Capa / Cover - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis
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Capa / Cover - Serviço Técnico de Caracterização de Combustíveis
1 2 Sumário/Summary Capa / Cover O carbono rumo às profundezas Carbon towards the depths Páginas 6 a 13 Pages 14 to 21 Capa/Cover: Cristiane Martins Carratu Fotos/Photos: iStockphoto/Dreamstime Editorial ...................................................... 4/5 Entrevista/Interview João Marcelo Ketzer fala do potencial brasileiro para emplacar o sequestro de carbono no País ..........22 João Marcelo Ketzer speaks of the Brazilian potential to topple the carbon sequestration in the Country ...........................................................31 Empresas Modernas/Modern Companies Laboratório da Butamax trabalha na pesquisa do biobutanol, que pode ser uma opção energética econômica e menos poluente ...........................40 Butamax Laboratory works on the research into the biobutanol, which may be an economic and less polluting energy alternative ..............................44 Gladstone Campos/RealPhotos Meio Ambiente/The Environment São Paulo terá ônibus movidos a etanol.............27 São Paulo will have ethanol-fueled buses ..........29 Divulgação Artigo/Article Cancun: esperanças renovadas .........................48 Cancun: renewed hopes ...................................51 Projetos do Cenbio/Cenbio Projects Redução de carbono pela eficiência ...................36 Carbon emission reduction through efficiency ....38 Agenda Programe-se para os próximos eventos .............54 Include the next events in your Schedule ...........54 3 Editorial O futuro ao nosso alcance A questão das mudanças climáticas é, sem dúvida, uma das mais discutidas nos últimos tempos, principalmente após a assinatura e ratificação do Protocolo de Quioto, que entrou em vigor em 2005. O Cenbio acompanha de perto não apenas a evolução nas negociações e resultados obtidos, como também desenvolve pesquisas visando à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), em particular através do uso da bioenergia em substituição aos combustíveis fósseis. De todas as medidas, o sequestro de carbono, conhecido pela sigla CCS, parece ser uma das mais promissoras. O conceito de capturar e estocar dióxido de carbono no subsolo e lacrá-lo para que não vaze para a atmosfera vem se consolidando como uma ideia que, embora polêmica, pode contribuir para a redução dos GEE. O Cenbio sempre será a favor do reflorestamento e da bioenergia, mas também é a favor do CCS por dois motivos. O primeiro é lógico: com o passar do tempo, a população mundial aumentará. Com ela, crescerá a atividade industrial como um todo e passaremos a emitir cada vez mais carbono (numa previsão pessimista). O CCS seria a solução para lutar contra esse aumento de emissões sem depender das energias renováveis, pois mesmo o desenvolvimento destas provavelmente não daria conta de mitigar todo o carbono emitido na atmosfera. O segundo motivo é a valorização do etanol brasileiro. Conforme discutimos em nossa matéria de capa, o CCS possui um potencial gigantesco para tornar nosso etanol ainda mais competitivo. Isso porque a produção do etanol já é praticamente neutra em relação às emissões de carbono. Capturando e estocando o CO2 que sai praticamente puro das dornas (uma vantagem que outras indústrias não têm), iremos tornar menor que zero o rastro de carbono das usinas de etanol. Isso pode significar a geração e venda de créditos de carbono, que, por si, implica uma arrecadação extra às usinas. Convertendo esse valor arrecadado em investimentos em tecnologia e pesquisa, podemos ter o etanol mais forte do mundo a médio prazo. É uma estimativa otimista, sim, mas sempre somos otimistas. Mais que isso, estamos constantemente acompanhando as novidades nessa área. Caso do biobutanol, um combustível mais caro que o etanol, mas também eficiente tanto no rendimento em uso veicular como na redução de emissões de carbono. Um laboratório dedicado a esse biocombustível foi recentemente inaugurado em Paulínia, no interior de São Paulo, cujos detalhes trazemos nesta edição. Falando em tecnologia e investimentos, também trazemos matérias sobre a inclusão de cinquenta ônibus movidos a etanol na frota paulistana, em substituição a outros coletivos mais antigos, movidos a diesel; e sobre um projeto desenvolvido pelo Cenbio em conjunto com a AES Eletropaulo, que visa a monitorar a utilização de energia elétrica em comunidades de baixa renda no Estado de São Paulo e melhorar a eficiência de seu uso. Como se pode ver, é uma edição de olho no futuro, trazendo soluções que começam agora para fazer diferença amanhã. Ainda paramos para recordar a Conferência de Cancun em artigo do professor José Roberto Moreira, que comenta os resultados do encontro, em que as discussões sobre o clima finalmente caminharam. Nós, brasileiros, ganhamos pelo menos uma grande notícia: a decisão de que se poderão obter créditos de carbono a partir do CCS, assunto principal desta edição. Olhando adiante e prestando atenção ao passado, prosseguimos nossos trabalhos. O futuro está nas próximas páginas. Você está colaborando para torná-lo melhor? Boa leitura! Suani Teixeira Coelho Editora Coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo 4 Fevereiro /February 2011 Editorial The future at our reach T he climate change issue has undoubtedly been one of the most discussed lately, mainly after the signature and ratification of the Kyoto Protocol, which was enforced in 2005. Cenbio closely follows not only the evolution in negotiations and results obtained, but also develops researches aiming at the reduction of greenhouse gases (GHG) emissions, particularly through the use of bioenergy to replace fossil fuels. Of all the measures, carbon sequestration (and storage), known by the abbreviation CCS, seems to be one of the most promising ones. The concept of capturing and storing carbon dioxide underground and of sealing it so that it does not leak into the atmosphere has been consolidating itself as an idea that, albeit polemical, can contribute to reduce GHG. Cenbio will always advocate reforesting and bioenergy, but it is also in favor of CCS for two reasons. The first one is logical: over time, the world population will increase. With that, the industrial activity as a whole will grow and we will start to emit more and more carbon (in a pessimistic forecast). CCS would be a solution to fight against this increase in emissions without depending solely on renewable energy, as even its development would probably not be enough to mitigate all the carbon emitted into the atmosphere. The second reason is the valorization of the Brazilian ethanol. As discussed in our cover article, CCS has a huge potential to make Brazilian ethanol even more competitive. This occurs because the ethanol production is already practically neutral in relation to carbon emissions. By capturing and storing the CO2 that comes out practically pure from the vats (an advantage other industries do not count on), the carbon vestiges of the ethanol plants will be made smaller than zero. This could mean the generation and sale of carbon credits, which, by itself, implies an extra income for the plants. By converting the sum earned from investments in technology and research, we can have the strongest ethanol in the world in the medium term. It is an optimistic forecast, indeed, but we are always optimistic. More than that, we are constantly following what is new in the area. In the case of biobutanol, it is a more expensive fuel than ethanol, but also more efficient both in yield in vehicular use and in reducing carbon emissions. A laboratory dedicated to this biofuel was recently inaugurated in Paulínia, in the State of São Paulo, and the details are presented in this issue. Speaking of technology and investments, we also present articles on the inclusion of fifty ethanol-fueled buses in the São Paulo city fleet, to replace other older, diesel-fueled ones; and on a project jointly developed by Cenbio and AES Eletropaulo, which aims to monitor the use of electric power in low-income communities in the State of São Paulo and to improve the efficiency of its use. As can be seen, this is an issue with an eye on the future, presenting solutions that start now to make a difference ahead. We also take a break to discuss the Cancun Conference in an article by Professor José Roberto Moreira, who comments on the results of the meeting, in which the discussions on the climate finally advanced. We, Brazilian people, have at least one piece of good news: the decision that carbon credits can be obtained from CCS, the highlight in this issue. Looking ahead and paying attention to the past, we proceed with our works. The future lies in the next pages. Are you cooperating to make it better? Enjoy your reading! Suani Teixeira Coelho Editor Coordinator of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) Institute of Electrotechnics and Energy Universidade de São Paulo 5 Capa iStockphoto/Dreamstime O carbono rumo às profundezas Estocar CO2 é a nova arma dos cientistas para lutar contra o aquecimento global N ão restam dúvidas de que o reflorestamento é um dos mais importantes recursos contra o aquecimento global. Uma floresta desenvolvida, como a Amazônica, captura cerca de 2 t de carbono por ha ao ano. Isso significa, em todo o globo, algo entre 400 milhões e 800 milhões de t de carbono em um ano, o que corresponde a até 10% das emissões globais de carbono no mesmo período. Já uma floresta em desenvolvimento possui índices muito mais animadores: ela é capaz de absorver de 150 a 200 t de carbono por ha ao ano. O problema é que manter florestas não é fácil. Existem questões políticas, financeiras, culturais e sociais que impedem que princípios de conservação e reflorestamento sejam criados e executados com a velocidade necessária. Tanto é que nós, brasileiros, temos de comemorar o fato de o desmatamento na Amazônia estar diminuindo. Devido a essa realidade preocupante, governos de todo o mundo têm se voltado para uma nova solução, a captura geológica de carbono, ou CCS, sigla em inglês para “carbon capture and storage”. Em suma, ela consiste em criar sistemas físicos de captura do CO2 em suas origens (termelétricas, petroquímicas, indústrias em geral) e transportá-lo com o uso de compressores até o subsolo terrestre ou marítimo. “A ideia é armazenar o CO2 geologicamente de tal forma que se evite sua liberação para a atmosfera e se mantenha o CO2 no reservatório geológico”, resume José Miguez, coordenador-geral de Mudanças Globais de Clima do Ministério da Ciência e Tecnologia. “Nesse sentido, as grandes fontes estacionárias de CO2 deixariam de existir e haveria uma redução significativa das emissões mundiais. Trata-se de um processo diferente da absor- 6 Fevereiro /February 2011 Capa Dreamstime ção de CO2 pela vegetação, apesar de que esta continuaria, acarretando uma redução adicional dos níveis de CO2 da atmosfera”, explica. Como é o processo Um estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2005 aponta que as principais emissoras mundiais de CO2 são (em t por ano): usinas produtoras de energia (10.539 milhões), fábricas de cimento (932 milhões), refinarias (798 milhões), indústrias de ferro e aço (646 milhões), indústria petroquímica (379 milhões) e processadoras de petróleo e gás natural (50 milhões). Os processos de captura geológica de carbono são voltados a esses segmentos industriais. Para succionar o gás, seriam usadas redes de tubulação (mais conhecidas como pipelines, do inglês), somadas a compressores que liquefazem o CO2. Essa é considerada uma solução porque já existe tecnologia madura para tal: só nos Estados Unidos operam hoje 2,5 mil km de pipelines transportando mais de 40 milhões de t de CO2 todo ano. Outras opções de transporte incluem navios, trens de carga e caminhões-tanque, embora todas se apliquem apenas a produções de pequena escala. Qualquer que seja o transporte, o gás é enviado a uma central de captura para dali ser repassado aos bolsões subterrâneos. Com a tecnologia da CCS, grandes usinas poluidoras, como as termelétricas, deixarão de jogar o CO2 na atmosfera e, em vez disso, irão injetá-lo no subsolo A separação industrial do CO2, antes que ele seja enviado às pipelines, pode ser feita de três maneiras. A primeira é o sistema de póscombustão, mais adequada para as termelétricas: nele, o gás é removido após a queima do combustível fóssil, quando passa pela chaminé industrial. A segunda é o sistema de précombustão, no qual, antes de queimar, o combustível fóssil é gaseificado para que oxide e libere uma mistura gasosa de CO e H2O. Essa mistura, depois, é manipulada para a formação de H2, que pode ser usado como combustível, e CO2. A terceira maneira é a mais delicada. Chamada de sistema de combustão oxifuel, ela consiste em realizar a queima do combustível fóssil com O2 como comburente, em vez de ar. Isso resulta em uma corrente de gás com praticamente CO2 puro, que pode ser diretamente encaminhado para as pipelines. Ou seja, diferente das outras tecnologias, que retiram o CO2 da fumaça, o sistema de combustão oxifuel faz com que a própria fumaça seja o CO2. Já existe tecnologia madura tanto para os processos de pré como para os de pós-combustão, mas o de combustão oxifuel ainda está em estudos. O IPCC prevê que ele será mais caro, mas afirma também que, por fornecer um CO2 quase puro, que necessita de pouco ou nenhum trabalho de separação, ele seja uma opção viável. 7 Capa Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas/Reprodução Gás para consumo doméstico Biomassa Carvão Cimento, aço, refinarias, etc. Gás Gás natural + captura de CO2 Petróleo Geração de eletricidade + captura de CO2 Carbonatação mineral Os sistemas CCS funcionarão com uma central que receberá CO2 das fontes emissoras e o retransmitirá para os sistemas de injeção, em terra ou em mar Armazenamento geológico Uso industrial Armazenamento geológico Com a tecnologia que existe hoje, o IPCC estima que seja possível capturar entre 85% e 90% do CO2 processado em uma central de captura. Uma usina equipada com um sistema CCS precisaria de até 40% mais energia para operar do que uma sem, mas poderia reduzir suas emissões de CO2 para a atmosfera entre 80% e 90%, na mesma comparação. Onde o CO2 vai parar Os reservatórios se dividem em dois tipos: geológicos e oceânicos. Os geológicos são o foco das atenções dos cientistas no momento, pois apresentam mais facilidade de exploração. Eles se dividem em quatro subtipos: campos de gás natural ou petróleo, campos antigos de petróleo (por meio de recuperação aprimorada), aquíferos salinos e reservas não mineráveis de carvão mineral (por meio de recuperação aprimorada de metano). Os campos de gás natural ou petróleo são poços maduros em que não há mais extração dos combustíveis. O armazenamento nesses campos consistiria em injetar o CO2 de forma gasosa no subsolo e mantê-lo lá. Devido à profundidade e a mecanismos naturais de vedação, o gás seria espontaneamente mantido nesses bolsões, sem risco de escapar. A recuperação aprimorada de petróleo 8 Plantas petroquímicas Uso futuro de H2 Armazenamento oceânico (navio ou duto) consiste em injetar CO2 de forma gasosa em campos antigos (mas ativos) para melhorar a extração. Conhecida como EOR (de “enhanced oil recovery”), essa técnica é madura, popular e muito usada atualmente para melhorar a extração de petróleo. A pressão extra fornecida pelo gás ajuda a impulsionar o petróleo para cima, além de torná-lo menos viscoso, o que facilita a extração. O CO2 é perfeito para a atividade, já que o uso de ar faria com que o petróleo pegasse fogo. O gás volta parcialmente para a superfície junto com o petróleo e é reutilizado na injeção. Entre 30 e 50 milhões de t de CO2 são injetados anualmente em campos nos EUA apenas para esse fim. “As maiores dificuldades estão associadas a encontrar um contexto geológico que permita o aprisionamento do carbono e seja economicamente viável”, afirma Ricardo Hirata, geólogo e professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). Ele lista três requisitos principais para que o poço ofereça essa condição: ser isolado da superfície e de sistemas abertos para não haver retorno do carbono à atmosfera; ter condições de pressão e temperatura para níveis de saturação do carbono no meio; e ser suficientemente permeável para permitir introdução de um fluido. Aquíferos salinos são camadas de rochas Fevereiro /February 2011 Capa porosas e água em salmoura localizadas muito abaixo da superfície terrestre e sem conexão com os lençóis de água doce. Embora não tenham potencial de uso para os humanos, essas formações são abundantes e poderiam abrigar uma grande quantidade de CO2. O relatório do IPCC estima que até 10 mil Gt do gás poderiam ser armazenadas nesses aquíferos, o que os torna um dos destinos mais cotados para receber o CO2. Uma desvantagem é que, por serem muito profundos, não se possuem informações detalhadas sobre cada um deles, o que pode ser um problema. A recuperação aprimorada de metano de reservas não mineráveis de carvão é chamada, em inglês, de ECBM (de “enhanced coal bed methane recovery”). Como as reservas não podem ser mineradas, o carvão mineral não pode ser retirado, tornando o bolsão virtualmente inútil. A recuperação aprimorada gera uma forma de aproveitamento dessa área: o CO2 é injetado na mina, que adere ao carvão poroso pelo processo de adsorção. Esse metano pode ser capturado e vendido para termelétricas, que, se equipadas com um sistema CCS, não permitirão o vazamento do CO2 emitido pela sua queima. Caso fosse liberado na atmosfera, o metano anularia os benefícios da captura de carbono, pois seu efeito como gás de efeito estufa é 21 vezes maior do que o do CO2. Injeção oceânica O armazenamento oceânico aconteceria por injeção direta, com duas variações. Na primeira, por dissolução, o CO2 seria injetado diretamente na coluna d’água, a cerca de mil m de profundidade, por meio de uma tubulação vinda ou do continente ou de um navio cargueiro. Na segunda, por formação de lago, a