Especiarias: aplicações e propriedades
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Especiarias: aplicações e propriedades
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos Curso de Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos Especiarias: aplicações e propriedades Fabiane Steurer Pelotas, 2008. 1 FABIANE STEURER ESPECIARIAS: APLICAÇÕES E PROPRIEDADES Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial da Disciplina de Seminários em Alimentos Orientadora: Carla Mendonça Pelotas, 2008. 2 Agradecimentos Aos meus familiares, principalmente aos meus pais, pela doação completa, amor incondicional, apoio, carinho, compreensão e principalmente por terem sempre se empenhado em me ensinar a ser melhor. A todos os professores que me ajudaram na elaboração deste trabalho acadêmico, pela atenção e orientação. Aos colegas e amigos que de alguma forma contribuíram no desenvolvimento deste trabalho, pela paciência e compreensão em alguns momentos. A Deus, pela presença constante em minha vida. 3 Se teus sonhos estão nas nuvens, não te preocupes! Eles estão no lugar certo; agora construa os alicerces. William Shakespeare 4 Resumo STEURER, Fabiane. Especiarias: aplicações e propriedades. 2008. 30f. Trabalho Acadêmico (Bacharelado em Química de Alimentos), Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. As especiarias ou condimentos vêm sendo utilizadas desde a pré-história, tendo sido empregadas para embalsamar no antigo Egito, para fins medicinais, para mascarar o sabor e odor de carnes no início de decomposição, entre outros. Desde a antiguidade até hoje o homem busca alguma coisa além do alimento em si, e com isso vem desenvolvendo a arte de comer e beber, inovando gostos e sabores diferentes nos alimentos pelo uso das especiarias. A atual tendência adotada pelos órgãos legisladores da produção de alimentos e pelos consumidores tem exigido uma progressiva retirada de aditivos químicos na produção de alimentos. Esta tendência tem conduzido a indústria de alimentos a buscar compostos alternativos para alcançar suas metas relacionadas à estabilidade microbiana e conservação das características dos seus produtos finais. Dentre os novos compostos estudados, as especiarias vêm tornando-se cada vez mais enfatizadas. A presença de alcoóis, aldeídos, ésteres, terpenos, fenóis, ácidos orgânicos e, principalmente, óleos essenciais nas especiarias, tem mostrado eficiência no combate do crescimento de microrganismos e na inibição ou retardamento da oxidação, funcionando como compostos antioxidantes. No entanto, apesar de suas propriedades terem sido comprovadas, é necessário um maior controle da contaminação das especiarias, desde seu cultivo até sua utilização no produto final. Palavras-chave: Condimentos. Antioxidantes. Antimicrobianos. Óleos essenciais. 5 Lista de Figuras Figura 1 – Antioxidantes sintéticos de uso comercial................................................17 Figura 2 – Estrutura de compostos fenólicos............................................................18 Figura 3 – Estrutura do eugenol, carvacrol e timol....................................................21 6 Lista de Tabelas Tabela 1 – Principais especiarias com respectivo nome comum e parte utilizada...11 Tabela 2 – Especiarias empregadas na preparação de alimentos............................13 7 Sumário Resumo.......................................................................................................................4 Lista de Figuras..........................................................................................................5 Lista de Tabelas..........................................................................................................6 1. Introdução...............................................................................................................8 2. Histórico..................................................................................................................9 3. Definição e principais especiarias......................................................................10 4. Importância e finalidades....................................................................................12 5. Obtenção das especiarias e extração de óleos essenciais..............................14 6. Propriedades das especiarias ............................................................................16 6.1 Ação Antioxidante..............................................................................................16 6.1.1 Antioxidantes utilizados.................................................................................16 