A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja

Transcrição

A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja
edição
84
jan
Brasil
na mira
Deborah Vieitas,
presidente da ABBI, fala sobre a importância do
mercado financeiro brasileiro para a estratégia
das instituições financeiras estrangeiras
janeiro 2014 financeiro 1
Mercado promissor para o crescimento dos empréstimos
2 financeiro janeiro 2014
conteúdofinanceiro
8
14
Páginas Azuis
8
38
A presidente da ABBI (Associação
Brasileira dos Bancos
Internacionais), Deborah Vieitas,
mostra a atração que o sistema
financeiro brasileiro exerce sobre
as instituições estrangeiras,
mesmo com as oscilações da
economia do País
Viagem & Turismo
38
O roteiro de Humberto
Casagrande Jr. para quem quer
conhecer o mundo e é apaixonado
por vinhos
Cultura
42
Crédito
Museu da TAM revela uma parte
importante da história da aviação
comercial do País contada por 88
aeronaves
14 Economistas preveem que
mercado vai continuar a crescer,
embora em ritmo menos intenso
que nos “anos dourados”
Fora do Expediente
46
Combate à Corrupção
A história do executivo do
mercado financeiro que também
faz sucesso com uma banda de
rock progressivo
22 Especialista analisa a lei de
combate à corrupção, que deve
entrar em vigor ainda no primeiro
trimestre deste ano
42
Negócios & Lazer
36 O Hilton Hotel revela a estratégia
de privilegiar sempre o cliente
para crescer em um setor cada
vez mais competitivo
Artigos
19
Sergio Vale
29
Reinaldo Rabelo de Morais Filho
50
Alberto Borges Matias
61
Nicola Tingas
Mercado Exterior
Inovação
Análise e Perspectiva
Palavra Final
janeiro 2014 financeiro
3
expediente
ISSN 1809-8843
Publicação da acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
Rua Libero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br
Presidente
Érico Sodré Quirino Ferreira
Vice-presidentes
Aquiles Diniz, Carlos Alberto Samogin, Claudio Messias Ferro, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Azevedo, Elias de Souza e Felicitas Renner
Secretário
Sérgio Cipovicci
Tesoureiro
Alexandre Teixeira
Diretores regionais
José Agnelo Seger, Leonardo Dadauto, Luiz Carlos do Nascimento, Paulo Dalla Nora, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro da Costa Carvalho e
Sebastião Cunha
Diretores executivos
João dos Santos Caritá Júnior e Rubens Bution
Montadoras
Edson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Felipe César Rodrigues Ferreira, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar
Diretores conselheiros
José Carlos Alves e Victor Loyola
Conselho consultivo
Alkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti, Ilídio
Gonçalves dos Santos, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Ricardo Loureiro e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)
Conselho fiscal
Domingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)
Diretor superintendente
Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)
Controller
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Economista-chefe
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Deloitte Touche Tohmatsu
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Publisher
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Redação
Editores
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Editor assistente
Gustavo Girotto
Repórteres
Geyse Alencar e Liliana Liberato
Fotografia
Regis Filho, Gabriel Kosman, João Gabriel Fava e Victor Jimenez
Arte
Eleonora Branco e Rafael Pascoal
Revisor
Vicente dos Anjos
Impressão
Eskenazi Gráfica
4 financeiro janeiro 2014
editorial
Correção de rota
2014 começou com bons presságios para a economia
Dessa forma, ameaças que insistiam em nos incomo-
brasileira, depois das incertezas que predominaram no
dar parecem ter perdido a força. Uma delas, que tirava
ano passado. E as boas notícias vieram principalmente do
o sono de todos nós, era a possibilidade de redução do
lado fiscal, ou seja, justamente de onde o País mais neces-
rating do Brasil. Essa hipótese, ainda não totalmente afas-
sitava. Foi com alívio que assistimos, no final de 2013, a
tada, está bem mais distante diante das novas posturas
iniciativas do governo que indicam uma nova postura em
adotadas pelo governo. Assim, a incerteza ficou bem
relação a esse assunto, que tanta apreensão despertava
menor – e esse ponto é vital quando se trata de pensar o
nos agentes econômicos.
futuro de nossos negócios e da nossa economia.
Uma dessas iniciativas bem-vindas foi a flexibilidade
Claro que o cenário continua a inspirar cuidados.
adotada pelo governo em relação aos programas de con-
Vivemos sob a expectativa da mudança da política mone-
cessões, com a revisão de critérios para leiloar aeroportos,
tária dos Estados Unidos pelo Federal Reserve, que terá
rodovias e ferrovias. Felizmente, percebeu-se que as regras
impacto direto na economia brasileira, assim como no
anteriores inviabilizavam a participação das empresas
cenário global. Temos também as eleições em outubro,
nesses programas e adotou-se a postura de mudar para
com suas consequências para o andamento da economia
melhor, sem medo da oposição de grupos que consideram
durante este ano e também em 2015. No entanto, não há
“privatização” uma palavra maldita.
dúvida de que o ar está menos carregado e que o quadro
Outro passo positivo foi dado quando o governo se
é bem mais promissor.
opôs à mudança do indicador atrelado ao cálculo da
Há muito ainda a fazer, sem dúvida. Mas já temos
dívida de Estados e municípios com a União. O projeto
sinais de que alguns dos principais entraves ao cresci-
que alterava o indicador usado sobre o serviço da dívi-
mento estão sendo gerenciados da maneira apropriada.
da representaria uma redução no caixa do governo e
Continuando nessa direção, a confiança será retomada e
contrariava acordo entre o Palácio do Planalto e líderes
poderemos finalmente enxergar um futuro mais promis-
dos partidos aliados no Congresso, no sentido de que
sor para todos.
não seriam votados projetos que trouxessem novos
prejuízos aos cofres públicos.
São atitudes como essas que dão alento aos agentes
Foto: Flávio Roberto Guarnieri
econômicos, ao dar demonstrações práticas de comprometimento do governo em relação à saúde de suas contas
e ao diálogo com importantes setores da economia. O
bom senso prevaleceu nesses casos e eles demonstram
que podemos ter esperanças em relação aos rumos de
nossa economia.
Érico Sodré Quirino Ferreira,
Presidente da Acrefi
janeiro 2014 financeiro
5
nossasassociadas
ACFI - Aymoré Crédito,
Financiamento e Investimento S.A.
Banco Safra S.A.
Kredilig S/A Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Santander Brasil S.A.
Agiplan Financeira S.A. CFI
Banco Semear S.A.
Lecca Crédito, Financiamento e
Investimento S.A.
Banco A.J. Renner S.A.
Banco Toyota do Brasil S.A.
Banco Volkswagen S.A.
Mercantil do Brasil Financeira
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimentos
Banco Yamaha Motor do Brasil
S.A.
Midway S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banif Banco Internacional do
Funchal (Brasil) S.A.
Múltipla CFI S/A
Banco Carrefour S.A.
Banco Cifra S.A.
BMW Financeira S.A. CFI
Negresco S/A Crédito,
Financiamento e Investimentos
Banco Citibank S.A.
BV Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Omni S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Caixa Econômica Federal
Parati Crédito Financiamento e
Investimento S.A.
Banco Bonsucesso S.A.
Banco Bradesco Financiamentos
S.A.
Banco Cacique S.A.
Banco Citicard S.A.
Banco Daycoval S.A.
Banco De Lage Landen Financial
Services Brasil S.A.
Banco do Brasil S.A.
Banco Ficsa S.A.
Caruana S.A. Sociedade de Crédito
Financiamento e Investimento
Cetelem Brasil S.A - Crédito,
Financiamento e Investimento
Cred Capixaba S/A Soc. Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Fidis S.A.
Credifibra S/A CFI
Pernambucanas Financiadora
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimento
Portocred S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Portoseg S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Gerador S.A.
Banco GMAC S.A.
Dacasa Financeira S.A. - Socied.
de Crédito, Financiamento e
Investimento
Banco Honda S.A.
Banco Intermedium S.A.
Banco Itaú S.A.
Finamax S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Financeira Alfa S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimentos
Banco Itaucard S.A.
Financeira BRB
Santana S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Sax S.A. Crédito, Financiamento e
Investimento
Socinal S.A. Crédito,
Financiamento e Investimento
Sorocred Crédito, Financiamento e
Investimento S.A.
Banco Panamericano S.A.
Herval Financeira S.A. CFI
Banco PSA Finance Brasil S.A.
Banco Rodobens S.A.
6 financeiro janeiro 2014
HSBC Bank Brasil S.A. Banco
Múltiplo
Sul Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Todescredi S/A - Crédito,
Financiamento e Investimento
janeiro 2014 financeiro
7
entrevistadomês
“A receptividade aos
estrangeiros é muito boa”
Deborah Vieitas, presidente da ABBI e do Banco Caixa Geral-Brasil,
conta que o Brasil ainda é visto pelas instituições internacionais como
um país que oferece excelente oportunidade de negócios para quem
atua de olho no longo prazo
Por Theo Carnier
O Brasil ainda está no radar das instituições financeiras
estrangeiras, que enxergam no país uma excelente oportunidade de negócios para quem atua pensando no longo prazo.
Mais do que uma opinião, essa é uma constatação de Deborah
Vieitas, presidente da Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI), que, no comando da entidade, acompanha de
perto a disputa de importantes players do mercado financeiro
global por um lugar no promissor mercado brasileiro.
Deborah cita números para consubstanciar sua visão: seis
instituições estrangeiras, entre as quais o suíço UBS, foram
autorizadas pelo Banco Central do Brasil de janeiro a julho de
2013 a atuar no Brasil, incluindo três bancos, uma empresa de
leasing e escritórios de representação de uma corretora. São
instituições de países, como Dinamarca, Noruega e Índia, que
buscam ter negócios diretamente no Brasil em que pesem as
incertezas onipresentes no nosso mercado. “No mesmo período de 2012 apenas duas instituições fizeram pedidos desse
8 financeiro janeiro 2014
tipo”, compara a presidente da ABBI. “Passado o vendaval da
crise de 2008, voltamos a ser cada vez mais atrativos para o
investidor estrangeiro”.
Em entrevista à Financeiro, Deborah Vieitas conta sobre o
trabalho desenvolvido pela ABBI para ajudar a pavimentar o
caminho desses interessados de outros países, em um setor
que é crescentemente regulado e que exige um esforço de
conhecimento e entendimento sobre as leis, normas e regulamentos que regem o mercado.
Às voltas com todas essas variáveis à frente da entidade –
cujo comando, como se não bastasse, ela acumula com a presidência do Banco Caixa Geral-Brasil, braço do grupo de origem
portuguesa CGD no País – Deborah Vieitas fala, nesta entrevista, sobre custos de observância, exigências regulatórias e perspectivas cada vez mais positivas do mercado brasileiro como
fonte de atração de investimento externo. A seguir, os principais trechos da entrevista de Deborah Vieitas à Financeiro:
Financeiro – Deborah, qual é o perfil dos associados da
ABBI e como atua a associação?
Deborah Vieitas – A ABBI tem atualmente cerca de 100
associados, entre bancos, escritórios de representação, escritórios de advocacia e de auditoria, corretoras, empresas de
leasing. São instituições financeiras e outras entidades que
convivem com elas. Não são apenas bancos. O escopo foi se
expandindo, de forma que a ABBI possa ser uma plataforma
que conjuga os interesses dessas instituições que tenham o
desafio de atuar no mercado brasileiro, sob a regulação das
autoridades brasileiras, e ainda assim cumprir com as obrigações regulatórias nos seus países de origem.
Financeiro – E qual é o peso dessas instituições no sistema financeiro do Brasil?
Deborah Vieitas – Os bancos estrangeiros representam aproximadamente 20% do total de ativos do sistema
financeiro brasileiro. No passado, essa participação já
foi até maior. Chegou a ser de mais de 35%, mas houve
crescimento da participação dos bancos públicos e certa
retração dos bancos estrangeiros, transitória, em função
da força e do impacto da crise financeira mundial que se
iniciou 2008, com a quebra do Lehman Brothers.
Financeiro – Qual é o perfil dessas instituições que fazem
parte da associação?
Deborah Vieitas – Temos duas grandes instituições
de varejo: HSBC e Santander. A grande maioria, no entanto, está no segmento que o mercado chama de atacado. E
a explicação para isso é simples: o mercado de varejo brasileiro requer uma escala, para ser competitivo, que, hoje, já é
muito grande. Se lembrarmos do número de agências dos
maiores bancos brasileiros – eles estão hoje entre 3 mil e 5
mil agências – fica claro o desafio de competir no Brasil no
segmento de varejo pela escala que os maiores bancos têm.
Não é de agora, mas há bastante tempo. Quando fui a uma
conferência, no México, fiquei impressionada com o quanto
a América Latina ainda está atrasada. Digo isso, em termos
da importância que se atribui à representatividade e em sua
crença que a mesma pode ser atingida. Isso será algo que
Deborah Vieitas:
“Bancos estrangeiros
representam cerca
de 20% dos ativos
financeiros do País”
Fotos: Regis Filho
janeiro 2014 financeiro
9
entrevistadomês
Financeiro – Em que estágio está
poderá deter a região em comparação ao
restante do mundo.
esse programa?
Financeiro – Quais são os principais
Deborah Vieitas – O conjunto de
medidas já foi anunciado. Para essas
medidas, a ABBI foi solicitada a enviar
um conjunto de contribuições, com
sugestões para esse processo de racionalização, assim como outras entidades de classe. No primeiro semestre de 2013, o Banco Central lançou
um conjunto de medidas.
desafios da ABBI com relação a seus associados?
Deborah Vieitas – Uma das maiores
prioridades desta gestão da ABBI é a redução dos custos de observância, o que
significa: como se pode cumprir todas as
obrigações regulatórias, sejam as locais
sejam das matrizes, e fazer isso dentro
de uma estrutura de custos que permita
a continuidade da atividade dessas instituições financeiras.
Financeiro – Esse é um grande desafio para o setor?
Deborah Vieitas – Essa preocupação é da ABBI, mas não é exclusivamente
nossa. A própria autoridade regulatória,
ou seja, o Banco Central, entende que há
esforços que podem ser feitos no sentido
de simplificar e reduzir as obrigações regulatórias atualmente em vigor. Tanto é assim que em fevereiro
de 2013 o Banco Central, particularmente seu presidente, Alexandre Tombini, lançou um programa chamado “Otimiza Bacen”,
que veio com o propósito de harmonizar as exigências regulatórias, fazendo um esforço em atender às solicitações das instituições, tanto de capital nacional quanto de capital estrangeiro,
para racionalizar o cumprimento das obrigações.
Financeiro – Quais são os objetivos do “Otimiza Bacen”?
Deborah Vieitas – Os objetivos são racionalização de processos e fluxo de informação e redução dos custos de observância e
do custo operacional. Foram seis medidas iniciais: eliminação da
obrigação de elaboração e remessa de IFTs trimestrais; redução
de 40% dos códigos de classificação de operações de câmbio;
redução de tarifas do Sistema de Transferência de Reservas (STR);
modernização do sistema de transferências internacionais em
reais; adoção de um novo regulamento para comunicação eletrônica de dados; e extinção do Manual de Normas e Instruções
da CVM, que foi substituído por novos sistemas normativos.
