Bráquetes estéticos

Transcrição

Bráquetes estéticos
Materiais Ortodônticos
Braquetes estéticos – considerações
clínicas
Liliana Ávila Maltagliati*, Renata Feres**, Márcio Antonio de Figueiredo***,
Danilo Furquim Siqueira****
,-/')
O objetivo deste trabalho foi demonstrar
as características dos braquetes estéticos
disponíveis no mercado, dando ênfase aos
aspectos de interesse clínico. Por meio de
uma pesquisa comercial e de revisão da
literatura, discutiu-se informações úteis
que possibilitem maior conhecimento no
manejo clínico destes braquetes, intensificando a eficiência do tratamento orto-
dôntico estético, destacando-se aspectos
dos materiais de composição, características físicas, friccionais, procedimentos de
colagem e descolagem, vantagens e desvantagens do tratamento com braquetes
estéticos. Construiu-se uma tabela de
consulta, contendo a maioria dos materiais disponíveis atualmente e suas principais características.
PALAVRAS-CHAVE: Ortodontia. Braquetes estéticos. Descolagem. Fricção.
* Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado em Ortodontia) da Universidade Metodista de São Paulo e Coordenadora do curso de Especialização em Ortodontia da Universidade Metodista de
São Paulo e da ABCD-SP.
** Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia – Área de Concentração em Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.
*** Especialista em Ortodontia e Mestrando do Programa de Pós - Graduação em Odontologia, Área de Concentração em Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.
**** Professor do programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado em Ortodontia) da Universidade Metodista de São Paulo. Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da Sociedade Paulista de Botucatu/SP.
Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 3 - jun./jul. 2006
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Braquetes estéticos – considerações clínicas
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A utilização dos braquetes estéticos tem indicação no tratamento ortodôntico principalmente em pacientes adultos, que
refutam a colocação de aparelho ortodôntico pela aparência indesejável dos braquetes metálicos. Segundo Khan e Horrocks16,
dois são os principais fatores desmotivadores do uso de aparelhos ortodônticos por parte dos adultos: tempo prolongado de
tratamento e aparência anti-estética dos braquetes. Em função
da crescente demanda desses pacientes nos consultórios de Ortodontia, a indústria dos materiais têm buscado oferecer alternativas estéticas de tratamento, desenvolvendo tecnologias e
técnicas de tratamento específicas, como a Ortodontia lingual, o
tratamento com alinhadores transparentes e o uso de braquetes
estéticos, de coloração transparente ou esbranquiçada. Dos materiais que compõem a Ortodontia estética, este é o mais viável
economicamente e que permite a realização de um procedimento
ortodôntico convencional.
No entanto, trata-se de um material com particularidades e características com as quais o ortodontista deve estar familiarizado
para que possa utilizá-los com consciência de suas limitações e
aproveitando suas qualidades, obtendo cuidados clínicos e selecionando os casos mais indicados para tratamento com o braquete
estético.
As vantagens e desvantagens dos braquetes de policarbonato
e cerâmicos têm sido discutidas por meio de pesquisas e testes em
laboratório, levantando questões como problemas com colagem,
descolagem, resistências friccionais e descoloração, considerando
cuidados que possibilitem a utilização clínica satisfatória desses
braquetes.
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O primeiro braquete não metálico foi apresentado por Newman20, em 1969, que publicou um estudo com colagem de braquetes estéticos de policarbonato, manufaturados através de um
processo de injeção de moldes do material plástico na forma
do braquete específico, apresentando precisão suficiente para
reproduzir pequenos detalhes requisitados. O policarbonato
constitui-se em uma resina de ótima dureza, próxima à do aço,
por isso foi o material eleito para gerar os primeiros braquetes
estéticos. Suas propriedades físicas e características que permitiram sua aplicabilidade clínica são: atoxicidade, resistência
à abrasão e ao impacto relativamente altas, coloração e translucidez adequados; além disso, trata-se de um material inodoro
e insípido20. Entretanto, eram visíveis as inconveniências deste
material e, apesar de apresentar estética muito favorável, vários
estudos apontaram problemas clínicos. Alguns deles foram citados por Dobrin et al.5, como a descoloração quando da exposição
a alimentos e líquidos, desgaste do braquete, absorção de água
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e saliva e o controle pobre do torque. Além disso, destaca-se a
necessidade de preparo da base para colagem com as resinas
comuns3,21 e a alta fricção com os fios ortodônticos. Feldner et
al.8 analisaram as características de torque e deformação dos
braquetes de plástico e os resultados mostraram que os mesmos
apresentaram valores maiores de deformação do que os braquetes de metal.
