INFORMATIVO Nr 111 – 2°/2009
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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO “ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO” CURSO DE PREPARAÇÃO À ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (CP/ECEME) INFORMATIVO Nr 111 – 2°/2009 – Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 2 de 54 ÍNDICE O MUNDO ATUAL..........................................................................................3 AMÉRICA LATINA.........................................................................................3 A ÚLTIMA A SAIR DA CRISE E A PRIMEIRA A SAIR DELA...............................................3 AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA.......................................................................4 OBAMA EXIGE QUE ISRAEL DETENHA ASSENTAMENTOS............................................4 A 1ª HISPÂNICA NA SUPREMA CORTE.............................................................................6 ÁSIA..............................................................................................................7 AFEGANISTÃO - O VALE DA MORTE................................................................................7 A CHINA NÃO VAI SALVAR O MUNDO.............................................................................11 ISRAEL CONTRARIA EUA E NÃO RECUA SOBRE COLÔNIAS......................................13 A BOMBA NAS MÃOS DE INSANOS.................................................................................14 ELEIÇÕES IRANIANAS......................................................................................................21 ELEIÇÕES IRANIANAS: ASSIM COMO BARACK OBAMA, MIR HOUSSEIN MOUSSAVI PREGA MUDANÇA EM ESTRATÉGIA DE CAMPANHA...................................................23 HEZBOLLAH É DERROTADO NAS URNAS NO LÍBANO.................................................24 ORGANISMOS INTERNACIONAIS...............................................................26 A CRISE MUNDIAL E O G – 20..........................................................................................26 BRASIL: ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS..............................................30 ESCOLA PARA PROFESSORES.......................................................................................30 NA SÉRIE B DA EDUCAÇÃO.............................................................................................31 RETRATOS DO ENSINO....................................................................................................33 BRASIL – CAMPO ECONÔMICO...................................................................35 ENERGIA LIMPA É OPORTUNIDADE ECONÔMICA PARA O PAÍS................................35 NINGUÉM SEGURA ESSE DÓLAR...................................................................................37 A SEGUNDA REVOLUÇÃO DO ETANOL..........................................................................38 UM MUNDO MAIS VERDE.................................................................................................40 PANCADA MENOR.............................................................................................................41 FUTURO EM XEQUE..........................................................................................................42 GEOGRAFIA – SAÚDE................................................................................ ..46 O CORAÇÃO DEVASSADO...............................................................................................46 DENGUE MATA 6 VEZES MAIS NO BRASIL DO QUE O TOLERADO PELA OMS.........47 HISTÓRIA....................................................................................................49 A GUERRA DO PACÍFICO.................................................................................................49 O TRABALHO NA AMÉRICA ESPANHOLA.......................................................................52 Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 3 de 54 VOCÊ JÁ REDIGIU ESTA SEMANA?...........................................................53 O MUNDO ATUAL AMÉRICA LATINA A ÚLTIMA A ENTRAR NA CRISE E A PRIMEIRA A SAIR 17/05/2009 Relatório mostra recuo no emprego e no PIB na AL. Mas analistas dizem que região vai liderar expansão global no futuro A crise internacional não poupou a América Latina. Indicadores reunidos pelo Grupo de Diários América (GDA), conglomerado que reúne 11 jornais de países da região, mostram que, desde o fim do ano passado, o desemprego subiu e a atividade econômica perdeu fôlego. O primeiro “Informe especial GDA: A crise na América Latina” — levantamento que será feito trimestralmente — trouxe previsões sombrias do mercado: as três maiores economias da região (Brasil, México e Argentina) vão sofrer uma recessão este ano. Mas, na visão de especialistas, a América Latina, que foi uma das últimas regiões a entrar na crise, será uma das primeiras a sair. E já há sinais de que isso pode estar próximo. A recente alta nos preços das commodities (matérias-primas) e a melhora na atividade econômica da China trouxeram alívio para a região. Em abril, a cotação internacional da soja fechou em alta de 13,7% frente à média do último trimestre de 2008. O aumento do cobre foi de 13,5%. Na China, o pacote fiscal do governo começa a surtir efeito e já há previsões de que a economia vá crescer 7,5% este ano. — Até o fim do ano passado, havia um descolamento, com os países emergentes crescendo apesar da recessão nos EUA e na Europa. Mas o agravamento da crise em setembro não poupou ninguém, porque houve uma súbita interrupção do crédito. Agora, já há indícios de um novo descolamento, muito associado à demanda da China, que levou a uma alta nas commodities, o que beneficia a América Latina — afirma Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Os exportadores são céticos em relação à melhora nos preços das commodities. Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), parte dessa alta é fruto de apostas de especuladores. Mas, no mercado, a visão é de que, mesmo diante de forte volatilidade, não há espaço para novas quedas nos preços de produtos básicos. — As cotações já chegaram a um piso, não vão cair mais. Os preços não voltarão aos níveis recordes de meados de 2008, mas, frente às mínimas que alcançaram no fim do Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 4 de 54 ano passado, deverão subir de 15% a 20%, especialmente em 2010, o que ajudará a América Latina — prevê Alfredo Coutiño, diretor para a região da Moody’s Economy.com. Com gripe suína, PIB do México deve cair 5,5% Coutiño destaca que, ao lado de China e Índia, a América Latina vai liderar o crescimento mundial na fase pós-crise. Em especial, diz o economista, Brasil, Chile e Peru, que poderão até registrar um crescimento negativo em 2009, mas cujas economias começarão a se recuperar já no segundo semestre deste ano. A América Central e o México, porém, demorarão mais tempo para sair da crise, devido ao forte vínculo dessas economias com os Estados Unidos. Enquanto o México tem como ponto fraco a dependência dos EUA (destino de 80% de suas exportações), na América do Sul quem tem sofrido mais com a crise é a Venezuela, porque sua pauta é muito concentrada num só produto: o petróleo, que responde por 90% das receitas com vendas externas. — São os dois casos extremos. O Brasil está na outra ponta, com uma pauta de exportações muito diversificada. A China, hoje nosso principal destino, não chega a comprar 25% de nossas exportações. E o complexo de soja, que lidera a lista dos produtos, tem só 5% da pauta — explica Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet, entidade que reúne empresas transnacionais no Brasil. Para Lima, a economia brasileira foi uma das menos afetadas graças também a um forte mercado doméstico. O Informe GDA mostra que, aqui, as exportações respondem por apenas 14% do PIB. No Chile, esse patamar é de 39% e na Costa Rica chega a 46%. Outro trunfo do Brasil é um sólido sistema bancário, acrescenta Lima: 79% do crédito do país vêm do setor financeiro nacional. Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, acrescenta que o Brasil tem bancos públicos de relevância. O BNDES vai desembolsar US$50 bilhões este ano, mais de quatro vezes o volume de empréstimos previstos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para toda a América Latina (US$12 bilhões). Se o Brasil é o país mais blindado, o México é o mais exposto à crise. Os indicadores GDA apontam uma previsão de queda de 4% no PIB do país este ano. Coutiño, da Moody’s é mais pessimista. Ele antes previa um recuo de 4,5% do PIB. Com a gripe suína, que afetará o turismo e as exportações agrícolas do país, sua estimativa agora é de queda de 5,5% do PIB. Coutiño lembra que 65% das receitas de turismo do México vêm de visitantes americanos. Luciana Rodrigues - O GLOBO AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA OBAMA EXIGE QUE ISRAEL DETENHA ASSENTAMENTOS 19/05/2009 Encontro com premier israelense marca uso de tom mais incisivo por parte dos EUA e defesa de um Estado palestino Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 5 de 54 O primeiro encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, só teve de consenso a idéia de que a nuclearização do Irã não é apenas uma ameaça aos dois países, mas “profundamente desestabilizadora” para a comunidade internacional. Após um encontro de 90 minutos — descrito por uma fonte como “cheio de palavras bem escolhidas” — Obama e Netanyahu discordaram de praticamente tudo com relação à questão palestina: da existência pacífica de dois Estados à retomada imediata nas negociações com a Autoridade Nacional Palestina (ANP). Usando termos mais contundentes do que o governo anterior, Obama pressionou pela criação de um Estado palestino. Ele recordou que Israel tem a obrigação de deter a construção de assentamentos judaicos, como acertado no Mapa da Paz, de 2003. O presidente acrescentou que “a situação humanitária em Gaza precisa ser tratada”. — Os assentamentos devem parar para que possamos seguir adiante — afirmou Obama. — É do interesse não apenas dos palestinos, mas dos israelenses e da comunidade internacional que se chegue a uma solução de dois Estados na qual israelenses e palestinos viverão em paz lado a lado. Mas Obama não conseguiu de Netanyahu um compromisso para a solução de dois Estados. Ainda que o premier tenha dito estar pronto a retomar “imediatamente” as negociações com os palestinos, estabeleceu condições: o reconhecimento, pelos palestinos, do Estado de Israel, e que o país determine condições de segurança mínimas para a convivência. Em entrevista, mais tarde, Netanyahu disse que os palestinos deviam se autogovernar, mas não citou um Estado próprio: — Eu não digo dois Estados para dois povos. Precisamos esclarecer o que é isso. Isso significa um Estado do Hamas? Espero que não. Conversas com Irã não serão infinitas Ouvido pela TV árabe Al-Jazeera, Nabil Abu Rudeina, assessor de Mahmoud Abbas, presidente da ANP, afirmou que o compromisso de Obama com a solução de dois Estados era “encorajador”, enquanto a visão de Netanyahu era “desapontadora”. O espírito de Obama sobre a questão palestina foi explicitado pelo próprio presidente: não há chance de avanço dos países da região em objetivos comuns, como a desnuclearização do Irã, se israelenses e palestinos não resolverem logo os seus problemas. — Para que possamos realinhar potencialmente os interesses na região de modo construtivo, o caminho da paz entre israelenses e palestinos é crítico — ressaltou Obama. Segundo o “Yediot Ahronot”, Netahyahu quebrou o protocolo e horas antes do encontro ainda estava reunido com conselheiros. Contrariando a tradição dos visitantes, preferiu realizar as reuniões na Embaixada de Israel e não na Blair House, onde ficam os hóspedes da Casa Branca, por medo de escutas clandestinas. Devido às diferenças na questão palestina, boa parte do pronunciamento dos líderes após o encontro se concentrou no Irã. Ainda que Obama tenha afirmado que não existe data limite para o início das conversas, disse que espera uma abertura diplomática do Irã até o fim do ano, mas que mantém aberta “uma série de passos”, incluindo sanções mais fortes, caso não haja resposta. — Acredito que seja do interesse do Irã não desenvolver armas nucleares, porque isso poderia iniciar uma corrida no Oriente Médio, um processo extremamente desestabilizador. O Irã pode atingir seus objetivos de prosperidade por outros meios, mas Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 6 de 54 sabemos que a história de negociações com o país é de muita conversa e nem sempre ações. Por isso é importante ter em mente que não vamos conversar para sempre — afirmou Obama. Segundo a agência Irna, o Ministério do Exterior do Irã disse que a abordagem de Obama é realista e que o país está esperando para ver o que ocorre na prática. Gilberto Scofield Jr - O GLOBO A 1ª HISPÂNICA NA SUPREMA CORTE 27/05/2009 Obama indica filha de porto-riquenhos para vaga no tribunal mais alto dos EUA O presidente dos EUA, Barack Obama, fez ontem sua primeira indicação para a Suprema Corte dos EUA: Sonia Sotomayor, 54 anos, juíza da Corte de Apelações de Nova York. Nascida no Bronx e filha de porto-riquenhos, Sonia, se confirmada no cargo pelo Senado dos EUA, se tornará o primeiro juiz de origem hispânica e a terceira mulher a ocupar um lugar na mais alta corte americana. Sotomayor vai entrar na vaga do juiz David Souter, que já anunciou sua aposentadoria. Ambos são considerados, pelo meio judicial americano, como magistrados mais progressistas. A juíza foi descrita por Obama como “uma mulher inspiradora, que será uma grande juíza”, além de “dona de rigorosa inteligência e maestria das leis”. Mas o presidente não deixou de mencionar que a história de vida de Sotomayor — uma menina humilde do Bronx que venceu na vida e se tornou uma das mais respeitadas juízas do país, história bem ao gosto do imaginário americano — embasou sua escolha, dando a entender que sua ideia de Justiça é a de uma instituição com interpretação das leis mais ampla do que o que dizem as palavras impressas no papel. — A existência da lei não tem sido lógica, tem sido baseada na experiência. É de importância vital que a Justiça conheça como o mundo funciona e como as pessoas comuns vivem — disse ele, citando o juiz Oliver Wendell Holmes. Sonia discursou visivelmente emocionada e homenageou a família ali presente: a mãe Celina Sotomayor, o padrasto Omar Loez, seu irmão, cunhada e sobrinhos: — Meu coração está explodindo de gratidão por tudo o que vocês fizeram por mim. Só estou aqui devido a várias pessoas, mas, acima de todos, eu sou quem sou por conta dela — afirmou, apontando para a mãe que trabalhou em dois empregos para criar sozinha Sonia e o irmão após a morte precoce do pai. — Eu sou tudo que sou por causa dela, e sou apenas metade da mulher que ela é. A escolha de Sonia Sotomayor coloca os republicanos numa delicada situação num momento em que o partido busca se reerguer das derrotas das últimas eleições e parece imobilizado num passado dominado por ideais de direita anacrônicos que só fazem afastar o eleitorado do próprio partido. Por trás da indicação de Sonia Sotomayor, fica difícil esconder o fato de que 47 milhões da população americana são compostos por hispânicos, dos quais 12 milhões eleitores. Quando o ex-presidente Bill Clinton indicou Sonia Sotomayor para o posto de juíza da Corte de Apelações em Nova York, em 1998, todos os votos negativos vieram dos republicanos. Desta vez, a reação deverá ser menos negativa, o que faz da aprovação de Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 7 de 54 Sonia Sotomayor algo praticamente certo. Primeiro, porque a juíza precisa ser aprovada por maioria simples, de 51 votos. E, mesmo que os republicanos impedir sua aprovação com manobras regimentais, os democratas possuem 59 dos 60 votos necessários para que o nome da juíza possa ser bloqueado, se for o caso. E mais: quem indicou pela primeira vez Sonia Sotomayor para uma corte federal foi George H.W. Bush, o que indica um consenso maior sobre seu trabalho. — Acredito que a juíza Sotomayor tem uma postura próxima de Souter, que entende o impacto das decisões da Corte no mundo real. Acredito que a juíza entende que as portas da Corte devem estar abertas para americanos comuns tanto quanto estão para governos ou grandes corporações — afirmou o senador democrata Patrick Leahy, presidente do Comissões de Justiça do Senado. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, foi mais cauteloso: — Teremos um processo vigoroso de análise de seu currículo para garantirmos que ela entende que o papel de um juiz numa democracia é o de aplicar a lei com imparcialidade, apesar de seus sentimentos ou preferências políticas. Os grupos aliados aos republicanos já trataram de selecionar despachos de Sonia Sotomayor e colocá-los no site de vídeos YouTube para mostrar o quão “partidária” é a juíza. Num dos comentários de 2008, Sonia diz: “as Cortes de Apelação são (o lugar) onde política é feita. Eu sei que não deveria estar falando isso, eu sei, não estou pregando isso porque não fazemos as leis”. — Eu não concordo, como ela sugere, que juízes sejam encarregados de fazer política — foi logo dizendo o senador republicano John Cornyn, também membro do Comissão de Justiça do Senado. Gilberto Scofield Jr - O GLOBO ÁSIA AFEGANISTÃO - O VALE DA MORTE 13/05/09 Os combates mais violentos do Afeganistão ocorrem na fronteira com o Paquistão. Para conter o avanço do Talibã nesses países, o governo americano tem uma nova estratégia No Korengal, um vale com apenas 10 quilômetros de extensão próximo à fronteira paquistanesa, ocorrem as batalhas mais violentas de uma guerra que, quase oito anos depois de seu início, ainda precisa ser vencida. O fotógrafo inglês Adam Dean acompanhou, com exclusividade para VEJA, o cotidiano das tropas americanas nessa região montanhosa do Afeganistão. A companhia militar à qual ele se juntou era atacada diariamente por combatentes talibãs e por jihadistas estrangeiros recrutados pela Al Qaeda. Três quartos de todas as bombas despejadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no país são reservados para o Korengal e arredores. