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ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 FORMA E CONTEÚDO DO TRABALHO COMO UMA DAS CAUSAS PARA O ABANDONO DA ESCOLA E SUAS CONTRADIÇÕES Marco Aurelio da Silva1 Aristéia Mariane Kayser2 RESUMO A proposta deste artigo é analisar a importância da educação na formação do jovem estudante trabalhador e a possível relação com o fenômeno do abando escolar. Justifica-se a escolha da temática pela proposta de uma educação emancipatório no que se refere os desafios e perspectivas do sistema capitalista e neoliberal. Para o desenvolvimento teórico da pesquisa, pautou-se em bibliografias conceitual da temática acima descrita tendo como base contraditória uma proposta de emancipatória, ou seja, o acesso e a permanência do jovem na escola. Desta forma se propões a discutir possíveis alternativas abrindo um canal de diálogo interdisciplinar demonstrando que o sistema educacional não é o único responsável pela reprovação, evasão e abandono escolar. Palavras chave: educação, emancipação, trabalhador ABSTRACT The purpose of this paper is to analyze the importance of education in shaping the young student worker and the possible relationship with the phenomenon of school dropout. Justifies the choice of the theme proposed by an emancipatory education regarding the challenges and prospects of the capitalist and neoliberal system. For the theoretical development of the research was based on a conceptual thematic bibliographies above described with contradictory basis for a proposal for emancipatory, ie, access and retention of young in school. Thus it proposes to discuss possible alternatives opening a channel of interdisciplinary dialogue demonstrating that the educational system is not solely responsible for the failure, dropout and dropout. Keywords: education, emancipation, worker 1 Mestrado em Ciências Sociais - UFSM, Mestrando em Educação - UNISC, Especialização em Educação Ambiental e Especialização em Gestão Educacional ambas pela UFSM, e Especialização em Mídias na Educação - UFPel; Licenciado em Filosofia - UNIFRA e Atualmente cursando Licenciatura em Pedagogia UFSM. 2 Cursando Pós Graduação Lato Sensu em Cuidado Pré-Natal - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP; Pós Graduação Lato Sensu em Educação Ambiental e Pós Graduação Lato Sensu em Gestão de Organização Pública em Saúde ambas pela Universidade Federal de Santa Maria -UFSM; Possui graduação em Enfermagem pela Faculdade Integrada de Santa Maria - FISMA e Graduação em andamento Pedagogia - UNINTER. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 45 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 INTRODUÇÃO A proposta central desse artigo é fazer uma análise em como se constitui a forma e conteúdo do trabalho do jovem estudante trabalhador e assim relacioná-lo com o fenômeno do abandono escolar. Muitos defendem que a evasão ou fracasso escolar tem por prerrogativa a não prestação de serviço de excelêcia pela escola. E que uma das possíveis soluções consiste na proposta de uma formação profissional, visando suprir a necessidade do atual mercado de trabalho. Mas, tal justificativa é pautada no discurso que ao oferecer esta formação profissional o sistema educacional estará oportunizando ao jovem melhores condições de competir visando assegurar uma um futuro mais confortável. E dentro desse escopo de reflexão se propõe a luz da realidade contemporânea entender o processo de construção identitário dos jovens frente o desafio do mundo do trabalho e a relação com a permanência na escola. É importante compreender o contexto histórico do sistema educacional brasileiro, as dificuldades, as vitórias, a influência de movimentos sociais, interesse das grandes empresas sobre a mão de obra qualificada, a preparação para o mercado do trabalho lembrando que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) surgiu com a abertura do Brasil para o sistema neoliberal. Globalização e neoliberalismo são duas palavras que ouvimos com frequência no cotidiano, mas será que todos sabem o verdadeiro significado de cada uma delas e sua influência em nossas vidas e na educação? Ambos os conceitos ainda permeia em ambiguidades, e ainda usam do velho jogo ideológico muito bem conhecido por todos nós. O Brasil ao abrir-se, para o sistema neoliberal e em resposta aos anseios do Banco Mundial no que tange a educação elaborou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) os artigos 1 e 35, os quais enfatizam a necessidade de preparação para o mercado do trabalho e para a prática social duas vertentes que se coadunam com os artigos 205 e 206 da Constituição Federal de 1988. Há toda uma política de “mecanização do ensino”, visando alcançar as metas governamentais por meio de um sistema que não valoriza o pensamento e a emancipação do sujeito a diferencie entre o modelo taylorista-fordista e o sistema educacional brasileiro proposto hoje consiste nas propostas das Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997 como documento referência não sendo este um plano de curso mas, propõem uma proposta de educação interdisciplinar. