aos doutores a oportunidade de estagiarem e de se aperfeiçoarem em outro grupo ou instituição diferente daquele no qual se doutoraram e de reconhecida excelência na área de alimentação e nutrição. A primeira edição do prêmio foi realizada em 1998, com a participação de teses de 13 candidatos. Os trabalhos premiados foram: • “Avaliação do Estado Nutricional Relativo ao Zinco de Crianças com Diabetes Mellitus Insulino-dependente”, da Dra. Lúcia de Fátima Campos Pedrosa Schwarzschild, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com doutorado realizado na Universidade de São Paulo, sob a orientação da Profª. Dra. Sílvia Maria Franciscato Cozzolino. Está desenvolvendo seu pós-doutorado no Laboratório de Glicoproteínas - Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, sob a orientação da Profª. Dra. Luana Cassandra Breitenbach Barroso Coelho; • “Obtenção de concentrados e hidrolisados protéicos de tilápia do Nilo (Oreochromus niloticus): composição, propriedades nutritivas e funcionais”, da Dra. Lys Mary Bileski Cândido, da Universidade Federal do Paraná, com doutorado realizado na Universidade de Campinas sob a orientação do Prof. Dr. Valdemiro Carlos Sgarbieri. Desenvolve seu pós-doutorado no Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP, em São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando Moreno. A seleção dos candidatos aos prêmios e às bolsas para o período 2000-2001 está sendo realizada. Neste ano, além dos doutores, também os orientadores das teses de doutoramento serão premiados. A comissão julgadora, coordenada pelo prof. Joel Alves Lamounier, do Instituto Danone, está constituída pelos seguintes Professores: Prof. Dr. Carlos A. Nogueira de Almeida, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), SP; Prof. Dr. Daniel Ferreira da Cunha, Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG; Prof. Dr. Edison Tríboli, Curso de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos do Instituto Mauá de Tecnologia, São Paulo; Profa. Dra. Maria Emília Daudt von Heyde, Universidade Federal do Paraná; Profa. Dra. Semíramis Domene, PUC de Campinas, São Paulo; Prof. Dr. Tasso Moraes e Santos, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram inscritas 35 teses defendidas nos últimos 2 anos e a entrega dos prêmios será realizada em sessão solene durante o CIBRAN (Consórcio das Instituições Brasileiras na Área de Alimentação e Nutrição), em Curitiba, no dia 7 de dezembro de 2000. Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira Presidente do Instituto Danone SUMÁRIO PREFÁCIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... José Eduardo Dutra de Oliveira 11 SITUAÇÃO DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL .................................................. Joel Alves Lamounier 15 ESTADO DA ARTE DA ANEMIA NA ADOLESCÊNCIA: DISTRIBUIÇÃO E IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE .......................................................................... Ana Marlúcia O. de Assis 33 SITUAÇÃO DA ANEMIA NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL ........................................................ Maria de Lourdes Pires Nascimento 47 OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: IMPORTÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA ............................... Gloria Valeria da Veiga 53 A OBESIDADE NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES DO ADULTO............................................................................... Reynaldo Gomes de Oliveira 65 INDICADORES CLÍNICOS, ANTROPOMÉTRICOS, BIOQUÍMICOS E NUTRICIONAIS DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA ................................................................. Carlos A. Nogueira de Almeida; Luis Antonio Del Ciampo; Rubens Garcia Ricco 77 TENDÊNCIA SECULAR DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DE ADOLESCENTES BRASILEIROS DO NORDESTE E SUDESTE ENTRE 1974 E 1997...................................................... Luiz Antonio dos Anjos 89 ANEMIA FERROPRIVA ........................................................................................................................... Antonio de Pádua Carneiro Almeida 97 COMO MEDIR A INGESTÃO ALIMENTAR ?...................................................................................... Élido Bonomo 117 INSTRUMENTOS DE MENSURAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA .................................................... Robespierre Queiroz da Costa Ribeiro 127 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E GASTO ENERGÉTICO ....................................... Isa de Pádua Cintra 133 PERFIL DE CONSUMO ............................................................................................................................. Bárbara Regina Lerner 147 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA ....................................................................................................................................... João Eduardo Mendonça Vilela 161 OBESIDADE E FATORES ASSOCIADOS NA POPULAÇÃO JOVEM: SITUAÇÃO EM PORTUGAL E NA UNIÃO EUROPÉIA .................................................................... Cláudia Afonso; Pedro Graça; Maria Daniel Vaz de Almeida 177 EXPERIÊNCIAS EM PESQUISAS - (ÍNDICE GERAL DOS RESUMOS) ....................................................... 191 ANEXO - RELAÇÃO DOS PARTICIPANTES DO SIMPÓSIO............................................................ 265 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 10 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA INTRODUÇÃO O rganismos internacionais relacionados à saúde vêm nas últimas décadas assinalando que o sobrepeso e a obesidade, nos países desenvolvidos e mais recentemente também nos em desenvolvimento, vêm se tornando tão comuns que muitas vezes já sobrepassam tradicionais problemas como a subnutrição e as moléstias infecciosas. No Brasil, na transição epidemiológica que vivemos, podemos já incluir o aumento excessivo de peso, em diversas faixas etárias da nossa população, entre os atuais e mais importantes problemas de nutrição pública. E podemos acrescentar que o excesso de peso, que inicialmente estava presente só nos níveis sócio-econômicos mais privilegiados, está também atingindo pessoas de grupos e níveis populacionais mais modestos. É importante assinalar que, por um lado, em nosso país onde vai se tornando cada vez mais presente diversos graus de obesidade, que se exteriorizam pelo excesso de peso e acúmulo de gordura em diferentes partes do corpo, ela está diretamente e/ou indiretamente relacionada às moléstias crônicas degenerativas. Ela tem como causa fundamental o sedentarismo e a alimentação com excesso de energia , derivada especialmente de alimentos ricos em hidratos de carbono e gorduras. Tem sido, por outro lado, constatado a diminuição da subnutrição, caracterizada pelo baixo peso, pequena altura das crianças e baixa estatura dos adultos. Dados das últimas décadas mostravam que em 1975 tínhamos, no Brasil, um pouco mais de 8% de subnutridos e cerca da metade, 4%, de obesos, e que este quadro se inverteu em dados mais recentes que apontam 9% de obesidade e só 3% de subnutridos (Velhos e Novos Males de Saúde no Brasil). Deve-se, ao mesmo tempo, chamar a atenção que, em se tornando o excesso de peso um dos principais problemas de nutrição pública no Brasil, o outro que preocupa os estudiosos trabalhando na área de alimentação e nutrição, é a deficiência de ferro e a anemia ferropriva. A falta de ferro em nossa alimentação, especialmente de suas fontes de mais alta biodisponibilidade, aliada à prevalência de verminose e a períodos de necessidades aumentadas de ferro como na gestação, no aleitamento materno curto com desmame precoce e fases de crescimento acelerado, como nos pré-escolares, fazem com que a falta de ferro se torne o outro grande problema nutricional de nossa população. Esta deficiência pode e precisa ser prevenida o mais rapidamente possível, garantindo-se a ingestão diária desse micronutriente, em quantidade e em qualidade recomendadas. Assinale-se, também, que o ferro não é só INSTITUTO DANONE 11 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA importante para uma normalidade do quadro hematológico mas é fundamental para o desenvolvimento físico, neurológico e mental do organismo humano. Diga-se, também, que este problema não é exclusivo do nosso país, mas os órgãos das Nações Unidas assinalam que mais de 1/3 da população mundial, cerca de 2 bilhões de pessoas, apresentam anemia e deficiência de ferro. Entre nós, por exemplo, resultados divulgados em 2000 e obtidos em 5.742 crianças de 0-12 meses, em 11 cidades do país, mostraram uma prevalência de anemia de 58%. Dados de anos anteriores, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, apontavam, também, que mais de 50% de crianças do grupo etário de 6 a 24 meses têm anemia, e recentes estudos que realizamos (1999-2000) em creches de uma pequena cidade perto de Ribeirão Preto, comprovaram a presença de anemia em mais de 60% das crianças. O conjunto desses dados levou o Instituto Danone a reunir especialistas brasileiros de diversos estados para discutir a prevalência da obesidade e da deficiência de ferro/anemia ferropriva entre adolescentes. Estes, os adolescentes, são um grupo etário com algumas características próprias, incluindo um crescimento rápido e o aparecimento da menstruação nas moças, ao lado do desenvolvimento de outras características sexuais próprias da idade. Aumentam as necessidades de ferro nesta fase, podendo aparecer nesse período, especialmente nas meninas, casos de anemia e outras vezes de sobrepeso ou obesidade. As informações a respeito do “status” férrico e da anemia em adolescentes brasileiras são poucas, especialmente as publicadas em revistas especializadas. Dados de laboratórios clínicohematológicos, apontam a presença deste tipo de anemia em adolescentes, inclusive em mocinhas de nível sócio-econômico médio e alto. Os distúrbios relacionados às alterações de peso parecem ser mais comuns nesse grupo etário, chegando a casos extremos de magreza e até os de franca obesidade. Outras informações a respeito do assunto são também pequenas, como a sua distribuição nacional e prevalência nas diversas regiões do país. Os estudos apresentados na reunião em Salvador trouxeram informações sobre a presença da obesidade em adolescentes variando de 8 a 20% em diferentes estudos e em diversos lugares. O índice de massa corporal foi considerado o mais adequado parâmetro para o estudo nutricional do sobrepeso e da obesidade, mas vem sendo sujeito a outros estudos para que melhor se adapte ao seu uso rotineiro. A presença da anemia nesse grupo etário de adolescentes variou de 5 a 16% nos diferentes estudos apresentados e/ou disponíveis na literatura nacional. Chamou a atenção dos participantes esse pequeno número de estudos específicos sobre obesidade e anemia em adolescentes nos diferentes estados e regiões do país. Os grupos de estudo que fizeram reuniões durante o evento sugerem a divulgação dos dados apresentados no simpósio e apontam a necessidade de coletas de mais informações sobre obesidade e 12 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA anemia em adolescentes. Foi sugerida a realização de outros estudos sobre o assunto e, ao mesmo tempo, foi recomendada a implementação de programas comunitários de orientação alimentar e nutricional que possam ajudar a prevenir a obesidade e a anemia nos adolescentes brasileiros. Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira Presidente do Instituto Danone Professor e Diretor da Faculdade de Medicina Universidade de Ribeirão Preto INSTITUTO DANONE 13 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 14 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA SITUAÇÃO DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL Joel Alves Lamounier* INTRODUÇÃO A obesidade na infância e na adolescência está se tornando um problema cada vez mais freqüente. Nos países desenvolvidos, p.ex.: Estados Unidos, é considerada um importante problema de saúde pública. A obesidade, nesta fase da vida, tende a persistir na vida adulta, contribuindo significativamente para a morbi-mortalidade. Alguns estudos revelam que 50% de crianças obesas aos seis meses de vida e 80% daquelas aos cinco anos, serão sempre obesas. Os problemas de saúde no adulto envolvem maior incidência de diabetes, hipertensão, dislipidemia, colelitíase, doenças cardiovasculares, dentre outras, com grande impacto na vida adulta. Além disso, geralmente a obesidade está associada a problemas psicológicos e depressão. Com relação à classificação de obesidade e sobrepeso, a tendência é usar o Índice de Massa Corporal (IMC), também denominado de Índice de Quetelet(1), obtido pela fórmula peso/ estatura2, publicado em 1869 (Willet, Dietz & Colditz, 1999). Considera-se como sobrepeso os valores do IMC para os percentís 85-95%, e obesidade, acima do percentil 95%. Em publicação de 1995, a Organização Mundial de Saúde recomendou o uso do IMC de Must et al. (1991) obtidos de dados do NCHS, que foram corrigidos em outra publicação (Am J Clin Nutrition 1991, 54:773). Em recente publicação, Cole et al. (2000) propuseram pontos de corte e curvas de IMC na faixa etária de 2-18 anos, para uso internacional. Há também dados de IMC para população brasileira com dados da PNSN (Anjos, Veiga e Castro, 1998). Até o presente, o que tem sido proposto é continuar com o IMC com os pontos de cortes já estabelecidos para sobrepeso e obesidade na infância e adolescência, já que este índice tem sido validado contra medidas de densidade corporal (Bellizzi & Dietz, 1999). * Professor Adjunto, Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina da UFMG e do Curso de Pós-graduação em Pediatria da UFMG. (1) Matemático belga formado em 1819 pela Universidade de Ghent. Quetelet: A Phsyique sociale: ou, essai sur le développement des facultés de l’homme. Belgium. C. Muquardt, 1869. INSTITUTO DANONE 15 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA A falta de acordo entre os diferentes estudos, na classificação de obesidade na criança e no adolescente, tem dificultado obter uma visão geral sobre a prevalência neste grupo etário. Entretanto, a partir de estudos diversos, tem sido revelado um aumento na prevalência da obesidade, especialmente em países desenvolvidos. No Brasil, os dados são ainda pouco conhecidos, especialmente no que se refere a estudos de base populacional. SITUAÇÃO NUTRICIONAL NA INFÂNCIA Os dados nutricionais de crianças brasileiras coletados pelo IBGE na Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) datam de 1989. A pesquisa foi conduzida por amostragem em 14.455 domicílios, representativo de todo o Brasil em regiões urbana e rural, exceto a região Norte, onde não foi incluída a zona rural. A pesquisa incluiu 3.641 crianças de 6 a 35 meses de idade, sendo 1.869 em zona urbana e 1.772 em zona rural. Para antropometria foi usado as medidas de peso e altura, obtido com equipamento e material portátil. O índice de peso/altura foi usado para obesidade, sendo adotado como ponto de corte o percentil 95 peso/altura, da referência do NCHS. Para desnutrição, foi usado o ponto de corte do percentil 5 peso/idade. Os dados foram publicados por Mondini & Monteiro (1997) e revelam prevalência de obesidade de 9,0%, sendo de 8,5% para o sexo masculino e 9,6% para o feminino. Outros estudos têm confirmado a tendência crescente da obesidade em nosso meio (Monteiro et al., 1992; Sichieri, Recine e Everhart, 1995; Sawaya et al., 1995; Sichieri & Allan, 1996). Os dados de prevalência de desnutrição e obesidade, distribuídos em regiões urbana e rural do Brasil, estão ilustrados na Tabela 1. TABELA 1: PREVALÊNCIA DE DESNUTRIÇÃO E OBESIDADE EM CRIANÇAS DE REGIÕES URBANAS E RURAIS, NO BRASIL REGIÃO URBANA DESNUTRIÇÃO OBESIDADE RURAL DESNUTRIÇÃO OBESIDADE Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 22,5 18,6 6,9 5,1 7,7 5,9 4,3 13,2 14,5 6,3 25,3 13,8 5,6 13,2 5,5 5,0 11,0 6,8 Total 10,4 10,2 18,9 6,4 Fonte: Mondini & Monteiro, 1997. 16 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Os dados de prevalência (%) de obesidade por regiões no país, estão na Tabela 2. TABELA 2: PREVALÊNCIA DE OBESIDADE EM CRIANÇAS DE DIFERENTES REGIÕES, NO BRASIL REGIÃO URBANA RURAL Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 5,9 4,3 13,2 14,5 6,3 5,5 5,0 11,0 6,8 Total 10,2 6,4 Fonte: Mondini & Monteiro, 1997. Taddei (1993), utilizando os dados da PNSN de 1989 em 15.508 crianças menores de 10 anos, considerando o índice de peso/estatura > 120% da população de referência NCHS, encontrou as seguintes prevalências de sobrepeso: em meninos, de 7%; e em meninas, de 9%. Por faixa etária, a prevalência foi: 13,5% para 0-12 meses; 5,7% para 12-24 meses; 7,4% para 24-48 meses; 5,4% para 48-72 meses; 5,5% para 72-96 meses; e 11,6% para 96-120 meses. Engstrom & Anjos (1996), com base nos dados da PNSN, em14.914 crianças menores de 10 anos, usando o escore Z para peso/estatura da população de referência NCHS e considerando como sobrepeso Z P/E igual ou maior que 2, encontrou prevalência de 4,8%. Para o sexo masculino a prevalência foi de 4,5%, e para o sexo feminino, 4,9%. Arteaga et al. (1982), em Ribeirão Preto, São Paulo, avaliou a obesidade em 3 escolas de diferentes níveis sócio-econômicos, envolvendo 300 estudantes na faixa etária de 7 a 12 anos. Os estudantes foram selecionados de forma aleatória em 2 escolas, sendo que na escola de classe média alta foram todos incluídos. A prevalência total de obesidade foi de 16,7%, considerando como 20% acima do peso ideal para idade, para os índices de pesoaltura e peso-idade. As prevalências, para os escolares de nível sócio-econômico alto, médio e baixo, foram de 38%, 12% e 4%, respectivamente. SITUAÇÃO NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA Dados de estudos publicados de prevalência, tanto para sobrepeso como para obesidade, na adolescência são escassos. Os poucos estudos publicados e não publicados, mostram um crescente aumento da obesidade no Brasil, tanto em crianças como em adolescentes, a exemplo do que vem ocorrendo na população adulta. Esta tendência, provavelmente, tem relação com a mudança e transformações econômicas ocorridas nos últimos anos com a incorporação INSTITUTO DANONE 17 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA de hábitos alimentares e hábitos de vida de países desenvolvidos, aliados a um aumento do sedentarismo por diversos motivos, em particular nas grandes cidades. Neutzling (1998), analisando os dados da PNSN, para população de adolescentes, encontrou 7,6% de prevalência de sobrepeso, sendo que para o sexo masculino foi de 4,8% e para o sexo feminino de 10,5%. No estudo, não é informado o número e a faixa etária de adolescentes, bem como o índice utilizado para definir o sobrepeso. Estudos diversos no país referem-se a pesquisas com bases populacionais e a pesquisas isoladas em escolas e em ambulatórios médicos. Destes, destacam-se 5 estudos com bases populacionais: Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Rio de Janeiro (Tabela 3). Nestes estudos, foram usados o IMC, considerando-se como sobrepeso valores para percentís 8595%, e para obesidade acima do percentil 95%. Em 1993, Oliveira et al., em estudo realizado em Belo Horizonte com escolares da rede pública e privada de ensino, encontrou prevalência total de obesidade de 7,8%, usando as referências do IMC de ROSNER (1998). O estudo consistiu de uma amostra de 10.005 alunos, faixa etária de 6-18 anos da rede pública e privada de Belo Horizonte, representativo do universo de 486.166 alunos. Além de obesidade, foram coletados dados de pressão arterial e aplicados questionários para obter informações sobre as características sócioeconômicas das famílias, alimentação e atividade física e de lazer. Outros objetos da pesquisa foram: distúrbios de audição, cefaléias e acidentes. Em 1996, Von der Heyde et al., no estudo que abrangeu moradores de 68 bairros da cidade de Curitiba, que faz parte do Estudo Multicêntrico sobre Nutrição e Consumo Alimentar, financiado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde – INAN/ MS, encontrou prevalência de 15,56% para sobrepeso e obesidade (sobrepeso 11,16% e obesidade 4,40%). O estudo foi do tipo transversal com amostragem probabilística de 2.151 domicílios, selecionados a partir de setores censitários. Foram avaliados 636 adolescentes com idade entre 12 anos e 18 anos incompletos. Os resultados demostram que 80,82% da amostra estudada apresentou IMC considerado normal, de acordo com a classificação para adolescentes proposta pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995). Em 1998, Ribeiro et al., em Belo Horizonte, avaliou 981 adolescentes, selecionados aleatoriamente entre 545.046 escolares de 1o e 2o graus, idade 10-18 anos, distribuídos em escolas púbicas e particulares. O IMC foi utilizado como parâmetro de identificação dos adolescentes com sobrepeso/obeso (acima do percentil 85), segundo critérios de Rosner (1998). Foram realizadas análises descritivas dos dados e testes de comparação entre as médias, considerando um nível de significância de 5%. Foram encontrados 8,5% deadolescentes com sobrepeso e obesidade acima do percentil 85 do IMC, sendo de 2,1% 18 INSTITUTO DANONE INSTITUTO DANONE TABELA 3: PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA - ESTUDO COM BASE POPULACIONAL REFERÊNCIA LOCAL E CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO NÚMERO DE ADOLESCENTES M F T PREVALÊNCIA % SOBREPESO M F T PREVALÊNCIA % OBESIDADE M F T PREVALÊNCIA % TOTAL M F T Belo Horizonte, MG Transversal Amostra de escolares 6 a 18 anos da rede pública e privada - - 1005 - - 5,7 - - 2,1 - - 7,8 Von der Heyde et al., 1996 Curitiba, PR Transversal Amostra de adolescentes colhidos em domicílio - - 636 - - 15,6 - - 4,4 11,2 4,4 15,6 Ribeiro et al., 1998 Belo Horizonte, MG Transversal Escolares 6-18 anos da rede pública e privada selecionados por amostra - - 981 - - 6,4 - - 2,1 - - 8,5 Castro et al., 1999 Rio de Janeiro, RJ Transversal Amostra de escolares da 1ª a 8ª série da rede municipal de ensino - - 1945 - - 10,4 (9,3-10,4) - - 6,4 (5,2-7,0) - - 12,2 308 313 621 - - - 14,6 7,7 22,3 14,6 7,7 22,3 Salles et al., 1999 Florianópolis, SC Transversal Amostra de escolares da rede pública e privada OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Oliveira et al., 1993 19 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA o percentual de apenas obeso (acima do percentil 95 do IMC). Outro objetivo do estudo foi avaliar níveis de colesterol, prevalências de distúrbios alimentares e imunidade para hepatites virais. Em 1999, Castro et al., no Rio de Janeiro, avaliou uma amostra de 1.945 alunos, representativa da pré-escola, 1o (1ª a 4ª série) e 2o (5ª a 8ª série), segmentos do ensino fundamental, sorteada por conglomerado (turmas), totalizando 122 turmas. Do total de adolescentes, 69,2% e 30,8% tinham idade entre 10-13,9 e >14 anos, respectivamente. Na avaliação nutricional utilizou-se o IMC < percentil 5 (P5) para baixo peso (BP), IMC entre P85-P95 para sobrepeso (SP) e IMC >P95 para obesidade (Must et al., 1991; WHO, 1995). O sobrepeso e obesidade foi de 10,4% e 6,4%, respectivamente, sendo evidenciada uma tendência estatisticamente significativa de crescimento da obesidade com o aumento da escolaridade materna (p<0,05). Na faixa etária de 10 a 13,9 anos, o sobrepeso foi de 9,6% e 12,1% para meninos e meninas. Nesta mesma faixa etária, a obesidade foi de 7,6% e 6,3%, respectivamente, para meninos e meninas. Para faixa etária acima de 14 anos, os valores de sobrepeso foram de 6,8% e 12,1%, respectivamente. Para obesidade, os valores foram 4,8% e 5,5%, respectivamente. Nas faixas etárias descritas, a prevalência total de sobrepeso foi de 10,9% e 9,3%, e para obesidade a prevalência total foi de 7,0% e 5,2%. Em 1999, Salles et al., em Florianópolis, avaliou a obesidade em estudantes na faixa etária de 10 a 17,11 anos da rede pública e privada de ensino. Foram avaliados 621 adolescentes, sendo 224 da rede privada e 397 da rede pública, dos quais, 313 são do sexo feminino e 308 do sexo masculino. Para avaliação antropométrica foi utilizado o IMC, considerando-se o ponto de corte para o sobrepeso e obesidade os valores de IMC igual ou superior a P85 e P95, respectivamente, usando referências da OMS. Os dados mostraram maior incidência de obesidade na rede de pública de ensino (13,1%) do que na rede privada de ensino (7,6%). O sexo feminino da rede pública apresentou maior incidência de obesidade (11,6%), quando comparada com a rede privada. No total, houve maior incidência de obesidade no sexo masculino (14,6%), comparado ao sexo feminino (7,7%). Pode-se observar que nos cinco estudos populacionais, realizados nas capitais Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Florianópolis mostram uma tendência para o crescimento da obesidade. A prevalência total de obesidade foi de: 7,8% em Belo Horizonte, no ano de 1993; 15,6% em Curitiba, em 1996; 8,5% em Belo Horizonte, em 1998; 12,2% no Rio de Janeiro, em 199; e 22,3% em Florianópolis, no ano de 1999 (Figura 1). Dados de sobrepeso e obesidade em estudos localizados, tanto em escolas como em ambulatórios, estão ilustrados na Tabela 4, todos utilizando o IMC, percentis 85-95% para sobrepeso, e acima do percentil 95% para obesidade. 20 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 1: PREVALÊNCIA DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA, OBTIDA DE ESTUDOS POPULACIONAIS Prevalência da O besidade e Sobrepeso na A dolescência Estudos Populacionais P E R C E N T A G E M 25 22,3 20 15,6 15 10 12,2 8,5 7,8 5 0 BH 1993 C uritiba 1996 BH 1998 RJ 1999 Fpolis 1999 PREVALÊNCIA DE OBESIDADE: ESTUDOS EM ESCOLAS E AMBULATÓRIOS MÉDICOS Em Recife, Silva & Balaban (2000) realizaram um estudo do tipo transversal com 430 estudantes de 10 a 19 anos de uma escola da rede privada, sendo154 do sexo masculino e 276 do sexo feminino. Foi avaliado a prevalência de sobrepeso e obesidade. O sobrepeso foi definido como IMC igual ou superior ao percentil 85, para idade e sexo. Foram classificados como obesos os indivíduos com sobrepeso e espessura da prega tricipital igual ou superior ao percentil 85. A prevalência de sobrepeso foi de 20% com variação de 16% a 24%; para obesidade foi de 4,2% com variação de 2 a 6%. O sobrepeso foi maior nos adolescentes do sexo masculino (35,7%) do que nos do sexo feminino (11,2%) (p<0,001). A obesidade também foi mais freqüente nos adolescentes masculinos (9,7%) do que nos femininos (4,2%) (p<0,001). Encontrou-se correlação positiva entre IMC e espessura da prega tricipital (r=0,61). Em Montes Claros, MG, Nunes & Pereira (2000) avaliaram a prevalência do sobrepeso nos adolescentes de um colégio de classe média/alta. Procurou-se, também, verificar associação entre o sobrepeso dos adolescentes e a obesidade dos pais, associação entre o sobrepeso dos adolescentes e a prática de atividades físicas. Foram avaliados todos os 281 adolescentes do colégio, 149 meninos (53%) e 132 meninas (47%), com idade entre 10 e 18 anos. Os adolescentes foram pesados e medidos e responderam a um questionário sobre a sua prática de atividade física e sobre as características antropométricas dos pais. Para a definição do sobrepeso utilizou-se como ponto de corte o percentil 95 do IMC das curvas de referência construídas a partir do peso e altura representativos de adolescentes brasileiros. Foi encontrado sobrepeso em 62 adolescentes (22,1%), sendo 46 meninos (30,9%) e 16 meninas (12,1%). INSTITUTO DANONE 21 22 TABELA 4: PREVALÊNCIA DE SOBRE PESO E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA - ESTUDOS REALIZADOS EM ESCOLAS E AMBULATÓRIOS DE SAÚDE REFERÊNCIA Priore, 1998 Balaban & Silva, 2000 Silva & Balaban, 2000 Costa et al., 2000 Nunes & Pereira, 2000 Priore & Ribeiro, 2000 Menezes et al., 2000 Goldberg et al., 2000 Garcia et al., 2000 INSTITUTO DANONE Goldberg et al., 2000 Garcia et al., 2000 Lamounier et al., 2000 São Paulo, SP. Transversal. Adolescentes 12-17 anos de 7 escolas públicas. Seleção não amostral Niterói, RJ Transversal. Todos alunos de uma escola de classe média, faixa etária de 15-17 anos Balaban & Silva, 2000 Recife, PE Transversal. Adolescentes de uma escola de classe média/alta. Seleção por amostragem Rio de Janeiro, RJ Transversal. Escolares em uma Feira de Saúde. Seleção não amostral Montes Claros, MG Transversal. Todos adolescentes de uma escola de classe média/alta. Viçosa, MG Programa de Atenção a Saúde do Adolescente da UFV Goiânia, GO Gestantes adolescentes. Dados de antropometria. Não amostral Botucatu, SP Ambulatório de Adolescência. Prontuário médico, dados de 1993-1996 Botucatu, SP Ambulatório de Adolescência. Prontuário médico, dados de 1988-1992 Belo Horizonte, MG Ambulatório de Adolescência HC/UFMG. Amostra de prontuários médicos de 1999 NÚMERO DE ADOLESCENTES M F T PREVALÊNCIA % SOBREPESO M F T PREVALÊNCIA % OBESIDADE M F T PREVALÊNCIA % TOTAL M F T 160 160 320 15,6 14,0 14,7 - - - - - - 183 208 391 - - - - - - 23,9 7,2 - 154 276 430 35,7 11,2 20,0 (16-24) 9,7 4,2 4,2 (2.0-6.0) - - - 74 99 173 12,3 11,0 11,6 - - - - - - 149 132 281 - - - - - - 30,9 12,1 22,1 200 - - 36,0 - - - - - 36,0 - 235 235 - - 5,8-11,1 - - 2,1-2,5 - - - 107 151 258 - - - - - - 40,2 48,3 - 103 108 211 - - - - - - 12,6 26,9 - 47 66 114 21,3 16,7 18,5 - - - 21,3 16,7 18,5 - - OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Fonseca et al., 1998 LOCAL E CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Maiores médias de IMC dos adolescentes foram encontradas quando um ou os dois pais eram considerados obesos. Quando os pais foram considerados normais ou magros a média do IMC foi de 20,4 para os meninos e de 19,9 para as meninas. Quando um dos pais foi considerado gordo, a média do IMC foi de 22,2 para os meninos e de 20,7 para as meninas e quando os dois pais foram considerados gordos, a média do IMC foi de 21,8 e 22,2, respectivamente, para os meninos e meninas. A grande maioria dos adolescentes realizava atividade física regularmente, não sendo encontrada diferença entre os adolescentes normais e os com sobrepeso. Em Vitória, ES, Almeida et al. (2000) avaliaram a prevalência de obesidade e sobrepeso em 52 estudantes adolescentes (25 da escola pública e 27 da particular), do primeiro e segundo graus. A amostra aleatória consistiu de 1.020 estudantes, 480 da escola pública, de um bairro pobre e 540 de escola particular, em um bairro de classe média alta. O IMC foi analisado de acordo com os valores de sobrepeso e obesidade segundo a publicação (BMJ 2000; 320:1240 / 6 May). Dos 52 alunos entrevistados, o sobrepeso e obesidade foi presente em 13,4%. Apresentaram sobrepeso 11,5%, com igual distribuição entre os sexos. Obesidade foi encontrada em uma adolescente do sexo feminino da escola pública (2%). Em São Paulo, Priore (1998) avaliou adolescentes de 7 a 17 anos matriculados em 7 escolas públicas da capital. A seleção foi não amostral, sendo considerado o número de 320 alunos, 160 do sexo masculino e 160 do sexo feminino. Usando o IMC, foi encontrado prevalência de 15,6% e 14,0% de sobrepeso para os sexos masculino e feminino, respectivamente. A prevalência total de sobrepeso foi de 14,7. Em Piracicaba, SP, Silva; Ferratore e Terezani (1999) avaliaram a prevalência de sobrepeso em 8.731 escolares com idade acima de 11 anos, em 64 escolas. Considerando-se o percentil 85 do IMC, encontrou-se 23,8% de sobrepeso. Em Natal, RN, Lyra & Mendonça (2000) avaliaram 323 alunos, idade de 16 a 20 anos, selecionados por amostragem em 36 escolas públicas, sendo 145 do sexo masculino e 178 do sexo feminino. Através da antropometria, utilizando-se as medidas de peso e altura, a prevalência de sobrepeso foi de 17,9% para o sexo masculino e 10,1% para o sexo feminino, considerando-se o IMC proposto por Sichieri & Alan (1996). No Rio de Janeiro, Costa et al. (1999) avaliaram a prevalência de sobrepeso entre adolescentes atendidos na I Feira de Saúde do Núcleo de Estudos de Adolescência. Em 71 adolescentes, faixa etária de 12-19 anos, sendo 14 masculinos, a prevalência de sobrepeso foi de 17,6%, usando-se o IMC. Para o sexo masculino e feminino os valores foram 28,6% e 15,5%, respectivamente. Em outro estudo, Fonseca et al. (1998) avaliaram todos alunos de uma escola de classe média, em Niterói. De 391 alunos, faixa etária 15-17 anos, 208 do INSTITUTO DANONE 23 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA sexo feminino e 183 do sexo masculino, a prevalência de obesidade foi 7,2% e 23,9%, respectivamente. Em Ouro Preto, MG, Barros et al. (2000) avaliaram 418 adolescentes de bom nível social, faixa etária de 10 a 20 anos, 199 do sexo feminino e 219 masculino. Utilizando-se o IMC, percentil > de 85, a prevalência de obesidade/sobrepeso foi 16,6% para o sexo feminino e 25,8% para o sexo masculino. A elevada percentagem de gordura, medida pelo DEXA, em ambos sexos, sugere tratar-se de um grupo de risco para doenças crônico-degenerativas na vida adulta. Em Botucatu, SP, Goldberg, Baiocchi Neto e Curi (2000) em estudo com pacientes atendidos no Ambulatório de Adolescência da Faculdade de Medicina, analisaram prontuários de 469 adolescentes matriculados no período de 1988 a 1996, sendo que 211 haviam se matriculados no período de 1988 a 1992, e 258 no período compreendido entre 1993 e 1996. Compunham o primeiro grupo 108 adolescentes do sexo feminino e 103 do sexo masculino, e do segundo, 151 do sexo feminino e 107 do masculino. Na avaliação nutricional utilizou-se o IMC e a relação peso observado/peso esperado (p50) para estatura observada x 100. No primeiro período de estudo, de 1988 a 1992, a prevalência de sobrepeso e obesidade para o sexo feminino foi de 26,8% e para o masculino de 12,6%. No período de 1993 a 1996 foi de 48,3% para o feminino e 40,2% para o masculino. Portanto, no período estudado, observouse um aumento de sobrepeso e obesidade. Em Belo Horizonte, Lamounier et al. (2000) em estudo retrospectivo, com dados de prontuários médicos, avaliaram a prevalência de sobrepeso em adolescentes no Ambulatório de Adolescência do Hospital das Clínicas da UFMG. Amostra foi randomizada e constituiu de 145 adolescentes, de um total de 332 adolescentes atendidos no ano de 1999. Houve perda de 31 prontuários (21,3%) devido a idade fora dos limites estabelecidos, prontuários inexistentes ou não encontrados, e pacientes sem medidas antropométricas. Sobrepeso foi definido como IMC igual ou superior ao percentil 85, para idade e sexo. O número final para análise foi de 114 pacientes, sendo 47 (41,6%) do sexo masculino e 66 (58,4%) do sexo feminino (não foi possível identificar o sexo de um adolescente, devido à ausência deste dado no prontuário). A faixa etária considerada foi de 10 a 20 anos, média de idade de 15,6 anos e desvio padrão de 1,5 anos. A mediana e a moda foram de 16 anos. A prevalência de sobrepeso em adolescentes foi de 18,5% (21 adolescentes), sendo no sexo masculino de 21,3% (10 em 47 adolescentes) e no sexo feminino de 16,7% (11 em 66 adolescentes). Não foi evidenciado diferença estatisticamente significativa entre sobrepeso e as variáveis sexo e idade. 24 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Em Viçosa, MG, Priore & Ribeiro (2000) avaliaram obesidade e sobrepeso com dados obtidos na primeira consulta de adolescentes do serviço especializado, denominado PROASA (Programa de Atenção à Saúde do Adolescente) da Universidade Federal de Viçosa. O programa atende filhos de servidores e alunos dos cursos de graduação e do Colégio Universitário, objetivando promover a saúde e nutrição do adolescente da comunidade universitária, em atividades individuais e de grupo. De 200 adolescentes cadastrados, verificouse que 72,9% procurou o serviço por iniciativa própria, sendo a maioria do sexo feminino (65,4%). Dos motivos citados, 95,2% desejavam uma avaliação nutricional, sendo que, destes, 45,2% alegaram querer diminuir o peso corporal. Os outros motivos foram: orientação sobre suplementos (0,8%) e exame bioquímico alterado (4%). Dos casos de história familiar, a obesidade foi informada em 68,4% e hipercolesterolemia em 55,7%. Em relação ao estado nutricional, avaliado pelo IMC seguindo o proposto pela WHO (1995), 70 (42%) eram distróficos, sendo que, destes, 83% apresentavam-se com sobrepeso, portanto, uma prevalência de 35%. Em Salvador, Passos, Deiró e Medeiros (1999) avaliaram 56 adolescentes na faixa etária de 10-14 anos, atendidos no Ambulatório de Adolescência do Hospital da Universidade Federal da Bahia. Usando-se o IMC, para os valores de percentís estabelecidos, foi encontrado 37,5% de obesidade e 10,7% de sobrepeso. REFERÊNCIAS PARA IMC Os valores de IMC desenvolvidos por Must et al. (1991) e Rosner et al. (1998) têm sido os mais usados para definir sobrepeso e obesidade, com pontos de corte para percentil 85-95 e acima de 95, respectivamente (Tabela 3). Os dados de Must et al. são recomendados pela OMS (WHO,1995) cujas curvas de percentis foram calculadas a partir de uma amostra de 20.839 americanos entre 6 e 74 anos. Os dados de Rosner et al. referem-se a uma amostra de 66.772 crianças e adolescentes americanos na faixa etária entre 5 e 17 anos. Recentemente, Cole et al. (2000) sugeriu curvas de percentis para definir obesidade e sobrepeso na infância e adolescência, calculados a partir de uma amostra de 192.727 crianças e adolescentes, na faixa etária de 2 a 18 anos, representativas de populações dos países: Brasil, Inglaterra, China, Holanda, Singapura e Estados Unidos, (Tabela 4). Os valores do IMC foram obtidos e calculados de médias de estudos abrangentes nestes países, dando um caráter internacional. Os autores sugerem pontos de corte para obesidade na infância e adolescência definidos pela curva de percentil do IMC, englobando os valores de 25 e 30, recomendado pela OMS, respectivamente, para sobrepeso e obesidade. INSTITUTO DANONE 25 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 3: VALORES DE IMC PARA PERCENTIS 85 E 95 POR SEXO SEGUNDO REFERÊNCIAS DE ROSNER ET AL. E DE MUST ET AL. PERCENTIL 85 IDADE ANOS MASCULINO Must Rosner PERCENTIL 95 FEMININO Must Rosner MASCULINO Must Rosner FEMININO Must Rosner 5 ... 17,2 ... 16,9 ... 18,3 ... 18,5 6 7 16,64 17,37 17,4 17,8 16,17 17,17 17,2 17,9 18,02 19,18 19,0 20,0 17,49 18,93 19,3 20,4 8 9 18,11 18,85 18,6 19,7 18,18 19,19 18,9 20,1 20,33 21,47 21,5 23,1 20,36 21,78 21,7 23,0 10 11 19,60 20,35 20,9 21,9 20,19 21,18 21,4 22,6 22,60 23,73 24,6 25,7 23,20 24,59 24,5 26,1 12 13 21,12 21,93 22,6 23,2 22,17 23,08 23,6 24,4 24,89 25,93 26,5 27,1 25,95 27,07 27,5 28,6 14 15 22,77 23,63 23,7 24,5 23,88 24,29 24,9 25,2 26,93 27,76 27,8 28,7 27,97 28,51 29,3 29,6 16 17 24,45 25,28 25,4 25,9 24,74 25,23 25,5 25,9 28,53 29,32 29,8 30,0 29,10 29,72 29,9 31,3 18 19 25,92 26,36 ... ... 25,56 25,85 ... ... 30,02 30,66 ... ... 30,22 30,72 ... ... Fonte: Rosner et al. The Journal of Pediatrics 132(2), 1998: 211-21 Fonte: Must et al. American Journal of Clinical Nutrition 53, 1991: 839-46, 1991 e vol. 54, 1991: 773 CONCLUSÃO Em que pese a importância médico e social da obesidade, a literatura mostra poucas informações a este respeito. Assim, verifica-se uma falta de acordo entre os diferentes estudos para os critérios adotados na classificação de obesidade no adolescente. Isto tem dificultado obter uma visão geral da prevalência neste grupo etário. No entanto, a maioria dos estudos tem revelado um aumento na prevalência da obesidade na adolescência, a exemplo do que vem ocorrendo na população adulta. Fato este, evidenciado nos estudos populacionais realizados com amostras representativas da população brasileira. A elevada prevalência de adolescentes com sobrepeso e obesos, obtido através de estudos populacionais, justificaria a necessidade da elaboração de um programa de prevenção primária dessa condição, nesta faixa etária. 26 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 4: VALORES DE IMC PARA SOBREPESO E OBESIDADE AGRUPADOS POR SEXO E FAIXA ETÁRIA, SEGUNDO A REFERÊNCIA DE COLE ET AL. IDADE ANOS IMC DE 25 (SOBREPESO) MASCULINO FEMININO IMC DE 30 (OBESIDADE) MASCULINO FEMININO 2,0 2,5 18,41 18,13 18,02 17,76 20,09 19,80 19,81 19,55 3,0 3,5 17,89 17,69 17,56 17,40 19,57 19,39 19,36 19,23 4,0 4,5 17,55 17,47 17,28 17,19 19,29 19,26 19,15 19,12 5,0 5,5 17,42 17,45 17,15 17,20 19,30 19,47 19,17 19,34 6,0 6,5 17,55 17,71 17,34 17,53 19,78 20,23 19,65 20,08 7,0 7,5 17,92 18,16 17,75 18,03 20,63 21,09 20,51 21,01 8,0 8,5 18,44 18,76 18,35 18,69 21,60 22,17 21,57 22,18 9,0 9,5 19,10 19,46 19,07 19,45 22,77 23,39 22,81 23,46 10,0 10,5 19,84 20,20 19,86 20,29 24,00 24,57 24,11 24,77 11,0 11,5 20,55 20,89 20,74 21,20 25,10 25,58 25,42 26,05 12,0 12,5 21,22 21,56 21,68 22,14 26,02 26,43 26,67 27,24 13,0 13,5 21,91 22,27 22,58 22,98 26,84 27,25 27,76 28,20 14,0 14,5 22,62 22,96 23,34 23,66 27,63 27,98 28,57 28,87 15.0 15,5 23,29 23,60 23,94 24,17 28,30 28,60 29,11 29,29 16,0 16,5 23,90 24,19 24,37 24,54 28,88 29,14 29,43 29,56 17,0 17,5 24,46 24,73 24,70 24,85 29,41 29,70 29,69 29,84 18,0 25,00 25,00 30,00 30,00 Fonte: Cole et al. Bristih Medical Journal 320, 2000: 1-6 INSTITUTO DANONE 27 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A.P.C.; COSTA, L.C.; GOMES, R.N. Prevalência de obesidade e sobrepeso em estudantes adolescentes de diferentes classes sociais. Simpósio: Obesidade e anemia carencial na adolescência. Instituto Danone. Salvador, Bahia, 8-9 de junho de 2000. ANJOS, L.A.; VEIGA, G.V; CASTRO, I.R.R. Distribuição dos valores dos índices de massa corporal da população brasileira até 25 anos. Rev Panam Salud Pública 1998, 3(3): 164-172. ARTEAGA, H.P.; SANTOS, J.E.; DUTRA DE OLIVEIRA, J.E. Obesity among schoolchildren of different socioeconomic levels in a developing country. International Journal of Obesity 1982, 6, 291-297. BALABAN, G.; SILVA, G.A.P. Prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de uma escola de classe média/alta de Recife. Simpósio: Obesidade e anemia carencial na adolescência. Instituto Danone. Salvador, Bahia, 8-9 de junho de 2000. 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A anemia normalmente está associada à ingestão inadequada de alimentos fontes de ferro, particularmente daqueles disponíveis em ferro heme (INAGC, 1993); ao consumo de altas quantidades de inibidores da absorção desse micronutriente; e à carga de morbidade, principalmente àquelas representadas pelas parasitoses (ACC/SCN, 1997a). Dentre as parasitoses intestinais associadas com a anemia, destacam-se as helmintíases intestinais, particularmente os geo-helmintos, e dentre estes, principalmente o ancilostomo e Trichuris trichiura, por proporcionarem consideráveis perdas de sangue, intestinais (ACC/ SCN, 1997b; Ananthakrishnan et al., 1997; FAO/OMS,1991). Nas áreas endêmicas, a malária é também uma parasitose que se relaciona com anemia (ACC/SCN, 1997b). As parasitoses, por sua vez, estão associadas ao inadequado saneamento do meio ambiente, à pobreza e à inadequada atenção à saúde (ACC/SCN, 1997b). As evidências indicam, também, uma forte interação entre o metabolismo da vitamina A e do zinco (Dawson et al., 1989) com o ferro (Mejia et al., 1977; Muhilal et al., 1988). Assim, é de esperar-se que, a utilização de um micronutriente pode ser limitada pela carência/excesso de outro. É possível que a vitamina A contribua positivamente com a absorção do ferro, por favorecer a sua solubilidade e competindo com os fitatos e polifenóis (Gárcia Casal & Layrisse, 1998; Northrop-Clews et al., 1996), compostos conhecidos por inibir a absorção deste micronutriente. Assim, a carência de vitamina A compromete a absorção do ferro. Ahmed et al. (1993) observaram correlação estatisticamente significante entre os níveis séricos de vitamina A e a concentração de hemoglobina em 242 crianças de 5 a 12 anos de idade, em Bangladesh, suplementadas com vitamina A. Enquanto que doses elevadas de zinco medicamentoso podem comprometer a absorção do ferro, conforme observaram Dawson et al. (1989), em um * Professora Doutora, Titular da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia. INSTITUTO DANONE 33 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA grupo de gestantes adolescentes, possivelmente por competir com os mesmos sítios de absorção zinco no intestino delgado. Normalmente, a anemia é diagnosticada através da concentração de hemoglobina, tomandose como referência os pontos de corte para a idade e o sexo, definidos pelo WHO (1968). Ainda reconhecendo que este não é o método mais sensível para identificar os estágios mais precoces da carência, ele é o mais usado e indica a exaustão da concentração de ferro do organismo; assim, a anemia é a última manifestação da deficiência de ferro (Lozoff, 1998). Ainda que outros testes sejam necessários para confirmar a deficiência de ferro, altas prevalências da anemia indicam também altas prevalências da deficiência de ferro (Freire, 1989). Dessa maneira, as manifestações clínicas da anemia ocorrem quando a quantidade de ferro não é suficiente para assegurar a produção da hemoglobina em níveis que garantam concentrações acima dos limites de referência, definidos para a idade e sexo (ACC/SCN, 1997b). Na atualidade, têm surgido preocupações sobre a universalidade dos pontos de corte para a hemoglobina (Taylor et al., 1993), definidos pela WHO (1968); essa preocupação se traduz na indagação da validade dos limites estabelecidos para identificar a anemia em grupos específicos. Neste sentido, alguns estudos têm sido realizados objetivando responder a esta questão e, Khusun et al. (1999) concluíram que não há indicação da definição de novos pontos de corte para a hemoglobina, diferentes daqueles atualmente usados para identificar a deficiência de ferro em mulheres indonesianas (<12 g/L). Estes autores concluíram, ainda, que a dosagem de hemoglobina é um método útil para identificar a deficiência deste micronutriente. No entanto, Himes et al. (1997), revendo os pontos de corte utilizados para definir a anemia em meninas adolescentes da Jamaica, que vivem em condições de pobreza, concluíram que 107 mg/L foi o ponto de corte para hemoglobina que se mostrou mais apropriado para identificar a anemia, considerando os valores de 100 a 120 g/L e intervalos de 1 g/L, utilizados no modelo de análise. O IMPACTO DA ANEMIA SOBRE A SAÚDE Ainda que a grande maioria dos países não disponham de informações de base populacional sobre a distribuição e fatores de risco para a anemia, as informações geradas a partir das investigações com grupos isolados (ACC/SCN, 1997b), têm indicado que a anemia constitui um problema importante de saúde, atingindo os indivíduos, independentemente de idade e sexo. No entanto, a ocorrência da anemia é muito mais elevada nas crianças e nas mulheres gestantes e, dentre estas, as mais vulneráveis são as adolescentes, particularmente pelo expressivo aumento da demanda do ferro associado ao crescimento físico rápido da criança e do feto, (FAO/OMS,1991). Quando a demanda não é atendida, instala-se a deficiência. 34 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA O conhecimento epidemiológico consolidado, particularmente sobre os efeitos deletérios da deficiência dietética de ferro para as crianças e gestantes, as colocam na categoria de risco e justificam as ações específicas emanadas dos organismos de saúde nacionais e internacionais para o controle da carência e dos impactos negativos sobre as condições de saúde e sobrevivência desses segmentos populacionais. Nas crianças, a deficiência leva à incapacidade de fixar a atenção, sonolência e irritabilidade, interferindo negativamente no desempenho escolar (Vannucchi et al., 1992). Compromete ainda o crescimento físico e diminui a competência da resposta imunológica (Lawless et al., 1994; INACG, 1993). A gravidez está associada com mudanças fisiológicas no organismo materno, incluindo o aumento do volume plasmático e o decréscimo do estoque de micronutrientes e da circulação de proteínas, carreadores de nutriente (Ladipo, 2000). Durante este período da vida, a demanda de energia e nutrientes está aumentada e, se esta não é atendida, pode-se instalar a desnutrição e deficiências específicas de micronutrientes, particularmente de ferro. Na gestação, a anemia está associada com o risco aumentado da mortalidade materna. Em muitas regiões do mundo, a anemia severa eleva em 5 vezes o risco de morte materna relacionada à gestação e ao parto (Viteri, 1994). Sabe-se, também, que nestas regiões a anemia associa-se a outras condições desvantajosas para a gestante e seu recém- nascido, incluindo a pobreza, as múltiplas deficiências de nutrientes e micronutrientes e o restrito acesso aos serviços de saúde, mas ainda assim, segundo Viteri (1994), a deficiência de ferro é responsável ou contribui significantemente para o estabelecimento da maioria dos casos de anemia durante a gestação. Ainda que a relação possa não ser causal (Yip, 2000), a anemia na gestação está associada ao parto pré-termo (Allen, 2000) e ao baixo peso ao nascer (Rondo & Tomkins, 1999), que por sua vez estão associados ao risco elevado de infecção e mortalidade infantil, principalmente nos países periféricos. Os efeitos negativos da anemia são mais pronunciados nas gestantes adolescentes do que nas mulheres adultas, embora seja reconhecido que outros fatores, a exemplo da menor busca aos serviços pré-natal, possam influenciar esses resultados, mas, o fator importante a ser considerado é que a adolescente necessita se preparar para atender a demanda extra de energia, macro e micronutrintes, particularmente o ferro, imposta pela gestação; preparar reservas para a lactação e, na grande maioria das vezes, desenvolver atividades no trabalho, além de atender as demandas próprias para o seu crescimento e desenvolvimento físicos (Viteri, 1994). A elevada prevalência da anemia associada ao risco de morbidade nas crianças e gestantes, pode explicar o interesse científico devotado pelos estudiosos a esses grupos. Pouca atenção tem sido dispensada a outros segmentos populacionais, possivelmente, porque a anemia não INSTITUTO DANONE 35 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA constitui uma enfermidade incapacitante e não representa um risco aumentado para o óbito, excetuando-se, desta condição, a anemia grave em gestantes. No entanto, o conhecimento disponível indica que a anemia exerce impacto negativo também sobre a saúde de outros grupos etários. No adulto, a sintomatologia mais freqüentemente associada à anemia engloba o cansaço, a fadiga e a diminuição da capacidade para o trabalho (ACC/SCN, 1997b; INCG, 1977). Para os escolares e adolescentes, o quadro clínico e a sintomatologia da deficiência não estão bem estabelecidos. Em um estudo de acompanhamento envolvendo 60 adolescentes saudáveis do sexo masculino, Anttila et al. (1997) observaram que o estoque de ferro declinou em 50% em dois anos no seguimento, e importantes mudanças nas reservas de ferro foram identificadas no período de 3 meses; os autores observaram, ainda, que o atraso no desenvolvimento puberal mostrou-se associado ao decréscimo do estoque desse micronutriente, indicando uma maior demanda nesse período. Foi observado, ainda, que o incremento das células vermelhas correlacionou-se positivamente com a velocidade do crescimento testicular. Por outro lado, um estudo clínico duplo cego e placebo controlado, desenvolvido nos EEUU por Bruner et al. (1996), mostrou que as meninas adolescentes suplementadas com ferro tiveram um melhor desempenho nos testes de memória e de leitura verbal do que aquelas não suplementadas (p=0,02), indicando também que esse micronutriente está associado com a função cognitiva, não somente em crianças, mas também em indivíduos adolescentes. Um estudo placebo controlado envolvendo 354 meninas adolescentes no estágio 2 da puberdade, acompanhadas por um período de 4 anos, e suplementadas com cálcio a cada 6 meses, com medição dos parâmetros hematológicos e antropométricos a cada ano do seguimento, foi desenvolvido por Illich-Ernest et al. (1998). Os autores observaram que o pico do crescimento puberal e o estado menstrual têm efeito negativo sobre as reservas de ferro orgânico. Observaram ainda que a acumulação da massa magra corpórea foi um forte preditor dos níveis de ferritina sérica (p< 0.0001). Foi observado, também, uma associação negativa entre a início do período menstrual, volume corpuscular médio (VCM) e níveis de hemoglobina aos 4 anos do seguimento. Quando os níveis de ferritina sérica se encontravam acima ou abaixo dos quartis de ingestão acumulativa de ferro, registrou-se uma relação inversa entre os níveis de ferritina sérica e o início da menarca. Os autores observaram, também, que a suplementação de cálcio não exerceu efeito negativo sobre as reservas de ferro neste grupo de adolescentes. Resultados semelhantes são também registrados por Ikimalo et al. (1997), a partir de um estudo transversal, envolvendo 386 meninas adolescentes de uma comunidade rural e 845 de 4 escolas de uma área urbana da Nigéria, com idade entre 14-19 anos. Nesta população as 36 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA concentrações de hemoglobina menores que 10 g/dl estavam associadas com mais baixos índices de massa corpórea, essa associação não foi observada quando a concentração de hemoglobina era > 10 g/dl. Brabin & Brabin (1992), a partir de uma pequena revisão bibliográfica, concluíram que dieta pobre em ferro, associada a um período longo do crescimento compensatório, pode comprometer as reservas desse micronutriente. Para os autores, a explicação para essa conclusão é amparada no fato de que o ferro é essencial para o crescimento do esqueleto e, dessa maneira, a deficiência pode comprometer o crescimento dos adolescentes. À luz do conhecimento atual, particularmente sobre os fatores que interferem negativamente no crescimento do adolescente, principalmente para aqueles que se encontram na fase do estirão da puberdade (10 a 14 anos), pode-se especular, ainda, um modelo teórico permeado pelas infecções, particularmente as parasitárias, por espoliar as reservas de macro e micronutrientes (e o organismo na tentativa de promover a defesa imunológica exige maior aporte destes nutrientes, particularmente do ferro), e se a demanda não é atendida compromete o crescimento pleno do adolescente. Pode-se, assim, entender a associação entre as parasitoses e anemia; neste caso, a carência de ferro exerce um efeito negativo e indireto sobre o crescimento do adolescente. Alguns estudos têm indicado que as parasitoses constituem fatores de risco para o estabelecimento da anemia em adolescentes. Hopkins et al. (1997) observaram que as infeções parasitárias, particularmente aquela causada por Ancylostoma duodenale, estavam associadas com a anemia (p< 0,01) e com a deficiência de ferro (p< 0,01), em adolescentes australianos, maiores de 14 anos de idade. Resultados similares são relatados por Tatala et al. (1998), em adolescentes da Tanzânia; neste grupo, as infecções parasitárias foram as principais causas de anemia. Os resultados de um estudo conduzido por Reed et al. (1994), envolvendo gestantes adolescentes africanas, mostraram que a infecção placentária por malária estava associada com a anemia nos recém-nascidos. O consumo inadequado de alimentos fonte de ferro, tem sido também associado à anemia, em alguns estudos. Tatala et al. (1998) observaram que a baixa disponibilidade de ferro dietético constituía, também, risco para a instalação da anemia em adolescentes da Tanzânia. Se o pico do crescimento compensatório em adolescentes diminui a reserva de ferro do organismo, e particularmente em adolescentes meninas as perdas menstruais contribuem para esta depleção, é plausível supor que a deficiência de ferro possa também comprometer o crescimento da adolescente, e uma associação negativa entre concentração dos indicadores hematológicos e antropométricos deveria ser esperada. INSTITUTO DANONE 37 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Neste sentido, é possível supor que a deficiência de ferro possa funcionar como obstáculo para o crescimento pleno do adolescente, a exemplo do que é observado em pré-escolares. No entanto, os estudos que abordam esta problemática são escassos e os resultados originados são altamente controversos, alia-se o fato de que normalmente as amostras são constituídas por meninas adolescentes gestantes, seguramente pelo efeito danoso já demonstrado da anemia sobre a gestação neste grupo, principalmente se a anemia é severa. Embora os resultados dos estudos aqui apresentados não permitam tecer conclusões mais consistentes sobre a matéria, indicam a necessidade de ampliação do conhecimento sobre a verdadeira dimensão do problema para os adolescentes, particularmente sobre a caracterização, distribuição e fatores de risco para a anemia, além dos estudos de suplementação que poderiam clarear a relação entre a disponibilidade deste micronutriente e o impacto sobre o crescimento e desenvolvimento do adolescente, principalmente na fase do estirão do crescimento, quando as demandas de ferro estão aumentadas. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ANEMIA A anemia por deficiência de ferro é uma enfermidade carencial amplamente difundida em várias partes do mundo, acometendo populações de regiões com diferentes graus de desenvolvimento sócio-econômico e cultural. Porém, a distribuição espacial da anemia indica que a maioria dos portadores dessa carência vivem em países periféricos. A WHO (ACC/ SCN, 1997a), utilizando uma base de dados de 1970 a 1997, ainda que oriunda de estudos não populacionais, estimou que em várias regiões subdesenvolvidas do mundo, 43% das mulheres e 34% dos homens adultos são anêmicos. A FAO/OMS (1991), ao avaliar a distribuição da anemia por regiões, tomando como base informações da década de 80, concluíram que o Sul da Ásia e a África são as regiões onde as prevalências dessa deficiência são mais elevadas, identificando taxas para as mulheres adultas, respectivamente, de 58% e 44%, nesses continentes. No mundo desenvolvido a prevalência varia de 8% a 19%, para esse grupo populacional. A WHO está empenhada em construir um sistema de informação - Micronutrient Deficiency Information System (MDIS/WHO) - que reuna informação sobre a deficiência de micronutriente de todo o mundo. Na atualidade, a base de dados desse sistema não é ainda estruturada em estudos populacionais, mas, dado a escassez de informações mais consistentes, esse organismo vem se dedicando a estudá-la. A partir destas informações, envolvendo 118 países, Benoist & Ling (1998) estimaram a prevalência da anemia em países africanos, asiáticos e da América Latina. Os autores fizeram uma descoberta surpreendente: nos escolares (crianças de 5 a 15 anos de idade) desses países, as prevalências da anemia são mais elevadas do que as observadas nas crianças pré-escolares (0 a 4 anos de idade). A taxa média global da 38 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA anemia para as crianças em idade escolar, nos países destes blocos são, respectivamente, de: 49,8% (África); 58,4% (Ásia); e de aproximadamente 37% (América Latina), enquanto prevalências mais baixas, respectivamente, de: 40,7%; 46%; e 23,5%, foram observadas para crianças pré-escolares. Para os países industrializados, a prevalência média estimada, a partir da base de dados do WHO, foi de 7,8% para as crianças de 5 a 15 anos de idade. Especialmente para os países da Europa e dos Estados Unidos da América, as prevalências nessa faixa etária foram, respectivamente, de: 9,6% e 2,5%, enquanto que, para as crianças pré-escolares, foram identificadas prevalências de 13,5% para os países da Europa e 4,4% para os Estados Unidos da América. Para Benoist & Ling (1998), existem suficientes evidências de que a anemia constitui um problema importante de saúde, particularmente para as crianças em idade escolar (5 a 14 anos), e que o conhecimento da distribuição dessa carência demanda mais atenção do que a destinada até agora, não somente por conta dos seus “efeitos deletérios, sobre os quais incluem: baixo rendimento escolar devido o comprometimento do desenvolvimento cognitivo; fadiga; dispersão da atenção; e aumento da morbidade devido a baixa resistência às infecções, mas também por causa do grande número de escolares que são atingidos” (p. 7)(1). Em publicação mais recente, também recomendando cautela na interpretação dos resultados, uma vez que estavam sendo utilizadas informações oriundas de estudos cujas amostras não eram representativas da população e, ainda considerando a escassez de dados o ACC/SCN (2000), estimou que a prevalência da anemia para adolescentes de vários países subdesenvolvidos, variava de 32% a 55%, independentemente de gênero. Para esse Comitê, não é surpreendente que nesse grupo populacional a anemia não varie com o gênero, dado que as meninas perdem sangue mensalmente através da menstruação, mas os meninos necessitam de uma quantidade maior de ferro por kg/peso ganho, uma vez que a massa muscular formada pelos adolescentes é maior do que a observada nas meninas em fase de crescimento, explicando assim a homogeneidade na distribuição dessa carência entre os sexos, embora essa hegemonia nem sempre seja observada em outros estudos (Agha et al.,1992; Ferreira et al. ,1998; Almeida et al., 2000). À luz da discussão anterior, é possível constatar que existem evidências consistentes para caracterizar a anemia como um problema importante de saúde também para as crianças em idade escolar, incluindo neste grupo os adolescentes que se encontram na faixa etária dos 10 a 14 anos. Resta ainda identificar a tendência da distribuição desta carência naqueles de 15 a 19 anos. Certamente que vários aspectos da produção e distribuição da anemia nos adolescentes necessitam ser elucidados, a exemplo da identificação dos fatores de risco impostos pelo ambiente social, econômico e cultural, pelas condições de saneamento do (1) As prevalências da anemia para as crianças de 0 a 4 anos e para a América Latina, foram estimadas a partir do gráfico apresentado Benoist & Ling (1998). INSTITUTO DANONE 39 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA meio, parasitoses e práticas alimentares, além da associação com os estágios do desenvolvimento físico e maturação sexual. DISTRIBUIÇÃO DA PREVALÊNCIA DA ANEMIA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS As informações produzidas até o momento em várias regiões do Brasil, permitiram identificar as crianças menores de 5 anos de idade (Assis et al., 2000a; Yuyama et al., 2000; INAN/ MS-IMIP, 1998; Assis et al., 1997; Oliveira et al., 1997) e as gestantes (Assis et al., 2000b; Tedesco et al., 1983) como grupos de risco para a anemia. A anemia é um dos principais problemas de saúde para as crianças menores de 5 anos de idade e, dentre estas, aquelas de 6 a 24 meses exibem as maiores prevalências da deficiência, indicando assim uma relação inversa com a idade - diminuindo a prevalência a medida que aumenta a idade até o patamar dos 5 anos, embora a prevalência nesta idade seja ainda muito elevada. Para as crianças na faixa etária de 0 a 5 anos, essa tendência tem sido identificada a partir de estudos isolados ou de amostras restritas aos serviços de saúde, no entanto, os dados para as crianças a partir dos 5 anos de idade são ainda mais escassos e não permitem traçar uma tendência mais consistente da distribuição da prevalência da anemia. Mesmo assim, é possível supor que o padrão de distribuição observado para os pré-escolares, possa ser esperado também para os escolares e adolescentes brasileiros que vivem em condições similares de adequação dietética e de morbidade, particularmente para aqueles que se encontram na fase de crescimento rápido ou no estirão do crescimento. Alguns estudos isolados, realizados em várias regiões do Brasil, indicam que a anemia está presente em 8,2% dos 269 adolescentes de 10 a 17 anos de Novo Cruzeiro, na região Norte de Minas Gerais (Rezende et al., 2000). Em Rio Acima, Minas Gerais, Norton et al. (2000) observaram que 36,2% das crianças de 7 a 15 anos de idade eram anêmicas. No Rio de Janeiro, ainda na Região Sudeste, Castro et al. (2000) identificaram uma prevalência global da anemia da ordem de 10,5% em 1945 adolescentes que freqüentavam a rede estadual de ensino. Os autores chamam a atenção para a fato de que as crianças de 14 anos ou mais exibiram a maior prevalência (14,3%), quando comparado com aquelas de 10 a 13 anos de idade (9,1%). Prevalência mais elevada é relatada (17,6%) por Fujimori et al. (1996) em 262 adolescentes, em São Paulo, também na Região Sudeste do país. No que diz respeito especificamente à anemia na gestação no período da adolescência, os dados para o país são também escassos. Um estudo envolvendo 639 mulheres que deram a luz em uma maternidade da rede pública da cidade de Salvador, no Nordeste do Brasil, indica que 41,0% das puérperas de 13 a 19 anos de idade (n=144) são anêmicas (< 11 mg 40 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA de Hb por dl), (Assis et al., 2000b). Tedesco et al. (1983) observaram que entre 11 e 20 semanas de gestação, 38,4% das gestantes apresentavam anemia (< 11 mg de Hb por dl), essa prevalência declinou à medida que avançava a idade gestacional, chegando a 33,3% entre 31 a 40 semanas de gestação. Prevalência mais baixa dessa carência (17,4%) foi constatada em um grupo (n = 235) de gestantes de 10 a 17 anos da Região Centro Oeste do país, que freqüentavam o ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Universidade de Goiás (Menezes et al., 2000). Um dos principais fatores de risco para o estabelecimento da anemia é o baixo consumo de alimentos fontes de ferro, situação que foi identificada por Cunha et al. (2000), para os adolescentes de uma maneira geral, incluindo as gestantes em uma cidade de Minas Gerais. Ainda que os resultados destes estudos mereçam ser interpretados com cautela, por serem originários de estudos isolados e com amostras pequenas e restritas a grupos selecionados de adolescentes. As evidências sugerem que a anemia constitui um importante problema de saúde e nutrição para as gestantes, e pode exercer impacto negativo sobre a saúde do seu recém-nascido. Para os adolescentes, de uma maneira geral, os resultados indicam que esse problema tem moderada importância de saúde. As informações geradas pela WHO padecem das mesmas debilidades metodológicas apontadas nos estudos brasileiros, mas, levando-se em consideração o conhecimento científico já cristalizado de que a adolescência se caracteriza por um período da vida com acelerado crescimento linear e demanda aumentada de energia, proteína e micronutrientes, para fazer face as necessidades nutricionais para o crescimento e manutenção do estado adequado de saúde, a tendência traçada, a partir desses resultados, pode indicar que a anemia persiste também na adolescência. O conhecimento produzido indica ainda que neste período da vida há aumento das necessidades de ferro para assegurar a constituição da grande massa de hemácias e de uma maior quantidade de mioglobina para o desenvolvimento muscular no começo da adolescência (Ballabriga & Carrascosa, 1998). Se esta demanda não é atendida, a carência de ferro pode constituir um importante problema de saúde para os adolescentes. Particularmente para as meninas adolescentes, é conhecido que a demanda de ferro está aumentada, para assegurar o pico do crescimento e para atender as perdas provocadas pela menstruação (Hallberg & Rossander-Hultén, 1991). Se a gravidez é concretizada durante a adolescência é imperativo assegurar a demanda das necessidades deste micronutriente para atender a expansão da massa eritrócitária, fornecer ferro para o feto e placenta e prevenir as perdas que ocorrem durante o parto (Ballabriga & Carrascosa, 1998). Assim, é compreensível que a carência nesta fase da vida torna-se ainda mais crítica. INSTITUTO DANONE 41 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Em resumo, o estado de saúde e nutrição de crianças e adolescentes é a expressão de um complexo interativo representado pelas condições do ambiente econômico, social e cultural, pelas doenças infecciosas e parasitárias e pela disponibilidade dietética de energia, macro e micronutrientes. Assim, à luz do anteriormente comentado, as evidências sugerem que a anemia por deficiência de ferro pode constituir também um problema importante de saúde para escolares e adolescentes brasileiros. Com base neste paradigma e face ao reconhecimento da escassez de informação sobre a distribuição da anemia em escolares e adolescentes em todo o mundo, a FAO/OMS (1991) recomenda o desenvolvimento de estudos que permitam conhecer a magnitude e o impacto desta carência sobre as condições de saúde e nutrição desses grupos populacionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADMINISTRATIVE COMMITTEE ON COORDINATION Sub Committee on Nutrition News (ACC/SCN/News), 4 th Report on the World Nutrition Situation. Nutrition throughout the life cycle. Geneva, 2000, p.121. ADMINISTRATIVE COMMITTEE ON COORDINATION Sub Committee on Nutrition (ACC/SCN) Third Report on the World Nutrition Situation, Geneva, 1997a, p. 111. 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Serie, 405, 1968. 46 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA SITUAÇÃO DA ANEMIA NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL Maria de Lourdes Pires Nascimento* . ADOLESCENTES E ALGUNS PARÂMETROS LABORATORIAIS: Hemoglobina: evidências da interferência dos hormônios sexuais A adolescência tem características específicas em relação ao sexo e ao sistema eritrocitário. Com o inicio da adolescência, os hormônios sexuais - andrógenos, estrógenos e progesteronas - estimulam a produção das células precursoras eritrocitárias, influenciando o sistema eritropoiético(1, 2, 3, 4). Os andrógenos atuam diretamente no total da massa de glóbulos vermelhos (2, 3, 4) , deste modo os indivíduos do sexo masculino passam a ter valores mais elevados em vários exames do eritrograma, principalmente a dosagem de hemoglobina. No sexo feminino, os estrógenos demonstraram ser estimulantes e a progesterona apresentou um efeito inibidor, resultados que evidenciam um envolvimento destes dois hormônios na regulação do sistema eritropoiético(5). A) Adolescência, Hemoglobina e Doença Falciforme. É clássica a afirmação de que na puberdade aumentam a morbidade e mortalidade da anemia falciforme. Em trabalho anterior(6), em 207 indivíduos com homozigose para hemoglobina A (AA), 200 casos transmissores da hemoglobina S (AS) e 110 pacientes com anemia falciforme (SS) nós comparamos os resultados da hemoglobina em 3 faixas etárias: infância (1 a 10 anos), adolescentes (11 a 17 anos) e adultos (a partir de 18 anos). Na adolescência dos AA e AS, para os dois sexos, encontramos valores mais elevados de hemoglobina do que na infância (significante p<0,05). Na adolescência dos SS (masculinos e femininos) encontramos os menores valores médios de hemoglobina. Neste trabalho se discute a importância da diminuição da hemoglobina na puberdade da anemia falciforme e sua possível relação com as modificações hormonais da adolescência, influenciando a morbidade e mortalidade desta anemia nesta faixa etária. (*) Coordenadora do Serviço de Assistência às Anemias Genéticas (SAAG) Hospital Geral Roberto Santos - Salvador - Bahia. INSTITUTO DANONE 47 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Hemoglobina g / dl (Médias e D.P.) Infância Adolescentes Masc. Fem. Masc. Fem. Adultos Masc. Fem. AA 12,8 (+ 0,8) 12,5 (+ 1,2) 13,3 (+ 1,5) 13,1 (+ 1,5) 14,4 (+ 2,4) 12,8 (+ 1,3) AS 12,1 (+ 0,9) 11,9 (+ 0,8) 13,2 (+ 1,0) 12,7 (+ 0,7) 14,3 (+ 1,3) 12,9 (+ 1,3) SS 7,1 (+ 0,7) 7,1 (+ 1,0) 6,4 (+ 0,9) 6,7 (+ 1,2) 7,2 (+ 1,2) 7,2 (+ 1,3) B) Sexo, Presença de Microcitose e Idade da Adolescência. Na adolescência os “estímulos” dos hormônios sexuais aumentam os valores de hemoglobina, pois encontramos modificações destes valores a partir dos 15 anos de idade, nos dois sexos (4, 7, 8) . No sexo feminino, a idade média da menarca é por volta de 12,7 (+ 1,2), porém, todos os caracteres sexuais secundários ocorrem em torno dos 15,3 anos (+ 3,5) podendo se desenvolver até os 18,9 anos(9, 10). Pelo exposto acima, é possível que a partir dos 15 anos, a microcitose, que é o achado laboratorial mais prevalente em exames hematológicos(11), pode ter a sua freqüência diminuída. A microcitose é característica de anemia ferropriva, doenças genéticas da hemoglobina (anemia falciforme, talassemias), doenças crônicas e sideroblastoses. Levantamos a freqüência da presença de normocitose e microcitose, por sexo e idade em 154 adolescentes masculinos e 147 adolescentes feminos, a saber: Idade 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Masculino Normocitose Microcitose F % F % 24 19,7 12 37,5 21 17,2 8 25,0 16 13,1 3 9,4 18 14,8 5 15,6 11 9,0 4 12,5 11 9,0 21 17,2 - Feminino Normocitose Microcitose F % F % 19 14,9 8 40,0 25 19,7 3 15,0 16 12,6 1 5,0 25 19,7 3 15,0 11 8,7 9 7,1 1 5,0 22 17,3 4 20,0 Total 122 127 100,0 32 100,0 100,0 20 100,0 F= freqüência 48 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Freqüência acumulada tendo como divisor 15 anos: Masculino Normocitose Microcitose F % F % 11 a 15 anos 90 73,8 32 100,0 16 e 17 anos Total 32 26,2 - 122 100,0 32 Sig. p<0,05 Feminino Normocitose Microcitose Sig. F % F % p<0,05 96 75,6 15 75,0 - 31 24,4 5 25,0 100,0 127 100,0 20 100,0 S. N.S. F = freqüência A partir dos 15 anos, existiu menor freqüência de adolescentes com presença de microcitose, sendo que no sexo masculino foi significante. Albumina, beta globulina e gama globulina: infestações parasitárias Vários estudos científicos têm mostrado que as infestações parasitárias podem afetar o organismo humano, através de alterações funcionais e metabólicas, gerando modificações no estado nutricional(12, 13, 14, 15, 16). Outros estudos têm mostrado que a presença de parasitoses intestinais modificam alguns parâmetros bioquímicos que também são utilizados para avaliações nutricionais(17, 18, 19, 20, 21). Biolley et al.(22), em estudo coproparasitológico realizado em crianças aparentemente sadias, de nível sócio-econômico baixo, encontrou diminuição de albuminas e das frações globulínicas no grupo de crianças com as seguintes infestações parasitárias: E. coli, E. nana, C. menslii, I. butschlii, G. lamblia, T. trichiura, A. lumbricoides e H. nana. Em relação as proteínas séricas, a literatura refere que nas síndromes parasitárias podemos encontrar um quadro protéico associado da carência nutricional - albumina e beta globulinas diminuídas - e resposta imunitária e ou infecciosa - aumento de gama globulinas(23, 24, 25). Não é comum, entre os exames laboratoriais para avaliações gerais de saúde, a solicitação associada do exame parasitológico de fezes com o proteinograma, principalmente quando se trata de indivíduos de classe social de baixo poder aquisitivo. Geralmente, se dá mais ênfase para tratamento às infestações parasitárias da infância. Mesmo nesta faixa etária, são poucos os trabalhos sobre a freqüência de casos com diminuições de albumina, beta globulinas e aumentos de gama globulinas. De um trabalho anterior(26) destacamos os resultados encontrados, para albuminas, beta e gama globulinas, em 135 adolescentes (11 a 17 anos) de classe social de baixo poder aquisitivo com as infestações parasitárias que são habituais. INSTITUTO DANONE 49 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Infestações parasitárias dos 135 adolescentes, como segue: Freqüência % 47 6 44 4 6 48 34,8 4,4 32,6 2,9 4,4 35,6 7 17 5,2 12,6 9 60 48 6,7 44,4 35,6 Helmintos Ascaris l. Schistosoma m. Trichiurus t. Hymenoleps n. Strongyloides s. Ancilostomideos Protozoários patogênicos Giardia l. E. histolýtica Protozoários não patogênicos Iodamoeba b. E. coli E. nana O proteinograma foi feito por eletroforese de proteínas em acetato de celulose, com leitura por densitometria, os limites dos valores considerados normais foram aqueles preconizados pelo equipamento de densitometria da Bio Systems: albumina = 3,5 a 4,8 g/dl; beta globulina = 0,58 a 2,03 g/dl; e gama globulina = 0,75 a 1,40 g/dl, a saber: Albumina Freqüência % Beta globulina Freqüência % Gama globulina Freqüência % Abaixo do valor normal 15 11,1 59 43,7 5 3,7 Dentro dos valores normais 102 75,6 73 54,1 55 40,7 Acima dos valores normais 18 13,3 3 2,2 75 55,6 Total 135 100,0 135 100,0 135 100,0 Nos 135 adolescentes com diversos tipos de infestações parasitárias, o proteinograma mostrou que 55,6 % tinham gama globulina elevada, 43,7 % com beta globulina abaixo do normal e 11,1 % com albumina abaixo do normal. As gama globulinas são constituídas predominantemente de anticorpos, que são os agentes do processo de defesa denominado imunidade adquirida. Os 55,6 % dos adolescentes que apresentaram gama globulina acima dos valores normais, pode ser a resposta imunológica as infestações parasitárias? 50 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Segundo Kawai(24), o componente mais importante da fração beta globulina é a transferrina, pois no soro normal, 50 % do total das beta globulinas corresponde a transferrina. A principal função da transferrina é transportar o ferro. Para os 43,7 % dos adolescentes que apresentaram beta globulina abaixo do normal, existe maior susceptibilidade para as deficiências de ferro? Na avaliação nutricional a albumina sérica é considerada um dos indicadores do estado das proteínas viscerais (não-musculares). A diminuição da albumina é uma das características dos estados de má-nutrição(24, 25). Podemos considerar um indicativo de má nutrição para os 11,1 % dos adolescentes com valores de albumina abaixo do normal? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) DUFFY, T.P. Anemia na adolescência. 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Anemia falciforme, faixa etária e dosagem de hemoglobina - XV Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de Hematologia, 18 a 22 de outubro de 1995, Águas de Lindóia, S. Paulo. 7) VALLADA , E.P.; CARRARO, K.M.A.; NOCE, E.A. Considerations about differences between the hematocrit and hemoglobin hematimetric values to male and female groups - Rev. Bras. Anal. Clin. 18 (4): 109-112, 1986. 8) VELLAR, O.D. Changes in hemoglobin concentration and hematocrit during the menstrual cycle. - Acta Obstet. Gynecol. Scand. 53: 243-246, 1974. 9) ZACHARIAS, L.; WURTMAN, R.J. et al. Sexual maturation in comtemporary American girls. - Amer. J. Obst. Gynec., 108: 833, 1970. INSTITUTO DANONE 51 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 10) MARSHALL, W.A.; TANNER, J.M. Variations in pattern of puberal changes in girls. Arch. Dis. Child. 44: 291, 1969. 11) MACH-PASCUAL, S.; DARBELLAY, R.; PILOTTO, P.A.; BERIS, P. Investigation of microcytosis: a compreensive approach. - Eur. H. 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Infestações parasitárias, faixas etárias: albumina, beta globulina e gama globulina - Encontro Norte Nordeste sobre Anemias e Parasitoses, pg.114 - 27 a 30 de julho, 1999 - Salvador, Bahia. 52 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: IMPORTÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA Gloria Valeria da Veiga* Em termos de Saúde Coletiva, os critérios para considerar um agravo epidemiológico importante são, em ordem de prioridade, os seguintes: magnitude que se expressa em termos de prevalência e/ou incidência na população; transcendência ou dano social, aferido pela mortalidade; aparecimento de incapacitações ou seqüelas; e viabilidade, que está relacionada à possibilidade de controle. Dentro desta ótica, passamos a analisar a obesidade no Brasil: QUANTO A MAGNITUDE A obesidade na população adulta no Brasil já vem sendo considerada um problema de saúde pública, desde a revelação dos dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), realizada pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição - INAN, em 1989, quando se constatou que 32% da população adulta brasileira tinha algum grau de sobrepeso, avaliado pelo Índice de Massa Corporal (Peso/Estatura2) acima de 25kg/m2 e, destes, 6,8% apresentavam obesidade, relativo a IMC acima de 30 kg/m2 (INAN, 1991). Comparando este estudo com o realizado anteriormente (ENDEF- 1974/75) e posteriormente (PNDS – 1996) constata-se um aumento importante nesta prevalência, particularmente entre mulheres de baixa renda (Monteiro, 1995; Coitinho, 1998). Apesar dos valores acima revelados ainda serem inferiores ao que vem sendo observado nos EEUU, onde a obesidade já atinge cerca de 34,7 milhões de indivíduos adultos, correspondendo a 21% da população (Vanitallie, 1996), não se pode ignorar que a obesidade vem se tornando um problema emergente no Brasil e para enfrentá-la seria importante considerar os estágios iniciais de seu desenvolvimento, em que se inclui a fase da adolescência (Sichieri & Allan, 1996). Nesta faixa etária, os estudos têm demonstrado que a prevalência de obesidade tende a aumentar. * Profª. Adjunto II do Departamento de Nutrição Social e Aplicada Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro. INSTITUTO DANONE 53 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Frelut et al. (1995), baseado em estudos epidemiológicos publicados nos últimos 10 anos quanto a evolução da prevalência da obesidade infantil em alguns países, revelou que na França houve um aumento de 28% durante os anos de 1980 e 1986, em indivíduos de 9 a 18 anos de idade; na Grã-Bretanha, um aumento de 21% a 65% (dependendo do gênero e da faixa etária) entre 1972 e 1981; e no Japão, a prevalência de sobrepeso teve um aumento de 53%, em crianças de 6 a 14 anos entre 1979 e 1988. Nos EEUU, o National Health and Nutrition Examination Survey - NHANES III concluído em 1994, demonstrou um aumento na prevalência de sobrepeso em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, quando comparados aos resultados de estudos anteriores (NHES ciclos II e III e NHANES ciclos I e II), indicando que, em cada 5 crianças e adolescentes americanos, uma tem sobrepeso (Dietz, 1998; Troiano, 1998). A população adolescente brasileira ainda não foi analisada através de estudos populacionais da mesma magnitude que os internacionais, no sentido de verificar as tendências de obesidade nesta faixa etária no país. Todavia, a análise de alguns autores permite inferir estas tendências. Sichieri et al. (1995), analisando os dados da PNSN, constataram que na Região Sul, a distribuição do IMC dos meninos mostrou-se semelhante a dos americanos, e das meninas com tendência a valores mais altos para a população brasileira, podendo-se deduzir que o sobrepeso já é preocupante nas jovens brasileiras. Recentemente, Neutziling (1998), analisando dados do mesmo estudo, encontrou prevalência de 7,6% de sobrepeso em adolescentes com idade entre 10 e 19 anos. Este percentual aparentemente é baixo quando comparado aos estudos realizados em países desenvolvidos, entretanto o critério utilizado pelos autores foi o percentil 85 da distribuição de IMC da população americana (Must, 1991) que, segundo a OMS (1995), deve ser utilizado com cautela, tendo em vista a elevada prevalência de obesidade observada naquele país e os valores de IMC no percentil 85 serem bastante elevados, podendo subestimar o problema na nossa realidade. De fato, Veiga (1997), analisando a prevalência de sobrepeso em 1540 adolescentes com idade entre 10 a 17,9 anos, estudantes de uma escola privada de Niterói -RJ, observou que esta era maior quando avaliada com base na distribuição de IMC da população brasileira (Anjos et al., 1998) (22,1% e 46,2%, para meninas e meninos, respectivamente) do que com base na distribuição da população americana (14,2 e 26,2%). Também Sichieri & Allan (1996) observaram uma subestimação do sobrepeso em adolescentes do Rio de Janeiro quando compararam critérios específicos para a população brasileira e o critério proposto pela WHO (1995), particularmente para os meninos. A análise destas informações permite inferir que a obesidade na adolescência no Brasil já merece atenção especial do Setor Saúde dado que a prevalência já pode estar próxima das encontradas em países desenvolvidos e, levando-se em consideração ainda que, segundo 54 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Dietz (1998), o Brasil está entre os quatro países que apresentam uma rápida elevação de prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, quando avaliados pelo IMC, mesmo em populações mais carentes QUANTO A TRANSCENDÊNCIA OU DANO SOCIAL Sabe-se que a obesidade é doença grave e fator de risco para uma série de outras doenças, como: diabetes mellitus não insulino-dependente (DMNID), hipertensão arterial e doença coronariana que, por serem tão comuns na população obesa, têm sido descritas como “complicações” da obesidade (Relatório Internacional, 1996). Estima-se que o DMIND e a hipertensão são três vezes mais prevalentes nos obesos do que na população em geral, e a hiperlipidemia 1,5 vezes mais prevalente. Presume-se ainda que aproximadamente 80% dos pacientes com DMIND sejam obesos, que metade dos indivíduos obesos tendem a ser hipertensos e que até 30% apresentem hiperlipidemia. Desta forma, o risco geral de morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares é bastante elevado nestes indivíduos e aumenta a medida que o número de doenças concomitantes aumenta, justificando o fato dos obesos terem, em média, seis anos a menos de vida do que os não obesos. (Relatório Internacional, 1996). Acrescenta-se a estes, o fato de que importantes custos recaem sobre a sociedade, em termos de recursos médicos necessários para se tratar a obesidade e doenças associadas. Em muitos países, os custos diretos da obesidade chegam a cerca de 2 a 7% do orçamento total de gastos com saúde (WHO, 1998). No Brasil, não temos ainda estimativas do custo econômico da obesidade, mas acredita-se que não seja muito diferente da realidade de outros países. Por todos estes aspectos, fica caracterizado o dano social da obesidade para uma população. Em adolescentes, o sobrepeso está associado com o aumento de risco de obesidade na vida adulta e, portanto, indiretamente associado com as doenças crônicas relacionadas ao excesso de gordura corporal. Cerca de 80% dos adolescentes obesos tornam-se adultos obesos (Abrahan & Nordsiek, 1960). Guo et al. (1994) verificaram que indivíduos de dezoito anos classificados no percentil 95, em relação ao IMC para idade, apresentaram um risco aumentado de se tornarem obesos aos trinta e cinco anos de idade, com probabilidades estimadas em 78% para homens e 66% para mulheres. Outra questão a ser considerada é que as alterações metabólicas associadas a obesidade, antes mais evidentes em adultos, hoje já começam a se manifestar na crianças e no adolescente, obesos. Alguns estudos em países desenvolvidos têm demonstrado que a presença de sobrepeso em crianças e adolescentes foi positivamente associada com níveis séricos elevados INSTITUTO DANONE 55 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA de triglicerídios, negativamente associada com níveis de HDL-colesterol, (Guidding et al.,1995; Steinberger et al., 1995), e positivamente associada com VLDL e LDL colesterol (Tokunaga et al., 1982). Gortmaker et al. (1987) verificaram que adolescentes obesos americanos, apresentavam risco aproximadamente 3 vezes maior de ter aumento nos valores de pressão arterial do que os adolescentes eutróficos. No Brasil, um estudo realizado recentemente com adolescentes de 12 a 18 anos, atendidos no ambulatório de clínica médica e nutrição do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente do Hospital Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, avaliou fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes com sobrepeso. A proporção total de adolescentes com perfil lipídico alterado está apresentado na Figura 1. Estes adolescentes apresentaram médias do percentual de gordura corporal elevadas, com base na bioimpedância elétrica, o HDL-C se correlacionou negativa e os triglicerídeos positiva e significativamente com a prega cutânea suprailíaca e com a circunferência da cintura. Verificou-se ainda que o percentual de gordura corporal e a massa gorda correlacionaram-se com a relação LDL-C/ HDL-C e com a pressão arterial sistólica e diastólica. Este estudo evidenciou que neste grupo de jovens, de nível sócio-econômico baixo, já se percebem alterações metabólicas importantes relacionadas a adiposidade, sendo estas, fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. (Oliveira, 1999). Ainda no mesmo Núcleo, Carvalho et al. (1999) observaram 65% de hipertensão arterial em um grupo de 63 adolescentes atendidos no período de abril a outubro de 1998, nos quais a prevalência de sobrepeso foi de 87%. FIGURA 1: PERCENTUAL DOS ADOLECENTES AVALIADOS COM PERFIL LIPÍDICO ALTERADO 90 83,3 80 70,8 67,9 70 62,5 Em percentual 60 62,5 58,3 58,3 60,7 58,9 Colesterol LDL-colesterol 48,2 50 HDL-colesterol 40 Colesterol/HDL-C 30 26,8 28,6 LDL-C/HDL-C Triglicerídeos 20 10 0 Meninos 56 Meninas INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Um outro estudo, realizado com amostra probabilística composta por 616 adolescentes do Rio de Janeiro, revelou associação positiva entre medidas antropométricas como peso, IMC e dobras cutâneas com pressão arterial, sugerindo que o controle de peso em idades precoces pode ter impacto sobre a prevalência de hipertensão arterial essencial do adulto (Costa & Sichieri, 1998). Além destas alterações metabólicas, sabe-se que a mais prevalente e imediata conseqüência do sobrepeso na adolescência é psicossocial. Isolamento social e baixa taxa de aceitação dos colegas são problemas comuns para jovens obesos. Neste momento da vida, quando o indivíduo está desenvolvendo sua auto-imagem, a obesidade pode ser extremamente prejudicial ao seu desenvolvimento psicológico e social (Campos, 1995). Considerando que a prevalência de sobrepeso em adolescentes no Brasil já está se mostrando bastante relevante, que jovens com sobrepeso têm maior probabilidade de virem a ser adultos obesos com maiores riscos de adoecer, a presença já constatada de morbidade associada a obesidade já na adolescência, e a má qualidade de vida de jovens obesos, em decorrência do estigma social que gira em torno do problema, pode-se dizer que o sobrepeso na adolescência já está ganhando reconhecimento como um problema de saúde coletiva no nosso meio. QUANTO A VIABILIDADE DE CONTROLE Esta análise implica numa avaliação dos possíveis fatores que podem explicar a tendência de ascensão da obesidade em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A redução da atividade física que pode estar relacionada a predominância das ocupações que demandam menor esforço físico e, conseqüentemente, menor gasto energético e o aumento progressivo no consumo de energia e gordura na dieta dos indivíduos têm sido considerados os fatores que estão mais associados a este quadro epidemiológico que se apresenta (Monteiro & Conde, 1999). Nos EEUU, os programas que visam o controle da obesidade (1995 US Dietary Guidelines) propõem mudança no estilo de vida que inclui melhor qualidade da alimentação (com mais baixo consumo de gorduras e alimentos energéticos) e aumento de atividade física. Há um consenso de que a obesidade é um problema de difícil controle quando atinge proporções alarmantes, como a que vem sendo verificada nos EEUU. O projeto norte americano Healthy People 2000 visava uma diminuição de 23% no número de pessoas com sobrepeso, entretanto, nos meados da década de 90 houve um aumento de 30% na parcela da população com sobrepeso (Relatório Internacional, 1996). Não encontramos relatos na literatura quanto a programas de prevenção e controle da obesidade, particularmente em países em desenvolvimento, provavelmente devido a novidade que este problema representa na agenda de Saúde Pública destes países. Desta forma, é difícil analisar o aspecto da viabilidade INSTITUTO DANONE 57 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA de controle, não se podendo afirmar se o aumento na prevalência da obesidade tem se dado em decorrência de falta de políticas de combate ao problema ou por fatores inerentes (genéticos) à própria doença. Todavia, a rápida elevação das taxas de obesidade nos últimos anos é um dado importante no fortalecimento da influência dos fatores ambientais, o que possibilita intervenções no sentido de eliminar ou minimizar os seus efeitos (Silva, 1998), aceitando-se ser a obesidade uma doença controlável. No Brasil , recente análise feita por Monteiro & Conde (1999) sobre a tendência secular da obesidade, segundo estratos sociais, comparando estudos nacionais realizados em 1975, 1989 e 1997 revelou, pela primeira vez, uma tendência de declínio da obesidade (13,2% para 8,2%, no período entre 1989 a 1997) em uma parcela da população feminina da Região Sudeste do país, correspondente a 25% de mulheres de maior renda, fenômeno que, segundo os autores, até o presente momento não havia sido descrito em nenhum país em desenvolvimento, apenas observado em um único estudo na Finlândia. Os autores consideraram improvável que políticas governamentais na área de saúde pública tenham tido papel relevante na redução da obesidade. Postularam a possibilidade de que, após o impacto da revelação dos resultados da PNSN, no início da década de 90, de que a obesidade e não a desnutrição era o distúrbio nutricional mais freqüente na população adulta. Ações educativas exercidas pelos principais meios de comunicação de massa através de matérias, reportagens e notícias centradas nas conseqüências danosas da obesidade e na importância de mudar hábitos alimentares e incrementar a atividade física, possam ter tido papel relevante neste processo e que, ao menos uma parcela feminina do país, que dispõe de recursos (renda, escolaridade entre outros), necessários para compreender e seguir os conteúdos propostos por estas mensagens educativas, tenha sido atingida. Diante deste panorama, pode-se deduzir que a implantação efetiva de políticas públicas articuladas, consistentes e permanentes de promoção à saúde, possam, de fato, combater o avanço da obesidade no país, concluem os autores. A viabilidade de controle da obesidade na adolescência, assim como no adulto, deve ser analisada com base nos fatores de risco mais associados ao problema nesta faixa etária. Os estudos têm revelado que o consumo alimentar dos adolescentes está longe do recomendado, geralmente, com uma ingestão de gordura total e saturada acima da recomendação, e uma ingestão deficiente de certas vitaminas e minerais. (Devaney et al., 1995; Munoz et al., 1997). Na pesquisa do município do Rio de Janeiro, observou-se que entre adolescentes do sexo masculino 25% das calorias eram provenientes da gordura e nas do sexo feminino este percentual foi de 28% (Sichieri, 1998). Entre os adolescentes de classe média de Niterói, RJ, as calorias da gordura representavam 35% das calorias totais consumidas. Naqueles com sobrepeso, a porcentagem de gordura na dieta foi maior do que entre os sem sobrepeso (Fonseca et al.,1998). Também Saito et al., em 1985, através de um estudo sobre o atendimento multiprofissional de adolescentes, divulgaram que, entre as preferências 58 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA alimentares dos jovens atendidos, estavam os doces, em primeiro lugar, seguidos por pão, sanduíches e biscoitos, café e sucos artificiais, salgadinhos (pastéis e coxinhas), batatas fritas e sorvetes. Entre os alimentos menos tolerados, estavam as hortaliças, leite, feijão e frutas, ou seja, aqueles que eram mais freqüentemente propostos na orientação dietética. Estes estudos revelam o quanto que os hábitos alimentares na adolescência, geralmente influenciados por propagandas e modismos, pode estar contribuindo para obesidade. Um outro fator que pode estar fortemente associado a obesidade na adolescência é o sedentarismo das horas de lazer. Dietz e Gortmarker (1985) concluíram que o tempo gasto assistindo TV acarretava um aumento do risco de obesidade em crianças e adolescentes americanos, mostrando um aumento de 2% na prevalência, a cada hora a mais assistindo TV. Andersen et al. (1998) também verificaram que as crianças que assistiam mais de 4 horas de TV por dia tinham IMC maior que as que assistiam menos de 2 horas. No Brasil, Fonseca et al. (1998) encontraram também uma associação positiva e significante entre horas assistindo TV e vídeo e valores de IMC entre os meninos, sendo que os com sobrepeso é que dedicaram maior número de horas a essas atividades. É importante que as estratégias de prevenção alcancem os níveis de cuidados primários, a intervenção a nível familiar e a nível escolar. Para crianças, foi demonstrado que o contato freqüente e nos primeiros anos de vida foi a abordagem mais efetiva ao controle da obesidade infantil (Davis, 1994). Todavia, na faixa da adolescência, é difícil imaginar estratégias de combate a obesidade a nível de atenção primária, visto que a freqüência dos adolescentes aos postos e serviços da rede de saúde é bastante rara, só ocorrendo, na maioria das vezes, em casos de gravidez. A educação alimentar e comportamental direcionada aos pais pode contribuir para a redução da prevalência de obesidade em crianças e adolescentes, visto que o tratamento com terapia familiar tem maior chance de perda ou manutenção do peso do que com tratamento isolado (Wadden, 1990). Entretanto, não se pode esquecer que esta é também a fase da contestação da autoridade e, se até a fase da infância os pais tinham algum controle sobre o hábito alimentar de seus filhos, é provável que na adolescência a influência do grupo seja bem mais relevante. Dentro deste contexto, ressalta-se o papel da escola, na qual os programas de prevenção e controle da obesidade deveriam centrar sua estratégia de ação. A escola é um local útil para a implantação de programas de prevenção da obesidade, já que grande parte das crianças e adolescentes freqüentam a escola e parte dos seus hábitos alimentares e de atividade física são cultivados nela (Leão, 2000). Story (1999) revisou na literatura estudos relacionados a programas de prevenção e tratamento da obesidade em escolas. Verificou que há escassez destes programas (apenas 11 estudos de 1995 a 1999), mas que os resultados, apesar de modestos e a curto prazo, são positivos. INSTITUTO DANONE 59 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Os autores citam um modelo de programa escolar de prevenção e tratamento para obesidade, desenvolvido por Allensworth & Kolbe em 1987, que consiste de oito componentes interativos (Figura 2), objetivando as práticas alimentares e padrões de atividade física saudáveis. Até o momento, desconhecemos programas específicos, cuja meta seja o controle e prevenção da obesidade infanto-juvenil no Brasil. Acreditamos que a implantação de modelo semelhante ao aqui exposto poderia contribuir em muito para a prevenção e controle da obesidade nos jovens brasileiros. Figura 2: Componentes do modelo de programa escolar de prevenção da obesidade (Story, 1999) Aulas sobre saúde (currículo) Merenda escolar Serviços de saúde escolar Aulas de educação física Objetivo: estabelecer práticas alimentares e padrões de atividade física saudáveis, e atingir pesos saudáveis em crianças e adolescentes Alimentos oferecidos na cantina Programas Orientação Pedagógica Prog. saúde Professores Funcionários Interação comunidade e família Por último, é importante ressaltar que a preocupação com o atual modelo estético do corpo, que cultua a magreza como expressão máxima de beleza, tem levado a desordens nutricionais graves como bulimia e anorexia, particularmente na adolescência. Uma grande preocupação dos adolescentes com manter-se magro tem sido observado em alguns estudos. Analisando o comportamento de adolescentes de nível sócio-econômico baixo (NSEB) e médio (NSEM), Veiga (1997), observou que, mesmo entre as eutróficas, 19,0% das de NSEM e 13,4% das de NSEB, consideravam-se com excesso de peso e 23,6% e 16,7% já haviam feito tentativas para emagrecer, apesar de eutróficas. No estudo de Fonseca et al. (1998), 24,3% das meninas com peso normal, faziam dieta para emagrecer. Brugman et al.(1997) verificaram que entre 1359 estudantes de 13 a 15 anos, faltar à aula e tomar medicamentos, estava mais 60 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA freqüente entre meninos e meninas que faziam dieta para emagrecer, respectivamente, indicando que fazer dieta está longe de ser um comportamento saudável, entre os adolescentes. Do ponto de vista do consumo alimentar sabe-se também, que adolescentes manterem-se magros não é sinônimo de hábitos alimentares saudáveis. Em estudo realizado em North Carolina, nos Estados Unidos, em uma amostra de escolares de 53 escolas, 9,7% das meninas e 4,0% dos meninos relataram vomitar ou usar laxativos para perder peso (Krowchuk et al., 1998), mostrando que adolescentes podem engajar-se em formas de atingir perda de peso que podem comprometer a saúde e associar-se a distúrbios alimentares. Este desejo de ter um peso abaixo dos padrões considerados como normais, é especialmente arriscado em idades mais jovens, quando o uso de dietas crônicas com redução de ingestão de calorias e inadequação nutricional, colocam o indivíduo em risco de problemas físicos e psicológicos, principalmente na infância e adolescência, quando o corpo necessita de energia e adequado suprimento de nutrientes para o crescimento normal. Conclui-se que, por ser a obesidade uma doença de difícil tratamento na vida adulta, a sua prevenção, seja a nível de atenção primária, evitando o surgimento já na infância ou adolescência, seja a nível secundário, impedindo a evolução dos casos já diagnosticados, é de fundamental importância já que o tratamento nesta fase apresenta um melhor prognóstico do que na idade adulta. Deve-se pensar, todavia, em políticas de saúde coletiva que atendam as especificidades psico-sociais e culturais da adolescência e que não reforcem uma prática já existente, de comportamentos pouco saudáveis de manutenção de peso (Sichieri e Veiga, 1999). Promover o aumento da atividade física e incentivo a aquisição de hábitos alimentares saudáveis, criando condições objetivas para sua realização, seriam, provavelmente, os principais componentes de políticas de uma vida saudável entre adolescentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHAM, S.;NORDSIECK, M. 1960. Relationship of excess weight in children and adults. 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WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995. Physical Status: The Use and Interpretation of Anthopometry. Geneva: Report of a WHO Expert Committee. WHO Technical Report Series 854. 64 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA A OBESIDADE NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES DO ADULTO Reynaldo Gomes de Oliveira* INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares como ataques cardíacos, infartos agudos do miocárdio, morte súbita, insuficiência cardíaca por coronariopatia, assim como as doenças cerebrovasculares, como os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos, são responsáveis por mais da metade dos óbitos no Brasil. A profilaxia destas doenças é, por isso, uma prioridade absoluta. Nas últimas quatro décadas diversos estudos epidemiológicos definiram claramente os principais fatores de risco para estas doenças. Alguns destes fatores como sexo, idade e história familiar não são modificáveis. Os principais fatores de risco modificáveis são a hipercolesterolemia (LDL elevado), a hipertensão, o tabagismo, o HDL baixo, o diabetes, o sedentarismo, a obesidade e o estresse psicossocial. Nesses, estudos a obesidade ocupa um lugar secundário em relação a dislipidemia, hipertensão e tabagismo. No entanto, este enfoque tem sido modificado e a obesidade passou a ser considerada um fator de risco de primeira linha. Isto se deve a três fatores básicos: (1) a obesidade está fortemente associada a três grandes fatores de risco: a hipertensão, as dislipidemias e a resistência à insulina; (2) a obesidade é o fator de risco que mais cresce em prevalência; e (3) a obesidade do adulto é uma doença de difícil tratamento ou, para alguns, intratável. Alguns autores consideram que a importância real da obesidade não é claramente demonstrada estatisticamente nos estudos epidemiológicos porque (1) ela se associa fortemente com hipertensão, dislipidemia e sedentarismo e, quando estas variáveis entram no modelo estatístico, a importância da obesidade tende a diminuir ou desaparecer; (2) ocorre um confundimento com o tabagismo, uma vez que este reduz a ponderosidade (peso relativo) mas aumenta o * Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. INSTITUTO DANONE 65 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA risco cardiovascular; (3) a obesidade exige um tempo maior para produzir efeitos como fator de risco (mais de 8 anos); (4) um confundimento provocado pelas pessoas que perderam peso recentemente; (5) a importância da obesidade como fator de risco aumenta com a idade; e (6) a obesidade central, abdominal ou andrógena é muito mais importante como fator de risco de doença cardiovascular que a obesidade de ginecóide, de quadris e coxas. Nos últimos anos vêm se acumulando evidências científicas de que a aterosclerose e a hipertensão arterial, doenças típicas do adulto, são processos patológicos que, em muitos casos, começam na infância e adolescência. Ainda nas décadas de 20 e 30 alguns autores descreveram lesões precursoras de aterosclerose na aorta de crianças e jovens (Gerber & Zielisnky, 1997). O conceito de que a aterosclerose típica dos idosos era uma doença que se iniciava nos jovens foi reforçado pelos estudos de necropsias de soldados americanos mortos na guerra da Coréia que, com idade média de 22,7 anos, já apresentavam lesões ateroscleróticas significativas (Enos et al., 1955). Também autópsias de 105 soldados americanos jovens (idade média de 22,1 anos), mortos no Vietnã (McNamara et al., 1971), mostraram que 45% apresentavam evidências de aterosclerose coronariana, 5% apresentavam aterosclerose severa, mas nenhum apresentava lesões que reduzissem a luz das coronárias. Em estudos mais recentes de necropsias de crianças e adultos jovens falecidos precocemente por causas não cardíacas, sobretudo trauma, e cujos fatores de risco de doença cardiovascular (IMC, pressão arterial, lipidograma, tabagismo) eram conhecidos porque o indivíduo estava sendo acompanhado em vida pelo Estudo de Bogalusa (Newman et al., 1986; Tracy et al., 1995; Berenson et al., 1992; Berenson et al., 1998), ou porque alguns fatores de risco haviam sido analisados em amostra de sangue colhida ante-mortem (Pday Research Group, 1990), foi demonstrada uma relação significativa entre a extensão da aterosclerose na aorta e nas coronárias com estes fatores de risco. No estudo de Bogalusa, entre 93 indivíduos de 2 a 39 anos que apresentavam entre zero e quatro fatores de risco, foi encontrado, respectivamente: 19,1; 30,3; 37,9; e 35,0% da superfície da íntima da aorta coberta por placas ateromatosas. Nas coronárias o percentual de estrias gordurosas era respectivamente: 1,3%; 2,5%; 7,9%; 11%; e o percentual de placas fibrosas de 0,6%; 0,7%; 2,4%; e 7,2%. Neste estudo, a pressão sistólica apresentou correlação positiva com as lesões coronarianas mas não com as alterações na aorta , e a pressão diastólica se correlacionou apenas com as placas fibrosas nas coronárias. Entre os principais fatores de risco de doença cardiovascular do adulto, cinco já tiveram sua importância comprovada na infância e na adolescência: tabagismo, dislipidemias (LDL ou colesterol total elevado e HDL baixo), hipertensão, obesidade e sedentarismo. A prevenção desses fatores de risco, ainda na infância, tem como base uma extrapolação dos dados obtidos em adultos pois ainda não existem estudos controlados demonstrando que a intervenção na 66 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA infância altera o risco cardiovascular. Na falta destas evidências ainda não se pode recomendar com certeza o uso indiscriminado de programas populacionais de pesquisa (screening) de rotina de hipertensão e dislipidemia na população infantil, como deve ser feito para a população adulta. Deve-se considerar que as crianças e adolescentes que apresentam fatores de risco bem estabelecidos não estão sob risco imediato. Assim, a estratégia pediátrica deve ser a de oferecer sempre, verbalmente e por escrito, recomendações profiláticas universais e recomendações profiláticas específicas para as crianças com fatores de risco já identificados. A pesquisa dos fatores de risco é recomendada como rotina nos pacientes de alto risco que são os casos com história familiar de doença coronariana ou cerebrovascular precoce, história familiar de dislipidemia ou presença de dois ou mais fatores de risco na própria criança. É fundamental, entretanto, que os pediatras incluam na rotina de todas as suas consultas a pesquisa sistemática de fatores de risco de doença cardiovascular na criança e em seus pais e se comprometa com as orientações sobre as medidas profiláticas contra estes fatores de risco (Bronfin & Urbina, 1995). Também os hábitos alimentares, de fumar, o estilo de vida, o gosto pelo esporte e outras atividades físicas são, em grande parte, definidos na infância e adolescência. Assim, a abordagem profilática dos fatores de risco de doença cardiovascular do adulto deve ser uma das ações básicas de saúde de responsabilidade do pediatra. Obesidade é o excesso de gordura no organismo, causada basicamente pela ingestão energética de alimentos maior que o gasto calórico do organismo. É uma doença multifatorial que envolve fatores genéticos, psicológicos e psicossociais, hábitos e cultura (sobretudo os hábitos dietéticos, o nível de atividade física e as atividades sedentárias). Os casos de origem endocrinológica são exceção. A obesidade, sobretudo a obesidade central ou abdominal, está fortemente relacionada aos principais fatores de risco de doença cardiovascular do adulto, ou seja, hiperlipidemia, hipertensão, hiperinsulinemia, assim como com doenças cardiovasculares e câncer. Além disso, a obesidade infantil e do adolescente está fortemente associada a diabetes tipo II (cuja prevalência tem crescido muito), distúrbios emocionais, complicações ortopédicas (sobretudo de coluna e quadril e artrites degenerativas), colelitíase, doença ovariana policística, esteatose hepática não alcoólica e síndrome de apnéia-hipoventilação. A obesidade infantil vem se tornando uma epidemia no mundo. Nos EUA e no Brasil a prevalência da obesidade aumentou cerca de 50% na última década e cerca de ¼ das crianças INSTITUTO DANONE 67 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA são obesas ou apresentam sobrepeso. Entre 40 e 80% das crianças obesas serão adultos obesos. Pelas metanálises de diversos estudos de coortes pode-se estimar que cerca de 50% das crianças obesas aos 7 anos serão adultos obesos, enquanto 80% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos. A correlação entre obesidade em menores de 3 anos com obesidade futura na idade adulta é pobre. Por outro lado, 75% dos adultos obesos não eram obesos aos 7 anos. Uma das causas desta maior relação entre obesidade infantil e do adulto ser maior quanto maior a criança é o efeito favorável do crescimento como coadjuvante no tratamento da obesidade. Enquanto uma criança que mantém seu peso enquanto cresce tende a resolver sua obesidade em poucos anos devido ao crescimento, na adolescência, após os 15 anos, emagrecer significa necessariamente perder peso. As dificuldades e as falhas associadas ao tratamento da obesidade do adulto são de tal monta que a maior parte dos tipos de cânceres tem hoje uma perspectiva de cura maior que a obesidade do adulto. Alguns autores chegam a afirmar que, na verdade, a obesidade do adulto se comporta como uma doença incurável ou de difícil controle. Estas afirmações aumentam a importância de dar ênfase ao tratamento e profilaxia da obesidade ainda na infância e adolescência. Afinal, quanto maior a prevalência, o impacto sobre a saúde e a dificuldade de tratamento de uma doença, maior ênfase deve ser dada à sua profilaxia. Assim, como ocorre com outras doenças, a forma mais eficiente de se fazer a profilaxia da obesidade é a identificação e o combate sistemático aos seus fatores de risco. Nota-se que é alta a freqüência de falha dos pediatras em detectar e iniciar o tratamento precoce da obesidade. Apenas 20% das crianças obesas relatam ter recebido alguma orientação terapêutica médica. FATORES DE RISCO DA OBESIDADE INFANTIL Comer muito, de uma maneira geral, independente do tipo de alimento, é o fator de risco mais importante. Os desvios qualitativos como comer excesso de alimentos protéicos ou excesso de gorduras assim como o baixo consumo de verduras e legumes são significativos mas menos importantes que simplesmente a redução do volume total de calorias ingeridas. Também a distribuição dos alimentos ao longo do dia é importante. Recomenda-se comer com regularidade nos horários adequados, com consumo maior no início que no final do dia ao mesmo tempo que deve ser evitado o consumo de alimentos nos intervalos das refeições. O habito de “beliscar” nos intervalos das refeições (biscoitos, bolachas, chips, doces, balas, refrigerantes e chocolate) está fortemente associado à obesidade. 