Para solucionar os problemas de deformação e descoloração,
a sua composição original foi modificada, com a incorporação de
reforços com partículas de cerâmica e vidro e a incorporação de
canaleta de metal para diminuir a fricção6,7,8. Portanto, atualmente
os braquetes de policarbonato são reforçados com partículas de
cerâmica ou vidro e podem apresentar canaletas metálicas, numa
tentativa de reduzir estes problemas (Fig. 1).
Mesmo reforçados, os braquetes estéticos de policarbonato,
denominados compósitos, ainda apresentam inconvenientes decorrentes de sua composição plástica básica, que são descoloração, deformação e desgastes, ainda que bem menores que os
de gerações anteriores. Feldner et al.8 demonstraram que os braquetes de policarbonato apresentam deformação significativa e
menor torque quando comparados com outros braquetes e que a
incorporação de metal na canaleta melhorou a leitura do torque.
Desta forma, recomenda-se a utilização clínica destes braquetes
com critério, limitando-se aos casos de tratamento mais curto,
em função da descoloração e dos desgastes, e que, preferencialmente, não necessite da incorporação de torques, pela deformação e menor eficiência de leitura das inclinações. Porém, quando
for necessário o uso de fios retangulares, deve-se dar preferência
pelos de canaleta de metal, considerando que a leitura, ainda assim, será deficitária.
Atualmente existem várias marcas comerciais no mercado (Tab. 1)
e entre as mais conhecidas no Brasil estão: Spirit (Ormco - EUA),
Aesthetic-Line (Forestadent - Alemanha), Envision (Ortho organizers), Silkon (American Orthodontics – EUA), Plastic Miura (Rocky
Mountain – EUA), Élation (GAC Orthomax – EUA) e Composite (Morelli – Brasil). Além desses, encontramos braquetes auto-ligados de
policarbonato, como o Opal (Ultradent) e Oyster (GAC).
FIGURA 1 - Exemplo de braquete estético de policarbonato.
Liliana Ávila Maltagliati, Renata Feres, Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira
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Em 1986 surgiram os primeiros braquetes cerâmicos com a
intenção de eliminar as desvantagens dos braquetes de policarbonato32. A base de fabricação é a cerâmica, material moldado
e endurecido pelo calor, como o vidro, argila, pedras preciosas
ou óxidos metálicos. No caso dos braquetes estéticos, o material empregado é o óxido de alumínio (Al2O3), cujas características
são: alta dureza, resistência a altas temperaturas, degradabilidade química e friabilidade, apresentando propagação de falhas por
imperfeições ou impurezas.
Por ser um material friável, não é o mais recomendado para
o design necessário de um braquete, pois apresenta ângulos vivos que aumentam a sua fragilidade, necessitando, portanto, ser
mais volumosos que os metálicos. Além disso, pela constituição
TABELA 1 - Tabela de consulta.