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 46 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 Surgindo assim uma perspectiva de educação flexiva, decentralizada, horizontal em suas relações e nas suas práticas desencadeando assim propostas emancipatórias e ressignificando o contexto social e fomentando uma consciência critica do modelo tayloristafordista verificado no sistema educacional brasileiro. “[...] nas reformas dos sistemas de ensino aparecem conceitos e propostas tais como descentralização; autonomia dos centros escolares; flexibilidade dos programas es colares; liberdade de escolha de instituições docentes; necessidade de formação continuada; superação do conhecimento fragmentado. Esses conceitos encontram correspondência nas características da reorganização do mundo produtivo: na descentralização das grandes corporações industriais; na autonomia relativa de cada fábrica em decorrência do processo de desterritorialização das unidades de produção e/ou de montagem; na flexibilidade da organização produtiva para se ajustar à variabilidade de mercados e de consumidores” (SANTOMÉ, 1998, p. 21 apud MARTINS, 2000, p. 72). A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na década de 1990 formulou diretrizes para educação, que são.: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver juntos e Aprender a ser estas seriam os “pilares da educação do futuro” e esses pilares estão referenciados nos (PNCs)” e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) de 1998 da educação brasileira desenvolvendo as competências genéricas e flexíveis, ou seja, moldando-o para a realidade do trabalho. Observa, que o Plano Nacional da Educação (PNE), estabelecido em 2001 (lei n. 10.172), foram planejadas e definidas, várias metas para o ensino médio até 2011 sendo uma delas. Entre os vários desafios da educação contemporânea brasileira existe o problema do diagnóstico, a análise dessa educação de massa objetivo de significativa relevância, pois a educação é um elemento desencadeador de transformações e neste sentido é fundamental a qualidade da pedagogia técnica para responder as demandas do mundo produtivo. Nesta ótica se apresenta a pedagógica tecnicista, a qual tem entre suas demandas o processo industrial brasileiro, a instrumentalização de mão-de-obra, para o processo fabril. Portanto, os modelos - taylorista e o fordista no âmbito educacional surgem como projeto pedagógico, estritamente técnico, o qual é direcionado à uma determinada perspectiva de formação e ordem mercadológica tornando o Estado mínimo em sua responsabilização no que tange a educação e desta forma trazendo para as fonteiras do Brasil a porosidade por meio da implementação de uma língua estrangeira a partir de 6ª ano em qualquer das série. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 47 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 Segundo Saviani, (2005), os ditames da educação tecnicista estão baseados no trabalho fabril verifica-se pela lei n.5.692 de 1971. O modelo “fordista”, enfatiza uma produção crescente, uma qualificação “marginal”, unilateral dos trabalhadores e sob as diretrizes do mercado e isso não é diferente na educação pois, há o saber-fazer que segundo Dellors, “Este aumento de exigências em matéria de qualificação, em todos os níveis, têm varias origens. No que se diz respeito ao pessoal de execução, a justaposição de trabalhos prescritos e parcelados deu lugar à organização em "coletivos de trabalho"” (DELLORS, 1996, p.4). O modelo de produção fordista vêem passando por transformações com o processo de “tecnificação” que esta pautada na redistribuição de atividades. Neste sentido, o sistema educacional principalmente proposto pelas Universidades Federais e Institutos Federais consiste em formação por células, ou seja, centros de exelência formando pessoas sem uma perspectiva de educação integrada. A