Arquivo - Econometrix
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NA CRISE, KEYNES TINHA RAZÃO. PEDRO JORGE RAMOS VIANNA A crise financeira que se abateu sobre a economia mundial trouxe à tona duas principais conclusões. A primeira é que depois de tantos anos de discussão, os monetaristas não podem mais tergiversar: o mercado financeiro é instável. Isto é, ele não é um mercado cuja estabilidade seja garantida pela ação dos agentes econômicos, como tantos monetaristas têm defendido ao longo do tempo. A segunda é que na hora de crise econômica somente um ente pode e deve agir para restaurar a estabilidade: o governo. Portanto, Lorde John Maynard Keynes tinha razão duplamente: primeiro em advogar a ação do governo em época de crise; a segunda, em ter sido contra a criação do FMI nos moldes em que foi feito, promovendo o dólar como a moeda internacional e, conseqüentemente, tornando o mundo dependente dos Estados Unidos. A presente crise de há muito vinha se desenhando. Pelo menos desde 2002, quando uma política errada do FED baixou a taxa de juros dos fundos federais, para algo em torno de 1,0%. Somado a isto, foi se formando uma “bolha” no mercado imobiliário, através da qual os preços dos imóveis passaram a apresentar valores bem acima de seus valores reais. E por que o FED não agiu? Porque esta é uma instituição privada. Se o setor financeiro dos bancos de investimentos estava ganhando bilhões de dólares, porque mexer (intervir, jamais!) no sistema. Deu no que deu. Cada vez mais os “derivativos” eram criados em cima de valores fictícios, criando-se riquezas do nada. Deixado ao sabor dos ventos, a “bolha” estourou. Mas ela dava sinais que iria estourar já em 2007, quando o BNP Paribas Investment Partners congelou 2,0 bilhões de euros dos Fundos Parvest Dynamic ABS, BNP Paribas ABS Euribor e BNP Paribas ABS Eonia. Naquele mesmo ano, em agosto, a American Home Mortgage (AHM) pediu concordata, a Countrywide Financial foi comprada pelo Bank of America e bancos como o Citicorp, UBS, Bear Stearns e Merrill Lynch, dentre outros, apresentaram sérios prejuízos. De fato, a partir do terceiro trimestre de 2007, o Merrill Lynch começou a cumular prejuízos, fechando o segundo trimestre de 2008 com perda acumulada de US$17.7 bilhões; o Lehman Brothers, somente no primeiro semestre de 2008, perdeu US$6.7 bilhões e o Citicorp, desde o quarto trimestre de 2007, acumulou prejuízos de US$17.5 bilhões. Os dois primeiros foram fechados, e o terceiro está sendo reestruturado. Assim, a crise não é a “crise de outubro”, de hoje. Ela é uma crise que já se anunciava pelos fatos acima descritos e pela existência da “bolha” no setor imobiliário americano, o que já era conhecida por muitos executivos do sistema bancário. Apesar de a crise estar instalada no mercado financeiro americano, sua importância deriva dos valores envolvidos. Alguns economistas estimam que as perdas registradas alcançam a marca dos US$3.0 trilhões, o que é uma estimativa não muito longe da realidade, tendo em vista que somente as empresas Fannie Mae e Freddie Mac respondem por US$6.0 trilhões do mercado de empréstimos imobiliários e estas empresas estão em dificuldade. O Governo Americano teve que injetar US$200.0 milhões nessas empresas para evitar o pior. Como, devido ao seu tamanho e à sua conseqüente dispersão pelo mercado financeiro internacional, os Bancos Centrais de todo o mundo, principalmente o FED e os Bancos Centrais Europeus,não poderiam fazer diferente a não ser injetar recursos no sistema bancário para evitar a quebra de confiança do público no sistema bancário e a resultante “corrida aos bancos”, quando o público saca seus recursos depositados para garantir liquidez. Este era o primeiro problema. O mais urgente. O segundo problema é conseqüência: a possível recessão nos estados Unidos e nos países desenvolvidos, inclusive os emergentes. No que diz respeito ao primeiro problema, as estimativas é que a soma de recursos, na Europa, aportados pelos Bancos Centrais em seus sistemas bancários, deve atingir US$2.6 trilhões, o que somado ao “pacote” do FED, atingiria algo em torno de US$3.3 trilhões. E isto sem considerar o apoio formal dado à população que seus depósitos estariam protegidos, em média, até um total de US$150.0 mil. Até agora a “corrida” não aconteceu. Nem deve mais acontecer. Resta o segundo problema. Este ainda não foi equacionado. Aqui no Brasil, as medidas foram mais institucionais que monetárias. Isto é o Bacen não precisou injetar recursos nos bancos, mas tomou medidas para aumentar-lhes a liquidez, como a adoção de uma taxa de depósito compulsório mais baixa. Assim, as autoridades monetárias preocuparam-se com o segundo problema. Se, entretanto, olharmos para a grande preocupação dos empresários brasileiros que é a falta de crédito – o que levará à recessão - esta medida foi muito modesta. Como qualquer outra transação, o crédito depende da oferta e da procura. Somente induzir a oferta não resolve o problema. Era, e é, necessário que o COPOM baixasse a Taxa Básica de Juros, mas infelizmente não o fez. Uma lição, porém pode-se tirar desta crise. O Governo ainda é, em uma crise econômica, a única instituição capaz de solucionar o problema. KEYNES, COMO SEMPRE, ESTAVA CERTO! Carta econômica publicado no site da FIEC, vol.1 número 02 novembro 2008
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