68 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Mais que um fator de risco, a obesidade materna revela, ao mesmo tempo, a presença de um fator genético e ambiental. Os hábitos maternos que a levaram à obesidade tendem a ser copiados pelo filho. Por outro lado, diversos trabalhos demonstram que a abordagem terapêutica da criança tem mais chance de sucesso quando feita junto com o tratamento da mãe e de outros obesos da família. O nível de atividade física é uma das variáveis mais importante e consistentemente associada à prevalência de obesidade. Pode ser avaliada de várias formas: distância percorrida caminhando por dia, andar para a escola, andar versus andar de carro, elevador versus escada. São importantes as oportunidades de brincar fora de casa: brincadeiras de rua (pegador, bola, bicicleta, etc), clubes, piscina, praia, praça e parque. Outra parte importante são as atividades físicas programadas, como as aula de educação física na escola, aulas de esportes (natação, futebol, vôlei, ginástica, dança, artes marciais, etc) e atividades relacionadas ao trabalho doméstico (arrumação, limpeza, jardinagem, etc.). Tão importante quanto o estímulo às atividades físicas é o controle ou limitação das atividades sedentárias, sobretudo limitar o tempo gasto assistindo TV, jogar vídeogame ou minigames, computador (jogos e internet lúdica). Os fatores de risco para sedentarismo e baixo nível de atividade física são a disponibilidade de TV no quarto, falta de definição de horários para TV, disponibilidade de vídeogames e computadores, falta de área física externa na residência, falta de segurança (risco de violência) na rua e pais ausentes de casa a maior parte do tempo. Fatores de risco menores para a obesidade infantil são: sobrepeso ou obesidade anterior (já revertidos), excesso proporcional de gordura na dieta, famílias com dois filhos, famílias com menos de 4 pessoas, maior nível sócio-econômico, menarca precoce, estresse psicossocial, pouco tempo de sono. IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA OBESA OU SOBRE RISCO A suspeita de sobrepeso ou obesidade é baseada na ectoscopia e confirmada pela análise da antropometria. Crianças com peso acima do percentil 90 para a idade, sem estatura proporcional, devem passar por uma análise complementar: gráfico peso/estatura, índice e massa corporal (peso/altura em metros2) e pregas cutâneas subescapular e tricipital. Definições de obesidade: Peso acima do percentil 90 para a estatura nos gráficos peso/ estatura do NCHS ou 20% acima do peso médio para determinada estatura e sexo. Índice de massa corporal acima do percentil 95 para a idade e sexo (entre o percentil 85 e 95 considera-se como “risco de excesso de peso”). Prega cutânea: acima do percentil 90 para a idade e sexo. Obesidade mórbida: acima de 40% de excesso de peso. INSTITUTO DANONE 69 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Geralmente basta o aspecto físico associado aos dados antropométricos. Esta análise deve ser completada pela medida das pregas cutâneas (tríceps, médio abdominal, subescapular, suprailíaca, etc) que indicam obesidade quando acima do percentil 90 para a idade e sexo. Alternativas avançadas, usadas mais em pesquisa, como a estimativa da gordura corporal por ressonância magnética, TC, ultra-sonografia, peso corporal imerso em água, impedância elétrica, etc. O índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quetelet é considerado atualmente como a melhor alternativa clínica para mensurar a adiposidade. Para calculá-lo basta dividir o peso pela altura (em metros) ao quadrado. Para facilitar o cálculo prefere-se dividir o peso pela estatura e tornar a dividir o resultado pela estatura. O valor normal do IMC varia com a idade e sexo. Atualmente, a melhor referência disponível de para o IMC são as publicadas por Rosner et al., em 1998 (Tabela 1). Considera-se como sobrepeso quando a criança apresenta um IMC acima do percentil 85 para sua idade e sexo, e como obesidade quando o percentil está acima de 95%. A principal limitação do IMC é que ele não diferencia o excesso de peso por obesidade do aumento por hipertrofia de músculos, edema, ossatura, etc. TABELA 1: REFERÊNCIA DE IMC POR IDADE E SEXO Idade 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Feminino 50 % 85% 95% 15,1 15,2 15,4 15,8 16,4 17,1 17,9 18,8 19,6 20,2 20,6 20,9 21,2 16,9 17,2 17,9 18,9 20,1 21,4 22,6 23,6 24,4 24,9 25,2 25,5 25,9 18,5 19,3 20,4 21,7 23,0 24,5 26,1 27,5 28,6 29,3 29,6 29,9 31,3 Idade 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Masculino 50 % 85 % 15,6 15,6 15,2 15,6 16,0 16,6 17,6 17,8 18,4 19,2 19,9 20,6 21,2 17,2 17,4 17,8 17,8 19,7 20,9 21,9 22,6 23,2 23,7 24,5 25,4 25,9 95% 18,3 19,0 20,0 20,0 23,1 24,6 25,7 26,5 27,1 27,8 29,8 29,8 30,1 Fonte: Rosner B et al. Percentiles for body mass index in U.S. children 5 to 17 years of age. J Pediatr 132(2): 21122, 1998. Exemplos de sobrepeso e obesidade estão ilustrados na Figura 1. 70 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 1: EXEMPLOS DE SOBREPESO E OBESIDADE 10 anos de idade Peso: 40,7 kg Estatura: 1,35 m 7 anos de idade Peso: 44,5 kg Estatura: 1,32 m 11 anos de idade Peso: 54,5 kg Estatura: 1,34 IMC: 40,7 / 1,35 / 1,35 = 22,33 IMC: 44,5 / 1,32 / 1,32 = 25,5 IMC: 54,5 / 1,34 / 1,34 = 30,4 OBESIDADE SOBREPESO OBESIDADE Peso correspondente ao percentil 95: 24,6 x 1,35 x 1,35 = 44,8 Peso abaixo do %til 95: 4,1 kg Peso correspondente ao percentil 95: 20,4 X 1,32 X 1,32 = 35,5 Peso abaixo do %til 95: 9,0 kg Peso correspondente ao percentil 95: 25,7 x 1,34 x 1,34 = 46,1 Peso abaixo do %til 95: 8,4 kg Peso correspondente ao percentil 85: 20,9 x 1,35 x 1,35 = 38,1 Peso acima do %til 85: 2,6 kg Excesso percentual: 2,6 / 38,1 = 7% Peso correspondente ao percentil 85: 17,9 X 1,32 X 1,32 = 31,2 Peso acima do %til 85: 13,3 kg Excesso percentual:13 / 31,2 = 42,6% Peso correspondente ao percentil 85: 21,9 x 1,44 x 1,44 = 39,3 Peso acima do %til 85: 15,2 kg Excesso percentual: 15,2 / 39,3 = 38,6% Valores de pregas cutâneas, por idade e sexo, estão mostrados na Tabela 2. TABELA 2: REFERÊNCIA DE PREGAS CUTÂNEAS TRICIPITAL POR IDADE E SEXO (MM) Feminino Idade 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18-20 anos 50 % E SUBESCAPULAR Masculino 90 % 95% Tríceps Subesc Tríceps Subesc Tríceps 9,6 10,5 11,4 12,3 13,2 14,1 14,9 15,6 16,2 16,8 17,3 17,8 18,6 - 13,4 15,5 17,6 19,6 21,5 23,1 24,5 25,7 26,5 27,2 27,7 28,0 28,9 - 15,6 18,6 21,4 24,0 26,2 28,0 29,4 30,5 31,3 31,9 32,5 34,0 34,6 Subesc Idade 50 % Tríceps Subesc 6 anos 8,8 7 anos 9,4 8 anos 9,8 9 anos 10,1 10 anos 10,2 11 anos 10,2 12 anos 9,9 13 anos 9,6 14 anos 9,3 15 anos 9,0 16 anos 8,7 17 anos 8,7 18-20 9,2 anos 4,4 4,8 5,1 5,4 5,7 5,9 6,2 6,4 6,8 7,2 7,7 8,3 10,2 90 % 95% Tríceps Subesc Tríceps Subesc 13,1 15,0 16,8 18,3 19,4 20,1 20,4 20,3 19,9 19,4 18,9 18,6 18,7 7,0 9,0 10,8 12,5 13,8 14,9 15,7 16,3 16,8 17,3 17,9 18,7 21,7 16,5 18,1 19,7 21,1 22,3 23,2 23,8 24,1 24,1 23,9 23,6 23,2 22,2 10,8 12,9 15,1 17,2 19,1 20,9 22,3 23,5 24,2 25,1 25,6 26,1 27,3 Fonte: NHANES I: CRONK & ROCHE. Am J Clin Nutr 35: 347-54, 1982. INSTITUTO DANONE 71 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FATORES DE RISCO E ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO E PROFILAXIA O tratamento da obesidade não é fácil e mais de 80% das crianças não conseguem atingir o peso ideal ou voltam a ficar obesas após alguns meses. Para os casos leves de sobrepeso, geralmente basta corrigir as distorções alimentares, limitar os excessos de carboidratos (excesso de pão, biscoitos, doces e chocolates, massas e pizza) e o uso excessivo de gorduras, além de melhorar o nível de atividade física e limitar as atividades sedentárias. Nestes casos, o objetivo pode ser manter o mesmo peso enquanto a criança cresce. As dietas restritivas devem ser evitadas. Entretanto, quando a criança apresenta um excesso de peso maior que 30% a redução absoluta do peso é desejável. O tratamento precisa incluir uma reeducação alimentar da criança e de sua família, um aumento das atividades físicas (e redução das atividades sedentárias) e um suporte emocional. O nível de motivação da criança (querer muito emagrecer) é o principal fator de sucesso. Toda a família precisa se envolver no tratamento (Quadro 1). 72 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 1: RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA CONTROLAR OU EVITAR O AUMENTO DA OBESIDADE 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Evitar comer fora dos horários das refeições principais (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar). Mesmo nestes horários, evite comer se não estiver com fome. Algumas pessoas só começam a perder peso quando “pulam” uma refeição que não estão fazendo questão (almoço, jantar ou lanche). Nos intervalos contente-se com água, refrigerantes diet, café (com adoçante). Evite comer biscoito, bolacha e pão, nos intervalos das refeições. Usar água para matar a sede. Tomar bastante água de preferência fora do horário das refeições. Aumentar o máximo o consumo de verduras e legumes. Tempere com sal (pouco), limão, vinagre, orégano e azeite (pouco). Experimente fazer um molho, para regar a salada, com 5 colheres de sopa de vinagre, 5 colheres de sopa de água, um quarto de colher de chá de sal, meia colher de chá de azeite e uma pitada de orégano. Tentar estabelecer uma regra de comer um primeiro prato apenas as coisas saudáveis: legumes, verduras, saladas, frutas ou uma sopa de legumes. No segundo prato comer o que gosta sempre sem exagero (vigiando os “pontos”). Cortar (nem mesmo ter em casa) refrigerante comum, biscoitos (recheados, doces, achocolatados ou amanteigados), doces, balas e chocolate Reduzir ao máximo a ingestão de gordura. Restringir margarina, frituras, não refogar nada com mais que meia colher de óleo, usar só leite desnatado, não usar carnes gordurosas. Prefira sempre as carnes grelhadas ou assadas. Leite só desnatado (zero de gordura) após os 2 anos de idade. Refrigerantes só diet. Alimentos como sanduíches tipo McDonald e pizza devem ser limitados a uma ou duas vezes por semana. Prefira pela ordem: óleo de oliva, canola, girassol e milho, mas use o mínimo possível. Não deixe comer grandes quantidades de arroz, feijão, batata, farinha ou macarrão, mas este tipo de alimento é saudável e é a base da alimentação . Deve-se definir para a criança e ensinála a controlar (contar) quantas colheradas destes alimentos ela está comendo por dia. Restringir os doces e chocolates drasticamente: só pode no fim de semana ou em dia de festa. É melhor não comprar e não ter em casa estes alimentos. Não usar alimentos doces ou gordurosos como prêmio por bom comportamento, nem usar atividade físicas como castigo por mal comportamento Colocar pouca comida no prato. Sempre que a criança quiser repetir um prato ou repetir o lanche (sanduíche por exemplo) ela poderá fazê-lo se esperar dez a quinze minutos. Se o apetite passar quando ainda tem comida no prato: pare e jogue o resto da comida fora, é mais saudável e, no fim das contas, sai mais barato. Usar adoçantes no lugar de açúcar em todas as situações em que isso for possível (café, suco, chá, limonada). Adoçantes não dão câncer, obesidade sim, aumenta muito a chance de um câncer. Promover atividades físicas regulares pelo menos meia hora por dia (melhor 1 hora), pelo menos 3 vezes por semana (idealmente quase todo dia) entre atividades e escolas de esportes e atividades com a família em clubes, piscinas, sítio, praia, parque etc. Andar mais a pé que de carro, usar as escadas em vez de elevador. Caminhadas junto com os pais. Promover as brincadeiras com bola, bicicleta, pegador, piscina, brincadeiras ao ar livre em geral. Estimular o máximo de atividades ao ar livre (rua, clubes, piscina, praia, parquinho, passeios ecológicos). Trabalhos domésticos como limpeza, jardinagem, etc., são similares a caminhadas rápidas, em termos de consumo de calorias. Limitar as atividades , reduzindo o tempo que assiste TV, joga videogame, mini-games ou games de computador. É importante que os pais dêem o exemplo tanto com relação à dieta como na atividade física. INSTITUTO DANONE 73 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERENSON, G.S.; SRINIVASAN, S.R.; BAO, W.; NEWMAN, P.W.; TRACY, R.E.; WATTIGNEY, W.A. Association between multiple cardiovascular risk factors and atherosclerosis in children and young adults. New Engl J Med 338: 1650-6, 1998. DANIELS, S.R. Is there an epidemic of cardiovascular disease on the horizon? J Pediatr 134: 665-6, 1999. ECKEL, R.H.; KRAUSS, R.M. American Heart Association call to action: obesity as a major risk factor for coronary heart disease. 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GIDDING, S.G. Preventive Pediatric Cardiology - Tobacco, Cholesterol, Obesity and Physical Activity. Ped Clin North Am 46: 253- , 1999. KROTKIEWSKI, M.; MANDROUKAS, K.; SJÖNSTRÖM, L.; SULLIVAN, L.; WETTERQVIST, H.; BJÖRNTORP, P. Effects of long term physical training on body fat, metabolism, and blood pressure in obesity. Metabolism 28: 650-58, 1979. LOCARD, E.; MAMELLE, N.; AGATHE, B.; MIGNIAC, F.M.; REY, S. Risk factors of obesity in a five years old population. Parental versus enviromental factors. Int J Obesity 16: 721-29, 1992. MC NAMARA, J.J.; MALOT, M.A.; STREMPLE, J.F.; CUTTING, R.T.; Coronary artery disease in combat casualties in Vietnam. JAMA 216:1185-7; 1971 MOKDAD, A.H.; SERDULA, M.K.; DIETZ, W.H.; BOWMAN, B.A.; MARKS, J.S.; KOPLAN, J.P. The Spread of the obesity epidemic in the United States, 1991-98. JAMA 282: 1519-22, 1999. ROBINSON, T.N. Reducing children’s television viewing to prevent obesity. A randomized controlled trial. JAMA, 282: 1561-7, 1999. 74 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA SAMUEL, S.G. Preventive Pediatric Cardiology - Tobacco, Cholesterol, Obesity and Physical Activity. Ped Clin North Am 46: 253-, 1999. SKOL, R.J. The chronic disease of childhood obesity: The sleeping giant has awakened. J Pediatr 136: 711-3, 2000. STRAUSS, R.S.; KNIGHT, J. Influence of the home environment on the development of obesity in children. Pediatrics 103(6): e 85, 1999. WEBBER, L.S.; WATTINGNEY, W.A.; SRINIVASAN, S.R.; BERENSON, G.S. Obesity studies in Bogalusa. Am J Med Sci 310: S53-S61, 1995. INSTITUTO DANONE 75 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 76 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA INDICADORES CLÍNICOS, ANTROPOMÉTRICOS, BIOQUÍMICOS E NUTRICIONAIS DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA Carlos A. Nogueira de Almeida* Luiz Antonio Del Ciampo* Rubens Garcia Ricco* INTRODUÇÃO Durante este simpósio, estarão sendo discutidos diversos temas sobre a obesidade na adolescência. Dentro do tema geral “indicadores”, deve-se levar em conta que o melhor diagnóstico possível da obesidade, da mesma forma que de todas as doenças, se faz através de uma boa observação clínica. Sendo assim, pode-se dizer que a anamnese completa, o exame físico detalhado e a adequada solicitação de exames complementares seria o conjunto ideal para o melhor diagnóstico. Por outro lado, muitas vezes é necessário que sejam utilizadas maneiras mais rápidas de abordagem, como nos estudos populacionais, ou que se treine adequadamente profissionais não especialistas, para otimizar a detecção da obesidade que, pela sua alta prevalência, deve ser problema também abordável pelo generalista. Dessa forma, faz-se necessário o estabelecimento de alguns indicadores, devidamente padronizados, a fim de se obter o melhor diagnóstico possível, em qualquer circunstância. Nesse caso, deve ficar claro que nenhum deles, isoladamente, deve ser usado como critério de diagnóstico para o adolescente individualmente considerado. Nos estudos populacionais, quando é usado um pequeno número de indicadores, ou até um único, deve-se ter sempre em mente a possibilidade do erro, que se apresentará sob a forma de falsos-positivos ou falsos-negativos. INDICADORES CLÍNICOS E NUTRICIONAIS A obesidade pode ser entendida, em linhas gerais, como um desvio do estado nutricional para o lado do excesso. Vejamos o esquema a seguir: * Universidade de Ribeirão Preto – São Paulo. INSTITUTO DANONE 77 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 1: ESQUEMA ILUSTRATIVO DAS POSSIBILIDADES DE APRESENTAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DEMANDA DEMANDA Sub Nutrição 1 – Subnutrição Proteico-Calórica • Leve, Moderada • Marasmo • Kwashiorkor 2 - Anemia Ferropriva 3 - Anemia Megaloblástica 4 - Raquitismo 5 - Escorbuto 6 - Bócio Endêmico 7 - Cárie Dentária 8 - Beribéri 9 - Hipovitaminose A INGESTÃO INGESTA Nutrição adequada Hiper Nutrição 1 - Obesidade • Diabetes • Aterosclerose 2 - Hipercarotenemia 3 - Hipervitaminose K 4 - Hipervitaminose D 5 - Hipervitaminose E O desbalanço entre a ingesta de nutrientes e as necessidades do organismo vai gerar quadro de desnutrição que, quando produzido por excesso global de ingesta em relação às necessidades, será caracterizado como obesidade. Essa simplificação exagerada do processo tem como função direcionar o estudo dos indicadores clínicos. Assim, deve-se iniciar a avaliação com a anamnese completa, que pode ser dividida em geral e nutricional, procurando-se abordar todos os fatores que possam estar interferindo na relação entre demanda e ingesta. Esquematicamente, pode-se resumir a abordagem desses fatores em alguns itens: 78 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA ANAMNESE GERAL q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q Como é a saúde em geral? Qual imagem corporal tem de si mesmo? Houve aparentemente ganho de peso recentemente? Qual a opinião a respeito da alimentação. E da sua família? Quantas refeições a família faz durante o dia? E você? Quais os alimentos mais freqüentemente utilizados? Quais alimentos não consome? Possui vícios alimentares? E as outras pessoas da família? Possui alguma alergia alimentar? E as outras pessoas da família? O que mais gosta de comer? Com que freqüência come verduras, legumes e frutas? E a família? E carne? E leite? E ovos? Costuma ingerir líquidos adoçados durante as refeições? Costuma substituir alguma refeição por lanches? Como é o lanche que faz na escola? A alimentação no final-de-semana é diferente? Como é? Costuma comer doces diariamente? Qual a freqüência do consumo de bebidas alcoólicas? Costuma comer depois do jantar? Costuma acordar no meio da noite para comer? Existe esse hábito na família? Usa algum tipo de suplemento? Como é o hábito intestinal? Há problemas nessa área na família? Apresenta algum problema quanto à mastigação, salivação ou deglutição? Tem alguma doença crônica, especialmente no aparelho digestivo? Já fez alguma cirurgia? Como é a atividade física ? Há problemas de obesidade na família? Há problemas de doenças correlacionadas à obesidade na família: diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia, infarto, acidente vascular cerebral, etc. ? ANAMNESE NUTRICIONAL (INQUÉRITOS) q RECORDATÓRIO DE 24 HORAS São obtidas informações detalhadas sobre todos os alimentos ingeridos em um período de 24 horas. Deve-se evitar os dias atípicos, como domingos, feriados e dias de festas ou com INSTITUTO DANONE 79 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA restrições de origem religiosa. A principal limitação está no fato de que muitas vezes o adolescente pode não se lembrar dos alimentos ingeridos ou dos detalhes a respeito das porções. Deve-se sempre dirigir o Recordatório, reforçando as perguntas gerais com a busca de aspectos específicos. Por exemplo, não basta perguntar “O que comeu no almoço?”; deve-se questionar “qual a quantidade?”, “adicionou sal à mesa”, “ingeriu algum líquido?”, “houve sobremesa?”, etc. Para os nutricionistas, o Recordatório de 24 horas é considerado o meio mais eficiente de se conhecer detalhadamente a alimentação de um pessoa. q REGISTRO ALIMENTAR Nessa modalidade de inquérito, pede-se ao adolescente que efetivamente anote, com todos os detalhes já discutidos, os alimentos ingeridos. Esse Registro pode ser de um, dois ou mais dias, levando-se em conta que, se for muito extenso, logo o paciente se sentirá desmotivado, de modo que, em geral, considera-se suficiente utilizar três dias, devendo-se escolher pelo menos um deles no final-de-semana para registrar. A principal limitação está no fato de as anotações serem feitas em casa, longe do médico, podendo-se, por isso, haver perda de detalhes que o paciente pode não considerar relevantes. Esse problema pode ser diminuído quando se realiza adequada orientação antes de se iniciar o Registro. Outra dificuldade diz respeito ao caráter prospectivo, inviabilizando sua realização quando se necessita de diagnóstico rápido ou quando se avalia o adolescente no momento da internação hospitalar ou da admissão a uma instituição. EXAME FÍSICO O exame físico não antropométrico deve ser voltado para a busca de sinais gerais de aumento do tecido adiposo e sinais específicos de hipernutrição que terão implicação no tratamento: SINAIS GERAIS q q q q q q q q q q q 80 Aspecto obeso Turgor espesso Circunferências (braço, coxa, abdome, etc.) aumentadas Intertrigos Dermatofitoses Estrias Furunculoses Joelhos valgos Pés-planos valgos Hipertensão arterial Depósitos de colesterol (olhos, mucosas) INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS São os indicadores mais utilizados para o diagnóstico da obesidade na adolescência. Baseiamse na premissa de que o acúmulo excessivo de gordura corporal deva se refletir em aumento de medidas antropométricas obtidas em locais em que o tecido adiposo esteja presente. Entretanto, deve-se levar em conta sempre que, ao contrário dos adultos, existe na adolescência o aumento desejável da maioria das medidas antropométricas, devido ao crescimento físico e do significado dessas medidas, devido à maturação sexual, necessitando-se, a todo momento, levar em conta outros parâmetros. Sendo assim, pode-se resumir a avaliação assumindo-se que deva se basear na abordagem simultânea de 3 parâmetros: ♦ Medida da massa corporal: indica se o indivíduo apresenta excesso de massa; ♦ Medida da composição corporal: indica a composição da massa; e ♦ Medida do grau de maturação sexual: indica se os valores de referência podem ser usados para comparação. Assim, o primeiro passo a ser realizado é a avaliação do grau de maturidade sexual. As tabelas de referência baseiam-se em adolescentes saudáveis, de bom nível sócio-econômico, esperando-se, assim, que reflitam o “maturador médio”, ou seja, aquele adolescente que iniciou a puberdade ao mesmo tempo que a maioria dos indivíduos de mesmo sexo. Entretanto, existem adolescentes perfeitamente normais que podem retardar (“maturadores tardios”) ou acelerar (“maturadores precoces”) a entrada na puberdade; nesses casos, a utilização dos dados de referência fica seriamente comprometida. Para que seja avaliada a maturação sexual pode-se utilizar a verificação do estado do adolescente em relação ao estirão da puberdade, que é o marco principal de crescimento nessa fase. Espera-se que ele ocorra, nos maturadores médios, entre 12 e 14 anos para as meninas e entre 14 e 16 anos para os meninos. Os Quadros 1 e 2 permitem verificar o provável momento do estirão, para um dado indivíduo. QUADRO 1: INDICADORES DE MATURAÇÃO SEXUAL DE MENINOS VOZ ADULTA GENITAL G3 SIM NÃO SIM Pós-pubescente: já ultrapassou o pico de velocidade de crescimento e completou praticamente todo o crescimento da adolescência Evento improvável NÃO Pubescente: iniciou mas ainda não completou o estirão da puberdade Pré-pubescente: Não iniciou o estirão da puberdade. INSTITUTO DANONE 81 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 2: INDICADORES DE MATURAÇÃO SEXUAL DE MENINAS MENARCA SIM NÃO MAMA M3 SIM Pós-pubescente: já ultrapassou o pico de velocidade de crescimento e completou praticamente todo o crescimento da adolescência. NÃO Evento improvável Pubescente: iniciou mas ainda não completou o estirão da puberdade. Pré-pubescente: não iniciou o estirão da puberdade. Nos casos em que se observar que o adolescente tem grau de maturação compatível com sua idade cronológica, passa-se à segunda etapa que é medição da quantidade de massa corporal. Para isso, o peso medido em balanças é a variável mais utilizada, podendo-se também fazer uso de outros parâmetros (por exemplo o perímetro braquial) que, em geral, são usados como estimadores do peso para aquelas circunstâncias em que sua obtenção não for possível (paciente acamado, com gesso, edemaciado, etc.). O valor obtido na medida antropométrica utilizada deve ser comparado a um referencial, podendo-se obter a resposta à pergunta: há ou não excesso de massa? Para os adolescentes, a OMS recomenda a utilização do Índice de Massa Corporal (IMC) que é obtido pela divisão do peso, em quilogramas, pelo quadrado da altura, em metros. Os pontos de corte recomendados e os valores dos percentis são (Tabela 1): TABELA 1: PONTOS DE CORTE PARA O IMC Percentil de IMC < 85 85 a 95 > 95 Estado nutricional Sem obesidade Sobrepeso Obesidade Os valores do IMC para os percentis 85 e 95 na adolescência, para sexo e cor, estão na Tabela 2. Outra forma de se realizar essa avaliação, pode ser feita verificando-se a adequação do peso para a estatura, com base nas curvas de crescimento facilmente disponíveis e com as quais os pediatras estão habituados a trabalhar. A partir dessas curvas pode-se verificar, para uma certa altura, qual a mediana de peso (erroneamente chamado muitas vezes de “peso ideal”) e obter-se o desvio percentual do peso, em relação a essa mediana (peso medido/mediana x 100). Pode-se também verificar, diretamente, em que percentil se encontra o peso de 82 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA determinado indivíduo, em relação à sua altura. Nesses casos, os seguintes pontos de corte são utilizados, como mostrado na Tabela 3: TABELA 2: VALORES DOS PERCENTIS 85 E 95 DO IMC NA ADOLESCÊNCIA PARA MENINOS (M) E MENINAS (F) BRANCOS E NEGROS Idade Percentil 8 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 85 95 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Negros M 18,3 21,3 19,4 22,9 20,6 24,4 21,6 25,5 22,3 26,3 22,8 26,9 23,4 27,6 24,1 28,5 25,1 29,6 25,5 29,9 F 19,8 23,1 21,0 24,5 22,3 26,1 23,5 27,6 24,6 29,1 25,4 30,3 25,9 31,0 26,2 31,3 26,5 31,6 26,9 33,0 Brancos M 18,6 21,4 19,7 23,0 20,9 24,5 21,9 25,6 22,6 26,4 23,2 27,0 23,7 27,6 24,5 28,5 25,4 29,6 25,9 30,0 F 8,6 21,2 19,7 22,6 21,0 24,1 22,2 25,6 23,2 27,0 24,0 28,1 24,5 28,8 24,8 29,1 25,1 29,4 25,5 30,8 TABELA 3: PONTOS DE CORTE PARA A RELAÇÃO PESO/ESTATURA Desvio percentual Percentil Estado nutricional < 110% 110 a 120% > 120% < 90 90 a 95 > 95 Sem obesidade Sobrepeso Obesidade A partir desses dados, é possível obter-se a definição quanto à presença de excesso de massa corpórea para uma certa altura. O último passo, então, será a avaliação da composição dessa massa. Isso deve obrigatoriamente ser feito, já que, ao contrário das crianças menores, INSTITUTO DANONE 83 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA o adolescente muitas vezes apresenta outros fatores que determinam excesso de peso, principalmente a hipertrofia muscular. Assim, meninos ou meninas que trabalham em atividades físicas intensas, esportistas ou, simplesmente, aqueles com tendência pessoal a serem musculosos podem facilmente apresentar valores elevados de IMC, sem serem obesos. Dessa forma, deve-se levar em conta que, para o diagnóstico de obesidade, é necessário que exista excesso de tecido gorduroso. Vários métodos têm sido propostos para a avaliação da gordura corporal. O mais utilizado e, atualmente, recomendado pela OMS, é a medida das pregas cutâneas, que baseia-se na premissa de que cerca de 50% da gordura corporal encontra-se depositada no subcutâneo. Sendo assim, ao se avaliar a espessura desse subcutâneo pode-se estimar a gordura corporal total. É possível medir-se as pregas cutâneas em diversos locais e a melhor avaliação será aquela que permitir uma estimativa do corpo como um todo (diferentes partes do tronco e dos membros); para isso, recomenda-se a abordagem de mais de uma prega, sendo que a somatória dos valores obtidos poderá ser comparada nas tabelas que fornecem a estimativa da gordura corporal total. A Tabela 4 é um exemplo baseado na soma das pregas bicipital, tricipital, subescapular e supra-ilíaca: TABELA 4: PORCENTAGEM DE GORDURA CORPORAL BASEADA NA SOMATÓRIA DAS PREGAS BICIPITAL, TRICIPITAL, SUBESCAPULAR E SUPRA-ILÍACA Soma das pregas (mm) 45 60 65 75 85 95 110 120 140 % gordura - meninos 17,7 21,2 22,2 24,0 25,5 26,9 28,8 30,0 32,0 % gordura - meninas 25,0 29,1 30,2 32,2 34,0 35,6 37,8 39,0 41,3 Na prática, entretanto, quase sempre é suficiente a utilização apenas da prega tricipital, que é a de mais fácil acesso e a mais bem estudada, apresentando ótima correlação com outros métodos mais sofisticados. A OMS recomenda que a comparação seja feita através de tabelas de percentis que fornecem, a partir de dado valor em milímetros de prega cutânea tricipital, o percentil apresentado pela medida. A Tabela 5 mostra os pontos de corte. 84 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 5: PONTOS DE CORTE PARA A PREGA TRICIPITAL Percentil da prega tricipital < 85 85 a 95 > 95 Gordura corporal Sem excesso Pouco excessiva Muito excessiva Os percentis 85 de prega tricipital para meninos e meninas podem ser vistos na Tabela 6. TABELA 6: PERCENTIS 85 DE PREGA TRICIPITAL PARA MENINOS E MENINAS Idade (anos) 10 11 12 13 14 15 16 17 18 P85 - Meninos (mm) 16 17 18 18 17 16 15 14 15 P85 - Meninas (mm) 20 21 22 23 23 24 25 26 27 Outros métodos podem ser utilizados, alguns bastante mais sofisticados, para estimar a gordura corporal total. Devem-se destacar a Pesagem Hidrostática, a Impedância Bio-Elétrica, a Tomografia Computadorizada, a Ressonância Magnética, o DEXA (Dual Energy X-Ray Absorptiometry), a Espectometria do K40, o DPA (Dual Photon Absorptiometry), o NIRI (Infra-vermelho) e a Densitometria. INDICADORES BIOQUÍMICOS Os indicadores bioquímicos, na obesidade, estão muito mais relacionados à sua capacidade de avaliar risco de doenças derivadas da aterosclerose que propriamente ao diagnóstico. De uma forma geral, não se poderá contar com qualquer dosagem laboratorial para definir a obesidade ou quantificar seu grau. Por outro lado, entretanto, a elevada morbidade relacionada ao excesso de gordura corporal, faz com que seja obrigatória a solicitação de alguns exames que acompanharão os demais indicadores na composição do diagnóstico final. Desses, a maior importância deve ser dada ao perfil lipídico que permitirá, junto à avaliação da pressão arterial, do tabagismo e do risco familiar, a elaboração de dois tipos distintos, em termos de tratamento de obesidade: com e sem risco coronariano. A interpretação do perfil lipídico na adolescência é dada no Quadro 3. INSTITUTO DANONE 85 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 3: INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES LABORATORIAIS NA ADOLESCÊNCIA CATEGORIA NÍVEL (mg/dl) Colesterol total Elevado Normal Desejável 200 ou mais 170 a 199 Abaixo de 170 LDL Colesterol Alto Normal Desejável 130 ou mais 110 a 129 Abaixo de 110 HDL Colesterol Baixo Limite inferior Desejável Abaixo de 35 35 a 45 Acima de 45 Triglicérides totais Alto Limite máximo do normal Desejável 130 ou mais 90 a 129 Abaixo de 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FALKNER, B.; MICHEL, S. Obesity and other risk factors in children. Ethnic Diseases 1999; 9(2): 284-9. HALPERN, Z.S.C. Tratamento da obesidade em crianças. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia 1999; 43(2): S24B-S26B. HIMES, J.H.; DIETZ, W.H. Guidelines for overweight in adolescent preventive services: Recommendations from an expert committee. The Expert Committee on Clinical Guidelines for Overweight in Adolescent Prevention Services. 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INSTITUTO DANONE 87 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 88 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TENDÊNCIA SECULAR DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DE ADOLESCENTES BRASILEIROS DO NORDESTE E SUDESTE ENTRE 1974 E 1997 Luiz Antonio dos Anjos* INTRODUÇÃO O Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado entre 1974 e 1975, e a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) foram as duas únicas pesquisas de abrangência nacional com informações de medidas antropométricas de toda a população, cujos dados podem fornecer informações sobre tendências que ocorreram no perfil nutricional no país entre os anos 70 e os anos 80. O perfil nutricional da população brasileira mudou entre as duas pesquisas, passando por uma fase de transição com aumento na prevalência de sobrepeso, principalmente em adultos (Monteiro et al., 1995b), e taxas decrescentes de desnutrição em crianças (Monteiro et al., 1995a). De fato, sobrepeso pode ser considerado, atualmente, como o mais importante agravo nutricional na população. Associado a outras tendências (envelhecimento, urbanização), a mudança no perfil nutricional faz com que uma nova agenda de prioridades de ação na área da Saúde seja pensada. Uma pesquisa mais recente, a Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), foi um inquérito populacional de base domiciliar realizado entre 1996 e 1997, mas, que abrangeu somente as regiões Nordeste (NE) e Sudeste (SE) do Brasil. A perspectiva de avaliação das tendências do índice de massa corporal destas regiões (a mais pobre e rica do país, respectivamente) pode fornecer informações importantes para caracterizar a situação de saúde e nutrição do país. Assim, relata-se, aqui, a tendência dessas medidas antropométricas da população adolescente (10 a 20 anos de idade), nas três pesquisas. MATERIAL E MÉTODOS O ENDEF foi uma pesquisa domiciliar sobre consumo de alimentos e orçamentos familiares, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com coleta de * Professor Titular, Laboratório de Avaliação Nutricional e Funcional (LANUFF) Departamento de Nutrição Social, Universidade Federal Fluminense; e Pesquisador, Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Fundação Oswaldo Cruz. INSTITUTO DANONE 89 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA dados entre agosto de 1974 e agosto de 1975. Uma amostra probabilística de cerca de 55.000 domicílios foi selecionada em quatro estágios (municípios, setores censitários, subsetores e domicílios) para representar 22 estratos geográficos do país (de Vasconcellos, 1983), que fornece dados sobre mais de 267.000 pessoas de aproximadamente 53.000 famílias. A PNSN foi uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Alimentação de Nutrição (INAN), pelo IBGE e pelo Instituto de Planejamento Econômico e Social (IPEA), com coleta de dados entre julho e setembro de 1989 (INAN, 1990). Uma amostra probabilística de 17.920 domicílios foi selecionada em três estágios (município, setor e domicílio) para representar 9 estratos geográficos do país. Foram entrevistadas 63.213 pessoas moradoras. A Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) foi um inquérito populacional de base domiciliar realizado entre 1996 e 1997 nas regiões Nordeste (NE) e Sudeste (SE) do Brasil, em 10 estratos geográficos, a saber: Região Metropolitana de Fortaleza, Região Metropolitana de Recife, Região Metropolitana de Salvador, restante da área urbana do Nordeste, restante da área rural do Nordeste, Região Metropolitana de Belo Horizonte, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Região Metropolitana de São Paulo, restante da área urbana do Sudeste e restante da área rural do Sudeste. No total, foram investigados 19.409 indivíduos em 4.940 domicílios, tanto nas áreas urbanas quanto rural, o que representa aproximadamente 70% da população nacional total, ou 103.640.611 pessoas, das quais, 40,5% residentes no NE e 59,5% no SE, e 49% de homens (50.547.274) e 51% de mulheres (53.093.337). Os dados das três pesquisas, aqui analisados, foram obtidos de CDs com os microdados produzidos pelo IBGE. Para realizar a presente análise foram utilizadas as informações de todos os indivíduos com idade igual ou maior do que 10 e inferior a 20 anos, excluindo-se, ainda, as mulheres gestantes ou lactantes, totalizando 42.637; 14.932; e 3.976 indivíduos no ENDEF, PNSN e PPV, respectivamente. Houve aproximadamente o mesmo número de mulheres e homens investigados em cada um dos inquéritos. As medianas do índice de massa corporal – IMC (Quetelet, 1869) definido como a divisão da massa corporal (kg) pelo quadrado da estatura (m), foram calculadas para cada gênero e faixa etária (em intervalos de um ano) usando os fatores de expansão próprios de cada pesquisa e calculadas em microcomputador, utilizando o sistema SAS. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve uma tendência secular positiva do IMC, tanto para homens quanto para mulheres, no Nordeste e Sudeste brasileiros, entre o ENDEF e a PNSN (Figuras 1 a 4). Entretanto, a comparação entre as curvas do IMC entre a PNSN e a PPV não demonstra uma tendência 90 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA tão clara, em parte pelo fato de terem decorrido apenas 8 anos entre as duas pesquisas, sendo que entre o ENDEF e a PNSN houve praticamente o dobro deste tempo. Para o Nordeste, as curvas são quase superpostas para os homens e mulheres em algumas idades (Figuras 1 e 3). Por outro lado, existe uma clara tendência positiva do IMC na população masculina do Sudeste brasileiro (Figura 2), o que não é evidente para as mulheres (Figura 4). Estes dados indicam que parece existir uma importante tendência a maiores valores de massa corporal para estatura (avaliado aqui pelo IMC), na população do Sudeste brasileiro. Esta tendência é particularmente importante por ocorrer numa idade precoce. A explicação para estas tendências passa por uma possível alteração na dieta da população e, talvez, por uma redução no nível de atividade física. Infelizmente, os dados disponíveis não permitem maiores análises para se tentar explicar esses fenômenos. FIGURA 1: MEDIANAS DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (KG/M2) EM FUNÇÃO DA DA POPULAÇÃO MASCULINA NO NE, NOS 3 INQUÉRITOS IDADE Índice de Massa Corporal (kg/m2) 25 24 23 22 21 20 19 18 PPV 17 PNSN 16 ENDEF 15 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Idade (anos) INSTITUTO DANONE 91 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 2: MEDIANAS DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (KG/M2) EM FUNÇÃO DA IDADE DA POPULAÇÃO MASCULINA DO SE, NOS 3 INQUÉRITOS 25 Índice de Massa Corporal (kg/m2) 24 23 22 21 20 19 PPV 18 PNSN 17 ENDEF 16 15 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Idade (anos) FIGURA 3: MEDIANAS DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (KG/M2) EM FUNÇÃO DA IDADE DA POPULAÇÃO MASCULINA DO NE, NOS 3 INQUÉRITOS 25 Índice de Massa Corporal (kg/m2) 24 23 22 21 20 19 PPV 18 PNSN 17 ENDEF 16 15 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Idade (anos) 92 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 4: MEDIANAS DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (KG/M2) EM FUNÇÃO DA IDADE DA POPULAÇÃO MASCULINA DO SE, NOS 3 INQUÉRITOS Índice de Massa Corporal (kg/m2) 25 24 PPV 23 PNSN 22 ENDEF 21 20 19 18 17 16 15 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Idade (anos) Na população brasileira adulta (> 20 anos de idade), Anjos & de Vasconcellos (1998) demonstraram que a atividade física ocupacional não se modificou de forma importante entre 1975 (ENDEF) e 1989 (PNSN). Análise do nível de atividade física de lazer na PPV (Anjos, 1999) indica que somente 19 % das pessoas do Nordeste e 21 % do Sudeste relataram realizar alguma prática de exercício físico ou esporte, havendo um grande diferencial entre homens (27 %) e mulheres (13 %). A faixa etária que mais praticou atividade física foi a de 10 a 15 anos (44 %), sendo maior nos homens (54 %) do que nas mulheres (34 %), e no Sudeste do que no Nordeste, em qualquer idade (Anjos, 2000). Um outro aspecto importante, que vale a pena comentar, diz respeito ao critério para a avaliação nutricional de adolescentes utilizando-se a antropometria. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995) é de que se utilize os valores do percentil 85 do IMC da população americana (Himes & Dietz, 1994) como valor para se estimar risco de sobrepeso. Já foi documentado que os percentis mais altos de IMC dessa referência (americana) são bastante superiores aos da população brasileira (Anjos et al., 1998). Assim, a população brasileira teria que ganhar muitas unidades de IMC para que o problema do sobrepeso fosse identificado segundo este critério. Este ponto de corte servirá para identificar os indivíduos que, indubitavelmente, terão sobrepeso. Do ponto de vista teórico, um valor de um certo percentil de IMC de uma população indicará a distribuição da medida nos membros INSTITUTO DANONE 93 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA desta população sem, necessariamente, indicar algum agravo nutricional. Por exemplo, os dados da presente análise indicam que o valor da mediana do IMC está aumentando. O valor do percentil 85 e 95, também. Isto só indica que a população está ficando mais pesada para sua estatura ao longo do tempo. Para contornar este aspecto, um grupo de pesquisadores sugeriu o uso internacional de uma curva de IMC desenvolvida a partir de dados populacionais de várias regiões (Brasil, Estados Unidos, Holanda, Hong Kong, Reino Unido e Singapura) e que foram construídas para indicar, a cada idade, qual o valor de IMC representaria um IMC de 25 (para o diagnóstico de sobrepeso) ou 30 kg.m-2 (para o diagnóstico de obesidade) aos 18 anos (Cole et al., 2000). A curva é uma integração das curvas das 6 populações e elimina o problema da utilização de uma curva única (americana) e um determinado percentil (85 ou 95). Esta sugestão é muito recente e requer melhor avaliação, mas sua lógica parece ser bastante razoável. Fica evidente que existem ainda muitas lacunas no conhecimento para se poder explicar a transição nutricional que o Brasil enfrenta atualmente. Especificamente para os adolescentes, seria necessário desenvolver melhores metodologias de avaliação nutricional, integrando, preferencialmente, medidas de composição corporal com as de maturação biológica (estagiamento de maturação sexual, por exemplo). Da mesma forma, a obtenção de dados sobre o perfil de atividade física e alimentar deve ser uma prioridade em pesquisa para se poder tentar entender melhor a situação nutricional da população e orientar os programas de saúde e de intervenção. Deve-se, ainda, pensar e experimentar sistemas de vigilância alimentar e nutricional e programas de intervenção que deverão contemplar as características peculiares dos adolescentes. Em conclusão, os dados aqui apresentados indicam que há tendência secular do IMC em adolescentes nos últimos 25 anos no país, mas que esta é diferenciada segundo sexo e região. Tais informações levantam questões quanto aos critérios para a identificação de sobrepeso/ obesidade em adolescentes e a necessidade de pesquisas/informações para o desenvolvimento de políticas nutricionais e de saúde para a população adolescente brasileira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, L.A. Prevalência da inatividade física no Brasil. In: Anais do 2º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.1999: 59-63. ANJOS, L.A. Physical activity estimates from a household survey in Brazil. Medicine and Science in Sports and Exercise 2000; 32 (5 Suppl.): S188. 94 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA ANJOS, L.A.; DE VASCONCELLOS, M.T.L. Tendência do nível de atividade física ocupacional e estado nutricional de adultos brasileiros entre 1975 e 1989. Anais da I Bienal de Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1998; 226. ANJOS, L.A.; VEIGA, G.V.; CASTRO, I.R.R. 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Os valores de normalidade da hemoglobina, a média normal e a variação dos limites inferiores de normalidade, dependem da idade, sexo, raça, bem como da altitude da moradia. A Tabela 1 apresenta os valores das células sangüíneas para as várias idades com média e limites inferiores de normalidade (-2dp). Indivíduos da raça negra apresentam valores inferiores em 0.5 a 0.6 g/dl., e a menor concentração de oxigênio em grandes altitudes é um conhecido fator de elevação nos níveis da hemoglobina. HISTÓRICO O uso terapêutico do ferro foi mencionado na mitologia grega na história de Iphiclus, que foi curado da impotência pela bebida resultante da mistura de ferrugem e vinho(2). Muito da terapia com ferro, usada por antigos médicos, tem origem em tal simpatia mágica. A idéia é que um sofredor assumiria um pouco da força do aço bebendo vinho ou água nos quais sua espada foi mergulhada. Ferro também foi usado para tratar uma grande variedade de alimentos no Antigo Egito e no Império Romano(3), mas o uso específico de sais de ferro é creditado a Sydenham que, nos inícios de 1.700, recomendava seu uso para o tratamento de clorosis. * Departamento de Pediatria da Escola de Medicina da EMESCAM, Vitória, ES. INSTITUTO DANONE 97 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 1: VALORES DAS CÉLULAS SANGÜÍNEAS PARA AS VÁRIAS IDADES COM MÉDIA E LIMITES INFERIORES DE NORMALIDADE Idade Hemoglobina Hematócrito N.º hemácias VCM HCM CHCM (g/dl) (%) (10 12/l) (fl) (pg) (g/dl) Média -2 dp Média -2 dp Média -2 dp Média -2 dp Média -2 dp Média -2 dp RN (sangue do cordão) 16.5 13.5 51 42 4.7 3.9 108 98 34 31 33 30 1 a 3 dias (capilar) 18.5 14.5 56 45 5.3 4.0 108 95 34 31 33 29 1 semana 17.5 13.5 54 42 5.1 3.9 107 88 34 28 33 28 2 semanas 16.5 12.5 51 39 4.9 3.6 105 86 34 28 33 28 1 mês 14.0 10.0 43 31 4.2 3.0 104 85 34 28 33 29 2 meses 11.5 9.0 35 28 3.8 2.7 96 77 30 26 33 29 3 a 6 meses 11.5 9.5 35 29 3.8 3.1 91 74 30 25 33 30 0.5 a 2 anos 12.0 10.5 36 33 4.5 3.7 78 70 27 23 33 30 2 a 6 anos 12.5 11.5 37 34 4.6 3.9 81 75 27 24 34 31 6 a l2 anos 13.5 11.5 40 35 4.6 4.0 86 77 29 25 34 31 Feminino 14.0 12.0 41 36 4.6 4.1 90 78 30 25 34 31 Masculino 14.5 13.0 43 37 4.9 4.5 88 78 30 25 34 31 Feminino 14.0 12.0 41 36 4.6 4.0 90 80 30 26 34 31 Masculino 15.5 13.5 47 41 5.2 4.5 90 80 30 26 34 31 12 a 18 anos 18 a 49 anos From Dallman PR. in: Rudolph A, ed. Pediatrics. l6th ed., New York: Appleton-Century-Crofts 1977 (21). Lubin BH. Reference values in intancy and childhood. in: Nathan DG, Oski FA, eds. Hematology of infancy and childhood. 4th ed. Philadelphia: WB Saunders, 1993. Clorosis é um termo de origem grega usada por Varandaeus(4) para nomear uma desordem que, primeiramente, foi descrita por Johannes Lange, em 1554, como De morbo virgineo(5). A doença se tornou conhecida não só nos meios médicos como também para leigos que chamavam-na de doença verde, sendo representada em muitas pinturas de mestres holandeses e aludida por Shakespeare, Izaak Walton, e outras figuras da literatura do período(6). Clorosis ocorria quase que exclusivamente em meninas entre os 14 aos 17 anos de idade. Uma proeminente manifestação descrita era a palidez esverdeada, vista sabe-se lá com que olhos. Outras características clínicas eram: respiração ofegante, palpitações, leve edema de tornozelo e queixas gastrointestinais, incluindo perversão do apetite, flatulência, dor abdominal, e constipação. Distúrbios emocionais, depressão, irritabilidade e mau humor eram usuais. Tromboflebite era uma complicação comum e a incidência de trombose do seio cerebral foi particularmente percebida. Claramente a adf é uma proeminente parte do quadro da Clorosis. Em 1830, anemia, hipocromia e falta de ferro no sangue foi percebido por Hoefer, Popp e Foedisch, respectivamente(6), e Ashwell foi hábil em classificar clorosis como uma doença do sangue(7). 98 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Em 1832, Pierre Blaud descreveu a resposta da clorosis a sua merecidamente famosa pílula (sulfato ferroso e potássio carbonado). Muitos observadores, incluindo Niemeyer e Osler, confirmaram seus achados(8). Sob ótica dos atuais conhecimentos do metabolismo do ferro, muitos pesquisadores agora vêem a clorosis como resultado proveniente de uma combinação de características afetando meninas adolescentes em demanda de crescimento, período menstrual, inadequada dieta e pobre estoques de ferro ao nascimento devido a uma grave deficiência materna de ferro. Entretanto, é difícil conceber apenas tais determinantes quando a observação é direcionada à flutuação na incidência desta doença. Clorosis chegou a ser especialmente comum na última década do século XIX, tendo declinado abruptamente, e somente raros casos foram observados após 1910. Uma interessante hipótese, para explicar a mudança na incidência da clorosis, relaciona-se com a imagem do corpo propiciada pelo colete ou vestimenta similar. A conjectura para este fator causal deve-se, principalmente, à relação entre o uso do colete e à incidência da doença. Modular o corpo com uso de colete, ou símile, foi introduzido no século XVI próximo da época que Lange fez sua descrição inicial sobre a clorosis e foi abandonado por muitas mulheres, especialmente as jovens, próximo da virada XIX, quando a incidência diminuiu significativamente. Além disso, uma diminuição na incidência da clorosis, provavelmente, acompanhou a temporada do desuso do colete de 1790 a 1820. Assim, como expressado por Hudson, o fato de querer, por aperto, moldar a cintura como uma ampulheta deve ter sido uma grande indução para a restrição alimentar. O uso do colete também pode ter agravado ou causado refluxo esofágico, conduzindo a perda sangüínea. Uma visão alternativa, da clorosis, considera-a uma produção cultural daquele tempo(9). No período Vitoriano, era esperado a mulher ser “doente” e sentimentalizada por sua suposta fraqueza. Eram afetadas pela expectativa de que iriam experimentar na vida uma variedade de desordens histéricas. Neste cenário, meninas adolescentes podem bem ter “aprendido” a enfermidade com suas mães, ou do meio social, para igualar-se. Jovens meninas evitavam comer carne por pensar ser esta dieta uma imoralidade. Por 1920, o ambiente cultural para mulheres havia mudado, entravam para a escola pública e tinham menos privação da vida. O preconceito da carne desapareceu com o uso do colete. Outra forma de deficiência de ferro foi definida nos fins de 1920 e início de 1930. Conhecida por alguns autores como anemia aclorídrica simples(3) e por outros como anemia hipocrômica primária, idiopática ou crônica(10). Anemia hipocrômica crônica veio a ser o mais popular nome como esta anemia foi classificada. Esta desordem não difere em importância da anemia INSTITUTO DANONE 99 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA por deficiência de ferro como nós conhecemos atualmente. Tal como a clorosis, a anemia hipocrômica crônica afetando principalmente mulheres, difere-se da clorosis por ter sido detectada em pessoas mais velhas, especialmente na quarta e quinta década da vida. Outras distingüidas características clínicas foram: mudanças epiteliais envolvendo a língua e unhas e acloridria que Witts acreditava ser de específico valor no diagnóstico diferencial. A anemia mais freqüentemente afetava mulheres com dietas pobres, gravidez múltipla e irregularidades menstruais. Embora, em análise retrospectiva, ser a anemia hipocrômica crônica responsiva à terapia com ferro, em um ponto gerou considerável discordância. Entre 1890 e 1920, a terapia com ferro foi desacreditada principalmente por causa de E. Bunge, por sua entusiasta e enganada insistência de que somente preparados com ferro orgânico eram efetivos, mas também porque C.V. von Noorden advogava o uso de doses de ferro menores que as requeridas para um tratamento eficaz(8). Além disso, médicos falhavam em distinguir entre anemia por deficiência de ferro e outros tipos de anemias. FORMAÇÃO DA HEMOGLOBINA A síntese da hemoglobina começa nos pró-eritroblastos e continua sutilmente no estágio de reticulócitos. Quando estes deixam a medula óssea e entram na corrente sangüínea, continuam a formar quantidades diminutas de hemoglobina, durante alguns dias. Das etapas básicas na formação da hemoglobina, primeiro, a succinil-CoA, formada no ciclo de Krebs, liga-se com a glicina para formar uma molécula pirrólica. Por sua vez, quatro núcleos pirrólicos combinam-se para formar a protoporfirina IX, que se une com o ferro para formar a molécula heme. Cada molécula heme combina-se com a globina (uma longa cadeia polipeptídica sintetizada pelos ribossomos), formando uma subunidade de hemoglobina chamada cadeia de hemoglobina e, finalmente, quatro cadeias destas se unem fracamente para formar a molécula total de hemoglobina(11). Há variações sutis nas diferentes subunidades da cadeia de hemoglobina que dependem da composição de aminoácidos na parte polipeptídica. Os diferentes tipos de cadeia são designados por alfa, beta, gama e delta. A forma de hemoglobina mais encontrada no adulto, a hemoglobina A, é uma combinação de duas cadeias alfa e duas beta. METABOLISMO DO FERRO A distribuição do ferro no corpo humano concentra-se, na grande maioria, sob a forma de hemoglobina (Tabela 2). 