Educação Profissional e o desafio de rompimento com propostas hegemônicas O neoliberalismo visa através da educação a transformação do cidadão em consumidor, a educação se redefine de acordo com os termos de mercado. E para que isso não ocorra de forma isolada é preciso que aconteça a globalização que ultrapassa as fronteiras de países e continentes. Induzindo-nos a ver a educação como uma mercadoria, mas o ideal é uma educação desafiadora, crítica e emancipadora continuam sendo um desafio a ser conquistado, bem como a escola é desafiada pela televisão, internet, jornais, revistas, no que tange a dinamicidade do sistema globalizado. As transformações gerais da sociedade atual apontam a inevitabilidade de compreender o país no contexto da globalização, da revolução tecnológica e da ideologia do livre mercado (neoliberalismo). A globalização é uma tendência internacional do capitalismo que, juntamente com o projeto neoliberal, impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica e social (OLIVEIRA e LIBÂNEO, 1998, p. 606). Neste contexto globalizado e neoliberal entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos quem dita as regras é aquele que é portador do fator econômico o que resulta em poder político, consequentemente as políticas educacionais implantadas seguem a mesma ordem, e obedecem as necessidades e exigências de mercado. Cita-se como exemplo as políticas dos www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 48 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, os quais enfatizam que os investimentos devem ser calculados da mesma forma como via de regra um empréstimo empresarial. Essa centralidade se dá porque educação e conhecimento passam a ser do ponto de vista do capitalismo globalizado, força motriz e eixos da transformação produtiva e do desenvolvimento econômico. São, portanto, bens econômicos necessários à transformação da produção, ao aumento do potencial científico e tecnológico e ao aumento do lucro e do poder de competição num mercado concorrencial que se quer livre e globalizado pelos defensores do neoliberalismo. Torna-se clara, portanto, a conexão estabelecida entre educação/conhecimento e desenvolvimento/desempenho econômico. A educação é, portanto, um problema econômico na visão neoliberal, já que é o elemento central desse novo padrão de desenvolvimento (OLIVEIRA e LIBÂNEO, 1998, p. 602). Apesar de ocorrer a exclusão social e as políticas públicas não conseguirem privilegiar a todos, com uma proposta de educação emancipatória, a educação continua sendo uma forma de acumular forças contraditórias a dominação. O neoliberalismo no que se refere a educação, apresenta a ideia de preparação de mão de obra para o mercado de trabalho. Portanto, é interessante que possamos debater, discutir e investigar as contradições e transformações no que tange o período que vivemos e o processo produtivo mundial. Período este marcado pela reestruturação produtiva, com propostas de inovações tecnológicas visando uma melhor competitividade e aumento da produtividade. Desta forma foi necessário repensar e redefinir estratégias referente a dinâmica educação para o trabalho pois, a classe trabalhadora não era valorizada. E portanto, uma das significativas mudanças verificadas é a polivalência do trabalhador gerando assim um sistema competitivo, onde o emprego cada vez mais se torna algo escasso e o trabalhador capacitado, qualificado torna-se objeto de cobiça das empresas. Fenômeno este que acabou criando um sistema instável exigindo um novo do perfil do trabalhador, porém o sistema globalizado responsabiliza-o pelo seu sucesso ou fracasso, enquanto um profissional “trabalhador”. Observa a dificuldade de manter um discurso ético no que tange ao discurso oficial da relação “educação e produção” e contudo a justificativa pauta-se na pedagogia da qualidade, da multi-habilitação, da polivalência do trabalhador na busca constante da manutenção da sua empregabilidade. A constituição das relações sociais no processo formativo humano se reconfigura pela via relacional da dialética no que tange o subsumir do homem ao capital e a luta contra o próprio sistema. Sendo assim, na agenda do capital a educação passa a ser algo fundamental, pois pela via dessa é que surge o desenvolvimento e esta é necessária para a manutenção deste www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 49 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 fenõmeno que tem como uma das bandeiras a diminuição da pobreza, da