tubulação vinda do continente ou de uma plataforma marítima depositaria o CO2 a profundidades maiores do que 3 mil m, onde a substância é mais densa que a água e, portanto, formaria um “lago” e demoraria mais para se dissolver nas águas ao redor. Em ambos os casos, o CO2 depositado estaria em estado líquido. Há problemas com essa forma de armazenamento. O mais grave é o ambiental: o IPCC estima que, ao ser injetado no mar, parte do CO2 reagirá com a água e formará ácido carbônico (H2CO3), o que aumentaria a acidez da água e traria consequências em cadeia mesmo para formas de vida distantes da área de injeção. O outro problema é que, com o tempo, o CO2 se integraria ao ciclo de carbono na atmosfera novamente, o que faz com que essa técnica de armazenamento seja apenas temporária. Há ainda outra maneira de armazenar CO2 relacionada à água: a carbonação mineral. Esse é um processo químico que consistiria basicamente em reagir o CO2 com óxidos de metais como cálcio e magnésio (CaO e MgO, respectivamente), encontrados de forma residual nos rejeitos industriais de refinarias e outras usinas. A reação forma carbonatos minerais, como o CaCO3 e o MgCO3, que são estáveis Dreamstime Dutos como esses, que já existem em abundância em países como os EUA, para transmissão de petróleo, serão usados para o transporte de CO2 9 Capa As várias profundidades em que o CO2 pode ser enterrado: mesmo no oceano, a injeção ocorrerá em depósitos geológicos abaixo do leito marítimo 10 no formato sólido, o que manteria o carbono aprisionado por anos. Esse é um fenômeno que ocorre sozinho na natureza, porém de forma muito lenta. Para industrializar o processo como uma forma de sistema de captura de carbono, seria preciso pré-tratar os óxidos – e isso exigiria um consumo maior de energia por parte da fábrica. De todas as opções apresentadas, apenas a recuperação aprimorada de petróleo possui um mercado maduro. Outras ainda dependem de condições específicas para serem viáveis (campos de gás natural ou petróleo, aquíferos salinos), estão em fase de testes (recuperação aprimorada de metano de reservas não mineráveis de carvão) ou em fase de pesquisa (as demais). Mas, uma vez que as técnicas estejam dominadas, é provável que a captura de carbono se torne uma opção interessante: segundo o estudo do IPCC, a maioria das áreas do planeta com grande concentração de emissões de CO2 está a cerca de 300 km de potenciais reservatórios para armazenamento geológico. Só nos EUA, cientistas mapearam, em 2009, uma área total de 16 mil km2 de formações rochosas que poderiam ser usadas para armazenar CO2 pelos próximos quinhentos anos. Pontos controversos A tecnologia de captura geológica de carbono ainda não é unanimidade. Parte da comunidade científica defende a técnica como uma alternativa viável para o problema das emissões de carbono, enquanto ambientalistas e outros profissionais envolvidos afirmam que o sistema não seria eficaz. Um relatório do Greenpeace criticando a técnica foi publicado em 2008: Falsa esperança – Por que a captura e o armazenamento de carbono não irão salvar o clima. Um dos principais argumentos é de que a tecnologia gasta muita energia: segundo o relatório, uma termelétrica gasta até 40% a mais de energia elétrica para custear a CCS. “A adoção em grande escala da CCS deve acabar com os ganhos de eficiência dos últimos cinquenta anos e aumentar o consumo em um terço”, afirma o relatório. O custo, de fato, é geralmente apontado como o maior problema. O próprio IPCC admite que uma termelétrica poderia encarecer em até 50% o preço do kWh com a simples adoção do sistema. Todo esse aumento se deve à dificuldade em separar o carbono dos outros gases e resíduos misturados à fumaça indus- Fevereiro /February 2011 Capa Fonte: Cepac Os envolvidos com a CCS afirmam que a tecnologia não se anuncia como a única solução e que não resolverá nada sozinha. “Hoje em dia, a emissão de CO2 é muito maior do que a capacidade de absorção vegetal, o que torna necessário o desenvolvimento de métodos complementares que contribuam para o combate ao aquecimento global”, argumenta Corrêa do Lago. A ideia de que os depósitos geológicos não são seguros também não é certa. Apesar de não existir risco zero, a pesquisa do IPCC indica que as rochas dos depósitos formam um lacre efetivo contra vazamentos e que o escape mais provável do gás seria o próprio canal por onde ele foi injetado, o qual estaria sob controle humano. “É difícil encontrar alguma técnica ou atividade desenvolvida pelo homem, sobretudo em seu estágio de consolidação, que não envolva algum tipo de risco”, afirma Corrêa do Lago. “Embora não haja registros de vazamentos nos projetos-piloto executados em dezenas de países, não parece razoável afastar, absolutamente, a possibilidade de risco. Como a utilização da CCS leva ao armazenamento de carbono por longo período, o aperfeiçoamento de mecanismos para vigilância constante de falhas de segurança é fundamental para a aplicação bem-sucedida da tecnologia em escala comercial.” Para Hirata, a CCS é uma iniciativa cara e que requer condições ideais em várias áreas, como logística, tecnologias de injeção, geologia e avaliação de impactos ambientais. “A injeção de qualquer coisa sob a superfície necessita de autorização governamental, pois pode alterar as condições físicas e químicas das águas e aquíferos e do próprio subsolo”, lembra o geólogo. Ele afirma, porém, que esse Bases marítimas, similares às plataformas de extração de petróleo, serão usadas para injetar o CO2 em depósitos abaixo do mar iStockPhoto trial. “O custo de utilização da tecnologia de CCS pode variar muito, de acordo com fatores que envolvem a magnitude do projeto, o custo de transporte, condições de armazenamento e de aproveitamento do dióxido de carbono”, afirma o ministro André Aranha Corrêa do Lago, diretor do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores. “O principal entrave [para a adoção em larga escala da CCS] reside no alto custo para sua utilização, ao mesmo tempo em que ainda não foi estabelecido mecanismo que ofereça contrapartidas econômicas para a empresa que decida investir em CCS”, completa o ministro, defendendo que os governos federais têm papel crucial nessa questão. Outro argumento do Greenpeace contra a tecnologia é de que o sistema não é eficaz a curto prazo – ele calcula que, para evitar os piores efeitos do aquecimento global, as emissões de CO2 devem começar a cair a partir de 2015, e a CCS, segundo as projeções mais otimistas, só conseguiria funcionar com capacidade total por volta de 2030. A ONG afirma ainda que a CCS poderia ser usada como desculpa para construir novas termelétricas à base de carvão, o que seria “inaceitável e irresponsável”. 11 Capa risco não é tão grave quanto se pensa: devese lembrar que, embora existam, os riscos de degradação de aquíferos são menores, pois o carbono não apresenta toxicidade. “Adicionalmente, como essas técnicas de injeção de carbono são novas e as experiências, poucas, há necessidade de uma atenção e monitoramento maior para acompanhar potenciais problemas.” “A tecnologia da CCS se soma ao leque de opções de mitigação que serão necessárias para combater o aquecimento global”, acredita José Miguez. “As estimativas do IPCC são de que a CCS poderia contribuir com entre 15% e 55% do esforço cumulativo de mitigação até 2100, dependendo do cenário e da emissão de referência prevista em cada cenário, o que significa que será uma medida importante de mitigação no futuro”, aponta. O CCS pelo mundo Dreamstime Criar nas usinas sistemas que separem o CO2 dos outros gases residuais é o processo mais difícil e custoso do CCS 12 Em todo o mundo, a tecnologia de captura geológica de carbono ainda é incipiente. O primeiro projeto a operar foi o do campo de gás natural de Sleipner, na Noruega, em 1996. Marítimo, o campo extrai gás com 9% de dióxido de carbono em sua composição. Como o mercado exige que essa porcentagem não passe de 2,5%, a usina realiza a separação do CO2 para enterrá-lo posteriormente. Desde que o sistema de CCS foi instalado, mais de 10 milhões de t de CO2 foram enterradas em um depósito geológico a cerca de mil m abaixo do nível do mar. Até hoje, não foi reportado nenhum vazamento. Segundo a StatoilHydro, administradora do campo de Sleipner, o custo para emitir 1 t de CO2 na atmosfera, na Noruega, é de US$ 50, incluindo impostos e compensações pelos créditos de carbono. Por isso, deixar de emitir o gás tornou-se uma operação com custo-benefício favorável. Atualmente, o maior programa de CCS do mundo é o Projeto de Dióxido de Carbono de Weyburn-Midale, no Canadá. Através de um duto de 320 km, o CO2 é transportado desde a cidade de Beulah, nos EUA, até a cidade de Weyburn, no Canadá, onde é usado pelo projeto em um processo de recuperação aprimorada de petróleo. Aproximadamente 6.500 t de CO2 são injetadas diariamente no campo de Weyburn, que deve ganhar uma sobrevida de até 25 anos por causa da recuperação aprimorada. Além de ser bem-sucedido em termos operacionais, o programa também é visto como um exemplo de cooperação bilateral contra o aquecimento global. Além desses projetos, existem outros em menor escala em todo o mundo, a maioria em fase de negociações e aprovação de recursos. No Brasil, ainda não existem programas ativos de CCS, a não ser em pequenas escalas, a caráter de teste. “Temos uma experiência pequena de injeção de 40 mil t de CO2 por ano em um poço terrestre na Bahia desde 1987, pela Petrobras, com o objetivo de recuperação aprimorada de petróleo”, lembra José Miguez. Para tentar levar o País adiante na questão, a Petrobras e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) fundaram, em 2006, o Centro de Excelência em Pesquisa em Armazenamento de CO2 (Cepac) – veja entrevista na página 22. O centro tem por objetivo realizar pesquisas na área de sequestro de carbono e ajudar a criar estudos e parâmetros que deem base para a exploração comercial da tecnologia no Brasil. Além disso, projetos como o RCCS (veja quadro) pretendem explorar a facilidade gerada pela indústria do etanol de fornecer o CO2 em estado praticamente puro. Fevereiro /February 2011 Capa Projeto governamental pretende fazer CCS andar no Brasil No Brasil, o sequestro de carbono possui um grande potencial na indústria de etanol. Isso porque, nas dornas de fermentação das usinas, o gás obtido como produto secundário é quase CO2 puro. Essa pureza é o grande trunfo, pois, em termelétricas e indústrias de outros segmentos, há grande dificuldade no processo de separação do CO2 de outros gases e envolve custos elevados. O governo federal sabe desse potencial e já iniciou um projeto para estudar e prospectar o aproveitamento do CO2. A iniciativa tem o nome oficial de “Projeto RCCS – Captura e Armazenamento do CO2 proveniente do processo de fermentação do açúcar em etanol no Estado de São Paulo”. Esse Estado foi escolhido para a execução do projeto, pioneiro no Brasil e no mundo, porque concentra 2/3 da produção de etanol brasileiro. A elaboração do projeto baseia-se no potencial poder de redução das emissões de CO2 pelo setor sucroalcooleiro, incluindo a captura do CO2 no processo de fermentação do açúcar em etanol, sua compressão e seu armazenamento em um aquífero salino. O Global Environmental Facility (GEF), do Banco Mundial, financia 30% do projeto e há necessidade de co-financiamento a partir de recursos financeiros e não financeiros de parceiros interessados em participar, que estão sendo procurados. Entre os parceiros do projeto estão a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a Petrobras, a Shell, a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que, junto com a Universidade de São Paulo – por meio do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) e do Instituto de Geociências – estão preparando documentação detalhada para começar as atividades do projeto ainda em 2011. A Cetesb participa do projeto com as orientações ambientais adequadas, pois não há legislação no Brasil para o licenciamento ambiental de CCS e, portanto, fica sob a responsabilidade do grupo estudar as condições e avaliar os riscos do projeto. Como o piloto será instalado no Estado de São Paulo, há a preocupação com a integridade do aquífero Guarani, importante reserva estratégica para o abastecimento de água da população. Uma das características mais elogiadas da captura de carbono a partir do etanol é, por esse já ser um recurso renovável, permitir que as emissões ultrapassem a neutralização (emissão zero), tornando-se negativas. Basicamente, isso significaria que todo o CO2 capturado em usinas de etanol de cana-de-açúcar estaria compensando emissões de outras fontes, pois as emissões desse processo já estariam neutralizadas. Esse carbono extra poderia gerar arrecadação por meio da venda de créditos de carbono, por exemplo. “Nós estamos em uma fase burocrática, a de escrever documentos”, relata José Roberto Moreira, professor do Programa de Pós-graduação em Energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e coordenador do projeto RCCS. “Estamos documentando onde é mais favorável enterrar, quem pode explorar, quem tem competência para administrar, etc.”. Moreira coordena esse trabalho com quinze colaboradores. O grande objetivo, destaca o professor, “é valorizar o etanol brasileiro, mostrar para o mundo que o nosso etanol não só não emite CO2 como absorve”. O projeto brasileiro prevê que seja possível armazenar 1 t de CO2 com um custo de até US$ 20. “Em um projeto desses para outras indústrias, seriam US$ 100, devido à necessidade de separar o CO2 e, no caso deste projeto, o CO2 é praticamente puro”, afirma Moreira, ressaltando a economia gerada pelo CO2 do etanol. A meta inicial do projeto é que, ao longo dos primeiros dez anos de atividade, o RCCS capture e armazene 1 milhão de t de CO2. “Estimamos que, para chegar a esse índice, precisaríamos de US$ 30 milhões”, afirma Moreira. “Estamos na fase de revisão: vamos manter essa meta e captar mais dinheiro ou vamos reduzir a meta?” 13 Cover Carbon towards the depths Stocking CO2 is the new scientists’ weapon to fight global warming R eforestation is undoubtedly one of the most important resources against global warming. A grown forest, such as the Amazon, captures about 2 t of carbon per ha a year. This means, all over the world, something between 400 million and 800 million t of carbon in a year, which corresponds to up to 10% of the global carbon emissions in the same period. In turn, a developing forest has far more stimulating indexes: it is able to absorb from 150 to 200 t of carbon per ha a year. The problem is that keeping forests is not easy. There are political, financial, cultural and social issues that prevent conservation and reforestation principles from being created and executed with the necessary speed. Therefore, we, Brazilian people, have to celebrate the fact that the Amazon deforestation has been decreasing. Due to this disturbing scenario, governments all over the world have been investing in a new solution, carbon capture and storage, or CCS. In sum, it consists in creating physical systems for capturing CO2 in its sources (thermopower plants, petrochemical plants, industries in general) and moving it underground or under the sea by using compressors. “The idea is to store the CO2 geologically so as to avoid its emission into the atmosphere and to keep CO2 in the geological reservoir”, summarizes José Miguez, general coordinator of Global Climate Change of the Ministry of Science and Technology. “In this sense, the large CO2 stationary sources would cease to exist and there would be a significant reduction in the world emissions. This process differs from CO2 absorption by the vegetation, although this one would also continue, causing an additional reduction in the CO2 levels in the atmosphere”, he explains. 14 Fevereiro /February 2009 2011 Cover Stock.XCHNG How the process works A 2005 study by the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) points out that the major world CO2 emitters are (in t per year): power plants (10,539 million), cement plants (932 million), refineries (798 million), iron and steel industries (646 million), petrochemical industries (379 million) and oil and natural gas processors (50 million). Geological carbon capture processes are directed to these industrial segments. To draw out the gas, pipelines would be used, added to compressors that liquefy CO2. This is considered a solution as there is already a mature technology for that: in the United States alone, 2.5 thousand km of pipelines are operating, conveying over 40 million t of CO2 every year. Other transportation options include vessels, cargo trains and tankers, although these ones apply only to small-scale productions. Whatever the transportation mode, the gas is sent to a capture center, and from there, it is resubmitted to underground reservoirs. The CO2 industrial separation, before it is sent to the pipelines, can be conducted in three ways. The first one is the post-combustion system, more adequate to thermopower plants: in it, the gas is removed after the fossil fuel is burned, while it goes through the industrial chimney. The second one is the precombustion system, in which, before burning, the fossil fuel is gasified so that it oxidizes and emits a gaseous mixture of CO and H2O. This mixture is then manipulated to form H2, which can be used as fuel, and CO2. The third way is more delicate. Called oxifuel combustion system, it consists in performing the fossil fuel burning with O2 as combustive agent, instead of air. This results in a gas flow with practically pure CO2, which can be sent directly to the pipelines. That is, differently from the other technologies, which remove CO2 from the smoke, the oxifuel combustion system makes the smoke itself be CO2. There is already mature technology both for the pre and for the post-combustion processes, but that of oxifuel combustion is still being studied. The IPCC foresees that it will be more expensive, but also states that, for With CCS technology, big emitters such as thermopower plants will be able to stop disposing CO2 into the atmosphere and, instead, to inject it in the underground 15 Cover Intergovernmental Panel on Climate Change/Reproduction CCS systems will work with a central plant that will receive the CO2 from the emitting sources and redirect it to the injection plants, in land or sea Gas to domestic supply Biomass Ciment, steel, refineries, etc. Gas Natural gas + CO2 capture Coal Petróleo Petrochemical plants + CO2 capture Future H2 use Electricity generation Mineral carbonation CO2 geological storage Industrial uses CO2 geological storage supplying a practically pure CO2, it needs little or no separation work, and is thus a viable option. With the existing technology today, the IPCC estimates that it will be possible to capture between 85% and 90% of the CO2 processed in a capture center. A plant equipped with a CCS system would need up to 40% more power to operate than one without it, but it could reduce its CO2 emissions into the atmosphere by between 80% and 90%, in the same comparison. Where CO2 heads to Reservoirs are divided into two types: geological and oceanic. The geological ones are currently the scientists’ focus of attention, since they are easier to explore. They are divided into four subtypes: natural gas or oil fields, old oil fields (by means of improved recovery), saline aquifers and non-exploitable coal reserves (by methane improved recovery). Natural gas or oil fields are mature wells in which fuels are no longer extracted. The storage in these fields would consist in injecting CO2 in its gaseous form underground and keeping it there. Due to their depth and to natural sealing mechanisms, the gas would be spontaneously kept in the reservoirs, with no risk of escaping. 