Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente
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Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente
GUIA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Universidade de Pernambuco - Recife S586g Silva, Maria Carmelita Maia e. Guia de assistência integral à saúde da criança e do adolescente em situação de violência: abordagem multidisciplinar/ Maria Carmelita Maia e Silva. Lygia Maria Pereira da Silva - Recife: EDUPE, 2003. 122 p.: il. ISBN 1. Assistência Integrada - Adolescentes 2. Violência Criança e Adolescente 3. Violência - Multidisciplina I. Título II. Silva, Lygia Maria Pereira da. CDU 364.04 Autores Maria Carmelita Maia e Silva Lygia Maria Pereira da Silva Colaboração Vanessa Vasconcelos / Diita Fontoura / Djalma Agripino / Bernadete Antunes / Antônio Carlos Cabral Tereza Maciel / Maria José Guimarães / Roseane Almeida Apoio Administrativo Socorro Martins / Valéria Lyra / Myriam Coelho GUIA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA Abordagem Multidisciplinar Recife 2003 Prefeito: João Paulo Lima e Silva Vice-Prefeito: Luciano Siqueira Secretário de Administração: Danilo Cabral Secretário de Assuntos Jurídicos: Bruno Ariosto Luna de Holanda Secretária de Comunicação Social: Sheila Oliveira Secretário de Cultura: João Roberto Peixe Secretário de Desenvolvimento Econômico: Francisco Oliveira Secretária de Educação: Edla Soares Secretário de Finanças: Eduardo Vital Secretário de Governo: Múcio Magalhães de Souza Secretário de Orçamento Participativo e Gestão Cidadã: João da Costa Secretária da Política de Assistência Social: Ana Maria Farias Lira Secretário de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente: Djalma Paes Secretário de Saneamento: Antonio Miranda Secretário de Saúde: Antônio Mendes Secretário de Serviços Públicos: Dilson Peixoto Secretário de Turismo e Esportes: R omeu Baptista SECRETARIA DE SAÚDE Secretário-Adjunto: Gustavo Couto Diretoria Geral de Epidemiologia e Vigilância à Saúde: Tereza Maciel Lira Diretoria Geral de Atenção à Saúde: Tereza de Jesus Campos Neta Dir.Executiva de Prevenção aos Acidentes e à Violência Maria Carmelita Maia e Silva Gerência dos Distritos Sanitários Olga Souza de Lima Maria Bernadete de Cerqueira Antunes Paulette Cavalcante Albuquerque Antônio Carlos Borba Cabral Ceci Alencar Tiago Feitosa de Oliveira GUIA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA Maria Carmelita Maia e Silva Lygia Maria Pereira da Silva Universidade de Pernambuco-UPE-2003 Copyright@ by EDUPE Este livro não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização do Editor. Universidade de Pernambuco-UPE Reitor Prof. Emanuel Dias de Oliveira e Silva Vice-Reitor Prof. Armando Carneiro Pereira do Rêgo Filho Pró-Reitor Administrativo Prof. Glêdeston Emerenciano de Melo Pró-Reitor de Planejamento Prof. Beda Barkokebas Júnior Pró-Reitor de Graduação Prof. José Guido Corrêa de Araújo Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profª. Aronita Rosenblatt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional e Extensão Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello Editora Universidade de Pernambuco-EDUPE Assistente Comercial/Financeiro Delba Pinto Projeto Gráfico Fabiana Alves de Albuquerque Revisão Profª. Eveline Lopes Profª. Angela Borges Fotografias ABC of Child Abuse, UK 1997 Physical Sings of Child Abuse - C. Hobbs J. Wynne Leeds UK, 1999 Physical Sings of Sexual Abuse in Children, UK 1997 Arte da Capa Secretária de Comunicação Social do Recife Pedro Hiliário Revisão Técnica Edinilza Ramos de Souza Impresso no Brasil - Tiragem: 1000 exemplares EDUPE Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife/PE - CEP. 50100-010 Fone: ( 0xx81 ) 3416.4074 Fax: 3416.4068 Editora filiada à ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EDITORAS UNIVERSITÁRIAS AGRADECIMENTOS Aos servidores da Prefeitura do Recife, em especial aos profissionais dos Centros de Assistência à Criança e ao Adolescente que participaram da concretização deste programa. Às Secretarias Municipais de Assuntos Jurídicos, Educação e Políticas da Assistência Social. À Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças – FENSG/UPE e ao COMDICA, sempre presentes em nossas atividades. Ao Ministério da Saúde, que vem nos apoiando para a concretização deste trabalho. À Escola Nacional de Saúde Pública- ENSP que vem contribuindo para este trabalho, em especial à Dra. Edinilza Ramos de Souza, pela sua compentente revisão. Às Crianças e aos Adolescentes que nos ensinam no dia-a-dia deste trabalho, o nosso muito obrigado. SUMÁRIO Apresentação 1. Introdução ....................................................... 17 2. Justificativa .................................................... 19 3 . Integração dos Conceitos e Nomenclaturas ................ 23 4 . Conceito e Classificação dos Maus Tratos .................... 27 5 . Efeitos a Curto, Médio e Longo Prazos da Violência na Saúde Biopsicossocial da Criança e do Adolescente ...................... 31 6. Assistência Humanizada na Rede de Saúde: Um novo Olhar ...... 35 6.1. Assistência Integral à Criança e ao Adolescente .......... 37 6.1.1. Suspeitar (anamnese, transtornos psicológicos e exame físico)....................................................39 6.1.2. Diagnosticar (diagnóstico diferencial)................ 57 6.1.2.1 Dificuldade no Diagnóstico ............................... 58 6.1.3. Exames Complementares/Apoio Laboratorial ........... 59 6.1.4 . Coleta de Material para Identificação do Agressor ......... 61 6.1.5. Investigar ................................................... 61 6.1.6. Assistir ...................................................... 62 6.1.7. Tratar ...................................................... 64 6.1.8. Proteger ..................................................... 71 6.1.9. Documentar ............................................... 73 6.1.10. Notificar .................................................. 73 6.1.11. Notificação para o Conselho Tutelar.................... 75 6.1.12. Orientar .................................................... 76 6.1.13. Apoiar/Acompanhar ..................................... 76 6.1.14. Encaminhar ............................................... 78 7 . Referências Bibliográficas ...................................... 81 Onde Encontrar Ajuda ............................................. 87 Núcleos de Assistência Jurídica Municipal ........................ 87 Conselhos Tutelares ................................................. 88 Anexos PREFÁCIO Por considerar a violência um problema de saúde pública, a atual gestão resolveu enfrentar a violência contra a criança e o adolescente de forma prioritária. O Setor Saúde, ao lado de outros setores governamentais e não governamentais, está comprometido em erradicar este grave problema e dá mais um passo à frente, na garantia dos direitos da criança e do adolescente, integrando as ações de promoção, prevenção e assistência á saúde. O estabelecimento de normas e rotinas orienta os profissionais de sáude quanto ao problema de violência. Esta ação caracterizase como mais um compromisso cumprido. A Secretaria de Saúde atua, de forma integrada, com outros setores municipais, promovendo intervenções positivas cujos alvos são a criança, o adolescente e suas famílias. Este documento é uma proposta de atuação positiva e a firmadora do compromisso profissional com a ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SÁUDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Concebido numa perspectiva de atuação multidisciplinar e intersetorial, este trabalho adota o conceito de saúde como qualidade de vida. Viver sem violência torna-se uma das prioridades nos dias atuais. A prevenção da violência bem como o cuidado a criança e a adolescentes vitimizados, com o objetivo da recuperação da saúde integral, são caminhos para a construção de uma cultura de paz. João Paulo Lima e Silva Prefeito da Cidade do Recife Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 14 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência APRESENTAÇÃO O modelo de Humanização da Rede de Saúde “Humanizando a Assistência à Saúde no Recife” tem como objetivo promover uma melhor qualidade na assistência prestada ao usuário da rede municipal de saúde. Para alcançar esse propósito, alguns desafios estão lançados com a adoção de alguns procedimentos, organizando rotinas e incorporando condutas acolhedoras, sobretudo, valorizando o trabalho dos profissionais que estão diretamente ligados aos usuários através da melhoria das relações interpessoais. Este guia é um reconhecimento do direito da criança e do adolescente a viverem sem violência, direito este previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e assegurado pela rede de assistência da cidade do Recife. Contribuindo efetivamente para o reconhecimento da responsabilidade dos profissionais de saúde na assistência à criança e ao adolescente vitimizados pelos maus tratos, incorpora a perspectiva de um atendimento multidisciplinar, integral, equânime, universal, humanitário, solidário e cidadão, possibilitando uma vida mais saudável às crianças, aos adolescentes e às famílias recifenses. Antônio da Cruz Gouveia Mendes Secretário de Saúde do Recife 15 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 16 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 1. INTRODUÇÃO A violência contra a criança e o adolescente é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, responsável por altas taxas de mortalidade e morbidade nessa faixa etária. Trata-se de uma população cujos direitos básicos são, muitas vezes, violados com prejuízo para seu desenvolvimento físico e mental. A real magnitude desse fenômeno ainda não é conhecida. Também é escasso o estabelecimento de normas técnicas e rotinas para a orientação dos profissionais de saúde frente ao problema de violência doméstica e sexual, gerando dificuldades para os profissionais diagnosticarem, registrarem, tratarem, acompanharem e notificarem os casos da violência, como medidas iniciais para um atendimento de proteção às vítimas e de apoio as suas famílias. É crescente o número de crianças e adolescentes que chegam à rede pública de saúde e às clínicas particulares como vítimas de maus tratos, de abuso físico, sexual, psicológico, de negligência ou de abandono. Os profissionais de saúde, preocupados com a garantia dos direitos de crianças e de adolescentes e comprometidos com a promoção da saúde da população, muitas vezes, têm dúvidas quanto à maneira mais correta de agir. Este guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência (Abordagem Multidisciplinar) organiza o fluxo do atendimento desde a Unidade de Saúde, porta de entrada do sistema, até os serviços de referência ambulatorial e hospitalar, com orientações detalhadas dos procedimentos que os profissionais de saúde devem adotar e as informações importantes a serem repassadas à criança, ao adolescente e à família. 17 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência O objetivo da Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com as parcerias constituídas para o enfrentamento do problema, é dar um passo à frente em relação à prevenção, enfrentamento dos maus tratos da criança e do adolescente, favorecendo uma ampla mobilização social, com a finalidade de modificar esse panorama perverso, promover hábitos saudáveis e uma cultura de paz, que é dever de todos os cidadãos, em especial dos profissionais de saúde. 