1 introdução - Faculdade Tecsoma
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1 introdução - Faculdade Tecsoma
FACULDADE TECSOMA INCIDÊNCIA DE LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS/DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES REALCIONADOS AO TRABALHO (LER/DORT) EM CIRURGIÕES-DENTISTAS NA CIDADE DE PARACATU – MINAS GERAIS Pedro Guimarães Diniz Paracatu 2010 Pedro Guimarães Diniz INCIDÊNCIA DE LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS/DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES REALCIONADOS AO TRABALHO (LER/DORT) EM CIRURGIÕES-DENTISTAS NA CIDADE DE PARACATU – MINAS GERAIS Trabalho apresentado em cumprimento às exigências acadêmicas parciais da disciplina Monografia II para obtenção de título de Bacharel em Fisioterapia, Faculdade Tecsoma, Paracatu, MG. Orientadora: Vanessa C. T. Mansur Corrêa. Paracatu 2010 Diniz, Pedro Guimarães Incidência de lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares realcionados ao trabalho (ler/dort) em cirurgiões-dentistas na cidade de Paracatu – Minas Gerais/ Pedro Guimarães Diniz. Paracatu, 2010. 54p. Orientadora: Vanessa Cristina Travizanuto Mansur Corrêa Monografia (Bacharelado) – Faculdade Tecsoma – FATEC, Paracatu – Minas Gerais, Bacharelado em Fisioterapia. Bibliografia 1. DORT. 2. Lesões por esforços repetitivos. 3. Cirurgiões-dentistas. I. Corrêa, Vanessa Cristina Travizanuto Mansur; II. Faculdade Tecsoma; III. Título. CDU: 615.8:331 Pedro Guimarães Diniz Incidência de lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares realcionados ao trabalho (ler/dort) em cirurgiões-dentistas na cidade de Paracatu – Minas Gerais Trabalho apresentado em cumprimento às exigências acadêmicas parciais da disciplina Monografia II para obtenção de título de Bacharel em Fisioterapia, Faculdade Tecsoma, Paracatu, MG. _________________________________________________________________________ Esp. Vanessa C. T. Mansur Corrêa (Orientadora Temática) – Faculdade Tecsoma _________________________________________________________________________ M Sc. Michelle Faria Lima (Orientadora Geral) – Faculdade Tecsoma _________________________________________________________________________ M Sc. Cecília Maria Dias Nascimento (Orientadora Metodológica) – Faculdade Tecsoma Paracatu, 26 de novembro de 2010. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Milton e Rosária, por terem tornado tudo isso possível, aos meus familiares, amigos e, especialmente a Daiane, que sempre esteve presente e me deu toda força pra continuar. Se hoje estou aqui é porque vocês acreditaram em meu sucesso e caminharam ao meu lado. Amo Vocês... AGRADECIMENTOS As minhas orientadoras, Vanessa, Michelle e Cecília, que tornaram possível a realização desse trabalho. A todos os meus colegas de classe, principalmente a Flávia e minha namorada Daiane pela troca de experiências. A todos os meus professores, e pessoas que, de alguma forma, contribuíram para minha formação. RESUMO As lesões por esforços repetitivos (LERs)/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs), afetam principalmente os músculos, tendões, fáscias, sinóvias, ligamentos e nervos, isolada ou associadamente em membros superiores, cíngulo escapular e pescoço, vem se destacando pelo grande aumento em sua incidência além de estar relacionada ao trabalho, causando dessa forma impacto socioeconômico na sociedade. Durante sua atividade profissional o cirurgião-dentista utiliza bastante os membros superiores a cintura escapular e o pescoço, e frequentemente com repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica das estruturas localizadas na região, assumindo posturas incorretas e utilizando força excessiva e ainda. Esse trabalho utilizou um estudo quantitativo do tipo pesquisa de campo: levantamento para analisar a possível relação entre as atividades ocupacionais dos cirurgiões-dentistas da cidade de Paracatu/MG e as LERs/DORTs, para isso todos os profissionais cadastrados no Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais no ano de 2010 receberam questionários para participarem do estudo, foram retirados posteriormente do estudo todos que se enquadravam nos critérios de exclusão. Durante o estudo averiguou-se que 43,75% dos cirurgiões-dentistas apresentam LER/DORT, portanto se torna mais um indicativo de que as tarefas executadas estão expondo essa classe profissional a um risco alto de adquirir LER/DORT. Palavras-chave: DORT. Lesões por esforços repetitivos. Cirurgiões-dentistas. ABSTRACT The lesions for repetitive efforts (LERs)/distúrbios osteomusculares related to the work (DORTs), they affect mainly the muscles, tendons, fáscias, sinóvias, ligaments and nerves, isolated or associadamente in superior members, scapular cíngulo and neck, is high lighting if for the great increase in your incidence besides being related to the work, causing in that way impact socioeconômico in the society. During your professional activity the surgeon-dentist uses plenty the superior members the scapular waist and the neck, and frequently with repetitividade of a same movement pattem, mechanical compression of the located structures in the area, assuming incorrect postures and using excessive force and still. That work used a quantitative study of the type field research.. rising to analyze the possible relationship between the surgeon-dentists of the city of Paracatu-MG occupational activities and LERs/DORTs, for that all the professionals registered in the Regional Council of Dentistry of Minas Gerais in the year of 2010 they received questionnaires for us to participate in the study, they were later retired of the study all that were framed in the exclusion criteria. During the study it was discovered that 43,75% ofthe surgeon-dentists present LERlDORT, therefore he/she becomes one more indicative than the executed tasks are exposing that professional class to a high risk of acquiring LER/DORT. Word-key: DORT. Lesions for repetitive efforts. Surgeon-dentists. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Comparativo do sexo predominante entre os cirurgiões-dentistas ................................. 29 Figura 2 Comparativo da idade predominante entre os cirurgiões-dentistas ................................ 30 Figura 3 Comparativo do tempo de graduação e exercício da profissão entre os cirurgiõesdentistas .................................................................................................................. Figura 4 Comparativo de cirurgiões-dentistas que se especializaram dentro da sua área de atuação ........................................................................................................................ Figura 5 30 31 Comparativo da predominância entre as especialidades adotadas pelos cirurgiõesdentistas ................................................................................................................... 31 Figura 6 Comparativo de cirurgiões-dentistas que apresentam LER/DORT .............................. 32 Figura 7 Comparativo do período em que os cirurgiões-dentistas exercem sua profissão ..... 32 Figura 8 Comparativo de cirurgiões-dentistas que possuem duplo emprego ............................. 33 Figura 9 Comparativo do tempo de duplo emprego exercido pelos cirurgiões-dentistas ....... 33 Figura 10 Comparativo de quantas horas diárias os cirurgiões-dentistas utilizam o computador .. 34 Figura 11 Comparativo de quanto tempo os cirurgiões-dentistas acometidos por LER/DORT relatam sentir dor ....................................................................................................... 34 Figura 12 Comparativo de qual período do dia é mais presente o início da dor .......................... 35 Figura 13 Comparativo de quanto tempo é necessário durante a atuação profissional para os cirurgiões-dentistas relatarem dor ............................................................................... Figura 14 35 Comparativo de qual segmento corporal apresenta localização inicial da dor ou irradiação da dor em cirurgiões-dentistas ..................................................................... 37 Figura 15 Comparativo da característica da dor em cirurgiões-dentistas ..................................... 38 Figura 16 Comparativo da intensidade da dor sentida pelos cirurgiões-dentistas ..................... 38 Figura 17 Comparativo entre cirurgiões-dentistas que procuraram tratamento especializado .. 40 Figura 18 Comparativo do tratamento procurado pelos cirurgiões-dentistas ................................. 41 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Comparativo de ocorrência da dor ........................................................ 36 Tabela 2 Características epidemiológicas ............................................................ 39 LISTA DE SIGLAS DORT – distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. LER – Lesão por esforço repetitivo. MG – Minas Gerais SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1.1 Justificativa .................................................................................................................... 