100 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 2: DISTRIBUIÇÃO DO FERRO CORPÓREO Composto Hemoglobina Mioglobina Ferritina Hemossiderina Transferrina Outros compostos TOTAL Conteúdo de ferro (mg) Percentual (%) 2800 135 520 480 8 150 68,30 3,30 12,70 11,70 0,19 3,65 4100 100,00 Fonte: Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo Absorção de ferro no trato gastrointestinal O ferro é absorvido em todas as porções do intestino delgado. O fígado secreta quantidades moderadas de apotransferrina que, por via biliar, flui para o duodeno. No delgado, a apotransferrina une-se ao ferro livre e a alguns compostos ferrosos (tais como a hemoglobina e a mioglobina da carne). Essa combinação é chamada de transferrina. Esta, por sua vez, liga-se com receptores na membrana das células epiteliais intestinais, que por pinocitose é absorvida, sendo mais tarde liberada para o sangue sob a forma de transferrina plasmática. Transporte e armazenamento do ferro Após absorção intestinal, o ferro combina-se frouxamente, no plasma sangüíneo, com a betaglobulina apotransferrina, para formar a transferrina, podendo ser liberado a qualquer célula em qualquer ponto do organismo. O excesso de ferro no sangue é depositado em todas as células, mas principalmente nos hepatócitos e menor quantidade nas células reticuloendoteliais da medula óssea, onde se combina com a apoferritina para formar a ferritina (ferro de depósito). Menor quantidade de ferro, do reservatório de estoque, é armazenada sob a forma de hemossiderina. Este mecanismo atua, principalmente, quando a quantidade total de ferro no organismo é superior àquela que a apoferritina pode armazenar. Quando a quantidade de ferro no plasma cai a nível muito baixo, o ferro é facilmente removido da transferrina, mas menos facilmente da hemossiderina e transportado pela apotransferrina até onde necessário. INSTITUTO DANONE 101 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Uma característica singular da molécula de transferrina é ligar-se fortemente com receptores da membrana dos eritroblastos, na medula óssea, quando, após absorção por endocitose, libera o ferro diretamente para as mitocôndrias, onde o radical heme é sintetizado. Mecanismo de “feedback” que regula a absorção do ferro 1. Quando, principalmente, toda a apoferritina está saturada com ferro, torna-se difícil para a transferrina liberar ferro para os estoques. A transferrina, que normalmente está um terço saturada, torna-se então completamente saturada e não aceita mais ferro suplementar das células mucosas e, conseqüentemente, deprime a absorção ativa de ferro na luz intestinal. 2. Tendo o organismo depósitos excessivos de ferro, o fígado diminui a velocidade de formação de apotransferrina, reduzindo portanto sua concentração no plasma e na bile, determinando assim uma menor absorção. Contudo, apesar destes mecanismos de controle para regular a absorção de ferro, quando uma pessoa ingere grandes quantidades compostos com ferro, o excesso passa para o sangue, podendo induzir a deposição maciça de hemossiderina nas células reticuloendoteliais de todo o organismo. ESTÁGIOS NO DESENVOLVIMENTO DA DEFICIÊNCIA DE FERRO A deficiência de ferro (df) é o estágio final de um longo período de balanço negativo do ferro. Com o início da queda do nível total de ferro corpóreo, uma seqüência característica de eventos aparece. Primeiro, os estoques de ferro dos hepatócitos e macrófagos do fígado, baço e medula óssea são depletados. Indo os estoques, diminui a concentração plasmática de ferro e a suplementação de ferro para a medula torna-se inadequada para a formação normal de hemoglobina. Faltando ferro, a protoporfirina eritrocitária livre aumenta e a hemoglobina diminui, iniciando a produção de eritrócitos microcíticos. Esta forma de progressão serve como base para definição de três conhecidos estágios da deficiência de ferro: 1. Deficiência de ferro pré-latente ou depleção de ferro referida por uma redução nos estoques de ferro sem redução nos níveis de ferro sérico. Sua detecção é possível usando técnica de biópsia ou medindo a ferritina sérica. 2. Diz-se deficiência latente de ferro quando os estoques de ferro estão esgotados, mas os níveis de hemoglobina sangüínea ainda permanecem mais altos que o limite inferior de normalidade. Neste estágio, com certeza, anormalidades bioquímicas no metabolismo do 102 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA ferro são usualmente detectadas, particularmente a redução da saturação de transferrina. Um aumento na quantidade de protoporfirina eritrocítica livre é aparente após a fase inicial do estágio de deficiência latente. Outras observações são, diminuição dos níveis de citocromo oxidase e aumento total da capacidade de ligação do ferro (CTLF). O volume corpuscular médio (VCM), usualmente, permanece dentro dos limites de normalidade, mas uma pequena microcitose pode ser detectada. 3. Finalmente, quando a concentração de hemoglobina sangüínea cai abaixo do limite inferior de normalidade, a adf está instalada. Outras enzimas que contêm ferro, também encontram-se com níveis anormais durante este período. Manifestações epiteliais da df usualmente representam a fase mais tardia da privação de ferro. O resultado de experiências, na qual voluntários normais foram gradualmente depletados de ferro por flebotomia, confirma o padrão descrito(12, 13), Perda de pequena quantidade sangüínea (164 ml/mês) leva a um moderado grau de depleção de ferro(12). Diminuição dos níveis de ferritina sérica e aumento da absorção de ferro são as anormalidades observadas(13); os valores para ferro sérico, CTLF, e concentração de hemoglobina sérica permanecem normais. Sangramentos suficientes para produzir uma anemia moderada (500 ml/semana) induz aos mais severos graus de depleção de ferro(12). Caso a quantidade de ferritina sérica não seja mensurada, a queda nos níveis de ferro sérico é a mais precoce evidência de df. No início do curso do desenvolvimento da deficiência, muitas células vermelhas circulantes apresentam-se normais e os índices eritrocitários não são alterados, porém, algumas células anormais são encontradas no sangue. Subseqüentemente, a microcitose é aparente e ambos valores, de VCM e da hemoglobina corpuscular média (HCM), são reduzidos e a CTLF, aumentada. Posteriormente, a concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM) cai abaixo dos níveis normais. Em estudo de ratos, com uma dieta deficiente em ferro, não levou claramente à progressão nos três estágios descritos(14). Em particular, o hematócrito caiu antes dos estoque de ferros terem esgotado. Este estudo e outra evidência citada, sustentam a hipótese de que os três estágios da deficiência de ferro, embora conceitualmente usados, podem não ser completamente distintos e que um padrão diferente nos resultados dos testes possa ser observado. ETIOLOGIA Df é uma manifestação tardia de prolongado balanço negativo do ferro ou conseqüência de um insuficiente aporte para satisfazer o aumento fisiológico das necessidades de ferro. Em muitas instâncias, múltiplos fatores etiológicos estão envolvidos. A associação de dieta pobre em ferro e alguma fonte de perda sangüínea, tal como a associada a menstruação, é uma combinação comum. INSTITUTO DANONE 103 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Dieta No intestino superior, o ferro é absorvido tanto como heme ou como íon ferroso. O ferro heme é bem absorvido e não sofre interferência da dieta ou do suco gástrico. Outras formas de ferro devem ser convertidas para íon ferroso, um processo que é influenciado pelo ácido clorídrico, por componentes da dieta que melhoram a absorção, como o ascorbato e a carne(15) e por outros que com o ferro formam compostos insolúveis, tais como os fosfatos, fitatos e tanatos(16). O estágio inicial da evolução humana foi caracterizado por caça e por dieta rica em carne. Em termos de evolução, a agricultura é um estágio de desenvolvimento recente para qual o homem não está completamente adaptado. Assim, indivíduos cuja dieta é rica em carne (uma fonte de ferro heme e de ferro não heme), usualmente absorvem mais ferro do que aqueles que subsistem de grãos e vegetais. O aumento da prevalência de deficiência de ferro entre os desprovidos economicamente é explicado, em grande parte, pelo fato de o ferro heme ser quase totalmente ausente em suas dietas. A variação na biodisponibilidade do ferro soma dificuldades para fixar a quantidade de alimentos que irá suprir as necessidades do organismo. Homens adultos necessitam de 5 a 10 mg/dia e mulheres adultas 7 a 20 mg/dia(17). Em muitos países, os alimentos são fortificados com ferro para compensar a quantidade insuficiente de ferro da dieta, principalmente os dirigidos à infância(18). A seleção do alimento para ser fortificado e o composto do ferro a ser usado nesta fortificação é mais difícil do que possa ser imaginado. O sal do ferro deve ser absorvido mas não deve alterar a aparência, o gosto ou o tempo de validade do alimento. Desafortunadamente, os mais solúveis e absorvíveis compostos de ferro são também os mais reativos quimicamente. Sais como ortofosfatos férricos são usados para fortificação de farinha nos Estados Unidos porque eles são palatáveis e brancos, mas, assim, sua insolubilidade propicia apenas um pequeno aporte de ferro ao organismo. Má absorção A acloridria é comum em indivíduos com df, podendo ser resultado da deficiência, bem como um fator de seu desenvolvimento(19). O ácido gástrico facilita a absorção de ferro férrico e ferro dos alimentos, mas com pouco efeito no ferro heme ou no ferro ferroso. Por tal, a absorção de ferro inorgânico é profundamente prejudicada em pacientes com acloridria gástrica(20). Porém, medidas para reduzir acidez gástrica, como o uso de bloqueadores H2 ou de antiácido, usualmente, não afetam a absorção do ferro, em grau significativo(21). 104 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Adf é a mais comum complicação de cirurgias gástricas. Redução do ácido gástrico é somente um fator no prejuízo da absorção que segue tais cirurgias. O aumento no trânsito intestinal que segue após a perda da função reservatória do estômago, contribui para diminuir a absorção. A deficiência de ferro é também comum quando o duodeno é operado, porque este segmento é o local de absorção do ferro mais ativo(22). Outras alterações no trato gastrointestinal podem levar a má absorção, contribuindo para o desenvolvimento da df. Na anemia associada à doença celíaca, hipocromia é mais freqüente que megaloblastose(23, 24). podendo ser a inicial e dominante manifestação da doença celíaca, com esteatorréia, somente detectada em teste laboratorial(25,26), ambos, má absorção e perda de sangue intestinal, são fatores no desenvolvimento da df nesta doença(24). Embora a taxa de absorção de ferro esteja usualmente aumentada em indivíduos com df, uma severa deficiência na infância pode prejudicar a absorção. Perda sangüínea Perda sangüínea é uma importante causa de adf, não somente por causa de sua freqüência, mas também porque o diagnóstico e o manejo da lesão hemorrágica são de grande importância para o processo de cura e bem estar do paciente. Com a finalidade de estimar o efeito da perda sangüínea no balanço do ferro, 1 ml de sangue contém aproximadamente 0,5 mg de ferro. Assim assumido, um balanço negativo pode ser configurado com pequena perda de sangue, como a de 3 a 4 ml/dia (1,5 a 2 mg de ferro). Hemorragia gastrointestinal é a causa mais comum de df em homens adultos e a segunda em mulheres depois de perda menstrual. Dentre as prováveis de causar deficiência estão aquelas associadas a hemorragia oculta ou a perdas fixas de pequenas quantidades de sangue. Tais lesões podem passar desapercebidas ou podem ser toleradas até que os sintomas da anemia apareçam. Perdas sangüíneas podem ocorrer como conseqüência a vários outros fatores: físicos, químicos, infecciosos, neoplásicos, genéticos e idiopáticos, acometendo diferentes regiões do organismo. Adf tem sido observada em atletas, particularmente em corredores de longas distâncias. Três fatores são implicados como desencadeantes: pequena hemólise que resulta em hemoglobinúria e hemoglobinemia(27), hematúria de origem desconhecida(28) e sangramento intestinal, estimado em 5 a 7 ml/dia, que provavelmente é a mais importante fonte de perda sangüínea nesta população. Stress, isquemia e efeito choque, têm sido sugeridos como possíveis fatores causais desta perda sangüínea gastrointestinal. INSTITUTO DANONE 105 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA INFÂNCIA Particularidades na infância merecem considerações especiais. Alguns fatores etiológicos que levam df na infância são únicos para este período da vida. A Tabela 3 apresenta os principais fatores desencadeantes de anemia na infância. TABELA 3: PRINCIPAIS FATORES DESENCADEANTES DE ANEMIA NA INFÂNCIA Diminuição do ferro corpóreo total no nascimento • Baixo peso ao nascimento, prematuridade • Gemelaridade • Campleamento precoce do cordão umbilical • Transfusão feto materna Dieta inadequada Crescimento Perda sangüínea DIMINUIÇÃO DO FERRO CORPÓREO TOTAL NO NASCIMENTO Baixo peso ao nascimento, prematuridade A concentração total de ferro corpóreo no nascimento alcança em média 78 mg/kg de peso corpóreo (variando de 65 a 90 mg/kg), dos quais, 60 mg estão na hemoglobina circulante e o restante em estoques(29). Concentrações similares são encontradas durante o desenvolvimento fetal. Nota-se que existe uma aproximada relação linear entre o ferro e o peso corpóreo. Recém-natos, com peso superior ao normal para nascimento, têm 80% mais ferro do que os pig. Em uma série de 272 crianças, o mais importante fator predisponente de df foi o baixo peso ao nascer(30). A incidência de anemia em crianças nascidas com peso acima de 4000 g foi extremamente baixa, enquanto que 80% das crianças com menos 5 g/dl nos níveis de hemoglobina sangüínea, eram prematuras ou nasceram com peso inferior a 3000 g. Gemelaridade Deficiência de ferro é mais comum em gêmeos do que em crianças de gestação única. Um dos fatores a ser considerado, é que um dos gêmeos tem baixo (menor) peso ao nascer. Outro, é a transfusão placentária em monozigotos. Tal evento pode levar a uma marcada diferença nos valores de hemoglobina(31,32). 106 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Campleamento precoce do cordão umbilical Uma importante influência nos níveis de ferro em recém-natos pode ser facilmente controlado pelos médicos, no tempo de clampeamento do cordão umbilical no parto(33,34). Mais de 100 ml de sangue fetal pode permanecer na placenta com o clampeamento precoce do cordão umbilical. Um campleamento adiado por 3 minutos pode resultar em um aumento de 58% no volume de células vermelhas. Depleção materna de ferro tem pouca influência ou não afeta os estoques do ferro materno(35). Nenhuma diferença foi encontrada entre os valores de hemoglobina de mães anêmicas ou não anêmicas(36). Além disso, suplementação de ferro durante a gravidez não tem efeito no subseqüente desenvolvimento de anemia na infância(36). Finalmente, os estoques maternos medidos por ferritina sérica não sustentam a relação com os estoques fetais(34). Estas observações são consistentes com estudos em animais que demonstram transporte de ferro para o outro lado da placenta contra um gradiente, à custa do estoque de ferro materno (37). No entanto, crianças geradas em mães anêmicas têm um crescimento intra-uterino retardado e, conseqüentemente, um menor volume de ferro corpóreo total(38). Transfusão feto-materna A passagem de eritrócitos fetais para dentro da circulação materna é um fenômeno fisiológico. Eventualmente, quantidades maiores podem ir, acarretando anemia no RN(39). Dieta na infância Os estoques de ferro na infância são depletados do segundo ao sexto mês de idade, como resultado das demandas do crescimento. Durante este crítico período, uma criança a termo deve absorver da dieta 0,4 a 0,6 mg de ferro, diariamente. Para alcançar estes níveis, é recomendado para crianças a termo a ingesta de 1mg/kg/dia e para o pré-termo 2 mg/kg/dia. Essas quantias são quase impossíveis de serem alcançadas sem suplementação(40). A quantidade recomendada para crianças acima de 6 meses é de 15mg/dia, de 6 meses a 11 anos 10 mg/ dia e na puberdade 18 mg/dia(41). Tanto o leite humano como o leite de vaca contêm pequena quantidade de ferro, cerca de 1mg/l, no entanto, o ferro do leite humano é mais biodisponível. Em estudo comparativo, foi evidenciado 49% de absorção do ferro do leite humano e apenas 10% do leite de vaca.(42) Como resultado, crianças alimentadas ao seio durante os primeiros 6 meses têm maiores níveis de ferritina sérica e maior saturação de transferrina que aquelas alimentadas com leite de vaca. INSTITUTO DANONE 107 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Em crianças, nas quais a alimentação predominante é feita através de leites não suplementados, a adf é freqüente(40,43). Não somente o leite de vaca é uma pobre fonte de ferro, como também pode causar perda sangüínea gastrointestinal oculta ou, até mesmo, enterorragia. Crescimento Na ausência de doença, as necessidades de ferro de um homem adulto são relativamente baixas. Na lactância, infância e adolescência, todavia, devido ao aumento do crescimento corpóreo, as necessidade de ferro são relativamente grandes. As mais rápidas taxas de crescimento relativas ao desenvolvimento humano ocorrem no primeiro ano de vida. O peso corpóreo e o volume sangüíneo aproximadamente triplicam e a massa de hemoglobina circulante quase dobra(44). Ainda, um maior crescimento relativo ocorre em prematuros e pig. Prematuros pesando 1,5 kg podem aumentar seu peso e volume sangüíneo 6 vezes mais, e podem triplicar a massa de hemoglobina circulante em um ano. Para satisfazer a demanda do crescimento, uma criança a termo deve adquirir 135 a 200 mg de ferro durante o primeiro ano de vida, e um prematuro 350 mg no mesmo período(43). A taxa de crescimento relativamente lenta em crianças de 1 a 12 anos requer um balanço positivo de ferro de 0,2 a 0,3 mg /dia. O pico de crescimento que ocorre entre 11 a 14 anos requer um balanço positivo de 0,5 mg/dia em meninas e de 0,6 mg/dia em meninos. Na ocorrência de menstruação as necessidades das meninas são iguais àquelas das mulheres adultas. Perda sangüínea na infância Vários estudos têm demonstrado que a alimentação com leite de vaca in natura em algumas crianças desencadeiam fenômenos alérgicos com sangramento intestinal, comprometendo a absorção de ferro e outros nutrientes, contribuindo para instalar ou agravar o quadro de anemia ferropriva(46,47,48). Hemorragia oculta, freqüentemente sem lesão anatômica aparente, tem sido observada na df da infância(49), freqüentemente acompanhando difundidas doenças intestinais, como: parasitose; enteropatia perdedora de proteína; e doenças desabsortivas. Generalizada hipoproteinemia, resultante da perda de ceruloplamina, pode ser observada na hipocupremia(50). Porém, esta síndrome pode ser a causa ou o resultado da deficiência de ferro(51). Em um outro grupo de crianças, entretanto, adf apareceu como anormalidade primária, com doença intestinal ocorrendo como um fenômeno secundário(52). O número de células de mucosas produtoras de iga secretora, deficiente no jejuno, e a possibilidade da df levar à um 108 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA defeito nos mecanismos de defesa imune local como fator desencadeante de hipersensibilidade a componentes da dieta, foi considerado. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A apresentação da adf é quase invariavelmente silenciosa e com progressão gradual dos sintomas, em geral, somente percebidos, pelos pacientes, quando os níveis de hemoglobina encontram-se abaixo de 8 g/dl. Entretanto, não houve uma correlação entre sintomas não específicos como: fadiga, irritabilidade, palpitações, vertigem, respiração ofegante e enxaqueca, com o grau de anemia, em pacientes nos quais a concentração de hemoglobina situava-se entre 8 a 12 g/dl(23). Sistema neuromuscular Vários estudos têm demonstrado que até pequeno grau de adf prejudica a performance muscular, medida por teste de exercícios padronizados(53,54). Tempo de exercício total, carga máxima de trabalho, taxa cardíaca, e níveis de lactato sérico após exercício, são todos afetados na proporção inversa ao grau de anemia. Além disso, a performance de trabalho e a produtividade são prejudicadas em indivíduos deficientes e melhora quando ferro é administrado. Uma variedade de distúrbios do comportamento como irritabilidade, pouca atenção e falta de interesse ao meio tem sido observada na df da criança53,55. Disfunções cognitivas, de linguagem e menor escore mental e motor são reportadas em crianças anêmicas na faixa etária de 3 a 15 meses(56,57,58), às vezes persistente mesmo após o tratamento, da anemia, com ferro(59). Raramente, a adf leva a aumento da pressão intracraniana, papiledema e quadro clínico de pseudo tumor cerebral(60). A patogenia não é conhecida, mas, anemia severa e redução dos níveis de enzimas teciduais que contém ferro podem levar a anóxia e edema cerebral, como na intoxicação por monóxido de carbono. Tecidos epiteliais Alterações na estrutura ou função das células epiteliais afetando especialmente a unha, língua, cavidade oral, hipofaringe e estômago, são anormalidades encontradas em pacientes com df, e quase nenhuma alteração é descrita para a pele e cabelos. A associação de disfagia, estomatite angular e anormalidades na língua com anemia hipocrômica em mulheres jovens foi descrito, independentemente, por Peterson(61) e Kelly(62), em 1919. INSTITUTO DANONE 109 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Em 1922, Vinson descreveu 69 casos similares e atribuiu a primeira descrição da síndrome às observações não publicadas de Plummer(63). Gastrite, evidenciada por biópsia, com graus variáveis de redução da secreção gástrica, ocorre mais freqüentemente em pacientes com adf(64). Disfunções imunitária(65,66), de desenvolvimento físico e perversão do apetite, também são observadas. TESTES LABORATORIAIS Quando a anemia está instalada, o valor da hemoglobina encontra-se abaixo dos limites inferiores de normalidade. Os valores do VCM e da HCM estão reduzidos e a CHCM está reduzida em anemia prolongada ou severa. O grau de mudanças nos índices das células vermelhas se deve, em parte, a duração(12) e, em outra, pela severidade da anemia. Em pequena deficiência de ferro de curta duração, os índices podem ser normais(67). Anisocitose é um importante inicial sinal de deficiência de ferro e é um parâmetro que tem valor diagnóstico diferencial, quando quantificado(68,69). A distribuição ampliada de células vermelhas (RDW), determinada pelo Coulter Eletrônico, encontra-se elevado, acima da normal que varia de 13,4 + 1,2% Percentualmente, ou em termos absolutos, o número de reticulócitos tende a ser normal ou ligeiramente aumentado, embora raramente possa estar reduzido. A fragilidade osmótica das hemácias pode estar dentro dos limites de normalidade, mas, freqüentemente, a resistência para destruição em soluções salinas hipotônicas está aumentada, permanecendo poucas células não rotas quando em concentrações salinas abaixo de 0,21 g/ dl. Porém, grande redução da fragilidade osmótica, como a notada na talassemia, não é usual. O grau de fragilidade osmótica retorna ao normal após terapia adequada(70). O ferro sérico está diminuído. Sua dosagem reflete o ferro ligado a transferrina e é feita por técnica descrita ou similar a que se segue: em meio ácido, o ferro ligado a transferrina se dissocia em íon férrico que é reduzido a íon ferroso por ação da hidroxilamina; com adição de um cromógeno, forma-se um complexo magenta brilhante que é medido por fotocolorimetria. 110 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA A CTLF, freqüentemente, está aumentada. VN 250 a 410 mg/dl. É o quanto de ferro que se liga a transferrina, é também medido por fotocolorimetria. Pacientes com hipoalbuminemia apresentam valores diminuídos. A Saturação de transferrina é sempre diminuída para valores abaixo de 16% VN 20 a 50%. O índice de saturação de transferrina (IST) pode ser encontrado com a seguinte fórmula: IST % = ferro sérico x 100 CTLF A Ferritina sérica é a melhor medida dos estoques de ferro. Na anemia ferropriva os valores são menores que 12 mg/dl, quando não existe doenças associadas. Na presença de doenças inflamatórias ou infecciosas os níveis estão aumentados. O sucesso diagnóstico do teste é alto, porém, falta sensibilidade ao teste, um valor normal não exclui a deficiência de ferro. Os receptores de transferrina sérica, medidos por métodos imunológicos, encontram-se aumentados. Sua determinação é usada para distinguir a adf de outras doenças crônicas. A Proliferação celular encontra-se reduzida e a depleção das proteínas que contém ferro é a última das anormalidades da adf. TESTES EM PESQUISAS POPULACIONAIS Dois testes são recomendados para as pesquisas em campo: a dosagem da hemoglobina por hemoglobinômetro (HemoCue); e a dosagem da zincoprotoporfirina por Hematofluorômetro. Sistema de hemoglobina-b hemocue Consiste de microcuvetas descartáveis com reagente de fórmula seca (desoxicolato de sódio, nitrito de sódio, azida de sódio e componentes não reativos) e de um fotômetro projetado para uma única finalidade. A amostra de sangue é puxada por capilaridade para dentro da cavidade da microcuveta. O desoxicolato hemolisa os eritrócitos, a hemoglobina liberada é transformada pelo nitrito em metahemoglobina que, associada com a azida, resulta na azidametahemoglobina que tem a absorção medida em dois comprimentos de onda. Uma gota de sangue é o suficiente para a leitura da hemoglobina, apresentada no visor digital do fotômetro. Este é calibrado na fábrica de acordo com o método hemoglobino-cianeto, que é o método de referência internacional para determinação da concentração de hemoglobina total do sangue. INSTITUTO DANONE 111 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Zincoprotoporfirina por hematofluorômetro Apenas duas causas são comuns na elevação dos níveis de zincoprotoporfirina: deficiência de ferro e intoxicação por chumbo. Raramente, doenças genéticas também podem elevar os níveis. O sistema é semelhante ao do HemoCue e também permite rápida leitura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. OMS; DRAPER, A. Description of iron deficiency anaemia and explains the importance of prevention,1999. 2. FRASER, J.G. The Golden Bough: The Magic Art in the Evolution of Kings. New York: Macmillan, 1935, p 158. 3. WITTS, L.J. Simple achlorhydric anaemia. Guy’s Hosp Rep 1930; 80: 253; 1931; 81: 205. 4. VARANDAEUS. De Morbo et Affectione Mulierum. Montpellier, 1620. Quoted by Schwartz (10). 5. LANGE, J. 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Élido Bonomo* 1 - INTRODUÇÃO O primeiro estágio da deficiência alimentar é identificado através de métodos de avaliação dietética. Durante este estágio, a ingestão alimentar é inadequada para um ou mais nutrientes. Esta inadequação pode ser por uma deficiência primária, isto é, baixo nível de nutrientes e energia na dieta, ou por deficiência secundária, como os desvios metabólicos. O registro e a avaliação acurados da ingestão alimentar é o mais difícil aspecto da abordagem nutricional. É muito difícil registrar a ingestão de alimentos de um indivíduo sem influenciá-lo. Quando as pessoas são observadas ou questionadas a respeito do que comem, elas tendem a modificar o seu padrão alimentar, bem como, hábitos e atitudes, em relação aos alimentos. É comum existir dificuldades em lembrar o tipo de alimento e as respectivas quantidades ingeridas por indivíduo. Acrescenta-se a tudo isso, as tabelas de composição de alimentos que são incompletas e pouco acuradas, não contemplam os alimentos que fazem parte dos hábitos e práticas das diferentes regiões, e, os modos de preparo dos alimentos que influenciam seus valores nutritivos, são extremamente diversificados. Várias metodologias vêm sendo utilizadas para quantificar a ingestão alimentar, com maior precisão, no sentido de obter dados válidos, reprodutíveis e comparáveis. Informações obtidas por questionários de freqüência alimentar, estruturados ou não, auto-aplicados ou não, abrangendo períodos variáveis de tempo tais como: semanal, mensal, semestral ou anual, têm sido usadas. Todavia, todos os estudos de ingestão alimentar são alvo de problemas relativos à validade absoluta devido a inexistência de um método ouro onde a informação mensurada reflita exatamente o que se pretende medir. Adota-se, neste caso, uma validação relativa em que faz-se a comparação do método teste com aquele mais tradicional ou de referência. A ingestão alimentar pode ser avaliada por diversos métodos, dentre eles: o recordatório 24 horas; o registro alimentar; a pesagem direta de alimentos; o consumo doméstico de alimentos; freqüência de consumo alimentar; e a história dietética. * Departamento de Nutrição Clínica e Social Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. INSTITUTO DANONE 117 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 2 - MÉTODOS DIETÉTICOS 2. 1 - RECORDATÓRIO 24 HORAS O entrevistado tem que recordar, definir e quantificar sua ingestão alimentar do dia anterior. Este método apresenta muitas vantagens: é rápido, relativamente barato e pode ser aplicado em analfabetos. Por causa da proximidade do período recordado, o entrevistado tende a lembrar-se mais facilmente, melhorando a acurácia do instrumento. É um método muito utilizado, entretanto, há significativas fontes de erros: o método é dependente da memória do indivíduo, pode ser que a ingestão do dia anterior seja atípica e não represente os hábitos alimentares, não permite englobar a sazonalidade, não inclui a variação diária, a ingestão real pode ser omitida, e existe um tendência de subestimação do tamanho da porção, à medida que a porção cresce. Para amenizar o bias de memória que pode ser produzido quando aplicado isoladamente, principalmente em idosos, em que a capacidade de armazenar e trabalhar as informações está, geralmente, comprometida, o recordatório 24 horas pode ser associado a fotografias, a réplicas de alimentos e kits com medidas caseiras. Esta metodologia tem por objetivo, além de reduzir o bias de memória, padronizar as medidas e diminuir os erros de estimação das porções. 2. 2 - REGISTRO ALIMENTAR O indivíduo anota todos os alimentos e bebidas, e suas respectivas quantidades durante um certo período de tempo. Se o indivíduo for orientado a anotar todos os dados logo após as refeições, este método pode ficar mais completo e preciso. Este método não depende da memória, logo, é provavelmente o método mais válido para mensurar a ingestão alimentar, especialmente quando as quantidades registradas são pesadas. Envolve mais tempo, compreensão e motivação do entrevistado, e é totalmente dependente de sua cooperação. Pode haver omissão de alimentos e quantidades que refletirão num hábito alimentar irreal. 2. 3 - PESAGEM DIRETA DE ALIMENTOS Consiste no registro pelo entrevistador, das quantidades de alimentos efetivamente ingeridos pelo entrevistado através da pesagem ou medidas caseiras que, posteriormente, possam ser transformadas em gramas ou mililitros. É considerado o método mais exato para determinar a ingestão de alimentos, porém, é o mais demorado, caro e difícil. Umas das dificuldades mais importantes deste método é a possível influência exercida pelo entrevistador sobre o indivíduo e a dificuldade de se obter a sua colaboração, pois necessita-se fazer a tomada de 118 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA medidas no local em que as refeições são realizadas, o que interfere profundamente na vida do indivíduo. 2. 4 - CONSUMO DOMÉSTICO DE ALIMENTOS Este método envolve uma visita regular ao domicílio para anotações dos alimentos que foram adquiridos e consumidos pela família. Os alimentos que não estão mais disponíveis no domicílio numa, segunda visita, são considerados consumidos. É normalmente utilizado em pesquisas de grande porte para obter uma visão geral do padrão alimentar da população. Não é uma boa forma de avaliação individual, devido a: desperdício dos alimentos; falta de registros sobre o consumo individual dos membros da família; e não ser capaz de englobar os alimentos consumidos fora do domicílio. 2. 5 - FREQÜÊNCIA SEMIQUANTITATIVA DE CONSUMO ALIMENTAR O Questionário Semiquantitativo de Freqüência Alimentar (QSFA) consiste em identificar o consumo de alimentos relativo a um período pregresso variado (semana, mês, ano), em que o tipo de alimento, a quantidade, a freqüência e o tamanho das porções são registrados no questionário. Tem como vantagens: ser um método mais econômico, pois requer apenas uma única aplicação para obter o perfil alimentar do indivíduo; abranger um período longo de tempo (importante na abordagem de doenças crônicas); e permitir englobar a sazonalidade. O QSFA tem sido defendido como um dos principais instrumentos metodológicos para avaliar a ingestão alimentar em populações, em função de sua boa reprodutibilidade para as respostas dos itens alimentares. As listagens incompletas de alimentos, os erros na estimação das freqüências e tamanhos das porções e a dificuldade de englobar preparações, podem comprometer a acurácia do QSFA. Há, como conseqüência à utilização deste método, uma possível ingestão alimentar superestimada ou subestimada em relação a ingestão real da população. Um grande número de pesquisadores tem buscado validar o QSFA por comparação com dados obtidos por métodos dietéticos mais detalhados. 2. 6 - HISTÓRIA DIETÉTICA Método de entrevista que consiste num recordatório de 24 horas sobre a ingestão atual mais informações do padrão de alimentação usual seguido por um questionário de freqüência alimentar para verificar e clarificar os dados iniciais. Usualmente, utiliza-se três dias de registros alimentares através de medidas caseiras, observando dentre outras coisas os tamanhos das porções. Este último procedimento pode não ser utilizado pois é meramente complementar INSTITUTO DANONE 119 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA às medidas de ingestão alimentar recente, por um período de tempo específico. Este método pode ser utilizado para estimar a ingestão alimentar em períodos relativamente longos de tempo, mas é bastante trabalhoso e desaconselhável para grandes estudos. Os resultados são dependentes do observador, em geral, abordam apenas aspectos qualitativos da dieta. Quando utilizados por período longo de tempo, os valores obtidos podem não representar a realidade na presença de sazonalidade e não serem capazes de estimar a variação intraindivíduo. 3 - FONTES DE VARIABILIDADE NA AVALIAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR 3. 1 - VARIAÇÃO ENTRE INDIVÍDUOS Cada indivíduo difere do outro no que se refere à sua ingestão alimentar. A variação entre indivíduos é a mensuração desta diferença. Para muitos nutrientes, esta variação entre indivíduos é usualmente muito menor do que a variação da ingestão do indivíduo consigo mesmo. Como conseqüência , a ingestão média de um grupo de pessoas pode ser acessada mais precisamente do que a ingestão individual. Para reduzir o efeito da variação entre indivíduos na ingestão média de grupos, aumentar o tamanho da amostra pode ser uma boa alternativa. 3. 2 - VARIAÇÃO INTRA-INDIVÍDUOS A variação diária na ingestão do mesmo indivíduo é mensurada pela variação intra-indivíduo e difere de pessoa para pessoa e é desconhecida. Quando se vai fazer correlações da ingestão usual do indivíduo com métodos clínicos e antropométricos, é de fundamental importância avaliar este tipo de variação pois o efeito poderá mascarar as correlações significativamente. Este tipo de problema fica mais evidente quando um dia de recordatório é utilizado para estimar a ingestão usual de indivíduos. Os efeitos da variação intra-indivíduo podem ter maiores implicações em estudos epidemiológicos de fatores de riscos dietéticos e doenças. A extensão da variabilidade intra-indivíduo, num método de avaliação dietética, depende, em parte, da diversidade da ingestão alimentar. Alimentação mais monótona resulta em menor variabilidade. Geralmente, nutrientes encontrados em altas concentrações em poucos alimentos, apresentam variações maiores, dificultando, deste modo, estimativas mais válidas da ingestão destes nutrientes. Já, para nutrientes amplamente distribuídos, as variações são menores. 120 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Para reduzir o efeito da variação intra-indivíduo pode-se aumentar o número de dias de mensuração para cada indivíduo. 3. 3 - GÊNERO E IDADE Variações na ingestão alimentar provenientes de diferenças de sexo e idade podem contribuir para estimar as variações entre indivíduos. Os resultados da avaliação de ingestão calórica e de nutrientes são geralmente apresentados separadamente por sexo e idade. Quando a ingestão de nutrientes é expressa em densidade de nutrientes, a diferença entre os sexos tende a desaparecer. 3. 4 - EFEITOS DO DIA DA SEMANA A ingestão média de nutrientes, tanto individual como em grupo, pode variar com o dia da semana, tendendo a ser maior nos finais de semana. Àqueles nutrientes que possuem uma grande variação entre e intra-indivíduos, o efeito do final de semana pode não ser evidente. Tal efeito pode, algumas vezes, desaparecer quando os nutrientes são expressos em densidade de nutrientes. O efeito dos dias da semana na dieta pode ser estimado pela representação de todos os dias da semana no desenho do estudo. 3. 5 - SAZONALIDADE ALIMENTAR A ingestão de alimentos e de nutrientes pode sofrer o efeito das estações do ano. Geralmente, os efeitos sazonais são maiores para alguns alimentos do que propriamente nutrientes. Em países industrializados, poucos efeitos sazonais têm sido demonstrados para ingestão energética, já, para países em desenvolvimento, efeitos importantes são evidenciados. Para alguns nutrientes, efeitos de sazonalidade são encontrados em países industrializados ou não. O efeito de sazonalidade pode ser estimado em inquéritos que abrangem períodos longos de tempo, p.ex.1 ano, ou por inclusão randômica de dias representativos das estações do ano. 3. 6 - EFEITOS DE TREINAMENTOS O relato da ingestão alimentar de indivíduos pode estar alterado em função de reação a repetidas entrevistas, demostrando uma seqüência de efeitos de treinamento. Isto ocorre em indivíduos que são submetidos a recordatórios ou registros em dias consecutivos. A existência deste efeito pode ser detectada por aplicação de entrevistas ou registros em dias randomicamente selecionados e a repetição dos mesmos dias pela ordem. É importante ressaltar que é fundamental um desenho de estudo adequado para evitar este tipo de efeito na ingestão alimentar. INSTITUTO DANONE 121 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 4 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Conforme mostrado anteriormente, cada método dietético possui suas peculiaridades, podendo ser utilizado isoladamente ou associado. Cabe ao investigador avaliar adequadamente cada um desses métodos, suas vantagens e desvantagens, comparativamente ao outro e utilizar aquele que lhe proporcionar dados mais acurados, com o menor erro e a menor variabilidade possíveis. A realidade de cada projeto de pesquisa, o tempo e os recursos humanos e financeiros disponíveis, o tamanho da amostra utilizada para o estudo, dentre outros fatores, são determinantes para a definição do método a ser utilizado. No desenho do estudo deve-se levar em consideração medidas que venham minimizar possíveis bias de informação, de memória e do entrevistador. Sempre que for viável, recomenda-se a realização de estudos de validação relativa utilizando um método teste em comparação com os dados de ingestão alimentar de um método de referência. Alguns autores utilizam outros métodos de avaliação do estado nutricional, tais como, os métodos bioquímicos e antroprométricos em estudos de validação relativa, juntamente com o método dietético. Medir a ingestão alimentar de indivíduos ou populações de forma fidedigna, confiável e acurada ainda é um desafio para os pesquisadores dadas as dificuldades para se obter estes objetivos, embora muitos deles já estejam envolvidos e comprometidos com tal propósito. Em anexo, são mostrados os Quadros 1 e 2 que refletem, resumidamente, as principais características dos métodos dietéticos e dos tipos de erros de medidas destes métodos. 122 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 1: ERROS DE MEDIDA EM MÉTODOS DIETÉTICOS Tipo de erro Causa Randômico intra-indivíduo Variação diária na ingestão; Erro de medida na ingestão. Efeito Reduz coeficiente de regressão e correlação em torno de zero e o risco relativo de 1.0. Mensuração Reaplicação do método em uma amostra: Confiabilidade. Subestima a relação entre ingestão e evento. Sistemático intra-indivíduo Medidas repetidas e inadequadas da dieta de um mesmo indivíduo. A média das medidas não reflete a verdadeira média. Uso de um método referência numa amostra: Validação relativa. Sub ou superestima a relação entre ingestão e evento. Randômico Números insuficientes de entre indivíduos repetições de medidas por indivíduo na presença de erros randômicos intra-indivíduos. Erros sistemáticos intra-indivíduo randomicamente distribuídos. Sistemático Resulta de erro sistemático entre indivíduos intra-indivíduo não randomicamente distribuído devido a omissão de alimento no questionário padronizado ou uso de valor nutricional inadequado. Superestimação para alguns indivíduos e subestimação para outros, resultando na média real do grupo total. Validação relativa e confiabilidade. Não afeta as medidas de associação. Subestima a relação entre ingestão Uso de um método e eventos. referência numa amostra: Calibração. Adaptado por: Aline Lopes e Élido Bonomo INSTITUTO DANONE 123 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 2 : MÉTODOS DIETÉTICOS USADOS NA AVALIAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR: VANTAGENS E DESVANTAGENS Método (Referência Bibliográfica) Princípio Vantagens Recordatório 24h (GIBSON,1990; KRAUSE et al., 1991;WILLETT, 1998) Recordar, definir e quantificar a ingestão de alimentos do dia anterior, de acordo com as refeições. Rápido, barato e pode ser usado em pessoas com baixa escolaridade. Entrevistado lembra melhor devido proximidade do período recordado. Dependente da memória Ingestão pode ser atípica. Não contempla variação diária e sazonalidade. Subestimação da porção. . Registro alimentar (WILLETT et al., 1985; KRAUSE et al., 1991) Registro dos alimentos e bebidas ingeridas, e suas quantidades,durante um certo período de tempo. Não depende da memória . Provavelmente o método mais válido para mensurar a ingestão. Mais tempo, compreensão, Omissão de alimentos e quantidades. Pesagem direta de alimentos (CHAVES, 1985) Registro feito pelo entrevistador através de pesagem ou medidas caseiras dos alimentos e quantidades ingeridas. Método bastante exato. Mais demorado, caro e de difícil colaboração. Influência do entrevistador sobre a ingestão. Consumo doméstico de alimentos (KRAUSE et al., 1991) Visita ao domicílio para anotação dos alimentos adquiridos e consumidos (não disponível na segunda visita). Útil em pesquisas de grande porte para obter uma visão geral da população. Não é adequado para avaliação individual, devido desperdício, falta de registro individual, não inclui alimentos consumidos fora de casa. Questionário semiquantitativo de freqüência de alimentos(QSFA) (WILLETT et al., 1985-87-90; GIBSON, 1990, SCHIERI, 1998) Questionário estruturado referente ao consumo de alimentos do último mês, semestre ou ano, com inclusão de porções. Econômico, requer só uma aplicação para obter perfil alimentar. Abrange período longo de tempo e a sazonalidade. Acurácia comprometida por: lista incompleta de alimentos; erro na estimação da porção e freqüência; e dificuldade de incluir preparos. Possível sub ou superestimação da ingestão. História dietética (GIBSON, 1990) Usa um recordatório 24h e um questionário de freqüência de alimentos. Pode ser usado para períodos longos de tempo. Trabalhoso, ruim em grandes estudos e depende do entrevistador. Uso para períodos longos não engloba sazonalidade e, em geral, só aspecto qualitativo. Não estima variação intraindivíduo. 124 Desvantagens INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARROL, R.J.; FREEDMAN, L.S.; HARTMAN, M. Use of Semiquantitative Food Frequency Questionnaires to estimate the distribution of usual intake. American Journal of Epidemiology. Baltimore: Ed. University Oxford Press, 1996. V.143, 392-401p. CHAVES, N. Nutrição básica e aplicada, Nelson Chaves. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1985. FREEDMAN, L.S. Whorkshop on measurement error and concordance of methods: the impact of measurement error on the design and results of dietary studies. European Journal of Clinical Nutrition: Ed, 1998. V.52: 6. Supplementum 2. GIBSON, R.S. Principles of Nutritrion Assessment. New York; Ed. Oxford University. 1990. JELLIFE, D.B. The Assessment of the Nutritrional Status of the Community. In: World Health Organization. Monografy. Geneva: s,n; 1966.n.53. KRAUSE, M.V.; MAHAN, L.K. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 1ª.Edição. São Paulo; Ed. Roca, 1985. KAAS, R. “Validation and Calibration” of dietary intake measurements. European Journal of Clinical Nutrition. : Ed, 1998. V.52: 4. Supplementum 2. LOPES, C. S. Calibrando o Questionário semiquantitativo de freqüência Alimentar (QSFA) em um Inquérito Nutricional Populacional. Dissertação de mestrado em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, Belo Horizonte. 1999. SICHIERI ,R.; EVERHART, J. E. Validity of a brazilian food frequency against dietary recalls and estimated energy intake. Nutrition Research, vol.18, No 10 pp.1649-1659, 1998. WILLETT, W.C. Nutritional Epidemiology. New York: Oxford University Press, 1990. WILLETT, W.C. Nutritional Epidemiology. New York: Oxford University Press, 1998. INSTITUTO DANONE 125 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 126 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA INSTRUMENTOS DE MENSURAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA Robespierre Queiroz da Costa Ribeiro* Atualmente, o estilo de vida tornou-se responsável por aproximadamente 54% do risco de morte por cardiopatia isquêmica, 50% pelo risco de morte por acidente vascular cerebral, 37% pelo risco de morte por câncer e, no total, por 51% do risco de morte de um indivíduo. O estilo sedentário de vida constitui um fator de risco independente para enfermidade coronariana e acidente vascular cerebral, responsáveis pelos maiores coeficientes de mortalidade por causa específica no Brasil e no mundo. O risco de desenvolvimento de doença cardíaca isquêmica para os indivíduos menos ativos e menos condicionados pode chegar a ser o dobro quando comparado com pessoas mais ativas e melhor condicionadas (Brasil - Ministério da Saúde). De uma maneira geral, o estilo sedentário de vida aumenta o risco de doença cardíaca isquêmica, diabetes mellitus, câncer do cólon, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, osteoporose, doenças do sistema músculo-esquelético, e sintomas de ansiedade e depressão (US Department of Health and Human Services, 1996; Harsha et al., 1995). Por outro lado, os indivíduos que mantêm um estilo de vida em que se realiza mais atividade física de forma regular, apresentam como benefício de serem mais ativos, uma redução da mortalidade geral (por todas as causas); aumento do tempo de vida média; redução da morbi-mortalidade por doença cardiovascular, devido a níveis satisfatórios da pressão arterial; redução dos níveis de triglicérides, do colesterol total e sua fração LDL, e aumento do HDL; manutenção de um peso corporal saudável; redução da incidência e gravidade de doenças articulares; melhora da densidade óssea; e melhora do metabolismo glicídico (Harsha et al., 1995). Por definição, atividade física consiste em todo movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, resultando em gasto energético acima dos níveis de repouso. Enquanto que, exercício físico representa uma das formas de atividade física planejada, estruturada e repetitiva, tendo como objetivo a melhoria da aptidão física ou a reabilitação orgânico-funcional (Carpersen et al., 1989). * Mestrando do Curso de Pós-graduação em Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG Supervisor da Área de Pesquisa da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais Pesquisador do Núcleo de Projetos e Pesquisas da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. INSTITUTO DANONE 127 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Uma mensuração adequada e válida da atividade física constitui quase que um desafio, devido à considerável variação que cada uma dessas propriedades apresenta entre os indivíduos e entre diferentes populações. Além disso, existem vários fatores que influenciam na atividade física, como o gasto calórico, intensidade aeróbica, peso corporal, flexibilidade e resistência (Carpersen et al., 1989). Vários tipos de instrumentos foram elaborados para mensurar as diversas dimensões e atributos da atividade física, a maioria deles centrados na quantidade de energia despendida durante a mesma, e cada qual apresentando vantagens e desvantagens, de acordo com a população estudada e os objetivos do estudo. Esses instrumentos podem ser classificados em instrumentos de mensuração direta e instrumentos de mensuração indireta. Dentre os instrumentos de mensuração direta estão a calorimetria, a observação sistemática, os sensores de movimento, os monitores de freqüência cardíaca, os marcos fisiológicos e a estimativa pela ingestão calórica. As várias técnicas disponíveis para a avaliação direta da atividade física, principalmente as utilizadas em ambientes de laboratório, tais como a medida do consumo de oxigênio e outras, são pouco efetivas para estudos populacionais devido ao seu caráter invasivo, complexidade na aplicação, dificuldade de transporte, e o alto custo de aplicação (Weston et al., 1997). O instrumento de mensuração indireta utilizado em estudos populacionais é o questionário. A calorimetria direta mede o gasto calórico pela produção de calor, constituindo-se num instrumento altamente preciso (erro menor que 0,01), enquanto que a calorimetria indireta mede o gasto calórico pelo consumo de oxigênio, com um erro de 2 a 35. Ambas as técnicas são limitantes e muito caras (Nahas, 1996). A observação sistemática pode ser do tipo presencial ou através de recursos eletrônicos, consistindo em técnica trabalhosa e complexa, válida para ambientes fechados, e útil para aplicação em crianças. Existem vários tipos de sistemas para observação sistemática, de acordo com a faixa etária a ser estudada e os intervalos de mensuração (Mackenzie et al., 1991). Os sensores de movimento, que podem ser mecânicos ou eletrônicos, são aparelhos que registram movimentos apenas na direção vertical realizados pelo tronco e membros inferiores, e por isso, são menos válidos e consistentes em estudos com crianças, em atividades contínuas e multidirecionais, intermitentes, com muita participação dos membros superiores. Constituem instrumentos válidos e consistentes quando aplicados em população adulta com atividades contínuas, com muita participação dos membros inferiores, e de menor aplicação em crianças e adolescentes que, habitualmente, realizam atividades multidirecionais, intermitentes, com grande participação de membros superiores, reduzindo assim, a precisão das medidas coletadas. (Kleges et al., 1987). Os monitores de freqüência cardíaca partem do princípio fisiológico da relação linear entre a freqüência cardíaca e o consumo de oxigênio. Entretanto, a freqüência cardíaca é influenciada pela massa muscular total envolvida na atividade, temperatura, estágio de treinamento, tipo de contração muscular, 128 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA fatores emocionais, além de apresentar grande variabilidade nas medidas repetidas em um mesmo indivíduo, e não caracterizar o tipo de atividade física realizada (Mcardle et al., 1996). A água “marcada” com isótopo de hidrogênio, avalia o gasto relativo das atividades físicas, estimado a partir do gasto calórico total, a um custo muito elevado (Mcardle et al., 1996). A estimativa pela ingestão calórica não tem sido muito utilizada devido a vários problemas e limitações, dentre eles, por não caracterizar as atividades físicas realizadas, pressupor um peso corporal estável e apresentar grande variabilidade nas estimativas (Mcardle et al., 1996). Em inquéritos epidemiológicos, desenhados para a avaliação de fatores de risco para doenças crônicas, qualidade de vida e longevidade, a utilização de questionários constitui o instrumento de escolha, principalmente se ele puder ser padronizado e aplicado de maneira uniforme a nível populacional (Paffenbarger et al., 1993; Weston et al., 1997). Os questionários apresentam várias vantagens, como: um custo razoável de aplicação e conveniência ao participante (praticidade); não altera o comportamento do indivíduo entrevistado (reatividade); adequação do instrumento à população em questão (aplicabilidade); e finalmente, confiabilidade e validade (acurácia) (Ainsworth et al., 1993). Utilizando-se um questionário, a quantificação da atividade física realizada é feita medindo-se o gasto calórico despendido durante a mesma. A unidade dessa quantificação é a taxa metabólica de repouso (MET), que equivale a 1 quilocaloria para cada quilo de peso do indivíduo ou 3,5 ml de O2 consumido por quilo de peso do indivíduo em uma unidade de tempo (minutos) (Kriska, 1997). Assim, 1 MET equivale ao gasto de energia durante 1 minuto, por um indivíduo quieto e sentado, enquanto que METs equivale ao número de METs requeridos para realizar uma dada atividade por 1 minuto. A unidade MET representa então a razão entre a taxa metabólica em atividade e a taxa metabólica basal. Em relação a essa unidade, o exercício físico pode ser classificado como: repouso (gasto calórico equivalente a 1 MET); atividade leve (1,1 a 2,9 METs); atividade moderada (3,0 a 4,9 METs); atividade intensa (5,0 a 6,9 METs); e atividade muito intensa (> 7,0 METs) (WILSON et al., 1986). Os questionários consistem em instrumentos que mensuram a atividade física através de três níveis (Baranowsky et al., 1992; Sallis et al.,1996; Kriska et al., 1997): 1. Freqüência - quantas vezes o indivíduo realiza uma dada atividade física por dia , por mês, por ano, ou habitualmente; 2. Duração - por quanto tempo, em minutos ou horas, o indivíduo permaneceu realizando a atividade física; INSTITUTO DANONE 129 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 3. Intensidade - pode ser avaliada de duas formas: a. Subjetivamente, perguntando ao indivíduo, se em comparação com outros da mesma idade e gênero, como ele se classificaria de acordo com uma escala pré-definida (ex.: menos ativo, igualmente ativo, mais ativo),ou outros tipos de questões que avalie de forma qualitativa a atividade física por ele exercida; b. Quantitativamente, utilizando um valor categórico (ex.: atividade física leve, moderada, intensa), ou um valor numérico (ex.: gasto calórico). O preenchimento do questionário se faz através de um recordatório das atividades físicas realizadas pelo indivíduo investigado. Este recordatório pode ser relativo a um período curto, como o dia anterior à entrevista, podendo abranger períodos mais longos, como um mês, ou vários meses, até um ano, podendo chegar a abranger períodos da vida do indivíduo (p.ex.: 12 aos 18 anos). Recordatórios de períodos longos seriam mais representativos do hábito, pois não se restringe a períodos com características específicas do mesmo, como por exemplo: um dia de fim de semana ou feriado, uma semana de viagem, etc. Entretanto, esses recordatórios longos apresentam o viés de lembrança, principalmente quando o questionário é aplicado em crianças e adolescentes (Sallis et al., 1996; Weston et al., 1997). Apesar de refletirem menos o comportamento habitual do entrevistado, os recordatórios de períodos curtos fornecem estimativas menos vulneráveis ao viés de recordação, sendo mais utilizados em crianças e adolescentes. Com relação ao tipo ou componente da atividade exercida, esta pode ser de lazer, recreação, ou esporte, refletindo a opção do indivíduo por um estilo de vida, e portanto, considerada a melhor representação da atividade física de uma população, ou de trabalho, que tem que levar em conta o declínio progressivo dos níveis de atividade física com a modernização crescente da instrumentalização do trabalho (Kriska et al., 1997). O gasto calórico dispendido pelas várias formas de atividade física, pode ser calculado computando-se o tempo durante o qual foi realizada a atividade e, depois, multiplicando este tempo pelo valor do gasto energético em METs (quilocalorias), específico de cada tipo de atividade, que pode ser encontrado em tabelas elaboradas com essa informação, disponíveis na literatura referente ao tema (Meyers et al., 1996; Wilson et al., 1986). 