16 Ocean storage (Ship or pipeline) Oil improved recovery consists in injecting gaseous CO2 into old (yet operating) fields to improve extraction. Known as EOR (enhanced oil recovery), today this is a mature, popular and widely used technique to improve oil extraction. The extra pressure supplied by the gas helps to impel the oil upwards, besides making it less viscous, which facilitates the extraction. CO2 is perfect for the activity, since the use of air would set the oil on fire. The gas partially returns to the surface with the oil and is reused in the injection. Between 30 and 50 million t of CO2 are injected yearly in fields in the USA solely for this end. “The greatest difficulties are associated to finding a geological context that allows arresting carbon and making it economically viable”, affirms Ricardo Hirata, a geologist and a professor at the Institute of Geosciences of the University of São Paulo (USP). He lists three major requirements for the well to present this condition: being isolated from the surface and from open systems so as to prevent the carbon from returning to the atmosphere; having pressure and temperature conditions for carbon saturation levels in the environment; and being permeable enough to allow the introduction of a fluid. Saline aquifers are layers of porous rocks Fevereiro /February 2011 Cover and brine located far below the Earth surface and with no connections to groundwater. Despite having no potential for human use, these formations are abundant and could store a large amount of CO2. The IPCC report estimates that about 10 thousand Gt of the gas could be stored in these aquifers, which makes them one of the most valued destinations for the CO2. A disadvantage is that, for being very deep, there is no detailed information about each of them, which may come to be a problem. The improved methane recovery from non-exploitable coal reserves is called ECBM (enhanced coal bed methane recovery). Since the reserves cannot be exploited, the coal cannot be extracted, which makes the bed practically useless. Improved recovery generates a way for making the area useful: CO2 is injected into the mine, which adheres to the porous coal by the adsorption process. This methane can be captured and sold to thermopower plants, which, if equipped with a CCS system, will not allow the leakage of the CO2 emitted by its burning. In case it were emitted into the atmosphere, the methane would annul the carbon capture benefits, as its effect as a greenhouse gas is 21 times stronger than that of CO2. Oceanic injection Oceanic storage would occur by direct injection, with two variations. In the first one, by dissolution, CO2 would be directly injected into the water column, at a depth of about a thousand m, by means of a pipeline coming either from the coast or from a freight vessel. In the second, by forming pools, the pipeline coming from the land or from a maritime platform would deposit the CO2 at depths deeper than 3 thousand m, where the matter is denser than water and would, therefore, form a “pool” and would take longer to dissolve in the surrounding water. In both cases, the CO2 deposited would be in the liquid state. This kind of storage presents some problems. The most serious is the environmental one: the IPCC estimates that, when injected into the sea, part of the CO2 will react with the water and will form carbonic acid (H2CO3), which would increase the acidity of water and would cause a chain of consequences for different forms of life even far from the injection area. Another problem is that, over time, the CO2 would be reintegrated to the carbon cycle in the atmosphere, which would make this type of storage technique be only temporary. There is still another way of storing CO2 related to water: mineral carbonation. This is a chemical process that would basically consist in making the CO2 react with metal oxides such as calcium and magnesium (CaO and MgO, respectively), found in residual form in industrial waste from refineries and from other plants. The reaction forms mineral carbonates, such as CaCO3 and MgCO3, which are stable in the solid state, which would keep the carbon arrested for years. This is a phenomenon that occurs by itself in nature, yet very slowly. So as to industrialize the process as a form of carbon capture system, it would be necessary to pre-treat the oxides – and this would require greater power consumption by the factory. Stock.XCHNG Pipeline systems like this, which already exist in large quantities in countries like the USA for oil transmission, will be used to transport the CO2 17 Cover Of all the options presented, only the improved oil recovery has a mature market. The others still depend on specific conditions to be made viable (natural gas or oil fields, saline aquifers), are in test stage (improved methane recovery from non-exploitable coal reserves) or in research stage (the other ones). But, once the techniques are mastered, carbon capture is likely to turn into an interesting alternative: according to the IPCC study, most of the areas in the planet with a great concentration of CO2 emissions are about 300 km away from potential reservoirs for geological storage. In the USA alone, in 2009, scientists mapped an area totaling 16 thousand km2 of rocky formations that could be used to store CO2 for the next five hundred years. Controversial points The different depths at which CO2 can be stored: even in the ocean, the injection will occur in geological reservoirs below the ocean floor ECBM Enhanced coal bed methane recovery 18 The geological carbon capture technology is not yet unanimity. Part of the scientific community advocates the technique as a viable alternative for the carbon emission problem, whereas environmentalists and other professionals involved state that the system would not be effective. A Greenpeace report criticizing the technique was published in 2008: False Hope: Why Storage in depleted oil and gas reservoirs Storage in deep saline formations Carbon Capture and Storage Won’t Save the Climate. One of the main arguments is that the technology uses too much energy: according to the report, a thermopower plant uses up to 40% more power to defray CCS. “Wide-scale adoption of CCS is expected to zero the efficiency gains of the last 50 years, and to increase resource consumption by one third”, states the report. Indeed, the cost is usually pointed out as the greatest problem. IPCC itself admits that a thermopower plant could have the price of the kWh increased by up to 50% with the mere adoption of the system. All this increase is due to the difficulty in separating carbon from the other gases and residues mixed to industrial smoke. “The cost of using the CCS technology may vary widely, according to factors involving the size of the project, transportation costs, storage conditions and of carbon dioxide use”, states minister André Aranha Corrêa do Lago, director of the Department of Energy of the Ministry of Foreign Affairs. “The main hindrance [for the large-scale CCS adoption] lies in the high cost for its utilization; concurrently, a mechanism providing economic counterparts for the company that decides to invest in CCS has not been established yet”, EOR Enhanced oil recovery Fevereiro /February 2011 Cover completes the minister, claiming that federal governments play a crucial role in this issue. Another argument from Greenpeace against the technology is that the system is not effective in the short term – it estimates that, to prevent the worst effects of global warming, CO2 emissions should start to fall as from 2015, and CCS, according to the most optimistic projections, would only be able to work with full capacity near 2030. The NGO also affirms that CCS could be used as an excuse to build new coal thermoelectric power plants, which would be “unacceptable and irresponsible”. Those involved with CCS claim that the technology does not mean to be the only solution and that it will solve nothing by itself. “Nowadays, CO2 emission is much larger than the vegetation absorption capacity, which requires the development of complementary methods that contribute to fight global warming”, argues Corrêa do Lago. The idea that the geological deposits are not safe is not right, either. Although there is no zero risk, the IPCC research indicates that the deposit rocks form an effective seal against leakage and that the most likely gas escape would be the very canal through which it was injected, which would be under human control. “It is difficult to find a technique or activity developed by man, especially in its consolidation stage, which fails to involve some type of risk”, states Corrêa do Lago. “Although there is no leakage reported in the pilot projects carried out in dozens of countries, it does not seem reasonable to absolutely disconsider the possibility of risks. As the use of CCS leads to long-term carbon storage, the improvement of mechanisms for constantly watching safety failures is fundamental for a successful application of the technology in commercial scale.” For Hirata, CCS is an expensive initiative and requires ideal conditions in several areas, such as logistics, injection technologies, geology and environmental impacts assessment. “The injection of anything underground requires governmental permission, as this may alter the physical and chemical conditions of the water and aquifers and of the underground layer itself”, the geologist remarks. He states, though, that this risk is not as serious as one may think: it should be considered that, despite existing, the risks of aquifer degradation are smaller, as carbon does not present toxicity. “Additionally, as these carbon injection techniques are new and experiments are few, Oil and gas Injected CO2 Stored CO2 Stock.XCHNG Source: Cepac Sea platforms, similar to the oilextraction ones, will be used to inject the CO2 in reservoirs below the ocean floor Storage in deep saline formations 19 Cover greater attention and stricter monitoring are required to follow up potential problems.” “The CCS technology is one more in the range of mitigation alternatives that will be necessary to fight global warming”, believes José Miguez. “The IPCC estimations are that CCS could contribute with between 15% and 55% of the cumulative mitigation effort until 2100, depending on the scenario and on the reference emission foreseen in each scenario, which means it will be an important mitigation measure in the future”, he says. Dreamstime To create in the plants systems that separate CO2 from the other residual gases is the most difficult and expensive process in CCS systems 20 CCS in the world In the world, the geological carbon capture technology is still incipient. The first project to operate was the Sleipner natural gas field, in Norway, in 1996. The maritime field extracts gas with 9% of carbon dioxide in its composition. As the market requires this percentage not to exceed 2.5%, the plant conducts CO2 separation to bury it later. Since the CCS system was installed, over 10 million t of CO2 were buried in a geological deposit at about one thousand m below the sea level. So far, no leaking has been reported. According to StatoilHydro, Sleipner field managing company, the cost to emit 1 t of CO2 in the atmosphere, in Norway, is US$ 50, including taxes and compensations for the carbon credits. Hence, not emitting the gas has provided the operation a favorable cost-benefit ratio. Today, the largest world CCS program is the Weyburn-Midale Carbon Dioxide Project, in Canada. Through a 320 km pipeline, CO2 is conveyed from the city of Beulah, in the USA, up to the city of Weyburn, in Canada, where it is used by the project in an improved oil recovery process. Approximately 6,500 t of CO2 are daily injected in the Weyburn field, which shall earn an extended life of up to 25 years due to the improved recovery. Besides being successful in operational terms, the program is also seen as an example of bilateral cooperation against global warming. Besides these projects, there are others in smaller scale all over the world, most undergoing stages of negotiations and approval of resources. In Brazil, there are no active CCS programs yet, but some small-scale ones, in test character. “We have a small experiment of injecting 40 thousand t of CO2 per year in an inland well in Bahia, since 1987, by Petrobras, aiming at improved oil recovery”, remarks José Miguez. To try and move the country forward in this issue, in 2006, Petrobras and the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUCRS) established the Brazilian Carbon Storage Research Center (Cepac) – see interview on page 31. The center aims to conduct researches in the carbon sequestration area and to help to create studies and parameters that serve as a basis for the commercial exploration of the technology in Brazil. Moreover, projects such as the RCCS (see Box) intend to explore the facility generated by the ethanol industry, of supplying CO2 in practically pure state. Fevereiro /February 2011 Cover Government project intends to push CCS forward in Brazil In Brazil, carbon sequestration has great potential in the ethanol industry. This occurs because, in the fermentation vats of the plants, the gas obtained as a secondary product is practically pure CO2. This purity is a great advantage, as, in thermopower plants and in industries from other segments, there is great difficulty in the process of separating CO2 from other gases and this involves high costs. The federal government knows about this potential and has already started a project to study and to prospect the use of CO2. The initiative is officially named “RCCS Project – Capture and Storage of CO2 deriving from the fermentation process of sugar into ethanol in the State of São Paulo”. This State was chosen for conducting the project, a pioneer in Brazil and in the world, because it concentrates 2/3 of the Brazilian ethanol production. The project elaboration is based on the potential power of reducing CO2 emissions by the sugar-ethanol sector, including CO2 capture in the fermentation process of sugar into ethanol, its compression and its storage in saline aquifer. The World Bank’s Global Environmental Facility (GEF) is funding 30% of the project and there is the need of cofunding with financial and non-financial resources from partners interested in participating, and which are being sought. Among the project partners are the State of São Paulo Environmental Sanitation Technology Company (Cetesb), Petrobras, Shell, the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica) and the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUC-RS), which, together with the University of São Paulo – by means of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) and of the Institute of Geosciences – are preparing thorough documentation to start the activities for the project in 2011. Cetesb participates in the project with the adequate environmental guidance, as there is no legislation in Brazil for CCS environmental licensing and, therefore, it is the team’s responsibility to study the conditions and assess the project risks. As the pilot will be installed in the State of São Paulo, there is concern with the integrity of the Guarani aquifer, an important strategic reserve for water supply to the population. One of the mostly praised characteristics of carbon capture from ethanol, once it is already a renewable resource, is to allow emissions to surpass neutralization (zero emission), making them negative. Basically, this would mean that all the CO2 captured in sugar cane ethanol plants would compensate emissions from other sources, as the emissions from this process would already be neutralized. This extra carbon could generate income by the sale of carbon credits, for example. “We are in a bureaucratic stage, that of producing documents”, reports José Roberto Moreira, professor of the Energy Graduate Program of the Institute of Electrotechnics and Energy of USP and coordinator of the RCCS project. “We are documenting the best place to bury it, who can exploit it, who has competence to manage it, etc.” Moreira coordinates this work with fifteen collaborators. The great goal, highlights the professor, “is to value the Brazilian ethanol, to show the world that our ethanol not only emits no CO2 but also absorbs it”. The Brazilian project estimates that it is possible