10 financeiro janeiro 2014
Financeiro – O Brasil mantém sua
atratividade?
Deborah Vieitas – Sem dúvida.
Mesmo em um ano em que o País vive
um contexto atribulado, tivemos uma
transação como a do China Construction Bank, que comprou participação
de 72% do BicBanco por R$ 1,6 bilhão,
um investimento significativo para
uma instituição que tem um certo
porte. E não podemos esquecer também o ABN Amro, que está de volta.
No passado, bancos estrangeiros tinham restrições para entrar no
Brasil e por isso entravam aqui principalmente adquirindo fatias
em instituições brasileiras. Mas isso foi há 30 anos. Esse quadro
mudou, a receptividade aos estrangeiros é muito boa, o Brasil beneficia-se de maior abertura aos investimentos estrangeiros.
Financeiro – De que regiões vem o maior interesse pelo mercado financeiro brasileiro?
Deborah Vieitas – Principalmente da Europa e da Ásia.
Financeiro – Não há desistência de instituições brasileiras em
relação ao Brasil?
Deborah Vieitas – Nosso mercado é muito dinâmico. Às vezes, algumas instituições optam por mudar presença. Às vezes
algum banco muda para se tornar um escritório de representação, mas o movimento de chegada está consistente.
Financeiro – Mas, a nossa instabilidade não assusta?
Deborah Vieitas – A ABBI coloca um conjunto de informações à disposição de qualquer investidor estrangeiro que queira estudar seu ingresso no mercado brasileiro. O que constatamos em 2013 é que o fluxo de estrangeiros interessados em
se instalar no Brasil tem se mantido bastante consistente.
Financeiro – Mesmo em um período de incertezas em relação
à economia brasileira?
Deborah Vieitas – Operar no mercado brasileiro não é
uma decisão de curto prazo. O sucesso da implantação de instituições financeiras estrangeiras no Brasil reside numa perspectiva de longo prazo. Até porque todos passarão por um período de adaptação importante, o próprio mercado brasileiro
tem evoluído muito em relação ao tipo de instituição que pode
atuar no Brasil. Faço referência particularmente às circulares
emitidas no início de outubro de 2013 pelo Banco Central em
relação aos meios de pagamento e arranjos de pagamento,
admitindo que há, hoje, agentes que atuam dentro do sistema
financeiro que não são necessariamente instituições financeiras, mas devem ter um enquadramento regulatório mínimo
para atuar no País.
Financeiro – Em relação a certificações dos profissionais que
atuam no setor, existem novidades?
Deborah Vieitas – Um dos projetos da nossa gestão é estudar
a possibilidade de implantar uma certificação a ser feita aqui no
Brasil, para responsáveis da área de compliance. Ainda é um projeto em desenvolvimento, que procurará também trazer qualidade.
Não é uma obrigação regulatória, mas entendemos que deva fazer
parte de boas práticas bancárias, não só para instituições financeiras, mas também para qualquer empresa. A ABBI poderia, com a
vasta experiência dos associados que atuam no exterior, montar
um projeto nesse sentido. O projeto de certificação vai procurar
incluir práticas não somente atendendo a legislação local, mas
também atendendo às legislações de outros países. Nosso foco
serão as instituições financeiras. O problema não está restrito a
elas, mas as instituições financeiras serão o foco.
Financeiro – Quais são as outras frentes em que a ABBI planeja
centrar sua atuação nos próximos anos?
Deborah Vieitas – Uma das metas é expandir nosso relacio-
namento por meio de associação com outros fóruns e associações com os quais compartilhamos alguns de nossos objetivos.
Por exemplo, há sempre em discussão temas muito relevantes
para o sistema financeiro, que afetam tanto instituições brasileiras quanto estrangeiras. É o caso da discussão sobre a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que trata do
sistema financeiro. Existe um projeto de lei, do senador Francisco Dornelles, de 2007, que visa à autonomia do Banco Central, que teria poderes para controlar o que se chama de risco
sistêmico. Esse projeto esteve intensamente em discussão, com
o Poder Legislativo interessado que ele fosse a plenário. Havia
discussão de que fosse a plenário em 2013, mas aparentemente
não foi possível.
Financeiro – Há outros temas dessa importância em discussão?
Deborah Vieitas – Existem, sim. Por exemplo, outro tema
que está em discussão e tem implicações para bancos nacionais
e particularmente os estrangeiros é a discussão sobre o marco
civil da internet, a questão do processamento de dados, que
pode ser feito dentro ou fora do Brasil. Trata-se da possibilidade
de fazer isso dentro das questões de custo, e das práticas que
temos que obedecer, práticas regulatórias de outros países. Nosso interesse é atender a todas as obrigações legais e também
como reduzir custos operacionais. A ABBI tem interagido com
outras entidades de classe para compartilhar esforços na discussão dessas e de outras questões, em assuntos que nos são
específicos.
Financeiro – São temas bastante importantes, sem dúvida.
Deborah Vieitas – E há ainda vários outros. É o caso de uma
regulamentação europeia envolvendo derivativos, que as instituições de origem europeia têm que atender e que significa
também atenção aqui no Brasil, no sentido de que as autoridades permitam também a adesão a essa nova regulamentação,
que ainda está em discussão. O Banco Central tem que estar
ciente, mas quem tem que aderir como contraparte central é a
BM&FBovespa.
Financeiro – Como é essa regulamentação da Europa?
Deborah Vieitas – A European Securities and Market Authority implantou, no dia 15 de março de 2013, a “EMIR” (European Market Infrastructure Regulation, ou Regulação da Infraestrutura do Mercado Europeu). Ela padronizou e normalizou
a liquidação de derivativos de balcão através de contrapartes
janeiro 2014 financeiro
11
centrais. A liquidação de operações fora do âmbito de contrapartes
centrais requer uma alocação de capital muito maior e mais punitiva, daí a importância de a BM&FBovespa se registrar e se qualificar
com autoridades europeias como contraparte central. A ABBI está
se mobilizando sobre esse assunto.
Financeiro – Como é o preparo da ABBI para debater e informar
sobre temas que requerem tanto conhecimento técnico?
Deborah Vieitas – A ABBI tem um trabalho técnico de altíssima qualidade, desenvolvido por meio de mais de dez comitês que
funcionam regularmente, e do qual participa qualquer associado
que tenha interesse nos temas discutidos. Os comitês se reúnem
mensalmente, têm sempre uma pauta interessante. Além disso,
trazemos especialistas nesses assuntos técnicos para falar com os
associados, numa forma também de permitir aos associados que
se mantenham atualizados em relação a temas relevantes. E os
próprios comitês técnicos fazem um trabalho de comentários e sugestões sobre diversas regulamentações que estão em discussão. É
esse trabalho que permite à ABBI fundamentar seu posicionamento a cada vez que for solicitado.
Financeiro – De que maneira é feita a interação com as autoridades que trabalham com o setor?
Deborah Vieitas – Um dos principais pontos que valorizam a
ABBI é a qualidade dos comitês técnicos. Esses comitês frequentemente interagem com autoridades de supervisão, entre elas o Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários. E promovemos regularmente almoços, reuniões que permitem aos associados
ter interesse pelos temas, obter informações e até abrir um canal
de diálogo participando dessas reuniões. Foi o caso de reunião que
agendamos em novembro de 2013 com o presidente do BNDES,
Luciano Coutinho, para falar sobre alternativas de financiamento
para concessões.
Financeiro – Quantos comitês tem a ABBI?
Deborah Vieitas – Os comitês são: Assuntos Tributários; Legal;
Câmbio e Comércio Exterior; Contabilidade e Regulamentação;
Recursos Humanos; Compliance; Tecnologia; Produtos e Serviços;
e Escritórios de Representação. E há planos de termos também o
comitê de Riscos e Controles Internos, que também terá bastante
relevância.
12 financeiro janeiro 2014
Financeiro – E os cursos?
Deborah Vieitas – Essa é outra de nossas prioridades. Realizamos em 2013 cursos sobre câmbio e comércio exterior;
derivativos; Basileia II e III; e operações bancárias. Em alguns
casos foi até mais de um curso sobre o mesmo tema.
Financeiro – Seu mandato à frente da ABBI vai até quando?
Deborah Vieitas – Fomos eleitos para o período de
junho de 2013 a junho de 2015. Estamos no começo, há
muito ainda a amadurecer. Temos basicamente três eixos
nesta gestão: redução dos custos de observância; relacionamento com stakeholders, ou seja, proximidade com associados, autoridades, outras entidades de classe; e divulgar a relevância das instituições financeiras estrangeiras
para o sistema financeiro brasileiro, tanto no que tange à
atração de recursos externos por investidores para o Brasil quanto no que se refere ao compartilhamento de práticas bancárias internacionais. f
janeiro 2014 financeiro 13
análisedemercado
A retomada
do crédito
Mesmo com os índices menos elevados dos
últimos anos, todos preveem que o volume de
dinheiro disponível no mercado vai crescer em 2014
e nos próximos anos, principalmente pela demanda
das classes de renda mais baixa
Por Theo Carnier
14 financeiro janeiro 2014
Poucas vezes na história o volume de crédito deu tantos e tão sucessivos saltos quanto nos últimos
dez anos no Brasil. De 2003 a 2013
o total cresceu nada menos que
500% no período, para mais de R$
2,5 trilhões, e sua participação no
PIB decolou de 24,7% para 55,2%.
No crédito para pessoa física o
salto chamou ainda mais a atenção: o crescimento superou 766%
em dez anos, de R$ 82,5 bilhões
para R$ 715,2 bilhões, levando em
conta o final do primeiro semestre,
de acordo com pesquisa da Anefac
(Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade).
Apesar desses números superlativos, no entanto, o mercado de crédito
não está despertando entusiasmo em
seus participantes. Para a maioria deles, depois da euforia que prevaleceu principalmente no período 2009-2011,
aconteceu uma redução no ritmo de crescimento que, segundo várias previsões, deve prosseguir, principalmente levando-se em conta as estimativas de aumento modesto do
PIB nos próximos anos.
Será que o cenário econômico justifica essa falta de entusiasmo? Ao que tudo indica, sim, mas nem tanto. É certo que os níveis de crescimento do crédito têm sido mais
modestos do que em 2010 e 2011, mas existe ainda muito
espaço para novas altas. Como lembra Túlio Maciel, chefe
do Departamento Econômico do Banco Central, o volume
chegou a crescer acima de 30% e é natural que haja uma
acomodação – que está longe, entretanto, de significar uma
retração. Maciel alega que o crédito está crescendo acima
do PIB nominal e continua sendo um elemento relevante da
expansão da atividade econômica.
De fato, mesmo com os índices menos elevados dos
últimos anos, todos preveem que o volume de crédito vai
crescer em 2014 e nos próximos anos, principalmente pela
demanda das classes de renda mais baixa. E esse crescimento deve acontecer a taxas acima de dois dígitos.
É o que mostra a estimativa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que projeta um crescimento de 15,4% no
volume em 2014, nível bem próximo dos 16,2% de 2012 e
acima dos 15% estimados para 2013 no final do ano passado.
Com base nos dados e no panorama macroeconômico,
pode-se ter a impressão de que estamos diante de mais uma
“jabuticaba”, ou seja, de algo que “só acontece no Brasil”. Os
que acreditam nessa imagem recordam que as previsões (todas) são de que teremos mais anos de crescimento tímido do
País pela frente e que os juros não terão baixas expressivas,
tendo em vista principalmente a inflação e o fim, ainda que
gradual, do afrouxamento monetário dos Estados Unidos.
Na outra ponta, entretanto, não se pode deixar de lado fatores que incentivam, sim, o aumento do volume de crédito.
Pode-se lembrar, por exemplo, que o Brasil ainda tem
enorme potencial de crescer no crédito. Mais de 50% do PIB
é uma fatia inexpressiva até mesmo para os analistas mais
céticos, que enxergam um potencial para a relação crédito/
PIB crescer até pelo menos 75% do PIB nos próximos cinco anos. O índice brasileiro é realmente modesto quando
comparado a outros países. No vizinho Chile, para ficar na
América do Sul, a fatia supera 86%, e nos países mais ricos a
porcentagem é muito maior, como mostram China (130%),
Suécia (140%) e Estados Unidos (200%).
janeiro 2014 financeiro 15
análisedemercado
Inadimplência recua, prazo estica
Espaço para crescer, portanto, não falta. A esse
fator soma-se outro, bem animador: a queda da
inadimplência, que vem prevalecendo nos últimos
anos. Utilizando o período dos últimos dez anos
como base, a inadimplência caiu bastante entre
pessoas físicas, de 15,5% para 7,2%, e para empresas, de 4,7% para 3,5%.
Os dados da ANEF (Associação Nacional das
Empresas Financeiras das Montadoras) reforçam
essa tendência. Levantamento da entidade revelou
que a queda na falta de pagamento de contratos de
financiamentos acima de 90 dias no crédito direto
ao consumidor (CDC) ficou clara no primeiro semestre de 2013 e continuou recuando nos meses
seguintes, registrando 5,8% em agosto. Os atrasos
até 90 dias também diminuíram, de 8,2% para 7,8%
em agosto do ano passado.
Na avaliação da ANEF, essa queda contínua do
nível de inadimplência é o principal indicador para
maior amplitude na liberação de crédito. Ou seja,
como as curvas de inadimplência estão baixando,
deve haver redução da rigidez nas avaliações de
empréstimos.
A queda geral da inadimplência no crédito ao
consumidor, de acordo com os especialistas, devese também ao crescimento da carteira com menor
risco, como crédito imobiliário e empréstimo consignado em folha de pagamento.
Para melhorar essa realidade, os prazos médios de financiamentos têm crescido nos últimos
dez anos: a elevação foi de 7,3 para 38,4 meses em
média no período (9,8 para 47,9 meses para pessoas físicas e 5,7 para 30,1 meses para empresas).
Para completar a série de dados que autorizam
o otimismo aparece o movimento cadente das taxas
de juros: o custo do dinheiro era de 56,7% ao ano
em média em 2003 e passou para 26,5% em 2013.
A taxa despencou 46,5% para os consumidores e
19,3% para empresas.
Os otimistas recordam ainda que o crédito tem
crescido com o aumento de renda e do emprego, o
que lhe daria mais sustentabilidade. A alta dos últimos anos teve esses dois pilares, mas para os mais
céticos é preciso lembrar que o emprego e a renda
têm crescido em ritmo mais lento e assim deve se
manter nos próximos anos.
16 financeiro janeiro 2014
Mesmo que a renda tenha altas mais limitadas, no
entanto, o crescimento do
volume é considerado inevitável. O segmento de financiamento de veículos é uma
mostra dessa perspectiva
otimista. Levantamento realizado pela Cetip, que opera
o maior banco de dados de
créditos de veículos do País,
mostra que em outubro do
ano passado foram financiados 599 mil veículos no BraDana, da FGV:
sil, um aumento de 12% em
“É preciso tornar
relação a setembro. A partio devedor mais
cipação dos financiamentos
consciente”
na venda de veículos novos
saltou de 62,6% em setembro
para 67,2% em outubro.