130 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AINSWORTH, B.E.; LEON, A.S.; RICHARDSON, M.T. et al. Accuracy of the alumnus physical activity questionnaire. J. Clin. Epidemiology, v.46, nº12, p. 1403-1411, 1993. BARANOWSKY, T.; BOUCHARD, C.; BAR-OR, O. et al. Assesment, prevalence, and cardiovascular benefits of physical activity and fitness in youth. Med. Sci. Sports Exerc., v.24, nº6, supplement, p. 237-247, 1992. BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Comitê Técnico Científico de Assessoramento às Ações de Atividade Física e Saúde. Disponível na página da internet: http:// www.saude.gov.br CARPERSEN, C.J. Physical activity epidemiology: concepts, methods and applications to exercise science. Exerc. Sport Sci. Rev. v. 17, p.423-473, 1989. HARSHA, D.W. The benefits of physical activity in childhood. American Journal of Medical Sciences, v.310, Supl. 1, p. S109-S113, 1995. KLESGES, L.G.; KLESGES, R.C. The assessment of children’s physical activity: a comparison of methods. Med.Sci. Sports Exerc., v.19, nº5, p. 511-517, 1987. KRISKA, A.M.; CASPERSEN, C.J. Introduction to a collection of physical activity questionnaires. Med. Sci. Sports Exerc., v.29, nº6, Supplement, p.S5-S9, 1997. MACKENZIE, T. L. Observational measures of children’s physical activity. Journal of School Health, v.61, nº5, p. 224-227, 1991. MCARDLE, D.W.; KATCH, I.F.; KATCH, V.L. Exercise physiology: Energy, nutrition and human performance, 4th. 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Atlanta, Georgia: US Department of Health and Human Service, Center for Diseases Control, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, 1996. INSTITUTO DANONE 131 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA WESTON, T.A.; PETOSA, R.; PATE, R.R. Valuation of an instrumemt for measurement of physical activity in youth Med. Sci. Sports Exerc., v.29, nº1, p. 138-143, 1997. WILSON, P.W.F.; PAFFENBARGER, R.S.; MORRIS, J.N.; HAVLIK, R.J. Assessment methods for physical activity and physical fitness in population studies: report of a NHLBI workshop. American Heart Journal, june, p. 1177-1192, 1986. 132 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E GASTO ENERGÉTICO Isa de Pádua Cintra* A infância e adolescência são os períodos em que normalmente ocorrem variações da composição corporal, as quais, além de serem geneticamente determinadas, também podem ser influenciadas por fatores hormonais, nutricionais e ambientais, tanto na determinação do tamanho como no da forma do indivíduo (Puig, 1996). A obesidade, uma desordem metabólica e nutricional muito comum, é freqüentemente definida como o excesso de gordura corporal (Schwartz, 1979; Häger, 1981; Roche et al., 1981; Stark & Lloyd, 1986; Poskitt, 1987; Muzzo, 1989). No entanto, é muito difícil a classificação significativa de uma desordem tão heterogênea na sua expressão anatômica e nos mecanismos aos quais está subordinada, como é a obesidade, principalmente no indivíduo jovem (Sims, 1995; Poskitt, 1995), pois para a criança obesa, além das variações naturais relacionadas à idade, há aquelas associadas ao ganho do peso corpóreo e o principal problema é estimar precisamente o conteúdo e a distribuição da gordura corporal que possui risco para a saúde (Weststrate & Deurenberg, 1989; Brambilla et al., 1994). Nas últimas décadas, tem havido um grande interesse na avaliação da composição corporal, em parte pelo desenvolvimento de novas técnicas (Forbes, 1989) e, principalmente, pelo reconhecimento da sua importância em relação às diferentes áreas da saúde (Wang, Pierson & Heymsfield, 1992; Loan, 1996), podendo ser utilizada para monitorar o desenvolvimento e o crescimento, bem como para classificar o nível de adiposidade corporal na criança (Heyward & Stolarczyk, 1996; Goran et al., 1996). A simples avaliação do excesso de peso, bem como dos índices antropométricos normalmente utilizados, não parecem, para a criança, serem precisos o suficiente para este propósito (Brambilla et al., 1994). Além disso, o peso corporal total é de pequena validade na população pediátrica por causa de outras variáveis como a idade, a estatura, o sexo e a constituição * Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, MG. INSTITUTO DANONE 133 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA corporal que deveriam ser consideradas (Schwartz, 1979; Canadian Task Force on the Periodic Health Examination, 1994). Portanto, a combinação entre as medidas que avaliam o peso para a estatura e a gordura corporal, poderiam fornecer maior suporte para o diagnóstico clínico da obesidade (Williams et al., 1997). Freqüentemente, os índices de peso para estatura e as pregas cutâneas são utilizados como medida de adiposidade, ou como critério para definir a obesidade (Hammer et al., 1991). Os índices de peso para estatura têm sido criticados por não descreverem os padrões de distribuição do tecido adiposo e, também, pela inabilidade em discriminar os indivíduos com excesso de massa gorda e muscular. A utilidade destes índices é dependente da sua associação com o percentual da gordura corporal ou com a gordura corporal total. Em crianças e adultos o peso/estatura2 apresenta maiores correlações com o percentual de gordura corporal do que com o peso relativo e o peso/estatura3 (DuRant & Linder, 1981; Rolland-Cachera et al., 1982; Siervogel et al., 1991; Roche & Chumlea, 1992; Rolland-Cachera, 1993). O índice de massa corporal acima do percentil 90 ou o índice ponderal acima do percentil 85, têm sido sugeridos como critério para a classificação da obesidade infantil (Williams et al., 1997). Apesar da utilização do IMC ser considerada imprópria para as crianças em função das rápidas alterações ocorridas na forma e composição corporal durante o desenvolvimento (Epstein & Higgins, 1992), é uma medida clinicamente importante porque a estatura apresenta certa influência sobre a gordura corporal (Berkowitz, 1996), podendo ser utilizado para monitorar o desenvolvimento da obesidade bem como as modificações apresentadas pelas crianças e pelos adolescentes que estejam em tratamento (Hammer et al., 1991). As pregas cutâneas fornecem uma avaliação mais direta da gordura corporal subcutânea. Elas são úteis como suplemento para as medidas do peso e da estatura, especialmente na criança que tem muita massa muscular. A prega do tríceps é a mais freqüentemente utilizada, embora a do bíceps, a subescapular e a suprailíaca também possam ajudar. As medidas do bíceps e do tríceps estimam a gordura corporal periférica, ao passo que a subescapular e a suprailíaca são as que melhor demonstram os depósitos da gordura central (Williams et al., 1997). No entanto, a imprecisão e a variabilidade na distribuição da gordura subcutânea limitam a utilização destas medidas, principalmente na criança que é muito obesa (Hammer et al., 1991; Canadian Task Force on the Periodic Health Examination, 1994), na qual as modificações na espessura da prega e do peso corporal não ocorrem na mesma proporção (DuRant & Linder, 1981). Na prática clínica, Roche et al. 1981; DuRant & Linder, 1981; Morris & Chinn, 1981; Cronk & Roche, 1982; KotaniI et al., 1997; Williams et al. 1997, têm adotado os seguintes critérios para determinar o grau de obesidade, conforme ilustrado no Quadro 1: 134 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 1: CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAR OBESIDADE Obesidade Obesidade Grave >120% do peso corporal médio para a estatura, e/ou >140% do peso corporal médio para a estatura, e/ou >P90 do peso para estatura >P95 do peso para estatura >P85 de pregas cutâneas >P95 das pregas cutâneas >P85 do índice ponderal >P95 do índice ponderal >P90 do índice de massa corporal >P95 do índice de massa corporal Apesar dos pontos de corte arbitrários para definir a obesidade, uma criança é considerada obesa quando o seu critério de avaliação excede um certo padrão de referência. Tais padrões normalmente representam a distribuição das características antropométricas de uma população específica em um determinado período, podendo apresentar variações devido às tendências seculares que são observadas na adiposidade e no peso corporal (Weststrate & Deurenberg, 1989). A recomendação mais amplamente utilizada é que a criança seja definida pelo seu peso específico para a sua estatura, sua idade e sexo, que excedam o peso médio acima de 2 desvios padrão, de acordo com a população de referência internacional (WHO, 1986; WHO, 1995; WHO, 1997). Na criança, não é conhecido qual o percentual de gordura corporal que aumenta os riscos em relação à sua saúde, ou mesmo, se a moderadamente obesa apresenta maior risco quando comparada com outra não obesa. Na ausência de pontos de corte claros para os percentuais de gordura corporal, a obesidade pode ser definida como um percentual de gordura corporal maior do que 25% para os meninos e 35% para as meninas em idade puberal, e maior do que 30% para as crianças pré-púberes (Weststrate & Deurenberg, 1989). Em trabalho realizado recentemente entre crianças pré-púberes eutróficas e obesas, classificadas pelo índice de adequação peso para estatura maior do que 140% e pelo IMC maior do que o percentil 95, de acordo com o sexo e idade, foi observado um percentual de gordura corporal médio de 46% nas crianças obesas e de 20% nas eutróficas (Cintra et al., 1998). As medidas antropométricas fornecem informação satisfatória sobre o estado nutricional da criança. Entretanto, o sexo, a idade e a doença, causam uma grande variabilidade na composição corporal que não é refletida na antropometria. Portanto, em estudos metabólicos e nutricionais é requerida a análise da composição corporal (Boot et al., 1997). Embora o estudo da composição corporal tenha sido delineado a partir de 1800, foi apenas por meio dos esforços de Behnke et al., em 1940, que a primeira técnica in vivo se desenvolveu, estabelecendo assim o modelo corporal que consiste dos componentes gordo INSTITUTO DANONE 135 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA e magro quimicamente distintos (Ellis & Nichols, 1993). Uma das principais limitações para a utilização deste modelo é que a composição da massa magra é considerada constante para todos os indivíduos (Deurenberg & Schutz, 1995). Os métodos laboratoriais e as técnicas de imagem como a análise pela ativação do nêutron, a diluição do isótopo estável, a tomografia computadorizada, a imagem por ressonância magnética, têm fornecido modelos de múltiplos compartimentos precisos da composição corporal, incluindo a da gordura corporal, embora a acessibilidade a estes instrumentos seja limitada. Nas últimas décadas, as técnicas baseadas na condutividade corporal elétrica e nas propriedades de impedância, têm oferecido vantagens por apresentarem facilidade na sua operação, por serem compactos, portáteis e econômicos. Além disto, os avanços nas técnicas da absorciometria têm conduzido a estimativas mais precisas dos compartimentos gordo, magro e ósseo (Ellis, 1996). A capacidade para medir os compartimentos corporais nos seres vivos tem permitido um melhor entendimento do metabolismo energético humano (Puig, 1996), dos fatores genético, nutricional e da atividade física, exercidos sobre o desenvolvimento da gordura, dos músculos e dos ossos (Lohman, 1989). No entanto, ainda há pouco entendimento sobre a relação entre a composição corporal e o gasto energético na criança. Teoricamente, anormalidades na equação do balanço energético podem resultar na alteração da composição corporal, ou serem causadas pela mesma (Warner et al., 1998). Para a avaliação da obesidade e o tratamento da criança obesa é necessária a estimativa precisa da composição corporal, com o objetivo de desenvolver programas apropriados para a redução do peso, durante os quais a massa corporal magra permaneça estável e a gorda seja preferencialmente reduzida (Wabitsch et al., 1996). Tradicionalmente, os compartimentos corporais têm sido divididos em massa gorda (MG), ou fat mass (FM) e massa livre de gordura (MLG), ou fat-free mass (FFM). A massa gorda inclui todos os lípides que são extraíveis do tecido adiposo e de outros tecidos por meio do éter e é definida como gordura pura, enquanto que o tecido adiposo inclui a gordura e as suas estruturas de suporte celular e extracelular (Ellis & Nichols, 1993). A massa livre de gordura, constituída pelos músculos, ossos, órgãos vitais e fluidos extracelulares (Roche, 1996), é a principal componente do tecido metabólico ativo, e as alterações ocorridas na mesma levam a modificações no gasto energético basal (GEB) (Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992). O maior gasto energético das crianças poderia ser atribuído, também, à maior proporção da massa tecidual magra dos órgãos não musculares metabolicamente ativos, e à menor proporção da massa tecidual magra muscular metabolicamente menos ativa (Holliday, 1971; Weinsier, Schutz & Bracco, 1992). 136 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Os pacientes adultos, para reduzir o seu excesso de peso, apenas o conseguem perdendo-o literalmente, o que resulta em um menor GEB (Apfelbaum; Bostsarron & Lacatis, 1971). Entretanto, as crianças e os adolescentes que estão crescendo podem reduzir sua porcentagem de sobrepeso através da perda deste, ou pela sua manutenção enquanto a sua altura aumenta. Por esta razão, a criança obesa pode manter o tratamento mais facilmente do que o adulto obeso, e pode reduzir seu peso relativo sem que ocorra a perda de peso (Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992). O potencial para a criança modificar o seu peso relativo apresentando alterações mais rápidas na estatura do que no peso torna-se um prognóstico positivo, uma vez que o seu GEB não será reduzido quando os graus do sobrepeso ou da obesidade se alterarem (Epstein et al., 1989b; Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992; Maffeis et al., 1996). Wurmser et al. (1998) verificaram que, meninas pré-púberes apresentando sobrepeso e filhas de pais obesos apresentaram menor gasto energético, e que o GEB temporariamente reduzido poderia ser suficiente para o desenvolvimento da obesidade, desde que não houvesse modificação dos outros componentes do balanço energético. No entanto, vários estudos revelam que a criança obesa não apresenta menor gasto energético basal em relação a que não o é. Na obesa, entre os 8 e os 10 anos, o GEB parece estar dentro da variação normal, havendo posteriormente um aumento em relação à não obesa (Epstein et al., 1989b; Bandini, Schoeller & Dietz, 1990; Maffeis et al., 1991; Maffeis, Schutz & Pinelli, 1992; Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992; Gazzaniga & Burns, 1993; Maffeis et al., 1993a; Fontvieille et al., 1993; Maffeis et al., 1993b; Goran, Carpenter & Poehlman, 1993; Maffeis et al., 1996). Diversos fatores contribuem para a variação individual do gasto energético basal nos indivíduos adultos, incluindo a massa livre de gordura (Ravussin et al., 1982; Ravussin et al., 1986; Cunningham, 1991; Weinsier, Schutz & Bracco, 1992), a massa gorda (Ravussin et al., 1986; Weinsier, Schutz & Bracco, 1992), o sexo (Ferraro et al., 1992; Arciero, Goran & Poehlman, 1993), o condicionamento físico (Poehlman et al., 1992), o metabolismo do músculo esquelético (Zurlo et al., 1990) e a atividade do sistema nervoso simpático (Poehlman & Danfort, 1991). Nas crianças, as principais determinantes do gasto energético basal são: a massa livre de gordura, o sexo, a massa gorda (Goran, Kaskoun & Johnson, 1994) e a etnia (Kaplan, Zemel & Stallings, 1996). Tem sido verificado que o gasto energético absoluto é maior no obeso do que no indivíduo não obeso (Holliday et al., 1979; de Boer et al., 1987). Como o gasto energético basal e o energético total são intimamente dependentes do tamanho da massa corporal magra (James et al., 1978; Ravussin et al., 1982; Ravussin et al., 1986; Ravussin & Bogardus, 1989), a qual é composta por tecidos metabolicamente ativos, não é surpreendente que o aumento da adiposidade promova uma elevação do gasto energético basal (Bandini & Dietz, 1992). INSTITUTO DANONE 137 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Para a maioria dos pacientes obesos é perfeitamente possível induzir um balanço energético negativo com a utilização de uma dieta adequada que resulta na perda de peso. No entanto, a utilização freqüente de dietas pode ter, a longo prazo, efeitos prejudiciais sobre uma variedade de parâmetros fisiológicos e relacionados à saúde. Em relação à composição corporal, tem sido proposto que a perda de peso consistiria da perda de tecidos gordo e magro, mas que a recuperação do peso perdido é composta, principalmente, por gordura (Prentice et al., 1992). Além disto, o paciente submetido à dieta hipocalórica apresentará uma redução da perda de peso com o passar do tempo. A principal razão para esta reduzida “eficiência” na perda do peso tem sido atribuída à redução do GEB em função da restrição calórica (Grande, Anderson & Keys, 1958; Bray, 1969; Apfelbaum, Bostsarron & Lacatis, 1971; Garrow et al., 1978; Garrow, 1981; Doré et al., 1982; Welle et al., 1984). Em adultos, os valores absolutos do GEB diminuem durante uma dieta hipocalórica, mas a perda de peso não parece induzir a uma taxa hipometabólica quando a composição corporal é preservada. Na criança obesa, alguns autores também têm observado a redução do GEB após o consumo da dieta hipocalórica (Maffeis, Schutz & Pinelli, 1992; Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992), o que confirma os resultados observados nos adultos (Bessard, Schutz & Jéquier, 1983; de Boer et al., 1986; Nelson et al., 1992), mas o seu declínio não pode ser totalmente explicado pelas alterações na massa magra (Zwiauer, Mueller & Widhalm, 1992). De acordo com Schwingshandl & Borkenstein (1995), crianças participantes de um programa para a perda de peso tiveram redução da massa gorda, da massa livre de gordura e do GEB. Aquelas com maior perda MLG, e conseqüentemente maior redução do gasto energético basal, apresentaram a maior recuperação do peso corpóreo. Isto demonstra que a redução no GEB durante a perda de peso é, principalmente, devido à alteração da massa livre de gordura (Ravussin et al., 1985). Como as reduções do peso relativo podem ser devido ao aumento do crescimento, sem que ocorra alteração do peso corporal total, é possível que durante a fase de desenvolvimento o gasto energético basal seja mantido, ou apresente elevação, quando o peso aumenta proporcionalmente à estatura. Por esta razão, as crianças obesas, em tratamento para a obesidade, podem obter sucesso mais facilmente do que o adulto obeso. No entanto, a extensão na qual a criança se beneficiará da modificação mais rápida na estatura do que no peso é, em parte, dependente do potencial de crescimento restante (Epstein et al., 1989). Para muitos adolescentes gravemente obesos isto não será possível, principalmente para as meninas que estejam no período pós-menarca (Poskitt, 1987). Se até há alguns anos atrás a obesidade infantil não era associada a fatores que pudessem causar prejuízos à saúde da criança, atualmente a situação é preocupante, fazendo com que os membros de equipes de saúde dêem maior atenção a esta situação tão perversa e ainda 138 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA sem solução. Sabe-se que o tratamento da obesidade no indivíduo adulto não é uma tarefa fácil, mas na criança pode apresentar limitações ainda maiores. No entanto, como já foi anteriormente descrito, a criança apresenta grande vantagem sobre o indivíduo adulto, pois está em fase de crescimento e não necessita de dietas tão restritivas que possam comprometer o crescimento linear e a massa corporal magra. Além disto, como a utilização da dieta hipocalórica está geralmente associada à redução do gasto energético basal, o ideal seria promover um tratamento que não causasse alteração metabólica na criança principalmente porque, em função do período de desenvolvimento, há maior demanda energética. O principal objetivo a ser alcançado é, a longo prazo, o controle do peso corpóreo das crianças em crescimento por meio da modificação comportamental, tanto da criança como da família. A orientação fornecida deve ser baseada no princípio de que a criança deve alcançar um balanço entre a ingestão e o gasto de energia, criando assim condições para que não ocorra o ganho de peso corporal. Desta forma, pode ser observada a redução da adequação do índice peso/estatura (P/E) e, conseqüentemente, do grau da obesidade apresentada pela criança. Resultados recentes de um trabalho realizado com crianças portadoras de obesidade grave (P/E > 40% e IMC > P95) demonstraram que, durante o período de 6 meses de acompanhamento ambulatorial, houve alteração das medidas antropométricas e que apesar de haver aumento do peso, não foram observados aumentos do percentual de gordura corporal, havendo redução do grau de obesidade apresentada pelas crianças, sem ocorrer redução no gasto energético basal (Cintra, 1999). Uma vez que a obesidade infantil tem sido um dos problemas de saúde mais freqüentes na área pediátrica, diversos tipos de tratamento têm sido testados e, na maioria das vezes, o resultado é frustrante. Portanto, sendo a infância um período em que ocorrem muitas alterações da composição corpórea, fazendo com que o gasto energético seja mais elevado, o tratamento da obesidade tem que ser cuidadoso no sentido de evitar que outras alterações possam vir a prejudicar ainda mais a criança obesa. Torna-se importante que o tratamento envolva uma equipe multidisciplinar, pois tem sido verificado que o erro alimentar é muitas vezes o reflexo do desequilíbrio emocional, ou da dinâmica familiar comprometida (Vitolo & Valverde, 1995). Em função do aumento da incidência e da gravidade da obesidade, quer elas sejam na infância, na adolescência ou na idade adulta, o ideal é que a intervenção nutricional seja realizada precocemente antes que hábitos alimentares errôneos e inatividade física passem a fazer parte do cotidiano da criança. INSTITUTO DANONE 139 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APFELBAUM, M.; BOSTSARRON, J.; LACATIS, D. Effect of caloric restriction and excessive caloric intake on energy expenditure. Am. J. Clin. Nutr., 24 (9): 1405 – 1409, 1971. ARCIERO, P.J.; GORAN, M.I.; POEHLMAN, E.T. Resting metabolic rate is lower in women than in men. J. Appl. Physiol., 75 (6): 2514 2520, 1993. BANDINI, L.G.; DIETZ, W.H. 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QUADRO 1: MUDANÇAS NO PADRÃO ALIMENTAR DE POPULAÇÕES URBANAS FATORES PRÉ SOCIAIS E HISTORIA ECONÔMICOS AGRICULTURA REVOLUÇÃO E CRIAÇÃO INDUSTRIAL; DE ANIMAIS; RECUO DAS INÍCIO DAS FOMES GRANDES FOMES REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS DIETA Vegetais e Predominância de animais cereais; selvagens dieta monótona dieta variada Mais frutas e vegetais; mais proteínas de origem animal; dieta ainda monótona Mais gordura, açúcares refinados e alimentos processados; diminuição das fibras Menos gorduras (principalmente animal); aumento de carboidratos complexos, frutas e verduras SITUAÇÃO NUTRICIONAL Indivíduos robustos e magros; poucas deficiências nutricionais Continuam os problemas nutricionais embora comecem a desaparecer algumas deficiências; surgem problemas de desmame; estatura aumenta Obesidade e doenças cardiovasculares e crônicas (diabetes, osteoporose, etc.); problemas relativos ao envelhecimento e ao estilo de vida Redução do nível de gordura corporal e da obesidade; melhoria da saúde dos ossos PROCESSAMENTO DOS ALIMENTOS Rudimentar Início de estocagem de alimentos Secagem, salga e início de enlatamento; refino e moagem de grãos Numerosas tecnologias para transformação de alimentos Criação tecnológica de alimentos e de substitutos dos constituintes de alimentos * Pouca ingestão de gorduras; aparecem as deficiências nutricionais; declínio da estatura Instituto de Saúde da Secretaria do Estado de Saúde da Criança de São Paulo. INSTITUTO DANONE 147 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FATORES PRÉSOCIAIS E HISTORIA ECONÔMICOS AGRICULTURA E CRIAÇÃO DE ANIMAIS; INÍCIO DAS GRANDES FOMES TECNOLOGIA Caçadores e Agricultura e coletadores domesticação de alimentos de animais; construção de moradias; monoculturas PREPARAÇÃO DOMÉSTICA DOS ALIMENTOS Primitiva; descoberta do fogo RENDA E BENS Subsistência; Subsistência; utensílios e algumas ferramentas ferramentas de pedra Muito trabalho; início de tecnologia primitiva (utensílios de barro) MORTALIDADE Baixa E fertilidade FERTILIDADE e alta Alta fertilidade; baixa esperança de vida; alta mortalidade; mortalidade mabaixa terna e infantil esperança de vida REVOLUÇÃO INDUSTRIAL; RECUO DAS FOMES REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS Revolução da agricultura (fertilizantes, rotação de culturas); revolução industrial; mulheres entram na força de trabalho Mecanização (menor atividade física no trabalho, no domicílio e no lazer) aumento do setor de serviços Mecanização, serviços e robotização dominam; aumento de exercícios no lazer para compensar o sedentarismo Início de sistemas de abastecimento de água; fogões de barro e a lenha; avanço da tecnologia de preparação de alimentos Mecanização e diversificação da tecnologia dos utensílios domésticos Mudanças rápidas na tecnologia de preparação de alimentos Início de Aumento da disparidade de renda e da rendas; ferramen- disparidade tas para a agricultura; crescimento da indústria Aumento lento da renda; melhoria da tecnologia para o domicílio e o lazer Declínio da mortalidade; estabilização e declínio da fertilidade; crescimento cumulativo da população Alta esperança de vida (60 a 70a); baixa fertilidade Esperança de vida ainda mais alta (70 a 80a); esperança de vida, com qualidade, aumenta MORBIDADE Muitas doenças infecciosas; ausência de epidemias Epidemias; início de doenças endêmicas (varíola, pólio, TB, peste) fome é comum Doenças endêmicas aumentam; problemas do desmame (diarréia, crescimento retardado) Doenças crônicas relacionadas à dieta e à poluição (cardiovasculares, câncer); diminuição de doenças infecciosas Aumento da promoção da saúde (preventiva e terapêutica); diminuição de doenças cardíacas e melhoria de cânceres específicos ESTRUTURA ETÁRIA População jovem Jovens; alguns poucos velhos Principalmente jovem; início de mudança para velhice Cai a fertilidade; proporção de velhos aumenta Aumento da proporção de velhos (>75a) PADRÃO DE HABITAÇÃO Baixa densidade Rural; poucas e pequenas cidades populosas Principalmente rural; início de migração para as cidades; imigração internacional; desenvolvimento de grandes cidades Dispersão da população urbana; redução das áreas verdes rurais Reaparecimento de cidades com baixa densidade; urbanização de áreas rurais ao redor das cidades 148 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Pode-se afirmar que o consumo de alimentos, no Brasil, encontra-se em algum lugar entre as três últimas fases. Parte da população urbana do sul-sudeste do país já está na fase de buscar mudanças comportamentais visando uma melhor qualidade de vida enquanto outros, que experimentaram um aumento do valor de seu dinheiro, estão na fase da “revolução tecnológica”, onde há aumento do consumo de gordura, de alimentos processados e de açúcares refinados, redundando em aumento da obesidade, de doenças cardiovasculares e outras moléstias crônico-degenerativas (transições: epidemiológica e demográfica). Bleil (1998) faz considerações sobre a mudança de hábitos no Brasil apontando para o ingresso do país na globalização alimentar, onde as grandes redes de “alimentação rápida” (fast-foods) estão presentes em pontos estratégicos da cidade, introduzindo esse hábito entre nossa população, principalmente entre os jovens, onde freqüentar lanchonetes não é só uma necessidade, mas faz parte integrante dos “rituais” de lazer de seu grupo de amigos. Mondini & Monteiro (1994) fazem referência a três Estudos Nacionais de Consumo de Alimentos: as Pesquisas de Orçamento Familiar - POFs de 1962 e de 1988 e o Estudo Nacional de Despesa Familiar - ENDEF de 1975, mostrando a diminuição da participação dos carboidratos e o aumento das gorduras no consumo energético total das populações das áreas metropolitanas de duas regiões do país (Quadro2). QUADRO 2: PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) DE CARBOIDRATOS, PROTEÍNAS E LIPÍDIOS NO CONSUMO CALÓRICO TOTAL. ÁREAS METROPOLITANAS BRASILEIRAS: 1962, 1975, 1988 Regiões metropolitanas 1962 1975 1988 Carboidratos Sudeste Nordeste 60,9 67,4 60,0 66,9 56,4 62,4 Proteínas Sudeste Nordeste 11,9 12,2 12,7 13,4 12,8 13,2 Lipídios Sudeste Nordeste 27,2 20,4 27,3 19,7 30,8 24,7 Fonte: Mondini e Monteiro, 1994 O Quadro 3 mostra, neste mesmo estudo, a participação relativa dos vários grupos de alimentos na dieta dos brasileiros. INSTITUTO DANONE 149 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 3. PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) DE DIFERENTES GRUPOS DE ALIMENTOS NO CONSUMO CALÓRICO TOTAL. ÁREAS METROPOLITANAS BRASILEIRAS: 1962, 1975, 1988 Alimentos 1962 1975 1988 Sudeste Cereais e Derivados Feijão Raízes e Tubérculos Carnes Ovos Leite e Derivados Frutas Banha/Touc./Mant. Margarina e Óleos Açúcar 37,2 7,2 4,0 8,6 1,1 5,5 3,8 7,9 8,9 15,8 37,9 8,8 3,0 8,6 1,4 6,6 2,2 3,5 13,6 14,3 35,9 6,2 2,7 9,4 1,6 8,9 2,4 1,6 17,0 14,3 Total 100,0 100,0 100,0 Nordeste Cereais e Derivados Feijão Raízes e Tubérculos Carnes Ovos Leite e Derivados Frutas Banha/Touc./Mant. Margarina e Óleos Açúcar 4,1 9,1 2,8 11,5 0,5 3,1 3,8 4,6 4,7 15,6 34,8 9,9 14,0 10,4 1,0 4,8 2,1 2,3 6,1 14,3 31,7 7,7 11,0 11,1 1,6 6,0 3,3 1,3 10,8 15,7 Total 100,0 100,0 100,0 Fonte: Monteiro e Mondini, 1994 Há um decréscimo do consumo do feijão, substituição de banha e manteiga por margarina e outros óleos, e aumento do consumo de gorduras, leite e derivados. Examinando mais de perto o consumo de feijão nas áreas metropolitanas, fica evidente a sua diminuição entre 62 e 88. O aporte de ferro acompanha de perto esta diminuição do consumo. Os dados estão ilustrados nos gráficos (Figuras 1 e 2). A alimentação dos adolescentes, evidentemente, é aquela que primeiro reflete as mudanças – “Fast-foods” e “Junk-foods” contaminam esta faixa etária, em primeiro lugar, para depois, aos poucos, passar a fazer parte do hábito familiar. No Brasil, não é diferente. Os desequilíbrios nutricionais estão se fazendo presentes e são devidos, não só às mudanças do hábito de consumo dos alimentos, como também, à diminuição das atividades físicas – cada vez mais crianças e adolescentes ficam restritos às suas residências 150 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 1: CONSUMO PER CAPITA DE FEIJÃO 61/62 74/75 100 87/88 80 60 40 Recife Fortaleza Salvador Curitiba B. Horiz S. Paulo 0 Rio Jan 20 FIGURA 2: CONSUMO DE FERRO, SEGUNDO OS ESTUDOS REALIZADOS 140 120 100 61/62 74/75 87/88 80 60 40 20 ife ec le rta Fo R za or ad lv Sa ba iti ur C n B. H or iz Ja io R S. Pa ul o 0 em frente ao televisor, aos jogos eletrônicos e ao computador, e cada vez menos estão na rua. A rua passou ser um lugar perigoso, não se prestando a ser palco de atividades de lazer, como o era há anos atrás Em 1990, Lerner (1994) estudou a concentração sangüínea de hemoglobina e o consumo alimentar de alunos de quintas e oitavas séries de 8 escolas públicas de Osasco: 509 alunos (40% homens e 60% mulheres) foram pesados e medidos e foi coletado sangue para verificar a prevalência de anemia e, destes, 369 preencheram um registro alimentar de 3 dias. A prevalência de anemia foi de 5,3%, sendo 6,2% nas quintas séries e de 4,2% nas oitavas séries, não havendo diferenças relativas a sexo ou ao estado nutricional. Houveram diferenças relativas ao nível sócio-econômico que foi avaliado através da escolaridade dos pais e da localização geográfica da escola. A participação relativa dos macronutrientes na dieta diária desta população de adolescentes (e sua composição química) está mostrada no Quadro 4. INSTITUTO DANONE 151 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 4: COMPOSIÇÃO DA DIETA MÉDIA DIÁRIA DOS ALUNOS DE OSASCO - 1990 Nutrientes Quantidades % 2084 302 73 65 1,5 11,1 1,1 (100%) ( 58%) ( 14%) ( 28%) - Energia (kcal Carboidratos (g) Proteínas (g) Gorduras (g) Fe Heme (mg) Fe não Heme (mg) Fe Biodisponível (mg) A maior parte dos adolescentes tinha uma alimentação adequada em relação ao consumo energético, porém, para o consumo de ferro, o resultado não foi o mesmo: só 6,3% dos homens e 2,0% das mulheres tiveram adequação de 100%, ou mais, para o Ferro Total – 32,6% dos homens e 66,7% das mulheres não atingiram sequer os 50% de adequação. Ao se analisar o Ferro Biodisponível, o resultado também deixa a desejar, como pode ser observado no Quadro 5. QUADRO 5: ADEQUAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO DOS ADOLESCENTES Energia Fe Total Fe Biodisponível Adequação (%) >100 <50 >100 <50 >100 <50 Homens 48,8 4,9 6,3 32,6 15,9 23,0 Mulheres 52,8 3,1 2,0 66,7 5,0 49,8 A composição da alimentação desta população de adolescentes não foge muito ao padrão nacional, o que pode ser verificado no Quadro 6, onde estão relacionados os alimentos mais citados nas três refeições principais. Deve-se destacar que o leite aparece só em 59% das vezes possíveis, o arroz em 76% no almoço e 66% no jantar, e o feijão em 63% das vezes no almoço e 57% no jantar. O menor número de vezes que o arroz e feijão comparecem no jantar reflete a substituição desta refeição por um lanche onde se fazem presentes embutidos e refrigerantes, colaborando para o desequilíbrio da dieta, em especial quanto a quantidade de ferro ingerida diariamente. O refrigerante é o quarto item mais citado, tanto no almoço como no jantar, evidenciando um consumo importante de calorias vazias. Em 1996, Stefanini (1998) fez um estudo com escolares no Município de Santos. Os escolares pertenciam a 27 escolas públicas, num total de 697 alunos, nos quais se estudou a prevalência de anemia, através da concentração sérica de hemoglobina. Os resultados podem ser observados no gráfico abaixo (Figura 3). 152 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 6: ALIMENTOS MAIS CITADOS NAS PRINCIPAIS REFEIÇÕES Refeição Alimento N.º de citações Pão 748 Açúcar 715 Leite 583 Margarina 424 Arroz 777 Feijão 637 Carne Bovina 460 Refrigerante/ suco em pó 398 Alface 173 Tomate 161 Laranja 87 Arroz 666 Feijão 570 Carne Bovina 449 Refrigerante/ suco em pó 376 Alface 172 Tomate 126 Laranja 70 Desjejum (1988)* Almoço (1017)* Jantar (998)* %** 76 72 59 43 76 63 45 39 17 15 8 66 57 45 37 17 13 7 * número de refeições possíveis ** % das vezes possíveis FIGURA 3: PREVALÊNCIAS ESTIMADAS DE ANEMIA FERROPRIVA, SANTOS, SP, 1996 30 27,81 20,89 25 20 11,31 15 5,61 10 5 0 1ª série 5ª série 8ª série Total Existe anemia importante no grupo de ingressantes na escola (7 anos), mas na 8ª série (14 a 18 anos) a anemia é de 5,6%, semelhante à encontrada em Osasco. Gambardella, em 1995, fez um estudo qualitativo da alimentação de 273 alunos da quinta à oitava série de 6 escolas de Santo André. INSTITUTO DANONE 153 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA A avaliação foi feita quanto ao número de vezes que os alimentos foram citados comparandose com o número de porções recomendadas desses alimentos pelos guias Alimentares (Pirâmide Alimentar). Os gráficos abaixo (Figuras 4 a 9) mostram a porcentagem de adolescentes para os quais há falta, excesso ou adequação do número de porções dos diferentes grupos de alimentos, segundo o sexo e a inserção ou não em algum trabalho remunerado. FIGURA 4: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE FRUTAS % Frutas 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho FIGURA 5: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE CEREAIS % Cereais 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho 154 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 6: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE HORTALIÇAS % Hortaliças 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho FIGURA 7: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE PRODUTOS LÁCTEOS % Produtos Lácteos 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho FIGURA 8: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE AÇÚCARES E GORDURAS % Açúcares e Gorduras 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho INSTITUTO DANONE 155 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 9: PORCENTAGEM DE ADOLESCENTES COM FALTA, EXCESSO OU ADEQUAÇÃO AO NÚMERO DE PORÇÕES DE CARNES % Carnes 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 falta adequado excesso masculino sim feminino sim masculino não feminino não Inserção no trabalho Frutas, hortaliças, cereais e produtos lácteos são os que mais faltam na alimentação (+ de 50% da população de qualquer dos grupos apresenta falta). Em contra partida, o grupo dos açúcares e gorduras aparecem sempre em excesso na alimentação destes adolescentes. Em 1997, o Estudo Multicêntrico de Consumo Alimentar coordenado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de Ouro Preto e Universidade Federal de Goiás, pesquisou o consumo alimentar dos municípios de Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia e Ouro Preto. Os resultados, apresentados por Galeazzi e colaboradores (1997), podem ser observados no Quadro 7. QUADRO 7: PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS DE 18 A 25 ANOS DE IDADE COM CONSUMO INADEQUADO DE ALIMENTOS*, SEGUNDO OS MUNICÍPIOS ESTUDADOS Nutrientes Proteína Cálcio Ferro Vitamina A Vitamina C Gordura AGSA Colesterol Rio de Janeiro Campinas 12,3 64,8 35,5 1,1 3,4 27,5 47,5 58,5 52,2 14,4 13,2 7,8 46,0 46,0 69,5 Curitiba Goiânia Ouro Preto 1,4 29,4 23,6 4,2 6,9 47,2 33,3 58,3 21,8 82,7 56,4 4,4 4,0 15,1 45,3 20,9 8,5 65,7 2,8 3,0 14,2 22,8 40,0 42,8 * para Cálcio NIH consensus, 1994 para outros nutrientes RDA 10 th ed. 1989 consumo de gordura total >30% das calorias ácidos graxos saturados < 10% das calorias totais colesterol >300mg/dia O consumo de gorduras está inadequado para uma grande população destes municípios. Com relação ao ferro, é importante destacar o grande contingente de indivíduos com baixo 156 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA consumo, principalmente em Goiânia, onde mais da metade da população não ingere o mineral na quantidade adequada. O município de Ouro Preto se destaca por não mostrar o mesmo padrão de consumo de ferro, porém, foi justificado pelos autores que apontaram o pequeno número de indivíduos que participaram do estudo naquele município. Lei e colaboradores (1999), realizando um estudo para o conhecimento do consumo alimentar, e sua adequação, de adolescentes de escolas públicas e privadas do município de São Paulo/ SP, com o objetivo principal de verificar a ingestão de cálcio, mostra um excesso de lipídios em três escolas já examinadas, onde foram estudados 242 alunos de oitavas séries e primeiro, segundo e terceiro colegiais. Não parece haver diferença na distribuição relativa dos macronutrientes dos alunos de escolas públicas ou privadas, porém, o excesso de lipídios confirma a tendência de uma alimentação desequilibrada (Figuras 10, 11 e 12). FIGURA 10: DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL MÉDIA DE MACRONUTRIENTES, COLÉGIO S.M. (PRIVADO) SP, 1999 Proteínas 16% Carboidratos 49% Lipídios 35% FIGURA 11: DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL MÉDIA DE MACRONUTRIENTES, COLÉGIO H.S. (PRIVADO) SP, 1999 Proteínas 16% Carboidratos 49% Lipídios 35% INSTITUTO DANONE 157 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 12: DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL MÉDIA DE MACRONUTRIENTES, COLÉGIO K.I. (PÚBLICO) SP, 1999 Proteínas 15% Carboidratos 53% Lipídios 32% Os poucos dados apresentados confirmam a tendência de uma alimentação desequilibrada, com excesso de lipídios e falta de frutas, hortaliças e cereais. A obesidade pode vir a ser uma conseqüência funesta a essa alimentação, assim como a anemia, uma vez que o consumo de carnes, embora adequado, não se faz em todas as refeições. O feijão, principal fonte do mineral para as camadas mais carentes da população, não está mais presente com tanta freqüência, e a quase ausência, às refeições, de frutas e hortaliças, que são os principais facilitadores da absorção do ferro não heme. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLEIL, S.I. (1998). O padrão alimentar ocidental: considerações sobre a mudança de hábitos no Brasil. Cadernos de Debate, 6:1-25. GALEAZZI, M.A.M. et al. (1997). Estudo multicêntrico sobre consumo alimentar. Cadernos de Debate – volume especial. 62 p. GAMBARDELLA, A.M.D. (1995). Adolescentes, estudantes de período noturno: como se alimentam e gastam suas energias. São Paulo, 81p. (Tese de Doutoramento) Faculdade de Saúde Pública. HALPERN. G.; FREIRE, R.D.; LEI. D.L.M.; CHAVES, S.P.;LERNER, B.R.; PAES, A.T. (1999) Estudo comparativo do consumo de cálcio: adolescentes de escolas particular e pública, Município de São Paulo. Rev. Saúde Pública, no prelo. LERNER, B.R. (1994). A alimentação e a anemia carencial em adolescentes. São Paulo, 1994. 90p (Tese de doutoramento) – Faculdade de Saúde Pública, USP. MONDINI, L.; MONTEIRO, C.A. (1994). Rev. Saúde Pública, 28(6). 158 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA POPKIN, B.M. (1993). 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Tem sido proposta uma nova categoria, o transtorno do comer compulsivo (TCC), que ampliaria estes transtornos, dando uma continuidade entre eles, muitas vezes criando um certo grau de sobreposição entre estas patologias. Esta nova categoria aproximaria ainda mais a obesidade deste continuum, pois a prevalência do TCC entre a população obesa é significativamente maior do que na população normal. Os transtornos do comportamento alimentar têm recebido uma crescente atenção no meio científico, primeiro devido a um aumento acentuado em sua incidência em todo o mundo, não só em adolescentes e adultos(1,2,3,4,5,6,7), como também em crianças(8), e em segundo lugar pela gravidade destes quadros, refletida pelo alto índice de cronificação (30%) e mortalidade (10%). Os trabalhos a respeito deste tema têm se multiplicado em revistas científicas internacionais, tanto na área médica - psiquiatria, endocrinologia e clínica médica - como nas áreas da psicologia e nutrição. São patologias freqüentemente associadas com um alto índice de comorbidades, principalmente transtornos do humor, transtorno obsessivo-compulsivo, dependência química, transtornos da ansiedade e da personalidade(9). * Médico Psiquiatra Diretor Científico da Associação Brasileira de Psiquiatria Biológica Mestrando no Curso de Pós-graduação em Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. INSTITUTO DANONE 161 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA II. HISTÓRICO A anorexia nervosa, cujo primeiro caso descrito foi há três séculos(10), já foi tida como uma forma de doença da glândula pituitária, sendo depois considerada como uma variante nãoespecífica de muitas outras doenças psiquiátricas, até alcançar o status de uma síndrome específica com traços clínicos característicos que a distingue de outros estados. A bulimia nervosa, conhecida há menos tempo, começou a despertar o interesse dos pesquisadores quando Russel(11) a descreveu, no final da década de 70, como uma forma sinistra da anorexia nervosa. Hoje, a bulimia nervosa, considerada uma patologia distinta da anorexia nervosa, apesar de ter o mesmo quadro psicopatológico de base, tem chamado a atenção tanto no meio científico como nas comunicações de massa, em função de sua freqüência em personalidades públicas. Já, o transtorno do comer compulsivo aparece no DSM IV(12) com o nome de transtorno de compulsão periódica, no apêndice B, que trata dos conjuntos de critérios e eixos oferecidos para estudos adicionais. A proposta do TCC como uma nova categoria diagnóstica representa para alguns uma evolução, enquanto para outros, uma complicação. III. CONCEITO Embora a anorexia nervosa e a bulimia nervosa apresentem um mesmo quadro psicopatológico de base, elas possuem quadros clínicos distintos. III. 1. CONCEITO DE ANOREXIA NERVOSA Vários critérios de classificação têm sido sugeridos ao longo dos anos para a AN. Russel sugeriu três critérios para o diagnóstico da AN: • comportamento dirigido para grande perda de peso; • característica psicopatológica do medo mórbido de se tornar gorda; e • evidência de uma desordem endócrina cursando com amenorréia, nas mulheres, e impotência, nos homens. Existe um consenso de que a perseguição implacável à magreza é necessária para o diagnóstico da AN. A paciente mantém um peso corporal abaixo de um nível normal mínimo para sua idade e altura. O DSM IV(12) chama a atenção para a AN instalada em pacientes durante a infância ou início da adolescência, onde pode haver fracasso em fazer o ganho de peso esperado ao invés de uma perda de peso. Os autores sugerem que deve haver uma perda de peso entre 10 a 25%. Tanto no CID-10(13) como no DSM IV(12) há concordância quanto à 162 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA perda de peso: o peso corporal deve ser mantido em pelo menos 15% abaixo do esperado (tanto perdido quanto nunca alcançado), sendo que no CID-10(13) existe o critério alternativo do índice de massa corporal de Quetelet igual ou inferior a 17,5. A perda de peso se dá principalmente pela redução progressiva de consumo de alimentos. O peso também é perdido pelos exercícios intensos e métodos purgativos. A dieta, inicialmente, elimina os alimentos que são tidos como ricos em caloria, mas acaba por terminar em uma dieta muito restrita, com apenas alguns alimentos. Em casos extremos chega-se inclusive à restrição de dieta líquida. O hábito alimentar vai se tornando cada vez mais secreto e povoado de estranhos rituais alimentares: a anorética pode recusar-se a comer na presença dos outros, possui normalmente uma coleção de receitas e chega a preparar verdadeiros banquetes para os amigos, mas não participa das refeições. Aproximadamente 50% das anoréticas apresentam episódios bulímicos: orgias alimentares com consumo excessivo de alimentos, de preferência aqueles proibidos, em um curto espaço de tempo, que terminam em crises de ansiedade, disforia, sentimentos de culpa e, com freqüência, idéias de suicídio. Para aliviar a culpa e o excesso de alimentos, a anorética pode provocar vômitos e fazer uso abusivo de laxantes e diurético, o que aumenta o risco de problemas cardíacos. O medo mórbido de se tornar gorda é uma característica que distingue a AN de outras síndromes psiquiátricas. A medida em que a paciente perde peso, este pavor de engordar persiste e até mesmo aumenta, não trazendo alívio para a mesma. Há uma distorção da imagem corporal, fazendo com que a anorética não reconheça a sua magreza. Esta outra característica da AN faz com que a paciente caquética se veja normal ou com excesso de peso. Sua negação da doença às vezes guarda uma estreita relação com esta tendência de não ver sua magreza. Existe, também, uma relação direta entre a superestimação do tamanho corporal com a associação a doenças graves e pior prognóstico. A atividade física é, na maioria das anoréticas, superior ao normal tanto na freqüência quanto na intensidade; parece não haver dúvida de que a intenção destes exercícios é uma maior perda de peso através de um maior gasto calórico. Mas, há também estudos que mostram uma correlação fisiológica entre a redução da alimentação e o aumento da atividade física(14,15,16). Ou seja, a redução voluntária de alimentos poderia talvez, em alguns casos, induzir a uma maior atividade física que, por sua vez, levaria a uma diminuição da alimentação, estabelecendo assim, um círculo vicioso. Não há dúvida de que a amenorréia é um traço comum na AN e que, em parte, ela é devido à perda do peso corporal e da gordura. Mas, a presença de amenorréia não é completamente INSTITUTO DANONE 163 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA compreendida e pode ocorrer em até 10 a 20% das anoréticas antes de perda significativa de peso(17). Por outro lado, parte das mulheres não volta a menstruar por meses e até anos, mesmo após a recuperação de seu peso normal. O equivalente da amenorréia nos homens é a perda de interesse e potência sexuais. Além de uma desorganização do eixo hipotálamohipófise-gonadal, a anorética tem um transtorno endócrino generalizado, envolvendo os eixos hipotálamo-hipófise-tireóide, hipotálamo-hipófise-suprarrenal, eixo somatotrópico e metabolismo da glicose. O início da AN está quase sempre ligado a uma dieta hipocalórica precipitante para resolver um sobrepeso verdadeiro. Uma vez alcançado o peso inicialmente proposto, a anorética prossegue sua restrição dietética. Agora, já com o firme propósito de alcançar um emagrecimento acentuado. Seu começo é lento e insidioso. Como conseqüência da dieta há perda de massa muscular e tecido adiposo, com perda de peso de, pelo menos, 25% do peso inicial. Há casos em que a perda vai além dos 50% do peso inicial. A anorética se apresenta com o aspecto envelhecido e triste, a pele torna-se seca e, às vezes, com aumento da pigmentação e presença de lanugo. As alterações dos distintos aparelhos e sistemas, encontrados na anorética, são semelhantes àquelas descrições de outras formas de desnutrição. As manifestações cardiovasculares mais freqüentes são bradicardia, hipotensão, diminuição da função cardíaca, aumento da freqüência do pulso e arritmias. No aparelho gastrointestinal, a anorética apresenta um esvaziamento gástrico lentificado e uma diminuição da motilidade intestinal que podem se manifestar através de inchação, flatulência e dor abdominal. São também descritas manifestações renais, hematológicas, etc., que são reversíveis e se normalizam com a volta ao estado nutricional normal. Observa-se baixa do colesterol HDL e hipercolesterolemia com elevação do LDL em mais da metade das anoréticas. A anorexia nervosa pode ser subdividida em dois tipos: restritiva e bulímica. No primeiro, a anorética consegue a perda de peso através de dietas, jejuns e exercícios físicos, não se observando com regularidade episódios bulímicos e purgações. Já, no segundo tipo, a paciente se envolve regularmente com compulsões alimentares (episódios bulímicos) e/ou métodos purgativos para perda de peso: laxantes, enemas, diuréticos e vômitos. III. 2. CONCEITO DE BULIMIA NERVOSA O quadro clínico da BN é caracterizado pela ingestão compulsiva e rápida de grandes quantidades de alimento, em pouco espaço de tempo, com pouco ou nenhum prazer, alternada com um comportamento dirigido para evitar o ganho de peso e um medo mórbido de engordar. Os episódios bulímicos raramente ocorrem na presença de outras pessoas e são ingeridas de 3 a 5 mil calorias de maneira compulsiva em pouco tempo, chegando até a 20 mil calorias, em um único episódio bulímico. A freqüência dos episódios bulímicos varia de 1 a 10 por dia. 164 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Quando Russel(11) a descreveu, no final da década de 70, ele sugeria que a BN seria uma evolução estranha da AN, mas posteriormente, verificou-se que apenas 20 a 30% dos bulímicos apresentam quadro pregresso de AN(18). Mais comum do que a AN e menos facilmente identificada, a BN começa tipicamente com uma tentativa de controle do peso. As bulímicas têm uma história de sobrepeso ou um peso no seu limite superior(19). Apesar de seu prognóstico ser melhor, mais de 80% dos pacientes apresentam recaídas(20). As maiores complicações devem-se aos métodos usados para compensar a quantidade de comida ingerida. Além de períodos de jejum prolongado e exercícios físicos intensos, a bulímica pode fazer uso abusivo de laxantes, diuréticos, anorexígenos e hormônios tireoidianos, o que provoca anormalidade dos eletrólitos, seqüelas intestinais e sistêmicas, severas. O vômito auto-induzido é encontrado em até 95% das bulímicas, sendo que boa parte delas adquirem um controle voluntário do reflexo de vômito por meio de uma contração abdominal(21,22). Do ponto de vista do exame clínico, três sinais podem ser facilmente encontrados nas bulímicas: • hipertrofia bilateral das glândulas salivares; • lesão de pele no dorso da mão (causada pela introdução da mão na boca para induzir o vômito); e • desgaste dentário provocado pelo suco gástrico dos vômitos. Distúrbios menstruais e amenorréia são queixas freqüentes das bulímicas, apesar de apresentarem peso normal. Parecem estar relacionados a anormalidades neuroquímicas da pulsatilidade de LHRH, havendo uma incidência muito aumentada de alterações morfológicas ovarianas, tais como ovários policísticos e ovários multifoliculares(23). A bulimia nervosa pode ser subdividida em dois tipos: purgativa e não purgativa. No primeiro caso, a bulímica faz uso indevido, regularmente, de laxantes, diuréticos, enemas e vômitos, enquanto no segundo tipo, a paciente usa outros comportamentos compensatórios inadequados, tais como jejum, dietas e exercícios físicos excessivos, mas não usa regularmente os métodos purgativos. O tipo purgativo tem um início mais precoce(24) e isto parece estar ligado a uma maior severidade do quadro(25). Garfinkel et al.