1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 1.2.2 Objetivos específcos ..................................................................................................... 12 16 17 17 17 2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 2.1 Lesões por esforços repetitivos e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho ................................................................................................................................. 2.1.1 Definição e nomenclatura ........................................................................................... 2.1.2 Etiologia ....................................................................................................................... 2.1.3 Fisiopatologia .............................................................................................................. 2.1.4 Diagnóstico diferencial ................................................................................................ 2.2 Anatomia ........................................................................................................................ 2.3 Ergonomia ...................................................................................................................... 18 18 18 19 20 21 22 24 3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 28 3.1 Métodos ........................................................................................................................... 28 3.2 População pesquisada .................................................................................................... 28 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 29 5 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 43 ANEXOS ............................................................................................................................... 50 12 1 INTRODUÇÃO Atividade de trabalho aponta a forma do homem utilizar as suas capacidades para atingir os objetivos da produção. Consequente o trabalho utiliza o corpo inteiro, físico e mentalmente para enfrentar o que não é dado pela estrutura técnico-organizacional, configurando-se como um estágio determinante na construção e na desconstrução da saúde do ser humano (ASSUNÇÃO, 2003). Barbosa e outros (2004) e Mendes (2002) estabelecem com progressiva relevância no universo do trabalho a ergonomia como um conjunto de ciências e tecnologias a fim de aumentar a produtividade, e principalmente proporcionar boas condições para a execução das atividades laborais. Afim de integrar as variáveis do trabalhador e local de trabalho, para facilitar a qualidade de vida no trabalho e favorecer a produção. Na odontologia, como nos demais campos, a ergonomia simplifica o trabalho, previne a fadiga física e mental, proporcionando maior conforto. A ergonomia tem dois objetivos fundamentais. De um lado, produzir conhecimento sobre o trabalho, as condições e a relação do homem com o trabalho, por outro, formular conhecimentos, ferramentas e princípios suscetíveis de orientar racionalmente a ação de transformação das condições de trabalho, tendo como perspectiva melhorar a relação homemtrabalho. A produção do conhecimento e a racionalização da ação constituem, portanto, o eixo principal da pesquisa ergonômica (ABRAHÃO; PINHO, 2002). O acometimento de enfermidades entre profissionais de saúde por situações geradas no trabalho é um fato concreto, e a odontologia está entre essas profissões. Além disso, o mercado de trabalho odontológico tem passado por várias transformações gerando conseqüências para a profissão e profissionais (NUNES; FREIRE, 2006). Durante a revolução industrial, no século XVIII, com a devida mudança do sistema artesanal para o sistema fabril de produção na Inglaterra, o sistema passa a enfocar nos custos, métodos de fabricação e planejamento. Mais tarde, durante o século XIX, o sistema fabril sofre uma expansão para outras partes do mundo, com isso um grande contingente de indivíduos passou a viver nas cidades e a trabalhar nas indústrias. Nos tempos atuais com o aumento da industrialização, ocorreu uma crescente nos relatos das Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LERs/DORTs), 13 chegando-se a se considerar como uma epidemia industrial (REGIS FILHO; MICHELS; SELL, 2006). Para Brasileiro Filho (2006) o termo LERs/DORTs é definido como diversas condições que acometem músculos, ligamentos e tendões e cujo denominador comum (mecanismo de lesão) é a fadiga pelo uso extremo, cumulativo e repetitivo com tensão, pressão e torção articulares. As DORTs correspondem a um conjunto de afecções relacionadas de forma direta às atividades laborativas e que acometem várias estruturas do organismo, assim como músculos, fáscias musculares, tendões, ligamentos, articulações, nervos, vasos sanguíneos e tegumento. Foram também terminologias utilizadas para cognomear DORTs as LERs, síndrome do overuse, doenças cervicobraquiais ocupacionais e afecções traumáticas cumulativas (LIANZA, 2007). Regis Filho e Lopes (1997) relataram que normalmente se encontra entre as origens de LERs/DORTs as atividades no trabalho que exijam força excessiva com as mãos, posturas inadequadas dos membros superiores, repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica das estruturas dos membros superiores e regiões anexas e o tempo insuficiente para a realização de um determinado trabalho, trabalhos como professores, cabeleireiros, digitadores. Por outro lado, causas do aparecimento de LERs/DORTs também são encontradas nas atividades domésticas de maior exigência com as mãos, como jardinagem, tricotar, costurar, digitar, em músicos, como pianistas e violinistas, e em atividades esportivas que exijam grande esforço dos membros superiores, a exemplo do vôlei, tênis, golfe, basquete e bale (BRASILEIRO FILHO, 2006). A fim de elucidar, o membro superior é formado pelo braço, antebraço, mão e cíngulo escapular, são estruturas ricamente articuladas e todas inervados pelo plexo braquial e como participante da inervação cutânea o intercostobraquial. Como anexos do membro superior encontramos toda a coluna e a cabeça. Como composição dos segmentos citados encontramos vários músculos, além de um grande conjunto de ligamentos e tendões que proporcionam o movimento das junturas de forma desejada (DANGELO; FATTINI, 2000; DANGELO; FATTINI, 2004). No Japão, durante as décadas de 1960 a 1970, ocorreu aumento no número dos casos de LERs/DORTs em diversas categorias profissionais, o que de certa forma justificou, no 14 final da década de 1970, a organização pelo Ministério do Trabalho do Comitê Nacional de Cervicobraquialgia para avaliar a gravidade e expansibilidade do problema (LIANZA, 2007). Ribeiro (1997) citado por Augusto e outros (2008) ressalta que durante a década de 1990, os casos já tomaram proporções epidêmicas no Brasil, passando de quadros que pareciam isolados, causados pela susceptibilidade e exposição ao risco por parte dos trabalhadores. Esse crescimento pode ser atribuído ao processo de reestruturação produtiva, que trouxe a precarização do trabalho, e ao reconhecimento social da LER, que se deu pela criação da Norma Técnica em 1991. Deve-se realizar uma anamnese detalhada contendo história clínica, ocupacional, familiar, social e da qualidade de vida, juntamente com uma bem elaborada análise física e em alguns casos uma avaliação psicológica para se avaliar quadros de LER/DORT (HELFENSTEIN JUNIOR, 1999b). Siena e Helfenstein Junior (2009) alertam para erros grosseiros que foram encontrados relacionados à falta de treinamento profissional, ou mesmo a incapacidade para a correta identificação da fibromialgia, com isso gerando falsos diagnósticos de múltiplas DORTs/LERs com impacto econômico, social e jurídico significativos, principalmente no ambiente médico-legal. Ainda de acordo com Helfenstein Jr. (1999b), estudos feitos nos Estados Unidos da America e na Austrália não conseguiram efetuar diagnósticos específicos em 47% e 42% dos pacientes respectivamente, ainda na Austrália, o mesmo estudo confirmou clinicamente apenas 37% dos pacientes estudados. Isso demonstra a dificuldade e imprecisão para se diagnosticar as LERs/DORTs. Doorn (1995) e Letho e outros (1991) citados por Santos Filho e Barreto (2001) explicam que as regiões mais acometidas são o pescoço, ombro e coluna lombar, sendo grande a variação nas taxas de acometimento entre os cirurgiões-dentistas. Estudos demonstram que a flexão, rotações e flexões laterais da coluna aumentam o estresse mecânico na musculatura para-vertebral e nos discos intervertebrais, assim como a mesma flexão prolongada pode provocar fadiga além de aumentar o risco de dores na região lombar da coluna vertebral (HELFENSTEIN JUNIOR, 1999). Regis Filho e outros (2010) demonstraram que através dos instrumentos rotatórios avaliados em um consultório odontológico, a pressão existente pode ser fator coadjuvante significativo para o aparecimento das LERs/DORTs, mais precisamente da síndrome do túnel carpal, o que demonstra a importância e significância dos resultados encontrados. O