O levantamento mostrou que as concessões de crédito entre janeiro e outubro de 2013 atingiram R$ 141 bilhões, um aumento de 1% em comparação
com o mesmo período do ano passado. Estão contempladas as modalidades
de crédito direto ao consumidor (CDC), leasing e consórcio.
Outro segmento que continua a crescer é o crédito imobiliário, que representava 1,45% do PIB no início de 2004 e saltou para 5,9% em 2012. Também
nesse caso o potencial de crescimento continua a ser elevado, tanto pelo déficit habitacional quanto pelo peso relativamente pequeno dessa modalidade
em comparação a outros países: nas nações mais ricas esse tipo de financiamento é responsável pela maior fatia do endividamento das famílias, enquanto no Brasil essa participação representa menos de 25% do estoque de crédito
para as pessoas físicas.
De olho na qualidade do crédito
Existem, no entanto, obstáculos que o mercado de crédito tem que enfrentar. Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas, embora concorde que
existe “um enorme potencial” para crescimento do crédito, lembra um desses
problemas: a qualidade dos empréstimos.
Ele chama a atenção principalmente para o peso acentuado do endividamento dos consumidores em cheque especial e cartão de crédito, que têm
algumas das taxas de juros mais altas do mercado. “Essa realidade preocupa
principalmente quando verificamos que as classes de renda mais baixa e estudantes, que na maioria ainda não têm renda, estão entre os mais endividados
cado de crédito. No entanto, ele lembra que o Cadastro
Positivo precisa ainda de muito tempo e de mais divulgação para dar os resultados esperados: “Esse instrumento ainda não chegou à grande maioria das pessoas.
É preciso comunicar suas vantagens e o que é necessário
fazer para aderir”.
Outro ponto que preocupa o mercado é a crescente
tendência de os consumidores tomarem empréstimos
para pagar dívidas anteriores. Recente pesquisa realizada
pelo Instituto Fractal de Análises de Mercado revelou que
uma fatia de 55,8% dos consumidores com renda de até R$
1.500 utilizaram empréstimo pessoal para quitar dívidas.
“A renda das famílias se compromete na mesma velocidade das ofertas de crédito, por que esses empréstimos são dirigidos, em grande parte, às mesmas pessoas que já haviam tomado crédito, ampliando o grau de
endividamento desse público”, lembra Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal. O endividamento geral das
famílias, segundo o Instituto Fractal, cresceu 47% entre
janeiro de 2005 e janeiro de 2013.
Os menos otimistas recordam também que os bancos públicos, maiores responsáveis pela expansão do
crédito nos últimos anos, devem ser mais rigorosos nas
concessões, por orientação dada pelo governo federal.
E lembram também que os juros deverão subir este ano
para que o governo busque, via Banco Central, uma contenção da inflação, o que pode levar a uma inibição dos
potenciais tomadores de empréstimos.
Mais infraestrutura, sem risco de “bolha”
Pesando os prós e contras, a maioria dos analistas
prevê uma alta, ainda que modesta, do crédito este ano.
Daniel Passos Miraglia, professor da Business School São
Paulo, é um dos que defendem essa tese, mas ressalta:
“O cenário de maior probabilidade é de um crescimento
moderado, porém continuado, do crédito, que deverá
no entanto ter uma mudança: estará mais voltado para
os setores de infraestrutura e intensivos em capital, em
detrimento do consumo”.
Na visão do professor Daniel Miraglia, os bancos
devem voltar-se cada vez mais para as suas carteiras de
crédito como atividade principal, com a acirrada concorrência nos mercados de intermediação financeira e
de corretagem: “As instituições financeiras devem inten-
janeiro 2014 financeiro 17
Foto: Divulgação
nessas modalidades”, alerta Dana. “A qualidade do crédito traz apreensão,
como ficou comprovado também com a provisão para devedores duvidosos que vários bancos estão fazendo, em níveis elevados”.
Samy Dana ressalta também a importância da educação financeira
para tornar o mercado de crédito ainda mais saudável: “O Brasil é carente
nessa área. Pode-se dizer que não existe educação financeira nas escolas,
uma séria carência que não pode se manter. Existem iniciativas de entidades, bancos e financeiras, mas é preciso ampliar esse trabalho para tornar
o devedor mais consciente – o que seria positivo para todos, inclusive
para os credores”.
Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral, também acredita
no crescimento do volume de crédito, embora esteja preocupado com a
qualidade desses empréstimos. “O cenário é benéfico para que tenhamos
mais crédito no País, embora a tendência seja de um crescimento menor
em termos percentuais”, afirma. “A base de comparação já é atualmente
bem mais elevada, o que deve levar a um percentual menor de crescimento neste e nos próximos anos. Mesmo assim, é muito provável que o volume continue em alta. O problema é a qualidade desses financiamentos”.
Para o professor, existe “enorme demanda reprimida” por crédito, mas
as linhas para o consumidor são, em média, caras e nem sempre com prazo mais longo: “Os empréstimos de prazo um pouco maior para as pessoas físicas só são encontrados em veículos. Para empresas, os prazos já são
maiores, mas essa realidade ainda não chegou ao consumidor”.
Além disso, Rodrigo Zeidan considera que é preciso dar vários passos para que essa situação mude: “É preciso, por exemplo, acabar com
a insegurança jurídica que tanto preocupa o credor. Também é saudável que haja sempre
concorrência entre os
que oferecem empréstimos, entre outras
várias mudanças, para
que o crédito fique
mais acessível”.
Mesmo medidas
que podem ajudar na
melhora desse quadro ainda estão em
estágio inicial, como
o Cadastro Positivo.
Zeidan considera que
o cadastro de informações negativas é pouco
prático e produtivo, e a
Zeidan, da FDC:
reversão para as infor“É importante acabar
mações positivas trará
com a insegurança
benefícios para o merdo credor”
análisedemercado
sificar os serviços que ajudem seus clientes a crescer de
forma sustentável, melhorando assim os riscos destes
na tomada de crédito, além de investir massivamente na
expansão controlada por risco de suas carteiras”.
Tendo em vista a visão de crescimento do crédito
nesse ambiente, o mercado afasta o risco de uma “bolha” – hipótese levantada principalmente por publicações estrangeiras. Os especialistas brasileiros alegam,
por exemplo, que não há como comparar a situação
brasileira com a que precedeu a explosão da crise financeira nos Estados Unidos em 2008, entre outras razões
18 financeiro janeiro 2014
por que por aqui as instituições financeiras são mais restritivas que as americanas na concessão de empréstimos. Além disso, as operações de crédito
no Brasil não são alavancadas com endividamento, como aconteceu nos
Estados Unidos.
Também a regulação e a fiscalização do Banco Central são apontadas
pelos especialistas como uma espécie de “escudo” contra um possível “bolha” de crédito. Nos Estados Unidos e em outros países ricos, o setor financeiro trabalhou por um bom período quase sem restrições, enquanto no
Brasil o BC dá constantes mostras de que está atento aos movimentos do
mercado, evitando que situações como alavancagem excessiva afetem de
maneira negativa o mercado de crédito. f
artigoexterior
Artigo enviado em nov. de 2013
Cenário internacional em recuperação
Depois da tempestade de 2008, não
se pode dizer que veio a calmaria. O mar
internacional segue revolto, ainda com
riscos explícitos, especialmente na Europa. Mas não deixa de ser auspicioso perceber que 2013 foi um ano de resultados
mais robustos e generalizados ao redor
do mundo.
Começando pelos Estados Unidos,
apesar dos diversos gatilhos de crise que
tivemos ao longo do ano, especialmenSergio Vale,
te na percepção de mudança de polítieconomista-chefe
ca monetária em junho e da crise fiscal
da MB Associados
em outubro, o país conseguiu entregar
uma recuperação significativa. O PIB foi se acelerando a cada
momento e encerrou o terceiro trimestre com alta de 2,8%.
O déficit público voltou para patamares de 2008, pré-crise,
dando sinais de que está sob controle. Ao mesmo tempo, e
para ganhar competitividade, os Estados Unidos empreenderam a maior revolução energética das últimas décadas
com as explorações do gás de xisto, trazendo o custo de
energia para níveis historicamente baixos. O renascimento
industrial americano surge no mesmo momento em que a
China começa a apresentar aumento de custos.
Por falar em China, aqui não devemos ver esse aumento
de custos como algo preocupante. Faz parte do processo de
desenvolvimento de um país que era eminentemente rural
e que se torna cada vez mais urbano ter um crescimento
da renda mais forte do que a média mundial. Foi assim em
todos os países que apresentaram crescimento econômico
acelerado, sem exceção. O resultado disso é que o custo unitário do trabalho na China hoje é maior que no México, o que
aumenta o poder de comércio na América do Norte e não
deixa de ser favorável para os Estados Unidos. É mais fácil negociar com o México do que com a China, afinal. Mais ainda,
os chineses têm novos governantes que nos lembra Deng
Xiaoping, o grande reformador dos anos 70. A boa notícia
disso é que deveremos ver reformas liberalizantes no país
asiático, o que pode significar um período adicional de crescimento que se estenderá provavelmente por toda a década.
É bom lembrar aqui que o saudável não será crescer mais
12% ao ano como no passado, mas sim crescer 7% ou 6% em
bases menos arriscadas, ou seja, com menor participação de
empresas estatais.
Ainda na Ásia, 2013 foi o ano do renascimento japonês.
O abenomics, termo criado para simbolizar a liderança da recuperação econômica nas mãos do primeiro ministro Shinzo
Abe, dá sinais de que está funcionando. O yen voltou a se
depreciar, dando esperança para recuperação das exportações. A criação de moeda via quantitative easing também
tem estimulado a economia, especialmente sinalizando uma
saída da deflação de duas décadas.
A Europa é o pedaço do mundo desenvolvido que ainda
inspira cuidados. A melhora que se viu nos indicadores de
atividade este ano, com recuperação mais importante em
países como Espanha, foi fruto, de certa forma, de uma percepção de que o risco de quebra do euro diminuiu. E isso é
essencial para os investidores. Mas, infelizmente, a diminuição do risco não é total. Em vários países, especialmente do
sul europeu, ainda permanece um cenário de crescimento do
endividamento público e elevado desemprego. A Grécia segue tendo taxa de desemprego de 27% há muito tempo. Os
riscos políticos de permanência nessa situação são grandes e
a divergência de desenvolvimento, que continua aumentando entre Alemanha e o resto da Europa, só vai piorando a visão desses países em relação a seus irmãos germânicos. Dado
que a Alemanha deverá continuar sendo altamente produtiva, essa divergência dificilmente diminuirá e as diferenças
políticas só devem aumentar. No final, isso dificulta em muito
a chance de uma união fiscal e política que é a única solução
concreta e final para a Europa. O paradoxo desse momento
de tranquilidade é que isso atrasa ainda mais a discussão dessa união política e vai aumentando as rixas internas. Ainda
cremos que o pior para a Europa não passou, mas não parece
estar na esquina o momento da verdade.
Por fim, a América Latina segue bem nos países que têm
feito reformas, como Chile, Peru, Colômbia e México. O resto,
que segue no caminho contrário, tem esbarrado em crises contínuas, como Argentina e Venezuela. O Brasil, por tradição, não
está em nenhum barco, mas isso é tema para outro artigo. f
janeiro 2014 financeiro 19
notas
Indicadores
Empréstimos
Crédito cresce mais rápido que o PIB há dez anos
O Brasil vai completar em 2014 um período de dez anos de
crescimento de crédito mais rápido que a elevação do PIB, de
acordo com previsão do presidente da Febraban, Murilo Portugal. Ele afirmou à imprensa no final do ano passado também
que, com base nas estimativas feitas em outubro de 2013, o crédito deverá crescer 14,6%, levando em conta todas as linhas de
crédito. O crescimento em recursos livres este ano deverá ser de
12,1% e no direcionado haver elevação de 18,2%. Para pessoas
físicas, é aguardado um avanço de 11,5% e para jurídicas, uma
alta de 13,4% em 2014.
35,8%
dos veículos vendidos no País
foram financiados, de acordo com
levantamento de outubro da Cetip
Mercado
Inadimplência continua a recuar
A inadimplência caiu 5% em outubro, no mercado de crédito no segmento de recursos livres, de acordo com o Banco
Central. Levando em conta os recursos totais também foi registrado recuo, de 3,2%. O levantamento do BC mostrou também que o sistema financeiro concedeu em outubro 4,7% a
mais em novos empréstimos, na variação.
A elevação foi puxada por empréstimos a famílias, com
volume de R$ 156 bilhões, ou 5,7% a mais que o total de setembro. Para empresas, o volume cresceu 3,8%, também para
R$ 156 bilhões. Sob o ponto de vista do tipo de recurso usado
pelas instituições para dar o crédito, a expansão das concessões foi puxada por recursos de aplicação obrigatória, o crédito direcionado. O fluxo dessas linhas subiu 5,3%, enquanto as
concessões com recursos livres aumentaram 4,6%.
5,5%
deve ser a elevação dos preços
de veículos este ano com o fim da
redução do IPI, estima a Anfavea
3%
é o crescimento real das vendas
previsto para o varejo em 2014,
segundo a Fecomércio de São Paulo
1%
foi o crescimento registrado
pela Confederação Nacional da
Indústria no índice de expectativa do
consumidor em novembro
20 financeiro janeiro 2014
Endividamento
Mais dívidas, com menos atrasos
A parcela de famílias endividadas cresceu em novembro, mas em contrapartida
a inadimplência recuou, segundo pesquisa
da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). De acordo
com o levantamento, 63,2% dos entrevistados se disseram endividados em novembro,
em comparação aos 62,1% registrados em
outubro e aos 59% de novembro de 2012.
Apesar desse crescimento, a pesquisa da
CNC mostrou que 6,6% declararam que não
têm condições de pagar seus débitos, abai-
xo do índice registrado em outubro (7,3%).
O percentual dos que admitiram estar
com dívidas em atraso manteve-se praticamente no mesmo nível, com 21,2% em novembro em comparação a 21,6% em outubro e a 21% há 12 meses.
O cartão de crédito foi mais uma vez, em
novembro, a modalidade mais citada pelos
endividados, sendo lembrado por 74,8%
dos que se declararam com débitos, seguido por carnês (18,3% dos entrevistados) e
financiamento de carro (12,6%).
janeiro 2014 financeiro 21
fraudeemdebate
Um passo
à frente da fraude...
Por Gustavo Girotto
“Um passo à frente e você não estará no mesmo lugar.” Essa frase, proferida pelo músico Chico
Science, parece óbvia, mas em termos de prevenção
é atual. O problema da fraude no Brasil é um transtorno que traz prejuízos aos mais diversos setores
da economia. Antecipar-se representa uma resposta proativa, mais do que isso, impacta em economia
direta no sistema.