to store 1 t of CO2 with costs of up to US$ 20. “In such a project for other industries, it would cost US$ 100, due to the need of separating CO2, and in this project case, CO2 is practically pure”, says Moreira, pointing out the economy generated by the CO2 from ethanol. The initial goal of the project is that, throughout the first ten years of activity, RCCS captures and stores 1 million t of CO2. “We estimate that, to reach this rate, we would need US$ 30 millions”, states Moreira. “We are in the revision phase: shall we keep this goal and earn more money or shall we reduce the goal?” 21 Entrevista Empenhado no futuro João Marcelo Ketzer coordena o centro de pesquisas que trabalha para emplacar o sequestro de carbono no Brasil Fotos: Divulgação “ Sempre utilizamos os modelos matemáticos junto com os experimentais para ver se os resultados estão similares “ 22 G eólogo e professor do curso de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), João Marcelo Ketzer é coordenador do Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac), instituição inaugurada em 2007, fruto de parceria entre a faculdade gaúcha e a Petrobras. Com a missão de desenvolver e implementar projetos-piloto para estudar a adoção em larga escala de tecnologias de sequestro de carbono, o Cepac está plenamente sintonizado com esse novo método de mitigação. Uma rápida visita ao site do centro (www.pucrs.br/ cepac) permite conhecer mais de dez projetos que incluem desde a análise de possíveis reservatórios geológicos no Brasil até o monitoramento de vazamentos de CO2 armazenado em campos de petróleo e aquíferos. Um dos mais importantes é o atlas brasileiro de captura, transporte e armazenamento geológico de CO2, projeto que visa a mapear as principais fontes emissoras de CO2 em território nacional e identificar os reservatórios geológicos em que o gás poderá ser armazenado. Nesta entrevista para a Revista Brasileira de Bioenergia (RBB), Ketzer falou do potencial brasileiro no tema, da importância de políticas públicas de incentivo e das críticas à tecnologia, além de projetar como o sequestro de carbono se desenvolverá nos próximos anos. RBB – Quais projetos o Cepac desenvolve atualmente? João Marcelo Ketzer – Nós temos projetos em diferentes escalas de trabalho, todos na linha de pesquisa e desenvolvimento. Temos projetos com a Petrobras para aquíferos salinos e campos de petróleo, sobre como eles reagem com a injeção de CO2. Esses são projetos na escala de bancada. Depois, há os projetos na escala-piloto. Temos um em Porto Batista (RS) em que nós perfuramos dois poços de 400 m de profundidade cada um, a 20 m um do outro, e a ideia é injetar CO2 em um poço e monitorar esse CO2 pelo outro, por isso a proximidade. É um projeto grande, que tem resultados muito mais próximos da realidade. Além desses trabalhos de campo que desenvolvemos nesse projeto-piloto, fazemos toda a linha de pesquisa de modelagem numérica. Todos os fenômenos físicos e químicos que acontecem com a rocha ou o reservatório são modelados numericamente. Sempre utilizamos os modelos matemáticos junto com os experimentais para ver se os resultados estão similares e então usamos os matemáticos para prever, a longo prazo, o que vai acontecer com aquela rocha que está com o CO2 lá embaixo. Isso seria um experimento impossível de fazer. RBB – E quanto ao projeto do atlas? Ketzer – É um mapeamento das fontes emissoras do Brasil e dos reservatórios adequados para guardar o CO2 por milhões de anos. É um projeto de infraestrutura. Em São Paulo, por exemplo, a maior parte das fontes emissoras é fixa, como grandes indústrias e usinas termelétricas. Como sabemos onde elas estão, pode- Fevereiro /February 2011 Entrevista RBB – Em depósito geológico, não existe risco de vazamento? Ketzer – Nunca podemos dizer que o risco é zero. O que temos de dizer é o seguinte: de todos os sistemas, nenhum é completamente perfeito, sempre vai ter algum vazamento. Uma das técnicas para encontrar campos de petróleo e de gás na superfície é procurar vazamentos. É impossível não ter. No caso do CO2, primeiro, temos de ver se esse vazamento é significativo ou não – essa é a primeira pergunta a ser feita. Vamos imaginar uma piscina olímpica de água: se, a cada mil anos, eu tirar uma gota da piscina olímpica, tenho ali um vazamento insignificante. O painel de mudanças climáticas define como 1% o volume que pode vazar em cem anos. É um índice tolerável. Se eu escolher um reservatório muito bem e fizer todos os testes que devem ser feitos, o CO2 vai ficar milhões de anos lá embaixo. Existem campos do pré-sal, por exemplo, em que o óleo fica preso por dezenas de milhões de anos, alguns por centenas. Os campos de gás são a melhor evidência de que as rochas são muito eficientes para armazenar gases e líquidos por milhões de anos. Vaza? Vaza, mas é uma quantidade mínima. RBB – E em caso de um terremoto? Ketzer – Os terremotos não são um risco. O exemplo de terremoto que sempre dou nas minhas aulas é o de dezembro de 2004, que causou o tsunami que atingiu a ilha de Sumatra. Aquele foi o segundo mais intenso terremoto medido pela humanidade, mais de nove pontos na escala Richter. Ele alterou a rotação da Terra, gerou aquele tsunami intenso. E nenhum campo de gás de que se tenha notícia vazou, mesmo com um terremoto de proporções gigantescas. A Califórnia, uma das zonas com mais terremotos do mundo, está cheia de reservatórios de gases. Se terremotos fizessem vazar gás natural de campo, não haveria mais nenhum campo de gás na Califórnia. Aquele gás está armazenado por milhões de anos. O terremoto não tem impacto suficiente para refazer o campo de petróleo. RBB – O fato de o Brasil ter muito menos termelétricas que os Estados Unidos e muito menos exploração de campos de carvão mineral pode desestimular a captura geológica do carbono (CCS) por aqui? Ketzer – O sequestro de carbono no Brasil nunca vai se comparar, em escala, ao dos Estados Unidos. Mas isso não significa que não exista interesse aqui. Além da geração de energia, temos outras fontes emissoras. O sequestro geológico pode representar uma oportunidade interessante para o Brasil com relação ao biocombustível, por exemplo. Quando faço o sequestro de carbono em uma termelétrica de carvão e injeto esse CO2 no reservatório, estou neutralizando todas as emissões de carbono dessa planta ao injetar todo o gás. Se eu injetar no solo o CO2 produzido por uma usina de álcool, que beneficia matéria orgânica da superfície, em vez de ter uma emissão zero vou ter uma emissão negativa. Ou seja, aquela usina de álcool, em vez de estar só neutralizando suas emissões, está negativando, compensando emissões dos outros. Como o Brasil produz biocombustível como ninguém no mundo, isso é uma grande oportunidade para o País. “ Nunca podemos dizer que o risco é zero. O que temos de dizer é o seguinte: de todos os sistemas, nenhum é completamente perfeito, sempre vai ter algum vazamento “ mos, a partir desse mapa, ver quais reservatórios estão mais perto dessas fontes emissoras. Às vezes, eles estão a quilômetros de distância da fonte emissora e você precisa pensar em como vai ser esse transporte, se por dutos ou por caminhões. RBB – A CCS pode ajudar a amenizar o impacto do petróleo extraído da camada do pré-sal? Ketzer – Sim. Os reservatórios de petróleo sempre têm um pouco de CO2. Alguns cam- 23 Entrevista puro das dornas da etapa de fermentação. Só é preciso separar o vapor de água. É um custo muito mais baixo. RBB – O sequestro de carbono é vantajoso para outras indústrias, além das de energia? Ketzer – Depende de muitos fatores. Dentre eles, as políticas de incentivo e a legislação que regulamenta os fatores ambientais. O sequestro de carbono não é algo que precisaria ser feito se não fosse a questão mundial de redução de emissão de CO2. Cada processo colocado a mais na indústria gera custos. E o sequestro de carbono, também. A questão de ser vantajoso ou não depende, no atual estágio da tecnologia, de incentivos e de políticas públicas. Assim, vale a pena apenas se for obrigação. “ A questão de ser vantajoso ou não depende, no atual estágio da tecnologia, de incentivos e de políticas públicas “ 24 pos têm 2%, outros, 3%. Os campos do pré-sal chegam a 20%, uma quantidade muito grande de CO2 que existe naturalmente lá embaixo e que virá junto com o óleo que for extraído. O que a Petrobras vai fazer, para evitar jogar esse CO2 na atmosfera, é reinjetá-lo no reservatório do pré-sal. Dessa forma, eles não neutralizarão as emissões do uso do petróleo extraído do pré-sal e neutralizarão o CO2 que está sendo retirado do pré-sal junto com o petróleo. RBB – Separar o CO2 do gás natural produzido no pré-sal é mais barato do que separar o CO2 de uma termelétrica a carvão? Ketzer – Muito. A porcentagem de CO2 no petróleo é maior. O gás está sob uma pressão mais elevada do que a pressão atmosférica quando ele sobe no poço. Ali não se gasta a energia para fazê-lo atingir essa pressão, o que seria necessário para a separação. Na termelétrica, quando a fumaça sai da chaminé, a pressão do gás é a ambiente. Quando os gases estão sob pressão, o custo energético é muito melhor, pois a energia acumulada facilita a separação. Nas usinas de álcool, o CO2 sai quase RBB – Em sua opinião, sem a iniciativa privada, o CCS vai chegar a algum lugar? Ketzer – Acho que, sem o governo, a gente não vai chegar a lugar nenhum. A iniciativa privada precisaria de incentivo para fazer isso. Mas acho fundamental a participação da iniciativa privada, até porque muitas das emissões estão associadas a ela. Agora, não dá para esperar que a iniciativa privada, sem incentivo do governo, vá partir para isso simplesmente por uma questão ambiental, sem um ganho notório para a empresa. Para isso é que se precisa de políticas públicas. Precisamos de incentivo, financiamento ou criação de um mecanismo de mercado para dar valor ao CO2 e para que a empresa tenha alguma compensação. Numa termelétrica, seria produzido um quarto a menos de energia elétrica para que essa energia fosse limpa, sem nenhuma outra vantagem em relação a isso. A iniciativa privada é fundamental para o processo porque as emissões estão com ela. Ao governo cabe criar políticas públicas, senão nenhum país vai avançar no sequestro de carbono. Fevereiro /February 2011 Entrevista regulamentação do tema? Ketzer – A legislação precisa ser bem estabelecida para que daqui a vinte, trinta, cem anos, saiba-se de quem é a propriedade desse CO2, de quem é a responsabilidade. Talvez, em dez anos, inventem um uso mais nobre para o CO2 em grande escala. E aí vão usar aquele CO2 que foi injetado no solo. Quem é que vai ter a propriedade disso? Ou quem é que vai se responsabilizar pela guarda desse CO2 por cem anos? É a iniciativa privada? É o Estado? Isso é uma questão legal que ainda não existe. Ninguém vai fazer um investimento grande de sequestro de carbono a longo prazo sem ter a garantia legal disso ou algo que sustente o investimento. viável. O que é melhor do que o sequestro de carbono? Não fazer nada? A China coloca para funcionar uma termelétrica de carvão por mês. Nós temos de usar todas as soluções possíveis e o sequestro geológico de carbono pode diminuir em 20% as emissões do planeta. A solução de ficar de braços cruzados é uma, abandonar os combustíveis fósseis e voltar para a idade da pedra é outra. Ou, então, colocar em prática todas as outras soluções, e não só o sequestro de carbono, o mais rápido possível. Sequestro de carbono não é uma tecnologia de tradição, mas pode permitir a redução substancial nas emissões em um mundo que é dependente de combustíveis fósseis. Não tem como negar isso. RBB – O sequestro de carbono não poderá ser RBB – Os Estados Unidos possuem uma rede usado como uma desculpa para diminuir políti- muito grande de ‘pipelines’ que seria aproveita- cas de reflorestamento ou para negligenciá-las? da para transportar o CO2. Seria preciso imple- Ketzer – Não, porque a quantidade de carbono a ser capturada é muito grande. Eu sou a favor de plantar árvores e do sequestro de carbono pela biomassa. Mas ele não é suficiente, está longe de ser. Imagine neutralizar todas as emissões de combustíveis fósseis plantando árvores. Uma vez, foi feito um cálculo, não me lembro por quem, de que, só para neutralizar as emissões dos veículos da cidade de São Paulo, teríamos de plantar centenas de árvores por segundo. O planeta consome hoje mil barris de petróleo por segundo. Esses mil barris colocam tanto CO2 na atmosfera que não tem como compensar isso com biomassa, porque o carbono que surge não está vindo da superfície da Terra, ele está vindo lá de baixo e sendo adicionado ao sistema a cada dia. Então, eu não posso dizer que vou fazer sequestro geológico e não vou fazer biomassa. Eu tenho que fazer de tudo. mentar isso também no Brasil? Ketzer – Nós não vamos ter uma rede de distribuição tão gigantesca como a dos Estados Unidos. Até porque, primeiro, as nossas emissões são muito mais centralizadas e, segundo, as emissões brasileiras de energia elétrica são muito menores em termos de área. Como as usinas estão muito concentradas no Sul e no Sudeste, a escala com que isso [a instalação de pipelines] vai acontecer no Brasil é muito menor do que nos Estados Unidos. Deverá haver um sistema de distribuição – e não existe um sistema de distribuição muito mais eficiente que esse. RBB – O Greenpeace publicou em 2008 um documento criticando o sequestro de carbono e afirmando que ele é inseguro e incapaz de gerar resultados nos prazos necessários. Qual é sua “ Ninguém vai fazer um investimento grande de sequestro de carbono a longo prazo sem ter a garantia legal disso ou algo que sustente o investimento “ RBB – Quais itens seriam importantes numa opinião a respeito? Ketzer – Eu critico um pouco o Greenpeace por ir contra e não apresentar uma alternativa RBB – Mas reflorestar não é menos arriscado? Ketzer – Não, porque quem é que me garante 25 Entrevista que a árvore que eu estou plantando agora vai ficar mil anos em pé? Se eu não consigo manter em pé nem a Amazônia, que é uma floresta nativa, como vou garantir a árvore de reflorestamento? Se você desmata a floresta, o carbono volta para a atmosfera, e desmatar é muito fácil. Eu tenho de garantir que aquele carbono estará armazenado daqui a mil anos, ou seja, eu tenho que garantir que aquela floresta vai ficar mil anos em pé. RBB – É possível fazer uma projeção, a curto ou médio prazo, de como será a adesão ao CCS no futuro? “ O Brasil não pode perder essa oportunidade de estar à frente, junto a esse conjunto de países que irão colocar o sequestro de carbono isoladamente em algumas usinas “ 26 Ketzer – A curto prazo, nós teremos alguns países começando a desenvolver isso, e eu acho que o Brasil não pode perder essa oportunidade de estar à frente, junto a esse conjunto de países que irão colocar o sequestro de carbono isoladamente em algumas usinas. A médio prazo, eu acho que o sequestro vai ser bem importante e vai chegar a ser responsável por capturar de 5% a 10% das emissões, talvez em 2020 ou 2030. Num cenário otimista, em que existam políticas públicas e uma mobilização internacional, como foi a do Protocolo de Quioto, o que vai acontecer é que nós vamos reduzir as emissões e chegar em um patamar de 2oC de aumento na temperatura até o final do século. as pessoas precisarão se capacitar. Um novo ramo industrial será criado, e oportunidades de emprego, também. RBB – Teremos resultados nessa área, em breve? Ketzer – Os atuais projetos são relativamente curtos em relação a prazos. Em dois ou três anos, teremos de apresentar resultados. O projeto de captura e armazenamento do CO2 proveniente do processo de fermentação do açúcar em etanol no Estado de São Paulo, chamado de RCCS, desenvolvido em parceria com o Cenbio, Petrobras e outros, traz muita visibilidade para o Brasil, pois o País já tem uma reputação enorme em relação aos biocombustíveis [veja detalhes na página 13] E se os biocombustíveis brasileiros começarem a não só neutralizar, mas também a negativar as emissões, acho que vai ter um impacto muito positivo. Primeiro porque nós, como economia emergente, estaremos dominando algo tecnologicamente complexo. Hoje, quem faz sequestro de carbono é a Noruega, a Austrália e o Canadá, países de primeiro mundo. A China também está avançando e é emergente. Não podemos ficar atrás deles, não é? Negativar emissões significa o seguinte: quanto mais eu usar o meu carro a álcool, mais eu contribuo para reduzir as emissões. Isso vai dar uma visibilidade muito boa para o País. RBB – Isso vai ter impacto na economia? Ketzer – Eu acho que vai se criar no mundo uma indústria de armazenamento de CO2 tão grande quanto é a da exploração de gás natural hoje. Vejo isso como uma indústria em franco crescimento nos próximos vinte anos. É uma indústria que vai gerar empregos, tecnologia e uma série de avanços. Isso em um cenário positivo, em que existam políticas públicas e interesse da indústria. O principal ganho social é que haverá desenvolvimento tecnológico: bolsas de estudo serão geradas, pois Fevereiro /February 2011 Meio Ambiente São Paulo terá ônibus movidos a etanol Embasado nos testes do Projeto Best, prefeito assina protocolo de intenções para a compra de cinquenta veículos João Luiz/Cecom7 Protocolo assinado: medida vai ao encontro da Lei de mudanças climáticas da Cidade E m novembro de 2010, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, assinou um protocolo de intenções para a compra de cinquenta ônibus movidos a etanol aditivado que serão integrados à rede de transporte público da cidade. A compra dá início à troca, prevista para ser concluída até 2018, de todos os ônibus do transporte público do município movidos a diesel por veículos abastecidos com combustíveis renováveis – etanol, biodiesel – ou energia elétrica. Essa ação vai ao encontro da Lei de mudanças climáticas da Cidade de São Paulo (Lei Nº 14.933/2009), de 5 de junho de 2009 que tem como uma das metas diminuir em 30%, até 2012, a emissão dos gases causadores do efeito estufa. O protocolo foi assinado pelas secretarias municipais de Transportes e do Verde e Meio Ambiente, juntamente com as empresas Scania, Cosan, Viação Metropolitana e União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), parceiras da iniciativa, e a Universidade de São Paulo (USP), na condição de testemunha. Os cinquenta ônibus, fabricados pela Scania, foram adquiridos pela Viação Metropolitana – que atua na Zona Sul da capital paulista – e devem começar a circular em maio deste ano. A Cosan fornecerá o combustível e a Unica contribuirá cobrando um preço fixo pelo etanol. Esse é mais um fruto dos estudos do Projeto Best – BioEtanol para o Transporte Sustentável, que, além de São Paulo, esteve presente em Madri, País Basco (Espanha), Roterdã 27 Meio Ambiente Divulgação Primeiro teste: em 2007, ônibus foi testado em linha que liga os bairros do Jabaquara a São Matheus (Holanda), La Spezia (Itália), Somerset (Reino Unido), Dublin (Irlanda), Nanyang (China) e Estocolmo (Suécia). A Suécia, pioneira no uso do etanol no transporte público, utiliza o biocombustível desde 1985 e, atualmente, tem setecentos ônibus circulando movidos a etanol importado do Brasil. A prefeitura de Estocolmo, vencedora da licitação junto à União Europeia coordenou as atividades do projeto no mundo. Desenvolvimento do projeto No Brasil, o projeto foi coordenado pelo professor José Roberto Moreira e desenvolvido pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. A meta no País era a formulação de políticas públicas de incentivo à substituição do diesel pelo etanol, a partir da realização de testes comparativos entre um ônibus movido a diesel e outro a etanol aditivado com um produto fabricado pela Baff/Sekab e importado pela Petrobras. O primeiro teste foi realizado em 2007, em uma linha que liga os bairros do Jabaquara, na Zona Sul, a São Matheus, na Zona Leste paulistana. O segundo foi realizado em 2009, quando a Viação Gato Preto incorporou à sua frota outro veículo movido a etanol aditivado. Os resultados atestaram a eficiência do biocombustível, atendendo às especificações europeias e nacionais. 