conjunto 15 de efeitos fisiológicos das vibrações leva a crer que fortes oscilações mecânicas diminuem a capacidade de desempenho e concentração e em muitas situações aumentam o risco de falhas e acidentes. Amadio (1995) citado por Fadel e outros (2005) refere à área da mão/punho como susceptível a diversas patologias de ordem muscular e esquelética, como a Síndrome de DeQuervain, que é o aprisionamento dos tendões do extensor breve do polegar e do abdutor longo do polegar e outra condição similar, o Dedo em Gatilho, caracterizada por dor no movimento do tendão afetado, e que têm sido associadas durante décadas com atividades repetitivas e forçadas da mão, características essas que inserem os cirurgiões-dentistas como classe de trabalho inclusa nos riscos. O percentual de profissionais com sintomatologia de LER, 25,81% para os homens e 52,94% para as mulheres, sendo pouco mais que duas vezes mais freqüente nas mulheres, reforça a característica de risco da profissão. Os baixos percentuais de profissionais que realizaram algum tipo de tratamento, 25% para os homens e 27,78% para as mulheres, é um fator de preocupação, em virtude do caráter evolutivo para uma síndrome dolorosa crônica, agravada por fatores psíquicos, no trabalho, deixando claro o alto índice de acometimento de LER e a baixa procura para tratamento (REGIS FILHO; LOPES, 1997). São apresentados relatos de caso de LERs/DORTs, respectivamente, de cisto sinovial de punho, síndrome do túnel carpal e dedo em gatilho em cirurgião-dentista, sendo todos do sexo feminino, onde a prática odontológica contribuiu, decididamente, para o desencadeamento desses acometimentos e que trouxeram forte limitação funcional nos dois últimos casos (CÂNDIDO; BITTENCOURT; REGIS FILHO, 2003). Através de uma análise dos fatores de risco para desordens musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho, ficou definido que as desordens musculoesqueléticas implicam agravos freqüentemente presentes na vida do profissional cirurgião-dentista, e muitas vezes, elas interferem na capacidade funcional desse trabalhador de saúde (GRAÇA; ARAÚJO; SILVA, 2006). Observa-se pela literatura pesquisada evidências de que um número significativo de cirurgiões-dentistas são ou foram portadores de LERs/DORTs. Entretanto, esses relatos ou eram oriundos de amostras pequenas e não representativas ou provinham de estudos de casos com subgrupos, originando controvérsias e não permitindo afirmar, ainda, que o grupo profissional dos cirurgiões-dentistas reúne características que permitem incluí-lo no grupo de risco no desenvolvimento de LERs/DORTs (REGIS FILHO; MICHELS; SELL, 2009). 16 1.1 Justificativa As patologias denominadas de lesões por esforços repetitivos (LERs)/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs) vem se destacando não apenas pela taxa crescente de acometimento na população mas também por sua ligação com o trabalho. Normalmente são decorrentes da fadiga pelo uso extremo, cumulativo e repetitivo com tensão, pressão e torção articulares, afetando dessa maneira músculos, ligamentos, fáscias e tendões. As LERs/DORTs provocam comprometimento funcional refletindo diretamente em âmbito profissional, familiar e na qualidade de vida. Isso eclode em um enorme problema financeiro e psicossocial para a sociedade, pois afetam grandes massas de trabalhadores com afastamentos sequenciais ou retirando-os de seus cargos com aposentadorias precoces, obrigando-os a abandonar sua rotina, seu círculo social e de trabalho, e exigindo que assumam um novo e muitas vezes constrangedor papel de inválidos na sociedade. Além disso, mesmo que temporariamente, perder sua capacidade de trabalho ou se vê limitado para desempenhála gera também sérias conseqüências psicológicas sobre os trabalhadores. Como ótimo meio de intervenção sobre essas patologias destaca-se a fisioterapia de forma indispensável no processo geral em todos os níveis de atenção a saúde, seja com medidas preventivas na ergonomia, ou de forma curativa em quadros patológicos já instalados. Em cirurgiões-dentistas, a incidência de acometimentos se torna questionável a partir da condição de trabalho dos mesmos, muitas vezes com equipamentos e posições não adaptados, além de repetição excessiva de movimentos com membros superiores e cintura escapular, fatores esses determinantes para o surgimento de LERs/DORTs. 17 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Analisar a possível relação entre as atividades ocupacionais dos cirurgiões-dentistas da cidade de Paracatu/MG e as lesões por esforço repetitivo/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. 1.2.2 Objetivos Específicos Mensurar o índice de cirurgiões-dentistas com histórico de lesão por esforço repetitivo/distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. Avaliar o perfil profissional e epidemiológico dos odontólogos através de questionário específico para o estudo. Elaborar uma análise dos dados obtidos ao final da pesquisa. 18 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Lesões por Esforços Repetitivos e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho 2.1.1 Definição e Nomenclatura Primeiramente descreveu-se a “síndrome cervicobraquial ocupacional” em operadores de caixa registradora no Japão, na Austrália usou-se o termo “ferimento por uso excessivo de trabalho” em trabalhadores de linha de montagem e digitadores, posteriormente foram referidos casos de “desordem de trauma cumulativo” em trabalhadores expostos a traumas cumulativos nos Estados Unidos da América. A nomenclatura “lesões por esforços repetitivos (LERs)” começou a ser utilizada por volta do final da década de 50, para designar um conjunto de patologias, síndromes e/ou sintomas músculo-esqueléticos que acometem principalmente os membros superiores, relacionando-se o seu surgimento de forma direta ao processo de trabalho. (SANTOS FILHO; BARRETO, 1998). Augusto e outros (2008) relatam que em 1997, com uma revisão geral realizada tendo por base as características gerais da patologia, introduziu-se a expressão “distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs)”, sendo esse termo mais adequado pois alberga vários outros estados dolorosos, sem a necessária presença da lesão tecidual, particularmente para a musculatura. As LERs/DORTs são um conjunto de afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, membros superiores, região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional e decorrente, de forma combinada ou não de: uso repetitivo de grupos musculares, uso forçado de grupos musculares e manutenção de postura inadequada. (GRAVINA, 2002; BRASILEIRO FILHO, 2006). Segundo Helfenstein Junior (1999a) pode-se encontrar ainda em trabalhos literários uma vasta nomenclatura para intitular essas condições, assim como: Distúrbios ou Desordens por Trauma Cumulativo. 19 Síndrome da Sobrecarga Ocupacional. Síndrome do Esforço Repetitivo. Distúrbios Músculo-Esqueléticos Ocupacionais. Síndrome Ombro-Braço. Síndrome do Membro Superior. Síndrome Cervicobraquial Ocupacional. Síndrome da Hipersolicitação. Síndrome da Dor Crônica do Membro Superior. Injúrias por Uso Repetitivo. Lesões de Sobrecarga Ocupacional. Injúrias Ocupacionais de Esforço de Repetição. Distúrbios do Membro Superior Relacionados ao Trabalho. Existem diversas nomenclaturas, pois se enquadram nesse contexto, apenas para citar, atividades como sobrecarga muscular estática ou excesso de força empregado para executar uma função. Porém ainda de acordo com Helfenstein Junior (1999) os termos LERs/DORTs são mais utilizados e de forma mais completa. 2.1.2 Etiologia Alves (1998) e Verthein (2000) citados por Neves e Nunes (2010) destacam o fator "culpa", presente em relatos de pacientes que alegam serem as LERs/DORTs decorrentes de processos psíquicos, na sua maioria desvinculados das condições e da organização do trabalho. Ao admitir características essencialmente subjetivas do processo de adoecimento, esta concepção sobre a etiologia da doença descaracteriza a relação com o trabalho, focalizando o portador do distúrbio como predisposto para a mesma. Dessa forma, transfere para o sujeito a responsabilidade por ter adoecido. Daí, o processo de culpa por ter adoecido. Porém vários fatores associados diretamente trabalho concorrem para a ocorrência de LERs/DORTs como, a manutenção de posturas inadequadas, o esforço físico excessivo, a invariabilidade de tarefas, a pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, o trabalho muscular estático, a repetitividade de um padrão de movimentos, impactos e vibrações. A intensificação do ritmo, da jornada e da pressão por produção e a perda 20 acentuada do controle sobre o processo de trabalho por parte dos trabalhadores (fatores relacionados à organização do trabalho), têm sido apontados como os principais determinantes para a disseminação da patologia (MERLO; JARCQUES; HOEFEL, 2001). As LERs/DORTs acometem um grande número de indivíduos e apresentam etiologia multifatorial, sendo, portanto, de grande complexidade diagnóstica. Em comum, os indivíduos apresentam dor e desconfortos em diferentes regiões corporais. Além da dor difusa, parecem ser também sintomas comuns os distúrbios do sono, ansiedade, depressão, fadiga, vertigem, dores de cabeça e síndrome do cólon irritável. (ALENCAR; COURY; OISHI, 2009). Para finalizar as evidências epidemiológicas apontam para uma associação de fatores causais interagindo sinergicamente nos processos agudos e na cronificação dessas patologias. Não existe, ainda, conhecimento acumulado que permita quantificar a parcela de cada fator na determinação do esquema global dessas afecções, assim como o evento precipitante de cada caso clínico, visto a intersecção de vários fatores na história de cada trabalhador. E, embora as condições objetivas de trabalho sejam explicações consensuais sobre a etiologia dos sintomas, reconhecidas pelos órgãos previdenciários e referidas nas denominações da doença, mantémse, ainda, a continuidade do debate em torno desta questão (MERLO; JARCQUES; HOEFEL, 2001). 