Para materializar de forma lúdica esses preceitos,
a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) convidou para o
evento Fraude em Debate, dia 22 de novembro, na sede
da entidade, em São Paulo, além de especialistas no assunto, também a ilusionista Claudia Guedes, que provocou o público com a pergunta: “É possível prevenir
uma fraude?” Para ela, a resposta é rasteira. “Uma base
forte que ajuda antever algo, como na minha área de
trabalho, inibe uma possível ação indesejada. A atenção
é parte indissociável nesse processo”, frisou a ilusionista
que, entre truques e palavras, entreteve o público.
Marcelo Zechin, diretor da Deloitte Touche Tohmatsu, frisa que em primeiro plano a fraude parece algo
simples, mas dispõe de inúmeras facetas ou variáveis.
“Ela precisa ser interceptada de maneira preventiva, até
por que, quando já ocorreu, o que resta é somente contar os mortos”, afirmou.
Uma pesquisa exposta pelo especialista aponta que
a perda com fraudes representa 5% das receitas de todas as empresas do mundo e que a maioria das grandes
organizações ainda não está preparada para administrar os fatores de risco. “Um dos pilares da fraude é a
oportunidade e, quando aliada à necessidade, provoca
22 financeiro janeiro 2014
danos estruturais nas organizações. Grande parte delas ou dos desvios de conduta são identificados por meio de denúncias”, ressaltou
Zechin, exemplificando que “a eficácia do canal de denúncias pode
ser mensurado pelo número dos casos de investigação”.
O estudo “The 2012 Corporate and Compliance Hotline Benchmarking Report”, usado como balizador por Zechin, aponta que, das
130.000 denúncias recebidas pelas 1.128 empresas pesquisadas: 67%
resultaram em investigação, que culminou com a adoção de medidas
disciplinares de melhoria de controles pela empresa em função da
comprovação dos fatos denunciados; 16% não geraram investigação
alguma, embora a experiência desse universo pesquisado mostrou
que a investigação não ocorreu devido ao fornecimento insuficiente
de informação.
O mesmo estudo apurou que empresas que possuem um canal
de denúncias adequadamente estruturado tem perdas médias decorrentes de fraude 59% inferiores àquelas que não disponibilizam
canal de denúncias implantado, além de duração média de fraude
sete vezes inferior em relação a empresas que não possuíam o canal
instalado. “O melhor enfoque para identificar uma fraude é entender
quais fatores de risco possibilitam sua ocorrência”, sugeriu Zechin.
Ilusionista Claudia
Guedes:
Instantes lúdicos em
evento da Acrefi
Foto: Gabriel Kosman
Para o especialista, a recém-sancionada Lei n.º 12.846,
já alcunhada como Lei da Empresa Limpa ou Lei Anticorrupção – que pune empresas por suborno – e que é similar
à Lei Americana Anticorrupção – Foreign Corrupt Practices
Act (FCPA), promulgada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1977, destinada a criar sanções cíveis, administrativas e penais no combate à corrupção comercial internacional, ajudará nesse combate no Brasil. Outro ponto de
atenção, usado como case por Zechin, é o boleto de pagamento falso trocado por empresas de malote. “Essa prática
gera grandes prejuízos, uma vez que o cliente efetuou o
pagamento enviado pela empresa, mas foi fraudado no processo de envio. Essa é uma das modalidades que detectamos”, enfatizou.
Márcio Luzardo Webber, diretor de Novos Negócios da Sascar, projetou que a frota atual está estimada em 45 milhões de automóveis e caminhões, segundo
dados da Anfavea, entidade que representa as montadoras
instaladas no País. “Estimativas apontam que o mercado
deve crescer em média 14% ao ano no período de 2013 a
2017, o que reforça o amplo potencial de crescimento dos
nossos negócios”, analisa.
Com 14 anos de atuação e pioneirismo no mercado nacional, a Sascar é especialista em oferecer soluções inovadoras para gestão de operações de transportes, permitindo que
as empresas preparem-se para enfrentar desafios associados
à gestão e ao aumento da produtividade, acompanhando o
consumo de combustível, velocidade, rotas e trajetos com
ferramentas para reduzir custos, aumentar produtividade
e lucro. “Essa tecnologia pode ser empregada no controle
adequado do uso das frotas corporativas e, de forma direta,
inibe a má utilização em horário fora do previsto pela empresa”, alertou Webber. Atualmente a empresa conta com
mais de 230 mil veículos ativos e rastreados, 300 milhões de
receita em 2013, 850 funcionários mais 400 técnicos, além
de solução por satélite, GSM e Rádio. “A empresa registra 400
ocorrências mensais de roubo e furto e, através de sua inteligência, auxilia empresa na recuperação de cargas. Uma
nova solução intitulada Cargo TRACCK ajuda diretamente
na identificação de cargas roubadas e, dessa forma, previne
prejuízos para empresas”, demonstrou Webber.
Uma forma de mitigar problemas em veículos financiados, segundo ele, é a instalação de um equipamento
prático desenvolvido por sua empresa. “O benefício para
bancos e financeiras é a localização e recuperação do ativo,
além de ajudar na elevação de aprovações de crédito e no
aumento do valor percebido pelos clientes, uma vez que
essa tecnologia impacta em segurança”, alertou Webber.
Tiago Zequi de Oliveira, diretor da CETIP, destacou
que a quebra de paradigmas e o aumento da eficiência
Zechin, diretor da Deloitte
Touche Tohmatsu
Webber, diretor de Novos
Negócios da Sascar
elevam a produtividade dos mais diversos setores que compõem
a economia interna. “Se pensarmos 15 anos atrás, os bancos e
financeiras tinham dificuldade de identificar uma perda ou fraude.
Com o aprimoramento dos processos, esse cenário mudou. Temos
uma importante ferramenta destinada para prevenção de fraudes
com ganho em eficiência no processo de validação de um financiamento”, declarou.
Com 15 anos de experiência no mercado de financiamento de veículos, a CETIP dispõe de produtos e serviços que aceleram com segurança a liberação de um financiamento. “O consumidor ganha por
que o acesso ao carro novo fica mais fácil e seguro”, ressaltou Oliveira,
indagando: “Como evitar que um carro seja financiado ao mesmo tempo para mais de um cliente?”. A resposta está na utilização da consulta
a um sistema de negativação de veículos financiados, o SNG - Sistema
Nacional de Gravames – que propicia às entidades credoras, empresas de leasing, financeiras, bancos e demais companhias que operam
nesse mercado — mais segurança, agilidade e praticidade na hora de
efetuar um financiamento. Por fim, Oliveira frisa que o pioneirismo de
ideias e o desenvolvimento tecnológico são aliados do mercado financeiro nessa busca por eficiência das operações. “Isso faz com que
estejamos um passo à frente dos possíveis fraudadores, que causam
diariamente prejuízo ao sistema”, finalizou. f
janeiro 2014 financeiro 23
semináriobasileiaIII
Mais estabilidade e
crescimento sustentável
Acrefi reúne especialistas para discutir as novas regras
que normatizarão o mercado financeiro
Por Gustavo Girotto
Muitas pessoas, ao ouvir
falar em Basileia, em um primeiro momento, lembram-se
da terceira maior cidade da Suíça. Estão corretas, mas para
o mercado financeiro é muito
mais do que isso: além de ser
a sede do Banco de Compensações Internacionais, entidade conhecida como o “Banco
Central dos Bancos Centrais”,
Basileia tornou-se, para o setor, sinônimo das novas regras
estabelecidas para aperfeiçoar
a capacidade das instituições
financeiras de absorver choques, fortalecendo a estabilidade e a promoção do crescimento econômico sustentável.
Mesmo para o mercado, no
entanto, Basileia ainda é algo de
difícil compreensão. Para facilitar o entendimento em relação
a esse assunto e também devido ao sucesso dos dois eventos
realizados sobre o mesmo tema,
em janeiro e outubro do ano passado, a Associação Nacional das
24 financeiro janeiro 2014
Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
(Acrefi) voltou a reunir, no último dia 21 de novembro,
em sua sede, em São Paulo, as duas pontas diretamente relacionadas à questão: mitigação de risco de
crédito e Basileia III.
De acordo com Fábio Zenaro, diretor da Cetip, que
falou durante o encontro, duas estruturas oferecidas
por sua empresa visam mitigar o risco de crédito, uma
vez que os prazos estão cada vez maiores. Uma delas,
exposta por ele, é o DRRC (Derivativo Redutor de Risco de Crédito) – operação única, de caráter individual,
com contrato bilateral ou unilateral, estabelecido pelas partes da operação ou terceirizado para um agente de cálculo.
Segundo o executivo, o DRRC
elimina eventuais riscos de liquidez,
até porque, ao contrário de uma
operação tradicional de garantia,
o dinheiro é transferido de forma
definitiva e imediata ao credor no
momento em que a exposição ultrapassa um determinado limite.
A outra estrutura da Cetip, que
visa mitigar o risco de crédito, foi batizada como Gestão de Colateral –
que pode ser útil quando o objetivo
é gerir um portfólio de derivativos.
“A Gestão de Colateral, para portfó-
Fagundes, da Integral Trust:
“Basileia corrobora com o
aumento da segurança das
instituições”
Fotos: Gabriel Kosman
lio, engloba um nível de exposição a riscos e rol de
proteção a serem garantidos pelas partes”, enfatizou.
Outro tema do seminário da Acrefi foi o aperfeiçoamento da capacidade das instituições financeiras
de absorver choques e ainda fortalecer a estabilidade, tendo como olhar a implantação da Basileia III no
Brasil. Ao tratar do assunto no encontro, a Integral
Trust − empresa que dispõe de US$ 7 bilhões sob sua
gestão, mais de 46 operações estruturadas, além de
15 planos de negócios e 50 clientes – entrou em cena
com dados e know-how. “Um ponto importante, que
devemos compreender, é que Basileia (I, II e III) é uma
evolução complementar de normas. Nenhuma substitui a outra. Na verdade, cada uma traz consigo um
aspecto de aprimoramento contínuo”, ressaltou Lucas
Mahl, especialista convidado e risk management da
Integral ao falar durante o seminário.
As regras de Basileia III, em linguagem simples, refletem lições tiradas da crise econômica internacional
que eclodiu em 2008. Ela objetiva garantir, segundo
Mahl, que as instituições financeiras tenham recursos
reservados para absorver choques em momento de
crise. As economias integrantes do G20 assumiram o
compromisso de implementar essas recomendações.
Entre as informações que os bancos terão que divulgar, de acordo com essas regras, estão as reservas
de lucro, os instrumentos de dívidas subordinadas
(usadas para reforçar o capital dos bancos) e deduções,
como de ágios e créditos tributários. “São características resultantes da crise 2008/2009, tendo como agente
fundamental a maior absorção de choques de estresse dos diversos níveis e tipos de risco. A crise expôs a
necessidade de as instituições criarem um colchão de
absorção desse tipo de impacto”, declarou Mahl.
Outros dois pontos de observação com relação
a Basileia III, expostos pelo especialista, são os índices de curto e longo prazos. “O primeiro visa manter
instituições financeiras com recursos disponíveis em
cenários de crise durante 30 dias. Já no longo prazo,
incentiva as instituições a buscarem por fontes estáveis de captação”, ilustrou.
Por fim, o sócio da Integral
Trust, Carlos Fagundes, destacou
que a implementação da norma
ocorrerá de forma progressiva
pelas instituições dentro dos critérios estabelecidos por Basileia
III. “A atual situação econômica
do Brasil demanda aumento de
investimento (infraestrutura e
produção), maior oferta de crédito, elevação de prazos e queda
nos spreads. A Basileia III, dentro
desse cenário, corrobora com aumento de segurança e o fortalecimento das instituições, em períodos de crise financeira”. f
Lucas Mahl,
especialista em risco:
“Instituições criaram
colchões para
absorção de impactos
financeiros”
Cronologia dos acordos de Basileia
1988 – Acordo de Basileia publicado
1994 – Basileia – Resolução 2.099
1998 – Controles internos (Resolução 2.554)
1999 − Regulação de risco de juros (Circ. 2.972)
2000 − Risco de liquidez – Resolução 2.804
2005/10 − Implantação gradual de Basileia II
2011/13 – Complementação implementação de Basileia II
2012/18 – Implementação gradual de Basileia III
janeiro 2014 financeiro 25
roadshowacrefi
DPGE2 e
serviços da CIP
atraem a atenção do setor de crédito
Belfort Mattos, do FGC:
“DPGE2 protege os
depositantes e os
investidores”
26 financeiro janeiro 2014
O DPGE (Depósito a Prazo com Garantia Especial) vem
conquistando cada vez mais espaço no mercado financeiro.
Essa foi uma das constatações que se pode tirar da apresentação feita pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), durante
a última edição do Road Show Acrefi 2013, dia 8 de dezembro, em São Paulo. Criados em abril de 2009 para socorrer as
instituições financeiras menores, diante de eventual crise de
liquidez do mercado, os DPGEs (títulos de renda fixa representativos de depósitos a prazo) voltaram a ganhar evidência
desde julho de 2012, quando o Conselho Monetário Nacional
instituiu uma nova versão do título, chamado genericamente
pelo mercado de DPGE 2, que exige que os bancos emissores entreguem ao FGC seus ativos de crédito como garantia,
estimulando a substituição dos antigos papéis, só que com a
vantagem de oferecer menor custo e mais segurança. “A finalidade do DPGE 2 é proteger os depositantes e os investidores,
além de contribuir para a manutenção das instituições financeiras”, disse Waldemar Belfort Mattos, gerente de análise de
crédito do FGC.
Segundo levantamento do FGC, até maio de 2013, a substituição dos antigos DPGEs pelos DPGE2 foi da ordem 40%.
Em 2014, a soma das operações (DPGE e DPGE2) deve ser de
aproximadamente R$ 60 bilhões. No entanto, para emissão do
novo título, o FGC tem exigido que os empréstimos sejam parcelados em até 36 meses. Além disso, os contratos precisam
prever amortização do principal antes do vencimento. O fundo
também avalia o risco das empresas tomadoras de emprésti-
Foto: Gabriel Kosman
Novos instrumentos trazem mais segurança e
tranquilidade às instituições financeiras
mo por meio de critérios estabelecidos pelo Banco Central,
atribuindo notas às operações. Já para o comprador, não existe diferença entre o papel garantido por crédito consignado
ou por operações para empresas. “Essa mudança é um aprendizado, tanto para nós como para as instituições financeiras”,
lembra Belfort Mattos. “Esse aprendizado, porém, não nos
impede o aperfeiçoamento diário do processo, observando o
fluxo, monitorando a carteira das instituições e acompanhando a performance do mercado”, concluiu o executivo.
O último Road Show Acrefi de 2013 também abriu espaço
para a divulgação dos produtos oferecidos pela CIP (Câmara
Interbancária de Pagamentos), empresa mantida por 41 bancos associados, que fornece serviços voltados para compensação, liquidação de pagamentos e controle de concessões
de crédito. Dentro desse universo de benefícios, Guilherme
Américo Menezes, analista de produtos da CIP, concentrou
atenção nos diferenciais da C3 (Câmara de Cessões de Crédito) que permite às instituições financeiras e aos fundos de investimento, desde 2011, registrar as operações de cessões de
crédito, afiançando que um contrato de crédito, que já tenha
sido cedido ou oferecido como garantia, não seja negociado
ou oferecido novamente como lastro em outra operação.
