INFORMATIVO Nr 113 – 4°/2009
Transcrição
INFORMATIVO Nr 113 – 4°/2009
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO “ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO” CURSO DE PREPARAÇÃO À ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (CP/ECEME) INFORMATIVO Nr – 4°/2009 – 113 Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 2 de 86 ÍNDICE O MUNDO ATUAL .........................................................................................4 RELAÇÕES INTERNACIONAIS ....................................................................4 MAIS CALOR E MENOS COMIDA ....................................................................................................................4 ORGANISMOS INTERNACIONAIS ...............................................................5 ‘O G-8 NÃO É MAIS SUFICIENTE’....................................................................................................................5 MITOS E VERDADES SOBRE O FMI ...............................................................................................................6 SARKOZY: “O BRASIL SE TORNOU UM PAÍS INCONTORNÁVEL, UM GIGANTE DE QUE O MUNDO NÃO PODE PRESCINDIR PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS QUE O ESPREITAM” ...................7 EUA..............................................................................................................10 EUA NÃO VEEM AMEAÇA NAS AMÉRICAS ................................................................................................10 EUA TENTAM ESPANTAR DÚVIDAS SOBRE IV FROTA .............................................................................11 ÁSIA.............................................................................................................13 DESCAMINHOS DA ÍNDIA ..............................................................................................................................13 IRÃ DESAFIA E TESTA MÍSSEIS COM ALCANCE ATÉ ISRAEL..................................................................14 AMÉRICA LATINA.......................................................................................16 UNASUL: AS ARMAS DE CADA UM...............................................................................................................16 CÚPULA DA UNASUL FRACASSA EM QUITO E AMPLIA ISOLAMENTO DA COLÔMBIA .........................18 DESEMPREGO, HERANÇA MALDITA DO ABALO GLOBAL ........................................................................19 PAÍS ABRE HOJE DIÁLOGO COM A BOLÍVIA SOBRE IMPASSE DOS BRASILEIROS ILEGAIS ..............22 BRASIL QUER CONTRAPARTIDA POR ANISTIA A BOLIVIANOS ...............................................................23 USINA DE ITAIPU GEROU DISPUTA ENTRE BRASIL E PARAGUAI...........................................................24 ORIENTE MÉDIO ABRE OS OLHOS PARA A AMÉRICA LATINA ...............................................................26 BRASIL ........................................................................................................28 ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS ..........................................................28 REFORMA UNIVERSITÁRIA: ESPECIALISTAS DIVERGEM SOBRE COTAS DA EDUCAÇÃO APROVADAS NA CÂMARA.............................................................................................................................28 PAÍS ENVELHECE, MAS SEM OFERECER INFRAESTRUTURA PARA IDOSOS, DIZ IBGE .....................30 A ‘CAIXA D’ÁGUA’ DO BRASIL SOB AMEAÇA..............................................................................................32 BRASIL SÓ TEM 10% COM CURSO SUPERIOR NA FAIXA DE 25 A 64 ANOS .........................................34 GOVERNO AMPLIA RESTRIÇÃO A ESTRANGEIROS NA AMAZÔNIA........................................................34 MISSÃO CUMPRIDA .......................................................................................................................................36 RETRATOS DO BRASIL..................................................................................................................................40 GOVERNO CEDE ÁREAS PROTEGIDAS ......................................................................................................42 BRASIL É 7º MAIS DESIGUAL DO MUNDO. MORTALIDADE INFANTIL AINDA PREOCUPA ....................44 METADE DOS MAIORES DE 25 ANOS NÃO CONCLUIU O ENSINO FUNDAMENTAL ..............................46 MULHERES E MINORIAS PARA TRÁS..........................................................................................................47 CAMPO ECONÔMICO.................................................................................50 BRASIL CAI PARA 82º EM DESIGUALDADE DE GÊNERO ..........................................................................50 INFRAESTRUTURA E ENERGIA ................................................................52 BRASIL: 10 QUESTÕES SOBRE O PRÉ-SAL................................................................................................52 FERROVIAS OCIOSAS, ECONOMIA FORA DOS TRILHOS .........................................................................57 LINHAS PIONEIRAS TOMADAS POR MATAGAL..........................................................................................61 PERIGO NAS ESTRADAS...............................................................................................................................61 SAÚDE.........................................................................................................64 ESTRATÉGIA NOVA, INIMIGO VELHO ..........................................................................................................64 HISTÓRIA ....................................................................................................66 A INTENTONA COMUNISTA DE 1935............................................................................................................66 PERU PROCESSA O CHILE EM DISPUTA MARÍTIMA .................................................................................70 ALEMANHA DERRUBA 'DOMINÓ GIGANTE' EM HOMENAGEM À QUEDA DO MURO DE BERLIM.........71 CRISES DO IMPÉRIO .....................................................................................................................................73 GOVERNOS DA PRIMEIRA REPÚBLICA.......................................................................................................76 A ARTE DE GOVERNAR .............................................................................................................................................. 83 Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 4 de 86 O MUNDO ATUAL RELAÇÕES INTERNACIONAIS MAIS CALOR E MENOS COMIDA 01/10/2009 Falta de alimentos, causada pelo aquecimento global, reduzirá produção em 20% Um homem peneira arroz no Paquistão: redução da oferta e aumento de preços em 2050 por causa das mudanças climáticas, diz estudo Vinte e cinco milhões de crianças em todo o mundo vão passar fome em 2050 por causa da escassez de alimentos, cuja produção vai sofrer uma redução de 20% causada pelo aquecimento global. E o custo da adaptação às mudanças climáticas direcionada aos países em desenvolvimento será de cerca de US$100 bilhões anuais, já a partir de 2010. É o que revelam dois estudos, distintos, mas interligados, divulgados ontem. Eles colocam ainda mais pressão nos líderes mundiais a pouco mais de dois meses da reunião de cúpula da ONU, em Copenhague, quando deverá ser acertado um novo acordo climático para suceder o Protocolo de Kioto, que expira em 2012. De acordo com o primeiro estudo, coordenado pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), os habitantes dos países em desenvolvimento terão acesso a 2,41 mil calorias diárias em 2050, 286 calorias a menos que em 2000. Na África, esse valor será de 392 calorias a menos e, nos países industrializados, de 250 calorias abaixo. — Este drama pode ser evitado com um investimento de US$9 bilhões anuais para aumentar a produtividade agrícola — afirmou Gerald Nelson, um dos autores do relatório, durante a sua apresentação, em Bangcoc, na Tailândia, onde ocorre a última rodada de negociações sobre clima antes da reunião da Dinamarca. O estudo afirma que a escassez vai levar à alta dos preços de alimentos básicos, como trigo, soja e arroz (este pode sofre aumentos de até 121%). Seus autores lembram que as crises do ano passado, quando a falta desses produtos geraram protestos em vários países, foram um alerta para a gravidade desse problema. Deveremos ter um aumento de 50% na população do planeta até 2050 e conseguir produzir alimentos para tanta gente já seria um grande desafio, mesmo se não houvesse aquecimento — disse Nelson. Banco Mundial estima custo de adaptações Todos as regiões do planeta serão afetadas, relata a pesquisa, mas as mudanças no clima terão impacto mais profundo na produção de alimentos no sudeste asiático e na África Subsaariana, por causa de colheitas ruins e secas severas. — Se não direcionarmos mais investimentos nessa área, as consequências serão desastrosas. Nesse sentido, melhores estradas, sistemas de irrigação e acesso a água potável serão essenciais — acrescentou Nelson. Na outra pesquisa, feita pelo Banco Mundial e também divulgada em Bangcoc, especialistas afirmaram que boa parte dos custos de adaptação nos países emergentes — que deve ser um dos grandes nós das negociações em Copenhague — deve ser Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 5 de 86 destinado à proteção dos sistemas de transporte e das áreas litorâneas. Os valores divulgados — US$100 bilhões anuais — são considerados os mais precisos já estimados. — Uma das razões para isso é que incluímos no estudo dados sobre o crescimento de diversas nações — disse Warren Evans, diretor de assuntos ambientais do Banco Mundial. — A maior parte dos estudos anteriores estimava, por exemplo, que Bangladesh será a mesma em 2050, e obviamente isso é incorreto. Esperamos que aconteça um maior crescimento na região e a diminuição da pobreza. Isso, sem dúvida, vai fazer uma diferença nos cálculos da adaptação. O estudo do Banco Mundial é mais um a afirmar que a falta de ação agora tornará os custos da adaptação maiores no futuro. — Para a população dos países emergentes, esse custo pode se tornar alto demais — afirmou o ministro do Desenvolvimento da Holanda, Bert Koenders. — Por isso, é fundamental o apoio financeiro internacional, em bases atualizadas, para essas nações. O GLOBO ORGANISMOS INTERNACIONAIS ‘O G-8 NÃO É MAIS SUFICIENTE’ 06/09/2009 Presidente da França diz que bloco vai se abrir para incluir o Brasil e mais cinco emergentes A morte do G-8 — o grupo de 7 países ricos, mais a Rússia, que durante anos ditou sozinho soluções para os problemas do mundo — tem data marcada: 2011. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, por e-mail, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que chega hoje ao Brasil, confirmou que no ano em que a França assumirá a presidência rotativa do G-8, ele mesmo vai selar a morte, ao consolidar um grupo maior: o G-14, que inclui Brasil, China, Índia, México, África do Sul e Egito. Fim da exclusividade dos ricos. Só não disse se seus companheiros do G-8, como os EUA ou o Japão (que se opõe), vão concordar. Sarkozy, que os diplomatas brasileiros descrevem como o presidente de país rico que mais defende as ambições brasileiras, diz que vai insistir na reunião do G-20 (países ricos e emergentes) em Pittsburgh, nos EUA, no final deste mês, na necessidade de agilizar a reforma da governança global, “que deve abrir mais espaço aos grandes países emergentes, a começar pelo Brasil”. Os banqueiros que se cuidem: o presidente francês vai insistir no aperto ao cerco aos bancos e pedir, na reunião do G-20, para que outros países sigam a França, que acaba de anunciar medidas para para reduzir os bônus dos traders. “Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes”, alerta Sarkozy, “estará redondamente enganado”. O GLOBO Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 6 de 86 MITOS E VERDADES SOBRE O FMI "O G-20 não substituiu o FMI nem diminuiu sua importância. O Fundo foi a organização mais citada no comunicado: 31 vezes" As cenas se repetiram em mais uma reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em Istambul, na Turquia. Durante o evento, encerrado no último dia 7, hordas de jovens bem vestidos e dizendo-se antiglobalização bloquearam ruas, promoveram arruaças e depredaram caixas automáticos e lojas que nada tinham a ver. Estudantes empunharam cartazes com os dizeres "FMI, fora de nossa cidade". A dificuldade de entender para que serve o FMI não é privilégio dessas turbas, que costumam se guiar por uma mistura de ignorância, preconceitos anticapitalistas e vetustos ideais marxistas. Nos seus tempos de oposição, o presidente Lula também entoava o "Fora FMI" para desancar os acordos que o Brasil celebrava para enfrentar as crises vindas do exterior ou produzidas por nossos próprios desequilíbrios. Talvez movido pelas reminiscências daqueles tempos, Lula comemorou de forma canhestra o resultado da reunião do G-20 em 25 de setembro de 2009. Em vez de celebrar duas decisões históricas – a transformação do G-20 em principal fórum de cooperação econômica mundial e a transferência de 5% de cotas do FMI dos países ricos para os emergentes –, o presidente preferiu dissertar sobre o vazio. Disse que o G-20 não terá ingerência nos países: "A política de constrangimento era antes, quando o FMI ficava mandando os países fazer ajuste fiscal e acabava atrofiando a economia". Para o ministro da Fazenda, o FMI ficou subordinado ao G-20. Quanta confusão! O G-20 existe para discutir a cooperação e a coordenação de políticas, em especial no campo financeiro. Seus comunicados orientam decisões de instituições multilaterais. Representam apoio político para mudanças institucionais nos respectivos países. É um colegiado que não tem como se ingerir em assuntos internos de seus membros. O FMI, criado em 1944, tem por objetivo "fomentar a cooperação global, assegurar a estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover o emprego e o crescimento sustentáveis e reduzir a pobreza". É um mandato para nenhum "desenvolvimentista" botar defeito. O FMI exerce suas funções de três formas: (1) monitoramento da situação econômica e financeira, visando a prevenir crises; (2) auxílio a países em crise, mediante o fornecimento temporário de recursos e o apoio a medidas para corrigir seus desequilíbrios; (3) assistência técnica e treinamento em áreas de sua especialidade. Regra geral, o FMI ajuda países a enfrentar dificuldades de acesso a financiamento externo. Por isso, a entrega dos recursos depende de medidas (as chamadas condicionalidades) para atacar as fontes dessas dificuldades, o que reduz por um tempo a atividade econômica e o emprego. Daí a ideia de que o Fundo prejudica o país. Ocorre que não estabelecer tais condições seria contrário aos interesses de longo prazo do próprio país. Equivaleria a tratar uma doença grave sem prescrever remédios às vezes amargos e não mudar condutas nocivas à saúde do paciente. Feito de seres humanos, o FMI erra, mas é no mínimo exagero rotular os seus acordos como interferência em um país, mesmo porque se pode recusá-los. Foi o que fez Juscelino Kubitschek, que preferiu evitar medidas impopulares contra a inflação ascendente. As condicionalidades se aplicam a quaisquer países em dificuldades que precisem do apoio financeiro do FMI para superá-las. Ricos, emergentes ou pobres. Os primeiros, ainda nos anos 40, foram a França, a Holanda e o Reino Unido. Esse último, resgatado Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 7 de 86 de uma crise cambial na segunda investidura de Harold Wilson como primeiro-ministro (1974-1976), teve de ajustar-se. Na atual crise financeira mundial, o FMI criou uma linha flexível para países de comprovada gestão macroeconômica responsável. México e Colômbia a utilizaram. Se quisesse, o Brasil poderia ter feito o mesmo. Os três conduzem políticas semelhantes às prescritas pelo FMI em crises passadas. Ao contrário do que se disse por aqui, o G-20 não substituiu o FMI nem diminuiu sua importância. O Fundo foi a organização mais citada no comunicado: 31 vezes. Acontece que muitos preferem os mitos. Dá para entender. Fica bem falar mal do FMI ou tripudiar sobre seus supostos infortúnios. Maílson da Nóbrega – VEJA – 2135 – ANO 42 – Nº 42 SARKOZY: “O BRASIL SE TORNOU UM PAÍS INCONTORNÁVEL, UM GIGANTE DE QUE O MUNDO NÃO PODE PRESCINDIR PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS QUE O ESPREITAM” 06/09/2009 O GLOBO: Um ano após o início da crise de subprimes nos Estados Unidos, como o senhor avalia a situação? NICOLAS SARKOZY: Ainda é cedo demais para fazer um balanço definitivo desta crise, da qual, aliás, ainda não saímos. Mas uma coisa é certa: ela promoveu uma tomada de consciência. Quando o mundo se viu à beira do precipício, um certo número de ideias que o presidente Lula e eu — juntamente com outras pessoas — defendíamos há muito tempo adquiriram força, graças à realidade dos fatos: era preciso pôr fim aos excessos de um sistema sem regras nem moral e recolocar o sistema financeiro a serviço da economia real e do desenvolvimento, ou seja, a serviço das pessoas. O movimento de reforma que empreendemos desde as reuniões do G-20 em Washington, em novembro último, e em Londres, em abril, é simplesmente sem precedentes. Desejamos reconstruir um capitalismo regulado, no qual os bancos cumpram a sua missão, ou seja, financiar o desenvolvimento econômico e não a especulação; um capitalismo no qual nenhuma das instituições que o constituem e nenhum mercado financeiro escape aos controles; no qual a opacidade dê lugar à transparência; no qual as formas de remuneração não conduzam as pessoas a correrem riscos cada vez maiores; no qual mais ninguém possa se servir do sigilo bancário para sonegar impostos; por fim, um capitalismo no qual aqueles que colocam em risco o dinheiro dos investidores sejam punidos. Naturalmente, ainda não chegamos ao fim do caminho e é por isso que, com nossos parceiros do G-20, vamos nos reunir novamente em Pittsburgh dentro de alguns dias. Mas, sinceramente, quem teria imaginado, há um ano, que teríamos chegado aonde estamos hoje? ● Em 2007, o senhor defendia a ruptura em relação ao modelo social francês, considerado como a causa do “atraso” da França. Muitos acreditavam que fosse um admirador incondicional do modelo americano. Hoje, o senhor denuncia o modelo anglosaxão, que "intensifica as desigualdades", e desacelera o ritmo das reformas. A crise mudou o seu ponto de vista? Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 8 de 86 SARKOZY: Não é verdade que reduzimos a velocidade das reformas com a crise. Aliás, é justamente o contrário: aceleramos o ritmo. A crise, tenho certeza, não coloca em questão a necessidade das reformas: ela apenas as torna mais urgentes. Aos cidadãos franceses, declarei que usar a situação como pretexto para interromper as reformas seria um grave erro. Acredito, ao contrário, que a crise oferece uma oportunidade extraordinária para implementarmos mudanças que, mais do que nunca, fazem-se necessárias. Isso é verdade no plano internacional, com a profunda renovação do sistema financeiro que empreendemos, e é verdade também em nossos respectivos países. Não posso também deixar de dizer que aqueles que me descreveram como um “admirador incondicional do modelo americano” estavam enganados. O “modelo americano” ao qual se referem tem como base, majoritariamente, os seguros privados. Nunca desejei que esse tipo de sistema fosse adotado na França, pois ele deixa um grande número de pessoas sem proteção. Ao contrário, sempre considerei que o sistema francês, que oferece a todos os cidadãos, mesmo os mais desfavorecidos, um alto nível de proteção social, constituía um tesouro que deveria ser preservado a todo custo. E é justamente para preservar nosso modelo social que precisamos modernizá-lo, a fim de adaptá-lo às novas realidades e aos novos desafios. Neste aspecto, meu ponto de vista nunca mudou. ● A maioria dos bancos se salvou da crise com a ajuda do Estado e anuncia bônus mirabolantes, enquanto a maior parte das pessoas tem de fazer esforços adicionais. Não há o risco de uma volta à situação anterior? SARKOZY: Se alguém acreditar que após a crise tudo poderá recomeçar como antes, estará redondamente enganado. Isto ninguém poderá aceitar e nós não permitiremos que aconteça. Quanto aos bônus dos traders, por exemplo, será uma questão central em Pittsburgh, pois os nossos compatriotas estão exasperados — e com razão — por constatar que as lições tiradas da crise foram logo esquecidas. Sobre esta questão, a França decidiu dar o exemplo. Há dez dias, anunciei uma série de novas regras extremamente rigorosas. Agora, na França, os bônus deverão ser sistematicamente parcelados em pelo menos três anos. E nós criamos um málus, o que significa que se os resultados não estiverem à altura das expectativas, a parte diferida do bônus não será paga. Terminou a era do “é só ganho”. Também decidimos que agora uma parte substancial desses bônus será distribuída sob a forma de títulos e que esses títulos não poderão ser vendidos durante pelo menos dois anos. E eu disse com toda a clareza que nós deixaremos de dar mandato aos bancos que não respeitarem as regras que fixamos. Nenhum outro país no mundo foi tão longe no âmbito dessa questão dos bônus. Assim, perante os nossos parceiros do G-20 em Pittsburgh, nós poderemos dizer, não “aqui está o que tencionamos fazer”, mas sim “aqui está o que nós decidimos”. É fundamental. Não aceito o raciocínio que consiste em dizer “nós estamos esperando que os outros avancem, para então avançarmos”. Se for assim, arriscamos ter de esperar muito, pois ninguém avança. Os nossos amigos alemães e britânicos já aderiram à nossa iniciativa. Com Angela Merkel e Gordon Brown, nós assinamos, na quarta-feira passada, uma carta em comum para que a Europa chegue a Pittsburgh unida e com o mais alto nível de ambição, como foi o caso em Washington e Londres. Nesta carta, a questão da regulamentação dos bônus está claramente formulada. Desejo que o conjunto dos nossos parceiros do G-20 se una a nós no âmbito dessas proposições ambiciosas. ● Os países emergentes, como o Brasil, parecem ter saído reforçados da Cúpula do G-20 em Londres. Por que se insiste no formato G-8, ainda que ampliado, em vez de simplesmente adotar o G-20? Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 9 de 86 SARKOZY: Uma coisa é certa: é que o G-8 não é mais suficiente. Se quisermos que seja eficaz, se quisermos que permaneça legítimo, não temos escolha: somos obrigados a ampliá-lo aos grandes países emergentes, sem os quais não poderemos enfrentar os desafios globais com os quais se defronta o nosso mundo. Esses países são, por exemplo, a China, a Índia e, naturalmente, o Brasil. Reconheço perfeitamente que o G-20 se mostrou particularmente eficaz para enfrentar a crise. O G-20 representa 85% da riqueza mundial e tem, por conseguinte, uma verdadeira legitimidade quanto às questões econômicas e financeiras e principalmente quanto à reforma da governança econômica mundial. É o caso da reforma do FMI, por exemplo, que também tem de refletir melhor os novos equilíbrios mundiais e sobretudo a emergência de novos gigantes, como o Brasil. Para todas as outras questões globais, o presidente Lula e eu solicitamos que o G-8 se transforme em G-14, estendendo-se aos seis grandes países emergentes que são o Brasil, é claro, mas também a China, a Índia, o México, a África do Sul e o Egito. Veja bem: não se trata apenas de dar um papel mais importante a esses seis grandes países; o que nós queremos é a completa transformação do G-8 em G-14, porque não é possível termos, de um lado, o G-8 e, de outro, o G-6, de um lado o Norte e de outro o Sul. Na Cúpula de Áquila, demos um passo decisivo nesse sentido, tendo mais da metade da reunião se realizado em formato ampliado. Espero que a presidência canadense organize, este ano, a maior parte da próxima cúpula em formato G-14. E, é claro, tenciono concluir esta transformação sob a presidência francesa em 2011. ● Os diplomatas brasileiros falam de um estreitamento excepcional dos laços entre o Brasil e a França durante o seu governo. O que o senhor vê no futuro do Brasil que os seus predecessores não viram? SARKOZY: Não tenho a pretensão, evidentemente, de ser o primeiro a ter compreendido que no século XXI simplesmente não se pode mais prescindir de um país como o Brasil para solucionar os grandes problemas do mundo. Mas a verdade é que o presidente Lula e eu decidimos dar à parceria entre os nossos dois países uma nova dimensão e sobretudo um conteúdo muito mais concreto. Tínhamos de passar das palavras aos atos e foi o que fizemos. O presidente Lula gosta de ver resultados; tanto melhor, porque eu também. Em todas as grandes questões, a concertação entre os nossos dois países nunca foi tão intensa. Com o presidente Lula, nós nos comunicamos antes de cada grande encontro internacional. Juntos, defendemos esta ideia de que a reforma da governança mundial é não apenas necessária, mas urgente. E pensamos que é chegada a hora de darmos um maior realce à dimensão social da globalização. É justamente o objetivo da Aliança para a Mudança, que lançamos no mês de julho, antes da reunião de cúpula de Áquila. Constatamos também esta nova dimensão da parceria franco-brasileira no plano econômico, em que a cooperação entre os nossos dois países jamais foi tão densa, ou ainda no setor cultural, com o êxito do Ano da França no Brasil. ● Na parceria estratégica assinada com o Brasil, a França defende abertamente as ambições brasileiras: entre outras, uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e maior participação do país no cenário internacional. Ao mesmo tempo, a França obteve contratos militares rendosos, com outras possibilidades promissoras. O que o senhor responde aos que falam de uma “barganha entre amigos”? SARKOZY: Respondo que eles não entenderam bem o sentido desta parceria estratégica e sobretudo que não avaliaram o que o Brasil e a França podem realizar juntos, um para o Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 10 de 86 outro, naturalmente, mas também para o mundo. Sim, temos interesses e é bem verdade que os defendemos. É perfeitamente normal e ninguém está tentando negar. Mas, a parceria que nos liga é muito mais profunda. No alicerce da nossa amizade há, em primeiro lugar, o apego a valores em comum: a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Com o Brasil, compartilhamos também a mesma visão do mundo e do que está em jogo no plano mundial. Juntos, somos portadores da ideia de uma nova ordem mundial mais justa e mais solidária. E se a França defende a ideia de que o Brasil deve ser membro permanente do Conselho de Segurança é simplesmente porque pensamos que o Brasil se tornou um país incontornável, um gigante de que o mundo não pode prescindir para enfrentar os desafios que o espreitam. Aliás, certamente ninguém ignora o fato de que nós não reclamamos uma cadeira permanente na ONU para todos os países nos quais temos interesses econômicos. E quanto aos contratos, pois bem, entre o Brasil e a França, não se trata de uma relação de fornecedor a cliente, mas de uma parceria. Todas as nossas cooperações industriais, em matéria civil como de defesa, baseiam-se em transferências de tecnologia e em coproduções muito extensas. Até mesmo, diria, sem precedentes. Não se trata de vender. Trata-de de agir em conjunto. E queremos agir em conjunto porque compartilhamos os mesmos valores e uma mesma visão das grandes metas internacionais. Deborah Berlinck - O GLOBO EUA EUA NÃO VEEM AMEAÇA NAS AMÉRICAS 17/09/2009 Estratégia Nacional de Inteligência não vê nenhum país latino-americano como capaz de desafiar interesses de Washington A parte pública da nova Estratégia Nacional de Inteligência dos EUA menciona China, Rússia, Irã e Coreia do Norte como os países que têm a capacidade de "desafiar os interesses americanos", seja por meios convencionais, como espionagem ou força militar, ou "emergentes", como a invasão de computadores. Nenhum país latino-americano é citado diretamente no texto, que tem um anexo secreto e é o primeiro na área de segurança nacional divulgado na Presidência de Barack Obama. Os EUA costumam rever periodicamente suas estratégias de defesa. É uma maneira formal de prestar contas dos gastos com o setor, mas esses documentos são vistos também como indicadores de orientação doutrinária. O novo texto foi divulgado anteontem pelo diretor nacional de Inteligência, Dennis Blair, que tem a missão de coordenar as 16 agências de espionagem e contraespionagem. Embora reconheça que a China "compartilha muitos interesses" com os EUA, o documento diz que "sua diplomacia com foco cada vez maior em recursos naturais e sua modernização militar estão entre os fatores que a tornam um desafio global complexo". A Rússia é vista como "parceira" em áreas como o combate à proliferação nuclear, mas "pode continuar a buscar meios de reafirmar poder e influência" que levem a Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 11 de 86 choques com os EUA. Irã e Coreia do Norte são mencionados devido a seus programas nucleares. Ao apresentar a estratégia, Blair disse que o 11 de Setembro não teria ocorrido se as agências de espionagem estivessem organizadas como hoje. Ele afirmou que grupos não estatais continuam sendo um desafio ao poder dos EUA, mas suas diretrizes trazem uma diferença importante: em vez de "terrorismo islâmico", fala-se de "grupos extremistas violentos". São também mencionados "insurgentes que desestabilizam regiões de interesse estratégico" e "organizações criminosas transnacionais", incluindo as do narcotráfico. A presença militar americana na América Latina tem como vetores essas duas ameaças. Como "tendências" que representam risco, mas também oportunidades para a "liderança global americana", são citadas a crise econômica, as mudanças climáticas e as mudanças tecnológicas. Para enfrentar as ameaças, a estratégia enfatiza a contraespionagem e a segurança do ciberespaço. A infraestrutura digital dos EUA é descrita como "nem segura nem resistente". A publicação coincidiu com a revisão anual da geopolítica mundial feita pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres. O estudo do IISS diz que nos próximos anos "haverá limites" para a política externa dos EUA e recomenda que o país construa "coalizões dos relevantes", representadas por grupos como o G20. E recomenda aos EUA buscar apoio de Rússia, Irã, China e Índia para resolver o conflito no Afeganistão. Sobre a América Latina, o estudo avalia