2.1.3 Fisiopatologia Para Lech (1998) as lesões degenerativas em geral surgem a partir da terceira década de vida na população, pois ocorrem alterações fisiológicas que podem receber influências hormonais, imunológicas, bioquímicas e mecânicas. A frouxidão ligamentar exagerada por exemplo favorece uma hipermobilidade articular e consequentemente maior instabilidade podendo facilitar o surgimento de tendinites. Sujeitos a tensão pelos músculos e compressão dos ossos e ligamentos adjacentes quando demasiadamente exigidos, os tendões respondem com deformidade em suas ligações moleculares, ocorrendo dessa forma alterações metabólicas, fisiológicas e circulatórias, provavelmente pela obstrução do fluxo sanguíneo e consequentemente de nutrientes podendo facilitar por exemplo o aparecimento de peritendinites, fomentando dessa forma a hipótese de isquemia como principal fator da fisiopatologia (NICOLETTI, 1996). 21 Também sugere-se que determinadas posições podem resultar em aumento da pressão em volta dos nervos e ocasionar compressão dos mesmos, posturas anormais podem causar contratura muscular e secundariamente compressão de estrutura neurovascular e que tais posturas exijam menos de alguns músculos enfraquecendo-os, o que resultaria em excesso de uso de outros músculos, estabelecendo então um ciclo de desequilíbrio muscular. Deixando assim ainda incerto o real mecanismo patológico (MCKINNON; NOVAK, 1994). 2.1.4 Diagnostico Diferencial Himmelstein e outros (1995) relatam que um detalhado inquérito contendo aspectos pessoais, profissionais e epidemiológicos além de um minucioso exame físico são essenciais para avaliação desses pacientes. Sendo que parte destes pacientes tem uma condição clínica indefinida e uma ausência de sinais físicos. Erroneamente, muitos trabalhadores têm recebido múltiplos diagnósticos de doenças atribuídos as LERs/DORTs, isso para justificar seus respectivos quadros de dores difusas pelo corpo. Tem sido frequentemente diagnosticado, num mesmo paciente, diferentes associações de moléstias. Deste modo tem sido constatado pacientes com mais de 10 diagnósticos, porém nenhum deles confirmado, a principal condição patológica a ser lembrada em pacientes com dor difusa, supostamente portadores de LER/DORT é a fibromialgia (WEESTGAARD; JANSEN, 1992). A fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica não inflamatória, caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada à palpação de determinados sítios denominados pontos dolorosos, apresenta fadiga, distúrbios do sono e do humor, e ao contrário das LERs/DORTs, que apresentam dor, parestesia, sensação de peso e fadiga, não estão correlacionadas ao trabalho diretamente (ALENCAR; COURY; OISHI, 2009). Para Siena e Helfenstein Junior (2009) a comprovada falta de treinamento e despreparo médico envolvendo tais doenças traduz-se em uma pior performance para se elaborar um diagnóstico final e coeso desses pacientes. Isso se torna grave pois indivíduos acometidos com LERs/DORTs aposentam com maior freqüência que aqueles diagnosticados com fibromialgia. 22 A nossa sociedade é quem sofre as conseguencias desse fenômeno, com milhares de indivíduos afastados do trabalho, onerando nosso sistema previdenciário. E, o pior, muitos desses indivíduos terminam aposentados numa fase muito precoce da vida, quando poderiam estar contribuindo para a nossa comunidade (HELFENSTEIN JUNIOR, 2006). 2.2 Anatomia Para iniciar um descrição das estruturas mais acometidas nas LER/DORT, a fáscia muscular é uma camada de tecido conjuntivo modelado que envolve completamente o corpo sob a tela subcutânea, elas dividem os músculos em grupos (septos intermusculares), músculos individuais e feixes neurovasculares (fáscias de revestimento) e as membranas serosas que revestem as cavidades do corpo são as fáscias subserosas (MOORE; DALLEY, 2007). Os músculos são classificados em estriados esqueléticos, estriados cardíacos ou lisos, os esqueléticos são ainda classificados de acordo com o seu formato em planos, peniformes, fusiformes, quadrados, circulares ou esfincterianos, eles atuam contraindo, permitindo movimentos automáticos, mantendo o tônus muscular ou permitindo contração ativa voluntária. Eles ainda executam movimentos concêntricos (movimento de encurtamento) ou excêntricos (movimento de relaxamento controlado), esses movimentos que causam o estresse muscular (JACOB; FRANCONE; LOSSOW, 1990). De acordo com Goss (1988) os tendões são feixes fibrosos brancos que fixam os músculos aos ossos. Variam em comprimento e espessura, são de grande força de tensão, flexíveis e praticamente sem elasticidade. Constituem de feixes colágenos firmemente unidos entre si e cujas fibrilas tem uma disposição paralela. Exceto onde estão inseridos os tendões tem uma bainha de delicado tecido conjuntivo fibroelástico e possuem poucos vasos sanguíneos. Os ligamentos por sua vez são fixados a ossos por ambas as extremidades e resistem a tensões predominantemente em uma única direção, não possuem a mesma brancura dos tendões pois possuem maior mistura de fibras elásticas e colágenas finas que se entrelaçam entre os feixes paralelos. São quase tão fortes como tendões e possuem ainda uma pequena elasticidade (GOSS, 1988). 23 Seguindo a definição de Spencer (1991) o nervo é um conjunto de fibras nervosas do sistema nervoso periférico. Ele é composto por prolongamentos de vários neurônios unidos entre si por bainhas de tecido conjuntivo. Cada fibra nervosa envolvida por uma bainha é denominada endoneuro, o seu agrupamento forma o perineuro, cada grupo de fibras envoltas pelo perineuro é denominado fascículo que por sua vez quando envolvidos pelo tecido conjuntivo se denomina epineuro constituindo assim um nervo. Eles podem ser sensitivos que levam impulsos em direção ao sistema nervoso ou mistos com prolongamentos motores e sensitivos. Para Netter (2008) a sinóvia ou membrana sinovial é o tecido que reveste as superfícies não cartilaginosas das articulações sinoviais e produz o liquído sinovial, que por sua vez possui um aspecto transparente e viscoso. Sua função no sistema locomotor é de lubrificar as articulações a qual se encontra, permitindo seu movimento suave e indolor. Já definido as principais características de cada estrutura acometida, deve-se também explanar sobre as regiões do corpo onde os cirurgiões-dentistas mais sofrem impacto durante a execução de suas atividades. O pescoço é a área de transição entre o crânio superiormente e as clavículas inferiormente unindo a cabeça ao tronco e membros. Ele é formado pelas 7 vértebras cervicais que articulam entre si e o osso hióide. Possui vários músculos superficiais e profundos (WOLF-HEIDEGGER; KOPF-MAIER, 2006). De acordo com Kapandji (2000), a coluna cervical é composta pelos ligamentos transversoaxoidiano, occípto-axoidiano médio, vertebral comum posterior, atlantooccipital anterior, atlantoaxoidiano anterior, vertebral comum anterior, atlantooccipital posterior, atlantoaxóideo posterior, interespinhal, cervical posterior e o amarelo. A cintura escapular ou cíngulo do membro superior, também muito afetado, é constituído pelas clavículas e escapulas porém não formam um suporte muito firme, estando presa ao esqueleto axial através da extremidade medial de cada clavícula com o manúbrio do esterno (esternoclavicular), no entanto como não suporta o peso do corpo esse apoio é suficiente. A extremidade lateral de cada clavícula articula-se com o acrômio da escápula (acromioclavicular), que por sua vez estão fixadas a parte posterior do tórax por músculos. A cintura escapular permite uma ampla gama de movimentos à articulação entre a cavidade glenóide da escapula e o úmero formando o ombro (PUTZ; PABST, 2000). Os principais ligamentos da cintura escapular são, esternoclavicular anterior e posterior, acrômioclavicular e coracoclavicular. E os músculos mais importantes presentes são, o trapézio com ação elevando, puxando e abaixando a escápula, o rombóide atua na 24 elevação da escápula e o peitoral menor com função de abaixamento, protrusão e rebaixamento da escápula ( KAPANDJI, 2000). Para Netter (2008) define os membros superiores, principal meio de trabalho dos profissionais estudados, como fazendo parte do esqueleto apendicular, cada membro superior é constituído por um braço que articula-se de forma proximal com a cavidade glenóide pela articulação glenoumeral e na extremidade distal com o antebraço, constituído pelos ossos rádio e ulna, o braço e antebraço são articulados pela úmero-radial, úmero-ulnar e rádio-ulnar proximal. O antebraço se articula em sua extremidade distal com o carpo, que por sua vez se articula entre si através da intercarpal e com o metacarpo pela articulação carpometacarpal que continuamente em sua parte distal articula-se com as falanges, essas sim, movimentam pelas articulações interfalângicas. 