Hoje, a C3 grava dados sobre direitos creditórios originados de financiamentos de veículos e de créditos consignados em folha de pagamento. No caso das transações de
automóveis, a CIP mantém ainda parceria com a Cetip – central de registro de custódia e negociação de ativos – para
assegurar que as informações relacionadas às cessões de
crédito para financiamentos de veículos conferem com os
dados armazenados no C3. Além disso, segundo Guilherme
Menezes, a CIP está desenvolvendo novos controles voltados para crédito pessoal e financiamento de outros bens.
Principais funcionalidades da C3
Registro de contratos pelo originador;
Exclusão e aditamento de contratos pelo originador;
Reserva de contratos / parcelas;
Confirmação de cessões;
Liquidação financeira de cessão via conta de
liquidação da C3;
Recompra parcial e total;
Liquidação antecipada parcial e total;
Bloqueio e desbloqueio de contratos.
Menezes, da CIP:
Atento ao lastro das
operações de crédito
Mas a CIP investe ainda no STD (Serviço de Transporte
de Dados), um sistema que permite compartilhar dados
entre gestores de banco de dados (GBDs) e as instituições
financeiras autorizadas pelo Banco Central de forma a simplificar o processo de troca de informações para a formação de históricos de crédito, garantindo maior segurança
aos usuários. Além disso, o serviço, desde 1º de agosto de
2013, passou a gerar histórico de crédito dos consumidores
inscritos no Cadastro Positivo. “A nossa função é organizar
esse espaguete de links (dados) para que o mercado possa
visualizar as informações de maneira clara e segura”, explica
Eliane Tanabe, analista de produtos da CIP. “Sem deixar de
lembrar que os dados são monitorados e atualizados diariamente – durante 15 horas, de segunda a domingo”, reforça a
executiva. Para 2014, a Câmara Interbancária de Pagamentos prepara novidades. Uma delas é que o STD será implantado para o setor de consórcios até o mês de junho.
Ainda no campo dos projetos em andamento, a CIP foi
procurada pela Secretaria da Fazenda do Estado de São
Paulo para que o controle de consignado seja ampliado
também para atualização de dados relacionados ao plano
de saúde e serviço de farmácia oferecidos aos funcionários
públicos estaduais.
O último Road Show Acrefi de 2013 contou também
com as presenças de Carlos Fagundes, da Integral-Trust;
Paulo César Andrade, da Cetip, Pierpaolo Cruz Bottini, professor de Direito Penal da USP e sócio do escritório Bottini&Tamasauskas, e Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi,
que abordaram temas que estão sendo explorados nesta
edição da Financeiro. f
janeiro 2014 financeiro 27
leianticorrupção
A nova legislação veio em boa hora
Bottini, ex-secretário de Reforma do Judiciário, fala sobre
punições às empresas envolvidas em negócios ilícitos
O Brasil conta com uma nova lei de combate à corrupção, que prevê punições também às empresas. A
novidade, já aprovada e sancionada, deve entrar em
vigor no início de 2014 e foi detalhada por Pierpaolo
Bottini, especialista no assunto, que foi secretário de
Reforma do Judiciário, em palestra realizada no dia 4
de novembro, na sede da Acrefi.
“A nova legislação veio em boa hora”, garante Bottini. “Anteriormente a lei punia apenas pessoas físicas
envolvidas em corrupção e era preciso mudá-la, já
que pelo texto anterior o principal beneficiado pela
transgressão ficava impune. O Brasil necessitava desse aperfeiçoamento para aprimorar o combate a essas
práticas, como o País se comprometeu com a ONU
(Organização das Nações Unidas) e com a OEA (Organização dos Estados Americanos)”.
As punições às empresas, estabelecidas pela nova
legislação, são rigorosas, segundo Pierpaolo Bottini.
Uma delas é multa entre 0,2% e 20% do faturamento
bruto da empresa, mas há outras como dissolução da
companhia e perda de bens.
A nova lei pune a corrupção em si, ou seja, as companhias que fazem oferta de vantagens indevidas a
servidores públicos como parte de sua estratégia de
crescimento, mas vai além ao combater pontos importantes, como: financiamento de atos de corrupção;
uso de empresa para dissimular os verdadeiros beneficiados pelo ilícito; fraude em licitação; e também as
empresas que dificultam a investigação do ato contrário à lei.
Além disso, recordou Pierpaolo Bottini, a nova legislação é mais abrangente, ampliando as punições
pela autoria dos ilícitos. Como exemplo, ele disse que
uma empresa que contrata terceiro para conseguir licença ambiental está sujeita a ser punida: “Se esse terceiro paga propina, a pessoa jurídica que o contratou
passa também a ser responsabilizada, pois se beneficia do ato ilícito. Não importa se houve dolo ou culpa.”.
28 financeiro janeiro 2014
O especialista informou também que a empresa pode ser processada pela autoridade administrativa, que aplica a multa, por exemplo,
e pela Justiça. Pelo texto da legislação, a autoridade administrativa
deve ser a autoridade máxima da unidade da federação, ou seja, pode
ser União, Estado ou município – ponto que preocupa Pierpaolo Bottini: “O texto dá poder discricionário sem estabelecer claramente os
critérios, o que pode trazer problemas. Nada
contra as autoridades que terão essa responsabilidade, mas é fato que poder demais pode
causar problemas demais”.
Apesar dessa preocupação, o especialista
considera que o novo texto dá abertura para investigações, possibilitando, por exemplo, que
se utilize a delação premiada (quando um dos
suspeitos dá informações sobre a organização
criminosa, recebendo em troca abrandamento
da pena). Ele ressalta, no entanto, que esses
acordos de leniência não beneficiam pessoas
físicas, ao contrário do que acontece na legislação concorrencial.
Como uma das vantagens da nova lei, Pierpaolo Bottini aponta a previsão de atenuação
Bottini:
da sanção para empresa que demonstrar a
“Lei
levará
o
Brasil
a um
existência de controles internos, códigos de
patamar
superior”
ética e outros mecanismos para evitar atos de
improbidade, auditorias regulares e mecanismos de incentivos a denúncias. Nesse caso, na avaliação dele, o ponto
positivo é o estímulo a políticas de compliance, ou seja, de atividades
internas que incentivem ou favoreçam o cumprimento de normas e
regulamentos. “As empresas serão incentivadas, também com essa lei,
a estruturar departamentos de compliance autônomos, que terão a
responsabilidade de identificar o marco legal e indicar condutas para
que o risco de infringir a lei seja reduzido”, afirmou.
Tendo em vista essas vantagens, Pierpaolo Bottini considera positiva a nova legislação: “Pelo novo texto, a pessoa jurídica deve não só
comunicar atos suspeitos, mas também investigá-los. Com isso, o Brasil
deve entrar em um novo patamar nessa área, o que é benéfico para o
País sob todos os pontos de vista”. f
artigoinovação
Transparência e tecnologia
Artigo enviado em 02/12/2013
Reinaldo Rabelo de
Morais Filho,
Diretor Executivo
Jurídico e de Normas
da Unidade de
Financiamentos da
Cetip
Em maio de 2012, o Conselho Monetário Nacional
fez publicar a Resolução nº 4.088, que dispõe sobre o
lançamento, pelas instituições financeiras, em sistema
autorizado pelo Banco Central, de informações sobre
operações de crédito com garantias constituídas sobre
veículos automotores ou imóveis em alienação fiduciária ou arrendamento mercantil. Foram também publicadas, pelo BC, a Circular nº 3.616 e a Carta Circular nº
3.596, que definem prazos, formas e dados que devem
ser encaminhados à instituição sobre operações que
envolvam veículos automotores.
Esses dados permitem que os órgãos reguladores
possam acompanhar a evolução das carteiras de financiamento, a existência de garantias para suportá-las e,
até, o valor atual das garantias face ao volume de crédito concedido, entre outras informações fundamentais
para manter higidez do Sistema Financeiro Nacional.
Atualmente, o valor da carteira de financiamento de veículos para pessoas físicas é de R$ 230 bilhões, segundo
o Banco Central.
Com isso, além de trazer mais transparência para
as etapas de originação do crédito, essas informações
poderão servir à negociação das carteiras de financiamento no mercado secundário, no cumprimento da Resolução nº 3.998 do Banco Central, e a operações com
emissão de debêntures que possuam veículos automotores como garantias de suas operações.
A atualização normativa e a tecnologia aplicada
às etapas de análise, formalização, custódia e cobrança de transações financeiras têm sido fundamentais para o crescimento da oferta de crédito com
segurança e redução de taxas de juros. Há mais de
uma década, as instituições credoras mantêm plataforma com registro de restrições geradas por contratos com cláusulas de alienação fiduciária, reserva de domínio, arrendamento mercantil ou penhor,
e que são disponibilizadas para consulta de diversos
reguladores, em especial, aqueles que compõem o
Sistema Nacional de Trânsito.
De acordo com a Resolução nº 320, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), cabe aos órgãos
estaduais de trânsito o registro dos dados dos con-
tratos mencionados acima e a anotação nos respectivos certificados de veículos dos gravames, sendo
que essas informações podem ser enviadas pelas
instituições credoras de forma eletrônica, sob responsabilidade e por sistema de escolha destas.
Com o acesso a tais informações, desde o instante em que uma instituição libera o crédito para
aquisição de um veículo, os órgãos de trânsito podem proteger os consumidores de boa-fé – que, em
outro caso, poderiam adquirir um veículo onerado –,
excluem a responsabilidade do Estado por fraudes
nas operações e contribuem para um processo ágil,
barato e seguro para a sociedade.
Desde a implantação desse processo, as taxas
de juros médias ao mês caíram de 5,0% para 1,5%
em dez anos, enquanto o volume de operações oferecidas aos consumidores subiu de cerca de 100 mil
para aproximadamente 600 mil operações por mês,
permitindo acesso a crédito por cidadãos de menor
patrimônio, aquecimento da economia, maior arrecadação para Estados (ICMS/IPVA) e fortalecimento do setor automotivo – que é, reconhecidamente,
grande fonte de empregos.
Na mesma linha, o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (COAF), que é composto por
diversos órgãos reguladores, entre os quais o Ministério da Justiça, a Receita Federal, a Comissão de
Valores Mobiliários e o Banco Central, tem buscado
aperfeiçoar o sistema de informações para capturar
dados que possam representar operações consideradas suspeitas, podendo, para tanto, vir a se aproveitar daquelas bases já instaladas.
O aperfeiçoamento normativo tecnológico, assim, não vem apenas consolidar a riqueza do mercado e de seus participantes privados, mas também,
e mais importante, pode permitir que os agentes
fiscalizadores direcionem melhor seus esforços,
punam com mais facilidade os transgressores e
busquem, com maior assertividade, a construção de
um ambiente justo para se fazer negócio no Brasil,
independentemente da força política ou financeira
das partes que contratam. f
janeiro 2014 financeiro 29
panoramacetip
Raio-X dos
financiamentos
de veículos
Soluções da Cetip revelam os números
que movimentaram o setor até o
3º trimestre de 2013
Sempre atenta às informações
que movimentam o mercado de veículos, a Unidade de Financiamento
da Cetip apresentou durante o Panorama Cetip, dia 12 de dezembro, na
sede da Acrefi (Associação Nacional
de Crédito, Financiamento e Investimento), os dados do setor acumulados até o 3º trimestre de 2013. Os
números foram apresentados no
evento por Cristiano Dantas, gerente
comercial da Cetip, a partir das soluções exclusivas oferecidas pela empresa, que realiza o monitoramento
contínuo das transações relacionadas ao financiamento de veículos.
Conheça algumas das planilhas exibidas no encontro, que reuniu representantes de diversas instituições
financeiras.
30 financeiro janeiro 2014
Cristiano Dantas,
gerente comercial da Cetip
janeiro 2014 financeiro 31
consumidor
Empresário,
olho vivo no call center
Pesquisa
revela que o
telefone ainda
é o meio
preferido dos
clientes para
se relacionar
com as
empresas.
Especialistas,
no entanto,
mostram que
saída, em
breve, será a
convergência
dos canais de
atendimento
Por Geyse Alencar
32 financeiro janeiro 2014
O departamento de call center é considerado um
dos braços estratégicos – e também um dos mais
sensíveis – na área de comunicação das empresas.
Afinal de contas, é lá que batem as queixas, entre alguns elogios, em relação ao serviço prestado. Apesar
de ser usado para intermediar uma situação normalmente adversa, o telefone ainda é o canal preferido
dos brasileiros para falar com as empresas. Essa é a
uma das conclusões de recente pesquisa G4 Solutions/Ipsos, que ouviu 1.000 consumidores de todas
as classes sociais, em 70 cidades brasileiras, sendo
nove delas inseridas em regiões metropolitanas. O
levantamento revela que o telefone foi utilizado por
20% dos entrevistados para fazer contato com o call
center das empresas. Em segundo lugar, ainda muito
distante, vem o e-mail, com 6%, sites e redes sociais,
com 3% cada um, e torpedos, 1%. Entre aqueles que
optaram pelo telefone, 42% disseram que a frequência aumentou nos últimos três anos.
Os números da Associação Brasileira das Relações
Empresa Cliente e da E-Consulting contribuem para
mostrar aos empresários que o serviço de atendimento ao cliente merece atenção redobrada. Considerando as operações terceirizadas e internalizadas,
o setor cresceu acima de 14% em 2013, com receita
superior a R$ 40 bilhões. Só o segmento de recuperação de crédito e cobrança fechou com valores próximos a R$ 9 bilhões. “O mercado financeiro é um dos
setores que mais utiliza centrais telefônicas para se
comunicar com os clientes. Para otimizar o serviço é
preciso ganhar tempo, sem deixar de
lado a qualidade e a produtividade do
processo”, explica Erik Mazzei, diretor
de Marketing da G4 Solutions, empresa desenvolvedora de tecnologia para
contact centers.
O levantamento da Ipsos também
aponta as falhas no sistema de atendimento por telefone: entre aqueles
que utilizam o canal, 63% precisaram
fazer várias ligações até resolver o
problema. Cerca de 45% das pessoas
ouvidas, em qualquer um dos canais
utilizados, necessitaram repetir várias
vezes a mesma informação. “Há quem
acredite que o problema está no atendente, portanto, focam seus esforços
em contratação de mão de obra e em
treinamento. No entanto, é preciso ir
além. A solução pode estar na tecnologia e na otimização dos sistemas”, afirma Mazzei. “Atendentes bem treinados
são importantes, mas é essencial que
as equipes trabalhem sem sobrecarga
de atribuições, o que é muito comum
nas atuais operações de atendimento.” As mais recentes ferramentas para
contact center aliam maior produtividade e redução custos, com base na
automação de processos.