28 Mesmo assim, os envolvidos no projeto se surpreenderam com a ação da prefeitura de São Paulo, como relata a engenheira química, pesquisadora do Cenbio, Sílvia Maria Stortini González Velázquez, integrante da equipe executora do Projeto Best no Brasil. “A decisão da prefeitura representa muito mais do que almejávamos, pois esperávamos apenas despertar interesse no governo e na iniciativa privada para a criação de políticas públicas de incentivo à substituição do diesel pelo etanol no transporte público urbano.” Saúde e economia Com a troca da frota, a prefeitura também espera alcançar bons resultados na saúde pública. Um estudo de Paulo Saldiva, chefe do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP, aponta que se toda a frota a diesel de São Paulo for substituída por etanol, mais de 4 mil internações hospitalares serão evitadas e 745 vidas serão salvas todos os anos. E todo esse benefício não custará caro à cidade, como explica Sílvia. “O preço do ônibus foi fixado pela fabricante e aceito pela empresa compradora. A Secretaria Municipal de Transportes está realizando um estudo de viabilidade técnica e econômica de operação desses ônibus. Já o etanol aditivado utilizado será fornecido por um preço equivalente ao do diesel, com garantias da Unica. Como haverá melhoria na poluição local, também devemos ter gastos menores na saúde pública.” Fevereiro /February 2011 The Environment São Paulo will have ethanol-fueled buses Based on the BEST Project essays, the São Paulo Mayor signs a protocol of intentions for purchasing fifty vehicles João Luiz/Cecom7 Protocol signed: action abides by the Climate Change Law in the Municipality I n November 2010, the São Paulo Mayor, Gilberto Kassab, signed a protocol of intentions for purchasing fifty additived-ethanol-fueled vehicles, which will be integrated to the city public transportation network. The purchase sets out the replacement, expected to be concluded by 2018, of all the diesel-fueled buses in the municipality public transportation with vehicles fueled with renewables – ethanol, biodiesel – or electric power. This action abides by the Climate Change Law in the Municipality of São Paulo (Law N. 14.933/2009), of June 5, 2009, one of the goals of which is to reduce greenhouse gases emissions by 30%, by 2012. The protocol was signed by the Municipal Secretariats of Transportation and of the Environment, alongside with the companies: Scania, Cosan, Viação Metropolitana and the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica), partners in the initiative, and the University of São Paulo (USP), as a witness. The fifty buses, manufactured by Scania, were purchased by Viação Metropolitana – which acts in the South Region of São Paulo City – and are to start running in the coming May. Cosan will supply the fuel and Unica will contribute by charging a fair fixed price for the ethanol. This is one more development of the BEST Project – BioEthanol for Sustainable Transportation that, besides São Paulo, has been acting in Madrid, Basque Country (Spain), Rotterdam (Netherlands), La Spezia (Italy), Somerset (United Kingdom), Dublin (Ireland), Nanyang (China) and Stockholm (Sweden). 29 The Environment Dissemination First test: in 2007, a bus was tested on bus line that connects the districts of Jabaquara to São Matheus Sweden, pioneer in the use of ethanol for public transportation, has used the biofuel since 1985 and currently has seven hundred buses running on ethanol imported from Brazil. The Stockholm City Hall, winner of a bidding in the European Union, coordinated the activities of the project around the world. Project Development In Brazil, the project was coordinated by Professor José Roberto Moreira and developed by the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio), from the Institute of Electrotechnics and Energy (IEE) from USP. The Brazilian goal was the formulation of public policies to stimulate the replacement of diesel with ethanol, as from the performance of comparative tests between a diesel-fueled bus and an ethanol-fueled one additived with a product manufactured by Baff/Sekab and imported by Petrobras. The first test was performed in 2007, connecting the Jabaquara district, in the South Region, to São Matheus, in the East Region of São Paulo City. The second one was performed in 2009, when Viação Gato Preto incorporated another admixture-ethanol-fueled vehicle to its fleet. The results proved the efficiency of the biofuel, meeting both European and Brazilian specifications. Even so, those involved in the project were surprised with the São Paulo municipal government’s action, as reports chemical 30 engineer and Cenbio researcher Sílvia Maria Stortini González Velázquez, a member of the executive team of the BEST Project in Brazil. “The municipal government’s decision represents much more than we hoped for, as we only expected to raise the government’s and the private sector’s interest for creating public policies to stimulate the replacement of diesel with ethanol in the urban public transportation.” Health and economy With the replacement in the fleet, the municipal government also expects to attain good results in public health. A study by Paulo Saldiva, head of the Experimental Air Pollution Laboratory of the USP Faculty of Medical Sciences, points out that if the whole of the São Paulo diesel fleet is replaced with an ethanol one, over 4 thousand hospitalizations will be avoided and 745 lives will be saved every year. All this benefit will not cost much to the municipality, as Sílvia explains. “The bus price was established by the manufacturer and accepted by the purchasing company. The Municipal Secretariat of Transportation is conducting a technical and economic viability study for the operation of these buses. In turn, the admixture ethanol used will be provided for a price equivalent to that of diesel, with guarantees from Unica. As there will be a reduction in local pollution, public health expenditures are also expected to decrease.” Fevereiro /February 2011 Interview Committed with the future João Marcelo Ketzer coordinates the research center that works to introduce carbon sequestration in Brazil Geography course with the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUC-RS), João Marcelo Ketzer is the coordinator of the Brazilian Carbon Storage Research Center (Cepac), institution inaugurated in 2007, from a partnership between the university and Petrobras. Having as a mission to develop and to implement pilot projects to study the large-scale adoption of carbon sequestration technologies, Cepac is deeply tuned in with this new mitigation method. A brief visit to the Center’s site (www.pucrs.br/cepac) allows getting acquainted with over ten projects including from the analysis of possible geological reservoirs in Brazil to monitoring leaks of CO2 stored in oil fields and aquifers. One of the most important ones is the Brazilian Atlas of CO2 capture, transportation and geological storage, a project aiming to map the major CO2 emitting sources in the Brazilian territory and to identify the geological reservoirs in which the gas can be stored. In this interview to the Revista Brasileira de Bioenergia (RBB), Ketzer discussed the Brazilian potential in the theme, the importance of public policies to stimulate it and the criticism to the technology, besides projecting how carbon sequestration will develop in the coming years. Photos: dissemination RBB – What projects is Cepac currently developing? João Marcelo Ketzer – We have projects at different work levels, all in the research and development line. We have projects with Petrobras for saline aquifers and oil fields, about how they react with CO2 injection. These are projects at workbench level. There are also projects at pilot level. There is one in Porto Batista (RS) in which we drilled two 400-m deep wells, 20 m away from one another, and the idea is to inject CO2 into a well and monitor this CO2 through the other one; that is why they are so close. It is a large project, the results of which are much closer to reality. Besides these field works developed in this pilot project, we conduct the whole numerical modeling research line. All of the physical and chemical phenomena that occur with the rock or with the reservoir are numerically modeled. We always use mathematical models together with experimental ones to see if the results are similar and then we use the mathematical ones to foresee, in the long run, what will happen to the rock holding the CO2 underground. This would be an impossible experiment to perform. RBB – And what about the atlas project? Ketzer – It is a mapping of the Brazilian emission sources and of the reservoirs adequate to “ We always use mathematical models together with experimental ones to see if the results are similar “ A geologist and a professor of the 31 Interview “ store CO2 for millions of years. It is an infras- ple of earthquake I always use in my lectures tructure project. In São Paulo, for example, is that of December 2004, which caused the most of the emission sources are stationary, tsunami that hit the Sumatra Island. It was such as large industries and thermopower the second most intense earthquake measured plants. As we know where they are, as from by humanity, over nine points in the Richter this map, we can detect which reservoirs are magnitude scale. It altered the Earth’s rotation, closer to these emission sources. Sometimes, generated that intense tsunami. And no known they are kilometers away from the emission gas field leaked, not even with such a gigan- source and one has to think how the transpor- tic-scale earthquake. California, one of the tation will be carried out, if by pipelines or by areas with the largest number of earthquakes trucks. in the world, has plenty of gas reservoirs. If earthquakes made natural gas fields leak, the- We can never say the risk is zero. What we can say is: no system is absolutely perfect, there is always some leakage RBB – In a geological deposit, isn’t there a re would be no more gas fields in California. leakage risk? That gas has been stored for millions of years. Ketzer – We can never say the risk is zero. An earthquake does not have a strong enough What we can say is: no system is absolutely impact to reshape an oil field. perfect, there is always some leakage. One of the techniques for finding oil and gas fields on RBB – May the fact that Brazil has a much the surface is to search for leaks. It is impossi- smaller number of thermopower plants than the ble not to have one. In the case of CO2, we first USA and less coal field exploration stifle geo- have to see whether this leakage is significant logical carbon capture (CCS) here? or not – this is the first question to be asked. Ketzer – Carbon sequestration in Brazil will Let us imagine an Olympic swimming pool: never be compared, in scale, to that of the if, every thousand years, I remove one drop United States. Yet this does not mean that from the Olympic swimming pool, I have an there is no interest in Brazil. Besides power insignificant leakage. The Intergovernmental generation, we have other emission sources. Panel on Climate Change defines 1% as the Geological sequestration may represent an volume that can leak in a hundred years. It is interesting opportunity for Brazil concerning a tolerable rate. If I carefully choose a reser- biofuel, for example. When I perform carbon voir and perform all the necessary tests, CO2 sequestration in a coal-powered plant and in- will be kept underground for millions of ye- ject this CO2 into a reservoir, I am neutralizing ars. There are pre-salt fields, for example, in all the carbon emissions of that plant by injec- which the oil is arrested for millions, some for ting all the gas. If I inject in the soil the CO2 hundreds, of years. Gas fields are the best evi- produced by an ethanol plant, which improves dence that rocks are very efficient to store ga- the organic matter of the surface, instead of ses and liquids for millions of years. Do they having a zero emission, I will have a negative leak? They do, but the amount is negligible. emission. That is, that ethanol plant, instead “ of neutralizing only its own emissions, will be 32 RBB – And in case of earthquake? making them negative, compensating others’ Ketzer – Earthquakes are not a risk. An exam- emissions. Since Brazil produces more biofuel Fevereiro /February 2011 Interview than any other country in the world, this is a great opportunity for the country. RBB – Can CCS help reduce the impact of the oil extracted from the pre-salt layer? Ketzer – Yes. Oil reservoirs always have a little CO2. Some fields have 2%, others, 3%. The pre-salt fields reach 20%, a very large amount of CO2 existing naturally underground and that will come up with the oil being extracted. What Petrobras will do to avoid emitting this CO2 into the atmosphere, is to re-inject it into the pre-salt reservoir. Thus, they will not neutralize the emissions from the use of oil extracted from the pre-salt and will neutralize the CO2 that is removed from the pre-salt tothe legislation regulating environmental factors. Carbon sequestration would not have to RBB – Is separating CO2 from the natural gas be conducted if it were not for the world CO2 produced in the pre-salt cheaper than separat- emission reduction issue. Each new process ing the CO2 from a coal-powered plant? introduced in the industry generates costs. Ketzer – Much cheaper. The CO2 percenta- And so does carbon sequestration. At the pre- ge of oil is higher. The gas is under a higher sent stage of technology, the issue of being or pressure than the atmospheric one when it not being advantageous depends on incentives goes up in the well. No energy is spent there and on public policies. Therefore, it is only to make it attain this pressure, which would be worth it in case it is compulsory. necessary for separation. In the thermopower plant, when the smoke leaves the chimney, gas RBB – In your opinion, will CCS get anywhere has ambient pressure. When gases are under without the private sector? pressure, the energy cost is far better, as the Ketzer – I think that, without the government, energy accumulated facilitates the separation. we won’t get anywhere. The private sector In the ethanol plants, the CO2 leaving the vats would need some incentive to do that. But I at the fermentation stage is practically pure. think the private sector participation is fun- Only the water steam has to be separated. It is damental, specially because many emissions a much lower cost. are associated to it. Yet, without governmental incentives, the private sector cannot be expec- RBB – Is carbon sequestration an advantage to ted to do it simply for environmental reasons, industries other than energy ones? with no notorious gain for the company. This Ketzer – This depends on many factors - is why public policies are necessary. We need among them, financial benefit policies and incentive, financing or the creation of a market “ At the present stage of technology, the issue of being or not being advantageous depends on incentives and on public policies “ gether with the oil. 33 Interview mechanism to value CO2 and so that the com- ted States. There will have to be a distribution pany has some compensation. In a thermopo- system – and there is not a much more effi- wer plant, 25% less power would be produced cient distribution system than that. to make it clean, with no other advantage in “ RBB – In 2008, Greenpeace published a docu- for the process because it is the one that causes ment criticizing carbon sequestration and stat- the emissions. Governments have to introduce ing that it is unsafe and not capable of yielding public policies, otherwise no country will go results in the necessary time span. What is your forward with carbon sequestration. opinion about it? Ketzer – I criticize Greenpeace a little for Nobody will make a longterm large investment in carbon sequestration without having legal support for it or something that supports the investment “ 34 relation to it. The private sector is