2.3 Ergonomia Para Dortch e Trombly (1990) quando há existência de risco lesivo decorrente do trabalho, a utilização de procedimentos ergonômicos como um meio de prevenção se mostra eficiente pois as tarefas devem respeitar os fatores constitucionais de cada indivíduo. Durante a atuação de cirurgiões dentistas deve-se avaliar a estrutura física, fatores biomecânicos e antropométricos, condição psicológica, postura durante o trabalho, padrão de movimento e força utilizada afim de minimizar a incidência de lesões, além respeitar as limitações individuais como biótipo, sexo, idade, altura e peso. Esse profissionais devem ser muito bem preparados para que possam assumir sua funções laborais no dia-a-dia. Treinos podem ser direcionados para fortalecimento de coluna cervical, membros superiores e cíngulo escapular em cirurgiões-dentistas, pois são estruturas mais exigidas durantes as suas participação funcional. Segundo descrito por Sznelwar e outros (2004) se imprudentemente não considerarmos as características mais objetivas de cada profissão e consequentemente a atividade que em cada setor é mantida de seu modo mais vicioso, assim como a grande e complexa inter relação com o cliente e a sempre variante demanda para execução das tarefas prestadas, apesar dos resultados positivos atingidos em serviços prestados ou em instituições privadas pode-se observar no trabalho a sempre constante incompatibilidade no trabalho 25 durante sua realização. Fatores esses que seriam responsáveis de forma paralela por um aumento significativo na taxa de morbidade de trabalhadores. Patologias com as LER/DORT, ligadas estritamente a atividade laboral do dia-a-dia, antes observadas em sua maioria nos mundos industrial e agrícola, tornaram-se parte do panorama em serviços, atingindo assim grande parte da população e entre eles profissionais de saúde que atuam em âmbito hospitalar, o que diretamente inclui cirurgiões-dentistas. Fatores empregados para execução da atividade como posturas, movimentos e forças, devem respeitar limites biomecânicos. O tempo da jornada de trabalho, a quantidade e a duração de intervalos, devem ser ambos adequados. Uma rotatividade periódica das tarefas pré-definidas deve ser uma boa opção na prevenção, principalmente no caso de cirurgiõesdentistas pois são uma classe que requerem alto nível de movimentos repetitivos e forças prolongadas de forma constante em um grupo pequeno de segmentos (HELFENSTEIN JUNIOR, 1999c). Medidas ergonômicas bem implantadas atuam de forma preventiva para evitar o surgimento de LERs/DORTs, pois visam maximizar o conforto, saúde, segurança, enfim condições ideais de trabalho favorecendo também maior produtividade e eficiência do trabalhador. Isso porque a ergonomia proporciona um melhor equilíbrio a carga de cada trabalhador ao seu trabalho. Para que isso ocorra, a inserção do preceitos ergonômicos ocidentais devem se fundamentar na observação do local de trabalho, claro, sempre atento a forma de execução das atividades e separando dessa maneira os fatores de risco a saúde dos cirurgiões-dentistas e implementando soluções emergentes e plausíveis (HALES; BERTSCHE, 1992). Bins Ely (2003) citado por Villarouco e Andreto (2008) destaca a importância dos fatores ambientais para a realização do trabalho de forma eficiente por todo e qualquer ser humano, isso se torna importante em se observado a partir do ponto conhecido da diversidade da raça humana e da diversidade dos trabalhos e mesmo dentro de grupos específicos nota-se a mudança de condição pra cada indivíduo realizar sua tarefas, isso sempre lembrando que a característica do ambiente interfere para execução da tarefa. Tornando assim um enorme desafio projetar ambientes que favoreçam de forma adequada as necessidades do trabalhador, vários fatores como o mobiliário, as posições, temperatura, iluminação, umidade, ventilação e barulho devem ser levados em consideração durante a elaboração de um local de trabalho para que se possa preservar os aspectos físicos, psicológicos e sociais durante as atividades, assim 26 feita a observação com certeza a realização das tarefas diárias terá um resultado benéfico sobre seus executantes. Para que o indivíduo apresente melhor desempenho e resistência é importante um bom condicionamento físico e flexibilidade, assim como parte do programa ergonômico uma série de exercícios laborativos pode ser instituído, desde que englobe atividades aeróbicas, alongamentos isocinéticos, exercícios de flexibilidade e de relaxamento. As atividades de vida diária também precisam ser avaliadas, incluindo a observação quanto as atividades não ocupacionais, principalmente as práticas de ginástica, esporte, lazer, hobbies e que envolvam habilidades manuais como o uso do computador e tricô. Concluindo, a aplicação de um projeto ergonômico deve respeitar vários passos para se reduzir os riscos de lesões associadas aos esforços cumulativos, desde a análise ergonômica inicial da estrutura física até a implementação de ginástica laboral (HELFENSTEIN JUNIOR, 1999c). Um protocolo de atividades bem elaboradas e realizadas no local de trabalho propicia diminuição nos índices de dor musculoesquelética, porém, esse efeito benéfico depende das características dos programas de exercícios realizados. O exercício reduz a dor musculoesquelética quando envolve movimentos resistidos, supervisionados e aplicados por períodos igual ou superior a dez semanas, talvez por isso a dificuldade em se manter a conduta com grupos profissionais. Essa efetividade foi verificada para o controle da dor cervical e lombar, que por sinal são bastante características em odontólogos. Para alguns autores nenhum estudo de alta qualidade metodológica aplicando treinamento para a redução dos sintomas para a região dos ombros obteve resultados positivos, embora essa região tenha sido avaliada apenas para trabalhadores que realizavam atividades leves ou sedentárias. Finalmente, há forte evidência para o controle de dor cervical em ambientes de trabalhos sedentários e moderada evidência para o controle de dor lombar em ambientes de manuseio (COURY; MOREIRA; DIAS, 2009). A atividade laboral dos odontólogos os obriga a atuarem sobre vários fatores de risco para a ergonomia de um modo geral, fatores já descritos anteriormente e que colocam em risco a saúde física e mental desses profissionais. Eles exigem bastante de seus membros superiores e estruturas adjacentes, dessa forma temos a coluna cervical e as mãos como estruturas mais usadas, apresentam uma repetitividade de movimento de forma freqüente apresentando basicamente um padrão único, compressão mecânica em segmentos durante o trabalho que leva a compressão de estruturas do organismo pela utilização de um ambiente físico inadequado, compressão também que pode ser gerada devido a força excessiva 27 necessária para execução de certas atividades e conseqüente a tudo, a manutenção prologanda de posturas incorretas pra facilitação da realização da atividade no momento. Sobre todos esses aspectos salienta-se diretamente a importância de uma intervenção ergonômica bem elaborada por um profissional apto afim manter a saúde e bem-estar dessa classe profissional, prevenindo o surgimento de LER/DORT e consequentemente de afastamentos e aposentadorias (REGIS FILHO; MICHELS; SELL, 2006) Para Neckel e Ferreto (2006) o questionário se mostra como um grande aliado para se efetuar a avaliação de profissionais quanto ao aspecto ergonômico, dentre as classes profissionais possivelmente avaliadas podemos encontrar os cirurgiões-dentistas, com um questionário bem elaborado, seja ele semi-estruturado ou estruturado, pode-se avaliar as condições de trabalho. Fatores como o tempo de exercício profissional, horas diárias de trabalho, doenças relacionadas as atividades laborais, condições do trabalho como a higiene, ruído, temperatura, imobiliário, iluminação e outras, assim como horas destinadas ao uso do computador ou a leitura, limpeza do ambiente, dificuldades físicas e mentais várias outros fatores do cotidiano podem ser avaliados através de um questionário. Por meio dessa avaliação do ambiente e das condições de trabalho, deve-se procurar intervir com providências que visem a modificação do ambiente laboral afim de prevenir o surgimento ou mesmo tratar afecções relacionadas ao trabalho, isso tudo aplicando-se a ergonomia, bem como atividade globais físicas e mentais pra uma melhor preparação do organismo quanto a sua atividade funcional diária. 