Mazzei pondera que o aumento da demanda pelo telefone
pode ser explicado pela aceleração do consumo, associada ao desejo das pessoas em resolver o problema. “Ouvir a voz do atendente
dá ao consumidor uma sensação de maior segurança de que sua
queixa será efetivamente solucionada”, diz o executivo da G4. A opinião é compartilhada por Gil Giardelli, CEO da Gaia Creative, empresa que aplica inteligência de mídias sociais, economia colaborativa,
gestão do conhecimento e inovação para diferentes companhias.
O especialista atribui o baixo uso das plataformas digitais no relacionamento dos clientes com as empresas ao “analfabetismo digital”.
“Ainda estamos na infância do mundo digital. Boa parte da população desconhece o uso correto das ferramentas tecnológicas e só as
utilizam para compartilhar fotos ou em questões pessoais”, analisa.
Giardelli lembra o falso mito de que o problema do consumidor
será resolvido caso a queixa seja exposta nas redes sociais, acompanhada de alguns impropérios. No entanto, as empresas hoje estão
bem mais preparadas e treinadas para atender aos clientes neste
novo ambiente. “Estudos comprovam que o consumidor só recorre às
redes sociais para criticar depois de três tentativas frustradas de contato com a empresa, seja por telefone, presencial ou e-mail”, explica.
Giardelli, da Gaia:
Empresas mais bem preparadas
para atender os clientes
Aumento no número de contatos por
telefone
Afirmaram aumento na frequência de
uso quando comparado ao mesmo
período três anos atrás
Faixa etária
entre 24 e 35
anos
Fotos: Divulgação
Feminino
Masculino
Mazzei, da G4:
Equipes devem trabalhar sem
sobrecarga de atribuições
Classe C
janeiro 2014 financeiro 33
consumidor
Uma dica do especialista é que as empresas tentem mostrar aos seus clientes
que existem outros canais de comunicação, assim como foi feito com o telefone
nos anos 90. “Antes, as empresas ofereciam
como opção o 0800 apenas para sugestões
e comentários. Hoje, além da discagem gratuita, é possível interagir pelo e-mail, o fale
conosco via Twitter e Facebook”.
Túnel do tempo – Sempre que surge
um novo veículo de comunicação, existe
uma tensão de que o antigo sairá de cena
para dar espaço ao novo. Foi assim, quando
Assis Chateubriand trouxe a TV para o Brasil, no início dos anos 50. Até então, o rádio
era o principal veículo de comunicação do
País. No entanto, o rádio permaneceu com
seu lugar cativo. Essa analogia também vale
em relação ao call center e ao ambiente digital. Segundo a Cisco, empresa de soluções
para redes de comunicação, até 2014, 90%
do tráfego da internet será de vídeos. Esse
número reforça, segundo Gil, uma mudança nos atuais padrões. Ele sinaliza alguns canais, entre os quais YouTube e comunicadores instantâneos, como Skype e Hangouts
por possuírem videochamada. “No futuro,
as pessoas poderão ligar para o call center,
já que a necessidade de ter alguém do outro lado da linha para transmitir segurança é
real, mas também terão a opção de utilizar
os comunicadores. Lá terá um profissional
que interagirá em tempo real.
Stan Bras, diretor executivo da Abrarec,
lembra que a ascensão das camadas populares nos últimos anos contribuiu para aumentar as demandas nos call centers por
que passaram a usar produtos que não estavam no seu dia a dia. O telefone é muito
utilizado e assim vai permanecer pelos próximos anos, no entanto, o executivo visualiza tendência de crescimento na convergência dos canais de atendimento via mobile,
chat e blog.
Se a tendência é a utilização de novas
plataformas de comunicação no relaciona-
34 financeiro janeiro 2014
mento empresa/cliente, a forma sobre como utilizar
as informações dos consumidores também pode ser
decisiva na estratégia da marca e do negócio, indica
Giardelli. “O programa de relacionamento antigamente era feito pelo papel. Por que não fazer isso
no ambiente digital? Meu banco sabe quantas vezes
eu vou ao restaurante, onde eu estou, e com o que
gasto. Por que não utilizar essa informação para promover ofertas, descontos ou serviços para seus clientes?”, questiona o especialista em mídia digital. f
“A ascensão das camadas
populares nos últimos anos
contribuiu para aumentar as
demandas nos call centers por que
passaram a usar produtos que não
estavam no seu dia a dia.”
Os canais de contato dos consumidores
com as empresas
Utilizaram o TELEFONE para
entrar em contato com alguma empresa
Utilizaram o e-mail para
entrar em contato com alguma empresa
Utilizaram o SMS para
entrar em contato com alguma empresa
janeiro 2014 financeiro 35
negócios&lazer
Sua majestade,
o hóspede
Inaugurado há 11 anos,
Hilton São Paulo Morumbi
cativa os clientes pelo mix
que combina sofisticação,
conforto e privacidade
Por Liliana Liberato
Na imponência dos seus 28 andares, o Hilton São Paulo Morumbi ostenta no topo a marca de uma das principais redes hoteleiras mundiais. Localizado no interior do Centro Empresarial
das Nações Unidas (CENU), no Brooklin Novo, oferece aos seus
hóspedes corporativos – público que representa a grande fatia
dos seus clientes –, a praticidade de estar em uma região considerada o novo coração financeiro de São Paulo. Mas nele não se
hospedam apenas os homens e as mulheres de negócio. Nesse
ambiente sofisticado, hóspedes do mundo todo confiam à bandeira Hilton o descanso das férias, enquanto curtem como turistas o que a maior metrópole da América Latina tem de melhor.
Inaugurado em setembro de 2002, em uma das mais valorizadas áreas da capital paulista, o Hilton fica de frente a um dos
mais recentes cartões-postais da cidade: Ponte Octávio Frias de
36 financeiro janeiro 2014
Oliveira, a única ponte estaiada do mundo com duas
pistas, em curva, conectadas a um mesmo mastro.
Digna de cenário de filme – sim, emoldurou uma das
cenas do longa-metragem Ensaio sobre a Cegueira, do
cineasta Fernando Meirelles. Além disso, o hotel está
próximo de quatro shopping centers e distante alguns
quilômetros do Autódromo de Interlagos.
Patrício Alvarez, gerente geral do Hilton São Paulo Morumbi, explica que o público predominante é o
corporativo e que a maior parte dos clientes vem dos
Estados Unidos e da Europa. “A origem do negócio, entretanto, não é mais importante do que a nacionalidade
do hóspede”, diz Alvarez. “Por isso, tudo é feito com
critério, para atendê-lo do modo mais adequado.” O
hotel tem ainda grande fluxo de hóspedes brasileiros,
residentes em outros países.
De hóspedes corporativos a grandes personalidades. O Hilton São Paulo Morumbi está entre os preferidos. Nele, por exemplo, já se hospedaram o ex-presidente norte-americano George W. Bush, a cantora
Cindy Lauper, o astro pop Lenny Kravitz e os integrantes da banda norte-americana Evanescence. Foi também nas dependências do hotel que o empresário
Roberto Justos gravou, entre 2004 e 2008, a versão
brasileira do reality-show O Aprendiz. A direção prefere desviar do assunto quanto o tema são as celebridades, pois sabe que a privacidade é uma das qualidades
cultuadas pela rede internacional.
Restaurante Canvas:
Culinária contemporânea
Foto: Gabriel Kosman
Hilton SP:
O preferido de George
W. Bush, Cindy Lauper e
Lenny Kravitz
O hotel imprimiu uma marca diferenciada no projeto de suas acomodações, que são distribuídas longe
dos elevadores para evitar incômodo aos hóspedes. São
402 apartamentos, com variações de 34,80 m² a 36,10 m²
cada. Planejados especialmente para os hóspedes que
viajam muito a trabalho, oferece soluções e facilidades
tecnológicas independentes do local de descanso.
Os apartamentos da categoria DeLuxe têm acesso à
área exclusiva para café da manhã, happy hour, check-in e
check-out, além de duas salas de reunião. Já os chamado
Executivos, possuem sala de estar, escritório e quarto separados. Sua minicozinha é equipada com micro-ondas e
minigeladeira. Também possuem TV em frente à banheira,
duas cubas e home theater na sala. A Suíte Presidencial,
por sua vez, ocupa o 27º andar do hotel e garante vista panorâmica da zona Sul de São Paulo. Com 360 m², o quarto tem uma sala ampla, com diversos ambientes, lounge,
home theater e escritório bem equipado.
Há também opções para quem deseja cuidar do corpo e descansar a mente. No 28º andar está o Living Well
Spa, onde hóspedes podem desfrutar de academia e salões de estética. De acordo com Alvarez, muitos dos seus
frequentadores são executivos que trabalham no CENU
ou em escritórios da região. Junto ao Living Well, funciona o Amazonian Spa, considerado um refúgio para quem
quer relaxar ou restabelecer as energias, com elementos
da biodiversidade brasileira, sob um conceito à base de
produtos, aromas e cores da Amazônia.
Bom apetite – Para as refeições, o Hilton tem duas opções:
o restaurante Canvas é direcionado aos apreciadores da cozinha contemporânea. Sua adega oferece mais de 170 rótulos. Se
preferir algo mais ligeiro, a Sol & Sombra é a melhor alternativa, pois funciona em sistema de buffet, com ênfase em pratos
da gastronomia internacional. Para o happy hour, a escolha é
o Canvas Bar, com programação de música ao vivo de terça a
quinta-feira. Como é possível perceber, Hilton São Paulo procura ser o prolongamento da casa do executivo internacional. f
Sol & Sombra:
Gastronomia internacional
Serviço
Av. das Nações Unidas, 12.901 – Torre Leste – Centro
Empresarial Nações Unidas (CENU) – Brooklin – São
Paulo (SP), tel.: 55 11 2845-0000.
janeiro 2014 financeiro 37
viagem&turismo
Entre no
universo do
enoturismo
O especialista Humberto
Casagrande revela o prazer
inesquecível que mistura
viagens e vinhos
Por Gustavo Girotto
38 financeiro janeiro 2014
Um grupo de pessoas, com objetivos comuns,
que no dia a dia militam no mercado financeiro, se
reservam ao direito de uma pausa estratégica para
degustar um dos produtos mais complexos e sofisticados da literatura gastronômica: o bom e velho
vinho.
Com um saca-rolha nas mãos, o engenheiro de
produção Humberto Casagrande, da DGF Investimentos – FIP Terra Viva, desvenda em linguagem
simples um pouco desse mundo encantador. “Ler,
viajar e beber são hábitos que precisam entrar rapidamente na prática, quando falamos da compreensão do universo dos vinhos”, explica Casagrande. “Atualmente, esse prazer atinge um número
maior de pessoas a cada ano”, pontua.
Casagrande é um colecionador de viagens e
de prosas sobre o mundo do vinho, além de profundo conhecedor das particularidades de sua
produção. Segundo ele, viajar possibilita conhecer
novos horizontes e degustar vinhos inesquecíveis,
que geram informações e curiosidade que passam
a integrar o roteiro de bolso dos aficionados pelo
enoturismo. “É uma opção atraente para quem deseja fugir dos pontos turísticos mais visitados do
mundo. O enoturismo conduz você a lugares com
natureza exuberante, regiões pouco exploradas,
fugindo dos aglomerados comuns”, diz o enófilo.
A Associação Brasileira dos Sommeliers de São
Paulo (ABS), entidade de credibilidade que dispõe
de membros ligados ao mercado financeiro, como Rui Alves e Milton Milioni, e
a Accademia Gastronomica, em Moema,
são locais ideais para quem deseja esmiuçar as atrações proporcionadas pelo
enoturismo. “A ABS organiza visitas à
caves na França, Portugal, Itália, Espanha, entre outros destinos que cultivam
a cultura do vinho. Temos essas opções,
mas também monto roteiros especiais
quando viajo com a minha esposa”, confessa Casagrande, que estuda o tema há
mais de 10 anos.
O vinho é imbuído de história, sociologia e geografia. Para entender a diferença entre Borgonha e Bordeaux, importantes regiões produtoras da França,
é preciso revisitar os fatos que cercaram
a Revolução Francesa (1789-1799), período de intensa agitação política e social
no país. “Em Borgonha, basicamente,
não se transferiu terras por hereditariedade – o que gerou pequenas propriedades. Já em Bordeaux, diferentemente, as propriedades foram passadas de
geração em geração, ou seja, não sofreu
esse efeito da revolução. Isso traz algumas diferenças no processo de elaboração do vinho”, explicou Casagrande.
janeiro 2014 financeiro 39
40 financeiro janeiro 2014
rafas o tipo de uva e harmonização gastronômica. Já sobre
os vinhos do Velho Mundo (França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha) o apreciador se obriga à memorização de
muitos nomes como safra e terroir – termo francês para
definir o conjunto de condições climáticas, solo e relevo da
produção. “Entender é importante e funciona como uma
fórmula matemática: o vinho ‘x’ combina com o prato ‘y’.
Quando estudamos e entendemos, o que se ganha é prazer. Ele compõe uma boa refeição, ou mesmo, podemos tomá-lo como algo que denominamos de ‘vinho de reflexão’,
em nossos momentos individuais de prazer”, ressaltou.
Casagrande assevera que o enochato, sujeito que pega
uma taça, certifica-se de que tem bastante gente olhando, faz
cara de entendido, gira o copo no sentido horário e faz uma
descrição minuciosa do líquido, não é agradável dentro do
universo dos estudiosos. “O que precisa ficar claro é que o cidadão europeu conhece o vinho do Velho Mundo por essência
e familiaridade. O francês sabe que vinhos da margem direita
de Bordeaux são predominantemente produzidos de determinada uva – isso explica a questão do rótulo – não é exibicionismo. Um vinho de Pinot
Noir francês (Borgonha), tida como a mais
complexa das uvas tintas, é diferente de outros produzidos em países diferentes. A figura
do enochato atrapalha,
embora, quando deixada de lado, o que sobra
é cultura e enriquecimento pessoal dos que
realmente gostam de
estudar esse universo”,
afirmou.
Casagrande:
“O Pinot Noir, da
Borgonha, é mais
complexo e intrigante”
Foto: arquivo pessoal
Quando o assunto é qualidade, o especialista
cita como referência a classificação feita em 1855,
a pedido de Napoleão III, dos Premières Grand Cru
de Bordeaux. “Precisamos criar no Brasil uma
DOC (denominação de origem controlada), mostrando a região produtora e sujeitos à legislação
própria (características dos solos, castas, vinificação, engarrafamento). Um marco regulatório pode
nos colocar em um bom patamar e fortalecer o
mercado interno brasileiro”, ponderou.
A política de conteúdo nacional e de reserva de
mercado no Brasil, colocando o vinho importado
como vilão, é interpretada por Casagrande como
equívoca. “Os vinhos nacionais ganharam upgrade, mas o País ainda está preocupado com volume.
Não adianta fazer reserva de mercado, na verdade,
é necessário investir permanentemente em pessoas e em equipamentos para melhorar as safras –
uma após a outra. Dez mulheres grávidas, no ciclo
normal, demoram os mesmos nove meses para
ter um filho. O vinho segue essa mesma linha de
raciocínio, uma vez que precisa de seu tempo de
produção e maturação”, destacou.
