ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA GLÂNDULA PARÓTIDA
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ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA GLÂNDULA PARÓTIDA
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA GLÂNDULA PARÓTIDA E DO DUCTO PAROTÍDEO EM LEÃO (Panthera Leo) Stéphany Cardozo Gomes1, Luciana Silveira Flôres Schoenau2, Cristiany Luiza Filter Johan3, Andressa Daronco Cereta3, Jurema Salerno Depedrini4, Amilton Vallandro Marçal4, João Cesar Dias Oliveira4. INTRODUÇÃO O Leão é a denominação popular do felino cujo nome cientifico é Panthera leo. É encontrado na Ásia, África e Europa com uma maior população localizada nas savanas africanas. São carnívoros e caçadores, especialmente as fêmeas, podendo consumir até 35 quilos de carne por dia. Os machos se diferenciam das fêmeas pelo peso que varia entre 150 a 230 e 120 a 170 quilos e pelo comprimento que varia entre 2,5 a 3,0 e 2,3 a 2,7 metros, respectivamente (LEÃO, 2014). As glândulas salivares são órgãos pareados que secretam saliva através de seus ductos na cavidade oral. A saliva mantém a mucosa da boca úmida e se mistura ao alimento durante a mastigação para lubrificar a passagem do bolo alimentar durante a deglutição e iniciar a digestão química do alimento (KÖNIG & LIEBICH, 2010). Existem cinco pares de glândulas salivares no gato, todas com aparências lobuladas. São derivadas embriologicamente do epitélio da boca, as quais mantem sua conexão no adulto através de seus ductos e são responsáveis por uma importante contribuição na produção de saliva dentro da cavidade bucal. As glândulas salivares são a parótida, a mandibular, a sublingual, a molar e a zigomática (orbital), sendo a molar ausente em alguns mamíferos como homem e o cão (CROUCH, 1969). A glândula parótida situa-se na união entre a cabeça e o pescoço, ventral a cartilagem auricular na fossa retromandibular. É uma glândula tubuloacinosa, seromucosa e mista. Sua localização fica próxima da artéria carótida externa, da veia maxilar e dos ramos dos nervos faciais e trigêmeo. Encontra-se envolvida por uma 1 Apresentador: Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Orientador: Departamento de Morfologia, CCS, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. 3 Co-autor: Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. 4 Co-autor: Departamento de Morfologia, CCS, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. cobertura facial que projeta trabéculas para dentro e a divide em vários lóbulos. Os ductos coletores maiores atravessam essas trabéculas até se unirem novamente e formar um único ducto que se inicia no aspecto rostral da glândula. O ducto parotídeo se abre no vestíbulo oral acima de uma pequena papila no lado oposto da área que vai do terceiro ao quinto molar dependendo da espécie (KÖNIG & LIEBICH, 2010). A glândula parótida é a maior das cinco glândulas, situando-se ventral à porção basal da cartilagem auricular. Sua borda cranial sobressai levemente à borda caudal do músculo masseter e sua borda caudal se projeta sobre os músculos cleidomastóide e cleidocervical. A veia facial atravessa a glândula perto de sua borda ventral, sendo limitada também pela glândula mandibular neste ponto (CROUCH, 1969). Relaciona-se medialmente com os ramos do nervo facial, com os ramos da artéria e veia maxilar e com o linfonodo parotídeo. O ducto parotídeo emerge da borda rostral da glândula onde se projeta em direção à boca, cruza a superfície lateral do masseter e abre-se dentro do vestíbulo bucal no lado oposto ao terceiro ou quarto dente molar superior da bochecha no cão e oposto ao segundo molar no gato, sendo que pequenos lóbulos parotídeos acessórios podem ser encontrados ao longo do seu trajeto (NICKEL et al.; 1979). O conhecimento da anatomia da glândula parótida é importante do ponto de vista clínico-cirúrgico, considerando a escassez de dados de literatura em felinos silvestres