6.1.2 Principais especiarias com poder antioxidante...........................................18 6.2 Ação antimicrobiana..........................................................................................19 6.2.1 Interações entre os antimicrobianos naturais e os constituintes da matriz alimentar....................................................................................................................22 7 Contaminação e conservação das especiarias..................................................23 8 Conclusão..............................................................................................................25 Referências ..............................................................................................................26 8 1 Introdução Especiarias são substâncias vegetais de origem indígena ou exótica, aromáticas ou de sabor forte, picante, utilizadas para realçar o gosto dos alimentos ou adicionar-lhes os princípios estimulantes nelas contidos (GERMANO; GERMANO, 1998). São utilizadas em alimentos diariamente, sendo que sua concentração é determinada pela preferência de sabores (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999). São produtos que passaram a ser utilizados a partir do conhecimento de suas propriedades, como estimular o apetite, conferir aroma antes e durante a cocção, bem como para a conservação de alimentos. São largamente utilizadas em saladas, sopas, carnes, molhos, licores, cremes, chás, caldas, compotas, como enfeites decorativos entre outros (GERMANO; GERMANO, 1998). Os consumidores procuram alimentos de boa qualidade, livres de conservantes e com mínimo processamento e aditivos químicos possíveis, porém com vida-útil longa (GOULD, 1995). Nesta perspectiva, os elementos vegetais, como as especiarias, recebem grande ênfase em um possível uso racional na linha de produção de indústrias alimentícias, por conferir sabores agradáveis e por apresentarem óleos essenciais, os quais mostram propriedades antimicrobianas, antivirais, antioxidante, antimicótica, antitoxigênicas, antiparasíticas e inseticidas (BURT, 2004 apud KRUGER, 2006). As especiarias conferem características desejadas somente se forem obtidas de maneira adequada, com a colheita efetuada no correto estado de maturação, sendo que após estas passam por uma série de tratamentos, tais como lavagem, descascamento, cura, secagem, etc., antes de chegarem ao consumidor (PRUTHI, 1980 apud ALMEIDA, 2006). Com ênfase no exposto, realizou-se este trabalho com o objetivo de aprofundar o estudo das especiarias, abordando características como utilização e finalidades, propriedade antimicrobiana e antioxidante, bem como as possíveis contaminações causadas pelo seu uso inadequado. 9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande importância para o comércio e acumulação de riqueza, sendo empregadas para as mais diversas funções, tais como para embalsamar no antigo Egito, para fins medicinais em outros países e, em locais de clima quente onde a refrigeração era escassa, serviam para mascarar o sabor e odor de carnes no início de decomposição (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999; ALMEIDA, 2006). Os condimentos e especiarias têm sua significância na história da alimentação humana. Desde a antiguidade até hoje o homem busca alguma coisa além do alimento em si, e isso vem desenvolvendo a arte de comer e beber, inovando gostos e sabores diferentes nos alimentos (SAVARIN, 1995 apud ABREU et al.,2001). Na Europa, no outono, sacrificava-se grande parte dos rebanhos de gado, pois sabia-se que, até a próxima primavera, não haveria alimento disponível para esses animais. Mesmo quando salgadas ou defumadas, as carnes de peixe e bovina se deterioravam com facilidade, o que não impedia que fossem consumidas, especialmente durante o rigoroso inverno da maioria dos países. Assim, aqueles que não moravam na costa e não dispunham de peixe fresco durante todo o ano, eram obrigados a temperar a carne com condimentos fortes, picantes e odoríferos (PESTANA, 2004). O cravo tinha uso exclusivo na fabricação de doces, o gengibre sendo mais versátil, era empregado nos pastéis de peixe fresco, na salada, em legumes regados com azeite, vinagre e sal e em conservas, com a função de aromatizante. O açafrão servia para melhorar o sabor da carne, no entanto, a especiaria mais indicada para tornar comestível a carne salgada e freqüentemente pútrida, era a pimenta forte (PESTANA, 2004). 