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 8 de 54 ROTINA DE GUERRA Soldados americanos da base de Restrepo disparam morteiro de 120 milímetros. À noite, descansam à beira da fogueira. A relevância estratégica das áreas de fronteira com o Paquistão explica a decisão de enviar para lá a maior parte do reforço militar aprovado pelo presidente Barack Obama em fevereiro. Até o começo do segundo semestre, quando é verão no Hemisfério Norte e os combates se intensificam, estarão no Afeganistão mais 20 000 soldados americanos. As forças internacionais no Afeganistão somam 75 000 homens e mulheres de 42 países, a metade dos soldados estacionada no Iraque. Com o aumento de contingente, o governo americano quer impedir que a guerra se alastre para o Paquistão, causando um desastre geopolítico. Mais soldados no terreno também reduzem a necessidade de recorrer a bombardeios aéreos. Na segunda-feira da semana passada, por exemplo, as bombas americanas mataram uma centena de civis em um ataque contra o Talibã no oeste do Afeganistão. Dois dias depois, em um encontro em Washington com os presidentes do Paquistão, Asif Ali Zardari, e do Afeganistão, Hamid Karzai, Obama pediu mais empenho no combate às milícias talibãs. Se algo der errado e o número de baixas americanas aumentar demasiadamente, o Afeganistão poderá ser para Obama o que o Iraque foi para George W. Bush ou o Vietnã para o presidente Richard Nixon: um atoleiro. Os Estados Unidos entraram no Afeganistão um mês depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, com o objetivo de destruir a Al Qaeda de Osama Bin Laden e derrubar o governo fundamentalista que lhe dava abrigo. Não havia dúvidas de que a invasão era necessária. A Guerra do Iraque, contudo, roubou as atenções e os recursos militares a partir de 2003, quando a situação no Afeganistão parecia controlada. O Talibã não dava mais as ordens na capital, Cabul, e os terroristas da Al Qaeda já não conseguiam usar o país como base segura para organizar ataques em outras regiões do mundo. Mas, de lá para cá, o panorama piorou muito. Nos últimos dois anos, o Talibã aumentou sua presença em três quartos do território afegão. Além disso, à encrenca se somou outra: o Paquistão. As áreas tribais do país próximas à fronteira com o Afeganistão tornaram-se refúgio tanto de líderes do Talibã quanto de terroristas da Al Qaeda. Eles passaram a Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 9 de 54 utilizar a região, sobre a qual o governo paquistanês tem controle quase nulo, para organizar a retomada gradual do Afeganistão. E também ameaçam desestabilizar ainda mais o Paquistão, uma nação muçulmana e dona de um arsenal atômico. O presidente do país, Zardari, é viúvo de Benazir Bhutto, a candidata assassinada por fundamentalistas islâmicos em um atentado a bomba em 2007. No início da semana passada, o Talibã paquistanês assumiu o controle da principal cidade do Vale do Swat, localizada a apenas 130 quilômetros da capital, Islamabad. Nos dias seguintes, o exército intensificou os combates contra a milícia fundamentalista, que já domina quase todo o vale. INIMIGOS-FANTASMA À esquerda, soldado americano na base de Restrepo dispara contra insurgentes que ele não vê. No alto, patrulha procura abrigo ao ser atacada em trilha na montanha. À direita, funcionário afegão da base americana de Korengal é atendido após ser ferido com estilhaços de granada lançada pelo Talibã. No Afeganistão, os sinais de que os talibãs estão de volta são de uma evidência feroz. Os atentados suicidas em zonas urbanas, antes um fenômeno mais associado ao Iraque, tornaram-se comuns. O número de civis mortos na guerra aumentou de 1.523, em 2007, para 2.118, no ano passado. Os Estados Unidos e seus aliados perderam 294 soldados em 2008, um aumento de 27% em relação ao ano anterior. O cultivo de papoula, matéria-prima do ópio e da heroína, disseminou-se de tal forma que a estimativa é que 1 em cada 8 dólares conseguidos com sua venda vá para o bolso do Talibã. Em troca, o grupo oferece proteção aos produtores e traficantes. Com o dinheiro, os insurgentes compram armas contrabandeadas do Paquistão, para onde também fogem para descansar e tratar dos ferimentos. Eles sabem que os Estados Unidos não podem combatê-los diretamente no país vizinho, porque isso significaria transformar o aliado em inimigo. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 10 de 54 Controlar o Korengal é vital para a estratégia de frear o avanço do Talibã em direção a Cabul. Até 2006, o vale funcionava como um corredor para terroristas e armas rumo ao interior do Afeganistão. Já era assim na década de 80, quando a guerrilha afegã expulsou as tropas da União Soviética do país. Nos últimos dois anos, o Exército americano tenta interromper essa rota, lutando pelo controle de cada metro quadrado das montanhas ao redor. O objetivo é empurrar os talibãs e os jihadistas árabes, chechenos, paquistaneses e até chineses cada vez mais para o fundo do vale. O terreno íngreme favorece as táticas de guerrilha dos insurgentes. As encostas das montanhas, algumas com picos nevados de até 3 000 metros de altitude, são cheias de árvores, grandes pedras e cavernas. Escondidos nesse cenário, os homens do Talibã são chamados pelos americanos de "fantasmas". Alguns soldados passam um ano inteiro protegendo-se de tiros de fuzis AK47 e disparando de volta sem jamais ver o inimigo. Nas raras ocasiões em que isso acontece, as tropas, legalistas ao extremo, não podem fazer nada. "Já ocorreu de, depois de um combate, membros do Talibã passarem na nossa frente para ir pegar seus feridos. Mas não podíamos prendê-los porque não tinham armas", disse a VEJA um capitão da Companhia Viper 126. Os moradores do vale são agricultores e madeireiros que seguem o wahabismo, um ramo ultraconservador do Islã. Por questões ambientais, o presidente Hamid Karzai, que assumiu o governo após a queda do Talibã, ordenou o fim do comércio de madeira com o Paquistão. A proibição eliminou a principal fonte de renda da população de boa parte da província de Kunar, onde se localiza Korengal, sem criar uma opção econômica viável. Esse fato, somado aos bombardeios feitos por helicópteros americanos contra aldeias onde os terroristas usam os civis como escudo, explica por que quase todos os jovens adultos da região aderiram à guerrilha. Estima-se que eles recebam 100 dólares por mês para compor as fileiras do Talibã. Há também outra motivação: o medo. Os que não aderem são acusados de colaborar com os americanos e podem ser mortos. Nesse contexto, ganha ares quixotescos a missão dos militares de conquistar a confiança dos moradores do vale e de convencê-los a dar informações sobre o paradeiro dos insurgentes. A ideia é mostrar aos chefes das aldeias que, se ajudarem, as forças americanas vão lhes dar segurança e providenciar a construção de pontes e escolas. A política de boa vizinhança é feita em reuniões com os anciãos das aldeias, muitos dos quais suspeitos de apoiar o Talibã. Recentemente, em uma dessas visitas, a patrulha da qual fazia parte o fotógrafo Adam Dean foi alertada pela base de que havia sido interceptada uma comunicação por rádio entre os terroristas. Eles planejavam atacar os soldados logo que deixassem o vilarejo e estivessem expostos nas trilhas próximas. Foi o que aconteceu. O ataque partiu de vários pontos do vale, inclusive da própria aldeia. Os americanos responderam com tiros de fuzil e de morteiro. Possivelmente, os chefes tribais, que tão gentilmente serviram chá ao capitão do Exército americano, foram os mesmos a avisar os insurgentes sobre a visita da patrulha. São os riscos da estratégia anunciada por Obama de negociar com os apoiadores de ocasião do Talibã. Os Estados Unidos tentam ajudar o Exército do Afeganistão a, pouco a pouco, assumir a tarefa de dar segurança à população. Parte do novo contingente americano foi designada para treinar os militares do país. Outro passo de Washington é apoiar a formação de um governo forte. Está difícil. Apesar de estar à frente de uma das burocracias mais corruptas do mundo, o presidente Karzai ainda é considerado o favorito para as eleições de agosto deste ano. O terceiro caminho é de ordem diplomática e consiste em aproximar Paquistão e Índia, inimigos históricos. Sem terem de se preocupar com sua fronteira ao leste, com os indianos, quem sabe os militares paquistaneses Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 11 de 54 comecem a dar mais atenção aos perigos que se avizinham a oeste. Em meio a tanta incerteza, só uma coisa é certa: a população do Afeganistão não tolera o Talibã. Uma pesquisa de opinião mostra que apenas 4% dos habitantes querem a volta do regime fundamentalista. A luta, portanto, vale a pena. Diogo Schelp com fotos de Adam Dean – Revista VEJA - Edição 2112 “A CHINA NÃO VAI SALVAR O MUNDO” 31/05/09 Modelo de desenvolvimento Universidade de Pequim asiático morreu, afirma o professor da A ascensão da China como principal destino das exportações brasileiras, deixando para trás os Estados Unidos, é mais um reflexo da diversificação das exportações no comércio global do que sinal de que a China estaria caminhando para se transformar no grande consumidor mundial. Para que a China venha ocupar o posto de principal consumidor mundial, será preciso uma mudança dramática na política econômica chinesa. No entanto, o modelo de desenvolvimento chinês, que tem sido levado às últimas consequências neste momento de retração global, está falido, diz o professor da Universidade de Pequim Michel Pettis, um dos maiores especialistas em China. Historiador e ex-executivo dos bancos Bear Stearns e Credit Suisse First Boston, Pettis foi para a China por acreditar que a ascensão chinesa era o grande tema do século. Hoje, vê com cautela as análises de que a China vai salvar o mundo. EUFORIA NO BRASIL “As exportações do Brasil para a China não são para consumo chinês, mas para serem reexportadas. Seis ou sete anos atrás, muitos analistas começaram a falar sobre como as exportações para os Estados Unidos estavam caindo em relação ao total das exportações. E o argumento era que isso estaria indicando um descolamento, que a economia americana estava ficando menos importante para a demanda de cada país analisado. O problema dessa explicação é que as importações dos Estados Unidos e o déficit comercial americano em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) global, na verdade, têm aumentado de forma dramática. A redução da participação da demanda americana na exportação de diversos países reflete o fato de que o comércio global ficou mais especializado. Em vez de vender diretamente para os Estados Unidos, você vende para a Itália, que vai processar e vender para os Estados Unidos." INVASÃO CHINESA "Com a redução do déficit comercial americano - que representa de dois terços a três quartos do déficit mundial -, de um ano para cá, os superávits comerciais também deveriam ter encolhido. Mas o superávit chinês, que representa três quartos do superávit mundial, continua aumentando. E a China está falando em aumentar ainda mais suas exportações. Para isso acontecer, todas as outras nações exportadoras terão de deixar de exportar. Talvez isso aconteça e ninguém se importe. Mas, quando os Estados Unidos Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 12 de 54 tentaram fazer isso, nos anos 30, criou-se uma guerra comercial e o comércio internacional entrou em colapso." NO ESPAÇO AMERICANO "Para a China substituir a demanda dos Estados Unidos não é que o consumo da China tem que crescer, é o consumo líquido da China que tem de crescer. Em outras palavras, o consumo tem que crescer mais rapidamente do que a produção. Isso não é o que está acontecendo. A produção cresce, pelo menos, tão rápido quanto o consumo. Na China, a renda per capita é metade ou um terço da renda per capita brasileira. Se eu disser que, em 50 anos, os brasileiros serão tão ricos quanto os americanos hoje, você vai desconfiar. Agora, para a China alcançar isso é muito, muito mais difícil. A China possui um quinto da população mundial. Você pode imaginar a população chinesa consumindo o que a população americana consome hoje? Teríamos problemas com preço de commodities, problemas com água, problemas ambientais. Não digo que é impossível, mas o que estou dizendo é que o grau de certeza com que se fala sobre o crescimento chinês é totalmente injustificável." A CRISE NA CHINA "O pacote de estímulo econômico adotado pela China não vai funcionar. O pacote é destinado, primordialmente, para a produção. Nas crises de 1997 e 1998, a China também respondeu à crise despejando recursos na produção industrial para a exportação. É uma forma de manter a economia funcionando e gerando empregos. Mas o investimento governamental não é o jeito mais eficiente de investir numa economia e estamos vendo muito desperdício. A China está investindo na construção de navios, mesmo sabendo que tem navio sobrando no mundo. Está produzindo alumínio porque na região que produz alumínio tem alto desemprego e essa é única forma que eles conhecem de combater desemprego. A diferença é que, naquela época, os Estados Unidos estavam crescendo muito rapidamente, 3%, 4% ao ano, e absorvendo esse excesso de capacidade. Mas esses dias acabaram. O PIB americano está crescendo de forma muito lenta. E o consumo americano vai, necessariamente, crescer menos que o PIB. Isso significa que o déficit comercial americano vai encolher. Portanto, a estratégia que funcionou lá atrás, não vai funcionar dessa vez. Quem vai comprar os produtos que os chineses estão produzindo? Essa crise não vai durar 6 meses, vai ser um problema de 3, 4 anos." FIM DA HISTÓRIA? "Isso não significa que a história da China acabou. Eu sempre acreditei que a ascensão da China é o assunto mais importante do século 21. Mas o modelo de desenvolvimento asiático morreu. O modelo é baseado em incentivar a poupança, que é o mesmo que restringir o consumo e injetar dinheiro em produção. Se a produção cresce mais que o consumo, você precisa ter um superávit comercial. Se alguém vai ter um grande superávit, alguém precisa ter um grande déficit. Os Estados Unidos exerceram esse papel durante muito tempo. A Europa está em uma situação ainda pior e não quer nem é capaz de ter um déficit muito grande. O Japão está muito mal. E mais ninguém é grande o suficiente. Ou seja, o modelo gera um excesso de capacidade e hoje não há mais condição de exportar esse excesso de capacidade." Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 13 de 54 NA DIREÇÃO OPOSTA "É preciso incentivar o consumo doméstico. Mas a evidência histórica mostra que incentivar consumo é um processo muito lento e difícil. Não só é um processo difícil, mas as políticas atuais estão indo na direção oposta." RELAÇÕES COM O BRASIL "Se a China crescer menos, não acho que é razão para inimizades. Só significa que o Brasil vai crescer de forma mais lenta. De certa forma, acho que China e Brasil estão em lados opostos. A China quer commodities baratas e o Brasil, preços mais altos. Vai ser muito difícil chegar a um acordo que deixe os dois lados contentes. Hoje os preços das commodities estão subindo por causa do estímulo fiscal, pois os chineses estão comprando e produzindo. Mas é uma bolha. Em algum momento, eles terão de parar de comprar. Acho que o Brasil deveria baixar as expectativas." A CRISE NO BRASIL "O Brasil está muito bem, tem a questão da dívida, que ainda é alta, mas melhorou muito. A má notícia é que crises globais são sempre muito severas para países em desenvolvimento, tanto para os bons quanto para os maus. O grande motor do desenvolvimento da última década foi o desejo do americano de consumir como se não existisse amanhã. Esses dias acabaram. Pelo menos pelos próximos 5 ou 10 anos. Essa crise é tão dramática que os americanos poderão até começar a poupar." Michel Pettis e Mariana Barbosa – O Estado de São Paulo ISRAEL CONTRARIA EUA E NÃO RECUA SOBRE COLÔNIAS 02/06/2009 Premier israelense rejeita pedido de Obama alegando que não é razoável congelar expansão de assentamentos na Cisjordânia Em mais um sinal de distanciamento em relação ao governo americano na questão palestina, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, rejeitou ontem o pedido do presidente Barack Obama de paralisar a expansão de assentamentos na Cisjordânia, classificando a medida, segundo fontes, como “não razoável”, e alegando que “a vida na região não pode ser congelada.” A rejeição, no entanto, veio acompanhada de outros dois sinais de concessão, mas de dimensões ainda indefinidas: a demolição de colônias ilegais na Cisjordânia e a possibilidade de se flexibilizar o bloqueio à Faixa de Gaza. Segundo uma fonte que pediu anonimato, Netanyahu disse ao Comitê de Assuntos Exteriores e Defesa do Parlamento israelense que “a vida em Judeia e Samaria (regiões da Cisjordânia) não pode ser congelada. Há pedidos razoáveis e pedidos que não são”. Netanyahu teria dito ainda, segundo a fonte, que Israel “enfrenta uma pilha de ameaças que nenhum outro país enfrenta” e destacou que tem “compromisso e responsabilidade com a segurança do país”. Colonos ferem 6 palestinos e queimam plantações As declarações do primeiro-ministro foram divulgadas horas depois de as forças de segurança do país desmantelarem o pequeno assentamento judaico ilegal de Nahalat Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 14 de 54 Yosef, no norte da Cisjordânia. O enclave era um dos dez assentamentos marcados para evacuação em uma lista divulgada na semana passada pelas autoridades militares israelenses encarregadas dos territórios ocupados. Os dirigentes dos colonos alertaram, no entanto, que voltarão a erguer as estruturas destruídas. Israel considera esses assentamentos como ilegais. Eles são em sua maioria rudimentares, construídos sem a autorização do governo e após março de 2001, data na qual Ariel Sharon assumiu o cargo de primeiro-ministro. Para os palestinos e para boa parte da comunidade internacional, todas as colônias judaicas construídas em território ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967, são ilegais e representam um sério obstáculo para a paz e a criação de um futuro Estado palestino. Segundo dados da principal organização pacifista de Israel, Paz Agora, 280 mil colonos judeus residem na Cisjordânia em 121 assentamentos. A demolição gerou distúrbios na região. Seis palestinos ficaram feridos, um deles gravemente, quando um grupo de colonos os atacou para se vingar da demolição. Outros colonos queimaram