(24) observaram que a bulimia do tipo purgativo apresenta taxas maiores de comorbidade com distúrbios afetivos, ansiedade e alcoolismo. Observaram também que neste tipo há mais relato de abuso sexual e conflitos familiares. INSTITUTO DANONE 165 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA III. 3. CONCEITO DE TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO O quadro clínico do TCC é caracterizado por episódios bulímicos, ou seja, pela ingestão compulsiva e rápida de grandes quantidades de alimento com pouco ou nenhum prazer, em um curto espaço de tempo e com sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar durante o episódio. Porém, estes episódios não estão associados ao comportamento compensatório, tanto de natureza purgativa ou não-purgativa, como acontece na bulimia nervosa. Estes episódios vêm acompanhados de acentuada angústia e acontecem , em média, pelo menos dois dias por semana, por seis meses. Apesar de estes episódios não estarem relacionados com o tipo de alimentação, mas sim com a quantidade de alimentos, o tipo de alimento ingerido geralmente é altamente calórico (doces, sorvetes, chocolates, bolos, leite condensado, etc). Estes episódios, geralmente, são desencadeados por alterações do humor, frustrações, insatisfações com relação ao peso e após dieta restritiva, levando com freqüência a sentimento de repulsa por si mesmo, depressão e culpa. Estes episódios bulímicos geralmente acontecem quando os indivíduos encontram-se a sós, pois se sentem envergonhados deste comportamento. Há evidências sugerindo que os obesos com episódios bulímicos (TCC) perdem menos peso do que os obesos sem episódios bulímicos, quando submetidos a dietas para emagrecimento, provavelmente, porque os primeiros apresentam maiores dificuldades em lidar com suas emoções e esquema corporal. Segundo Fichter et al.(26), os indivíduos com TCC estariam em um nível intermediário de comprometimento entre a bulimia nervosa e a obesidade, no que se refere a alterações do comportamento alimentar e alterações da personalidade. III. 4. CONCEITO DE QUADRO SUBCLÍNICO Considera-se quadro subclínico aquele onde há um comportamento alimentar inadequado, mas cuja sintomatologia não preenche os critérios necessários para os diagnósticos de anorexia nervosa e bulimia nervosa e/ou cujos sintomas encontram-se classificados em um grau leve. Estes quadros podem retratar indivíduos com início de um transtorno alimentar, onde uma intervenção preventiva pode evitar a evolução para os transtornos alimentares típicos: anorexia nervosa e bulimia nervosa. IV. ETIOLOGIA A etiologia dos transtornos da alimentação é ainda desconhecida e trás consigo uma complexidade tamanha que faz com que as concepções etiológicas lineares caiam por terra. Podemos dizer que os transtornos da alimentação têm uma gênese sócio-psico-biológica. 166 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA IV. 1. ASPECTOS CULTURAIS Poucos autores questionam que o papel da nossa cultura valorizando o corpo delgado da mulher esteja ligado ao aumento da ocorrência destes distúrbios. Sabemos que existe um modelo, um ideal de beleza, estabelecido e compartilhado por todos em toda sociedade, em qualquer época. Quem assimila as características deste modelo tem razões para aumentar sua auto-estima, ao passo que aquele que não faz parte deste modelo sofre e pode ter uma baixa da auto-estima. Até o início do século XX, a mulher era desejada quando tinha o corpo roliço, devido à deposição de gordura nos quadris, coxas, barriga e mamas. Na época préindustrial os períodos de carência alimentar eram freqüentes e a mulher gorda tinha energia suficiente, em forma de gordura depositada em seu corpo, para enfrentar estes períodos negros e proteger sua família. Com a abundância de alimentos que se segue após esta época, a preocupação com a fome acabou na maioria dos países desenvolvidos do mundo ocidental, mudando assim o padrão de beleza da mulher. A mulher magra passou a ditar a moda da beleza. Segundo Abraham et al.(17), nos últimos trinta anos, as modelos da revista Playboy e as vencedoras do concurso Miss América, embora tivessem pequenas variações na preferência do tamanho dos seios e um leve aumento da estatura, tinham uma diminuição do peso corporal que, quando comparado com a média da mulher americana, era menor. Garner(27) mostra que em um período de vinte anos (1959-1978) houve um acréscimo de cerca de três quilos no peso da mulher, enquanto neste mesmo período houve uma diminuição, também de cerca de três quilos, nas mulheres que trabalham como manequins. Ou seja, enquanto existe um aumento de peso, natural das melhores condições nutritivas e sanitárias do mundo ocidental industrializado, existe no sentido oposto uma pressão à perda de peso, imposta pelos critérios sócioculturais. Se lembrarmos que as crianças e adolescentes passam mais tempo vendo televisão do que qualquer outra atividade, exceto dormir, não seria exagero afirmar que ela tem um papel primordial na formação da identidade dos jovens. A televisão tem uma contribuição significativa, uma vez que bombardeia comerciais com mulheres jovens e atrativas para vender todo tipo de produto, desde comida para cachorro até apartamento de luxo. Transmitem uma mensagem, principalmente para as adolescentes que estão em busca de uma identidade, de que a aquisição de um corpo bonito é a fórmula para o sucesso e a felicidade. Dietz(28) observa que a televisão reflete uma contradição cultural ao promover tantos comerciais de comida atrativa e gostosa com modelos sempre magras. O autor acredita que a bulimia poderia ser uma resposta adaptativa a este contraste, porque só a bulímica pode comer tanto e permanecer magra. Se os fatores ambientais têm um papel no desenvolvimento dos transtornos da alimentação, permanece ainda obscuro de que maneira e extensão eles atuam como influências patogênicas ou patoplásticas. Segundo Di Nicola(29) e Vandereycken et al.(30) eles devem ser considerados INSTITUTO DANONE 167 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA como fatores predisponentes, precipitantes ou perpetuantes, ou ainda, uma combinação dos três, uma interação entre vulnerabilidade, risco e stress. Apesar de não haver dúvida da importância dos fatores culturais, especialmente o culto à magreza, devemos lembrar que a AN foi descrita, pela primeira vez, em uma época em que o estereótipo da beleza feminina não era o corpo delgado de hoje. IV. 2. ASPECTOS PSICOLÓGICOS Na etiologia destes distúrbios são várias as hipóteses psicológicas que tentam compreender o fenômeno da inanição. De maior interesse são as considerações de Hilde Bruch que abordou fatos significativos da anorexia nervosa e que gerou uma série de investigações científicas por diversos grupos de trabalho. Para esta autora, os problemas que levariam à anorexia nervosa teriam início na primeira infância, quando a mãe não compreende as necessidades de privação e saciedade da criança, impedindo-a de ter uma correta discriminação de suas sensações internas. Bruch(31) destaca três transtornos centrais na anorexia nervosa: a alteração da imagem corporal; as distorções interoceptivas, que afetam desde a sensação de fome até as sensações afetivas; e o sentimento de ineficácia pessoal. Parece existir um consenso entre as teorias psicológicas de que os distúrbios de alimentação funcionam como uma espécie de contenção psicológica ao interromper o desenvolvimento físico destas adolescentes, remetendo-as ao estado pré-puberal(31,32,33,34). Dado que o abuso sexual infantil é predominantemente um problema das crianças do sexo feminino, existe um considerável interesse em pesquisar sua associação com os transtornos da alimentação, cuja prevalência é muito maior nas mulheres. Os resultados não são conclusivos, embora um estudo de Romans et al.(35) estabeleça uma clara ligação entre estas duas variáveis em uma grande amostra de mulheres neozelandesas, principalmente para a AN. Pope et al.(36) sugerem, em uma recente metaanálise, que as taxas para bulímicas não diferem das taxas para outras doenças psiquiátricas. Em um trabalho mais recente, Pope et al.(37) fazem uma comparação entre mulheres bulímicas brasileiras, norte-americanas e austríacas com relação ao abuso sexual infantil. Não só acham uma taxa semelhante de abuso sexual entre os três países, como também verificam que as mulheres bulímicas não apresentam taxas diferentes das outras mulheres. Concluem que o abuso sexual infantil não é um fator de risco para a bulimia nervosa. 168 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA IV. 3. ASPECTOS FAMILIARES Apesar de uma série de autores influentes(32,38,33) terem traçado um paralelo entre a presença de dificuldades nas famílias e a ocorrência da doença, parece não existir uma família típica ou específica dos transtornos alimentares. Minuchin et al.(39) falam de um modelo da família psicossomática, onde estaria incluída a família dos portadores de transtornos alimentares. Segundo eles, haveria inicialmente uma vulnerabilidade fisiológica da criança. Em segundo lugar, esta família teria quatro características importantes: relação muito estreitada e misturada, sem definição de limites entre os membros da família; superproteção generalizada aos filhos; rigidez com relação à não aceitação das mudanças dos filhos; e, finalmente, uma ausência de resolução dos conflitos familiares. Em terceiro lugar, a criança doente teria um papel importante na manutenção dos padrões familiares no sentido de evitar conflitos, fazendo com que este papel seja uma importante fonte de reforço para seus sintomas. De qualquer forma, esta dinâmica familiar tem mais um papel desencadeante ou de manutenção da doença do que propriamente causal. IV. 4. ASPECTOS GENÉTICOS Quanto aos fatores genéticos, vários estudos realizados sugerem que familiares do sexo feminino de anoréticas estão mais propensas a desenvolver a AN. As irmãs de anoréticas têm uma prevalência que varia entre 3,1% a 6,6%, valores significativamente superiores quando comparados com o 1% da população geral. Os estudos com gêmeos mostram uma concordância de 46% a 75% nos monozigóticos contra 0% a 11% nos dizigóticos (apud 40). Segundo uma revisão de Woodside,(41) a hereditariedade das desordens de alimentação, derivado de estudos de gêmeos, mostra uma taxa de 75% a 80% para AN e 45% a 55% para a BN. Parece que existem mecanismos heterogêneos de transmissão destes transtornos, com fatores ambientais predominando na BN e fatores genéticos mais atuantes na AN(42,43). IV. 5. ASPECTOS BIOLÓGICOS Segundo Halmi(44), as pacientes com distúrbios da alimentação, quando comparadas com pessoas sadias, mostram diferenças nos mecanismos integrativos de fome e saciedade, e também, no seu conjunto cognitivo, em relação à comida. Estas diferenças na percepção da fome e saciedade espelhariam mecanismos fisiológicos subjacentes que estariam envolvidos na regulação da fome. O controle do comportamento alimentar inclui uma complexa interação entre neurotransmissores de ação central e mecanismos periféricos. Leibowitz et al.(45) relatam que a noradrenalina, a serotonina, o neuropéptide Y e a galanina são os neurotransmissores hipotalâmicos envolvidos na coordenação da ingestão e metabolismo dos nutrientes. Evidências INSTITUTO DANONE 169 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA de recentes estudos farmacológicos, bioquímicos e endócrinos têm mostrado que a atividade destes sistemas neuroquímicos se modifica de acordo com o ciclo circadiano e, também, em relação aos níveis circulantes de hormônios específicos, tais como cortisol e aldosterona. De todos os neurotransmissores do SNC dos mamíferos, o sistema serotoninérgico é o mais velho filogeneticamente e talvez, por isso, a serotonina tenha um papel vital na regulação da ingestão alimentar e do peso corporal, tendo um efeito supressivo da alimentação(46,47,48,49,50,51). Microinjeções de agentes serotoninérgicos nos núcleos do hipotálamo (PVN, VMN, SCN, DMN) alteram não só o padrão de alimentação como também a escolha da mesma. Parece envolver o controle da ingestão de carboidratos e proteínas, ou talvez a razão destes dois macronutrientes, com a estimulação serotoninérgica reduzindo a ingestão de carboidratos na dieta. O sistema serotoninérgico hipotalâmico está dentro de um feedback negativo controlando o comportamento alimentar. A ingestão de carboidrato estimula a produção de serotonina que, por sua vez, atua terminando a ingestão deste nutriente, produzindo saciedade(52). Segundo López-Mato et al.(53), é indiscutível a existência de uma alteração hipotalâmica básica na essência de toda sintomatologia dos transtornos da alimentação. O que se discute, segundo estes autores, e que é material de extensa controvérsia na literatura, é se esta disfunção é primária ou secundária e, se secundária, se é devida ao déficit nutricional ou de origem emocional, ou à concomitância de ambas. V. PREVALÊNCIA De acordo com a maioria dos estudos, a taxa de prevalência para a anorexia nervosa fica entre 0,5% a 1,0% e para a bulimia nervosa, entre 1,0% e 1,5% em mulheres; já para os homens a taxa é muito menor. A anorexia nervosa é uma enfermidade predominantemente adolescente, coincidindo entre os estudos mais bem documentados com a faixa etária de 12 a 25 anos. Antes e depois destas idades a incidência do transtorno é irrelevante do ponto de vista estatístico. Foi observado também, que dentro desta faixa os momentos de maior risco ficam entre os 14 e 18 anos. Já a bulimia nervosa tem o seu começo mais tarde, em torno de 16 a 19 anos, embora não seja incomum que isto ocorra na terceira ou quarta década da vida. O transtorno do comer compulsivo apresenta uma taxa de prevalência de 15 a 50% em amostras extraídas de programas para o controle do peso, enquanto em amostras comunitárias esta taxa cai para 0,7 a 4%. As mulheres apresentam uma tendência 1,5 vez maior para o TCC do que os homens, segundo o DSM IV(12), e seu início se situa no final da adolescência ou início da casa dos vinte anos. Com relação aos quadros subclínicos torna-se difícil estipular uma prevalência, pois parece haver um continuum entre a população juvenil sadia e a patológica, situando-se na zona de 170 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA transição este grupo. Segundo Bruch(32), existe um grupo de pessoas psicologicamente semelhante às anoréticas, mas que não têm a perda de peso das mesmas. Este grupo é considerado como caso subclínico e poderia refletir os 7% de casos falsos positivos da escala Teste de Atitudes Alimentares. Com relação ao aumento da taxa de incidência da AN há uma grande controvérsia entre os diversos pesquisadores, enquanto alguns apontam para o aumento desta taxa(1,2,3,4,5,6,7), outros concluem que a taxa mantém-se estável(54,55,56). O mesmo acontece com relação à BN, alguns estudos apontam para um aumento desta taxa(55), enquanto outros encontram taxas estáveis (57,58) . Enquanto alguns pesquisadores acreditam que o aumento significativo dos casos diagnosticados deve-se de fato a um aumento da incidência destes transtornos, outros alegam que o número de casos aumentou em função de uma melhora na prestação de serviços médicos pós-guerra, de diagnósticos mais apurados pela aquisição de melhores instrumentos de trabalho e ainda, devido ao aumento da população infanto-juvenil no mundo. Parece que a variabilidade dos resultados dos diversos estudos epidemiológicos nesta área deve-se a diversos fatores, entre os quais a população escolhida, os instrumentos utilizados na pesquisa e os critérios para diagnóstico. Os aspectos sócio-econômicos são relevantes, na medida que os distúrbios da alimentação não se distribuem homogeneamente entre as distintas camadas sociais. Segundo a maioria dos autores é na classe econômica mais privilegiada que se encontra o maior número destes distúrbios; apenas um estudo encontrou taxas maiores nas classes de menor poder aquisitivo(59). Da mesma forma, pode-se observar uma maior taxa de prevalência nos países mais desenvolvidos. Hoeck(60) encontrou uma taxa de prevalência de BN três vezes maior na área urbana do que na rural, enquanto que para a AN esta taxa não sofreu modificações. VI. CONCLUSÃO Sabendo-se que estes transtornos acontecem com muito mais freqüência em jovens adolescentes e com um alto índice de mortalidade (em torno de 10%) e também que o diagnóstico e o tratamento precoce podem melhorar seu prognóstico(61,62), faz-se necessário um estudo mais apurado sobre seus dados epidemiológicos e possíveis fatores que predispõem esta população a eles. Estes estudos poderiam não só fornecer dados quanto à sua prevalência, mas também detectar casos mais recentes e subclínicos que, se devidamente tratados, evitariam a manifestação dos quadros clínicos graves de AN e BN. A ausência de informações a respeito da saúde e do comportamento alimentar de nossas crianças e adolescentes, tanto no Brasil como na América Latina, a preocupação excessiva dos adolescentes com sua imagem corporal e o desconhecimento dos métodos usados para seu controle de peso, justificam o desenvolvimento de estudos que possam investigar os hábitos alimentares desta população e INSTITUTO DANONE 171 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA relacioná-los como possíveis fatores de risco para o desenvolvimento futuro dos transtornos da alimentação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. THEANDER, S. - Anorexia Nervosa: a psychiatric investigation of 94 female case. Acta Psychiatr Scand, v. 214, p. 1-9, 1970. 2. KENDELL, R.E. The epidemiology of Anorexia Nervosa. Psychological Medicine, v.3, p.200-203, 1973. 3. CRISP, A.H.; PALMER, R.L.; KALUCY, R.S. How common is anorexia nervosa? A prevalence study. British Journal Psychiatry, v. 128, p. 549-554, 1976. 4. 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Nas sociedades ocidentais, a obesidade é vista como agressiva para a saúde e desprestigiante, aumentando assim a obsessão pelo emagrecimento. Os indivíduos obesos são fortemente “agredidos” correndo riscos de segregação social visíveis, por exemplo nos mass media com programas a favor da magreza e contra o excesso de peso. No entanto, a prevalência da obesidade nos países industrializados, bem como em Portugal, continua a aumentar, generalizando-se a todas as faixas etárias e grupos sociais (Galvão Teles, 1993; Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, 1996; World Health Organization, 1998). Na população adulta americana, os “National Health and Nutrition Examination Surveys” (NHANES), indicam-nos que entre 1976 - 80 e 1988 - 91, a prevalência do excesso de peso aumentou de 25,4% para 33%, e na década de 90 esta percentagem atinge os 55%. Este aumento compreende não só países desenvolvidos como também países em transição como o Brasil (World Health Organization, 1998 ID: 40). Na década de 90, 1 em cada 5 adolescentes americanos tinha peso excessivo, e dados de 1988 - 91 mostram um aumento em cerca de 40% da prevalência do excesso de peso neste grupo etário (US Department of Health and Human Services, 1996). * Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. INSTITUTO DANONE 177 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Este aumento da prevalência da obesidade não está apenas confinado à população americana, também na Europa, reflexo das alterações sociais, econômicas e culturais, a prevalência da obesidade aumentou. Resultados do estudo MONICA (Monitoring of Trends and Determinantes in Cardiovascular Diseases - 1983/86), mostraram um aumento da prevalência da obesidade entre 10% e 40%, na maioria dos países da Europa, sendo o maior aumento verificado na Inglaterra, onde esta prevalência duplicou (Word Health Organization, 1998). Em Portugal, a investigação sobre a prevalência da obesidade é escassa, porém apontase uma prevalência em jovens e adolescentes de cerca de 19% aumentando na idade adulta para 56,3% (Torres, I.; Correia, F. et al., 1990 ID: 51; Lima Reis, J.P., 1998 ID: 50). Resultados de estudos realizados em populações escolares, desde 1976 até aos anos 90 (Peres & Moreira, 1993; Moreira et al., 1993), mostram-nos uma distribuição percentual dos índices de massa corporal pelos vários canais de percentis, de acordo com os critérios da OMS e de Frisancho (Quadro 1). Pela análise deste quadro verificamos, ao longo dos anos, um aumento dos indivíduos com percentis de IMC superiores a 75. QUADRO 1: AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE POPULAÇÕES ESCOLARES EM PORTUGAL Peres & Moreira 1976/80 (12 – 19 anos) % Peres & Moreira 1985, 87, 89 Moreira et al., 1990/91 (12 – 19 anos) (10 – 16 anos) % % <5 5,6 3,9 4,6 5 – 10 9,2 5,6 6,9 11 – 25 16,4 11,9 16,3 26 – 50 32,3 30,6 25,3 51 – 75 31,6 34,2 27,1 76 – 90 4,3 11,0 14,5 91 – 95 0,6 1,9 3,4 0 0,9 1,9 > 95 Em Portugal, num estudo realizado na área do Porto, ao fazermos a distinção entre zonas rurais e urbanas também em populações escolares, verificamos existirem diferenças na prevalência do peso excessivo, sendo esta mais elevada na população urbana (Silva et al., 1995). Atendendo ao gênero, podemos verificar que é o masculino quem apresenta uma maior percentagem de peso em excesso em Lisboa (Amorim Cruz et al., 2000), contrariamente ao observado no Porto (Silva et al., 1995) (Quadro 2). 178 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 2: PREVALÊNCIA DE PESO EXCESSIVO (PERCENTIL DE IMC > 85) EM POPULAÇÕES ESCOLARES EM PORTUGAL Silva et al., 1995 (10 – 14 anos) Rural (%) Silva et al., 1995 (10 – 14 anos) Urbano (%) 14,6 16,5 16,5 23,2 Homens Mulheres Amorim Cruz et al., 2000 (13 – 18 anos) Urbano (%) 18,4 15,8 De etiologia multifatorial, concorrem para a obesidade diversos fatores de risco, como: a hereditariedade; hormonais; e também, ambientais e sociais, entre os quais o stress, os hábitos alimentares e o sedentarismo. Apresentam-se resultados de 2 estudos europeus, realizados em 1995 e 1997, com informações sobre as atitudes, conhecimentos e comportamentos dos europeus acerca da obesidade e fatores que a condicionam: hábitos alimentares e atividade física. A estes estudos presidiram como objetivos gerais, conhecer o que se entende por alimentação saudável e os fatores que influenciam as escolhas de alimentos, avaliar as barreiras e os benefícios atribuídos à alimentação saudável, bem como avaliar a predisposição à mudança. Por outro lado, pretende-se conhecer a distribuição da prática de atividade/exercício físico (AF) nos tempos livres e identificar os fatores condicionantes deste envolvimento. Estes estudos foram coordenados pelo Institute of European Food Studies – Irlanda, com a colaboração de 14 instituições de ensino e investigação nas quais se inclui a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, Portugal. MATERIAL E MÉTODOS Estes estudos envolveram 2.019 Portugueses dos quais 393 tinham entre 15 e 24 anos (20%). As amostras destes trabalhos foram seleccionadas por quotas, definidas em Portugal a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística, e posteriormente ponderadas, de forma a representar as realidades sociais e demográficas do nosso país. Mediante os objetivos propostos, procedeu-se à elaboração de dois questionários estruturados de administração indireta com perguntas de resposta simples ou múltipla e, posteriormente, procedeu-se à realização dos respectivos estudos piloto em 20 indivíduos para cada estudo. No questionário final incluíram-se para além de questões relativas às atitudes, conhecimentos e comportamentos face à saúde, alimentação, AF e peso corporal, informações sobre as características sócio-demográficas da população estudada. Neste estudo, o peso e a estatura, utilizados para construir categorias de Índice de Massa Corporal (IMC), foram auto-avaliados (Kearney et al., 1997; Kearney et al., 1999). INSTITUTO DANONE 179 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA As entrevistas, bem como a digitação dos dados no programa informático, foram feitas em conjunto com a Eurotest com a coordenação européia da Taylor Nelson AGB, segundo as normas da ICC/Esomar (ICC/Esomar, 1995). RESULTADOS Na análise que se segue apresentam-se os dados relativos à população mais jovem portuguesa, aqui considerada como aquela cujas idades estavam compreendidas entre 15 e 24 anos (n=393). ATITUDES FACE À SAÚDE Para os portugueses, a alimentação foi o fator mais referido como tendo influência na saúde (57,8%), seguido dos hábitos tabágicos (29,9%) e do consumo de bebidas alcoólicas (21,5%). A AF foi o 4o fator referido por 20,5% e o peso corporal o 7o fator, escolhido apenas por 12,3% dos inquiridos. Estes fatores têm um peso diferente à medida que a idade aumenta, assim, a relevância da alimentação e sua relação com a saúde é ainda mais reconhecida, enquanto a atividade física vai decrescendo de importância e só 7,4% dos inquiridos, com mais de 55 anos, lhe atribuem relação com a saúde. No cenário europeu, o panorama é diferente, sendo os hábitos tabágicos os mais assinalados (42,3%), seguindo-se a alimentação (35,2%) e o stress (32,6%). A relação entre a saúde e AF foi assinalada por 22,3% dos entrevistados. ATITUDES E COMPORTAMENTOS FACE À ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Para a população estudada, a qualidade e a frescura dos alimentos foi o fator mais referido como tendo influência na escolha alimentar. Alimentar-se de forma saudável foi apontado por 13,2%, e 12,3% referem serem outros quem determina a sua escolha alimentar (Quadro 3). À semelhança do que acontece em Portugal, em nível europeu foi a qualidade e a frescura dos alimentos o fator mais reconhecido como influenciador da escolha alimentar, seguido do gosto dos alimentos (16,1%) e do preço (10,1%), fator este que pouca valorização parece ter em Portugal. Observa-se que para os mais jovens portugueses o conceito de alimentação saudável era sinônimo de menos açúcares e doces (29,7%) e, curiosamente, da não ingestão de “fastfood” (27,3%). À medida que a idade avança estas tendências não são constantes. Para os portugueses com idades compreendidas entre os 25 e 34 anos o consumo de mais peixe era bastante referido e, para os mais idosos, a comida com pouco sal, a par de uma ingestão diminuta de bebidas alcoólicas, são componentes essenciais da relação entre alimentação e saúde (Quadro 4). 180 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 3: FATORES QUE INFLUENCIAM A ESCOLHA ALIMENTAR Fator % Qualidade/frescura Alimentação saudável Outros decidem o que eu como Gosto Preferências familiares Hábito Conveniência Preço 41,0 13,2 12,3 11,8 8,5 4,2 3,8 1,9 Nota: n = 192 QUADRO 4: O QUE OS PORTUGUESES ENTENDEM POR ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Tipo de Alimentação 15 – 24 anos 25 – 34 anos 35 – 54 anos % % % “Menos açúcar e doces” “Não ingerir fast-food” “Menos gordura” “Mais vegetais” “Mais peixes” “Menos bebidas alcoólicas” “Comida com pouco sal” 29,7 27,3 26,9 21,1 18,8 18,5 8,3 25,0 13,6 14,8 17,0 22,8 11,1 8,3 20,3 50,0 21,1 28,6 18,5 18,5 33,3 + 55 anos % 25,0 9,1 18,0 33,3 32,6 51,9 50,0 Sendo a alimentação o principal fator mencionado pelos portugueses como tendo influência na sua saúde, verificou-se que mais da metade (55%) referiu não pensar nos aspectos nutricionais dos alimentos que consumia, e 70,3% indicou já fazer uma alimentação saudável. Assim, em Portugal, e seguindo a tendência européia à medida, são os mais novos quem menos importância atribui à questão nutricional dos alimentos que se consome. Os jovens portugueses encaram a alimentação como fator decisivo na prevenção da doença (45,3%) e também um determinante da saúde (27,5%). Esta relevância é, também, assinalada em nível europeu, bem como o fato de proporcionar uma boa forma física (13,6%) (Quadro 5). QUADRO 5: BENEFÍCIOS DA PRÁTICA DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Tipo de benefício % Prevenir a doença Permanecer saudável Estar em forma Qualidade de vida Controlar o peso 45,3 27,5 5,7 5,2 3,3 Nota: n = 192 INSTITUTO DANONE 181 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Os resultados apresentados no Quadro 6 sugerem como principal barreira à alimentação saudável a ingestão de uma comida que não se gosta (24,8%). O fator limitante “comer fora de casa” foi assinalado por 23,8% desta população e, também, o “preconceito” de que a alimentação saudável requer uma preparação mais complexa é sugerido por 22,2% dos entrevistados. A falta de tempo (24,9%) a par de uma alimentação pouco sápida (23,5%) foram os principais factores apontados como barreira à alimentação saudável, evidenciados na União Européia. QUADRO 6: BARREIRAS À ADOÇÃO DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Tipo de barreira % Não comer a gosto Comer fora 24,8 23,8 Preparação dos alimentos Custo 22,2 20,8 Comida sem sabor Sem vontade de mudar 20,0 18,8 Falta de tempo 18,7 Nota: n = 192 ATITUDES E COMPORTAMENTOS PERANTE A ATIVIDADE FÍSICA No nosso grupo de jovens, 38% não se encontrava envolvido na prática regular de AF, sendo as inquiridas do sexo feminino as que menos participavam. 67% dos jovens do sexo masculino e 33% das jovens do sexo feminino, praticavam regularmente mais de 3,5/h semana de AF (Quadros 7 e 8). Estes valores contrastam fortemente com o total da população avaliada, pois 60 % dos portugueses inquiridos indica não participar em qualquer tipo de atividade, sendo na população mais velha, com mais de 55 anos, onde se verifica o maior índice de sedentarismo. Em comparação com os restantes países da União Européia, é em Portugal onde a taxa de inatividade é destacadamente a mais elevada, em todas as faixas etárias. QUADRO 7: HORAS SEMANAIS DE PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA No de horas % 0 3,7 < 1,5 1,5 – 3,5 1,0 10,8 > 3,5 50,5 Nota: n = 201 182 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Dentro das principais atividades praticadas pelos jovens portugueses, destacam-se o futebol e o andar continuamente durante mais do que 30 minutos (Quadro 8). À medida que a idade avança, o andar a pé e a jardinagem, ganham mais adeptos, sendo destacadamente a atividade mais praticada por aqueles com mais de 55 anos (81,5%), porém, em todas as outras atividades verifica-se uma menor participação (Quadro 8). QUADRO 8: PRINCIPAIS ATIVIDADES PRATICADAS PELOS JOVENS PORTUGUESES Tipo de atividade % Futebol Andar continuamente pelo menos 30 minutos 27,9 18,0 Desportos de equipe (exceto futebol) Natação 10,8 10,3 Ginástica aeróbica Cicloturismo 8,3 7,4 Atletismo Dança 6,3 5,9 Artes marciais Pesca 5,9 4,4 Jardinagem 4,4 Nota: n = 201 São os extremos da nossa amostra, mais jovens (15 - 24 anos, 51.2%) e os mais velhos (+ 55 anos, 66,5%), quem refere não necessitar praticar mais AF. Se de fato são os mais jovens que se encontram mais envolvidos na prática de AF, é preocupante notar que apesar da baixa participação por parte dos mais velhos, estes não têm a percepção da necessidade em reverter esta tendência. Segundo os inquiridos, fatores como a manutenção da saúde (36,1%), a capacidade de relaxar, de sair de casa e de conviver são os principais benefícios resultantes da prática de AF apontados pelos jovens portugueses (Quadro 9). Pelo contrário, os fatores considerados mais limitativos ao envolvimento na prática de AF, parecem ter que ver com compromissos de trabalho e ou estudo (29,9%), a inexistência de condições para esta prática (19.6%) e, também, o fato de não terem companhia (11,2%) (Quadro 10). Nos outros países da União Européia, o fator de não se considerar desportista e de considerarem a AF uma prática dispendiosa foram também barreiras relevantes apontadas por 19,2% e 15,7%, respectivamente, da população mais jovem. INSTITUTO DANONE 183 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 9: BENEFÍCIOS DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA Atividade física % Manter a saúde Relaxar 36,1 23,0 Divertir-se Conviver 21,5 17,6 Estar em forma Sair de casa 16,1 15,2 Controlar o peso 7,5 Nota: n = 201 QUADRO 10: BARREIRAS À ADOÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA Atividade física % Estudar/trabalhar Sem infraestruturas Sem companhia Não ser desportista Caro Preferência por outras atividades Cuidar de outros Sem energia Sem saúde 29,9 19,6 11,2 10,3 6,5 2,9 2,9 2,0 1,0 Nota: n = 201 ATITUDES E COMPORTAMENTOS PERANTE O PESO CORPORAL Verificamos que os principais fatores identificados como influenciadores do aumento do peso corporal, pelos portugueses com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, se relacionavam com a alimentação em geral (36,3%) ou seus aspectos específicos como o consumo de gorduras (44,9%) e o consumo de açúcar (25,5%). De salientar que a prática de AF é o 4o fator mais referido (17,1%), seguido da ingestão de bebidas alcoólicas (13,7%). Ao olharmos para a totalidade da população portuguesa, a AF é identificada apenas por 10,8% da amostra como tendo influência no aumento do peso. Em Portugal, a distribuição pelas classes de Índice de Massa Corporal (IMC), segundo a classificação de Garrow, (1988), na população mais jovem (15 – 24 anos), indica-nos que embora 62% seja normoponderal, cerca de 20% tem excesso de peso (18% com sobrecarga ponderal e 2% com obesidade) e 18% encontra-se abaixo da normalidade. Na União Européia (UE), a percentagem de jovens com peso em excesso (15% no total, sendo 13% sobrecarga ponderal e 2% obesidade) é inferior à média portuguesa, passando-se o contrário no que diz respeito à magreza (27%). 184 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA QUADRO 11: CATEGORIAS DE IMC POR GÊNERO Faixa etária em Homens Mulheres anos % % < 20 20 – 24,99 25 – 29,99 >30 9,2 63,3 24,5 3,1 26,2 61,2 12,6 0 Atendendo à satisfação com a imagem corporal, 52,9% dos jovens sentem-se bem com a sua imagem corporal, no entanto, 32,4% sentem-se gordos e 14,7% sentem-se magros. Dentro dos inquiridos com um IMC abaixo de 20, salienta-se que, 5,4% se sentem gordos e 51,4% se sentem normais. De realçar também que 33,3% dos jovens portugueses normais se sentem gordos. 13% encontrava-se a tentar perder peso, no entanto, uma percentagem superior é encontrada na Europa (23%), referindo como o principal método a utilização de atividade/exercício físico de forma isolada em Portugal (45%) e na União Européia (37%), seguido de dieta em ambas as populações. Os resultados deste estudo efetuado na generalidade da amostra, ilustram um aumento da adesão ao método para perda de peso dieta, paralelo ao aumento da idade. CONCLUSÕES Os hábitos alimentares da população mais jovem, a par da prática de atividade física, muito contribuem para o perfil de saúde e prevenção de patologias diversas, entre as quais destacamos a obesidade. Estes resultados, permitem identificar prioridades de atuação na promoção de uma vida mais saudável, servindo como ponto de partida à implementação de uma política de saúde pública adaptada à camada mais jovem da população portuguesa. Para que as mudanças sejam efetivas, as estratégias devem ser dirigidas aos alvos a que se destinam, daí a importância do diagnóstico de situação em termos das atitudes e comportamentos, face a estilos de vida promotores de saúde, pois, a adoção de comportamentos reflete muitas vezes as percepções de quem as adota. No panorama europeu, Portugal Continental encontra-se numa posição desfavorável, no sentido do conhecimento da importância de estilos de vida ativa na saúde e também no ganho de peso. A nossa população revela uma atitude mais passiva face à alimentação e atividade física, reflexo da provável ausência de conhecimentos. No futuro, poderão se traduzir na adoção de uma alimentação desequilibrada e em níveis altos de sedentarismo, os quais condicionarão uma prevalência elevada de peso superior ao normal. Estes são fatores de INSTITUTO DANONE 185 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA risco conhecidos para as principais causas de morbidade e mortalidade em Portugal (de Almeida et al., 1999). Porém, é já visível a diferença na percepção destes fenômenos por parte das camadas mais jovens da população portuguesa. A alimentação saudável é percebida como condicionante da saúde pelos mais novos (numa percentagem ligeiramente inferior ao que se verifica nas restantes faixas etárias), mas são estes que menos importância atribuíram aos aspectos nutricionais dos alimentos que consomem. Da análise destes resultados podemos concluir que se torna necessário desmistificar a relação entre conceitos de saúde, alimentação, obrigatoriedade de “sacrífício” e complexidade, pois são fatores limitativos apontados por estes inquiridos à adoção de uma alimentação saudável. Hoje em dia, sabemos que uma alimentação saudável não tem que ser necessariamente pouco sápida, no entanto, as populações não estão alertas para este fato. Felizmente somos confrontados com uma população jovem que atribui cada vez mais importância à atividade física, em comparação com os seus progenitores. Existe então a necessidade de manter e promover atividades consideradas atrativas para esta faixa etária, associando a noção de atividade com divertimento e socialização (Borra ST, Schwartz NE, et al., 1995 ID: 143). O grupo de amigos é outro dos fatores com grande importância na formação e manutenção de comportamentos que deve ser valorizado, evitando atividades isoladas, pois a falta de companhia foi também uma barreira relevante assinalada pelos mais novos. É necessário mostrar as mais valias da AF ao sucesso escolar e profissional, salientando a sua importância no controle do stress e conflitos emocionais, situações com que infelizmente cada vez mais cedo, os nossos jovens se depararam. Só assim se poderão criar e manter hábitos saudáveis a serem seguidos por toda a vida, prevenindo desde já não só o surgimento da obesidade como o risco das principais patologias causadoras de morbidade e mortalidade na nossa sociedade (Kassirer, J.P. & Angell, M., 1998 ID: 145; Kolbe, L.J., 1993 ID: 144). O investimento em cuidados de saúde primários deverá ser feito em termos de educação para a saúde nas escolas, a todos os níveis do ensino, privilegiando a promoção de estilos de vida saudáveis, onde se enquadram a atividade física e a alimentação saudável (Kolbe, L.J., 1993 ID: 144). Quanto mais cedo se intervir melhor, pois “a lei da primazia indica que os hábitos aprendidos mais cedo são os mais susceptíveis de persistir e conseqüentemente os mais resistentes à mudança” (Rodrigues, S.S.P., 1997 ID: 164 5). Se no ensino básico e secundário existem disciplinas de Educação Física, no ensino superior não estão criadas as condições para que os alunos tenham acesso facilitado à prática de atividade/exercício físico. No entanto, mesmo nos níveis de ensino em que é obrigatória a 186 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA freqüência da disciplina de Educação Física, muitas vezes as escolas não estão apetrechadas para a sua prática, nem o tipo de ensino motiva esse envolvimento. O presente estudo alerta-nos para a necessidade de evitar o aumento da prevalência do excesso de peso à medida que a idade avança, um dos principais problemas em saúde pública, cujas conseqüências são inúmeras e, infelizmente, cada vez mais evidentes. Para este problema, a prevenção será também o método mais sensato, eficaz e de menor custo (Kassirer, J.P. & Angell, M., 1998 ID: 145; Lissner, L., 1999 ID: 150}). Se, por um lado, cresce a oferta alimentar de produtos energeticamente densos e de riqueza nutricional baixa, produtos estes de grande aceitabilidade pelos mais jovens, no que se pode considerar a outra face da mesma moeda verifica-se a difusão de uma imagem associada à magreza (em especial nas jovens), geradora de estados de ansiedade para quem não se enquadra neste grupo (Carmo, 1998). Estas situações podem estar na origem de comportamentos alimentares como a omissão de refeições ou a adoção de regimes alimentares carenciados ou desequilibrados. Convém não esquecer que apesar da irreverência típica dos mais novos, a família representa a principal influência nos seus comportamentos, pela transmissão de conhecimentos, atitudes, padrões e preferências que condicionam o seu enquadramento em termos de padrões alimentares (Moreira, 1994) e adoção dos restantes estilos de vida. Assim, torna-se necessário responsabilizar a família no sentido do estabelecimento de hábitos saudáveis que serão mais facilmente entendidos e adotados por parte das gerações mais novas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM CRUZ, J.A. Dietary habits and nutritional status in adolescents over Europe – Southern Europe. European Journal of Clinical Nutrition 2000 ;54: S29-S35. BORA, S.T.; SCHWARTZ, N.E.; SPAIN, C.G.; NATCHIPOLSKY, M.M. Food, Physical Activity and Fun: Inspiring America’s Kids to More Healthful Lifestyles. Journal of American Dietetic Association 1995; 95 :816-818. BRAY, G. Obesity: Historical Development of Scientific and Cultural. 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Revista de Alimentação Humana 1995; 1: 5 – 17. 188 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE. Relatório de Consenso Obesidade e sua Terapêutica. Comportamento Alimentar e Nutrição 1996; 3: 10-14. TORRES, I.; CORREIA, F.; CRUZ, C.; MAIA, J.; LIMA REIS, J.P. Prevalência da Obesidade. Arquivos de Medicina 1990; 3: 377. US DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Guidelines for School and Community Programs to Lifelong Physical Activity Among Young People. Morbidity and Mortality Weekly Report 1997; 46 (RR-6): WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity Preventing and Managing the Global Epidemic. Geneva: 1998. INSTITUTO DANONE 189 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 190 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA EXPERIÊNCIAS EM PESQUISAS ÍNDICE Resumo Pág. 1. Prevalência de anemia em estudantes adolescentes de diferentes classes sociais. ALMEIDA, A.P.C; VENTURINI, G.C.; GAZZINELLI, J.O.; CAPRA, M.A.; LAMOUNIER, J.A. .................................................................................... 195 2. Freqüência de anemia em adolescentes de Novo Cruzeiro, MG. REZENDE, E,G.; TRÓPIA, M.A.S.; ABRANTES, M.M.; BONOMO, E.; LAMOUNIER, J.A.; GALVÃO, M.A.M.; LEITE, R.C. .............................. 197 3. Prevalência de anemia em atletas adolescentes. VON DER HEYDE, M.E.D.; CUVELLO, L.; VON DER HEYDE, R.; RADOMINSKI, R.; LOPEZ, F. ... 199 4. Caracterização dos níveis de hemoglobina de um grupo de gestantes adolescentes atendidas no HC/UFG. MENEZES, I.H.C.F.; ARAÚJO, R.S.C.; REIS, A.M.F.; MARTINS, K.A. ................................................ 201 5. Adolescentes e microcitose. NASCIMENTO, M.L.P.; SILVA, L.L. ............. 203 6. Prevalência de anemia ferropriva entre crianças e adolescentes de uma cidade mineira. NORTON, R.C.; FIGUEIREDO, R.C.P.; DIAMANTE, R.; LEÃO, E.; FIGUEIREDO FILHO, P.P.; STARLING, A.L.P.; LAMOUNIER, J.A.; GOULART, E.A. ......................................................................................... 205 7. A deficiência de ferro na mulher adolescente. SZARFARC, S.C. ..................... 207 8. Estado nutricional e ocorrência de anemia ferropriva em pré-escolares de uma unidade filantrópica de Manaus, AM. YUYAMA, L.K.O.; NAGAHAMA, D.; RODRIGUES, M.L.C.F.; ALENCAR, F.H.; MARQUES, E.O.; CORDEIRO, G.W.O. ...................................................................................... 209 9. Prevalência de sobrepeso em adolescentes no ambulatório de adolescência do Hospital das Clínicas da UFMG. LAMOUNIER, J.A.; ALVES, F.M.T.; BARBOSA, F.A.M.; CARNEIRO, F.S.; DA MATA, L.A.C.; GUEDES, J.O.B.; GUIMARÃES, F.F.; GUIMARÃES, G.K.; OSÓRIO FILHO, J.; PEREIRA, F.A.N.; PORTO, G.R. ................................................................. 211 10. Avaliação da intervenção inicial em pacientes obesos: repercussões antropométricas, metabólicas e nutricionais. ARRAIS, R.F.; LIMA, S.C.V.C.; FRANÇA, E.M.G. .......................................................................................... 213 INSTITUTO DANONE 191 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Resumo Pág. 11. Antropometria e alimentação de adolescentes, no município de Goiânia. CHAUL, D.N.; CUNHA, I.C.; MATTOS, L.C.; MELO, N.C.S; PEREIRA, C.V.; HADLER, M.C.C.M. ............................................................................................. 215 12. Prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de uma escola de classe média/alta de Recife. BALABAN, G.; SILVA, G.A.P. ..................................... 217 13. Fatores de risco na obesidade da adolescência. FISBERG, M.; RODRIGUES, L. .................................................................................... 219 14. Obesidade em adolescentes entre 10 e 15 anos de idade atendidos no Ambulatório de Doenças Nutricionais do Hospital das Clínicas da UFMG. DIAMANTE, R.; FIGUEIREDO FILHO, P.P.; FIGUEIREDO, R.C.P.; KANUFRE, V.; LEÃO, E.; NORTON, R.C.; RESENDE, H.M.; STARLING, A.L.P.; TASSARA, V.; TRESINARI, N.M.; LAMOUNIER, J.A. ................. 221 15. Marcadores antropométricos para fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes com sobrepeso. OLIVEIRA, C.L.; VEIGA, G.V.; SICHIERI, R. ...................................................................................... 223 16. Relação entre o índice de massa corporal (kg/m2) e percentual de gordura corporal na avaliação de obesidade em adolescentes. VEIGA, G.V.; DIAS, P.C.; ANJOS, L.A. ........................................................................................ 225 17. Perfil nutricional de adolescentes da cidade de Curitiba, PR. VON DER HEYDE, M.E.D.; AMORIM, S.T.S.P.; LANG, R.M.F.; VON DER HEYDE, R. ................. 227 18. Caracterização do IMC pré-gestacional de gestantes adolescentes. MENEZES, I.H.C.F.; ARAÚJO, R.S.C.; REIS, A.M.F.; MARTINS, K.A. ....................... 229 19. Perfil nutricional dos alunos da rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro, RJ - 1999. CASTRO, I.R.R.; ENGSTROM, E.M.; ANJOS, L.A.; AZEVEDO, A.M.; SILVA, C.S. .................................................................... 231 20. Avaliação da composição corporal e do gasto energético basal em crianças pré-púberes, com obesidade grave, na vigência de programa de modificação do comportamento alimentar. CINTRA, I.P.; VITOLO, M.R.; FISBERG, M. 233 21. Ocorrência de obesidade em adolescentes da rede de ensino do município de Florianópolis. SALLES, R.K.; KAZAPI, I.A.M.; DI PIETRO, P.F. ................ 235 22. Prevalência da Obesidade em escolares adolescentes na cidade de Belo Horizonte – Resultados parciais do II Estudo Epidemiológico. RIBEIRO, R.Q.C.; OLIVEIRA, R.G.; COLOSIMO, E.A.; BOGUTCHI, T.F.; LAMOUNIER, J.A. ......................................................................................... 237 192 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Resumo Pág. 23. Avaliação do estado nutricional em crianças e adolescentes com deficiência visual grave. CUNHA, S.F.C.; RODRIGUES, L.S.; SAWAN, Z.T.E.; MONTEIRO, J.P.; CUNHA, D.F. ................................................................ 239 24. Avaliação nutricional de crianças com pneumopatias crônicas ou de repetição – dados preliminares. CUNHA, S.F.C.; FERREIRA, D.M.; CARDOSO, C.O.; FREITAS E.M.; MENEZES, R.A.; WEFFORT, V.R.S. ................................ 241 25. Avaliação da ingestão alimentar de adolescentes gestantes. CUNHA, S.F.C.; SANTOS, A.K.; RIBEIRO, J.U.; CUNHA, D.F. ......................................... 243 26. Prevalência e fatores de risco de obesidade em estudantes do ensino médio e fundamental - estudo de Belo Horizonte. OLIVEIRA, A.D.B.; OLIVEIRA, R.G.; RIBEIRO, R.Q.; LAMOUNIER, J.A. .................................................. 245 27. Avaliação antropométrica de adolescentes. Qual o melhor método? PRIORE, S.E.; FRANCESCHINI, S.C.C. ................................................................... 247 28. Programa de atenção à saúde do adolescente – Proasa Viçosa - MG. PRIORE, S.E.; RIBEIRO, S. ......................................................................................... 249 29. Identificação na adolescência de variáveis de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, e construção de modelo matemático para predição dessas variáveis – Resultados parciais. RIBEIRO, R.Q.C.; OLIVEIRA, R.G.; COLOSIMO, E.A.; BOGUTCHI, T.F.; LAMOUNIER, J.A. ........................ 251 30. Prevalência de sobrepeso e obesos em ambulatório de adolescentes. GOLDBERG, T.B.L.; GARCIA, D.A.; BAIOCCHI NETO, G.; CURI, P.R. . 253 31. Comparação entre indicadores nutricionais para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade entre adolescentes. GOLDBERG, T.B.L.; BAIOCCHI NETO, G.; GARCIA, D.A.; CURI, P.R. .......................................................................... 255 32. Mudanças no índice de massa corporal e na distribuição de gordura corporal associados à experiência reprodutiva. RODRIGUES, M.L.C.F.; DA COSTA, T.H.M. .......................................................................................................... 257 33. Prevalência do sobrepeso em adolescentes de um colégio de classe média/alta de Montes Claros/MG. NUNES, V.L.P., PEREIRA, F.A.N. ......................... 259 34. Estado nutricional relativo ao zinco de crianças e adolescentes obesos MARREIRO, D.N.; FISBERG, M.; COZZOLINO, S.M.F. ......................... 261 35. Prevalência de obesidade e sobrepeso em estudantes adolescentes de diferentes classes sociais. ALMEIDA, A.P.C.; COSTA, L.C.; GOMES, R.N.; LUCAS, A.S. 263 INSTITUTO DANONE 193 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 194 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de anemia em estudantes adolescentes de diferentes classes sociais Autores: ALMEIDA, A.P.C.(1); VENTURINI, G.C.(2); GAZZINELLI, J.O.(2); CAPRA, M.A.(2); LAMOUNIER, J.A.(3). Instituição: 1, 2 - Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória; 3 - Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução: Anemia por deficiência de ferro é o problema nutricional mais prevalente no mundo. Os estudos sobre prevalência de anemia, feitos no Brasil, avaliam principalmente mulheres grávidas e crianças com idade inferior a 5 anos. Atualmente, o conhecimento das taxas de prevalência em adolescentes tem despertado o interesse de pesquisadores. Devido as peculiaridades de crescimento e desenvolvimento nesta faixa etária, à escassez de dados no mundo e especialmente no país, além dos elevados e diferentes índices das pesquisas disponíveis, esta preocupação é justificada. Objetivos: Determinar os níveis de hemoglobina sérica em estudantes adolescentes do primeiro e segundo grau de escolas situadas em bairros de classes sociais distintas. Avaliar a prevalência de anemia nesta população. Metodologia: Foi estudada uma amostra de 52 estudantes de duas escolas do primeiro e segundo grau em Vitória, Espírito Santo, selecionadas aleatoriamente de uma população de 1.020 estudantes, 480 da escola pública e 540 da particular. Os níveis séricos de hemoglobina foram avaliados em hemoglobinômetro portátil, marca HemoCue. Foram considerados como ponto de corte os valores de Hb de 13 g/dl para estudantes adolescentes do sexo masculino e 12 g/dl para as do sexo feminino. Resultados: O valor médio das hemoglobinas, em ambas classes sociais, foi de 14,75 g/dl para o sexo masculino e 13,43 g/dl, para o sexo feminino, sendo estatisticamente significante esta diferença, p 0,0001. Não houve diferença estatística entre os valores médios observados, em relação ao mesmo sexo, quando comparadas as duas classes. A prevalência de anemia, nos 52 adolescentes analisados foi de 7,69 %. A média dos níveis séricos de hemoglobina encontrados não diferem da população brasileira, na mesma idade. INSTITUTO DANONE 195 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 196 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Freqüência de anemia em adolescentes de Novo Cruzeiro, MG Autores: REZENDE, E.G.(1); TRÓPIA, M.A.S.(1); ABRANTES, M.M.(2); BONOMO, E.(1); LAMOUNIER, J.A.(2); GALVÃO, M.A.M.(1); LEITE, R.C.