10 3 Definição e principais especiarias Condimentos são produtos constituídos de uma ou diversas substâncias sápidas, de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregado nos alimentos com o fim de modificar ou exaltar o seu sabor. Seus produtos classificam-se em glutamato monossódico, sais sódicos dos ácidos ribonucléicos e especiarias ou condimento vegetal (CNNPA, 1978). O condimento vegetal, de acordo com a sua composição, pode ser simples, quando constituído por uma especiaria genuína e pura, e misto quando constituído da mistura de especiarias, inteiros, fragmentados ou em pó (CNNPA, 1978; GERMANO; GERMANO, 2008). Especiarias ou condimentos vegetais são os produtos constituídos de partes de espécies vegetais, como raízes, rizomas, bulbos, cascas, folhas, flores, frutos, sementes e outras partes das plantas, possuidoras de substâncias aromáticas ou picantes, com ou sem valor alimentício, utilizadas para agregar sabor ou aroma aos alimentos e bebidas, sendo que as principais especiarias podem ser observadas na tab. 1 (ANVISA, 2005; BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999). Especiarias são usadas em alimentos diariamente, principalmente por seus sabores e aromas. Os componentes dos sabores consistem em compostos como alcoóis, aldeídos, ésteres, terpenos, fenóis, ácidos orgânicos e outros, muitos dos quais ainda não identificados. Suas concentrações nos alimentos são determinadas pela preferência de sabores, normalmente encontrando-se entre 0,5 a 1% no produto final (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999). 11 Tabela 1 – Principais especiarias com respectivo nome comum e parte utilizada Nome comum / nome científico Açafrão / Crocus sativus L. Alecrim / Rosmarinus officinalis L. Alho / Allium sativum L. Alho porro / Allium porrum L. Baunilha / Vanilla planifolia Jacks. Canela-da-china / Cinnamomum cassia Ness Parte do vegetal utilizada estigmas florais folhas e talos bulbos folhas e talos frutos cascas ex Blume Cebola / Allium cepa L. Cebolinha verde / Allium schoenoprasum L. bulbos folhas e talos Coentro / Coriandrum sativum L. talos, folhas e frutos Cominho / Cuminun cyminum L. frutos Cravo-da-índia / Caryophyllus aromaticus L. botões florais ou Eugenia caryphyllata Thumb Cúrcuma / Curcuma longa L. e Curcuma rizomas domestica Valenton Erva-doce ou anis ou anis doce / Pimpinella frutos anisum L. Gengibre / Zingiber officinale Roscoe Gergelim / Sesamum indicum L. Orégano chileno / Origanum vulgare L. rizomas sementes folhas e talos Páprica / Capsicum annuum L. frutos Pimentão vermelho, pimentão verde, frutos pimentão amarelo e pimenta doce / Capsicum annuum L. Salsa / Petroselinum sativum Hoffm. ou folhas e talos Petroselinum crispum (Mill.) Nyman. Tomate/ Lycopersicum esculentum L. Urucum / Bixa orellana L. Fonte: ANVISA, 2005. frutos sementes 12 4 Importância e finalidades Os consumidores contemporâneos têm buscado consumir alimentos de alta qualidade, naturais, mais saudáveis, frescos, livres de aditivos e com menor quantidade de sal, gordura e ácidos, além de sofrerem o menor processamento possível. Porém, estes devem apresentar vida-de-prateleira longa e inocuidade com relação à presença de microrganismos patógenos e suas toxinas (GOULD, 1995 apud BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999). A utilização de substâncias naturais, de origem vegetal, torna o alimento mais atrativo ao consumidor por não apresentarem efeito tóxico, mesmo quando empregadas em concentrações relativamente elevadas. Além dos benefícios proporcionados à saúde, diversos estudos têm demonstrado o efeito inibidor de especiarias no desenvolvimento de microrganismos deterioradores e patogênicos veiculados por alimentos (PEREIRA, 2005). As especiarias passaram a ser utilizadas na culinária a partir do conhecimento de suas propriedades, como estimular o apetite e conferir aroma antes e durante a cocção. São responsáveis pelo sabor picante em carnes, pescados e verduras e também proporcionam excelentes azeites de cozinha, como o de gergelim. São largamente utilizadas como aromatizantes de licores, destacando-se entre eles o absinto, anis (anisette e pernod) (GERMANO; GERMANO, 2008). As especiarias constituem ainda, enfeite importante para molhos, catchups, embutidos e salames, além de serem utilizadas como ingredientes em produtos curtidos e em conservas. Na tab. 2, estão relacionadas as principais especiarias empregadas na preparação de alimentos (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999; GERMANO; GERMANO, 2008). 