Como referência de qualidade e produção no
País, Casagrande citou a vinícola Pizzato e a Casa
Valduga, além dos espumantes da linha Salton.
“Eles fazem um grande trabalho de produção, em
menor escala”, disse o especialista, que acredita
no reconhecimento brasileiro em produção no longo prazo e exemplificou: “o vinho de uva Tannat,
adotada pelo Uruguai, já desponta nesse universo
com grande reconhecimento”.
Enófilo curioso e mente aberta, Casagrande
soltou uma expressão para explicar a divisão do
mundo dos vinhos: velho mundo e novo mundo.
Para descomplicar, os vinhos do Novo Mundo (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, África do
Sul, Chile e Argentina) indicam no rótulo das gar-
A Alemanha, que antigamente era conhecida pela maldição do vinhozinho leve, do tipo ‘’garrafa azul’’, já mudou
sua percepção com a uva Riesling, produzida no Vale do Rio
Mosel. Para entender o rótulo de um vinho alemão é preciso
levar em conta as regiões vinícolas. Os vales dos rios Reno
e Mosel abrigam os principais produtores de brancos. “Uma
curiosidade desse vinho é que o flower (cheiro) que, embora
lembre petróleo em suas notas, carregam um sabor único,
que harmoniza muito bem com carne de porco”, sugere o
especialista.
No “Novo Mundo” (emergentes na produção), a África do
Sul com a uva Pinotage, ganha popularidade de consumo no
Brasil. “Há vinhos saborosos, elegantes e ricos dessa linhagem. O Malbec que é emblemático da Argentina, por suas
características e peculiaridades, acabou caindo no gosto do
brasileiro. O conteúdo explicativo de harmonização no rótulo,
nesse caso em específico, contribui de forma lúdica com a
compreensão do consumo. Esse costume dos emergentes,
de maneira indissociável, tem influenciado o detalhamento
de informações agora nas garrafas do velho mundo – que
perderam um pouco de mercado em determinado momento”, declarou.
O vinho, como qualquer outro elemento do mundo moderno, sofreu mudanças com a globalização. A incrível
abertura de informações entre o vinho do velho e o do novo
mundos uniu pessoas e fomentou conhecimento através de
cursos, programas de tevê e bons livros. “Quem segue esse
movimento, do enoturismo, é ligado por uma identidade tácita. Vira uma grande confraria mundial, ou seja, nos encontramos e conversamos sobre novidades e curiosidades desse universo com frequência”, enfatizou Casagrande.
A história do vinho também ganha notoriedade na literatura religiosa, pois o seu surgimento em tempos remotos o
tornou um produto que acompanhou grande parte da evolução econômica e sociocultural de várias civilizações. Quando
o assunto é vinho preferido, Casagrande dá uma resposta
pontual: “Gosto dos Pinot Noir franceses de Borgonha, pois
os julgo mais complexos e intrigantes”, e por fim descontraiu dizendo que realmente é um tomador diário de vinho
por crer, incondicionalmente, na medicina e seus conselhos:
uma taça de vinho por dia faz bem ao coração (risos).
Negócio promissor
O mercado global de vinhos tem liquidez, segundo Humberto Casagrande, e já é trabalhado como fundo de investimento. Alexandre Zákia, ex-diretor da Itaú Unibanco Asset
Management, é um investidor desse mercado. Ele criou um
fundo de investimento em vinhos que funciona, na prática,
com a compra de safras da bebida. “Esse tipo de transação
dá retorno aos investidores, uma vez que se é possível lucrar
com a valorização do vinho no período entre a produção e a
chegada ao mercado, é uma operação de mercado futuro”,
explicou Casagrande. f
Aplicativos para
celular fazem
sucesso entre
amantes do
vinho:
Selecting a Wine
O “Selecting a Wine - For Dummies” é indicado tanto para quem não conhece bem
sobre o assunto, mas já atrai conhecedores
do universo de vinhos. O app é gratuito, mas
está disponível apenas para iPhone.
Vintage Chart+
Lançado pela revista Wine Spectator, esse
aplicativo reúne informações sobre vinhos
das mais de 50 principais regiões produtoras
da bebida no mundo. Ele disponibiliza mapas
para localizar as melhores vinícolas e outras
curiosidades. O VintageChart+ está disponível gratuitamente para iPhone e Android.
Vivino Wine Scanner
Caiu no gosto dos usuários. O aplicativo, que
é grátis para iPhone e Android, é intitulado
como “mão na roda”. Ele dá informações sobre a composição, produção, harmonização
e avaliações de outros usuários. Basta fazer
uma foto do rótulo, que ele busca informações detalhadas.
Hello Vino
É conhecido por ajudar o usuário a escolher o vinho certo, de acordo com a ocasião.
Para quem tem dúvidas de harmonização,
o software faz o trabalho de maneira prática. Há quem brinque que ele torna curiosos em grandes especialistas. O aplicativo
está disponível gratuitamente para iPhone
e Android.
janeiro 2014 financeiro 41
cultura
O hangar dos
sonhos
Em São Carlos, interior paulista,
os irmãos Rolim e João Francisco
Amaro criaram o Museu da TAM,
preservando 88 aeronaves que
fazem parte da história da aviação
internacional, das quais 48 delas
estão prontas para voar
Por Gilberto de Almeida
42 financeiro janeiro 2014
Fotos: João Gabriel Fava de Almeida
Desde que foi inaugurado, há três anos,
o Museu da TAM já recebeu mais 200 mil
visitantes, sendo que boa parte deles
nunca pisou em um aeroporto, muito
menos viajou de avião.
O comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, sempre
gostou de surpreender seus clientes. Surgia na escada das
aeronaves para recepcionar os passageiros diante do tapete
vermelho, contratava pianista para tocar na sala de embarque,
promovia sorteios durante os voos, etc. Quem vai ao Museu da
TAM, em São Carlos, a 245 quilômetros da capital paulista, certamente ficará encantado com mais esse legado deixado pelo
comandante Rolim, que faleceu em 2001. Depois de passar por
um túnel que reproduz a vista área de São Paulo a 4 mil metros
de altura, antes da aterrissagem em Congonhas, e
de passar por uma rápida
retrospectiva dos principais feitos do homem na
aviação, a luz apaga e um
portal se abre. Uau! Por
um minuto, o visitante
fica atônito diante da profusão de asas, turbinas e
hélices que se entrelaçam
em um espaço de mais 20
mil metros quadrados.
João Amaro:
São 88 aeronaves que bri“O museu é uma retribuição
lham como se fossem noda TAM à sociedade”
vas, sendo que 48 delas
estão prontas para voar,
bastando, para isso, apenas alguns ajustes.
Entre as joias da aeronáutica expostas está o Supermarine
Spitfire Mk9, caça britânico mais importante produzido durante a Segunda Guerra Mundial; separado por poucos metros,
está também o Messerschmitt BF 109 G-4 Trop, principal avião
da Força Aérea Alemã, de Adolf Hitler; mais adiante, o Cessna
140A, monomotor com o qual, em 1950, o ministro da Aeronáutica, Armando Trompowsky, presenteou Ada Rogato por
ter sido a primeira piloto brasileira a atravessar a Cordilheira
dos Andes, em voo solo; tem também o Curtiss-Robin C2, de
1928, primeiro avião de três lugares com cabine fechada fabricado em série; Lockheed Constellation, que fez história na
Panair do Brasil, e até uma réplica do 14-Bis, biplano criado por
Santos Dumont, em 1906. É difícil saber para onde olhar. “Antes de entrar no museu, imaginei que os aviões estivessem sobre cavaletes. Nada disso, eles estão com seus trens de pouso,
pneus cheios, tudo perfeito”, declarou Allan Furlan, piloto de
aviação executiva, durante visita ao acervo da TAM. “Ele está
em pé de igualdade com os melhores museus aeronáuticos do
mundo”, afiançou.
Desde que foi inaugurado, há três anos, o Museu da TAM
já recebeu mais 200 mil visitantes, sendo que boa parte deles
nunca pisou em um aeroporto, muito menos viajou de avião.
Por isso, Rolim e João Francisco Amaro, irmão do comandante
e também fundador da TAM, ao conceberem a ideia, em 2000,
faziam questão de que o projeto imprimisse um cunho social.
Atualmente, às quartas-feiras, os ingressos para visitação são
franqueados ao público. Nesse dia, o espaço é tomado por
alunos de escolas públicas, idosos, pessoas com deficiência
intelectual, física e visual. “É o mínimo que podemos fazer em
retribuição à sociedade”, diz João Francisco, atual presidente
do museu. “Outro dia fui procurado por um deficiente visual
que queria saber qual era formato de uma hélice. Algo aparentemente simples, mas para ele era um desejo guardado desde
a infância”, conta o irmão de Rolim.
janeiro 2014 financeiro 43
cultura
Antes mesmo que os visitantes se encantem com
as aeronaves, o primeiro contato com o universo dos
voos já começa na recepção do museu, transformada
em área de check in de aeroporto, com atendentes
uniformizadas, balcões que vendem passagens (ingressos), malas girando nas esteiras, etc. No alto, paira
uma réplica do imponente Messerschmitt BF 109, que
depois será observado em detalhes no interior do museu. “Para quem nunca viajou de avião, esse ambiente
é um aperitivo para o que verá lá dentro”, conta Angelo
Polato Netto, monitor do espaço, que traz estampada
na camiseta a frase: “Um homem sem sonho é um homem sem futuro”.
Esse sonho dos irmãos Amaro também atrai olhares
de personalidades internacionais como Bruce Dickinson,
piloto e vocalista do Iron Maiden, que, durante turnê
no Brasil, em 2011, fez questão de conhecer o acervo
da TAM. Mesmo que o visitante não tenha brevê, ele
também tem a chance no museu de “pilotar” por 15
minutos um Boeing F/A – 18 Hornet, caça norte-americano, em
quatro opções de performance: combates aéreos, voo livre, dogfight
(supermanobras) e pouso terrestre e em porta-aviões.
Além do museu, a fazenda de 800 hectares em São Carlos, onde
funcionou até 1995 a Companhia Brasileira de Tratores, também
acolhe o centro de manutenção das aeronaves da TAM e a oficina de
restauração das joias que passarão a fazer parte do acervo.
Formada por mecânicos artesões – combinação de funileiro,
eletricista, mecânico e marceneiro −, essa equipe (quatro funcionários e seis estagiários) pode levar dois, três, até quatro anos para
recuperar totalmente uma aeronave. “Às vezes, elas ficam melhor
do que quando eram novas”, brinca João Francisco. Entre as raridades a que esses artistas da restauração se dedicam atualmente,
destaca-se o Douglas DC-3 “Rose”, doado pela Boeing e que ainda
preserva algumas marcas de bala, pois participou dos conflitos do
Dia D durante a Segunda Guerra Mundial. Outra relíquia que está
ganhando vida nova e que, em breve, conquistará seu espaço no
hangar dos sonhos, é um Junkers 523m, que pertenceu à Força
Aérea de Portugal. É apenas esperar para ver. f
Serviço
Horário: de quarta a domingo, das 10h às
16h.
Endereço: Rodovia SP 318, km 249,5 –
Água Vermelha
São Carlos, SP, tel. (016) 3306.2020
Preços: Até 6 anos e acima de 65 anos:
grátis; professores, estudantes, de 7 a 12
anos, e adultos, de 60 a 65 anos: R$12,50;
adultos: R$ 25,00
Site: http://www.museutam.com.br
Bilheteria:
Simula serviço de
aeroportos
44 financeiro janeiro 2014
Máquinas maravilhosas
Lockheed L-049 Constellation
Curtiss-Robin C2
Criado em 1940 pela Lockheed Aircraft Corp., era utilizado
em rotas comerciais e intercontinentais. No Brasil, fez parte
da frota da Panair, que o utilizou entre 1946 e 1965. Serviu
de inspiração para música de Milton Nascimento.
Avião de passeio norte-americano produzido por Glenn
Curtiss, parceiro do inventor Alexander Graham Bell e lenda
da aviação norte-americana. Seu voo inaugural foi em 1928,
sendo o primeiro avião de três lugares com cabine fechada
fabricado em série. O exemplar em exposição tornou-se o
avião mais antigo do Brasil em condições de voo.
Cessna 140A
Chamado de Brasil, esse monomotor fabricado pela Cessna
Aircraft foi dado de presente, em 1950, pelo então presidente Getúlio Vargas a Ada Rogato, primeira piloto brasileira a
atravessar a Cordilheira dos Andes, em voo solo.
Grumman P-16E Tracker
Produzido pela Grumman entre 1954 e 1977 com o objetivo
de equipar a U.S. Navy, com um antissubmarino embarcado
em porta-aviões. Por duas décadas, durante a Guerra Fria, foi
a arma norte-americana contra os silenciosos submarinos
soviéticos. Foi utilizado pela FAB de 1961 a 1996, no porta-aviões Minas Gerais.
janeiro 2014 financeiro 45
foradoexpediente
Paixão
pelo
rock’n’roll
Integrante da banda de
rock Black Zornitak, Marcelo
Giufrida, sócio da Garde Asset
Management, investe em
sonho da adolescência e
lança o CD “The Other Side”
Por Gilberto de Almeida
46 financeiro janeiro 2014
Foto: Gabriel Kosman e Victor Jimenez
O executivo Marcelo Giufrida não perde o ritmo, seja
nas operações da sua recém-criada asset, a Garde, ou
empunhando as baquetas que dão vida à banda de rock
Black Zornitak. Nos dois momentos, dedica-se de corpo
e alma, mas nem por isso, aparentemente, permite que
essas duas realidades se misturem. Na sede da Grade, em
São Paulo, o profissional de ternos bem cortados em nada
lembra o roqueiro com tatuagem no braço e bandana na
cabeça. No entanto, internamente, um não vive mais sem
o outro. “Quando estou tocando descarrego tensões naturais do trabalho. Um bom termômetro disso é a descontração com que passei a enfrentar o trânsito paulistano”,
conta Giufrida.
Em contrapartida, o lado profissional foi essencial
para que ele e os demais integrantes da Black Zornitak
– Alexandre Zakia (Cultinvest), Rogerio Buldo (GXS Corporation) e Walter Mendes (Cultinvest)−, que também
trabalham no mercado financeiro, colocassem de pé um
velho sonho: produzir um CD com músicas de autoria da
banda. E isso acaba de se tornar realidade com o recente
lançamento do álbum “The Other Side”, com 13 composições inéditas, criadas entre 2011 e 2012, durante os ensaios dos shows, quando ainda se limitavam a interpretar
os velhos sucessos do rock.
Sempre atentos a estratégias bem planejadas, a primeira iniciativa dos executivos roqueiros foi adicionar à
banda o talento e a experiência do guitarrista e multi-instrumentista Edu Letti, que passou a ser o quinto integrante da Black Zornitak. “Como aqui quem entende tudo de
música é o Edu, ele virou o CEO da banda”, brinca Giufrida.
“Foi a partir do apoio dele que nos sentimos confiantes
para começar a compor”.
