Jornal da Imagem
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Parte integrante da Edição nº 356 – Abril de 2008 Jornal da Imagem Caderno 2 Este encarte contém casos diversos enviados pelos leitores do Jornal da Imagem Caso 1 Figura 3 – Imagens coronal, axial e sagital T2 FAT evidenciando edema da medular óssea da falange distal do hálux, com espessamento e edema do leito ungueal, estando a articulação interfalangeana preservada Figura 1 – Imagem sagital T2 FAT do tornozelo evidenciando pequeno cisto subcortical junto à inserção do tendão calcâneo Figura 2 – Imagem axial T2 FAT do tornozelo evidenciando discreta modificação do sinal da medular óssea na inserção talar do ligamento fibulotalar anterior • H istória clínica Paciente do sexo masculino de 36 anos. Dor crônica no retro-pé e hálux direito, sem traumas. Figura 4 – Imagem das alterações ungueais associadas Caso 2 • H istória clínica Feminino, 39 anos, antecedente de miomatose uterina em programação cirúrgica. Apresentando quadro de dismenorréia, metrorragia, ciclos hipermenorrágicos e infertilidade secundária. G6 P3 A3. Figura 1 – RM da pelve corte sagital ponderado em T2 demonstra espessamento focal da zona juncional principalmente na região posterior uterina aonde atinge a espessura máxima de 4,5 cm comprometendo aproximadamente 2 ∕ 3 da espessura total do miométrio. Notase ainda pequenos focos com hipersinal de permeio ao espessamento Figura 2 – RM da pelve corte axial ponderado em T2 evidencia nódulos circunscritos com marcado hipossinal compatíveis com miomas alem focos com hipersinal representando ilhas de tecido endometrial ectópicos Figura 3 – RM da pelve, corte axial ponderado em T1 demonstra hipersinal nesta sequência do mesmo foco da figura 2, confirmando sinais de hemorragia menstrual do tecido endometrial ectópico Jornal da Imagem 2 São Paulo | ABRIL | 2008 Caso 1 Caso cedido pelos Drs. Alípio Gomes Ormond Filho, Marco Túlio Gonzalez, Carlos Homsi e Xavier Stump. Hospital Oswaldo Cruz e HCor Onico-Paquidermo-Periostite Psoriática Diagnóstico Onico-Paquidermo-Periostite Psoriática. Discussão A psoríase é uma doença primária da pele e de etiologia multifatorial, sabidamente associada a fatores genéticos e ambientais. 5-7% dos pacientes com psoríase evoluirão com artrite psoriática e quanto mais grave a lesão cutânea maior é esta probabilidade. A artrite psoriática pode ser classificada em artrite periférica (75%), espondiloartropatia (23%) e doença óssea extra-articular. Acredita-se, atualmente, que a entese é o órgão alvo da psoríase no sistema músculo-esquelético e que as alterações Caso 2 ósseas, sinoviais e cartilaginosas sejam secundárias ao envolvimento primário da entese (entesite). Esta teoria ganhou força com o surgimento da Ressonância Magnética que identifica claramente o envolvimento da entese. Explica, ainda, de forma mais clara as características do envolvimento articular na psoríase, como menor inflamação sinovial e processo inflamatório superficial, o que justifica os clássicos achados de imagem descritos nesta doença como ausência de porose periarticular e redução tardia do espaço articular, explica, também, o envolvimento ósseo, já que o tecido ósseo faz parte integral da entese. A onico-paquidermo-periostite psori- ática é um subtipo incomum da artrite psoriática, descrita inicialmente no hálux e não associada à artrite periférica ou a espondiloartropatia, sendo geralmente dolorosa. É caracterizada por lesão ungueal (onicodistrofia), espessamento da derme acima da falange terminal (paquidermo) e envolvimento da falange distal (periostite), sem envolvimento articular. O complexo ósteo-ungueal (unha, leito ungueal e falange distal) é uma entese especializada e como toda entese pode ser envolvida pela psoríase, o que explica esta forma incomum de apresentação da doença. Portanto, a onico-paquidermoperiostite psoriática é uma entesopatia particular do complexo osteo-ungueal e que, apesar de incomum, é bastante característica da psoríase. Referências bibliográficas 1.R. Ramonda, P. Zucchetta, C. Contessa, L. Punzi. Reumatismo, 2004; 56(4):282285. 