vários hectares de terras palestinos, segundo moradores do distrito cisjordaniano de Nablus. Israel estuda liberar material de construção para Gaza O anúncio de que Netanyahu estuda amenizar o bloqueio sobre a Faixa de Gaza está sendo interpretado por analistas como uma possível concessão para as negociações de paz. Israel, segundo fontes ligadas ao governo, considera permitir a entrada de materiais para alguns projetos de reconstrução com financiamento externo. A proposta foi feita pelas Nações Unidas, que pretende enviar material de construção para a região. Mas qualquer alívio nos controles da fronteira com a região — governada pelo Hamas e devastada por uma ofensiva israelense no começo do ano — deve ser gradual por causa da forte oposição a qualquer abertura dentro do governo de direita de Netanyahu. A abertura para os materiais de construção seria o primeiro passo para a liberação de outros itens, principalmente os ligados à recuperação econômica e à saúde. — O premier indagou se, em vez de ter uma lista de produtos permitidos não poderíamos ter apenas uma lista de produtos não permitidos — disse a fonte. O GLOBO A BOMBA NAS MÃOS DE INSANOS 03/06/09 A posse de armas nucleares por instáveis, como a Coreia do Norte, de o gatilho atômico ser acionado por terroristas países isolados e aumenta o risco Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 15 de 54 HERANÇA ATÔMICA Muito doente, Kim Jong-Il vai deixar para seu herdeiro um legado infernal: um arsenal nuclear e o país mais isolado do mundo. Montagem com fotos de David Guttenfelder/AP e Corbis/Latinstock Terá chegado o momento de sentir saudade da segurança relativa da Guerra Fria? Naquele tempo sombrio, quando a humanidade segurava o fôlego diante da ameaça de aniquilação, pelo menos era possível acreditar que o gatilho nuclear estava em mãos inimigas responsáveis. O cenário atual é mais incerto e mais perigoso. Os dois únicos testes nucleares deste século foram realizados pela Coreia do Norte, uma ditadura tão enigmática quanto insana. O segundo deles, na segunda-feira passada, numa região montanhosa e inóspita no nordeste do país, reverberou como a confirmação de que a proliferação nuclear atingiu o patamar a partir do qual o perigo é imediato e urgente. Dois fatos principais justificam o alarme. A posse de um artefato atômico por um país isolado e pobre demonstra que o desenvolvimento desse tipo de armamento está ao alcance de qualquer nação disposta a investir os recursos necessários para fazê-lo. Se países miseráveis e com governos frágeis se armam com átomos, não está distante o momento em que o gatilho atômico cairá na mão do terrorismo. Um estudo da Universidade Stanford estimou a probabilidade de um ataque terrorista com o uso de bombas sujas (ou seja, explosivos comuns misturados a material radioativo) em 20%. Com bombas nucleares, cai para 1%. Qualquer estimativa acima de zero é um pesadelo quando se fala da combinação de terroristas e plutônio. O mais notável fenômeno da era nuclear talvez seja o fato de que desde o ataque a Hiroshima e Nagasaki, em 1945, o último ano da II Guerra Mundial, nenhum país ousou detonar uma bomba atômica em combate. Os Estados Unidos tiveram o monopólio do átomo entre 1945 e 1949, mas não o usaram contra a União Soviética, apesar das provocações de Stalin. Também poderiam ter empregado esse recurso no Vietnã, onde a tonelagem de explosivos convencionais lançados equivaleu a dúzias de bombas como a de Hiroshima. Armas nucleares não foram usadas nem em situações desesperadas. A Casa Branca rejeitou os apelos nesse sentido do general Douglas MacArthur, que se viu impotente diante do avanço das divisões chinesas na Guerra da Coreia. O conflito terminou em 1953 no impasse que ainda hoje divide a península coreana entre dois inimigos mortais. É complicado explicar um evento que não ocorreu, mas é comum ouvir que o temor da aniquilação mútua conteve os ímpetos guerreiros dos Estados Unidos e da União Soviética. Porém isso não explica o comedimento em circunstâncias nas quais não havia o temor de retaliação, caso Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 16 de 54 dos soviéticos no Afeganistão e dos americanos no Iraque. QUESTÃO DE COMANDO O contraste entre a guarda de mísseis no Paquistão (à esq.) e as instalações modernas do Comando Norte-Americano de Defesa Aeroespacial. À direita, manifestante paquistanês: o risco de armas nucleares em um país pobre e instável. Fotos Rizwan Tabussum/AFP O cientista político James Lee Ray, da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, acredita que por trás desse fenômeno reside uma espécie de "progresso moral". Esses conceitos éticos obedeceriam aos mesmos padrões daqueles que determinaram a eliminação da escravidão no século XIX – e, que, até hoje, mantêm a repulsa à sujeição de seres humanos. Mesmo sem uma proibição formal do uso de armas nucleares, as sociedades desenvolveram uma aversão moral a esse armamento. "As considerações éticas ajudaram a evitar o uso de armas nucleares desde 1945, pelo menos no que diz respeito a países detentores de um arsenal nuclear contra outros desprovidos dos mesmos artefatos", disse Lee Ray a VEJA. Com o fim da Guerra Fria, os países civilizados que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear, em 1968 (Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França), reduziram seus arsenais atômicos. Desde 1986, o número de ogivas no planeta caiu de 70 000 para 25 000, das quais cerca de 8 000 são operacionais. Outros países desistiram da bomba. Esse cenário animador, infelizmente, está agora virado de cabeça para baixo. O fim da Guerra Fria também fomentou o comércio ilegal e a proliferação de programas nucleares em países periféricos, politicamente conturbados, como o Paquistão, quando não governados por fanáticos, como o Irã. Com a bomba na mão desse tipo de país, o capítulo seguinte se torna totalmente imprevisível. "Eu não diria que o progresso moral eliminou as possibilidades de que países instáveis, como a Coreia de Kim Jong-Il, desencadeiem uma guerra nuclear. No caso desses estados, na verdade, nem sei se posso falar em progresso moral", diz Lee Ray. O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Il, é uma figurinha ridícula, que usa sapatos com salto plataforma para compensar a baixa estatura e um topete ouriçado no estilo de Elvis Presley. Mas não deve ser visto como irracional ou suicida. As negociações em torno do programa nuclear norte-coreano se repetem há anos. Em bom português, pode-se dizer que a Coreia do Norte se especializou em chantagem diplomática. Em alguns momentos, senta-se à mesa com os demais países e acena com a paralisação de seu programa nuclear. Em outros, abandona rispidamente os encontros – o último foi há dois meses –, lança mísseis e faz novas ameaças. Com essa estratégia, Kim Jong-Il conseguiu ampliar o recebimento de Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 17 de 54 ajuda humanitária internacional, da qual depende um terço da população, combustível e algum dinheiro. "O ditador norte-coreano quer mostrar firmeza e enviar mensagem que possa render-lhe novas concessões", disse a VEJA Stephen Noerper, analista do Nautilus Institute, na Califórnia. ARSENAIS MENORES Russos desmontam mísseis capazes de levar armas nucleares, em 1995: temor de que ogivas soviéticas acabassem nas mãos de terroristas. Fotos de Corbis/Sigma/Latinstock Por isso é difícil interpretar o acesso de fúria que tomou conta do governo de Pyongyang na semana passada. A escalada começou com o teste nuclear, subiu alguns tons com o disparo de meia dúzia de mísseis e se tornou estridente com o anúncio de que o país se retirava do acordo de armistício de 1953, que pôs fim à guerra. Em termos técnicos, está-se de volta ao tempo em que o general MacArthur queria vaporizar os comunistas. Desde a morte de Kim Il Sung, fundador e oficialmente presidente eterno, em 1994, não se via um comportamento tão errático da Coreia do Norte. Há explicações variadas, nenhuma delas tranquilizadora. A deterioração do país coincide agora com a decadência física de Kim Jong-Il. Ele sofreu um derrame cerebral no ano passado e, pelo que se vê nas fotos, o que sobrou é sombra do sujeito rechonchudo do passado. Aos 68 anos, ele tem a aparência de um agonizante, caminha com passos trôpegos e já não se arrisca a pronunciar uma única palavra em público. O comunismo produziu um governo dinástico que tem mais a ver com os reis coreanos do passado do que com os ensinamentos de Marx e Lenin. Até a boa vontade divina para com o delfim é realçada na versão oficial de que Kim Jong-Il nasceu nas encostas do sagrado Monte Paektu e seu nascimento foi saudado por um duplo arco-íris. Na realidade, ele nasceu em um acampamento militar na Rússia, quando seu pai comandava o batalhão coreano do Exército Vermelho. O regime está inquieto com a sucessão – e talvez seja essa a razão de tanto rebuliço. O filho mais velho, Kim Jongnam, de 38 anos, seria o candidato natural à sucessão, mas perdeu a vez depois do vexame de ser preso com passaporte falso no Japão, onde pretendia visitar a Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 18 de 54 Disneylândia, em 2001. Também atrapalha sua presença assídua nos cassinos de Macau. O segundo, Kim Jong-chol, não conta. É homossexual e prefere assistir a um concerto de Eric Clapton na Alemanha ao tédio de um desfile militar. O favorito do ditador é o filho caçula, Kim Jong-un, de 26 anos. Educado na Suíça, fala diversas línguas, adora artes marciais e, dizem, tem a cara e o temperamento do pai: é prepotente, não gosta de ser questionado e se enfurece facilmente. É nas mãos desse jovem desconhecido que pode estar a bomba nuclear. PÂNICO NA ESCOLA Estudantes americanos aprendem a se proteger de um ataque nuclear na década de 60: medo de uma hecatombe atômica nos anos da Guerra Fria. Fotos de Bettmann/Corbis/Latinstock A possibilidade de a Coreia do Norte desfechar um ataque nuclear contra seja lá quem for é pequena. Em parte, porque sabe que, mesmo que arrase Seul, que está a apenas 40 quilômetros de distância, não escaparia de ser igualmente devastada. Há também que considerar que o desenvolvimento de seus artefatos bélicos está em estágio primitivo. Os dois dispositivos testados possuem mais de 3 metros de comprimento e pesam 4 toneladas. Com tais medidas, seria impossível colocá-los na ponta de um míssil. "Os dispositivos coreanos são grandes e rudimentares e não podem ser transportados nem mesmo a bordo de um avião", disse a VEJA o americano Rodger Baker, analista da Stratfor, uma consultoria de geopolítica com sede nos Estados Unidos. Estima-se que o artefato testado na semana passada tenha um poder de destruição de 4 quilotons, ou 4 000 toneladas de dinamite. A capacidade é menor do que a da bomba lançada pelos americanos sobre a cidade japonesa de Hiroshima, de 17 quilotons, mas dez vezes superior àquela testada pelos norte-coreanos em 2006. A simples existência do programa norte-coreano é a prova da fragilidade dos mecanismos contra a proliferação nuclear. O Paquistão iniciou seu programa nuclear com os manuais de centrífugas de enriquecimento de urânio que o engenheiro Abdul Qadeer Khan roubou da empresa em que trabalhava na Holanda. O projeto da bomba foi comprado dos chineses. Festejado como herói nacional, Khan revelou-se um ladrão. Montou um esquema para vender equipamentos e tecnologia nuclear a quem tivesse interesse. Entre seus fregueses estavam o Irã, a Líbia e a Coreia do Norte. O esquema Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 19 de 54 desabou em 2003, quando um carregamento com material para montar 1 000 centrífugas foi interceptado a caminho da Líbia. A Coreia do Norte agora tem parceria com o Irã no desenvolvimento de mísseis de longo alcance, capazes de levar ogivas nucleares. Montar um programa nuclear clandestino custa mais caro, mas é perfeitamente possível. Israel construiu seu arsenal às escondidas, nos anos 60. É verdade que até então não existia um tratado de não proliferação nuclear e nenhum país tinha obrigação legal de se privar de armas atômicas. LEMBRANÇA DO HORROR Little Boy, a bomba atômica lançada sobre Hiroshima: modelo rudimentar, mas letal. Fotos de Bettmann/Corbis/Latinstock e AKG/Latinstock Hoje é formalmente diferente. Devido ao tratado e à fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, só os países isolados podem tocar seus programas militares sem ligar para a opinião da comunidade internacional. O Irã escondeu por duas décadas sua produção de urânio enriquecido e insiste em não cooperar com as inspeções da AIEA. Que tipo de responsabilidade se pode esperar de aiatolás com dentes nucleares? O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fala abertamente em varrer Israel do mapa. Basta esse tipo de exortação ao genocídio para dar ideia do que esse país seria capaz de fazer se tivesse uma bomba nuclear, o que pode ocorrer dentro de dois ou três anos. "A incerteza sobre o comportamento desses regimes pode dar início a uma corrida armamentista no Oriente Médio e na Ásia", disse a VEJA a americana Nina Tannenwald, autora do livro The Nuclear Taboo (O Tabu Nuclear). Apesar das sanções econômicas impostas pela ONU, o Irã segue desafiando o mundo com seu programa nuclear e está a dois ou três anos de ter a bomba. O arsenal nuclear do Paquistão está, por enquanto, sob a guarda da instituição mais sólida do país, o Exército. Mas há uma guerra aberta com o Talibã, que controla regiões fronteiriças com o Afeganistão. "Não podemos nem contemplar a possibilidade de o Talibã ter acesso ao arsenal nuclear do país", disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. A Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 20 de 54 possibilidade de terroristas produzirem uma bomba a partir do zero é ínfima. O processo é caro, exige tecnologia e pessoal altamente especializado. É mais simples fabricar uma bomba suja, feita com explosivos comuns e material radioativo. Ninguém precisa pensar muito para ver a conexão entre o perigo de um terrorismo atômico e os programas nucleares em países instáveis e repletos de fanáticos religiosos ou políticos. Essas condições fazem de cada um deles um potencial provedor de material atômico para grupos terroristas. O terrorista, como se sabe, só se ocupa de promover a maior atrocidade possível, sem nenhuma estratégia política que atenue sua perversidade. Se isso ocorrer, a Guerra Fria poderá vir a ser lembrada como o saudoso tempo em que o gatilho nuclear estava em mãos responsáveis. Tomaz Favaro, Duda Teixeira e Gabriela Carelli – Revista Veja Nr 2215 Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 21 de 54 ELEIÇÕES IRANIANAS 07/06/2009 A vez dos jovens em Teerã - Campanha presidencial atrai juventude às ruas, e polícia faz vista grossa a atos de rebeldia Da janela de um Peugeot na avenida Vali-Asr — a maior de Teerã — se debruça uma moça com seu véu de seda colorido cobrindo só metade da cabeça. Sentada na janela, com meio corpo para fora do carro, ela nem se importa que boa parte de seus cabelos oxigenados estejam descobertos: a sharia (lei islâmica) não permite, mas hoje em dia os guardas fazem vista grossa para esses pequenos atos de rebeldia, principalmente em período eleitoral. A jovem estica os dois dedos indicadores nos lábios, solta um forte assovio, e grita: “Moussavi, Moussavi!”. Ela é uma das ousadas iranianas que estão à frente da campanha de rua de Mir-Houssein Moussavi, ex-primeiro-ministro e artista plástico que hoje é o maior fantasma do presidente Mahmoud Ahmadinejad, candidato à reeleição no pleito do próximo dia 12. O carro é dirigido por outra moça, que estende o braço esquerdo para fora e faz o “V” da vitória. Na pista oposta, passa outro carro e de dentro dele um rapaz estende para fora uma foto de Ahmadinejad. Teerã parece não dormir nos últimos dias. É difícil pegar no sono ao som de buzinaços, cornetas, palavras de ordem entoadas aos gritos. O fôlego da juventude parece inesgotável: a campanha dos iranianos acontece todos os dias até 2h ou 3h da madrugada nos pontos mais agitados da capital. Em meados de maio começou a campanha de uma das mais cruciais eleições da história do país, justamente em um momento em que os iranianos comemoraram, em fevereiro, os 30 anos da Revolução Islâmica e lembraram, no último dia 4, os 20 anos da morte de seu líder, o aiatolá Khomeini. No país dos aiatolás, são os jovens que estão à frente da história: eles são dois terços dos 72 milhões do Irã. E são eles que vão dar as cartas na próxima sexta-feira. Estão aptos para o voto — que não é obrigatório — cerca de 46 milhões de iranianos. Os arredores da Universidade de Teerã se transformaram em um dos principais palcos da campanha eleitoral. Há exatos 30 anos, o campus foi o epicentro da revolta que derrubou a dinastia real e implantou a República Islâmica. Ali, partidários da mudança e os cabos eleitorais do presidente trocam gritos de guerra. Vestindo o hijab (véu islâmico) e o chador preto que cobre o corpo, a estudante de filosofia Fatemeh, 20 anos, era um dos 200 jovens que se aglomeravam numa das esquinas da Avenida da Revolução, com cartazes de Moussavi e gritando a principal palavra de ordem do candidato: “Azadi” (liberdade) e “Moussavi é honesto”. Do outro lado da avenida, 300 partidários do presidente reagiam aos gritos de “Ahmadinejad é forte”. — Queremos reforma na educação, liberdade para estudar o que quisermos. Não queremos mais ser ameaçadas de prisão só porque o véu mostra um pouco do cabelo — disse ela. Em junho de 2005 Ahmadinejad venceu a eleição com um discurso populista, pregando o conservadorismo religioso, e construindo uma imagem de “homem simples do povo”, em contraste com as imagens de aiatolás que enriqueceram no poder. Seu estilo provocativo continua forte até hoje. Há poucos dias, ao pregar o combate a corrupção, Ahmadinejad prometeu “cortar as mãos” dos que “prejudicaram o progresso nacional”. A principal crítica sofrida por ele é com relação à economia: o país amarga uma inflação de 25% ao ano, altas taxas de desemprego que acabam Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 22 de 54 desembocando em desajustes sociais, como o problema do uso de drogas pelos jovens: estima-se que quase um milhão de pessoas sejam viciadas. 