e devido a glândula parótida, assim como outras glândulas salivares serem locais frequentes de tumores, mucoceles, fístulas, inflamações e traumas envolvendo a glândula e seu ducto. Fístulas pós-traumas são mais comuns na glândula parótida e embora os tumores de glândulas salivares sejam raros em caninos e felinos, são duas vezes mais frequentes nestes últimos. A remoção da glândula e de seu ducto é recomendada em mucoceles salivares tornando-se imprescindível o conhecimento da sua anatomia e de suas relações (SALIVARY DISORDERS IN SMALL ANIMALS, 2014). OBJETIVOS Objetiva-se com esse estudo descrever a anatomia da glândula parótida, suas relações, seu ducto e sua abertura no leão (Panthera leo). METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Anatomia Animal do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Santa Maria como trabalho didático da disciplina complementar denominada Iniciação Científica em Anatomia Animal do Curso de graduação em Medicina Veterinária. Utilizou-se para essa pesquisa uma cabeça de leoa adulta (Panthera leo), de aproximadamente 23 anos, que pertencia ao Criatório Conservacionista São Brás, a qual veio a óbito por septicemia. A carcaça da leoa, eviscerada, foi doada ao Laboratório de Anatomia após ser necropsiada. Esta carcaça foi desmembrada, separando-se a cabeça e imergindo a mesma em uma solução de formaldeído a 10%. Depois de fixada, procedeu-se a dissecação iniciando com o rebatimento da pele, do músculo platisma e da remoção do tecido subcutâneo. A forma, posição, relação da glândula e do ducto foram observadas. Foram tomadas medidas com uma fita métrica, da extremidade do nariz até a o ponto mais alto da crista nucal (Medida A), desta até o ponto médio entre os ângulos mediais dos olhos (Medida B), e de uma linha reta transversal partindo do processo angular da mandíbula até o dorso da cabeça (Medida C). Mediu-se também com auxílio de um paquímetro o comprimento, a largura e a profundidade da glândula e do ducto parotídeo. Todas as medidas obtidas (C x L x P) tiveram como referencia os eixos longitudinal e transversal em relação à cabeça, seguindo o padrão C (comprimento: rostro-caudal), L (largura: dorso-ventral) e P (profundidade: latero-medial). RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em felinos domésticos a glândula parótida situa-se caudal ao ramo da mandíbula, contra a base da orelha e coberta dorsalmente pelo músculo parótidoauricular (CROUCH, 1969; NICKEL et al, 1979). Quando comparado ao gato, a situação e a relação da glândula parótida verificada na leoa neste estudo foi idêntica. Apresentou em uma visão geral a forma de um coração, com uma porção dorsal mais compacta, envolvida por uma fina cápsula, e por uma porção ventral menos densa, não encapsulada, com seus lóbulos visivelmente arranjados frouxamente com medidas gerais de 6,2 cm de comprimento por 4,9 cm de largura (em seu eixo mais longo). Em carnívoros esta é pequena, possui forma triangular e envolve a base da orelha cranial e caudal aos ângulos (NICKEL et al, 1979). Não foi encontrada na literatura a descrição da divisão da glândula em uma porção dorsal mais compacta e em uma porção ventral mais frouxa, quando comparada aos carnívoros ou ao felino doméstico. A porção dorsal da glândula parótida da leoa apresentou a forma de um oito na horizontal medindo 6,2 cm de comprimento. O seu istmo (estreitamento central) mediu 1,6 de largura, dividindo o oito em uma porção rostral de 3,2 x 3,3 x 1,6 cm e uma porção caudal de 3,0 x 3,4 x 0,9 cm. A porção ventral mais frouxa da glândula parótida apresentou uma porção rostro-dorsal individualizada de forma oval com as medidas de 2,1 x 0,7 x 0,3 cm e uma porção caudal-ventral a esta porção ovoide e ventral a porção densa da glândula, com a forma de um molar, medindo 2,7 cm de comprimento e 0,25 cm de profundidade. Sua porção central mais estreita apresentou 0,9 cm de largura dividindo