(3). Instituição: 1- Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto; 2- Escola de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais; 3- Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução: A adolescência é um período de grande desenvolvimento físico e emocional, onde os jovens estão expostos a fatores de riscos e desafios que requerem atenção especial. Muitas situações freqüentes entre os adolescentes podem afetar o estado nutricional, tais como: ingestão inadequada de nutrientes, pobreza, doenças relacionadas à nutrição, fatores psicossociais, além do seu modo de vida. Dentre as doenças que têm ligação com a nutrição, a anemia por deficiência de ferro, pode ser citada. Segundo Tsuyuoka (1999), estima-se que a anemia afeta metade dos escolares e adolescentes nos países em desenvolvimento, e esta enfermidade pode ser causada, além da baixa ingestão de ferro, pelas enteroparasitoses. Teoricamente, são apontadas etapas no desenvolvimento da deficiência de ferro, sendo a primeira delas a diminuição das reservas orgânicas do mineral que pode se acentuar até a completa depleção e, a última fase, resultar na redução dos níveis de Hemoglobina sérica. Por estas considerações, realizou-se o presente estudo. Objetivo: Descrever a freqüência de anemia ferropriva em adolescentes de quatro escolas do município de Novo Cruzeiro-MG, correlacionando-a com parasitoses intestinais. Metodologia: Este estudo conta com amostra de 269 adolescentes pertencentes a quatro escolas rurais de Novo Cruzeiro. Para investigar a presença de anemia dosaram-se: hemoglobina (Hb) que foi obtida em campo pelo aparelho “HemoCue”; ferro sérico e capacidade total de ligação de ferro (CTLF) pelo método colorimétrico. O método KatoKatz foi empregado para análise de parasitoses intestinais. Os resultados foram analisados em software Epi info versão 6.04, detectando as diferenças estatísticas pelo Qui-quadrado. Resultados: A faixa etária estudada variou de 10 a 17 anos e 11 meses, mostrando uma idade média de 12,4 + 1,4 anos (149,09 + 16,7 meses). Os indivíduos foram agrupados segundo faixa etária anual, perfazendo-se, portanto, 8 grupos. Os dados de Hb mostram uma média de 13,37 + 1,03g/dL e que 8,2% dos adolescentes são anêmicos (Hb<12g/dL, DeMaeyer, 1989), sem diferença estatística para sexo (p=0,2149). A distribuição da anemia por faixa etária não mostra diferença estatística entre as idades (p=0,5726). Quando avaliaINSTITUTO DANONE 197 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA se a CTLF encontra-se 34,2% (n= 92) de indivíduos com deficiência de ferro, havendo maior freqüência no sexo feminino (n=58), com diferença estatística entre sexos (p=0,0080). Por faixa etária a CTLF não mostra diferença estatística (p=0,6303). Os resultados para ferro sérico mostram 16,4% (n=44) de deficiência de ferro. Na distribuição destes níveis séricos por sexo e faixa etária não ocorre diferença estatística. O Índice de Saturação de Transferrina apresenta 27,5% (n=74) de deficiência de ferro entre os adolescentes, não havendo diferença estatística por sexo nem por faixa etária (p>0,05). A freqüência de parasitose foi realizada em uma amostra de 242 adolescentes, pois 27 deles não realizaram o exame. Os resultados demonstram 26,7% (n=65) de negativos e 73,1% (n=177) de positivos. Shistossoma mansoni, ancilostomídeos, ascarídeos e taenia têm uma freqüência de 48,35%; 46,7%; 9,09%; e 2,5%, respectivamente. Analisando a distribuição da freqüência de parasitose por sexo, em 177 dos positivos, 88 são do sexo masculino e 89 do sexo feminino, não havendo diferença estatística. A deficiência de ferro não se correlaciona com as enteroparasitoses. Conclusão: No Brasil são escassos os estudos disponíveis sobre distribuição da anemia na adolescência. Os resultados apresentam grandes variações na prevalência da anemia. No presente trabalho, a freqüência de anemia encontrada é de 8,2%, e percebe-se que a deficiência de ferro apresenta valores significativos, sendo sua detecção nos estágios iniciais fundamental para o planejamento de programas que visem o combate de anemia nutricional. Embora correlação entre anemia e enteroparasitoses não tenha sido encontrada, estas parasitoses precisam ser combatidas devido a sua alta prevalência entre os adolescentes estudados. 198 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de anemia em atletas adolescentes Autores: VON DER HEYDE, M.E.D.(1); CUVELLO, L.(2); VON DER HEYDE, R.(1); RADOMINSKI, R.(1).; LOPEZ, F.(3). Instituição: 1 - Departamento de Nutrição, UFPR; 2 - UNIFESP/EPM; 3 - Departamento de Pediatria, UNIFESP/EPM. Objetivo: Investigar a prevalência de anemia entre atletas adolescentes Metodologia: Foi estudada uma amostra de 449 participantes dos Jogos da Juventude, realizados em Curitiba, Paraná. Os níveis séricos de hemoglobina foram avaliados em hemoglobinômetro portátil, marca HEMOCUE. Foram considerados como pontos de corte os valores de Hb de 12 g/l para atletas do sexo feminino e 13g/l para os de sexo masculino. Resultados: Os valores de média (13,1 e 14,5 para meninas e meninos, respectivamente) e de mediana (1,8 e 13,3 para meninas e meninos, respectivamente) situaram-se acima dos pontos de corte utilizados. A menor pravalência de anemia, em ambos os sexos, foi observada entre os atletas de natação e a maior entre os praticantes de futsal (meninos) e basquete (meninas). Não houve diferença estatística entre os valores observados de acordo com classe socio-econômica, em ambos os sexos. Tampouco foi encontrada diferença estatisticamente significante na prevalência de acordo com o sexo. Pôde ser observado que a maior prevalência de anemia entre os meninos foi detectada na região centro-oeste e, entre as meninas, nas atletas da região norte. Conclusão: Os níveis séricos de hemoglobina dos atletas de ambos os sexos foram semelhantes aos da população brasileira da mesma idade, sem diferença segundo macrorregião, classe sócio-econômica e modalidade praticada, sendo inferiores aos observados em atletas de países desenvolvidos. INSTITUTO DANONE 199 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 200 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Caracterização dos níveis de hemoglobina de um grupo de gestantes adolescentes atendidas no HC/UFG Autores: MENEZES, I.H.C.F.; ARAÚJO, R.S.C.; REIS, A.M.F.; MARTINS, K.A. Instituição: Faculdade de Nutrição, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Introdução: A anemia é um problema de saúde pública com alta prevalência entre as mulheres ocasionado, entre outros fatores, pelo fluxo menstrual. No período da adolescência, no qual já ocorre o aumento da demanda de ferro ocasionado pelo crescimento, pela menarca e fluxos posteriores, além de uma possível alimentação inadequada; tal doença pode ser agravada pela ocorrência de gestação. Objetivo: O objetivo do estudo é caracterizar os níveis de hemoglobina de um grupo de gestantes adolescentes atendidas no ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia de Adolescentes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Esse ambulatório é coordenado pelo Departamento de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina e pelo Núcleo de Estudo e Coordenação de Ações para Saúde do AdolescenteNECASA, ambos da Universidade Federal de Goiás. Metodologia: Trata-se de uma estudo retrospectivo de 235 gestantes adolescentes atendidas pela Faculdade de Nutrição no período de janeiro 1996 a março de 1999 no qual foram submetidas à anamnese nutricional detalhada. O critério de inclusão foi a presença do valor de hemoglobina registrado no prontuário da paciente, sendo este exame rotina do pré-natal. Das 235 pacientes gestantes deste período 207 foram incluídas. Foram analisados os seguintes dados: idade, escolaridade, estado civil, renda, paridade e história reprodutiva, nível de hemoglobina e idade gestacional da época do exame. Foram considerados como níveis normais os que se apresentavam maiores ou iguais a 11,0g/dl, segundo recomendação do Ministério da Saúde/88. Os dados foram analisados pelo programa Epi.Info, versão 6.04. Resultados: A idade média das gestantes foi de 16 anos sendo que 12,1% tinham menos que 15 anos. A escolaridade média foi a 6ª série; 45,6% eram casadas; 31,6% eram solteiras e 22,3% viviam em união consensual . A renda média e per capita foram de 3,1 e 0,84 salários mínimos, respectivamente. A maioria das gestantes era primigestas (86%). O nível médio de hemoglobina entre as gestantes foi de 11,94g/dl . Destaca-se que 17,4% das gestantes estavam com o nível de hemoglobina abaixo de 11,0g/dl. A relação entre o nível de hemoglobina e a idade não demonstrou ser estatisticamente significante. A análise dos níveis de hemoglobina e da idade gestacional na qual foram realizados este exame mostrou os seguintes valores: 3,92% de anêmicas no primeiro trimestre; 21,43% de anêmicas no segundo trimestre; e 25 % no terceiro trimestre. INSTITUTO DANONE 201 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Conclusão: A conclusão deste trabalho ressalta a necessidade de um melhor e maior acompanhamento dos níveis de hemoglobina durante toda a gestação, reforçando o uso de medicamentos ricos em ferro e alimentação mais adequada. A interação multidisciplinar deve ser sempre valorizada. 202 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Adolescentes e microcitose Autores: NASCIMENTO, M.L.P.; SILVA, L.L. Instituição: Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) e Prevlabor (Previna), Salvador, Bahia. Introdução: A microcitose é o achado mais prevalente nos exames hematológicos. Os estudos sobre anemias microcíticas, geralmente, se concentram na infância. Os adolescentes de classe social de baixo poder aquisitivo estão sujeitos aos mesmos problemas sociais da infância: alimentação deficiente e infestações parasitárias. São escassas as referências científicas sobre a presença de microcitose em adolescentes. Objetivo: Levantar a freqüência de microcitose, em adolescentes de duas classes sociais. Metodologia: Em 301 adolescentes (11 a 17 anos) de duas classes sociais, a) Grupo SUB (N = 118) da classe social de baixo poder aquisitivo e b) Grupo Prev (N = 183) da classe social de médio poder aquisitivo. Exames executados em contadores hematológicos da ABX / Brasil (modelos Cobas-Vegas e Pentra 120 Retic). Para análise deste estudo foram selecionados os seguintes exames: Volume Globular Médio (VGM uu3), Hematócrito (Hct %), Hemoglobina (Hb g/dl), Hemácias (Hm / mm3) e Red Cell Distribution Width (RDW). Com os resultados do VGM uu3, os grupos SUB e PREV foram reunidos em subgrupos: Normo = VGM de 80 a 99 uu3 e Micro = VGM <79 uu3 e analisados por sexo masculino (Masc) e Feminino (Fem). Análise estatística, testes de Kruskal-Wallis H., Anova e Bartelett’s com significância p<0.05. Resultados principais: Presença de microcitose - SUB Masc Micro = 21,1 % (N = 12); SUB Fem Micro = 18,0 % (N = 11); PREV Masc Micro = 20,6 % (N = 20); e PREV Fem Micro = 10,5 % (N = 9). VGM uu3 - SUB Masc Normo = 84,8 (+ 3,3); SUB Masc Micro = 75,9 (+ 4,1); SUB Fem Normo = 87,0 (+ 3.9); SUB Fem Micro = 75,0 (+ 4,2); PREV Masc Normo = 85,5 (+ 3,7); PREV Masc Micro = 76,4 (+ ,2); PREV Fem Normo = 86,4 (+ 3,9); e PREV Fem Micro = 76,9 (+ 2,1). Hb g/dl - SUB Masc Normo = 13,2 (+ 0,9); SUB Masc Micro = 12,9 (+ 1,1); SUB Fem Normo = 13,4 (+ 0,9); SUB Fem Micro = 13,1 (+ 1,2); PREV Masc Normo = 13,8 (+ 1,1); PREV Masc Micro = 12,6 (+ 0,9); PREV Fem Normo = 12,5 (+ 0,9); PREV Fem Micro = 11,9 (+ 1,1). Hm / mm3 - SUB Masc Normo = 4.625.000 (+ 298.000), SUB Masc Micro = 5.000.000 (+ 404.000), SUB Fem Normo = 4.571.000 (+ 325.000), SUB Fem Micro = 5.265.000 (+ 455.000), PREV Masc Normo = 4.838.000 (+ 377.000), PREV Masc Micro = 4.903.000 (+ 535.000), PREV Fem Normo = 4.355.000 (+ 361.000), PREV Fem Micro = 4.609.000 (+ 400.000). INSTITUTO DANONE 203 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Conclusões: Presença de microcitose em adolescentes das duas classes sociais (SUB e PREV) e nos dois sexos. O grupo PREV se diferencia do SUB, porque no grupo PREV encontramos diferenças significativas para os valores médios de Hb g/dl entre os Normo e Micro (Masc e Fem), enquanto que os valores médios da Hb g/dl do grupo SUB não apresentaram diferenças significantes entre os Normo e Micro (Masc e Fem). Sabe-se que nas anemias a diminuição da Hb g/dl não é o primeiro indicador a se alterar. Questiona-se: Os adolescentes Normo do grupo SUB, onde geralmente existem fatores sociais que interferem nos resultados de exames hematológicos (deficiências alimentares, infestações parasitárias) mesmo quando não apresentam microcitoses, já tem valores de hemoglobina semelhantes àqueles com microcitose? A microcitose é característica de ferropenias, doenças genéticas da hemoglobina (anemia falciforme, talassemias), doenças crônicas e sideroblastoses. São necessários outros estudos para elucidar a presença da microcitose nos adolescentes. 204 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de anemia ferropriva entre crianças e adolescentes de uma cidade mineira Autores: NORTON, R.C.; FIGUEIREDO, R.C.P.; DIAMANTE, R.; LEÃO, E.; FIGUEIREDO FILHO, P.P.; STARLING, A.L.P.; LAMOUNIER, J.A.; GOULART, E.A. Instituição: Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução: A anemia, especialmente a ferropriva, é um importante problema de saúde no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. A adoção de medidas de vigilância nutricional para grupos de risco, como gestantes, nutrizes e crianças, teve êxito no primeiro mundo, reduzindo drasticamente as taxas de prevalência de anemia carencial. No nosso meio são poucos os estudos que focalizam o problema em adolescentes e crianças. Objetivo: Este estudo teve como objetivo a determinação da prevalência de anemia entre crianças e adolescentes no município de Rio Acima - MG. Metodologia: Foram determinados os valores da hemoglobina e do hematócrito, a contagem de hemácias e as concentrações da ferritina em amostras de sangue de 332 crianças e adolescentes de 7 a 15 anos, 156 (47%) do sexo masculino, 176 (53%) do sexo feminino, 74 (22,6%) brancas, 218 (65,9%) pardas e 40 (12,5%) negras, alunas da rede escolar do município de Rio Acima. O projeto teve aprovação do comitê de ética do Hospital das Clínicas da UFMG e foram obtidos consentimentos livres e esclarecidos dos participantes e de seus responsáveis. Resultados: A anemia, estimada por dois métodos distintos, porcentagem de valores de hemoglobina inferiores ao percentil 3 para idade e sexo e pelo método da “prevalência padrão”, descrito por MORA, 1989, foi encontrada respectivamente em 16,6% e 36,2% das crianças. A depleção das reservas de ferro, estimada pela presença de valores de ferritina inferiores a 10 ng/ml, foi encontrada em 27 crianças (8,13%) da população geral e 16 crianças (5,7%) não anêmicas. Conclusões: A prevalência de anemia foi significativa na população estudada, porém não houve correspondência entre baixos níveis de hemoglobina e de ferritina quando considerado o limite inferior de 10mg/l para os valores desta última. INSTITUTO DANONE 205 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 206 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: A deficiência de ferro na mulher adolescente Autores: SZARFARC, S.C. Instituição: Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública, USP. Introdução: Conforme pode ser observado em todas as revisões sobre prevalência de anemia no mundo, há uma enorme escassez de informações sobre a prevalência da patologia entre adolescentes. No Brasil, isto é decorrente, em grande parte, da dificuldade de acesso a essa população. A escola pública, que deveria concentrar este grupo, é extremamente elitista e somente permanece na mesma, durante o período de 10 a 18 anos, uma minoria privilegiada. De cada 60 classes de 1ª série, tem-se 25 classes de 5ª e 10 de 8ª séries, respectivamente, sendo que dos 50% de anêmicos entre os ingressantes tem-se 5,3% na 8ª série. Objetivo: Duas questões nucleares serão destacadas para discussão: a prevalência da anemia e da deficiência de ferro entre as mulheres adolescentes e as perspectivas de intervenção no controle dessa patologia. Metodologia: Estudo feito entre amostra equiprobabilística de 262 adolescentes mostrou 29,4% de ferro deficientes, das quais, 17,6 eram anêmicas, distribuídas de forma inversa aos indicadores sociais: renda, escolaridade paterna e características da moradia. Esses valores, já bastante elevados, aumentam de forma importante durante o processo reprodutivo onde às necessidades de ferro, derivadas da gravidez, somam-se aquelas devidas ao crescimento acelerado. Entre 155 gestantes, com idades variando entre 13 e 19 anos atendidas no prénatal em uma maternidade assistencial, verificou-se, ao lado do aumento da prevalência de anemia, com a evolução da gravidez (6 para 16% de anêmicas), aumento importante da depleção dos estoques de ferro (ferritina <12µg/mL): de 25 para 60% e, também, aumento da deficiência do transporte do ferro de 19 para 67% entre o 1o e 3o trimestres de gestação. Estudo longitudinal realizado em centros de saúde de Santo André, SP, mostra o mesmo retrato. A análise da dieta dessa população ressalta a inadequação do consumo de ferro como o principal fator causal da deficiência orgânica do mineral. O programa de distribuição de sulfato ferroso às gestantes que freqüentam serviços públicos de saúde é pouco efetivo. Essa baixa efetividade é conseqüência da freqüente ausência do suplemento nos serviços de pré-natal, mas, também, e principalmente pelas reações colaterais que o sal acarreta e, ainda, pelo seu sabor desagradável. Novas perspectivas aparecem para controle da deficiência na gestação com a possibilidade já avaliada de uso semanal do suplemento marcial. Igualmente, compostos de ferro como aquele ligado a 2 moléculas de glicina (Fechel) têm se mostrado alternativas interessantes para o período gestacional. No entanto, importante seria, que mesmo dentro de um programa que visa o controle da deficiência de ferro na gestação, incluir ações dirigidas a adolescentes, com o objetivo de manter adequado o seu estado nutricional do INSTITUTO DANONE 207 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA mineral já no período pré-reprodutivo. Reconhecendo a determinação social do desenvolvimento da anemia ferropriva, não há como deixar de considerar sua inexeqüibilidade sem mudanças sociais de caráter estrutural articuladas às medidas para melhor atendimento às adolescentes, gestantes ou não, reconhecidamente àquelas que mais necessitam de cuidados em relação à carência do mineral em pauta. 208 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Estado nutricional e ocorrência de anemia ferropriva em pré-escolares de uma unidade filantrópica de Manaus, AM Autores: YUYAMA, L.K.O.(1); NAGAHAMA, D.(1); RODRIGUES, M.L.C.F.(1,2) ; ALENCAR, F.H.(1); MARQUES, E.O.(3) ; CORDEIRO, G.W.O.(3) Instituição: 1 - Coordenação de Pesquisa em Ciências da Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; 2 - Universidade de Brasília; 3 - Fundação Hemocentro de Manaus, AM HEMOAM. Introdução: A anemia ferropriva é considerada um dos graves problemas de saúde pública no mundo, atingindo principalmente crianças em idade pré-escolar, com sérias conseqüências no que se refere ao desenvolvimento físico, psicomotor e cognitivo. Objetivo: Considerando-se a escassez de informações sobre as condições de saúde e nutrição do amazônida, o presente estudo objetivou contribuir para a composição do diagnóstico dos processos carenciais da região Norte. Metodologia: O estudo foi realizado em uma Unidade Filantrópica de Manaus-AM, envolvendo 98 pré-escolares na faixa etária de 2 a 7 anos, após o consentimento e a autorização expressa dos pais ou responsáveis. Os dados antropométricos foram coletados de acordo com as recomendações de Jellife (1968). O estado nutricional das crianças foi avaliado a partir do padrão do NCHS (1975). Para a formatação do banco de dados e análises estatísticas foi utilizado o programa Epi Info 6,0 Epinut. Na diferenciação dos tipos de desnutrição considerou-se os critérios propostos pela OMS (1983), tendo como limite discriminatório de desnutrição desvios correspondentes a população de referência a “<-2 escores Z” para os indicadores: peso/estatura (desnutrição aguda) e estatura/idade (desnutrição crônica). Para a determinação da concentração de hemoglobina, seguiu-se o método da cianometahemoglobina e o critério recomendado pela OMS (1968), de concentração de hemoglobina abaixo de 11g/dL para o diagnóstico da anemia. Resultados: Verificou-se como principal forma de desnutrição a crônica, em 10,2% dos pré-escolares, sendo expressivamente baixa, 1,0%, a ocorrência de desnutrição aguda. Observou-se ainda 2,0% da amostra com adequação no indicador peso/estatura superior a >2 Escores Z sugerindo, portanto, a presença de obesidade. A ocorrência de anemia ferropriva foi de 14,3% (Hb <11g/dL) e a anemia severa (Hb<9,5g/dL) em 1% das crianças estudadas. Conclusão: Apesar dos benefícios sociais e nutricionais proporcionados pela creche às crianças, refletindo sobremaneira no estado nutricional, sugere-se a adoção de medidas no INSTITUTO DANONE 209 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA que se refere aos aspectos nutricionais, visando corrigir tanto a ocorrência de processos carenciais como a obesidade e, assim, propiciar a melhoria da saúde das crianças. 210 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de sobrepeso em adolescentes no Ambulatório de Adolescência do Hospital das Clínicas da UFMG Autores: LAMOUNIER, J.A.; ALVES, F.M.T.; BARBOSA, F.A.M.; CARNEIRO, F.S.; DA MATA, L.A.C.; GUEDES, J.O.B.; GUIMARÃES, F.F.; GUIMARÃES, G.K.; OSÓRIO FILHO, J.; PEREIRA, F.A.N.; PORTO, G.R. Instituição: Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Introdução: O sobrepeso é um dos principais agravos nutricionais que acometem adolescentes acarretando sérias conseqüências negativas, imediatas ou futuras, para sua saúde e bem estar. Sendo assim, é de fundamental importância saber prevenir, diagnosticar e tratar a obesidade na adolescência. Pesquisas demonstram que a prevalência de sobrepeso nesta fase da vida tem aumentado nos últimos anos. Considerando a importância do tema, julgamos relevante o estudo da prevalência de sobrepeso em adolescentes, em nosso meio. Objetivos: Determinar a prevalência de sobrepeso em adolescentes no Ambulatório de Adolescência do Hospital das Clínicas da UFMG, relacionando-a com o sexo e a faixa etária. Metodologia: Realizou-se um estudo retrospectivo, baseado na busca de dados de prontuários junto ao SAME, de uma amostra randomizada de 145 adolescentes, de um total de 332 adolescentes atendidos no ano de 1999. Foi constatada a perda de 31 prontuários (21,3% de 145) devido aos seguintes motivos: idade fora dos limites estabelecidos, prontuários inexistentes ou não encontrados, pacientes sem medidas antropométricas. O número total de adolescentes foi de 114 pacientes, sendo 47 (41,6%) do sexo masculino e 66 (58,4%) do sexo feminino (não foi possível identificar o sexo de um adolescente, devido à ausência deste dado no prontuário). A faixa etária considerada foi de 10 a 20 anos, sendo a média de idade de 15,66 anos e um desvio padrão de 1,55 anos. A mediana e a moda foram de 16 anos. Sobrepeso foi definido como Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior ao percentil 85, para idade e sexo. A randomização, a distribuição da freqüência de sobrepeso por sexo e por faixa etária foram feitas utilizando-se o software de estatística EpiInfo v.6. Resultados: A prevalência de sobrepeso em adolescentes foi de 18,5% (21 adolescentes). No sexo masculino, a prevalência foi de 21,3% (10 em 47 adolescentes); no sexo feminino, a prevalência foi de 16,7% (11 em 66 adolescentes). Na distribuição por sexo, a diferença não foi significante. A Tabela 1 apresenta a distribuição da freqüência de sobrepeso por faixa etária: INSTITUTO DANONE 211 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA TABELA 1: DISTRIBUIÇÃO DO SOBREPESO POR IDADE Idade em anos 11 13 14 15 16 17 18 19 20 Total Obesos 1 1 1 6 5 3 2 1 1 21 4,8 4,8 4,8 28,6 23,8 14,3 9,5 4,8 4,8 18,5 0 5 15 26 28 12 2 4 1 93 (%) 0,0 5,4 16,1 28,0 30,1 12,9 2,2 4,4 1,1 81,5 Total 1 6 16 32 33 15 4 5 2 114 (%) Normais Conclusão: Os dados indicam uma alta prevalência de obesidade na população estudada, mostrando a necessidade de intervenções eficazes a fim de se prevenir e/ou tratar tal morbidade, na tentativa de se melhorar a qualidade de vida desses adolescentes. Os dados obtidos não demonstraram diferenças estatisticamente significativas entre sobrepeso e sexo, e sobrepeso e idade. Agradecimentos: Profa. Mirtes Beirão e Dra Solange Melo. 212 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação da intervenção inicial em pacientes obesos: repercussões antropométricas, metabólicas e nutricionais Autores: ARRAIS, R.F.; LIMA, S.C.V.C; FRANÇA, E.M.G. Instituição: Setor de Endocrinologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da UFRN e Disciplina de Nutrição Clínica da UFRN – Natal. Introdução: A obesidade é uma condição clínica complexa, de causa multifatorial e que se associa a inúmeras outras patologias que também constituem risco cardiovascular, considerada o distúrbio nutricional mais importante em nossos dias, tornando prioridade o estabelecimento de estratégias precoces de prevenção. Objetivo: Avaliar a repercussão inicial de uma intervenção médica e nutricional Metodologia: Foram estudadas 13 crianças (7 meninos e 6 meninas) entre 6,3 a 12,7 anos, mediana de 8,6 anos(M) e 8,4 anos(F), que procuraram nosso serviço. Foram incluídas crianças que estivessem acima de 120% de adequação P/E. No atendimento médico e nutricional foram avaliadas quanto à história clínica, antecedentes, nível de atividade física e avaliação antropométrica (P/E e IMC) utilizando dados de referência do National Center for Health Statistcs (NCHS), além de um inquérito nutricional (analisado quanto aos componentes de energia total, proteínas, lípides, glicídios, colesterol alimentar e conteúdo de fibras, através do software Virtual Nutri®). Após orientação alimentar e estímulo à mudança de hábitos (do paciente e família), foram solicitados lípides séricos. A reavaliação foi realizada com intervalo mediano de 9 semanas (5-14) nos meninos e 9,5 semanas (2,5-15) nas meninas. Para análise estatística foram utilizados testes não paramétricos (software Instat®) com risco alfa=5%. Resultados: Não houve diferença significante da resposta e evolução entre os sexos. A sensibilidade para avaliar a evolução antropométrica foi boa tanto para o P/E como o IMC. A variação dos lípides séricos não foi significante para o colesterol (P=0,31) e apenas marginalmente significante (P=0,078) para os triglicérides. Houve marcada diminuição de glicídios (P=0,0001) e lipídios (P=0,0002), sem alterações no colesterol da dieta (P=0,39) e fibras (P=0,27), além de tendência à diminuição absoluta do conteúdo protéico (P=0,057) mas com aumento percentual. Conclusão: Concluímos que a intervenção foi eficaz a curto prazo, pela diminuição de glicídios e lipídios na dieta. A evolução antropométrica pode ser avaliada tanto pelo P/E como pelo IMC. Os triglicerídeos tendem a diminuir mais rapidamente que o colesterol. Estratégias mais eficazes devem ser utilizadas para aumentar o teor de fibras na dieta, bem como diminuir o de colesterol. INSTITUTO DANONE 213 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 214 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Antropometria e alimentação de adolescentes, no município de Goiânia Autores: CHAUL, D.N.; CUNHA, I.C; MATTOS, L.C; MELO, N.C.S; PEREIRA, C.V.; HADLER, M.C.C.M. Instituição: Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás, Goiânia - GO. Introdução: O Índice de Massa Corporal (IMC), de acordo com a idade, tem sido recomendado pela OMS, apesar das limitações, para identificar riscos de obesidade para o adolescente. Objetivo: O objetivo foi avaliar o estado nutricional dos adolescentes, das 5as às 8as séries, do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicado à Educação (CEPAE), antigo Colégio de Aplicação, da Universidade Federal de Goiás. Metodologia: Realizou-se estudo transversal, sendo que quanto aos eixos de delineamento temos que o eixo de desfecho foi estático, a seleção completa, observacional e histórico. Dos 243 alunos matriculados em 1999, das 5as às 8as. séries no CEPAE, foram avaliados 195 alunos (80,2% dos escolares) sendo 99 do sexo feminino (50,8%) e 96 do sexo masculino (49,2%). Realizou-se inquéritos antropométrico e alimentar, sendo que, neste se avaliou a freqüência alimentar. Utilizou-se balança eletrônica Kratos com precisão de 50g e estadiômetro. O IMC foi avaliado de acordo com idade e sexo, segundo os pontos de corte de Must et al. (1991). Adotou-se os pontos de corte propostos pela OMS (WHO, 1995) para baixo peso – IMC < percentil 5; risco de sobrepeso – percentil >85 e < 95; sobrepeso > percentil 95. Os dados foram coletados no período de novembro a dezembro/99, por acadêmicas de nutrição, supervisionadas por professora de Nutrição/UFG. Resultados: A idade média e desvio padrão dos escolares avaliados foi de 13,37 ± 1,58 anos. A média e o desvio padrão dos IMC, no sexo feminino, de acordo com a idade foi aos 11 anos (18,84 ± 3,93), aos 12 anos (19,14 ± 4,20), aos 13 anos (20,15 ± 4,78), aos 14 anos (19,37 ± 2,65), 15 anos (19,85 ± 3,56). Enquanto os IMC, no sexo masculino, de acordo com a idade foi aos 11 anos (16,67 ± 3,63), 12 anos (18,47 ± 2,71), 13 anos (18,88 ± 3,57), 14 anos (19,22 ± 3,54) e aos 15 anos (19,21 ± 1,89). A média do IMC do sexo masculino não diferiu do IMC médio do sexo feminino nas faixas etárias de 11 anos (tcalc = 1,27 p = 0,22), 12 anos (tcalc = 0,67 p = 0,51), 13 anos (tcalc= 0,88 p = 0,38), 14 anos (tcalc = 0,15 p = 0,88) e 15 anos (tcalc = 0,66 p = 0,52). No sexo feminino, a prevalência observada de baixo peso foi de 8%, de risco para sobrepeso em 14,1% (> 85 e < 95°P) e sobrepeso em 3% (> percentil 95). Porém, no sexo masculino, a prevalência observada de baixo peso foi de 9,4%, de risco para sobrepeso foi de 7,3% (> 85 e < 95°P) e sobrepeso INSTITUTO DANONE 215 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA em 4,2% (> percentil 95). Portanto, 14,4% dos alunos apresentaram IMC > 85°P, sendo que na 5a. série a prevalência observada foi de 28,3%, sendo que nesta série a idade média foi de 11,87 ± 0,9. O baixo peso foi encontrado em 8,7% dos alunos. A menarca já tinha ocorrido em 71,4% das entrevistadas. A idade média da menarca foi de 12,13 ± 1,03 anos, sendo que a idade média das que não tiveram ainda a menarca foi de 11,93 ± 0,81 anos. Quanto ao consumo alimentar dos escolares com IMC > percentil 85 notou-se que a ingestão dos seguintes alimentos > 4 vezes por semana foi de 42,9% para bolachas, 28,6% para frituras, 22% para refrigerantes, 25,9% para doces, 17,8% para salgados e de 10,7% para sanduíches. Conclusão: Conclui-se que o risco para sobrepeso foi maior no sexo feminino. A prevalência de risco de sobrepeso e sobrepeso é superior ao de baixo peso, porém, programas de educação alimentar para prevenção do baixo peso e sobrepeso devem ser implantados. Importante a elaboração de referências nacionais sobre pontos de corte na adolescência. 216 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de uma escola de classe média/alta de Recife Autores: BALABAN,G.; SILVA, G.A.P. Instituição: Mestrado em Pediatria – UFPE. Introdução: Importante aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes já foi bem documentado nos países desenvolvidos, nos últimos anos. O mesmo problema pode acometer adolescentes de classe sócio-econômica elevada nos países em desenvolvimento. É sabido que a adolescência consiste num período crítico para o desenvolvimento de uma obesidade que venha a persistir na idade adulta. Com base nas medidas antropométricas, vários critérios têm sido empregados para definir sobrepeso e obesidade. O Índice de Massa Corporal (Peso/Estatura2) vem sendo considerado o mais adequado para o diagnóstico do sobrepeso na adolescência. Objetivos: Determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes provenientes de uma escola de classe média/alta de Recife e verificar a correlação entre IMC e espessura da prega tricipital, nessa população. Metodologia: Realizou-se um estudo de corte transversal com 430 estudantes de 10 a 19 anos de uma escola da rede privada de Recife (154 do sexo masculino e 276 do sexo feminino), no ano de 1999. Sobrepeso foi definido como IMC igual ou superior ao percentil 85, para idade e sexo. Foram classificados como obesos os indivíduos com sobrepeso e espessura da prega tricipital igual ou superior ao percentil 85. Resultados: As prevalências de sobrepeso e obesidade entre os adolescentes foram de 20% (IC95% = 16 a 24%) e 4,2% (IC95% = 2 a 6%), respectivamente. Sobrepeso mostrouse mais prevalente nos adolescentes do sexo masculino (35,7%) do que nos do sexo feminino (11,2%) (p<0,001). A obesidade também foi mais freqüente nos adolescentes masculinos (9,7%) do que nos femininos (4,2%) (p<0,001). Encontrou-se correlação positiva entre IMC e espessura da prega tricipital (r=0,61). Conclusões: Sobrepeso e obesidade mostraram-se problemas particularmente preocupantes entre os adolescentes do sexo masculino. O IMC consiste num método valioso para avaliação do excesso ponderal em adolescentes, na rotina clínica e em saúde pública, dada a sua simplicidade operacional e sua correlação com medidas diretas de adiposidade, como a espessura da prega tricipital. INSTITUTO DANONE 217 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 218 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Fatores de risco na obesidade da adolescência Autores: FISBERG, M.; RODRIGUES, L. Instituição: Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo e Centro de Nutrição da Universidade São Marcos; Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Introdução: A obesidade é das patologias nutricionais que mais tem apresentado aumento em seus números, não apenas nos países ricos, mas também nos países em desenvolvimento. Todo um sistema de vida inadequado provavelmente favorece este tipo de acontecimento, em pacientes predispostos geneticamente: sedentarismo, hábitos familiares inadequados, alimentação insatisfatória, excesso de gordura e carboidratos na dieta, a velocidade da refeição, os lanches desequilibrados e o consumo de doces e guloseimas. Dados mais recentes em nosso país (IBGE-1990) mostram que , aproximadamente 7% dos menores de 10 anos, e 15% da nossa população adolescente apresentam algum grau de obesidade, baseado no índice de massa corporal adequado a idade e sexo. Objetivo: Em um projeto de avaliação das condições de risco em pacientes obesos , na faixa pré-púbere, estabelecemos um programa de acompanhamento dos mesmos, por demanda, após anúncio na mídia. Metodologia: Foram analisados 100 crianças e adolescentes entre 10 e 12 anos, com obesidade caracterizada por Índice de Massa Corporal acima do percentil 95 ( Must et al.). Para todos, foram avaliadas características antropométricas, relação cintura quadril, fatores familiares, atividade física, tabagismo, alcoolismo, obesidade e fatores cardiovasculares, além de antropometria e composição corporal. Para os adolescentes foram avaliadas a composição corporal e análise de lípides (colesterol total, frações e triglicérides). Resultados: Os resultados mostraram que 85% dos pacientes avaliados haviam iniciado a obesidade na fase de lactente e pré-escolar, com maior duração da obesidade para os mórbidos (Peso/estatura acima de 140%). O sedentarismo era evidente em 90% dos casos, e 93% dos pacientes apresentavam pelo menos um exame de lipídios alterado. O perfil clássico foi o de aumento dos triglicérides, diminuição de HDL colesterol e aumento da relação HDL/triglicérides. A relação cintura quadril estava alterada em 78% dos casos. Quanto aos fatores de risco familiar, mais de 80% dos casos apresentava obesidade, com elevada prevalência de distúrbios cardiovasculares, elevação de colesterol e triglicerídeos. A composição corporal dos pais, mostrava aumento de massa gordurosa em 50% dos casos, e em 88% das mães. Os fatores de risco múltiplos eram evidentes em 93% dos pacientes, sendo que para cada obeso, havia pelo menos 3 fatores de risco familiares. INSTITUTO DANONE 219 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Conclusão: Conclui-se que a população obesa na comunidade apresenta elevada prevalência de obesidade crônica, e elevada freqüência de fatores de risco familiar, que somados aos fatores próprios, como ingestão inadequada, sedentarismo, obesidade mórbida e elevada freqüência de alterações lipídicas, indicam uma população de altíssimo risco cardiovascular , em futuro extremamente próximo. 220 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Obesidade em adolescentes entre 10 e 15 anos de idade atendidos no Ambulatório de Doenças Nutricionais do Hospital das Clínicas da UFMG Autores: DIAMANTE, R.; FIGUEIREDO Fº, P.P.; FIGUEIREDO, R.C.P.; KANUFRE,V.; LEÃO, E.; NORTON, R.C.; RESENDE, H.M.; STARLING, A.L.P.; TASSARA,V.; TRESINARI, N.M.; LAMOUNIER, J.A. Instituição: Departamento de Pediatria FM-UFMG. Introdução: A obesidade vem sendo considerada como uma doença crônica de prevalência aumentada nos últimos anos, tanto nos países ricos quanto nos países em desenvolvimento. Sua abordagem requer a participação de equipe multiprofissional e também o envolvimento da família do paciente. Objetivo: Descrever e avaliar a evolução de adolescentes obesos em um programa de atendimento multiprofissional, para tratamento em ambulatório, num período de 6 meses de acompanhamento. Metodologia: Foram analisados 77 prontuários de adolescentes com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso atendidos no período de 1989 a 1999, no ambulatório de doenças nutricionais, com o objetivo de avaliar o seu perfil e evolução ponderal. O atendimento dos pacientes foi realizado a partir de 1994 como parte de um programa multiprofissional, que tem a participação de pediatra, psicólogo e nutricionista. Os critérios usados para o diagnóstico foram o peso observado em relação ao esperado para a altura (P/E) e/ou o índice de massa corporal de Quetelet (IMC). Resultados: A média de idade à 1a consulta foi de 11,8 ±1,3 anos, sendo 40 (51,9%) adolescentes do sexo masculino e 37 (48,1%) do sexo feminino, dos quais a maioria (38 casos - 50,7%) era procedente da região metropolitana de Belo Horizonte. De todos os casos, 4 (5,2%) adolescentes foram classificados como sobrepeso e 73 (94,8%) como obesos, sendo que em 42 casos (54,6%) a obesidade era acentuada, com P/E acima de 150%. Os adolescentes tinham altura acima do percentil 50 em 68,4% dos casos. O peso ao nascimento relatado foi em média 3.445 ± 502 gramas. O tempo médio de acompanhamento foi 8,8 ±11,0 meses, sendo que apenas 9 casos (10,4%) tiveram acompanhamento por período igual ou superior a dois anos. Foram verificadas patologias associadas em 15 casos (19,5%), entre eles 3 portadores de cardiopatia; 3 casos de retardo mental; 3 de distúrbio convulsivo; 1 caso de raquitismo; 1 caso de artrite reumatóide juvenil; 1 de fenilcetonúria; 1 caso de hipotiroidismo; e 2 casos de doença de Prader-Willi, síndrome associada à obesidade. INSTITUTO DANONE 221 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA O perfil lipídico mostrou: 17 (35,4%) pacientes com elevação de triglicérides (TG >130 mg%); 27 (55,1%) com colesterol total acima dos níveis desejáveis (CT >170 mg%); 10 (25,0%) com elevação de LDL (>130 mg%); e 14 (35,0%) pacientes com redução de HDL (<38 mg%). Considerando os dados familiares verificou-se que 28,6% de pais e 30,0% de mães também eram obesos (IMC >30). O nível educacional dos pais mostrou que 30,0% de pais e 59,1% de mães tinham o primeiro grau completo. Em apenas 36 casos (46,8%) foi feito acompanhamento por período superior a 6 meses. Desses, 13 (36,1%) não tiveram variação de peso entre a primeira e a última consulta; 12 (33,3 %) apresentaram perda de peso (média = 8,0 ±6,8%); e 11 (30,6%) tiveram ganho de peso (média 9,6 ±8,4%) durante o tratamento. Não foram observadas diferenças relacionadas ao sexo no perfil dos pacientes e não foram verificadas associações entre graus de obesidade e níveis de triglicérides, colesterol total, LDL e HDL (p = 0,22; 0,14; 0,72 e 0,74); entre grau de obesidade e evolução do peso/altura (p = 0,87) e também não houve associação na evolução de peso dos casos com e sem patologias associadas (p = 0,32). Peso altura Prevalência (P/E) % Sexo Evolução P/E Níveis lipídicos (mg/dl) F tempo > 6meses CT LDL HDL TG ↓ ↑ I >170 <170 >200 <200 >130 <130 <38 >38 >130 <130 ( %) M 4 (5,1) 1 3 0 0 1 2 0 2 0 1 0 0 1 1 1 >120<150 31 (40,3) 14 17 9 3 3 9 10 6 13 5 11 7 9 8 10 >150<180 25 (32,5) 15 10 2 4 4 8 7 3 12 0 13 4 9 5 10 >180 17 (22,1) 10 7 2 5 3 8 5 5 8 4 6 3 7 3 10 Total 77 (100,0) 40 37 13 12 11 27 22 16 33 10 30 14 26 17 31 <120 N N = número de pacientes; I = inalterado; ↓ = diminuiu; ↑ aumentou; Conclusão: Os níveis de obesidade dos adolescentes estavam elevados, indicativos de gravidade, na maioria dos casos (68,4%) e a evolução de peso dos pacientes manteve-se inalterada ou houve ganho de peso em 24 (66,7%) adolescentes em acompanhamento por período de 6 meses ou acima. Tais resultados exigem avaliação a mais longo prazo nos levando a pensar em novas formas de tratamento, como educação física supervisionada. 222 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Marcadores antropométricos para fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes com sobrepeso Autores: OLIVEIRA, C.L.(1); VEIGA, G.V.(1); SICHIERI, R.(2) Instituição: 1 - Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2 - Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Introdução: Alguns estudos têm demonstrado a relação entre obesidade e alterações metabólicas, como dislipidemias, hiperinsulinemia e pressão arterial elevada já na infância e adolescência, sendo estes fatores de risco para doenças cardiovasculares na vida adulta. O excesso de gordura localizada na região abdominal parece ser de maior risco, independente da quantidade de gordura corporal total. Para estudos epidemiológicos, alguns indicadores antropométricos têm sido sugeridos para avaliar a localização de gordura abdominal em adolescentes, entre estes a circunferência da cintura e a relação desta com a circunferência do quadril. . Objetivo: Investigar a relação entre porcentagem de gordura corporal e distribuição de gordura corporal com alterações metabólicas em adolescentes com sobrepeso. Metodologia: Participaram do estudo 80 adolescentes, 64 meninas e 26 meninos, entre 12 a 18 anos de idade, atendidos no Núcleo de Estudos sobre Saúde do Adolescente - RJ, no período de agosto de 1997 a março de 1998, que tinham índice de massa corporal (lMC) maior ou igual ao percentil 85 da distribuição de valores, segundo gênero e idade, da população brasileira (Anjos et al. 1998). O percentual de gordura corporal (%GC) foi estimado com base na Bioimpedância elétrica e a circunferência da cintura (CC) e quadril foram medidas segundo Lohman (1988), calculando-se a relação cintura/quadril (RCQ). Resultados: O IMC e %GC apresentaram a mesma correlação com o perfil lipídico para ambos os sexos, enquanto que, para pressão sistólica e diastólica, para as meninas, a correlação com %GC (r=0,43, p=009) foi maior do que a correlação com IMC (r=0,28, p=0,03 e r=0,37, p=0,005, respectivamente). Entre os meninos, o colesterol total, triglicerídios, LDLCl e presssão sanguínea não foram significativamente associados com as medidas antropométricas e %GC. Entretanto, HDL-C mostrou uma forte, significativa e negativa correlação com a CC (r=-0,50, p=0,01) e com a RCQ (r=-0,46, p=0,02). Para ambos os sexos, o triglicerídio não foi associado com IMC e %GC. Entre meninas, a correlação do HDL-C (r=0,39, p=0,002), triglicerídios (r=0,43, p=0009) e a relação Colesterol total/HDL (r=0,44, p=0006) foi mais forte com RCQ do que com CC. A circunferência da cintura foi mais fortemente correlacionada com BMI (r=0,92, p=0,0001 para meninos e r=0,89, p=0,001 para meninas) do que a RCQ (r=0,46, p=0,02 para meninos e r=0,51, p=0,003 para meninas). INSTITUTO DANONE 223 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Conclusão: As alterações metabólicas, que são fatores de risco para doenças cardiovasculares, foram fortemente relacionadas com medidas antropométricas de obesidade abdominal nos adolescentes com sobrepeso. A combinação destes marcadores após o ajuste por sexo, estado puberal e IMC, revelou que a RCQ foi melhor preditor de HDL do que a CC. Entretanto, RCQ, CC e IMC mostraram importantes diferenças nesta relação. 224 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Relação entre o índice de massa corporal (kg/m 2) e percentual de gordura corporal na avaliação de obesidade em adolescentes Autores: VEIGA,G.V.(1); DIAS, P.C.(2); ANJOS, L.A.(2). Instituição: 1 - Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2 - Faculdade de Nutrição, Universidade Federal Fluminense. Introdução: Obesidade consiste em um problema nutricional cuja prevalência vem aumentando tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Quando presente na adolescência, tende a persistir na vida adulta, contribuindo para maior índice de morbi-mortalidade, além de já apresentar, na adolescência, associação com fatores de risco para doenças cardiovasculares. Isto reforça a importância do diagnóstico precoce para implantação de medidas preventivas de intervenção. A Organização Mundial de Saúde, recentemente, recomendou o uso do Índice de Massa Corporal - IMC (kg/m2) como instrumento de triagem na avaliação de risco de obesidade em adolescentes. Objetivo: O presente estudo investigou a relação entre IMC e percentual de gordura corporal (%GC) em 1540 adolescentes de 10 a 17,9 anos, 717 meninos e 823 meninas, estudantes de classe média de uma escola de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Metodologia: O % GC foi estimado pela Bioimpedância elétrica através de analisador de composição corporal modelo TANITA TBF 305, usando equação própria para a faixa etária do estudo . A sensibilidade (SE) e a especificidade (ESP) foram calculadas para dois pontos de corte, percentil 85 (P85) e 95 (P95) de duas curvas de distribuição de IMC em função da idade e sexo, uma derivada da população americana com base no NHANES I (1971-74) e outra de uma amostra probabilística da população brasileira com base na PNSN (1989). Resultados: Foi observado valores elevados de SE e ESP (acima de 80%) do IMC para os meninos, com exceção do corte p>85 PNSN com ESP de 61,8% e do corte P>95NHANES com SE de 55,4%. Os dois pontos de corte de IMC, independente da curva de referência utilizada, apresentaram baixa SE para as meninas, chegando a 84% de falsos negativos quando o critério foi o corte P>95 NHANES. A ESP, todavia, foi bem elevada (cerca de 100% para P>95) maior do que a observada para os meninos. A SE nas meninas tendeu a diminuir das mais jovens para as mais velhas, chegando a 0% aos 17 anos para P>95. Conclusão: Estes dados sugerem que o uso do IMC para avaliar obesidade em adolescentes pode gerar um percentual de falsos positivos para meninos e mais alto percentual de falsos INSTITUTO DANONE 225 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA negativos para as meninas. Desta forma, é importante que a composição corporal associada com dados de maturação sexual sejam obtidos em estudos de avaliação de obesidade em adolescentes. 226 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Perfil nutricional de adolescentes da cidade de Curitiba, PR Autores: VON DER HEYDE, M.E.D.; AMORIM, S.T.S.P.; LANG, R.M.F;.VON DER HEYDE, R. Instituição: Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Objetivo: Com o objetivo de avaliar o estado nutricional da população adolescente de Curitiba foi realizado, em 1996, estudo antropométrico que abrangeu moradores de 68 bairros da cidade que fez parte do Estudo Multicêntrico sobre Nutrição e Consumo Alimentar, financiado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde – INAN/MS. Metodologia: A metodologia empregada foi de estudo transversal com amostragem probabilística de 2151 domicílios selecionados a partir de setores censitários. Foram avaliados 636 indivíduos, de ambos os sexos, com idade variando entre 12 anos e 18 anos incompletos. Resultados: Os resultados demostram que 80,82% da amostra estudada apresentou Índice de Massa Corporal (IMC) considerado normal, de acordo com a classificação de IMC para adolescentes proposta pela OMS (1995). Adolescentes desnutridos correspondem a 3,62% da amostra, sendo que os dados para sobrepeso e obesidade somaram 15,56% (11,16% e 4,40%, respectivamente). Conclusão: Estes achados apontam a necessidade de ações de educação nutricional voltadas aos adolescentes buscando a prevenção e o tratamento adequado da obesidade. INSTITUTO DANONE 227 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 228 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Caracterização do IMC pré-gestacional de gestantes adolescentes Autores: MENEZES, I.H.C.F.; ARAÚJO, R.S.C.; REIS, A.M.F.; MARTINS, K.A. Instituição: Faculdade de Nutrição, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. Introdução: A adolescência é um período caracterizado por significativas mudanças no crescimento físico, maturação e desenvolvimento psicossocial. A gravidez na adolescência vem se tornando comum e a avaliação do estado nutricional pré-gestacional pode nortear a evolução e riscos durante a gravidez. Objetivo: O objetivo do estudo foi avaliar o IMC pré-gestacional de um grupo de gestantes adolescentes atendidas no ambulatório Ginecologia e Obstetrícia de Adolescentes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Esse ambulatório é coordenado pelo Departamento de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina e pelo Núcleo de Estudo e Coordenação de Ações para Saúde do Adolescente/NECASA, ambos da Universidade Federal de Goiás. Metodologia: Trata-se de uma estudo retrospectivo de 235 gestantes adolescentes atendidas pela Faculdade de Nutrição, no período de janeiro 1996 a março de 1999, no qual foram submetidas à anamnese nutricional detalhada. Foram incluídas 230 (97,88%) gestantes que tinham o IMC pré-gestacional. O IMC foi obtido e calculado a partir do peso pré-gestacional referido. Os pontos de corte utilizados para identificação do estado nutricional por idade foram baseados em Must et al., 1991. Os dados foram analisados pelo programa Epi.Info, versão 6.04. Resultados: A idade média das gestantes foi de 16 (±1) anos, sendo 10,9% com 14 anos, 20,9% com 15 anos, 35,2% com 16 anos e 33% com 17anos de idade. A escolaridade média foi a 6ª série; 45,4% eram casadas; 29,3% eram solteiras e 24,9% viviam em união consensual . A renda média e per capita foram de 3,1 e 0,85 salários mínimos, respectivamente. O IMC médio pré-gestacional foi de 21,11 (± 2,82) k/m2. INSTITUTO DANONE 229 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO IMC PRÉ-GESTACIONAL DE ADOLESCENTES ACOMPANHADAS NO AMBULATÓRIO DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA DE ADOLESCENTES/HC/UFG, SEGUNDO OS PERCENTIS DO ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA (KG/M2) Faixa Etária 14 ANOS 15 ANOS 16 ANOS 17 ANOS <5 4,2 2,5 2,6 5-15 8,0 8,3 2,5 9,2 Percentis 15-85 84,0 75,0 81,5 82,9 85-95 8,0 10,4 11,1 5,3 >95 2,1 2,5 - Conclusão: A análise do peso pré-gestacional deve ser estimulada entre os profissionais de saúde, diante do percentual de adolescentes deste estudo que se mostraram com sobrepeso e obesidade. Novos estudos deverão ser realizados com a utilização de outros índices, tais como: altura para idade, dobras cutâneas e estágio de maturação sexual, para melhor avaliação do estado nutricional da adolescente, além de contribuir para validação do IMC como critério de classificação do estado nutricional do adolescente. 230 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Perfil nutricional dos alunos da rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro (RJ), 1999 Autores: CASTRO, I.R.R.(1,2); ENGSTROM, E.M.(1,3); ANJOS, L.A.(3,4); AZEVEDO, A.M.(1) ; SILVA, C.S.(1). Instituição: 1 - SMS/RJ; 2 - UERJ; 3 - ENSP/FIOCRUZ; 4 - UFF. Introdução: A obesidade é alteração nutricional em ascensão no mundo moderno, atingindo diversos segmentos sociais, estando relacionada com importantes causas de morbi-mortalidade na população adulta, muito embora sua gênese possa se iniciar na infância e adolescência. Por outro lado, a anemia ferropriva tem hoje grande magnitude em países em desenvolvimento, com repercussões na saúde de crianças e jovens. Para nortear ações públicas voltadas para promoção de saúde e controle dos principais agravos nutricionais nos alunos da rede municipal de Educação da CRJ, foi realizado, em 1999, estudo sobre a situação nutricional dos escolares. Objetivo: Conhecer a situação de desnutrição, sobrepeso e anemia dos escolares da rede municipal de educação da CRJ. Metodologia: De um universo de cerca de 700.000 alunos, foi estudada amostra representativa de estudantes da pré-escola, 1o (1ª a 4ª série) e 2o (5ª a 8ª série) segmentos do ensino funda-mental, sorteada por conglomerado (turmas), totalizando 122 turmas e 3430 alunos, sendo 1945 adolescentes. O desenho amostral foi desenvolvido pelo serviço de Bioestatística da ENSP/FIOCRUZ. Para o grupo de adolescentes, as variáveis estudadas foram: peso, altura, concentração de hemoglobina sérica (Hb), data de nascimento e sexo e escolaridade materna. A coleta de dados foi feita utilizando-se balança digital, fita métrica e dosagem in loco (sistema Hemocue) de amostra de sangue colhida por punção capilar com autorização expressa dos pais. Para diagnóstico de anemia utilizou-se Hb<11,5g/dl e Hb<12g/ dl para as idades de 10-11 e >12 anos, respectivamente (UNIFEC/UNU/WHO/MI, 1998). Para diagnóstico de alterações antropométricas, utilizou-se o Índice de Massa Corporal (peso/ estatura2) IMC < percentil 5 (P5), para baixo peso (BP); IMC entre P85-P95, para sobrepeso (SP); e IMC >P95, para obesidade (Must et al., 1991; WHO, 1995). Resultados: As prevalências dos agravos estudados segundo gênero e faixa etária estão apresentados na Tabela 1. Do total de adolescentes, 69,2% e 30,8% tinham idade entre 1013,9 e >14 anos, respectivamente. A prevalência global de anemia foi de 10,5%, não havendo diferenças de perfil segundo escolaridade materna. As meninas mais velhas se encontravam em situação mais grave (20,9%), apresentando quase o triplo da prevalência dos meninos de mesma idade (7,1%). Em relação às alterações antropométricas, foram encontrados 7,3% de BP, sendo observado maior prevalência entre os adolescentes mais jovens (8,3%) e entre INSTITUTO DANONE 231 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA o conjunto de meninos (10,0%).O sobrepeso e a obesidade acometeram, respectivamente, 10,4% e 6,4% do conjunto de adolescentes, sendo evidenciada uma tendência estatisticamente significativa de crescimento da obesidade com o aumento da escolaridade materna (p<0,05) (Tabela 2). TABELA 1: PREVALÊNCIA DE AGRAVOS NUTRICIONAIS SEGUNDO GÊNERO E FAIXA ETÁRIA. RIO DE JANEIRO, 1999 Idade (anos) 10 – 13,9 >14 Anemia (%) Masc. Fem. Total 9,5 7,1 8,8 20,9 9,1 14,3 Baixo peso (%) Masc. Fem. Total 10,9 8,1 5,6 2,1 8,3 5,2 Sobrepeso (%) Masc. Fem. Total 9,6 6,8 12,1 12,1 10,9 9,3 Obesidade (%) Masc. Fem. Total 7,6 4,8 6,3 5,5 7,0 5,2 TABELA 2: PREVALÊNCIA DE OBESIDADE EM ADOLESCENTES SEGUNDO ESCOLARIDADE MATERNA. RIO DE JANEIRO, 1999 Escolaridade (séries) Obesidade (%) Analfabeta 1-4 5-8 9 - 11 ≥12 1,3 5,5 7,4 11,2 7,0 Conclusão: Merecem destaque os achados de aumento da anemia em meninas com idade >14 anos e de crescimento da obesidade com o aumento da escolaridade materna. O primeiro achado pode estar relacionado a hábitos alimentares inadequados associados às perdas regulares de sangue na menstruação. O segundo sugere que a melhoria das condições de vida propicia maior acesso não só a alimentos, muitas vezes inadequados em termos nutricionais, como também a alternativas de lazer que estimulam o sedentarismo. A anemia e a obesidade, embora com determinantes distintos, têm um fator de risco em comum: a alimentação inadequada. Para a melhoria do perfil evidenciado, são fundamentais a garantia de acesso a uma alimentação adequada e ações de estímulo a um estilo de vida saudável. Essas ações se traduzem na valorização e melhoria do Programa de Alimentação Escolar, implantado em toda a rede municipal de educação, e na ampliação de práticas educativas que enfoquem a promoção de saúde por meio da alimentação. 