2.Ray F. Kilcoyne. Arthritis Associated with Dermatologic Conditions. Seminars musculoskeletal radiology. Number 3, 2003. 3.Srivastava M, Solomon G. Psoriatic onycho-pachydermo periostitis. Dermatol Online J. 2007 Jan 27;13(1):20. 4.Psoriatic onycho-pachydermo-periostitis. A variant of psoriatic distal interphalangeal arthritis? Arch Dermatol. 1996 Feb;132(2):176-80. Caso cedido pela Dra. Lilian Soares Couto e pelos Drs. Antônio Alberto F. Barbosa e Marcelo de Castro Jorge Racy Adenomiose e Miomatose Diagnóstico Adenomiose e Miomatose. Discussão A adenomiose é uma condição ginecológica benigna do útero que afeta mulheres na pré-menopausa e se caracteriza por focos de endométrio ectópico no miométrio. A etiologia da adenomiose é ainda incerta, entretanto, alguns estudos sugerem origem hereditária dessa lesão. As manifestações clínicas mais comuns são dismenorréia e menorragia, porém o diagnóstico clínico é dificultado, pois os sinais e sintomas são inespecíficos e frequentemente coexistem com outras patologias pélvicas. A ultra-sonografia transabdominal e transvaginal é comumente usada como modalidade inicial na suspeita de adenomiose sendo a sensibilidade e especificidade desses métodos de 32-63% e 95-97% respectivamente. Os achados incluem nódulo hipoecogênico e heterogêneo no miométrio, cistos miometriais e aumento globular com áreas de assimetria uterina. A ressonância magnética possui alta sensibilidade 78-88% e especificidade 6793%, ajudando a ultra-sonografia a delinear a lesão e sua extensão. Entre os achados mais sensíveis estão aumento focal da zona juncional que apresenta sinal hipointenso na sequências ponderadas em T2, que histologicamente corresponde à focos de hiperplasia muscular. O espessamento nodular focal da zona juncional pode também chamar-se adenomioma. Ocasionalmente, podemos encontrar focos de hipersinal em T2 de permeio ao espessamento juncional, que histologicamente correspondem à ilhas de tecido endometrial ectópico e dilatação cística glandular. Quando a hemorragia menstrual ocorre com esse tecido endometrial ectópico, a intensidade de sinal na seqüência ponderada em T1 pode se tornar alta (fig. 2). O espessamento focal da zona juncional pode facilmente nos direcionar ao diagnóstico de adenomiose, entretanto um espessamento difuso deve ser diferenciado do espessamento fisiológico que pode ocorrer em alguns casos. Em geral um espessamento da zona juncional maior que 12 mm apresenta um alto valor preditivo para presença de adenomiose, enquanto um espessamento menor que 8 mm nos permite excluir essa doença. No entanto, durante a menstruação o útero pode apresentar espessamento da zona juncional acima de 12 mm, sendo assim a fase do ciclo menstrual deve ser conhecida para o diagnóstico de adenomiose. Outra lesão que pode mascarar adenomiose é contração uterina. Entre os principais diagnósticos diferenciais está o leiomioma, que se apresenta como nódulo bem definido, com intensidade intermediária à baixa em T1 e baixa em T2, e se origina na camada miometrial. Outros diagnósticos diferenciais menos frequentes são: tumor adenomatóide do útero, metástases para o corpo uterino e invasão miometrial por câncer de endométrio. A histerectomia é o tratamento definitivo, porém, alguns aspectos são relevantes na conduta terapêutica, como: sintomas, idade, e desejo de futuras gestações; optando-se algumas vezes por tratamento menos invasivo, sendo ablação e ressecção endometrial uma alternativa. Referências bibliográficas 1.Tamai, Ken, et al; MR Imaging Findings of Adenomyosis: Correlation with Histopatholoic Features and Diagnostic Pitfalls. RadioGraphics 2005; 25:21-40. 2.Byun, Jae Young, et al; Diffuse and Focal Adenomyosis: MR Imaging Findings. RadioGraphics 1999; 19:S161-S170. 3.Outwater, Eric K, et al; Adenomyosis: Current Concepts and Imaging Consideratios. AJR:170, February 1998. 