Marca Comercial
Nome
Comercial
Tipo de
material
Canaleta de
metal
Base de
retenção
Prescrição
Abzil Lancer
Intrigue
Policristalino
Não
Mecânica
Edgewise / Roth
American Orthod
Virage
Policristalino
Sim
Mecânica
Bioprogressiva / MBT / Pro torque / Roth
American Orthod
20/40
Policristalino
Não
Mecânica
Edgewise / Roth
American Orthod
Silkon Plus
Policarbonato
Não
Mecânica
Edgewise / MBT / Roth
Dentaurum
Fascination 2
Policristalino
Não
Mecânica
Roth
Dentaurum
Elegance
Policarbonato
Sim
Mecânica e Química
Edgewise / Roth
Forestadent
Brillant
Polioximetileno
Não
Mecânica
Bioprogressiva / Edgewise / Roth
GAC
Mystique
Policristalino
Não
Mecânica
Bioprogressiva / Edgewise / Roth
GAC
Vogue
Policarbonato
Não
Mecânica
Bioprogressiva / Edgewise / Roth
GAC
Elation
Policarbonato
Sim
Mecânica
Bioprogressiva / Edgewise / Roth
GAC
Oyster
Policarbonato
Auto-ligado
Mecânica
Roth
Morelli
Composite
Policarbonato
Não
Mecânica
Roth
Ortho Organizers
Illusion Plus
Policristalino
Sim
Mecânica
MBT / Roth
Ortho Organizers
Envision
Policarbonato
Não e Ouro
Mecânica
Bioprogressiva / Roth
Ormco
Inspire Ice
Monocristalino
Não
Mecânica
Straight-wire (fabricante)
Ormco
Spirit MB
Policristalino
Sim
Mecânica
Straight-wire (fabricante)
Rock Mountain
Luxi II
Policristalino
Sim
Mecânica
Roth
Rock Mountain
Signature III
Policristalino
Sim
Mecânica
Bioprogressiva / Edgewise / Roth
TP Orthodontics
MXI
Policristalino
Não
Mecânica
Begg / Roth
TP Orthodontics
In Vu
Policristalino
Não
Mecânica
Roth / MBT
Ultradent
Opal
Policarbonato
Auto-ligado
Mecânica
Roth
Unitek 3M
Transcend
Policristalino
Não
Química
MBT / Roth
Unitek 3M
Clarity
Policristalino
Sim
Mecânica
MBT / Roth
FIGURA 2 - Exemplo de braquete estético policristalino.
FIGURA 3 - Exemplo de braquete estético monocristalino.
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Braquetes estéticos – considerações clínicas
do seu material, são mais duros que o esmalte, o que pode causar
facetas de desgaste se ocorrerem contatos oclusais, e apresentam
potencialmente maior coeficiente de atrito com os fios ortodônticos.
De acordo com o processo de fabricação, os braquetes estéticos
de cerâmica podem ter dois tipos de composição: monocristalina
ou policristalina.
Os braquetes cerâmicos policristalinos, ou de alumina policristalina, constituem-se de cristais de óxido de alumínio fusionados a
altas temperaturas, o que permite a moldagem de vários braquetes
simultaneamente. Dentre os braquetes estéticos, estes são os mais
comuns e populares, pela qualidade de seu material e pela relativa facilidade de produção, em comparação com os braquetes de
alumina monocristalina, sendo comercializados pela maioria das
empresas que vendem braquetes ortodônticos (Fig. 2).
Os braquetes de cerâmica monocristalina constituem-se de
uma massa fundida em alta temperatura (2.100oC), formando um
único cristal de óxido de alumínio, que resultará na fabricação de
um único braquete, tornando a produção mais cara que os policristalinos. Entretanto, esta forma de usinagem confere às peças
menor opacidade, tornando-as especialmente estéticas e também
com maior resistência à tensão, pois apresentam menor incorporação de impurezas no processo de fabricação (Fig. 3).
Estes braquetes de composição cerâmica, embora superiores
aos de policarbonato, pela maior resistência, maior estética e por
não apresentarem descoloração ou desgaste, têm alguns inconvenientes, como alta fricção com os fios ortodônticos e possibilidade
de fraturas, pela friabilidade do material.
No início da popularização dos braquetes estéticos, nos anos
90, época em que ortodontistas não tinham muito domínio sobre estes braquetes, muitos utilizavam sua experiência clínica e
buscavam o melhor modo de empregá-los. Em grande parte dos
casos durante a montagem do aparelho, optava-se por utilizar os
braquetes cerâmicos apenas em dentes anteriores. A maior parte
dos ortodontistas selecionava a região entre caninos superiores e
inferiores para seu uso, nos outros dentes utilizavam-se braquetes metálicos10. Porém esta opção, que aos olhos dos especialistas
naquela época era a melhor alternativa, gerava alguns problemas
e alterações na mecânica. Verificou-se que ao utilizar peças metálicas nos dentes posteriores e cerâmicas nos anteriores, a diferença
de material gerava diferentes níveis de fricção, causando efeitos
como o aumento do overbite e perda de ancoragem, o que em
certos casos é indesejável20.