que a região "caminha para políticas mais pragmáticas que facilitarão a relação" com o governo Obama. Claudia Antunes – FOLHA DE SÃO PAULO EUA TENTAM ESPANTAR DÚVIDAS SOBRE IV FROTA 04/10/2009 Responsável pela força naval americana na costa latina, contra-almirante Guillory diz priorizar combate ao narcotráfico Quando a IV Frota Naval dos Estados Unidos, desativada em 1950, foi restabelecida subitamente em meados do ano passado, com a missão de monitorar o litoral de toda a América Latina, vários países da região — em especial Brasil, Argentina, Bolívia e Venezuela — manifestaram desconfiança e suspeitas. Agora, 14 meses mais tarde, voltou a surgir com mais frequência entre os brasileiros — em especial devido ao início da exploração de gigantescas reservas de petróleo descobertas no fundo do oceano — o receio de que, em algum momento, aquela força poderia ser utilizada pelos EUA para se apossar dessa riqueza. Tal cenário seria um absurdo, segundo o contra-almirante Victor G. Guillory, 54 anos, que há três meses assumiu a chefia das Forças Navais do Comando Sul e também o comando da IV Frota Naval: — Embora eu creia que já tenhamos explicado isso várias vezes, acho que essa suspeita jamais será completamente afastada através de uma reunião ou de uma entrevista. Vai demorar um pouco. E, como o novo comandante, estou preparado para dedicar todo o tempo necessário para desfazer as suspeitas toda vez que me Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 12 de 86 perguntarem a respeito — disse Guillory em entrevista exclusiva ao GLOBO sexta-feira passada, ao fim de uma visita de cinco dias ao Brasil. Na patente, diretor de guerra de superfície O problema é que a própria ficha profissional de Guillory reforça as teses conspiratórias. Antes de assumir a frota, ele trabalhou três anos em Washington como diretor de guerra de superfície, da Marinha, com a responsabilidade de cuidar das necessidades para combates navais e recursos materiais para todos os navios de guerra e sistemas de combate dos EUA. — Eu continuo sendo um oficial de guerra de superfície, mas estou muito grato aos meus superiores pelo fato de terem me nomeado para esse novo trabalho que inclui missões humanitárias, e considerar o que temos em comum com nossos parceiros na região, além de melhorar a parceria com os países com os quais enfrentamos ameaças em comum — disse o contra-almirante. De acordo com a Estratégia Cooperativa para a Força Naval do Século XXI, dos EUA, a sua Marinha enfrenta “muitos desafios na capacidade de exercitar o controle dos mares. Talvez nenhum deles seja tão significativo quanto o crescente número de nações operando submarinos, tanto convencionais quanto a propulsão nuclear”, diz um trecho. Mais adiante ela registra um alerta significativo: “Nós devemos ter a capacidade de impor controle local do mar onde quer que seja necessário, idealmente com a concordância de amigos e aliados, mas por nossa própria conta, se formos obrigados a isso.” No entanto, no espírito de afastar suspeitas e desconfianças, Guillory insistiu em repetir um conceito utilizado pela chefia das forças navais do Comando Sul, baseado na Flórida, desde a reativação da IV Frota, 14 meses atrás: — Eu não tenho navio algum designado permanentemente a nós. E tampouco disponho de aviões ou submarinos permanentes. Conto apenas com um grupo de aproximadamente 140 homens e mulheres. Tal situação, no entanto, engloba um segundo conceito: o de que a IV Frota pode, a qualquer momento, requisitar quaisquer tipos de embarcações que achar necessárias para uma determinada missão — reconheceu Guillory, ponderando a seguir: — Eu posso obter os navios adequados (a uma determinada situação). Para outras frotas talvez seja mais apropriado o uso de um porta-aviões. Mas acredito que os tipos de desafios que enfrentamos juntos aqui na região demandem outro tipo de embarcações — disse ele, citando como exemplo os navios-hospitais que têm atendido à população mais pobre na América Central, e embarcações de pequeno porte que têm sido utilizadas para conter o tráfico de cocaína através do Caribe. O narcotráfico, segundo Guillory, é hoje a maior preocupação da Marinha americana na região. Por isso, durante a sua viagem ao Brasil — o único país até agora visitado por ele — conversou com os oficiais locais sobre a necessidade de os países da região abraçarem o conceito de “consciência de domínio marítimo” que, segundo Guillory, se tornou uma alta prioridade para os EUA. Visita às instalações da Marinha brasileira Semana que vem em Newport, estado de Rhode Island, haverá um simpósio específico sobre isso. O almirante Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha do Brasil, estará presente, segundo Guillory: — Vamos tratar de ampliar a nossa capacidade de monitorar o tráfego de navios em nossa região, atentos à atividades suspeitas. Notar, por exemplo, embarcações Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 13 de 86 pescando em áreas onde não há peixes; ou transitando onde normalmente não é rota de embarcações. Captando, enfim, sinais de navios realizando operações ilícitas — disse ele. Guillory contou ter vindo ao Brasil por recomendação de vários de seus superiores, que lhe disseram que além de oferecer uma visão clara sobre a Marinha nacional, o governo brasileiro lhe ofereceria perspectivas sobre a região. — Apreciamos nossa tremenda comunicação com a Marinha brasileira, que foi generosa em nos dar a oportunidade de visitar as suas instalações — disse ele, acrescentando, de forma a mostrar que não existem desconfianças, que também teve acesso aos planos de defesa do Brasil. José Meirelles Passos - O GLOBO ÁSIA DESCAMINHOS DA ÍNDIA 04/09/2009 País reconhece que vai triplicar as suas emissões de gases do efeito estufa Em vez de diminuírem, as emissões de gases do efeito estufa que colocam a Índia entre os cinco maiores poluidores do mundo devem triplicar nas duas décadas. É o que revela um estudo divulgado ontem pelo próprio governo indiano. O relatório deverá prejudicar as negociações com o país, um dos mais resistentes a adotar qualquer meta de reduções que atrapalhe seu desenvolvimento, na conferência da ONU sobre o clima, em Copenhague, em dezembro. Na reunião, será discutido um novo tratado internacional para substituir o Protocolo de Kioto, que expira em 2012. Segundo país mais populoso do mundo, com cerca de 1,1 bilhão de habitantes, a Índia tem um papel decisivo nas negociações. Sem ela, não há acordo viável. Poluição aumenta,mas a renda não Segundo o documento, as emissões devem subir das atuais 1,2 bilhão de toneladas anuais para entre 4 bilhões e 7 bilhões até 2030. Isso, porém, não vai ser acompanhado de aumento da renda. Embora reconheça o grande aumento no volume de gases emitidos, o ministro do Meio Ambiente da Índia, Jairam Ramesh, ressaltou que as emissões per capita do país ainda vão ser bem menores do que as dos países desenvolvidos. — Daqui a duas décadas, as emissões per capita da Índia ainda estarão abaixo da média global — disse o ministro. Ele afirmou que o documento, elaborado por cientistas indianos, demonstra a seriedade com a qual o país trata da questão do aquecimento global. Apesar de ter uma matriz suja (carvão e óleo), a Índia gera 8% de sua energia a partir de fontes renováveis e já anunciou investimentos em energia solar e eólica. O governo também pretende tornar obrigatória a eficiência energética nos carros a partir de 2011. Tais medidas fizeram o país ser elogiado ontem pelo secretário de Mudanças Climáticas britânico, Ed Milliband. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 14 de 86 — Acredito que a Índia vai facilitar e não dificultar as negociações em Copenhague — disse Milliband ao jornal “The Guardian”. Em um relatório de 2004 da ONU, o último em que a Índia forneceu dados detalhados sobre suas emissões, o governo dizia que, em 1994, as emissões haviam sido de 1,23 bilhão de toneladas, ou cerca de 1,3 tonelada por habitante. Mais secas e enchentes Existe uma grande pressão internacional para que a Índia se comprometa em dezembro com cortes de emissões de gases-estufa. Mas assim como a China e o Brasil, o país recusa a se comprometer com metas de reduções que possam comprometer seu desenvolvimento. Em julho, após um encontro com secretária de Estado americana Hillary Clinton, Ramesh confirmou que seu país não vai aceitar pressões para limitar as emissões de carbono. — Não há espaço para que nós, que apresentamos um dos menores níveis de emissão por pessoa, tenhamos que reduzir emissões. No momento, as emissões indianas representam entre 5% e 7% das emissões globais, índice só superado por Estados Unidos, União Europeia e China. A Índia já é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas, principalmente pela ocorrência frequente de secas e enchentes. O GLOBO IRÃ DESAFIA E TESTA MÍSSEIS COM ALCANCE ATÉ ISRAEL 29/09/2009 Criticado pelos EUA, exercício militar ocorre dias antes de reunião internacional para discutir programa nuclear de Teerã Num desafio à comunidade internacional três dias antes da reunião em que discutirá com o Ocidente seu programa nuclear, o Irã testou ontem mísseis de longo alcance que, segundo analistas, têm condições de atingir Israel e dezenas de bases americanas no Oriente Médio. Os EUA, o Reino Unido e a França chamaram os testes de “provocação”, e a Rússia, mostrando-se preocupada, insistiu que o Irã deve permitir a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) às instalações da nova usina de enriquecimento de urânio no país, cuja construção foi denunciada semana passada, no encontro do G-20. Testes são “atitude provocativa”, dizem EUA As manobras começaram no domingo, dois dias depois de o presidente dos EUA, Barack Obama, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, terem anunciado a construção secreta da nova usina iraniana. Desde então, cresceu a pressão internacional sobre o controverso programa nuclear iraniano, com ameaça de novas sanções. Nesta quinta-feira, autoridades iranianas e cinco representantes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), mais a Alemanha, vão se reunir em Genebra para discutir o programa nuclear de Teerã, que nega usá-lo para criar armas. Foram exercícios militares já programados — afirmou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, sobre os testes, acrescentando que os exercícios condizem com a “atitude Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 15 de 86 provocativa com a qual o Irã atua no cenário mundial” e antecipando o que se espera do encontro na quinta-feira. — Eles podem concordar com o acesso imediato e irrestrito (à nova instalação nuclear). Nunca houve um consenso internacional tão forte sobre o Irã e seu programa nuclear como há no momento. O Ministério do Exterior iraniano afirmou que os testes foram “um exercício militar de natureza dissuasiva”, sem relação com a atividade nuclear. Já o general Hossein Salami, comandante da Força Aérea da Guarda Revolucionária disse que o Irã está pronto a responder a ameaças. — Todos os alvos da região, não importa onde fiquem, estarão dentro do raio desses mísseis — disse o general. — Todos os nossos inimigos devem saber que nos vemos num constante clima de ameaça. E nos preparamos para o pior cenário. Segundo a emissora iraniana Press TV, o míssil Shahab 3, com capacidade para transportar ogivas nucleares e alcance de até 2.000km (o suficiente para ameaçar Israel e bases americanas no Oriente Médio, além de navios militares e petroleiros no Golfo Pérsico), foi testado de forma “bem-sucedida” no segundo dia de exercícios militares, assim como novas versões suas e de projéteis Sajjil (de longo alcance, movidos a combustível sólido). O Shahab 3 também foi testado no Irã em julho de 2008. No domingo, lançaram-se mísseis de curto e de médio alcance. Ontem, a França pediu que o Irã busque o caminho da cooperação, e não do confronto, interrompendo as atividades militares. Já o secretário de Exterior britânico, David Miliband, disse que o teste é parte da “provocação” do Irã. Javier Solana, chefe de Política Externa da União Europeia, que vai liderar a delegação do Ocidente no encontro em Genebra, disse que os exercícios militares são “preocupantes”. A Rússia mostrou o mesmo tom. - Sem dúvida é preocupante quando os lançamentos de mísseis ocorrem tendo como pano de fundo uma situação indefinida em relação ao programa nuclear do Irã — disse o ministro de Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov. — É necessário ter moderação nesta situação. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 16 de 86 O GLOBO AMÉRICA LATINA UNASUL: AS ARMAS DE CADA UM 15/09/2009 Chanceleres e ministros de Defesa do bloco se reúnem para debater acordos de cooperação e compra de material bélico que despertam receios de corrida armamentista O clima de desconfiança evidenciado na última cúpula da União de Nações SulAmericanas (Unasul), há duas semanas, deve se repetir em Quito, hoje. Só que agora não só a Colômbia terá de prestar esclarecimentos sobre um acordo militar. Governos da região já anunciaram que vão querer mais detalhes sobre as recentes compras militares de Brasil, Venezuela e Chile. Na reunião entre chanceleres e ministros de Defesa dos 12 países que compõem o grupo, Brasil, Equador e Peru apresentarão propostas para monitorar acordos de defesa com países de fora da região. De acordo com o Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, vai sugerir aos colegas um tratado que estabeleça a obrigatoriedade de cada país informar as movimentações militares e os acordos fechados com terceiros países. A ideia é criar um Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 17 de 86 cenário mais “transparente”, para evitar conflitos diplomáticos como o gerado pela revelação de que os Estados Unidos passariam a usar sete bases militares no território colombiano. Amorim também insistirá para que sejam colocadas em um documento as garantias dadas pelo governo de Álvaro Uribe de que o acordo com Washington tem por finalidade apenas combater o “terrorismo interno” e o narcotráfico. Por sua vez, os dois ministros brasileiros levarão a disposição do governo em esclarecer qualquer dúvida dos vizinhos em relação ao acordo com a França para aquisição de 50 helicópteros e cinco submarinos — um deles nuclear. Quem primeiro pediu explicações foi o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, alegando que “devem ser discutidos na Unasul todos os temas de interesse regional”. “A Colômbia é muito respeitosa das decisões tomadas por outros países, mas qualquer consideração sobre esse tema deve ser discutida no marco da Unasul”, argumentou. A posição foi defendida pelo ministro da Defesa boliviano, Wálker San Miguel, há 10 dias. “Certamente, o Conselho de Defesa vai tocar no tema Brasil-França, e seguramente o Brasil dará uma informação adequada”, disse o ministro à agência EFE. A reunião nem será, tecnicamente, do Conselho de Defesa da Unasul, apesar de reunir todos os representantes máximos de cada governo na área. O Paraguai também está preparado para criticar a “corrida armamentista” na América do Sul. “Obviamente, o investimento desproporcional (em segurança) tem consequências no bem-estar da população”, disse o chanceler Héctor Lacognata, às vésperas do encontro. Venezuela O embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez, revelou em entrevista ao jornal El Tiempo, de Bogotá, qual será a mensagem dos representantes de Hugo Chávez em Quito. “Que todos coloquem as cartas sobre a mesa. Você tem um acordo com a Rússia? Então, coloque sobre a mesa. Você, com os Estados Unidos? Ponha-o sobre a mesa. É uma mostra de confiança”, afirmou Márquez. A delegação venezuelana também terá muito a explicar. Só no último fim de semana, depois de uma viagem a Moscou, Chávez anunciou a compra de 92 tanques, sistemas de mísseis antiaéreos e mísseis terra-terra com alcance de 300km — um pacote de US$ 2,2 bilhões com a Rússia. O professor Rafael Duarte Villa, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a solução de um “acordo de transparência” militar não seria efetivo para a região. “Quando falamos de Defesa, não existe transparência absoluta, pois os Estados têm o direito de não revelar detalhes sobre esses acordos”, afirma Villa. Para o especialista em Defesa e em América Latina, é preciso destacar a diferença entre comprar armas e permitir que um outro país utilize o território. “Certamente, isso não tem o mesmo peso. Essas compras não são exatamente acordos, no sentido mais estrito da palavra, como é um acordo sobre uma instalação de uma base em um país.” Reforço militar Aquisições recentes de material bélico na América do Sul Brasil 50 helicópteros EC 725 e cinco submarinos, sendo um de propulsão nuclear (França); 36 caças (em processo de concorrência); 12 helicópteros de combate Mi-35M (Rússia); 12 aviões Mirage-2000 e um porta-aviões (França). Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 18 de 86 Colômbia O principal reforço veio do aumento da presença norte-americana no país, que utilizará sete bases militares colombianas. Nos últimos anos, também adquiriu caçasbombardeiros Kfir (Israel); um avião Boeing 767 modificado para reabastecimento (EUA); e 25 Supertucanos (Brasil). Chile Nos últimos anos, comprou cinco helicópteros MIL Mi-17V5 (Rússia); oito fragatas Type 22 e 23 (Reino Unido); dois submarinos Scorpène (França); 46 caças F-16 (EUA e Holanda); 12 Supertucanos (Brasil); 350 tanques Leopard; 400 blindados de combate M113, YPR-765 e Marder (EUA e Alemanha); dois aviões-tanque KC-135 (Estados Unidos). Peru Pretende comprar 500 mísseis antitanque dos modelos Kornet (Russo) e Spike (Israel) Venezuela Desde 2005, suas principais compras militares foram 92 tanques T-72; três submarinos; veículos blindados; sistemas de mísseis S-300 (terra-ar); 24 aviões Sukhoi (foto); 53 helicópteros de transporte e ataque e 100 mil fuzis de assalto AK 103 (Rússia). Equador Fechou acordo para a compra de 24 Supertucanos (Brasil) Isabel Fleck - CORREIO BRAZILIENSE CÚPULA DA UNASUL FRACASSA EM QUITO E AMPLIA ISOLAMENTO DA COLÔMBIA 16/09/2009 Bogotá não aceita monitoramento de bases e resiste em garantir que acordo EUA não resultará em ataque a vizinhos Mesmo isolada, a Colômbia provocou o fracasso da tentativa da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) de chegar a um acordo geral sobre a cooperação militar de seus 12 sócios com países de fora da região. Ao final de nove horas de discussões entre os ministros de Defesa e os chanceleres dos países da Unasul, a Colômbia ainda resistia ontem a conceder, por escrito, uma "garantia formal" de que seu acordo com os Estados Unidos não resultará em agressões militares nos territórios vizinhos. O encontro foi encerrado sem a conclusão de um documento para a construção de uma relação de confiança e com um grave impasse instalado na região. A intransigência de Bogotá refletiu-se também em outro ponto: a notificação à Unasul de todos os acordos de cooperação nas áreas de defesa e de segurança. A delegação colombiana exigiu a inclusão de uma cláusula que previa a anuência dos países com quem os sul-americanos fizessem acordos. No atual caso, dos EUA. "Essa cláusula era inaceitável", resumiu o chanceler brasileiro, Celso Amorim. "Esses dois Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 19 de 86 pontos espelham a resistência da Colômbia a ter uma posição totalmente aberta e transparente com a região." O chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, insistiu à imprensa que a o acordo de seu país com os EUA não foi tratado com o mesmo peso, na reunião, dos contratos de compras de armas - uma referência explícita aos que a Venezuela fechou com a Rússia e aos que o Brasil discutiu com a França. Confrontado com a insistência do Brasil e da Venezuela para que Bogotá enviasse cópias de seu acordo aos países da região, o ministro colombiano da Defesa, Gabriel Silva, declarou que essa medida será tomada somente depois de o texto ser assinado. O isolamento colombiano tornou-se evidente na constatação de Amorim de que o placar da reunião foi de "11 a 1". A Colômbia, nesses dois tópicos, não conseguiu nem mesmo o apoio de países menos refratários a seu acordo com os EUA, como Peru e Chile. A saída diplomática ao impasse instalado estará em um eventual sucesso de consultas que serão realizadas pelo chanceler equatoriano, Fander Falconí. Uma das alternativas em estudo é a realização de um encontro de ministros em Nova York, à margem da abertura da Assembleia-geral das Nações Unidas, nos próximos dias 23 e 25. Embora todas as 12 delegações tenham assinalado seu compromisso com o processo de integração da Unasul, a ausência de um acordo tende a engrossar o conflito latente entre os países andinos e a impulsionar uma indesejável corrida armamentista na região. Diplomatas venezuelanos defendiam, ao final do encontro, uma alteração no estatuto da Unasul pelos presidentes dos 12 países, de forma a permitir que as decisões sejam tomadas por maioria, e não mais por consenso. Além dos dois pontos centrais do acordo, a Colômbia rejeitou a proposta da Venezuela de monitoramento da Unasul nas sete bases colombianas que receberão soldados e equipamentos americanos até 2019. Bermúdez e Gabriel Silva mostraram-se igualmente inflexíveis com relação à proposta, de autoria de Caracas, de que a Unasul assuma a condução do processo de paz na Colômbia. A sugestão imediatamente foi avaliada como uma armadilha por Bogotá, por abrir um espaço político para o reconhecimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como força beligerante, o que daria status político à guerrilha nas negociações de paz. Denise Chrispim Marin – O ESTADO DE SÃO PAULO DESEMPREGO, HERANÇA MALDITA DO ABALO GLOBAL 27/09/2009 Desocupação cresceu em 9 países. Economia do México está em pior situação e PIB pode despencar 7,2% este ano Apesar dos sinais de alívio em relação ao pior da crise econômica, já é possível perceber que ela deixou um gosto amargo na América Latina. A segunda edição do “Informe Especial GDA”, feito pelo Grupo de Diários América (GDA), que reúne 11 jornais de países da região, entre os quais O GLOBO, mostra que o desemprego cresceu em pelo menos nove deles, acompanhando a queda de preços das commodities (matériasprimas) e a desaceleração econômica. Nações mais dependentes dos Estados Unidos, como México, estão em pior situação: o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) mexicano deve despencar 7,2% em 2009, com o pior desempenho Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 20 de 86 do grupo. O melhor resultado será do Peru, cuja economia pode se expandir até 2,2% em 2009. Os dados mostram que a taxa média de desocupação teve forte crescimento em alguns países, o que afetou ainda mais o consumo interno. O Brasil ficou entre os que sofreram menos, com a taxa subindo de 7,6%, em setembro de 2008, para 8,1%, segundo o dado mais atualizado. As piores situações foram vistas nas taxas de Chile (de 7,8% para 10,7%), México (de 4,25% para 6,12%), Porto Rico (de 12% para 16,5%), Colômbia (de 11% para 12,6%) e Venezuela (de 7,1% para 8,5%). A primeira edição do informe havia sido publicada em abril. — Esses países eram muito dependentes das exportações de commodities, enquanto o Brasil pôde contar com o mercado interno. Lá fora, o problema foi agravado pela crise de crédito, já que eles não conseguiram captar no exterior para financiar o consumo de bens duráveis ou o as exportações — avalia o economista do Santander Brasil Cristiano Souza. América Central foi mais afetada por depender dos EUA A mão de obra foi mais afetada no México por causa das empresas maquiladoras. Ou seja, que importam peças e componentes de suas matrizes nos Estados Unidos, produzem a um custo menor e exportam o produto acabado para o país. — O México teve um ano desastroso. Sofreu com a queda das compras dos Estados Unidos, com restrições maiores na migração para o país e com o H1N1, que responderá por grande parte da queda do PIB no ano — avalia Souza. Além disso, o país enfrenta uma curva decrescente de produção de petróleo e teve o setor de turismo fortemente afetado neste ano. Para o diretor da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Renato Baumann, existe uma diferença nítida entre países da América do Sul e Central (como Porto Rico e Costa Rica) mais o México: — A América Central e o México têm uma dependência muito grande dos Estados Unidos nas exportações e também na remessa de divisas de imigrantes. Para o México, essa remessa é tão grande que cobre o déficit comercial do país. Só que a mão de obra de imigrantes, geralmente menos qualificada e informal, é a primeira a sofrer num momento de crise — avalia. Segundo ele, países da América do Sul foram menos atingidos porque tinham parceiros comerciais que continuaram crescendo, como China e Índia, apesar de o ritmo ter sido menor. A premissa vale principalmente para Chile e Peru, mas a Ásia e o Pacífico tiveram forte expansão de suas relações também com o Brasil nos últimos anos. - Na América do Sul, os EUA são um parceiro com maior importância para Colômbia e Venezuela. A diretora de créditos soberanos da agência classificadora de risco Fitch, Shelly Shetty, diz que a resistência da taxa de desemprego no Brasil — que estava em seu menor nível histórico antes da crise — foi um dos motivos para o país ter saído menos arranhado. — A taxa de desemprego no Brasil foi resiliente, embora ainda seja maior que a do México. E isso ajudou a manter os níveis de consumo, que não tiveram retração. No México, houve forte contração. Para a economista, em função da desaceleração do México, principalmente, a economia da América Latina deve ter uma retração de 1% a 2% neste ano, podendo crescer 3% em 2010. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 21 de 86 — A demanda por exportações de manufaturados e commodities não vai se recuperar de forma tão forte a curto prazo porque o mundo está se reestruturando de forma muito modesta. Mas a América Latina tem uma boa resistência, especialmente se comparada à Europa. Vai se recuperar mais rapidamente porque não teve os problemas no sistema financeiro que Europa teve. Brasil teve pacote de estímulo mais agressivo No combate à crise, a maior parte dos países da América Latina optou por investimentos em infraestrutura e subsídios a empresas que concordassem em não demitir. Mas o pacote mais agressivo foi o do Brasil. O país reduziu o IPI de automóveis e eletrodomésticos da linha branca e liberou R$34 bilhões para o crédito habitacional, além de reduzir depósitos compulsórios dos bancos. O plano de ação permitirá que o país cresça neste ano entre 0,33%, segundo estimativas do mercado, e 1%, na avaliação do governo. Para a Fitch, a expansão pode ser “levemente negativa”, mas subirá para cerca de 4% em 2010. Atrás do México, que deve ter uma retração de 7,2%, vem a Argentina (queda de 2,3%, segundo estimativa do mercado e expansão de 1,3%, de acordo com o Banco Central do país). Peru e Equador devem assistir a quedas maiores que 2%. E o Chile deve ter retração de 1,2%. — A Argentina teve uma forte queda na receita externa porque o preço das commodities caiu, e ainda taxou a exportação de produtos agrícolas. Eles estão passando por um problema sério e é por isso que estamos vendo um questionamento político maior. Já o Chile soube aproveitar o fundo soberano formado por recursos das exportações de cobre para combater melhor a crise, mas ainda assim está saindo arranhado — analisa Cristiano Souza. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 22 de 86 Para Renato Baumann, da Cepal, as economias da região saem machucadas, mas muito menos que em outras crises. — A diferença é que as economias da região vinham com crescimento do PIB expressivo, política fiscal alinhada e muitas reservas acumuladas. Só isso já torna a situação bem diferente de outras vezes. Além do mais, essa não foi uma crise produzida aqui e tivemos tempo para agir. Foi uma crise importada, loura e de olhos azuis — comenta. Juliana Rangel - O GLOBO PAÍS ABRE HOJE DIÁLOGO COM A BOLÍVIA SOBRE IMPASSE DOS BRASILEIROS ILEGAIS 28/09/2009 Prazo para saída das famílias da área de fronteira termina em outubro e Evo quer ocupar lugar com seus eleitores Começa a ser definida hoje, numa reunião entre representantes dos governos do Brasil e da Bolívia, em Cobija, na fronteira com o Acre, a solução para cerca de 350 a 400 famílias de brasileiros ilegais que vivem da extração de castanha e borracha e de pequenas lavouras dentro da faixa fronteiriça de 50 quilômetros, na província boliviana do Pando. O governo está cumprindo uma determinação constitucional, mas adotando uma estratégica polêmica. É que, para o lugar dos brasileiros, Evo Morales está enviando seus correligionários políticos, numa atitude combatida por seus opositores, que o acusam de mandar eleitores para províncias onde o governo central não tem apoio, como a do Pando. Desde 2006, quando foram intimadas pelo governo da Bolívia a deixar as posses que ocupam, as famílias de brasileiros passam por momentos de tensão. De acordo com o Itamaraty, elas têm sido submetidas a chantagens e achaques por parte de pessoas que se apresentam como se fossem autoridades bolivianas ou brasileiras. Por causa das ameaças, algumas famílias até venderam as posses por preço vil. Nessa confusão, o Brasil contratou por U$ 10 milhões a Organização Internacional para Migrações (OIM), entidade com experiência em migrações, principalmente na África e no Leste Europeu. Ela ficou encarregada de fazer desde os levantamentos sobre as famílias, quantas são, do que vivem, o que fazem, até o processo final de reassentamento. Serão estes dados que a OIM vai apresentar hoje às delegações do Brasil e da Bolívia, em Cobija, capital do Pando. CONSTITUIÇÃO A expulsão dos brasileiros da faixa de fronteira ocorre por determinação do artigo 25 da Constituição da Bolívia - desde a antiga Carta é proibida a permanência de nãobolivianos em toda a área fronteiriça de 50 quilômetros. Mas não era um artigo implementado. Com a chegada de Evo Morales ao poder, ele resolveu que a norma constitucional deveria ser cumprida. Como o prazo final para a saída das famílias termina em outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu de seu colega boliviano, durante encontro no mês Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 23 de 86 passado, que a retirada dos brasileiros só ocorresse depois do trabalho da OIM. Enquanto isso, colonos da região do Altiplano, onde Evo é forte politicamente, aguardam a desocupação das posses dos brasileiros para, a seguir, instalarem-se ali. No acordo feito com Evo, os brasileiros poderão ser reassentados em áreas do interior da Bolívia longe da fronteira ou, se quiserem, podem retornar ao Brasil e se candidatar a projetos de reforma agrária brasileiros no Acre. Também podem se naturalizar bolivianos - o que permitiria que ficassem na fronteira -, mas esse é um conselho que a política externa do Brasil não dá. "Achamos que os brasileiros devem continuar a ser brasileiros", disse o embaixador Eduardo Gradilone Neto, diretor do Departamento das Comunidades de Brasileiros no Exterior, do Itamaraty. Ele estará no comando da equipe que receberá os dados da OIM. CONSULADO Gradilone disse que, no processo de tentar chegar a uma solução para os brasileiros que ocupam a faixa fronteiriça da Bolívia, será instalado mais um consulado no país vizinho, na comunidade chamada Puerto Evo Morales, próxima a Assis Brasil, no Acre. Puerto Evo Morales é um longínquo lugarejo formado por palafitas e é nele que os brasileiros que vivem do lado boliviano costumam comprar bens básicos, como sal e açúcar. O governo do Pando chegou a fazer um projeto de agrovila para os brasileiros, perto de Cobija, na área de 50 quilômetros de fronteira. Mas, como a proposta de abrir a exceção era das oposições, não foi adiante. Ao contrário, ajudou a agravar a crise entre o governo da província e o central. Houve violência e o governador do Pando, Leopoldo Fernández, foi preso - hoje, da cadeia, é o candidato a vice-presidente na chapa da oposição para a próxima eleição. João Domingos – O ESTADO DE SÃO PAULO BRASIL QUER CONTRAPARTIDA POR ANISTIA A BOLIVIANOS 28/09/2009 Governo de Evo Morales concedeu título de cidadania a apenas seis brasileiros até agora O Itamaraty contabiliza até cerca de 3,7 milhões de brasileiros vivendo no exterior, ou quase 2% da população do País. Destes, cerca de 1,5 milhão estão na América do Norte (Canadá, Estados Unidos e México), 1 milhão na Europa, quase 760 mil na América do Sul, 319 mil na Ásia, 70 mil no Oriente Médio, 15 mil na África e 6,8 mil na América Central. Em Honduras, onde o Brasil é protagonista na crise política do país por causa do abrigo concedido ao presidente deposto Manuel Zelaya, há entre 119 e 450 brasileiros. Eduardo Gradilone Neto disse que hoje uma das prioridades do setor que comanda, o Departamento de Comunidades de Brasileiros no Exterior, é resolver a situação dos brasileiros na Bolívia. Os dois governos têm feito seguidas reuniões e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se envolvido. No mês passado ele fez um apelo ao colega Evo Morales para impedir a expulsão dos brasileiros que vivem na Bolívia. Recentemente, o Brasil concedeu anistia a 6 mil bolivianos que vivem em áreas urbanas do País, principalmente São Paulo. A expectativa era que Bolívia fizesse o Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 24 de 86 mesmo. Mas, até agora, o governo de Evo Morales só concedeu o título de cidadania a seis brasileiros, de acordo com os números do Itamaraty. Os brasileiros que vivem na faixa fronteiriça da região do Pando são muito simples e boa parte é analfabeta. Quase não recebem informações das mudanças legais que ocorreram no Brasil. Gradilone disse que eles poderiam ter a dupla cidadania, que o Brasil passou a aceitar mais recentemente, mas parece que ainda não sabem disso e acham que se optarem pela boliviana podem perder a brasileira. Além do mais, insistem em ficar na Bolívia porque lá a castanha e a borracha que extraem é vendida para os Estados Unidos e outros países sem nenhuma sobretaxa e também sem impostos. No Brasil eles são pesados. REFORMA AGRÁRIA Nas fronteiras de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também há brasileiros. Mas estes, pelo que o Itamaraty já levantou, pertencem a uma classe mais abastada e, associados a bolivianos, possuem grandes latifúndios. É provável que também comecem a ter problemas no futuro, não por causa da faixa de fronteira, mas pelo tamanho da propriedade da terra. Por enquanto o governo boliviano ainda não mexeu com eles, mas a Constituição votada já no governo de Evo Morales determina que as grandes propriedades terão parte desapropriada para a reforma agrária. "Se houver uma ação do Estado boliviano nestes casos, não será pelo lugar em que o cidadão mora, mas por causa do tamanho da propriedade. E isso atingirá brasileiros e bolivianos, indistintamente", disse Eduardo Gradilone. Até recentemente, brasileiros que invadiam o território da Guiana Francesa, principalmente atrás de minérios, e eram pegos acabavam deportados para Macapá. Logo estavam de volta à Guiana, visto que a distância entre a capital do Amapá e o território francês na América do Sul é pequena. Agora o governo francês mudou a forma de mandá-los de volta ao Brasil. Segundo Gradilone, os brasileiros pegos em território da Guiana Francesa são colocados num avião e levados para Manaus, a 1,2 mil quilômetros em linha reta, ou uma eternidade por rios e estradas de terra até a volta para Macapá. Esse é um problema que o Itamaraty terá de resolver depois que encontrar uma solução para os brasileiros na Bolívia. João Domingos – O ESTADO DE SÃO PAULO USINA DE ITAIPU GEROU DISPUTA ENTRE BRASIL E PARAGUAI 11/11/2009 A usina de Itaipu, onde houve uma pane que causou apagão em pelo menos nove Estados, foi alvo de controvérsia diplomática entre Brasil e Paraguai. Criada em 1973, a usina é considerada a maior do mundo em termos de energia gerada e abastece 20% do território brasileiro. No Paraguai, Itaipu gera 90% do que é consumido. Localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai, a usina hidrelétrica de Itaipu foi criada em 1973, mas apenas em 1984 começou efetivamente a gerar energia. É considerada a maior hidrelétrica do mundo, em termos de energia gerada. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 25 de 86 Os governos do Paraguai e do Brasil são os dois sócios da empresa, com participações iguais. Quando o tratado foi assinado, ficou acertado que cada país ficaria responsável por 50% do capital inicial (US$ 50 milhões para cada). O Congresso paraguaio aprovou no dia 5 de novembro o acordo sobre a usina hidrelétrica de Itaipu selado entre o presidente do país, Fernando Lugo, e seu colega do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O compromisso, que garante mais benefícios ao Paraguai na central geradora de energia, tinha sido uma promessa de campanha do chefe de Estado paraguaio e gerou polêmica no Brasil. A aprovação final do acordo, assinado pelos dois presidentes em Assunção, aconteceu na Câmara dos Deputados, um mês e cinco dias depois de ter sido enviado ao Parlamento. O documento, que ainda precisa do sinal verde do Congresso brasileiro para entrar em vigor, já tinha sido ratificado pelos senadores paraguaios em 22 de outubro. Lugo e Lula referendaram o compromisso em 25 de julho. Nele, o Brasil aceita pagar ao Paraguai o triplo do que desembolsa pelo excedente da energia gerada pelo país vizinho em Itaipu. Em virtude do acordo, o Paraguai passará a receber US$ 360 milhões ao ano do Brasil, em vez dos US$ 120 milhões atuais. O acordo também dá ao Paraguai a possibilidade de comercializar seu excedente diretamente no sistema brasileiro ou de vendê-lo a outros países. A esse respeito, representantes paraguaios e brasileiros de uma comissão especialmente formada para tratar do acordo disseram no fim de setembro, após uma reunião em Assunção, que o Paraguai poderia começar a vender sua energia excedente no país vizinho já a partir de 2010. O documento também prevê um investimento US$ 450 milhões, dinheiro que será disponibilizado pela hidrelétrica, na construção de uma rede de transmissão de 500 quilowatts da represa até Villa Hayes, cidade próxima à capital paraguaia. O acordo, de 31 pontos, também prevê outras obras de infraestrutura no Paraguai, como a construção de duas novas pontes entre ambos os países, para dinamizar o comércio fronteiriço. Blecaute Um apagão atingiu pelo menos os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o problema ocorreu na hidrelétrica de Itaipu devido a uma falha das linhas abastecidas por Furnas. Com 20 unidades geradoras e 14 mil megawatts de potência instalada, a usina binacional de Itaipu fornece 19,3% da energia consumida no Brasil e abastece 87,3% do consumo paraguaio. De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), cerca de 17 mil megawatts de potência - o equivalente a toda a energia necessária para o Estado de São Paulo foram perdidos com a pane, o que impossibilitou o fornecimento para as demais regiões. Notícias Terra Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4094279-EI306,00Usina+de+Itaipu+gerou+disputa+entre+Brasil+e+Paraguai.html> Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 26 de 86 ORIENTE MÉDIO ABRE OS OLHOS PARA A AMÉRICA LATINA 17/11/2009 A primeira visita à América Latina do Xeque Abdullah Bin Zayed Al Nahyan, ministro de Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU), foi um grande passo na implementação da política de adaptação do seu país ao mundo multipolar emergente. Em sua visita à América Latina, o diplomata visitou mais de oito países em duas semanas, demonstrando uma disposição substancial por parte dos EAU para criar novas e mais estreitas relações com o continente. Historicamente, as relações entre o Golfo Pérsico e a América Latina sempre foram fracas e nenhuma das regiões interveio em questões relacionadas à outra. Mas esta situação vem mudando rapidamente nos últimos anos. Como qualquer outra região do planeta, o Golfo Pérsico não pode mais dialogar unicamente com seus vizinhos imediatos e com as poucas potências globais. O mundo emergente globalizado necessita que todas as regiões do mundo se relacionem diretamente e sem a intermediação de Washington ou Moscou. As grandes questões globais do século XXI abrangem um espectro muito maior do que as rivalidades entre as grandes potências e incluem a busca de novos meios para gerenciar as economias mundiais sob a liderança do G20, a promoção de energias sustentáveis e combate ao aquecimento global, a repressão aos tráficos de drogas e de humanos, além do trabalho para a implementação dos valores sociais definidos pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU. A passagem do Xeque Abdullah por tantos países levou a importante mensagem para a América Latina de que os EAU se importam com a região e querem manter contato, e que os EAU têm consciência de que um novo mundo interconectado requer que as distintas regiões do planeta estejam em contato direto umas com as outras. Também foi notável o fato de que o Xeque Abdullah passou mais tempo em visitas ao Brasil e ao México, os dois gigantes da América Latina (Brasil é hoje considerado uma das principais economias do mundo). Seu giro também incluiu Argentina, Colômbia, Peru, Panamá, Nicarágua e República Dominicana, assim como Cuba – o último Estado comunista da América Latina, onde transmitiu aproximadamente a mesma mensagem sobre o estreitamento dos laços de cooperação e melhor entendimento dos seus interesses mútuos. Em muitos destes países, o representante agradeceu aos governantes latinoamericanos pelo apoio dado à bem sucedida campanha de seu país para sediar a Agência Internacional de Energias Renováveis [IRENA, de sua sigla em inglês]. Esta é a primeira vez que uma agência de peso das Nações Unidas será baseada no fora do eixo Europa-América do Norte. Os EAU organizaram uma importante campanha diplomática para reunir apoio à candidatura, enfatizando que por ser um grande produtor de petróleo, os EAU têm interesse particular e mão de obra qualificada para o desenvolvimento de fontes de energia mais sustentáveis. Esta foi a primeira vez que os diplomatas dos EAU visitaram tantos Estados membros da ONU para convencê-los a votar num projeto. Isto permitiu ao Xeque Abdullah iniciar suas visitas com uma mensagem específica, apresentando seu agradecimento pela colaboração nesta campanha, o que é uma boa maneira de quebrar o gelo com um novo correspondente. Após isso, ele pôde então prosseguir, abordando aspectos mais práticos para aprofundar as relações, o que, na maioria destes países, foi reconhecer que as relações comerciais precisam ser definidas com bases mais seguras. Como resultado, os comunicados publicados por cada país trataram de como estabelecer acordos básicos para permitir e facilitar o livre comércio de Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 27 de 86 bens e serviços, tais como a assinatura de tratados de dupla taxação, a implementação de acordos de proteção ao comércio e o reforço da proteção ao investimento. Além disso, o ministro de Relações Exteriores e seus hóspedes falaram sobre o crescimento dos negócios em distintos setores como a agricultura (os EAU, como a maioria dos Estados do Golfo, é grande importador de alimentos) e o turismo (em ambos os sentidos). Eles também conversaram sobre interesses mútuos no setor energético (o que é absolutamente normal em um encontro com um dos maiores exportadores de hidrocarbonetos), mas o que surpreendeu foi o interesse latino-americano em dialogar com os EAU sobre energias renováveis. Isto mostra que Abu Dhabi [capital] está para se preparando para oferecer o conhecimento que irá adquirir em suas distintas iniciativas, como seu pacífico programa nuclear possibilitado pela importação de combustível enriquecido e as novas tecnologias desenvolvidas em Masdar [cidade ecológica planejada]. O programa nuclear e Masdar estão projetando Abu Dhabi ao primeiro plano na busca por energias renováveis. A longo prazo, os Estados latino-americanos e árabes têm muito o que conversar. Ambas são regiões de rápido crescimento e enorme potencial, e têm plena consciência de que as próximas décadas necessitarão que todos mantenham relações muito mais próximas. As duas regiões se encontrarão em diversos fóruns, buscando entendimentos comuns em questões como o aquecimento global, reformas nas Nações Unidas e no FMI, implementação de acordos de livre comércio através da Organização Mundial do Comércio, e mesmo no combate aos crimes de tráfico de drogas e de seres humanos. A visita do ministro de Relações Exteriores à América Latino foi um ótimo começo para um longo e importante processo de colaboração. Francis Matthew – Dubai - Gulf News Tradução: Roberto Blum Texto original disponível em:<http://gulfnews.com/opinions/columnists/gulf-reaches-out-tolatin-america-1.517571> Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 28 de 86 BRASIL ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS REFORMA UNIVERSITÁRIA: ESPECIALISTAS DIVERGEM SOBRE COTAS DA EDUCAÇÃO APROVADAS NA CÂMARA 26/01/2009 Texto determina que 50% das vagas das instituições federais serão para alunos provenientes da escola pública. A aprovação de uma política de cotas na área de Educação pela Câmara dos Deputados, em novembro passado, não foi suficiente para acabar com a polêmica sobre o assunto. O Projeto de Lei 73/99 foi aprovado em votação simbólica, depois de um acordo entre os líderes, mas deputados, pesquisadores, professores e alunos discordam sobre as cotas de ingresso nas universidades e escolas técnicas federais. A proposta voltou para o Senado por causa da inclusão, pelos deputados, de critérios econômicos para a seleção dos alunos, e ainda está em análise pelos senadores da Comissão de Constituição e Justiça. A Câmara aprovou o projeto em 20 de novembro passado, Dia da Consciência Negra. Cotas sociais O texto aprovado determina que 50% das vagas das instituições federais sejam destinadas a alunos provenientes da escola pública. Dessas vagas, 50% serão preenchidas por estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 622,50) por pessoa. Além das cotas sociais, a proposta exige que as vagas sejam destinadas a negros, pardos e indígenas em proporção igual a dessas populações no total de habitantes de cada estado. O texto estabelece ainda que a seleção dos alunos que terão direito ao ingresso na universidade por meio das cotas será feita a partir de um coeficiente de rendimento, obtido pelo cálculo da média aritmética das notas ou menções recebidas pelos alunos durante o Ensino Médio. As instituições privadas de ensino superior também poderão adotar as cotas para ingresso dos alunos. Caráter paliativo Para o sociólogo Demétrio Magnoli, que é contrário ao projeto, são aceitáveis apenas cotas provisórias para os alunos da escola pública. Segundo ele, isso deve ser feito em caráter emergencial, por causa da disparidade atual entre a qualidade do ensino público e privado. Entretanto, o sociólogo afirma que somente o investimento na melhoria da qualidade da escola pública e a ampliação no número de vagas das universidades públicas podem democratizar o acesso ao ensino superior. Sobre as cotas raciais, ele considera que elas representam a "introdução do conceito de raça na lei, um conceito que não existe na biologia, mas que pode ser incluído na Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 29 de 86 legislação por motivos políticos". Magnoli teme que a inclusão do conceito de raça na legislação possa estimular "processos de ódio racial de massa". Desigualdade histórica Já o antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho considera as cotas raciais necessárias para corrigir a desigualdade histórica entre brancos e negros no Brasil. "As cotas são necessárias porque os negros no Brasil são 48% da população. Enquanto isso, o número de professores negros na universidade pública não chega a 1%. Ou seja, nós vivemos uma realidade de exclusão que é, provavelmente, uma das mais severas do planeta." Para Carvalho, as cotas sociais não alteram o perfil racial da desigualdade brasileira e, por isso, cada um dos aspectos precisa ser tratado separadamente. "Mesmo entre os pobres, leva vantagem quem é branco", afirma. O professor ressalta que, mesmo que sejam aprovadas, as cotas incidirão apenas sobre 3% das vagas do ensino superior. Na opinião de Carvalho, o sistema atual não será corrigido se as condições não forem modificadas. "Pelas projeções, mesmo com as cotas, levaremos 60 anos para alcançar um patamar igualitário", afirma. Além disso, ele destaca que as cotas não deixam de lado a meritocracia do acesso ao ensino superior, porque há poucas vagas em disputa. "As vagas não podem é ser plutocráticas como agora, ou seja, não podem estar ao alcance somente de quem tem dinheiro e pode pagar um cursinho." Deputado defende critério de renda, mas pesquisadores são contra Uma das modificações introduzidas no projeto de cotas pela Câmara incluiu critérios econômicos para a seleção dos alunos. A regra determina que 50% das vagas reservadas aos alunos da escola pública sejam destinadas a estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 622,50) por pessoa. A modificação foi sugerida pelo deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP). Para ele, a cota social ou com critérios econômicos é mais positiva do que a cota racial. "O critério social, por renda, atenderia de maneira mais efetiva a questão racial. No Brasil, a disparidade social é muito mais determinada pela renda do que pela raça." Critério irreal O antropólogo e professor da UnB José Jorge de Carvalho não concorda com o critério por renda. "Não deveria haver um valor mínimo. Esse valor atinge exatamente os mais pobres, que não terão condições de permanecer na universidade se não houver um apoio paralelo do governo para os alunos. Não é realista colocar um recorte de renda tão baixo para os alunos cotistas", pondera. Carvalho lembra que o aluno universitário é exigido, por exemplo, a entregar trabalhos impressos, digitados em computador. Além disso, o estudante precisa ter acesso aos livros, às apostilas, à impressão dos trabalhos e aos demais recursos necessários para um bom aproveitamento escolar. Medida inaplicável Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 30 de 86 Opinião similar tem o sociólogo Demétrio Magnoli. Para ele, o critério de renda instituído pela Câmara é "inaplicável". "É uma medida para enganar pessoas desinformadas. A imensa maioria dos alunos que chegam ao final do ensino médio tem renda superior ao que estabelece o projeto. Isso foi apenas uma forma de o deputado Paulo Renato justificar sua mudança vergonhosa de opinião em relação às cotas de raça", critica. Os dois pesquisadores concordam com a importância de mais investimentos no ensino público para que haja uma real democratização do acesso ao ensino superior. Magnoli também afirma que é contra o estímulo ao ensino superior privado, como o previsto no Prouni. "O que se deveria fazer é melhorar a escola pública e ampliar o número de vagas das universidades públicas." O professor José Jorge de Carvalho critica, ainda, a criação do Coeficiente de Rendimento pelo projeto aprovado na Câmara. Segundo ele, selecionar os alunos por meio da média aritmética é um absurdo. "A nota 9 de uma escola do interior do Rio Grande do Sul é a mesma nota 9 do interior do Piauí ou de Pernambuco? Não há controle sobre essa avaliação, está sujeita a qualquer tipo de manipulação. Tem que haver um exame de caráter nacional, centralizado pelo MEC, com critérios iguais para todos", sugere. Agência Câmara Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/idea/index.php?module=Noticias&func=display&sid=1333> PAÍS ENVELHECE, MAS SEM OFERECER INFRAESTRUTURA PARA IDOSOS, DIZ IBGE 03/09/2009 Estudo mostra que 75,5% dos maiores de 60 anos têm doenças crônicas Os brasileiros estão vivendo cada vez mais, mas o país não vem oferecendo aos idosos infraestrutura suficiente para garantir uma velhice saudável. A conclusão é do estudo “Indicadores demográficos e de saúde no Brasil”, divulgado ontem pelo IBGE. Estimada em 33,7 anos em 1900, a expectativa de vida ao nascer de um brasileiro, que em 2005 era de 72,1 anos, em 2030 deverá ser de 78,33. Atingidos por doenças crônicas (o percentual era de 75,5% em 2003), a grande maioria deles (71%) não tem plano de saúde e, portanto, depende do sistema público, onde a oferta de equipamentos para exames, também segundo dados da pesquisa do IBGE, é menor em relação à rede privada. “Os grandes centros urbanos, embora já apresentem um perfil demográfico semelhante ao dos países mais desenvolvidos, ainda não dispõem de uma infraestrutura de serviços que dê conta das demandas decorrentes das transformações demográficas vigentes”, atesta o estudo. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 31 de 86 Oferta de equipamentos de diagnóstico é desigual Embora dentro dos parâmetros da portaria 1.101 do Ministério da Saúde, em quase todos os casos (com exceção do raio X para densitometria óssea) a oferta dos equipamentos entre os setores público e privado é desigual. Dados do novo estudo, retirados da Pesquisa de Assistência Médico Sanitária, de 2005, mostram, por exemplo, que o número de aparelhos de ultrassom chegava a 246,8 por um milhão de habitantes nos hospitais privados e era de apenas 31,3 no Sistema Único de Saúde. O custo da internação per capita no SUS também aumenta com a idade: R$93 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$179 entre os com 80 anos ou mais. - Esses dados nos colocam, além da discrepância, a possibilidade de que a falta de acesso possa prejudicar o atendimento — diz o pesquisador Marco Antônio Andreazzi, do IBGE, ressaltando que, apesar de menor do que no setor privado, o número de equipamentos para diagnóstico no setor público cresceu 20% em 2005 em relação a 1999. O câncer passou a matar mais idosos, segundo dados do Ministério da Saúde utilizados pela pesquisa do IBGE. De 1996 para 2005, o percentual das pessoas com mais de 60 anos que morreram com neoplasias passou de 13,3% a 16%. A “responsabilidade em proteger o contingente de idosos, em processo de crescimento”, apontada pelo estudo, se confirma por outra projeção: enquanto em 2000, para cada grupo de 100 pessoas em idade ativa, 13,1 eram idosos, em 2050, esse número chegará a 52,1, segundo o instituto. A série histórica divulgada pelo IBGE mostra que, até meados do século passado, o brasileiro vivia em média trinta anos a menos do que nos primeiros anos do século XXI. O retrato traçado pela pesquisa evidencia ainda as distorções, já nos anos 40: o Nordeste tinha expectativa de vida de 36,7 anos, o Sul, de 49,2; o Centro-Oeste, de 47,9 anos; e o Sudeste, de 43,5 anos. A distância entre as regiões diminuiu a partir de 2005. Entre o Nordeste e o Sul, passaram a 5 anos. Os dados IBGE registram a queda da taxa de fecundidade entre as brasileiras: em 46 anos, passou de seis para 2 filhos. De acordo com o instituto, os dados, de 2006, permitem dizer que a taxa mantém a população próxima da estabilidade, em termos de crescimento. A tendência de redução dessa taxa atinge as mulheres mais e menos instruídas. Em 1970, mulheres com até três anos de estudo tinham uma média de 7,2 filhos. Com oito anos ou mais de escolaridade, elas tinham 2,7 filhos. Em 2005, esses índices eram de 3 e 1,4 filhos. Houve ainda aumento na proporção de mães que realizaram exames pré-natal — de 54,5% entre 2000 e 2006. Outro dado compilado pelo IBGE é o percentual de cesarianas, já correspondentes a 43% dos partos realizados no Brasil, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde é que o índice seja de 15%. Mulheres vivem 7,6 anos a mais que homens A publicação do IBGE volta a ressaltar que a violência, que atinge mais os homens jovens, dá às mulheres uma sobrevida de 7,6 anos em relação aos homens. No Sudeste, essa diferença chega a 9 anos. Em 2005, as causas externas reduziam em 3,4 anos na expectativa de vida dos homens. Para as mulheres, a perda era de 0,65 ano. A pesquisa abrangeu ainda a população indígena brasileira, mostrando um crescimento de 10,8% ao ano. Eles passaram de 294 mil para 734 mil e somam 0,4% da população. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 32 de 86 Maiá Menezes - O GLOBO A ‘CAIXA D’ÁGUA’ DO BRASIL SOB AMEAÇA 06/09/2009 Quase metade do Cerrado — uma área 22 vezes maior que a do Estado do Rio — já foi desmatado O Cerrado brasileiro já perdeu quase metade de sua cobertura florestal original. Um estudo ainda inédito do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente identificou que 48,5% do Cerrado já foram desmatados, numa extensão de quase um milhão de km². A área é superior ao Estado do Mato Grosso e corresponde a 22 estados do Rio de Janeiro. Entre 5% e 6% do total desmatado teriam ocorrido de 2002 a 2008 — uma área entre 120.000 e 129.000 km². Os principais causadores da derrubada do bioma, considerado a mais rica savana do mundo, são as plantações de soja, a pecuária e a exploração de madeira para fazer o carvão que abastece siderúrgicas. Os dados ainda são preliminares e estão em fase de revisão. Os números oficiais deverão ser divulgados na próxima sexta-feira, Dia do Cerrado. — É uma taxa alta, mas não é surpresa, porque o Cerrado vem sofrendo com o desmatamento desde os anos 1970. A má notícia é que continua acontecendo — disse Braulio Ferreira de Souza Dias, da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. — Nesse ritmo, em pouco tempo vamos chegar a um estado preocupante. Se a gente comparar com a Mata Atlântica, que levou mais de 500 anos para perder 93% de sua cobertura, o Cerrado está sendo destruído muito mais rapidamente — observou Cesar Victor do Espírito Santo, do Conselho da Rede Cerrado, que congrega mais de cem ONGs. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 33 de 86 Bioma ocupa 1/4 do território nacional Segundo o último estudo oficial, feito pela Embrapa Cerrados com base em dados de 2002, 39% do bioma haviam sido destruídos até aquele ano. Os dados a serem apresentados esta semana tiveram mudança na metodologia e dão conta de que o desmatamento ocorrido até aquele ano era um pouco maior: 42%. No período estudado pela Embrapa, as áreas com menor preservação eram encontradas na porção sul do Cerrado: sul de Goiás, Triângulo Mineiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Por outro lado, os estados que mais tinham preservado eram Piauí, Maranhão e Tocantins. O Cerrado, que tem pouco mais de dois milhões de km², ocupa 1/4 do território nacional e está presente em Goiás, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo, Tocantins e Distrito Federal. A região é a principal produtora de grãos do país. Em extensão, é o segundo maior bioma da América do Sul, perdendo só para a Amazônia. Em biodiversidade, é vice-campeão. Até hoje foram registradas mais de 12.000 espécies de plantas, muitas delas só encontradas no Cerrado. Calcula-se que 40% das plantas lenhosas e 50% das espécies de abelhas só existem neste bioma, que responde por 5% da biodiversidade do planeta. Para o Brasil, o Cerrado é estratégico do ponto de vista de recursos hídricos. As três principais bacias hidrográficas do país têm a maior parte de suas nascentes no bioma: a Amazônica (Araguaia-Tocantins), a do Paraná-Paraguai e a do São Francisco. — O Cerrado é fundamental para a preservação dos recursos hídricos. O Cerrado é a caixa d’água do Brasil — diz Cesar Victor. Junto com a notícia sobre o Cerrado, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vai anunciar o 1º Plano de Combate ao Desmatamento do Cerrado. A região será monitorada, a exemplo do que ocorre com a Amazônia. — O Cerrado vai entrar no foco de prioridade — disse o ministro, informando que operações de combate ao desmatamento começarão por lá. As ações previstas incluem a criação de novas unidades de conservação. Na primeira revisão do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, em junho de 2010, o governo pretende apresentar metas de redução do desmatamento para todos os biomas e não só para a Amazônia, como acontece atualmente. — Sempre houve uma preocupação grande com a Amazônia, motivada inclusive por pressão internacional. Há uma tendência de se pensar que o Cerrado pode ser destruído em troca da manutenção da Amazônia, o que é lamentável — reclamou Cesar Victor. O desmatamento no Cerrado pode comprometer os planos do Brasil de abocanhar a maior parte das verbas internacionais para projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. É que as regras para projetos, que deverão ser regulamentadas na Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas em dezembro, exigirão como contrapartida queda no desmatamento como um todo. Catarina Alencastro - O GLOBO Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 34 de 86 BRASIL SÓ TEM 10% COM CURSO SUPERIOR NA FAIXA DE 25 A 64 ANOS 09/09/2009 Brasil só tem 10% com curso superior na faixa de 25 a 64 anos Média mundial é quase três vezes maior, diz entidade internacional. O Brasil tem o menor índice de adultos com diploma universitário, entre 36 nações pesquisadas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A entidade divulgou ontem o relatório Education at a Glance 2009 (Panorama da Educação), mostrando que apenas 10% dos brasileiros de 25 a 64 anos concluíram o ensino superior. Entre os países que integram a OCDE — a maioria do mundo desenvolvido —, a média é quase três vezes a brasileira: 28%. O índice mais alto no estudo lançado ontem pertence à Rússia, que, como o Brasil, não faz parte da entidade e participa na condição de convidado. Na Rússia, 54% dos adultos têm diploma. Os dados são de 2007 e foram passados pelos respectivos governos. O Brasil ocupa também a última posição entre os jovens adultos, isto é, a população de 25 a 34 anos, com somente 10% de diplomados no ensino superior. Entre essa população mais jovem, a média da OCDE sobe para 34% e o primeiro lugar fica com a Coreia do Sul, com 56%. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Reynaldo Fernandes, diz que o Brasil precisa ampliar o número de estudantes no ensino superior, o que vem ocorrendo desde a década de 1990, embora em ritmo menor. Ele ressalva, no entanto, que o país não pode abrir mão da qualidade: — O desafio é crescer com qualidade — diz Reynaldo, lembrando que a expansão do nível superior está atrelada ao crescimento do ensino médio. Segundo o presidente do Inep, a baixa proporção de graduados explica outro indicador revelado pelo relatório: o Brasil é a nação onde um diploma universitário mais contribui para elevar o salário de um profissional, garantindo acréscimos, em média, superiores a 100%. A OCDE defende maiores investimentos no ensino. O relatório mostra que o Brasil é o país com menor gasto por aluno na educação primária (US$1.566) e secundária (US$1.538), ante US$6.437 e US$8.006 respectivamente na média da OCDE. Em relação ao PIB, o gasto brasileiro com todos os níveis de educação é de 4,9%, abaixo da média de 6,1% dos países da OCDE. Demétrio Weber - O GLOBO GOVERNO AMPLIA RESTRIÇÃO A ESTRANGEIROS NA AMAZÔNIA 15/09/09 Pelo projeto, não brasileiros só poderão ter até 10% das terras das cidades da região. Texto, que visa fechar cerco à invasão estrangeira na área, tem de ser enviado para o Congresso e não altera limite de 25% para o resto do país Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 35 de 86 A soma de terras nas mãos de estrangeiros não poderá ultrapassar 10% das superfícies dos municípios da Amazônia Legal, segundo projeto de lei finalizado pelo governo e no aguardo do presidente Lula para ser enviado ao Congresso. Hoje o limite é de 25% em todo o país, inclusive na região amazônica. O novo limite valeria para a compra, por estrangeiros, de áreas rurais nos Estados do Norte, em Mato Grosso e em parte do Maranhão, que integram a Amazônia Legal. A proposta mantém para o restante do país os 25%. Por exemplo: num município paraense com área de 50 mil hectares, as propriedades de estrangeiros, somadas, não poderiam ultrapassar os 5.000 hectares (10%). Já num município paulista com a mesma dimensão, seria mantido o limite atual de 12.500 hectares (25%). As restrições, listadas na minuta do projeto de lei obtida pela Folha, valem para três categorias: estrangeiro que vive no Brasil, pessoa jurídica estrangeira residente no país e pessoa jurídica brasileira controlada por capital estrangeiro. As limitações são a solução jurídica para, no papel, fechar o cerco à invasão estrangeira na Amazônia e, no discurso, falar em soberania nacional. A ideia do governo era ter encaminhado o projeto ao Congresso no final do ano passado. Mas, conforme a Folha antecipou em novembro, a chegada da crise econômica fez o presidente adiar o envio do texto, com receio de que a medida pudesse frear os investimentos estrangeiros no país. O petista quer encaminhá-lo ao Congresso ainda em seu governo. A restrição avança também nos investimentos individuais (pessoas físicas ou jurídicas) de estrangeiros. O limite de propriedade individual a um estrangeiro na região cairia dos atuais 5.000 hectares (terras contínuas e não contínuas) para 1.500 hectares (contínua) e 3.000 hectares (não contínua). Segundo a atual legislação (lei de 1971), a terra do estrangeiro não pode ultrapassar 50 MEIs (Módulos de Exploração Indefinida), tanto em área contínua como não contínua. Cada MEI varia de 5 a 100 hectares, o que dá hoje ao estrangeiro um limite de 5.000 hectares. Segundo o projeto de lei, no caso das contínuas o tamanho máximo permitido será de 15 módulos fiscais -unidade semelhante ao MEI e que varia de 5 a 110 hectares, de acordo com o desenvolvimento e a produtividade de cada município. Exemplo: um imóvel rural comprado por estrangeiro no Acre teria, em média, 1.420 hectares, contra 290 hectares no Rio Grande do Sul. No caso das não contínuas, o limite seria de 30 módulos. Terras de estrangeiros acima desse volume, apenas com autorização do Congresso. Nas faixas de fronteiras (com 150 km de extensão), a aquisição se daria só sob o crivo do Conselho de Defesa Nacional, órgão consultivo do presidente, integrado, entre outros, pelos ministros da Defesa e da Justiça, comandantes das Forças Armadas e presidentes de Câmara e Senado. Esse item não integra o projeto, já que uma PEC (proposta de emenda à Constituição) sobre o tema está em discussão no Congresso. Hoje, no cadastro do Incra, os estrangeiros aparecem com um total de 3,6 milhões de hectares, distribuídos em 34.082 imóveis rurais. No governo, imagina-se que esse número esteja subestimado, por conta da prática do uso de laranjas. Outra medida incluída no texto é a criação de um conselho nacional de notários e registradores -forma de controlar os cartórios e forçá-los a relatar as compras por estrangeiros à União, prática fora de uso. Sem acordo entre ministérios, dois pontos ficaram fora do texto e terão de ser discutidos no Congresso: compra por cônjuge brasileiro casado com estrangeiro e autorização do Conselho de Defesa Nacional das compras na Amazônia. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 36 de 86 Eduardo Scolese – FOLHA DE SÃO PAULO MISSÃO CUMPRIDA Após cinco anos, a atuação das forças brasileiras na pacificação do Haiti é considerada um caso de sucesso. A ONU agora quer nossos soldados em outros países As ruas de Porto Príncipe, a capital do Haiti, são apinhadas de gente. Um terço dos 9 milhões de haitianos vive na cidade de traçado colonial, com ruas estreitas e esburacadas, espremida entre o mar e uma cadeia de montanhas quase totalmente desmatadas. No meio da multidão, destacam-se capacetes azuis, sinais da presença de soldados da Força de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Sob um sol abrasador, capaz de manter a temperatura perto dos 40 graus célsius o ano inteiro, soldados armados e vestidos com um equipamento de 30 quilos patrulham as ruas a pé, como policiais. A presença deles seria uma anomalia na maioria dos países. Mas no Haiti é um sinal de que a vida começa a voltar ao normal. Os brasileiros formam o maior contingente de capacetes azuis no Haiti. Em 2004, o Brasil assumiu o comando militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), o país mais pobre do Hemisfério Ocidental e um dos mais pobres do mundo. A intenção inicial do Itamaraty era firmar o papel do Brasil como potência regional e demonstrar capacidade para pleitear uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU no futuro. Desde então, a cada seis meses, cerca de 1.200 militares do Exército e da Marinha chegam ao país para uma temporada de serviço. Os brasileiros são a maioria entre os cerca de 7.100 militares de 17 nações que compõem a missão. Agora, após cinco anos, a ONU considera que a situação no Haiti se estabilizou. “A fase da pacificação do Haiti acabou”, diz Luiz Carlos da Costa, vice-representante especial do secretário-geral da ONU no Haiti. “As pessoas podem andar em áreas onde antes só iam com escolta e coletes à prova de balas.” O que, no início, parecia ser um atoleiro, no qual o Brasil havia caído, é hoje um sucesso reconhecido. No dia 9, o expresidente dos Estados Unidos Bill Clinton, emissário especial da ONU para a reconstrução do Haiti, elogiou o trabalho do Brasil em um discurso na reunião do Conselho de Segurança. Observadores independentes e a ONU atribuem a maior parte do sucesso da missão à atuação das Forças Armadas brasileiras. Richard Gowan, pesquisador do Centro para Cooperação Internacional da Universidade de Nova York, considera a operação de paz no Haiti uma das mais bem-sucedidas entre as 17 que a ONU mantém no mundo. Especialista em operações de paz, Gowan já acompanhou o trabalho dos militares brasileiros no Haiti. “Todos reconhecem que os brasileiros assumiram os maiores riscos e tiveram sucesso”, afirma. Diretor da ONU para a unidade de Operações de Paz para Europa e América Latina, David Harland faz uma avaliação semelhante. “O Haiti mudou de uma fase de instabilidade radical para uma situação estável – em grande medida graças ao trabalho dos brasileiros”, diz. Essa mudança, na prática, foi observada por ÉPOCA em Porto Príncipe. Os soldados patrulham a pé até as partes mais violentas e miseráveis – pobreza no Haiti é pouco; o que existe é miséria –, como os bairros de Cité Soleil e Bel Air. Eles conversam com moradores e se esgueiram por becos durante a noite. No dia a dia, os soldados agora usam armas com balas de borracha e bombas de efeito moral. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 37 de 86 Quando os primeiros militares brasileiros chegaram a Porto Príncipe, esse quadro parecia improvável. O Haiti estava mergulhado no caos, após a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. O vácuo no poder fez com que gangues de criminosos e traficantes tomassem o controle de Cité Soleil e Bel Air – bairros com cerca de meio milhão de habitantes. Políticos aproveitavam a confusão para insuflar manifestações. Os soldados circulavam com Urutus para superar montanhas de lixo de mais de 1 metro de altura e remover carcaças de carros das ruas. “As lojas eram atacadas pelas gangues”, diz o general Floriano Peixoto, comandante militar da Força de Paz. “Até o comércio informal era limitado.” A Polícia Nacional do Haiti era acusada de permitir chacinas. Os cadáveres apodreciam sob o sol. Os primeiros dois anos da operação brasileira no Haiti foram complicados. Pressionado por políticos, o presidente René Préval, eleito após a queda de Aristide, defendia a negociação com as gangues e resistia aos pedidos da ONU de um ataque frontal a elas. Mas, em novembro de 2006, a ONU arrancou de Préval um compromisso de combate às gangues. Até o início do ano passado, “o pau cantou”, como dizem os militares. De acordo com a ONU, mais de 2 mil pessoas foram presas. Não há contagem de mortos. De acordo com Richard Gowan e David Harland, da ONU, o segredo do sucesso brasileiro tem sido uma estratégica combinação de tiros com caridade. “As forças brasileiras são respeitadas e admiradas porque atiram quando têm de atirar, mas se envolvem em projetos de reconstrução que ajudam a população a melhorar de vida”, afirma Gowan. Os militares brasileiros se diferenciam de outras tropas por participar de operações de distribuição de comida, leite e água, atividades de recreação para crianças e projetos de obras de reconstrução e limpeza que dão empregos em Porto Príncipe. "Embora esteja sob controle, a situação do Haiti é frágil" FLORIANO PEIXOTO, general do Exército e comandante das forças militares da missão de paz da ONU no Haiti. "A fase de pacificação do Haiti acabou" LUIZ CARLOS DA COSTA, vice-representante especial do secretário-geral da ONU no Haiti. Distribuir comida no Haiti é uma operação de guerra. As ONGs locais selecionam as famílias mais necessitadas e, no dia marcado, o Exército faz as doações. Grandes filas se formam. A gritaria e as brigas são constantes. Sem segurança, poderiam acabar com mortos e feridos. Só as mulheres recebem alimentos – uma forma de garantir que os filhos terão comida. Enquanto a comida é entregue, em locais como quadras de esportes, os soldados promovem brincadeiras para as crianças. Por falta de espaço, muitas ficam de fora e acompanham, hipnotizadas, a distribuição. Outros soldados são espalhados por uma vasta área ao redor, para garantir que as mulheres não sejam roubadas quando saírem com os alimentos. Os homens reclamam por não poder pegar a comida. Na cultura haitiana, eles têm preferência para comer. O sistema de privilégios para as crianças rompe com essa lógica. Mas não há afrontas aos soldados brasileiros. Em outro tipo de ação social, os militares criam frentes de trabalho para remover o lixo das ruas. Os selecionados ganham uma cesta básica após uma semana de trabalho em meio período. “Os brasileiros entenderam que o Haiti nunca terá paz sem apoio à comunidade”, afirma Harland. “É um modelo de como as missões de paz deveriam trabalhar.” Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 38 de 86 A estratégia aproximou os militares brasileiros da população. “Tropas de outros países passavam aqui só atirando, nem desciam do blindado”, diz um oficial do Exército. “Nós mostramos a cara.” A proximidade dá resultados práticos. Em uma das patrulhas que ÉPOCA acompanhou em Porto Príncipe, uma mulher se aproximou e pediu para conversar com o comandante da tropa. Com a ajuda do intérprete, ela falou sobre a localização de um bandido procurado pela polícia. Esse tipo de contato com os locais permitiu aos brasileiros construir uma rede de informantes. Na principal base militar brasileira em Porto Príncipe, três salas isoladas são dos militares da área de inteligência. Entre julho e agosto, três grandes líderes de gangues foram presos em operações brasileiras. Um deles era procurado por 50 mortes. “Num lugar populoso e complexo como Porto Príncipe, a inteligência é essencial para o sucesso da operação”, diz Gowan. A vida dos militares brasileiros nas ruas de Porto Príncipe é uma prova de resistência. Os soldados vestem farda de mangas compridas, joelheiras, cotoveleiras, o pesado capacete azul com a marca UN e o Tudão. Esse é o nome dado a um conjunto formado por colete antibalístico de cerca de 8 quilos, recheado com arma, telefone, rádio, balas de borracha, bombas de efeito moral, spray de pimenta e outros acessórios. Completo, o conjunto chega aos 30 quilos. Todos usam óculos escuros e um lenço na cabeça para absorver o suor. Se quem veste camiseta sofre, um militar passa por uma verdadeira tortura. Um soldado no Haiti perde cerca de 3 quilos por dia. “A camiseta fica dura por causa do sal do suor”, diz o soldado André Salarini, há dois meses no Haiti. O país onde estão os militares brasileiros ocupa um terço da ilha Hispaniola, no Caribe, e tem problemas gravíssimos. O nível de vida é comparável ao de países da África – de onde os ascendentes da maioria da população vieram como escravos entre os séculos XVI e XIX. Cerca de 80% dos haitianos são miseráveis. Metade deles não sabe ler e cerca de 60% dos que têm idade para trabalhar estão desempregados. Cada mulher tem, em média, 4,8 filhos. Em cada 1.000 crianças nascidas, 73 morrem antes de completar 1 ano e 75% das sobreviventes não são vacinadas. O Haiti tem governo, mas não tem Estado. O país não tem ensino ou saúde públicos: 90% das escolas são particulares, e as mensalidades consomem o equivalente a 40% da renda das famílias menos pobres. Os hospitais são particulares, o que faz com que a maioria dos haitianos não tenha acesso a eles. Durante uma patrulha pelo bairro de Bel Air, um carro do Exército brasileiro socorreu uma mulher desnutrida, que estava desmaiada na calçada. Ela foi levada ao hospital. Por sorte, os médicos não estavam em greve. Em Porto Príncipe, a maior cidade do país, praticamente não há transporte público. A população se desloca em tap taps, caminhonetes com pinturas características, que se transformam em vans de lotação. O trânsito é caótico. Até 2004, havia apenas um semáforo na cidade. Algumas vezes, os soldados têm de descer e disciplinar o tráfego nos cruzamentos. Um deslocamento de 10 quilômetros pode durar uma hora, sob sol escaldante. Grande parte de Porto Príncipe fica sem luz durante a noite. Nas patrulhas noturnas, os militares usam os Urutus, veículos blindados, para ir a essas áreas. É possível andar quilômetros em áreas totalmente escuras. “Mas, como muitos moradores dormem nas ruas, não usamos os blindados em todos os lugares”, diz o tenente Filipe Paiotti, que comandou uma patrulha acompanhada por ÉPOCA na região portuária de Waff. A pé, os militares têm de tomar cuidado para não pisar em pessoas que dormem sobre panos. O conceito de pobreza muda quando se vê um local como Cité Soleil. Com cerca de 300 mil habitantes, Cité Soleil foi formada há décadas por migrantes que vinham do campo. O bairro lembra uma favela brasileira, mas é pior. Nas favelas do Brasil, muitos moradores fazem ligações clandestinas para usar água e energia elétrica sem pagar. Em Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 39 de 86 Cité Soleil não há o que roubar. A energia elétrica só existe para quem paga por geradores. A água é trazida de longe, em baldes. O lixo está por toda parte: no chão ou entupindo os córregos. As crianças correm nas ruas, mas é raro ver alguma delas com um brinquedo. Durante oito dias, a reportagem de ÉPOCA não viu nenhuma. “Estou aqui há dois meses e ainda não vi nem bola com eles”, diz o capitão Marcelo Domingues, comandante da base militar brasileira mais próxima a Cité Soleil. Stehelne Tirrer, de 25 anos, vive em Cité Soleil. Mãe solteira de três filhos, ela não trabalha. Em um dia no final de agosto, ela estava na fila para receber um pacote de leite em pó do Exército brasileiro. “Às vezes eu como todos os dias”, diz. E quando não há o que comer? “Mando meus filhos ficarem deitados em casa.” A falta de comida é responsável pela criação de uma iguaria típica do Haiti, uma espécie de biscoito de barro. A uma temperatura de quase 40 graus célsius, Nadia Guerrier, de 35 anos, seis filhos, mistura água e terra sujas com um pacote de sal grosso e manteiga em uma vasilha. A mistura é transformada em discos, colocados para secar. Cada um é vendido em uma feira por 25 gourdes (a moeda local), equivalentes a pouco mais de US$ 0,50. “Estou vivendo assim”, diz Nadia. Um barraco de placas de zinco é sua casa. As casas de tijolos do bairro são furadas por tiros. As que não têm teto são usadas como banheiro. Nascido da utopia de escravos que se libertaram dos colonizadores franceses em 1804 e quiseram construir uma nação, o Haiti se transformou em uma tragédia ao estilo africano. O mais conhecido governante haitiano é o ditador François Duvalier, o Papa Doc, que permaneceu 14 anos no poder (1957-1971). Papa Doc mantinha uma espécie de milícia pessoal, os tontons macoutes. Como seus colegas africanos, Papa Doc se notabilizou pela ostentação do luxo pessoal em convívio com a miséria absoluta de seus “súditos”. O presidente Jean-Bertrand Aristide, que fez oposição à dinastia Duvalier e deixou o poder em 2004, vivia em uma mansão com um terreno amplo e cheio de árvores. Em frente a sua casa, mandou construir uma praça privada, com árvores e uma fonte. Fez isso num país onde não existem árvores e falta água. Aristide é parte da galeria de governantes que perpetuaram a corrupção e quebraram o Haiti. O Haiti é um cliente antigo de intervenções internacionais. A atual missão de paz é a sétima em 20 anos. Essa rotina criou peculiaridades. Os políticos haitianos são craques em enrolar negociadores da ONU. Eles nunca dizem “não”, mas também não assumem compromissos. A população é apática em relação à missão de paz. “Os haitianos apenas nos toleram”, diz Luiz Carlos da Costa, da ONU. “É o primeiro país do mundo em que eu sinto indiferença da parte da população com a ONU.” Carioca de nascimento, Costa é funcionário da ONU há 38 anos, cuida há 17 de missões de paz e está há três anos no Haiti. Antes, esteve em missões de paz no Kosovo (ex-Iugoslávia) e na Libéria, África Ocidental. É uma das pouquíssimas pessoas que se podem encontrar em Porto Príncipe vestidas com terno, gravata e uma camisa com abotoaduras nos punhos. Costa teve dificuldades para explicar a uma das filhas a decisão de trocar o belo escritório na sede da ONU, em Nova York, pelo atual, montado em um hotel falido – onde há uma piscina vazia, com peixinhos pintados nas paredes e estátuas de tartarugas no fundo –, localizado na área considerada nobre de Porto Príncipe. “Eu disse a minha filha que a ONU tinha a oportunidade de contribuir para a reconstrução do Haiti. E eu queria fazer parte”, afirma Costa. A missão da qual Costa faz parte é ajudar o país a aprender a andar sozinho. “Deveria ser mais fácil solucionar os problemas de um país pequeno como o Haiti”, diz Costa. “Mas, além da miséria, há uma cultura política de uma elite que não possibilitou o desenvolvimento.” Cerca de 60% do PIB do Haiti vem de doações. O país recebe mais ajuda financeira externa que investimentos. É uma equação perversa, que muitos países da África superaram recentemente. A ajuda alivia, mas são os investimentos que ativam a Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 40 de 86 economia. Um dos maiores obstáculos aos investimentos no Haiti é a falta de infraestrutura. Não há garantia de energia – a maioria dos haitianos corta árvores e faz carvão para cozinhar. As estradas são péssimas. Recentemente, um caminhão do Exército demorou três dias para percorrer 90 quilômetros entre duas cidades. Um contêiner que sai da China chega aos Estados Unidos com um preço mais baixo que outro que saia do Haiti – que fica a menos de duas horas de voo de Miami. Mesmo assim, a ONU tenta atrair investidores para o Haiti. Em outubro, o ex-presidente americano Bill Clinton levará um grupo de investidores ao país. A elite haitiana mora nos Estados Unidos, na França e no Canadá. Poderia colaborar, mas não se interessa. Em Porto Príncipe, os poucos ricos vivem em bairros como Petión-ville, encravado nas montanhas. “Os haitianos vivem de remessas de parentes que moram no exterior”, afirma a canadense Amélie Gauthier, pesquisadora da Fundação para Relações Internacionais e o Diálogo Exterior. O Haiti recebe cerca de US$ 1,2 bilhão por ano em remessas de pessoas físicas. Por todas as esquinas de Porto Príncipe há lojas da Western Union, rede especializada em remessas. A missão de paz no Haiti está em um momento de transição. O país foi pacificado, mas a vida dos haitianos melhorou pouco. Em 2011, haverá uma revisão dos trabalhos da ONU. É quase certo que os contingentes militares comecem a ser reduzidos. “Embora a segurança esteja sob controle, a situação do Haiti é frágil”, diz o general Floriano Peixoto, comandante militar da Força de Paz. Para o Brasil, a saída do Haiti pode ser o fim de um desafio, mas será o início de outros maiores. Segundo Richard Gowan, há “um desejo político muito forte” na ONU em ver o Brasil em algumas das outras 16 missões de paz. Os desafios no Haiti são grandes, mas os desafios na África são maiores. No Congo, há diversos grupos rebeldes espalhados por um grande território. Na Somália, há sinais de presença da organização terrorista Al Qaeda. Os países europeus se recusam a enviar tropas para esses lugares. “Eu acho que, tendo um sucesso tão grande no Haiti, certamente a presença do Brasil seria bem-vinda em outras missões”, afirma David Harland, da ONU. “Se o Brasil quer ser uma potência global, tem de agir como uma”, diz Richard Gowan. A China e a Índia, concorrentes do Brasil no cenário geopolítico, já fazem isso. Mas é uma decisão difícil. Para crescer, o Brasil terá de colocar em maior risco a vida de seus militares. É um preço que o país terá de decidir se está disposto a pagar. Leandro Loyola – ÉPOCA RETRATOS DO BRASIL 01/10/2009 Muita terra na mão de poucos: Censo revela que acesso ao solo é mais desigual que distribuição de renda no país Se a desigualdade de renda no Brasil já escandaliza, a concentração no uso da terra impressiona ainda mais. E o que é mais grave: a distribuição piorou nos últimos dez anos. O Censo Agropecuário, que visitou mais de cinco milhões de fazendas em 2006 e foi divulgado ontem pelo IBGE, mostrou que há muita terra na mão de poucos. O Índice de Gini do uso do solo no Brasil é de 0,872, muito próximo de um, o que indicaria o nível máximo de concentração. Em 1996, quando foi feito o último censo, a taxa era de 0,856. A concentração na terra é 67% superior à da renda no país, que já apresenta um grau de Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 41 de 86 desigualdade entre os maiores do mundo. Em outra comparação, o Brasil tem uma concentração de terra pior que a Namíbia na distribuição de renda. No país africano, o Gini da renda é de 0,72. Entre os estados, os mais concentradores são Alagoas (0,871) e Mato Grosso (0,865). — É uma concentração gigantesca, é imoral. Esse dado dá força para a reforma agrária, o único programa que faz redistribuição de patrimônio — afirmou a socióloga Brancolina Ferreira, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na área de desenvolvimento rural. Diante dessa concentração, o número de trabalhadores no campo vem diminuindo ano a ano. Em dez anos, deixaram de trabalhar nas lavouras 1,363 milhão de pessoas. Hoje, ainda são 16,5 milhões, o correspondente a 18,9% da população ocupada do país em 2006. Cesta básica na agricultura familiar Para especialistas, a agropecuária voltada para exportação — o chamado agronegócio da soja, cana-de-açúçar e pecuária — exige muito investimento e produção em escala, o que agrava o quadro de concentração. — O Brasil desenvolveu uma agricultura para competir lá fora. Precisa de escala para competir. O que acaba liberando mão de obra. Isso é fenômeno de décadas. É uma estrutura montada pelo mercado, com pouco respaldo do Estado — afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. Severino Sebastião da Silva, do interior de Pernambuco, e Eraí Maggi Scheffer, de Cuiabá, são dois produtores rurais. O que os separa são 249 mil hectares. O primeiro, um pequeno agricultor que planta batata doce, aipim e inhame, tem apenas um hectare de terra. O segundo, o maior produtor de soja do mundo, administra 250 mil hectares. O patrimônio de Silva se resume a uma casa de três cômodos, à jumenta Tieta e a um bezerro esquálido, que a família chama de Frank Caldeira, por ser “tão magro” quanto o atleta corredor. Analfabeto, ele nunca teve acesso a banco e não sabe calcular bem perdas e lucros. — Nunca consigo tirar um salário mínimo por mês. Na feira, a cada semana, volto para casa com cerca de R$60 no bolso. Dinheiro para comprar feijão, farinha, carne, fubá, a comida da família. A área que ele tem para trabalhar é tão pequena que esse ano doou aos vizinhos as sementes de milho e feijão que recebeu do governo. — Elas chegaram muito tarde. Quando recebi não tinha mais espaço para plantar. Comer, não podia. Então, dei para quem não tinha. Na região que mais aumentou a área de lavoura em dez anos, o Centro-Oeste, está o paranaense Eraí Maggi Scheffer. Aos 50 anos, comanda uma empresa que planta em 250 mil hectares (ou 250 mil campos de futebol) e deve faturar R$910 milhões este ano. Do total de seu território de produção, cem mil hectares são áreas próprias, o restante é arrendado de outros agricultores. Apesar de ilustrar as estatísticas da evolução da concentração de terras no Brasil, Maggi Scheffer não admite o rótulo de latifundiário. — Tenho terra para produzir, não para especular. Terra serve para gerar alimentos, render divisas, melhorar a qualidade de vida. Quem não faz isso está prejudicando o Brasil e deve dar lugar a outro — diz o empresário, primo do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), de quem herdou o título de “Rei da Soja”. Suas fazendas empregam quatro mil pessoas. A desigualdade secular está expressa também na participação das pequenas propriedades como a de Severino (até dez hectares) na área total das fazendas. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 42 de 86 Permanece em 2,7% desde 1985. Enquanto as com mais de mil hectares, como a de Scheffer, concentram mais de 43% da área. Até na agricultura familiar, que está presente em 84,4% das fazendas, a desigualdade impera. Esses estabelecimentos respondem por apenas 24,3% da área das fazendas. Mesmo assim, a agricultura familiar é a principal responsável pelo abastecimento dos itens da cesta básica. Produz 87% da mandioca, 70% do feijão e emprega 74,4% dos trabalhadores no campo. Mais demarcações, menos cultivo Apesar de área total de plantio e pecuária ter caído nos últimos dez anos, a área de matas e florestas dentro dos estabelecimentos ficaram 11% menor, uma perda de 12,1 milhões de hectares. Segundo Antonio Florido, coordenador do Censo Agropecuário, a redução na área de cultivo foi causada pela demarcação de terras indígenas e de conservação: — A área diminuiu, mas a produção aumentou. Vemos isso em todas as culturas, o crescimento forte da produtividade. O GLOBO GOVERNO CEDE ÁREAS PROTEGIDAS 12/10/2009 Índios, posseiros e fazendeiros ficarão com partes de florestas e parques nacionais O governo está disposto a abrir mão de uma área de em nove unidades de conservação espalhadas pelo Brasil. Essas terras, atualmente objeto de disputa, serão cedidas a posseiros, índios ou fazendeiros. Outra parte será afetada pela construção de hidrelétricas. Algumas já estão degradadas. Dessas nove unidades de conservação, sete ficarão menores e duas terão as perdas compensadas com ampliação da área em regiões limites, que ainda estão preservadas. A lista de áreas que serão revistas inclui ainda outras duas unidades que não sofrerão cortes. Pelo contrário, serão ampliadas para preservar a vegetação local. No total, haverá um acréscimo de . As negociações para alteração das áreas passam por audiências públicas e terminam com a aprovação do Congresso, com o aval do presidente da República. Reportagem de Adriana Vasconcelos e Catarina Alencastro, O Globo, de 12/10 e 13/10/2009. Uma das áreas em litígio fica intricado acordo já fechado entre a União e o estado sobre a Floresta Nacional (Flona) de Bom Futuro, o governo federal perderá 61,8% da unidade. Mas o estado repassará à União uma outra área, separada da Flona. Essas terras virarão sítios de proteção integral. Escolas e igrejas em área desmatada A floresta vem sendo ocupada há décadas por posseiros, que lá criam cerca de 35.000 cabeças de gado. Eles desmataram boa parte da região para abrir espaço para Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 43 de 86 gado e dezenas de casas, 18 escolas e 14 igrejas. Estima-se que 3.500 pessoas morem ali. - Apesar de a redução da área das unidades de conservação parecer um dado negativo à conservação ambiental, para gestão pode ser algo positivo. Reduz o conflito e corrige erros que eventualmente aconteceram no ato de criação – disse Juliana Fukuda, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. O caso mais emblemático, pelo tamanho da área em questão, é a Floresta Nacional de Roraima, que perderá 93,7% de seu território para os índios ianomâmi. Criada em unidade tinha a maior parte de suas terras sobrepostas à reserva dos índios. Entendendo que os direitos dos povos tradicionais devem prevalecer, o governo cedeu 2,4 milhões de hectares, dos 2,6 milhões de hectares anteriormente dentro dos limites da Flona, para os cerca de 9.500 ianomâmis que vivem no local. O texto que faz a alteração está pronto para ser sancionado pelo presidente Lula. Meta é conservar 10% do país Segundo o Código Florestal Brasileiro, terra indígena é área de preservação permanente. Para o presidente do ICMBio, Rômulo Mello, a floresta estará mais protegida desta forma. - A Flona de Roraima é um caso interessante de avaliar, porque estamos revendo o limite de uma unidade, mas estamos ampliando a conservação sobre a área. Ao deixar de ser Flona, ela passa a ser conservada pela legislação indígena, que é hoje mais restritiva que a de uma floresta nacional. O equívoco foi colocar uma unidade de conservação em sobreposição a uma área indígena – disse Rômulo Mello. Na região da BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) e cujo asfaltamento está incluído no PAC, duas unidades de conservação perderão área, por conta de invasões aceleradas pela chegada da estrada. Situada no município de Novo Progresso (PA), um dos campeões do desmatamento da Amazônia, a Flona de Jamanxim terá subtraído em prol de posseiros que se apropriaram de lotes e os cobriram de pastagens que alimentam criações bovinas. Mais ao sul do estado, a Reserva Biológica da Serra do Cachimbo também deverá perder em território e governo está disposto a abrir mão da classificação de reserva, que é uma das categorias mais restritivas de unidade de conservação, na qual não é permitida nem mesmo a entrada de visitantes, para transformá-la num parque nacional de e uma Área de Proteção Ambiental (APA) de . No processo, a reserva perderá e permitirá, onde for APA, alguns tipos de exploração. Na Bahia, interesses econômicos ganharam a queda de braço contra a conservação. A Reserva Extrativista (Resex) Marinha da Baía de Iguape vai perder para que a Petrobras mantenha um estaleiro que tinha metade do empreendimento irregularmente dentro da área. Com a brecha, o governo do estado estuda instalar ali um polo naval. Em contrapartida, a reserva ganhará uma pequena área () a leste da unidade e outra, de , ao norte. Entrou no lençol de proteção da unidade um mangue que originalmente estava descoberto. Atualmente, existem 304 unidades de conservação no Brasil. Essas áreas somam cerca de 78 milhões de hectares e correspondem a 8,3% do território nacional. O ICMBio pretende criar mais 300 áreas de proteção e atingir a meta de conservar 10% do país. Segundo o órgão do governo responsável pela gestão das unidades, 25 delas estão em processo de ampliação. Se tudo der certo, o país ganhará a mais de áreas protegidas. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 44 de 86 - Nosso trabalho é de buscar ampliar a conservação e incorporar mais áreas. Temos um mapa de maior interesse da biodiversidade e é isso que guia nosso trabalho. Criar uma UC é atividade que requer tempo e esforço hercúleo de convencimento de que aquelas áreas merecem ser protegidas. Muitas foram criadas onde há interesses de mineração, de energia e de agricultura – apontou Mello. Catarina Alencastro - O GLOBO BRASIL É 7º MAIS DESIGUAL DO MUNDO. MORTALIDADE INFANTIL AINDA PREOCUPA 06/10/2009 Renda dos 10% mais ricos é 40 vezes maior que a dos 10% mais pobres Uma das principais mazelas da sociedade brasileira, a desigualdade ainda assombra os indicadores de bem-estar da população e arranha a imagem do país no mundo. Os 10% mais ricos da população brasileira têm renda 40,6 vezes superior aos 10% mais pobres. Somente sete países entre os 182 analisados pelo Programa das Nações Unidas (Pnud) apresentam resultados piores do que o Brasil neste quesito. No entanto, este ano, mais do que a renda, a expectativa de vida dos brasileiros foi apontada como vilã dos passos lentos de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Na desigualdade, nem Níger e Serra Leoa, os últimos do ranking do IDH apresentam situação semelhante. No primeiro, os 10% mais ricos ganham 15,3 vezes mais que os 10% mais pobres. No segundo, o valor é de 12,8 vezes. A Namíbia é o país que registra a maior desigualdade (106,6 vezes). Seguida por Bolívia ( 93,9), Comores (60,6), Colômbia ( 60,4), Haiti (54,4) e Panamá (49,9) Ministério da Saúde contesta dados do Pnud O governo aponta os dados do crescimento da renda como fator de melhoria na situação social e na redução destas diferenças. O problema do Brasil, para especialistas, é a falta de interação entre as políticas. — Desde meados da década passada tivemos avanços sobretudo em saúde e educação. Nos últimos dez anos foi na redução das desigualdades. Estamos na direção correta, melhorando a distribuição de renda e crescendo no IDH de longo prazo — disse o diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), André Urani. No entanto, entre as famílias 20% mais pobres do país morrem 99 em mil crianças de até cinco anos. A estatística aumenta para 119 óbitos em mil quando tomadas famílias em que as mães são analfabetas. Trata-se de índices africanos, segundo o Pnud. Entre os 20% mais ricos, as mortes caem a 33 por mil. — A educação é mais determinante do que a renda — ponderou o economistasênior do Pnud, Flavio Comim. A mortalidade infantil está no topo das preocupações do Pnud, pois afeta a expectativa de vida, calculada em 72,2 anos no relatório de 2009. O diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde, Otaliba Libânio, Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 45 de 86 afirmou que a expectativa de vida no Brasil é de 72,57 anos e foi calculada pelo IBGE em 2007. O dado apresentado pelo Pnud é relativo a 2005. Outro problema, segundo Libânio, foi associar a esperança de vida da população à mortalidade infantil. Para ele, a expectativa de vida da população não tem melhorado principalmente por causa das mortes violentas de jovens. Para o chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Néri, o foco em transferência de renda da política social precisa ser revisto: — O Bolsa Família sozinho não é suficiente. É preciso melhorar a oferta do Estado. Vivian Oswald - O GLOBO NO RANKING DO IDH, PAÍS NÃO TEM FÔLEGO PARA AVANÇAR Apesar de Índice de Desenvolvimento Humano subir para 0,813, Brasil se manteve na 75ª posição Apesar dos ganhos evidentes de renda nos últimos anos, o Brasil se manteve em 2009 (dados relativos a 2007) no mesmo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) — que mede o bem-estar da população — calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 182 países. Em valores absolutos, contudo, houve uma discreta melhora. O IDH passou de 0,808 para 0,813, ou seja, acima do patamar de 0,8 a partir do qual um país é considerado de alto desenvolvimento. Essa melhora, porém, não foi suficiente para tirar o país da 75ª posição. A Noruega é o melhor país para se viver, sendo seguida por Austrália, Islândia e Canadá. Os piores indicadores ficaram com Níger, Afeganistão (que passou a ser computado este ano) e Serra Leoa. Dos componentes usados para calcular o IDH, o Brasil teve seu pior resultado na saúde, na 81ª posição no ranking. A melhor nota ficaria para a taxa de matrículas escolares (40%), que está muito próxima dos indicadores de países de IDH altíssimo (acima de 0,9), categoria acima da brasileira. Os números do PNUD ainda não refletem o impacto da crise financeira internacional. Mas o organismo garante que haverá um efeito importante sobre o mercado de trabalho. A taxa de desemprego entre os países ricos deve atingir 8,4% em 2009. No relatório divulgado no ano passado pelo Pnud, o Brasil aparecia na 70ª posição. Porém, o organismo revisou os dados para este ano e para os indicadores anteriores. Além disso, passaram a ser incluídos no ranking Andorra e Liechtenstein, dois países riquíssimos. Também foram consideradas algumas correções estatísticas, entre elas, mudanças para dados de renda da Rússia — que, com isso, subiu duas colocações, para o 71º lugar — e de população da Dominica e Granada. Os ajustes provocaram uma dança das cadeiras. A Noruega, que estava em 2º lugar, perdendo para a Islândia, assumiu a liderança já desde o relatório do ano passado. Os EUA continuam fora dos dez melhores países e a França voltou a este seleto grupo. Entre os emergentes dos Brics, a Rússia ainda vem na frente, por ter renda maior e melhor educação; a China avançou consistentemente pelo ganho nestes dois indicadores, passando da 99ª para a 92ª posição, e a Índia é a lanterna, no 132º lugar. O Pnud destaca que o Brasil vem crescendo de maneira gradual nos últimos 20 anos e obteve melhores resultados do que os vizinhos da América Latina de mesmo nível de desenvolvimento a médio e longo prazos. A curto prazo, contudo, este aumento ainda é lento. A principal explicação estaria na baixa expectativa de vida do país, hoje em 72,2 anos, contra 71,9 anos observada no relatório de 2008. O governo discorda da análise do Pnud e aponta uso de dados defasados. A secretária de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, Luziele Tapajós, afirma que o Brasil entrou há três anos na lista dos países de desenvolvimento alto e vem se mantendo ali: — Isso mostra que estamos no caminho certo. O Pnud afirma que, para melhorar, o país precisa de políticas interligadas e não apenas aumentar renda. — Pobreza não é apenas renda. Existe um grande caminho a ser perseguido para diminuir a pobreza humana — disse Flávio Comim, economista sênior do Pnud. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 46 de 86 METADE DOS MAIORES DE 25 ANOS NÃO CONCLUIU O ENSINO FUNDAMENTAL 10/10/2009 Com o acesso ao ensino fundamental praticamente universalizado, o país ainda tem indicadores que revelam as dificuldades para manter os alunos na escola e a ineficácia do sistema educacional. Entre os brasileiros que estão acima dos 25 anos, mais da metade (50,2%) têm menos de oito anos de estudo, ou seja, não completaram o ensino fundamental. Apesar de alta, a taxa vem caindo: em 1998 era de 65,3% e em 2003, de 58,6%. Já entre os jovens de 18 a 24, apenas 36,8 % finalizaram o ensino médio. baixo. Apesar de ter dobrado em dez anos (era de 18,1), o indicador ainda é considerado Pelas contas do IBGE, que divulgou ontem a Síntese dos Indicadores Sociais, apesar da tendência de crescimento, em um período de dez anos o acesso ao ensino médio ainda não estará universalizado. — Hoje, apenas metade dos jovens de 15 a 17 anos estão frequentando o ensino médio. Ainda é o grande gargalo da educação. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 47 de 86 O país avançou na oferta de vagas no ensino fundamental, mas não na manutenção do estudante na escola. É uma escolaridade rarefeita — avalia Ana Lucia Saboia, coordenadora-geral do estudo do IBGE. Um dado que intensifica a preocupação dos estudiosos é o de que, dentro do universo de jovens de 18 a 24 com menos de onze anos de ensino, 34,1% não estão estudando. Ou seja: para esses jovens, o patamar educacional tende a se manter baixo no futuro. Acesso à universidade dobrou em dez anos Mesmo dobrando, entre 1998 e 2008, a proporção de jovens cursando nível superior (de 6% para 13,9%), o percentual ainda é baixo, se comparado com França, Espanha e Reino Unido, onde é superior a 50%, e no Uruguai (64%). Outro dado divulgado pela Síntese dá conta de que o ensino profissionalizante é determinante no desempenho salarial dos jovens: entre os que frequentaram, a média era de R$ 1.243,20 e entra os que nunca frequentaram, caiu para R$ 938,59. Entre os brasileiros com 15 anos ou mais, 45,3% têm menos de oito anos de estudo, ou seja, não concluíram o ensino fundamental. O analfabetismo funcional (registrado entre os que têm menos de quatro anos de ensino) também assombra os brasileiros: entre os que têm 15 anos ou mais, ainda chega a 21%. Entre as crianças de nove anos, ainda existem 7,8% de analfabetos. Há um descompasso entre as classes sociais: a média de estudo entre os que têm 25 anos ou mais varia de acordo com a faixa de renda. Entre os 20% mais pobres, era de 4,3, em 2008, e entre os 20% mais ricos, de 10,3%. Maiá Menezes e Fabiana Ribeiro - O GLOBO MULHERES E MINORIAS PARA TRÁS 12/10/2009 A falta de projetos educacionais com foco em mulheres e minorias, especialmente entre os mais pobres, além da discriminação pura e simples, colocam o Brasil na incômoda posição de um dos mais desiguais da América Latina se levadas em consideração as defasagens salariais de gênero e entre brancos e outras raças/minorias, diz estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade e que será divulgado hoje. No Brasil, as mulheres ganham, em média, 29,7% menos do que os homens, a maior diferença encontrada entre os 18 países avaliados pelo BID e quase o dobro da média da região (17,2%). A defasagem salarial por raça no Brasil é ainda maior, de 30%, e também a mais gritante entre as nações que estão no estudo do BID. O relatório, intitulado "Novo século, velhas disparidades: diferenças salariais entre gêneros e etnias na América Latina", preparado pelos economistas Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder, mostra que, na média da região, negros e indígenas ganham 28% a menos que os trabalhadores brancos, enquanto homens ganham 17,2% a mais que mulheres. Isso considerando grupos com a mesma idade e nível de instrução. - A desigualdade salarial por gênero não chega a ser um problema grave em países desenvolvidos da Europa ou nos Estados Unidos, mas é uma realidade grave no Oriente Médio e, num segundo patamar, na América Latina, que é uma das regiões mais desiguais, do ponto de vista econômico, do mundo. O Brasil não tem tantas etnias Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 48 de 86 diferentes como as 21 da Guatemala, mas, nem por isso, é menos desigual quando comparamos a remuneração de brancos com negros e descendentes de índios - comenta o economista Hugo Ñopo. Diferença é maior no topo da pirâmide Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 49 de 86 O modelo de comparação salarial foi criado por Ñopo há sete anos, mas os dados dos 18 países latino-americanos envolvidos na pesquisa começaram a ser cruzados efetivamente há dois anos e tomaram como base, no Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) e levantamentos semelhantes em outros países. O relatório mostra que a defasagem salarial por gênero é alta, a despeito de as mulheres serem mais instruídas. As trabalhadoras têm, em média, 0,8 ano a mais de estudo do que os homens na América Latina, o que não impede que elas recebam bem menos mesmo em cargos semelhantes. A defasagem salarial por gênero também é mais alta entre trabalhadores autônomos, em comparação com os que mantêm vínculos empregatícios formais nas empresas. A autonomia, dizem, é um ponto positivo e negativo neste caso. É bom porque dá flexibilidade para as mulheres dedicarem mais tempo aos filhos, mas, sem o apoio do parceiro, é também uma forma de afastá-las do mercado de trabalho, reduzindo sua renda. No caso das etnias e raças, o BID incluiu no estudo apenas sete países onde havia informações étnicas disponíveis em suas pesquisas domiciliares: Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Peru e Paraguai. Segundo as estatísticas, há entre 28 milhões e 34 milhões de indígenas na América Latina (cerca de 10% da população) e, em todos os países, este grupo representa a maior fatia entre os pobres e miseráveis, apesar de todos os avanços sociais dos últimos anos. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 50 de 86 Porém, curiosamente, as maiores diferenças salariais estão nos extremos da distribuição de renda, ou seja, entre os maiores e menores salários. E entre os homens, os mais velhos e os moradores de áreas rurais. O Equador é o país com menor diferença salarial: apenas 4%. De certo modo, o estudo do BID evidencia, dentro dos países latino-americanos, o mesmo padrão de uso de mão de obra de minorias de países desenvolvidos. Esses trabalhadores estão empregados em ocupações de baixos salários. O que os economistas chamam de "segregação ocupacional" permeia o mercado de trabalho latinoamericano, onde as minorias estão em posições de chefia ou de empregadores, que recebem os maiores salários. - No caso de raça e etnia, o diferencial é notadamente a educação. E o que se diz aqui é a qualidade da educação, porque a má qualidade educacional das minorias, uma fatia da população mais pobre, dá a negros e índios menos condições de competir no mercado de trabalho - explica Ñopo Gilberto Scofield Jr. - O GLOBO CAMPO ECONÔMICO BRASIL CAI PARA 82º EM DESIGUALDADE DE GÊNERO 28/10/2009 Diferenças no mercado de trabalho fizeram país perder posições em ranking do Fórum Econômico. Islândia lidera O Brasil caiu nove posições no ranking da desigualdade entre homens e mulheres elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. No relatório “Desigualdade Global de Gênero” 2009, apresentado ontem em Nova York, o país aparece em 82º lugar numa lista de 134 nações, atrás de Gana (81º) e Tanzânia (73º). Se fossem considerados apenas os 130 países que participaram da edição do relatório de 2008, o Brasil estaria em 80º lugar, ante o 73º em que ficou no ano passado. A Islândia foi apontada como o país com menor desigualdade de gênero do mundo, superando a Finlândia, que se manteve na segunda posição, e a Noruega, que era a primeira em 2008 e agora está no terceiro lugar. A trajetória do Brasil tem sido de queda. Em 2006, ano da primeira edição do ranking, quando foram avaliados 115 países, o Brasil ficara em 67º lugar. O que puxou o país para baixo este ano foram as diferenças salariais e no mercado de trabalho. Se a pesquisa fosse feita apenas com o item diferenças salariais pelo mesmo trabalho executado, o Brasil estaria na 114ª posição. No entanto, as mulheres brasileiras têm nível de instrução similar ao dos homens. Se considerados os critérios de taxa de alfabetização e matrículas em nível superior, por exemplo, o Brasil estaria em primeiro lugar, ao lado da Islândia. A participação feminina no Congresso também foi mal avaliada. Sozinha, ela jogaria o país para o 109ºlugar. O Brasil também ganhou uma nota ruim no quesito legislação capaz de coibir e punir a violência contra mulheres. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 51 de 86 África do Sul subiu da 22ª posição para o sexto lugar O relatório mede a participação de homens e mulheres na sociedade de acordo com quatro critérios básicos: diferenças salariais e participação no mercado de trabalho; acesso à educação e nível de formação educacional; acesso à saúde e queda de índices de mortalidade; e participação política e posição em cargos de poder político. Entre os dez primeiros países da lista, houve algumas novidades em relação à pesquisa de 2008. A maior delas foi o avanço impressionante da África do Sul, que passou do 22º para o sexto lugar da lista, melhorando seu desempenho em todos os setores pesquisados. Também a Islândia foi destaque, passando do quarto para o primeiro lugar do ranking, apesar de ser uma das economias mais afetadas pela crise financeira mundial. — A pesquisa deste ano mostrou que economias em desenvolvimento como a da África do Sul podem ter ganhos impressionantes com relação à luta contra a desigualdade. Os países escandinavos continuam no topo da lista, com destaque para a Islândia. Entre os piores estão a Arábia Saudita e Chade. No mundo, as maiores diferenças estão no acesso à saúde e à educação, as que têm mais impacto no cotidiano e na expectativa de vida — diz Saadia Zahidi, uma das responsáveis pelo relatório de 2009. Entre os Brics, Brasil ganha apenas da Índia O salto da África do Sul foi superado por poucos, entre eles o Paraguai, que passou da centésima posição em 2008 para a 66º em 2009. O avanço de 34 posições num intervalo de apenas um ano foi considerado um recorde pelo Fórum Econômico Mundial. Mas o país ainda está longe da dianteira na América Latina. Trinidad Tobago (19º) e Barbados (21º) são os que lideram a lista das nações latino-americanas. Equador e Argentina vêm em seguida, nas 23ª e 24ª posições, respectivamente. Na região, o Brasil só não é mais desigual que Bolívia, México, Ilhas Maldivas e Guatemala. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 52 de 86 Entre as quatro economias emergentes reunidas nos Brics, o Brasil só ganha da Índia, que ficou na 114ª posição. Rússia e China, que avançaram duas posições, ficaram em 51º e 60º lugares, respectivamente. Marília Martins - O GLOBO INFRAESTRUTURA E ENERGIA BRASIL: 10 QUESTÕES SOBRE O PRÉ-SAL 09/09/2009 Os desafios para retirar o petróleo do fundo do mar e transformar essa riqueza potencial em desenvolvimento efetivo do Brasil Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 53 de 86 A produção brasileira de petróleo dobrou na última década, alcançando 2 milhões de barris por dia. Esse salto expressivo coincidiu com a aprovação da Lei do Petróleo de 1997, um divisor de águas que deu fim ao monopólio da Petrobras e instituiu a concorrência no setor de exploração. Antes o Brasil possuía uma única companhia – de controle estatal e subjugada a interferências políticas – a prospectar as jazidas. Hoje há 76 empresas que exploram petróleo e gás natural nos campos marítimos e terrestres. Além da abertura daquela antiquada reserva de mercado, o país construiu um modelo institucional de exploração transparente e confiável, similar ao que se faz de melhor no planeta. Esse sistema, embasado em concessões públicas disputadas em leilões, foi vital para a atração dos investidores privados, os quais trouxeram não apenas dólares, mas também tecnologia. Agora, com as descobertas promissoras no pré-sal, o Brasil vê-se diante da perspectiva de um novo salto e da possibilidade de se transformar em grande exportador mundial. Pois é esse modelo de sucesso reconhecido que o governo pretende alterar. Nas áreas de pré-sal, passaria a ser usado o sistema de partilha do petróleo. A justificativa – questionável, segundo os especialistas – é que essas descobertas seriam uma espécie de "bilhete premiado", por supostamente oferecer menos riscos de insucesso e maior potencial de rentabilidade, o que justificaria a mexida nas regras do jogo. A seguir, VEJA trata dessas e de outras questões essenciais a respeito do potencial das reservas e de como elas poderão contribuir para o desenvolvimento do país. 1 Qual é o tamanho das reservas? Ainda não se sabe com exatidão. As estimativas vão de 40 bilhões a 80 bilhões de barris. Até agora, a Petrobras divulgou avaliações apenas para as principais áreas já licitadas – os campos de Tupi e Iara, na Bacia de Santos, e Parque das Baleias, na Bacia de Campos. Nessas três regiões existiriam até 14 bilhões de barris – o suficiente para dobrar as atuais reservas conhecidas brasileiras. Os números poderão ganhar maior precisão no fim de outubro, quando serão feitas perfurações em novos poços e haverá a conclusão dos testes para quantificar as reservas de Guará. Mais importante do que dimensionar as jazidas, no entanto, será determinar quais delas apresentam viabilidade comercial. Segundo a Petrobras, suas perfurações feitas no pré-sal obtiveram uma taxa de sucesso de 87%. Mas empresas privadas anunciaram recentemente que encontraram poços "secos" (com quantidade de óleo insuficiente para justificar a exploração). 2 Quais são os desafios geológicos? Diversos obstáculos terão de ser superados para que jorre petróleo do pré-sal. O primeiro é sua profundidade: 5 000 a 7 000 metros separam o poço da plataforma. "Explorar petróleo em águas profundas é como dirigir um carro a 300 quilômetros por hora. É possível, mas muito perigoso", afirma o professor de geologia da UFRJ Giuseppe Bacoccoli. As dificuldades se repetem na fixação dos cabos de âncora, que garantem estabilidade à plataforma, na camada conhecida como pós-sal. Como os sedimentos são pouco firmes, aumentam os riscos de a estrutura se desprender. Nos 2 quilômetros seguintes, o sal, por ser viscoso e plástico, pode fluir para dentro do poço, esmagar seu revestimento e fechá-lo. Finalmente, as rochas nas quais o petróleo está armazenado são formadas de carbonato de cálcio, um material de grande resistência à penetração das brocas que tem comportamento imprevisível, além de porosidade variada. 3 Existe tecnologia para explorar o pré-sal? Em tese, mas serão necessários investimentos pesados para aprimorar os equipamentos e tornar a prospecção rentável. A Petrobras não dispõe de conhecimento pleno sobre as características do pré-sal. Prova disso é a irregularidade da produção de Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 54 de 86 Tupi. Em testes desde maio, a exploração do poço precisou ser paralisada em julho devido à corrosão em algumas das peças utilizadas. Para tirar o máximo potencial de todas as reservas, o país não poderá também contar exclusivamente com a Petrobras. "É fundamental dispor de soluções tecnológicas desenvolvidas por outras companhias, nacionais e estrangeiras", afirma João Carlos de Luca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). 4 Como será financiada a exploração? O plano de investimentos da Petrobras para o período de 2009 a 2013 prevê gastos de 29 bilhões de dólares apenas com a exploração do pré-sal. Parece muito dinheiro, mas é quase nada perto das estimativas de que será necessário investir até 1 trilhão de dólares para explorar toda a província petrolífera do pré-sal. Nem o governo nem a Petrobras têm tanto dinheiro. Diante disso, o governo revelou a intenção de aumentar o capital da empresa, que assim ampliaria a sua capacidade de obter financiamentos. O governo tenciona conceder à Petrobras reservas ainda não licitadas, no volume de até 5 bilhões de barris. Com isso, a empresa poderia obter até 100 bilhões de reais. Em troca, a União receberia ações da Petrobras. A ambição do governo é ampliar a sua participação no capital total da empresa, hoje de 32,2%. Mas seria temerário que uma única companhia concentrasse em si todos os investimentos. O ideal seria dividir a tarefa – e os riscos – com outras empresas. 5 A Petrobras sairá fortalecida? Sim, caso o plano de Lula passe no Congresso. Ainda que a Petrobras não recupere sua posição de monopolista plena no país, ela passará a ter privilégios concedidos na disputa por áreas e também será a operadora única nas novas reservas. A estatal terá uma participação mínima de 30% em todos os campos a ser licitados no présal daqui em diante. Mas nada impedirá que ela, por meio de leilões, aumente sua participação nas áreas que desejar. Além disso, a União poderá também contratar a Petrobras como operadora única e exclusiva dos poços ditos "estratégicos". 6 É preciso mudar as regras do setor? Na avaliação de especialistas, a proposta defendida pelo governo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha (veja o quadro abaixo) responde a critérios meramente políticos e ideológicos, estimulados pelo desejo de ampliar a interferência estatal no setor. "O sistema de concessão é mais adequado, porque o estado tem o poder indelegável de tributar e fiscalizar", diz David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP. "Estamos partindo de um sistema absolutamente transparente, que não foi objeto de nenhum tipo de questionamento, para um sistema que pode ser questionado permanentemente e no qual não necessariamente prevalece a racionalidade econômica. Haveria um retrocesso institucional." Na avaliação de João Carlos de Luca, do IBP, o novo sistema inibirá a atuação de companhias privadas: "Quem aceitará participar de um consórcio em que todas as decisões serão tomadas pelo governo e pela Petrobras?". 7 Para que servirá a Petro-Sal? A nova estatal que representará a União na administração das reservas do pré-sal e de outras áreas estratégicas será a fiscal e "olheira" do governo. Vai monitorar a execução dos projetos de exploração e, principalmente, os custos de produção. Ela será comandada por executivos nomeados pelo governo e nascerá sob o risco de se render a interesses políticos, sem falar nas brechas que serão abertas à corrupção. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 55 de 86 8 O país será vítima da maldição do petróleo? Esse fenômeno ocorre quando uma nação é extremamente rica em algum mineral (o petróleo, por exemplo), tornando-se exportadora de um único produto e impedindo a diversificação da economia. É o caso de países como a Venezuela ou os produtores do Oriente Médio. "Não creio que o Brasil tenha de se preocupar muito com esse risco, pois sua economia já é muito complexa e diversificada", diz o professor de economia da Universidade Princeton José Alexandre Scheinkman. De qualquer modo, o governo não quer correr risco e lançará mão de um instrumento bastante conhecido – a criação de um fundo soberano, que se chamará Novo Fundo Social. A ideia é impedir a enxurrada de dólares na economia, ao mesmo tempo que se poupa parte dessa riqueza. A fórmula consagrada internacionalmente é gastar apenas os rendimentos dessas aplicações. Afirma Scheinkman: "O exemplo clássico de país que soube usar muito bem seus recursos naturais é a Noruega, pela preocupação de guardá-los para o proveito das gerações futuras. Outros bons exemplos são a Austrália e o Canadá, que possuem gigantescas reservas naturais e têm sabido manejá-las com sabedoria". 9 A era do petróleo está perto do fim? A empresa britânica BP estima que, se o mundo continuar a produzir petróleo a um ritmo igual ao do ano passado, as reservas globais durem apenas até 2050 – na hipótese de não haver descobrimento de novas reservas significativas. O pesquisador americano Daniel Yergin, da Cambridge Energy Research Associates (Cera), é mais otimista. Em artigo publicado há pouco no Wall Street Journal, afirmou que levantamentos recentes comprovam a existência de vastos recursos petrolíferos no mundo. O ponto importante aqui é o preço do barril. À medida que o preço sobe, passa a ser possível a extração de jazidas até então tidas como inviáveis. As reservas fáceis de explorar, ou seja, a um custo mais baixo, se não foram esgotadas, caminham para isso. Mas ainda resta ao planeta embrenhar-se em profundidades abissais, como no caso do pré-sal brasileiro, ou extrair petróleo, com imensa dificuldade, das areias betuminosas canadenses. Para que tais projetos sejam atraentes, no entanto, a cotação do barril precisa atingir ao menos 60 dólares. 