4.Lee, Joseph.K.T., et al, Tomografia computadorizada do corpo em correlação com ressonância magnética 3ª ed; Guanabara Koogan, 1998. Caderno 2 3 São Paulo | ABRIL | 2008 Caso 3 • H istória clínica Figuras 1 a 6 – Ultra-Som cervical: tireóide difusamente aumentada e hipoecoecóica sem evidências de nódulos ou cistos apresentando, ao doppler colorido aumento difuso da vascularização com velocidade de pico sistólico maior que 100 cm/s J.L.B., 25 anos, branco, em tratamento irregular para “doença da tireóide” (‘sic). Encaminhado ao pronto-atendimento confuso, febril, sudoreico, taquidispneico e com tremores finos nos membros superiores. À ectoscopia observa-se aumento volumétrico na região tireoidiana com dor à palpação. Nota-se também proptose ocular. PA: 150x100mmHg sem história de hipertensão prévia. Laboratorial: aumento dos hormônios tireoidianos. Caso 4 • H istória clínica Paciente do sexo feminino, 45 anos, com história de náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio direito por cerca de 48 horas, antes de buscar auxílio no serviço de emergência. A paciente referia episódios semelhantes há alguns meses de menor intensidade, além de quadro de icterícia progressiva nas últimas duas semanas. Ao exame físico apresentava dor à palpação do hipocôndrio direito e icterícia. Realizou exames laboratorias que demonstraram elevação da bilirrubina, com predomínio da fração direta e elevação da fosfatase alcalina. Foi solicitada tomografia computadorizada e posteriormente colangioressonância magnética. Figura 1 – Reformação no plano coronal de tomografia computadorizada empregando a técnica MinIP demonstrando a dilatação das vias biliares intra-hepáticas Figura 4 – Reformatações oblíquas de Colangio RM (MRCP) demonastrando o o ducto hepático comum (* em A) e o ducto cístico (◊ em B), neste último se identificando imagem compatível com cálculo (seta) Figura 2 – Reformatação sagital oblíqua de corte tomográfico computadorizado após utilização de contraste. O ducto cístico apresenta-se dilatado, observandose aspecto ovalado de sua extremidade distal, determinando aparente compressão sobre o ducto hepático comum Figura 3. A – Corte coronal T2. Dilatação do ducto hepático comum (*) e das vias biliares intra-hepáticas. B Corte coronal T2 demonstrando o ducto cístico dilatado (◊), contendo imagem ovalada com ausência de sinal no seu aspecto mais distal (seta) Figura 5 – Reformatações oblíquas de Colangio RM (MRCP) demonastrando a relação dos ductos hepático comum (*) e cístico (◊), com cálculo (seta) neste último, deteminando compressão sobre o ducto hepático comum Jornal da Imagem 4 São Paulo | ABRIL | 2008 Caso 3 Caso cedido pelos Drs. Luís Ronan Marquez Ferreira de Souza e Bruno Doriguetto Couto Ferreira (R3). Universidade Federal do Triângulo Mineiro Doença de Graves com crise tireotóxica Diagnóstico Doença de Graves com crise tireotóxica. Discussão A crise tireotóxica é uma manifestação clínica grave decorrente de exacerbação da atividade tireoideana em pacientes acometidos por hipertireoidismo.Também é conhecida como “tempestade tireotóxica”, ocorre, mais comumente, secundária à Doença de Graves, porém pode atingir, de modo menos freqüente, pacientes que apresentem adenoma tóxico ou bócio multinodular hiperfuncionante, principalmente, quando a doença não é tratada de forma adequada. Mais raramente pode acometer indivíduos que apresentem hipertireoidismo transitório, como na tireoidite subaguda ou na fase inicial da tireoidite de Hashimoto. Ocorre predominantemente em adultos, com algumas descrições da doença em crianças e adolescentes. A predileção por sexo ou idade depende da etiologia da tireotoxicose tireotoxicose (a doença de Graves ocorre, com maior frequência, em mulheres e o bócio multinodular, em idosos). A mortalidade varia de 20 a 30%, porém se não tratado o paciente certamente evolui a óbito. Nesta doença a ecotextura do parênquima costuma ser menos homogênea do que nos demais Caso 4 casos de bócio difuso. Além disso, os contornos são marcadamente lobulados, e a ecogenicidade do parênquime tende a ser hiperecogência, sobretudo em pacientes mais jovens, devido à infiltração linfocitária, ou pelo prodomínio da celularidade do parênquima. Em virtude do aumento da função da glândula, observamos ao mapeamento do doppler colorido importante aumento da vascularização intraparenquimatosa, descrito por Ralls como “inferno tireóieo”, onde se identificam numerosas microfístulas arteriovensosas intraparenquimatsoas, com altas velocidades de pico sistóilico com valores variando entre 50 a 120 cm/s. Esta hipervascularização da glãndula laboratorialmente está relacionada com ao aumento de hormônios circulantes. Referências Bibliográficas 1.Dillman WH. Thyroid storm. Curr Ther Endocrinol Metab 1997; 6:81-85. 