232 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação da composição corporal e do gasto energético basal em crianças prépúberes, com obesidade grave, na vigência de programa de modificação do comportamento alimentar Autores: CINTRA, I.P.(1); VÍTOLO, M.R.(2); FISBERG, M.(3) Instituição: Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto - MG (1); Disciplina de Nutrição e Metabolismo(2) e Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo e Universidade São Marcos(3) - S.P. Introdução: A obesidade tem sido considerada um dos principais problemas de saúde na área pediátrica, mas ainda existem limitações para que efetivos programas de intervenção sejam adotados, principalmente porque o crescimento e o desenvolvimento da criança apresentam grande influência sobre a composição corporal. O tratamento da obesidade, por meio de dieta hipocalórica, promove a perda das massas corporais gorda e magra. Uma vez que a massa corporal magra é o principal componente do tecido metabólico ativo, a sua redução contribuirá para a diminuição do gasto energético. No entanto, como a criança está em fase de crescimento, a redução do peso relativo pode ser obtida com o aumento da estatura e a manutenção do peso corporal. Objetivo: Em função disso, este estudo teve como objetivo avaliar a composição corporal e o gasto energético basal das crianças portadoras de obesidade grave (adequação do índice peso / estatura (P/E) >140%) no início e após os seis meses de acompanhamento ambulatorial, por meio da modificação do comportamento alimentar, sem a utilização de dietas restritivas. Metodologia: Foram estudadas 32 crianças, sendo 16 de cada sexo os quais foram subdivididos entre as crianças que estivessem com uma idade igual ou superior aos 10 anos e com uma idade inferior. Os grupos do sexo masculino foram compostos por 8 crianças com idade superior aos 10 anos e 8 crianças com idade inferior. Os grupos do sexo feminino foram compostos por 6 crianças com idade superior aos 10 anos e 10 crianças com idade inferior. Todas as crianças eram pacientes do Ambulatório de Obesidade Infantil (Hospital São Paulo) da Universidade Federal de São Paulo - EPM. Resultados: Observou-se reduções da adequação do índice P/E, do IMC relativo e do ∆% de adequação do IMC nos grupos dos meninos menores de 10 anos e das meninas maiores de 10. Os meninos maiores de 10 anos embora apresentassem reduções destes índices as mesmas não foram significativas, no entanto este grupo demonstrou redução do percentual de gravidade em relação ao IMC no percentil 95, resultado este também significativo no grupo das meninas maiores de 10 anos. O único grupo que não apresentou diferença entre os INSTITUTO DANONE 233 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA parâmetros antropométricos relacionados ao grau da obesidade foi o das meninas menores de 10 anos. Nenhum grupo apresentou aumento do percentual de gordura corporal e somente o das meninas menores de 10 anos apresentou aumento da massa gorda. Com exceção do grupo dos meninos menores de 10 anos, todos os outros apresentaram aumento da massa livre de gordura e do peso corporal. Este aumento do peso parece estar mais relacionado com o aumento da massa livre de gordura (MLG) do que com a massa gorda (MG), uma vez que o aumento da MLG sempre foi superior. Foi observado aumento do gasto energético basal (kcal/dia) mesmo quando houve redução do grau da obesidade, sendo que o único grupo que não apresentou aumento significativo do mesmo foi o das meninas maiores de 10 anos. Entre os períodos inicial e final do estudo, apenas o grupo dos meninos menores de 10 anos que apresentou aumentos significativos das relações entre o gasto energético basal e o peso corpóreo e entre o gasto energético basal e a massa livre de gordura, sendo também o único a apresentar reduções dos parâmetros antropométricos sem que houvesse alteração do peso corpóreo, o que nos leva a pressupor que a manutenção do peso, mais do que as suas pequenas oscilações, estabeleça uma relação mais perfeita entre a composição corporal e o gasto energético basal. Conclusão: Estes resultados demonstraram que a intervenção nutricional baseada na modificação dos hábitos alimentares por um período de seis meses foi capaz de promover efeitos benéficos sobre a redução do grau de obesidade sem diminuir o gasto energético basal. 234 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Ocorrência de obesidade em adolescentes da rede de ensino do município de Florianópolis Autores: SALLES, R.K.; KAZAPI, I.A.M.; DI PIETRO, P.F. Instituição: Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Santa Catarina. Introdução: A adolescência é um estágio de crescimento e desenvolvimento acompanhado por alterações morfológicas e fisiológicas complexas, nas quais, a nutrição, tem um papel fundamental. A obesidade durante a adolescência é considerada um grande preditor de obesidade na vida adulta. Segundo o National Research Council (U.S.), aproximadamente 80% dos adolescentes obesos, serão adultos obesos. Objetivo: O presente estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de obesidade em adolescentes das redes de ensino pública e privada, no município de Florianópolis. Metodologia: Foram avaliados 621 adolescentes, sendo 224 da rede privada e 397 da rede pública, dos quais, 313 são do sexo feminino e 308 do sexo masculino, na faixa etária entre 10 a 17,11 anos. Para avaliação antropométrica foi utilizado o índice de massa corporal (IMC), considerando-se o ponto de corte para o sobrepeso e obesidade os valores de IMC igual ou superior a P85 e P95, respectivamente. Observou-se ainda o consumo energético a partir de um inquérito alimentar de 24 horas, sendo analisado através do software NUT, versão 2,5. Resultados: Comparando-se os resultados entre as redes, observamos que ocorreu uma maior incidência de obesidade na rede pública ( 13,1%) do que na privada (7,6%). Em relação ao consumo energético observou-se, 32,1% e 21,8% de alto consumo, na rede pública e privada, respectivamente, reforçando os resultados obtidos a partir da avaliação antropométrica. O sexo feminino da rede pública apresentou uma maior incidência de obesidade (11,6%), quando comparadas a rede privada (0,0%). Quando analisou-se o total de estudantes, observou-se uma maior incidência de obesidade no sexo masculino ( 14,6%) quando comparado ao sexo feminino (7,7%); o sexo masculino apresentou também maior incidência de alto consumo energético. Conclusão: Concluímos que em relação as redes de ensino o nível de obesidade foi maior na rede pública, e em relação ao sexo, a maior incidência foi encontrada entre os meninos. INSTITUTO DANONE 235 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 236 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência da obesidade em escolares adolescentes na cidade de Belo Horizonte – resultados parciais do II estudo epidemiológico Autores: RIBEIRO, R.Q.C.; OLIVEIRA, R.G.; COLOSIMO, E.A.; BOGUTCHI, T.F.; LAMOUNIER, J.A. Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Pediatria. Introdução: A obesidade, condição associada a várias doenças, vem apresentando uma prevalência crescente e universal, fator de preocupação para as autoridades sanitárias de todo mundo, inclusive a dos países em desenvolvimento, conforme indicadores nacionais e internacionais. Objetivos: Avaliar a prevalência de obesidade na população de adolescentes estudantes de primeiro e segundo graus da cidade de Belo Horizonte e compará-los com os encontrados em outras pesquisas nacionais e estrangeiras. Estabelecer possíveis correlações com outros fatores de risco cardiovasculares como atividade física, sedentarismo, lípides séricos . Metodologia: Foram estudados 981 adolescentes, escolares de 1o e 2o graus, entre 10 e 18 anos de idade, randomizados entre 545.046 escolares distribuídos entre as escolas púbicas e particulares existentes em Belo Horizonte, em 1998. O IMC (índice de massa corporal) foi utilizado como parâmetro de identificação dos adolescentes com sobrepeso/obeso (acima do percentil 85), segundo critérios de Rosner (1998). Foram realizadas análises descritivas dos dados e testes de comparação entre as médias, considerando um nível de significância de 5%. Resultados: O sexo feminino predominou, levemente, nessa amostra de adolescentes (54,4%). Quanto a classificação sócio-econômica (ABA/ABIPEME/ANEP) 49,4% pertencem às classes A1 a B2. Foram encontrados 8,5% de adolescentes com sobrepeso e obesidade, acima do percentil 85 do IMC, sendo de 2,1% o percentual de apenas obeso (acima do percentil 95 do IMC). Os valores médios dos níveis séricos de lípides entre os adolescentes com sobrepeso e obesidade foram: colesterol total: 164,2 (± 31,9), LDL-colesterol: 101,3 (± 27,4), HDLcolesterol: 41,0 (± 8,4), triglicérides: 109,3 (± 61,2). Em relação aos adolescentes sem sobrepeso e sem obesidade observou-se uma diferença significativa (p=0,000) entre os valores médios nesses lípides. Em uma escala clínica de níveis de lípides séricos, segundo diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e do National Cholesterol Education Program, 29,1% dos escolares com INSTITUTO DANONE 237 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA sobrepeso/obesidade apresentaram colesterol total na faixa limítrofe (170 a 199 mg/dL) e 11,4% na faixa aumentada (acima de 200 mg/dL). Em relação ao HDL-colesterol aproximadamente metade desses escolares (51,3%) encontram-se na faixa desejável . Quanto ao LDL-colesterol, 24,1% encontram-se na faixa limítrofe (110 a 129 mg/dL) e 13,9% na faixa aumentada (acima de 130 mg/dL). Os adolescentes com sobrepeso e obesidade permanecem, em média, 4,4 (± 3,4) horas em atividades consideradas sedentárias (assistir TV e/ou vídeo, videogames, ouvir música (sem dançar) e navegar na internet). Conclusão: No Brasil, a exemplo de outros países, tem sido observado um aumento da obesidade entre os adolescentes, que pode ser atribuído, principalmente, aos hábitos alimentares inadequados e sedentarismo. Em que pese a importância médico e social da obesidade, a literatura mostra poucas informações a este respeito. Portanto, o achado de quase 10% de adolescentes com sobrepeso e obesos em escolas públicas e privadas de Belo Horizonte, justifica a necessidade da elaboração de um programa de prevenção primária dessa condição nesta faixa etária, tanto em nosso meio como no país. 238 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação do estado nutricional em crianças e adolescentes com deficiência visual grave Autores: CUNHA, S.F.C.; RODRIGUES, L.S.; SAWAN, Z.T.E.; MONTEIRO, J.P.; CUNHA, D.F. Instituição: Disciplina de Nutrologia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG. Introdução: A deficiência visual pode determinar menor estímulo sensorial para a ingestão dos alimentos, podendo implicar em baixo peso corporal. Por outro lado, pessoas com grave deficiência visual teriam menor atividade física, ocasionando aumento anormal do peso corporal e obesidade. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar a composição corporal e o padrão de ingestão alimentar de crianças e adolescentes com deficiência visual grave. Metodologia: O estudo prospectivo foi aprovado pela Comissão de Ética Médica da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. A avaliação antropométrica foi realizada em escolares e adolescentes, portadores de deficiência visual grave do Instituto dos Cegos do Brasil Central, em Uberaba-MG, excluindo-se aqueles com deficiência auditiva ou mental associada. Os dados antropométricos foram analisados em programa computadorizado, comparados com as recomendações do National Center Healtth Statistics (NCHS) e apresentados em porcentagem de adequação. A ingestão alimentar foi determinada pela diferença na pesagem das quantidades servidas e as sobras dos alimentos oferecidos nas 5 refeições diárias. Os dados foram comparados com as recomendações de energia e nutrientes estabelecidos pela RDA (1989) e apresentados em porcentagem de adequação. Resultados: Participaram do estudo 12 voluntários do sexo feminino (40%) e 18 do masculino (60%), com média de idade de 12,5 ± 3,0 anos. Apresentaram-se eutróficos 43,3% das crianças e adolescentes; sobrepeso e obesidade foram documentados em 20% dos casos; baixa estatura para a idade em 33,3%; baixo peso para estatura em 3,3%. Os dados antropométricos estão apresentados na tabela abaixo. Parâmetros antropométricos Peso Altura Circunferência do braço Prega cutânea tricipital Circunferência muscular do braço INSTITUTO DANONE Adequação (%) Mediana (valor mínimo e máximo) 94,5 (64,3 – 152,6) 96,7 (87,7 – 105,7) 94,2 (71,1 – 140,5) 106,7 (38,5 – 266,7) 93,5 (67,7 – 126,6) 239 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA A maioria das crianças e adolescentes (63,3%) residiam no próprio Instituto, recebendo 5 refeições/dia (desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar); os demais freqüentavam o Instituto em sistema de “semi-internação”, recebendo 3 refeições/dia (lanche da manhã, almoço e lanche da tarde). A avaliação da ingestão alimentar foi realizada em amostra representativa (n = 8) e a porcentagem de adequação do consumo dos diversos nutrientes está apresentado a seguir: Nutriente Energia Proteína Cálcio Fósforo Ferro Zinco Vitamina C Tiamina Riboflavina Niacina Folato Vitamina B12 Vitamina A Adequação (%) Mediana (valor mínimo e máximo) 92,3 216,7 45,4 95,4 141,4 101,3 119,0 181,8 61,6 116,5 105,3 121,0 573,5 (42,8 – 110,9) (27,5 – 306,3) (24,1 – 58,0) (57,4 – 177,0) (722,8 – 251,4) (22,5 – 264,0) (63,7 – 188,0) (75,5 – 295,5) (0 – 116,9) (76,5 - 171,9) (45,8 – 131,0) ( 11,0 – 344,0) (223,3 – 1034,9) Conclusões: O padrão alimentar do Instituto dos Cegos atende às recomendações nutricionais para a faixa etária estudada, exceto em relação ao cálcio e riboflavina, devido a oferta limitada de leite e derivados. O consumo ad libitum das quantidades de alimentos foi o responsável pela variabilidade na adequação da ingestão alimentar e na existência simultânea de carência nutricional e sobrepeso/obesidade das variáveis antropométricas. Tais dados indicam a necessidade de educação nutricional individualizada, com técnicas especializadas para deficientes visuais. 240 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação nutricional de crianças com pneumopatias crônicas ou de repetição – dados preliminares Autores: CUNHA, S.F.C.; FERREIRA, D.M.; CARDOSO, C.O.; FREITAS, E.M.; MENEZES, R.A.; WEFFORT, V.R.S. Instituição: Disciplinas de Nutrologia e Pediatria da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG. Introdução: Crianças com doença pulmonar crônica ou de repetição podem apresentar ingestão alimentar inadequada pela anorexia, dispnéia, tosse, saciedade precoce, náuseas e vômitos. Além de um aporte alimentar insuficiente, alterações do estado nutricional podem dever-se a fatores que reduzem a biodisponibilidade de nutrientes, tais como parasitismo intestinal, uso de antibióticos e diarréia associada. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional de pré-escolares portadores de doenças pulmonares crônicas ou de repetição. Metodologia: A pesquisa foi conduzida no Hospital Escola da FMTM com participação de crianças entre 2 e 5 anos (41,5 ± 11,8 meses) com episódios repetidos de pneumopatia (n = 6) e um grupo controle (n = 8), pareados para idade, sexo e nível sócio-econômico. Foi realizada avaliação antropométrica, incluindo medidas de peso, estatura, circunferência do braço (CB) e prega cutânea tricipital (PT), calculando-se a circunferência muscular do braço (CMB). Os valores foram comparados com os critérios do NCHS e apresentados em percentil do valor ideal. Os pais ou responsáveis forneceram informações para a avaliação alimentar qualitativa e quantitativa. Aplicou-se o Inquérito de Freqüência de Consumo de Alimentos e o Método Recordatório Alimentar de 24 horas, obtendo-se informações sobre a ingestão alimentar domiciliar habitual e durante os episódios de crise. Os dados obtidos foram analisados por método computadorizado, tabulados em banco de dados eletrônico e os grupos foram comparados por teste t de Student, considerando-se diferença significativa quando p < 0,05. Resultados: Embora as crianças portadoras de pneumopatias crônicas ou de repetição apresentassem menor peso corporal (78,3 ± 20,0 vs 97,9 ± 10,7% do ideal), os demais parâmetros antropométricos (estatura, CB, PT e CM) foram semelhantes ao grupo controle. Não houve diferença no padrão qualitativo da ingestão alimentar, exceto pelo consumo de carnes (0,8 ± 0,7 vs 1,8 ± 0,9 porções/dia). Pneumopatas ingeriram menor quantidade de energia (1219,1 ± 334,3 vs 1599,0 ± 422kcal), ferro (8,3 ± 3,5 vs 15,9 ± 5,6mg), niacina (97,5 ± 2,5 vs 13,4 ± 2,4mg) e tiamina (0,7 ± 0,1 vs 1,1 ± 2,4mg) que os controles. O consumo de proteínas, de cálcio e das vitaminas A e C foi semelhante entre os grupos. Em INSTITUTO DANONE 241 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA relação à ingestão habitual, os pneumopatas apresentaram durante as crises diminuição de 50 a 70% no consumo de energia, proteínas, ferro, niacina, tiamina e vitaminas C e A. Conclusão: Crianças com episódios repetidos de pneumopatia apresentam menor peso corporal e padrão alimentar deficiente, mesmo no intervalo livre de doenças, com agravamento durante as crises. Tais dados indicam a necessidade de cuidado nutricional e abordagem nutricional dessas crianças durante e após os episódios de agudização da doença pulmonar. 242 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação da ingestão alimentar de adolescentes gestantes Autores: CUNHA, S.F.C.; SANTOS, A.K.; RIBEIRO, J.U.; CUNHA, D.F. Instituição: Disciplina de Nutrologia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG. Introdução: Estudos conduzidos entre adolescentes gestantes americanas têm identificado inadequações alimentares diversas. Em nosso meio, aspectos culturais e econômicos que refletem na ingestão de nutrientes podem constituir fatores de risco adicionais na gestação entre adolescentes. Objetivo: Avaliar o padrão alimentar de adolescentes gestantes da cidade de Uberaba, comparando os dados com os de gestantes adultas e adolescentes não-gestantes. Metodologia: Vinte e cinco gestantes com idade inferior a 17 anos (Grupo Adolescentes Gestantes) e 30 gestantes com idade superior a 21 anos (Grupo Adultas Gestantes) e um Grupo Controle (Adolescentes não-Gestantes, n = 36) participaram voluntariamente do estudo, realizado no Ambulatório de Obstetrícia do HE-FMTM. Os grupos foram pareados quanto à raça e nível sócio-econômico. As adolescentes (gestantes ou não) foram pareadas quanto a idade (mediana de 16 anos, com variação entre 14 a 17); as gestantes (adolescentes ou adultas) foram pareadas quanto a idade gestacional (32,0 ± 0,43 vs 33,1 ± 0,34 semanas). A avaliação antropométrica incluiu medidas de peso, altura, circunferência do braço, prega cutânea tricipital e cálculo da circunferência muscular do braço. A avaliação da ingestão alimentar foi realizada por meio do Método Recordatório Alimentar de 24 horas; os dados foram processados em programa computadorizado para a análise quantitativa dos nutrientes ingeridos. Variáveis numéricas de distribuição normal foram analisadas por ANOVA ou teste t; variáveis contínuas não paramétricas foram analisadas pelo teste de Kruskal-Wallis ou Mann-Whitney; sendo considerados significativos quando p < 0,05. Resultados: Adolescentes não-gestantes foram estatisticamente mais altas (161,3 ± 4,7cm) que Gestantes Adolescentes (159,1 ± 6,9cm) e Gestantes Adultas (158,0 ± 5,3cm). O peso corporal foi semelhante entre Gestantes Adolescentes (63,9 ± 9,8kg) e Gestantes Adultas (68,2 ± 12,7kg). As medidas antropométricas do braço mostraram valores semelhantes para a circunferência do braço e circunferência muscular do braço entre os 3 grupos; as medidas de prega cutânea tricipital foram menores nas adolescentes não-gestantes. A avaliação da ingestão alimentar mostrou que o padrão alimentar dos 3 grupos estudados foi semelhante quanto aos valores de energia, proteínas, cálcio, ferro, ácido ascórbico, ácido fólico, vitamina A e tiamina. A ingestão de proteínas, vitamina A e colesterol foi considerada satisfatória (de INSTITUTO DANONE 243 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA acordo com padrão de recomendação internacional). A ingestão alimentar de todos os Grupos foi inadequada em relação à quantidade de energia, cálcio, ferro, ácido ascórbico, ácido fólico, tiamina e riboflavina. Conclusão: 1) As reservas de gorduras corporais, inferidas pelas medidas de prega cutânea tricipital foram semelhantes entre as gestantes adolescentes ou adultas; 2) Com exceção de vitamina A e proteínas, gestantes (adolescentes ou adultas) atendidas nos ambulatórios do HE-FMTM não ingerem quantidades suficientes de nutrientes essenciais durante a gravidez, situação que pode afetar negativamente o estado nutricional da mãe e seu concepto. Tais dados justificam considerar-se prioridade a atenção das necessidades nutricionais durante a gravidez de adolescentes. 244 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência e fatores de risco de obesidade em estudantes do ensino médio e fundamental – O estudo de Belo Horizonte Autores: OLIVEIRA, A.D.B.; OLIVEIRA, R.G.; RIBEIRO, R.Q.; LAMOUNIER, J.A. Instituição: Curso de Pós-graduação em Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução: A obesidade é hoje um grande problema de saúde pública, com prevalência crescente tanto em adultos como em crianças, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. A obesidade, juntamente com a hipertensão, dislipidemias, sedentarismo e tabagismo são os cinco principais fatores de risco de doença cardiovascular do adulto que podem ser identificados e abordados ainda na infância e devem merecer atitudes profiláticas de rotina por parte dos pediatras, do sistema de saúde e da sociedade em geral. Objetivos: Avaliar a prevalência de obesidade na população escolar do ensino fundamental e médio de Belo Horizonte em amostra representativa de toda a cidade. Estudar a diferença de prevalência de obesidade entre grupos separados por características da alimentação, história familiar de obesidade, nível de atividade física, número médio de horas assistindo TV/ dia, composição familiar, nível sócio-econômico, sexo, faixa etária, tempo de amamentação e peso de nascimento. Metodologia: Em estudo observacional em corte transversal foram estudados 1.005 estudantes do ensino fundamental e médio, entre 6 a 18 anos de idade, randomizados entre 486.166 escolares distribuídos entre 521 escolas púbicas e particulares existentes em Belo Horizonte, no período de 1993 a 1994. O IMC (índice de massa corporal) foi utilizado como parâmetro de identificação dos adolescentes com sobrepeso e obesidade (acima do percentil 85 e 95), respectivamente, da referência proposta por ROSNER et al., (1998). Um segundo estudo com o mesmo desenho amostral foi realizado em 1998. Resultados: Foi encontrada uma prevalência de obesidade de 2,1 % e uma prevalência de 5,7% de sobrepeso. Na comparação entre os grupos as diferenças mais significativas foram (1) entre as crianças que, pela entrevista, “comiam muito” e as que “comiam normal” e “pouco” (15,7% vs 4,9% - p: 0,00000003 para sobrepeso e 5,2% vs 5,78% - p= 0,00003 - para obesidade); (2) entre os com história familiar positiva (pai ou mãe hipertensos) e negativa (15,1% vs 5,3% - p=0,0000005 - para sobrepeso e 5,6% vs 0,9% - p=0,0009 - para obesidade); (3) entre os com nível de atividade física “pouca ou muito pouca” e os com “normal ou muita” (15,8% vs. 5,1% - p=0,00000003 - para sobrepeso e 5,1 vs 1,1 % para obesidade – p=0,00009); (4) entre os que assistem em média mais de duas horas de TV por INSTITUTO DANONE 245 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA dia ou menos que duas horas (10,3% e 4,2% para sobrepeso – p=0,0004 – e 3,3 % vs 0,5% para obesidade (p=0,0022). Foi encontrada uma diferença significativa de prevalência entre as crianças de famílias pequenas (< 4 pessoas) e as de família maior (5 ou mais) – p=0,0081 e entre os estudantes que só tinham um irmão (família de dois filhos) em relação a outras composições de família (p=0,0006). Três diferentes variáveis sócio-econômicas mostraram consistentemente que as crianças de melhor nível sócio-econômico têm maior prevalência de sobrepeso. Não encontramos diferenças significativas de prevalência de sobrepeso ou obesidade entre (1) sexos, (2) escolares vs. adolescentes, (3) amamentados ao seio por menos vs. por mais de seis meses e (4) entre os que nasceram com mais ou com menos de 4 kg de peso. Conclusão: A prevalência de obesidade e sobrepeso encontrada em estudantes de Belo Horizonte é preocupante mas bem menor que a encontrada nas crianças americanas. As diferenças entre os grupos confirma que os principais fatores de risco para obesidade são o excesso de consumo de alimentos, a história familiar, o baixo nível de atividade física e o tempo de atividades sedentárias marcado pelo tempo assistindo TV. Um fator de risco antes não identificado é o maior número de obesos nas famílias com 2 filhos e nas famílias menores em relação às maiores. Como os diversos estudos de prevalência de obesidade utilizam diferentes critérios, pontos de corte e tabelas de referência, tem sido impossível comparar diferentes estudos para observar diferenças entre cidades e tendências seculares na mesma cidade. Em Belo Horizonte, usando o mesmo critério/pontos de corte/referência dois cortes transversais seqüenciais (1993/4 deste estudo e 1998 do estudo do Dr. Robespierre Q.C. Ribeiro) mostra um aumento de 47,3% na prevalência de obesidade e 47,6% na prevalência de sobrepeso num intervalo de 4 anos, ou seja, um aumento de cerca de 12% ao ano. 246 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Avaliação antropométrica de adolescentes. Qual o melhor método? Autores: PRIORE, S.E.; FRANCESCHINI, S.C.C. Instituição: Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa. Introdução: A adolescência é uma fase onde ocorre importantes modificações, entre elas o rápido crescimento, maturação sexual e mudanças na composição corporal. Analisando a literatura observa-se falta de padronização sobre métodos que possam caracterizar a real situação de nutrição nesta fase da vida, até porque é difícil afirmar qual o estado nutricional que o adolescente se encontra, sem considerar o estágio de maturação sexual. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995) sugere o uso do Índice de Massa Corporal, mas também os cortes propostos são contraditórios com outros estudos encontrados na literatura. PRIORE (1998), analisando o IMC e medidas antropométricas e de composição corporal, observou que este não refletia as modificações físicas caracterísitcas da adolescência; desta forma, apesar da sugestão da OMS, a dúvida permanece. Objetivo: O objetivo deste trabalho é de comparar dois métodos de avaliação que utilizam somente peso e estatura, ou seja, IMC e o de Waterlow modificado, proposto por Veiga e Sigulem (1992). Metodologia: Analisou-se 438 adolescentes de 12 a 17 anos do sexo feminino e do masculino onde obteve-se em todas as faixas etárias, em ambos os sexos, percentual de eutróficos avaliados pelo IMC maior do que o obtido pelo Waterlow modificado; situação inversa em relação ao sobrepeso/obesidade, ou seja, maior percentual de indivíduos com sobrepeso/ obesidade quando avaliados pelo Waterlow modificado do que pelo método sugerido pela WHO (1995). Conclusão: Estes resultados, não demonstram qual o melhor método para se avaliar o estado nutricional, mas permite a reflexão das diferenças de sensibilidade e especificidade de cada um, permitindo que se trabalhe com estes resultados conforme a necessidade. Reforça-se ainda as dificuldades de uso dos que incluem apenas peso e estatura para a avaliação nutricional; havendo necessidade de se conhecer mais detalhes sobre os adolescentes. INSTITUTO DANONE 247 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 248 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Programa de atenção à saúde do adolescente – Proasa Viçosa, MG Autores: PRIORE, S.E.; RIBEIRO, S. Instituição: Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa. Introdução: A Universidade Federal de Viçosa conta com um serviço especializado que atende adolescentes de 10 a 20 anos, filhos de servidores (docentes, técnicos administrativos e de nível superior) e alunos dos cursos de graduação e do Colégio Universitário, objetivando promover a saúde e nutrição do adolescente da comunidade universitária, em atividades individuais e de grupo, atuando em fatores que possam interferir na sua qualidade de vida. Este programa teve início em agosto de 1998, é denominado PROASA (Programa de Atenção à Saúde do Adolescente), funciona com professores e alunos, e até o momento conta com 200 adolescentes cadastrados. Resultados: Avaliando-se os dados obtidos na 1a consulta, verificou-se que 72,9% procurou o serviço por iniciativa própria, sendo a maioria do sexo feminino (65,4%). Dos motivos citados, percebeu-se que 95,2% objetivava fazer uma avaliação geral do seu estado nutricional, sendo que, destes, 45,2% alegaram querer diminuir o peso corporal. Os outros motivos foram: orientação sobre suplementos (0,8%) e exame bioquímico alterado (4%). A faixa etária deste grupo ficou em porcentagens equivalentes, sendo aproximadamente 30% para os de 10 a 13, 14 a 16 e 17 a 20 anos. Dos casos de história familiar relatados, obesidade foi informada por 68,4% e hipercolesterolemia por 55,7%. Em relação ao estado nutricional dos adolescentes, quando avaliados pelo IMC, seguindo o proposto pela WHO (1995), detectou-se que 58% eram Eutróficos e 42% Distróficos, destes, 83% apresentavam-se com sobrepeso. Conclusão: Justifica-se a importância deste perfil pois a partir do conhecimento das características dos adolescentes que freqüentam o PROASA, trabalhos preventivos, não só aos atendidos no PROASA, mas a toda comunidade viçosense, poderão ser realizados visando melhorar a qualidade de vida presente, bem como futura, deste grupo etário. INSTITUTO DANONE 249 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 250 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Identificação na adolescência de variáveis de risco para o desenvolvimento de aterosclerose e construção de modelo matemático para predição dessas variáveis – resultados parciais Autores: RIBEIRO, R.Q.C.; OLIVEIRA, R.G.; COLOSIMO, E.A.; BOGUTCHI, T.F.; LAMOUNIER, J.A. Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Pediatria. Introdução: No momento atual em que os países em desenvolvimento ainda não superaram a “primeira onda” de doenças cardiovasculares (DCV) - Doença Reumática e Doença de Chagas-, encontram-se, ainda, sob o impacto da crescente epidemia das Doenças Isquêmicas do Coração (DIC), responsáveis pela “segunda onda”. Alguns estudos realizados em outros estados brasileiros já revelam níveis séricos elevados de colesterol total em crianças e adolescentes. Entretanto, carecemos ainda de estudos mais abrangentes e representativos da nossa população municipal. Objetivos: Determinar os níveis de lípides séricos em estudantes de primeiro e segundo graus da cidade de Belo Horizonte e compará-los com os encontrados em outras pesquisas nacionais e estrangeiras. Avaliar a prevalência de níveis séricos elevados dos lípides entre esses estudantes. Estabelecer possíveis correlações de diversas variáveis independentes com os níveis séricos de colesterol e com a prevalência de hipercolesterolemia nessas crianças e adolescentes, procurando potenciais fatores de risco para hipercolesterolemia e aterosclerose, que possam ser detectados precocemente. Metodologia: Foram estudados 981 adolescentes, escolares de 1o e 2o graus, entre 10 e 18 anos de idade, randomizados entre 545.046 escolares distribuídos entre as escolas púbicas e particulares existentes em Belo Horizonte, em 1998. Foram realizadas análises descritivas dos dados e construído um modelo matemático para predição dos valores médios das variáveis dependentes colesterol total e HDL-colesterol. Resultados: Os valores médios dos níveis séricos de lípides apresentaram a seguinte distribuição na amostra estudada (n=981): colesterol total: 155,3 (± 29,1), LDL-colesterol: 91,4 (± 25,3), HDL-colesterol: 46,7 (± 10,4), triglicérides: 86,4 (± 47,2). Em uma escala de riscos em desenvolver doença aterosclerótica na idade adulta (National Cholesterol Education Program), 32,9% dos escolares dessa amostra de Belo Horizonte se situavam a partir da faixa de risco moderado. INSTITUTO DANONE 251 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Através de análise de regressão multivariada, chegou-se a um modelo inicial com 2 variáveis dependentes e 5 independentes, derivado de uma análise de regressão multivariada, ainda com baixo poder de explicação da variabilidade (R2 = 0,088). Modelos: Nível sérico estimado do colesterol total = 173,75 + (9,95 x Sexo – 2,21 x Idade + 1,28 x IMC – 4,59 x Raça Negra – 7,71 x Nível sócio-econômico A1-B2 vs C-E); Nível sérico estimado do HDL-colesterol = 55,6 + (3,53 x Sexo + 0,46 x Idade - 0,14 x Peso 3,99 x Tipo de Escola – 2,03 x Nível sócio-econômico A1-B2 vs C-E) Conclusão: Os valores médios dos níveis séricos, dos escolares estudados, encontram-se mais baixos que a maioria dos estudos internacionais e nacionais, encontrando-se entretanto dentro de faixas de risco em desenvolver doença aterosclerótica na idade adulta preocupante. Para esta etapa do estudo, foram analisadas 26 variáveis relacionadas com as variáveis dependentes, colesterol total e o HDL-colesterol. Os modelos resultantes conseguiram explicar um percentual baixo da variabilidade dessas variáveis. Provavelmente esse percentual baixo será melhorado à medida em que forem acrescentadas outras covariáveis sabidamente relacionadas com as variáveis dependentes, e que já foram coletadas e estão sendo incorporadas na análise duma etapa posterior do Estudo, aumentando o valor do R2 deste modelo inicial. 252 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de sobrepeso e obesos em ambulatório de adolescentes Autores: GOLDBERG, T.B.L; GARCIA, D.A.; BAIOCCHI NETO, G. ; CURI, P.R. Instituição: Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina de Botucatu, SP. Introdução: A obesidade é um dos principais agravos nutricionais que acometem crianças e adolescentes, podendo acarretar aos mesmos sérias conseqüências negativas, imediatas ou futuras, para sua saúde física e/ou mental. Envolve um complexo de fatores como: causas genéticas, metabólicas, fisiológicas, psicológicas e forças do meio ambiente que interagem e dificultam o manejo e a manutenção da perda de peso. Tanto o sobrepeso como a obesidade em adultos são reconhecidos fatores de risco para o aumento do índice da morbi-mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes, neoplasias, doenças osteo-articulares e colelitíase, entre outras. Objetivo: O Ambulatório de Adolescentes, ligado ao Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, foi implantado em julho de 1988 e apresenta como objetivos principais: atividade assistencial, onde o adolescente é atendido de forma integral com ênfase nas mudanças próprias a esta fase de vida, aberto à população que dele necessite; e didática, onde é ministrada a introdução e o aprofundamento ao ensino da adolescência a residentes de Pediatria, estagiários, aprimorandos da FUNDAP e alunos da graduação em medicina. Metodologia: Foram analisados os prontuários de 469 adolescentes matriculados no Ambulatório de Adolescentes no período de 1988 a 1996, sendo que 211 adolescentes haviam se matriculado no período de 1988 a 1992 e 258 no período compreendido entre 1993 e 1996. Compunham o primeiro grupo: 108 adolescentes do sexo feminino e 103 do sexo masculino, e o segundo: 151 do sexo feminino e 107 do masculino. Para a realização da avaliação do estado nutricional utilizou-se o Índice de Massa Corporal ou de Quetelet (IMC = P/E2) , Relação Peso Observado/Peso Esperado (p50) para Estatura Observada x 100. Resultados: Observa-se no primeiro período de estudo, compreendido entre 1988 a 1992, a prevalência de sobrepeso e obesos para o sexo fem. de 26,85% e para o masc. de 12,62%. No segundo período de 1993 a 1996 de 48,34%, para o feminino, e 40,19%, para o masculino. Cifras elevadas, pois praticamente dobram nas adolescentes(80%) e mais que triplicam no sexo masculino(218%), na comparação entre períodos. Conclusão: A utilização dos dois indicadores proporcionou um alerta no tocante ao diagnóstico de sobrepeso e obesidade, evidenciando que com o evoluir dos anos estes diagnósticos apresentaram-se com elevada prevalência, superando inclusive os dados americanos. INSTITUTO DANONE 253 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 254 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Comparação entre indicadores nutricionais para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade entre adolescentes Autores: GOLDBERG, T.B.L.; BAIOCCHI NETO, G.; GARCIA, D.A.; CURI, P.R. Instituição: Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina de Botucatu, SP. Introdução: Considera-se que aproximadamente 80% de adolescentes e crianças obesas transformar-se-ão em adultos obesos, sendo que este problema, neste período da vida e nos demais, deve ser considerado como um grave problema de saúde pública. A partir da análise de prontuários dos 469 adolescentes (259 fem. e 210 masc.) acompanhados de 1988 a 1996 no Ambulatório de Adolescentes-FMB-UNESP e de levantamentos realizados neste período, evidenciou-se a freqüência do diagnóstico de sobrepeso e obesidade sobre tantos outros diagnósticos nutricionais. Ressaltando que este não é um ambulatório de especialidade e sim um ambulatório para adolescentes, deve espelhar os problemas da população geral de adolescentes da região. Objetivo: Comparar os critérios empregados para a realização dos diagnósticos nutricionais de sobrepeso e obesidade, nesta faixa etária. Metodologia: Para a realização da avaliação do estado nutricional utilizou-se o Índice de Massa Corporal ou de Quetelet (IMC = P/E2) e a Relação Peso Observado/Peso Esperado (p50) para Estatura Observada x 100, com determinação dos valores correspondentes aos percentis 85 e 95 do IMC, para cada faixa etária, e para a Relação Peso para Estatura foram considerados como níveis críticos de >110% a <120% sobrepeso e >120% obesos. Os valores de referência para peso e estatura foram aqueles do National Center for Health Statistics Percentiles ( NCHS). Para a análise estatística utilizou-se o Método de StwartMaxwell para duas amostras pareadas com eventos tricotômicos. Resultados: No caso dos adolescentes avaliados em nosso ambulatório, a utilização dos dois indicadores proporcionou um alerta no tocante ao diagnóstico de sobrepeso e obesidade, evidenciando que com o evoluir dos anos estes diagnósticos apresentaram-se com elevada prevalência. Quando os dois métodos utilizados para a realização dos diagnósticos nutricionais sobrepeso e obesidade foram comparados, através da análise estatística aplicada para a amostra de adolescentes, concluiu-se que os métodos discordam, e que a relação peso para estatura evidenciou mais casos com tais diagnósticos do que o índice de massa corporal. Conclusão: Diante de tal conclusão, sugerimos que na avaliação nutricional de adolescentes ambos métodos sejam utilizados, para que esta avaliação seja a mais criteriosa possível. INSTITUTO DANONE 255 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 256 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Mudanças no índice de massa corporal e na distribuição de gordura corporal associados à experiência reprodutiva Autores: RODRIGUES, M.L.C.F.; DA COSTA, T.H.M. Instituição: Universidade de Brasília, Departamento de Nutrição. Introdução: Os aspectos ligados a obesidade feminina, especialmente associados à maternidade, têm recebido maior interesse de pesquisa nos últimos anos. A experiência reprodutiva (ciclo de gestação e lactação) pode estar associada ao acúmulo e distribuição da adiposidade corporal e desta forma contribuir para a alta prevalência de obesidade na mulher. Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar a associação entre a experiência reprodutiva e as mudanças no índice de massa corporal (IMC) e na razão cintura-quadril (RCQ). Metodologia: As mulheres (n=200), residentes no Distrito Federal, foram recrutadas em unidades de saúde e em instituições educacionais. Formou-se três grupos de acordo com a paridade: 53 nulíparas (nenhuma gestação à termo), 62 primíparas (uma gestação à termo) e 85 multíparas (duas ou mais gestações à termo). Todas as mulheres foram antropometricamente avaliadas (peso, altura e circunferências da cintura e do quadril), além disso, foram coletados os fatores: sócio-econômico, comportamental, reprodutivo e dietético de toda a amostra. Foi utilizada a análise de regressão múltipla para avaliar o efeito das variáveis independentes (idade, estado civil, nível sócio-econômico, energético e de atividade física, uso de anticoncepcionais, hábito de fumar, escore de lactação e paridade) sobre as variáveis dependentes (IMC e RCQ). Resultados: Constatou-se, que os três grupos examinados diferem significantemente para os indicadores: IMC e RCQ. As mulheres multíparas apresentaram maior IMC (23,4 kg/m2) quando comparadas as primíparas (22,0 kg/m2) e as nulíparas (20,5 kg/m2). A paridade e o nível energético apresentaram associação com o IMC. Todavia, o nível energético manteve associação inversa com o IMC, visto que as mulheres que declararam menor nível energético, medido pelos inquéritos: recordatório 24h e freqüência alimentar, apresentaram maior IMC. Além disso, observou-se um alto consumo de alimentos lipídicos e guloseimas nas mulheres que passaram pela experiência de maternidade. As primíparas e multíparas apresentaram maior RCQ (0,81) quando comparadas ao grupo das nulíparas (0,73, p< 0,0001). Os fatores idade, nível sócio-econômico e hábito de fumar foram associados à RCQ, sendo maior para as mulheres com nível sócio-econômico mais baixo e entre as fumantes. Conclusão: Os resultados sugerem que as multíparas e primíparas tendem a ganhar mais peso e acumular gordura na região central do corpo. Para o grupo examinado, o IMC não INSTITUTO DANONE 257 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA ultrapassou o limite da normalidade (20-24 kg/m2), entretanto, as mulheres que passaram pela experiência reprodutiva apresentaram valor acima do ponto de corte (0,80), que é um indicador de morbi-mortalidade. Conclui-se, que a experiência reprodutiva é um dos fatores associados ao desenvolvimento da obesidade e ao maior acúmulo de tecido adiposo na região abdominal do corpo. (FAPDF). 258 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência do sobrepeso em adolescentes de um colégio de classe média/alta de Montes Claros/MG Autores: NUNES, V.L.P.(1); PEREIRA, F.A.N.(2) Instituição: 1 - Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais/Fundação Libanesa de Minas Gerais; 2 - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-M.G.-1999. Introdução: A obesidade vem se tornando um problema de saúde pública em todo o mundo industrializado, principalmente entre os adolescentes, com sérias conseqüências bio-psicosociais para o indivíduo. Por ser um problema de difícil tratamento, é importante reconhecer precocemente os indivíduos em risco de desenvolvê-la. Objetivos: Avaliar a prevalência do sobrepeso nos adolescentes de um colégio de classe média/alta e verificar se há associação entre o sobrepeso dos adolescentes e a obesidade dos pais, e se há associação entre o sobrepeso dos adolescentes e a prática de atividades físicas. Metodologia: Foram avaliados todos os 281 adolescentes do colégio, 149 meninos (53%) e 132 meninas (47%), com idade entre 10 e 18 anos. Os adolescentes foram pesados e medidos e responderam a um questionário sobre a sua prática de atividade física e sobre as características antropométricas dos pais. Para a definição do sobrepeso utilizou-se como ponto de corte o percentil 85 do Índice de Massa Corporal (IMC) das curvas de referência construídas a partir do peso e altura representativos de adolescentes brasileiros. Resultados: Foi encontrado sobrepeso em 62 adolescentes (22,1%), sendo 46 meninos (30,9%) e 16 meninas (12,1%). Maiores médias de IMC dos adolescentes foram encontradas quando um ou os dois pais eram considerados obesos. Quando os pais foram considerados normais ou magros a média do IMC foi de 20,4 para os meninos e de 19,9 para as meninas. Quando um dos pais foi considerado gordo, a média do IMC foi de 22,2 para os meninos e de 20,7 para as meninas, e quando os dois pais foram considerados gordos, a média do IMC foi de 21,8 e 22,2, respectivamente, para os meninos e meninas. A grande maioria dos adolescentes realiza atividade física regularmente, não sendo encontrada diferença entre os adolescentes normais e os com sobrepeso. Conclusões: A prevalência do sobrepeso nos adolescentes do sexo masculino é alta e semelhante a dos países industrializados. Os dados sugerem uma possível influência genética, ao mostrar que maiores médias de IMC dos adolescentes, principalmente entre as meninas onde a prevalência do sobrepeso foi bem menor, correlacionam com a obesidade dos pais. A prática de atividade física não está correlacionada ao sobrepeso entre os adolescentes estudados. INSTITUTO DANONE 259 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 260 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Estado nutricional relativo ao zinco de crianças e adolescentes obesos Autores: MARREIRO, D.N.; FISBERG, M.; COZZOLINO. S.M.F. Instituição: Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, USP ; Centro de Adolescentes, Departamento de Pediatria UNIFESP e Centro de Nutrição e Saúde, Universidade São Marcos, SP. Introdução: O zinco é essencial à nutrição humana, por desempenhar relevante papel em muitas vias metabólicas. Ele participa no metabolismo energético, como componente catalítico de mais de 300 enzimas, e como componente estrutural de várias proteínas, hormônios e nucleotídeos. Estudos realizados em animais e em humanos tem evidenciado que o metabolismo do zinco encontra-se alterado na presença da obesidade e, que esse mineral, parece estar relacionado com a resistência insulínica, comumente presente nesta doença. Objetivo: Avaliar, por meio de alguns parâmetros bioquímicos, e da dieta, o estado de nutrição relativo ao zinco de crianças e adolescentes obesos. Metodologia: Para tanto, foram pesquisados 23 crianças e adolescentes obesos, com idade entre 7 e 14 anos, atendidas no Centro de Pesquisa Saúde e Nutrição (CENPSN) da Universidade São Marcos – SP e um grupo controle (n=21). A avaliação das dietas foi feita utilizando o registro alimentar de três dias, e a análise por um programa computadorizado. A coleta de sangue venoso foi realizada em jejum de no mínimo de 12 horas. O estado de nutrição relativo ao zinco foi verificado pelas determinações da concentração de zinco no plasma, no eritrócito e excreção urinária de zinco/24horas pelo método de espectrofotometria de absorção atômica. Resultados: A partir dos resultados obtidos observou-se que a dieta de ambos os grupos apresentava-se com elevado percentual de gordura e proteína, e com concentração limítrofe de zinco e carboidratos. 47,8% dos indivíduos obesos apresentaram concentrações de zinco abaixo de 75mg/dL, considerado limítrofe para o diagnóstico de deficiência de zinco no plasma, no eritrócito, 100% desses indivíduos apresentaram valores inferiores a 40µg de zinco/ gHb e na urina, encontravam-se na média dos valores de referência (300-600µg de zinco/ 24horas, com apenas 17% dos indivíduos abaixo desses valores). Quanto ao grupo controle, 9,5% dos indivíduos apresentaram concentrações plasmática de zinco abaixo de 75mg/dL, no eritrócito, observou-se que menos da metade (47,6%) estavam inferiores a 40µg de zinco/ gHb e 38,1% destes indivíduos apresentaram excreção urinária abaixo do normal. Já em relação à análise da dieta, a média dos valores encontrados, ficaram em torno de 10mg/dia, com 59% dos indivíduos obesos abaixo da recomendação RDA de 1989. INSTITUTO DANONE 261 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Conclusão: Estes dados nos permite concluir que: os indivíduos obesos estudados apresentaram uma alteração no estado de nutrição, em relação ao zinco. 262 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Título: Prevalência de obesidade e sobrepeso em estudantes adolescentes de diferentes classes sociais Autores: ALMEIDA, A.P.C; COSTA, L.C.; GOMES, R.N.; LUCAS, A.S. Instituição: Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória. Introdução: A prevalência de obesidade em adolescentes está aumentando rapidamente em todo o mundo e relaciona-se a vários fatores de risco para doenças cardíacas tardias e outras doenças crônicas, incluindo: hiperlipidemia, hiperinsulinemia, hipertensão, e aterosclerose precoce, sendo também responsável pelo aumento da morbi-mortalidade em todas as faixas etárias. Objetivos: Este foi um estudo piloto para estimar a prevalência de obesidade e sobrepeso em estudantes adolescentes do primeiro e segundo graus de escolas situadas em bairros de classes sociais distintas. Metodologia: Foi estudada uma amostra de 52 estudantes de duas escolas do primeiro e segundo graus em Vitória, Espírito Santo, selecionadas aleatoriamente de uma população de 1020 estudantes, 480 da escola pública, situada em um bairro pobre e 540 da particular, situada em um bairro de classe média alta na ilha. O IMC (peso/altura2) obtido foi analisado de acordo com os níveis de sobrepeso e obesidade descritos no artigo Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey (BMJ 2000;320:1240 / 6 May), que estabelece limites mais apropriados de índice de massa corporal para cada faixa etária. Resultados: Dos 52 alunos entrevistados (25 da escola pública e 27 da particular), sobrepeso e obesidade foi presente em 13,46%. Apresentaram sobrepeso 11,54%, com igual distribuição entre os sexos. Obesidade apareceu em uma (1,92%) adolescente do sexo feminino da escola pública. Conclusão: Os índices encontrados neste estudo apontam para a necessidade de pesquisa ampliada, principalmente porque as taxas de prevalência de obesidade no país vêm tendo crescimento em um curto espaço de tempo, necessitando de atenção e interveniência precoce no status nutricional dos adolescentes, para reverter esta tendência de altas taxas de obesidade e sobrepeso, como acontece nos países desenvolvidos. INSTITUTO DANONE 263 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA 264 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA ANEXO PARTICIPANTES DO SIMPÓSIO REALIZADO EM SALVADOR, BAHIA, DE 8 A 9 DE JUNHO DE 2.000 Ana Marlúcia O. de Assis Escola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia [email protected] Andréa Deborah Barreto Oliveira Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Antônio da Silva Macedo Universidade Federal do Piauí [email protected] Antônio de Pádua Carneiro Almeida Escola de Medicina da EMESCCAM, Vitória, ES [email protected] Bárbara Regina Lerner Instituto de Saúde da Secretaria de Saúde de São Paulo [email protected] Carlos A. Nogueira de Almeida Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), SP [email protected] Cláudia Afonso Faculdade de Ciências e Nutrição da Universidade do Porto, Portugal [email protected] Durval Ribas Filho Associação Brasileira de Alimentação e Nutrição (ABRAN) [email protected] Eliane Garcia Rezende Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, MG [email protected] Élido Bonomo Universidade Federal de Ouro Preto, MG [email protected] INSTITUTO DANONE 265 OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Emília Addison Machado Moreira Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Ennio Leão Sociedade Brasileira de Pediatria [email protected] Geni Balaben Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Gilberto Veras Caldeiras Universidade Federal de Santa Catarina Gloria Valeria da Veiga Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Ida Helena C. F. Menezes Escola de Nutrição, Universidade Federal de Goiás [email protected] Inês Rugani Ribeiro de Castro Instituto de Nutrição Annes Dias, Rio de Janeiro [email protected] Isa de Pádua Cintra Universidade Federal de Ouro Preto, MG [email protected] João Eduardo Mendonça Vilela Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Joel Alves Lamounier Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] José Eduardo Dutra de Oliveira Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP [email protected] Lúcia de Fátima C. Pedrosa Schwarzschild Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] 266 INSTITUTO DANONE OBESIDADE E ANEMIA CARENCIAL NA ADOLESCÊNCIA Lucia Kiyoko Ozaki Yuyama INPA, Manaus, AM [email protected] Lucivalda Pereira Magalhães Universidade Federal da Bahia [email protected] Luiz Antonio dos Anjos Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro [email protected] Maria Claret Costa Monteiro Hadler Universidade Federal de Goiás [email protected] Maria da Conceição Monteiro da Silva Universidade Federal da Bahia [email protected] Maria de Lourdes P. Nascimento Hospital Geral Roberto Santos, Salvador, BA [email protected] Maria Emilia Daudt Von der Heyde Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Paraná [email protected] Mariela W. Berezovsky Danone S.A. mariela w [email protected] Mauro Fisberg Universidade Federal de São Paulo, Universidade São Marcos [email protected] Monica Portela Universidade Federal da Bahia [email protected] Nedja Silva dos Santos Universidade Federal da Bahia [email protected] Onofre Portella Danone S.A. onofre [email protected] INSTITUTO DANONE 267 Raquel Küerten de Salles Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Regina Lúcia M. Fagundes Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Reynaldo Gomes de Oliveira Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Ricardo Fernando Arrais Universidade Federal do Rio grande do Norte [email protected] Robespierre Queiroz da Costa Ribeiro Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais [email protected] Rocksane Carvalho Norton Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Selma Freire Cunha Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG [email protected] Sílvia Eloiza Priore Depto. de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa, MG [email protected] Sílvia Maria Franciscato Cozzolino Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição [email protected] Tânia Fernandes Bogutchi Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Valterlinda Alves de Oliveira Universidade Federal da Bahia [email protected] Produção gráfica: Seller Comunicação S/C Ltda. 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