13 Tabela 2 – Especiarias empregadas na preparação de alimentos Nome Açafrão Apresentação Utilização Pó. São necessários cerca De seus estigmas secos é feito um pó, de cor de 225.000 estigmas para amarelo-forte, que diluído em água quente e fazer 500 gramas deste colocado em pães, arroz e outros alimentos, para Baunilha caríssimo tempero dar cor e sabor Vagem e essência Baunilha (vagem) usada em sorvetes, cremes e musses, que deve ser colocada para cozer na calda do alimento e retirada antes dos doces serem enformados ou servidos. Líquido usado moderadamente para dar gosto de baunilha a doces, cremes, sorvetes entre outros Canela Tubos de casca Cremes, marmeladas, caldas, compotas, crepes, enrolados, secos e pó bolinhos, vinho quente. Chá de efeito calmante e descongestionante Coentro Folhas Uso diário na cozinha brasileira para temperar peixes, camarões ou para substituir a salsa, sobretudo na moqueca capixaba Cominho Grãos e pó Embutidos, salsichas, chucrute, queijo e pão Cravo Seco Espetado em cebolas de ensopados, sopas e caldos, pepinos em conserva e licores caseiros Orégano Folhas Confecção de diversas especiarias, refogados, molhos, tomates, embutidos, grãos, saladas, cerveja, chá e licor Salsa Folhas e talos Utilizado para decoração, em sopas, molhos, refogados, carnes, saladas Tominho Folhas aromáticas usadas Dá sabor a gelatina, salmoura, sopas de peixe. fresca ou secas Urucum Usado na Grécia antiga para aromatizar vinhos Pó que dá cor a vários Participa na composição de queijos, óleos e alimentos risotos, sem alterar seu sabor Fonte: GERMANO; GERMANO, 1998. 14 5 Obtenção das especiarias e extração de óleos essenciais As especiarias conferem características desejadas se forem obtidas de maneira adequada. A colheita é efetuada no correto estado de maturação, que varia de especiaria para especiaria. Após a colheita, as especiarias passam por uma série de tratamentos, tais como lavagem, descascamento, cura, secagem, etc., antes de chegarem ao consumidor. Este tratamento pós-colheita, apesar de ser específico para cada especiaria, tem por finalidade reduzir o teor de umidade para valores de 8 a 12%, objetivando evitar alterações e manter a qualidade durante o período de armazenamento (PRUTHI, 1980 apud ALMEIDA, 2006). Os óleos essenciais presentes nas especiarias são compostos que apresentam propriedades antimicrobianas, antivirais, antimicótica, antitoxigênicas, antiparasíticas e inseticidas. São fluídos oleosos e aromáticos extraídos de diferentes partes de plantas (flor, caule, folha, fruto, broto, semente, tronco ou raiz) através de diversos processos como destilação a vapor, pressão a frio e extração com dióxido de carbono supercrítico, sendo a destilação a vapor o método comercialmente utilizado (BURT, 2004 apud KRUGER, 2006). A destilação por arraste com vapor é um processo simples, no qual o extrato bruto obtido é extraído diversas vezes com solventes orgânicos, sendo que a fase oleosa não se mistura com a fase aquosa. Por serem mais leves, os óleos essenciais ficam concentrados sobre a camada de água, os quais posteriormente são removidos, resultando em um produto final constituído de voláteis e material resinoso não-volátil contendo os principais ativos característicos (ARAÚJO, 1999; BORSATO et al., 2008). Apesar de este processo ser simples, apresenta desvantagens como baixos rendimentos e, principalmente, a eventual perda de componentes termolábeis presentes no óleo volátil, devido ao uso de altas temperaturas (MARTÍNEZ, 2005). A extração com dióxido de carbono supercrítico envolve duas etapas: extração e separação. A extração é baseada no contato de uma matriz sólida com um solvente, de forma que este remove do sólido as substâncias que se deseja obter (óleos voláteis, por exemplo). A separação é obtida após a extração, com a 15 redução da pressão ou aumento da temperatura do solvente, ou ambos simultaneamente. Desta forma o extrato é separado obtendo-se o produto final. É a forma mais eficiente de extração de óleos essenciais, porém seu maior obstáculo é o alto investimento necessário para a instalação de uma unidade de extração (MARTÍNEZ, 2005). 16 6 Propriedades as especiarias 6.1 Ação Antioxidante Os alimentos contêm componentes como carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e pigmentos que regulam seu sabor, aspecto e valor nutritivo. Alguns desses componentes podem ser sensíveis à irradiação e, se sua dose for alta, pode causar transformações prejudiciais no sabor, odor e cor desses alimentos. As alterações causadas pela irradiação nas propriedades sensoriais dos alimentos são resultantes principalmente de reações químicas, dentre as quais a oxidação lipídica, que resulta em sabor rançoso (KILCAST, 1994 apud TRINDADE, 2007). A oxidação lipídica pode ser prevenida pela adição de antioxidantes. Os antioxidantes são substâncias capazes de seqüestrar ou impedir a formação de radicais