desigualdade social. Na perspectiva de Rummert, a educação deve se comprometer a atender “[...] às exigências do mercado, sendo dotada dos conteúdos exigidos pelo capitalismo para seu desenvolvimento nessa nova fase” (RUMMERT, 2000, p. 66). Outro desafio é a construção de novas propostas de educação para o trabalhor ocorre uma dificuldade de rompimento com a educação hegemônica, pois muitas vezes é desconsiderado a experiência do trabalhador. Por mais que tenhamos políticas públicas de inclusão, acesso escolar e garantia de uma educação de qualidade conforme (LDB 9394/96), mas ainda existe a burocracia escolar, dificultando debates e implementação de conteúdos pautados no contexto histórico do trabalhador não há uma preocupação com a adaptabilidade de mecanismos que considerem a realidade social do mundo do trabalho. A ideia sobre os efeitos da ação de globalização e da política neoliberal na educação não é algo tão atual, no entanto esses efeitos foram absorvidos gradualmente pela sociedade como algo normal. Com o surgimento da globalização, que para muitos se confunde com a era do conhecimento, em uma perspectiva conflitante a educação é vista como o maior recurso de que se dispõe para enfrentar essa nova estruturação do mundo. O processo de globalização implica basicamente na maior centralização de renda, na exclusão e marginalização total dos países que não tiveram condições de fazer parte deste processo, e do sistema financeiro. A educação escolar é de certa forma prejudicada pela lógica capitalista e pelos ideais neoliberais, e as políticas educativas desconsideram as diversidades da sociedade. O neoliberalismo propôs uma mudança no papel do Estado, sustentando que o mercado deveria substituir a política, e quanto à política educacional, a mesma segue a lógica de mercado, restringindo a ação do Estado à garantia da educação básica, e deixando os outros níveis sujeitos as leis de oferta e procura. Essas transformações atingiram a cultura e a educação. O neoliberalismo origina uma nova forma de se ver a qualidade educacional associando-a aos princípios de produtividade e rentabilidade, introduzindo nas escolas a lógica da concorrência, desta forma foi necessário uma transformação no modelo educacional, onde é necessário praticar uma democratização da qualidade da educação, que não só forme o profissional para atuar mercado, mas também forma um cidadão que reflete e atua na sociedade com consciência e senso crítico. O neoliberalismo insere uma redefinição de educação em termos de mercado, ou seja, onde teremos trabalhadores e consumidores, sem esquecer o empresário, neste sentido querem preparar o aluno para o mercado de trabalho, www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 50 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 mas talvez esquecendo de outros aspectos e fatores importantes na vida de cada aluno. Pois sabemos que a educação (tem seu lado social), ou seja, a qualidade social, algo que também precisa estar presente nas escolas, precisamos “preparar” os alunos para a vida em todos os seus aspectos e não apenas para uma atuação especifica e definida. As consequências da globalização e do neoliberalismo para educação são enormes: busca da qualidade de ensino, incorporação das tecnologias de comunicação e informação, modernização do ensino, adequação do ensino à competição do mercado internacional. Contudo, essa evolução rápida, muitas vezes acontece de forma excludente e individualista, preocupada em demasia com a formação de profissionais para atender ao mercado de trabalho deixa a desejar em relação a uma formação mais humana. O ideario neoliberal e a globalização definem e estabelecem o conceito de qualidade na educação. Nesta ótica paradigmática a escola pode ser medida e controlada através de métodos de avaliações externas ao processo em que esta inserida. Nos modelos de avaliação destes pressupostos ideológicos prevalece os métodos quantitativos em detrimento aos qualitativos. O produto final é considerado para verificação dos problemas de gestão. Ao considerar a lógica mercantilista, consideram a aptidão para a produtividade econômica, e deixa em segundo plano a construção do conhecimento. O modelo neoliberal, toma como modelo de gestão da escola a fabrica. E seu lema é “oportunidades iguais aos desiguais”. Sugerindo assim que os sujeitos são seres individuais e que devem competir entre si para merecer as melhores oportunidades. O Estado faz a regulação da educação diminuindo mais ainda os