Atualmente, para compensar os problemas friccionais, alguns
modelos apresentam canaleta de metal em todos os braquetes e
outras apresentam preparo na superfície da canaleta, propiciando
maior lisura de superfície e arredondamento das bordas para facilitar o deslizamento dos fios23,24,30.
Na escolha de braquetes estéticos, portanto, as opções são:
braquetes de policarbonato ou cerâmico, mono ou policristalino,
com ou sem canal de encaixe metálico, com ou sem preparo da canaleta. Independente do braquete escolhido, algumas importantes
considerações devem ser feitas, a fim de que a melhor performance
possa ser alcançada.
FIGURA 4 - Angulações nos fios, decorrentes do desnivelamento, que aumentam a fricção estática e dinâmica. Combinação que gera o maior coeficiente
de atrito – braquetes cerâmicos + fio estético + ligadura elástica, produzindo
o binding effect.
FIGURA 5 - Exemplos de fratura de aletas de braquete cerâmico, dificultando amarração do fio e determinados movimentos, como o de torque e
de rotação.
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Desde que o aparelho Straight-wire foi desenvolvido, popularizando as mecânicas de deslize, em substituição às alças, a fric-
Liliana Ávila Maltagliati, Renata Feres, Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira
ção passou a ser um fator fundamental na mecânica ortodôntica
e boa parte da literatura discorre sobre este aspecto17,21,23,26,27,29.
O braquete metálico apresenta uma quantidade de fricção muito
baixa, pois é confeccionado com o mesmo material dos fios ortodônticos e apresenta lisura de superfície significativamente superior aos materiais plásticos e cerâmicos. Por este motivo, muitas
empresas inseriram, nos braquetes estéticos, canaletas metálicas
de aço ou de ouro4,17. Outras realizaram tratamentos na superfície
da canaleta, conferindo grande lisura de superfície, que promove
diminuição na resistência friccional, principalmente nos braquetes cerâmicos monocristalinos23,30. Pela importância da lisura de
superfície, os braquetes monocristalinos, que apresentam menor
incorporação de impurezas, parecem apresentar menor coeficiente
de fricção que os policristalinos. Estes, ao microscópio eletrônico
de varredura (MEV), apresentam maior rugosidade na superfície do
canal de encaixe23.
Entretanto, a literatura relata que, mesmo com canaleta de
metal ou com lisura de superfície, braquetes estéticos conferem
maior fricção quando comparados aos metálicos, principalmente
em situações de desnivelamento, onde o fio sofre angulações nas
canaletas17,18,21,24,23.
Neste contexto, cabe também ressaltar o efeito do tipo de ligadura. Sabe-se que a ligadura de metal em contato com o fio de
nivelamento gera menor força de atrito que as ligaduras elásticas12.
Portanto, em casos clínicos com extração ou que requerem procedimentos de retração e mecânicas de deslize, os braquetes cerâmicos
monocristalinos ou policristalinos com canaleta de metal devem ser
preferidos aos de policarbonato ou cerâmicos policristalinos sem canaleta de metal, ligados com amarrilhos metálicos. Entretanto, em
locais onde essa movimentação não for necessária, a ligadura elástica deverá ser o método de escolha, por razões a serem tratadas a
seguir, relativas à friabilidade do material cerâmico17.
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Em relação à fratura, considera-se esta uma característica inerente aos braquetes cerâmicos, pois este material apresenta alta
friabilidade, sua resistência à fratura chega a ser de 20 a 40 vezes
menor que a do aço17. Nos policristalinos, no momento da fundição
dos vários cristais de óxido de alumínio, pode ocorrer incorporação
de impurezas ou imperfeições na fundição, que promove fulcros de
estresse no interior do material, tornando-o ainda mais frágil. Os
monocristalinos, por serem mais puros, apresentam maior resistência à fratura19. A propagação do estresse e conseqüente fratura
pode ocorrer em dois momentos: durante o curso do tratamento e
no momento da descolagem.