18 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 2. JUSTIFICATIVA O direito à saúde é um direito social; a conquista do direito à saúde tem reforçado a conquista de outros direitos. Entendendo que o conceito de saúde vai além da assistência e do tratamento das doenças, envolve, também, as condições de moradia, trabalho, educação, esporte, lazer, meio ambiente, segurança, justiça e cultura. Nas últimas décadas, o tema “Violência” ganha prioridade no setor saúde e apresenta-se como um importante fator de morbimortalidade. Considerada como um sério problema de saúde pública, apresenta-se de diversas formas, na sociedade e atinge, de maneira diferenciada, os diversos grupos populacionais. Silvermam e Kempe, médicos americanos, foram os responsáveis pela reintrodução dessa temática na esfera da atenção médica, ao reconhecerem a síndrome da criança espancada no ano 1961, com base em achados radiológicos de múltiplas fraturas ósseas. Outro fator relevante foi a repulsa social da violência sexual, iniciada nos EEUU, que se tornou visível com o movimento feminista, na década de 70. Essa captação do problema pela medicina se dá justamente num momento em que a sociedade reconhece a relação entre os problemas enfrentados na vida adulta e os sofrimentos durante a infância, através do conhecimento da psicologia e da psicanálise. (ASSIS, 1999) Um grande passo na garantia da proteção à infância e à adolescência no Brasil foi dado em 1990 com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que fortaceleu a política para a infância e a adolescência em consonância com os princípios constitucionais, criando as pré-condições para que meninos e meninas fossem criados de forma mais saudável e respeitosa, e não mais, como propriedade dos pais. 19 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência No ECA, o atendimento à criança e ao adolescente tem prioridade absoluta por parte da família, da sociedade e do Estado. O papel do setor de saúde e do setor educacional assume incumbências específicas: identificar, notificar a situação de maus tratos e buscar formas (e parceiros), para proteger a vítima e dar apoio à família. Nele os artigos do Capítulo I, que tratam dos direitos fundamentais garantidos às crianças e aos adolescentes, abordam a proteção à vida e à saúde, desde a sua concepção, determinando as ações que devem garantir o atendimento à gestante e o acesso irrestrito dos meninos e meninas aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde através do Sistema Único de Saúde – SUS (art 11). Para intervir na problemática da violência, é realmente necessário ter uma visão mais ampla no que concerne ao entendimento de suas causas. Para que possamos atuar nessa temática, é preciso agir racionalmente, a fim de que ações de enfrentamento sejam implantadas. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE - M.S., 2002) A violência só é valorizada e tem visibilidade na mídia e na sociedade quando ela nos agride, porém essa forma preconceituosa prejudica o conhecimento da real magnitude do problema. Outro artigo do ECA, muito importante para informar a atuação dos profissionais da saúde, o art. 13, orienta os encaminhamentos a serem dados pela equipe de saúde: os casos de suspeitas ou confirmação de maus tratos devem ser obrigatoriamente comunicados aos Conselhos Tutelares da respectiva localidade. A obrigatoriedade de notificação está assegurada, também, pelos Conselhos de Classe, a despeito do receio de muitos profissionais de saúde que se omitem, alegando sigilo profissional. (BRASIL, M.S., 2002) Ao tratar a violência como um problema de saúde, o setor reconhece que esse fenômeno é um grave problema social que causa agravos à saúde, como problemas físicos 20 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência (lesões e traumas) e ou emocionais (a curto, médio e longo prazo) que devem ser assistidos por meio de técnicas terapêuticas convencionais. De outro lado, é importante incluir, nessa atenção, as ações de promoção e prevenção próprias da saúde coletiva. São fundamentais os procedimentos de identificação precoce e controle de situações de risco, de acompanhamento de grupos mais vulneráveis e de articulação e apoio aos familiares, como os serviços públicos existentes, e com organizações não governamentais, parceiras que atuam na implementação de políticas sociais inclusivas e protetivas. Analisando os dados de mortalidade por causas externas no Recife, observa-se que, a partir de 1985, as causas externas passaram a ocupar a segunda posição como causa geral de morte, representando cerca de 14% das mortes ocorridas entre os recifenses no ano de 1999 e a primeira causa de morte entre adultos jovens na faixa etária de 14 a 39 anos, revelando a face cruel da violência na Cidade do Recife, com números considerados alarmantes e com tendência histórica de crescimento, reflexo das iniqüidades sociais a que a população está submetida (DIEVS – Recife, 2002). Os agressores são pessoas que interagem com a vítima; no convívio familiar cotidiano, em 80% dos casos, são os Pais Biológicos, seguindo-se de padrasto entre outros membros do convívio, como avós, tios, irmãos mais velhos, vizinhos. (DPCA de 2002) Esses dados evidenciam a importância do tema e colocam em pauta a necessidade da organização de serviços e fluxos sistematizados para atenção integral, considerando as diferentes demandas pertinentes à saúde, educação, assistência social, jurídica tanto na área de prevenção quanto na área da assistência. Os serviços de saúde devem estar aptos a prestar atendimento à vítima com profissionais capacitados, equipados com instruções, linha telefônica de emergência, protocolos e demais recursos necessários, para disponibilizar à população e informar quanto à continuidade do atendimento. 21 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Dessa forma, o setor saúde deve acolher as vítimas solidariamente, buscando proteção integral da criança e do adolescente, minimizando a dor e evitando a repetição dos exames na perspectiva da não revitimização. Os profissionais de saúde devem estar capacitados a detectar riscos e a identificar precocemente as possíveis vítimas. 22 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 3. INTEGRAÇÃO DOS CONCEITOS E NOMENCLATURAS Historicamente o conceito de violência vem sendo ampliado em decorrência da maior conscientização a respeito do bem-estar da criança e do adolescente, de seus direitos e do maior conhecimento dos efeitos deletérios que a violência exerce sobre o seu desenvolvimento físico e mental. Para o enfrentamento da violência, torna-se imprescindível a integração das diversas áreas envolvidas, como saúde, segurança pública, jurídica, assistência social, educação, cultura, entre outras. Para que seja possível a realização de trabalhos integrados, é necessário existir a compatibilização desses conceitos, de modo que sejam consolidadas as informações para uma intervenção articulada. Assim foram aqui relacionados conceitos, para se viabilizar a operacionalização de fluxos integrados de atuação no enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes. I - Violência Social – é um fenômeno complexo, caracterizado por ter uma forte carga cultural. Para ser mais abrangente, substitui o termo maus tratos muito utilizado, para fazer referência à violência cometida contra crianças e adolescentes no âmbito familiar, institucional ou pela sociedade. (NATAL, SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA - SESP, 2002) De acordo com a Política Nacional da Morbimortalidade por Acidentes e Violências do MS: “Os acidentes e as violências resultam de ações ou omissões humanas e de condicionantes técnicas e sociais. Ao considerar que se trata de fenômeno de conceituação 23 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência complexa, polissêmica e controversa, este documento assume como violência o evento representado por ações ou omissões realizadas por indivíduos ou grupos, classes, nações, que ocasionam danos físicos, emocionais, morais e espirituais a si próprio ou aos outros”. (BRASIL, M.S., 2001) II - Violência Estrutural – é aquela que incide sobre a condição de vida das crianças e dos adolescentes, a partir de decisões históricoeconômicas e sociais, tornando ainda mais vulnerável o seu crescimento e desenvolvimento. Por ter um caráter de perenidade e se apresentar sem a intervenção imediata dos indivíduos, essa forma de violência aparece “naturalizada” (Minayo, 2002). Essa violência se expressa pelos 20 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, vivendo com renda familiar de até ½ salário mínimo per capita. A alta taxa de analfabetismo funcional (menos de 4 anos de estudo) dos adolescentes entre 15 e 17 anos é de 20,2 %,agravando-se no Nordeste, que passa para 39,2% de analfabetos funcionais adolescentes. (IBGE, 1997) III - Família - considerada como a célula da sociedade, a família é constituída por um grupo de pessoas com vínculos afetivos, de consangüinidade ou de convivência. Por ser o primeiro núcleo de socialização dos indivíduos, formando as personalidades e o conteúdo emocional de seus membros, a família é peça de fundamental importância na contextualização social, pois, famílias d e s p r e p a ra d a s p a ra c o m p r e e n d e r, a d m i n i s t ra r e suportar seus temores e conflitos, têm forte tendência a formarem pessoas violentas. (NATAL, SESP, 2002) 24 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência IV - Bullying - é um conceito utilizado para definir maus-tratos entre iguais ou violência interpessoal entre iguais. Ainda, sem tradução para o português, o termo bullying é um fenômeno definido por três características: a intencionalidade, o prolongamento e o tempo, gerando desequilíbrio de poder físico, psicológico e social entre os implicados. (GENEVAT , 2002) V - Pedofilia - um desvio no desenvolvimento da sexualidade, caracterizado pelo desejo sexual por crianças e adolescentes, de forma compulsiva e obsessiva. VI - Violência Intrafamiliar e Violência Doméstica - violência intrafamiliar é definida como sendo toda ação ou omissão que cause prejuízo ao b e m - e s t a r, à integridade física, psicológica ou à liberdade e ao direito do pleno desenvolvimento de outro membro da família. Pode ser cometido dentro ou fora da casa por algum membro da família, incluindo-se as pessoas que possam assumir a função paternal mesmo sem laços de consangüinidade e em relações de poder à outra. Difere da Violência Doméstica, pois esta inclui outros membros do grupo, sem função paternal, que convivem no espaço d o m é s t i c o , in c l u i n d o - s e , a í , e m p r e g a d o s ( a s ) , agregados e pessoas que compartilham o mesmo espaço esporadicamente. (NATAL, SESP, 2002) Essa violência vem afetando a qualidade de vida de milhares de crianças e jovens. Em nosso país, formas agressivas e cruéis de relacionar são freqüentemente usadas por pais, educadores e responsáveis por abrigos ou internatos como 25 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência estratégias para disciplinar crianças e adolescentes. Mas, se reconhece cientificamente que essa mentalidade e esse tipo de atuação, além de serem contraproducentes, são nocivos. Bater, ferir, violar, menosprezar, humilhar, negligenciar, abandonar e abusar são atitudes que não devem ser usados no trato da infância e da adolescência por vários motivos, ora expostos. Quando a violência se estabelece no interior das famílias ou na convivência social, é preciso denunciá-la, desnaturalizá-la, tratando-a como um problema a ser resolvido, buscando alternativas de trabalho com os conflitos. A busca de resolução dos conflitos deve ser estimulada, dando oportunidade ao diálogo e ao exercício da tolerância. No caso das crianças e dos adolescentes, geralmente os pais responsáveis e os adultos tendem a acabar com as divergências de idéias, comportamentos e com o conflito de gerações, por meio da dominação adultocêntrica, da imposição de sua vontade ou por meio de gestos/atitudes violentas. (BRASIL, MS, 2002) Os profissionais de saúde devem estar atentos para o fato de que não é só a violência intrafamiliar e doméstica que afeta os meninos e meninas, pois a violência social é muito mais ampla. Por exemplo, uma das suas manifestações mais perversas se dá na institucionalização, na qual o afeto, o carinho, o respeito à sua vontade são substituídas pelo regulamento disciplinar, pelo treinamento massivo, e às vezes, pela repressão, ou até, pela tortura. Em especial, também preocupa a situação do trabalho doméstico, que retira muitas crianças da escola, diminuindo suas expectativas sociais.