limites entre educação e mercado consolidando a lógica centralizadora de suas ações, tranformando alunos em consumidores ou compradores. No que se refere ao caráter sociológico e ideológico muitas vezes é desconsiderado no que se refere a construção de uma educação do trabalho pela via da solidariedade, o que se verifica é uma preocupação do sistema neoliberal em implantar uma competição constante. Na realidade é uma classe dominante querendo garantir seu poder ideológico. Pois, a simplificação do trabalhado ocorrido pela a apropriação de conhecimentos científicos e tecnológicos desencadea a complexificação de todo sistema. O contexto histórico da educação profissional é o exemplo mais explícito, se constituindo pela via da dualidade entre trabalho manual e trabalho intelectual, visando a garantia da produção de massa cujos conteúdos se voltam para o interesse do capital. Desta forma condicionando a função social da educação para uma perspectiva tecnicista em prol do capital (FRIGOTTO, 1996). www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 51 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 A educação formal é resultado das relações sociais visando assim sustentar modos de produção capitalista desenvolvendo mecanismos de competição, de assegurando um sistema de consumo e de desigualdade social exigindo do trabalhador um disciplinamento dos seus conhecimentos científicos tornando os mais apurados respondendo os ditames da produção trata-se, portanto de uma formação tecnicista. Entretanto, observa-se uma fratura, uma fragmentação do sistema, pois há um discurso da obsolescência desta proposta educacional e a nova proposta é uma formação integral e exclusivamente voltada para as necessidades da gestão do trabalho visando assim a canalização da, o aproveitamento máximo da força de trabalho, ou seja, extensão é considerado como práxis social. E na perspectiva de Antunes, O trabalho é, portanto, um momento efetivo de colocação de finalidades humanas, dotado de intrínseca dimensão teleológica. E, como tal, mostra-se uma experiência elementar da vida cotidiana, nas respostas que oferece aos carecimentos e necessidades sociais. Reconhecer o papel fundante do trabalho na gênese e no fazer-se do ser social nos remete diretamente à dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidiana, como ponto de partida para a genericidade para-si dos homens (ANTUNES, 1999, p.168). A intencionalidade da educação pe um desafio a ser analisado pois é fundamental uma crítica a educação bancária visando uma proposta de educação emancipatória. Mas o problema consiste em para quem, para que e que educação queremos? Adotamos uma postura critica no que se refere a educação mecanicista, mas recorremos ao mesmo erro desta proposta educacional quando apenas propomos modificações de conteúdos e de estratégias pedagógicas pautado-nos no modelo de competências assegurando o status do sistema neoliberal e acabamos por transferir a responsabilização do sucesso ou não escolar ao aluno sendo este o sujeito. O que demonstra uma inversão de valores, pois este sujeito educando é o principal interessado no sucesso escolar. É o sistema (capital) quem regulariza o interesse social condicionando a sociedade a uma cultura filosófica e utiliza-se da metodológica dialética para assim definir o percurso formativo conforme interesse próprio com finalidade de interiorizar no trabalhador os valores (éticos) normatizadores do mercado. A construção de novos parâmetros sociais se torna sendo afetadas pelo discurso das competências individuais que é a base do um processo de certificação profissional e reorganizando do sistema educacional colocando-o a serviço do capital. Entendemos que o trabalho deve se pautar em uma relação social cooperativa. A proposta de qualificação www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 52 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 profissional deverá considerar todos os aspectos da realidade social referente a educação integral, pois a viabilidade desta proposta esta na formação utópica do sujeito. Ou seja, tudo irá depender de como é operado no âmbito social. Ententedemos que esta utopia se consiste nas reais possibilidades de transformação social da realidade educacional do trabalhador considerando a história, a ação, os fenômenos sociais e culturais no universo do trabalhador. A questão do trabalho não é uma concepção estática ao contrário hoje já é permitido a inserção legal do jovem no mercado de trabalho