fundamental RBB – What items would be important for reg- going against it and for not presenting a viable ulating the theme? alternative. What is better than carbon seques- Ketzer – A legislation has to be well establi- tration? Doing nothing? China starts operating shed so that in twenty, thirty, a hundred years, one coal-powered plant per month. We have it can be known who owns this CO2, who is to to use all the possible solutions and the geolo- account for it. In ten years, a nobler large-scale gical sequestration of carbon may reduce the use of CO2 may be invented. And then the CO2 planet emissions by 20%. One solution is to injected underground will be used. Who will keep your arms crossed, the other is to give up own that? Or who is going to account for sto- on fossil fuels and go back to the Stone Age. ring that CO2 for a hundred years? The private Or else, put all the other solutions into practi- sector? The State? This is still a non-existing ce, and not only carbon sequestration, as fast as legal issue. Nobody will make a long-term lar- possible. Carbon sequestration is not a techno- ge investment in carbon sequestration without logy with a tradition, yet it can allow a substan- having legal support for it or something that tial reduction in emissions in a world dependent supports the investment. on fossil fuels. There is no denying it. RBB – The United States count on a very large RBB – Can’t carbon sequestration be used as pipeline network that could be used to carry an excuse to reduce reforesting policies or to CO2. Would this also have to be implemented neglect them? in Brazil? Ketzer – No, since the amount of carbon to be Ketzer – We are not going to have such a captured is very large. I am in favor of plan- gigantic distribution network as that of the ting trees and have carbon sequestration by United States. This is because, firstly, our biomass. Only, it is not and is far from being emissions are much more centralized and, enough. Imagine neutralizing all the fossil fuel secondly, the Brazilian emissions from elec- emissions by planting trees. Once a calcula- tric power are much smaller in terms of area. tion was made, I cannot remember by whom, Since the plants are largely concentrated in the resulting in that to neutralize the vehicle emis- South and in the Southeast, the magnitude in sions of the city of São Paulo alone, we would which this [pipelines installation] will occur have to plant hundreds of trees per second. in Brazil is much smaller than that of the Uni- Today the planet consumes a thousand barrels Fevereiro /February 2011 Interview of oil per second. These thousand barrels emit RBB – Will this impact the economy? so much CO2 into the atmosphere that it is Ketzer – I think a CO2 storage industry will be impossible to compensate this with biomass, created in the world and it will be as large as once the carbon emitted does not come from the current natural gas exploration. I see it as the surface of the Earth, it comes from the un- a steadily growing industry in the next twenty derground and is added to the system day by years. It is an industry that will generate jobs, day. Thus, I cannot say that I am going to carry technology and a series of advances. All of this out geological sequestration and not biomass. in a positive scenario, in which there are pu- I have to do everything. blic policies and interest by the industry. The major social gain is that there will be techno- RBB – Isn’t reforesting less risky? logical development: grants will be generated, Ketzer – No, because who can guarantee as people will have to build capacities. A new that the tree now being planted will stand for industrial segment will be created, along with a thousand years? If I cannot even keep the job opportunities. Amazon rainforest, which is a native forest, RBB – Will results soon be yielded in this area? pull down the forest, the carbon returns into Ketzer – The current projects are relatively the atmosphere, and deforesting is much ea- short concerning time span. In two or three sier. I have to guarantee that carbon will be years, we will have to present results. The pro- stored in a thousand years, that is, I have to ject for capturing and storing the CO2 deriving guarantee that the forest will stand for a thou- from the ethanol sugar fermentation process sand years. in the State of São Paulo, called RCCS, developed in a partnership with Cenbio, Petrobras RBB – Is it possible to make a projection, for and others, gives Brazil great visibility, as the the short and medium term, of what will the ad- country already has a huge reputation in rela- herence to CCS be in the future? tion to biofuels [see details on page 21] and if Ketzer – In the short term, some countries the Brazilian biofuels begin not only to neu- will begin to develop it, and I think Brazil tralize, but also to make emissions negative, cannot miss this opportunity of being ahead, I think we will have a very positive impact. with this group of countries that will place car- Firstly because, as an emerging economy, it bon sequestration isolatedly in some plants. In will dominate something technologically very the medium term, I think sequestration will be complex. Today, those practicing carbon se- very important and will come to account for questration are Norway, Australia and Canada, capturing from 5% to 10% of emissions, may- first-world countries. China is also advancing be in 2020 or 2030. In an optimistic scenario, and is an emerging country. We can no longer in which there are public policies and an inter- lag behind them, can we? Making emissions national mobilization, such as the Kyoto Pro- negative means that the more we use our etha- tocol, what will happen is that we will reduce nol-fueled car, the more we contribute to re- emissions and reach a 2oC level of increase in ducing emissions. This will give Brazil a very temperature by the end of the century. good visibility. “ Brazil cannot miss this opportunity of being ahead, with this group of countries that will place carbon sequestration isolatedly in some plants “ how can I guarantee a reforesting tree? If you 35 Projetos do Cenbio Redução de carbono pela eficiência Projeto financiado pela AES Eletropaulo e desenvolvido pelo Cenbio busca promover a inclusão de trabalhos de eficiência energética em comunidades de baixa renda no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Fotos: AES Eletropaulo Estudo do Cenbio busca permitir introdução de procedimentos de eficiência energética no MDL 36 A busca por uma matriz energética mais limpa não envolve apenas o uso de fontes alternativas e menos poluentes, mas também o aproveitamento mais eficiente da energia gerada. Tendo isso em vista, a AES Eletropaulo vem financiando um projeto de P&D – Pesquisa e Desenvolvimento – dentro de programa compulsório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Desenvolvido pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) em parceria com a Tevec Engenharia e a DCT Energia, ele visa a elaborar um protocolo de monitoramento e verificação (PMV) dos trabalhos da distribuidora de energia elétrica que atua no Estado de São Paulo. Com um título extenso e descritivo, o projeto Metodologia de Monitoramento e Verificação (M&V) e PMV para Projetos de Eficiência Energética em Comunidades de Baixa Renda, Visando ao Atendimento ao Protocolo Internacional para Medição e Verificação de Performance (PIMVP) e à Obtenção de Créditos de Carbono no Âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) vem sendo trabalhado pelo Cenbio desde 2010. Envolve uma série de atividades que buscam ganhos em diversas esferas, da redução de emissões resultantes da geração de energia à inclusão social. “O objetivo primordial é o PMV desses trabalhos [da AES], que inclua as vertentes social e ambiental de sustentabilidade”, destaca a bióloga Beatriz Lora, pesquisadora do Cenbio. “Ou seja, com o PMV elaborado pelo projeto será possível medir itens que antes não eram monitorados ou medidos – tais como a inclusão social pela regularização das residências a partir do cadastramento e recebimento de conta de luz.” Por meio do protocolo, busca-se o desenvolvimento de um modelo mais abrangente de M&V para projetos de eficiência energética em comunidades de baixa renda, que contemple as medições quantitativas de desempenho atendendo o PIMVP. O modelo também deve contemplar a avaliação de outras variáveis igualmente importantes para determinar o sucesso e a sustentabilidade de projetos dessa natureza, com diretrizes claras para sua aplicação. Eficiência Energética e Inclusão Social Embora o foco do Cenbio seja a pesquisa de geração de energia a partir de biomassa, Beatriz mostra que há outras atividades desenvol- Fevereiro /February 2011 Projetos do Cenbio vidas no centro de referência. “O Cenbio também atua em estudos para utilização eficiente de energia e sustentabilidade”, explica. “Nesse caso, as atividades de eficiência energética nas comunidades de baixa renda da AES Eletropaulo contemplam a substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas, substituição de refrigeradores ineficientes por refrigeradores eficientes, além de outras ações que levam à redução do consumo de energia elétrica nessas comunidades e a regularização das residências.” O diferencial do trabalho, de acordo com Beatriz, encontra-se na abordagem técnica e abrangente do real desempenho de projetos de eficiência energética, medindo os aspectos de M&V que atendam o disposto pela Aneel e acrescentando a análise numérica aos aspectos tomados até hoje como qualitativos. “O sucesso do projeto é determinado, portanto, tanto pela medição e verificação quantitativa da redução do consumo de energia elétrica como pela gestão dos indicadores de manutenção de hábitos de uso racional e seguro de energia, valorização da cidadania e capacidade de pagamento, dentre outros.” O projeto é uma iniciativa do Programa de Eficiência Energética Voltado para as Comunidades de Baixa Renda da AES Eletropaulo. Algumas das comunidades atendidas, dentro das metas da Eletropaulo, serão objetos de estudo de caso aplicando a metodologia de M&V gerada, por meio de uma ferramenta computacional, que embarca a metodologia desenvolvida e permite o acompanhamento da medição e verificação, assim como a gestão dos indicadores de sustentabilidade do projeto. tegrante de um pré-projeto de Project Design Document (PDD) de MDL produzido pela AES Eletropaulo, de acordo com uma metodologia de linha de base e de monitoramento do MDL selecionada. Ao final da execução da segunda etapa de trabalho, o modelo com os procedimentos para inclusão dos projetos de redução de consumo de energia elétrica no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo será entregue para aprovação pela equipe da AES Eletropaulo. Por meio do estudo desenvolvido, será possível permitir que a introdução dos procedimentos no MDL leve a empresa à redução de emissões de gases de efeito estufa comprovados, trazendo ganhos nas esferas social, ambiental e econômica. Com o protocolo elaborado, será possível medir itens como a inclusão social pela regularização das residências Segunda etapa Dentro das suas atividades, o Cenbio tem trabalhado na elaboração de um pré-projeto que permita à Eletropaulo enquadrar seu programa para as comunidades de baixa renda nas regras do MDL. Por isso, ao longo de 2010, pesquisou o mercado mundial de créditos de carbono a fim de indicar os métodos, recursos, procedimentos e recomendações técnicas e de natureza administrativas para o monitoramento e verificação dos ganhos energéticos necessários para a obtenção dos créditos de carbono. Em 2011, com as informações levantadas, o Cenbio será responsável pela elaboração de um modelo de PMV que deverá ser parte in- 37 Cenbio Projects Carbon emission reduction through efficiency Project financed by AES Eletropaulo and developed by Cenbio seeks to promote the inclusion of works on energy efficiency in low-income communities in the Clean Development Mechanism Photos: AES Eletropaulo Cenbio’s study aims to allow the introduction of energy efficiency procedures in the CDM 38 T he search for a cleaner energy matrix involves not only the use of alternative and less polluting sources, but a more efficient use of the power generated, too. Having this in mind, AES Eletropaulo has been funding a R&D – Research and Development – project within an ANEEL (Brazilian Electricity Regulatory Agency) compulsory program. Developed by the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) in a partnership with Tevec Engenharia and DCT Energia, it aims to prepare a monitoring and verification protocol (MVP) for the works developed by the power distribution company acting in the State of São Paulo. With an extensive and descriptive title, the project of Monitoring and Verification (M&V) Methodology and MVP for Energy Efficiency Projects in Low-Income Communities, Aiming to Meet the International Performance Measurement and Verification Protocol (IPMVP) and to Obtain Carbon Credits in the Ambit of the Clean Development Mechanism (CDM) has been developed by Cenbio since 2010. It involves a series of activities seeking gains at different levels, from reducing emissions resulting from power generation to social inclusion. “The major goal is the MVP of these works [by AES], to include the social and environmental aspects of sustainability”, points out the biologist Beatriz Lora, Cenbio researcher. “That is, with the MVP prepared by the project, it will be possible to measure items which did not use to be monitored or measured – such as social inclusion through the regularization of households through their registration and energy bill delivery.” By means of the protocol, the development of a more comprehensive M&V model for energy efficiency projects in low-income communities is sought, which makes use of the quantitative performance measurements and satisfies the IPMVP. The model should also contemplate the assessment of other equally important variables to determine the success and the sustainability of projects of this nature, with clear directives for its application. Energy Efficiency and Social Inclusion Although Cenbio focuses in the research into power generation from biomass, Beatriz shows that there are other activities developed Fevereiro /February 2011 Cenbio Projects at the reference center. “Cenbio also acts on studies towards the efficient use of power and sustainability”, she explains. “In this case, the AES Eletropaulo energy efficiency activities in the low-income communities aim at replacing incandescent bulbs with compact fluorescent ones, substituting inefficient refrigerators with efficient refrigerators, besides other actions that lead to a reduction in power consumption in these communities, along with the regularization of households.” The work differential, as states Beatriz, lies in the technical and comprehensive approach of the real performance of energy efficiency projects, measuring M&V aspects that satisfy the ANEEL provisions besides adding a numerical analysis of the aspects so far taken as qualitative. “The project success is thus determined by the measurement and quantitative verification of power consumption reduction as well as by the management of the indicators such as keeping habits of rational and safe use of power, citizenship valorization and payment capacity, among others.” The project is an initiative of the AES Eletropaulo’s Energy Efficiency Program Directed to the Low-Income Communities. Some of the communities served, within the Eletropaulo goals, will be the object of a case study that applies the M&V methodology generated, by means of a computational tool, which uses the developed methodology and allows following up measurement and verification, along with the management of project sustainability indicators. of the second work stage, the model with the procedures for including power consumption reduction projects in the Clean Development Mechanism will be submitted to the approval of the AES Eletropaulo team. By means of the study developed, it will be possible to allow the introduction of the procedures in the CDM to make the company reduce its proved greenhouse gases emissions, providing improvements at social, environmental and economic levels. With the elaborated protocol, it will be possible to measure items like the social inclusion through the regularization of households Second stage Among its activities, Cenbio has worked in the preparation of a pre-project that allows Eletropaulo to fit its program for the low-income communities into the CDM rules. Thus, in 2010, it researched the carbon credit world market to determine the methods, resources, procedures and technical and administrative nature recommendations for monitoring and verifying the necessary energy gains for obtaining the carbon credits. In 2011, with the information collected, Cenbio will be responsible for preparing a MVP model that will be an integral part of a pre-project of CDM Project Design Document (PDD) produced by AES Eletropaulo, according to a selected baseline and CDM monitoring methodology. At the completion 39 Empresas modernas O potencial do biobutanol Laboratório da Butamax em Paulínia (SP) trabalha na pesquisa da molécula combustível que pode ser uma opção energética econômica e menos poluente Fotos: Gladstone Campos/RealPhotos Laboratório da Butamax, em Paulínia, desenvolve e estuda o biobutanol obtido a partir da cana-de-açúcar 40 N o dia 3 de novembro de 2010, foi inaugurado na cidade de Paulínia, em São Paulo, o primeiro laboratório brasileiro dedicado à pesquisa e desenvolvimento do biobutanol. A iniciativa foi realizada pela Butamax Advanced Biofuels, formada em 2009 com sede nos Estados Unidos para atuar na área de tecnologia e marketing do novo biocombustível. “Este é o primeiro laboratório dedicado a pesquisas com o isobutanol produzido a partir de cana-de-açúcar no País e a sua localização foi cuidadosamente selecionada, uma vez que a cidade de Paulínia está próxima de universidades e outros centros de pesquisa, assim como de fontes de