40% da força de trabalho é feminina A lei que impõe o uso do véu e de roupas largas que não marcam o corpo da mulher passou a ser aplicada com mais firmeza. Em 2007, a polícia moral prendeu centenas de mulheres por não seguirem à risca o código de vestimenta: quem deixava partes do cabelo à mostra, por exemplo. Mas hoje as iranianas modernas voltaram, e é comum vêlas de jeans e mantôs. Muitas delas cobrem a cabeça com lenços coloridos de seda que deixam de fora as franjas e mostram parte dos estilosos penteados em coque. Nos mercados de Teerã, o que mais se vê são lojas de lenços coloridos, maquiagem e óculos escuros. Nenhum candidato propõe o fim do código islâmico com relação a vestimentas e ao véu — não há ainda espaço para isso —, mas os mais liberais dão a entender que não aplicariam a lei com rigidez. Apesar dessas imposições, as mulheres iranianas estão longe do estereótipo ocidental de que seriam submissas. Quatro em cada dez trabalhadores são mulheres. Elas são vistas em escritórios, trabalhando em hotéis, lojas, restaurantes. Também estão em peso nas universidades: 70% dos estudantes são mulheres. De olho nesse poderoso eleitorado, um dos quatro candidatos, Mehdi Karroubi, chegou a fazer uma promessa ousada: nomear uma ministra caso seja eleito. Florência Costa - O Globo Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 23 de 54 ELEIÇÕES IRANIANAS: ASSIM COMO BARACK OBAMA, MIRHOUSSEIN MOUSSAVI PREGA MUDANÇA EM ESTRATÉGIA DE CAMPANHA 07/06/2009 Conservadores e reformistas em nova disputa - Programas dos dois principais candidatos à Presidência revelam um Irã que vai às urnas dividido politicamente A divisão do Irã em dois países distintos — o dos reformistas, que buscam a modernidade; e o dos ultraconservadores religiosos, que insistem em manter uma teocracia islâmica — tem sido refletida claramente na campanha eleitoral para a eleição presidencial da próxima sexta-feira. De um lado, o principal candidato da oposição, o ex-primeiro-ministro Mir-Houssein Moussavi, 67 anos, vem fazendo propaganda através da internet, além de enviar mensagens de texto para os celulares de eleitores. De outro, em busca da reeleição, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, 52, tem distribuído batatas, laranjas e tomates, além de cheques equivalentes a US$60 a famílias das áreas pobres do país, e moedas de ouro a funcionários públicos. Ele definiu tal agrado como uma entrega de “dividendos justos”. Slogans copiados da campanha de Obama Curiosamente, ao longo da campanha, que no Irã se estende por apenas três semanas, surgiram ecos da recente eleição presidencial dos Estados Unidos. O populista Ahmadinejad, que se esmera em apresentar-se como o mais ferrenho antiamericano no Oriente Médio, adotou um slogan de campanha praticamente idêntico ao de Barack Obama: “Nós podemos.” Faltou apenas a palavra “sim”, antes daquelas duas. (Yes, we can). Já nos comícios do moderado Moussavi, surgem na plateia cartazes — no idioma local, farsi, e em inglês — com a palavra que Obama utilizara como símbolos de suas promessas: “Mudança” (Change). Ninguém arrisca prever um resultado, embora Ahmadinejad pareça ser o favorito. As pesquisas de opinião têm oscilado. Em alguns dias, apontam o presidente à frente com quatro pontos. Em outros, o opositor surge na dianteira, com vantagem idêntica. As sondagens eleitorais, no entanto, não são consideradas confiáveis no Irã. Há quatro anos, por exemplo, atribuíram índices baixíssimos a Ahmadinejad. Ele aparecia em quinto lugar na véspera da votação, e acabou sendo eleito. Ambos os lados correm o risco de ver seus partidários divididos, pois cada um tem dois candidatos. Moussavi, arquiteto e pintor que deixara a política há 20 anos, quando morreu o aiatolá Khomeini, de cujo governo fora primeiro-ministro, é o mais forte dos moderados — mas pode perder votos para o outro, Mehdi Karroubi, ex-líder do Parlamento. Ahmadinejad, por sua vez, poderia perder votos para outro representante da linha dura, Mohsen Rezaie, que foi chefe da Guarda Revolucionária durante 16 anos. Há 46 milhões de iranianos aptos a votar, ainda que não sejam obrigados a fazê-lo. Um candidato precisa obter 50% dos votos para ser vitorioso. Do contrário, como aconteceu em 2004, os dois primeiros colocados disputarão o segundo turno uma semana mais tarde. Partidários de Moussavi, como o ex-presidente Mohammad Khatami, tem insistido com os eleitores para que compareçam em massa às urnas. Trata-se de um Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 24 de 54 apelo destinado especialmente à classe média, cuja maioria, desencantada com a política iraniana, preferiu ficar em casa na eleição passada. — Muitos justificaram ter feito isso como uma forma de protesto, sem aparentemente se darem conta de que a iniciativa serviu apenas para reforçar as alas ultraconservadoras — disse Khatami. Apenas 34% dos residentes de Teerã, onde a maioria dos eleitores é partidária dos reformistas, deram-se ao trabalho de ir votar em 2004. O vácuo deixado por eles foi ocupado pelos votos da camada pobre da capital, somados aos da zona rural, atraídos pelas promessas de Ahmadinejad em lhes garantir casa própria e um salário digno. Há uma clara insatisfação dos iranianos de classe média com um governo que se intromete em sua vida social, mas não lhes cria empregos e tampouco oferece a educação que desejavam. É evidente ainda a frustração com um sistema político que de democracia tem apenas uma fachada. Os oito anos em que Khatami permaneceu no poder contribuíram para esse sentimento. Ele conseguira, por exemplo, convencer o Parlamento — que tinha maioria conservadora, a aprovar duas reformas liberalizantes. Mas ambas foram rejeitadas em seguida pelo ultraconservador Conselho dos Guardiães da Revolução Islâmica, formado por seis aiatolás e seis juristas laicos: eles as consideraram inconstitucionais. Ser presidente, no fundo, não significa muito no Irã No Irã, chegar à Presidência da República e ter ainda maioria no Parlamento não significa muito. O presidente, afinal, não tem controle sobre os militares, a polícia, ou influência nos tribunais. Além do Conselho dos Guardiães existe a Assembleia dos Experientes, com o poder de vetar qualquer legislação ou atos do Judiciário. Há ainda outra instância superior: a do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Ele tem a palavra final sobre tudo o que é planejado e decidido no país, pois lhe é atribuída autoridade divina. E, como se nota desde que Khamenei assumiu o posto do falecido Khomeini, há duas décadas, ele está sempre do lado dos ultraconservadores religiosos. — Se Ahmadinejad vencer, será o fim do sonho reformista por um bom tempo. Muitos jovens se sentirão deprimidos e acabarão deixando o país — previu o historiador Mohammed Javad Mozafar. José Meirelles Passos - O Globo HEZBOLLAH É DERROTADO NAS URNAS NO LÍBANO 08/06/2009 Bloco governista pró-Ocidente consolida poder nas eleições, num duro golpe aos regimes do Irã e da Síria Numa disputa acirrada nas urnas, o bloco pró-Ocidente 14 de Março deve consolidar sua influência no Líbano ao derrotar a oposição encabeçada pelo grupo guerrilheiro xiita Hezbollah nas eleições parlamentares de ontem. A vitória dos governistas é vista por analistas como um duro golpe nos regimes do Irã e da Síria, que esperavam desequilibrar o tabuleiro político do Oriente Médio com uma vitória da oposição. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 25 de 54 Em meio a denúncias de compra de votos, pelo menos 54% dos 3,2 milhões de eleitores compareceram aos 26 distritos eleitorais — um índice bem maior do que os 45,8% registrados no último pleito, há quatro anos. — Perdemos a eleição, mas vamos respeitar os resultados, mesmo que sejam contrários a nossos interesses — disse uma fonte da oposição ligada ao Hezbollah. Um dos líderes da coligação governista, Samir Geagea, do partido cristão Forças Libanesas, confirmou à rede de TV LBC o triunfo sobre o bloco xiita. Analistas temiam que uma vitória do Hezbollah pudesse levar o Líbano ao isolamento internacional, além de consolidar a influência síria e iraniana na polarizada política local e favorecer ainda uma nova era de tensões com Israel. Os temores agora são de que o resultado do pleito não sejam respeitados por todas as facções políticas. Pelo menos 2.200 observadores internacionais acompanharam a votação. — A eleição pareceu transparente. Como há muitos interesses em jogo, esperamos apenas que EUA, Irã e Síria respeitem os resultados e não interfiram num processo que é interno do Líbano — disse o ex-presidente americano Jimmy Carter, enviado a Beirute para chefiar uma missão de observadores. Todos os grupos religiosos do país têm uma representação garantida no Parlamento. A coligação 14 de Março — liderada pelo filho do ex-premier assassinado Rafik Hariri, Saad Hariri, do partido Mustaqbal, e pelo atual primeiro-ministro Fuad Siniora — reúne os principais grupos sunitas, cristãos e drusos do país. Do outro lado da batalha política está o bloco 8 de Março, liderado pelo Hezbollah do xeque Hassan Nasrallah, e pelo partido Amal, do atual líder do Parlamento, Nabih Berri. A expectativa maior é pelos resultados de redutos cristãos libaneses, polarizados entre os dois blocos rivais. A facção que tiver o maior número de votos receberá a missão de formar o novo governo, que, pela lei, deve ter um primeiro-ministro sunita e um líder do Parlamento xiita. O complexo sistema eleitoral determina ainda que muçulmanos e cristãos tenham o mesmo número de cadeiras no Legislativo: 64 cada grupo. Sunitas e xiitas recebem 27 cadeiras cada, drusos têm direito a oito assentos e os alauítas a dois. Já entre os cristãos, 34 cadeiras são destinadas aos maronitas, 14 vão para os ortodoxos gregos, oito para os católicos romanos, seis para os armênios e duas para outras minorias cristãs. No atual Parlamento, a coligação pró-Ocidente tem 70 cadeiras, contra 58 da oposição. Diante da ameaça de crescimento da influência do Hezbollah, analistas já consideram o pleito um dos mais importantes do país. Na semana passada, em seu discurso ao mundo árabe no Cairo, o presidente dos EUA, Barack Obama, reafirmou que a Casa Branca está aberta ao diálogo com “governos pacíficos”, numa mensagem velada de que o fortalecimento político do Hezbollah, tido como um grupo terrorista pelos EUA, poderia azedar de vez as relações entre Beirute e Washington. Desde 2006, os EUA vêm dando uma ajuda estimada em US$1 bilhão por ano ao governo pró-Ocidente, que estaria ameaçada caso o país viesse a se alinhar com o Irã dos aiatolás ou com o regime de Damasco, acusado de abrigar células terroristas. Renata Malkes - O Globo Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 26 de 54 ORGANISMOS INTERNACIONAIS A CRISE MUNDIAL E O G – 20 15/04/09 Os líderes do G-20, reunidos em Londres, anunciaram que vão elevar a capacidade de oferta de crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI) dos atuais US$ 250 bilhões para US$ 750 bilhões. Além disso o G-20 também concordou em alocar US$ 250 bi em Direitos Especiais de Saque (DES), espécie de moeda criada pelo FMI. O repasse de US$ 750 bilhões será usado para ajudar economias afetadas pela crise. A última reunião do G-20, em Londres, foi realmente positiva, embora mais teórica do que prática. Se o bloqueio dos paraísos fiscais, a regulação bancária e a mobilização de recursos para manter as correntes do comércio internacional produzirem resultados rápidos, isso será bom para encurtar a fase de recessão do atual ciclo econômico. Mas, infelizmente, ninguém pode ter certeza de que isto vai acontecer. O mundo pode estar saindo de uma crise de liquidez para uma crise fiscal e inflacionária. Estão sendo injetados maciços recursos em empresas, bancos e companhias de seguro, por conta do Tesouro e dos Bancos Centrais dos países envolvidos. Isto significa expansão monetária e déficit fiscal. O resultado poderá ser uma inflação universal e uma crise fiscal nos Estados Unidos e na Europa, inclusive com retorno à elevação das taxas de juros. A situação no Brasil não é diferente. A decisão do G-20 de carrear US$ 750 bilhões de reservas de vários países para reforçar a caixa do FMI, inclusive US$ 10 bilhões do Brasil, pode ter apenas um resultado pirotécnico e pífio. As reservas da China, do Japão, do Brasil, etc, foram aplicadas em títulos públicos ou estão depositadas em grandes bancos internacionais. Transferir parte desses depósitos dos bancos para o FMI pode até agilizar um pouco a concessão de empréstimos, mas o resultado, se não for neutro e nulo, é pelo menos duvidoso. A explosão do consumo e a recessão inevitável Nos últimos 20 anos, e especialmente a partir do ano 2000, a economia dos Estados Unidos entrou em um processo explosivo de consumo, baseado no crédito fácil que lhes proporcionavam os países emergentes (China, Coréia, Rússia, Brasil e outros), cujas reservas inundaram de liquidez os bancos americanos. Paralelamente, o próprio Governo dos Estados Unidos iniciou uma impressionante política de expansão de gastos fiscais, com as guerras no Oriente Médio. Os países emergentes foram altamente beneficiados pelo processo de globalização, que elevou os preços do petróleo, das matérias primas e dos alimentos. Pelos saldos positivos do comércio exterior, a China acumulou US$ 2.200 bilhões de reservas cambiais, a Coréia US$ 200 bilhões, o Japão US$ 1.000 bilhões, o Brasil mais de US$ 200 bilhões. Caminharam todos a reboque do “boom” nos países desenvolvidos. Em setembro de 2007, explodiu a crise dos ativos podres (sub-prime), que levou à falência imediata do Banco Lehman Brothers e da gigantesca seguradora AIG, provocando uma crise sistêmica nos mercados financeiros e de capitais e nas Bolsas de Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 27 de 54 Valores e Mercadorias nos Estados Unidos, na Europa e no resto do mundo. Em 2008, a BOVESPA sofreu uma queda de 41,2%! Assim é o ciclo econômico: um longo período de prosperidade e euforia, estancado por uma brusca mudança de rumo, seguido de quedas de consumo, de produção, de investimentos e de emprego. De um certo modo, o ciclo econômico é um fenômeno natural e próprio do regime capitalista, difícil de ser evitado. Acontece, quando tem de acontecer. Mas pode ser alongado em sua fase de ascensão (up swing) e suavizado e encurtado nas fases de recessão (down swing), dependendo, fundamentalmente, da administração equilibrada da política fiscal. O PAC brasileiro e o chinês Se há uma lição válida, legada por John Maynard Keynes, é a de que uma recessão se combate com investimentos na infraestrutura, o que exige a redução dos gastos de custeio do governo. O governo brasileiro poderá usar o PAC, mas até agora não fez qualquer redução de gastos de custeio. O governo da China, ao contrário, deu alta prioridade à infraestrutura, iniciou um formidável programa de investimentos com o objetivo de revitalizar a economia do interior do país, com prioridade para a construção de ferrovias modernas destinadas ao transporte de passageiros e de carga, de alta velocidade. No entanto, a China não escapou dos efeitos da crise internacional, principalmente no quarto trimestre do ano passado, que reduziu o crescimento do seu PIB a 9% em 2008, ante 13% no ano anterior. Até agora, esse crescimento havia permitido que a população rural, extremamente pobre, migrasse para os grandes centros urbanos. O Governo chinês percebeu o grande perigo da redução da atividade econômica, em face da massa de assalariados imbuída de grandes esperanças para o futuro, pela via de sua inclusão na economia urbana. No Brasil, é desanimadora a lentidão com que caminham os projetos de transporte urbano (metrôs), de ampliação dos aeroportos, de modernização das rodovias e dos portos. Com uma infraestrutura do Primeiro Mundo, a China vai sair da crise com uma capacidade de concorrência internacional ainda maior. Porque o Brasil não pode fazer o mesmo, ao invés de usar medidas “conta-gotas”, de efeito eleitoral? Indústria Segundo o IBGE, a produção industrial brasileira teve alta de 1,8% em fevereiro, mas na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve um forte recuo de 17%. Com isso, o setor acumulou queda de 17,2% no primeiro bimestre de 2009. Nos últimos 12 meses, a queda acumulada é de 1%, a primeira apurada desde setembro de 2002. A indústria de bens de capital teve queda de 6,3% em fevereiro sobre janeiro. A produção aumentou 13,7% na Bahia e 8,3% no Espírito Santo, com queda de 5,6% em Pernambuco e 4,6% em Santa Catarina. No 1º bimestre, São Paulo acumulou queda de 17,7%. Pelos levantamentos da CNI, a indústria teve queda de 8,4% nas horas trabalhadas em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, e o faturamento real caiu 10%. O emprego recuou 1,5% em relação ao nível de fevereiro de 2008, consolidando o quarto mês seguido de comportamento negativo do mercado de Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 28 de 54 trabalho. A CNI também mostrou que fevereiro manteve a utilização da capacidade instalada (UCI) em 77,8%, que é um dos mais baixos índices da série histórica. Um ano atrás, estava em 83,1% Entre outubro de 2008 e fevereiro deste ano, a produção da linha branca caiu 10% em relação ao período de outubro de 2007 a fevereiro de 2008. A produção de aço caiu no primeiro bimestre e de acordo com o IBS, apenas 47,5% do parque siderúrgico foram mantidos em produção plena em janeiro e fevereiro. Entretanto, após um fim de ano conturbado, o comércio de veículos voltou com força nos três primeiros meses de 2009. Segundo a Anfavea, as vendas tiveram alta de 16,9%. Em março, houve alta de 36,2%, contra fevereiro. O consumo de combustíveis cresceu 0,4% em março em relação a março/08, depois de uma queda de 4,2% em janeiro e fevereiro. Houve retração de 5,4% na venda de diesel, mas a de gasolina aumentou 3,1%. Segundo dados do Sinduscom/SP, as vendas de imóveis usados aumentaram 140,29% entre janeiro e fevereiro, voltando a níveis semelhantes aos do terceiro trimestre de 2008. De acordo com a Sondagem da FGV, a indústria brasileira começou a dar sinais de recuperação no primeiro trimestre, com demanda concentrada na produção de bens cujo consumo depende da renda do trabalhador, como alimentos, e da indústria automobilística, que teve o corte de IPI renovado. Comércio Segundo a SERASA, a atividade do comércio, em base anual, cresceu 5,1% em janeiro, 3,9% em fevereiro e 3,6% em março, revelando nítida tendência de baixa, em relação a 2008. No acumulado do 1º trimestre, o varejo registrou alta de 