O local mais comum de quebra da peça é na base das aletas,
pois nesta região, a estrutura do braquete é mais fina e corresponde
ao local de maior manipulação do ortodontista para inserir e remo-
ver fios, sendo constantemente tocado por instrumentos, criando
micro-rachaduras, tornando-os mais propícios à quebra10,17,25. Para
diminuir os riscos de fratura é importante ter cuidado na maneira
de ligar o fio ao braquete. As ligaduras metálicas são eficientes na
movimentação, porém nocivas à estrutura do braquete cerâmico25.
Portanto, sempre que o dente não for submetido à movimentação (áreas de ancoragem, dentes já alinhados), recomenda-se dar
preferência às ligaduras elásticas. Além disso, ao utilizar o instrumento para remover as ligaduras, deve-se atentar para o fato de
fazê-lo evitando-se riscar a estrutura do acessório com a ponta do
instrumento, movimentando-o de dentro para fora do braquete,
de preferência nas porções mesial ou distal do braquete. A quebra
das aletas e conseqüente aspiração ou deglutição podem apresentar riscos à saúde do paciente17, além de dificuldades mecânicas
que impedem o alinhamento, nivelamento e principalmente o deslizamento adequados18, podendo atrasar o tratamento. Por ser a
região das aletas o ponto mais frágil do corpo do braquete cerâmico, determinadas dobras no fio que geram pressão nas paredes
das aletas podem aumentar a susceptibilidade à fratura. Segundo
Karamouzos, Athanasiou, Papadopoulos17 e Lindauer et al.19, as ativações no fio de segunda ordem não costumam causar fratura do
braquete cerâmico, a menos que o mesmo tenha sido previamente
enfraquecido por um trauma direto ou pela introdução de defeitos
superficiais durante o tratamento, entretanto dobras de terceira
ordem poderiam mais facilmente causar fraturas, embora os braquetes fabricados atualmente tenham melhor performance que os
modelos mais antigos e suportem torções maiores nos fios antes
de se fraturarem1.
Portanto, diante da fratura de aletas de braquetes estéticos, o
ideal é a troca dos mesmos para não prejudicar controles de nivelamento, como movimentos verticais e de rotação. Recomenda-se,
ao utilizar braquetes estéticos, que se dê preferência para aparelhos pré-ajustados, escolhendo a prescrição mais indicada para
cada caso, no intuito de minimizar a necessidade de incorporação
de torque nos fios, que poderia elevar a probabilidade de fratura
do braquete.
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A descolagem de braquetes cerâmicos foi, por muitos anos, a
etapa mais preocupante do tratamento, para a maior parte dos
ortodontistas e pesquisadores que estudaram esses braquetes.
Devido às propriedades físicas do material plástico e cerâmico,
não é possível a adesão com resinas convencionais de colagem11.
Para tornar a colagem possível, era realizada, na base da maioria dos braquetes, um preparo com sílica e silano, de forma a
criar uma ligação química com a resina9. Esse preparo conferia
ao conjunto braquete/resina/esmalte forças de adesão extremamente elevadas, que dificultavam a remoção completa do bra-
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Braquetes estéticos – considerações clínicas
quete, levando em determinadas situações à fratura do braquete e, inclusive, da superfície de esmalte, além do desconforto
experimentado pelo paciente14. Estes inconvenientes ocorrem
em função da adesão química entre braquete e resina, deixando
para a interface esmalte/resina a área de maior fragilidade na
união e, portanto, sendo o local de fratura quando da força de
remoção, potencializando o risco de danos ao esmalte. Visando
esta condição clínica iatrogênica, a maioria das empresas mudar o sistema de colagem de seus braquetes estéticos de química para mecânica, por meio de retenções criadas na base dos
braquetes13. Neste sistema, a interface de união mais frágil é a
braquete/resina, promovendo a fratura nesta região, protegendo
o esmalte. Além disso, a retenção apenas de origem mecânica
diminui a força necessária de descolagem e, portanto, minimiza
o risco de fratura do braquete. Conforme demonstraram Wang,
Meng, Tarng31, o braquete cerâmico com base de retenção mecânica tem a vantagem de boa estética, boa rigidez e força de adesão suficiente, sem apresentar danos ao esmalte depois de sua
remoção e, portanto, é considerado o tipo de base mais adequado para tratamento com braquetes estéticos. Entretanto, decorrente da fragilidade e friabilidade do material cerâmico, quando
estes forem removidos, depois de meses em utilização, a fratura
pode ocorrer em partes do braquete. Neste caso, recomenda-se
retirar o remanescente com brocas diamantadas, em alta rotação, sempre com irrigação abundante.