livres. Estes presentes em baixas concentrações, quando comparados com um substrato oxidável, atrasam ou inibem a oxidação desse substrato de maneira eficaz, inibindo a formação de radicais livres na iniciação (antioxidante primário), na cadeia de oxidação ou interrompendo a propagação (antioxidante secundário) da cadeia de radicais livres (FENNEMA, 2007 apud TRINDADE, 2007). Na seleção de antioxidantes, são desejáveis as seguintes propriedades: eficácia em baixas concentrações (0,001 a 0,01%), ausência de efeitos indesejáveis na cor, odor, sabor ou em outras características do alimento e fácil aplicação. Além destes, a estabilidade nas condições de processo e armazenamento e o composto e seus produtos de oxidação não podem ser tóxicos, mesmo em doses muito maiores das que normalmente são ingeridas no alimento, devem ser considerados também a legislação vigente, custo e preferência do consumidor por produtos naturais (RAMALHO; JORGE, 2006). 6.1.1 Antioxidantes utilizados A origem das substâncias antioxidantes pode ser sintética ou natural. Os antioxidantes sintéticos como, o Butil-hidroxianisol (BHA), o Butil-hidroxitolueno (BHT), o Terc-butilhidroquinona (TBHQ) e o Propil Galato (PG) são utilizados 17 para diminuir a fase de propagação da reação de oxidação, sendo que a estrutura destes antioxidantes sintéticos de uso comercial podem ser observadas na Fig. 1. Entretanto, apresentam o inconveniente de serem voláteis e facilmente decompostos em altas temperaturas. Os riscos à saúde associados com o consumo crônico dessas substâncias são preocupantes e estão sendo estudadas (MARTINEZ-TOME et al., 2001 apud ANDREO; JORGE, 2006). Figura 1 – Antioxidantes sintéticos de uso comercial Fonte: HUI, 1996 apud ANDREO; JORGE, 2006 Em razão de estudos que apontam possíveis efeitos deletérios ao organismo causados pelos aditivos sintéticos, diversas pesquisas têm-se dirigido no sentido de encontrar produtos naturais com atividade antioxidante que permitam substituir os sintéticos ou fazer associações entre eles, com o intuito de diminuir sua quantidade nos alimentos. Estes estudos são concentrados nos compostos fenólicos de origem vegetal, pois eles agem como aceptores de radicais livres, interrompendo a reação em cadeia provocada por estes, além de atuarem nos processos oxidativos catalisados por metais (SOARES, 2002). A atividade antioxidante das especiarias é atribuída principalmente a presença de compostos fenólicos. Compostos fenólicos englobam moléculas simples até outras com alto grau de polimerização. Antioxidantes fenólicos atuam como seqüestradores de radicais livres e algumas vezes como quelantes de metais, 18 agindo tanto na etapa de iniciação como na propagação do processo oxidativo (BRAVO, 1998 apud TRINDADE, 2007) Estruturalmente, os compostos fenólicos compreendem um anel aromático, com um ou mais grupos hidroxila, formando desde moléculas simples a compostos altamente polimerizados, sendo que dentre os quais dois exemplos são observados na Fig. 2. Devido a esta grande diversidade estrutural, este grupo de compostos é comumente denominado “polifenóis” (SAMMAN et al., 2006 apud SANTOS, 2007) . Figura 2 – Estrutura de compostos fenólicos Fonte: LE COUTEU; BURRESON, 2006 O conteúdo de compostos fenólicos presentes nas plantas é influenciado por diversos fatores intrínsecos, tais como gênero, espécie e cultivar, assim como extrínsecos, condições de cultivo, colheita e armazenamento (SAMMAN et al., 2006 apud SANTOS, 2007). A ingestão diária de antioxidantes fenólicos tem desempenhado um papel importante na redução do risco de desenvolvimento de algumas doenças crônicas relacionadas ao estresse oxidativo, como problemas cardiovasculares, câncer, infecções e mal de Alzheimer (AKYON, 2002 apud SANTOS, 2007). 6.1.2 Principais especiarias com poder antioxidante O efeito antioxidante das especiarias foi inicialmente evidenciado por Vhipaul et al (1952), em 32 especiarias, das quais o alecrim e a sálvia foram considerados as mais eficazes. Posteriormente, esta ação foi comprovada no orégano e no tominho, no gengibre, na pimenta, na mostarda, na canela, no coentro, entre outros (MELO et al., 2003). As propriedades antioxidantes do alecrim são bem reconhecidas. É considerado um antioxidante lipídico e um quelante de metais, além de atuar na absorção de radicais superóxidos (MADHAVI et al., 1996 apud SANTOS, 2007). 