4,2%, com destaque para alta de 8,8% no setor de móveis e eletrônicos e 7,7% no ramo de veículos; houve queda de 1,8% nos setores de tecidos, vestuário e calçados e de 8,1% em materiais de construção; entretanto, em março, houve uma ligeira recuperação de 0,5% sobre fevereiro. A Fecomércio-SP registrou uma queda de 3,2% no faturamento de fevereiro, após resultado também negativo de 3,2%, em janeiro. A Fecomércio-RJ aponta queda de faturamento em 58,2% das empresas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Nos dois primeiros meses do ano, o turismo cresceu 20%, tendo a taxa de ocupação hoteleira no Rio de Janeiro chegado a 95%, em Pernambuco a 100% e em Santa Catarina a 85%. Ainda de acordo com a Serasa, a inadimplência dos consumidores cresceu 22,6% em março, enquanto a Equifax informa que o volume de cheques devolvidos aumentou 25,5%. Agricultura Previsão da safra de grãos 2008/09: queda de 6,5%, segundo o IBGE, e 4,5% segundo a Conab. As exportações do agronegócio subiram 0,3% em março. As vendas de soja cresceram 88,2%, em relação a março/08; de janeiro a março, houve queda de 9,4%. De acordo com a Lei nº 11.775/08, o governo dará descontos de até 70% para o pagamento de dívidas de produtores rurais com a União. A negociação abrange R$ 8,2 bilhões e 49.200 devedores. Mercado de Trabalho Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 29 de 54 Depois da queda recorde em janeiro, a taxa de desemprego em fevereiro apresentou ligeira alta de 8,2% em janeiro para 8,5% em fevereiro, na média das seis maiores regiões metropolitanas, segundo o IBGE. Na indústria, o aumento do desemprego chega a 3,4%, no 1º bimestre. O nível de emprego na indústria caiu 1,5% em fevereiro, comparado com o mesmo mês de 2008 e 1,1% em relação a janeiro. Foi a quarta redução mensal consecutiva. Segundo a Caged, em fevereiro, foram criadas 9.179 vagas com carteira assinada. Setor Financeiro A queda de 10,0% na cotação das ações do Banco do Brasil na BOVESPA nos dá a medida do que pode causar aos acionistas privados a intervenção política do governo na administração de uma empresa mista de capital aberto. Em fevereiro, houve crescimento tímido de 0,1% do crédito bancário, com expansão de 1,7% nos bancos públicos e retração de 0,8% nas instituições privadas. A inadimplência registrou elevação de 0,2 p.p., atingindo o percentual de 4,8% sobre o total das operações, principalmente na área das pessoas jurídicas. A captação da caderneta de poupança voltou a ficar negativa em março. Inflação Os índices de inflação continuam em queda. Em março, no varejo, o IPCA/IBGE subiu 0,20%, contra 0,55% em fevereiro. No atacado, houve uma surpreendente deflação de -0,84% no IGPDI/ FGV e -0,74% no IGP-M/FGV. A taxa de câmbio Real/US$ registrou valorização de 2,66% em março, acumulando no trimestre -0,93%. A cesta de compras acumulou queda de 0,76% no primeiro trimestre, no município do Rio, de acordo com a pesquisa da Fecomércio-RJ. Segundo o DIEESE, o custo de vida subiu 0,40% em março, na capital paulista. A tarifa de energia aumentou 20% no início de abril, em 234 municípios no interior de São Paulo. Setor Fiscal No primeiro bimestre, as receitas públicas caíram 3%, as despesas subiram 19,6%, enquanto os gastos com pessoal aumentaram 24%. O Governo da União vai cortar R$25,4 bilhões no total das despesas previstas no Orçamento de 2009. Serão preservados os gastos com o Bolsa-Família e os investimentos do PAC. As despesas com os juros da dívida pública, em fevereiro, foram de R$ 10,2 bilhões, acumulando nos últimos 12 meses R$ 158,4 bilhões (5,4% do PIB). O governo destinará até R$ 1 bilhão para ajudar os municípios a enfrentarem a crise econômica. Segundo O Globo, o Senado pretende construir uma nova sede para a Universidade do Legislativo (Unilegis), que hoje funciona em um anexo da Casa. O projeto é de “um grande complexo educacional e cultural, com museu, teatro auditório, biblioteca, alojamentos e restaurante”. Setor Externo As exportações brasileiras subiram 23,2% de fevereiro para março, mas caíram 19,4% no trimestre, enquanto as importações subiram 28,4% e caíram 21,6% nos Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 30 de 54 períodos indicados. A situação na área internacional continua indefinida. Entretanto, nos Estados Unidos, alguns bancos estão ressuscitando: Citigroup, Bank of America, JP Morgan, Wells Fargo. A China ainda não deu sinais claros de retração e, em março, vendeu 1,03 milhão de veículos, ultrapassando os Estados Unidos, pelo terceiro mês consecutivo. No Brasil, o fluxo cambial que mede a entrada e saída de dólares ficou negativo em US$ 2,974 bilhões, no 1º trimestre. O saldo comercial com os Estados Unidos registrou déficit de US$ 1,8 bilhão e de US$ 220 milhões com a China. Com a Argentina, houve superávit de US$ 43 milhões. Ernane Galvêas - Síntese da Conjuntura – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo BRASIL: ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS ESCOLA PARA PROFESSORES 13 / 05 / 09 Os candidatos a ensinar na rede pública de São Paulo terão agora de frequentar um curso para reforçar os conhecimentos teóricos – e as técnicas didáticas Existe um consenso de que nada é tão decisivo para o ensino quanto um professor bem formado – uma raridade no Brasil. Daí a relevância de uma medida anunciada, na semana passada, pelo governador de São Paulo, José Serra. Trata-se da criação de uma escola de formação de professores, concebida com um propósito bem diferente do dos tradicionais cursos de aperfeiçoamento de docentes. Enquanto esses últimos funcionam como uma espécie de recauchutagem para quem já dá aula em escolas públicas, o novo curso vai atender os professores antes de eles assumirem a função. A passagem por tal escola não será opcional, mas sim um pré-requisito para que esses profissionais possam ensinar na rede estadual de São Paulo, a maior do país. Significa que, para conseguir o emprego de professor, não bastará mais ser aprovado em concurso público. Com a mudança, o candidato será avaliado uma segunda vez, com base numa prova cujo objetivo é medir o conhecimento que assimilou ao longo do curso. Ali, todos permanecerão por quatro meses, durante os quais terão dois tipos de aula: as teóricas, em que receberão reforço nas disciplinas que pretendem lecionar, e as práticas, durante as quais farão um estágio supervisionado dentro das escolas. O novo sistema já deve valer a partir de setembro, data do próximo concurso. Até 2010, estima-se que 30 000 candidatos a professor terão frequentado tais aulas. Por que, mesmo depois de cursar uma faculdade de pedagogia, alguém precisa estudar por mais quatro meses para se tornar professor? A razão remete a um cenário desolador: grande parte dos docentes no Brasil se forma sem saber o que nem como ensinar. "As faculdades se perdem em teorias dissociadas da prática em sala de aula e não cumprem sua função básica: formar um profissional realmente capaz de exercer seu ofício", avalia a consultora na área de educação Guiomar de Mello. Para se ter uma medida do problema, nada menos do que 3 500 professores de São Paulo cravaram nota zero em uma prova aplicada, em dezembro, pela própria secretaria. Não custa lembrar que o propósito dessa prova era medir o domínio que eles tinham das matérias que já ensinavam – nenhum. Além da deficiência Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 31 de 54 em relação aos conteúdos, faltam-lhes noções mínimas sobre técnicas didáticas. Apenas 20% das aulas nos cursos de pedagogia se dedicam às metodologias de ensino, e raras vezes os alunos têm alguma experiência prática antes de pisar numa sala de aula como professor. "A escola de formação de docentes é justamente uma resposta às lacunas deixadas pelas faculdades", diz o secretário de Educação do estado de São Paulo, Paulo Renato Souza. O contato dos aspirantes a professor com o dia a dia de uma sala de aula é regra – e não exceção – em países de bom ensino, como Coreia do Sul e Finlândia. Em Cingapura, considerado um dos países mais eficazes do mundo na formação de seus docentes, pelo menos 30% do currículo nos cursos para professor é cumprido dentro dos próprios colégios. "Funciona como uma espécie de residência médica para os futuros profissionais. Eles são acompanhados pelos professores mais experientes, que os orientam e indicam as melhores práticas de ensino", define Lee Sing Kong, diretor do National Institute of Education de Cingapura. No Brasil, para ocuparem alguns cargos no serviço público, como diplomata ou auditor da Receita Federal, os candidatos precisam passar por um treinamento antes de assumir o posto (mesmo depois de aprovados em concursos). Se forem bem, aí sim serão efetivados. Na educação brasileira, nunca houve nada parecido com o modelo proposto, na semana passada, pelo governo de São Paulo. É, sem dúvida, uma boa notícia num país que ainda precisa avançar – e muito – em sala de aula. Camila Pereira – Revista VEJA - Edição 2112 NA SÉRIE B DA EDUCAÇÃO 18/05/2009 Alunos do Brasil e outros países têm desempenho tão fraco que teste muda para avaliá-los O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes testes de ensino, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), obrigou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a reformular a nova edição da prova. O teste, que no Brasil será aplicado na próxima semana, terá questões mais fáceis. O objetivo é traduzir melhor o desempenho de quem vai mal no teste, separando estudantes que praticamente não sabem nada dos que demonstram um mínimo de conhecimento. Em 2000, o Brasil amargou o último lugar em leitura, entre 32 nações. Deixou a lanterna mais tarde, após um grupo adicional de países fazer a mesma prova. No ranking final, o Brasil passou para a 39ª posição entre 43 nações. Em 2006, o país ficou em 49º lugar entre 56 participantes — à frente da Argentina, mas atrás de Indonésia, Romênia, México, Uruguai e Chile. O Pisa é realizado a cada três anos. Em 2006, a Coreia do Sul tomou a liderança da Finlândia na prova de leitura. A decisão de incluir questões mais fáceis para todos os países que participam do exame coincide com a ampliação do Pisa. Este ano, a prova avaliará jovens de 72 países — mais do que o dobro dos 32 participantes na estreia, em 2000. O foco será a capacidade de leitura. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 32 de 54 — Não é que o teste vá ser mais fácil. Será tão difícil quanto antes. O que queremos é descrever melhor o desempenho dos alunos com menos habilidades — resume o coordenador-geral do Pisa junto à OCDE, Andreas Schleicher. Pontuação inferior até ao nível mínimo Ele diz que todos os países têm estudantes com fraco desempenho. Mas o que varia — e muito — é a proporção. No teste de leitura de 2006, 55,5% dos jovens brasileiros ficaram abaixo do nível 2, que é o mínimo recomendado pela OCDE, na escala até 5. Nada menos do que 27,8% deles foram classificados abaixo do nível 1. Ou seja, tiveram uma pontuação tão baixa que não aparece sequer na tabela de níveis de proficiência em que são indicadas as habilidades dos alunos. Na Argentina, foram 35,8% na mesma situação; na Colômbia, 30,4%; No Uruguai, 25,3%; no Chile, 14,8%. Entre os países da OCDE, esse percentual ficou em 8,9%. No nível 1, reservado a quem tirou pelo menos de 334,8 pontos na escala até 800, os jovens são capazes de compreender somente textos simples, identificando o tema principal e situando fragmentos de informação. O que dizer, então, de quem ficou abaixo de 1? — É exatamente o que queremos fazer com essa escala maior de questões: discriminar melhor os estudantes que sabem muito pouco dos que sabem algo — afirma Schleicher. No Brasil, 56 mil alunos fazem o teste Único país sul-americano presente em todas as edições do Pisa, o Brasil volta a se submeter ao exame entre 25 e 29 de maio. Cerca de 56 mil alunos brasileiros farão o teste em 587 municípios. Participam jovens de 15 anos, de escolas públicas e particulares, independentemente da série em que estão matriculados. O Pisa testa a capacidade dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências. O foco de 2009 será leitura. A OCDE reúne 30 países, a maioria de Primeiro Mundo, além de México, Eslováquia e Polônia. Dos 56 mil alunos brasileiros matriculados em 990 escolas públicas e privadas, cerca de 30 mil constituem a amostra do Pisa propriamente dito, isto é, têm 15 anos e frequentam turmas da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Os demais 26 mil estão todos no 1º ano do ensino médio, independentemente da idade. O motivo das duas amostras é que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame no Brasil, quer comparar o impacto do atraso escolar. Afinal, 47,5% dos estudantes do 1º ano estão acima da idade prevista. A ideia é comparar as notas dos dois grupos. A defasagem idade-série é resultado da repetência e da evasão. Ela prejudica o desempenho do país no exame. — Temos mais de 3 milhões de jovens de 15 a 17 anos ainda no ensino fundamental. O Brasil tem uma dívida social histórica — diz o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes. O Inep pagará R$1,9 milhão para realizar o Pisa. Pelo menos 80% dos estudantes sorteados devem fazer o exame. Em 2006, o Brasil não atingiu o índice, e a OCDE teve de arredondar os dados de participação para cima, o que é previsto. A Holanda já ficou de fora por não alcançar a amostragem mínima. Os resultados serão divulgados no ano que vem. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 33 de 54 Coordenador do Pisa se impressiona com notas tão fracas após 10 anos de estudo O coordenador-geral do Pisa na OCDE, Andreas Schleicher, considera surpreendente uma parcela significativa dos estudantes de 15 anos aprender tão pouco, apesar de frequentar a escola por quase uma década ou mais. Segundo ele, a melhoria da qualidade do ensino é o maior desafio dos países, não só do Brasil. O último exame, em 2006, mostrou que 10,2% dos alunos de países membros da OCDE ficaram abaixo do nível 1 na prova de matemática. No Brasil, esse percentual foi de 46,6%, o pior entre as seis nações sul-americanas que participaram do teste. A Colômbia aparece em segundo nesse ranking ao contrário, com 44,6% dos alunos abaixo do nível 1. Sob esse aspecto, o desempenho em matemática dos países da OCDE foi pior do que em leitura (8,9% dos jovens abaixo do nível 1) e ciências (6,9%). — É muito surpreendente que, aos 15 anos, tamanha proporção de estudantes tenha níveis tão baixos de leitura, matemática e ciências. O grande desafio para os sistemas de ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorar — diz Schleicher de Paris, de onde acompanha a aplicação do Pisa em 72 países. Embora sublinhe que o Brasil precisa superar o abismo da falta de qualidade, o coordenador-geral do Pisa elogia o país: — Se você compara os últimos cinco ou seis anos do Brasil com os de países da região, como Chile ou México, o Brasil fez claramente mais progressos do que a maioria dos países na área. Em abril, a OCDE divulgou um estudo sobre a última edição do exame, com ênfase nos estudantes que atingiram pontuação alta. Entre os brasileiros, em leitura, 1,1% dos estudantes atingiram o nível 5, o mais alto da escala (mínimo de 625,61 pontos, na escala até 800). Em ciências, o percentual brasileiro no nível 6, o mais alto, foi irrisório, e 0,5% chegaram ao nível 5; em matemática, 0,2%. Na Coreia do Sul, 21,7% dos alunos chegaram ao nível máximo de leitura e 9,1% alcançaram o de matemática. Na Nova Zelândia, 4% fizeram o mesmo em ciências. — Os professores nesses países conseguem dar conta das diferenças dos estudantes de modo muito construtivo: dão apoio aos mais fracos, sem deixar de incentivar as habilidades dos mais fortes. Demétrio Weber - O GLOBO RETRATOS DO ENSINO 28/05/2009 País tem professores com menos estudo que alunos. Segundo o MEC, 20,3% dos docentes da educação básica não poderiam dar aulas porque não têm formação adequada Um em cada cinco professores de educação básica (20,3%) não poderia dar aulas, se a legislação fosse levada ao pé da letra no país. Ao todo, pelo menos 382 mil professores do total de 1,8 milhão de profissionais em atividade precisam de um diploma imediatamente, revela estudo que será lançado hoje pelo Ministério da Educação (MEC), com dados de 2007. Nesse contingente há 119 mil professores leigos, que cursaram no Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 34 de 54 máximo até o ensino médio; 127 mil docentes com diploma de nível superior mas sem curso de licenciatura, exigido para o magistério; e 136 mil professores que têm apenas o curso de normal ou de magistério e não poderiam dar aulas para alunos da 5ª à 8ª série do ensino fundamental ou para o ensino médio, como fazem. É preciso ter pelo menos o curso de magistério para lecionar em creches, pré-escolas ou turmas da 1º à 4º série do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Os chamados leigos, que representam 6,3% dos professores do país, portanto, não atendem à exigência mínima de formação do ponto de vista legal. Entre os 119 mil nesta situação, mais grave é o caso de um grupo de 15.982 profissionais que só cursaram o ensino fundamental. Desses, 3,8 mil atuam nas séries finais do fundamental (de 5ª a 8ª série) e 441 professores dão aulas no ensino médio — nível de ensino que eles próprios não têm. Os 103 mil professores leigos com diploma de nível médio estão espalhados por 52.003 escolas, onde estudam 6,6 milhões de alunos. Outros 136 mil professores estão em situação irregular: concluíram apenas o magistério, mas lecionam nas séries finais do ensino fundamental (5ª a 8ª) ou até no médio. Para dar aulas da 5ª série em diante, a lei exige a graduação em curso de licenciatura. Do total de 1,8 milhão de profissionais, 594.273 (31,5%) não têm curso superior. O MEC quer exigir que todos tenham diploma universitário. Projeto de lei nesse sentido será enviado hoje ao Congresso. Ciências: 80% sem diploma específico O levantamento mostra ainda que, entre docentes da 5ª à 8ª série (6º ao 9º ano) com nível superior, mais da metade é formada em curso diferente da disciplina que leciona. O caso mais emblemático é o de ciências, em que somente 20,7% dos professores têm diploma específico. Se forem acrescentados os profissionais formados em áreas equivalentes (ciências da vida ou ciências físicas), o percentual sobe para 52,5%. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo levantamento, considera como formação adequada a de profissionais que têm o mesmo curso ou estudaram em área equivalente à da disciplina lecionada. O problema mais grave nas séries finais do ensino fundamental ocorre em artes: apenas 25,7% dos docentes se enquadram no critério. A situação não é menos preocupante em matemática, em que somente 44,7% dos docentes são formados na disciplina (43,9%) ou área equivalente, como estatística (0,8%). A exceção fica por conta de língua portuguesa e literatura, em que 69% dos docentes têm o diploma apropriado. Entre os professores do ensino médio, o maior gargalo ocorre em física: só 39,4% dos docentes são formados na área específica ou equivalente. Em artes, são 41,2% e, em química, 55,6%. Em língua estrangeira, a proporção se inverte, com 82,2% dos profissionais formados na área específica ou equivalente. Em língua portuguesa e literatura, esse percentual atinge 82,1%. O ensino médio tem o mais alto índice de professores com licenciatura: 87%. As séries finais do fundamental vêm em segundo lugar, com 73,4%, seguidas pelas séries iniciais, com 54,9%. Nas pré-escolas, o índice é de 45,5% e, nas creches, de 37,2%. O inverso ocorre em relação aos professores leigos: no ensino médio, eles são 3%; nas séries finais do fundamental, 4,9%; nas séries iniciais, 6,4%; nas pré-escolas, 7,5%; e nas creches, 12,9%. O “Estudo exploratório sobre o professor brasileiro” analisa dados do Censo Escolar 2007. Pela primeira vez o Inep revela o número real de docentes, evitando dupla Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 35 de 54 contagem de quem leciona em mais de uma escola. Entram no cálculo professores de creches, pré-escolas e estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Demétrio Weber - O GLOBO BRASIL: CAMPO ECONÔMICO ENERGIA LIMPA É OPORTUNIDADE ECONÔMICA PARA O PAÍS 25/04/09 Somos campeões mundiais no uso de fontes renováveis de energia. O que precisamos fazer para manter a posição – e ganhar dinheiro com isso VENTOS -Turbina eólica da General Electric na Irlanda, feita com peças da empresa brasileira Tecsis. O Brasil tem a segunda maior produtora mundial de hélices de cata-ventos. Mas ela só exporta. OUTROS O Brasil tem uma situação privilegiada em um mundo ameaçado pelas mudanças climáticas. É um dos poucos países – e certamente a única grande economia – com possibilidade de gerar toda a sua eletricidade a partir de fontes limpas. Cerca de 83% de nossa eletricidade vem de usinas hidrelétricas ou nucleares, que não geram emissões poluentes para a atmosfera. É uma posição invejada por países como a China, que tem uma matriz energética 70% dependente do carvão, o mais poluente dos combustíveis. Mesmo a Alemanha, louvada no mundo por suas iniciativas verdes, só produz 14% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis. Isso pode ser uma vantagem competitiva para o país. Primeiro porque, nos próximos anos, mesmo as nações em desenvolvimento provavelmente terão de assumir metas para reduzir ou limitar as emissões poluentes. Em segundo lugar porque blocos como a União Europeia já discutem taxar as indústrias pela emissão de carbono. Nesse Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 36 de 54 cenário, as empresas ficariam atraídas a implantar fábricas em países com geração de eletricidade mais limpa. Apesar de tão importante para o desenvolvimento industrial do país, a manutenção de nossa matriz energética pouco poluidora tem sido esquecida diante do desafio de conter o desmatamento. Por causa da devastação das florestas, responsável por 75% de nossas emissões de poluentes, o Brasil está em quinto lugar no ranking global dos grandes poluidores. Mas a Amazônia pode deixar de ser um problema ambiental e virar parte da solução. O mecanismo que pode permitir receber dinheiro pela preservação, chamado Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), será um dos temas mais importantes nas negociações internacionais sobre como o mundo deve enfrentar as mudanças climáticas, em dezembro, na Dinamarca. Muitos países estão dispostos a pagar para o Brasil não derrubar suas matas. É o começo de um futuro mercado para as florestas, similar à bolsa de créditos de carbono, na qual quem reduz suas emissões do gás pode vender certificados a quem não conseguiu cumprir suas metas de redução. Se o REDD for aceito como um instrumento de combate à crise climática, o Brasil poderá receber dinheiro para financiar medidas de fiscalização e incentivo à produção florestal sustentável. É uma tendência ótima para o país. Só que ela nos desvia de outra preocupação para o futuro – continuar produzindo energia limpa. A seguir, os principais desafios do país. Compensar os meses de baixa produção hidrelétrica O Brasil precisa de alternativas para as hidrelétricas entre os meses de junho e novembro, quando os reservatórios estão mais baixos, pela redução nas chuvas. Para suprir essa lacuna, o plano decenal de energia do governo federal prevê a construção de 81 usinas térmicas até 2017, das quais 68 alimentadas por combustíveis fósseis, que produzem gases do efeito estufa. A opção poderia ser outra. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética concluem que o potencial brasileiro para geração eólica é de 143 gigawatts. É mais que uma vez e meia a capacidade instalada de todas as nossas usinas hidrelétricas, nucleares e termoelétricas juntas. Mas hoje não aproveitamos nem 1% do potencial dos ventos. Aumentar a eficiência energética das casas Parte da demanda de eletricidade é causada por ineficiência nos prédios e nas casas. O Brasil tem baixo uso de lâmpadas fluorescentes, de menor consumo. E 15% da demanda nacional de eletricidade nos horários de pico é puxada só pelos chuveiros elétricos. Um exemplo de como resolver isso é a Espanha. A partir de 2003, o país começou a exigir que as novas construções usassem aquecimento solar ou a gás. E as prefeituras, como a de Barcelona, passaram a subsidiar a troca de aquecimento elétrico por gás e solar. Substituir o diesel de ônibus e caminhões Os programas para usar combustível de origem vegetal e não poluente nos veículos pesados ainda não ganharam escala – diferentemente do etanol, que vem da cana, o biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais, como óleo de mamona, soja, dendê, girassol e algodão, que geralmente têm maior valor comercial se vendidos para outros fins. Daí que o biodiesel atinge apenas 3% do combustível usado por nossa frota. Países como a China, os Estados Unidos e a Alemanha apostam em mais trens e navios Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 37 de 54 para transportar cargas. Agora estão adotando ônibus híbridos, elétricos e apostando no hidrogênio. Melhorar a tecnologia dos automóveis A frota mundial de veículos híbridos passou de 1 milhão e deverá dobrar nos próximos dois anos, mas até hoje não existe nenhum carro híbrido rodando no Brasil. “A barreira é econômica. Os carros híbridos saem mais caros que os convencionais”, diz Luso Ventura, diretor de Comissões Técnicas da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade, a SAE Brasil. A grande chance do país no mercado dos híbridos seria adaptar esses motores à tecnologia flex nacional. Daria ao Brasil mais competitividade no mercado internacional. Hoje, apenas a Mitsubishi mostrou interesse em trazer a tecnologia ao país. “Deveríamos investir logo em híbridos para não ficar atrás no domínio da tecnologia, mas não acredito que isso vá acontecer por incentivo do governo, e sim por iniciativa das próprias empresas.” Juliana Arini e Margarida Telles – Revista Época Nr 571 NINGUÉM SEGURA ESSE DÓLAR 30/05/2009 Moeda fecha a R$1,97. É 1ª vez abaixo de R$2 desde outubro. Queda no ano é de 15% E o dólar comercial, enfim, ficou abaixo de R$2. A moeda americana encerrou os negócios ontem a R$1,97, com perda de 1,94%, uma desvalorização forte até para os últimos dias, depois de chegar a bater R$1,967 durante a tarde. Assim, a divisa completou um ciclo de seis dias consecutivos de queda, que, acumulada, é de 3,29% desde o dia 22. Um dos motivos para a queda recente do dólar é a entrada de dólares no país, para investimento em ações e em operações atreladas à taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,25% ao ano, como os títulos públicos. Somente em maio, até o dia 26, o saldo (compras menos vendas) de investimentos estrangeiros na na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) está positivo em R$5,059 bilhões. No ano, a conta já chega a R$10,176 bilhões. No ano, o dólar já acumula perda de 15,59%, mas a perda foi bastante concentrada em maio, quando a moeda caiu 9,67%, tendo saído de R$2,181. No fim do ano, ainda era cotada a R$2,334. A cotação de ontem é a mais baixa desde o início de outubro, que deve ser mais difícil de ser alcançada: R$1,925. No turismo, a moeda foi vendida ontem no Banco do Brasil a R$2,04. No Bradesco, a R$2,09. Mas o movimento de desvalorização da moeda americana não é uma exclusividade brasileira. A divisa está caindo no mundo todo. Contra o dólar canadense, por exemplo, o dólar americano já caiu 10,20%. Em relação à libra inglesa, a perda é de 9,77%. Na comparação com o franco suíço, o dólar ainda se valoriza no ano. No entanto, a divisa americana já caiu 10,54% em relação à moeda suíça desde março. E é frente ao real que o dólar mais perde valor entre as principais moedas do mundo. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 38 de 54 — Não há um motivo só para a queda do dólar. Mas são muitas explicações possíveis, entre elas o ingresso maior de recursos — diz Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair, lembrando ainda que ontem, último dia útil do mês, era data de formação da Ptax, taxa fixada pelo Banco Central (BC), que baliza os contratos de câmbio negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), motivo para a queda mais acentuada no dia. Nessas operações, há investidores que apostam na alta da moeda americana e os que apostam na baixa. Os estrangeiros estão na ponta da venda, ou seja, apostavam na queda do dólar. Outro evento no mercado futuro que tem pressionado a queda da divisa é o vencimento, na segunda-feira, dos chamados swaps reversos, operações em que o Banco Central (BC) acerta a compra do dólar a uma cotação, no caso em torno de R$2,14, e paga juros aos bancos que aderiram à operação. Estas instituições estariam forçando a queda do dólar, para ganhar a diferença entre a cotação que o o BC pagará e a do mercado. Juros altos atraem investidores Apesar do esforço do BC, que vem comprando diariamente dólares para tentar suavizar a desvalorização, especialistas observam que o poder da autoridade monetária é pequeno diante do tamanho do capital internacional. O Banco Central adquiriu no mercado à vista US$2,408 bilhões este mês até o dia 22, mas não conseguiu conter a queda livre. Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o capital externo, diante da frustração com a economia americana — antes considerada inabalável — encontra no Brasil um local estável para ser alocado. — A desvalorização do dólar ocorre do mundo porque os investidores têm migrado para outros países. Como a mobilidade do capital hoje em dia é alta, quando o agentes se decepcionam, a reação é rápida. Mas, para reconquistar a confiança, é um processo bem mais lento e difícil — diz. O professor de derivativos e risco do Insper (ex-Ibmec-SP), Alexandre Chaia, aponta a recuperação dos preços da commodities (matérias-primas negociadas em bolsas mundiais) como outro fator que derruba o valor da moeda americana, por meio de um mecanismo natural de equilíbrio das contas globais: — A variação em relação ao real acaba potencializada pela atratividade do nosso mercado financeiro, em grande parte devido aos altos juros que ainda são aqui praticados. oglobo.com.br/economia Inclui quadro: A moeda no mundo Felipe Frisch e Eduardo Rodrigues - O GLOBO A SEGUNDA REVOLUÇÃO DO ETANOL 31/05/09 Empresas disputam uma corrida tecnológica para produzir combustível a partir de bagaço da cana, capim e até lixo Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 39 de 54 Quem considera o etanol produzido de fontes primárias (como cana-de-açúcar e milho) uma revolução da agroenergia nem imagina o que vem pela frente. Dentro de alguns anos, os biocombustíveis também serão feitos a partir do bagaço da cana-deaçúcar, sabugo de milho, capim, casca de árvore, pneus e até lixo urbano. Para isso, os principais centros de inovação do mundo, financiados por governos e grandes empresas, como a petrolíferas BP e Shell, estão travando uma verdadeira corrida tecnológica. Será o vencedor aquele que encontrar a rota mais viável para transformar os diferentes tipos de biomassa em etanol. Os primeiros litros do biocombustível já foram produzidos em escala experimental. Falta encontrar a fórmula perfeita para a produção em larga escala com custo competitivo aos combustíveis atuais. No mercado, essa tecnologia tem sido chamada de segunda geração (o etanol feito de fontes primárias é de primeira geração) ou etanol de celulose. O processo consiste em usar enzimas, micro-organismos ou ácidos para separar os açúcares existentes na biomassa e a partir daí produzir o combustível. O potencial é elevado, mas ainda há dúvidas em relação ao tempo para transformar os testes em produção comercial. Todos os avanços e desafios da nova tecnologia serão expostos a partir de amanhã na segunda edição do Etanol Summit, que contará com cerca de 130 palestrantes de várias partes do mundo, incluindo o ex-presidente americano Bill Clinton, um entusiasta dos biocombustíveis. Eles darão um panorama de quando essa tecnologia poderá sair do papel. Nos Estados Unidos, as pesquisas do etanol de segunda geração começaram há algum tempo e foram reforçadas pela nova política energética que estabelece limite para o uso do etanol feito a partir do milho com tecnologia convencional. A produção, que hoje está em 40 bilhões de litros, poderá chegar a 57 bilhões. Para complementar a oferta, que atingiria 136 bilhões de litros em 2022, seria usado o etanol de segunda geração e outros biocombustíveis, afirma o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank. Embora o consumo de combustível do país tenha caído por causa da crise econômica, grandes empresas mantiveram suas pesquisas. Até porque a meta do governo americano é produzir no ano que vem cerca de 400 milhões de litros de combustíveis de segunda geração. Ásia e Europa também desenvolvem tecnologias, que estão sob segredo industrial. Além do discurso sobre o aquecimento global, o objetivo da busca por um novo biocombustível é diminuir a dependência do petróleo. No Brasil, por causa do enorme potencial de crescimento do etanol de primeira geração, a corrida tecnológica ainda está um pouco mais lenta e com orçamentos mais modestos comparados aos do mercado externo, que tem irrigado as pesquisas científicas com bilhões de dólares. Apesar disso, alguns empreendedores acreditam que possam sair na frente para manter a liderança brasileira no mundo dos biocombustíveis. "O etanol de segunda geração, a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, teria capacidade para dobrar o volume de etanol produzido no País com a mesma área plantada", diz Marcos Jank, destacando que este ano o setor alcançará 27 bilhões de litros. Foi de olho nesse potencial que o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) firmou uma parceria com a dinamarquesa Novozymes Latin America, especialista em enzimas industriais. Juntos, inauguraram em janeiro uma usina piloto, com capacidade para produzir 200 litros de etanol de segunda geração. A rota tecnológica usada chama-se hidrólise enzimática, em que as moléculas de celulose são transformadas em açúcares por meio de enzimas. Hoje o grande desafio é evitar que essas enzimas encareçam demais o produto final, diz o presidente regional para América Latina da Novozymes, Pedro Luiz Fernandes. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 40 de 54 Segundo ele, a tecnologia já existe, mas, além do custo, ela exige aperfeiçoamentos e ajustes. "Em meados de 2010, esperamos apresentar um modelo financeiro para vender essa tecnologia." Um dos ajustes que ela terá de fazer até lá refere-se ao tempo que a enzima leva para transformar a celulose em açúcar. "O ideal seria ter um ciclo de 24 horas, como ocorre no etanol tradicional", afirma o diretor superintendente do CTC, Nilson Boeta. A expectativa dele é que em três ou quatro anos a tecnologia esteja dominada, para produção em escala industrial. O executivo acredita que, superada a fase de aperfeiçoamento tecnológico, o Brasil terá enorme competitividade no etanol de celulose, já que a matéria-prima não exige logística. "Ela está ali, na própria usina. Nos Estados Unidos, a palha e o sabugo do milho ficam no campo." Na Dedini, líder na fabricação de equipamentos para o setor sucroalcooeiro, a rota tecnológica adotada é a hidrólise ácida. Com estudos iniciados há cerca de 20 anos, a produção do etanol de celulose já passou pelos estágios de laboratório e piloto. Hoje a empresa espera firmar alguma parceria para iniciar uma fase semi-industrial. "A fabricação do etanol já existe. O problema é o custo", diz o vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da empresa, José Olivério. Segundo ele, o combustível custa, pelo menos, o dobro do etanol comum. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também entrou na corrida pela nova tecnologia do etanol de celulose e desenvolveu um tipo de enzima para o processo. Os testes já devem entrar em escala de demonstração (antes da escala industrial). "Tínhamos duas alternativas: comprar a tecnologia ou entrarmos numa agenda de desenvolvimento. Ficamos com a segunda opção", disse o chefe-geral da Embrapa, Frederico Durães. Segundo ele, a Embrapa fechou acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para criar uma Empresa de Propósito Específico (EPE) para desenvolver negócios nessa área. Renée Pereira – O Estado de São Paulo UM MUNDO MAIS VERDE 04/06/2009 Investimentos em energias limpas quadruplicam; Brasil é recordista na América Latina Os insistentes alertas sobre o aquecimento global e o futuro do planeta parecem estar, de fato, gerando ações concretas. Relatório divulgado ontem pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês) revela que o mundo está mais ecologicamente correto do que nunca. Segundo os dados, em 2008 foram investidos US$155 bilhões em energia limpa — quatro vezes mais do que o registrado em 2004. O Brasil tem lugar de destaque no documento, apontado como um dos países que mais investiram em energias renováveis no ano passado. Do total investido, US$13,5 bilhões se destinaram ao desenvolvimento de novas tecnologias. Outros US$117 bilhões foram investidos em projetos de energia renovável, entre eólica, geotérmica, solar e biocombustíveis. Segundo o relatório, as energias renováveis já respondem pela maioria dos investimentos no setor e por mais de 40% do aumento da capacidade de geração de energia registrado no ano passado. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 41 de 54 A despeito da crise econômica, os investimentos do ano passado excederam em 5% os de 2007, sobretudo por conta de projetos no Brasil, na China e em outras economias emergentes, como destacou o diretor-executivo do Unep, Achim Steiner: — Sem dúvida, a crise econômica cobrou seu preço nos investimentos em energia limpa, quando comparamos os valores do ano passado aos recordes dos anos anteriores. De fato, o relatório aponta que, na América do Norte, por exemplo, os investimentos em energias renováveis caíram 8%. Na Europa, o aumento foi de apenas 2%. Mas ressalta pontos significativos, especialmente entre as economias em desenvolvimento. A China tornou-se o segundo maior mercado do mundo para energia eólica, em termos de capacidade, e o maior produtor de células fotovoltaicas, segundo Steiner, registrando um aumento de 18% nos investimentos em energia limpa em relação a 2007. Na Índia, os investimentos aumentaram 12%. O Brasil foi o recordista em investimentos na América Latina, com o etanol recebendo US$10,8 bilhões — um crescimento de nada menos que 76% em relação ao ano anterior. Relatório destaca uso de etanol O documento destaca que 85% da geração de energia no Brasil vêm de fontes renováveis graças às grandes hidroelétricas nacionais e à indústria do etanol. Segundo o relatório, 90% dos novos carros do país são híbridos e o etanol responde por mais de 50% do combustível usado em veículos leves. O Brasil também é líder global no financiamento de energias renováveis. Em 2008, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi o maior investidor em projetos de energia renovável. O relatório revela que o maior montante de investimentos foi para a energia eólica (US$51 bilhões), embora o crescimento em relação a 2007 tenha sido apenas de 1%. Mas o setor que mais se ampliou foi o da energia solar, com um aumento de 49% em relação ao ano passado (US$33,5 bilhões). A tendência, aponta o documento, é que o mundo invista cada vez mais em energias limpas em razão das ameaças crescentes do aquecimento global, da recuperação da economia, de novas políticas de investimento e também com a redução de custos decorrente da ampliação dos mercados de eólica e solar. Estima-se que os módulos de células fotovoltaicas, por exemplo, tenham uma redução de preço de até 43% este ano. Henrique Gomes Batista e Martha Beck - O Globo PANCADA MENOR 10/06/2009 Com queda de 0,8% do PIB no primeiro trimestre e recuo histórico, país entrou em recessão e voltou a níveis de 2007 A crise internacional fez o país retroceder dois anos na produção de sua economia. Pelo segundo trimestre consecutivo, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) ficou negativo, confirmando que o país atravessou uma Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 42 de 54 recessão. O IBGE informou ontem que o PIB recuou 0,8% entre janeiro e março deste ano, frente ao fim do ano passado, acumulando queda de 4,4% desde outubro. Com isso, o Brasil voltou aos patamares de produção do segundo trimestre de 2007, anulando praticamente os ganhos da economia no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro trimestre, a economia brasileira produziu R$684,6 bilhões. A queda do PIB foi mais intensa frente ao início de 2008: 1,8%, no primeiro recuo nessa comparação desde o quarto trimestre de 2001 (ano dos atentados nos EUA e do racionamento de energia) e a maior queda desde o último trimestre de 1998, quando a economia ficou estagnada. — Foi uma crise absolutamente profunda — resumiu Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE. Apesar da estatística negativa, o resultado veio bem melhor que o mercado esperava. As previsões estavam entre -2,5% e -3,4% frente ao primeiro trimestre de 2008 e de até 2,5% ante o último trimestre de 2008. — O resultado veio por cima da média das estimativas em qualquer comparação — afirmou Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). A indústria, mais conectada com o mercado externo, foi o setor mais afetado e puxou a economia para baixo, com recuo de 3,1% frente ao fim do ano passado e de 9,3% contra o primeiro trimestre de 2008, o maior desde 1996, início da série histórica do IBGE. Diferentes segmentos bateram o mesmo recorde de baixa: a construção civil recuou 9,8% e a indústria de transformação, 12,6%. Diante da crise mais forte na indústria e no setor externo, a arrecadação de impostos ficou bem menor que o PIB. A queda foi de 3,3%, reflexo da menor atividade econômica. Como as importações caíram mais que as exportações, o setor externo acabou influenciando positivamente o PIB, o que não ocorria desde 2006. Segundo o vicepresidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as exportações vêm sendo sustentadas sobretudo pelas commodities, cujos preços subiram devido à especulação, e não por causa de um aumento na demanda. Os números ainda não mostram a recuperação que se desenha no país. Segundo analistas, indicadores de indústria, de confiança do consumidor e do empresário, além das medidas de estímulo monetário (queda de juros e aumento do crédito) e fiscais (redução de IPI em diversos setores) já teriam afastado o risco de continuidade da recessão nos próximos trimestres. — O pior ficou para trás. Devemos ter expansão no segundo trimestre — afirmou Solange Srour, economista do BNY Mellon ARX. Para fechar o ano estagnada, ou seja, com expansão zero do PIB, a economia brasileira precisa crescer 0,6%, entre abril e dezembro, em relação ao mesmo período de 2008. Pelo lado da demanda, o impacto maior da crise foi nos investimentos. As quedas de 12,6% frente ao último trimestre de 2008 e de 14% contra o início do ano passado foram as maiores desde 1996. — O investimento ficou pior com a indústria, a construção civil e a importação menor de máquinas — explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE. Cássia Almeida, Luciana Rodrigues, Lucianne Carneiro e Liana Melo - O GLOBO FUTURO EM XEQUE 14/06/2009 Energia de sobra à espera de obras - Questões ambientais ou indígenas reduzem em 20% capacidade de geração no Brasil Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 43 de 54 A despeito do discurso otimista do governo, a expansão do sistema elétrico nacional está esbarrando em entraves ambientais e jurídicos envolvendo questões indígenas. Aguardando esse sinal verde, o país está deixando de iniciar a construção de hidrelétricas capazes de produzir cerca de 19,5 mil megawatts (MW) de energia nos próximos anos, quase 20% da atual capacidade de geração brasileira. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estão atrasados pelo menos 18 empreendimentos hidrelétricos, que representam três vezes a potência das duas usinas do Rio Madeira — Jirau e Santo Antonio — em Rondônia, as maiores obras do setor em andamento. As novas hidrelétricas são consideradas fundamentais para possibilitar o crescimento do país, a um custo menor, na comparação com outros tipos de geração de energia. Jirau, com seus 3.300 MW de potência, deixou de fazer parte da conta dos atrasados no início de junho, mas protagonizou um episódio exemplar dos problemas vividos pelo setor elétrico. Por semanas, a empresa Energia Sustentável do Brasil travou uma queda de braço com os governos de Rondônia e de Porto Velho em torno da mitigação do impacto ambiental. Enquanto isso, a obra ficou parada. Só depois de se comprometer a pagar mais R$114 milhões em ações para prefeitura e estado, a obra foi liberada pelo Ibama. Em outro front, a polêmica usina de Belo Monte viu paralisada a discussão pública do seu Estudo de Impacto Ambiental (EIA) por uma decisão da Justiça Federal do Pará. O juiz Antonio Carlos de Almeida argumentou que não foi entregue laudo antropológico do impacto sobre os indígenas da região. Com 11.181 MW de potência, Belo Monte será uma das maiores usinas do país, e o governo pretende leiloá-la até setembro. As questões ambientais afetam obras de todos os tamanhos. De acordo com balanço da Aneel, uma obra de menor porte, como a Usina de Baú 1, em Minas Gerais, esbarrou em divergências com a prefeitura de Ponte Nova. Já na usina de Olho D’Água, em Goiás, foi identificado um corredor de mata virgem remanescente em sua área. No Paraná, as usinas de Cachoeirinha e São João tiveram o licenciamento suspenso pelo órgão ambiental estadual, e falta ainda o Ibama declarar a autonomia do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para retomar os estudos. Para empresários, avanço é insuficiente Para o país, os atrasos podem representar problemas na próxima década. Essa energia, que só deverá ser gerada a partir de 2012, será fundamental para dar segurança ao abastecimento energético. Se demorar demais, alerta uma fonte da área energética do governo, o país não sofrerá um apagão, mas terá de optar pela energia térmica, mais cara e potencialmente mais poluente que a hidrelétrica. — Para termos tarifas mais baratas no futuro, é importante aumentar a geração hidrelétrica. Caso contrário, não haverá falta de energia, mas as distribuidoras terão de comprar de fontes bem mais caras. Vai sobrar para o consumidor — disse a fonte. Só o sétimo balanço oficial do PAC aponta formalmente que cinco empreendimentos têm questionamentos indígenas e sobre ameaça à fauna e à flora. Isso deixa na berlinda a geração de 6.312 MW de energia, incluindo o estudo de inventário da Bacia do Rio Juruena (AM/MT) e o estudo de viabilidade de parte do Rio Ji-Paraná (RO). Para os empresários do setor, esses exemplos preocupam. O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles, que reúne as empresas do setor, diz que ocorreram avanços na forma de concessão de licenças nos últimos anos, mas não são Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 44 de 54 suficientes. O Ibama reduziu em cerca de um ano os prazos para análise e concessão das licenças, mas outros problemas persistem. ‘Quando país crescer problemas virão’ Salles admite que, do lado empresarial, há estudos ambientais malfeitos, que atrasam as concessões. Porém, do outro lado, há sobreposição de funções entre governos federal, estaduais e municipais, que fazem o processo andar mais devagar: — Projetos de interesse nacional, que envolvem bilhões em investimentos, estão se deparando com questões adicionais dos governos locais. Eles impõem condições não previstas, que paralisam as obras. Os ambientalistas questionam as críticas ao licenciamento. Segundo Sérgio Leitão, diretor de Campanhas do Greenpeace, as licenças são uma garantia à sociedade de que os empreendimentos hidrelétricos seguem a lei. O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), afirma que ainda falta aprovação de uma legislação que determine os limites de atuação de cada ente federativo, para evitar a sobreposição de poderes. Na Câmara dos Deputados, está na fila de votação, há mais de um mês, um projeto de lei que regulamenta o artigo 23 da Constituição e estabelece o papel dos órgãos federal, estaduais e municipais. — Quando o país voltar a crescer, esse problema que atinge várias usinas voltará à tona. E, até agora, nenhuma medida legal para resolver o problema foi aprovada no Congresso. Com isso, o problema das licenças vai continuar — diz Pires. O governo tem repetido que o licenciamento ambiental deixou de ser um problema. Durante o balanço do PAC, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pediu a palavra para enfatizar que as autorizações têm sido facilitadas na esfera federal e anunciou uma nova rodada de simplificação, a “Destrava 2”. Em vez de a concessão de licença ocorrer caso a caso, será avaliada a bacia hidrográfica como um todo, agilizando o processo. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 45 de 54 Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 46 de 54 GEOGRAFIA - SAÚDE O CORAÇÃO DEVASSADO 13 / 05 / 09 Graças aos novos tomógrafos que estão chegando ao Brasil, capazes de registrar até 1 500 imagens por segundo, não existem mais artérias invisíveis. O novo equipamento pode reduzir custos de tratamento, pois trará resultados significativos na prevenção Surgidos em meados dos anos 70, os exames de tomografia revolucionaram a cardiologia. Eles permitiram que se flagrasse o coração, órgão com os movimentos mais intensos e velozes do organismo, em plena atividade. Nas últimas três décadas, tais máquinas evoluíram tanto que os primeiros tomógrafos pouco têm a ver com os atuais. As imagens produzidas no passado possibilitavam principalmente a análise de vasos com mais de 2 centímetros de diâmetro. Por meio delas, os médicos identificavam obstruções na aorta e na artéria pulmonar, os grandes canais de irrigação do coração, quando já não havia muito que fazer. Com os equipamentos desenvolvidos no início dos anos 2000, começou-se a descobrir a existência de distúrbios cardíacos antes mesmo do aparecimento de seus primeiros sintomas. "Esse progresso fez crer que a tecnologia dos tomógrafos havia atingido o limite", diz o cardiologista Carlos Rochitte, do Instituto do Coração, em São Paulo. Pois uma nova geração de tomógrafos, que começa a chegar aos principais centros de saúde do Brasil a partir do próximo mês, mostra que ainda se está muito longe desse limite. As máquinas de última geração analisam em detalhes a estrutura de 90% do coração, contra 75% dos aparelhos antecessores. Tal diferença na varredura do coração pode parecer pouca coisa. Mas o rastreamento detalhado do músculo cardíaco traz resultados significativos para a prevenção e o tratamento de uma das doenças que mais matam no mundo – o infarto. As imagens produzidas nos exames de tomografia são formadas por raios X que cruzam o corpo do paciente, captando o interior das artérias. Os registros obtidos são decodificados por computadores e transformados em desenhos coloridos tridimensionais. Quanto mais velozes são os feixes de raio X, mais definida é a imagem. Os tomógrafos em uso atualmente captam 192 quadros por segundo. Com eles, é possível visualizar vasos com calibre de 1,5 milímetro. As novas máquinas são cinco vezes mais velozes e captam de 1 000 a 1 500 imagens por segundo. Essa velocidade permite ao cardiologista observar a estrutura de vasos ainda mais finos. Um avanço notável, visto que o entupimento das pequenas artérias responde por cerca de 20% dos infartos. A precisão dos tomógrafos mais modernos permite ainda a detecção de placas de gordura e de cálcio, as principais causas de obstrução arterial, em estágios precoces – quando elas exibem somente 0,5 milímetro cúbico de volume. Os aparelhos atuais só conseguem captar depósitos com o dobro desse volume. "A visualização de obstruções minúsculas é decisiva para a reversão completa da doença", diz o cardiologista Ibraim Masciarelli, do Hospital do Coração, em São Paulo. Nesses casos, o tratamento é feito com estatinas, antiplaquetários e anti-hipertensivos. Os novos aparelhos possibilitam também a análise do fluxo sanguíneo do coração em tempo real – o que os tomógrafos mais antigos não conseguem fazer. "Essa é uma informação valiosa para definir a escolha do tratamento", diz o cardiologista Roberto Kalil, diretor do centro Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 47 de 54 de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O comprometimento de uma artéria coronária não está associado apenas ao tamanho do bloqueio. Influenciam nesse processo a arquitetura da placa e a ocorrência de fatores externos, como a formação de úlceras que podem atrapalhar a irrigação sanguínea do coração. Ultravelozes, os tomógrafos de última geração reduzem o tempo de exposição do paciente à radiação. Atualmente, por questão de segurança, a tomografia coronária como exame de check-up é indicada apenas para pacientes com dois ou mais fatores de risco para doenças cardíacas. Para os homens e mulheres com mais de 40 anos que não apresentam histórico de doenças cardíacas, o exame só é recomendado de cinco em cinco anos. Em breve, com a chegada dos novos aparelhos, a tomografia, segundo os especialistas, deve se tornar mais frequente também para eles. Adriana Dias Lopes – Revista Veja Nr 2112 DENGUE MATA SEIS VEZES MAIS NO BRASIL DO QUE O TOLERADO PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE 16 / 06 / 09 Nos primeiros quatro meses do ano, 6% dos doentes morreram; padrão internacional adota o máximo de 1% A taxa de letalidade da dengue no País é seis vezes maior do que a considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 30 de abril, 87 pacientes com dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram - 6% do total. Pelos padrões da OMS, o máximo seria 1%. "É um índice muito alto, que revela ainda falhas importantes na assistência aos doentes", diz o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 48 de 54 Das 87 mortes confirmadas pela doença, a maioria foi registrada na Bahia (49) e em Mato Grosso (15). Fenômeno que se repete quando se analisa a distribuição de casos no País. Até agora, oito Estados respondem por 78% dos casos. Para Coelho, a epidemia em bloco registrada neste ano revela a diferença com que Estados e municípios lidaram com prevenção e capacitação da rede para o atendimento. Onde o trabalho foi bem feito, o número de casos foi menor. E nas áreas onde há assistência mais estruturada, mortes são evitadas. "Neste ano, houve o agravante das eleições municipais. Em áreas onde prefeitos não fizeram sucessor, a prevenção foi relaxada, funcionários foram dispensados", afirmou. Em números absolutos, a quantidade de casos caiu 49% comparada com o mesmo período de 2008 - passando de 440.360 para 226.513. "Há, portanto, locais onde o trabalho falhou e é preciso agora concentrar esforços", diz Coelho. O Ministério da Saúde liberou R$ 1,08 bilhão para trabalhos de prevenção da doença, como distribuição de nebulizador e pulverizador para combater os criadouros do mosquito. Mas o combate à doença na Bahia, um dos Estados com mais casos, tem um complicador: em três das quatro cidades campeãs de registros, a maior concentração de criadouros está nos depósitos de água. Um problema relacionado à deficiência de infraestrutura, não ao comportamento da população. Rio Branco (AC), Várzea Grande (MT) e Campo Grande (MS) apresentam a mesma vulnerabilidade. "Para esses locais, é preciso reforçar o trabalho com larvicida, providenciar a compra de capas para caixa d? água. Algo que o ministério está colaborando", contou. O coordenador garante que a concentração de mortes está diretamente associada à deficiência no atendimento, sobretudo na atenção básica. "Quando a hidratação é feita rapidamente, há redução significativa do risco de o paciente piorar", afirma Coelho. Na Bahia, tendas de reidratação e hospitais de campanha foram montados, a exemplo do que ocorreu na epidemia de dengue registrada no Rio no verão de 2008. Em Mato Grosso, no entanto, tal medida não foi adotada. De acordo com Coelho, o motivo foi a rede de atenção básica ter sido considerada, no primeiro momento, bem estruturada. "A concentração de casos traz outro recado: quando o serviço é bem feito, é perfeitamente possível evitar as mortes por dengue", contou o coordenador. Como exemplo, ele citou experiências registradas neste ano em Belo Horizonte, que, apesar do grande número de casos da doença, não tem óbitos confirmados. "Material para capacitação de profissionais brasileiros é considerado um dos melhores do mundo. O que é preciso é colocá-lo em prática." Os campeões de dengue no País também foram responsáveis por "exportar" 36,5% de todas as 345 contaminações registradas na capital paulista. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, desde o início do ano, 165 paulistanos adoeceram fora da cidade, sendo que 126 deles foram picados pelo mosquito Aedes Aegypti nos locais que lideram as estatísticas nacionais. Outros 180 moradores de São Paulo contraíram a doença no próprio município, chamados de caso autóctones. A Bahia foi o Estado em que mais paulistanos foram infectados: 100 casos. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 17 registros, seguido por Espírito Santo, com 5. A taxa de letalidade da dengue no País é seis vezes maior do que a considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 30 de abril, 87 pacientes com dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram - 6% do total. Pelos padrões da OMS, o máximo seria 1%. "É um índice muito alto, que revela ainda falhas importantes na assistência aos doentes", diz o coordenador do Programa Nacional de Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 49 de 54 Controle da Dengue, Giovanini Coelho. Das 87 mortes confirmadas pela doença, a maioria foi registrada na Bahia (49) e em Mato Grosso (15). Fenômeno que se repete quando se analisa a distribuição de casos no País. Até agora, oito Estados respondem por 78% dos casos. Para Coelho, a epidemia em bloco registrada neste ano revela a diferença com que Estados e municípios lidaram com prevenção e capacitação da rede para o atendimento. Onde o trabalho foi bem feito, o número de casos foi menor. E nas áreas onde há assistência mais estruturada, mortes são evitadas. "Neste ano, houve o agravante das eleições municipais. Em áreas onde prefeitos não fizeram sucessor, a prevenção foi relaxada, funcionários foram dispensados", afirmou. Em números absolutos, a quantidade de casos caiu 49% comparada com o mesmo período de 2008 - passando de 440.360 para 226.513. "Há, portanto, locais onde o trabalho falhou e é preciso agora concentrar esforços", diz Coelho. O Ministério da Saúde liberou R$ 1,08 bilhão para trabalhos de prevenção da doença, como distribuição de nebulizador e pulverizador para combater os criadouros do mosquito. Lígia Formenti - O Estado de São Paulo HISTÓRIA A GUERRA DO PACÍFICO 1. Antecedentes históricos Desde a primeira metade do século XIX, a evolução das Repúblicas hispano-sulamericanas foi marcada por muitos conflitos. Estes, no plano interno, decorreram, muitas vezes, da disputa dos caudilhos pelo poder. No plano externo, questões de fronteira e, em última instância, problemas econômicos, acabaram provocando guerras interamericanas. Em 1836, começou um conflito entre o Chile e a Confederação Peru-Bolívia, tendo como pano de fundo divergências quanto às taxações sobre dois importantes produtos de exportação: o trigo chileno era fortemente taxado pelo Peru, que tinha o seu açúcar altamente tributado pelo Chile. A paz foi assinada em 1839. Decorridos apenas dois anos, nova guerra ocorreu, desta feita opondo Peru e Bolívia (1841-1842), por causa de questões fronteiriças: era pretensão do Peru anexar parte do território boliviano. Sob mediação do Chile, a paz foi restabelecida sem que a República peruana atingisse seus objetivos. Por esta época, na Europa, as teorias malthusianas de aumento populacional acenavam ao mundo com o fantasma da fome. Fazia-se necessário renovar os solos cansados para que a produção de alimentos pudesse acompanhar o vertiginoso crescimento da população europeia. Os laboratórios ingleses pesquisavam novos adubos agrícolas, descobrindo no guano (esterco de gaivotas e alcatrazes), encontrado nas costas do Pacífico, principalmente no Peru, excelentes propriedades fertilizantes. O governo peruano iniciou a exportação dessa matéria-prima para a Inglaterra. Pouco depois, porém, o salitre revelou ser melhor adubo que os excrementos das aves marítimas e rapidamente deslocou o guano no mercado internacional. Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 50 de 54 Vistos esses fatos históricos preliminares, para melhor entendermos a Guerra do Pacífico, torna-se importante situarmo-nos na evolução política e econômica do Peru, Bolívia e Chile, a partir da segunda metade do século XIX. a. Peru Desde 1851, o governo peruano empreendeu o fortalecimento da marinha de guerra e incentivou a exploração do guano e do salitre. Esses dois recursos "ocuparam um lugar de enorme destaque na economia peruana. Seus rendimentos constituíam-se na principal renda fiscal. O país sentiu-se rico. O Estado usou o seu crédito sem limites. Viveu no esbanjamento, hipotecando seu futuro às finanças inglesas" (MARIATEGUI, 1975. p. 9.). Foi também a partir do guano e do salitre que se desenvolveram os alicerces do capitalismo peruano, estimulando os primeiros passos de uma burguesia, ainda que incipiente e revestida dos vícios da velha oligarquia latifundiária: "Antigamente, as grandes famílias limenhas floresceram à custa da prata de Potosí, e agora passavam a viver do excremento dos pássaros e da seiva branca e brilhante das salitreiras: meios grosseiros para os mesmos fins elegantes”(GALEANO, 1978, p. 153.). Além das lutas internas que desgastavam a economia peruana, havia o problema com a Espanha, que relutava em reconhecer a Independência do Peru. Exatamente por isso, começou a guerra entre a Confederação Chile-Peru-Bolívia-Equador e a Espanha (1865-1866), em que os espanhóis foram derrotados. Após a expulsão dos espanhóis, recomeçaram os conflitos entre caudilhos. Nessa época o Chile e a Bolívia se desentendiam por questões de fronteiras, o que ameaçava indiretamente o Peru. Além disso, capitalistas ingleses já investiam maciçamente nos territórios chilenos e bolivianos, ricos em nitrato e salitre, o que era outra ameaça, já que estes eram a base da economia peruana. Assim, o governo Mariano Prado estabeleceu o monopólio da distribuição dos nitratos e, logo depois, em 1873, assinou um tratado de aliança secreta com a Bolívia, visando defender seus interesses contra a especulação de capitalistas chilenos e ingleses. O governo peruano, contudo, foi mais longe: em 1875, expropriou "as minas chilenas de nitrato situadas em Tarapacá [Província peruana], invocando o direito de domínio eminente e pagando uma indenização que o Chile considerou inadequada" (DOZER, D. M., 1966, p. 390.). Embora não houvesse protestos da companhia chilena de nitratos, uma vez que ainda contava com uma concessão do governo boliviano para exploração das jazidas situadas em seu território de Antofagasta, as relações entre o Chile e o Peru ficaram prejudicadas. b. Bolívia A República da Bolívia, ainda que tivesse uma economia baseada em recursos minerais (cobre, chumbo, zinco, estanho), também possuía regiões ricas em guano e salitre. E foi a defesa dessas regiões que a levou à Guerra do Pacífico. Antofagasta - Província boliviana rica em salitre e guano - era reivindicada pelo governo chileno, que já explorava clandestinamente minas existentes, aproveitando-se da fragilidade da Bolívia, sempre envolvida em numerosos golpes militares que desestabilizavam o país política e economicamente. Mas, em 1866, o problema foi de certa forma contornado, quando os dois países firmaram um convênio determinando que: . o Chile reconhecia a soberania boliviana sobre o território em litígio; . as tarifas de exportação sobre todas as riquezas minerais, compreendidas entre os paralelos 23º e 25º , assim como as rendas provenientes dessa exportação seriam divididas igualmente entre os dois países. Depois disso, capitalistas chilenos realizaram grandes investimentos naqueles territórios, inclusive na construção de ferrovias, facilitando o escoamento dos minérios Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 51 de 54 extraídos. O povo da Bolívia, entretanto, não via com bons olhos o desenvolvimento de seus vizinhos às custas de riquezas que lhe pertenciam. Seu governo, que já havia assinado, em 1873, um acordo de aliança defensiva e ofensiva com o Peru, aumentou as tarifas sobre exportações minerais, o que violava tratado anterior com o Chile (1866). O Chile protestou e, novo acordo foi assinado, em 1874, pelo qual eram reconhecidos os direitos bolivianos ao norte do paralelo 24°; em compensação, a Bolívia comprometia-se a não mais aumentar as tarifas sobre as exportações dos minérios de Antofagasta. Pouco depois, assumiu o poder o ditador Hilarión Daza (1875-1879), em cujo governo eclodiu a Guerra do Pacífico. c. Chile Entre os envolvidos na Guerra do Pacífico, o Chile era o que apresentava maior desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política, em que pese o seu envolvimento nos conflitos com países vizinhos e com a Espanha. Em 1851, foi eleito Presidente Manoel Montt. Seu governo empreendeu a construção de estradas de ferro e desenvolveu o telégrafo entre Santiago e Valparaíso, além de incentivar a formação de novas indústrias no país. Seu sucessor, Joaquín Pérez, efetuou modificações de cunho liberal na Constituição, no que foi seguido por Federico Errázuriz (1871-1876), cujo governo aprovou leis, como a que impedia a reeleição presidencial. Além disso, restringiu a influência da Igreja e dissolveu tribunais eclesiásticos. Sua principal preocupação foi reforçar a esquadra chilena, tomando-a poderosa, o que conseguiu graças a empréstimos londrinos. Nessa época, o Chile sentia os efeitos da crise econômica que abalou o Mundo Ocidental, em 1873. Como alternativa, seu governo investia vultosos capitais, tanto chilenos quanto ingleses, nas minas de nitrato de Antofagasta, na Bolívia, e Tarapacá, no Peru. O objetivo do Chile era conquistar as Províncias de Tarapacá e Antofagasta, cujas riquezas interessavam a empresários chilenos e ingleses. 2. A guerra Em virtude das lutas caudilhescas que enfrentava desde a Independência, o governo peruano desgastava –se economicamente, e o estabelecimento do monopólio na distribuição dos nitratos de Tarapacá, ainda no governo Prado, visava não apenas a resguardar riquezas, mas a garantir recursos para o crescimento da economia peruana. Deste modo, a concorrência anglo-chilena na exploração de nitrato a partir do território boliviano representava uma ameaça à economia peruana. O governo Prado, então, resolveu pressionar a Bolívia no sentido de aumentar os tributos sobre as exportações chilenas de Antofagasta, em que pese o acordo de 1874, firmado entre esses países. Em 1878, o Congresso boliviano aprovou um imposto de dez centavos por quintal de fertilizante exportado pela Companhia Chilena de Salitre de Antofagasta. Os chilenos recusaram-se a pagar tais tarifas e, por isso, suas empresas foram confiscadas e postas à venda pelo governo boliviano. Logo depois, a Província de Antofagasta foi invadida por tropas do Chile, dando início à chamada Guerra do Pacífico, que bem poderia ser chamada de Guerra do Salitre. 3. O Chile venceu... Iniciado o conflito, o Peru ofereceu-se como mediador, propondo algumas condições preliminares, como: . retirada das tropas chilenas dos territórios que ocupavam; Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 52 de 54 . administração conjunta da área disputada pelas três nações interessadas: Chile, Bolívia e Peru; e . que as rendas obtidas na exploração das minas de Antofagasta fossem divididas igualmente entre Chile e Bolívia. A imprensa, contudo, revelou o acordo secreto entre o Peru e a Bolívia, enquanto os capitalistas ingleses pressionavam o Chile, que, convencido da interferência peruana no caso das medidas fiscais contra as companhias de nitrato, acabou rejeitando a mediação e declarando guerra a ambos os países, em abril de 1879. "Concidadãos: É chegado o momento de se ver terminadas as disposições necessárias para fazer frente à guerra a que, com tanta temeridade quanto injustiça, nos provocou o governo do Chile. Se o tempo que essas preparações exigiram deu ânimo a nosso adversário para cometer em nossa costa atos de crueldade e barbárie desnecessários, lhe mostraremos que não se ferem os brios de um povo que ama sua glória e sabe, em todo caso, levantar seu decoro." (Proclamação do General Prado ao povo peruano, maio de 1878. DELGADO, L.H. Estampas de la Guerra Peru y Chile – 1879. Lima: Ariel Editores Publicistas, 1965. p. 23.) Envolvido no conflito, o Peru acabou, quase que sozinho, sustentando as operações bélicas contra o Chile, já que a Bolívia, além de mal preparada, revelou total ineficiência nos combates. "O Chile, por outro lado, estava ansioso por experimentar suas forças, inclusive uma nova marinha de guerra, moderna, com dois couraçados dotados de torres giratórias e armamento de superior qualidade. A sorte da guerra foi, na verdade, decidida pela marinha chilena, pois as condições topográficas das províncias litigiosas e as dificuldades de transporte tornavam impraticável a luta por terra. Com o apoio da marinha, as tropas chilenas assenhorearam-se rapidamente não só de Antofagasta, mas também das Províncias peruanas de Tarapacá, Tacna e Arica, cuja ocupação estava consumada em fins de 1880”. (DOZER, D.M.,1966, p. 391.) Fonte: www.historia.net, acessado em 15 de junho de 2009. O TRABALHO NA AMÉRICA ESPANHOLA A conquista do espaço americano ofereceu aos espanhóis a possibilidade de rápido enriquecimento, através do grande volume de metais preciosos existentes na região. Já na primeira expedição de Cristóvão Colombo, houve o contato com os valiosos minerais que despertavam a cobiça do reino espanhol. Logo em seguida, os colonizadores ampliaram suas reservas de metais preciosos ao subjugarem as grandes civilizações indígenas americanas. Ainda no século XVI, as primeiras notícias sobre a existência de grandes minas de prata nos arredores do Alto Peru instigou a vinda de vários representantes da metrópole no intuito de obter a riqueza fácil, proveniente do subsolo americano. Nos primeiros duzentos anos da colonização, os espanhóis se concentraram nesse tipo de atividade, estabelecendo o caráter eminentemente exploratório e, ao mesmo tempo, mercantil das atividades econômicas firmadas em seus domínios. Para organizar a força de trabalho a ser empregada, os espanhóis preferiram trabalhar junto às populações indígenas locais. A escravidão não era permitida, tendo em vista os interesses religiosos que a Igreja tinha na conversão da população nativa. Dessa forma, a Coroa Espanhola resolveu adotar outras modalidades de trabalho compulsório, que resolvessem essa questão. Para tanto, utilizaram dos sistemas de repartimiento e da Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 53 de 54 encomienda. O repartimiento, na verdade, era uma modalidade já conhecida pelas populações indígenas anteriormente subjugadas ao império inca (mita) e asteca (cuatéquil). Esse tipo de sistema era usualmente gerido através de um sorteio onde os índios selecionados deveriam trabalhar compulsoriamente durante certo tempo. Em geral, os indígenas eram submetidos à realização de tarefas desgastantes em um ambiente bastante adverso. Ao fim da jornada, os índios recebiam uma compensação financeira de baixo valor. Com o passar do tempo, as populações escolhidas para esse tipo de atividade passaram a receber um “partido”, ou seja, uma parcela dos metais preciosos recolhidos durante o tempo de serviço. Em outro momento, a falta de indígenas disponíveis para a execução das tarefas forçou a substituição do repartimiento pelo trabalho livre. O uso desse tipo de trabalho acarretou na desintegração de várias comunidades indígenas americanas. Outra forma de exploração da mão-de-obra indígena foi a encomienda. Nesse sistema, o rei espanhol, na figura de seus administradores, concedia uma permissão à um encomendero. Este, por conseguinte, poderia utilizar a mão-de-obra de toda uma comunidade indígena para a exploração dos minérios e terras disponíveis. Em troca, o encomendero era obrigado a oferecer a catequização a todos os indígenas postos sob a sua responsabilidade. O encomendero não poderia tomar as terras das comunidades indígenas e a sua concessão era repassada somente às duas gerações seguintes. Apesar dessas restrições, o sistema de encomienda também foi marcado pelo abuso e a exploração intensa das populações nativas. Uma das maiores provas da violência e imposição dos espanhóis pode ser observada no rápido processo de dizimação das várias comunidades indígenas americanas. Fonte www.historia.net, acessado em 15 de junho de 2009. VOCÊ JÁ REDIGIU ESTA SEMANA? Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009 Página 54 de 54 BOM ESTUDO! VOCÊ TEM ACESSADO A PÁGINA DO EB aula? LÁ EXISTEM CONCEITOS E ARTIGOS IMPORTANTES PARA A SOLUCAO DE QUESTÕES. TODOS OS ASSUNTOS E OBJETIVOS DO PLADIS SÃO ABORDADOS NO EV aula! NÃO DEIXE DE CONSULTÁ-LA!
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