(MINAYO,2002) Muitas vezes, a criança/adolescente é vitimizada através de mais de um tipo de violência. Apenas, como forma didática, abordaremos aqui alguns tipos. 26 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 4. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS MAUS TRATOS “Define-se o abuso ou maus-tratos pela existência de um sujeito em condições superiores (idade, força, posição social ou econômica, inteligência, autoridade) que comete um dano físico, psicológico ou sexual, contrariamente à vontade da vítima ou por consentimento obtido a partir de indução ou sedução enganosa.” (DESLANDES, 1999) Negligência / Abandono É o ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente em prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento. Além da negligência de pais ou responsáveis, o Estado pode ser considerado negligente em não proporcionar aos pais condições ou informações necessárias à criação de seus filhos. O abandono, tipo de violência que pode ser considerada como uma forma extrema de negligência, refere-se à ausência física do responsável pela criança/ adolescente. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA SBP, 2001) Abuso Físico É o uso de força física de forma intencional, nãoacidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou adolescente, com o objetivo de ferir, danificar ou destruir essa criança ou adolescente, deixando ou não marcas evidentes. (DESLANDES, 1999) A violência física é de longe a mais denunciada por 27 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência ser a mais visível, a mais fácil de ser conceituada e identificada. Abuso Sexual na Infância ou na Adolescência É compreendido como qualquer contato sexual, ato ou jogo sexual, envolvendo relações hetero ou homossexuais, em que o agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança/ adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la, para obter satisfação sexual. (DESLANDES, 1999) Formas de abuso sexual contra criança/adolescente: carícias e manipulação dos órgãos genitais, masturbação, voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos, relação sexual com ou sem penetração (estupro). Engloba, ainda, a situação de exploração sexual, visando a lucros, como é o caso da prostituição e da pornografia. O abuso sexual é cercado pelo “muro do silêncio”, construído pelo abusador, para garantir-lhe a impunidade e a continuação do abuso. ( MONTEIRO FILHO, ABREU, 1997) É provável que, por trás dos casos de violência física, existam violência psicológica, negligência e abuso sexual. Por isso, durante qualquer atendimento, o profissional de saúde deve estar atento para suspeitar que está diante de uma criança/adolescente vitimizada e, em caso de confirmação de um tipo de violência, suspeitar de outros tipos. Estupro É definido pelo código penal de 1940 como sendo a penetração vaginal do pênis mediante violência ou grave ameaça. Essa definição é considerada restrita e encontrase em recurso, devendo, portanto, o conceito de estupro 28 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência ser atualizado com a seguinte definição, concepção: “todo ato de penetração oral, anal ou vaginal, utilizando o pênis ou objetos e cometida à força ou sob ameaça, submetendo ao uso de drogas ou ainda quando esta for incapaz de ter julgamento adequado. (PINTO, WINDT, SIQUEIRA, 2001) Atentado Violento ao Pudor “ Constranger alguém, mediante violenta ou grave ameaça, a permitir que com ele pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal...” O código de 1940 acrescenta a expressão “presenciar”. Tanto o homem como a mulher, independente de idade, são sujeitos passivos desse crime. Abuso Psicológico Refere-se à interferência negativa do adulto sobre a criança e sua competência social como forma de um padrão de comportamento destrutivo. ( ASSIS, 1999) Consiste em toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança e punição exageradas, isolamento, aterrorização por meio de opressões verbais, indução à prostituição, ao crime e ao uso de drogas, de tal forma que cause danos profundos na sua estruturação mental. (GARBARINO COLS, 1988) Pela falta de materialidade do ato que atinge, sobretudo, o campo emocional e espiritual da vítima, pela falta de evidências imediatas de maus tratos, esse t i p o d e v i o l ê n c i a é um d o s m a i s d i f í c e i s d e s e r identificado. No entanto, um novo olhar humanizado, sensível, do profissional e da equipe de saúde pode percebê-lo freqüentemente articulado aos demais tipos de violência. 29 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Exploração do Trabalho Infantil O trabalho infantil é o uso de mão-de-obra da criança e do adolescente com menos de 16 anos em qualquer atividade econômica e em situações prejudiciais ao desenvolvimento físico, mental, moral e à escolarização (TAVARES, 2002). Tendo o trabalho infantil suas mais fortes raízes nas desigualdades sociais (desemprego, baixos salários etc.), existe ainda o aspecto interpessoal desse tipo de violência. 30 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 5. EFEITOS A CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE BIOPSICOSSOCIAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Não se pode considerar isoladamente nenhum desses efeitos, entendendo que cada um deles pode caracterizar diferentes etapas do desenvolvimento da criança e do adolescente. O profissional de saúde deve estar alerta para observar a ocorrência de um ou mais desses efeitos concomitantemente, avaliando a possibilidade de ser mais eventual do que sistemático e considerar a etapa do desenvolvimento psicossocial em que a criança e o adolescente se encontram. Efeitos a curto prazo As primeiras reações são atitudes de choque e incredulidade; sentimentos de vergonha, culpa, ansiedade, medo, raiva, isolamento, desamparo; comportamentos confusos e de extrema agitação, pesadelos, terror noturno e alterações do hábito alimentar. Essas reações, muitas vezes, são expressadas por comportamentos de choro, inquietação e tensão. Tornam-se mais evidentes os efeitos apresentados pela vítima quando se trata de casos agudos (não insidiosos) e graves, quando o comportamento da vítima fica mais perceptível para o profissional de saúde. Um exemplo clássico é o estupro, caso em que a vítima apresenta claramente sinais do stress pós-traumático. (GARBARINO, 1988) A identificação desses sinais favorece o diagnóstico, viabilizando a adoção de medidas de proteção contidas no ECA bem como a adequada assistência à saúde. 31 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Efeitos a médio e longo prazos da violência Comportamento autodestrutivo, ansiedade, sentimentos de isolamento e estigmatização, baixa autoestima, dificuldade em acreditar em outras pessoas, tendência à futura revitimização, comportamento sexual desajustado, problemas psicológicos, uso de álcool freqüentemente e outras drogas. Observam-se na criança vitimizada atitudes de crueldade com crianças menores e animais. O espectro da severidade depende de como ocorreu esse abuso, quem é o agressor, a idade do agressor e da vítima, o tempo que vem ocorrendo o abuso e, ainda, em sendo revelado, se a criança foi acreditada e como a família e a sociedade estão mobilizadas para o enfrentamento. (HOBBS, HANKS, WYNNE, 1990) Ressaltaremos abaixo alguns efeitos do abuso sexual, por estes causarem mais freqüentemente danos à estruturação da personalidade da pessoa em desenvolvimento. Efeitos do abuso sexual de acordo com a faixa etária Pré-escolar – 0 a 5 anos 1. Pesadelos ligados a lugar, pessoa, objetos, incluindo movimentos físicos repetitivos ou vocalizações da experiência do abuso sexual. 2. Erotização prematura: expressa em atitudes e comportamentos ligados à (ao) a) preocupação com genitais; b) procura repetitiva de outros parceiros para “brincar” de sexo; c) excessiva ou indiscriminada masturbação com ou sem objetos; 32 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência d) precocidade na esfera sexual (conversa sobre sexo, vestuário erotizado); e) comportamento sedutor; f) sexualização nas brincadeiras com bonecas. 3. Aterrorização: a) superdeterminação negativa quanto ao despir-se; b) resposta com ansiedade a específico comportamento pessoal; c) medo inexplicado de um pessoa, de um local ou de um objeto; d) fenômeno dissociativo. Escolar – 6 a 11 anos 1.Agressão sexual e coerção com outra criança 2.Vestimentas inadequadas para a idade (eróticas) 3.Fuga do lar 4.Exploração Sexual e/ou Prostituição 5.Uso de drogas 6.Comportamento autodestrutivo 7.Acidentes repetidos 8.Tentativas de suicídio 9.Exposição a situações de risco à saúde e à vida Adolescentes – 12 a 18 anos 1 . Extrema inibição sexual 2 . Hipersexualização 3 . Gravidez (como resultado de estupro ou de promiscuidade e de exploração sexual) 4 . Promiscuidade sexual 5 . Exploração Sexual e/ou Prostituição 6 . Uso de Álcool e de drogas 7 . Rebeldia excessiva 8 . Abandono do lar 9 . Automutilação 10.Tentativas de suicídios 33 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 34 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 6. ASSISTÊNCIA HUMANIZADA NA REDE DE SAÚDE: Um Novo Olhar Baseada nos princípios da humanização do atendimento e da integralidade das ações, em que a equipe de saúde deve viabilizar não somente uma atenção adequada e eficaz mas, sobretudo, ética e segura, garantindo o sigilo e a proteção; a intervenção, sem aumento do dano, respeitando o tempo, o ritmo e a decisão da pessoa. Cabe à equipe de saúde oferecer o suporte e as informações necessárias, para que a vítima possa compreender o processo que está vivendo, salvo em situações de risco iminente ou quando a vítima não tenha capacidade de tomar decisões, como é o caso de crianças e de alguns adolescentes. É fundamental estabelecer um vínculo de confiança institucional, pautar-se pela ética, preservando o sigilo e garantindo a segurança das informações. O Sigilo e a Proteção à Vítima O sigilo tem o objetivo de preservar a criança/ adolescente da estigmatização e da exposição tão comuns nos casos de violência. O atendimento multidisciplinar requer que informações sejam compartilhadas, devendo o profissional disponibilizar estritamente os dados relevantes à assistência, incluindo a proteção do cliente. (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL - CFSS, 1993; CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP, 1987) A violência contra a criança e o adolescente freqüentemente é perpetrada por familiares, devendo o profissional ficar atento à maneira e ao momento de abordar a família a esse respeito, resguardando a confiança e a 35 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência segurança da criança/adolescente. (CFSS, 1993) O sigilo profissional tem sido motivo de conflito no momento da notificação de maus tratos contra crianças e adolescentes. Porém os códigos de ética de enfermagem, medicina, psicologia