a porção molariforme em partes rostral (1,1 x 1,8 x 0,2 cm) e caudal (1,0 x 1,5 x 0,2 cm). A porção caudal se sobrepôs à porção caudo-ventral da porção mais compacta da glândula. O ducto parotídeo emergiu pela formação de ramos da porção ventral da porção mais compacta da glândula, dirigindo-se rostralmente da porção menos densa cruzando sobre a superfície lateral do músculo masseter, entre os ramos bucais dorsais e ventrais do nervo facial. Essa emergência rostral do ducto parotídeo foi descrito também por NICKEL et al. (1979) em carnívoros, no entanto, outros autores (SEBASTIANI & FISCHBECK, 2005) relataram que no felino este parte do terço médio da glândula o que não foi verificado neste estudo. CROUCH (1969), em seu livro sobre a anatomia do gato, descreveu uma emergência similar à verificada na leoa considerando a formação ventral do ducto pela convergência de ramos e posterior emergência cranial, descrevendo essa como ventro-cranial. O ducto parotídeo da leoa mediu 13 x 0,3 x 0,1 cm. Todos os autores consultados descreveram um trajeto deste ducto em carnívoros (NICKEL et al., 1979; KÖNIG & LIEBICH, 2010) ou felinos (CROUCH, 1969; SEBASTIANI & FISHBECK, 2005) sobre a superfície lateral do músculo masseter tendo como referência a sua situação entre os ramos bucais dorsal e ventral do nervo facial (SEBASTIANI & FISHBECK, 2005), visualizado também na leoa. Após penetrar no músculo bucinador o ducto abriu-se na papila parotídea dentro do vestíbulo bucal, no lado oposto ao último pré-molar superior (dente carniceiro), na altura da sua terceira cúspide, mesma situação descrita por CROUCH (1969). Foi relatada a abertura na papila parotídea em felinos na altura do segundo dente da bochecha (NICKEL et al., 1979) ou na altura do terceiro pré-molar superior (SEBASTIANI & FISHBECK, 2005). Considerando que NICKEL et al. (1979) descreveram a ausência do primeiro pré-molar em felinos e se referiram a estes como dentes da bochecha, e SEBASTIANI & FISHBECK (2005) relataram a existência de três dentes pré-molares superiores, acredita-se que ambos autores se referiram ao mesmo local de abertura descrito por CROUCH (1969) e encontrado na leoa deste estudo. A cabeça da leoa mediu 31 cm na medida A, 20,5 cm na medida B e 18 cm na medida C. O comprimento da glândula parótida correspondeu a 1/5 da medida A, aproximadamente 1/3 da medida B e1/4 da medida C. CONCLUSÕES A glândula parótida do leão apresenta a forma de um coração, com uma porção compacta dorsal, revestida por uma fina cápsula e uma porção ventral mais frouxa de onde emerge rostralmente o ducto parotídeo, após formar-se a partir de ductos na porção ventral mais densa da glândula. O ducto parotídeo cruza a face lateral do músculo masseter, penetra no músculo bucinador e abre-se na papila parotídea que se localiza no vestíbulo bucal no lado oposto ao último pré-molar superior. O tamanho da glândula parótida quando comparada ao tamanho da cabeça apresentou uma proporção de 1/5 do comprimento e a aproximadamente 1/4 da largura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CROUCH, J. E. Text-Atlas of Cat Anatomy. Philapelphia: Lea & Febiger, 1969. 399 p. KÖNIG, H.E.; LIEBICH, H.G. Anatomia dos Animais Domésticos – Texto e Atlas Colorido. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 787 p. LEÃO. In: Sua Pesquisa. Disponível em: <HTTP://www.suapesquisa.com/mundoanimal/leao.htm>. Acesso em: 26 maio. 2014. NICKEL, R.; SCHUMMER, A; SEIFERLE, E. The Víscera of the Domestic Mammals. 2. ed. Berlin: Verlag, 1979. 401 p. SALIVARY DISORDERS IN SMALL ANIMALS. In: The Merck Veterinary MANUAL. Whitehouse Station, N.J.: Merck Sharp & Dohme Corp, 2012. Disponível em: <http://www.merckmanuals.com/vet/digestive_system/diseases_of_the_mouth_in _small_animals/salivary_disorders_in_small_animals.html>. Acesso em: 11 jun. 2014. SEBASTIANI, A. M.; FISHBECK, D. W. Mammaliam Anatomy the Cat. 2. ed. Colorado: Morton, 2005. 184 p.