No repertório do CD “The Other Side”, as letras das músicas retratam o cotidiano dos executivos, com o emprego
de termos usados no mercado financeiro, que revela, de
maneira irreverente e criativa, as duas facetas dos músicos executivos, sem deixar de lado a emoção, a ironia e, claro, a crítica
social, ingrediente essencial para quem se identifica com o rock.
Segundo Giufrida, a música “The Other Side” expõe outro
lado de cada integrante da banda, as influências e as transformações que são compartilhadas durante os ensaios às quartasfeiras, na gravação do CD e até mesmo quando estão em cima
do palco. Já em “Money Talks”, parceria de Giufrida com Walter
Mendes, eles usam slogans famosos para ironizar os devaneios
da linguagem publicitária em contraste com a vida real. Na balada progressiva “Too Big to Fail”, Mendes questiona a precariedade das verdades preestabelecidas.
O profissional de ternos bem
cortados em nada lembra o
roqueiro com tatuagem no braço
e bandana na cabeça
Giufrida, da Garde:
“Tocando alivio a tensão
natural do trabalho”
janeiro 2014 financeiro 47
No caso de Giufrida, até começar a compor e lançar o
CD, ele trilhou por diversas estradas da música, enquanto
construía sua carreira no mercado financeiro. Hoje, aos 51
anos, o executivo conta que descobriu o magnetismo da
percussão ainda em 1977, quando morava em Santos, litoral
paulista, e teve uma experiência como ritmista na torcida do
time do coração. Aos poucos foi abandonando a atmosfera
musical das arquibancadas até assumir a paixão platônica
pelos sucessos de Led Zeppelin, Pink Floyd, Jimi Hendrix,
Queen, Emerson, Lake and Palmer, Rush, entre outros.
Passada a fase da adolescência e da juventude, em
1995, morando em São Paulo e trabalhando como diretor da asset CCF, começou a brincar de fazer shows com
a banda Zornitak. A experiência durou um ano. “Como
já estava tarimbado em realizar operações de fusões de
empresas, resolvi fazer a fusão da Zornitak com a banda
Black Stone, assim nasceu a primeira versão da Black Zornitak, ainda sem o talento do Edu Letti.
A grande virada, porém, aconteceu mesmo em 2000,
quando comprou uma casa nova, adaptou, com a ajuda
de uma arquiteta, o porão em um espaço de 500 m² exclusivo para ensaios e festas, tudo protegido com isolamento acústico para não incomodar os vizinhos. Além
disso, passou a fazer aulas com Vera Figueiredo, baterista
da banda do programa Altas Horas, da TV Globo. Como
se vê, essa estrutura – amparada em planejamento e recursos −, fez toda a diferença para que Giufrida e seus
amigos transformassem um simples hobby em divertimento profissional. f
48 financeiro janeiro 2014
Foto: Divulgação
foradoexpediente
Black Zornitak,
da esq. para a dir.:
Edu Letti, Buldo, Zakia,
Mendes e Giufrida
Money Talks
Marcelo Giufrida e
Walter Mendes
Impossible is nothing
Share moments, share life
Something especial in the air
The happiest place on earth
Be the first to know
It’s the real thing
We move the world
The power of dreams
Think different
Have it your way
Hello moto
Where do you want to go
today
Keep walking
Just do it
Life’s good
I’m loving it
janeiro 2014 financeiro 49
Consumo e investimento para um
crescimento sustentável
Por Prof. Dr. Alberto
Borges Matias,
com colaboração de
João Gabriel Sehn
50 financeiro janeiro 2014
O crescimento da economia brasileira
é bastante focado no aumento da demanda. Os governantes brasileiros costumam
aquecer a economia utilizando-se de medidas de estímulo a esse componente das
contas nacionais. Recentemente, observou-se queda nas taxas de juros e isenções
e incentivos fiscais, com o propósito de
sustentar a economia nacional frente ao
cenário de crise global.
Porém, esse crescimento da demanda
interna não foi acompanhado diretamente
pelo crescimento dos investimentos. Esse
comportamento fica claro no gráfico 1, em
que se pode perceber que os níveis de investimento apresentaram crescimento inferior
aos níveis de importações. Nota-se que a participação da conta Formação Bruta de Capital
Fixo, que representa o investimento privado,
passou de 17% no segundo trimestre de 2000
para 19% no 2º trimestre de 2013. Já os níveis
de importações passaram de 11% para 15% no
mesmo período. Ao analisar o nível de consumo total, estável em 82%, é possível identificar
que a sustentação deste dependeu de maneira
significativa da produção importada.
Também nota-se que o consumo das famílias é a conta com maior relevância da série
apresentada. Dessa forma, vale uma análise
mais aprofundada sobre as variáveis relacionadas a essa importante conta do Produto
Interno Bruto (PIB).
O rendimento médio do brasileiro
vem crescendo nos últimos anos, seja por
estímulos governamentais ou por pressões do mercado de trabalho. Esse comportamento fica perceptível no gráfico
2, nele nota-se que o rendimento médio
real do brasileiro cresceu cerca de 16%,
o que representa uma média mensal de
0,4%. Tal crescimento de renda também
acaba gerando um aumento do consu-
mo das famílias. É notável o grande crescimento da conta de consumo final das famílias. Entre o 4° trim. de 2002 e o 2° trimestre de 2013 o
consumo das famílias apresentou crescimento
de 208%. Com um crescimento médio mensal
de 2,7%. Já o crescimento no último ano, do
2º trimestre de 2012 para o 2º trim de 2013 foi
de 10%, um pouco superior se comparado ao
mesmo período de 2011/2012 em que o crescimento foi de 9%.
Para melhor entender o aumento no
consumo das famílias é interessante analisar os níveis de endividamento das famílias. Conforme dados do gráfico 3, o endividamento é, em geral, crescente e com
maior ênfase nas dívidas de longo prazo,
no caso ligadas ao crédito habitacional. Notase que os níveis de endividamento passaram
de 21% para o endividamento geral e de 18%
na modalidade que exclui o crédito habitacional em setembro de 2005 para 45,3% e 30,2%,
respectivamente, em setembro de 2013.
Elaborado pelo
Centro de Pesquisas
do INEPAD - Núcleo
CEPEFIN
Elaboração:
Alberto Borges Matias
– Diretor Presidente do
INEPAD. Professor titular do Departamento de
Administração da Faculdade
de Economia, Administração
e Contabilidade da
Universidade de São Paulo
no campus de Ribeirão Preto.
Livre docente em Finanças,
atuando nos programas de
graduação, pós-graduação e
MBAs da Universidade
Apoio:
João Gabriel Sehn –
Pesquisador do Centro
de Pesquisas do INEPAD –
Núcleo CEPEFIN. Graduando
em Economia Empresarial e
Controladoria pela Faculdade
de Economia, Administração
e Contabilidade da
Universidade de São Paulo no
Campus de Ribeirão Preto
janeiro 2014 financeiro 51
bancodedadosinepad
Da mesma forma que é interessante acompanhar o comportamento do endividamento das famílias para melhor entender o consumo, também é
importante a análise do índice de vendas no varejo.
O indicador de vendas no varejo é um importante
sinalizador do consumo das famílias, pois reflete o
gasto efetivo com bens e serviços e transmite ao
setor produtivo a dinamicidade da atividade econômica no
período. Fica perceptível, no gráfico 4, o aumento geral do
nível de vendas. O índice que em set/03 era de 52,11 passou
a ser 109,19 em set/13. Também nota-se o aumento sazonal
nos fins de ano, devido ao aumento de vendas ocorrido pelo
recebimento do 13º salário e festas de fim de ano.
De forma a finalizar a análise, é interessante utilizar algum indicador que dê expectativas sobre o
perfil de consumo nos próximos meses. Para isso,
um dos indicadores mais adequados é o Índice de
Confiança do Consumidor, que traz as expectativas
do consumidor para com a economia de forma geral, engloba expectativas de emprego, juros, inflação, etc. O comportamento do índice está exposto
no gráfico 5, nota-se que, diferentemente, das outras séries
apresentadas até aqui, este indicador é muito mais instável,
porém, ainda assim, ele apresenta uma tendência de crescimento. O índice passou de 104,7 em set/03 para 136,7 em
set/13 demonstrando um cenário atual mais otimista. Porém
ao analisar o comportamento do índice no ano de 2013 percebe-se que houve uma brusca queda: passando de 160,6 em
jan/13 para 136,7 em set/13. f
52 financeiro janeiro 2014
Taxas Médias: geral
Taxas Médias: pessoa física
Taxas Médias: pessoa jurídica
janeiro 2014 financeiro 53
bancodedadosinepad
Consignado: saldo de operações de crédito
crédito consignado (R$ milhões)
54 financeiro janeiro 2014
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
recursos livres (R$ milhões)
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
recursos livres (R$ milhões)
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
recursos direcionados (R$ milhões)
janeiro 2014 financeiro 55
bancodedadosinepad
Gráfico Crédito Pessoal
Gráficos Inadimplência
Saldo (R$ milhões) e percentual de crédito com recursos livres PF - Total
e com atraso entre 15 e 30 dias
Inadimplência Crédito Pessoal
INEPAD & BC
320.000
12.000
310.000
10.000
300.000
8.000
290.000
280.000
6.000
270.000
4.000
260.000
2.000
250.000
0
240.000
out/12
jan/13
abr/13
jul/13
Com atraso de 15 a 90 dias
out/13
Saldo
56 financeiro janeiro 2014
Juros
Atividade
Rendimento
janeiro 2014 financeiro 57
bancodedadosinepad
Anfavea
58 financeiro janeiro 2014
Macro
janeiro 2014 financeiro 59
bancodedadosinepad
Previsões
60 financeiro janeiro 2014
artigopalavrafinal
Ciclos
de Crédito
Artigo enviado em 05/12/2013
Por Nicola Tingas,
Economista-chefe
da Acrefi
Em 2014, haverá melhora no ritmo de expansão
do crédito, mas ainda será um ano de transição. Há
uma mudança no comportamento dos consumidores e na oferta de crédito pelos bancos e financeiras,
que, conjuntamente, estão modificando o mercado de
crédito. A transformação efetiva do perfil de oferta e
demanda de crédito será determinada pela política
econômica a ser praticada pelo presidente eleito para
o período 2015–2018.
Durante toda uma década tivemos importante expansão das operações de crédito do sistema financeiro, favorecendo amplamente o crescimento econômico. Em anos recentes, principalmente em 2013,
houve queda no ritmo de expansão. O longo ciclo de
expansão verificado na última década, da forma como
ocorria, está esgotado.
A relação crédito/PIB dobrou entre 2002 e 2010;
começando com 22% em dezembro de 2002 para alcançar 45,3% em dezembro de 2010. Foi um crescimento inédito na história econômica brasileira. Esse
período foi bastante dinâmico (Fase 1). Houve um
ciclo de expansão amplo e consistente, baseado na
ampliação e nas melhorias significativas de aspectos,
como: distribuição de renda, emprego, bancarização,
aperfeiçoamento da legislação e de garantias do crédito ao consumidor; resultando em oferta e demanda
amplas de crédito.
Em 2011 e 2012, a relação crédito/PIB cresceu
respectivamente para 49,0% e 53,7% do PIB. Ainda foi
uma forte expansão; mas, houve incerteza e volatilidade nessa trajetória (Fase 2). Foi um período que
contou com estímulos para o consumo e o crédito:
incentivos fiscais, salário mínimo com forte reajuste,
bancos públicos ampliando significativamente sua
oferta no mercado, crescimento substancial do crédito direcionado.
A partir de 2013, dados mensais indicam um arrefecimento no ritmo de expansão de crédito (Fase 3). Isso
ocorreu devido à somatória de diversos obstáculos que
já estavam presentes desde anos anteriores: aumento da
inadimplência, restrições orçamentárias de muitas famílias, modelos de crédito ajustados para evitar riscos de
inadimplência, alta persistente da inflação, redução no
ritmo de crescimento econômico, incerteza e redução na
janeiro 2014 financeiro 61
artigopalavrafinal socio ambiental
“Ao longo de
2014 também
haverá esforço
governamental
para elevação do
consumo e de
investimentos,
impulsionados
por estímulos
e incentivos da
política econômica
pró-cíclica.”
62 financeiro janeiro 2014
propensão a consumir e na propensão a investir.
Ficou evidente que a condição financeira dos agentes
econômicos
deteriorou-se
significativamente, formando
um círculo vicioso de baixo
crescimento e inflação elevada. Esse ambiente econômico
e mais outros fatores levaram
à deterioração das condições
de consumo e investimento na
economia.
Empresas fragilizadas pela
queda de vendas e pelo aumento de custos tiveram dificuldade de sustentar seu equilíbrio financeiro básico (“ponto
de equilíbrio” entre receitas e
custos diretos e indiretos). As
famílias tiveram de enfrentar
condições adversas, como inflação alta, redução no ritmo de
reposição salarial, menor ritmo
de crescimento do emprego e,
em muitos casos, alto e insus-
tentável endividamento financeiro. Como consequência
das enormes dificuldades enfrentadas, desde 2012 e ao
longo de 2013, houve um intenso esforço de resgate das
finanças empresariais e pessoais (famílias).
Em 2014, já há sinais de algum resultado favorável
desse esforço em contexto de “consumo consciente” e de
utilização mais planejada do crédito. Dessa forma, cresce
a possibilidade de haver melhora qualitativa na demanda
por crédito, resultante do ajuste orçamentário e mudança de perfil de endividamento realizado pelas famílias.
Como também, espera-se que o crédito corporativo tenha seu risco mitigado em resposta à reestruturação financeira e operacional de muitas empresas.
Ao longo do ano também haverá esforço governamental para elevação do consumo e de investimentos,
impulsionados por estímulos e incentivos da política
econômica pró-cíclica. Nesse sentido, embora com limitações orçamentárias, conjunturais e estruturais, o governo tem apontado para uma agenda de estímulos fiscais,
gastos públicos e medidas de manutenção e ou ampliação de renda e emprego.
Em síntese, teremos uma melhora no desempenho
do crédito no ano eleitoral de 2014. Para o futuro, os
agentes econômicos estarão esperando pela sinalização
efetiva da política econômica, que conduzirá a economia
no quatriênio 2015–2018. f
janeiro 2014 financeiro 63
20% do crédito liberado no Brasil é destinado para ajudar o brasileiro a realizar o
sonho do carro novo. A Cetip ajuda a acelerar a análise e a aprovação de
financiamentos com agilidade e segurança, graças ao Sistema Nacional de
Gravames (SNG), base eletrônica integrada que reúne informações sobre
restrições financeiras de veículos. Atualizada em tempo real e acessível a
agentes financeiros e órgãos de trânsito de todo o país, o SNG leva Eficiência
Operacional para todo o mercado, liberando crédito de um jeito simples e seguro.
Segurança que
move o mercado.
Declaração de exoneração de responsabilidade: o presente material foi emitido pela Cetip S.A. – Mercados Organizados (“Cetip”). A Cetip é um mercado de balcão organizado autorizada a funcionar pela
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64 financeiro janeiro 2014