28 3 METODOLOGIA 3.1 Método O presente trabalho irá se basear em um estudo quantitativo do tipo pesquisa de campo: levantamento. O estudo quantitativo foca porcentagens e indicadores numéricos para demonstrar a base do estudo através de análises estatísticas para se atingir o objetivo, a pesquisa de campo exige lugares da vida cotidiana e fora do laboratório ou da sala de entrevista visando coletar dados que serão depois analisados utilizando uma variedade de métodos tanto para a coleta quanto para a análise. Afim de correlacionar as tarefas executadas pelo cirurgiões-dentistas e as lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho (LERs/DORTs) (SPINK, 2003). 3.2 População Pesquisada A primeira etapa deste estudo foi a elaboração de um requerimento (anexo A) criado pelo autor do estudo, posteriormente analisado e aprovado pela coordenação do curso de Fisioterapia da Faculdade Tecsoma, posteriormente enviado ao Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais em Belo Horizonte, solicitando uma lista contendo o endereço de todos os cirurgiões-dentitas devidamente cadastrados no ano de 2010 da cidade de Paracatu, totalizando 65 profissionais. Para a coleta dos dados epidemiológicos foi utilizado um questionário semiestruturado, com questões fechadas e abertas, denominado “Questionário Profissional/Epidemiológico” (anexo B) e que foi adaptado com base de Regis Filho (2010). Objetivando levantar os dados necessários para avaliação completa da situação estudada, o questionário foi pessoalmente entregue aos cirurgiões-dentistas, ou secretários responsáveis, devendo ser assentido à participação voluntariosa do estudo, após a sua assinatura no termo de consentimento livre e esclarecido (anexo C). 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os 65 cirurgiões-dentistas, 23 foram descartados por incompatibilidade do endereço fornecido pelo Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais. Após 3 dias úteis da entrega dos questionários, foi feito o recolhimento dos mesmos, dos 44 restantes, 21 não foram respondidos por motivos individuais e 21 foram respondidos adequadamente, destes, 5 foram excluídos do estudo por não terem pelo menos 5 anos de profissão exercida. Os dados obtidos foram analisados, processados e demonstrados em tabelas e gráficos, através do programa Microsoft Excel (2007), seguidos de análise descritiva afim de estabelecer a relação entre as variáveis com o fato de apresentar ou não apresentar LER/DORT. 6 10 Masculino Feminino Figura 1: Comparativo do sexo predominante entre os cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. A figura 1 evidencia que dos 16 questionários validados, 10 (62,5%) foram enviados por profissionais do sexo feminino e os 6 (37,5%) restantes, por cirurgiões-dentistas do sexo masculino, mostrando que o quadro denominado de feminilização na profissão odontológica, observado por Rabello, Godoy e Padilha (2000) também está presente no município de Paracatu. Quantidade de dentistas 30 7 6 5 4 3 2 1 0 6 4 4 2 Idade 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 Idade em anos Figura 2: Comparativo da idade predominante entre os cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. A figura 2 discordando dos achados de Martelli e outros (2010) e Funk e outros (2004) citados por Martelli e outros (2010) que apontam para predominância de dentistas entre 25 e 43 anos, no seguinte estudo observou-se uma concentração de profissionais entre 50 a 59 anos com 6 indivíduos (37,5%), seguido por profissionais entre 30 a 39 anos e 40 a 49 anos cada um com 25%, e por último com apenas 12,5% os profissionais entre 20 a 29 anos, ficando claro uma média de idade elevada dos profissionais se comparado com pesquisas semelhantes. Quanto ao estado civil, à maioria dos entrevistados informou ser casado,11 (68,75%). Os solteiros e divorciados são representados por 2 profissionais cada (12,5%) e 1 viúvo (6,25%). Assim como encontrado no estudo de Matos e Tomita (2004) equivalente a mais de Quantidade de dentistas ¾ da amostra em uma faixa etária onde normalmente já estão com família constituída. 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 8 5 8 5 3 3 Tempo de graduação Tempo de exercício 5 a 14 15 a 24 25 a 34 Anos Figura 3: Comparativo do tempo de graduação e exercício da profissão entre os cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. 31 A figura 3 demonstra o tempo graduado e de exercício efetivo em odontologia, observou-se uma concentração de 8 profissionais (50%) entre 25 a 34 anos, ou seja, metade dos cirurgiões-dentistas está exposta, a princípio, a um período de tempo longo para adquirir algum tipo de LER/DORT segundo Araújo e Dimenstein (2006). O restante é representado por 5 dentistas (31,25%) entre 5 a 14 anos e 3 (18,75%) entre 15 a 24 anos. 7 Especialista Sem especialização 9 Figura 4: Comparativo de cirurgiões-dentistas que se especializaram dentro da sua área de atuação. Fonte: Dados coletados pelo autor. 1 Ortodontia 3 Endodontia Odontopediatria 2 Prótese dentária 1 Figura 5: Comparativo da predominância entre as especialidades adotadas pelos cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletado pelo autor. Na figura 4, 9 dos entrevistados (56,25%) não se especializaram e 7 (43,75%) resolveram se especializar em alguma área. Dentre opções a ortodontia, como demonstrado na figura 5, se mostrou como especialização mais procurada, contando com 3 odontólogos (42,85%), seguido pela odontopediatria com 2 (28,57%), endodontia e prótese dentária completam as especialidades com 1 cada uma (14,28%), esse dado assim como demonstrado por Bastos e outros (2003) não comprova uma relação direta entre alguma especialização e o surgimento de LER/DORT. 32 7 Apresentam LER/DORT Não apresentam LER/DORT 9 Figura 6: Comparativo de cirurgiões-dentistas que apresentam LER/DORT. Fonte: Dados coletados pelo autor. Condizendo com a figura 6, Helfenstein Junior (1999a) observou um aumento nos números de LER/DORT no Brasil, um estudo realizado em Belo Horizonte – MG demonstrou um salto de prevalência de 1,56% no ano de 1985 para 41,77% no ano de 1988, uma grande progressão em um curto período de tempo. Porcentagem essa de acometimento muito próxima a obtida no estudo, onde 7 dentistas (43,75%) apresentam alguma manifestação dolorosa ou não nos membros superiores, cintura escapular ou pescoço em virtude de um mesmo padrão de movimento no exercício da profissão e 9 (56,25%) não apresentam nenhuma manifestação. 3 Matutino e Vespertino Matutino, Vespertino e Noturno 13 Figura 7: Comparativo do período em que os cirurgiões-dentistas exercem sua profissão. Fonte: Dados colhidos pelo autor. Como observado na figura 7, ao serem questionados quanto ao horário de trabalho, 13 responderam que atuam no período matutino e vespertino (81,25%), dados correspondentes aos estudos apresentados por Lamas, Blank e Calvo (2008). Apenas 3 (18,75%) trabalham os três períodos do dia, atuando com grande carga de trabalho. 33 Possui outro emprego 8 8 Não possui outro emprego Figura 8: Comparativo de cirurgiões-dentistas que possuem duplo emprego. Fonte: Dados coletados pelo autor. Contrariando a figura 8, os estudos realizados por Alencar, Schultze e de Souza (2010), relataram uma incidência menor de duplo emprego em pessoas com escolaridade de nível superior, fato não constatado no estudo pois 8 entrevistados (50%) possuem um duplo Quantidade de dentistas emprego e 8 (50%) não possuem duplo emprego, ficando dividido assim em partes iguais. 5 4 4 3 2 2 1 1 1 Duplo Emprego 0 Não respondeu 1 a 10 11 a 20 21 a 30 Anos Figura 9: Comparativo do tempo de duplo emprego exercido pelos cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. A figura 9 evidencia quanto tempo os cirurgiões-dentistas possuíam de duplo emprego, 1 (12,5%) não respondeu há quanto anos atuavam nele, enquanto que 4 (50%) atuavam já entre 11 e 20 anos, novamente contrariando as pesquisas de Alencar, Schultze e de Souza (2010) que relatam poucos anos de duplo emprego entre esses profissionais, no restante 2 (25%) atuavam já entre 1 a 10 em um duplo emprego e 1 (12,5%) entre 20 e 30 anos. Quantidade de dentistas 34 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 5 Até 1 2 2 2 3 Horas por dia utilizando o computador Não utilizam Horas por dia Figura 10: Comparativo de quantas horas diárias os cirurgiões-dentistas utilizam o computador. Fonte: Dados coletados pelo autor. Os estudos de Merlo, Jacques e Hoefel (2001) relatam o fator predisponente pela utilização de computadores para o surgimento de LER/DORT quando o uso médio diário é acima de 4 horas, o que, demonstrado na figura 10, não se mostrou fator de risco nos cirurgiões-dentistas de Paracatu, pois 5 (31,25%) profissionais utilizam o computador até 1 hora por dia, 2 (12,25%) utilizam até 2 e a mesma proporção até 3 horas ao dia, e por último, a imensa maioria de 9 (56,25%) relatam não utilizar computador com freqüência. 