19 Estudos realizados por Lagouri et al. (1996, apud PIEDADE, 2007), verificaram que o óleo essencial de orégano, rico em timol e carvacrol, possui efeito antioxidante considerável no processo de oxidação de óleos e gorduras animais. Racanicci et al. (2004, apud PIEDADE, 2007) demonstrou que o orégano e o alecrim desidratados obtiveram ação antioxidante em almôndegas de peito de frango cozidas e armazenadas sob refrigeração, sendo que na concentração de 0,050% o alecrim foi mais eficiente. Trindade (2007) analisou a influência de antioxidantes naturais sobre o perfil lipídico de hambúrgueres bovinos. Observou que o alecrim possui elevado potencial antioxidante tanto na concentração de 77,67% quanto na concentração de 85,62%, sendo que seu melhor desempenho se dá quando utilizado em sinergismo com o BHT/BHA na concentração de 89,71%. Observou também que o extrato aquoso do orégano apresenta um potencial inibidor da oxidação reduzido quando comparado ao extrato do alecrim, utilizando a concentração de 75,15% e o alecrim 85,62%, porém utilizado em sinergismo com BHT/BHA possui um potencial antioxidante de 97,38%. Piedade (2007) estudou a proteção antioxidante do orégano e do alecrim, quando utilizados em filés de sardinhas pré-cozidas. Constatou que a adição de 0,10% de orégano previne mais que o alecrim, a oxidação dos lipídios durante 6 dias de armazenamento refrigerado. 6.2 Ação Antimicrobiana A indústria alimentícia visa a produção de alimentos que apresentem vida-deprateleira longa e inocuidade com relação à presença de microrganismos patógenos e suas toxinas. Os consumidores procuram alimentos de boa qualidade, livres de conservantes e minimamente processados, porém com vida-útil longa (GOULD, 1995). A indústria de alimentos tem passado por constantes pressões para que substituam os métodos tradicionais de controle de microrganismos nos alimentos, como tratamentos intensos de calor, acidificação, congelamento, desidratação e adição de agentes químicos e sal. Entre estas alternativas encontram-se os sistemas antimicrobianos naturais, sistemas de embalagens ativas ou com atmosfera modificada e bioconservação (DEVLIEGHERE; VERMEIREN; DEBEVERE, 2004). 20 Com a difusão das modernas técnicas de preservação houve interesse acentuado e renovado sobre algumas especiarias, utilizadas principalmente como condimentos alimentares. Além de participarem como ingredientes de inúmeros alimentos, tornando-os mais saborosos e digestivos, apresentam ação indireta e complementar como agentes antimicrobianos devido à presença de óleos essenciais (BARA, 1992). Com esta perspectiva de substituir os aditivos sintéticos por conservantes naturais presentes nos condimento Deans e Ritchie (1987 apud PEREIRA et al., 2006) afirmam que a substituição de aditivos sintéticos por naturais, dependerá fundamentalmente da determinação de uma concentração ideal. Segundo Shelef (1983), as concentrações normalmente empregadas para realçar o aroma e sabor que variam de 0,5 a 1% não inibem o desenvolvimento microbiano que depende de concentrações superiores a 1%. As substâncias químicas dos óleos essenciais apresentam compostos capazes de inibir direta ou indiretamente os sistemas enzimáticos bacterianos, mesmo que a maioria de microrganismos seja ainda desconhecida. Seu comportamento é semelhante ao dos antibióticos, que são definidos como “substâncias químicas com capacidade para matar ou inibir o desenvolvimento de bactérias ou outros microrganismos”. A caracterização da célula “alvo” é decisiva para essa aplicação e somente os compostos naturais, que agem sobre sistemas essenciais para a reprodução e sobrevivência desses microrganismos, têm atividade antibiótica. Assim a inativação desses sistemas no metabolismo celular tem efeitos letais (KURYLOWICZ, 1981 apud ERNANDES; GARCIA-CRUZ, 2007). Os compostos fenólicos são os principais responsáveis pela atividade antimicrobiana dos óleos essenciais. Componentes presentes em menor quantidade também desempenham seu papel, provavelmente envolvendo-se em interações sinérgicas com os compostos fenólicos. Considerando-se o grande número de diferentes grupos e compostos químicos presentes nos óleos essenciais, sugere-se que seu efeito antibacteriano não seja atribuído a um mecanismo específico, mas esteja envolvido com vários alvos nas células sensíveis. Os principais efeitos seriam a degradação da parede celular, danos à membrana citoplasmática, perda de constituintes celulares e coagulação do citoplasma. Esses mesmos mecanismos não funcionam como alvos separados e podem ocorrer em conseqüência dos outros (BRUL; COOTE, 1999; BURT, 2004). 