matéria-prima [cana-de-açúcar] para testes”, comenta Regina Monteiro, gerente de Desenvolvimento Comercial da Butamax. O laboratório, informa a gerente, fará o desenvolvimento e a otimização da tecnologia do biobutanol a partir de cana e permitirá a realização de estudos e análise de impactos das características específicas do produto. O biobutanol é uma molécula com pro- Fevereiro /February 2011 Empresas modernas priedades combustíveis, obtida a partir da fermentação de açúcares por meio de um processo economicamente viável. “As etapas de produção do biobutanol de cana de açúcar são: processo de fermentação protegido por patente cujo micro-organismo utilizado é uma levedura geneticamente modificada; ao final da fermentação de cada batelada, ocorre a centrifugação para recuperação da levedura e, posteriormente, a destilação para recuperação do biobutanol”, explica Wilson Araújo, gerente de Tecnologia e Operações da Butamax. Resultado de uma joint venture entre as empresas BP e DuPont, a Butamax declarou, na inauguração do laboratório, seu compromisso de promover desenvolvimento tecnológico para o avanço da economia nacional, bem como sua meta de estabelecer o biobutanol como agregador de valor na cadeia de produção de biocombustíveis. Vindo para agregar, não competir Embora diversas fontes de biomassa possam ser usadas como matéria-prima na sua produção, entre as quais o milho, trigo e sorgo, a cana-de-açúcar é considerada pelos representantes da Butamax como a matéria-prima mais vantajosa economicamente no Brasil para tal produção. “A cana-de-açúcar é a mais eficiente e sustentável para a produção de biocombustíveis atualmente, por isso a sua escolha pela companhia como principal fonte de produção de biobutanol no Brasil”, explica Regina. O biobutanol é um combustível com custos de produção mais caros do que os do etanol. Porém, ele traz uma série de vantagens ambientais. Suas propriedades químicas permitem que ele seja misturado à gasolina em concentrações maiores segundo os regulamentos internacionais (16% por volume nos EUA, contra 10% do etanol por volume de gasolina). Dessa forma, a mistura de biobutanol ao combustível tem potencial maior para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Além disso, o biobutanol tem um conteúdo de energia mais próximo ao da gasolina (80%, contra 65% do etanol), permitindo um rendimento maior no número de quilômetros rodados por litro. Também não aumenta a pressão de vapor quando adicionado à gasolina, ajudando a reduzir as emissões de compostos orgânicos voláteis (COVs) na atmosfera. Mas o objetivo da Butamax não é colocar o biobutanol e o etanol em relação de concorrência, e sim de complementaridade. Para Regina, a produção do novo biocombustível agrega valor à cadeia do etanol. “O biobutanol vem acrescentar diversificação à indústria e é complementar ao etanol, pois, além de representar mais um passo para ampliar o uso da cana-de-açúcar, permite acesso de produtores brasileiros a mercados globais de biocombustíveis em volumes significativamente maiores do que os atuais devido às distintas caracte- Butamax estima que a produção do biobutanol no Brasil estará pronta para exportação entre 2013 e 2014 41 Empresas modernas rísticas técnicas das duas moléculas de álcool [etanol e butanol]”, aponta. O biobutanol não precisa de uma cadeia logística própria, nem tem necessidade de adaptações para ser misturado à gasolina nas refinarias. Pode-se enfatizar também a possibilidade de expansão das usinas de cana-deaçúcar para produção simultânea de açúcar, etanol para o mercado doméstico (onde o biobutanol ainda não se mostra economicamente viável) e biobutanol para exportação. Desse modo, haveria maior retorno financeiro para o produtor de cana. De acordo com declarações do CEO da Butamax, Tim Potter, na coletiva de imprensa para inauguração do laboratório de Paulínia, a participação esperada do biobutanol na matriz energética nacional, mesmo pequena, permitiria ainda uma redução de 20% da importação de petróleo, possibilitando assim mais um ganho ambiental. Regina Monteiro: “O biobutanol vem acrescentar diversificação à indústria e é complementar ao etanol” 42 Próximos passos Segundo Araújo, os pesquisadores brasileiros do laboratório de Paulínia estão em constante contato com um time científico multidisciplinar internacional. No exterior, a Butamax vem conduzindo pesquisas para lançamento comercial em outros países. “Nosso plano de negócios está fundamentado na oportunidade de exportação do biobutanol para mercados internacionais em franca expansão, como Estados Unidos, Europa e Ásia”, afirma. “Desde o início, a pesquisa do biobutanol tem sido conduzida e sustentada na diversidade, com a participação de cientistas e engenheiros de diferentes nacionalidades.” No Brasil, outras matérias-primas serão pesquisadas. O próximo passo da Butamax inclui o estudo de matérias-primas alternativas como microalgas e fontes celulósicas. Estima-se que a produção de biobutanol no Brasil estará pronta para exportação entre 2013 e 2014. Até lá, é esperado que os mandatos nos Estados Unidos, estipulando um aumento no uso de biocombustíveis no país, ampliem a concentração de biobutanol por volume de gasolina para 24%. “A demanda global por combustíveis é muito grande e não será satisfeita por apenas uma ou duas alternativas”, explica Regina. “Tanto o biobutanol como o etanol terão uma contribuição importante, assim como outros biocombustíveis.” Fevereiro /February 2011 43 Modern Companies The biobutanol potential Butamax Laboratory in Paulínia (SP) works on the research into the fuel molecule, which may be an economic and less polluting energy alternative Photos: Gladstone Campos/RealPhotos Butamax’s lab, in Paulínia, develops and studies the biobutanol obtained from sugar cane 44 O n November 3, 2010, in the city of Paulínia, in São Paulo, the first Brazilian laboratory dedicated to biobutanol research and development was inaugurated. The initiative was taken by Butamax Advanced Biofuels, formed in 2009, headquartered in the United States to act in the technology and marketing area of the new biofuel. “This is the first laboratory dedicated to researches with the isobutanol produced from sugar cane in Brazil, and its location was carefully selected, since the city of Paulínia is clo- se to universities and other research centers, as well as to feedstock sources [sugar cane] for tests”, comments Regina Monteiro, Butamax Commercial Development Manager. The laboratory, the manager informs, will conduct the development and optimization of the biobutanol technology as from sugar cane and will allow conducting studies and impact analysis of the product’s specific characteristics. Biobutanol is a molecule with fuel properties, obtained from the fermentation of sugars by means of an economically viable process. Fevereiro /February 2011 Modern Companies Butamax expects that the biobutanol production in Brazil will be ready to be exported between 2013 and 2014 “The sugar cane biobutanol production stages are: fermentation process protected by patent, whose micro-organism is a genetically modified yeast; at the end of each batch fermentation, centrifugation occurs for recovering the yeast and, after that, distillation for recovering biobutanol”, explains Wilson Araújo, Butamax Technology and Operations Manager. A result of a joint venture between the BP and DuPont companies, Butamax declared, at the laboratory inauguration, it committed to promoting technological development for the advance of Brazilian economy, along with its goal of establishing biobutanol as a value-adder in the biofuels production chain. Coming to add, not to compete Although several biomass sources can be used as feedstock for its production, among which corn, wheat and sorghum, Butamax representatives consider sugar cane as the most economically advantageous feedstock in Brazil for this kind of production. “Sugar cane is currently the most efficient and sustainable one for biofuel production; this was the reason for it being chosen by the company as the main biobutanol production source in Brazil”, explains Regina. The production costs of biobutanol as fuel are higher than those of ethanol. However, it provides a series of environmental advantages. Its chemical properties allow it to be blended with gasoline in greater concentrations according to international regulations (16% per volume in the USA, against 10% of ethanol per gasoline volume). Hence, blending biobutanol with fuel has a greater potential to reduce greenhouse gases (GHG) emissions. Also, biobutanol has an energy content closer to that of gasoline (80%, against 65% of ethanol), allowing a greater yield in the number of kilometers run per liter. Moreover, it does not increase the steam pressure when added to gasoline, helping reduce the emissions of volatile organic compounds (VOCs) into the air. Butamax does not mean to make biobutanol and ethanol compete, though, but making them complementary. For Regina, the new biofuel production adds value to the ethanol chain. “Biobutanol comes to provide diversity to the industry and is complementary to ethanol, as, besides representing one more step towards expanding the use of sugar cane, it 45 Modern Companies Regina Monteiro: “Biobutanol comes to provide diversity to the industry and is complementary to ethanol” allows the access of Brazilian producers to global biofuels markets in volumes significantly higher than the current ones due to the distinct technical characteristics of the two alcohol molecules [ethanol and butanol]”, she points out. Biobutanol needs neither a logistic chain of its own, nor adapting to be blended with gasoline in the refineries. Also to be emphasized is the possibility to expand the sugar cane plants for simultaneously producing sugar, ethanol for the domestic market (in which biobutanol is not yet economically viable) besides biobutanol for exports. There would thus be more financial return for sugar cane producers. Butamax CEO, Tim Potter, at the press conference when the Paulínia laboratory started operating, stated that the expected biobutanol participation in the Brazilian energy matrix, even if small, would still allow a 20% reduction in oil imports, hence allowing one more environmental gain. Next steps According to Araújo, Brazilian researchers of the Paulínia laboratory are in constant contact with a multidisciplinary international scientific team. Out of Brazil, Butamax has been conducting researches for commercial launching in other countries. “Our business plan is founded on the opportunity of exporting biobutanol to international markets in great expansion, such as the United States, Europe and Asia”, he states. “From the beginning, biobutanol research has been conducted and sustained with diversity, with the participation of scientists and engineers of different nationalities.” In Brazil, other feedstocks will be researched. Butamax’s next step includes the study of alternative feedstocks such as microalgae and pulp sources. The Brazilian biobutanol production is estimated to be ready to be exported between 2013 and 2014. Until then, mandates in the United States stipulating an increase in the use of biofuels in the country are expected to increase biobutanol concentration per volume of gasoline to 24%. “The global demand for fuels is intense and will not be met by one or two alternatives alone”, explains Regina. “Both biobutanol and ethanol will represent an important contribution, as will other biofuels.” 46 Fevereiro /February 2011 47 Artigo Cancun: esperanças renovadas Convenção do Clima forneceu resultados acima do esperado e reacendeu a ideia de que um esforço global para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas ainda é possível José R. Moreira O ano de 2010 foi decisivo para as negociações sobre mudanças climáticas. Após o fracasso ocorrido na Conferência das Partes COP/MOP de Copenhague em 2009, muitos concordavam que, sem um resultado positivo e balanceado da COP de Cancun, em 2010, haveria poucas chances de se obter ações significativas em âmbito mundial com relação às mudanças climáticas e que restaurassem a confiança na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e o Protocolo de Quioto. Quando os Acordos de Cancun foram adotados na manhã do último dia da conferência, havia uma significante sensação de alívio. Os acordos refletiram cinco anos de trabalho, deixando muitos detalhes em aberto, mas obtiveram suporte de todos os 194 participantes da convenção – estes, em sua maioria, são países, porém há outros poucos como, por exemplo, a União Europeia. Uma análise do ocorrido deve começar descrevendo a dinâmica política e o processo de negociação que levaram aos Acordos de Cancun. A seguir, vamos analisar os resultados obtidos e concluir com uma avaliação do que isso significa para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a ocorrer no final deste ano. Copenhague A conferência ocorrida em Copenhague teve uma influência importante no processo de negociação e nas expectativas para Cancun. As negociações que ocorreram em Copenhague foram caracterizadas por falta de confiança, confusão e discussões paralelas por especialistas, chefes de Estado e governos. Por meio de um processo extraordinário, um pequeno grupo de representantes de alto nível das principais economias do mundo e os principais grupos negociadores da UNFCCC redigiram 48 o Acordo de Copenhague. O texto foi apresentado ao plenário para adoção após o presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, já tê-lo anunciado à imprensa como representando as conclusões de Copenhague. Uma reação imediata ocorreu no plenário e, como resultado, o acordo nunca foi formalmente adotado, pois os participantes apenas concordaram com os termos e não os aceitaram como ações devidas. Assim, para muitos, os processos da UNFCCC pareciam pouco transparentes e não democráticos já que o texto do acordo tinha surgido sem a participação de muitos dos presentes. Outros também se mostraram preocupados com a regra de consenso da UNFCCC, que permite que alguns poucos países tenham o poder de impedir que o acordo se torne parte do processo legal, cobrindo todos os participantes. Cancun Em Cancun, desde o começo, o ambiente foi diferente do de Copenhague, pois havia menos presidentes de países, menos pressão da mídia e ausência de celebridades. Com isso, não havia expectativa de se obter ali uma solução definitiva do assunto “mudanças climáticas”. Tudo que se esperava era a definição de um passo na direção correta para um acordo futuro. A visão de muitos era a de que, se não houvesse algum acordo, não haveria motivo para que pudéssemos esperar acordos no futuro. Porém, outros viam que os riscos reais e concretos ao processo da UNFCCC aumentavam a vontade dos participantes em obter alguns compromissos em Cancun. Uma ação importante para o sucesso parcial obtido em Cancun deveu-se à habilidade do governo do México em mudar a atitude de Copenhague em Cancun. Procurou-se ser transparente e inclusivo, o que foi a tônica durante o período Fevereiro /February 2011 Artigo do encontro. Dessa forma, nenhum texto preparado por alguns poucos foi trazido a plenário. Ao contrário, o processo incluiu os grupos de trabalho específicos sobre o Protocolo de Quioto (AWG-KP) e sobre Análises de Ciclo de Vida (AWG-LCA), grupos de trabalho criados pelos participantes presentes e encontros ministeriáveis informais. Em cada um desses, houve oportunidades para se trazer a visão e entendimento de muitos dos participantes e, assim, nos dias finais, formular um texto de compromisso cobrindo os aspectos delicados da mitigação, monitoramento, mensuração e verificação e, principalmente, a definição do segundo período de responsabilidades debaixo do Protocolo de Quioto. Além da habilidade da presidência do México, questões de bom procedimento foram importantes durante as sessões plenárias. Apesar da sensação dos participantes de que poderia haver aceitação dos Acordos de Cancun, houve dificuldades de último minuto levantadas por alguns poucos dos presentes. Assim, a dificuldade que o princípio de consenso trouxe acabou sendo ultrapassada novamente por interferência da presidência do México, que reiterou que um único país não pode obstar a vontade dos 193 outros participantes. ‘Texto balanceado’ Para obter um resultado bom, o termo “texto balanceado” foi o aspecto mais relevante. Assim, procurou-se em Cancun um razoável balanço dos interesses definidos pela UNFCCC e pelo Plano de Ação de Bali, discutido já há alguns anos. Assim o texto final apoia os interesses da mitigação defendida pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento, combinado com trabalhos técnicos que permitem a melhor compreensão desses interesses. Os principais resultados dos Acordos de Cancun são: 1. Estabelecimento de consenso global de que o aumento da temperatura do planeta, a longo prazo, não pode ultrapassar 2oC e de que há necessidade de revisar esse objetivo em 2015, baseado nas últimas descobertas científicas. 2. Promessas financeiras foram feitas, devidamente ancoradas em quantidades definidas de recursos provenientes dos países ricos, para fornecer assistência aos países em desenvolvimento com o propósito de redução das suas emissões e adaptação aos impactos já existentes devido às mudanças climáticas. Cerca de US$ 30 bilhões por ano serão disponibilizados a curto prazo para o período 2010-2012 e serão aumentados para US$ 100 bilhões por ano até 2020. 3. Estabeleceu-se um registro para os países em desenvolvimento colocarem oficialmente suas Ações Mitigadoras Nacionalmente Apropriadas (Namas) e aumentaram-se os procedimentos de medição e verificação de seus resultados. As Namas são propostas voluntárias de países em desenvolvimento estabelecendo metas e medidas de redução dos gases de efeito estufa para 2020 e que desviam dos resultados esperados caso se mantenha a política atual do país referente ao seu desenvolvimento. Dessa forma, as obrigações voluntárias de mais de cem países, geradas como consequência da Conferencia de Copenhague, estão agora formalmente reconhecidas e serão objeto de procedimentos rigorosos para comunicação, mensuração e verificação. 