10 O pré-sal é um bilhete premiado? Pela ordem de desafios técnicos e econômicos que a sua exploração envolve, não se pode dizer que o pré-sal seja um prêmio de resultado líquido e certo. Diz José Alexandre Scheinkman: "Talvez o país não consiga aproveitar esta oportunidade justamente por ter eventualmente escolhido um modelo errado. Temo que os recursos que fluírem do pré-sal sejam mal aproveitados". O que fazer para escapar dessa maldição? "O governo teria de investir em infraestrutura, educação fundamental e no estímulo à pesquisa científica", diz Scheinkman. Em outras palavras, sem trabalho duro e sabedoria na gestão dos recursos, o pré-sal, a despeito de todas as suas potencialidades, está longe de ser um passaporte certo para o desenvolvimento. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 56 de 86 Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 57 de 86 Giuliano Guandalini, Benedito Sverberi e Luís Guilherme Barrucho VEJA - 2129 – Ano 42 – n 36 FERROVIAS OCIOSAS, ECONOMIA FORA DOS TRILHOS 25/10/2009 Agência Nacional de Transportes diz que 62% da malha ferroviária concedida no país nos anos 1990 estão sem uso ou abandonados O descaso do Brasil com sua malha ferroviária, mesmo após a retomada dos investimentos nesta década, continua monumental. Levantamento feito pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mostra que 62% do total de ferrovias concedidas à iniciativa privada nos anos 1990 estão ociosos ou abandonados. Por isso, o governo federal está desenhando mecanismos para recolocar esse tipo de transporte nos trilhos, começando pela rede de 570 quilômetros subutilizada do Norte Fluminense. Dos 28.831 quilômetros da malha ferroviária existente no país, apenas 10.930 são explorados, de acordo com a ANTT. Se for considerada apenas a malha em bitola estreita (distância entre os trilhos de um metro, mais antiga e predominante no país), essa ociosidade é de 77%. Já a malha em bitola larga (distância de 1,6 metro, mais moderna) é totalmente utilizada. A maior parte das ferrovias subutilizadas está no Sul e no Sudeste, mas também há no Nordeste e no Centro-Oeste. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 58 de 86 — Acho isso o fim do mundo. Não podemos conviver com esse tipo de coisa. Ou eu não tenho a malha ou a malha é explorada — afirmou o diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo. As ferrovias abandonadas podem comprometer todo um setor econômico. É o caso das fabricantes de tijolos de Campos. Mesmo com um produto mais competitivo que o de outras regiões, eles chegam mais caro à capital por causa do frete. Com a cobrança dos pedágios da BR-101, o preço do frete por milheiro de tijolos subiu e colocou em risco o acesso a 60% do mercado destas empresas. A situação seria diferente, alegam os empresários, se o trecho de 240 quilômetros de ferrovia entre Campos, Macaé e a Baixada Fluminense, concedido à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), não estivesse abandonado. — Com caminhões, pagamos R$80 por milheiro, contra R$30 do tijolo que sai de Itaboraí, a conta não fecha —- afirma Amaro da Conceição, presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica para a Construção local. Governo poderá retomar trechos A agência procura alternativas para esses trechos: depois de mapear as razões da ociosidade e o potencial econômico de cada ramal, a ANTT vai conversar com os concessionários para rever metas de desempenho. Em Magé, por exemplo, parte dos trilhos não usados será transferida para a prefeitura local criar um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), para passageiros. A ANTT também conversa com o governo do estado, que busca outra via de escoamento da produção do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) e uma ligação com o futuro Porto de Açu, em São João da Barra. Figueiredo acredita que empresas como a Anglo American, a Petrobras e a LLX, de Eike Batista, têm interesse nesse tipo de transporte: — Para distâncias acima de 600 quilômetros, o transporte ferroviário é 30% mais barato que o rodoviário, e temos nesse trecho (da Grande Niterói ao Norte Fluminense) petroquímica, granito, calcário e petróleo. Se for fechado um acordo com a FCA, ela passará a explorar os trechos. Caso contrário, a ANTT pode repassar o uso do trecho para outros interessados. Tudo isso, garante Figueiredo, sem quebrar os contratos: — Se eu tenho a demanda e se ela (a concessionária) não topa ser competitiva, mas a ferrovia tem capacidade, eu posso oferecer isso a outros operadores no mercado. Neste caso, a concessionária receberá uma espécie de aluguel pelo uso de sua malha, chamado de "direito de passagem". Segundo Figueiredo, essa possibilidade, presente nos contratos de concessão, será regulamentada nos próximos meses. Ele diz que a meta é definir esse processo no primeiro semestre de 2010. No Norte Fluminense, a ANTT aponta ainda como alternativa a entrada da Valec na malha local. A estatal tem a concessão da Ferrovia Transoceânica, incluída no Plano Nacional de Viação em maio de 2008, que rasgará o Brasil ao meio, ligando o litoral Norte do Rio à malha ferroviária do Peru, passando por Goiás, Rondônia e Acre até chegar a Boqueirão da Esperança, na fronteira do Brasil, com 4.400 quilômetros. — Podemos começá-la em qualquer trecho e, se tiver a garantia de carga, a Valec faz a ferrovia — diz. A opção será usar a malha em bitola estreita existente e incluir a bitola larga, alargando a via existente. Segundo ele, seria um investimento de R$1 bilhão. Já nos trechos que não têm mercado, onde o traçado é muito antigo, a ANTT sugere que eles sejam excluídos do contrato, para depois rever sua vocação. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 59 de 86 ESPERANÇA NAS LOCOMOTIVAS Norte Fluminense, que sofre com logística, quer crescer com retomada dos trens Apontado pelo governo federal como local em que os trilhos estão mais abandonados, o Norte do Estado do Rio tem nostalgia da época em que os trens cortavam a região e espera que um futuro melhor chegue pela recuperação das ferrovias. Além de impedir uma diversificação da economia local, fortemente dependente dos royalties do petróleo, a falta de acessos eficientes prejudica os principais produtos locais — o açúcar e os tijolos, ambos de baixo valor agregado —, que vivem uma fase muito menos pujante que no passado. — Com caminhão, o nosso açúcar fica restrito ao Rio, mas se tivéssemos como levá-lo por trem para Belo Horizonte ou Salvador, com um custo de transporte de 7%, ele seria competitivo. Com os atuais 15% de custo do transporte rodoviário, não é — afirmou Geraldo Coutinho, presidente regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e proprietário da Usina Paraíso. Ele lembra que hoje apenas cinco usinas sobrevivem na região — há duas décadas eram 20. Apesar disso, ele acredita em um futuro promissor, com o aumento do uso do etanol e com uma eventual recuperação das ferrovias, que poderá ser puxada pelo novo Porto de Açu. Este terminal, da LLX, está sendo construído em São João da Barra, vizinha a Campos. A empresa afirma que estão sendo realizados estudos com a FCA para retomar dois ramais férreos, mas que os acordos ainda não estão fechados. O porto deve começar a operar em 2010, mas em capacidade total, só em 2012. A própria LLX sofreu com a falta de ferrovia. A pedra utilizada na construção do porto é retirada do município de São Fidélis. Embora exista um ramal de ferrovia que praticamente liga a pedreira ao porto, a empresa precisou construir um viaduto sobre a BR-101 para que seus caminhões lotados de pedras não atravancassem ainda mais a rodovia. No passado, Campos era ligada por trem a Rio, Vitória e Belo Horizonte. Com o tempo, essa malha foi sendo desfeita, e hoje resta um serviço muito esporádico para Vitória, conta Coutinho. A empresa responsável pelos trajetos, a FCA — subsidiária da Vale —, reconhece que as ligações estão paradas, mas promete retomar a linha até Itaboraí em 2010. Outro setor que poderia se beneficiar com as ferrovias é o de pedras, sobretudo mármore e granito. Celso Araújo, vice-presidente do Sindicato das Indústrias do setor, acredita que as ferrovias que espera surgirem com o Porto de Açu poderão auxiliar na exportação do setor: — No passado, na década de 1960, chegamos a comprar três vagões para carregar blocos de mármore, mas a experiência foi ruim, os vagões não estavam devidamente preparados. Hoje a situação é outra, sabemos que as empresas do Espírito Santo já utilizam trens, reduzindo custos. Além disso, diz Coutinho, poderia ganhar competitividade em outros setores e ter uma malha viária melhor utilizada: — Diariamente há 200 ônibus que saem de Campos para Macaé levando trabalhadores, que poderiam ir de trem. (Henrique Gomes Batista) DESCASO E REGRAS DA PRIVATIZAÇÃO CAUSARAM ABANDONO DAS FERROVIAS Agronegócio perde R$3 bilhões por ano com falhas na logística brasileira Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 60 de 86 A reestruturação da malha ferroviária brasileira subutilizada é uma reivindicação antiga do setor agrícola e industrial e não é questionada pelas concessionárias. A constatação é que se trata de um problema histórico, agravado, dizem os especialistas, pelo modelo de concessões da malha da antiga Rede Ferroviária Federal, que não incentivou investimentos privados em toda a área concedida. O consultor de Logística e Transportes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Antonio Fayet, lembra que, por falta de transporte adequado, "algumas milhões de toneladas deixam de ser produzidas". Um estudo da entidade calcula perda de R$3 bilhões ao ano com problemas de logística no Brasil. Empresas dizem que não podem ser vistas como vilãs Para o diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, as medidas em curso são positivas e vão ao encontro das reivindicações das operadoras. Ele lembra que, nos últimos anos, o setor privado injetou R$20 bilhões em investimentos no setor e outros R$10 bilhões em impostos. — Não podemos ser considerados vilões, pois esses trechos já estavam ociosos quando foram feitas as concessões. Durante os últimos anos, modernizamos e melhoramos a malha como um todo — disse. Renato Voltaire, diretor da Associação Nacional dos Usuários de Cargas (Anut), afirma que é preciso relativizar o sucesso divulgado pelas operadoras: das 430 milhões de toneladas transportadas por ano em trem, 330 milhões de toneladas são de minério de ferro, carvão e coque. — No Brasil, as ferrovias funcionam quase como um mineroduto. Se não fosse a crise internacional, que ainda não passou em termos de volume da produção, estaríamos com todas as vias entupidas — disse. Dos três grandes operadores de ferrovias do país, dois são controlados por mineradoras. A FCA pertence à Vale, e a MRS tem CSN, MBR, Usiminas, Vale e Gerdau em seu grupo de acionistas controladores. Já a ALL, que opera mais ao Sul do país, é empresa de capital aberto. Entre os controladores, há companhias de logística, fundos de pensão e investimento e a BNDESpar. Paulo Fleury, presidente do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), acredita que a forma como foi realizada a concessão da malha ferroviária brasileira, em 1996, prejudicou o desenvolvimento do setor: — Foram colocadas metas gerais para as operadoras, que as cumpriram nos trechos mais demandados, abandonado aqueles menos rentáveis. Fleury diz que, enquanto o Brasil tem três empresas, com um quarto operador devendo se somar em breve — a Transnordestina —, os Estados Unidos têm mais de 500 firmas no setor. Lá são cinco grandes operadores, e os demais administram ferrovias pequenas. — O trecho que é ruim para uma grande pode ser interessante para uma pequena ou para uma empresa de outro modal. Para levar uma carga de Porto Alegre a Salvador, temos de passar pelas três empresas. Gustavo Paul e Henrique Gomes Batista - O GLOBO Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 61 de 86 LINHAS PIONEIRAS TOMADAS POR MATAGAL 25/10/2009 NO BRASIL, UM MINERODUTO SOBRE TRILHOS' Além do custo econômico, o abandono de grande parte da linha férrea do país traz prejuízo histórico. É o caso da primeira ferrovia do Brasil, que ligava o Porto de Mauá, em Magé, a Petrópolis. A emblemática estação, construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, e inaugurada por Dom Pedro II em 1854, está dominada pelo matagal. O trem também é histórico no Norte Fluminense. Nylson Macedo, superintendente regional da RFFSA em Campos de 1977 a 1989, quer preservar esta memória: ele prepara um livro para o próximo ano. Com a vida dedicada aos trilhos, desmistifica a história de que o trem começou na capital e depois foi para o interior: — O primeiro trem de Campos é de 1872. A ligação com o Rio foi ocorrer muito depois, quando a cidade virou importante entroncamento das linhas do estado com Minas, Espírito Santo e Nordeste. Ele lembra que, até três anos atrás, o trem era responsável pela entrega de combustível na região — o que retirava 70 carretas lotadas de gasolina da BR-101. Para ele, o atual modelo é terrível: tirando minério, quase nenhum outro produto utiliza ferrovia: — No Brasil, há um mineroduto sobre trilhos. Henrique Gomes Batista – O GLOBO PERIGO NAS ESTRADAS 29/10/2009 Pesquisa da Confederação dos Transportes reprova 69% das rodovias brasileiras Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada ontem, reprovou a condição de 69% das estradas brasileiras. De acordo com o levantamento, 24% delas são ruins ou péssimas, e outras 45% estão em condições apenas regulares — o que, para a CNT, não significa uma aprovação. Assim, apenas 31% das rodovias — menos de um terço — estão em boas ou ótimas condições. E o trabalho inclui apenas rodovias pavimentadas. O estudo analisou 89.552 quilômetros de estradas, 84% delas mantidas pelo poder público. Embora o resultado esteja longe do satisfatório, foram registrados avanços em relação à pesquisa anterior, de 2007. Somados os trechos regulares, 73,9% foram reprovados há dois anos, quando 33,1% das rodovias estavam em situação ruim ou péssima. As equipes foram a campo entre junho e julho e percorreram todas as estradas federais pavimentadas, as principais estaduais e 14.215 quilômetros sob concessão à iniciativa privada (estas são 15% do total). A Pesquisa Rodoviária 2009 foi feita com 15 equipes de avaliadores percorrendo os 89.552 quilômetros, segundo a CNT. A avaliação focou três aspectos: pavimentação, sinalização e geometria (traçado das vias). Segundo a CNT, 48.599 quilômetros (54,2% Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 62 de 86 do total) estão com a pavimentação em “estado crítico”, o que inclui os trechos regulares. Problemas de sinalização foram detectados em 57.240 quilômetros (63%). Outros 41.435 quilômetros de rodovias não têm acostamento e 4.144 quilômetros estão tomados por afundamentos, ondulações ou buracos. O estudo classificou 6.354 quilômetros (7,1%) como péssimos e 15.150 quilômetros (16,9%) como ruins, considerando as três variáveis. Fazemos a pesquisa sob o ponto de vista dos usuários. Estradas regulares, ruins ou péssimas não deveriam existir — disse o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista. Precariedade gera prejuízos, diz CNT Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 63 de 86 A entidade estima que o investimento necessário para recuperar a malha rodoviária é de R$32 bilhões. Isso corresponde a seis vezes o gasto federal com estradas em 2008. O gasto do governo federal vem crescendo — em 2007, foram R$4,9 bilhões —, mas a CNT diz que o ritmo é insuficiente. Batista diz que a deterioração é permanente, e que qualquer investimento adiado resulta em despesas maiores. A precariedade das estradas, conforme a CNT, gera prejuízos. Um deles é o aumento do consumo de combustível decorrente da velocidade média mais baixa. A perda anual pode chegar a R$4,3 bilhões. O estudo assinala, no entanto, que os problemas de pavimentação não levam à redução de velocidade em 95,3% das estradas. E 23,7% das rodovias têm trechos com curvas perigosas, sendo que apenas em 13% deles as placas de sinalização estão legíveis e há defensas para evitar que os veículos saiam da pista. A pesquisa concluiu que a região Norte vive a pior situação. Mais de 90% de suas estradas estão em más condições. O Amazonas não tem rodovias boas ou ótimas: a malha rodoviária está em situação péssima (27,2%), ruim (56,7%) ou regular (16,1%). No Acre, 98,7% estão em situação insatisfatória. Roraima tem o maior índice de estradas péssimas: 43,6%. Em números absolutos, Minas, com a maior malha rodoviária do país, tem a maior extensão de pistas em piores condições: 1.036 quilômetros em péssimo estado e 2.234 em situação ruim. O Sul e o Sudeste têm as melhores estradas. São Paulo tem 54,3% de rodovias consideradas ótimas e 21,1% boas — 75,4% de avaliação positiva. Distrito Federal, Alagoas e Amapá não têm trecho considerado péssimo. Segundo o estudo, as rodovias concedidas estão em melhor estado que as públicas: 76,5% delas são boas ou ótimas; 1,9%, ruins; 21,7%, regulares; 33,9, bons e 42,6%, ótimos. Nenhum trecho foi considerado péssimo. Demétrio Weber - O GLOBO Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 64 de 86 SAÚDE ESTRATÉGIA NOVA, INIMIGO VELHO 13/09/2009 Especialistas investem em prevenção para deter o avanço do câncer no mundo O tabaco é o grande inimigo a ser vencido na luta contra o câncer. O cigarro é o maior responsável pela doença — principal causa de morte no mundo a partir do ano que vem, ultrapassando as complicações cardíacas. Para os participantes do Livestrong Global Cancer Summit, que discutiu durante três dias propostas para o combate ao câncer, a saída é reforçar as medidas restritivas a fumantes e taxar ainda mais o cigarro. Hana Ross, da Sociedade Americana do Câncer, citou uma pesquisa dos EUA mostrando que proibir o fumo em locais públicos, como bares e restaurantes, não trouxe prejuízos a comerciantes. Pelo contrário. Eles pagaram mais impostos com o maior lucro devido ao bom movimento de clientes. As vantagens para a saúde, por sua vez, são enormes. Pelo menos 25% dos fumantes morrem devido às mazelas do tabagismo e milhares adoecem na fase mais produtiva de suas vidas. Em 2015, 2,1 milhões de mortes por câncer serão atribuídas ao hábito de fumar. Por volta de 2030, 83% dessas mortes serão em países de baixa renda, como mostra a nova edição do “Atlas do Tabaco”, lançada no encontro, que reuniu 500 representantes de 65 países, em Dublin, na Irlanda. No encontro, o consenso foi de que só com maior cooperação, melhor distribuição de recursos para prevenção, diagnóstico e tratamentos, além de incentivo à adoção de hábitos saudáveis é possível derrotar o câncer, mal que cobra caro. Os custos econômicos com novos casos de câncer no mundo são estimados em US$305 bilhões só este ano, segundo dados apresentados pela Fundação Lance Armstrong e pela Sociedade Americana do Câncer. Por dia, 33 mil são diagnosticados com a doença. Estima-se que haverá 12,9 milhões de novos casos de câncer só este ano. Em 2030, serão 27 milhões, com 17 milhões de óbitos. A situação piora porque há um déficit de US$217 bilhões para cobrir os gastos com tratamentos, sendo 65% deste valor em países em desenvolvimento. Hoje as nações ricas ficam com a maior fatia. Um dos líderes na luta global contra o câncer é o ciclista Lance Armstrong. Aos 25 anos ele já era um dos melhores do mundo. Mas descobriu que sofria de câncer de testículo, tumor com alta chance de cura se detectado no início. Jovem e sem sintomas, ele não deu muita importância à doença na época. Logo o câncer se disseminou, até para seu cérebro, e o ciclista soube que tinha pouca chance de escapar. Decidido a encarar a doença, enfrentou duro tratamento. Casou-se, teve filhos e se diz um sobrevivente. Em 1997 voltou a pedalar e venceu o Tour de France sete vezes (1999-2005). — É preciso combinar os esforços porque há poucos recursos para fazer tudo que é necessário. O câncer ainda é visto como sentença de morte e os pacientes sofrem com o preconceito. A medida importante é o controle do uso de tabaco é uma das ações mais importantes, algo simples de fazer e eficaz — disse Armstrong, um dos fundadores da instituição que leva seu nome. Além de maior controle do tabagismo, ministros, ex-chefes de estado, médicos e representantes de ONGs defenderam mais investimentos em prevenção, diagnóstico e tratamento, que inclui cuidados paliativos. Por ano, 4,8 milhões de pessoas no mundo sofrem de dores terríveis porque ficam sem receber drogas de alívio, como morfina. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 65 de 86 — O câncer deveria entrar na agenda de desenvolvimento do milênio. É um tema médico, mas também político — afirma John Seffrin, executivo-chefe do escritório da Sociedade Americana do Câncer. Só no Brasil o custo com quimioterapias no SUS aumentou 450% nos últimos anos, passando de R$18 milhões para R$ 82 milhões, como resultado do envelhecimento dos brasileiros e da chegada de novas drogas e tratamentos. Para este ano, a estimativa é de 466.730 casos novos no país. Entre as propostas no encontro estão desenvolver nas escolas programas para falar da doença — crianças têm grande poder de influenciar seu familiares — e melhorar o apoio aos cuidadores dos doentes. Esse também é um caminho para acabar com o estigma em torno do câncer. — A cultura de boa saúde começa nas escolas. Se isso tivesse sido feito há mais tempo, hoje não teríamos tantos problemas relacionados ao tabagismo e à obesidade — afirmou José Córdova Villalobos, secretário de Saúde do México. Christopher Wild, diretor da Agência Internacional para Pesquisa de Câncer, reforça que é preciso por fim à crença — comum em países pobres — de que não há nada a fazer contra o câncer. A maioria dos casos é relacionada a estilo de vida e ao ambiente. Ele cita como exemplo as infecções por papiloma vírus humano (HPV) e o vírus da hepatite B, respectivamente associados a tumores de colo de útero e fígado. As restrições e proibições ao cigarro e a prevenção com vacinas têm impacto grande na redução do número vítimas. Outro fator é que a maioria dos cânceres em fase inicial tem cura. E apesar de grande parte deles apresentar relação com estilo de vida e ambiente, a ideia não é responsabilizar pacientes, acusando-os de negligenciar a própria saúde. Até porque há tumores de causa desconhecida. — Um grama de prevenção é melhor que uma tonelada de tratamento — disse Faisal A--Fayez, ex-primeiro ministro da Jordânia, citando provérbio árabe. Antônio Marinho - O GLOBO Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 66 de 86 HISTÓRIA A INTENTONA COMUNISTA DE 1935 No dia 27 de Novembro de 1935, ocorreu o maior ato de traição e covardia já perpetrado na História do Brasil. Um grupo de traidores, a soldo de Moscou, tentou implantar, no Brasil, uma sangrenta ditadura comunista. O levante armado irrompeu em Natal, Recife e Rio de Janeiro, financiado e determinado pelo Comintern. Nos primeiros dias de março de 1934 desembarcava no Rio de Janeiro, com passaporte americano, Harry Berger. Harry Berger era na realidade, o agente alemão do Comintern chamado Arthur Ernst Ewert. Ex-deputado, em seu país, era fichado como espião e havia sido processado por alta traição. Foi enviado ao Brasil, com outros agitadores, como Rodolfo Ghioldi e Jules Vales, para assessorar o planejamento da rebelião comunista. Pouco depois, desembarcava Luíz Carlos Prestes com passaporte falso. O traidor vinha com a missão que lhe impusera o Comintern: chefiar o movimento armado que se preparava no Brasil. Começaria então o planejamento para a insurreição armada. Enquanto, nas sombras das conspirações e das combinações clandestinas, os subversivos concertavam os planos para a ação violenta, tarefa a cargo dos elementos militares, a ANL (Ação Nacional Libertadora) e seus propagandistas procuravam ampliar o seu número de adeptos. Prestes fez apelos a antigos companheiros. Seus apelos foram, entretanto, recusados em sua maior parte. Mas o Comintern exigia pressa e ação. Harry Berger orientava e dinamizava os planos. Em um de seus relatos ao Comintern ele escrevia: “A etapa atual da revolução, no Brasil: está em franco desenvolvimento uma revolução nacional antiimperialista. A finalidade da primeira etapa é a criação de uma vasta frente popular–operários, camponeses, pequenos burgueses e burgueses que são contra o imperialismo – depois, a ação propriamente dita, para a instituição de um governo popular nacional revolucionário, com Prestes à frente e representantes daquelas classes. Mas, como condição básica, esse governo se apoiará nas partes infiltradas no Exército e depois, sobre os operários e camponeses articulados em formações armadas.” “ Nesta primeira fase, não serão organizados sovietes, porque isso reduziria, prematuramente, as hostes populares. Não obstante, o poder verdadeiro estará em maior escala nas aldeias, nas mãos das Ligas e Comitês de camponeses que se formarão e que também articularão formação do povo em armas para a proteção do Governo Popular e para a defesa de seus interesses. Nessa primeira etapa, a ação será, antes de tudo, desencadeada contra o imperialismo, os grandes latifundiários e contra os capitalistas que, traindo a Nação, agem de comum acordo com o imperialismo.” “ Nós só passaremos a modificar os objetivos da primeira etapa, só erigiremos a ditadura democrática dos operários e camponeses sob a forma de sovietes, quando a revolução no Brasil tiver atingido uma grande concentração. Os pontos de apoio do Governo Popular Nacional Revolucionário serão os sovietes, mais as organizações de massa e o Exército Revolucionário do Povo. A transformação do Governo Popular Nacional Revolucionário, com Prestes à frente, tornar-se-á oportuna e real com o desenvolvimento favorável da Revolução do Governo Popular.” Pelos planos de Harry Berger, o movimento teria duas fases: na primeira seria organizado um governo popular de coalizão. Na Segunda, viriam os sovietes, o Exército do Povo e a total hegemonia dos comunistas. A idéia de um levante armado preocupava Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 67 de 86 os elementos mais ponderados do PCB. O Comintern considerava, entretanto, a ação violenta como uma promissora experiência para a implantação do regime comunista em toda a América Latina. Por essa razão, enviou a um escritório comercial soviético em Montevidéu recursos financeiros destinados a apoiar a insurreição no Brasil. Nas Forças Armadas a infiltração era grande. Células comunistas, envolvendo oficiais e sargentos, funcionavam no Exército e na Marinha. Elementos do Partido Comunista preparavam greves e agitações nos meios operários e camponeses. Manifestos e instruções subversivos circulavam nos quartéis e em organizações sindicais. Enquanto Harry Berger depurava, cuidadosamente, os planos, Prestes atuava com invulgar monstruosidade. Em nome da causa vermelha, pessoas consideradas suspeitas foram expulsas do Partido e, até mesmo eliminadas, como ocorreu com a menina Elza Fernandes, assassinada por ordem de Prestes. Tudo estava previsto para o irrompimento simultâneo do levante armado em todo o país. Mas, o movimento foi precipitado no Nordeste. A insurreição comunista teve início em Natal, Rio Grande do Norte. Ao anoitecer do dia 23 de novembro, dois sargentos, dois cabos e dois soldados sublevaram o 21º Batalhão de Caçadores. Aproveitaram-se do licenciamento do sábado e invadiram a sala do oficial de dia, prenderam o oficial e dominaram o aquartelamento. A seguir, entraram na Unidade, bandos de civis. Apoderaram-se do armamento e das munições do Exército e distribuíram-se em grupos para diversos pontos da cidade. Esses bandos de agitadores engrossavam-se no caminho com inúmeros adesistas aventureiros, a maioria dos quais nem sabia exatamente do que se tratava. Investiram, em seguida, contra a Unidade da Polícia Militar onde o Coronel José Otaviano Pinto Soares, Comandante do 21º Batalhão de Caçadores, com o apoio do Comandante do Batalhão de Polícia, Major Luiz Júlio, conseguiu montar uma defesa que resistiu durante 19 horas, até render-se por falta de munição. Cenas jamais vistas de vandalismo e crueldade tiveram lugar. Casas comerciais e residências particulares foram saqueadas e depredadas. Navios no porto foram ocupados. Grande número de instalações foi danificado com selvageria. Enquanto essa arruaça dominava o ambiente da cidade, instalava-se em palácio, o “Comitê Popular Revolucionário” constituído pelas seguintes personalidades: funcionário estadual Lauro Cortez Lago, Ministro do Interior; Sargento músico Quintino Clemente de Barros, Ministro da Defesa; sapateiro José Praxedes de Andrade, Ministro do Abastecimento; funcionário postal José Macedo, Ministro das Finanças; estudante João Batista Galvão, Ministro da Viação; cabo Estevão, Comandante do 21º Batalhão de Caçadores e Sargento Eliziel Diniz Henriques, Comandante Geral da Guarnição Federal. Os primeiros atos do Comitê foram: arrombamento de bancos e repartições públicas. Um clima de terror foi estabelecido em toda a cidade. Violações, estupros, pilhagens e roubos generalizaram-se. Dois cidadãos foram covardemente assassinados sob a acusação de que estavam ridicularizando o movimento. A população começou a fugir de Natal. Colunas rebeldes ocuparam as localidades de Ceará- Mirim, Baixa Verde, São José do Mipibú, Santa Cruz e Canguaratema. A primeira reação partiu de Dinarte Mariz, um chefe político do interior, que conseguiu surpreender e derrotar um grupo comunista, com uma pequena força de sertanejos. Quando as tropas legalistas, vindas de Recife, marcharam sobre Natal, o Comitê Popular Revolucionário dissolveu-se rapidamente, sem a menor resistência. Todos os “Ministros” e “Comandantes Militares” fugiram levando o que podiam. Foi esta, em síntese, a história vergonhosa do mais duradouro governo comunista no Brasil, até os dias atuais. Foi a mais lamentável demonstração do que pode representar a ascensão ao poder de um grupo de comunistas inescrupulosos e dispostos Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 68 de 86 às ações mais bárbaras, seguidos por uma coorte de oportunistas e ignorantes. Os acontecimentos de Natal precipitaram a eclosão do movimento subversivo em Recife. Aí se travou o mais cruento conflito de todo o levante. Na manhã do dia 25 de novembro, um sargento, chefiando um grupo de civis, atacou a cadeia pública de Olinda. Logo depois, o Sargento Gregório Bezerra tentava apoderar-se do Quartel-General da 7ª Região Militar, assassinando covardemente o Tenente José Sampaio, e ferindo o Tenente Agnaldo Oliveira de Almeida, antes de ser subjugado e preso. Na Vila Militar de Socorro, o Capitão Otacílio Alves de Lima, o Tenente Lamartine Coutinho Correia de Oliveira e o Tenente Roberto Alberto Bomilcar Besouchet, notórios comunistas, sublevaram o 29º Batalhão de Caçadores e marcharam sobre a capital pernambucana. O Tenente-Coronel Afonso de Albuquerque Lima, subcomandante da Brigada Policial, conseguiu, entretanto, reunir um contingente que procurou deter os revoltosos. O Capitão Malvino Reis Neto, Secretário de Segurança Pública, armou a Guarda Civil e várias organizações policiais, deslocando-as em reforço das tropas legalistas. Essa reação permitiu que as Unidades de Maceió e João Pessoa pudessem ser deslocadas para o teatro da luta e estabelecer um cerco aos revoltosos. Na manhã do dia 25, as forças legalistas já dispunham do apoio de artilharia e atacam fortemente os comunistas. Havia mais de uma centena de mortos nas fileiras rebeldes. No dia seguinte, Recife já estava completamente dominada pelas forças e os rebeldes derrotados. O 20º Batalhão de Caçadores já podia se deslocar para Natal, ainda em poder dos comunistas. Notícias confusas e alarmantes chegavam ao Rio de Janeiro dos acontecimentos de Natal e Recife. Esperava-se uma ação comunista a qualquer momento, sem que se pudesse precisar onde surgiria. Prestes declarou, em nota enviada a Trifino Correia em Minas Gerais, que não poderia aguardar mais tempo e que a rebelião precisava irromper dentro de dois ou três dias. Efetivamente, sua ordem para o desencadeamento das ações marcava a hora H para as duas da madrugada de 27 de novembro. As autoridades não ignoravam que elementos comunistas infiltrados em vários quartéis estavam na iminência de uma insurreição. Mesmo assim houve muitas surpresas. Muitos dos comprometidos não figuravam nas relações de suspeitos. Na Escola de Aviação, em Marechal Hermes, os Capitães Agliberto Vieira de Azevedo e Sócrates Gonçalves da Silva, juntamente com os Tenentes Ivan Ramos Ribeiro e Benedito de Carvalho assaltaram o quartel de madrugada, e dominaram a Unidade. Vários oficiais foram assassinados ainda dormindo. O Capitão Agliberto matou friamente o seu amigo Capitão Benedito Lopes Bragança, que se achava desarmado e indefeso. Em seguida, os rebeldes passaram a atacar o 1º Regimento de Aviação, sob o comando do Coronel Eduardo Gomes, que, apesar de ferido ligeiramente, iniciou a reação. Forças da Vila Militar acorreram em apoio ao Regimento e, após algumas horas de violenta fuzilaria e bombardeio de artilharia, conseguiram derrotar os rebeldes. No 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, acontecimentos mais graves ocorreram. Os rebeldes, chefiados pelos Capitães Agildo Barata, Álvaro Francisco de Souza e José Leite Brasil conseguiram, na mesma madrugada, após violenta e mortífera refrega, no interior do quartel dominar quase totalmente a Unidade. Ao amanhecer, restava apenas um núcleo de resistência legalista, sitiado no Pavilhão do Comando, onde se encontrava o Coronel Afonso Ferreira, comandante do Regimento. A reação dos legalistas do próprio 3º RI teve grande valia no decorrer da ação, porque impediu que a Unidade rebelada deixasse o quartel para cumprir as missões determinadas por Prestes no plano da insurreição e que incluíam o assalto ao palácio presidencial no Catete. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 69 de 86 Nas últimas horas da madrugada, acionados diretamente pelo Comandante da 1ª Região Militar, General Eurico Gaspar Dutra, o Batalhão de Guardas e o 1º Grupo de Obuses tomaram posição nas proximidades do aquartelamento rebelado e iniciaram o bombardeio. Durante toda a manhã do dia 27 desenvolveu-se um duro combate. O edifício do quartel foi transformado em uma verdadeira fortaleza, defendida pelas metralhadoras dos amotinados que também ocuparam as elevações vizinhas. As explosões das granadas da artilharia reduziram a escombros as velhas paredes que o incêndio do madeiramento carbonizava. A infantaria legalista avançou muito lentamente, em razão da falta de proteção na praça fronteira ao quartel. Os amotinados tentaram parlamentar com o comando legal, mas foram repelidos em suas propostas. Finalmente, às 13 horas e 30 minutos, bandeiras brancas improvisadas foram agitadas nas janelas do edifício, parcialmente destruído era a rendição. A intentona comunista de 1935 no Brasil é apenas um episódio no imenso repertório de crimes que o comunismo vem cometendo no mundo inteiro para submeter os povos ao regime opressor denominado “ditadura do proletariado”. Desde o massacre da família real russa, das execuções na época de Stalin, das invasões da Hungria, da Checoslováquia e do Afeganistão. No seu desmedido plano de domínio universal, foi sempre apoiado na escravização, na tortura e no assassinato de milhões de entes humanos, cuja dor e cujo sangue parecem ser a marca indispensável das conquistas comunistas. Ostentando dísticos enganadores, agitando falsas promessas, os comunistas de 1935, como de hoje, são os mesmos arautos da sujeição e da opressão. Queremos deixar aqui registrados, os autores intelectuais, bem como os que participaram diretamente deste ato covarde e antipatriótico a soldo de uma Nação estrangeira. Como réus, incursos nas penas do art.1º, combinado com o art.49 da Lei nº 38,de 04 de abril de 1935. “ Ex-capitão Luiz Carlos Prestes--- Arthur Ernest Ewert ou Harry Berger( agente estrangeiro ) Rodolfo Ghioldi ( agente estrangeiro )--- Leon Jules Vallée (agente estrangeiro )--- Antonio Maciel Bonfim ou Adalberto de Andrade Fernandes--- Honorio de Freitas Guimarães--- Lauro Reginaldo da Rocha ou Lauro Reginaldo Teixeira--- Adelino Deycola dos Santos--- ex-major Carlos da Costa Leite---Dr Ilvo Furtado Soares de Meireles--- Dr Pedro Ernesto Baptista--- ex-capitão Agildo da Gama Barata Ribeiro--- excapitão Alvaro Francisco de Souza--- ex-capitão José Leite Brasil--- ex-capitão Sócrates Gonçalves da Silva--- ex- capitão AglibertoVieira de Azevedo--- ex-primeiro tenente David de Medeiros Filho--- ex-primeiro tenente Durval Miguel de Barros--- ex-primeiro tenente Celso Tovar Bicudo de Castro--- ex-primeiro tenente Benedicto de Carvalho---ex-segundo tenente Francisco Antonio Leivas Otero--- ex-segundo tenente Mario de Souza--- exsegundo tenente Antonio Bento Monteiro Tourinho--- ex-segundo tenente José Gutman--ex-segundo tenente Raul Pedroso--- ex- segundo tenente Ivan Ramos Ribeiro--- ex segundo tenente Humberto Baena de Moraes Rego--- ex-terceiro sargentoVictor Ayres da Cruz.” "...Resolve ainda, o Tribunal, por unanimidade de votos absolver, como absolve os accusados Hercolino Cascardo, Roberto Faller Sisson, Carlos Amorety Osório, Francisco Mangabeira , Benjamin Soares Cabello e Manoel Venâncio Campos da Paz, da accusação de haverem commetido o crime do art.1º da lei nº 38, de 4 de abril de 1935, por não estar provado que os mesmos tivessem tentado mudar, por meios violentos, a forma de governo, ou a Constituição da Republica. Sala das Sessões, em 7 de maio de 1937- Barros Barreto, presidente Raul Machado, relator - Costa Netto - Lemos Bastos - Pereira Braga - Himalaya Vergolino, presente. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 70 de 86 Para vergonha e repúdio da Nação, o nome de Luiz Carlos Prestes, covarde assassino e vendilhão de sua pátria é dado a logradouros públicos, por indicação de autoridades executivas ou de políticos levianos e oportunistas, sem o menor sentimento de patriotismo. Certamente, desconhecem a verdadeira história ou esposam ainda filosofias sanguinárias e ditatoriais. Texto extraído do site Ternuma (terrorismo nunca mais) em 25 de Novembro de 2009. PERU PROCESSA O CHILE EM DISPUTA MARÍTIMA 17/01/2008 O governo do presidente peruano Alan García entrou com ação judicial contra o Chile, nesta quarta-feira, no Tribunal Internacional de Haia, na Holanda, para que seja definido o limite marítimo entre os dois países. García disse que seu país desconhece os acordos que estabeleceriam este espaço, como argumentaram diferentes governos chilenos, inclusive o atual, da presidente Michelle Bachelet. No Chile, entende-se que estes limites foram Para García, diálogo com o Chile definidos na década de 50. "Há três séculos teriam resolvido esta questão com bombas e canhões", afirmou o líder peruano. "E agora qualquer tentativa assim está completamente afastada. Essa é hoje uma questão simplesmente jurídica." Segundo García, o apelo ao Tribunal Internacional de Haia é "o mínimo" que seu governo pode fazer para que este mapa seja "esclarecido". Para García, o diálogo sobre esta diferença com Chile esgotou-se, já que desde 1986 o Estado peruano vem pedindo essa demarcação marítima, mas não teve resposta. A iniciativa peruana de apelar ao Tribunal internacional foi aprovada pelo Congresso do Peru e já era esperada pelo governo chileno. No ano passado, foi publicado um mapa no Peru com uma nova cartografia para esta região, com um terreno marítimo, no Oceano Pacífico, para o país, a partir da base chamada "Ponto da Concórdia", que hoje corresponderia ao Chile. Para o Chile, esta fronteira está em terra e não no mar. García advertiu o Chile, em agosto passado, que apelaria à justiça internacional. "Peço à presidente Bachelet que entenda nossa posição", disse ele no Congresso Nacional, onde discursou nesta quartafeira. Recado Na segunda-feira, a presidente Bachelet fez uma declaração ao país e mandou um recado a García, dizendo que não existem temas pendentes com Peru. "Nossa posição jurídica é sólida (...). Nosso limite marítimo já foi estabelecido e os acordos em vigor nos dão razão. (...) E aqui o principal são os interesses do Chile", afirmou. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 71 de 86 Bachelet falou cercada pelos principais representantes políticos do país, inclusive integrantes da sua base política, "Concertación" e da opositora "Alianza". Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alejandro Foxley, classificou a medida peruana como "inaceitável". E insistiu que os limites com Peru foram "demarcados" em acordos assinados em 1952 e 1954. Mas para o governo peruano estes entendimentos estão incompletos, já que estabelecem áreas de pesca, mas não de domínio e propriedades e não seriam, na visão do Peru, acordos internacionais. Pela cartografia peruana enviada às Nações Unidas, no ano passado, o país teria direito a cerca de 35 mil quilômetros quadrados no Pacífico sobre os quais, como recordou a imprensa chilena, o Chile atualmente exerce domínio. Peru e Chile se enfrentaram na chamada "Guerra do Pacífico" (1879-84), quando o Peru perdeu parte de seu território para o Chile, que também anexou o litoral da Bolívia – país que hoje não tem acesso ao mar. Marcia Carmo - BBC Brasil ALEMANHA DERRUBA 'DOMINÓ GIGANTE' EM HOMENAGEM À QUEDA DO MURO DE BERLIM 09/11/2009 Vinte anos depois, Berlim reviveu o dia em que o Muro que dividia a capital alemã em duas caiu e transformou o mundo. Na presença de líderes mundiais do passado e do presente, e de milhares de pessoas que se concentravam nas proximidades do Portão de Brandemburgo apesar da forte chuva que caía, peças de dominó gigantescas, de 20Kg e dois metros de altura, foram derrubadas ao longo de um trecho de 1,5 quilômetro, exatamente onde Berlim era dividida em Leste e Oeste. Feito de espuma e pintado por jovens do mundo todo com mensagens de liberdade, as mil peças foram idealizadas para ser um símbolo da queda dos governos comunistas do Leste europeu e do início dos regimes democráticos que viriam a seguir. O ponto alto da festa da liberdade ocorreu junto ao Portão de Brandemburgo, ao som de Ludwig van Beethoven e Richard Wagner e sob luz de fogos de artifício. O espetáculo foi precedido por discursos de autoridades dos quatro países que administraram a Berlim do pós-guerra: o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o presidente da França, Nicolas Sarkozy e o russo Dmitri Medvedev. Barack Obama fez-se representar pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, mas gravou uma mensagem especial que foi transmitida em um telão. Também participaram do evento o ex-premier húngaro Miklos Nemeth, o líder da antiga União Soviética, Mikhail Gorbachev, e o ex-líder sindicalista polonês Lech Walesa, que teve a honra de derrubar a primeira peça do dominó. Ao todo, líderes de 30 países estiveram presente durante a cerimônia. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 72 de 86 Angela Merkel, a primeira líder alemã a crescer atrás do Muro, na Alemanha Oriental, e que trabalhava como pesquisadora na Berlim Oriental há 20 anos, disse considerar a queda do Muro "o dia mais feliz na história recente da Alemanha". Para a chanceler, o 9 de novembro de 1989 foi o dia da "vitória de uma liberdade" que deve ser defendida a cada dia. - Há vinte anos, a porta para liberdade foi aberta e uma parede aparentemente invencível que dividia um povo e um continente inteiro tornou-se permeável. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida - disse Merkel. - Celebramos a coragem e a vontade inabalável de milhares de pessoas na República Democrática Alemã (RDA), mas também celebramos as transformações de nossos amigos no Leste e no centro da Europa que prepararam a queda do muro - disse Merkel lembrando o sindicato Solidariedade (Polônia) e o movimento democrático na antiga Tchecoslováquia. Merkel disse também que a experiência da queda do muro dá à Europa energia para enfrentar os desafios do século XXI. - Sabemos também o que devemos a Mikhail Gorbachev e a sua política de abertura na União Soviética e à política serena de Helmut Kohl e Hans Dietrich Genscher - lembrou a chanceler. - Agora, somos obrigados a assumir desafios do nosso tempo: questões como liberdade e segurança, o fortalecimento do crescimento, o bem-estar e a justiça, a proteção do meio ambiente e nossos recursos naturais, e a defesa de direitos humanos. Usemos o presente de liberdade. Está em nossas mãos superar os obstáculos. Antes dela, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, exaltou a coragem demonstrada pelos cidadãos de Berlim e da Alemanha Oriental, que com sua revolução pacífica conseguiram mudar o mundo. - Eles tiveram a coragem de sonhar na escuridão - disse. - O muro se foi. Duas Berlim são uma. Duas Alemanhas são uma. Duas Europas são uma. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a queda do Muro foi uma libertação, mas também um apelo para "lutar contra a repressão, contra outros muros que ainda existem no nosso mundo e que ainda dividem cidades, regiões e nações". Seu colega russo, Dmitry Medvedev, disse que a Guerra Fria ficou para trás e que é preciso construir "um mundo novo e melhor", e lutar contra inimigos comuns como a crise econômica, a criminalidade, o terrorismo e a pobreza. Hillary Clinton, por sua vez, destacou que a queda do Muro de Berlim representou a abertura de um novo capítulo na História do mundo. Em seguida, em mensagem gravada em vídeo e exibida em telões montados no Portão de Brandeburgo, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o dia 9 de novembro deve ser sempre lembrado e que o trabalho em defesa da liberdade nunca deve acabar. - Mantenhamos acesa a chama da liberdade nas noites mais escuras da tirania. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 73 de 86 Uma cerimônia na igreja de Gethsemane, em Berlim Oriental, marcou o início das comemorações pelos 20 anos da queda do Muro de Berlim, nesta segunda-feira. A igreja foi um dos centros de protesto nos meses que antecederam a queda. Mas os principais eventos do dia ocorreram no portão de Brandemburgo - o símbolo da reunificação alemã em 1990. Os eventos também incluíram uma caminhada simbólica de líderes mundiais pela primeira fronteira da Alemanha Oriental que foi aberta em 1989. Apoiada pela União Soviética, o governo da Alemanha Oriental começou a erguer sua "barreira de proteção antifascista" nas primeiras horas de 13 de agosto de 1961 para pôr fim a uma fuga em massa de seus cidadãos para Berlim Ocidental, capitalista. Inicialmente uma cerca temporária de arame farpado, ela foi aos poucos se tornando uma barreira imponente que cercava os três setores ocidentais da cidade e era patrulhada por guardas de fronteira que tinham ordens de atirar em qualquer pessoa que tentasse fugir. De acordo com um estudo publicado este ano, ao menos 136 pessoas morreram no Muro de Berlim entre 1961 e 1989 enquanto tentavam fugir. Outras milhares de pessoas conseguiram escapar das minas, dos cães de guarda e das torres de vigilância, através de túneis e de compartimentos ocultos em carros. O Muro caiu depois que o membro do Politburo e porta-voz Günter Schabowski anunciou, durante uma entrevista coletiva, que os cidadãos da Alemanha Oriental poderiam atravessar as fronteiras imediatamente - ele não sabia que a decisão não deveria ser anunciada antes das 4h da manhã seguinte. Assistido por milhares de pessoas na televisão, ele provocou uma corrida à fronteira que os guardas orientais, despreparados, foram incapazes de conter. Para algumas pessoas, a reunificação do país em 1990 permanece um ponto dolorido. Uma pesquisa com mais de mil alemães para o diário Leipziger Volkszeitung indicou que um em cada sete gostaria que o Muro fosse reerguido - os números são quase iguais no Leste e no Oeste. O GLOBO CRISES DO IMPÉRIO Questão Christie O principal incidente diplomático ocorrido durante o Segundo Reinado foi com a Inglaterra. Este incidente ficou conhecido como Questão Christie. A denominação do episódio deriva do embaixador inglês do Brasil, William Christie, que conseguiu transformar dois pequenos incidentes numa grave questão diplomática. O primeiro incidente foi provocado pelo desaparecimento da carga do navio inglês Prince of walles, naufragado em 1861 nas costas do Rio Grande do Sul. Embora as autoridades brasileiras já tivessem tomado providências para apurar a responsabilidade do furto, mesmo assim o embaixador britânico reclamou 6.500 libras de indenização, ao mesmo tempo em que exigia a presença de um oficial inglês nas investigações feitas pelo governo brasileiro. O segundo incidente ocorreu no ano seguinte, no Rio de Janeiro. Três oficiais da marinha inglesa, à paisana e completamente bêbados, promoveram um tumulto no bairro da Tijuca e acabaram sendo detidos e levados ao distrito policial. William Christie transformou essa simples ocorrência policial em um sério conflito. Considerando que a marinha britânica havia sido gravemente ofendida, exigiu punição do governo brasileiro para os policiais que julgava responsáveis pelo incidente. Não sendo atendido, surpreendeu o Império com ameaças de usar medidas extremas, caso não fossem pagas as Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 74 de 86 6.500 libras de indenização pela carga do Prince of Walles e punidos os funcionários brasileiros envolvidos no incidente da Tijuca. Como D. Pedro II se recusou a atender as exigências, Christie apelou para a violência e ordenou ao vice-almirante Warren que bloqueasse o porto do Rio de Janeiro e aprisionasse cinco navios mercantes brasileiros. Essa descabida atitude causou grande indignação popular na capital do Império, havendo inclusive ameaças aos comerciantes ingleses estabelecidos na cidade. Christie então propôs que a questão fosse resolvida por arbitramento. O árbitro escolhido foi o rei da Bélgica, Leopoldo I, o qual era tio e conselheiro da rainha Vitória da Inglaterra. Mas, para surpresa geral, a decisão do árbitro foi favorável ao Brasil, determinando que a Inglaterra pedisse desculpas oficialmente e devolvesse imediatamente os navios aprisionados. Ocorreu que a Inglaterra não fez nada do que foi determinado. Então, o Império rompeu as relações diplomáticas com a Grã-Bretanha. As autoridades britânicas eram prepotentes, mas, acima de tudo, eram práticas. Deixar de manter relações diplomáticas com o Brasil punha em risco o comércio, com o qual a burguesia inglesa ganhava rios de dinheiro. No ano seguinte, o embaixador inglês solicitou uma audiência com o imperador, em nome do governo britânico, e apresentou um pedido de desculpas sendo reatadas as relações diplomáticas. Questão Religiosa A chamada Questão religiosa foi um episódio que não esteve diretamente relacionado ao fim do Império, mas que desgastou bastante a relação entre a Coroa e a Igreja católica. São amplamente conhecidas as relações entre a o catolicismo e a política brasileira. Desde o processo colonizador até a Proclamação da República, Igreja e Estado - primeiro o português, depois o brasileiro - sempre estiveram intimamente ligados. Após 1889, embora não existisse mais uma ligação formal, a relação entre os dois não desapareceu. A Constituição de 1824 estabelecia o catolicismo como religião oficial do Império. Portanto, ao contrário de hoje, em que temos um Estado laico, até 1889 existia uma relação formal entre a Igreja e a Coroa, que atendia aos interesses de ambos. Ao imperador, por exemplo, era facultado o direito ao padroado (prerrogativa de preencher os cargos eclesiásticos mais importantes) e ao beneplácito (aprovação das ordens e bulas papais para que fossem cumpridas, ou não, em território nacional). Os próprios sacerdotes eram tratados como funcionários públicos, recebendo salários da Coroa. A bula papal "Syllabus" (1864) e o Concílio Vaticano 1° (1869-1870) consagraram a doutrina do ultramontanismo, defendida pelo papa Pio 9º. Em linhas gerais, essa doutrina postulava a infalibilidade do papa e combatia as ideias e instituições que defendiam a secularização e o anticlericalismo. Esse era o caso, por exemplo, da Maçonaria. Contudo, no caso brasileiro, havia inúmeros clérigos maçons. O bispo do Rio de Janeiro, dom Pedro Maria de Lacerda, era um dos adeptos do ultramontanismo. Por isso mesmo, em abril de 1872, suspendeu o padre Almeida Martins que, no mês anterior, numa festa em comemoração à Lei do Ventre Livre, havia proferido um discurso em homenagem ao visconde de Rio Branco, presidente do Conselho de Ministros e - o que era o problema - grão-mestre da Maçonaria. Em março, o bispo do Pará, Antônio de Macedo Costa, já tinha atacado violentamente os maçons, ameaçando os religiosos ligados à Maçonaria de não poderem continuar participando das atividades religiosas e de perderem o direito à sepultura eclesiástica e à absolvição sacramental. Contudo, após a punição do padre Almeida Martins, clérigos maçons divulgaram um manifesto em que reafirmavam a compatibilidade entre a atividade religiosa e a Maçonaria. Em dezembro de 1872, foi o bispo de Olinda, Vital Maria, quem procurou aplicar o ultramontanismo. Após uma campanha mal-sucedida para incentivar católicos a abandonarem a Maçonaria, o bispo determinou que as irmandades expulsassem seus membros maçons. Porém, não sendo atendido, passou a ameaçar de excomunhão os que tivessem ligações com a Maçonaria. Nos dois casos, os perseguidos recorreram ao governo provincial, que encaminhou o recurso à Corte. Tanto Antônio de Macedo quanto Vital Maria foram declarados incompetentes Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 75 de 86 para punir as irmandades, papel que caberia ao imperador, dom Pedro II. Enquanto o bispo de Olinda continuou sustentando sua decisão, o bispo do Pará assumiu uma postura mais contundente. Macedo não reconheceu a autoridade do Império para censurá-lo. Para tentar dirimir os atritos com a Igreja, dom Pedro enviou ao Vaticano a chamada Missão Penedo, em agosto de 1873. Entretanto, os acontecimentos seguintes inviabilizaram a missão diplomática. No final daquele ano, o Conselho de Ministros, diante da insubordinação dos bispos, decidiu apresentar denúncia formal contra os dois. No início de 1874, Antônio de Macedo e Vital Maria foram condenados a quatro anos de prisão. A solução para o impasse só ocorreu em 1875, quando o papa Pio IX e o imperador Pedro II finalmente chegaram a um consenso. Este concedeu anistia aos bispos presos. O papa, por sua vez, suspendeu as punições contra as irmandades do Pará e de Olinda. Igreja e Estado se mantinham, assim, juntos novamente, numa relação que não resistiria mais do que alguns anos. A Campanha Abolicionista Nas regiões onde a lavoura cafeeira se expandiu e prosperou, ocorreram importantes transformações econômicas e sociais. A urbanização e a industrialização foram estimuladas, de modo a provocar o surgimento de novos grupos sociais com interesses distintos daqueles grupos ligados a produção agrícola. Progressivamente, esses novos grupos sociais começarão a se opor ao regime escravista. O movimento abolicionista surgiu em meados de 1870, a partir de ações individuais promovidas por ativistas da causa, que incentivavam as fugas e rebeliões de escravo. Em 1879, um grupo de parlamentares lançou oficialmente a campanha pela abolição da escravatura. Foi uma resposta a crescente onda de agitações e manifestações sociais pelo fim da escravidão. No Parlamento formaram-se duas tendências: uma moderada, que defendia o fim da escravidão por meio de leis imperiais. Seus principais defensores foram Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Jerônimo Sodré. A outra tendência era mais radical, porque defendia a ideia de que o fim da escravidão deveria ser conquistada pelos próprios escravos, através da insurreição e lutas de libertação. Seus principais defensores foram Raul Pompeia, André Rebouças, Luís Gama e Antonio Bento. O movimento abolicionista intensificou-se, ganhando maior respaldo e adesão popular. Uma série de iniciativas de caráter popular em defesa da abolição foram surgindo. Nas cidades eram frequentes a realização de manifestações e comícios em favor do fim da escravidão. A tática da recusa também foi muito empregada. Na imprensa, por exemplo, os tipógrafos passaram a não imprimir folhetos com textos que defendessem a escravidão. Os jangadeiros, que realizavam o transporte de escravos da decadente zona açucareira do nordeste para as regiões sul, entraram inúmeras vezes em greve. Em 1887, o Exército nacional lança um documento declarando que não mais desempenharia a função de perseguir os escravos fugitivos. Todas essas ações levam progressivamente o trabalho escravo a se desagregar. O governo monárquico procurou reagir a todas as pressões pela abolição da escravidão. Em 1885, promulgou a Lei dos Sexagenários, ou Lei Saraiva-Cotegipe, estabelecendo que depois de completar 65 anos os escravos estariam em liberdade. A lei recebeu fortes críticas e foi veementemente repudiada pelos abolicionistas, sob a argumentação de que eram poucos os escravos que chegariam a tal idade. Além disso, a lei beneficiava os proprietários de escravos porque os liberava de arcar com o sustento dos cativos que chegassem a idade avançada. O Exército após a Guerra do Paraguai - As Questões Militares “Os homens só se lembram de Deus e as nações só valorizam seus soldados, quando sentem a sobrevivência ameaçada. Passado o perigo, a maioria dos homens esquecem-se de Deus e as nações de seus soldados." Não aconteceu coisa diferente com o Exército Brasileiro, que retornou vitorioso da Guerra da Tríplice Aliança. Alquebrados pela dureza dos combates, os veteranos eram desprezados nas ruas, sofrendo com a dolorosa ingratidão. Quanto à Instituição, assolada pela falta de verbas e desequipada, amargava incompreendida injustiça. Alguém se lembrou de empregá-la na condição Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 76 de 86 de “capitão-do-mato”, para capturar e reconduzir escravos fugidos a seus donos. O firme protesto dos chefes militares, pela desfaçatez da atribuição de tão vil encargo a uma Força honrada e com extensa folha de serviços prestados à Pátria, justificou sobejamente seu nãocumprimento. Essa atitude constitui prova inconteste da identificação do Exército com o povo a que serve, jamais se deixando subordinar a interesses menores de facções e grupos de qualquer origem e natureza. Políticos oportunistas faziam uso das tribunas a eles franqueadas pela Nação para enxovalhar a honra das classes armadas e de suas instituições. Nesse ínterim, vicejavam nos quartéis, como de resto em todo o País, idéias republicanas. Na Escola Militar, imbuído da tarefa de incutir nos jovens alunos o ideário positivista, destacava-se o Tenente-Coronel Benjamim Constant, emérito professor de matemática, que não perdia oportunidade de provar as vantagens do regime republicano. O engajamento do Exército na campanha abolicionista atraiu sobre si, ainda mais, o ódio de parcela da elite agrária, locupletada pela abominável prática escravagista, prática essa que levou Castro Alves, no memorável poema “Navio Negreiro”, a pedir a Colombo para “fechar a porta de seus mares”. Nesse clima, surgiram as questões militares. Declarações, em defesa pública da honra, realizadas por um oficial, levou a proibir-se os militares de se manifestarem pela imprensa sobre assuntos políticos, contrariando costume vigente à época. A transgressão desta norma pelo Tenente-Coronel Sena Madureira e sua conseqüente punição fizeram acorrer em sua defesa o Marechal Deodoro da Fonseca, prestigioso excombatente da Guerra do Paraguai. Sua lealdade a um subordinado e a defesa intransigente da dignidade do Exército custam-lhe o cargo e a carreira, mas aumentam-lhe o prestígio. Como consequência, assumiu a liderança da oposição ao governo e não ao Imperador. As circunstâncias iriam colocá-lo à frente das tropas que, na manhã de 15 de novembro de 1889, marcharam resolutas em direção ao Campo de Santana para inaugurar nova era para o Brasil. Assim nasceu a República. A família imperial, tratada com a deferência que merecia, partiu para o exílio, com o mérito de ter legado à nação rol imenso de realizações. O Exército assumiu a responsabilidade pela articulação e pela eclosão do movimento, respaldado pelo partido Republicano, fundado em 1870, com o Marechal Deodoro da Fonseca assumindo a chefia do Governo Provisório. O Tenente Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, valeu-se da cátedra da Escola Militar para difundir o ideário positivista e republicano. Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República. Texto Adaptado pelo CP/ECEME. GOVERNOS DA PRIMEIRA REPÚBLICA O GOVERNO DE DEODORO DA FONSECA (1889-1891) Após a promulgação da Constituição, foram eleitos pelo Congresso Nacional, que sofreu forte pressão dos militares, o Presidente Deodoro da Fonseca e o Vice Floriano Peixoto. No curto período que esteve no poder, Deodoro governou com minoria parlamentar, pois o Legislativo era dominado pelas oligarquias estaduais que lhe faziam oposição. Diante do descompasso político entre o Executivo e o Legislativo, Deodoro mandou ocupar o Congresso Nacional em 03 de novembro de 1891, declarando dissolvido o poder Legislativo. O Golpe teve apoio imediato do Exército e dos governos estaduais, exceto do governador do Pará, Lauro Sodré, um jovem militar positivista. Enquanto isso, Custódio de Melo, Floriano e congressistas organizavam o contragolpe. Deodoro ameaçou resistir, ordenando a prisão de Custódio de Melo, que escapou e sublevou a Esquadra, ameaçando bombardear o Rio de Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 77 de 86 Janeiro. Diante da iminência de uma guerra civil, Deodoro renunciou e entregou o poder a quem competia constitucionalmente, ao vice Floriano Peixoto. O GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO (1891-1894) Floriano assumiu a Presidência da República apoiado numa forte ala militar florianista e nas oligarquias estaduais antideodoristas, o que lhe deu força e poder, coisa que Deodoro não possuía. Com sua ascensão ao poder, foi suspensa a dissolução do Congresso e foram depostos todos os governadores que haviam apoiado o golpe de Deodoro. Floriano julgou necessário governar pela força, pois eram grandes e muitos os problemas nacionais. Um dos primeiros que teve de enfrentar foram os protestos da oposição, que não o consideravam legítimo presidente. Segundo a Constituição de 1891, se o presidente fosse impedido de governar por alguma razão, antes de ter passado dois anos no poder, deveriam ser convocadas novas eleições. Como Floriano não convocou, teve de enfrentar as revoltas dos Fortes de Santa Cruz e de Lages e um manifesto de treze generais. Floriano mandou fuzilar o líder da revolta do Forte de Santa Cruz e exonerou os treze generais, numa demonstração de força. O Congresso, que simpatizava com o Marechal de Ferro (cognome de Floriano), legitimou seu poder em 1892. Floriano Peixoto teve ainda de enfrentar duas revoltas iniciadas em 1893: a Revolução Federalista (RS) e a Revolta da Armada (RJ). Após o advento da República, as lutas partidárias no RS transformaram-se numa violenta guerra civil. O presidente do estado, Júlio de Castilhos, enfrentava a oposição dos federalistas, que queriam a predominância do poder federal sobre o estadual e a reforma da Constituição gaúcha que, tendo caráter positivista, possibilitava a ditadura do governo do estado. Esses federalistas (maragatos) revoltaram-se em fevereiro de 1893 com o propósito imediato de libertar o RS da tirania de Castilhos (os pica-paus). Os revoltosos se uniram aos participantes da Revolta da Armada, que estava ocorrendo na mesma época no RJ, mergulhando o país na mais sangrenta revolução da República Velha. Posteriormente foram derrotados. Em setembro de 1893, o almirante Custódio de Melo sublevou a Armada exigindo a imediata reconstitucionalização do país. Depois de bombardear o Rio de Janeiro, zarpou para o sul e uniu-se aos federalistas que haviam ocupado Desterro (atual Florianópolis), instalando aí um Governo Revolucionário. A rebelião se propagou com a ocupação do Paraná e o ataque a São Paulo. Floriano começou a combater os rebeldes que se asilaram em navios portugueses, provocando uma questão diplomática com Portugal e o rompimento de relações com esse país. Com a deposição dos governos revolucionários do Paraná e Santa Catarina, e a violenta repressão aos rebeldes, a rebelião terminou e o Marechal de Ferro consolidou a República. No campo econômico, a política de Floriano caracterizou-se por uma ação favorável à classe média e à nascente burguesia brasileira. Com o objetivo de defender a indústria nacional, Floriano estabeleceu um novo protecionismo alfandegário, isentou o pagamento de taxas alfandegárias para a importação de máquinas, equipamentos e matérias-primas, e autorizou os empréstimos para as indústrias. Com tanta força e poder nas mãos, Floriano tinha prestígio para permanecer no poder após terminar seu mandato, em 1894, porém não continuou, pois a Constituição não permitia reeleição. Com a ascensão de Prudente de Morais, começou uma nova etapa da República Velha. Foi a fase da República das Oligarquias, caracterizada pelo domínio dos fazendeiros e pelo reinado absoluto do café. PRUDENTE DE MORAES (1894-1898) Primeiro presidente civil, natural de Itu - São Paulo, e o primeiro eleito pelo voto direto. Assumiu o governo em época de crise financeira e política, tendo que combater os “jacobinistas” (militares radicais que não aceitavam a perda de poder para os civis), onde o próprio presidente acabou sofrendo um atentado que acabou vitimando o Marechal Bittencourt., Ministro da Guerra. Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 78 de 86 Governo de transição teve de enfrentar a Guerra de Canudos, deflagrada por fanáticos religiosos e injustiçados do sistema, liderados por Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como beato Antônio Conselheiro, que ocupa um latifúndio improdutivo, fundando a cidade de Belo Monte e o Arraial de Canudos, no interior da Bahia. As principais características do movimento foram: o Milenarismo (doutrina religiosa, retirada da Bíblia, que anuncia o regresso de Jesus Cristo para constituir um reino com duração de mil anos), o Sebastianismo (inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação através da ressurreição de um morto ilustre) e o Messianismo (a crença no retorno de um enviado divino libertador, e, defesa da causa de um povo ou um grupo oprimido). Canudos era uma comunidade autossuficiente e anti-republicana (devido à separação da Igreja do Estado), bem organizada administrativamente. Os latifundiários tentaram vencer Canudos e foram derrotados, vindo a pedir o auxílio do Exército. O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise econômica e social pela qual passava a região à época, historicamente caracterizada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico. Milhares de sertanejos partiram para Canudos, cidadela liderada por Conselheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social. Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja, iniciaram uma forte pressão junto à república recém-instaurada, pedindo que fossem tomadas providências contra Antônio Conselheiro e seus seguidores. Criaram-se rumores de que Canudos se armava para atacar cidades vizinhas e que iria partir em direção à capital para depor o governo republicano, reinstalando a monarquia. Apesar de não haver nenhuma prova para estes rumores, o Exército foi mandado para Canudos. Três expedições militares saíram derrotadas, inclusive uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César. A derrota das tropas do Exército pelos canudenses nestas primeiras expedições apavorou a opinião pública, que acabou exigindo a destruição do arraial, dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertanejos. Estima-se que cinco mil militares tenham morrido. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, após um intenso bombardeio, em 5 de outubro de 1897e com o incêndio de todas as 5.200 casas do arraial. Prudente de Morais enfrentou uma forte oposição florianista no período, com muitos distúrbios no Rio de Janeiro. Os radicais acusaram o governo de fraqueza na repressão ao movimento de Canudos. CAMPOS SALES (1898-1902) Paulista de Campinas, responsável pela consolidação da República das oligarquias, baseou seu governo na ação política administrativa das oligarquias estaduais. As principais características dessa fase da República são: política do café com leite (alternância no poder entre são Paulo e Minas Gerais, principais centros eleitorais e financeiros); política dos governadores (os presidentes das províncias dirigem o voto do eleitorado do seu estado para o candidato oficial da política do café com leite, em troca da autonomia do seu estado - troca de favores); política dos coronéis (mesma política dos governadores, reduzidas para determinadas regiões controladas por um grande latifundiário local; conhecida como voto de cabresto, curral eleitoral, voto de bico de pena); comissão de verificação (a legitimidade da eleição era dada pelo Legislativo, comprometido com a política do café com leite). No seu governo acontece o saneamento financeiro efetuada pelo ministro da fazenda Joaquim Murtinho, que inicia uma política deflacionista reduzindo drasticamente as despesas do governo e salários (arrocho salarial). Em troca, ocorre o reconhecimento internacional, inclusive com o estabelecimento do 1º Funding Loan (empréstimo de 10 milhões de libras e concessão da moratória por treze anos). No final do seu governo, as finanças estavam saneadas, mas o povo e a classe média estavam mais pobres. RODRIGUES ALVES (1902-1906) Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 79 de 86 Paulista de Guaratinguetá, estabeleceu uma política de modernização conhecida como quadriênio progressista, utilizando dos recursos deixados pelo governo anterior e pelo aumento da exportação do café e da borracha. Iniciou uma campanha de saneamento e urbanização no Rio de Janeiro com duas frentes: O bota-abaixo, liderado pelo prefeito Pereira Passos, derrubando cortiços, biroscas e quiosques, substituindo por obras arquitetônicas inspiradas na França, e o estabelecimento da luz elétrica gerada pela companhia canadense Light and Power. A outra frente foi o combate às epidemias através da campanha de vacinação efetuada pelo médico sanitarista Osvaldo Cruz. A oposição mobilizou o povo descontente com o arrocho salarial e o deslocamento para as regiões periféricas, dizendo que a vacina, ao invés de combater doenças, traria novas, gerando a “Revolta da Vacina”, que destruiu bondes e depredou prédios. No final do seu governo, Rodrigues Alves aprovou o Convênio de Taubaté, que foi a primeira política de valorização do café. Esse convênio reuniu São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os três estados decidiram que o governo federal compraria e estocaria as sacas de café para evitar a queda de preço. Também determinaram um imposto de três francos por saca exportada. Sua administração financeira foi muito bem sucedida. O presidente dispunha de muito dinheiro, já que seu governo coincidiu com o auge do ciclo da borracha no Brasil, cabendo ao país 97% da produção mundial. Em 1903, Rodrigues Alves comprou a região do Acre da Bolívia, pelo Tratado de Petrópolis - processo conduzido pelo então diplomata José Maria da Silva Paranhos (barão do Rio Branco). Deixou a presidência com grande prestígio, sendo chamado "o grande presidente". AFONSO PENA (1906-1909) Primeiro mineiro a assumir a presidência, depois de uma aliança com o Rio Grande do Sul para evitar a entrada de um novo paulista. Apesar de muito idoso, governou com jovens, o que valeu ao seu ministério o apelido de “Jardim de Infância”. Aproveitando a expansão da borracha, efetivou uma política de integração da Amazônia, colocando cabos telegráficos na região, em empreendimento liderado pelo Marechal Rondon. Criou a caixa de conversão, trocando moedas estrangeiras por bilhetes conversíveis. Durante o seu mandato, Rui Barbosa representou o Brasil na Conferência de Haia, onde recebeu o título de “Águia de Haia”. Acontece também o marco da aviação, com o 14 Bis, de Santos Dumont. Morre antes de completar o mandato. NILO PEÇANHA (1909-1910) Apesar do pouco tempo de mandato, o positivista carioca estabeleceu a criação do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), onde o primeiro presidente foi o Marechal Cândido Rondon, mais tarde substituído no governo militar pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Criou, ainda, a primeira escola técnica do Brasil. No seu governo acontece a primeira disputa efetiva eleitoral para a presidência entre o Marechal Hermes da Fonseca, com a “política de salvação nacional”, apoiado pelo RJ, RS e MG, contra Rui Barbosa, com a “campanha civilista”, apoiado por SP e BA. Coube a vitória a Hermes da Fonseca. MARECHAL HERMES DA FONSECA (1910-1914) Gaúcho e sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, foi o primeiro presidente a receber a faixa presidencial. No início do seu governo, foi obrigado a enfrentar a Revolta da Chibata, movimento que estourou na Marinha contra os maus tratos, apresentando como causa imediata a condenação de um marinheiro Marcelino Rodrigues a receber chibatadas, onde liderados pelo cabo negro João Cândido, “o Almirante Negro”, os marinheiros ocuparam os dois principais navios “São Paulo” e Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 80 de 86 “Minas” da Esquadra e ameaçaram, com seus canhões, disparar sobre o Rio de Janeiro, exigindo o fim dos maus tratos. O governo do presidente marechal Hermes da Fonseca declarou aceitar as reivindicações dos amotinados, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Estes, então, depuseram armas e entregaram as embarcações. Entretanto, dois dias mais tarde, alguns marinheiros foram expulsos da Marinha, sob a acusação de "inconveniência à disciplina" e quatro marujos foram presos, sob a acusação de conspiração. Neste período, destacou-se a figura do republicano e senador gaúcho Pinheiro Machado, que vislumbrava a possibilidade de se tornar presidente. Até então, os partidos da República Velha eram constituídos em âmbito regional, como o Partido Republicano Paulista, o Partido Republicano Rio-grandense e outros. Pinheiro Machado, com a sua ampla visão política, adiantou-se no seu tempo ao fundar um partido político nacional, o Partido Republicano Conservador – PRC, com a intenção de substituir a velha oligarquia do café com leite. Em 1912, eclodiu a Guerra do Contestado. Em muitos aspectos, esse grande movimento de revolta social assemelhou-se à Guerra de Canudos, porque envolveu beatos e sertanejos que pegaram em armas para lutar pela posse da terra. O conflito ocorreu nas fronteiras dos Estados do Paraná e Santa Catarina. A revolta foi um movimento eminentemente popular organizado por sertanejos miseráveis, que foram expulsos das grandes propriedades agrárias pelos coronéis locais. Mobilizados e liderados primeiro pelo religioso João Maria, e depois por José Maria, os sertanejos enfrentaram diversas expedições militares enviadas pelo governo federal. A Guerra Santa do Contestado só foi debelada em 1916, pelo General Setembrino de Carvalho, no governo de Wenceslau Brás, o sucessor de Hermes da Fonseca na presidência da República. No final do seu governo, eclode a Primeira Guerra Mundial. WENCESLAU BRÁS (1914-1918) Mineiro, governou durante o período da Primeira Guerra Mundial, sendo obrigado a criar uma política industrial de substituição aos produtos importados ingleses, escassos devido ao conflito internacional. Favoreceu a entrada de produtos norte-americanos em substituição aos ingleses. No seu governo ocorreu o assassinato do senador gaúcho Pinheiro Machado e teve fim a Guerra do Contestado. Na cidade de São Paulo eclode a grande greve de 1917, reivindicando melhores salários, redução da jornada para 8 horas, proibição do trabalho para menores de 14 anos, do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos, a paz mundial etc. A causa imediata da greve foi o assassinato do sapateiro anarquista, Antônio José Martinez. O movimento sindical foi liderado por 3 correntes ideológicas: - Os anarco-sindicalistas, que acreditavam na luta econômica travada pelo processo das greves, como forma de amadurecimento espontâneo da ação revolucionária. Eram discípulos do francês George Sorel. Esta filosofia foi trazida por italianos e espanhóis. A organização era efetuada pela COB (Confederação Operária Brasileira). Eram contrários a qualquer tipo de organização autoritária e direcionadora do movimento, preferindo a auto-organização dos trabalhadores. - Os socialistas, provenientes do Partido Socialista Brasileiro, fundado em 1902, apostavam na educação operária, como fator de organização revolucionária. - Os reformistas, que pretendiam melhorar as condições da classe trabalhadora dentro do próprio sistema por meio de reformas, sendo contrários ao processo revolucionário. Chegaram ao poder juntos com Getúlio Vargas. Com a criação da OIT (Organização Internacional do Trabalho), acenando com mudanças trabalhistas para evitar a aproximação destes ao socialismo, os anarquistas contrários ao Estado entraram num dilema de apoiar ou não as reformas propostas, e acabaram superados pelos comunistas, surgidos com a criação do Partido Comunista, em Niterói (1922). RODRIGUES ALVES (1918 - NÃO ASSUMIU) Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 81 de 86 Eleito, não tomou posse, pois morreu vitimado de gripe espanhola. Seu vice, Delfim Moreira, assumiu até novas eleições. DELFIM MOREIRA (1918-1919) Vice na chapa de Rodrigues Alves durante as eleições, assumiu a presidência em virtude do falecimento daquele, até que fossem convocadas novas eleições (à época a Constituição previa que o vice-presidente só assumiria provisoriamente, caso o presidente morresse antes de decorridos dois anos de sua posse, ou seja, a metade de seu mandato). No seu governo, o Brasil se fez representar na Conferência de Paz em Paris, pelo senador Epitácio Pessoa, eleito presidente em disputa com Rui Barbosa. Logo após a volta do novo presidente do exterior, Delfim Moreira passou-lhe o cargo, voltando à vice-presidência. Seu curto mandato (que ficou conhecido como regência republicana) foi um período assinalado por vários problemas sociais, especialmente um grande número de greves gerais. EPITÁCIO PESSOA (1919-1922) Paraibano, estabeleceu pela primeira e última vez na história a ocupação das pastas militares, por civis: Guerra - o historiador Pandiá Calógeras; Marinha - o médico Raul Soares. João Pandiá Calógeras, estadista e estudioso dos assuntos militares, introduziu no Exército a Missão Militar Francesa. Atualizou a instrução profissional, aparelhando escolas, fábricas e arsenais e construindo quartéis nas guarnições de fronteira. Levou a cabo algumas obras contra a seca no Nordeste. Foram construídos duzentos e cinco açudes, duzentos e vinte poços e quinhentos quilômetros de vias férreas locais. Isso, no entanto, não bastou para satisfazer a insustentável situação de penúria da população local. Cuidou também da economia cafeeira, conseguindo manter em nível compensador os preços do principal produto de exportação brasileiro à época. Em seu Governo, durante o período eleitoral, ocorreu a Crise das Cartas Falsas, envolvendo o candidato Arthur Bernardes, o Marechal Hermes e Nilo Peçanha (o outro candidato). Em 09 de outubro de 1921, a imprensa publicava o fac-símile de uma carta assinada pelo candidato à Presidência da República Arthur Bernardes, com graves ofensas ao Marechal Hermes da Fonseca. A carta que intrigava Bernardes com os militares era falsa. No dia seguinte publicava-se outra missiva, também atribuída ao candidato mineiro, desta vez insultando Nilo Peçanha, também candidato à Presidência da República. As cartas supostamente escritas por Bernardes deflagraram uma grave crise, repercutidas por outros jornais. Arthur Bernardes apressou-se em negar a sua autoria. O Clube Militar atestou a falsificação, mas a imprensa não estava muito preocupada com isso, a esta altura engajada na disputa eleitoral. E assim as cartas falsas alimentaram o debate, até o sufrágio dos eleitores em março de 1922, a abertura das urnas e a recontagem dos votos, exigência da oposição, até a confirmação da vitória de Bernardes. Em fevereiro de 1922, acontece a Semana da Arte Moderna, que representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado, pois a arte passou então da vanguarda, para o modernismo. O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos. O ponto de partida para divulgação do movimento começou com a polêmica travada dos modernistas em defesa da pintora Anita Malfatti contra Monteiro Lobato, que atacou a estética da pintora com um texto no jornal “O Estado de São Paulo”: “paranoia ou mistificação”. Os modernistas pretendiam fugir das concepções puramente europeias e criar um movimento tipicamente nacional. O radicalismo da fase inicial do movimento chocou inúmeros setores conservadores, que se viram ridicularizados pelos novos artistas. No campo político, válido é assinalar a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922. Trouxe grande repercussão o novo partido, já que deu nova orientação e organização ao movimento operário. Os trabalhadores, influenciados pelos ideais da Revolução Russa de 1917, abandonaram progressivamente o anarquismo em favor do socialismo. As oligarquias, Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 82 de 86 naturalmente, não viam com bons olhos a organização proletária, buscando dificultar ao máximo sua atuação. A 5 de julho de 1922, uma revolta irrompeu no Forte de Copacabana, com a adesão do Forte do Vigia e dos alunos da Escola Militar. Foi o primeiro levante tenentista no Brasil. Visavam os revoltosos a derrubada do Presidente e do Ministro da Guerra, e o impedimento da posse de Artur Bernardes (pela Crise das Cartas Falsas). Estavam, ainda, descontentes com a situação política do Brasil. Não declaravam nenhuma ideologia e propunham reformas na estrutura de poder do país, entre as quais se destacam o fim do voto de cabresto, instituição do voto secreto e a reforma na educação pública. Apenas dezessete oficiais participaram da rebelião, obtendo o apoio de um civil Otávio Correia. Os dezoito amotinados, com um idealismo inacreditável, enfrentaram as tropas federais. Dezesseis morreram; os outros dois, muito embora baleados, sobreviveram. Um dos sobreviventes foi Joaquim Távora, que viria a ser figura central da política brasileira, contribuindo para o movimento de 1964, e o outro Eduardo Gomes, que posteriormente tornou-se Brigadeiro e concorreu à presidência da república pela UDN. ARTHUR BERNARDES (1922-1926) Mineiro de Viçosa, governou quase que ininterruptamente por meio de Estado de Sítio. No seu governo, deflagrou uma luta armada no Rio Grande do Sul, entre os partidários de Borges de Medeiros (borgistas ou chimangos) contra os aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil (assisistas ou maragatos), onde Borges de Medeiros tentava se reeleger presidente do estado pela quinta vez consecutiva. Com o Acordo de Pedras Altas, de dezembro de 1923, Borges pôde permanecer até o final do mandato em 1928, mas a Constituição de 1891 foi reformada. Impediuse o instituto das reeleições. O acordo foi importante para o Rio Grande do Sul. O sucessor de Borges no governo gaúcho foi Getúlio Vargas. Em 5 de julho de 1924, aconteceu o segundo movimento tenentista, dessa vez em São Paulo, liderado pelo General Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa (Major da Força Pública) e os irmãos Távora (Joaquim e Juarez). Esse movimento conseguiu tomar o Palácio de Campos Elíseos, e o governador Caetano de Campos pediu auxílio às tropas legalistas do Rio de Janeiro. Os objetivos eram similares ao movimento de 1922. Em desvantagem, os tenentistas fugiram para o interior de São Paulo, onde se encontraram com outra tropa tenentista vinda do Rio Grande do Sul, liderada por Luís Carlos Prestes, formando a Coluna Prestes / Miguel Costa, que atravessou, por cerca de 25 mil km, o território brasileiro. Os revoltosos foram obrigados a se refugiarem na Bolívia, em 1927. Artur Bernardes foi o pioneiro da siderurgia em Minas Gerais e se bateu pela ideologia nacionalista e de defesa dos recursos naturais do Brasil. Sob seu governo, o Brasil se retirou da Liga das Nações em 1926. Bernardes promoveu a única reforma da Constituição de 1891, reforma que foi promulgada em setembro de 1926 e que alterava principalmente as condições para se estabelecer o estado de sítio no Brasil. WASHINGTON LUÍS (1926-1930) “Paulista de Macaé” (nascido em Macaé, foi político de São Paulo), acabou com o estado de sítio, libertou todos os presos políticos e também muitos cidadãos presos injustamente, mas tomou outras medidas arbitrárias. Criou a Lei Celerada, em 1927, censurando a imprensa e restringindo o direito de reunião; essa nova lei era dirigida contra os tenentes e os operários filiados à organização revolucionária BOC (Bloco Operário Camponês), entidade que reunia integrantes do Partido Comunista, recolocado na ilegalidade. No final do seu governo, deveria indicar o mineiro Antônio Carlos Andradas para presidência. Acabou indicando o paulista Júlio Prestes, devido à necessidade de proteção do café, após a queda da Bolsa de Nova York em 1929. Os mineiros, revoltados com o rompimento Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 83 de 86 da política do café com leite, uniram-se ao Rio Grande do Sul e Paraíba, formando a Aliança Liberal, lançando o gaúcho Getúlio Vargas para presidente e João Pessoa para vice. A máquina da política do café com leite deu vitória para Júlio Prestes. Porém, a ala jovem da Aliança Liberal formada por Flores da Cunha, Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor não aceitaram o resultado e procuraram auxílio dos tenentistas exilados na Bolívia. Luís Carlos Prestes se recusou, pois depois de ler Marx e Engels, adotou a tese revolucionária de defesa da luta de classes e do fim da propriedade privada. Juarez Távora assumiu o projeto tenentista. O assassinato passional de João Pessoa, transformado num caso político, radicalizou ainda mais o processo, e quando parecia inevitável o choque, as tropas legalistas deram o golpe formando a Junta Pacificadora com os Generais Mena Barreto e Tasso Fragoso e o Almirante Isaías Noronha. Getúlio Vargas teve que estruturar uma campanha da legalidade, com auxílio dos tenentistas, da burguesia industrial e do povo, alegando ter sido o candidato derrotado pela fraude e, portanto, o legítimo presidente. Tem início, a partir daí, a Era Vargas. Texto Adaptado pelo CP/ECEME. A ARTE DE GOVERNAR 30/09/2009 A história classifica como estadistas aqueles que perceberam as reais necessidades do país, assumiram o risco da impopularidade no curto prazo, mas souberam vender suas ideias com sucesso" Nas democracias, o governo cumpre os desígnios dos cidadãos. O povo diz o que quer, o governante executa. Parece uma receita infalível. Mas será? Em cidade relativamente próspera de Minas Gerais, uma pesquisa de opinião mostrou que três quartos dos jovens reclamavam da falta de diversões. Apesar de os esgotos serem jogados in natura nos córregos, nem mesmo entre os adultos houve reclamações quanto à falta de tratamento de efluentes. Sabidamente, esse é o investimento que mais faz cair a mortalidade infantil. O que deve fazer o prefeito? Esgotos que salvam vidas ou espetáculos de música sertaneja que trazem votos? Um livro recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Understanding Quality of Life, mostra abundantes estatísticas sobre o que os latinoamericanos mais valorizam. Nelas fica claro o conflito entre o que as pessoas querem e o que é necessário para garantir um futuro promissor para o país. Pesquemos alguns temas do livro. As pessoas querem medicina de alta tecnologia e atendimento hospitalar. Contudo, a saúde pública preventiva é mais barata e evita as doenças. Verificou-se também que o estado de saúde das pessoas pouco se associa com as suas percepções de saúde. No Brasil, pobres e ricos estão igualmente satisfeitos com os serviços de saúde. Mas sabemos serem piores para os pobres. Nos países mais ricos da América Latina, há mais contentamento com a situação da saúde. No entanto, quando o país cresce, baixa essa satisfação. Não dá para entender. No Brasil, 65% dos entrevistados estão satisfeitos com a educação. Somente os mais educados percebem como ela é ruim. De fato, sabemos ser péssima a sua qualidade: último lugar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2001. Ainda pior, entre 1980 e 2000, em um grupo de 35 países, o Brasil foi o que mais recuou de posição. Na área econômica, as percepções também estão desalinhadas com a realidade. Mais renda se associa a mais satisfação. Até aqui, vamos bem. Mas o crescimento econômico traz desagrados. Entre outras coisas, requer mudança de políticas, reformas e Informativo Nr 113 (4º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 84 de 86 outros sustos, mais temidos do que a pobreza. Apesar de o desenvolvimento econômico acabar beneficiando os pobres, são eles que mais resistem às mudanças. Ademais, têm uma opinião mais ingênua acerca da competência do governo. Nessa área, entra em cena um mecanismo maldito. As aspirações crescem mais rápido do que a renda. Em suma, os governados indicam aos governantes algumas prioridades incompatíveis com o progresso. Pensam no curto prazo e são consumistas impenitentes. Dizem que querem sistemas de saúde mais caros (e mais ineficientes). Querem conforto nas escolas e desdenham mais aprendizado. Não querem as reformas econômicas imprescindíveis para crescer. A reação mais imediata diante dessa miopia nas preferências é perguntar se não seria a melhor receita um governo autoritário, do tipo "déspota esclarecido". Contudo, como Churchill nos advertiu, a democracia é um péssimo sistema de governo, com a agravante de que não há outro melhor. A experiência com déspotas de todos os sabores não mostra um bom registro histórico. Quando acertam aqui, acolá cometem um erro mais estrondoso. Não é por aí. Temos de insistir nos acertos capengas que nos oferece um sistema democrático e na tentativa de esclarecer a opinião pública. Os governantes se equilibram em um terreno resvaladiço. Se tentam oferecer o que trará mais progresso e desenvolvimento, sem ouvir o povo, arriscam-se a perder sua popularidade e, com ela, seu poder de implementar reformas. Podem acabar execrados e sem reformas (veja-se Jimmy Carter). Governos populistas fecham as portas para o futuro se jogam confete ao povaréu ou alimentam seus anseios imediatistas. Os exemplos latino-americanos estão nos jornais. Em contraste, governantes bem-sucedidos não perdem a ressonância com a sociedade, mas negociam também uma agenda de futuro. A história classifica como estadistas aqueles que perceberam as reais necessidades do país, assumiram o risco da impopularidade no curto prazo, mas souberam vender suas ideias com sucesso. Na teoria, a receita é simples: visão, coragem e liderança. A pílula pode ser amarga. Churchill jogou pesado quando ofereceu aos ingleses apenas "sangue, suor e lágrimas". Mas ganhou. Pena que não adianta colocar um anúncio classificado do tipo "Precisa-se de um estadista". Claudio de Moura Castro – VEJA - 2132 VOCÊ JÁ REDIGIU ESTA SEMANA? BOM ESTUDO! VOCÊ TEM ACESSADO A PÁGINA DO EB aula? LÁ EXISTEM CONCEITOS E ARTIGOS IMPORTANTES PARA A SOLUCAO DE QUESTÕES. TODOS OS ASSUNTOS E OBJETIVOS DO PLADIS SÃO ABORDADOS NO EB aula! NÃO DEIXE DE CONSULTÁ-LA!
Documentos relacionados
INFORMATIVO Nr 119 − 3°/2011
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO “ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO” CURSO DE PREPARAÇÃO À ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (CP/ECEME)
Leia maisINFORMATIVO Nr 117
Comida ou biocombustível ................................................................................................................17 ANP assume o etanol e açúcar pode ser taxado................
Leia maisINFORMATIVO Nr 111 – 2°/2009
ESCOLA PARA PROFESSORES.......................................................................................30 NA SÉRIE B DA EDUCAÇÃO.................................................................
Leia mais