0 1 Dias Meses 6 Anos Figura 11: Comparativo de quanto tempo os cirurgiões-dentistas acometidos por LER/DORT relatam sentir dor. Fonte: Dados coletados pelo autor. Como demonstrado na figura 11, entre os profissionais que responderam sentir dor, 6 (85,71%) relataram a existência desse quadro álgico por anos, 1 (14,29%) disseram que sentem dor já por meses e ninguém relatou dor recente por apenas dias, esses resultados 35 condizem com a média de 6 anos do processo patológico instalado encontrada por Caetano, da Quantidade de dentistas Cruz e Leite (2010). 4 3 3 2 2 1 1 1 0 Início da dor 0 0 Manhã Tarde Noite Madrugada Acorda a Não noite com responderam dor Período do dia Figura 12: Comparativo de qual período do dia é mais presente o início da dor. Fonte: Dados coletados pelo autor. Na figura 12, contrariando os estudos apresentador por Regis Filho, Michels e Sell (2006), onde os mesmos relatam início da dor no período da tarde ou noite após horas de uso, o seguinte estudo apresentou 3 (42,85%) relatos de dor já ao início do dia, seguido por 2 profissionais (28,57%) não responderam, 1 (14,28%) a tarde e noite, e ninguém relatou algia de madrugada ou mesmo acordar a noite com dor. 4 3 3 3 2 1 1 Dor após quantas horas de trabalho 0 Início Meio Final da jornada de trabalho Figura 13: Comparativo de quanto tempo é necessário durante a atuação profissional para os cirurgiões-dentistas relatarem dor. Fonte: Dados coletados pelo autor. Na figura 13, 3 (42,85%) dos cirurgiões-dentistas apresentam dor já durante o início de sua atividade e a mesma quantidade apresenta dor durante a metade de seu período de trabalho, e 1 (14,30%) apresenta dor ao final da jornada de trabalho, esse resultado não condiz 36 se comparado com o estudo de Regis Filho e outros (2010), no qual diz que a atividade do cirurgião-dentista não apresenta risco ocupacional quando exercido por um curto período. Tabela 1: Comparativo de ocorrência da dor. Questão Descrição das Questões Aplicadas Resultados Sim % Não % 3.9 A dor tem relação com o trabalho? 07 100 00 00 3.10 A dor ocorre espontaneamente? 06 86 01 14 3.11 A dor ocorre por movimento repetitivos? 06 86 01 14 Fonte: Dados coletados pelo autor. Como demonstrado na tabela 1, todos os 7 profissionais que responderam ao questionário e relataram sentir dor disseram haver relação da mesma com o seu trabalho, totalizando 100% dos entrevistados, assim como observado a relação direta no modo de executar sua atividade e os quadros de LER/DORT apresentados em estudo de Graça, Araújo e Silva (2006). Dentre os entrevistados, 6 odontólogos (85,71%) relataram sentir dor espontaneamente e ao executar movimentos repetitivos, isso porque a dor já se encontra decorrente de uma patologia instalada condizendo com o estudo apresentado por Nunes e Freire (2006), portanto a dor pode ser espontânea ou também ao executar movimentos repetitivos, em contrapartida 1 profissional (14,29%) da população pesquisada relatou não sentir dor em nenhuma dessas situações. 37 Outros 0 0 Região escapular 0 1 Segmento corporal Pescoço 4 3 2 2 Ombro Braço 0 Cotovelo 0 Antebraço 0 3 1 Irradiação da dor Localização Inicial da dor 3 1 1 Punho Mão 3 0 Dedos 2 1 0 1 2 3 4 5 Quantidade de dentistas Figura 14: Comparativo de qual segmento corporal apresenta localização inicial da dor ou irradiação da dor em cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. Os valores encontrados por Santos Filho (1998), em que 22%, 21%, 20% e 17% apresentam dor inicial no membro superior, coluna, pescoço e ombro, respectivamente, não estão de acordo com o presente trabalho, assim como demonstrado na figura 14, pois pode-se observar maior incidência em pescoço, afetando 3 profissionais (42,85%), logo após em ombro atingindo 2 dentistas (28,57%) e somente ao final afetando o membro superior com 1 cirurgião-dentista acometido na mão e 1 nos dedos representando 14,28% cada uma das opções, além de não afetar inicialmente as outras regiões com representação de 0% cada uma. Porém quanto à irradiação da dor, se comparando ao estudo de Villarouco e Andreto (2008) os dados da figura 14 são compatíveis, pois a prevalência de irradiação da dor para o pescoço e membros superiores, respectivamente, são predominantes. Houve 4 queixas de irradiação para o pescoço (20%), 3 para a mão, antebraço e punho (15% cada), 2 para as dedos (10%), 1 para punho, cotovelo e região escapular (5% cada) e ninguém relatou dor irradiada para outro local. Quantidade de dentistas 38 4 3 3 2 2 2 Característica da dor 1 0 0 0 Pontada Queimação Peso Outros Não responderam Característica da dor Figura 15: Comparativo da característica da dor em cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. Assim como discutido por Regis filho e Lopes (1997), a principal característica da dor em cirurgiões-dentistas é o peso, sentido por 3 entrevistados (42,85%). Evidenciado na figura 15 completaram o quadro a queimação com 2 respostas (28,57%), assim como os que não responderam também na mesma quantidade, e nenhuma resposta para pontada ou outras Quantidade de dentistas características. 4 3 3 2 2 2 Intensidade da dor 1 0 Fraca Média Forte Intensidade da dor Figura 16: Comparativo da intensidade da dor sentida pelos cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. Ficou evidenciado na figura 16 quanto a intensidade da dor, que predomina entre os 7 odontólogos que relataram algum quadro álgico ser mais freqüente a dor média com 42,85% do total, seguido pela dor fraca e forte com 28,57% cada. Esses valores contradizem os ditos por Weestgaard e Jansen (1992) que relataram predominância da dor forte. 39 Tabela 2: Características epidemiológicas Questão Descrição das Questões Aplicadas Resultados Sim % Não % 3.16 Dor a movimentação? 07 100 00 00 3.17 Dor a palpação? 04 57 03 43 3.18 Existem fatores que melhoram a dor? 07 100 00 00 3.19 Existem fatores que pioram a dor? 07 100 00 00 3.20 Existe fatores que acompanham a dor? 03 43 04 57 3.21 Existe impotência funcional? 03 43 04 57 3.22 Existe parestesia? 00 00 07 100 3.23 Existe limitação de movimentos? 05 71 02 29 3.24 Existe perda de controle dos movimentos? 01 14 06 86 3.25 Existe edema na região dolorosa? 01 14 06 86 3.26 Existe rubor? 00 00 07 100 Fonte: Dados coletados pelo autor. A tabela 2 demonstra o perfil epidemiológico dos cirurgiões-dentistas entrevistados, deles 100% relataram sentir dor a movimentação, assim como existir fatores que aliviam e que pioram o quadro álgico e 4 (57%) relataram dor também a palpação, em contrapartida 3 (43%) não relatam sentir mais dor a palpação. Dados parecidos são discutidos por Regis Filho, Michels e Sell (2006) pois relatam piora do quadro de LER/DORT quando se executa movimentos excessivos com algum membro afetado, que de certa forma já inclui em fatores que pioram a dor, assim como o repouso facilita o alívio da dor. Além disso também explanaram dor a palpação devido o estado inflamatório característico dessas patologias. Ao contrário do descrito por LECH (1998), que diz ser frequente a presença de fatores que acompanham a dor, ficou demonstrado uma minoria com 3 dentistas (43%) que relataram 40 haver algum fator que acompanha a dor, e o restante, 4 (57%) não apresentam fatores adjacentes as dores. Assim como observado em relação aos fatores que acompanham a dor, a questão sobre impotência funcional também é contraditória quando comparado a outros estudos, Helfenstein Jr. (1999b) relata a LER/DORT em como uma patologia com forte comprometimento funcional, levando a muitos afastamentos. Porém dentre os entrevistados apenas 3 (43%) apresentam impotência funcional e o restante dos profissionais totalizando 4 (57%) não apresentam nenhuma alteração quando a este aspecto. Quando comparado com a pesquisa de Cândido, Bittencourt e Regis Filho (2001), a incidência de parestesia em portadores de LER/DORT se mostrou bastante inversa, sendo que entre os dentistas de Paracatu nenhum relatou a presença de parestesia, dessa forma então os 7 (100%) não apresentam parestesia relacionada. Dados parecidos também quanto a perda do controle dos movimentos, onde apenas 1 (14,28%) oposto aos outros 6 (85,71%) relatou haver essa perda do controle dos movimentos. Porém quando perguntado sobre a limitação dos movimentos apenas a resposta foi parecida, onde 5 (71,42%) responderam que sim e 2 (28,57%) responderam que não sofrem de limitação na amplitude de movimento. Contrariando os sintomas descritos por Helfenstein Jr. (1999), da população pesquisa apenas 1 (14,28%) relatou a presença de edema em região dolorosa e os outros 6 (85,71%) relataram não sofrer com esse problema. Aspecto parecido se comparado a presença de rubor, onde 100% dos entrevistados disseram não apresentar rubor relacionado a LER/DORT. 2 Realizou algum tratamento Nunca tratou 5 Figura 17: Comparativo entre cirurgiões-dentistas que procuraram tratamento especializado. Fonte: Dados coletados pelo autor. 41 A figura 17 demonstra a proporção de odontólogos que alguma vez procuraram algum tipo de tratamento, 5 indivíduos (71,42%) já procuraram tratamento e 2 (28,57%) nunca se trataram, Graça, Araújo e Silva (2006) relatam que cerca de 75% dos pacientes com Quantidade de dentistas LER/DORT procuram tratamento especializado. 