e serviço social são unânimes ao considerar dever do profissional a proteção de seus clientes de situações graves, gerando o imperativo para sua consciência à notificação do fato. Portanto, configura-se como justa causa a revelação do sigilo profissional, quando da comunicação à autoridade competente, de maus tratos sofridos por crianças e adolescentes. (CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM - COREN, 199_; CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA, 1988; CFP, 1987; CFSS, 1993) Qual é a Competência das Unidades e dos Profissionais de Saúde? As unidades de saúde (US) caracterizam-se como a porta de entrada preferencial dos episódios de violência. Devem, portanto, assegurar a integralidade do atendimento, criar mecanismos de encaminhamentos oportunos, referência e contra-referência, como: - estabelecer fluxo de atendimento; - informar a clientela sobre o que será caracterizado em cada atendimento; - identificar as situações de violência e acolher as vítimas; - implementar o trabalho em equipe; - garantir a necessária privacidade durante o atendimento, estabelecendo um ambiente de confiança recíproca; - registrar as informações no prontuário do usuário, relatando o fato ocorrido, agregar quando, onde e como aconteceu; - preencher devidamente o prontuário, registrando tratamento específico das lesões físicas, carências nutricionais; DST/AIDS/- contracepção de Emergência e outras patologias; - informar e encaminhar para o atendimento no Centro de 36 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Referência para assistência integral à criança e ao adolescente, quando necessário; - orientar sobre a medicação indicada, prevenção e tratamento; - incluir o tema violência nas ações educativas promovidas pela U.S.; - acompanhar a equipe multidisciplinar; - atender e avaliar a família; - preencher a ficha de Notificação de Maus Tratos contra a Criança e o Adolescente - informar ao Conselho Tutelar; - realizar o pré-natal nos casos de gravidez decorrente de estupro com acompanhamento psicológico e social; - nos casos em que a adolescente gestante optar por dar a criança para adoção, realizar o pré-natal com acompanhamento psicossocial e encaminhar à vara da infância e da juventude, para iniciar o referido processo; - agendar retorno ou visita domiciliar juntamente com a equipe de saúde da família, para o acompanhamento do caso, garantindo a continuidade do atendimento; - fazer orientações dos diversos métodos contraceptivos. 6.1. Assistência Integral à Criança e ao Adolescente Freqüentemente, os profissionais de saúde são os primeiros a serem informados sobre episódios de violência. O motivo da busca do atendimento, muitas vezes, não é declarado, ficando mascarado por outros problemas e sintomas que não se configuram, isoladamente, em elementos para um diagnóstico. O sistema de saúde interage com a criança e o adolescente em situação de risco e sua família, desde a rede básica aos serviços de maior complexidade. Por isso, 37 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência os profissionais de saúde estão em situação privilegiada para identificar e acolher a criança e o adolescente vitimizados e sua família. É importante que os profissionais que lidam com o tema tenham a perspectiva do que é possível fazer no campo da assistência à saúde. As ações que envolvem essa assistência devem ser integradas, equânimes, universais, de caráter transdisciplinar, descentralizado, intersetorial, respeitando os direitos da criança e do adolescente. As vítimas de violência intrafamiliar e doméstica são, principalmente, as crianças, adolescentes, mulheres e idosos, que, na maioria das vezes, se sentem culpados de serem responsáveis pelos atos violentos, percepção que a sociedade reforça com suas atitudes julgadoras. É de responsabilidade do profissional de saúde estar atento para a possibilidade de um membro da família estar praticando ou sendo vítima da violência, mesmo que à primeira vista não haja indicações para suspeitas. Deverão s e r r e a l i z a d a s v i s i t a s d o m i c i l i a r e s , aplicados questionamentos indiretos ou diretos dirigidos a alguns membros da família, resguardando a ética e o sigilo necessários a essas questões. O que cabe à equipe de saúde A equipe de saúde deve estar sensibilizada para o tema, adquirir conhecimento e refletir sobre os mitos e preconceitos, para que o atendimento seja prestado sem julgamento, tendo a criança e o adolescente como centro de suas ações. Só assim o profissional estará preparado para desenvolver, na prática, as seguintes ações: - suspeitar /diagnosticar; - investigar; - assistir; - tratar; 38 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência - proteger; - acolher; - documentar; - notificar; - orientar; - apoiar /acompanhar; - encaminhar. 6.1.1. Suspeitar (anamnese, transtornos psicológicos e exame físico) A suspeita de maus tratos contra a criança e o adolescente surge geralmente, no momento em que se procede à anamnese ou no decorrer do exame físico. Cabe ressaltar que, na maioria das vezes, as vítimas não possuem evidências físicas de maus tratos. Sendo assim, a anamnese completa, juntamente com todas as outras evidências apresentadas pela equipe multiprofissional que está cuidando do caso, pode desvendar o quebra-cabeça e constituir um diagnóstico. Muitos dos sinais e sintomas relacionados aos maus-tratos são inespecíficos, tornando-se necessário contextualizar cada situação que se apresente, especialmente nos casos de violência sexual. Em cerca de 80% dos casos, o abusador é um dos pais ou pessoas com algum laço afetivo com a família da vítima e conhecidos da criança. As vítimas são, em geral, do sexo feminino em caso de abuso sexual, e os abusadores, do sexo masculino. Falsas d e n ú n c i a s d e a b u s o t a m b é m p o d e m o c o r r e r, principalmente entre casais em litígio, porém essas situações não são tão comuns quanto se imagina, principalmente nos casos de abuso sexual, em que menos de 6% dos casos notificados foram 39 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência identificados como falsos. (MONTEIRO FILHO, ABREU, 1999) Um Novo olhar na Anamnese É importante acreditar no que a criança diz. Na Assistência Integral à Saúde de Crianças e de Adolescentes, a anamnese é considerada etapa fundamental diante da complexidade que envolve a manifestação clínica da violência. A identificação dos casos nos serviços de saúde deve ser feita por meio de um novo olhar, mais sensível e crítico, de seus profissionais. Esses, uma vez capacitados, poderão captar precocemente os casos, evitando o prolongamento do sofrimento e promovendo a redução dos danos, provocados no corpo e na mente da criança e do adolescente. Entretanto, essa questão não tem sido suficiente e sistematicamente tratada na maioria dos currículos de graduação, o que confere dificuldades no diagnóstico e no acompanhamento dos casos. A abordagem à criança e ao adolescente vitimizados e sua família deve ser realizada em local privado, evitando a exposição do caso desnecessariamente e favorecendo uma relação de confiança com o interlocutor. Portanto, mesmo para perguntas e informações breves, deve-se evitar a abordagem na qual não seja possível a privacidade necessária, como portarias, corredores, etc. Na anamnese, devem ser valorizados e observados os seguintes aspectos: - história incompatível com as lesões existentes (lesões relacionadas a um fato acidental ou a uma atitude da própria vítima que não condiz com a gravidade do caso); - a criança ou o adolescente acompanhado por adulto que a(o) aponta como um problema, que não permite que ele/ 40 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência ela responda às perguntas, controlando-os com palavras, olhar ou contenção física; - pouco conhecimento por parte do responsável sobre a situação de saúde do paciente; - relatos discordantes quando se entrevistam os responsáveis separadamente; - supostos acidentes ocorridos de forma repetitiva e/ou com freqüência acima do esperado – geralmente atribuidos à suposta hiperatividade, má índole e desobediência da criança; - problemas maternos relacionados à gravidez, mãe solteira, gravidez indesejada, não comparecimento às consultas de pré-natal, tentativas frustradas de abortamento, separação do casal, mães adolescentes sem suporte psicossocial, falta de apoio da família e de recursos materiais adequados; - relato dos pais sobre experiências próprias de terem sofrido alguma forma de violência na infância, alcoolismo, uso de drogas, isolamento social, etc; - sintomas de dores crônicas sem causa aparente, dor pélvica crônica, infecções urinárias de repetição, sem etiologia definida, leucorréias, DSTs; - múltiplas visitas ao serviço de saúde com sinais e sintomas de ansiedade e/ou depressão; - história de depressão, distúrbio do apetite, distúrbio do sono, da fala, uso de álcool, drogas, tentativa de suicídio, problemas de saúde mental; - criança/adolescente ansioso, disperso, com dificuldade de concentração, baixo rendimento escolar; - atraso no crescimento / desenvolvimento, baixo peso; - enurese e ou ecoprese acima dos 7 anos, quando não há nenhum problema orgânico; - acompanhamento à saúde inadequado/não cumprimento do calendário vacinal, não seguimento das recomendações médicas, internações freqüentes, comparecimento irregular ao serviço de saúde para acompanhamento; - freqüência irregular à escola, escolaridade inadequada à idade, não participação dos pais nas tarefas escolares. 41 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Exame Físico A violência contra crianças e adolescentes apresentase sob diversas formas tanto que um sintoma ou sinal isolado não permite afirmar sua existência. Por isso, é fundamental o olhar atento e, ao mesmo tempo, crítico sobre a atuação da equipe de saúde frente aos problemas identificados. - O respeito ao pudor da criança/adolescente deve ser mantido, mesmo quando se tratar de crianças pequenas. O local, onde será realizado o exame, deve permitir a privacidade necessária. - Deve-se evitar a exposição excessiva da criança, e o exame deve ser realizado apenas uma vez, evitando repetições que podem acarretar uma dupla vitimização. - O exame deve ser sempre realizado na presença de um dos responsáveis. - As crianças maiores devem ser esclarecidas previamente sobre os procedimentos que serão realizados. - Deve-se proceder a um exame físico completo, e não, compartimentalizado. As lesões por maus tratos físicos são mais comumente identificadas na pele e nas mucosas, em seguida no esqueleto, no sistema nervoso central e nas estruturas torácicas e abdominais. Em casos de suspeita ou confirmação de abuso sexual, deve-se dar uma atenção especial para as áreas usualmente envolvidas em atividades sexuais: boca, mamas, genitais internos e externos. As lesões, observadas durante o exame físico, incluem desde hiperemia, escoriações, equimoses, hematomas, fraturas, até queimaduras do III grau. Presença de DSTs, cuidado com o corpo, dente, roupa e outros devem ser observados, como veremos a seguir: 42 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Observar Pele e Mucosas - Contusões, abrasões, principalmente na face, lábios, nádegas, braços e dorso. · Equimoses em diversas partes do corpo em diferentes estágios de evolução (coloração, espectro). - Lesões que reproduzam a forma do instrumento utilizado para agressões (fivelas, cintos, dedos, mordeduras, cigarros, garfo, etc.); - Alopécia resultante de arrancamento brutal e repetido dos cabelos. - Região do pescoço, impressões digitais, (tentativa de enforcamento), equimoses, “love bite” (beijos com sucção), marcas de corda no pescoço. - Cavidade oral (infecções crônicas de garganta). Foto 1 (ABC of Child Abuse, UK 1997) - Criança de 4 anos de idade, trazida ao hospital com fratura de fêmur. O pai relatou que ela havia caído de uma escada. No outro dia, ela contou para a enfermeira que o pai havia dito que nunca mais faria aquilo. 