pelo programa (jovem aprendiz) o que configura uma remodelagem do atual sistema econômico e consequentemente influenciando a proposta do sistema educacional brasileiro para o ensino médio dando – o um carater (ropagem) tecnicista se distanciando de uma proposta construtivista pautada na dialogicidade. Na verdade o pano de fundo de toda essa relação além do sistema econômico (perverso) há uma concepção histórica positivista e iluminista que os jovens vivem em uma luta de contradições sem perspectiva de sentido e portanto o trabalho é uma via de dominação de retenção de potencialidades. Há uma forma ideológica de agir humano isto é o pensamento comum é uma práxis utilitária é a “representação da coisa. Surge um novo modelo de Estado, uma nova organização produtiva na década de 1970 com a nova crise da acumulação capitalista. Contudo devemos entender que, as produções da consciência humana, na dialética com a realidade produzem novas teorias, e dessa forma se compreende a realidade de maneira histórica e lógica, conforme a conhecemos e que é um desafio a ser superado constantemente. E o trabalho (conhecimento) só tem sentido se cumprir sua função de revelar a realidade nas suas contradições. A realidade não se apresenta imediatamente ao jovem é um processo gradual e que se deve usar da dialética, distinguindo portanto a representação e o conceito da coisa em si que são duas qualidades das práxis humana. O jovem perante a realidade não se constitui apenas como um sujeito cognoscente, pois há uma objetividade em suas ações. Ao jovem é indispensável considerar a experiência da atividade prático-utilitária assim ele cria as suas próprias representações das coisas, ou seja, gerando as formas fenomênicas da realidade (trabalho). Mas, o problema consiste na disposição ou configuração da realidade social, que imporia à cotidianidade dos indivíduos. Nessa embricada formação do jovem o trabalho possibilita-o a ser “coisificado e personificado”; ou seja, se reproduziria indivíduos criticamente apáticos, “politicamente dóceis” e “economicamente úteis”, favorecendo a www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 53 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 história da ideologia capitalista, do Estado e da política. As formas fenomênicas são distintas e contrárias mas seu conceito é correspondente da coisa, ou seja, a práxis utilitária é senso comum, o que significa dizer que não é a compreensão consciente do real. Portanto deve-se desnaturalizar o que se coloca como natural e isto é além da pseudoconcreticidade a qual é a tomada das coisas no seu isolamento a mediação pelo imediato. Dentro da proposta capitalista o jovem trabalhador não pode considerar a processualidade dos fatos, não podendo articular pensamento e realidade, não lhe é permitido pensar a relação social de forma dinâmica e as formas das consciências sócias produzidas. O que irá desencadear a superficialidade, o que significa dizer que é um viver na práxis fetichizada. É nesse cenário que surge o papel da escola emancipatória oportunizando ao jovem a análise do fenômeno (trabalho), ou seja, a linguagem (fenômeno e essência) não é a mesma coisa. Na pseudoconcreticidade, o fenômeno e a essência são tomados como iguais mas deve-se fazer uma criticidade deste processo. Surgindo assim a necessidade de um novo perfil humano e discursos/práticas educacionais sobre o corpo no trabalho, e fora dele, ou seja, é uma nova maneira de se relacionar/nova sociedade. Mas o discurso apreende a concretude das reordenações sociais da sociedade capitalista ou romper com as práticas utilitárias e fetichistas. Mas como desconsiderar o espaço e tempo no processo formativo do sujeito que é constituido histórico e social e que esta sujeito as interperes da vida, as condições que o permeia. Todavia é prudente defendermos que o lugar de jovem é na escola e o trabalho não pode ser o seu fim ou consequência da permanência do jovem. Pois, consideramos que quanto mais cedo o jovem se inserir no sistema laborial esse esta sendo massificado e consequentemente as suas relações sociais acabam sendo prejudicadas pelo sistema mercantilizado que condiciona a vida social não oportunizando ao jovem uma criticidade da sua mão de obra (barata/custo baixo) tornando um benefício ilusório não oportunizando – o a uma reeconstrução ou reorganização das suas habilidades e assim reformando a ideologia do sistema capitalista. Desta forma obrigando-o a assumir responsabilidades de adulto, ou seja, a sua