5 4 4 4 3 2 1 1 0 0 0 1 Tratamento Tratamento realizado Figura 18: Comparativo do tratamento procurado pelos cirurgiões-dentistas. Fonte: Dados coletados pelo autor. Para Regis Filho, Michel e Sell (2006) os tratamentos mais procurados para resolução das LER/DORT foram de igual proporção entre as cirurgias e a fisioterapia, porém os indivíduos pesquisados se mostraram mais inclinados a procurar a fisioterapia e terapia por via oral representando 40% do total cada uma das opções como observado na figura 18, seguidas pela imobilização e outros tratamentos com 10% cada, por final contradizendo totalmente os autores antes citados a cirurgia e infiltração com nenhuma procura. 42 5 CONCLUSÃO Conclui-se através da mensuração de dados, uma alta incidência de LER/DORT em cirurgiões-dentistas na cidade de Paracatu – MG. Ficou demonstrado um perfil profissional propenso ao surgimento de lesões decorrentes do trabalho, devido a grande média de tempo executando a profissão entre os entrevistados, porém um perfil epidemiológico um pouco diferenciado dos achados em grande parte dos estudos sobre o tema, entretanto esses dados ainda sim se mostraram suficientes para se comparar a outra parte de estudos relacionados. Os dados foram suficientes para se elaborar uma comparação entre os pesquisados e as principais características patológicas dessa classe profissional na cidade e Paracatu. Ao final foi possível analisar uma relação entre as atividades ocupacionais dos cirurgiões-dentistas da cidade de Paracatu/MG e as lesões por esforço repetitivo/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em cirurgiões-dentistas. 43 REFERÊNCIAS ABRAHÃO, J. I.; PINHO, D. L. M. As transformações do trabalho e desafios teóricometodológicos da Ergonomia. Estudos de Psicologia (Natal), Natal, v.7, n.spe, 2002. p. 4552. 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Pedro Guimarães Diniz Requerente 51 ANEXO B – Questionário profissional/epidemiológico 1. Identificação 1.1 Sexo: 1. ( ) masculino 2. ( ) feminino 1.2 Idade: ______ anos 1.3 Estado Civil: 1. ( ) solteiro 2. ( ) casado 3. ( ) viúvo 4. ( ) divorciado 5. ( ) outro: _____________ 2. Perfil Profissional 2.1 Graduado em Odontologia há quantos anos: __________ 2.2 Exerce efetivamente a Odontologia há quantos anos: __________ 2.3 Exerce exclusivamente uma especialidade Odontológica? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não 2.4 Em caso afirmativo qual? ________________________ 3. Perfil Epidemiológico 3.1 Você apresenta alguma manifestação dolorosa ou não nos membros superiores, cintura escapular e pescoço, em virtude da repetição de um mesmo padrão de movimento no exercício da profissão (Lesão por Esforço Repetitivo – LER)? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3.2 Qual seu horário de trabalho? 1. ( ) Matutino 2. ( ) Vespertino 3. ( ) Noturno 3.3 Você possui duplo emprego? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3.4 Em caso afirmativo, quantos anos de duplo emprego? _______________________ 3.5 Caso utilize computador, qual a média diária em horas? ______________________ 3.6 Você tem dor há quanto tempo? 1. ____dias 2. _____ meses 3. ______ anos 3.7 Período do início da dor:1. ( ) manhã 2. ( ) tarde 3. ( ) noite 4. ( ) madrugada 5. ( ) acorda a noite pela dor 3.8 A dor apenas aparece após quantas horas de trabalho? 1. ( ) início 2. ( ) meio 3. ( ) final da jornada de trabalho 3.9 A dor tem relação com o trabalho?1. ( ) sim 2. ( ) não 52 3.10 A dor ocorre espontaneamente? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.11 A dor ocorre por movimento repetitivos? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.12 Localização inicial da dor: 1. ( ) dedos 2. ( ) mão 3. ( ) punhos 4. ( ) antebraço 5. ( ) cotovelo 6. ( ) braço 7.( )ombro 8.( ) pescoço 9. ( ) região escapular 10. ( ) outros: _____________ 3.13 A dor se irradia para: 1. ( ) dedos 2. ( ) mão 3. ( ) punhos 4. ( ) antebraço 5. ( ) cotovelo 6. ( ) braço 7. ( ) ombro 8. ( ) pescoço 9. ( ) região escapular 10. ( ) outros: ________________ 3.14 A dor característica de : 1. ( ) pontada 2. ( ) queimação 3. ( ) peso 4. ( ) outros: ________________________ 3.15 A intensidade da dor é. 1. ( ) fraca 2. ( ) média 3. ( ) forte 3.16 Dor a movimentação? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.17 Dor a palpação? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.18 Existem fatores que melhoram a dor? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.19 Existem fatores que pioram a dor? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.20 Existem fatores que acompanham a dor? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.21 Existe impotência funcional? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.22 Existe parestesia? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.23 Existe limitação dos movimentos? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.24 Existe perda de controle dos movimentos? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.25 Existe edema na região dolorosa?1. ( ) sim 2. ( ) não 3.26 Existe rubor? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.27 Você faz ou fez algum tipo de tratamento? 1. ( ) sim 2. ( ) não 3.28 Em caso afirmativo, qual (is) 1. ( ) cirurgia 2. ( ) fisioterapia 3. ( ) infiltração 4. ( ) imobilização 5. ( ) terapia via oral 6. Outros: ___________________ 53 ANEXOS C – Termo de consentimento livre e esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96) Eu,______________________________________________________,RG______________, abaixo qualificado(a), DECLARO para fins de participação em pesquisa, que fui devidamente esclarecido sobre o Projeto de Pesquisa intitulado: Incidência de lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em cirurgiõesdentistas de Paracatu / MG, desenvolvido pelo aluno Pedro Guimarães Diniz, do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade Tecsoma, Paracatu - MG quanto aos seguintes aspectos: As lesões por esforços repetitivos (LER’s)/doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT’s) correspondem a um conjunto de afecções relacionadas às atividades laborativas e que acometem músculos, fáscias musculares, tendões, ligamentos, articulações, nervos, vasos sanguíneos e tegumento. As várias formas clínicas de manifestação das LER’s/DORT’s tem como aspecto comum a dor e a incapacidade funcional, e são causas de incapacidade laborativa temporária ou permantente. Representam enorme custo econômico para o trabalhador, órgãos de assistência à saúde e sociedade. O avanço de técnicas diagnósticas, a divulgação de sua existência e as mudanças macroestruturais, são, entre outros, os fatores que contribuíram para aumentar o número de LER’s/DORT’s. (LIANZA, 2007). O exercício profissional obriga que cirurgiões-dentistas utilizem na execução de suas tarefas os membros superiores e estruturas adjacentes, frequentemente com repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica das estruturas localizadas na região e a adoção de posturas incorretas, utilizando força excessiva e, na maioria dos casos, trabalhando, ainda, sob a pressão do tempo, portanto esse estudo visa relacionar a possível relação entre as atividades ocupacionais dos cirurgiões dentistas e as LER’s/DORT’s Durante ou após a pesquisa, não haverá nenhum risco ou desconforto, bem como benefícios sobre o entrevistado. O entrevistado tem a liberdade de recusar a sua participação ou retirar o seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu 54 tratamento e cuidado. É garantido o sigilo e a privacidade dos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. Os dados e informações provenientes deste trabalho serão utilizados com fins de publicação e produção da dissertação para o grau de bacharel. DECLARO, outrossim, que após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto voluntariamente em participar desta pesquisa. Paracatu, 22 de outubro de 2010. QUALIFICAÇÃO DO DECLARANTE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Objeto da Pesquisa (Nome):................................................................................................................... RG:..................... .......Data de nascimento:........ / ........ / ........ .................... Sexo: . M ( ) F( ) Endereço: ............................................ nº ........................... .................. Apto: ........................ Bairro:.............................................Cidade:...............................Cep:.....................Tel.:............... .......... ______________________________ Assinatura do Declarante DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR DECLARO, para fins de realização de pesquisa, ter elaborado este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), cumprindo todas as exigências contidas no Capítulo IV da Resolução 196/96 e que obtive, de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante acima qualificado para a realização desta pesquisa. Paracatu, 22 de outubro de 2010. _________________________ Pedro Guimarães Diniz Assinatura do Pesquisador