43 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 2 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - Criança de 5 anos de idade, do sexo masculino, apresentando lesões de queimaduras de diferentes tempos de ocorrência. Fotografia mostra na nádega direita extensiva queimadura, demonstrando padrão de grill. Foto 3 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - Criança de 3 anos atendida no serviço ambulatorial, porque tinha levado uma queda com um irmão no colo, apresentando esquimose na testa. Foto mostra lesões de queimaduras por contato com ambas as pernas em diferentes estágios de cicatrização. 44 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 4 (ABC of Child Abuse, UK 1997) - Criança de 3 anos de idade, apresentando múltiplas esquimoses. A foto mostra áreas de alopécia traumática (sinal de abuso físico e/ou sexual). Foto 5 (ABC of Child Abuse, UK 1997) Criança de 3 anos, apresentando uma equimose devido a um beliscão. 45 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 6 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) Criança foi trazida ao hospital pelo vizinho que relatou ter escutado gritos durante a noite. A foto mostra a marca causada pela corda que amarrava a criança à sua cama. Foto 7 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - Criança de 5 anos atendida com história de abuso emocional, físico e sexual. A foto mostra abrasão rodeando o pescoço, tendo uma aparência de lesão provocada por corda. 46 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 8 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) Criança de 4 anos com história de abuso sexual em casa. A foto mostra múltiplas equimoses petequiais no pescoço, ocasionadas por beijo com sucção (“ love bite” ). Foto 9 (ABC of Child Abuse, UK 1997) - Criança atendida com história de abuso sexual. A foto mostra equimose petequial no palato à procura de sinais de ocorrência de sexo oral. 47 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Esqueleto e Sistema Nervoso Central - Fraturas Múltiplas inexplicadas em diferentes estágios de consolidação (lesões típicas da síndrome da criança espancada); - Fraturas de costelas em menores de 2 anos; - Fraturas espiralares e fraturas transversais em ossos longos em lactentes; - Fraturas de crânio ou traumatismo craniano por choque direto ou sacudidas vigorosas (síndrome do bebê sacudido), concomitantes com edema cerebral, hematoma subdural e hemorragia retiniana, podendo manifestar-se por convulsões, vômitos, cianose e apnéia; Hematomas subperiosteais em diferentes estágios (síndrome do bebê sacudido). Foto 10 (ABC of Child Abuse, UK 1997) - Criança de 6 semanas de idade; a foto revela uma fratura no osso perietal. O pai relatou que ela havia caído, porém uma fratura mais antiga foi evidenciada, tornando a história relatada inconsistente. 48 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 11 (ABC of Child Abuse, UK 1997) Hemorragia retiniana numa criança vítima de abuso físico. Pequenas setas indicam hemorragias em forma de chamas. As setas maiores indicam manchas hemorrágicas intra-retinianas. Retinose não traumática pode ser vista neste paciente. A B C D Foto 11.1 - (ABC of Child Abuse, UK 1997) - Mancha hemorrágica intra-retiniana - Hemorragia superficial em formato de chama - Hemorragia pré-retiniana (vasos obscuros) - Retinose traumática 49 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Lesões Torácicas e Abdominais - As lesões torácicas são pouco freqüentes, e, quando acontecem são decorrentes de compressão ou por tração violenta, (pneumotórax e hemotórax); - Fraturas de costelas em menores de 2 anos, em esterno e na clavícula; - As lesões viscerais abdominais são pouco freqüentes, geralmente ocorrem em crianças acima de 2 anos. Percebem-se sinais sugestivos de lesão intra-abdominal, como hematomas intramurais (duodeno e jejuno). - Ruptura subcapsular de rim e baço, trauma hepático ou mesentérico que demandem intervenção cirúrgica de urgência. Transtornos gênito-urinários - Deve-se proceder a um exame físico completo, com atenção especial para áreas usualmente envolvidas em atividades sexuais: boca, mamas, genitais internos e externos, região perineal, nádegas, ânus. - Examinar a genitália externa e região anal, separar os lábios e visualizar o intróito vaginal. Fazer a tração, segurando os grandes lábios, fazendo um discreto movimento para trás, o que permitirá uma melhor visualização do orifício himenal. Em caso de lesão grave, laceração de hímem, fúrcula, parede vaginal, o espéculo deverá ser utilizado para visualizar a vagina, suas paredes,o fundo de saco e o colo uterino. - Examinar as lesões localizadas no pênis e a bolsa escrotal (corrimento uretral, verrugas, etc.) Em caso de crianças, esse procedimento deverá ser feito em ambiente adequado, devidamente equipado com suporte para analgesias e realização de todos os procedimentos padronizados. O b s e r va r p r e s e n ç a d e d o r, s a n g ra m e n t o , infecções, corrimento, equimoses, cicatrizes, 50 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência hiperemia, erosões, assaduras, fissuras anais, interrupções das pregas anais, tônus do esfíncter anal, reflexo anoretal prolongado, atenuação do tecido himenal ou ausência, dilatação himenal (orifício do hímen maior do que seria esperado para a idade). A cooperação durante o exame é fundamental para se fazer um exame adequado; deve-se explicar à criança e ao adolescente o que está acontecendo, as etapas do exame e favorecê-lo(a) a ter o controle da situação e pedir ajuda. Alguns médicos realizam o toque retal para avaliar o tônus do esfíncter e colocam o espéculo para melhor visualização; em geral, esse procedimento não deve ser realizado. 51 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 12 - (Physical signs of sexual abuse in children, UK 1997) Anatomia e nomenclatura da vulva pré-puberal Foto 13 (Physical signs of sexual abuse in children, UK 1997) - Posição para examinar - fazendo delicada tração com o dedo polegar e indicador. 52 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 14 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) Criança de 3 anos no acompanhamento pediátrico com suspeita de abuso sexual. A foto mostra uma pequena laceração à vista na porção distal do pênis. Provável escoriação com unhas. Foto 1 5 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - A foto mostra criança de 5 anos que relatou a sua professora dor na região anal e mostrou uma equimose na coxa duas semanas após o relato. 53 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 16 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - A foto mostra criança de 5 anos com sangramento, com diminuição da orla himenal, rotura indo até a parede vaginal posterior, vestíbulo e fúrcula. Foto 17 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - Criança de 2 anos do sexo feminino. A foto mostra hiperemia, dilatação venosa, relaxamento do esfíncter anal e uma fissura cicatrizada (às 6h do mostrador do relógio). 54 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 18 ( Physical Signs of child abuse C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) - Criança de 3 anos, sexo feminino. A foto mostra verrugas na região anal. A transmissão não ficou esclarecida (sinal consistente de i n t e r c u r s o intracrural). Foto 19 ( Physical Signs of child abuse - C. Hobbs and J. Wynne Leeds UK, 1999) Criança de 11 meses. A foto mostra verrugas abundantes na região anal. Posteriormente foi descoberto que os pais tinham verrugas (o modo de transmissão dessas verrugas não foi confirmado). 55 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Foto 20 (IML - Recife) - Criança de 10 anos. A foto mostra criança do sexo feminino, com história de ter sido estuprada há 6 meses na região da mata. Não revelou o fato, e 6 meses após foi descoberta por sua genitora durante o banho. Foto 2 1 ( IML - Recife ) Criança de 10 anos de idade vítima de agressão. 56 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Outros sinais a serem observados no momento do exame: - Choro fácil, sem motivo aparente; - Episódio de ansiedade, medo e pânico; - Aversão ao contato físico, apatia, avidez afetiva; - Baixa auto-estima, fadiga; - Comportamentos regressivos, submissos e auto destrutivos; - Retardo psicomotor sem etiologia definida, com melhora quando a criança se separa da família (por exemplo, quando hospitalizada); - Retardo pôndero-estatural por aporte inadequado, obesidade; - Excessiva vergonha, ao despir-se; - Aversão a qualquer atividade de conotação sexual (extrema timidez sexual na adololescência); - Interesse precoce em brincadeiras sexuais ou conduta sedutora (hipersexualização); - Intoxicação por medicamentos, especialmente antihistamínicos ou sedativos; - Síndrome de Münchausen por Procuração, na qual o responsável (em geral a mãe) simula, provoca ou causa doenças na criança, para obter um ganho secundário. 6.1.2. Diagnosticar (diagnóstico diferencial) O diagnóstico da violência contra a criança ou o adolescente, muitas vezes, pode ser confundido com outras patologias orgânicas e emocionais. É de extrema importância que todos os profissionais da equipe de saúde reúnam os dados e evidências observados, de acordo 57 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência com suas competências para a construção do quebra- cabeça. progressiva Quando possível, são úteis as informações, colhidas na comunidade, de uma outra criança que presenciou o evento, de um irmão, de um professor na escola ou creche, amigos e vizinhos. Quando é necessário fazer o Diagnóstico Diferencial? Algumas patologias entram no diagnóstico diferencial, quando há suspeita de violência: - Sífilis congênita; - Raquitismo, escorbuto, osteogênese imperfeita, doenças ósteo- articulares; - Hiperostose cortical infantil; - Doenças dermatológicas (líquen esclero-atrófico, infecções bacterianas); - Doença de Crohn; - Tumores (sarcoma de colo intestinal); - Traumatismo acidental; - Dano cerebral orgânico / neurológico; - Transtornos de conduta, psicoses, etc.; - Infecções crônicas de garganta. 6.1.2.1 Dificuldades no Diagnóstico O diagnóstico de abuso físico (injúria não acidental) é difícil de ser evidenciado e exige um treinamento emocional. É uma das mais difíceis matérias no trabalho clínico, exigindo tempo, experiência e energia emocional. Estudos afirmam que, quando uma criança, cai de uma mesa, do berço, do carrinho, da cadeira, mesmo numa superfície dura, lesões sérias raramente ocorrem. 58 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência O diagnóstico de abuso sexual da mesma forma requer os pré-requisitos acima referenciados; os exames anal e genital devem estar inseridos no contexto do exame clínico, incluindo a pesquisa de outros sinais, no desenvolvimento/crescimento, no comportamento etc. Sabemos que os atos libidinosos diversos da conjunção carnal dificilmente deixam vestígios no corpo da vítima. A amostra do material colhido deve ser acondicionada em papel filtro previamente identificado, guardado em envelope, depois de seco à temperatura ambiente e anexado ao prontuário. Esse material poderá servir como prova do crime e será encaminhado sob ofício para a guarda no Instituto de Medicina Legal. Caso haja microscópio disponível, deve-se fazer a pesquisa de espermatozóide em lâmina fresca, com solução salina. 