autonomia é agredida, sucumbida. O jovem estudante trabalhador é discriminado, desestimulado duas vezes pois este entra em um processo de esgotamente energético que consome toda a sua juvialidade e em prol de um sistema capitalista que o explora com o discurso de capacitá-lo, prepará-lo para ser um competidor. O discurso oficial é; quanto mais prematuro for a inserção no mercado de www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 54 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 trabalho a garantia de sucesso financeiro, estabilidade laborial, a aposentadoria estarão garantidas. Portanto, fica evidente que há vários fatores prepoderentes que influenciam o condicionamento da ruptura social criando assim a desvalorização do essencial que é a permanência do aluno na escola é um fenômeno que causa tensões nos jovens. E outro fator importante a ser considerado é a qualidade o ambiente do trabalho, além do salário e a escola vai perdendo espaço ou passa atuar em prol de beneficiar o sistema (capitalismno) excludente. Afinal qual o tipo identitário na formação do jovem esta se propondo com esse tipo de sistema. Crises e contradições, poder e dominação fazem parte da sociedade capitalista. Compreendemos que o trabalho é essencial para o desenvolvimento da humanidade, mas o questionamento consiste em qual tipo de trabalho e para quem desenvolvê-lo? Pois, estamos aqui trabalhando na esfera de entendimento que o trabalho passou a oprimir, a transgredir a autonomia do trabalhador, se trata da produção ou manutenção da mais valia e suas consequências cada vez mais vão se tornando evidente que é a reprovação, o abandono escolar e isto se caracteriza como multiplas contradições. Ao considerar a realidade do jovem estudante trabalhador logo percebemos a importância do papel da escola, ou seja, o ressignificado que esta pode possibilitar ao jovem pela via da dialética que se constrói pela superação do senso comum e o estabelecimento da criticidade filosófica como parâmentro na constituição de todas as suas relações. É quase unanime que educadores e pensadores tenham as respostas para os problemas da escola, não diferente desses penso que a transformação social é um mecanismo que poderá nos auxiliar a pensar meios para a redução da evasão ou do fracasso escolar. É dentro desse contexto que se deve pensar o materialismo dialético e histórico no que se refere as mudanças sociais especificamente a estrutura econômica que se apresenta como excludente e o papel do Estado é de extrema importância para que uma melhor regulação do sistema e melhor destribuição de rendas e isto fará com que ocorra a transformação, redimencionando a essência do trabalho. Agora o problema consiste em como assumir uma articulação orgânica do trabalho. Entendo que todo este processo inevitavelmente desencadeará o processo de alienação do trabalhador. Portanto não há como deixar de considerar que o fenômeno da evasão e do fracasso escolar devem ser considerados e tratados na essência da relação entre escola, sociedade, capital, trabalho e Estado. Concluo esta seção com a certeza que os fatores www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 55 ÁGORA Revista Eletrônica Ano IX nº 18 Jul/2014 ISSN 1809 4589 P. 45– 56 macrossociais na sua essência determinam o fenômeno de inserção precose do jovem no mercado de trabalho e assim desencadeando a evasão e o fracasso escolar. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo, Boitempo Editorial.1999. BRASIL.Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ______, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Ministério da Educação. Brasília, 1996. ______,Lei de Número 10.172, de 9 de Janeiro de 2001. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm Acesso em 15/06/2014. DELORS, J. et al. L´Education: un trésor est caché dedans. Rapport de la Comission Internationale pour l’Éducation au 21èmeSiècle. Paris: UNESCO, 1996. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo, Cortez Editora.1996. OLIVEIRA, J.F., LIBÂNEO, J.C. A Educação Escolar: sociedade contemporânea. In: Revista Fragmentos de Cultura, v. 8, n.3, p.597-612, Goiânia: IFITEG, 1998. MARTINS, A. M. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Avaliação de Documento. Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Campinas: Autores Associados, n. 109, p. 67-87, mar. 2000. RUMMERT, Sônia M. Educação e Identidade dos Trabalhadores: As concepções do capital e do trabalho. 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