21 Segundo Burt (2004), uma importante característica dos óleos essenciais e seus componentes é o caráter hidrofóbico, que permite que se liguem aos lipídeos da membrana celular modificando sua estrutura e aumentando sua permeabilidade. Devido a esta permeabilidade, pode ocorre a passagem de íons e outros constituintes celulares provocando a morte da célula. Geralmente os óleos essenciais que possuem maior atividade antimicrobiana apresentam maiores concentrações de eugenol, carvacrol e timol, estruturalmente observados na Fig. 3, sendo que a estrutura química dos componentes individuais dos óleos afeta o seu modo de ação na célula bacteriana. Figura 3 – Estrutura do eugenol, carvacrol e timol Fonte: CARVALHO et al.2003; LE COUTEU; BURRESON, 2006 Estudos que avaliaram a ação dos óleos essenciais sobre os microrganismos deteriorantes e patogênicos concordam que esses compostos têm maior ação contra bactérias gram-positivas. Uma possível explicação para a menor suscetibilidade dos organismos gram-negativos é a presença da membrana externa que restringe a difusão dos compostos hidrofóbicos através dos lipopolissacarídeos (BURT, 2004). O primeiro estudo sobre propriedades antimicrobianas, publicado em 1880, descreve a atividade antimicrobiana de óleos essenciais de mostarda, cravo da índia e canela. Extratos de alho, canela, curry, mostarda, manjericão, gengibre a outras ervas exibem também essas propriedades. Extratos do cravo da Índia reduzem o número de Escherichia coli e outras bactérias durante a armazenagem de sucos, leites e chás (BOYLE, 1995; ARORA; KAUR, 1999 apud ERNANDES; GARCIACRUZ, 2007). Vários estudos têm sido realizados avaliando o potencial antimicrobiano dos óleos essenciais. Ouattara et al. (1997 apud KRUGER, 2007) estudaram o efeito de óleo essencial de canela, cravo, cominho, alho, orégano, pimenta preta, pimenta e alecrim, na superfície de meio de cultura sólido, contra Carnobacterium piscicola, 22 Lactobacillus curvatus, Lactobacillus sake, Pseudomonas fluorenscens, Brochothrix thermosphacta e Serratia liquefaciens, que são os principais microrganismos deteriorantes de produtos cárneos. Os óleos de canela, cravo, alecrim, pimenta e alho foram os mais efetivos, apresentando efeito inibitório em concentrações de 1% (v/v) contra todos os microrganismos testados. Os demais óleos testados foram menos eficientes apresentando efeito inibitório apenas em concentrações acima de 10% (v/v). Os níveis de óleos essenciais e seus compostos utilizados para inibir a multiplicação bacteriana em testes realizados in vitro são menores do que aqueles necessários para a inibição em modelos alimentares, devido às interações entre tais componentes e as matrizes alimentares. Entretanto, níveis mais elevados podem influenciar negativamente as propriedades sensoriais originais do alimento (BAGABOULA et al., 2004 apud BÍSCOLA, 2007). 6.2.1 Interações entre os antimicrobianos naturais e os constituintes da matriz alimentar Vários estudos têm se dedicado a elucidar a conformação estrutural e as propriedades funcionais de compostos antimicrobianos, como os óleos essenciais. Entretanto, sua aplicação como conservantes alimentares requer estudos que avaliem o impacto das interações entre esse composto e os ingredientes das matrizes alimentares (AASEN et al., 2003). Segundo Burt (2004) altos teores de gordura diminuem a ação antimicrobiana dos óleos essenciais, pois estes se dissolvem na fase lipídica do alimento resultando em sua menor disponibilidade para atuação contra os microrganismos dispersos na fase aquosa. A baixa atividade de água pode diminuir a ação antimicrobiana dos óleos essenciais, pois dificulta que o mesmo atinja seu alvo nas células sensíveis. Já altos teores de água e/ou sal têm efeito positivo na ação antimicrobiana desses compostos (KOUTSOUMANIS; NYCHAS, 2000 apud ERNANDES; GARCIA-CRUZ, 2007). 23 7 Contaminação e conservação das especiarias As propriedades das especiarias, tanto antioxidante, antimicrobiana como suas funções de conferir sabor aos alimentos estimulam sua utilização, porém estas podem chegar ao consumidor final, ou a indústria de alimentos, contaminadas. Sua contaminação pode ser em sua origem, durante a colheita, estocagem, transporte, armazenamento e até mesmo durante a manipulação final com esporos, fungos, insetos e roedores (GERMANO; GERMANO, 1998). Tanto as condições sanitárias das plantações influem nos níveis de contaminação, como os cuidados com a colheita. Como as especiarias são oriundas de diversos órgãos de vegetais, colhidas em regiões tropicais e subtropicais, submetidas a variações climáticas e secas de modo artesanal, estão sujeitas com relativa facilidade, à fermentação e a proliferação de microrganismos. O armazenamento em galpões velhos, úmidos, mal ventilados, com paredes cobertas de bolor, propiciam a multiplicação das especiarias contaminantes e/ou a invasão por novas espécies