6.1.3. Exames Complementares/Apoio Laboratorial As Unidades de Saúde deverão dispor de equipamentos e materiais permanentes necessários à coleta dos exames. As Unidades de Referência devem ter acesso à Assistência Laboratorial para a execução dos exames recomendados. Para investigar Abuso Físico - Coagulograma completo (diagnóstico diferencial das coagulopatias) - Raio X completo do esqueleto (menores de 2 anos). Acima dessa idade, geralmente bastam radiografias localizadas - Tomografia Computadorizada/Ressonância Magnética 59 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Para investigar Abuso Sexual - Nos casos de abuso, ocorrido com menos de 72 horas, coletar material: pesquisa de sêmen, sangue e células epiteliais nas secreções orgânicas (cavidade oral e região genital) e nas vestes; - Orientar a vítima a não fazer a higiene pessoal (banho ou lavagem pode anular vestígios/prova) antes do exame; - Colher material (swab) das secreções oral, vaginal e anal, culturas e pesquisa sorológica para DST/HIV, hepatites, sífilis e tipagem sangüínea, fosfatases e pesquisa de DNA; - Teste para detecção de gravidez, ultra-sonografia. Período de Incumbação para Doenças Sexualmente Trasmitidas e Probabilidade de Abuso Sexual DOENÇA PERÍODO DE INCUBAÇÃO PROBAB ILIDADE DE AB USO Gonorréia Clamídia Herpes Trichonomas Verrugas Vaginose Bacteriana Sífilis 3-4 dias 7-14 dias 2-14 dias 1- 4 Semanas 1 Mês ou Vários meses ---------Até 90 dias ** * ( ** Se a criança tem 2 anos) ** ( *** Se a criança for >3 anos) ** ** * Se a criança for > 6 semanas * * * ** ( Excluir transmissão congênita) HIV Maioria soroconvertido antes de 3 meses Até 3 meses Hepatite B * * Exclu ído Infecção Materna * Exclu ído Infecção Materna Possível ** Provável ***Fortemente Provável (Fonte: Physical sings of sexual abuse in children, UK 1987) 60 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 6.1.4. Coleta de material para Identificação do Agressor As vestes deverão ser minuciosamente examinadas, com o objetivo de identificar vestígios de sangue, pêlos pubianos esperma e outros. Vestígios de sêmen no corpo, na área genital devem ser recolhidos com cotonetes umedecidos em soro fisiológico, acondicionados em frascos ou colocados em lâminas devidamente identificadas. A coleta do material para a pesquisa de espermatozóide deve ser feita com swab. Se possível, coletar secreção do fundo do saco vaginal, colocar em lâminas e encaminhar para o laboratório. 6.1.5. Investigar A investigação deve ser feita com delicadeza, devendose evitar julgamento de valor que muito prejudica a interação com o usuário(a) ou acompanhante. É importante que o informante, criança ou adolescente, acompanhante ou visitante, perceba que todas as informações são valiosas para o adequado tratamento da criança e do adolescente vitimizados. As perguntas devem ser isentas de qualquer conotação de acusação ou censura, embora as intenções de esclarecer a suspeita ou confirmação dos maus-tratos e de proteger a criança de novas agressões devam estar sempre presentes. A sistematização da investigação deve constar nos impressos utilizados por todos os profissionais. É importante que o máximo de oportunidades sejam criadas para a aquisição de informações acerca da verdadeira causa da ida ao serviço de saúde e ainda sejam investigadas vivências anteriores de violência, episódica e/ou insidiosa (crônica). 61 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência A figura do quebra-cabeça abaixo se apresenta como um esquema orientador da equipe acerca das diversas etapas realizadas e oferece, de forma sistemática, um modelo que facilita a equipe multidisciplinar a agrupar os fatos para elaborar o diagnóstico. Históri a da Cri ança História da F amília Alguma Descoberta Sinto mas e Sinais Físicos Comportamento Lesão (Equi mose) Exame Físico DST Testes Forenses Investigação Poli cia l Serviço Social Irmão mais velho (Fonte: Wyne J. Leeds 1999) É fundamental que o profissional tenha clareza da dificuldade em formular um diagnóstico, devendo, portanto, ir juntando cada peça do quebra-cabeça, sem atropelar as informações, evitando um maior constrangimento para a criança e o adolescente, já tão vitimizados. 6.1.6. Assistir Do ponto de vista técnico, a assistência à criança e ao adolescente vitimizados não difere da assistência prestada nos casos de acidentes ou patologias. De acordo com o sistema afetado, a criança e o adolescente receberão cuidados dos profissionais especializados. Freqüentemente, recomenda-se a centralização da assistência, com o objetivo de reunir as informações 62 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência em um só prontuário, a ser preenchido e utilizado por todos os profissionais que participaram do atendimento. Evitase, assim, o excesso de exposição da criança e do adolescente e de sua família. Atenção específica deve ser dada aos casos em que houve violência sexual crônica ou que tenha ocorrido há mais de 72 horas. Faz-se necessário planejar a assistência no que diz respeito ao diagnóstico de gravidez, DSTs/AIDS e Hepatite B com o uso de exames complementares o mais breve possível. Adotar as normas técnicas do Ministério da Saúde para tratamento em caso de resultado positivo e em seguida, encaminhar para a equipe multidisciplinar com vistas ao acompanhamento psicossocial e a outros encaminhamentos necessários. O trabalho junto à família é imprescindível e não deve ser apenas pontual. Essa família deve ser acompanhada durante um período que permita avaliar a possibilidade de retorno da criança à casa ou a outra situação qualquer. É indispensável um trabalho conjunto com os Conselhos Tutelares, Coordenadoria da Infância e Juventude e outros órgãos de proteção, para que se possa acompanhar com prognóstico. (BRASIL, M.S., 2002) Os profissionais de saúde deverão ser capacitados para atuação na assistência tanto no atendimento ambulatorial como nas emergências e nos demais setores, identificando e ajudando as pessoas vitimizadas. Esse acompanhamento deverá ocorrer de forma integrada com as equipes do PSF/PACS e a equipe dos Centros de Referências. A assistência dev e ser multidisciplinar , potencializando a ação de cada profissional, ao mesmo tempo que identifica o papel de cada um nas diversas fases do atendimento. Reuniões rotineiras com os membros da equipe para discussões dos casos são necessárias bem como o estabelecimento de um sistema 63 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência de referência que possibilitarão atenção digna com qualidade e resolutividade. 6.1.7. Tratar O tratamento oferecido às vítimas de violência deve levar em consideração o apoio, a orientação e o acompanhamento, visando a uma melhora da qualidade de vida em nível biopsicossocial, ou seja, deve constituirse em tratamento integral. A conduta terapêutica medicamentosa segue as normas padronizadas pelo Ministério da Saúde. - Prevenção de DST, AIDS e Hepatite B para a maioria das DST não virais - Profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST - Anticoncepção de emergência QUIMIOPROFILAXIA RECOMENDADA Realizar a quimioprofilaxia das DST/AIDS com medidas específicas nas primeiras 72 horas. Para Crianças em casos de DST Fonte: (Brasil, MS 2001). Metronidazol – Em gestantes, não se recomenda tratamento quimioprofilático, se a gestação não tiver completado o primeiro trimestre. O tratamento da infecção, quando isolada, somente deve ser realizado após esse período. As nutrizes devem suspender a amamentação por 24 horas. Por isso devem ser orientadas quanto à retirada e ao armazenamento prévio do leite, para garantir a nutrição do bebê, enquanto este não puder ser amamentado. 64 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Para Infecção por HIV após Violência Sexual A prescrição da quimioprofilaxia pós-exposição sexual ao HIV nos casos de violência não pode ser feita como rotina e aplicada a todas as situações. Ela exige uma avaliação cuidadosa quanto ao tipo e ao grau de risco da agressão bem como o tempo decorrido até a chegada da pessoa agredida ao serviço de referência, após o ato violento. É necessário um aconselhamento adequado nas diferentes situações, nas quais se pode indicar ou não a profilaxia com antiretrovirais, visando a uma adesão adequada ao tratamento nos casos em que essa conduta for indicada. Portanto o Ministério da Saúde está elaborando medidas necessárias para se estabelecer um consenso sobre as rotinas a serem implantadas em serviços de saúde, especialmente naqueles credenciados para o atendimento às vítimas de violência. Esquema Anti-Retroviral 1. Para Crianças e Adolescentes expostos a agressores com sorologia desconhecida ou HIV + virgem de tratamento anti-retroviral. Fonte: (Brasil, MS 2001). 65 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Cálculo do m2 m2 = peso x 4 + 7/90 + peso Prazo para início da quimioprofilaxia: < 72 horas Tempo de tratamento: 4 semanas 1. Crianças e Adolescentes expostos a agressores com sorologia positiva para HIV + em tratamento anti-retroviral Esquema individualizado, conforme esquema Arv do agressor (avaliação com especialista). IMUNOPROFILAXIA PARA HEPATITE B Vacinação (Engerix B): 1,0 ml em adulto e 0,5ml, em menores de 12 anos, em 3 doses. - Indicada nos casos em que não se realizou o esquema de vacinação ou foi realizado de forma incompleta; A segunda e a terceira doses devem ser administradas respectivamente, após passados 1 e 6 meses após a primeira. Administrar 0,5 ml em crianças menores de 12 anos (na região do vasto lateral da coxa), via intramuscular, no esquema de 3 doses. A segunda e a terceira doses devem ser administradas respectivamente após um e seis meses, depois da primeira. A gravidez e a lactação não são condições que contra-indiquem a vacinação anti-hepatite B. A duração da eficácia da vacina persiste por longo período, podendo ultrapassar 10 anos. Portanto, indivíduos vacinados que apresentem 66 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência sorologia reativa não necessitam de doses de reforço, devendo ser realizada somente pós-exposição, conforme o descrito acima. - A gravidez e a lactação não são condições que contraindiquem a vacinação anti-hepatite B. Gamaglobulina hiperimune (HIBG): 0,06ml/kg de peso corporal, IM, dose única. - Indicada nos casos em que a criança ou adolescente não realizaram o esquema de vacinação ou o realizaram de forma incompleta; - Se a dose, a ser utilizada ultrapassar 5ml, dividir a aplicação em duas áreas diferentes; - Aplicar em membro diferente do usado para o esquema de vacinação; - Maior eficácia na profilaxia é obtida com o uso precoce da HBIG, até 48 horas após a agressão. 67 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência IMUNOPROFILAXIA PARA HEPATITE A Após exposição ao vírus da Hepatite A (HAV), a forma mais efetiva de prevenção é a imunização. Essa imunização pode ser promovida também de duas formas: Imunoglobulina – o uso de imunoglobulina, por via intramuscular, na dose de 0,02ml/kg, administrada dentro das 2 semanas posteriores à exposição. Sua eficácia é de 85%, e a proteção tem uma duração de 3 a 6 meses. A vacina para hepatite A, feita com vírus inativado, é segura, altamente imunogênica e tem uma eficácia de 94% quando administrada em duas doses. VACINAÇÃO ANTITETÂNICA Realizá-la em casos de ferimentos perfurocortantes e/ou contato da lesão com a terra. O tratamento das doenças já instaladas varia de acordo com vários fatores, como por exemplo, idade, peso corporal, estágio de evolução da doença bem como sua gravidade, sendo sua abordagem extensa para um guia de assistência. Sugerimos a consulta de obras específicas no tema em questão. 