Existem diversos métodos de descolagem, entretanto o mais comum é o manual, com utilização de alicate de remoção, que deve ser
indicado pelo fabricante do braquete que se optou utilizar17,28. A indústria tem trabalhado muito para diminuir os problemas com a remoção,
lançando no mercado braquetes com bases modificadas que fraturam
com facilidade na remoção, protegendo o braquete e o esmalte, e linhas de fratura na base dos braquetes que facilitam a remoção.
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Devido a uma de suas propriedades físicas, a dureza da cerâmica, pode ocorrer desgaste em dentes antagonistas às peças,
quando um contato oclusal for estabelecido e especialmente em
pacientes com hábitos parafuncionais11 e/ou com trauma oclusal,
por isso deve-se evitar o uso de braquetes cerâmicos nestes pacientes ou associar ao tratamento ortodôntico o uso de placas de
mordida. Uma possível solução para pacientes com sobremordida
profunda é o emprego de braquetes metálicos no arco inferior e
estéticos no superior, ou pelo menos nos pré-molares e molares
inferiores. Deve-se ter atenção redobrada em casos de retração de
caninos e pré-molares superiores, que ao início, antes da retração,
não fazem contato, mas ao retrair passam a estabelecer contato
com o antagonista, gerando facetas de desgaste.
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Na atualidade, os braquetes estéticos, em especial os cerâmicos, apresentam características muito satisfatórias. Os materiais
sofreram grandes modificações desde sua introdução no mercado e hoje possibilitam efetuar qualquer tratamento ortodôntico,
independente da quantidade de movimentação. Porém deve-se
ter cuidado na seleção do material, na maneira de manipulá-lo
durante o tratamento e durante a remoção, deste modo é possível realizar um tratamento com qualidade. Em especial, sugere-se
a opção por policristalinos com canaleta de metal ou monocristalinos para tratamentos mais prolongados e que requerem mecânicas de deslize; braquetes pré-ajustados para casos em que a
incorporação de torque é necessária; utilização de ligaduras metálicas nas mecânicas de deslize e elásticas para outras situações
em que a fricção não seja fator importante; braquetes com base
de retenção mecânica e descolagem com alicates próprios fornecido pelo fabricante.
Liliana Ávila Maltagliati, Renata Feres, Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira
Aesthetic brackets - clinical considerations
Abstract
This work aimed to demonstrate the characteristics of
aesthetic brackets available in the market, emphasizing
clinical aspects. By means of a commercial and literature
research, useful information were discussed, providing
better clinical management of these brackets and thus
intensifying esthetic orthodontic treatment efficiency.
Many aspects were pointed out, such as composition
materials, physical and frictional characteristics, bonding
and debonding procedures, orthodontic treatment with
aesthetic brackets advantages and disadvantages. A
consulting table was constructed, with most contemporary
available materials and its main characteristics.
KEY WORDS: Orthodontics. Aesthetic brackets. Debonding. Friction.
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Endereço para correspondência
Liliana Ávila Maltagliati
Rua Salete, 200 sala 42, - Santana
CEP: 02016-001 - São Paulo - SP
E-mail: [email protected]
Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 3 - jun./jul. 2006
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