4. Decisões sobre o assunto “redução de emissões de desmatamento e degradação de florestas” em países em desenvolvimento. Um novo mecanismo tecnológico foi criado por meio de um comitê executivo de tecnologia e de um centro de tecnologia do clima. 5. Definição da existência dos mercados de carbono no futuro. Trata-se da área de maior preocupação do setor privado. Os Acordos de Cancun confirmaram que os mecanismos de mercado hoje existentes dentro do Protocolo de Quioto (tais como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, a Implementação Conjunta e o comércio das emissões) continuarão a existir como maneiras de reduzir as emissões globais. Isso foi um importante sinal para renovar a confiança dos investidores. Por outro lado, pouco progresso ocorreu na determinação da forma dos novos mecanismos de mercado válidos sob a UNFCCC. Apenas acordou-se que o trabalho continuará em 2011 para manter os atuais mecanismos e, ao mesmo tempo, atender os pedidos e propostas dos participantes e observadores da UNFCCC referentes à definição da nova formatação dos mecanismos mais recentes. 6. Finalmente, outro resultado importante dos acordos, pelo menos para o setor sucroalcooleiro no Brasil, foi a aprovação condicional da inclusão de projetos de captura e armazenagem de carbono (CCS) como candidatos à obtenção de créditos de carbono, via o programa Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da UNFCCC. O interesse do setor sucroalcooleiro está vinculado ao desenvolvimento de um projeto brasileiro que 49 Artigo se proponha a armazenar CO2 da fermentação do açúcar em álcool. Tal projeto, proposto pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) ao Ministério da Ciência e Tecnologia, já recebeu aprovação inicial do Banco Mundial e pretende demonstrar que é possível produzir e usar etanol da cana-de-açúcar com emissão negativa de CO2. Isso significa que, ao se produzir e usar etanol como combustível de automóvel, pode-se remover CO2 da atmosfera desde que, na fermentação do açúcar, tenha-se capturado grande parte do CO2 formado. A aprovação dessa tecnologia como candidata a receber créditos, ocorrida em Cancun, ainda está condicionada a alguns avanços tecnológicos e gerenciais. Entretanto, considerando o interesse que existe com relação ao CCS em âmbito mundial, principalmente pela indústria do carvão, as barreiras existentes poderão facilmente ser vencidas. Portanto, os resultados obtidos em Cancun, talvez ainda modestos, parecem suficientemente grandes para que a UN- FCCC e os compromissos assumidos pelos países ricos por meio do seu Protocolo de Quioto sejam totalmente definidos na próxima Convenção do Clima e, dessa forma, os esforços mundiais para se controlar o efeito estufa e suas consequências continuem a ser realidade no futuro. Nota do autor: o artigo acima foi adaptado das seguintes fontes: 1) Earth Negotiation Bulletin COP16#1. IISD Reporting Services. IISD (International Institute for Sustainable Development). 2) Post-Cancun-What it means?. KPMG International Cooperative. 3) Was Cancun a success? Dr. Osterkorn discusses the COP 16 outcome. REEEP (Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership). José R. Moreira Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo Anúncio 50 Fevereiro /February 2011 Article Cancun: renewed hopes The Climate Convention provided results above those expected and rekindled the idea that a global effort to mitigate and adapt to climate changes is still possible José R. Moreira 2010 was decisive for climate change negotiations. After the failure that occurred at the Conference of the Parties COP/ MOP in Copenhagen in 2009, many agreed that, without a positive and balanced result at the Cancun COP in 2010, there would be few chances of obtaining significant global actions concerning climate change and that restored confidence in the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) and in the Kyoto Protocol. When the Cancun Agreements were adopted in the morning of the last day of the conference, there was a significant feeling of relief. The agreements reflected five years of work, leaving many unsolved details, but were supported by all of the 194 participants in the convention – which are mostly countries; yet there are a few others such as, for example, the European Union. An analysis of what occurred should begin by describing the political dynamics and the negotiation process that led to the Cancun Agreements. Next, the results obtained will be analyzed and the conclusion will present an assessment of what that means for the next United Nations Climate Change Conference, to be held at the end of this year. Copenhagen The conference held in Copenhagen had a relevant influence on the negotiation process and on the expectations for Cancun. The negotiations that occurred in Copenhagen were characterized by lack of trust, confusion and parallel discussions by experts, Heads of State and governments. By means of an extraordinary process, a small group of high level representatives of the major world economies and the main UNFCCC negotiating groups wrote the Copenhagen Agreement. The text was presented to the plenary for adoption after the President of the United States, Barack Hussein Obama, had already announced it to the press as representing the Copenhagen conclusions. An immediate reaction occurred in the plenary and, as a result, the agreement was never formally adopted, as the participants merely agreed with the terms and did not accept them as due actions. Thus, for many, the UNFCCC processes did not seem very transparent or democratic, since the agreement text had been written without the participation of many of those present. Others also showed to be concerned about the UNFCCC consensus rule, which allows some few countries to have the power to prevent the agreement from becoming part of the legal process covering all the participants. Cancun In Cancun, from the very beginning, the atmosphere was different from that in Copenhagen, as there were less country presidents, less pressure from the media and absence of celebrities. With this, there was no expectation of obtaining a final solution to the “climate change” issue there. All that was expected was the definition of a step in the right direction towards a future agreement. Many thought that, if there were no agreement, there would be no reason for us to expect agreements in the future. However, others saw that the real and concrete risks to the UNFCCC process increased the participants’ will to obtain some commitments in Cancun. An important action for the partial success obtained in Cancun was owed to the Mexican government’s ability to change the Copenhagen attitude in Cancun. The aim was to be 51 51 Article transparent and inclusive, which was the highlight during the meeting period. Hence, no text prepared by a few was brought to the plenary. On the contrary, the process included ad hoc working groups on the Kyoto Protocol (AWG-KP) and on Life Cycle Assessment (AWG-LCA), working groups established by the participants present there and informal ministry meetings. In each of them, there were opportunities for presenting the view and understanding of many of the participants and thus, in the last days, formulating a commitment text covering the delicate aspects of mitigation, monitoring, measurement and verification and, mainly, the definition of the second period of responsibilities under the Kyoto Protocol. Besides the ability of the Mexican Presidential Office, good procedure issues were important during the plenary sessions. Although the participants felt that the Cancun Agreements could be accepted, there were last minute difficulties raised by a few of those present. Therefore, the difficulty that the beginning of a consensus brought was eventually overcome again by the interference of the Mexican Presidential Office, which reiterated that a country alone could not prevent the will of the other 193 participants. ‘Balanced text’ So as to obtain a good result, the term “balanced text” was the most relevant aspect. Thus, in Cancun, a reasonable balance of the interests defined by the UNFCCC and by the Bali Plan of Action, discussed some years ago, was sought. Hence, the final text supports the mitigation interests advocated by the industrialized and developing countries, combined with technical works that allow a better understanding of these interests. The major results of the Cancun Agreements are: 1. Establishment of global consensus that the planet’s increase in temperature, in the long run, cannot exceed 2oC and that there is the need to revise this goal in 2015, based on the latest scientific discoveries. 2. Financial promises were made, duly anchored in defined numbers of resources coming from wealthy countries, to provide assistance to developing countries with the purpose of reducing their emissions and of adapting to the already existing climate-change derived impacts. About US$ 30 billions a year will be made available 52 52 in the short term for the 2010-2012 period and will be increased to US$ 100 billions a year by 2020. 3. A record was established for the developing countries to officially present their Nationally Appropriate Mitigating Actions (NAMAs) and the measurement and verification procedures of their results were increased. The NAMAs are volunteer proposals by developing countries establishing goals and measures for reducing the emission of greenhouse gases by 2020 and that divert the expected results in case the present policy of the country concerning its development is maintained. Thus, the voluntary obligations of over a hundred countries, generated as a consequence of the Copenhagen Conference, are now formally acknowledged and will be the object of strict procedures for communication, measurement and verification. 4. Decisions on the issue “deforestation and forest degradation emission reduction” in developing countries. A new technological mechanism was created by means of an executive technology committee and of a climate technology center. 5. Definition of the existence of carbon markets in the future. It is the area causing the greatest concern on the part of the private sector. The Cancun Agreements confirmed that the market mechanisms now existing under the Kyoto Protocol (such as the Clean Development Mechanism, the Joint Implementation and emission trade) will keep existing as ways of reducing global emissions. This was an important sign to renew investors’ trust. Conversely, little progress was made towards determining the format of the new market mechanisms valid under the UNFCCC. It was only agreed that the work will continue in 2011 to keep the present mechanisms and, concurrently, to satisfy the requests and proposals by the participants and UNFCCC observers concerning the definition of the new format of more recent mechanisms. 6. Lastly, another important result of the agreements, at least for the Brazilian sugar-ethanol sector, was the conditional approval of the inclusion of carbon capture and storage (CCS) projects as candidates for obtaining carbon credits, via the UNFCCC Clean Development Mechanism (CDM) programme. The interest by the sugar-ethanol sector is bound to the development of a Fevereiro /February 2011 Article Brazilian project that proposes to store the CO2 from sugar fermentation into ethanol. The project, proposed by the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) to the Brazilian Ministry of Science and Technology, has already received initial approval by the World Bank and intends to demonstrate that it is possible to produce and to use sugar cane ethanol with CO2 negative emission. This means that, when producing and using ethanol as fuel, CO2 can be removed from the atmosphere provided that, in the sugar fermentation, a large portion of the CO2 formed has been captured. The approval of this technology as a candidate to earn credits, which occurred in Cancun, is still conditioned to some technological and managerial advances. However, considering the existing interest concerning the CCS in world ambit, mainly by the coal industry, the existing barriers can be easily overcome. Therefore, the results obtained in Cancun, maybe still modest, seem great enough for the UNFCCC and the com- mitments made by the wealthy countries by means of their Kyoto Protocol to be fully defined in the next Climate Convention and, hence, the world efforts to control the greenhouse effect and their consequences keep being a reality in the future. Author’s note: the article above was adapted from the following sources: 1) Earth Negotiation Bulletin COP16#1. IISD Reporting Services. IISD (International Institute for Sustainable Development). 2) Post-Cancun-What it means?. KPMG International Cooperative. 3) Was Cancun a success? Dr. Osterkorn discusses the COP 16 outcome. REEEP (Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership). José R. Moreira Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) Institute of Electrotechnics and Energy University of São Paulo Anúncio 53 Agenda 54 Fórum Brasileiro de Gestão de Resíduos Sólidos Periodo: 5 a 7 de outubro de 2011 Local: Expotrade Convention Center, Pinhais, PR, Brasil Informação: [email protected] Brazilian Forum on Solid Waste Management Period: October 5th to 7th, 2011 Venue: Expotrade Convention Center, Pinhais, PR, Brazil Information: [email protected] 1ª Conferência Internacional sobre Energia de Resíduos e Reciclagem de Biomassa Período: 23 a 25 de março de 2011 Local: Marina Park Hotel, Fortaleza, CE, Brasil Informações: [email protected] * Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho, realizando as palestras Background information about local conditions and actual situation in Brazil (dia 23/3, às 10h) e Opportunities and threats for “waste to energy” in Brazil (23/3, às 10h30) 1st Workshop on Waste to Energy in Fortaleza Period: March 23rd to 25th, 2011 Venue: Marina Park Hotel, Fortaleza, CE, Brazil Information: [email protected] * Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, presenting the lectures Background information about local conditions and actual situation in Brazil (March 23rd, 10 AM) and Opportunities and threats for “waste to energy” in Brazil (March 23rd, 10:30 AM) BIT’s 1st Annual World Congress of Bioenergy Período: 25 a 29 de abril de 2011 Local: World Expo Center - Dalian, China Informações: www.bitliofesciences.com/wcbe2011/ BIT’s 1st Annual World Congress of Bioenergy Period: April 25th to 29th, 2011 Venue: World Expo Center - Dalian, China Information: www.bitliofesciences.com/wcbe2011/ Fórum e Exposição Energias Renováveis e Alternativas no Cone Sul (Eracs) Período: 11 a 13 de maio de 2011 Local: Centro de Eventos da PUC-RS, Porto Alegre, RS, Brasil Informações: www.eracs.org.br/ Renewable and Alternative Energies in the Southern Cone – ERACS Forum and Exposition Period: May 11th to 13th, 2011 Venue: PUCRS Events Center, Porto Alegre, RS, Brazil Information: www.eracs.org.br/?lang=en-us Seminário Internacional sobre Sustentabilidade em Estações de Tratamento de Esgotos Período: 1 a 3 de junho de 2011 Local: JW Hotel Marriot, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Informações: [email protected] * Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho, realizando a palestra Projeto Energ-Biog “Geração de Energia Elétrica a partir do Biogás do Tratamento de Esgoto da Estação de Barueri, São Paulo” (dia 2/6, às 9h40) International Seminar on Sustainability in Sewage Treatment Stations Period: June 1st to 3rd, 2011 Venue: JW Marriot Hotel – Rio de Janeiro, RJ, Brazil Information: [email protected] * Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, presenting the lecture Energ-Biog Project “Electric Power Generation from Sewage Treatment Biogas from the Station in Barueri, São Paulo” (June 2nd, 9:40 AM) 19th European Biomass Conference and Exhibition Período: 6 a 10 de junho de 2011 Local: International Congress Center Berlin, Berlim, Alemanha Informações: www.conference-biomass.com/ 19th European Biomass Conference and Exhibition Period: June 6th to 10th, 2011 Venue: International Congress Center Berlin, Berlin, Germany Information: www.conference-biomass.com/ 2011 International Energy Workshop Período: 6 a 8 de julho de 2011 Local: Stanford University, Stanford, CA, Estados Unidos Informações: www.internationalenergyworkshop.org/ workshop_2011.html 2011 International Energy Workshop Period: July 6th to 8th, 2011 Venue: Stanford University, Stanford, CA, United States Information: www.internationalenergyworkshop.org/ workshop_2011.htmal 6º Congresso Internacional de Bioenergia / 4ª BIOTech Fair – Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustíveis Período: 16 a 19 de agosto de 2011 Local: Centro de Eventos Sistema FIEP, Curitiba, PR, Brasil Informações: http://www.bioenergia.net.br/congresso/br/index. php / www.bionergia.net.br/congresso/br/index.php / www. eventobioernergia.com.br/feira/br/index.php 6th International Bioenergy Congress / 4th BIOTech Fair – International Fair on Bioenergy and Biofuels Technology Period: August 16th to 19th, 2011 Venue: FIEP System Events Center – Curitiba, PR, Brazil Information: www.bioenergia.net.br/congresso/en/index.php / eventobioenergia.com.br/feira/en/index.php 10ª Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo Período: 24 de agosto de 2011 Local: Memorial da América Latina, São Paulo, SP, Brasil Informações: [email protected] 10th Conference for Cleaner Production and Climate Change of the São Paulo City Period: August 24th, 2011 Venue: Memorial da América Latina, São Paulo, SP, Brazil Information: [email protected] 3º Seminário Bioenergia: Desafios e Oportunidades de Negócios Período: Novembro de 2011 (dias a serem confirmados) Local: São Paulo, SP, Brasil Informações: http://cenbio.iee.usp.br 3rd Bioenergy Seminar: Challenges and Business Opportunities Period: November 2011 (days to be confirmed) Venue: São Paulo, SP, Brazil Information: http://cenbio.iee.usp.br/indexen.asp Fevereiro /February 2011 55 56