68 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência ANTICONCEPCIONAIS PARA ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA Realizar a contracepção de emergência em caso de estupro, quando a criança/adolescente já teve sua menarca, e a agressão ocorreu até 72 horas antes do atendimento. Quanto mais precocemente for administrada, maior a proteção. Fonte: (Brasil, MS 2001) 69 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Início do Uso - Avaliar com cuidado a possibilidade de gravidez. Se a menina estiver grávida, não prescrever contracepção de emergência. Nos casos em que ocorre a gravidez, o uso das pílulas não provoca qualquer efeito adverso ao feto. - Explicar à menina e ao acompanhante o método, sua eficácia e seus efeitos secundários ( náuseas, vômitos, cefaléia, dor abdominal, fadiga etc). - Aconselhar a menina a não usar a contracepção de emergência como método regular de anticoncepção, por ser menos eficaz que a maioria dos métodos regulares, e os efeitos colaterais são mais freqüentes do que para outro contraceptivo hormonal. (BRASIL, M.S., 2001) - Explicar que, após tomar as pílulas, a menstruação poderá ocorrer até 10 dias antes ou depois da data esperada, embora em uma porcentagem importante dos casos, a menstruação ocorra na data esperada, com uma variação de 03 dias para mais ou para menos. Acompanhamento - Aconselhar a menina e o responsável para retornarem ao serviço, se sua próxima menstruação for bastante diferente do usual, especialmente, se, for escassa e não ocorrer dentro de quatro semanas. Acompanhamento Psicossocial Esse atendimento é oferecido nos Centros de Referência de Assistência Integral à Criança e ao Adolescente, por uma equipe multidisciplinar, composta por médico, psicólogo, enfermeiro(a), assistente social, onde seja feito o acolhimento do(a) usuário(a), orientando-se a partir de um prontuário multidisciplinar. (ver anexo) Em um primeiro momento, esse prontuário é preenchido na recepção, por funcionário devidamente 70 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência capacitado, e, em seguida, encaminhado para o Serviço Psicossocial e Médico. A programação terapêutica da Equipe consta de várias atividades, como a) grupos de acolhimento com responsáveis; b) grupos de acolhimento com crianças e adolescentes; c) entrevistas sociais individualizadas com crianças, adolescentes e responsáveis; d) grupos de sala de espera, a fim de divulgar junto a eles a proposta do Centro e apresentar temas relativos à criança e ao adolescente; e) visitas domiciliares; f ) grupos de orientação a responsáveis; g) dinâmicas de grupo (com usuários na faixa etária de 10 anos a 18 anos incompletos) para as temáticas básicas: identificação, integração, comunicação, grupo; sexualidade; cidadania; projeto de vida; h) participação integrada da equipe multiprofissional no acompanhamento da criança e do adolescente e de sua família; i) encaminhamento a outros serviços, quando necessário; j) articulação com outros setores governamentais e nãogovernamentais; k) participação em reuniões técnicas e administrativas sistemáticas; l) estudo de caso semanal com a equipe técnica e uma reunião mensal com a equipe ampliada; m )participação em seminários, palestras, encontros, fóruns e cursos. 6.1.8. Proteger Mesmo dentro da estrutura do serviço de saúde, a criança e o adolescente vitimizado(as) podem não estar protegido(as). Os casos de violência despertam nas pessoas uma curiosidade que é manifestada quase sempre por atitudes invasivas. 71 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência Não raro, funcionários de outros setores deslocam-se até o(a) usuário para saciarem sua curiosidade que é inteiramente demonstrada ou maldisfarçada. Outros usuários ou acompanhantes freqüentemente abordam a vítima com perguntas, obrigando-a ao constrangimento de repetir sua história, piorando seu quadro emocional. Essas atitudes, além de piorarem o trauma, contribuem para estigmatizar a pessoa vitimizada, por exemplo: “aquela que foi estuprada”. Freqüentemente é o agressor quem leva a criançavítima ao serviço de saúde para o atendimento e, se não f o r i d e n t i f i c a d o c o m o a g r e s s o r, p o d e r á f i c a r acompanhando a vítima em todo atendimento, dificultando a assistência e agravando o dano emocional já existente. Mesmo identificado, o agressor pode comparecer ao serviço com o objetivo de intimidar a vítima ou cometer novas agressões físicas. Alguns casos de violência chegam à imprensa. Como sabemos, os meios de comunicação, algumas vezes, tratam os casos de modo espetacular, visando ao aumento da venda de jornais ou revistas e à audiência do rádio e da televisão. Os casos são explorados com o máximo de sensacionalismo, e alguns repórteres abordam a vítima sem respeito ou cuidado com o seu estado emocional. Cabe ao serviço manter a criança e o adolescente vitimizados, com segurança em relação a novos danos emocionais e/ou físicos. Todos os profissionais que trabalham direta ou indiretamente devem atuar nessa proteção. A primeira proteção é evitar comentar o caso, a menos que seja imprescindível à assistência. A segunda proteção é orientar os familiares para o mesmo cuidado dentro dos serviços, em casa, na vizinhança. Por último, manter vigilância para que não se aproximem da criança e do adolescente pessoas que não estejam envolvidas na sua proteção. 72 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 6.1.9. Documentar Algumas vezes, o sistema judiciário pode solicitar o estudo do prontuário ou a audição de alguns profissionais de saúde que assistem à criança/adolescente. Para que as informações prestadas sejam as mais fidedignas, é necessário que o prontuário seja preenchido de forma completa e coerente. A documentação também irá subsidiar a equipe multidisciplinar na discussão do caso com outras instâncias, envolvidas na proteção, e, também, com as pesquisas científicas dentro de todo o rigor ético e sigiloso. É importante lembrar que o prontuário é documento do paciente que fica sob os cuidados do serviço de saúde. Não pertence ao centro de referência, hospital ou posto de saúde, muito menos, a qualquer funcionário, seja ele profissional de saúde ou do corpo administrativo. 6.1.10. Notificar A notificação dos maus tratos à criança e ao adolescente, além de ser um direito de cidadania, é um instrumento de fundamental importância no enfrentamento à violência. Desencadeia ações diversas, como investigação sobre a vida em família, com vistas a subsidiar, se necessária, uma ação judicial. Os números obtidos com as notificações ajudam no planejamento de políticas públicas no âmbito da promoção e da assistência à saúde e ainda permitem o desenvolvimento de pesquisas que resultam no conhecimento da dinâmica da violência em família. (GONÇALVES E FERREIRA, 2002) Apesar de a notificação ser uma determinação legal contida no ECA, a subnotificação é uma realidade não só no Brasil como também em países onde a legislação é bem mais antiga e o sistema de proteção, bem mais aprimorado. 73 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência A notificação compulsória de maus tratos à criança e ao adolescente pode ser definida como a informação emitida pelo setor saúde ou por qualquer órgão ou pessoa, para os serviços de saúde e para o conselho tutelar, com a finalidade de promover os cuidados sócio-sanitários voltados para a proteção da criança e do adolescente, vítimas de maus tratos. O ato de notificar inicia um processo que visa interromper as atitudes e os comportamentos violentos no ambiente familiar e por parte de qualquer agressor. (BRASIL, M.S., 2002) Ao conselho tutelar deve ser enviada notificação que tanto pode ser detalhada como simples, contendo descrição sumária do caso e dados de identificação e endereço da criança ou do adolescente. A notificação à vigilância epidemiológica deve ser parte de um sistema padronizado, codificado e informatizado, viabilizando a leitura e interpretação dos dados colhidos. A notificação dos maus tratos praticados contra a criança e o adolescente tornou-se obrigatória em lei federal, por meio da Portaria nº 1.968/2001 MS. (BRASIL, M. S., 2002) Em março de 2002, a Secretaria de Saúde do Recife instituiu a notificação compulsória dos maus tratos à criança e ao adolescente. Também realizou cursos de capacitação para os profissionais da rede de saúde na temática da violência e dos maus tratos, de forma que a norma pudesse ser incorporada por adesão e não apenas como obrigação. Entretanto, a notificação de maus tratos no Recife é uma experiência recente que está apenas iniciando. Precisa ser assimilada pelos profissionais e ampliada nas unidades de saúde. O modelo da Ficha de Notificação de Maus Tratos da Criança e do Adolescente e o respectivo Fluxo da Vigilância adotados encontram-se nos anexos deste guia. 74 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 6.1.11 Notificação para o Conselho Tutelar “ O Conselho Tutelar é órgão permanente e autonômo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente ” (ECA,2001). Quais as atribuições do Conselho Tutelar em caso de violência ? Sempre que os direitos da criança e do adolescente forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável ou em razão de sua conduta, o Conselho Tutelar aplicará as medidas de proteção. As medidas de proteção levam em conta as necessidades pedagógicas da criança e do adolescente, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Algumas medidas de proteção são exemplificadas abaixo: - Encaminhamento aos pais ou responsável mediante termo de responsabilidade; - Orientação, apoio e acompanhamento temporário; - Matrícula e freqüência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental; - Inclusão em programa comunitário ou oficial, de auxílio à família, à criança e ao adolescente; - Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; - Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoolistas e drogaditos; - Abrigo em entidade; - Colocação em família substituta. O encaminhamento da criança ou adolescente para abrigo deve ser imediatamente comunicado ao poder judiciário; já a colocação em família substituta deve ser precedida de ordem judicial. 75 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência A aplicação de uma ou mais medidas de proteção se dá mediante a definição dos conselheiros com o suporte técnico de profissionais de psicologia e serviço social. 6.1.11. Orientar Ainda não há uma compreensão adequada dos efeitos da violência doméstica sobre a saúde (física e mental) e a adaptação social do indivíduo. A orientação da vítima e dos familiares deve resultar na compreensão de que - o que aconteceu foi uma violência com malefícios para a saúde física e mental do(a) vitimizado (a); - novos episódios não deverão acontecer; - a criança/adolescente necessita de atendimento multidisciplinar, com o apoio da família; - a denúncia é importante para fazer cessar a violência e não ser considerada um ato de vingança; - a orientação deve conduzir a criança/adolescente e família ao conhecimento dos seus direitos e deveres e dos vários serviços de assistência, de proteção e defesa dos direitos existentes na cidade, bem como grupos de auto-ajuda e ajuda mútua; - o entendimento do fato ocorrido, o apoio prestado pela família e amigos têm um papel relevante na recuperação da saúde integral da criança e do adolescente. 