2.eMedicine, emedicine.com/ENT/ topic546.htm 3.Rumack CM, Wilson SR, Charboneau JW. Tratado de ultra-sonografia diagnóstica 3ª ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2006, 337-341. 4.Saito OC. Ultra-sonografia de pequenas partes Rio de Janeiro, Revinter, 2004, 93. Caso cedido pelos Drs. Andrei Saraiva Purysko, Hilton Muniz Leão Filho e pela Dra. Maria Helena Naves Inácio Pedroso – Hospital Beneficência Portuguesa de SP Síndrome de Mirizzi Diagnóstico Síndrome de Mirizzi. Discussão A síndrome de Mirizzi leva o nome do cirurgião argentino Pablo Luiz Mirizzi que descreveu em 1948 apresentações atípicas de colelitíase, nas quais a presença de um ou mais cálculos no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula biliar determinavam compressão do ducto hepático comum, causando sintomas de icterícia obstrutiva (1). A presença de cálculo no infundíbulo da vesícula biliar ou no ducto cístico leva a um processo inflamatório crônico parietal com distorção da anatomia do hepatocolédoco, caracterizado por estenose ou formação de fístulas. Com base nestas alterações foi proposta classificação por McSherry e colaboradores em 1982. No tipo I não se identifica fístula. Nos tipos II, III e IV identifica-se fístula com defeito envolvendo respectivamente menos de 1/3, até 2/3 e mais de 2/3 do ducto biliar comum (2). A presença de um ducto cístico longo, paralelo ao ducto hepático comum ou inserido-se na porção mais inferior deste, como visto no caso apresentado, foram descritos como fatores anatômicos que predispõem à síndrome. A síndrome de Mirizzi ocorre em aproximadamente 0,7 a 1,4% dos pacientes submetidos a colecistectomia e em cerca de 0,1%dos pacientes com colelitíase.Não há descrição de predileção por sexo ou raça, sendo mais frequente em idosos. Segundo estudo com 219 pacientes com a síndrome, os tipos II e III (presença de fístula envolvendo até 2/3 do ducto biliar comum) representam mais de 80% dos casos (3). O diagnostico pré-operatório desta entidade é critico para o prognóstico do paciente (5). A presença de processo inflamatório crônico associado a fibrose, edema e formação de fístula podem distorcer as estruturas biliares adjacentes, levando a resultados cirúrgicos indesejados caso não sejam previamente reconhecidos. O ducto colédoco pode ser confundido com o ducto cístico levando a ligadura inadvertida ou dano permanente do mesmo. É de fundamental importância que os pacientes nos quais se suspeite desta entidade ao ultra-som ou tomografia computadorizada sejam submetidos a estudo específico das vias biliares através de Colangioressonância ou Colangiografia endoscópica retrógrada. Clinicamente a síndrome de Mirizzi é indistiguível de outras formas de icterícia obstrutiva.Apresentações agudas podem cursar com colecistite ou pancreatite. Foi descrita na literatura maior associação da síndrome com neoplasia da vesícula biliar (5). Referências bibliográficas 1.Mirizzi PL: Syndrome del conducto hepatico. J Int de Chir 1948; 8: 73177. 2.McSherry CK, Ferstenberg H, Virshup M: The Mirizzi syndrome: suggested classification and surgical therapy. SurgGastroent 1982; 219-25. 3.Csendes A, Diaz JC, Burdiles P, et al: Mirizzi syndrome and cholecystobiliary fistula: a unifying classification. Br J Surg 1989 Nov; 76(11): 1139-43 4.Schafer M, Schneiter R, Krahenbuhl L: Incidence and management of Mirizzi syndrome during laparoscopic cholecystectomy. SurgEndosc 2003 Aug; 17(8): 1186-90 5.Nishimura A, Shirai Y, Hatakeyama K: High coincidence of Mirizzi syndrome and gallbladder carcinoma. Surgery 1999 Sep; 126(3): 587-8
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