a partir do ambiente (GERMANO; GERMANO, 1998). A comercialização das especiarias, estimulada pela importação, nem sempre é garantia de qualidade ao consumidor, podendo apresentar perda de qualidade, a qual repercute na perda de essências voláteis, interferindo na cor e sabor. (GERMANO; GERMANO, 2008). Análises microbiológicas de pimenta do reino, revelaram que 54,4% das amostras apresentaram número elevado de bolores e leveduras e coliformes fecais, além da presença de Salmonella em 14,67% das amostras (SANTOS, 1999 apud CHESCA et al., 2004). Mistura de coentro e pimenta contaminadas com microrganismos esporulados foram responsáveis pelo estufamento de latas de presunto fatiado, bem como mistura de especiarias em picles ocasionou o extravasamento das embalagens (GERMANO; GERMANO, 2008). Philippi (1995, apud CHESCA, 2004) analisaram a presença de Salmonella e Coliformes fecais na canela em pó, obtendo 37% das amostras contaminadas com coliformes, sendo que nenhuma possuía Salmonella. Dentre os microrganismos encontrados nas especiarias, o Clostridium 24 perfringens é alvo de preocupação, estando presente em 5% de amostras de pimenta-preta, açafrão, coentro e mostarda. Bacillus subtilis e b. mesentericus foram observados em 94% de amostras de especiarias, dentre as quais páprica, pimenta e cardamomo. O tempo de estocagem pode interferir no nível de contaminação microbiana, porém o efeito é lento, como ficou demonstrado com amostras frescas de pó para curry, contendo 5,4. 107 bactérias/g, e que, após dois meses em temperatura ambiente, ainda continham 4,0. 105 bactérias/g (GERMANO; GERMANO, 2008). Apesar de algumas especiarias possuírem contaminação, os riscos oferecidos à saúde, quando utilizadas na culinária familiar, onde o consumo se dá logo após o preparo, há pouco perigo. No entanto, o maior problema diz respeito à indústria de alimentos, onde a utilização é em larga escala e os produtos são consumidos após um tempo variável de armazenamento (GERMANO; GERMANO, 2008). Assim, as indústrias devem tomar medidas de precaução, como esterilizar adequadamente pratos cozidos, embutidos, queijos, massas entre outros. Do mesmo modo, armazenar os produtos em umidade e temperatura ideais, e tomar cuidado na contaminação que pode ocorrer devido a manipulação, por exemplo, quando adiciona-se salsa crua picada sobre pratos prontos (GERMANO; GERMANO, 2008). As especiarias também podem ser responsáveis por manifestações alérgicas. Isto pode ser perigoso, pois sua presença nos alimentos é mascarada pela presença de outros ingredientes, sendo que o consumidor na maioria das vezes não sabe que está ingerindo-as. Açafrão, funcho, anis, coentro, cominho, páprica e pimenta-caiena são freqüentemente apontadas como envolvidas em casos de alergias (GERMANO; GERMANO, 2008). Para obter especiarias com baixa, ou nenhuma contaminação, são utilizados tratamentos, como moagem, cocção, esterilização a frio por irradiação, fumigação, tratamento térmico, associação de procedimentos como acidificação, salga e cocção entre outros (GERMANO; GERMANO, 2008). 25 8 Conclusão A utilização de especiarias tem se difundido cada vez mais, por proporcionar um alimento com características sensorias que agradam o paladar. Com esse intuito, e com base nas novas tendências dos consumidores por alimentos naturais, as indústrias vem aumentando a utilização das especiarias, sendo que várias pesquisas estão sendo realizadas com a finalidade de obter-se quantidades adequadas para a utilização destas, afim de que possam desempenhar sua ação antioxidante e antimicrobiana sobre os alimentos. Apesar das crescentes pesquisas celerado acerca das especiarias, é necessário, ainda, um maior empenho para estabelecer valores exatos para sua utilização em larga escala industrial de alimentos, bem como deve-se ter um controle rigoroso desde sua produção até a utilização no produto final, proporcionando ao consumidor um alimento seguro. Assim como também, é de suma importância o estudo mais aprofundado das interações que ocorrem entre as especiarias com a matriz alimentar. 26 Referências AASEM. I. M.; MARKUSSSE, S.; MORETRO, T.; KATLA, T.; AXELSSON, L.; NATERSTAD, K. Interaction or the bacteriocins sakacin P and nisin with food constituents. International Journal of Food Microbiology, v.87, p. 35-43, 2003. ABREU, Edeli Simioni de; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena; TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. Alimentação mundial - uma reflexão sobre a história. Saúde e Sociedade, v.10, n.2, p. 3- 14, 2001. ALMEIDA, Ana Paula Gonçalves. 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