6.1.12. Apoiar/Acompanhar Não é fácil interromper o ciclo da violência. Quem o faz, não raro, é acusado de dissolver a família e corre risco de ver a si e à vítima excluídos do meio familiar. Por isso, faz-se necessário apoiar a vítima e sua família 76 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência na decisão de revelar, através da denúncia e do próprio relato ao profissional de saúde, a situação de violência em que vive. A família em situação de violência pode precisar de apoio para adquirir uma nova consciência acerca da criança e do adolescente e das relações familiares. Alguns pais só percebem que, há muito tempo cometem violência, quando o resultado desta é a hospitalização do seu filho. Esta relação de apoio, orientação e esclarecimento aos pais não deve ser substituta da denúncia aos órgãos competentes, o que é, conforme o ECA, dever do profissional de saúde e da instituição. É bem conflituosa a posição do adulto que assume a defesa e a proteção da criança em situação de violência, quando pode estar denunciando uma pessoa bem conceituada na sociedade e que pode ser também provedor da família. As pressões são fortes e, se não houver apoio dos profissionais envolvidos com a assistência, a criança/adolescente pode perder a proteção logo à saída do serviço de saúde. A mulher, muitas vezes, assume a defesa de seus filhos que sofreram violência perpetrada pelo pai. É importante ter em mente que freqüentemente essa mulher também sofre violência conjugal e pode estar fragilizada. Precisa-se identificar os recursos emocionais da pessoa que assume a defesa e proteção da criança. Não raro o cuidador precisa de um suporte terapêutico para lidar com a situação e com todos os seus desdobramentos. O profissional de saúde deve estar ciente da importância do seu papel como notificador, e, para tanto, deve ser apoiado pelo serviço no enfrentamento dos possíveis desdobramentos desse processo. Para garantia da continuidade do processo de notificação, faz-se necessário um feed-back para o profissional que notificou. 77 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 6.1.13. Encaminhar A prestação de uma assistência efetiva, que contemple os aspectos individual, institucional e social, darse-á, sobretudo, mediante o estabelecimento de sistemas de referência entre o setor de saúde e outros setores assistenciais, escola e as áreas jurídicas, de segurança e as organizações da sociedade civil. A criança/ adolescente vitimizado(a) freqüentemente necessita de assistência integral. Os Centros de Referência oferecem um atendimento qualificado, integrado, multidisciplinar e intersetorial, propiciando um atendimento especializado, visando à garantia dos direitos fundamentais, o fortalecimento da sua auto-estima, o restabelecimento do direito à convivência familiar e comunitária. Esses centros também devem criar as condições necessárias para que crianças e adolescentes, vítimas de maus tratos de suas famílias, possam resgatar e garantir direitos, favorecendo o acesso aos serviços de saúde, assistência social, educação, justiça, segurança, esporte, lazer e cultura, guardando um compromisso ético e político, contribuindo para uma melhor qualidade de vida. (ver anexo 03 – fluxograma) Quando encaminhar para os serviços especializados? - Em todos os casos de violência sexual; - Nas lesões mais graves que necessitem de atendimento especializado (fraturas, rupturas etc). - Em queimaduras de maior gravidade, trauma ou fraturas cranianas. - Caso haja suspeita de lesões de órgãos internos. - Nos estados de stress pós-traumático; - Em risco de homicídio ou risco de vida; - Na inexistência de outros recursos para a prevenção de novos episódios (risco de novas agressões); 78 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência - Nos casos de maus tratos que necessitem de uma i n t e r ve n ç ã o m u l t i d i s c i p l i n a r, c o m o t a m b é m o envolvimento de outros níveis do serviço. A abordagem terapêutica cabível deverá ser feita de forma criteriosa, particularizando cada caso. O entrosamento dos serviços de saúde com outros órgãos públicos, envolvidos nesta problemática, é de fundamental importância, no sentido de socializar as informações sobre a necessidade do atendimento integral à criança e ao adolescente vitimizados. Também há necessidade da atuação médica imediata nas ocorrências de violência sexual, objetivando uma maior resolutividade e eficácia no atendimento. 79 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 80 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, S. G. O percurso da violência na História Ocidental: Infância e Saúde. Horizontes, Bragança Paulista, v. 17, p.11-79, 1999. BRASIL. 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Norte, 6465 - Casa Amarela - Recife - PE - DS III Fone: 3441-5257 Maternidade Bandeira Filho (24 h) Rua Londrina s/n- Afogados - Recife - PE - DS V Fone: 3428-5026 Policlínica Arnaldo Marques (24 h) Av. Dois Rios, s/n - Ibura de baixo - Recife - PE DS VI Fone: 3339-5005/5879 Policlínica Amaury Coutinho (24 h) Rua Iguatu s/n, Campina do Barreto - Recife - PE - DS II Fone: 3441-7377/3444-3544 Centros Especializados de Saúde do Recife Criança e Adolescente: Professor Nelson Chaves - Rua Ramiz Galvão, 397 - Arruda - Recife - PE - Fone : 3444-9664 Policlínica Lessa de Andrade, Estrada dos Remédios, 2416 Madalena - Recife - PE - Fone: 3446-2839 Gouveia de Barros Pátio da Santa Cruz, s/n - Boa Vista – Recife – PE Fones: 3423-3637/3423-3289 Agamenon Magalhães – Praça da Paz, s/n Afogados–Recife– PE Fones: 3428-7888/3428-6581 DISQUE-SAÚDE: 1520 NÚCLEOS DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA MUNICIPAL 1. Rua 11 de Agosto, s/n - Bidu Krause, Totó - Recife - PE Fone : 3252-5754 2. Av. Beberibe, 3764 - Beberibe - Recife - PE Fone: 3241-1682 3. Av. Caxangá , 2678 - Caxangá - Recife - PE Fone: 3226-1443/3226-2047 4. Av. Dois Rios, 1178 - Ibura - Recife - PE Fone: 3339-3975 5. Av. Herculando Bandeira, 587 - Pina - Recife - PE Fone: 3463-1399/9657 6. Cais do Apolo, 925 - Térreo - Recife - PE Fone: 3425-8270 CONSELHOS TUTELARES RPA 1 – Rua Fernandes Vieira, 405 Boa Vista - Recife - PE Fone: 3421-3380 RPA 2 - Rua Inácio Galvão dos Santos, 309 Encruzilhada - Recife - PE Fones: 3242-7184/3241-0237 RPA 3 - Rua Conselheiro Pereti, 218 Casa Amarela - Recife - PE Fone: 3267-2419 RPA 4 - Rua João Francisco Lisboa , 555 Várzea - Recife - PE Fone: 3227-2771 RPA 5 - Rua Osório Borba, 83 Jardim São Paulo - Recife - PE Fone: 3455-2295 RPA 6 - Rua Paulo Setúbal, 46 Pina-Recife - PE Fone: 3327-2400 Plantão Central (RPA1) Rua Fernandes Vieira, 405 - Boa Vista – Recife – PE Fone: 3421-3380 DPCA: Rua Benfica, 1008 – Madalena - Recife - PE Fones: 3303.8074 (Portaria) 3303.8080 (Disk-Denúncia) COMDICA: Conselho Municipal do Direito da Criança-RecifePE Fones: 3226.1876 OS ANEXOS ANEX ANEXO 1 ANEXO 2 Fluxograma para o Atendimento da Criança e do Adolescente em Situação de Violência ANEXO 3 ANEXO 4 Fluxo de encaminhamento da Vigilância Epidemiológica de Acidentes e Violência (1ª Etapa) ANEXO 5 FLUXOGRAMA GERAL DE ATENDIMENTO A PESSOAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO SERVIÇO DE SAÚDE RECEPÇÃO Abertura de Prontuário Recolhimento Atendimento Especializado Serviço Social Psicólogo Médico Enfermeiro - Recebimento de Método/ Contracepção de emergência em caso de adolescente - Medicação preventiva para DST/AIDS - Tratamento emergencial de lesões corporais - Encaminhamento para interrupção da gestação, se for o caso - Exames laboratoriais - Referência a outros serviços de saúde -Agendamento para continuidade da assistência - Orientação sobre direitos legais ANEXO 6 SUS Prefeitura do Recife Secretaria de Saúde Diretoria Geral de Atenção SE CRE TA RIA DE SA ÚDE PRONTUÁRIO - Multidisciplinar do Programa de Assistência Integral à Criança e ao Adolescente RECEPÇÃO Nº do registro_______________ Nome da Unidade_______________________________________________ Data e hora do Atendimento:____/___/___ ___:___h Sexo: M F Nome ___________________________ Data de Nasc.___/__/___ Endereço de Residência__________________________________________ Bairro_____________________ Município_____________________ CEP_____________ Tel____________________ Ponto de Referência______________________________________________ Escola/Creche______________________ Tel:____________________ Procura da Unidade: Espontânea Encaminhada por PSF Qual?_________________________ Unidade de Saúde. Qual?_____________________ Escola. Qual?______________________________ ONG. Qual?________________________________ Conselho Tutelar. Qual? ______________________ Profissional que procedeu à conduta _________________________ Permissão deve ser concedida dos pais ou responsáveis pela criança/adolescente e da própria criança/adolescente quando apropriado. Consentimento verbal é normalmente suficiente. CONSENTIMENTO ESCRITO (se requerido) Eu dou permissão para exame médico para avaliação de possível abuso infantil e para qualquer forma de tratamento de injúrias. Eu entendo que a busca por estas evidências pode incluir fotografias das injúrias, e estas fotografias podem incluir fotos da área genital e/ou anal. Em caso de o médico achar apropriado, a informação contida neste formulário pode ser repassada para o Serviço Social, à Polícia ou a qualquer outra agência de proteção à criança com interesses genuínos. Assinatura do(a) responsável:_______________________________________ Data:_____/____/_____ Médico informante:________________________________ Data:___/___/___ DESCREVER O ESTADO EMOCIONAL/ATITUDE CRESCIMENTO/DESENVOLVIMENTO Peso_____kg Altura_______ Circunferência da Cabeça ______ Peso/Alt(percentual)_________________ Altura dos pais_________ Estado geral________ Boca/Dente______ Aparelho Respiratório______ Aparelho cardiovascular________________ Aparelho Respiratório_______ Coluna: Com alteração ( ) Sem alteração ( ) Neurológico: Com alteração ( ) Sem alteração ( ) ANEXO 7 CENTRO ESPECIALIZADO DE SAÚDE DO RECIFE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FICHA DE ESTUDO DE CASO COM PREVISÃO DE AL TA ALT NOME__________________________________________________ D/N___/____/____ IDADE_________ SEXO______________ PRONTUÁRIO___________________________________________ DATA DA ENTRADA NO ATENDIMENTO______/_____/______ QUEIXA________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ FORMA DE VIOLÊNCIA____________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ PLANO TERAPÊUTICO____________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ EVOLUÇÃO DO CASO____________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ PREVISÃO DE ALTA_______________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ASSINATURA DA EQUIPE_______________ ______________ _______________ _______________ ASSINATURA DA GERENTE_______________________ ANEXO 8 MODELO DE OFÍCIO PARA NOTIFICAÇÃO AO CONSELHO TUTELAR SUS SECRET ARIA DE SA ÚDE Prefeitura do Recife Notificação ao conselho Tutelar_______________________________ __(nome da unidade de saúde)__ vem, através do presente ofício, com fundamento no Artigo 245 do E.C.A., comunicar o caso de _____suspeita/ confirmação_______ de maus tratos contra a criança/adolescente _____nome da criança/adolescente____ que se encontra internada em atendimento neste estabelecimento , aguardando as providências deste Conselho. Endereço da criança/adolescente (se conhecido) _______________________________________________________ Em anexo, o relatório psicossocial e o laudo médico. Gostaríamos de informar que a criança terá alta em _______dias. Atenciosamente, Recife, ________de________de______. ___________________________________ Diretor do Hospital Gerente da Unidade Obs.: Na impossiblidade do envio do ofício, pode ser feita a comunicação por telefone. DESENHOS FEITOS PELAS CRIANÇAS ASSISTIDAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA NELSON CHAVES DESENHO 1 DESENHO 2 DESENHO 3 DESENHO 4 DESENHO 5 DESENHO 6 DESENHO 7 Guia de Assistência Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em Situação de Violência 122